antologia brasil: 1890-1930 - fotoplus

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  • Ricardo Mendes

    PENSAMENTO CRTICO EMFOTOGRAFIA

    organizao

    Antologia Brasil, 1 890-1930

  • PENSAMENTO CRTICO EMFOTOGRAFIA

  • Este projeto foi contemplado com o XII PRMIO FUNARTE MARC FERREZ DE FOTOGRAFIA 2012

    F i cha tcn i caconcepo, pesquisa, texto e edioRicardo Mendes

    impressoMattavelli

    realizaoXII Prmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia

    2012

    agradecimentosMaria Inah Alves de MirandaFernando ChavesJoaquim MaralMrcio RMMaria Luiza VieiraMaria Teresa Bandeira de MelloMnica Carneiro AlvesRicardo DiasTadeu ChiarellieConfoto, FBN, MAM Rio

    aos pesquisadoresHelouise Costa e Rubens Fernandes Junior

    tiragem1 000 exemplares

    editorado comSCRIBUS

  • Antologia Brasil, 1 890-1930Antologia Brasil, 1 890-1930Pensamento c rt i co em fo tog ra f i a

  • Fon tesarquivos e bibliotecas digitaisArquivo Pblico do Estado de So PauloFundao Biblioteca Nacional - Hemeroteca

    Digital

    e aindaArquivo Pblico da Cidade de Belo HorizonteArquivo Pblico do Espirito SantoArquivo Pblico MineiroBiblioteca Pblica do Estado do RioBrasiliana USPCentro de Documentao Dom Joo IV

    Pr-Memria de Nova FriburgoCentro de Memria-Cmara Municipal

    de Caxias do SulFundao Casa de Rui BarbosaFundao Joaquim NabucoHemeroteca Municipal de LisboaMuseu Lasar Segall - Biblioteca Digital das

    Artes do EspetculoProjeto J. CarlosPr-Memria Jacare

    arquivos fsicosArquivo Pblico do Estado de So PauloFundao Biblioteca NacionalFUNARTE-CEDOCIEB-USPMAM Rio - Pesquisa e DocumentaoMuseu Lasar SegallMuseu Paulista-USP

    portaisO Estado de S. PauloFolha de S. PauloJusBrasil

    FotoPlus

  • Ricardo Mendesorganizao

    Antologia Brasil, 1 890-1930Pensamento c rt i co em fo tog ra f i a

    2013

  • plano-piloto

    contexto

    blocos temticos

    seleo de artigos

    ndice onomstico

    artigos em

    ordem cronolgica

    bibliografia de apoio

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    337

    23

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    345

  • Antologia Brasil, 1 890-1930 constitui um gesto que procura estimular adiversidade editorial sobre a histria da fotografia no Brasil.Os ltimos vinte anos so marcados por intensa produo nos campos da reflexo ehistria nesse segmento. O mercado editorial fotogrfico, porm, extremamentedesigual, com aes episdicas, dificultando a difuso dessa produo e o ensinoespecializado. Entre as grandes ausncias editoriais, em especial se atentarmospara obras de referncia, est o parco conjunto de ttulos voltados para a histriado pensamento crtico. No recorte amplo que se esconde sob tal denominao deve-se destacar a extrema dificuldade de acesso ao conjunto ensastico sobre foto-grafia em praticamente toda a sua extenso temporal de quase dois sculos.Essa proposio tem como objetivo a produo de uma antologia de ensaioselaborados no perodo, como primeiro tomo simblico de uma srie, queconstitua um estmulo a iniciativas similares de recortes temporais ou temticosos mais distintos.Antologia Brasil trabalha atravs de duas perspectivas. Promover o contatocom fontes documentais, que estimule o leitor, o jovem pesquisador etc a refletire dialogar com a historiografia. Nesse sentido, a antologia prope-se comomaterial didtico. Por outro lado, ao aproximar o leitor de textos de poca, aedio procura promov-lo como agente de anlise e questionamento da prpriahistoriografia, estimulando novas aproximaes.A literatura fotogrfica constitui o repositrio tradicional para o pensamento sobrefotografia em sua diversidade: reflexo, ensino e memria. atravs desteconjunto que entendemos a expresso, provisria: pensamento crtico. Quasesempre associada crtica na imprensa, modalidade que entre ns marca largoperodo do sculo XX, a produo crtica encontra, porm, ao longo dos quaseduzentos anos de prtica fotogrfica veculos e locais distintos para gnese edifuso: a grande imprensa, revistas especializadas de recorte variado ao longo dotempo, o universo acadmico e a internet. Se a escrita suporte tradicional dessareflexo, necessrio apontar que so contemporneos hoje novos autores como ocurador e novas formas como a produo audiovisual.

    p l ano -p i l o to

    Antologia Brasil, 1 890-1 930

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  • Antologia Brasil: 1 890-1930 privilegia um momento marcado pelo movimentofotopictorialista e a primeira fase do fotoclubismo entre ns. Ambas asreferncias constituem por si justificativas para priorizao desse perodo: aprimeira ocorrncia de uma proposta que aproxime os campos da fotografia edas artes visuais e o delineamento precrio de um circuito de discusso ecirculao de ideias atravs dos clubes fotogrficos. Ao redor dessasassociaes, por vezes com vnculos diretos, tem lugar no Brasil o surgimento derevistas especializadas, ao mesmo tempo em que num panorama maior ocorre aexpanso de uma imprensa que tem no uso intensivo da fotografia uma de suasmarcas: as revistas ilustradas.Estamos assim entre dois momentos. Aquele que antecede o perodo em anlise,dos primeiros sessenta anos de introduo e difuso da fotografia no Brasil,marcado pela discusso da fotografia como produto tecnolgico e suacontribuio para os diversos campos da cultura, expresso das interaes ten-sas entre cincia e cultura de que somos to prximos. E ao fim, no extremooposto, o marcante momento da discusso da fotografia moderna, em especialno segundo ps-guerra, como expresso esttica autnoma, como sincronia coma cultura da modernidade.

    A seleo dos ensaios um desafio, que cedo revela a necessidade de avaliar asformas de circulao de ideias de cada momento. A identificao de tipologias deensaios, como resenhas, crticas de exposies etc, e a identificao de veculoscomo revistas e jornais de grande circulao ou publicaes especializadas soexemplos desse trabalho. No caso, privilegiou-se o ensaio terico sobre areportagem, buscou-se a proposio programtica, mas logo o leitor descobrirque a edio final mais ampla.

    O estabelecimento do texto uma questo relevante, embora tenha sido adotadauma abordagem provocadora. Do ponto de vista de transcrio, tomou-searbitrariamente como referncia a edio online do Grande Dicionrio Houaiss.No entanto, a origem diversa dos ensaios, a ocorrncia de escritas com registrosdistintos ao longo de um perodo algo extenso de 4 dcadas deixam marcas, queseria impossvel remover.

    Preservou-se integralmente a paragrafao, a pontuao etc. Interveio-seapenas para eliminar o que parecessem erros de reviso, privilegiou-se oarcasmo at mesmo em expresses to conhecidas como "kodack", sempretendo como referncia a obra de Houaiss, que se revelou surpreendentementeoportuna. O objetivo era usar essas escritas como meio de atrao e repulsaentre leitor e texto, procurando assim trabalhar com as reaes de identi-ficao e distanciamento crtico.

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    plano-piloto

  • con texto

    Photo Club Brasileiro, 1 896

    Chega So Paulo em 20 de maio de 1897, vinda do Rio, uma comitiva de oficiaischilenos. O jornal O ESTADO DE S. PAULO, do dia seguinte, p.1 , comenta achegada:

    Acompanhando os ilustres viajantes, vieram o capito do mar e guerraJos Carlos de Carvalho, os drs. (. . . ) e Ricardo Ramos, engenheiro daEstrada de Ferro Central, e mais trs membros do Photo Club Brasileiro.O povo abriu alas para dar passagem aos recm-chegados.

    Em outubro do mesmo ano, o Photo Club Paulista, por sua vez, nomeia umacomitiva para tirar diversas fotografias, no desembarque em Santos e nachegada a esta capital do 1 batalho da polcia do Estado, como informa notano CORREIO PAULISTANO do dia 23, primeira pgina.Os amadores fotogrficos, novidade entre ns, parecem revelar interesseincomum. O resultado merece comentrios na imprensa. Assim, na edio de 15 demaio de 1897, em artigo sobre as festas em honra da esquadra chilena em visitaao Rio, cujos oficiais visitariam depois So Paulo, o jornal DON QUIXOTE, editadopor Angelo Agostini, comenta, no artigo Festas chilenas, p.3: .. . graas gentileza do Photo Club, dessa magnfica recepo ficaro perenemente guardadosdiversos pontos de vista em excelentes fotografias instantneas.Em novembro de 1899, novamente nota em DON QUIXOTE, do dia 15, p.7,registra os convites recebidos: Do Photo Club para a sua exposio defotografias. Ser o salo do ativo Photo Club Brasileiro de dois anos antes?Notcias de eventos similares correm. O peridico lisboeta BOLETIM PHOTO-GRAPHICO, editado por Arnaldo Fonseca, registra, na edio de setembro de1901 , p.1 36: O Photo Club Paraense, no Par (Brasil) inaugura no prximo msde outubro uma exposio permanente de fotografia.O que informa essa atividade, febril vista de hoje, desses engajados amadores?

    Antologia Brasil, 1 890-1 930

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  • Falam antes de tudo, na perspectiva historiogrfica que interessa aqui, sobre quopouco se sabe sobre o fotoclubismo, sobre a fotografia daquele perodo. Bastadizer que essas notas no parecem ter registro na historiografia conhecida. Essase outras que surgem hoje muito rapidamente. E a surpreender-nos ao encontrar umfotoclube homnimo, ativo, fundado em abril de 1 896, que precede em 27 anos oPhoto Club Brasileiro, principal associao brasileira das dcadas de 1920 e 1930.

    Um vazio historiogrfico

    possvel afirmar que a historiografia da fotografia no Brasil apresenta um vaziosobre um perodo algo extenso entre o final do sculo XIX e as primeiras dcadasdo sculo seguinte.Ao longo da crescente e intensa produo historiogrfica que se estabelece entrens a partir da dcada de 1970, esse vazio surge lentamente. Os primeirosestudos histricos concentram-se na introduo e desenvolvimento da fotografiano Brasil, em tantos segmentos, nas suas aplicaes, e ainda na produo edifuso das imagens de um estado nacional em formao. No segundo momento,outro grande ncleo temtico construdo ao redor da fotografia moderna, apartir da segunda metade da dcada de 1990.Um pouco ao acaso, um pouco devido a ausncias de arquivos estruturados, umpouco pela falta de uma crtica historiogrfica, um espao entre esses dois polosfoi tomando forma.As bordas delimitadoras desse espao no permaneceram fixas. Pesquisashistricas sobre o modernismo, por exemplo, comearam gradativamente acorroer os limites imediatos, retrocedendo-os em parte. A dificuldade maior seriaenfrentar a pouca documentao em acervos e, por que no, um vagopreconceito, no contexto da reflexo sobre a fotografia moderna, frente aopictorialismo.Apenas os estudos sobre o retrato no campo da fotografia profissional e aspesquisas sobre documentao urbana, ou desdobramentos como postais,parecem delinear olhares sobre o intervalo em questo.A proposio pode parecer grosseira, mas como imagem esclarecedora deaspectos de desenvolvimento de um historiografia to jovem. H, contudo, como conhecido, contribuies fundamentais para o estudo do recorte temporal que oprojeto Antologia Brasil enfoca: 1 890-1 930. Sua extenso , em verdade, longa,abrangendo mais de duas geraes.Como indicado pouco antes, estudos importantes sobre a fotografia modernadedicaro tempo a estabelecer uma ponte precria com o fotoclubismo mais

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    contexto

  • prximo e a influncia do pictorialismo que parte deles adota como prtica.Helouise Costa (1 960) e Renato Rodrigues da Silva lanam, em 1995, o livroA fotografia moderna no Brasil. A edio resulta de pesquisa premiada pelaFUNARTE, finalizada em 1987. Helouise, em seu mestrado (1 992), analisa, por suavez, a influncia do fotopictorialismo na revista O CRUZEIRO, lanada em 1928.Uma dose de acaso, associada a momentos de intensa poltica cultural voltadapara o setor da fotografia a cargo da Funarte, permitiu que importante conjuntode imagens integrantes desse circuito fosse preservado. A recuperao da obrade Hermnia de Mello Nogueira Borges (1 894-1 989), fotoclubista, esposa deimportante membro do Photo Club Brasileiro, fundado em 1923, tem lugar em1981 em exposio realizada no Rio, evento parcialmente remontado em SoPaulo no ano seguinte. Com a morte da fotgrafa, a coleo doada ao Museude Arte Moderna do Rio de Janeiro.Em 1994, Maria Teresa Bandeira de Mello (1 962) finaliza a pesquisa Arte efotografia: o movimento pictorialista no Brasil, realizada no programa demestrado da ECO-UFRJ. Publicada quatro anos depois, pela FUNARTE, com omesmo ttulo, sua anlise constitui ainda hoje extensa e pertinente apreciao domovimento na dcada de 1920. Centrado estritamente sobre o conjunto deixadopor Hermnia Borges, a autora enfoca a produo do Photo Club Brasileiro.

    A abordagem sofre, porm, em alguns momento com a parca historiografiaexistente. Dados sobre a presena do fotoclubismo no Brasil em seus diversosaspectos surgem truncados, repetem-se datas desconexas, o que no invalida aobra, nem as demais citadas. Um exemplo est presente nas referncias sobre sduas primeiras dcadas do sculo, entre elas, as relativas ao Photo Club Helios.Talvez um dos mais duradouros fotoclubes do momento, sediado em PortoAlegre, a associao tem registros de atividades desde meados da dcada de1900, participando, por exemplo, da Exposio Nacional de 1908, no Rio. Eprossegue, com atividades aparentemente regulares at o final da dcada de1930. Essa trajetria eclipsada constitui exemplo perfeito de desencontro dedados, intensamente disseminados na bibliografia brasileira.

    Espanta a ausncia de pesquisa sobre o Photo Club Helios, que cubraefetivamente seu percurso. Registre-se, porm, que o seminrio Dilogos entrehistria, patrimnio e educao (Universidade Federal do Rio Grande, 1 2-1 3 dejunho de 2012), trouxe comunicao de Luzia Costa Rodeghiero, mestranda daUniversidade Federal de Pelotas, que comea a recuperar as aes do Helios,entre maio de 1907, quando fundado, at 1 949. Disponvel em:< http://seminariodialogos.files.wordpress.com>Apenas nos ltimos dez anos surgem contribuies significativas que abordam afotografia amadora no incio do sculo XX. o caso, por exemplo, da tese de

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    Antologia Brasil, 1 890-1 930

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  • doutorado de Suzana Barretto Ribeiro Percursos do olhar da fotografiaprofissional e amadora de Campinas (1900-1925) (IFHC-Unicamp, 2003;Annablume, 2007). Contudo, significativa recuperao da cultura amadorafotogrfica, focando o contexto carioca da primeira dcada do sculo XX,resultou em outro projeto de doutorado, apresentado em 2010, por AdrianaPereira: A cultura amadora na virada do sculo XIX: a fotografia de AlbertoSampaio (FFLCH-USP).Como Suzana Ribeiro, a autora discute o tema a partir da atuao de um amador,mas aqui, tendo como panorama as cidades do Rio e Petrpolis, quando surgemas referncias ao desenvolvimento do Photo Club do Rio de Janeiro ([1 902-1 91 ?]). Certamente, importante fonte de informao para o projeto a coberturarealizada pela revista carioca RENASCENA (1904-1 908). Em certa medida, apesquisa integra um conjunto de projetos recentes que abordam esse peridicono tocante a sua relevncia para a histria da crtica de arte.Por fim, contribuio bibliogrfica recente a mencionar, lanada em 2012, olivro Fotoclubismo no Brasil: o legado da Sociedade Fluminense de Fotografia,de ngela Magalhes e Nadja Peregrino (SENAC Nacional/SFF). A edio traao percurso de fotoclube fundado em 1944, a mais importante associao flumi-nense a partir da dcada de 1950, quando passa a ocupar o espao deixadopelo Photo Club Brasileiro. No segmento inicial da obra, as autoras estabelecemo mais significativo panorama histrico, na historiografia brasileira, sobre ofotopictorialismo internacional.

    Fontes documentais, instrumentos de pesquisa

    A proposta de constituir uma antologia crtica implica em caracterizar umsistema de circulao de ideias e identificar seus canais de comunicao erepositrios. No recorte temporal em questo, no ser o livro o meio decirculao, excetuada a literatura fotogrfica estrangeira, cuja avaliao serfeita de forma indireta pela referncias na produo local. a imprensa oveculo central. Seja a imprensa geral, voltada para o grande pblico; seja,entre os aspectos que caracterizam o perodo, a imprensa especializada emfotografia.Surgem ento as primeiras colunas e revistas especializadas. Embora ttulosconhecidos, so veculos ainda poucos referenciados e estudados, exceto embreves ensaios (CAMARGO & MENDES, 1 992; MENDES, 1 998; FERNANDES JR,2010). Em vrios momentos da Antologia Brasil esses peridicos serocaracterizados. A pesquisa permitiu registrar novos ttulos, alterando o limitetemporal de surgimento desse segmento.

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    contexto

  • O elenco de peridicos conhecido: as editadas em So Paulo REVISTAPHOTOGRAPHICA (1 908-[1 909]), ILLUSTRAO PHOTOGRAPHICA (1 919-[1 920]) e REVISTA BRASILEIRA DE PHOTOGRAPHIA (1 926-[1 926]), e ascariocas, as duas primeiras como revistas associadas ao Photo Club Brasileiro,por algum momento, e a ltima, de sua propriedade, com longa durao FOTO-FILM (1924-[1 925]), PHOTO REVISTA DO BRASIL (1 925-[1 926]), ePHOTOGRAMMA (1926-[1 931 ]).

    Sobre as colunas especializadas, destaquemos aqui o primeiro registroconhecido, de 1898, no jornal CORREIO PAULISTANO, da srie Artes de amador,com dezessete inseres. Mas importante lembrar que a experincia editorialdo Photo Club Brasileiro tem incio na coluna O Photo Club Brasleiro, na revistacarioca FON-FON, com curta durao, em meados de 1924.O projeto Antologia Brasil alterou esse conjunto, em parte. A ele, agregam-sedois novos ttulos cariocas, editados pelo fotgrafo A. Leterre: em 1902, aREVISTA PHOTOGRAPHICA, com quatro edies, e dois anos aps, PHOTOGAZETA, hoje, o mais antigo peridico remanescente. E, experincia nica entrens, o paulistano BOLETIM PHOTOGRAPHICO, lanado em 1924, como iniciativapromocional associada futura REVISTA BRASILEIRA DE PHOTOGRAPHIA,programada para 1926.Desse conjunto, cerca de 76 edies tiveram exemplares preservados,significativa parcela de um total de 85 nmeros. Esto disponveis em acervospblicos, em So Paulo e no Rio de Janeiro, 53 edies nenhuma delas emforma digital.

    Foi possvel rever todo esse conjunto, excetuando 23 edies da ediopaulista da REVISTA PHOTOGRAPHICA, da PHOTO REVISTA DO BRASIL e daREVISTA BRASILEIRA DE PHOTOGRAPHIA, todas em coleo privada.Contudo, esse conjunto havia sido brevemente anotado pelo pesquisador hquase duas dcadas, o que permitiu um balano parcial. possvel apontar,assim, que seria oportuno avaliar as contribuies para esta ltima publicaode autores, como Guilherme Malfatti e Valncio de Barros, fotoclubistas que decerto modo fazem a ponte, no contexto paulista, entre o fotoclubismo dadcada de 1920 e de 1940.

    A recuperao desse conjunto de peridicos tarefa realizada a partir de obrasde referncias conhecidas. Sobre a imprensa em geral, alm de levantamentosexistentes j mencionados, tomou-se por base fontes historiogrficas como:Affonso de Freitas (1 915), Jos Freitas Nobre (1 950) e Heloisa de Faria Cruz(1 997), entre outras. Essenciais ainda, no caso dos artigos selecionados, foramos estudos especializados sobre autores como Joo do Rio e Olavo Bilac, quededicaram parte significativa de suas produes ao jornalismo.

    Antologia Brasil, 1 890-1 930

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  • Evento fundamental para o projeto foi a introduo recente, e em expanso, dosportais de acesso online a acervos digitais. Reunindo conjunto heterodoxo deacervos, quanto a ttulos, cobertura regional, formas de acesso e possibilidadede recuperao de informao, como uma leitura das fontes na abertura daantologia permite reconhecer , esses repositrios ampliaram de formaexpressiva, em nmero e diversidade de textos, o horizonte de trabalho doprojeto. Ainda assim no foi possvel garantir uma cobertura regional ampliada,com pareceu plausvel num momento inicial, ficando restrita a seleo final,salvo raras excees, a artigos publicados na imprensa carioca e paulistana.

    Uma cultura fotogrfica em formao

    O desenvolvimento do projeto exigiu avaliar, de forma operacional, parmetrospara compreenso e anlise da cultura fotogrfica num contexto dado. Tomou-se como ponto bsico, como fica em parte evidente no trecho acima, oreconhecimento de uma circulao de informaes sobre fotografia em escalainesperada, em todos os seus aspectos. Surpreendeu descobrir em contrastecom a impresso registrada nos estudos disponveis, que aponta uma difusorestrita, quando muito s cidades de So Paulo e do Rio de Janeiro , queexiste uma circulao, difusa, em escala maior, e em momento anterior aousualmente pressuposto a partir da dcada de 1910.Existe aparentemente uma demanda por informao, que alimentada porcapilaridade a partir de jornais editados no Sudeste, rumo a outros centros.Certamente, essa difuso, que hoje possvel comear a identificar com oacesso ampliado, via digital, a colees de peridicos, no deve ter permitido,porm, aos leitores de ento um viso geral desse panorama estilhaado.Apenas na dcada de 1920, com o estabelecimento no pas de mecanismos dedistribuio de jornais e revistas de forma mais estruturada possvel imaginaralgum avano, mais pela formao de pblico e menos por condies de acesso aesses canais por pequenos editores. Um alternativa existe na constituio deuma rede de representantes, como faz PHOTOGRAMMA, oferecendo ao leitor,fora dos centros principais, volume e qualidade de informao. Investigaorelevante seria avaliar por exemplo essas representaes, que PHOTOGRAMMArelaciona regularmente em todas as edies.Quase certo, porm de forma diversa ao que as revistas brasileiras dedicadas aocinema parecem ter conseguido ento, essas iniciativas jornalsticas voltadaspara a fotografia, de menor envergadura de investimento e de interesse maisrestrito, no geraram uma sinergia mais efetiva entre amadores e profissionaisespalhados pelo pas.

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    contexto

  • Esse interesse difuso, apontado ao incio, que ocorre na imprensa regional revelado quase sempre em notas, desde do limite inicial do recorte temporal emquesto. Valorizam-se as novidades tecnolgicas, como a fotografia colorida, oraio X, as teleobjetivas etc. De certo modo, todas estas referncias podementendidas como formas de ampliao das vises do real, conjunto em queganham destaque ainda a fotografia astronmica, as aplicaes em medicina, afotografia de espritos e emanaes corpreas as mais diversas. Enfim, novasvirtualidades que tornam prximo o invisvel, o microcspico, o distante.Aspecto significativo que os ensaios aqui reunidos revelam como o grande arcodo pensamento crtico toma forma lentamente, fragmentariamente. A culturacomo troca e transmisso de valores pode ser identificada em seus diferentesmomentos. Suas referncias internas e externas podem ser dimensionadas desdej em uma rpida leitura do ndice onomstico ao final da antologia.

    Surgem inesperadamente, numa cultura que revela assim pretender suatransmisso entre geraes, a proposio das revistas especializadas (emespecial, o persistente projeto editorial do Photo Club Brasileiro por quase umadcada), o museu de documentos fotogrficos pelo Photo Club do Rio deJaneiro, em meados da dcada de 1900, e a necessidade, apontada por GuerraDuval, de estabelecer o ensino formal em escala ambiciosa, na dcada de 1920,expresso final de uma questo que se impe desde a virada do sculo.Ensino, memria, produo crtica e difuso da fotografia so campos quesurgem certamente marcados pela contexto ao redor do fotoclubismo, que atuaento como articulador intensivo de iniciativas culturais. Questes essas, queesto ausentes, digamos assim, no campo da fotografia profissional.

    Essas aes e proposies tiram proveito, em parte, da expanso dos locais eagentes do circuito de arte, ao qual pretendem se aproximar. Contudo, precisoreconhecer, esse panorama fotogrfico tem dinmicas e agentes prprios, queativamente buscam essa sinergia. Ao longo do arco temporal aqui tratado possvel identificar, atravs dos textos selecionados, essa expanso, a adoo dehbitos e prticas culturais, e a constituio de um pblico para esse circuito novo.

    Fotografia e arte

    O perodo marca uma mudana radical, episdica de incio, mas em seguidadifusa e regular, na percepo da fotografia como objeto cultural complexo.Parte-se da sua proposio como expresso mxima das conquistas da cincia,com aplicaes nos mais diversos setores, expandindo o conhecimento tcnico,para a concepo de uma fotografia integrada s expresses artsticas.

    Antologia Brasil, 1 890-1 930

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  • O fotoclubismo, em sua faceta associada ao pictorialismo, veculo dessaproposio. Sua presena no Brasil ocorre, como em outras sociedades similares,de forma abrupta, sujeita a ruptura e acomodaes de ideias importadas, processoque exige instrumental analtico, observao e documentao rigorosos.

    Seria mais correto evitar uma anlise estrita do panorama local pela tica dahistoriografia internacional sobre o pictorialismo, que at aqui tem apenasajustado o figurino conceitual ao pouco que se sabe sobre a produo e recepoda produo brasileira.Ao invs disso, procurando estender a anlise a um campo ampliado, em especialao longo da primeira dcada do sculo XX, possvel identificar essasocorrncias como uma contribuio original ao debate sobre uma questo chaveque se impe a partir da segunda metade do sculo anterior sobre a cultura: asrelaes entre indstria e arte.

    Visto por essa perspectiva, o fotoclubismo brasileiro em sua primeira fase amelhor expresso, num pas de industrializao precria, dos conflitos desen-cadeados. O automatismo do processo fotogrfico ponto central na cartilhaadotada, o instantneo como metfora do conflito entre mecnico e o humano,negando o autor. Questes associadas, como o conflito entre o amador e oprofissional, expressam o papel e a autoimagem dos agentes nesse debate.

    O aggiornamento que tem lugar ento est sujeito aos conflitos decorrentes daausncia de um debate sobre arte e cincia no pas, como o que ocorre ao longo dosculo XIX no contexto europeu, por exemplo. Ainda assim essas ocorrnciaspermitem que sejam apreciadas como uma das melhores expresses desse conflitoentre ns.

    Para entrar e sair da modernidade

    Contra a caixa preta, o pictorialismo? As estratgias para acesso modernidadepodem ser avaliadas num contexto inesperado. H um slido debate internacionalque chega at ns, em referncias a autores como Robert de la Sizeranne, cujofoco precisamente o estatuto artstico da fotografia.

    O pictorialismo, que pode ser tomado numa leitura imediata como opoconservadora para insero na cultura moderna, no pode ser visto, pelo quesabemos agora do panorama brasileiro, como um produto solidrio ao longo doextenso arco temporal em que se desenvolve.O Photo Club Brasileiro, na dcada de 1920, nesse segundo desdobramento domovimento fotoclubista no Brasil em sua primeira fase, certo, faz aos poucos

    1 4

    contexto

  • mera adeso arte acadmica, ignora o universo urbano, as mudanas nas artesvisuais em curso aqui mesmo. Essas decises geram um esgotamento edesvalorizao severa ante s novas geraes.Ainda assim, curiosamente, no sero taxados abertamente de passadistas.Talvez porque circulem em campo controlado, em que se partilham os mesmosvalores, em jornais e peridicos: uma bolha de valores mdios.A dcada de 1920 tem certamente tenses de fundo na cultura local, que seexpressam em momentos os mais diversos, at mesmo nesse universo das revistasilustradas, que mesclam cobertura social e reportagens culturais variegadas.Em fevereiro de 1924, uma revista carioca FROU-FROU..., em sua nona edio,traz o artigo Bilhetes da Pauliceia, um comentrio detalhado, acompanhado decharges, sobre o pseudo futurismo paulista. O autor, que assina simplesmenteB. B. B., encerra assertivamente o extenso desabafo:

    Registramos a incoerncia unicamente para declarar que no levamos asrio o "futurismo" desses senhores e para pedir-lhes, pela alma deJpiter, o obsquio extremo de no mexerem mais nos nossosempoeirados figures mitolgicos.Cantem, em versos livres a beleza da gasolina, faam odes virgindadeda telegrafia, team madrigais candura do "fox-trot", mas no seesqueam das palavras sensatas daquele profundo psiclogo que foi LaBruyre, ao falar de Teofrasto: "Nous qui sommes si modernes seronanciens dans quelques sicles".E principalmente, (ah! muito principalmente! ) no digam nunca mais queso futuristas.

    Antologia Brasil, 1 890-1 930

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  • 16

    Os blocos articulam conjunto abran-gente de temas e manifestaes doperodo, embora com dimenses e re-cortes distintos. Dois deles ARTE eFOTOGRAFIA ARTSTICA apre-sentam a maior parte dos ensaios, pu-blicados em veculos variados, dagrande imprensa a colunas e revistasespecializadas em fotografia, modali-dade que surge no pais a partir de1 890. Os dois conjuntos em destaquerevelam o trao que caracteriza a pro-duo escrita sobre fotografia do pe-rodo: a discusso sobre o estatutoartstico da fotografia.Os demais conjuntos procuram carac-terizar temas como ENSINO e IM-PRENSA ESPECIALIZADA, e apon-tam nesses casos para a circulao deidias e imagens. Os demais blocos in-troduzem outros campos de aplicaoou temas como a imagem social dofotgrafo, expondo usos e funes emrearranjo contnuo.Cada bloco traz os ensaios em ordemcronolgica, embora sujeita aos sub-temas. Como apoio ao leitor, alm darelao completa dos artigos por dataao final da edio, um conjunto deTAGs, para usar um termo contempo-rneo, indicam pontos de destaques.

  • b l ocos temt i cos

    COMPORTAMENTO: crnica, feminino, fabulaes

    JOE. Cinematgrafo. GAZETA DE NOTCIAS, RJ, 30.8.1 908, p.1O convescote de domingo. CIDADE DE FRIBURGO, Nova Friburgo,

    1 0.1 2.1 916, p.1BILAC, Olavo. Dirio do Rio. O ESTADO DE S. PAULO, SP, 21 .1 .1 898,

    p.1TEX, Leo. Pelos "ateliers" e sales... CORREIO PAULISTANO, SP,

    27.6.1 913, p.1BEVILACQUA, Sylvio . No T. S. F. PHOTOGRAMMA, RJ, I I (23):

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    DEIR, Eunapio. A arte. KOSMOS, RJ, 1 (11 ): n.p, nov.1 904

    Antologia Brasil, 1 890-1 930

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    blocos temticos

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  • IMPRENSA ESPECIALIZADA

    Nosso intuito. PHOTOGAZETA, RJ, I (1 ): 1 , 1 .11 .1 904LETERRE, A. Fotografia. PHOTOGAZETA, RJ, I (1 ): 1 , 1 .11 .1 904LOBO, A. de Barros. A nossa misso. ILLUSTRAO

    PHOTOGRAPHICA, SP, 1 (3): 11 , maio de 1919O que pretendemos fazer. REVISTA BRASILEIRA DE

    PHOTOGRAPHIA, SP, (1 ): 3-4, jan.1 926

    FOTOGRAFIA ARTSTICA: notas do exterior, fotoclubes,o artista, outros circuitos

    CUNHA, A. da. A fotografia artstica. REVISTA MODERNA, Paris,I I (26): 75-79, dez.1 898

    A fotografia na Exposio. O ESTADO DE S. PAULO, SP, 2.1 0.1 900,p.2-3

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    LIMA, lvaro de. Terceira exposio artstica do Fotoclube.RENASCENA, RJ, IV (46): 246-256, dez.1 907

    MARIANNO Filho, Jos. Arte fotogrfica. PHOTOGRAMMA, RJ,1 (3): 1 -2, 30.9.1 926

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    Antologia Brasil, 1 890-1 930

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  • A propaganda pela fotografia. O PAIZ, RJ, 22-23.9.1 930, p.1 -2RIO, Joo do. O caador de beleza. A ILUSTRAO BRASILEIRA,

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    BRASILEIRA, RJ, X (1 01 ): n.p., jan.1 929Como se explicam os artistas: F. Guerra Duval. PHOTOGRAMMA,

    RJ, V (40): 4-7, fev.1 931VERA-CRUZ. Exposio Valrio. SANTA CRUZ, SP, VI (4): 1 83-1 86,

    jan.1 906GUERRA DUVAL, Fernando. Exposio de fotografias do Sr. San

    Payo. FOTO-FILM, RJ, I I (22): 1 3-1 4, nov.1 925

    ENSINO

    BORGES Filho, Nogueira. Curso de fotografia terico e prtico.FOTO-FILM, RJ, I I (22): 9-1 0, nov.1 925

    GUERRA DUVAL, Fernando. Escolas de fotografia. PHOTOGRAMMA,RJ, I I (24): 1 -3, jul.1 928

    JORNALISMO

    BILAC, Olavo. Crnica. GAZETA DE NOTCIAS, RJ, 1 3.1 .1 901 , p.1LOPES, Oscar. A semana. O PAIZ, RJ, 21 .5.1 911 , p.1X. Os fotgrafos. O PIRRALHO, SP, I I I (1 39): n.p., 1 8.4.1 91 4BARRETO, Plinio. Um bilhete. A CIGARRA, SP, I (1 9): n.p., 25.3.1 91520

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  • USOS E FUNES: o livro, a cidade, o retrato, a marinha,a imagem da guerra

    A velha e a nova cidade de So Paulo. A PROVNCIA DE SO PAULO,SP, 11 .8.1 887, p.2

    CARLOS, Luis. O retrato. A CIGARRA, SP, I I (42): n.p., 20.5.1 916Vida militar inglesa. A NOITE, RJ, 1 8.6.1 917, p.2O recorde mundial de fotografia. So Paulo: Officinas Graphicas

    Monteiro Lobato & Cia, [1 922]GUERRA DUVAL, Fernando. Marinhas. FOTO-FILM, RJ, I I (23): 2-3,

    dez.1 925ZOILO. Nossas ilustraes. FOTO-FILM, RJ, I I (23): 2-3, dez.1 925O retrato de S. Majestade a Rainha dos Estudantes. A ESQUERDA,

    Fortaleza, 2.4.1 928, p.1

    Antologia Brasil, 1 890-1 930

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  • 23

    se l eo de a r t i g os

  • JOE. Cinematgrafo.GAZETA DE NOTCIAS, Rio de Janeiro,(243): 30.8.1 908, p.1 . il.(domingo)

    O texto ocupa toda a primeira pginada edio de domingo. Aberto h pou-co mais de duas semanas, o grandeevento tema da foto: o Morro da Ur-ca, ao fundo, rivaliza com o arco gi-gantesco sob o ttulo "Portal monu-mental da Exposio".

    A Exposio Nacional, comemorativado centenrio da abertura dos portos,representa um dos grandes investi-mentos simblicos do governo republi-cano, vitrine para o mundo, mas,antes de tudo, para seus cidados.

    Joe, como assina o escritor e jorna-lista Joo do Rio (1 881 -1 921 ), mais um pseudnimo de Joo PauloEmlio Cristvo dos Santos CoelhoBarreto. Aos 27 anos, ele, persona-gem e cronista da cena carioca, re-gistra nesse artigo fatos ao longode uma semana na Capital Federal,campo de intervenes urbansti-cas, que rompem com o ar tmidoda antiga sede da Corte, dando um

    ar metropolitano a uma sociedadede contrastes socioculturais sur-preendentes.O inesperado, nesse contexto, iden-tificar uma nova expresso social parao fotgrafo. O texto exemplifica tam-bm a qualidade do escritor na suaproduo como cronista.Um estudo mais atento revela, no sa escrita caracterstica, mas a criaoafluente em transformao contnua.Dias antes, na edio de 26 de agos-to, no jornal Correio Paulistano, a par-te inicial do artigo era publicada sob ottulo "Os animais da Exposio".Anos depois, como "Clic! Clac! O fo-tgrafo! ", ele incluir o segmento fi-nal no livro PallMall Rio (1 917.)

    evento socialcomportamentolugar social do fotgrafo

    24

  • DOMINGO

    A exposio de canrios, uma poro de gaiolas todas do mesmo feitio.As avezitas parecem assustadas com tanta gente, e so quase cor decreme algumas, outras amarelo ouro, outras de aafro e castanha,outras cor de gema de ovo, to delicadas, to areas, to imateriais queparecem flocos animados de um sopro a perder-se minutos depois.

    Como fui dar ali? Os homens gostam de animais de uma esquisitamaneira. O homem da cidade de tal modo vive separado que no oconhece e no o v seno por excentricidade. Os cachorros so comoelementos decorativos das senhoras, os cavalos ningum os separa dascondues que puxam, salvo quando se membro da SociedadeProtetora dos Animais. Os gatos no passam de um cacoete filosficoliterrio que se usa por pose porque Renan e Baudelaire gostavam degatos como a Sarah em tempo gostou de jaguares. Eu abomino osgatos, os cachorros, os passarinhos, as galinhas. Um gato ronronandoem cima de uma poltrona enfeza-me, e nada mais desolador do queuma gaiola com alguns bichinhos, presos pelo egosmo humano, atrinar vagamente vagas rias, s vezes tristes.

    Como fui dar ali? O fato que passei dos canrios aos pombos. E foiuma linda impresso. H-os todos brancos e todos cinzas e todossalmo e todos cor de havana; h-os como encrespados artificialmentecom a cauda abrindo em leque e a cabea perdida [num] cocar de penas;h-os com rebrilhos de cobre e ao, que parecem sados da fantasia deum forno de faianas de Golfe Juan. Algumas so enormes abrindo asrmiges fortes; outros podem caber na palma da mo de uma donzela. Evendo os cartes com informaes sobre os cruzamentos, olhando-lheso olhar o olhar dos pombos que olham como se no vissem , oarrulho exercia em mim como uma fascinao. Diante das gaiolas dos

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  • pombos minha recordao voltavam os versos gregos, Vnus, o velhoVirglio e o prudente Enas. Certo, Enas no teria descido aos infernos,se Vnus no o fizesse conduzir pelas suas pombas brancas.. .

    Os pombos levaram-me at ao local da Exposio de bois, de cavalos,de touros. Que aspecto! O sol, abrindo na porcelana azul do cu,dardejava uma poeira de diamante cegadora. E naquele brilhoimpalpvel acotovelava-se a multido. Eram empregados do comrcio,eram operrios, eram sujeitos bem postos, eram "sportsmen" eestrangeiros, mulheres do povo e senhoras do alto tom, cabeas emcabelo e grandes chapus a Gainsborough, crianas endomingadas ebabys como escapados aos figurinos de luva de seda branca egestinhos tenros. A luz tirava chispas e fulguraes das joias, dava umcunho de apoteose a tudo. Era como se estivssemos na pesagem deum prado em dia do grande prmio. Os animais estavam na sombra e acuriosidade era toda para eles. Damas flexveis e delicadas paravam emxtase diante dos bois formidveis, e os tratadores perfilados davaminformaes:

    Esse cavalo?

    do Sr. baro do Paran.

    E aquela zebra?

    Ah! isso cruzado. O Sr. baro tem dezenove. Este filho de umcavalo e de uma zebra. Com aquele deu-se o contrrio. E so menosmaus que os burros, os zebroides.

    Os cavalos pareciam orgulhosos da admirao da turba. Os bois erammajestosamente paternais. O olhar amistoso de um desses animaisconsola a alma. E que estranha sensao a do ambiente! O cheirosaudvel dos bois, aquelas cabeas to graves e belas, em que o rosatem desmaios, o pelo macio e lustroso, a fartura, a plenitude, a pujanados exemplares tudo se ligava para infiltrar nas anemias urbanas enas neurastenias presentes, a "griserie" de uma outra vida, o desejoanimal de ter muita sade, de no conhecer perfumes e fatuidades, deviver como os tratadores, dormindo no feno, amando livremente,refocilando com os bichos. As damas ainda resistiam em passar a mopelo dorso dos touros. Os homens iam fatalmente do desejo ao gesto.As crianas, que esto mais perto da natureza, pediam...

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  • E parecia que ns todos ramos melhores, sentamos um fluxo debondade infinita nessa atmosfera rural.

    que no h como a aproximao dos animais domsticos para nosencher de bondade. As aves dos ares so a msica do viver. Ospombos so o amor. Os galos so como natais da vida. E os bois so oconforto e o bem da existncia.

    Encontr-los assim belos e bem tratados uma delcia a que ohomem urbano se entrega com um prazer infinito tanto maisquanto os v e logo dali sai para a civilizao requintada, em plenodomnio da Cidade Maravilha.

    SEGUNDA

    Segunda do "Quebranto". Casa cheia. Aplausos, comentrios como naprimeira noite. muito melhor assistir s segundas. A sensao dopblico muito mais intensa. A pea de Coelho Netto resiste bem aocontato do grande pblico.

    Mas por que os deuses imortais no consentem que se possa louvartotalmente aquele tentmen? A pea uma stira feroz a um certomeio. Fraquear um pouco na caricatura dar motivo a que no setome a srio a stira. E que fizeram aqueles artistas fingindo elegncia?Os artistas foram lamentveis. A cena do "five o'clock" foi umverdadeiro carnaval. Alguns atores apareceram agarrando uma luvacom o ar de quem segura vela em dia de procisso. O Sr. Alfredo Silva,to inteligente, fazia um tipo de carioca cinicamente gozador e elegantecomo um vegete de farsa, com as calas suspensas e uma velhasobrecasaca; o Sr. Nazareth, com uma cabeleira loira enorme tinha umfato positivamente de revista de ano. O Sr. Joo de Deus apareceu valha-nos Deus de "smoking" s cinco da tarde. A Sra. Luiza deOliveira tinha um vestido integralmente mgico, e para no faltar nadaquela sarabanda de adelo, um ator de casaca fazia de criado.

    Os atores tm a mania de que o fato de somenos importncia. No!O fato tudo no teatro, ou pelo menos a maior parte. No se faz umhomem elegante com uma velha redingote, e a composio de um"five o'clock" deixa de ser flagrante apanhado da vida real para passar insulsa pilhria quando a fazem daquele modo.

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  • A regenerao teatral! Ela s se far quando um sujeito, como oChristiano e com muito dinheiro, ditar aos atores as roupas e forobedecido.

    De resto, eu ouvia duas senhoras conversarem:

    curioso este "five o'clock"!

    Muito.

    J viste? Faz-se tudo menos tomar ch.

    verdade. S se l dentro.. .

    Mas que tem tudo isso? A obra de Netto fica. uma das facetas dognio desse homem admirvel. E eu ouvindo o terceiro ato empolgantelembro uma carta do grande artista de dolorosa melancolia:

    "Quando escreveres, pe um rochedo sobre o corao para que te nosuceda compores s com expresses de amor o que devia sairintegralmente do crebro, justo e forte como Minerva armada. Abondade desvairou-te onde apontaste um gnio h apenas um pobrediabo que, h 22 anos, sem trguas, empurra uma pedra para o cimo daescarpa e, quando imagina haver cumprido a tarefa, v a pedradespenhar-se no fundo da indiferena. Torna faina e comea a labuta,arquejando. Se a to estpida contumcia pes o rtulo de 'gnio',glria a Ssifo!"

    Se no fosse esse trabalho incessante do grande beneditino da arte, tosoberbamente as nossas letras contemporneas no fulgurariam, nemaos pobres mortais seria dado o prazer de gozar a obra desse crebroextraordinrio, sempre novo e sempre assombroso.. .

    QUARTA

    Hora de Exposio. Bar. Adolpho Araujo, o jornalista paulista dasfrases imprevistas, j chamou um "garon", que se diz italianobrasileiro, de "panach de nacionalidades", e disse sobre certascriaturas da literatura cousas horrendas. Ns estamos num pontoestratgico. V-se a fita do Rio, todo o Rio que passa, e o interessante que Joaquim Morse e Adolpho Araujo, apesar de serem de S. Paulo,conhecem toda a gente. Esses jornalistas!

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  • Aquela espanhola? - Situao admirvel com o deputado doAmazonas. Mas a crise da borracha? Para tais cousas h sempredinheiro.. . Olha o Coelho Netto. O Netto est a entrar nomercado estrangeiro, primeiras colunas dos jornais de Paris, umromance sobre imigrantes a sair na "Tribuna Italiana". Srio? Tudo quanto h de mais srio. E o seu "Up-to-date"? Dizem que uma pea clef. clef era o "Five o'clock". Imagina tu.. . Mas ahistria daquele casal que ali vai. Ele est mais gordo... Ela tambm,a impudncia da luz.. . Olha que causa admirao esta concorrncia. Para tais cousas h sempre dinheiro. O general T... . Sabes que ogeneral foi encontrado... Silncio, uma questo militar! Decididacom as ltimas armas do carcs de Eros.. . Mas aquele jovemelegante o Luiz Edmundo. . Vai para a Europa. Duas edies dolivro esgotadas, dois ou trs jornais. E depois, filho, uma flor comtalento e amabilidade. Aquela a Mme. X? - No, agora I., Mme. I.Casou de novo por uma nova religio. E os prmios de automveisbem postos? A concorrncia no deve ser grande. H poucodinheiro e muito pouco chic. Essa gente tem carros mas falta-lhe alinha; aquela linha de elegncia do David Campista. O Gasto deAlmeida, que guia deliciosamente, talvez seja bem. E o Leopoldo daCunha, homem da moda, tambm... Vais ver que do a algumatroupe familiar burguesa! Decises do amvel feiticeiro que oThaumaturgo. - O general Gregrio Thaumaturgo de Azevedo? Sim, o general.. .

    E a conversa continua, enquanto a luz envolve os grandes palciosnum zamph multicor de pr de sol esfriado pelas nvoas do mar.. .

    SBADO

    Ah! um fotgrafo!

    A cena foi rpida. Era na Avenida, Mme. de Figueiroa abriu nervo-samente o leque, baixou a cabea e deitou quase a correr. Na suafrente, porm, um sujeito louro, com o "kodack" na mo, ria a bom rir,e quando a linda senhora passou a seu lado, cumprimentou:

    V. Ex. fez muito mal, minha senhora. A chapa vai sair preta.

    Vai sair preta?

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  • Pois est claro! A cabea curvada, o leque escurecendo o rosto.. .

    Mas o senhor vai fazer sair isto?

    para um jornal ilustrado. Com sua licena.. .

    Tem que sair mesmo?

    fatal.

    Mme. de Figueiroa mordeu o lbio, hesitou, e de sbito resolvida:

    Ento se no h remdio, tire outro instantneo direito.

    E ficou de p, numa pose de ave real, sorrindo, enquanto o moolouro de novo a "kodacklsava".

    Era na Avenida e a cena foi rpida. Mas em outras ruas em outrospontos da cidade, quantas cenas idnticas a essa se passam? Porquens temos agora mais um exagero, mais uma doena nervosa: a dainformao fotogrfica, a da reportagem fotogrfica, a do diletantismofotogrfico, a da exibio fotogrfica a loucura da fotografia. J noh propriamente mais fotgrafos profissionais, porque toda a cidade fotgrafa. J no h propriamente pessoas notveis cuja fisionomia sefaa necessidade informativa dos jornais, porque no h cara que noseja publicada. No s as caras. As caras no bastam. As ruas, as casas,os aspectos dos cus, os combustores da iluminao, os carros, ascarroas, as montanhas, as rvores. H cinco anos, em visita a qualquerfamlia de mediania burguesa, o visitante contava com quatro ou cincodesastres fatais: ouvir os progressos da filha mais velha ao piano,admirar as aquarelas da petiz do meio, aplaudir a caula que recitava decor versinhos estropiados. Agora no. Agora s fotografia.

    Esteve ontem no corso?

    No, minha senhora.

    Foi pena. Estavam l os fotgrafos de todos os jornais ilustrados. Econtaram-me que um dos cinematgrafos mandou tirar uma fita.Aparecemos todos.

    Esta Maria vaidosa! No se farta. Olhe que j tem sado numaporo de instantneos.

    A esta frase, caem em cima da visita ruma de hebdomadrios elegantese fotogrficos. E a dona do lar d opinies tcnicas.

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  • No saiu ntido. Um pouco escuro. Ms condies de luz. Este queest um "Rembrandt" de primeirssima! Ah! Eu entendo. Admira-se? Aquino h quem no tenha o seu "kodack". Foi um lote que comprei emliquidao e a prestaes mensais. At o Juquinha j tira a sua fotografia!

    E, em lugar de ver as aquarelas, vemos os retratos tirados peloJuquinha: o gato da casa, a cozinheira espantando as galinhas, ocachorro lambendo as mos do dono da casa tudo sem proporo sem perspectiva, mas encantador.

    Na alta sociedade, no chic mostrar um apetite to vulgar pelareproduo das imagens. As senhoras tm um ar de desdm, os homensfingem fugir, mas os retratos das "professional-beauties" aparecem eminstantneos custosamente posados e no h semana em que umilustrado no nos fornea a ttulo de documento exato o interiorembelezado de vrios palacetes. De modo que se a burguesia e a altaroda sentem a vivaz vontade da fotografia, a cidade inteira, todas asclasses sociais, num acordo definitivo do ladro preso ao diplomatatransferido, exigem a reproduo dos seus gestos. mesmo provvel queat os mortos de mortes violentas sintam a necessidade de reproduoda sua ltima atitude para no desmerecer no outro mundo.

    Sim! a verdade dolorosa! O mundo no tem a obsesso do espelho,como disse o poeta tem a obsesso da fotografia! Arde uma casa emcerta rua? possvel que o incomparvel corpo de bombeiros demore.Os fotgrafos surgem logo. O incndio aumenta? possvel que ovaloroso corpo nico e incomparvel como o Po de Acar e apedra da Itapuca no o limite. Os fotgrafos, porm, l esto parafotografar a chegada do corpo, a primeira ordem do comandante, aschamas, os primeiros esguichos das mangueiras, o povo, os jornalistas,os donos da casa, a companhia que a segurava. o delrio! Umcavalheiro faz a coisa mais imprudente e mais vulgar do mundo: casacomo qualquer de ns. possvel que o pretor no aparea ou astestemunhas no venham. Os fotgrafos l esto para dar o casalsubindo o altar, subindo para o carro, subindo as escadarias da casa e ade ns! para o futuro breve se no houver um paradeiro pelo menospara certas intimidades familiares, com a neurose do documento exato.

    Mas no s. Dois homens brigam. Morre um, vai outro para a cadeia,saem ambos fotografados no jornal. Um tipo suicida-se? Retrato dele

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  • em todas as idades nas folhas! H uma senhora que saiu rua? Zs!kodack nela! Voc vai ali confeitaria? Instantneo! E a alucinao.No se anda nas caladas sem desconfiar dos transeuntes, no se sai rua sem estudar o andar, por causa das dvidas no se atravessa umapraa sem a pergunta ntima:

    Quantos fotgrafos estaro agora fotografando-me?

    E no mesmo preciso sair rua. Na Cmara os deputados estosentados e de repente um tiro de magnsio: foi um instantneo. Nassecretarias, os funcionrios esforadamente escrevem cartas snamoradas, quando de sbito invadem as salas batalhes de homensde unhas envernizadas, e clic! clac! e tome instantneos. Nas fbricas,os operrios esto a palestrar sobre a ltima greve e o direito que todoo operrio tem de ver a diria aumentada, as horas de labor diminudas,e aparece um homem, ergue a mo e paf! bifa o quadro natural. Ecomo j se do as senhoras na missa, s compras, nos banquetes,escrevendo no seu hall ntimo, e os cavalheiros em mangas de camisano seu escritrio, e as cocottes em [menores] grupos e os pic-nicscarnavalescos muito provvel que muito em breve um fotgrafo,se no for chamado, solicitado, rogado antes entre em casa de umapessoa qualquer e exija, seja ele ministro ou contnuo:

    Dispa-se e mostre-me como vai para o banheiro! Quero tirar uminstantneo!

    E, tremendo de gozo, a vtima, s com a ideia do instantneo, correrao banheiro, mesmo que tenha por esse stio do lar uma inexplicvelimplicncia.. .

    que o fotgrafo o tirano, o agente da vaidade, o Boreas dagrande tolice universal, o nico sacerdote acreditado no fandango domundo. Quando um homem se erige em fotgrafo a sociedadeprostra-se.

    Voc tira retratos?

    E instantneos.

    Venha da, vamos jantar!

    A gente encontra na flora enorme uma infinita variedade derepresentantes: o fotgrafo artstico de quadros, o amador da fotografia

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  • de arte, que tira retratos de senhoras bonitas em ambientes lnguidos easpectos do luar nos lagos e nas florestas, o fotgrafo da cidade paracartes postais, o fotgrafo reprter, o fotgrafo ilustrador a queno escapam nem as vagas das ressacas na baa, o turbilho defotgrafos amadores, o fotgrafo high-life, o fotgrafo pndego queinventa por justaposies de chapas cenas picarescas e de pessoasgraves, o fotgrafo instalado, o "vieux genre", que olha para toda floracom os ares de pai nobre abandonado pelo filho prdigo.. . Ele entra,h o estremeo emocionante da massa, e ei-lo a manejar todos comopolichinelos.

    Parem!

    Todos param.

    Vira a cabea!

    Todos viram.

    Olhe para aqui!

    Todos olham.

    que ele tem esse direito. No s aqui. Em toda a parte do mundo.Ainda outro dia, diz o "Hong-Kong Daily Express", havia em Canto,na China, a execuo de oito malandros. Cada vez que os executoressuspendiam um dos coitados, a chusma de fotgrafos assestavabaterias e apanhava o derradeiro esgar. O ltimo ia ter a cabeadecepada. J o carrasco passava o fio do gldio pelo pescoo do pobrediabo, quando um dos fotgrafos bradou:

    Um instante.

    O carrasco parou e o criminoso viveu no transe mais um instante,porque o macabro fotgrafo queria o instantneo perfeito.

    Em transe vivemos ns agora, com a obsesso de apanhar na mquinaos outros e de ver a nossa figura em cada jornal. J comea a no serchic passar um ms sem ser fotografado seis vezes. Que ser dacidade, com tal mania, amanh?

    E ao assistir cena de Mme. de Figueiroa, na Avenida, ao pensar,trmulo de medo, na assustadora epidemia fotogrfica, eu no pudedeixar de recordar que h duas semanas, indo visitar um deputado,

    Antologia Brasil, 1 890-1 930

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  • tambm amador de fotografia, o deputado fez-me travarconhecimento com o seu filho de trs meses e meio por estaspalavras:

    Um pimpolho j clebre!

    Clebre?

    Venceu o "record" da fotografia.

    Ora esta!

    J foi fotografado vinte vezes e, outro dia no meu colo, verdade que sem querer, tirou o instantneo da ama de leite a preparar-lhe afralda.. .

    Joe

    Cinematgrafo, 1 908

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    O convescote de domingo.CIDADE DE FRIBURGO, Nova Fribur-go, 1 0.1 2.1 916, p.1(domingo)

    Cidade serrana fluminense, Nova Fri-burgo acolhe ao longo do sculo XIXcolonos europeus, alemes e suiosem especial. Isso talvez explique ocostume de passeios e uma vida socialao livre. No entanto, em muitas cida-des brasileiras, "pic-nics", excurses econvescotes tornam-se um novo hbi-to da sociedade, momento de expres-so social, interao e investimento.

    Esse gnero de evento se revela logocomo objeto de interesse para o ama-dor fotogrfico, espcie nova de prati-cante, ou como oportunidade para oprofissional. Um exemplo paulistano registrado em 1902, no jornal OESTADO DE S. PAULO, do dia seis demaio, trs dias aps o passeio. Outo-no, poca oportuna para uma "Excur-so a M'Boy", ttulo do artigo, e visitaao antigo colgio dos jesutas, naque-le sbado reunem-se ao grupo autori-dades como o secretrio de agri-cultura, entre outros polticos, repre-

    evento socialcomportamentolugar social do fotgrafo

    sentantes da imprensa e o fotgrafoamador J. de S Rocha. O texto,publicado s pginas 1 e 2, descrevetodos os momentos da excurso inclu-sive uma cascata fotografada por Ro-cha de trs pontos diferentes.O convescote fluminense segue amesma estruturao. Fica, porm,mais evidente a presena da impren-sa e dos senhores amadores, ganhan-do destaque a produo de imagens eo comrcio ao redor dessas fotografi-as, elas mesmo entendidas comoparte estrutural do fato social.

  • O convescote de domingo

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    Conforme estava anunciado, teve lugar, domingo, 3 do corrente, ogrande "pic-nic", organizado pelos srs. Odilon Vital, Didimo Manoel deOliveira e Aristides Mello, na Olaria, de propriedade dos srs. Thurler.

    Embora o tempo estivesse incerto, 1 hora da tarde os bondespartiram levando um grupo musical, formado de distintos moos, ossrs. Vicente Fassetta e Denencourt Scholts, fotgrafos, e perto de 100pessoas, entre famlias e representantes da imprensa local. A chuvaimpertinente, logo hora da sada dos bondes, caa impiedosa, tendo-se prolongado durante toda a viagem.

    Chegados que foram Olaria, local escolhido ultima hora, devido aomau tempo, os convidados, acomodados num vasto salo, oferecidogentilmente pelo sr. Antonio Thurler, deram comeo a uma elegantematin danante, que se estendeu at s 4 horas da tarde.

    A essa hora, oferecendo o tempo ocasio para fotografias, pois que atarde j comeava a tornar-se clara e limpa, os srs. amadores-fotogrficos tiraram vrios retratos dos presentes ao encantadorconvescote.

    Em seguida foi servido um magnfico "lunch", regado de excelentesbebidas, tendo reinado durante ele a melhor harmonia possvel.Recomearam as danas e vrios outros brinquedos, que terminarams 5 horas. A essa hora, perto de 120 pessoas, jornalistas, fotgrafos,msicos, tomaram assentos nos diversos bondes, que os conduziram aesta cidade, onde chegaram s 5 horas da tarde sob ruidosos vivas eaclamaes imprensa, comisso organizadora e ao convescote. Osconvidados se dispersaram, retirando-se cada um para sua residncia,sob uma impresso magnfica da festa de domingo ltimo.

    * * *

  • As fotografias tiradas pelo amador Vicente Fassetta, que primam pelanitidez e apurado gosto artstico, que revela a inteligncia do ilustradomoo, foram colocadas nas vitrines das casas comerciais dos srs. JosEl-Jachi e Bazar Santos Dumont s vistas do pblico.

    Nesta redao, onde tambm se encontram em exposio, osinteressados podero obt-las pelo insignificante preo de 2$000 milris cada uma.

    * * *

    A comisso organizadora, por nosso intermdio, agradece penho-radssima a todas as exmas. famlias, jornalistas, fotgrafos e especial-mente ao destemido grupo musical que to gentilmente compareceramao convescote de domingo, emprestando-lhe com sua presena omaior brilho e valor que se pode admitir.

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    BILAC, Olavo. Dirio do Rio.O ESTADO DE S. PAULO, SP,21 .01 .1 898, p.1 .(sexta-feira)

    Jornalista e poeta, Olavo Bilac (1 865-1 918) est presente nesta antologiaem dois momentos, como tambmJoo do Rio. Embora menos conhecidohoje por sua produo na imprensa,esta, em especial suas crnicas, avaliada em estudos como o deAntonio Dimas (1 996). revelanteassim que o artigo em questo tenhasido publicado num jornal paulista,reflexo quase certo do seu prestgiocomo jornalista.

    Mais sucinto, em estilo distinto,igualmente tirando proveito do tomleve, Bilac comenta nesse ensaio, de1898, uma oportunidade de negciosque mira a Exposio Universalprogramada para dois anos aps emParis. Grandes realizaes quedominam as ltimas dcadas do sculoXIX, esses eventos representammomento para exposio das naesdesenvolvidas, em representaesnacionais, com seus pavilhes.

    o femininocomportamentocrnica

    O artigo introduz nesta seleo temade fundo, de presena intensa noperodo coberto pela antologia,expresso na representao visual damulher, do feminino. Ao longo desserecorte temporal registra-se umaidentidade muito forte entre essasmanifestaes e a prpria expressoartstica dominante.Bilac toma como mote anncio naimprensa do fotgrafo Holzer FayBla, radicado no Rio de Janeiro, Rua Gonalves Dias, onde se dedicacomo boa parte dos profissionais aoretrato. Pouco se sabe sobre oprofissional, alm de associaoeventual com Bastos & Dias.

  • Dirio do Rio

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    18 de janeiro de 1898

    Ontem, na Gazeta, esta deliciosa notcia:

    "O sr. Holzer F. Bla, fotgrafo, teve a ideia de reunir em preciosolbum, para figurar na Exposio Universal de Paris em 1900, asfotografias das mais belas senhoras deste pas, e para isso convida-as acomparecerem na sua oficina, para retratarem-se sem nus algum.Com este intuito distribuiu pela imprensa convites, afim de que esta osfaa chegar s formosas senhoritas que se julguem no caso de aspirar aesta glria."

    Deliciosa, sim! Deliciosa notcia! Porque, enfim, o Brasil, se no fosseesse amvel retratista, no se poderia mostrar, dignamenterepresentado, na exposio de 1900, aos olhos de todo o mundo... Emprimeiro lugar, est provado que no temos dinheiro: nem poderamospagar as passagens dos comissrios que fossem levar ao certameuniversal os nossos produtos. Em segundo lugar, que produtosmandaramos ns? O inqurito do atentado de 5 de novembro, paramostrar ao universo embasbacado os processos novos de quelanamos mo para fazer poltica? a garrucha de Marcelino, para que aEuropa visse o que a nossa arma eleitoral? algumas folhas dirias,para que a Civilizao admirasse a planta rara e indgena do apedido? Onosso corpo de bombeiros, para que o velho mundo se certificasse deque somente por falta de gua que se no apagam aqui os incndios?a fotografia dos buracos de qualquer de nossas ruas? a Academia deLetras? Realmente, le jeu ne vaudrait pas la chandelle. . . .

  • Mas, o amvel sr. Bela acaba de salvar a situao: se no temos arte,temos natureza! Se no podemos mandar Europa os produtos damo do homem, podemos mandar-lhe os produtos da mo doCriador! Vamos enviar Exposio Universal as fotografias das nossasmulheres belas, e isso, graas a Deus ou ao Diabo, no nos falta!

    Eu que os diga! Eu, que, com os olhos deslumbrados e tontos, as vejopassar por aqui, todos os dias, estas louras, de olhos de violetas,aquelas morenas, de olhos de nix!. . .

    Ai, sim! isso o que no nos falta! e a lembrana do fotgrafo foi umalembrana verdadeiramente genial. . . Mas (em todas as grandes ideiash sempre esta adversativa malvada!. . . ) mas, o que torna a ideia poucoprtica que o fotgrafo, em m hora encarregue as senhoras belas dejulgarem a si mesmas.

    Que perigo! Sabeis que no h mulher feia que se no suponha bonita;por outro lado, as mulheres realmente bonitas amam dizer que o noso, por modstia ou coquetterie. E, pois, muito provvel que s seapresentem diante da objetiva da mquina fotogrfica do sr. Bla, jno as matronas notoriamente feias, mas, o que ser pior, assenhoritas nem bonitas nem feias, nem carne nem peixe, nem dignasde adorao nem dignas de repulsa. E o resultado ser este: ou o sr.Bela desistir de sua ideia e o Brasil no aparecer na exposio, ou osr. Bela se resignar a mandar a Paris as fotografias que tiver obtido, eas parisienses triunfantes e contentes zombaro das nossasformosuras.. .

    E assim se perde, s vezes, uma grande e rutilante ideia!

    O.B.

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    Dirio do Rio, 1 898

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    TEX, Leo. Pelos "ateliers" e sales...CORREIO PAULISTANO, SP,27.6.1 913, p.1(sexta-feira)

    A estrutura do artigo curiosa,embora o uso de transcries ecomentrios de outros jornais sejaprtica comum no perodo. Mais umavez, a nota num peridico paulistanosobre evento fotogrfico cariocamerece ateno por si. Leo Tex, dequem no sabemos muito, alm denota no mesmo CORREIO PAULIS-TANO, em 05 de maro daquele ano,que o apresenta como colaborador empartida para o Rio. Leopoldo TeixeiraLeite Filho, seu nome verdadeiro,acabara de ser nomeado promotorpblico "no territrio do Alto Acre",para onde deveria partir brevemente.

    Isso talvez explique a peculiartranscrio de artigo de autoria deLindolfo Collor (1 890-1 942), entojovem jornalista. Fugindo do usual,Leo Tex usa o artigo como veculopara seus prprios comentrios muitoprovavelmente sobre uma tema quelhe prximo.

    o femininocomportamentoexposio

    Sylvio Bevilacaqua (?-1 948) tem aquisua primeira referncia nessaantologia. Ao lado de Fernando GuerraDuval (?-1 950), ele constitui uma dasfiguras de longa permanncia entre asdcadas de 1900 a 1930, delineandoum percurso pessoal surpreendentedesde sua atuao como professor doColgio Pedro II at estabelecer seuestdio profissional, passando pelosprincipais momentos do fotoclubismocarioca. Nesse percurso, Bevilacquase dedicar aos temas da mulher e dacriana, em menor escala. fundamental, considerando a inser-o num artigo da grande imprensa, areferncia ao crtico francs Robertde la Sizeranne, marco terico eleitopelos principais agentes locais asso-ciados questo da fotografiaartstica.Leia pgina 249 outro artigo sobre omesmo evento.

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    Pelos "ateliers" e sales.. .

    A exposio de "pastis" Bevilacqua

    O Rio assiste, hoje, inaugurao da segunda exposio artstica doreputado fotgrafo Sylvio Bevilacqua.

    O acontecimento tem toda a importncia de uma nota mundana,como, alis, j o fez notar o cintilante cronista do Jornal do Commercio,Lindolfo Collor, na sua seo de sbado:

    " esta a segunda grande exposio de fotografia artstica feita porSylvio Bevilacqua. Dizemos que a segunda grande exposio porqueo ateli de Sylvio , de fato, uma bela exposio permanente, feita aosabor do acaso, sem a pretenso de ordem de todas as exposies, epor isto mesmo tanto mais interessante.

    "Se o atelier de Sylvio uma exposio permanente, a sua frequnciano sofre tambm, logicamente, nenhuma interrupo. De fato, poder-se-ia afirmar que aquele recanto discreto dedicado ao trabalho artstico um dos pontos mais preferidos pelo nosso alto mundo artstico, depassagem pela avenida, para uma 'causerie' ligeira, entre uma 'pose' queSylvio arranja e uma disposio definitiva para a rua, para o corso, parao 'five o'clock'. . .

    "De modo que como exposio permanente, o ateli Bevilacqua sempre um magnfico recanto de palestra, onde a quantidade equalidade de esprito faz frente ausncia tanto quanto possvel doconvencionalismo frvolo que sempre enregela as melhores disposiesverbais."

    Deve-se registr-lo, portanto, com um comentrio, porque essaexposio significa, na realidade, alguma cousa mais que um esforo;exprime mais que uma tentativa.

  • tambm atestado e que eloquente atestado! do aperfeioamentoa que tem chegado, entre ns, a fotografia, na sua expresso como arte.

    H tempos, ainda, discutia-se em Frana, se a fotografia era e se podiaser uma arte e a discusso assumia, na Revue des Deux Mondes,propores de uma verdadeira polmica, quando Robert de la Sizerannesolveu a questo, em magistralssimo artigo, concluindo pela negativa.

    No h dvida alguma que o problema est, nesse trabalho, reduzidos propores geomtricas de uma equao, que representa o conceitoruskiniano das belas-artes.

    A despeito, porm, da eloquente argumentao do autor das "Questionsesthtiques contemporaines" a fotografia afigura-se-nos como uma arte elareproduz a natureza, com sinceridade absoluta e a sua preciso ser amais rigorosa, quando se tornarem definitivos os atuais ensaios de "visoe impresso colorida".

    No momento atual, em fotografia artstica, o pastel representa essedesideratum.

    A exposio Bevilacqua d-nos nitidamente a prova dessa afirmao:dos cinquenta e tantos trabalhos expostos, cinco podem ser reputadoso nec plus ultra, a derradeira palavra no gnero.

    O pastel todo o grande segredo de Bevilacqua, como disse o cronistado "Jornal do Commercio":

    "Toda a reputao de Sylvio reside na feitura impecvel dessestrabalhos que o recomendam verdadeiramente como um um artistaperfeito no difcil 'mtier' de fazer fotografias sem cair no horrvelchavo da impassibilidade fotogrfica."

    fato: a fotografia colorida no poderia, jamais, rivalizar com esses cincotrabalhos impecveis do grande artista.

    O "pastel" que representa Mme. Vaz Carvalho uma maravilha afigurar nas mais notveis exposies internacionais de arte fotogrfica tal a expresso do olhar, tal a vida da fisionomia.

    Outro para o qual a ateno converge, naturalmente, o retrato deMlle. Nabuco de Castro tipo esplendente de beleza tropical, que jtem sido laureado em alguns concursos de mundanidade.

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    A "pose" Mlle. Vera Barbosa , tambm, um elegante espcimen docatlogo, muito embora seja melhor o original perche parla. . . e o Rio-chica reputa, mui justamente, como uma das mais finas causeuses dos seusales aristocrticos.

    Para citar esses somente, silenciaremos, a contragosto, a linda srie deoutros magnficos nmeros do catlogo: Teta e Odette Gasparoni,Hortncia de Mello, Viva Heitor Cordeiro, serena e sonhadora, emduas "poses"; Mme. Santos Lobo e finalmente o lindo "pastel" querepresenta Bilac, o poeta do Caador das Esmeraldas.

    H qualidades inestimveis nos pastis expostos, afora os atributos deexcelente execuo e meticuloso acabamento.

    Sente-os, primeira vista, o observador.

    Bevilacqua tende a espiritualizar todos os seus retratos, pela "pose", pelaexpresso; depois, o seu colorido sbrio como uma "nuance" empresta s fisionomias intenes sonhadoras de grande efeito,enquanto a "luz" ou a "sombra" completa a composio da figura.

    * * *

    O pblico elegante desta capital vai se dar rendez-vous no elegante"atelier" do fotgrafo Bevilacqua, admirando as silhuetas femininas, emexposio.

    de esperar que contemplem os seus artsticos "pastis" com maispastis do que entendimento.. .

    certo, porm, que aplaudiro o artista.

    J um personagem do teatro ibseniano afirmava que nada fazsimpatizar tanto uma individualidade como a sua "boa estrela. . ."

    A "boa estrela" de Sylvio Bevilacqua apresenta-o, ao pblico, por umprisma encantador; veem todos nele o homem feliz e querido detodos.. . e vivendo no meio de uma centena tonteadora de formosascriaturas, cujas atitudes e "poses" e gestos ele modifica e altera suafantasia e a seu capricho...

    E que no o fazem sofrer.

    Tambm no o podem...

    Rio, 23-VI-13. Lo TEX

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    BEVILACQUA, Sylvio. No T. S. F.PHOTOGRAMMA, RJ, I I (23): 8-1 0,maio 1 928

    Novos tempos trazem o rdio. Nadcada de 1920 surgem emissoraslocais com programao regular. Em1927, o Photo Club Brasileiro, em 2de setembro, realiza s 20h20 umapalestra sobre fotografia atravs daRdio Sociedade do Rio de Janeiro.No causa surpresa, considerando oprograma editorial do clube, que atranscrio seja publicada emPHOTOGRAMMA daquele mesmoms. Em maro de 1928, novamente arevista do clube publica o contedo doprograma realizado no dia nove. SilvioBevilacqua o responsvel por ambasas apresentaes.As relaes entre fotografia e rdiono so incomuns. A telegrafia semfio, denominao de poca que explicao ttulo do artigo, surge em annciosnas revistas fotogrficas. Em 1926, asexta edio da REVISTA BRASILEIRADE PHOTOGRAPHIA, publicada emSo Paulo, traz novo subttulo: "artefotogrfica e radiotelefonia". Aindaem So Paulo, em 1939, Jos Medina

    o femininocomportamentoimprensa especializada

    produzir "Instantneos no ar", entrefevereiro e maio, na Rdio Bandei-rantes. O Foto Clube Brasileiroretomar ao rdio apenas em 1948,por alguns meses, com "Luz e sombra"pela Rdio Sociedade Guanabara, aossbados.O importante aqui, porm, o tema doprograma apresentado em 1928: abeleza e a graa feminina nafotografia. Que Sylvio Bevilacqua, comuma carreira dedicada aos temas damulher e da criana, em menor grau,seja o apresentador, expressa a rele-vncia do artigo. O fotgrafoapresenta s ouvintes, em especial,um passo a passo para o retrato,estabelecendo um roteiro que buscapromover melhor interao entremodelo e fotgrafo.A referncia a Chamfort, provavel-mente Nicholas Chamfort (1741 -1794),parece procurar estabelecer o tompara a conversao: "Quando se falada mulher, deve-se molhar a pena noarco-ris e derramar sobre a escrita op das asas das borboletas". Emtempo, a citao parece ser umaderivao de outra atribuda a DenisDiderot (1713-1784).

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    O nosso tema de hoje ser: da beleza e da graa feminina emfotografia.

    bem conhecido o que dizia Chamfort: "Quand on parle de la femme,il faut tremper sa plume dans l'arc-en-ciel et rpandre sur l'criture lapoussire des ailes des papillons."

    O fotgrafo retratista aproveita, de fato, o auxlio das cores do arco-ris e no as das asas das borboletas para por em relevo a beleza e agraa feminina, porque so elas que vm solcitas e amveis, atravsda objetiva, gravar na chapa esses primores de esttica humana que secolocam muito naturalmente diante da mquina fotogrfica, dandoapenas ao retratista a dificuldade do embarao da escolha; mas.. .outras vezes.. . . o artista obrigado a lembrar-se que as graas eramsomente trs e aquela que ele tem no momento diante dos olhos, oudiante da objetiva, no nem Tlia, nem Aglaia, nem Eufrosina e,como atualmente no se suporta mais um retrato rgido ou semexpresso, que tenha apenas a perfeio fotogrfica, preciso que seponha, embora com dificuldade, no trabalho um pouco da alma domodelo ou um pouco de artifcio que substitua o que a natureza nodeu ao modelo.

    necessrio, entretanto, que desde j se diga que a graa, um dosprincipais elementos da beleza, a graa fotogrfica tem de ser umaatitude especial, diferente da graa comum.

    Com o desenvolvimento desse ramo da esttica humana, princi-palmente depois do aparecimento do cinema, em que todos os gestos,todas as atitudes, todas as expresses, todos os movimentos estoestudados, analisados, medidos, comparados, catalogados, ficou bemevidente que um gesto, uma expresso, uma atitude que no possa

  • durar ao menos trs ou quatro segundos em sua plenitude, poder sermuito interessante como interrupo de um movimento, como uminstantneo, como um documento, no tendo, porm, geralmente, omenor interesse sob o ponto de vista artstico e um retrato demulher deve ser sempre uma obra de arte, quando retrato moderno,de luxo, retrato que se d a uma amiga, ou a um noivo e que no queiraparecer um simples documento em forma de ficha de identificao.

    O primeiro, isto , o retrato cinematogrfico, o que representa ummovimento interrompido, prprio para as danarinas ou atrizes decomdia, no exerccio de sua profisso; o outro, o retrato distinto deveconter ou exprimir a serena graa das expresses e das atitudes calmas,apresentando-nos a pessoa em idntica maneira a que a encontramosno convvio social e com a sua melhor cara. Expliquemo-nos. sabidoque todos, principalmente a mulher, tm um dia em que se achammelhor; ou seja influncia da toilette, ou uma determinada incidnciada luz, ou seja a simpatia de uma cor qualquer, ou de uma dadaexpresso, o certo que esse o momento timo para o retrato,momento que o artista precisa surpreender, para fazer ressaltar a graae a beleza do modelo, quando ele as tem.

    Infelizmente nem sempre nos vm ao ateli uma Vnus ou Climne, amelindrosa de Molire, ou uma houri do paraso de Maom, por issoestudemos os elementos que entram em jogo, elementos principais;so trs: o aparelhamento, o artista e o modelo.

    Quanto ao primeiro, se de boa qualidade, como deve ser o de umfotgrafo que se prope a fazer retratos de arte, nada preciso dizerporque ele obediente e a pessoa j o encontra quando vai ao retratistacom quem simpatizou.

    Quanto ao artista.. . quanto ao artista, nada temos a dizer porquepoucos sero os que me esto ouvindo e esses conhecem as suasregras. Somente talvez alguns amadores gostassem que se lhes dissesseque nunca devem ficar muito perto da luz, quando trabalham nointerior, porque a luz forte aumenta os defeitos, cava rugas e descobremanchas; que procurem de preferncia uma luz suave e modeladora, adois ou trs metros de uma janela, com um bom refletor do lado dasombra; assim com um retrato feito bem longe da luz com umaobjetiva de grande abertura, de foco longo, uma chapa rpida e suave a

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  • prpria Aeon, a me Eva dos gregos, talvez possa, ainda hoje, ter umbom retrato.. . anacromtico.

    Chegamos agora ao ponto principal da nossa palestra e naturalmentevs, minha senhora, que me estais ouvindo com tanta ateno, estareispensando: que me vai dizer este homem com pretenses a ensinar-mea ter graa e elegncia?

    Em primeiro lugar devo dizer que falo para.. . as outras e depois queno se trata de graa comum, de graa social, nessa vs soisinexcedvel, trata-se de elegncia fotogrfica ou fotognica, como sediz atualmente; nesta o vosso espelho vos traz sempre enganada; afigura clssica da verdade saindo nua de um poo, ao espelho, s valepela nudez. O espelho vos engana porque vos mostra a vossa belezaem sentido contrrio aquele em que ela se apresenta e isto, se tinhamuita importncia antes dos cabelos cortados, porque mostrava esquerda todas as irregularidades da direita agora cresceu de valor porcausa do repartido do cabelo; bem assim todas as outras assimetrias dorosto, alis indcio de inteligncia, vos so apresentadas s avessas.Alm disso a cor verde da massa do vidro faz mais plidas as louras emais escuras as morenas.

    Ao entrar no ateli do artista o modelo deve preferir uma iluminaoalta, como a que nos vem do cu, a luz anglica, como se diz em arte S ela simptica, s ela d profundidade e brilho ao olhar; a luzhorizontal antiptica, a luz de baixo diablica.

    Os gregos que tinham o senso artstico to altamente desenvolvido seram apresentados s suas noivas, quando no as conheciam, debaixoda cpula do Panteo, para que elas ficassem com o olharcriptoftlmico esta palavra complicada quer dizer: olhos ocultos,profundos.

    Com este conselho passemos ao vosso contingente pessoal, estudando,sem aprofundar muito as sete belezas da mulher: cabelo, olhos, boca,braos com as mos, colo, pernas e porte.

    De uma o cabelo, pouco se pode dizer porque j quase desapareceu;dele s se deve lembrar que o modelo deve vir para o retrato com o seupenteado habitual; se este for a negao esttica do cabelo " l'homme".. .pacincia. Se ainda houver um pouco dele ondulado e macio, tanto

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  • melhor. Aconselhamos, entretanto, o retrato de chapu porque as modas,de hoje ho de envergonhar as moas daqui a dez anos.

    Os olhos do modelo, se no trazem de casa a expresso tima para oretrato, sero para o artista um caso perdido; se ele hbil poder svezes com um ligeiro toque dar-lhes o que lhes falta, porque no hconselho, no h splica, no h sugesto que possa dar a olhosinsignificantes a graa que eles no tm, porque impossvel satisfazero pedido de uma mocinha que queira ter nos seus retratos os olhoscomo os de D. Rosalina Coelho Lisboa.

    A boca que se pode exigir de uma boca? que sorria, desde que nose lhe pode pedir um bocejo. Aqui ocorre uma dificuldade, que osorriso aumenta a boca e as moas tm medo de uma grande aberturabucal, por isso fazem a detestvel "bouche en coeur" com o rouge.No tm razo entretanto, hoje em dia no h mais medidas clssicaspara os dotes femininos.

    Chegamos s mos. Elas so um tropeo para os pobres artistas; nestecaso particular nada se pode dizer sem exemplificar e infelizmente ordio ainda no dispe da placa para a viso distncia. Uma sobservao ocorre aqui, ouvintes de mos bonitas, que o segredo dagraa, nesse ponto, consiste em segurar tudo com o primeiro dedo e oterceiro, o polegar e o mdio; experimentai diante do espelhosegurando uma flor, o vosso colar de prolas ou uma dobra do vestido.

    Quanto ao colo s h para ele a sua beleza prpria ou o auxlio de umagaze ou de um colar disfaradamente dispostos; se tm ossos oucavidades claviculares, s o retoque na chapa o poder melhorar; se belo e altivo, deixai-o livre em toda a sua beleza.

    Para as pernas, a linha a das esttuas, no useis meias de seda lustrosae no as tenhais ambas na mesma posio, porque o porte, a stimabeleza enunciada, depende muito delas com o auxlio das outrastodas.. . e da toilette tambm.

    S. Bevilacqua52

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    SILVA, Oswaldo. Viagensmaravilhosas do Dr. Alpha ao mundodos planetas No mundo de Marte.Cap. XV.O TICO-TICO, RJ, I I I (1 02): n.p.,1 8.9.1 907. il.(quarta-feira)

    I lustrado pelo autor, a srie sobre asaventuras do Dr. Alpha publicadaentre janeiro e outubro de 1907.Quase certo, seu autor Oswaldo deSouza Silva, com longa atuao naimprensa, aparentado possivelmentedo fundador da revista O TICO-TICO(1 905-1 958), Luis Bartolomeu deSouza e Silva, dirigente do grupoeditorial O Malho.

    A revista uma das pioneirasvoltadas ao pblico infantil-juvenil,dominando o setor por dcadas. Suapublicao por um dos principaisgrupos editoriais garante visibilidade ecirculao. Se cultura construo,O TICO-TICO, em seu misto de hist-rias ilustradas, tiras cmicas, contos,passatempos e informao cientfica,constitui veculo de educao infantilpoderoso.

    imaginriocomportamentoeducao e literatura infantil

    histria dos usos e funes dafotografia interessa como a publicaointegra a criana num universo deespetacularizao da vida privada,prtica disseminada nas revistasilustradas. Por outro lado, a fotografiasurge como tema regular na mescla deartigos e inseres variadas sobre oprogresso cientfico e curiosidades danatureza. A fotografia cientfica emcampos como a astronomia umdesses exemplos. Ou ento, caso maisraro, em segmentos como a fotografiasubmarina, no artigo "Animais curio-sos", publicada em 12 de agosto de191 4.Oswaldo Silva, em sua srie, retomauma frmula antiga inspirada em Asviagens de Gulliver" (1726), deJonathan Swift, e similares. Oencontro com o desconhecido, com oOutro, o uso da inverso de valores eprticas so utilizados como estra-tgias de educao moral. Porcaptulos, Silva descreve a passagemdo protagonista pela Lua e depoisMarte. Aqui, em Loris, encontra umpas com seres gigantes aos quaisnosso personagem liliputiano apre-senta, generoso, a fotografia.

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    Viagens maravilhosas do Dr. Alphaao mundo dos planetas

    No mundo de Marte - Cap. XV

    Ento, cheio de indignao, pedi ao soberano que me concedesse apalavra. Obtida a licena, falei com veemncia, defendendo-me dassuposies irrisrias do acadmico. Demonstrei a possibilidade dasminhas viagens, descrevi rapidamente o estado das cousas na face daTerra e, finalmente, acabei por convencer a assembleia que, empolgadapelas minhas palavras vibrantes, me aplaudiu delirantemente. Desdeesse dia tornei-me o assunto de todos os comentrios e como a vidaem Loris cara, e eu no tinha moeda corrente do pas para as minhasdespesas, resolvi fazer algumas conferncias em pblico sobre assuntosterrestres, que me renderam o suficiente. Agora passo a contar uma sriede aventuras que me sucederam durante minha estadia no planeta.

    Um dia, em que visitava as lojas da cidade, entrei em uma importantecasa de aparelhos de ptica e perguntei se ali vendiam mquinasfotogrficas. O caixeiro me informou que no planeta no havia talaparelho e nunca ouvira falar de tal cousas: em Marte no conheciam afotografia.

    Projetei maravilhar os marcianos com a clebre arte de Daguerre.

    Encomendei na mesma casa uma lente de objetiva, pedi ao marceneiroimperial que me fizesse uma caixa de madeira com fole de pelica,enfim fiz a aquisio de tudo que era necessrio para a constituio deuma mquina fotogrfica.

    Enquanto isso ia preparando no gabinete de qumica do observatrioas placas sensveis e as demais drogas necessrias para as operaes.Quando pronto o aparelho, pedi licena ao imperador para lheoferecer uma surpresa.. . E tirei um belo retrato do soberano, que nopode ocultar a sua admirao quando viu representada a sua imagemcom to surpreendente exatido. Isso granjeou-me renome brilhante e

  • desde ento no tive mos a medir.. . Retratei toda a famlia imperial,depois os ministros, as primeiras autoridades da corte, os militares dealta patente e, por fim, gente do povo em geral.

    Como no sou egosta, vulgarizei l a descoberta e permiti que seconstrussem outras mquinas, tendo por modelo a minha. Dentro empouco era conhecida a fotografia em todo o planeta.

    (Continua)

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    Viagens maravilhosas, 1 907

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    GRAPHITE, Xisto. Belas-artes.REVISTA ILLUSTRADA, RJ, 1 4 (566):6, 1 2.1 0.1 889.

    GRAPHITE, Xisto. Belas-artes (conti-nuao).REVISTA ILLUSTRADA, RJ, 1 4 (567):6-7, 26.1 0.1 889.

    GRAPHITE, Xisto. Belas-artes (conti-nuao).REVISTA ILLUSTRADA, RJ, 1 4 (568):6-7, 2.11 .1 889.(quarta-feira)

    O peridico REVISTA ILLUSTRADA,fundado na dcada de 1870 por ngeloAgostini (1 843-1 91 0), referncia nahistria do jornalismo e da ilustrao,publica com regularidade nos anos 80 acoluna "Belas-Artes". As matrias soassinadas por pseudnimos, provavel-mente variaes de um mesmo "autor",como X, Xista e Xisto Graphite, e co-brem o panorama artstico local.A srie de artigos selecionada apresen-ta um balano da produo em vrios

    pintura e fotografiaarteobra de arte e reproduo

    campos. O resultado, em parte, pelaedio em captulos, uma abordagemalgo irregular, mantida nessa edio demodo integral. Surpreende, porm, umtema secundrio: as "fotografias colo-ridas". Surge assim um dos registrosda interao fotografia e artes visuaisentre ns: o comrcio de rplicas depinturas. So exemplos de obras hbri-das, que podem ser caracterizadas co-mo fotopinturas.O termo merece cuidado em sua aplica-o e deve ser visto como de acepogenrica, no devendo ser, embora se-jam prximos, utilizado sem distinona anlise da fotografia pictorial.A srie de artigos ser interrompida,embora o autor, em sua colaborao de16 de novembro, indique: Havendo as-sunto de maior oportunidade, fica paradepois a concluso dos precedentesartigos. Xisto preferir comentar oquadro encomendado por Dom PedroAugusto a Castagneto para oferecerao comandante e oficiais do encoura-ado chileno Almirante Cochrane. Qua-se certo, a produo dos ensaios emquesto, na qual um assunto secund-rio ganhara destaque excessivo, tenhalevado a essa deciso.

  • Antologia Brasil, 1 890-1 930

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    Belas-artes

    Agora, que o Brasil entrou em uma fase de progresso notvel, quer pelaprontido arrojada e enrgica com que desfraldou a bandeirapromissora, precisamente no reduto onde a rotina ferrenha aindadominava quer pela rapidez vertiginosa com que entrou a operar,avassalando tudo, transformando cada adorador sistemtico do passadoem um crente fervoroso do futuro; agora, que o Brasil parece, enfim,querer avanar a passos de gigante para a sua natural culminncia deonde a formidvel voz dos seus ricos pulmes se h de elevar noconcerto de uma grande civilizao; justo, inadivel que se procureanimar e conceituar mais as belas-artes, pois, assim como esse progressomaterial est mostrando a formao da rija musculatura de um brao assim, tambm, neste momento, um acentuado desenvolvimentoartstico mostrar que a fora desse brao, sendo prpria doautomatismo de uma organizao atltica, ser, ao mesmo tempo, opossante instrumento das variadssimas determinaes de um crebrorespeitavelmente cultivado.

    * * *

    Para se conseguir um fim to nobre, to elevado, que tanto deve atrairo bem entendido patriotismo basta, apenas, que os que se dedicam arte compreendam que nesta auspiciosa ocasio no lhes permitidodescansar; corre-lhes o dever de entrar em luta, de trabalhar muito, demultiplicar os prprios esforos, para que a sua colaborao ativa efecunda seja de tal natureza que empolgue uma boa parte da atenocom que o mundo civilizado est acompanhando os movimentos desteperodo palpitante de gestao social.

    Por certo, no a falta de talento, nem a de fortes organizaes artsticas,que obstar a que tanto se faa, a que tudo se chegue e isto j muito.

    * * *

  • A msica tem tido e tem cultores notveis, uns de nomeada universal,outros que a poderiam ter, se se abstivessem mais de amesquinhar oengenho, produzindo ligeiras puerilidades ou se no se deixassemvencer tanto por esta inefvel e lastimosa indolncia que um dostraos mais caractersticos da intelectualidade de muitos homens detalento.

    * * *

    A escultura est, verdadeiramente, com um s representante; mas essevale uma legio.

    Rodolpho Bernardelli, com a sua obra supremamente artstica, humanae revolucionria porque eminentemente moderna: com o exemplodo seu fenomenal amor ao trabalho, no se deixando contaminarnunca pelo marasmo solapante do meio artstico em que vive ,inquestionavelmente, artista para despertar preciosas vocaes e criardiscpulos ativos que o honrem e venham a enriquecer a galeria dosescultores brasileiros.

    Xisto Graphite

    (Continua)

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    Bela-artes, 1 889

  • Belas-artes(continuao)

    Na pintura onde o terreno mais carece de amanho.

    Convenhamos, porm, em uma coisa: no falta talento aos artistas, e,por conseguin