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1 Uma proposta de modelo de análise do Capital Social Organizacional Autoria: Ariane Sartori Hartmann, Mauricio C. Serafim Resumo O conceito de capital social organizacional surge como uma nova ramificação dos estudos sobre capital social, atribuindo-lhe benefícios tanto internos quanto externos à estrutura organizacional. A partir de uma pesquisa teórica, o artigo apresenta um modelo de análise do capital social das organizações, baseando-se nas dimensões estrutural, relacional e cognitiva; em mecanismos, definidos por acesso e intercâmbio de informações e ação coletiva; e os resultados se traduzem na inovação, desempenho organizacional, aprendizagem e geração de conhecimento. Com isso, pretende-se contribuir com o tema, a fim de propiciar uma análise mais sistemática e estruturada, abrindo novas perspectivas para pesquisas na área.

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Uma proposta de modelo de análise do Capital Social Organizacional

Autoria: Ariane Sartori Hartmann, Mauricio C. Serafim

Resumo O conceito de capital social organizacional surge como uma nova ramificação dos estudos sobre capital social, atribuindo-lhe benefícios tanto internos quanto externos à estrutura organizacional. A partir de uma pesquisa teórica, o artigo apresenta um modelo de análise do capital social das organizações, baseando-se nas dimensões estrutural, relacional e cognitiva; em mecanismos, definidos por acesso e intercâmbio de informações e ação coletiva; e os resultados se traduzem na inovação, desempenho organizacional, aprendizagem e geração de conhecimento. Com isso, pretende-se contribuir com o tema, a fim de propiciar uma análise mais sistemática e estruturada, abrindo novas perspectivas para pesquisas na área.

 

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Introdução

Partindo-se do pressuposto que as organizações podem facilitar a criação de normas para desenvolver o capital social entre seus membros (Coleman, 1988; Leana & Van Buren, 1999), abordaremos o tema “capital social organizacional”, considerado, atualmente, como uma ferramenta capaz de aperfeiçoar o desempenho das organizações (Akdere & Roberts, 2008).

Dentre os possíveis benefícios de se estudar o capital social das organizações, destacamos os seguintes: (1) organizações enquanto instituições são propícias ao desenvolvimento de altos níveis de capital social (Serafim & Andion, 2010; Coleman, 1990); (2) capital social melhora a produtividade dos indivíduos, da equipe e da organização como um todo (Adler & Kwon, 2002; Andrews, 2011); (3) o desenvolvimento das dimensões relacionais, estruturais e cognitivas facilita a criação do capital intelectual nas organizações (Nahapiet & Ghoshal, 1998); (4) contribui com o aumento do comprometimento com a organização por parte dos indivíduos (Leana & Van Buren, 1999; Andrews, 2007); (5) a partir de uma melhor investigação quanto às dimensões, mecanismos e resultados de capital social organizacional é possível estabelecermos relação direta com o processo de desenvolvimento local (Román & Rodríguez, 2004a), além de contribuir com pistas de como fomentar e investir de modo mais eficaz nesse tipo de recurso.

A identificação das dimensões do capital social permite que os indivíduos nas organizações adquiram uma melhor compreensão do padrão de interações em âmbito interpessoal e grupal e, assim, usá-lo para conduzir seus sistemas organizacionais de uma forma mais eficiente (Yahaya et al., 2009). Os recursos propiciados por meio das estruturas organizacionais são uma das formas conducentes ao capital social (Serafim, Martes & Rodriguez, 2012), tendo em vista que os atores têm a sua disposição recursos que de outra forma não teriam. Além disso, é possível constatar o modo como o capital social, presente na estrutura organizacional, influencia na gestão por meio das suas dimensões, mecanismos e resultados.

Este artigo possui dois objetivos. Primeiro, pretendemos contribuir na inserção de tal tema no debate acadêmico brasileiro, devido a sua relativa ausência em forma mais sistemática (há exceções, veja, por exemplo, Borda & Nascimento, 2011) e pela importância que o conceito vem assumindo no âmbito internacional, conforme mostraremos adiante.

Segundo, apresentamos uma proposta para um modelo de análise do capital social das organizações, com base em indicadores de dimensões, mecanismos e resultados, adaptado e aperfeiçoado do modelo desenvolvido por Román & Rodríguez (2004a), que mensuraram o capital social organizacional em Andalucia, Espanha, utilizando-se em conjunto elementos do estudo de Nahapiet & Ghoshal (1998). Para tanto, passamos a discorrer sobre o assunto, demonstrando as diferentes vertentes de estudo, conceitos, dimensões e modelos utilizados.

1 Capital Social Organizacional

Um crescente corpo de literatura ao longo dos últimos anos sugere que a estrutura organizacional de uma organização pode contribuir de forma significativa para sua capacidade produtiva (Black & Lynch, 2005), formando o que se chama de capital organizacional (capital de informação e conhecimento) (Bourdieu, 1997). Por este motivo, compreender o capital social que se manifesta nas organizações é de fundamental importância para que possamos conduzir de forma mais adequada seus processos e, principalmente, sua identidade e relações sociais que integram a sua estrutura (Reimer, Lyons, Ferguson & Polanco, 2008).

 

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1.1 O surgimento de um conceito O ambiente organizacional se constitui num amplo e interessante espaço para o estudo

do capital social, seja dentro dos limites formais da organização ou nas relações que se estabelecem entre elas. Algumas das categorias de análise propostas pelo conceito vêm sendo bastante utilizadas e parecem extremamente úteis frente a mudanças ambientais, que estão afetando não só as teorias existentes, mas também a própria prática organizacional (Vale, Amâncio & Lauria, 2006).

Adler & Kwon (2009) consideram que o surgimento do conceito de capital social organizacional é devido a uma necessidade teórica de explicar o que tem sido o cerne dos estudos organizacionais contemporâneos: a “organização informal”. Lembrando que o primeiro estudo científico a mostrar a influência dos grupos informais no desempenho de trabalhadores foi o conhecido experimento de Hawthorne, coordenado por Elton Mayo, no ano de 1927.1 Para Adler & Kwon (2009), trata-se do marco inicial dos estudos sobre capital social organizacional.

Na literatura acadêmica foram Leana & Van Buren (1999, p. 1) os pioneiros a publicar o conceito de capital social organizacional. Os autores o definem como um “recurso que reflete o caráter das relações sociais dentro da organização, sendo realizada por meio da orientação para o alcance de objetivos comuns e confiança compartilhada entre os membros, que geram valor ao facilitar a ação coletiva bem-sucedida”. Argumentam eles, que um nível mínimo de capital social, mesmo que se manifeste apenas sob a forma de regras específicas, é essencial para garantir que a organização sobreviva por um longo tempo, pois seria difícil imaginar uma organização sem qualquer capital social. Salientam que nesta concepção o capital social estaria presente, tão somente, no ambiente interno da organização, contrariando algumas vertentes, tais como Nahapiet & Ghoshal (1998), Adler & Kwon (2009), Román & Rodríguez (2004a), Uphoff (2000), entre outros teóricos, que consideram o capital social no contexto interno e externo das organizações (ver Figura 1).

Pani (2009) comenta que a literatura sobre capital social tem contribuído imensamente para as organizações e para as ciências administrativas por meio de uma maior compreensão de como um ator e suas atividades, incluindo as atividades econômicas, são dependentes do contexto da estrutura social em que atuam. Argumenta que o capital social disponível para uma organização é o líquido do capital social derivado de fontes externas (sintetizado pela visão estrutural) denominado de capital social estrutural, bem como de fontes internas (sintetizado pela visão individualista), denominado de capital de reputação. O capital social estrutural se refere, portanto, a relações interorganizacionais – posição da organização em determinada rede – e as relações intraorganizacionais provêm do capital social reputacional, o qual resulta da influência das ações e crenças compartilhadas no ambiente interno, constituindo a reputação da empresa.

De uma outra perspectiva, Schneider (2009) afirma que os indivíduos podem reforçar o capital social organizacional, e, no entanto, ele pode existir independentemente deles, com base no histórico desta organização e sua reputação. Desta forma, ao tratar da relação entre o capital social organizacional e organizações sem fins lucrativos, a autora utiliza o constructo para se referir às redes de confiança estabelecidas entre organizações e comunidades de apoio às organizações sem fins lucrativos, por meio da qual uma organização pode alcançar seus objetivos.

Nahapiet & Ghoshal (1998), autores-chave para a perspectiva adotada neste estudo, por sua vez, seguem a linha de Bourdieu (1986), Putnam (1993) e Coleman (1990) adotando o capital social como a soma dos recursos reais e potenciais, disponíveis por meio de uma rede

 

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de relacionamentos pertencente a um indivíduo ou unidade social, focando-se, nas dimensões deste atributo.

A seguir trazemos uma esquematização dos conceitos encontrados sobre capital social organizacional, incluindo alguns autores que conceituam capital social e permitem aplicá-lo a contextos organizacionais. A figura 1 tem como objetivo identificar as diversas vertentes de estudo do tema, justificar a escolha da abordagem do artigo, podendo-se identificar as diferentes metodologias de análise a partir das dimensões ou componentes elencados.

Autor(es) Contexto

interno e/ou externo

Dimensões/ componentes

Definição

Adler & Kwon (2009)

Interno e externo

Redes, crenças, regras, normas e

confiança.

O capital social é o recurso disponível para atores individuais ou coletivos, criado através da sua localização e conteúdo de redes de relações mais ou menos duráveis.

Anand, Glick & Manz (2002)

Externo

Os autores optam por categorizar o capital social com base na

natureza do conhecimento –

explícito versus tácito.

“[...] refere-se ao conhecimento e à informação aos quais as organizações podem ter acesso, utilizando seus funcionários, seus vínculos formais e informais com agentes externos”(p.58), incluindo clientes, organizações parceiras e funcionários de outras organizações.

Cohen & Prusak (2001)

Interno Conhecimento,

acesso, engajamento e segurança.

“Capital social consiste no estoque ativo de conexões entre as pessoas: a confiança, compreensão mútua, valores e comportamentos compartilhados, ligam os membros das redes humanas e comunidades e fazem a ação cooperativa possível” (p.04).

Drummond & Santos

(2009) Interno

Liderança e confiança nas organizações.

“Pode ser entendido como resultado de características das relações sociais dentro de organizações, considerando que os níveis de orientação a objetivos coletivos e de confiança compartilhados facilitam sua obtenção” (p.02).

Leana & Van Buren (1999)

Interno Associabilidade e

confiança

Recurso que reflete o caráter das relações sociais dentro da organização, sendo realizada através da orientação para o alcance de objetivos comuns e confiança compartilhada entre os membros, que geram valor ao facilitar a ação coletiva bem sucedida.

Nahapiet & Ghoshal (1998)

Interno e externo

Estrutural, relacional e cognitiva.

A soma dos recursos potenciais e atuais, enraizados na estrutura interna, disponíveis através dela e derivados da rede de relacionamentos possuídas por um individuo ou uma organização social.

Pani (2009) Interno e externo

Estrutural e de reputação

O conjunto de bens e recursos intangíveis à disposição da empresa no intuito de facilitar o ganho sócio-econômico em sua interação com os componentes internos (reputacional) e externos da rede (estrutural).

Román (2001, p. 18)

Interno e externo

Estrutural, cognitivo e institucional (Redes, confiança, normas, valores e atitudes, e marco institucional).

“Capital social é a capacidade de um determinado grupo social para adquirir informações, incorporá-las a processos econômicos e gerenciar tais processos”.

Schneider (2009)

Interno e externo

Histórico e reputação

O capital social traduz-se em relações baseadas em padrões de reciprocidade, reforçadas pela confiança, as quais permitem às pessoas e instituições obterem acesso a recursos diversos, tais como serviços sociais, voluntários ou de

 

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financiamento.

Steinfield (2009)

Interno e externo

(individual)

Bounding, bridging e linking.

Recursos que derivam das relações entre as pessoas em diferentes contextos sociais. Quando aplicado ao contexto organizacional, o conceito permite examinar a maneira pela qual as relações sociais podem facilitar a troca de conhecimento.

Uphoff (2000)

Interno e externo

Estrutural e cognitiva

“O capital social é uma acumulação de vários tipos de ativos sociais, como componentes cognitivos, psicológicos, culturais e institucionais, que aumentam a quantidade (ou probabilidade) de comportamentos cooperativos mutuamente benéficos” (p.216).

Figura 1. Autores, definições e diferentes abordagens do capital social organizacional. Fonte: elaborado pelos autores a partir da pesquisa bibliográfica realizada.

Importante destacar que não há um consenso teórico. Por exemplo, Lins (2004) considera que o tema ainda se apresenta de forma embrionária na literatura administrativa, sendo empregado mais frequentemente na área da gestão do conhecimento, no que tange à criação, desenvolvimento e manutenção do capital intelectual de uma organização e em práticas de gestão voltadas para sua própria criação e manutenção. 1.2 Custos e benefícios para as organizações

Adler & Kwon (2009) argumentam que as instituições formais e as regras que ajudam a moldar a estrutura de rede e de normas e crenças têm um forte efeito sobre o capital social. Um exemplo a ser citado é um governo transparente, responsivo às necessidades das pessoas, apresentando-se como um fator-chave no estabelecimento das regras comunitárias e instituições públicas (Fu, 2004). Assim, ao investir na construção de rede de relações externas, atores individuais e coletivos podem aumentar o seu capital social e obter benefícios sob a forma de melhor acesso à informação, poder e solidariedade e, ao investir no desenvolvimento de suas relações internas, os atores coletivos podem fortalecer sua identidade e aumentar sua capacidade de ação coletiva (Adler & Kwon, 2002).

Estrutura, normas e poder afetam o acesso e o uso do capital social (Reimer et al., 2008). Os autores chamam a atenção para o fato de que o capital social pode ser inibido por falta de conhecimento sobre redes ou instituições, uma localização na rede ou falta de habilidade para trabalhar com estruturas normativas necessárias. No entanto, é importante salientar que a capacidade de um agente obter recursos ou informações não garante o êxito de sua tentativa. A distribuição de recursos na sociedade ocorre de forma desigual, ainda que os atores contem com o capital social, isto faz com que seu acesso seja limitado. Desta forma, não há como afirmar, no que se refere a capital social, que somente se concretiza o que tem êxito (Higgins, 2003).

Leana & Van Buren (1999) abordam o capital social como o bem de uma coletividade, no âmbito da análise organizacional, e propõe um modelo organizacional de capital social interno (veja Figura 2). Os autores sugerem que a composição desse modelo deve considerar os interesses coletivos e individuais, ainda que indiretamente. Logo, os componentes primários do modelo são a associabilidade e a confiança. O primeiro componente se refere à ação coletiva e objetivos compartilhados, e o segundo remete aos resultados de uma ação coletiva bem sucedida. Dessa forma, um depende do outro e configuram-se peças-chaves para o entendimento do capital social organizacional. Segue abaixo o modelo desenvolvido pelos autores, com base em estudo sobre o capital social em relação às práticas de trabalho:

 

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Figura 2. Modelo de Capital social organizacional interno Fonte: Adaptado de Leana, C. R.& Van Buren, H. J. V. (1999). Organizational social capital and employment practices. (p.547). Academy of Management Review, v. 24, n. 3.

A partir do modelo de Leana & Van Buren (1999), podemos observar que o capital

social organizacional oferece diversos benefícios para os resultados das organizações, entre eles: comprometimento, flexibilidade de trabalho, organização coletiva e capital intelectual. Importante frisar que o capital social organizacional fornece uma justificativa para os membros serem “bons agentes”2. Tal modelo apresenta, entretanto, alguns custos como: manutenção, inovação precipitada e poder institucionalizado. Se os indivíduos acreditam que seus esforços são parte integrante de um coletivo, eles são mais propensos a dispensar tempo fazendo tarefas para a organização como, por exemplo, práticas de trabalho extra e trabalhos cooperativos, dedicando menos tempo a coisas que beneficiam somente o indivíduo e mais à organização como um todo.

Percebe-se, portanto, que o capital social contribui na gestão das organizações, na medida em que o seu fomento pode se configurar como um importante ativo capaz de contribuir na melhoria do desempenho em todos os níveis, seja individual, de grupo ou organizacional, ainda que muitas vezes tais níveis se sobreponham (Adler & Kwon, 2009; Akdere & Roberts, 2008). Apesar disso, Cohen & Pruzak (2001) salientam que a maioria dos acadêmicos pouco avançou no que diz respeito a compreender o fomento do estoque de capital social por parte das organizações.

A ideia de pesquisar o capital social de empresas e demais organizações formais vem se ampliando com mais intensidade apenas recentemente. Em parte isso é devido ao fato das organizações terem sido vistas por meio de uma visão mecanicista, o que tem deixado obscura sua dimensão social mais sutil. Assim, uma abordagem de capital social para o trabalho organizacional difere do que se pode chamar de teoria das organizações atomizada, ou individualista (Cohen & Pruzak, 2001).

1.3 Dimensões ou categorias do capital social organizacional

Consideramos que a forma mais simples e clara para se analisar o constructo é por meio de suas dimensões, não deixando de contemplar as outras formas de classificação. Nesta perspectiva é que apresentamos aqui as dimensões ou categorias do capital social organizacional, demonstrando de forma detalhada seus componentes.

Com isso, recorremos a Uphoff (2000) e sua classificação do capital social em duas categorias de fenômenos inter-relacionados: estrutural (papéis, regras, precedentes e procedimentos) e cognitiva (normas, valores, atitudes e benefícios)3. Essas categorias são tão fundamentais para a compreensão do capital social como a distinção entre recursos renováveis e não renováveis para formas naturais de capital.

Nahapiet & Ghoshal (1998) especificam três dimensões do capital social no contexto interno de organizações, sendo elas: estrutural, relacional e cognitivo. E como nos apropriamos desta abordagem para o estudo, a seguir explicamos mais detalhadamente.

 

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1.3.1 Dimensão estrutural

O aspecto estrutural do capital social diz respeito às relações entre os atores, com quem e com qual frequência compartilham informações – hierarquia, densidade e conectividade -, por meio de estruturas já existentes na organização, o que, segundo Nahapiet & Ghoshal (1998), pode influenciar na reputação dos atores envolvidos.

Para Uphoff (2000), a categoria estrutural está associada a várias formas de organização social, particularmente os papéis, regras, precedentes e procedimentos, bem como a ampla variedade de redes que contribuem para cooperação e, em específico a ação coletiva mutuamente benéfica, série de benefícios que resultam do capital social. Esta categoria de capital social, nos termos de Uphoff (2000), reduz os custos de transação, coordenando esforços, criando expectativas e sanções sociais.

1.3.2 Dimensão relacional

A dimensão relacional difere da estrutural por descrever o tipo de relações sociais que

as pessoas desenvolvem umas com as outras, abrangendo aspectos comportamentais, e não apenas nos vínculos estruturais entre os atores. Consiste nos ativos que são criados e alavancados por meio do relacionamento, através de um histórico de interações e inclui atributos como confiança e confiabilidade, normas e sanções, obrigações e expectativas, e identificação e identidade (Nahapiet & Ghoshal, 1998).

Este conceito centra-se nas relações particulares entre as pessoas, como o respeito e a amizade, que influenciam o seu comportamento, cumprindo justificativas sociais tais como sociabilidade, aprovação e prestígio. As autoras exemplificam da seguinte forma: dois agentes podem ocupar posições equivalentes em determinada rede, mas se os seus laços pessoais e emocionais com outros membros da rede diferem, suas ações também são susceptíveis de variar em aspectos importantes (Nahapiet & Ghoshal, 1998). 1.3.3 Dimensão Cognitiva

E, por fim, a dimensão cognitiva se refere aos recursos que representam visões compartilhadas, interpretações e significados, como a linguagem, códigos e narrativas em comum. Estes recursos, apesar de não serem muito discutidos no mainstream dos estudos sobre capital social, recebem importância substancial, entre outros, no domínio da estratégia e na geração de capital intelectual. (Nahapiet & Ghoshal, 1998). Logo, a categoria cognitiva deriva de processos mentais e resulta em ideias, reforçadas pela cultura e ideologia, especificamente normas, valores, atitudes e crenças que contribuem para o comportamento cooperativo e ação coletiva mutuamente benéfica (Uphoff, 2000).

Dentro de uma organização – e especialmente em grandes organizações – uma visão compartilhada e/ou um conjunto de valores em comum ajudam a desenvolver essa última dimensão de capital social (cognitiva). Incorporada em atributos como um código ou paradigma compartilhado, facilita o entendimento comum de metas coletivas e as formas adequadas de se atuar em um sistema social (Tsai & Ghoshal, 1998). Capta o que Coleman (1990) cita como o “bom aspecto público” do capital social.

Em síntese, apresentamos a Figura 3 que contem os atributos de cada dimensão do capital social organizacional identificados por Nahapiet & Ghoshal (1998), em sua pesquisa teórica.

 

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Dimensão Estrutural Dimensão Relacional Dimensão Cognitiva

Hierarquia Confiança Visão compartilhada

Conexões Normas e sanções Linguagem, códigos e narrativas em comum.

Configuração da rede Obrigações e expectativas Identificação social

Figura 3. Dimensões e atributos do capital social organizacional Fonte: adaptado de Macke, J.; Carrion, R. M. & Dilly, E.K. (2010). Programas sociais corporativos e capital social: proposta de qualificação. Rev. adm. contemp., Curitiba, v. 14, n. 5; e Nahapiet, J. & Ghoshal, S. (1998). Social capital, intellectual capital, and the organizational advantage. Academy of Management Review, 23. p. 242-266. 2 Modelo de Capital Social Organizacional: Dimensões, Mecanismos e Resultados

O modelo de capital social organizacional proposto por Román & Rodríguez (2004a)4 consiste num conjunto de temas e indicadores específicos para análise do capital social presente nas organizações – considerada por eles uma das formas mais relevantes de sintetizar informação - a partir das dimensões do capital social, seus mecanismos e resultados.

Desenvolvida e aplicada inicialmente em Andalucía, na Espanha, onde se buscou analisar a criação de emprego a partir do capital social existente na região, sua tese se baseia no argumento de que o capital social, como ativo coletivo de natureza intangível, pode complementar a explicação da natureza e da causa do desenvolvimento de regiões.

Román & Rodríguez (2004b) consideram o capital social das organizações como fator especialmente relevante para o desenvolvimento regional, baseando-se em quatro premissas: (1) trata-se de um recurso social baseado no mercado e na confiança, normas e instituições comuns5; (2) facilita a cooperação dentro e entre grupos e aumenta capacidade de tomar ações coletivas que levam a benefícios mútuos; (3) melhora os processos de aprendizagem coletiva, sendo um elemento-chave na criação, difusão e transferência de conhecimento, constituindo estes processos críticos para a inovação e competitividade; (4) segundo especialistas em políticas regionais, a construção de redes de valor de capital social estimula clusters regionais de sucesso, estratégias e políticas regionais de inovação.

Os autores classificam o sistema de indicadores em função do elemento de capital social que contribui na medição e os processos e resultados que são alcançados, atribuindo a cada componente uma série de indicadores que ajudam a dar significado ao conceito de capital social e a mensurá-lo. Abaixo segue a Figura 4 com a base de indicadores definidos Román & Rodríguez (2004a):

REDES CONFIANÇA

Importância das colaborações formais/ informais com diferentes organizações segundo o tipo de agente.

Nível de confiança na sociedade.

Importância dos desafios no inicio/ desenvolvimento das colaborações.

Nível de confiança em familiares e amigos.

Grau de satisfação com as colaborações. Nível de confiança nos empregados/ colaboradores. Principais dificuldades e fatores facilitadores nas colaborações externas.

Nível de confiança nas associações e confederações empresariais.

Importância das colaborações formais/ informais com diferentes organizações segundo o tipo de agente.

Nível de confiança na administração pública. DIM

EN

SÕE

S

Importância dos desafios no inicio/ desenvolvimento das colaborações.

Nível de confiança nos sindicatos.

 

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NORMAS, VALORES E ATITUDES MARCO INSTITUCIONAL

Nível de sanção social a comportamentos oportunistas.

Eficácia relativa das instituições públicas na resolução de problemas locais do empresariado.

Principais valores, normas ou padrões que definem as regras do jogo nas colaborações.

Nível de eficácia das instituições públicas.

Nível de cooperativismo do empresariado. Eficácia relativa das empresas na resolução de problemas locais do empresariado.

Nível de civismo do empresariado. Nível de legalidade no mercado que a empresa opera.

ACESSO E INTERCÂMBIO DE INFORMAÇÕES

AÇÃO COLETIVA

Importância relativa de diferentes fontes de acesso à informação, incluindo as redes.

Objetivos dos principais projetos conjuntos de cooperação formal.

Grau de importância das colaborações informais/ formais para adquirir informação.

Principais colaborações informais.

ME

CA

NIS

MO

S

Resolução de conflitos ou problemas através de colaborações com empresas.

GERAÇÃO DE CONHECIMENTO

INOVAÇÃO DESEMPENHO

Gastos com pesquisa e desenvolvimento da nos últimos três anos.

Novos produtos, serviços ou processos empresariais nos últimos três anos.

Percepção dos benefícios da criação de redes.

Importância da geração de conhecimentos com o intuito de estabelecer colaborações.

Mudanças nos produtos, serviços ou processos nos últimos três anos.

Importância dos diferentes resultados das colaborações formais e informais, segundo os tipos de agentes.

Importância para o desenvolvimento empresarial do acesso à informação e conhecimentos externos.

Importância das colaborações formais/ informais para a inovação.

Importância para os resultados empresariais das colaborações formais segundo tipo e a área geográfica do colaborador.

Importância para os resultados empresariais das colaborações informais segundo o tipo e a área geográfica do colaborador.

Importância para o desenvolvimento empresarial das tecnologias da informação, da inovação, do capital humano, da localidade, das redes formais e informais com fins econômicos.

RE

SU

LT

AD

OS

Variação no faturamento, porcentagem de quota de mercado e criação de emprego nos últimos três anos.

Figura 4. Indicadores de dimensões, mecanismos e resultados do capital social organizacional desenvolvidos para o estudo do desenvolvimento local em Andalucía. Fonte: adaptado de Román, C. & Rodríguez, P. (coords.) (2004a). La contribución del capital social a la creación de empleo em Andalucía. Sevilla: Instituto de Desarrollo Regional.

Nesta perspectiva se integra o capital social como situado em determinada rede social e, adicionalmente, como um conjunto de relações que caracterizam as estruturas internas e a ação individual de atores coletivos – grupo, organizações, comunidades, regiões e países –mantendo a sua coesão interna e dando-lhes rentabilidade, abordagem apoiada principalmente pelos teóricos do desenvolvimento (Rodríguez, 2013).

O capital social organizacional é, portanto, entendido por meio da sua manifestação no ambiente interno e externo das organizações, para o qual se optou utilizar as dimensões estrutural, relacional e cognitiva de Nahapiet & Ghoshal (1998) em conjunto com o modelo

 

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de Román & Rodríguez (2004a), sendo esse último para exemplificar a análise, por meio das dimensões já mencionadas, mecanismos (acesso e intercâmbio de informações e ação coletiva) e resultados de capital social (inovação, desempenho e aprendizagem e geração de conhecimento). Para melhor demonstrar o modelo, sintetizamos na Figura 5:

 Figura 5. Dimensões, mecanismos e resultados do capital social organizacional Fonte: elaboração dos autores com base em Nahapiet, J. & Ghoshal, S. (1998). Social capital, intellectual capital, and the organizational advantage. Academy of Management Review, 23. p. 242-266.; e Román, C. & Rodríguez, P. (coords.) (2004a). La contribución del capital social a la creación de empleo em Andalucía. Sevilla: Instituto de Desarrollo Regional.

Como resultado, chegamos à proposta de modelo de análise do capital social das organizações aqui desenvolvida, utilizando-se, quanto aos indicadores, as diversas contribuições da revisão teórica apresentada, podendo ser aplicado tanto em estudos em organizações públicas como privadas, sendo oportuna e necessária a adaptação dos indicadores ao contexto estudado. Veja figura 6:

Figura 6. Proposta de modelo de análise de Capital Social Organizacional Fonte: elaborado pelos autores a partir da bibliografia pesquisada, baseando-se principalmente em Nahapiet, J. & Ghoshal, S. (1998). Social capital, intellectual capital, and the organizational advantage. Academy of Management Review, 23. p. 242-266.; e Román, C. & Rodríguez, P. (coords.) (2004a). La contribución del capital social a la creación de empleo em Andalucía. Sevilla: Instituto de Desarrollo Regional.

 

Capital Social Organizacional

Dimensões

Mecanismos

Resultados

 

 

 -Parcerias; -Comunicação entre gestores; -Colaboração entre gestores. -Normas e sanções sociais; -Confiança. -História da organização; -Visão compartilhada; -Valores comuns.

-Aprendizagem e geração de conhecimento -Inovação -Desempenho

-Acesso e intercâmbio de informações -Ação coletiva

-Novas formas de gestão/ melhoria na qualidade dos produtos serviços; -Oferecimento de novos produtos ou serviços.

-Melhoria nos resultados organizacionais; -Importância dos resultados da ação coletiva proveniente das estruturas formal e informal; -Percepção dos benefícios das relações com outras organizações; -Índices de desempenho.

-Cooperação; -Ações sociais (voluntariado); -Estrutura informal; -Atividades culturais; -Atividades integrativas. -Investimento em Capacitação;

-Informação e conhecimento; -Obtenção de conhecimento externo.

-Divulgação externa e interna; -Nível de informação da organização; -Utilização das tecnologias para acesso e intercâmbio de informações.

-Estrutural -Relacional -Cognitivo

 

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2.1 Mecanismos do capital social

Para Rodríguez (2013), partindo-se dos mecanismos de capital social – acesso e intercâmbio de informações e ação coletiva – é possível que as organizações conduzam ao desenvolvimento de uma dada comunidade, através da sua capacidade de inovação e melhoria no desempenho, aqui entendidos como um processo de aprendizado interativo. 2.1.1 Acesso e intercâmbio de informações

O intercâmbio de informações envolve, por vezes, a transferência de conhecimento

explícito, individual ou coletivamente realizada, como por exemplo, a troca de informações dentro da comunidade científica ou pela Internet. Muitas vezes, uma nova criação de conhecimento ocorre através da interação social e atividades conjuntas construtivas (Nahapiet & Ghoshal, 1998).

Para Anand et al. (2002), as organizações poderiam facilitar a troca de conhecimento construtivo, investindo nas redes sociais de seus funcionários, assim como, propiciando espaços diversificados para discussão de assuntos profissionais, podendo ser fora do ambiente de trabalho, com profissionais de outras organizações. Consideram os autores que qualquer conhecimento de propriedade da empresa que for aberto para outros geralmente é compensado pela aquisição de novo conhecimento, através das trocas sociais informais.

A tecnologia da informação também assume grande importância, sabendo-se que é através do intercâmbio eletrônico de informações que as organizações conseguem rapidez nas suas transações, além de diversas informações que, provavelmente, não conseguiriam de outra forma. Para Anand et al. (2002), este é um dos métodos mais apropriados para o aproveitamento do capital social, assim como os contatos sociais informais (conversas por telefone, e-mail), relatórios, publicações técnicas, ou até mesmo, a utilização de sistemas para intercâmbio eletrônico de informações (Ex. EDI, E.g. e XML).

Por outro lado, esse mecanismo se relaciona com a dimensão cognitiva do capital social a partir da visão de Macke (2006), incorporando a divulgação das organizações como um elemento a ser analisado na referida dimensão. Aqui tratamos a divulgação como um mecanismo, partindo-se do principio que se trata de uma troca de informação com o ambiente externo, de dentro para fora, podendo também ser uma troca com o próprio ambiente interno da organização. 2.1.2 Ação coletiva

A ação coletiva em âmbito organizacional pode ser ampliada a partir do desenvolvimento das relações internas, nas quais atores coletivos reforçam a sua identidade (Adler & Kwon, 2002), outrossim, através de ações que criem espaços para que as pessoas interajam umas com as outras e, assim, possam trocar conhecimentos relevantes, ou até mesmo, deliberar sobre questões coletivas.

Uphoff (2000) cita quatro atividades onipresentes básicas para a ação coletiva mutuamente benéfica: tomada de decisão, mobilização de recursos e de gestão, comunicação e resolução de conflitos. São funções que acabam diminuindo os custos e aumentando a probabilidade de que os esforços individuais em conjunto com outros sejam eficazes.

Por conseguinte, os problemas de ação coletiva são passíveis de serem resolvidos por meio de normas de reciprocidade generalizada, tornando possível conectar comunidades e, ainda, transformar agentes egocêntricos com pouco senso de obrigação para membros de uma

 

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comunidade com interesses comuns, uma identidade própria e um compromisso com o bem comum (Adler & Kwon, 2002). 2.2 Resultados do capital social

Os resultados do capital social organizacional, conforme o modelo de Román & Rodríguez (2004a), podem ser identificados e compreendidos por meio dos seguintes atributos: aprendizagem e geração de conhecimento (ou capital intelectual), inovação e desempenho (melhoria nos resultados organizacionais). A seguir, trazemos algumas contribuições sobre cada um deles. 2.2.1 Aprendizagem e geração de conhecimento ou Capital intelectual

Nahapiet & Ghoshal (1998) argumentam que o grande motivo para se estudar e identificar as dimensões do capital social em organizações é o potencial existente neste recurso para o desenvolvimento de capital intelectual. As autoras referem-se a capital intelectual como sendo “o saber e a capacidade de conhecimento de uma coletividade social, tais como uma organização, comunidade intelectual ou de práticas profissionais” (p.245). É necessário ir além do conceito tradicional de capital social, partindo para uma noção de compartilhamento de conhecimento, significados e narrativas, que, por sua vez, é potencial no que se refere ao desenvolvimento de capital intelectual nas organizações.

Para as autoras, o capital intelectual pode ser criado a partir de dois elementos: a combinação e a troca. Capital social facilita, neste sentido, o desenvolvimento do capital intelectual, afetando as condições necessárias para que ocorra a combinação e a troca. A troca é o elemento-chave da organização apropriada para o desenvolvimento de capital social, o qual tido em um contexto, como laços, normas e confiança, muitas vezes pode (mesmo que nem sempre) ser transferido a partir de um contexto social para outro, influenciando, assim, os padrões de troca social. Como por exemplo, a transferência das relações de confiança da família ou, até mesmo, filiações religiosas para relações de trabalho (Nahapiet & Ghoshal, 1998). 2.2.2 Inovação

Quanto à inovação, trazemos o conceito a partir de Schumpeter (1982), para o qual se constitui numa forma diferente de fazer as coisas num determinado mercado. Partindo-se de “novas combinações” de meios produtivos é que somos capazes de conduzir ao processo de desenvolvimento.

Segundo Rodríguez (2013) há vários estudos que buscam comprovar a relação entre os sistemas institucionais e políticos ou as várias formas de capital social entre os grupos e a sua influência significativa na capacidade de uma organização gerar inovação, bem-estar e crescimento. Por conseguinte, as organizações deveriam dedicar uma parte cada vez maior de seus recursos com o intuito de fomentar o seu capital social, pois o conhecimento que se encontra em redes e grupos de todas as formas se torna imprescindível para capturar o que conduz à inovação (Rodríguez, 2013).

Desta forma, a inovação como um dos resultados do capital social da organização é verificada através oferecimento ou transformação de novos produtos, serviços ou até mesmo processos, a partir do acesso e troca de informações e da ação coletiva em âmbito organizacional, evidenciando a capacidade empreendedora da organização, por Schumpeter (1982).

 

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2.2.3 Desempenho

No geral, os níveis elevados de capital social estrutural, relacional e cognitivo podem permitir a geração de importantes bens coletivos pelas organizações, como o conhecimento, reciprocidade e comprometimento, o que pode conduzir a um melhor desempenho (Andrews, 2007). Neste sentido é que Román & Rodríguez (2004a) encontraram uma relação positiva entre o aumento do faturamento e o estabelecimento de novos contatos pelas empresas de Andalucía por meio de uma atuação proativa no mercado.

No contexto da administração pública, admite-se que os serviços públicos se beneficiam do capital social na medida em que as redes de engajamento cívico fomentam normas de reciprocidade generalizada e incentivam o surgimento da confiança social. Essas redes facilitam a coordenação e comunicação, permitindo que muitos dilemas sejam resolvidos pela ação coletiva (Scott, 2002). Desta forma, Andrews (2007) comenta e indaga até que ponto as realizações de organizações públicas podem ser atribuíveis ao engajamento organizacional nos assuntos públicos, o voluntariado da comunidade, sociabilidade informal e confiança social. 3 Considerações finais

No presente artigo buscamos subsídios para a construção de um modelo de análise de

capital social organizacional, em direção a uma forma mais sistemática e estruturada de estudo do tema. O modelo foi desenvolvido se baseando, principalmente, em dois referenciais teóricos: de Nahapiet & Ghoshal (1998) e Román & Rodríguez (2004a). O primeiro, apesar de sua relevância teórica, não foi testado empiricamente pelas autoras, por isso a necessidade e a preocupação em se buscar outras abordagens para preencher tal lacuna. O segundo foi aplicado em Andalucía, na Espanha, estudo que até hoje é debatido e aprofundado a partir dos seus resultados.

Consideramos que o passo seguinte para a pesquisa referente às dimensões, mecanismos e resultados de capital social organizacional seja a criação de condições para o desenvolvimento deste importante ativo. As premissas para a criação e desenvolvimento de um ambiente propício ao capital social partem de uma noção do reconhecimento da multidimensionalidade da condição humana, assumindo um desafio de produzir formas eficazes, eficientes e gratas de uma nova forma de convivência (Isoird, Aramburu & Díez, 2005). Com isso, ao trazermos esta concepção para o âmbito organizacional, precisamos deixar de lado a cultura mecanicista e as pessoas como simples executoras, mas sim encarar as pessoas e as organizações como criadoras de conhecimento compartilhado, abrindo espaço para o compartilhamento de valores e propósitos, e a organização com fronteiras muito bem delimitadas é substituída por um modelo de organização mais integrado com a sua cadeia produtiva e no seu território (Vale et al., 2006).

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