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UNIDADE DIDÁTICA ENTENDENDO A ESCRAVIDÃO PARA DESCONSTRUIR PRECONCEITOS:

UMA ANÁLISE DO FILME “AMISTAD” EM SALA DE AULA

Norival Claro da Silva

NORIVAL CLARO DA SILVA

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

NORIVAL CLARO DA SILVA

ENTENDENDO A ESCRAVIDÃO PARA DESCONSTRUIR

PRECONCEITOS: UMA ANÁLISE DO FILME “AMISTAD”

EM SALA DE AULA

Londrina 2011

NORIVAL CLARO DA SILVA

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NORIVAL CLARO DA SILVA

UNIDADE DIDÁTICA

ENTENDENDO A ESCRAVIDÃO PARA DESCONSTRUIR

PRECONCEITOS: UMA ANÁLISE DO FILME “AMISTAD”

EM SALA DE AULA

Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola .Apresentado ao PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional, ofertado pela Secretaria de Educação do Estado do Paraná, em parceria com a Universidade Estadual de Londrina –UEL Orientadora: Profª Drª Márcia Elisa Teté Ramos.

NORIVAL CLARO DA SILVA

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SUMARIO

1 Identificação ..................................................... 05 2 Introdução ........................................................ 06 3 Apresentação ................................................... 07 4 Objetivo Geral e Especifico .............................. 07 5 Estratégia de Ação ........................................... 08 6 Justificativa ....................................................... 09 7 Atividades Principais ........................................ 11 7.1 Sugestões de Atividades................................... 12 7.2 Diferentes Fontes ............................................. 12 7.3 Indicação de Trabalho . .................................. 12 7.4 Imagens Debret e Rugendas ........................... 13 8 Sugestões de Filmes ....................................... 17 8.1 Manderlay .......................................................... 17 8.2 Quanto Vale ou é Por Quilo ............................... 17 8.3 Tempo de Glória ................................................ 18 8.4 A Cor Púrpura .................................................... 19 8.5 Apocalypto ......................................................... 19 8.6 Spartacus ........................................................... 20 8.7 Jornada pela Liberdade...................................... 21 9 Sugestões para Trabalho ................................... 21 9.1 Vídeos sobre Escravidão ................................... 23 10 Referencia Bibliográfica ..................................... 24 11 Anexos ............................................................... 26 11.1 História da Escravidão Negra no Brasil ............. 27 11.2 Trafico Negreiro ................................................. 34 11.3 Sua Excelência o Traficante .............................. 36 11.4 Trafico de Escravo ............................................. 46

NORIVAL CLARO DA SILVA

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DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Professor PDE: NRE: Londrina Norival Claro da Silva

Professor (a) Orientador (a) IES: Profª Drª Márcia Elisa Teté Ramos

IES vinculada: Universidade Estadual de Londrina

Escola de implementação: Colégio Estadual Professor José Carlos Pinotti

Público objeto de intervenção: Turma de Ensino Fundamental de 8ª série do

Colégio Estadual Professor José Carlos Pinotti.

Título: ENTENDENDO A ESCRAVIDÃO PARA DESCONSTRUIR

PRECONCEITOS: UMA ANÁLISE DO FILME “AMISTAD” EM SALA DE AULA

Tema: O filme como documento histórico para construir conceito de escravidão.

NORIVAL CLARO DA SILVA

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INTRODUÇÃO

Esta unidade temática é resultado de uma preocupação enquanto

professor da Rede Pública Estadual em comprimento As Leis 10.639/03 e

11.645/08 que são simbolicamente uma correção do Estado brasileiro pelo

débito histórico em políticas públicas, em para a população negra.

Evidentemente, o Estado promove a legislação curricular inserindo a

problemática dos afro-brasileiros, devido aos debates, necessidades, objetivos,

movimentos e reivindicações, então instalados no meio social. Neste contexto, a

publicação de livros didáticos pertinentes a História da África, Cultura para o

Ensino Fundamental, torna-se uma alternativa satisfatória para o ensino-

aprendizagem nas escolas públicas sobre o ensino das relações étnicos e

raciais, visto que professores tem questionado sobre a carência de livros

didáticos para a efetivação das leis supracitadas.

Com a aprovação da Lei 10.639/2003, torna-se obrigatório, no Ensino

Fundamental e Médio, o ensino sobre História e Cultura afro-brasileira e

africana, o que assinala a necessidade de estabelecer novas diretrizes

curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais no Brasil, que

engloba, o estuda dessas disciplinas.

NORIVAL CLARO DA SILVA

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APRESENTAÇÃO

Usar o filme em sala de aula, no sentido de tornar a aula mais atrativa e

não como diversão e lazer, mas para tornar o ensino de História da escravidão

africana no Brasil, mais atrativa e também como documento histórico junto aos

aprendizes. Fazendo com que o educando construa o conhecimento histórico

através do filme, no caso, sobre Historia da escravidão no Brasil, possibilitando

ao aluno tornar-se um protagonista da sua história.

O binômio nação/raça presidiu as construções de identidade no século

XIX e ainda nos primeiros anos do século XX. O debate conceitual unido à

análise dos acontecimentos do período pode contribuir para apresentação da

História, tanto dos descendentes dos imigrantes escravos no século anterior,

quanto dos seus descendentes, nascidos em solo brasileiro e que tanto

contribuíram para formar o Brasil como nação que temos hoje.

OBJETIVO GERAL E ESPECÍFICO

O objetivo desse estudo é possibilitar a compreensão da cultura negra

como um dos elementos formadores da própria cultura brasileira, destacando o

conceito histórico de “escravidão” através da análise do filme Amistad. Em

especial, procura construir o conhecimento histórico utilizando o filme como

documento histórico.

a) Contribuir para a formação de alunos e sociedade em geral na temática da

AS REPRESENTAÇÕES SOBRE OS “PIONEIROS” NO MUNICÍPIO DE IBIPORÃ EM REPORTAGENS DE JORNAIS

NORIVAL CLARO DA SILVA

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cultura afro-brasileira;

b) Recuperar a memória histórica, revisando a importância dos negros na

formação étnico-social do povo brasileiro;

c) Oportunizar o desenvolvimento de projetos educativos na concepção de

transversalidade, possibilitando o fortalecimento do olhar interdisciplinar;

d) Possibilitar a vivência de um novo saber-fazer a respeito da identidade afro-

brasileira diante da atual pluralidade cultural; metodologias de ensino criativas e

dinâmicas;

e) Explorar o filme como documento histórico no sentido de dar condições para

que o aluno construa o conhecimento histórico.

ESTRATÉGIAS DE AÇÃO

O projeto será aplicado aos alunos da 8ª série do Ensino Fundamental, com a

finalidade de desenvolver o senso critico produzir conhecimentos e concluir que

a história é um processo social e concreto.

O filme será apresentado depois da aula expositiva sobre escravidão,

com o propósito de traçar um panorama geral sobre o assunto para

despertar o interesse dos alunos;

Orientar pesquisa em relação à cultura africana;

Os alunos assistiram ao filme Amistad;

Realizar levantamento do conhecimento prévio do aluno: o que

considerou do filme, o que considera sobre a escravidão, bem como

sobre a cultura africana e o preconceito;

Solicitar resumo individual do filme aos alunos;

Haverá um roteiro de análise do filme;

Este roteiro conterá questões que deverão ser respondidas pelos alunos

em grupo.

Este roteiro pauta-se em questões como:

Especificação do filme, ou diretor, gênero;

NORIVAL CLARO DA SILVA

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Delimitação do tema: geográfica e cronológica;

Problematização: questão ou problema que o tema suscita. Neste caso as

criticas ao filme, aproximação com a história da escravidão no Brasil;

Contextualização: descrição e análise das principais componentes da

conjuntura que influenciam ou condicionam o tema estudado, tanto com

referencia a história do cinema em si quanto ao contexto histórico mais

amplo no qual ele se insere;

Considerações sobre a recepção, influência e impacto que exerceu no

Brasil;

O sentido do filme, o tipo de história que conta a maneira pela qual

tematiza, delimita e descreve ou não, os eventos e o contexto histórico.

Será atribuído um valor, em substituição, a avaliação tradicional do

bimestre.

JUSTIFICATIVA PARA APRESENTAR UM RECORTE DO FILME AMISTAD

A história remonta ao ano de 1839 e é baseada em fatos verídicos que

ocorreram a bordo do navio negreiro espanhol La Amistad matam a maior parte

da tripulação e obrigam os sobreviventes a levá-los de volta à África os

cinquenta e três africanos cativos. Enganados, desembarcam na costa leste dos

Estados Unidos, onde, acusados de assassinato, são presos, iniciando um

longo e polêmico processo, num período onde as divergências internas do país

entre norte abolicionista e o sul escravista, caracterizavam o prenúncio da

Guerra de Secessão. Neste filme, é relatada a luta de um grupo de escravos

africanos em território americano, desde a sua revolta até ao seu julgamento.

Trata-se de um filme longo e por experiências vividas, não acho bom

passar o filme todo para os alunos, pois em algumas partes do filme os alunos

se dispersaram e poderão se perder não atingindo o objetivo desejado, o filme

será apresentado em partes fragmentados o que mais interessa é a passagem

onde o advogado pergunta para o escravo Cinque, que lidera um motim no

NORIVAL CLARO DA SILVA

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navio-negreiro Amistad em 1839, como ele foi parar nesse navio, Cinque inicia

seu relato, o personagem explica ao advogado que os defende sobre o porque

dele ter sido escolhido como líder do grupo, e também responde a pergunta de

como ele chegara até ali, onde acontece uma recapitulação de toda sua

trajetória desde a sua aldeia até o motim no navio La Amistad.

Neste fragmento do filme ele nos relata com riqueza de detalhes como se

dava o trafico negreiro no atlântico entre a África e a América, uma vez

aprisionado pelos africanos vendido aos traficantes foi levados para a fortaleza

de Lomboko, Serra Leoa, e daí trocados por diversos produtos, inclusive armas,

com os traficantes europeus.

Muitos negros foram sequestrados de seus lares na África para servirem

de escravos em paises recém-descobertos. Na trajetória do filme mostra que os

negros não foram comprados em Cuba, mas adquiridos na fortaleza de

Lomboko, Serra Leoa, levados até Cuba, onde trocaram de navio e embarcaram

no navio negreiro espanhol La Amistad para mais tarde serem novamente

comercializados.

A partir daí, toda a trama do filme se desenrola mostrado, vez por outra

características dos povos membros de varias tribos africanos, toda forma de

tortura e humilhação por que passavam tais negros durante sua penosa viagem

nos navios negreiros e o julgamento do caso pela Corte Norte Americana.

É possível encontrar no You Tube fragmento do filme Amistad, mostrando o

trecho do filme descrito acima. Link para o you tube.

http://www.youtube.com/watch?v=mYd8Gtwu0sY&feature=player_detailpage#t=

218s

Acessado em 23/07/2011

NORIVAL CLARO DA SILVA

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AAATTTIIIVVVIIIDDDAAADDDEEESSS PPPRRRIIINNNCCCIIIPPPAAAIIISSS:::

01 - Apresentação do projeto aos alunos e a forma como este será trabalhado,

01 aula.

02 – Trabalho com texto para dar suporte ao entendimento do filme “Amistad”:

“A história da escravidão negra no Brasil”, análise e debate com os alunos

utilização, 04 aulas. ANEXO 01, 02 e 03

03 – “O tráfico negreiro” estudo e debate sobre o tema, 03 aulas ANEXO 04

04 – “Sua excelência o traficante” leitura e debate, 04 aulas. ANEXO 05

05 – Análise da resenha do filme “Amistad” para melhor entendimento do

filme, 02 aulas.

06 – “Tráfico de escravos” 03 aulas ANEXO 06

07 – Apresentação do recorte do filme análise e debate com os alunos, 03

aulas.

Após a apresentação do filme o aluno assistirá a uma aula expositiva, para

compor o contexto histórico do conteúdo abordado no filme.

Com a utilização de imagens (cenas) na TV pendrive, o aluno poderá perceber

os pontos importantes apresentados no filme, aprofundar o assunto e

introduzir novas ideias que não foram percebidas.

Será recomendado para o aluno que não faça nenhuma anotação para não

dispersar a atenção dos mesmos para detalhes da trama do cenário, dos

figurinos e de outros elementos representativos que poderão ser utilizados em

atividades posteriores.

NORIVAL CLARO DA SILVA

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Obs.: Foram postos textos um tanto extensos como partes do trabalho do

qual nos propomos. No entanto, nem todos precisam ser explorados,

dependendo do andamento das aulas. A quantidade de textos que ora se

apresenta é para facilitar uma seleção.

O professor deverá usar o filme como documento didático-

pedagógico, levando o aluno compreender que o filme, além de seu

aspecto lúdico, é um documento histórico. É possível acessar,

compreender, questionar, estudar um determinado momento histórico

através de um Documento Histórico. No entanto, como é um documento

histórico configura-se em uma versão, e não a verdade sobre aquele

momento histórico. É importante o aluno entender que:

O filme ou qualquer documento histórico não dá acesso ao que

aconteceu, mas à interpretação de seu autor sobre o que aconteceu.

SSSUUUGGGEEESSSTTTÃÃÃOOO DDDEEE AAATTTIIIVVVIIIDDDAAADDDEEESSS

DIFERENTES FONTES AFINS, QUE TRATAM DO MESMO TEMA

INDICAÇÃO DE TRABALHO COM IMAGENS E MAPA.

O objetivo de nosso estudo/pesquisa não é a análise de IMAGENS. Servem

aqui ao propósito de complementar o uso do FILME como documento histórico

em sala de aula.

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IMAGENS DE DEBRET E RUGENDAS PARA ANÁLISE

Através das imagens dos pintores Debret e Rugendas e da TV Pendrive, mostrar as imagens e analisar com os alunos os diversos momentos, o comercio humano, o trabalho forçado, as formas de castigo o escravo de ganho.

JEAN-BAPTISTE DEBRET

Jean Baptiste Debret (Paris, França 1768 - idem 1848). Pintor, desenhista, gravador, professor, decorador, cenógrafo. Frequenta a Academia de Belas Artes, em Paris, entre 1785 e 1789, aluno de Jacques-Louis David (1748 - 1825), - Quando entrou na embarcação Calpe, de bandeira americana, rumo ao Brasil, em 1816, o pintor Jean-Baptiste Debret já era um homem de 48 anos. Abalado com a morte do filho único, Honoré, deixava para trás a mulher Sophie, de quem se separara.

Imagem 01

Imagem 02

Imagem 03

Imagem 04

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Imagem 05

Imagem06

http://cultura.culturamix.com/arte/obras-de-arte-de-debret http://www.miniweb.com.br/historia/artigos/i_moderna/imagens_debret/debret.html Imagens acessadas em 23/07/2011

Sugestão de atividades com as imagens (os alunos devem responder considerando os espaços geográficos diferentes tratados nas imagens e no filme): Imagem 01: O que a impressão que temos ao ver esta imagem? Existe cenas no filme que causam a mesma impressão? Imagem 02: O que o artista quis retratar com esta imagem? Qual a relação da imagem como filme? Em sua opinião, pelo que já pesquisou sobre o assunto, o autor da imagem “exagerou”? Imagem 03: Qual relação podemos fazer desta imagem com o filme? Imagem 04: O que está sendo retratado nesta imagem? Imagem 05: Tal imagem retrata o trabalho do escravo. Todas as formas de trabalho escravo eram assim? Imagem 06: Qual a diferença do trabalho escravo da lavoura e da cidade? O que o artista busca retratar nesta imagem?

JOHANN MORITZ RUGENDAS

Pintor e desenhista alemão, Rugendas nasceu em Augsburg a 29 de março de 1802 e morreu em Weilheim a 29 de maio de 1858. Descendente de família de pintores e gravadores, fez os primeiros estudos com o pai, aperfeiçoando-se depois na Academia de Belas-Artes de Munique. Viveu muitos anos no Brasil, cuja paisagem e costumes fixou com o mesmo sentido de observação de Debret. Rugendas AFRICANOS.

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Imagem 01

Imagem 02

Imagem 03

Imagem 04

Imagem 05

Imagem 06

http://museuvirtualpintoresdorio.arteblog.com.br/2/ Imagens acessadas em 23/07/2011 Sugestão de atividades com as imagens (os alunos devem responder considerando os espaços geográficos diferentes tratados nas imagens e no filme): Imagem 01: O que a imagem mostra? No filme há indícios de algo parecido? Imagem 02: O que o artista quis retratar com esta imagem?

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Imagem 03: Já havia visto tal imagem? Qual a sua opinião? Qual relação podemos fazer com o filme? Imagem 04: Os que os escravos estão fazendo? Imagem 05: Existe relação entre a imagem e o filme? Imagem 06: Do que trata a imagem? Existe relação com o filme?

MAPA:

Através do mapa podemos elabora uma analise com os alunos sobre a

procedência dos escravos que vieram para a América e as regiões onde foram

disponibilizados para o trabalho e as influencias exercidas nessas regiões que

passaram habitar.

http://olharparaver.blogspot.com/2010/11/o-lucro-vem-da-escravidao-ou-do-trafico.html

Acessado em 23/07/201

NORIVAL CLARO DA SILVA

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SUGESTÕES DE FILMES

Os filmes sugeridos servem para uma comparação de outros momentos vividos

pelos escravos em outras regiões, com situações diferentes a do Brasil, porém

nas mesmas condições.

Manderlay

Informações Técnicas

Titulo no Brasil: Manderlay Titulo Original: Manderlay País de Origem: Suécia Gênero: Drama Tempo de Duração: 139 minutos Ano de Lançamento: 2005 Direção: Lars von Trier Atores: Bryce Dallas Howard, Isaach DeBankolé, Danny Glover, Willem Dafoe

Sinopse

Depois do episódio ocorrido em Dogville, Grace e seu pai partem em direção ao Sul dos EUA e vão parar na cidade de Manderlay. Neste lugar ainda há escravidão de negros – mesmo com a abolição

tendo ocorrido há 70 anos. Com sua vontade de ajudar a humanidade, a moça resolve ficar, acabar com a escravidão e trazer a democracia. Mas ela descobre que há um preço caro a se pagar quando se propõe mudanças tão radicais.

Quanto vale ou é por quilo?

Informações Técnicas

Titulo no Brasil: Quanto Vale ou é Por Quilo? Titulo Original: Quanto Vale ou é Por Quilo? País de Origem: Brasil Gênero: Drama Tempo de Duração: 104 minutos Ano de Lançamento: 2005 Direção: Sérgio Bianchi Atores: Ana Carbatti, Cláudia Mello, Myriam Pires, Leona Cavalli.

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Sinopse

Quanto vale ou é por quilo? É um filme baseado em um conto de Machado de Assis que propõe uma reflexão sobre a sociedade brasileira escravocrata do século XVIII e a contemporânea.

Em diversos momentos, o filme retrata que a escravidão, os capitães do mato eram atores de uma história escrita no passado. Mas, em outros, que tais “personagens” ainda escrevem a história do nosso cotidiano...

No período escravocrata, homens-escravos foram fonte de lucro e uma moeda corrente paralela aos contos de réis. A exploração humana era fonte de status e riqueza. O filme mostra, dentro dessa perspectiva, que o trabalho e o lucro de muitas ONGs se baseia no mesmo princípio: exploração da miséria humana.

Tempo de Glória

Informações Técnicas

Titulo no Brasil: Tempo de Glória Titulo Original: Glory País de Origem: EUA Gênero: Dama Tempo de Duração: 110 minutos Ano de Lançamento: 1989 Direção: Edward Zwick Atores: Matthew Broderick, Denzel Washington, Cary Elwes, Morgan Freeman. Sinopse Durante a Guerra de Secessão, líderes civis e militares do Norte decidem criar o primeiro regimento negro dos EUA. Comandados por um

oficial branco, os homens do 54º Regimento de Mssachusets, lutam pela liberdade e pela cidadania, arriscando suas vidas em batalhas sangrentas. Tinham também o objetivo de usufruir do trabalho dos escravos vindos do sul. Ao longo da guerra, os negros vão conquistando o lugar de verdadeiros soldados, até serem reconhecidos como heróis.

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A Cor Púrpura

Informações Técnicas

Titulo no Brasil: A Cor Púrpura Titulo Original: The Color Purple País de Origem: EUA Gênero: Drama Tempo de Duração: 147 minutos Ano de Lançamento: 1985 Direção: Steven Spielberg Atores: Whoopi Goldberg, Danny Glover, Margaret Avery, Akosua Busia, Oprah Winfrey, Willard E. Pugh Sinopse Georgia, 1909. Em uma pequena cidade Celie (Whoopi Goldberg), uma jovem com apenas 14

anos que foi violentada pelo pai, se torna mãe de duas crianças. Além de perder a capacidade de procriar, Celie imediatamente é separada dos filhos e da única pessoa no mundo que a ama, sua irmã, e é doada a “Mister” (Danny Glover), que a trata simultaneamente como escrava e companheira. Grande parte da brutalidade de Mister provêm por alimentar uma forte paixão por Shug Avery (Margaret Avery), uma sensual cantora de blues. Celie fica muito solitária e compartilha sua tristeza em cartas (a única forma de manter a sanidade em um mundo onde poucos a ouvem), primeiramente com Deus e depois com a irmã Nettie (Akosua Busia), missionária na África. Mas quando Shug, aliada à forte Sofia (Oprah Winfrey), esposa de Harpo (Willard E. Pugh), filho de Mister, entram na sua vida, Celie revela seu espírito brilhante, ganhando consciência do seu valor e das possibilidades que o mundo lhe oferece.

Apocalypto

Informações Técnicas

Titulo no Brasil: Apocalypto Titulo Original: Apocalypto País de Origem: EUA Gênero: Suspense/Aventura Tempo de Duração: 139 minutos Ano de Lançamento: 2006 Direção: Mel Gibson Atores: Dália Hernandez, Mayra Serbulo, Gerardo Taracena, Raoul Trujillo, Rudy Youngblood.

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Sinopse Dirigido por Mel Gibson, de A Paixão de Cristo e vencedor de Oscar® com Coração Valente, Apocalypto conta a história de Jaguar Paw (Rudy Youngblood), um homem que teve sua vida tranquila abruptamente mudada por uma violenta invasão.

Governantes de um império Maia em declínio insistem que a chave para a prosperidade é construir mais templos e oferecer mais sacrifícios humanos e por isso, Jaguar Paw é capturado e levado em uma perigosa viagem a um mundo governado pelo medo e opressão, onde um terrível destino o aguarda.

Com a ajuda do acaso e guiado pelo amor a sua esposa e família, ele consegue escapar e agora fará uma corrida desesperada para voltar a casa e tentar salvar a tudo o que mais ama.

Spartacus

Informações Técnicas

Titulo no Brasil: Spartacus Titulo Original: Spartacus País de Origem: EUA Gênero: Drama/Aventura Tempo de Duração: 174 minutos Ano de Lançamento: 2004 Direção: Robert Dornhelm Atores: Goran Visnjic, Alan Bates, Angus Macfadyen, Rhona Mitra.

Sinopse Condenado a passar o resto de sua vida trabalhando sob o sol do deserto, o escravo Spartacus já havia perdido toda a esperança de liberdade. Comprado por um agente de gladiadores, é obrigado a lutar até a morte para divertimento da elite. Revoltado com sua condição, ele lidera uma revolução de escravos que

vai ameaçar o Império Romano e lhe render poderosos inimigos.

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Jornada Pela Liberdade

Informações Técnicas

Titulo no Brasil: Jornada Pela Liberdade Titulo Original: Amazing Grace País de Origem: Inglaterra/EUA Gênero: Drama Tempo de Duração: 117 minutos Ano de Lançamento: 2006 Direção: Michael Apted Atores: Albert Finney, Ioan Gruffudd, Romola Garai Sinopse

A vida de William Wilberforce (Ioan Gruffudd) é a história de como a perseverança e a fé de um homem mudaram o mundo. Líder do movimento abolicionista britânico, o filme mostra a luta épica

para criar a uma lei com o objetivo de acabar com o tráfico negreiro. Durante esta jornada, Wilberforce encontra oposição intensa dos que acreditavam que a escravidão estava diretamente ligada à estabilidade do império britânico. Em seus amigos, incluindo John Newton (Albert Finney), um ex-capitão de navio negreiro que compôs o famoso hino Amazing Grace, encontrou suporte para continuar lutando pela causa.

Referência http://www.adorocinema.com/filmes/amistad/ http://www.interfilmes.com/filme_12577_amistad.html Acessado em 23/07/2011 SUGESTÕES PARA TRABALHO EM SALA SOBRE ESCAVIDÃO Para um bom desempenho na utilização do filme Amistad como análise do

trabalho escravo, sugiro que o professor a assistir ao filme por inteiro, depois é

possível fazer um recorte e passar somente a parte da viagem da África à

América, esse recorte é fácil encontrar na internet Youtube, para facilitar o

entendimento do aluno, um texto com a sinopse do filme, fará com o aluno se

interesse pelo assunto, despertando o interesse para assistir em casa.

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01 - Exploração da história da abolição e do trabalho escravo no Brasil;

levantamento e estudo dos sujeitos históricos e suas lutas em prol do

reconhecimento do povo negro no Brasil.

02 - Levantamento do léxico relacionado aos hábitos alimentícios e pratos

típicos; os professores poderão incentivar o estudo e a pesquisa sobre os

ingredientes e pratos utilizados na culinária com intervenção africana, dos

nomes e suas origens africanas; construção de cadernos de receitas de comidas

e bebidas típicas com ilustrações e também a confecção de cartazes pelos

alunos a serem expostos nos refeitórios; feijoada, quiabo, canjica, abará, bobó

de camarão, xinxim de galinha, aluá, broa, acarajé, acaçá são algumas

sugestões.

03 - Processo de incorporação dos alimentos africanos e afro-brasileiros pela

população em geral.

04 - Colocar músicas afro-brasileiras cujas temáticas contemplem uma reflexão

sobre a temática em questão. Sugere-se que essas músicas sejam colocadas

nos 15 minutos que antecedem o início das aulas pela manhã, durante o horário

de recreio/intervalo, e no horário de saída, pesquisar no Youtube.

05 - Projeção de filmes cujas temáticas possam suscitar reflexão. Nos anexos

apresentamos a relação de alguns filmes com uma pequena sinopse.

06 - Convidar, conforme a demanda e a oferta local, palestrantes, poetas,

grupos de dança, grupos de capoeira, grupos de percussão e outros para se

apresentarem durante o intervalo.

07 - Na biblioteca inaugurar uma estante temática de africanidades.

08 - Fazer exposição de trabalhos de alunos nos espaços adequados para isso,

dando visibilidade às discussões feitas em sala de aula sobre cultura africana.

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09 - Propor levantamento de contextos relativos à permanência do negro na

sociedade brasileira, na comunidade em que está inserido a escola, de acordo

com as possibilidades locais, para serem feitas exposições.

10 - A igreja através dos jesuítas eram contra a escravidão dos índios e não

contra a escravidão dos negros africanos, propor uma comparação entre as

duas indagações, por que um podia ser escravizado e outro não.

VIDEOS SOBRE ESCRAVIDÃO Os vídeos abaixo servem para uma reflexão sobre a escravidão no Brasil.

Utilizando a TV Pendrive, passar para os alunos, e fazer uma analise sobre a

situação do escravo na America comparando com o filme Amistad.

Os vídeos sugeridos para melhor ilustra a escravidão negra no Brasil: http://www.youtube.com/watch?v=QXiXFsPpf-o&feature=player_detailpage Acessado em 23/07/2011 http://www.youtube.com/watch?v=5iCrQqsJE_o&feature=player_detailpage

Acessado em 23/07/2011

NORIVAL CLARO DA SILVA

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:

ESPINAL, Luis. Cinema e seu processo psicológico. São Paulo: Lic Editore,

1976.

SCHMIDT, M.A, Cainelli, Marlene, Ensinar História, SP: Scipione, 2004

ABUD, K.M. A Construção de uma didática da história: Algumas idéias sobre a

utilização de filmes no ensino. História. São Paulo, v.22,n1,PP 183-l93,2003.

FREIRE, Paulo. Educação como Pratica da Liberdade, Rio de Janeiro: Editora

Paz e Terra, 14ª Ed., 1983.

Historia e Ensino, Revista de Ensino de História, UEL, Vol. 8, Ed. Eduel, out.

2002.

LIBÂNEO, José Carlos, Didática. São Paulo, Cortez, 1994.

TOMAS DE AQUINO, Santo – “Summa Theologica” – Marietti Roma, “De

Magistro” – Tradução de Maria Inês Cadim, Ed. Odeon.

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO (Paraná). Diretrizes Curriculares da

Rede Pública de Educação Básica do Estado do Paraná – Curitiba: 2008.

ESPINAL, Luis. Cinema e seu processo psicológico. São Paulo: LIC Editore. 1976. FERRO, M. Cinema e História. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

Livros didáticos analisados: CARDOSO, Oldimar Pontes. Tudo é História: História Moderna e História da

América Colonial, 6ª série do Ensino Fundamental, São Paulo: Ática, 2006.

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COTRIM, Gilberto, História e Consciência do Brasil, São Paulo, Ed. Saraiva,

1993.

CARDOSO, Oldimar Pontes. Tudo é História: História Contemporânea e

História do Brasil, 7ª série do Ensino Fundamental, S.Paulo, Ática, 2006.

COTRIM, Gilberto. Saber e Fazer História: Feudalismo, Modernidade Européia

e Brasil Colônia, 6ª série, 3ª ed., , S.Paulo, Saraiva, 2005.

COTRIM, Gilberto. Saber e Fazer História: Consolidação do capitalismo e

Brasil Império. 7ª série. 3ª Edição, S.Paulo, Saraiva, 2005.

MONTELLATO, Andréa; CABRINI, Conceição; CATELLI JUNIOR, Roberto.

História Temática, 6ª, 7ª e 8ª séries, S.Paulo, Scipione, 2004.

FILMOGRAFIA AMISTAD. Diretor Steven Spielberg. Distribuído por Warner Home Vídeo, EUA. 1997. 154 minutos.

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ANEXOS

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ANEXO 01

A História da Escravidão Negra no Brasil

A escravidão pode ser definida como o sistema de trabalho no qual o indivíduo (o escravo) é propriedade de outro, podendo ser vendido, doado, emprestado, alugado, hipotecado, confiscado. Legalmente, o escravo não tem direitos: não pode possuir ou doar bens e nem iniciar processos judiciais, mas pode ser castigado e punido.

Não existem registros precisos dos primeiros escravos negros que chegaram ao Brasil. A tese mais aceita é a de que em 1538, Jorge Lopes Bixorda, arrendatário de pau-brasil, teria traficado para a Bahia os primeiros escravos africanos.

Eles eram capturados nas terras onde viviam na África e trazidos à força para a América, em grandes navios, em condições miseráveis e desumanas. Muitos morriam durante a viagem através do oceano Atlântico, vítimas de doenças, de maus tratos e da fome.

Os escravos que sobreviviam à travessia, ao chegar ao Brasil, eram logo separados do seu grupo linguístico e cultural africano e misturados com outros de tribos diversas para que não pudessem se comunicar. Seu papel de agora em diante seria servir de mão-de-obra para seus senhores, fazendo tudo o que lhes ordenassem, sob pena de castigos violentos. Além de terem sido trazidos de sua terra natal, de não terem nenhum direito, os escravos tinham que conviver com a violência e a humilhação em seu dia-a-dia.

A minoria branca, a classe dominante socialmente, justificava essa condição através de idéias religiosas e racistas que afirmavam a sua superioridade e os seus privilégios. As diferenças étnicas funcionavam como barreiras sociais.

O escravo tornou-se a mão-de-obra fundamental nas plantações de cana-de-açúcar, de tabaco e de algodão, nos engenhos, e mais tarde, nas vilas e cidades, nas minas e nas fazendas de gado.

Além de mão-de-obra, o escravo representava riqueza: era uma mercadoria, que, em caso de necessidade, podia ser vendida, alugada, doada e leiloada. O escravo era visto na sociedade colonial também como símbolo do poder e do prestígio dos senhores, cuja importância social era avalizada pelo número de escravos que possuíam.

A escravidão negra foi implantada durante o século XVII e se intensificou entre os anos de 1700 e 1822, sobretudo pelo grande crescimento do tráfico negreiro. O comércio de escravos entre a África e o Brasil tornou-se um negócio muito

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lucrativo. O apogeu do afluxo de escravos negros pode ser situado entre 1701 e 1810, quando 1.891.400 africanos foram desembarcados nos portos coloniais.

Nem mesmo com a independência política do Brasil, em 1822, e com a adoção das idéias liberais pelas classes dominantes o tráfico de escravos e a escravidão foram abalados. Neste momento, os senhores só pensavam em se libertar do domínio português que os impedia de expandir livremente seus negócios. Ainda era interessante para eles preservar as estruturas sociais, políticas e econômicas vigentes.

Ainda foram necessárias algumas décadas para que fossem tomadas medidas para reverter a situação dos escravos. Aliás, este será o assunto do próximo item. Por ora, vale lembrar que não eram todos os escravos que se submetiam passivamente à condição que lhe foi imposta. As fugas, as resistências e as revoltas sempre estiveram presentes durante o longo período da escravidão. Existiram centenas de "quilombos" dos mais variados tipos, tamanhos e durações. Os "quilombos" eram criados por escravos negros fugidos que procuraram reconstruir neles as tradicionais formas de associação política, social, cultural e de parentesco existentes na África.

O "quilombo" mais famoso pela sua duração e resistência, foi o de Palmares, estabelecido no interior do atual estado de Alagoas, na Serra da Barriga, sítio arqueológico tombado recentemente. Este "quilombo" se organizou em diferentes aldeias interligadas, sendo constituído por vários milhares de habitantes e possuindo forte organização político-militar.

Como era tratado o escravo

Antes de romper o sol, os negros eram despertados através das badaladas de um sino e formados em fila no terreiro para serem contados pelo feitor e seus ajudantes, que após a contagem rezavam uma oração que era repetida por todos os negros.

Após ingerirem um gole de cachaça e uma xícara de café como alimentação da manhã, os negros eram encaminhados pelo feitor para os penosos labor nas roças, e as oito horas da manhã o almoço era trazido por um dos camaradas do sitio em um grande balaio que continha a panela de feijão que era cozido com gordura e misturado com farinha de mandioca, o angu esparramado em largas folhas de bananeiras, abóbora moranga, couve rasgada e raramente um pedaço de carne de porco fresca ou salgada que era colocada no chão, onde os negros acocoravam-se para encher as suas cuias e iam comer em silêncio, após se saciarem os negros cortavam o fumo de rolo e preparavam sem pressa o seus cigarros feitos com palha de milho, e após o descanso de meia hora os negros continuavam a labuta até às duas horas quando vinha o jantar, e ao por do sol eram conduzidos de volta à fazenda onde todos eram passados em revista pelo feitor e recebiam um prato de canjica adoçada com rapadura como ceia e eram recolhidos a senzala.

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E em suas jornadas diárias, os negros também sofriam os mais variados tipos de castigo (, nas cidades o principal castigo era os açoites que eram feitos publicamente nos pelourinhos que constituíam-se em colunas de pedras erguidas em praças pública e que continha na parte superior algumas pontas recurvadas de ferro onde se prendiam os infelizes escravos.

E cujas condenação à pena dos açoites eram anunciados pelos rufos dos tambores para uma grande multidão que se reunia para assistir ao látego do carrasco abater-se sobre o corpo do negro escravo condenado para delírio da multidão excitada que aplaudia, enquanto o chicote abria estrias de sangue no dorso nu do negro escravo que ficava à execração pública.

E um outro método de punição dado aos negros foi o castigo dos bolos que consistia em dar pancada com a palmatória nas palmas das mãos estendidas dos negros, e que provocavam violentas equimoses e ferimentos no apitélio delicado das mãos.

Em algumas fazendas e engenhos, as crueldades dos senhores de engenho e feitores atingiram a extremas e incríveis métodos de castigos ao empregarem no negro o anavalhamento do corpo seguido de salmoura, marcas de ferro em brasa, mutilações, estupros de negras escravas, castração, fraturas dos dentes a marteladas e uma longa e infinita teoria de sadismo requintado. No sul do Brasil, os senhores de engenhos costumavam mandar atar os punhos dos escravos e os penduravam em uma trava horizontal com a cabeça para baixo, e sobre os corpos inteiramente nus, eles untavam de mel ou salmoura para que os negros fossem picados por insetos. E através de uma série de instrumentos de suplícios que desafiava a imaginação das consciências mais duras para a contenção do negro escravo que houvesse cometido qualquer falha, e no tronco que era um grande pedaço de madeira retangular aberta em duas metades com buracos maiores para a cabeça e menores para os pés e as mãos dos escravos, e para colocar-se o negro no tronco abriam-se as suas duas metades e se colocavam nos buracos o pescoço, os tornozelos ou os pulsos do escravo e se fechava as extremidades com um grande cadeado, o vira mundo era um instrumento de ferro de tamanho menor que o tronco, porém com o mesmo mecanismo e as mesmas finalidades de prender os pés e as mãos dos escravos, o cepo era um instrumento que consistia num grosso tronco de madeira que o escravo carregava à cabeça, preso por uma longa corrente a uma argola que trazia ao tornozelo.

O libanto era um instrumento que prendia o pescoço do escravo numa argola de ferro de onde saía uma haste longa.

Que poderia terminar com um chocalho em sua extremidade e que servia para dar o sinal quando o negro quando o negro andava, ou com as pontas retorcidas com a finalidade de prender-se aos galhos das árvores para dificultar a fuga do negro pelas matas, as gargalheiras eram

http://www.revistamuseu.com.br/emfoco /emfoco.asp?id=7746 acessado em 23/07/2011

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colocadas no pescoço dos escravos e dela partiam uma corrente que prendiam os membros do negro ao corpo ou serviam para atrelar os escravos uns aos outros quando transportados dos mercados de escravos para as fazendas, e através das algemas, machos e peias os negros eram presos pelas mãos aos tornozelos o que impedia do escravo de correr ou andar depressa, com isto dificultava a fuga dos negros, e para os que furtavam e comiam cana ou rapadura escondido era utilizado a mascara, que era feita de folhas de flandes e tomava todo o rosto e possuía alguns orifícios para a respiração do negro, com isto o escravo não podia comer nem beber sem a permissão do feitor, os anjinhos eram um instrumento de suplicio que se prendiam os dedos polegares da vitima em dois anéis que eram comprimidos gradualmente para se obter à força a confissão do escravo incriminado por uma falta grave.

Já no início do século XIX era possível verificar grandes transformações que pouco a pouco modificavam a situação da colônia e o mundo a sua volta. Na Europa, a Revolução Industrial introduziu a máquina na produção e mudou as relações de trabalho. Formaram-se as grandes fábricas e os pequenos artesãos passaram a ser trabalhadores assalariados. Na colônia, a vida urbana ganhou espaço com a criação de estaleiros e de manufaturas de tecidos. A imigração em massa de portugueses para o Brasil foi outro fator novo no cenário do Brasil colonial.

ANEXO 02

Mesmo com todos esses avanços foi somente na metade do século que começaram a ser tomadas medidas efetivas para o fim do regime de escravidão. Vamos conhecer os fatores que contribuíram para a abolição:

1850 - promulgação da Lei Eusébio de Queirós, que acabou definitivamente com o tráfico negreiro intercontinental. Com isso, caiu a oferta de escravos, já que eles não podiam mais ser trazidos da África para o Brasil.

1865 - Cresciam as pressões internacionais sobre o Brasil, que era a única nação americana a manter a escravidão.

1871 - Promulgação da Lei Rio Branco, mais conhecida como Lei do Ventre Livre, que estabeleceu a liberdade para os filhos de escravas nascidos depois desta data. Os senhores passaram a enfrentar o problema do progressivo envelhecimento da população escrava, que não poderia mais ser renovada.

1872 - O Recenseamento Geral do Império, primeiro censo demográfico do Brasil, mostrou que os escravos, que um dia foram maioria, agora constituíam apenas 15% do total da população brasileira. O Brasil contou uma população de 9.930.478 pessoas, sendo 1.510.806 escravos e 8.419.672 homens livres.

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1880 - O declínio da escravidão se acentuou nos anos 80, quando aumentou o número de alforrias (documentos que concediam a liberdade aos negros), ao lado das fugas em massa e das revoltas dos escravos, desorganizando a produção nas fazendas.

1885 - Assinatura da Lei Saraiva-Cotegipe ou, popularmente, a Lei dos Sexagenários, pela Princesa Isabel, tornando livres os escravos com mais de 60 anos.

1885-1888 - o movimento abolicionista ganhou grande impulso nas áreas cafeeiras, nas quais se concentravam quase dois terços da população escrava do Império.

13 de maio de 1888 - assinatura da Lei Áurea, pela Princesa Isabel.

No Brasil, o regime de escravidão vigorou desde os primeiros anos logo após o descobrimento até o dia 13 de maio de 1888, quando a princesa regente Isabel assinou, utilizando uma caneta de ouro e pedras preciosas, oferecida pelos abolicionistas, a Lei 3.353, mais conhecida como Lei Áurea, libertando os escravos.

A escravidão é um capítulo da História do Brasil. Embora ela tenha sido abolida há 115 anos, não pode ser apagada e suas consequências não podem ser ignoradas. A História nos permite conhecer o passado, compreender o presente e pode ajudar a planejar o futuro. Nós vamos contar um pouco dessa história para você. Vamos falar dos negros africanos trazidos para serem escravos no Brasil, quantos eram, como viviam, como era a sociedade da época. Mas, antes disso, confira o texto da Lei Áurea, que fez com que o dia 13 de maio entrasse para a História.

"Declara extinta a escravidão no Brasil. A princesa imperial regente em nome de Sua Majestade o imperador, o senhor D. Pedro II, faz saber a todos os súditos do Império que a Assembléia Geral decretou e ela sancionou a lei seguinte:

Art. 1°: É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil.

Art. 2°: Revogam-se as disposições em contrário.

http://www.portalhoje.com/zumbi-era-um-lider-autoritario-e-tinha-escravos-veja-as-polemicas-sobre-a-escravidao-no-brasil/1465041 Acessado em 23/07/2011

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Manda portanto a todas as autoridades a quem o conhecimento e execução da referida lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir e guardar tão inteiramente como nela se contém.

O secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas e interino dos Negócios Estrangeiros, bacharel Rodrigo Augusto da Silva, do Conselho de sua majestade o imperador, o faça imprimir, publicar e correr.

Dado no Palácio do Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1888, 67º da Independência e do Império.

Carta de lei, pela qual Vossa Alteza Imperial manda executar o decreto da Assembléia Geral, que houve por bem sancionar declarando extinta a escravidão no Brasil, como nela se declara.

ANEXO 03

“Para Vossa Alteza Imperial ver".

Em 13 de maio de 1888, a princesa Isabel aboliu a escravidão no Brasil, colocando nas ruas milhares de negros que, de uma hora para outra, ficaram sem destino. Com isso agradou a abolicionistas, bateu de frente com escravocratas e para muitos historiadores começou a escrever o epílogo do reinado de seu pai, Pedro II, que cairia pouco mais de um ano mais tarde. Até hoje aplaudida por muitos pelo fim e criticada por outros pelos meios utilizados e também pelos fins, a abolição da escravidão no País ainda é um assunto que encerra muitas discussões. Não houve, como nos Estados Unidos, uma guerra civil dividindo alas contrárias ao tema, não se disparou um tiro sequer para que os escravos ficassem livres ou continuassem presos a grilhões na senzala, mas também não houve uma discussão séria e definitiva sobre o caso. Claro, haviam os fóruns de debates, principalmente nas páginas dos jornais, nas quais brilhava a verve de José do Patrocínio. Mas muitos acreditam que a atitude de Isabel foi mais emocional do que prática. Afinal, não houve preparação suficiente para o fato, ricos senhores de terra que investiram muito em seus escravos ficaram, de uma hora para outra, sem eles e os governos pós-abolição não souberam utilizar o ato da princesa a favor de melhorias sociais.

Problemas da elite

Afinal, a escravidão dominou todos os aspectos da vida brasileira durante o século XIX. O final dessa instituição parecia ter aberto novas portas para uma sociedade mais justa e menos dividida. Mas a libertação dos escravos não podia deixar de ter consequências importantes e profundas para as finanças, tanto públicas quanto particulares. "Infelizmente, a irresponsabilidade financeira dos governos após a abolição transformou essa grande oportunidade para a reforma social em um desastre econômico. Esses políticos provocaram inflação,

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afugentaram investidores nacionais e estrangeiros e arrebentaram a onda de otimismo que se seguiu à emancipação", explica Schulz. "Em um sentido mais amplo, os ajustes necessários à introdução do trabalho livre resultaram numa crise que durou quase três décadas", diz o historiador.

Segundo ele, a crise financeira da abolição começou gradativamente. Vários anos poderiam, de acordo com Schulz, servir para o começo desse estudo: 1871, quando a Lei do Ventre Livre determinou que nenhum escravo nasceria no Brasil, ou 1880, quando começou a campanha abolicionista. "Ou, ainda, 1884, quando o Banco do Brasil parou de conceder hipotecas garantidas por escravos", diz o autor, que escolhe o ano de 1875 como o primeiro a detonar o processo de crise financeira, quando o Brasil sofreu sua última crise como país escravagista. Essa tal crise, explica Schulz, teve como causa externa o início da "grande depressão" mundial do século XIX, e como causa interna a suspensão do Banco Mauá, o que levou muitos brasileiros à bancarrota, criando um sério problema para as elites, que a abolição só veio agravar.

"A crise financeira da abolição pode ser dividida em três partes: um mal-estar pré-abolição, uma 'bolha' chamada Encilhamento e um período de tentativas frustradas de estabilização que sucederam ao colapso da bolha", diz Schulz, elencando outros problemas que advieram à abolição. "O ministério que realizou a abolição entendeu que seria necessário tomar providências financeiras para satisfazer aos fazendeiros e acabou sendo um dos gabinetes mais atuantes do século. A magnitude da mudança, porém, aos olhos dos fazendeiros, merecia medidas ainda mais enérgicas. Os três governos, um monarquista e dois republicanos, que se seguiram ao gabinete abolicionista, triplicaram a moeda em circulação, estimularam a especulação na bolsa de valores e tentaram de todas as maneiras conseguir o apoio dos grandes fazendeiros", conta o historiador. "Essas ações irresponsáveis criaram uma bolha especulativa chamada de Encilhamento. Embora o estouro dessa bolha tenha sido bastante dramático, a crise continuou por uma década após o Encilhamento." Ou seja: o que poderia e deveria ser uma alavancada para o progresso do País a partir da extirpação de um mal - a escravidão - acabou se tornando um mal maior ainda, devido à incompetência dos administradores do governo brasileiro. Qualquer economista recém-formado sabe que multiplicar o número da moeda circulante, apoiar a especulação na bolsa e não conter os gastos resultam em uma palavra que mais se assemelha a um dragão voraz: inflação.

A crise econômica que se seguiu à abolição, então, é muito bem trabalhada por Schulz em seu estudo, mostrando desde o problema do sistema financeiro internacional e a crise com os cafeicultores até as tentativas de estabilização da economia e a crescente inflação. Para ilustrar todas suas idéias e explicações, o autor ainda elenca uma série de tabelas, apresentando os gastos governamentais, a capitalização da Bolsa do Rio e o serviço da dívida brasileira. Para quem tem curiosidade sobre o assunto e deseja se aprofundar nesse tema que até hoje gera polêmica, o trabalho de Schulz publicado pela Edusp é um belo instrumento de apoio ao estudo. Talvez, inclusive, explique muita coisa que aconteceu até um passado muito recente e que está, de uma forma ou outra, apenas adormecida.

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A longa permanência do negro no Brasil acabou por abrasileirá-lo.

De um lado, o africano se tornou ladino e tornou seus filhos crioulos e mestiços de várias espécies: mulato, pardo, cabra, caboclo. A crioulização e a mestiçagem são temas inevitáveis da história do negro no Brasil.

De outro lado, raros são os aspectos de nossa cultura que não trazem a marca da cultura africana. O assunto já foi muito tratado por historiadores e antropólogos, que estudaram dos negros, a família, a língua, a religião, a música, a dança, a culinária e a arte popular em geral.

Referencia

http://estudeonline.net/revisao_detalhe.aspx?cod=23 Acesso em 23/07/2011

ANEXO 04

Tráfico Negreiro

É chamado de Tráfico negreiro o envio arbitrário de negros africanos na condição de escravos para as Américas e outras colônias de países europeus durante o período caracterizado como colonialista.

Durante a Idade Moderna, primordialmente depois que se descobriu a América, intensificou-se o comércio escravo, sem qualquer limite quanto à crueldade praticada, visava-se somente o lucro que se obteria com a venda de homens, mulheres e crianças vindas direto da África para as Américas.

A escravidão ocorre desde a origem de nossa história, quando os povos que eram derrotados em combates entre exércitos ou armadas eram aprisionados e transformados em escravos por seus dominadores. O povo hebreu é um exemplo disso, foram comercializados como escravos desde os primórdios da História. Os escravos eram usados nos trabalhos mais pesados e toscos que se pode imaginar.

A explicação encontrada para o uso da mão-de-obra escrava fazia alusão a questões religiosas e morais e à suposta preeminência racial e cultural dos europeus.

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Os portugueses já utilizavam o negro como escravo desde o ano de 1432, trazido pelo português Gil Eane, utilizando-os nas ilhas da Madeira, de Açores e Cabo Verde, anteriormente à efetivação da colonização brasileira.

No Brasil a escravidão passou a ser utilizada na primeira metade do século XVI, devido à produção de açúcar. Os portugueses transportavam os negros oriundos da África para serem usados como mão-de-obra escrava nos moinhos de cana-de-açúcar do Nordeste.

Os africanos aprisionados pelos portugueses quando aqui chegavam eram cedidos por um determinado preço, como se fossem uma mercadoria qualquer. Os que tinham uma saúde mais perfeita chegavam a ser comercializados pelo dobro do valor em comparação aos velhos e fracos.

A travessia do continente africano para o Brasil era feita nos porões dos navios negreiros, com os negros empilhados da maneira mais insalubre e desumana possível, sendo que muitos deles nem sequer chegavam vivos, tendo seus corpos atirados ao mar.

Nas fazendas açucareiras os escravos trabalhavam de sol a sol, recebendo para vestir apenas um pedaço de pano ou qualquer peça de vestuário velha, dormiam nas senzalas – barracões escuros, úmidos e com quase nenhuma higiene –, acorrentados para não fugirem.

Os castigos eram frequentes, sendo o chicote a punição mais utilizada no Brasil colônia. Aos negros era vedado o direito de exercer sua religião de ascendência africana e manter a sua cultura – festas e rituais africanos eram terminantemente proibidos –, eram obrigados a professar a religião católica, determinação dos senhores de engenho, e a comunicar-se utilizando a língua portuguesa.

Apesar das proibições, os negros, ocultamente, realizavam seus rituais e suas festas; foi neste período que se desenvolveu um tipo de luta que ficou muito conhecida aqui no Brasil: a capoeira. Eles também desenvolveram o candomblé, a umbanda, e outras religiões, nas quais ritos africanos eram mesclados a elementos do catolicismo, dando origem ao famoso sincretismo religioso brasileiro.

O negro não aceitou a escravidão pacificamente, as agitações ocorriam quase regularmente nas fazendas, escravos em bandos fugiam, criando nas florestas os célebres quilombos – lugares aonde habitavam apenas escravos fugitivos – ali viviam em liberdade para realizar seus rituais, suas festas e também para

http://www.rodrigostoledo.com/2007/08/ trabalho quase-escravo/ Acesso em

23/07/2011

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falar sua própria língua. O quilombo mais importante foi o de Palmares, cujo líder foi Zumbi.

Em 1850 foi aprovada a Lei Eusébio de Queiroz, a qual punha um fim ao comércio negreiro; em 28 de setembro de 1871 foi sancionada a Lei do Ventre Livre, concedendo liberdade aos filhos de escravos que nascessem a partir daquele momento. Finalmente, no ano de 1885, foi anunciada a Lei dos Sexagenários, que contemplava com a liberdade os escravos com mais de 60 anos.

Foi só no final do século XIX que definitivamente a escravidão, a nível mundial, foi abolida de vez do quadro negro da história. No Brasil a Abolição só se deu no dia 13 de maio de 1888, com o anúncio público e oficial da Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel.

Fontes http://www.suapesquisa.com/historiadobrasil/escravidao.htm http://www.zbi.vilabol.uol.com.br/otrafico.html http://pt.wikipedia.org/wiki/Tr%C3%A1fico_negreiro

Referencia

http://www.infoescola.com/historia/trafico-negreiro/ Acessado em 23/07/2011

ANEXO 05

SUA EXCELÊNCIA, O TRAFICANTE

Quem era ele, como era o seu negócio, o itinerário que comandava, entre dois

continentes, e sua posição na sociedade.

No dia 14 de novembro de 1827, o navio Arsênia zarpava do Porto do Rio de Janeiro. Destino: os portos de Molembo e Cabinda, na costa congo-angolana. O Arsênia levava a bordo oito sacos de feijão, treze de arroz, 110 de farinha, 130 arrobas de carne-seca, oito pipas de aguardente e 160 alqueires de sal. E ainda onze fardos e oito caixas de fazendas, catorze caixas de armas de fogo, uma caixa com navalhas, espelhos, corais e facas, e 300 barras de ferro. A viagem era para comprar escravos. Empresariava-a o traficante Antônio José Meireles. O primeiro grupo de mercadorias era para a manutenção da tripulação e da escravaria. O segundo, para fazer o escambo, na África. Esse

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era um comércio em que não entrava dinheiro. Entrava mercadoria - no caso do Arsênia, principalmente fazendas e armas.

A missão foi coroada de êxito. No dia 23 de abril de 1828, pouco mais de cinco meses depois, o navio estava de volta. Dos 292 escravos que comprara na África, 289 desembarcaram no Rio, o que representava perda de apenas três na travessia, irrisória. O caso do Arsênia, citado por Manolo Garcia Florentino em seu livro, mostra o que se levava para alimentar os escravos, no começo do século passado, e o tipo de mercadoria que servia para o escambo. Outras vezes, muitas, o escambo era pesadamente baseado na aguardente, a boa e velha cachaça brasileira, também chamada de giribita. O navio Boa Viagem, que zarpou para Angola no dia 16 de outubro daquele mesmo ano de 1827, levava oito barris de aguardente para o escambo, além de 58 rolos de fumo.

Mas o item que mais pesava nas despesas do traficante, entre as compras para o escambo, segundo Florentino eram os tecidos. Tratava-se de produtos importados, em geral de Goa, na índia. Havia também produtos europeus, como as armas de fogo, muito valorizadas pelos vendedores africanos de escravos. Isso revela que o traficante era ao mesmo tempo um importador e um reexportador desses produtos, o que faz Florentino escrever: "Estamos frente a um agente constantemente ligado ao comércio internacional e a outras áreas do império português (como a índia), para onde transferia parcela expressiva dos rendimentos auferidos com a compra e a venda de africanos".

Eis uma primeira noção a reter: o negócio do tráfico não era para qualquer um. Exigia grandes investimentos, que começavam na compra ou aluguel do navio, passavam pela aquisição dos artigos para o escambo, e terminavam nas despesas de seguro, fundamentais num empreendimento de risco como esse, sujeito a naufrágios e à ação dos piratas, para não falar na natureza perecível - e como! - da mercadoria de sua especialidade. Era negócio para homens experientes no comércio, de múltiplas relações e grossos cabedais.

O livro de Florentino detém-se num período e num lugar determinado - o período é 1790-1830, e o lugar é a praça do Rio de Janeiro. O autor vale-se de fontes documentais como escrituras públicas, inventários post-mortem e, principalmente, listagens de entrada de navios negreiros no Porto do Rio, elaboradas pelos funcionários da capitania dos portos, com razoável precisão, nas quais constava o nome do capitão e do traficante, o número de escravos embarcados na África e o efetivamente desembarcados no Brasil.

Que era a praça do Rio de Janeiro, no período estudado? Não era apenas a mais importante do Brasil. O fluxo de escravos que ela comandava no Atlântico Sul, era o mais importante do mundo. O ouro das Minas Gerais transformara o Rio no principal porto da colônia. Agora, nesse período que fecha a era colonial e inicia a fase independente do Brasil, o Rio comanda o pólo mais dinâmico da economia brasileira. Na primeira década do século XIX, seu porto detém 38,1% das importações e 34,2% das exportações brasileiras, contra respectivamente 27,1% e 26,4% do segundo colocado, a Bahia. Além de capital do país, a cidade é o centro de convergência de sua província nº 1, a do Rio de Janeiro, fortemente voltada para a agroexportação, tanto ao norte, em Campos, região de engenhos de cana-de-açúcar, quanto ao sul, no Vale do Paraíba, onde o café começa sua vertiginosa ascensão.

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O Rio estava sedento de braços, tanto a província como a cidade. A cidade, onde a partir de 1808 se instala a Corte portuguesa, conheceu crescimento populacional de 160% entre 1799 e 1821. Isso requeria mais serviços e mais trabalho, vale dizer, mais escravos. A província como um todo pulou de 169.000 habitantes, em 1789, para 591.000, em 1830. Em 1830, os escravos eram 40% da população da província. Em 1837, eram 57% da população da Corte, ou seja, a cidade do Rio de Janeiro. Leve-se em consideração, ainda, que o porto carioca também abastecia de escravos a província de Minas Gerais e, subsidiariamente, São Paulo e as províncias do sul, e o quadro de uma forte demanda pelo braço escravo se completa.

Entre 1796 e 1830, 1.576 navios negreiros entraram no Porto do Rio. O tráfico apresenta nesse período crescimento de 5,1% ao ano. Um fato capital ocorre na segunda metade da década de 1820. A Inglaterra, que abolira seu próprio tráfico para as colônias em 1807, e desde então passara a pressionar os demais países a fazer o mesmo, inclui no pacote de exigências para o reconhecimento da Independência do Brasil o fim do comércio de escravos. O Brasil acaba cedendo, e em 1827 assina um acordo comprometendo-se a fazê-lo a partir de 1830. Esse compromisso não seria cumprido, e o tráfico brasileiro se prolongaria por mais vinte anos. Mas a perspectiva era de que estava por terminar, e então os traficantes brasileiros se dão a uma desesperada cartada de fim de festa. Demonstrando "grande capacidade de mobilização de recursos", escreve Florentino, a elite escravocrata passa a recepcionar a média de 95 navios negreiros por ano, entre 1826 e 1830 - quase dois por semana. Era o dobro da média até então.

Quantos escravos viajavam em cada navio? Isso dependia do tipo de navio, fosse bergantim, chalupa ou galera. Analisando as décadas de 1810 e 1820, Florentino chega a uma média de 442 escravos embarcados na África por navio. Florentino, um missionário dos números, que quando não os encontra, precisos, cerca-os por meio de laboriosas aproximações, fecha suas contas relativas ao total do período estudado concluindo que desembarcaram no Porto do Rio, entre 1790 e 1830, 706.870 escravos.

Para que tantos braços importados? Porque o crescimento da economia o requeria, por um lado. Por outro, porque a escravaria já estabelecida no Brasil não se reproduzia de maneira a suprir as necessidades de reposição ou de aumento da mão-de-obra. Pelo contrário, tomada em si mesma, isto é, sem a injeção do tráfico, a população escrava tendia a diminuir. Por quê? Em primeiro lugar, porque havia em seu interior um acentuado desequilíbrio entre os sexos. Importavam-se sobretudo homens. Homens era do que precisava a lavoura. No campo fluminense, havia de seis a sete homens em cada dez escravos. No meio urbano, em 1815-1817, havia 3,1 homens para cada mulher. Segundo outro autor, Jacob Gorender, citado por Florentino, o fazendeiro não se preocuparia em propiciar condições para a reprodução natural da escravaria porque isso custaria mais caro do que se abastecer no tráfico.

O escravo era mercadoria barata, eis outra noção a reter. Houve períodos em que encareceu, devido à pouca oferta, mas em geral era barata, tanto assim que mesmo os pobres os tinham. Era barata porque em geral havia abundante oferta por parte dos traficantes. E por que a oferta era tão abundante'? Uma razão importante é quase um segredo, tanto tem sido escondida: porque os

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próprios africanos colaboravam na captura dos escravos, o que contribuía sobremaneira para abater os custos da operação.

Imaginar expedições de brancos a embrenhar-se nos matos africanos e armar emboscadas para capturar escravos é algo tão comum quanto, geralmente, falso. Houve expedições dessas, principalmente no começo da escravização dos africanos pelos europeus, nos séculos XVI e XVII. Mas com o tempo consolidou-se o padrão pelo qual os africanos se sequestravam eles próprios, e vendiam os sequestrados como escravos aos comerciantes brancos. A escravização já era conhecida, na África, inclusive para uso interno. No Reino do Congo, por exemplo, usavam-se escravos. Faziam-se os escravos, em geral, entre os povos inimigos, ao cabo de uma guerra vitoriosa. Nesse caso, o escravo era um ganho suplementar, um subproduto do ganho territorial ou de outra espécie advindo da guerra. Mas houve também o caso de guerras que eram feitas com a finalidade precípua de fazer escravos. Tratava-se de mercadoria que os europeus tinham tornado preciosa, pois podia ser trocada por cobiçados bens estrangeiros.

O comerciante branco não precisava embrenhar-se na mata. Ficava esperando no litoral que lhe trouxessem a encomenda. Escreve Florentino: " ... os grupos dominantes africanos viam no tráfico um instrumento através do qual podiam fortalecer seu poder, incorporando povos tributários e escravos. A venda destes últimos no litoral lhes permitia o acesso a diversos tipos de mercadorias e material bélico. Desse modo, aumentava sua capacidade de produzir mais escravos e, por conseguinte, de controlar os bens envolvidos no escambo". O escambo dava aos chefes africanos acesso a mercadorias como cavalos, pólvora e armas de fogo. A conclusão de Florentino, neste ponto, é que o tráfico teve um papel estrutural não só na economia brasileira, mas também na africana. Isso explicaria por que durou tantos séculos, acumulando um poder que lhe permitiu até driblar as pressões exercidas pela Inglaterra, a grande potência do período, detentora de uma Marinha onipresente no planeta.

Observe-se o itinerário de um escravo capturado. O sequestro se dava no interior da África, às vezes tão longe quanto na região dos lagos, lá onde o hoje Zaire (ex-Congo) confina com os atuais Tanzânia, Uganda e Quênia. Ali ele era comprado de um soba africano por um "sertanejo", um agente do comerciante litorâneo, e levado para o litoral - em geral a Luanda, o principal porto de embarque de escravos ao sul do Equador. Florentino descreve o comerciante de escravos de Luanda: não seriam mais de uma dúzia, descendentes de portugueses, cercados de luxo, vivendo em amplos sobrados, servidos por multidões de escravos. Em Luanda na época não havia mais que 400 brancos, para uma população total de 4.000 habitantes. Esse comerciante de escravos de Luanda podia ser um mero agente, ou comissário, do traficante carioca, ou um negociante de "efeitos próprios". Mesmo nesse último caso, porém, mantinha uma relação de subordinação para com o comerciante do Rio.

Em Luanda (ou Cabinda, ou Benguela) o comerciante local entregava o lote de escravos pretendido ao capitão do navio a serviço do traficante carioca. Seguia-se a travessia marítima. Uma vez no Rio, e uma vez pagos os direitos alfandegários, o escravo era exposto em armazéns da Rua do Valongo, onde funcionava o mercado dos "escravos novos". Os compradores urbanos se abasteciam ali. Ou então em sua própria casa, segundo o testemunho de viajantes que viram escravos ser oferecidos de porta em porta, acorrentados.

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Mas a maioria dos negros recém-chegados destinava-se às fazendas do interior. A eles estava reservada uma última etapa da viagem, Brasil adentro, capitaneada por tropeiros que ou estavam a serviço do próprio traficante ou, o que era mais comum, se encarregavam eles próprios do empreendimento.

Longa era a via-crúcis do escravo, da savana africana onde se dava a captura até o destino final. A travessia marítima durava de 33 a 43 dias, quando se tratava do trajeto Congo-Angola ao Rio. Quando o navio ia se abastecer em Moçambique, o que às vezes era vantajoso, pois lá o escravo era mais barato, a viagem durava o dobro. A isso se deve acrescentar o longo período durante o qual os navios permaneciam estacionados em portos africanos, esperando que a encomenda chegasse do interior - podia estender-se a até 165 dias. Segundo Joseph Miller, um autor citado por Florentino, 40% dos negros capturados em Angola morriam durante o deslocamento até o litoral e outros 10% ou 20% nos armazéns onde ficavam alojados no porto, antes do embarque. Mais da metade, assim, morreria na própria África. Quanto à travessia marítima, Florentino achou taxas médias de mortandade que variam de 8,9%, no período entre 1796 e 1811, a 5,6%. na década de 1820. Isso quanto à travessia a partir da área congo-angolana. Nas viagens a partir de Moçambique, a mortandade dobrava.

As causas das mortes eram maus-tratos, má alimentação a bordo, superlotação, doenças. Houve casos extremos. A galera São José Indiano, no caminho entre Cabinda e o Rio, perdeu, em 1811, 121 dos 667 escravos que transportava. E a mortandade podia continuar em solo brasileiro, onde os escravos chegavam exauridos e expostos a doenças para as quais seu sistema imunológico estava despreparado. O traficante Manuel Gonçalves de Carvalho, numa carta a seu correspondente em Angola, queixa-se de que, de uma remessa de quinze, apenas onze escravos lhe tinham chegado vivos, dos quais "mandei dois no mesmo dia ao cemitério". Estes dois tinham morrido já no Brasil.

De tudo o que foi dito até agora se depreende algo que é uma das conclusões fundamentais do livro de Florentino: o traficante era um carioca. Ou, ao menos, um comerciante estabelecido no Rio. Não era um agente da metrópole. Não era um representante dos interesses portugueses. Isso faz repensar não só o tráfico, mas o conjunto da economia colonial brasileira, que em geral se imagina estritamente dependente da metrópole. Escravos foram as maiores importações brasileiras. E Portugal não tinha capitais para bancar esse negócio. Eis o que explica, segundo Florentino, a brecha aberta no sistema colonial. O comércio Sul-Sul, entre a África e o Brasil, por causa do tráfico, era tão importante quanto o comércio com a Europa.

O comerciante do Rio mantinha sob sua dependência, em graus diversos, os diversos elos que compunham o negócio da compra de escravos. "0 capital traficante brasileiro aparecia como detonador e organizador do comércio negreiro", escreve Florentino. E quem era esse comerciante que comandava negócio tão vultoso? A resposta é outra das conclusões fundamentais do livro: não, não se tratava de um negociante marginal, atuando à sorrelfa, fora do eixo principal da economia da Colônia e, depois, do Império. Muito pelo contrário, era alguém bem dentro, mais dentro impossível. Ou, para usar as palavras de Florentino, "ao falar de traficantes, estamos frente à própria elite empresarial" do Rio e, portanto, do Brasil.

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Numa lista feita, em 1799, das 36 maiores fortunas da província do Rio de Janeiro, sete são de traficantes. O lucro que eles obtinham em suas operações era em média de 19,2%, muito maior que o dos traficantes ingleses, quando estes atuavam (9,5%), franceses (10%) e holandeses (5%), e maior que o de uma fazenda de café - 15%, nos melhores anos. E suas atividades iam muito além do tráfico. As mesmas pessoas que o comandavam estavam envolvidas também na importação de tecidos, que seria para o escambo mas ainda podia abastecer o mercado interno. E os traficantes mantinham um pé também no setor financeiro, como prova o fato de que das dez companhias de seguro estabelecidas no Rio de Janeiro, em 1829, sete tinham traficantes entre seus diretores.

Os traficantes, segundo mostram os diversos cruzamentos realizados por Florentino entre os registros mercantis cariocas, representavam ainda de 9% a 13% do total de importadores de gêneros alimentícios da praça do Rio de Janeiro. Em termos gerais, conclui o autor, eles eram 10% dos comerciantes cariocas, e dos maiores - homens "cujos investimentos cobrem diversos setores econômicos, principalmente o comércio e o crédito", segundo escreveu, em seus Princípios de Direito Mercantil, José da Silva Lisboa, o visconde de Cairu.

Claro que, assim sendo, os traficantes eram também íntimos do poder. Muitos se fizeram merecedores da Ordem de Cristo, a comenda que era outorgada pela família real. Um deles, Geraldo Carneiro Belens, recebeu a comenda de dom João VI em virtude de estar sua empresa, a casa Carneiro, Viúva e Filhos, entre as "que mais se têm distinguido". Outro, Elias Antônio Lopes, deu e recebeu favores do Estado fartamente, ao longo da vida. Quando a família real aqui chegou, ele doou-lhe a chácara que possuía em São Cristóvão. Essa propriedade estaria destinada a ser a residência imperial enquanto durou o regime monárquico. Tráfico não era para qualquer um, já se disse. Era para gente fina.

Manuel Congo era o seu nome. Um nome segundo os padrões correntes entre escravos - um prenome luso-brasileiro associado ao de sua "nação", mesmo se não fosse bem nação o que designava, mas uma região. Profissão: ferreiro. Alguns escravos eram treinados em certos ofícios, e por força disso acabavam virando uma elite entre seus pares. Estado civil: casado. Num dia do início de setembro de 1839, o corpo de Manuel Congo balançava na forca montada na freguesia de Pati do Alferes, município de Vassouras, na região do Vale do Paraíba, província do Rio de Janeiro. Era o desfecho de uma história iniciada dez meses antes.

Noite de 5 de novembro de 1838. Cerca de oitenta escravos da fazenda Freguesia, pertencente a Manuel Francisco Xavier, grande proprietário da rica região cafeicultora de Vassouras, aproveitam a cobertura das trevas para fugir. Uma fuga de oitenta, está aí já algo de preocupar, que revela concertação e organização entre os insurretos. Mas ainda havia mais, pois na madrugada seguinte ei-los na outra fazenda do mesmo proprietário, a Maravilha, juntando também a escravaria deste estabelecimento a seu intento criminoso. Na Maravilha, tentaram matar o feitor e arrombaram depósitos, apossando-se de grande quantidade de mantimentos e ferramentas. Colocaram até escadas na janela da cozinha, nos fundos da casa-grande, para facilitar a fuga das escravas do serviço doméstico, que lá dormiam. Rumaram então para uma

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fazenda vizinha, de propriedade de Paulo Gomes Ribeiro de Avelar, onde se reuniram a mais companheiros. Os fugitivos agora eram centenas. Quantos? Talvez 400.

Estamos agora no livro Histórias de Quilombolas,de Flávio dos Santos Gomes. Que pretendiam os negros fugidos, formar um quilombo? Possivelmente, mas isso nunca ficou claro. Recorramos por um breve instante a outros autores, João José Reis e Eduardo Silva, que, no livro Negociação e Conflito, escrevem: "Os escravos fugiam pelos mais variados motivos: abusos físicos, separação de entes queridos por vendas ou transferências inaceitáveis ou o simples prazer de namoro com a liberdade. Conhecedores das malhas finas do sistema, escapavam muitas vezes já com intenção de voltar depois de pregar um susto no senhor e assim marcar o espaço de negociação no conflito".

Uma fuga em massa como a de Vassouras, de qualquer forma, era algo incomum e assustador. No dia 8 de novembro, o juiz de paz de Pati do Alferes mandava ofício ao coronel-chefe da Guarda Nacional na região, Francisco Peixoto de Lacerda Werneck, pedindo-lhe providências, em prol "da ordem e do sossego público". A resposta veio presta. Em 48 horas Lacerda Verneck tinha mobilizado uma força de algumas centenas de homens. Loquaz e às vezes fanfarrão nos memorandos que ia produzindo, Lacerda Werneck enviou um ao presidente da província, informando-o da mobilização e acrescentando: "Nesta ocasião dirigi a meus camaradas um discurso, cuja leitura enérgica produziu um efeito admirável, fazendo ressoar por alguns momentos entusiasmados vivas". A pátria estava em perigo. Carecia salvá-la.

Uma figuraça esse Lacerda Werneck. Na Independência já tinha a graduação de tenente de cavalaria de milícias. Em 1831 era coronel. Agora, neste ano de 1838, tinha 43 anos, e além de chefe local da Guarda Nacional era um poderoso e influente fazendeiro, que mais tarde se tomaria o barão de Pati do Alferes. Ao morrer, em 1861, era possuidor de sete fazendas e 1.000 escravos. A pátria estava em perigo, mas também seus interesses muito concretos. A Lacerda Werneck, presidente da Sociedade Promotora da Civilização e Indústria da Vila de Vassouras, que zelava pelos interesses comuns dos proprietários, não interessava ver a região transformada em sede de quilombos, pretos alevantados, lugar de desordem e desrespeito.

E lá se embrenhou ele no mato, atrás dos negros fugidos. Tinha uma vantagem: os negros avançavam abrindo picadas. Sua força já encontrava as picadas abertas. O juiz de paz viajava a seu lado. No dia 11 de novembro, às 5 da tarde, narra Lacerda Werneck, num de seus memorandos, "sentimos golpes de machado e falar gente". Tinham localizado um primeiro grupo de escravo. Estes se deram conta da presença dos perseguidores, porém. "Fizeram uma linha", mobilizaram suas armas, "umas de fogo, outras cortantes", e gritaram: "Atira caboclo, atira diabos". Lacerda Werneck prossegue, com seu jeito em que a gramática pode sofrer abalos, mas nunca o entusiasmo: "Este insulto foi seguido de uma descarga que matou dois dos nossos e feriu outros dois. Quão caro lhes custou! Vinte e tantos rolaram pelo morro abaixo à nossa primeira descarga, uns mortos e outros gravemente feridos, então se tornou geral o tiroteio, deram cobardemente costas, largando parte das armas; foram perseguidos e espingardeados em retirada e em completa debandada..."

No dia seguinte. mais fugitivos foram apanhados. Sua luta agora era sem esperança. Seus víveres e armas tinham sido apreendidos. Ficaram alguns

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grupos vagando pela floresta, de outros não mais se soube, outros ainda voltaram às fazendas, não sem antes lançar mão do recurso do "apadrinhamento" - ia-se a uma fazenda vizinha e pedia-se ao dono que os "apadrinhasse" de volta à fazenda de origem, escoltando-os e pedindo a seus senhores que fossem clementes. Foram presos os líderes da rebelião, inclusive Manuel Congo, acusado de ser o "rei" do eventual futuro quilombo, e Mariana Crioula. a "rainha". Causou espécie, no processo, a participação desta Mariana na rebelião, ela que era "uma crioula de estimação de dona Francisca Xavier", isto é, uma escrava doméstica, considerada das mais dóceis e confiáveis. Lacerda Werneck contou que ela só se entregou "cacete" e gritava: "Morrer sim, entregar não".

Foram indiciados dezesseis fugitivos no processo. Em janeiro de 1839 deu-se o julgamento. Manuel Congo foi condenado à morte, acusado de ser responsável pelas duas mortes ocorridas entre os perseguidores. Oito réus foram absolvidos. Sete foram condenados a "650 açoites a cada um, dados a cinquenta por dia, na forma da lei", além do que deviam andar "três anos com gonzo de ferro ao pescoço". O susto, para a boa sociedade de Vassouras, tinha passado, mas fora grande. Alarmou a província e ecoou pelo Império. Um destacamento do Exército, com cinquenta homens, chegou a ser enviado da corte a Vassouras. No comando, quem vinha? Não poderia haver alguém mais qualificado, destinado à glória futura: o tenente-coronel Luís Alves de Lima e Silva, futuro duque de Caxias e patrono do Exército brasileiro. O destacamento não precisou atuar, porém. Chegou a 14 de novembro, quando o levante já fora dominado.

A partir desses fatos, Flávio dos Santos Gomes investiga quem seriam os negros rebolados, que circunstâncias os teriam levado ao levante, por que a fuga teria causado tanto pânico, as condições gerais da economia e da sociedade da região e as mentalidades da época. O resultado é um retrato da sociedade escravocrata, naquela rica região, nos primeiros anos de Brasil independente. Talvez valha corno mini-retrato da sociedade escravocrata brasileira.

Vassouras já era uma importante produtora e exportadora de café. Em meados do século, sua população alcançaria 35.000 pessoas.

Na população escrava, segundo dados de 1837-1840, os africanos predominavam fortemente sobre os crioulos: eram três em cada quatro. Também havia forte predominância dos homens (73,7%) sobre as mulheres (26,3%). E os escravos estavam sobretudo na faixa entre 15 e 40 anos, a preferida pelos fazendeiros porque a mais produtiva: 68% nela se situavam.

Uma análise do inventário de Manuel Francisco Xavier, o proprietário em cujas fazendas começou o levante e cujos escravos, ao que tudo indica, eram a grande maioria dos alevantados, acentua ainda mais os traços observados na generalidade da região. Entre os 449 escravos que possuía, ao morrer, em 1840 - dois anos apenas depois do levante -, 85% eram homens e 80% eram africanos.

Entre os dezesseis participantes da fuga indiciados no processo, onze eram africanos e cinco eram crioulos. Sete eram mulheres. E dez eram trabalhadores especializados, por oposição aos trabalhadores na roça: ferreiros, como Manuel Congo, carpinteiros, caldeireiros, ou, no caso das mulheres, lavadeiras,

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costureiras ou enfermeiras. Escreve Flávio dos Santos Gomes: "É possível supor que a organização deste levante foi ampla, complexa e pode ter envolvido tanto os cativos que trabalhavam no campo quanto aqueles que exerciam ofícios especializados, que por certo tinham mais prestígio entre os demais, além de mobilidade na fazenda, o que garantia melhores condições para contatar seus parceiros, inclusive de outras fazendas, para um plano articulado de insurreição e fuga".

Manuel Francisco Xavier tinha má fama entre os colegas fazendeiros. "Há muito tempo que se receava o que hoje acontece, por fatos que se têm observado entre esta escravatura", escreveu Lacerda Werneck, num dos memorandos produzidos no calor da batalha. Homens brancos, feitores e capatazes, teriam sido espancados e até assassinados pelos escravos, nas fazendas de Xavier. Escravos seriam castigados até morrer. Haveria iniquidades. falta de ordem e falta de pulso. Ou, como escreve Flávio dos Santos Gomes, teriam sido desrespeitados, nas fazendas em questão, os limites da "economia moral" vigente. Lacerda Werneck era o porta-voz do temor geral de que essa situação contaminasse outras fazendas e se alastrasse pela região.

Lacerda Werneck produzirá na década de 1840, com o intuito de orientar o filho, estudante de direito canônico na Europa, um opúsculo que se tornaria um clássico da ideologia do senhor de escravos. Escreveu ele: "Não se dirá que o preto é sempre inimigo do senhor; isto só sucede com os dois extremos, ou demasiada severidade, ou frouxidão excessiva, porque esta torna-os irascíveis ao mais pequeno excesso deste senhor frouxo, e aquela toca-os à desesperação". Lacerda Wemeck não está satisfeito com o sistema, "um cancro roedor", formado por escravos "cujo preço atual não está em harmonia com a renda que dele se pode tirar, ainda de mais acresce a imensa mortandade a que estão sujeitos". Mas, como é preciso continuar, dá seus conselhos ao filho.

Deve-se introduzir os cativos "na doutrina cristã", ensina ele, fazendo-os confessar e respeitar os domingos e dias santos. Deve-se induzí-los à "troca de roupa semanal, para que não vestissem roupas molhadas". Os que se adoentam devem ser tratados "com todo o cuidado e humanidade". Mas deve-se "proibir severamente a embriaguez, pondo-os de tronco até passar a bebedeira, castigando-os depois com vinte até cinquenta açoites". O fazendeiro deve ainda "reservar um bocado de terra onde os pretos façam as suas roças, plantem o seu café, o seu milho, feijão, banana, batata, cará, aipim, cana, etc". Acreditava Lacerda Werneck que "com esse pequeno direito de propriedade" os escravos adquiririam "certo amor ao país" e ficariam menos inclinados às insurreições.

Em 1835, tinha ocorrido na Bahia a Revolta dos Malês, envolvendo talvez até 1.500 negros e ensanguentando as ruas de Salvador. Uma onda de choque espalhou-se pelo Império. "A incidência de denúncias e rumores relativos a prováveis planos de sublevações escravas alimentava a cada dia", escreve Flávio dos Santos Gomes. O medo já estava no ar, quando se deu a fuga em Vassouras. Temiam-se sobretudo os "pretos minas" - os da costas ocidental da África, que eram os negros da Bahia. O medo se multiplicava quando se encontravam "escritos árabes" entre os cativos - indício da presença de muçulmanos, os responsáveis pelo levante de Salvador.

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Em 1854, dezesseis anos depois da grande fuga das fazendas de Manuel Francisco Xavier, e dezenove depois da Revolta dos Malês, ainda havia medo em Vassouras. Formou-se nesse ano no município uma "comissão permanente" com o objetivo de conclamar os fazendeiros a uma política e uma ação conjunta, diante do perigo das insurreições de escravos. Dizia o texto de constituição da comissão, fundada por quatro fazendeiros: "Se o receio de uma insurreição geral é talvez ainda remoto, contudo o das insurreições parciais é sempre iminente, com particularidade hoje que as fazendas estão se abastecendo com escravos vindos do Norte, que em todo tempo gozaram de triste celebridade". Explica-se: o tráfico oceânico havia finalmente se encerrado, em 1850. Restava aos fazendeiros um comércio inter-regional e inter-provincial no qual o maior fluxo era de escravos do Nordeste para o Sudeste.

A comissão recomendava aos fazendeiros que se armassem, mantivessem uma polícia vigilante, fizessem os escravos dormir em lugar fechado, impedissem a comunicação entre as fazendas. Por outro lado, deviam permitir a diversão entre os escravos: "Quem se diverte não conspira". E deviam insistir na observância, pelos escravos, dos preceitos cristãos: "A religião é um freio e ensina a resignação". Enfim, a "comissão permanente" recomendava que os fazendeiros introduzissem colonos europeus em suas fazendas, e até estipulava as proporções em que isso devia ser feito: um para cada doze escravos, dois para cada 25, cinco para cada cinquenta, sete por 100... "0 escravo é o inimigo inconciliável", advertia a comissão. Em contrapartida, o trabalhador branco seria "um braço amigo, um companheiro de armas, com cuja lealdade se pode contar na ocasião da luta: os interesses são comuns".

A pesquisa de Flávio dos Santos Gomes não apenas nos revela um episódio. Principalmente, nos introduz num clima. De truculência e tensão, e de medo, medo de que de uma hora para outra aquilo tudo poderia acabar muito mal.

(in Revista VEJA, ed. Abril, ed. 1.444, de 15.05.1996)

Referencia

http://www.revista.agulha.nom.br/pompeu01.html Acessado em 23/07/2011

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ANEXO 06

TRÁFICO DE ESCRAVOS

O tráfico de escravos era uma das formas de comércio, altamente lucrativa, já exercida pelos mercadores fenícios. Nas sociedades mediterrânea grega e romana, os escravos constituíam um importante “artigo” comercial. Os indivíduos eram capturados em incursões noutros territórios, nas guerras ou vendidos pela aristocracia tribal. Os seres humanos, incluindo crianças, eram negociados nos mercados como animais ou qualquer outra mercadoria. Em alguns centros de comércio havia mercados especiais de escravos.

Alguns senhores feudais costumavam pagar parte dos seus impostos anuais através da oferta de escravos e tinham igualmente o hábito de utilizá-los como ofertas ao soberano ou aos governadores provinciais. Contudo, o escravo nem sempre era uma “coisa” como estava instituído na lei romana, mas sim uma pessoa com direitos e deveres definidos no estatuto do escravo.

Entre as mercadorias negociadas no norte de África por genoveses, venezianos, espanhóis e portugueses contavam-se os escravos. Para os mercadores dos países marítimos da Europa Ocidental o tráfico de escravos tornou-se a mais lucrativa das empresas, que movia muitos interessados, tornando-se difícil o monopólio. A sua captura era em geral tarefa para os chefes africanos. Os proprietários de navios ou os seus fretadores compravam os negros no melhor mercado e transportavam-nos para a América em condições tais que muitos morriam na viagem. Os navios estavam munidos com um equipamento especial para armazenar a carga humana.

As feitorias, espalhadas pela África Ocidental, serviam de pontos de contacto que permitiam uma rotação mais rápida das frotas, pois os carregamentos de negros já aguardavam aí e chegada dos navios. O comércio de escravos concentrou-se nos grandes portos, particularmente nos que eram considerados livres.

A escravatura praticava-se na África muito antes de 1500. O tráfico de escravos era praticado paralelamente com uma contínua escravatura interna. Entre os

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africanos havia escravos de “família” ou de “guerra”, variando de região para região o modo como eram explorados. Após esse ano, o tráfico de escravos é agravado por uma nova dimensão intercontinental: o transporte para as Américas com a sua impressionante história e consequências ainda não completamente avaliadas. O tráfico era quase sempre organizado através de “contratos” entre parceiros comerciais europeus e africanos. O recrutamento era confiado a “contratadores”, que adquiriam este direito mediante o pagamento de licenças. Os europeus não se envolviam diretamente na caça aos escravos e preferiam comprá-los aos africanos que se encarregavam de capturá-los. Os mercadores europeus permaneciam junto à costa onde os seus parceiros comerciais acorriam para entregar os escravos capturados em guerras ou em ataques organizados, em troca dos mais variados objetos, em geral de pouco valor. O grande desenvolvimento do tráfico de escravos negros, na segunda metade do século XVI, foi impelido pela necessidade mão-de-obra para as plantações tropicais americanas principalmente de cana-de-açúcar e de algodão.

No continente africano, a escravatura desencadeou uma gigantesca movimentação de populações. É de salientar as perniciosas consequências sociais e econômicas deste tráfico que privou as populações dos seus membros mais vigorosos e dinâmicos, paralisou o desenvolvimento da atividade produtiva. A procura dum refúgio seguro e a instabilidade verificada entre as populações causaram diversos movimentos migratórios a uma escala variável com o tempo e o lugar. Foi, além disso, a maior migração forçada intercontinental de sempre. Tornaram-se destrutivos os efeitos dum círculo vicioso de trocas comerciais, de escravos por armas de fogo que seriam usadas na captura de mais escravos e, assim por diante, indefinidamente. Muitos povos ocupam os seus atuais territórios em consequência das deslocações provocadas pelo tráfico de escravos. Desapareceram dos povoados os indivíduos mais jovens, mais vigorosos e sãos. Tratando-se de populações essencialmente agrícolas, a produção e a acumulação de bens alimentares mergulharam num caos generalizado, que destruiu o processo produtivo. O tráfico de escravos instalou a guerra entre as tribos e a violência no interior das próprias tribos. Os chefes do litoral passaram a ver os seus súbditos como uma mercadoria e a guerrearem-se uns aos outros para venderem os seus compatriotas. Os povos africanos eram impotentes perante as armas de fogo dos negreiros europeus. As revoltas eram frequentes, mas selvaticamente reprimidas. É difícil de estimar a amplidão deste tráfico que se manteve durante séculos a uma cadência acelerada.

Portugal conheceu o regime de escravidão através das relações de comércio com mercadores árabes e a transformação dos mouros vencidos na guerra em cativos ou servos. Era comum a troca de prisioneiros mouros por escravos de pele escura, em proporção favorável em quantidade aos

http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=26788 Acessado em 23/07/2011

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portugueses. O apoio da Igreja garantia a exploração tranquila de mão-de-obra escrava em projetos de produção agrícola para exportação, como meio de compensar as despesas

com as navegações. Por volta do ano de 1460, começa a era do tráfico de escravos organizado através de acordos diretos com os régulos da África Negra, a nível de Estado para Estado. O tráfico de escravos africanos adquiria um caráter de aquisição de força de trabalho em massa para fins de produção e de comercialização através dum novo entreposto africano de compra de escravos e ouro, a Fortaleza de S. Jorge da Mina. O tráfico de escravos africanos, já em moldes comerciais, tornou-se uma fonte de lucros. Com os descobrimentos marítimos, em breve os portugueses se aperceberam de que havia muito a ganhar se, juntamente com outras mercadorias, levassem também escravos, tanto mais que a tentativa de

atingir as regiões auríferas não

correspondeu às suas expectativas.

O comércio de escravos tornou-se rapidamente a principal fonte de lucro. Os pontos de tráfico estendiam-se a toda a costa africana e fazia-se mesmo duma região para outra. Em Portugal, e depois no Brasil, um tipo especial de exploração de trabalho escravo consistiu no aluguer dos serviços dos escravos a terceiros. Esta sublocação revela a existência dum fato econômico pouco estudado, mas que pode explicar a extensão do uso do trabalho escravo mesmo por parte de pessoas de reduzidas posses. Outro tipo de exploração caracterizava-se pelo exercício do comércio ambulante ao serviço dos seus proprietários. A instituição de “negros de ganho” criou a possibilidade de investir economias na compra dum ou mais escravos com o objetivo de explorar comercialmente o seu trabalho e generalizou o emprego de negros cativos em funções destinadas a completar a renda financeira. A queda do preço dos escravos africanos deixava à gente de posses médias a opção de se fazer servir por escravos e às grandes famílias a possibilidade de se darem ao luxo de contratarem trabalhadores livres para uso doméstico.

Referência.Bibliográfica: SALVADOR, José Gonçalves - Os Magnatas do Tráfico Negreiro, Ed. Pioneira/Edusp - 1981,SP.

Artigo escrito por: Cristiano Rodrigo Catarin

Referencia http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=619 Acessado em 23/07/2011

http://proinfocastromariaeloisa.wordpress.com /2009/10/18/comercio-de-escravos-no-brasil/

Acesso em 23/07/2011