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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA 22ª VARA CÍVEL, DA SEÇÃO
JUDICIÁRIA DE SÃO PAULO.
Ação Civil Pública n.º 5010777-40.2018.4.03.6100.
Autor: IDEC – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
Ré: ANS – Agência Nacional de Saúde Suplementar
UNIMED DO BRASIL – CONFEDERAÇÃO NACIONAL
DAS COOPERATIVAS MÉDICAS, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no
CNPJ/MF n. 48.090.146/0001-00, sediada na Alameda Santos, n° 1827, 2° Andar,
Cerqueira César, CEP. 01419-909, em São Paulo – SP (docs. 1 e 2), neste ato por
seus advogados, vem respeitosamente perante Vossa Excelência, com fundamento no
artigo 138 do Código de Processo Civil, requerer a sua admissão nos presentes autos
na qualidade de “AMICUS CURIAE”, pelas razões que passa a expor:
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I – DA INTERVENÇÃO DO AMICUS CURIAE e da REPRESENTATIVIDADE da REQUERENTE
A abertura das hipóteses de intervenção do amicus curiae
introduzida pelo art. 138 CPC/15 foi recebida com entusiasmo pela comunidade jurídica
nacional, por se tratar de mecanismo destinado a contribuir para uma prestação
jurisdicional mais qualificada.
A requerente é Confederação com representatividade
nacional, instituída na forma do inciso III, art. 6º da Lei 5.764/71(1), que congrega as
Federações, que por sua vez são formadas pelas singulares.
Preconiza o art. 9º da Lei n. º 5.764/71, que as Confederações de
cooperativas têm por objetivo orientar e coordenar as atividades das filiadas, nos casos
em que o vulto dos empreendimentos transcendam o âmbito de capacidade ou
conveniência de atuação das federações.
Nesta esteira a UNIMED DO BRASIL, no âmbito do Sistema
Cooperativo Unimed, dedica-se à representação institucional do Sistema Cooperativista
Unimed, zelando pela defesa da marca, relacionamento intercooperativo, entre outros,
isto é, que fazem parte dos objetivos das cooperativas.
O Estatuto Social da UNIMED DO BRASIL dispõe no Capítulo II –
Do Objeto Social, art. 2º que “... com base na colaboração recíproca a que se obrigam
as suas Confederadas, tem como objeto”:
I - a representação nacional e internacional do Sistema das Sociedades
Cooperativas UNIMED;
(1)Art. 6º. As sociedades cooperativas são consideradas:
I - singulares, as constituídas pelo número mínimo de 20 (vinte) pessoas físicas, sendo excepcionalmente
permitida a admissão de pessoas jurídicas que tenham por objeto as mesmas ou correlatas atividades
econômicas das pessoas físicas ou, ainda, aquelas sem fins lucrativos;
II - cooperativas centrais ou federações de cooperativas, as constituídas de no mínimo, 3 (três) singulares,
podendo, excepcionalmente, admitir associados individuais;
III - confederações de cooperativas as constituídas, pelo menos, de 3 (três) federações de
cooperativas ou cooperativas centrais, da mesma ou de diferentes modalidades.
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II – a orientação e coordenação das atividades das filiadas, no caso em que o vulto
dos empreendimentos transcenda o âmbito de capacidade ou conveniência de suas
atuações, tais como propriedade de nomes e marcas, assuntos internacionais
ligados ao cooperativismo, tributos e contribuições sociais,...;
III - o cumprimento das funções que lhe foram delegadas pelas sociedades
integrantes do Sistema Cooperativo UNIMED, como organizadora permanente das
Convenções Nacionais e agente nas alterações da Constituição UNIMED, na
direção e no funcionamento do Fórum UNIMED e no comando político do Sistema;
IV - a promoção e organização dos eventos de âmbito nacional e internacional;
V - a coordenação da definição de políticas para o uso de informações, tecnologia,
produtos, insumos e serviços, sua hierarquização e consequente promoção;
VI – exigir das cooperativas integrantes do Sistema UNIMED o cumprimento dos
deveres previstos na Constituição UNIMED e em suas Normas Derivadas, ou
estabelecidos pelo Conselho Confederativo, podendo, inclusive, impor penalidades
no caso de descumprimento delas, observado o disposto no art. 41, §2º, da
Constituição Unimed;
VII – Operar Planos Privados de Assistência à Saúde às Cooperativas do Sistema
Unimed.
Infere-se que a UNIMED DO BRASIL tem como objetivo precípuo
a representação institucional de todas as Unimeds, conforme estabelece seu estatuto.
Outrossim, a UNIMED DO BRASIL tem legitimidade para
defender os interesses de suas associadas, ex vi do art. 2º, § 7º do Estatuto Social,
abaixo transcrito:
Art. 2º. (...)
§ 7º. A CONFEDERAÇÃO poderá propor ações judiciais ou medidas extrajudiciais
em defesa dos direitos de suas associadas.
A representatividade nacional da UNIMED DO BRASIL por si só
autoriza a intervenção na qualidade de Amicus Curiae.
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Mas não é só. A UNIMED DO BRASIL tem expertise e
conhecimento da matéria objeto da presente ação, que apresenta relevância,
especificidade e ainda expressiva repercussão geral, podendo contribuir com este r.
Juízo e com os demais órgãos jurisdicionais com informações técnicas relevantes para
o julgamento do feito.
Destarte, requer seja autorizada a intervenção nos presentes
autos da Requerente como Amicus Curiae, na forma e efeitos do art. 138 do CPC.
2. DA INOVAÇÃO NO ADITAMENTO: ausência de autorização, prejuízo à defesa e da decisão surpresa
Considerando o objeto da presente Ação Civil Pública, que se
caracteriza pela elevada complexidade e ampla repercussão social, qualquer alteração
do pedido ou causa de pedir deveria ser cercada de cuidados, impondo o cumprimento
a risca dos ditames legais.
O IDEC requereu o aditamento da petição inicial anteriormente
formulada, após a manifestação da ANS nos autos, sem obter o consentimento do réu,
olvidando o contraditório, ao arrepio do art. 329, I do CPC.
Anota-se que, considerando a modificação dos elementos da
ação (causa de pedir e pedido) procedido pelo Autor pelo aditamento à inicial após a
citação da Ré com incremento de novos fatos e fundamentos, apenas poderia ser
apreciado o requerimento de tal alteração após a concordância da ANS, nos termos do
artigo 329, I do CPC/15(2).
(2) Art. 329. O autor poderá:
I - até a citação, aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir, independentemente de consentimento do
réu;
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Constata-se nitidamente que o pedido de concessão de tutela de
urgência lastreia-se em fatos novos e ocorreram após a distribuição da demanda e
citação da parte Ré, exigindo prévio consentimento da ANS, ora Ré, e
oportunidade do contraditório, cujo respeito à norma geraria a neutralização,
assim, de prolação de decisão surpresa (art. 10 do CPC/15).
A respeito da matéria, leciona Jose Miguel Garcia Medina(3):
“A lei processual permite a alteração e o aditamento do pedido e da causa de
pedir, independentemente do consentimento do réu, desde que antes da citação. Após a
citação, e até o saneamento do feito (art. 327 do CPC/15), a alteração dependerá do
consentimento do réu (cf. art. 329, II do CPC/15). (...) Deve-se assegurar o direito ao
contraditório e à produção de provas, caso a alteração realiza-se após a citação (art.
329, II do CPC/15). Não se admite, porém, a alteração dos fatos que fundamentam a
pretensão do autor. Se a emenda da petição inicial (art. 321 do CPC/15) depender de
modificação do pedido ou da causa de pedir, deve-se observar o disposto no art. 329
do CPC/15.”
Salienta-se ainda que houve ofensa aos princípios do
contraditório e ampla-defesa (preconizadas pelo art. 5º, LV da Constituição Federal),
uma vez que deveria ter sido conferida a oportunidade para a Ré se manifestar acerca
do pedido de aditamento deduzido pelo Autor, que altera os fatos.
Aliás, a alteração de fatos procedida pelo Autor nos autos é
altamente controvertida, inadmissível, como entende José Miguel Garcia Medina.
Acresce que o aditamento veicula alteração do pedido de medida
liminar, destoando do pedido principal.
Em verdade, tratando-se de tutela de urgência, o pedido deve ser
congruente e adequado com a pretensão de mérito, sob pena do pedido carecer de
3 MEDINA, Jose Miguel Garcia, Direito Processual Civil Moderno, 2ª Ed, Editora Revista dos Tribunais, São Paulo,
2016.
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interesse processual, na forma e efeitos do art. 17, impondo a extinção do processo
sem julgamento de mérito, por força do art. 485, VI do CPC.
Ante as razões delineadas, levando em conta que inexistiu a
anuência da Ré acerca do pedido de aditamento e a oportunidade do exercício do
contraditório, a decisão por meio da qual foi concedida a medida liminar deve ser
reconsiderada, por afrontar os artigos 329, I, 9º e 10º do CPC/15 e a art. 5º LV da
Constituição Federal.
3. A OPERADORA DE PLANO DE SÁUDE À SERVIÇO DO USUÁRIO: necessário equilíbrio e da defasagem atual
É requisito essencial para a sobrevivência do sistema
suplementar de saúde o equilíbrio na equação composta pelas receitas e custos dos
planos de saúde considerando as efetivas despesas do setor. Cuida-se de âmbito de
alta complexidade e avanços tecnológicos de custos expressivos que impactam
permanentemente nos contratos.
Com efeito o AUTOR sob o argumento de impor à ANS o dever
de “corrigir os índices de reajustes aplicados...” pede que ANS abstenha-se de aplicar
“índice máximo” de reajuste. Data vênia, a pretensão do Autor caracteriza-se por ser
míope e açodada.
Ocorre que a ANS nunca autorizou o denominado pelo Autor
de “índice máximo”.
Ao contrário, os indexadores aplicados pela ANS têm gerado
DEFASAGEM ao longo dos anos, gerando o desinteresse e abandono por muitas
operadoras na oferta de contratos de planos de saúde individual e familiar.
São pouquíssimas as operadoras de planos de saúde que ainda
comercializam no território nacional os planos de saúde individual e familiar.
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Destacam-se 4 (quatro), dentre os diversos fatores que
contribuem para produzir o expressivo déficit no setor aptos a evidenciar que a adoção
de indexador inferior ao adequado para os contratos individuais ou familiares pela ANS,
são eles:
1) Índice que não reflete o custo dos serviços médicos,
hospitalares, nem os medicamentos e materiais hospitalares;
2) Subavaliação do impacto do Rol da ANS;
3) Aumento na frequência de utilização de procedimentos;
4) Imposição por decisão judicial às operadoras de despesas de
alto custo não previstas no índice, nem no cálculo atuarial, como por exemplo, o
fornecimento do medicamento Spinraza, que tem gerado diversos processos judiciais,
utilizado para tratamento de distrofia muscular, que segundo a FenaSaúde, possui
custo anual estimado de US 1 milhão para o primeiro ano de tratamento, e mais US
300 mil anuais a partir do segundo ano de tratamento.
Com efeito, é preciso informar que as Cooperativas UNIMEDS
são as operadoras que mantém em sua carteira o maior número de contratos
individuais e familiares
Daí porque a pertinência das informações que serão
apresentadas, revela a severa defasagem dos preços autorizados pela ANS a
estes contratos.
Segue o comparativo entre os reajustes dos planos individuais
divulgados pela ANS e a variação dos custos per capita dos planos individuais do
Sistema Unimed. O reajuste de planos individuais divulgados pela ANS é
retrospectivo. Ou seja, o reajuste a ser divulgado em 2018 pela Agência refere-se ao
aumento dos custos assistenciais de 2017, e por isso, na tabela abaixo, o percentual
de reajuste de 2018 não está demonstrado:
Reajuste ANS 2014 (base despesas 2013) 9,65% Variação do Custo per capita dos planos individuais da Unimed 2013 19,15%
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Reajuste ANS 2015 (base despesas 2014) 13,55%
Variação do Custo per capita dos planos individuais da Unimed 2014 22,40%
Reajuste ANS 2016 (base despesas 2015) 13,57% Variação do Custo per capita dos planos individuais da Unimed
2015 16,45%
Reajuste ANS 2017 (base despesas 2016) 13,55% Variação do Custo per capita dos planos individuais da Unimed
2016 15,01%
Reajuste ANS 2018 (base despesas 2017) * Variação do Custo per capita dos planos individuais da Unimed
2017 11,23%
Fonte: SIP das operadoras do Sistema Unimed (*) Índice não divulgado
Como pode se observar dos dados acima, os reajustes anuais
aplicados pela ANS não refletem a variação dos custos assistenciais da saúde
suplementar, produzindo déficit expressivo, a evidenciar, também que a ANS não
adotou “índices máximos”.
De 2014 para 2018, o aumento acumulado do custo assistencial per
capita foi de 117,27%, com base nos dados do Sistema Unimed, enquanto a variação
acumulada do reajuste da ANS foi de 60,56%, conforme representado no gráfico abaixo.
Além da inflação e do custo dos serviços hospitalares e serviços
médicos e dos Insumos Medicamentos e materiais Hospitalares, a cada dois anos há
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uma atualização do Rol de Procedimentos da ANS com novas inclusões para
cobertura.
Em 2018, a ANS incorporou um total de 18 procedimentos e 39
DUT’s no rol, que segundo cálculo realizado pela Unimed do Brasil, gera um impacto
de 3,936%, ou seja, um acréscimo de 3,936% nas despesas assistenciais das
operadoras. Em termos absolutos, o impacto corresponde a um custo adicional anual
de R$ 110,33 (cento e dez reais e trinta e três centavos) por beneficiário (4).
A propósito deste tema, e considerando que a adoção dos índices
pela ANS derivados do incremento do rol de procedimentos não reflete as despesas
assistênciais, o pedido de “exclusão dos fatores exógenos” do Autor produzirão o
AGRAVAMENTO do desequilíbrio do setor.
Data máxima vênia, o Autor não revela conhecimento técnico
aprofundado, apto a legitimá-lo a debater ou impugnar os CRITÉRIOS TÉCNICOS
que têm sido adotados pela ANS, que em suma, causam déficit no setor.
Mais um fator que repercute na formação do preço é
fornecimento compulsivo (imposto por liminares exaradas pelo Poder Judiciário) de
medicamento de alto custo tem gerando um impacto relevantíssimo nas despesas
das operadoras.
(4) O estudo foi realizado com base nos dados de prevalência e custo de cada procedimento, de acordo
com as seguintes literaturas:
- FormSus: é um serviço de uso público, com Normas de Utilização definidas, compatíveis com a
legislação e com a Política de Informação e Informática do SUS.
- Conitec: Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS, que tem por objetivo
assessorar o Ministério da Saúde - MS nas atribuições relativas à incorporação, exclusão ou alteração
de tecnologias em saúde pelo SUS, bem como na constituição ou alteração de Protocolos Clínicos e
Diretrizes Terapêuticas - PCDT.
- Artigos da Scielo: é um banco de dados bibliográfico, biblioteca digital e modelo cooperativo
de publicação digital de periódicos científicos brasileiros de acesso aberto.
- IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), onde retiramos informações sobre a
população brasileira por idade e por sexo
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É preciso também trazer a lume o aumento de frequência de
utilização dos planos (independente da faixa etária), representada tanto em tabela
quanto graficamente:
Frequência de planos individuais
Consultas Internações
Consultas oncológicas + quimioterapia Exames
2012 6,58 0,201 0,074 12,59
2013 6,25 0,262 0,072 12,90
2014 6,50 0,259 0,108 14,77
2015 6,81 0,257 0,075 16,20
2016 7,15 0,279 0,103 17,78
2017 7,24 0,252 0,206 19,94
Adiante ilustram-se com gráficos os números acima expostos
tematicamente.
6,58
6,25
6,50
6,81
7,15 7,24
5,60
5,80
6,00
6,20
6,40
6,60
6,80
7,00
7,20
7,40
2012 2013 2014 2015 2016 2017
Frequência de Consultas
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(*) Esse quadro demonstra o grande impacto crescente no
aumento do custo per capta iniciado em 2016, referente aos novos medicamentos
utilizados na quimioterapia que são de elevados custos.
0,201
0,262 0,259 0,257
0,279
0,252
0,190
0,200
0,210
0,220
0,230
0,240
0,250
0,260
0,270
0,280
0,290
2012 2013 2014 2015 2016 2017
Frequência de Internações
0,074 0,072
0,108
0,075
0,103
0,206
0,070
0,090
0,110
0,130
0,150
0,170
0,190
0,210
0,230
2012 2013 2014 2015 2016 2017
Frequência de Consultas Oncológicas + quimioterapia (*)
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É preciso destacar que de 2012 para 2017 houve um aumento
de cerca de 10,05% da frequência de consultas, um aumento de 25,43% da
frequência de internações, um aumento de 179,02% da frequência de consultas
oncológicas e quimioterapia e um aumento de 58,36% da frequência de exames.
O aumento da frequência é observado em todas faixas etárias
no geral, e não guarda relação com o reajuste por faixa etária permitido pela ANS,
cujo avançar da idade já tem, por natureza, custos assistenciais mais elevados como
comprovado na literatura atuarial ao longo de décadas.
Neste particular, cumpre destacar que a única forma de
segmentação permitida pela Agência de Saúde Suplementar para a precificação dos
planos de saúde é a idade. São vedados outros tipos de diferenciação tais como
sexo, local de residência, renda, hábitos de vida, ocupação profissional, entre outros.
Atribui-se a inúmeras e variadas causas esse aumento de
frequência, destacando-se: 1) estilo de vida sedentário e estressante; 2) aumento de
pressão com a crise econômica; 3)envelhecimento da população (quanto maior as
idades dos beneficiários, maiores tendem a ser as despesas médico hospitalares,
tanto pela maior complexidade dos serviços demandados quanto pelo aumento da
frequência de utilização dos procedimentos médicos hospitalares), 4) demanda
gerada pelos próprios prestadores, e 5) demanda reprimida, dentre outros motivos.
12,59 12,90
14,77
16,20
17,78
19,94
11,00
13,00
15,00
17,00
19,00
21,00
2012 2013 2014 2015 2016 2017
Frequência de Exames
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Infere-se, pelas informações técnicas fornecidas que a ANS
utilizou indexadores defasados que tem gerado inclusive a fuga de muitas
operadoras de planos de saúde dos contratos individuais e coletivos.
Daí decorre, incontestavelmente, que os motivos em que se
assentam as pretensões do AUTOR são desprovidos de quaisquer fundamentos
fáticos, técnicos e jurídicos.
4. DA IMPERTINÊNCIA DO PEDIDO DO AUTOR: INDEXADOR: IPCA/IBGE inaplicável
O Autor requereu a aplicação do IPCA, Saúde e cuidados
especiais (Grupo 6).
É cediço que o IPCA, o Índice de Preços ao Consumidor é
composto pelos itens abaixo, conforme divulgado pelo IBGE5, assim como o INPC
(Índice de Nacional de Preços ao Consumidor). Estes índices se diferem na
composição ou pesos de cada item: alimentação e bebidas, habitação, artigos de
residência, vestuário, transportes, saúde e cuidados pessoais, despesas pessoais,
educação e comunicação.
(5) https://www.ibge.gov.br
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Enquanto o IPCA mede as variações de preços referentes ao
consumo pessoal o INPC calcula as variações de preços da cesta de consumo das
populações assalariadas e com baixo rendimento.
O item “Saúde e Cuidados Pessoais” que compõe ambos os
índices é composto pelos seguintes subitens:
I- Produtos Farmacêuticos II- Produtos Óticos III- Serviços Médicos e Dentários IV - Serviços Laboratoriais e Hospitalares V- Plano de Saúde VI- Higiene Pessoal
Abaixo, segue a variação acumulada em 12 meses do IPCA,
conforme divulgado pelo IBGE em maio/2018, assim como o peso de cada item:
Variação anual Peso do item
I- Produtos Farmacêuticos 2,40% 28,61%
II- Produtos Óticos -0,41% 2,05%
III- Serviços Médicos e Dentários 5,06% 9,67%
IV - Serviços Laboratoriais e Hospitalares 3,76% 4,84%
V- Plano de Saúde 13,51% 32,95%
VI- Higiene Pessoal 0,74% 21,89%
Um dos subitens deste índice é “Plano de Saúde”, que
corresponde a somente 32,95% do item “Saúde e Cuidados Pessoais”.
Em verdade, com base nas metodologias divulgadas pelo
IBGE, nenhum dos itens que compõe o IPCA e/ou o INPC refletem o aumento dos
custos assistenciais da saúde suplementar no que se refere aos planos
individuais e familiares, além de incluir itens estranhos (higiene pessoal) e
subavaliação de outros.
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Por outro lado, tem-se com precisão o custo per capita dos planos
Individuais/Familiares do Sistema Unimed, que correspondem a cerca de 25% do total
de beneficiários, conforme anteriormente demonstrado.
4. DA OBSERVAÇÃO NECESSÁRIA: ação em curso no TJRJ movida pela Unimed do Brasil x ANS
Impende informar que a Unimed do Brasil e outras instituições
impetraram Mandado de Segurança Coletivo nº 0003858-89.2008.4.02.5101, Autores:
Unimed do Brasil Confederação Nacional das Cooperativas Médicas e Outros, Foro: 8ª
Vara Federal da Seção Judiciária do Rio de Janeiro, a fim de impugnar a retroatividade
dos róis de procedimentos para os contratos celebrados antes das suas respectivas
vigências ou, sucessivamente, que seja garantido o direito das impetrantes e suas
associadas de adequar as contraprestações à correspondente alteração de coberturas
determinadas pelas normas da ANS.
Naquela ação o Tribunal Regional Federal da 2ª Região
reconheceu que ANS detém autonomia para autorizar reajustes e revisões das
contraprestações pecuniárias dos planos de saúde, cabendo-lhe inclusive a instituição
de reajustes que atendam à evolução da Medicina e incremento de novos
procedimentos médico-hospitalares que são custeados pelas operadoras.
Transcreve-se excerto do Acórdão do TRF, da 2ª Região:
“Neste contexto, realmente não há falar em qualquer ofensa à legalidade e à irretroatividade ou ao princípio da legalidade. É da ANS a competência de elaborar o referido rol, cujos procedimentos têm aplicação aos planos de saúde firmados após a vigência da Lei nº 9.656/98, não havendo que se falar em irretroatividade, uma vez que não se está determinando a incidência pretérita do referido rol, mas sua observância após a edição da Resolução Normativa nº 167/2008, que o estabeleceu.
“Da mesma forma, não há que ser provido o apelo no que tange ao pleito alternativo formulado pelas Impetrantes, porquanto, também a teor da Lei nº 9.961/2000, é competência da ANS autorizar reajustes e revisões das contraprestações pecuniárias dos planos privados de assistência à saúde, ouvido o Ministério da Fazenda.” (TRF2, Apelação
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0003858-89.2008.4.02.5101, Relator: Des. Marcelo Pereira da Silva, Julgado 07/12/2016, grifos nossos).
Fonte:http://portal.trf2.jus.br/portal/consulta/mostraarquivo.asp?MsgID=7D8239F5C7DC4D0FA6ECB48D7B67BDBB&timeIni=62558,55&P1=248864&P2=6&P3=&NPI=12&NPT=12&TI=1&NV=27842&MAR=S
Como se vê, as impetrantes requereram no caso de não
acatamento do pedido principal de irretroatividade que, sucessivamente, fosse
garantido o direito das impetrantes e suas associadas de adequarem as
contraprestações à correspondente alteração de coberturas determinadas pelas
normas da ANS.
Todavia, o TRF da 2ª Região julgou improcedente o pedido, sob o
argumento de que essa competência é legalmente atribuída à ANS.
Ora, o pedido do Autor nestes autos pretere atribuição legalmente
conferida à ANS e reconhecida pelo Poder Judiciário - TRF da 2ª Região.
5. DA CONCLUSÃO
À vista do exposto, e considerando as precisas e relevantes
informações técnicas cumpre CONCLUIR:
1) Caber a reconsideração da medida liminar, com base nos
seguintes argumentos:
1.1) nulidade da decisão lastrear-se em aditamento da
petição inicial após a citação da ANS, sem obtenção de
seu consentimento e com subtração ao contraditório,
configurando decisão surpresa, com violação dos arts.
9º, 10, 329, I do CPC e art. 5º, XXXV da CF;
1.2) a ausência de base técnica dos pedidos formulados
pelo Autor a revelar o desconhecimento efetivo dos
critérios utilizados pela ANS que inclusive geram déficit
no setor;
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1.3) inaplicabilidade do IPCA/IBGE – Grupo 6 - Saúde e
Cuidados Especiais no montante de 5,72%, cabendo o
índice a ser autorizado pela ANS.
2) É de rigor a extinção do processo sem julgamento de mérito
pela falta de interesse de agir, pela inadequação da medida
liminar requerida, incongruente com a pretensão principal, na
forma dos arts. 17, 485, VI do CPC e pretere a decisão do TRF
da 2ª Região.
3) Impõe-se a improcedência da ação pelos motivos técnicos
apresentados.
Nestes termos, Pede deferimento,
São Paulo, 20 de Junho de 2018.
Cláudia Elisabete Schwerz Marcelo Zucker OAB/SP 122.123 OAB/SP 307.126