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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE ACIDENTES DE TRABALHO – TEORIA E PRÁTICA Por: Vera Lúcia Vieira de Castro Orientador Prof. William Rocha Rio de Janeiro 2007

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

ACIDENTES DE TRABALHO – TEORIA E PRÁTICA

Por: Vera Lúcia Vieira de Castro

Orientador

Prof. William Rocha

Rio de Janeiro

2007

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

ACIDENTES DE TRABALHO – TEORIA E PRÁTICA

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em direito e

processo do trabalho

Por: Vera Lúcia Vieira de Castro

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Dedico este trabalho a meu filho Fabiano

por sua paciência e apoio.

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AGRADECIMENTOS

Ao professor William Rocha pela excelente orientação para a execução deste

trabalho.

A meu filho e minha nora, Allan e Fernanda, pela colaboração e incentivo para

conclusão deste curso.

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RESUMO

O Brasil com o lamentável título de campeão mundial de acidentes do trabalho,

cujas causas e conseqüências, por muito tempo, negligenciadas, nos remeteu

a uma nova tomada de consciência em que a proteção à saúde é parte

integrante dos direitos humanos. Em torno dessa idéia, traçamos um panorama

histórico-evolutivo do direito à segurança do trabalho como um direito do

trabalhador, buscando demonstrar a transformação do direito de proteção ao

trabalho como um direito conquistado pela classe trabalhadora, e à saúde,

como um direito constitucional elevado à condição de direitos fundamentais. A

atuação da OIT, responsável pelos diversos sistemas jurídicos. A ONU

integrando o conceito de meio ambiente, com o enfoque especial ao meio

ambiente do trabalho, nele observando-se a responsabilidade do empregador

pelos danos causados em virtude de acidentes de trabalho e doenças

profissionais dos seus empregados, responsabilidade esta que, em processo

lento, vem passando do plano subjetivo para o objetivo, ou seja, da teoria da

culpa para a teoria do risco, em que a indenização se faz apenas em função do

nexo causal, sem cogitar a culpa do causador do dano, atendendo melhor,

assim, à justiça social e, para tal, medidas preventivas, com maior rigor, devem

ser observadas com a fiscalização promovida no cumprimento das normas de

segurança e da medicina do trabalho, como exames médicos periódicos, o uso

de equipamentos, tornando o trabalhador não só bem informado, mas dando-

lhe a formação necessária para que ele possa cumprir seu papel no seu

ambiente de trabalho.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 06

CAPÍTULO 1 - PROTEÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADO 08

CAPÍTULO 2 - PROTEÇÃO DA SAÚDE NO BRASIL 14

CAPÍTULO 3 - ACIDENTES DO TRABALHO 23

CAPÍTULO 4 - RESPONSABILIDADE CIVIL NO ACIDENTE DO TRABALHO

38

CAPÍTULO 5 - INDENIZAÇÕES NOS ACIDENTES DE TRABALHO COM E SEM ÓBITO

44

CONCLUSÃO 50

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 52

ANEXOS 54

INDICE 65

FOLHA DE AVALIAÇÃO 68

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INTRODUÇÃO

Na década de 70, o Brasil ganhou o triste título de campeão mundial em

acidentes de trabalho do século XX.

Apesar de esforços e alterações de leis para que esse quadro fosse

revertido, daí pra cá, podemos registrar que estamos longe da situação

considerada aceitável, quando comparadas às estatísticas internacionais.

Nosso progresso como país emergente está sendo alcançado a preço de

muitas mortes por acidentes de trabalho.

Diariamente no Brasil cerca de 50 empregados deixam o mundo do

trabalho por morte ou incapacidade permanente. Muitos desses acidentes

causados unicamente por culpa do empregador.

Durante muito tempo entendeu-se que ao acidentado e aos seus

dependentes só restava o direito de receber os limitados benefícios garantidos

pelas leis. As prestações decorrentes do seguro de acidente de trabalho já

reconhecidas pela previdência social são de caráter meramente alimentar, pois

mal dão para assegurar a sobrevivência da vítima ou de sua família, não

objetivando a reparação do dano causado e indenização do acidentado.

A Previdência Social apesar de absorver o infortúnio, não distingue,

então, se o acidente ou doença teve ou não nexo causal na atividade realizada

pelo segurado.

Após a Constituição de 1988, o empregador passou a assumir a

responsabilidade civil por acidente de trabalho, quando este incorrer em dolo

ou culpa de qualquer grau. Com isto, o Judiciário vem, cada vez mais, sendo

acionado; a Justiça do Trabalho, em particular, com a ampliação de sua

competência com a implementação da EC nº.45/2004, no julgamento de

demandas solicitando indenizações por danos morais em face do empregador,

embora as questões sobre acidente de trabalho continuem na competência da

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7Justiça Estadual por força do disposto no Inciso I do art. 109 da CR/88 e de

disposição na Súmula nº. 15 do STJ.

Todos perdem com o acidente de trabalho: o empregado acidentado e

sua família, a empresa, o governo e a sociedade.

Só há uma saída para o impasse: investir em prevenção. Com ela serão

beneficiados o empregador – que tem o retorno financeiro; a Previdência Social

– pela melhoria de suas contas e, o empregado – que reconhecerá o padrão

ético da empresa e terá o ganho emocional por se sentir cuidado, respeitado e

valorado.

Ao ser atingida a integridade física do trabalhador, não é apenas um

órgão do corpo humano que é afetado. O empregado sofre efeito nos atributos

da personalidade, produzindo conseqüências que podem permanecer para o

resto da vida. Pode torná-lo alvo de discriminação por parte da sociedade;

sentimentos de inferioridade desencadearão outras enfermidades e poderão

até causar desprazer pela vida, levando-o ao suicídio.

O quadro que nos é pintado sobre acidente do trabalho é dos mais

aflitivos. As ocorrências nesse campo geram conseqüências traumáticas que

levam, muitas vezes, à invalidez permanente ou até à morte, com

conseqüências danosas para aquele que trabalha, sua família, a sua empresa

e a sociedade. O acidente “ceifa” a trajetória profissional, sonhos e traz

sofrimento para vítimas inocentes, muitas vezes por culpa de empresários

displicentes que não prestigiam a vida e a saúde de seus empregados, não

cuidando deles como pessoas que devem ser valorizadas e respeitadas.

Não podemos nos calar, ignorarmos essa ferida social. Há uma

premente necessidade de soluções para esse problema de tamanha dimensão.

Medidas preventivas se fazem necessárias, e já se sabe que a implementação

delas, algumas de baixo custo e bastante simples, são as responsáveis pela

economia de muitas vidas humanas e de riscos de lesões por acidente de

trabalho.

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CAPÍTULO 1

PROTEÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADO

1.1-A pré-história da proteção ao trabalho

Diversos elementos históricos antecederam a evolução do “trabalho”,

caracterizado, principalmente, por distintas fases de utilização do trabalho

humano:

a) trabalho escravo - utilizado no mundo antigo, universalmente

praticado, onde o ganhar a comida era garantia se subsistência - somente foi

considerado trabalho indigno com a Revolução Francesa em 1789.

b) o primeiro marco evolutivo foi o surgimento da servidão

(intermediários entre o escravo e o homem livre) que passaram a ser vistas

como pessoas em sociedades feudais podendo ser titulares de relações

jurídicas como casamento, herança de animais e objetos pessoais, mas com

severas restrições como a de locomoção.

c) o colono rompe com a idéia do trabalhador servil e forma população

semi-livre, autônoma frente às cidades.

d) com as corporações (pessoas do mesmo ofício, sujeitas a regras

comuns) na Idade Média veio o deslocamento das pessoas para as cidades e o

aparecimento de trabalhadores com a mesma profissão, que se unem, dando

início às corporações de ofício, batalhando a conquista de direitos, nascendo,

assim, o trabalho assalariado feito pelos aprendizes que, também, gozavam de

proteção em caso de doenças.

Para o exercício do ofício, era necessário o ingresso nas corporações e,

assim, iam, gradativamente, evoluindo, até se tornarem mestres.

Nesse período de século XV e século XVI, prevalecia a vontade do

Estado sobre o indivíduo, não dando margem a qualquer forma de

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9reivindicação por parte da classe trabalhadora que não usufruía de proteção e

de cujo trabalho era meramente destinado a enriquecer ainda mais a classe

burguesa .

Até o início do século XVIII, não havia preocupação com a saúde do

trabalhador. A Revolução Francesa foi o marco histórico decisivo porque

pregava a igualdade jurídica - política dos cidadãos, suprimia a atuação das

corporações, consideradas opressoras, desfigurando a subordinação física e

servil do trabalhador. E, uma vez reconhecida a autonomia da liberdade de

contratar, transformá-la em subordinação contratual. Pregava e espalhava, da

segunda metade do século XVIII ao início do século XIX, as idéias que

valorizavam a livre iniciativa e estimulava a concorrência, dando

desenvolvimento ao capitalismo nos países como França, Grã-Bretanha e

depois nos EEUU, Alemanha, Holanda e Bélgica. Nestes últimos países, o

trabalhador era privado de qualquer espécie de proteção, quer corporativa,

quer por parte do Estado, que se omitia.

1.2-O advento da revolução industrial

Com a Revolução Industrial e de novos processos industriais – a

modernização das máquinas – começaram a aparecer doenças ou acidentes

decorrentes do trabalho. A partir desse momento, havia necessidade de

elaboração de normas para melhorar o ambiente de trabalho, de modo que o

trabalhador não pudesse ser prejudicado com agentes nocivos à sua saúde. A

lei passou a determinar, então, condições mínimas que deveriam ser

observadas pelo empregador e, sanções e fiscalização sobre as regras

determinadas.

Pouco a pouco, mudanças começaram a acontecer e o Estado passou a

intervir gradativamente. Em 1802, na Inglaterra, surge a Lei de Saúde e Moral

dos Aprendizes – primeira lei de proteção aos trabalhadores que limitava o

trabalho diário em 12 horas e proibia o trabalho noturno, além de medidas

relativas à higiene e ventilação no local de trabalho.

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101.3-Surgimento da proteção à saúde do trabalhador

Coube a Robert Owen, que pôs em prática, não só as suas idéias

inovadoras, nas fábricas de sua propriedade na Escócia, como teve atuação

decisiva, difundindo-as, procurando elevar o nível físico, cultural e material do

operariado, o título de pai da Legislação do Trabalho.

Em 1830/1833, o serviço de Medicina do Trabalho foi criado e a primeira

legislação eficiente de proteção ao trabalhador foi editada na Inglaterra.

Demarcava a idade mínima para o trabalho (9 anos), vedava o trabalho

noturno aos menores de 18 anos , fixava o trabalho diário em 12 horas e o

semanal em 69 horas.

Surgem as primeiras leis de acidente do trabalho na Alemanha, em

1884, com a implantação do primeiro sistema de seguros sociais e em vários

países da Europa, nos anos que se seguem.

O período de consolidação das normas de proteção ao trabalho foi o de

1838 a 1889, com estudos que defendiam a melhoria das condições de

trabalho por meio de tratados.

Daniel Legrand advogou a criação de um Direito Internacional protetivo

do trabalho, particularmente relacionado ao trabalho prematuro e excessivo –

tese acolhida em 1856 no Congresso Internacional da Beneficência, em

Bruxelas, e consolidada em 1857, no mesmo Congresso em Frankfurt; a

“Assembléia Internacional de Trabalhadores”, nome pelo qual ficou conhecida

em 1864 na cidade de Londres, adotou resolução pleiteando uma legislação

social internacional defendendo a união do proletariado.

O Congresso de Genebra, em 1866, buscou limitar internacionalmente

as horas de trabalho e a criação das normas de proteção ao trabalho.

A Conferência de Berlim, de 1890, reuniu treze países e é apontada

como a primeira reunião oficial de países na tentativa de regulamentar as

normas de proteção ao trabalho, nela incluindo o repouso semanal e a

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11inspeção internacional do trabalho nas reivindicações, além do trabalho das

crianças, jovens e mulheres em minas.

Esse despertar do pensamento para a necessidade de uma efetiva

proteção e legislação social trabalhista, assegurando o dever do Estado de

intervir nas relações de trabalho, e garantindo um mínimo de direitos aos

trabalhadores, motivou o Direito Internacional do Trabalho e originou as

primeiras convenções internacionais, em 1905 (Berna).

Com as Conferências de Berna surgiu a legislação internacional do

trabalho proibindo o trabalho dos menores na indústria, fixando jornada de dez

horas para o trabalho das mulheres e dos menores.

De 1914 a 1919, a ação dos sindicatos se fez sentir, no sentido de fazer

inserir no futuro Tratado de Paz no fim da Primeira Guerra, normas que

assegurassem direitos aos trabalhadores, e estes através de organizações

sindicais, viessem a também participar da Conferência da Paz.

Pelo Tratado de Paz (Tratado de Versailles) em 1919, foi criada a

Organização Internacional do Trabalho – OIT, onde no preâmbulo de sua

constituição foi introduzida a necessidade de proteção dos trabalhadores contra

doenças profissionais e acidentes de trabalho, fazendo parte e reproduzido na

Declaração de Filadélfia, em 1944, que teve como finalidade a universalização

da justiça social nos aspectos relacionados ao trabalhador, sendo um dos

primeiros marcos do processo de internacionalização dos direitos humanos.

A “Carta do Trabalho”, ao final da Primeira Guerra Mundial (Berna, 1919)

delimitou a jornada de trabalho e a garantia de higiene e segurança do

trabalho.

A OIT foi, sem dúvida, o marco fundamental na caminhada evolutiva à

proteção dos direitos dos trabalhadores. Ao todo, até 2003, são trinta

convenções e trinta e três recomendações voltadas à proteção em relação a

acidentes de trabalho, doenças profissionais, neutralização e redução de riscos

e definição de condutas adequadas à Segurança e Medicina do Trabalho,

eliminando os riscos ligados às ocupações perigosas ou insalubres, bem como

assegurar o efetivo direito à segurança e à higiene no trabalho, prevenindo

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12acidentes e danos para a saúde originados do trabalho. Para isso, elaborou em

1976, o Programa Internacional para Melhorar as Condições de Trabalho e

Meio Ambiente de Trabalho – PIACT.

1.4-A OIT e sua evolução sobre saúde do trabalho

A ação da OIT, nos dias de hoje, não se caracteriza somente pela

preocupação com as condições de trabalho e com os direitos previdenciários

do trabalhador.

A proteção à maternidade com o direito ao afastamento do trabalho num

período antes e depois do parto foi parte precursora das iniciativas da OIT.

Nos fins dos anos 1920, foram aprovados instrumentos relativos à

reparação de acidentes de trabalho e doenças profissionais, bem como de

normas de segurança em setores expostos ao risco, como trabalho portuário e

indústria em geral, tendo origem as primeiras iniciativas com relação ao

conceito de prevenção dos acidentes do trabalho, a partir da pesquisa das

causas e das condições em que ocorreram.

A proteção a determinados riscos (radiações, benzeno, substâncias e

agentes cancerígenos, etc.) ampliou-se depois da Segunda Guerra Mundial,

tornaram-se obrigatórios os exames médicos para pessoas no labor, com a

finalidade de melhorar a higiene do trabalho.

A partir de 1950, foram abordados temas na área de proteção, como o

amparo à maternidade, repouso semanal no comércio e nos escritórios, exame

médico dos pescadores, proteção contra radiações, proteção em face das

máquinas, higiene no comércio e escritórios, exame médico dos adolescentes

para o trabalho subterrâneo em minas, peso máximo de cargas, prevenção dos

acidentes do trabalho dos marítimos, riscos de intoxicação pelo benzeno,

prevenção e controle de riscos profissionais causados por substâncias ou

agentes cancerígenos, contaminação do ar, ruído e vibrações e segurança e

higiene dos trabalhos portuários.

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13A declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das

Nações Unidas – ONU, aprovada em 10/12/1948, incorporou a noção de que a

dignidade humana é fundamento dos direitos humanos e introduziu este novo

conceito em todos os tratados e declarações nesse campo.

A proteção ao trabalho passa a ser, então, vista como uma variável dos

direitos humanos.

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CAPÍTULO 2

PROTEÇÃO DA SAÚDE NO BRASIL

No Brasil, não foi diferente o tratamento dado à saúde do trabalhador, e

nosso país absorveu o resultado dos debates mundiais em torno dos direitos

humanos com considerável atraso, fato decorrido devido ao latifúndio

monocultural, escravagismo e autoritarismo que nos marcou até parte do

século XX.

A Constituição de 1824 previa a garantia dos socorros públicos, ainda

que não tratasse das questões relacionadas com o trabalho subordinado. A de

1891, não tratou dos direitos sociais.

Somente a partir da Revolução de 1930, esses direitos começaram a ser

vistos.

A Carta de 1934 continha referência, como direito do trabalhador, a

assistência médica e sanitária (art.121, parágrafo 1º, h).

Não havia conscientização de que os direitos sociais eram direitos

humanos, por isso, as questões sociais fundamentais não eram priorizadas,

ficando grande parte deles reconhecidos essencialmente “pró-forma”.

A Constituição de 1937, tratava do trabalho como “meio de subsistência

do indivíduo”, contando, assim, com a proteção do Estado na sua defesa e a

instituição do seguro em face do acidente do trabalho, que não seria mais

vinculado à previdência estatal, mas, sim, como risco, ou necessidade a ser

coberta.

Com a Carta Magna de 1946, veio o grande avanço com o

estabelecimento do seguro contra acidentes do trabalho não estatal, com

custeio a cargo do empregador (art.157, XVII), instituindo um direito social do

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15segurado, além de referência à higiene e segurança do trabalho (art.157,VIII)

visando à melhoria da condição dos trabalhadores.

Com o surgir do movimento militar de 1964, e devido às inúmeras

alterações havidas na Carta de 1946 e de Atos Institucionais editados, houve a

necessidade de uma nova Constituição, sendo promulgada a Constituição de

1967, que enumerava os direitos já assegurados aos trabalhadores (art.165,IX)

quanto à higiene e segurança do trabalho e retornou ao modelo de cobertura

de seguro acidentário com contribuição da União, do empregador e do

empregado, sem indicação de que fosse em partes iguais(art.165,XVI).

A Constituição que deu melhor proteção aos direitos humanos em geral

foi a de 1988, tendo ela sido o auge a que chegou a redemocratização do

Brasil, fruto dos movimentos sociais e políticos que eclodiram ao final da

década de 1970. Inclui os direitos sociais na classificação dos direitos

fundamentais e o ser humano como ponto central da titularidade dos direitos

constitucionais. Especificou que o trabalhador tem direito à “redução dos riscos

inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança”

(art.7º, XXII).

2.1-A saúde e sua proteção

O que é ter saúde?

Pelo conceito da OMS, contido na sua Constituição, em 1946, e

reafirmado em 1978, na Conferência Mundial de Saúde em Alma Ata, saúde é

o “estado de completo bem - estar físico, mental e social e não apenas a

ausência de doença ou enfermidade”.

É o resultante do estado de equilíbrio, dinâmico e harmônico entre as

condições biológicas e o meio físico ou social, isto é, com o meio ambiente.

Ter boa saúde não significa, necessariamente, não estar doente, mas a

possibilidade de adoecer e se recuperar.

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16A noção de saúde enquanto processo biopsicosocial é introduzida a

partir dos anos 70 quando se passa a compreender que o desgaste do operário

não resulta dos muitos fatores de risco de uma determinada indústria, mas está

intimamente relacionado com a organização do trabalho e divisões de tarefas,

assim como o lugar que ocupam na organização social.

O estado de saúde, numa perspectiva dinâmica, seria o resultado de um

equilíbrio contínuo e bem- sucedido entre o indivíduo e o meio que o cerca,

sendo a ele direcionado todo o conjunto de regras protetivas constitucionais a

saber:

a) §2º, do art. 5º. da Constituição de 1988 :

Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros

decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados

internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

b) §3º, do art. 5º da Constituição de 1988 :

Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que

forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por

três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às

emendas constitucionais (EC no. 45 de 08/12/2004).

c) o art. 7º, XVII :

Art.7º. – São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros

que visem à melhoria de sua condição social:

XXII – redução de riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de

saúde, higiene e segurança.

d) o art.7º, XXIII :

- adicional de remuneração para atividades penosas, insalubres ou

perigosas, na forma da lei.

Esse adicional foi instituído na Constituição de 1988. Representa uma

compensação dada ao empregado pela execução do trabalho de condições

adversas. Aí, priorizando o direito ao adicional, em detrimento ao direito da

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17saúde do empregado, criando mecanismos de conviver com o mal, e não de

evitá-lo, sendo uma “faca de dois gumes” para o trabalhador que na ânsia de

aposentar-se precocemente ou de receber o acréscimo, esquece de suas

péssimas condições de trabalho.

e) o art.7º, XXVIII :

- seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem

excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou

culpa.

Atribui o direito à reparação independentemente da cobertura a cargo da

previdência social, nos casos em que houver culpa ou dolo do empregador, já

que por muitas vezes, a atitude do empregador em negligenciar os cuidados

necessários para a prevenção do acidente e, com isso, criar condições próprias

para a sua ocorrência.

Coexistem dois tipos de responsabilidade:

- a objetiva; gerada pelo próprio acidente, a cargo da Previdência Social,

em que não se discute de quem foi a culpa, bastando que seja caracterizado o

acidente.

- a subjetiva: quando há dolo ou culpa comprovada na ação do

empregador.

f) §10 do art. 201 da Lei 8213/91:

Lei disciplinará a cobertura do risco de acidente de trabalho, a ser

atendida concorrentemente pelo regime geral de previdência social e pelo setor

privado.

Oriundo da EC nº.20 de 15/12/1998, permite que a cobertura do risco

decorrente do acidente do trabalho, possa ser atendida de forma concorrente

pelo Regime Geral da Previdência e pelo setor privado. Isto quer dizer que os

infortúnios laborais passarão também a ser cobertos por meio de seguros

privados.

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182.2-Conceito de meio ambiente

É o conjunto de condições, leis, influências e integrações de ordem

física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas

formas (art.30, I da lei 6.938/81).

Art. 200, VIII – Ao Sistema Único de Saúde compete, além de outras

atribuições, nos termos da lei:

VIII – colaborar na proteção do meio ambiente, nele incluindo o do

trabalho.

Ao caráter múltiplo do conceito de meio ambiente se insere o trabalho,

pressupondo a garantia de um local seguro, salubre, que assegure a qualidade

de vida do trabalhador. Para isso o Poder Público e a coletividade devem

preservar e adotar medidas efetivas que garantam essa qualidade.

Para que se possa atingir um meio ambiente equilibrado e sustentável

não se pode ignorar o meio ambiente do trabalho, e nele a qualidade de vida

do homem na sua individualidade e coletividade.

Os empregados deverão tomar precauções no local de trabalho de modo

a evitar acidentes de trabalho ou doenças ocupacionais, constituindo falta

grave do empregado quando este não observar as instruções expedidas pelo

empregador, assim como não usar os equipamentos de proteção individual que

lhe são fornecidos pela empresa (art. 158 da CLT), sendo passível de

advertência ou suspensão e até de rescisão do contrato, nos casos mais

graves.

Em geral, as condições em que se realiza o trabalho não estão

adaptadas à capacidade física e mental do empregado. Essas más condições

provocam riscos já conhecidos há muitos anos como doenças profissionais,

envelhecimento precoce, acidentes; suas principais causas são a duração

excessiva da jornada, falta de repouso suficiente, trabalho penoso, trabalhos

em turnos de revezamento, tarefas repetitivas, ambiente hostil, posturas

inadequadas, ritmo de trabalho, atenção e tensão constantes.

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19A esses riscos aliam-se os que surgem do progresso tecnológico, como

a exposição a substâncias químicas.

2.3-Prevenção

A prevenção é o princípio inspirador de todas as normas de tutela à

saúde, inclusive no local de trabalho.

Medidas substituindo o que é perigoso, eliminando os riscos na origem,

dando atenção aos princípios ergonômicos. Medidas de gestão destinadas a

regular a atividade operativas tanto pelos empregados quanto pelos

empregadores; medidas de emergência para se surgir situação de perigo como

pronto-socorro, escadas, extintores de incêndio, saídas de emergência e

medidas de caráter participativo, onde a informação e a formação dos

trabalhadores não é deixada à sua livre iniciativa, mas constituem uma

obrigação do empregador, fazem parte das medidas de proteção, dentre as

outras já citadas, que constitui o guia de realização e administração prática

dessa prevenção.

Apesar do adequado sistema legal vigente no Brasil acerca do acidente

de trabalho e medidas preventivas, ainda é alarmante o número de infortúnios

verificados, sendo suas principais causas:

a) falta de conscientização de empregadores e empregados para a

importância quanto à prevenção dos acidentes de trabalho, sendo que muitos

empregados não aceitam usar os equipamentos de proteção individual e

preferem receber os adicionais sobre o salário ao invés de eliminarem ou

neutralizarem os riscos de acidentes e doenças profissionais. Os

empregadores que, por sua vez, não procedem a reforma de seus

estabelecimentos, no sentido de eliminar ou reduzir os riscos de acidentes ou

doenças;

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20b) formação profissional inadequada, quase sempre sem transmitir ao

trabalhador noções fundamentais de prevenção de acidentes correlacionados

com o ofício ensinado;

c) jornadas de trabalho com horas extraordinárias, o que se agrava nas

grandes cidades, face aos longos períodos de transporte;

d) alimentação insuficiente e imprópria para o trabalhador;

e)prestação de serviços insalubres em jornadas de trabalho

concernentes às atividades normais para limitar a agressão dos agentes físicos

e químicos a níveis de tolerância. Ao invés de adicional se salário,

encurtamento do período de trabalho.

2.4-Proteção à saúde e legislação brasileira

Marchas e contramarchas fizeram parte do processo de legislação sobre

a proteção à saúde do trabalhador brasileiro.

No Brasil colônia, os senhores possuíam ação voluntária quanto à

política de segurança e saúde no trabalho de seus escravos doentes ou com a

República, os acidentados apenas eram enviados às Santas Casas de

Misericórdia com o registro policial do evento ocorrido.

O Decreto-Lei nº. 3.724, de 15/1/1919, foi a primeira norma a reparar os

danos causados pelo acidente de trabalho. Vinculava a indenização ao

elemento subjetivo, ou seja, à efetiva prova de culpa. Tornou-se obrigatório, o

seguro mercantilista de acidentes do trabalho, em todas as empresas, por meio

de prêmios e indenizações.

O Decreto-Lei n. 24.637, de 10/7/1934, incluiu na categoria de doenças

profissionais as moléstias comuns e ligadas a determinadas atividades,

ampliando ligeiramente a definição de acidente do trabalho.

Ampliou significativamente o número de atividades abrangidas,

envolvendo indústria, comércio, pecuária, domésticos e agricultura.

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21Garantia o pagamento da indenização acidentária imposta ao empregador, sob

pena de multa.

Com o advento da CLT, por meio de Decreto-Lei nº. 5.452 de 1/5/1943,

instituiu-se as primeiras normas de higiene e segurança do trabalho, prevenção

de acidentes de trabalho e doenças profissionais e disciplinou a obrigação dos

empregados e empregadores quanto à higiene e segurança nos locais de

trabalho, também definindo as atividades insalubres e perigosas.

O Decreto nº. 7.036, de 10/11/1944, definiu o conceito de acidente do

trabalho a partir da sua causa, e não mais do seu efeito; previu a

responsabilidade do empregador quanto aos danos ocasionados por terceiros;

incluiu o acidente ocorrido no trajeto ao trabalho como acidente de trabalho.

No Decreto ficou estabelecida a participação dos trabalhadores na

atividade preventiva nas empresas que possuíssem número mínimo de cem

empregados por meio das Comissões Internas de Prevenção de Acidentes –

CIPAs – que investigariam as causas dos acidentes, identificando fatores de

riscos no local de trabalho – o que lhes dava garantia efetiva de proteção à

saúde.

Obrigações quanto à preservação da saúde individual foram atribuídas

aos empregados, embora não pudessem recusar trabalho perigoso, nem

tivessem o direito à informação sobre a natureza arriscada do trabalho.

O uso do Equipamento de Proteção Individual – EPI – foi o principal

dever atribuído ao empregado.

Previu a criação de serviços especializados em Engenharia de

Segurança e Medicina do Trabalho – SESMT e a formação de profissionais

especializados nessas áreas. O exame médico é uma das medidas preventivas

da medicina do trabalho, obrigatório, e sempre por conta do empregador.

A Lei nº. 5.316 de 14/9/67, integrou o seguro de acidentes de trabalho

na Previdência Social; estendeu a proteção aos trabalhadores avulsos e

presidiários; determinou o custeio do seguro acidentário por meio de uma

contribuição a cargo exclusivo da empresa.

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22Em 19/10/1976, a lei nº. 6.367, ampliou a cobertura para alcançar os

trabalhadores temporários e criou um acréscimo na contribuição a cargo do

empregador, conforme o risco apresentado pelo seu negócio, para a cobertura

do acidente.

As CIPAs foram regulamentadas e tornaram-se obrigatórias para as

empresas com mais de 50 empregados, cabendo-lhes solicitar aos dirigentes

da empresa medidas para adequar o ambiente de trabalho às normas de

segurança e medicina do trabalho. Protegem e fiscalizam o direito à saúde e

segurança no ambiente de trabalho, prevenindo ou eliminando os riscos e

agressões inerentes a este.

Houve, ainda, para a indústria de construção civil, o Programa de

Controle do Meio Ambiente de Trabalho - PCMAT, sendo obrigatório para

empresas com mais de 20 operários.

A referência ao meio ambiente de trabalho somente veio a surgir com a

edição da NR - 17 que trata da ergonomia (ciência que estuda as relações do

homem com seu trabalho sob o aspecto psico-fisiológico)

A Lei nº. 8.213, de 24/7/1991 criou a estabilidade para o trabalhador

vítima de acidente de trabalho (art. 118).

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23

CAPÍTULO 3

ACIDENTES DO TRABALHO

3.1-Acidente do trabalho- conceito

É o acidente que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa

ou pelo exercício do trabalho dos segurados especiais, provocando lesão

corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou a redução,

permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho (art.19 da Lei

no.8213/91).

Para Annibal Fernandes1: o acidente do trabalho – o acidente tipo – é o

evento relacionado, diretamente ou não, ao trabalho executado pelo obreiro. Já

não se trata de um infortúnio no trabalho, mas do trabalho. O que envolve o

trabalho, nos limites da legislação e interpretada a regra pela sua finalidade

social, caracteriza o acidente para efeito de reparação.

3.2-Espécies de acidente de trabalho

O Brasil não dispõe de uma Lei de acidentes do trabalho, sendo a

matéria regida pela Lei no. 8213 de 24/7/1991, atualmente. Suas regras

encontram-se espalhadas nos benefícios da Previdência Social, o que dificulta

a sua aplicação como também altera o alvo da proteção que deveria ser a

saúde do trabalhador acidentado e o ressarcimento justo.

1 Curso de Direito Previdenciário, Org.por Wagner Balera, São Paulo ; LTr ,1992

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24Espécies distintas de infortúnio laboral:

a) acidente – tipo;

b) doenças ocupacionais que compreendem:

- doenças profissionais;

- doenças do trabalho;

- doenças provenientes de contaminação acidental;

c) acidentes por equiparação, ocorridos no ambiente e no horário de

trabalho:

- doenças provocadas por concausas;

- lesões provocadas por terceiros;

- danos provocados por agressão injusta, sabotagem ou terrorismo;

- ofensas físicas intencionais, por causa ligada ao trabalho;

- acidentes causados por culpa de terceiro;

- lesões provenientes de pessoa privada do uso da razão;

- acidentes provocados por força maior;

d) acidentes por equiparação, ocorridos fora do ambiente e do horário de

trabalho:

- na execução de ordem ou na realização de serviço sob autoridade do

empregador;

- na prestação de serviço para evitar prejuízo ou proporcionar proveito;

- em viagem de serviço;

- acidente de percurso;

- nos períodos de refeição e descanso;

- nos períodos em que estiver satisfazendo as necessidades biológicas.

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253.2.1 – Acidente – tipo ou acidente típico

Também chamado de macrotrauma, é tratado no art. 19 da Lei já citada.

Trata-se de evento único, imprevisto e de conseqüências, geralmente

imediatas, podendo ocorrer sem provocar alarde, ocasionando meses ou anos

depois de sua ocorrência, danos graves e até fatais, exigindo-se, apenas, o

nexo de causalidade e a lesividade. É, assim, um evento súbito ocorrido

durante a realização do trabalho por conta alheia, que acarreta danos físicos ou

psíquicos à pessoa do empregado, capazes de gerar a morte ou a perda,

temporária ou permanente, de sua capacidade laboral.

Dessa forma, podemos concluir por este conceito de acidente típico que:

- evento súbito – acontece em um pequeno lapso de tempo, não sendo,

assim, de natureza progressiva;

- realização do trabalho – estando o empregado por conta alheia, sujeito

ao poder de comando do empregador;

- danos físicos ou psíquicos – a integridade do conjunto orgânico da

vítima, podendo atingi-lo como um todo ou limitar-se a uma parte, isto é, não só

lesões externas como internas e trauma psíquico como: medo, terror.

- ocasionando paralisação de sua capacidade laboral por lesão corporal

– contusões que a pessoa sofre em seu corpo (dano físico ou psíquico) e

perturbação funcional – que não vai atingir o órgão na sua anatomia, mas na

função que lhe é inerente. A vítima aparentemente é sã, mas o exame revela o

contrário, refletindo as conseqüências na pessoa do trabalhador que se vê

impossibilitada da capacidade de trabalhar ou é levado, até mesmo, à morte.

Para a Previdência Social, a incapacidade possui conceituação própria,

prevista no Manual de Perícia Médica da Previdência Social.

É classificada segundo três fatores:

a) quanto ao grau de incapacidade:

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26- incapacidade total: impossibilita a permanência no trabalho, não

permitindo que o empregado atinja a média do rendimento alcançada em

condições normais pelos integrantes de sua categoria profissional;

- incapacidade parcial: quando o empregado, ainda que possa trabalhar,

sem risco de vida ou agravamento maior, tenha o seu ganho compatível com a

percepção de salário aproximado ao que auferia antes da doença ou acidente;

b) quanto à duração:

- incapacidade temporária: aquela em que se pode esperar a

recuperação do empregado em prazo previsível;

- incapacidade permanente: insuscetível de alteração nesse mesmo

tempo, de acordo com os recursos da terapêutica e reabilitação disponíveis;

c) quanto à profissão:

- uniprofissional: alcança apenas uma atividade específica;

- multiprofissional: abrange diversas atividades profissionais;

- omniprofissional: acarreta a impossibilidade de desempenho de toda e

qualquer atividade laborativa.

Esse critério distingue as espécies de incapacidade do empregado para

trabalhar não em decorrência da extensão dos danos físicos ou psíquicos a ele

causados, mas levando em consideração o que acarretou na redução do seu

padrão remuneratório habitual.

O nexo de causalidade é o vínculo necessariamente estabelecido entre

a ocorrência do infortúnio e a lesão sofrida pelo empregado. É a relação de

causa e efeito entre o evento e o resultado.

A causalidade é direta quando causa e efeito estão intimamente ligados

na ocorrência do acidente e indireta quando apesar de ocorrido no local e

horário de trabalho, não tem nele a causa direta ou não é ele o desencadeador.

O que a lei impõe é que haja correlação entre a lesão sofrida pelo

trabalhador, ou mesmo a sua morte, e o exercício da atividade laborativa,

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27sendo até mesmo relevante, portanto, se o infortúnio aconteceu no trabalho,

em decorrência dele, no trajeto ou a serviço da empresa.

Então, deve haver nexo causal de três espécies:

a) entre o trabalho e o acidente ou doença;

b) entre o acidente ou doença e a lesão ocupacional ou perturbação

funcional;

c) entre a lesão corporal ou perturbação funcional e redução da

capacidade laborativa ou morte

Para que seja caracterizado o acidente, é imprescindível que tenha sido

resultante da prestação de trabalho; que a incapacidade ou morte sejam

resultantes desta.

3.3-Histórico das leis acidentárias

Para receber indenizações, a vítima precisa obter o enquadramento do

evento como acidente do trabalho ou doença ocupacional, nos termos da

legislação própria.

A legislação acidentária brasileira foi construída em sete etapas mais

significativas.

Com o crescimento da industrialização, a partir do século XIX, aumentou

o número de mutilados e mortos provenientes das precárias condições de

trabalho.

Para remediar a situação, normas jurídicas foram criadas para proteger

o acidentado e seus dependentes. Foi em 1884, que a Alemanha, instituiu a

primeira lei específica a respeito de acidentes de trabalho. A primeira lei

acidentária brasileira surgiu no início do século XX – o empregador foi onerado

com a responsabilidade pelo pagamento das indenizações acidentárias –

Decreto Legislativo no. 3724 de 15 de janeiro de 1919.

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28A segunda lei acidentária – Decreto no. 24.637 de 10 de julho de 1934 –

ampliou o conceito de acidente para abranger as doenças profissionais atípicas

e estabeleceu a obrigação do seguro privado para garantia do pagamento de

indenizações, valor de depósito que varia de acordo com o número de

empregados.

Em 10 de novembro de 1944, adveio a terceira lei pelo Decreto no.

7.036, incorporando as concausas e o acidente in itinere, instituindo, ainda,

para o empregador, de proporcionar a seus empregados a máxima segurança

e higiene no trabalho e o dever dos empregados de cumprir as normas de

segurança expedidas pelo empregador. O empregador, também estava

obrigado a formalizar seguro contra os riscos de acidente perante a instituição

previdenciária da filiação do empregado. Outro aspecto relevante deste

Decreto foi a previsão legal possibilitando, pela primeira vez, a acumulação dos

direitos acidentários com as reparações por responsabilidade civil.

A quarta lei brasileira – Decreto lei no. 293 de 28 de fevereiro de 1967

marcou inegável retrocesso. Em 14 de setembro do mesmo ano foi promulgada

a quinta Lei que transferiu ao INPS o monopólio do seguro de acidente de

trabalho e criou plano específico de benefícios previdenciários acidentários.

Nova mudança ocorreu em 19 de outubro de 1976 com a sexta - de no.

6367 - que incluiu a doença proveniente de contaminação acidental do pessoal

da área médica como situação equiparada a acidente de trabalho.

Atualmente, vigora a Lei no. 8213 de 24 de julho de 1991 - sétima Lei

Acidentária - onde os aspectos centrais do acidente do trabalho estão

disciplinados do art. 19 a 23 da lei mencionada, com regulamentação pelo

Decreto no. 3048 de 06/05/99.

O País, a bem dizer, não possui uma lei específica de acidentes de

trabalho.

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29QUADRO 1: Leis Acidentárias no Brasil

NORMA LEGAL CONCEITO DE ACIDENTE DO TRABALHO

1ª Lei acidentária: Decreto Legislativo n. 3.724, de15 janeiro de 1919.

Art. 1o. Consideram-se acidentes no trabalho, para os fins da presente lei:a) o produzido por uma causa súbita, violente, externa e involuntária no exercício do trabalho, determinando lesões corporais ou perturbações funcionais, que constituam a causa única da morte ou perda total ou parcial, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.

2ª Lei acidentária: Decreto n.24.637, de 10 de julho de 1934.

Art.1o. Considera-se acidente do trabalho, para os fins da presente lei, toda lesão corporal, perturbação funcional, ou doença produzida pelo exercício do trabalho ou em consequência dele, que determine a morte, ou a suspensão ou limitação, permanente ou temporária, total ou parcial, da capacidade para o trabalho.

3ª Lei acidentária: Decreto-lei n.7.036, de 10 de novembro de 1944.

Art. 1o.Considera-se acidente do trabalho, para os fins da presente lei, todo aquele que se verifique pelo exercício do trabalho, provocando, direta ou indiretamente, lesão corporal, perturbação funcional, ou doença, que determine a morte, a perda total ou parcial, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.

4ª Lei acidentária: Decreto-lei n.293, de 28 de fevereiro de 1967.

Art.1o.Para os fins do presente Decreto-lei, considera-se acidente de trabalho todo aquele que provocar lesão corporal ou perturbação funcional no exercício do trabalho, a serviço do empregador, resultante de causa externa súbita, imprevista ou fortuita, determinando a morte do empregado ou sua incapacidade para o trabalho, total ou parcial, permanente ou temporária.

5ª Lei acidentária: Lei n.5.316, de 14 de setembro de 1967.

Art.2o.Acidente do trabalho será aquele que ocorrer pelo exercício do trabalho, a serviço da empresa, provocando lesão corporal, perturbação funcional ou doença que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.

6ª Lei acidentária: Lei n.6.367, de 19 de outubro de 1976.

Art.2o.Acidente do trabalho é aquele que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, ou perda, ou redução permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.

7ª Lei acidentária: Lei n.8213, de 24 de julho de 1991. É a norma que se encontra em vigor.

Art.19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.

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303.4-Doenças Ocupacionais ou do trabalho

Doenças ocasionadas pela execução do trabalho é fato constatado

desde a Antiguidade, havendo registros, desde Aristóteles como também de

historiadores, poetas e pensadores gregos e romanos.

No século XVIII, a atenção esteve voltada para a melhoria da saúde de

algumas profissões, sobretudo na erradicação do escorbuto e de outras

doenças de marinheiros da Inglaterra, França e Alemanha, mas somente virou

objeto de reivindicação pelos trabalhadores a partir da Revolução Industrial.

Por sua vez, a garantia de ressarcimento dos danos causados à saúde

do empregado pelas doenças originadas do trabalho que, a cada dia, se

multiplica com novos agentes agressivos, nem sempre foi bem aceita.

Desde a 1ª lei acidentária de 1919, as doenças provocadas pelo trabalho

do empregado são consideradas como acidente do trabalho.

A lei n. 8213/91 regula as doenças ocupacionais, com a seguinte

redação.

"Art.20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo

anterior, as seguintes entidades mórbidas;

I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada

pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da

respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência

Social;

II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada

em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se

relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I."

A doença profissional é aquela peculiar à determinada atividade ou

profissão, também chamada de doença profissional típica, tecnopatia ou

ergopatia. O nexo causal da doença é presumido, na medida em que o

exercício de determinada profissão pode produzir ou desencadear certas

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31patologias. É o caso do minerador que trabalha exposto ao pó de sílica e

contrai a silicose.

A doença do trabalho ou doença profissional atípica, não está vinculada

à uma profissão, apesar de ter origem na atividade do trabalhador. Decorre das

condições específicas do ambiente de trabalho ou da forma como ele é

prestado. O caso mais comum é o da LER/DORT.

Não têm nexo causal presumido, exigindo comprovação de que a

patologia se desenvolveu em razão das condições especiais em que o trabalho

foi realizado.

Para essas doenças também chamadas de mesopatias foi instituído o

nexo técnico epidemiológico acrescentado à lei nº.8213/91 para facilitar seu

enquadramento como doença ocupacional.

Não são consideradas como doença do trabalho: a doença

degenerativa; a ligada a grupo etário; a que não produza incapacidade

laborativa e a doença endêmica adquirida por pessoa habitante de região em

que ela se desenvolva, a não ser que seja resultante de exposição ou contato

direto determinado pela natureza do trabalho.

Quanto à doença degenerativa, provada sua relação direta com a

atividade laborativa, deve o processo degenerativo ser caracterizado como

doença do trabalho (na traumatologia ocupacional e desportiva - esforços

repetitivos, posturas viciosas prolongadas, na degeneração articular induzida

por vibrações mecânicas nas mãos, decorrentes da utilização de equipamentos

como furadeiras, lixadeiras, parafusadeiras, britadeiras, etc.)

Se a doença não acarreta incapacidade para o trabalho não se

reconhece o acidente do trabalho já que a cobertura do seguro acidentário está

voltada para a inaptidão laborativa.

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323.5-Concausas

A 1ª lei acidentária de 1919 só admitia o acidente de trabalho ou doença

profissional originados de causa única direta ou indireta, contudo desde o

Decreto-Lei nº.7036/44 passou a ser admitida a teoria das concausas. O

legislador elasteceu o conceito de acidente laboral concebendo o que se

denomina "acidente por equiparação", nos casos previstos no art.21 da Lei de

Benefícios da Previdência Social (Lei nº. 8213/91).

"Art.21 - Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para os efeitos

desta Lei: I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa

única, haja contribuído diretamente para a morte do segurado, para a redução

ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija

atenção médica para a sua recuperação".

São as situações em que o infortúnio ocorreu por estar indiretamente

relacionado ao trabalho executado pela vítima. É outra causa que, juntando-se

à principal reforçando-a, contribui para a produção do efeito danoso, com

verdadeira eficiência lesiva.

Um exemplo que pode ser citado é a predisposição constitucional de um

trabalhador à hérnia inguinal. A doença pode vir a ocorrer em virtude de um

esforço físico incomum. Nesse caso, a predisposição é a causa anterior; o

esforço físico incomum é a causa adicional, que pode ter contribuído para o

resultado final.

As concausas podem ocorrer, então, por fatores preexistentes,

supervenientes ou concomitantes com aquela causa que desencadeou o

acidente ou a doença ocupacional.

Analisando, podemos dizer que concausas:

a) preexistentes são aquelas em que o trabalhador apresenta uma

predisposição latente, que se evidencia, quando causas associadas a ela,

produzem o infortúnio, em função das circunstâncias em que executa sua

atividade laboral.

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33b) concomitantes são aquelas em que os sintomas da enfermidade

coincidem com o momento do acidente.

Um exemplo é de um empregado vir a desmaiar, por causa desvinculada

do trabalho, durante a execução do seu labor e sofrer lesão cortante na

máquina que está operando.

c) supervenientes ou posteriores são as que surgem após a ocorrência

do acidente, trazendo conseqüências advindas dele. São as complicações

patológicas do mal originado, que acarretam o agravamento da lesão oriunda

do acidente.

Temos como exemplo, a infecção hospitalar contraída pelo empregado

quando de sua cirurgia em virtude do acidente.

O legislador não considera, contudo, concausa superveniente a lesão de

outra natureza posteriormente sofrida pelo empregado, que possa ser

associada à primeira, já consolidada.

3.6-Acidentes de trajeto

Esse tipo de acidente chamado de acidente de trajeto ou acidente in

itinere acusa ocorrência de peso na estatística do INSS. Essa modalidade

representa, em média 14% da totalidade dos acidentes de trabalho no Brasil.

O volume desses acidentes se encaixa no contexto dos acidentes de

trânsito em geral.

O Decreto nº.24.637/34 foi a 1ª lei acidentária a estabelecer a

responsabilidade do Empregador nos acidentes ocorridos na ida ou na volta do

empregado para o seu local de trabalho quando houvesse condução fornecida

pelo patrão. Hoje ele está regulamentado pela Lei nº. 8213/91 no Art.21, a

saber:

"Art.21 - Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para os efeitos

desta Lei: (...)

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34IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário do

trabalho: (...)

d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para

aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de

propriedade do segurado".

A Previdência Social não considera acidente de trabalho se o tempo de

deslocamento fugir do tempo usual ou o trajeto habitual for alterado. No

entanto, se o trabalhador tiver mais de um emprego e o infortúnio ocorrer no

percurso de um para outro local de trabalho,será também considerado acidente

de trajeto.

3.7-Outras situações

3.7.1-Lesões provocadas por atos de terceiros no ambiente de

trabalho e durante a jornada de trabalho.

"O inciso II do art. 21 da lei 8213/91 trata de situações de agressão ao

empregado provocadas por atos de terceiros que não estão ligados à execução

do trabalho, mas sim ao local ou horário onde, por força do trabalho ou por

circunstâncias do momento, o empregado deva prestar sua atividade laboral.

3.7.2-Agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro

ou companheiro de trabalho.

Serão considerados acidentes de trabalho atos que venham causar

lesão ao empregado como aqueles com emprego de violência dirigidos à

empresa ou até mesmo de danificação proposital de suas instalações físicas,

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35máquinas, matéria-prima, etc. com a finalidade de paralisar seus serviços

definitivamente ou temporariamente.

3.7.3-Ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo

de disputa relacionada ao trabalho.

O motivo tem que se originar no trabalho (disputas por postos de

trabalho, por promoções, insatisfações por punições sofridas, etc.)

A agressão moral igualmente intencional causada por palavras injuriosas

ou ofensivas que sejam o fato gerador e tragam consequências desastrosas

para a saúde do empregado ofendido também se encaixa nesta hipótese.

3.7.4-Ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de

terceiros ou de companheiro de trabalho.

São os atos culposos ocorridos durante o trabalho cotidiano que,

causados por terceiro ou companheiro de trabalho, venham a atingir o

empregado. É um erro no dever de cuidado, de cautela, de diligência no

cumprimento de uma norma de conduta, até mesmo a falta de esforço

necessário para observá-la, com resultado danoso, mas previsível, se o agente

se detivesse a pensar nas conseqüências eventuais de sua imperícia.

Muitas vezes, o longo exercício de atividade perigosa habitua o

empregado a conviver com o perigo, levando-o fatalmente a um

comportamento descuidado, imprudente.

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363.7.5-Ato de pessoa privada do uso da razão

O acidente fica caracterizado mesmo quando a agressão à integridade

física do obreiro é praticada por pessoa considerada demente. Pessoa que, em

virtude da idade, de embriaguez, de uso de psicotrópicos ou por qualquer outro

motivo não entende o caráter do ato que praticou.

Ao empregador é atribuído o dever de garantir a integridade do

empregado, adotando medidas que assegurem proteção contra quaisquer

agressões que a pessoa venha a sofrer no ambiente de trabalho.

3.7.6-Desabamento, inundação, incêndio e outros casos

fortuitos ou decorrentes de força maior.

Fenômenos naturais e fatos oriundos da ação humana, casualmente

ocorridos, que atinjam a integridade física do empregado, durante a execução

do seu labor; incluindo, também, eventos tais como ciclones, tremores de terra,

intempéries, raios.

3.7.7- Lesões sofridas pelo empregado, ainda que fora do local

e do horário de trabalho.

- na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da

empresa.

a) cumprindo ordens do empregador - não importa se em tarefas

habituais ou excedendo a jornada de trabalho.

b) realizando serviço sob a autoridade do empregador.

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37Desde que a mando do empregador, mesmo realizando atividade

distinta daquela que normalmente realiza.

- Na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa.

Não existe determinação do empregador, basta que com a intenção de

cooperar, realize um serviço, no curso do qual é ele vitimado.

3.7.8-Em viagem a serviço da empresa

Quando em viagem a serviço e, que não constitua o seu modo habitual

de executar seu trabalho, pois neste caso, como nos de vendedor viajante

estaria englobada no conceito de acidente - tipo.

A viagem de estudos do empregado custeada pelo empregador também

faz parte desse dispositivo.

3.7.9-Durante os períodos de refeição, descanso ou nos quais o

empregado estiver satisfazendo necessidades fisiológicas.

Desde que ocorra no local de trabalho ou no curso de sua jornada

laboral, mesmo que fora dele.

Trata o dispositivo de situações distintas relacionadas à refeição,

descanso ou satisfação de necessidades fisiológicas:

a) o acidente que acontece mesmo que não seja no local de trabalho

(quando o empregado se encontra almoçando em restaurante fora da empresa,

por exemplo) e;

b) o acidente ocorre no local, mesmo fora da jornada de trabalho

(quando o empregado vai almoçar, após o término do seu trabalho, na própria

empresa e sofre acidente).

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CAPÍTULO 4

RESPONSABILIDADE CIVIL NO

ACIDENTE DO TRABALHO

Toda pessoa que sofre um dano tem, como reação instintiva, a

necessidade de procurar o culpado para cobrar a reparação.

A responsabilidade civil surge como direito obrigacional, pela

desobediência de uma regra estabelecida em um contrato, ou por deixar-se de

observar uma norma que regule a vida em sociedade. Portanto decorre de um

ato ilícito e o não cumprimento de um dever produz em relação ao obrigado

uma conseqüência jurídica.

A responsabilidade civil pode ser definida por Antonio Lago Júnior como

a "obrigação de reparar um dano, por parte daquele que lhe deu causa, seja

pelo descumprimento de uma norma legal, seja pela inobservância de uma

norma contratual"2

Orlando Gomes sustenta que a teoria da responsabilidade civil tem por

fim “determinar quem é o devedor da obrigação de indenizar quando um dano

é produzido"3

É, pois a obrigação de toda pessoa, física ou jurídica, de reparar o dano

causado, em virtude de omissão ou de sua ação, indicadora da transgressão

de um dever jurídico anteriormente existente.

No entanto, a complexidade da vida atual, avanço tecnológico, explosão

demográfica e os perigos da modernidade acabaram por deixar vários danos

2 GOMES, Orlando, Introdução ao direito civil, 3ª. Ed.Rio de Janeiro: Forense, 1965, p. 469 3 LAGO JÚNIOR, Antônio. “A responsabilidade civil decorrente do acidente do trabalho”. In: LEÃO, Adroaldo. PAMPLONA FILHO, Rodolfo Mário (Coord). Responsabilidade civil. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 61.

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39ou acidentes sem reparação, já que a vítima não conseguia demonstrar a culpa

do causador do infortúnio.

Assim, mesmo hoje, não é raro encontrarmos situações em que o dano

sofrido pela vítima é uma realidade objetiva que não se discute, mas falta

provar o elemento subjetivo da culpa, o que não permite o deferimento da

indenização.

Muitas vezes, esse indeferimento do pedido de indenização se dá pela

ausência de prova da culpa do empregador ou pela alegação de culpa

exclusiva do empregado.

Pouco a pouco, houve necessidade de uma nova alternativa para acudir

as vítimas dos infortúnios. Ao lado da teoria subjetiva, que caracteriza - se na

culpa do agente sendo necessário, para sua configuração, não só a culpa do

agente, mas a existência do dano e o nexo causal entre o ato praticado e o

prejuízo causado, desenvolveu-se a teoria do risco ou objetiva, onde basta o

autor demonstrar o dano e a relação de causalidade para o deferimento da

indenização.

A responsabilidade objetiva, ao longo do século XX, foi incorporada por

diversas leis especiais e, foi na questão do acidente do trabalho que essa

teoria obteve maior aceitação dos juristas e até mesmo adotada no campo do

seguro acidentário. Esse processo de evolução ocorreu de forma gradativa,

tendo início com o acolhimento pelos tribunais de uma maior facilidade na

prova da culpa, que evoluiu para a admissão da culpa presumida, com a

inversão do ônus da prova; depois com a ampliação dos casos de

responsabilidade contratual e finalmente, reconhecendo-se o dever de

reparação independente da noção de culpa.

A responsabilidade subjetiva continuará sendo aplicável, convivendo

com a objetiva que afirmou - se em espaço próprio, para atender aos casos em

que a exigência de culpa inviabilizava a indenização do prejuízo sofrido.

O parágrafo 3o. do Art. 225 da Constituição da República de 1988,

estabelece a obrigação de reparar os danos causados pelas atividades lesivas

ao meio ambiente, sem cogitar da existência de dolo ou culpa.

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40O Código de Proteção e Defesa do Consumidor, considerado marco no

avanço da responsabilidade civil no Brasil, também contempla a teoria objetiva,

prevendo a reparação independente de culpa.

Com o advento do Código Civil de 2002, a responsabilidade civil objetiva

que tinha caráter de exceção, passou a ser encampada à norma genérica, no

parágrafo único do art. 927, com o seguinte teor:

"Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos

casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida

pelo autor do dano implicar, por sua natureza, riscos para os direitos de

outrem".

Para o nascimento do direito à indenização, alguns fatos são

indispensáveis: o dano injusto, o nexo causal e a culpa do causador do dano.

Só haverá obrigação de indenizar, se houver nexo causal.

O nexo causal do acidente do trabalho do empregado é pressuposto

imprescindível tanto para a concessão dos benefícios da lei do seguro

acidentário, quanto para a condenação patronal por responsabilidade civil - é o

vínculo que se estabelece entre a execução do labor (causa) e o acidente do

trabalho ou doença ocupacional (efeito).

Deve, assim, verificar se há uma relação de causa e efeito entre o

evento e a execução do contrato de trabalho.

A lei acidentária aprecia o nexo causal do acidente com o trabalho em

três modalidades: causalidade direta, concausalidade e causalidade indireta.

Na causalidade direta, o nexo fica caracterizado pelo exercício do

trabalho a serviço da empresa. Estão, aí, enquadrados o acidente típico e as

doenças ocupacionais nessa modalidade de nexo causal.

Na indireta, o fato gerador não está ligado à execução do serviço num

sentido estrito. Acidentes decorrentes de desabamento, incêndio, acidentes de

trajeto, agressão praticada por terceiros contra o empregado no local de

trabalho, etc.

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41A recente Lei no. 11.430, de 26 de dezembro de 2006, introduziu o art.

21-A na Lei no. 8213/91, flexibilizando nas hipóteses de acidente do trabalho,

pressupostos da responsabilidade civil, em razão de sua natureza e das

repercussões dos danos sofridos na sociedade, reforçando o princípio da

inversão do ônus da prova, em favor do acidentado, com a presunção de que o

adoecimento foi causado pelo exercício do trabalho.

No acidente do trabalho típico, o nexo causal fica bem evidente. Já, nas

doenças ocupacionais, exige maior cuidado e pesquisa, pois nem sempre é

fácil estabelecer se a doença apareceu pelo exercício da atividade laboral ou

não.

A reparação a cargo do empregador por acidente do trabalho,

decorrente de dolo ou culpa, foi incluída no rol dos trabalhadores, no inciso

XXVIII do art.7o. da CF., prevendo não só a responsabilidade infortunística

como a de direito comum, correspondendo a primeira a responsabilidade

objetiva e a segunda a responsabilidade subjetiva.

O acidente ocorrido no local e horário de trabalho, por ocasião da

prestação espontânea de qualquer serviço à empresa também faz parte dos

três casos descritos em que a responsabilidade objetiva do empregador é

permitida, sendo excluídos o acidente ocorrido quando o empregado se

encontra em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo de

capacitação da mão-de-obra; proveniente de concausas, que decorre de um

fato estranho ao trabalho; o sofrido pelo empregado por ato de imprudência, de

negligência ou de imperícia; o acidente in itinere, quando não há correlação

com a atividade desenvolvida costumeiramente, ou seja, o trajeto propriamente

dito; e o acidente ocorrido nos períodos destinados à refeição ou descanso, ou

por ocasião da satisfação de outras necessidades fisiológicas, no local de

trabalho ou durante este.

Não há dúvidas de que os acidentes que causam a morte, a invalidez, a

perda parcial da capacidade de trabalho ou o afastamento prolongado

provocam danos ao empregado.

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42Nos primeiros quinze dias de afastamento o acidentado recebe do

empregador o seu salário integral - o contrato fica apenas interrompido. Após

os quinze dias, permanecendo a incapacidade e o afastamento, o contrato fica

suspenso e o acidentado passa a receber auxílio-doença acidentário da

Previdência Social, tornando mais visíveis os danos, tanto materiais quanto

morais pelo afastamento compulsório do trabalho.

O acidente do trabalho pode provocar danos de natureza material, moral

e/ou estética.

O dano material é avaliável monetariamente pela diminuição do

patrimônio da vítima em consequência do prejuízo financeiro sofrido.

O dano moral é o abalo moral provocado pelo ato ilícito (acidente do

trabalho por culpa ou dolo do patrão), já que os bens morais consistem no

equilíbrio psicológico,no bem-estar, na reputação, na liberdade, na normalidade

da vida e, o seu estrago resulta em desequilíbrio psicológico, desânimo, dor,

medo, angústia, abatimento, dificuldade de relacionamento social trazendo

desmonte traumático de um projeto de vida, o isolamento da vida em

sociedade ou o desamparo da orfandade.

A Constituição Federal, no seu primeiro artigo, inciso III, deixou patente

que a sanção ao dano moral ocorre pela indenização. Não como algo a ser

pago pela dor que a vítima sofreu, mas dando-lhe possibilidades de

desenvolver novas atividades.

Além do dano material e moral, por dano estético, que altere o aspecto

físico da pessoa, é cabível a indenização. Ele é uma especificidade do dano

moral. Isto é, o acidentado que sofreu qualquer deformação deve receber um

ressarcimento por danos morais agravado, cuja agravante (o dano estético)

deve ser calculado separadamente.

As indenizações têm estimulado os empresários descuidados a zelar

pela integridade física e pela saúde de seus empregados. É mais econômico

para a empresa prevenir do que indenizar.

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43Começa-se a tomar consciência de que o valor principal que o

empresário dirige é o homem enquanto trabalhador, para o qual deve convergir

a prioridade da proteção e a função social da propriedade. Resultados

econômicos, bens de consumo, só se justificam do ponto de vista ético, quando

esse valor principal for preservado.

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CAPÍTULO 5

INDENIZAÇÕES NOS ACIDENTES

DE TRABALHO COM E SEM ÓBITO

O Código Civil tem regra específica no Art. 948 incisos I e II para as

indenizações devidas quando ocorre a morte da vítima.

O dano indenizável não é a morte da vítima em si, mas os prejuízos

materiais ou morais dela decorrentes, podendo os valores, em caso de um

mesmo acidente com vários óbitos, variarem em razão das características

peculiares dos dependentes de cada vítima.

5.1-Indenização dos danos nos acidentes com óbito

5.1.1- Danos emergentes

A indenização dos danos emergentes no acidente do trabalho com óbito

reside no pagamento das despesas de tratamento, funeral e o luto da família.

Danos emergentes seriam as despesas com hospital e médico; remoção

do corpo da vítima, se for o caso; gastos com funeral, jazigo, etc.

Devem ser pagos de imediato, de uma só vez, para que os prejudicados

possam recompor seu patrimônio.

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455.1.2-Lucros cessantes

O ressarcimento dos lucros cessantes decorrentes de morte do

acidentado abarca a prestação de alimentos às pessoas a quem o morto devia,

levando em conta o tempo provável de duração da vida da vítima (art.948, II,

do Código Civil). Tem o propósito de assegurar aos familiares, que dependiam

do morto, o mesmo padrão de renda até então mantido.

Enquanto a vítima sobreviver, o beneficiário da indenização será a

própria vítima; no caso de morte, são os seus dependentes que recebem o

benefício. Ela deve ser paga mensalmente, sob a forma de pensionamento.

5.1.3-Danos morais

O acidente fatal, quando verificada a responsabilidade civil, acarreta

danos morais aos familiares do acidentado. E no caput do art. 948 do Código

Civil de 2002 é permitida inclusão do dano moral nas indenizações

provenientes de morte por acidente de trabalho, determinando também o

pagamento do “luto da família”.

Esta indenização não tem caráter alimentar ou de ressarcimento e deve,

pois, ser paga de uma só vez, juntamente com a quantia apurada para os

danos emergentes, com o propósito de dar uma compensação imediata que

atenue a dor e acalme a revolta dos dependentes da vítima, bem como para

servir de desestímulo a novos comportamentos ilícitos do lesante.

Quando a vítima sobrevive ao acidente por determinado tempo, ela é a

pessoa legitimada para postular a indenização por danos morais e tem o direito

a buscar reparação, em face do causador do dano.

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465.2-Indenizações nos acidentes de trabalho sem óbito

O Código Civil de 2002 trata das indenizações provenientes de lesões

ou outra ofensa à saúde nos art.949 e art. 950.

Quando o acidentado sobrevive, podemos constatar a ocorrência de

danos materiais, morais e estéticos.

Para pedir indenização em face de seu empregador, deve comprovar os

fatos que ocorreram para o aparecimento das lesões, danos ou perdas sofridas

para que o juiz possa apreciá-los com segurança. Nesse pedido devem constar

provas convincentes do acidente ou doença ocupacional.

Será determinada, então, à realização de prova pericial para fornecer

subsídios técnico-científicos.

No caso de o segurado ser considerado incapaz e insusceptível de

reabilitação para o exercício de seu trabalho, ele será aposentado por

invalidez, segundo a Lei de Benefícios da Previdência Social.

A reparação dos danos materiais nos acidentes que acarretam invalidez

permanente, abrange, de acordo com o art. 950 do Código Civil:

1) Despesas de tratamento até o fim da convalescença;

2) Lucros cessantes até o fim da convalescença;

3) Pensão correspondente à importância do trabalho para que a vítima

se inabilitou.

Os acidentes de trabalho ou doenças ocupacionais de menor gravidade

não têm direito à indenização de lucros cessantes, uma vez que a vítima

continuará recebendo normalmente seu salário. Mas, pode haver despesas de

tratamento até a convalescença, que representam os danos emergentes

derivados do acidente do trabalho que deverão ser ressarcidos integralmente.

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475.3-Uma visão dos números de acidentes no mundo e no

Brasil

Em 1985, a OIT divulgava que, a cada três minutos, um trabalhador

perdia a vida no mundo por acidente de trabalho ou doença profissional , ou em

cada segundo quatro sofriam algum tipo de lesão.

Em 2003, estatísticas mostram que ocorrem por ano no mundo 270

milhões de acidentes, aproximadamente 740 mil por dia ou nove por segundo.

Cerca de 2,2 milhões de acidentes de trabalho com óbito ocorrem a cada ano

ou mais de quatro mortes por minuto.

Estes números mostram que o local que deveria servir para o homem

ganhar a vida, está se transformando no lugar para encontrar a morte.

No Brasil, os índices são mais alarmantes, bem superiores à média

mundial.

De 1975 a 1994 o volume de acidente de trabalho baixou da casa dos

dois milhões anuais para 400 mil aproximadamente.

De 1995 a 2001 a quantidade de acidentes manteve-se no mesmo

patamar.

De 2002 a 2005 o índice voltou a subir de forma acentuada, deixando

clara a necessidade de medidas legais e governamentais urgentes para

reverter este quadro.

Essa estatística é feita com base nas informações prestadas pelo

empregador sobre o acidente, apesar de um grande número de ocorrências

não serem notificadas. Avalia-se que somente 50% dos acidentes ocorridos

sejam efetivamente registrados, principalmente a partir de 1991, quando o art.

118 da Lei no. 8213 instituiu a garantia de emprego por doze meses, após a

cessação do auxílio-doença acidentário.

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48Gráfico 1: Dados da Previdência Social sobre os Acidentes do Trabalho

no Brasil no Período de 1975 a 2005

0 10000000 20000000 30000000 40000000 50000000 60000000 70000000 80000000

1975-1994 (Trab. Formais:1.067.782.178

1995-2001 (Trab. Formais:1.254.149.284

2002-2005 (Trab. Formais:2.321.931.462

Total dos Acidentes Acidentes Tópicos Acidentes de Trajeto Doenças Ocupacionais Mortes

O número de doenças ocupacionais, de acordo com as estatísticas do

INSS, aumentou bastante de 1993 a 1997, visto que os médicos do trabalho

estão mais atentos para visualizar o paciente em seu ambiente de trabalho e a

legislação ampliou as hipóteses das doenças consideradas ocupacionais.

De 2002 a 2005 houve um crescimento elevado do adoecimento

ocupacional.

Os empresários já demonstram uma crescente preocupação com a

saúde e segurança do trabalhador. A pressão sindical, as repercussões

negativas na mídia, as atuações do Ministério Público do Trabalho e a Inspe-

ção do Ministério do Trabalho e, especialmente, as indenizações judiciais estão

mudando a maneira de olhar esse tema.

A marca dolorosa do número de acidentes do trabalho é sentida em

maior escala nos setores da construção civil, transporte, indústria extrativa e

indústria de transformação.

Com base na estatística oficial de 2005, ainda ocorrem no Brasil mais de

sete mortes a cada dia por acidente de trabalho. Se somarmos o número de

mortes por acidente de trabalho com o número dos que se aposentaram por

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49incapacidade permanente, teremos por volta de 45 pessoas que deixam

definitivamente o mundo do trabalho no Brasil. Em média, 425 trabalhadores

por dia entram em gozo de auxílio-doença acidentário com afastamento por

período superior a quinze dias.

Podemos, assim, concluir que, no Brasil, a questão do acidente e da

doença do trabalho em termos de perdas é, por mais triste que nos possa

parecer, comparável às apontadas numa guerra civil.

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CONCLUSÃO

Este trabalho teve o objetivo de mostrar a necessidade de proteção à

saúde do trabalhador e, a história nos conta que, desde o século XVII até os

nossos dias, essa questão veio ganhando importância, de maneira lenta, mas

progressiva, particularmente com a atuação, hoje, da OIT que defende a

combinação de produção com preservação do homem.

Gradualmente leis foram sendo criadas, mudando e colocando o homem

como seu principal e primeiro objeto de atenção, visto o grande número de

acidentes de trabalho na esfera mundial e nacional.

A nossa Constituição Federal trata da proteção ao trabalhador,

afirmando que a saúde deste faz parte do rol dos direitos fundamentais da

pessoa humana. Com a definição do conceito de acidente de trabalho a partir

de sua causa e não mais de seu efeito, podemos dizer que aquilo que

podemos conseguir de maior e melhor, do direito à proteção à saúde do

trabalhador não reside somente na redução dos riscos decorrentes dos

acidentes de trabalho, mas sim na sua total eliminação por meio da remoção

ou neutralização de suas origens no ambiente de trabalho, cuidando para que o

empregado não seja atingido na sua integridade psicofísica, excluindo fatores

geradores de enfermidades, agressão à vida e ao bem-estar do trabalhador no

seu ambiente de trabalho ou horário de trabalho.

Podemos afirmar que a vida em sociedade criou para quem trabalha

diferentes espécies de riscos, dos quais, muitas vezes, não era reconhecido o

direito à indenização porque não era provada a culpa do ofensor.

A responsabilidade civil veio a evoluir, obrigando a toda pessoa, física

ou jurídica, a reparar o dano causado por uma ação e também pela omissão de

um dever jurídico já existente, reconhecendo-se, por fim, o dever de reparação

independente da noção de culpa – o que assegura à vítima, direitos diante do

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51dano sofrido – incluindo-se, aí, a responsabilidade pelo risco da atividade do

contrato de trabalho.

A responsabilidade social é o ponto crucial que se deve imprimir ao

exercício da atividade econômica, mesmo que a realidade brasileira tenha,

ainda, alguns conceitos ultrapassados sobre a questão examinada.

Uma ação voltada para a conscientização, educação e orientação de

caráter essencialmente preventivo, formando um conjunto de medidas que toda

empresa deve instituir, constituindo um programa obrigatório a qualquer ramo

de atividade que mantenha empregados, se faz urgente.

Estes homens devem ser vistos como pessoas em primeiro lugar. Como

um ser humano dignificado e satisfeito com sua atividade, que tem vida dentro

e fora do ambiente de trabalho, merecendo qualidade para vivê-la. Não deve

ser tratado tão somente como uma “máquina” no processo de produção, mas

sim como um ser dotado de sentimentos, aspirações e aptidões.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BALERA, Wagner(Org. por). Curso de Direito Previdenciário. São Paulo: Editora LTr, 1992. BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 2ª. Edição. São Paulo: Editora LTr, 2006. BRANDÃO, Cláudio. Acidente do Trabalho e Responsabilidade do Empregador. 2ª. Edição. São Paulo: Editora LTr. Caderno de Direito Previdenciário. Doutrina e Jurisprudência. Justiça do Trabalho. HS Editora Notadez. GOMES, Orlando. Introdução ao Direito Civil. 3ª. Edição. Rio de Janeiro: Forense,1965. pág. 469 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 8ª. Edição, revista e atualizada até a EC no. 52/2006, Editora Impetus MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 22ª. Edição. Editora Atlas S/A. OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional. 3ª. Edição. São Paulo: Editora LTr. Revista LTr, n. 07, v. 69. São Paulo: Editora LTr., julho de 2005. p. 786-791 Revista LTr, n. 04, v. 71. São Paulo: Editora LTr, abril de 2007. p. 412-424, Ações de Acidentes de Trabalho. Revista do TST, n.01, v.71, jan/abril 2005, p. 277-279.

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53TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. 6ª. Edição. Rio de Janeiro: Lúmen Júris Editora, 2004 www.tj.rs.gov.br – Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul www.tst.gov.br – Tribunal Superior do Trabalho

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ANEXO 1

INTERNET

Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul - www.tj.rs.gov.br

Acidentado com seqüelas que limitam atividades no trabalho deve receber auxílio-acidente Maria Helena Gozzer Benjamin - Publicado em 04/06/2007 O auxílio-acidente deve ser concedido como pagamento de indenização mensal, quando houver seqüelas que acarretem a redução da capacidade laboral do acidentado. Com esse entendimento, a 9ª Câmara Cível do TJRS concedeu o benefício a trabalhador acidentado e impedido para o trabalho que executava anteriormente. A Apelação Cível foi interposta pelo INSS, contra sentença que condenou a autarquia ao restabelecimento do auxílio-doença acidentário ao funcionário de uma fazenda que foi baleado na coxa ao tentar na evitar assalto na sede do estabelecimento. O acidente ocorreu em 4/9/2002. Seqüelas O acidentado, com ruptura da artéria femoral esquerda, recebeu atendimento de emergência no Hospital de Rolante e logo a seguir foi transferido ao HPS em Porto Alegre onde realizou cirurgia e ficou internado por vários dias. Entrou em benefício de auxílio-doença no INSS em 10/2/2003 até receber alta em 31/8/2003, embora ainda não se sentisse em condições para o trabalho. Segundo laudo pericial, após a primeira cirurgia houve a formação de trombos e estenose da anastomose arterial e sangramento da veia femoral. “Mesmo corrigido, o fato aumentou o comprometimento circulatório do membro inferior esquerdo, levando à isquemia de nervos periféricos, distais à lesão. Essas alterações, pelo tempo decorrido, são irreversíveis e o impedem para o trabalho que executava anteriormente.” Benefícios Em decorrência da existência de redução laboral, o benefício que deve ser deferido ao acidentado é o de auxílio-acidente, enfatizou o Desembargador Odone Sanguiné, relator. Acrescentou que, conforme dispõe o artigo 40, da Lei nº. 8.213/91, também deverá perceber o benefício de abono anual. O magistrado esclareceu que, conforme o artigo 61, da Lei nº. 8.213/91, o benefício de auxílio-doença tem valor equivalente a 91% do salário-benefício. Segundo o artigo 86 da Lei, o valor do auxílio-acidente equivale a 50% do salário-benefício. No caso em exame, foi estabelecida a concessão do benefício a contar do dia seguinte da cassação do auxílio-doença (31/8/2003) e o abono anual, acrescidos de correção monetária pelo índice do IGP-DI, e de juros moratórios de 12% ao ano a contar da citação. O INSS também foi condenado ao pagamento de honorários ao advogado do autor em 10% sobre o valor da condenação referente às parcelas vencidas até a prolação da sentença. Acompanharam o voto do relator as Desembargadoras Íris Helena Nogueira e Marilene Bonzanini Bernardi. O julgamento realizou-se em 23/5.

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55Tribunal Superior do Trabalho - www.tst.gov.br

Trabalhador ganha pensão vitalícia por acidente em que perdeu o olho Carmem Feijó - Publicado em 19/06/2007 Um auxiliar de manutenção da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), do Rio Grande do Sul, obteve na Justiça do Trabalho a condenação da empresa ao pagamento de pensão vitalícia por ter sido vítima de acidente de trabalho em que perdeu o olho esquerdo. A Sexta Turma do Tribunal Superior do Trabalho, em processo relatado pelo ministro Aloysio Corrêa da Veiga, negou provimento a agravo de instrumento da empresa contra decisão do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (RS), que fixou ainda indenização por danos morais e materiais. O auxiliar de manutenção, morador da cidade gaúcha de Candiota, sofreu acidente em abril de 1989 quando trabalhava numa usina termelétrica da CEEE em São Jerônimo (RS), perdendo totalmente a visão do olho esquerdo. Em decorrência disso, conforme alegou na inicial da ação de indenização por dano moral e material movida contra a empresa, foi obrigado a usar uma prótese e ficou com seqüelas que dificultaram a obtenção de novo emprego, após a demissão. A empresa, segundo ele, não fornecia equipamento de proteção individual adequado e, em nenhum momento, o indenizou pelos elevados gastos decorrentes do acidente. O pedido incluía o pagamento de pensão vitalícia baseada no salário do autor à época do acidente, indenização das despesas médicas e hospitalares, inclusive a revisão e troca periódica da prótese, e indenização por dano moral em valor a ser fixado pelo juízo. A empresa, na contestação, negou o não-fornecimento do equipamento de proteção individual e apresentou documento explicando que o acidente ocorreu quando o trabalhador, ao consertar um guindaste giratório, foi atingido por um ferro no olho esquerdo. Na sua versão, o trabalhador foi o único responsável pelo acidente, por não ter tomado os cuidados necessários no desempenho de suas funções ao não utilizar os equipamentos de proteção individual. A sentença da 1ª Vara do Trabalho de Bagé (RS) entendeu não haver prova, nos autos, que autorizasse a condenação. Mas o TRT/RS deu provimento ao recurso ordinário do trabalhador. Segundo o acórdão, embora o empregado não estivesse usando o óculos de solda fornecido pela empresa, a lesão no olho não foi causada por faísca nem queimadura. “Como se viu, o olho foi atingido por uma barra de ferro, hipótese em que estar ou não com óculos de proteção perde a relevância, já que o uso do equipamento não evitaria a lesão, ao contrário, poderia até agravá-la, em virtude dos estilhaços decorrentes do impacto”. O TRT condenou a CEEE ao pagamento de pensão mensal vitalícia, a partir da rescisão, de 30% da remuneração à época do acidente, ao ressarcimento das despesas médico-hospitalares e a indenização por danos morais no valor de R$ 25 mil. Ao ter negado seguimento a recurso de revista contra a condenação, a CEEE interpôs agravo de instrumento para o TST questionando a distribuição do ônus da prova e alegando que o empregado não conseguiu provar a culpa do empregador. Sustentou, ainda, que a pensão concedida ao trabalhador não poderia ser vitalícia, pois a expectativa de vida usada nos tribunais tem como limite a idade de 65 anos. O ministro Aloysio Corrêa da Veiga observou que o TRT baseou-se nos fatos e provas para entender caracterizados os danos moral e material. “Não há que se falar em distribuição do ônus da prova quando, nos autos, ela foi produzida”, ressaltou. “A prova se destina ao convencimento do juízo da verdade do fato controvertido e relevante. Logo, não pode o TST questionar a valoração atribuída pelo juiz à prova apresentada. O julgador apenas decidiu conforme o que lhe foi demonstrado”. (AIRR 1830/2005-811-04-40.9

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ANEXO 2

REVISTAS

Revista do TST , vol.71, n º1, jan/abr 2005, p. 277-279

AÇÕES DE ACIDENTE DE TRABALHO Edilton Meireles É certo, ainda, que, na competência da Justiça do Trabalho, com base no inciso I do art. 114 da CF, inclui-se a ação de indenização por acidente de trabalho, já que o dano daí decorrente tem origem numa relação de trabalho. Quanto a esta, outras reflexões devem ser lançadas. Inicialmente, deve ser lembrado que, a rigor, o STF poderá continuar a manter sua posição quanto à competência da Justiça comum para cuidar da ação do empregado em face do empregador, já que não modificada a redação do inciso I do art. 109 da CF (“Aos juízes federais compete processar e julgar: I . as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou opoentes, exceto as de falência, as de acidente de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho”). Assim, pode-se aventar na possibilidade do STF continuar com o entendimento externado no RE 349160/BA, cujo relator foi o Ministro Sepúlveda Pertence (DJU 14.03.2003), cuja ementa é a seguinte: “Competência. Justiça comum. Ação de indenização fundada em acidente de trabalho, ainda quando movida contra o empregador. 1. É da jurisprudência do STF que, em geral, compete à Justiça do Trabalho conhecer de ação indenizatória por danos decorrentes da relação de emprego, não importando deva a controvérsia ser dirimida à luz do direito comum e não do Direito do Trabalho. 2. Da regra geral são de excluir-se, porém, por força do art. 109-I, da Constituição, as ações fundadas em acidente de trabalho, sejam as movidas contra a autarquia seguradora, sejam as propostas contra o empregador.” Parece-nos, no entanto, que, na pior das hipóteses, diante do disposto no inciso VI do art. 144 da CF, esse entendimento deve ser modificado. Isso porque seria de todo ilógico se concluir que a Justiça do Trabalho é competente para as ações de responsabilidade civil, por danos morais e materiais, oriundas e decorrentes de todas as relações de trabalho, excluindo-se desse rol somente a fundada em acidente de trabalho. Outrossim, data maxima venia, o fundamento lançado pelo STF é de todo ilógico. Ora, na primeira parte do inciso I do art. 109 da CF se estabelece a competência da Justiça Federal. Tem-se, assim, a regra geral: .as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou opoentes. Desse rol de ações de competência da Justiça Federal, no entanto, o constituinte estabeleceu algumas exceções. Elas seriam: a) às causas de falência em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou opoentes; b) às causas sujeitas à Justiça Eleitoral em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou opoentes;

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57c) às causas sujeitas à Justiça do Trabalho em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou opoentes; e, d) às causas decorrentes de acidente de trabalho em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou opoentes. Nesta última hipótese, tem-se a ação acidentária proposta pelo segurado em face da autarquia oficial de previdência social (o INSS). Pela regra geral, essa causa seria de competência da Justiça Federal. Em face da exceção, deslocou-se a competência para a Justiça Estadual. Obviamente que nesta última hipótese não se insere a ação do empregado em face do empregador privado ou dos entes públicos estaduais e municipais em decorrência do acidente do trabalho. Isso porque esta ação não tem a União, entidade autárquica federal ou empresa pública federal como interessada. Ora, se esta ação (empregado x empregador privado ou entes públicos estaduais e municipais) não está incluída na regra geral (.as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou opoentes.), obviamente ela não está na exceção à regra geral. A ação acidentária do empregado em face do empregador em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas se inclui na terceira exceção acima mencionada (causas de competência da Justiça do Trabalho), desde que o demandado seja a União, entidade autárquica federal ou empresa pública federal. Tal demandada, no entanto, é da competência da Justiça do Trabalho e ela foi excepcionada no inciso I do art. 109 da CF. Daí se tem, portanto, que nem à luz do texto constitucional anterior se poderia concluir pela competência da Justiça comum com base no disposto no inciso I do art. 109 da CF. De qualquer modo, os incisos I e VI do art. 114 da CF vieram pacificar esse entendimento, data venia. Por fim, cabe lembrar que, independentemente de ter sido rejeitada a proposta de inclusão de outro inciso no art. 114, dispondo que seria da competência da Justiça do Trabalho, as ações relativas a acidentes de trabalho, doença profissional e de adequação ambiental para resguardo da saúde e da segurança do trabalhador., ainda assim, do texto final aprovado e publicado, extrai-se as conclusões acima.

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58Revista Consultor Jurídico, 11 de julho de 2007. Fonte: http://conjur.estadao.com.br/static/text/57439,1

INDENIZAÇÃO ESPECÍFICA - ACIDENTE DE TRABALHO GERA CONDENAÇÃO POR DANO ESTÉTICO. Sebastião Geraldo de Oliveira Como há previsão normativa específica para o dano estético, cabe uma indenização própria para esse fim e outra por danos morais. Com base no artigo 949, do Código Civil de 2002, a 2ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais confirmou a condenação da Goody Indústria de Alimentos. A empresa terá de pagar R$ 30 mil por danos estéticos e R$ 76 mil por danos morais a um ex-funcionário, vítima de acidente de trabalho. Cabe recurso. Para o desembargador Sebastião Geraldo de Oliveira, os danos estéticos têm relação com o sofrimento causado por uma deformação que deixa seqüelas permanentes, facilmente percebidas. Já o dano moral está ligado ao sofrimento e todas as demais conseqüências provocadas pelo evento danoso. Mesmo que seja compreendido no gênero dano moral, os danos estéticos podem ser reparados em indenizações separadas. O caso Contratado como armador, o ex-funcionário trabalhava com uma serra de cortar madeira, quando uma ponta metálica desprendeu-se com violência e atingiu o seu olho esquerdo, que acabou tendo que ser substituído por uma prótese. Ficou constatada a culpa da empresa, devido às faltas de condições adequadas de segurança no ambiente de trabalho. O desembargador entendeu também que o dano sofrido pelo ex-funcionário é expressivo, “em razão do seu olhar que se adivinha fixo e vidrado”. Segundo o desembargador, “enquadra-se no conceito de dano estético qualquer alteração morfológica do acidentado como, por exemplo, a perda de algum membro ou mesmo um dedo, uma cicatriz ou qualquer mudança corporal que cause repulsa, afeiamento ou apenas desperte a atenção por ser diferente”. Além da indenização por danos morais e estéticos, a empresa terá de pagar pensão mensal correspondente a 25% do salário do ex-funcionário, que era de R$ 790,00. Leia a decisão: Processo: 01364-2006-078-03-00-6 RO Data de Publicação : 25/05/2007 Órgão Julgador : Segunda Turma Juiz Relator : Des. Sebastião Geraldo de Oliveira Juiz Revisor : Desembargador Anemar Pereira Amaral RECORRENTE: GOODY INDÚSTRIA DE ALIMENTOS LTDA. RECORRIDO: JOÃO PEREIRA SANTIAGO ACÓRDÃO Vistos os autos, relatado e discutido o recurso ordinário oriundo da Vara do Trabalho de Ubá, proferiu-se o seguinte acórdão: 1. RELATÓRIO Não se conformando com a sentença de f. 174-187, integrada pela decisão de embargos de declaração (f. 214-216), que rejeitou a preliminar argüida e deu pela procedência parcial do pedido, a reclamada interpõe recurso ordinário (f. 217-225), versando sobre impossibilidade jurídica do pedido, inexistência de culpa sua,

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59quantificação das indenizações (dano moral, dano estético e pensionamento), e aplicação de multas. Depósito recursal efetuado (f. 226) e custas pagas (f. 227). Contra-razões às f. 229-232. Instrumentos de mandato e substabelecimento juntados pelo reclamante à f. 45 e pela reclamada às f. 152 e 213. É o relatório. 2. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE Por se mostrarem presentes e regulares os pressupostos objetivos e subjetivos de admissibilidade do recurso e das contra-razões, deles conheço. Registro, por oportuno, que não está certificada a data de notificação para o oferecimento de contra-razões. Tendo em conta que o procurador do reclamante teve acesso aos autos no dia 23-6-07 (segunda-feira), conforme indicado à f. 228, e as contra-razões foram apresentadas no sétimo dia subseqüente àquele, considero-as tempestivas. 3. JUÍZO DE MÉRITO 3.1. Impossibilidade jurídica do pedido Em meio às alegações sobre inexistência de culpa sua na ocorrência de acidente do trabalho com o reclamante, a reclamada insiste na impossibilidade jurídica do pedido de indenização, requerendo a extinção do processo, sem resolução do mérito. Está correta a rejeição da preliminar. Juridicamente impossível é o pedido que não tem a menor condição de ser apreciado pelo Poder Judiciário, seja por ter sido de antemão excluído pelo ordenamento jurídico, seja por não ser por este previsto, o que não ocorre aqui. Nego provimento. 3.2. Culpa Restou incontroverso nos autos que o reclamante, trabalhando numa serra de cortar madeira, sofreu acidente do trabalho (CAT, f. 70), quando uma ponta metálica (dente da serra, prego ou a ponta de Vídia da serra) desprendeu-se com violência e atingiu o olho esquerdo do reclamante, que acabou tendo que ser extirpado e substituído por uma prótese. A questão recursal cinge-se à existência ou inexistência de culpa da empregadora na ocorrência do infortúnio. Nesse passo, os elementos probatórios conduzem, indubitavelmente, à constatação da culpa da empregadora. O reclamante fora contratado para exercer a função de armador (faz trabalhos em concreto armado, preparando formas de madeira, colocando ferragens no interior das mesmas e moldando massas apropriadas, para construir colunas, vigas, lajes e outros elementos estruturais - f. 100). No dia fatídico, entretanto, estando umas poucas pessoas trabalhando em horário extraordinário, recebera ordens do encarregado para operar a serra e cortar uma madeira, função que cabia ao carpinteiro. A primeira testemunha indicada pelo reclamante, que era carpinteiro, relatou que o reclamante não estava utilizando óculos de proteção, o qual sequer era usado pelos carpinteiros, pois não existiam na obra; e que o capacete utilizado na obra protegia somente a cabeça. Afirmou que "se o reclamante estivesse com óculos de proteção sua visão não teria sido atingida" (f. 160). De fato, segundo o PPRA da reclamada, dentre os EPIs necessários ao carpinteiro estão os óculos de segurança, com proteção lateral (f. 111). A primeira testemunha apresentada pela reclamada também aduziu que o reclamante não usava óculos proteção no momento do acidente. A sua assertiva, no sentido de que "os carpinteiros utilizavam máscara para o corte de madeira, sendo esta do tipo capacete com um visor" (f. 161), mais demonstra a negligência da reclamada quanto à

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60observância das normas de segurança, pois, colocando o reclamante em uma função que não era a sua, deixou de lhe fornecer o EPI necessário à preservação da sua integridade física. A segunda testemunha, que na época trabalhava como servente de pedreiro, sequer se lembrou de quais equipamentos de proteção eram usados pelos carpinteiros, assim como os armadores (f. 161-final), o que autoriza presumir que a reclamada realmente não dava a importância devida a esses itens de segurança. Diante de todo esse quadro fático, mostram-se irrelevantes as supostas "questões basilares", que a reclamada diz não terem sido enfrentadas: ausência de acidentes desde o início da construção; grande quantidade de equipamento de segurança encaminhado aos empregados; inexistência de qualquer risco no local onde estava instalado o equipamento e adoção de várias medidas de segurança, sendo a principal delas o treinamento dos empregados. Aqui, o único fato a ser analisado era o evento danoso ocorrido com o reclamante e as circunstâncias em se deu. No que tange à existência de culpa da reclamada, portanto, a sentença não merece reforma. Nego provimento. 3.3. Quantificação das indenizações - dano moral - dano estético - pensionamento A reclamada foi condenada no pagamento das seguintes parcelas: - indenização por danos morais no valor correspondente a 100 vezes a última remuneração do autor; - indenização por danos estéticos no valor correspondente a 100 vezes o salário do autor; e - pensão mensal vitalícia (correspondente a 25% do último salário percebido pelo reclamante, desde a data da ocorrência do acidente, até que venha a completar 65 anos de idade, a ser paga de uma só vez) parcelas vencidas e vincendas, conforme se apurar em liquidação. Urge salientar que não houve controvérsia a respeito dos ganhos mensais do reclamante (R$760,00). Observo que nos fundamentos da sentença (f. 185- final) o d. Juiz da origem pretendeu igualar os montantes das indenizações por dano moral e por dano estético, arbitrando cada uma delas no equivalente a 100 vezes o último salário do reclamante. Assim sendo, a referência feita na parte dispositiva da sentença a "remuneração" para dano moral e "salário" para dano estético não introduz qualquer discriminação na base de cálculo dos montantes indenizatórios, já que não houve controvérsia a respeito dos ganhos mensais do reclamante (R$760,00) e tampouco foi questionada pelas partes aquela distinção. Pois bem. Contrariamente ao que sustenta a reclamada, não foi aplicada a doutrina da culpa objetiva, passando-se diretamente à fixação do valor da indenização "de maneira arbitrária, como ato pessoal do julgador 'a quo', sem "a mais mínima motivação". Como se lê às f. 182-184 da sentença, foram enfrentadas uma a uma as teses de defesa antes de se decidir pela existência da culpa da reclamada, e de natureza subjetiva (contra a legalidade), ponderando-se a evidência de dano material, moral e estético. No que concerne ao arbitramento do quantum indenizatório do dano moral, estético e pensionamento, o d. Juiz, tendo feito referência ao art. 927 do Código Civil, apontou como parâmetros suficientes a extensão do dano, cumulado com a capacidade financeira do agente, o tempo de serviço prestado pelo autor, sua capacidade sócio-econômica, a incapacidade parcial e definitiva para o trabalho, a violação da integridade física do reclamante (que terá que conviver apenas com a visão de um olho e com uma prótese) e a irreversibilidade desse quadro. Satisfeita está, portanto, a pretensão da reclamada, de saber quais variáveis foram contempladas no arbitramento do montante indenizatório.

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61Na eventualidade de ser mantida a decisão, a reclamada pede que os valores relativos às indenizações por danos morais e estéticos sejam reduzidos a dez salários mínimos. Entendo oportuno salientar que o reconhecimento do dano moral e sua reparação pecuniária representam progresso extraordinário da ciência jurídica, para propiciar a convivência respeitosa e valorizar a dignidade humana, bem como para acarretar o efeito pedagógico decorrente da condenação. Para Roberto Schaan Ferreira, em sua obra O Dano e o Tempo: Responsabilidade Civil (Revista de Estudos Jurídicos, v. 25, n. 64, p. 70, 1992), os bens morais consistem no equilíbrio psicológico, no bem-estar, na normalidade da vida, na reputação, na liberdade, no relacionamento social, e a sua danificação resulta em desequilíbrio psicológico, desânimo, dor, medo, angústia, abatimento, baixa da consideração à pessoa, dificuldade de relacionamento social. Os danos morais sofridos pelo autor são evidentes, pois, com 43 anos de idade, viu-se cego do olho esquerdo, o que gera redução de capacidade física e laborativa e, bem assim, atinge fortemente sua imagem física, o que, sem dúvida, repercute no equilíbrio psicológico de qualquer pessoa, no seu bem-estar e na normalidade de sua vida, causando-lhe incômodo, sofrimento e afetação da própria auto-estima. O empregador responde pela indenização dos danos morais causados ao empregado, porquanto a honra e a imagem de qualquer pessoa são invioláveis (art. 5º., inciso XI, da Constituição Federal). Essa disposição assume maior relevo no âmbito do contrato laboral porque o empregado depende da sua força de trabalho para sobreviver. "La indemnización tarifada de la lei de contrato de trabajo no excluye una reparación complementaria que signifique un amparo para el trabajador, cuando es agredido en su personalidad" (Santiago Rubinstein). A dor moral deixa feridas abertas e latentes que só o tempo, com vagar, cuida de cicatrizar, mesmo assim, sem apagar o registro. Na indenização por dano moral, o legislador, sabiamente, não adotou parâmetros ou limites para a fixação do quantum, deixando-a ao prudente arbítrio do juiz, diante das múltiplas especificidades do caso concreto. Todavia, alguns pressupostos já assentados na doutrina e jurisprudência devem nortear a dosimetria dessa indenização: a) a fixação do valor obedece a duas finalidades básicas que devem ser consideradas: compensar a dor, o constrangimento ou sofrimento da vítima e punir o infrator; b) é imprescindível aferir o grau de culpa do empregador e a gravidade dos efeitos da infração; c) o valor não deve servir para enriquecimento da vítima nem de ruína para o empregador; d) o valor deve ser arbitrado com prudência temperada com a necessária coragem, fugindo dos extremos dos valores irrisórios ou dos montantes exagerados, que podem colocar em descrédito tanto o Poder Judiciário quanto esse avançado instituto da ciência jurídica; e) a situação econômica das partes deve ser considerada, especialmente para que a penalidade tenha efeito prático e repercussão na política administrativa patronal; f) ainda que a vítima tenha suportado bem a ofensa, permanece a necessidade da condenação, pois a indenização pelo dano moral tem também uma finalidade pedagógica de combater a impunidade, já que demonstra, para o infrator e a sociedade, a punição exemplar para aquele que desrespeitou as regras básicas da convivência humana. Com base em tais linhas, este Relator dava provimento para reduzir o valor da indenização por danos morais para R$40.000,00. Todavia, a douta Maioria entendeu razoável manter o valor arbitrado na origem, especialmente considerando a gravidade da lesão.

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62Com relação aos danos estéticos, mesmo estando eles compreendidos no gênero dano moral, a doutrina e a jurisprudência evoluíram para deferir indenizações distintas quando esses danos forem passíveis de apuração em separado, com causas inconfundíveis. Os danos estéticos estão vinculados ao sofrimento pela deformação que deixe seqüelas permanentes, facilmente percebidas, enquanto o dano moral está ligado ao sofrimento e todas as demais conseqüências nefastas provocadas pelo evento danoso. Enquadra-se no conceito de dano estético qualquer alteração morfológica do acidentado como, por exemplo, a perda de algum membro ou mesmo um dedo, uma cicatriz ou qualquer mudança corporal que cause repulsa, afeiamento ou apenas desperte a atenção por ser diferente. Como há previsão normativa específica para o dano estético (art. 949 do Código Civil de 2002), arbitra-se uma indenização para esse fim e outra, a título de danos morais, para os demais danos extrapatrimoniais causados à pessoa do acidentado. No caso dos autos, o dano estético sofrido pelo reclamante é expressivo, em razão do seu olhar que se adivinha fixo e vidrado. Além das dores físicas, avultam o sofrimento e o constrangimento do autor, em diversas situações de sua vida, pelo fato do rompimento da harmonia corporal, pois o que ordinariamente acontece é que as pessoas tornam-se avessas a qualquer um que se mostre "diferente". Assim, estando presentes os requisitos legais para a indenização, a condenação há de ser mantida, merecendo reparo apenas no que concerne ao valor arbitrado em primeiro grau, para fixar a indenização por dano estético, nesta instância, com base nos pressupostos sobreditos, em R$30.000,00. Por último, no que tange aos danos materiais, constata-se que do acidente resultou incapacidade físico-funcional parcial permanente, em face da qual o autor teve certamente diminuído o valor do seu trabalho, o que poderá inviabilizar ou, na melhor das hipóteses, dificultar sobremaneira a sua inserção no mercado laboral. Tendo ordenado o pagamento de pensão vitalícia (correspondente a 25% do último salário percebido pelo reclamante, desde a data da ocorrência do acidente, até que venha a completar 65 anos de idade, ou seja, durante os próximos 22 anos), o d. Juiz da origem decidiu determinar que o valor seja pago de uma só vez, tendo em conta a incerteza de que a reclamada prossiga na atividade econômica até o implemento da idade. Aduz a reclamada que houve julgamento ultra petita, haja vista que o reclamante postulou "pensão mensal" (f. 14, letra "a"). Acrescenta que a desproporção entre as parcelas da condenação, em que aquela de natureza "alimentar" é da ordem de 33% das demais, revela a arbitrariedade e falta de critério da decisão, pois a seu ver é inexplicável que as necessidades vitais "desse homem simples e humilde" sejam "tão menores que sua suposta perda estética ou de auto-estima". Na eventualidade de ser mantida a decisão, pede que se reduza a verba atinente à pensão para 5% do salário mínimo, a ser paga mês a mês e não de uma vez, em 48 horas. A análise do recurso, neste tópico, restringir-se-á à natureza da pensão, ao seu montante e à forma de pagamento, porquanto a reclamada não questiona que ela seja devida. De pronto, é preciso ressaltar que o pensionamento derivado da responsabilidade civil por acidente do trabalho não tem a natureza alimentar dos salários, mas é de índole reparatória, com o propósito de ressarcimento integral do prejuízo da vítima, relacionado à importância do trabalho para o qual ela se inabilitou. O que se pretende, com a pensão, é substituir o rendimento que a vítima recebia a cada mês por um valor equivalente, proporcional ao percentual de invalidez permanente parcial. Apenas a vítima, entretanto, pode fazer a opção pelo pagamento da indenização de uma só vez, na peça inaugural, podendo também deixar a critério do Juiz decidir sobre

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63isso. No presente caso, o reclamante não requereu o pagamento integral, mas sob a forma de pensão mensal (f. 14, letra "a"), o que deve ser preservado. A incapacidade, sob o enfoque da responsabilidade civil, em princípio, deve ser avaliada tendo por referência a profissão da vítima, como literalmente aponta o art. 950 do Código Civil. No caso dos autos, não houve apuração pericial da redução da capacidade laborativa, tampouco existindo tabelas ou quadros com parâmetros oficiais para indicar ou enquadrar perdas parciais dessa capacidade. Essa matéria, entretanto, tem regulamentação detalhada no campo dos benefícios previdenciários e dos seguros privados, o que pode auxiliar no arbitramento da pensão. No seguro acidentário, quando o infortúnio provoca seqüelas que impliquem redução da capacidade para o trabalho habitual da vítima, o auxílio-acidente cabível corresponde a 50% do salário-de-benefício (art. 104 do Decreto n. 3.048/99). No ramo dos seguros privados, a medição da incapacidade dos acidentados é feita a partir de uma tabela elaborada pela Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), a qual indica o percentual de invalidez permanente total ou parcial. A perda total da visão de um olho, por essa tabela, caracteriza invalidez parcial de 30%. Não se deve perder de vista que essa tabela enquadra a invalidez de forma genérica, sem levar em conta a profissão da vítima. Sem dúvida, as tabelas referidas podem oferecer subsídios importantes para o enquadramento da incapacidade parcial, mas a análise da questão nos domínios da responsabilidade civil agrega outros pressupostos importantes, pois o seu objetivo é a reparação total do prejuízo, dentro do princípio da restitutio in integrum ou da equivalência matemática. A decisão judicial levará em conta, pois, a realidade da vida e as demais circunstâncias e singularidades que envolvem a pessoa do acidentado. É necessário visualizar o acidentado, agora portador de deficiência irreversível, na busca de emprego ou de atividade rentável na sua área de atuação profissional, em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo, onde até os ditos "normais" estão enfrentando dificuldades para obter uma colocação. A avaliação da incapacidade deve ser feita considerando as especificidades do caso, tais como: idade da vítima, situação do mercado de trabalho, rendimento útil no trabalho, grau de instrução, segurança e risco na prestação, etc. Considerando todos esses dados, e atento ao princípio non reformatio in pejus, mantenho a sentença que fixou o valor da pensão mensal em 25% do salário do reclamante, lembrando à reclamada que nos seus cálculos de f. 223 (item 2.6.3) há de ser computada, a cada ano, a gratificação natalina [(R$760,00 : 4) x 13 meses x 22 anos = R$54.340,00]. No que tange à forma de pagamento, excluo da condenação o pagamento, de uma só vez, em razão dos limites do pedido. A verba deverá ser paga sob a forma mensal. Não se pode olvidar, contudo, a ponderação do Juiz acerca da incerteza quanto à continuidade da atividade econômica da reclamada, o que aconselha a adoção da mesma solução estabelecida pelo art. 475-Q do CPC: a determinação de que a reclamada constitua capital, cuja renda assegure o pagamento do valor da pensão, a ser quitado mês a mês. Mantém-se, quanto ao mais, a sentença recorrida. Dou provimento parcial, nesses termos. 3.4. Multas A reclamada insurge-se contra a aplicação de penalidades: uma multa de 1% sobre o valor da causa, em favor dos cofres da União e uma indenização, em favor do reclamante, de 2% sobre o valor da causa, nos termos do art. 18, caput, e §2o. do CPC. Argumenta que o produto das sanções destina-se à parte adversa, e não, à União. Dizendo inexistir amparo legal à condenação, pede absolvição.

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64Veja-se que não há ataque fundamentado à aplicação das multas ou aos seus percentuais, mas tão-somente à destinação dos valores a serem arrecadados. E, nesse ponto, razão não assiste à recorrente. Ao suscitar nulidade quanto ao encerramento da instrução processual, por alegada ausência da segunda proposta conciliatória (que, segundo o Juízo, efetivamente existira) (f 163-167) e obtendo a reinclusão do feito em pauta para renovação da proposta, quando não tinha a mínima intenção de se conciliar, a reclamada criou incidente meramente protelatório do feito, o que demanda punição. Sendo constatada a litigância de má-fé, o art. 18 do CPC autoriza a condenação da parte no pagamento de multa de 1% sobre o valor da causa e de indenização à parte contrária, relativamente aos prejuízos que ela sofreu. O §2o. desse dispositivo limita o valor da indenização ao máximo de 20% sobre o valor da causa, não havendo irregularidade quanto aos percentuais fixados. Por outro lado, o art. 35 do CPC dispõe: "As sanções impostas às partes em conseqüência de má-fé serão contadas como custas e reverterão em benefício da parte contrária; as impostas aos serventuários pertencerão ao Estado". Dou provimento, para determinar que o produto da imposição das penalidades reverta em benefício do reclamante. FUNDAMENTOS PELOS QUAIS, O Tribunal Regional do Trabalho da Terceira Região, pela sua Segunda Turma, unanimemente, conheceu do recurso; por maioria de votos, deu-lhe provimento parcial para reduzir a indenização por danos estéticos a R$30.000,00; para excluir da condenação o pagamento, de uma só vez, da pensão, devendo ela ser paga mês a mês, determinando que a reclamada constitua capital cuja renda assegure o pagamento do valor mensal da pensão arbitrada; para determinar que o produto da imposição das multas reverta em benefício do reclamante; vencidos, em parte, o Exmo. Desembargador Relator, que reduzia a indenização por dano moral a R$40.000,00, e o Exmo. Desembargador Revisor, que não reduzia a indenização por danos estéticos; mantido o valor arbitrado à condenação.

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INDICE

FOLHA DE ROSTO 1

DEDICATÓRIA 2

AGRADECIMENTOS 3

RESUMO 4

SUMARIO 5

INTRODUÇÃO 6

CAPÍTULO 1 - PROTEÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADO 8

1.1- A pré-história da proteção ao trabalho 8

1.2- O advento da revolução industrial 9

1.3- Surgimento da proteção à saúde do trabalhador 10

1.4- A OIT e sua evolução sobre saúde do trabalho 12

CAPÍTULO 2 - PROTEÇÃO DA SAÚDE NO BRASIL 14

2.1- A saúde e sua proteção 15

2.2- Conceito de meio ambiente 18

2.3- Prevenção 19

2.4- Proteção à saúde e legislação brasileira 20

CAPÍTULO 3 - ACIDENTES DO TRABALHO 23

3.1- Acidente e doença do trabalho 23

3.2- Espécies de acidente de trabalho 23

3.2.1 – Acidente – tipo ou acidente típico 25

3.3- Histórico das leis acidentárias 27

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3.4- Doenças ocupacionais ou do trabalho 30

3.5- Concausas 32

3.6- Acidentes de trajeto 33

3.7- Outras hipóteses 34

3.7.1- Lesões provocadas por atos de terceiros no ambiente de trabalho e durante a jornada de trabalho. 34

3.7.2- Agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho. 34

3.7.3- Ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada ao trabalho. 35

3.7.4- Ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiros ou de companheiro de trabalho. 35

3.7.5- Ato de pessoa privada do uso da razão 36

3.7.6- Desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de força maior. 36

3.7.7- Lesões sofridas pelo empregado, ainda que fora do local e do horário de trabalho. 36

3.7.8- Em viagem a serviço da empresa 37

3.7.9- Durante os períodos de refeição, descanso ou nos quais o empregado estiver satisfazendo necessidades fisiológicas. 37

CAPÍTULO 4 - RESPONSABILIDADE CIVIL NO ACIDENTE DO TRABALHO 38

CAPÍTULO 5 - INDENIZAÇÕES NOS ACIDENTES DE TRABALHO COM E SEM ÓBITO 44

5.1-Indenização dos danos nos acidentes com óbito 44

5.1.1- Danos emergentes 44

5.1.2- Lucros cessantes 45

5.1.3- Danos morais 45

5.2-Indenizações nos acidentes de trabalho sem óbito 46

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5.3-Uma visão dos números de acidentes no mundo e no Brasil 47

CONCLUSÃO 50

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 52

ANEXOS 54

INDICE 65

FOLHA DE AVALIAÇÃO 68

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes

Título da Monografia: Acidente de Trabalho – Teoria e Pratica

Autor: Vera Lúcia Vieira de Castro

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: