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1 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A MEDIAÇÃO COMO MEIO ALTERNATIVO DE RESOLUÇÃO DE CONFLITO Aluna: Estela Maria dos Reis Christovão Curso: Mediação de conflito com ênfase em família Matrícula: K218406 Orientadora: Naura Americano Rio de Janeiro Agosto/2011

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A MEDIAÇÃO COMO MEIO ALTERNATIVO DE

RESOLUÇÃO DE CONFLITO

Aluna: Estela Maria dos Reis Christovão

Curso: Mediação de conflito com ênfase em família

Matrícula: K218406

Orientadora: Naura Americano

Rio de Janeiro

Agosto/2011

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A MEDIAÇÃO COMO MEIO ALTERNATIVO DE RESOLUÇÃO DE

CONFLITO

Objetivo: Através do processo de mediação e de suas ferramentas

é possível evitar a reedição de futuros conflitos e restabelecer a

comunicação rompida pelas partes no decorrer do conflito.

Mediação de conflito com ênfase em família

Estela Maria dos Reis Christovão

Orientdor(a): Naura Americano

Rio de Janeiro

Agosto/2011

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Agradecimentos

Em primeiro lugar quero agradecer a Deus por me conceber a minha saúde,

sabedoria, serenidade, inteligência e tranquilidades nos momentos de

desespero no decorrer de minha caminhada a realização desse trabalho.

“ É ,maravilhoso senhor, ter braços perfeitos, quando há tantos mutilados;

Ter olhos que enxergam, enquanto tantos não tem luz...” Prece Hindu. Deus,

muito obrigada!

A minha querida mãe, Cleonice(in memoriam) que hoje é uma estrela continua

iluminando meus caminhos para que eu continue sempre a busca do

conhecimento.

Ao querido pai, João( in memoriam) que seus ensinamentos diante de meus

estudos jamais serão esquecidos pois a escolaridade que tenho hoje agradeço

a você.

Minha querida avó Maria, que nas madrugadas quando o cansaço abatia

sempre chegava para me motivar a não desistir.

Tia Cleusa, mulher guerreira, me transmite garra mostrando que os caminhos

mesmo cheios de obstáculos que a luz do sol sempre há de brilhar.

Ao meu querido irmão Alexandre que me inspira a cada dia a buscar

conhecimentos para enriquecer a minha carreira profissional.

Aos meus queridos sobrinhos Adriano e Leonardo e minha afilhada Flávia

vocês me inspiram a cada dia ter mais conhecimento para que eu possa

futuramente proporcioná-los muitos ensinamentos, conhecimentos,

experiências e passeios.

Ao meu querido amigo, companheiro, noivo Lúcio Rodrigues que a cada

momento de desespero ao longo desse trabalho me motivou a não desistir dos

meus objetivos e sempre estimula a novas chances de crescimento na carreira

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profissional. Meu amor, muito obrigada por tudo.” Fundamental é mesmo o

amor, é impossível ser feliz sozinho”.

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Sumário

Capítulo 1- Os conflitos nas relações humanas..................................................9

1.1 O conflito de informação..............................................................................10

1.2 Conflito de valores.......................................................................................11

1.3 Conflitos Estruturais.....................................................................................11

1.4 Conflito de Interesses..................................................................................12

1.5 Conflito de Relacionamento.........................................................................12

Capítulo 2- Os diferentes modelos de resolução de conflito.............................14

2.1- Arbitragem.................................................................................................14

2.2- Conciliação.................................................................................................15

2.3 – Negociação...............................................................................................16

2.4 – Mediação..................................................................................................16

2.5 – Acesso à mediação...................................................................................17

2.6 - Os princípios de um mediador..................................................................18

Capítulo 3 - O processo de mediação...............................................................20

3.1 - Modelo de mediação na Escola Harvard...................................................23

3.2- Modelo Circular Narrativo...........................................................................26

3.3- Modelo Transformativo (Bush e Folger)....................................................27

3.4 - Ferramentas em mediação........................................................................28

Capítulo 4 - Os Benefícios da mediação...........................................................30

4.1- Diagnóstico em mediação ou acordo entre as partes................................32

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Conclusão.........................................................................................................34

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Introdução

Nos dias atuais, o sistema judiciário brasileiro se depara diante de

uma crise. Sobrecarga de processos e morosidade do judiciário é um dos

motivos que contribuem para esse cenário.

O que vem sendo percebido ultimamente é que um grande número

de processos que dão entrada no judiciário são oriundos de conflitos

existentes nas relações humanas. Essas pessoas não conseguem

resolvê-los o que acarreta a intervenção do judiciário.

Em busca de solucionar essa crise, o Poder Judiciário procurou meios

de solucionar os problemas apresentados dando legitimidade aos meios

alternativos de resolução de conflito como: Arbitragem, Conciliação e a

Mediação.

A arbitragem é um processo privado, ou seja, sigiloso onde os

argumentos são avaliados pelo árbitro, é rápido e informal.

Na conciliação, o conciliador tenta convencer as partes na resolução

do conflito.

Já a mediação um dos modelos que será priorizado neste trabalho

se difere dos demais modelos tem como objetivo a satisfação das partes e

promover o autoconhecimento para que as mesmas adquiram novas

percepções para lidar com novos conflitos que possam surgir futuramente.

No primeiro capítulo desse trabalho iniciarei abordando o conceito de

conflito, como ele se desenvolve e as suas causas no processo nas

relações.

No capítulo dois, farei uma breve diferenciação entre os modelos

alternativos de resolução de conflito quanto a sua definição, como é o

acesso à mediação e os princípios que o mediador deve apresentar para

atuar como mediador.

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A partir do capítulo três, será descrito como se desenvolve o

processo de uma mediação, a coleta das informações trazidas pelas partes,

a sessão de abertura, as sessões individuais, como acontece a resolução

do conflito através de um diagnóstico feito pelo mediador ou um construção

de um acordo assinado entre as partes e o resumo feito pelo mediador a

partir do que foi trazido ao longo da mediação.

No último capítulo, abordarei os benefícios em mediação, é possível

apresentar diagnóstico em mediação ou acordo entre as partes e a

conclusão do trabalho apresentado.

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CAPÍTULO 1 - CONFLITO NAS RELAÇÕES HUMANAS

O conflito surge em situações onde as pessoas possuem posições

antagônicas. Pode ser caracterizado como um processo onde as pessoas

possuem respostas incompatíveis, desentendimento ou confronto de opiniões.

O conflito proporciona a fonte que alimenta a energia transformadora

que enseja a mudança. Para Fiorelli, “ o conflito é a antítese da estagnação e

permite que a humanidade enfrente o desafio de continuar explorando a Terra

para alimentar uma população que não á sinais de estabilização.”

Entende-se que as pessoas envolvidas em um conflito tem que ceder a

outra parte para se chegar a um acordo, ou seja, o facilitador ao longo do

processo de mediação deve explorar os reais interesses de ambas e

proporcionar a elas que criem soluções favoráveis a uma solução ,ou seja, tal

solução deve favorecer ambas as partes.

Nas ciências humanas, o conflito é caracterizado por duas formas: o

conflito psíquico e o interpessoal.

No conflito psíquico, o indivíduo se opõem as exigências internas.

Compreende o aspecto relacional que é caracterizado como os valores,

sentimentos, crenças e o interesse das pessoas Já o conflito interpessoal, é

quando o indivíduo possui expectativas e interesses opostos o que acarreta o

conflito.

Segundo Muszkat, “o conflito geralmente se inicia por um pequeno

desentendimento que, dependendo da habilidade e flexibilidade na

comunicação entre as partes que se desentenderam, pode vir ou não a se

transformar numa controvérsia, que por sua vez desaguará no conflito, agora

como franca disputa.”

Já Azevedo Org, definem conflito como: ” um processo ou estado em

que duas ou mais pessoas divergem em razão de metas, interesses ou

objetivos individuais percebidos como mutuamente incompatíveis.”

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As duas definições trazem a questão do conflito como uma ação

negativa, ou seja, onde as partes envolvidas saem em desvantagens em uma

disputa.

No treinamento de técnicas e habilidades de Mediação desenvolvidos

por Azevedo e seus organizadores, as pessoas que estão envolvidas em um

conflito são motivadas a dizer o que vem em sua mente sobre a palavra

conflito.

Ao decorrer do treinamento, a pessoa que se encontra em disputa deve

se recordar do último conflito em que esteve envolvida. Consequentemente

serão perguntados seus comportamentos emocionais, fisiológicos e

comportamentais.

Vasconcelos entende que o conflito pode ser dividido em quatro

espécies que são elas:

• Conflitos de valores: diferenças na moral, na ideologia, na religião;

• Conflitos de informação: informação distorcida, conotação negativa;

• Conflitos estruturais: diferenças nas circunstâncias políticas, econômicas, dos

envolvidos;

• Conflito de interesses: contradições na reinvindicações de bens e direitos de

interesses comuns.

A seguir farei a definição de cada um desses conflitos e como os

mesmos acontecem nas relações humanas.

1.1- Conflitos de Valores

Os conflitos de valores são causados por sistemas de crenças

incompatíveis as partes. Os valores são as crenças que a pessoa acredita dar

sentido a sua vida. Tais disputas acontecem quando uma das partes exige que

a outra parte concorde com seus valores, não aceitando divergências.

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1.2 - Conflitos de Informação

A comunicação é o meio de comunicação entre as pessoas. É aonde as

pessoas transmitem suas mensagens sejam elas com conteúdos implícitos e

explícitos. Os conteúdos implícitos são aqueles em que os indivíduos transmite

através de comportamentos não-verbais o que tem a dizer. Já o explícito, são

aqueles em que as pessoas transmitem aquilo que vem a mente.

A comunicação reflete os mecanismos de pensamentos envolvidos nos

processos de emissão e recepção dos estímulos(verbais ou não) e encontra-se

diretamente associada ás construções mentais advindas da experiência, dos

conceitos e preconceitos e das intenções dos envolvidos.

Assim podemos entender que a comunicação reflete os mecanismos de

pensamento envolvidos nos processos de emissão e recepção de estímulos(

verbais ou não) e encontra-se associadas aos pensamentos mentais que

desenvolve o conflito.

Assim podemos entender que a comunicação e o conflito se encontram

interligados o que acarreta o desenvolvimento de um conflito.

Tal conflito está focado na dificuldade na comunicação, as

interpretações diferentes que as partes faz sobre as informações trazidas pelas

partes

Segundo Grunspun, “quando há comunicação pobre a mediação pode

favorecer as buscas corretas e facilitar acordos.

1.3- Conflitos Estruturais

Tais conflitos são ocasionados por dificuldades que são impostas as

partes. Ela acontece devido aos fatores externos as partes.

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1.4- Conflito de Interesse

São oriundos de uma disputa, ou seja, uma das partes está determinada

a alcançar o seu interesse e defender o seu objetivo.

1.5- Conflito de Relacionamento

O conflito de relacionamento se instala quando este se apresenta uma

ruptura. É quando as partes apontam as emoções negativas quando sendo a

razão para o desentendimento. Erros, dúvidas e desconfianças são

“severamente julgados e fazem escalar desnecessariamente espiral de

destrutividade da relação “diz Grunspun.

O conflito como visto anteriormente proporciona as partes uma mudança

da realidade ao qual está sendo vivenciado. Os pensamentos rígidos diante do

conflito tende a manter as pessoas mantidas em suas posições o que dificulta

as partes a vislumbrar uma possibilidade de acordo.

Assim podemos observar que um conflito possui algumas vantagens e

desvantagens que foram abordadas por Fiorelli., Malhadas e Moraes que

serão descritas a seguir:

- produzir as mudanças que lhe deram origem: os conflitos oriundos da

adolescência são essenciais para entrada na idade adulta.

- gerar novas idéias: a mudança produz situações que não recebem adequado

tratamento com base nas idéias já existentes. As novas idéias devem ser

introduzidas para ampliar conhecimentos e visão de mundo.

- verificar as idéias existentes: o confronto com as idéias existentes faz com

que elas sejam contestadas e, eventualmente substituídas ou modificadas;

- comprovar a coesão do grupo: a mudança causará novos questionamentos

gerando novas lideranças, novos relacionamentos;

- revelar diferentes interesses do indivíduo e de grupos: a mudança

proporciona aos envolvidos no conflito que reveja seus interesses diante das

novas condições que ela introduz no ambiente;

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- explorar personalidades: a mudança pode introduzir novos valores e

condições no sistema capazes de exigir novos comportamentos.

- aprender coisas a respeito dos outros: o desafio de adaptação trazida pela

mudança faz com que as pessoas possam conhecer capacidade e a forma de

reação dos demais envolvidos.

- permitir que as pessoas expressem sentimentos fortes: os sentimentos que

estavam ocultos tendem a aparecer.

- descobrir como pensam os demais: as pessoas tendem a esconder

inconscientemente seus pensamentos e desejos. O conflito acaba rompendo

com esse ocultamento, pois ele deve ser expressado e trabalhado no decorrer

do processo de mediação.

- criar dependência mútua: no conflito as pessoas aprende-se em quem se

pode ou deve confiar.

A partir desses fatores trabalhados por Fiorelli podemos observar que

não há vantagens e desvantagens intrínseca ao conflito. Será nas relações que

as pessoas observarão se tais conflitos se apresentam como vantagem ou não.

Assim entende-se que o conflito se associa a mudanças promovendo

nas relações interpessoais modificações que favorecem no desenvolvimento do

conflito.

A seguir tratarei dos meios alternativos de resolução de conflito, como

esses meios alternativos são utilizados em uma controvérsia, por quem são

conduzidos e sua duração.

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CAPÍTULO 2- OS MEIOS ALTERNATIVOS DE

RESOLUÇÃO DE CONFLITO

Os meios de resolução de conflito são alternativas oferecidas as

pessoas que se encontra em situações conflituosas proporcionados fora do

Judiciário. Tais métodos surgiam para complementar, facilitar o Poder

Judiciário no que se refere o problema da sobrecarga dos tribunais e não deve

ser entendido como uma forma de “desabonar o poder judiciário” como diz

ROBLES.

Tais meios de resolução de conflito são reconhecidos como uma nova

tendência para o processo. Nos dias atuais, as cortes estatais de justiça não

são os únicos foros para resolução de conflitos.

Diferenciando os meios de conflito, os que as pessoas possuem o poder

de solucionar seus conflitos são chamados de meios autocompositivos e os

meios onde o poder de solução é inferido a um terceiro são chamados de

heterocompositivos.

Os meios alternativos heterocompositivos são: a arbitragem, a

conciliação, a negociação e a mediação a quem darei maior ênfase ao decorrer

desse trabalho. A seguir mostrarei as diferenças e modos de atuação de cada

um deles.

2.1 - Arbritagem

É uma forma alternativa de resolução de conflito (envolvendo direitos

patrimoniais disponíveis) na qual um ou mais árbitros decidem com base numa

convenção privada, firmada entre as partes cujo conteúdo terá eficácia de

sentença judicial. Ela é prevista em leis internacionais (Convenção de Nova

York, 1958) e no Brasil( Lei 9.307/2006) chamada de Lei Marco Maciel.

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Na arbitragem, quem conduz o processo é o árbitro; um profissional

especializado, credenciado por uma instituição. No processo de arbitragem, as

partes que escolhem seus árbitros.

O papel do árbitro é de colher as provas e decidir através de laudo ou

sentença arbitral irrecorrível.

A convenção de arbitragem confere em aspectos negativos e positivos.

Os primeiros tem o sentido de subtrair o poder jurisdicional ao juiz estatal que

seria competente para apreciar a matéria. Já o positivo, o poder jurisdicional

passa a ser do árbitro após a confirmação das partes. A lei estabelece um

prazo de seis meses para a conclusão da arbitragem. As partes podem de

comum acordo reduzir ou ampliar o prazo dessa conclusão.

Segundo Câmara, “ a arbitragem trata-se de um meio de

heterocompição de conflitos, ou seja, um meio de composição do litígio em que

este é solucionado por um terceiro, estranho ao conflito, isto é, a solução do

conflito é obra de alguém que não é titular de nenhum dos interesses

conflitantes.

Na citação acima, o autor explica que na arbitragem, o árbitro é

escolhido pelas partes envolvidas no conflito. A este profissional é delegado o

poder de decisão sobre a questão trazida pelas partes.

2.2 - Concilição

“A conciliação é um meio alternativo de resolução de conflito em que as partes

confiam a uma terceira pessoa (neutra) , o conciliador, a função de aproximá-

las e orientá-las na construção de um acordo.”

A conciliação é um modelo focado no acordo. Tal modelo é apropriado

para lidar com relações eventuais de consumo e outras relações causais em

que não prevalece o interesse comum de manter um relacionamento. Segundo

Vasconcelos, “a conciliação é mais rápida do que uma mediação

transformativa; porém, muito menos eficaz.”

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O conciliador atua como voluntário, possui um treinamento específico e

tem objetivo de restabelecer as relações. Este pode sugerir e determinar as

propostas as partes; questionar as partes e atua como juiz diante das pessoas

envolvidas no conflito. As partes envolvidas na controvérsia não tem autonomia

diante das questões que são trazidas por ambos.

Nesse modelo, o conciliador tenta convencer uma das partes a aceitar a

proposta da outra. Caso não aconteça o acordo, o próprio conciliador

apresenta as soluções e tenta persuadir as partes a aceitar tais soluções.

2.3- Negociação

Na negociação, a pessoa lida diretamente com as pessoas sem ter a

interferência de terceiros. Ela é baseada em princípios. Sendo esta

cooperativa por não ter o objetivo de eliminar, excluir ou derrotar a outra parte.

Muitas vezes para restabelecer a comunicação será necessário a colaboração

de uma terceira pessoa, o mediador.

2.4 - Mediação

A mediação é uma prática milenar que logo quando descoberta foi

utilizada pela civilização chinesa. Tal método foi sendo aprofundado nos

Estados Unidos na década de 1970.

A partir da década de 1980, esse método de resolução de conflito

passou a ter duas classificações: mediação extra e paraprocessual.

Na primeira, a mediação é praticada e oferecida em órgãos privados. Já

a paraprocessual é realizada dentro do Poder Judiciário. Pode ser realizada

antes ou no decorrer do processo.

Ambos os métodos, as pessoas envolvidas devem ser informadas que o

processo de mediação é voluntário.

Segundo Moraes, “ o principal objetivo da mediação é a satisfação das

partes.” Para haver a “ satisfação das partes” em uma mediação, é necessário

que se trabalhe as reais interesses e necessidades que as partes trazem à luz

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do conflito. Tais conteúdos devem ser compreendidos e entendidos por ambas

as partes para se chegar a uma solução.

Já Nazareht in Robles, conceitua a mediação como sendo” um método

de condução de conflitos, aplicados por um terceiro neutro e especialmente

treinado, cujo objetivo é restabelecer a comunicação produtiva entre as

pessoas que se encontram em um impasse, ajudando-as a chegar a um

acordo, se esse for o caso.”

Diante dessa definição podemos entender que no processo de

mediação, o mediador investigará junto as partes as reais interesses e

necessidades que levam os mesmos a entrarem em conflito.

Dessa forma, entendemos que para buscar os meios alternativos é

necessário que as pessoas estejam enfrentando dificuldades em lidar com

seus conflitos, ou seja, buscam uma terceira pessoa para facilitar na

comunicação.

Assim, a causa de um conflito se inicia na dificuldade em que as partes

apresentam na comunicação que será abordado a seguir.

2.5 - O acesso à Mediação

Ao dar entrada em um processo judicial, as partes são convidadas a

participarem voluntariamente de um processo de mediação.

O processo judicial é encaminhado pelo Juiz para o setor de mediação

do Tribunal de Justiça.

O mediador, profissional capacitado para intervir nesse processo, terá

acesso aos autos processuais no primeiro dia em que estiver com as partes.

É nesse primeiro momento que o mediador conhecerá as partes e os

conflitos que os trouxeram a setor de mediação.

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2.6 - Os princípios do mediador

Como já visto, o mediador é um terceiro imparcial, neutro que tem como

objetivo restabelecer as relações que se encontram em controvérsias.

Segundo Moore, “ o mediador desempenha um terceiro e importante

papel de facilitador do processo, atuando na comunicação, na ampliação dos

recursos explorando o problema, servindo de agente da realidade, prestando-

se a ser um catalisador e, até mesmo, “ bode expiatório” das partes, em

momentos de angústia e exacerbação das emoções.”

O mediador possui algumas competências que não são dissociáveis a

sua atuação que serão trabalhadas a seguir:

• Imparcialidade: estabelecer estratégias cognitivas positivas quanto o conflito. O

mediador busca ouvir as partes se preocupando em identificar o conflito sem

tomar partido de nenhuma das partes. A imparcialidade deve ser percebida

pelas partes desde que o mediador tenha a percepção de que ao conduzir o

processo de mediação isso aconteça.

• Escuta ativa: escutar e entender o que está sendo dito pelas partes sem se

deixar influenciar por pensamentos ou juízos de valor. É necessário escutar

com atenção o que está sendo falado e dito pelo outro. Ao colocar a escuta

ativa em prática, devemos manter a atenção na comunicação verbal e não

verbal que a pessoa expressa.

• Confidencialidade: o princípio da confidencialidade se baseia no sigilo das

informações obtidas ao longo do processo de mediação. O mediador não pode

ser testemunha das partes em um processo no decorrer da mediação.

• Princípio da consciência relativa ao processo: o mediador deve explicar

adequadamente o processo de mediação, garantir as partes a

confidencialidade . Nesse princípio as partes devem ter clareza das

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consequências de sua participação no processo tendo a liberdade de

interromper a mediação em qualquer momento.

• Princípio do consensualismo processual: consiste no princípio da autonomia de

vontade, ou seja, as partes só podem participar do processo voluntariamente.

• Princípio da decisão informada: a resolução de disputa só será feita por meio

de autocomposição se as partes renunciarem a um direito e ter a plena

consciência de seus direitos subjetivos.

• Empoderamento: através de técnicas de negociação, o mediador irá trabalhar o

fortalecimento da autoconfiança das partes para que no futuro esses possam

lidar com futuros conflitos.

• Validação: Nesse princípio se destaca a necessidade das partes em

reconhecer os interesses e sentimentos mútuos o que torna as partes mais

próximas favorecendo uma empatia entre eles.

• Princípio da simplicidade: tem como finalidade desburocratizar os

procedimentos, ou seja, tornar o procedimento compreensivo às partes.

Podemos entender que o mediador possui inúmeras funções no processo de

mediação que são: ele acolhe as partes que se sentem protegidas no que diz

respeito às informações que são trazidas no decorrer do processo; quando

necessário o mediador deve prestar esclarecimento aos procedimentos na

mediação quando estes não são claros as partes; fazer anotações das

narrativas das partes; deixar claro que o longo do processo as partes devem ter

respeito mútuo entre as partes; formular perguntas a partir das narrativas

trazidas pelas partes de maneira empática; facilitar a comunicação que foram

destruídas no desenvolvimento do conflito; através de ferramentas da

mediação revelar os reais interesses das partes; proporcionar as partes que

ofereçam soluções criativas para o conflito.

Por outro lado, o mediador acaba sendo um “modelo” diz Fiorelli para as

partes, pois os mesmos acabam observando os comportamentos e atuação do

mediador no processo de mediação.

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O mediador só quebrará o sigilo das informações quando estas forem

sobre crimes obtidos durante a mediação ou condutas que se referem a

violência segundo o código e ética profissional do mediador.

No capítulo a seguir, descreverei como desenvolve o processo de

mediação e como o mesmo acontece.

CAPÍTULO 3 - O PROCESSO DE MEDIAÇÃO

Como visto nos capítulos anteriores, a pratica da mediação oferece as

partes envolvidas em controvérsias meios de resolução de seus conflitos.

O mediador, pessoa com conhecimento técnico sobre mediação será o

facilitador no processo entre as partes.

Tal processo se inicia quando ambas as partes concordam em participar

da mediação que tem caráter involuntário.

Para Vasconcelos, “na prática, as etapas não são perceptíveis, pois o

procedimento de mediação se caracteriza por avanços e recuos que vão

possibilitando o esclarecimento das razões, a superação das resistências e a

construção do diálogo.”

Já Haynes, diz que “ o processo de mediação é a condução das

negociações de outras pessoas.”

Ao longo do processo de mediação, o mediador tende identificar os

interesses e posições propostas por ambas as partes para que as mesmas

possam chegar a solução de seus conflitos de maneira organizada e coerente.

O processo de mediação é o desenvolvimento das negociações entre as

partes onde a solução escolhida satisfaça ambas as partes.

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Ao ser identificado uma dificuldade, o mediador deve estimular o

mediando com perguntas para que o mesmo possa reconhecer o seu real

interesse no problema.

Para Haynes e Marondi, “ O processo de Mediação é a condução das

negociações de outros pessoas e o medidor é o administrador das

negociações...”

Podemos entender que no processo de mediação as partes em

controvérsia através da ajuda do facilitador devem negociar uma solução que

atenda ambas as partes.

Assim, entendemos que o processo se desenvolve por etapas que serão

descritas a seguir:

a) Recomendações do Mediador para os mediandos

Nesse momento, o mediador irá esclarecer o seu papel na mediação que é o

de facilitador do processo onde os participantes terão o papel de ajudar no

processo estando disponíveis e trazendo as questões e sugestões para a

facilitação da resolução do conflito.

O mediador deixará claro que será imparcial ao longo do processo de

mediação; que o respeito mútuo é extremamente importante e esclarecerá a

importância das entrevistas individuais(caucus).

b) Identificar o problema

Nesta etapa, a pessoa que solicitou a mediação inicia sua narrativa. O

mediador deve utilizar uma de suas ferramentas que é a escuta ativa, ou seja,

ele irá escutar o que está sendo dito e anotando apenas o essencial.

Já a outra parte deve se manter em silêncio esperando a sua vez para se

posicionar. Se a outra parte interrompe a fala do outro, o mediador deve

interrompê-lo e relembrá-lo do respeito mútuo explicando na primeira etapa.

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c) A importância da construção do resumo com as partes

Nesse momento, o mediador fará um resumo do que foi trazido pelas partes

até o momento. É necessário a participação do mediando na construção do

resumo. O mediador tentará de forma clara e objetiva transcreve os

sentimentos, desejos, necessidades e posições dos mediandos em conflito.

No desenvolvimento do resumo, o mediador já consegue identificar o objetivo

do conflito de cada parte o que favorece uma melhora na comunicação entre

estes pois já se encontram mais receptivos nesse estágio favorecendo a um

possível resolução da controvérsia.

d) Os interesses de cada mediando

Com o resumo concluído, o mediador consegue perceber que os mediandos se

encontram menos rígidos em suas posições.

Vasconcelos aponta nesse estagio, o mediador pode fazer indagações que

favorecem na identificação de interesses comuns como: “Quais serão os

interesses comuns dos pais que se separam? Quais são os interesses comuns

de dois vizinhos que se estranharam?”

O autor afirma que os interesses não serão identificados se os problemas de

relação não estiverem bem apropriados, ou seja, se não houver uma

transformação na comunicação entre as pessoas o problema não será

resolvido.

Após o clima de entendimento entre as partes caso o mediador perceba que

um mediando está com resistência a algo que já foi dito é necessário a

utilização de entrevistas individuais chamadas caucus.

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e) O acordo

Após ter detectado o problema, as reais necessidades e interesses de

cada parte, o mediador oferecerá o contrato que será discriminado a

qualificação das partes, a identificação do objeto, como serão cumpridas as

obrigações e as consequências de não cumprimento.

Ao ler o contrato e concordar com que está redigido, as partes assinam

o acordo com a satisfação de ter resolvido o conflito existente.

Assim podemos entender que as partes envolvidas na negociação

necessitam passar pelas etapas desse processo proporcionando as mesmas o

fortalecimento que ambas tenham os mesmos interesses que é a resolução do

conflito.

3.1 - Modelo de Mediação na Escola Harvard

Como já visto, a mediação é um processo de negociação onde s partes

tendem a buscar a satisfação de seus reais interesses.

O mediador será a terceira pessoa, neutra e imparcial que em posse de

métodos de negociação facilitará o processo de mediação.

Vasconcelos dirá que há três modelos básicos de mediação: integrativo,

distributivo e apoiado em um terceiro. No primeiro, busca-se ampliar o

interesse comum entre as partes; no segundo, busca-se a toca entre as partes

no que diz respeito a disputa e o último busca-se um terceiro para facilitar na

solução do conflito.

Assim, apresentarei os três modelos utilizados em mediação: Modelos

de Negociação na Escola Harvard, Modelo Transformativo e Modelo Circular

Narrativo.

O Modelo de Negociação da Escola Harvard foi crido por Roger Fisher,

William Ury e Bruce Patton. É um projeto de negociação que tem o objetivo de

produzir propostas eficazes para ambas as partes.

Tal modelo se baseia em cinco pontos de negociação que podem ser

utilizados em qualquer momento da negociação que são elas: Separar as

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pessoas do problema, concentre-se nos interesses e não nas posições,

identificar opções de benefícios nas posições, identificar opções de benefícios

mútuos e insista em critérios objetivos.

a) Separar as pessoas do problema

As pessoas que se encontram envolvidas em uma controvérsia tendem

a misturar os problemas objetivos com as suas emoções. Isso acontece porque

as partes tendem a forçar a outra parte a alterar a sua posição.

Segundo Fisher, “ antes de trabalhar no problema substantivo, o

problema das pessoas deve ser desembaraçado dele e tratado

separadamente.”

O que o autor quis dizer é que o problema substantivo deve ser

separado do problema relacional pois as partes estão carregadas de emoções,

ou seja, as pessoas envolvidas no conflito não devem reagir nas atitudes

emocionais da outra parte e sim compreender e reconhecer as emoções de

ambas as partes.

b) Concentra-se nos interesses e não nas posições

Para identificar os interesses dos outros, o mediador sugere as partes

que se coloque no lugar do outro e faça os seguintes questionamentos como:

“por que” e “por que não”. A partir desses questionamentos, as partes terão a

percepção de como tal interesse é importante para ambos.

Segundo Fisher,” a posição na negociação frequentemente obscurece o

que realmente se quer.”

Podemos entender que as partes quando ficam presas as suas posições

tendem a se fechar não visualizando outras maneiras de dissolver o conflito.

É necessário que as partes identifiquem seus interesses e falem sobre

eles para que o mediador consiga apresentar ambas as partes possibilidades

de resolver as questões trazidas.

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Para Vasconcelos, os interesses estão vinculados as necessidades

humanas como bem- estar econômico, reconhecimento, segurança dentre

outros.

c) Identificar opções de ganhos mútuos

Como as partes sentem dificuldades em formular soluções diante das

partes, o mediador utiliza a técnica da tempestade de ideia que é adotada para

negociação das questões substantivas e identificação de interesses e opções.

É uma técnica criativa onde as pessoas terão que dizer o que vem em

sua imaginação a respeito do conflito. O seu objetivo é separar as propostas

objetivas que serão diferenciadas a seguir.

Finalizado a técnica de tempestade de ideias, o mediador deve priorizar

as opções mais fortes (incondicionais, permanentes e obrigatórias) e as fracas

(parciais, não-obrigatórias e parciais).

d) Insistir em critérios objetivos

Nesse ponto, o mediador pode ter resultados favoráveis quando os

interesses dos mediandos são opostos pois o método ”tende a premiar a

intransigência e a produzir resultados arbitrários.”

e) Conhecer as suas chances de retirada

Quando os negociadores possuem uma atitude dominadora, mediador adota a

técnica chamada MAPAN(MELHOR ALTERNATIVA PARA UM ACORDO

NEGOCIADO) ou MAANA(MELHOR ALTERNATIVA À NEGOCIAÇÃO DE UM

ACORDO). Tal técnica enfraquece o negociador deixando-o vulnerável.

O negociador deve elaborar uma” lista de providências” segundo Vasconcelos.

Caso não se chegue a um acordo, ambas a parte poderá avaliar e conhecer a

MAPAN do outro.

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3.2- Modelo Circular Narrativo

Tal método foi desenvolvido por Sara Cobb e fundamentado através da

agregação do modelo de Harvard, da Teoria Geral dos Sistemas, da Terapia de

Família, da Cibernética e outras teorias que agregaram para construir esse

sistema.

Seu objetivo não está focado no acordo e sim na importância na “arte de

conversa” diz Vasconcelos.

Marinés Soares in Vasconcelos vai propor que os mediadores ao

trabalhar com esse modelo devem desestabilizar as histórias e possibilitar que

se constuam novas histórias. Ela afirma que as técnicas serão aplicadas a

medida que os mediadores tenham assimilação das técnicas utilizadas e não

só aplica-las.

As técnicas que podem ser utilizadas no modelo circular-narrativo

envolvem microtécnica (aplicadas sobre o aspecto inicial das narrativas), as

minitécnicas (aplicadas sobre desdobramentos mais amplos das narrativas,

mas não sobre a sua totalidade), as técnicas (construção de histórias

alternativas que destabiliza a história prévia) e as macrotécnicas (confluência

de todas as técnicas no encontro da mediação).

A microtécnica pode ser aplicada em dois modos: interrogativo e

afirmativo. No modo interrogativo, as perguntas se referem às informações

(esclarecimento) que tende a esclarecer as informações recebidas e

proporciona um conhecimento entre o conhecimento dos mediandos. Já o

afirmativo, pode apresentar significados de reformulação que é afirmar com

outras palavras o que foi dito por algum mediando; legitimação que é uma

conotação positiva das posições da parte para facilitar a compreensão

relacional.

O modelo de Sara Cobb tem a proposta de analisar as narrativas,

conhecer os significados dos fatos e das experiências vividas priorizando as

relações.

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3.3 - Modelo Transformativo (Bush e Folger)

Nesse modelo, o foco está na auto-afirmação das pessoas envolvidas na

controvérsia, ou seja, tal modelo propõe que as partes modifiquem a sua forma

de se comunicar (verbal e não verbal) com objetivo de resolver seus

problemas.

O mediador tem como objetivo promover a mudança no que tange as

relações e restaurar a interação.

Tal modelo foi buscar contribuições de algumas Escolas como modelo

de Harvard e Terapia Sistêmica. Ambas trabalham com as relações, porém,

propósitos diferentes. A primeira prioriza a resolução do conflito e a outra

priorizará o restabelecimento das relações interrompidas.

Para Vasconcelos, “a mediação transformativa acolhe, portanto, técnicas

da mediação satisfativa, aspectos da terapia sistêmica de família e os

elementos do paradigma da ciência contemporânea tais como a complexidade,

a instabilidade e a intersubjetividade.”

No modelo transformativo, o que se prioriza é a auto-afirmação das

pessoas envolvidas no conflito, que estas recuperem seu poder de decisão , ou

seja, deixando de conceder as pessoas poder de decisão.

O mediador irá trabalhar a autoderminação, os objetivos, recursos,

preferências e opções dos mediandos “intermédio do apoio aos processos

mentais e emocionais” do próprio mediando em relação à tomada de decisão.

A mediação se torna transformativa a medida que oferece aos

mediandos a capacidade de fortalecer a sua autodeterminação, ou seja, que as

partes começem a retoma a seu empoderamento se tornando confiantes em

lidar com as possíveis situações de conflito.

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3.4- As Ferramentas em Mediação

O mediador tem o papel de criar um ambiente favorável a possíveis

soluções. Tais soluções serão trazidas pelas partes a medida em que o

mediador através de suas ferramentas busca os interesses e necessidades das

partes.

Para Moraes, o mediador possui habilidades ao utilizar suas técnicas e

estas promovem o desenvolvimento de criatividade.

As ferramentas em mediação tende a promover a mudança, ou seja, no

decorrer do processo de mediação o mediador fará uso dessas para “desarmar

as partes” diz Gomma.

A seguir apresentarei algumas ferramentas que poderão favorecer a um

entendimento entre as partes.

a) Recontextalização

O mediador estimula as partes a compreensão por uma outra

perspectiva, ou seja, o facilitador estimula as parte a entender uma situação de

uma forma positiva.

b) Audição de propostas implícitas

Como as partes se encontram em estado emocional exaltado possuem

dificuldade de comunicar. Sua linguagem tende ser agressiva promovendo uma

comunicação ineficiente. As partes promovem as soluções sem percebê-las.

c) Afago

É uma resposta positiva do mediador sobre um comportamento eficiente

ou produtivo no processo de mediação.

d) Silêncio

Em alguns momentos da mediação, o silêncio é uma ferramenta

utilizada pelos mediandos. Quando o mediador faz um questionamento a partir

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de uma narrativa trazida, o mediando pode apresentar o silêncio como

resposta. Isso demonstra um comportamento positivo.

e) Sessões privadas ou individuais

São encontros realizados entre mediadores e uma das partes sem que a

outra esteja presente. As sessões individuais podem ser utilizadas quando o

mediador percebe fortes sentimentos; uma comunicação improdutiva;

esclarecer questões que não ficaram claras para o mediador; para realizar

afagos; aplicar a técnica de inversão de papéis; trabalhar possíveis acordos

prematuros; situações em que a parte se encontre em vulnerável a violência.

f) Inversão de papéis

O objetivo da técnica é estimular a empatia entre as partes para que

ambas percebam o contexto de ambas as partes.

g) Geração de opções

Essa ferramenta é utilizada para evitar eventuais impasses ao longo do

processo de mediação. O mediador irá estimular as partes a pensarem em

novas soluções para o conflito. Ele realizará perguntas com a finalidade de

ajudar as partes em uma solução em conjunto. Um outro momento importante

da utilização dessa ferramenta é fazer com que as partes pensem no interesse

da outra. Para facilitar o processo, o mediador deve estimular o máximo de

detalhes acerca do problema. O facilitador deve estimular a criatividade das

partes para que ambas não se tornem presos as suas posições.

h) Normalização

As partes envolvidas em um conflito e sentem constrangidas em estarem

em juízo. Cabe ao mediador não permita que as partes atribuam culpa e muito

menos enroladas ao se depararem com o conflito. O mediador deve estimular

as partes a resolverem o conflito de uma maneira positiva pois é uma

oportunidade das partes melhorar as suas relações interpessoais.

i) Organização de questões e interesses

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É muito comum que no decorrer de um processo de mediação, as partes

percam o foco da disputa, trazendo para a mediação pontos que tenham lhe

deixado chateados.

j) Enfoque prospectivo

O mediador deve ouvir para tentar identificar os interesses das partes e

estimular as partes a encontrarem soluções futuras. Ele deve adotar um

enfoque no futuro.

k) Teste de realidade

Tal princípio consiste em estimular as partes a compararem seu mundo

interno com o mundo externo. É necessário que o mediador avise que tal teste

será aplicado em sessões privada.

l) Validação de sentimentos

Consiste em identificar os sentimentos que foram desenvolvidos no

desenvolvimento do conflito. Deve ser utilizada em sessões individuais.

CAPÍTULO 4- OS BENEFÍCIOS DA MEDIAÇÃO

O processo de mediação proporciona as partes envolvidas habilidades

para lidar com situações conflituosas vivenciadas futuramente. O mediador

facilitará o processo de mediação utilizando as ferramentas que favorecerá a

mudança das partes. Proporciona o restabelecimento da comunicação que foi

ruída devido as desavenças no desenvolvimento do conflito, reconhecimento

mútuo dos interesses no conflito dentre outras benefícios que serão descritos a

seguir.

Segundo Acland in Fiorelli , o principal objetivo da mediação é: “

construir um processo em que as partes possam educar-se a si mesmas com

respeito ao conflito e investigar as várias opções que têm para resolvê-los.”

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Tal processo traz o conflito de interesses das duas partes sendo o

mediador um facilitador para conduzir esse processo.

A escolha pelo processo de mediação favorece as partes alguns

benefícios que são: promover as partes cooperação, respeito mútuo, redução

do desgaste emocional e tende a reduzir reincidência dos litígios.

Para Azevedo, um dos benefícios que a mediação proporciona as partes

é o empoderamento, ou seja, “a busca pela restauração do senso de valor e

poder da parte” para que a mesma esteja preparada para gerir futuros conflitos.

Outra vantagem que deve ser destacada é a oportunidade que as partes

tende a falar de seus sentimentos em um ambiente neutro e restabelecer a

comunicação que estava ruída.

Para que os resultados sejam benéficos, é necessário que o mediador

tenha um local apropriado (um local confortável e mínimo ofereça um ambiente

acolhedor).

O último aspecto que deve ser destacado é que esse processo

autocompositivo tende a oferecer um baixo custo do processo e a celeridade

do mesmo nos tribunais.

Com isso, a mediação proporciona as pessoas um autoconhecimento e

desenvolvimento cognitivo e comportamental de cada parte.

Podemos entender que o processo de mediação além de proporcionar

um crescimento pessoal para ambas as partes pois apendem a lidar com seus

conflitos, a reconhecer seus reais interesses e aprendem a respeitar o outro

dentro do processo de mediação.

Por outro lado, a mediação favorece alguns no que diz respeito ao

tempo dos encontros. Comparados ao Judiciário, a mediação tem como

destaque a celeridade o que muitos tendem a escolher tal método de resolução

de conflito.

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4.1- Diagnóstico em mediação ou acordo entre as partes?

Ao criar o último capítulo desse trabalho me remeti a minha prática

profissional. A escuta ativa, Diagnóstico, Psicodiagnóstico, Ética profissional

podem ser trabalhados em Mediação? E o que pode ser trabalhado em

mediação?

Os temas citados não podem ser trabalhados em mediação por serem

de uma competência profissional do psicólogo. Ao longo da formação de

psicologia, o acadêmico treina o raciocínio diagnóstico que será uma das

habilidades profissionais deste profissional. Já em mediação, não se compete

trabalhar com tais ferramentas porque esse profissional não tem competência

profissional para usá-las.

Para atuar como mediador, a pessoa tem que ter uma capacitação em

curso de mediador para aprender as técnicas e ferramentas utilizadas em

mediação.

O mediador pode ser um psicólogo (a), advogado (a), assistente social

dentre outras profissões. Não é permitido atuar em suas profissões no decorrer

do processo de mediação. O que acaba acontecendo é que os profissionais de

outras áreas não conseguem se desprender de seus conhecimentos teóricos o

que acaba proporcionando um bom desenvolvimento no processo de

mediação.

Muskat afirma que “a interpretação no contexto da mediação é

descabida e inócua.”

O que a autora afirma é que a interpretação e o diagnóstico em

mediação não é permitido por não ser uma ciência de natureza psicológica que

tem a preocupação em diagnosticar uma pessoa ou tecer seu psicodiagnóstico

ao longo de diversas sessões de terapia.

Em mediação não existe um contrato terapêutico que dê a autorização

ao mediador a dar trabalhar com a interpretação e nem ao menos este tem

utilidade no processo pois ela não cabe a mediação.

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Algumas pessoas podem compreender a mediação como um processo

de “cura” o que é equivocado pois esta não é um tratamento pois o mediador

irá acompanhar o processo de mediação e não tem “a preocupação de intervir

nos processos intrapsíquicos dos envolvidos” diz Muszkat.

Uma outra ferramenta da psicologia que o mediador não pode utilizar é a

interpretação. A interpretação é o sentido latente existente nas palavras e nos

comportamentos de um indivíduo diz Laplanche e Pontalis.

Na mediação não há um contrato terapêutico onde o cliente autorize ao

mediador a interpretação ao longo do processo de mediação não cabe a

mediação tal procedimento.

A única ferramenta utilizada na mediação que é compatível a atuação do

psicólogo é a escuta ativa. A escuta ativa em ambas tem o objetivo de ouvir

atentamente as principais narrativas das partes (em Mediação) e os clientes

(em Psicologia). Ambas as profissões irão trabalhar com as relações e seus

conflitos dentro da psicologia (conflitos existenciais e interpessoais) e conflitos

em mediação são de origem interpessoais.

Para a Psicologia, o conflito pode ser manifesto onde há um desejo e a

moral tende a controlar o primeiro e o conflito latente que pode ser deformado

no conflito manifesto se transformando em formação de sintomas ou distúrbios

de comportamento. Na mediação, o mediador não possui habilidade para lidar

com os conflitos intrapsíquicos .

O mediador é um terceiro que irá facilita o processo de mediação; não

compete fornecer diagnósticos ou levar o cliente a descobrir em processo

terapêutico as questões que o trazem a terapia. Um outro ponto que podemos

focar é n que diz respeito a duração de cada processo de mediação, ou seja, o

trabalho do mediador é objetivo e as questões trazidas pelos mediandos serem

e natureza focal.

No decorrer do processo de mediação, as partes podem apresentar

processos intrapsíquicos que podem dificultar na resolução do conflito. O

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mediador deverá encaminhar essa pessoa a um profissional habilitado a

trabalhar com essas questões.

O mediador deverá ter habilidade para identificar as inseguranças

trazidas pelas partes e os interesses e suas necessidades para que ambas as

partes saiam do processo de mediação satisfeitos com a decisão tomada.

Conclusão

A partir do desenvolvimento desse trabalho foi possível verificar que a

mediação de conflito é um meio de resolução que tem como objetivo utilizar as

suas ferramentas para possível resolução de uma controvérsia.

Além da mediação, temos outros modelos autocompositivos que são:

arbitragem, conciliação e negociação.

Na arbitragem, observamos que o árbitro quem conduzirá todo o

processo. Este tem o poder de colher as provas e decidir através de laudo ou

sentença arbitra irrecorrível.

Na conciliação, é caracterizada como um meio alternativo onde as

partes confiam a uma terceira pessoa a função de aproximá-las. É um modelo

rápido de resolução de conflito.

A negociação a pessoa lida diretamente com as partes sem interferência

de terceiros. Só haverá a necessidade de uma intervenção de uma terceira

pessoa quando estes não conseguirem resolver a demanda do conflito.

A mediação, um meio de resolução de conflito que prioriza as relações,

possui uma terceira pessoa que é o mediador que tem como objetivo facilitar a

comunicação que foi rompida mediante a um conflito.

Para que a mediação aconteça, é necessário que as partes envolvidas

em uma controvérsia procure o serviço de mediação que é veiculado ao

Tribunal de Justiça.

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Ao entrar em contato com o centro de mediação, as partes serão

recebidas pelo mediador em uma sala confortável e onde serão realizadas as

demais sessões de mediação.

Nas sessões iniciais, o mediador se apresentará e explicará o processo

de mediação. Sessões estas que terão um números de sessões em conjuntas

e possivelmente poderá sessões individuais quando uma das partes apresentar

uma grande resistência em sua posição referente ao conflito ou quando ambas

as partes não apresentar um esclarecimento diante a uma pergunta ou

questionamento feito pelo mediador.

Ao longo das sessões, o mediador fará uso de suas competências

profissionais que são: escuta ativa, imparcialidade, neutralidade,

confidencialidade dentre outras competências que foram trabalhadas no

decorrer deste trabalho.

É importante salientar que ao decorrer do processo de mediação, para

facilitar o processo o mediador fará uso de ferramentas que visto neste trabalho

favorecerão na mudança de comportamento do indivíduo diante do conflito.

No decorrer desse trabalho bibliográfico pude confirmar a hipótese

proposta pois as pessoas que passam pelo processo de mediação tende a

estar mais preparadas para lidar com conflitos futuros prevenindo novas

reedições de conflito.