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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” TERCEIRIZAÇÃO À LUZ DA NORMA TRABALHISTA NO BRASIL – A LEGALIDADE E O IMPACTO NA ECONOMIA E NO TRABALHO AUTOR RAFAEL DE OLIVEIRA TEMISTOCLES ORIENTADOR PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO RIO DE JANEIRO 2014 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

TERCEIRIZAÇÃO À LUZ DA NORMA TRABALHISTA NO BRASIL – A LEGALIDADE E O IMPACTO NA ECONOMIA E NO TRABALHO

AUTOR

RAFAEL DE OLIVEIRA TEMISTOCLES

ORIENTADOR

PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO

RIO DE JANEIRO 2014

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

TERCEIRIZAÇÃO À LUZ DA NORMA TRABALHISTA NO BRASIL – A LEGALIDADE E O IMPACTO NA ECONOMIA E NO TRABALHO

Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes – AVM Faculdade Integrada, como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Direito e Processo do Trabalho. Por: Rafael de Oliveira Temistocles.

3

Agradeço a Deus, primeiramente, aos meus pais – Milton e Neuza, a minha namorada Priscila Grecco por entender minhas constantes ausências e ao meu fiel escudeiro, o ilustre amigo Nilton Ribeiro.

4

RESUMO

Todavia a terceirização não ser assunto recente na história mundial, passando a ganhar destaque na década de 70, chegando ao Brasil com mais força nos anos 90 é talvez o tema que mais emblemático do direito trabalhista, vez que apesar de assumir grandes proporções no cenário de contratações dos setores público e privado, os debates acerca da consolidação de sua legalidade e a forma valida em normas trabalhistas são cada vez menos frequentes, sendo os grandes sopros a esse norte o Artigo 581,§2º da CLT, a Lei 6.019/74 e a Súmula 331 do TST. Em virtude disso pairam muitas dúvidas no ar acerca do impacto da desverticalização na desoneração de folha de pagamento, na alta rotatividade causada pelas condições de trabalho e nos aspectos afetos a perda salarial daqueles obreiros terceirizados em relação aqueles empregados na empresa-mãe ou tomadora de serviços.

5

METODOLOGIA

O presente trabalho constitui-se em uma descrição detalhada das

características jurídicas do fenômeno da desverticalização, do tratamento

conferido a esta nos setores público e privado pelo ordenamento jurídico nacional

e de sua dialética acerca do impacto na economia do trabalho pela doutrina

especializada, tudo sob o ponto de vista específico do direito positivo brasileiro e

das jurisprudências aplicadas ao caso concreto.

Para tanto, o estudo que se oferta teve consequências a partir do

método da pesquisa bibliográfica, em que se buscou o conhecimento em diversos

tipos de publicações, como livros e artigos em sítios especializados, revistas e

outros informativos periódicos, além de publicações oficiais da legislação e da

jurisprudência.

Por outro lado, a pesquisa que resultou nesta monografia também foi

empreendida através do método dogmático, porque teve como marco referencial

e fundamento exclusivo a dogmática desenvolvida pelos estudiosos que já se

debruçaram sobre o tema anteriormente, e positivista, porque buscou apenas

identificar a realidade social em estudo e o tratamento jurídico a ela conferido, sob

o ponto de vista específico do direito positivo brasileiro.

Adicionalmente, o estudo que resultou neste trabalho identifica-se,

também, com o método da pesquisa aplicada, por pretender produzir

conhecimento para aplicação prática, assim como com o método da pesquisa

qualitativa, porque procurou entender a realidade a partir da interpretação e

qualificação dos fenômenos estudados; identifica-se, ainda, com a pesquisa

exploratória, porque buscou proporcionar maior conhecimento sobre a questão

proposta, além da pesquisa descritiva, porque visou a obtenção de um resultado

puramente descritivo, sem a pretensão de uma análise crítica do tema.

6

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO....................................................................................................... 7

CAPÍTULO I

HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DA TERCEIRIZAÇÃO............................................... 9

CAPÍTULO II

LEGALIDADE E FORMAS DE TERCEIRIZAÇÃO.............................................. 15

CAPÍTULO III

IMPACTO DA TERCEIRIZAÇÃO NA ECONOMIA.............................................. 39

CONCLUSÃO....................................................................................................... 46

BIBLIOGRAFIA.................................................................................................... 49

7

INTRODUÇÃO

A terceirização nada mais é do que o processo pelo qual a empresa

deixa de executar uma ou mais atividades realizadas por trabalhadores

diretamente contratados e as transfere para outra empresa, sendo realizada de

duas formas não excludentes: na primeira a empresa deixa de produzir bens ou

serviços em sua produção, passando a compra-los de outras empresas,

provocando desativação total ou parcial dos setores que anteriormente

funcionavam no interior da empresa; a outra forma é a contratação de uma ou

mais empresas para executar, dentro da “empresa-mãe”, tarefas anteriormente

realizadas por trabalhadores contratados diretamente. Essa segunda forma de

terceirização pode referir-se tanto a atividades-fim como a atividades-meio. Entre

as últimas podem estar, por exemplo, limpeza, vigilância, alimentação1.

O presente trabalho é um estudo sobre a legalidade e o impacto da

terceirização de serviços à luz da norma trabalhista no Brasil. Sob essa égide,

esta pesquisa dedica-se a demonstrar os aspectos críticos, bem como os

positivos da “desverticalização” no Brasil, dando destaques a alguns setores da

administração pública – tais como a Saúde e a Coleta de Lixo e o seguimento

petrolífero; não obstante, debruça-se, ainda, sobre o aspecto jurídico-social que

se tem relacionado ao impacto na economia do trabalho – a desoneração da folha

de pagamento, o alto índice de rotatividade causado pela falta de identificação

dos prestadores de serviços com a instituição, bem como sua inequidade salarial

perante seus pares, sendo tratada pelo ponto vista do salário profissional.

Adicionalmente, o presente trabalho busca identificar quais os setores

mais comuns da terceirização, se há o permissivo da norma trabalhista, se isto

gera redução da faixa salarial dos trabalhadores e se fere o princípio basilares

trabalhista da estabilidade e da proteção oriundos da norma Celetista, assim

como previstos na Carta Magna.

1 DIEESE – Relatório Técnico – O Processo de Terceirização e seus Efeitos sobre os Trabalhadores no Brasil.

8

Este estudo, enquanto fenômeno jurídico tem especial dificuldade por

não existir alguma conceituação legal, razão pela qual será investigada com base

numa análise histórica, ontológica e também empírica dos dados reais e

concretos existentes nas relações jurídicas, sociais e econômicas atinentes ao

tema.

A pesquisa que precedeu esta monografia teve como ponto de partida

o pressuposto de que a Terceirização desonera a folha de pagamento do tomador

de serviços. Contudo, fomenta a perda salarial do trabalhador, assim como

depreende-se ser a causa para o aumento na rotatividade de emprego, remando

em lado oposto aos princípios trabalhistas previstos em nosso ordenamento

jurídico.

Visando um trabalho bem objetivo em que se pontuam os permissivos

legais, buscando fomentar a dialética acerca da realidade social deste fenômeno

a presente monografia dedica-se, especificamente, a estudar as questões da

legalidade da “desverticalização” na atividade-fim, no setor privado e na atividade

não exclusiva, no setor público, bem como esmiuçar toda problemática acerca da

tema.

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CAPÍTULO I

A HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DA TERCEIRIZAÇÃO

De acordo com a história, a terceirização fomenta a perda salarial do

trabalhador, bem como aumenta a rotativade deste no emprego, indo de encontro

aos princípios da estabilidade e proteção do empregado, insertos em nossa Carta

Magna e na Consolidação. Contudo, este fenômeno teve grande importância na

evolução industrial e, consectáriamente, nas bases do Direito Social.

Segundo Mauricio Godinho Delgado, a expressão Terceirização resulta

de neologismo oriundo da palavra terceiro, compreendido como intermediário,

interveniente. Não se trata seguramente, de terceiro, no sentido jurídico, como

aquele que estranho a certa relação jurídica entre duas ou mais partes. O

neologismo foi construído pela área de administração de empresas, fora da

cultura do Direito, visando enfatizar a descentralização empresarial de atividades

para outrem, um terceiro à empresa.2

A Terceirização não está tipificada em lei e não possui uma norma

jurídica que a normatize, até o momento. A palavra Terceirização oriunda da

administração e foi “encampada” sem ajuste pelo Direito.

Entretanto, sob o prisma jurídico a expressão não é adequada, pois por

terceiro dever-se-ia entender alguém estranho relação jurídica, o que não se

aplica, pois o terceiro que executa as atividades acessórias não é elemento

estranho a relação jurídica. Todavia, dado o largo emprego do vocábulo -

Terceirização na prática é forçoso aceitá-lo e utilizá-lo com as ressalvas

necessárias.

10

1.1 – A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA TERCEIRIZAÇÃO NO MUNDO

A terceirização, como técnica administrativa, surgiu em meio a

Segunda Grande Guerra Mundial, sucedida nos anos 40, nos Estados Unidos.

Bem da verdade, anteriormente a II Guerra Mundial, já existiam

atividades prestadas por terceiros, porem não se enquadram no conceito de

Terceirização, visto que somente a partir da grande guerra é que se percebeu que

a Terceirização interferia na sociedade e na economia, através do Direito Social.3

Por conta da grande demanda mundial a produção bélica,

representada pelos militares em conjunto com empresas de renome no ramo foi

pressionada a escoar esta produção para empresas de menor porte, que

tivessem mão-de-obra técnica para tanto.

O intuito, na ocasião, era dar agilidade a produção industrial. A

mudança de rumo na área de produção que se insurgiu em desfavor do clássico

modelo denominado “Fordismo” - em que todas as ações se baseavam numa só

empresa, que comandava unicamente a produção de bens e serviços, para

“Toyotismo” – pautado na descentralização da gestão empresarial e no

arrefecimento das indústrias de grande porte. Este novo modelo de gestão tinha

como base a desverticalização da empresa, onde as atividades-fim ficavam sobre

controle da empresa, e as demais atividades, tidas por acessórias, eram

repassadas a pequenas terceirizadas. Com isso, foram surgindo empresas

especializadas na execução das atividades tidas por secundárias dentro da

empresa-mãe.

Nas lições de Marcio Pochmann, após o término da guerra, observou-

se a importância da terceirização no processo produtivo e administrativo para o

mercado econômico, vez que as empresas de grande porte “estartaram” uma

maior preocupação, somente, com as atividades principais, e as terceirizadas

2 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 3 CASTRO, Rubens Ferreira. A Terceirização no Direito do Trabalho.

11

iniciaram um processo competitivo, qualificativo e eficiente para proporcionarem

os melhores serviços e circulação de bens desejados.4

Tal mudança de rumos fomentou a mudança no comportamento dos

clientes, ensejando o progresso de seus pares. Isto, Anteriormente, como não

haviam produtos e serviços diversificados, os clientes não exigiam novos

produtos, bem como, qualidade. Com a concorrência e a exigibilidade da clientela,

os mesmos iniciaram a busca por menores preços e melhores qualidades,

analisando o produto, antes da efetivação da compra.5

Com esta evolução e exigência da clientela, as empresas iniciaram a

valorização para o atendimento eficiente e adequando seus empregados a todos

os tipos de deveres perante os mesmos.

Mas essa mudança nem sempre proporcionou vantagens as empresas

de grande porte, pois enquanto as pequenas se sobressaiam no atendimento ao

cliente e na qualidade de produtos e serviços, as maiores obtiveram uma redução

de sua lucratividade e dos clientes.

Para evitar tais problemas, esforços por parte das pessoas jurídicas de

grande porte foram aceitos. O primeiro esforço foi o chamado downsizing, onde a

redução hierárquica e a eliminação de cargos propiciou a evolução parcial das

mesmas, tornando-as mais competitivas e ágeis.

No início do processo de terceirização, houve certo receio por parte

dos administradores empresariais, no âmbito da perda do poderio. Contudo, ao

passar dos anos, verificou-se que este temor não tinha fundamento, pelo

contrário, houve-se um aumento na agilidade da entrega dos produtos e a

verificação de uma qualidade superior aos produtos, anteriormente, oferecidos.

Em adstrita análise econômica, a terceirização é usufruída por todas as

espécies mercantis de pessoa jurídicas, da gigante à anã de mercado.

4 POCHMANN,Marcio. SINDEEPRES 15 Anos – A Superterceirização dos Contratos de Trabalho. 5 PINTO JÚNIOR, Lauro Ribeiro. Os Dilemas do Direito do Trabalho na Terceirização.

12

A Revolução Industrial não ficou adstrita a um marco histórico para a

sua época, mas foi muito importante na evolução material e cultural da

humanidade, refletindo, ainda nos dias atuais. Com o surgimento da Revolução

Industrial surgiram as normas trabalhistas e os movimentos sindicais, como

resposta a exploração do ser humano, onde o trabalho passou a ser tratado

cientificamente. A diferença social e a condição especial de pessoa humana não

eram consideradas, tanto que nesta fase da história houve a exploração da mão-

de-obra infantil em atividades absolutamente perigosas, como, por exemplo, a

limpeza de chaminés das fábricas.

Com os avanços alcançados pelo sistema produtivo do capitalismo

moderno, houve algumas consequências desagradáveis à ordem social.

No mundo jurídico, compulsando os ensinamentos de Amauri Mascaro

Nascimento, nos depararemos com a realidade do progresso do maquinismo que

acompanhava o desenvolvimento da concentração onde o emprego da maquina,

que era generalizado, acabou gerando problemas até então desconhecidos,

principalmente os riscos de acidentes, a prevenção e a reparação destes

acidentes constituam parte importante nas regulamentares trabalhistas.

E foi em meio a esta transformação mundial que surgiu a

Terceirização, nascendo a partir do momento em que o desemprego começou a

crescer em diversos países, como uma tentativa de amenizar a crise,

possibilitando aos ex-empregados a prestação de serviços.6

6 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho.

13

1.2 – A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA TERCEIRIZAÇÃO NO BRASIL

No Brasil este fenômeno chegou por volta de 1950, contudo ainda é

considerado relativamente novo, e teria sido ensartada pelas multinacionais

automobilísticas que tinham o pensamento de dedicar-se apenas a sua atividade-

fim. Precisamente, todas as peças de um carro, são fabricadas por outras

empresas e a empresa principal apenas realiza a montagem do veículo.

O momento da elaboração da Consolidação das Leis do Trabalho, na

década de 1940, a Terceirização não constituía fenômeno com a abrangência

assumida nos dias atuais, em razão disto a Consolidação fez a menção apenas à

duas normas regulamentadoras de subcontratação de mão-de-obra: a empreitada

e subempreitada, ambas incertas no Artigo 455 da CLT, incluindo também assim

a figura da pequena empreitada, disposta no Artigo 652, alínea “a)” , inciso III da

CLT.

O celebre Mestre Maurício Godinho Delgado, debruçado sobre a

problemática da falta de norma regulamentadora ao tema em destaque, expos

que:

Isto ocorre pela circunstancia de o fato social da Terceirização ter tido, efetivamente, grande significados socioeconômicos nos impulsos de industrialização experimentados pelo país nas distintas décadas que se seguiram à acentuação industrializante iniciada nos anos 40.7

Todavia a legislação civil já normatizar a empreitada e a prestação de

serviços no Código Civil Brasileiro Atual, não desapontaram outras alusões de

ênfase à Terceirização em textos legais trabalhistas nas primeiras décadas da

evolução deste ramo jurídico no Brasil.

A Desverticalização inseriu-se em no ordenamento jurídico pátrio sobre

o aspecto do trabalho temporário. Trazendo em seu bojo as embrionárias

percepções dos ofícios oferecidos por terceiros, nas chamadas atividades-meio

7 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. p. 427

14

daquelas intituladas empresas tomadoras de serviços, sendo estes serviços nas

áreas de limpeza e segurança regulamentados pelas Leis 6.019/74 e 7.102/83,

respectivamente.

Ao longo dos anos, o segmento privado da economia nacional passou

a incorporar, crescentemente, práticas de Terceirização da for à de trabalho. Na

jurisprudência trabalhista muito se tem falado sobre este tema, principalmente nos

anos 80 e 90, nesse contexto o Tribunal Superior do Trabalho editou duas

súmulas para uniformização da jurisprudência, súmula 256 de 1986 e a súmula

331 de 1993, sendo esta última uma revisão da anterior. Tem-se hoje a clara idéia

de que o processo de Terceirização tem produzido transformações

inquestionáveis no mercado de trabalho e na ordem jurídico trabalhista pátrio.

A Terceirização é um método de contratação de uma empresa para

realizar a atividade-meio doutra. Isto, para que a contratante intensifique o foco na

atividade-fim. Constitui, igualmente, uma forma de parceira entre a prestadora e a

tomadora, , pois o primeiro ajudará no aperfeiçoamento da atividade-meio, a qual,

nem sempre guarda o conhecimento necessário a execução.

Ato contínuo, esta parceria ainda irá gerar uma redução de custo, pois

o tomador poderá reduzir a quantidade de postos de serviço – economizando,

assim, com aspectos organizacionais, como: a contratação, o treinamento e a

manutenção deste trabalhadores e a consectário desoneração da folha de

pagamento, através da redução de encargos sociais e trabalhistas. Em certas

ocasiões, para que esta contratação ocorra muitos são despedidos, mas a

empresa contratada na maioria das vezes possui o piso salarial inferior ao que o

tomador pagaria de forma direta, gerando, talvez, mais emprego do que se o

serviço fosse executado de forma direta.

Contudo, na realidade esta redução não significativa, pois a empresa

prestadora do servi o também terá custo com esta prestação, mas o seu preço,

em grande maioria, é menor do que se o próprio empregador, sem que fosse sua

atividade-fim, executasse este tipo de serviço.

15

CAPÍTULO II

LEGALIDADE E FORMAS DE TERCEIRIZAÇÃO

Primeiramente, faz-se necessário que se diga que, não existe norma

que vede a contratação de serviços por terceiros, uma vez que o próprio Artigo

170 da Carga Magna brasileira consagra o princípio da Livre Iniciativa,

demonstrando serem lícitos quaisquer serviços que pode ser verificado também

no Código Civil ao se tratar da locação de serviços, conforme Artigo 593 a 609 e

da empreitada - Artigo 610 a 626, pois os prestadores de serviços pagam

impostos.

Há hipotética possibilidade dos processos de descentralização que se

tem atualmente, seja uma forma de retorno ao sistema de locação de serviços de

empreitada a que se referia o Direito Civil, mas com outro título por causa da

grande competitividade.

Os atos jurídicos dividem-se em lícitos e ilícitos afastando-se de início a

ideia de que o ato jurídico não seja ilícito, pois o consideramos como parte da

categoria de atos jurídicos, sem considerar o sentido intrínseco da palavra, pois o

ilícito não pode ser jurídico. Atos jurídicos meramente lícitos são os praticados

pelo homem sem intenção direta de ocasionar efeitos jurídicos.

A Terceirização é lícita porque toda espécie de trabalho lícito, material

ou imaterial pode ser contratado mediante retribuição.

A Terceirização legal é feita na atividade-meio e a ilícita é realizada na

atividade-fim.

Para que a Terceirização tenha validade no âmbito empresarial não é

possível que se haja indícios, elementos de uma relação de emprego,

principalmente o elemento subordinação, em relação a empresa tomadora de

serviços.

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O tomador de serviços não poderá ser considerado um superior

hierárquico, não podendo haver o conceito de vínculo empregatício, do qual se

vislumbra do Artigo 3º da Consolidação.

Certa é que a Terceirização consiste numa parceria entre empresas,

com a divisão dos serviços e com responsabilidade individual.

A prestadora de serviços terá subordinação jurídica, pois é ela quem

admite, demite, transfere e dá ordens. Assim, cabendo a tomadora de serviços a

subordinação técnica, vez que ela quem dirá como deve ser realizado o serviço,

principalmente se este for realizado em suas dependências.

Mas o funcionário que estará realizando a atividade não poderá realizar

uma atividade essencial para aquela empresa, senão poderá ser comprovada a

ilegalidade da descentralização dos serviços, pois se caracterizará a

subordinação e pessoalidade com o tomador de serviços.

Imperioso se faz, inclusive, analisar se a empresa prestadora de

serviços possui sede própria, pois se o funcionário trabalhar no mesmo lugar de

trabalho, no mesmo horário diariamente, prestando servi os exclusivos ao

tomador de serviços, não se caracterizará a Terceirização e, sim, um contrato de

trabalho.

Por isso a importância de o obreiro prestar serviços de forma eventual

na empresa tomadora de serviço.

A Terceirização ilícita implica a locação permanente de serviços, o

fornecimento de mão-de-obra mais barata, com redução de salário e

desvirtuamento da relação de emprego, e também a escolha de parceiros

inadequados, quando inidôneos financeiramente.

Entretanto, na Terceirização legal, a empresa dedica-se a um número

menor de atividades, havendo menor desperdício no processo de produção,

deixando de lado a mão-de-obra que não é essencial para a sobrevivência da

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empresa, diminuindo custos, porém sem existir a relação de emprego, já que a

subordinação não se encontra presente.

As situações típicas de Terceirização lícita são as apresentadas na

Súmula 331 do TST que abordaremos a seguir.

2.1 – TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR PÚBLICO

A terceirização de serviços na Administração Pública tem crescido

assustadoramente nos últimos anos. Seu crescimento deve-se em parte à

necessidade de redução dos quadros de pessoal do Estado. Em função disto, a

terceirização utilizada pelo governo apresenta uma característica peculiar que a

distingue da terceirização privada.

Ocorre que o arcabouço legislativo não abarca todas as formas de

terceirização. O Poder Executivo dispõe do Decreto nº 2.271/97 que menciona as

atividades que podem ser terceirizadas. Os demais poderes continuam sem

regulamentação, recorrendo, quando necessário, aos Termos de Ajuste de

Conduta.

Tema controverso, a terceirização tem sido cada vez mais, discutida

não só por aqueles que fazem parte da administração pública, mas também por

estudiosos e interessados nas relações trabalhistas entre a administração pública

que contrata e a empresa contratada para fornecer a mão-de-obra terceirizada.

Alguns críticos da terceirização veem-na com um instituto que possibilita a burla,

pelo contratante, da obrigatoriedade da realização de concurso público.

Deste modo, surgiram duas vertentes principais: a limitação da

participação do Estado nas atividades econômicas e a terceirização das

atividades não-produtivas, mesmo que públicas.

Logo, a possibilidade de transferir atividades secundárias a outras

pessoas mais competentes pareceu bem mais lucrativa ao Estado, que poderia

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reduzir o déficit estatal através da diminuição de custos. Entretanto, houve uma

necessidade de normas jurídicas reguladoras para evitar casos de corrupção;

afinal, a possível terceirização de mão-de-obra favoreceria o nepotismo e as

nomeações públicas, contrariando a legislação trabalhista.

Tomando por base o Artigo 37 da CRFB, conclui-se que o concurso

público é exigido em todas as fundações e empresas ligadas ao governo. Com

isso, surgem diversas indagações quanto à licitude da terceirização, que só foi

estabelecida pelo Decreto-Lei 200/67, nos ditames do Artigo 10, §7º.

Ao propor a descentralização, a norma tinha a intenção de evitar que a

máquina se agigantasse descontroladamente e que, desincumbida das atividades

acessórias, desenvolvesse suas atividades-fim com eficiência, eficácia e

economicidade.

Assim, finalmente, tornou-se incontestável a possível substituição do

Estado pela entidade privada em atividades acessórias. Posteriormente, a Lei nº

5.645/70 veio especificar, minuciosamente, as funções que poderiam ser

exercidas por terceirizados na Administração Pública.

Com a regulamentação desse processo, vieram as obrigações dos

órgãos públicos, que vão desde a escolha da empresa prestadora de serviço à

fiscalização destas quanto ao cumprimento da lei trabalhista.

Inicialmente, para a escolha da empresa e obtenção de menor custo,

abre-se licitação a fim de estudar detalhadamente cada possibilidade. Nesta

etapa, verifica-se se os funcionários que irão exercer os ofícios delimitados têm

todos os direitos trabalhistas respeitados. Para isso, o órgão pode organizar uma

comissão para inspecionar documentos e dados da empresa na tentativa de

assegurar a legitimidade das informações. Desse modo, caminha-se para o

fechamento de contrato segundo a concessão, permissão ou autorização.

De acordo com o inciso II, do art. 2º da Lei nº 8.987/95, concessão de

serviço público é a delegação de sua prestação, feita pelo poder concedente

segundo licitação, na modalidade de concorrência, a pessoa jurídica ou consórcio

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de empresas que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e

risco e por prazo determinado; ou seja, concessão é um acordo administrativo

onde o Estado passa a outrem a realização de obra pública de modo que este

feito seja de total responsabilidade da empresa escolhida. Normalmente, o capital

destinado ao pagamento deste serviço está diretamente relacionado com os

possíveis lucros provenientes desta obra.

Permissão, por outro lado, é um pacto administrativo parcial, arbitrário

e gratuito, por tratar-se de um serviço que exigiria um enorme gasto público.

E, finalmente, autorização partiria do mesmo princípio da permissão,

com o diferencial da delegação do serviço ao particular de exploração.

O desrespeito de qualquer uma dessas normas implica, para o órgão

público, em anulação do contrato, punição da autoridade responsável e multa. Já

a empresa privada é punida com o fim do contrato e com a retenção de 11% de

seu faturamento. Este preceito é válido também para os órgãos que passam a ver

a terceirização como um substituinte dos concursos públicos, sendo fundamental

lembrar que os concursos públicos continuam sendo exigidos em caso de

contratação de mão-de-obra destinada a atividade-fim.

Aos órgãos que descumpriram a finalidade da terceirização,

descentralizando serviços característicos de suas atividades próprias do quadro, o

Tribunal de Contas da União determinou a substituição dos servidores

terceirizados por outros aprovados em concurso público.

O motivo por tamanha incidência de irregularidades quanto aos

terceirizados se deve pelo fato que a dependência das parcerias se tornou tão

intensa que o cumprimento exato e total da lei poderia provocar uma interrupção

no funcionamento do Estado.

Assim sendo, a única solução encontrada foi a negociação que resultou

em uma meta anual de trocas por funcionários concursados.

20

Torna-se necessário, por fim, expor a origem de tais atitudes. Segundo

o Decreto nº 2.271/97, aplicável à administração direta, autárquica e fundacional,

a terceirização é legítima desde que não implique a execução de atividades

inerentes aos quadros próprios dessas entidades.

2.1.1 – Desverticalização na área da Saúde

Depreende-se que quando da elaboração da atual Constituição

Brasileira, avaliou-se que, a execução de serviços de saúde seria atividade-meio,

pois esta prevê legalmente a terceirização de parte dos serviços de saúde, onde

chamamos de Sistema Único de Saúde - SUS, conforme podemos perceber da

inteligência dos Artigo 197 e 199 desta Carta Magna:

Sob este prisma, em seus sábios saberes a Douta Maria Sylvia Zanella

Di Pietro, diz o que se transcreve abaixo:

A Constituição fala em contrato de direito público e em convênio. Com relação aos contratos, uma vez que necessariamente deve ser afastada a concessão de serviço público, por ser inadequada para esse tipo de atividade, tem-se que entender que a Constituição está permitindo a terceirização, ou seja, os contratos de prestação de serviços tendo por objeto a execução de determinadas atividades complementares aos serviços do SUS, mediante remuneração pelos cofres públicos. Trata-se dos contratos de serviços regulamentados pela Lei nº 8.883, de 8-6-94. É importante realçar que a Constituição, no dispositivo citado, permite a participação de instituições privadas ‘de forma complementar’, o que afasta a possibilidade de que o contrato tenha por objeto o próprio serviço de saúde, como um todo, de tal modo que o particular assuma a gestão de determinado serviço. Não pode, por exemplo, o Poder Público transferir a uma instituição privada toda a administração e execução das atividades de saúde prestadas por um hospital público ou por um centro de saúde;

Quando se trata de terceirização, normalmente as cooperativas são as

escolhidas, ou seja, saem na frente, pois têm menor carga tributária e por sua via,

menores custos, como podemos depreender da Lei Nº 5.764, quando trata que a

21

ação se exercerá, principalmente, mediante prestação de assistência técnica e de

incentivos financeiros e creditórios especiais, necessários à criação,

desenvolvimento e integração das entidades cooperativas.”

Como podemos observar em planilha abaixo, as Cooperativas de

serviços saem na frente, quando o assunto é preço.

Encargos Diretos CLT (%) Cooperativa (%) INSS (Empresa) 20,0 0 Sat. ( Seg. acid. Trabalho ) 3,0 0

FGTS 8,0 0 13o sal. (apropriação mensal ) 8,33 0

Férias ( apropriação mensal ) 11,11 0

Fundos Administrativos 0 30,00 Sub-Total 50,44 30,00 Verbas Rescisórias 40% do FGTS 3,2 0 Aviso Prévio 8,33 0 Sub-Total 11,53 0,00 Total Aproximado 61,97 30,00

Cabe ressaltar que não há relação de trabalho entre os colaboradores

da prestadora, principalmente, quando se trata de cooperativas, conforme dispõe

a Lei Nº 5.764/71.

O Tribunal de Contas do Estado é que goza de competencia prevista

na CRFB para autorizar ou embargar. Contudo, a grande maioria destes aceita

sob a ótica de que: tendo em vista as notórias deficiências na área de saúde

pública – além da observância do princípio da eficiência, consagrado no Artigo 37,

caput, da CRFB.

O Ilustre Mestre Cezar Miola em suas lições diverge do entendimento

dos Tribunais, quando diz que: “O interesse público não tem, necessariamente,

como sinônimo, a atuação privativa da Administração, incumbindo a esta,

precipuamente, ser a grande catalisadora, a gestora das práticas de interesse

22

comum, afastada a conduta paternalista e solidificando-se sua atuação ética e

socialmente comprometida, sem necessariamente ser exclusiva.”

Deve-se tomar por conclusão, então, que a execução de parte dos

serviços de saúde pública, não é uma prática ilícita, e, sim, uma estratégia do

gestor público. Isto, sobretudo em tempos de crise, pois diminui o custo e

aumenta a qualidade dos serviços, destaca-se que o assunto deve ser visto, com

responsabilidade e que apenas, parte dos serviços públicos, pode ser terceirizada

conforme mencionado anteriormente, mais não se deve terceirizar atividades que

já possuam vagas criadas por lei, pois tal atitude terá consequências, como incidir

no limite de gastos com pessoal e problemas com o ministério público. Por fim,

se o gestor optar por tal solução, recomenda-se que os serviços contratados

sejam feitos por meio de licitação pública, conforme preceitua a lei 8.666/93. 8

2.1.2 – Desverticalização na Coleta de Lixo

As discussões acerca do tema tem se acalorado ao longo dos anos

sobre a legalidade da terceirização, pela administração pública, dos serviços de

coleta de lixo.

Não é escopo desta pesquisa se aprofundar no tema em voga, mesmo

que contratado por meio de licitação.

O ideal é o de fundamentar a constitucionalidade e a legalidade da

gestão compartilhada de resíduos sólidos recicláveis entre Municípios e

organizações de catadores de materiais recicláveis, com dispensa do

processo licitatório e, mais, como obrigação do poder público, responsável que

é pela fiel observância dos preceitos legais.

8 MAIOR, Jorge Luiz Souto. Terceirização na administração pública: uma prática inconstitucional. Boletim Científico da Escola Superior do Ministério Público da União.

23

Os serviços de limpeza pública, dentre os quais se destacam os

serviços de coleta do lixo, são extremamente dispendiosos aos cofres públicos,

em especial quando tais serviços são terceirizados.

Poucas são as empresas prestadoras de serviços de coleta que hoje

atuam no mercado, de sorte que se pode falar em um “quase monopólio” da

atividade. As grandes empresas quase sempre são vencedoras dos processos

de licitação e as de pequeno porte nem sonham em vencer a concorrência

quando se trata da coleta do lixo em grandes capitais ou grandes municípios.

É de conhecimento notório que os catadores realizam a coleta de

material reciclável de maneira absolutamente informal, sendo raros os casos

em que a Administração Pública lhes dá o merecido reconhecimento,

integrando-os através da participação efetiva nos serviços de coleta.

Normalmente, aos catadores são direcionadas apenas ações de cunho

assistencialista, como fornecimento de cestas-básicas, que apenas amenizam a

situação de miséria, sem modificação do status quo.

Público e notório o envolvimento de milhares e milhares de crianças e

adolescentes na atividade de coleta do lixo, auxiliando os pais e contribuindo

para a complementação da renda familiar.

Porém, conforme se extrai do artigo 227 da Carta Magna, bem como

da regulamentação dada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, não só à

família, como também ao Estado, compete a garantia e promoção dos direitos da

criança e do adolescente. Ora, se para a promoção e garantia de tais direitos

são necessárias medidas que impliquem na melhoria das atuais condições

da família (que, repita-se, é bem constitucionalmente tutelado) e, ainda, se é

possível fazê-lo através de efetiva inclusão social e combate à miséria

(emancipação social), uma vez mais justifica-se a inserção dos catadores nos

planos de gestão de resíduos sólidos como forma de incrementar as condições

de renda, trabalho e vida, com o que as crianças e adolescentes poderiam

ser afastados do trabalho degradante, insalubre e perigoso, permanecendo na

escola e se preparando para o futuro. Assim, a inclusão social dos

24

catadores, mediante a forma sugerida, conduz a este objetivo importante e

do qual ninguém pode se apartar, que é a preservação dos direitos da criança e

do adolescente.

A Lei Orgânica da Assistência Social, hierarquicamente superior à Lei

de Licitações e no mesmo plano de igualdade da Lei de Responsabilidade

Fiscal, regulamenta o Artigo 226 da Constituição Federal, traçando as medidas

e ações necessárias para possibilitar o cumprimento dos seus princípios e

objetivos fundamentais, da mesma forma que o Estatuto da Criança e do

Adolescente (Lei 8069/90) torna exequível o princípio da prioridade absoluta

insculpido no artigo 227 da CRFB. Ambas devem ser igualmente respeitadas e

executadas pelo Poder Público, prevalecendo sobre quaisquer outras questões

em razão dos dispositivos constitucionais já citados.

Por argumentação e para suplantar a insistência na tese de

impossibilidade de contratação direta das organizações de formadas por

catadores de materiais recicláveis em razão da Lei de Licitações, buscamos nesta

mesma lei argumentos que tornam lícita a contratação de organizações formais

de catadores de materiais recicláveis pelo Poder Público.

Por tudo quanto relatado claro está que, apenas mediante a gestão

compartilhada dos resíduos sólidos com a organização dos catadores de

materiais recicláveis, está garantido o desenvolvimento local sustentável, o que

por si só torna o trabalho dos catadores essencial e indiscutivelmente mais

adequado do que qualquer outra alternativa. Ignorar essa verdade absoluta

põe em dúvida a seriedade e a legitimidade do administrador público.

Releva mencionar que a exigência de licitação prévia para

contratações na Administração Pública tem como fundamento a supremacia

do interesse público. Como bem aponta o Professor Marçal Justen Filho (in

Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos), casos há em

que a licitação formal impossibilita ou frustra a consecução dos interesses

públicos, onde o procedimento licitatório normal conduziria ao sacrifício do

interesse público e não asseguraria a contratação mais vantajosa.

25

Tal ilação conduz ao afastamento da aplicabilidade da Lei de

Licitações, portanto, concluímos que a contratação direta, sem a prévia

licitação, de organizações formadas por catadores de materiais recicláveis,

assim como a destinação de todo o volume de resíduo reciclável – incluindo os

bens tidos em “desuso” – que são produzidos e descartados nas unidades

administrativas de natureza pública – direta ou indireta, não apenas é uma

faculdade conferida ao Poder Público, mas uma obrigação que encontra

amparo em instrumentos jurídicos internacionais, expressamente ratificados

pelo Governo Brasileiro, em especial a Declaração Universal dos Direitos

Humanos, A Declaração das Nações Unidas Rev. TRT - 9ª R., Curitiba, a. 31,

n.56, Jan./Jun. 2006 sobre os Direitos da Criança e os compromissos

contemplados na Agenda 21.

Referida obrigação está ainda alicerçada em preceitos constitucionais,

com destaque para os princípios e objetivos fundamentais da República

Federativa do Brasil (artigos 1° e 3°) e Artigos 225, 226 e 227 da Constituição.

Encontra, ainda, amparo no que dispõe a Lei Orgânica da Assistência

Social e no Estatuto da Criança e do Adolescente, já que ao Poder Público está

cometida a tarefa de executar ações de promoção e garantia de direitos, em

especial da população marginalizada e excluída.

Por fim, em razão do indiscutível interesse público no que se refere

à inclusão social dos catadores através da contratação direta de suas

organizações para a gestão compartilhada dos resíduos sólidos, dispensável e

inexigível o processo licitatório prévio, na forma dos artigos 24 e 25 da Lei

8666/93.

Como visto, qualquer argumentação de impossibilidade legal da

emancipação das famílias que sobrevivem da coleta do material reciclável

através da contratação direta de suas organizações pelo Poder Público para a

gestão dos resíduos sólidos recicláveis, com total apoio técnico e financeiro,

falece diante dos inúmeros argumentos aqui retratados e que reafirmam o

compromisso do planeta com os valores humanos, o combate à

26

desigualdade social, à erradicação da pobreza, o desenvolvimento local

sustentável e a preservação do meio ambiente.9

2.1.3 – Desverticalização no Petróleo

Na indústria do petróleo o termo mais utilizado para caracterizar essa

forma de contratação é o da subcontratação. Apenas recentemente o termo

terceirização passou a ser utilizado conjuntamente com o de subcontratação.

Para Reinecke, é possível distinguir duas categorias principais em

relação à subcontratação: a de produção de bens e serviços e a de trabalho. No

caso da produção de bens e serviços, a empresa desenvolve a tarefa utilizando

os seus recursos humanos, materiais e financeiros, enquanto, que, no segundo

caso, o principal objetivo da relação contratual é o fornecimento de mão-de-obra.

Da mesma forma que para Lallier, na indústria de processo continuo

prevalece a subcontratação da atividade, ou seja, é essencialmente uma

subcontratação de mão-de-obra. Neste caso, o investimento por parte dos

subcontratados é praticamente nulo. Na indústria do petróleo o termo mais

utilizado para caracterizar essa forma de contratação é o da subcontratação.

Apenas recentemente o termo terceirização passou a ser utilizado conjuntamente

com o de subcontratação.

Dando continuidade as lições de Reinecke, é possível distinguir duas

categorias principais em relação à subcontratação: a de produção de bens e

serviços e a de trabalho. No caso da produção de bens e serviços, a empresa

desenvolve a tarefa utilizando os seus recursos humanos, materiais e financeiros,

enquanto, que, no segundo caso, o principal objetivo da relação contratual é o

fornecimento de mão-de-obra.

Da mesma forma que para Lallier, na indústria de processo continuo

prevalece a subcontratação da atividade, ou seja, é essencialmente uma

9 CARVALHO, Margaret Matos. Revista do TRT - 9ª Região, Curitiba, a. 31, n.56, Jan./Jun. 2006

27

subcontratação de mão-de-obra. Neste caso, o investimento por parte dos

subcontratados é praticamente nulo.

Além disso, a contratante conduz as subcontratadas a concorrerem

pelo contrato e pelo menor preço. A subcontratada, para ter chances de ganhar a

concorrência, será forçada a pagar menores salários e oferecer um menor

número de garantias sociais.

A indústria do petróleo apresenta algumas especificidades; no

segmento inicial de exploração e produção, a subcontratação de mão-de-obra

prevalece, em comparação com as operações de refino, nas quais o mais habitual

é a subcontratação de obras e serviços.

O avanço do processo de terceirização para áreas até então

consideradas nobres (manutenção e operação) coincide com a

desregulamentação do setor e com a adoção de um novo modelo de organização

por parte da Petrobras. Este novo modelo, segundo o Dieese, implantado em

outubro de 2000, dividiu a empresa em quatro áreas de negócios – Exploração e

Produção (E&P). Abastecimento, Gás e Energia, Internacional – duas áreas de

apoio – Financeiro e Serviços – e as unidades corporativas, ligadas diretamente

ao Presidente da empresa. Abaixo dessa estrutura foram criadas 40 unidades

vinculadas às áreas de negócio, com mais autonomia nas decisões e

independência para administrar orçamento e investimento. Ao mesmo tempo em

que gestores ganharam mais autonomia em relação a seus orçamentos,

passaram a ser avaliados/ remunerados de acordo com os resultados obtidos.

Nesse sentido, foram se formulando soluções mais fáceis, nas quais a

terceirização com precarização das relações de trabalho aparece como estratégia

para redução de custos, tornando-se a prática mais adotada. Se, num primeiro

momento, concentrou-se em serviços altamente especializados, em uma segunda

etapa, expandiu-se para praticamente todos os segmentos da atividade. A

novidade é a generalização desta prática em setores até então considerados

estratégicos. Dentre os setores terceirizados na Petrobras, podemos destacar:

Alimentação, Análise laboratorial, Almoxarifado, Cimentação e complementação

28

de poços, Montagem e construção de projetos, Informática, Limpeza predial,

Manutenção (predial, mecânica, caldeiraria, soldagem, elétrica, instrumentação,

refratários, isolamentos térmicos e de inspeção de equipamentos), Movimentação

de cargas, Perfuração e perfilagem de poços, Operação de sondas, Serviços

médicos e administrativos, Transporte, Utilidades e vigilância.

Além disso, a contratação de prestadoras de serviços pode servir para

inúmeras finalidades, desde trabalho por obra certa ou empreitada em que há

uma previsão de conclusão do contrato de prestação de serviços, até atividades

de caráter permanente. Analisando os processos no TST verificou-se que vários

deles se referem às empresas contratadas por obra certa e dessa forma a

Petrobras não foi condenada subsidiariamente. Contudo, a maioria dos processos

diz respeito ao descumprimento de obrigações trabalhistas por empresas que

prestam serviços de forma permanente.

Recentemente foi identificada uma nova modalidade de contratação de

prestação de serviços pela Petrobras, os contratos de facilities. Nessa modalidade

as prestadoras são contratadas para entregar o serviço pronto. Por exemplo, ao

contratar uma empresa de limpeza, a mesma se responsabilizará pelo

fornecimento de todo material utilizado e pelo pessoal, e em caso de serviços de

manutenção, a empresa prestadora de serviços fornecerá as ferramentas e

pessoal. Os contratos com as prestadoras de serviços já estão sendo renovados

através dessa modalidade. A justificativa para isso, segundo a dirigente do

Sindicato Unificado de São Paulo, Marbe Noguerino, é de que a Petrobras não

quer responder subsidiariamente quando a prestadora de serviços não cumpre

com suas obrigações trabalhistas.

A Petrobrás ultrapassou todos os limites sobre a prática de

terceirização, já que áreas consideradas estratégias como o setor de compras,

material para análise, estão sendo terceirizados. No setor de análise de amostras

80% são terceirizados. Estes convivem lado a lado com os efetivos,

desempenhando as mesmas tarefas e com o mesmo grau de responsabilidade.

29

A empresa também se posiciona em relação ao tema, apontando e

propondo possíveis diretrizes para legislação: foco em contratação de serviços;

preservar as competências estratégicas na companhia quando da decisão sobre

contratar; contratar serviços na medida da necessidade da companhia e

disponibilidade do mercado e seu fomento/desenvolvimento; incluir atividades

executadas internamente; otimizar utilização de recursos próprios e de terceiros;

basear a contratação de serviços na competitividade dos negócios; explicitar

áreas de capacitação permitidas; incluir no instrumento contratual mecanismos

para impedir a precarização do trabalho e vincular pagamento de faturas

condicionado ao cumprimento das obrigações trabalhistas, previdenciárias e

fundiárias e responsabilizar subsidiariamente a contratante; incluir mecanismos

para impedir ingerência nas empresas contratadas; assegurar o cumprimento das

exigências de segurança, meio ambiente, saúde e responsabilidade social na

execução de serviços contratados; monitorar custos e resultados empresariais,

incluindo a capacidade técnica dos profissionais; estimular desenvolvimento de

profissionais; considerar as novas tecnologias e seus impactos nas relações entre

contratante e contratada; práticas de gestão empresarial abrangendo empregados

de prestadoras sem estabelecimento de vinculo.

A negociação coletiva com empresas terceirizadas enfrenta muitas

dificuldades. O fato do tomador do serviço (no caso a Petrobras) não participar

das negociações facilita o jogo de empurra-empurra na questão dos preços

praticados. Do lado das empresas terceiras, a alegação é de que a política de

contratação da Petrobras pelo menor preço, assim como a curta duração dos

contratos, dois anos em média, contribuem para inviabilizar/ desmotivar uma

política de qualificação dos trabalhadores e restringem as possibilidades de

melhoria das condições/relações de trabalho.

Há dificuldades também na questão da representação sindical. Nem

sempre é possível ter claro quem deve representar os trabalhadores terceirizados,

o que também facilita para a empresa escolher se negocia e com quem o faz. É o

caso da imensa maioria das empresas terceirizadas que atuam em atividades

meio ou ainda com contratos temporários.

30

Em relação às prestadoras de serviços não há cláusulas mais

avançadas na relação capital-trabalho, mas tão somente o fornecimento de

relação mensal de sindicalizados.

Quanto às jornadas de trabalho é de difícil controle e mudança, uma

vez que as empresas utilizam o chamado regime misto – parte em terra, parte

embarcado – dificultando a prática das folgas necessárias.

Um diferencial dessas terceirizadas analisadas do restante das

empresas que prestam serviços nos país está na remuneração da hora extra, que

corresponde a 100% da hora normal.

Com o advento da terceirização de diversos serviços nesta atividade,

principalmente durante o governo Fernando Henrique, a própria Petrobras,

visando cortar seus custos operacionais, impôs uma série de restrições aos

contratos firmados com essas empresas restringindo direitos conquistados pelos

trabalhadores junto à própria Petrobras.

Um dos principais reflexos da terceirização é a ausência de

representatividade sindical. Os trabalhadores são impedidos de se organizarem

em sindicatos e em CIPAs para reivindicarem seus direitos e discutirem sobre seu

ambiente de trabalho e segurança. Alguns que se aventuram são ameaçados com

demissão. Existem vários ramos de atividade em que empresas contratadas

atuam. Aquelas que têm o foco em atividades fins e que são representadas pelos

sindicatos filiados à FUP conseguem melhorar sua realidade em função da luta

organizada pela Federação, que com a construção de greves nacionais

históricas, como a de 34 dias na Sotep, greve de parada de produção em

plataformas marítimas, conseguem ganhos reais, pacotes de benefícios

diferenciados, além de conquistas como PCAC (Plano de Carreira), PLR, entre

outras.

Um dos principais reflexos da terceirização é a ausência de

representatividade sindical. Os trabalhadores são impedidos de se organizarem

em sindicatos e em CIPAs para reivindicarem seus direitos e discutirem sobre seu

ambiente de trabalho e segurança. Alguns que se aventuram são ameaçados com

31

demissão. Existem vários ramos de atividade em que empresas contratadas

atuam. Aquelas que têm o foco em atividades fins e que são representadas pelos

sindicatos filiados à FUP conseguem melhorar sua realidade em função da luta

organizada pela Federação, que com a construção de greves nacionais

históricas, como a de 34 dias na Sotep, greve de parada de produção em

plataformas marítimas, conseguem ganhos reais, pacotes de benefícios

diferenciados, além de conquistas como PCAC (Plano de Carreira), PLR, entre

outras.

A terceirização só pode ser admitida em áreas em que a Petrobras

comprovadamente não possui especialização ou conhecimento, e nas áreas de

trabalho temporário, como construção civil.

Conclui-se, então, que a terceirização só pode ser admitida em áreas

em que a Petrobras comprovadamente não possui especialização ou

conhecimento, e nas áreas de trabalho temporário, como construção civil.

2.2 TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR PRIVADO

No setor privado, As empresas utilizavam-se desse recurso

simplesmente para obter algumas economias em gerar ganho de qualidade,

eficiência, especialização, eficácia e produtividade.

As pequenas e médias empresas mais ágeis, e percebendo o momento

de mudança, aproveitaram-se da situação e começaram a conquistar parcelas

significativas do mercado. Mas logo, as grandes organizações tiveram que, neste

momento, buscar novas saídas que as colocassem novamente no mercado de

forma competitiva.

A partir daí, passou-se a transferir para terceiros a incumbência pela

execução das atividades secundárias. Surge então o outsourcing, expressão em

32

inglês, que significa terceirização, referenciado sempre pela concepção

estratégica de implementação10.

Para o estudo do tema terceirização é preciso se reportar aos

conceitos de emprego e empregador para que se elabore exclusão, os limites

jurídico-trabalhistas da chamada relação.

Conforme o Artigo 2° da CLT: “considera-se empregador a empresa

individual ou coletiva que, assumido os riscos da atividade econômica, admite,

assalaria e dirige a prestação pessoal de serviços.”

Segundo o Artigo 3° da CLT : “considera-se empregado toda pessoa

física que prestar serviço de natureza não eventual a empregador, sob a

dependência deste mediante salário. Dessa definição legal, obtêm-se quatro

requisitos para a caracterização do empregado: É necessário ser pessoa física

(pessoalidade), não-eventual (não eventualidade da prestação), ser subordinado

(dependência hierárquica), receber salário (remuneração) e prestar os serviços

pessoalmente (contrato intuitu personae).

No entanto a terceirização tem sido definida como sendo um processo

planejado de transferência de atividades delegadas para terceiros (empresas

terceirizante ou contratada), ficando a empresa concentrada apenas em tarefas

essencialmente ligadas ao negócio em que atua.

Nas lições de Sergio Pinto Martins11, a terceirização “consiste a

terceirização na possibilidade de contratar terceiro para a realização de atividades

que não constituem o objeto principal da empresa”. Essa contratação pode

envolver tanto a produção de bens como serviços, como ocorre na necessidade

de contratação de serviços de limpeza de vigilância ou até de serviços

temporários.

10 GIOSA, Lívio Antônio. Terceirização: uma abordagem estratégica. São Paulo: ed. Pioneira, 1997. 11 MARTINS, Sérgio Pinto. A Terceirização e o direito do trabalho. São Paulo. Atlas, 2001.

33

Em um estudo realizado pelo Ministério do trabalho e Emprego,

(Terceirização: trabalho temporário: orientação ao tomador de serviços:12

terceirização é a contratação de serviços por meio de empresa, intermediária

entre o tomador de serviços e a mão-de-obra, mediante contrato de prestação de

serviços, e não diretamente com o contratante destes.

Segundo Robortella (1999, p.34), “é possível vislumbrar-se, em tese, a

diferenciação entre as atividades-fim e as atividades-meio da empresa tomadora

dos serviços terceirizados”. Não há, entretanto, critério absolutamente seguro

para diferenciação dessas atividades, e tal ponto de o critério tornar-se

determinante no que tange à responsabilidade das empresas na intermediação de

mão-de-obra. Na realidade, tais conceitos não são conceitos jurídico- trabalhistas.

São conceitos inerentes à atividade empresarial, que hoje conta com uma

especialização tecnológica em suas necessidades, praticamente alheia ao Direito.

Na dinâmica empresarial, em questão de pouco tempo a atividade-meio pode

converter-se em atividade-fim e vice-versa.

Por outro lado, a doutrina formulada em compasso com a orientação

consagrada no Enunciado nº 331 do TST (Tribunal Superior do Trabalho) procura

explicar o assunto diferenciando atividades-fim e atividades-meio segundo a

essencialidade ou não dos serviços da empresa tomadora dos serviços

terceirizados. Em simples palavras, as atividades que integram o objeto social de

uma empresa indicam sua atividade-fim, enquanto que as atividades que não

integram o objeto social são consideradas atividades-meio.

No Brasil existem várias normas e leis tratando do assunto

terceirização de forma genérica, e na grande maioria há uma grande proteção do

trabalhador no que se refere aos direitos trabalhistas.

As experiências iniciais de aplicação da terceirização trouxeram

dúvidas em relação à sua conceituação jurídica, trabalhista e legal para as

empresas.

12 Vera Olímpia Gonçalves. – Brasília: TEM, SIT, 2001, p. 31.

34

O processo de terceirização é amplamente regulado pela lei 6.019/74 e

pelo Decreto-Lei n° 73.841//74, legalmente permitidos nas áreas de limpeza e

segurança.

Conforme depreende Giosa, o fato de o governo, através de seu órgão

do Ministério do Trabalho – ainda não ter se posicionado oficialmente a respeito

da terceirização e suas relações trabalhistas envolvidas, inspira dúvidas, e às

vezes inibe as decisões dos empresários mais conservadores. Neste sentido

Queiroz (1998) aponta vários riscos legais que comprometem o tomador de

serviços quando a terceirização é erroneamente implantada. O principal deles é o

vínculo empregatício caracterizado nos artigos 2° e 3° da CLT, que em linhas

gerais dizem, respectivamente, “é empregador aquele que dirige a prestação de

serviço” e que “é empregado aquele que tem com o contratante um relação de

pessoalidade, habitualidade, onerosidade que se traduzem em subordinação e

dependência”.

O Tribunal Superior do Trabalho editou o Enunciado de Súmula n° 256

que representa o entendimento da Justiça do trabalho sobre a legalidade dos

contratos de prestação de serviço, que pouco contribuiu para a flexibilização

referente dos mesmos.

Por sua vez, o Enunciado de Súmula n° 331 ampliou substancialmente

a liberdade em se terceirizar. Editado em 1993, veio na esteira da modernidade

em nível de relações do trabalho. Na década de noventa, ganhava espaço a tão

criticada ou aclamada globalização. Junto a ela, inúmeras formas de

aglomerações trabalhistas passaram a surgir no mundo todo.

O Brasil forçado a buscar o seu lugar do mundo globalizado aderiu

quase que sistematicamente a alguns novos institutos como a terceirização.

Assim o Enunciado n° 331 consagrou-se como uma tendência

flexibilizadora, viabilizando a terceirização nos serviços de vigilância (Lei n°

7102/83), nos serviços de conservação e limpeza e em outros tipos de serviços

especializados ligados à atividade-meio do tomador, desde que inexistente a

35

pessoalidade e a subordinação direta (requisitos da relação de emprego

constantes do artigo 3° da CLT).

Novamente, cotejamos uma lição de Pinto Martins para melhor

classificar as áreas terceirizadas: a) atividades acessórias da empresa, como

limpeza, segurança, manutenção, alimentação, entre outras; b) atividades-meio:

departamento de pessoal, manutenção de máquinas,contabilidade; c) atividades-

fim: produção, vendas, transporte dos produtos etc. O mais comum, todavia, é a

terceirização de serviços contábeis, jurídicos e informática.

Uma outra alternativa é o controle sobre terceiros, isso é necessário

quando uma empresa possui muitos parceiros e torna-se difícil administrar essas

relações. É o que alguns denominam de quarteirização, isto é, a terceirização da

terceirização. Essa modalidade vem sendo muito criticada, pois na verdade, é um

desvirtuamento da primeira, já que na segunda fica clara a intenção de ganhar

dinheiro às custas do esforço alheio.

A terceirização como qualquer modelo de gestão apresenta vantagens

e desvantagens para a empresa e devem ser levadas em consideração e muito

bem analisadas.

A principal vantagem sob o aspecto administrativo, seria a de se ter

alternativa para melhorar a qualidade o produto ou serviço vendido e também a

produtividade. Seria uma forma também de se obter um controle de qualidade

total dentro da empresa, sendo que um dos objetivos básicos dos administradores

é a diminuição de encargos trabalhistas e previdenciários, além da redução do

preço final do produto ou serviço.

Adotando a terceirização, a empresa poderá concentrar seus recursos

e esforços na sua própria área produtiva, na área em que é especializada,

melhorando a qualidade do produto e sua competitividade no mercado.

Com isso, pretende-se uma redução de custos, principalmente dos

custos fixos, transformando-os em variáveis, e aumentando os lucros da empresa,

gerando eficiência e eficácia em suas ações, além de economia de escala, com a

36

eliminação de desperdícios. Haverá diminuição do espaço ocupado na empresa,

atividades que antes lhe pertenciam foram terceirizadas, não só de pessoal como

de material, ocorrerá a criação de empregos na terceirizada, um aperfeiçoamento

de mão-de-obra, distribuição de rendas entre os participantes do processo,

concentração de esforços na atividade-fim da empresa, especialização no serviço,

concorrência e produtividade para todo o mercado.

A terceirização ao gerar novas empresas, gera também novos

empregos, e, em contrapartida, aumento de arrecadação de impostos na área de

serviços.

Como desvantagens para o trabalhador, pode-se indicar a perda do

emprego, no qual tinha remuneração certa por mês, passando a incerta, além da

perda dos benefícios sociais decorrentes do contrato de trabalho e das normas

coletivas da categoria e também o custo das demissões que ocorrem na fase

inicial.

Um dos principais riscos da terceirização é contratar empresas

inadequadas para realizar os serviços, sem competência e idoneidade financeira,

pois poderão advir problemas principalmente de natureza trabalhista. Outro risco

é o de pensar a terceirização apenas como forma de reduzir custos, se esse

objetivo não for alcançado, ou no final a terceirização não der certo, implicará no

desprestígio de todo o processo.

Aquele que pretende terceirizar uma atividade de sua empresa deve

acima de tudo buscar qualidade, para que a relação dê certa, deve-se ter

confiança no parceiro, tendo em vista a necessidade de se fazer a escolha correta

na hora de terceirizar.

As empresas estão buscando cada vez mais a modernização com a

finalidade de tornar-se mais apta para enfrentar seus concorrentes, pois a

terceirização é uma tendência atual e irreversível das organizações, que buscam

alcançar maior produtividade, elevar o nível de qualidade e reduzir custos, para

assim sobreviver em ambientes de alta competitividade.

37

O processo de terceirização deve começar através de um

planejamento do que se pretende terceirizar, Portanto é fundamental ter uma

visão estratégica daquilo que pretende fazer dentro de sua empresa.

A terceirização vem a ser um novo estágio entre empresa prestadora

de serviço e a empresa que a contrata, sendo que esta união só irá se concretizar

se as parcerias forem completamente autônomas umas das outras.

Entretanto, ao buscar terceirizar com êxito, deve-se procurar um

parceiro e não apenas um prestador de serviço, adequando suporte às atividades

a ele confiadas. Para tanto, faz-se necessário ter meios de avaliar a capacidade

que esse parceiro tem de oferecer bens e serviços com qualidade desejada.

Observa-se que, dependendo da natureza dos serviços contratados, a

prestação dos mesmos poderá se desenvolver nas instalações físicas da empresa

contratante ou em outro local por ela determinado, sendo que a responsabilidade

pelo pagamento dos débitos trabalhistas e administrar o trabalho realizado por

seus empregados é da empresa de prestação de serviços. (Enunciado n° 331,

TST).

Percebe-se que, em se tratando de contratações legalmente efetuadas,

ocorre o vínculo empregatício unicamente entre a empresa contratada e os seus

próprios empregados, inexistindo, se observadas as condições legais qualquer

responsabilidade entre a empresa contratante e os empregados da empresa

terceirizante.

Definindo o prestador de serviço e para que haja aspecto formal a

relação entre as partes, elaborando assim um contrato de prestação de serviço,

estabelecendo regras de relacionamento, e dando base juridicamente adequada à

relação, com isto, alguns pontos básicos deverão ser observados na

caracterização deste documento como: definir bem, as obrigações e direitos de

ambos (contratante e contratado) bem como atividades fins, porque devem diferir

para que não haja vínculo empregatício; entre as partes deve haver

posicionamento equilibrado para que não haja subordinação de uma parte ou

outra; é bom incluir no contrato uma cláusula prevendo o risco o tomador de vir a

38

ser interpelado judicialmente por uma obrigação trabalhista não cumprida pelo

prestador, nesta mesma cláusula o contratante poderá interpelar judicialmente o

prestador que haja ressarcimento dos prejuízos.

Diante da necessidade de transformações nos meios produtivos, a fim

de economizar e aproveitar melhor os recursos, visando o aumento da

competitividade nas organizações, é que surgem estratégias de gestão, como a

terceirização, implementadas nas mais diversas partes do mundo e setores da

economia.

A terceirização está, hoje, inserida nos conceitos da administração,

dados que as empresas passaram a buscar alternativas de sobrevivência, um

processo de busca na redução de despesas, especialmente de mão–de-obra,

onde é possível a substituição pela de terceiros.

Para algumas empresas, erroneamente, mão-de-obra é sinônimo de

custos, o que quer dizer despesas dá-se a lógica: reduzir o efetivo e tudo mais

que a ele estiver agregado que é uma das principais razões que levam a empresa

a reduzir custos.

Conforme pesquisa, se faz preventivo quanto a terceirização escolher

fornecedores melhor qualificados, avaliar a capacidade técnica da empresa

contratada, o custo dos serviços realizados por terceiros e coletar referências com

outras construtoras sobre as empresas de terceirização.

A terceirização é cada vez mais uma realidade nas empresas

brasileiras, e também deve ser vista como uma ferramenta gerencial.

39

CAPÍTULO III

O IMPACTO DA TERCEIRIZAÇÃO NA ECONOMIA E NO

TRABALHO

Esse debate está relacionado diretamente com o tema do

desenvolvimento do Brasil, sobre como iremos caminhar, do ponto de vista social

e econômico. Na teoria, enfatizam-se os ganhos da especialização e da

cooperação advindos da nova rela ão entre empresas. Consultores apontam o

“outsourcing” como o caminho para a modernidade. Sublinham também a

vantagem que a terceirização traz na transformação de gastos fixos em variáveis.

Mas a realidade imposta pela terceirização não é a da modernidade,

mas a de um país com relações arcaicas de trabalho, que fere os preceitos de

igualdade. Para se ter uma idéia, em uma pesquisa realizada pela FUP

(Federação Única dos Petroleiros) em 2010, 98% das empresas foram motivadas

a terceirizar devido ao menor preço e apenas 2% devido à especialização técnica.

Com a terceirização:

Do ponto de vista econômico, as empresas procuram otimizar seus lucros, em menor grau pelo crescimento da produtividade, pelo desenvolvimento de produtos com maior valor agregado, com maior tecnologia ou ainda devido à especialização dos serviços ou produção. Buscam como estratégia central, otimizar seus lucros e reduzir preços, em especial, através de baixíssimos salários, altas jornadas e pouco ou nenhum investimento em melhoria das condições de trabalho. Do ponto de vista social, podemos afirmar que a grande maioria dos direitos dos trabalhadores é desrespeitada, criando a figura de um “cidadão de segunda classe” com destaque para as quest es relacionadas à vida dos trabalhadores(as), aos golpes das empresas que fecham do dia para a noite e não pagam as verbas rescisórias aos seus trabalhadores empregados e às altas e extenuantes jornadas de trabalho.

40

Não deveria ser essa nossa opção de desenvolvimento econômico. 13

As empresas terceirizadas abrigam as populações mais vulneráveis do

mercado de trabalho: mulheres, negros, jovens, migrantes e imigrantes. Esse

“abrigo” não tem caráter social, mas é justamente porque esses trabalhadores se

encontram em situação mais desfavorável, e por falta de opção, submetem-se a

esse emprego. Não é verdade que a terceirização gere emprego. Esses

empregos teriam que existir, para a produção e realização dos serviços

necessários à grande empresa. A empresa terceira gera trabalho precário, e pior,

com jornadas maiores e ritmo de trabalho exaustivo, acaba na verdade por

reduzir o número de postos de trabalho.

A terceirização está diretamente relacionada com a precarização do

trabalho. Destacar os setores mais precarizados no país, é destacar os setores

que comumente exercem atividades terceirizadas no Brasil.

Não é esse o compromisso que os atores sociais devem ter com a

construção do país. Em especial, porque essa relação aumenta os custos para a

sociedade, com a perda da qualidade de serviços e produtos, com agressões

ambientais a comunidades vizinhas, com o empobrecimento dos trabalhadores,

com a concentração de renda, com a monetização da vida humana, e com a

atuação estatal como fomentador da precarização das relações de trabalho, e

ainda, com as fraudes em licitações, evasão fiscal, focos de corrupção, aumento

das demandas trabalhistas e previdenciárias, entre outros custos como a tão

propagada competitividade.

Finalmente, vale destacar que as estatísticas oficiais dificultam a

análise dos efeitos da terceirização. Essa realidade é dificilmente captada pelas

pesquisas vigentes. No entanto, apresentamos esse dossiê para dar visibilidade a

uma realidade que existe e é sentida cotidianamente pelos trabalhadores (as) e

por suas representações sindicais.

13 1 DIEESE. Terceirização e desenvolvimento, uma conta que não fecha.

41

Abaixo apresentamos uma análise do mercado de trabalho através do

agrupamento dos setores tipicamente terceirizados e dos trabalhadores

terceirizados que exercem suas atividades em empresas contratadas, a partir do

qual, iremos debater os efeitos da terceirização que, dado o atual cenário de

regulamentação insuficiente, resulta na precarização do trabalho, como os dados

e os relatos de várias entidades sindicais têm revelado.

Como dito acima, as estatísticas oficiais tem limites para captar essa

realidade sentida no cotidiano pelos trabalhadores e suas representações e

procura-se, a partir dos critérios descritos a seguir, indicar características gerais

da terceirização no Brasil.

Para tanto, o presente trabalho baseou-se em três fontes de pesquisa:

PED – Pesquisa de Emprego e Desemprego do DIEESE/SEADE/MTE/FAT e

Convênios regionais, destacando o tipo de emprego indicado pelo trabalhador

entrevistado (emprego subcontratado, que pode ser Assalariados Contratados em

Serviços Terceirizados ou Autônomos que Trabalham para uma Empresa);

RAIS/CAGED/MTE – através da classificação CNAE 2.0, e do reagrupamento das

classes setoriais de acordo com seu perfil principal (tipicamente terceira,

tipicamente contratante). Nesse caso, por impossibilidade de reagrupamento, o

setor agrícola não está contido; CUT - Pesquisa de percepção dos trabalhadores

realizada em 2010/2011 em setores e empresas selecionadas.

O resultado desses dados confirma os relatos e indicadores parciais

apresentados pelos trabalhadores e suas representações sindicais.

Na Tabela 1 é possível observar que os trabalhadores terceirizados

perfazem cerca de 25,5% do mercado formal de trabalho. Destaca-se que parte

considerável dos trabalhadores terceiros estão alocados na informalidade e que,

portanto, esse número está subestimado.

42

3.1 – ROTATIVIDADE

A precarização das relações de trabalho, por via da intermediação de

mão-de-obra tem o condão de retirar do trabalhador a real identificação do seu

empregador, ao introduzir na relação a figura dos empregadores aparente e real.

Em primeiros contatos com a matéria, não há aparente prejuízo ao

trabalhador, todavia, a demanda é complexa, tendo em vista que em apêndice a

intermediação brotam grandes perdas para o trabalhador.

Tais prejuízos podem se formar em redução do ordenado, perda de

benefícios conquistados, falta ou diminuição de representação sindical, aumento

nos índices de acidentes de trabalho, entre outros. Isso porque o uso desenfreado

da desverticalização, com objetivo único de enxugar gastos da produção, além de

fugir completamente da intenção da técnica, vai de encontro ao nosso sistema

trabalhista.

O fato da terceirização pela terceirização, sem finalidade de

concentração da empresa no seu corebussines, tem levado a mudanças radicais

nas relações empregado/empregador e vice-versa.

O conceito de empregado “efetivo” e “terceirizado” tem levado a queda

do patamar remuneratório, perda na qualidade dos serviços, aumento significativo

dos acidentes de trabalho, o que contribui para o surgimento de locais de trabalho

estressantes, diminuindo a qualidade de vida dos empregados.

Isso se dá graças à utilização da terceirização como mera

intermediação de mão-de-obra, indo de encontro a um dos pilares da fundação da

Organização Internacional do Trabalho – OIT, por meio da Declaração da

Filadélfia de 1944, que trata precipuamente de rechaçar o trabalho como uma

mercadoria.

Segundo Rodrigo de Lacerda Carelli: “por meio da intermediação de

mão-de-obra, o trabalho deixa de ser uma relação e passa a ser vendido pelo

43

preço de mercado e por ser produto abundante, se torna descartável, atingindo

remunerações aviltantes14”.

Outro fator preponderante para a aceitação dessa flexibilização é o alto

índice de desemprego a nível mundial, contribuindo para que os trabalhadores

aceitem mesmo que muitas vezes ela represente perdas em termos de

segurança, de direitos e benefícios.

Nos últimos tempos, tem-se discutido sobre a importância do

comprometimento dos indivíduos nas organizações, por diversas razões, entre as

quais: a produtividade e nível de qualidade do trabalho e das atividades; a

velocidade na internalização de novas tecnologias e de novos conhecimentos; a

otimização da capacidade; a criação de oportunidades para a aplicação das

competências; a velocidade de respostas para o ambiente/mercado.

A falta de comprometimento das pessoas com o grupo gera uma série

de problemas, entre eles: pouco engajamento com as atividades, ou seja, os

integrantes não se entregam às atividades, executando apenas as funções

necessárias e requisitadas; alta rotatividade, porque integrantes não

comprometidos com as atividades, aceitam trocá-lo por qualquer proposta que

seja mais atraente, mesmo que somente sob o ponto de vista financeiro; diante de

problemas, os integrantes não se empenham para resolvê-los porque não se

sentem parte do grupo e não se veem na obrigação de ajudar a empresa a se

recuperar; integrantes com baixo nível de comprometimento não apresentam

grandes inovações ou diferenças porque não se envolvem com o grupo e não

agregam valor através de sugestões, ideias, dedicação; gera maior risco de

reclamações e desentendimentos; integrantes não comprometidos não permitem

que o grupo trabalhe em seu nível ótimo de produção; sem comprometimento, os

integrantes não buscam se aperfeiçoar ou se desenvolver nas atividades em que

atuam; a falta de comprometimento dos integrantes gera uma fuga pela

responsabilidade, ou seja, eles buscam assumir o mínimo de responsabilidades

sobre as questões do grupo.

14 CARELLI, Rodrigo. op. cit. p. 150

44

Manter os funcionários comprometidos e motivados não são coisas

simples. O comprometimento é multidimensional, e altamente subjetivo e

dinâmico.

Os primeiros resultados deste estudo permitem que se percebam

singularidades a respeito de profissionais que estão no ambiente de trabalho de

uma empresa, mas não fazem parte dela na dimensão contratual, entretanto são

importantes para a realização dos objetivos desta organização.

A questão de não serem pagos pela organização para qual

desempenham atividades enfraquece o comprometimento instrumental, embora

não o elimine já que, mesmo nesse caso, há custos em sair da organização. Em

termos do comprometimento normativo, associado à obrigação de permanecer na

organização, esse sentimento de ser parte da organização parece ser

enfraquecido, embora não possa ser descartado, em função de outros aspectos

que parecem reforçá-lo, como a existência que uma cultura organizacional forte

que acaba sendo transmitida para os terceirizados, já que estes compartilham o

ambiente da empresa.

3.2 ASPECTOS DA REMUNERAÇÃO

A fraude nos cálculos do FGTS, assim como o não pagamento de

descanso remunerado, de férias devidas, dos adicionais e hora extra,

demonstram as facilidades propiciadas pela terceirização para escapar da

legislação, até mesmo de obrigações estabelecidas pela Carta Magna. Ao

descumprir a legislação, em si mesma já bastante desfavorável aos

trabalhadores, as empresas contratadas obedecem a três ordens de fatores: a

pequena eficácia do sistema de inspeção do trabalho e, principalmente, os

reduzidos valores das multas e morosidade na cobrança judicial15. atende aos

45

reclamos da contratante, quanto a redução do preço dos contratos firmados. Uma

das formas de vencer a concorrência, via preços, é o uso “abusivo” da força de

trabalho, garantia de extração de uma massa de mais-valia que lhe proporcione

uma taxa média de lucro16

As relações de trabalho estão se tornando menos regulamentadas,

pautando-se em uma negociação maior entre as partes, visto que a relação entre

trabalhadores e empregadores já foi mais conflituosa, especialmente no Brasil. O

discurso de que a sobrevivência da empresa é necessária para ambos os lados

parece ter se intensificado nos dias de hoje.

15 Rosso (op. cit.:40) nota que “sob a égide de relações de trabalho despóticas, em que a intervenção do Estado é garantia de perpetuação do “status quo”, nessas circunstâncias a inspeção do trabalho encontra seu limite estrutural de aplicação a garantia de um diferencial de ganho pelo uso destes mecanismos “espúrios. 16 Na reunião do Comitê Técnico da MRN de novembro de 1995 é feita a seguinte referência as contratadas: “(...) visto que o aumento no custo das contratadas neutraliza grande parte dos ganhos de escala...onde a mão-de-obra representa um peso significativo...pretende partir para um sistema de co-gestão dos contratos, tirando proveito da qualidade gerencial da MRN” (Ata CT, nov/95:4). Não nos foi possível verificar se o sistema de co-gestão encontra-se em funcionamento, entretanto o princípio de concorrência, via menor preço, é bastante concreto encontra-se em funcionamento, entretanto o princípio de concorrência, via menor preço, é bastante concreto.

46

CONCLUSÃO

Evidenciamos a partir desse modelo de relação trabalhista, sérios

desajustes, colocando em risco os direitos do trabalhador e contraditando o

objetivo histórico de tutela que caracteriza o direito do trabalho. A terceirização é

um fenômeno relativamente no novo no ordenamento Jurídico, sobretudo no

Direito do Trabalho, especificamente tomando forma nas últimas décadas.

Tanto é que na época da elaboração da Consolidação das Leis do

Trabalho o legislador não fez menção á terceirização, mereceu menção apenas a

empreitada e a subempreitada (artigo 455 CLT) incluindo a pequena empreitada

(artigo 652,a, III da CLT).

Embora na época da elaboração da CLT – Consolidação das Leis do

Trabalho o Brasil passava por forte processo de industrialização, mas mesmo

assim não houve influência marcante desse tipo de relação jurídica trabalhista

“trilateral” - a terceirização, ficando basicamente restrita às relações bilaterais, ou

seja, empregador e empregado. Portanto, o legislador não vislumbrou que a

terceirização se tornaria comum nas relações de trabalho e que seria um tema tão

controvertido e de difícil compreensão.

De todo sorte, foi com o segmento estatal que começaram as primeiras

referencias legais acerca da terceirização. No quadro da reforma administrativa

intentada em meados de da década de 1960, no âmbito das entidades estatais da

União (Decreto-Lei n. 200, de 1967), foram expedidos dois diplomas que

estimulavam a prática da descentralização administrativa, através da contratação

de serviços meramente executivos ou operacionais perante empresas

componentes do segmento privado da economia.

Tais textos normativos consistem no artigo 10 do Decreto-Lei n. 200/67

e na Lei 5645/70. De certo modo, era uma indução legal à terceirização de

atividades meramente executivas, operacionais, no âmbito da Administração

47

Pública. Ainda não havia a princípio respaldo jurídico acerca da terceirização

nas relações de trabalho no segmento privado da economia.

O Ordenamento Jurídico incorporou o diploma normativo que tratava

especificamente da terceirização, estendendo-se ao campo privado da economia -

A lei do trabalho temporário (Lei 6019/74) e tempos depois pela Lei 7.102/83 que

se autorizava também a terceirização do trabalho de vigilância bancária, essa

com características permanentes ao contrário da primeira que tem como

característica o trabalho temporário.

Não obstante aos dois diplomas legais surgidos na década de 1970 e

na década de 1980 (ambos os diplomas legais continham normas autorizativas,

uma disciplinava p trabalho temporário e a outra dirigia-se aos trabalhos

vinculados à segurança bancária), o processo de terceirização cresce

vertiginosamente no segmento privado das relações de trabalho na décadas

seguintes a 1970. Isso desencadeou um esforço por parte dos tribunais do

Trabalho na busca da compreensão do referido processo e afinal, do encontro da

ordem Jurídica a ele aplicável.

A evolução legislativa da terceirização no campo privado foi de sua

importância, mas de alguma forma “saltou aos olhos” de certos setores da

economia ao longo desses trinta anos que se utilizam de práticas de terceirização

da força de trabalho independentemente da existência de texto legal autorizativo.

Tal prática tinha como objetivo precarizar as relações de trabalho, onde a

empresa tomadora dos serviços não tem responsabilidade jurídica com esse

trabalhador, portanto, desprotegido.

Essas relações fizeram crescer o número de reclamações trabalhistas

e como consequência a jurisprudência trabalhista editou duas Súmulas: a 256

de 1986 e a 331 de 1993 que revisou a anterior.

Os primeiros diplomas legais (Decreto-Lei n. 200/67 e a Lei n. 5645/70)

a tratarem a terceirização visavam o segmento público das relações de trabalho,

criando mecanismos propiciadores da descentralização administrativa através da

contratação de trabalhadores assalariados por interpostas empresas para

48

realização de serviços de apoio, instrumentais, meramente de execução.

Notadamente as atividades relacionadas no diploma dizem respeito às atividade-

meio. Não há até então qualquer permissivo à terceirização de atividades-fim dos

entes tomadores de serviço.

No setor privado também há dois diplomas legais que surgiram nas

décadas de 70 e 80, mas ainda é considerado um fenômeno novo e ainda carece

de maior clareza para uma compreensão exata da dimensão e extensão dessas

transformações. A Súmula 331 não é suficiente para a total compreensão do

fenômeno, faltam instrumentos analíticos necessários para purgar a terceirização

às direções essenciais do direito.

Outro fato é o da terceirização pela terceirização, sem finalidade de

concentração da empresa no seu corebussines, vez que traz mudanças radicais

nas relações empregado/empregador e vice-versa.

Igualmente, a precarização das relações de trabalho, por via da

intermediação de mão-de-obra tem o condão de retirar do trabalhador a real

identificação do seu empregador, ao introduzir na relação a figura dos

empregadores aparente e real. Esta prática, como vimos causa redução do

ordenado, perda de benefícios conquistados, falta ou diminuição de

representação sindical, aumento nos índices de acidentes de trabalho, entre

outros. Isso porque o uso desenfreado da desverticalização, com objetivo único

de enxugar gastos da produção, além de fugir completamente da intenção da

técnica, vai de encontro ao nosso sistema trabalhista.

A terceirização é cada vez mais uma realidade nas empresas

brasileiras, e também deve ser vista como uma ferramenta gerencial. Contudo,

deve-se observar os ditames da norma trabalhista brasileira de forma global, para

que se evite prejuízos tanto à produção, por parte das empresas, quanto da perda

salarial, pelos obreiros.

49

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estabelecimentos financeiros, estabelece normas para constituição e

funcionamento das empresas particulares que exploram serviços de vigilância e

de transporte de valores, e dá outras providências. Atualizada até a Lei 11.718, de

2008.

BRASIL. Lei 8.666 de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da

Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração

Pública e dá outras providências. Atualizada até a Lei 12.873, de 2013.

51

ÍNDICE

RESUMO.............................................................................................................. 4

METODOLOGIA................................................................................................... 5

SUMÁRIO............................................................................................................. 6

INTRODUÇÃO...................................................................................................... 7

CAPÍTULO I

HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DA TERCEIRIZAÇÃO................................................ 9

1.1 – TERCEIRIZAÇÃO NO MUNDO.................................................................. 10

1.2 – TERCEIRIZAÇÃO NO BRASIL.................................................................. 13

CAPÍTULO II

LEGALIDADE E FORMAS DE TERCEIRIZAÇÃO.............................................. 15

2.1 – TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR PÚBLICO.................................................. 17

2.1.1 – Desverticalização na área da Saúde................................................... 20

2.1.2 – Desverticalização na Coleta de Lixo................................................... 22

2.1.3 – Desverticalização no Petróleo............................................................. 26

2.2 – TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR PRIVADO.................................................. 31

CAPÍTULO III

IMPACTO DA TERCEIRIZAÇÃO NA ECONOMIA E NO

TRABALHO......................................................................................................... 39

3.1 – ROTATIVIDADE.................................................................................... 42

3.2 – ASPECTOS DA REMUNERAÇÃO........................................................ 44

CONCLUSÃO...................................................................................................... 46

BIBLIOGRAFIA................................................................................................... 49