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UNIÃO EUROPEIA COMISSÃO CONSULTIVA DO TRABALHO A RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS NO SECTOR MINEIRO NA PROVÍNCIA DE TETE NO CONTEXTO DO DIÁLOGO SOCIAL Eduardo Macuácua 2017 Saber para participar Os Fóruns Tripartido de Consulta e de Concertação Social nas Provincias para um Verdadéiro Diálogo Social

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UNIÃO EUROPEIA COMISSÃO CONSULTIVA DO TRABALHO

A RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS NO SECTOR MINEIRO NA PROVÍNCIA DE TETE

NO CONTEXTO DO DIÁLOGO SOCIAL

Eduardo Macuácua

2017

Saber para participar

Os Fóruns Tripartido de Consulta e de Concertação Social nas Provincias para um Verdadéiro Diálogo Social

Este documento foi elaborado com a participação �nanceira da União Europeia. O seu conteúdo è da responsabilidade do ISCOS, não podendo, em caso algum, consederar-se que re�ecata a posição da União Europeia.

Titulo: A responsabilidade social das empreseas no sector mineiro na Província de Tete no contexto do Diálogo SocialAutor: Eduardo MacuácuaAno: 2017Impressão: Prelo Classico

A RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS NO SECTOR MINEIRO NA PROVÍNCIA DE TETE

NO CONTEXTO DO DIÁLOGO SOCIAL

Eduardo Macuácua

Maputo 2017

INDICE

LISTA DE ACRÓNIMOS 1

SUMÁRIO EXECUTIVO 3

1. INTRODUÇÃO 5

2. METODOLOGIA 9

3. A INDÚSTRIA EXTRACTIVA EM MOÇAMBIQUE 11

3.1 Conceito 11

3.2 Desafios da indústria extractiva: o caso do carvão mineral 11

3.3 Produção mineira e principais operadores em Tete 12

3.4 Mineração de carvão em Tete 13

3.5 As empresas de mineração em Tete 13

3.6 Projectos em desenvolvimento na província de Tete 16

4. RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL 17

4.1 Conceito 17

4.2 Relação entre RSE e diálogo social 18

4.3 RSE em Moçambique: caso do sector mineiro 18

4.4 O quadro legal sobre a responsabilidade social 19

4.5 Aspectos-chave da política de RSE no sector mineiro 20

5. Empresas mineradoras e suas subcontratadas 23

5.1 Avaliação da implementação da política de RSE nas empresas 23

5.2 Alinhamento dos planos de RSE das empresas com a política 23

5.3 Políticas e práticas de RSE 24

5.4 Estrutura de gestão de RSE 26

5.5 Acções de RSE nas empresas fornecedoras 27

5.6 Percepção dos stakeholders sobre RSE 27

6. CONDIÇÕES DE TRABALHO NA MINA 29

6.1 Saúde 29

6.2 Segurança 30

6.3 Alimentação e transporte 30

6.4 Carga horária 31

6.5 Remunerações e benefícios 31

6.6 Questões ambientais e sociais 32

7. Diálogo social em Tete 35

7.1 Conceito 35

7.2 Práticas sobre diálogo social 35

7.3 Constrangimentos 37

7.4 Oportunidades 38

7.5 Implicações para o futuro 39

8. Conclusão e recomendações 41

8.1 Sobre responsabilidade social empresarial 41

8.2 Sobre as condições de trabalho 42

8.3 Sobre o diálogo social 43

9. ANEXOS 45

9.1 Quadro de recomendações 46

9.2. Lista de entidades consultadas 49

9.3. Bibliografia 51

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social 1

LISTA DE ACRÓNIMOS

ADL Acordo de Desenvolvimento Local

BHR Beacon Hill Resources

CCT Comissão Consultiva de Trabalho

CEN Conselho Empresarial Nacional

CEP Conselho Empresarial Provincial

CFM Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique

CIL Coal India Limited

CONSILMO Confederação Nacional dos Sindicatos Independentes e Livres de Moçambique

CTA Confederação das Associações Económicas de Moçambique

DPTADER Direcção Provincial de Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural

EMEM Empresa Moçambicana de Exploração Mineira

EU União Europeia

FOCCOS Fóruns Tripartidos de Consulta e Concertação Social

ICVL International Coal Ventures Private Limited

ISCOS O Instituto dos Sindicatos da Itália para a Cooperação e Desenvolvimento

ITIE Iniciativa de Transparência da Indústria Extractiva

JSPL Jindal Steel and Power Limited

MIREME Ministério dos Recursos Minerais e Energia

MOU Memorandum de Entendimento

MT Milhões de Toneladas

Mtpa Milhões de toneladas por ano

MW Megawatt

OIT Organização Internacional de Trabalho

OTM-CS Organização dos Trabalhadores de Moçambique – Central Sindical

PME Pequenas e Médias Empresas

RINL Rashtriya Ispat Nigam Limited

RSA República Sul-africana

SER Responsabilidade Social Empresarial

SAIL Steel Authority of India Limited

SINTI-SIM Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Indústria, Construção Civil, Madeiras e Minas de Moçambique

SPEED Programa de Apoio ao Ambiente de Negócio para o Desenvolvimento Económico

TB Tuberculose

USAID Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional

USD Dólares Norte-Americanos

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social2

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social 3

SUMÁRIO EXECUTIVO

O desenvolvimento social e económico sustentável que coloca no centro das atenções o equilíbrio entre os anseios das comunidades locais e do investidor e que tome também em conta a protecção do meio ambiente e respeite a legislação vigente é uma das lutas constantes da actualidade. Moçambique, um país altamente rico em recursos minerais, não está alheio a esse desafio. O carvão mineral, cujas reservas ascendem os 6 bilhões de metros cúbicos, é o principal mineral em exploração na província de Tete. Com efeito, para além de empresas que já iniciaram a exploração do carvão mineral (Vale Moçambique, ICVL, Jindal e Minas Moatize), existem interesses por parte de novos players que pretendem, para além de extrair e exportar o carvão, produzir energia eléctrica e combustíveis líquidos, a partir do carvão.

O presente trabalho foca na responsabilidade social empresarial na indústria extractiva dos recursos minerais em Tete, no contexto do diálogo social assente no Fórum Tripartido de Consulta e Concertação Social (FOCCOS). Ele destaca os desafios associados à actividade mineira de carvão em Tete, mormente (i) as fragilidades institucionais para a transformação de apenas recursos naturais em riqueza, que se traduz em benefícios para todos os stakeholders; (ii) o desafio relacionado com problemas logísticos e de transporte para o escoamento de carvão e que tendem, pouco a pouco, a serem ultrapassados com os investimentos recentes, públicos e privados, na construção e reabilitação das linhas férreas (linha de 912 km entre Moatize e Nacala e linha de Sena), bem como com a construção e expansão de terminais de carvão em Nacala-Porto e Beira, elevando a capacidade de escoamento do País. Existem outras infraestruturas que, ao se concretizarem, poderão contribuir para a melhoria cada vez mais a capacidade de escoamento de carvão e incluem a construção duma nova linha férrea que liga a zona mineira de Tete ao novo porto de Macuzi, na Zambézia, e um pipeline entre a mina de Chirodzi e o Porto da Beira, que irá substituir o escoamento via camião actualmente usado pela Jindal; (iii) a queda dos preços internacionais do carvão levando a que alguns investidores vendessem seus activos (exemplo, Rio Tinto), paralisação de exploração (exemplo, Minas Moatize e ICVL, a actual concessionária da mina de Benga); e (iv) problemas sociais e ambientais gerados pela própria actividade mineira, tendo resultado em processos de reassentamento (mal conduzidos e com reclamações vindas das comunidades locais). A título de exemplo, a Jindal, apesar de estar já a extrair o carvão mineral, ainda não fechou o dossier reassentamento e as consequências ambientais e riscos de saúde associados à sua actividade são enormes entre as populações locais.

Face ao quadro acima, a responsabilidade social empresarial torna-se importante por ser um instrumento que poderia ser usado para a mitigação dos efeitos causados pela presença e actividade das empresas mineiras na província de Tete. Mais do que questões ambientais e sociais, as operações mineiras têm impactos sobre o próprio trabalhador, sendo que a avaliação das condições no local de trabalho são parte desta avaliação. Para melhor alcançar este propósito, o Governo de Moçambique, através do Decreto 21/2014, aprovou a política de responsabilidade social para a indústria extractiva do sector mineiro e cujo guião para sua operacionalização, em processo de divulgação, foi aprovado pelo Diploma Ministerial n.º 8/2017, de 16 de Janeiro.

Sendo novos, a política sobre RSE e o respectivo guião ainda não são conhecidos em Tete. Estruturas de gestão e monitoramento das actividades de RSE estão em processo de criação no MIREME, inclusive iniciou a mobilização de recursos para financiar as actividades a favor da implementação da política de RSE, com destaque para a formação de equipas de monitoria e disponibilização de logística que tornará efectiva a monitoria e avaliação dos programas sociais

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social4

das empresas mineiras. Na província de Tete existe uma comissão provincial de monitoria dos assuntos sociais e ambientais, cujos membros, em representação de diferentes órgãos do Governo, carecem também de capacitação e apoio logístico.

No entanto, diferentes empresas estão a implementar programas de RSE, com enfoque nas áreas da saúde, abastecimento de água, educação, apoio institucional, desenvolvimento de infra-estruturas, segurança alimentar, geração de negócio e desporto. Estas actividades são, no entanto, incipientes e com baixo impacto, sendo que carecem de expansão quantitativa e qualitativa. A consulta ao Governo e às comunidades locais é deficiente devido à falta de informação sobre orçamentos dos investimentos e baixa preparação técnica destes, sendo que dificilmente poderão fazer uma monitoria apropriada. As associações empresarias (congregadas no CEP-Tete) e sindicais (representadas pela OTM-CS e CONSILMO) não são consultadas apesar de algumas matérias contidas nestes programas sociais serem do seu interesse. As concessionárias dizem não ter obrigação legal para fazer investimentos sociais, sendo que o seu acto se resume em acções voluntárias.

A extracção de carvão tem riscos associados ao tipo de actividade, tanto para trabalhadores da mina como para o meio externo (visitantes e comunidades locais). As concessionárias estão em alerta máximo para evitar fatalidades, através de programas de indução, saúde e segurança para evitar erros e acidentes. Porém, dada a subcontratação de muitas empresas que vêm com seus próprios trabalhadores, nem sempre é possível manter os níveis de segurança desejáveis. Nalguns casos, como na mina de Chirodzi, é visível o relaxamento das medidas de saúde e segurança dado o facto de a mina estar a operar no seio da comunidade, com pessoas estranhas à mina a atravessar de um lado para o outro. A carga horária em vigor na mina é variável e nalguns casos (como o turno de 12h diárias) é tida como sendo fatigante e com potencial para causar acidentes. Portanto, deverá merecer uma revisão. Embora as concessionárias tenham clínicas próprias, os trabalhadores queixam-se da roptura constante de stock dos medicamentos e da exclusão dos seus familiares. Regra geral, há transporte, subsídios de alojamento e de alimentação para o trabalhador mineiro. Embora sejam raros, foram reportados casos de tratamento desigual entre trabalhadores moçambicanos e expatriados no que se refere ao salário auferido e à carga horária.

O FOCCOS em Tete, apesar de várias tentativas para o seu arranque, não tinha até Setembro 2017, altura da visita de campo no âmbito deste estudo, realizado a sua primeira sessão. A saída do anterior director provincial de Trabalho, Emprego e Segurança Social e a sobreposição da agenda do presidente do FOCCOS têm sucessivamente afectado o seu arranque. O FOCCOS vai abrir uma oportunidade ímpar não só para conciliar e resolver questões de carácter laboral-empresarial e de índole de política, como poderá abrir uma janela para trazer diferentes stakeholders (incluindo as mineradoras) sempre que se mostrar pertinente, para um diálogo construtivo. A implantação e funcionamento efectivo do FOCCOS em Tete, bem como a criação e capacitação de estrutura de gestão dos programas de RSE em matéria de monitoria e avaliação/acesso à informação, tanto na capital como na província, com a disponibilização de meios logísticos, com envolvimento de todos os stakeholders (Governo, empregadores, sindicatos e sociedade civil em geral) poderá tornar a política de RSE efectiva e assegurar maior impacto destes programas nas comunidades locais.

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social 5

1. INTRODUÇÃO

O diálogo social tem desempenhado um papel importante ao servir de plataforma através da qual trabalhadores, empregadores e governos discutem e concertam sobre as questões sociais e económicas, incluindo sobre as políticas públicas, de interesse das partes, evitando assim greves e confrontações violentas e que geram impactos negativos enormes para a economia como um todo.

Depois de um período que se caracterizou pela ausência total de um diálogo social estruturado, Moçambique avançou em 1994, através do Decreto no 7/94, de 9 de Março, para a criação da Comissão Consultiva do Trabalho, cujo regulamento veio a ser alterado pelo Decreto 17/2015, de 14 de Agosto. A composição (art. 5) dum dos seus principais órgãos (a Plenária) é tripartida, integrando representantes das estruturas governamentais e das organizações representativas dos empregadores e dos trabalhadores. A CCT é presidida1 pelo ministro que superintende a área de Trabalho, Emprego e Segurança Social e tem um vice-presidente que é o ministro que superintende a área da Indústria e Comércio, e conta com mais oito membros do Governo das áreas da Economia e Finanças; Indústria e Comércio; Agricultura; Transportes e Comunicações; Recursos Minerais e Energia; Pescas; Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos; e Acção Social. Conta também com oito representantes provenientes da Direcção das organizações representativas dos empregadores e oito representantes provenientes da direcção organizações representativas dos trabalhadores. Os empregadores são representados na CCT pela Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), na qual, sendo uma organização de abrangência nacional, se encontram congregados as diversas associações e pelouros sectoriais. Os trabalhadores são, por sua vez, são representados pelas duas organizações centrais sindicais, nomeadamente a Organização dos Trabalhadores de Moçambique-Central Sindical (OTM-CS) e pela Confederação Nacional dos Sindicatos Independentes e Livres de Moçambique (CONSILMO). Os parceiros sociais nomeiam seus representantes para as diversas comissões de trabalhos e estas são responsáveis pela condução de um processo de auscultação dos seus membros, à escala nacional, produzindo pareceres sobre assuntos da agenda da CCT e apresentam as respectivas posições na plenária e buscam os consensos necessários.

A CCT é um órgão de nível central e ganha reconhecimento internacional como uma das melhores plataformas em África pela forma como tem conduzido o diálogo social equilibrado e focado na solução dos problemas apresentados pelos parceiros. Este órgão tem o total apoio do Governo, porquanto funciona nas instalações do MITESS e conta com uma dotação orçamental do Estado. A CCT tem também apoio e assistência técnica de parceiros internacionais, entre elas a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a União Europeia (EU), a USAID, entre outros, que disponibilizam apoio financeiro para estudos e capacitações, quer de forma directa, quer através de apoio aos parceiros individualmente.

O Instituto dos Sindicatos da Itália para a Cooperação e Desenvolvimento (ISCOS), através dos fundos da UE, pretende levar a cabo um estudo sobre a responsabilidade social empresarial (RSE) nas empresas do sector mineiro na província de Tete, no contexto do diálogo social. Este estudo é realizado no âmbito do projecto “Saber para Participar”, que é implementado em Moçambique desde 2013, com a participação dos parceiros sociais acima descritos.

1 De acordo com número 3 do art. 5, o primeiro-ministro (PM) preside, sempre que considere necessário, as secções da CCT, e o número 1 do art. 6 diz que por iniciativa do PM ou presidente da CCT podem ser convidados outros membros do Governo ou da sociedade civil às sessões da plenária sempre que, em função das matérias agendadas, se revele necessário.

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Os Fóruns de Consulta e Concertação Social (FOCCOS) nas províncias, foram criados para promover a concertação social como expressão de uma atitude e de um comportamento positivo do diálogo tripartido. Os FOCCOS foram legalizados através do Decreto 17/2015, de 14 de Agosto, que é o mesmo quadro legal que rege a CCT. Sendo um fórum provincial, a plenária do FOCCOS é presidida pelo governador da província e tem como vice-presidente o director provincial que superintende a área de Trabalho, Emprego e Segurança Social e conta com mais oito membros do Governo provincial das áreas de Economia e Finanças; Indústria e Comércio; Agricultura; Transportes e Comunicações; Recursos Minerais e Energia; Pescas; Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos; e Acção Social. Conta também com oito representantes provenientes da direcção das organizações representativas dos empregadores da respectiva jurisdição provincial e oito representantes provenientes da direcção das organizações representativas dos trabalhadores da respectiva jurisdição provincial. Os empregadores são representados no FOCCOS pelo Conselho Empresarial Provincial, uma delegação da CTA na província, enquanto os sindicatos são representados pela OTM-CS e CONSILMO.

Uma das áreas de interesse do projecto “Saber para Participar” é a ligação entre o diálogo social e responsabilidade social empresarial (RSE). Enquanto o diálogo social é um instrumento de grande valor social e de desenvolvimento socioeconómico ao contribuir para a prevenção e mediação de conflitos e criação de um ambiente sadio nas relações laborais e no processo produtivo das empresas, a RSE pode ser usada para responder a parte das preocupações do diálogo social, uma vez que ela se traduz em acções voluntárias das empresas em resposta aos problemas socioeconómicos e ambientais que afectam trabalhadores e suas famílias, bem como as comunidades locais nas áreas onde estas empresas operam.

Compreendendo a importância e o contributo da responsabilidade social empresarial no desenvolvimento sustentável do país, o Governo de Moçambique, através da Resolução n.º 21/2014, aprovou uma política de RSE específica para a indústria extractiva dos recursos minerais, como forma de “assegurar que os benefícios do sector extractivo favoreçam o desenvolvimento social e económico dos moçambicanos, através do estabelecimento de um regime fiscal que seja justo para os investidores, mas também que maximizem os retornos para o Estado, privilegiando o desenvolvimento das infra-estruturas e encorajando a indústria extractiva a incluir nos seus planos de investimentos políticas e programas sobre RSE.

O estudo da responsabilidade social na indústria extractiva na província de Tete visa, especificamente, alcançar os seguintes objectivos:

• Investigar e desenvolver sumário sucinto sobre as políticas e práticas de RSE previstas nos seus códigos de conduta e verificar o grau da sua implementação, seu impacto na melhoria das condições laborais e identificar os principais desafios;

• Documentar e extrair lições sobre as principais questões sociais e ambientais consideradas na estratégia de negócio das empresas;

• Identificar as partes interessadas abordadas e os mecanismos para criar o seu diálogo e envolvimento;

• Explorar a estrutura organizacional dedicada à gestão de RSE e verificar em que medida ela é conducente à realização dos seus propósitos;

• Documentar as práticas das empresas fornecedoras de serviços e princípios laborais e sócio-ambientais;

• Apreciar os factores que impulsionam ou dificultam os esforços das empresas na implementação de RSE;

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• Verificar o estágio da aplicação da Resolução 21/2014 nas empresas estrangeiras e outras ligadas a negócios com as primeiras; e

• Identificar aspectos de RSE que podem ser incluídos na agenda de diálogo social ao nível provincial.

Este estudo irá produzir ilações e desafios da indústria extractiva para implementar as políticas de responsabilidade social de forma sustentável e assentes no diálogo social já institucionalizado, ou em processo de institucionalização nas províncias. Os maiores beneficiários deste estudo são, naturalmente, os parceiros sociais (Governo, sector privado e sindicatos).

Quanto à estrutura, depois da introdução, este relatório apresenta na secção dois apresenta a metodologia usada nesta pesquisa, tendo em conta as limitações encontradas no terreno. A secção três aborda a indústria extractiva, olhando para o conceito, desafios, com enfoque para o carvão, recurso abundante na província de Tete. A secção quatro aborda a RSE nas mineradoras e nas empresas por estas subcontratadas e que fazem as operações dentro da mina. A secção cinco aborda os padrões e condições de trabalho dentro da mina como um todo. A secção seis olha para o diálogo social na província de Tete, avaliando o estágio de implantação do FOCCOS naquela província. A secção sete apresenta as lições aprendidas e as recomendações do Estudo.

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2. METODOLOGIA

Em termos de metodologia, este estudo combinou dois métodos de recolha e análise de informações, nomeadamente a pesquisa documental, que consistiu na recolha de dados, leitura e análise com base em diferentes fontes secundárias, e a pesquisa de campo, em que o consultor escalou a província de Tete, manteve encontros e realizou entrevistas com pessoal-chave, entre parceiros sociais, instituições do Governo e as empresas mineiras.

Durante a fase de análise e compilação do relatório, fez-se a comparação e cruzamento de informação recolhida durante o trabalho de campo e discussões com pessoal-chave com dados encontrados em fontes secundárias que abordam a mesma matéria em estudo.

Três limitantes pesaram na elaboração do presente estudo, nomeadamente:

• Dificuldade de obtenção de informação no tempo pré-estabelecido – O contrato estabelecia um mês para a realização desta consultoria. Acontece, porém, que os sistemas de autorização em vigor nas empresas mineradoras de Tete são demasiados burocráticos e morosos. O consultor, apesar de ter solicitado informação por escrito às sedes das empresas em Maputo, acabou viajando e regressar de Tete sem que tivesse resposta dos pedidos formulados. Nalguns casos, nas insistências telefónicas, foi informado que as pessoas responsáveis pelas autorizações se encontravam fora de Maputo.

• Pré-disposição das empresas em colaborar – Tratando-se de questões bastante sensível que o estudo se propõe a abordar, mormente os padrões e condições de trabalho na mina, bem como a abertura destas empresas para o diálogo social, o impacto das suas acções de RSE, as empresas tendem a ser pouco abertas para fornecer informações.

• Inoperância de algumas minas – Associado à crise económica internacional que abalou o sector mineiro do carvão, com impacto na queda do preço e os custos logísticos elevados, sobretudo o custo de transporte, algumas empresas (exemplo, IVCL e Minas Moatize) interromperam as operações de extracção de carvão. Este facto teve implicações na recolha de dados, uma vez que nalguns casos (exemplo, Minas Moatize) gestores e trabalhadores da área social se encontravam fora da empresa e o consultor foi recebido por um técnico de minas que não possuía informação detalhada sobre os investimentos sociais da empresa.

Face às dificuldades acima apontadas, o consultor colocou seu foco na recolha e análise de dados, fornecidos por fontes secundárias complementadas com as informações recolhidas através das entrevistas com pessoal-chave que se dignou responder positivamente ao pedido de informação formulado. O presente trabalho constitui o relatório final e tem em vista a apresentação dos resultados da pesquisa sobre a responsabilidade social das empresas mineiras de Tete no contexto do diálogo social.

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3. A INDÚSTRIA EXTRACTIVA EM MOÇAMBIQUE

3.1 Conceito

O presente trabalho propõe-se a estudar a RSE nas empresas do sector mineiro na província de Tete. Assim, torna-se importante delimitar a área de estudo e aclarar, em termos conceptuais, a indústria extractiva.

Segundo Castel-Branco (2010:10), designam-se indústria extractiva todas as actividades de extracção de recursos naturais, sem ou com pouco processamento. Os elementos-chave deste conceito assentam na extracção de recursos naturais. Isto significa que ao extrairmos e usarmos tudo o que provém da natureza estamos perante uma actividade extractiva, sendo industrial quando ela se torna complexa. Dito doutra maneira, o conceito acima não abrange somente os recursos naturais do subsolo (tais como gás natural, carvão e outros tantos minerais), mas também outros recursos da natureza como a madeira e produtos do mar/rios.

No entanto, nosso entendimento da leitura atenta dos Termos de Referência e contactos com o cliente é de que este estudo tem seu foco na indústria extractiva dos recursos minerais. Portanto, não serão abrangidos outros recursos naturais tais como a madeira, produtos do mar/rios, entre outros. Sendo certo que o estudo abrange empresas multinacionais da indústria extractiva de mineração na província de Tete e as empresas subcontratadas.

Aliás, a política de responsabilidade social aprovada através da Resolução 21/2014, que serve de base de referência para o presente estudo, refere-se clara e simplesmente à indústria extractiva dos recursos minerais, cuja tutela é do Ministério dos Recursos Minerais e Energia.

3.2 Desafios da indústria extractiva: o caso do carvão mineral

A descoberta e início da exploração de recursos minerais em Moçambique, em particular o carvão mineral e gás natural, tem colocado grandes desafios ao país. A grande questão que se coloca é como transformar estes recursos em riqueza, não somente para o grande capital que investe avultadas somas de dinheiro para a sua exploração, mas também como uma alavanca de transformação económica onde os moçambicanos no geral e as comunidades locais em particular tiram benefícios destes recursos. SPEED (2013) aponta que transformar a esperada riqueza resultante dos recursos minerais em crescimento económico se torna um desafio para Moçambique devido às fraquezas institucionais, tanto que o país se pode tornar numa outra vítima dos próprios recursos minerais. As decisões políticas que o país tomar hoje vão determinar se Moçambique caminhará para os males da corrupção, doença holandesa, problemas de saúde e impactos ambientais, fracas ligações empresariais, ou se se posiciona como uma história de sucesso onde os recursos naturais estão ao serviço do desenvolvimento sustentável, à semelhança do que acontece no vizinho Botswana, se bem que Botswana goze de vantagens em relação a muitos países de África pelo facto de não ter passado por uma guerra civil nem ter tido um regime colonial explorador. Ele é um exemplo das boas práticas a seguir pelas seguintes razões que podem interessar Moçambique: (i) o Botswana mostra a importância da intervenção precoce das agências doadoras antes do boom para ajudar a preparar o cenário para que o país gerencie a bonança; e (ii) outra parte importante de resposta do Botswana ao seu boom dos diamantes foi o foco e os gastos efectivos dentro do país na área de investimento, inclusive para educação e saúde.

Moçambique é rico em recursos minerais e energéticos. As reservas de carvão mineral são

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social12

estimadas em 6 biliões de toneladas, sendo que a província de Tete possui o maior volume deste mineral. Registam-se, a partir da década de 2000, grandes investimentos por parte das multinacionais Vale, Rio Tinto e outros que investem no total mais de USD 3 biliões na prospecção e exploração deste recurso. Investimentos adicionais, públicos e privados, foram feitos em áreas como desenvolvimento de infra-estruturas logísticas, com destaque para a reabilitação da linha de Sena, que liga Moatize ao porto da Beira; construção da linha Moatize-Nacala; construção do terminal de carvão de Nacala e expansão da capacidade de manuseamento de carga no porto da Beira, abrindo caminho para o aumento da produção e das exportações de carvão, principalmente para o mercado asiático, com a China e Índia a liderarem a procura deste minério.

A conjuntura económica internacional, associada aos problemas logísticos já mencionados acima, que se traduziram na redução do preço do carvão, não somente veio criar prejuízos enormes face aos investimentos efectuados, como também levou a que alguns investidores, como a Rio Tinto, desistissem e se retirassem do mercado, vendendo seus activos e deixando para trás problemas ambientais e criando descontinuidade nos investimentos sociais. Mas, enquanto alguns desistem, outros continuam a acreditar nesta indústria, adquirindo activos e efectuando incrementando nos seus investimentos na expectativa de que o mercado venha a melhorar. É assim que se assiste a uma contínua procura de oportunidades de negócio neste sector, com a entrada de novos players no mercado de carvão, muitos dos quais na fase de estudos de viabilidade e desenvolvimento. A Vale Moçambique, por sua vez, continua a operar mesmo registando prejuízos económicos no negócio de mineração de carvão.

O carvão, para além de constituir uma importante fonte de energia para alimentar as usinas de fundição de ferro, daí a sua contínua procura, oferece oportunidades para a produção de energia eléctrica, a partir do carvão térmico, e produção de combustíveis líquidos. Por isso, alguns dos investidores têm nos seus planos projectos de produção de energia para abastecer a mina e para a rede de distribuição nacional.

3.3 Produção mineira e principais operadores em Tete

A província de Tete possui um potencial enorme de recursos minerais, entre eles o carvão, minério de ferro, pedras preciosas, entre outros na fase de prospecção. O carvão mineral conhece desde 2011 uma extracção massiva. O relatório da ITIE (2013) aponta que a produção de carvão atingiu o seu pico em 2013 (6 milhões de toneladas, sendo uma tonelada a mais comparativamente ao ano anterior). O relatório refere ainda que a indústria carbonífera em Moçambique sofre um revês a partir de 2014 devido, primeiro, a problemas logísticos, em que a capacidade de produção instalada era quatro vezes superior à capacidade de escoamento do carvão e, segundo, devido à conjuntura internacional associado à queda dos preços internacionais deste minério. Por isso, a produção total de carvão em 2014 caiu drasticamente para metade (3 milhões de toneladas) comparativamente ao ano anterior, o que implicou redução dos investimentos sociais. O transporte de carvão era feito através da linha de Sena, com capacidade, após a reabilitação, de 7 milhões de toneladas ano, e via rodoviária (a partir da mina de Chirodzi operada pela Jindal).

Em busca de soluções para os problemas logísticos, a mineradora Vale, em parceria com os Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) e a multinacional japonesa Mitsui, investiu USD 4.4 mil milhões na construção de uma linha férrea de 912 km ligando Moatize, na província de Tete e Nacala-Porto, na província nortenha de Nampula, atravessado o vizinho Malawi, numa extensão de 88 km. Para além da linha, o investimento inclui a construção de um terminal de

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social 13

Mina e início de produção Empresa concessionária actual Capacidade InvestimentoMina de Carvão de Moatize (2011)

Vale Moçambique 22 Mtpa USD 2 mil milhões

Projecto de Carvão de Benga (2012)

ICVL 2 Mtpa USD 1.2 mil milhões

Projecto de Marara (2013) Jindal África 2 Mtpa USD 180 milhõesProjectos Minas Moatize (2011) Beacon Hill Resources (BHR) 2,35 Mtpa USD 42 milhões

Quadro 1: As minas abertas

Fonte: ITIE (2013); Intellica (2015)

3.5 As empresas de mineração em Tete

Nesta secção apresenta-se de forma detalhada o perfil das empresas mineradoras que exploram carvão na província de Tete.

Vale Moçambique

A Vale Moçambique é uma das maiores empresas do sector de carvão em Tete, senão a maior, e é detida em 85% pela multinacional brasileira Vale SA, com interesses no sector mineiro desde a sua fundação em 1942. Esta multinacional inicia as suas incursões em Moçambique na década de 2000 e só viria a arrancar com a exploração mineira do carvão em 2011 na mina de Moatize, na província de Tete, após um período de prospecção e estudos de viabilidade que começa em 2004.

Para o desenvolvimento da mina de Moatize, com uma capacidade de 22 Mtpa, a Vale Moçambique investiu cumulativamente perto de USD 2 mil milhões, sem incluir os USD 4,4 mil milhões que a Vale Moçambique e seus parceiros aplicaram na construção da linha Moatize-Nacala e na construção do terminal de Carvão em Nacala-Porto (Intellica, 2015). Segundo dados do balaço da Vale (2013b), a empresa chegou a empregar 13.000 pessoas entre trabalhadores próprios e de terceiros, sendo 89% do sexo masculino e 11% do sexo feminino. A contribuição da Vale no emprego dos moçambicanos atinge 85% (em 2013 e 2014) e os moçambicanos em cargos de direcção chegaram a 35% (em 2013).

carvão em Nacala, sendo que o Corredor Logístico Integrado de Nacala tem uma capacidade instalada para 22 e 18 milhões de toneladas/ano da linha e terminal de carvão, respectivamente.

3.4 Mineração de carvão em Tete

Na província de Tete existe menos de uma dezena de empresas envolvidas no sector mineiro e que têm interesse na exploração do carvão mineral. Algumas encontram-se com as actividades na fase de implantação (e, portanto, sem actividades de extração) e outras paralisadas devido á crise que se abateu sobre a economia mundial, com impacto na queda do preço do carvão no mercado internacional e, consequentemente, na redução dos ganhos de exportação. O quadro 1 apresenta as minas de carvão abertas na província de Tete, destacando o ano em que iniciam as operações, a concessionária, capacidade anual de extracção e o investimento efectuado.

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social14

O Estado moçambicano, representado pela Empresa Moçambicana de Exploração Mineira (EMEM), é o sócio minoritário com 5% das acções da Vale Moçambique. Outros 10% das acções da Vale são detidos por investidores privados moçambicanos. A fraca participação dos moçambicanos fica a dever-se a volumes elevadíssimos de investimentos que são necessários.

Parte dos desafios que a Vale antevia para o período 2014/2015 já foi ultrapassada com a conclusão da linha e início de exportação de carvão a partir do porto de Nacala, pois muitos estavam associados a problemas logísticos para o escoamento de carvão. Ficam os desafios de aumento da produção e das exportações, pois dependem de outros factores externos à organização que têm a ver com o comportamento do mercado internacional no qual este minério é transaccionado.

International Coal Ventures Private Limited (ICVL)

Por iniciativa do Ministério do Aço, o Governo da Índia criou a International Coal Ventures Private Limited como uma ioint-venture de cinco empresas, nomeadamente a estatal Steel Authority of India Limited (SAIL), as privadas Coal India Limited (CIL), Rashtriya Ispat Nigam Limited (RINL), NMDC Limited e NTPC. O Estado indiano detém, através da SAIL, 70% da ICVL e os restantes 30% são detidos pelas empresas privadas acima mencionadas. A ICVL foi criada estrategicamente para assegurar o fornecimento de cerca de 500 milhões de toneladas de carvão à sua indústria metalúrgica indiana em franco crescimento, com importações de carvão de alta qualidade, e também aparece como uma estratégia de internacionalização, capacitação e inspiração do sector privado local no conhecimento e exploração do negócio de mineração de carvão no mercado global.

A ICVL comprou da Rio Tinto, em Outubro de 2014, a mina de carvão de Benga, localizada no distrito de Moatize, na província de Tete. À data de visita no âmbito deste estudo, a ICVL encontrava-se com a exploração de carvão paralisada desde Novembro de 2015. Porém, nenhum dos seus 385 trabalhadores (dos quais 18% mulheres) perderam contrato devido a

essa paralisação. A paralisação afectou, sim, as empresas subcontratadas e seus respectivos trabalhadores. A ICVL emprega maioritariamente (94%) profissionais moçambicanos, que estão também representados em cargos de direcção.

O mercado internacional do carvão foi determinante na paralisação e a empresa está a projectar o reinício da exploração para Outubro de 2017, após quase dois anos de paralisação. A ICVL projecta construir uma planta de transformação de carvão em combustíveis líquidos, uma central termoeléctrica com uma capacidade de 300 megawatts e aumentar progressivamente a extracção de carvão até atingir 13 milhões de toneladas.

Jindal África (JSPL)

A Jindal África é detida pela gigante indiana Jindal Steel and Power Limited (JSPL), presente nos sectores de aço, energia, mineração e infra-estruturas. É importante notar que a JSPL faz, por sua vez, parte do grupo OP Jindal, com capital estimado em USD 18 biliões.

A Jindal África inicia as operações em 2013 na mina de carvão de Chirodzi, distrito de Marara, na província de Tete. Esta mina de carvão a céu aberto, com uma reserva comprovada de 700 milhões de toneladas (MT) e uma vida útil esperada de 25 anos, iniciou operações em sua mina

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social 15

de carvão de 10 Mtpa, com a produção de 3 MT na primeira fase, durante o primeiro trimestre de 2013.

Durante o primeiro trimestre de 2013, a Jindal conseguiu fazer avanços significativos nas suas operações mineras, ao conseguir escoar e embarcar 36 mil toneladas de carvão de coque e de carvão térmico de alta qualidade.

Um dos grandes desafios da Jindal prende-se com os problemas logísticos para o escoamento do carvão. O escoamento via camiões não é competitivo comparativamente ao transporte ferroviário ou através de viaduto. A construção de um pipeline entre Chirodzi e porto da Beira está sendo considerada nos planos da empresa, de tal ponto que um projecto nesse sentido foi submetido ao Governo moçambicano para aprovação.

Com a expansão e desenvolvimento de infra-estruturas portuárias, mormente a expansão da actual capacidade do porto da Beira para cerca de 20 MT, o desenvolvimento da capacidade do porto de Nacala para atingir as 40 TM e a construção do porto de Macuzi, na província da Zambézia, a Jindal acredita numa exportação de aproximadamente 30 Mtpa até 2025.

Refira-se que a Jindal África tem nos seus planos de longo prazo a construção de duas usinas eléctricas. A primeira estação consistirá em duas unidades de 21 MW cada, o que perfaz uma potência total de 42 MW, sendo que a maioria será usada para o consumo operacional na mina de Chirodzi. Posteriormente, vai instalar uma planta de duas unidades com 70 MW de potência cada, gerando uma potência total de 140 MW.

Trabalham na mina de Chirodzi 1200 pessoas, maioritariamente nas empresas subcontratadas. A maioria são profissionais moçambicanos incluindo os recrutados nas comunidades locais do distrito de Marara.

Beacon Hill Resources

A Beacon Hill Resources PLC, juntamente com suas subsidiárias, está envolvida em actividades de mineração de carvão e exploração mineral no Reino Unido, Moçambique, África do Sul e Austrália. O projecto emblemático da empresa é o de carvão de coque da Minas Moatize, que é uma mina de carvão localizada no distrito de Moatize, na província de Tete.

As suas operações em Moçambique datam de 2011, depois de adquirir a mina anteriormente operada pela Carbomoc. Porém, devido á crise financeira internacional que afectou negativamente o preço do carvão e aos custos elevados de exploração, a empresa suspendeu suas actividades em Outubro de 2013. Com a sua sede em Johannesburg, África do Sul, consta que a Beacon Hill Resources Plc está em processo de liquidação.

Um aspecto a notar é que, apesar de ter dispensado seus 148 trabalhadores, estes continuam a receber seus honorários em 100%, estando à espera de melhores dias sentados em casa. A empresa tem conseguido suportar os salários graças às vendas anuais estimadas em 30.000 toneladas de carvão, que resultam das reservas de carvão que empresa mantém acumuladas. As vendas são a FOB e os compradores provêm dos países vizinhos (Zimbabwe, Malawi e Zâmbia) para onde o carvão é escoado via terrestre.

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social16

Mina e início de produção Empresa concessionária actual

Capacidade Plano de investimento

Projecto de carvão em Tete Eta Star Moçambique, AS

10 Mtpa de carvão USD 250 milhões

Projecto de carvão de Revuboé

Talbot Group Holdings/ Nippon Steel Group/Posco Group

5 Mtpa USD 600 Milhões

Projecto de Kokwe Midwest África 7.2 Mtpa USD 757,69 milhõesENRC ENRC USD 500 milhões Projecto de carvão de Ncondezi

Ncondezi Energy 7,2 Mtpa de carvão e a instalação de uma central térmica com a capacidade inicial de 300 MW a 600 MW

USD 288 milhões na fase inicial

Quadro 2: As minas em desenvolvimento2

Fonte: ITIE (2013)

2Não foram encontrados registos de acções de responsabilidade social destas empresas em Tete, pois encontram-se ainda na fase de prospecção e desenvolvimento.

3.6 Projectos em desenvolvimento na província de Tete

Outros projectos de exploração de carvão mineral que estão em desenvolvimento em Tete incluem a construção duma central térmica para a produção de energia. No quadro 2, abaixo, destacamos apenas alguns projectos, seus investidores, capacidade de produção anual esperada e os respectivos planos de investimentos.

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social 17

4. RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL

4.1 Conceito

O conceito de RSE é relativamente novo. Data dos primórdios do século XX e a sua génese está associada ao surgimento do filantropismo. Com a crise industrial da primeira metade do século XX, o conceito de RSE passou a incorporar os anseios dos agentes sociais nos planos de negócios das empresas, sendo que, além do filantropismo, desenvolveram-se conceitos de voluntariado empresarial, cidadania corporativa, responsabilidade social empresarial e, por último, o conceito de desenvolvimento sustentável.

É importante distinguir a responsabilidade social empresarial do filantropismo. Segundo Mendonça e Gonçalves (2004:117), a responsabilidade social difere da filantropia porque reflecte consciência social e dever cívico. As diferenças entre filantropia e responsabilidade social são demarcadas no quadro abaixo.

Filantropia Responsabilidade socialAcção individual e voluntária Acção colectiva Fomento da cidadania Fomento da caridadeBase assistencialista Base estratégicaRestrita a empresários filantrópicos e abnegados Extensiva a todosPrescinde de gerenciamento Demanda gerenciamentoDecisão individual Decisão consensual

Quadro 3 – Diferenças entre filantropia e responsabilidade social

Na essência, o conceito de RSE deve ser visto em dois momentos históricos. O primeiro vai do início do século XX até aos anos 1950. Neste período, o conceito de RSE esteve associado inteiramente à função económica das empresas, ou seja; a capacidade destas em gerar lucro, criar emprego, pagamento de impostos e cumprimento das obrigações legais. O segundo período, vai dos anos 1950 aos dias de hoje. Neste segundo período, o conceito de RSE evoluiu para além de uma função puramente económica. Ele passa a incorporar uma perspectiva de desenvolvimento sustentável, ou seja, inclui as dimensões ambiental e social. Neste novo quadro da reconceptualização da RSE, o objectivo das empresas é obter crescimento económico por via da preservação e pelo respeito dos anseios dos diferentes agentes sociais, com último objectivo de contribuir para a melhoria da qualidade de vida das sociedades.

Assim, a RSE pode ser definida como a actuação legítima e voluntária das empresas com a comunidade externa e interna na qual ela está inserida, ou seja, o envolvimento das empresas em actividades e acções que possam contribuir para manter ou aumentar o bem-estar social (Mendonça e Gonçalves, 2004:116).

No âmbito da Política de RSE para a Indústria Extractiva dos Recursos Minerais (Decreto 21/2014), o conceito usado baseia-se na Norma ISO26000 da Organização Internacional da Normalização, que define a RSE como a responsabilidade de uma empresa pelos impactos das suas decisões e actividades na sociedade e no meio ambiente, através de um comportamento transparente e ético que contribua para um desenvolvimento sustentável, incluindo saúde e o bem-estar da sociedade; que tenha em consideração as expectativas das partes interessadas; esteja em conformidade com a legislação aplicável e seja consistente com as normas internacionais

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social18

e condutas; e esteja integrado com toda a organização e seja praticado nas suas relações (Domingos, 2014).

Seja qual for a definição, o facto é que as empresas são chamadas a serem social, económica e ambientalmente responsáveis e que contribuam para as comunidades à volta das zonas onde elas operam.

4.2 Relação entre RSE e diálogo social

Como foi anteriormente referido, o estudo deve reflectir sobre a relação entre RSE e diálogo social, sobretudo o alcance sobre como os aspectos da RSE são ou podem ser incorporados na agenda do diálogo social no FOCCOS, com enfoque na província de Tete. Em que, se é verdade que as actividades das empresas, sobretudo as empresas mineiras, afectam o ameio ambiente no qual elas operam, também será verdade que as operações destas mineradoras afectam os trabalhadores na própria mina e têm influência nas ligações económicas com outras empresas, através de cadeias de valor.

Do ponto de vista conceptual e prático, enquanto o diálogo social pode incluir todo o tipo de negociações, consultas ou simplesmente troca de informações entre representantes do Governo, empregadores e trabalhadores sobre assuntos de interesse comum relacionadas com política social e económica, a responsabilidade social das empresas, por seu turno, não substituiu o diálogo social; pelo contrário, a responsabilidade social das empresas complementa o diálogo social e a RSE pode ser usada como um instrumento para alcançar acordos transnacionais entre sindicatos (Federações Internacionais) e as multinacionais. Assim, a responsabilidade social das empresas pode ser um instrumento que as organizações (sobretudo sindicatos) podem usar para identificar problemas, pressionar as empresas para melhorias e trabalho conjunto construtivo.

4.3 RSE em Moçambique: caso do sector mineiro

Estudos sobre RSE em Moçambique, com especial enfoque no sector mineiro, são escassos. Um dos importantes estudos que destacam a prática da RSE em Moçambique é da autoria de CEPKA et al (2014), intitulado “A Gestão da Responsabilidade Social das Empresas em Moçambique”. O estudo pretende contribuir para uma cada vez maior colaboração entre actores privados e públicos no âmbito do desenvolvimento sustentável. Num primeiro plano, o estudo faz uma breve contextualização da prática de RSE em Moçambique, que foi caracterizada por acções de cariz filantrópico baseadas em parcerias entre comunidade, empresas e Governo.

Em grande medida, estas acções poderiam estar enquadradas na Lei 4/94, de 13 de Setembro, Lei do Mecenato, cujos objectivos preconizam o estabelecimento de princípios básicos que permitem estender a acção das pessoas jurídicas e singulares ou colectivas, público-privadas que desenvolvem acções financeiras e apoiem materialmente no campo das artes, letras, cultura e acção social as demais associações ou entidades públicas ou privadas constituídas que desenvolvem actividades sem objectivos de proselitismo, confessional ou partidário, sem fins lucrativos. Por outro lado, as acções de cariz de responsabilidade social de índole filantrópica eram realizadas em resultado das experiências das empresas internacionais, citando um relatório de Fevereiro e Março de 2007 realizado pela KPMG. No fundo, esta lei suporta actividades meramente filantrópicas e não de SER, conforme se pode verificar em CEPKA et al (2014).

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social 19

Embora não exista uma lei sobre RSE das empresas em todos os sectores da economia, um estudo do Pacto Global em Moçambique mostrou que tem crescido o nível de consciência das empresas e homens de negócios sobre a RSE. As evidências foram trazidas pelos resultados da pesquisa do Pacto Global, em que 92,0% das empresas revelaram que realizam as acções de RSE e 68,0% dos seus planos indicavam a existência de actividades para a extensão da responsabilidade social. Outras evidências revelaram que os trabalhadores são os mais importantes grupos interessados (stakeholders) nas empresas quanto às acções de RSE, pois 58,8% consideram que os trabalhadores são os maiores beneficiários das actividades de responsabilidade social das empresas, seguindo-se os accionistas em 43,9%, sendo a origem dos recursos alocados ás actividades da RSE. No entanto, existem evidências segundo as quais 71,1% das companhias estudadas pelo Pacto Global não vêem incentivos adicionais para se comprometerem em actividades de RSE.

Sobre o sector mineiro, Castel-Branco (2009) refere que o que tem sido retido em forma de fundos e projectos sociais locais é muito pouco e abaixo de 1% dos saldos comerciais dos grandes projectos e inferior a 1,5% das transferências destes projectos para o exterior. Acrescenta que estes projectos gozam de paraíso fiscal, o que não permite a retenção de significativos recursos pela economia nacional.

Além disso, Castel-Branco (2008, 2009) acrescenta que muitas actividades e projectos sociais são definidos e implementados sem participação activa das comunidades locais, tornando as acções de RSE pouco relevantes para responder aos desafios de desenvolvimento local. As comunidades não estão devidamente organizadas, o que torna a sua participação menos efectiva.

4.4 O quadro legal sobre a responsabilidade social

A Política sobre a Responsabilidade Social Empresarial da Indústria Extractiva dos Recursos Minerais (Decreto 21/2014) inspira-se na Lei-mãe (Constituição da República), alínea c) do art. 11, que defende a edificação duma sociedade de justiça social e criação de bem-estar material, espiritual e de qualidade de vida dos cidadãos.

O objectivo desta política é assegurar os benefícios da indústria extractiva a favor do desenvolvimento social e económico dos moçambicanos, através do estabelecimento de um regime fiscal que seja justo para todos (investidores e Estado moçambicano), desenvolvimento de infra-estruturas e encorajamento das empresas mineiras a incluir nos seus planos acções de responsabilidade social.

Nessa base, a política define um conjunto de princípios que têm em vista a concretização dos seus objectivos. Um aspecto importante que a política advoga é a consulta às comunidades afectadas pelas acções de mineração, fornecendo-lhes oportunidades de formação, comunicação eficaz, alinhamento destes programas com as necessidades e anseios das comunidades e a participação de todos (homens, mulheres e jovens) e preservando os interesses de pessoas da terceira idade e das crianças.

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social20

4.5 Aspectos-chave da política de RSE no sector mineiro

A política de responsabilidade social do sector mineiro foi recentemente aprovada através do Decreto 21/2014. Ela surge da necessidade de harmonizar as acções de RSE com as políticas de desenvolvimento sustentável do país e assenta em quatro principais diretrizes ou acções estratégicas que resultaram de um processo amplo de auscultação ao nível nacional, nomeadamente (i) envolvimento e participação das partes interessadas na tomada de decisão no âmbito dos investimentos sociais; (ii) necessidade de coordenação dos investimentos sociais das empresas; (iii) envolvimento das partes interessadas, incluindo as comunidades locais, no monitoramento dos investimentos sociais; (iv) estabelecimento de mecanismos para apresentação das reclamações e resolução de conflitos.

Esta política apresenta os princípios gerais e orientadores sobre os investimentos sociais das empresas que exploram os recursos minerais, bem como objectivos, princípios e estratégias para o alcance dos objectivos da política.

A política de RSE para o sector extractivo dos recursos minerais foca nos objectivos de redução da pobreza e desenvolvimento sustentávei, bem como no enquadramento dos investimentos sociais das empresas mineiras nos objectivos e programas de desenvolvimento, com destaque para os planos de desenvolvimento local.

Para além disso, a política estabelece onze princípios que devem ser observados, nomeadamente (i) dignidade humana, estabilidade social e direito ao processo; (ii) cumprimento da lei, transparência e responsabilização; (iii) justiça e equidade; (iv) igualdade de género; (v) consulta e participação; (vi) integração e complementaridade; (vii) responsabilidade ambiental e partilha de benefícios; (viii) valorização e respeito pela cultura, costumes e valores locais; (iv) integração com as políticas e estratégias do Governo; (x) integração com as normas, convenções e estratégias internacionais e regionais; e (xi) monitoria e avaliação.

Em 2016, o Ministério dos Recursos Minerais e Energia elaborou um guião (espécie de regulamento) que veio a ser aprovado através do Diploma Ministerial n.º 8/2017, de16 de Janeiro, cujo objectivo é estabelecer os procedimentos para a implementação da Política de Responsabilidade Social Empresarial para a Indústria Extractiva de Recursos Minerais. O guião estabelece regras para os investimentos sociais, mormente a questão de desenvolvimento pelas empresas mineiras, com envolvimento das comunidades locais e com aprovação do governo local, de um Plano de Investimento Social, que é um documento escrito sob forma de Memorandum de Entendimento (MOU) ou Acordo de Desenvolvimento Local (ADL), conforme se é na fase de propensão ou operação pequena ou grande operação, respectivamente.

O guião define a forma como o valor do investimento social é estabelecido (que pode ser através dos contratos, concessão ou MOU assinado pelo MIREME e a empresa mineira, ou através de MOU/ADL assinado entre o Governo provincial/distrital e a empresa mineradora), bem como os prazos para a submissão pela empresa (sendo 90 dias após recepção da licença) e de aprovação pelo Governo (30 dias após a recepção do documento) do acordo ou memorando, bem como os procedimentos a observar na fase de encerramento duma actividade mineira.

O guião determina os elementos que devem fazer parte do acordo. Para além do valor e validade (5 anos), devem constar dos acordos/MOU a natureza e características do investimento social e respectivos indicadores, estrutura de governação e tomada de decisões, definindo termos de referência para as partes integrantes do MOU, as suas responsabilidades, assim como os mecanismos de resolução de conflitos.

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social 21

O guião enfatiza a necessidade de desenvolvimento económico local, através de harmonização das acções de RSE com os planos de desenvolvimento locais e provinciais e priorizar o desenvolvimento do capital humano, as ligações empresariais locais e a geração de emprego produtivo, com desenvolvimento de parcerias no domínio de desenvolvimento de empresas moçambicanas para o fornecimento de bens e serviços, dotando-as de maior competência técnica e competitividade comercial; desenvolvimento de actividades económicas paralelas e complementares aos empreendimentos mineiros; e desenvolvimento da capacidade dos fornecedores locais e para o cumprimento das normas internacionais de qualidade e certificação na prestação de serviços e fornecimento de bens.

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social22

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social 23

5. Empresas mineradoras e suas subcontratadas

5.1 Avaliação da implementação da política de RSE nas empresas

A Política de Responsabilidade Social para o Sector Extractivo dos Recursos Minerais é, como dissemos, muito recente (2014), sendo que, a sua operacionalização, através do guião produzido em 2016 pelo Ministério dos Recursos Minerais e Energia, encontra-se ainda na sua fase de divulgação. Embora o guião esteja presente em todas as províncias, o seu conhecimento pelas partes interessadas (empresas, governos e comunidades locais) representa ainda um desafio enorme. Reconhecendo esse desafio, o MIREME projectou duas acções cuja implementação irá impulsionar o investimento social das empresas mineiras. Por um lado, o MIREME reconhece ter dado um passo importante ao elaborar a política e o respectivo guião, num processo amplamente participativo, do nível local ao nacional. Porém, não criou ainda capacidades nem estruturas de gestão para lidar com a implementação da política. Por isso, está em processo a criação de um gabinete de gestão de contratos que vai agregar as actividades sobre RSE das empresas mineiras. A partir desta altura, o MIREME terá uma equipa interna para analisar os acordos assinados com as empresas mineiras e os compromissos assumidos no âmbito dos investimentos sociais e monitorar a sua implementação. Até agora, desde que a Lei foi aprovada não se fez ainda a avaliação da política. O MIREME considera ainda cedo fazer-se a avaliação duma política cuja regulamentação só entrou em vigor recentemente (2017).

O segundo passo importante que vai contribuir para a materialização dos objectivos da política é o financiamento, através de fundos do Banco Mundial, do Plano de Implementação das Acções de Responsabilidade Social para três anos, elaborado pelo MIREME. Este plano vem responder ás limitações dos diferentes stakeholders, sobretudo o Governo, para fazer a monitoria dos investimentos sociais no país, e acredita-se que com o seu financiamento se podem conseguir impactos económicos e socias consideráveis resultantes da implementação das acções de RSE.

Portanto, ainda não foram criadas as capacidades tanto ao nível central, através do MIREME e outras instituições do Estado, como ao nível provincial, para a implementação efectiva da política de RSE nas empresas mineiras. Há necessidade de criação de estruturas de gestão, estabelecimento de grupos de monitoria, capacitá-los em matérias de monitoria e avaliação e providenciar os meios logísticos necessários para o acompanhamento.

Desta forma, os objectivos da política ainda não estão materializados nas empresas mineradoras. O Governo e as comunidades locais em Tete não estão ainda satisfeitos tanto do ponto de vista do impacto destas acções de RSE na economia local como em termos de participação efectiva na tomada de decisão de investir numa determinada área, bem como na alocação de recursos disponíveis.

5.2 Alinhamento dos planos de RSE das empresas com a política

Como dissemos, Política de Responsabilidade Social para Indústria Extractiva dos Recursos Minerais é nova e as empresas vêm realizando as acções de RSE muito antes da aprovação da actual política. Aliás, a actual política foi elaborada em resposta à necessidade de alinhar os investimentos sociais que estavam a ser feitos por estas empresas sem respeitar as políticas e prioridades do Governo e que em alguns casos acabavam criando constrangimentos ao próprio Governo, ao induzir, através destes investimentos, uma despesa corrente inesperada e, às vezes, em áreas não prioritárias.

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social24

A política veio, de certa forma, tentar disciplinar a forma como estes investimentos eram planificados e realizados. Para além serem investidos fora das prioridades de desenvolvimento local e longe das demandas das comunidades afectadas, os montantes envolvidos eram desconhecidos e, por isso, a sua monitoria também se tornava impossível, sem informação e sem abertura para a participação das comunidades. À luz da nova política, os contratos mineiros prevêem planos de desenvolvimento social que são resultado de acordos de cavalheiros entre o Governo, em representação das comunidades afectadas, e as empresas mineiras. A consulta às comunidades locais e estabelecimento de canais claros de comunicação e mecanismo de resolução de conflitos faz parte das atribuições da política. Fica o desafio de capacitar os actores que deverão acompanhar a implementação das políticas de RSE incluídas nos contratos e outros instrumentos de gestão.

Na província de Tete, existe já uma comissão provincial de monitoramento dos investimentos sociais, incluindo as questões sobre o reassentamento, dirigida pelo secretário permanente da província. No entanto, uma monitoria eficaz carece do financiamento do plano desenvolvido no MIREME, que contempla, entre outras, acções de formação dos principais actores em matéria de monitoria e avaliação.

Uma boa parte das actividades dentro da mina é executada por empresas subcontratadas, que também tiram benefícios dos recursos minerais. Estas empresas investem muito pouco na área social e a própria política de RSE é omissa quanto ao papel que as empresas subcontratadas nas diferentes cadeias de valor da indústria extractiva podem jogar no desenvolvimento social local, lado a lado como as empresas mineiras e cobertas pela política.

5.3 Políticas e práticas de RSE

As empresas multinacionais que exploram recursos minerais em Tete tendem a alinhar as suas políticas locais de responsabilidade social como as da empresa-mãe e, nalguns casos, produzem relatórios globalizados, reportando os seus investimentos sociais no mundo, o que às vezes torna difícil destrinçar os valores investidos nos diferentes pontos onde possuem operações mineiras. O facto é que estas empresas são avaliadas por critérios de sustentabilidade e protecção ao meio ambiente, bem assim como pela sua contribuição no desenvolvimento económico sustentável, envolvendo as comunidades locais, daí que lhes interessa produzir relatórios globalizados.

Desta forma, não tem sido usual que estas multinacionais tenham políticas de responsabilidade social empresariais escritas especificamente para Moçambique e adaptadas ás políticas do país. Durante as entrevistas foi relevado que as acções de RSE que as empresas desenvolvem e os montantes investidos estão previstos no contrato mineiro que cada mineradora assina com o Governo. O que estas empresas fazem é a operacionalização do Plano de Desenvolvimento Social em Plano de Acção e implementável anualmente, reportando os progressos ao Governo.

As acções de responsabilidade social cobrem diversas áreas e podem variar de empresa para empresa, conforme ilustra o quadro abaixo:

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social 25

ICVL Vale Moçambique Jindal África Minas Moatize

- Apoio institucional (viaturas, equipamentos e capacitações) em benefício de instituições do Governo;

- Agricultura e segurança alimentar (disponibilização de sementes melhoradas, fertilizantes e bombagem de água para irrigação, construção de armazém agrícola)

- Saúde e nutrição (reabilitação de hospitais e provimento de equipamentos hospitalares)

Saúde e segurança (promoção de acções de saúde e segurança a partir campanhas de segurança rodoviária, ferroviária e nas obras).

Saúde (construção de unidades sanitárias, programa de combate á às malária, doação de ambulâncias)

Meio ambiente (viveiro de mudas para distribuição às comunidades e instituições, reciclagem de 80% da água usada na mina, criação dentro da concessão duma área de protecção de 8 mil ha)

Cadeia de valor (contratação de empresas moçambicanas locais para fornecer bens e serviços à Vale)

Programas de geração de renda e apoio (apoio às comunidades na produção de frango e culturas de rendimento e fruteiras, inseminação artificial de gado, doação de bicicletas à população de Cateme)

Educação e desporto (capacitação de membros da comunidade em cursos técnicos – carpintaria, electricidade, construção civil, corte e costura e

Educação (construção de escolas e provimento de fardamento escolar)

Abastecimento de água (abertura de furos de água)

Saúde e nutrição (apoio em medicamentos hospitalares e disponibilização de clínica móvel para combater surto de doenças nas comunidades e atendimento a título grátis dos membros da comunidade na clínica do acampamento)

Agricultura e segurança alimentar (doação de sementes melhoradas e compra da

Educação (electrificação duma escola)

Abastecimento de água (disponibilização de água bruta bombeada do rio para os tanques da empresa e usada nas operações mineiras, sendo que parte da água é disponibilizada às comunidades para lavar e banho)

Outros (disponibilização de carvão que as comunidades usam nas fundições de tijolo)

-Abastecimento de água e saneamento (abertura de furos de água)

-Desporto e educação (reabilitação de escolas, provisão de carteiras, apoio aos eventos desportivos e equipamentos desportivos)

serviços domésticos; construção dum centro desportivo – campo de futebol 11, pista de atletismos e infra-estrutura; formação de mão-de-obra moçambicana em várias especialidades – manutenção industrial, operadores de equipamento mineiro, eng. ferroviária, especialização em saúde e segurança e mestrado em eng. mineral)

Comunicação (produção da Revista V+ e apoio ao programa de rádio em língua local de Tete)

Emprego e género (em 2013, a Vale contava com 13 mil trabalhadores, dos quais 85% moçambicanos, 11% mulheres e 35% moçambicanos na direcção da empresa

produção local, incluindo cabritos para confeccionar no centro social)

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social26

As acções acimas são implementadas ao longo de vários anos (o guião da política define ciclos de 5 anos). Por exemplo, a ICVL revelou que no seu Plano de Desenvolvimento Social, que cobre as actividades constantes do quadro acima, está previsto um orçamento para os primeiros cinco anos de USD 3,2 milhões. Até à data da entrevista, a empresa tinha desembolsado USD 1.7 milhões (53%), sendo o investimento mais recente a construção e entrega de uma casa agrária no distrito de Moatize, entregue á Direcção Distrital de Agricultura local.

O gráfico abaixo ilustra os investimentos sócio-ambientais da Vale Moçambique entre 2011 e 2013. Neste período, a Vale investiu em Moçambique um total de USD 77,3 milhões, dos quais 74% (USD 56.9 milhões) em acções de responsabilidade social. Em 2013, os investimentos sociais da Vale foram distribuídos nas seguintes áreas: infra-estruturas (USD 12,7 milhões); desenvolvimento humano (USD 8 milhões); e gestão de impactos (USD3 milhões).

5.4 Estrutura de gestão de RSE

A gestão das acções de responsabilidade social e ligação com as comunidades nas empresas mineiras de Tete é feita através de equipas dedicadas da empresa, sem inclusão dos sindicatos nem associações empresariais. Estas empresas possuem áreas e equipas que cuidam da área social, sendo variável a designação que cada empresa adopta e as áreas que cada empresa abarca. No caso da ICVL, esta unidade designa-se de Relações Comunitárias e Desenvolvimento Social e agrega três áreas, nomeadamente Área de Reassentamento, Área de Desenvolvimento e a Área de Envolvimento Comunitário, e conta com 13 técnicos.

A Jindal apresenta um modelo peculiar em que parte dos integrantes do sector social da empresa é recrutada em cada bairro como forma de permitir uma melhor ligação empresa-comunidades locais.

A Vale tem uma fundação através da qual muitas das acções de RSE são tornadas efectivas e, nalguns casos, trabalha em parceria com outras organizações.

Estas unidades são, regra geral, de implementação e monitoria, dado que as decisões sobre os investimentos sociais, tanto em termos de áreas e montantes, fazem parte de um acordo entre

Figura 1- Investimentos sócio-ambientais da Vale Moçambique (2011-2013)

Fonte: Vale (2013a)

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social 27

as empresas e o Governo. As unidades trabalham com as comunidades para a operacionalização em termos de projectos específicos prioritários e a sua localização geográfica.

Importante notar que as acções de responsabilidade destas empresas não se esgotam apenas em Tete, onde é extraído o carvão. Elas têm um carácter nacional, dado que estas empresas estão sediadas na capital (Maputo) e têm activos noutras províncias, como por exemplo Sofala e Nampula.

5.5 Acções de RSE nas empresas fornecedoras

Uma das características das operações mineiras é a subcontratação de empresas para prestar serviços, incluindo a própria extracção dos minérios. Estas empresas são seleccionadas com base em concurso público e, uma vez seleccionadas, as empresas vencedoras celebram contrato com a empresa mineira, no qual estão descritos os termos de contrato.

Nota-se, porém, que as várias empresas subcontratadas (nacionais e estrangeiras) não têm programas de responsabilidade social fortes em Tete, apesar de estarem também na comunidade e a tirar benefícios da exploração dos recursos minerais aí existentes.

Estas empresas apoiam as comunidades locais em pequenas acções tais como a disponibilização de máquinas para trabalhos comunitários. Estas empresas, regra geral, não têm assinado nenhum acordo com Governo nem com as comunidades sobre o compromisso de fazer investimentos sociais nas comunidades.

O facto é que algumas empresas se consideram demasiado pequenas para participar nas acções de RSE. Há uma percepção errada de que a RSE é assunto das grandes empresas.

5.6 Percepção dos stakeholders sobre RSE

A percepção de que a RSE é assunto das grandes empresas é, por sinal, corroborada pelos líderes associativos empresariais e sindicais. O CEP de Tete refere que, para além de melhorar os seus programas sociais, as grandes empresas deveriam abrir portas para a contratação das PME locais. Os sindicatos acham que as empresas deviam aumentar os seus investimentos na área de abastecimento de água em Moatize e na saúde.

De ponto de vista de participação nos investimentos sociais, as associações empresariais representadas pela CTA/CEP e organizações sindicais, representadas pela OTM-CS/CONSILMO, não têm nenhuma influência, dado que não são envolvidas nos fóruns onde se decidem e se monitoram as acções sociais das empresas mineradoras.

Sabe-se que as empresas lidam directamente com o Governo e com as comunidades beneficiárias. A CONSILMO entende que a chegada de muita gente à vila de Moatize/Tete, atraída tanto pelas oportunidades nas minas de carvão e pelo interesse em desenvolver negócios fora da mina, elevou significativamente o número da população residente, o que torna os serviços de abastecimento de água, saúde e educação bastante pressionados. Porém, porque os sindicatos não são envolvidos nos fóruns que decidem sobre os investimentos sociais, não têm como influenciar as empresas a melhorar os serviços supracitados.

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social28

A CONSILMO acrescenta que no diálogo que mantém com as empresas para tratar de assuntos laborais e sindicais, ao tentar colocar assuntos sobre RSE, estas alegam que RSE não é obrigatória. Ademais, sendo de interesse da empresa desenvolver projectos sociais, estas empresas lidam directamente com o Governo e com as comunidades beneficiárias.

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social 29

6. CONDIÇÕES DE TRABALHO NA MINA

A mina é, sem dúvida, um dos locais de maior risco devido à complexidade da actividade extractiva e à concentração de muita gente, sob gestão de diferentes empresas, utilização de explosivos e equipamentos de escavação e carregamento dos minérios. A mina de carvão está associada ao risco de poluição sonora, que deriva do equipamento e processo de extracção; poeiras; acidentes diversos e fadiga associada à excessiva carga de trabalho. Portanto, o operador mineiro está exposto a esses riscos, daí a maioria das empresas adoptar políticas de saúde e segurança no local de trabalho.

6.1 Saúde

Regra geral, as empresas possuem uma área responsável pela saúde dos trabalhadores no dia-a-dia. Uma das práticas comuns em vigor é a testagem e monitoramento periódico da aptidão física e de saúde dos trabalhadores para se fazer à mina. Nos casos em que o trabalhador lhe é diagnosticada alguma doença ou inaptidão física, este não poderá, pelas normas, qualificar para trabalhos na mina. Será submetido a tratamentos para a correcção do problema e nos casos em que não seja possível corrigir é, regra geral, desvinculado. Os testes de saúde são providenciados pelas empresas mineradoras em clínicas próprias.

Um dos grandes problemas levantados pelos sindicatos e que reflectem a preocupação da maioria dos operadores mineiros (trabalhadores) é a veracidade dos resultados dos testes de aptidão física efectuados pelas empresas. São vários os casos em que um trabalhador está doente, por exemplo com TB, mas os testes dão resultado negativo, indicando aptidão do trabalhador, quando este está a precisar de tratamento de saúde. Outra situação anómala reportada pelos sindicatos tem a ver com o facto de uma empresa A passar uma certidão de boa aptidão física a um trabalhador que termina seu contrato. Dias depois, o mesmo trabalhador vai à empresa B, faz testes de aptidão que dão resultado contrário ao diagnóstico efectuado pela primeira empresa, anunciando que este não está apto para um novo contrato com a empresa B.

Segundo a CONSILMO, este tipo de casos é recorrente e cria desconfiança de que os resultados estão sendo forjados com o único objectivo de as empresas fugirem das suas responsabilidades de cuidar da saúde e compensar os trabalhadores que saem da mina inválidos e que não podem assinar um novo contrato na próxima oportunidade.

Todas as empresas mineiras têm uma clínica própria onde tratam seus trabalhadores quando ficam doentes ou em caso de acidente de trabalho. Algumas empresas possuem pontos avançados nos quais providenciam os primeiros socorros. Normalmente, trata-se de zonas operações mineiras, com disponibilidade de uma ambulância para transferir doentes.

Adicionalmente, algumas empresas oferecem seguro de saúde aos seus trabalhadores (exemplo, a ICVL). Outras oferecem seguro de forma selectiva, privilegiando trabalhadores expatriados e membros de direcção.

As clinicas são essencialmente para tratar trabalhadores da empresa que caem doentes e acidentados. Porém, algumas empresas estão abertas para tratar gratuitamente os membros da comunidade (exemplo, clìnica da Jindal).

Uma das críticas lançadas pelos sindicatos é principalmente a falta ou ruptura de stoks de medicamentos nestas clínicas, além do facto de nalgumas empresas os familiares dos

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social30

trabalhadores não serem cobertos pelo seguro de saúde. A falta de medicamentos e a não cobertura de familiares directos do trabalhador é uma preocupação apresentada pelos sindicatos, pois tornam estes serviços pouco úteis.

Há também palestras periódicas feitas em benefício dos trabalhadores mineiros sobre comportamentos perigosos à saúde, onde são também abordadas questões sobre a prevenção de doenças como HIV/SIDA, malária, entre outras. Por vezes, estas palestras são promovidas por organizações vocacionadas em coordenação com a unidade de saúde e segurança da empresa.

6.2 Segurança

Sobre as questões de segurança, existe uma prática comum na mina que é submeter todo o trabalhador, inclusive visitantes, a um processo de indução sobre higiene e saúde no trabalho, incluindo as condições de segurança. Nalgumas áreas susceptíveis de sinistralidade, a actividade de indução é feita quase que diariamente e sempre que inicia uma jornada ou um novo turno de trabalho. Um aspecto que, regra geral, é observado e constantemente monitorado é o equipamento de protecção do trabalhador. Existem normas escritas que impõem, que o operador mineiro esteja devidamente equipado, da cabeça aos pés.

Há, porém, empresas que não dão primazia às questões de segurança, o que faz com que certos sectores e algumas empresas subcontratadas estejam em falta em relação às questões de segurança. Regra geral, as subcontratadas seguem por obrigação contratual as regras e códigos de segurança da empresa concessionária. Na mina de Chirodzi, sob gestão da Jindal, por exemplo, há trabalhadores que se apresentam ao trabalho, sobretudo na área civil, com equipamento completamente roto e sem botas, colocando em risco a segurança deles. Estas empresas, quando questionadas nas visitas de inspecção, alegam o atraso da sede no envio desses equipamentos de protecção.

Aliás, enquanto na maioria das minas o acesso á zona das operações é vedado e, por isso, teve que se reassentar toda a população para longe da área mineira, a mina de Chirodzi funciona no meio da comunidade em virtude de não ter sido concluído o processo de reassentamento, com pessoas a atravessar a zona mineira dum canto para o outro, com riscos de saúde devido ao alto nível de poluição pelas poeiras. Este facto tem levado a constantes reclamações das comunidades afectadas, sob olhar impávido das autoridades.

Se bem que o nível de cumprimento de regras de segurança seja baixo na mina de Chirodzi, não há ainda registo de acidentes fatais directamente imputáveis às operações mineiras da Jindal. Contudo, os níveis de poluição do ar nas comunidades circunvizinhas têm efectivamente implicações na saúde pública que poderão revelar-se danosas caso medidas urgentes não sejam tomadas. A construção de casas para reassentamento de 577 famílias no bairro Nhantsanga, posto administrativo de Cacheme, está em curso, porém o processo é tido como bastante lento e desgastante.

6.3 Alimentação e transporte

Diferentemente de vários outros sectores, os trabalhadores mineiros têm direito a transporte para o serviço e são-lhes garantidas as refeições enquanto estiverem de serviço. No entanto, em Chirodzi os trabalhadores revoltaram-se alegadamente porque as refeições não ofereciam qualidade. Em substituição, os trabalhadores exigiram e foi-lhes concedido um subsídio de

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social 31

alimentação que, segundo eles, é mais social do que propriamente uma refeição, dado que o subsídio monetário é compartilhado com a família do trabalhador. A partir daí, o refeitório junto à mina de Chirodzi ficou a confeccionar refeições para alguns trabalhadores, sobretudo os que vivem no acampamento.

O transporte de casa para o local de trabalho e vice-versa é garantido a todo o trabalhador da mina. Regra geral, nas minas, devido a questões de segurança, não entra qualquer viatura ou transporte público. É obrigação das empresas assegurar transporte para seus trabalhadores a partir de certos pontos nas rotas pré-estabelecidas. Porém, o transporte de trabalhadores em camiões e sem nenhuma protecção tem sido uma das lutas sindicais que tende a ser ultrapassada.

Algumas empresas oferecem um bilhete de ida e volta durante as férias anuais a seus trabalhadores contratados fora de Tete. Porém, este e outros benefícios tendem a ser cortados devido à conjuntura actual.

Em relação à habitação, há três tipos de situações. Há trabalhadores que vivem nos acampamentos da empresa, comparticipando no pagamento da renda mensalmente. Há outro grupo que recebe um subsídio para alojamento, com o qual paga o aluguer da casa perto da área mineira e há, finalmente, trabalhadores contratados localmente e que não recebem nenhum subsídio, pois pressupõe-se que são residentes em Tete, de acordo com os termos de contratação.

6.4 Carga horária

A carga horária em vigor nalgumas minas é de 12 horas diárias, com descanso de dois dias ao fim do quarto dia de trabalho. Noutras minas vigoram as 8 horas diárias previstas na Leis do Trabalho, mas há certos sectores dentro da minam que funcionam normalmente 24 horas por dia, e aí há lugar a turnos e folgas em respeito à Lei.

Os sindicatos referem durante as entrevistas que o horário de 12 horas diárias, embora tenha resultado de uma concertação entre o patronato e os sindicatos, com a intervenção da Direcção do Trabalho de Tete, é bastante pesado e gera fadiga nos trabalhadores. Como consequência, a fadiga tem sido a causa de muitas falhas humanas que, às vezes, resultam em acidentes de trabalho. Na Vale, registou-se recentemente (mês anterior ao inquérito) um acidente fatal cujo relatório ainda não tinha sido partilhado com os sindicatos.

Mas de um modo geral existe satisfação em relação á carga horária, por ter sido produto duma negociação e acordo entre os sindicatos e empregadores.

6.5 Remunerações e benefícios

O sector mineiro, durante a sua fase do arranque, período conhecido por fase de implantação, esteve a oferecer condições bastante acima da média, segundo o relato do sindicato local. Foi o período durante o qual se conseguiu com algumas mineradoras estabelecer um pacote remuneratório bastante bom para os trabalhadores. Chegou-se a pagar 14 salários por ano, incluindo subsídios de férias e de permanência.

Contudo, já na fase de operação, esse pacto não foi renovado e alguns benefícios e condições

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social32

oferecidos na fase da implantação foram eliminados. As empresas alegam que nesta fase os salários e qualquer benefício monetário que o trabalhador receber, deverá resultar da produção, enquanto na fase anterior existia um orçamento alocado. Ademais, as empresas operam em prejuízo devido ao arrefecimento do mercado de carvão e, por isso, não podem continuar oferecendo benefícios desligados da produtividade.

Se bem que o salário nunca tenha sido suficiente para ninguém, os sindicatos asseguram que o nível salarial actualmente pago nas minas está acima da média de muitos sectores económicos e as empresas mineiras pagam acima do salário mínimo oficialmente estabelecido para o sector. As reclamações não faltam e, ás vezes, estão ligadas ao tratamento desigual entre expatriados e trabalhadores moçambicanos nas mesmas funções, quanto ao salário auferido e carga horária. Na Minas Moatize fala-se, por exemplo, de expatriados de origem sul-africana que iam a Tete trabalhar 15 dias e regressavam à África do Sul de folga pelos restantes 15 dias de cada mês, mas a ganhar um salário muito acima do que um moçambicano ganha a exercer as mesmas funções e com uma carga mais pesada.

6.6 Questões ambientais e sociais

Regra geral, a legislação moçambicana é clara quanto á necessidade de estudos de impacto ambiental e respectivos planos de gestão ambiental, bem como plano de acção de reassentamento antes do início das operações. Grande parte das empresas passa por este processo. É por isso que a Vale e a Rio Tinto tiveram de conduzir um processo de reassentamento que, apesar das contestações, chegou ao fim.

O desenvolvimento de projectos económicos na província de Tete tem implicado o reassentamento involuntário de muitas famílias, gerando a perda de terras aráveis, meios de sobrevivências e destruição de redes sociais. A tabela abaixo mostra que os projectos de exploração de carvão e outros afectam um total de 2496 famílias. Até á data de visita no âmbito deste estudo, apenas cerca de 59% das famílias afectadas haviam sido reassentadas. A Jindal, em violação da Lei, iniciou as suas operações sem que tivesse reassentado as 577 famílias à volta da mina, sendo que algumas perderam as suas áreas de cultivo sem a necessária compensação.

Distrito Posto Administrativo

Bairro No de Famílias

Talhões Demarcados

Talhões Atribuídos

Empresas Mineradoras

MoatizeCambulatsitsi

Cateme 716 800 716 Vale

Muaradzi 400 500 400 Rio Tinto

Moatize

25 de Setembro

289 300 289 Vale

Nhamitsatsa 8 10 8 Vale/Rio Tinto

Samoa Em processo Em processo Minas de Revuboé

Marara

Cacheme

Chirodzi Ponte

460 Em processo Em processo Mphanda Nkuwa

Nhatsanga 577 Em curso Não disponível

Jindal

Cidade de Tete Cidade de Tete Mpadwe 50 50 50 Governo/

Nova PonteChitima

Cahora Bassa Chissua 712 Em processo Em processo ERNC

Total 2,496 1,660 1,463Fonte: DPTADER Tete

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social 33

Enquanto a Vale e ICVL (que adquiriu a mina de Benga pertencente à Rio Tinto) parecem terem concluindo o reassentamento em Tete, o processo foi caracterizado por enorme contestação pelos membros e lideranças das comunidades afectadas, bem como pela sociedade civil. Bihale (2016) citando Selemane (2010) aponta erros graves no processo de reassentamento em Tete, para além de ter sido lento, conflituoso e com falta de diálogo e até ausência do Governo no processo e, consequentemente, as comunidades não foram devidamente informadas sobre os seus direitos. O mais grave é que as populações tiveram promessas de emprego e financiamento que nunca chegaram a materializar-se. Os afectados não foram consultados sobre os locais de reassentamento, o tipo de casas que iriam receber nem a dimensão das áreas para a prática de agro-pecuária, que nalguns casos eram inadequados para a recuperação de meios de sobrevivência. Algumas populações foram reassentadas em terras improdutivas, longe de fontes de água e de serviços básicos. Este processo foi uma autêntica imposição em violação à legislação (Bihale, 2016).

A extracção de carvão em Tete é feita em larga escala e a ceu aberto, o que significa que os maiores problemas ambientais e sociais ainda estão por vir caso medidas adequadas de gestão de fecho das minas não sejam tomadas e monitoradas caso a caso. Actualmente, a poluição do meio ambiente (sonora e poeiras) figura entre os principais problemas ambientais.

Do ponto de vista social e de saúde, SPEED (2013) aponta que os projectos de extracção de recursos naturais em larga escala como acontece em Tete desencadeiam movimentos populacionais maciços de pessoas que procuram emprego e oportunidades. De facto, Tete está a experimentar uma migração em massa. Esta migração provoca uma rápida urbanização, aumenta o custo de vida, exerce pressão sobre serviços básicos como água e saneamento e facilita a prostituição e propagação de doenças sexualmente contagiosas.

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social34

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social 35

7. Diálogo social em Tete

7.1 Conceito

A OIT (2013) define o diálogo social como sendo o termo que descreve a participação do Governo, trabalhadores e empregadores na tomada de decisões em matéria de emprego e locais de trabalho. Na verdade, este conceito inclui todo o tipo de negociações, consulta e troca de informações em assuntos de interesse comum sobre as políticas económicas, laborais e sociais. O diálogo social é simultaneamente um meio para alcançar o progresso social e económico e um objectivo em si mesmo, na medida em que dá voz às pessoas e lhes permite participar nas suas sociedades e locais de trabalho.

A OIT acrescenta que, por vezes, o diálogo social é bipartido, sempre que envolve apenas os trabalhadores e empregadores (que a OIT designa como parceiros sociais) ou tripartido, se incluir também o Governo. Enquanto o diálogo social bipartido interessa-se nas negociações colectivas ou outras formas de negociação, cooperação e prevenção e resolução de conflitos, o diálogo social tripartido foca na discussão das políticas públicas, leis e outras decisões que afectem o local de trabalho ou os interesses dos trabalhadores e dos empregadores.

Tal como foi discutido acima, a OIT reconhece que o diálogo social também pode evoluir para englobar novos actores e, a partir dessa altura, passa a designar-se diálogo social tripartido alargado. Esses novos actores são justamente as organizações da sociedade civil (OSC) corporizadas em organizações não-governamentais (ONGs e OBCs). Porém, a OIT chama atenção quanto à representatividade de muitas ONGs e, quanto nós sabemos, a sua agenda é em certas circunstâncias volúvel. Por vezes não é muito claro o grupo específico que estas ONGs representam e, por isso, a sua agenda também pode mudar dum momento para outro, em função dos interesses dos seus representantes.

A OIT enaltece que as organizações de trabalhadores e de empregadores se distinguem de outros grupos da sociedade civil na medida em que representam actores claramente identificáveis da economia real e a sua legitimidade decorre dos membros que estas representam. Desta forma, as organizações empresariais continuam a ver as organizações de trabalhadores como o seu interlocutor preferencial da sociedade civil.

Entende-se, porém, que as consultas comunitárias apregoadas na política de RSE da indústria mineira se referem efectivamente a consultas às partes interessadas, sem nenhuma distinção, e podem enquadrar-se na esfera governação participativa defendida pelo Governo do dia.

A questão central, e de maior interesse nesta pesquisa, é até que ponto o Fórum de Concertação Social na Província de Tete (FOCCOS) participa no processo de implementação e/ou monitoria das acções de responsabilidade social das empresas mineiras áquele nível. Esta questão é discutida na secção seguinte.

7.2 Práticas sobre diálogo social

Contrariamente à CCT, que já tem uma história de décadas, os Fóruns Tripartidos de Consulta e Concertação Social na Província são novos. Apesar de terem sido lançados pelo Governo em 2007, a formalização dos FOCCOS em Moçambique ocorre em 2015, através do Decreto 17/2015, de 14 de Agosto, e seu objectivo é promover a concertação social como expressão de

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social36

uma atitude e de um comportamento positivo do diálogo tripartido.

Pode-se dizer que, na província de Tete, o FOCCOS ainda está no seu processo de implantação. O lançamento do FOCCOS, teve lugar a 22 Dezembro 2016.

Durante a visita de campo, decorriam reuniões técnicas preparatórias da agenda para a primeira sessão do FOCCOS, que se esperava que acontecesse no mês de Setembro de 2017, dependendo da agenda do governador provincial, na sua qualidade de dirigente máximo deste órgão (figura abaixo). As reuniões técnicas do FOCCOS são realizadas na Direcção Provincial de Trabalho, Emprego e Segurança Social, sob direcção da respectiva directora provincial, que é nova no cargo. Do que se ficou a saber das preocupações levadas pelos sindicatos representados pela OTM-CS e CONSILMO (posições concertadas), destaca-se a massificação do movimento sindical nas empresas, dado que há empresas, sobretudo as subcontratadas pelas mineradoras, que não se abrem ao estabelecimento de órgãos sindicais. A questão da contratação de mão-de-obra estrangeira em Tete, com destaque trabalhadores que procedem dos países vizinhos, e horário de trabalho e relação nominal também constam do rol das preocupações dos sindicatos.

Figura 1: Uma das reuniões técnicas do FOCCOS-Tete em preparação da primeira secção

O sector privado, por seu turno representado pelo CEP-Tete, também apresenta as suas preocupações, com destaque para a discussão de tarifas de transporte e a questão de conteúdo local, que se centra na necessidade de inclusão das PME para fornecer bens e serviços às grandes empresas.

Já o Governo pretende abordar a questão da divulgação da legislação, com enfoque a Lei do trabalho. Nesta fase inaugural do FOCCOS, concordou-se em agendar apenas seis questões, sendo duas propostos por cada parceiro social, incluindo o Governo.

Depreende-se que as questões sobre a responsabilidade social empresarial não fazem parte da agenda de diálogo social em implantação. Os sindicatos, assim como o CEP-Tete, nunca, use uma das alternativas: nunca foram consultados ou em nenhum momento foram consultados foram consultados sobre os investimentos sociais das empresas mineradoras. Não tomam parte

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social 37

nas decisões das empresas sobre a RSE, não participam na implementação e muito menos na monitoria. Quando abordadas as empresas sobre este assunto, seus dirigentes dizem que “a responsabilidade social empresarial não é obrigatória e quando decidem fazer investimentos sociais falam com o Governo”, CONSILMO-Tete.

Há desconhecimento por parte dos sindicatos e do sector privado da actual política de responsabilidade social dos recursos minerais. O FOCCOS poderia ser usado como espaço privilegiado para a divulgação e partilha de informação, incluindo sobre a política de RSE e dos investimentos sociais feitos em benefício das comunidades locais.

No entanto, a materialização do FOCCOS em Tete é vista como uma grande oportunidade para trazer à agenda de diálogo todos os assuntos de interesse das partes no domínio económico, social e ambiental. E a questão da RSE é um assunto que interessa os sindicatos e suas famílias.

A CTA-Sede considera que trazer a questão de RSE para discussão no FOCCOS ao nível da província pode gerar dois níveis de problemas. O primeiro é que em cada província teríamos o FOCCOS a discutir este assunto e produzir deliberações diferentes e, por vezes, desalinhadas com as doutras províncias, tornando difícil a gestão de RSE no país. O segundo aspecto levantado pela CTA tem a ver com o facto de os recursos, apesar de estarem em Tete ou numa outra província, pertencem a Moçambique como um todo e não propriamente a província anfitriã. No entanto, a CTA reconhece que o FOCCOS poderia desempenhar uma função vital de monitoramento das acções de RSE na província e deixar que a CCT, ao nível nacional, tenha a função de discutir e decidir sobre as questões de índole político envolvendo sectores-chave e interessadas sobre esta matéria, como é o caso do MIREME.

A CTA já faz com o Governo, através do Ministério de Economia e Finanças, uma discussão sobre o conteúdo local e, inclusive, há uma legislação específica em discussão/formulação. Por isso estranhou que as ligações empresariais com as mineradoras sejam consideradas parte de RSE e constem da actual política de RSE.

7.3 Constrangimentos

Se a incorporação das questões sobre RSE no diálogo social em Tete representa uma oportunidade, persistem constrangimentos do funcionamento do FOCCOS que importa mencionar.

Primeiro, o funcionamento do FOCCOS não está a níveis aceitáveis. Embora decorram actualmente reuniões técnicas de preparação da agenda, seu funcionamento em pleno depende da realização da primeira sessão. Mas há problemas de sobreposição de agenda do governador e, por isso, a realização da sessão inaugural sofre adiamentos sucessivos.

O segundo constrangimento, talvez o mais sério, tem a ver com a não participação das empresas mineradoras no FOCCOS. Sendo empresas, deviam-se fazer representar através do Conselho Empresarial Provincial. No entanto, estas não têm nenhuma ligação com organizações empresariais locais (associações ou CEP). Segundo o CEP-Tete, “as multinacionais, mesmos as do sector mineiro, só contactam o CEP em face dum problema. Por vezes é o próprio Governo que chama o CEP à acção. Algumas como a Vale têm ligação com a CTA-Sede através do CEN e, sendo o CEP representante da CTA na província, este deverá apoiá-las a ultrapassar os problemas que enfrentam no terreno”.

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social38

Os fóruns de consulta e concertação social são, regra geral, totalmente abertos e com um carácter inclusivo pois, para além de incluir apenas os membros efectivos e suplementes previstos no regulamento, outras entidades do Governo e da sociedade civil em geral (incluindo empresas mineradoras) podem ser convidadas a tomar parte nas secções de trabalho para discutir matérias que lhes dizem respeito.

Se consideramos ultrapassados os constrangimentos acima, fica o desafio da abertura das empresas mineiras e do próprio Governo para discutir as questões de RSE no FOCCOS. Os investimentos sociais das empresas mineradoras são decididos com o Governo e fazem parte dos contratos de exploração mineira e materializados através de um Plano de Desenvolvimento Social que define as áreas de intervenção e os montantes a serem gastos por cada empresa. Aliás, estas multinacionais têm acesso directo ao Governo até ao mais alto nível para apresentar e resolver problemas que surgem no processo produtivo. Por isso, têm pouco interesse em fazer parte do FOCCOS ou de qualquer organização empresarial.

A CTA refere que muitas destas empresas multinacionais não valorizam as plataformas de diálogo estabelecidas através da sua filiação/participação. Recorda as negociações do salário mínimo, em que, ao invés de sentar e discutir com os sindicatos, contratam empresas de advogados que representam o sector mineiro nas negociações. Porém, a CTA está a revitalizar o CEN cujo presidente foi recentemente eleito e deverá iniciar um trabalho de trazer os mineradores para este fórum.

7.4 Oportunidades

Até agora, os maiores beneficiários das acções de RSE são as comunidades locais através dos investimentos sociais na comunidade e o próprio Governo, através duma rubrica de apoio ao desenvolvimento institucional.

A inclusão do tema responsabilidade social das empresas mineiras na agenda de diálogo social, no âmbito do FOCCOS em Tete, traz inúmeras oportunidades. As organizações sindicais e as associações empresarias, ambas com agendas bem claras de defesa e protecção dos interesses dos seus membros, carecem de apoios para uma representação digna. Parte dos fundos de RSE destas empresas poderiam ser usada também para a capacitação institucional das organizações sindicais e empresarias, à semelhança do que tem sido feito para as instituições do Governo. Por exemplo, a CONSILMO em Tete não tem uma viatura aceitável para entrar nalgumas minas mais exigentes. Para se fazer à mina, depende de boleias, o que torna seu trabalho bastante penoso.

Por outro lado, o CEP-Tete queixa-se de fracas ligações das mineradoras com as empresas locais para o fornecimento de bens e serviços, pois estas, na sua maioria PME, carecem de capacidade técnica. Os fundos de RSE poderiam ser usados em programas de assistência técnica e capacitação para melhorar a participação das empresas locais na economia local e assim aumentar a contribuição deste sector no desenvolvimento local.

Até agora, os investimentos sociais são decididos com o Governo e monitorados por uma comissão provincial que não integra os sindicatos e o CEP. Porém, algumas acções previstas na política, tais como contratação de mão-de-obra local e envolvimento das empresas locais no fornecimento de bens e serviços as mineradoras, são de interesse dos parceiros sociais

Responsabilidade social das empresas no sector mineiro na província de Tete no contexto do diálogo social 39

(trabalhadores e empregadores).

A inclusão da RSE no FOCCOS, mesmo de ponto de vista de monitoramento, poderia abrir uma oportunidade ímpar para que os sindicatos e associações empresariais tomem conhecimento dos elementos da política e focalizem a sua intervenção nos assuntos que lhes são de interesse, abrindo assim espaço para uma monitoria de qualidade.

A participação das empresas mineradoras no FOCCOS pode trazer maiores benefícios para os sindicatos. Neste momento, os níveis de sindicalização situam-se, segundo a CONSILMO, entre os 40 e 60%. O ideal seria atingir os 90 a 100%, e este tema de massificação faz parte da agenda do FOCCOS. Por outro lado, os padrões e condições de trabalho na mina são temas de interesse dos sindicatos que têm levado a greves e paralisações, com impactos económicos enormes. Embora os sindicatos discutam e estes temas com as empresas mineradoras, isso é desgastante porque tem de ser feito empresa por empresa e os acordos conseguidos são variáveis e, nalguns casos, onde a sindicalização é incipiente são precários. O FOCCOS poderia trazer soluções uniformes e robustas em todas as mineradoras, em benefício da classe trabalhadora, como um todo.

7.5 Implicações para o futuro

A implementação do FOCCOS vai implicar a necessidade de mobilização de recursos financeiros para as capacitações dos parceiros, sobretudo nesta fase inicial. Ademais, algumas matérias necessitarão de estudos e análises técnicas, sendo necessário contratação de consultores.

O FOCCOS funciona na Direcção da Trabalho, Emprego e Segurança Social, sendo que esta direcção necessitará de reforço financeiro para suportar pequenas despesas, incluindo as senhas de participação dos membros.

No futuro, o governador da província deverá fazer-se representar nas sessões do FOCCOS por um substituto (vice-presidente do FOCCOS), para evitar adiamentos sucessivos e desmotivação dos parceiros. O FOCCOS deverá ter um calendário das reuniões pré-estabelecido (exemplo, quinzenal ou mensal), permitindo que os parceiros todos possam participar.

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8. Conclusão e recomendações

Nesta secção apresentamos as conclusões e recomendações do estudo. Em anexos, um quadro de desafios e recomendações, destacando o papel de cada stakeholder.

8.1 Sobre responsabilidade social empresarial

Regra geral, as empresas mineradoras em Tete possuem programas de RSE nas comunidades locais. As suas políticas de RSE estão alinhadas com as em vigor na empresa-mãe e, por isso, algumas empresas produzem relatórios sociais consolidados.

Até recentemente, antes da produção da actual Política de RSE para a Indústria Extractiva dos Recursos Minerais (Decreto 21/2014), os investimentos sociais destas empresas eram feitos sem olhar nas prioridades de desenvolvimento do Governo e sem responder às necessidades das comunidades locais.

Os contratos mineiros, à luz da actual política, já vem neles acoplados os Planos de Desenvolvimento Social, que são documentos que expressam a vontade e compromisso das empresas mineiras em contribuir em áreas sentidas como sendo prioritárias pelas comunidades/governos locais e estabelece os montantes a investir, as áreas principais e os mecanismos de participação e monitoramento pelas comunidades.

A política é, no entanto, nova e seu guião (espécie de regulamento) publicado em 2017 (através do Diploma Ministerial n.º 8/2017, de 16 de Janeiro, que surge para facilitar a implementação da Política de Responsabilidade Social para a Indústria Extractiva de Recursos Minerais), está ainda na sua fase de divulgação pelas províncias. O MIREME, na sua qualidade instituição de tutela, para além de ter desenhado um plano de três anos para implementação da RSE e submetido já ao Banco Mundial para o seu financiamento, está a cariar um gabinete de gestão de contratos onde os investimentos sociais serão monitorados. Até agora, a monitoria é feita por uma comissão provincial que exclui os parceiros sociais (sindicatos e empregadores, cujos integrantes carecem de formação em matéria de avaliação e monitoria dos projectos sociais.

Nota-se que, para além das empresas mineiras concessionárias, há várias empresas subcontratadas para prestar diferentes serviços dentro da mina. Estas são tão beneficiárias da exploração dos recursos minerais quanto as empresas concessionárias. No entanto, estas empresas subcontratadas contribuem muito pouco nas acções sociais, limitando-se a emprestar equipamentos para trabalhos comunitários. A política não é clara quanto ao papel que as subcontratadas devem desempenhar, porquanto não têm nenhum compromisso assinado nem com as empresas contratantes nem com o Governo.

Em termos de impacto gerados pelos investimentos sociais, é bastante reduzido, dado que os recursos investidos em acções sociais são menos que 1.5% das transferências destas empresas para o exterior.

Ao Governo, através do MIREME, na sua qualidade instituição de tutela da área mineira, cabe a criação de estruturas fortes na sede e nas províncias, com capacitação dos actores de monitoria, disponibilização das condições logísticas e informação para o monitoramento adequado dos investimentos sociais.

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O Governo provincial de Tete deverá assegurar que os parceiros sociais (sindicatos e empregadores), assim como representantes da sociedade civil, sejam parte da comissão provincial que monitora os investimentos sociais.

Até agora, os investimentos sociais feitos em Tete são acções individuais e voluntárias promovidas pelas grandes empresas, tendo o Governo como o elo de ligação/coordenação com cada uma das iniciativas. Constata-se fraca participação das empresas subcontratadas. Assim, recomenda-se que as empresas concessionarias coordenem a participação das suas subcontratadas no apoio às iniciativas sociais de desenvolvimento nos locais onde operam. Muitas vezes, as PME não investem na esfera social alegadamente porque as acções de responsabilidade social cabem às grandes empresas.

As concessionárias devem melhorar a comunicação com as comunidades, governos locais e sociedade civil em geral para aumentar a qualidade dos investimentos sociais e benefícios para as comunidades. A disponibilização de informações detalhadas e uniformizadas sobre acções de RSE, que identifica os projectos e os montantes gastos por cada empresa em cada ano, poderia ajudar bastante nos esforços de avaliação e monitoria.

8.2 Sobre as condições de trabalho

A mina é um local de trabalho de maior risco tanto para o trabalhador como para terceiros. Por isso, as condições de higiene, saúde e segurança nas minas de carvão em Tete são quase que uma obrigação legal. A maior parte das empresas mineradoras em Tete segue à risca os princípios de segurança inscritos nos seus códigos para seus trabalhadores. Porém, dado que estas mineradoras subcontratam várias empresas que trazem para a mina seus trabalhadores, essas regras são, por vezes, quebradas, sobretudo quando a supervisão for fraca ou tolerante. Por regra contratual, as empresas subcontratadas são obrigadas a seguir as regras e códigos de segurança em vigor na empresa concessionária. Há, porém, casos de trabalhadores com equipamento de protecção inadequado/incompleto reportados em algumas minas, sobretudo entre trabalhadores da área civil, devido às fragilidades na supervisão pela concessionária.

Os níveis de exposição do trabalhador a riscos de doenças e acidentes são enormes e, por isso, estas empresas complementam as medidas de segurança com as de saúde. As mineradoras estão equipadas com clínicas próprias e fazem monitoria periódica do estado de saúde/aptidão física do trabalhador à entrada/durante/e saída, oferecendo-lhe oportunidade para o tratamento/reabilitação. Algumas empresas oferecem seguro de saúde a seus trabalhadores e suas famílias e outras dão de forma segmentada a alguns trabalhadores expatriados e membros da direcção. Entretanto, os sindicatos e trabalhadores estão insatisfeitos devido a diagnósticos contraditórios, falta de medicamentos nas clínicas e o facto de nalguns casos os membros da família do trabalhador não estarem cobertos.

Outras condições tais como alimentação e transporte, alojamento e remunerações têm merecido um voto de apreço por parte dos sindicatos, pois consideram que, apesar de haver desafios, há melhorias comparativas. Os desafios prendem-se com as condições díspares oferecidas pelas diferentes empresas, trabalhadores transportados em viaturas de caixa aberta e, às vezes, sem protecção, baixa qualidade de alimentação nalguns casos, cobertura parcial do alojamento e corte de benefícios monetários que os trabalhadores vinham recebendo.

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A carga de trabalho em vigor nas minas é resultado da concertação das partes (empregador e trabalhadores) e obteve o aval do Governo. No entanto, os trabalhadores queixam-se de tratamento desigual nalgumas situações, não somente do ponto de vista monetário, mas sobretudo da carga horária, favorecendo aos trabalhadores expatriados. Esta situação é exacerbada porque em algumas empresas não há diálogo nem sequer há abertura para o estabelecimento de sindicato na empresa.

Face ao exposto acima, recomenda-se o estabelecimento de diálogo entre o sindicato e empresas, para que estas dêem primazia às questões de saúde e segurança. No campo da saúde, deve-se melhorar a disponibilidade dos medicamentos e a própria qualidade dos serviços e, na medida do possível, estender o seguro para cobrir os membros principais e assegurar que os testes de aptidão sejam efectuados por entidades independentes devidamente credenciadas.

Em relação à segurança, deverá haver uma maior supervisão e penalizações ás empresas e trabalhadores que quebram os códigos pré-estabelecidos. A vida é única e ela deverá ser preservada por todos, coma adopção métodos como tolerância zero aos acidentes.

O Governo, através da Inspecção de Trabalho, periódica e esporádica, e palestras de educação e sensibilização, poderá disciplinar o sector e assegurar que todas as empresas cumpram com a legislação laboral e as demais leis, sobretudo as leis ambientais.

8.3 Sobre o diálogo social

Na Província de Tete, o FOCCOS está ainda na sua fase de implantação. Embora tenha sido lançado em Dezembro de 2007 pelo Governo de Moçambique, somente em 2016 é que os seus membros beneficiaram de três sessões de formação. A primeira sessão do FOCCOS em Tete estava sendo preparada para ter lugar durante o mês de Setembro 2017. Porém, devido à agenda apertadíssima do governador provincial, não havia uma orientação clara do que se devia fazer, e a mudança do director provincial de Trabalho, Emprego e Segurança Social veio piorar a situação.

A RSE, feita regra geral pelas grandes empresas e sobretudo as mineradoras, não faz parte da agenda da primeira sessão do FOCCOS. Os sindicatos dão primazia a questões sobre massificação da sindicalização, a contratação de mão-de-obra estrangeira e condições de trabalho. Por sua vez, os empresários apontam a questão da tarifa de transporte e ligações empresariais com as empresas mineradoras, e o Governo foca na política laboral, olhando para a implementação da Lei do Trabalho. Não há abertura das mineradoras em discutir RSE com sindicatos ou com CEP-Tete. Aliás, estas nem sequer aparecem associadas a organizações empresariais locais.

O FOCCOS, uma vez estabelecido e funcional, poderia ser usado para fazer a monitoria das acções de SER, sobretudo nas questões de interesse dos sindicatos (contratação de mão-de-obra local e condições de trabalho) e da CTA (ligações empresariais na cadeia de valor da mineração, incluindo na implementação dos investimentos sociais). Porém, a questão das ligações empresariais (conteúdo local) está sendo tratada num outro fórum pela CTA-Sede e, pela sua complexidade, entende-se que não pode ser misturada com a RSE, dado que esta não é responsabilidade social na sua essência. É simplesmente uma relação de negócio.

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Recomenda-se a inclusão das organizações sindicais e empresarias, representadas pelo CEP-Tete, CONSILMO e OTM-CS no fórum de monitoria dos Planos de Desenvolvimento Social que determinam o tipo e o nível de investimento a ser efectuado pelas empresas mineradoras. Se a RSE não pode ser discutida/monitorada no FOCCOS, recomenda-se que membros do FOCCOS sejam convidados pela comissão provincial de monitoria dos assuntos sociais.

É urgente que o FOCCOS em Tete seja posto em funcionamento. O nível das manifestações populares pode ser prenúncio da ausência de um diálogo tripartido e/ou alargado à sociedade civil. Por isso, após a primeira sessão, deve-se estabelecer um calendário das reuniões (exemplo, quinzenal ou mensal), e o governador da província, na impossibilidade de marcar presença, deverá ser representado pelo vice-presidente.

Finalmente, o CEP deverá iniciar um diálogo com as mineradoras, ao nível local, para a sua filiação e/ou participação na vida associativa e no FOCCOS. Esse diálogo deverá ser feito em coordenação com a CTA de modo a averiguar quais as mineradoras que estão filiadas ou não á CTA. Dado que todas as mineradoras têm uma relação com o Governo local, a sua participação no FOCCOS poderia ser encorajada pelo próprio Governo provincial, devendo o presidente ou vice-presidente do FOCCOS convidar representantes das mineradoras para participar em sessões específicas onde se discutem assuntos do seu interesse.

9. ANEXOS

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Stakeholders Desafios/questões críticas RecomendaçãoGoverno 1) Limitada capacidade técnica da

comissão de supervisão dos assuntos sociais/ambientais e limitado acesso à informação.

2) Falta de informação sistematizada e consolidada sobre investimentos sociais das empresas mineradoras, o que torna difícil o processo de monitoria e avaliação.

3) Os investimentos sociais nem sempre respondem às prioridades do Governo e aos planos de desenvolvimento local.

4) RSE ainda não faz parte da agenda dos FOCCOS e nota-se um défice de comunicação com as empresas concessionárias.

5) As operações mineiras representam grande risco para trabalhadores e comunidades em geral.

6) Os testes de aptidão física e de saúde realizados por diferentes concessionárias em suas clínicas oferecem resultados contraditórios.

1) Recomenda-se a criação de estruturas fortes de gestão e de monitoramento dos investimentos sociais tanto ao nível da capital do país como nas províncias, capacitando seus membros e providenciar-lhes condições logísticas.

2) Recomenda-se a divulgação pelo MIREME de informação detalhada sobre os contratos mineiros e sobre a política de RSE, incluindo os planos e realizações no âmbito dos investimentos sociais e ambiental.

3) Recomenda-se a divulgação da Política de RSE da Indústria Extractiva dos Recursos Minerais bem como a auscultação das comunidades afectadas, através de um diálogo franco, antes de qualquer investimento social.

4) Recomenda-se que o Governo provincial ponha o FOCCOS em funcionamento e assegure que os stakeholders não membros, como empresas concessionárias e outros, sejam convidados às sessões deste órgão sempre que for necessário.

5) O Governo provincial, através da Inspecção de Trabalho, deverá consciencializar as mineradoras a observar os códigos de saúde e segurança e aplicar multas duras aos prevaricadores.

6) O Governo deverá assegurar que os testes de aptidão e de saúde feitos pelos trabalhadores (antes e depois) sejam feitos através de serviços de saúde independentes.

9.1 Quadro de recomendações

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Stakeholders Desafios/questões críticas RecomendaçãoEmpregadores 1) As organizações empresariais não

são envolvidas nos programas sobre investimentos sociais pelas mineradoras.

2) Desconhecimento da política de SER.

3) Limitada capacidade institucional das organizações do sector privado.

1) A CTA/CEP deve mobilizar as empresas mineiras para se filiarem e a partilhar seus planos de investimento, pois eles representam oportunidades de negócio para empresas locais.

2) A CTA/CEP deve usar os seus fóruns de diálogo para divulgar a legislação, incluindo a política de RSE.

3) Programas de RSE representam uma oportunidade de apoio institucional das organizações empresariais e formação dos seus membros para elevar a capacidade das PME.

Sindicatos 1) Limitada capacidade institucional das organizações sindicais.

2) Os sindicatos desconhecem a política de RSE e, por isso, estes são excluídos do processo de tomada de decisão sobre os investimentos sociais.

3) Por falta de fóruns adequados, os sindicatos são obrigados a negociar com as empresas mineradoras individualmente.

4) A fadiga e problemas de comunicação têm causado assidentes na mina.

1) Tal como nas organizações empresariais, programas de RSE podem ser usados para elevar a capacidade institucional das organizações sindicais e melhorar a vida dos trabalhadores e suas famílias.

2) Organizações sindicais devem divulgar e advogar a política de RSE, como forma de aumentar a consciência sobre a sua importância no seio da classe.

3) O FOCCOS representa uma oportunidade para negociação colectiva com as empresas mineradoras.

4) Os sindicatos, em coordenação com o patronato, devem encontrar meios para reduzir a carga horária de 12 horas para uma carga que permite a recuperação rápida do trabalhador.

Comunidades l o c a i s /organizações da sociedade civil

1) Limitado conhecimento das comunidades locais da Lei e dos seus direitos, o que torna a sua capacidade negocial bastante fragilizada.

2) Limitado acesso à informação e comunicação deficiente com as concessionárias.

3) Comunidades locais severamente afectadas pelas acções das empresas mineradoras.

1) Organizações da sociedade civil (ONG/OBCs) podem ser usadas para informar e capacitar as comunidades locais sobre a cidadania e direitos.

2) Reactivação dos canais de comunicação entre comunidades e as concessionárias e disponibilização de informação usando as línguas locais.

3) As concessionárias deverão reparar os danos gerados pelas suas operações ao meio ambiente e sobre os meios de vida das pessoas através de programas de desenvolvimento sustentáveis e reassentamentos responsáveis.

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Stakeholders Desafios/questões críticas RecomendaçãoE m p r e s a s Concessionárias

1) Reduzido nível de investimentos sociais e os impactos gerados são bastante reduzidos, dado que os recursos investidos em acções sociais são menos que 1.5% das transferências destas empresas para o exterior.

2) Deficiente comunicação com stakeholders sobre investimentos sociais.

3) Baixo nível de investimentos sociais entre as empresas subcontratadas.

4) Explorações mineiras em Tete representam desafios sociais e ambientais para as comunidades locais.

5) Há tratamento desigual nalgumas minas de trabalhadores nacionais e expatriados nas mesmas condições.

6) A chegada de mais pessoas a Tete, atraídas pelas oportunidades geradas pelas minas, representa riscos sobre a saúde pública e pressiona os serviços públicos.

1) As concessionarias deverão aumentar o volume e qualidade dos investimentos sociais para gerar impactos no desenvolvimento socioeconómico.

2) As concessionárias devem publicar regularmente estatísticas e realizações no âmbito da RSE, através de relatórios específico para Moçambique.

3) No quadro da política de RSE em vigor, as concessionárias devem negociar/incentivar as subcontratadas a fazer investimentos sociais

4) Através das suas políticas de responsabilidade social, as concessionárias devem implementar programas sustentáveis de gestão ambiental.

5) As concessionárias devem abandonar qualquer tipo de tratamento desigual entre trabalhadores, pois pode ser foco de conflitos e confrontações.

6) Com programas sociais e em coordenação com o Governo local, as concessionárias devem apoiar o aumento e melhoramento do acesso aos serviços básicos.

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9.2. Lista de entidades consultadas

1. Letícia Deusina da Silva Klemens – Ministra dos Recursos Minerais e Energia

2. Paulo Auade – Governador da província de Tete;

3. Augusto Matine – Inspector no Ministério dos Recursos Minerais e Energia

4. Henriques Cossa – Assessor da Ministra no dos Recursos Minerais e Energia

5. Ana Paula Francisco Bonamar – Directora Provincial de Trabalho, Emprego e Segurança Social Tete

6. Hermenegildo Bacate – Chefe de Departimento Ambiental na DPTADER Tete

7. Jeremias Timane – Secretário-Geral da CONSILMO

8. Fernando Raisse – Secretário Provincial da SINTI-CIM/ Coordenador provincial da CONSILMO

9. José Manuel Freitas – Secretário Executivo da OTM-CS Tete

10. Eduardo Sengo – Director Executivo da CTA

11. Carlos Cardoso – Presidente do CEP Tete

12. Cerventino Césaro Lisboa – Presidente do Pelouro da Construção Civil no CEP Tete

13. Arvind Kumar – Oficial das Operações da ICVL Tete

14. Yeves Jambo – Superintendente de Relações Comunitárias & Desenvolvimento Social Tete

15. Faustino Gane-Gane – Gestor de Saúde, Segurança e Meio Ambiente na Jindal Tete

16. Minas Moatize – Benjamim Valentim – Técnico de Minas Tete

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9.3. Bibliografia

1. Vale (2013a). Relatório de Sustentabilidade para Moçambique. Vale, Maputo.

2. Vale (2013b). Balanço das Actividades em Moçambique. Vale, Maputo.

3. Bihale, D. 2016. Indústria Extractiva em Moçambique: Perspectivas para o Desenvolvimento do País. Friedrich Erbet, Maputo.

4. Intellica. 2015. Sexto Relatório de ITIEM – Anos de 2013 e 2014. ITIEM Moçambique, Maputo.

5. Castel-Branco. C. 2008. Os Megaprojectos em Moçambique: Que Contributo para a Economia Nacional? Fórum da Sociedade Civil sobre Indústria Extractiva Museu de História Natural (Maputo) 27 e 28 de Novembro de 2008

6. Castel-Branco, C. 2009. Comentários no Lançamento do Relatório “Alguns Desafios da Indústria Extractiva em Moçambique” por Thomas Selemane, editado pelo CIP, em 2009

7. Castel-Branco, C. 2011. Desafios da Mobilização de Recursos Domésticos. In IESE (Ed.), Desafios para Moçambique 2011 (pp. 111–132), Maputo.

8. Castel-Branco, N., & Ossemane, R. (2010). Crises Cíclicas e Desafios da Transformação do Padrão de Crescimento Economico em Moçambique. In IESE (Ed.), Desafios para Moçambique 2010 (pp. 141–182). Maputo.

9. Mimbire, F. 2016. Num Contexto de Crise das Commodities, Desafios de um País Potencialmente Rico em Recursos Minerais, Estabelecendo as Bases para Evitar a “Maldição dos Recursos” em Moçambique no Novo “Superciclo” dos Preços das Matérias-primas. CIP, Maputo.

10. Kaufmann, F. e Simons-Kaufmann, C. 2016. Chapter 2 Corporate Social Responsibility in Mozambique. Springer International Publishing Switzerland 2016 31 S. Vertigans et al. (eds.), Corporate Social Responsibility in Sub-Saharan Africa, CSR, Sustainability, Ethics & Governance, DOI 10.1007/978-3-319-26668-8_2.

11. OIT. 2013. Conferência Internacional do Trabalho, 102.a Sessão, 2013. Relatório VI sobre Diálogo Social: Discussão Recorrente sobre Diálogo Social, no Quadro da Declaração da OIT sobre Justiça Social para uma Globalização Justa, 2013. Bureau Internacional do Trabalho, Genebra. ISBN 978-92-2-826870-6 (Web-pdf)

12. Domingos, J. 2014. A Responsabilidade Social Corporativa: O Papel das Empresas Transnacionais para o Desenvolvimento Local - O caso de Moçambique. Dissertação de Mestrado, ISEG, Maputo.

17. CEPKA – UCM, ALTIS-UCSC, PMM. 2014. A Gestão da Responsabilidade Social das Empresas em Moçambique. CEPKA – UCM, ALTIS-UCSC, PMM, Nampula.

18. Eon, F.2015. O Que é Responsabilidade Social? Revista Responsabilidade Social.com. http://www.responsabilidadesocial.com/o-que-e-responsabilidade-social/

19. OIT - http://www.ilo.org/ifpdial/areas-of-work/social-dialogue/lang--es/index.htm

20. http://opais.sapo.mz/index.php/sociedade/45-sociedade/24969-modelo-mocambicano-de-dialogo-social-e-muito-eficaz.html

21. http://www.portaldogoverno.gov.mz/por/Imprensa/Noticias/Diogo-desafia-sindicatos-de-Africa-a-promoverem-negociacao-colectiva

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22. SPEED. 2013. How USAID can Assist Mozambique to Cope with the Impending Resource Boom. SPEED Program, Maputo.

23. Mendonça, J. e Gonçalves, J. 2004. Responsabilidade Social nas Empresas: Uma Questão de Imagem ou de Essência? o&s - v.11 - n.29 - Janeiro/Abril – 2004.