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UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL RENATA MACHADO GARCIA DALPIAZ O PROGRAMA ARTESANATO DO SEBRAE EM MATO GROSSO DO SUL: 1997 A 2014 CAMPO GRANDE/ MS 2016

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UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEIO AMBIENTE

E DESENVOLVIMENTO REGIONAL

RENATA MACHADO GARCIA DALPIAZ

O PROGRAMA ARTESANATO DO SEBRAE EM MATO GROSSO DO SUL: 1997 A 2014

CAMPO GRANDE/ MS 2016

1

RENATA MACHADO GARCIA DALPIAZ

O PROGRAMA ARTESANATO DO SEBRAE EM MATO GROSSO DO SUL:

1997 A 2014

Tese apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Meio Ambiente e

Desenvolvimento Regional da

Universidade Anhanguera-Uniderp, como

parte dos requisitos para a obtenção do

título de Doutora em Meio Ambiente e

Desenvolvimento Regional.

Orientação:

Prof. Dr. Gilberto Luiz Alves

CAMPO GRANDE – MS

2016

2

FOLHA DE

3

FOLHA

4

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu esposo e familiares que tanto me ajudaram nos

momentos difíceis.

Dedico este trabalho a minha filha Raphaela, para que de alguma forma

sirva de inspiração quando ela estiver se graduando.

5

SUMÁRIO

1. Resumo Geral.................................................................................................7

2. General Summary..........................................................................................8

3. Introdução Geral............................................................................................9

4. Revisão de Literatura..................................................................................11

4.1História e conceitos do Artesanato...........................................................11

4.2 O Programa SEBRAE de Artesanato.......................................................23

5. Referências Bibliográficas..........................................................................34

6. Artigos

Artigo I..............................................................................................................38

O Programa SEBRAE de Artesanato em Mato Grosso do

Sul.....................................................................................................................38

Resumo.............................................................................................................38

Abstract............................................................................................................38

Introdução........................................................................................................39

Material e Métodos...........................................................................................41

Resultados e Discussão.................................................................................42

Conclusão.........................................................................................................50

Agradedimentos...............................................................................................52

Referências Bibliográficas..............................................................................52

Artigo II.............................................................................................................56

Experiências Induzidas pelo Programa Artesanato do SEBRAE em Mato

Grosso do Sul.................................................................................................56

Resumo.............................................................................................................56

Abstract............................................................................................................56

Introdução........................................................................................................57

Material e Métodos...........................................................................................58

Resultados e Discussão..................................................................................59

Conclusão.........................................................................................................87

Agradedimentos...............................................................................................88

Referências Bibliográficas..............................................................................89

Artigo III............................................................................................................93

6

Projeto Fibra Morena: Análise de uma Experiência Induzida pelo

SEBRAE/MS......................................................................................................93

Resumo.............................................................................................................93

Abstract............................................................................................................93

Introdução........................................................................................................94

Material e Métodos...........................................................................................96

Resultados e Discussão..................................................................................96

Conclusão.......................................................................................................109

Agradedimentos.............................................................................................110

Referências Bibliográficas............................................................................111

7. Conclusão Geral........................................................................................115

ANEXO I..........................................................................................................117

ANEXO II.........................................................................................................117

7

1 Resumo Geral

O objeto desta pesquisa é o Programa SEBRAE de Artesanato em Mato

Grosso do Sul. A investigação está inserida na linha de pesquisa Sociedade,

Ambiente e Desenvolvimento Regional Sustentável. Seu objetivo geral é

analisar o Programa Artesanato desde sua criação em 1997. Para tanto, foram

delimitados três objetivos específicos. O primeiro analisou o Programa

SEBRAE de Artesanato em Mato Grosso do Sul, desde sua origem até o

presente, utilizando fontes documentais e fontes historiográficas dessa

instituição. O segundo visou investigar as principais experiências induzidas

pelo Programa SEBRAE de Artesanato no Estado. Para tanto foram realizadas

entrevistas com coordenadores do Programa SEBRAE de Artesanato e com os

artesãos envolvidos. O terceiro intentou analisar uma experiência induzida pelo

Programa Artesanato em Campo Grande/MS e suas consequências sobre a

região de influência. Essa experiência envolveu a artesã Lucimar Maldonado

Silva e sua equipe, que desenvolvem o Projeto Fibra Morena. Foram realizadas

entrevistas e gravação das falas, além de observações de campo das práticas

artesanais. As fontes teóricas que nortearam a análise dos dados empíricos

foram estudos de Alves, Gombrich, Lima, Araújo, Marx, Smith, Canclini, entre

outros. Os dados empíricos foram buscados em fontes primárias, tanto de

caráter documental, quanto por meio de entrevistas, gravação das falas e

visitas para observar as práticas artesanais. Fontes secundárias pertinentes

também foram utilizadas. Constata-se que na execução do Programa foram

classificadas as categorias das atividades artesanais em Mato Grosso do Sul.

Também houve indução de diversas experiências artesanais, que demandaram

o oferecimento de treinamentos aos artesãos, por meio de oficinas e cursos.

Como parte do preparo, foi propiciada aos artesãos a participação em feiras e

rodadas de negócios. Com isso, a vida dos artesãos foi impactada com a

ampliação dos negócios e com a mudança na base técnica da produção de

suas peças.

Palavras-chave: Desenvolvimento Regional. Manufatura. Artesanato Induzido.

8

2. General Summary

The object of this research is SEBRAE program Crafts in Mato Grosso do Sul.

The research is inserted in the line of research Society, Environment and

Sustainable Regional Development. Its general objective is to analyze the Craft

program since its inception in 1997. For this, three specific objectives were

defined. The first sought to analyze the SEBRAE program Crafts in Mato

Grosso do Sul, from its origin to the present, using documentary sources and

historiographical sources of this institution. The second aimed to investigate the

main experiences induced Craft SEBRAE program in the state. Therefore, we

conducted interviews with SEBRAE Program coordinators Crafts and artisans

involved. The third brought analyze an experience induced Craft Program in

Campo Grande / MS and its effects on the region of influence. This experiment

involved the artisan Lucimar Maldonado Silva and his team, who develop

Morena Fiber Project. Interviews and recording the speeches were held, as well

as field observations of craft practices. The theoretical sources that guided the

analysis of empirical data Alves studies, Gombrich, Lima, Araujo, Marx, Smith,

Canclini, among others. Empirical data were collected on primary sources, both

documentary character, and through interviews, recording the speeches and

visits to observe the craft practices. Relevant secondary sources were also

used. It is noted that the program implementation were classified categories of

craft activities in Mato Grosso do Sul. There were also several craft induction

experiments, which required the offer of training to artisans, through workshops

and courses. As part of the preparation, it was caused artisans participation in

fairs and business roundtables. Thus, the life of the artisans was impacted with

the expansion of business and the change in the technical basis of production

parts.

Keywords: Regional development. Manufacture. Induced craftwork.

9

3. Introdução Geral

O objeto dessa pesquisa é o Programa Artesanato do Serviço Brasileiro

de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) em Mato Grosso do Sul.

O objetivo geral deste estudo é análise do Programa SEBRAE de

Artesanato em Mato Grosso do Sul desde sua criação em 1997. Para atender

esse objetivo geral, foram delimitados três objetivos específicos que foram

transformados em três artigos.

O primeiro objetivo analisou historicamente o Programa SEBRAE de

Artesanato em Mato Grosso do Sul, desde sua origem até o presente. O

SEBRAE atua junto ao artesão desde 1997 e segundo seu discurso, tem o

intuito de valorizar a diversidade brasileira e demonstrar toda sua riqueza

cultural e importância econômica, e, com isso, cooperar com o crescimento

econômico nacional e com o crescimento da atividade, de modo a fazer o

artesão se enxergar como empreendedor capaz de enfrentar o mercado com

visão profissional (SEBRAE, 2008).

O segundo objetivo específico se propôs a descrever as principais

experiências do Programa Artesanato SEBRAE em Mato Grosso do Sul. Com

isso, identificaram-se oficinas, cursos, trabalhos de consultoria que o SEBRAE

proporcionou aos artesãos, empresas, associações e os principais artesãos

envolvidos com o projeto em Campo Grande, Coxim, Jardim, Corumbá e

Bonito, entre outros.

O terceiro analisou uma experiência de artesanato induzida pelo

SEBRAE em Campo Grande/MS e suas consequências sociais e econômicas

sobre a região de influência. Essa experiência corresponde ao Projeto Fibra

Morena, à frente do qual se encontra a artesã Lucimar Maldonado Silva e sua

equipe.

Conforme LIMA (2009, p. 11), “... em termos de importância e difusão,

no Brasil, somente a cestaria e o trançado é que podem fazer frente à arte em

cerâmica”, devido ao fato da matéria-prima ser abundante em todas as regiões

do país e pela prática realizada pelos índios, enquanto legado da sua cultura e

tradição.

Em entrevista para o jornal RBV News, em 5 de junho de 2012, na IV

Mostra de Soluções Sustentáveis, a expositora da Fibra Morena, Lucimar

10

Maldonado Silva, descreveu inovações socioambientais incorporadas ao seu

trabalho e contou que começou a desenvolver seu trabalho na Incubadora

Municipal Zé Pereira1, viu no artesanato sustentável uma oportunidade de

renda e ascensão profissional. “Antes eu era dona de casa e hoje tenho minha

própria empresa. Percebo no meu trabalho a importância da preservação do

meio ambiente”, destacou Lucimar.

As fontes teóricas que nortearam a análise dos dados empíricos foram

estudos de autores como Alves, Gombrich, Lima, Araújo, Marx e Smith, entre

outros. Os dados empíricos foram buscados em fontes primárias, tanto de

caráter documental, quanto por meio de entrevistas, gravação das falas, visitas

para observar as práticas artesanais e fontes secundárias, como dissertações e

artigos dos bancos de Universidades brasileiras, livros, periódicos

especializados, revistas e sites acadêmicos da Internet.

Em razão da importância econômica, social e cultural do artesanato e

diante de resultados divulgados e apresentados nos últimos anos, o estudo

sobre o Programa SEBRAE de Artesanato é muito relevante por perceber sua

contribuição perante os artesãos, mediante ações que incluem oficinas,

capacitações e diversos cursos levando a um aumento de suas produções.

Ao mesmo tempo, existem incoerências que envolvem o objetivo do

Programa que é dar apoio e incentivar o artesanato, visto no Artigo I, e a

própria forma de fazer o artesanato, ou seja, o modo em que as peças estão

sendo produzidas com a introdução de mudanças na base técnica de trabalho,

como pode ser visto nos Artigos II e III.

Essa indução ao aumento da produção dos artesãos faz com que eles

tenham que contratar outros artesãos e/ou parceiros para dividir suas tarefas

produtoras e, assim, suas peças deixam de ser elaboradas de forma integral

1 Centro de desenvolvimento empresarial e de treinamentos, que promove a cultura

empreendedora, mantido pela Prefeitura Municipal de Campo Grande, com interveniência da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, de Ciência e Tecnologia, Turismo e do Agronegócio – SEDESC. (Cf. portal oficial da Prefeitura de Campo Grande). Disponível em: <http://www.capital.ms.gov.br/incubadoras/zepereira/canaisTexto?id_can=3876>. Acesso em: 2 dez. 2014.

11

pelo artesão de origem, descaracterizando o que é apresentado originalmente

como artesanato2, transformando sua produção em manufatura.

Destaque-se, segundo os artesãos, esse apoio levou à melhoria de suas

condições econômicas e, consequentemente, à inclusão social, pois são

induzidos a aumentar a sua produção, melhorar a qualidade e o design de seus

produtos, alterando, com isso, seu processo produtivo.

E, segundo o SEBRAE, ele continua apostando no artesanato para seu

maior desenvolvimento, adequando ações que levem em conta as

necessidades de cada região ou comunidade.

Mas, será que os objetivos do Programa são factíveis ao modo em que a

sociedade capitalista se estabelece?

Baseado na sociedade capitalista é muito difícil viabilizar formas de criar

o artesanato.

E o SEBRAE está induzindo os artesãos a outro meio de confecção de

peças artísticas do ponto de vista técnico do trabalho, que envolve novas

técnicas, divisão do trabalho, aumento da produção.

4. Revisão de Literatura

4.1 História e conceitos do Artesanato

Até a Idade Média, o artesanato era o trabalho principal de criação de

artefatos, quando a atividade produtiva era realizada pelas mãos de seus

produtores.

Após esse período foi introduzida uma nova base técnica, com a

substituição dos instrumentos dos artesãos por maquinaria, esses novos

instrumentos aumentaram a produção e a produtividade de cada trabalhador,

além de dividir o trabalho realizado antes pelos artesãos3.

2 Conforme Portaria nº 29, de 5 de outubro de 2010. do Ministério do Desenvolvimento,

Indústria e Comércio Exterior: Artesanato compreende toda a produção resultante da transformação de matérias-primas, com predominância manual, por indivíduo que detenha o domínio integral de uma ou mais técnicas, aliando criatividade, habilidade e valor cultural (possui valor simbólico e identidade cultural), podendo no processo de sua atividade ocorrer o auxílio limitado de máquinas, ferramentas, artefatos e utensílios.

3 Cf. Alves (2004, p.129-139), trabalhador típico dos modos de produção anteriores ao

capitalista, o artesão dominava teórica e praticamente o processo de trabalho naquela atividade que lhe fora atribuída pela divisão social do trabalho. Por outro lado, o portal educacional Info Escola apresenta esta noção para o verbete: O artesão é o profissional que

12

Surge a manufatura, com produção em série, sob a égide do

capitalismo. Então, os artesãos organizavam-se em grupos, associações e

dividiam o trabalho da produção, embora, muitas vezes, ainda houvesse aquele

artesão que executasse todo processo de produção, que ia desde a obtenção

da matéria-prima até a comercialização dos produtos nas suas próprias

oficinas, instaladas em suas casas.

Mesmo antes de ser instaurada a sociedade capitalista,

numa época da história em que a Igreja Católica e a

nobreza ainda tinham o domínio do Estado feudal, a

burguesia já realizava transformação profunda no processo

de trabalho, ampliando a base material de seu

enriquecimento e de seu fortalecimento político. Encetou,

em especial, a criação e desenvolvimento das manufaturas.

Utilizando a base técnica do artesanato, as manufaturas

burguesas ensejaram a divisão do trabalho. As operações

constitutivas do processo de trabalho foram decompostas e

atribuídas a trabalhadores especializados, desde então

executores de uma ou algumas poucas dessas operações.

Diversos trabalhadores, operando de forma combinada,

passaram a produzir uma quantidade maior de produtos em

relação ao número esperado de artesãos independentes.

Esse aumento da produtividade do trabalho correspondia,

portanto, à relevante transformação econômica, pois se

atrelava à descoberta de uma nova força produtiva

determinada pelo caráter social do trabalho (ALVES, 2012,

p. 4-5).

domina todos os recursos existentes para a produção manual de objetos que lhe proporcionam a sobrevivência econômica. Normalmente ele não detém uma educação técnica, mas tem o dom de, com a ajuda de instrumentos e matéria-prima apropriados, criar o que se conhece como artesanato. Disponível em: <http://www.infoescola.com/profissoes/artesao/>. Acesso em: 2 dez. 2014.

13

Enquanto instituição feudal que colocava óbice à concorrência, a

corporação foi criticada pelos pensadores burgueses, em especial no século

XVIII, ávidos por ver triunfar uma sociedade baseada em leis de mercado em

que imperasse a livre competição. No livro, “A Riqueza das Nações”, Adam

Smith denunciou sistematicamente os obstáculos postos pelas corporações ao

desenvolvimento da riqueza material (SMITH, 1965). Considerada uma das

obras fundadoras da ciência econômica, julgava o egoísmo útil à sociedade;

seu raciocínio era que, quando a pessoa busca o melhor para si, toda a

sociedade acaba sendo beneficiada.

A partir de certo estágio de desenvolvimento da sociedade

feudal, o conhecimento teórico-prático dos artesãos foi

apropriado pela corporação de ofício. Instituição

organizada com base nas atividades produzidas pela

divisão social do trabalho, cada corporação constituiu o

conhecimento correspondente a certo ofício em segredo,

só dominado pelo mestre e pelos oficiais, e passou a

controlar a quantidade de aprendizes em formação e os

preços dos produtos. Tornou-se, enfim, um instrumento

providencial para inibir a competição (ALVES, 2012, p. 4).

Segundo MILLS (2009, p.60), o artesão “tem uma imagem do produto

acabado, e mesmo que não o faça inteiro, vê o lugar de sua parte no todo e,

por conseguinte, compreende o significado de seu esforço em termos desse

todo”. Entretanto, com o capitalismo e a divisão do trabalho o processo de

produção artesanal foi se descaracterizando.

Com o decorrer da evolução tecnológica surgiram novos processos de

produção, novas invenções, como a máquina a vapor, em 1765, que teve como

decorrência a Revolução Industrial. Os artesãos passaram a atuar como

empregados ou operários para um patrão, dessa forma perdendo o controle do

processo produtivo, a posse da matéria-prima, do produto final e,

consequentemente, do lucro.

14

De acordo com MARX (1996, p. 79), essa Revolução, iniciada na Grã-

Bretanha, integrou as Revoluções Burguesas do século XVIII, responsáveis

pela crise do Antigo Regime, na passagem do mercantilismo para o capitalismo

competitivo.

O fenômeno da Revolução Industrial causou profundas mudanças, no

modo de vida e a mentalidade de milhões de pessoas transformou-se em uma

velocidade espantosa. No mundo novo e mais veloz do capitalismo, da

tecnologia e da mudança incessante, as condições de vida do trabalhador

braçal alteraram-se sensivelmente, como por exemplo, com o intenso

deslocamento da população rural para as cidades e, em consequência, com o

surgimento de enormes concentrações urbanas.

À industrialização se aprofundou no século seguinte, impactou

diretamente no sistema de produção, na sociedade e na forma como ela se

organiza. Para GOMBRICH (1985, p.360), “a revolução industrial começou a

destruir as próprias tradições do sólido artesanato; o trabalho manual cedia

lugar à produção mecânica, a oficina à fábrica”.

No início da Revolução Industrial, as condições de vida dos operários

eram horríveis, se comparadas às dos trabalhadores do século seguinte.

Muitos deles tinham um cortiço por moradia e submetiam-se a jornadas de

trabalho desumanas; os salários eram medíocres e mulheres e crianças

também trabalhavam, recebendo salários ainda menores. A produção em larga

escala e dividida em etapas causou um distanciamento cada vez maior entre o

trabalhador e o produto final, pois cada grupo de trabalhadores passou a

dominar apenas uma etapa da produção. Contudo, sua produtividade

aumentou, o que garantiu maior lucro aos empresários.

E, conforme GOMBRICH (1985, p.361), “o que tornava as coisas piores

era que a Revolução Industrial e o declínio do artesanato, a ascensão de uma

nova classe média que frequentemente carecia de tradição, e a produção de

bens vulgares e pretensiosos frequentemente mascarados de ‘Arte’, tinham

acarretado a deterioração do gosto do público”. Isso fez com que o artesanato

tradicional ficasse em segundo plano, abandonado.

A rotina de vida daqueles artesãos que antes tinham o controle total de

sua produção passou a não mais ter esse controle, incidindo a ter

15

conhecimento da parte que cabia ao seu trabalho, não sabendo nem o que

estava sendo produzido, devido à divisão do trabalho.

Já no Brasil para entender a readaptação do artesanato em prol do

Sistema Capitalista no país, é necessário fazer uma analogia a análise da

economia política mexicana após a Revolução de 1910 (Revolução Mexicana)

feita por CANCLINI (1982, p.43).

[...] Os dirigentes políticos e os intelectuais promoveram o

desenvolvimento artesanal e folclórico, com o objetivo de

oferecer um conjunto de símbolos para a identificação

nacional. Um país fraturado por divisões étnicas,

linguísticas e políticas necessitava o estabelecimento de

uma homogeneidade ideológica, junto às medidas de

unificação econômica (reforma agrária, nacionalizações,

desenvolvimento conjunto do mercado interno) e política

(criação do partido único, da central de trabalhadores)”...

“Distinguem-se três períodos após aquele impulso inicial: a)

a exploração comercial do artesanato relacionado ao

crescimento do turismo estrangeiro e o interesse em

incrementar a reserva de divisas, que geraram a

industrialização parcial dos objetos indígenas; b) o fomento

da exportação artesanal, que pretendeu contribuir para a

política de substituição de importações, equilibrando a

balança comercial; c) a promoção do artesanato, como

parte da estratégia de criação de empregos e fonte de

renda complementar para as famílias camponesas, com o

objetivo de reduzir seu êxodo para os centros urbanos. De

um modo ou de outro, diferentes políticas estatais

continuaram a utilizar a produção das culturas tradicionais

de modo a contribuir para o desenvolvimento econômico

contemporâneo e renovar a hegemonia das classes

dominantes. Seja como recurso suplementar de rendas no

campo renovador do consumo estereotipado pela

16

industrialização, atração turística ou instrumento de coesão

ideológica nacional, o artesanato mostra a multiplicidade de

lugares nos quais o capitalismo pode tornar funcionais

objetos e símbolos à primeira vista estranhos a seus fins

(CANCLINI, 1982, p.43).

Apesar dessa situação perdurar até a contemporaneidade, fortalecendo

cada vez mais o sistema capitalista, o artesanato ainda conserva diversas

formas de expressões culturais que servem de geração de emprego e renda,

muito valorizadas sobretudo pelas consequências da grande automação dos

produtos em série para atender uma demanda cada vez maior de pessoas.

Mas a consciência ambiental da população, alcançada pelas diversas

conferências da Organização das Nações Unidas (ONU), principalmente após

a Rio 924, em que foi estabelecida a Agenda 21, com um conjunto de

programas e conceitos para um desenvolvimento sustentável, tem mudado

gradativamente a forma das pessoas enxergar o artesanato, valorizando mais

as peças que são confeccionadas manualmente, que não requerem tantos

apetrechos e exploração ambiental.

Por outro lado, no Brasil, para evitar mal entendidos sobre o conceito de

artesanato, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

instituiu a Portaria nº 29, de 5 de outubro de 2010, com a definição do que é

artesanato e do que não é artesanato, transcrito a seguir:

Art. 4º ARTESANATO - Artesanato compreende toda a

produção resultante da transformação de matérias-primas,

com predominância manual, por indivíduo que detenha o

domínio integral de uma ou mais técnicas, aliando

criatividade, habilidade e valor cultural (possui valor

4 A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Cnumad),

realizada em junho de 1992 no Rio de Janeiro, marcou a forma como a humanidade encara sua relação com o planeta. Foi naquele momento que a comunidade política internacional admitiu claramente que era preciso conciliar o desenvolvimento socioeconômico com a utilização dos recursos da natureza, o que representou uma verdadeira quebra de paradigmas. (Cf. portal oficial do Senado Federal) Disponível em: <http://www.senado.gov.br>. Acesso em: 2 dez. 2014.

17

simbólico e identidade cultural), podendo no processo de

sua atividade ocorrer o auxílio limitado de máquinas,

ferramentas, artefatos e utensílios.

§ 1º Não é ARTESANATO:

I - Trabalho realizado a partir de simples montagem, com

peças industrializadas e/ou produzidas por outras pessoas;

II - Lapidação de pedras preciosas;

III - Fabricação de sabonetes, perfumarias e sais de banho,

com exceção daqueles produzidos com essências

extraídas de folhas, flores, raízes, frutos e flora nacional.

IV - Habilidades aprendidas através de revistas, livros,

programas de TV, dentre outros, sem identidade cultural.

§ 2º No Artesanato, mesmo que as obras sejam criadas

com instrumentos e máquinas, a destreza manual do

homem é que dará ao objeto uma característica própria e

criativa, refletindo a personalidade do artesão e a relação

deste, com o contexto sociocultural do qual emerge

(PAB/MDIC, 2010, p. 2).

Quanto à sua elaboração, em Mato Grosso do Sul o artesanato utiliza

diferentes matérias-primas regionais, como a madeira, argila, fibras, osso,

chifre, etc., em sua grande maioria recicláveis, adquiridas de resíduos de

empresas e pessoas.

Mostra uma identidade cultural, evidenciando crenças, hábitos e

tradições, como, por exemplo, os escultores Conceição dos Bugres, Júlio

Cesar Rondão e Virgulino de Olivera França, que deixaram muitos discípulos.

Há ainda, as peças em cerâmicas de origem indígena como as dos

Kadiwéu e Terena, transmitidas por gerações de mulheres indígenas, pois aos

homens cabiam atividades de caça, coleta e manejo de gado.

Também, há de se considerar a contribuição da diversidade cultural

oferecida pelo intercâmbio com os países vizinhos (Bolívia e Paraguai) e por

Mato Grosso do Sul estar na rota de mercados potenciais de toda zona

ocidental da América do Sul – a comunicação com a Argentina pela Bacia do

18

Prata, tendo acesso ao oceano Atlântico, além do Pacífico por meio dos países

andinos, como Bolívia e Chile, usado para parte das exportações do estado.

A sua localização peculiar, em termos de desenvolvimento potencial,

tem proporcionado uma reversão de expectativas em toda região fronteiriça

brasileira situada dentro das suas regiões de influência. Um traço importante do

artesanato do Mato Grosso do Sul é o intenso intercâmbio cultural interno,

favorecido pelos limites com outros estados brasileiros e suas fronteiras,

refletindo no seu povo e mesclando as múltiplas origens existentes.

A maior economia do estado é a do município de Campo Grande, com

um Produto Interno Bruto (PIB) de mais de R$ 13.206.900,00, seguido de

Dourados (R$ 3.727.378,00), Corumbá (R$ 2.942.673,00) e Três Lagoas (R$

2.775.078,00) (IBGE, 2014).

Conforme o site Pantanal-Brasil, as peças em geral trazem à tona temas

referentes ao Pantanal e às populações indígenas, além de cores da paisagem

regional, da fauna e da flora, que podem retratar tipos humanos e costumes da

região.

Os artistas em geral dispõem de sensibilidade, perícia e cuidado ao

modificar a matéria-prima utilizando insumos disponíveis e técnicas de

produção típicas, conforme relato dos artesãos entrevistados. Por isso, há

grande importância cultural do artesanato do estado, sabendo que muitas

peças são exportadas graças à sua beleza.

Ainda segundo o site Pantanal-Brasil, a qualidade e o valor cultural do

artesanato de Mato Grosso do Sul vêm sendo cada vez mais reconhecidos

pelos turistas, pela mídia e pelo público especializado. Há o exemplo do

artesanato produzido em couro de peixe pelas mulheres do município de

Coxim, artesanato contemplado com o Prêmio Mercado Design Top XXI, da

revista Arc Desing. Premiação que busca destacar os melhores projetos e

produtos nacionais. Além disso,

“... a Arpeixe de Coxim foi reconhecida em 2006 no Prêmio

SEBRAE TOP 100 de Artesanato, juntamente com outros

quatro núcleos do Estado: Mãos à Obra, de Jardim, que

desenvolve trabalhos em osso; Cristina Orsi, de Campo

Grande, que faz bonecas de cabaça; Riverart, de Rio

19

Verde, que trabalha com cerâmica, e a UNEART – MS

(União dos Artesãos do Mato Grosso do Sul), que ganhou

o prêmio pelas bonecas em cerâmica da artesã Indiana

Marques”.

Acrescentem-se os trabalhos em cerâmica produzidos pelas seis etnias5

indígenas presentes no estado, e que são exportados para várias partes do

mundo, além de fazer sucesso entre os turistas que visitam Mato Grosso do

Sul. Outro exemplo é o “Núcleo Arteboa”, de Rio Brilhante, que faz belas peças

utilizando madeira e capim taboa, já exportadas para a Grécia, Estados Unidos

e França, e que foi selecionado para o programa da GNT internacional, “Brasil

Feito a Mão”.

Muitas são as identificações e conceituações do artesanato, como por

exemplo, a do SEBRAE (2010), de ALVES (2012), do Conselho Mundial do

Artesanato, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,

entre outras, as quais são usadas para fazer as análises do modo de produção

das peças artesanais que envolvem esta pesquisa nos Artigos II e III.

Pois, cada uma reflete o ponto de vista de cada autor. No entanto, a

definição de artesanato que esta pesquisa segue é aquela estabelecida pela

Portaria nº 29 do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,

anteriormente citada.

O artesanato no sentido literal da palavra envolve a transformação da

matéria-prima em objetos, onde o artesão envolvido deve realizar esta tarefa

manualmente do começo ao final de sua produção, de forma integral, sem

envolvimentos de maquinarias, utilizando apenas equipamentos mais rústicos

que o auxilie nessa transformação, usando para tanto, criatividade, destreza e

valor cultural.

As categorias identificadas pelo SEBRAE (2010), como podem ser vistas

em seguida, distinguem formas de produções que servem para facilitar a

instituição dos objetivos do Programa Artesanato. Portanto, as classificações

do SEBRAE que fogem da categorização artesanato recaem no Art. 4º, § 1º, da

referida portaria ministerial, que explicita o que não é artesanato.

5 Ofayé, Xavante, Kadiwéu, Guató, Guarani, Kaiowá e Terena. (Cf. IBGE, Censo Demográfico 2010)

20

Segundo ALVES (2012), pode ser que inicialmente fosse artesanato, no

entanto, com a transformação da base técnica, com a introdução de mais

pessoas para produzir uma mesma peça, com a divisão de tarefas, esse

processo produtivo se transformou em manufatura.

Contudo, conforme o Termo de Referência6 do SEBRAE (2010), os

produtos artesanais são divididos em categorias e de acordo com seu processo

de produção, sua origem, uso e destino: arte popular7; artesanato; artesanato

indígena; trabalhos manuais8; produtos alimentícios (típicos)9; produtos semi-

industriais e industriais “Industrianato10/Souvenir”; artesanato tradicional;

artesanato de referência cultural; artesanato conceitual.

Cada categoria tem uma definição específica e as mais usadas nesta

pesquisa são as descritas a seguir.

Uma delas trata do conceito de artesanato que segue os parâmetros do

Conselho Mundial do Artesanato11, em que “toda atividade produtiva que

resulte em objetos e artefatos acabados, feitos manualmente ou com a

utilização de meios tradicionais ou rudimentares, com habilidade, destreza,

qualidade e criatividade”.

6 Em março de 2004, o SEBRAE criou o Termo de Referência do Programa SEBRAE de

Artesanato. 7 Arte Popular é caracterizada pela produção de peças únicas, em que o artesão tem

compromisso consigo mesmo e a peça é fruto da criação individual. (Cf. SEBRAE, 2010, p.13). 8 Entendem-se como trabalhos manuais aqueles que exigem destreza e habilidade, mas

utilizam moldes e padrões predefinidos, resultando em produtos de estética pouco elaborada. Não são resultantes de processo criativo efetivo. Trata-se, muitas vezes, de ocupação secundária que utiliza o tempo disponível das tarefas domésticas ou um passatempo. (Cf. SEBRAE, 2010, p.13). 9 Produtos alimentícios (típicos) são, em geral, produtos alimentícios processados segundo

métodos tradicionais, em pequena escala, muitas vezes em família ou por um determinado grupo. (Cf. SEBRAE, 2010, p.13). 10

Produtos semi-industriais e industriais, ou “industrianato”, dizem respeito à produção em grande escala, em série, com utilização de moldes e formas, máquinas e equipamentos de reprodução, com pessoas envolvidas e conhecedoras apenas de partes do processo. (Cf. SEBRAE, 2010, p.13). 11

Organização registada na Bélgica como organização internacional, e a nova entidade

passará a ser conhecido como World Crafts Council AISBL ou CMI-AISBL. O CMI foi fundada

em Nova York, nos Estados Unidos da América em 12 de Junho de 1964 por Aileen Osborn

Wanderbuilt Webb. Delegados de 50 países se reuniram pela primeira Crafts Congresso

Mundial Conselho da Universidade de Columbia em Nova York, em 1964. Aileen Webb, com

co-fundadores Margaret Patch e Smt. Kamaladevi Chattopadhyay da Índia, estabeleceu um

movimento de artesanato para proporcionar um futuro melhor para os artesãos do mundo.

Disponível em: http://www.wcc-aisbl.org/about/history.html. Acesso em: 15 mar. 2016.

21

O artesanato tradicional para o SEBRAE é:

Conjunto de artefatos mais expressivos da cultura de um

determinado grupo, representativo de suas tradições,

porém incorporados à sua vida cotidiana. Sua produção é,

em geral, de origem familiar ou de pequenos grupos

vizinhos, o que possibilita e favorece a transferência de

conhecimentos sobre técnicas, processos e desenhos

originais. Sua importância e seu valor cultural decorrem do

fato de ser depositária de um passado, de acompanhar

histórias transmitidas de geração em geração, de fazer

parte integrante e indissociável dos usos e costumes de um

determinado grupo (SEBRAE, 2010, p. 14).

O artesanato de referência cultural é descrito da seguinte forma:

São produtos cuja característica é a incorporação de

elementos culturais tradicionais da região onde são

produzidos. São, em geral, resultantes de uma intervenção

planejada de artistas e designers, em parceria com os

artesãos, com o objetivo de diversificar os produtos, porém

preservando seus traços culturais mais representativos

(SEBRAE, 2010, p. 14).

O artesanato conceitual se refere a “objetos produzidos a partir de um

projeto deliberado de afirmação de um estilo de vida ou afinidade cultural”,

tendo como característica a inovação (SEBRAE, 2010).

Luiz Carlos Barboza, na época diretor-técnico do SEBRAE, em

entrevista para a edição comemorativa de 10 anos do Programa Artesanato,

em 2008, explicou a atuação do SEBRAE sobre o artesanato brasileiro:

[...] em nossos projetos de apoio, executamos ações que

contemplem o conjunto das necessidades de cada grupo

de artesãos. Para tanto, nós focamos em diversas áreas,

22

como capacitação, acesso a inovação e tecnologia, e

acesso a mercado e soluções financeiras, entre outras.

Também promovemos uma maior cultura de

associativismo. O SEBRAE entende que os artesãos não

têm apenas necessidades pontuais e sim um conjunto de

necessidades que devem ser trabalhadas de forma

integrada para que se alcancem maiores níveis de

competitividade (SEBRAE, 2008, p.9).

Outras definições são encontradas na literatura, como as de ALVES

(2012, p. 2), que identificou três modalidades de artesanato: artesanato

ancestral, artesanato espontâneo e artesanato induzido.

O artesanato ancestral envolve tanto o artesanato indígena

quanto o produzido por grupos sociais precariamente

articulados ao funcionamento da sociedade capitalista. O

artesanato espontâneo é produzido individualmente por

pessoas simples, que, no passado, exerceram atividades

econômicas que lhes permitiram ter certo domínio teórico-

prático compatível ao que, no futuro, se caracterizaria como

artesanato de peças ornamentais. O artesanato induzido

vem se tornando dominante em nossos dias. Muitas

iniciativas filantrópicas veem no desenvolvimento do

artesanato uma válvula de escape para tirar crianças e

jovens que vivem situação de risco nas ruas ou para

populações marginalizadas em guetos de pobreza (ALVES,

2012, p.2).

Com base nestas informações foi elaborado o Artigo I e pode ser visto

como funciona o Programa SEBRAE de Artesanato em Mato Grosso do Sul,

que incentiva a profissionalização da produção artesanal, com o intuito de

melhorar a qualidade de vida da população que necessita de incentivos para

incrementar sua renda. São artesãos de comunidades carentes que estão

23

mudando sua realidade, podendo ter uma vida mais digna junto a seus

familiares.

No entanto, essa profissionalização e o mercado capitalista podem estar

transformando o artesanato em produtos manufaturados, incorporando a

divisão do trabalho no dia a dia dos artesãos e, assim, transformando uma

categoria de artesanato original para outra forma artística que não é mais

artesanato, por exemplo, o “industrianato”, também chamado de artesanato

induzido por ALVES (2012, p. 2), verificado no Artigo II.

Contudo, com a nova realidade, os artesãos estão sofrendo influência de

instituições e da economia. O que deve ser examinado é se, com a influência

do SEBRAE, o artesão está tendo maior possibilidade de trabalho, de aumento

de renda, maior inclusão social, enfim, se houve um impacto social positivo na

vida pessoal e profissional desses artesãos e se, com isso, eles continuam

fazendo artesanato de forma tradicional, analisado nos Artigos II e III.

4.2 O Programa SEBRAE de Artesanato

Mesmo frente ao crescimento e globalização social, muito se tem

valorizado o “fazer manual”, em que o artesanato figura como uma

compensação à massificação dos produtos industrializados, servindo, muitas

vezes, como resgate cultural e identidade regional.

O baixo custo de investimento e a utilização de matéria-prima natural

promove a inserção de mulheres e adolescentes em atividades produtivas,

estimulando o associativismo e fixação do artesão em sua localidade de

origem, minimizando o desordenamento nos grandes centros urbanos.

O SEBRAE percebeu um nicho de mercado promissor e criou um

programa para proporcionar apoio ao artesanato, atuando nessa modalidade

de atividade intersetorial, vislumbrando o artesanato como negócio, como

mecanismo de inclusão social, meio de desenvolvimento e fortalecimento de

“identidade cultural” e, com isso, favorecer a multiplicação de renda entre os

artesãos.

Sua atuação junto ao artesão é desde 1997, com o Programa

Artesanato, operando nas 27 unidades da federação, 2.700 municípios

atendidos, 220 mil artesãos capacitados pelos cursos oferecidos pelo

24

programa, a valorizar a rica diversidade brasileira, demonstrar a riqueza,

cultural de cada região e importância econômica, para o crescimento nacional,

e contribuir para o crescimento da atividade, de modo a fazer o artesão se

enxergar como empreendedor capaz de encarar o mercado com uma visão de

profissionalismo (SEBRAE, 2008).

O programa enfrenta muitos desafios que devem ser superados e

melhorados, como a incorporação do design, elaboração de embalagens e

cuidados com transporte, tudo de modo a agregar valor ao produto para se

inserir adequadamente ao mercado, frente a uma vasta gama de criatividade

do artesão brasileiro, buscando sua multiplicação (SEBRAE, 2008).

Por isso, o SEBRAE tem apostado no artesanato brasileiro, em razão de

seu elevado potencial de geração de renda, bastando ser capacitado,

estimulado e valorizado para ampliar, mediante o crescimento dos negócios do

artesanato, o desenvolvimento das regiões nas quais estão inseridos.

O intuito é fazer com que o artesanato se torne rentável e sustentável, e

isso não ocorre no curto prazo, como respostas rápidas. Os resultados

aparecem a médio e longo prazos, agindo de forma planejada, de maneira que

alcance seus objetivos no mercado de forma duradoura, objetivando promover

a emancipação econômica e social dos artesãos.

A forma de atuação do SEBRAE é operar buscando soluções integradas

por meio de projetos unificados com o artesão, focado na capacitação, acesso

à inovação e tecnologia, e ao mercado na busca pelo associativismo,

trabalhando o grupo de forma integrada, de forma competitiva.

Busca, ainda, apresentar o artesanato de modo associado a outros

setores, como turismo, por exemplo, com grande possibilidade de exploração.

Por seu turno, o artesanato enfrenta hoje, no Brasil, grandes dificuldades

no tocante ao empreendedorismo, à medida que é visto como algo que não

requer profissionalismo, o que é um equívoco.

Eis que existe grande desafio para a transformação do artesanato em

atividade econômica, como condição empresarial, de modo a torná-lo

produtivo, eficiente e com retorno sustentável.

Para isso, o SEBRAE, conforme seu programa, promove ações efetivas

junto ao artesanato com vistas para o futuro, com intuito de proporcionar

25

dignidade e coragem para enfrentar os desafios, na perspectiva de estar

inserido a políticas públicas para a cadeia produtiva, em ampla rede de

parcerias para produzir o artesanato no alto patamar econômico,

transformando-o em algo rentável.

Estima-se que o artesanato, no contexto de cadeia produtiva nacional,

apresente elevado potencial: eis que aproximadamente 64,3% dos municípios

brasileiros contam com algum tipo de produto artesanal, desenvolvendo a sua

importância na geração de renda do país, em uma ampla movimentação

financeira do setor (SEBRAE, 2008).

Os produtos artesanais se apresentam em amplas categorias quanto a

seus produtos e ainda de acordo com o processo de produção, origem, uso e

destino, encontrando-se a arte popular que envolve atividades poéticas,

musicais, plásticas e expressivas que apresentam o modo de viver de uma

população.

A categoria identificada como artesanato é a que determina ser toda

atividade produtiva que tenha como resultado objetos e artefatos acabados,

produzidos manualmente ou pela utilização de mecanismos tradicionais ou

rudimentares, por meio de sua criatividade; trabalhos manuais que denominam

serem trabalhos resultantes do desenvolvimento das habilidades manuais,

usando moldes predefinidos, não são resultantes do processo criativo efetivo;

produtos alimentares típicos em pequena escala; produtos semiestruturados e

industriais, com produção em grande escala ou em série, pela apresentação de

moldes, formas e maquinários em parte do processo (SEBRAE, 2010).

Encontra-se ainda o artesanato indígena, surgido em comunidades

indígenas por seus integrantes de tais comunidades, artesanato tradicional que

é expressão da cultura de um dado grupo, representando suas tradições,

geralmente incorporados à vida diária; artesanato de referência cultural, que

determina ser a incorporação de elementos culturais tradicionais da região;

artesanato conceitual, em que são produzidos objetos com base em projetos

que reafirmam um estilo de vida ou afinidade cultural, distinguindo-se das

demais categorias.

Todas essas categorias de constituição do artesanato podem ser

utilizadas como adornos e acessórios, como decoração, educativo, com

26

representação pedagógica, lúdica, voltados para o entretenimento que

represente o imaginário popular; religioso, voltados à demonstração de rituais,

ou fé como enfeites ou imagens; utilitário, em que apresenta peças com a

finalidade de satisfação do trabalho dos homens, marcados pela simplicidade.

As representações artesanais podem ser desenvolvidas pelo artesão

detentor de conhecimento técnico, sobre o material produzido pelo aprendiz

que pode ser um auxiliar de produção, pelo artista, dentro do núcleo de

produção familiar, formada por membros da mesma família, grupo de produção

artesanal ou agrupamentos de um segmento, empresas artesanais constituídas

para micro ou pequenas empresas com personalidade jurídica, constituídos por

contrato e associações e cooperativas (SEBRAE, 2010).

O SEBRAE apresenta uma estrutura de ação no âmbito artesanal em

nível nacional e setorial, norteado por eixos que devem buscar o

desenvolvimento de atividades que programem um conhecimento sistêmico do

setor, no que diz respeito ao apoio na tomada de decisões, proporcionando

constantes pesquisas quanto ao resgate da economia regional; pesquisas

quanto a oferta e mercado, com vistas em melhorias, avaliação de projetos e

apresentação de indicadores de desenvolvimento, como, por exemplo, o

número de artesãos, faturamento, postos de trabalho, custo por cliente para o

SEBRAE e o grau de satisfação desses clientes.

Além disso, proporciona projetos de inovação tecnológica que buscam

aperfeiçoar produtos com vista ao mercado e suas oportunidades com

apresentação de design e adequação, por exemplo, por sua utilização racional

e controle de materiais, aperfeiçoamento ainda de processos produtivos,

adequando a capacidade produtiva, infraestrutura, locais de trabalho,

desenvolvimento e adequação de embalagens e transporte, com vista para se

obter maior agregação de valor, complementando por capacitações

empresariais (SEBRAE, 2010).

Outro eixo norteador do programa é o acesso ao mercado pela

apresentação de projetos e ações de agregação na busca de uma identidade

visual, desenvolvimento de marcas e embalagens, certificação de origem e

qualidade, busca de utilização de normas ambientais e sociais

contextualizando o produto culturalmente, implementação de projetos de

27

acesso ao mercado, pela integração de setores; posicionamento de mercado e

articulação de meios de acesso direto de produtos.

A lógica de intervenção dos projetos do SEBRAE começa e termina no

mercado, passando pelas fases de produção, identificação da demanda, da

oferta, de melhoria de produtos, de processos, de capacitação dos produtores,

de agregação de valor de divulgação e promoção e comercialização.

Ainda, prestação de serviços financeiros por meio de articulação de

matéria-prima, equipamentos, capital de giro e infraestrutura, políticas públicas,

buscando incorporação legal e impulsionando a formalização.

PELEGRINI (2011, p. 11) observa que cada vez com mais frequência os

países de uma maneira generalizada têm reconhecido a importância a ser dada

ao mercado cultural, como gerador de renda e empregos, associado à

arrecadação tributária e promoção do comercio exterior.

Em âmbito nacional, a denominada economia da cultura ganha espaço

mais enfático no meio de artistas e produtores culturais, enquanto formadores

de políticas públicas, que reconhecem a importância desse setor como gerador

potencializador de renda.

De acordo com dados do IBGE, estima-se que o artesanato brasileiro

seja responsável por 8,5 milhões de cadeias produtivas, gerando

aproximadamente 28 bilhões de reais em renda.

Aponta-se o artesanato como atividade de destaque na economia do

Mato Grosso do Sul, como tendência nacional, representa uma produção

expressiva de crescimento, fonte geradora de renda de várias famílias, abrindo

espaço cada vez maior em um mercado globalizado, baseado em grupos

organizados que envolvem artesãos e organismos públicos ou não do Estado

(PELEGRINI, 2011).

Aponta, ainda, o artesanato como uma atividade das mais antigas

conhecidas, vinculadas às mais diversas atividades do homem, ao mesmo

tempo uma das mais expressivas de criação, manifestação, reforçando valores

de identificação cultural, vinculada ao imaginário popular. Já Alves (2012),

confronta,

[...] o uso pouco rigoroso do termo artesanato, em nosso

tempo fez com que se perdesse o seu conteúdo histórico.

28

Isto é, a veiculação do termo no âmbito do senso comum

relegou ao esquecimento o fato de que, antes da

consolidação do modo de produção capitalista, todos os

trabalhadores eram artesãos (ALVES, 2012, p.4).

O artesanato, conforme ALVES (2012, p.14), servia de utensílio

doméstico, estando associado ao

[...] atendimento de necessidades básicas no processo de

produção da existência dos trabalhadores. Mas o

desenvolvimento da produção propiciou a criação e o

aperfeiçoamento de instrumentos e a sistematização de um

saber ligado à elaboração de peças artesanais, o que

tornou possível, em paralelo, a produção de peças não

diretamente ligadas ao atendimento de necessidades

básicas do homem.

Comenta PELEGRINI (2011, p. 11) que mesmo diante de um mundo

globalizado, marcado com produção de produtos em série, tem-se espaço para

a valorização de atividades artesanais, seja como fonte geradora de renda e

emprego ou pelo interesse de produtos diferenciados, agregador de valor.

No entanto, conforme GOMBRICH (1985, p.360).

A Revolução Industrial começou a destruir as próprias

tradições do sólido artesanato; o trabalho manual cedia

lugar à produção mecânica, a oficina à fábrica. / Os frutos

mais imediatos dessa mudança eram visíveis na

arquitetura. A falta de um sólido artesanato, combinada

com a estranha insistência em "estilo" e "beleza", quase a

matou.

Segundo o discurso do SEBRAE, a profissionalização das produções

artesanais tem sido a grande ferramenta para eficiência e geração de renda e

promoção da qualidade de vida por todo o Brasil.

29

Uma ampla atuação do SEBRAE junto a comunidades diversas, mudou

suas vidas, promovendo dignidade. Isso aconteceu com a comunidade de

Minas Novas (MG), que aumentou sua produtividade, qualidade e renda,

produzindo bonecas de cerâmica, forte da cultura da região do Vale do

Jequitinhonha, onde a renda média dos artesãos passou de menos de um para

três a cinco salários mínimos mensais.

Outros exemplos são o das tranças da terra de Santa Catarina, que

geram renda também para os produtores de trigo no campo; o da cerâmica do

Distrito de Icoaraci, em Belém do Pará; o do Poti Velho, do Bairro de Teresina;

o da flor do cerrado, do município de Samambaia, Distrito Federal, que fazem

peças com flores, utilizando, para isto, folhas secas que já caíram de suas

árvores, para evitar prejuízo ambiental, entre tantas outras histórias de sucesso

pelo Brasil a fora. Todos são participantes de diferentes cursos promovidos

pelo SEBRAE, que envolvem temas como empreendedorismo, atendimento,

formação de preços, adequação ao mercado e beneficiamento de argila, entre

outros.

Com o seu programa, o SEBRAE promove a ampliação de crédito para

micro e pequenas empresas, frente a dificuldades de disponibilizar garantias

patrimoniais, frente a informalidade que impossibilita a concessão de créditos

pelas instituições financeiras, tudo para proporcionar o incremento do

segmento e melhorar as condições de trabalho. Para contar com a concessão

desses créditos, é preciso se legalizar ou optar pelo associativismo, na busca

pela ampliação da oferta e redução de custos para as mesmas.

Preservando seus objetivos gerais, o SEBRAE permanece apostando no

empreendedorismo, fazendo com que o artesão encare seus afazeres da forma

mais profissional possível, de modo que entenda o artesanato como meio de

melhoria de vida, visualizando-o como grande potencial e não somente como

um hobby.

O processo de incentivo do SEBRAE se inicia com a capacitação do

artesão, de modo que enxergue seu ofício como negócio, aprendendo o

artesão a desenvolver e criar novos produtos, com agregação de valor ao

mesmo, melhorando o padrão de qualidade, preços etc., conquistando cada

vez mais mercado. Dessa forma, prepara-se para um mercado competitivo,

30

pela observação das tendências desse mercado, dentro de um processo

constante de amadurecimento.

Outro importante cuidado do SEBRAE, segundo seu programa, é

despertar para o meio ambiente, preocupando-se como uma exploração

sustentável e preservação ambiental. Com tantas opções de apoio oferecidas

ao artesão, o SEBRAE lançou em 2006, o Prêmio SEBRAE Top 100 de

Artesanato, que busca identificar as 100 unidades produtivas mais significativas

do país, a médio e longo prazos, estruturando tal segmento de mercado. A

iniciativa visa fazer com que os trabalhos de diversas regiões do país se

tornem conhecidos e valorizados nacionalmente.

O Prêmio Top 100 tem como objetivo o reconhecimento e valorização do

trabalho realizado por artesãos e possui 11 critérios de seleção, a seguir:

[...] grau de inovação dos produtos; adequação econômica;

adequação ergonômica dos postos de trabalho; adequação

ambiental; eficiências produtivas; adequação cultural;

embalagem; qualidade percebida - valor intangível; práticas

comerciais; responsabilidade social; e gestão estratégica.

(PARENTE; AGUIAR, 2012, p.18).

Além dos eventos próprios do Programa SEBRAE de Artesanato,

diversos outros eventos acontecem nacional e internacionalmente para

promoção e comercialização do artesanato, os quais têm a participação dos

artesãos pertencentes ao Programa (Quadro 1).

Quadro 1. Eventos nacionais e internacionais de artesanato

Período EVENTOS NACIONAIS

Janeiro Feira Internacional de Artesanato - FIART - a feira é realizada

anualmente desde 1996 em Natal/RN e atrai em média 80 mil

visitantes durante os dez dias de evento. A Fiart RN conta com a

parceria do Sebrae no Rio Grande do Norte, do Governo do

Estado por meio da Secretaria Estadual de Trabalho, Habitação

e Ação Social, Prefeitura da Cidade de Natal, e com a

31

coordenação da Espacial Eventos todos os anos.

Fevereiro Brazilian International Gift Fair - a Gift Fair é a maior feira de

artigos para a casa, decoração e design da América Latina, e

uma das mais importantes do mundo no setor. Desde 1990 este

é o grande evento que apresenta todas as novidades e

tendências em infinidade de bens de consumo que compõem

uma casa. O evento acontece paralelo ao Salão Internacional de

Decoração, Artesanato e Design, em São Paulo.

Salão Internacional de Decoração, Artesanato e Design - a D.A.D

é a maior feira de artigos para a casa, decoração e design da

América Latina, e uma das mais importantes do mundo, no setor.

Desde 1990 este é o grande evento que apresenta todas as

novidades e tendências em infinidade de bens de consumo que

compõem uma casa. O evento acontece paralelo ao Gift Fair, em

São Paulo.

Março FEIARTE/ SC - a FEIARTE está entre as de maior sucesso e

repercussão no país. O objetivo da FEIARTE – Feira

Internacional de Artesanato – é incentivar o intercâmbio cultural,

técnico e comercial entre artesãos e visitantes, promovendo

negócios no atacado e no varejo. Além disso, possibilita ao

público conhecer o que há de melhor em diversas culturas,

incluindo, além do artesanato, a culinária, os costumes e as

danças típicas.

Abril FINNAR - o evento tem como proposta expandir as fronteiras da

comercialização de artesanato nacional e internacional e se

tornar um palco cultural onde visitantes e expositores possam se

aproximar ainda mais da arte em suas diversas expressões.

Realizada desde 2005 em Brasília – DF.

Maio FEIARTE/PR.

32

Brasil Mostra Brasil/ PB - evento que acontece em João Pessoa

na Paraíba no mês de julho. É considerado por expositores e

consumidores o maior evento do Norte e Nordeste. Contando

com o apoio das instituições de classe, tem se transformado em

cada edição um sucesso de público e vendas.

FENEARTE - é uma ação que faz parte do Programa do

Artesanato de Pernambuco (PAPE) e tem como objetivo valorizar

e difundir a riqueza cultural, além de estimular o potencial de

crescimento dos artesãos brasileiros.

Mega Artesanal - a feira de produtos e técnicas para artes e

artesanato acontece em São Paulo durante o mês de julho. No

evento uma casa inteira é decorada com produtos artesanais e

conta também com exposições artísticas, lançamentos da

indústria e do comércio e cursos gratuitos.

Agosto Craft Design - feira de negócios que apresenta tendências na

área de decoração, design e arte. O evento é realizado todos os

anos em São Paulo.

Paralela Gift - a Paralela Gift é considerada uma das mais

importantes feiras de design contemporâneo destinado a lojistas

no Brasil. O evento é realizado em um movimentado shopping de

São Paulo.

Setembro ARTMUNDI - a feira já foi realizada em Brasília, Rio de Janeiro,

Curitiba e São Paulo. São expostos milhares de produtos

fabricados por artesãos brasileiros e internacionais além de

atrações de cerca de 15 países, comidas típicas e apresentações

culturais.

Brasil Mostra Brasil.

Festa Nacional do Calçado - o evento conta com uma

infraestrutura de alta qualidade e mais de 250 expositores do Rio

Grande do Sul. São comercializados coleções de sapatos, bolsas

e acessório. A feira é realizada em Nova Hamburgo no Rio

33

Grande do Sul.

Novembro FEINCARTES - a Feira Internacional de Artesanato e Decoração

promove o artesanato brasileiro a mais de dez anos. O evento

tem edições em Florianópolis – SC, Petrolina-PE, Juazeiro do

Norte-PI, Vitória-ES e Fortaleza-CE.

Feira de Natal de Poços de Caldas - o Natal Artesanal de Poços

de Caldas, evento genuinamente artesanal, foi inspirado em

Feiras de Natal da Europa. O evento conta com artesãos de todo

Brasil e de outros países que juntos promovem em Poços de

Caldas um dos natais mais lindos do Brasil.

Feira Nacional de Artesanato - a feira conta com mais de 50 mil

itens artesanais expostos em um espaço de 23 mil metros

quadrados. São quase oito mil artesãos em 1,1 mil estandes.

Segundo os organizadores, é considerada a maior feira do

segmento na América Latina. O evento é realizado em Belo

Horizonte – MG.

Salão Internacional do Artesanato - o salão entende que o

artesanato é importante para a preservação das raízes históricas

dos povos e tem como objetivo incentivar a constante venda de

produtos artesanais, gerando emprego e renda para diversas

famílias que tiram do artesanato a única forma de subsistência.

O evento é realizado em Brasília-DF.

Período EVENTOS INTERNACIONAIS

Janeiro MACEF – Feira Internacional da Casa - Fiera Milano - feira

dedicada ao lar, que reúne arquitetos, designers, decoradores,

atacadistas, varejistas e jornalistas. A Feira apresenta:

acessórios e decoração; mesa e cozinha; clássico, bijuteria, ouro

e acessórios de moda; presentes.

Março Casaidea - feira de decoração da Itália. É realizado em Roma.

34

Abril Hong Kong Houseware Fair- feira internacional de brinquedos e

presentes de Hong Kong. O evento é realizado em Hong Kong

na China.

Setembro CERANOR - exposição de cerâmica, vidro e artigos decorativos.

EXPONOR - o evento é realizado em Portugal.

INTERGIFT - feira de moda e design realizada em Madri na

Espanha.

Dezembro Expoartesanías - evento de artesanato realizado em Bogotá na

Colômbia.

Fonte: SEBRAE (2015).

Como pode ser visto, são diversos os eventos que envolvem o

artesanato nacional e internacional, oportunidade para os artesãos escoarem

suas produções.

5. Referências Bibliográficas

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38

6. Artigos

Artigo I

O Programa SEBRAE de Artesanato em Mato Grosso do Sul

Renata Machado Garcia Dalpiaz

Resumo

Esse estudo tem como objeto o Programa SEBRAE de Artesanato em Mato

Grosso do Sul. A pesquisa teve como objetivo analisar historicamente o

Programa e suas realizações no Estado, desde sua origem até o presente.

Diversas foram as fontes teóricas que nortearam a análise dos dados, entre

elas, Alves e Canclini. Os dados empíricos decorreram de levantamentos de

fontes primárias, tanto de caráter documental, quanto por meio de entrevistas e

gravação das falas. Fontes secundárias pertinentes também foram utilizadas,

como o catálogo “Vozes do Artesanato”, da Fundação de Cultura do Mato

Grosso do Sul (FCMS), o livro “Artesanato, um negócio de muitas culturas”, do

SEBRAE, além de fontes historiográficas do SEBRAE. Constatou-se que desde

a criação do Programa SEBRAE de Artesanato, em 1997, foram identificadas

diversas categorias de artesanato em Mato Grosso do Sul, iniciativa que

norteou o oferecimento de cursos de treinamento aos artesãos, envolvendo

oficinas, projetos de inovação tecnológica, cursos de desenvolvimento de

marcas e embalagens, de design dos produtos, além de gestão dos negócios.

Palavras-chave: Desenvolvimento Regional. Artesanato Induzido. Manufatura.

Abstract

This paper studied the SEBRAE program Crafts in Mato Grosso do Sul. The

study aimed to analyze historically SEBRAE program Crafts and its

achievements in the state, from its origin to the present. Several were the

theoretical sources that guided the analysis of empirical data, between them,

Alves and Canclini. Empirical data resulted from primary sources surveys, both

documentary character, and through interviews and recording the speeches.

relevant secondary sources were also used, as the catalog " Craft Voices"

Foundation of Mato Grosso do Sul Culture (FCMS), the book "Craft , a business

of many cultures", SEBRAE , and historiographical sources SEBRAE. It was

39

found that since the creation of Craft SEBRAE program in 1997, various craft

categories were identified in Mato Grosso do Sul, an initiative that has guided

offering training courses for artisans, involving workshops, technological

innovation projects, courses brand development and packaging, product design,

and business management.

Keywords: Regional Development. Induced craftwork. Manufacture.

Introdução

O objeto deste artigo é o Programa SEBRAE de Artesanato desde a sua

criação em 1997.

O objetivo é analisar historicamente o Programa SEBRAE de

Artesanato, desde sua origem até o presente, mostrando sua influência sobre o

processo de produção do artesanato em diversas regiões e nas vidas dos

artesãos.

Conforme seu Portal12, o SEBRAE - Serviço de Apoio às Micro e

Pequenas Empresas - de Mato Grosso do Sul,

... é uma instituição técnica de apoio ao desenvolvimento

da atividade empresarial de pequeno porte, voltada para o

fomento e difusão de programas e projetos que visam à

promoção e ao fortalecimento das micro e pequenas

empresas.

Seu propósito é trabalhar de forma estratégica, inovadora e

pragmática para fazer com que o universo dos pequenos

negócios no Estado tenha as melhores condições possíveis

para uma evolução sustentável, contribuindo para o

desenvolvimento do Estado como um todo.

Foi criado por lei de iniciativa do Poder Executivo,

concebida em harmonia com as confederações

representativas das forças produtivas.

... é predominantemente administrado pela iniciativa

privada. Constitui-se em serviço social autônomo - uma

12

Disponível em: http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/ms/quem_somos?codUf=13. Acesso em: 20 mar. 2016.

40

sociedade civil sem fins lucrativos que, embora operando

em sintonia com o setor público, não se vincula à estrutura

pública estadual. As Receitas são provenientes de

Contribuição Social...

A instituição é fruto, portanto, de uma decisão política da

cúpula empresarial e do Estado, que se associaram para

criá-la e cooperam na busca de objetivos comuns. Por isso

mesmo, é uma entidade empresarial voltada para atender

ao segmento privado, embora desempenhe função pública

e tenha sempre em consideração as necessidades do

desenvolvimento econômico e social do território.

Tem como missão promover a competitividade e o

desenvolvimento sustentável dos pequenos negócios e

fomentar o empreendedorismo para fortalecer a economia

de Mato Grosso do Sul, de acordo com o Portal do

SEBRAE.

O intuito do Programa SEBRAE de Artesanato é proporcionar total apoio

ao artesanato, com curso, capacitações, oficinas, consultorias, até colocar o

produto no mercado, através de realizações de rodadas de negócios, feiras,

exposições regionais, nacionais e internacionais, além de premiações.

O propósito do SEBRAE é fazer com que o artesanato se torne rentável

e sustentável. Isso não ocorre no curto prazo, assim como as respostas

rápidas.

Os resultados aparecem a médio e longo prazos, de forma planejada, de

maneira que alcancem seus objetivos no mercado de forma duradoura,

objetivando promover a emancipação econômica e social dos artesãos – por

isso, a necessidade dos cursos, capacitações, rodadas e feiras.

Observa-se que o SEBRAE, desde a criação do seu Programa de

Artesanato, em 1997, identificou diversas categorias de artesanato e as

conceituou, tendo criado um termo de referência. São exemplos: artesanato

conceitual, artesanato de referência cultural e artesanato tradicional.

41

Também produziu um livro sobre os elementos da iconografia13 sul-

mato-grossenses, conforme figura 1, (imagens que são usadas para divulgar a

cultura do estado em obras de arte) para facilitar a divisão dos cursos

oferecidos aos artesãos, para quem disponibilizou oficinas com ensinamento

das imagens que fazem parte da cultura local de cada região, para comporem

os objetos confeccionados, que estão inseridos no Livro “Elementos da

Iconografia do Mato Grosso do Sul”, desenvolvido pelo SEBRAE com parceria

de um designer italiano14, com projetos que envolvem técnicas de manuseio da

matéria-prima, desenvolvimento de marcas e embalagens, design dos

produtos, entre outros, além dos cursos que envolvem a gestão de negócio,

como empreendedorismo, precificação e técnicas de vendas.

Figura 1: Elementos da iconografia do Mato Grosso do Sul.

Fonte: Portal SEBRAE (2014).

Material e Métodos

Os dados empíricos utilizados na pesquisa foram pesquisados em fontes

primárias, produzidos por entrevistas e gravação das falas de consultores de

artesanato em instituições apoiadoras do artesanato, como o SEBRAE e a

Fundação de Cultura, e fontes documentais, como estudos de autores como

Alves e Canclini e bibliografias disponibilizadas pelo SEBRAE de forma física e

virtual.

13

. Vocábulo usado para designar o significado simbólico de imagens ou formas representadas em obras de arte. Também nomeia uma disciplina da História da Arte, dedicada a identificar, descrever, classificar e interpretar a temática das artes figurativas. Até fins do século XVI, a iconografia referia-se especialmente ao significado simbólico de imagens inseridas num contexto religioso. Atualmente o termo refere-se ao estudo da história e da significação de qualquer grupo temático. (Cf. Enciclopédia Itaú Cultural) Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo101/iconografia>. Acesso em: 7 dez. 2014. 14

Giulio Vinaccia é um designer italiano contratado pelo SEBRAE para prestar consultoria, cursos e oficinas. Produziu em 2002, entre outros resultados, a obra Elementos da iconografia de Mato Grosso do Sul.

42

As entrevistas semiestruturadas foram realizadas no período de janeiro

de 2013 a setembro de 2014.

Para atender ao objetivo desta pesquisa foi feito um estudo de materiais

já existentes sobre as práticas artesanais e associadas ao SEBRAE.

Foi solicitado ao SEBRAE uma autorização institucional para realizar a

pesquisa em seus arquivos, além da autorização do Comitê de Ética em

Pesquisa em Seres Humanos, na Plataforma Brasil (Parecer número 774.370,

de 27 de agosto de 2014).

Resultados e discussão

O Programa SEBRAE de Artesanato em Mato Grosso do Sul foi criado

em 1997.

O objetivo do Programa SEBRAE de Artesanato é apoiar os artesãos

com acesso a cursos e capacitações nas mais diversas áreas de gestão, como

empreendedorismo, gestão de negócios, precificação, design dos produtos e

embalagens, comercialização etc.

Segundo o Programa, como consequência da realização dos cursos,

haverá uma promoção de melhorias nos rendimentos dos artesãos, fazendo

com que eles se tornem novamente parte de uma sociedade economicamente

ativa, contribuindo, assim, com o crescimento econômico do país.

O SEBRAE, além de gerar cursos e capacitações, promove feiras, rodas

de negócios, premiações que projetam o artesão nacionalmente e possui

projetos de exposições internacionais, mediante parcerias, e ampliação de

créditos a micro e pequenas empresas e, com isso, transformar o artesanato

em um negócio lucrativo.

Muitas são as expressões artísticas artesanais do Estado de Mato

Grosso do Sul e que elevam o nome e a economia do mesmo. Entre esses

nomes destaca-se um dos mais renomados nomes do artesanato, Conceição

Freitas da Silva, a Conceição dos Bugres, que produziu centenas de imagens

de bugres nas décadas de 1970 e 1980, com grande demanda de pedidos,

conhecidos mundialmente pela beleza de seus totens, (PELEGRINI, 2011).

Outra expressão sul-mato-grossense é Júlio Cesar Rondão, que trouxe

de Guia Lopes da Laguna, a forma de seu artesanato na argila. Conta ainda

43

Mato Grosso do Sul com o renome de Virgulino de Oliveira França, escultor de

imagens, cidadão de Ribas do Rio Pardo.

Dados da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS) revelam

que 2043 artesãos do estado estão cadastrados no Sistema de Informações

Cadastrais do Artesanato Brasileiro (SICAB), implantado em fevereiro de 2013

(IFMS, 2013).

E, segundo Patrícia Caldas15, 500 artesãos já realizaram alguma

atividade do Programa SEBRAE de Artesanato/MS.

De acordo com o homepage do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul

(IFMS), em 2013 a gerente de Desenvolvimento de Atividades Artesanais da

FCMS, Arlene Vilela, relata que a maior parte das peças produzidas tem

caráter regional: “Entre as mais representativas estão as cerâmicas produzidas

pelos indígenas, os animais que representam o Pantanal, peças de madeira e

osso feitas em Jardim, os bugrinhos da Conceição e as bugras feitas com

argila.” (IFMS, 2013).

PELEGRINI (2011) comenta que o estado é rico em várias expressões

de produção coletiva, como a cerâmica Kadiwéu, localizada na Reserva

indígena Kadiwéu, na Serra de Bodoquena, no município de Porto Murtinho

(MS). Desenvolvida pelos índios que fazem cerâmica pela queima do bairro,

cujas técnicas de produção foram passadas de geração a geração, absorvidas

e mantidas como grande riqueza do estado.

Outra forte expressão na cultura de Mato Grosso do Sul advém também

da cerâmica, dos povos Terena, descendentes dos Txané-Guaná, que vive

numa extensa região de Miranda, Aquidauana e Dourados desenvolvendo

abanicos e sementes coloridas e ampla modelagem de espirais e pintura pós-

queimadas, representando o repertório iconográfico Terena, transformando

produtos da terra/barro em cerâmica.

Os principais pontos de cultura regional são, em Campo Grande, a Casa

do Artesão, o Memorial da Cultura Indígena (localizado dentro da aldeia urbana

Marçal de Sousa), a Feira Indígena, o Museu José Antônio Pereira e a Praça

dos Imigrantes, onde são comercializadas as peças artesanais indígenas.

15

Consultora do SEBRAE/MS, entrevista realizada em 21.08.2014.

44

PELEGRINI (2011) enfatiza nomes como Agripino Magalhães16, produz

e toca viola de cocho; Ana da Silva, que se dedicou a arte na madeira; Antônio

Conceição com tear em bambu; Antônio Ricci, com a arte em madeira;

Aparecido Escarmanhani, com seu traçado em couro; Araci Vendranini, com

arte em argila; Claudia Castelão com suas flores Xaraés, em madeira; David

Nazário e sua arte em cipó; David Ojeda e suas esculturas em madeira; a

argila de Denelson de Oliveira; o tear de Edna de Souza; as esculturas

regionais de Elisabeth Marques. Todos são destaques da cultura artesã que

notabiliza a cultura de Mato Grosso do Sul.

O apoio ofertado pelo SEBRAE, segundo seu discurso, é determinante

para o desenvolvimento social do Estado, à medida que investe num segmento

importante, por vezes marginalizado, promovendo o empreendedorismo dentro

de uma rede de parcerias com interesses semelhantes, com o intuito de

conduzir o artesanato a um patamar econômico e social em que deveria estar

(SEBRAE, 2010).

A assistência oferecida, conforme o Programa Artesanato, impulsiona a

valorização social ao promover investimentos na cultura brasileira,

concretizando dessa forma a qualidade de vida e elevando a autoestima dos

artesãos e seus familiares, pela organização do negócio. Os impactos sociais

surgem a partir do instante que há um resgate cultural, por vezes esquecido ou

abandonado. Para isso deve ter o domínio da matéria-prima, conhecimento das

tradições e da cultura, com base na contextualização de informações.

Frente à importância econômica, social e cultural que o artesanato

representa e diante de resultados apresentados nos últimos anos, o SEBRAE

evidenciou a grande necessidade de continuar apostando nessa atividade,

adequando ações que levem em conta as necessidades de cada região ou

comunidade.

Para tanto, o apoio do SEBRAE é constantemente reavaliado e

redimensionado com base na troca de experiências bem sucedidas pelo Brasil

afora, sempre optando pela renovação, para que assim consiga vencer os

16

Ele é uma das poucas pessoas no Estado aptas a construir artesanalmente uma viola-de-

cocho.

45

desafios de contribuir eficazmente para a promoção do desenvolvimento

sustentável do setor (SEBRAE, 2010).

O SEBRAE, para o alcance dessas metas, buscou a padronização de

linguagens e definições de conceitos e diretrizes, objetivos e metas, e

promoção de estrutura e eixos norteadores de gestão, criados para sua melhor

atuação.

Em 2012, o SEBRAE aprovou um novo projeto chamado “Projeto Brasil

Original”, que tem como objetivo, conforme Gemima de Oliveira Moreira17,

coordenadora do departamento de artesanato do SEBRAE/MS,

[...] desenvolver e promover a produção artesanal sul-mato-

grossense e identidade regional através da implementação

de ações de capacitação e consultoria nas áreas de

gestão, produção e mercado aos núcleos produtivos

artesanais, com vistas ao aproveitamento dos grandes

eventos esportivos como fator de mobilização e

oportunidade de mercado [...]

São eventos como a Copa das Confederações, a Copa do Mundo e as

Olimpíadas.

As ações idealizadas pelo projeto contemplam atuações com a

educação continuada em gestão empresarial, como, no dizer de Gemima de

Oliveira Moreira:

[...] palestra sobre associativismo; formação do preço de

venda; planejamento financeiro; técnicas de vendas;

logística. Ações de produção para o desenvolvimento de

produtos e da identidade visual, como: oficinas de design e

técnicas de manuseio da matéria-prima, para conhecimento

das tendências, das matérias-primas e das técnicas

diferenciadas; fortalecimento da identidade visual dos

17

Coordenadora do Departamento de Artesanato do SEBRAE/MS, entrevista realizada em

1.09.2014.

46

núcleos produtivos e a ampliação do acesso a mercados

sejam estes virtuais ou em pontos de venda no varejo e

atacado, uma vez que para a sustentabilidade dos

empreendimentos é necessário o escoamento da

produção, incluindo: rodada de negócio; workshops,

participação em eventos de comercialização;

desenvolvimento das marcas; confecção de catálogo digital

dos produtos artesanais; embalagens; elaboração das

fichas técnicas dos produtos artesanais; entre outros.

O SEBRAE esteve presente em dez das doze cidades que sediaram a

Copa do Mundo de Futebol.

Figura 2. Showroom das peças artesanais em São Paulo, no Shopping Light,

região central da cidade.

Fonte: Foto MILTON MICHIDA/A2FOTOGRAFIA/Divulgação. Disponível em:

http://economia.terra.com.br. Acesso em: 07 dez. 2014.

47

Figura 3. Espaço montado no Shopping em Recife durante a Copa das

Confederações/2013.

Fonte: SEBRAE. Disponível em: <http://www.campograndenoticias.com.br/ca

pa/artesanato-do-ms-comeca-a-chegar-as-cidades-sedes-da-copa/28452/>.

Acesso em: 16 fev. 2015.

Figura 3. Artesanato em vidro, peças da artesã Silvia Stumpo que foram

expostas durante o evento da Copa do Mundo/ 2014.

Fonte: SEBRAE. Disponível em: <http://www.campograndenoticias.com.br/ca

pa/artesanato-do-ms-comeca-a-chegar-as-cidades-sedes-da-copa/28452/>.

Acesso em: 16 fev. 2015.

São diversas as formas de apoio do SEBRAE oferecidas pelo seu

programa, na tentativa de tornar o artesanato um nobre ofício, mas agora com

grande potencial empreendedor, e, com isso, ramo de negócios cada vez mais

competitivo, mediante constantes capacitações, intervenções e consultorias,

48

com base em novos desafios, fragilidades e ameaças a serem sanadas na

busca da excelência.

Promover, por meio de oficinas, o aproveitamento das riquezas materiais

e culturais do país, pela sua diversidade étnica, contribuindo para seu sucesso,

fazendo com que diante de uma visão de futuro do artesanato, torne o

segmento organizado, reconhecido e estruturado, como negócio competitivo,

pronto para exportar seus produtos, sendo este mais um objetivo do SEBRAE.

Capacitar artesãos e seus produtos para o mercado externo, muito

exigente, com culturas e gostos diferentes.

Por isso, há necessidade de adequação dos produtos, como também, do

modo de produção, para que ele aconteça em maior quantidade.

Com parceria da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e

Investimentos (APEX), o SEBRAE tem promovido no exterior o artesanato

brasileiro, com realizações de feiras internacionais e participação de diversos

artesãos com apoio do Instituto Centro Cape, com destaque para Minas Gerais,

responsável por 60% das exportações brasileiras. Mas, vários outros estados,

inclusive o Mato Grosso do Sul, também exportam para países como

Alemanha, França, Holanda, Espanha, Itália e Estados Unidos.

Assim, os artesãos precisam se renovar e empreender. Para tanto, o

SEBRAE propõe ao artesão empreendedor:

[...] buscar novas técnicas para desenvolver seus produtos

artesanais; cursos de atualização promovidos pelo

SEBRAE ou outra instituição de aprendizado; buscar novos

materiais que se possa utilizar como matéria-prima para os

produtos artesanais; inovar a produção de base artesanal

dos produtos por meio do design; inovar a maneira de

comercializar seus produtos, para isso, sugere-se um e-

commerce para alcançar um maior público (BOLETIM

SEBRAE, 2014, p.6).

CANCLINI (1983, p. 62) defende a tese que:

49

[...] o artesanato — bem como as festas e outras

manifestações populares — subsistem e crescem porque

desempenham funções na reprodução social e na divisão

do trabalho necessárias para a expansão do capitalismo.

Para explicar a sua persistência deve-se analisar, dentro do

ciclo atual da reprodução do capital econômico e cultural

nos países dependentes, quais as funções que o

artesanato desempenha e que não são contra a lógica

capitalista, mas dela fazem parte.

Inovações são necessárias para a sobrevivência dos artesãos no mundo

contemporâneo, o que requer uma visão mais ampla, que incluem novos

conhecimentos, em que os artesãos precisem se renovar e se integrar de

forma sistêmica às outras atividades, como saber administrar, lidar com a

economia, finanças, mercado, consumidor etc.

Mas, sem perder sua característica principal de fazer o artesanato, no

sentido de fazer manualmente, sem as subdivisões do conceito principal do

artesanato, como são caracterizados pelo Conselho Mundial do Artesanato e a

definição Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, como,

também, o conceito de artesanato “original” do SEBRAE, as identificações de

ALVES, CANCLINI – ou seja, o conceito puro do artesanato, considerado nesta

pesquisa.

Enfim, os cursos oferecidos pelo Programa SEBRAE de Artesanato em

Mato Grosso do Sul são:

Empreendedor Individual

Aprender a Empreender

Como Vender Mais e Melhor

Atendimento ao Cliente.

São cursos gratuitos e on-line oferecidos pelo SEBRAE para melhor

desempenho do artesão. Além desses, há cursos que envolvem gestão

empresarial, como:

Formação do preço de venda

Planejamento financeiro

50

Técnicas de vendas

Logística

Ações de produção

Desenvolvimento das marcas

Confecção de catálogo digital dos produtos artesanais

Embalagens

Elaboração das fichas técnicas dos produtos artesanais

As oficinas oferecidas pelo programa envolvem:

Design

Técnicas de manuseio da matéria-prima

Conhecimento das tendências

Conhecimento das matérias-primas

A oferta depende muito da necessidade de cada região, verificando isto,

o SEBRAE disponibiliza um professor “expert” no tema para ministrar a oficina.

Conclusão

O SEBRAE, desde a criação de seu Programa de Artesanato, em 1997,

identificou diversas categorias de artesanato e as conceituou, São elas:

artesanato; arte popular; trabalhos manuais; produtos alimentícios; produtos

semi-industriais e industriais “industrianato18/souvenir”; artesanato tradicional;

artesanato de referência cultural; artesanato conceitual.

Isso para facilitar a realização dos cursos oferecidos aos artesãos de

todos os Estados, para quem disponibilizou oficinas, com projetos que

envolvem oficinas de design e técnicas de manuseio da matéria-prima,

conhecimento das tendências, das matérias-primas e das técnicas

diferenciadas, cursos que envolvem gestão empresarial, como formação do

preço de venda, planejamento financeiro, técnicas de vendas, logística, ações

de produção, desenvolvimento das marcas, confecção de catálogo digital dos

produtos artesanais, embalagens, elaboração das fichas técnicas dos produtos

artesanais, além de oportunidades para o escoamento da produção do artesão

18

“Produtos semi-industriais e industriais. ‘Industrianato’ - Produção em grande escala, em série, com utilização de moldes e formas, máquinas e equipamentos de reprodução, com pessoas envolvidas e conhecedoras apenas de partes do processo” (SEBRAE, 2010, p.13).

51

como rodadas de negócio, workshops e participações em eventos de

comercialização.

As atividades dos artesãos têm diversos incentivos através do Programa

SEBRAE de Artesanato/MS, proporcionando um resgate cultural, introduzindo-

os na sociedade de forma honrada, para serem vistos como empreendedores

de sucesso, os quais fazem parte da produção econômica do Brasil.

O SEBRAE criou conceitos e referências para atuar nacional e

regionalmente e a procurar por renovações, que muitas vezes vem mediante a

troca de experiências de sucesso entre as unidades da federação, para, com

isso, conquistar o desenvolvimento sustentável no setor de artesanato e levar a

obtenção de bons resultados para todos, que podem transformar suas

produções artesanais com cursos e capacitações em diferentes áreas

propostas pelo SEBRAE, que promove a ampliação de crédito para micro e

pequenas empresas, com intuito de profissionalizar o artesão, torná-lo

empreendedor de sucesso e respeito, ou, também, formar associações de

artesãos, e, assim, prepará-los para enfrentar um mercado global e mais

exigente.

Dessa forma, o envolvimento do SEBRAE/MS com o artesanato tem

sido de forma positiva, pois, mediante seu programa os artesãos têm a

possibilidade de modificar suas vidas, com a oportunidade de adquirir novos

conhecimentos, incremento de novos produtos, na forma de fazer artesanato,

de promover e expor seus produtos, de relacionamentos com outros artesãos e

associações, de expansão nacional e internacional dos seus negócios.

Em contrapartida, com o sucesso alcançado pelos artesãos, o SEBRAE

alcança seu objetivo, que é a promoção dos negócios e do giro da renda do

país, estados e municípios.

Mas, tais mudanças conceituais do artesanato propostas pelo Programa

são importantes para os objetivos do SEBRAE, no entanto, para o

desenvolvimento do artesanato, no sentido literal da palavra, se distancia do

que realmente ele significa, da sua prática, do trabalho, da produção e do

desenvolvimento de peças artesanais, instaurando uma grande contradição

entre os objetivos do Programa e o modo de produção induzido pelo Programa.

52

Agradecimentos

Ao Dr. Gilberto Luiz Alves, por suas precisas e incisivas pontuações.

À Universidade Anhanguera Uniderp.

Ao Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

(SEBRAE) de Mato Grosso do Sul.

E a todos os que direta ou indiretamente colaboraram para a realização

deste trabalho.

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Entrevista

Entrevista com Patrícia Caldas, consultora do SEBRAE, realizada em

21.08.2014, às 16h, no Instituto Íntegra em Campo Grande/MS.

55

Entrevista com Gemima de Oliveira Moreira, coordenadora do departamento de

artesanato do SEBRAE, realizada em 01.09.2014, às 9h, no SEBRAE em

Campo Grande/MS.

56

Artigo II

Experiências Induzidas pelo Programa SEBRAE de Artesanato em Mato

Grosso do Sul

Renata Machado Garcia Dalpiaz

Resumo

Este artigo tem como objeto as experiências induzidas pelo Programa SEBRAE

de Artesanato em Mato Grosso do Sul. Objetiva descrever as principais

experiências apoiadas pelo órgão no Estado. As fontes teóricas que nortearam

a análise dos dados foram buscadas em estudos de Alves, Canclini e Marx,

entre outros. Os dados empíricos foram levantados em fontes primárias, tanto

de caráter documental, quanto por meio de entrevistas, gravação das falas e

visitas para observar as práticas artesanais. Foram utilizadas também fontes

secundárias, como dissertações dos bancos de universidades, livros,

periódicos especializados e sites acadêmicos da Internet. As entrevistas

contemplaram coordenadores do Programa SEBRAE de Artesanato e artesãos

envolvidos. Com a pesquisa e a análise das experiências pode se perceber que

o referido programa impactou a vida de pelo menos 500 artesãos em Mato

Grosso do Sul – primeiro pelos treinamentos oferecidos, segundo porque

houve ampliação dos negócios, decorrente da comercialização dos produtos

em feiras, exposições e rodadas de negócios e terceiro pela mudança ensejada

no processo de produção das peças artesanais, que passaram a incluir mais

elementos na produção, como máquinas e equipamentos, parceiros, divisão do

trabalho, alterando a sua base técnica do trabalho.

Palavras-chave: Desenvolvimento Regional. Artesanato Induzido. Manufatura.

Abstract

This article comprises the experiences induced Craft SEBRAE program in Mato

Grosso do Sul. It aims to describe the main experiences supported by the

agency in the state. The theoretical sources that guided the analysis of

empirical data were sought in Alves studies, Canclini and Marx, among others.

Empirical data were collected on primary sources, both documentary character,

and through interviews, recording the speeches and visits to observe the craft

57

practices. They were also used secondary sources such as dissertations banks

of universities, books, professional journals and academic Internet sites.

Interviews contemplated SEBRAE Program coordinators Crafts and craftsmen

involved. Through research and analysis of the experiments can be seen that

this program has impacted the lives of at least 500 artisans in Mato Grosso do

Sul - first by the training offered, second because there was an increase of

business from sales of products at trade shows, exhibitions and business

roundtables and third by the change occasioned in the production process of

handmade pieces, which now include more elements in the production, such as

machinery and equipment, partners, division of labor, changing its technical

groundwork .

Keywords: Regional Development. Induced Crafts. Manufacture.

Introdução

O objeto deste artigo compreende as experiências induzidas pelo

Programa SEBRAE de Artesanato em Mato Grosso do Sul. O objetivo é

descrever as principais experiências induzidas pelo SEBRAE no estado.

Para tanto, foram utilizadas algumas diferenciações existentes nas

modalidades de atividades artesanais, encontradas na bibliografia, aquelas

atividades que são realizadas por dom natural, artisticamente, e aquelas que

foram “induzidas19”, com a finalidade de empreender, de obter lucros, enfim, de

negócios.

Com isso, foram identificadas oficinas, trabalhos de consultoria que o

SEBRAE proporcionou aos artesãos, associações e os artesãos envolvidos

19

Cf. ALVES (2012, p. 2), “O artesanato induzido vem se tornando dominante em nossos dias. Muitas iniciativas filantrópicas veem no desenvolvimento do artesanato uma válvula de escape para tirar crianças e jovens que vivem situação de risco nas ruas ou para populações marginalizadas em guetos de pobreza. A instituição mais atuante nessa seara é o SEBRAE, que entende o artesanato como negócio e prega a necessidade de que todo artesão seja empreendedor. As exigências do mercado são o norte para o artesão pensar e aperfeiçoar os seus produtos. Resistência e aparência das peças artesanais, produção com certa escala, a dedicação exclusiva do artesão à sua atividade, prêmios, feiras e rodas de negócio quebram com a visão do artesanato como fonte de lazer e de complementação de renda. Os novos artesãos incorporam essa visão difundida pelo SEBRAE e, gradativamente, contratam aprendizes e instauram a divisão do trabalho nos seus ateliês e oficinas. Para completar o quadro de pressão para impor essa tendência no campo do artesanato, as próprias políticas públicas, cada vez mais acentuadamente, vêm postulando o empreendedorismo e a concepção de artesanato como negócio, priorizando medidas de apoio que excluem o artesanato ancestral e o artesanato espontâneo”.

58

com o programa em Campo Grande, Coxim, Jardim, Corumbá e Bonito, entre

outros. E pode ser observado, também, o processo produtivo e verificado que a

influência gerada pelo SEBRAE levou a uma mudança de comportamento, de

visão de negócios, empreendimento e mercado.

As fontes teóricas que nortearam a análise dos dados empíricos foram

autores como Alves, Canclini e Marx, entre outros. Os dados empíricos foram

buscados em fontes primárias, tanto de caráter documental, quanto por meio

de entrevistas, com gravação das falas, visitas para observar as práticas

artesanais, e fontes secundárias, como dissertações dos bancos de

Universidades, livros, periódicos especializados e sites acadêmicos da Internet.

Ao analisar os impactos do Programa SEBRAE de Artesanato

desenvolvido em Mato Grosso do Sul, verificou-se que o artesanato original,

espontâneo, está dando lugar para o artesanato induzido, de acordo com

ALVES e conceitual, de referência cultural, “industrianato20”, conforme definido

pelo SEBRAE.

Pois com as mudanças sofridas no processo de produção, os artesãos

passaram a incluir mais elementos na produção, como máquinas e

equipamentos, parceiros, divisão do trabalho, que altera a sua base técnica de

trabalho e, assim, o artesanato deixa de ser o artesanato propriamente dito, ou

seja, aquele que tem desenvolvimento e criação integral por uma pessoa e que

utiliza ferramentas limitadas para sua produção.

Algumas razões encontradas para essas mudanças foram para

acompanhar o desenvolvimento econômico do país, para ter crescimento

econômico, por questões de sobrevivência e para atender o mercado e suas

tendências.

Material e Métodos

Os dados empíricos utilizados na pesquisa foram estudos de autores

como Alves, Canclini e Marx, entre outros. Foram buscados em fontes

primárias, com realização de entrevistas, gravação das falas dos

20

“Produtos semi-industriais e industriais. ‘Industrianato’ - Produção em grande escala, em série, com utilização de moldes e formas, máquinas e equipamentos de reprodução, com pessoas envolvidas e conhecedoras apenas de partes do processo” (SEBRAE, 2010, p.13).

59

coordenadores do departamento de artesanato do SEBRAE e dos principais

artesãos que já receberam e que ainda recebem cursos e capacitações ou

algum tipo de auxílio do SEBRAE.

Foi utilizado um roteiro que faz parte do anexo I desta pesquisa, para

aferir informações com os coordenadores do SEBRAE/MS.

E, foram realizadas entrevistas utilizando outro roteiro, anexo II deste

artigo, com os artesãos indicados.

Além de visitas para fazer observações de campo nos ateliês desses

artesãos, recorreu-se a fontes secundárias, como dissertações dos bancos de

Universidades, livros, periódicos especializados e sites acadêmicos da Internet.

O método de análise foi qualitativo, para tanto, foi utilizado o Termo de

Referência do SEBRAE (2010) e ALVES (2012).

A amostragem dos entrevistados é do tipo por acessibilidade, pois a

classificação do público-alvo é em função das propriedades relevantes para a

pesquisa. O público-alvo são os coordenadores do departamento de artesanato

do SEBRAE, aos quais foi solicitada uma autorização institucional, artesãos

que tenham destaque regional, envolvidos com o programa do SEBRAE,

nomeados pelo próprio SEBRAE.

As entrevistas foram realizadas no período de janeiro de 2013 a

setembro de 2014. As pessoas foram convidadas a expor seu trabalho em

razão de uma pesquisa científica sobre a atividade que eles exercem,

solicitando assinatura de um termo de livre consentimento, além da autorização

do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos, realizado pela

Plataforma Brasil (Parecer número 774.370, de 27 de agosto de 2014).

Resultados e Discussões

O artesanato é uma atividade de destaque na economia de Mato Grosso

do Sul.

Enquanto tendência nacional, o artesanato sul-mato-grossense

representa uma produção expressiva de crescimento, fonte geradora de renda

de várias famílias, abrindo espaço cada vez maior em um mercado globalizado,

baseado em grupos organizados que envolvem artesãos e organismos públicos

ou não (PELEGRINI, 2011).

60

O artesanato é uma das atividades mais antigas, vinculadas às mais

diversas atividades do homem, ao mesmo tempo uma das mais expressivas de

criação, manifestação, reforçando valores de identificação cultural, vinculada

ao imaginário popular.

Comenta Pellegrini que mesmo diante de um mundo globalizado,

marcado pela produção em série, tem-se espaço para valorização de

atividades artesanais, seja como fonte geradora de renda e emprego ou pelo

interesse em produtos diferenciados, agregador de valor.

A produção artesanal de hoje está muito mais voltada para atender ao

mercado, com produtos que satisfaçam seus consumidores e, com isso,

vendam mais. Sabendo disto os artesãos buscam capacitar-se para entender

melhor a demanda e a oferta e produzir aquilo que agrada o consumidor.

São várias as linhas de expressões desses artesãos, ainda temos o

artesanato indígena que produzem de forma coletiva a cerâmica Kadiwéu, com

origem no Chaco paraguaio, localizada na Reserva indígena Kadiwéu, na Serra

de Bodoquena, no município de Porto Murtinho (MS), desenvolvida por seus

índios, ou guerreiros. Fazem uso da cerâmica na produção de seu artesanato

pela queima do barro.

As técnicas de produção da cerâmica foram passadas de geração a

geração, absorvidas e mantidas como grande riqueza do Estado.

Outra forte expressão na cultura sul-mato-grossense advém também

da cerâmica dos povos Terena, descendentes dos povos Txané-Guaná, na

extensa região de Miranda, Aquidauana e Dourados, que desenvolvem

abanicos e sementes coloridas e ampla modelagem de espirais e pintura pós-

queimada do barro, a representar o repertório iconográfico Terena e conceber

produtos da terra/barro em cerâmica.

PELEGRINI (2011) apresenta artesãos nas mais variadas áreas que

mostram a cultura sul-mato-grossense nos mais distantes lugares. Enfatiza

nomes como Agripino Magalhães, tocador de viola de cocho; Ana da Silva, que

se dedicou à arte na madeira; Antônio Conceição com tear em bambu; Antônio

Ricci, com a arte em madeira; Aparecido Escarmanhani, com seu trançado em

couro; Araci Vendranini, com arte em argila; Claudia Castelão com suas flores

em madeira; David Mazario e sua arte em cipó; David Ojeda e suas esculturas

61

em madeira; a argila de Denílson Oliveira; o tear de Edna de Souza; as

esculturas regionais de Elisabeth Marques. Todos são destaques do artesanato

que projeta a cultura sul-mato-grossense.

O apoio ofertado pelo Programa SEBRAE de Artesanato apresenta-se

de forma determinante para o desenvolvimento social do estado, à medida que

investe em segmento muitas vezes marginalizado pelo sistema capitalista de

produção.

Promove o empreendedorismo dentro de uma rede de parcerias com

interesses semelhantes com o intuito de conduzir o artesanato a um patamar

econômico e social em que deveria estar (SEBRAE, 2010).

Esse apoio teve início principalmente em 1998 em Mato Grosso do Sul,

conforme entrevista com Patrícia Caldas, consultora do SEBRAE.

A partir daí foram realizados diagnósticos do artesanato sul-mato-

grossense, verificando tipologias, técnicas, processo de produção, ambientes,

artesãos, analisando o todo, para então concluir sobre a necessidade de se

conceituar o que realmente era artesanato, trabalho manual, entre outras

identificações, e verificar que havia uma carência de técnicas mais aprimoradas

que valorizassem e estimulassem mais o trabalho do artesão e principalmente

daqueles que faziam trabalhos manuais por meio de livros e revistas.

Em 2000 foi realizada a primeira oficina pelo SEBRAE, encabeçada pela

então coordenadora de artesanato, a própria Patrícia Caldas, que contou com a

participação de designers para gerar novas ideias aos artesãos.

No mesmo ano houve a promoção na Expominas21 e foi, também,

realizada a primeira roda de negócio, incentivando ainda mais os cursos e

capacitações que tomaram força. Então, levaram-se novas técnicas, designs e

cursos de gestão aos artesãos, contando com um designer italiano para

ensinar técnicas de design diferenciadas para cada segmento do artesanato.

Ela estima que uma média de 500 pessoas já passaram pelas

capacitações do SEBRAE desde o início do programa.

21

Centro de Feira de Minas Gerais George Norman Kutova - Expominas. Trata-se da maior feira do segmento na América Latina. Nessa feira encontra-se uma variedade de produtos artesanais: mais de 30 mil itens vindos de todos os estados brasileiros. Disponível em: <http://www.guiabh.com.br/evento/feira-nacional-de-artesanato>. Acesso em: 2 dez. 2014.

62

Em 2006, o SEBRAE lançou o Prêmio Top 100 de Artesanato, que

buscava identificar as 100 unidades produtivas mais significativas do país.

Todos podem cadastrar-se eletronicamente pelo portal do SEBRAE, desde que

estejam legalmente constituídos. Basta preencher um questionário com

indicativos de avaliação. Os artesãos sul-mato-grossenses indicados para o

Top 100 de 2012 foram: Cláudia Castelão, David Ojeda, Silvia Stumpo e Isabel

Muxfeldt.

As rodas de negócio com o artesanato, promovidas pelo SEBRAE-MS,

envolvendo compradores e fornecedores, acontecem uma vez ao ano.

De acordo com os dados fornecidos pela então coordenadora de

artesanato do SEBRAE-MS, Anna Karolina, o ano de 2011 contou com 15

artesãos participantes e 11 compradores de outros estados. Foi negociado o

equivalente a R$ 68.000,00. Já em 2012, a roda teve a participação de 19

artesãos e de 14 compradores, havendo sido negociado o valor de R$

103.000,00, entre mercadorias entregues e mercadorias encomendadas. Esta

é a média de negociações das rodas atualmente, conforme a consultora do

SEBRAE Patrícia Caldas. Todo esse valor é repassado para os artesãos.

Nas lojas montadas durante a Copa do Mundo 2014, foram

comercializados R$ 30.000,00 dentro de Mato Grosso do Sul e fora do estado

foram vendidos mais R$ 30.000,00 em produtos, totalizando as vendas dos

artesãos sul-mato-grossenses em R$ 60.000,00, 16 artesãos estavam

participando desse projeto da Copa.

Conforme Gemima de Oliveira Moreira, coordenadora do departamento

de artesanato do SEBRAE, a condição para os artesãos participarem dos

projetos é que eles façam parte de associações, cooperativas ou empresas,

para ter um número maior de participantes. Depois da realização dos projetos é

feito um acompanhamento até que seja atingido o objetivo do programa, até

que o produto fique pronto para que seja colocado no mercado.

Ainda, segundo a coordenadora, não existe um tipo preferido de

artesanato que desperte um maior interesse do SEBRAE. Eles apostam

naqueles que mostrem a cultura, a tradição do estado e que já estejam em

prática, pois são desenvolvidos nas oficinas novos designs, aperfeiçoamentos

dos produtos, embalagens e precificação.

63

Muitos artesãos não querem participar do Programa SEBRAE de

Artesanato por terem resistência a mudanças, por não aceitarem alterar seu

modo de produção e nem divulgar o seu modo de fazer. Por isso o SEBRAE

tem dificuldades em diversificar o número de produtos, pois trabalha com uma

quantidade limitada de artesãos. Por exemplo, o número de inscritos no Projeto

Brasil Original foi de apenas 30 artesãos em todo Mato Grosso do Sul

conforme CALHEIROS (2008).

Assim a gama de expositores fica restrita, tendo em vista que no estado

tem mais de 5 mil artesãos22.

O grande desafio do SEBRAE, segundo Gemima de Oliveira Moreira, é

desenvolver novos produtos que atinjam o mercado.

Nas cidades brasileiras o artesanato envolve 8,5 milhões de pessoas em

suas cadeias produtivas, correspondentes a 28 bilhões de reais ao ano

(PELLEGRINI, 2011).

Os principais artesãos de Campo Grande (MS) que já receberam e que

ainda recebem cursos e capacitações ou algum tipo de auxílio do SEBRAE, de

acordo com Anna Karolina e Gemima, são:

1. Cláudia Castelão - Projeto Flor de Xaraés;

2. Indiana Marques - Projeto Bugras, Atelier Florada do Tagy;

3. Isabel Muxfeldt - Projeto Joias do Pantanal;

4. Monique Klein - Projeto Campo Grande a Tira Colo;

5. Silvia Stumpo - Projeto Proart.

6. Lucimar Maldonado - Projeto Fibra Morena;

Artesãos e projetos de outras cidades do Mato Grosso do Sul que

também já receberam auxílio do SEBRAE regional são:

1. David Ojeda - possui dois projetos: Amo Bio Design (em madeira

e osso); e Mãos à Obra (em osso) (Jardim);

2. Instituto Família Legal - Projeto Fibra Viva (Bonito);

3. Amor Peixe (Corumbá);

4. Arpeixe/ Couro de Peixe (Coxim);

5. Catarina - projeto Fibra (Corumbá);

6. Milagre da Fibra (Itaquiraí)

22

Conforme a Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul

64

7. Moinho Cultural (Corumbá);

Os artesãos que serão descritos nesta pesquisa serão: Cláudia

Castelão, Indiana Marques, Isabel Muxfeldt; Monique Klein, Silvia Stumpo,

David Ojeda e o Instituto Família Legal.

1. Cláudia Castelão

A artesã Cláudia Castelão é formada em Pedagogia, especialista em

Psicopedagogia, trabalhava com educação antes de começar a fazer

artesanato, em 2000.

Começou a fazer artesanato com a família e produzindo pequenas

quantidades de artesanato. Quando o negócio foi crescendo aderiu ao sistema

MEI (Microempreendedor Individual) e em seguida criou uma microempresa

com o Projeto Flor de Xaraés.

Os produtos de Cláudia Castelão são as flores de madeira. A matéria-

prima utilizada para produção é a madeira de reflorestamento e madeira

descartada.

Desenvolveu técnica e equipamento exclusivo, patenteado, de cuja

utilização ela guarda sigilo. Serve para laminar as folhas de madeira e torná-las

flexíveis ao ponto de imitar as pétalas de verdade.

Figura 1. Fotografia de flores em lâmina de madeira - artesã Cláudia Castelão.

Fonte: http://www.flordexaraes.com.br/. Acesso em: 7 dez. 2014.

Da mesma forma, criou algumas tonalizações com corantes para tingir

as pétalas.

65

Em entrevista para a equipe Ecoviagem, do site da UOL, em 13 de abril

de 2009, Cláudia diz que se “sentiu livre para exercer a criatividade para criar

flores de todos os tamanhos e cores, solitárias ou em arranjos”.

Para aprimorar sua produção e valorizá-la ainda mais, a artesã buscou

consultoria especializada com designers do SEBRAE para definir, por exemplo,

o design da embalagem e para tornar seu produto cada vez mais

ecologicamente correto.

A artesã destaca a importância de estar cercada de pessoas que

também primam pela sustentabilidade23. Por sua atuação sustentável foi

selecionada pela ONU para expor seus produtos dentro da própria sede da

organização em 2014.

Atualmente possui cinco colaboradoras que a ajudam desde a confecção

das montagens das flores até a venda dos produtos, além de contar com uma

rede de parceiros que trabalham em prol de seu projeto.

Utiliza ficha técnica para que eles desenvolvam o produto de acordo com

os pedidos. Por exemplo, há parceiros que fazem caixas em MDF para servir

de vaso para as flores, há parceiros que fazem base com osso, com chifre

bovino, com couro de peixe etc., há aromatizantes, arranjos de flores, porta

guardanapos, entre outros produtos.

Figura 2. Fotografia de flores em lâmina de madeira aplicadas em uma caixa

em madeira - artesã Cláudia Castelão.

23

Trabalha com madeira de reflorestamento.

66

Fonte: http://www.flordexaraes.com.br/. Acesso em: 7 dez. 2014.

Já fez diversos cursos no SEBRAE, como precificação, gestão, design e

capacitações.

Participa das rodas de negócio para aumentar sua carteira de clientes,

conta com consultoria, divulgação e apoio do SEBRAE e da Fundação de

Cultura para participar de exposições. Além de arcar com a divulgação da sua

empresa em exposições como a House & Gift Fair, maior feira profissional e

dirigida para artigos de casa e decoração da América Latina.

Depois de participar dos diversos cursos do SEBRAE e de sua primeira

roda de negócios, entende que passou a se profissionalizar cada vez mais,

para atender às encomendas, que também aumentaram.

Foi uma das vencedoras do prêmio Top 100 de 2008 e 2012 do

SEBRAE. Essa premiação ela considera um “divisor de águas” nos seus

negócios, devido à grande divulgação e reconhecimento do seu trabalho.

Percebeu, também, que seus rendimentos aumentaram significativamente a

partir de então.

A artesã já exportou suas peças para a Colômbia, a China e os Estados

Unidos. Vende sua produção para outros estados, como, por exemplo, Minas

Gerais, São Paulo, Bahia e Alagoas, como integrante do Programa Comércio

Brasil24, criado em 2005 pelo SEBRAE Nacional, destinado a viabilizar a

comercialização de produtos e serviços das micro e pequenas empresas junto

a representantes comerciais, distribuidores, lojas especializadas e outros

canais de comercialização em âmbito nacional.

Após análise dos relatos de Cláudia Castelão, observa-se que seu

trabalho pode ser considerado como artesanato induzido, conforme definição

24

“A Rede Nacional Comércio Brasil é um produto do Sistema SEBRAE, que busca, por meio da aproximação comercial entre MPE e novos canais de comercialização, facilitar o acesso, o relacionamento sustentável e o desenvolvimento das empresas atendidas. Por meio de uma rede de consultores especializados, denominados Agentes de Mercado, são identificadas novas oportunidades, disponibilizando mecanismos para abertura e expansão do acesso a mercados para as empresas participantes. São estabelecidas, por meio dessa importante ação, alianças e parcerias de negócios que contribuirão para a manutenção e/ou incremento do faturamento das MPE, como resultado das negociações dentro e fora do estado de origem”. (Cf. Portal oficial do SEBRAE, 2005). Disponível em: <http://www.comunidade.sebrae.com.br/ComercioBrasil/default.aspx>. Acesso em: 30 ago. 2014)

67

de ALVES (2012), por ela trabalhar com divisão de tarefas e produzir peças em

série e como artesanato “industrianato”, conforme definição do SEBRAE

(2010).

Definição que mistura um produto realizado de forma industrial com

aparência de artesanato, mas isso não condiz com que essa pesquisa entende

por artesanato, nem com o objetivo do Programa SEBRAE de Artesanato, que

é apoiar o artesanato, pois se é industrial ou manufatura, não é artesanato, se

existe divisão de tarefas, onde cada qual se responsabiliza por parte do

produto, não é artesanato e sim manufatura.

Se a base técnica do trabalho de Cláudia Castelão foi alterada com o

passar do tempo e induzida por Instituições apoiadoras para atender o

mercado, com a introdução de divisão de tarefas, seu produto final deixa de ser

artesanato.

O que não é um problema, mas sim uma solução para sobreviver nos

dias atuais, onde temos instaurado uma sociedade capitalista e consumista,

acostumada com produtos industrializados, de alta qualidade e muitas vezes

de menor preço, por serem feitos em grandes quantidades e ter alta

rotatividade.

A questão formada agora é a grande contradição que o Programa

SEBRAE de Artesanato está gerando, o que inicialmente era para desenvolver

mais artesãos, apoiar mais o artesanato, muitas vezes marginalizado por não

ser considerada uma atividade profissional, e dar oportunidades a pessoas que

não tinham condições de ter um trabalho, renda e que também viviam

marginalizadas perante a sociedade, passou a desenvolver peças que não são

mais artesanato, justamente por seguirem o Programa.

Ou seja, transformar a atividade do artesão em um negócio lucrativo,

onde, para isto, é necessário aumentar a produção, e isso só é possível se

houver a contratação de mais pessoas e dividir as tarefas, o que mudará a

base técnica de trabalho dos artesãos, transformando em manufatura.

Mas, se além de tudo isso ainda tiver auxílio de maquinário industrial o

produto será industrializado.

68

2. Indiana Marques

A artesã Indiana Marques se inspirou nas índias Terena, que circulam

pelas ruas da cidade de Campo Grande (MS) vendendo mandioca e legumes

em geral, para criar sua boneca de cerâmica Bugra. Ela exporta para a Europa

e vende em várias cidades do país, como:

São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador, Maceió,

Porto Alegre e Florianópolis – e cidades praianas de

intenso fluxo turístico. Lojas dos aeroportos dessas cidades

são os principais pontos de oferta dos produtos. Em Mato

Grosso do Sul, os dois principais polos de consumo são

Campo Grande e Bonito. Os pontos de venda são a Casa

do Artesão e uma loja particular de produtos artesanais, na

Capital, e outra loja particular em Bonito. Os números do

consumo evidenciam como o desenvolvimento do

artesanato está estreitamento associado ao fluxo turístico

(ALVES, 2012, p. 48).

Em entrevista para o diário O Estado, em 19 de março de 2011, contou

que começou a trabalhar com fibras naturais fazendo flores por muitos anos.

Depois, por meio de viagens de negócios com o SEBRAE, percebeu que em

outros estados havia bonecas que representavam a cultura de cada local,

como em Pernambuco e em Minas Gerais.

Foi, então, que durante uma viagem ela pensou em fazer uma boneca

representando Mato Grosso do Sul.

A minha primeira ideia foi fazer uma boneca pantaneira. Só

que visualmente, eu tinha que fazer uma boneca e a inserir

no cenário nacional representando a região, mas ao

mesmo tempo ela tinha de ficar bonita e harmônica para

pôr no ambiente. Eu queria que as pessoas

reconhecessem meu trabalho e queria que o trabalho

vendesse (MARQUES apud O ESTADO, 2011).

69

Como as vendas foram crescendo, Indiana deixou de fazer todo o

processo de produção das bonecas e passou a contar com parceiros que

fazem os detalhes para colocar na boneca, além de se ocupar

[...] diretamente com o treinamento de seus auxiliares.

Basicamente, as operações do processo de trabalho se

distribuem entre a modelagem das peças, a pintura e a

queima no forno elétrico. Hoje o ateliê conta com um

modelador e dois pintores. Indiana transita por todas as

etapas e as domina plenamente (ALVES, 2012, p. 48).

Figura 3. Fotografia da artesã Indiana Marques e o artesanato em barro do seu

Projeto Bugras.

Fonte: http://www.revistaporanduba.com.br/artesanato/artesao-e-aquele-que-

vive-da-arte/. Acesso em: 7 dez. 2014.

Ela participa de exposições, rodas de negócio e feiras do SEBRAE.

Indiana acredita que o SEBRAE fomentou o artesanato sul-mato-

grossense, valorizando a matéria-prima encontrada na região, realizando

oficinas, rodadas e parcerias com os artesãos.

Conforme análise do seu trabalho, seu artesanato com o passar do

tempo se transformou em trabalho manufatureiro25. Destaca Alves:

25

“Por não romper com a base técnica do artesanato, nas manufaturas os trabalhadores ainda manipulavam os instrumentos de trabalho. Mas, desde então, sobretudo com a consolidação da sociedade capitalista, a divisão do trabalho só iria se aprofundar de forma a especializá-los cada vez mais” (Cf. ALVES, 2012).

70

Indiana Marques é exemplo de artesão que aderiu

criticamente à ideologia do empreendedorismo e ao

pressuposto de que artesanato é negócio26. Por sua

liderança entre os novos artesãos, além do sucesso

profissional de que é credora, tornou-se, ela própria, um

elemento difusor dessa nova visão e agente ativo da

transformação do artesanato em Mato Grosso do Sul

(ALVES, 2012, p. 45).

Mesmo adequando sua produção as exigências do mercado, aos

grandes números de encomendas de suas peças, Indiana Marques continua

sendo uma grande artesã que tem domínio total na produção de suas bonecas,

as quais por muitas vezes ainda produz de forma integral.

Seu trabalho foi levado a introduzir a divisão de tarefas pelo mercado e

Instituições como SEBRAE, transformou sua base técnica com essas

mudanças, então, conforme definição de ALVES (2012), seu artesanato pode

ser considerado artesanato induzido.

E pode ser classificado como artesanato de referência cultural27,

conforme definição do SEBRAE (2010), pois suas bonecas representam duas

grandes etnias indígenas sul-mato-grossenses, os Terena e os Kadiwéu. E elas

são confeccionadas muitas vezes com cestos de legumes no alto de suas

cabeças, e isso já faz parte da tradição da região.

3. Isabel Muxfeldt

A artesã Isabel Doering Muxfeldt é formada em Economia Doméstica e

em Artes Práticas, pós-graduada em Artesanato Empreendedor.

26

Questionadas sobre o que seria artesanato, algumas personalidades sul-mato-grossenses tiveram suas ideias estampadas num exemplar da revista do Conselho Municipal de Cultura de Campo Grande, MS. As de Indiana Marques, uma dessas personalidades, foram concisas e claras: “Artesanato é negócio. Vencer é a nossa meta.” (CoMCultura, 2005, p. 11) 27

O artesanato de referência cultural pode ser conceituado como produto cuja característica incorpora elementos culturais tradicionais da região onde são produzidos. “São, em geral, resultantes de uma intervenção planejada de artistas e designers, em parceria com os artesãos, com o objetivo de diversificar os produtos, porém preservando seus traços culturais mais representativos” (Cf. SEBRAE, 2010).

71

Desenvolve seu trabalho com chifres de boi desde 2002. Montou uma

microempresa chamada Joias do Pantanal, juntamente com uma sócia

(Verhuska Tameiros).

A artesã aproveitou que o estado do Mato Grosso do Sul é um grande

criador de gado28 e da tradição dos peões em tocar berrantes e tomar tereré29.

Utilizam chifres para suas práticas e fazem o trançado pantaneiro em cordas

para usar em cavalos durante o manejo e em couros para fazer chicotes.

Resolveu buscar nessas práticas sua inspiração para criar peças como colares,

brincos, chaveiros, cintos, acessórios etc.

Trabalha com seis artesãos parceiros, cada um em seu atelier em suas

residências. Eles são geralmente homens que lidam com o chifre do boi e

conseguem o material em frigoríficos para realizar este trabalho. Utilizam

máquinas e equipamentos de marcenaria e fazem toda a lapidação das peças

sem utilizar produtos químicos, conforme solicitado por Isabel e desenhado por

Verhuska.

Figura 4. Fotografia de um colar com chifre de boi lapidado do Projeto Joias do

Pantanal.

Fonte: IZABEL DOERING MUXFELDT, 2014.

Uma ficha técnica é enviada aos artesãos com todo detalhamento da

peça a ser confeccionada.

Os fios que envolvem o chifre são comprados prontos em São Paulo.

28

O estado de Mato Grosso do Sul possui 21,49 milhões de cabeças de gado, sendo considerado o segundo maior rebanho de corte do país (IBGE, 2012). 29

Bebida que se toma gelada, assemelha-se a chá gelado.

72

Isabel faz o trabalho do trançado pantaneiro, que ela aprendeu com os

peões de comitivas das fazendas do Pantanal, nos fios que irão envolver os

chifres já trabalhados e, assim, finaliza a montagem das peças.

Figura 5. Fotografia de um cinto com chifre de boi lapidado e fios com o

trançado pantaneiro do Projeto Joias do Pantanal.

Fonte: IZABEL DOERING MUXFELDT, 2014.

Isabel já realizou os mais variados cursos no SEBRAE, como o

Empretec30 em 2000, técnica de vendas, preços de venda, comércio justo,

oficinas com designers, entre outros.

Ficou incubada na Incubadora31 de Empresas INTERP, da Universidade

Anhanguera Uniderp e hoje a tem como uma grande parceira, juntamente com

a Fundação Manoel de Barros.

Foi por meio das oficinas do SEBRAE que ela pôde aprender algumas

técnicas que não conhecia, como, por exemplo, o nó nos fios para dar o

acabamento nos seus colares, além de aprimorar outras já conhecidas.

30

Empretec é um seminário que utiliza de ferramentas de capacitação empresarial disponíveis

no Brasil. Tem por objetivo formar e desenvolver capacidades empreendedoras. 31

Uma incubadora é uma entidade que tem por objetivo oferecer suporte a empreendedores

para que eles possam desenvolver ideias inovadoras e transformá-las em empreendimentos de sucesso. Para isso, oferece infraestrutura, capacitação e suporte gerencial, orientando os empreendedores sobre aspectos administrativos, comerciais, financeiros e jurídicos, entre outras questões essenciais ao desenvolvimento de uma empresa. (Cf. portal da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores – ANPROTEC) Disponível em: <http://anprotec.org.br>. Acesso em: 2 dez. 2014.

73

Considera de fundamental importância a influência do SEBRAE na sua

vida, pois mediante os cursos conseguiu profissionalizar seu negócio e torná-lo

rentável, aumentando em 50% sua renda, a qual prefere manter discrição.

Também, aumentou a renda familiar de seus parceiros, transformando

suas peças em algo mais sofisticado e bem acabado, seguindo a tendência do

mercado. O mercado é seu “termômetro”. Considera suas peças únicas e

exclusivas, pois depende muito da tonalização dos chifres bovinos.

Já expôs suas peças em diversos lugares, como no Projeto Morar Mais

por Menos, Shopping Centers e exportou para Portugal, Estados Unidos,

Espanha e Suíça por meio do serviço dos Correios Exporta Fácil32.

Ela é uma das vencedoras do prêmio Top 100 de 2012.

Seu trabalho pode ser considerado como artesanato de referência

cultural, de acordo com a definição do SEBRAE (2010), por utilizar os

trançados pantaneiros, prática adquirida dos peões e vaqueiros do Pantanal, e

o chifre bovino (a levar-se em conta de que Mato Grosso do Sul é o segundo

maior criador de gado do Brasil).

Em contrapartida, artesanato induzido, segundo definição de ALVES

(2012), por ter havido uma indução de instituições a aumentar a sua produção

e, com isso, deixou de existir o artesanato espontâneo, para se utilizar de

divisão de tarefas para aumentar e profissionalizar sua produção.

A artesã que se especializou em Universidade para fazer um produto de

alta qualidade, para atender tanto o mercado nacional quanto o internacional

vislumbrou seu trabalho com meio de sobrevivência e se encaixou

perfeitamente ao que o Programa SEBRAE de Artesanato propõe que é

transformar o “artesanato” em um negócio lucrativo.

4. Monique Klein

Monique Klein é formada em jornalismo, especialista em imagem e som

e em educação ambiental.

32

“É a solução dos Correios que atende às necessidades comerciais das empresas e pessoas físicas que querem exportar seus produtos”. Disponível em: <http://www.correios.com.br/para-sua-empresa/exportacao-e-importacao>. Acesso em 2 dez. 2014.

74

Após trabalhar muitos anos como jornalista se encantou com atividades

que envolvem o meio ambiente quando fez suas pós-graduações.

Durante a sua primeira especialização (imagem e som) começou a ter

um novo olhar em relação a tudo segundo seu relato, principalmente no tocante

ao meio ambiente e aos resíduos que poderiam ser reciclados.

Paralelamente, começou fazendo bonecas de pano em 2002 e vendia

em feiras, mas nada muito expressivo em relação a vendas e retorno

financeiro.

Depois passou fazer bolsas de pano customizadas e continuou a vender

em feiras.

Isso a levou a abrir seu ateliê após a conclusão do curso de pós-

graduação e investir mais na área da sustentabilidade, com produtos que antes

eram jogados fora por empresas, convenções, exposições, feiras e que

passaram a ser reaproveitados em seu ateliê para fazer suas bolsas e

chapéus.

Mas ainda não se tratava de uma produção profissionalizada.

Foi então que resolveu montar uma empresa que de alguma forma

levasse esse ensinamento as pessoas, a empresa Campo Grande a Tiracolo, e

com ela desenvolve há dez anos ações na área de sustentabilidade33.

Em 2010 ficou incubada na Incubadora Municipal Zé Pereira e passou a

revender bolsas de terceiros em feiras, além das suas próprias. Foi quando

passou a ter acesso aos malotes de correio usados, feitos de lona, e passou a

criar novos modelos de bolsas e desenvolver técnicas de higienização das

lonas.

Nela, são produzidas sacolas retornáveis, bolsas e mochilas feitas de

lonas de caminhão, malotes de empresa de entregas e materiais publicitários

reciclados, que ela resgata após o término dos eventos.

Para isso, ela buscou cursos e oficinas do SEBRAE, que influenciaram

na sua produção, no design das bolsas, na gestão, precificação, entre outros.

A partir de então, ela se considerou uma profissional preparada para

encarar o mercado.

33

Recicla resíduos de empresas.

75

Figura 6. Fotografia de uma bolsa feita em lona reciclada da artesã Monique

Klein.

Fonte: MONIQUE KLEIN, 2014.

Com ajuda de um designer do SEBRAE e de pesquisas de cores, moda,

tendências de mercado, passou a produzir as bolsas que passaram a ter

grande venda e visibilidade no mercado, e mediante feiras de negócios, como a

Craft Design em São Paulo, recebe muitas encomendas por diversas cidades

do Brasil.

Para atender aos pedidos, a artesã conta com duas colaboradoras

costureiras e duas costureiras parceiras, que confeccionam as bolsas. Os

detalhes são costurados pela própria Monique. O pagamento é realizado por

diárias às profissionais.

A confecção das bolsas é em série, mudam conforme a tendência do

mercado e o material arrecadado.

A proprietária da empresa, em entrevista ao SEBRAE, destaca a chance

de divulgar o trabalho para pessoas de outros países “é uma conquista e um

incentivo para dar continuidade ao projeto”. Seus produtos foram

comercializados durante a Conferência das Nações Unidas sobre

Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, que ocorreu no Rio de Janeiro em 2012,

e recentemente os expôs no Ecolution, desfile organizado pela Casa Moda, em

Nova Iorque (BOLETIM SEBRAE, 2014).

76

Faz parte do Projeto Brasil Original34 do SEBRAE e por meio dele levou

suas peças para diversas cidades, como, por exemplo, Salvador, Brasília, São

Paulo, Fortaleza.

Por ela estar sempre inovando seus produtos, acompanhando

tendências de mercado, seu trabalho pode ser considerado como artesanato

conceitual35, conforme definição do SEBRAE (2010) e artesanato induzido,

conforme definição de ALVES (2012).

Da mesma forma que as outras artesãs relatadas, Monique Klein se

adaptou ao mercado e realizou mudanças na sua base técnica de trabalho,

introduzindo outras pessoas na confecção de suas bolsas através da divisão de

tarefas, transformando seu trabalho artesanal em manufatura, pois para

atender a quantidade de pedidos teve que aumentar e profissionalizar sua

produção com os cursos oferecidos pelo Programa do SEBRAE.

5. Silvia Stumpo

A artesã Silvia Stumpo é formada em Belas Artes, foi professora

universitária e começou a fazer artesanato em 1995.

Em 1996 passou a aproveitar os vidros encontrados no lixo, montou um

Projeto “Tirando o Vidro do Lixo”, com o intuito de realizar palestras em

empresas sobre o tema, e com ele, Silvia ganhou o prêmio Top 100 de

Artesanato do SEBRAE em 2012.

Ela produz, com os restos de vidros, bijuterias, luminárias, abajures,

enfeites para mesas, para a parede, cinzeiros, etc., além fazer vitrais com outro

tipo de vidro.

34

O projeto tem como meta aproveitar a enorme visibilidade que o país ganhará nos próximos anos com a realização dos grandes eventos esportivos como a Copa das Federações, a Copa do Mundo da FIFA 2014 e para os Jogos Olímpicos em 2016. “O projeto não se limita à venda de peças, mas também promove a nossa cultura por meio do que é produzido pelos nossos artesãos em todas as regiões”, afirma o coordenador nacional da carteira de artesanato do Sebrae, Maurício Tedeschi. Uma das novidades desse projeto é um sistema de curadoria formado por representantes do SEBRAE, designers, decoradores, entre outros profissionais. Eles irão escolher as peças que serão comercializadas em showrooms, seguindo critérios estabelecidos em um manual que será elaborado pela instituição para ser utilizado nacionalmente. Outra inovação desse modelo é que esses espaços de comercialização serão administrados por empresas do mercado, para estabelecer uma forma mais profissional de exposição e vendas. (NOTÍCIAS SEBRAE, 2014) 35

O artesanato conceitual diz respeito a “objetos produzidos a partir de um projeto deliberado de afirmação de um estilo de vida ou afinidade cultural”, tendo como característica a inovação (SEBRAE, 2010).

77

Figura 7. Vitral da artesã Silvia Stumpo.

Fonte: SILVIA STUMPO, 2014.

Trabalha sozinha e segundo reportagem do diário Correio do Estado, de

24 de agosto de 2014, no processo de confecção de suas peças, “antes de

levar o vidro ao forno, Silvia esculpe as formas em pedaços de concreto celular

(um tipo de concreto mais leve), que é resistente ao fogo”. Mas o trabalho não

termina por aí. Ela “coloca as formas e o vidro no forno, ligado a 800 graus.

Após um dia inteiro funcionando, o forno é desligado e são necessárias mais

30 horas para que possa ser desaquecido e aberto”. Como equipamentos

utiliza um forno, alicates e cortador de vidro.

Silvia importa boa parte de sua matéria-prima, os vidros, geralmente, do

Texas nos Estados Unidos, pelo fato dela ter encontrado grande variedade de

vidros e resistência deles.

Os vidros descartados no Brasil, segundo a artesã, não são

aproveitáveis para sua técnica, por não terem muitas opções de cores,

texturas, resistência, etc.

Isso encarece muito seu produto, pois ela paga tarifa de importação

muito alta, que depende do peso do produto e como os vidros requerem uma

embalagem especial de madeira fica mais pesado ainda.

Realiza pinturas de Picasso, Van Gogh, Lautrec e Escher nas suas

produções, pinturas que penetram no vidro durante o aquecimento.

78

Figura 8. Jogo de pratos em vidros reciclados, confeccionado e pintado pela

artesã Silvia Stumpo.

Fonte: SILVIA STUMPO, 2014.

Já participou de oficinas do SEBRAE com designers, análise de

mercado, mas, Silvia afirma, não alterou o seu trabalho. O seu processo

produtivo continua sendo o mesmo, pois ela chegou à conclusão que por si só

descobre novas maneiras de inovar seu trabalho, que depende muito da

matéria-prima encontrada e de sua criatividade e influências de sua formação.

Apesar dos incentivos de aumento de produção, ela considera seu

trabalho uma arte e quer preservar dessa forma, conceituando seu trabalho

como artesanato original.

Com relação aos cursos de gestão e precificação do SEBRAE ela não

participou, pois recebeu auxílio do marido, que é um expertise no assunto.

Participa sempre das rodadas, exposições e feiras do SEBRAE, pois,

assim, consegue divulgar seu trabalho e ter oportunidade de vender mais

mediante encomendas solicitadas. Suas peças já foram expostas em Natal,

Recife, Brasília, Salvador e Corumbá, com auxílio do Projeto Brasil Original,

desenvolvido pelo SEBRAE.

Por meio dessa iniciativa, técnicos do SEBRAE auxiliaram artesãos a

criar e comercializar produtos diferenciados nas cidades sedes dos jogos da

Copa 2014.

79

Por não possuir empregados e parceiros, aderiu ao sistema MEI

(Microempreendedor Individual) para obter os benefícios36 propostos.

Seu trabalho pode ser conceituado como artesanato37, de acordo com a

definição do SEBRAE e artesanato espontâneo38, conforme definição de

ALVES (2012).

Apesar dos atrativos e induções para ampliação de sua produção,

contratação de pessoas para dividir as tarefas, da possibilidade de aumento de

rentabilidade, Silvia permaneceu fiel às suas convicções de fazer artesanato,

de forma que lhe dá prazer e continua realizando todo processo de produção

do início ao fim, com ferramentas rudimentares.

Então seu modo de trabalho não foi alterado, ela não sucumbiu à

tentação de aumento de renda, mesmo que o mercado a levasse a isso.

Mas, ela aproveitou os benefícios oferecidos pelo Programa SEBRAE de

Artesanato, diferenciando-se das outras artesãs até agora descrevidas, pois

sua paixão em fazer e colocar em prática toda sua formação artística é muito

maior que aumentar sua renda.

Portanto, segundo a nomenclatura do Ministério do Desenvolvimento,

Indústria e Comércio Exterior Brasileiro, Portaria nº 29, de 5 de outubro de

2010, a produção analisada se enquadra no Art.4, que define o que é

artesanato.

Art. 4º ARTESANATO - Artesanato compreende toda a

produção resultante da transformação de matérias-primas,

com predominância manual, por indivíduo que detenha o

domínio integral de uma ou mais técnicas, aliando 36

Cobertura previdenciária; contratação de um funcionário com menor custo; isenção de taxas para o registro da empresa; ausência de burocracia; acesso a serviços bancários, inclusive crédito; compras e vendas em conjunto; redução da carga tributária; controles muito simplificados; emissão de alvará pela internet; facilidade para vender para o governo; serviços gratuitos; apoio técnico do SEBRAE na organização do negócio; possibilidade de crescimento como empreendedor; segurança jurídica. (Cf. Portal do Empreendedor) Disponível em: <http://www.portaldoempreendedor.gov.br/mei-microempreendedor-individual/beneficios>. Acesso em: 2 dez. 2014. 37

Que segue o conceito proposto pelo Conselho Mundial do Artesanato. 38

“O artesanato espontâneo é produzido individualmente por pessoas simples, que, no passado, exerceram atividades econômicas que lhes permitiram ter certo domínio teórico-prático compatível ao que, no futuro, se caracterizaria como artesanato de peças ornamentais”. (Cf. ALVES, 2012)

80

criatividade, habilidade e valor cultural (possui valor

simbólico e identidade cultural), podendo no processo de

sua atividade ocorrer o auxílio limitado de máquinas,

ferramentas, artefatos e utensílios.

6. David Ojeda

David Ojeda trabalha com osso de gado no projeto Mãos à Obra. O

projeto começou em 2002 com um curso de capacitação. Em fevereiro de 2003

foi implantada uma oficina mantida pela Gerência de Assistência Social de

Jardim (MS).

Conforme ESTRELLA (2014), “esse projeto foi incentivado na Gestão do

Prefeito da época, com o apoio do Programa de Desenvolvimento Local,

Integrado e Sustentável (PDLIS) e do SEBRAE”. O artesanato é feito com

reciclagem de ossos bovinos, couro e restos de madeira, focada na criação de

renda sustentável para a população mais carente. David ganhou com o projeto

o prêmio Top 100 do SEBRAE no ano de 2006.

As oficinas tiveram como foco a limpeza e a preparação do osso, além

de inserir elementos típicos da região no design do produto, tais como imagens

de flores e animais: tucano, arara, jacaré, onça pintada e peixes.

Figura 9. Peças em osso de bovino com icnografia regional do artesão David

Ojeda.

81

Fonte: http://www.pantanalbrasil.com/page.aspx. Acesso em: 7 dez. 2014.

O projeto possui oito mulheres atuando na confecção das peças, possui

um tanque de lavar roupas, usado para lavar os ossos, dois fogões a lenha

onde os ossos são levados à fervura por várias horas, juntamente com

procedimentos químicos, até que fiquem brancos. O projeto disponibiliza uma

serra elétrica para serrar os ossos nas medidas necessárias a cada peça.

Dispõe, também, de um “Dremel”, máquina que permite o trabalho em alto

relevo nos ossos.

Utilizam na confecção das peças, máquinas de uso

odontológico, as quais são adaptadas para possibilitar a

troca de várias brocas, durante a execução dos desenhos

nos ossos. Dispõe de três esmeris, que são utilizados para

tirar lâminas dos ossos, nas quais, posteriormente, são

feitos os desenhos (ESTRELLA, 2014).

A renda das mulheres varia entre R$ 700,00 a R$ 1.200,00 e elas

trabalham com divisão de tarefas, conforme ESTRELLA (2014).

Através dos relatos, o trabalho de David Ojeda pode ser considerado

como artesanato de referência cultural, tendo em vista a lapidação dos ossos

em forma de desenhos de flores e animais da região, de acordo com a

definição do SEBRAE.

E, artesanato induzido, pois o artesanato original de David foi induzido a

uma transformação do seu processo produtivo, conforme definição de ALVES

(2012).

David Ojeda é um artesão que se inseriu ao sistema capitalista e se

integrou perfeitamente ao Programa SEBRAE de Artesanato, pois se adaptou

ao mercado, transformou sua produção em um negócio mais rentável,

contratou trabalhadoras para aumentar sua produção e, com isso, proporciona

trabalho e renda para elas com seu Projeto.

82

Estabeleceu a divisão de tarefas para dar maior agilidade a produção,

transformando sua base técnica de trabalho, por isso, seu trabalho

transformou-se em manufatura.

7. Instituto Família Legal

O Instituto Família Legal de Bonito (MS), conforme a artesã Ana,

entrevistada em janeiro de 2013, desenvolve o artesanato de bolsas desde

2007. No início contaram com o patrocínio da Petrobrás.

Fazem bolsas com material reciclável das lonas dos malotes dos

correios, do couro, da argola, dos restos de tecidos das lojas.

Segundo Margô, administradora do Instituto, elas têm, entre outros,

programa de sustentabilidade às mulheres de famílias carentes que

confeccionam as bolsas.

Considera o trabalho delas artesanal, pois o desenvolvimento de cada

peça é único. Elas revendem seus produtos em São Paulo, já expuseram seus

produtos em Brasília e Rio de Janeiro, além de no comércio local.

Figura 10. Fotografia de fachada do Instituto Família Legal em Bonito (MS)

Fonte: http://www.familialegal.org.br/ . Acesso em: 7 dez. 2014.

A renda das mulheres varia de R$ 600,00 a R$ 1.300,00. Setenta por

cento dos lucros ficam para o próprio instituto, valor revertido para a compra de

material e para outros projetos paralelos, que irão beneficiar outras famílias.

83

Figura 11. Missão do Instituto Família Legal em Bonito (MS)

Fonte: RENATA DALPIAZ, 2013.

Figura 12. Fotografia de bolsas confeccionadas com material reciclado do

Projeto Fibra Viva, do Instituto Família Legal.

Fonte: RENATA DALPIAZ, 2013.

É um trabalho importante para região, pois as famílias que fazem parte

do instituto são famílias carentes que não têm boas perspectivas futuras. O

instituto oferece uma opção de trabalho e creche para os filhos das famílias

que o integram.

O SEBRAE é parceiro do instituto e o convida sempre para as rodas de

negócio. Em 2011, o SEBRAE enviou um estilista de São Paulo para prestar

84

consultoria e ficar uma semana no instituto, desenvolvendo os produtos sem

custo nenhum, com novas ideias, novos designs para a confecção das bolsas,

tornando o produto mais comercializável.

O processo de produção é realizado seguindo tendências do mercado e

designer do SEBRAE.

Seu trabalho pode ser considerado como artesanato conceitual,

conforme definição do SEBRAE (2010), pois segue tendências do mercado e

não usa matéria-prima tradicional, que reflita a cultura do estado. E artesanato

induzido, conforme definição de ALVES (2012).

Apesar de ser um artesanato induzido por Instituições apoiadoras e

seguir o mercado, o Instituto se diferencia das outras análises por dar

oportunidade para diversas artesãs, onde a produção das bolsas é feita de

forma individual e integral por cada uma delas, então, nesse caso em especial,

o artesanato permanece sendo realizado de forma tradicional e o aumento da

produção não é conquistado pela divisão de tarefas e sim pela associação de

novas artesãs.

Conforme o Boletim SEBRAE (2014, p.6) algumas ações que os

designers propõem nas oficinas e nos cursos em associações para os artesãos

que podem ser utilizadas na comercialização dos produtos são:

• pesquisar oferta e demanda de artesanato;

• resgatar técnicas e processos artesanais e o

artesanato regional;

• adequar produtos existentes ao mercado;

• definir embalagem para venda no varejo;

• definir embalagem para venda no atacado;

• definir embalagem para transporte;

• definir linhas de produtos;

• projetar e produzir catálogos de produtos;

• projetar e produzir material de divulgação.

No entanto, a introdução dessas mudanças no produto final podem

ocorrer por inovações que podem ser classificadas pela própria criação do

produto ou de toda coleção, pela matéria-prima, por substituição que possa

85

apresentar escassez ou abundância, pela ferramenta trocada por instrumentos

de trabalho mais eficazes, por técnicas que possam facilitar o trabalho, que

utilizem somente o fazer manual, com suas deficiências e diferenças, por

mudanças de técnicas ou de processos mais produtivos, pelo formato, por

alteração da aparência e da função, pela divulgação, no modo de apresentar

comercialmente os produtos (Boletim SEBRAE, 2014).

Como identifica CANCLINI (1983), o artesanato tem que fazer parte e

acompanhar as mudanças instituídas pelo capitalismo, mas, com isso,

[...] vem a necessidade de homogeneizar, e ao mesmo

tempo manter a atração do exótico dilui a especificidade de

cada povo dissolução do étnico no nacional. A rigor, trata-

se de uma redução do étnico ao típico. Porque a cultura

nacional não pode ser reconhecida, tal como é, por um

turista, se mostrada como um todo compacto,

indiferenciado, se não expressa como vivem os grupos que

a compõem [...] (CANCLINI, 1983, p. 45)

O designer pode interferir no trabalho do artesão, sem descaracterizá-lo,

pois o artesanato é um trabalho diferenciado e valorizado justamente por

representar a cultura da região, a tradição e a habilidade manual do artesão.

Alguns desses artesãos pesquisados fizeram parte do Projeto Brasil

Original do SEBRAE, que teve ao todo 30 inscritos39, por meio de suas ações

receberam capacitações, consultorias e acesso ao mercado nacional. Os

participantes são artesãos, associações e empresas envolvidos com o

Programa SEBRAE de Artesanato. Entre eles estão alguns dos entrevistados

anteriormente.

39

Segundo Gemima de Oliveira, coordenadora do Programa SEBRAE de Artesanato/MS, são: Ana Elizabete Martines; Antônia Maria Wormesbeker; Arte em cana; Artesanatos Amor Ltda./ME; Assentamento Magarida Alves; Associação de Mulheres de Dourados "Força Feminina"; Associação de Mulheres Organizadas Organizando e Reciclando Peixes; Associação Milagre da Fibra; Beatriz de Fátima Soares; Célia Ferreira Vasconcelos Oliveira & Cia. Ltda.; Flor de Xaraés; Ateliê Toca dos Bichos; Elizete Barros Vieira; Isabel Lissaraça Espindola Sandim; Jane Clara Arguello Martins Dias; Joias do Pantanal; Jose Nilton Moreira Gomes; Ateliê Ihaycoti; Lorna Nantes D´Avila; Luciana Brisola; Lucimar Maldonado Silva - ME; Silvia Stump; Marcos Ortiz; Maria Aparecida Prado; Campo Grande Tiracolo; Núcleo de Produção Desafiando Ponto; Núcleo de Produção Ponto que Une; Rozeles Nogueira Moyses Viegas; Ruth Conceição da Silva Lima; Vera Ruth Gomes.

86

Como essa pesquisa não tem a intenção de analisar todos os casos de

artesãos envolvidos com o SEBRAE limitou-se a entrevistar aqueles

enumerados como os principais destaques pela própria instituição, aqueles que

têm maior relevância regional.

Depois de todas as conclusões sobre o modo de produção, classificação

que envolve as categorias do artesanato segundo o Programa SEBRAE de

Artesanato (2010), Alves (2012), Portaria Ministerial nº 29 (2010), Conselho

Mundial do Artesanato, das peças artesanais dos diversos entrevistados, pode-

se dizer, também, que a maioria deles foi absorvida pelo sistema econômico

capitalista, instituindo a mudança da base técnica de trabalho com a introdução

da divisão de tarefas e a contratação de pessoas para realizar o trabalho que

deveria ser feito de forma integral pelo artesão.

Contrariando o que o Programa SEBRAE de Artesanato propõe

inicialmente, que é proporcionar apoio ao artesanato, no entanto, o que se

pode perceber é que as peças artesanais não estão sendo mais

confeccionadas integralmente de forma artesanal, ou seja, o artesanato está

deixando de ser artesanato.

No entanto, não deixaram de ser artesãos, pois eles têm a expertise de

realizarem sozinhos, manualmente as suas peças, como é identificado e

conceituado pelo Art. 4 da Portaria nº 29, de 5 de outubro de 2010, do

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Brasileiro, razão

pela qual ALVES (2012) tratou de artesanato induzido em sua pesquisa, ou

seja, artesãos inicialmente elaboradores de peças artesanais de forma e

domínio integral, mas após a interferência indutora de Instituições como o

SEBRAE passaram a confeccionar suas peças de forma parcial, por terem

introduzido em sua produção a divisão de tarefas.

Outro objetivo do Programa que não é atendido é aquele de tirar

pessoas da miséria, das ruas, do desemprego, o que não se encaixa a estes

artesãos, ao perfil dos entrevistados, que em sua maioria já tinham uma

profissão, uma colocação no mercado, mas viram no Programa uma

oportunidade para terem seu próprio negócio.

Existem várias peculiaridades entre os entrevistados, o artesanato que

se transformou em manufatura, o trabalho apoiado em sustentabilidade, o uso

87

de matéria-prima reciclável, a maioria possuía outra profissão e se encaixou no

sistema capitalista.

E, apesar de parecer discrepante uma produção adaptada à sociedade

capitalista conseguir trabalhar com sustentabilidade, através das visitas in loco,

pode ser comprovado que realmente os artesãos primam pela preservação

ambiental ao reutilizar as matérias-primas.

Logo, o predominante, o universal aos artesãos é inseparável ao que é

singular em cada produção, que são seus próprios meios, peças e técnicas de

trabalho.

Conclusão

As experiências induzidas pelo SEBRAE com os artesãos sul-mato-

grossenses entrevistados foram profícuas, pois o Programa SEBRAE de

Artesanato impactou positivamente suas vidas, segundo relato dos mesmos,

tendo em vista o aumento da comercialização dos produtos, o crescimento dos

seus negócios desde a interferência do SEBRAE, com as rodas de negócio,

exposições, cursos, capacitações e oficinas. Como por exemplo, oficinas de

designs, cursos de gestão, precificação, técnicas de vendas, ampliando sua

produção, consequentemente, incluindo outros artesãos a participarem do

processo produtivo, aumentando a renda de todos os envolvidos,

principalmente dos artesãos destacados pelo SEBRAE, que estão localizados

nas regiões de Campo Grande, Corumbá, Jardim, Bonito, Coxim e Itaquiraí.

Com relação ao processo produtivo pôde ser observado que algumas

mudanças ocorreram, pois o processo deixou de ser uma simples produção de

objetos por lazer, para se tornar uma produção voltada para atender o

mercado, onde o modo de produção capitalista se estabelece, com a formação

de empresas, contratação de empregados, divisão de tarefas. Ou seja, há a

agregação de valor em cada etapa que se diferencia, revelando que a

produção é para gerar cada vez mais lucro. São reafirmados os conceitos

capitalistas, as tendências mercadológicas, até mesmo por questão de

sobrevivência dos artesãos e familiares.

Ao mesmo tempo, induzindo os artesãos a transformarem suas

produções para atender as tendências do mercado e não mais como tradição

88

de um povo que exprime sua cultura, como o SEBRAE conceitua o artesanato

“tradicional”, ou como ALVES (2012) conceitua o artesanato espontâneo, que é

a produção individual, por pessoas que, “no passado, exerceram atividades

econômicas que lhes permitiram ter certo domínio teórico-prático compatível ao

que, no futuro, se caracterizaria como artesanato de peças ornamentais”,

levando muitos artesãos a produzir o artesanato conceitual, o artesanato de

referência cultural, o “industrianato”, conforme SEBRAE (2010), o artesanato

induzido, conforme ALVES (2012).

Os artesãos que antes trabalhavam como autônomos passaram a

constituir empresas, como Microempreendedor Individual (MEI) e

microempresas, para poder receber benefícios como aposentadoria, auxílio-

doença e salário-maternidade e, assim, vender seus produtos para empresas e

fornecê-los para o governo, abrir conta bancária jurídica, pegar empréstimos

em condições especiais e com mais facilidades, além de poder ter auxílio do

próprio SEBRAE.

Desse modo, muitos são os atrativos para os artesãos mudarem sua

concepção original do artesanato para outra forma de fazer e de produzir suas

peças. Isso, aliás, não é um problema, pois, o artesanato tem que fazer parte e

acompanhar as mudanças instituídas pelo capitalismo, mas, com isso, as

peças são mais padronizadas e a referência cultural de um povo acaba se

dissolvendo, não expressando mais a vida das pessoas que as produzem.

E, assim, o artesanato vai se descaracterizando e, isso, contradiz os

objetivos do Programa SEBRAE de Artesanato.

Agradecimentos

Ao Dr. Gilberto Luiz Alves, por suas orientações.

À Universidade Anhanguera Uniderp.

Ao Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) de

Mato Grosso do Sul.

A todos os artesãos que colaboraram com informações para realização desta

pesquisa.

E a todos os que direta ou indiretamente colaboraram com a elaboração deste

trabalho.

89

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Entrevistas

Entrevista com a artesã Ana e a administradora Margô, do Instituto Família

Legal, realizada em 11.01.2013, às 16h, no Instituto Família Legal, em Bonito

(MS).

92

Entrevista com Anna Karolina Monteiro, coordenadora do departamento de

artesanato do SEBRAE/MS, realizada em 24.01.2013, às 10h, no SEBRAE em

Campo Grande (MS).

Entrevista com Patrícia Caldas, consultora do SEBRAE, realizada em

21.08.2014, às 16h, no Instituto Íntegra em Campo Grande (MS).

Entrevista com Isabel Muxfeldt, artesã do Projeto Joias do Pantanal, realizada

em 28.08.2014, às 14h, no seu ateliê em Campo Grande (MS).

Entrevista com Gemima de Oliveira Moreira, atual coordenadora do

departamento de artesanato do SEBRAE, realizada em 01.09.2014, às 9h, no

SEBRAE em Campo Grande (MS).

Entrevista com Silvia Stumpo, artesã do Projeto Proart, realizada em

01.09.2014, às 14h, no seu ateliê em Campo Grande (MS).

Entrevista com Cláudia Castelão, artesã do Projeto Flor de Xaraés, realizada

em 05.09.2014, às 14h 30min, no seu ateliê em Campo Grande (MS).

93

Artigo III

Projeto Fibra Morena: Análise de uma Experiência de Artesanato Induzida

pelo SEBRAE/MS

Renata Machado Garcia Dalpiaz

Resumo

Esta pesquisa tem como objeto o Projeto Fibra Morena, induzido pelo

Programa SEBRAE de Artesanato em Mato Grosso do Sul. E o objetivo é

analisar a referida experiência e suas consequências sobre a região de

influência. O Projeto Fibra Morena envolve a artesã Lucimar Maldonado Silva e

sua equipe. As fontes teóricas que nortearam a análise dos dados empíricos

foram buscadas em estudos de Alves, Araújo, Lima e Canclini, entre outros. Os

dados empíricos foram levantados em fontes primárias, tanto de caráter

documental, quanto por meio de entrevistas, gravação das falas e visitas in

loco para observar as práticas artesanais. Foram utilizadas também fontes

secundárias, como artigos dos bancos de universidades, livros, periódicos

especializados, revistas e sites acadêmicos da Internet. Foi evidenciado o

impacto do Programa SEBRAE de Artesanato na vida da artesã e das pessoas

que a rodeiam. O processo de produção do Projeto Fibra

Morena se transformou após capacitações oferecidas por essa entidade, pois

induziram mudanças na base técnica do trabalho. Em decorrência, artesãos

foram contratados, instaurou-se a divisão de tarefas, resultando no aumento da

produção e aperfeiçoamento de sua técnica.

Palavras-chave: Desenvolvimento Regional. Artesanato Induzido. Divisão do

Trabalho.

Abstract

This research has the object Fibra Design Morena, induced Craft SEBRAE

program in Mato Grosso do Sul. And the goal is to examine this experience and

its impact on the region of influence. Fibra Design Morena involves artisan

Lucimar Maldonado Silva and his team. The theoretical sources that guided the

analysis of empirical data were sought in Alves studies, Araujo Lima and

Canclini, among others. Empirical data were collected on primary sources, both

94

documentary character, and through interviews, recording the speeches and

site visits to observe the craft practices. They were also used secondary

sources such as articles from the banks of universities, books, professional

journals, magazines and academic Internet sites.

The impact of Craft SEBRAE Program in the life of the artisan and the people

that surround evidenced. The production process of Morena Fiber Project has

become after training offered by such entity as induced changes in the technical

groundwork. As a result, artisans were hired, introduced to the division of tasks,

resulting in increased production and improving his technique.

Keywords: Regional Development. Craft -Induced. Labor Division.

Introdução

O objeto deste artigo é a análise do Projeto Fibra Morena, um projeto

induzido pelo Programa SEBRAE de Artesanato em Mato Grosso do Sul.

Esse projeto foi escolhido entre tantos outros nomeados como

relevantes pela coordenadora do Programa SEBRAE de Artesanato, Gemima

de Oliveira Moreira, pelo fato dele estar localizado na periferia da capital do

Mato Grosso do Sul, Campo Grande e, isso, fazer parte dos objetivos do

Programa, ou seja, ensinar pessoas menos favorecidas uma técnica de

trabalho para que elas tenham uma renda e, assim, gerar renda para região a

qual está inserida.

O artigo teve como objetivo avaliar uma experiência de artesanato

induzida pelo SEBRAE e suas consequências sociais e econômicas sobre a

região de influência. Essa experiência corresponde ao Projeto Fibra Morena, a

frente do qual se encontra a artesã Lucimar Maldonado Silva e sua equipe.

Lucimar Maldonado trabalha com diversas fibras e as transforma em

peças artesanais, como cestas, porta copos, sousplat, pulseiras.

Conforme LIMA (2009, p. 11), “... em termos de importância e difusão,

no Brasil, somente a cestaria e o trançado é que podem fazer frente à arte em

cerâmica”, devido ao fato da matéria-prima ser abundante em praticamente

todas as regiões do país e pela prática realizada pelos índios, deixando como

legado da sua cultura e tradição.

95

Em entrevista para o jornal RBV News, em 5 de junho de 2012, na IV

Mostra de Soluções Sustentáveis, a expositora da Fibra Morena, Lucimar

Maldonado Silva, apresentou inovações socioambientais e contou que

começou a desenvolver seu trabalho na Incubadora do Bairro Zé Pereira e viu

no artesanato sustentável uma oportunidade de renda e ascensão profissional.

“Antes eu era dona de casa e hoje tenho minha própria empresa. Percebo no

meu trabalho a importância da preservação do meio ambiente”, destacou

Lucimar.

Figura 1. Fotografia da artesã Lucimar Maldonado, com destaque para as suas

pulseiras em fibra.

Fonte: www.rbvnews.com.br. Acesso em: 7 dez. 2014.

As fontes teóricas que nortearam a análise dos dados empíricos foram

autores como Alves, Lima, Araújo, Canclini, entre outros. Os dados empíricos

foram buscados em fontes primárias, tanto de caráter documental, quanto por

meio de entrevistas, gravação das falas, visitas in loco para observar as

práticas artesanais e fontes secundárias, como artigos dos bancos de

Universidades, livros, periódicos especializados, revistas e sites acadêmicos da

Internet.

Ao analisar os impactos do Programa SEBRAE de Artesanato

desenvolvido em Mato Grosso do Sul, através da experiência com o Projeto

Fibra Morena, verificou-se que o artesanato espontâneo deu lugar para o

artesanato induzido, conceitual, pois com as mudanças sofridas no processo

de produção dos artesãos, eles passaram a incluir mais elementos na

produção, contratação e parcerias com novos artesãos, que alterou a sua

forma de fazer o artesanato, ou seja, a sua base técnica de trabalho, isso para

96

acompanhar o desenvolvimento econômico do país, para ter um crescimento

econômico, por questões de sobrevivência, para atender o mercado, suas

tendências, entre outras razões.

Material e Métodos

Os dados empíricos foram buscados em fontes primárias, com

realização de entrevistas (com o apoio de um roteiro com perguntas abertas,

conforme anexo II dessa pesquisa), gravação das falas dos artesãos, além de

visitas in loco para fazer observações de campo no ateliê, e fontes

secundárias, como artigos dos bancos de Universidades, livros, periódicos

especializados, revistas e sites acadêmicos da Internet.

A amostragem dos entrevistados é do tipo por acessibilidade, pois a

classificação do público-alvo é em função das propriedades relevantes para a

pesquisa. O público-alvo são artesãos do Projeto Fibra Morena, envolvidos

com o Programa do SEBRAE, as pessoas foram convidadas a expor seu

trabalho em razão de uma pesquisa científica sobre a atividade que exercem,

solicitando assinatura de um termo de livre consentimento, além da autorização

do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos, realizado pela

Plataforma Brasil. Parecer número 774.370, de 27 de agosto de 2014.

Resultados e Discussões

Segundo PORTA (2008), assessora especial do Ministro da Cultura, a

economia da cultura, no âmbito do Prodec (Programa de Desenvolvimento

Comunitário), a economia da cultura “abrange todos os setores que envolvem

criação artística ou intelectual, individual ou coletiva, assim como os produtos e

serviços ligados à fruição e à difusão de cultura”, incluindo o artesanato.

Onde, a “atividade cultural mais presente nos municípios é o artesanato

(64,3%), seguida pela dança (56%), bandas (53%) e a capoeira (49%)”

(PORTA, 2008, p. 3).

O artesanato foi influenciado pelo crescimento econômico, pela

globalização através das instituições apoiadoras, aderiu às inovações,

mudanças, incorporações que se fizeram necessárias para acompanhar as

mudanças da economia e do sistema capitalista, e, assim, tornarem-se mais

97

comercializáveis e rentáveis para as famílias continuarem vivendo desse

trabalho. Diferente do que era apresentando na fase pré-capitalista, antes da

Revolução Industrial, em outra fase da história, agora ele é visto como

manufatura, pela lógica do funcionamento da sociedade capitalista.

Pois, baseado na funcionalidade do capitalismo é muito difícil criar

artesanato.

Conforme CANCLINI (1982, p. 71):

As peças de artesanato são e não são um produto pré-

capitalista. O seu papel como recursos suplementares de

rendimento no campo, como introdutoras de renovação na

esfera do consumo e como atração turística e instrumento

de coesão ideológica indica a variedade de lugares e

funções nos quais o capitalismo delas necessita.

Entretanto, não alcançamos inteiramente o que acontece

com elas se só pensamos a partir do capitalismo,

unidirecionalmente, as suas encruzilhadas atuais. Os

produtos artesanais são também, há séculos,

manifestações culturais e econômicas dos grupos

indígenas. Esta dupla inscrição: histórica (num processo

que vem desde as sociedades pré-colombianas) e

estrutural (na lógica atual do capitalismo dependente) é o

que produz o seu aspecto híbrido.

A visão folclorista do artesanato tradicional está dando lugar para uma

nova concepção que acompanhou o desenvolvimento econômico, a

globalização, a integração dos países, com novas formas de organizações para

produzir as peças artesanais, que são influenciadas por instituições que

promovem os negócios, o empreendedorismo, gestão empresariais,

necessárias para a sobrevivência dos artesãos, com formação de associações,

parcerias, organizações, dando oportunidade para mais pessoas, que por sua

vez trabalhavam de forma autônoma ou estavam desempregados, seguindo a

tendência do mercado e promovendo o desenvolvimento econômico e social.

98

O sistema econômico capitalista está fazendo com haja uma

transformação do artesanato, pois a tendência da industrialização e da rapidez

das informações e das inovações tecnológicas, que estão cada vez mais

fazendo parte da vida, dos gostos dos consumidores e do dia a dia dos

artesãos, com isso, torna-se difícil saber até quando o artesanato que reflete a

cultura, a tradição e o fazer manual será praticado.

O SEBRAE com suas oficinas, cursos, capacitações, rodadas de

negócios, consultorias de designers, etc., tem como objetivo resgatar e

promover o artesanato.

Mas, um artesanato voltado para o mercado, com aumento de produção,

o que induz os artesãos a mudar e incrementar suas produções, através de

divisão de tarefas, parcerias, associações. Uma vez que os artesãos

verificaram que não tinha mais mercado para suas peças e sem incentivos para

aumentar a sua produção, os artesãos perceberam a necessidade de

acompanhar as transformações do mercado, da economia, enfim, do sistema

econômico, que se utilizam dessas inovações para que o consumo não fique

estagnado, no entanto, aquele artesanato original está dando espaço para

outras formas de artesanato, como o artesanato conceitual, de referência

cultural, conforme conceituação do Termo de Referência do SEBRAE (2010).

A intenção do SEBRAE é tornar o artesanato mais lucrativo e criar mais

oportunidades para as negociações e, com isso, fomentar o desenvolvimento

econômico e social, pois o capitalismo não surgiu para acabar com o

artesanato.

Contudo, para que o artesanato sobreviva aos produtos industrializados,

produzidos em série, o que torna estes produtos mais baratos, é necessário

que seja repaginado e essa alteração transforma também o seu conceito, sua

base técnica de trabalho.

As peças da artesã Lucimar Maldonado fazem parte do processo

produtivo que acompanharam essas mudanças e que tiveram a participação de

organizações que induziram a sua produção, como o SEBRAE, Fundação de

Cultura do Mato Grosso do Sul e o PAB (Programa Brasileiro de Artesanato).

99

A artesã é uma dona de casa que resolveu mudar sua vida. Começou

em 2005 fazendo chocolates artesanais40 e ao mesmo tempo buscou cursos no

Núcleo Produtivo da Incubadora Municipal Zé Pereira (localização da

Incubadora pode ser vista na figura 2).

Teve interesse e escolheu como ponto inicial as fibras naturais, pois não

requeriam muitos investimentos. Poderia trabalhar com o que tinha em casa

mesmo e a matéria-prima conseguiria na própria natureza.

Figura 2. Mapa da região da Incubadora Zé Pereira - região nordeste de

Campo Grande (MS).

Fonte: Google Maps41, 2016.

Inicialmente ela e o marido entravam em matas atrás de fibras de

bananeiras, taboas e buritis, pensando sempre em não impactar o meio

ambiente. Mas, depois, com o crescimento do negócio passou a comprar as

fibras já processadas no interior do estado de Mato Grosso do Sul, nas cidades

40

Cf. SEBRAE (2010), seus produtos, neste período, poderiam ser classificados como produtos alimentares típicos em pequena escala. 41

Disponível em:

https://www.google.com.br/maps/place/Incubadora+Municipal+Z%C3%A9+Pereira/@-20.4559678,-54.629246,13.75z/data=!4m2!3m1!1s0x9486e76bc650a8e1:0x287fb284ac85de31. Acesso em 20 mar. 2016.

100

de Bodoquena e Miranda e de produtores de bananas da região norte de

Campo Grande. Esta região inclui, entre outros, o Bairro Estrela do Sul e

adjacentes, onde ela tem parceria.

Após a colheita da banana os produtores destinam o caule das

bananeiras para Lucimar, além de ter um carroceiro para buscar fibras em

natura nas redondezas da cidade: a bananeira na parte norte de Campo

Grande, na região do Bairro José Pereira, a taboa42 e o buriti43 na parte Sul de

Campo Grande, saída para São Paulo e saída para Sidrolândia. Elas são

predominantes de áreas alagadas.

Após o crescimento da produção de seu artesanato, Lucimar reduziu o

uso da taboa e do buriti, justamente por estarem sempre próximas aos rios e

muitas vezes às margens. Para evitar um impacto ambiental ao retirar essas

palmeiras, deixou de utilizá-las e passou a usar apenas a bananeira.

São vários os impactos que podem ser causados pela retirada da mata

ciliar:

• Possibilidade de alteração do microclima com consequências ao

meio ambiente;

• Desaparecimentos de parte de áreas de terras;

• Degradação de solos para construção da estação de efluentes;

• Intensificação dos processos erosivos, com decorrente

assoreamento e contaminação da água;

• Desgaste do perfil do solo; Impermeabilização do solo;

42

A taboa (Typha domingensis) é uma planta aquática típica de brejos, manguezais, várzeas e outros espelhos de água que mede cerca de 2 metros na época da reprodução: Ela ainda possui outra qualidade, a de ser uma depuradora de águas poluídas, absorvendo metais pesados. (Cf. Portal da Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias). Disponível em: <http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/92671/1/Proci-09.00338.pdf>. Acesso em: 3 ago. 2015. 43

O Buriti (Mauritia Flexuosa) é uma espécie de palmeira de origem amazônica, também conhecida pelos nomes de buriti-do-brejo, carandá-guaçu, carandaí-guaçu, coqueiro-buriti, itá, palmeira-dos-brejos, buritizeiro, meriti, miriti, muriti, muritim, muruti. É predominantemente encontrado na região Norte, mas também aparece com frequência nos estados de Maranhão, Piauí, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Minas Gerais e Mato Grosso. Conhecido como uma das mais belas palmeiras, podendo alcançar entre 20 m e 35 m de altura, o buriti se desenvolve em terrenos baixos com grande oferta de água, como margens de rios, áreas brejosas ou permanentemente inundadas, formando aglomerados de plantas, chamados de buritizais. Para tanto, é essencial que o solo seja ácido. Disponível em: <http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/agroenergia/arvore/CONT000fbl23vmz02wx5eo0sawqe3flbr6im.html>. Acesso em: 03 ago. 2015.

101

• Formação de voçoroca44;

• Aumento escoamento superficial da água.

• Erosão das margens;

• Aumento de sedimentos;

• Entre outros.

A produção de chocolates foi até 2007/2008, quando resolveu criar um

Projeto para concorrer a uma vaga na Incubadora Zé Pereira.

Foi quando nasceu o Projeto Fibra Morena e a sua microempresa Fibra

Morena, localizada em sua residência, no Bairro José Pereira, na região

nordeste da cidade. Na figura 3 aparece Lucimar aprendendo a usar as fibras

na Incubadora.

Figura 3. Fotografia da artesã Lucimar Maldonado produzindo seu trançado em

fibras.

Fonte: LUCIMAR MALDONADO, 2009.

Em 2009 participou das palestras, oferecida pelo convênio SEBRAE

sobre Planejamento Estratégico e Plano de Negócio, entre outros eventos

(Quadro 1).

44

Isto é formação de grandes buracos de erosão causados pela chuva e intempéries, em solos onde a vegetação é escassa e não mais protege o solo, que fica cascalhento e suscetível de carregamento por enxurradas - estão presentes em praticamente todo o Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil e geralmente estão associados ao uso do solo, ao substrato geológico, ao tipo de solo, às características climáticas, hidrológicas e ao relevo. O desenvolvimento das ravinas e voçorocas descrito na literatura brasileira é geralmente atribuído a mudanças ambientais induzidas pelas atividades humanas. Disponível em: <http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/agricultura_e_meio_ambiente/arvore/CONTAG01_58_210200792814.html>. Acesso em: 03 ago. 2015.

102

Quadro 1. Atividades da artesã Lucimar Maldonado em 2009

JANEIRO Participou Rodada de negócios comércio Justo - SEBRAE.

MARÇO Exposição no SEBRAE no evento “Mãos que

transformam”.

ABRIL Participou da 3ª Feira Internacional de Artesanato -

FINNAR.

MAIO Participou do evento no Armazém Cultural “1ª Mostra de

Soluções Sustentáveis”, Festival América do Sul em

Corumbá/MS.

JUNHO Participou 1ª Mostra de Soluções Sustentáveis, Arraial de

Santo Antônio, Festival de Inverno em Bonito.

JULHO Participou da Exposição em Sidrolândia, Rodada de

Negócios SEBRAE, Festival de Inverno de Bonito.

AGOSTO Participou da Feira do Hipermercado Extra, Desfile Morena

Fashion, filmagem, realização Seleta, Feira da Orquídea

no Armazém.

SETEMBRO Participou do Programa “Ta Na Rua”, Salão de Turismo

Albano Franco, FEINCARTES, Mão de Minas em Belo

Horizonte/MG.

OUTUBRO Participou 2º congresso internacional de odontologia de

mato grosso do sul no Novo Hotel, Congresso no Rubens

Gil de Camillo, Abertura da Empresa, Feira na Assembleia

Legislativa, Amostra do Participou Festival América do Sul

em Artesanato no SEBRAE.

NOVEMBRO Exposição no CREA-MS, no evento 10 anos de PRODES,

Feira EXPOMINAS em Belo Horizonte, Salão Internacional

de Artesanato em Brasília DF.

Em 2010 participou das consultorias, oferecidas pelo convênio SEBRAE/

Incubadora sobre Formação de Preço, Jurídica e Controle Financeiro e

Contábil, Fiscal e Tributária e Planejamento Estratégico (Quadro 2).

103

Quadro 2. Atividades da artesã Lucimar Maldonado em 2010

MARÇO Participou Workshop no SEBRAE, Rodada de Negócios,

Feira do Artesanato.

ABRIL Participou Festival América do Sul em Corumbá/MS,

FINNAR em Brasília/DF.

MAIO Participou Bazar na Incubadora Mário Covas, 5º Salão de

Turismo em São Paulo.

JUNHO Participou 2ª Mostra de Soluções Sustentáveis, Festa de

Santo Antônio, Casa do Artesão.

JULHO Participou da Feira do Empreendedor - SEBRAE.

AGOSTO Participou da Feira das Orquídeas, Geração de

Empreendedores – 2ª Edição.

SETEMBRO FEINCARTES no Albano Franco, Seminário AMPROTEC.

NOVEMBRO Participou do Salão Internacional de Artesanato em

Brasília/DF.

Em 2011, ela continuou aproveitando as oportunidades de obter novos

conhecimentos e expor seu trabalho (Quadro 3).

Quadro 3. Atividades da artesã Lucimar Maldonado em 2011

JANEIRO Participou do Evento CONARC.

ABRIL Participou FINNAR em Brasília/DF.

MAIO Feira União das Artes, Festival América do Sul em

Corumbá/MS, FINNAR em Brasília/DF.

JUNHO 3ª Mostra Soluções Sustentáveis, Arraial de Santo Antônio,

Feira Junina da Fundação de Cultura.

JULHO FENEARTE- Feira de Olinda, Salão de Turismo em São

Paulo, Casa do Artesão e Festival Inverno de Bonito.

AGOSTO Geração de Empreendedores – 3ª Edição.

Enfim, durante o tempo de incubação a artesã participou de

treinamentos, consultorias, palestras, visitas técnicas, feiras, eventos,

gravações para TV e rodadas de negócios. Teve um aumento na sua rede de

104

contatos, estabelecimento de novas parcerias e, com isso, inovou seus

produtos, o que possibilitou um aumento de mais de 100% na produção.

Seu rendimento aumentou na mesma proporção após as capacitações

realizadas.

Todas essas atividades oferecidas pela Incubadora tinham parceria com

o SEBRAE e outras Instituições.

A artesã acredita que as capacitações realizadas proporcionaram uma

mudança em sua vida, na forma de encarar o mundo, de enxergar o mercado,

enfim na forma de se portar perante as adversidades encontradas em seu

caminho.

A incubadora mantinha um Box, conforme figura 4, (nome dado a

pequenas salas comerciais) na Feira Central, onde seus futuros

empreendedores expunham suas peças artesanais.

Figura 4. Fotografia de produtos da artesã Lucimar Maldonado.

Fonte: LUCIMAR MALDONADO, 2009.

Além da Feira Central a artesã exibia suas peças no Centro Médico da

Prefeitura Municipal de Campo Grande/MS, através do Projeto Viva Vida, ao

qual foi convidada a proferir um curso sobre seu trabalho para as pessoas

envolvidas no referido Projeto.

105

Com a exposição dos seus produtos ela teve oportunidade de conhecer

diversos parceiros que passaram a fazer parte do seu Projeto pessoal,

totalizando 5 parceiros que seguiram junto com a artesã até 2010, depois disso

seguiram apenas dois parceiros, como é o caso do Anderson, índio terena de

Miranda/MS, ele faz peças em madeira, produz 9 tipos de bichos do Pantanal,

que compõem e fazem parte do rol de produtos do Projeto Fibra Morena.

Conforme a artesã, ela passou a gerar empregos e fortalecer a cadeia

produtiva das fibras naturais, pois existem muitas pessoas envolvidas em seu

Projeto, que são da sua região e de outros municípios, como Miranda.

Dessa forma, à medida que artesã crescia profissionalmente as pessoas

envolvidas cresciam junto, com isso, várias famílias que antes não tinham

oportunidade de emprego passaram a gerar renda e contribuir para o sustento

de seus familiares.

Trabalha, também, com pessoas terceirizadas, que realizam o trabalho

de preparação da fibra, colagem nas caixas e trançados, para tanto, Lucimar

capacita todos envolvidos em seu Projeto. O pagamento é realizado por

produção semanal e com relação aos parceiros, o valor pago é conforme o que

lhe é cobrado por preço de atacado.

Lucimar trabalha com fibras de bananeira, taboa e buriti (apesar de

quase não mais utilizar a fibra do buriti e da taboa, pela dificuldade de acesso e

pelo risco que pode causar ao meio ambiente, como já explanado

anteriormente) e com elas produz utensílios domésticos e de decoração, como:

mandalas em MDF pintadas a mão, com acabamento de fibra de

bananeira;

luminárias em buriti com madeira e fio de juta;

porta-refratário em fibra taboa;

sousplat de MDF com fibra de bananeira;

pulseiras de acrílico revestidas com tecidos e fibra de bananeira;

capa de banco em fibras de taboa;

porta garrafa e porta lata em fibra de bananeira;

porta panela com fibra de taboa;

cesta de fibra de taboa com alças em osso bovino.

106

Em sua produção não utiliza produtos químicos e nem equipamentos

especiais, apenas as fibras, faca, tesoura e cola.

Conforme ARAÚJO (1973), a arte de trançar é encontrada entre povos

pré-letrados, como os amerabas45, que confeccionavam vários tipos de

cestarias, conhecidas por diversas tribos brasileiras, acredita-se ser uma

prática herdada dos índios e devido às diversas influências regionais surgiram

variados tipos peças. Como a fibra pode ser encontrada em diversas regiões

do país, a arte de trançar, formando cestas e outros produtos, se difundiu por

todas as partes.

Ficou incubada (pertenceu ao projeto) na Incubadora Municipal Zé

Pereira46, em Campo Grande/MS, com o Projeto Fibra Morena - Artesanato

Sul-mato-grossense, de 2009 a 2011.

Os preços de suas peças variam de R$ 4,00 a R$ 800,00, contemplando

todas as classes sociais, distribui suas peças no interior e capital de Mato

Grosso do Sul, além de vários outros estados como Brasília, Rio de Janeiro e

São Paulo.

Vende por atacado para diversas empresas do Brasil, como a TOK

STOK, loja de móveis e decorações, a qual ela fechou contrato em março de

2014, depois de muitas negociações e adaptações de suas peças para poder

atender o nível de exigência da loja, ela precisou se enquadrar em projetos de

sustentabilidades internacionais, logomarca, código de barras, embalagem.

Como, também, vende para a Galeria Arte Brasileira/SP, a Garanza/SP,

o Armazém 13 - Brasília, o Jacaré do Papo Amarelo - Salvador/BA.

Participa de exposições, feiras, rodadas de negócios do SEBRAE,

Festival de Inverno de Bonito e o Festival da América do Sul em Corumbá,

além de outros eventos promovidos pela Fundação de Cultura e eventos

realizados pelo Brasil afora, como a FENEARTE de Recife/PE, onde ela

transporta seus produtos e paga sua passagem por conta própria.

45

Nome dado aos índios das Américas, de acordo com o Dicionário Umbanda - Yorubá. 46

É um centro de desenvolvimento empresarial e de treinamentos, que promovem a cultura empreendedora, mantido pela Prefeitura Municipal de Campo Grande, com interveniência da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, de Ciência e Tecnologia, Turismo e do Agronegócio - SEDESC. Disponível em: http://www.capital.ms.gov.br/incubadoras/zepereira/canaisTexto?id_can=3876. Acesso em: 02 dez. 2014.

107

Lucimar é uma das participantes do Projeto Brasil Original, apesar de

não ter se encaixado em algumas regras estabelecidas pelo SEBRAE, como a

que ela teria que cumprir algumas etapas do Projeto para poder participar,

etapas que já havia passado quando esteve na Incubadora, ela acreditava que

estaria tendo um retrabalho que levaria a um desperdício no seu tempo de

produção, conforme seu relato.

Para atender o crescimento das vendas de seus produtos passou a

praticar a divisão de tarefas e produzir peças em série, sempre primando pela

qualidade de seus produtos.

Lucimar é quem cria suas peças e é uma pessoa que está sempre

buscando algo novo, atenta as tendências do mercado para inovar seus

produtos.

Seu trabalho pode ser considerado como artesanato conceitual47,

conforme definição do SEBRAE (2010), pois segue tendências do mercado e

não usa matéria-prima tradicional, que reflita a cultura do estado, nem produz

objeto que remetam a cultura local e artesanato induzido48, conforme definição

de ALVES (2012).

Portanto, conforme a nomenclatura do Ministério do Desenvolvimento,

Indústria e Comércio Exterior Brasileiro, Portaria nº 29, de 5 de outubro de

2010, no qual foi identificado o que é artesanato e o que não é artesanato,

muitas peças da produção analisada, como as mandalas, quadros, montagens,

se enquadram no Art.4, § 1º , Inciso I, que trata do que não é artesanato.

§ 1º Não é ARTESANATO:

I - Trabalho realizado a partir de simples montagem, com

peças industrializadas e/ou produzidas por outras pessoas;

II - Lapidação de pedras preciosas; 47

O artesanato conceitual diz respeito a “objetos produzidos a partir de um projeto deliberado de afirmação de um estilo de vida ou afinidade cultural”, tendo como característica a inovação (SEBRAE, 2010).

48

O artesanato induzido vem se tornando dominante em nossos dias. Muitas iniciativas filantrópicas veem no desenvolvimento do artesanato uma válvula de escape para tirar crianças e jovens que vivem situação de risco nas ruas ou para populações marginalizadas em guetos de pobreza” (ALVES, 2012, p. 2).

108

III - Fabricação de sabonetes, perfumarias e sais de banho,

com exceção daqueles produzidos com essências

extraídas de folhas, flores, raízes, frutos e flora nacional.

IV - Habilidades aprendidas através de revistas, livros,

programas de TV, dentre outros, sem identidade cultural.

Lucimar Maldonado é uma trabalhadora que se encaixou ao sistema

capitalista de produção, não deixando de ser uma artesã, pois ela tem a

expertise de realizar sozinha, manualmente as suas peças, como, as suas

cestas, sousplat, porta copos, pulseiras, transformando a matéria-prima em

artesanato, como é identificado e conceituado pelo Art. 4 da Portaria nº 29, de

5 de outubro de 2010, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio

Exterior Brasileiro.

Art. 4º ARTESANATO - Artesanato compreende toda a

produção resultante da transformação de matérias-primas,

com predominância manual, por indivíduo que detenha o

domínio integral de uma ou mais técnicas, aliando

criatividade, habilidade e valor cultural (possui valor

simbólico e identidade cultural), podendo no processo de

sua atividade ocorrer o auxílio limitado de máquinas,

ferramentas, artefatos e utensílios.

Contudo, o Programa SEBRAE de Artesanato tem como objetivo:

Proporcionar apoio ao desenvolvimento do artesanato.

Amparar os artesãos com acesso a cursos e capacitações nas mais

diversas áreas de gestão, como empreendedorismo, gestão de

negócios, precificação, design dos produtos e embalagens,

comercialização etc.

Promover melhorias nos rendimentos dos artesãos, fazendo com que

eles se tornem novamente parte de uma sociedade economicamente

ativa, contribuindo, assim, com o crescimento econômico do país.

Escoar a produção através de feiras, rodas de negócios, exposições

nacionais e internacionais.

109

Premiar artesões para projetá-los nacionalmente.

Facilitar a ampliação de créditos a micro e pequenas empresas.

Transformar o artesanato em um negócio lucrativo.

Estear o desenvolvimento social do estado, à medida que investe em

segmento muitas vezes marginalizado pelo sistema capitalista de

produção.

Gerar o empreendedorismo dentro de uma rede de parcerias com

interesses semelhantes.

E, o que pode ser visto com a análise do processo de produção da

Lucimar Maldonado é que ela foi induzida pelo Programa a melhorar suas

técnicas, aumentar sua produção, escoar suas peças, aumentar sua rede de

parcerias, empreender, tornar seu negócio lucrativo, tornar seu produto mais

vendável, gerar emprego.

Como consequência dessa indução ela teve que alterar sua base técnica

de trabalho, incluindo novos artesãos como empregados e parceiros para

comporem suas peças, dividir as tarefas realizadas em seu ateliê.

Isso contraria o ponto principal do Programa que é apoiar o artesanato,

pois com a indução do Programa e de outras Instituições, Lucimar deixou de

fazer artesanato para produzir manufatura.

Outros pontos do Programa foram aproveitados pela artesã para

profissionalizar e aumentar sua produção e assim gerar mais renda para ela e

para os envolvidos em seu Projeto.

Conclusão

A artesã Lucimar Maldonado, do Projeto Fibra Morena, está ligada a

diversas redes de contato, que compõem a cadeia de produção de seu

artesanato, como sua relação com os extrativistas, que buscam e extraem a

matéria-prima, de forma a prejudicar o meio ambiente e a região, como o seu

parceiro índio terena, que faz os bichos em madeira, as redes de

comercialização com mercados através encomendas feitas em exposições e

feiras e as redes organizacionais, por meio de parcerias e apoios de diversos

órgãos de fomento como SEBRAE, FCMS, PAB, que proporcionam também o

escoamento de suas peças através de rodadas de negócios, feiras e eventos.

110

Podem ser destacadas as relações sociais e econômicas da artesã ao

longo da cadeia de produção e sua introdução na sociedade e na economia do

artesanato local a partir dos cursos realizados pelo Programa SEBRAE de

Artesanato, em parceria com a Incubadora Municipal Zé Pereira.

Foi feita uma análise da cadeia de valor, das relações de trabalho e da

produção do seu artesanato, uma cadeia que conjuga diversos valores: social,

econômico e mercantil, ou seja, que proporciona inclusão social, aumento de

renda dos artesãos e parceiros envolvidos no seu Projeto Fibra Morena, divisão

de tarefas, aumento das oportunidades de negócios e crescimento econômico.

A produção da artesã Lucimar Maldonado passou por um processo de

transformação, antes precário, produzido em pequena escala, para um negócio

profissionalizado, com maior qualidade, com produção em grande escala para

atender lojas de grande porte do Brasil.

Como também, a base técnica de sua produção, pois agora ela conta

com parceiros e pessoas terceirizadas, instituiu a divisão de tarefas para dar

maior agilidade na sua produção, constituiu empresa, transformando sua

produção artesanal em manufatura.

Seu artesanato foi induzido por Instituições apoiadoras a estas

mudanças e para acompanhar o mercado teve que se adaptar ao nível de

exigência, qualidade e padronização das grandes lojas.

Como ela está sempre em busca de inovações, característica pessoal da

artesã, está constantemente investindo o lucro de sua empresa em novos

produtos, em novas criações e, com isso, conquista novos clientes e amplia

cada vez mais sua produção.

Agradecimentos

Ao meu orientador Dr. Gilberto Luiz Alves, por ter me acolhido e me ajudado

com as suas precisas e incisivas pontuações.

À Universidade Anhanguera Uniderp que permitiram a minha liberação para o

Doutorado.

Ao Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) do

Mato Grosso do Sul.

111

A artesã Lucimar Maldonado que colaborou com as informações para

realização desta pesquisa.

E a todos as outras pessoas que direta ou indiretamente colaboraram com o

sucesso deste trabalho.

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112

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Entrevista

Entrevista com a artesã Lucimar Maldonado Silva do Projeto Fibra Morena,

realizada em 13.10.2014, às 9h, no ateliê do Projeto.

114

Entrevista com Anna Karolina Monteiro, coordenadora do departamento de

artesanato do SEBRAE/MS, realizada em 24.01.2013, às 10h, no SEBRAE em

Campo Grande (MS).

Entrevista com Gemima de Oliveira Moreira, atual coordenadora do

departamento de artesanato do SEBRAE, realizada em 01.09.2014, às 9h, no

SEBRAE em Campo Grande (MS).

115

7. Conclusão Geral

O SEBRAE desde a criação de seu Programa Artesanato, em 1997,

identificou diversos elementos iconográficos e categorias de artesanato e as

conceituou em: arte popular; artesanato; trabalhos manuais; produtos

alimentícios; produtos semi-industriais e industriais “Industrianato/Souvenir”;

artesanato tradicional; artesanato de referência cultural; artesanato conceitual,

com intuito de facilitar a realização dos cursos oferecidos aos artesãos, para

quem disponibilizou oficinas, com projetos que envolvem oficinas de design e

técnicas de manuseio da matéria-prima, conhecimento das tendências, das

matérias-primas e das técnicas diferenciadas, cursos que envolvem gestão

empresarial, como formação do preço de venda, planejamento financeiro,

técnicas de vendas, logística, ações de produção, desenvolvimento das

marcas, confecção de catálogo digital dos produtos artesanais, embalagens,

elaboração das fichas técnicas dos produtos artesanais, além de oportunidades

para o escoamento da produção do artesão como rodada de negócio e

workshops participação em eventos de comercialização, entre outros.

O envolvimento do SEBRAE com o artesanato nacional tem sido de

forma positiva, pois, através do seu Programa os artesãos têm a possibilidade

de modificar suas vidas, com oportunidades de novos conhecimentos,

incremento de novos produtos, na forma de fazer o artesanato, de promover e

expor seus produtos, de relacionamentos com outros artesãos e associações,

de expansão nacional e internacional dos seus negócios, como são os casos

retratados pelo SEBRAE, a comunidade de Minas Novas, Santa Catarina,

Belém do Pará, em contrapartida, com o sucesso alcançado pelos artesãos o

SEBRAE alcança seu objetivo que é a promoção dos negócios e do giro da

renda do país, estados e municípios.

Da mesma forma aconteceu no Estado do Mato Grosso do Sul, onde as

experiências observadas foram profícuas, conforme os artesãos, o Programa

impactou positivamente nas suas vidas, tendo em vista o aumento da

comercialização dos produtos, o crescimento dos seus negócios desde a

interferência do SEBRAE, com rodadas de negócios, exposições, feiras,

cursos, capacitações e oficinas, como, por exemplo, oficinas de designs,

cursos de gestão, precificação, técnicas de vendas, ampliando sua produção,

116

consequentemente, incluindo outros artesãos a participarem do processo

produtivo, aumentando a renda de todos os envolvidos, principalmente dos

artesãos destacados pelo SEBRAE, que estão localizados nas regiões de

Campo Grande, Corumbá, Jardim, Bonito, Coxim e Itaquiraí.

Processo produtivo que, em sua grande maioria, deixa de ser uma

simples produção de objetos, produzida por lazer, para se tornar uma produção

de valor, que incluem divisão de tarefas com agregação de valor em cada

etapa que se diferencia, revelando que a produção é para gerar cada vez mais

lucro, reafirmando os conceitos capitalistas, as tendências mercadológicas,

isso acontece por questão de sobrevivência deles e familiares.

Ao mesmo tempo, os artesãos são induzidos a transformar suas

produções para atender o gosto do mercado e não mais como tradição de um

povo que exprime sua cultura, como o SEBRAE conceitua o artesanato

tradicional, ou como ALVES (2012) conceitua o artesanato espontâneo que é a

produção individual, por pessoas que, “no passado, exerceram atividades

econômicas que lhes permitiram ter certo domínio teórico-prático compatível ao

que, no futuro, se caracterizaria como artesanato de peças ornamentais”,

levando muitos artesãos a produzir o artesanato conceitual, o artesanato de

referência cultural, o “industrianato”, conforme SEBRAE (2010), a manufatura e

o artesanato induzido, conforme ALVES (2012).

Os artesãos que antes trabalhavam como autônomos passaram a

constituir empresas, como microempreendedor individual (MEI) e

microempresas, para poder receber benefícios como aposentadoria, auxílio-

doença e salário maternidade, e, assim, vender seus produtos para empresas e

fornece-los para o governo, abrir conta bancária jurídica, pegar empréstimos

em condições especiais e com mais facilidades, além de poder ter auxílio do

próprio SEBRAE, tendo isso em vista, muitos são os atrativos para os artesãos

mudarem sua base técnica da produção do artesanato para outra forma de

fazer e de produzir suas peças.

117

ANEXO I

Roteiro para entrevista com os coordenadores do SEBRAE/MS:

1 - A partir de quando o SEBRAE/MS passou a desenvolver o programa

artesanato?

2 - Qual é a estrutura e quais são os setores do SEBRAE envolvidos com o

programa artesanato?

3 - Quem são os artesãos envolvidos nos programas do SEBRAE?

4 - Vocês fazem o acompanhamento após as capacitações? Como ele é feito?

5 - Quais são os projetos de artesanato induzidos pelo SEBRAE em Mato

Grosso do Sul?

6 - Quantos artesãos já se capacitaram pelo SEBRAE em Mato Grosso do Sul?

7 - Quais as condições exigidas dos artesãos para participarem de

capacitações e terem benefícios do SEBRAE?

8 - Existe algum tipo preferido de artesanato? Qual? E qual não desperta

interesse do SEBRAE?

9 - Qual é a arrecadação das feiras e exposições de artesanato promovidas

pelo SEBRAE e como se dá sua distribuição?

10 - Como funciona a escolha dos indicados ao prêmio TOP 100?

ANEXO II

Roteiro para entrevista com os artesãos:

1 - Que tipo de curso você fez com o SEBRAE?

2 - Como foi o curso?

3 - Que mudança o curso proporcionou ao seu trabalho?

4 - Como era a sua produção antes do seu envolvimento com o SEBRAE?

5 - Qual era seu rendimento e qual é agora?

6 - Você possui uma empresa?

7 - Quantos funcionários você tem?

8 - Como é realizado o seu trabalho?

9 - Você utiliza algum equipamento especial?

10 - Existe divisão de tarefas?

11 - Existe produção em série?

13 - Você pode demonstrar como é feito o seu artesanato?