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Secretaria Federal de Controle Interno Unidade Examinada: MUNICIPIO DE PEDRO GOMES - MS Introdução 1. Introdução Este Relatório trata do resultado de ação de controle desenvolvida em função de situações presumidamente irregulares, ocorridas em MUNICIPIO DE PEDRO GOMES - MS, apontadas à Controladoria-Geral da União - CGU, que deram origem ao Processo nº 00211.000113/2015-14. A fiscalização teve como objetivo analisar os motivos do grande atraso na obra de construção de uma Escola ProInfância Creche tipo “B” na sede do Município de Pedro Gomes/MS, que foi implementada por meio do Convênio SIAFI Nº 654976 (nº original: 657175/2009), celebrado entre a Prefeitura Municipal de Pedro Gomes/MS e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação FNDE em 29/12/2009, no valor de R$ 1.284.048,55, sendo R$ 1.271.208,06 em recursos federais e R$ 12.840,49 da contrapartida local. Os trabalhos de campo foram realizados no período de 21 a 23 de novembro de 2016 sobre a aplicação de recursos federais do programa 2030 - Educação Básica / 12KU - Implantação de Escolas para Educação Infantil no município de Pedro Gomes/MS. Os exames foram realizados em estrita observância às normas de fiscalização aplicáveis ao Serviço Público Federal, tendo sido utilizadas, dentre outras, técnicas de inspeção física e registros fotográficos, análise documental, realização de entrevistas e aplicação de questionários.

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Secretaria Federal de Controle Interno

Unidade Examinada: MUNICIPIO DE PEDRO GOMES -

MS

Introdução

1. Introdução

Este Relatório trata do resultado de ação de controle desenvolvida em função de situações

presumidamente irregulares, ocorridas em MUNICIPIO DE PEDRO GOMES - MS,

apontadas à Controladoria-Geral da União - CGU, que deram origem ao Processo nº

00211.000113/2015-14.

A fiscalização teve como objetivo analisar os motivos do grande atraso na obra de construção

de uma Escola ProInfância Creche tipo “B” na sede do Município de Pedro Gomes/MS, que

foi implementada por meio do Convênio SIAFI Nº 654976 (nº original: 657175/2009),

celebrado entre a Prefeitura Municipal de Pedro Gomes/MS e o Fundo Nacional de

Desenvolvimento da Educação – FNDE em 29/12/2009, no valor de R$ 1.284.048,55, sendo

R$ 1.271.208,06 em recursos federais e R$ 12.840,49 da contrapartida local.

Os trabalhos de campo foram realizados no período de 21 a 23 de novembro de 2016 sobre a

aplicação de recursos federais do programa 2030 - Educação Básica / 12KU - Implantação de

Escolas para Educação Infantil no município de Pedro Gomes/MS.

Os exames foram realizados em estrita observância às normas de fiscalização aplicáveis ao

Serviço Público Federal, tendo sido utilizadas, dentre outras, técnicas de inspeção física e

registros fotográficos, análise documental, realização de entrevistas e aplicação de

questionários.

Os executores dos recursos federais foram previamente informados sobre os fatos relatados,

tendo se manifestado em 13 de março de 2017 sobre parte dos apontamentos, cabendo ao

Ministério supervisor, nos casos pertinentes, adotar as providências corretivas visando à

consecução das políticas públicas, bem como à apuração das responsabilidades.

1.1. Informações sobre a Ação de Controle

Ordem de Serviço: 201603272

Número do Processo: 00211.000113/2015-14

Município/UF: Pedro Gomes/MS

Órgão: MINISTERIO DA EDUCACAO

Instrumento de Transferência: Convênio - 657175

Unidade Examinada: MUNICIPIO DE PEDRO GOMES - MS

Montante de Recursos Financeiros: R$ 1.284.048,55

2. Resultados dos Exames

Os resultados da fiscalização serão apresentados de acordo com o âmbito responsável pela

tomada de providências para saneamento das situações encontradas, bem como pela existência

de monitoramento a ser realizada por este Ministério.

2.1 Parte 1

Não houve situações a serem apresentadas nesta parte, cuja competência para a adoção de

medidas preventivas e corretivas seja dos gestores federais.

2.2 Parte 2

Nesta parte, a competência primária para adoção de medidas corretivas dos fatos

apresentados a seguir pertence ao executor do recurso federal descentralizado. Esclarece-

se que as situações relatadas são decorrentes de levantamentos necessários à adequada

contextualização das constatações relatadas na primeira parte.

Dessa forma, compõem o relatório para conhecimento dos Ministérios repassadores de

recursos federais, embora não exijam providências corretivas isoladas por parte das pastas

ministeriais. Destinam-se, ainda, para ciência dos Órgãos de Defesa do Estado com vistas à

tomada de providências no âmbito das respectivas competências. Este Ministério não

realizará o monitoramento isolado das providências saneadoras relacionadas a estas

constatações.

2.2.1. Informações sobre a construção de creche Proinfância tipo "B", no município de

Pedro Gomes/MS.

Fato

Trata-se de Relatório de Fiscalização realizado com o objetivo de apurar a regularidade da

aplicação de Recursos Federais destinados à construção de uma Escola ProInfância Creche

tipo “B” na sede do Município de Pedro Gomes/MS, que foi implementada por meio do

Convênio SIAFI Nº 654976 (nº original: 657175/2009), celebrado entre a Prefeitura

Municipal de Pedro Gomes/MS e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação –

FNDE em 29 de dezembro de 2009, no valor de R$ 1.284.048,55, sendo R$ 1.271.208,06 em

recursos federais e R$ 12.840,49 da contrapartida local.

De acordo com consulta ao Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo

Federal - Siafi, realizada em 1º de dezembro de 2016, desde o início de sua vigência até a data

da consulta, foi liberado à Prefeitura de Pedro Gomes/MS o valor de R$ 1.271.208,06 (100%

do total do convênio), conforme tabela a seguir. Os recursos foram movimentados na conta

específica nº 10637-2 da agência nº 2431 do Banco do Brasil.

Parcela Valor Pactuado Repasse

(R$)

Valor Liberado

(R$)

Valor a Liberar

(R$) Data

0 1.271.208,06 29/12/2009

1 635.604,03 635.604,03 10/06/2010

317.802,02 317.802,01 30/12/2011

317.802,01 0,00 17/12/2012

Fonte: Siafi, pesquisa realizada em 01 de dezembro de 2016.

Segue abaixo o Cronograma Físico-Financeiro de execução do convênio existente no Sistema

Integrado de Monitoramento Execução e Controle – Simec:

Descrição do Item Data de

Início

Data de

Término

Valor do

Item (R$) %

Serviços preliminares/técnicos 10/08/2010 31/08/2010 5.331,19 0,42

Infra-estrutura / fundações simples 10/08/2010 31/10/2010 434.920,84 33,88

Alvenaria/vedação/divisória 01/09/2010 31/03/2011 553.047,91 43,08

Instalações hidráulicas e sanitárias 01/09/2010 28/02/2011 113.260,74 8,82

Instalações elétricas 01/09/2010 31/03/2011 115.089,32 8,96

Ar condicionado 01/11/2010 30/11/2010 4.642,66 0,36

Instalações de combate a incêndio 01/03/2011 31/03/2011 4.759,79 0,37

Serviços complementares 01/03/2011 29/05/2012 1.247,55 0,1

Instalações especiais (som, alarme, cftv, dentre outros) 10/08/2010 29/05/2012 51.500,00 4,01

Totais 1.283.800,00 100,00

Fonte: Simec, pesquisa realizada em 07 de dezembro de 2016.

No Siafi o convênio encontra-se adimplente, com prazo de prestação de contas para a data de

03 de janeiro de 2015. Já o Simec informa que a situação da obra é concluída. A despeito da

informação de obra concluída, no Simec encontramos informação lançada pela Prefeitura

Municipal de Pedro Gomes/MS (PMPG/MS) que a obra se encontra inacabada com percentual

de execução de 97,62%, sendo que esse percentual foi informado na data 09 de junho de 2014.

Já o último monitoramento lançado no Simec, na data de 13 de junho de 2016, pela empresa

terceirizada pelo FNDE para fiscalizar a obra, aponta que o percentual de execução da obra é

de 50,70%.

A execução do objeto do convênio (Construção da Creche no município de Pedro Gomes/MS)

foi operacionalizada por meio da Tomada de Preços n° 009/2010, tipo menor preço global,

realizada em 07 de julho de 2010, às 08h00m, sagrando-se vencedora a empresa 3AN Serviços

de Agronomia e Engenharia Ltda., CNPJ 01.404.846/0001-50, com proposta no valor global

de R$ 1.283.800,00 e prazo de oito meses corridos a partir da emissão da ordem de serviço de

início da obra para entrega do objeto licitado. Ressalta-se que a empresa vencedora foi a única

participante do certame licitatório.

Em consequência, o resultado da Tomada de Preço n° 09/2010 foi adjudicado e homologado

em oito de julho de 2010, sendo celebrado o termo de contrato n° 139/2010, em 13 de julho

de 2010, com vigência até 21 de junho de 2011.

Ressalta-se que o Contrato n° 139/2010 foi aditivado dez vezes, conforme a seguir descrito:

Termo Aditivo Data Objeto

Primeiro 20/05/2011 Prorrogação do prazo do contrato para 21/05/2012.

Segundo 02/05/2012 Prorrogação do prazo do contrato para 21/05/2013.

Terceiro 10/05/2013 Prorrogação do prazo do contrato para 19/04/2014.

Quarto 12/09/2013 Retificação do prazo do contrato para 31/12/2013.

Quinto 16/12/2013 Prorrogação do prazo do contrato para 31/03/2014.

Sexto 20/03/2014 Prorrogação do prazo do contrato para 30/06/2014.

Sétimo 10/06/2014 Prorrogação do prazo do contrato para 28/09/2014.

Oitavo 22/09/2014 Prorrogação do prazo do contrato para 27/12/2014.

Nono 12/12/2014 Prorrogação do prazo do contrato para 27/03/2015.

Décimo 16/03/2015 Prorrogação do prazo do contrato para 25/06/2015.

Fonte: Processo licitatório n° 056/2010, PMPG/MS.

Vale destacar que os termos aditivos de prazo foram assinados sem que a garantia do contrato

fosse renovada, assim, a contratação ficou sem a garantia a qual a empresa contratada estava

obrigada a apresentar desde 21 de junho de 2011, data do fim da vigência da apólice de seguro

contratada pela vencedora do certame (nº 01-0745-0220369).

Foram emitidos e pagos 19 boletins de medição em função do contrato nº 139/2010,

totalizando R$ 1.256.719,80, conforme a seguir descrito:

N° do Boletim de Medição Período de Realização dos Serviços. Valor Medido e Pago. (R$)

01 15/12/2010 a 17/01/2011 55.400,00

02 17/01/2011 a 31/03/2011 62.080,00

03 01/04/2011 a 10/05/2011 63.143,00

04 11/05/2011 a 13/06/2011 101.023,97

05 13/06/2011 a 13/08/2011 109.079,00

06 14/08/2011 a 13/09/2011 88.519,49

07 14/09/2011 a 27/10/2011 90.202,71

08 08/12/2011 a 06/02/2012 82.550,00

09 07/02/2011 a 08/03/2012 95.613,95

10 09/03/2012 a 08/04/2012 47.377,44

11 09/04/2012 a 29/05/2012 51.241,24

12 30/05/2012 a 30/08/2012 58.500,00

13 21/08/2012 a 01/10/2012 26.920,00

14 20/10/2012 a 22/11/2012 80.000,00

15 20/11/2012 a 18/12/2012 74.107,60

16 20/12/2012 a 22/02/2013 46.610,00

17 23/02/2013 a 01/04/2013 61.700,00

N° do Boletim de Medição Período de Realização dos Serviços. Valor Medido e Pago. (R$)

18 23/02/2013 a 18/06/2013 30.000,00

19 23/02/2013 a 10/09/2013 32.651,40

Valor Total Medido e Pago 1.256.719,80

Fonte: Processo licitatório n° 056/2010, PMPG/MS.

Efetuando-se a conciliação bancária, com os pagamentos realizados, verifica-se que foram

pagos com os Recursos Federais disponibilizados R$ 1.243.879,31. Destaca-se que a conta

corrente do convênio apresenta saldo zero em virtude de no dia 29 de dezembro de 2015 a

Prefeitura Municipal de Pedro Gomes/MS ter recolhido o saldo de R$ 107.253,84, existente a

época, por Guia de recolhimento da União tendo como beneficiário o FNDE, sendo R$

27.328,75 do valor original disponibilizado pela União não utilizado e o restante proveniente

de rentabilidade de aplicação financeira.

No dia 16 de abril de 2015 a empresa 3AN Serviços de Agronomia e Engenharia Ltda. foi

notificada extrajudicialmente pela Prefeitura Municipal de Pedro Gomes/MS para concluir a

obra no prazo de 15 dias, sob pena de incorrer nas sanções administrativas e judiciais

pertinentes.

Em requerimento formulado pela contratada no dia 11 de agosto de 2015, a empresa solicita

termo aditivo para alterar a planilha de custos com um incremento financeiro de R$ 93.133,18

e novo aditamento do prazo contratual, alegando que houve atrasos nos repasses do Governo

Federal, que encontrou dificuldade de mão de obra para serviços especializados, bem como

que foram constatadas algumas diferenças entre o projeto de execução e a planilha

orçamentária licitada e a existência de serviços necessários e realizados que não constavam

no projeto. Em resposta ao requerimento, no dia quatro de dezembro de 2015, o Município de

Pedro Gomes/MS indeferiu o pedido de aditamento do valor do contrato e novo prazo para

conclusão da obra. Ressalta-se que a vigência do contrato se encerrara em 25 de julho de 2015.

No dia 14 de dezembro de 2015, o Município de Pedro Gomes declarou rescindido

unilateralmente o Contrato nº 139/2010, com base no Artigo 58, Inciso II, no Artigo 78, Inciso

I e no Artigo 79, Inciso I e § 1º, todos da Lei Federal 8.666 de 21 de junho de 1993. No mesmo

despacho foi determinado a realização de nova licitação para término do remanescente da

obra.

Durante a execução da obra do contrato nº 139/2010, foi instaurada na Câmara de Vereadores

de Pedro Gomes/MS uma Comissão Parlamentar de Inquérito, CPI nº 01/2015, destinada a

investigar supostas ilegalidades e irregularidades nas obras públicas abandonadas no

Município, cujo requerimento foi apresentado e aprovado no dia 22 de junho de 2015. O objeto

do Convênio ora analisado faz parte das obras investigadas pela Comissão parlamentar de

Inquérito. O relatório final já foi emitido e franqueado aos auditores. A época das análises da

CPI a obra se encontrava paralisada e foram identificados pagamentos realizados a empresa

contratada por serviços não realizados no montante de R$ 199.725,24.

Em 18 de março de 2016, a Prefeitura Municipal de Pedro Gomes/MS ingressou com ação de

cobrança combinado com perdas e danos e pedido de tutela antecipada, que deu origem ao

Processo nº 0800133-23.2016.8.12.0039 em curso na Comarca de Pedro Gomes/MS. Na ação,

a Prefeitura cobra a devolução de R$ 199.725,24 referentes a pagamentos realizados por

serviços não executados e R$ 64.190,00 a título de multa contratual, perfazendo um montante

de R$ 263.915,24.

Visando dar continuidade à obra, a PMPG/MS realizou novo processo licitatório de nº

40/2016, Tomada de Preço n° 05/2016, tipo menor preço global, com valor estimado de R$

225.675,87 realizada em 14 de setembro de 2016, às 08h30m, sagrando-se vencedora a

empresa Gomes & Gonçalves Ltda. ME, CNPJ 05.825.563/0001-32, com proposta no valor

global de R$ 224.375,87 e prazo de trinta dias corridos a partir da emissão da ordem de serviço

de início da obra para entrega do objeto licitado. Ressalta-se que a empresa vencedora foi a

única participante do certame licitatório.

Em consequência, o resultado da Tomada de Preço n° 05/2016 foi adjudicado e homologado

em 21 de setembro de 2016, sendo celebrado o termo de contrato n° 86/2016.

Foi emitido e pago um boletim de medição em função do contrato nº 86/2016 no valor de R$

43.254,25.

Quando da fiscalização “in loco”, verificou-se que a obra se encontra em execução pela

empresa contratada em função da Tomada de Preços nº 05/2016.

Entrada principal da Creche. Lateral esquerda da Creche.

Registro fotográfico realizado em 22/11/2016

##/Fato##

2.2.2. Tomada de Preços n.º 09/2010 conduzida com restrições ao caráter competitivo e

violações aos princípios constitucionais da legalidade, da impessoalidade e da igualdade,

direcionando a licitação para a empresa vencedora.

Fato

Trata-se da análise do primeiro processo licitatório realizado para a execução da obra de

construção da Escola ProInfância Creche tipo “B”, Tomada de Preços da Prefeitura Municipal

de Pedro Gomes/MS nº 09/2010, Processo Administrativo nº 56/2010.

A Comissão Permanente de Licitação - CPL foi nomeada pelo Decreto Municipal nº 022/2010,

do dia 5 de março de 2010.

O Aviso do Edital da licitação foi publicado no Diário Oficial da União – DOU e no Diário

Oficial do Estado – DOEMS no dia 22 de junho de 2010. Essas publicações foram realizadas

exatamente quinze dias antes da abertura dos certames, 07 de julho de 2010, considerando o

método de contagem de prazo definido na Lei Federal nº 8.666/93.

Conforme consta na ata de julgamento, apenas a empresa 3AN Serviços de Agronomia e

Engenharia Ltda. (CNPJ 01.404.846/0001-50) vencedora do certame adquiriu o Edital.

Em análise ao processo e à Ata da Reunião da Comissão Permanente de Licitações para Exame

e Julgamento dos Documentos de Habilitação e Propostas de sete de julho de 2010, constatou-

se que apenas a empresa 3AN Serviços de Agronomia e Engenharia Ltda. (CNPJ

01.404.846/0001-50) participou da licitação, sendo considerada vencedora com a proposta no

valor de R$ 1.283.800,00, sendo formalizado o Contrato de nº 139/2010 em 13 de julho de

2010.

A seguir são apresentadas as restrições à competitividade do certame encontradas na análise

realizada no edital da Tomada de Preços n.º 09/2010 e Anexos:

a) Restrição do acesso ao teor integral do edital, mediante o condicionamento de sua

retirada diretamente na Prefeitura:

Reproduz-se a seguir o Aviso do Edital publicado:

“AVISO DE LICITAÇÃO

O MUNICÍPIO DE PEDRO GOMES/MS, através de sua comissão de licitação

torna público que fará a licitação abaixo relacionada, no dia 07 de julho de

2010 as 08:00h. Nos termos da Lei nº 8.666/93 e posteriores alterações:

TOMADA DE PREÇO Nº 009/2010 OBJETO: Contratação de Empresa para

execução de Serviços de Obra na modalidade de licitação a de Menor Preço,

pelo regime de preço unitário – empreitada por preço global, para Construção

de um Centro de Educação Infantil, em atendimento ao PROINFANCIA,

conforme Convênio n. 657175/2009, entre o Fundo Nacional de educação e o

Município de Pedro Gomes – MS.

Pedro Gomes – MS, 17 de junho de 2010.”

A Lei Federal nº 8.666/93 (Estatuto das Licitações), conforme reprodução a seguir, determina

que o Aviso do Edital contenha o resumo do edital e a indicação do local em que os

interessados poderão ler e obter o seu texto integral e todas as informações sobre licitação,

informações essas inexistentes no Avido do Edital da Tomada de Preços nº 09/2010:

“Art. 21. Os avisos contendo os resumos dos editais das concorrências, das

tomadas de preços, dos concursos e dos leilões, embora realizados no local da

repartição interessada, deverão ser publicados com antecedência, no mínimo,

por uma vez:

(…)

§ 1º O aviso publicado conterá a indicação do local em que os interessados

poderão ler e obter o texto integral do edital e todas as informações sobre a

licitação.” (original sem grifos)

Já o item 2.8 do edital deixa claro que para se ter acesso ao edital seria necessário adquiri-lo,

conforme reprodução a seguir:

“2.8 – Os interessados deverão adquirir o presente Edital e anexos no valor de

R$ 800,00 (oitocentos reais), para cobrir as despesas com a publicação e

reprodução de cópias. O pagamento será feito de forma em depósito em conta

da Prefeitura Municipal de Pedro Gomes Agência 2431-7 – Conta 10.047-1, o

depositante deverá comprovar o depósito para retirada do edital.”

Já de antemão, verifica-se a impossibilidade de qualquer interessado ter acesso ao conteúdo

do edital, pois para isso seria necessário adquiri-lo primeiro e o local onde poder-se-ia fazer a

aquisição também não consta do aviso. Ademais, o Aviso do Edital não apresenta facilidade

alguma para que algum interessado conseguisse informações junto à Prefeitura de como

acessar a integra do Edital.

Conforme preceitua o § 5º do art. 32 da Lei nº 8.666/93, aos licitantes públicos somente se

permite a cobrança de taxas ou emolumentos relativos ao fornecimento do edital e de seus

elementos constitutivos na proporção dos custos efetivos de sua reprodução, conforme

transcrito a seguir:

“§ 5o Não se exigirá, para a habilitação de que trata este artigo, prévio

recolhimento de taxas ou emolumentos, salvo os referentes a fornecimento do

edital, quando solicitado, com os seus elementos constitutivos, limitados ao

valor do custo efetivo de reprodução gráfica da documentação fornecida.”

(original sem grifos)

O que o Estatuto de Licitações determina, conforme se extrai desses dois dispositivos do

Estatuto de Licitações, é que o edital esteja à disposição de qualquer licitante, na sua

integralidade, só se permitindo a cobrança caso o interessado solicite sua cópia integral

impressa. Estar à disposição dos interessados em sua integralidade comporta apenas duas

possibilidades:

1 - Manter uma via na Prefeitura para que qualquer pessoa interessada tenha acesso; e

2 - Manter um link de acesso os arquivos digitais com o conteúdo integral do edital na página

da Prefeitura na Internet (www.pedrogomes.ms.gov.br), para que qualquer interessado os

acesse.

Em que pese o aviso da Tomada de Preço nº 09/2010 ter sido publicado no Diário Oficial da

União e no Diário Oficial do Estado de Mato Grosso do Sul, a administração municipal não

se preocupou em facilitar o acesso ao teor integral do edital pela Internet e/ou outro meio de

comunicação. Mais agravante ainda, o aviso do edital estabeleceu que sua cópia só seria

fornecida caso o interessado desembolsasse R$ 800,00.

Apesar de o Estatuto de Licitações e Contratos não consignar em seu texto esse meio de

publicidade dos certames licitatórios (internet), até mesmo pelo fato de o acesso à rede

mundial de computadores ser restrito quando da elaboração da Norma (junho de 1993), é

inquestionável que a disponibilização de todas as peças do instrumento convocatório na rede

proporciona um alcance maior de interessados no certame, garantindo assim o pleno

atendimento dos princípios constitucionais da isonomia, da publicidade e da impessoalidade,

bem como a obtenção da proposta mais vantajosa para a Administração, conforme preconiza

o art. 3º do dispositivo legal in verbis:

“Art. 3º A licitação destina-se a garantir a observância do princípio

constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a

administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável e será

processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da

legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da

probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do

julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos.”

Nesse caso, verifica-se que qualquer empresa de outro Estado ou mesmo de outro município

do Estado do Mato Grosso do Sul teria imensa dificuldade de participar da licitação, pois se

exigiria o desembolso financeiro com a locomoção de algum preposto até o Município de

Pedro Gomes/MS ou a contratação de alguém que pudesse solicitar pessoalmente o

documento junto ao Departamento de Compras e Licitações daquele município. Além de não

facilitar o acesso ao instrumento convocatório pela internet, o resumo do edital não continha

informações mínimas que permitissem ter conhecimento da obra, como, por exemplo, o valor

estimado da contratação.

Dessa forma, a ausência de informações no aviso da Tomada de Preços nº 09/2010 sobre o

local de acesso ao respectivo edital e a não disponibilização do teor integral do instrumento

convocatório pela Prefeitura de Pedro Gomes/MS na Internet caracterizam mecanismos de

restrição ao caráter competitivo da licitação, ação essa vedada pelo inciso I do § 1º do art. 3º

da Lei de Licitações e Contratos, limitando a participação de outras empresas interessadas, o

que efetivamente veio a se concretizar, tendo em vista a participação única e exclusiva da

empresa vencedora do certame (3AN Serviços de Agronomia e Engenharia Ltda.).

b) Cobrança de valor excessivamente alto de taxa de fornecimento do edital:

Em relação à disponibilização do edital, conforme o item 2.8 do edital, foi exigido como taxa

a ser paga pelos interessados o valor de R$ 800,00 para o fornecimento do edital e seus anexos.

“2.8 – Os interessados deverão adquirir o presente Edital e anexos no valor de

R$ 800,00 (oitocentos reais), para cobrir as despesas com a publicação e

reprodução de cópias. O pagamento será feito de forma em depósito em conta

da Prefeitura Municipal de Pedro Gomes Agência 2431-7 – Conta 10.047-1, o

depositante deverá comprovar o depósito para retirada do edital.”

Cabe destacar que, atualmente, um CD ou DVD possui capacidade de armazenamento de toda

a documentação da licitação, não sendo necessária a entrega por meio impresso dos

documentos. Ainda assim, em se considerando a reprodução física de toda a documentação,

procedemos ao levantamento junto ao mercado local do custo de reprodução do material. O

edital e seu anexos constante do Processo Administrativo nº 56/2010 tem 33 páginas e um

CD. O custo de reprodução de página é de R$ 0,50 e o custo de um CD virgem de R$ 1,00,

dessa forma, temos que o valor de reprodução de todo o Edital alcançaria no máximo R$ 17,50

(dezessete reais e cinquenta centavos). Com base nesses dados, percebe-se que o valor da taxa

cobrada pela Prefeitura Municipal de Pedro Gomes/MS (R$ 800,00) foi muito elevado e

desarrazoadamente acima do definido pelo §5º do art. 32 da Lei nº 8.666/93, que se resume

ao valor da reprodução gráfica dos termos entregues.

“§5º Não se exigirá, para a habilitação de que trata este artigo, prévio recolhimento

de taxas ou emolumentos, salvo os referentes a fornecimento do edital, quando

solicitado, com os seus elementos constitutivos, limitados ao valor do custo efetivo de

reprodução gráfica da documentação fornecida.” (original sem grifos)

Com base nos dados acima descritos, verifica-se que a taxa exorbitante cobrada pela Prefeitura

Municipal de Pedro Gomes/MS a título de fornecimento do edital configura cláusula restritiva

à competitividade da licitação, o que efetivamente veio a se concretizar, tendo em vista a

participação única e exclusiva da empresa vencedora do certame (3AN Serviços de

Agronomia e Engenharia Ltda.).

Ressalta-se que o Tribunal de Contas da União já se pronunciou contrariamente a essas

práticas ilegais de cobrança de valor desarrazoado de taxa de fornecimento do edital, conforme

se depreende dos excertos dos seguintes julgados:

“Abstenha-se de exigir dos interessados, pela aquisição do edital, valores que

exorbitem o efetivo custo da reprodução gráfica do instrumento convocatório, em

atendimento ao disposto no art. 32, § 5º, da Lei no 8.666/1993.”

Acórdão nº 2715/2008 Plenário”

“Estabeleça o preço do edital considerando apenas o seu custo de reprodução gráfica,

de modo a não restringir a participação de todos os possíveis interessados.”

Acórdão nº 354/2008 Plenário

“Adote providências no sentido de não prever nos editais de licitação:

• cobrança de taxas ou emolumentos além do valor do custo efetivo de reprodução

gráfica da documentação fornecida, tendo em vista o art. 32, § 5º, da Lei 8.666/1993;

• provas de recolhimento do valor do edital, como requisito de qualificação técnica e

econômica dos licitantes, por não ser indispensáveis a garantia do cumprimento das

obrigações, em face do disposto no art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal.

Acórdão nº 1453/2009 Segunda Câmara (Relação)

Com efeito, a obrigatoriedade de pagamento para aquisição de Edital como condição para se

ter acesso ao mesmo representa, frequentemente, mecanismo para formação de conluio, uma

vez que possibilita aos agentes públicos conhecerem, antes mesmo da sessão de abertura e

julgamento das propostas, as empresas que concorrerão ao embate, tornando possível, assim,

que as partes mal intencionadas estabeleçam combinações fraudulentas entre si ou que aliciem

as empresas estranhas ao arranjo a participarem do esquema ou a desistirem da licitação – ou

mesmo que se anule o certame –, burlando-se assim o princípio da livre concorrência,

condição para que se atinja o objetivo licitatório, qual seja a escolha da proposta mais

vantajosa à Administração Pública (Lei nº 8.666/93) assegurada a todos os concorrentes a

igualdade de condições (art. 37, XXI da Constituição Federal de 1988 – princípio da

isonomia).

c) Ausência de publicação do extrato de divulgação do edital em jornal de grande

circulação:

A Lei Federal nº 8.666/93 elencou a publicidade mínima exigida em seu art. 21, reproduzido

a seguir:

“Art. 21. Os avisos contendo os resumos dos editais das concorrências, das

tomadas de preços, dos concursos e dos leilões, embora realizados no local

da repartição interessada, deverão ser publicados com antecedência, no

mínimo, por uma vez:

I - no Diário Oficial da União, quando se tratar de licitação feita por órgão

ou entidade da Administração Pública Federal e, ainda, quando se tratar de

obras financiadas parcial ou totalmente com recursos federais ou garantidas

por instituições federais;

II - no Diário Oficial do Estado, ou do Distrito Federal quando se tratar,

respectivamente, de licitação feita por órgão ou entidade da Administração

Pública Estadual ou Municipal, ou do Distrito Federal;

III - em jornal diário de grande circulação no Estado e também, se houver,

em jornal de circulação no Município ou na região onde será realizada a

obra, prestado o serviço, fornecido, alienado ou alugado o bem, podendo

ainda a Administração, conforme o vulto da licitação, utilizar-se de outros

meios de divulgação para ampliar a área de competição.” (original sem

grifos)

No caso das Tomada de Preço nº 09/2010 da Prefeitura Municipal de Pedro Gomes/MS, não

se localizou, dentre as páginas acostadas aos Processos nº 56/2010, a publicação em jornal de

grande circulação no Estado, contrariando o determinado no art. 21, inciso III, da Lei nº

8.666/93. Tal fato diminuiu o caráter competitivo do certame ao impedir que um número

maior de empresas aptas a participar tomasse conhecimento de sua existência. Foi o que

efetivamente ocorreu, tendo em vista a participação única e exclusiva da empresa vencedora

do certame (3AN Serviços de Agronomia e Engenharia Ltda.).

d) Exigência injustificada de apresentação de garantia antes da abertura do certame.

Por meio do subitem 2.2 do edital, foi imposta condição irrelevante e obstrutivas de forma a

causar morosidade no trâmite para a apresentação das garantias das propostas pelas empresas

interessadas, com a imposição de prazo para seu recolhimento, a saber:

“2.2. – Na participação da presente licitação será exigida garantia de

manutenção da proposta correspondente a 1% (um por cento), do valor

estabelecido no subitem 10.2, devendo ser recolhida junto a tesouraria da

prefeitura até 48 (quarenta e oito) horas da data marcada para ser recolhida

a entrega dos envelopes de documentação e propostas. Não havendo

expediente na data aqui fixada, o recolhimento deverá ser realizado no dia

útil imediatamente anterior.”

A referida exigência dificulta a participação de empresas interessadas, uma vez que o licitante

deveria apresentar, injustificadamente, a garantia da proposta até 48 horas antes do prazo de

abertura, prazo este que se expiraria em 5 de julho de 2010 (segunda-feira). Destaque-se,

ainda, que a exigência em questão, além de restringir a participação de outras empresas

interessadas, possibilita o conhecimento prévio de todas as possíveis licitantes e favorece, na

hipótese de conluio ou de direcionamento da licitação, a ocorrência de coação ou de cooptação

daquelas empresas que não participassem dos esquemas ilícitos possivelmente articulados. O

Tribunal de Contas da União, por meio de sua jurisprudência, deixa patente a comunhão com

esse mesmo entendimento:

“Abstenha-se de exigir a entrega da garantia de participação, de que trata o

art. 31, inciso III, da Lei no 8.666/1993, antes da abertura dos envelopes de

documentação, e não fixe condições de participação em certames licitatórios

não previstas na Lei nº 8.666/1993”.

Acórdão TCU 2095/2005 Plenário

“Abstenha-se de exigir a apresentação da documentação relativa a qualificação

econômico-financeira do art. 31 da Lei no 8.666/1993, antes da sessão de

recebimento e abertura dos envelopes.”

Acórdão nº 2.864/2008 Plenário

“Por fim, relativamente a exigência de as licitantes apresentarem a

comprovação de garantia antes da sessão de recebimento e abertura dos

envelopes, não encontra amparo legal e configura ofensa ao princípio da

moralidade, por possibilitar o conhecimento prévio dos participantes do

certame.”

Acórdão nº 2.864/2008 Plenário (Voto do Ministro Relator)

e) Exigência indevida de capital social “integralizado” como comprovação de

qualificação econômico-financeira, cumulativamente com a exigência de garantia de

proposta.

Além da garantia retro mencionada (1% do valor orçado da licitação), como forma de

comprovação da habilitação econômico-financeira das interessadas, a Prefeitura Municipal de

Pedro Gomes/MS estabeleceu cumulativa e indevidamente, no item 5.2 do Edital, a

comprovação da existência de Capital Social “Integralizado” maior ou igual a 10% do valor

orçado pela administração, conforme reprodução a seguir:

“5.2. Documentos Relativos à Qualificação Econômico-Financeira:

(...)

d) Comprovação de que a Empresa licitante detenha um Capital mínimo

integralizado de no mínimo 10% (dez por cento) do valor orçado pela

administração.”

Esse procedimento é vedado pelo § 2º do art. 31 da Lei nº 8.666/93, que estabelece:

“Art. 31. A documentação relativa à qualificação econômico-financeira limitar-se-

á a:

(...)

III - garantia, nas mesmas modalidades e critérios previstos no "caput" e § 1º do art.

56 desta Lei, limitada a 1% (um por cento) do valor estimado do objeto da

contratação.

(...)

§ 2º A Administração, nas compras para entrega futura e na execução de obras e

serviços, poderá estabelecer, no instrumento convocatório da licitação, a exigência

de capital mínimo ou de patrimônio líquido mínimo, ou ainda as garantias previstas

no § 1º do art. 56 desta Lei, como dado objetivo de comprovação da qualificação

econômico-financeira dos licitantes e para efeito de garantia ao adimplemento do

contrato a ser ulteriormente celebrado.” (original sem grifos)

Conforme se depreende do exposto acima, a lei nº 8.666/93 faculta à administração pública a

utilização de três alternativas excludentes para a comprovação da qualificação econômico-

financeira: 1ª) garantia de proposta; ou 2ª) capital social mínimo; ou, ainda 3ª) patrimônio

líquido mínimo. Ou seja, legalmente, poder-se-ia exigir no edital da Tomada de Preços nº

09/2010 apenas umas dessas três alternativas de comprovação, ao invés das duas condições

exigidas cumulativamente.

Como agravante à exigência concomitante de garantia e capital mínimo ou patrimônio líquido,

destaca-se que o item 5.2 do edital refere-se ao capital “integralizado”, hipótese essa não

prevista na Lei de Licitações. Ressalta-se que o Capital Social “Integralizado”, exigido no

edital, refere-se ao Capital Social que já está materializado, ou seja, é o montante de recursos

que os sócios já entregaram efetivamente para a empresa e, de outro lado, o Capital Social

Mínimo Subscrito (legalmente permitido) é o montante de recursos que os sócios se

comprometem, por contrato, a entregar para a sociedade.

Ademais, já se encontra pacificada em inúmeros julgados do Tribunal de Contas da União a

ilegalidade da exigência cumulativa de garantia de proposta e capital mínimo e, ainda mais

específico, da exigência de comprovação de capital social “integralizado”, conforme transcrito

nos excertos abaixo:

“É ilegal a exigência simultânea, nos instrumentos convocatórios, de requisitos de

capital social mínimo e garantias para a comprovação da qualificação econômico-

financeira dos licitantes.

É ilegal a exigência de comprovação de capital social devidamente integralizado,

uma vez que referida exigência não consta da Lei nº 8.666/1993.

Acórdão nº 170/2007 Plenário (Ementa)

“Abstenha-se de exigir capital social mínimo cumulado com garantia de proposta,

em desacordo ao previsto no art. 31, § 2o, da Lei no 8.666/1993.”

Acórdão nº 2993/2009 Plenário

“Abstenha-se de exigir, nos editais licitatórios a apresentação de patrimônio liquido

mínimo, cumulativamente com a prestação da garantia prevista no art. 31, inciso III,

da Lei no 8.666/1993, para fins de comprovação de capacidade econômico-

financeira, bem como a prestação de garantia como requisito autônomo de

habilitação, vez que tal garantia, quando exigida, integra a qualificação econômico-

financeira.”

Acórdão nº 1905/2009 Plenário

“Abstenha-se de estabelecer condições não previstas no art. 31 da Lei no

8.666/1993, especialmente não exigindo comprovação de capital integralizado.”

Acórdão nº 2882/2008 Plenário

f) Vedação à participação de empresas sem cadastro de fornecedores do município e

exigência de cadastramento prévio até o quinto dia anterior à data de abertura das

propostas

Analisando-se o edital da Tomada de Preços nº 09/2010, constatou-se que a Comissão

Permanente de Licitação fez constar indevidamente do item 5.1.1 do instrumento

convocatório, como condição para participação:

“5.1. O ENVELOPE Nº 01, com subtítulo “DOCUMENTAÇÃO DE

HABILITAÇÃO”, deverá ser apresentado de acordo com o disposto neste

Edital e conter obrigatoriamente, sob pena de inabilitação:

5.1.1. Comprovante de Certificado de Inscrição Cadastral junto a esta

Prefeitura, em plena validade ou de que atendeu a todas às condições

exigidas para o cadastramento dentro do interstício legal, ou seja, até o 5º

(quinto) dia anterior à data de apresentação das propostas;” (original sem

grifos)

Verifica-se que o tal prazo de cadastramento no Sistema de Cadastro de Prestadores de

Serviços da Prefeitura (5 dias de antecedência) é incompatível com o prazo estipulado no § 2º

do art. 22 da lei nº 8.666/93, in verbis:

“§ 2º Tomada de preços é a modalidade de licitação entre interessados devidamente

cadastrados ou que atenderem a todas as condições exigidas para cadastramento até

o terceiro dia anterior à data do recebimento das propostas, observada a necessária

qualificação.” (original sem grifos)

Outro ponto que merece combate se refere à exigência de que os interessados não cadastrados

concluíssem esse cadastro no prazo retro mencionado. Na verdade, o que efetivamente o texto

legal exige são duas hipóteses: primeira, que estejam devidamente cadastrados; e segunda,

caso não cadastrados, que atendam todas as condições exigidas para cadastramento até o 3º

dia anterior.

Ora, é de conhecimento público que os trâmites burocráticos em uma repartição pública

(inclusive o cadastramento em questão) demandam algum tempo, às vezes até meses, para sua

consecução, o que impediria a participação de potenciais interessadas que apresentassem todas

as condições, mas que ainda não estivessem devidamente cadastradas. No caso prático,

bastaria que a Prefeitura de Pedro Gomes/MS disponibilizasse a essas empresas protocolo de

recebimento de toda a documentação exigida para a referida habilitação no certame,

documento esse que poderia ser apresentado como comprovante de atendimento da segunda

hipótese prevista pelo § 2º do art. 22 do Estatuto de Licitações e contratos (atender todas as

condições exigidas até o 3º dia útil). Ademais, tal procedimento estreita os relacionamentos

com as empresas cadastradas e dá margem para que o conluio entre fornecedores e gestores

ocorra, uma vez que é sabido quais empresas estão cadastradas e que poderão participar do

certame.

Relativamente ao cadastramento prévio para participação em Tomadas de Preços, o Ministro

Relator do Acórdão TCU nº 1452/2003 Primeira Câmara assim se posicionou quanto à

obrigatoriedade de respeito do prazo legal estipulado:

“Dessa forma, somos de parecer que a exigência contida na alínea ‘a’ do subitem

4.2 do edital não se coaduna com o que prescrevem os normativos que tratam do

assunto. Ao exigir que o licitante satisfaça as condições para

cadastramento/habilitação parcial apenas com base no item 8.2 da IN n° 5/95, (...)

está impondo ônus descabido ao potencial licitante, haja vista que o prazo lá contido

obriga apenas a própria administração. Além disso, arrisca-se o contratante a limitar

a participação de interessados no certame. O efeito prático da exigência do contido

na alínea ‘a’ do subitem 4.2 do edital, no caso concreto aqui analisado, é a supressão

de dois dias para que o licitante providencie o seu cadastramento/habilitação. O

edital impôs que o licitante satisfizesse as condições para cadastramento até

27/11/2002 (Quarta-feira). Já a IN n° 05/95 e a própria Lei de Licitações permitiriam

que este prazo se prolongasse até 29/11/2002 (Sexta-feira).

Além de todo o exposto, a doutrina reconhece a necessidade de haver uma

interpretação menos severa para o contido no § 2°, do art. 22, da Lei n° 8.666/93.

Analisando o assunto, Marçal Justen Filho orienta: ‘Tanto mais porque a vontade

legislativa é permitir que, após divulgado o edital, eventuais interessados requeiram

sua habilitação e venham participar da licitação. Por isso, a melhor interpretação é

a de que os interessados em participar deverão apresentar, até três dias antes da data

prevista para entrega das propostas, toda a documentação necessária a obtenção do

cadastramento’ (‘Comentários a Lei de Licitações e Contratos Administrativos’,

Editora Dialética, 5ª edição, pag. 180). O autor considera que a própria repartição

cadastradora poderia atrasar os procedimentos, por motivos diversos, e, neste caso,

não deveria, o interessado, ser prejudicado em seu direito de participar de processo

licitatório.” (original sem grifos)

Acórdão nº 1452/2003 Primeira Câmara (Relatório do Ministro Relator)

g) Exigência indevida de prazo para visita técnica e de atestado de visita técnica

realizada pelo representante legal e responsável técnico da licitante como documento

de habilitação:

De acordo com o item 5.5 do edital da Tomada de Preço nº 09/2010, para participação no

certame as empresas interessadas deveriam realizar visitas técnicas até a data de 02 de julho

de 2010 (05 dias antes da abertura dos envelopes – 07 de julho de 2010), conforme reprodução

a seguir:

“5.5. Documentos Relativos à Qualificação Técnica:

(...)

f) Atestado de Visita ao local da obra em nome de Responsável Técnico da

empresa que detenha os atestados, fornecido pela Prefeitura Municipal de

Pedro Gomes/MS – até o terceiro dia anterior à data da licitação. A visita

deverá ser previamente agendada através do Telefone 67-3230-1109, falar

com (Sato).”

O ordenamento jurídico das licitações é omisso quanto ao prazo limite para a visita técnica.

Destarte, a Administração deve estabelecer condição razoável para a realização da visita

técnica ao local da obra, abstendo-se de determinar regras restritivas. A obra está sendo

executadas em área que era totalmente aberta e de fácil acesso a qualquer pessoa, não havendo

motivo algum para que as empresas interessadas entrassem em contato com representante da

Prefeitura Municipal de Pedro Gomes/MS para a realização das visitas técnicas, muito menos

que houvesse restrição de data limite para que essas visitas técnicas ocorressem. O correto é

que os prazos das visitas técnicas coincidam com a data de entrega dos envelopes, eis que a

jurisprudência do Tribunal de Contas da União assim determina, “in verbis”:

“O prazo final para realização de visita técnica, quando houver, deve

coincidir com o prazo final para recebimento de propostas”

Acórdão 1979/2006 Plenário

“Abstenha-se de estabelecer prazo para realização de visita técnica que se

encerre em data anterior à realização da sessão pública, quando esta for

condição essencial para participação no certame”

Acórdão 4377/2009 Segunda Câmara

Além da restrição do prazo, o item 5.5, letra “f”, do edital da Tomada de Preços nº 09/2010

ainda exigiu, como condição indispensável para participação nos certames, que as empresas

interessadas apresentassem o referido atestado de visita técnica como documento de

habilitação.

Em que pese à sua previsão em edital, a vistoria técnica não é sequer citada na Lei nº 8.666/93,

e sua obrigatoriedade, como condição para a habilitação do licitante, constitui restrição ao

caráter competitivo do certame, pois, o que se prevê apenas é que o licitante deve apresentar

“comprovação fornecida pelo órgão licitante, de que recebeu os documentos, e, quando

exigido, de que tomou conhecimento de todas as informações e das condições locais para o

cumprimento das obrigações objeto da licitação” (inciso III do art. 30 da Lei nº 8.666/93),

não havendo qualquer exigência quanto à imprescindibilidade da visita técnica ao local da

obra.

Assim, bastaria uma declaração, cujo modelo fosse fornecido pelo órgão licitante, de que

recebeu os documentos, e, quando exigido, de que tomou conhecimento de todas as

informações e das condições locais para o cumprimento das obrigações objeto da licitação, ou

seja, não se trata de algo cuja comprovação só possa ser feita por testemunhas.

Quanto à exigência de vistoria técnica, o Tribunal de Contas da União assim se posicionou

nas seguintes deliberações:

“A exigência de visita técnica não admite condicionantes que importem

restrição injustificada da competitividade do certame.”

Acórdão 2477/2009 Plenário (Sumário)

“Estabeleça que eventuais vistorias possam ser realizadas por qualquer

preposto da licitante, a fim de ampliar a competitividade do certame.”

Acórdão 1731/2008 Plenário

“A exigência de vistoria que onere de forma desnecessária a participação de

interessados em procedimento licitatório caracteriza restrição ao caráter

competitivo da licitação, de que trata o art. 3º da Lei nº 8.666/1993, ensejando,

por isso, a nulidade do procedimento.”

Acórdão 874/2007 Segunda Câmara (Sumário)

“A vistoria ao local das obras somente deve ser exigida quando for

imprescindível ao cumprimento adequado das obrigações contratuais, o que

deve ser justificado e demonstrado pela Administração no processo de licitação,

devendo o edital prever a possibilidade de substituição do atestado de visita

técnica por declaração do responsável técnico de que possui pleno

conhecimento do objeto. As visitas ao local de execução da obra devem ser

prioritariamente compreendidas como um direito subjetivo da empresa licitante,

e não uma obrigação imposta pela Administração, motivo pelo qual devem ser

uma faculdade dada pela Administração aos participantes do certame.”

Acórdão 234/2015 Plenário

h) Proibição de apresentação de documentos (recursos e impugnações) e solicitação de

informações ou esclarecimentos por e-mail ou fax.

Por meio de análise do edital de licitação, verificou-se que seus itens 15.4, 15.5 e 15.10

restringiram o caráter competitivo do certame ao limitar as solicitações de informações, os

esclarecimentos, as respostas, os recursos e contrarrazões dos licitantes apenas por meio físico

protocolizado durante o horário de atendimento ao público, na Prefeitura Municipal de Pedro

Gomes/MS, conforme reprodução a seguir:

“15.4. Os interessados que tiverem dúvidas de caráter legal ou técnico na

interpretação dos termos deste edital ou qualquer outra a ele relacionada

deverá dirigir-se ao Presidente da Comissão Permanente de Licitação em

petição escrita com antecedência mínima de cinco dias da data de abertura

da licitação sob protocolo na Prefeitura durante o expediente no endereço

mencionado no preâmbulo deste Edital”

(...)

15.5. O recurso deverá ser dirigido ao Presidente da comissão e entregue,

mediante protocolo.

(...)

15.10. Os interessados que tiverem dúvidas de caráter legal ou técnico na

interpretação deste Edital ou quaisquer outras a ele relacionadas, deverão

dirigir-se ao Presidente da Comissão Permanente de Licitação em petição

escrita, com antecedência mínima de 48 horas do horário fixado no

preâmbulo deste Edital, sob protocolo da prefeitura, durante o horário de

expediente.”

Nesse contexto, empresas estabelecidas no município de Pedro Gomes/MS ou municípios

limítrofes possuem melhores condições de fazer uso do direito de petição (art. 5º, inciso

XXXIV, 'a', da Constituição da República) e de ter conhecimento acerca das informações e

esclarecimentos por ventura prestados do que aquelas estabelecidas em localidades mais

distantes ou em outros municípios.

Entretanto, no caso concreto, não haveria prejuízo para a Administração aceitar essas

solicitações de informações, esclarecimentos e contestações por meio de e-mail, via postal ou

fax. Pelo contrário, a utilização dos referidos meios de comunicação tornaria o processo mais

célere. O legislador, atento a isso, já positivou no art. 5º, inciso LXXVIII, da Constituição

Federal, o respeito ao princípio da celeridade processual no âmbito dos processos judicial e

administrativo.

A Lei de Licitações, no que tange aos recursos e impugnações de atos da Comissão de

Licitação, é taxativa apenas quanto à tempestividade de suas apresentações à Administração,

não havendo qualquer previsão quanto à forma de exercício desse direito constitucional, seja

pelos licitantes ou por qualquer cidadão. Dessa forma, tendo em vista o princípio

constitucional da Legalidade, segundo o qual o administrador público somente pode fazer o

que a lei determine ou autorize expressamente, fica caracterizada a irregularidade na vedação

imposta pelos itens 15.4, 15.5 e 15.10 do edital da Tomada de Preços nº 09/2010, em virtude

da ausência de fundamentação legal para tal.

Já quanto a informações e esclarecimentos, a Lei Federal nº 8.666/93 deixa claro que deve

haver métodos de comunicação à distância para esses casos, conforme se depreende do item

VIII do art. 40, reproduzido a seguir:

“Art. 40. O edital conterá no preâmbulo o número de ordem em série anual,

o nome da repartição interessada e de seu setor, a modalidade, o regime de

execução e o tipo da licitação, a menção de que será regida por esta Lei, o

local, dia e hora para recebimento da documentação e proposta, bem como

para início da abertura dos envelopes, e indicará, obrigatoriamente, o

seguinte:

(...)

VIII - locais, horários e códigos de acesso dos meios de comunicação à

distância em que serão fornecidos elementos, informações e esclarecimentos

relativos à licitação e às condições para atendimento das obrigações

necessárias ao cumprimento de seu objeto;” (original sem grifos)

Ressalta-se que, apesar de o Estatuto de Licitações e Contratos não consignar em seu texto os

recursos da rede mundial de computadores (Internet) como meio facilitador de comunicação

entre a Administração e os interessados em participar dos certames, até mesmo pelo fato de o

acesso à Internet ser restrito quando da elaboração da Norma (junho de 1993), é inquestionável

que a disponibilização de meios de comunicação por intermédio dos sites corporativos das

entidades promotoras de licitações proporciona um método adequado, de alcance ilimitado,

de recebimento de pedidos de informações e de esclarecimentos, bem como de divulgação

irrestrita dessas informações e esclarecimentos porventura fornecidos, desse modo, garantindo

o pleno atendimento dos princípios constitucionais da isonomia, da publicidade e da

impessoalidade, bem como a obtenção da proposta mais vantajosa para a Administração,

conforme preconiza o art. 3º da Lei Federal nº 8.666/93.

Cabe destacar que o Tribunal de Contas da União tem considerado que a vedação à

apresentação de impugnações e recursos por meio de telegrama, via postal ou fac-símile (fax)

cerceia o pleno gozo do direito de petição garantido no art. 5º, inciso XXXIV, alínea a, da

Constituição Federal (Acórdão nº 2266/2011 – TCU Plenário).

i) Exigência de capacidade técnica-profissional em desacordo com a Lei.

O edital da licitação, em seu item 5.5, exige a comprovação da licitante de possuir em seu

corpo técnico, na data de abertura das propostas, profissional de nível superior, detentor de

atestados de responsabilidade técnica, assim descrito:

“5.5. Documentos Relativos à qualificação Técnica:

(...)

b) Comprovação do Licitante de possuir, na data da licitação, profissional de

nível superior, detentor de Atestado de Responsabilidade Técnica (ART) para

execução de obras ou serviço compatível em quantidade, prazo e

características semelhantes, relativos às parcelas de maior relevância do

objeto da licitação, devidamente registrado no CREA, acompanhado da

respectiva certidão de Registro de Atestado e do respectivo Acervo Técnico.

c) Atestado fornecido por Pessoa Jurídica de Direito Público ou Privado,

devidamente Registrado pela Entidade Profissional competente,

demonstrando aptidão para desempenho de atividade pertinente em

características, quantidade e prazo com o objeto do presente Edital.”

Embora para a Administração seja interessante que haja um nível mínimo de qualificação para

as empresas executoras, sendo este nível julgado pela experiência anterior do responsável

técnico da licitante, comprovada pela execução de serviços em quantidade e nível técnico

semelhante com o objeto da licitação, esse não deve superar o princípio da competitividade e

da razoabilidade, mais importantes para a Administração que a qualificação técnica. Por isso,

a Lei Federal 8.666 de 21 de junho de 1993, em seu Artigo 30, define os critérios para que

sejam admissíveis a exigência de Atestado de Capacitação Técnico-profissional como

documento de habilitação para a comprovação da qualificação técnica, senão vejamos:

“Art. 30. A documentação relativa à qualificação técnica limitar-se-á a:

(...)

II - comprovação de aptidão para desempenho de atividade pertinente e

compatível em características, quantidades e prazos com o objeto da

licitação, e indicação das instalações e do aparelhamento e do pessoal

técnico adequados e disponíveis para a realização do objeto da licitação, bem

como da qualificação de cada um dos membros da equipe técnica que se

responsabilizará pelos trabalhos;

(...)

§ 1º A comprovação de aptidão referida no inciso II do "caput" deste artigo,

no caso das licitações pertinentes a obras e serviços, será feita por atestados

fornecidos por pessoas jurídicas de direito público ou privado, devidamente

registrados nas entidades profissionais competentes, limitadas as exigências

a:

I - capacitação técnico-profissional: comprovação do licitante de possuir em

seu quadro permanente, na data prevista para entrega da proposta,

profissional de nível superior ou outro devidamente reconhecido pela

entidade competente, detentor de atestado de responsabilidade técnica por

execução de obra ou serviço de características semelhantes, limitadas estas

exclusivamente às parcelas de maior relevância e valor significativo do objeto

da licitação, vedadas as exigências de quantidades mínimas ou prazos

máximos;

§ 2º As parcelas de maior relevância técnica e de valor significativo,

mencionadas no parágrafo anterior, serão definidas no instrumento

convocatório.

§ 3º Será sempre admitida a comprovação de aptidão através de certidões ou

atestados de obras ou serviços similares de complexidade tecnológica e

operacional equivalente ou superior.” (original sem grifos)

Do texto da Lei se extrai que para se solicitar Atestado de Capacidade Técnica-

profissional, como documento de habilitação em uma licitação, é necessário que no

edital constem as parcelas de maior relevância e de valor significativo que o responsável

técnico da licitante necessita provar experiência anterior. Chama-se atenção que a

parcela deve possuir cumulativamente relevância técnica e valor significativo, não basta

apenas ter relevância técnica ou valor significativo.

A Prefeitura de Pedro Gomes/MS não definiu no instrumento convocatório as parcelas

de maior relevância técnica e de valor significativo da obra. Também não se vislumbra

na obra em questão (construção de uma edificação para funcionamento de uma creche)

serviço algum com complexidade técnica que justificasse sua relevância para se exigir

um Atestado de Capacidade Técnica-profissional. Dessa forma, a exigência de Atestado

de capacidade Técnica-profissional na Tomada de Preços nº 09/2010 acarretou uma

limitação ilegal do caráter competitivo do certame, haja vista a participação de apenas

uma empresa na licitação.

Todas essas restrições indicam que a empresa vencedora do certame tinha certeza de que seria

a única participante das licitações. Chegou-se a essa conclusão a partir da comparação da

proposta da empresa vencedora com o orçamento prévio da Administração, na qual foi

verificado que apenas um preço de serviço foi alterado face ao valor do orçamento prévio.

Esse item foi cotado ligeiramente menor que o valor orçado pela Administração. Esse fato

demonstra que a empresa ganhadora da licitação não teve o mínimo temor de ser derrotada

numa possível disputa por preço, pois não realizou uma orçamentação adequada, se limitando

a repetir o orçamento da Administração, alterando apenas um preço unitário para menor de

modo que o preço global de sua proposta ficasse menor que o preço global do orçamento

prévio, conforme a tabela a seguir demonstra:

Quadro - Comparação entre o único preço alterado.

Item Qtd

Preço

orçamento

Prefeitura-R$

Total

Orçamento-

R$

Preço proposta

empresa

vencedora-R$

Total da

Proposta-

R$

Locação da obra 1.118,48 1,91 2.137,42 1,69 1.891,16

Fonte: Processo Administrativo da Prefeitura de Pedro Gomes/MS n.º 056/2010.

Dessa forma, entende-se que as restrições reproduzidas nos subitens “a” a “i” retro, tomadas

em conjunto, foram suficientes para impor limites à competitividade da Tomada de Preço nº

09/2010 da Prefeitura Municipal de Pedro Gomes/MS para execução da obra de construção

de uma Escola ProInfância Creche tipo “B”, direcionando a licitação para a empresa

vencedora do certame, fato esse confirmado pela participação no certame única e

exclusivamente da empresa contratada.

Consequentemente, verifica-se o desrespeito ao inciso I, do § 1º, do art. 3º, da Lei nº 8.666/93:

“Art. 3º A licitação destina-se a garantir a observância do princípio

constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a

administração e a promoção do desenvolvimento nacional, e será processada

e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade,

da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da

probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do

julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos.

§ 1º É vedado aos agentes públicos:

I - admitir, prever, incluir ou tolerar, nos atos de convocação, cláusulas ou

condições que comprometam, restrinjam ou frustrem o seu caráter

competitivo e estabeleçam preferências ou distinções em razão da

naturalidade, da sede ou domicílio dos licitantes ou de qualquer outra

circunstância impertinente ou irrelevante para o específico objeto do

contrato, ressalvado o disposto nos §§ 5º a 12 deste artigo e no art. 3o da Lei

no 8.248, de 23 de outubro de 1991.” ##/Fato##

##/Fato##

Manifestação da Unidade Examinada

O Relatório Preliminar foi encaminhado ao Município por intermédio do Ofício nº

3.099/2017/Regional/MS-CGU, de 22 de fevereiro de 2017. Até o encerramento desse

relatório, nenhuma justificativa ao fato narrado desse item foi apresentada pelo gestor.

##/ManifestacaoUnidadeExaminada##

Análise do Controle Interno

Ante a ausência de manifestação do gestor municipal, a equipe de auditoria conclui pela

efetiva ocorrência da irregularidade apontada neste item do relatório. ##/AnaliseControleInterno##

2.2.3. Favorecimento à empresa contratada, decorrente de sua habilitação indevida na

Tomada de Preços nº 09/2010.

Fato

Como já visto nesse relatório, as licitantes deveriam recolher com 48 horas mínima de

antecedência garantia de manutenção da proposta, conforme subitem 2.2 do edital,

reproduzido a seguir:

“2.2. – Na participação da presente licitação será exigida garantia de

manutenção da proposta correspondente a 1% (um por cento), do valor

estabelecido no subitem 10.2, devendo ser recolhida junto a tesouraria da

prefeitura até 48 (quarenta e oito) horas da data marcada para ser recolhida

a entrega dos envelopes de documentação e propostas. Não havendo

expediente na data aqui fixada, o recolhimento deverá ser realizado no dia

útil imediatamente anterior.”

A Seção de abertura dos envelopes foi marcada para o dia 07 de julho de 2010 às 08:00hrs,

portanto, a garantia de manutenção da proposta deveria ser recolhida até as oito horas do dia

cinco de julho de 2010, no entanto, esse recolhimento ocorreu às 16:18 hs do dia 05 de julho

de 2010, conforme documento acostado à folha 487 do processo administrativo.

Além disso, os interessados na licitação eram obrigados a realizar visita técnica ao local da

obra até a data de 02 de julho de 2010, conforme reprodução do item 5.5 do edital a seguir:

“5.5. Documentos Relativos à Qualificação Técnica:

(...)

f) Atestado de Visita ao local da obra em nome de Responsável Técnico da

empresa que detenha os atestados, fornecido pela Prefeitura Municipal de

Pedro Gomes/MS – até o terceiro dia anterior à data da licitação. A visita

deverá ser previamente agendada através do Telefone 67-3230-****, falar

com S.”

No entanto, conforme Termo de Vistoria apresentado pela empresa no envelope dos

documentos de habilitação (folha 567 do Processo Administrativo), a visita ocorreu no dia 05

de julho de 2010.

Portanto, não obstante essas exigências serem ilegais, a empresa contratada foi beneficiada

por não ser inabilitada da licitação, tendo em vista que juntou a garantia da proposta após 48

horas da abertura dos envelopes e realizou a visita técnica no segundo dia antes da abertura

da proposta, quando edital exigia que fosse realizada até o terceiro dia.

##/Fato##

Manifestação da Unidade Examinada

O Relatório Preliminar foi encaminhado ao Município por intermédio do Ofício nº

3.099/2017/Regional/MS-CGU, de 22 de fevereiro de 2017. Até o encerramento desse

relatório, nenhuma justificativa ao fato narrado desse item foi apresentada pelo gestor.

##/ManifestacaoUnidadeExaminada##

Análise do Controle Interno

Ante a ausência de manifestação do gestor municipal, a equipe de auditoria conclui pela

efetiva ocorrência da irregularidade apontada neste item do relatório.

##/AnaliseControleInterno##

2.2.4. Pagamento por serviços não realizados no valor total de R$ 199.725,24.

Fato

No processo administrativo nº 56/2010 não existe documento formal designando o fiscal das

obras, mas todas as 19 medições e os respectivos atestos das notas fiscais, exceto nota fiscal

nº 410 referente à 15ª medição, foram realizados pelo engenheiro da prefeitura K. S. CPF

***.308.469-**, onde indica-se que o mesmo é o responsável pela fiscalização da obra, tendo

em vista que é o único engenheiro que assinou as medições e atestou as notas fiscais.

Foram realizadas 19 medições da obra referentes ao Contrato nº 139/2010. A Câmara de

Vereadores, em função da Comissão Parlamentar de Inquérito nº 01/2015, contratou

engenheiro para elaborar laudo técnico sobre as 19 medições realizadas e pagas. O referido

laudo foi emitido em 24 de fevereiro de 2016 e atestou que houve pagamento por serviços não

executados no valor total de R$ 199.725,24.

Esse mesmo engenheiro, no dia 25 de fevereiro de 2016, emitiu laudo idêntico para a

Prefeitura Municipal de Pedro Gomes/MS, laudo esse que subsidiou processo judicial que a

Prefeitura está movendo contra a empresa contratada (3AN Serviços de Agronomia e

Engenharia Ltda. - CNPJ 01.404.846/0001-50) para ressarcimento do valor total de R$

263.915,24, sendo R$ 199.725,24 por pagamentos realizados a serviços não executados e R$

64.190,00 a título de multa contratual.

Já no Sistema Integrado de Monitoramento Execução e Controle – Simec, sistema utilizado

pelo FNDE para controle de obras referentes aos repasses realizados, encontra-se informação,

lançada na data de 13 de junho de 2016, que em supervisão realizada por empresa contratada

pelo FNDE foi constatado que o percentual de execução da obra se encontraria no patamar de

50,70%. Com essa informação, considerando que nessa data já havia sido realizado pagamento

no montante de R$ 1.256.719,80 referente às 19 medições realizadas, perfazendo o percentual

de execução de 97,89%, identifica-se o valor de R$ 605.833,20 de pagamentos realizados por

serviços não executados pela empresa 3AN Serviços de Agronomia e Engenharia Ltda., valor

esse bem maior do que o encontrado pelo engenheiro contratado pela Câmara de Vereadores.

Dessa forma, haja vista as informações desencontradas, procedeu-se, no dia 22 de novembro

de 2016, à inspeção física do objeto da Tomada de Preços nº 09/2010. Da inspeção física dos

serviços encontrados in loco foi possível corroborar os valores constantes do laudo

apresentado pelo engenheiro à Câmara de Vereadores de Pedro Gomes/MS (R$ 199.725,24).

Dessa forma, conclui-se que foi pago indevidamente o valor total de R$ 199.725,24 por

serviços medidos e pagos, porém efetivamente não executados. Ressalta-se que o engenheiro

da Prefeitura Sr. K. S. CPF ***.308.846-** assinou todas as medições e atestou todas as notas

fiscais referentes a esses pagamentos, exceto a nota fiscal nº 410 referente a 15ª medição. Já

a funcionária da Prefeitura Sra. G. V. R. CPF ***.738.841-** atestou todas as notas fiscais

dos 19 pagamentos. A nota fiscal nº 410, referente à 15ª medição, também foi atestada pelo

funcionário da Prefeitura Sr. M. F. de S. CPF ***.841.001-**.

A Prefeitura Municipal de Pedro Gomes/MS está com ação de ressarcimento contra a empresa

que abandonou a obra, cobrando os valores pagos a maior e as multas pelo inadimplemento

do contrato. Quanto aos processos administrativos para a apurar a responsabilidades das

pessoas que atestaram as medições e as notas fiscais nada foi apresentado a equipe de

fiscalização. Dessa forma, a Prefeitura Municipal de Pedro Gomes/MS necessita instaurar

processos administrativos para delimitar a responsabilidade de cada um dos servidores citados

e providenciar as ações cíveis, se cabíveis, para de ressarcimento contra os causadores do

dano. Além disso, caso a creche não seja terminada, os valores pagos a maior, que estão sendo

cobrados judicialmente da empresa que abandonou a obra, deverão ser recolhidos,

devidamente corrigidos, para o FNDE.

##/Fato##

Manifestação da Unidade Examinada

O Relatório Preliminar foi encaminhado ao Município por intermédio do Ofício nº

3.099/2017/Regional/MS-CGU, de 22 de fevereiro de 2017. Até o encerramento desse

relatório, nenhuma justificativa ao fato narrado desse item foi apresentada pelo gestor.

##/ManifestacaoUnidadeExaminada##

Análise do Controle Interno

Ante a ausência de manifestação do gestor municipal, a equipe de auditoria conclui pela

efetiva ocorrência da irregularidade apontada neste item do relatório.

##/AnaliseControleInterno##

2.2.5. Tomada de Preços n.º 05/2016 conduzida com restrições ao caráter competitivo e

violações aos princípios constitucionais da legalidade, da impessoalidade e da igualdade,

direcionando a licitação para a empresa vencedora.

Fato

Trata-se da análise do processo licitatório realizado para a execução do remanescente da obra

de construção da Escola ProInfância Creche tipo “B”, Tomada de Preços da Prefeitura

Municipal de Pedro Gomes/MS nº 05/2016, Processo Administrativo nº 53/2016.

A Comissão Permanente de Licitação - CPL foi nomeada pelo Decreto Municipal nº 017/2016,

do dia 4 de março de 2016.

O Aviso do Edital da licitação foi publicado no Diário Oficial dos Municípios do Estado do

Mato Grosso do Sul do Sul no dia 29 de agosto de 2016 e no Diário Oficial da União – DOU

no dia 30 de agosto 2016. Essas publicações foram realizadas, respectivamente, quinze e

quatorze dias antes da abertura dos certames, 14 de setembro de 2016, considerando o método

de contagem de prazo definido na Lei Federal nº 8.666/93.

Conforme consta na ata de julgamento, apenas duas empresas adquiriram o edital, as empresas

Gomes & Gonçalves Ltda. ME, CNPJ 05.825.563/0001-32, e Constrular Comércio para

Construção Ltda., CNPJ 12.082.667/0001-60. Entretanto, no Aviso do Edital nem no Edital

estava previsto a aquisição do Edital e também não foi encontrado no processo nenhum

documento que confirme essa aquisição.

Em análise ao processo e à Ata da Reunião da Comissão Permanente de Licitações para Exame

e Julgamento dos Documentos de Habilitação e Propostas de 14 de setembro de 2016,

constatou-se que apenas a empresa Gomes & Gonçalves Ltda. ME (CNPJ 05.825.563/0001-

32) participou da licitação, sendo considerada vencedora com a proposta no valor de R$

224.375,87, sendo formalizado o Contrato de nº 86/2016.

A seguir são apresentadas as restrições à competitividade do certame encontrada na análise

realizada no edital da Tomada de Preços n. 05/2016 e Anexos:

a) Restrição do acesso ao teor integral do edital, mediante o condicionamento de sua

retirada diretamente na Prefeitura:

Reproduz-se a seguir o Aviso do Edital publicado:

“Prefeitura Municipal de Pedro Gomes – MS

Comissão Permanente de Licitação

Aviso de Licitação torna público aos interessados, que fará realizar, na

modalidade TP nº 005/2016, do tipo “menor preço Global”, conforme Lei

8.666/93, tendo como Objeto: obra de término da construção de creche no

âmbito do Programa Nacional de Reestruturação e Aparelhagem na Rede

Escolar Pública Educação Infantil, no dia 14 de setembro de 2016 às 08:30h.

estará recebendo os envelopes contendo “Documentação e proposta” e em

seguida, procedendo a abertura. Os interessados deverão retirar o edital no

Departamento de Licitação, maiores informações poderão ser obtidas na sede

da Prefeitura Municipal, junto a Comissão de Licitação, de segunda a sexta-

feira, no horário de expediente, das 7:00hrs. às 13:00hrs. Pedro Gomes – MS,

26 de agosto de 2016.”

A Lei Federal nº 8.666/93 (Estatuto das Licitações) determina que o Aviso do Edital contenha

o resumo do edital e a indicação do local em que os interessados poderão ler e obter o seu

texto integral e todas as informações sobre licitação, conforme reprodução a seguir. E essas

informações não se encontram integralmente no Aviso do Edital da Tomada de Preços nº

05/2016:

“Art. 21. Os avisos contendo os resumos dos editais das concorrências, das

tomadas de preços, dos concursos e dos leilões, embora realizados no local da

repartição interessada, deverão ser publicados com antecedência, no mínimo,

por uma vez:

(…)

§ 1º O aviso publicado conterá a indicação do local em que os interessados

poderão ler e obter o texto integral do edital e todas as informações sobre a

licitação.” (original sem grifo)

O Aviso do Edital não apresenta facilidade alguma para que algum interessado

conseguisse informações junto a Prefeitura de como acessar a integra do Edital. Somente

afirma que que poderá ser obtida maiores informações na sede da Prefeitura, mas nem sequer

informa um telefone específico para isso. Em que pese o aviso da Tomada de Preço nº 05/2016

ter sido publicado no Diário Oficial da União e no Diário Oficial do Estado de Mato Grosso

do Sul, a administração municipal não se preocupou em facilitar o acesso ao teor integral do

edital pela Internet e/ou outro meio de comunicação.

Apesar de o Estatuto de Licitações e Contratos não consignar em seu texto, a publicação dos

certames licitatórios pela internet, até mesmo pelo fato de o acesso à rede mundial de

computadores ser restrito quando da elaboração da Norma (junho de 1993), é inquestionável

que a disponibilização de todas as peças do instrumento convocatório na rede proporciona um

alcance maior de interessados no certame, garantindo assim o pleno atendimento dos

princípios constitucionais da isonomia, da publicidade e da impessoalidade, bem como a

obtenção da proposta mais vantajosa para a Administração, conforme preconiza o art. 3º do

dispositivo legal in verbis:

“Art. 3º A licitação destina-se a garantir a observância do princípio

constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a

administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável e será

processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da

legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da

probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do

julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos.”

Nesse caso, verifica-se que qualquer empresa de outro Estado ou mesmo de outro município

do Estado do Mato Grosso do Sul teria imensa dificuldade de participar da licitação, pois se

exigiria o desembolso financeiro com a locomoção de algum preposto até o Município de

Pedro Gomes/MS ou a contratação de alguém que pudesse solicitar pessoalmente o

documento junto ao Departamento de Compras e Licitações daquele município. Além de não

facilitar o acesso ao instrumento convocatório pela internet, o resumo do edital não continha

informações mínimas que permitissem se ter conhecimento da obra, como, por exemplo, o

valor estimado da contratação.

Dessa forma, a restrição do acesso ao edital da Tomada de Preços nº 05/2016 somente

diretamente na sede da Prefeitura de Pedro Gomes/MS e a não disponibilização do teor

integral do instrumento convocatório na Internet caracteriza mecanismo de restrição ao caráter

competitivo da licitação, ação essa vedada pelo inciso I do § 1º do art. 3º da Lei de Licitações

e Contratos, limitando a participação de outras empresas interessadas, o que efetivamente veio

a ocorrer, uma vez que o certame licitatório contou com a participação apenas da empresa

contratada (Gomes & Gonçalves Ltda. ME – CNPJ 05.825.563/0001-32).

b) Ausência de publicação do extrato de divulgação do edital em jornal de grande

circulação e no Diário Oficial do Estado.

A Lei Federal nº 8.666/93 elencou a publicidade mínima exigida em seu art. 21, conforme

reproduzido a seguir:

“Art. 21. Os avisos contendo os resumos dos editais das concorrências, das

tomadas de preços, dos concursos e dos leilões, embora realizados no local

da repartição interessada, deverão ser publicados com antecedência, no

mínimo, por uma vez:

I - no Diário Oficial da União, quando se tratar de licitação feita por órgão

ou entidade da Administração Pública Federal e, ainda, quando se tratar de

obras financiadas parcial ou totalmente com recursos federais ou garantidas

por instituições federais;

II - no Diário Oficial do Estado, ou do Distrito Federal quando se tratar,

respectivamente, de licitação feita por órgão ou entidade da Administração

Pública Estadual ou Municipal, ou do Distrito Federal;

III - em jornal diário de grande circulação no Estado e também, se houver,

em jornal de circulação no Município ou na região onde será realizada a

obra, prestado o serviço, fornecido, alienado ou alugado o bem, podendo

ainda a Administração, conforme o vulto da licitação, utilizar-se de outros

meios de divulgação para ampliar a área de competição.

(...)

§ 2º O prazo mínimo até o recebimento das propostas ou da realização do

evento será:

(...)

III - quinze dias para a tomada de preços, nos casos não especificados na

alínea "b" do inciso anterior, ou leilão;

(...)

§ 3º Os prazos estabelecidos no parágrafo anterior serão contados a partir

da última publicação do edital resumido ou da expedição do convite, ou ainda

da efetiva disponibilidade do edital ou do convite e respectivos anexos,

prevalecendo a data que ocorrer mais tarde.” (original sem grifos)

No caso das Tomada de Preço nº 05/2016 da Prefeitura Municipal de Pedro Gomes/MS, o

Aviso do Edital da licitação foi publicado no Diário Oficial dos Municípios do Estado do Mato

Grosso do Sul do Sul no dia 29 de agosto de 2016 e no Diário Oficial da União – DOU no dia

30 de agosto 2016. Dentre as páginas acostadas aos Processos nº 53/2016 não se localizou a

publicação em jornal de grande circulação no Estado e no Diário Oficial do Estado. Tal fato

contraria o determinado no art. 21, incisos II e III.

A ausência de publicação do aviso do edital no jornal de grande circulação do Estado e no

Diário Oficial do Estado impediu que empresas aptas a participar tomassem conhecimento da

existência do certame, restringindo o caráter competitivo, o que se confirma pelo fato de

apenas a empresa contratada ter participado da licitação.

c) Vedação ilegal à participação de empresas sem cadastro de fornecedores do

município.

Da análise do edital Tomada de Preços nº 05/2016, verificou-se que a Prefeitura Municipal de

Pedro Gomes/MS incluiu cláusulas restritivas à competitividade, de forma irregular,

cerceando a maior competição no certame e, impedindo a consecução do melhor contrato para

a Administração, objeto maior de uma licitação.

Em seu item 6.2 o edital define o seguinte:

“6 – DA DOCUMENTAÇÃO – ENVELOPE 01 todas as licitantes deverão

apresentar dentro do envelope nº 01 os documentos específicos para a

participação nesta TOMADA DE PREÇOS, numeradas sequencialmente e na

ordem a seguir indicada:

(...)

6.2 – Regularidade Fiscal

(...)

g) Certificado de Registro Cadastral – CRC, feito pela PREFEITURA

MUNICIPAL DE PEDRO GOMES, ou outro órgão público.”

A Lei 8.666/93 define o seguinte quanto à Tomada de Preços:

“Art. 22. São modalidades de licitação:

(...)

II - tomada de preços;

(...)

§ 2º Tomada de preços é a modalidade de licitação entre interessados

devidamente cadastrados ou que atenderem a todas as condições exigidas

para cadastramento até o terceiro dia anterior à data do recebimento das

propostas, observada a necessária qualificação.” (original sem grifos)

Assim, ao exigir, como condição habilitatória que a empresa esteja cadastrada no Sistema de

Cadastro de Prestadores de Serviço da Prefeitura Municipal de Pedro Gomes/MS ou de outro

órgão, a Prefeitura Municipal inibe a possibilidade de empresas não cadastradas, mas que

apresentarem condições de cadastramento, participem do certame, em clara afronta ao

dispositivo legal citado, e mais, o § 9º do art. 22 deixa claro que as exigências são unicamente

para participar da licitação, conforme reprodução a seguir:

“§ 9o Na hipótese do parágrafo 2o deste artigo, a administração somente

poderá exigir do licitante não cadastrado os documentos previstos nos arts.

27 a 31, que comprovem habilitação compatível com o objeto da licitação,

nos termos do edital.” (original sem grifos)

Dessa forma, não resta dúvida que exigir o cadastramento é ilegal, e na prática, transforma-se

numa restrição quase que incontornável à participação de empresas não cadastradas, pois,

como é de conhecimento público, os trâmites burocráticos em uma repartição pública

(inclusive o cadastramento em questão) demandam algum tempo, às vezes até meses, para sua

consecução. No caso prático, o que a Lei determina é que exista uma seção de habilitação

para as empresas não cadastradas e bastaria que a Prefeitura de Pedro Gomes/MS

disponibilizasse a essas empresas protocolo de recebimento de toda a documentação exigida

para a referida habilitação, documento esse que poderia ser apresentado como comprovante

de atendimento da segunda hipótese prevista pelo § 2º do art. 22 do Estatuto de Licitações e

contratos (atender todas as condições exigidas até o 3º dia útil anterior ao certame).

Relativamente ao cadastramento prévio para participação em licitações na modalidade

“Tomada de Preços”, o Ministro Relator do Acórdão TCU nº 1452/2003 Primeira Câmara,

reforçou a obrigatoriedade de respeito do prazo legal estipulado no parágrafo 2º do art. 22 da

Lei 8666/93.

d) Exigência indevida de prazo e agendamento para visita técnica e de atestado de visita

técnica realizada pela empresa como documento de habilitação:

De acordo com o item 6.5 do edital da Tomada de Preço nº 05/2016, para participação no

certame as empresas interessadas deveriam realizar visitas técnicas entre as datas de 1º de

setembro de 2016 e 12 de setembro de 2016 (02 dias antes da abertura dos envelopes),

conforme reprodução a seguir:

“6 – DA DOCUMENTAÇÃO – ENVELOPE 01 todas as licitantes deverão

apresentar dentro do envelope nº 01 os documentos específicos para a

participação nesta TOMADA DE PREÇOS, numeradas sequencialmente e na

ordem a seguir indicada:

(...)

6.5 – Qualificação Técnica

(...)

c) Declaração de Vistoria, emitida pela Secretaria Municipal de obras e/ou

Serviços Urbanos, comprovando que a empresa licitante esteve no local da

execução dos serviços, que está ciente de todas as dificuldades e condições

necessárias para executá-la, que tem pleno conhecimento dos projetos e das

especificações técnicas, sendo estes satisfatórios para que o serviço seja

realizado dentro do prazo previsto pelo CONTRATANTE, assumindo total

responsabilidade pelo serviço caso seja a vencedora do certame.

c.1) A vistoria será marcada no período compreendido entre os dias 01/09 a

12/09, em horário de expediente, sendo das 07:00 horas às 13:00 horas, no

prédio da Prefeitura municipal de PEDRO GOMES – MS, Secretaria de

Obras, onde sairão para o local da obra.”

O ordenamento jurídico das licitações é omisso quanto ao prazo limite para a visita técnica.

Destarte, a Administração deve estabelecer condição razoável para a realização da visita

técnica ao local da obra, abstendo-se de determinar regras restritivas. A obra está sendo

executadas em área que é de fácil acesso a qualquer pessoa, não havendo motivo algum para

que as empresas interessadas entrassem em contato com representante da Prefeitura Municipal

de Pedro Gomes/MS para a realização das visitas técnicas, muito menos que houvesse

restrição de datas de início e limite para que essas visitas técnicas ocorressem. O correto é que

os prazos das visitas técnicas coincidam com a data de entrega dos envelopes, eis que a

jurisprudência do Tribunal de Contas da União assim já determinou nos Acórdãos nº

1979/2006-Penário e nº 4377/2009-Segunda Câmara.

Além da restrição do prazo, o item 6.5, letra “c”, do edital da Tomada de Preços nº 05/2016

ainda exige, como condição indispensável para participação nos certames, que as empresas

interessadas apresentassem o referido atestado de visita técnica como documento de

habilitação.

Em que pese à sua previsão em edital, a vistoria técnica não é sequer citada na Lei nº 8.666/93,

e sua obrigatoriedade, como condição para a habilitação do licitante, constitui restrição ao

caráter competitivo do certame, pois, o que se prevê apenas é que o licitante deve apresentar

“comprovação fornecida pelo órgão licitante, de que recebeu os documentos, e, quando

exigido, de que tomou conhecimento de todas as informações e das condições locais para o

cumprimento das obrigações objeto da licitação” (inciso III do art. 30 da Lei nº 8.666/93),

não havendo qualquer exigência quanto à imprescindibilidade da visita técnica ao local da

obra.

Assim, bastaria uma declaração, cujo modelo fosse fornecido pelo órgão licitante, de que

recebeu os documentos, e, quando exigido, de que tomou conhecimento de todas as

informações e das condições locais para o cumprimento das obrigações objeto da licitação, ou

seja, não se trata de algo cuja comprovação só possa ser feita por testemunhas.

Quanto à exigência de vistoria técnica, o Tribunal de Contas da União assim se posicionou

nas deliberações dos Acórdãos nº 874/2007-Segunda Câmara (Sumário), nº 1731/2008-

Plenário, nº 2477/2009-Plenário (Sumário) e nº 234/2015-Plenário

e) Proibição de apresentação de documentos (recursos e impugnações) e solicitação de

informações ou esclarecimentos por e-mail ou fax, contrariando o Acórdão nº

2266/2011 – Plenário do Tribunal de Contas da União.

Por meio de análise do edital de licitação, verificou-se que seus itens 2.4 e 21 restringiram o

caráter competitivo do certame ao limitar as solicitações de informações, os esclarecimentos,

as respostas, os recursos e contrarrazões dos licitantes apenas por meio físico protocolizado

durante o horário de atendimento ao público, na Prefeitura Municipal de Pedro Gomes/MS,

conforme reprodução a seguir:

“2.4. A Comissão Permanente de Licitação permanecerá à disposição dos

interessados, no horário de expediente da PREFEITURA MUNICIPAL DE

PEDRO GOMES, para esclarecer dúvidas e prestar quaisquer informações

pertinentes a esta TOMADA DE PREÇOS, desde que solicitadas por escrito

(somente será aceito protocolado em originais na sede da prefeitura,

excluindo via fax, email ou outro meio), até 36 horas que anteceder a data

estabelecida no preâmbulo deste Edital para a sessão pública de abertura dos

envelopes de habilitação e proposta financeira.

(...)

21 DA IMPUGNAÇÃO DO EDITAL 21.1 – É facultado a qualquer cidadão

impugnar, por escrito, os termos do presente Edital em até 3º (terceiro) dias

úteis antes da data fixada para o recebimento dos envelopes (somente será

aceito protocolado em originais na sede da prefeitura, excluindo via fax, e-

mail ou outro meio), devendo a PREFEITURA MUNICIPAL DE PEDRO

GOMES-MS, por intermédio da Comissão Permanente de Licitação, julgar e

responder à impugnação em até 02(dois) dias úteis.”

Nesse contexto, empresas estabelecidas no município de Pedro Gomes/MS ou municípios

limítrofes possuem melhores condições de fazer uso do direito de petição (art. 5º, inciso

XXXIV, 'a', da Constituição da República) e de ter conhecimento acerca das informações e

esclarecimentos por ventura prestados do que aquelas estabelecidas em localidades mais

distantes ou em outros municípios.

Entretanto, no caso concreto, não haveria prejuízo para a Administração aceitar essas

solicitações de informações, esclarecimentos e contestações por meio de e-mail, via postal ou

fax. Pelo contrário, a utilização dos referidos meios de comunicação tornaria o processo mais

célere. O legislador, atento a isso, já positivou no art. 5º, inciso LXXVIII, da Constituição

Federal, o respeito ao princípio da celeridade processual no âmbito dos processos judicial e

administrativo.

A Lei de Licitações, no que tange aos recursos e impugnações de atos da Comissão de

Licitação, é taxativa apenas quanto à tempestividade de suas apresentações à Administração,

não havendo qualquer previsão quanto à forma de exercício desse direito constitucional, seja

pelos licitantes ou por qualquer cidadão. Dessa forma, tendo em vista o princípio

constitucional da Legalidade, segundo o qual o administrador público somente pode fazer o

que a lei determine ou autorize expressamente, fica caracterizada a irregularidade na vedação

imposta pelos itens 2.4 e 21 do Edital da Tomada de Preços nº 05/2016, em virtude da ausência

de fundamentação legal para tal.

Já quanto a informações e esclarecimentos, a Lei Federal nº 8.666/93 deixa claro que deve

haver métodos de comunicação à distância para esses casos, conforme se depreende do item

VIII do art. 40, reproduzido a seguir:

“Art. 40. O edital conterá no preâmbulo o número de ordem em série anual,

o nome da repartição interessada e de seu setor, a modalidade, o regime de

execução e o tipo da licitação, a menção de que será regida por esta Lei, o

local, dia e hora para recebimento da documentação e proposta, bem como

para início da abertura dos envelopes, e indicará, obrigatoriamente, o

seguinte:

(...)

VIII - locais, horários e códigos de acesso dos meios de comunicação à

distância em que serão fornecidos elementos, informações e esclarecimentos

relativos à licitação e às condições para atendimento das obrigações

necessárias ao cumprimento de seu objeto;” (original sem grifos)

Cabe ressaltar que, apesar de o Estatuto de Licitações e Contratos não consignar em seu texto

os recursos da rede mundial de computadores (Internet) como meio facilitador de

comunicação entre a Administração e os interessados em participar dos certames, até mesmo

pelo fato de o acesso à Internet ser restrito quando da elaboração da Norma (junho de 1993),

é inquestionável que a disponibilização de meios de comunicação por intermédio dos sites

corporativos das entidades promotoras de licitações proporciona um método adequado, de

alcance ilimitado, de recebimento de pedidos de informações e de esclarecimentos, bem como

de divulgação irrestrita dessas informações e esclarecimentos porventura fornecidos, desse

modo, garantindo o pleno atendimento dos princípios constitucionais da isonomia, da

publicidade e da impessoalidade, bem como a obtenção da proposta mais vantajosa para a

Administração, conforme preconiza o art. 3º da Lei Federal nº 8.666/93.

Cabe destacar que o Tribunal de Contas da União tem considerado que a vedação à

apresentação de impugnações e recursos por meio de telegrama, via postal ou fac-símile (fax)

cerceia o pleno gozo do direito de petição garantido no art. 5º, inciso XXXIV, alínea a, da

Constituição Federal (Acórdão nº 2266/2011 – TCU Plenário).

f) Exigência de capacidade técnica-profissional em desacordo com a Lei.

O edital da licitação, em seu item 6.5, exige a comprovação da licitante de possuir em seu

corpo técnico, na data de abertura das propostas, profissional de nível superior, detentor de

atestados de responsabilidade técnica, assim descrito:

“6 – DA DOCUMENTAÇÃO – ENVELOPE 01 todas as licitantes deverão

apresentar dentro do envelope nº 01 os documentos específicos para a

participação nesta TOMADA DE PREÇOS, numeradas sequencialmente e na

ordem a seguir indicada:

(...)

6.5 – Qualificação Técnica

(...)

b) Capacitação técnico-profissional cuja comprovação se fará através da

licitante possuir em seu quadro permanente, através de carteira de trabalho,

contrato de prestação de serviços ou no caso de sócio proprietário do

contrato social na data prevista para entrega da proposta, profissional de

nível superior ou outro devidamente reconhecido pela entidade competente

detentor de Atestado de Responsabilidade Técnica – CAT, em nome do

profissional/engenheiro, por serviços de obras ou serviços de características

semelhantes, limitadas este exclusivamente as parcelas de maior relevância e

valor significativos do objeto desta licitação. B.1 Os atestados de Capacidade

Técnica-Profissional – CAT, deverá ser entidades por pessoa jurídica de

direito público ou privado, devidamente registrado pela entidade competente

“CREA”, em nome do profissional, que deverá fazer parte do quadro técnico

da empresa.” (sic)

Embora para a Administração seja interessante que haja um nível mínimo de qualificação para

as empresas executoras, sendo este nível julgado pela experiência anterior do responsável

técnico da licitante, comprovada pela execução de serviços em quantidade e nível técnico

semelhante com o objeto da licitação, esse não deve superar o princípio da competitividade e

da razoabilidade, mais importantes para a Administração que a qualificação técnica. Por isso,

a Lei Federal 8.666 de 21 de junho de 1993, em seu Artigo 30, define os critérios para que

sejam admissíveis a exigência de Atestado de Capacitação Técnico-profissional como

documento de habilitação para a comprovação da qualificação técnica, senão vejamos:

“Art. 30. A documentação relativa à qualificação técnica limitar-se-á a:

(...)

II - comprovação de aptidão para desempenho de atividade pertinente e

compatível em características, quantidades e prazos com o objeto da

licitação, e indicação das instalações e do aparelhamento e do pessoal

técnico adequados e disponíveis para a realização do objeto da licitação, bem

como da qualificação de cada um dos membros da equipe técnica que se

responsabilizará pelos trabalhos;

(...)

§ 1º A comprovação de aptidão referida no inciso II do "caput" deste artigo,

no caso das licitações pertinentes a obras e serviços, será feita por atestados

fornecidos por pessoas jurídicas de direito público ou privado, devidamente

registrados nas entidades profissionais competentes, limitadas as exigências

a:

I - capacitação técnico-profissional: comprovação do licitante de possuir em

seu quadro permanente, na data prevista para entrega da proposta,

profissional de nível superior ou outro devidamente reconhecido pela

entidade competente, detentor de atestado de responsabilidade técnica por

execução de obra ou serviço de características semelhantes, limitadas estas

exclusivamente às parcelas de maior relevância e valor significativo do objeto

da licitação, vedadas as exigências de quantidades mínimas ou prazos

máximos;

§ 2º As parcelas de maior relevância técnica e de valor significativo,

mencionadas no parágrafo anterior, serão definidas no instrumento

convocatório.

§ 3º Será sempre admitida a comprovação de aptidão através de certidões ou

atestados de obras ou serviços similares de complexidade tecnológica e

operacional equivalente ou superior.” (original sem grifos)

Do texto da Lei se extrai que para se solicitar Atestado de Capacidade Técnica-

profissional, como documento de habilitação em uma licitação, é necessário que no

edital conste as parcelas de maior relevância e de valor significativo que o responsável

técnico da licitante necessita provar experiência anterior. Chama-se atenção que a

parcela tem que ter relevância técnica e valor significativo simultaneamente, não basta

apenas ter relevância técnica ou valor significativo.

A Prefeitura de Pedro Gomes/MS não definiu no instrumento convocatório as parcelas

de maior relevância técnica e de valor significativo da obra. Também não se vislumbra

na obra em questão (conclusão de uma edificação para funcionamento de uma creche)

serviço algum com complexidade técnica que justificasse sua relevância para se exigir

um Atestado de Capacidade Técnica-profissional. Dessa forma, a exigência de Atestado

de capacidade Técnica-profissional na Tomada de Preços nº 05/2016 acarretou uma

limitação ilegal do caráter competitivo do certame, haja vista a participação de apenas

uma empresa na licitação.

Todas essas restrições indicam que a empresa vencedora do certame tinha certeza de que seria

a única participante das licitações. Chegou-se a essa conclusão a partir da comparação da

proposta da empresa vencedora com o orçamento prévio da Administração, na qual foi

verificado que, igualmente ao ocorrido na Tomada de Preços nº 09/2010, apenas um preço de

serviço foi alterado face ao valor do orçamento prévio. Esse item foi cotado ligeiramente

menor que o valor orçado pela Administração. Esse fato demonstra que a empresa ganhadora

da licitação não teve o mínimo temor de ser derrotada numa possível disputa por preço, pois

não realizou uma orçamentação adequada, se limitando a repetir o orçamento da

Administração, alterando apenas um preço unitário para menor de modo que o preço global

de sua proposta ficasse menor que o preço global do orçamento prévio, conforme a tabela a

seguir demonstra:

Quadro - Comparação entre o único preço alterado.

Item Qtd Preço orçamento

Prefeitura-R$

Total

Orçamento-

R$

Preço proposta

empresa

vencedora-R$

Total da

Proposta-R$

Serviços de mão de obra 1 33.000,00 33.000,00 31.700,00 31.700,00

Fonte: Processo Administrativo da Prefeitura de Pedro Gomes/MS n.º 053/2016.

Dessa forma, entende-se que as restrições reproduzidas nos subitens “a” a “f” retro, tomadas

em conjunto, foram suficientes para impor limites à competitividade da Tomada de Preço nº

05/2016 da Prefeitura Municipal de Pedro Gomes/MS para execução do remanescente da obra

de construção de uma Escola ProInfância Creche tipo “B”, direcionando a licitação para a

empresa vencedora do certame.

Consequentemente, verifica-se o desrespeito ao inciso I, do § 1º, do art. 3º, da Lei nº 8.666/93:

“Art. 3º (...)

§ 1º É vedado aos agentes públicos:

I - admitir, prever, incluir ou tolerar, nos atos de convocação, cláusulas ou

condições que comprometam, restrinjam ou frustrem o seu caráter

competitivo e estabeleçam preferências ou distinções em razão da

naturalidade, da sede ou domicílio dos licitantes ou de qualquer outra

circunstância impertinente ou irrelevante para o específico objeto do

contrato, ressalvado o disposto nos §§ 5º a 12 deste artigo e no art. 3o da Lei

no 8.248, de 23 de outubro de 1991.”

##/Fato##

Manifestação da Unidade Examinada

Por intermédio de correspondência sem número, datada de 13 de março de 2017, o ex-prefeito

do município, em resposta ao relatório preliminar, apresentou a seguinte manifestação:

“3) Tomada de preços 05/2016;

a) Restrição de acesso ao teor integral do edital:

O edital na integra estava disponível no site do Município: www.pedrogomes.ms.gov.br,

transparência brasil - licitações, o Municipio não cobra o edital.

b) Ausencia de publicidade do extrato de divulgação do edital em jornal de grande

circulação e não atendimento de 15 dias.

Todas as licitações são publicadas na internet através do site oficial da Assomasul e

disponível no site do Município: www.pedrogomes.ms.gov.br transparência Brasil –

licitações, quanto ao prazo citado de 14 dias, correto é 15 dias, sendo 31/08 e 14 dias mês

setembro, total 15 dias.

c) Vedação ilegal a participação de empresas sem cadastro de fornecedores do Municipio.

O edital não fala em data para fazer o CRC, podera ser feita até o ultimo dia de entrega dos

envelopes.

d) Exigencia indevida de prazo e agendamento para visita técnica e de atestado de visita

técnica.

O Município ofereceu condições razoável no prazo, sendo 12 dias para marcar a visita

técnica, a obra é de fácil acesso, todas as licitações são exigidas estas condições.

e) Proibição e apresentação de documentos (recursos e impugnações) por Email ou fax.

É uma regra que vem sendo seguida a vários anos, em todas as licitações, editais.

f) Exigência de capacidade tecnica-profissional em desacordo com a lei. Todas as licitações de obras de engenharia é solicitado por regra um profissional

responsável, no edital em seu objeto está bem claro o objetivo da licitação.”

##/ManifestacaoUnidadeExaminada##

Análise do Controle Interno

Em decorrência da resposta encaminhada pelo ex-prefeito de Pedro Gomes/MS, apresentamos

a seguir nossas ponderações sobre as informações prestadas em cada item da resposta:

a) Apesar do informado pelo gestor, nenhuma evidência de que o edital fora disponibilizado

na integra no site do município foi apresentada.

b) O Gestor se limitou a afirmar que a integra do edital foi publicado no site da Assomasul e

no site da Prefeitura, sem, no entanto, apresentar evidencia alguma dessas publicações.

Ademais, tais publicações não eximiriam a Prefeitura de publicar o aviso do edital em jornal

de grande circulação e no Diário Oficial do Estado.

c) A afirmação do gestor confirma a necessidade de a empresa estar cadastrada para participar

da licitação, o que inibiu a possibilidade de empresas não cadastradas, mas que apresentassem

condições de cadastramento, participassem do certame, em clara afronta ao art. 22, § 2º, da

Lei Federal 8.666, de 21 de junho de 1993. E mais, o § 9º do art. 22 deixa claro que as

exigências para habilitação em tomadas de preços de empresas não cadastradas são

unicamente para participar da licitação, conforme reprodução a seguir:

“§ 9o Na hipótese do parágrafo 2o deste artigo, a administração somente

poderá exigir do licitante não cadastrado os documentos previstos nos arts.

27 a 31, que comprovem habilitação compatível com o objeto da licitação,

nos termos do edital.” (original sem grifos)

d) A afirmação do gestor de que a obra é de fácil acesso por si só confirma a desnecessidade

do atestado de visita técnica nos moldes exigidos no edital, uma vez que o responsável da

empresa interessada poderia realizar a vistoria do local sem qualquer agendamento prévio,

apenas apresentando uma declaração formal de que teve conhecimento do local da obra.

Assim, fica ratificada a ilegalidade daquela cláusula editalícia.

e) O gestor se limitou a afirmar que a ilegalidade sempre foi utilizada nos editais anteriores,

sem apresentar quaisquer esclarecimentos ou informações adicionais que elidissem a

ilegalidade apontada pela equipe de fiscalização.

f) Em sua resposta o Gestor não apresenta argumentos que refutam o fato de existir no edital

exigência de capacidade técnica-profissional em desacordo com a Lei.

##/AnaliseControleInterno##

2.2.6. Ausência de orçamento detalhado em planilhas que expressassem a composição

de todos os seus custos unitários, inclusive o Benefício e Despesas Indiretas - BDI.

Fato

Em análise aos editais das Tomadas de Preços nº 09/2010 e nº 05/2016, foi constatado que as

planilhas orçamentárias das licitações elaboradas pela Prefeitura Municipal de Pedro

Gomes/MS não contemplavam a composição detalhada dos custos unitários dos serviços

licitados, inexistindo também o detalhamento do BDI (Benefício e Despesas Indiretas)

utilizado, contrariando o estabelecido no inciso II do § 2º do art. 7º da Lei nº 8.666/93, in

verbis:

“Art. 7º (...)

§ 2º As obras e os serviços somente poderão ser licitados quando:

(...)

II - existir orçamento detalhado em planilhas que expressem a composição

de todos os seus custos unitários;” (original sem grifos)

Cumpre destacar que o Tribunal de Contas da União – TCU possui jurisprudência pela

vedação à prática de cotação de itens sem sua composição de custo unitário, por ferir o

disposto no art. 7º, § 2º, inciso II, da Lei nº 8.666/1993, a exemplo do disposto nos seguintes

Acórdãos e Súmula:

“9.1.8. na elaboração de planilhas de quantitativos de obra ou serviços de

engenharia, disponibilize o detalhamento de todos os serviços, de forma que

seja possível expressar a composição dos custos unitários, conforme

previsto no art. 6º, inciso IX, c/c o art. 7º, § 2º, inciso II, da Lei nº

8.666/1993, abstendo-se de cotar itens por verba”

Acórdão 1091/2007 – Plenário

“9.6. determinar à Superintendência Regional do Sudeste -

INFRAERO/SRGR, [...], que: [...] 9.6.4. em cumprimento ao disposto no art.

7°, § 4°, da Lei nº 8.666/93, abstenha-se de incluir, nos orçamentos de

referência de suas licitações, serviços mensurados por meio de verbas,

indicando detalhadamente as atividades envolvidas e o quantitativo real

necessário para a execução nas respectivas composições de custo unitário,

com vistas a permitir que os valores de todos os itens orçados sejam

passíveis de análise e verificação de sua adequabilidade”;

Acórdão 2032-35/09-Plenário

“Detalhe todos os serviços em composição de custos unitários, consoante

dispõe o art. 7º, §2º, inciso II, da Lei nº 8.666/1993, evitando a utilização de

medida expressa como ‘verba’ nos orçamentos de obras realizadas.”

Acórdão TCU nº 1745/2009 – Plenário

“Nas licitações e contratações diretas para a execução de obras e serviços

de engenharia:

(...)

exija, nos editais de licitação e nos processos de contratação direta para a

execução de obras e serviços de engenharia, que as empresas interessadas,

em qualquer regime de contratação, forneçam a composição detalhada de

todos os seus preços unitários, inclusive da margem, tributos e impostos

incidentes sobre materiais, bem assim da composição do homem-hora

adotado em seus orçamentos (indicando seus coeficientes de produtividade,

salários, encargos, custos de equipamentos, ferramentas, canteiro, etc.), nos

termos do art. art. 7o, § 2o, inciso II, da Lei no 8.666/1993;

(...)”

Acórdão 3977/2009 Segunda Câmara

“Exija que orçamento-base e as propostas das licitantes contenham o devido

detalhamento dos elementos, com composições de custos unitários que

especifiquem os materiais utilizados e mão-de-obra e equipamentos

empregados, em atenção ao que dispõe o art. 7o, § 2o, inciso II, da Lei no

8.666/1993.”

Acórdão TCU nº 80/2010 – Plenário

“As composições de custos unitários e o detalhamento de encargos sociais

e do BDI integram o orçamento que compõe o projeto básico da obra ou

serviço de engenharia, devem constar dos anexos do edital de licitação e

das propostas das licitantes, e não podem ser indicados mediante uso da

expressão ‘verba’ ou de unidades genéricas.” (original sem grifos)

Súmula n.º 258

Cabe ressaltar que, em se tratando de obras, para definição do BDI, deverá ser obedecida a

seguinte premissa, conforme item 9.1.3 do Acórdão nº 325/2007 – Plenário, a seguir:

"...

9.1.3. o gestor público deve exigir dos licitantes o detalhamento da

composição do BDI e dos respectivos percentuais praticados;"

Ainda deve fazer parte do projeto básico das licitações o detalhamento do BDI máximo

aceitável fixado pela Administração, que, inclusive, deve servir de modelo para que as

licitantes apresentem o detalhamento do seu percentual de BDI utilizado em suas propostas.

A ausência desses orçamentos detalhados, inclusive a composição do BDI, aliada a uma

fiscalização deficiente da execução do contrato, possibilita a ocorrência de sobrepreços,

acréscimos de quantitativos de serviços e, ainda, superfaturamentos, que podem causar

prejuízo ao erário.

##/Fato##

Manifestação da Unidade Examinada

Por intermédio de correspondência sem número, datada de 13 de março de 2017, o ex-prefeito

do município, em resposta ao relatório preliminar, apresentou a seguinte manifestação:

“5) Ausência de orçamento detalhado em planilhas que expressassem a composição de

todos os seus custos unitários.

O termo de referência da obra em seu item 2, vincula o objeto do processo administrativo

88/2010 e tomada de preço 09/2010, obedecendo rigorosamente o referido projeto elaborado

pelo FNDE, o município recebeu todas as planilhas e plantas prontas direto do FNDE.”

##/ManifestacaoUnidadeExaminada##

Análise do Controle Interno

Em sua resposta o Gestor não apresenta argumentos que refutassem a ilegalidade de não haver,

nos processos das Tomadas de Preços nº 09/2010 e nº 05/2016, orçamentos detalhados em

planilhas que expressassem a composição de todos os seus custos unitários no edital.

##/AnaliseControleInterno##

3. Consolidação de Resultados

Com base nos exames realizados, conclui-se pela procedência da denúncia apresentada a esta

CGU-Regional/MS, uma vez que a aplicação dos recursos federais não está adequada e exige

providências de regularização por parte dos gestores federais.

Do montante fiscalizado de R$ 1.363.973,64 (um milhão, trezentos e sessenta e três mil,

novecentos e setenta e três reais e sessenta e quatro centavos), foi identificado prejuízo de R$

199.725,24 (cento e noventa e nove mil, setecentos e vinte e cinco reais e vinte e quatro

centavos), referente aos itens 2.2.4.

Destacam-se, a seguir, as situações de maior relevância quanto aos impactos sobre a

efetividade do Programa/Ação fiscalizado:

- Tomada de Preços n.º 09/2010 conduzida com restrições ao caráter competitivo e violações

aos princípios constitucionais da legalidade, da impessoalidade e da igualdade, direcionando

a licitação para a empresa vencedora.

- Favorecimento à empresa contratada, decorrente de habilitação indevida na Tomada de

Preços n.º 09/2010.

- Pagamento por serviços não realizados no valor total de R$ 199.725,24.

- Tomada de Preços n.º 05/2016 conduzida com restrições ao caráter competitivo e violações

aos princípios constitucionais da legalidade, da impessoalidade e da igualdade, direcionando

a licitação para a empresa vencedora.

- Ausência de orçamento detalhado em planilhas que expressassem a composição de todos os

seus custos unitários, inclusive o Benefício e Despesas Indiretas - BDI.