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UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE MESTRADO EM FARMÁCIA AVALIAÇÃO DA RUTINA E RUTINA COMPLEXADA COM COBRE(II) NO METABOLISMO LIPÍDICO DE RATOS INDUZIDOS A HIPERCOLESTEROLEMIA SÃO PAULO 2012

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UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

PROGRAMA DE MESTRADO EM FARMÁCIA AVALIAÇÃO DA RUTINA E RUTINA COMPLEXADA COM COBRE(II)

NO METABOLISMO LIPÍDICO DE RATOS INDUZIDOS A HIPERCOLESTEROLEMIA

SÃO PAULO 2012

DANIEL ARTUR FREITAS DE OLIVEIRA

AVALIAÇÃO DA RUTINA E RUTINA COMPLEXADA COM COBRE(II)

NO METABOLISMO LIPÍDICO DE RATOS INDUZIDOS A HIPERCOLESTEROLEMIA

SÃO PAULO 2012

Dissertação apresentada ao programa de Mestrado Profissional em Farmácia da Universidade Bandeirante de São Paulo, como requisito parcial à obtenção do título de mestre. Orientadora: Profa. Dra. Cristina E. Okuyama

Dedico este trabalho a minha orientadora Cristina Eunice Okuyama e todo o pessoal do laboratório no qual passei esses últimos 5 anos.

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais Artur Freitas de Oliveira e Rosângela de Oliveira Lopes que

me educaram e ensinaram os valores morais e éticos.

Agradeço aos meus avôs Ruth, Syllas, Tonica e Mãe que contribuíram de forma

decisiva na minha formação e educação possibilitando, com isso, o meu

desenvolvimento.

Aos meus irmãos Cris e Igo, primos Neto, Andreza, Marina, Bia, Pedro, Fael, Bibo,

Mariana, Dorfo, e tios Zé, Mario, Ana, Júlia, Kito, Rita e Silvano que sempre foram

participativos em minha vida me instruindo e incentivando minhas decisões.

Aos meus amigos espalhados pelo mundo que sempre estiveram por perto nos

momentos de dificuldade. Em especial a turma da graduação e a turma de

Araraquara.

A Dona Rosa e seu Mauro Palomino por terem me “adotado” e terem ajudado em

meu desenvolvimento, bem como agradeço a seus filhos Rafael Renan e André.

A todos do laboratório que sempre me auxiliaram nos meus experimentos e nas

disciplinas do mestrado bem como os conselhos dados nos momentos de

necessidade; Cristina Santos, Ozeraldo Viera, Rafael Temístocles, Dayane Maciel,

Maeli Mosena, Aparecida, Valquiria Losano, Lívia Oyafuso, Renata, Janaina, Carol

Medeiros, Débora, Flávio, Henrique e em especial a Elisa Fortes (bifinho) por ser a

companheira de laboratório e por me auxiliar a fazer as rações dos animais e ao Ivair

Donizete por todo auxílio nestes 5 anos de experimentos.

A todos os professores que sempre foram pacientes com minhas dúvidas e

souberam transmitir um pouco de seus conhecimentos; Sérgio, Niraldo, Susana, Isis,

Claudete.

Agradeço especialmente as professoras Regina e Márcia pelo apoio e os inúmeros

momentos de descontração proporcionados e a minha orientadora Cristina por ter

me “aguentado” por estes anos todos.

Agradeço aos amigos da ETEC Pq. St. Antônio por me auxiliarem nos momentos de

sufoco com aulas e dissertação.

Agradeço a minha baixinha Juliana que tem acompanhado e me motivado nesta

última fase do mestrado.

Ao Dr. André Rennó da UNICAMP pelas análises microscópicas dos tecidos

hepáticos.

Ao apoio financeiro da FAPESP, necessário a realização dos experimentos.

RESUMO

As dislipidemias são alterações fisiopatológicas do metabolismo lipídico, e

suas consequências podem gerar transtornos mais graves, principalmente a

formação da placa de ateroma e consequentemente o enfarto do miocárdio e

acidente vascular encefálico. Alguns estudos demonstram que o flavonóide Rutina,

composto derivado de plantas, tem atividade na regulação do metabolismo lipídico,

porém com baixa atividade. Alguns estudos sugerem que a complexação de

compostos fenólicos com metais de transição pode potencializar o efeito biológico do

composto. No presente trabalho foi investigado o efeito do tratamento de ratos

hipercolesterolêmicos com rutina e rutina complexada a cobre através da avaliação

bioquímica e celular de amostra de sangue e análise anatomo-morfológica dos

órgãos. Os animais foram divididos em sete grupos (n=5): G1 – controle, G2 –

veículo, G3 – sinvastatina 10mg/kg, G4 - rutina 16µmol/Kg, G5 - rutina 160µmol/Kg,

G6 - R-Cu2 16µmol/Kg e G7 - R-Cu2 160µmol/Kg. Os animais receberam dieta

suplementada com colesterol, exceto o grupo controle. O aumento estatístico nos

níveis de colesterol total entre os grupos G1 e G2 confirma a indução da

hipercolesterolemia. Ao se realizar uma análise conjunta dos resultados obtidos após

indução da hipercolesterolemia pode-se perceber que a R-Cu2 teve melhor efeito

que a rutina livre, demonstrando uma tendência na inibição do aumento sérico de

colesterol total, triglicerídeo e LDL, sugerindo assim um possível efeito desse

composto no tratamento das dislipidemias. Na avaliação da peroxidação lipídica,

tanto o tratamento com a rutina livre e quanto a R-Cu2, mesmo com a ingestão de

dieta rica em colesterol, não apresentaram resultados estatisticamente diferentes do

grupo controle (grupo com dieta de ração padrão). Na análise anatomopatológica do

fígado dos animais, os grupos R-Cu2 160µmol/Kg e grupo controle não

demonstraram acumulo de lipídeos, processos inflamatórios e necrose do tecido

hepático enquanto nos demais grupos estas alterações estavam presentes.

Palavra-chave: hipercolesterolemia; flavonóide; peroxidação lipídica.

ABSTRACT

Dyslipidemias are the pathophysiological alterations of lipid metabolism and its

consequences can lead to more serious disorders, especially the formation of

atheromatous plaques and consequently myocardial infarction and stroke. Some

studies show that the flavonoid Rutin, plant-derived compound, has activity in the

regulation of lipid metabolism, but the results are not as impressive. Some studies

suggest that complexation of phenolic compounds with transition metals can enhance

the biological effect of the compound. In the present work was investigated the effect

of treatment of hypercholesterolemic rats with rutin and rutin complexed to copper

thtough biochemical and cellular analysis of blood samples and anatomo-

morphologic evaluation of organs. The animals were divided into seven groups (n =

5): G1 - control, G2 - vehicle, G3 - 10mg/kg simvastatin, G4 - 16μmol/Kg rutin, G5 -

160μmol/Kg rutin, G6 - R-Cu2 16μmol/Kg and G7 - R-Cu2 160μmol/Kg. The animals

were fed a diet supplemented with cholesterol, except the control group. The

statistical difference in total cholesterol levels between groups G1 and G2 confirms

the correct induction of hypercholesterolemia. When conducting an analysis of the

results obtained after induction of hypercholesterolemia can be seen that the R-Cu2

had better effect than the free rutin, showing a strong tendency to inhibit the increase

in serum total cholesterol, triglycerides and LDL, suggesting a possible effect this

compound in dyslipidemias treatment. In the evaluation of lipid peroxidation,

treatment with both free and rutin as the R-Cu2, even with the intake of high-

cholesterol diet, were not statistically different from control group (with standard chow

diet). On pathological examination the highest concentration of the compound R-Cu2

no difference with the control group G1, demonstrating the hepatoprotective activity

of the compound.

Keyword: hypercholesterolemia; flavonoid; lipid peroxidation.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Estrutura básica de um ácido graxo.................................................

Figura 2 – Estruturas básicas de um fosfolipídio e um esfingofosfolipídio........

Figura 3 – Estrutura básica de uma molécula de colesterol..............................

Figura 4 - Estrutura de um colesterol................................................................

Figura 5 - O transporte reverso do colesterol....................................................

Figura 6 – Esquema do metabolismo lipídico....................................................

Figura 7 – Estrutura química do flavonoide rutina.............................................

Figura 8 – Possíveis sítios de ligação do metal de transição na molécula de

flavonoide..........................................................................................................

Figura 9 - Níveis séricos de colesterol total em ratos........................................

Figura 10 - Níveis séricos de triglicerídeos em ratos...........................................

Figura 11 - Níveis séricos de HDL em ratos....................................................

Figura 12 - Níveis séricos de LDL em ratos.......................................................

Figura 13 - Avaliação da peroxidação lipídica......................................................

Figura 14 - Avaliação do NO plasmático............................................................

Figura 15 - Contagem de hematócrito em ratos...................................................

Figura 16 - Contagem total de leucócitos em ratos..............................................

Figura 17 - Contagem diferencial de leucócitos em ratos – número de

monócitos.............................................................................................................

Figura 18 - Contagem diferencial de leucócitos em ratos – número de

linfócitos.............................................................................................................

Figura 19 - Contagem diferencial de leucócitos em ratos – número de

neutrófilos.............................................................................................................

Figura 20 - Peso relativo dos rins esquerdo e direito de ratos............................

Figura 21 - Peso relativo de corações provenientes de ratos..............................

Figura 22 - Peso relativo do fígado de ratos.....................................................

Figura 23 - Imagem de fígado obtido após ensaio com dieta rica em colesterol.

Figura 24 - Avaliação microscópica de aorta abdominal obtida após ensaio

com dieta rica em colesterol.................................................................................

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Figura 25 - Avaliação microscópica da área 1 do tecido hepático de ratos

submetidos a dieta rica em colesterol por 60 dias ............................................

Figura 26 - Avaliação microscópica da área 2 do tecido hepático de ratos

submetidos a dieta rica em colesterol por 60 dias...............................................

Figura 27 - Avaliação microscópica da área 3 do tecido hepático de ratos

submetidos a dieta rica em colesterol por 60 dias...............................................

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01 - Grupos de animais divididos de acordo com o tratamento.................

Tabela 02: Análise macroscópica de alguns tecidos dos animais do grupo

controle e dos grupos que receberam dieta suplementada com colesterol...........

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LISTAS DE ABREVIATÚRAS ABCA1 – ATP-binding cassete transportador A1.

ABCG1 - ATP-binding cassete transportador G1.

ADFMChR - 5-allyl-7gen-difluoromethylenechrysin.

Apo – Apoproteína

ATP – Adenosina trifosfato.

CETP – Cholesterol Ester tranfer protein (proteína transportadora de colesterol

esterificado).

CT – Colesterol total.

DNA – Ácido desoxirribonucleico.

IDL – Intermediary Density Lipoprotein (lipoproteína de densidade intermediária)

IMC – Índice de massa corpórea.

IMK – Índice menopausal de Kupperman.

HDL – High Density Lipoprotein (lipoproteína de alta densidade)

HE – Hematoxilina Eosina.

HIV-1 – Vírus da imunodeficiência humana 1.

LCAT – Lecitina colesterol acil transferase.

LDL – Low density lipoprotein (lipoproteína de baixa densidade)

LDLox – Lipoproteínas de baixa densidade oxidadas.

LPL – Lipase Lipoprotéica.

MTT - 3-(4,5- dimethylthiaxolone-2-yl)-2,5-diphenyl tetrazolium bromide.

NK – Natual Killer.

OMS – Organização mundial da saúde.

PLTP – Phospholipids transfer protein (protein transportadora de fosfolipídeos).

Raios U.V. – Raios ultravioleta

R-Cu2 – Rutina complexada a cobre.

RNS – Espécies reativas do nitrogênio.

ROS – Espécies reativas do oxigênio.

R.P.M. – rotações por minuto.

RS+ - Espécie reativa de tióis.

Rut – Rutina.

SOD – Superóxido dismutase.

SR-B1 – Receptor de sequestro classe B tipo 1.

TBA – Ácido tiobarbitúrico.

TBARS – Substãncias reativas ao ácido tiobarbitúrico.

TCA – Ácido Tricloroacético

TG – Triglicérides.

TRC – Transporte Reverso do colesterol.

VLDL – Very Low Density Lipoprotein (lipoproteína de densidade muito baixa)

LISTA DE SÍMBOLOS

H2O2 – Peróxido de hidrogênio.

NO – Óxido Nítrico.

NO+ - Câtion nitrosônio.

•NO – radical óxido nítrico.

NO- - Ânion nitroxila.

O2 – Oxigênio.

O2•- - Ânion superóxido.

•OH – Radical hidroxila.

ONOO- - Peroxinitrito.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO........................................................................................................

2. REVISÃO DA LITERATURA..................................................................................

2.1. METABOLISMO LIPÍDICO..................................................................................

2.2. HIPERLIPIDEMIA................................................................................................

2.2.1. Disfunção endotelial e a aterosclerose.............................................................

2.2.2. Radicais livres, estresse oxidativo e peroxidação lipídica................................

2.3. FLAVONÓIDES...................................................................................................

2.3.1. Atividades biológicas dos flavonóides..............................................................

2.3.2. Flavonóides e Metais de Transição..................................................................

3. OBJETIVO GERAL................................................................................................

3.1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS...............................................................................

4. MATERIAIS E MÉTODOS....................................................................................

4.1. PREPARAÇÃO DA DROGA COMPLEXADA.....................................................

4.2. ENSAIOS COM DIETA HIPERCOLESTEROLÊMICA........................................

4.2.1. Animais.............................................................................................................

4.2.2. Protocolo Experimental.....................................................................................

4.2.3. Dietas................................................................................................................

4.2.4. Dosagens sanguíneas.......................................................................................

4.2.4.1. Dosagens bioquímicas...................................................................................

4.2.4.2. Avaliação da peroxidação lipídica..................................................................

4.2.4.3. Dosagem plasmática de NO..........................................................................

4.2.4.4. Análise hematológica.....................................................................................

4.2.5. Estudo anatomopatológico................................................................................

4.4. ANÁLISE ESTATÍSTICA......................................................................................

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO..............................................................................

5.1. DOSAGENS SANGUÍNEAS................................................................................

5.1.1. Dosagens bioquímicas......................................................................................

5.1.2. Avaliação da peroxidação lipídica....................................................................

5.1.3. Dosagem plasmática de óxido nítrico (NO)......................................................

5.1.4. Análise hematológica........................................................................................

5.2. ESTUDO ANATOMOPATOLÓGICO....................................................................

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5.2.1. Avaliação macroscópica - Peso relativo dos órgãos.........................................

5.2.2. Avaliação macroscópica – Análise do fígado....................................................

5.2.3. Avaliação microscópica - Análise da aorta........................................................

5.2.4. Avaliação microscópica - Análise do fígado......................................................

6. CONCLUSÃO..........................................................................................................

REFERÊNCIA.........................................................................................................

ANEXOS..................................................................................................................

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1. INTRODUÇÃO

As mudanças nos hábitos de vida decorrentes da transformação da

sociedade na segunda metade do século XX, principalmente nos hábitos alimentares

e num estilo de vida sedentário, acarretaram num aumento expressivo nos índices

de obesidade e consequentemente de doenças associadas ao sobrepeso tal como

as dislipidemias.

Estas são desordens no metabolismo lipídico e tem como característica

laboratorial o aumento dos níveis séricos de colesterol total, principalmente a fração

LDL (lipoproteína de densidade baixa). As dislipidemias podem evoluir para outras

patologias como as doenças cardiovasculares, que segundo estudos da organização

mundial da saúde são as maiores causa de mortes no mundo.

Enquanto esses números tendem a diminuir em países desenvolvidos, no

Brasil a mortalidade decorrente de doenças cardiovasculares tem aumentado.

Estudos do Ministério da Saúde demonstraram que na década de 90,

aproximadamente 32% da população apresentavam sobrepeso (IMC ≥ 25) e que

38% dos homens e 42% das mulheres possuíam os níveis de colesterol total acima

do recomendado (CT> 200mg/dL).

Flavonóides são metabólitos derivados, principalmente, de plantas, estando

presente na dieta diária das pessoas e sendo associados a diversas atividades

biológicas benéficas. Por apresentarem uma característica antioxidante e alguns

estudos sugerirem que compostos flavonóides possam ter uma atividade

hipolipemiante, estes compostos se tornam interessantes no uso terapêutico para a

prevenção ou tratamento de dislipidemias e suas decorrências patológicas. Entre

esses compostos a rutina é um dos mais testados e demonstra ter atividade no

metabolismo lipídico, porém de forma modesta. A complexação de flavonóides a

metais de transição pode potencializar sua atividade biológica, podendo fazer desta

uma molécula interessante para a prevenção das dislipidemias.

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2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1 METABOLISMO LIPÍDICO

Lipídeos é a denominação para um grupo de compostos com estruturas

químicas variadas, relacionados direta ou indiretamente com os ácidos graxos e de

característica hidrofóbica. Os lipídeos mais importantes para o organismo, do ponto

de vista fisiológico, são os triglicérides, fosfolipídeos, o colesterol e o colesterol

esterificado (GENEST, 2003; COBBE; SHEPHERD, 1993).

Os ácidos graxos são cadeias de carbono hidroxiladas e são classificados em

dois grupos, os saturados, sem duplas ligações entre seus átomos de carbono,

mono ou poli-insaturados de acordo com o número de ligações duplas na sua

cadeia. São exemplos de ácidos graxos, o ácido láurico, mirístico, palmítico e

esteárico, todos saturados e os ácidos oléico e linoleico, insaturados.

Quimicamente, os triglicerídeos são compostos por três ácidos graxos ligados

covalentemente a uma molécula de glicerol (figura 1), sendo que estes ácidos

graxos podem variar no seu tipo (número de carbonos e presença ou não de duplas

ligações). O triglicerideo tem características apolares e hidrofóbicas (GENEST, 2003;

COBBE; SHEPHERD, 1993).

Figura 1 – Estrutura básica de um ácido graxo (superior esquerdo), um

glicerol (inferior esquerdo) e de um triglicerídeo (direita).

Fonte: www.ufsc.br (2005)

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Há dois tipos básicos de fosfolipídeos (figura 2), os mais abundantes no

organismo humano são os constituídos por um esqueleto de glicerol com dois ácidos

graxos e um grupo fosfato ligado a ele, sendo que estes ácidos graxos podem variar

no seu tipo (tipo de ligações e quantidade de carbono em sua cadeia). No grupo

fosfato, podem-se encontrar quatro diferentes moléculas ligadas a ele: colina, dando

origem a lecitina; etanolamina, que origina a fosfatidilinositol; serina que origina a

fosfatilserina; e o inositol, que forma o fosfadilinositol. Os fosfolipídeos estão

presentes em todas as membranas celulares de todas as células e estão envolvidas

nas vias de transdução de sinais após sua hidrólise pela fosfolipase (enzima que

hidrolisa os fosfolipídeos) (COBBE; SHEPHERD, 1993; GENEST, 2003; VON

ECKARDSTEIN et al., 2001).

O outro tipo básico de fosfolipídeo é o esfingofosfolipídeo, quimicamente este

difere dos fosfolipídeos clássicos por não ter a molécula de glicerol, ao invés deste,

a ligação do grupo fosfato e ácidos graxos é feita pela molécula de esfingosina

(figura 2). Este tipo de fosfolipídeo é importante nos processos de manutenção da

estrutura lipoprotéica das membranas, sinalização intracelular, interação entre

células e matriz extracelular, modulação dos receptores de fatores de crescimento

mediando o crescimento celular, diferenciação e morte celular, formação de

microdomínios na membrana plasmática e na formação da bainha de mielina

(GENEST, 2003; MINAMI, 2004; VON ECKARDSTEIN et al., 2001).

Figura 2 – Estruturas básicas de um fosfolipídio e um esfingofosfolipídio.

Fonte: www.fcfar.unesp.br .

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O colesterol é um álcool monoídrico não saturado da classe dos esteróis,

composto por 27 carbonos (figura 3), e com uma fraca porção polar. É componente

essencial das membranas de células de mamíferos e é substrato para a formação

dos hormônios esteroidais e ácidos biliares. O colesterol é essencial para função das

membranas celulares. A maior parte do colesterol circulante no plasma sanguíneo

está na forma de colesterol esterificado (COBBE; SHEPHERD, 1993; GENEST,

2003).

Figura 3 – Estrutura básica de uma molécula de colesterol

Fonte: www.fcfar.unesp.br.

Devido às inúmeras funções dos lipídeos e o fato dos ácidos graxos

essenciais não poderem ser sintetizados no corpo humano, estes necessitam serem

adquiridos através da dieta. O consumo de ácidos graxos no organismo é alto,

devido estes serem utilizados como fonte de energia, então estes devem ser

ingeridos diariamente para suprir os níveis necessários. E entre os lipídeos, o mais

consumido, na média, são os triglicerídeos, sendo ingerido, aproximadamente, 66g

deste lipídeo. A média de consumo do colesterol é de 250 mg (COBBE;

SHEPHERD, 1993; GENEST, 2003; GINSBERG, 2002).

As características hidrofóbicas dos lipídeos fazem com que estes não possam

ser transportados livremente no plasma (constituído principalmente por água), porém

o metabolismo lipídico evoluiu de forma a conseguir transportar eficientemente estas

moléculas hidrofóbicas de seu sítio de síntese para o sítio de uso (GENEST, 2003;

NOVAK, BYDLOWSKI, 1996).

A maior parte dos lipídeos serão transportados no organismo acrescido de

proteínas específicas, as apoproteínas, formando complexos macromoleculares

chamados de lipoproteínas. As lipoproteínas são constituídas por fosfolipídios e

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colesterol livre em sua superfície e triglicérides e ésteres de colesterol em seu

núcleo (figura 4) (GENEST, 2003; GINSBERG, 2002; NOVAK, BYDLOWSKI, 1996).

Figura 4: Estrutura de um colesterol

Fonte: modificado de GENEST (2003).

Estas apoproteínas são classificadas como apoA-I, apoA-II, apoA-IV, apoB-

100, apoB-48, apoC-I, apoC-II, apoC-III e apoE e diferem em seu tamanho,

composição química e função na lipoproteína. As quatro funções básicas destas

são: na formação (montagem) e secreção das lipoproteínas; manter a integridade

estrutural das lipoproteínas; sendo co-fator enzimático; e para se ligarem a proteínas

e receptores específicos para a captação celular (NOVAK, BYDLOWSKI, 1996;

GINSBERG, 2002).

Os lipídeos irão apresentar dois trajetos básicos, do local de sua absorção ou

síntese (intestino e fígado respectivamente) para os tecidos, principalmente tecido

muscular e tecido adiposo. E o trajeto das moléculas de colesterol dos tecidos

periféricos para a síntese de membranas, produção de hormônios esteroidais ou

para o fígado para que sejam sintetizados ácidos biliares (GENEST, 2003). Porém,

estes são mais comumente classificados conforme o seu local de origem, podendo

vir da dieta (ciclo exógeno) ou podem ser sintetizados no próprio organismo (ciclo

endógeno) (COBBE; SHEPHERD, 1993).

No ciclo exógeno, ocorre a absorção de lipídeos em nível intestinal. No

intestino, os lipídeos serão emulsificados pelos sais biliares, formando micelas,

depois serão hidrolisados pelas lipases pancreáticas, liberando com isso, ácidos

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graxos e mono ou diglicerídeos. Estes caem na circulação linfática, e irão formar a

primeira lipoproteína do metabolismo lipídico, o quilomicron. Este irá apresentar a

apoB-48 como apoproteína majoritária, porém será formada também pelas e apoA-I

e apoC-II. Os quilomicrons são constituídos basicamente por triglicerídeos (maior

parte), 9% de fosfolipídeos, 3% de colesterol e 1% de apoB-48. Os quilomicrons

entram rapidamente no compartimento plasmático, onde sofrerá a ação da enzima

lipase lipoprotéica (LPL), que é ativada pela apoC-II, esta enzima está presente na

parede dos vasos sanguíneos e vai hidrolisar 90% dos triglicerídeos. Mediados pela

insulina as moléculas de ácidos graxos serão rapidamente captadas pelas células

musculares para servirem como recurso energético ou então são captados pelo

tecido adiposo para atuarem como reserva energética. Os remanescentes

quilomicrons terão a apoE e devido a isso serão retirados da circulação através de

receptores específicos para essa apo localizados no tecido hepático (GENEST,

2003; NOVAK, BYDLOWSKI, 1996; GINSBERG, 2002). No fígado os lipídeos serão

metabolizados e começará o ciclo endógeno. São 4 os tipos de lipoproteínas

responsáveis por transportar os lipídeos no ciclo endógeno (GUYTON, 1996).

As VLDL (Very low density lipoprotein – Lipoproteínas de densidade muito

baixa): lipoproteínas que apresentam grande concentração de

triglicerídeos.

IDL (intermediary density lipoprotein – lipoproteínas de densidade

intermediária): lipoproteínas que sofreram remoção de boa parte das

moléculas de triglicerídeos e apresentam elevada concentração de

colesterol.

LDL (low density lipoprotein, lipoproteínas de baixa densidade):

lipoproteínas no qual foram removidas todas as moléculas de triglicerídeos

sobrando grande concentração de colesterol.

HDL (high density lipoprotein – lipoproteína de alta densidade): lipoproteína

que apresenta grande concentração de apoproteínas.

Como as necessidades de ácidos graxos são constantes no organismo e

estes não são adquiridos a todo o momento através do ciclo exógeno, o fígado

secreta moléculas de VLDL que irá abastecer os tecidos periféricos com ácidos

graxos. A VLDL é menor que o quilomicron, porém, também apresenta uma grande

concentração de triglicérides e contém a apo-B100 como apoproteína majoritária e

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as apoproteínas A-I e C-II como secundárias. Os triglicérides serão rapidamente

hidrolisados pela ação da LLP, liberando ácidos graxos para os tecidos. Com a

hidrólise, há uma alteração de apoproteínas e lipídeos presentes na VLDL, ela passa

a conter apo´s C e E e ocorre uma substituição de triglicérides e fosfolipídeos por

ésteres de colesterol, estes são adquiridos da HDL mediada pela ação de duas

enzimas, a cholesterol ester transfer protein (CETP) e pela phospholipids transfer

protein (PLTP), com isso, será formada a IDL, que apresenta a apo B-100 e apo E

como apo´s majoritárias. Esta apresentará dois destinos, ou pode ser recaptada pelo

tecido hepático devido à afinidade de suas apoproteínas com os receptores do

tecido hepáticos ou será processada pela lipase hepática se tornando uma LDL, que

permanecem por longo tempo no plasma (COBBE; SHEPHERD, 1993; GENEST,

2003; GINSBERG, 2002).

A LDL tem um conteúdo apenas residual de triglicerídeos e é composta

principalmente de colesterol e uma única apoproteína, a apo B100, em geral os

triglicerídeos representam somente de 4 a 8% da massa da LDL. Estas lipoproteínas

são responsáveis pela maior parte do transporte de colesterol pelo organismo

abastecendo os tecidos periféricos ou então são removidas pelo fígado, nos dois

casos a mediação ocorre através dos receptores específicos da apoB-100. A

expressão desses receptores é a principal responsável pelo nível de colesterol no

sangue, eles são controlados pela atividade da enzima hidroxi-metil-glutaril CoA

redutase. Quando há uma alta demanda de colesterol pelas células, os receptores

B/E são ativados para aumentar a captação da LDL. Inversamente, quando a célula

está repleta de colesterol, o mecanismo de regulação negativa do receptor protege-a

contra os efeitos deletérios da acumulação deste lipídeo (GENEST, 2003;

GINSBERG, 2002; NOVAK, BYDLOWSKI, 1996).

Este processo é chamado de transporte reverso do colesterol (TRC) e o

mecanismo principal na atividade antiaterogênica do HDL. A HDL é sintetizada no

fígado ou intestino e é primeiramente denominada de HDL nascente, esta contém

pouca apoA-I (apoproteína majoritária da HDL). No plasma, esta HDL nascente

capta colesterol de células periféricas mediado por uma proteína celular específica,

a ATP-binding cassete transportador A1 (ABCA1), com isso ele se trona um HDL

maduro, com um formato esférico. Este colesterol então é esterificado pela enzima

lecitina colesterol acil transferase (LCAT) e se transfere para o núcleo do HDL. Esta

lipoproteína já madura também capta colesterol de células periféricas e de

22

macrófagos, isto pode ocorrer através da ATP-binding cassete transporter G1

(ABCG1) ou receptor de sequestro classe B tipo 1 (SR-BI), aumentando, com isso, o

nível de colesterol esterificado na HDL. Esta pode trocar lipídeos com outras

lipoproteínas, como a IDL e LDL, no caso colesterol esterificado por triglicérides,

esta troca é mediada pela proteína cholesteryl ester transfer protein (CETP) (figura

5). As HDL restantes retornam ao fígado, através da interação com os receptores

SR-BI. No fígado, este colesterol poderá ser utilizado na formação de VLDL´s ou

ácidos biliares (WANG; PENG, 2011; RADER, 2002; DEAN et al., 2001; VON

ECKARDSTEIN et al., 2001).

Figura 5 - O transporte reverso do colesterol. A apo A-I pobre em lipídeos interage com

as células periféricas e captam o colesterol e o fosfolipídeo através do transporte mediado

pelo ABCA1. A HDL madura também capta o colesterol dos macrófagos via SR-B1. O

colesterol no HDL é convertido em éster de colesterol através da enzima LCAT. A HDL

então se liga aos receptores SR-B1 hepáticos e o fígado secreta colesterol diretamente na

bile ou converte-o a ácidos biliares que são secretados pela bile.

Fonte: RADER (2002).

Esta lipoproteína ainda contribui significativamente contra a formação da

placa de ateroma através de mecanismos como a remoção de lipídeos oxidados de

LDL, inibição da fixação de moléculas de adesão e monócitos ao endotélio e

estimulação da liberação de óxido nítrico (REDONDO et al., 2011; VON

ECKARDSTEIN et al., 2001).

23

Figura 6 – Esquema do metabolismo lipídico. Ciclo exógeno mostra formação dos quilomícrons e o

transporte lipídico até o fígado. Ciclo endógeno mostra a formação da VLDL, IDL e LDL e o transporte

dos lipídeos do fígado até os tecidos. A HDL é responsável pelo transporte reverso levando os

lipídeos dos tecidos até o fígado.

Fonte: University of London (2006).

2.2 HIPERLIPIDEMIA

A hiperlipidemia ou hiperlipoproteinemia são dislipidemias e podem ser

definidas como um desequilíbrio nos níveis de lipídeos no organismo, em especial o

triglicerídeo e o colesterol, resultando em um aumento das concentrações

plasmáticas de lipoproteínas não HDL. No organismo sadio há um equilíbrio entre as

concentrações de lipídeos necessários para o metabolismo celular, evitando o

acúmulo excessivo destes. Porém, por razões ainda não definidas totalmente, pode

ocorrer um desequilíbrio que leva à elevação destas moléculas no organismo

(MUSUNURU, 2010).

Hiperlipidemia é um fator de risco para doença cardiovascular. A deposição

de lipídeos no plasma na íntima arterial induz uma resposta inflamatória local e

24

remodelação vascular extensa resultando na formação de placas ateroscleróticas. A

ruptura da placa ou erosão provoca infarto do miocárdio ou acidente vascular

cerebral (POREZ et al., 2012 )

Quanto a sua etiologia elas podem ser classificas em dislipidemias primárias -

decorrentes de fatores genéticos e/ou ambientais como alteração de apoproteínas

ou o sedentarismo, respectivamente - e dislipidemias secundárias - decorrentes de

doenças (diabetes), aos efeitos de medicamentos (anti-hipertensivos, corticóides,

inibidores de proteases) e aos hábitos de vida inadequados (tabagismo, etilismo)

(GONÇALVES et al., 2006).

A hipertrigliceridemia é caracterizada pelo aumento sérico de VLDL, enquanto

que a hipercolesterolemia é consequência do aumento da LDL sérica. Seja com a

hipertrigliceridemia ou a hipercolesterolemia, aumentam-se as chances de

surgimento de doenças, principalmente cardiovasculares. O diagnóstico precoce e

controle dos níveis séricos desses lipídeos, contribui para sensível queda da

incidência e da mortalidade por doença cardiovascular (GENEST, 2003;

MUSUNURU, 2010; GONÇALVES et al., 2006).

As projeções da OMS (Organização Mundial de Saúde) mostram que a

morbidade e a mortalidade causadas por doenças cardiovasculares, nas próximas

décadas, serão a primeira causa de morte em todo o mundo. No Brasil a doença

aterosclerótica coronariana e cerebrovascular já são a maior causa de incapacidade

e morte, correspondendo a 32,1% de todas as causas, concomitantemente, esses

números também vem crescendo em outros países da Europa, Ásia e América do

Sul. Sendo as dislipidemias a principal causa da gênese do mecanismo

fisiopatológico do processo aterosclerótico (MAGALHÃES et al., 2004).

2.2.1 Disfunção endotelial e a Aterosclerose

A aterosclerose é descrita como uma doença inflamatória crônica de origem

multifatorial que ocorre em resposta à agressão endotelial, tendo como

consequência o espessamento da camada sub-íntima macular (ateroma) através do

acúmulo de lipídeos, células inflamatórias e elementos fibrosos, obstruindo total ou

parcialmente o fluxo sanguíneo, acometendo principalmente artérias de médio e

25

grande calibre, sendo a aorta, coronárias, carótidas e cerebrais as de maior

importância clínica (POREZ et al., 2012; BERLINER et al.,1995; VANDERLAAN,

2004).

Consequentemente, a disfunção endotelial aumenta a permeabilidade da

camada íntima, favorecendo a retenção de lipoproteínas. As LDL´s irão sofrer

processo de oxidação e se tornarão imunogênicas proporcionando a quimiotaxia

para macrófagos. Os macrófagos fagocitam as lipoproteínas oxidadas e ficam

retidos na camada íntima do vaso sanguíneo, causando o acúmulo de lipídeos na

parede arterial e consequentemente a formação da placa de ateroma. Estas células

são chamadas de células espumosas, devido a sua grande quantidade de lipídeo

intra-celular (MOURA, 2006; POREZ et al., 2012; BERLINER et al.,1995;

VANDERLAAN, 2004).

Alguns mediadores inflamatórios fazem com que ocorra a migração e

proliferação das células musculares lisas da camada média arterial para a camada

íntima. Nesta camada passam a produzir citocinas e fatores de crescimento, além de

matriz extracelular que formará parte da capa fibrosa da placa aterosclerótica. A

placa de ateroma em estágio desenvolvido é constituída por elementos celulares,

componentes da matriz extracelular e núcleo lipídico. As placas estáveis

caracterizam-se por ter uma capa fibrosa espessa devido ao predomínio de

colágeno, poucas células inflamatórias e uma pequena porção de lipídeos, formando

seu núcleo. As instáveis apresentam uma fina camada fibrótica, atividade

inflamatória intensa, especialmente nas suas bordas laterais, núcleo lipídico bem

proeminente (BERLINER et al.,1995).

A formação da placa de ateroma tem início com lesão endotelial, esta pode

ocorrer por diversos motivos como o aumento sérico das lipoproteínas, em especial

a LDLox (LDL oxidadas), hipertensão arterial e o estresse oxidativo. O principal fator

de risco utilizado na clínica para a prevenção da formação da placa de ateroma tem

sido a avaliação dos níveis séricos de lipoproteínas, principalmente a LDL. Porém, a

LDL nativa, natural, não tem característica aterogênica, esta se torna agressiva

somente quando modificada, principalmente pela ação de radicais livres,

promovendo sua oxidação. Outro importante fator relacionado com a lesão endotelial

é a diminuição da síntese, liberação e atividade do óxido nítrico (NO)

(VANDERLAAN, 2004; BERLINER et al.,1995).

26

O NO é um mediador sintetizado e continuamente liberado pelas células

endoteliais, com importante papel na fisiologia da musculatura lisa vascular

(SPIEKER et al., 2006). Além de ser um vasodilatador potente (IGNARRO et al.,

1981; HUANG et al., 1995), o NO inibe a adesão (RADOMSKI et al., 1987) e

agregação (RADOMSKI et al., 1990) plaquetária e, também, otimiza o fluxo

sanguíneo na microcirculação (MONCADA, HIGGS, 2006).

Uma vez produzido, o NO difunde-se facilmente da célula geradora para a

célula alvo, onde interage rapidamente com moléculas específicas. Sua atuação é

principalmente local, devido ao fato de possuir uma meia-vida curta no espaço

extracelular antes de ser convertido em espécies reativas. Existem relatos que em

condições onde há evidência da deficiência de NO, o processo de aterosclerose está

sendo iniciado ou avançado.

Atualmente, terapias envolvendo o metabolismo das lipoproteínas plasmáticas

ou do colesterol celular, e a intervenção nos processos inflamatórios são importantes

na terapia da aterosclerose (RADER, DAUGHERTY, 2008). O uso de compostos

com atividade antioxidante apresenta grande participação nas terapias, devido ao

sequestro de radicais livres e consequentemente à diminuição de danos celulares.

2.2.2 Radicais livres, estresse oxidativo e peroxidação lipídica

Nos últimos anos, inúmeras evidências têm indicado o papel chave dos

radicais livres e outros oxidantes como grandes responsáveis pelo envelhecimento e

pelas doenças degenerativas associadas ao envelhecimento, como câncer, doenças

cardiovasculares, catarata, declínio do sistema imune e disfunções cerebrais (ATOUI

et al., 2005).

Radicais livres são moléculas instáveis, sendo as mais importantes no

metabolismo humano, as originadas a partir do oxigênio. Este se encontra em

abundância no organismo, sendo gerados, principalmente, no metabolismo

energético (OLSZEWER, 1994).

Um radical livre é definido como qualquer átomo, grupo de átomos ou

molécula contendo um ou mais elétrons desemparelhados ocupando a órbita

externa. O ânion superóxido (O2•-), o radical hidroxila (•OH) e o óxido nítrico (•NO)

27

são exemplos de radicais livres. Existem, entretanto, compostos igualmente reativos

que não possuem elétron desemparelhado na última camada e, portanto, não

podem ser classificados como radicais livres (DRÖGE, 2002). Essas substâncias

são classificadas de maneira mais ampla como espécies reativas, e as mais

estudadas nos sistemas biológicos são as espécies reativas de oxigênio (ROS),

espécies reativas de nitrogênio (RNS), espécies reativas de tióis (RS+), espécies

reativas de cloro, espécies reativas do carbono e complexos de metais de transição

(OLIVEIRA et al., 2009), e incluem o peróxido de hidrogênio (H2O2), o cátion

nitrosônio (NO+), o ânion nitroxila (NO-) e o peroxinitrito (ONOO-) (DRÖGE, 2002).

Em geral, sua instabilidade se dá pelo não pareamento dos elétrons em sua

camada externa. Como tendência natural dos átomos, estes buscam o equilíbrio.

Para isto, necessitam de mais um elétron para conseguir o pareamento de sua

última camada, capturando elétrons de outras moléculas, desestabilizando-as e

provocando um “efeito cascata” (OLSWER, 1994).

Os organismos aeróbios produzem a adenosina trifosfato (ATP) através da

redução completa do O2 por quatro elétrons, através do transporte mitocondrial de

elétrons. Aproximadamente 98% de todo o oxigênio consumido pelas células entram

nas mitocôndrias, onde são reduzidas pela citocromo oxidase. Entretanto, o oxigênio

pode receber menos de quatro elétrons e formar espécies reativas de oxigênio

(RODRIGUES et al., 2003).

Em condições normais, aproximadamente, 5% do oxigênio absorvido pelo

organismo se torna um radical livre, porém, podem ocorrer alterações

fisiopatológicas que alterem este percentual, como por exemplo, o que ocorre nas

inflamações (OLSWER, 1994). Esse aumento do percentual de transformação de O2

em ROS, ou mais amplamente descrevendo, o estresse redox (que pode envolver

vários tipos de espécies reativas), também pode ocorrer devido a hábitos de vida

considerada inadequados como consumo excessivo de álcool, tabagismo, dieta

inadequada, prática exacerbada de exercícios físicos, exposição à radiação

ionizante ultravioleta e outras ondas curtas; condições ambientais impróprias como

aumento da temperatura, e os diversos tipos de poluição; envelhecimento; estados

psicológicos que provoquem estresse emocional; consequência de diversas doenças

como diabetes mellitus, hipertensão arterial, câncer, mal de Alzheimer e mal de

Parkinson (OLIVEIRA et al., 2009).

28

O desequilíbrio entre a produção de ROS/RNS e remoção pelos sistemas de

defesa antioxidantes é denominado estresse oxidativo. O estresse oxidativo é uma

condição celular ou fisiológica de elevada concentração de ROS/RNS que causa

danos moleculares às estruturas celulares, com consequente alteração funcional e

prejuízo das funções vitais, em diversos tecidos e órgãos, tais como músculo,

fígado, tecidos adiposos (BARJA DE QUIROGA, 1992; GOLFARB, 1993), vascular

(DUARTE et al., 1993; FENSTER et al., 2002) e cerebral (HALLIWELL, 1994;

KEYNES, GARTHWAITE, 2004). No entanto, o efeito deletério do estresse oxidativo

varia consideravelmente de acordo com a idade, o estado fisiológico e a dieta

(NIESS et al., 1999).

O aumento do estresse oxidativo pode estar envolvido na patogênese de

diversas doenças cardiovasculares, como a hipertensão (RODRIGO et al., 2007) e

aterosclerose (RADER, DAUGHERTY, 2008; SCHULZ et al., 2008).

Acredita-se que a presença de ROS na parede endotelial pode ocasionar a

formação de LDL-ox, um dos principais fatores para a gênese da placa de ateroma.

Os ácidos graxos da membrana plasmática são alvos dos radicais livres, podendo

desencadear uma reação em cadeia denominada peroxidação lipídica (FONSECA,

2007). Esta é caracterizada por um evento em cadeia tendo malondialdeído como

um de seus subprodutos, este tem a capacidade de se ligar covalentemente a

proteínas provocando alteração em sua molécula. Com isso, o malondialdeído é

utilizado como marcador da peroxidação lipídica em investigações laboratoriais

(FONSECA, 2007). Um dos compostos mais pesquisados devido sua atividade

antioxidante atualmente são os flavonoides.

2.3 FLAVONÓIDES

Os flavonóides são metabólitos secundários dos vegetais, ou seja, apresenta

uma atividade biológica benéfica a espécie, porém não é essencial à vida da planta.

As mais importantes funções dos flavonóides descritas para o metabolismo vegetal

são a proteção contra raios UV; proteção contra insetos, fungos, vírus e bactérias;

atração animal (que propicia a polinização da planta); ação antioxidante; controle da

ação de hormônios; agentes alelopáticos e inibição enzimática (ZUANAZZI;

29

MONTANHA, 2004; DORNAS et al., 2007). Também são responsáveis pela

coloração das flores, frutos e ocasionalmente outras partes da planta (do latim,

Flavus, amarelo) (COSTA, 2002).

Quimicamente eles são classificados como polifenóis, ou seja, possuem um

ou mais núcleos aromáticos contendo substituintes hidroxilados e/ou seus derivados

funcionais. A estrutura padrão da maioria dos flavonóides é composta por 15 átomos

de C (carbono) em seu núcleo fundamental, constituindo de duas fenilas ligadas por

uma cadeia de três C entre elas (figura 7). Nos compostos tricíclicos, as unidades

são chamadas núcleos A, B e C (ZUANAZZI; MONTANHA, 2004).

Figura 7 – Estrutura química do flavonoide rutina.

Do ponto de vista terapêutico, os flavonóides ganharam um impulso devido à

descoberta do “Paradoxo Francês”, no qual foi observado, em populações

francesas, um baixo índice de mortalidade relacionado a doenças cardiovasculares,

mesmo com um hábito alimentar com um alto nível de gordura saturada (NIJVELDT

et al., 2001). Foi observado, que a população francesa apresentava melhores

índices relacionados a doenças cardiovasculares, quando comparados a outra

populações com mesmos hábitos alimentares, o diferencial, porem se apresentava

na ingestão diária de vinho, muito mais consumido pelos franceses. Este fato

sinalizava a possível existência de algum componente cardioprotetor presente no

vinho (PROVIDÊNCIA, 2006). Estudos posteriores indicam que um dos fatores da

proteção cardiovascular provocada pelo vinho se deve ao fato da presença dos

flavonóides (LUZ, 2006).

Os flavonóides apresentam uma variabilidade estrutural muito grande, sendo

classificados em vários grupos, os principais são as flavonas, flavonóis, chalconas,

30

auronas, flavanonas, flavanas, antocianidinas, leucoantocianidinas,

proantocianidinas, isoflavonas e neoflavonóides (DORNAS et al., 2007).

Na dieta, os flavonóides são encontrados em frutas, vegetais e em bebidas

como chá e vinho (NIJVELDT et al., 2001), e seu consumo diário é estimado entre 1

ou 2 g por dia (DORNAS et al., 2007), sendo que um dos flavonóides mais

comumente encontrados é a quercitina, que está presente em frutas, vegetais e

bebidas. Ainda há a luteolina que é encontrada principalmente em pimentões

vermelhos; apegenina no aipo; catequinas em chás, vinhos e chocolate; e

antocininas em frutas vermelhas (sendo o responsável por sua cor), como cerejas,

ameixas, morangos e uvas (SCALBERT; WILLIAMSON, 2000).

Apesar de contida em diversos alimentos (em especial vegetais, frutas e

algumas bebidas), e de sua grande diversidade estrutural, a ingestão de polifenóis é

limitada na dieta da maioria das pessoas. Mesmo assim é a classe de substâncias

antioxidantes mais abundantes em nossa dieta, sendo destes, os flavonóides os

mais ingeridos. Porém a ocorrência das subclasses de flavonóides é restrita a

alguns tipos de alimentos. A maior fonte de flavonóides na alimentação encontra-se

na soja, onde contém, aproximadamente 1 mg de genisteína e dadzeína por grama

de soja (SCALBERT; WILLIAMSON, 2000).

2.3.1 Atividades biológicas dos flavonóides

Os flavonóides são grupos de compostos polifenólicos muito interessantes por

apresentarem uma gama de atividades farmacológicas e serem utilizados no auxilio

ao tratamento de doenças tais como alergia (SHAIK et al., 2006), diabetes mellitus

(HABIBUDDIN et al., 2008), câncer (MILLER et al., 2008), e também nos processos

de infecções virais (DROEBNER et al., 2007), inflamatórios (CHARAMI et al., 2008),

e antioxidantes ou oxidantes (YU et al., 2005; BOOTS et al., 2008).

Os flavonóides kaempferol e kaempferol-3-0-glucoside demonstraram em

ensaios in vivo, terem atividade anti-inflamatória, através dos métodos de edema de

pata e edema de orelha, e também atividade analgésica através do método de

contorções abdominais induzidas por injeção de ácido acético. Nos dois testes que

mensuraram a atividade anti-inflamatória, houve significante inibição inflamatória

31

pelos dois compostos. Acredita-se que seu mecanismo esteja relacionado à inibição

da histamina, serotonina ou da síntese de prostaglandinas. Os dois também

demonstraram efeitos analgésicos no teste de contorções abdominais (PARVEEN et

al., 2007).

Ensaios in vitro, pelo método de viabilidade celular por MTT (3-(4,5-

dimethylthiaxolone-2-yl)-2,5-diphenyl tetrazolium bromide), demonstraram a ação da

5-allyl-7gen-difluoromethylenechrysin (ADFMChR), que é um produto sintético

derivado do flavonóide crisina, no carcinoma hepático humano (linhagem celular

HepG2). Os resultados sugerindo uma indução de apoptose das células

cancerígenas. A análise do efeito do ADFMChR na expressão das proteínas PPARγ,

NF-κB, Bax e Bcl-2 indicou que a apoptose foi induzida pelo aumento da expressão

da proteína PPARγ (TAN et al., 2009).

Alguns trabalhos relatam a atividade antiviral de alguns flavonóides,

principalmente do grupo dos flavonóis, chalconas e seus análogos sintéticos. A

quercetina e seus derivados, demonstraram atividade sobre os vírus herpético

simples do tipo I, vírus respiratório sincial, pseudoraiva, parainfluenza 3, sindbis,

poliomielite do tipo I, coxsackievírus tipo B4 e rinovírus. A diosmina e hesperidina

foram capazes de inibir a replicação do rotavírus, e a baicaleína inibiu a

transcriptase reversa do vírus HIV-1 (ZUANAZZI; MONTANHA, 2004).

A rutina já é utilizada na terapêutica no caso de fragilidade capilar e

hipertensão cardiovascular, sendo, com isso, recomendada na púrpura hemorrágica,

glaucoma, menorragias, hemoptises, hematúrias, varicoses, estados infecciosos,

entre outras. O mecanismo pelo qual isso ocorre é pela inibição da oxidação do

hormônio adrenalina, que é o responsável pela manutenção da resistência capilar

(COSTA, 2002).

Segundo Nijveldt (2001), um importante efeito dos flavonóides é o sequestro

de radicais livres derivados do oxigênio, sendo esta, a atividade mais estudada

destes compostos. São demonstrados também, efeitos na diabetes mellitus, alergia,

câncer, infecções virais, dores de cabeça, úlceras estomacais e duodenais e

inflamações, e grande parte de seus efeitos podem ser explicados devido à sua

ação antioxidante (van ACKER et al., 1998).

Yordanov et al. (2008), demonstraram a atividade de inibição de enzimas

extracelulares secretadas pela Candida albicans, pelos flavonóides apeginina,

kaempferol, berberine e ibogaine. Apesar dos compostos não demonstrarem uma

32

significante atividade candicida, eles foram eficientes em inibir enzimas responsáveis

por aumentar a virulência e facilitar a adesão destes fungos em tecidos no qual não

são considerados de sua flora normal.

No organismo, os antioxidantes podem ser divididos em duas classes: as

substâncias com atividade enzimática e aquelas que não possuem esta atividade.

Na primeira, estão os compostos capazes de bloquear cataliticamente a iniciação

e/ou a propagação da oxidação, ou seja, as enzimas que removem as espécies

reativas de oxigênio. Na segunda classe, estão moléculas que interagem com as

espécies radicalares e são consumidas durante a reação. Nesta classificação,

incluem-se os antioxidantes naturais e sintéticos como os compostos fenólicos.

Dentre as diversas classes de substâncias antioxidantes e anti-inflamatória de

ocorrência natural, os compostos fenólicos têm recebido muita atenção nos últimos

anos, sobretudo por inibirem a peroxidação lipídica e a lipoxigenase in vitro (ATOUI

et al., 2005).

A atividade antioxidante de compostos fenólicos deve-se principalmente às

suas propriedades redutoras. Estas características desempenham um papel

importante no sequestro de radicais livres e quelação de metais de transição, agindo

tanto na etapa inicial quanto no decorrer do processo oxidativo. Os intermediários

formados pela ação de antioxidantes fenólicos são relativamente estáveis, devido à

ressonância do anel aromático presente na estrutura destas substâncias (BOOTS et

al., 2008).

Os flavonóides são potentes agentes antioxidantes, e fazem isso de forma

direta ou indireta, sendo que as atividades que podem interferir na formação de

radicais livres e propagação da ação oxidante são a de quelante de ferro;

sequestrante de radicais livres; inibição das enzimas lipooxigenase, ciclooxigenase,

NADPHoxidase, xantina-oxidase e fosfolipase; estimulação da catalase, superóxido

dismutase e outras enzimas antioxidantes (ZUANAZZI; MONTANHA, 2004).

Alguns desses processos podem ser explicados devido à forma química dos

flavonóides, no qual se acredita que a sua capacidade antioxidante seja devido a

sua estrutura, principalmente as hidroxilas que podem doar elétrons e suportar,

como resultado, a deslocalização em torno do sistema aromático, as hidroxilas

contidas em C3 e C4, atuariam no aumento do potencial antioxidante (DORNAS et

al., 2007), sendo que, quanto maior o número de hidroxilas, maior a atividade como

agente doador de H e de elétrons (BARREIROS et al., 2006).

33

Porém, ainda há muita discussão sobre o mecanismo de ação dos

flavonóides, sendo que seu real desempenho in vivo depende de outros fatores que

não sua composição química e potencial de sequestrar radicais livres in vitro, entre

eles o tipo de radical livre formado. Onde e como são formados esses radicais livres

e doses ideais para obter proteção (BIANCHI; ANTUNES, 1999). Porém, alguns

flavonóides se apresentam mais ativos na atividade de sequestro de radicais livres

do que outros antioxidantes como as vitaminas C e E, tendo as vantagens de quelar

mais metais de transição, estabilidade do flavanoil (radical formado pela reação com

um radical livre) formado e de poderem atuar em ambos os compartimentos

celulares, lipofílico e hidrofílico (BARREIROS et al., 2006).

Os flavonóides miricetina, quercetina e rutina demonstraram melhor atividade

na inibição de danos oxidativos induzidos pela H2O2 no DNA de linfócitos humanos

do que a vitamina C, sendo que a rutina também se demonstrou mais eficiente do

que o manitol na atividade antioxidante sobre o •OH (BIANCHI; ANTUNES; 1999).

Dentre os diversos grupos de flavonóides, se destacam as flavonas e as

catequinas no que se diz respeito ao sequestro de radicais livres. A rutina pertence

ao grupo das flavonas. A rutina é caracterizada como antioxidante, sendo que uma

de suas capacidades é a ação inibitória sobre a enzima xantina oxidase e que esta

sendo relacionada com a oxidação da LDL, processo importante para a gênese

aterosclerótica (NIJVELDT et al., 2001).

Foi demonstrado em estudo que o tratamento com os flavonóides antocianina

e naringina associados reduz os níveis de colesterol total e triglicerídeos em ratos

Wistar (NAGEM et al., 1999).

Estudo com antocianina e naringenina demonstrou que estes flavonóides

proporcionam ganho de peso considerável e redução dos níveis séricos de glicose e

triglicerídeos em coelhos com diabete induzida (RIBEIRO, 2001).

Em pesquisa de Rodrigues et al. (2003), no qual foi avaliada a capacidade da

rutina em induzir variação na glicemia de jejum, alterações séricas na lipoproteína do

colesterol LDL (lipoproína de baixa densidade) e HDL (lipoproteína de alta

densidade) e atividade da enzima superóxido dismutase (SOD), em experimentos

com ratos Wistar, apesar de não terem sidos observadas alterações de peso, da

glicemia e na LDL dos animais, houve uma significante elevação na HDL e na

atividade da enzima SOD, sugerindo um importante efeito na diminuição dos fatores

34

de risco para doenças cardiovasculares. A SOD é responsável por catalisar a

destruição do radical superóxido pela formação de H2O2.

A rutina demonstrou ter a capacidade de reduzir os níveis de colesterol e

triacilglicerídeos, bem como manter elevados os níveis de colesterol HDL em testes

realizados com soro de ratos Wistar hiperlipidêmicos, tratados previamente com

triton (ou tyloxapol, um detergente não aniônico de estrutura polimérica, utilizado

para induzir hiperlipidemia em cobaias) (LIMA et al., 2003).

2.3.2 Flavonóides e Metais de Transição

A relação estrutura-atividade dos flavonóides tem sido extensivamente

estudada na tentativa de se entender quais efeitos estruturais são mais importantes

nas diversas atividades.

Estudos farmacológicos demonstraram que os flavonóides não glicosilados,

como a quercetina e o canferol, possuem maior efeito antioxidante e antiinflamatório

quando na presença de íons de metais de transição como Fe(II) e Cu(II) (van

ACKER et al., 1998). O flavonóide rutina (quercetina glicosilada) também mostrou

maior eficiência na presença de íons de Fe(II) e Cu(II) (AFANAS'EVA et al., 2001).

Entretanto, estes estudos foram realizados in situ, não sendo isolado nenhum

complexo.

A naringina é uma flavona que possui atividade antioxidante, anti-inflamatória

(KORKINA et al., 1997), além de inibir a proliferação in vitro de linhagens de tumores

de mama humanos (AFANAS'EVA et al., 2001). Pereira et al. (2007) demonstraram

que a complexação Naringina-Cu (II), aumenta a atividade antioxidante, anti-

inflamatória e a atividade citotóxica em células tumorais quando comparada ao

flavonóide livre.

Existem estudos que demonstram que flavonóides complexados com metais,

como o ferro, possuem uma efetiva habilidade em promover o sequestro de radicais

livres, e um potente benefício terapêutico para o tratamento de patologias e

disfunções associadas ao estresse oxidativo (KOSTYUK et al., 2007).

Dados preliminares mostram que a rutina quando coordenada ao íon Fe(II),

apresenta uma atividade antioxidante superior à da rutina livre, além de viabilizar o

35

crescimento de células vermelhas em animais anêmicos (PEREIRA et al., 2007;

RETTORI et al., 2008).

Há dois fatores importantes para o planejamento de complexos metálicos

como agentes farmacêuticos: estabilidade e seletividade; e seu sucesso depende do

controle de suas propriedades cinéticas e termodinâmicas, com isso, podendo

encontrar a atividade e melhorar a especificidade biológica minimizando os efeitos

colaterais (BENITE et al., 2007).

A obtenção de compostos com atividade hipolipemiante, antioxidante e anti-

inflamatória complexados com metais de transição, como o ferro, cobre e o zinco,

pode apresentar um interessante papel no combate às patologias relacionadas ao

aumento sérico dos lipídeos e o aumento de radicais livres, como a aterosclerose.

Desta forma, com o presente trabalho pretendeu-se avaliar uma possível

potencialização da atividade da rutina quando complexada ao cobre no metabolismo

lipídico em um modelo de indução de hipercolesterolemia em ratos. Sendo esta a

primeira pesquisa da atividade da rutina complexada a cobre (II) no metabolismo

lipídico, os resultados obtidos são importantes e servem como base para futuras

pesquisas para elucidação dos mecanismos de ação desta molécula.

Figura 8 – Possíveis sítios de ligação do metal de transição na molécula de flavonóide.

36

3. OBJETIVO GERAL

Avaliar a atividade do composto rutina livre e rutina complexada com cobre(II)

no metabolismo lipídico de ratos induzidos a hipercolesterolemia.

3.1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Avaliar comparativamente entre os compostos rutina e rutina complexada com

cobre(II), os seguintes parâmetros:

• Alterações bioquímicas no sangue de ratos;

• Hemograma;

• Análise anatomopatológica do fígado e aorta dos ratos;

• Análise da peroxidação lipídica do plasma sanguíneo;

• Concentração de NO do plasma sanguíneo.

37

4. MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 PREPARAÇÃO DA DROGA COMPLEXADA

O processo de síntese dos compostos rutina complexado a metais de

transição foi realizado no Laboratório de Química de Coordenação da Universidade

Bandeirante de São Paulo (UNIBAN). Estes complexos foram doados pela Profa.

Dra. Regina Mara da Silva Pereira, resultantes do projeto de pesquisa FAPESP

(Processo nº 05/60749-9).

4.2 ENSAIOS COM DIETA HIPERCOLESTEROLÊMICA

4.2.1 Animais

Foram utilizados ratos Wistar machos com idade de 2 meses e peso médio

inicial de 220g, mantidos no biotério da Universidade Bandeirante de São Paulo -

UNIBAN. Os animais foram mantidos à temperatura de 22 ± 3ºC, em ciclo

claro/escuro de 12 horas, com acesso a água e ração ad libitum. Os animais foram

mantidos nos laboratórios por 1 hora antes da realização dos experimentos para

aclimatação sendo que os experimentos foram conduzidos de acordo com o manejo

experimental de animais de laboratório e normas para investigação em animais

conscientes (ZIMMERMMAN, 1983). O procedimento foi analisado e aprovado pela

Comissão de Ética no Uso de Animais da UNIBAN - CEUA/UNIBAN, sob o nº209/11

(ANEXO).

4.2.2 Protocolo Experimental

Os animais foram divididos em sete grupos (n=5), conforme apresentado na

tabela 01.

38

Tabela 01: Grupos de animais divididos de acordo com o tratamento.

GRUPO DOSAGEM

Grupo G1 - controle negativo, ração padrão Água destilada

Grupo G2 - controle negativo, ração suplementada Veículo

Grupo G3 - controle positivo, ração suplementada 10mg/kg de sinvastatina

Grupo G4 - rutina 10, ração suplementada 16µmol/kg de rutina

Grupo G5 - rutina 100, ração suplementada 160µmol/kg de rutina

Grupo G6 - rutina-cobre2 10 (R-Cu2), ração

suplementada 16µmol/kg de R-Cu2

Grupo G7 - rutina-cobre2 100 (R-Cu2), ração

suplementada 160µmol/kg de R-Cu2

Os animais receberam administração das drogas testes pela via oral por

gavagem três vezes por semana, com volume máximo administrado de 1mL/animal.

Devido às características físico-químicas das drogas e para mimetizar uma

possibilidade de futura formulação, os compostos foram preparados em forma de

suspensão utilizando Emulgin a 3%. A sinvastatina foi utilizada como controle

positivo devido a sua atividade no controle do metabolismo através da regulação da

atividade da enzima HMG – CoA redutase.

Durante a indução da hipercolesterolemia e tratamento concomitante, foram

feitas coleta de dados (peso, consumo de ração e água, fezes). Este período teve

duração de 8 semanas, onde os animais receberam tratamento 3 vezes na semana.

Após o período os animais foram submetidos à eutanásia e amostras foram

coletadas para avaliações bioquímicas, hematológicas e morfológicas.

4.2.3 Dietas

Para a indução da hipercolesterolemia foi realizada uma adaptação do

protocolo descrito por Zand et al., (1999). Foi fornecido aos animais, ração

enriquecida com colesterol (2%), ácido cólico (0,5%) por um período de 60 dias. O

39

tiouracil (0,5%) foi adicionado a ração nos primeiros 30 dias. O grupo controle G1

recebeu ração padrão que foi submetida ao mesmo processo de preparo.

4.2.4 Dosagens sanguíneas

Após os 60 dias de tratamento foram realizados as coletas dos materiais para

a análise. Os animais foram mantidos em jejum por 12 horas e então foram

anestesiados com ketamina/xilasina. As amostras de sangue foram coletadas

através da artéria porta-hepática, com auxílio de uma seringa heparinizada.

Parte das amostras de sangue total foi aliquotada em tubos cônicos para a

contagem global de leucócitos, contagem diferencial de leucócitos e hematócrito. A

outra parte foi centrifugada a 2.500 r.p.m. durante 10 minutos, e após, o plasma foi

separado e aliquotado em tubos cônicos. As amostras de sangue total foram

estocadas em geladeira a 8°C, enquanto que o plasma aliquotado foi armazenado

em freezer (-20 a -70ºC) até o momento das dosagens.

4.2.4.1 Dosagens bioquímicas

Foram quantificados os valores de colesterol total, HDL e triglicerídeos. Foram

utilizados Kits de análise enzimático colorimétrico obtido da Labtest Diagnóstica. As

leituras foram realizadas em espectrofotômetro de acordo com as especificações do

laboratório.

O valor de LDL foi calculado matematicamente pela equação de Friedewald:

[LDL = colesterol total – (HDL+TG/5)] de acordo com Nicastro et al (2012).

4.2.4.2 Avaliação da peroxidação lipídica

A avaliação da peroxidação lipídica foi determinada pela verificação de

TBARS (substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico) no plasma através do método

adaptado de Serra et al. (2001). Após o descongelamento das amostras de plasma

coletado dos animais tratados, foram realizados os seguintes procedimentos. Em

tubos cônicos de 1,5mL, contendo 500uL de plasma foram adicionados 500uL de

40

TCA (ácido tricloroacético - 10%). Após homogeneização a mistura foi colocada no

gelo por 10 minutos. Em seguida, os tubos foram centrifugados a 900g por 15

minutos. Após a centrifugação, o sobrenadante foi separado em outro tubo, e foram

acrescentados 500uL de TBA (ácido tiobarbitúrico - 1%). A reação foi incubada a

100oC por 30 minutos. Na sequência, foi realizada a leitura no espectrofotômetro em

535 nm. Paralelamente, foi preparado o “branco” adicionando água no lugar da

amostra.

Após a avaliação das amostras, os resultados (em nmol/uL) foram obtidos

através do cálculo de concentração de TBARS:

C = Absorbância x diluição da amostra/volume de plasma x 0,156= (nmol/ul)

Onde, 0,156 é o fator de concentração para o método.

4.2.4.3 Dosagem plasmática de NO

Para verificação da quantidade de NO (óxido nítrico) pelo efeito da rutina e R-

Cu2 em ratos hipercolesterolêmico foi realizado através da reação de Griess, onde

verificou-se a quantidade de nitrito presente no plasma. Para o preparo da Solução

de Griess foram misturados quantidades iguais (1:1), de sulfanilamida à 1% e N-(1-

naftil) etilenodiamina dihidrocloridrato à 0,1% em ácido fosfórico à 2,5%. Em uma

placa de 96 poços, foram colocados 50uL de plasma e foram adicionados 50uL da

Solução de Griess, deixando reagir por 30min ao abrigo da luz, e a leitura foi

realizada em leitora de placa em 540nm. Nitroprussiato de sódio foi utilizado para a

construção da curva padrão.

4.2.4.4 Análise hematológica

A partir do sangue total foram obtidos os valores de hematócrito, leucócitos

totais e leucócitos diferenciais.

O hematócrito foi obtido através de rotação de capilar contendo o sangue do

animal a 10.000 rpm por 5 minutos em centrífuga de capilar.

41

A contagem total de leucócitos foi quantificada em câmara de Neubauer,

através de diluição de 20µL do sangue total em 380µL de solução de Turk.

A contagem diferencial de leucócitos foi quantificada pela leitura de lâmina

preparada através de coloração panótico.

4.2.5 Estudo anatomopatológico

Foram coletados os rins, fígado, coração e aorta dos animais, todos os órgãos

foram analisados macroscopicamente, limpos, pesados e então guardados em

frascos contendo formol 10% tamponado.

Para avaliação microscópica, as lâminas foram coradas com Hematoxilina e

Eosina (HE) e as fotos obtidas com aumento de 20x. A análise do tecido hepático foi

realizada em três áreas, sendo a área 1 uma região com maior fluxo de sangue

arterial, a área 2 uma região intermediária e a área 3 uma região com um maior fluxo

de sangue venoso, portanto mais propenso a lesões. O estudo anatomopatológico

foi realizado em colaboração com o Doutorando André Rennó do Departamento de

Farmacologia, da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP.

4.4 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Foram realizadas análise de variância One-way ANOVA seguido do Teste de

Bonferroni ou Dunnett, considerando diferenças significativas com P < 0,05. Quando

realizado comparação entre dois grupos foi aplicado Teste t de Student.

42

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. DOSAGENS SANGUÍNEAS

5.1.1. Dosagens bioquímicas

Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (2007) é recomendado que

para definição do perfil lipídico do paciente seja realizada a avaliação de níveis de

colesterol total, HDL, LDL e triglicerídeos. Sendo assim, as amostras sanguíneas

dos animais de todos os grupos, foram quantificadas e obtiveram-se os valores de

colesterol total, HDL, triglicerídeos e LDL.

Os resultados dos níveis séricos de colesterol total (média ± E.P.M) dos

grupos G1, G2, G3, G4, G5, G6 e G7 foram 86,6 ± 4,8, 174,1 ± 23,7, 161,7 ± 31,2,

181,0 ± 10,3, 149,2 ± 9,3, 149,7 ± 21,6, 156,3 ± 23,5mg/dL, respectivamente.

Somente os grupos G2 (veículo) e G4 (rutina 10) apresentaram diferença

significativa em comparação ao grupo G1. Embora exista uma tendência para uma

diminuição do colesterol dos grupos tratados com rutina livre e R-Cu2 (G5, G6 e G7)

em relação ao grupo veículo (G2), no entanto, essas diferenças não foram

significativas (Figura 9).

Figura 9: Níveis séricos de colesterol total em ratos. Os grupos (n=5) de tratamento são: G1 – controle, G2 – veículo, G3 – sinvastatina, G4 - rutina 16µmol/kg, G5 - rutina 160µmol/kg, G6 - R-Cu2 16µmol/kg e G7 - R-Cu2 160µmol/kg. Foram realizadas análises de variância One-way ANOVA seguido do Teste de Dunnett, considerando diferenças significativas com: ** P<0,01 para a análise estatística do grupo controle (G1) vs demais grupos e,

# P<0,05 para a análise estatística do grupo controle (G2) vs demais grupos.

43

Os níveis de triglicerídeos do grupo controle (G1) apresentavam-se dentro

dos níveis considerados fisiológicos para ratos, segundo a literatura. A

hipertrigliceridemia não foi observada nos ratos submetidos à dieta, como podemos

observar entre os grupos controles. No entanto, o tratamento com R-Cu2 nas

concentrações de 16 e 160µmol/kg (grupos G6 e G7) reduziram significativamente

os níveis de triglicerídeos em aproximadamente 30 e 20%, respectivamente, quando

comparados com os grupos controles G1 e G2 (Figura 10).

0

30

60

90

G1 G2 G3 G4 G5 G6 G7

#

***##

##

Tri

glicerí

deo

s (

mg

/dL

)

Figura 10: Níveis séricos de triglicerídeos em ratos. Os grupos (n=5) de tratamento são: G1 – controle, G2 – veículo, G3 – sinvastatina, G4 - rutina 16µmol/kg, G5 – rutina 160µmol/kg, G6 - R-Cu2 16µmol/kg e G7 - R-Cu2 160µmol/kg. Foram realizadas análises de variância One-way ANOVA seguido do Teste de Dunnett, considerando diferenças significativas com: ** e

## P<0,01, análise

estatística de grupos controles (G1 e G2), respectivamente, vs grupos.

Os níveis de HDL do grupo controle (G1) apresentavam-se dentro dos níveis

considerados fisiológicos para ratos, conforme descrito na literatura. Não foram

observadas alterações significativas nos níveis séricos de HDL entre nenhum dos

grupos (Figura 11).

44

0

15

30

45

60

75

G1 G2 G3 G4 G5 G6 G7

#

HD

L (

mg

/dL

)

A Figura 12 mostra que os níveis de LDL estão aumentados em todos os

grupos de animais submetidos à dieta rica em colesterol. O gráfico mostra o

aumento significante de LDL em todos os grupos quando comparado ao grupo

controle (G1). No entanto, os grupos tratados com rutina livre (160µmol/kg – grupo

G5) e R-Cu2 nas concentrações de 16 e 160µmol/kg (grupos G6 e G7) inibiram

significativamente o aumento dos níveis de LDL em 26,1; 28,6 e 23,9% quando

comparados ao grupo veículo (G2).

Figura 11: Níveis séricos de HDL em ratos. Os grupos (n=5) de tratamento são: G1 – controle, G2 – veículo, G3 – sinvastatina, G4 - rutina 16µmol/kg, G5 - rutina 160µmol/kg, G6 - R-Cu2 16µmol/kg e G7 - R-Cu2 160µmol/kg.

Figura 12: Níveis séricos de LDL em ratos. Os grupos (n=5) de tratamento são: G1 – controle, G2 – veículo, G3 – sinvastatina, G4 - rutina 16µmol/kg, G5 - rutina 160µmol/kg, G6 - R-Cu2 16µmol/kg e G7 - R-Cu2 160µmol/kg. Foram realizadas análises de variância One-way ANOVA seguido do Teste de Dunnett, considerando diferenças significativas com: ** e ##

P<0,01, análise estatística de grupos controles (G1 e G2), respectivamente, vs grupos.

45

A hiperlipidemia é uma importante causa da aterosclerose e das condições a

ela associadas, tais como coronopatias, doenças cerebrovascular isquêmica e

insuficiência vascular periférica, condições que contribuem para a maior parte da

morbidade e mortalidade entre os adultos idosos e de meia-idade.

Na avaliação dos níveis de colesterol total (CT), pode-se observar um

aumento significativo nos animais dos grupos G1 (ração padrão) e G2 (animais dieta

rica em colesterol) validando o modelo de indução da hipercolesterolemia nos

animais. Além disso, percebe-se que os tratamentos não foram eficazes em inibir o

aumento do colesterol como demonstrado na Figura 9.

Já os níveis de triglicerídeos, embora estejam todos dentro dos níveis normais

(como observado na Figura 10), pode-se verificar uma diminuição dos níveis séricos

nos grupos tratados com R-Cu2 (G6 e G7).

Diversos experimentos têm sido realizados a fim de elucidar a ação dos

flavonóides no metabolismo lipídico. Sudheesh et al. (1997) demonstrou que

flavonóides extraídos de berinjela (Solanum melongena) apresentaram efeito na

redução nos níveis sanguíneos de colesterol total e triacilgliceróis. Isso pode ser

devido à ação da enzima LCAT e LPL, que tiveram um aumento em sua atividade no

experimento. A LCAT é uma enzima responsável por converter o colesterol presente

em quilomícrons, VLDL, LDL e tecidos periféricos em colesterol esterificado,

podendo, assim, ser transportados para o fígado onde serão metabolizados. A LPL é

responsável por hidrolisar os ácidos graxos dos triacilgliceróis presentes em

quilomícrons e VLDL para o tecido adiposo. Também foi observado um aumento nos

níveis de ácidos biliares hepáticos e fecais, bem como esteróis neutros fecais,

indicando uma alta taxa de degradação de colesterol e redução na reabsorção

intestinal de ácidos biliares. Kuppusamy e Das (1992) demonstraram que os

flavonóides têm uma significativa inibição sobre a enzima fosfodiesterase quando

comparado com um potente inibidor desta enzima, sendo que a inibição desta

enzima é relacionada a um efeito lipolítico.

Juzwiak et al. (2005) demonstrou os efeitos hipolipemiantes da quercetina,

associando-os a um efeito de aumento da atividade microssomal, observados pela

elevação do conteúdo de citocromo P450. O aumento da atividade microssomal

também foi demonstrado por MacDonald et al. (1983) com o uso de quercetina e

rutina. Também é relatado o aumento da excreção de sais biliares, aumentando a

46

excreção lipídica. Esses resultados podem elucidar os mecanismos da rutina e rutina

complexada nos seus efeitos no colesterol e triglicerídeos.

Sabe-se que partículas de LDL se acumulam na íntima das artérias

coronárias, isso ocorre principalmente quando a LDL se encontra em altos níveis

sanguíneos ultrapassando as células endoteliais e acumulando na parede dos

vasos. Assim, podem-se desenvolver lesões que levam ao desenvolvimento da

aterosclerose (BERTOLAMI, 2000). Já as partículas de HDL são lipoproteínas

protetoras e reduzem o risco de coronopatias. Para isso, altos níveis de HDL são

desejáveis. Sendo assim, os principais fatores de risco convencionais para doenças

cardiovasculares são LDL elevado, HDL reduzido e alguns fatores de risco

(GOODMAN; GILMAN, 2010).

Os resultados apresentados na Figura 11 demonstram que os níveis séricos

de HDL dos animais tratados com os compostos foram semelhantes ao grupo

veículo. No entanto, o composto R-Cu2 inibiu o aumento significativo dos níveis de

LDL, após indução da hipercolesterolemia (Figura 12). Estes resultados sugerem

que embora o tratamento não tenha aumentado os níveis de HDL, os níveis de LDL

sofreram interferência dos flavonóides.

Ao se realizar uma análise conjunta dos resultados obtidos após indução da

hipercolesterolemia pode-se perceber que a R-Cu2 (nas concentrações de 16 e

160µmol/kg) teve melhor efeito que a rutina livre, demonstrando uma forte tendência

na inibição do aumento sérico de colesterol total, triglicerídeo e LDL, sugerindo

assim um possível efeito contras as dislipidemias, resultado este, também observado

por Kanashiro et al., 2009 com rutina.

5.1.2. Avaliação da peroxidação lipídica

A avaliação da peroxidação lipídica foi determinada pela análise da produção

de TBARS (substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico) no plasma.

Na análise de peroxidação lipídica foi constatada que os animais que

receberam apenas veículo e submetidos à dieta rica em colesterol (grupo G2)

apresentaram aumento de TBARS avaliado. No entanto, os grupos que receberam

tratamentos com sinvastatina, rutina livre e R-Cu2, mesmo com a ingestão de dieta

47

rica em colesterol, não apresentaram resultados estatisticamente diferentes do

grupo controle (grupo com dieta de ração padrão – G1), como podemos observar na

Figura 13.

0

10

20

30

40

50

G1 G2 G3 G4 G5 G6 G7

**

## ##

# #

TB

AR

S (

nm

ol/m

L)

A técnica mais comum usada para medir a lipoperoxidação é o teste do ácido

tiobarbitúrico (TBA), que é um método espectrofotométrico que mede a

concentração dos produtos oriundos da peroxidação dos lipídios. Durante a fase de

iniciação da lipoperoxidação ocorre acúmulo de hidroperóxidos de lipídios na

membrana celular, que se decompõe formando vários aldeídos, sendo o

malonaldeído o principal deles (PATOČKOVÁ et al., 2003).

Embora o modelo de medida de TBARS (substâncias reativas ao ácido

tiobarbitúrico), segundo a literatura, pode ser interferido pela presença de metais de

transição (que podem gerar mais substâncias reativas), não houve interferência na

visualização qualitativa do atual experimento. Pode-se observar que nos grupos

tratados com a droga-teste não houve aumento de TBARS, indicando grandes

chances de estabilidade do complexo flavonóide com o metal. Todos os compostos

testados demonstraram uma atividade no controle da formação de TBARS,

possivelmente devido a atividade antioxidante da rutina e R-Cu2.

Figura 13: Avaliação da peroxidação lipídica. Os grupos (n=5) de tratamento são: G1 – controle, G2 – veículo, G3 – sinvastatina, G4 - rutina 16µmol/kg, G5 - rutina 160µmol/kg, G6 - R-Cu2 16µmol/kg e G7 - R-Cu2 160µmol/kg. Foram realizadas análises de variância One-way ANOVA seguido do Teste de Dunnett, considerando diferenças significativas com: ** P<0,01 e

# P<0,05, análise estatística de grupos controles (G1 e G2), respectivamente, vs

grupos.

48

5.1.3. Dosagem plasmática de óxido nítrico (NO)

A Figura 14 mostra que os níveis séricos de NO estão aumentados em todos

os grupos de animais submetidos à dieta rica em colesterol. No entanto, na análise

de multivariância seguida de pós-teste, apenas os grupos G2 e G3 foram

estatisticamente diferentes do controle G1.

0

2

4

6

8

10

G1 G2 G3 G4 G5 G6 G7

*

*

NO

pla

sm

áti

co

(n

mo

l/m

L)

Diversos estudos têm mostrado que mudanças na produção e/ou liberação de

NO, um dos principais fatores endoteliais envolvido na regulação do tônus muscular

estão envolvidas em várias respostas fisiopatológicas (VANE, 1993; WIDLANSKY et

al., 2004). O comprometimento da produção de NO foi implicado em doenças, como

aterosclerose, a hipertensão, os vasoespasmos cerebral e coronariano, assim como

na lesão após isquemia. No entanto, no sistema imunológico o NO atua como efetor

da citotoxicidade induzida por macrófagos, e a produção excessiva de NO é um

mediador do processo inflamatório (GOODMAN; GILMAN, 2010). Segundo

Nascimento (2011) o aumento da biodisponibilidade de NO em ratos submetidos à

dieta rica em gordura pode representar um mecanismo de adaptação para

contrabalançar o prejuízo de dietas excessivamente calóricas sobre a reatividade

vascular na obesidade, principalmente o estresse oxidativo.

Sendo assim, no presente trabalho, os resultados sugerem que este aumento

na produção de NO deva-se ao aumento excessivo da ingestão lipídica que estes

Figura 14: Avaliação do NO plasmático. Os grupos (n=5) de tratamento são: G1 – controle, G2 – veículo, G3 – sinvastatina, G4 - rutina 16µmol/kg, G5 - rutina 160µmol/kg, G6 - R-Cu2 16µmol/kg e G7 - R-Cu2 160µmol/kg. Foram realizadas análises de variância One-way ANOVA seguido do Teste de Dunnett, considerando diferenças significativas com: * P<0,05, análise estatística de grupo controle (G1) vs grupos.

49

ratos foram submetidos. Isso tudo leva a um desequilíbrio, que segundo a literatura

citada anteriormente, força uma compensação adaptativa do metabolismo dos

animais.

5.1.4. Análise hematológica

Nas avaliações dos parâmetros hematológicos foram analisadas o

hematócrito, a contagem global e diferencial de leucócitos.

Na análise hematológica foi observada que os valores dos hematócritos do

grupo controle e dos grupos tratados apresentavam-se dentro dos valores de

referência para ratos. Também foi observado que não houve diferença estatística

entre os grupos estudados, demonstrando que nenhum tratamento interfere neste

parâmetro (Figura 15).

0

20

40

60

G1 G2 G3 G4 G5 G6 G7

Hem

ató

cri

to (

%)

Os valores de leucócitos totais tanto do grupo controle (G1) quanto a dos

grupos tratados também não apresentaram diferença significativa (Figura 16).

Figura 15: Contagem de hematócrito em ratos. Os grupos (n=5) de tratamento são: G1 – controle, G2 – veículo, G3 – sinvastatina, G4 - rutina 16µmol/kg, G5 - rutina 160µmol/kg, G6 - R-Cu2 16µmol/kg e G7 - R-Cu2 160µmol/kg.

50

0

2

4

6

8

G1 G2 G3 G4 G5 G6 G7

Leu

cit

os x

10

6/m

L

Ao analisar os resultados de contagem diferencial de leucócitos foram obtidos

os valores absolutos de monócitos, linfócitos e neutrófilos.

Como demonstrado na Figura 17, o número de monócitos no sangue estava

significativamente reduzido em todos os grupos submetidos à dieta rica em

colesterol.

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

G1 G2 G3 G4 G5 G6 G7

****

**** ** **

Mo

cit

os x

10

6/m

L

Figura 16: Contagem total de leucócitos em ratos. Os grupos (n=5) de tratamento são: G1 – controle, G2 – veículo, G3 – sinvastatina, G4 - rutina 16µmol/kg, G5 - rutina 160µmol/kg, G6 - R-Cu2 16µmol/kg e G7 - R-Cu2 160µmol/kg.

Figura 17: Contagem diferencial de leucócitos em ratos – número de monócitos. Os grupos (n=5) de tratamento são: G1 – controle, G2 – veículo, G3 – sinvastatina, G4 - rutina 16µmol/kg, G5 - rutina 160µmol/kg, G6 - R-Cu2 16µmol/kg e G7 - R-Cu2 160µmol/kg. Foram realizadas análises de variância One-way ANOVA seguido do Teste de Bonferroni, considerando diferenças significativas com: ** P<0,01, análise estatística de grupo controle (G1) vs grupos.

51

No entanto o número de linfócitos se encontrou aumentado em quase todos

os grupos submetidos à dieta rica em colesterol (Figura 18). Quando se fez análise

estatística comparando os grupos rutina e R-Cu2, foi constatada diferença

significativa entre os grupos G5 e G7.

0

1

2

3

G1 G2 G3 G4 G5 G6 G7

****

**

** **

£

Lin

fócit

os x

10

6/m

L

Já o número de neutrófilos foi reduzido significativamente nos grupos tratados

com rutina livre e R-Cu2 na concentração mais alta (160µmolmol/kg) quando

comparado ao controle (G1) após indução da hipercolesterolemia (Figura 19).

0.0

0.5

1.0

1.5

G1 G2 G3 G4 G5 G6 G7

**

****

**

**

£

Neu

tró

filo

s x

10

6/m

L

Figura 18: Contagem diferencial de leucócitos em ratos – número de linfócitos. Os grupos (n=5) de tratamento são: G1 – controle, G2 – veículo, G3 – sinvastatina, G4 - rutina 16µmol/kg, G5 - rutina 160µmol/kg, G6 - R-Cu2 16µmol/kg e G7 - R-Cu2 160µmol/kg. Foram realizadas análises de variância One-way ANOVA seguido do Teste de Bonferroni, considerando diferenças significativas com: ** P<0,01, análise estatística de grupo controle (G1) vs grupos.

£ P<0,05, foi constatada diferença entre os grupos G5 e G7 após aplicação

do teste t.

Figura 19: Contagem diferencial de leucócitos em ratos – número de neutrófilos. Os grupos (n=5) de tratamento são: G1 – controle, G2 – veículo, G3 – sinvastatina, G4 - rutina 16µmol/kg, G5 - rutina 160µmol/kg, G6 - R-Cu2 16µmol/kg e G7 - R-Cu2 160µmol/kg. Foram realizadas análises de variância One-way ANOVA seguido do Teste de Bonferroni, considerando diferenças significativas com: ** P<0,01, análise estatística de grupo controle (G1) vs grupos.

£ P<0,05, foi constatada diferença entre os grupos G5 e G7 após aplicação

do teste t.

52

A aterosclerose associada com hipercolesterolemia é um complexo processo

inflamatório, caracterizado patologicamente pelo recrutamento de monócitos na

parede arterial e deposição de lipoproteínas ricas em colesterol (Murphy et al.,

2011). O recrutamento dos monócitos é um processo mediado por moléculas de

adesão, iniciando com o rolamento, o qual é mediado pela ligação entre E-selectina

em células endoteliais. Todavia, moléculas de adesão participam na interação de

monócitos e células endoteliais apresentando um importante papel na aterogênese.

A ativação das células endoteliais induzida pela hipercolesterolemia aumenta a

expressão dessas moléculas de adesão contribuindo com a aterogênese e a

migração tecidual de monócitos-macrófagos (WU et al., 2009).

Desta forma, a diminuição no número de monócitos circulante (Figura 17)

pode estar associada com as alterações nas células endoteliais provocadas nos

animais que estão hipercolesterolêmicos. Essas alterações fisiológicas induzidas

pelo aumento de lipídio pode justificar também o aumento na quantidade de NO

plasmático (Figura 14).

Além disso, o aumento de linfócitos (Figura 18) pode estar envolvido com a

diminuição de monócitos circulantes e pela indução de um processo inflamatório

crônico.

5.2. ESTUDO ANATOMOPATOLÓGICO

5.2.1. Avaliação macroscópica - Peso relativo dos órgãos

Imediatamente após a coleta dos órgãos, os mesmos foram limpos, pesados

e armazenados. Com o peso dos órgãos, pode-se avaliar o peso relativo dos grupos

estudados. Assim, foi constatado que os pesos relativos dos rins (esquerdo e direito)

não apresentaram diferença significativa entre os grupos, como demonstrada na

Figura 20.

53

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

G1 G2 G3 G4 G5 G6 G7

G1

G2

G3

G4

G5

G6

G7Peso

rela

tivo

do

rim

esq

uerd

o (

g)

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

G1 G2 G3 G4 G5 G6 G7

G1

G2

G3

G4

G5

G6

G7Peso

rela

tivo

do

rim

dir

eit

o (

g)

Na Figura 21 está demonstrado o peso relativo de coração proveniente dos

grupos avaliados. Não houve diferença entre estes pesos, sugerindo que não houve

hipertrofia do miocardio em nenhum tratamento.

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

G1 G2 G3 G4 G5 G6 G7

Peso

rela

tivo

do

co

ração

(g

)

Já na Figura 22, pode-se observar que a ingestão da dieta rica em colesterol

aumentou significativamente o peso do fígado. Um aumento significativo do peso

relativo deste órgão foi verificado em todos os grupos que receberam a dieta.

Nenhum tratamento foi suficiente para evitar a hipertrofia hepática.

Figura 20: Peso relativo dos rins esquerdo e direito de ratos. Os grupos (n=5) de tratamento são: G1 – controle, G2 – veículo, G3 – sinvastatina, G4 - rutina 16µmol/kg, G5 - rutina 160µmol/kg, G6 - R-Cu2 16µmol/kg e G7 - R-Cu2 160µmol/kg.

Figura 21: Peso relativo de corações provenientes de ratos. Os grupos (n=5) de tratamento são: G1 – controle, G2 – veículo, G3 – sinvastatina, G4 - rutina 16µmol/kg, G5 - rutina 160µmol/kg, G6 - R-Cu2 16µmol/kg e G7 - R-Cu2 160µmol/kg.

54

0

1

2

3

4

5

G1 G2 G3 G4 G5 G6 G7

* * ** **

G1

G2

G3

G4

G5

G6

G7P

eso

rela

tivo

do

fíg

ad

o (

g)

5.2.2. Avaliação macroscópica – Análise do fígado

O fígado, aparentemente, foi o órgão que mais apresentou alterações

morfológicas. Na Figura 23-A podem ser verificadas as características de um fígado

saudável. Esta imagem foi retirada de um rato do grupo G1 (controle negativo) que

foi alimentado com ração padrão durante todo o período de tratamento. Já a Figura

23-B representa a imagem de um fígado originado de um rato do grupo G2 (veículo)

que recebeu ração suplementada com colesterol durante todo o período de

tratamento. A ilustração demonstra que a dieta rica em colesterol foi responsável

pela alteração de tamanho, coloração e aspecto do órgão. A coloração sugere a

presença de gordura nos hepatócitos. Nos demais grupos G3 a G7, as mesmas

alterações, com diferença de intensidade, foram visualizadas macroscopicamente

como demonstradas na Tabela 2.

Figura 22: Peso relativo do fígado de ratos. Os grupos (n=5) de tratamento são: G1 – controle, G2 – veículo, G3 – sinvastatina, G4 - rutina 16µmol/kg, G5 - rutina 160µmol/kg, G6 - R-Cu2 16µmol/kg e G7 - R-Cu2 160µmol/kg. Foram realizadas análises de variância One-way ANOVA seguido do Teste de Bonferroni, considerando diferenças significativas com *P<0,05 quando comparado grupo controle (G1) VS demais grupos.

Figura 23: Imagem de fígado obtido após ensaio com dieta rica em colesterol. A –Fígado obtido de rato do grupo G1 - controle negativo, alimentado com ração padrão. B - Fígado obtido de rato do grupo G2 - veículo, alimentado com ração suplementada com colesterol.

A B

55

Tabela 2: Análise macroscópica de alguns tecidos dos animais do grupo controle e

dos grupos que receberam dieta suplementada com colesterol.

Grupos Aorta Coração Rins Fígado

G1

Sem alterações

Sem alterações

Sem alterações

Sem alterações

G2 Aumento de gorduras

periféricas

Sem alterações

Sem alterações

Alterações de tamanho, coloração muito amarelada e aspecto

esponjoso.

G3 Aumento de gorduras

periféricas

Sem alterações

Sem alterações

Alterações de tamanho, coloração muito amarelada e aspecto esponjoso. *Alguns animais

apresentaram manchas brancas.

G4 Aumento de gorduras

periféricas

Sem alterações

Sem alterações

Alterações de tamanho, coloração muito amarelada e aspecto esponjoso. *Alguns animais

apresentaram manchas brancas

G5 Aumento de gorduras

periféricas

Sem alterações

Sem alterações

Alterações de tamanho, coloração muito amarelada e aspecto

esponjoso.

G6 Aumento de gorduras

periféricas

Sem alterações

Sem alterações

Alterações de tamanho, coloração levemente amarelada e aspecto

esponjoso.

G7 Aumento de gorduras

periféricas

Sem alterações

Sem alterações

Alterações de tamanho, coloração levemente amarelada e aspecto

esponjoso.

5.2.3. Avaliação microscópica - Análise da aorta

Para esta análise, foi retirada a aorta abdominal.

O grupo G1 (controle) não apresentou alteração histológica. Os demais

grupos não apresentaram nenhuma diferença histológica em relação ao grupo G1.

Estes grupos não tiveram alteração de espessamento endotelial e nem presença de

células espumosas (como demonstrado na Figura 24).

56

5.2.4. Avaliação microscópica - Análise do fígado

Para esta análise, foi avaliado o fígado nas zonas I, II e III. Os resultados de

microscopia estão apresentados nas Figuras 25 a 27.

Grupo G1 (controle negativo, ração padrão) – Não foram observadas

alterações histológicas em nenhuma zona avaliada do fígado.

Grupo G2 (controle negativo, ração suplementada) – Foram observadas

alterações micro e macrovacuolares nas 3 zonas avaliadas.

Grupo G3 (controle positivo (10mg/kg de sinvastatina), ração suplementada) -

Foram observadas alterações micro e macrovacuolares nas 3 zonas avaliadas. Além

disso, o tratamento com sinvastatina provocou, em alguns animais, o aparecimento

de área necrótica e foco de inflamação na zona II.

G2 G3 G4

G1

G5 G6 G7

Figura 24: Avaliação microscópica de aorta abdominal obtida após ensaio com dieta rica em colesterol. Os grupos (n=5) de tratamento são: G1 – controle, G2 – veículo, G3 – sinvastatina, G4 - rutina 16µmol/kg, G5 - rutina 160µmol/kg, G6 - R-Cu2 16µmol/kg e G7 - R-Cu2 160µmol/kg. Coloração: hematoxilina e eosina (HE). Fotos: 20 x.

57

Grupo G4 (rutina 16micromol/kg, ração suplementada) - Foram observadas

alterações microvacuolares nas zonas I e II. Além da inflamação na zona II e, em

alguns animais, o aparecimento de área necrótica na zona III.

Grupo G5 (rutina 160micromol/kg, ração suplementada) - Foram observados

poucos focos de alteração macrovacuolares na zona II.

Grupo G6 (rutina-cobre2 (R-Cu2) 16micromol/kg, ração suplementada) -

Foram observadas alterações micro e macrovacuolares nas 3 zonas avaliadas.

Grupo G7 (rutina-cobre2 (R-Cu2) 160micromol/kg, ração suplementada) - Não

foram observadas alterações histológicas em nenhuma zona avaliada do fígado.

Figura 25 – Avaliação microscópica da área 1 do tecido hepático de ratos submetidos a dieta rica em colesterol por 60 dias.

58

Figura 26 – Avaliação microscópica da área 2 do tecido hepático de ratos submetidos a dieta rica em colesterol por 60 dias.

Figura 27 – Avaliação microscópica da área 3 do tecido hepático de ratos submetidos a dieta rica em colesterol por 60 dias.

59

Os principais componentes celulares do parênquima hepático são as células

hepáticas propriamente ditas (hepatócitos) que se dispõem organizadas em lâminas

separadas por sinusóides; células endoteliais, localizadas nos sinusóides; células de

Kupffer localizadas na periferia dos sinusóides. As células de Ito, lipócitos

diferenciados que produzem colágeno e tecido conectivo, responsáveis pela

sustentação do parênquima, juntamente com as células de defesa como as NK

(natural killer) e linfócitos citotóxicos, que também formam o parênquima hepático.

À microscopia de luz, o parênquima hepático é constituído de unidades

funcionais denominadas de ácino ou estrutura acinar hepática. Na unidade acinar, o

sangue é direcionado dos espaços-porta, passando por meio dos sinusóides que

banham as traves de hepatócitos, até a veia centro-lobular.

O parênquima do ácino é dividido em três zonas ou regiões: zona I - mais

próxima dos ramos portais; zona II - zona intermediária; zona III - zona próxima à

veia centro-lobular. Existem algumas diferenças entre as zonas, sobretudo no que

diz respeito à funcionalidade dos hepatócitos. Os hepatócitos da zona I recebem

sangue mais rico em oxigênio, sendo, portanto, mais resistentes à hipoxia e têm

maior capacidade de regeneração. Já os da zona III que recebem nutrição

principalmente de vasos eferentes, pobres em oxigênio, são mais susceptíveis à

lesão isquêmica. São funcionalmente distintos, conferindo ao órgão uma

heterogeneidade funcional. Assim, foi visualizado as diferenças contidas nas três

regiões.

A avaliação histopatológica do fígado possibilita o entendimento das

alterações provocadas com o aumento do peso relativo deste órgão nos grupos de

animais que receberam dieta rica em colesterol. Com isso, vale a pena destacar a

esteatose (acúmulo de triglicerídeos e colesterol dentro dos hepatócitos), uma

alteração extremamente comum em fígados, que pode ser resultado de uma dieta

com excesso de gordura (mas sem ser uma doença propriamente dita).

Pode-se observar nos resultados que o grupo G2 submetido apenas com a

dieta rica em colesterol apresentou alterações morfológicas no fígado em todas as

áreas, comparado ao grupo G1 controle. Observou-se no grupo G2 uma distribuição

difusa dos vacúolos lipídicos nos hepatócitos, caracterizando esteatose. Os

vacúolos são redondos, de limites nítidos e tamanhos variáveis. Os vacúolos

maiores se formam por confluência dos menores. Quando volumosos, deslocam o

60

núcleo e citoplasma do hepatócito para a periferia porque, sendo os lípides (no caso,

triglicerídeos) insolúveis em água, não se misturam com o citoplasma.

No grupo G3 pode-se observar que o tratamento com 10mg/kg de

sinvastatina causou maiores danos hepáticos quando comparado ao grupo G2. Esse

efeito pode estar relacionado, segundo a literatura, com a toxicidade hepática

causada pelos inibidores da HMG-CoA redutase. Entre estes inibidores estão as

estatinas, como exemplo a sinvastatina, que em doses muito elevadas ou

tratamentos prolongados estão associadas ao desenvolvimento de necrose

hepatocelular em animais de laboratório (VAGHASIVA et al., 2009; CHITTURI;

GEORGE, 2002).

O grupo G4 (rutina 16µmol/kg, ração suplementada) também apresentou

alterações hepáticas significativas em alguns animais. Isso pode ser respondido com

o trabalho de Tamura et al (2010) onde relataram que em ratos com consumo

crônico de flavonoide não alterou os parâmetros bioquímicos, embora em 5% do

grupo de ratos machos apresentaram alterações histopatológicas, como a infiltração

celular inflamatória.

No entanto nos grupos submetidos as maiores concentrações de flavonoide

(G5 e G7) apresentaram uma significante diferença na redução dos danos hepáticos

causados pela hipercolesterolemia, quando comparados ao grupo G2. Lima et al

(2003) demonstraram que a rutina possui atividade hipolipidêmica sem apresentar

toxicidade em coelhos submetidos a dieta rica em colesterol. Já outros trabalhos

demonstram que os flavonoides possuem atividade hepatoprotetora em ratos

submetidos a diferentes danos teciduais (SINGAB et al., 2005; YOKOYAMA et al.,

2009). Estes dados da literatura reforçam o interessante resultado obtido,

principalmente com os dados do grupo G7, que não teve diferença com o grupo

controle G1.

61

6. CONCLUSÃO

Ao se realizar uma análise conjunta dos resultados obtidos após indução da

hipercolesterolemia pode-se observar que a R-Cu2 teve melhor efeito que a rutina

livre, demonstrando uma forte tendência na inibição do aumento sérico de colesterol

total, triglicerídeo e LDL, sugerindo assim um possível efeito contras as

dislipidemias.

Na avaliação da peroxidação lipídica, tanto o tratamento com a rutina livre e

quanto a R-Cu2, mesmo com a ingestão de dieta rica em colesterol, não

apresentaram resultados estatisticamente diferentes do grupo controle (grupo com

dieta de ração padrão).

Os resultados também sugerem que o aumento na produção de NO, nos

grupos tratados, deva-se ao aumento excessivo da ingestão lipídica forçando uma

compensação adaptativa do metabolismo dos animais.

No hematológico, ambas as drogas (rutina e rutina complexada)

demonstraram uma diminuição dos monócitos e um aumento dos linfócitos.

Na análise anatomopatológica a maior concentração do composto R-Cu2 não

apresentou diferença com o grupo controle G1, demonstrando a atividade

hepatoprotetora do composto.

Futuramente, pretende-se pesquisar os mecanismos por qual estas drogas

alteram o perfil de colesterol plasmático e elucidar o mecanismo de hepatoproteção

demonstrada pela Rutina complexada ao cobre.

62

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ANEXO