uma nova ubs para gurugi · roteiro para construir no nordeste: arquitetura como lugar ameno nos...

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PLANTA BAIXA ESCALA 1:200 480 480 480 480 480 480 480 480 2400 1440 1 2 2 3 4 4 4 4 5 6 7 8 8 9 10 11 12 13 14 14 15 16 17 18 19 20 20 20 20 20 21 22 00 00 -0,1 -2,45 CORTE ESCALA 1:200 1- RECEPÇÃO/SALA DE ESPERA 2- TERRAÇO DE ACOLHIMENTO E ESPERA 3- CONSULTÓRIO NASF 4- SANITÁRIO 5- CONSULTÓRIO ODONTOLÓGICO 6- COMPRESSOR E BOMBA À VÁCUO 7- RESÍDUOS SÓLIDOS 8- SALA DE PROCEDIMENTOS/VACINA 9- DEPÓSITO DE MATERIAL DE LIMPEZA 10- ALMOXARIFADO 11- SALA DE UTILIDADES 12- SALA DE ESTERILIZAÇÃO E ESTOCAGEM 13- COPA/COZINHA ALTERNATIVA 14- CONSULTÓRIO COM WC ADAPTADO 15- SALA DISPENSAÇÃO MEDICAMENTOS 16- SALA DE OBSERVAÇÃO 17- REUNIÕES E ATIVIDADES EDUCATIVAS 18- HORTA COMUNITÁRIA 19- BICICLETÁRIO 20- ESTACIONAMENTO 21- CARGA E DESCARGA 22- AMBULÂNCIA LEGENDA Roteiro para construir no nordeste: Arquitetura como lugar ameno nos trópicos ensolarados Armando de Holanda 1 – criar uma sombra 2 – recuar as paredes 3 – vazar os muros 4 – proteger as janelas 5 – abrir as portas 6 – continuar os espaços 7 – construir com pouco 8 – conviver com a natureza 9 – construir frondoso A distância do mar, embora a cerca de 5km de distância, levou-nos à precaução de projetar uma estrutura leve, em madeira de seção comercial e conexões em aço inox, que resista a um possível resquício de maresia que atinja a comunidade. Busca-se uma estrutura de baixa e fácil manuten- ção ao longo do tempo com uso de mão-de-obra local. Pilares de 15x15cm modulados a cada 4,8m, seguindo uma estrita modulação de 1,2mx1,2m e seus múltiplos, racionalizam o descolamento da cobertura sobre os blocos funcionais cobertos por pré-lajes de concreto armado. Esta é uma estra- tégia que responde a uma dupla conveniência, a de criar a espacialidade pretendida que foge em pé-direito duplo para a fachada mais amena e arborizada aos fundos do lote, e separar o plano de incidência de sol direto dos ambientes internos, permitindo a exaustão e ventilação permanente através das telhas. A estrutura do telhado é tratada com a neces- sária automia que a opção pela cobertura venti- lada enseja. Configurada por treliças de madeira, ela é o único arroubo formal que se permite no espírito de rigor e economia de meios, que buscam na simplicidade das varandas e alpendres nordesti- nos sua mais importante característica. ISOMÉTRICA EXPLODIDA A Unidade Básica de Sáude para a comunidade do Gurugi ancora-se na ideia, sugerida pelo Termo de Referência, de que ela não deverá ser somente um equipamento de saúde, mas um equipamento público fundamental na comunidade. O projeto assume uma geometria rigorosa, a partir da dicotomia estabelecida pela posição do terreno, ora árido e inóspito, voltado para uma rodovia em sua fachada frontal, em oposição ao fundo ameno, bucólico e sombreado por densa vegetação. Dispõe-se o programa em forma de U, fechado por edículas de blocos estruturais em concreto, o que libera o centro da edificação para o uso da comunidade. A fachada de melhor insolação e ventilação natural é a posterior. Ali, inicia- se a mata que segue até a costa, em trajeto que sugere grotas e regatos que levam as águas da cheia ao mar. Esta orientação é o ponto de partida da espacialidade desejada no projeto: sombra, penumbra, refúgio. Faz-se a necessária transição entre espaço interno e externo, entre a luz filtrada pela mata mais fechada e a avenida seca e árida de insolação direta. Marca-se, por oposição, o momento de introspecção e segurança do vazio interno, em relação aos riscos da hostilidade da rodovia. Faz jus à melhor caracterização de nossa arquitetura, possibilitada pelo nosso clima: espaços de transição fluidos, sempre mediando a relação entre interior e exterior. O cerne do projeto é o espaço coletivo e multiuso conformado em torno do pátio e anfiteatro, que permitiram uma setorização coerente e consequente do programa de necessidades ao seu redor. Cria-se, assim, uma centralidade que ecoa a longa e intensa luta da comunidade quilombola do Gurugi pela reconquista formal de seu território, de seus direitos. Os três blocos que encerram o núcleo coletivo distribuem o projeto em: • áreas de serviço e grande aporte de público - salas de vacinação, consultório odontológico (pela proximidade à área de compressores), na fachada oeste-sudoeste; • o programa de recepção e apoio ao público - banheiros, núcleo ampliado de saúde à família e atenção básica, na face norte-noroeste; • e programa de atendimento clínico - consultórios, sala de dispensação de medicamentos e sala de observação na fachada leste-nordeste. Em função de a fachada frontal ser também a de pior insolação, buscou- se protegê-la da incidência solar direta por meio de generoso beiral que desce imediatamente a partir da cobertura como brise-soleil. Por meio da repetição da mesma peça de telha metálica termoacústica que configura a cobertura, surge uma abstrata fachada que resguarda o interior do edifício proporcionando o encanto pela descoberta de uma imprevista espacialidade. Uma nova espacialidade exterior. Percebe-se o inusitado: ao adentrar, encontra-se fora novamente. Uma nova UBS para Gurugi DIAGRAMA DE VENTILAÇÃO PASSIVA ZONA DE BAIXA PRESSÃO ZONA DE ALTA PRESSÃO AR FRESCO + FRIO VENTOS PREDOMINANTES

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Page 1: Uma nova UBS para Gurugi · Roteiro para construir no nordeste: Arquitetura como lugar ameno nos trópicos ensolarados Armando de Holanda 1 – criar uma sombra 2 – recuar as paredes

PLANTA BAIXAESCALA 1:200

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CORTEESCALA 1:200

1- RECEPÇÃO/SALA DE ESPERA

2- TERRAÇO DE ACOLHIMENTO E ESPERA

3- CONSULTÓRIO NASF

4- SANITÁRIO

5- CONSULTÓRIO ODONTOLÓGICO

6- COMPRESSOR E BOMBA À VÁCUO

7- RESÍDUOS SÓLIDOS

8- SALA DE PROCEDIMENTOS/VACINA

9- DEPÓSITO DE MATERIAL DE LIMPEZA

10- ALMOXARIFADO

11- SALA DE UTILIDADES

12- SALA DE ESTERILIZAÇÃO E ESTOCAGEM

13- COPA/COZINHA ALTERNATIVA

14- CONSULTÓRIO COM WC ADAPTADO

15- SALA DISPENSAÇÃO MEDICAMENTOS

16- SALA DE OBSERVAÇÃO

17- REUNIÕES E ATIVIDADES EDUCATIVAS

18- HORTA COMUNITÁRIA

19- BICICLETÁRIO

20- ESTACIONAMENTO

21- CARGA E DESCARGA

22- AMBULÂNCIA

LEGENDARoteiro para construir no nordeste: Arquitetura como lugar ameno nos trópicos ensolarados

Armando de Holanda

1 – criar uma sombra2 – recuar as paredes3 – vazar os muros4 – proteger as janelas5 – abrir as portas6 – continuar os espaços7 – construir com pouco8 – conviver com a natureza9 – construir frondoso

A distância do mar, embora a cerca de 5km de distância, levou-nos à precaução de projetar uma estrutura leve, em madeira de seção comercial e conexões em aço inox, que resista a um possível resquício de maresia que atinja a comunidade. Busca-se uma estrutura de baixa e fácil manuten-ção ao longo do tempo com uso de mão-de-obra local.

Pilares de 15x15cm modulados a cada 4,8m, seguindo uma estrita modulação de 1,2mx1,2m e seus múltiplos, racionalizam o descolamento da cobertura sobre os blocos funcionais cobertos por pré-lajes de concreto armado. Esta é uma estra-tégia que responde a uma dupla conveniência, a de criar a espacialidade pretendida que foge em pé-direito duplo para a fachada mais amena e arborizada aos fundos do lote, e separar o plano de incidência de sol direto dos ambientes internos, permitindo a exaustão e ventilação permanente através das telhas.

A estrutura do telhado é tratada com a neces-sária automia que a opção pela cobertura venti-lada enseja. Configurada por treliças de madeira, ela é o único arroubo formal que se permite no espírito de rigor e economia de meios, que buscam na simplicidade das varandas e alpendres nordesti-nos sua mais importante característica.

ISOMÉTRICAEXPLODIDA

A Unidade Básica de Sáude para a comunidade do Gurugi ancora-se na ideia, sugerida pelo Termo de Referência, de que ela não deverá ser somente um equipamento de saúde, mas um equipamento público fundamental na comunidade.

O projeto assume uma geometria rigorosa, a partir da dicotomia estabelecida pela posição do terreno, ora árido e inóspito, voltado para uma rodovia em sua fachada frontal, em oposição ao fundo ameno, bucólico e sombreado por densa vegetação. Dispõe-se o programa em forma de U, fechado por edículas de blocos estruturais em concreto, o que libera o centro da edificação para o uso da comunidade.

A fachada de melhor insolação e ventilação natural é a posterior. Ali, inicia-se a mata que segue até a costa, em trajeto que sugere grotas e regatos que levam as águas da cheia ao mar. Esta orientação é o ponto de partida da espacialidade desejada no projeto: sombra, penumbra, refúgio. Faz-se a necessária transição

entre espaço interno e externo, entre a luz filtrada pela mata mais fechada e a avenida seca e árida de insolação direta. Marca-se, por oposição, o momento de introspecção e segurança do vazio interno, em relação aos riscos da hostilidade da rodovia. Faz jus à melhor caracterização de nossa arquitetura, possibilitada pelo nosso clima: espaços de transição fluidos, sempre mediando a relação entre interior e exterior.

O cerne do projeto é o espaço coletivo e multiuso conformado em torno do pátio e anfiteatro, que permitiram uma setorização coerente e consequente do programa de necessidades ao seu redor. Cria-se, assim, uma centralidade que ecoa a longa e intensa luta da comunidade quilombola do Gurugi pela reconquista formal de seu território, de seus direitos.

Os três blocos que encerram o núcleo coletivo distribuem o projeto em:• áreas de serviço e grande aporte de público - salas de vacinação,

consultório odontológico (pela proximidade à área de compressores), na fachada

oeste-sudoeste;• o programa de recepção e apoio ao público - banheiros, núcleo ampliado

de saúde à família e atenção básica, na face norte-noroeste;• e programa de atendimento clínico - consultórios, sala de dispensação

de medicamentos e sala de observação na fachada leste-nordeste.Em função de a fachada frontal ser também a de pior insolação, buscou-

se protegê-la da incidência solar direta por meio de generoso beiral que desce imediatamente a partir da cobertura como brise-soleil. Por meio da repetição da mesma peça de telha metálica termoacústica que configura a cobertura, surge uma abstrata fachada que resguarda o interior do edifício proporcionando o encanto pela descoberta de uma imprevista espacialidade. Uma nova espacialidade exterior. Percebe-se o inusitado: ao adentrar, encontra-se fora novamente.

Uma nova UBS para Gurugi

DIAGRAMA DE VENTILAÇÃO PASSIVA

ZONA DEBAIXA PRESSÃO

ZONA DEALTA PRESSÃO

AR FRESCO+ FRIO

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