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UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEIO AMBIENTE
E DESENVOLVIMENTO REGIONAL
RENATA MACHADO GARCIA DALPIAZ
O PROGRAMA ARTESANATO DO SEBRAE EM MATO GROSSO DO SUL: 1997 A 2014
CAMPO GRANDE/ MS 2016
1
RENATA MACHADO GARCIA DALPIAZ
O PROGRAMA ARTESANATO DO SEBRAE EM MATO GROSSO DO SUL:
1997 A 2014
Tese apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Meio Ambiente e
Desenvolvimento Regional da
Universidade Anhanguera-Uniderp, como
parte dos requisitos para a obtenção do
título de Doutora em Meio Ambiente e
Desenvolvimento Regional.
Orientação:
Prof. Dr. Gilberto Luiz Alves
CAMPO GRANDE – MS
2016
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu esposo e familiares que tanto me ajudaram nos
momentos difíceis.
Dedico este trabalho a minha filha Raphaela, para que de alguma forma
sirva de inspiração quando ela estiver se graduando.
5
SUMÁRIO
1. Resumo Geral.................................................................................................7
2. General Summary..........................................................................................8
3. Introdução Geral............................................................................................9
4. Revisão de Literatura..................................................................................11
4.1História e conceitos do Artesanato...........................................................11
4.2 O Programa SEBRAE de Artesanato.......................................................23
5. Referências Bibliográficas..........................................................................34
6. Artigos
Artigo I..............................................................................................................38
O Programa SEBRAE de Artesanato em Mato Grosso do
Sul.....................................................................................................................38
Resumo.............................................................................................................38
Abstract............................................................................................................38
Introdução........................................................................................................39
Material e Métodos...........................................................................................41
Resultados e Discussão.................................................................................42
Conclusão.........................................................................................................50
Agradedimentos...............................................................................................52
Referências Bibliográficas..............................................................................52
Artigo II.............................................................................................................56
Experiências Induzidas pelo Programa Artesanato do SEBRAE em Mato
Grosso do Sul.................................................................................................56
Resumo.............................................................................................................56
Abstract............................................................................................................56
Introdução........................................................................................................57
Material e Métodos...........................................................................................58
Resultados e Discussão..................................................................................59
Conclusão.........................................................................................................87
Agradedimentos...............................................................................................88
Referências Bibliográficas..............................................................................89
Artigo III............................................................................................................93
6
Projeto Fibra Morena: Análise de uma Experiência Induzida pelo
SEBRAE/MS......................................................................................................93
Resumo.............................................................................................................93
Abstract............................................................................................................93
Introdução........................................................................................................94
Material e Métodos...........................................................................................96
Resultados e Discussão..................................................................................96
Conclusão.......................................................................................................109
Agradedimentos.............................................................................................110
Referências Bibliográficas............................................................................111
7. Conclusão Geral........................................................................................115
ANEXO I..........................................................................................................117
ANEXO II.........................................................................................................117
7
1 Resumo Geral
O objeto desta pesquisa é o Programa SEBRAE de Artesanato em Mato
Grosso do Sul. A investigação está inserida na linha de pesquisa Sociedade,
Ambiente e Desenvolvimento Regional Sustentável. Seu objetivo geral é
analisar o Programa Artesanato desde sua criação em 1997. Para tanto, foram
delimitados três objetivos específicos. O primeiro analisou o Programa
SEBRAE de Artesanato em Mato Grosso do Sul, desde sua origem até o
presente, utilizando fontes documentais e fontes historiográficas dessa
instituição. O segundo visou investigar as principais experiências induzidas
pelo Programa SEBRAE de Artesanato no Estado. Para tanto foram realizadas
entrevistas com coordenadores do Programa SEBRAE de Artesanato e com os
artesãos envolvidos. O terceiro intentou analisar uma experiência induzida pelo
Programa Artesanato em Campo Grande/MS e suas consequências sobre a
região de influência. Essa experiência envolveu a artesã Lucimar Maldonado
Silva e sua equipe, que desenvolvem o Projeto Fibra Morena. Foram realizadas
entrevistas e gravação das falas, além de observações de campo das práticas
artesanais. As fontes teóricas que nortearam a análise dos dados empíricos
foram estudos de Alves, Gombrich, Lima, Araújo, Marx, Smith, Canclini, entre
outros. Os dados empíricos foram buscados em fontes primárias, tanto de
caráter documental, quanto por meio de entrevistas, gravação das falas e
visitas para observar as práticas artesanais. Fontes secundárias pertinentes
também foram utilizadas. Constata-se que na execução do Programa foram
classificadas as categorias das atividades artesanais em Mato Grosso do Sul.
Também houve indução de diversas experiências artesanais, que demandaram
o oferecimento de treinamentos aos artesãos, por meio de oficinas e cursos.
Como parte do preparo, foi propiciada aos artesãos a participação em feiras e
rodadas de negócios. Com isso, a vida dos artesãos foi impactada com a
ampliação dos negócios e com a mudança na base técnica da produção de
suas peças.
Palavras-chave: Desenvolvimento Regional. Manufatura. Artesanato Induzido.
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2. General Summary
The object of this research is SEBRAE program Crafts in Mato Grosso do Sul.
The research is inserted in the line of research Society, Environment and
Sustainable Regional Development. Its general objective is to analyze the Craft
program since its inception in 1997. For this, three specific objectives were
defined. The first sought to analyze the SEBRAE program Crafts in Mato
Grosso do Sul, from its origin to the present, using documentary sources and
historiographical sources of this institution. The second aimed to investigate the
main experiences induced Craft SEBRAE program in the state. Therefore, we
conducted interviews with SEBRAE Program coordinators Crafts and artisans
involved. The third brought analyze an experience induced Craft Program in
Campo Grande / MS and its effects on the region of influence. This experiment
involved the artisan Lucimar Maldonado Silva and his team, who develop
Morena Fiber Project. Interviews and recording the speeches were held, as well
as field observations of craft practices. The theoretical sources that guided the
analysis of empirical data Alves studies, Gombrich, Lima, Araujo, Marx, Smith,
Canclini, among others. Empirical data were collected on primary sources, both
documentary character, and through interviews, recording the speeches and
visits to observe the craft practices. Relevant secondary sources were also
used. It is noted that the program implementation were classified categories of
craft activities in Mato Grosso do Sul. There were also several craft induction
experiments, which required the offer of training to artisans, through workshops
and courses. As part of the preparation, it was caused artisans participation in
fairs and business roundtables. Thus, the life of the artisans was impacted with
the expansion of business and the change in the technical basis of production
parts.
Keywords: Regional development. Manufacture. Induced craftwork.
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3. Introdução Geral
O objeto dessa pesquisa é o Programa Artesanato do Serviço Brasileiro
de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) em Mato Grosso do Sul.
O objetivo geral deste estudo é análise do Programa SEBRAE de
Artesanato em Mato Grosso do Sul desde sua criação em 1997. Para atender
esse objetivo geral, foram delimitados três objetivos específicos que foram
transformados em três artigos.
O primeiro objetivo analisou historicamente o Programa SEBRAE de
Artesanato em Mato Grosso do Sul, desde sua origem até o presente. O
SEBRAE atua junto ao artesão desde 1997 e segundo seu discurso, tem o
intuito de valorizar a diversidade brasileira e demonstrar toda sua riqueza
cultural e importância econômica, e, com isso, cooperar com o crescimento
econômico nacional e com o crescimento da atividade, de modo a fazer o
artesão se enxergar como empreendedor capaz de enfrentar o mercado com
visão profissional (SEBRAE, 2008).
O segundo objetivo específico se propôs a descrever as principais
experiências do Programa Artesanato SEBRAE em Mato Grosso do Sul. Com
isso, identificaram-se oficinas, cursos, trabalhos de consultoria que o SEBRAE
proporcionou aos artesãos, empresas, associações e os principais artesãos
envolvidos com o projeto em Campo Grande, Coxim, Jardim, Corumbá e
Bonito, entre outros.
O terceiro analisou uma experiência de artesanato induzida pelo
SEBRAE em Campo Grande/MS e suas consequências sociais e econômicas
sobre a região de influência. Essa experiência corresponde ao Projeto Fibra
Morena, à frente do qual se encontra a artesã Lucimar Maldonado Silva e sua
equipe.
Conforme LIMA (2009, p. 11), “... em termos de importância e difusão,
no Brasil, somente a cestaria e o trançado é que podem fazer frente à arte em
cerâmica”, devido ao fato da matéria-prima ser abundante em todas as regiões
do país e pela prática realizada pelos índios, enquanto legado da sua cultura e
tradição.
Em entrevista para o jornal RBV News, em 5 de junho de 2012, na IV
Mostra de Soluções Sustentáveis, a expositora da Fibra Morena, Lucimar
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Maldonado Silva, descreveu inovações socioambientais incorporadas ao seu
trabalho e contou que começou a desenvolver seu trabalho na Incubadora
Municipal Zé Pereira1, viu no artesanato sustentável uma oportunidade de
renda e ascensão profissional. “Antes eu era dona de casa e hoje tenho minha
própria empresa. Percebo no meu trabalho a importância da preservação do
meio ambiente”, destacou Lucimar.
As fontes teóricas que nortearam a análise dos dados empíricos foram
estudos de autores como Alves, Gombrich, Lima, Araújo, Marx e Smith, entre
outros. Os dados empíricos foram buscados em fontes primárias, tanto de
caráter documental, quanto por meio de entrevistas, gravação das falas, visitas
para observar as práticas artesanais e fontes secundárias, como dissertações e
artigos dos bancos de Universidades brasileiras, livros, periódicos
especializados, revistas e sites acadêmicos da Internet.
Em razão da importância econômica, social e cultural do artesanato e
diante de resultados divulgados e apresentados nos últimos anos, o estudo
sobre o Programa SEBRAE de Artesanato é muito relevante por perceber sua
contribuição perante os artesãos, mediante ações que incluem oficinas,
capacitações e diversos cursos levando a um aumento de suas produções.
Ao mesmo tempo, existem incoerências que envolvem o objetivo do
Programa que é dar apoio e incentivar o artesanato, visto no Artigo I, e a
própria forma de fazer o artesanato, ou seja, o modo em que as peças estão
sendo produzidas com a introdução de mudanças na base técnica de trabalho,
como pode ser visto nos Artigos II e III.
Essa indução ao aumento da produção dos artesãos faz com que eles
tenham que contratar outros artesãos e/ou parceiros para dividir suas tarefas
produtoras e, assim, suas peças deixam de ser elaboradas de forma integral
1 Centro de desenvolvimento empresarial e de treinamentos, que promove a cultura
empreendedora, mantido pela Prefeitura Municipal de Campo Grande, com interveniência da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, de Ciência e Tecnologia, Turismo e do Agronegócio – SEDESC. (Cf. portal oficial da Prefeitura de Campo Grande). Disponível em: <http://www.capital.ms.gov.br/incubadoras/zepereira/canaisTexto?id_can=3876>. Acesso em: 2 dez. 2014.
11
pelo artesão de origem, descaracterizando o que é apresentado originalmente
como artesanato2, transformando sua produção em manufatura.
Destaque-se, segundo os artesãos, esse apoio levou à melhoria de suas
condições econômicas e, consequentemente, à inclusão social, pois são
induzidos a aumentar a sua produção, melhorar a qualidade e o design de seus
produtos, alterando, com isso, seu processo produtivo.
E, segundo o SEBRAE, ele continua apostando no artesanato para seu
maior desenvolvimento, adequando ações que levem em conta as
necessidades de cada região ou comunidade.
Mas, será que os objetivos do Programa são factíveis ao modo em que a
sociedade capitalista se estabelece?
Baseado na sociedade capitalista é muito difícil viabilizar formas de criar
o artesanato.
E o SEBRAE está induzindo os artesãos a outro meio de confecção de
peças artísticas do ponto de vista técnico do trabalho, que envolve novas
técnicas, divisão do trabalho, aumento da produção.
4. Revisão de Literatura
4.1 História e conceitos do Artesanato
Até a Idade Média, o artesanato era o trabalho principal de criação de
artefatos, quando a atividade produtiva era realizada pelas mãos de seus
produtores.
Após esse período foi introduzida uma nova base técnica, com a
substituição dos instrumentos dos artesãos por maquinaria, esses novos
instrumentos aumentaram a produção e a produtividade de cada trabalhador,
além de dividir o trabalho realizado antes pelos artesãos3.
2 Conforme Portaria nº 29, de 5 de outubro de 2010. do Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior: Artesanato compreende toda a produção resultante da transformação de matérias-primas, com predominância manual, por indivíduo que detenha o domínio integral de uma ou mais técnicas, aliando criatividade, habilidade e valor cultural (possui valor simbólico e identidade cultural), podendo no processo de sua atividade ocorrer o auxílio limitado de máquinas, ferramentas, artefatos e utensílios.
3 Cf. Alves (2004, p.129-139), trabalhador típico dos modos de produção anteriores ao
capitalista, o artesão dominava teórica e praticamente o processo de trabalho naquela atividade que lhe fora atribuída pela divisão social do trabalho. Por outro lado, o portal educacional Info Escola apresenta esta noção para o verbete: O artesão é o profissional que
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Surge a manufatura, com produção em série, sob a égide do
capitalismo. Então, os artesãos organizavam-se em grupos, associações e
dividiam o trabalho da produção, embora, muitas vezes, ainda houvesse aquele
artesão que executasse todo processo de produção, que ia desde a obtenção
da matéria-prima até a comercialização dos produtos nas suas próprias
oficinas, instaladas em suas casas.
Mesmo antes de ser instaurada a sociedade capitalista,
numa época da história em que a Igreja Católica e a
nobreza ainda tinham o domínio do Estado feudal, a
burguesia já realizava transformação profunda no processo
de trabalho, ampliando a base material de seu
enriquecimento e de seu fortalecimento político. Encetou,
em especial, a criação e desenvolvimento das manufaturas.
Utilizando a base técnica do artesanato, as manufaturas
burguesas ensejaram a divisão do trabalho. As operações
constitutivas do processo de trabalho foram decompostas e
atribuídas a trabalhadores especializados, desde então
executores de uma ou algumas poucas dessas operações.
Diversos trabalhadores, operando de forma combinada,
passaram a produzir uma quantidade maior de produtos em
relação ao número esperado de artesãos independentes.
Esse aumento da produtividade do trabalho correspondia,
portanto, à relevante transformação econômica, pois se
atrelava à descoberta de uma nova força produtiva
determinada pelo caráter social do trabalho (ALVES, 2012,
p. 4-5).
domina todos os recursos existentes para a produção manual de objetos que lhe proporcionam a sobrevivência econômica. Normalmente ele não detém uma educação técnica, mas tem o dom de, com a ajuda de instrumentos e matéria-prima apropriados, criar o que se conhece como artesanato. Disponível em: <http://www.infoescola.com/profissoes/artesao/>. Acesso em: 2 dez. 2014.
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Enquanto instituição feudal que colocava óbice à concorrência, a
corporação foi criticada pelos pensadores burgueses, em especial no século
XVIII, ávidos por ver triunfar uma sociedade baseada em leis de mercado em
que imperasse a livre competição. No livro, “A Riqueza das Nações”, Adam
Smith denunciou sistematicamente os obstáculos postos pelas corporações ao
desenvolvimento da riqueza material (SMITH, 1965). Considerada uma das
obras fundadoras da ciência econômica, julgava o egoísmo útil à sociedade;
seu raciocínio era que, quando a pessoa busca o melhor para si, toda a
sociedade acaba sendo beneficiada.
A partir de certo estágio de desenvolvimento da sociedade
feudal, o conhecimento teórico-prático dos artesãos foi
apropriado pela corporação de ofício. Instituição
organizada com base nas atividades produzidas pela
divisão social do trabalho, cada corporação constituiu o
conhecimento correspondente a certo ofício em segredo,
só dominado pelo mestre e pelos oficiais, e passou a
controlar a quantidade de aprendizes em formação e os
preços dos produtos. Tornou-se, enfim, um instrumento
providencial para inibir a competição (ALVES, 2012, p. 4).
Segundo MILLS (2009, p.60), o artesão “tem uma imagem do produto
acabado, e mesmo que não o faça inteiro, vê o lugar de sua parte no todo e,
por conseguinte, compreende o significado de seu esforço em termos desse
todo”. Entretanto, com o capitalismo e a divisão do trabalho o processo de
produção artesanal foi se descaracterizando.
Com o decorrer da evolução tecnológica surgiram novos processos de
produção, novas invenções, como a máquina a vapor, em 1765, que teve como
decorrência a Revolução Industrial. Os artesãos passaram a atuar como
empregados ou operários para um patrão, dessa forma perdendo o controle do
processo produtivo, a posse da matéria-prima, do produto final e,
consequentemente, do lucro.
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De acordo com MARX (1996, p. 79), essa Revolução, iniciada na Grã-
Bretanha, integrou as Revoluções Burguesas do século XVIII, responsáveis
pela crise do Antigo Regime, na passagem do mercantilismo para o capitalismo
competitivo.
O fenômeno da Revolução Industrial causou profundas mudanças, no
modo de vida e a mentalidade de milhões de pessoas transformou-se em uma
velocidade espantosa. No mundo novo e mais veloz do capitalismo, da
tecnologia e da mudança incessante, as condições de vida do trabalhador
braçal alteraram-se sensivelmente, como por exemplo, com o intenso
deslocamento da população rural para as cidades e, em consequência, com o
surgimento de enormes concentrações urbanas.
À industrialização se aprofundou no século seguinte, impactou
diretamente no sistema de produção, na sociedade e na forma como ela se
organiza. Para GOMBRICH (1985, p.360), “a revolução industrial começou a
destruir as próprias tradições do sólido artesanato; o trabalho manual cedia
lugar à produção mecânica, a oficina à fábrica”.
No início da Revolução Industrial, as condições de vida dos operários
eram horríveis, se comparadas às dos trabalhadores do século seguinte.
Muitos deles tinham um cortiço por moradia e submetiam-se a jornadas de
trabalho desumanas; os salários eram medíocres e mulheres e crianças
também trabalhavam, recebendo salários ainda menores. A produção em larga
escala e dividida em etapas causou um distanciamento cada vez maior entre o
trabalhador e o produto final, pois cada grupo de trabalhadores passou a
dominar apenas uma etapa da produção. Contudo, sua produtividade
aumentou, o que garantiu maior lucro aos empresários.
E, conforme GOMBRICH (1985, p.361), “o que tornava as coisas piores
era que a Revolução Industrial e o declínio do artesanato, a ascensão de uma
nova classe média que frequentemente carecia de tradição, e a produção de
bens vulgares e pretensiosos frequentemente mascarados de ‘Arte’, tinham
acarretado a deterioração do gosto do público”. Isso fez com que o artesanato
tradicional ficasse em segundo plano, abandonado.
A rotina de vida daqueles artesãos que antes tinham o controle total de
sua produção passou a não mais ter esse controle, incidindo a ter
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conhecimento da parte que cabia ao seu trabalho, não sabendo nem o que
estava sendo produzido, devido à divisão do trabalho.
Já no Brasil para entender a readaptação do artesanato em prol do
Sistema Capitalista no país, é necessário fazer uma analogia a análise da
economia política mexicana após a Revolução de 1910 (Revolução Mexicana)
feita por CANCLINI (1982, p.43).
[...] Os dirigentes políticos e os intelectuais promoveram o
desenvolvimento artesanal e folclórico, com o objetivo de
oferecer um conjunto de símbolos para a identificação
nacional. Um país fraturado por divisões étnicas,
linguísticas e políticas necessitava o estabelecimento de
uma homogeneidade ideológica, junto às medidas de
unificação econômica (reforma agrária, nacionalizações,
desenvolvimento conjunto do mercado interno) e política
(criação do partido único, da central de trabalhadores)”...
“Distinguem-se três períodos após aquele impulso inicial: a)
a exploração comercial do artesanato relacionado ao
crescimento do turismo estrangeiro e o interesse em
incrementar a reserva de divisas, que geraram a
industrialização parcial dos objetos indígenas; b) o fomento
da exportação artesanal, que pretendeu contribuir para a
política de substituição de importações, equilibrando a
balança comercial; c) a promoção do artesanato, como
parte da estratégia de criação de empregos e fonte de
renda complementar para as famílias camponesas, com o
objetivo de reduzir seu êxodo para os centros urbanos. De
um modo ou de outro, diferentes políticas estatais
continuaram a utilizar a produção das culturas tradicionais
de modo a contribuir para o desenvolvimento econômico
contemporâneo e renovar a hegemonia das classes
dominantes. Seja como recurso suplementar de rendas no
campo renovador do consumo estereotipado pela
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industrialização, atração turística ou instrumento de coesão
ideológica nacional, o artesanato mostra a multiplicidade de
lugares nos quais o capitalismo pode tornar funcionais
objetos e símbolos à primeira vista estranhos a seus fins
(CANCLINI, 1982, p.43).
Apesar dessa situação perdurar até a contemporaneidade, fortalecendo
cada vez mais o sistema capitalista, o artesanato ainda conserva diversas
formas de expressões culturais que servem de geração de emprego e renda,
muito valorizadas sobretudo pelas consequências da grande automação dos
produtos em série para atender uma demanda cada vez maior de pessoas.
Mas a consciência ambiental da população, alcançada pelas diversas
conferências da Organização das Nações Unidas (ONU), principalmente após
a Rio 924, em que foi estabelecida a Agenda 21, com um conjunto de
programas e conceitos para um desenvolvimento sustentável, tem mudado
gradativamente a forma das pessoas enxergar o artesanato, valorizando mais
as peças que são confeccionadas manualmente, que não requerem tantos
apetrechos e exploração ambiental.
Por outro lado, no Brasil, para evitar mal entendidos sobre o conceito de
artesanato, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
instituiu a Portaria nº 29, de 5 de outubro de 2010, com a definição do que é
artesanato e do que não é artesanato, transcrito a seguir:
Art. 4º ARTESANATO - Artesanato compreende toda a
produção resultante da transformação de matérias-primas,
com predominância manual, por indivíduo que detenha o
domínio integral de uma ou mais técnicas, aliando
criatividade, habilidade e valor cultural (possui valor
4 A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Cnumad),
realizada em junho de 1992 no Rio de Janeiro, marcou a forma como a humanidade encara sua relação com o planeta. Foi naquele momento que a comunidade política internacional admitiu claramente que era preciso conciliar o desenvolvimento socioeconômico com a utilização dos recursos da natureza, o que representou uma verdadeira quebra de paradigmas. (Cf. portal oficial do Senado Federal) Disponível em: <http://www.senado.gov.br>. Acesso em: 2 dez. 2014.
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simbólico e identidade cultural), podendo no processo de
sua atividade ocorrer o auxílio limitado de máquinas,
ferramentas, artefatos e utensílios.
§ 1º Não é ARTESANATO:
I - Trabalho realizado a partir de simples montagem, com
peças industrializadas e/ou produzidas por outras pessoas;
II - Lapidação de pedras preciosas;
III - Fabricação de sabonetes, perfumarias e sais de banho,
com exceção daqueles produzidos com essências
extraídas de folhas, flores, raízes, frutos e flora nacional.
IV - Habilidades aprendidas através de revistas, livros,
programas de TV, dentre outros, sem identidade cultural.
§ 2º No Artesanato, mesmo que as obras sejam criadas
com instrumentos e máquinas, a destreza manual do
homem é que dará ao objeto uma característica própria e
criativa, refletindo a personalidade do artesão e a relação
deste, com o contexto sociocultural do qual emerge
(PAB/MDIC, 2010, p. 2).
Quanto à sua elaboração, em Mato Grosso do Sul o artesanato utiliza
diferentes matérias-primas regionais, como a madeira, argila, fibras, osso,
chifre, etc., em sua grande maioria recicláveis, adquiridas de resíduos de
empresas e pessoas.
Mostra uma identidade cultural, evidenciando crenças, hábitos e
tradições, como, por exemplo, os escultores Conceição dos Bugres, Júlio
Cesar Rondão e Virgulino de Olivera França, que deixaram muitos discípulos.
Há ainda, as peças em cerâmicas de origem indígena como as dos
Kadiwéu e Terena, transmitidas por gerações de mulheres indígenas, pois aos
homens cabiam atividades de caça, coleta e manejo de gado.
Também, há de se considerar a contribuição da diversidade cultural
oferecida pelo intercâmbio com os países vizinhos (Bolívia e Paraguai) e por
Mato Grosso do Sul estar na rota de mercados potenciais de toda zona
ocidental da América do Sul – a comunicação com a Argentina pela Bacia do
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Prata, tendo acesso ao oceano Atlântico, além do Pacífico por meio dos países
andinos, como Bolívia e Chile, usado para parte das exportações do estado.
A sua localização peculiar, em termos de desenvolvimento potencial,
tem proporcionado uma reversão de expectativas em toda região fronteiriça
brasileira situada dentro das suas regiões de influência. Um traço importante do
artesanato do Mato Grosso do Sul é o intenso intercâmbio cultural interno,
favorecido pelos limites com outros estados brasileiros e suas fronteiras,
refletindo no seu povo e mesclando as múltiplas origens existentes.
A maior economia do estado é a do município de Campo Grande, com
um Produto Interno Bruto (PIB) de mais de R$ 13.206.900,00, seguido de
Dourados (R$ 3.727.378,00), Corumbá (R$ 2.942.673,00) e Três Lagoas (R$
2.775.078,00) (IBGE, 2014).
Conforme o site Pantanal-Brasil, as peças em geral trazem à tona temas
referentes ao Pantanal e às populações indígenas, além de cores da paisagem
regional, da fauna e da flora, que podem retratar tipos humanos e costumes da
região.
Os artistas em geral dispõem de sensibilidade, perícia e cuidado ao
modificar a matéria-prima utilizando insumos disponíveis e técnicas de
produção típicas, conforme relato dos artesãos entrevistados. Por isso, há
grande importância cultural do artesanato do estado, sabendo que muitas
peças são exportadas graças à sua beleza.
Ainda segundo o site Pantanal-Brasil, a qualidade e o valor cultural do
artesanato de Mato Grosso do Sul vêm sendo cada vez mais reconhecidos
pelos turistas, pela mídia e pelo público especializado. Há o exemplo do
artesanato produzido em couro de peixe pelas mulheres do município de
Coxim, artesanato contemplado com o Prêmio Mercado Design Top XXI, da
revista Arc Desing. Premiação que busca destacar os melhores projetos e
produtos nacionais. Além disso,
“... a Arpeixe de Coxim foi reconhecida em 2006 no Prêmio
SEBRAE TOP 100 de Artesanato, juntamente com outros
quatro núcleos do Estado: Mãos à Obra, de Jardim, que
desenvolve trabalhos em osso; Cristina Orsi, de Campo
Grande, que faz bonecas de cabaça; Riverart, de Rio
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Verde, que trabalha com cerâmica, e a UNEART – MS
(União dos Artesãos do Mato Grosso do Sul), que ganhou
o prêmio pelas bonecas em cerâmica da artesã Indiana
Marques”.
Acrescentem-se os trabalhos em cerâmica produzidos pelas seis etnias5
indígenas presentes no estado, e que são exportados para várias partes do
mundo, além de fazer sucesso entre os turistas que visitam Mato Grosso do
Sul. Outro exemplo é o “Núcleo Arteboa”, de Rio Brilhante, que faz belas peças
utilizando madeira e capim taboa, já exportadas para a Grécia, Estados Unidos
e França, e que foi selecionado para o programa da GNT internacional, “Brasil
Feito a Mão”.
Muitas são as identificações e conceituações do artesanato, como por
exemplo, a do SEBRAE (2010), de ALVES (2012), do Conselho Mundial do
Artesanato, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,
entre outras, as quais são usadas para fazer as análises do modo de produção
das peças artesanais que envolvem esta pesquisa nos Artigos II e III.
Pois, cada uma reflete o ponto de vista de cada autor. No entanto, a
definição de artesanato que esta pesquisa segue é aquela estabelecida pela
Portaria nº 29 do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,
anteriormente citada.
O artesanato no sentido literal da palavra envolve a transformação da
matéria-prima em objetos, onde o artesão envolvido deve realizar esta tarefa
manualmente do começo ao final de sua produção, de forma integral, sem
envolvimentos de maquinarias, utilizando apenas equipamentos mais rústicos
que o auxilie nessa transformação, usando para tanto, criatividade, destreza e
valor cultural.
As categorias identificadas pelo SEBRAE (2010), como podem ser vistas
em seguida, distinguem formas de produções que servem para facilitar a
instituição dos objetivos do Programa Artesanato. Portanto, as classificações
do SEBRAE que fogem da categorização artesanato recaem no Art. 4º, § 1º, da
referida portaria ministerial, que explicita o que não é artesanato.
5 Ofayé, Xavante, Kadiwéu, Guató, Guarani, Kaiowá e Terena. (Cf. IBGE, Censo Demográfico 2010)
20
Segundo ALVES (2012), pode ser que inicialmente fosse artesanato, no
entanto, com a transformação da base técnica, com a introdução de mais
pessoas para produzir uma mesma peça, com a divisão de tarefas, esse
processo produtivo se transformou em manufatura.
Contudo, conforme o Termo de Referência6 do SEBRAE (2010), os
produtos artesanais são divididos em categorias e de acordo com seu processo
de produção, sua origem, uso e destino: arte popular7; artesanato; artesanato
indígena; trabalhos manuais8; produtos alimentícios (típicos)9; produtos semi-
industriais e industriais “Industrianato10/Souvenir”; artesanato tradicional;
artesanato de referência cultural; artesanato conceitual.
Cada categoria tem uma definição específica e as mais usadas nesta
pesquisa são as descritas a seguir.
Uma delas trata do conceito de artesanato que segue os parâmetros do
Conselho Mundial do Artesanato11, em que “toda atividade produtiva que
resulte em objetos e artefatos acabados, feitos manualmente ou com a
utilização de meios tradicionais ou rudimentares, com habilidade, destreza,
qualidade e criatividade”.
6 Em março de 2004, o SEBRAE criou o Termo de Referência do Programa SEBRAE de
Artesanato. 7 Arte Popular é caracterizada pela produção de peças únicas, em que o artesão tem
compromisso consigo mesmo e a peça é fruto da criação individual. (Cf. SEBRAE, 2010, p.13). 8 Entendem-se como trabalhos manuais aqueles que exigem destreza e habilidade, mas
utilizam moldes e padrões predefinidos, resultando em produtos de estética pouco elaborada. Não são resultantes de processo criativo efetivo. Trata-se, muitas vezes, de ocupação secundária que utiliza o tempo disponível das tarefas domésticas ou um passatempo. (Cf. SEBRAE, 2010, p.13). 9 Produtos alimentícios (típicos) são, em geral, produtos alimentícios processados segundo
métodos tradicionais, em pequena escala, muitas vezes em família ou por um determinado grupo. (Cf. SEBRAE, 2010, p.13). 10
Produtos semi-industriais e industriais, ou “industrianato”, dizem respeito à produção em grande escala, em série, com utilização de moldes e formas, máquinas e equipamentos de reprodução, com pessoas envolvidas e conhecedoras apenas de partes do processo. (Cf. SEBRAE, 2010, p.13). 11
Organização registada na Bélgica como organização internacional, e a nova entidade
passará a ser conhecido como World Crafts Council AISBL ou CMI-AISBL. O CMI foi fundada
em Nova York, nos Estados Unidos da América em 12 de Junho de 1964 por Aileen Osborn
Wanderbuilt Webb. Delegados de 50 países se reuniram pela primeira Crafts Congresso
Mundial Conselho da Universidade de Columbia em Nova York, em 1964. Aileen Webb, com
co-fundadores Margaret Patch e Smt. Kamaladevi Chattopadhyay da Índia, estabeleceu um
movimento de artesanato para proporcionar um futuro melhor para os artesãos do mundo.
Disponível em: http://www.wcc-aisbl.org/about/history.html. Acesso em: 15 mar. 2016.
21
O artesanato tradicional para o SEBRAE é:
Conjunto de artefatos mais expressivos da cultura de um
determinado grupo, representativo de suas tradições,
porém incorporados à sua vida cotidiana. Sua produção é,
em geral, de origem familiar ou de pequenos grupos
vizinhos, o que possibilita e favorece a transferência de
conhecimentos sobre técnicas, processos e desenhos
originais. Sua importância e seu valor cultural decorrem do
fato de ser depositária de um passado, de acompanhar
histórias transmitidas de geração em geração, de fazer
parte integrante e indissociável dos usos e costumes de um
determinado grupo (SEBRAE, 2010, p. 14).
O artesanato de referência cultural é descrito da seguinte forma:
São produtos cuja característica é a incorporação de
elementos culturais tradicionais da região onde são
produzidos. São, em geral, resultantes de uma intervenção
planejada de artistas e designers, em parceria com os
artesãos, com o objetivo de diversificar os produtos, porém
preservando seus traços culturais mais representativos
(SEBRAE, 2010, p. 14).
O artesanato conceitual se refere a “objetos produzidos a partir de um
projeto deliberado de afirmação de um estilo de vida ou afinidade cultural”,
tendo como característica a inovação (SEBRAE, 2010).
Luiz Carlos Barboza, na época diretor-técnico do SEBRAE, em
entrevista para a edição comemorativa de 10 anos do Programa Artesanato,
em 2008, explicou a atuação do SEBRAE sobre o artesanato brasileiro:
[...] em nossos projetos de apoio, executamos ações que
contemplem o conjunto das necessidades de cada grupo
de artesãos. Para tanto, nós focamos em diversas áreas,
22
como capacitação, acesso a inovação e tecnologia, e
acesso a mercado e soluções financeiras, entre outras.
Também promovemos uma maior cultura de
associativismo. O SEBRAE entende que os artesãos não
têm apenas necessidades pontuais e sim um conjunto de
necessidades que devem ser trabalhadas de forma
integrada para que se alcancem maiores níveis de
competitividade (SEBRAE, 2008, p.9).
Outras definições são encontradas na literatura, como as de ALVES
(2012, p. 2), que identificou três modalidades de artesanato: artesanato
ancestral, artesanato espontâneo e artesanato induzido.
O artesanato ancestral envolve tanto o artesanato indígena
quanto o produzido por grupos sociais precariamente
articulados ao funcionamento da sociedade capitalista. O
artesanato espontâneo é produzido individualmente por
pessoas simples, que, no passado, exerceram atividades
econômicas que lhes permitiram ter certo domínio teórico-
prático compatível ao que, no futuro, se caracterizaria como
artesanato de peças ornamentais. O artesanato induzido
vem se tornando dominante em nossos dias. Muitas
iniciativas filantrópicas veem no desenvolvimento do
artesanato uma válvula de escape para tirar crianças e
jovens que vivem situação de risco nas ruas ou para
populações marginalizadas em guetos de pobreza (ALVES,
2012, p.2).
Com base nestas informações foi elaborado o Artigo I e pode ser visto
como funciona o Programa SEBRAE de Artesanato em Mato Grosso do Sul,
que incentiva a profissionalização da produção artesanal, com o intuito de
melhorar a qualidade de vida da população que necessita de incentivos para
incrementar sua renda. São artesãos de comunidades carentes que estão
23
mudando sua realidade, podendo ter uma vida mais digna junto a seus
familiares.
No entanto, essa profissionalização e o mercado capitalista podem estar
transformando o artesanato em produtos manufaturados, incorporando a
divisão do trabalho no dia a dia dos artesãos e, assim, transformando uma
categoria de artesanato original para outra forma artística que não é mais
artesanato, por exemplo, o “industrianato”, também chamado de artesanato
induzido por ALVES (2012, p. 2), verificado no Artigo II.
Contudo, com a nova realidade, os artesãos estão sofrendo influência de
instituições e da economia. O que deve ser examinado é se, com a influência
do SEBRAE, o artesão está tendo maior possibilidade de trabalho, de aumento
de renda, maior inclusão social, enfim, se houve um impacto social positivo na
vida pessoal e profissional desses artesãos e se, com isso, eles continuam
fazendo artesanato de forma tradicional, analisado nos Artigos II e III.
4.2 O Programa SEBRAE de Artesanato
Mesmo frente ao crescimento e globalização social, muito se tem
valorizado o “fazer manual”, em que o artesanato figura como uma
compensação à massificação dos produtos industrializados, servindo, muitas
vezes, como resgate cultural e identidade regional.
O baixo custo de investimento e a utilização de matéria-prima natural
promove a inserção de mulheres e adolescentes em atividades produtivas,
estimulando o associativismo e fixação do artesão em sua localidade de
origem, minimizando o desordenamento nos grandes centros urbanos.
O SEBRAE percebeu um nicho de mercado promissor e criou um
programa para proporcionar apoio ao artesanato, atuando nessa modalidade
de atividade intersetorial, vislumbrando o artesanato como negócio, como
mecanismo de inclusão social, meio de desenvolvimento e fortalecimento de
“identidade cultural” e, com isso, favorecer a multiplicação de renda entre os
artesãos.
Sua atuação junto ao artesão é desde 1997, com o Programa
Artesanato, operando nas 27 unidades da federação, 2.700 municípios
atendidos, 220 mil artesãos capacitados pelos cursos oferecidos pelo
24
programa, a valorizar a rica diversidade brasileira, demonstrar a riqueza,
cultural de cada região e importância econômica, para o crescimento nacional,
e contribuir para o crescimento da atividade, de modo a fazer o artesão se
enxergar como empreendedor capaz de encarar o mercado com uma visão de
profissionalismo (SEBRAE, 2008).
O programa enfrenta muitos desafios que devem ser superados e
melhorados, como a incorporação do design, elaboração de embalagens e
cuidados com transporte, tudo de modo a agregar valor ao produto para se
inserir adequadamente ao mercado, frente a uma vasta gama de criatividade
do artesão brasileiro, buscando sua multiplicação (SEBRAE, 2008).
Por isso, o SEBRAE tem apostado no artesanato brasileiro, em razão de
seu elevado potencial de geração de renda, bastando ser capacitado,
estimulado e valorizado para ampliar, mediante o crescimento dos negócios do
artesanato, o desenvolvimento das regiões nas quais estão inseridos.
O intuito é fazer com que o artesanato se torne rentável e sustentável, e
isso não ocorre no curto prazo, como respostas rápidas. Os resultados
aparecem a médio e longo prazos, agindo de forma planejada, de maneira que
alcance seus objetivos no mercado de forma duradoura, objetivando promover
a emancipação econômica e social dos artesãos.
A forma de atuação do SEBRAE é operar buscando soluções integradas
por meio de projetos unificados com o artesão, focado na capacitação, acesso
à inovação e tecnologia, e ao mercado na busca pelo associativismo,
trabalhando o grupo de forma integrada, de forma competitiva.
Busca, ainda, apresentar o artesanato de modo associado a outros
setores, como turismo, por exemplo, com grande possibilidade de exploração.
Por seu turno, o artesanato enfrenta hoje, no Brasil, grandes dificuldades
no tocante ao empreendedorismo, à medida que é visto como algo que não
requer profissionalismo, o que é um equívoco.
Eis que existe grande desafio para a transformação do artesanato em
atividade econômica, como condição empresarial, de modo a torná-lo
produtivo, eficiente e com retorno sustentável.
Para isso, o SEBRAE, conforme seu programa, promove ações efetivas
junto ao artesanato com vistas para o futuro, com intuito de proporcionar
25
dignidade e coragem para enfrentar os desafios, na perspectiva de estar
inserido a políticas públicas para a cadeia produtiva, em ampla rede de
parcerias para produzir o artesanato no alto patamar econômico,
transformando-o em algo rentável.
Estima-se que o artesanato, no contexto de cadeia produtiva nacional,
apresente elevado potencial: eis que aproximadamente 64,3% dos municípios
brasileiros contam com algum tipo de produto artesanal, desenvolvendo a sua
importância na geração de renda do país, em uma ampla movimentação
financeira do setor (SEBRAE, 2008).
Os produtos artesanais se apresentam em amplas categorias quanto a
seus produtos e ainda de acordo com o processo de produção, origem, uso e
destino, encontrando-se a arte popular que envolve atividades poéticas,
musicais, plásticas e expressivas que apresentam o modo de viver de uma
população.
A categoria identificada como artesanato é a que determina ser toda
atividade produtiva que tenha como resultado objetos e artefatos acabados,
produzidos manualmente ou pela utilização de mecanismos tradicionais ou
rudimentares, por meio de sua criatividade; trabalhos manuais que denominam
serem trabalhos resultantes do desenvolvimento das habilidades manuais,
usando moldes predefinidos, não são resultantes do processo criativo efetivo;
produtos alimentares típicos em pequena escala; produtos semiestruturados e
industriais, com produção em grande escala ou em série, pela apresentação de
moldes, formas e maquinários em parte do processo (SEBRAE, 2010).
Encontra-se ainda o artesanato indígena, surgido em comunidades
indígenas por seus integrantes de tais comunidades, artesanato tradicional que
é expressão da cultura de um dado grupo, representando suas tradições,
geralmente incorporados à vida diária; artesanato de referência cultural, que
determina ser a incorporação de elementos culturais tradicionais da região;
artesanato conceitual, em que são produzidos objetos com base em projetos
que reafirmam um estilo de vida ou afinidade cultural, distinguindo-se das
demais categorias.
Todas essas categorias de constituição do artesanato podem ser
utilizadas como adornos e acessórios, como decoração, educativo, com
26
representação pedagógica, lúdica, voltados para o entretenimento que
represente o imaginário popular; religioso, voltados à demonstração de rituais,
ou fé como enfeites ou imagens; utilitário, em que apresenta peças com a
finalidade de satisfação do trabalho dos homens, marcados pela simplicidade.
As representações artesanais podem ser desenvolvidas pelo artesão
detentor de conhecimento técnico, sobre o material produzido pelo aprendiz
que pode ser um auxiliar de produção, pelo artista, dentro do núcleo de
produção familiar, formada por membros da mesma família, grupo de produção
artesanal ou agrupamentos de um segmento, empresas artesanais constituídas
para micro ou pequenas empresas com personalidade jurídica, constituídos por
contrato e associações e cooperativas (SEBRAE, 2010).
O SEBRAE apresenta uma estrutura de ação no âmbito artesanal em
nível nacional e setorial, norteado por eixos que devem buscar o
desenvolvimento de atividades que programem um conhecimento sistêmico do
setor, no que diz respeito ao apoio na tomada de decisões, proporcionando
constantes pesquisas quanto ao resgate da economia regional; pesquisas
quanto a oferta e mercado, com vistas em melhorias, avaliação de projetos e
apresentação de indicadores de desenvolvimento, como, por exemplo, o
número de artesãos, faturamento, postos de trabalho, custo por cliente para o
SEBRAE e o grau de satisfação desses clientes.
Além disso, proporciona projetos de inovação tecnológica que buscam
aperfeiçoar produtos com vista ao mercado e suas oportunidades com
apresentação de design e adequação, por exemplo, por sua utilização racional
e controle de materiais, aperfeiçoamento ainda de processos produtivos,
adequando a capacidade produtiva, infraestrutura, locais de trabalho,
desenvolvimento e adequação de embalagens e transporte, com vista para se
obter maior agregação de valor, complementando por capacitações
empresariais (SEBRAE, 2010).
Outro eixo norteador do programa é o acesso ao mercado pela
apresentação de projetos e ações de agregação na busca de uma identidade
visual, desenvolvimento de marcas e embalagens, certificação de origem e
qualidade, busca de utilização de normas ambientais e sociais
contextualizando o produto culturalmente, implementação de projetos de
27
acesso ao mercado, pela integração de setores; posicionamento de mercado e
articulação de meios de acesso direto de produtos.
A lógica de intervenção dos projetos do SEBRAE começa e termina no
mercado, passando pelas fases de produção, identificação da demanda, da
oferta, de melhoria de produtos, de processos, de capacitação dos produtores,
de agregação de valor de divulgação e promoção e comercialização.
Ainda, prestação de serviços financeiros por meio de articulação de
matéria-prima, equipamentos, capital de giro e infraestrutura, políticas públicas,
buscando incorporação legal e impulsionando a formalização.
PELEGRINI (2011, p. 11) observa que cada vez com mais frequência os
países de uma maneira generalizada têm reconhecido a importância a ser dada
ao mercado cultural, como gerador de renda e empregos, associado à
arrecadação tributária e promoção do comercio exterior.
Em âmbito nacional, a denominada economia da cultura ganha espaço
mais enfático no meio de artistas e produtores culturais, enquanto formadores
de políticas públicas, que reconhecem a importância desse setor como gerador
potencializador de renda.
De acordo com dados do IBGE, estima-se que o artesanato brasileiro
seja responsável por 8,5 milhões de cadeias produtivas, gerando
aproximadamente 28 bilhões de reais em renda.
Aponta-se o artesanato como atividade de destaque na economia do
Mato Grosso do Sul, como tendência nacional, representa uma produção
expressiva de crescimento, fonte geradora de renda de várias famílias, abrindo
espaço cada vez maior em um mercado globalizado, baseado em grupos
organizados que envolvem artesãos e organismos públicos ou não do Estado
(PELEGRINI, 2011).
Aponta, ainda, o artesanato como uma atividade das mais antigas
conhecidas, vinculadas às mais diversas atividades do homem, ao mesmo
tempo uma das mais expressivas de criação, manifestação, reforçando valores
de identificação cultural, vinculada ao imaginário popular. Já Alves (2012),
confronta,
[...] o uso pouco rigoroso do termo artesanato, em nosso
tempo fez com que se perdesse o seu conteúdo histórico.
28
Isto é, a veiculação do termo no âmbito do senso comum
relegou ao esquecimento o fato de que, antes da
consolidação do modo de produção capitalista, todos os
trabalhadores eram artesãos (ALVES, 2012, p.4).
O artesanato, conforme ALVES (2012, p.14), servia de utensílio
doméstico, estando associado ao
[...] atendimento de necessidades básicas no processo de
produção da existência dos trabalhadores. Mas o
desenvolvimento da produção propiciou a criação e o
aperfeiçoamento de instrumentos e a sistematização de um
saber ligado à elaboração de peças artesanais, o que
tornou possível, em paralelo, a produção de peças não
diretamente ligadas ao atendimento de necessidades
básicas do homem.
Comenta PELEGRINI (2011, p. 11) que mesmo diante de um mundo
globalizado, marcado com produção de produtos em série, tem-se espaço para
a valorização de atividades artesanais, seja como fonte geradora de renda e
emprego ou pelo interesse de produtos diferenciados, agregador de valor.
No entanto, conforme GOMBRICH (1985, p.360).
A Revolução Industrial começou a destruir as próprias
tradições do sólido artesanato; o trabalho manual cedia
lugar à produção mecânica, a oficina à fábrica. / Os frutos
mais imediatos dessa mudança eram visíveis na
arquitetura. A falta de um sólido artesanato, combinada
com a estranha insistência em "estilo" e "beleza", quase a
matou.
Segundo o discurso do SEBRAE, a profissionalização das produções
artesanais tem sido a grande ferramenta para eficiência e geração de renda e
promoção da qualidade de vida por todo o Brasil.
29
Uma ampla atuação do SEBRAE junto a comunidades diversas, mudou
suas vidas, promovendo dignidade. Isso aconteceu com a comunidade de
Minas Novas (MG), que aumentou sua produtividade, qualidade e renda,
produzindo bonecas de cerâmica, forte da cultura da região do Vale do
Jequitinhonha, onde a renda média dos artesãos passou de menos de um para
três a cinco salários mínimos mensais.
Outros exemplos são o das tranças da terra de Santa Catarina, que
geram renda também para os produtores de trigo no campo; o da cerâmica do
Distrito de Icoaraci, em Belém do Pará; o do Poti Velho, do Bairro de Teresina;
o da flor do cerrado, do município de Samambaia, Distrito Federal, que fazem
peças com flores, utilizando, para isto, folhas secas que já caíram de suas
árvores, para evitar prejuízo ambiental, entre tantas outras histórias de sucesso
pelo Brasil a fora. Todos são participantes de diferentes cursos promovidos
pelo SEBRAE, que envolvem temas como empreendedorismo, atendimento,
formação de preços, adequação ao mercado e beneficiamento de argila, entre
outros.
Com o seu programa, o SEBRAE promove a ampliação de crédito para
micro e pequenas empresas, frente a dificuldades de disponibilizar garantias
patrimoniais, frente a informalidade que impossibilita a concessão de créditos
pelas instituições financeiras, tudo para proporcionar o incremento do
segmento e melhorar as condições de trabalho. Para contar com a concessão
desses créditos, é preciso se legalizar ou optar pelo associativismo, na busca
pela ampliação da oferta e redução de custos para as mesmas.
Preservando seus objetivos gerais, o SEBRAE permanece apostando no
empreendedorismo, fazendo com que o artesão encare seus afazeres da forma
mais profissional possível, de modo que entenda o artesanato como meio de
melhoria de vida, visualizando-o como grande potencial e não somente como
um hobby.
O processo de incentivo do SEBRAE se inicia com a capacitação do
artesão, de modo que enxergue seu ofício como negócio, aprendendo o
artesão a desenvolver e criar novos produtos, com agregação de valor ao
mesmo, melhorando o padrão de qualidade, preços etc., conquistando cada
vez mais mercado. Dessa forma, prepara-se para um mercado competitivo,
30
pela observação das tendências desse mercado, dentro de um processo
constante de amadurecimento.
Outro importante cuidado do SEBRAE, segundo seu programa, é
despertar para o meio ambiente, preocupando-se como uma exploração
sustentável e preservação ambiental. Com tantas opções de apoio oferecidas
ao artesão, o SEBRAE lançou em 2006, o Prêmio SEBRAE Top 100 de
Artesanato, que busca identificar as 100 unidades produtivas mais significativas
do país, a médio e longo prazos, estruturando tal segmento de mercado. A
iniciativa visa fazer com que os trabalhos de diversas regiões do país se
tornem conhecidos e valorizados nacionalmente.
O Prêmio Top 100 tem como objetivo o reconhecimento e valorização do
trabalho realizado por artesãos e possui 11 critérios de seleção, a seguir:
[...] grau de inovação dos produtos; adequação econômica;
adequação ergonômica dos postos de trabalho; adequação
ambiental; eficiências produtivas; adequação cultural;
embalagem; qualidade percebida - valor intangível; práticas
comerciais; responsabilidade social; e gestão estratégica.
(PARENTE; AGUIAR, 2012, p.18).
Além dos eventos próprios do Programa SEBRAE de Artesanato,
diversos outros eventos acontecem nacional e internacionalmente para
promoção e comercialização do artesanato, os quais têm a participação dos
artesãos pertencentes ao Programa (Quadro 1).
Quadro 1. Eventos nacionais e internacionais de artesanato
Período EVENTOS NACIONAIS
Janeiro Feira Internacional de Artesanato - FIART - a feira é realizada
anualmente desde 1996 em Natal/RN e atrai em média 80 mil
visitantes durante os dez dias de evento. A Fiart RN conta com a
parceria do Sebrae no Rio Grande do Norte, do Governo do
Estado por meio da Secretaria Estadual de Trabalho, Habitação
e Ação Social, Prefeitura da Cidade de Natal, e com a
31
coordenação da Espacial Eventos todos os anos.
Fevereiro Brazilian International Gift Fair - a Gift Fair é a maior feira de
artigos para a casa, decoração e design da América Latina, e
uma das mais importantes do mundo no setor. Desde 1990 este
é o grande evento que apresenta todas as novidades e
tendências em infinidade de bens de consumo que compõem
uma casa. O evento acontece paralelo ao Salão Internacional de
Decoração, Artesanato e Design, em São Paulo.
Salão Internacional de Decoração, Artesanato e Design - a D.A.D
é a maior feira de artigos para a casa, decoração e design da
América Latina, e uma das mais importantes do mundo, no setor.
Desde 1990 este é o grande evento que apresenta todas as
novidades e tendências em infinidade de bens de consumo que
compõem uma casa. O evento acontece paralelo ao Gift Fair, em
São Paulo.
Março FEIARTE/ SC - a FEIARTE está entre as de maior sucesso e
repercussão no país. O objetivo da FEIARTE – Feira
Internacional de Artesanato – é incentivar o intercâmbio cultural,
técnico e comercial entre artesãos e visitantes, promovendo
negócios no atacado e no varejo. Além disso, possibilita ao
público conhecer o que há de melhor em diversas culturas,
incluindo, além do artesanato, a culinária, os costumes e as
danças típicas.
Abril FINNAR - o evento tem como proposta expandir as fronteiras da
comercialização de artesanato nacional e internacional e se
tornar um palco cultural onde visitantes e expositores possam se
aproximar ainda mais da arte em suas diversas expressões.
Realizada desde 2005 em Brasília – DF.
Maio FEIARTE/PR.
32
Brasil Mostra Brasil/ PB - evento que acontece em João Pessoa
na Paraíba no mês de julho. É considerado por expositores e
consumidores o maior evento do Norte e Nordeste. Contando
com o apoio das instituições de classe, tem se transformado em
cada edição um sucesso de público e vendas.
FENEARTE - é uma ação que faz parte do Programa do
Artesanato de Pernambuco (PAPE) e tem como objetivo valorizar
e difundir a riqueza cultural, além de estimular o potencial de
crescimento dos artesãos brasileiros.
Mega Artesanal - a feira de produtos e técnicas para artes e
artesanato acontece em São Paulo durante o mês de julho. No
evento uma casa inteira é decorada com produtos artesanais e
conta também com exposições artísticas, lançamentos da
indústria e do comércio e cursos gratuitos.
Agosto Craft Design - feira de negócios que apresenta tendências na
área de decoração, design e arte. O evento é realizado todos os
anos em São Paulo.
Paralela Gift - a Paralela Gift é considerada uma das mais
importantes feiras de design contemporâneo destinado a lojistas
no Brasil. O evento é realizado em um movimentado shopping de
São Paulo.
Setembro ARTMUNDI - a feira já foi realizada em Brasília, Rio de Janeiro,
Curitiba e São Paulo. São expostos milhares de produtos
fabricados por artesãos brasileiros e internacionais além de
atrações de cerca de 15 países, comidas típicas e apresentações
culturais.
Brasil Mostra Brasil.
Festa Nacional do Calçado - o evento conta com uma
infraestrutura de alta qualidade e mais de 250 expositores do Rio
Grande do Sul. São comercializados coleções de sapatos, bolsas
e acessório. A feira é realizada em Nova Hamburgo no Rio
33
Grande do Sul.
Novembro FEINCARTES - a Feira Internacional de Artesanato e Decoração
promove o artesanato brasileiro a mais de dez anos. O evento
tem edições em Florianópolis – SC, Petrolina-PE, Juazeiro do
Norte-PI, Vitória-ES e Fortaleza-CE.
Feira de Natal de Poços de Caldas - o Natal Artesanal de Poços
de Caldas, evento genuinamente artesanal, foi inspirado em
Feiras de Natal da Europa. O evento conta com artesãos de todo
Brasil e de outros países que juntos promovem em Poços de
Caldas um dos natais mais lindos do Brasil.
Feira Nacional de Artesanato - a feira conta com mais de 50 mil
itens artesanais expostos em um espaço de 23 mil metros
quadrados. São quase oito mil artesãos em 1,1 mil estandes.
Segundo os organizadores, é considerada a maior feira do
segmento na América Latina. O evento é realizado em Belo
Horizonte – MG.
Salão Internacional do Artesanato - o salão entende que o
artesanato é importante para a preservação das raízes históricas
dos povos e tem como objetivo incentivar a constante venda de
produtos artesanais, gerando emprego e renda para diversas
famílias que tiram do artesanato a única forma de subsistência.
O evento é realizado em Brasília-DF.
Período EVENTOS INTERNACIONAIS
Janeiro MACEF – Feira Internacional da Casa - Fiera Milano - feira
dedicada ao lar, que reúne arquitetos, designers, decoradores,
atacadistas, varejistas e jornalistas. A Feira apresenta:
acessórios e decoração; mesa e cozinha; clássico, bijuteria, ouro
e acessórios de moda; presentes.
Março Casaidea - feira de decoração da Itália. É realizado em Roma.
34
Abril Hong Kong Houseware Fair- feira internacional de brinquedos e
presentes de Hong Kong. O evento é realizado em Hong Kong
na China.
Setembro CERANOR - exposição de cerâmica, vidro e artigos decorativos.
EXPONOR - o evento é realizado em Portugal.
INTERGIFT - feira de moda e design realizada em Madri na
Espanha.
Dezembro Expoartesanías - evento de artesanato realizado em Bogotá na
Colômbia.
Fonte: SEBRAE (2015).
Como pode ser visto, são diversos os eventos que envolvem o
artesanato nacional e internacional, oportunidade para os artesãos escoarem
suas produções.
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de 2013.
38
6. Artigos
Artigo I
O Programa SEBRAE de Artesanato em Mato Grosso do Sul
Renata Machado Garcia Dalpiaz
Resumo
Esse estudo tem como objeto o Programa SEBRAE de Artesanato em Mato
Grosso do Sul. A pesquisa teve como objetivo analisar historicamente o
Programa e suas realizações no Estado, desde sua origem até o presente.
Diversas foram as fontes teóricas que nortearam a análise dos dados, entre
elas, Alves e Canclini. Os dados empíricos decorreram de levantamentos de
fontes primárias, tanto de caráter documental, quanto por meio de entrevistas e
gravação das falas. Fontes secundárias pertinentes também foram utilizadas,
como o catálogo “Vozes do Artesanato”, da Fundação de Cultura do Mato
Grosso do Sul (FCMS), o livro “Artesanato, um negócio de muitas culturas”, do
SEBRAE, além de fontes historiográficas do SEBRAE. Constatou-se que desde
a criação do Programa SEBRAE de Artesanato, em 1997, foram identificadas
diversas categorias de artesanato em Mato Grosso do Sul, iniciativa que
norteou o oferecimento de cursos de treinamento aos artesãos, envolvendo
oficinas, projetos de inovação tecnológica, cursos de desenvolvimento de
marcas e embalagens, de design dos produtos, além de gestão dos negócios.
Palavras-chave: Desenvolvimento Regional. Artesanato Induzido. Manufatura.
Abstract
This paper studied the SEBRAE program Crafts in Mato Grosso do Sul. The
study aimed to analyze historically SEBRAE program Crafts and its
achievements in the state, from its origin to the present. Several were the
theoretical sources that guided the analysis of empirical data, between them,
Alves and Canclini. Empirical data resulted from primary sources surveys, both
documentary character, and through interviews and recording the speeches.
relevant secondary sources were also used, as the catalog " Craft Voices"
Foundation of Mato Grosso do Sul Culture (FCMS), the book "Craft , a business
of many cultures", SEBRAE , and historiographical sources SEBRAE. It was
39
found that since the creation of Craft SEBRAE program in 1997, various craft
categories were identified in Mato Grosso do Sul, an initiative that has guided
offering training courses for artisans, involving workshops, technological
innovation projects, courses brand development and packaging, product design,
and business management.
Keywords: Regional Development. Induced craftwork. Manufacture.
Introdução
O objeto deste artigo é o Programa SEBRAE de Artesanato desde a sua
criação em 1997.
O objetivo é analisar historicamente o Programa SEBRAE de
Artesanato, desde sua origem até o presente, mostrando sua influência sobre o
processo de produção do artesanato em diversas regiões e nas vidas dos
artesãos.
Conforme seu Portal12, o SEBRAE - Serviço de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas - de Mato Grosso do Sul,
... é uma instituição técnica de apoio ao desenvolvimento
da atividade empresarial de pequeno porte, voltada para o
fomento e difusão de programas e projetos que visam à
promoção e ao fortalecimento das micro e pequenas
empresas.
Seu propósito é trabalhar de forma estratégica, inovadora e
pragmática para fazer com que o universo dos pequenos
negócios no Estado tenha as melhores condições possíveis
para uma evolução sustentável, contribuindo para o
desenvolvimento do Estado como um todo.
Foi criado por lei de iniciativa do Poder Executivo,
concebida em harmonia com as confederações
representativas das forças produtivas.
... é predominantemente administrado pela iniciativa
privada. Constitui-se em serviço social autônomo - uma
12
Disponível em: http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/ms/quem_somos?codUf=13. Acesso em: 20 mar. 2016.
40
sociedade civil sem fins lucrativos que, embora operando
em sintonia com o setor público, não se vincula à estrutura
pública estadual. As Receitas são provenientes de
Contribuição Social...
A instituição é fruto, portanto, de uma decisão política da
cúpula empresarial e do Estado, que se associaram para
criá-la e cooperam na busca de objetivos comuns. Por isso
mesmo, é uma entidade empresarial voltada para atender
ao segmento privado, embora desempenhe função pública
e tenha sempre em consideração as necessidades do
desenvolvimento econômico e social do território.
Tem como missão promover a competitividade e o
desenvolvimento sustentável dos pequenos negócios e
fomentar o empreendedorismo para fortalecer a economia
de Mato Grosso do Sul, de acordo com o Portal do
SEBRAE.
O intuito do Programa SEBRAE de Artesanato é proporcionar total apoio
ao artesanato, com curso, capacitações, oficinas, consultorias, até colocar o
produto no mercado, através de realizações de rodadas de negócios, feiras,
exposições regionais, nacionais e internacionais, além de premiações.
O propósito do SEBRAE é fazer com que o artesanato se torne rentável
e sustentável. Isso não ocorre no curto prazo, assim como as respostas
rápidas.
Os resultados aparecem a médio e longo prazos, de forma planejada, de
maneira que alcancem seus objetivos no mercado de forma duradoura,
objetivando promover a emancipação econômica e social dos artesãos – por
isso, a necessidade dos cursos, capacitações, rodadas e feiras.
Observa-se que o SEBRAE, desde a criação do seu Programa de
Artesanato, em 1997, identificou diversas categorias de artesanato e as
conceituou, tendo criado um termo de referência. São exemplos: artesanato
conceitual, artesanato de referência cultural e artesanato tradicional.
41
Também produziu um livro sobre os elementos da iconografia13 sul-
mato-grossenses, conforme figura 1, (imagens que são usadas para divulgar a
cultura do estado em obras de arte) para facilitar a divisão dos cursos
oferecidos aos artesãos, para quem disponibilizou oficinas com ensinamento
das imagens que fazem parte da cultura local de cada região, para comporem
os objetos confeccionados, que estão inseridos no Livro “Elementos da
Iconografia do Mato Grosso do Sul”, desenvolvido pelo SEBRAE com parceria
de um designer italiano14, com projetos que envolvem técnicas de manuseio da
matéria-prima, desenvolvimento de marcas e embalagens, design dos
produtos, entre outros, além dos cursos que envolvem a gestão de negócio,
como empreendedorismo, precificação e técnicas de vendas.
Figura 1: Elementos da iconografia do Mato Grosso do Sul.
Fonte: Portal SEBRAE (2014).
Material e Métodos
Os dados empíricos utilizados na pesquisa foram pesquisados em fontes
primárias, produzidos por entrevistas e gravação das falas de consultores de
artesanato em instituições apoiadoras do artesanato, como o SEBRAE e a
Fundação de Cultura, e fontes documentais, como estudos de autores como
Alves e Canclini e bibliografias disponibilizadas pelo SEBRAE de forma física e
virtual.
13
. Vocábulo usado para designar o significado simbólico de imagens ou formas representadas em obras de arte. Também nomeia uma disciplina da História da Arte, dedicada a identificar, descrever, classificar e interpretar a temática das artes figurativas. Até fins do século XVI, a iconografia referia-se especialmente ao significado simbólico de imagens inseridas num contexto religioso. Atualmente o termo refere-se ao estudo da história e da significação de qualquer grupo temático. (Cf. Enciclopédia Itaú Cultural) Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo101/iconografia>. Acesso em: 7 dez. 2014. 14
Giulio Vinaccia é um designer italiano contratado pelo SEBRAE para prestar consultoria, cursos e oficinas. Produziu em 2002, entre outros resultados, a obra Elementos da iconografia de Mato Grosso do Sul.
42
As entrevistas semiestruturadas foram realizadas no período de janeiro
de 2013 a setembro de 2014.
Para atender ao objetivo desta pesquisa foi feito um estudo de materiais
já existentes sobre as práticas artesanais e associadas ao SEBRAE.
Foi solicitado ao SEBRAE uma autorização institucional para realizar a
pesquisa em seus arquivos, além da autorização do Comitê de Ética em
Pesquisa em Seres Humanos, na Plataforma Brasil (Parecer número 774.370,
de 27 de agosto de 2014).
Resultados e discussão
O Programa SEBRAE de Artesanato em Mato Grosso do Sul foi criado
em 1997.
O objetivo do Programa SEBRAE de Artesanato é apoiar os artesãos
com acesso a cursos e capacitações nas mais diversas áreas de gestão, como
empreendedorismo, gestão de negócios, precificação, design dos produtos e
embalagens, comercialização etc.
Segundo o Programa, como consequência da realização dos cursos,
haverá uma promoção de melhorias nos rendimentos dos artesãos, fazendo
com que eles se tornem novamente parte de uma sociedade economicamente
ativa, contribuindo, assim, com o crescimento econômico do país.
O SEBRAE, além de gerar cursos e capacitações, promove feiras, rodas
de negócios, premiações que projetam o artesão nacionalmente e possui
projetos de exposições internacionais, mediante parcerias, e ampliação de
créditos a micro e pequenas empresas e, com isso, transformar o artesanato
em um negócio lucrativo.
Muitas são as expressões artísticas artesanais do Estado de Mato
Grosso do Sul e que elevam o nome e a economia do mesmo. Entre esses
nomes destaca-se um dos mais renomados nomes do artesanato, Conceição
Freitas da Silva, a Conceição dos Bugres, que produziu centenas de imagens
de bugres nas décadas de 1970 e 1980, com grande demanda de pedidos,
conhecidos mundialmente pela beleza de seus totens, (PELEGRINI, 2011).
Outra expressão sul-mato-grossense é Júlio Cesar Rondão, que trouxe
de Guia Lopes da Laguna, a forma de seu artesanato na argila. Conta ainda
43
Mato Grosso do Sul com o renome de Virgulino de Oliveira França, escultor de
imagens, cidadão de Ribas do Rio Pardo.
Dados da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS) revelam
que 2043 artesãos do estado estão cadastrados no Sistema de Informações
Cadastrais do Artesanato Brasileiro (SICAB), implantado em fevereiro de 2013
(IFMS, 2013).
E, segundo Patrícia Caldas15, 500 artesãos já realizaram alguma
atividade do Programa SEBRAE de Artesanato/MS.
De acordo com o homepage do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul
(IFMS), em 2013 a gerente de Desenvolvimento de Atividades Artesanais da
FCMS, Arlene Vilela, relata que a maior parte das peças produzidas tem
caráter regional: “Entre as mais representativas estão as cerâmicas produzidas
pelos indígenas, os animais que representam o Pantanal, peças de madeira e
osso feitas em Jardim, os bugrinhos da Conceição e as bugras feitas com
argila.” (IFMS, 2013).
PELEGRINI (2011) comenta que o estado é rico em várias expressões
de produção coletiva, como a cerâmica Kadiwéu, localizada na Reserva
indígena Kadiwéu, na Serra de Bodoquena, no município de Porto Murtinho
(MS). Desenvolvida pelos índios que fazem cerâmica pela queima do bairro,
cujas técnicas de produção foram passadas de geração a geração, absorvidas
e mantidas como grande riqueza do estado.
Outra forte expressão na cultura de Mato Grosso do Sul advém também
da cerâmica, dos povos Terena, descendentes dos Txané-Guaná, que vive
numa extensa região de Miranda, Aquidauana e Dourados desenvolvendo
abanicos e sementes coloridas e ampla modelagem de espirais e pintura pós-
queimadas, representando o repertório iconográfico Terena, transformando
produtos da terra/barro em cerâmica.
Os principais pontos de cultura regional são, em Campo Grande, a Casa
do Artesão, o Memorial da Cultura Indígena (localizado dentro da aldeia urbana
Marçal de Sousa), a Feira Indígena, o Museu José Antônio Pereira e a Praça
dos Imigrantes, onde são comercializadas as peças artesanais indígenas.
15
Consultora do SEBRAE/MS, entrevista realizada em 21.08.2014.
44
PELEGRINI (2011) enfatiza nomes como Agripino Magalhães16, produz
e toca viola de cocho; Ana da Silva, que se dedicou a arte na madeira; Antônio
Conceição com tear em bambu; Antônio Ricci, com a arte em madeira;
Aparecido Escarmanhani, com seu traçado em couro; Araci Vendranini, com
arte em argila; Claudia Castelão com suas flores Xaraés, em madeira; David
Nazário e sua arte em cipó; David Ojeda e suas esculturas em madeira; a
argila de Denelson de Oliveira; o tear de Edna de Souza; as esculturas
regionais de Elisabeth Marques. Todos são destaques da cultura artesã que
notabiliza a cultura de Mato Grosso do Sul.
O apoio ofertado pelo SEBRAE, segundo seu discurso, é determinante
para o desenvolvimento social do Estado, à medida que investe num segmento
importante, por vezes marginalizado, promovendo o empreendedorismo dentro
de uma rede de parcerias com interesses semelhantes, com o intuito de
conduzir o artesanato a um patamar econômico e social em que deveria estar
(SEBRAE, 2010).
A assistência oferecida, conforme o Programa Artesanato, impulsiona a
valorização social ao promover investimentos na cultura brasileira,
concretizando dessa forma a qualidade de vida e elevando a autoestima dos
artesãos e seus familiares, pela organização do negócio. Os impactos sociais
surgem a partir do instante que há um resgate cultural, por vezes esquecido ou
abandonado. Para isso deve ter o domínio da matéria-prima, conhecimento das
tradições e da cultura, com base na contextualização de informações.
Frente à importância econômica, social e cultural que o artesanato
representa e diante de resultados apresentados nos últimos anos, o SEBRAE
evidenciou a grande necessidade de continuar apostando nessa atividade,
adequando ações que levem em conta as necessidades de cada região ou
comunidade.
Para tanto, o apoio do SEBRAE é constantemente reavaliado e
redimensionado com base na troca de experiências bem sucedidas pelo Brasil
afora, sempre optando pela renovação, para que assim consiga vencer os
16
Ele é uma das poucas pessoas no Estado aptas a construir artesanalmente uma viola-de-
cocho.
45
desafios de contribuir eficazmente para a promoção do desenvolvimento
sustentável do setor (SEBRAE, 2010).
O SEBRAE, para o alcance dessas metas, buscou a padronização de
linguagens e definições de conceitos e diretrizes, objetivos e metas, e
promoção de estrutura e eixos norteadores de gestão, criados para sua melhor
atuação.
Em 2012, o SEBRAE aprovou um novo projeto chamado “Projeto Brasil
Original”, que tem como objetivo, conforme Gemima de Oliveira Moreira17,
coordenadora do departamento de artesanato do SEBRAE/MS,
[...] desenvolver e promover a produção artesanal sul-mato-
grossense e identidade regional através da implementação
de ações de capacitação e consultoria nas áreas de
gestão, produção e mercado aos núcleos produtivos
artesanais, com vistas ao aproveitamento dos grandes
eventos esportivos como fator de mobilização e
oportunidade de mercado [...]
São eventos como a Copa das Confederações, a Copa do Mundo e as
Olimpíadas.
As ações idealizadas pelo projeto contemplam atuações com a
educação continuada em gestão empresarial, como, no dizer de Gemima de
Oliveira Moreira:
[...] palestra sobre associativismo; formação do preço de
venda; planejamento financeiro; técnicas de vendas;
logística. Ações de produção para o desenvolvimento de
produtos e da identidade visual, como: oficinas de design e
técnicas de manuseio da matéria-prima, para conhecimento
das tendências, das matérias-primas e das técnicas
diferenciadas; fortalecimento da identidade visual dos
17
Coordenadora do Departamento de Artesanato do SEBRAE/MS, entrevista realizada em
1.09.2014.
46
núcleos produtivos e a ampliação do acesso a mercados
sejam estes virtuais ou em pontos de venda no varejo e
atacado, uma vez que para a sustentabilidade dos
empreendimentos é necessário o escoamento da
produção, incluindo: rodada de negócio; workshops,
participação em eventos de comercialização;
desenvolvimento das marcas; confecção de catálogo digital
dos produtos artesanais; embalagens; elaboração das
fichas técnicas dos produtos artesanais; entre outros.
O SEBRAE esteve presente em dez das doze cidades que sediaram a
Copa do Mundo de Futebol.
Figura 2. Showroom das peças artesanais em São Paulo, no Shopping Light,
região central da cidade.
Fonte: Foto MILTON MICHIDA/A2FOTOGRAFIA/Divulgação. Disponível em:
http://economia.terra.com.br. Acesso em: 07 dez. 2014.
47
Figura 3. Espaço montado no Shopping em Recife durante a Copa das
Confederações/2013.
Fonte: SEBRAE. Disponível em: <http://www.campograndenoticias.com.br/ca
pa/artesanato-do-ms-comeca-a-chegar-as-cidades-sedes-da-copa/28452/>.
Acesso em: 16 fev. 2015.
Figura 3. Artesanato em vidro, peças da artesã Silvia Stumpo que foram
expostas durante o evento da Copa do Mundo/ 2014.
Fonte: SEBRAE. Disponível em: <http://www.campograndenoticias.com.br/ca
pa/artesanato-do-ms-comeca-a-chegar-as-cidades-sedes-da-copa/28452/>.
Acesso em: 16 fev. 2015.
São diversas as formas de apoio do SEBRAE oferecidas pelo seu
programa, na tentativa de tornar o artesanato um nobre ofício, mas agora com
grande potencial empreendedor, e, com isso, ramo de negócios cada vez mais
competitivo, mediante constantes capacitações, intervenções e consultorias,
48
com base em novos desafios, fragilidades e ameaças a serem sanadas na
busca da excelência.
Promover, por meio de oficinas, o aproveitamento das riquezas materiais
e culturais do país, pela sua diversidade étnica, contribuindo para seu sucesso,
fazendo com que diante de uma visão de futuro do artesanato, torne o
segmento organizado, reconhecido e estruturado, como negócio competitivo,
pronto para exportar seus produtos, sendo este mais um objetivo do SEBRAE.
Capacitar artesãos e seus produtos para o mercado externo, muito
exigente, com culturas e gostos diferentes.
Por isso, há necessidade de adequação dos produtos, como também, do
modo de produção, para que ele aconteça em maior quantidade.
Com parceria da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e
Investimentos (APEX), o SEBRAE tem promovido no exterior o artesanato
brasileiro, com realizações de feiras internacionais e participação de diversos
artesãos com apoio do Instituto Centro Cape, com destaque para Minas Gerais,
responsável por 60% das exportações brasileiras. Mas, vários outros estados,
inclusive o Mato Grosso do Sul, também exportam para países como
Alemanha, França, Holanda, Espanha, Itália e Estados Unidos.
Assim, os artesãos precisam se renovar e empreender. Para tanto, o
SEBRAE propõe ao artesão empreendedor:
[...] buscar novas técnicas para desenvolver seus produtos
artesanais; cursos de atualização promovidos pelo
SEBRAE ou outra instituição de aprendizado; buscar novos
materiais que se possa utilizar como matéria-prima para os
produtos artesanais; inovar a produção de base artesanal
dos produtos por meio do design; inovar a maneira de
comercializar seus produtos, para isso, sugere-se um e-
commerce para alcançar um maior público (BOLETIM
SEBRAE, 2014, p.6).
CANCLINI (1983, p. 62) defende a tese que:
49
[...] o artesanato — bem como as festas e outras
manifestações populares — subsistem e crescem porque
desempenham funções na reprodução social e na divisão
do trabalho necessárias para a expansão do capitalismo.
Para explicar a sua persistência deve-se analisar, dentro do
ciclo atual da reprodução do capital econômico e cultural
nos países dependentes, quais as funções que o
artesanato desempenha e que não são contra a lógica
capitalista, mas dela fazem parte.
Inovações são necessárias para a sobrevivência dos artesãos no mundo
contemporâneo, o que requer uma visão mais ampla, que incluem novos
conhecimentos, em que os artesãos precisem se renovar e se integrar de
forma sistêmica às outras atividades, como saber administrar, lidar com a
economia, finanças, mercado, consumidor etc.
Mas, sem perder sua característica principal de fazer o artesanato, no
sentido de fazer manualmente, sem as subdivisões do conceito principal do
artesanato, como são caracterizados pelo Conselho Mundial do Artesanato e a
definição Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, como,
também, o conceito de artesanato “original” do SEBRAE, as identificações de
ALVES, CANCLINI – ou seja, o conceito puro do artesanato, considerado nesta
pesquisa.
Enfim, os cursos oferecidos pelo Programa SEBRAE de Artesanato em
Mato Grosso do Sul são:
Empreendedor Individual
Aprender a Empreender
Como Vender Mais e Melhor
Atendimento ao Cliente.
São cursos gratuitos e on-line oferecidos pelo SEBRAE para melhor
desempenho do artesão. Além desses, há cursos que envolvem gestão
empresarial, como:
Formação do preço de venda
Planejamento financeiro
50
Técnicas de vendas
Logística
Ações de produção
Desenvolvimento das marcas
Confecção de catálogo digital dos produtos artesanais
Embalagens
Elaboração das fichas técnicas dos produtos artesanais
As oficinas oferecidas pelo programa envolvem:
Design
Técnicas de manuseio da matéria-prima
Conhecimento das tendências
Conhecimento das matérias-primas
A oferta depende muito da necessidade de cada região, verificando isto,
o SEBRAE disponibiliza um professor “expert” no tema para ministrar a oficina.
Conclusão
O SEBRAE, desde a criação de seu Programa de Artesanato, em 1997,
identificou diversas categorias de artesanato e as conceituou, São elas:
artesanato; arte popular; trabalhos manuais; produtos alimentícios; produtos
semi-industriais e industriais “industrianato18/souvenir”; artesanato tradicional;
artesanato de referência cultural; artesanato conceitual.
Isso para facilitar a realização dos cursos oferecidos aos artesãos de
todos os Estados, para quem disponibilizou oficinas, com projetos que
envolvem oficinas de design e técnicas de manuseio da matéria-prima,
conhecimento das tendências, das matérias-primas e das técnicas
diferenciadas, cursos que envolvem gestão empresarial, como formação do
preço de venda, planejamento financeiro, técnicas de vendas, logística, ações
de produção, desenvolvimento das marcas, confecção de catálogo digital dos
produtos artesanais, embalagens, elaboração das fichas técnicas dos produtos
artesanais, além de oportunidades para o escoamento da produção do artesão
18
“Produtos semi-industriais e industriais. ‘Industrianato’ - Produção em grande escala, em série, com utilização de moldes e formas, máquinas e equipamentos de reprodução, com pessoas envolvidas e conhecedoras apenas de partes do processo” (SEBRAE, 2010, p.13).
51
como rodadas de negócio, workshops e participações em eventos de
comercialização.
As atividades dos artesãos têm diversos incentivos através do Programa
SEBRAE de Artesanato/MS, proporcionando um resgate cultural, introduzindo-
os na sociedade de forma honrada, para serem vistos como empreendedores
de sucesso, os quais fazem parte da produção econômica do Brasil.
O SEBRAE criou conceitos e referências para atuar nacional e
regionalmente e a procurar por renovações, que muitas vezes vem mediante a
troca de experiências de sucesso entre as unidades da federação, para, com
isso, conquistar o desenvolvimento sustentável no setor de artesanato e levar a
obtenção de bons resultados para todos, que podem transformar suas
produções artesanais com cursos e capacitações em diferentes áreas
propostas pelo SEBRAE, que promove a ampliação de crédito para micro e
pequenas empresas, com intuito de profissionalizar o artesão, torná-lo
empreendedor de sucesso e respeito, ou, também, formar associações de
artesãos, e, assim, prepará-los para enfrentar um mercado global e mais
exigente.
Dessa forma, o envolvimento do SEBRAE/MS com o artesanato tem
sido de forma positiva, pois, mediante seu programa os artesãos têm a
possibilidade de modificar suas vidas, com a oportunidade de adquirir novos
conhecimentos, incremento de novos produtos, na forma de fazer artesanato,
de promover e expor seus produtos, de relacionamentos com outros artesãos e
associações, de expansão nacional e internacional dos seus negócios.
Em contrapartida, com o sucesso alcançado pelos artesãos, o SEBRAE
alcança seu objetivo, que é a promoção dos negócios e do giro da renda do
país, estados e municípios.
Mas, tais mudanças conceituais do artesanato propostas pelo Programa
são importantes para os objetivos do SEBRAE, no entanto, para o
desenvolvimento do artesanato, no sentido literal da palavra, se distancia do
que realmente ele significa, da sua prática, do trabalho, da produção e do
desenvolvimento de peças artesanais, instaurando uma grande contradição
entre os objetivos do Programa e o modo de produção induzido pelo Programa.
52
Agradecimentos
Ao Dr. Gilberto Luiz Alves, por suas precisas e incisivas pontuações.
À Universidade Anhanguera Uniderp.
Ao Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
(SEBRAE) de Mato Grosso do Sul.
E a todos os que direta ou indiretamente colaboraram para a realização
deste trabalho.
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SMITH, A. An inquiry into the nature and causes of the wealth of nations.
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VINACCIA, G. Elementos da iconografia de Mato Grosso do Sul. Campo
Grande, MS: SEBRAE/MS, 2002. n.p.
Entrevista
Entrevista com Patrícia Caldas, consultora do SEBRAE, realizada em
21.08.2014, às 16h, no Instituto Íntegra em Campo Grande/MS.
55
Entrevista com Gemima de Oliveira Moreira, coordenadora do departamento de
artesanato do SEBRAE, realizada em 01.09.2014, às 9h, no SEBRAE em
Campo Grande/MS.
56
Artigo II
Experiências Induzidas pelo Programa SEBRAE de Artesanato em Mato
Grosso do Sul
Renata Machado Garcia Dalpiaz
Resumo
Este artigo tem como objeto as experiências induzidas pelo Programa SEBRAE
de Artesanato em Mato Grosso do Sul. Objetiva descrever as principais
experiências apoiadas pelo órgão no Estado. As fontes teóricas que nortearam
a análise dos dados foram buscadas em estudos de Alves, Canclini e Marx,
entre outros. Os dados empíricos foram levantados em fontes primárias, tanto
de caráter documental, quanto por meio de entrevistas, gravação das falas e
visitas para observar as práticas artesanais. Foram utilizadas também fontes
secundárias, como dissertações dos bancos de universidades, livros,
periódicos especializados e sites acadêmicos da Internet. As entrevistas
contemplaram coordenadores do Programa SEBRAE de Artesanato e artesãos
envolvidos. Com a pesquisa e a análise das experiências pode se perceber que
o referido programa impactou a vida de pelo menos 500 artesãos em Mato
Grosso do Sul – primeiro pelos treinamentos oferecidos, segundo porque
houve ampliação dos negócios, decorrente da comercialização dos produtos
em feiras, exposições e rodadas de negócios e terceiro pela mudança ensejada
no processo de produção das peças artesanais, que passaram a incluir mais
elementos na produção, como máquinas e equipamentos, parceiros, divisão do
trabalho, alterando a sua base técnica do trabalho.
Palavras-chave: Desenvolvimento Regional. Artesanato Induzido. Manufatura.
Abstract
This article comprises the experiences induced Craft SEBRAE program in Mato
Grosso do Sul. It aims to describe the main experiences supported by the
agency in the state. The theoretical sources that guided the analysis of
empirical data were sought in Alves studies, Canclini and Marx, among others.
Empirical data were collected on primary sources, both documentary character,
and through interviews, recording the speeches and visits to observe the craft
57
practices. They were also used secondary sources such as dissertations banks
of universities, books, professional journals and academic Internet sites.
Interviews contemplated SEBRAE Program coordinators Crafts and craftsmen
involved. Through research and analysis of the experiments can be seen that
this program has impacted the lives of at least 500 artisans in Mato Grosso do
Sul - first by the training offered, second because there was an increase of
business from sales of products at trade shows, exhibitions and business
roundtables and third by the change occasioned in the production process of
handmade pieces, which now include more elements in the production, such as
machinery and equipment, partners, division of labor, changing its technical
groundwork .
Keywords: Regional Development. Induced Crafts. Manufacture.
Introdução
O objeto deste artigo compreende as experiências induzidas pelo
Programa SEBRAE de Artesanato em Mato Grosso do Sul. O objetivo é
descrever as principais experiências induzidas pelo SEBRAE no estado.
Para tanto, foram utilizadas algumas diferenciações existentes nas
modalidades de atividades artesanais, encontradas na bibliografia, aquelas
atividades que são realizadas por dom natural, artisticamente, e aquelas que
foram “induzidas19”, com a finalidade de empreender, de obter lucros, enfim, de
negócios.
Com isso, foram identificadas oficinas, trabalhos de consultoria que o
SEBRAE proporcionou aos artesãos, associações e os artesãos envolvidos
19
Cf. ALVES (2012, p. 2), “O artesanato induzido vem se tornando dominante em nossos dias. Muitas iniciativas filantrópicas veem no desenvolvimento do artesanato uma válvula de escape para tirar crianças e jovens que vivem situação de risco nas ruas ou para populações marginalizadas em guetos de pobreza. A instituição mais atuante nessa seara é o SEBRAE, que entende o artesanato como negócio e prega a necessidade de que todo artesão seja empreendedor. As exigências do mercado são o norte para o artesão pensar e aperfeiçoar os seus produtos. Resistência e aparência das peças artesanais, produção com certa escala, a dedicação exclusiva do artesão à sua atividade, prêmios, feiras e rodas de negócio quebram com a visão do artesanato como fonte de lazer e de complementação de renda. Os novos artesãos incorporam essa visão difundida pelo SEBRAE e, gradativamente, contratam aprendizes e instauram a divisão do trabalho nos seus ateliês e oficinas. Para completar o quadro de pressão para impor essa tendência no campo do artesanato, as próprias políticas públicas, cada vez mais acentuadamente, vêm postulando o empreendedorismo e a concepção de artesanato como negócio, priorizando medidas de apoio que excluem o artesanato ancestral e o artesanato espontâneo”.
58
com o programa em Campo Grande, Coxim, Jardim, Corumbá e Bonito, entre
outros. E pode ser observado, também, o processo produtivo e verificado que a
influência gerada pelo SEBRAE levou a uma mudança de comportamento, de
visão de negócios, empreendimento e mercado.
As fontes teóricas que nortearam a análise dos dados empíricos foram
autores como Alves, Canclini e Marx, entre outros. Os dados empíricos foram
buscados em fontes primárias, tanto de caráter documental, quanto por meio
de entrevistas, com gravação das falas, visitas para observar as práticas
artesanais, e fontes secundárias, como dissertações dos bancos de
Universidades, livros, periódicos especializados e sites acadêmicos da Internet.
Ao analisar os impactos do Programa SEBRAE de Artesanato
desenvolvido em Mato Grosso do Sul, verificou-se que o artesanato original,
espontâneo, está dando lugar para o artesanato induzido, de acordo com
ALVES e conceitual, de referência cultural, “industrianato20”, conforme definido
pelo SEBRAE.
Pois com as mudanças sofridas no processo de produção, os artesãos
passaram a incluir mais elementos na produção, como máquinas e
equipamentos, parceiros, divisão do trabalho, que altera a sua base técnica de
trabalho e, assim, o artesanato deixa de ser o artesanato propriamente dito, ou
seja, aquele que tem desenvolvimento e criação integral por uma pessoa e que
utiliza ferramentas limitadas para sua produção.
Algumas razões encontradas para essas mudanças foram para
acompanhar o desenvolvimento econômico do país, para ter crescimento
econômico, por questões de sobrevivência e para atender o mercado e suas
tendências.
Material e Métodos
Os dados empíricos utilizados na pesquisa foram estudos de autores
como Alves, Canclini e Marx, entre outros. Foram buscados em fontes
primárias, com realização de entrevistas, gravação das falas dos
20
“Produtos semi-industriais e industriais. ‘Industrianato’ - Produção em grande escala, em série, com utilização de moldes e formas, máquinas e equipamentos de reprodução, com pessoas envolvidas e conhecedoras apenas de partes do processo” (SEBRAE, 2010, p.13).
59
coordenadores do departamento de artesanato do SEBRAE e dos principais
artesãos que já receberam e que ainda recebem cursos e capacitações ou
algum tipo de auxílio do SEBRAE.
Foi utilizado um roteiro que faz parte do anexo I desta pesquisa, para
aferir informações com os coordenadores do SEBRAE/MS.
E, foram realizadas entrevistas utilizando outro roteiro, anexo II deste
artigo, com os artesãos indicados.
Além de visitas para fazer observações de campo nos ateliês desses
artesãos, recorreu-se a fontes secundárias, como dissertações dos bancos de
Universidades, livros, periódicos especializados e sites acadêmicos da Internet.
O método de análise foi qualitativo, para tanto, foi utilizado o Termo de
Referência do SEBRAE (2010) e ALVES (2012).
A amostragem dos entrevistados é do tipo por acessibilidade, pois a
classificação do público-alvo é em função das propriedades relevantes para a
pesquisa. O público-alvo são os coordenadores do departamento de artesanato
do SEBRAE, aos quais foi solicitada uma autorização institucional, artesãos
que tenham destaque regional, envolvidos com o programa do SEBRAE,
nomeados pelo próprio SEBRAE.
As entrevistas foram realizadas no período de janeiro de 2013 a
setembro de 2014. As pessoas foram convidadas a expor seu trabalho em
razão de uma pesquisa científica sobre a atividade que eles exercem,
solicitando assinatura de um termo de livre consentimento, além da autorização
do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos, realizado pela
Plataforma Brasil (Parecer número 774.370, de 27 de agosto de 2014).
Resultados e Discussões
O artesanato é uma atividade de destaque na economia de Mato Grosso
do Sul.
Enquanto tendência nacional, o artesanato sul-mato-grossense
representa uma produção expressiva de crescimento, fonte geradora de renda
de várias famílias, abrindo espaço cada vez maior em um mercado globalizado,
baseado em grupos organizados que envolvem artesãos e organismos públicos
ou não (PELEGRINI, 2011).
60
O artesanato é uma das atividades mais antigas, vinculadas às mais
diversas atividades do homem, ao mesmo tempo uma das mais expressivas de
criação, manifestação, reforçando valores de identificação cultural, vinculada
ao imaginário popular.
Comenta Pellegrini que mesmo diante de um mundo globalizado,
marcado pela produção em série, tem-se espaço para valorização de
atividades artesanais, seja como fonte geradora de renda e emprego ou pelo
interesse em produtos diferenciados, agregador de valor.
A produção artesanal de hoje está muito mais voltada para atender ao
mercado, com produtos que satisfaçam seus consumidores e, com isso,
vendam mais. Sabendo disto os artesãos buscam capacitar-se para entender
melhor a demanda e a oferta e produzir aquilo que agrada o consumidor.
São várias as linhas de expressões desses artesãos, ainda temos o
artesanato indígena que produzem de forma coletiva a cerâmica Kadiwéu, com
origem no Chaco paraguaio, localizada na Reserva indígena Kadiwéu, na Serra
de Bodoquena, no município de Porto Murtinho (MS), desenvolvida por seus
índios, ou guerreiros. Fazem uso da cerâmica na produção de seu artesanato
pela queima do barro.
As técnicas de produção da cerâmica foram passadas de geração a
geração, absorvidas e mantidas como grande riqueza do Estado.
Outra forte expressão na cultura sul-mato-grossense advém também
da cerâmica dos povos Terena, descendentes dos povos Txané-Guaná, na
extensa região de Miranda, Aquidauana e Dourados, que desenvolvem
abanicos e sementes coloridas e ampla modelagem de espirais e pintura pós-
queimada do barro, a representar o repertório iconográfico Terena e conceber
produtos da terra/barro em cerâmica.
PELEGRINI (2011) apresenta artesãos nas mais variadas áreas que
mostram a cultura sul-mato-grossense nos mais distantes lugares. Enfatiza
nomes como Agripino Magalhães, tocador de viola de cocho; Ana da Silva, que
se dedicou à arte na madeira; Antônio Conceição com tear em bambu; Antônio
Ricci, com a arte em madeira; Aparecido Escarmanhani, com seu trançado em
couro; Araci Vendranini, com arte em argila; Claudia Castelão com suas flores
em madeira; David Mazario e sua arte em cipó; David Ojeda e suas esculturas
61
em madeira; a argila de Denílson Oliveira; o tear de Edna de Souza; as
esculturas regionais de Elisabeth Marques. Todos são destaques do artesanato
que projeta a cultura sul-mato-grossense.
O apoio ofertado pelo Programa SEBRAE de Artesanato apresenta-se
de forma determinante para o desenvolvimento social do estado, à medida que
investe em segmento muitas vezes marginalizado pelo sistema capitalista de
produção.
Promove o empreendedorismo dentro de uma rede de parcerias com
interesses semelhantes com o intuito de conduzir o artesanato a um patamar
econômico e social em que deveria estar (SEBRAE, 2010).
Esse apoio teve início principalmente em 1998 em Mato Grosso do Sul,
conforme entrevista com Patrícia Caldas, consultora do SEBRAE.
A partir daí foram realizados diagnósticos do artesanato sul-mato-
grossense, verificando tipologias, técnicas, processo de produção, ambientes,
artesãos, analisando o todo, para então concluir sobre a necessidade de se
conceituar o que realmente era artesanato, trabalho manual, entre outras
identificações, e verificar que havia uma carência de técnicas mais aprimoradas
que valorizassem e estimulassem mais o trabalho do artesão e principalmente
daqueles que faziam trabalhos manuais por meio de livros e revistas.
Em 2000 foi realizada a primeira oficina pelo SEBRAE, encabeçada pela
então coordenadora de artesanato, a própria Patrícia Caldas, que contou com a
participação de designers para gerar novas ideias aos artesãos.
No mesmo ano houve a promoção na Expominas21 e foi, também,
realizada a primeira roda de negócio, incentivando ainda mais os cursos e
capacitações que tomaram força. Então, levaram-se novas técnicas, designs e
cursos de gestão aos artesãos, contando com um designer italiano para
ensinar técnicas de design diferenciadas para cada segmento do artesanato.
Ela estima que uma média de 500 pessoas já passaram pelas
capacitações do SEBRAE desde o início do programa.
21
Centro de Feira de Minas Gerais George Norman Kutova - Expominas. Trata-se da maior feira do segmento na América Latina. Nessa feira encontra-se uma variedade de produtos artesanais: mais de 30 mil itens vindos de todos os estados brasileiros. Disponível em: <http://www.guiabh.com.br/evento/feira-nacional-de-artesanato>. Acesso em: 2 dez. 2014.
62
Em 2006, o SEBRAE lançou o Prêmio Top 100 de Artesanato, que
buscava identificar as 100 unidades produtivas mais significativas do país.
Todos podem cadastrar-se eletronicamente pelo portal do SEBRAE, desde que
estejam legalmente constituídos. Basta preencher um questionário com
indicativos de avaliação. Os artesãos sul-mato-grossenses indicados para o
Top 100 de 2012 foram: Cláudia Castelão, David Ojeda, Silvia Stumpo e Isabel
Muxfeldt.
As rodas de negócio com o artesanato, promovidas pelo SEBRAE-MS,
envolvendo compradores e fornecedores, acontecem uma vez ao ano.
De acordo com os dados fornecidos pela então coordenadora de
artesanato do SEBRAE-MS, Anna Karolina, o ano de 2011 contou com 15
artesãos participantes e 11 compradores de outros estados. Foi negociado o
equivalente a R$ 68.000,00. Já em 2012, a roda teve a participação de 19
artesãos e de 14 compradores, havendo sido negociado o valor de R$
103.000,00, entre mercadorias entregues e mercadorias encomendadas. Esta
é a média de negociações das rodas atualmente, conforme a consultora do
SEBRAE Patrícia Caldas. Todo esse valor é repassado para os artesãos.
Nas lojas montadas durante a Copa do Mundo 2014, foram
comercializados R$ 30.000,00 dentro de Mato Grosso do Sul e fora do estado
foram vendidos mais R$ 30.000,00 em produtos, totalizando as vendas dos
artesãos sul-mato-grossenses em R$ 60.000,00, 16 artesãos estavam
participando desse projeto da Copa.
Conforme Gemima de Oliveira Moreira, coordenadora do departamento
de artesanato do SEBRAE, a condição para os artesãos participarem dos
projetos é que eles façam parte de associações, cooperativas ou empresas,
para ter um número maior de participantes. Depois da realização dos projetos é
feito um acompanhamento até que seja atingido o objetivo do programa, até
que o produto fique pronto para que seja colocado no mercado.
Ainda, segundo a coordenadora, não existe um tipo preferido de
artesanato que desperte um maior interesse do SEBRAE. Eles apostam
naqueles que mostrem a cultura, a tradição do estado e que já estejam em
prática, pois são desenvolvidos nas oficinas novos designs, aperfeiçoamentos
dos produtos, embalagens e precificação.
63
Muitos artesãos não querem participar do Programa SEBRAE de
Artesanato por terem resistência a mudanças, por não aceitarem alterar seu
modo de produção e nem divulgar o seu modo de fazer. Por isso o SEBRAE
tem dificuldades em diversificar o número de produtos, pois trabalha com uma
quantidade limitada de artesãos. Por exemplo, o número de inscritos no Projeto
Brasil Original foi de apenas 30 artesãos em todo Mato Grosso do Sul
conforme CALHEIROS (2008).
Assim a gama de expositores fica restrita, tendo em vista que no estado
tem mais de 5 mil artesãos22.
O grande desafio do SEBRAE, segundo Gemima de Oliveira Moreira, é
desenvolver novos produtos que atinjam o mercado.
Nas cidades brasileiras o artesanato envolve 8,5 milhões de pessoas em
suas cadeias produtivas, correspondentes a 28 bilhões de reais ao ano
(PELLEGRINI, 2011).
Os principais artesãos de Campo Grande (MS) que já receberam e que
ainda recebem cursos e capacitações ou algum tipo de auxílio do SEBRAE, de
acordo com Anna Karolina e Gemima, são:
1. Cláudia Castelão - Projeto Flor de Xaraés;
2. Indiana Marques - Projeto Bugras, Atelier Florada do Tagy;
3. Isabel Muxfeldt - Projeto Joias do Pantanal;
4. Monique Klein - Projeto Campo Grande a Tira Colo;
5. Silvia Stumpo - Projeto Proart.
6. Lucimar Maldonado - Projeto Fibra Morena;
Artesãos e projetos de outras cidades do Mato Grosso do Sul que
também já receberam auxílio do SEBRAE regional são:
1. David Ojeda - possui dois projetos: Amo Bio Design (em madeira
e osso); e Mãos à Obra (em osso) (Jardim);
2. Instituto Família Legal - Projeto Fibra Viva (Bonito);
3. Amor Peixe (Corumbá);
4. Arpeixe/ Couro de Peixe (Coxim);
5. Catarina - projeto Fibra (Corumbá);
6. Milagre da Fibra (Itaquiraí)
22
Conforme a Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul
64
7. Moinho Cultural (Corumbá);
Os artesãos que serão descritos nesta pesquisa serão: Cláudia
Castelão, Indiana Marques, Isabel Muxfeldt; Monique Klein, Silvia Stumpo,
David Ojeda e o Instituto Família Legal.
1. Cláudia Castelão
A artesã Cláudia Castelão é formada em Pedagogia, especialista em
Psicopedagogia, trabalhava com educação antes de começar a fazer
artesanato, em 2000.
Começou a fazer artesanato com a família e produzindo pequenas
quantidades de artesanato. Quando o negócio foi crescendo aderiu ao sistema
MEI (Microempreendedor Individual) e em seguida criou uma microempresa
com o Projeto Flor de Xaraés.
Os produtos de Cláudia Castelão são as flores de madeira. A matéria-
prima utilizada para produção é a madeira de reflorestamento e madeira
descartada.
Desenvolveu técnica e equipamento exclusivo, patenteado, de cuja
utilização ela guarda sigilo. Serve para laminar as folhas de madeira e torná-las
flexíveis ao ponto de imitar as pétalas de verdade.
Figura 1. Fotografia de flores em lâmina de madeira - artesã Cláudia Castelão.
Fonte: http://www.flordexaraes.com.br/. Acesso em: 7 dez. 2014.
Da mesma forma, criou algumas tonalizações com corantes para tingir
as pétalas.
65
Em entrevista para a equipe Ecoviagem, do site da UOL, em 13 de abril
de 2009, Cláudia diz que se “sentiu livre para exercer a criatividade para criar
flores de todos os tamanhos e cores, solitárias ou em arranjos”.
Para aprimorar sua produção e valorizá-la ainda mais, a artesã buscou
consultoria especializada com designers do SEBRAE para definir, por exemplo,
o design da embalagem e para tornar seu produto cada vez mais
ecologicamente correto.
A artesã destaca a importância de estar cercada de pessoas que
também primam pela sustentabilidade23. Por sua atuação sustentável foi
selecionada pela ONU para expor seus produtos dentro da própria sede da
organização em 2014.
Atualmente possui cinco colaboradoras que a ajudam desde a confecção
das montagens das flores até a venda dos produtos, além de contar com uma
rede de parceiros que trabalham em prol de seu projeto.
Utiliza ficha técnica para que eles desenvolvam o produto de acordo com
os pedidos. Por exemplo, há parceiros que fazem caixas em MDF para servir
de vaso para as flores, há parceiros que fazem base com osso, com chifre
bovino, com couro de peixe etc., há aromatizantes, arranjos de flores, porta
guardanapos, entre outros produtos.
Figura 2. Fotografia de flores em lâmina de madeira aplicadas em uma caixa
em madeira - artesã Cláudia Castelão.
23
Trabalha com madeira de reflorestamento.
66
Fonte: http://www.flordexaraes.com.br/. Acesso em: 7 dez. 2014.
Já fez diversos cursos no SEBRAE, como precificação, gestão, design e
capacitações.
Participa das rodas de negócio para aumentar sua carteira de clientes,
conta com consultoria, divulgação e apoio do SEBRAE e da Fundação de
Cultura para participar de exposições. Além de arcar com a divulgação da sua
empresa em exposições como a House & Gift Fair, maior feira profissional e
dirigida para artigos de casa e decoração da América Latina.
Depois de participar dos diversos cursos do SEBRAE e de sua primeira
roda de negócios, entende que passou a se profissionalizar cada vez mais,
para atender às encomendas, que também aumentaram.
Foi uma das vencedoras do prêmio Top 100 de 2008 e 2012 do
SEBRAE. Essa premiação ela considera um “divisor de águas” nos seus
negócios, devido à grande divulgação e reconhecimento do seu trabalho.
Percebeu, também, que seus rendimentos aumentaram significativamente a
partir de então.
A artesã já exportou suas peças para a Colômbia, a China e os Estados
Unidos. Vende sua produção para outros estados, como, por exemplo, Minas
Gerais, São Paulo, Bahia e Alagoas, como integrante do Programa Comércio
Brasil24, criado em 2005 pelo SEBRAE Nacional, destinado a viabilizar a
comercialização de produtos e serviços das micro e pequenas empresas junto
a representantes comerciais, distribuidores, lojas especializadas e outros
canais de comercialização em âmbito nacional.
Após análise dos relatos de Cláudia Castelão, observa-se que seu
trabalho pode ser considerado como artesanato induzido, conforme definição
24
“A Rede Nacional Comércio Brasil é um produto do Sistema SEBRAE, que busca, por meio da aproximação comercial entre MPE e novos canais de comercialização, facilitar o acesso, o relacionamento sustentável e o desenvolvimento das empresas atendidas. Por meio de uma rede de consultores especializados, denominados Agentes de Mercado, são identificadas novas oportunidades, disponibilizando mecanismos para abertura e expansão do acesso a mercados para as empresas participantes. São estabelecidas, por meio dessa importante ação, alianças e parcerias de negócios que contribuirão para a manutenção e/ou incremento do faturamento das MPE, como resultado das negociações dentro e fora do estado de origem”. (Cf. Portal oficial do SEBRAE, 2005). Disponível em: <http://www.comunidade.sebrae.com.br/ComercioBrasil/default.aspx>. Acesso em: 30 ago. 2014)
67
de ALVES (2012), por ela trabalhar com divisão de tarefas e produzir peças em
série e como artesanato “industrianato”, conforme definição do SEBRAE
(2010).
Definição que mistura um produto realizado de forma industrial com
aparência de artesanato, mas isso não condiz com que essa pesquisa entende
por artesanato, nem com o objetivo do Programa SEBRAE de Artesanato, que
é apoiar o artesanato, pois se é industrial ou manufatura, não é artesanato, se
existe divisão de tarefas, onde cada qual se responsabiliza por parte do
produto, não é artesanato e sim manufatura.
Se a base técnica do trabalho de Cláudia Castelão foi alterada com o
passar do tempo e induzida por Instituições apoiadoras para atender o
mercado, com a introdução de divisão de tarefas, seu produto final deixa de ser
artesanato.
O que não é um problema, mas sim uma solução para sobreviver nos
dias atuais, onde temos instaurado uma sociedade capitalista e consumista,
acostumada com produtos industrializados, de alta qualidade e muitas vezes
de menor preço, por serem feitos em grandes quantidades e ter alta
rotatividade.
A questão formada agora é a grande contradição que o Programa
SEBRAE de Artesanato está gerando, o que inicialmente era para desenvolver
mais artesãos, apoiar mais o artesanato, muitas vezes marginalizado por não
ser considerada uma atividade profissional, e dar oportunidades a pessoas que
não tinham condições de ter um trabalho, renda e que também viviam
marginalizadas perante a sociedade, passou a desenvolver peças que não são
mais artesanato, justamente por seguirem o Programa.
Ou seja, transformar a atividade do artesão em um negócio lucrativo,
onde, para isto, é necessário aumentar a produção, e isso só é possível se
houver a contratação de mais pessoas e dividir as tarefas, o que mudará a
base técnica de trabalho dos artesãos, transformando em manufatura.
Mas, se além de tudo isso ainda tiver auxílio de maquinário industrial o
produto será industrializado.
68
2. Indiana Marques
A artesã Indiana Marques se inspirou nas índias Terena, que circulam
pelas ruas da cidade de Campo Grande (MS) vendendo mandioca e legumes
em geral, para criar sua boneca de cerâmica Bugra. Ela exporta para a Europa
e vende em várias cidades do país, como:
São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador, Maceió,
Porto Alegre e Florianópolis – e cidades praianas de
intenso fluxo turístico. Lojas dos aeroportos dessas cidades
são os principais pontos de oferta dos produtos. Em Mato
Grosso do Sul, os dois principais polos de consumo são
Campo Grande e Bonito. Os pontos de venda são a Casa
do Artesão e uma loja particular de produtos artesanais, na
Capital, e outra loja particular em Bonito. Os números do
consumo evidenciam como o desenvolvimento do
artesanato está estreitamento associado ao fluxo turístico
(ALVES, 2012, p. 48).
Em entrevista para o diário O Estado, em 19 de março de 2011, contou
que começou a trabalhar com fibras naturais fazendo flores por muitos anos.
Depois, por meio de viagens de negócios com o SEBRAE, percebeu que em
outros estados havia bonecas que representavam a cultura de cada local,
como em Pernambuco e em Minas Gerais.
Foi, então, que durante uma viagem ela pensou em fazer uma boneca
representando Mato Grosso do Sul.
A minha primeira ideia foi fazer uma boneca pantaneira. Só
que visualmente, eu tinha que fazer uma boneca e a inserir
no cenário nacional representando a região, mas ao
mesmo tempo ela tinha de ficar bonita e harmônica para
pôr no ambiente. Eu queria que as pessoas
reconhecessem meu trabalho e queria que o trabalho
vendesse (MARQUES apud O ESTADO, 2011).
69
Como as vendas foram crescendo, Indiana deixou de fazer todo o
processo de produção das bonecas e passou a contar com parceiros que
fazem os detalhes para colocar na boneca, além de se ocupar
[...] diretamente com o treinamento de seus auxiliares.
Basicamente, as operações do processo de trabalho se
distribuem entre a modelagem das peças, a pintura e a
queima no forno elétrico. Hoje o ateliê conta com um
modelador e dois pintores. Indiana transita por todas as
etapas e as domina plenamente (ALVES, 2012, p. 48).
Figura 3. Fotografia da artesã Indiana Marques e o artesanato em barro do seu
Projeto Bugras.
Fonte: http://www.revistaporanduba.com.br/artesanato/artesao-e-aquele-que-
vive-da-arte/. Acesso em: 7 dez. 2014.
Ela participa de exposições, rodas de negócio e feiras do SEBRAE.
Indiana acredita que o SEBRAE fomentou o artesanato sul-mato-
grossense, valorizando a matéria-prima encontrada na região, realizando
oficinas, rodadas e parcerias com os artesãos.
Conforme análise do seu trabalho, seu artesanato com o passar do
tempo se transformou em trabalho manufatureiro25. Destaca Alves:
25
“Por não romper com a base técnica do artesanato, nas manufaturas os trabalhadores ainda manipulavam os instrumentos de trabalho. Mas, desde então, sobretudo com a consolidação da sociedade capitalista, a divisão do trabalho só iria se aprofundar de forma a especializá-los cada vez mais” (Cf. ALVES, 2012).
70
Indiana Marques é exemplo de artesão que aderiu
criticamente à ideologia do empreendedorismo e ao
pressuposto de que artesanato é negócio26. Por sua
liderança entre os novos artesãos, além do sucesso
profissional de que é credora, tornou-se, ela própria, um
elemento difusor dessa nova visão e agente ativo da
transformação do artesanato em Mato Grosso do Sul
(ALVES, 2012, p. 45).
Mesmo adequando sua produção as exigências do mercado, aos
grandes números de encomendas de suas peças, Indiana Marques continua
sendo uma grande artesã que tem domínio total na produção de suas bonecas,
as quais por muitas vezes ainda produz de forma integral.
Seu trabalho foi levado a introduzir a divisão de tarefas pelo mercado e
Instituições como SEBRAE, transformou sua base técnica com essas
mudanças, então, conforme definição de ALVES (2012), seu artesanato pode
ser considerado artesanato induzido.
E pode ser classificado como artesanato de referência cultural27,
conforme definição do SEBRAE (2010), pois suas bonecas representam duas
grandes etnias indígenas sul-mato-grossenses, os Terena e os Kadiwéu. E elas
são confeccionadas muitas vezes com cestos de legumes no alto de suas
cabeças, e isso já faz parte da tradição da região.
3. Isabel Muxfeldt
A artesã Isabel Doering Muxfeldt é formada em Economia Doméstica e
em Artes Práticas, pós-graduada em Artesanato Empreendedor.
26
Questionadas sobre o que seria artesanato, algumas personalidades sul-mato-grossenses tiveram suas ideias estampadas num exemplar da revista do Conselho Municipal de Cultura de Campo Grande, MS. As de Indiana Marques, uma dessas personalidades, foram concisas e claras: “Artesanato é negócio. Vencer é a nossa meta.” (CoMCultura, 2005, p. 11) 27
O artesanato de referência cultural pode ser conceituado como produto cuja característica incorpora elementos culturais tradicionais da região onde são produzidos. “São, em geral, resultantes de uma intervenção planejada de artistas e designers, em parceria com os artesãos, com o objetivo de diversificar os produtos, porém preservando seus traços culturais mais representativos” (Cf. SEBRAE, 2010).
71
Desenvolve seu trabalho com chifres de boi desde 2002. Montou uma
microempresa chamada Joias do Pantanal, juntamente com uma sócia
(Verhuska Tameiros).
A artesã aproveitou que o estado do Mato Grosso do Sul é um grande
criador de gado28 e da tradição dos peões em tocar berrantes e tomar tereré29.
Utilizam chifres para suas práticas e fazem o trançado pantaneiro em cordas
para usar em cavalos durante o manejo e em couros para fazer chicotes.
Resolveu buscar nessas práticas sua inspiração para criar peças como colares,
brincos, chaveiros, cintos, acessórios etc.
Trabalha com seis artesãos parceiros, cada um em seu atelier em suas
residências. Eles são geralmente homens que lidam com o chifre do boi e
conseguem o material em frigoríficos para realizar este trabalho. Utilizam
máquinas e equipamentos de marcenaria e fazem toda a lapidação das peças
sem utilizar produtos químicos, conforme solicitado por Isabel e desenhado por
Verhuska.
Figura 4. Fotografia de um colar com chifre de boi lapidado do Projeto Joias do
Pantanal.
Fonte: IZABEL DOERING MUXFELDT, 2014.
Uma ficha técnica é enviada aos artesãos com todo detalhamento da
peça a ser confeccionada.
Os fios que envolvem o chifre são comprados prontos em São Paulo.
28
O estado de Mato Grosso do Sul possui 21,49 milhões de cabeças de gado, sendo considerado o segundo maior rebanho de corte do país (IBGE, 2012). 29
Bebida que se toma gelada, assemelha-se a chá gelado.
72
Isabel faz o trabalho do trançado pantaneiro, que ela aprendeu com os
peões de comitivas das fazendas do Pantanal, nos fios que irão envolver os
chifres já trabalhados e, assim, finaliza a montagem das peças.
Figura 5. Fotografia de um cinto com chifre de boi lapidado e fios com o
trançado pantaneiro do Projeto Joias do Pantanal.
Fonte: IZABEL DOERING MUXFELDT, 2014.
Isabel já realizou os mais variados cursos no SEBRAE, como o
Empretec30 em 2000, técnica de vendas, preços de venda, comércio justo,
oficinas com designers, entre outros.
Ficou incubada na Incubadora31 de Empresas INTERP, da Universidade
Anhanguera Uniderp e hoje a tem como uma grande parceira, juntamente com
a Fundação Manoel de Barros.
Foi por meio das oficinas do SEBRAE que ela pôde aprender algumas
técnicas que não conhecia, como, por exemplo, o nó nos fios para dar o
acabamento nos seus colares, além de aprimorar outras já conhecidas.
30
Empretec é um seminário que utiliza de ferramentas de capacitação empresarial disponíveis
no Brasil. Tem por objetivo formar e desenvolver capacidades empreendedoras. 31
Uma incubadora é uma entidade que tem por objetivo oferecer suporte a empreendedores
para que eles possam desenvolver ideias inovadoras e transformá-las em empreendimentos de sucesso. Para isso, oferece infraestrutura, capacitação e suporte gerencial, orientando os empreendedores sobre aspectos administrativos, comerciais, financeiros e jurídicos, entre outras questões essenciais ao desenvolvimento de uma empresa. (Cf. portal da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores – ANPROTEC) Disponível em: <http://anprotec.org.br>. Acesso em: 2 dez. 2014.
73
Considera de fundamental importância a influência do SEBRAE na sua
vida, pois mediante os cursos conseguiu profissionalizar seu negócio e torná-lo
rentável, aumentando em 50% sua renda, a qual prefere manter discrição.
Também, aumentou a renda familiar de seus parceiros, transformando
suas peças em algo mais sofisticado e bem acabado, seguindo a tendência do
mercado. O mercado é seu “termômetro”. Considera suas peças únicas e
exclusivas, pois depende muito da tonalização dos chifres bovinos.
Já expôs suas peças em diversos lugares, como no Projeto Morar Mais
por Menos, Shopping Centers e exportou para Portugal, Estados Unidos,
Espanha e Suíça por meio do serviço dos Correios Exporta Fácil32.
Ela é uma das vencedoras do prêmio Top 100 de 2012.
Seu trabalho pode ser considerado como artesanato de referência
cultural, de acordo com a definição do SEBRAE (2010), por utilizar os
trançados pantaneiros, prática adquirida dos peões e vaqueiros do Pantanal, e
o chifre bovino (a levar-se em conta de que Mato Grosso do Sul é o segundo
maior criador de gado do Brasil).
Em contrapartida, artesanato induzido, segundo definição de ALVES
(2012), por ter havido uma indução de instituições a aumentar a sua produção
e, com isso, deixou de existir o artesanato espontâneo, para se utilizar de
divisão de tarefas para aumentar e profissionalizar sua produção.
A artesã que se especializou em Universidade para fazer um produto de
alta qualidade, para atender tanto o mercado nacional quanto o internacional
vislumbrou seu trabalho com meio de sobrevivência e se encaixou
perfeitamente ao que o Programa SEBRAE de Artesanato propõe que é
transformar o “artesanato” em um negócio lucrativo.
4. Monique Klein
Monique Klein é formada em jornalismo, especialista em imagem e som
e em educação ambiental.
32
“É a solução dos Correios que atende às necessidades comerciais das empresas e pessoas físicas que querem exportar seus produtos”. Disponível em: <http://www.correios.com.br/para-sua-empresa/exportacao-e-importacao>. Acesso em 2 dez. 2014.
74
Após trabalhar muitos anos como jornalista se encantou com atividades
que envolvem o meio ambiente quando fez suas pós-graduações.
Durante a sua primeira especialização (imagem e som) começou a ter
um novo olhar em relação a tudo segundo seu relato, principalmente no tocante
ao meio ambiente e aos resíduos que poderiam ser reciclados.
Paralelamente, começou fazendo bonecas de pano em 2002 e vendia
em feiras, mas nada muito expressivo em relação a vendas e retorno
financeiro.
Depois passou fazer bolsas de pano customizadas e continuou a vender
em feiras.
Isso a levou a abrir seu ateliê após a conclusão do curso de pós-
graduação e investir mais na área da sustentabilidade, com produtos que antes
eram jogados fora por empresas, convenções, exposições, feiras e que
passaram a ser reaproveitados em seu ateliê para fazer suas bolsas e
chapéus.
Mas ainda não se tratava de uma produção profissionalizada.
Foi então que resolveu montar uma empresa que de alguma forma
levasse esse ensinamento as pessoas, a empresa Campo Grande a Tiracolo, e
com ela desenvolve há dez anos ações na área de sustentabilidade33.
Em 2010 ficou incubada na Incubadora Municipal Zé Pereira e passou a
revender bolsas de terceiros em feiras, além das suas próprias. Foi quando
passou a ter acesso aos malotes de correio usados, feitos de lona, e passou a
criar novos modelos de bolsas e desenvolver técnicas de higienização das
lonas.
Nela, são produzidas sacolas retornáveis, bolsas e mochilas feitas de
lonas de caminhão, malotes de empresa de entregas e materiais publicitários
reciclados, que ela resgata após o término dos eventos.
Para isso, ela buscou cursos e oficinas do SEBRAE, que influenciaram
na sua produção, no design das bolsas, na gestão, precificação, entre outros.
A partir de então, ela se considerou uma profissional preparada para
encarar o mercado.
33
Recicla resíduos de empresas.
75
Figura 6. Fotografia de uma bolsa feita em lona reciclada da artesã Monique
Klein.
Fonte: MONIQUE KLEIN, 2014.
Com ajuda de um designer do SEBRAE e de pesquisas de cores, moda,
tendências de mercado, passou a produzir as bolsas que passaram a ter
grande venda e visibilidade no mercado, e mediante feiras de negócios, como a
Craft Design em São Paulo, recebe muitas encomendas por diversas cidades
do Brasil.
Para atender aos pedidos, a artesã conta com duas colaboradoras
costureiras e duas costureiras parceiras, que confeccionam as bolsas. Os
detalhes são costurados pela própria Monique. O pagamento é realizado por
diárias às profissionais.
A confecção das bolsas é em série, mudam conforme a tendência do
mercado e o material arrecadado.
A proprietária da empresa, em entrevista ao SEBRAE, destaca a chance
de divulgar o trabalho para pessoas de outros países “é uma conquista e um
incentivo para dar continuidade ao projeto”. Seus produtos foram
comercializados durante a Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, que ocorreu no Rio de Janeiro em 2012,
e recentemente os expôs no Ecolution, desfile organizado pela Casa Moda, em
Nova Iorque (BOLETIM SEBRAE, 2014).
76
Faz parte do Projeto Brasil Original34 do SEBRAE e por meio dele levou
suas peças para diversas cidades, como, por exemplo, Salvador, Brasília, São
Paulo, Fortaleza.
Por ela estar sempre inovando seus produtos, acompanhando
tendências de mercado, seu trabalho pode ser considerado como artesanato
conceitual35, conforme definição do SEBRAE (2010) e artesanato induzido,
conforme definição de ALVES (2012).
Da mesma forma que as outras artesãs relatadas, Monique Klein se
adaptou ao mercado e realizou mudanças na sua base técnica de trabalho,
introduzindo outras pessoas na confecção de suas bolsas através da divisão de
tarefas, transformando seu trabalho artesanal em manufatura, pois para
atender a quantidade de pedidos teve que aumentar e profissionalizar sua
produção com os cursos oferecidos pelo Programa do SEBRAE.
5. Silvia Stumpo
A artesã Silvia Stumpo é formada em Belas Artes, foi professora
universitária e começou a fazer artesanato em 1995.
Em 1996 passou a aproveitar os vidros encontrados no lixo, montou um
Projeto “Tirando o Vidro do Lixo”, com o intuito de realizar palestras em
empresas sobre o tema, e com ele, Silvia ganhou o prêmio Top 100 de
Artesanato do SEBRAE em 2012.
Ela produz, com os restos de vidros, bijuterias, luminárias, abajures,
enfeites para mesas, para a parede, cinzeiros, etc., além fazer vitrais com outro
tipo de vidro.
34
O projeto tem como meta aproveitar a enorme visibilidade que o país ganhará nos próximos anos com a realização dos grandes eventos esportivos como a Copa das Federações, a Copa do Mundo da FIFA 2014 e para os Jogos Olímpicos em 2016. “O projeto não se limita à venda de peças, mas também promove a nossa cultura por meio do que é produzido pelos nossos artesãos em todas as regiões”, afirma o coordenador nacional da carteira de artesanato do Sebrae, Maurício Tedeschi. Uma das novidades desse projeto é um sistema de curadoria formado por representantes do SEBRAE, designers, decoradores, entre outros profissionais. Eles irão escolher as peças que serão comercializadas em showrooms, seguindo critérios estabelecidos em um manual que será elaborado pela instituição para ser utilizado nacionalmente. Outra inovação desse modelo é que esses espaços de comercialização serão administrados por empresas do mercado, para estabelecer uma forma mais profissional de exposição e vendas. (NOTÍCIAS SEBRAE, 2014) 35
O artesanato conceitual diz respeito a “objetos produzidos a partir de um projeto deliberado de afirmação de um estilo de vida ou afinidade cultural”, tendo como característica a inovação (SEBRAE, 2010).
77
Figura 7. Vitral da artesã Silvia Stumpo.
Fonte: SILVIA STUMPO, 2014.
Trabalha sozinha e segundo reportagem do diário Correio do Estado, de
24 de agosto de 2014, no processo de confecção de suas peças, “antes de
levar o vidro ao forno, Silvia esculpe as formas em pedaços de concreto celular
(um tipo de concreto mais leve), que é resistente ao fogo”. Mas o trabalho não
termina por aí. Ela “coloca as formas e o vidro no forno, ligado a 800 graus.
Após um dia inteiro funcionando, o forno é desligado e são necessárias mais
30 horas para que possa ser desaquecido e aberto”. Como equipamentos
utiliza um forno, alicates e cortador de vidro.
Silvia importa boa parte de sua matéria-prima, os vidros, geralmente, do
Texas nos Estados Unidos, pelo fato dela ter encontrado grande variedade de
vidros e resistência deles.
Os vidros descartados no Brasil, segundo a artesã, não são
aproveitáveis para sua técnica, por não terem muitas opções de cores,
texturas, resistência, etc.
Isso encarece muito seu produto, pois ela paga tarifa de importação
muito alta, que depende do peso do produto e como os vidros requerem uma
embalagem especial de madeira fica mais pesado ainda.
Realiza pinturas de Picasso, Van Gogh, Lautrec e Escher nas suas
produções, pinturas que penetram no vidro durante o aquecimento.
78
Figura 8. Jogo de pratos em vidros reciclados, confeccionado e pintado pela
artesã Silvia Stumpo.
Fonte: SILVIA STUMPO, 2014.
Já participou de oficinas do SEBRAE com designers, análise de
mercado, mas, Silvia afirma, não alterou o seu trabalho. O seu processo
produtivo continua sendo o mesmo, pois ela chegou à conclusão que por si só
descobre novas maneiras de inovar seu trabalho, que depende muito da
matéria-prima encontrada e de sua criatividade e influências de sua formação.
Apesar dos incentivos de aumento de produção, ela considera seu
trabalho uma arte e quer preservar dessa forma, conceituando seu trabalho
como artesanato original.
Com relação aos cursos de gestão e precificação do SEBRAE ela não
participou, pois recebeu auxílio do marido, que é um expertise no assunto.
Participa sempre das rodadas, exposições e feiras do SEBRAE, pois,
assim, consegue divulgar seu trabalho e ter oportunidade de vender mais
mediante encomendas solicitadas. Suas peças já foram expostas em Natal,
Recife, Brasília, Salvador e Corumbá, com auxílio do Projeto Brasil Original,
desenvolvido pelo SEBRAE.
Por meio dessa iniciativa, técnicos do SEBRAE auxiliaram artesãos a
criar e comercializar produtos diferenciados nas cidades sedes dos jogos da
Copa 2014.
79
Por não possuir empregados e parceiros, aderiu ao sistema MEI
(Microempreendedor Individual) para obter os benefícios36 propostos.
Seu trabalho pode ser conceituado como artesanato37, de acordo com a
definição do SEBRAE e artesanato espontâneo38, conforme definição de
ALVES (2012).
Apesar dos atrativos e induções para ampliação de sua produção,
contratação de pessoas para dividir as tarefas, da possibilidade de aumento de
rentabilidade, Silvia permaneceu fiel às suas convicções de fazer artesanato,
de forma que lhe dá prazer e continua realizando todo processo de produção
do início ao fim, com ferramentas rudimentares.
Então seu modo de trabalho não foi alterado, ela não sucumbiu à
tentação de aumento de renda, mesmo que o mercado a levasse a isso.
Mas, ela aproveitou os benefícios oferecidos pelo Programa SEBRAE de
Artesanato, diferenciando-se das outras artesãs até agora descrevidas, pois
sua paixão em fazer e colocar em prática toda sua formação artística é muito
maior que aumentar sua renda.
Portanto, segundo a nomenclatura do Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior Brasileiro, Portaria nº 29, de 5 de outubro de
2010, a produção analisada se enquadra no Art.4, que define o que é
artesanato.
Art. 4º ARTESANATO - Artesanato compreende toda a
produção resultante da transformação de matérias-primas,
com predominância manual, por indivíduo que detenha o
domínio integral de uma ou mais técnicas, aliando 36
Cobertura previdenciária; contratação de um funcionário com menor custo; isenção de taxas para o registro da empresa; ausência de burocracia; acesso a serviços bancários, inclusive crédito; compras e vendas em conjunto; redução da carga tributária; controles muito simplificados; emissão de alvará pela internet; facilidade para vender para o governo; serviços gratuitos; apoio técnico do SEBRAE na organização do negócio; possibilidade de crescimento como empreendedor; segurança jurídica. (Cf. Portal do Empreendedor) Disponível em: <http://www.portaldoempreendedor.gov.br/mei-microempreendedor-individual/beneficios>. Acesso em: 2 dez. 2014. 37
Que segue o conceito proposto pelo Conselho Mundial do Artesanato. 38
“O artesanato espontâneo é produzido individualmente por pessoas simples, que, no passado, exerceram atividades econômicas que lhes permitiram ter certo domínio teórico-prático compatível ao que, no futuro, se caracterizaria como artesanato de peças ornamentais”. (Cf. ALVES, 2012)
80
criatividade, habilidade e valor cultural (possui valor
simbólico e identidade cultural), podendo no processo de
sua atividade ocorrer o auxílio limitado de máquinas,
ferramentas, artefatos e utensílios.
6. David Ojeda
David Ojeda trabalha com osso de gado no projeto Mãos à Obra. O
projeto começou em 2002 com um curso de capacitação. Em fevereiro de 2003
foi implantada uma oficina mantida pela Gerência de Assistência Social de
Jardim (MS).
Conforme ESTRELLA (2014), “esse projeto foi incentivado na Gestão do
Prefeito da época, com o apoio do Programa de Desenvolvimento Local,
Integrado e Sustentável (PDLIS) e do SEBRAE”. O artesanato é feito com
reciclagem de ossos bovinos, couro e restos de madeira, focada na criação de
renda sustentável para a população mais carente. David ganhou com o projeto
o prêmio Top 100 do SEBRAE no ano de 2006.
As oficinas tiveram como foco a limpeza e a preparação do osso, além
de inserir elementos típicos da região no design do produto, tais como imagens
de flores e animais: tucano, arara, jacaré, onça pintada e peixes.
Figura 9. Peças em osso de bovino com icnografia regional do artesão David
Ojeda.
81
Fonte: http://www.pantanalbrasil.com/page.aspx. Acesso em: 7 dez. 2014.
O projeto possui oito mulheres atuando na confecção das peças, possui
um tanque de lavar roupas, usado para lavar os ossos, dois fogões a lenha
onde os ossos são levados à fervura por várias horas, juntamente com
procedimentos químicos, até que fiquem brancos. O projeto disponibiliza uma
serra elétrica para serrar os ossos nas medidas necessárias a cada peça.
Dispõe, também, de um “Dremel”, máquina que permite o trabalho em alto
relevo nos ossos.
Utilizam na confecção das peças, máquinas de uso
odontológico, as quais são adaptadas para possibilitar a
troca de várias brocas, durante a execução dos desenhos
nos ossos. Dispõe de três esmeris, que são utilizados para
tirar lâminas dos ossos, nas quais, posteriormente, são
feitos os desenhos (ESTRELLA, 2014).
A renda das mulheres varia entre R$ 700,00 a R$ 1.200,00 e elas
trabalham com divisão de tarefas, conforme ESTRELLA (2014).
Através dos relatos, o trabalho de David Ojeda pode ser considerado
como artesanato de referência cultural, tendo em vista a lapidação dos ossos
em forma de desenhos de flores e animais da região, de acordo com a
definição do SEBRAE.
E, artesanato induzido, pois o artesanato original de David foi induzido a
uma transformação do seu processo produtivo, conforme definição de ALVES
(2012).
David Ojeda é um artesão que se inseriu ao sistema capitalista e se
integrou perfeitamente ao Programa SEBRAE de Artesanato, pois se adaptou
ao mercado, transformou sua produção em um negócio mais rentável,
contratou trabalhadoras para aumentar sua produção e, com isso, proporciona
trabalho e renda para elas com seu Projeto.
82
Estabeleceu a divisão de tarefas para dar maior agilidade a produção,
transformando sua base técnica de trabalho, por isso, seu trabalho
transformou-se em manufatura.
7. Instituto Família Legal
O Instituto Família Legal de Bonito (MS), conforme a artesã Ana,
entrevistada em janeiro de 2013, desenvolve o artesanato de bolsas desde
2007. No início contaram com o patrocínio da Petrobrás.
Fazem bolsas com material reciclável das lonas dos malotes dos
correios, do couro, da argola, dos restos de tecidos das lojas.
Segundo Margô, administradora do Instituto, elas têm, entre outros,
programa de sustentabilidade às mulheres de famílias carentes que
confeccionam as bolsas.
Considera o trabalho delas artesanal, pois o desenvolvimento de cada
peça é único. Elas revendem seus produtos em São Paulo, já expuseram seus
produtos em Brasília e Rio de Janeiro, além de no comércio local.
Figura 10. Fotografia de fachada do Instituto Família Legal em Bonito (MS)
Fonte: http://www.familialegal.org.br/ . Acesso em: 7 dez. 2014.
A renda das mulheres varia de R$ 600,00 a R$ 1.300,00. Setenta por
cento dos lucros ficam para o próprio instituto, valor revertido para a compra de
material e para outros projetos paralelos, que irão beneficiar outras famílias.
83
Figura 11. Missão do Instituto Família Legal em Bonito (MS)
Fonte: RENATA DALPIAZ, 2013.
Figura 12. Fotografia de bolsas confeccionadas com material reciclado do
Projeto Fibra Viva, do Instituto Família Legal.
Fonte: RENATA DALPIAZ, 2013.
É um trabalho importante para região, pois as famílias que fazem parte
do instituto são famílias carentes que não têm boas perspectivas futuras. O
instituto oferece uma opção de trabalho e creche para os filhos das famílias
que o integram.
O SEBRAE é parceiro do instituto e o convida sempre para as rodas de
negócio. Em 2011, o SEBRAE enviou um estilista de São Paulo para prestar
84
consultoria e ficar uma semana no instituto, desenvolvendo os produtos sem
custo nenhum, com novas ideias, novos designs para a confecção das bolsas,
tornando o produto mais comercializável.
O processo de produção é realizado seguindo tendências do mercado e
designer do SEBRAE.
Seu trabalho pode ser considerado como artesanato conceitual,
conforme definição do SEBRAE (2010), pois segue tendências do mercado e
não usa matéria-prima tradicional, que reflita a cultura do estado. E artesanato
induzido, conforme definição de ALVES (2012).
Apesar de ser um artesanato induzido por Instituições apoiadoras e
seguir o mercado, o Instituto se diferencia das outras análises por dar
oportunidade para diversas artesãs, onde a produção das bolsas é feita de
forma individual e integral por cada uma delas, então, nesse caso em especial,
o artesanato permanece sendo realizado de forma tradicional e o aumento da
produção não é conquistado pela divisão de tarefas e sim pela associação de
novas artesãs.
Conforme o Boletim SEBRAE (2014, p.6) algumas ações que os
designers propõem nas oficinas e nos cursos em associações para os artesãos
que podem ser utilizadas na comercialização dos produtos são:
• pesquisar oferta e demanda de artesanato;
• resgatar técnicas e processos artesanais e o
artesanato regional;
• adequar produtos existentes ao mercado;
• definir embalagem para venda no varejo;
• definir embalagem para venda no atacado;
• definir embalagem para transporte;
• definir linhas de produtos;
• projetar e produzir catálogos de produtos;
• projetar e produzir material de divulgação.
No entanto, a introdução dessas mudanças no produto final podem
ocorrer por inovações que podem ser classificadas pela própria criação do
produto ou de toda coleção, pela matéria-prima, por substituição que possa
85
apresentar escassez ou abundância, pela ferramenta trocada por instrumentos
de trabalho mais eficazes, por técnicas que possam facilitar o trabalho, que
utilizem somente o fazer manual, com suas deficiências e diferenças, por
mudanças de técnicas ou de processos mais produtivos, pelo formato, por
alteração da aparência e da função, pela divulgação, no modo de apresentar
comercialmente os produtos (Boletim SEBRAE, 2014).
Como identifica CANCLINI (1983), o artesanato tem que fazer parte e
acompanhar as mudanças instituídas pelo capitalismo, mas, com isso,
[...] vem a necessidade de homogeneizar, e ao mesmo
tempo manter a atração do exótico dilui a especificidade de
cada povo dissolução do étnico no nacional. A rigor, trata-
se de uma redução do étnico ao típico. Porque a cultura
nacional não pode ser reconhecida, tal como é, por um
turista, se mostrada como um todo compacto,
indiferenciado, se não expressa como vivem os grupos que
a compõem [...] (CANCLINI, 1983, p. 45)
O designer pode interferir no trabalho do artesão, sem descaracterizá-lo,
pois o artesanato é um trabalho diferenciado e valorizado justamente por
representar a cultura da região, a tradição e a habilidade manual do artesão.
Alguns desses artesãos pesquisados fizeram parte do Projeto Brasil
Original do SEBRAE, que teve ao todo 30 inscritos39, por meio de suas ações
receberam capacitações, consultorias e acesso ao mercado nacional. Os
participantes são artesãos, associações e empresas envolvidos com o
Programa SEBRAE de Artesanato. Entre eles estão alguns dos entrevistados
anteriormente.
39
Segundo Gemima de Oliveira, coordenadora do Programa SEBRAE de Artesanato/MS, são: Ana Elizabete Martines; Antônia Maria Wormesbeker; Arte em cana; Artesanatos Amor Ltda./ME; Assentamento Magarida Alves; Associação de Mulheres de Dourados "Força Feminina"; Associação de Mulheres Organizadas Organizando e Reciclando Peixes; Associação Milagre da Fibra; Beatriz de Fátima Soares; Célia Ferreira Vasconcelos Oliveira & Cia. Ltda.; Flor de Xaraés; Ateliê Toca dos Bichos; Elizete Barros Vieira; Isabel Lissaraça Espindola Sandim; Jane Clara Arguello Martins Dias; Joias do Pantanal; Jose Nilton Moreira Gomes; Ateliê Ihaycoti; Lorna Nantes D´Avila; Luciana Brisola; Lucimar Maldonado Silva - ME; Silvia Stump; Marcos Ortiz; Maria Aparecida Prado; Campo Grande Tiracolo; Núcleo de Produção Desafiando Ponto; Núcleo de Produção Ponto que Une; Rozeles Nogueira Moyses Viegas; Ruth Conceição da Silva Lima; Vera Ruth Gomes.
86
Como essa pesquisa não tem a intenção de analisar todos os casos de
artesãos envolvidos com o SEBRAE limitou-se a entrevistar aqueles
enumerados como os principais destaques pela própria instituição, aqueles que
têm maior relevância regional.
Depois de todas as conclusões sobre o modo de produção, classificação
que envolve as categorias do artesanato segundo o Programa SEBRAE de
Artesanato (2010), Alves (2012), Portaria Ministerial nº 29 (2010), Conselho
Mundial do Artesanato, das peças artesanais dos diversos entrevistados, pode-
se dizer, também, que a maioria deles foi absorvida pelo sistema econômico
capitalista, instituindo a mudança da base técnica de trabalho com a introdução
da divisão de tarefas e a contratação de pessoas para realizar o trabalho que
deveria ser feito de forma integral pelo artesão.
Contrariando o que o Programa SEBRAE de Artesanato propõe
inicialmente, que é proporcionar apoio ao artesanato, no entanto, o que se
pode perceber é que as peças artesanais não estão sendo mais
confeccionadas integralmente de forma artesanal, ou seja, o artesanato está
deixando de ser artesanato.
No entanto, não deixaram de ser artesãos, pois eles têm a expertise de
realizarem sozinhos, manualmente as suas peças, como é identificado e
conceituado pelo Art. 4 da Portaria nº 29, de 5 de outubro de 2010, do
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Brasileiro, razão
pela qual ALVES (2012) tratou de artesanato induzido em sua pesquisa, ou
seja, artesãos inicialmente elaboradores de peças artesanais de forma e
domínio integral, mas após a interferência indutora de Instituições como o
SEBRAE passaram a confeccionar suas peças de forma parcial, por terem
introduzido em sua produção a divisão de tarefas.
Outro objetivo do Programa que não é atendido é aquele de tirar
pessoas da miséria, das ruas, do desemprego, o que não se encaixa a estes
artesãos, ao perfil dos entrevistados, que em sua maioria já tinham uma
profissão, uma colocação no mercado, mas viram no Programa uma
oportunidade para terem seu próprio negócio.
Existem várias peculiaridades entre os entrevistados, o artesanato que
se transformou em manufatura, o trabalho apoiado em sustentabilidade, o uso
87
de matéria-prima reciclável, a maioria possuía outra profissão e se encaixou no
sistema capitalista.
E, apesar de parecer discrepante uma produção adaptada à sociedade
capitalista conseguir trabalhar com sustentabilidade, através das visitas in loco,
pode ser comprovado que realmente os artesãos primam pela preservação
ambiental ao reutilizar as matérias-primas.
Logo, o predominante, o universal aos artesãos é inseparável ao que é
singular em cada produção, que são seus próprios meios, peças e técnicas de
trabalho.
Conclusão
As experiências induzidas pelo SEBRAE com os artesãos sul-mato-
grossenses entrevistados foram profícuas, pois o Programa SEBRAE de
Artesanato impactou positivamente suas vidas, segundo relato dos mesmos,
tendo em vista o aumento da comercialização dos produtos, o crescimento dos
seus negócios desde a interferência do SEBRAE, com as rodas de negócio,
exposições, cursos, capacitações e oficinas. Como por exemplo, oficinas de
designs, cursos de gestão, precificação, técnicas de vendas, ampliando sua
produção, consequentemente, incluindo outros artesãos a participarem do
processo produtivo, aumentando a renda de todos os envolvidos,
principalmente dos artesãos destacados pelo SEBRAE, que estão localizados
nas regiões de Campo Grande, Corumbá, Jardim, Bonito, Coxim e Itaquiraí.
Com relação ao processo produtivo pôde ser observado que algumas
mudanças ocorreram, pois o processo deixou de ser uma simples produção de
objetos por lazer, para se tornar uma produção voltada para atender o
mercado, onde o modo de produção capitalista se estabelece, com a formação
de empresas, contratação de empregados, divisão de tarefas. Ou seja, há a
agregação de valor em cada etapa que se diferencia, revelando que a
produção é para gerar cada vez mais lucro. São reafirmados os conceitos
capitalistas, as tendências mercadológicas, até mesmo por questão de
sobrevivência dos artesãos e familiares.
Ao mesmo tempo, induzindo os artesãos a transformarem suas
produções para atender as tendências do mercado e não mais como tradição
88
de um povo que exprime sua cultura, como o SEBRAE conceitua o artesanato
“tradicional”, ou como ALVES (2012) conceitua o artesanato espontâneo, que é
a produção individual, por pessoas que, “no passado, exerceram atividades
econômicas que lhes permitiram ter certo domínio teórico-prático compatível ao
que, no futuro, se caracterizaria como artesanato de peças ornamentais”,
levando muitos artesãos a produzir o artesanato conceitual, o artesanato de
referência cultural, o “industrianato”, conforme SEBRAE (2010), o artesanato
induzido, conforme ALVES (2012).
Os artesãos que antes trabalhavam como autônomos passaram a
constituir empresas, como Microempreendedor Individual (MEI) e
microempresas, para poder receber benefícios como aposentadoria, auxílio-
doença e salário-maternidade e, assim, vender seus produtos para empresas e
fornecê-los para o governo, abrir conta bancária jurídica, pegar empréstimos
em condições especiais e com mais facilidades, além de poder ter auxílio do
próprio SEBRAE.
Desse modo, muitos são os atrativos para os artesãos mudarem sua
concepção original do artesanato para outra forma de fazer e de produzir suas
peças. Isso, aliás, não é um problema, pois, o artesanato tem que fazer parte e
acompanhar as mudanças instituídas pelo capitalismo, mas, com isso, as
peças são mais padronizadas e a referência cultural de um povo acaba se
dissolvendo, não expressando mais a vida das pessoas que as produzem.
E, assim, o artesanato vai se descaracterizando e, isso, contradiz os
objetivos do Programa SEBRAE de Artesanato.
Agradecimentos
Ao Dr. Gilberto Luiz Alves, por suas orientações.
À Universidade Anhanguera Uniderp.
Ao Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) de
Mato Grosso do Sul.
A todos os artesãos que colaboraram com informações para realização desta
pesquisa.
E a todos os que direta ou indiretamente colaboraram com a elaboração deste
trabalho.
89
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repensando a questão da qualificação profissional. Revista HISTEDBR On
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Entrevistas
Entrevista com a artesã Ana e a administradora Margô, do Instituto Família
Legal, realizada em 11.01.2013, às 16h, no Instituto Família Legal, em Bonito
(MS).
92
Entrevista com Anna Karolina Monteiro, coordenadora do departamento de
artesanato do SEBRAE/MS, realizada em 24.01.2013, às 10h, no SEBRAE em
Campo Grande (MS).
Entrevista com Patrícia Caldas, consultora do SEBRAE, realizada em
21.08.2014, às 16h, no Instituto Íntegra em Campo Grande (MS).
Entrevista com Isabel Muxfeldt, artesã do Projeto Joias do Pantanal, realizada
em 28.08.2014, às 14h, no seu ateliê em Campo Grande (MS).
Entrevista com Gemima de Oliveira Moreira, atual coordenadora do
departamento de artesanato do SEBRAE, realizada em 01.09.2014, às 9h, no
SEBRAE em Campo Grande (MS).
Entrevista com Silvia Stumpo, artesã do Projeto Proart, realizada em
01.09.2014, às 14h, no seu ateliê em Campo Grande (MS).
Entrevista com Cláudia Castelão, artesã do Projeto Flor de Xaraés, realizada
em 05.09.2014, às 14h 30min, no seu ateliê em Campo Grande (MS).
93
Artigo III
Projeto Fibra Morena: Análise de uma Experiência de Artesanato Induzida
pelo SEBRAE/MS
Renata Machado Garcia Dalpiaz
Resumo
Esta pesquisa tem como objeto o Projeto Fibra Morena, induzido pelo
Programa SEBRAE de Artesanato em Mato Grosso do Sul. E o objetivo é
analisar a referida experiência e suas consequências sobre a região de
influência. O Projeto Fibra Morena envolve a artesã Lucimar Maldonado Silva e
sua equipe. As fontes teóricas que nortearam a análise dos dados empíricos
foram buscadas em estudos de Alves, Araújo, Lima e Canclini, entre outros. Os
dados empíricos foram levantados em fontes primárias, tanto de caráter
documental, quanto por meio de entrevistas, gravação das falas e visitas in
loco para observar as práticas artesanais. Foram utilizadas também fontes
secundárias, como artigos dos bancos de universidades, livros, periódicos
especializados, revistas e sites acadêmicos da Internet. Foi evidenciado o
impacto do Programa SEBRAE de Artesanato na vida da artesã e das pessoas
que a rodeiam. O processo de produção do Projeto Fibra
Morena se transformou após capacitações oferecidas por essa entidade, pois
induziram mudanças na base técnica do trabalho. Em decorrência, artesãos
foram contratados, instaurou-se a divisão de tarefas, resultando no aumento da
produção e aperfeiçoamento de sua técnica.
Palavras-chave: Desenvolvimento Regional. Artesanato Induzido. Divisão do
Trabalho.
Abstract
This research has the object Fibra Design Morena, induced Craft SEBRAE
program in Mato Grosso do Sul. And the goal is to examine this experience and
its impact on the region of influence. Fibra Design Morena involves artisan
Lucimar Maldonado Silva and his team. The theoretical sources that guided the
analysis of empirical data were sought in Alves studies, Araujo Lima and
Canclini, among others. Empirical data were collected on primary sources, both
94
documentary character, and through interviews, recording the speeches and
site visits to observe the craft practices. They were also used secondary
sources such as articles from the banks of universities, books, professional
journals, magazines and academic Internet sites.
The impact of Craft SEBRAE Program in the life of the artisan and the people
that surround evidenced. The production process of Morena Fiber Project has
become after training offered by such entity as induced changes in the technical
groundwork. As a result, artisans were hired, introduced to the division of tasks,
resulting in increased production and improving his technique.
Keywords: Regional Development. Craft -Induced. Labor Division.
Introdução
O objeto deste artigo é a análise do Projeto Fibra Morena, um projeto
induzido pelo Programa SEBRAE de Artesanato em Mato Grosso do Sul.
Esse projeto foi escolhido entre tantos outros nomeados como
relevantes pela coordenadora do Programa SEBRAE de Artesanato, Gemima
de Oliveira Moreira, pelo fato dele estar localizado na periferia da capital do
Mato Grosso do Sul, Campo Grande e, isso, fazer parte dos objetivos do
Programa, ou seja, ensinar pessoas menos favorecidas uma técnica de
trabalho para que elas tenham uma renda e, assim, gerar renda para região a
qual está inserida.
O artigo teve como objetivo avaliar uma experiência de artesanato
induzida pelo SEBRAE e suas consequências sociais e econômicas sobre a
região de influência. Essa experiência corresponde ao Projeto Fibra Morena, a
frente do qual se encontra a artesã Lucimar Maldonado Silva e sua equipe.
Lucimar Maldonado trabalha com diversas fibras e as transforma em
peças artesanais, como cestas, porta copos, sousplat, pulseiras.
Conforme LIMA (2009, p. 11), “... em termos de importância e difusão,
no Brasil, somente a cestaria e o trançado é que podem fazer frente à arte em
cerâmica”, devido ao fato da matéria-prima ser abundante em praticamente
todas as regiões do país e pela prática realizada pelos índios, deixando como
legado da sua cultura e tradição.
95
Em entrevista para o jornal RBV News, em 5 de junho de 2012, na IV
Mostra de Soluções Sustentáveis, a expositora da Fibra Morena, Lucimar
Maldonado Silva, apresentou inovações socioambientais e contou que
começou a desenvolver seu trabalho na Incubadora do Bairro Zé Pereira e viu
no artesanato sustentável uma oportunidade de renda e ascensão profissional.
“Antes eu era dona de casa e hoje tenho minha própria empresa. Percebo no
meu trabalho a importância da preservação do meio ambiente”, destacou
Lucimar.
Figura 1. Fotografia da artesã Lucimar Maldonado, com destaque para as suas
pulseiras em fibra.
Fonte: www.rbvnews.com.br. Acesso em: 7 dez. 2014.
As fontes teóricas que nortearam a análise dos dados empíricos foram
autores como Alves, Lima, Araújo, Canclini, entre outros. Os dados empíricos
foram buscados em fontes primárias, tanto de caráter documental, quanto por
meio de entrevistas, gravação das falas, visitas in loco para observar as
práticas artesanais e fontes secundárias, como artigos dos bancos de
Universidades, livros, periódicos especializados, revistas e sites acadêmicos da
Internet.
Ao analisar os impactos do Programa SEBRAE de Artesanato
desenvolvido em Mato Grosso do Sul, através da experiência com o Projeto
Fibra Morena, verificou-se que o artesanato espontâneo deu lugar para o
artesanato induzido, conceitual, pois com as mudanças sofridas no processo
de produção dos artesãos, eles passaram a incluir mais elementos na
produção, contratação e parcerias com novos artesãos, que alterou a sua
forma de fazer o artesanato, ou seja, a sua base técnica de trabalho, isso para
96
acompanhar o desenvolvimento econômico do país, para ter um crescimento
econômico, por questões de sobrevivência, para atender o mercado, suas
tendências, entre outras razões.
Material e Métodos
Os dados empíricos foram buscados em fontes primárias, com
realização de entrevistas (com o apoio de um roteiro com perguntas abertas,
conforme anexo II dessa pesquisa), gravação das falas dos artesãos, além de
visitas in loco para fazer observações de campo no ateliê, e fontes
secundárias, como artigos dos bancos de Universidades, livros, periódicos
especializados, revistas e sites acadêmicos da Internet.
A amostragem dos entrevistados é do tipo por acessibilidade, pois a
classificação do público-alvo é em função das propriedades relevantes para a
pesquisa. O público-alvo são artesãos do Projeto Fibra Morena, envolvidos
com o Programa do SEBRAE, as pessoas foram convidadas a expor seu
trabalho em razão de uma pesquisa científica sobre a atividade que exercem,
solicitando assinatura de um termo de livre consentimento, além da autorização
do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos, realizado pela
Plataforma Brasil. Parecer número 774.370, de 27 de agosto de 2014.
Resultados e Discussões
Segundo PORTA (2008), assessora especial do Ministro da Cultura, a
economia da cultura, no âmbito do Prodec (Programa de Desenvolvimento
Comunitário), a economia da cultura “abrange todos os setores que envolvem
criação artística ou intelectual, individual ou coletiva, assim como os produtos e
serviços ligados à fruição e à difusão de cultura”, incluindo o artesanato.
Onde, a “atividade cultural mais presente nos municípios é o artesanato
(64,3%), seguida pela dança (56%), bandas (53%) e a capoeira (49%)”
(PORTA, 2008, p. 3).
O artesanato foi influenciado pelo crescimento econômico, pela
globalização através das instituições apoiadoras, aderiu às inovações,
mudanças, incorporações que se fizeram necessárias para acompanhar as
mudanças da economia e do sistema capitalista, e, assim, tornarem-se mais
97
comercializáveis e rentáveis para as famílias continuarem vivendo desse
trabalho. Diferente do que era apresentando na fase pré-capitalista, antes da
Revolução Industrial, em outra fase da história, agora ele é visto como
manufatura, pela lógica do funcionamento da sociedade capitalista.
Pois, baseado na funcionalidade do capitalismo é muito difícil criar
artesanato.
Conforme CANCLINI (1982, p. 71):
As peças de artesanato são e não são um produto pré-
capitalista. O seu papel como recursos suplementares de
rendimento no campo, como introdutoras de renovação na
esfera do consumo e como atração turística e instrumento
de coesão ideológica indica a variedade de lugares e
funções nos quais o capitalismo delas necessita.
Entretanto, não alcançamos inteiramente o que acontece
com elas se só pensamos a partir do capitalismo,
unidirecionalmente, as suas encruzilhadas atuais. Os
produtos artesanais são também, há séculos,
manifestações culturais e econômicas dos grupos
indígenas. Esta dupla inscrição: histórica (num processo
que vem desde as sociedades pré-colombianas) e
estrutural (na lógica atual do capitalismo dependente) é o
que produz o seu aspecto híbrido.
A visão folclorista do artesanato tradicional está dando lugar para uma
nova concepção que acompanhou o desenvolvimento econômico, a
globalização, a integração dos países, com novas formas de organizações para
produzir as peças artesanais, que são influenciadas por instituições que
promovem os negócios, o empreendedorismo, gestão empresariais,
necessárias para a sobrevivência dos artesãos, com formação de associações,
parcerias, organizações, dando oportunidade para mais pessoas, que por sua
vez trabalhavam de forma autônoma ou estavam desempregados, seguindo a
tendência do mercado e promovendo o desenvolvimento econômico e social.
98
O sistema econômico capitalista está fazendo com haja uma
transformação do artesanato, pois a tendência da industrialização e da rapidez
das informações e das inovações tecnológicas, que estão cada vez mais
fazendo parte da vida, dos gostos dos consumidores e do dia a dia dos
artesãos, com isso, torna-se difícil saber até quando o artesanato que reflete a
cultura, a tradição e o fazer manual será praticado.
O SEBRAE com suas oficinas, cursos, capacitações, rodadas de
negócios, consultorias de designers, etc., tem como objetivo resgatar e
promover o artesanato.
Mas, um artesanato voltado para o mercado, com aumento de produção,
o que induz os artesãos a mudar e incrementar suas produções, através de
divisão de tarefas, parcerias, associações. Uma vez que os artesãos
verificaram que não tinha mais mercado para suas peças e sem incentivos para
aumentar a sua produção, os artesãos perceberam a necessidade de
acompanhar as transformações do mercado, da economia, enfim, do sistema
econômico, que se utilizam dessas inovações para que o consumo não fique
estagnado, no entanto, aquele artesanato original está dando espaço para
outras formas de artesanato, como o artesanato conceitual, de referência
cultural, conforme conceituação do Termo de Referência do SEBRAE (2010).
A intenção do SEBRAE é tornar o artesanato mais lucrativo e criar mais
oportunidades para as negociações e, com isso, fomentar o desenvolvimento
econômico e social, pois o capitalismo não surgiu para acabar com o
artesanato.
Contudo, para que o artesanato sobreviva aos produtos industrializados,
produzidos em série, o que torna estes produtos mais baratos, é necessário
que seja repaginado e essa alteração transforma também o seu conceito, sua
base técnica de trabalho.
As peças da artesã Lucimar Maldonado fazem parte do processo
produtivo que acompanharam essas mudanças e que tiveram a participação de
organizações que induziram a sua produção, como o SEBRAE, Fundação de
Cultura do Mato Grosso do Sul e o PAB (Programa Brasileiro de Artesanato).
99
A artesã é uma dona de casa que resolveu mudar sua vida. Começou
em 2005 fazendo chocolates artesanais40 e ao mesmo tempo buscou cursos no
Núcleo Produtivo da Incubadora Municipal Zé Pereira (localização da
Incubadora pode ser vista na figura 2).
Teve interesse e escolheu como ponto inicial as fibras naturais, pois não
requeriam muitos investimentos. Poderia trabalhar com o que tinha em casa
mesmo e a matéria-prima conseguiria na própria natureza.
Figura 2. Mapa da região da Incubadora Zé Pereira - região nordeste de
Campo Grande (MS).
Fonte: Google Maps41, 2016.
Inicialmente ela e o marido entravam em matas atrás de fibras de
bananeiras, taboas e buritis, pensando sempre em não impactar o meio
ambiente. Mas, depois, com o crescimento do negócio passou a comprar as
fibras já processadas no interior do estado de Mato Grosso do Sul, nas cidades
40
Cf. SEBRAE (2010), seus produtos, neste período, poderiam ser classificados como produtos alimentares típicos em pequena escala. 41
Disponível em:
https://www.google.com.br/maps/place/Incubadora+Municipal+Z%C3%A9+Pereira/@-20.4559678,-54.629246,13.75z/data=!4m2!3m1!1s0x9486e76bc650a8e1:0x287fb284ac85de31. Acesso em 20 mar. 2016.
100
de Bodoquena e Miranda e de produtores de bananas da região norte de
Campo Grande. Esta região inclui, entre outros, o Bairro Estrela do Sul e
adjacentes, onde ela tem parceria.
Após a colheita da banana os produtores destinam o caule das
bananeiras para Lucimar, além de ter um carroceiro para buscar fibras em
natura nas redondezas da cidade: a bananeira na parte norte de Campo
Grande, na região do Bairro José Pereira, a taboa42 e o buriti43 na parte Sul de
Campo Grande, saída para São Paulo e saída para Sidrolândia. Elas são
predominantes de áreas alagadas.
Após o crescimento da produção de seu artesanato, Lucimar reduziu o
uso da taboa e do buriti, justamente por estarem sempre próximas aos rios e
muitas vezes às margens. Para evitar um impacto ambiental ao retirar essas
palmeiras, deixou de utilizá-las e passou a usar apenas a bananeira.
São vários os impactos que podem ser causados pela retirada da mata
ciliar:
• Possibilidade de alteração do microclima com consequências ao
meio ambiente;
• Desaparecimentos de parte de áreas de terras;
• Degradação de solos para construção da estação de efluentes;
• Intensificação dos processos erosivos, com decorrente
assoreamento e contaminação da água;
• Desgaste do perfil do solo; Impermeabilização do solo;
42
A taboa (Typha domingensis) é uma planta aquática típica de brejos, manguezais, várzeas e outros espelhos de água que mede cerca de 2 metros na época da reprodução: Ela ainda possui outra qualidade, a de ser uma depuradora de águas poluídas, absorvendo metais pesados. (Cf. Portal da Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias). Disponível em: <http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/92671/1/Proci-09.00338.pdf>. Acesso em: 3 ago. 2015. 43
O Buriti (Mauritia Flexuosa) é uma espécie de palmeira de origem amazônica, também conhecida pelos nomes de buriti-do-brejo, carandá-guaçu, carandaí-guaçu, coqueiro-buriti, itá, palmeira-dos-brejos, buritizeiro, meriti, miriti, muriti, muritim, muruti. É predominantemente encontrado na região Norte, mas também aparece com frequência nos estados de Maranhão, Piauí, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Minas Gerais e Mato Grosso. Conhecido como uma das mais belas palmeiras, podendo alcançar entre 20 m e 35 m de altura, o buriti se desenvolve em terrenos baixos com grande oferta de água, como margens de rios, áreas brejosas ou permanentemente inundadas, formando aglomerados de plantas, chamados de buritizais. Para tanto, é essencial que o solo seja ácido. Disponível em: <http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/agroenergia/arvore/CONT000fbl23vmz02wx5eo0sawqe3flbr6im.html>. Acesso em: 03 ago. 2015.
101
• Formação de voçoroca44;
• Aumento escoamento superficial da água.
• Erosão das margens;
• Aumento de sedimentos;
• Entre outros.
A produção de chocolates foi até 2007/2008, quando resolveu criar um
Projeto para concorrer a uma vaga na Incubadora Zé Pereira.
Foi quando nasceu o Projeto Fibra Morena e a sua microempresa Fibra
Morena, localizada em sua residência, no Bairro José Pereira, na região
nordeste da cidade. Na figura 3 aparece Lucimar aprendendo a usar as fibras
na Incubadora.
Figura 3. Fotografia da artesã Lucimar Maldonado produzindo seu trançado em
fibras.
Fonte: LUCIMAR MALDONADO, 2009.
Em 2009 participou das palestras, oferecida pelo convênio SEBRAE
sobre Planejamento Estratégico e Plano de Negócio, entre outros eventos
(Quadro 1).
44
Isto é formação de grandes buracos de erosão causados pela chuva e intempéries, em solos onde a vegetação é escassa e não mais protege o solo, que fica cascalhento e suscetível de carregamento por enxurradas - estão presentes em praticamente todo o Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil e geralmente estão associados ao uso do solo, ao substrato geológico, ao tipo de solo, às características climáticas, hidrológicas e ao relevo. O desenvolvimento das ravinas e voçorocas descrito na literatura brasileira é geralmente atribuído a mudanças ambientais induzidas pelas atividades humanas. Disponível em: <http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/agricultura_e_meio_ambiente/arvore/CONTAG01_58_210200792814.html>. Acesso em: 03 ago. 2015.
102
Quadro 1. Atividades da artesã Lucimar Maldonado em 2009
JANEIRO Participou Rodada de negócios comércio Justo - SEBRAE.
MARÇO Exposição no SEBRAE no evento “Mãos que
transformam”.
ABRIL Participou da 3ª Feira Internacional de Artesanato -
FINNAR.
MAIO Participou do evento no Armazém Cultural “1ª Mostra de
Soluções Sustentáveis”, Festival América do Sul em
Corumbá/MS.
JUNHO Participou 1ª Mostra de Soluções Sustentáveis, Arraial de
Santo Antônio, Festival de Inverno em Bonito.
JULHO Participou da Exposição em Sidrolândia, Rodada de
Negócios SEBRAE, Festival de Inverno de Bonito.
AGOSTO Participou da Feira do Hipermercado Extra, Desfile Morena
Fashion, filmagem, realização Seleta, Feira da Orquídea
no Armazém.
SETEMBRO Participou do Programa “Ta Na Rua”, Salão de Turismo
Albano Franco, FEINCARTES, Mão de Minas em Belo
Horizonte/MG.
OUTUBRO Participou 2º congresso internacional de odontologia de
mato grosso do sul no Novo Hotel, Congresso no Rubens
Gil de Camillo, Abertura da Empresa, Feira na Assembleia
Legislativa, Amostra do Participou Festival América do Sul
em Artesanato no SEBRAE.
NOVEMBRO Exposição no CREA-MS, no evento 10 anos de PRODES,
Feira EXPOMINAS em Belo Horizonte, Salão Internacional
de Artesanato em Brasília DF.
Em 2010 participou das consultorias, oferecidas pelo convênio SEBRAE/
Incubadora sobre Formação de Preço, Jurídica e Controle Financeiro e
Contábil, Fiscal e Tributária e Planejamento Estratégico (Quadro 2).
103
Quadro 2. Atividades da artesã Lucimar Maldonado em 2010
MARÇO Participou Workshop no SEBRAE, Rodada de Negócios,
Feira do Artesanato.
ABRIL Participou Festival América do Sul em Corumbá/MS,
FINNAR em Brasília/DF.
MAIO Participou Bazar na Incubadora Mário Covas, 5º Salão de
Turismo em São Paulo.
JUNHO Participou 2ª Mostra de Soluções Sustentáveis, Festa de
Santo Antônio, Casa do Artesão.
JULHO Participou da Feira do Empreendedor - SEBRAE.
AGOSTO Participou da Feira das Orquídeas, Geração de
Empreendedores – 2ª Edição.
SETEMBRO FEINCARTES no Albano Franco, Seminário AMPROTEC.
NOVEMBRO Participou do Salão Internacional de Artesanato em
Brasília/DF.
Em 2011, ela continuou aproveitando as oportunidades de obter novos
conhecimentos e expor seu trabalho (Quadro 3).
Quadro 3. Atividades da artesã Lucimar Maldonado em 2011
JANEIRO Participou do Evento CONARC.
ABRIL Participou FINNAR em Brasília/DF.
MAIO Feira União das Artes, Festival América do Sul em
Corumbá/MS, FINNAR em Brasília/DF.
JUNHO 3ª Mostra Soluções Sustentáveis, Arraial de Santo Antônio,
Feira Junina da Fundação de Cultura.
JULHO FENEARTE- Feira de Olinda, Salão de Turismo em São
Paulo, Casa do Artesão e Festival Inverno de Bonito.
AGOSTO Geração de Empreendedores – 3ª Edição.
Enfim, durante o tempo de incubação a artesã participou de
treinamentos, consultorias, palestras, visitas técnicas, feiras, eventos,
gravações para TV e rodadas de negócios. Teve um aumento na sua rede de
104
contatos, estabelecimento de novas parcerias e, com isso, inovou seus
produtos, o que possibilitou um aumento de mais de 100% na produção.
Seu rendimento aumentou na mesma proporção após as capacitações
realizadas.
Todas essas atividades oferecidas pela Incubadora tinham parceria com
o SEBRAE e outras Instituições.
A artesã acredita que as capacitações realizadas proporcionaram uma
mudança em sua vida, na forma de encarar o mundo, de enxergar o mercado,
enfim na forma de se portar perante as adversidades encontradas em seu
caminho.
A incubadora mantinha um Box, conforme figura 4, (nome dado a
pequenas salas comerciais) na Feira Central, onde seus futuros
empreendedores expunham suas peças artesanais.
Figura 4. Fotografia de produtos da artesã Lucimar Maldonado.
Fonte: LUCIMAR MALDONADO, 2009.
Além da Feira Central a artesã exibia suas peças no Centro Médico da
Prefeitura Municipal de Campo Grande/MS, através do Projeto Viva Vida, ao
qual foi convidada a proferir um curso sobre seu trabalho para as pessoas
envolvidas no referido Projeto.
105
Com a exposição dos seus produtos ela teve oportunidade de conhecer
diversos parceiros que passaram a fazer parte do seu Projeto pessoal,
totalizando 5 parceiros que seguiram junto com a artesã até 2010, depois disso
seguiram apenas dois parceiros, como é o caso do Anderson, índio terena de
Miranda/MS, ele faz peças em madeira, produz 9 tipos de bichos do Pantanal,
que compõem e fazem parte do rol de produtos do Projeto Fibra Morena.
Conforme a artesã, ela passou a gerar empregos e fortalecer a cadeia
produtiva das fibras naturais, pois existem muitas pessoas envolvidas em seu
Projeto, que são da sua região e de outros municípios, como Miranda.
Dessa forma, à medida que artesã crescia profissionalmente as pessoas
envolvidas cresciam junto, com isso, várias famílias que antes não tinham
oportunidade de emprego passaram a gerar renda e contribuir para o sustento
de seus familiares.
Trabalha, também, com pessoas terceirizadas, que realizam o trabalho
de preparação da fibra, colagem nas caixas e trançados, para tanto, Lucimar
capacita todos envolvidos em seu Projeto. O pagamento é realizado por
produção semanal e com relação aos parceiros, o valor pago é conforme o que
lhe é cobrado por preço de atacado.
Lucimar trabalha com fibras de bananeira, taboa e buriti (apesar de
quase não mais utilizar a fibra do buriti e da taboa, pela dificuldade de acesso e
pelo risco que pode causar ao meio ambiente, como já explanado
anteriormente) e com elas produz utensílios domésticos e de decoração, como:
mandalas em MDF pintadas a mão, com acabamento de fibra de
bananeira;
luminárias em buriti com madeira e fio de juta;
porta-refratário em fibra taboa;
sousplat de MDF com fibra de bananeira;
pulseiras de acrílico revestidas com tecidos e fibra de bananeira;
capa de banco em fibras de taboa;
porta garrafa e porta lata em fibra de bananeira;
porta panela com fibra de taboa;
cesta de fibra de taboa com alças em osso bovino.
106
Em sua produção não utiliza produtos químicos e nem equipamentos
especiais, apenas as fibras, faca, tesoura e cola.
Conforme ARAÚJO (1973), a arte de trançar é encontrada entre povos
pré-letrados, como os amerabas45, que confeccionavam vários tipos de
cestarias, conhecidas por diversas tribos brasileiras, acredita-se ser uma
prática herdada dos índios e devido às diversas influências regionais surgiram
variados tipos peças. Como a fibra pode ser encontrada em diversas regiões
do país, a arte de trançar, formando cestas e outros produtos, se difundiu por
todas as partes.
Ficou incubada (pertenceu ao projeto) na Incubadora Municipal Zé
Pereira46, em Campo Grande/MS, com o Projeto Fibra Morena - Artesanato
Sul-mato-grossense, de 2009 a 2011.
Os preços de suas peças variam de R$ 4,00 a R$ 800,00, contemplando
todas as classes sociais, distribui suas peças no interior e capital de Mato
Grosso do Sul, além de vários outros estados como Brasília, Rio de Janeiro e
São Paulo.
Vende por atacado para diversas empresas do Brasil, como a TOK
STOK, loja de móveis e decorações, a qual ela fechou contrato em março de
2014, depois de muitas negociações e adaptações de suas peças para poder
atender o nível de exigência da loja, ela precisou se enquadrar em projetos de
sustentabilidades internacionais, logomarca, código de barras, embalagem.
Como, também, vende para a Galeria Arte Brasileira/SP, a Garanza/SP,
o Armazém 13 - Brasília, o Jacaré do Papo Amarelo - Salvador/BA.
Participa de exposições, feiras, rodadas de negócios do SEBRAE,
Festival de Inverno de Bonito e o Festival da América do Sul em Corumbá,
além de outros eventos promovidos pela Fundação de Cultura e eventos
realizados pelo Brasil afora, como a FENEARTE de Recife/PE, onde ela
transporta seus produtos e paga sua passagem por conta própria.
45
Nome dado aos índios das Américas, de acordo com o Dicionário Umbanda - Yorubá. 46
É um centro de desenvolvimento empresarial e de treinamentos, que promovem a cultura empreendedora, mantido pela Prefeitura Municipal de Campo Grande, com interveniência da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, de Ciência e Tecnologia, Turismo e do Agronegócio - SEDESC. Disponível em: http://www.capital.ms.gov.br/incubadoras/zepereira/canaisTexto?id_can=3876. Acesso em: 02 dez. 2014.
107
Lucimar é uma das participantes do Projeto Brasil Original, apesar de
não ter se encaixado em algumas regras estabelecidas pelo SEBRAE, como a
que ela teria que cumprir algumas etapas do Projeto para poder participar,
etapas que já havia passado quando esteve na Incubadora, ela acreditava que
estaria tendo um retrabalho que levaria a um desperdício no seu tempo de
produção, conforme seu relato.
Para atender o crescimento das vendas de seus produtos passou a
praticar a divisão de tarefas e produzir peças em série, sempre primando pela
qualidade de seus produtos.
Lucimar é quem cria suas peças e é uma pessoa que está sempre
buscando algo novo, atenta as tendências do mercado para inovar seus
produtos.
Seu trabalho pode ser considerado como artesanato conceitual47,
conforme definição do SEBRAE (2010), pois segue tendências do mercado e
não usa matéria-prima tradicional, que reflita a cultura do estado, nem produz
objeto que remetam a cultura local e artesanato induzido48, conforme definição
de ALVES (2012).
Portanto, conforme a nomenclatura do Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior Brasileiro, Portaria nº 29, de 5 de outubro de
2010, no qual foi identificado o que é artesanato e o que não é artesanato,
muitas peças da produção analisada, como as mandalas, quadros, montagens,
se enquadram no Art.4, § 1º , Inciso I, que trata do que não é artesanato.
§ 1º Não é ARTESANATO:
I - Trabalho realizado a partir de simples montagem, com
peças industrializadas e/ou produzidas por outras pessoas;
II - Lapidação de pedras preciosas; 47
O artesanato conceitual diz respeito a “objetos produzidos a partir de um projeto deliberado de afirmação de um estilo de vida ou afinidade cultural”, tendo como característica a inovação (SEBRAE, 2010).
48
O artesanato induzido vem se tornando dominante em nossos dias. Muitas iniciativas filantrópicas veem no desenvolvimento do artesanato uma válvula de escape para tirar crianças e jovens que vivem situação de risco nas ruas ou para populações marginalizadas em guetos de pobreza” (ALVES, 2012, p. 2).
108
III - Fabricação de sabonetes, perfumarias e sais de banho,
com exceção daqueles produzidos com essências
extraídas de folhas, flores, raízes, frutos e flora nacional.
IV - Habilidades aprendidas através de revistas, livros,
programas de TV, dentre outros, sem identidade cultural.
Lucimar Maldonado é uma trabalhadora que se encaixou ao sistema
capitalista de produção, não deixando de ser uma artesã, pois ela tem a
expertise de realizar sozinha, manualmente as suas peças, como, as suas
cestas, sousplat, porta copos, pulseiras, transformando a matéria-prima em
artesanato, como é identificado e conceituado pelo Art. 4 da Portaria nº 29, de
5 de outubro de 2010, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior Brasileiro.
Art. 4º ARTESANATO - Artesanato compreende toda a
produção resultante da transformação de matérias-primas,
com predominância manual, por indivíduo que detenha o
domínio integral de uma ou mais técnicas, aliando
criatividade, habilidade e valor cultural (possui valor
simbólico e identidade cultural), podendo no processo de
sua atividade ocorrer o auxílio limitado de máquinas,
ferramentas, artefatos e utensílios.
Contudo, o Programa SEBRAE de Artesanato tem como objetivo:
Proporcionar apoio ao desenvolvimento do artesanato.
Amparar os artesãos com acesso a cursos e capacitações nas mais
diversas áreas de gestão, como empreendedorismo, gestão de
negócios, precificação, design dos produtos e embalagens,
comercialização etc.
Promover melhorias nos rendimentos dos artesãos, fazendo com que
eles se tornem novamente parte de uma sociedade economicamente
ativa, contribuindo, assim, com o crescimento econômico do país.
Escoar a produção através de feiras, rodas de negócios, exposições
nacionais e internacionais.
109
Premiar artesões para projetá-los nacionalmente.
Facilitar a ampliação de créditos a micro e pequenas empresas.
Transformar o artesanato em um negócio lucrativo.
Estear o desenvolvimento social do estado, à medida que investe em
segmento muitas vezes marginalizado pelo sistema capitalista de
produção.
Gerar o empreendedorismo dentro de uma rede de parcerias com
interesses semelhantes.
E, o que pode ser visto com a análise do processo de produção da
Lucimar Maldonado é que ela foi induzida pelo Programa a melhorar suas
técnicas, aumentar sua produção, escoar suas peças, aumentar sua rede de
parcerias, empreender, tornar seu negócio lucrativo, tornar seu produto mais
vendável, gerar emprego.
Como consequência dessa indução ela teve que alterar sua base técnica
de trabalho, incluindo novos artesãos como empregados e parceiros para
comporem suas peças, dividir as tarefas realizadas em seu ateliê.
Isso contraria o ponto principal do Programa que é apoiar o artesanato,
pois com a indução do Programa e de outras Instituições, Lucimar deixou de
fazer artesanato para produzir manufatura.
Outros pontos do Programa foram aproveitados pela artesã para
profissionalizar e aumentar sua produção e assim gerar mais renda para ela e
para os envolvidos em seu Projeto.
Conclusão
A artesã Lucimar Maldonado, do Projeto Fibra Morena, está ligada a
diversas redes de contato, que compõem a cadeia de produção de seu
artesanato, como sua relação com os extrativistas, que buscam e extraem a
matéria-prima, de forma a prejudicar o meio ambiente e a região, como o seu
parceiro índio terena, que faz os bichos em madeira, as redes de
comercialização com mercados através encomendas feitas em exposições e
feiras e as redes organizacionais, por meio de parcerias e apoios de diversos
órgãos de fomento como SEBRAE, FCMS, PAB, que proporcionam também o
escoamento de suas peças através de rodadas de negócios, feiras e eventos.
110
Podem ser destacadas as relações sociais e econômicas da artesã ao
longo da cadeia de produção e sua introdução na sociedade e na economia do
artesanato local a partir dos cursos realizados pelo Programa SEBRAE de
Artesanato, em parceria com a Incubadora Municipal Zé Pereira.
Foi feita uma análise da cadeia de valor, das relações de trabalho e da
produção do seu artesanato, uma cadeia que conjuga diversos valores: social,
econômico e mercantil, ou seja, que proporciona inclusão social, aumento de
renda dos artesãos e parceiros envolvidos no seu Projeto Fibra Morena, divisão
de tarefas, aumento das oportunidades de negócios e crescimento econômico.
A produção da artesã Lucimar Maldonado passou por um processo de
transformação, antes precário, produzido em pequena escala, para um negócio
profissionalizado, com maior qualidade, com produção em grande escala para
atender lojas de grande porte do Brasil.
Como também, a base técnica de sua produção, pois agora ela conta
com parceiros e pessoas terceirizadas, instituiu a divisão de tarefas para dar
maior agilidade na sua produção, constituiu empresa, transformando sua
produção artesanal em manufatura.
Seu artesanato foi induzido por Instituições apoiadoras a estas
mudanças e para acompanhar o mercado teve que se adaptar ao nível de
exigência, qualidade e padronização das grandes lojas.
Como ela está sempre em busca de inovações, característica pessoal da
artesã, está constantemente investindo o lucro de sua empresa em novos
produtos, em novas criações e, com isso, conquista novos clientes e amplia
cada vez mais sua produção.
Agradecimentos
Ao meu orientador Dr. Gilberto Luiz Alves, por ter me acolhido e me ajudado
com as suas precisas e incisivas pontuações.
À Universidade Anhanguera Uniderp que permitiram a minha liberação para o
Doutorado.
Ao Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) do
Mato Grosso do Sul.
111
A artesã Lucimar Maldonado que colaborou com as informações para
realização desta pesquisa.
E a todos as outras pessoas que direta ou indiretamente colaboraram com o
sucesso deste trabalho.
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Entrevista
Entrevista com a artesã Lucimar Maldonado Silva do Projeto Fibra Morena,
realizada em 13.10.2014, às 9h, no ateliê do Projeto.
114
Entrevista com Anna Karolina Monteiro, coordenadora do departamento de
artesanato do SEBRAE/MS, realizada em 24.01.2013, às 10h, no SEBRAE em
Campo Grande (MS).
Entrevista com Gemima de Oliveira Moreira, atual coordenadora do
departamento de artesanato do SEBRAE, realizada em 01.09.2014, às 9h, no
SEBRAE em Campo Grande (MS).
115
7. Conclusão Geral
O SEBRAE desde a criação de seu Programa Artesanato, em 1997,
identificou diversos elementos iconográficos e categorias de artesanato e as
conceituou em: arte popular; artesanato; trabalhos manuais; produtos
alimentícios; produtos semi-industriais e industriais “Industrianato/Souvenir”;
artesanato tradicional; artesanato de referência cultural; artesanato conceitual,
com intuito de facilitar a realização dos cursos oferecidos aos artesãos, para
quem disponibilizou oficinas, com projetos que envolvem oficinas de design e
técnicas de manuseio da matéria-prima, conhecimento das tendências, das
matérias-primas e das técnicas diferenciadas, cursos que envolvem gestão
empresarial, como formação do preço de venda, planejamento financeiro,
técnicas de vendas, logística, ações de produção, desenvolvimento das
marcas, confecção de catálogo digital dos produtos artesanais, embalagens,
elaboração das fichas técnicas dos produtos artesanais, além de oportunidades
para o escoamento da produção do artesão como rodada de negócio e
workshops participação em eventos de comercialização, entre outros.
O envolvimento do SEBRAE com o artesanato nacional tem sido de
forma positiva, pois, através do seu Programa os artesãos têm a possibilidade
de modificar suas vidas, com oportunidades de novos conhecimentos,
incremento de novos produtos, na forma de fazer o artesanato, de promover e
expor seus produtos, de relacionamentos com outros artesãos e associações,
de expansão nacional e internacional dos seus negócios, como são os casos
retratados pelo SEBRAE, a comunidade de Minas Novas, Santa Catarina,
Belém do Pará, em contrapartida, com o sucesso alcançado pelos artesãos o
SEBRAE alcança seu objetivo que é a promoção dos negócios e do giro da
renda do país, estados e municípios.
Da mesma forma aconteceu no Estado do Mato Grosso do Sul, onde as
experiências observadas foram profícuas, conforme os artesãos, o Programa
impactou positivamente nas suas vidas, tendo em vista o aumento da
comercialização dos produtos, o crescimento dos seus negócios desde a
interferência do SEBRAE, com rodadas de negócios, exposições, feiras,
cursos, capacitações e oficinas, como, por exemplo, oficinas de designs,
cursos de gestão, precificação, técnicas de vendas, ampliando sua produção,
116
consequentemente, incluindo outros artesãos a participarem do processo
produtivo, aumentando a renda de todos os envolvidos, principalmente dos
artesãos destacados pelo SEBRAE, que estão localizados nas regiões de
Campo Grande, Corumbá, Jardim, Bonito, Coxim e Itaquiraí.
Processo produtivo que, em sua grande maioria, deixa de ser uma
simples produção de objetos, produzida por lazer, para se tornar uma produção
de valor, que incluem divisão de tarefas com agregação de valor em cada
etapa que se diferencia, revelando que a produção é para gerar cada vez mais
lucro, reafirmando os conceitos capitalistas, as tendências mercadológicas,
isso acontece por questão de sobrevivência deles e familiares.
Ao mesmo tempo, os artesãos são induzidos a transformar suas
produções para atender o gosto do mercado e não mais como tradição de um
povo que exprime sua cultura, como o SEBRAE conceitua o artesanato
tradicional, ou como ALVES (2012) conceitua o artesanato espontâneo que é a
produção individual, por pessoas que, “no passado, exerceram atividades
econômicas que lhes permitiram ter certo domínio teórico-prático compatível ao
que, no futuro, se caracterizaria como artesanato de peças ornamentais”,
levando muitos artesãos a produzir o artesanato conceitual, o artesanato de
referência cultural, o “industrianato”, conforme SEBRAE (2010), a manufatura e
o artesanato induzido, conforme ALVES (2012).
Os artesãos que antes trabalhavam como autônomos passaram a
constituir empresas, como microempreendedor individual (MEI) e
microempresas, para poder receber benefícios como aposentadoria, auxílio-
doença e salário maternidade, e, assim, vender seus produtos para empresas e
fornece-los para o governo, abrir conta bancária jurídica, pegar empréstimos
em condições especiais e com mais facilidades, além de poder ter auxílio do
próprio SEBRAE, tendo isso em vista, muitos são os atrativos para os artesãos
mudarem sua base técnica da produção do artesanato para outra forma de
fazer e de produzir suas peças.
117
ANEXO I
Roteiro para entrevista com os coordenadores do SEBRAE/MS:
1 - A partir de quando o SEBRAE/MS passou a desenvolver o programa
artesanato?
2 - Qual é a estrutura e quais são os setores do SEBRAE envolvidos com o
programa artesanato?
3 - Quem são os artesãos envolvidos nos programas do SEBRAE?
4 - Vocês fazem o acompanhamento após as capacitações? Como ele é feito?
5 - Quais são os projetos de artesanato induzidos pelo SEBRAE em Mato
Grosso do Sul?
6 - Quantos artesãos já se capacitaram pelo SEBRAE em Mato Grosso do Sul?
7 - Quais as condições exigidas dos artesãos para participarem de
capacitações e terem benefícios do SEBRAE?
8 - Existe algum tipo preferido de artesanato? Qual? E qual não desperta
interesse do SEBRAE?
9 - Qual é a arrecadação das feiras e exposições de artesanato promovidas
pelo SEBRAE e como se dá sua distribuição?
10 - Como funciona a escolha dos indicados ao prêmio TOP 100?
ANEXO II
Roteiro para entrevista com os artesãos:
1 - Que tipo de curso você fez com o SEBRAE?
2 - Como foi o curso?
3 - Que mudança o curso proporcionou ao seu trabalho?
4 - Como era a sua produção antes do seu envolvimento com o SEBRAE?
5 - Qual era seu rendimento e qual é agora?
6 - Você possui uma empresa?
7 - Quantos funcionários você tem?
8 - Como é realizado o seu trabalho?
9 - Você utiliza algum equipamento especial?
10 - Existe divisão de tarefas?
11 - Existe produção em série?
13 - Você pode demonstrar como é feito o seu artesanato?