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1 Rogério Silveira Uma reflexão sobre o verdadeiro Caminho!

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Rogério Silveira

Uma reflexão

sobre o verdadeiro

Caminho!

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Sumário Introdução

O inicio da caminhada

O Jesus do caminho O Deus misericordioso

Os espinhos e as dores A surpreendente Graça de Deus

Limite da Fé e fanatismo

Compaixão & Cuidado. A inconfundível visão: O amor

A Igreja e a Questão Social Experiência & Espiritualidade

Perdão & Relacionamento

O Consolador

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1. Introdução “Mas o que foi semeado em boa terra é o que ouve a palavra e a compreende...”. Mateus 13:23

Durante estes últimos anos, venho observando o desenvolvimento das religiões,

principalmente quanto ao processo de crescimento que elas estão tendo diante de um

mundo cada vez mais globalizado e confuso.

Neste trabalho me dedicarei em falar sobre o cristianismo e especificamente sobre o

movimento evangélico, do qual faço parte, pertencendo a uma igreja, classificada como

histórica.

O que me leva a escrever sobre este tema, é o fato de que hoje, apesar do

crescimento numérico que as instituições apresentam, muitas pessoas estão ficando pelo

caminho e existe uma rápida “renovação” destes, provocando até mesmo o dizer que a

maior igreja evangélica no Brasil é a igreja daqueles que abandonaram o caminho, ou seja,

os chamados de “desviados”.

Li um artigo sobre o assunto, que dizia sobre uma denominação em nosso país, que

durante um determinado ano, foi realizada uma estatística e detectaram que cerca de 900

pessoas tinham sido acrescidas aos livros das igrejas pertencentes a esta denominação em

todo um Estado e que cerca de 790 pessoas tinham sido baixadas dos mesmos livros, por

vários motivos. Então eles realizaram um seminário sob o tema: “Pastores! Ao abrirem as

portas da frente, não se esqueçam de fechar as portas dos fundos”.

Então minha reflexão irá versar sobre a questão da permanência no caminho, como

perseverar utilizando as ferramentas que Deus nos disponibilizou para podermos subir

degrau por degrau, nesta continua e progressiva caminhada até o encontro definitivo com o

nosso Senhor.

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Vale destacar que se isto esta ocorrendo é porque existem dentro de nossas

comunidades, deficiências e fragilidades que precisam ser detectadas e rapidamente

sanadas, a fim de acompanharmos com alegria e convencimento que aqueles que estão

chegando permanecerão e desfrutarão dos frutos deste reino de paz.

Nosso objetivo principal é refletirmos sobre alguns elementos, que julgamos

importantes para nossa caminhada, sempre com a certeza que o Divino, o Sagrado se

revela com sua soberana vontade sobre nós e age como Lhe apraz.

Uma reflexão sobre o verdadeiro Caminho! Talvez pareça ser um trabalho tão

somente direcionado para os novos convertidos, porém estou escrevendo para mim

também, que nasci e fui criado na igreja e continuo amando este Deus, apesar de tantas

confusões doutrinárias, teológicas, políticas em nosso meio, que precisam ser bem

detectadas e entendidas, para que possamos seguir sempre caminhando rumo ao colo

protetor de nosso amado Criador.

Rogério Silveira

Petrópolis-RJ, fevereiro de 2005.

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2. Início da Caminhada

“Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a”. minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa,

“e cearei com ele e ele comigo.”.

Apocalipse 3-20

Nesta semana, quando cheguei do trabalho minha esposa me contou com bastante

alegria que um grande amigo nosso havia ido a uma igreja evangélica na cidade do Rio de

Janeiro, a convite de minha cunhada, e que naquele culto ele sentiu algo que jamais tinha

sentido, sendo algo que lhe falara ao coração.

Quando ele relatou para minha esposa sua experiência, ela me disse que parecia

estar ele bastante sensibilizado com o ocorrido, pois até então encarava estes assuntos

respeitosamente, porém muito racional, sem muito acreditar o que ouvia de nossas

conversas evangélicas.

Pois bem, nesta noite, quando fui dormir, agradecido com este primeiro contato que

este amigo tivera com o Sagrado, me questionei: E agora? Será que ele se converteu?

Aceitou de fato a Jesus? Será que ele não se confundirá com que passará a ouvir em nosso

meio? Usos e costumes? Não pode isso e aquilo? etc..........

Após todos estes questionamentos, se com razão ou não, não importa, me pareceu

estar querendo ajudar a Deus no processo de conversão de nosso amigo, sem a mínima

percepção de estar desejando moldar algo segundo meus conceitos.

Aqui então, comecei a ver de outra maneira, pois Deus quando começa uma obra na

vida de alguém, somente Ele tem a autoridade sobre isto e comecei a escrever imaginando

que nosso amigo viesse nos perguntar: E agora Rogério? Como perseverar neste caminho?

O que lhe diria? Deste ponto de partida, escolhi alguns temas que me parecem ser

essenciais para a caminhada cristã que passarei a escrever segundo o que aprendi e

observei nestes meus anos de vida.

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Começar, dar os primeiros passos, iniciar, como me adaptar a esta nova realidade?

Que dificuldade! Há poucos dias, estive lendo sobre a história de Santo Agostinho, suas

influências teológicas, filosóficas e suas lutas contra sua vida emocional, no inicio de sua

caminhada cristã, quantas barreiras enfrentou, questionamentos e demais obstáculos.

Poderia aqui também citar a história de John Wesley, sua mãe e outros vultos de nossa

história, que com certeza passaram por estes momentos até consolidarem esta força

poderosa que é a compreensão deste imenso amor do Pai para conosco, que nos comove e

nos fortalece incondicionalmente.

O inicio da caminhada, requer muita atenção, principalmente pelo fato dos

“enfrentamentos” com a família, amigos, trabalho. Por isso devemos compreender a Palavra

e fazer dela nosso escudo, sem desejar defende-la, pois ela é a maior prova da revelação da

existência de nosso Pai amoroso e cheio de misericórdia. Porém, a maneira como estamos

sendo ensinados e alimentados que é o segredo da vitória, bem alicerçados nos

apresentaremos perante a estes normais enfretamentos, cheios de graça e amor e os

venceremos sem maiores dores.

O texto bíblico escolhido para este capítulo, nos diz respeito à relação com nosso

Senhor, dando-nos a certeza que a partir do momento que nós permitimos que nosso

coração seja invadido por este doce e puro amor , teremos Seu auxílio em todos os

momentos de nossa caminhada.

Esta compreensão se faz necessária, pois de fato, poderemos encontrar diante de

nós, algumas contradições, como o muito de religiosidade e pouco de vida, muito de

cristandade e pouco de cristianismo, muito de atividade e pouco de Cristo. (Guilherme K.

Neto). Entretanto, o mestre nos chama a cear com ele, termos uma verdadeira comunhão,

participando de sua mesa, apesar destas e de outras contradições que possamos descobrir

a cada dia.

Quando estamos diante de pessoas que estão começando sua história de vida com

Cristo, devemos lhes ser receptivos e tão somente amigos, não com desejo de protegê-los e

preservá-los das fragilidades de nossas comunidades humanas, mas sim, mostrar-lhes o

caminho da graça, do amor, da misericórdia, do perdão, da solidariedade, do

companheirismo, que existe no coração daqueles que assimilaram o que é viver neste

mundo tendo Cristo como nosso sustentador.

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3. O Jesus do Caminho

“Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai se não for por mim”. João 3-16

“John Stott cita em seu livro “O que Cristo pensa da Igreja” a história de um servo de

Deus, chamado Policarpo, bispo da igreja de Esmirna, descrita no livro de Apocalipse 2.8-

11, conta-nos:” Era 22 de fevereiro de 156. O velho bispo, conclamado a negar o Cristo e

adorar o César em troca de sua liberdade, responde: “oitenta e seis anos faz que eu tenho

servido a Cristo, e Ele jamais me faltou; como posso eu blasfemar contra o Rei que me

salvou?” O procônsul romano persistiu: “Jure pelo gênio de César.... Tenho feras selvagens;

se não mudares de idéia, serás atirado a elas...” “Que sejam trazidas”, replicou Policarpo.

“Se desprezas as feras, a não ser que mudes de idéia, queimá-lo-ei vivo.” Enfurecidos,

judeus e gentios arremeteram contra ele munidos de madeira, a fim de queimá-lo numa

fogueira. Policarpo disse que não precisavam amarrá-lo ao poste, e em pé, ao lado dos seus

opressores, orou: “Ó Senhor, Deus Todo-poderoso, Pai de Teu amado filho, Jesus Cristo,

através de quem recebemos o conhecimento de Ti... eu Te agradeço porque me

consideraste digno, neste dia e hora, de partilhar do cálice do Teu Cristo, entre o número

das Tuas testemunhas”. Atearam o fogo, mas como o vento prolongava a agonia de

Policarpo, a espada de um soldado encurtou seus sofrimentos. Porém ele ouvira bem as

palavras do seu Senhor: “Sê fiel até a morte e darte-ei a coroa da vida”.................

A história acima, como fora de milhares de cristãos no passado, fala-nos de um

homem que ao longo de sua vida, foi servo-seguidor deste Jesus que lhe comovera ao ponto

de entregar sua vida por amor e convicção. Este Jesus, que marcou a história da

humanidade e a alma daqueles que, pela fé, perpetuam sua mensagem libertadora e

confortadora, tem-nos desafiado nos dias, tão conturbados e agitados, de hoje.

Neste trabalho, tenho o objetivo em destacar que é possível viver um cristianismo

com liberdade e prazer, sem estar sob o peso da culpa e do medo, porém poder viver, dia

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após dia, em nossas diversas atividades, tendo sempre a real e consoladora companhia

deste Jesus do caminho.

Evidentemente não podemos deixar de considerar que a respeito da fé, da religião e

até mesmo da Bíblia, existem várias correntes questionando a veracidade dos fatos ali

narrados, e que também as práticas institucionais, em muitos casos, não demonstram ou

não produzem o sentido do verdadeiro desejo de Cristo. Note porém, que nosso tema fala

do momento em que nós ao ouvirmos a pregação desta mensagem ou pelo convívio de

amigos, decidimos aceitar este caminho e agora precisamos aprender nele continuar, apesar

de suas compreensíveis dificuldades.

O que precisamos neste instante é ter consciência da escolha que fizemos, mesmo

que não ainda tenhamos toda a convicção. Pois o segredo de uma boa caminhada é saber

que ela não é tão fácil e nem tão romântica como no início nos parece ser, porém ela é

gloriosa, quando sentimos na alma a paz que a decisão que tomamos nos trouxe. Nossos

desafios, fragilidades, sonhos, problemas continuarão sempre diante de nós, contudo o

Jesus do Caminho, compassivo como é, nos auxiliará.

Na experiência que Paulo teve com este Jesus, narrada no capítulo 9 dos Atos dos

Apóstolos, extraímos pelo menos duas verdades que podem nos fortalecer neste processo

de consolidação desta nova vida. Paulo estava a caminho de Damasco, quando foi

surpreendido e impactado por este primeiro e transformador contato com o Cristo por ele

perseguido, que mudou o rumo de sua vida e o desejo de seu coração. Estas verdades

também devem marcar nossa caminhada com este Jesus que se revela no caminho.

Todo conhecimento teológico, doutrinário e intelectual sobre o Jesus do caminho será

sempre agregador e fortificador da fé, que surgiu pela experiência pessoal que você e eu

tivemos com este Divino Senhor, que nos despertou para encarar a vida, as pessoas, as

coisas de maneira diferente, com amor, com respeito, com solidariedade e acima de tudo

com graça.

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4. O Deus Misericordioso

“Sede, pois, misericordiosos, com também vosso Pai é “misericordioso”. Lucas 6-36

Este atributo de Deus nos foi também transferido, no texto escolhido, um

mandamento nos é proposto, ou seja, uma vez entendendo a misericórdia de Deus,

devemos exercitá-la de uma maneira prática e eficaz. Note entretanto, que neste capítulo

procuraremos entender o que é ser uma pessoa misericordiosa.

Em primeiro lugar vamos analisar a definição de Hodges, citado por Myer Peralman:

“A misericórdia de Deus é a divina bondade em ação com respeito às misérias de suas

criaturas, bondade que se comove a favor deles, provendo seu alívio, e, no caso de

pecadores impenitentes, demonstrando paciência longânime”.

De fato a Bíblia esta repleta de exemplos da bondade de Deus em ação, em direção

ao seu povo, em prol de suas criaturas, provendo alívio, conforto, consolo, restauração,

cura, libertação, enfim, diversos benefícios provindos deste Pai amoroso que não mede

esforços para o bem de seus filhos. Fato ainda maior, foi o que em João 3-16, constatamos

que “Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o seu unigênito filho, para que através

dele, ninguém pereça, mas tenha a vida eterna”.

Agora como podemos fazer a aplicação deste mandamento em nossa caminhada

cristã? Como enfrentar este desafio, quando constatamos tanta pobreza, miséria, injustiça,

corrupção e todas as demais doenças sociais, diante de nossos olhos e até mesmo dentro

de nossas comunidades? E aí dizemos: como devo me comportar, tendo como base este

mandamento? É possível sobreviver?

C.S Lewis disse que “muitas e muitas coisas foram corrompidas no mundo que Deus

fez, e que Deus insiste vigorosamente em que as restituamos ao que devem ser”.

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Mais adiante trataremos deste tema um pouco mais detalhado, porém, queremos

utilizar esta frase deste conceituado teólogo, para fortalecer o nosso chamado diante de

Deus e tentar ser um pouco pretensioso em responder ao parágrafo anterior, que sim, é

possível sobreviver, sentindo a misericórdia de Deus em nossas vidas e transmiti-las da

mesma forma que a recebemos, pois se Deus, vigorosamente, pretende restaurar todas as

coisas, Ele nos escolheu, vivamos firmes neste propósito, mesmo em face de uma tensa

nuvem.

Em Lucas a parábola do bom samaritano, dentre vários ensinamentos que Jesus nos

transmite, ali podemos encontrar um clássico exemplo do que é ser uma pessoa

misericordiosa, e Jesus foi além das fronteiras da religiosidade, para demonstrar que a

misericórdia não necessariamente parte daqueles que freqüentam alguma instituição

religiosa, mas sim de um coração convertido ao verdadeiro amor do Pai. E aqui gostaríamos

que de fato e verdade todos os membros de nossas congregações fossem assim, tivessem

um coração, reconhecidamente, ligado ao coração misericordioso de Deus.

A misericórdia nos surpreende, nos emociona, nos restaura, que ferramentas

maravilhosas nas mãos daqueles que desejam ser estes agentes do bem, restauradores das

obras de Deus, proporcionando àqueles feridos pela doença, pela injustiça, pelo

desemprego, pela falta de solidariedade, pela discriminação, uma esperança de vida, uma

valorização incondicional, sem medir retornos e recompensas.

Um dos exemplos mais marcantes de nossa história contemporânea foi o exemplo de

Madre Tereza de Calcutá, independente de sua denominação religiosa, foi indiscutivelmente

uma mulher misericordiosa. Nascida em 1910 na cidade chamada hoje Macedônia, foi

trabalhar como professora na Índia em 1929. Lá estudou medicina e fundou sua própria

ordem: As missionárias da caridade. Destacamos aqui duas de suas memoráveis frases

frutos de sua prática, são elas:

“Uma gota de sossego em um oceano de sofrimento”.

“Aos mais pobres entre os pobres”.

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5. Os Espinhos e as Dores

“E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne,mensageiro

de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte”.

2Corintios 12:7

Neste instante é importante destacarmos que durante nossa caminhada, nos

depararemos com alguns elementos que são intrínsecos a vida, que nos fazem chorar,

sofrer, refletir, enfim, saborear o gosto amargo, que nos podem transformar para o

crescimento ou para depressão, dependendo da maneira como lidamos com eles.

O texto escolhido mostra-nos que o apóstolo Paulo, faz uma declaração pública que

padecia de um “espinho”. Sofrimento da alma? das emoções? Do corpo? Do físico?

Ninguém verdadeiramente sabe e isto que é o segredo do texto, ou seja, não importa qual

seja o nome do espinho, o que importa é o que ele proporciona. E neste caso, para Paulo,

que claramente o define como algo que lhe protegia contra, sua possível, auto-exaltação.

No parágrafo acima destacamos que o espinho, sinônimo aqui de dor, tinha um

objetivo claro e bem definido, todavia, e é fato, que nem todo o sofrimento em nossa

caminhada, tem por claro seu motivo e razão e que por várias vezes nos toparemos com

pessoas, perto ou distante de nós, que se apresentam com um quadro terrível de tristeza e

profunda dor, com as quais devemos contar com a graça de Deus, para podermos, no

mínimo, aliviar a dor amenizando o peso do caminho.

Quando analisamos o mundo em que vivemos e observamos sua história, sua

trajetória, nos valendo dos mais antigos registros que se tem conhecimento, percebemos

que a dor, os espinhos, ou seja, o sofrer, está sempre presente no seio da humanidade,

sejam por causa da ignorância, dos interesses civilizatórios, políticos, imperiais, territoriais,

econômicos e ai por diante, porém nosso trabalho não tem este objetivo em tão somente

detectarmos a causa e apontarmos os culpados, mas sim trabalharmos a questão de

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maneira adulta, sem ressentimento, sabendo que a dor existe, que está diante de nós e

muitas vezes em nós e que precisa ser vencida, talvez não seja possível sua eliminação,

mas com certeza é possível aprendermos a lidar com ela.

O livro escrito pelos Pastores Edson Fernando e Jonas Rezende, intitulado, “Dores

que nos transformam”, nos proporciona um material didático sobre o tema proposto e aqui

reproduziremos alguns de seus conceitos para nossa reflexão.

“A dor é uma lembrança mais evidente da precariedade de nossos corpos, da

humildade de nossa condição, de nossas fragilidades e impotências”.

“Cada dor que sentimos está destinada a transformar-se num sofrimento único. A dor

que vivemos é de impossível catalogação, pois cada um sofre à sua maneira, segundo os

misteriosos caminhos das formas e jeitos como lhe foi ensinado a comportar-se diante das

dores que a vida lhe trouxe.”

Os autores acima, nos querem passar uma mensagem que é possível encarar a dor e

o sofrimento de maneira mais consciente e não tão desastrosa, como na maioria dos casos

nós os encaramos. O cristianismo nos ensina isto, pois não é raro detectarmos na vida de

Jesus e seus continuadores, profundos embates, quando não físico, emocionais, na alma.

Este é o retrato da caminhada, existem as dores, os espinhos, porém são eles momentos de

reflexão e fortalecimento de nossas vidas, nas próprias palavras seguintes ao texto bíblico

que escolhemos, nos diz: “O meu poder se aperfeiçoa em sua fraqueza, quando você está

fraco é aí que você está forte”.

Farei destaque aqui também a um livro comovente escrito por Harold S. Kushner,

intitulado “Quando coisas ruins acontecem às pessoas boas”. Neste livro o autor narra à

história da morte de seu filho, que tinha a doença genética chamada: Progéria

“envelhecimento precoce”, que segundo os médicos faleceria por volta de 13 anos de idade.

Quando ele e sua esposa descobriram esta doença, logo bem cedo, eles passaram a viver

dia após dia amando muito seu filho, porém diante de um profundo e incomparável

sofrimento, que um dia chegaria, e não muito longe, que seu filho partiria. E quando seu filho

completou 13 anos de idade, faleceu como previra os médicos. Ele teólogo judeu, rabino em

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uma sinagoga nos EUA, escreve este livro fazendo uma análise teológica sobre o tema, que

faremos uma pequena menção para nossa observação.

“Bem, perguntamos, se Deus não é todo-poderoso, se Ele não pode interceder para

impedir o sofrimento humano, então por que acreditar n’Ele? Por que não jogar fora a

religião de uma vez? a resposta de Kushner: porque é Deus que nos dá força, coragem e

paciência para enfrentarmos os golpes da vida. Deus é a fonte de nosso poder de suportar,

nossa capacidade de superar e nossa determinação de continuar”.

Quando Haroldo Kushner compartilha conosco seu sofrimento, ele nos dá uma

definição interessante sobre a participação de Deus neste processo, ele não atribui a Deus a

culpa pela doença de seu filho. Como teólogo, refletiu muito sobre o tema a cada passo que

seu filho ia se definhando, questionava seu criador, porém chegou à conclusão que Deus

não tem prazer no sofrimento de seus filhos e nestes casos se apresenta como nosso

auxiliador, confortando-nos, consolando-nos nestes terríveis momentos quando coisas ruins

acontecem às pessoas boas.

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6. A Surpreendente Graça de Deus

“ ... Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo.

2Corintios 12:9

Surpreende-nos à medida que a conhecemos e a confrontamos com tudo que fomos

ensinados sob o peso da culpa e do medo. A Graça de Deus, presente imerecido, favor

grátis do Pai, beneficio, dádiva, mercê.... nos envolve nos libertando de todo peso, nos

liberando para viver em uma comunidade, livres para compreendermos as dificuldades e

limitações de cada ser humano, os aceitando como eles são de uma maneira especial e

tendo sempre a ciência de que juntos podemos nos ajudar em nossas fragilidades e

construir um ambiente melhor e sadio.

O texto nos fala isto, desta Graça que nos é suficiente para superar as nossas

fraquezas, nos mostrando a cada dia o quanto somos amados pelo Pai que nos aceita, nos

perdoa e nos faz capaz de viver reconhecendo nossas dependências e a necessidade de

contarmos com o nosso próximo, a fim de podermos estar inserido neste reino glorioso para

o qual fomos designados.

Encontramos vários conceitos teológicos para a Graça, porém aqui destacaremos

dois deles que nos ajudarão a compreender a grandeza desta pequena palavra e podermos

desenvolver com base um pouco mais deste tema que nos envolve:

“A mensagem da Graça de Deus, não esta ligada a qualquer pressuposto, ou ato

meritório prévio no homem” (Walter Klaiber)

“A qualidade em Deus que o faz dar sem cobrar; sua raiz significa “dando prazer”. A

Graça é sempre dada, nunca merecida. É uma palavra de relacionamento, não uma “força”

(Robin Keeley).

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O que podemos perceber que tudo provem do grande amor de Deus para com sua

criação, nada mais é do que o desejo do criador em restaurar suas criaturas, dando-lhes

amor sobre amor. Graça é amor genuíno, incondicional, imensurável, que tem o objetivo

maior em dar ao ser humano uma, intransferível, oportunidade de reconciliação com o seu

Divino e bem presente Pai.

Quando entendemos assim, encaramos o caminho de forma diferente e mais leve,

não significando, porém sem responsabilidades, temos um ideal cristão, cheio de esperança,

de paz, de longanimidade, de bondade, de mansidão, de solidariedade. Perseverar no

caminho é possível quando a maravilhosa Graça de Deus inunda o nosso ser.

Um dos livros mais empolgantes sobre o tema é o livro “Maravilhosa Graça de Philip

Yancey”, neste o autor aborda o assunto de uma maneira franca e profunda, expressando

sua insatisfação quanto ao caminho da não-graça que presenciamos, muitas vezes, em

nossas comunidades cristãs, em nossas famílias, rejeição àqueles que descumpriram

alguma norma estabelecida e por algum motivo não conseguiram se manter incólume ao

erro. Faz ele uma análise da igreja e constata que muitos de nossos gestos no dia a dia,

são gestos de não-graça, que geram feridas e quebra de relacionamentos, aliás, como

verificamos em um dos conceitos acima, Graça é relacionamento.

Concluindo, ressaltamos o desejo que devemos ter em restaurar nossos

relacionamentos, contando com a Graça perdoadora e curadora de Deus, criando sempre

onde estivermos um espaço terapêutico, banhado por atitudes provindas de corações que

reconhecem a grandeza do Deus dono Graça.

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7. Limite da Fé e Fanatismo

Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça

todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver

amor, nada serei.

1 Coríntios 13:2

“Perdi minha filha para uma profecia”, dizia uma desesperada mãe que teve sua filha

convertida a uma igreja evangélica, que a partir de então passou a encarar sua família e

principalmente sua mãe, antes sua melhor amiga, como agora feroz inimiga, tudo isto em

nome de sua nova fé. Que fé é esta?

Aqui neste capítulo, trabalharemos esta problemática sob o aspecto da saúde, pois a

fé cristã traz-nos paz, alegria, vida, amor, compreensão, dinamismo, diálogo. Diariamente

ouvimos estes tristes comentários, que por causa de uma religião a pessoa ficou doente da

mente, fanática nas atitudes. É verdade que a religião tanto tem o poder de libertar uma

pessoa como o poder de oprimi-la, de levá-la a depressão, ao esvaziamento de si e da

compreensão dos demais em sua vida.

Desta forma, fazemos a pergunta onde se encontra o limite da fé pura e simples com

respeito e amor às pessoas que pensam diferentes e o fanatismo incompreensível,

intolerante, inimigo do bom relacionamento e destruidor do saudável convívio? A fé

verdadeira e genuína gera temperança que é a qualidade de quem é sóbrio, moderado,

refletido e que preserva o desejo pela harmonia. Já o fanatismo, um de seus conceitos, é a

paixão cega que leva alguém a excessos; uma dedicação excessiva. (Enciclopédia Larousse

Cultural). Aqui é importante salientar que o excesso pode depender de cada ponto de vista,

porém quando existe um consenso na avaliação das atitudes de uma pessoa fanática é ali

que vamos detectar quando a fé deixa de existir para dar lugar ao fanatismo.

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O teólogo e escritor Leonardo Boff nos apresenta um conceito da fé cristã que nos

ajuda a entender esta dádiva de Deus: “A fé cristã não é uma religião de mistérios, mas de

um único mistério: do mistério da autodoação de Deus ao homem, como mistério, como

verdade e como amor”. Enfim, não devemos fazer de nossa experiência com o divino,

com o sagrado, com o nosso criador, que invade nosso ser , nos transformando a cada

manhã , uma experiência doentia, agressiva, da mesma forma que Ele se deu por nós, nos

demos aos outros, pelo menos, em amor e em respeito.

A intolerância religiosa, provocada pelo fanatismo, dizimou milhares de inocentes na

história da humanidade e infelizmente continua dizimando e nós como participantes do

Reino de Deus devemos sempre estar avaliando nossas atitudes, nossas “defesas” em

nome da fé que professamos. Em que se resume o cristianismo a não ser amar a Deus

sobre todas as coisas e ao próximo com a nós mesmos. Próximo este, que muitas vezes

não pensa como nós, não gosta das mesmas coisas, porém é a este que você e eu fomos

chamados a amar.

O fanatismo toma espaço quando queremos, até mesmo com boa intenção, defender

de forma excessiva a nossa fé, a bíblia, a nossa denominação e às vezes nossos líderes,

nossas idéias, como se tivéssemos esta função e como se Deus necessitasse de defesa.

Precisamos que Deus reforme nossos púlpitos para que através deles sejamos ensinados

de maneira correta e sadia e que surja uma geração não com desejo de dominar por

dominar, mas sim viver e viver na graça deste Deus que a todos aceita em Cristo Jesus.

Concluindo entendemos que nosso objetivo é praticarmos um cristianismo que leve

em consideração a liberdade, até mesmo constitucional que possuímos em nosso país, de

professarmos nossa fé com tolerância, com paz e com a ciência que uma vez fazendo a

nossa parte, caberá a partir daí a ação do Espírito Santo de Deus, único convencedor da

Verdade.

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8. Compaixão & Cuidado

Ao aflito deve o amigo mostrar compaixão, a menos que tenha abandonado o temor do Todo-Poderoso.

Jó 6:14

Para que não haja divisão no corpo; pelo contrário, cooperem os membros, com igual cuidado, em favor uns dos outros.

I Coríntios 12:25

Neste capítulo abordaremos estas duas pequenas palavras que as considero de

extrema importância para que possamos ter êxito em nossa caminhada e alcançarmos o

nosso objetivo. Quando expressamos compaixão e cuidado para com as pessoas e os

recebemos da mesma forma, nos sentimos protegidos e fortalecidos quanto às tempestades

que no caminho certamente nos assolam.

Agora fato é que muitos de nós, em nossa vida particular e até mesmo nossas

comunidades, devido a vários fatores, temos deixado de lado esta prática comunitária e

essencialmente terapêutica, que gera em nós uma constante busca pela justiça, pela alegria

e pela paz, características de um reino regido pelo amor de Deus.

Terminei a poucos de ler um livro chamado “A Reengenharia do Tempo” Neste livro a

sua autora (Rosiska Oliveira Garcia), faz uma profunda análise sobre o efeito da

globalização e da inserção maciça da mulher no mercado de trabalho, salientando a extrema

competitividade que se trava dia a dia e os prejuízos emocionais que as famílias estão

sofrendo devido ao pouquíssimo tempo que os casais estão dispensando para o que ela

define como a vida publica, ou seja, não temos tempo para estarmos com os nossos

familiares, amigos, tempo para o lazer.

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Quando o quadro diante de nós se apresenta como no parágrafo acima, onde

encontraremos espaço para cultivarmos entre nós os princípios de cuidado e compaixão,

tanto em nossa família como em nossas igrejas? Como superar este obstáculo? Pois certo

detectamos fragilidades e desânimos nestes lugares, provenientes desta estressante luta

pela competição, pela conquista, por ter que ser o melhor e por ai em diante. Não afirmo

aqui que não devemos lutar para desenvolvermos nossos conhecimentos e habilidades e

não termos o desejo e sonho em melhorarmos de vida, em sermos profissionais

competentes e qualificados. O que desejo refletir é que é possível, mesmo diante disto,

termos um coração cheio de compaixão e cuidado pelas pessoas, estas características não

dependem da disponibilidade de tempo em nossa agenda e sim de uma alma que reconhece

o sentimento e a mensagem de seu criador.

Quando a compaixão e o cuidado fluem de nós de uma maneira natural, e passa a

fazer parte de nossa vida, desenvolvemos o poder do afeto, os gestos de solidariedade, de

carinho, que tem um fator profundamente terapêutico e restaurador. Dizem os

psicoterapêutas que um simples abraço é capaz de liberar energias emocionais

extraordinariamente poderosas que penetram até o recanto mais íntimo de nossa

subjetividade. (Ademar Spindeldreier)

Prefaciando seu próprio livro “Principio de compaixão e Cuidado”, o teólogo e escritor

Leonardo Boff nos deixa uma frase que pode nos ajudar a compreender o quão importante é

atentarmos para estes elementos, ou seja:

“Construímos o mundo a partir de laços afetivos. Estes laços fazem com que as

pessoas e as situações sejam portadoras de valor. Sentimos responsabilidade pelos laços

que nasceram. Enchemo-nos de cuidado com tudo que para nós significa sentido e valor.

Não habitamos o mundo somente através do trabalho, mas fundamentalmente através do

cuidado e da amorosidade. É aqui que aparece o humano do ser humano”.

Somos humanos cheios desta potencialidade divina de se dar, de compartilhar, de

compreender, de conviver, de ajudar, de carregar, de levar, de sorrir e chorar juntos, de

caminharmos acompanhados, nunca sozinhos e jamais desamparados, Oxalá sejamos

assim.

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9. A inconfundível Visão: O Amor

Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei.

I Coríntios 13:2

Atualmente o que mais tenho ouvido em nossos púlpitos e programas televisivos é

que temos que ter uma visão, uma igreja sem visão é uma igreja fadada à inoperância e a

improdutividade, e vários grupos, denominações nos apresentam uma visão baseada em

métodos e procedimentos para obter um crescimento explosivo e sustentável, em contra

partida outros contestam, advertem sobre os métodos utilizados e chegamos a mais um

tema controverso: Qual é a visão correta e bíblica que devemos seguir?

Cada comunidade tem suas raízes históricas e procuram preservá-las dia a dia em

suas práticas, porém as mudanças em nossa sociedade, provenientes da globalização que

vivemos, que também atinge as igrejas e com o forte apelo pelo crescimento e conquistas,

percebemos que alguns insubstituíveis princípios, que sempre permearam a caminhada

cristã, estão sendo deixados de lado.

Por isso damos a este capítulo o espaço para falar sobre um principio que deva ser o

alvo, o centro de todos os propósitos e visões, sem o desejo de fortalecer sectariamente

cada grupo eliminando substancialmente as vaidades que tanto estão presentes em nosso

meio, este principio é o Amor. Fruto de um coração espiritual, que não confunde que não

divide que não exclui, o que pensa diferente, e que não despreza àquele que não adere a

um tipo específico de “visão”.

Como estamos falando sobre nossa caminhada cristã, partimos da máxima que todos

nós temos ciência da direção do Espírito Santo sobre nós, e por isso entendemos bem o que

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o apóstolo Paulo nos diz em Gálatas 5:20 sobre este fruto que é por Ele produzido em nós.

Este amor não depende tão somente de nossa educação familiar, que tem um valor hiper

importante em nossa vida, porém não é suficiente para suportar o peso da caminhada e sim

nossa experiência pessoal com o Espírito de Deus que nos faz partir com força, com garra,

com convicção, com intrepidez e com graça.

O escritor William Barclay nos oferece uma definição sobre este fruto do Espírito, o

Amor que no grego é definido como “Ágape”. Ele o define assim:

“Ágape, o amor cristão, é um exercício da personalidade total. É um estado não

somente do coração, mas também da mente, faz parte dos sentimentos, emoções, e

também da vontade. É algo que temos de desejar. É a capacidade, o poder e a

determinação de amar as pessoas das quais não gostamos. É uma vitória sobre o eu. A

pura verdade é que este amor cristão é o fruto do Espírito; é algo totalmente impossível sem

a dinâmica de Jesus Cristo”.

Por essa razão devemos sempre e pacificamente lutar quando percebemos em

nossas comunidades que este amor cristão não está sendo o centro de nossos

planejamentos, programas, agendas e métodos. O amor cristão não pode ser usado como

pretexto para um outro fim, ele é o fim, devemos aplicar tudo o que for saudável para que

nossas igrejas sejam essencialmente caracterizadas e conhecidas pelo verdadeiro e puro

amor cristão que ela vive. E aí as demais coisas, templo bonito, belo local, louvores, corais,

Cd’s, serão importantes, mas nunca essenciais.

Sempre que algo falso tem êxito, em geral, é porque algo verdadeiro falhou. (Warren

Wiersbe). Esta frase cai bem para nossos dias, onde a cada instante nos deparamos com a

inversão de valores e verdades, nos deixando até mesmo levar por conceitos sem o mínimo

analisarmos o que nos esta sendo apresentando, por isso quando nos definimos pelo amor

cristão, escolhemos o caminho correto e indiscutível que não nos causará danos emocionais

ou até mesmo físicos, encontramos a verdadeira liberdade do Espírito: amar, amar e amar.

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10. A Igreja e a Questão Social

Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes;

Mateus 25:35

O Estado como governo, seja ele municipal, estadual e federal é constitucionalmente

responsável pelo social, é através dos tributos, que o Estado avoca para si a sua devida

aplicação em solucionar os problemas de ordem social. Diante desta afirmação, podemos

dizer que a responsabilidade por todos os problemas sociais é do Estado, não nos diz

respeito e por esta razão não podemos responsabilizar a igreja caso ela seja ineficiente

nesta área de atuação. Será?

O texto escolhido, bastante utilizado pelos movimentos político social cristão, numa

simples leitura nos convoca como cristãos a participar desta luta social como agentes

participativos e libertadores, atuando de forma assistencialista ou não, porém atuando

sempre, jamais se omitindo a estas questões que diariamente batem em nossas portas,

atingem nossos irmãos tão distantes dos braços estatais. O que fazer?

Um dos maiores exemplos desta atuante participação que devemos ter diante destas

causas, é a vida e luta pacífica do chamado Negro, Pastor, Herói Rev.Dr. Martin Luther King

Jr., Pastor Batista, Prêmio Nobel da Paz e campeão da causa dos direitos civis nos Estados

Unidos. Este homem entendeu que precisava descer dos púlpitos, sem abandonar sua

espiritualidade e sim aplicá-la a uma causa profundamente social com a esperança de dias

mais justos e melhores.

Reconhecemos que vivendo em um pais como o nosso, com antigas distorções

sociais, desequilíbrios e injustiças, falta de oportunidades e muita pobreza, é evidente que

muitas vezes os problemas sociais serão maiores que as nossas possibilidades e as ajudas

serão insuficientes. Porém a mensagem do Reino de Deus é baseada na Justiça, na Paz e

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na Alegria no Espírito, e por estes motivos devemos lutar por uma sociedade mais justa e

cidadã, procurando participar dela como verdadeiros cristãos.

“Os valores do Reino de Deus tornam as pessoas mais conscientes de sua dignidade

e passam a ser sujeitos de sua história, agentes de transformação dos sistemas pela

revolução do amor”. (Robson Cavalcanti)

O que não devemos fazer como igreja é perdemos a esperança, as nossas pequenas

atitudes e práticas, aliadas a nossa espiritualidade, surtem um efeito social restaurador,

quantas pessoas debilitadas pelos vícios e por vários outros problemas, são transformadas

em nossas comunidades e passam a ter, como citado acima, os valores do Reino em suas

vidas.

Um ponto importante a destacarmos aqui é o papel da igreja neste processo de

conscientização, de construção de um caráter cristão nas pessoas, não as alienando,

tornando-as desinteressadas e descompromissadas com as causas sociais, considerando

nosso papel somente no campo do espiritual. Tiago nos adverte: “Se um irmão ou irmã

estiverem carecidos de roupas e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentre vós

lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o

corpo, qual é o proveito disso? (Cap. 2:15,16).

A igreja e as questões sociais caminham juntas. Para o escritor Robson Cavalcanti, o

cristianismo deve ser integral, uma utopia possível, um sonho a ser realizado uma

esperança que não deve ser perdida e abandonada. Uma comunidade fechada em si,

individualizada em suas convicções, se torna um corpo doente e inoperante que não

contagia e não gera frutos de vida e libertação. Lutemos também contra isto, somos livres

em Cristo Jesus que nos chamou a servir.

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11. Experiência & Espiritualidade

...Saulo, Saulo, por que me persegues? Saulo perguntou: Quem és tu, Senhor? E a resposta foi: Eu sou Jesus, a quem tu persegues.

Atos 9:4-5

O exemplo de vida do apóstolo Paulo faz-nos refletir sobre o tema proposto de uma

maneira prática e eficiente, nos proporcionando elementos essenciais para exercício de

nossa caminhada. Quando temos uma verdadeira experiência religiosa com Jesus Cristo, a

partir de então temos a possibilidade de desenvolvemos uma espiritualidade sadia e

produtiva e podemos até ser comparados aos tessalonicenses, quando Paulo agradece a

Deus pela operosidade da fé, abnegação do amor e da firmeza da esperança em Jesus

Cristo que eles transmitiam. (1 Tes. 1-3).

Experimentar, sentir, vivenciar, saborear, deliciar-se, deleitar-se, conhecer

intimamente, são sinônimos da palavra experiência e é fato que quando somos encontrados

por Cristo e este encontro ilumina nossa alma, invade nosso ser, essas reações de cunho

afetivos transpiram de nós, nos proporcionando calma, serenidade, alegria, satisfação e

profundo consolo. A experiência com Ele e N’Ele é assim.

Sob este aspecto descrevo aqui o que nos diz o escritor Ademar Spindeldreier:

“A experiência de Deus nos é relatada mais como sendo uma presença de Deus do que um

conhecimento intelectual de Deus. Talvez se trate de algo que não pode ser descrito em

palavras, e que só pode ser validado objetivamente pelo efeito produzido na vida de uma

pessoa. Este efeito é a modificação vista nas pessoas, a mudança fundamental com relação

a elas próprias e aos outros. É o que se costuma chamar uma conversão.”

Neste texto encontramos subsídios para relacionar o vínculo existente entre a

experiência e a espiritualidade, que falaremos a seguir, pois o que vai caracterizar a pessoa

que teve uma inquestionável experiência com Deus é a modificação que passa a ter. Com

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isto a experiência impulsiona a espiritualidade que vai ser agora o agente confirmador

daquele inesquecível momento.

“A espiritualidade é um caminho rumo à transformação e esta relacionada coma as

qualidades da alma que tem Jesus”. (Leonardo Boff)

A espiritualidade produz em nós: Amor, compaixão, paciência, tolerância, capacidade

de perdoar, contentamento, noção de responsabilidade, noção de harmonia, amorosidade,

cuidado, pacificação, solidariedade, compromisso, companheirismo, singeleza e afetividade.

Outras qualidades poderíamos citar aqui, porém estas nos sinalizam o que é o Reino deste

Deus maravilhoso que nos anima a desenvolver esta espiritualidade sem medo, sem

traumas e cientes de que a Sua graça nos auxiliará.

Haverá sempre o questionamento diante de nós entre o ideal que buscamos e o real

que vivemos, porquanto não estamos distante do mundo, vivendo em estado monástico,

enfrentamos as dores, as injustiças, lutamos dia a dia como todo cidadão para a nossa

sobrevivência e muitas vezes ao nos analisarmos verificaremos que entre o ideal e o real

existe uma longa distância que precisa ser diminuída e às vezes nos perguntaremos: Como

fazer para que nossa espiritualidade brilhe em meio a estas realidades? Aqui recorro ao que

nos disse Jesus: “vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos

aliviarei.” (Mt. 11-28) ··.

Este tema nos fala a alma, invade o núcleo de nossa personalidade, nos confronta,

nos revela e quando isto ocorre há um belo raiar do sol da esperança de Cristo em nós, pois

o que desejamos é caminhar esta caminhada com convicção, com a certeza que mesmo

presente as imperfeições e as fragilidades que nos permeiam, somos capazes de exercer o

caminho da espiritualidade com a força e dependência do Altíssimo.

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12. Perdão & Relacionamento

Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo. mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação.

2 Coríntios 5:18-19

“Aquele que não pode perdoar destrói a ponte sobre a qual ele mesmo tem de passar”.

(George Herbert)

Antes de iniciarmos nossa reflexão sobre o perdão, temos que falar sobre o

relacionamento, pois o perdão existe e foi dado por Deus para corrigir, restaurar, reconciliar,

aproximar e curar uma relação do homem com seu criador e do homem com o seu próximo.

O cristianismo, como qualquer outra religião, tem sua base na relação entre as

pessoas, e partir de então desenvolve suas doutrinas e ensinamentos e começam a conviver

em comunidade, com periódicos e regulares encontros, onde projetam seus alvos sempre

baseados na conquista de mais adeptos e no relacionamento saudável entre as pessoas.

Assim da mesma forma se processam outros organismos sociais, como a família, escola,

trabalho que tem no elemento CONVÍVIO o segredo do sucesso.

E é no convívio do dia a dia que vamos nos conhecendo e descobrindo o quanto

como seres humanos somos imperfeitos e dependentes imensamente da Graça de Deus,

pois somos afeitos ao ressentimento, ao sentimento de vingança, ao ódio, a divisão, e todos

os demais males que brotam do coração do ser sem Deus. E por esta causa quantas

mortes, quantos assassinatos, quanta dor, quanta destruição, quanta falta de perdão.

Deus em sua imensurável sabedoria nos proporcionou esta ferramenta maravilhosa

para restauração de relacionamentos que é o perdão. Como ele nos fez e sabe que ainda

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estamos em processo de crescimento, uns lentamente outros um pouco mais rápido, mas

todos em processo, sabedor de nossa natureza humana e de que no dia a dia, no contato,

no aproximar, seria inevitável a perfeição dos atos, entrega nas mãos daqueles que

humildemente reconhecem isto, o perdão como único meio de fazer de sua relação com

qualquer pessoa, uma relação de sucesso.

Agora por que não é fácil lidar com isto? Primeiro que às vezes a dor, a ofensa é

grande demais, como exemplos cotidianos que nos estremecem, como um pai estuprar sua

filha, como alguém assassinar seu parente e por aí em diante. São dores terríveis. Em

segundo lugar existe aquilo que C.S Lewis disse como sendo “o grande pecado, ou seja, o

orgulho a presunção a falta de humildade”. E se analisarmos quantos de nós em casa, na

igreja, no trabalho deixamos de falar com alguém, quebramos um relacionamento por

pequenos atos, não que eles sejam desprezíveis, porém por orgulho nós nos colocamos na

posição de vitimas e esperamos que a outra pessoa se reconsidere e muitas vezes isto não

ocorre e excelentes amizades deixam de ser cultivadas por causa do orgulho.

Por que devemos perdoar? Philip Yancey nos oferece algumas respostas:

- “O perdão é a única alternativa que pode deter o ciclo de culpa e da dor, interrompendo a

cadeia da ausência da graça”.

- “A primeira e geralmente única pessoa a ser curada pelo perdão é a pessoa que perdoa,

independente se é inocente ou culpada, quando isto ocorre descobrimos que o prisioneiro

que libertamos éramos nós mesmos”.

- “A única coisa mais difícil do que o perdão é não perdoar”.

Lembre-se existem vários motivos que justificam o ato de não perdoar: brigas,

desentendimentos, injustiças, etc. Contudo Deus nos confiou a palavra da reconciliação.

Entendamos isto como um desafio para nós, não digo que é fácil, mas é possível com a

Graça de Deus.

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13. O Consolador

E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco, mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito.

João 14:16 e 26

Finalizando nesta manha chuvosa este pequeno livro que expressa a minha gratidão

por Deus, por ter nascido em um lar cristão e ter crescido na igreja e ter podido chegar até

hoje com uma certeza de que a Graça do Pai nos alcança sempre, mesmo quando tomamos

alguma decisão equivocada baseada em nossas vontades, mesmo assim, errando ou

acertando, Ele o Pai bondoso não nos despreza, não nos abandona.

“Há tantas convulsões em minha alma. Tempo perdido, momentos de hesitação,

insegurança. Minha autonomia me escravizou os pés, meu desejo me seduziu, meu íntimo

me desfigurou. Voltar, eis o meu desafio. Querer, eis o meu desejo. Ao voltar encontro

descanso, ao restabelecer acho paz. Na sintonia do meu coração ouço a doce voz me

conclamando a achar meu lugar de refúgio – achar o que eu havia perdido. Achar o meu

Deus. A volta parece difícil, mas será doce. A estrada parece estranha, mas será plana, o

retorno parece impossível, mas Nele encontrarei a força perdida” (Ricardo Gondim

Rodrigues).

Em João 14:23 e também pelo que nos ensina o Apostolo Paulo em Coríntios, que

agora o Pai e o filho vivem em nós pela pessoa do Espírito Santo, fazendo de nosso ser seu

novo templo, não mais construído por mãos humanas, sim este novo templo, casa de Deus,

somos nós, e o Espírito Santo, além de nos fazer lembrar de todas as coisas a respeito do

Reino, também nos consola diante de uma tristeza, nos conforta diante de uma perda, nos

anima diante de um desafio, nos capacita diante de um projeto, nos enche de poder diante

do mal. Este é o Espírito Santo Consolador

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A palavra consolar significa também: aliviar, alentar, animar, confortar, indenizar,

ressarcir, refrigerar, etc. Este entendimento é importante para percebermos a relação de

amor, de saúde, de paz, de construção, de segurança que existe neste caminho e que

perseverar nele é uma tarefa diária, um exercício da alma que anseia pelo seu criador como

a corça anseia pelas águas (Salmos 42; 1). Além de tudo isto o Espírito Santo nos

proporciona, para fortalecimento do Reino, os seus dons, dádivas, carismas, para um fim

proveitoso, ou seja, a transformação e libertação das pessoas, tornando-as livres e cheias

de graça e consequentemente o meio em que elas vivem se tornará cada vez melhor.

Quando compreendemos isto nossa caminhada se torna mais prazerosa, mais

edificante e constatamos que homens como John Wesley, George Whitefield, Charles

Spurgeon, D. W. L Moody, Martin Luther King e outros conhecidos de nossa história e

milhares de fiéis servos do Senhor desconhecidos, que independente de suas

denominações, tinham e tem uma só bandeira: A do Reino de Jesus, Reino de Justiça,

Reino de Paz e Reino de Alegria no Espírito Santo.

A Bíblia nos ensina que é pelos frutos que somos reconhecidos e então um dos textos

que mais devemos meditar é Gálatas 5, quando Paulo fala-nos a respeito dos frutos que são

produzidos por uma vida que tem o controle do Espírito Santo, e quando lemos este texto e

fazemos uma auto-análise reconhecemos o quanto não somos nada e o quanto somos

dependentes das mãos do Senhor para nos ajudar nesta caminhada. Sejamos assim e a

glória de Deus brilhará em nós.

John Stott nos apresenta uma outra característica do Espírito Santo quando afirma:

“Tudo que Deus realiza no mundo de hoje, ele faz através da instrumentalidade do Espírito.

Uma das principais tarefas do Espírito Santo é tornar Cristo conhecido aos homens”. É fato

que o texto em Atos 2 nos traz esta verdade que o Espírito Santo vem com esta finalidade

de fazer-nos participantes do Reino como testemunhas, proclamando o Cristo libertador que

vive em nós, sendo ele o único autor e consumador de nossa fé, razão de nosso viver.

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Dedicação Especial

Ao término desde meu pequeno trabalho foi marcado pela surpreendente partida ao colo de

nosso Pai de nosso saudoso pastor e amigo AYRES TEIXEIRA DA SILVA, que em muito me

incentivou e me ensinou. Em sua memória dedico este trabalho.

Petrópolis, 17 de fevereiro de 2005.

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Kushner, Harold – Quando coisas ruins acontecem às pessoas boas – São Paulo – SP –

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Bennett, Dennis & Rita – O Espírito Santo e Você – São Paulo-SP – Editora Vida – 1980

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