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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADRIAN BENVENUTTI
Trabalho de Iniciação Científica O SEGURO MARÍTIMO DE CARGAS E SUA
IMPORTÂNCIA PARA O COMÉRCIO INTERNACIONAL
ITAJAÍ 2010
ADRIAN BENVENUTTI
Trabalho de Iniciação Científica O SEGURO MARÍTIMO DE CARGAS E SUA
IMPORTÂNCIA PARA O COMÉRCIO INTERNACIONAL
Trabalho de Iniciação Científica desenvolvido para o Estágio Supervisionado do Curso de Comércio Exterior do Centro de Ciências Sociais Aplicadas – Gestão da Universidade do Vale do Itajaí.
Orientador: Bruno Tussi
ITAJAÍ 2010
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EQUIPE TÉCNICA
a) Nome do estagiário Adrian Benvenutti b) Área de estágio Direito marítimo c) Orientador de conteúdo Prof. Bruno Tussi d) Responsável pelo Estágio Prof. Natalí Nascimento
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RESUMO
O estudo aqui apresentado através do método qualitativo com levantamento bibliográfico e com fins descritivos sobre seguro marítimo de cargas tem como principal objetivo demonstrar a importância que o seguro marítimo de cargas possui para o comércio exterior. Sendo assim, enfatizando a principal característica que constitui o seguro, a qual se da pela transferência de risco. Contudo, o presente trabalho destaca que o seguro trata-se do contrato jurídico, onde o segurador passa a assumir determinados riscos pertinentes ao bem de outra pessoa, sendo este o segurado, em troca de determinado valor em dinheiro, assim se responsabilizando em cobrir qualquer prejuízo ou dano resultante de risco coberto. O trabalho também apresenta quais as entidades intervenientes, sendo estes, o CNSP (Conselho Nacional de Seguros Privados), a SUSEP (Superintendência de Seguros Privados) e o IRB (Instituto de Resseguros do Brasil). No estudo ainda serão destacados os tipos de coberturas, sendo estas divididas em básicas, especiais e adicionais, além disso, o trabalho traz toda a estrutura do seguro em si, apontando sues elementos, princípios e sujeitos. Desta maneira, o trabalho ainda apresenta os principais riscos cobertos, os quais impostos pelo seguro marítimo de cargas, dando relevância aos riscos pertinentes a navegação em si, sendo estes os que possuem importância ao seguro marítimo de cargas. Palavras-chave: Seguro. Risco. Cobertura.
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LISTA DE SIGLAS
BACEN – Banco Central do Brasil
BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento
CEF – Caixa Econômica Federal
CIF – Cost, Insurance and Freight
CIP – Carriage and Insurance Paid
CNSP – Conselho Nacional de Seguros Privado
FUNENSEG – Fundação Escola Nacional de Seguros
ICMS – Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços
II – Imposto de Importação
IPI – Imposto sobre produtos industrializados
IRB – Instituto de Resseguros do Brasil
SUSEP – Superintendência de Seguros Privados
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................8
1.1 Objetivo geral ....................................................................................................8
1.2 Objetivos específicos.........................................................................................9
1.3 Justificativa ........................................................................................................9
1.4 Abordagem geral do problema ........................................................................10
1.5 Questões específicas ......................................................................................10
1.6 Pressupostos...................................................................................................11
2 METODOLOGIA .................................................................................................12
2.1 Tipo de pesquisa .............................................................................................12
2.2 Área de abrangência .......................................................................................13
2.3 Coleta e tratamento dos dados........................................................................13
2.4 Apresentação e análise dos dados..................................................................13
3 O SEGURO ........................................................................................................14
3.1 Origem.............................................................................................................14
3.2 Conceito ..........................................................................................................16
3.3 Natureza Jurídica ............................................................................................18
3.4.1 Princípios - Boa-Fé......................................................................................20
3.4.2 Interesse Segurável .....................................................................................22
3.4.3 Sub-Rogação ...............................................................................................23
3.4.4 Indenitário ....................................................................................................24
3.4.5 Causa Próxima.............................................................................................26
4 ELEMENTOS DO CONTRATO DE SEGURO....................................................28
4.1 Risco ...............................................................................................................28
4.2 Prêmio .............................................................................................................29
4.3 Interesse Segurável.........................................................................................30
4.4 Indenização .....................................................................................................31
4.5 Sinistro ............................................................................................................32
4.6 Franquia ..........................................................................................................34
4.7 Apólices...........................................................................................................35
4.7.1 Apólice simples ou avulsa ............................................................................36
4.7.2 Apólice aberta ou de averbação...................................................................36
4.7.3 Apólice Flutuante .........................................................................................37
4.7.4 Apólice por viagem e por tempo...................................................................38
4.7.5 Apólice anual com prêmio fracionado ..........................................................40
4.8 Sujeitos do seguro...........................................................................................40
4.8.1 Seguradora ..................................................................................................41
4.8.2 Segurado......................................................................................................43
4.8.3 Corretor de seguros .....................................................................................45
4.8.4 Resseguradora.............................................................................................46
4.9 Entidades Intervenientes .................................................................................47
4.9.1 CNSP – Conselho Nacional de Seguros Privados .......................................48
4.9.2 SUSEP – Superintendência de Seguros Privados .......................................49
4.9.3 IRB – Instituto de Resseguros do Brasil.......................................................50
5 OS TIPOS DE COBERTURA E RISCOS ENVOLVIDOS NO SEGURO MARÍTIMO DE CARGAS ..........................................................................................52
5.1 Tipos de Cobertura..........................................................................................52
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5.1.1 Cobertura Básica “C”....................................................................................52
5.1.2 Cobertura Básica “B”....................................................................................54
5.1.3 Cobertura Básica “A”....................................................................................55
5.2 Coberturas adicionais e especiais ...................................................................56
5.2.1 Coberturas adicionais...................................................................................56
5.2.1.1 Cláusula de rejeição de mercadorias........................................................57
5.2.1.2 Cláusula especial de lucros esperados para seguros de importação .......58
5.2.1.3 Cláusula especial para seguros de imposto sobre mercadorias importadas 58
5.2.1.4 Cláusula em trânsito depósito a depósito (in transit incorporating warehouse to warehouse clause)..............................................................................59
5.2.1.5 Cláusula held covered (omissões cobertas) .............................................60
5.2.1.6 Cláusula transit clause..............................................................................61
5.2.2 Coberturas especiais....................................................................................61
5.2.2.1 Cláusula de greves, motins, tumultos e comoções civis ...........................61
5.2.2.2 Cláusula de guerra marítima.....................................................................62
5.3 Tipos de risco ..................................................................................................63
5.3.1 Fortuna do mar ou perigos do mar...............................................................64
5.3.2 Alijamento ....................................................................................................64
5.3.3 Arribada........................................................................................................65
5.3.4 Incêndio e explosões....................................................................................66
5.3.5 Encalhe ........................................................................................................67
5.3.6 Furto e roubo................................................................................................67
5.3.7 Guerra ..........................................................................................................68
5.3.8 Pirataria........................................................................................................69
4.3.9 Barataria.......................................................................................................70
5.3.10 Cláusula demais riscos .............................................................................71
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................72
REFERÊNCIAS.........................................................................................................73
ASSINATURA DOS RESPONSÁVEIS......................................................................74
1 INTRODUÇÃO
Nos últimos tempos o volume de operações de comércio internacional teve
um grande aumento. Um dos modais que mais se destacaram foi o transporte
marítimo, o qual é o meio de transporte mais utilizado em operações de comércio
internacional com 90% das operações no mundo e 95% no Brasil, um percentual
bem elevado em comparação com os demais modais de transporte.
Contudo, o transporte marítimo de cargas é um dos meios mais arriscados
por estar submetido a diversos riscos comerciais, que são aqueles frutos da
impossibilidade do comprador em honrar as cambiais, riscos operacionais devido
aos possíveis acidentes que possam ocorrer no manuseamento da carga e riscos
extraordinários, pois existem fenômenos proporcionados pelas forças da natureza
causadores de diversos danos. Devido a isso se tornou fundamental importância a
necessidade de garantias contra eventuais prejuízos inesperados durante o
processo de transporte internacional.
Pensando em suprir a necessidade de garantias para o importador e
exportador, o seguro tem como objetivo dar proteção contra eventuais prejuízos
causados por danos ou perdas, visando sempre a reposição do bem sinistrado
durante o transporte internacional ou no tempo estipulado pelo contrato.
Com isso, o presente estudo tem como objetivo apresentar a definição de
seguro marítimo de cargas, os envolvidos, os tipos de cobertura e apontar os riscos
e tipos de avarias as quais a carga está submetida durante o processo de transporte
internacional de cargas.
1.1 Objetivo geral
O objetivo da pesquisa é apresentar as características do seguro marítimo de
cargas visando demonstrar a sua relevância para o comércio internacional.
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1.2 Objetivos específicos
• Apresentar a definição de seguro marítimo de cargas e os principais
agentes envolvidos.
• Destacar os tipos de cobertura no seguro marítimo de cargas.
• Apontar os riscos em que a carga está submetida durante o processo de
transporte internacional.
1.3 Justificativa
Durante o processo ocorrido no transporte marítimo internacional as cargas
são submetidas a diversos riscos e perigos proporcionando prejuízos inesperados
aos importadores e exportadores, em vista a esses riscos há uma necessidade de
garantias contra prejuízos inesperados, neste intuito é viável o uso do seguro
marítimo de cargas e é necessário se aprofundar no tema pesquisado para se
entender como o seguro ocorre e quais benefícios são proporcionados por ele.
Para os acadêmicos do curso de comércio exterior o aprofundamento no tema
tem grande importância devido ao seguro estar presente em todo o comércio
exterior. O seguro marítimo, apesar de não obrigatório, é uma ferramenta de
trabalho principalmente por estar incluso como opção em qualquer operação de
comércio exterior, através dos incoterms, Cost, Insurance and Freight (CIF),
Carriage and Insurance Paid (CIP), e os demais incoterms. Os incoterms são uma
ferramenta de grande importância por determinar o meio pelo qual a operação de
comércio internacional será efetuada.
O interesse do pesquisador foi despertado a partir das aulas de transportes e
seguros e aumentado com as aulas de direito marítimo, com as aulas o pesquisador
pode constatar os diversos riscos em que uma carga esta submetida durante o
transporte internacional, e o quanto o pequeno investimento em seguro pode ser
vantajoso para o importador e exportador.
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A presente pesquisa se torna viável pela elaboração a partir de livros,
Internet, apostilas do curso, estudo de caso e contato com profissionais da área de
seguro marítimo de cargas, além de se tornar uma próxima oportunidade de
pesquisa para futuros trabalhos sobre o mesmo tema.
1.4 Abordagem geral do problema
Devido ao grande volume de operações realizadas em todo o comércio
internacional, o qual se da principalmente através do modal marítimo que abrange
grande parte das operações de transporte internacional de carga, onde implicam
além dos riscos impostos pela burocracia, os vários riscos operacionais, e os ricos
de fortuna do mar, que ocorrem durante a navegação em si, estes riscos acabam por
ocasionar danos e prejuízos inesperados ao exportador ou importador.
Dessa forma se torna evidente a necessidade de garantias para os
importadores e exportadores contra esses riscos. Assim, o seguro tem como objetivo
dar proteção contra eventuais prejuízos causados por danos ou perdas, visando
sempre a reposição do bem que sofreu o sinistro.
1.5 Questões específicas
a) O que é seguro marítimo de cargas?
b) Quem são as entidade intervenientes no seguro marítimo de cargas?
c) Quais os tipos de coberturas?
d) A que tipo de riscos a carga está submetida durante o processo do
transporte internacional?
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1.6 Pressupostos
a) Seguro é um contrato jurídico onde o segurador assume a obrigação de
garantir os interesses relativos ao bem do segurado, contra determinados
riscos, mediante o pagamento de certa quantia em dinheiro.
b) As entidades intervenientes e suas finalidades são as seguintes:
CNSP (Conselho Nacional de Seguro Privado), tem a função de
regulamentar, normalizar e dar todas as diretrizes para a atividade de
seguro; SUSEP (Superintendência de Seguros Privados), sua função é
emitir normas, fiscalizar o comprimento das determinações do CNSP e
tomar as providências necessárias para isso; IRB (Instituto de Resseguros
do Brasil), tem como finalidade regular, controlar e fiscalizar as operações
de resseguro, cosseguro e retrocessão, estabelecer taxas, bem como
receber prêmios e parar indenizações em moeda estrangeira.
c) As cláusulas de cobertura são o que define quais são os riscos cobertos e
não cobertos em um contrato de seguro. Estão divididas em: Básicas, que
são aquelas que cobrem os riscos inerentes ao transporte de mercadorias,
podendo também cobrir riscos externo a ele; Coberturas Adicionais, são
aquelas realizadas para complementação das coberturas básicas,
tornando-as mais abrangentes; Especiais, são aquelas que visam proteger
o bem contra riscos de guerras e greves.
d) Os riscos estão divididos em: Riscos Comerciais, aqueles ocorridos em
virtude de inadimplência do importador em saldar seus compromissos;
Riscos Políticos, são caracterizados por problemas enfrentados pelo país
importador, quando ocorre uma moratória por falta de divisas para honrar
seus compromissos, alguma impossibilidade da remessa para pagamento
das cambiais em virtude de guerra, revolução ou causas naturais. Riscos
Extraordinários, são riscos de ocorrência de fenômenos naturais, assim
classificados os terremotos, furacões etc.
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2 METODOLOGIA
Neste capitulo será apresentada a metodologia do desenvolvimento da
pesquisa, trazendo os aspectos do tipo de pesquisa, área de abrangência e
apresentação e análise de dados.
2.1 Tipo de pesquisa
Para elaboração deste trabalho foi utilizado o método qualitativo de
pesquisa.
A abordagem qualitativa nos leva, entretanto, a uma série de leituras sobre o assunto da pesquisa, para efeito da apresentação de resenhas, ou seja, descrever pormenorizada ou relatar minuciosamente o que os diferentes autores ou especialistas escrevem sobre o assunto e, a partir daí, estabelecer uma série de correlações para, ao final, darmos nosso ponto de vista conclusivo.(OLIVEIRA,1999, p. 117).
Quanto ao meio de coleta de dados, foi utilizado a pesquisa bibliográfica, a
partir de pesquisa em livros, artigos e material disponibilizado na Internet, que
segundo Oliveira (1999, p.119): “[...]tem o sentido de possibilitar o encontro de
uma série de informações para comprovar a existência ou não de uma
determinada hipótese que é ou foi objeto de estudo de outros pesquisadores e
que, a partir dali, o pesquisador passa a somar uma série de informações, com a
finalidade de elaborar o seu projeto de pesquisa.”.
Quanto aos fins a pesquisa foi de caráter descritivo, que segundo Oliveira
(1999, p. 114), “[...] esta possibilita o desenvolvimento de um nível de analise em
que se permite identificar as formas dos fenômenos, sua ordenação e
classificação.”.
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2.2 Área de abrangência
Esta pesquisa esta situada na área de comércio exterior, especificamente
no mercado de seguros com âmbito em seguro marítimo internacional de cargas.
2.3 Coleta e tratamento dos dados
A coleta de dados utilizada para desenvolver a pesquisa foi realizada por
meio de levantamento bibliográfico, através de livros, artigos e endereços
eletrônicos.
2.4 Apresentação e análise dos dados
A apresentação dos dados da pesquisa foi por meio de tabelas, quadros,
gráficos e textos explicativos ou descritivos para um melhor entendimento do leitor
referente ao tema abordado na pesquisa.
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3 O SEGURO
Desde os primórdios da existência humana, sempre se teve a necessidade
de haver precauções contra os possíveis riscos presentes em qualquer tipo de
operação realizada, seja ela de transporte ou qualquer outra. Foi diante destas
precauções em relação aos prejuízos incertos que se iniciou o ramo da atividade
seguradora no mundo.
Assim, em busca de uma maior compreensão do tema, será estabelecido
no primeiro capítulo, como o seguro se constitui e, também, as origens deste
instituto.
3.1 Origem
Desde o começo dos tempos já havia a necessidade enfrentada pelo
homem de encontrar alguma forma que pudesse ajudá-lo a minimizar gastos que
aconteciam em decorrência de algum prejuízo imprevisível ou inesperado. Perante
essa necessidade, era preciso que fosse criado algo que fizesse com que o risco
presente durante as viagens se tornasse algo menos ameaçador. Com isso, o
seguro nasceu com a finalidade de fazer com que o principal fato da sua criação, o
risco, fosse passado de uma pessoa a outra. Portanto, pode-se afirmar que o
seguro foi criado no intuito de proporcionar uma transferência dos riscos aos quais
os bens estão submetidos.
Com relação ao início da atividade seguradora Alvim apud Venosa (2003)
relata que no começo, quando a atividade seguradora era de pequena proporção
em comparação aos dias atuais, surgiram as chamadas sociedades de
contribuição mútuas, as quais eram realizadas entre os navegantes da seguinte
maneira: quando algum proprietário de navio sofria algum tipo de dano os demais
integrantes da sociedade o socorriam com contribuições para cobrir os prejuízos.
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Assim pode-se dizer que as sociedades de contribuição mútua eram nada
mais que a ajuda concedida de uns aos outros navegantes, uma espécie de ajuda
entre os semelhantes.
Na idade média ocorria a prática chamada “nauticum faenus”, no qual o
emprestador cedia dinheiro àqueles que pretendiam aventura-se pelo mar. No
caso em que a expedição obtivesse sucesso, o emprestador recebia uma boa
parte do resultado da aventura; em caso da ocorrência de um fracasso todos
perdiam. Portanto, o nauticum faenus nada mais era que o dinheiro fornecido a
risco. (ISSA, apud HUVELIN, 1986, p.19).
De acordo com que relata Keedi (2008 p.163), inicialmente também o
seguro foi tido com uma espécie de aposta, devido aos “antigos denominados
‘banqueiros’ fazerem propostas aos donos de cargas e transportadores no qual
pagassem uma quantia em dinheiro em troca de reembolso por alguma perda ou
avaria sofrida”.
Segundo Keedi (2008p .163), após algum tempo o acordo de seguro que
era firmado entre as partes, banqueiros e transportadores, passou a ser
negociado com uma nova figura, o chamado Underwriter, o qual era “uma pessoa
que analisava o risco através da proposta ou do conhecimento do risco e dá a ele
um custo de seguro (preço/prêmio) que será suportado pela seguradora”.
Mas o seguro moderno, o qual se conhece nos dias atuais, originou-se na
Inglaterra, como relata Keedi (2008, p.163):
O seguro moderno, como conhecido hoje, iniciou-se na Inglaterra, mais precisamente em Londres no século XVII, por volta do ano de 1688, no bar de Edward Llyod, e até hoje este país mantém a sua tradição iniciada com o Lyoyd’s of London. Ele funciona como uma associação de corretores individuais e seguradoras, e é usado como um local de encontro e reunião onde membros individuais e corporações negociam internacionalmente os riscos de companhias de todo o mundo.
No Brasil, o começo da atividade seguradora foi marcado pela primeira
seguradora, a qual, como mencionado por Keedi (2008), surgiu no ano de 1808,
com a chegada da família real portuguesa ao país e também a abertura do portos
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ao comércio internacional. Esta seguradora era denominada Companhia de
Seguros Boa-Fé, a qual tinha como reguladora a Casa de Seguros Lisboa.
A atividade de seguro no Brasil passou a ser regulamentada por leis
próprias com o surgimento da primeira legislação sobre seguro, que conforme
relata Issa (1986, p. 21) “é regido pelo Código Comercial Brasileiro, lei de 1850,
que trata do mesmo da sua segunda parte, Do Comércio Marítimo”.
O Decreto-Lei N° 73, de novembro de 1966, teve grande importância para o
seguro, pois foi através deste decreto que lhe foi estipulada a chamada Lei do
Seguro, a qual criou o Sistema Nacional de Seguros Privados, que engloba a
regulamentação do seguro, do resseguro e da intermediação. (ISSA, 1986).
O seguro de certo modo se originou de uma necessidade enfrentada pela
humanidade de buscar precauções contra os prejuízos inesperados, isto devido
aos bens estarem submetidos a riscos pertinentes às operações realizadas
durante o processo de transporte e aos demais processos envolvidos. Frente a
essa necessidade foram surgindo as sociedades entre os navegantes, as
chamadas apostas entre banqueiros e transportadores, o empréstimo a risco e os
centros de encontros dos envolvidos no ramo, como exemplo o famoso Lloyd`s of
London, o qual existe até os dias atuais.
Diante da origem com relação ao seguro apresentada aqui, é necessário
que haja um estudo mais profundo do que é seguro e da maneira com que ele
ocorre, para que assim haja um entendimento do tema abordado.
3.2 Conceito
O Seguro foi uma solução bastante inteligente encontrada para se transferir
os riscos aos quais os bens estão submetidos durante o processo referente à
carga, deste modo reduzindo os gastos que podem ocorrer devido a algum
prejuízo inesperado. Assim pode-se dizer que o seguro representa o ato em que
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uma pessoa se responsabiliza em pagar o valor referente a perdas e danos
resultantes de certos acontecimentos.
Diante disso, Venosa (2003) menciona que em um contrato de seguro uma
pessoa (segurador) assume a obrigação de garantir os interesses relativos ao bem
da outra pessoa (segura) contra riscos predeterminados, mediante o pagamento
de um valor em dinheiro (prêmio).
Como definição proveniente de lei reguladora, o Código Civil (art 757)
fornece a seguinte definição do contrato de seguro: “Pelo contrato de seguro, o
segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse
legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos
predeterminados”. (VENOSA, 2003, p.375).
Segundo Keedi (2008), o seguro garante, de acordo com as condições
estipuladas em contrato, até onde as partes possuem responsabilidades e
também o pagamento da indenização ao segurado ou a algum outro beneficiário
indicado pela apólice de seguro. A indenização deve ser proveniente de prejuízos
que ocorreram e foram comprovados de acordo com os riscos cobertos
estipulados pelo contrato.
Complementando, o seguro é um contrato firmado entre duas partes
(segurado e segurador), no qual o contratante (segurado) assume a obrigação do
pagamento do prêmio para a parte contratada (segurador), a qual, por sua vez, se
compromete a pagar uma indenização pelos prejuízos ocasionados por riscos
estipulados em contrato.
O seguro marítimo é o contrato pelo qual a seguradora, tomando sobre si fortuna e risco do mar, obriga-se a indenizar o segurado pela perda ou dano que possa sobrevir ao objeto do seguro, mediante um prêmio ou soma determinada equivalente ao risco tomado. O seguro configura operação pela qual uma das partes contratantes (segurado) assume a obrigação de pagamento de certa quantia (prêmio) á parte contratada (segurador), que assume, por sua vez, a obrigação de indenizar a parte contratante do prejuízo resultante de riscos futuros previstos no contrato. (MARTINS 2008, p.405).
Por isso, em decorrência dos demais conceitos aqui apresentados, pode-se
dizer que o seguro nada mais é que a transferência do seu principal elemento, o
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risco, de uma pessoa para outra (do segurado ao segurador), mediante o
pagamento do prêmio pelo contratante (segurado) ao contratado (segurador) em
troca do pagamento de uma indenização mediante a comprovação dos prejuízos
provenientes de riscos estabelecidos no contrato de seguro. Devido a isso, existe
uma necessidade da compreensão do que se trata a natureza jurídica a qual o
contrato de seguro diz respeito.
3.3 Natureza Jurídica
O seguro é algo intangível, isto se deve pelo fato de que o seguro não é um
produto, e sim um serviço oferecido em troca do pagamento de um prêmio. A
assinatura do contrato entre as duas partes envolvidas (segurado e segurador) é o
que faz com que o segurado passe a ter o direito pelos serviços prestados pelo
segurador, isto faz com que ocorra a mudança do intangível para o tangível.
(GUIMARÃES, 2002, p.25).
É pelo contrato de seguro que ficam estipulados quais os direitos, deveres e
obrigações aos quais segurado e segurador deverão seguir e respeitar. É através
do contrato de seguro que se define o valor do prêmio, os riscos a serem cobertos
e o valor da indenização em caso da ocorrência de um sinistro.
Porém todos os contratos de seguro possuem algumas características em
comum, entre elas a de que o contrato de seguro é classificado como bilateral ou
sinalagmático:
O contrato de seguro é bilateral ou sinalagmático porque gera obrigações para ambas as partes: para o segurado, as de pagar o prêmio, não agravar o risco de contrato e cumprir as demais obrigações convencionadas; para o segurador, a de efetuar o pagamento da indenização prevista no contrato. Sendo recíprocas as obrigações, o inadimplemento por um dos contraentes rompe o equilíbrio do contrato. Assim, aquele que não satisfez a própria na pode exigir o implemento da do outro. (GONCALVES, 2007, p.476).
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Trata-se também de um contrato oneroso, pois não é gratuito para
nenhuma das partes envolvidas, ambas as partes obtêm proveito. Segundo relata
Venosa (2003 p. 378), “existe a procura da vantagem patrimonial no negócio”. O
segurado procura obter proteção contra o risco, e o segurador recebe o
pagamento do prêmio e em troca faz o pagamento do valor estipulado na apólice
em decorrência de um sinistro.
O contrato de seguro é também tipicamente aleatório, pois, conforme
estipulado na apólice de seguro, as duas partes assumem responsabilidades do
pagamento do prêmio e da indenização, os quais apenas acontecem em razão da
ocorrência do sinistro, o qual subordina-se a um futuro incerto pois gira em torno
do risco. Diante disto, menciona Issa (1986) que “a indenização decorre de riscos
futuros. Estes riscos, por serem futuros, podem, ou não, ocorrer na vigência do
contrato: na hipótese de inocorrência, o segurador ganha o prêmio pago e, na
hipótese contrária, paga a indenização”.
É ainda um contrato de adesão, pois é apresentado ao segurado um
contrato com cláusulas previamente elaboradas pelo segurador. O segurado não
participa da elaboração das cláusulas que compõem o contrato, o qual geralmente
é imposta pela administração. Assim, segundo Gonçalves (2007), “o segurado
adere em bloco ao modelo contratual, não podendo modificar qualquer de suas
cláusulas: aceita-as ou rejeita-as, de forma pura e simples, afastada qualquer
alternativa de discussão”.
O contrato de seguro tem como característica também a execução
continuada, porque a duração do contrato não é algo arbitrário dos aderentes que
compõem o contrato. O contrato possui utilidade enquanto é durável. O seguro
decorre por certo tempo determinado, o qual já é estipulado pelo contrato de
seguro. Assim:
É negocio de execução continuada, porque deve subsistir por algum tempo, ainda que exíguo. O risco depende sempre de maior ou menor lapso temporal. O seguro que se faz para garantir a incolumidade física de atleta profissional para uma única competição esportiva terá lapso temporal reduzido. O seguro para um vôo interespacial com sua respectiva preparação poderá ter lapso temporal de muitos anos.(VENOSA, 2003, p. 381).
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A apólice que compõem o seguro tem grande importância, pois, é através
desta apólice que são estipulados os valores do prêmio e a indenização. Também
são estipulados as obrigações e os deveres a serem cumpridos por cada
envolvido, pois se não houvessem o contrato de seguro não haveria outra maneira
eficiente de impor regras para a possível ocorrência do seguro. Perante as
características que fazem parte do contrato de seguro, se encontram os princípios
os quais regem a apólice e por isso se faz necessário um estudo voltado a estes
princípios para que ocorra uma boa compreensão do tema abordado.
3.4.1 Princípios - Boa-Fé
O principio da boa-fé se trata de algo que está presente em todos os tipos
de contratos, sejam eles nacionais ou internacionais. A boa-fé é essencial aos
contratos de seguro, pois é através do princípio da boa-fé que ocorre a
honestidade e sinceridade entre as partes envolvidas, uma vez que sem ele não
haveria confiabilidade no contrato, desta maneira esse princípio faz com que
ocorra uma relação confiável entre as partes.
Desta forma, segundo Diniz apud Martins (2008) pelo fato do contrato de
seguro possuir uma conclusão rápida requer que o segurado haja de maneira
sincera em suas declarações a respeito do conteúdo e dos riscos, sob pena de
receber sanções em caso de agir com má-fé, e que também a seguradora possua
uma conduta leal na conclusão e na duração do contrato.
A boa-fé é algo que se faz de extrema necessidade em um contrato de
seguro, isto se deve ao fato de que a honestidade e a sinceridade entre as partes
envolvidas, sejam os principais pontos norteadores deste princípio. É através disso
que se faz possível a contratação do seguro, fazendo assim com que haja uma
relação concreta entre as partes. Assim, tanto o segurado quanto o segurador
devem manter a mais restrita boa-fé e veracidade.
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É importante analisar a questão da ausência ou presença da boa-fé em
cada caso. Desta forma:
Assim, temos que uma atitude, dentro dos limites de um contrato de seguro, inclusive internacional, ainda que não revestida de má-fé, será suficiente para gerar responsabilidades para a parte contratante. O desrespeito ao principio acontece pelo simples fato de não atuar conforme os padrões de conduta exigíveis, ou como esperava-se que agisse.(GUIMARÃES 2002, p. 56).
Diante disso, o que se faz entender, é que por mais que uma atitude não
possua má-fé, a ausência de boa-fé já é um fator suficiente para que hajam
sanções tanto para o segurado quanto para o segurador.
Na contratação do seguro é extremamente importante que o segurado não
omita qualquer informação ou característica referente ao bem que o seguro trata
ao qual possa influenciar diretamente no contrato de seguro, isto se dá sob pena
de perder o direito a indenização e as garantias impostas pelo contrato, mesmo
em caso de a omissão não ter ocorrido de maneira intencional.
Perante isso, segundo Marques (1998), no momento de efetuar a
contratação é dever do segurado agir de maneira honesta e clara sendo assim
revelando ao segurador todos os fatos que possam influenciar de maneira direta
na aceitação do risco.
O princípio da boa-fé também se aplica da mesma maneira ao segurador,
sendo o qual deve se comportar de maneira honesta e clara sem que haja
qualquer tentativa de proveito nas cláusulas do contrato de seguro. Sendo assim:
É obrigação do segurador e de seus agentes revelar todos os fatos, de que tenham conhecimento. Todas as evidências por eles produzidas durante as negociações visando a induzir o segurado a aceitar a apólice devem ser verdadeiras. (MARQUES 1998, p.40)
O fato de que o segurador ou segurado haja com má-fé ou ausência de
boa-fé, ou seja, estar fora dos padrões exigidos pelo princípio, já é o suficiente
para que haja um descumprimento do que o princípio da boa-fé impõe.
22
3.4.2 Interesse Segurável
O princípio do interesse segurável é um dos mais importantes princípios
presente em um contrato de seguro. O interesse segurável tem a ver com a
relação econômica no qual o bem está ameaçado ou posto em risco, em virtude
de que o bem referente ao contrato de seguro possa sofrer algum tipo de dano.
Explicando de uma maneira mais compreensível, diz respeito ao interesse
em que o beneficiário da indenização (segurado) tenha certas precauções para
que o sinistro referente ao bem não venha a ocorrer.
Assim, segundo Guimarães (2002), além de ser um requisito essencial ao
contrato de seguro, o interesse segurável é o que preserva a natureza autêntica
da instituição seguradora e é o que sustenta as bases técnicas do seguro, já que
caso não existisse esse princípio, não existiria nenhum fato se quer que evitaria a
ocorrência de fraudes proporcionadas pelo segurado, já que o interesse segurável
visa que o segurado possua interesse no qual o dano não venha a ocorrer. Sem
este principio existiriam diversos no intuito de receber a indenização por parte do
segurador diante de um dano que não aconteceu ou que foi ocasionado
propositalmente.
Deste modo, o interesse segurável se faz importante pelo fato de legitimar o
contrato de seguro e diante disso garantir que o segurado não haja de maneira a
prejudicar ele mesmo com o objetivo de receber a indenização assim prejudicando
o segurador. Sendo assim:
Em conseqüência, o segurado que deseje receber indenização do seu segurador, por exemplo, por perdas e danos sofridos pela coisa segurada, deve provar ter sofrido prejuízo de natureza financeira em decorrência de risco coberto pela apólice. (MARQUES, 1998, p.42).
O interesse segurável deve estar presente em todos os contratos de
seguros, durante a criação, a procedência e a conclusão do contrato. Assim,
segundo Marques (2002), pode ser considerado dono de interesse segurável
23
qualquer um que possuir alguma relação de natureza legal ou contratual com o
bem envolvido no contrato de seguro.
Assim pode-se dizer que o princípio do interesse segurável nada mais é
que o interesse do segurado em fazer com que o risco estipulado pelo contrato de
seguro não se materialize, sendo, assim, necessários três elementos para que
seja possível: um bem, a relação jurídica do segurado com o bem e que a relação
esteja sujeita a algum tipo de risco.
3.4.3 Sub-Rogação
O princípio da sub-rogação tem haver com o ato de substituir alguma coisa
por outra em lugar desta.
Sub-rogação, portanto, é o direito a que o segurador, que pagou a indenização, possui de colocar no lugar do segurado para usufruir de todos os direitos e ações que a este competirem, em conseqüência das perdas e danos sofridos, visando receber uma compensação ou se ressarcir do terceiro causador dos prejuízos, ate o limite da indenização paga. (MARQUES, 1998, p. 53).
A seguradora passa a ser interessada em buscar o ressarcimento da
quantia que foi gasta para o pagamento do sinistro ocorrido com seu cliente,
visando assim receber uma compensação do terceiro que ocasionou os prejuízos
ao segurado, ou seja, após efetuado o pagamento da indenização pelo sinistro
ocorrido, ela passa a ter o direito de cobrar os gastos do terceiro causador do
sinistro, o reembolso pelos danos ocasionados por este. O segurado deve
colaborar para fornecer e transferir todos os direitos necessários para que esta
cobrança possa ocorrer com sucesso.
Assim, segundo Marques (1998, p.55), “o segurador, que paga a
indenização ao seu segurado, passa a ser titular dos direitos e ações que
competem ao mesmo contra o terceiro causador do dano”. Diante disto, é
24
necessário que a seguradora primeiramente efetue o pagamento para que então
possa exigir os direitos sobre os ressarcimentos pagos para o segurado, em caso
da ocorrência de danos causados por terceiros, deste modo buscando diminuir os
prejuízos sofridos por ela.
São diversos os tipos de riscos existentes aos quais o bem do segurado
está submetido a ocorrência de um sinistro, podendo assim resultar em uma perda
apenas parcial, ou em perda total do bem.
A perda total real se opera nas hipóteses do objeto segurado ser destruído, ou tão extensamente danificado que fica destituído das características que tinha quando iniciou-se o seguro. A perda total presumida abrange as hipóteses de o segurado ficar privado do objeto segurado ou o objeto segurado ser dado como desaparecido após período razoável. A ocorrência de perda total construtiva (ou legal) consagra as hipóteses de abandono sub-rogatório e compreende o objeto segurado ser abandonado a seguradora em razão de ser inevitável sua perda total real ou o custo de preservação, recuperação, reparação ou reconstrução do objeto segurado ser igual ou superior a 75% do valor de mercado [...] permitindo seu abandono a seguradora. (MARTINS, 2008, p. 445).
Diante disso, os direitos adquiridos da sub-rogação podem variar de acordo
com o tipo de sinistro sofrido pelo bem segurado. Sendo assim no caso de perda
total a seguradora pode exigir a propriedade do restante do bem segurado. Em
caso da ocorrência de uma indenização por desaparecimento do bem segurado,
que posteriormente seja encontrado, faz com que a seguradora torne-se
proprietária do bem. E nos casos onde houve apenas danos por terceiros, a
seguradora terá o direito de cobrar os prejuízos sofridos por ela, devido ao
pagamento da indenização.
3.4.4 Indenitário
O princípio indenitário é algo presente em todos os contratos de seguro,
pois o contrato de seguro possui característica indenitária, devido ao segurador se
25
comprometer a indenizar o segurado do prejuízo resultante de risco estipulados
pelo contrato de seguro que foi firmado entre as partes.
Assim, segundo Marques (1998), faz-se necessário que ocorra uma perda
do patrimônio do segurado em conseqüência de um dano sofrido por algum tipo
de risco coberto estipulado pelo contrato de seguro, deste modo para se fazer juz
à indenização a ser paga.
Para que o princípio indenitário seja executado de maneira certa, é
necessário primeiramente que se chegue a um acordo entre as partes para se
estipular o valor do bem segurado, assim levando em conta que alguns bens
encontram dificuldades de se estipular o valor de mercado. Sendo assim, é
necessário para se saber o valor do prêmio a ser pago pelo segurador em caso da
ocorrência de um sinistro ocasionado por algum risco estipulado em contrato.
Deste modo, segundo Guimarães (2002, p.51), “ainda que o bem segurado
nesse caso não tenha limites pecuniários, sendo, por conseguinte, difícil sua
valoração é possível as partes, de comum acordo, fixarem um valor para
indenização em caso de ocorrência de sinistro”. Daí porque o valor segurável tem
grande importância para a ocorrência do princípio indenitário.
Todos os tipos de seguros possuem como característica o seguro de danos,
por serem de natureza indenitária, assim o princípio indenitário busca cobrar do
segurador um montante compatível ao prejuízo financeiro sofrido pelo segurado.
Sendo assim, o seguro não pode servir como fonte de enriquecimento para o
segurado e deve servir apenas como fonte para ressarcir os prejuízos sofridos por
ele.
Por conseqüência do principio indenitário, o segurador procura restaurar a situação em que o segurado se encontrava no momento imediatamente anterior ao sinistro através do pagamento da indenização, que deve corresponder ao prejuízo efetivamente sofrido por ele. (MARQUES, 1998, p.64).
Deste modo, o principio indenitário possibilita a compensação referente ao
prejuízo sofrido, em decorrência de um sinistro ocasionado por um ou mais riscos
previstos pelo contrato de seguro firmado entre as partes.
26
3.4.5 Causa Próxima
O princípio da causa próxima é bastante utilizado no ramo do seguro,
principalmente no seguro marítimo. Isso se deve ao fato de que o princípio da
causa próxima ser usado para se determinar as causas que deram origem para a
ocorrência do sinistro, deste modo determinando se o sinistro encontra-se ou não
coberto pela apólice de seguro.
Segundo Marques (1998), primeiramente quando a teoria foi desenvolvida,
há alguns séculos, se levava em conta apenas a proximidade cronológica da
causa em relação ao evento, para que assim fosse determinada a influência
ocorrida sobre o sinistro. Assim apenas a causa imediata era considerada, não se
levando em conta as demais causas, embora que as perdas ou danos sofridos
pudessem ter ocorrido pelas causas que foram deixadas de lado.
Usando-se o princípio da causa próxima dessa forma a determinação da
causa ou das causas do sinistro nem sempre eram determinadas de maneira
exata. Pois as causa do sinistro podem não ter nenhuma relação com a causa
imediata, isto se deve a que a causa próxima ser entendida como a causa
eficiente da origem do sinistro, ou seja, é necessário que a causa seja qualificada
como predominante do dano.
Durante certo tempo, pensou-se que seria regra invariável a de que a interveniência de uma nova causa quebraria necessariamente a seqüência de causas, impedindo que a primeira delas pudesse vir a ser considerada eficiente. Embora freqüentemente essa situação possa ocorrer, tal não significa que seja sempre assim, [...] uma causa só se tornara próxima se suplantar as demais concorrentes em eficiência. (MARQUES, 1998, p.62).
Em certas circunstâncias os diferentes tipos de danos podem ser causados
por diversos tipos de riscos, assim cada segurador se responsabilizara apenas por
perdas e danos sofridos que tenham sido proximamente causados por riscos
cobertos, que estão estipulados pelo contrato de seguro.
27
Simplificando, o princípio da causa próxima nada mais é que a qualificação
de uma causa como eficiente pelos danos sofridos pelo bem do segurado, ou seja,
serve para se determinar a causa que realmente foi responsável pela a ocorrência
do sinistro ao bem segurado. Com a apresentação dos princípios que compõem o
contrato de seguro, se faz necessário o conhecer das características do contrato
de seguro que vêem a seguir, desta maneira e preciso que exista um
aprofundamento nos elementos que também fazem parte do contrato de seguro.
28
4 ELEMENTOS DO CONTRATO DE SEGURO
Os elementos são os requisitos necessários para que o contrato de seguro
possa ocorrer de maneira funcional, sendo assim todo o contrato de seguro possui
os seguintes elementos: Risco, Interesse Segurado, Prêmio, Indenização, Sinistro
e Franquia.
4.1 Risco
O risco é o objeto do seguro e por isso é tido como principal influenciador
para a contratação do seguro, pois se trata do fato que traz a possibilidade da
ocorrência de um dano a certa coisa, sem essa possibilidade de um possível dano
ao bem, não seria necessário a contratação de um seguro.
O risco constitui um fato eventual suscetível de provocar uma contingência danosa. Destarte, no seguro marítimo, o risco é um evento aleatório cuja ocorrência acarretara prejuízo, de ordem econômica. Nas operações de seguro, o risco a probabilidade de um determinado evento atingir um bem que representa interesse econômico para o segurado. O seguro deve cobrir coisas cujo dano ou perda seja possível, futuro e incerto. Na ocorrência do risco opera-se o sinistro. (MARTINS, 2008, p.410).
Para que o risco seja segurável são necessárias algumas condições. Deste
modo segundo Issa (1986) é preciso que o risco seja possível, pois caso ele fosse
impossível não haveria motivo para que o seguro fosse contratado. Deve ser
futuro, pois é necessário que ele ainda possa vir ocorrer, assim caso ele já tivesse
ocorrido ele seria nulo. Deve ser incerto, pois se o risco fosse certo não haveriam
seguradoras dispostas a cobri-lo, isto se deve ao fato de ter característica
aleatória. Deve ser independente da vontade dos contratantes, pois a vontade do
segurador é de que o sinistro não venha a ocorrer, e no caso do segurado
29
algumas vezes a ocorrência do sinistro é o pretendido por ele. Deve resultar em
prejuízo econômico, pois a finalidade do seguro, é de ressarcir perdas econômicas
causadas por riscos cobertos.
São necessários que os riscos cobertos sejam estipulados pela apólice de
seguro, pois não é admitido o alargamento dos riscos, assim o segurador apenas
indenizará o segurado no caso da ocorrência de um sinistro em decorrência de um
risco estipulado pelo contrato de seguro.
O contrato de seguro tem compreensão e interpretação restritas, não se admitindo alargamento dos riscos, nem extensão dos termos. Daí por que é essencial que os riscos sejam minudentemente descritos e expressamente assumidos pelo segurador. (VENOSA, 2007, p. 342).
Sendo assim o risco nada mais é que a possibilidade da ocorrência de que
um dano ou perda a determinado bem venha a se concretizar, assim ocasionando
prejuízos econômicos para o proprietário desse bem. Diante disso o risco e o
principal influenciador para que o contrato de seguro possa existir.
4.2 Prêmio
Ao contrário do que parece ser, o prêmio é a prestação paga pelo segurado
para a seguradora por assumir os riscos que possam vir a ocorrer com o bem do
segurado. Todos os contratos de seguros possuem um prêmio a ser pago pelo
seu contratante, pois sem esse pagamento não teria por que a seguradora
assumir os riscos pertinentes ao bem.
O prêmio é a importância paga pelo segurado, ou estipulante proponente, a seguradora em troca da transferência do risco a que ele está exposto. O prêmio consiste na contribuição em dinheiro paga pelo segurado ou proponente a seguradora para fazer parte da comunidade de risco. Regra geral, o prêmio é devido independentemente da contraprestação da seguradora. (MARTINS, 2008, p. 409).
30
O valor do prêmio a ser pago é algo muito particular de cada apólice, pois o
prêmio varia de seguro para seguro, devido a haver um cálculo diferente para
cada contrato de seguro. O cálculo é diferenciado porque nem todos os seguros
são iguais, assim variam os bens a serem segurados e os riscos aos quais os
bens podem estar submetidos.
Sendo assim, segundo Venosa (2007), o prêmio é calculado de acordo com
o risco, o qual pode ser maior ou menor de acordo com a gravidade e a
probabilidade. O valor a ser pago pelo segurado depende da avaliação feita pela
seguradora objetivando o cálculo do prêmio, além da probabilidade e da gravidade
dos riscos é também levado em consideração as particularidades de cada bem.
O pagamento do prêmio é algo bastante importante, pois é a partir do
efetuado pagamento do prêmio que qualquer indenização possa ser paga pela
empresa seguradora. O pagamento do prêmio deve ser feito em rede bancária
dentro do prazo determinado.
Orienta ainda o citado ato administrativo ficar entendido e ajustado que qualquer indenização por força do contrato somente passa a ser devida depois que o pagamento do prêmio tiver sido realizado pelo segurado, o que deve ser feito até trinta dias contados da emissão da apólice ou das datas nesta fixadas para aquele pagamento. No caso do domicílio do segurado não ser o mesmo do banco cobrador, tal prazo passará a ser de quarenta e cinco dias. (MARQUES, 1998, p. 101).
Assim, pode-se dizer que o prêmio nada mais é que a quantia a ser paga
pelo segurado em troca de que a seguradora assuma os riscos que envolvem o
bem ao qual se pretende proteger.
4.3 Interesse Segurável
O interesse segurável é algo essencial e imprescindível em um contrato de
seguro, pois além de ser um elemento do contrato é também um de seus
princípios, e é devido a o interesse segurável que a integridade do contrato é
31
mantida, já que o interesse segurável tem a ver com a vontade do segurado que o
sinistro não venha a ocorrer, desse modo dando autenticidade ao contrato.
Assim, conforme mencionado em princípios, segundo Guimarães (2002),
além de ser um requisito essencial ao contrato de seguro, o interesse segurável é
o que preserva a natureza autêntica da instituição seguradora e é o que sustenta
as bases técnicas do seguro, já que caso não existisse esse princípio
aconteceriam inúmeros casos de fraudes, devido a grande possibilidade de fraude
aberta que haveria com a ausência deste princípio, haveriam diversos no intuito de
receber a indenização por parte do segurador diante de um dano que não
aconteceu ou que foi ocasionado propositalmente.
De uma maneira mais compreensível, o interesse segurável nada mais é
que o interesse que o segurado deve ter em tomar precauções para que o risco
não venha a se materializar.
4.4 Indenização
A indenização é o principal fato que leva alguém a contratar um seguro,
pois é a indenização que repõem o prejuízo sofrido pelo bem do segurado, o qual
se materializou através de um sinistro ocasionado por algum risco coberto pelo
contrato de seguro.
A indenização é o motivo do seguro. É a importância, em dinheiro, que o segurado recebe quando ocorre o risco. É essencialmente reparador, de modo que não se pode constituir em fonte de lucro. Em princípio, a indenização é paga em dinheiro, mas, no seguro de coisas, a seguradora pode construir, reconstruir ou repor a coisa segurada, o que é feito com o intuito de evitar reclamações abusivas do segurado. (ISSA, 1986, p. 68).
Como mencionado por Issa (1986), a indenização não necessariamente
precisa ser paga em dinheiro, pois também pode ser paga de maneira a
reconstruir ou repor o bem do segurado, e como o seguro não visa lucro a
32
indenização não pode ultrapassar o valor do bem do segurado, devido a isso,
cada franquia recebe um devido cálculo, no intuito de repor o prejuízo sofrido pelo
bem do segurado com o máximo de exatidão possível.
Devido a isso, segundo Issa (1986), no cálculo da indenização, são levados
em conta: o risco segurado, a coisa (objeto) vinculado, o prejuízo que ocorreu, a
importância segurada, o valor do bem, e a franquia.
Por ser um pagamento comprometido pelo segurador, a indenização
apenas vem a ocorrer diante da ocorrência de um sinistro ocasionado por risco
estipulado.
A obrigação do segurador não ocorre até o momento em que o risco, a que o mesmo se propõe a cobrir, se materialize. Verificando o sinistro, o segurador, é obrigado a pagar o prejuízo conseqüente do risco assumido, que pode atingir o valor total da coisa segurada. (MARQUES, 1998, p. 125).
Diante do que foi apresentado, pode-se dizer que a indenização é o
ressarcimento dos prejuízos sofridos pelo bem do segurado, diante de um sinistro
ao qual foi ocasionado por um risco coberto pelo contrato de seguro. O segurado
poderá ser ressarcido de seus prejuízos não apenas com uma indenização de
valor integral, mas também parcial de maneira a reconstruir ou construir
dependendo do dano sofrido.
4.5 Sinistro
O sinistro é o evento ocorrido, o qual veio a causar danos e prejuízos ao
bem segurado. O sinistro ocorre quando acontece a concretização do risco
estipulado pelo contrato de seguro.
Assim, segundo Martins (2008, p.414) “O sinistro configura a realização do
risco previsto em contrato e, conseqüentemente, indenizável; em outras palavras,
designa o evento danoso que engendra indenização”.
33
Deste modo, percebe-se que para que o sinistro ocorra, é primeiramente
necessário que o risco causador do dano ou prejuízo ao bem esteja coberto pela
apólice de seguro, caso contrário será apenas um dano e não um sinistro. São
necessários também a incidência de outras características.
Diante disso afirma, Danjon apud Martins (2008, p. 414), “para o sinistro vir
a ensejar indenização, é necessário ter caráter anormal, revestir-se de certa
gravidade, estar coberto pelo contrato de seguro e ter se produzido sob o império
do seguro”.
Após a ocorrência do sinistro é necessário que o segurado informe a
seguradora sobre o ocorrido, para que assim sejam tomadas as devidas
providências. Diante da ocorrência do sinistro a empresa seguradora do bem
deverá fazer a regularização do sinistro.
Regular o sinistro significa tomar todas as providencias necessárias, não apenas a apurar se o mesmo encontra cobertura no âmbito da apólice como, também, em caso positivo, calcular a indenização devida ao segurado e efertuar-lhe o pagamento respectivo, de modo a que se restaure a posição que o mesmo detinha antes da materialização do risco, decorrente da fortuidade do evento danoso. (MARQUES, 1998, p.331).
De uma maneira mais compreensível regular o sinistro nada mais é que a
própria liquidação do sinistro, onde será comprida com a parte da seguradora as
suas responsabilidades adquiridas pelo contrato de seguro, pois serão apurados
os prejuízos para que a indenização seja paga de maneira concreta.
De um modo geral, o sinistro é a ocorrência de um evento causador de
danos e prejuízos, no qual, o risco que manifestou este evento esteja coberto pelo
contrato de seguro. É também o que faz com que a seguradora tenha que efetuar
o pagamento da indenização ao segurado.
34
4.6 Franquia
A franquia se trata de uma participação que o segurado deverá pagar em
caso da ocorrência de um sinistro, é também um valor mínimo onde o segurado
será responsável por cobrir os danos e prejuízos que foram causados a ele, o qual
deve se enquadrar dentro do valor da franquia estipulado pela apólice.
É o valor do prejuízo que fica a cargo do segurado, só respondendo o segurador por danos que ultrapassem o valor da mesma. É uma medida técnica pela qual a seguradora estabelece a limitação de sua responsabilidade, a partir de determinada porcentagem. Tem por finalidade excluir da cobertura sinistros de pequeno valor, diminuindo, assim, os gatos administrativos da companhia e barateando, por conseqüência, os prêmios. (ISSA, 1986, p. 70-71).
Dessa forma os pequenos prejuízos ficam a cargo do segurado, e apenas
os prejuízos que excedem o valor da franquia serão cobertos pelo segurador.
Assim, é evitado que os pequenos prejuízos venham a ser motivo de acionar a
seguradora, pois, se não existisse a franquia, o volume de sinistros para serem
indenizados seria muito grande.
A franquia esta dividida em dois tipos, os quais, são chamados: simples e
deduzível. Devido a isso, segundo Martins (2008), na franquia simples, a empresa
seguradora, se responsabiliza pelo pagamento da totalidade da indenização, ou
seja ela cobre a totalidade dos prejuízos ocorridos.
Ainda segundo Martins (2008, p.415-416), “na franquia deduzível, a
importância ou percentual são sempre diminuídos do montante a indenizar”, ou
seja, será subtraído do total da indenização, o valor da franquia pago pelo
segurado. Assim a empresa seguradora deverá apenas pagar a diferença dada
pela diminuição da franquia do valor da indenização. Em qualquer uma das
hipóteses de franquia, caso o montante dos prejuízos não venha a superar o valor
da franquia, não se fará viável o acionamento do seguro.
Com a participação da franquia no contrato de seguro, houve uma
diminuição dos custos, devido a eliminar os pequenos danos e prejuízos, e
35
também, proporcionando que o segurado tenha um cuidado redobrado com o
bem, pois, dessa forma terá de cobrir uma parte dos prejuízos ocorridos.
Assim se faz conveniente, dizer que, a franquia é a participação que o
segurado tem em relação a indenização proveniente de um prejuízo ocorrido ao
bem segurado. A franquia tem como intuito fazer com que o segurado cubra por si
próprio os pequenos prejuízos e danos, também fazendo com que o segurado
tenha um maior cuidado com o bem a fim de que ele terá participação na
indenização.
4.7 Apólices
A apólice de seguro não se trata em si do contrato de seguro, mas sim do
meio usado para representar o contrato de seguro, pois é o documento que
formaliza a operação de seguro e é onde se encontram todas as informações
como: riscos cobertos, valor segurável, tempo de cobertura, as partes envolvidas,
as condições do seguro as quais se dão através das cláusulas que estão
estipuladas no contrato, além de outras. Todas essas informações dizem respeito
ao seguro firmando entre as partes. Sendo assim a apólice de seguro é um
documento essencial, o qual deve ser emitido e assinado pela seguradora
responsável pela operação.
Na apólice de seguro deverão constar dados como nome e endereço do segurado e beneficiário; bem segurado; valor da franquia; prazo de vigência do seguro; local de inicio e de termino do seguro; nome do veículo transportador; data de embarque e qualquer outro detalhe que venha a interessar a operação contratada. (KEEDI e MENDONÇA, 2000, p.216)
No seguro marítimo são de comum uso quatro tipos de apólices: simples ou
avulsa, abertas ou de averbações, flutuantes, por viajem e anuais com prêmio
fracionado.
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4.7.1 Apólice simples ou avulsa
A apólice simples ou avulsa tem seu uso geralmente atribuído para
segurados que não fazem um grande volume de embarques. Geralmente esta
apólice é usada para apenas um embarque, mas ela também pode ser usada para
mais de um embarque.
Recomenda-se para segurados que não efetuam embarques com freqüência e se destina a cobrir um único embarque, ou mais de um embarque, desde que as viagens possam ser, uma a uma, caracterizadas. Sua validade só tem início com o pagamento do prêmio respectivo, isto de acordo com o que estabelece a “Cláusula de Pagamento do Prêmio”—“Apólice Avulsa”, que obrigatoriamente faz parte da apólice (MALUF, 2000, p. 131).
Ainda Martins (2008, p.418) menciona que as apólices simples ou avulsas,
“fixam com precisão o objeto do seguro e são por prazo determinado ou por
viajem”.
Desta forma pode-se dizer que a apólice simples ou avulsa se trata de uma
apólice que possui o maior volume de uso no seguro marítimo, devido à
geralmente ser usada por segurados que pretendem efetuar um embarque apenas
em cima deste tipo de apólice.
4.7.2 Apólice aberta ou de averbação
Existem diversas empresas que possuem um volume grande de embarques
no transporte marítimo, e devido a isso, essas empresas necessitam de diversas
coberturas e que essas coberturas sejam rápidas, por isso a existência da apólice
de averbação, a qual proporciona ao segurado incluir averbações previamente a
uma apólice, dessa forma o segurado consegue incluir vários embarques numa
mesma apólice.
37
É uma apólice como outra qualquer de transportes, com as condições gerais e especiais, emitidas geralmente pelo prazo de um ano. Sua originalidade está na permissão conferida ao segurado de expedir averbações, daí o seu nome. A averbação faz parte integrante da apólice. Está sujeita as suas cláusulas. Constitui apenas um desdobramento para acelerar sua conclusão. Na apólice ficam as condições permanentes e comuns a todos os embarques; nas averbações são registrados todos os elementos variáveis de cada embarque de mercadoria. Os valores nela contidos obrigam o segurador da mesma forma. Estes valores só não podem ultrapassar o limite máximo previsto na apólice. (ALVIM apud MARQUES, 1998, p.31)
Sendo assim, Maluf (2000) menciona que este tipo de apólice é
recomendando ao seu uso, segurados que executam um maior volume de
embarques. Estes embarques devem ser comunicados à seguradora através de
formulários fornecidos pela própria seguradora, as chamadas averbações. Neste
tipo de apólice o valor do prêmio é cobrado através de uma fatura mensal,
trazendo todos os valores das averbações do mês.
Assim, pode-se dizer que a apólice aberta ou de averbação se trata de um
tipo de apólice usada pelas empresas que constantemente efetuam diferentes
embarques de mercadorias e, desta forma, necessitam de agilidade na conclusão
de suas contratações de seguros. Devido a isso, é usado esse tipo de apólice a
qual permite a inclusão de averbações para cada embarque efetuado, diante disso
não se faz necessário a abertura de uma nova apólice a cada embarque.
4.7.3 Apólice Flutuante
Este tipo de apólice é utilizado por segurados que necessitam fazer
sucessivos embarques ou que possuem um fluxo constante de embarques.
Esta apólice determina apenas as condições gerais do seguro
independente da averbação prévia como no caso da apólice aberta, assim esta
apólice permite que as averbações possam ser feitas posteriormente ao embarque
38
e que mesmo desta forma as mercadorias são consideradas cobertas pela
apólice.
Estipulam condições gerais e consideram seguradas, independentemente de averbação prévia, certas ou todas as mercadorias que o segurado receber ou embarcar, ou somente receber ou somente embarcar, de ou para um determinado porto ou para portos indeterminados, especificando ou não os navios. (MARTINS, 2008, p. 419)
A apólice flutuante cobre determinado valor em mercadorias pelo prazo
estipulado de um ano. Desse valor total a medida que os embarques são feitos o
valor total vai sendo diminuindo. Para um melhor entendimento, Azúa (1987)
menciona um exemplo: A apólice determina um valor de cobertura de US$
5,000,000.00 no prazo de um ano, a medida que os embarques vão ocorrendo, os
valores correspondentes a cada embarque vão sendo baixados da importância
total.
Desta forma pode-se dizer que a apólice flutuante trata-se de um tipo de
apólice com validade de um ano, a qual permite que o segurado execute
embarques considerando seguradas as mercadorias mesmo estipulando suas
peculiaridades posteriormente ao embarque através de averbações. Apesar de
muito parecida com a apólice aberta sua principal diferença esta em que na
apólice flutuante existe um prazo determinado ao contrario da aberta que
geralmente é uma apólice permanente, podendo ser cancelada mediante a um
aviso com antecedência. A apólice flutuante também pode ser cancelada mediante
a um pré-aviso.
4.7.4 Apólice por viagem e por tempo
As apólices por viagem ou por tempo são tipos de apólices usadas por
segurados que desejam proteger seus bens e mercadorias por determinada
viagem ou viagens ou por um determinado período de tempo.
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Sendo assim, menciona Azúa (1987, p.263-264) “como seu próprio nome
indica, apólice pro viagem é aquela na qual a mercadoria é segurada pelo
transporte desde um ponto determinado até outro. Também como seu nome diz,
apólice por tempo é a que cobre os riscos por determinado período”.
Para uma melhor compreensão, Marques (1998, p.28) explica dando
exemplos dos dois tipos de apólice:
A apólice por viagem é a que delimita o risco em função de um ponto de partida e outro de destinação. Assim, por exemplo, o seguro de uma embarcação relativa a viagem de santos para recife. Apólice a prazo é a que circunscreve o risco a determinado período de tempo, como, por exemplo, por doze meses iniciando-se a zero hora do dia 13 de março de 1998.
Nestes tipos de apólices é preciso que se tenham certos cuidados, tanto na
apólice por viagem quanto na apólice por tempo. É necessário que seja estipulado
nas apólices o momento em que a apólice começa a ter vigor, data e hora, no
caso da apólice por tempo, e o local de início, no caso da apólice por viagem.
Também é necessário que seja estipulado na apólice quando que a apólice se
extingue, data e hora, no caso da apólice por tempo, e o porto de destino final, no
caso de apólice por viajem.
Tratando-se de apólice por viagem, deve especificar-se, cuidadosamente, o momento em que começam e finalizam os riscos, mas, se tal fato não estiver suficientemente esclarecido, será conveniente, incluir a chamada “Transit Clause”, segundo a qual ficam cobertos os riscos desde o momento em que as mercadorias são tomadas no cais para serem levadas a bordo até o momento em que são novamente postas em terra, no ponto de descarga. (AZÚA, 1987, p.264).
Assim, pode-se dizer que apólice por viagem é aquela que assegura o bem
de um determinado local até outro ponto determinado, e a apólice por tempo se
trata daquela a qual assegura o bem por um determinado período de tempo.
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4.7.5 Apólice anual com prêmio fracionado
Este tipo de apólice é recomendado para segurados que executam diversos
embarques, pois esta apólice possibilita que o segurado pague apenas um prêmio
anual, devido a que o prêmio deste tipo de apólice seja calculado com base na
estimativa de embarques efetuados durante o ano.
São também conhecidas por apólices ajustáveis, pois é emitido prêmio anual com base na estimativa anual de embarques, e tem seu ajuste feito periodicamente com base nos embarques efetivamente realizados. (MARTINS, 2008, p.419)
Nesta apólice é estipulado um prêmio inicial o qual vai se modificando
através das informações repassadas pelo segurado, que se compromete com a
seguradora de informar os embarques realizados, para que assim ocorra o ajuste
do prêmio através da estimativa dos embarques efetuados. O segurado
periodicamente informa a seguradora para que seja atualizado o cálculo do prêmio
de acordo com os embarques ocorridos.
Sendo assim, a apólice anual com prêmio fracionado trata-se um meio a
qual permite que o segurado efetue variados embarques com a mercadoria
segurada, e que apenas um prêmio anual é pago pelo segurado, o valor desse
prêmio é calculado a partir da estimativa dos embarques realizados durante o ano
pelo segurado.
4.8 Sujeitos do seguro
Os sujeitos do seguro se tratam de todos aqueles envolvidos que compõem
o seguro em si, ou seja, são todos os indivíduos que possuem algum papel
perante a atividade do seguro, sendo eles, seguradora, segurado, corretor de
seguros e resseguradora.
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4.8.1 Seguradora
As seguradoras são as empresas que atuam como o personagem do
seguro que passa a assumir os riscos dos bens de outros em troca de uma
indenização.
Desta forma, segundo Keedi e Mendonça (2000, p.195) “são as empresas
que tem como finalidade segurar os bens dos seus clientes, de acordo com a
determinação destes, e indenizá-los pelos danos ou perdas sofridos pela carga
segurada”.
As empresas seguradoras apenas podem funcionar, através da autorização
concedida pelo Ministério da Fazenda, diante de uma solicitação a CNSP
(Conselho Nacional de Seguros Privados), que se da via SUSEP
(Superintendência de Seguros Privados). Estás empresas apenas podem
trabalhar nos ramos de seguro que lhes foram permitidos, assim não podendo
estar em outro tipo de negócio ou ramo.
Estas empresas ainda possuem como obrigação ressegurar todas as
responsabilidades que foram assumidas por ela, as quais ultrapassem seus limites
de suporte, ou seja, a empresa seguradora que assumiu determinado risco que
veio a ultrapassaram seus limites, terá de repassar a outra seguradora ou ao IRB
(Instituto de Resseguros do Brasil) a parte da responsabilidade que ultrapassou
seus limites. As seguradoras têm de apresentar um balanço ao IRB
semestralmente, e são fiscalizadas pela SUSEP e pelo próprio IRB.
As empresas seguradoras possuem algumas obrigações com relação ao
segurado, sendo elas: pagar indenização; e reembolsar despesas devido a
sinistros acontecidos, causados por riscos cobertos.
Sendo assim, o pagamento da indenização é tido como a mais importante
obrigação da seguradora, por ter que ressarcir os prejuízos resultantes do risco
assumido por ela, diante do tipo de seguro marítimo contratado e dos termos
estipulados pela apólice.
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A seguradora é obrigada a pagar ao segurado a indenizações a que tiver direito, dentro de quinze dias da apresentação da reclamação, isto é, do pedido de indenização, instruída com os documentos respectivos; salvo se o prazo do pagamento tiver sido estipulado na apólice. A reclamação deve vir acompanhada da prova da ocorrência do risco, do seguro do bem e também do prejuízo sofrido pelo reclamante. A indenização dos sinistros é devida a partir da data do evento. (MARTINS, 2008, p.438-439)
O valor do pagamento ou do bem reposto geralmente não ultrapassa o
valor do bem segurado. Além disso, a indenização poderá ser para em três
diferentes maneiras, sendo elas: o pagamento em dinheiro, o que geralmente
ocorre, reposição do bem por um de valor compatível, ou poderá ocorrer o
pagamento através da prestação de serviços diante de um acordo firmado entre
seguradora e segurado.
Após efetuado o pagamento da indenização por parte da seguradora, ela
então passará a ter alguns direitos devido ao principio da sub-rogação o qual já foi
citado como princípio neste trabalho.
A sub-rogação, como já dito, é um princípio de todo o contrato de seguro,
no qual ocorre que em razão do pagamento da indenização, a seguradora, a qual
efetuou o pagamento, passa a exercer o direito sobre o que restar do bem ou dos
direitos de cobrança sobre os terceiros causadores de danos e prejuízos ao bem
segurado.
Sub-rogação, portanto, é o direito a que o segurador, que pagou a indenização, possui de colocar no lugar do segurado para usufruir de todos os direitos e ações que a este competirem, em conseqüência das perdas e danos sofridos, visando receber uma compensação ou se ressarcir do terceiro causador dos prejuízos, ate o limite da indenização paga. (MARQUES, 1998, p. 53).
Desta forma a sub-rogação é um meio disponível ao segurador que
possibilita um ressarcimento dos prejuízos sofridos por ele, isto devido ao
pagamento da indenização ao segurado. O ressarcimento nem sempre é pleno,
mas ao menos em parte ele ocorre.
Dentre as obrigações da seguradora também cabe aqui destacar a ação
conhecida como abandono, onde o segurado transfere os direitos que possui
43
sobre o bem ao segurador, para que assim então possa adquirir o direito de cobrar
a indenização firmada entre as partes.
O abandono pode ser definido como o ato pelo qual o segurado transfere ao segurador o direito de propriedade das mercadorias objeto do interesse segurável, adquirindo aquele, por sua vez, o direito a exigir o pagamento da totalidade da indenização acordada. (AZÚA, 1987, p. 280).
Este tipo de recurso é geralmente adotado pelo segurado nos casos em
que não se tem notícias do navio onde estavam as mercadorias, na perda total do
navio devido a algum risco coberto pela apólice, deterioração da mercadoria
proporcional a três quartos de seu valor, impossibilidade de chegada ao destino e
venda das mercadorias em porto diferente do de chegada ou partida devido a sua
deterioração.
Segundo Azúa (1987, p. 281), “o abandono não pode ser parcial nem
condicional, abrangendo todas as coisas sujeitas a risco na mesma apólice”.
O abando oferece vantagem por que, através dele o pagamento da
indenização é mais simples e rápido. Apesar de ser um direito do segurado, o
segurador pode não concordar com o abandono, mas para isso deverá apresentar
provas que venham a tirar esse direito perante à situação apresentada.
4.8.2 Segurado
Segurado, é a pessoa ou empresa proprietária do bem ou do interesse que
está sendo segurado. O segurado é quem geralmente procura uma empresa
seguradora para iniciar o seguro sobre determinado bem a qual se pretende
transferir os riscos pertinentes a ele.
É o dono do bem que se está segurando, podendo ser uma pessoa física ou jurídica. É ele quem propõe uma operação de seguro para determinada mercadoria, muito embora isto também possa ser realizado por um terceiro em seu nome. (KEEDI e MENDONÇA, 2000, p.197)
44
O segurado também possui alguns deveres e obrigações a serem
cumpridas de acordo com o contrato de seguro, são elas: o pagamento do prêmio,
avisar a seguradora sobre qualquer alteração que possa influenciar os riscos,
avisar a seguradora sobre a ocorrência do sinistro e tomar as medidas
necessárias para evitar o aumento dos danos.
Sendo assim, segundo Martins (2008), o prêmio é tido como a principal
obrigação do segurado perante a seguradora, o qual é devido independente de
uma contraprestação da seguradora. O valor do prêmio é calculado através dos
riscos e outras características do bem. O prêmio pode ser quitado durante a
ocorrência do contrato ou antes do seu início. Caso o pagamento do prêmio não
se concretize, a seguradora poderá suspender a cobertura do seguro até que o
pagamento ocorra.
Além do segurado possuir a obrigação de pagar o prêmio, ele ainda tem a
obrigação de avisar a seguradora de qualquer alteração significativa ocorrida nas
características as quais se encontravam presentes no momento da contratação do
seguro, também terá a obrigação de comunicar a seguradora sobre a ocorrência
do sinistro, isso independentemente uma da outra.
Assim, desta forma, segundo Azúa (1987, p.273), o segurado deverá “[...]
avisar toda alteração das circunstâncias existentes à data do contrato e que possa
vir a agravar sensivelmente os riscos. Não sendo feita tal comunicação, o contrato
poderá ser rescindido, salvo que exista prova que o segurado agiu de boa fé”.
As condições das apólices de seguro, exigem que qualquer sinistro envolvendo bem coberto deve ser imediatamente, avisado aos seguradores. O segurado deverá comunicar a ocorrência do sinistro à seguradora assim que tomar conhecimento de sua verificação e deverá tomar as providências imediatas para minorar-lhe as conseqüências. (MARTINS 2008, p. 429)
Ainda como obrigação, o segurado deverá tomar medidas para evitar o
aumento dos riscos, o segurado deve fazer tudo que estiver ao seu alcance para
evitar que este aumento não se concretize. Os gastos efetuados para se evitar o
aumento dos riscos ficam por conta do segurador. Assim, tomando medidas para
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evitar o aumento dos riscos, o segurado mantém os interesses do segurador.
Caso o aumento dos riscos venha a ocorrer independente da vontade ou não do
segurado, deverá ser comunicado ao segurador imediatamente, caso contrário
poderá ser considerado má-fé do segurado.
Também como obrigação do segurado, após a ocorrência de algum sinistro,
o segurado deverá tomar as medidas necessárias para manter a salvo o objeto
segurado ou o que restar dele. Esta obrigação é conhecida como diligência.
Desta forma, segundo Martins (2008, p.430), “O segurado tem obrigação de
cuidar da coisa segurada após o sinistro e empregar toda a diligência possível
para salvar ou reclamar os objetos segurados”.
A seguradora deverá arcar com as despesas sofridas pelo segurado pelas
medidas tomadas para manter o bem segurado a salvo. As despesas serão
arcadas pela seguradora até o limite estipulado pelo contrato de seguro.
4.8.3 Corretor de seguros
O corretor de seguros é a pessoa física ou jurídica que age como
intermediador entre o cliente que deseja segurar algum bem e uma seguradora
que se mostre interessada em fazer este seguro.
É uma pessoa física ou jurídica, devidamente autorizada pela FUNENSEG – Fundação Escola Nacional de Seguros, a operar na atividade de seguro, pela qual recebe da seguradora uma comissão denominada corretagem. O corretor de seguros, como pessoa física, não pode ocupar cargos públicos nem ter vínculos empregatícios ou direcionais com seguradoras. (KEEDI E MENDONÇA, 2000, p.196)
O corretor de seguros tem responsabilidade civil sobre as operações de
seguros as quais intermediou e será responsável por qualquer problema, falta de
cuidado ou qualquer omissão dos segurados e seguradoras envolvidos.
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Desta forma, segundo Keedi e Mendonça (2000) o corretor ou empresa
deve ajudar o segurado em tudo o que for preciso, para proporcionar ao seu
cliente um bom trabalho e deve dar a seguradora tudo que for necessário para que
a operação de seguro ocorra com sucesso. Assim, as duas partes terão o devido
atendimento.
Todos os passos do seguro devem ocorrer com a intermediação da
corretora de seguro, até mesmo os pagamentos do prêmio e da indenização no
caso da ocorrência de sinistro, ou seja, a corretora tem o papel de fazer com que a
operação de seguro flua da melhor maneira possível entre as partes,
providenciando tudo o que se fazer necessário para ambos os envolvidos.
4.8.4 Resseguradora
O resseguro trata-se da operação no qual uma seguradora transfere parte
ou a totalidade dos riscos assumidos para uma ou mais empresas seguradoras,
neste a empresa que assume esses riscos que foram assumidos primeiramente
por outra empresa irá se chamar resseguradora. Portanto, essa operação pode
ser considerada um seguro do seguro. Assim, a empresa resseguradora busca
ressegurar os seguros que as empresas seguradoras não asseguram totalmente,
isto se deve pelo fato de ultrapassar o limite de sua capacidade econômica de
assegurar.
O resseguro busca, [...] distribuir entre mais de um segurador a responsabilidade pela contraprestação. Consiste na transferência de parte ou de toda a responsabilidade do segurador para o ressegurador. Perante o segurado, porém, a responsabilidade é unicamente do segurador. [...] O segurador não transfere um risco próprio, mas o risco do segurado. (VENOSA, 2003, p.405).
Cada seguradora possui certo limite econômico que deve ser respeitado,
este limite estabelece até aonde a seguradora poderá continuar a aceitar riscos de
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outros. Mas devido à prática do resseguro, qualquer seguradora que possuir riscos
que excedam seu limite econômico poderá repassar à totalidade ou parte dos
riscos assumidos a outra empresa seguradora. Dessa forma após atingir o seu
limite econômico a seguradora poderá continuar aceitando outros riscos.
Ocorre quando o risco assumido por uma seguradora ultrapassa o seu limite de responsabilidade, sua capacidade técnica de indenizar sinistros, conforme fórmula determinada a partir de seu capital. É para evitar problemas para a seguradora e o segurado. (KEEDI e MENDONÇA, 2000, p. 215)
Apesar de a resseguradora assumir parte ou a totalidade dos riscos, na
ocorrência de algum sinistro o segurado deverá cobrar a seguradora e não a
resseguradora, pois perante ele o responsável é a seguradora que concordou em
assumir os riscos. Devido a isso, a seguradora é então quem deverá cobrar a
parte que cabe a resseguradora de acordo com o que esta então assumiu.
Com isso, o resseguro é uma operação que ocorre quando o limite da
capacidade econômica de indenizar de uma seguradora é ultrapassado, assim,
para continuar aceitando outros riscos a empresa seguradora passa em parte ou a
totalidade dos riscos assumidos.
4.9 Entidades Intervenientes
As entidades intervenientes possuem como objetivo, controlar, impor
normas, regulamentar e incentivar o mercado de seguros nacional, de modo a
fazer com que o mercado de seguro esteja mais e mais presente na economia do
país. Em busca disso foi criado o Sistema Nacional de Seguro Privado, o qual
possui uma estrutura a qual se divide entre órgãos, cada órgão possui uma
diferente finalidade.
O principal órgão é o Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP), pois
é este órgão que possui o controle principal devido a ditar as normas e diretrizes a
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serem seguidas, já a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) fica
responsável em executar estas normas fiscalizando o mercado. Por fim, o Instituto
de Resseguros do Brasil (IRB) é responsável pelas operações de resseguros.
Além desses três órgãos, o Sistema Nacional de Seguros privados ainda é
composto por todas as seguradoras e corretoras de seguros que estão habilitadas
e operam no país.
4.9.1 CNSP – Conselho Nacional de Seguros Privados
O Conselho Nacional de Seguros Privados busca estabelecer as políticas
de seguros privados, de modo a regular a fiscalização das atividades relacionadas
com o seguro, impondo as normas e as penalidades de acordo. Além disso, é o
CNSP que estipula os capitais mínimos para o funcionamento de cada entidade e
é quem autoriza as seguradoras a operarem.
[…] tem por função fixar as diretrizes e normas da política de seguros privados; regular a constituição, organização, funcionamento e fiscalização dos que exercem atividades subordinadas ao Sistema Nacional de Seguros Privados, bem como a aplicação das penalidades previstas; fixar as características gerais dos contratos de seguros; estabelecer as diretrizes gerais das operações de resseguro; prescrever os critérios de constituição das sociedades seguradoras, com fixação dos limites legais e técnicos das respectivas operações; disciplinar a corretagem do mercado e a profissão de corretor de seguros. (KEEDI, 2008, p.164).
Os cargos que formam a direção do Conselho Nacional de Seguros
Privados são de grande importância no país, e por isso são indicados a esses
cargos pessoas as quais todas são nomeadas pelo presidente da república do
Brasil.
Sendo desta forma, segundo Keedi e Mendoça (2000), é composto por um
presidente o qual se trata do Ministro da Fazenda; o superintendente da SUSEP;
os presidentes do BACEN, CEF, BNDES e IRB; pelos diretores do mercado de
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capitais do BACEN e diretores das áreas de comércio exterior do Banco do Brasil;
por representantes dos Ministérios dos Transportes e do SEPLAN, da Previdência
Social e da Ciência e Tecnologia; e também por mais seis pessoas as quais
representam as seguradoras, essas pessoas tem mandato por dois anos.
Com isso pode-se dizer que o CNSP tem como finalidade estabelecer a
política nacional de seguros, de maneira a impor as regras do sistema nacional de
seguros privados regulando a fiscalizando os envolvidos com a atividade
seguradora, fazendo assim com que o sistema de seguros ocorra de maneira
certa, pois sem alguém estipulando a maneira de como agir todos fariam o que
bem entendessem e então não seria possível o pleno funcionamento da atividade
seguradora no país.
4.9.2 SUSEP – Superintendência de Seguros Privados
A superintendência de Seguros Privados atua como o órgão que executa as
normas que são estipuladas pelo CNSP, é a SUSEP quem controla e fiscaliza
todos os envolvidos com o seguro independente de quem sejam, seguradoras,
corretoras, etc, ou seja, qualquer envolvido com a atividade seguradora.
Como órgão executor da política ditada pelo conselho, tem uma longa lista de atribuições, das quais podemos destacar: fiscalização da constituição, organização e funcionamento das seguradoras, processando inclusive os pedidos de fusão, encampação, transferência de controle acionário, mudança de estatutos sociais, alterações de capital social, etc. fixação das condições de apólices, planos e tarifas, utilizadas obrigatoriamente por todas as seguradoras; aprovação dos limites de operação das seguradoras; execução da liquidação das seguradoras que tiverem cassada a autorização de funcionamento; exame, aprovação e tarifação de coberturas Especiais, etc. (ISSA, 1986, p. 25).
Como o CNSP, a SUSEP também é subordinada ao Ministério da Fazenda,
a sua direção é composta por quatro diretores e um superintendente, como no
CNSP todos são nomeados ao cargo pelo presidente da república.
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Assim a Superintendência de Seguros Privados tem como finalidade
executar as normas e diretrizes impostas pelo CNSP, de modo a fiscalizar os
envolvidos com o seguro, aplicando as devidas sanções por condutas indevidas
nos casos que se fizer necessário. Desta forma pode-se dizer que o SUSEP é
quem põem em prática as políticas impostas pelo CNSP, agindo como uma
espécie de secretaria do CNSP.
4.9.3 IRB – Instituto de Resseguros do Brasil
O Instituto de Resseguros do Brasil é responsável por regular o co-seguro,
o resseguro e a retrocessão de modo a fiscalizar e controlar essas operações de
acordo com as normas e diretrizes impostas pelo CNSP.
Sendo assim, o co-seguro segundo Martins (2008, p.421) “é uma espécie
de contrato de seguro no qual participam simultaneamente vários seguradores de
um mesmo interesse, cabendo a cada um parte proporcional do risco total e
participação no prêmio”.
Com isso, pode-se dizer que o co-seguro se trata da operação onde os
riscos são divididos entre duas ou mais seguradoras, essa operação geralmente
ocorre quando os riscos assumidos são muito elevados para uma única
seguradora suportar.
Já as operações de resseguro e retrocessão ainda nos dizeres de
MARTINS (2008, p. 423) se dão das seguintes formas:
Resseguro é o trepasse do risco da seguradora a outra seguradora, que passa a se chamar resseguradora. [...] A retrocessão é a operação pela
qual o ressegurador procede à colocação de seus excedentes, no mercado interno ou externo, junto a outros seguradores.
Contudo, o resseguro se trata do seguro do seguro, pois permite a
seguradora repassar a outra seguradora parte ou a totalidade dos riscos
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assumidos de algum segurado os quais excedam seu limite de assegurar. A
retrocessão seria um resseguro do resseguro, pois permite que uma
resseguradora repasse parte ou a totalidade dos riscos assumidos a uma terceira
empresa seguradora.
[…] compete-lhe elaborar e expedir normas reguladoras do co-seguro, resseguro, e retrocessão; aceitar o resseguro facultativo e o obrigatório do país e do exterior; reter o resseguro aceito, no todo ou em parte; colocar no exterior, seguro cuja aceitação não convenha aos interesses do país ou que não encontre cobertura; penalizar as seguradoras por infrações cometidas na qualidade de co-seguradoras, resseguradoras e retrocessionárias; proceder à liquidação dos sinistros, de acordo com as normas de cada ramo; distribuir às seguradoras a parte dos resseguros que não retiver, colocando no exterior os excedentes de responsabilidade do mercado segurador nacional. (ISSA, 1986, p.26)
O IRB é uma sociedade de economia mista, a qual possui autonomia por
ser uma entidade do direito privado. Ainda sim o governo possui uma participação
igual através das seguradoras e do ministério da previdência social.
Por ser uma entidade de economia mista sua administração e composta por
seu presidente e um conselho, o qual é nomeado em parte pelo Presidente de
República e em outra parte pelas empresas seguradoras.
Dessa forma, segundo Keedi e Mendonça (2000, p.195) “sua administração
é realizada pelo seu presidente e um conselho técnico composto por seis
membros, sendo três eleitos pelas seguradoras e três nomeados pelo Presidente
da República”.
Por tanto, pode-se dizer que o IRB se trata da instituição responsável por
regular, controlar e fiscalizar as operações de co-seguro, resseguro e retrocessão,
seguindo as diretrizes impostas pelo CNSP. O IRB ainda é responsável por
ressegurar as seguradoras as quais excederam seus limites técnicos podendo
repassar ao mercado internacional, os valores que excedam sua capacidade e a
do mercado nacional, ou que não se faça do interesse do país em ressegurar. Isto
se da pelo fato de que o IRB é uma entidade de direito privado e assim possui
autonomia.
52
5 OS TIPOS DE COBERTURA E RISCOS ENVOLVIDOS NO SEGURO
MARÍTIMO DE CARGAS
Para que haja uma devida compreensão do trabalho aqui apresentado, é
necessário que se faça um estudo relativo aos riscos e aos tipos de coberturas
que estão presentes no seguro de cargas.
Deste modo, neste capítulo serão apresentados os tipos de coberturas
envolvidos no seguro os quais se dividem em básicas e especiais, e também os
principais tipos de riscos ao qual o bem do segurado está submetido durante o
transporte marítimo de cargas.
5.1 Tipos de Cobertura
Existem diferenciados tipos de coberturas, os quais variam de acordo com o
tipo de carga e transporte ao qual a mercadoria será submetida. Entretanto o
Institute of London elaborou três coberturas conhecidas como básicas, as quais se
dividem em A, B e C. Esses tipos de cobertura buscam cobrir especialmente
eventos ocorridos durante o transporte em si da mercadoria, mas poderão ser
acrescidas cláusulas para tornar a cobertura mais abrangente.
5.1.1 Cobertura Básica “C”
A cobertura básica C, é a menos abrangente entre as três coberturas
básicas, e tem como objetivo cobrir as despesas referentes a perdas e danos
53
causadas por riscos que ocorrem durante o transporte, ou seja, acidentes que
ocorrem com o veículo transportador.
Assim, de acordo com Vieira apud Martins (2008,p. 471), a cobertura da
cláusula c “se restringe a danos causados por riscos normais de transporte e a
acidentes ocorridos com o veículo transportador como, por exemplo, acidentes
com o navio e avarias grossas. Isto significa que pequenos danos que não
signifiquem a perda total de um volume, não serão indenizados”.
Os danos sofridos por avarias simples apenas serão cobertos caso estejam
estipulados no contrato de seguro. Desta maneira a cobertura básica C, cobrirá os
seguintes riscos no transporte aquaviário:
Incêndio, raio, explosão, encalhe, naufrágio, soçobramento da embarcação, colisão ou contato do navio ou embarcação com qualquer outro objeto que não seja água, descarga da carga em porto de arribada, carga lançada ao mar, perda total de qualquer volume durante as operações de carga e descarga do navio, perda total decorrente de fortuna do mar, de raio e de arrebatamento pelo mar.(KEEDI, 2008, p.182-183).
Ainda de acordo com Keedi (2008), serão cobertos também os sacrifícios
de avaria grossa e despesas de salvamento acordadas, que tenham sido
incorridas para evitar danos de qualquer causa, exceto as previstas como não-
indenizáveis, ainda serão cobertas as despesas que o segurado venha ser
obrigado a pagar por colisão onde ambos são culpados, constante em contrato de
afretamento. Serão cobertas também as despesas extras (armazenagem,
descarga), em caso do trânsito segurado venha a terminar em porto ou local que
não seja o qual era destinado.
Assim os danos e despesas ocorridos ao segurado que tiver contratado a
cobertura básica C, serão cobertos apenas em caso de avarias grossas e
particulares nos casos cobertos pela apólice, em sua maioria os particulares são
cobertos geralmente em caso de perda total.
54
5.1.2 Cobertura Básica “B”
A cobertura básica B é uma cobertura que protege um pouco mais que a
cobertura básica C, pois ela possui uma abrangência um pouco maior. Essa
cobertura visa ressarcir prejuízos causados por riscos de transporte, sejam eles,
danos totais ou parciais.
Sendo assim, nos dizeres de Keedi (2008), esta cobertura é um pouco mais
abrangente que a cobertura básica “C” e busca cobrir perdas e danos que ocorrem
durante o transporte, sendo estes os que atingem as mercadorias. A cobertura “B”
cobre os percursos pré e pós ao transporte principal, além da perda total de
qualquer volume nas operações de carga e descarga”.
Desta forma a abrangência dos riscos cobertos pela cobertura básica “b” se
dá pelos seguintes tipos de riscos:
[…] perda total de qualquer volume durante a operação de carga e descarga do navio ou embarcação, bem como avaria grossa e despesas de salvamento, despesas que o segurado venha a arcar por colisão ambos culpados, constantes no contrato de transporte, avarias simples ou particular decorrentes de naufrágio, soçobramento do navio, encalhe, tombamento [...] colisão ou contato do navio com qualquer objeto que mnão seja água, descarga da carga em porto de arribada e alijamento, terremoto, erupção vulcânica ou raio, carga varrida pelas ondas, entrada de água do mar, lago ou rio no navio, embarcação, veículo contêiner ou local de armazenagem. (MARTINS, 2008, p. 470).
Existem algumas exclusões na cobertura básica “B”, são elas, segundo
Martins (2008, p.470), “causas externas como embarques e desembarques,
manipulação portuária, quebras derrames, extravios, infiltração, vazamento e
ferrugem, excluindo, ademais, roubo ou extravio, de mercadorias”.
Neste tipo de cobertura se permite cobertura complementar por cláusulas
adicionais e especiais, assim proporcionando uma cobertura ainda mais
abrangente.
Sendo assim a cobertura básica “B” funciona como uma intermediaria entre
as coberturas básicas “A” e “C”, e também visa ressarcir perdas e danos
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provenientes de riscos de transporte. A cobertura “B” em comparação com a
cobertura “C” traz uma cobertura adicional sobre avarias particulares ou simples
(não apenas nos casos de perda total), perdas parciais decorrentes de fortuna do
mar e ou arrebatamento pelo mar, além de terremoto, erupção vulcânica e entrada
de água do mar, lago ou rio no contêiner ou local de armazenagem.
5.1.3 Cobertura Básica “A”
Dentre as coberturas básicas, a cobertura básica A, é a cobertura mais
ampla, isto pelo fato de possuir a maior proteção entre as demais cláusulas de
cobertura básica. Esta cobertura também visa á proteção contra riscos relativos ao
transporte marítimo de cargas.
Sendo assim, nos dizeres de Keedi (2008, p.184), “é a cobertura básica
mais abrangente de todas [...] e tem o objetivo de garantir ao segurado os
prejuízos que este venha a sofrer em consequência de todos os riscos de perda
ou dano material sofridos pelo objeto segurado, descrito na apólice ou
averbações, em razão de quaisquer causas externas, exceto as previstas como
não-indenizáveis”.
A cláusula “A” traz proteção sobre os mesmos riscos que as coberturas
básicas “B e C” além de dar proteção ao objeto segurado, sobre riscos de perdas
totais ou parciais durante todo o transporte marítimo, seja ele preliminar ou
complementar. Desta forma a abrangência dos riscos cobertos pela cláusula “A”
se dá pela seguinte forma:
[…] Protegem a mercadoria também dos acidentes de causas externas como embarques, desembarques, movimentações portuária enquanto armazenadas, etc., significando não terem restrições conquanto o acidente se dê relativamente ao transporte de mercadoria. Cobrem também extravio, ferrugem, quebra, amassamento, derrame, água de chuva e vazamento (MALUF, 2000, p. 134).
56
A cobertura básica “A” é conhecida como “all risks” (todos os riscos), mais,
ao contrário do que diz o nome pelo qual é conhecida, ela não cobre todos os
riscos, existem certas limitações dessa cláusula, pelo fato de existirem
determinados riscos aos quais necessitam de contratação de cláusulas adicionais
ou especiais.
Desta forma, segundo Martins (2008), “A tendência, como regra geral, é
excluir riscos de guerra, greves, motins, apresamentos, detenções e outros riscos
[...] salvo se especificamente citadas na apólice como cláusulas de cobertura
especial”.
Sendo assim, apesar de que a cláusula “A” ser conhecida como all risks,
esta cobertura é considerada a cobertura mais abrangente dentre as três
coberturas básicas conhecidas, devido a ser composta por todos os riscos que as
cláusulas B e C possuem, e ainda oferecer proteção a riscos de causas externas,
ela ainda não engloba todos os riscos existentes, e devido a isso se faz
necessário conhecer as chamadas cláusulas adicionais ou especiais.
5.2 Coberturas adicionais e especiais
As coberturas adicionais e especiais buscam tornar as coberturas básicas
mais abrangentes de maneira a atuarem como coberturas complementares a elas,
pois estas buscam cobrir riscos que não se encontram presentes entre as
coberturas básicas.
5.2.1 Coberturas adicionais
As coberturas adicionais agem de modo a tornar as coberturas básicas
mais abrangentes, possibilitando assim um seguro ainda mais coberto por
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diferentes riscos, os quais não eram cobertos apenas pelas coberturas básicas.
Devido a isso, a contratação de coberturas adicionais apenas se dá com o
pagamento de um prêmio extra e juntamente com a contratação de uma cobertura
básica.
Dessa forma, cabe aqui destacar as principais coberturas adicionais as
quais se encontram presentes no ramo do seguro marítimo de cargas.
5.2.1.1 Cláusula de rejeição de mercadorias
Está cláusula tem como objetivo proteger o exportador contra qualquer
possível problema enfrentado por rejeição ou condenação da mercadoria por
autoridades do governo do país importador.
A cláusula adicional de rejeição de mercadoria ampara o exportador de possíveis problemas de rejeição ou condenação da mercadoria por autoridades governamentais do país importador. Essa cláusula não cobre perda de mercado, erros ou omissões no contrato de venda ou qualquer outro documento e outros quaisquer descumprimentos com relação à garantia da apólice. (MARTINS, 2008, p. 474).
A cobertura pode ser dada por encerrada devido a alguns fatos. Assim,
segundo Keedi e Mendonça (2000, p.207), a cobertura “cessa no armazém do
porto com a aprovação da mercadoria ou 30 dias após a sua descarga, ou então,
no armazém do importador, se um prêmio adicional for pago para isto, desde que
a mercadoria não tenha sido inspecionada no porto de descarga”.
Com isso, a cláusula de rejeição de mercadorias busca manter o exportador
protegido contra qualquer eventual problema enfrentado por rejeição ou
condenação da mercadoria pelas autoridades locais no país importador, ou seja,
não ocorre um dano direto, mas sim o produto passa a ser inadequado para o
consumo ou uso, sendo a perda de qualidade ou deterioração do produto pode ser
usada como exemplo.
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5.2.1.2 Cláusula especial de lucros esperados para seguros de importação
A cláusula especial de lucros esperados para importação visa cobrir os
lucros de mercadorias adquiridas do exterior os quais deixaram de acontecer
devido a algum sinistro ocorrido com o bem protegido.
É um seguro que visa cobrir os lucros não-realizáveis de mercadorias compradas, ocasionados pela perda dos bens que não poderão ser vendidos devido a algum sinistro sofrido e que, portanto, não proporcionarão o lucro esperado pelo comerciante ao proceder a sua comercialização ou industrialização. Podem ser incluídas também as despesas com vistorias, peritos, etc. (KEEDI e MENDONÇA, 2000, p. 208)
Os lucros cogitados são, de normalmente, realizados com base de 10%
sobre o valor do bem segurado, independente de qualquer comprovação, até
mesmo se o beneficiário seja o próprio comprador da mercadoria. Os lucros ainda
podem chegar até 50% do valor segurado, mas se é necessário que seja provado
a seguradora que os lucros seriam mesmo os solicitados.
Dessa forma, a cláusula especial de lucros esperados para seguros de
importação tem como objetivo, ressarcir os lucros de mercadorias provenientes do
exterior, os quais deixaram de ser realizados por motivo de danos e perdas nas
mercadorias.
5.2.1.3 Cláusula especial para seguros de imposto sobre mercadorias importadas
A cobertura desta cláusula tem como objetivo ressarcir os gastos com
impostos pagos nas importações de mercadorias, quando estas sofreram algum
sinistro após o desembaraço aduaneiro, contanto que estejam no período de
validade da apólice.
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[…] trata-se de seguro que visa a ressarcir o segurado e a garantir reembolso da parcela dos impostos de importação incidentes sobre o objeto segurado avariado, pagos sobre a operação de importação das mercadorias nas hipóteses de ocorrência de sinistros ocorridos após pagamentos dos impostos e respectiva liberação da carga, desde que dentro do período de validade da apólice e limitando o reembolso à importância segurada a esse título. (MARTINS, 2008, p.475)
Esta cobertura apenas pode ser usufruída por importadores e cobre os
impostos, imposto de importação (II), imposto sobre produtos industrializados (IPI)
e Imposto sobre a comercialização de mercadorias e serviços (ICMS). A cláusula
tem início a partir da entrada da mercadoria no Brasil, ou seja, depois que se dá o
desembaraço da mercadoria, e termina com a entrega da mercadoria no seu
destino.
O reembolso dos impostos será calculado de acordo com os valores que
foram pagos no momento do desembaraço das mercadorias. Assim caso haja
algum desconto de imposto, como por exemplo, devido a algum tratado comercial
no qual alíquota diminui, o reembolso será calculado como tal.
Devido a isso, pode-se dizer que a cláusula especial para seguros de
impostos sobre mercadorias importadas visa ressarcir os gastos com impostos de
mercadorias importadas às quais sofreram algum dano após o desembaraço da
mercadoria. Dessa forma esta cláusula garante que caso haja um sinistro com
alguma mercadoria ao qual já foram pagos seus impostos, serão estes então
ressarcidos estes gastos.
5.2.1.4 Cláusula em trânsito depósito a depósito (in transit incorporating warehouse to warehouse clause)
A cláusula em trânsito depósito a depósito tem como objetivo manter as
mercadorias protegidas durante todo o trajeto do transporte, desde a saída do
depósito do exportador até o depósito do importador.
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[…] A cobertura vale do momento em que deixam depósito do exportador até que arribem ao depósito no local de destino. As mercadorias estarão seguradas enquanto estiverem em trânsito e também quando armazenadas, entre um e outro meio de transporte. Normalmente, depois de ter sido completada a descarga, no porto marítimo indicado para tais fins, cessará a cobertura pelo transcurso do prazo de sessenta dias sem que as mercadorias cheguem a seu depósito. (MARTINS, 2008, p.473)
Esta cláusula, portanto, permite que as mercadorias estejam cobertas
durante todo o percurso do transporte, desde a saída do depósito do exportador
até o depósito do importador, incluindo os desvios de rota e demoras na chegada,
pois normalmente o seguro básico se dá por encerrado quando acontecem
desvios de rota, mesmo que nos casos onde o sinistro tenha ocorrido após o
retorno à rota original, pois é alegado que caso não tivesse ocorrido o desvio de
rota o sinistro poderia não ter ocorrido.
5.2.1.5 Cláusula held covered (omissões cobertas)
A cláusula held covered funciona como um amparo cobrindo as omissões
involuntárias do segurado, as quais não se caracterizam como má-fé
[...] Para o caso de alguma omissão involuntária, que não seja caracterizada como má-fé, deve-se sempre optar por um pagamento de prêmio adicional e utilizar na apólice esta cláusula denominada Held Covered, ou seja, omissões cobertas. Esta cláusula protege o segurado pela falha de informação que possa ocorrer na ocasião de contratação do seguro. (KEEDI e MENDONÇA, 2000, p.209)
Contudo, pode-se então dizer que, a cláusula held covered age com o
intuito de cobrir as omissões involuntárias, que não se caracterizem como má-fé,
ou seja, as informações que deixaram de ser prestadas que não tiveram a
intenção de se beneficiar da seguradora, já que na contração do seguro todas as
informações possíveis devem ser mencionadas para a seguradora.
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5.2.1.6 Cláusula transit clause
A transit clause, é usada quando os portos do exportador e do importador
não estão mencionados de maneira totalmente clara no contrato de seguro.
Dessa forma, segundo Martins (2008, p.472) “A cláusula transit clause deve
ser utilizada nas hipóteses dos portos de origem e destino da mercadoria não
estarem designados de forma clara no contrato de seguro”.
Assim, quando os portos de origem e destino da mercadoria não estiverem
estipulados de maneira clara e concreta no contrato de seguro, a transit clause
deve ser usada, dessa forma, no intuito de evitar problemas relacionados com o
trânsito da mercadoria.
5.2.2 Coberturas especiais
Como as coberturas adicionais as coberturas especiais também agem
como complementares às coberturas básicas e, por isso, devem ser contratadas
juntamente com alguma das coberturas básicas.
As coberturas especiais possuem referência especificamente, a greves,
motins, tumulto, comoções civis e guerra, assim se dividindo em dois grupos.
5.2.2.1 Cláusula de greves, motins, tumultos e comoções civis
A cláusula de greves, motins, tumultos e comoções civis, cobre as perdas e
danos ao bem segurado que foram provocados por grevistas, trabalhadores em
lock-out, pessoas que tomam parte em distúrbios trabalhistas, tumultos e
comoções civis, cobrindo, também, avaria grossa.
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GMCC: abrange cobertura atinente a perdas e danos dos bens por grevistas, trabalhadores em lock-out ou causados por pessoas em distúrbios trabalhistas, tumultos ou comoções civis, garantindo, inclusive, avaria grossa; excetua perdas ou danos causados por vício próprio da mercadoria, falta ou insuficiência de trabalhadores no decurso de uma greve, distúrbio trabalhista, tumulto, comoção civil, hostilidades, operações bélicas, guerra, revolução e insurreição etc. (MARTINS, 2008, p.476)
O seguro referente a esta cláusula tem início no momento em que a
mercadoria sai do armazém de origem, continuando no curso do trânsito normal e
cessando com a chegada da mercadoria no armazém de destino. Caso as
mercadorias continuem no porto após o seu descarregamento, deixando de
seguirem para o armazém de destino, o seguro terá uma validade de 60 dias após
o período combinado com a seguradora.
Dessa forma, esta cláusula busca cobrir os prejuízos resultantes de danos e
perdas geradas por greves, motins, comoções civis e distúrbios trabalhistas,
fazendo com que o segurado deixe de arcar com despesas devido a paralisações
imprevistas.
5.2.2.2 Cláusula de guerra marítima
Esta cláusula cobre as perdas e danos devidos a guerras em geral,
rebelião, hostilidade, captura, sequestro, revoluções, operações bélicas, etc. Ou
seja, busca dar cobertura a todos os atos relacionados com guerra.
[…] dá cobertura contra perdas ou danos causados por caputra, seqüestro, arresto, guerra, guerra civil, rebelião, hostilidades, operações bélicas, revolução, insurreição, minas, torpedos, bombas, ou outros artefatos de guerra abandonados, arrestos e avarias grossa no transporte marítimo. (KEEDI e MENDONÇA, 2000, p. 210)
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Mas a cláusula de guerra marítima não cobre as perdas, danos e outras
despesas devidas direta ou indiretamente baseadas na frustração da viajem ou
aventura marítima.
Segundo Keedi (2000), a cobertura se inicia a partir do momento em que a
mercadoria ou parte dela esteja carregada no navio, e cessa no momento em que
a mercadoria ou parte dela esteja descarregada do navio, no seu porto de destino.
Também terá um prazo de 15 dias, nos casos em que a mercadoria chegue ao
porto de destino e não seja imediatamente descarregada.
Existe ainda uma cláusula chamada warranted free of capture and seizure
(livre captura e apreensão), o qual isenta a seguradora de cobrir os riscos sobre
captura e apreensão decorrentes de captura, arresto, constrição ou detenção.
A cláusula de guerra marítima atua no intuito de proteger o bem do
segurado contra perdas e danos provenientes de rebeliões, hostilidades,
operações bélicas, sequestro, guerra, guerra civil, ou seja, guerras em geral e
afins.
5.3 Tipos de risco
Os riscos da natureza do seguro marítimo de cargas são aqueles
considerados pertinentes aos perigos na navegação em si, ou seja, são os perigos
que possam ser enfrentados durante o processo de navegação marítima.
Devido a isso, segundo Marques (1998, p. 151) “se identificam como
perigos conseqüentes ou incidentes na navegação, [...] como fortuna do mar,
incêndio, guerra, pirataria, roubo, furto, captura barataria e outros similares.
Dessa forma, cabe aqui destacar quais os principais riscos encontrados
durante o processo do seguro marítimo de cargas
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5.3.1 Fortuna do mar ou perigos do mar
A fortuna do mar trata-se de riscos que se originam do mar e devido a se
originar de fenômenos naturais são riscos que não podem ser previsíveis. São
variados os perigos que se originam da fortuna do mar, desta forma:`
Fortuna do mar ou perigo do mar é um acontecimento imprevisível e inevitável que, necessariamente, deve ocorrer durante a navegação. Inúmeras são as hipóteses nas quais o objeto segurado poderá sofrer avaria em decorrência de fortuna do mar. A fortuna do mar deve consagrar-se, efetivamente, em perigos do mar e não, simplesmente, perigos ocorridos no mar. (MARTINS, 2008, p. 454)
Entretanto, o termo designado para fortuna do mar não pode ser usado
para cobertura dos danos e prejuízos a embarcação provenientes do desgaste
natural, por exemplo, os ventos e ondas que vão atingindo a embarcação que com
o tempo acabam por causar o desgaste de determinadas peças e partes.
Contudo, pode-se dizer que a fortuna do mar se trata dos danos e prejuízos
fortuitos, ou seja, inevitáveis e imprevisíveis, os quais ocorrem durante o percurso
da navegação se originando devidamente do mar e não dos perigos “no mar”.
5.3.2 Alijamento
O alijamento significa o ato de jogar carga ou parte do equipamento do
próprio navio ao mar com o intuito de retirar o navio de uma situação de
emergência ou necessidade.
Dessa forma, segundo Martins (2008, p.455) “Alijamento consiste na ação
deliberada de jogar, alijar carga ou parte do equipamento do navio ao mar com
finalidade de tornar o navio mais leve ou retirá-lo de uma situação de necessidade
ou emergência”.
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Em regra, o alijamento se entende como um ato intencional, onde se busca
salvar a tudo e todos envolvidos na expedição marítima, diante de uma situação
de perigo real e eminente, ou seja, com a hipótese de ser classificado como avaria
grossa, devido a isso os prejuízos resultantes da carga ou outro equipamento
sacrificado em pró dos interessados na viajem poderão ser cobertos por todos os
interessados na viajem.
5.3.3 Arribada
A arribada acontece quando o capitão leva o navio ou embarcação para um
porto fora de rota, podendo ser um ato forçado ou voluntário.
Assim, segundo Raphael (2003, p.71) “dá-se a arribada quando o navio
entra num porto que não estava previsto como de sua escala, ou quando o navio
retorna ao porto de partida sem completar a viagem iniciada”.
Existem dois tipos de arribada: a forcada e a voluntária. A forçada ocorre
quando o capitão é obrigado a conduzir o navio ou embarcação sem que dependa
da sua vontade, isso geralmente ocorre quando acontece algum perigo ao navio
ou navio durante a navegação, ou por que o navio necessita reparos. A voluntária
ocorre quando for um ato provocado.
Sendo assim, a arribada ocorre quando o navio executa uma parada num
porto que não estava previsto como escala, também podendo ser quando o navio
retorna ao porto de origem sem completar a viajem a qual se iniciou, podendo ser
tanto forçada quanto voluntária.
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5.3.4 Incêndio e explosões
Para que a cobertura por incêndio explosões seja executada é necessário
que os danos e perdas sofridos pelo incêndio, estejam ligados a uma causa de
natureza aleatória, ou seja, para que haja cobertura o incêndio não pode ter sido
causado pelo próprio segurado ou por algum preposto seu.
Embora o incêndio não constitua exatamente um dos riscos inerentes à fortuna do mar, é coberto pelas apólices. [...] Todavia, para que a cobertura funcione a favor do segurado é necessário que a perda e/ou dano originários do fogo estejam, ligados a uma causa de natureza aleatória. Vale dizer, portanto, que os incêndios causados pelo próprio segurado ou por seus prepostos e, neste último caso com a sua participação, por ação ou omissão, não encontraram cobertura na apólice por configurarem ato do próprio segurado. (MARQUES, 1998, p.156)
A seguradora apenas ficará livre da indenização ao segurado nos casos em
que se comprove a participação do segurado ou preposto no incêndio ou
explosão, bem como nos casos de vício próprio da coisa. Nos casos de
combustão espontânea a seguradora apenas estará livre da indenização se
conseguir demonstrar que o segurado estava ciente de que a carga já estava em
condições para começar um incêndio por combustão espontânea no momento em
que contratou o seguro.
Perante isto, a cobertura de risco coberto de incêndio e explosão tem o
objetivo de cobrir todos os danos e perdas originados por incêndios e explosões,
os quais não foram gerados por atos do próprio segurado ou atos pertinentes a
ele, ou seja, incêndios e explosões proporcionados por causas de natureza
aleatória.