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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Egydio Barbosa Zanotta UMA CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO SOBRE O ERRO NÃO AMOSTRAL NA PESQUISA DE MERCADO DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS SÃO PAULO 2013

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

Egydio Barbosa Zanotta

UMA CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO SOBRE O ERRO NÃO AMOSTRAL NA PESQUISA DE

MERCADO

DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

SÃO PAULO 2013

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Egydio Barbosa Zanotta

UMA CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO SOBRE O ERRO NÃO AMOSTRAL NA PESQUISA DE

MERCADO

DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Ciências Sociais sob a orientação da Profª. Dra. Maria Helena Villas Bôas Concone

SÃO PAULO 2013

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Banca Examinadora

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Dedicatória

Esta tese é dedicada à minha esposa e companheira Maria do Carmo

Sampaio Zanotta.

Aos meus filhos:

• Ricardo Sampaio Zanotta

• Solange Zanotta Gomes

• Renato Sampaio Zanotta

• Eduardo Sampaio Zanotta

• Maurício Sampaio Zanotta

Aos meus netos:

• Paloma

• Pamela

• Paola

• Pietra

• Gabriel

• Vinícius

• Ester

• Eduardo

• Maurício

• Gustavo

• Rafael

• Alexandre

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Agradecimentos

Uma tese ao ser elaborada, não depende apenas da dedicação,

persistência e criatividade de seu autor. Muitas são as pessoas que

colaboraram para que o autor pudesse atingir seus objetivos.

Começo agradecendo a duas figuras a quem muito devo: Carlos Roberto

Vieira Araujo – meu amigo e meu irmão, pela ajuda em inúmeras traduções,

opiniões sobre conteúdos, revisão do texto e incentivos para que eu pudesse

levar a bom termo minha tarefa. A ele minha profunda gratidão.

O outro personagem é o Marcos Aurélio de Oliveira a quem recorri

sempre que tinha uma dificuldade. Foi o autor da adaptação do texto às

Normas da ABNT, além de ter me incentivado para a finalização de minha tese.

Também serviu de elo de ligação entre nós: Profª. Dra. Maria Helena Villas

Bôas Concone e o autor da Tese, que foi de suma importância.

Minha outra personagem e que exerceu profunda influência em meu

trabalho é esta magnífica professora, amiga e conselheira: Profª. Dra. Maria

Helena Villas Bôas Concone, que me infundiu coragem, confiança e auto-

respeito – além das recomendações e sugestões sobre a tese. Outras figuras

que constantemente me incentivaram decisivamente foram o Prof. Dr. Antonio

Vico Mañas e Prof. Dr. Hamilton D’ Angelo.

Também devo agradecer a todos os professores de meu curso de

doutorado, além das diretoras do Curso de Ciências Sociais: Profª. Dra. Lúcia

Maria Machado Bógus, Profª. Dra. Teresinha Bernardo e a Profª. Dra. Vera

Lucia Michalany Chaia.

Contei, também, com o especial apoio de meu filho Prof. Ms. Ricardo

Sampaio Zanotta, que sempre me apoiou nesse empreendimento e ao final,

quando a Tese estava praticamente finalizada, fez uma sugestão importante

para a confecção do último capítulo da mesma.

Também desejo incluir outro grande amigo e meu afilhado, Prof. Dr.

Shuy Wen Shin.

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Minhas homenagens póstumas ao meu ex-Gerente de Marketing da

firma Robert Bosch Limitada que, ao me contratar, mudou os rumos de minha

vida e me proporcionou um aprendizado na prática dos negócios e acreditou

em meu potencial. Além dele e na mesma empresa, tive total apoio do seu

presidente Wolfgang Sauer (mais tarde presidente da Volkswagen do Brasil) –

que ao apoiar meus trabalhos nas Américas e no Caribe, deu demonstrações

de confiança, acreditando em meus predicados. A Robert Bosch foi uma

universidade da prática e lá comecei a trilhar o caminho que está culminando,

agora, com a realização de minha tese. Finalmente, devo agradecer às minhas

amigas e terapeutas: Arlete, Meire e Dra. Elaine Gambirasio.

Finalmente, devo fazer um especial agradecimento ao meu filho Eduardo

Sampaio Zanotta, pela sua ajuda na digitação e organização do conteúdo e

tópicos da Tese.

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RESUMO

O objetivo central desse estudo é de proporcionar “Uma Contribuição

Para o Estudo Sobre o Erro Não Amostral na Pesquisa de Mercado.”Para

lograr atingir esse objetivo, necessitamos através da pesquisa bibliográfica,

descobrir e tipificar os erros não amostrais existentes no projeto de pesquisa e,

partindo do pressuposto de que em cada etapa, tais erros estão

presentes.Posteriormente, passamos a pesquisar como solucionar esses erros,

com base no estado da arte. Convém salientar, que graças ao incentivo

recebido de minha orientadora, incluímos notas sobre teorias oriundas de

nossa experiência e conhecimento.

Palavras-chave: Erro Não Amostral; Entrevistador-observador; Etapas

do Projeto de Pesquisa; Formulação do Problema; Marketing; Pesquisa de

Marketing; Questionário; Setor de Campo; Tabulação

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ABSTRACT

The main objectiv of this study is to present a contribution to the non

sampling error in the Marketing Research. To reach this goal we had ( by

means of bibliografical research) to discover and typify the non sampling error

which is present in a research project, assuming the presence of this error in

each step of the process. Finally we tried to solve these problems by taking into

account the more recents conquests of the knowledge in this area. It is

important to emphasize that we included notes and theories originated from our

own experience, stimulated by the opinion of the advisor of our thesis.

Keywords: Non sampling error; Interviewer-observer; Steps of Research

Project; Formulation of the problem; Marketing; Marketing Research;

Questionnaire; Sector field; Tabulation

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SUMÁRIO

CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO....................................................................................................... 12

MODELOS DE ERROS DE MALHOTRA.............................................................. 13

JUSTIFICATIVA.................................................................................................... 14

FORMULAÇÃO DO PROBLEMA......................................................................... 18

OBJETIVOS DA TESE.......................................................................................... 18

HISTÓRICO DA PESQUISA MERCADOLÓGICA NOS ESTADOS UNIDOS................ 20

HISTÓRICO DA PESQUISA DE MERCADO NO BRASIL............................................ 23

PANORAMA DA PESQUISA DE MERCADO NO BRASIL E TECNOLOGIA.................. 29

DESCRIÇÃO DOS DEBATES................................................................................... 29

COMENTÁRIOS DO AUTOR DA TESE...................................................................... 35

METODOLOGIA....................................................................................................... 36

CAPÍTULO II

1. INTRODUÇÃO................................................................................................... 39

2. Etapas do Projeto de Pesquisa de Mercado................................................. 39

1. Formulação do Problema de Pesquisa................................................... 40

1.1 Fixação dos Objetivos de Pesquisa..................................................... 46

2. Tipo de Projetos Utilizados na Pesquisa................................................ 52

3. Métodos de Coleta de Dados................................................................... 76

3.1 Questionário......................................................................................... 77

3.2 Método de Observação........................................................................ 77

3.3 Tipo de Perguntas................................................................................ 113

. Planejamento da Amostra (embora faça parte do projeto de pesquisa, não será comentada na tese, tendo em vista que a mesma abordará apenas os erros não amostrais)

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4. O Setor de Campo.................................................................................. 148

. Conceituação, definição e importância.................................................... 148

. Maior Fonte de Erros na Pesquisa de Mercado....................................... 148

. Influência do Entrevistador....................................................................... 149

. Erros de Não Resposta............................................................................ 153

. Causas das Baixas Taxas de Respostas................................................. 153

. Não Está em Casa................................................................................... 154

. Erros Cometidos pelos Entrevistadores................................................... 154

a) Erro de Questionamento............................................................ 154

b) Erro de Registro......................................................................... 154

c) Erro Proposital - Fraude............................................................. 155

. Erros Cometidos pelos Entrevistados...................................................... 155

a) Erros de Incapacidade............................................................... 155

b) Erros de Má Vontade................................................................. 156

. Erros do Pesquisador............................................................................... 156

a) Erro de Substituição de Informação........................................... 156

b) Erro de Medição......................................................................... 156

c) Erro de Definição da População................................................. 156

. Vieses de Resposta................................................................................. 157

a) Falsificação deliberada............................................................... 158

b) Deturpação Inconsciente............................................................ 158

. Outros Tipos de Vieses de Resposta....................................................... 159

a) Viés de Aquiescência................................................................. 159

b) Viés de Extremidade.................................................................. 159

c) Viés do Entrevistador.................................................................. 160

. A Interação Entre Entrevistador e Entrevistado: classe social, idade, sexo, experiência do entrevistador, raça, personalidade. 161

d) Viés de Desejabilidade Social.................................................... 163

. Erro Administrativo................................................................................... 164

. Verificação das Entrevistas...................................................................... 166

5. Plano de Tabulação................................................................................ 167

. Conceituação........................................................................................... 167

. Números da Tabulação............................................................................ 171

. Tabelas Analíticas.................................................................................... 174

. Cruzamentos............................................................................................ 174

5.1 Tabulação de Perguntas Abertas de Razão........................................ 176

. Respostas Múltiplas, Total Superior a 100%........................................... 179

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6. Análise................................................................................................... 184

7. Conclusões........................................................................................... 186

8. Recomendações de Marketing............................................................ 187 (Apresentação de um caso real)

CAPÍTULO III

. O ESTADO DA ARTE NO ERRO NÃO AMOSTRAL............................... 193

. CONCLUSÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES...................................... 283

. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................... 288

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CAPÍTULO I

Introdução

A área de administração de marketing vem tomando grande impulso nos

últimos anos. A própria ABEP-Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa

reconheceu depois de muito tempo, através de seu presidente (artigo publicado

na revista Meio & Mensagem Caderno Especial sobre pesquisa de mercado-25

de fevereiro de 2002) sob o título “Pesquisa também é business”,no qual

explicava que o pesquisador de mercado não deve fazer apenas aquilo que o

cliente lhe pede, mas deve, isto sim, assessorá-lo para localizar e definir

corretamente o problema mercadológico que afeta a empresa-cliente. Além

disso, como corolário de seu trabalho de pesquisa, deve oferecer-lhe

recomendações de marketing, ou seja, o que o executivo deve fazer com as

informações de mercado levantadas pela investigação.

Por quais motivos o autor faz essa longa peroração sobre o assunto?

Inicialmente, para introduzir o leitor no ambiente de marketing e porque foi a

partir deste momento que a pesquisa de mercado passou a denominar-se

pesquisa de marketing e começou a assumir seu verdadeiro papel: não só

levantar dados e reuni-los em tabelas analíticas, acompanhadas de uma

análise superficial, mas, também, contribuir com sugestões dirigidas aos

executivos sobre o que fazer com as descobertas da investigação. Desta

forma, os clientes ficarão mais satisfeitos com o novo serviço oferecido e

passarão a olhar o instrumento pesquisa de mercado como algo valioso e mais

útil para auxiliá-las nas suas tomadas de decisões.

O instrumento pesquisa de mercado abrange uma ampla gama de

fenômenos. Em essência, ele atende as necessidades de conhecimento sobre

o que se passa no mercado para auxiliar os setores envolvidos com a

administração de marketing das empresas. Os gerentes de marketing, no seu

dia-a-dia, se deparam com diversos problemas e devem tomar inúmeras e

complexas decisões.

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Para isso, ele necessita embasar tais decisões com informações - por

exemplo: sobre o produto, preço, ponto de distribuição, propaganda e venda

pessoal, além de outras informações. Portanto, ele depende da qualidade com

que estas informações são levantadas. Qualquer erro cometido na investigação

pode acarretar sérios prejuízos para a empresa. Daí a importância do

instrumento pesquisa de mercado.

Em razão disso, o projeto em curso, procurou investigar quais os tipos

de erros mais comuns que podem ocorrer no transcurso ou no projeto de

pesquisa de mercado. Malhotra (2001, p.115) construiu um modelo que

apresenta uma classificação das principais fontes de erro na concepção da

pesquisa. Eis o modelo:

MODELOS DE ERROS DE MALHOTRA

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No decorrer do projeto, serão detalhados de forma mais pormenorizada,

os diferentes tipos de erros, incluindo a versão apresentada por outros autores.

Eis o que diz Malhotra (2001 p. 116) sobre sua classificação e

conceituação de erros:

“O erro total é a variação entre o valor médio real da população da variável de interesse e o valor médio observado no projeto de pesquisa. O erro total é composto pelo erro de amostragem aleatória e pelo erro de não amostragem.”

“O erro de amostragem aleatória acorre porque a amostra selecionada é uma representação imperfeita da população de interesse. Este erro é a variação entre o valor médio real para a população e o valor médio real para a amostra original.

“Já o erro de não amostragem pode ser atribuído a fontes fora da amostragem, e podem ser aleatórios e não aleatórios. Resultam de uma variedade de razões, por exemplo erros na afirmação do problema, na abordagem, nas escalas aplicadas, na criação do questionário, nos métodos de entrevista e na preparação e análise dos dados. Os erros de não amostragem também consistem de erros de falta de resposta e de erro de resposta.” (Malhotra, 2001, p.117)

Justificativa

A justificativa da escolha do tema da tese encontra-se alicerçada no

interesse acadêmico do autor da tese, principalmente pelo fato de já ter

abordado o tema, de forma parcial, quando da confecção de sua dissertação

de mestrado sob o título “A influência do Entrevistador na Pesquisa de Dados

Primários, Através da Entrevista Pessoal” (Zanotta, Egydio Barbosa, 1992).

Naquela ocasião, procurou saber e aprofundar o estágio do estado da

arte sobre o assunto. Segundo Boyd & Westfall (1978, p.449).

“Os resultados do assunto pesquisa de mercado dependem dos dados obtidos no trabalho de campo. Mesmo que a amostra tenha sido feita cuidadosamente e que o questionário esteja bem planejado, os dados obtidos não serão precisos se os entrevistadores não executaram o seu trabalho de campo de maneira adequada.”

“O modo como é feito o trabalho de campo é, geralmente, uma das maiores fontes, senão a maior fonte de erros no projeto de

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pesquisa típica, especialmente em casos de estudo com questionário.”

O desenvolvimento deste tema suscitou de parte do pesquisador uma

curiosidade de cunho acadêmico, que foi se desenvolvendo através dos anos e

que, em muitos aspectos, ele já havia passado como entrevistador, verificador

e supervisor de campo - por quatro anos- trabalhando em vários Institutos de

Pesquisas de São Paulo (MARPLAN, INESE, GALLUP, A ENTREVISTA).

Mais tarde, como chefe da seção de pesquisa de mercado da empresa

Robert Bosch Ltda., com sede em Campinas, pelo espaço de sete anos – teve

oportunidade de observar a conduta de vários Institutos de Pesquisas de

Mercado que havia contratado para realizar pesquisas para sua empresa. Em

várias ocasiões deparou-se com problemas de diversas espécies. Mais tarde,

desligou-se da Empresa Bosch e fundou seu próprio Instituto de Pesquisa de

Marketing - em 1972, e que funciona até a presente data.

Em 1974 foi convidado pela Faculdade Tibiriçá, em São Paulo para

administrar aulas na área de marketing, na disciplina Pesquisa de Mercado.

Neste mesmo ano, completou seus créditos no curso de Mestrado com

especialização em Administração de Marketing na EAESP-Fundação Getúlio

Vargas. Em 1975, foi convidado a ministrar aulas na disciplina Pesquisa

Mercadológica no curso de Administração de Empresas da Fundação Getúlio

Vargas, pelo então professor e um dos fundadores da FGV, Raimar Richers e

aceito pelo chefe do departamento de mercadologia, professor Affonso

Arantes.

Finalmente, em 1982 participou do Concurso para Professor em

Administração Mercadológica na PUC–SP- Pontifícia Universidade Católica de

São Paulo - onde permanece como professor na área de marketing até a

presente data.

Como se observa na apresentação de seu resumido currículo lattes,

pode-se notar a experiência vivida pelo autor que lhe proporcionou

aprofundado conhecimento prático e teórico sobre o estado da arte e que

espera ser de grande valia no desenvolvimento de sua tese.

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Outra justificativa para a escolha do tema refere-se ao fato de que

bibliografia que trata do assunto, sempre aponta que o erro não amostral é

mais difícil de controlar que o erro amostral, principalmente devido a sua

complexidade e grande variedade (CORLETT, Tom. “Sampling Errors in

Pratice.”Journal of Marketing ResearchSociety 38(4)(outubro/1996)pp. 307-318.

Apenas para ilustrar a grande variedade de erros não amostrais,

Malhotra (2001, pp.117-118) elenca alguns tipos:

• Erros na definição do problema.

• Erros na abordagem aos respondentes.

• Erros de substituição de informações na pesquisa.

• Erros de medição-p. ex. o pesquisador mede percepção ao invés de preferências do consumidor.

• Erro de questionamento pelo entrevistador que foge do texto contido na pergunta modificando a indagação.

• Erros no registro das respostas dadas pelos entrevistados.

• Erros propositais do entrevistador que preenche, a seu bel prazer alterando o sentido e até cometendo fraude.

• Erro de incapacidade do respondente quando não consegue dar respostas precisas.

• Erros de má vontade do entrevistado por falta de disposição para fornecer informações verazes e/ou deriva para respostas socialmente aceitáveis para evitar embaraços.

• Erros cometidos na confecção de questionários.

Outro argumento que pode ser invocado para a justificativa da escolha

do tema, está centrado nos valores pecuniários e numéricos alcançados pelo

setor econômico da área de pesquisa de marketing.

Embora as informações estatísticas não sejam muito atualizadas, o autor

entrou em contato com a ABEP - Associação Brasileira de Empresas de

Pesquisa e obteve algumas cifras estimadas.

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Além disso, fez contato com colegas de alguns Institutos de Pesquisa e

na somatória das informações coletadas, obteve os seguintes dados que dão

uma ideia da importância do setor.

FATURAMENTO

(Em milhões de reais)

Ano R$ (milhões)

2009 1.200,00

2010 1.320,00

2011 1.400,00(*)

2012 1.550,00(*)

OUTROS DADOS DO SETOR

• Número de institutos: 150

• Número de funcionários: 3.500

• Número de entrevistadores e verificadores: 14.000

Fonte: Estimativas realizadas pela ABEP - Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa,bem como estimativas elaboradas pelo autor em conjunto com colegas de Institutos de Pesquisas, em particular o Dr. Octavio da Costa Eduardo, fundador e presidente do INESE- Instituto Nacional de Estudos Sociais e Econômicos.

(*)Os números de 2011e 2012 foram estimados pelo Sr. Nelson Marangoni da ABEP- Associação Brasileira de Pesquisas.

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FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

Este estudo pretende trazer baila um assunto que está no mínimo

adormecido e esquecido pelos pesquisadores – tanto privados como

acadêmicos(*). Pelo que foi até agora observado na literatura, há uma grande

preocupação com as novas técnicas de pesquisas e a tecnologia desenvolvida

nos últimos anos,principalmente aquelas ligadas as formas de coleta de dados.

No entanto, pouco se ouve falar dos diferentes tipos de vieses que

percorrem as etapas de um projeto de pesquisa de mercado ensejando

grandes prejuízos nos resultados das pesquisas e, conseqüentemente, erros

nas tomadas de decisões pelos executivos.

Desta forma, este projeto tem por objetivo central suscitar o debate em

torno do tema ERRO NÃO AMOSTRAL, tanto nos meios acadêmicos como

empresariais, com a finalidade de melhorar a qualidade do instrumento

Pesquisa de Mercado. Poder-se-ia encerrar este tópico afirmando: “Muita gente

faz pesquisa, mas ignora os riscos que estão correndo por desconhecerem

erros não amostrais.”

OBJETIVOS DA TESE

Tomando-se por base o que foi exposto no objetivo central, o estudo

pretende responder aos seguintes objetivos:

• Quais são os diferentes tipos de erros não amostrais mais

mencionados pela bibliografia disponível e seus respectivos

autores.

• Qual o estado da arte na área de erro não amostral e até que

ponto consegue apontar qual o caminho a ser seguido para

solucionar e/ou minimizar os prováveis danos que possam causar

nos resultados de pesquisas de mercado.

(*) O autor realizou um projeto exploratório junto a uma pequena amostra de professores de Pesquisa de Marketing e diretores de Institutos de Pesquisas de Mercado (cerca de 10 elementos), foram entrevistas informais, sem revelar o objetivo do autor em fazê-las e que, ao cabo, revelaram a existência do problema.

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• Comparar as teorias apresentadas por diferentes autores em

relação aos erros não amostrais, apresentando uma análise que

interprete os pontos fortes e fracos de cada uma delas e, quando

for possível e necessário, o autor também apresentará suas

ideias teóricas discutindo-as e cotejando com o que disseram os

teóricos.(*)

(*) Tal colocação foi estimulada pela orientadora da tese, Profª Dra. Maria Helena Villas Bôas Concone. Também Antônio Joaquim Severino in Metodologia do Trabalho Científico (São Paulo, Cortez, 2001 pg. 57-58), segue a mesma linha quando diz: “Resta aludir aqui a uma possível crítica pessoal às defendidas no texto... é viável desde o momento em que a vivência pessoal do problema tenha alcançado níveis que permitam o debate da questão tratada.

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Histórico da pesquisa mercadológica nos Estados Unidos

Segundo Boyd & Westfall (1987, pp. 25-26) nos Estados Unidos a

pesquisa mercadológica, como atividade organizada, começou no início de

1900. A nomeação de Charles Collidge Parlin para gerir a Divisão de Pesquisa

Comercial do Departamento de Propaganda, da Companhia Editora Curtis, em

1911, é geralmente indicada como o princípio da pesquisa mercadológica como

é conhecida agora. Cerca de quatro anos mais tarde, em junho de 1915, a

United States Rubber Company contratou o Dr. Paul H. Nystrom para chefiar

seu programa de pesquisa comercial. Em 1917, Swift and Company contratou

o Dr. L. D. H. Weld, da Universidade de Yale, um economista-geral. Pouco

depois ele organizou um departamento de pesquisa comercial para a

companhia. Em 1919 o Dr. C. S. Duncan publicou o que seria provavelmente o

primeiro livro sobre pesquisa comercial1.

Esses foram os pioneiros nesse campo. Eles e suas companhias

perceberam a crescente complexidade do mercado e a necessidade de

informação mercadológica para a tomada de decisões acertadas. Já

Blankenship2 (1943, pp. 4-6) acrescenta: “Apesar do trabalho desses pioneiros,

havia pouca coisa do que agora chamamos de pesquisa mercadológica até a

Primeira Guerra Mundial. A maioria dos trabalhos realizados referia-se a

análises do recenseamento e estatísticas sobre mercados potenciais. Na

década de 1920 foram projetados questionários e levantamentos, e

reconheceram-se problemas de feitura das perguntas e influência do

entrevistador. Nessa ocasião apareceram os psicologistas em campo para

ajudar a resolver esses problemas. No começo de 1930 devotou-se muita

atenção a problemas de amostragem. Os pesquisadores perceberam que seus

resultados eram em grande parte determinados pelos indivíduos ou firmas de

onde se tiravam as informações.

1 DUNCAN, C. S., Commercial Research: an Outline of Working Principles. Nova Yorque, Macmillan Co, 1919 2BLANKENSHIP, Albert B. Consumer and Opinion Research. Nova Yorque, Harper and Brothers, 1943, p. 4-6.

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O fiasco da prévia eleitoral feita pela Literary Digest, em 1936,

representou o ponto máximo da preocupação com amostragem. Apareceram

então os estatísticos e foram elaboradas melhores técnicas de amostragem. Os

métodos básicos de pesquisa agora usados- começaram a surgir no fim da

década de 1930. “Entretanto, mesmo nessa ocasião, era feita relativamente

pouca pesquisa mercadológica.”

Hasselmen3 (1948, p. 4) diz:

“Em 1932 havia somente três firmas em Chicago que se especializavam em pesquisa mercadológica. No fim da década de 1930 havia somente alguns executivos de pesquisa mercadológica capazes em todo o país, não mais de mil de tempo integral, e provavelmente as despesas anuais para toda a pesquisa mercadológica totalizavam, no máximo, alguns milhões de dólares.”

Segundo publicado no Wall Street Journal- na seção Market Detectives4

(1947, p. 1) “Durante e depois da Segunda Grande Guerra, a pesquisa se

expandiu rapidamente. Em 1948 havia mais de 200 firmas nos Estados

Unidos”.

Outro autor, Payne5 (1954, p. 1) acrescenta: “Apenas em Cuyahoga

County, de Ohio (Cleveland), havia 1.400 empregados de tempo integral em

pesquisa mercadológica, em 1954.”

“A companhia A. C. Nielsen6, conhecida no mundo todo como a maior

firma de pesquisa, começou suas atividades em 1934. Desde essa época seu

volume de vendas aumentou anualmente, e, em 1954, era 78 vezes maior do

que em 1934. Desde o fim da Guerra está crescendo à razão de 10% ao

ano.”Eis alguns números extraídos em levantamento feito em 1946: pela

Marketing Research and Industry7:

3HASSELMEN, M. A., Chicago, a Market Research Center, Manufacturs News, fevereiro de 1948. 4MARKET Detectives. Wall Street Journal, setembro de 1947,p.1. 5 PAYNE Stanley L., Pesquisa de mercado em companhias de Cleveland Chapter, American Marketing Association, 1954,p. 1. 6THE NIELSEN RESEARCHER. Chicago, A. C. Nielsen co., april 1955, p. 12. 7 MARKETING RESEARCH AND INDUSTRY NEW YORK,National Association of Manufacturers, 1946, p. 6.

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• 38% das companhias consultadas usavam alguma espécie

de pesquisa mercadológica.

• Destas, 11% afirmaram ter um departamento de pesquisa.

• Poucas companhias com menos de 2.500.000 dólares

anuais de vendas tinham um departamento de pesquisa.

Veja-se a tabela abaixo:

Vendas líquidas anuais

Porcentagem que faziam

algum tipo de pesquisa

mercadológica

Porcentagem dos que tinham departamento

de pesquisa

- abaixo de $ 500.000 - 500.000 a $ 2.500.000

- $ 2.500.000 a $ 5.000.000 - acima de $ 5.000.000

% 23,1 36,1 56,0 72,5

% 1,8 6,7 17,9 44,6

Quanto ao futuro da pesquisa mercadológica um estudo realizado pela

American Management Association, em 1953, entre seus associados revelou

que:

• 40% dos fabricantes que fizeram pesquisas, mas não possuíam um

departamento específico, planejavam organizar tal departamento.

• 80% das companhias com departamento de pesquisa planejavam

expandi-lo.

Tudo indica que a pesquisa mercadológica será cada vez mais usada no

futuro (isto dito em 1953).

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Histórico da pesquisa de mercado no Brasil

Cabe ainda acrescentar, um tópico que aborde o histórico da pesquisa

de mercado no Brasil. A fonte inicial foi uma entrevista com o decano da

pesquisa de mercado e opinião pública no Brasil, Dr. Octavio da Costa

Eduardo, diretor e fundador do INESE- Instituto de Estudos Sociais e

Econômicos Ltda. de 1955. Em artigo publicado na Revista da ESPM, sob o

título “PEQUENA HISTÓRIA COMENTADA DA PESQUISA DE MERCADO E

OPINIÃO PÚBLICA NO BRASIL: A ETAPA PIONEIRA” (Volume 10- ano 9-

edição nº 1- janeiro/fevereiro 2003) o Dr. Octavio faz um alentado trabalho de

investigação que passa a ser apresentado. No Brasil, os introdutores da

pesquisa de mercado foram, principalmente, duas agências americanas de

publicidade que haviam iniciado suas atividades no país nos primeiros anos da

década de 1930, a NY Ayer & Son, importante agência da cidade de Filadelfia,

e McCann- Erickson, uma das principais agências americanas, e duas

indústrias de produtos de consumo- a Lever e a Sidney Ross- a primeira

estabelecida no país em 1929 e a segunda pela mesma época.

A N. W. Ayer&Son tem seu nome ligado a primeira grande pesquisa de

mercado, de âmbito nacional, em nosso país. Foi uma pesquisa sobre os

hábitos de consumo de café. O patrocinador foi o Departamento Nacional do

Café, importante órgão do Governo Federal. A notícia que se tem da pesquisa

da Ayer e que foi de grande porte. Teria sido realizada, segundo o publicitário

Francisco Teixeira Orlandi, que era na época funcionário da agência

americana, com uma amostra de “12.000 consumidores e 3.000 torradores e

revendedores em 18 estados. Do ponto de vista histórico, esta foi a primeira

grande pesquisa até então realizada no Brasil.”

Sete anos depois da pesquisa de mercado sobre o café, foi realizada no

país a primeira pesquisa nacional de opinião pública. O projeto teve dois

objetivos: conhecer as opiniões e atitudes do povo brasileiro sobre a guerra

que eclodira na Europa em 1939, sobre as partes em conflito e outras que

poderiam envolver-se; e determinar a penetração das emissoras internacionais

de ondas curtas no país. Estes foram os objetivos da pesquisa iniciada nos

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meses de Novembro/Dezembro de 1940. Dirigiu o projeto o pesquisador

americano Lloyel Free formado em direito pela Universidade de Stanford. Free

dedicou a maior parte de sua vida profissional à pesquisa de opinião pública

colaborando intimamente com Hadley Cantril, uma das figuras mais

importantes da psicologia social e de estudos sobre opinião pública nos

Estados Unidos de meados da década de 1930 até sua morte em 1969.

Continua o Dr. Otavio... A criação do IBOPE em 1942 deu início à atividade

regular e sistemática da pesquisa de mercado e de opinião pública no Brasil. A

iniciativa foi do advogado e empresário Auricélio Penteado, que deve, com

justiça, ser considerado o pioneiro da pesquisa de mercado e de opinião

pública em nosso país.

O jornalista Mário Fonseca Neto (Revista Administração e Serviços,

Junho, 1982.) descreveu a criação da nova empresa em tom algo pitoresco:

“O IBOPE foi fundado em São Paulo em 13 de Maio de 1942, por Auricélio Penteado, um advogado, sócio da Rádio Kosmos, de São Paulo, e com inclinação para a política, ciências sociais e a polêmica. Tinha curiosidade em conhecer os ouvintes de sua rádio e aprendeu técnicas de pesquisa com George Gallup. Quando as aplicou, descobriu que sua emissora estava em último lugar em audiência e se convenceu de que não entendia de rádio, e sim de pesquisa.”

Para viabilizar seu novo empreendimento, Auricélio conseguiu, após

muito esforço de persuasão, dezenove contos e novecentos e vinte e cinco mil

réis, capital que foi rateado entre diferentes fontes: algumas agências de

publicidade, algumas empresas fabricantes de produtos de consumo popular,

e, pelo então presidente da Associação Comercial de São Paulo, Brasílio

Machado Neto, um paulista de família tradicional que foi a quem Auricélio

recorreria em momentos financeiros difíceis.8

Comenta ainda, o Dr. Octavio“...Pouco ou quase nada se sabia então

sobre pesquisa de mercado e sua utilidade como instrumento importante de

apoio às atividades de marketing e de propaganda das empresas. O clima não

era, portanto, muito favorável ao desenvolvimento da pesquisa do

comportamento do consumidor e de suas opiniões e atitudes”.

8 GONTIJO, Silvana, A voz do povo. O IBOPE DO BRASIL, São Paulo. Editora Objetivo, 1981,p.220.

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O IBOPE começou suas atividades com dois serviços que procurava

vender cooperativamente a diversos clientes:

“um serviço permanente de controle de rádio em todas as horas do dia, apurando os índices de audiência de cada estação, e um estudo de mercado que foi chamado a princípio de “Serviço X” 9.

Um ano depois, o IBOPE abria uma filial no Rio de Janeiro, para onde a

sede da empresa logo se transferiu. O serviço de pesquisa entre

consumidores, “pesquisa de omnibus” (patrocinada por diversos clientes que

desejavam resposta à aceitação de seus produtos e marcas – vários

fabricantes com suas marcas e produtos inseridos em um mesmo questionário

para que os entrevistados respondessem as perguntas). Era o início da

pesquisa omnibus no Brasil.

Em 1945, o IBOPE realizou sua primeira incursão em prévias eleitorais,

com uma pesquisa realizada na cidade de São Paulo.

Naquela época, explica o Dr. Octavio, o IBOPE usava um sistema

inteiramente subjetivo de classificação sócio-econômica dos respondentes. A

classificação incluía três classes: rica, média e pobre. Em que classe seria

encaixada o respondente dependia inteiramente da avaliação do entrevistador

que usava a aparência dos entrevistados e dos domicílios amostrados como

único critério de avaliação. Só anos mais tarde, na década de 1960,

tentativamente e, definitivamente a partir de 1979, passaria a pesquisa de

mercado no Brasil a dispor de um critério objetivo de classificação sócio-

econômico, o critério ABA-ABIPEME (Associação Brasileira de Anunciantes –

Associação Brasileira dos Institutos de Pesquisa de Mercado) – que

representou significativo avanço sobre os critérios subjetivos.

Outros Institutos de Pesquisas de Opinião Pública e Mercado

começaram a surgir:

1949 – International Research Associates – que introduziu a

metodologia “antes/depois” – muito utilizada na época na 9 , Silvana, op. Citado p. 220.

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mensuração dos resultados de campanhas de comunicação e

propaganda (antes da campanha e depois da campanha

deflagrada).

1952 – IPOM – Instituto de Pesquisa de Opinião e Mercado,

filiado à empresa Internacional Research Associates.

O IPOM introduziu no país o processo de amostragem probabilística e

uma maior preocupação com o treinamento e fiscalização dos entrevistadores.

Por essa época, estabeleceu-se, além da crítica (leitura e edição) de todos os

questionários preenchidos, a prática de verificação de 20% das entrevistas

realizadas no campo.

1955 – INESE – Instituto de Estudos Sociais e Econômicos

Ltda. Nos primeiros anos, o INESE lançou alguns produtos que

eram novos no Brasil: um store-audit (auditoria de lojas) em

São Paulo e Rio de Janeiro, restrito, porém, a farmácias e

drogarias e o índice INESE de Penetração de Anúncios,

modalidade alterada do índice Starch que havia sido testado

pela McCann-Erickson em 1951.

O Dr. Octavio prossegue.... Na década de 1960, o INESE realizou vários

estudos importantes, não só pelas inovações conceituais e metodológicas

introduzidas. Os mais importantes foram os seguintes:

- O estudo nacional realizado em 1960 sobre as aspirações, expectativas e

temores dos brasileiros. Esta pesquisa usou uma amostra probabilística

modificada da população brasileira (2700 pessoas), tendo sido o primeiro

grande estudo de opinião pública no Brasil que incluiu uma sub amostra

probabilística da população rural, (inclusive residentes em áreas rurais, isto é,

sítios e fazendas). Os resultados foram apresentados em livro nos Estados

Unidos10.

10, Hadley. Ther Pattern of Human Consern, Rutgers University Press, New Brunswick, 1965

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- As primeiras clínicas de carros realizadas a partir de 1964, visando a princípio

determinar o tamanho potencial do mercado para modelos novos e, em anos

subseqüentes, para servir de base a alterações nos protótipos testados.

- O primeiro estudo sobre o lançamento de uma grande revista nacional

(Realidade) em 1966, à base de uma amostra de população às diferentes

seções do número zero da futura revista.

- O primeiro estudo multinacional originado no Brasil. Tendo como objetivo

prever a aceitação pelo mercado nacional e por 4 países (Estados Unidos,

Inglaterra, Alemanha e Japão) de produtos industrializados à base de purê de

banana. A pesquisa realizada em 1966 foi talvez primeira ao introduzir a

técnica do teste de conceito em antecipação a um teste de produto.

1948/1954-MARPLAN-Pesquisas e Estudos de Mercado Ltda..

- Inicialmente designada ENOP- Empresa Nacional de Organização e

Pesquisa, a Marplan nasceu do Departamento de Pesquisa da McCann -

Erickson, criado em 1948. Esse instituto de pesquisa foi pioneiro, no Brasil em

pesquisas de mensuração da visibilidade e penetração de anúncios publicados

na revista “O cruzeiro” bem como criou um serviço de mensuração das reações

de rádio-ouvintes os programas e comerciais que eram submetidos a teste.

Introduziu, no Brasil, a discussão em grupo.

Em 1952, a McCann Erickson contratou os serviços de Alfredo do Carmo

que muito contribuiu para a pesquisa qualitativa e motivacional. Mais tarde,

veio a tornar-se uma das figuras mais importantes no desenvolvimento da

pesquisa de mercado qualitativa no Brasil11.

A Marplan, além da notável contribuição na área qualitativa,

desempenhou a partir de 1959 papel capital no desenvolvimento da pesquisa

de mídia impressa no Brasil. Data de 1959 o primeiro estudo Marplan realizado

11 A bibliografia de Alfredo do Carmo, na área da pesquisa de propaganda, compreende, além de outro, os seguintes estudos e artigos: “Pesquisa Motivacional, criador de anúncios”. Revista Propaganda, agosto, 1956. “Criação e Pesquisa”. O Estado de São Paulo, setembro, 03,1965; outubro, 10, 1965. “Pesquisador não é Cartomante”, Revista Propaganda, março, 1972. “Testemunhal, humor, e sexo” Mercado Global, nº 22/23, fevereiro/março, 1976. “A pesquisa contra a criação:”, Propaganda, abril, 1980.

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em sete capitais sobre os hábitos de leitura de jornais e revistas pelos

diferentes segmentos da população. Tais estudos se tornaram a partir da

década de 1960 instrumento indispensável para a orientação das agências de

publicidade em suas decisões na mídia impressa.

Sobre o título “Outros Institutos e Serviços na Década de 1960” _ diz o

Dr. Octavio:

“Em 1964, a Lintas- agência de propaganda, re-introduziu no Brasil a técnica da discussão em grupo. A nova técnica constituiu-se objeto de estudo também, pelo Departamento de pesquisa da J.W. Thompson.

Em 1966, é fundado o Instituto LPM, Levantamento e Pesquisa de Mercado, que se especializou em pesquisas qualitativas.”

Ainda na década de 1960, teve o início o Instituto Gallup que cresceu

rapidamente disputando com a LPM o mercado da área de propaganda pela

televisão através da técnica do DAR (Day After Recall). E, como o IBOPE,

passou a ter importante papel no desenvolvimento de pesquisas de intenção de

votos, realizando, além disso, importantes projetos ad-hoc e um estudo

omnibus nacional.

Era o prenúncio da fase de consolidação, desenvolvimento e crescente

aceitação e utilização da pesquisa de mercado que, começando (essa

tendência) na década de 1970, se prolongaria até os dias atuais.

Cabe ainda mencionar a publicação de livros sobre pesquisa de

mercado no Brasil: os pioneiros foram a Fundação Getúlio Vargas através da

tradução brasileira do livro Marketing Research- Text and Cases, de Harper W.

Boyd & Ralph Westfall, sob o título Pesquisa Mercadológica em 1964 e que até

hoje é adotado por professores de Pesquisa de Marketing na FGV, bem como

em outras faculdades de administração de empresas. A outra publicação do

mesmo ano de 1964, foi publicada pela Livraria Pioneira Editora, livro de Max

Adler, Modern Market Research- A Guide for Business Executives, sob o título

A Moderna Pesquisa de Mercado- com conteúdo mais modesto, mas que deu

sua contribuição para a difusão da pesquisa de mercado no Brasil

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Panorama da pesquisa de mercado no Brasil e tecnologia

Um documento de inestimável valor foi encontrado durante a busca por

material que contivesse depoimentos de figuras expressivas da área de

marketing e pesquisa de marketing12. Os participantes da reunião que deu

origem ao documento foram:

• Celso Forster- professor ESPM

• Daiana Ruttul Godinho- executiva da Ipsos-Marplan

• Francisco Gracioso- professor ESPM

• Francisco José Toledo- Toledo & Associados Pesquisa de Mercado e

Opinião Pública

• Jaime Troiano- Troiano Consultoria de Marcas

• Paulo Secches- InterScience

• J. Roberto Whitaker Penteado- moderador e professor ESPM

Descrição dos debates

Celso Forster- Sempre fui usuário de pesquisa de mercado. Entendo

que há uma distinção entre pesquisa de mercado, isto é informação a respeito

do próprio mercado e a pesquisa de marketing e específica para a área de

marketing onde entram os sistemas de informação de marketing que estão

adquirindo grande importância dentro das empresas.

Francisco Toledo- Não considero isso importante. Quando penso em

pesquisa de marketing, estou imaginando a extensão da atividade de pesquisa.

Tanto pode ser de serviços de marketing quanto de operações de marketing-

12 Revista ESPM- Escola Superior de Propaganda e Marketing- janeiro/fevereiro de 2003 pp. 69-90

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ela ligada com o ambiente de marketing. O que importa é a atividade que,

numa palavra, é produção de conhecimento.

José Whitaker (moderador)- Um aspecto importante é a questão

tecnológica: se a tecnologia evoluiu no sentido de contribuir para uma pesquisa

de melhor qualidade hoje do que há 20 anos.

Paulo Secches- Talvez em excesso. Na verdade, se eu tivesse que

definir, eu diria que pesquisa trata de gente. O que tenho aprendido é que,

talvez, uma das grandes falácias de pesquisa de mercado seja criar

abstrações. Acho que a utilização da tecnologia- que é importante na pesquisa

de mercado- vai automatizando os pesquisadores. Há dois anos, licenciamos a

metodologia de uma empresa norte-americana e mandamos o nosso pessoal

para ser treinado lá. Quando voltaram, parecia que tinham tido implantado um

chip no cérebro, não conseguiam mais pensar. Tive que encontrar a chave e

arrancar o chip fora. Esse é o problema, porque você vai aprendendo a

tecnologia, o instrumento e vai se distanciando do indivíduo, do ser humano-

que é, quem comanda o processo.

Daiana- Discordo. Na minha área, por exemplo, de pesquisa média, com

tudo que há disponível, você consegue ter banco de dados imensos,

cruzamentos quase infinitos- e-mails, hábitos de lazer, consumo de produtos,

marca, atitude. Então, você monta um quadro completíssimo daquele público-

alvo, para o Brasil inteiro ou para um dado mercado, em segundos.

Jaime Troiano- É exatamente como Paulo disse e nós vivemos uma

febre de fusão de sistemas de informação, de microcomputadores, de uso

acelerado de SPSS, de técnicas de análise sofisticadíssima. Mas o que sinto é

que nos últimos 10/15 anos as idéias mais maravilhosas que vi serem

implantadas, em marketing e comunicação, são idéias que saíram de mentes

arejadas- talvez, até, alimentadas por tecnologia- mas que entenderam que as

pessoas estão por trás desse processo. Se você não mergulhar na vida dessas

pessoas, é muito difícil entendê-las. Às vezes tecnologia pode ser boa para

outras coisas, mas, para esse mergulho, ela é apenas uma ferramenta

primária- o que precisamos entender é de gente.

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Francisco Toledo- Concordo com essa questão da informática, da

tecnologia, ás vezes, irrita. Mas o que sinto é a carência de talentos que temos

hoje.

Francisco Gracioso- Sou a favor da tecnologia, a Daiana citou, com

muita propriedade, a possibilidade de cruzamentos infinitos, portanto muito

mais insight. Eu citaria outro aspecto: a maior velocidade nas decisões e nas

ações de marketing, hoje em dia, tem muito a ver com a tecnologia de

pesquisa, com a tecnologia da informação, que dá embasamento e segurança

para decisões que, antigamente, levavam meses para serem tomadas. O

marketing é o que hoje por causa das tecnologias na pesquisa.

José Whitaker (moderador)- E a qualidade das pesquisas, parece

melhorar? Jaime Troiano- Eu acho que piorou e muito, por uma razão. Houve

uma multiplicação de pequenas oficinas, free-lancers menos qualificadas. É

certo que existe um segmento de empresas de pesquisas que tem essa

qualificação assegurada, mas no conjunto do mercado não.

Paulo Secches- No caso do design a disponibilização de tecnologia e

de software permite, rapidamente, alguém fazer um site. Agora, você olha e

percebe que 80% deles são um lixo. Então, a disponibilização de tecnologia de

pesquisa, o acesso a computador, software e etc, permite que apareçam estas

coisas que denominam de pesquisa de mercado, mas não são. A tecnologia

aumenta um ganho na velocidade da obtenção da informação. No entanto,

quanto mais você automatiza o processo, menos você está se aprofundando e

menos conhecimento efetivo das pessoas acaba gerando. Produz-se a

sensação de que se tem a informação disponível, quando, na verdade, só se

tem o dado bruto. Para o conhecimento, isso exige inteligência e essa é uma

mercadoria muito mais cara.

Francisco Toledo- No meu entender, piorou também na área do cliente.

Não há cultura suficiente. Tive uma experiência recente, com um cliente

grande, cujo responsável por pesquisa era uma pessoa desprovida de qualquer

capacitação para tratar do assunto. Pois não tive dúvida: disse a esse cliente

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que não havia possibilidade de atendê-lo porque a sua funcionária não tinha

condições para dialogar com meu pessoal.

Celso Forster- Você tocou num ponto importante: a qualidade dos

briefings de pesquisa. É quase inexistente. Na verdade, o que dizem é: “Meu

problema é o seguinte: eu preciso descobrir isso aqui”. Participei de uma

apresentação dos resultados de uma pesquisa e o entendimento do cliente foi

o inverso do que estava sendo demonstrado. Tivemos que voltar para

reorganizar a informação de forma que ele entendesse o que estávamos

apresentando. A discussão é: como é que a gente forma profissionais, que

tenham capacidade? Não de fazer a pesquisa, mas de preparar um briefing

para um instituto.

José Whitaker (moderador)- Como é que as empresas estão usando

seus sistemas de informações ou banco de dados para administrar o

relacionamento com os clientes?

Paulo Secches- Não usam. Isso nunca existiu, nem no Brasil, nem fora.

Só nos livros. Em 31 anos de trabalho com grandes clientes nacionais e

internacionais, não consegui uma só empresa que tivesse o cadastro de seus

clientes, apesar de toda a tecnologia e computadores nela instalados.

Jaime Troiano- Acho que estamos tentando estabelecer, aqui, o

patamar da verdade e- a partir daí- entender melhor o que o pesquisador pode

fazer, de uma forma mais inteligente, que não é, apenas, dependência de

tecnologia, e que ainda pode ser importante, no mercado de pesquisa, ser

orientado pela maravilha da técnica e não pela importância do benefício.

Gostaria de dizer mais. O pesquisador está diante de três grandes

desafios, que apontam na direção futura de sua formação plena: Uma é

entender claramente a frase: “O consumidor diz o que pensa, mas faz o que

sente”. Precisamos estar preparado para entender a emoção da relação dele

com o mercado, produtos, marcas, muito mais do que numerologia. A

ESOMAR, que talvez seja a entidade de pesquisa mais importante do mundo

(que congrega os maiores Institutos de Pesquisa), vem alertando: “Olha, não

pensem em produto. Pensem em benefício”. Quem escreveu isso em um artigo

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é CEO da Saatchi&Saatchi e diz que os pesquisadores deveriam quebrar a sua

prisão mental. Entender que estamos comprometidos com entender pessoas.

Segundo, acho que o pesquisador precisa parar com essa bobagem de

achar que é um cientista, fora do mercado, que não se imiscui nas questões

comerciais, não participa de decisão, para incorporar sua identidade verdadeira

de profissional de marketing, de mercado, de negócios. Dividir angústia com o

cliente na hora de tomar uma decisão, esquecer as 150 primeiras páginas de

um relatório e entender que importante que são as 10 últimas, e, quando jogar

fora as outras 140. E terceiro, acho que é um tema dos mais atuais- lembrar

que nós somos importantes. Nossa importância é ajudar a cultura de marketing

e ter medidas sólidas e precisas de eficácia. O que interessa é desenvolver a

sensibilidade para romper a prisão mental.

Francisco Toledo- Acho que o negócio de pesquisa está passando por

mudanças. Não pode ser sempre aquela atitude positiva, que pega dados e

mostra para o cliente- com boa interpretação. Os clientes querem uma

definição de perfil mais elevada do que no passado. A tendência é a pesquisa

servir como uma consultoria e sugerir cursos de ação para o cliente. Dar

suporte para ele tomar decisões.

Celso Forster- Dentro das agências de propaganda, pessoas dedicadas

a pensar estrategicamente o negócio do cliente. É aí que entram, por exemplo,

os Institutos da Pesquisa como aliados dessas pessoas- seja no atendimento

ou no planejamento.

Francisco Toledo- Na pesquisa, a tecnologia não refletiu tanto em

demissão de pessoal (como nas fábricas de automóveis e outras). Pelo

contrário, nos Estados Unidos, hoje é impensável fazer certas pesquisas com

entrevistas domiciliares- como em várias capitais brasileiras. Hoje, há o

telefone com videofone. Daqui a pouco, vamos fazer teste de cor e formato

pelo videofone.

Daiana- Nesse momento, estou implantando no mercado, pelas Ipsos-

Marplan, um software que tem desde a análise, o planejamento e a otimização

de mídia. O que aprendemos sobre otimização? Que otimização não é apertar

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um botão e deixar o computador fazer um plano de mídia, é você saber muito

bem o que quer de um plano de mídia, definir uma estratégia- buscar a melhor

combinação que um computador pode fazer e que você não conseguiria fazer

por mais contas que fosse possível fazer.

Paulo Secches- Além da técnica, pois esta é fácil de ensinar. Você

pega o indivíduo, treina, implanta o chip e ele faz. A questão é o domínio do

conhecimento. Um curso de pós-graduação nessa área de pesquisa de

mercado deve dar uma formação para que esses profissionais não saiam

apenas como técnicos de pesquisas, mas como pessoas com a capacidade de

gerar conhecimento e saber utilizar os instrumentais tecnológicos que vão estar

disponíveis. Esse é o caminho. Esse é o único profissional que vai ter trabalho

e remuneração adequada.

Por outro lado, em pesquisa de mercado você tem profissionais

qualificados pela vida e pela experiência profissional adquirida ao longo do

tempo. Mas não vai dar para esperar 35 anos para o indivíduo se qualificar.

Então, ele tem que ter uma formação escolar que lhe dê esse nível de

qualificação.

José Whitaker (moderador)- Vocês estão falando em pós-graduação.

Mas de que área ele deve vir? Da área quantitativa, engenharia?

Paulo Secches- Eu fiz Ciências Sociais e demorei 4 anos para entender

onde estava à verdadeira riqueza de ter feito Ciências Sociais. A sociologia

também acrescentou muito ao meu conhecimento. O fato é que se precisa

muito ter essa formação multidisciplinar focada na análise de uma realidade.

Ou uma visão de negócio. Tem que ter cuidado para não deixar de ter uma

visão de negócios, porque o sociólogo também é mestre em fazer essa análise

multidisciplinar e, depois, não saber explicar no negócio. A visão do negócio é

vital.

Jaime Troiano- Gostaria de deixar três mensagens para alunos, e para

os profissionais de pesquisa que acreditam no desenvolvimento dessa

atividade, lembrando que vamos crescer de importância. Em primeiro lugar, a

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gente deve lembrar de uma frase de um publicitário norte-americano: “Você

não entra na carteira do consumidor sem antes entrar na vida dele”. Se não

conseguirmos entender que precisamos de menos numerologia e de mais

antropologia. A segunda mensagem é que nós somos profissionais de

mercado, profissionais de negócio. É preciso acabar com a sensação de que

ainda existem muitos pesquisadores, que nós acadêmicos, cientistas e que não

nos envolvemos com o dia-a-dia das decisões comerciais (das empresas). E a

terceira é o grande desafio de criar e aperfeiçoar mecanismos de avaliação de

eficácia para marketing. Dons Schutz, de Kellogg’s dizia:

“Ou vamos fazer isso e criar sistemas que ajudem a entender o nível de risco ou potencialidade de investimento, e vamos ter essas métricas nas mãos; ou dos financeiros das empresas vão começar a fazer isso por nós, porque eles estão mais habituados com esse tipo de linguagem.”

Isso pode acontecer e seria um pecado mortal para a nossa profissão.

Comentário do autor da tese

Muito instrutivo e revelador o que disseram os experientes debatedores

sobre o assunto pesquisa de mercado e tecnologia aplicada na pesquisa. No

entanto, deixaram de dar ênfase àquilo que se sabe que representa o pré-

requisito da pesquisa de mercado: a administração de marketing. Aqui e acolá

mencionaram com certo receio a palavra marketing, mas não souberam

aprofundar. Outro aspecto revelador: a maioria dos participantes não estudou,

de maneira formal, em cursos de formação em marketing- a ênfase está em

ciências sociais e sociologia- sem nenhum demérito, já que na área de

marketing se estuda tais áreas do saber. Isso é reafirmado pelo decano da

pesquisa de mercado no Brasil, o Dr. Octavio de Costa Eduardo, numa

entrevista dada a um aluno da SBPM sobre as origens acadêmicas dos

pesquisadores de mercado: direito, sociologia, ciências sociais, ciências

políticas, engenheiros, economistas, filósofos e outras áreas (material inédito

não publicado e que o autor da tese em contato com o Dr. Octavio, não

conseguiu precisar, com exatidão, a data e ano da referida entrevista).

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Metodologia

No que concerne a metodologia para abordagem e tipificação dos erros

não amostrais na pesquisa de mercado, procurou-se fazê-lo de uma maneira

própria e original sem, no entanto, desfazer daqueles autores que adotam

outros critérios.

Dessa forma, o ponto de partida para que se possa operacionalizar a

metodologia proposta, partiu do pressuposto que os erros não amostrais estão

presentes em todas as etapas do projeto de pesquisa.

As etapas apresentadas representam uma adaptação de vários autores

como: Boyd & Westfall, Malhotra, Aaker e Day, Mattar e pelo autor da tese.

Eis as etapas de um Projeto de Pesquisa:

1. Formulação do problema

1.1 Fixação dos objetivos visados pela pesquisa

1.2 Análise do problema

1.3 Resumo do conhecimento sobre o assunto

2. Tipo de Projeto

2.1 Exploratório, descritivo e experimental

3. Métodos de Coleta de Dados

3.1 Método de aplicação: questionário e/ou observação

3.2 Tipo de questionário

3.3 Método de comunicação do questionário: entrevista pessoal,

enquete pelo correio, enquete pelo telefone

3.3.1 Método de comunicação da observação: observação

pessoal participante e não participante e mecânica (através

de instrumentos (gravador, filmadora, etc)

3.4 Processo de elaboração do questionário

3.4.1 Pré-teste do questionário

3.4.2 Questionário definitivo

3.4.3 Tipos de perguntas- fechadas, abertas, de escala, etc.

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4. Planejamento da amostra (apenas para fazer constar, embora não seja

levado em consideração já que os erros analisados são do tipo não

amostral)

5. Planejamento do Setor de Campo

5.1 Recrutamento e seleção dos entrevistadores

5.2 Treinamento dos entrevistadores

5.3 Instruções sobre o preenchimento e aplicação do questionário

5.4 Distribuição e controle do material (questionários) distribuído aos

entrevistadores

5.5 Crítica do material proveniente do campo

5.6 Verificação das entrevistas realizadas pelos entrevistadores

6. Plano de Tabulação

6.1 Determinar a tabulação simples (pergunta por pergunta) e

cruzada (pergunta VS. Pergunta)

6.2 Escolha do método de tabulação: manual e/ou eletrônico

7. Confecção das Tabelas Analíticas

8. Análise e Interpretação

9. Conclusões da pesquisa

10. Recomendações de Marketing

Além da metodologia para a localização e tipificação dos erros não

amostrais, serão adotadas outras metodologias:

2. Pesquisa Bibliográfica para verificar qual é o estado de arte

no erro não amostral

3. Com base na experiência do autor (da tese), acrescentar

novas teorias e discussão com teóricos do erro não amostral,

tecendo considerações àquelas apresentadas pelos mesmos

teóricos.

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Em resumo, a metodologia se utilizará de dois tipos de projetos, o

exploratório na busca de informações secundárias sobre os diferentes tipos de

erros não amostrais existentes na pesquisa de mercado, encontrados na

bibliografia disponível; além disso entrevistas com pessoas com experiência no

assunto- um deles o decano da pesquisa no Brasil, o Dr. Octavio da Costa

Eduardo em entrevista pessoal e dois artigos por ele publicados e já

mencionados na introdução.

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CAPÍTILO II

1. Introdução

Neste segundo capítulo de nossa tese, dividiremos a apresentação em

duas partes: na primeira apresentaremos quais são as etapas de um projeto de

pesquisa de marketing – texto este retirado de diversos autores como

Boyd&Westfall, Malhotra, Mattar, e com a contribuição do autor, através de sua

longa trajetória e experiência na realização de investigações de mercado, bem

como sua carreira acadêmica, como professor. Já na segunda parte,

abordaremos os erros não amostrais que permeiam cada etapa do projeto de

pesquisa, retirados de bibliografias especialmente selecionadas para tal

evento.

2. Etapas do projeto de pesquisa de mercado

1. Formulação do Problema de Pesquisa 1.1. Fixação dos Objetivos de Pesquisa

2. Tipo de Projeto Utilizado na Pesquisa

3. Método de Coleta de dados. 3.1. Questionário 3.2. Método de Observação 3.3. Tipo de Perguntas

• Planejamento da Amostra (embora faça parte integrante do projeto de pesquisa, não será comentada na tese, tendo em vista que a mesma abordará apenas os erros não amostrais).

4. O Setor de Campo 4.1. Recrutamento e Treinamento do Pessoal de Campo –

Entrevistadores 4.2. Crítica do Material Proveniente do Campo 4.3. Verificação dos Questionários Preenchidos pelos entrevistadores

5. Planos de Tabulação dos Dados Coletados 5.1. Tipo de Tabulação 5.2. Pré-Codificação ou Pós-Codificação das respostas/razões 5.3. Confecção das Tabelas Analíticas

6. Análise e Interpretação dos Resultados

7. Conclusão da Pesquisa

8. Recomendações de Marketing

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Passamos a comentar as etapas do projeto de pesquisa:

1. Formulação do problema da pesquisa

Segundo Chisnall (1980, pp.4 e 5):

“A definição do problema de marketing a ser investigado, deve estar em termos claros e específicos para que se possa focalizar a pesquisa com exatidão. Prosseguem – inclusive o enunciado do problema não deve ter qualquer ambiguidade e ser diretamente útil como orientação durante a realização da pesquisa... O estudo cuidadoso envolvido na busca de fatos e relacionamentos fará com que os pesquisadores consigam uma apreensão e entendimento de todas as facetas do problema da pesquisa”.

Mattar (1999, p.58 – 59):

“O primeiro passo na formulação do problema é torna-lo concreto e explicito (Selltiz e outros, 1959 – citado por Mattar). Mattar prossegue: “Tendo definido o problema da pesquisa o passo seguinte é identificar algum aspecto que possa ser formulado numa questão específica da pesquisa a ser investigada com os recursos disponíveis. Como é impossível considerar nos limites de um único estudo todas as possibilidades, um tópico que se apresenta como uma tarefa realizável precisa ser escolhida. O escolhido tem, geralmente, uma amplitude tal que nem todos os aspectos do problema poderiam ser estudados simultaneamente. Normalmente será reduzido a um só aspecto, que possa ser tratado num único estudo, ou dividido para que possa ser tratado em estudos separados”. (Selltiz e outros, 1959 – mencionado por Mattar).

Para exemplificar o exposto Mattar dá o seguinte exemplo: vamos supor

que uma empresa esteja interessada em pesquisar o comportamento de

compra dos seus consumidores. Note que o tema é muito amplo e, da forma

ampla como foi colocado, é praticamente inexequível. É preciso restringi-lo.

Uma forma de fazê-la seria procurar respostas para as seguintes perguntas:

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Consumidor do quê? Delimita-se o produto

Consumidor onde? Delimita-se o mercado

e a região

Consumidor quando?

Delimita-se o período de tempo. Delimita-se: o antes, o durante, e o após da compra.

Comportamento de quem?

Iniciador, Influenciador, decisor, comprador e

usuário.

E conclui:

“Um esforço inicial na definição adequada do problema da pesquisa e de sua delimitação poderá evitar grandes dissabores, perda de tempo e de recursos financeiros após a pesquisa ter sido iniciada.”

Ao que afirmam Mattar e Chisnall acrescentaríamos que:

“Um problema mal definido não resolve o problema que está afetando a empresa, bem como não permite que o executivo que solicitou a investigação tome decisões acertadas que corrijam aquela anomalia e, o que é pior, se a decisão tomada for a errada, poderá causar graves prejuízos não só financeiros como também à imagem da empresa e sua marca. Por exemplo, ao lançar um novo produto de forma equivocada e não obterá sucesso de vendas.”

Continuando com nossa pesquisa bibliográfica sobre o erro não

amostral, Samara e Barros (2002, p.12) fazem a seguinte colocação:

“A definição do problema é o primeiro e mais importante passo do projeto de pesquisa, pois todo o projeto de pesquisa deve partir de uma real necessidade de informação de uma situação em que haja indagação e de dúvidas a serem respondidas.”

Os demais procedimentos, como a formulação de objetivos e escolha de

métodos, serão uma decorrência do problema definido, daí sua importância.

Um problema mal definido pode gerar objetivos pouco precisos e resultados

inconsistentes para um projeto. Definir o problema de pesquisa significa

entender e explicitar quais os problemas ou oportunidades de marketing que

geram a necessidade de informação para tomada de decisão. A definição do

problema indica o propósito da pesquisa.

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Bernard S. Phillips (1947, pp. 39-40) coloca o assunto da Definição do

Problema da Pesquisa da seguinte forma:

“Embora o projeto tenha sido iniciado simplesmente como um esforço destinado auxiliar no recrutamento de bons acadêmicos de medicina para o serviço de saúde pública,13 as metas estabelecidas para o projeto foram logo ampliadas.”

Os cientistas sociais que tomaram parte no projeto estavam em

consequência de sua própria educação profissional, empenhados na

exploração das possibilidades de dar uma contribuição geral para a ciência:

Por exemplo, as informações a respeito da preferência dos acadêmicos de

medicina pela saúde pública foram consideradas como parte do contexto do

processo geral de escolha ocupacional.

Os esforços da pesquisa, consequentemente expandiram-se a fim de

incluir o estudo do processo por meio do qual os acadêmicos de medicina,

escolhem outras especialidades, por exemplo, a cirurgia, a psiquiatria, a

patologia.

Essa decisão de investigar o processo de escolha de outras

especialidades que não a saúde pública baseou-se no conhecimento de certas

semelhanças na sequência dos eventos que levam à escolha de qualquer

especialidade médica. Devido ao fato de que relativamente poucos estudantes

de medicina estão interessados na carreira de sanitarista, a definição do

problema em termos de saúde pública teria simplesmente tornado muito difícil

encontrar uma quantidade suficiente de indivíduos que servissem de base para

um estudo completo e objetivo. A definição mais ampla permitiu aos

pesquisadores considerar uma grande quantidade de dados que influem sobre

o problema e dar importância aos resultados de estudos mais antigos sobre o

processo de escolha ocupacional.

A tarefa da equipe do projeto foi definida como a de adquirir bastante

conhecimento sobre o processo de escolha, a fim de que fossem

13 Para maiores detalhes sobre esse estudo, vide Kurt W. Back e colaboradores, em “Public Health as a Career of Medicine: Secundary Chose Within a Profession”. American Sociological Review, 23 (1958), 533-41, e Bernard Philips, “Expected Value Deprivation and Occupational Preference”, Sociometry, 27 (1964, 151-160).

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posteriormente tomadas decisões inteligentes sobre como lidar com o

problema de recrutamento.

Ainda explorando o mesmo assunto – definição do problema – William

G. Zikmund (2006, pp. 56-59) explica que “em pesquisa de marketing, o adágio

um problema bem definido é a metade de sua solução” é digno de lembrança.

Ele enfatiza que a definição metódica do problema de pesquisa dá um senso

de direção à investigação. A atenção cuidadosa ao estágio de definição do

problema permite ao pesquisador estabelecer objetivos adequados para a

pesquisa. Se o propósito da pesquisa estiver claro, serão muito maiores as

chances de coletar as informações necessárias e relevantes, deixando de lado

informações excedentes.

Como membro de uma equipe, o pesquisador deve procurar satisfazer

os objetivos dos tomadores de decisão, como o gerente de marca, o gerente de

vendas e outros que solicitaram o projeto. A gerência e os teóricos

organizacionais sugerem que o tomador de decisão expresse ao pesquisador,

objetivos em termos mensuráveis. Infelizmente, isso raramente ocorre. Ao

contrário, é mais provável que o tomador de decisões defina seus objetivos de

forma vaga e genérica, deixando à cargo do pesquisador determinar quais são

de fato o que necessita ser investigado. Nesse caso, o pesquisador pode estar

prestando seu serviço mais útil ao tomador de decisões (Russell L. Ackoff, p.

71).

Diz ele:

“Isolar e identificar o problema, não os sintomas – antecipar as muitas influências e dimensões de um problema é impossível para qualquer pesquisador ou executivo, Por exemplo, uma empresa pode ter um problema no tocante à eficácia de sua propaganda”.

As possíveis causas desse problema podem ser baixo conhecimento de

marca, imagem errada da marca, veiculação errada ou um orçamento

demasiadamente pequeno. O trabalho da gerência é isolar e identificar as

causas mais prováveis de um problema mais profundo.

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O princípio do Iceberg ajuda a explicar porque tantos projetos de

marketing começam sem objetivos claros ou definições adequadas do

problema... A parte perigosa de muitos problemas de marketing, assim como a

parte submersa de iceberg, não é visível nem compreendida pelo gerente de

marketing. Se as partes submersas do problema forem omitidas de sua

definição (e, subsequentemente, do projeto de pesquisa), as decisões

baseadas na pesquisa poderão estar aquém do ótimo. A omissão de

informações importantes ou o uso de pressupostos falhos sobre a situação

pode sair muito caro.

A figura que Zikmund apresenta a seguir ilustra como os sintomas

podem mascarar a natureza do verdadeiro problema.

SISTEMAS QUE PODEM CONFUNDIR/ VERDADEIRO

Organização Sintomas Definição do problema com base no sintoma

Problema

• Pequena associação de natação localizada em uma cidade de médio porte há 20 anos

Associação vêm diminuindo há 20 anos.

Um novo parque aquático com piscina de ondas e toboáguas se instalou na cidade alguns anos atrás.

Os moradores do bairro preferem o parque

aquático caro e tem uma imagem negativa da

piscina

Mudanças demográficas: as crianças envelheceram ao longo desses 20 anos, Moradores mais velhos

não nadam mais.

• Fabricante de computadores palmtop com acesso a internet.

Distribuidores reclamam que os preços estão

muito altos

Investigar usuário para descobrir até que ponto os preços precisam

reduzir

Gerência de vendas: distribuidores não têm o conhecimento adequado para comunicar seu real

valor.

• Micro cervejaria Consumidores preferem o

sabor da marca concorrente

Qual deve ser o novo sabor

Embalagem: rótulo ultrapassado

Influencia a percepção do sabor

Zikmund (2006, p. 61) acrescenta: “Gerentes Negligenciam o Estágio de

Definição do Problema” – Embora a definição do problema seja provavelmente

o estágio mais importante do processo, esse costuma ser uma área

negligenciada na pesquisa de marketing. Muitos gerentes esquecem que o

melhor ponto para se começar um projeto de pesquisa é o final. Saber o que

deve ser atingido determina o processo de pesquisa. Um erro ou omissão na

definição do problema provavelmente será um erro caro, que não poderá ser

corrigido em estágio posterior do processo.

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Acrescentaríamos, à guisa de complemento, que o que acaba de afirmar

Zikmund leva a concluir que esta falta de conhecimento de como localizar e

definir o problema além de induzir a erro a pesquisa e as decisões de

marketing do executivo, compromete o futuro da empresa e seu desempenho.

Aaker, Kumar e Day (2009, PP. 65-68) sob o título Etapa 1 – Propósito

da pesquisa – afirmam: “Dificilmente, os problemas de pesquisa surgem

“arrumados”, com necessidades óbvias de informações, limites bem definidos e

motivações transparentes por parte dos tomadores de decisões. Geralmente,

eles apresentam-se mal definidos, apenas parcialmente compreensíveis e

faltando alternativas possíveis que possam ser analisadas. Começar uma

pesquisa partindo de uma situação confusa como esta é uma receita para a

produção de informações imprestáveis para o uso e para tornar os clientes

descontentes. É de interesse de ambas as partes, tanto dos pesquisadores

como do cliente que paga pelo estudo, que o propósito da pesquisa seja

amplamente compreendido. Um dos diferenciais que define um pesquisador

competente é a habilidade de chegar ao coração do problema.

A pesquisa geralmente é motivada por um problema ou uma

oportunidade. O fato de as vendas de um produto estar diminuindo em uma

região pode ser um problema que demanda pesquisa. O fato de as pessoas

estarem consumindo menos doce pode ser um problema ou uma oportunidade

para uma indústria alimentícia. O aumento do tempo dedicado ao lazer deve

ser visto como uma oportunidade por uma empresa de turismo ou

entretenimento. Nesses casos, o propósito da pesquisa deve especificar o

problema ou a oportunidade a ser explorada. A identificação e definição do

problema ou oportunidade é um primeiro passo crucial no processo de

pesquisa. Especialmente no contexto da análise de situação, o pesquisado

precisa se certificar de que o verdadeiro problema está sendo focalizado. Por

vezes, o que parece ser o problema é apenas uma parte dele, ou ainda um

sintoma. A Compton Corp, fabricante de bens de capital com preços entre 10 e

25 mil dólares – líder de mercado começou a ver suas vendas diminuírem.

Resolveu então trocar de Agência de Propaganda. A nova Agência contratada

realizou um estudo sobre os usuários finais dos produtos, descobriu, para sua

surpresa, que seus antecessores tinham feito um belo trabalho na criação de

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atitudes favoráveis e de fixação de marca. Entretanto, muitos dos compradores,

que eram fieis à Compton, estavam trocando de marca. Esse problema tinha

pouca relação com o desempenho da agencia de propaganda. Um novo

estudo, orientado para os distribuidores, revelou que a propaganda de

relacionamento com estes era muito fraca em comparação aos da

concorrência: um deles oferecia concursos de vendas, outra dava bonificação

em dinheiro para os vendedores e um terceiro era eficiente na assistência

técnica de vendas em relação às contas mais difíceis. Não era surpreendente

que tais fatores influenciassem os distribuidores quando os clientes pediam

seus conselhos ou quando um comprador potencial não fosse ainda fiel à

Compton. Neste caso, o problema real foi, finalmente, detectado, mas só

depois que muito tempo e energia tinham sido gastos com as questões

erradas.

1.1 Fixação dos Objetivos da Pesquisa

Além de termos o problema localizado e claramente definido, há

necessidade de fixarmos os objetivos visados pela investigação, em outras

palavras, o problema mesmo bem definido é considerado ainda amplo para

darmos início a um projeto de pesquisa, devemos detalhá-lo sob a forma de

objetivos – estes sim darão origem àquilo que os executivos desejam obter

respostas. Esquematicamente podemos representá-los, juntamente com o

problema, através do seguinte modelo:

FORMULAÇÃO DO PROBLEMA Ampliação

Objetivos 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11.

Modelo de Problemas e Objetivos Fonte: Autor da Tese

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Através da visualização do modelo, podemos vislumbrar que os

objetivos derivam da Formulação do Problema – são eles, 1., 2., 4., 6., 7., 8., E

9. – porque estão contidos pelos problemas.

No entanto, alguns objetivos são mais amplos que o próprio problema –

3, 5, 10, 11. . Neste caso, temos duas alternativas, ou ampliamos o âmbito do

problema reformulando-o para que também contenha os 4 (quatro) objetivos,

ou retiramos estes objetivos que deverão fazer parte de uma outra pesquisa.

Esta é a outra situação que pode dar origem a erros na concepção sobre

o que devemos realmente pesquisar naquela pesquisa para enviar mal

entendidos com a Empresa-Cliente.

Vejamos um caso ocorrido com a empresa IMEP – Instituto de Marketing

de Pesquisa Ltda., na cidade de Santos.

Uma tradicional empresa construtora de prédios de apartamentos

apresentava um problema básico;

“estamos vendendo nossos apartamentos em prazos bem maiores do que nossos concorrentes. Gostaríamos de saber por quais motivos e o que fazer para corrigir esta anomalia.”.

O diretor do IMEP começou a fazer perguntas com o intuito de se inteirar

e conhecer melhor o negócio da empresa-cliente.

IMEP - “Quando os Srs. Falam de seus apartamentos os Srs. Estão

comparando-os na mesma região que de seus concorrentes.”.

Cliente - “Sim, nos mesmos bairros e próximos àqueles da

concorrência.”.

IMEP- “Seus preços e condições de pagamento de seus imóveis são

similares aos praticados pelos seus concorrentes?”.

Clientes - “Nossos preços são, em geral, similares aos da concorrência

e, em vários casos, até melhores.”.

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IMEP- “As acomodações dos imóveis e instalações dos seus

imóveis, bem como a quantidade do material utilizado, são

semelhantes àqueles oferecidos pelos seus concorrentes?”

Cliente- “Sem dúvida. Inclusive no aspecto qualidade de nosso

material, assim como janelas, portas, azulejos, pisos, etc,

nossa qualidade os supera, não há termos de comparação.

Estamos tranquilos quanto a isso.”.

IMEP- “Seus corretores possuem qualificações iguais ou melhores

que os de seus concorrentes?”.

Cliente- “Com toda certeza, inclusive para motivá-los oferecemos um

fixo bem razoável, mesmo que durante uma semana não

realize nenhuma venda de imóvel – o que não é imitado por

nenhuma de nossos concorrentes. Ademais nossos corretores

trabalham como exclusividade para nós.”.

IMEP- “E a sua propaganda é mais intensa ou similar àquela

deflagrada pelos seus concorrentes?”.

Cliente- “Temos uma boa Agência de Propaganda que procura

atender nossas necessidades e estamos muito satisfeitos com

seu desempenho. De uma maneira geral, os dois principais

concorrentes se comunicam de maneira algo similar à nossa

empresa”.

A Construtora-Cliente indicou os dois conjuntos de apartamentos sobre

os quais desejam obter informações comparativas com os da concorrência e,

aparentemente as conversações haviam se encerrado, faltando apenas, a

confecção da proposta pelo IMEP, bem como o custo da pesquisa.

No entanto, ao final do contato, um dos sócios da construtora

acrescentou o seguinte:

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“Professor, temos um terreno no Embaré, quase em frente ao antigo imóvel que o Pelé residiu. Estamos em dúvida se devemos lançar e construir um prédio para a classe B ou a classe A. O senhor poderia encaixar nesta mesma pesquisa que acabamos de conversar, perguntas sobre estas questões?”.

Depois de fazer uma pequena pausa, para valorizar sua reflexão, o

diretor da IMEP respondeu:

“Infelizmente, esta é outra pesquisa, não possui sinergia com a 1ª pesquisa. Ademais, pela localização diferente dos imóveis, o público-alvo é distinto, principalmente as pessoas da classe A. Não há como aproveitar em uma mesma pesquisa, problemas tão diferentes. Isso deveria merecer tratamento separado e deveria servir de tema para a realização de outra investigação.”

Diante do exposto, os executivos clientes, concordam com o diretor da

IMEP, e a segunda pesquisa ficou para ser realizada numa outra ocasião.

Segundo Samara e Barros (2002, pp. 12-14).

“Os objetivos da pesquisa são determinados de maneira a trazer as informações que solucionam o problema da pesquisa. É um processo que exige total coerência entre o problema definido e os objetivos do projeto de pesquisa.”

A indagação básica que o pesquisador deve fazer para a elaboração

correta dos objetivos de pesquisa é:

Que informações são necessárias para resolver problema de pesquisa?

A determinação dos objetivos de pesquisa pode ter origem na

formulação de hipóteses sobre o problema definido. Hipóteses são suposições

que podem ser confirmadas, ou não, pela pesquisa.

Os objetivos devem ser detalhados e específicos, pois servirão como

base para a elaboração do formulário para coleta de dados (O questionário ou

roteiro). É um processo lógico em que num primeiro momento, indicamos o que

precisamos saber - os objetivos, e por decorrência para obter uma resposta

aos objetivos, e por decorrência para obter uma resposta aos objetivos

propostos.

Já Zikmund (2006, pp. 60-65) diz:

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“O objetivo de pesquisa é a versão do pesquisador para o problema de marketing. Depois de as perguntas ou hipóteses da pesquisa terem sido declaradas, os objetivos do projeto de pesquisa são derivados da definição do problema. Eles explicam o propósito da pesquisa em termos mensuráveis e definem os padrões segundo os quais ela deve ser completada. Além de explicar as razões para conduzir o projeto, tais objetivos ajudam a assegurar que o escopo do projeto de pesquisa esteja sob controle”.

Os objetivos precisam especificar a informação necessária para que se

possa tomar uma decisão... Mais adiante prossegue:

“Os objetivos do estudo determinados durante os estágios iniciais da pesquisa são incluídos no projeto para assegurar que a informação toda seja apropriada para a solução do problema”.

Como já dissemos anteriormente, o problema mesmo que esteja

claramente definido, em geral, não permite que se inicie uma pesquisa a partir

dele. Há necessidade que o problema seja detalhado em perguntas menores

que reflitam o nível de informação desejado pelo executivo. Desta forma, fica

bem mais fácil construirmos o questionário, pois o retrato dos objetivos da

pesquisa. Ninguém vai desejar colocar perguntas em um questionário sem que

haja necessidade de obter respostas, a não ser que elas representem

indagações do executivo, ou seja, os objetivos da investigação devem ser

respondidos para facilitar as decisões a serem tomadas pelo cliente da

pesquisa (do autor da tese).

Exemplo de Projeto – Samara e Barros (2002. pp. 23-24).

Briefing da Pesquisa

A B.B Alimentos pretende lançar no Brasil uma pastilha com sabor

inédito neste mercado: o sabor violeta. O produto é posicionado para mulheres

e seu preço é Premium na categoria.

Há necessidade de uma pesquisa que identifique a opinião do público

alvo sobre o produto, fornecendo informações sobre as características de

agrado e desagrado da pastilha sabor violeta e possibilita a adequação do

sabor conforme o resultado do estudo.

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Formulação do Problema

O objetivo central da pesquisa será o de avaliar aceitação de uma

pastilha com sabor inédito de violeta. Para tanto, serão levadas em

consideração as seguintes informações:

Objetivos de Pesquisa

1. Perfil demográfico.

• Idade • Escolaridade • Classificação socioeconômica

2. Hábitos de consumo de pastilhas

• Marcas que costuma consumir • Marca que consome com maior frequência • Sabores consumidos • Sabores preferidos

3. Degustação da pastilha e avaliação por atributo

• Avaliação geral do sabor inicial e residual • Teor de doçura • Consistência • Cor • Tamanho • Durabilidade

Observações

• O público alvo é constituído de mulheres, entre 15 e 55 anos,

classes A e B, Consumidoras de pastilhas pelo menos uma vez

a cada 15 dias.

• Abrangência – a pesquisa será realizada na cidade de São

Paulo.

Aqui finalizamos nossas considerações sobre o problema e os

objetivos de uma investigação de mercado.

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2. Tipo de Projetos

Passamos a examinar outra etapa da pesquisa de Marketing, qual seja o

tipo de projeto a ser adotado.

A abordagem por nós escolhida é aquela que contempla a existência de

três tipos de projeto. São eles:

a) Exploratório

b) Descritivo – Estatístico

c) Experimental/ Causal

Examinemos, com base na bibliografia selecionada, qual o estado da

arte no que concerne a possibilidade de encontrarmos erros não amostrais

quando do emprego de um ou outro tipo de projeto.

• Projeto Exploratório

Vejam as suas principais características, através dos autores

Boyd&Westfall (1987, pp. 64-68)

“O projeto exploratório é usado sempre que a firma pesquisadora é chamada por um cliente que diz: ‘“ Não estamos conseguindo o volume de vendas que achamos poder conseguir. O que há de errado?”’ O pesquisador pode imaginar varias dificuldades possíveis – o produto pode ter um estilo ou qualidade inferior, podem estar sendo usadas vias de distribuição erradas, a propaganda pode não ser a melhor, etc. O número de dificuldades possíveis é quase infinito. Como não é prático testar todas, o estudo exploratório surge para descobrir a mais provável explicação da dificuldade.”

O estudo exploratório pode ser encarado unicamente como o primeiro

passo no processo de pesquisa. Na medida em que tem por objetivo localizar e

definir problemas e hipóteses encontrados serão usados outros projetos

(experimental ou descritivo).

Além disso, vejamos – de maneira resumida, o que nos acrescentam os

dois autores:

• Não é um projeto formal – pelo contrário é flexível.

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• Não se trabalha com questionário estruturado, mas apenas com

um roteiro de perguntas e sem necessidade e numerá-las.

• Depende muito da criatividade e engenhosidade do entrevistador

que o aplique, daí a exigência de que necessita de entrevistadores

muito experientes.

• A imaginação do entrevistador é o fator principal. Aqui podemos

fazer uma pequena pausa no sentido de alertar aqueles que usam

projetos exploratórios para a escolha do(s) entrevistador (es), já

que a própria metodologia empregada neste tipo de projeto permite

(e também depende) muito da liberdade e juízos de valor no

momento de sua aplicação, por exemplo, em maio de 1975

trabalhávamos com o mestre e doutor Raimar Richers, certo dia

ligou para nosso escritório e solicitou que fizéssemos uma

pesquisa sobre um produto chamado coalho (o mestre na hora até

ironizou dizendo: “Egydio não é caolho é coalho e também não sei

sobre o produto – você já sabe o que eu necessito, não preciso

detalhar que tipo de informações será necessário levantar”.). No

dia seguinte tínhamos aula de Pesquisa de Marketing no curso de

Comunicação da Universidade Braz Cubas em Mogi das Cruzes.

Aproveitamos o ensejo e encaixamos no projeto exploratório o

exemplo: estamos começando uma pesquisa sobre um produto

que apenas tomei algum conhecimento consultando um bom

dicionário: é um coagulante do leite para fazer queijo, nada mais

sei; uma aluna que se encontrava na sala de aula solicitou a

palavra e disse: “Mestre, eu tenho uma tia que é PHD em laticínios

e formada na Holanda. Ela conhece muito a respeito do produto.

Se desejar eu faço contato com ela e arranjo uma entrevista sua

com ela”. Na hora perguntei onde ela reside? Respondeu Bragança

Paulista, reside numa fazenda que se localiza a cerca de 30 km de

Bragança. Combinamos de conversarmos depois da aula. Aqui

começa o tal juízo de valor do entrevistador: devo ir até lá? Não

será difícil a abordagem? Pois ela é descendente de japoneses e,

geralmente são tímidos? No término da aula fui falar com a aluna e

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“resolvi” ir até Bragança Paulista. Felizmente tomei tal decisão, pois

ao término da reunião com a doutora, conheci quase tudo que

precisava para fazer uma boa pesquisa sobre tal coalho. O que é

importante notar é o poder da decisão passado para o investigador

que pode trazer transtornos aos resultados da pesquisa. Este é um

erro do tipo não amostral que ocorre a miúde na aplicação do

projeto exploratório. É um poder discricionário dado ao

investigador. No caso relatado, ainda pode ocorrer de na escolha

do que perguntar à pessoa com experiência no assunto haver um

viés – o pesquisador deve estar alerta para reconhecer que algo

importante foi dito pelo entrevistado e que deve aprofundar o

assunto. Isso tudo pode ensejar riscos de viés – distorção na coleta

de dados.

Voltando aos autores Boyd & Westfall, devemos falar a respeito do

esquema operacional do Projeto exploratório:

a) Estudo de fontes de informações secundárias

b) Investigação de indivíduos que podem ter informações sobre o

assunto;

c) Análise de casos selecionados

d) Vejamos o que os autores alertam para emprego dos dados

secundários:

Em primeiro lugar é bom que se diga que dados secundários são os

dados já publicados tanto internamente como externamente à empresa.

Segundo Boyd & Westfal “as fontes mais úteis de” informações como essas

são livros, jornais, documentos governamentais, jornais comerciais e

profissionais, internet que estão á nossa disposição em bibliotecas; relatórios

das companhias, como os elaborados com o objetivo contábil ou de análise de

vendas; relatórios de projetos de pesquisa anteriormente realizados para a

empresa, etc.

Sobre as limitações dos dados secundários, os autores apontam:

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• A disponibilidade de encontrar dados que satisfarão exatamente

às necessidades do projeto atual;

• Descobrir dados que sejam suficientemente exatos e o

pesquisador sabe que o são;

Weirs (1986, pp. 78 e 79) alerta: “No entanto, antes de usar os dados

secundários, o pesquisador deve tomar algumas precauções:

• É a informação pertinente ao problema?

Nem sempre tais dados guardam estreita relação com o problema e objetivos mercadológicos que estão sendo investigados pelo pesquisador e sua empresa.

• A empresa deve examinar a metodologia que foi adotada para reproduzir tais dados secundários.”

Vejamos um exemplo

Em todos os nossos cursos de Pesquisa de Marketing, incentivamos

nossos alunos a levantarem dados secundários. Um grupo de alunos escolheu

como problema verificar as causas para a queda de público nos Estádios de

futebol da capital paulista.

Passando alguns dias, apresentaram uma reportagem publicada no

Jornal da Tarde e que tratava do assunto investigado por eles. Aplaudi a

descoberta, mas disse a eles que deveriam visitar a ECA – Escola de

Comunicação e Arte da USP e conversassem com o professor Otto Sherb

cujos alunos tinham realizado o estudo. Na mesma semana posterior voltaram

a falar conosco algo decepcionados, já que o professor Sherb dissera que os

alunos que realizaram a pesquisa tiveram nota baixa e enfatizou que não

autorizava a publicação no Jornal da Tarde e que reprovava a atitude dos

mesmos, pois o trabalho tinha sido mal feito em termos de metodologia –

haviam pulado várias etapas no referido projeto.

Como resposta, fiz ver ao grupo que felizmente eles haviam descoberto

que a tal pesquisa não tinha nenhum valor com estes dados secundários e que

isso seria levado em consideração na avaliação do trabalho.

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Outro ponto que merece ser enfatizado é o exame da credibilidade da

fonte. Por exemplo, alguns anos atrás o Presidente da República ficou irritado

com a publicação do PIB brasileiro pelo IBGE (o mesmo havia diminuído) e deu

uma ordem para que antes da publicação fosse informado. Todos sabem das

influências que o governo exerceu sobre órgãos oficiais pela nomeação do seu

Direto Geral. O aparelhamento de órgãos públicos é constante. O caso da atual

Presidenta da Argentina é exemplar: seguindo várias associações de classe

afirmam que a presidência manipula o índice de inflação.

Aqui no caso, não é a credibilidade da fonte que deve ser examinada,

mas, também os aspectos ideológicos de seus administradores.

a) Investigadores de indivíduos informados – (pessoas com

experiência no assunto estudado).

Segundo Boyd & Westfall,

“todos os indivíduos que tem qualquer ligação com o assunto estudado é, potencialmente um fornecedor de informações úteis para o projeto piloto (exploratório), por exemplo: consumidores daquele produto, vendedores da empresa, intermediários, executivos, engenheiros.”.

Cabe ainda acrescentar o que diz Malhotra (et alii; 2005, p. 31) sobre

este tópico da metodologia de aplicação do projeto exploratório – que ele

denomina de Entrevista com experts industriais. Vejamos:

“... as entrevistas com os experts na indústria – indivíduos conhecedores da empresa e da indústria – pode ajudar o pesquisador a formular o problema de pesquisa de marketing. Os experts podem ser encontrados dentro e fora da empresa. Embora os questionadores formais não sejam usados, é sempre útil ter uma lista preparada de tópicos a serem discutido durante a entrevista. A ordem em que esses tópicos são cobertos e as perguntas são feitas não deve ser predeterminada, mas decididas à medida que a investigação progride. Isso permite uma maior flexibilidade em captar as opiniões dos experts. O propósito das entrevistas com esses profissionais é ajudar a definir o problema de pesquisa de marketing, e não desenvolver uma solução conclusiva.”

Acrescentamos que além de ajudar a localizar e definir problemas, as

entrevistas com pessoas experientes no assunto também colaboram no

levantamento de hipóteses, como também, no planejamento da pesquisa a ser

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realizada. Ademais, convém solicitar que o processo de seleção dos

entrevistadores exige que eles não só tenham conhecimento do assunto

tratado, mas, também, sejam loquazes e que saibam transmitir, com clareza

seus conhecimentos. Além disso, os entrevistadores que venham a participar

da aplicação das entrevistas devem ser muito experientes e sagazes para

perceberem que rumo dar as entrevistas à medida que os entrevistadores

derem dicas, buscando mais informações. Apenas como exemplo de como tais

entrevistas podem colaborar no planejamento da pesquisa, relatamos um caso

ocorrido em nossa empresa.

CASO DA EMPRESA MOREHTSON

A empresa Morehtson fabricava chaves diversas, tais como, de fenda,

canhão, Allen, Philips, etc. Ela desejava saber, junto a uma amostra de

revendedores qual era sua participação de mercado e informações sobre a

conduta de seus vendedores e o grau de satisfação dos mesmos revendedores

com sua marca e produto. Segundo seus dirigentes, a pesquisa deveria

entrevistar lojas de ferramentas tipo aquelas encontradas na Rua Florêncio de

Abreu – na época as maiores revendedoras de ferramentas manuais.

Como é de praxe em nosso instituto, iniciamos a pesquisa adotando o

projeto exploratório como primeiro passo e entrevistando usuários de tais

ferramentas. Durante esta fase surgiu uma novidade, qual seja, alguns

entrevistados instados a dizer onde compravam suas chaves responderam: em

lojas de parafusos e aí nossos dois entrevistadores, de forma ágil, perceberam

a oportunidade da “dica” e aprofundaram-na perguntando – onde se

localizavam e qual era o nome de tais lojas e, desta forma, obtiveram vários

nomes e endereços. De posse da nova informação, nós tomamos a iniciativa

de incluirmos na amostra o novo segmento de lojas de parafusos. Antes,

porém, realizamos algumas entrevistas com tais lojas e descobrimos que

realmente elas vendiam uma grande quantidade de chaves. Conclusão: se não

tivéssemos iniciado a investigação através da aplicação do projeto exploratório,

teríamos realizado levantamento aquém daquilo que representava o mercado

de revenda de chaves, deixando de lado um importante segmento e,

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consequentemente introduzindo um viés no resultado da pesquisa. Quando

entregamos ao cliente o relatório da pesquisa, ficaram surpresos com a

informação e aplaudiram a iniciativa de termos incluído na amostra as lojas de

parafusos, onde, por sinal, não tinham nenhuma participação de mercado14.

Convém ainda solicitar, o emprego de um tipo de pesquisa, qual seja a

Pesquisa de Discussão em Grupo. Em artigo publicado na Revista Tibiriçá,

Zanotta (1993, pp. 83-86) disseca o assunto do uso indiscriminado de tal tipo

de pesquisa – não só no Brasil como na Europa e Estados Unidos. Vejamos

um resumo do artigo.

“Nos últimos anos, alguns fatos chamaram nossa atenção e nos fizeram

refletir que havia necessidade de produzirmos algo que “baixasse a bola” da

pesquisa de discussão em grupo.”

ALGUNS FATOS

a) Um nosso funcionário participava de um curso de pesquisa de mercado na SBPM – Sociedade Brasileira de Pesquisa de Mercado e, no transcurso de uma das aulas, surgiu um debate sobre a pesquisa de discussão em grupo. De pronto, ficou nítido para nosso funcionário, que tal método se prestava apenas ao levantamento de problemas, hipóteses e novas ideias. Seus colegas de turma, oriundos de vários institutos de pesquisa, bem mais famosos que o dele, defendiam com ardor que esta pesquisa é capaz de resolver problemas e não de levantá-los.

b) Inúmeros clientes têm-nos solicitado pesquisas de discussão em grupo para resolver problemas de caráter descritivo estatístico e cujos resultados possam ser generalizados para a população estudada. Em outras palavras, pretendem que o estudo revele o que devem fazer - por exemplo, que mudanças introduzir no produto que atendem às necessidades dos consumidores. Pacientemente, temos procurado explicar que tal tipo de pesquisa não se coaduna com os objetivos visados. Em alguns casos, há uma reação desfavorável, visto que a maioria dos institutos, que eles também consultam, não afirma, como nós, que a discussão em grupo não vai resolver o problema central a ser investigado, mas ao contrário, incentivam sua realização.

14 Caso ocorrido na empresa do autor, no ano de 1978.

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Objeto da discussão em grupo

Afinal, para que serve a discussão em grupo?

A discussão em grupo é uma pesquisa de tipo qualitativa e derivada da

entrevista de profundidade individual: ao invés da realização de entrevistas

individuais, fazem-se entrevistas coletivas de um grupo de pessoas (de 8 a 10),

usando-se técnicas derivadas da psicanálise (Boyd & Westfall, 1978, p. 144).

Mais adiante o autor comenta: “Sua duração, em geral, é de uma hora e

meia, dependendo do assunto a ser tratado, bem como da motivação e

interação do grupo”.

“O psicólogo – moderador é peça-chave, pois procura fazer com que os respondentes participem ativamente com suas ideias e convicções, bem como procura minimizar a participação mais ativa de um ou outro respondente que revela pendores de liderança, cujas ideias possam levar todos os demais a concordar, com sua oposição, com suas opiniões.”

Histórico da pesquisa de discussão em grupo

As primeiras pesquisas de discussão em grupo surgiram no Brasil, em

fins dos anos sessenta e, daí em diante granjearam grande aceitação. Hoje

representamos uma parcela ponderável do mercado de pesquisa de mercado.

Como menciona Gracioso (1992, p p. 40): “O desenvolvimento da nova

técnica foi muito rápido, pela sua economia e simplicidade, em relação a outras

técnicas de pesquisa de consumidor. Em pouco tempo, espalharam-se pelas

empresas de pesquisa e agencias de propaganda as salas de reuniões com

espelhos “oneway”, que só permitem a visão de fora para dentro. Em pequenas

saletas, contíguas às salas de discussão, amontoavam-se os representantes

da agencia e de clientes, com fones de ouvido e bloco de notas,

acompanhando atentamente cada palavra e cada expressão facial dos

participantes do grupo (de 8 a 10 integrantes). E Gracioso continua: Para o

pessoal das agências de propaganda, principalmente, esta foi uma novidade

bem vinda. Antes das discussões de grupo, o contato direto com os

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consumidores era difícil e esporádico. Foi com alivio que o pessoal de

atendimento e a turma da criação receberam as discussões em grupo. Um par

de horas passadas por detrás do “espelho mágico” era suficiente. Muitos

redatores especializaram-se em colher (e aproveita) frases e palavras esparsas

durante as discussões, que acabavam se transformando em temas ou ideias

de anúncios e comerciais”.

O que fazer com os resultados

A pesquisa de discussão em grupo é uma modalidade de aplicação do

projeto exploratório. E tal como ele, visa levantar ideias, problemas e hipóteses

para a realização de futuras pesquisas do tipo descritivas e/ou experimentais –

quantitativas.

Portanto, a discussão em grupo é um estágio inicial – o 1º passo em

grupo em pesquisa de mercado e não deve ser considerada como resposta

definitiva dos problemas mercadológicos e, muito menos, como insumo às

tomadas de decisões dos executivos.

Convém salientar, que a popularização e o uso indevido da pesquisa de

discussão em grupo para a solução de problemas mercadológicos não é um

fenômeno apenas brasileiro. Vejamos o que nos diz Clancy e Shulman (1993,

pp. 84 a 87): “A forma mais popular de pesquisa absurda é a onipresente

entrevista de grupo”.

Neste caso, um punhado de pessoas, sob a direção de um moderador,

trata de determinado tópico, bem ou categoria de produto. Tais pesquisas

atraem os profissionais de marketing porque são fáceis, baratas, e algumas

vezes a pesquisa é levada a efeito em locais interessantes. As entrevistas

podem representar um turismo gratuito para quem trabalha nelas – um número

surpreendente delas é feito nas proximidades de Las Vegas e da Disney World.

Um grupo típico tem oito a dez elementos. Um cliente típico usa quatro

desses grupos num determinado assunto para responder uma questão,

perfazendo o total de 32 a 40 pessoas. A amostra é muito pequena para

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produzir resultados estáveis e, se fizermos o levantamento de novo, as

conclusões podem ser completamente diferentes.

E concluem:

“Não podemos usá-los para chegar a conclusões, para retirar referencias reais ou tornar quaisquer decisões. Achamos assustador que tantas companhias hoje em dia façam justamente isso”.

Cremos que o que acabamos de apresentar é suficiente para

demonstrar a inutilidade deste tipo de pesquisa para solucionar problemas de

marketing

Zikmund fala a respeito do método do caso:

“Técnica de pesquisa exploratória que investiga intensivamente uma ou algumas situações similares à do problema”... E continua. A principal vantagem do estudo é que uma organização ou entidade inteira pode ser investigada em profundidade com meticulosa atenção nos detalhes, possibilitando ao pesquisador o estudo cuidadoso da ordem dos eventos conforme eles ocorram ou que se concentre na investigação dos relacionamentos entre as funções, aos indivíduos ou as entidades. Uma rede de restaurantes fast-food pode testar um novo item do menu ou um novo projeto de loja em um único local para descobrir os problemas operacionais que poderiam atrapalhar a qualidade do serviço (e a preferência dos consumidores) antes de lançar a mudança em toda a rede.

Vejamos, agora, alguns problemas da aplicação do método do caso,

apontados por Zikmund (2006, p.p. 109-110) e por Boyd & Westfall (1987, pp.

74-75).

ZIKMUND

• Conduzir um estudo de caso requer a cooperação das partes cuja

história está sendo estudada.

Acrescentamos15: é difícil conseguir a colaboração daquele que esta

sendo investigado. Em muitos casos, entendeu que não devem fornecer

ao pesquisador dados confidenciais sobre seu negócio.

15 Nota do autor

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• O pesquisador – entrevistador não conta com um procedimento padrão

para seguir – deve ser flexível e tentar colher informações e ideias onde

quer que apareçam. Essa liberdade de buscar qualquer dado

considerado importante torna o sucesso de qualquer estudo de caso

altamente dependente de vigilância de indivíduo que está fazendo a

análise do caso.

• Os resultados de estudo de caso devem ser vistos como tentativas e não

como solução do problema – por ser uma modalidade do projeto

exploratório, seus resultados não podem ser generalizáveis.

BOYD & WESTFALL

• Como os casos envolvem descrições detalhadas de situações

completas, é difícil elaborar métodos formais de observação e registro.

Métodos informais tem a tendência de tornarem-se mais subjetivos do

que objetivos e há o perigo de que o investigador veja o que quer

esperar ver, em lugar da realidade objetiva.

• Esta falta de objetividade estende-se a analise dos dados dos casos.

Como, por definição, os processos estatísticos formais não são usados,

a análise baseia-se na intuição do investigador. Isto pode levar a

conclusão sem base.

• Ao analisar os casos, o investigador inclina-se a generalizar, embora o

método do caso não se preste á generalização. Como a amostragem é

comumente muito pequena, e os casos são casos incomuns, qualquer

generalização é perigosa.

Embora já tenhamos oferecido alguns exemplos de aplicação de estudo

de caso, desejamos acrescentar um que temos usado em sala de aula com

alunos da disciplina Pesquisa de Mercado, na PUC – Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo e com bons resultados. Vejamos:

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Vamos supor que o Sindicato dos Revendedores de produtos

eletrodomésticos esteja realizando uma reunião. As reclamações sobre as

vendas dos produtos eram generalizadas:

“Não estamos vendendo bem – as vendas muito abaixo do que desejamos”. De repente dois revendedores levantam e declaram que “muito pelo contrario, estamos vendendo e muito bem. Não temos nada a reclamar”.

De pronto, os demais revendedores se mostraram surpresos e curiosos:

“O que será que eles estão fazendo que nós não fazemos?”.

Ai está instalado um problema típico para a aplicação do estudo de caso.

Podemos escolher os dois lojistas que obtém sucesso de vendas e dos que

não estão vendendo bem. Depois que isso é feito, são levantados alguns

tópicos como compras, como calculam o preço de venda, de design das lojas,

exposições dos produtos, marcas vendidas, perfil dos clientes, qualidade dos

vendedores, etc. Quando o relatório é finalizado, de cada loja seus respectivos

donos ficarão espantados porque, como já atuam em seus negócios há vários

anos, não se dão conta de quantas coisas ocorrem no dia-a-dia de suas lojas.

Em realidade, o relatório deve ser um retrato real de tudo que se passa dentro

dos estabelecimentos. Em sequência, fazemos uma análise comparando o que

é comum nos dois grupos analisados e o que é diferente e que possa explicar

qual a razão do sucesso. A analogia é o método de análise aplicável ao método

do caso. Os casos coletadas são tipicamente estudadas para descobrir três

fatores: 1. Fatores que são comuns a todos os casos no grupo estudado; 2.

Fatores que não são comuns a todos os casos, mas são comuns em certos

subgrupos; e 3. Fatores que são únicos de determinado caso. (PALMER, 1928,

p. 21).

Chega-se a uma conclusão comparando-se as semelhanças e

diferenças. Em alguns casos, o investigador está mais interessado nos dois

primeiros grupos de fatores – aqueles que são comuns a todos em um grupo e

os que não são comuns em um subgrupo. Como no exemplo dado das lojas, o

investigador pode procurar as características comuns às lojas que têm lucro e

as características que são comuns às que não têm lucro (Hauser, 1938, p.186-

187).

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Erros e vieses encontrados nos Métodos de caso segundo

Boyd&Westfall (1973, pp.74-75), vieses giram em torno da falta de objetividade

que lhe é inerente e dos métodos de amostragem usados. 1. Como os casos

envolvem descrições detalhadas de situações complementares, é difícil

elaborar métodos formais de observação e registro. Métodos informais têm a

tendência de tornarem-se mais subjetivos e há o perigo de que o investigador

veja o que quer ou espera ver, em lugar da realidade objetiva. 2. Esta falta de

objetividade estende-se à análise dos dados de campo. Como, por definição,

os processos estatísticos normais não são usados, a análise baseia-se na

intuição do investigador... Isto pode levar à conclusão sem base. 3. Ao analisar

os casos, o investigador inclina-se à generalização. Como a amostragem é

comumente muito pequena, e os casos são selecionados subjetivamente,

haverá tendência de selecionar casos incomuns, qualquer generalização é

perigosa.

• Projeto Descritivo – Estatístico Fazendo uma adaptação do que diz Boyd&Westfall (1973, pp. 75-

79), apresentaremos as principais características do projeto

descritivo – estatístico.

• Há necessidade de que o problema e os objetivos visados pela

pesquisa estejam claramente definidos e exijam uma descrição de

uma situação (problema). Por exemplo, um fabricante de cereais

matinais quer descobrir quem come o seu cereal na primeira

refeição e quanto cada componente da família consome. Além

disso, o problema é detalhado sob a forma de objetivos (que são

problemas e indagações menores) como segue: idade, sexo,

renda, religião e tamanho da família do consumidor.

• É um projeto formal – exige o emprego de questionário estruturado-

não-disfarçado.

• A amostra deve ser representativa do universo, pois seus

resultados são generalizados para o universo.

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• A análise de dados utiliza processos estatísticos, tais como,

médias, porcentagens, medidas de dispersão e outros processos

estatísticos mais sofisticados. É daí que se origina o termo método

estatístico (projeto descritivo-estatístico). Com base nos resultados

desse projeto, os executivos tomam decisões mercadológicas – daí

sua importância.

• No entanto, não se presta á comprovação das relações de causas

e efeito. Por exemplo, em estudo realizado sobre o consumo de

suco de laranja, chegou-se aos seguintes resultados:

PESQUISA DE MERCADO SOBRE O CONSUMO DE SUCO DE LARANJA

MASCULINO FEMININO

CONSUMO 18 a 29 anos 30 a 49 anos 50 e + anos 18 a 29 anos 30 a 49 anos 50 e + anos

SIM 15 40 75 17 39 76

NÃO 85 60 25 83 61 24

De acordo com o resultado que os cruzamentos de faixa etária e sexo

demonstraram, o pesquisador poderia concluir que há uma relação de causa e

efeito entre idade e consumo de suco de laranja.

Entretanto, esta classificação cruzada, não prova que a idade é a causa

de maior ou menor consumo de suco de laranja. Não mostra os fatores reais

que levam as pessoas a beber mais suco de laranja.

Por exemplo, poderíamos levantar outras variáveis como renda,

preocupação com a saúde, etc. Mas novamente, é preciso salientar que esta

não pode provar a existência de uma relação de causa e efeito.

Com relação aos cruzamentos (classificações) devemos esclarecer que

os mesmos precisam ser de antemão previstos já que este implica em aumento

da amostra por subgrupo de variáveis estudadas. Ao realizarmos uma pesquisa

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para um shopping Center da cidade de Santos, apresentamos o relatório final

que respondia todos os objetivos visados pela pesquisa e fomos até além do

solicitado. Passados 40 dias, fomos surpreendidos com inúmeras solicitações

adicionais, muitas das quais estapafúrdias e que denotavam falta de

conhecimento do presidente da empresa. Mas alguns dos pedidos implicavam

em uma base (número de pessoas que respondem àquela pergunta-

indagação) muito pequena, como 5 pessoas, 10 pessoas, 12 pessoas, e

números assemelhados. Fizemos ver à Agência de Propaganda que

intermediava a solicitação, que a base não era suficiente para tirarmos

conclusões e que o número de tabelas resultantes de tal tabulação adicional

seria demasiado grande. “Foi em vão.” E atendemos ao pedido. Resultado:

enviamos 1.800 folhas de tabelas. A Agência protestou e aí repetimos o que já

havíamos explicado e acrescentamos que não apresentaríamos análise das

tabelas.

Conclusão nossa, mais tarde corroborada: o dono do shopping Center

foi ler o relatório da pesquisa quase um mês depois de tê-lo recebido como não

tivesse nada o que fazer, ficou imaginando perguntas bem detalhadas (diga-se,

na sua totalidade, não diziam respeito àquela pesquisa). Fez sua solicitação.

Por isso, enfatizamos no inicio da apresentação do Projeto Descritivo-

Estatístico, como também, quando da explicação sobre o problema e o

objetivo, que uma característica essencial do mesmo e estar claramente

definido para evitar mal entendidos como o que acabamos de narrar.

• Projeto Experimental/ Causal

Recorrendo, mais uma vez, a Boyd & Westfall (1973, p. 96) encontramos

uma boa definição de experimentação: “Experimentação é a coleta de dados

de maneira a permitir conclusões claras e diferenciadas a respeito de uma

hipótese que envolve relações de causa e efeito”. E prosseguem:

“Na maioria das vezes, isto quer dizer que o pesquisador deve criar uma

situação artificial para que se possa medi-los com precisão.” As experiências

são artificiais no sentido de que são criadas situações com o objetivo de testar.

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Esta artificialidade é a própria essência do método experimental, pois dá ao

pesquisador um controle maior sobre o fator que está estudando.

Assim, a capacidade de criar uma situação com o objetivo de observar e

registrar com precisão o efeito sobre um fator quando o outro é

deliberadamente mudado, permite ao pesquisador provar hipóteses que de

outra maneira poderiam ser testados parcialmente.

Os estudos experimentais podem ser usados em mercadologia quando o

pesquisador elaborou uma hipótese (por exemplo: que o anúncio produzirá

mais vendas que o B) e quando ele (pesquisador) pode controlar as condições

relacionadas ao testar a hipótese. “Deve-se deixar bem claro que essas duas

condições devem ser satisfeitas, antes de se realizar uma experiência.”

Malhotra (2005, p. 59) diz “O principal método da pesquisa causal é uma

experiência.” Experiências podem ocorrer em um laboratório ou em um

ambiente natural. Uma experiência pode ser elaborada para testar o

relacionamento causal que a programação provoca nas vendas da marca.

Aqui, a variável independente que será manipulada é a promoção e a variável

dependente, as vendas da marca. Os participantes em um estudo de

laboratório podem ser induzidos a imaginar que estejam fazendo compras.

Varias ofertas promocionais, manipuladas pelo pesquisador, serão mostradas,

com cada grupo de entrevistados vendo apenas uma oferta. As compras dos

entrevistados nessa experiência simulada de compras seriam medidas e

comparadas entre os grupos. Quem faz a experiência cria e controla o

ambiente.

Na pesquisa em um ambiente natural, no campo, o mesmo estudo seria

mostrado em lojas, com cada grupo de entrevistados vendo somente uma

oferta. ”As vendas resultantes da marca seriam monitoradas”.

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Outro aspecto importante, presente nos estudos experimentais são:

a) Eliminação de outros fatores causais possíveis (Mc Daniel e Gates,

2003, pp. 235-236): “Para inferir que uma relação causal muito

provavelmente existe entre A e B, a coisa mais difícil de demonstrar em

muitos experimentos de marketing é que a mudança em B não foi

causada por outro fator além de A, por exemplo, podemos aumentar

nosso gasto com propaganda e observar certo aumento nas vendas de

nosso produto.” A correlação e a ordem temporal de ocorrência

apropriada estão presentes (na correlação precisamos mostrar que

elas – A e B – variam juntas de alguma maneira previsível; já a ordem

temporal uma variável independente precisa ocorrer antes que uma

mudança seja observada na variável dependente). Por exemplo, para

demonstrar que A causou B, o pesquisador deve poder mostrar que A

ocorreu antes de B – para poder demonstrar que uma mudança de

preço causou um efeito sobre as vendas, o pesquisador deve poder

mostrar que a mudança de preço ocorre antes que a mudança nas

vendas fosse observada. Entretanto, mostrar que A e B variam

concomitantemente e que A ocorreu antes de B ainda não fornece

prova suficiente para permitir que o pesquisador conclua que A

provavelmente causa uma mudança observável em B.

Retomando a exposição dos autores... é possível que a mudança observada

nas vendas esteja relacionada a algum fator que não o aumento nos gastos

com propaganda foram aumentados, um concorrente importante. Por exemplo,

ao mesmo tempo em que os gastos com propaganda pode ter diminuído sua

verba de propagandas, aumentando seus preços ou encerrando suas

atividades no mercado. Outros exemplos de ocorrência durante a

experimentação: a economia da região pode ter recebido um impulso por

algum motivo que nada tem a ver com o experimento.

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b) Um concorrente procura “melar” o teste experimental reduzindo seus

preços e/ou investindo mais em propaganda naqueles pontos de

vendas onde a empresa está realizando sua experimentação.

c) O proprietário da loja onde está sendo realizado o experimento, efetua

uma mudança no layout das seções de produto, consequentemente

afetando e influenciando o resultado da experimentação.

Segundo Boyd & Westfall (1973, p98), as conclusões tiradas das experiências

são geralmente baseadas em duas proposições:

1. Se a introdução da variável experimental (por ex. propaganda) não

ocasiona mudanças no fenômeno em estudo (por ex. vendas), então a

variável experimental não pode ser a causa do fenômeno.

2. Se uma mudança no fenômeno estudado (vendas) ocorrer sem a

introdução da variável experimental (propaganda), então a variável

experimental não pode ser a causa do fenômeno.

Com a finalidade de ilustrarmos o projeto experimental, vamos apresentar dois

exemplos em que estão os dois tipos de projeto mais utilizados.

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a) PROJETO ANTES – DEPOIS: TESTE DE NOVA EMBALAGEM

Descrição de Projeto Grupo Experimental

Medida “antes” Sim (x1)

Introduzida a variável experimental Sim

Medida ”depois” Sim (x2)

Efeito da variável experimental = x2-x1

EXEMPLO NUMÉRICO DO PROJETO ANTES – DEPOIS TESTE DE NOVA EMBALAGEM

Descrição de Projeto Grupo experimental

(30 pontos de vendas)

- medida “Antes” (embalagem tradicional) 200(x1)

- introduzindo a variável experimental – nova embalagem Sim

- medida “depois” (embalagem nova) 300(x2)

- efeito da variável experimental 300(x2)-200(1)=100

Explicações sobre o projeto: Suponhamos que desejamos modificar a

embalagem de nosso produto na suposição de que a mesma causará um

aumento nas vendas. Como o problema exige uma relação de causa e efeito,

escolhemos o projeto antes-depois.

No exemplo demonstrado, escolhemos uma amostra de 30 pontos de

vendas representando a participação de mercado dos mesmos. Em segundo

lugar, determinamos o período de tempo – 30 dias (antes) e 30 dias (depois)

em que o teste será realizado. Convém esclarecer, que o período de tempo

deve ser estabelecido de acordo com o comportamento de compra dos

consumidores do produto. Em geral, adota-se o critério que permita ao

consumidor comprar produtos, pelo menos, três vezes. Isto se justifica, pois

pode ocorrer de o consumidor ao se deparar com o produto na nova

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embalagem comprá-la pela novidade e, depois, numa futura compra daquele

produto, não repetir a compra. Desta forma, a primeira informação baseada

apenas em uma compra levaria o executivo a deduzir que a nova embalagem

deu certo e que vai aumentar as vendas. Ao passo, que se o resultado perdurar

positivo por mais vezes – um período maior – o resultado será alicerçado em

dados mais fiéis e conclusivos quanto aos méritos e efeitos da variável

experimental – a nova embalagem.

No entanto, Boyd & Westfall (1923, p. 99) afirmam:

“Infelizmente, a suposição de que a mudança de embalagem do produto foi à causa de diferença de vendas do produto nos 30 dias, não é necessariamente uma suposição acertada.”

É bem possível que outros acontecimentos ocorridos durante esse

período de tempo tivessem afetado as vendas do produto; por exemplo, uma

campanha de promoção por um concorrente. A diferença entre as medidas

“antes” e “depois”, portanto, não seria necessariamente uma medida de

efeito da mudança de embalagem, porém uma medida de substituição da

embalagem mais a modificação causada por todos os fatores incontroláveis

ocorridos no transcurso da experimentação.

Este caso salienta a necessidade de se ter um meio de medir o efeito

desses outros (incontroláveis) acontecimentos. Um grupo de controle pode

ser acrescentado no projeto com esse objetivo. O novo projeto é chamado de

projeto antes-depois com grupo de controle.

Este tipo de projeto experimental é frequentemente considerado modelo

ideal que precisa ser sempre tentado, se não atingido. Em termos gerais, este

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modelo ideal tem que seguir o padrão: dois grupos, semelhantes para o

objetivo do estudo, são medidos em termos de alguma característica. Uma

variável experimental (nova embalagem) é então introduzida em um grupo (no

experimental). Os dois grupos são medidos novamente. As mudanças na

venda nos dois grupos são determinadas e comparadas. Várias influências

externas, como mudanças em renda ou no gosto do cliente, poderiam

influencias os resultados. Qualquer uma dessas influências supomos ser

pequena no período do teste e influenciar os dois grupos de maneira

semelhante. Portanto, a diferença entre os resultados nos dois grupos deve ser

causada pela variável experimental. Segundo Paine (1951, p. 557). “Este

projeto não preenche todos os requisitos das experiências controladas em

variáveis sociais ou psicológicas, opiniões e ideias, que podem ser afetadas

seriamente durante o processo de medida.” Assim, o antes-depois com o grupo

de controle pode ser o modelo ideal para experiência em que os assuntos a

serem medidos são inanimados (como produtos em geral), mas este projeto

tem sérias limitações quando usado com seres humanos, o que acontece em

mercadologia.

Apresentamos um exemplo, utilizando a mesma hipótese causal que

usamos no projeto Antes-Depois: a nova embalagem aumentará as vendas do

produto.

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b) PROJETO ANTES-DEPOIS COM GRUPO DE CONTROLE

DESCRIÇÃO DO PROJETO Grupo experimental (30

pontos de vendas, 30 dias) Grupo de Controle (30

pontos de vendas 30 dias)

Medida “antes” – vendas durante o período de 30 dias anteriormente à mudança da nova embalagem

200 (x1)

100(x1)

Introduzida a variável experimental (a nova embalagem)

SIM NÃO

Medida “depois” 300 (x1) 200 (x2)

Efeito da variável experimental 300 (x2)-200(x1) 200 (x2)-199(x1)

100 1

Conclusão: ouve um aumento nas vendas do produto (+100 x/mês),

causada pela introdução da variável causal, a nova embalagem.

Convém ainda solicitar, quando o projeto experimental é aplicado em

pontos de venda, principalmente, pode ocorrer o que Malhotra (2001, p. 215)

denominou de “Variáveis Estranhas”.

“Se os efeitos observados na experimentação não influenciados ou confundidos por variáveis estranhas, é difícil fazer inferências válidas sobre a relação causal entre as variáveis independentes (nova embalagem) e dependentes (vendas de produto).”

“Variáveis estranhas. As variáveis estranhas são todas as variáveis que não a variável independente (nova embalagem) que afetam as respostas das unidades de teste. Essas variáveis podem confundir as medidas da variável dependente (p. ex. vendas de produtos) até o ponto de enfraquecer ou invalidar os resultados do experimento.”

Malhotra classifica as variáveis estranhas da seguinte maneira:

a) História

Eventos específicos que são externos ao experimento, mas ocorrem ao

mesmo tempo em que o experimento (e podem afetar a variável dependente).

Por exemplo, na cidade onde foi realizado o experimento ocorreram muitas

demissões nas indústrias afetando, destarte, as vendas de um novo produto

que estava sendo testado.

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b) Maturação

Variável estranha atribuída a variações nas próprias unidades de teste, e

que ocorre com a passagem do tempo. Por exemplo, as lojas, onde realizamos

a experimentação, se modificam com o tempo em termos de espaço interno

destinado ao produto testado, decoração, tráfego e layout.

c) Efeito do Teste

Os efeitos do teste se subdividem em: “O efeito principal do teste ocorre

quando uma observação posterior.” Veja-se um experimento para avaliar o

efeito da propaganda sobre atitudes em relação à determinada marca. Os

entrevistados recebem um questionário pré-tratamento medindo informações

fundamentais e atitudes em relação à marca. Em seguida, são expostos ao

teste comercial incorporado em um programa apropriado. Após verem o

anuncio, respondem novamente a um questionário que avalia, entre outras

coisas, a atitude em relação à marca. Supondo que não haja diferença entre as

atitudes pré e pós- tratamento, pode-se concluir que o anúncio foi ineficiente?

A segunda categoria é representada pelo “efeito interativo do teste”,

quando uma medição prévia afeta a resposta da unidade do teste á variável

independente. No exemplo da experiência da propaganda, quando se pede a

uma pessoa que indique suas atitudes em relação a uma marca, ela toma

conhecimento dessa marca, sendo mais viável que dê atenção ao anúncio do

teste do que pessoas que não tenham sido incluídas no experimento. Então os

efeitos medidos não são generalizáveis à população, portanto os efeitos

interativos do teste influenciam a velocidade externa do experimento.

d) Instrumentação

Refere-se à variação no instrumento de medida, nos observadores ou

nos próprios escores. Às vezes, os instrumentos de medida são modificados no

decorrer de um experimento, no experimento de propaganda (que

apresentamos), caso se utilizasse um questionário planejado recentemente

para medir atitudes pós-tratamento, isto poderia ocasionar variações nas

respostas obtidas. Considere-se um experimento em que as vendas em reais

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estejam sendo registradas antes e depois da exposição a um mostruário na

própria loja (tratamento). Se há uma variação não experimental de preço entre

um e outro, isto resultará em uma variação na instrumentação, porque as

vendas em reais serão registradas utilizando-se diferentes preços unitários.

Nesse caso, o efeito de tratamento (preços variáveis antes e depois) poderia

ser atribuído a uma variação na instrumentação.

e) Regressão Estatística

Os efeitos da regressão estatística ocorrem quando as unidades com

valores extremos se mantêm mais próximas do valor médio no decorrer do

experimento. No experimento da propaganda, suponha que alguns

respondentes tenham atitudes muito favoráveis ou muito desfavoráveis. Em

uma medida pós-tratamento, suas atitudes podem ter-se deslocado em direção

á média. As atitudes extremas têm maior probabilidade de variar. Isto tem um

efeito de confusão sobre os resultados experimentais, porque o efeito

observado (mudança de atitude) pode ser atribuído à regressão estatística, e

não ao tratamento (comercial de teste).

f) Tendenciosidade de Seleção

A “tendenciosidade de seleção” diz respeito à atribuição inadequada de

unidades de teste a condição de tratamento. Esta tendenciosidade se verifica

quando a seleção ou a atribuição de unidades de teste resultam em grupos de

tratamento que diferem quanto á variável dependente antes da exposição à

condição de tratamento. Se as unidades de teste auto selecionam seus

próprios grupos ou são atribuídas a grupos com base no julgamento do

pesquisador, é possível a ocorrência da tendenciosidade de seleção.

Considere-se, por exemplo, um experimento com mercadorias, em que dois

mostruários diferentes (velho e novo) são designados para duas lojas

diferentes. Para começar, as lojas nos dois grupos podem não ser

equivalentes, podem variar quanto a uma característica chave, como tamanho.

O tamanho da loja pode afetar as vendas, independente do mostruário do

mercado.

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g) Mortalidade

A mortalidade se refere à perda de unidades de teste enquanto o

experimento está em andamento. Isto acontece por varias razões, como a

recusa das unidades de teste a continuarem no experimento. A mortalidade

confunde os resultados porque é difícil determinar se as unidades de teste

responderiam aos tratamentos da mesma maneira que as unidades que

permanecem. Suponhamos que três lojas se afastem do experimento, o

pesquisador não poderia determinar se as vendas novas das lojas com novo

mostruário teriam sido maiores ou menores se as três lojas tivessem

permanecido no experimento.

� Estas são as colocações feitas por Malhotra (2001, pp. 213-215)

Concluindo o tópico tipo de projetos, podemos dizer:

Quando Aplicá-lo:

1. Se tivermos um problema amplo e indefinido, por exemplo, queda nas

vendas da empresa; devemos usar o projeto do tipo exploratório para

podermos levantar, localizar e definir o(s) problema(s) que afeta(m) a

empresa.

2. Se, no entanto, tivermos um problema claramente definido e que exige

uma descrição de uma determinada situação-problema, usamos o

projeto descritivo-estatístico. Por exemplo, qual o candidato a prefeito

preferido pelos eleitores de Bertioga, caso as eleições fossem

realizadas hoje?

3. No caso de termos um problema que exige uma relação de causa e

efeito e que quantifique o impacto da mudança (da hipótese causal),

devemos usar o projeto experimental.

3. MÉTODOS DE COLETA DE DADOS

Esta é uma das etapas do projeto de pesquisa que exige muita atenção tendo

em vista:

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a) Sua complexidade;

b) Os erros que derivam de sua escolha e aplicação.

Passamos a apresentar o detalhamento desse tópico tão importante na

realização de uma investigação de mercado.

Toda investigação de mercado exige que dados sejam coletados –

sejam eles primários (dados originais ainda não coletados) ou secundários

(dados já publicados, interna ou externamente, à empresa da instituição).

De acordo com a maioria dos pesquisadores, só existem dois métodos

de coleta de dados: questionários e observação. Com a finalidade de tornar

mais claro o assunto que aqui será tratado, passamos a apresentar um quadro

esquemático dos métodos de coleta de dados, bem como suas modalidades de

aplicações e tipos utilizados.

1. Como podemos coletar os dados da pesquisa e vice versa

Métodos Vantagens Desvantagens

Questionário

• É versátil • Fácil de aplicar • É rápido • Revela motivações/razões da

preferência

• Confia na memória dos entrevistadores

• Respondente pode não querer responder ou não saber responder.

• Interação entrevistador e respondente

Observação

• Não confia na memória dos entrevistados

• Não há contato - em geral - com os respondentes

• Os fatos são Registrados à medida que ocorrem

• Pouco versátil • Mais difícil de aplicar • Demorado • É mais caro • Não revela motivações/razões de

preferência

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2. Aplicação do questionário e da observação

a) Questionário: aplicado através de entrevistas pessoal, correio,

e-mail e telefone.

b) Observação: pessoal (participante e não participante), mecânica

através de instrumentos – como gravadores, tevêmetro (IBOPE),

filmadoras.

3. Enquete pelo correio

VANTAGENS LIMITAÇÕES

• Acesso a pessoas difíceis • Econômico • Relativamente rápido • Pode-se abordar assuntos tabus

• Nem sempre o que responde é aquele que deveria fazê-lo

• O índice de retorno é baixo • Pouco versátil – só pode envolver poucos objetivos • Pode introduzir distorção amostral pela origem das

devoluções

3.1. Enquete pelo telefone

VANTAGENS LIMITAÇÕES

• Acesso a pessoas difíceis • Econômico • Rápido • Pode-se abordar assuntos tabus

• Desconfiam que é trote • Índice de recusa pode ser elevado • Pouco versátil – só pode envolver poucos objetivos • Lista telefônica apresenta muitos erros de telefone

3.2. Entrevista pessoal

• As mesmas vantagens e desvantagens do questionário

4. Classificação dos Questionários

a) Quanto aos objetivos: disfarçado e não disfarçado.

b) Quanto à estrutura: estruturados e não estruturados

4.1. Tipos de questionários

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1. Estruturados e não estruturados

2. Estruturados – disfarçados

3. Não estruturados – não disfarçados

4. Não estruturados – disfarçados

Como vimos, nesta breve apresentação, incluímos alguns aspectos dos

métodos e nas aplicações envolvendo vantagens e desvantagens (problemas e

vieses) que são representativos dos erros que os acompanham.

Passamos a apresentar comentários sobre os tópicos apresentados no

esquema.

3.1 Questionário

Selltiz, Jahoda, Deutsch e Cook (1967, pp. 265-266) citando o autor

Allpors, T.L. (1953):

“Se desejamos saber como as pessoas se sentem – qual sua experiência interior, o que lembram quais são suas emoções e seus motivos, quais são as razões para agir como o fazem – por que não perguntar a elas?”

Eles dizem:

“...para obter informações sobre as percepções, sentimentos, crenças, motivações, previsões ou planos de pessoas”, o questionário e a entrevista, são os métodos mais adequados”.

E continuam:

“Na entrevista e no questionário (aqui discordamos dos autores, pois confundem a entrevista com o questionário – para nós, a entrevista é uma forma de aplicação do método do questionário) dá-se grande peso à descrição verbal da pessoa para obtenção de informação quanto aos estímulos ou experiências a que está exposta e para o conhecimento de seu comportamento... o ponto de partida é a descrição, daí dizer-se que só podemos obter material que a pessoa possa relatar e esteja disposta a fazê-lo... No entanto, na vida cotidiana também compreendemos que em certas circunstancias, não devemos acreditar nas descrições verbais. Por exemplo, sempre que temos razões para suspeitar que a auto descrição correta de uma pessoa seria perturbadora, humilhante ou degradante, ou de alguma outra forma a colocaria em situação

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desfavorável. Por exemplo, em uma pesquisa amostral do IBGE, feita em 1970, havia no questionário uma pergunta no mínimo importuna e de difícil aplicação: “a Sra. já abortou alguma vez? ”Isso nos foi relatado por um ex-aluno no acesso de Pesquisa Mercadológica da Fundação Getúlio Vargas e 1976. Perguntamos ao aluno como ele abordava as mulheres entrevistadas. Respondeu: “Bem..., eu não fazia a pergunta, eu apenas olhava para aquela entrevistada e fazia uma interpretação” se ela tinha cara de santinha, uma pessoa boa eu assinalava: Não abortou (x); se, no entanto, ela tinha aparência de sapequinha, algo assanhada, eu registrava abortou(x). E ainda acrescentou – às vezes, a respondente estava ao lado do marido e (ou namorado) eu temia fazer a pergunta e sofrer as consequências.”.

Como se observa, a pessoa entrevistada pode se sentir humilhada ou

degradada diante da situação.

Voltemos ao assunto questionário e, mais tarde, voltaremos a falar de

entrevistas.

É evidente que quando abordamos o método do questionário estamos

comparando-o ao outro método que é o de observação. Neste caso devemos

começar por sua conceituação e definição. Temos a convicção de que a

maneira mais simples é aquela que há muito tempo temos utilizado em nossas

aulas:

“Questionário é um conjunto de perguntas que se reportam aos objetivos (problemas menores – nível de curiosidade do executivo que solicitou a pesquisa) visados pela pesquisa. Ele é o retrato dos objetivos da investigação16.”

Kinnear e James (1994, pp. 310-311) oferecem definição de

questionário:

“Um questionário é um plano formalizado para coletar dados das entrevistas.” A função do questionário é a medição. Os questionários podem utilizar-se para medir (1) o comportamento passado, (2) as atitudes e (3) as características do entrevistador, etc, de acordo com os objetivos da pesquisa17.”

Já para Miquel, Bigué, Lévy, Coencia e Sra. Miquel (1997 pp. 87-88).

16 Nota do autor 17 Nota do autor

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“o questionário é uma lista de perguntas, que se não existir, o entrevistador poderia obviar-se de algumas das questões que tem que perguntar ao entrevistado ao inclusive trocar a ordem dos mesmos”.

Como na prática é comum realizar-se um grande número de entrevistas

o questionário é um meio para estruturar a entrevista de uma forma ordenada a

fim de garantir que se vão colocar as mesmas perguntas e aplicá-las na

mesma ordem a todas as pessoas entrevistadas.

Falta falar, mais especificamente, sobre as vantagens e desvantagens

do questionário.

Antes de adentrarmos o assunto, é bom acentuar que quando falamos

das vantagens e desvantagens estamos comparando-as com o outro método

de coleta de dados.

Vejamos, quais são as vantagens e desvantagens.

3.1.1 Vantagens do questionário

É versátil – a maioria dos problemas e objetivos de marketing podem ser

coletados através do questionário o que representa uma inestimável

colaboração para a pesquisa. Tal como dizem Miguel et. al. (1997,p.87):

“o questionário é uma técnica de comunicação com coletivo de pessoas que denominamos amostra, com o fim de obter certa informação sobre determinadas características e comportamento que representam tal comunicação é um processo de relação biunívoca, seja ela escrita ou verbal, que necessariamente facilita os dados que necessitamos. A adaptação se realiza mediante um questionário. Isto quer dizer: “quando se pensa em realizar uma pesquisa de mercado logo vem à mente o método do questionário para se obter a informação desejada, devido à sua versatilidade”.

Outra vantagem flagrante (vs. o método de observação) é que ele é fácil

de aplicar. É evidente que isto pressupõe do entrevistador uma boa experiência

e com treinamento capaz de habitá-lo em aplicar o questionário com acerto.

Ademais, em geral, o questionário é rápido de ser aplicado – a não ser

em casos especiais, o questionário médio, não ultrapassa 10 a 15 minutos.

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Devido a essa característica, podemos acrescentar outra vantagem

econômica – tem custo baixo.

Outra grande vantagem é que ele é capaz de revelar motivos e razões

do comportamento do consumidor entrevistado.

3.1.2 Desvantagens do questionário

Uma das principais desvantagens do questionário é que ele confia na

memória da respondente. Todos sabemos, que o questionário é composto de

perguntas e que todas as respostas dependem da “memória” do entrevistado.

Como a nossa memória, em geral, é fraca – por exemplo, em uma pesquisa

que realizamos a saída de um supermercado, perguntamos junto a uma

amostra de “pessoas,” que quantidade de extrato de tomate e de que marca

havia comprado? Logo após, também perguntamos sobre macarrão e queijo

ralado. Após as respostas, solicitamos que permitissem examinar o carrinho de

compras. Na comparação, verificamos um erro médio de cerca de 57% com

margem de erro de mais ou menos 5%. Como vemos, confiar na memória dos

respondentes (e toda resposta a uma pergunta, envolve a memória) é uma

potencial desvantagem a priori.

A próxima desvantagem do questionário: o respondente pode não querer

responder. Segundo AAKER, KUMAR e DAY (2009, pp.236-240), subtítulo

Fontes de Erros nas Enquetes, “O processo pelo qual os respondentes são

questionados parece bastante simples. A realidade, entretanto, está mais

próxima da frase de Oppenheim, que diz” questionar as pessoas é como tentar

pescar determinado peixe ardiloso, esperançadamente jogando diferentes

iscas a diferentes profundidades, sem saber o que se passa abaixo da

superfície.” (Oppenheim, 1966). Em sequência a colação do “não querer

responder, temos que o respondente pode não estar disponível, não estar

disposto a responder ou não ser capaz de responder”. Nesse caso, temos que

admitir que vários vieses podem ser oriundos de:

• Falta de acuracidade na resposta – os respondentes podem não ser

capazes dar qualquer resposta, ou não se mostrarem dispostos a

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fornecer uma resposta completa e acurada. Podemos ter as seguintes

razões para este comportamento:

- incapacidade de responder – os respondentes podem por ignorância ou

esquecimento (memória), ou por não conseguir articulá-la. Qualquer destes

três problemas pode gerar “erros”, quando os respondentes inventam uma

resposta para determinadas questões. Algumas donas de casa, por exemplo,

podem não estar informadas sobre a situação financeira da família (coisas

como seguros, investimentos ou benefícios e, por que não dizer sobre os

rendimentos totais do esposo).

A probabilidade de esquecimento de um episódio como uma consulta

médica ou uma compra, depende tanto de quando se deu o evento como de

sua importância, e, também, doutras coisas que aconteceram ao mesmo

tempo.

E continuam: As distorções na memória geram erros do tipo de

“aproximação do tempo”, quando um evento é relembrado como tendo ocorrido

há menos tempo do que aconteceu na realidade18. Um outro erro comum de

memória é a padronização, quando alguma coisa é reportada sendo mais

próxima da média, do normal, do padrão. Este é um problema para os

pesquisadores que tentam estudar exatamente as experiências. O cansaço do

respondente e a falta de “empatia do entrevistador” são desmotivadores, e

causam o aumento das omissões.

Finalmente, os respondentes podem não ser capazes de responder por

não conseguir formular uma resposta adequada. Isto acontece especialmente

com as perguntas diretas sobre motivação. Muitas escolhas são feitas sem

uma consideração consciente de suas razões. Assim, quando se pergunta por

que uma pessoa sentiu-se tocada por um apelo de caridade, ou comprou dada

marca de analgésico, as razões apontadas são, provavelmente, incompletas e

superficiais.

Aaker, Kumar e Day continuam falando sobre o tópico

“DESVANTAGENS DO QUESTIONÁRIO”, dizem: 18 Nota do autor.

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Falta de disposição para responder com precisão. Durante a entrevista,

uma série de fatores podem criar “tendências nas respostas”, e subverter as

motivações positivas que existiam quando o respondente aceitou participar da

pesquisa. Os questionários muito longos ou enfadonhos são especialmente

vulneráveis a esse tipo de problema. Vejamos algumas espécies de problemas.

1. Preocupação com a invasão de privacidade. “Embora a maioria dos

respondentes não encare as pesquisas com hostilidade, em certas

questões pessoais podem estar além da tolerância”. Cerca de 20% dos

respondentes de um questionário aplicado através de entrevista pessoal

ou telefone, podem recusar-se a responder questões sobre renda, ou

dar respostas distorcidas.

2. Pressão de tempo e cansaço. Quando uma entrevista é larga, a

acuracidade das respostas tende a diminuir em seu decorrer. Os

respondentes que estavam relutantes em participar por estarem muito

ocupados ficam ansiosos acerca do tempo necessário para responder às

perguntas. Não é surpreendente que acreditem que as respostas

abruptas e sem maiores explicações sejam a melhor maneira de

encerrar a entrevista rapidamente.

3. Tendências causadas pela busca de “prestígio” e pela “aceitabilidade

social" das respostas. Existem muitas evidências de que os

respondentes podem distorcer suas respostas de forma (eles acreditam)

aumentar seu prestigio aos olhos do entrevistador a não se colocarem

como transgressores do que percebem como as normas prevalecentes

na sociedade. Consequentemente, as respostas às questões que têm

implicações de status – tais como renda, educação, e até local de

moradia – podem ser sutilmente distorcidas para aumentar o prestígio do

respondente.

4. Tendências criadas pela “cortesia”. Existe uma tendência geral a limitar

as respostas a generalidades corteses que não causem desconforto ou

embaraço ao entrevistador, ou que possam indicar falta de cooperação.

Por exemplo, isso pode ocorrer em teste de conceito, quando um

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respondente oferece uma “aceitação de cortesia” à descrição de uma

nova ideia, mesmo que esta não lhe desperte nenhum interesse

especial.

5. Erro de “desinformação”. Perguntar alguma coisa a alguém implica que o

entrevistador espera que o entrevistado tenha uma resposta. Essa

expectativa, além do desejo de parecer cooperativo, pode induzir o

respondente a responder a uma questão apesar de desconhecer

totalmente o assunto.

6. “Estilo de resposta”. Questões avaliativas que pedem julgamento do tipo

bom-ruim, positivo-negativo, é alvo de tendências sistemáticas por parte

de determinados respondentes que elegem um “estilo ou categoria de

respostas”, independente do conteúdo da questão. Por exemplo, existe o

estilo aquiescente de resposta, que é a tendência a dar mais respostas

positivas que negativas. Outra categoria é formada pelos “entusiastas”

que mostram uma tendência em dar respostas exageradas, ou seja, o

bom vira ótimo e o ruim vira péssimo. Segundo Wells (1963, pp. 8-18),

“essa categoria tem uma tendência marcante a dar altas notas para

anúncios favoravelmente avaliados e a exagerar seu próprio hábito de

compras de determinados produtos.”

Além dos comentários que até o presente apresentamos, vamos

mencionar outros que através dos anos – como entrevistador, verificador,

pretestador de questionário e supervisor de campo – nos permitiu aprender

outras características das vantagens e desvantagens do questionário.

Resumo das vantagens

• É versátil – quando temos um problema de marketing a ser resolvido,

em quase todos os casos, logo se pensa em aplicar o questionário pela

sua ampla variedade de aplicações.

• É fácil de ser aplicado – de uma maneira geral, aplicar um questionário é

tarefa relativamente simples, embora existam casos em que o

questionário longo e complexo, exija grande habilidade por parte

daquele que vai aplicá-lo.

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• É rápido tirando as exceções (existência de questionário com muitas

perguntas e de longa duração para sua aplicação)– a grande maioria

deles é de curta duração, em média 10 minutos e/ou menos.

• É econômico – porque rápido na aplicação e, de uma maneira geral, ao

facilitar o acesso aos respondentes, torna-se econômica sua aplicação:

• Revela motivações/razões dos entrevistados – desta forma, podemos

fazer perguntas aos respondentes que poderão revelar seus

sentimentos e motivações – por exemplo, razões da preferência pela

marca do produto comprado.

Resumo das desvantagens do questionário

Quando abordamos as desvantagens do questionário Aaker (2009,

p.240) menciona apropriadamente o “erro do entrevistador”. No entanto,

preferimos deixar esse assunto para quando abordamos o tópico “Setor de

Campo”, onde teremos oportunidade de tecer considerações mais profundas.

Apenas diríamos – além do que foi anteriormente mencionado, que uma das

maiores desvantagens reside na interação entre o entrevistador e o

respondente, que, vai mais além do erro do entrevistador, por exemplo, o modo

de falar do entrevistador e do respondente.

Classificação dos questionários - comentários

Segundo Boyd&Westfall(1987, pp. 141-158) “é possível classificar os

estudos por questionário em um número variado de bases. Três dessas bases

mais importantes, são:

1. O grau em que o questionário é formalizado ou estruturado (estruturado e não estruturado).

2. O disfarce ou, falta de disfarce dos objetivos do questionário (disfarçados e não disfarçados); e

3. O método de comunicação usado – entrevista pessoal enquete pelo telefone e enquete pelo correio/internet.

As duas primeiras dessas bases são consideradas conjuntamente.

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Estudos classificados por estrutura e disfarce do questionário

Segundo Campbell (1950, p. 15) podemos classificar quatro tipos de

questionários:

1. Estruturado não disfarçado

2. Não estruturado não disfarçado

3. Não estruturado disfarçado

4. Estruturado disfarçado

Eis os comentários de Boyd & Westfall(1987, pp. 142-148) sobre os

diferentes tipos de questionários:

a) Estruturado – Não disfarçado – são os questionários mais utilizados em

pesquisa mercadológica - em outras palavras o questionário tem um

roteiro rígido de perguntas que devem ser obedecidas pelos

entrevistadores e os objetivos da investigação não precisam ser

disfarçados. Os estudos deste tipo são os mais fáceis de conduzir.

Existem menores possibilidades de confusão na coleta das informações

ou interpretação dos resultados. Podem ser aplicados via telefone,

entrevista pessoal ou pelo correio e/ ou internet. No entanto, estão

sujeitos ás três limitações do método de questionário: os entrevistados

podem ser incapazes de dar a informação desejada, podem não ter

vontade em dar informações, ou o processo de questionário pode

estimular respostas dúbias ou incorretas.

b) Questionário – Não Estruturado – Não disfarçado. “Mais do que qualquer

coisa, o pessoal de marketing quer saber por que as pessoas compram,

ou não os seus produtos.” Perguntas diretas que se referem aos motivos

raramente obtêm respostas úteis. Lazarsfeld (1.935, pp. 26-27)

desenvolveu um método para o problema, dividindo a pergunta em uma

série de questões. Ele classificou as razões dos porquês em categorias:

1. Aquelas razões que são parte das atitudes e propósitos próprios do

indivíduo;

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2. Aquelas razões que são os resultados de influências exteriores, tais

como propaganda, e

3. Aquelas razões que são baseadas nas características do próprio

produto.

“Como as decisões são baseadas em combinações destas razões, as questões dirigidas para cada categoria têm mais possibilidades de obter respostas úteis do que questões gerais que tendem a cobrir todas as três categorias.”

Voltando a Boyd&Westfall (1987, pp. 143-147) eles comentam: “Esta

abordagem não é ainda inteiramente satisfatória. Questões diretas não medem

a importância relativa dos vários tipos de razões. Além disso, muitos indivíduos

não declaram os motivos que podem ser considerados socialmente

inaceitáveis. A família que compra um Cadillac para fazer inveja aos vizinhos

não estaria inclinada a declarar tal motivação. Em seu lugar, poderia mencionar

que as Cadillacs são mais confortáveis, acomodam mais pessoas, tem um

design mais moderno. Daí ter surgido a “entrevista de profundidade” (Smith,

1954, pp. 214-220) – usam questionários não estruturados e não disfarçados.

As vantagens desta modalidade é que garante mais informações de

entrevistado. Ele não é conservado na camisa-de-força de uma lista rígida de

questões. Ideias que normalmente não seriam expressas são trazidas à luz.

São obtidos os pontos individuais importantes, suas relações e as suas

experiências. O entrevistador é livre para adaptar cada entrevista á situação e

personalidade do entrevistado. Esta flexibilidade por parte do entrevistador é a

maior vantagem do método, mas também é o seu ponto mais fraco. Como cada

entrevistador conduz cada entrevista diferentemente, é difícil comparar

resultados. Médias e porcentagens não podem ser capturadas com alguma

validade. Porém, as entrevistas de profundidade são mais bem usadas, em

pesquisa exploratória, onde o objetivo é encontrar ideias para hipóteses

específicas que podem ser testadas com outros métodos.

Essa confiança no julgamento do entrevistador individual também cria

problemas. Uma vez que muito depende da habilidade do entrevistador em

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conduzir a entrevista, precisam ser usados entrevistadores altamente

habilitados. Um estudo conduzido por Harris e Carnely (1948, p. 75)

“sugere que tais entrevistadores deveriam ter um treinamento e experiência comparáveis ao universitário, com conhecimentos de psicologia social e experiência prática de 500 ou mais entrevistas.”

Boyd & Westfall acrescentam:

“Frequentemente são empregados indivíduos com conhecimento pós-graduados em psicologia. Tais entrevistadores são não somente difíceis de encontrar como também bastante caros. Além do mais, a liberdade do entrevistador torna possível (ou mesmo necessário) que ele influencie os resultados.”

As perguntas que faz e a interpretação das respostas serão

influenciadas pelos seus próprios sentimentos. O problema de registrar essas

entrevistas longas muitas vezes aumenta a oportunidade para tais

preconceitos. O registro de palavra por palavra é normalmente muito

trabalhoso. Em muitos casos, as entrevistas de profundidade são tomadas

verbalmente por gravadores. Isto reduz a influência do entrevistador, porém

coloca o entrevistado pouco à vontade e prejudica assim a entrevista.

Além disso, prosseguem os autores, tais entrevistas tomam mais tempo

do que as entrevistas estruturadas típicas. Isto cria dois problemas: um é,

novamente, o custo maior. Além disso, a duração da entrevista também cria

problema no sentido de se conseguir a cooperação dos entrevistados.

Outra desvantagem importante da entrevista de profundidade é a

dificuldade e o custo de interpretação. Psicólogos especializados devem ser

usados para interpretar os resultados. Mesmo assim as interpretações são

subjetivas e podem variar de um analista para outro. A interpretação complica-

se ainda mais pela dificuldade encontrada em registrarem as respostas (como

já vimos os entrevistadores resumem as respostas que obtêm), a interpretação

desses registros resumidos é mais difícil do que a interpretação de um registro

completo, que incluísse tudo o que foi dito tanto pelo entrevistado como pelo

entrevistador.

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c) Questionário Não-Estruturado – Disfarçado

Muitos entrevistados têm má vontade ou não são capazes de dar

respostas precisas sobre suas atitudes e motivações. Os psicólogos clínicos

elaboraram métodos disfarçados de conseguir dados. Os métodos disfarçados

são elaborados de maneira que o entrevistado não saiba qual é o motivo do

estudo. As técnicas projetivas são um exemplo deste tipo. A teoria das técnicas

projetivas é a de que cada indivíduo, ao descrever uma situação, interpreta

aquela situação até certo ponto. A descrição feita reflete uma determinada

faceta do individuo que a faz. Assim, se um indivíduo descreve uma situação, o

que ele faz é uma descrição de sua interpretação da situação;

São usadas várias técnicas de projeção. Porém as mais utilizadas são:

• Associação de ideias – é lida uma série de palavras, uma de cada

vez para o entrevistado. Depois de cada palavra, o entrevistado

diz a primeira coisa que surge na sua mente.

• Completar sentenças – exige que o entrevistado complete

sentenças parcialmente feitas e lidas para ele (pode ser dada

também com as semelhanças a serem completadas).

• Contar histórias – o entrevistado vê um quadro ou ouve uma

descrição e pede-se a ele que conte uma história sobre isso.

Haire (1950, pp. 649-652) revela o caso da indústria de café solúvel. Já

havia feito pesquisas que adotavam o questionário estruturado-não disfarçado

e a resposta das donas de casa, do por que não usavam café solúvel era: não

apreciamos o seu gosto.

Haire modificou a metodologia e adotou o método disfarçado. Elaborou

duas listas de compras que eram idênticas, com exceção do café, que em uma

era Nescafé (café solúvel) e, na outra, era 1 libra de café Max WellHouse (café

moído). Ele selecionou duas amostras combinadas de donas-de-casa. Uma

lista foi dada a uma amostra e a outra à outra amostra. Cada dona-de-casa

deveria descrever a mulher que fizera a lista de compra.

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Vejam algumas das diferenças nas mulheres descritas como tendo feito

as listas que revelavam atitudes em relação ao café solúvel.

Mulher Nescafé Mulher – Max WellHouse

48% afirmam ser preguiçosas 4% afirmam ser preguiçosas

48% afirmam fracassar no planejamento nas compras domésticas

12% afirmam fracassar no planejamento nas compras domésticas

12% afirmam ser pródigas 16% afirmam ser econômicas

4% afirmam ser econômicas 5% afirmam ser pródigas

4% afirmam ser boas esposas 16% afirmam ser boas esposas

A maior vantagem das técnicas projetivas está em sua capacidade de

descobrir atitudes e motivos subconscientes e socialmente inaceitáveis.

Quando se perguntava às mulheres por que não usavam, café solúvel,

afirmavam não apreciar o gosto. Quando se pedia para descrever a mulher que

punha café solúvel na sua lista de compras, descreviam-na como dona de casa

preguiçosa e incapaz.

Outra vantagem das técnicas de projeção sobre as entrevistas de

profundidade está na maior padronização do estímulo dado ao entrevistado.

Nas entrevistas de profundidade, não há padronização de estímulo, e, assim,

não são válidas as comparações dos resultados. Porém, pode-se dar o mesmo

estimulo aos entrevistados nos testes projetivos – por exemplo, associação de

ideias. Portanto, os resultados são mais comparáveis e menos sujeitos a erros.

Entretanto, a comparação direta de resultados projetados não é tão fácil quanto

os estudos mais estruturados, porque cada resposta é dada nas próprias

palavras do entrevistado e não em termos de uma entre várias respostas

preestabelecidas.

Como as técnicas de projeção não são estruturadas tem a mesma

limitação das entrevistas de profundidade. As interpretações são muito

subjetivas e, assim sendo, então sujeitas a críticas de que refletem tanto o

intérprete como o entrevistado. O custo, tempo e dificuldade em conseguir

entrevistadores competentes são os problemas que embaçam as técnicas

projetivas.

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d) Questionário Estruturado–Disfarçado – “O questionário deste tipo

tem sido pouco usado (segundo Campbell op. cit. em nota anterior). Tem

as vantagens no disfarce, que foram declaradas anteriormente –

principalmente porque o entrevistado não sabe que está sendo avaliado e,

assim, não muda suas respostas. As vantagens do aspecto estruturado

estão na redução de enganos por parte do entrevistador e do entrevistado.

Testes de atitudes estruturados disfarçados baseiam-se na teoria de que

“o conhecimento do indivíduo, sua percepção e memória estão condicionadas

por suas atitudes.” Por exemplo, os democratas ouvem mais discursos de

democratas têm mais informações sobre os democratas do que sobre os

republicanos. Um simples teste de informação sobre candidatos então serviria

para separar os democratas dos republicanos. Uma pergunta direta – “É você

democrata ou republicano?” – poderia ter uma resposta com subterfúgios.

Da mesma forma, há teorias afirmando que se os entrevistados têm de

responder a perguntas das quais não sabem as respostas tenderão a adivinhar

de acordo com suas próprias atitudes.

Questionário Classificado por Método de Comunicação.

Basicamente, podemos classificar os questionários quanto aos métodos de

comunicação em:

a) Aplicados através de entrevista pessoal;

b) Aplicados através de telefone;

c) Aplicados através de correio e/ou e-mail

Vejamos os prós e contras de tais métodos

a) Entrevista Pessoal – é o método mais popular e, portanto, o

mais utilizado pelos pesquisadores.

Vejamos o que nos dizem a respeito os renomados autores Kinnear e

Taylor (1994, p. p. 294-296).

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Estes três meios de comunicação são amplamente utilizados na

investigação de mercados. Os mais utilizados, segundo pesquisa realizada em

1988 por Thomas C. Kinnear e Ann R. Root, A Study of the Marketing

Research Business, mostra o seguinte resultado (lá nos Estados Unidos).

Meios de Comunicação Frequente % Algumas vezes % Nunca %

Entrevista pessoal 39 49 12

Entrevista telefônica 59 35 6

Entrevista pelo correio/e-mail 44 45 11

De acordo com a tabela apresentada, a entrevista telefônica é a mais

utilizada com cerca de 94% das preferências das empresas. Já a entrevista

pessoal e pelo correio – internet é utilizada por 88% e 89% pelas empresas em

seus estudos de investigação de mercados.

Antes de entrarmos no exame do mérito de cada método de aplicação

do questionário, gostaríamos de tecer algumas considerações sobre os

“critérios utilizados para selecionar os meios de comunicação.” (Segundo

Kinnear e Taylor – 1994, pp. 295-301).

� Versatilidade - se refere à habilidade do meio para adaptar o

processo de coleta de dados às necessidades especiais do estudo

ou do respondente. A entrevista pessoal é a mais versátil dos três

meios de comunicação. As entrevistas telefônicas são menos

versáteis que as entrevistas pessoais, enquanto que a entrevista

pelo correio é a menos versátil.

A entrevista pessoal é de grande versatilidade, posto que o processo de

entrevista compreende uma relação face a face entre o entrevistado e o

entrevistador. Este último pode explicar e classificar as perguntas complexas,

administrar questionários complexos, utilizar técnicas não estruturadas e

apresentar ajudas visuais ao entrevistado, tais como cartões de conceito de

produtos, cartões com figuras, marcas, atributos a serem lidos e vistos pelos

entrevistados para que estes escolham o mais preferido ou façam comentários

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sobre o que acabaram de ler. Isto se torna praticamente impossível usando-se

a entrevista pelo correio e/ ou telefone.

Já quando o questionário envolve perguntas abertas de razão o ideal é

usarmos a entrevista pessoal, pois o entrevistador, dependendo da resposta

pouco elucidativa ou lacônica (gosto de meu automóvel porque ele é ótimo)

neste caso, o entrevistador procura investigar o que o respondente quer dizer

com aquele adjetivo “ótimo”.

Quando, no entanto, o questionário envolve perguntas simples de

responder pelo entrevistado, o entrevistador pode ser dispensado e a entrevista

pelo correio considerar-se como o meio mais adequado.

� Custo – o numero de horas de trabalho tende a determinar

o custo relativo dos três meios de comunicação. O custo da mão-de-

obra incluem os salários dos entrevistadores (no Brasil, segundo

levantamento que realizamos junto a entrevistadores – já que os

Institutos de Pesquisas não revelam quanto pagam por diária para

um entrevistador – eles recebem em torno de R$ 150,00 por dia. Por

exemplo, se um entrevistador puder realizar 10(dez) entrevistas por

dia sem “correr”, ele será pago por entrevista realizada: R$15,00 a

R$25,00. Há casos em que a entrevista é mais complexa e exige

entrevistadores mais qualificados e experientes. Neste caso, o preço

pago por entrevista é mais elevado: R$30,00-R$37,00) e os custos

de supervisão associados ao controle de qualidade do material

entregue pelos entrevistadores (crítica do material e verificação de

pelo menos, 20% das entrevistas entregues).

b) Entrevista pelo telefone

Geralmente, a entrevista pessoal é o meio mais custoso por entrevista

realizada. De uma maneira geral, as entrevistas telefônicas são mais custosas

que as entrevistas pelo correio. Quando o questionário é breve, o custo da

entrevista telefônica usualmente é igual ao da entrevista pelo correio.

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� Tempo – Dentre os três métodos, a entrevista feita pelo

telefone é a mais rápida na obtenção das informações – se for um

questionário breve, um entrevistador poderá completar entre 10 ou

mais entrevistas utilizando-se o mesmo questionário, um

entrevistador aplicando a entrevista pessoal poderia produzir, com

muita sorte, de 2 a 3 entrevistas por hora. Convém esclarecer que

nesta segunda opção, devemos levar em consideração: o

deslocamento do entrevistador até o local das entrevistas, o tempo

entre uma abordagem e a próxima junto aos respondentes. Por

conseguinte, os estudos baseados em entrevistas pessoais, em

geral são mais prolongados em comparação com os estudos

baseados em entrevistas telefônicas ou entrevistas pelo correio-

internet.

Controle das Unidades que realizaram as entrevistas

A entrevista pessoal oferece o melhor grau de controle se a entrevista foi

realizada na residência, comércio e/ou indústria ou se houve desvio de conduta

por parte do entrevistador. Além de poder identificar quem foi entrevistado – se

era a pessoa identificada.

Cremos que cabe aqui a colocação de um exemplo (entre vários pelos

quais passamos em nosso Instituto de Pesquisa de Mercado). Fomos

contratados por uma grande empresa fabricante de ferramentas elétricas.

Desejava aferir qual era o volume de compras por tipo de ferramenta elétrica

no mercado brasileiro. Para isso, forneceram uma listagem de seus maiores

clientes e não clientes. Começamos a investigação. Eis que começaram a

surgir reclamações de Institutos que contratamos em outras capitais brasileiras.

De cada 10 endereços que vocês nos forneceram, 6 não conferem e como

nossos entrevistadores realizaram a visita e não obtiveram êxito tivemos que

pagar as entrevistas não realizadas. Nossa decisão foi para nossas coligadas

sustarem os trabalhos de campo até segunda ordem.

Comunicamos ao nosso cliente o ocorrido e solicitamos que refizessem

suas listas de empresas atualizadas e nos ressarcissem dos prejuízos relativos

ao pagamento dos entrevistadores que não lograram realizar suas entrevistas.

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Felizmente, o cliente entendeu nossa reclamação e conseguimos, duas

semanas depois, reiniciarmos a investigação.

Já a entrevista telefônica depende da existência de uma lista telefônica

ou lista que o cliente da pesquisa fornece e que seja atualizada – “com

frequência como dizem Kinnear e Taylor (1994, pp. 296-301) tais listas

telefônicas e de clientes são muito pobres, pois são incompletas” pelas

seguintes razões:

1. Nem todos possuem telefones

2. As listas são velhas e não enumeram os telefones novos ou que foram

trocados por outros.

3. Algumas pessoas não permitem que os números dos seus telefones

sejam divulgados.

No caso do envio de entrevistas pelo correio, assim como a entrevista

telefônica, requerem listagens corretas e atualizadas (cujos problemas já

mencionamos).

Em alguns casos mais raros, algumas firmas comerciais possuem

painéis de respondentes que aceitaram participar e responder aos

questionários a eles enviados periodicamente pelo correio. Algumas empresas

são especializadas no levantamento de nome e endereço de famílias e

empresas. Neste caso alugam ou vendem tais listas para empresas que delas

fazem uso em suas pesquisas.

a) Aplicação da entrevista por telefone exige exímios e experientes

entrevistadores, com baixo índice de recusa.

b) O questionário aplicado via telefone exige que a pesquisa envolva

poucos objetivos para que sua aplicação seja breve, já que o

entrevistado não gosta, em geral, de entrevistas demoradas e

cansativas.

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Quantidade de Dados e Método Escolhido

1. Mais dados podem ser obtidos através da entrevista pessoal;

2. Em seguida temos a enquete pelo correio; e

3. Por último é a adoção da entrevista pelo telefone.

Além disso, uma vantagem das entrevistas pessoais e telefônicas com

relação a entrevista pelo correio é que se requer um menor esforço do

entrevistado no processo de recolher dados para a resposta. Neste caso o

entrevistador formula as perguntas, aprofundando as respostas e registra os

resultados. A entrevista pessoal tem a vantagem adicional de permitir a

apresentação visual das categorias de escala que pode facilitar ao respondente

a compreensão das perguntas formuladas (por exemplo: mostrar cartão com

texto para considerações pelo entrevistado).

Aqui devemos acrescentar dois fatores importantes, não mencionados

pelo autor:

a) A aplicação da entrevista por telefone exige exímios

entrevistadores com baixo índice de recusa.

� O questionário via telefone exige pesquisa envolvendo poucos

objetivos para que sua aplicação seja breve. O entrevistado não

gosta de entrevistas cansativas.

� Qualidade dos dados. Isto se refere ao grau no qual estes estão

livres de um viés potencial como resultado do uso de um

determinado meio de comunicação. Em geral, quando o tema não é

emocional e o questionário é bem organizado e administrado

adequadamente, os dados serão de boa qualidade, independente do

meio que se empregue.

c) Entrevista pelo correio/e-mail

Os investigadores têm encontrado diferenças significativas entre os três

meios quando utilizam perguntas sensíveis ou embaraçosas; por exemplo,

renda da família, comportamento sexual. No caso de temas sensíveis, existe

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evidência de que as investigações pelo correio coletam dados de melhor

qualidade que as entrevistas pessoais. As entrevistas telefônicas se situariam

num ponto intermediário entre estes dois meios.

Outra fonte de distorção resulta da confusão dos entrevistados com a

pergunta formulada. Em uma entrevista pelo correio o entrevistado não pode

tirar dúvidas com o entrevistador; este tipo de entrevista oferece maior

oportunidade para que os resultados sejam indexados devido à confusão. A

entrevista telefônica oferece maior potência de distorção que a entrevista

pessoal, devido à falta de presença física do entrevistador.

Outra fonte de distorção na entrevista pelo correio resulta no fato do

entrevistado ter lido antecipadamente todas as perguntas antes de respondê-

las e, desta forma, pode dar respostas inexatas, pois já sabe de antemão que

se disser algo como SIM, deverá continuar a responder outras perguntas e no

caso de dizer não vai pular várias perguntas evitando ter o trabalho de

respondê-las ou por qualquer motivo pessoal deseja evitá-las.

A qualidade dos dados obtidos nas entrevistas telefônicas tende a ser

melhor que as entrevistas pessoais, posto que o processo de coleta de dados

possa ser supervisionado e controlar-se mais eficientemente. Necessitam-se

menos entrevistadores na enquete pelo telefone e podemos capacitá-los e

supervisioná-los em uma estação central.

Tanto a entrevista pessoal como telefônica têm uma importante

vantagem sobre a entrevista pelo correio, posto que podem ser utilizados para

coletar os dados no momento em que ocorre o comportamento. Isto reduz a

distorção associada com o fracasso de recordar eventos com precisão.

Kinnear e Taylor ainda acrescentam a este tópico: “Uma consideração

final dos dados obtidos está relacionada com as fraudes que podem ser feitas

pelo entrevistador. É muito fácil praticá-las na entrevista pessoal, visto que na

entrevista telefônica podemos monitorá-las diretamente, enquanto na primeira

não. Na entrevista pelo correio não temos o entrevistador, e ela não está

sujeita a distorção que resulta do engano cometido pelo entrevistador”.

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� Taxas de resposta. A taxa de reposta se refere a porcentagem da

amostra original que na realidade se entrevista. Uma baixa taxa de

resposta pode resultar num alto erro de não resposta, o qual pode

invalidar as descobertas da investigação. O erro de não resposta se

refere à diferença entre os que respondem a uma pesquisa e

aqueles que não respondem.

O erro de não resposta é uma das fontes mais graves de erro com que

se depara o pesquisador.

A não resposta pode resultar de duas fontes: (1) não se encontra em

casa e (2) recusas. No primeiro caso, não se encontra em casa, pode afetar

seriamente as entrevistas telefônicas e as pessoais, mas tem uma influência

limitada nas entrevistas por correio. Devido ao fato de que seguramente os

entrevistados podem contestar ao telefone mais facilmente do que abrir a porta

a um estranho, a entrevista telefônica tem menos problemas do tipo “não está

em casa”, que a entrevista pessoal.

3.1.3 Construção do Questionário

Outra grande fonte de erro envolve a construção do questionário que,

como sabemos deve representar com clareza quais são os objetivos da

investigação.

Como diz Sergio Dias et. al. (2012, p. 207)

“Um questionário é um instrumento para coletar informações ou dados. Contém um conjunto de perguntas, aplicadas a um grupo de pessoas, visando obter informações ou dados específicos, para atender aos seus objetivos de pesquisa e para testar hipóteses. O questionário é um conjunto de perguntas que refletem as informações ou os dados buscados pelo pesquisador. O questionário transforma as informações ou os dados desejados pelo pesquisador em perguntas especificas.”

É de todo conveniente, relembrarmos que o questionário pode ser

elaborado para ser aplicado através de entrevista pessoal, enquete pelo

telefone e enquete pelo correio. Cada processo de comunicação implica em

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mudanças e adequações do questionário. Além disso, como já vimos em outro

tópico deste capítulo, os questionários podem ser classificados em:

a) Quanto aos objetivos da pesquisa, em disfarçados e não

disfarçados;

b) Quanto a sua estrutura, em estruturados e não estruturados.

Fazendo-se uma combinação do objetivo e estrutura temos os quatro

tipos de questionários: (já vistos anteriormente)

1. Estruturados-disfarçados

2. Não estruturados-disfarçados

3. Estruturados- não disfarçados

4. Não estruturados- disfarçados

Todas estas classificações e subclassificações influenciam a construção

de questionários.

As primeiras observações que apresentamos de forma sucinta e

objetiva, é que:

1. O questionário, seja qual for a forma de aplicação e comunicação, deve

retratar com fidelidade os objetivos (o detalhamento do problema) da

investigação.

2. Quanto mais rápida for sua aplicação, menos sujeito estará a erros

tanto de aplicação-menos influência do entrevistador (se for através de

entrevista pessoal) e contará com maior aquiescência do respondente

em participar da inquirição, como também com sua boa vontade em

contestar as perguntas.

Feitas estas breves considerações, vamos tecer considerações sobre

sua construção.

Tomaremos como paradigma alguns autores que colocamos em

destaque pela sua contribuição ao assunto do questionário.

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Selltiz/ Jahoda/ Deutsch/ Cook

Segundo os autores, “após o pesquisador ter decidido usar o

questionário, o processo de sua construção pode ser dividido nos seis passos

seguintes:

a) Decidir que informações devem ser procuradas;

b) Decidir que tipo de questionário deve ser usado;

c) Redação de um primeiro rascunho;

d) Reexame e revisão de perguntas;

e) Pré-teste do questionário;

f) Especificação dos processos para seu uso

a) Escolha da informação a ser procurada

O primeiro passo no processo de pesquisa – formulação do problema

exato a ser pesquisado – apresenta a parte de partida para o desenvolvimento

do questionário (como já afirmamos em outra parte deste projeto da tese, o

questionário retrata os objetivos da pesquisa – e estes representam o

detalhamento do problema). Este assunto já foi tratado quando abordamos o

tópico “formulação do problema”.

Vamos agora, progredir no sentido da “construção do questionário.”.

b) Decisão quanto ao tipo de questionário a ser usado

A forma adequada de pergunta depende do modo de aplicação, do

assunto, da amostra de pessoas que devem ser abrangidas (nível social,

educacional, etc), bem como do tipo de análise e interpretação que se pretende

fazer.

Cada classe de conteúdo de questionário pode sugerir dois tipos

nitidamente diversos de itens- os que pedem, explicitamente, a informação

desejada, e aqueles em que a informação desejada é inferida de respostas

voltadas para outros assuntos. Por exemplo, em vez de perguntar diretamente

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pelo ajustamento social da pessoa, é possível perguntar se a pessoa tem

dificuldade em viver bem como a maioria dos colegas.

O pesquisador precisa também decidir se deve usar perguntas abertas

ou fechadas. Como sabemos, a informação é obtida no questionário e na

observação (principalmente na participante- na não participante existe, pelo

menos, um roteiro de perguntas que são aplicadas de maneira flexível e até

podem ser deixadas de lado e substituídas por outras.).

c) Primeiro Rascunho do questionário

Selltiz e outros continuam a discorrer sobre o assunto construção do

questionário.

Provavelmente a melhor maneira de começar é delinear ou enumerar os

tópicos para o questionário, considerar cuidadosamente qual tende a ser a

melhor sequência de tópicos (não a sequência lógica, mas a melhor sequência

psicológica do ponto de vista da pessoa que responde e, depois escrever as

perguntas.).

Além das perguntas consideradas essenciais, o autor do questionário às

vezes considera útil incluir algumas outras perguntas, destinadas a verificar a

precisão das respostas ou medir a influência de mudança nas frases. Por

exemplo, duas ou mais questões, grosseiramente equivalentes ou muito

relacionadas entre si, mas bem separadas no questionário, podem ser

propostas a fim de medir a consciência das respostas. O efeito de diferentes

frases pode ser verificado através da construção de duas formas paralelas do

questionário, que devem ser usadas com amostras equivalente da população.

As duas formas têm algumas perguntas em comum, mas algumas outras são

apresentadas de forma diferente, a fim de que seja possível medir os efeitos de

tais diferenças. Os questionários já rascunhados para o estudo do mesmo

problema, ou de problemas semelhantes, podem ser utilíssimos. No entanto, o

bom construtor de questionários representará as perguntas e procurará não

apenas aperfeiçoá-las, mas também completá-las ou substituí-las, por novas

formas, sempre que isso possa ser feito com vantagens.

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d) Reexame e Revisão das Perguntas

No processo de revisão é muito importante suplementar nossos esforços

com as reações críticas de pessoas que conhecem os métodos de questionário

e o tipo de problema a ser enfrentado. Na medida do possível, os especialistas

devem representar diferentes abordagens e refletir diferentes orientações

sociais. Em poucos casos os questionários de pesquisa social deixam de

aperfeiçoar-se com a crítica direta de pessoas com diferentes valores e

diferente “visão” social. Além disso, o questionário deve ser examinado quanto

a deficiência técnica, independente de viés e pontos cegos, devido a valores

pessoais.

e) Pré-teste do Questionário

O pré-teste é uma “experiência com o questionário, a fim de verificar se

está adequado e quais as mudanças necessárias, antes do inicio do estudo

completo”. O pré-teste apresenta um recurso para a identificação e solução de

problemas não previstos na aplicação do questionário – por exemplo, as frases

e sequências das perguntas, ou seu comprimento. Pode também indicar a

necessidade de outras perguntas, ou a eliminação de algumas delas.

Geralmente, se os passos do pré-teste são corretamente realizados, poucas

entrevistas são suficiente para realizá-lo. No entanto, às vezes é necessário

realizar muitas entrevistas, a fim de ter a certeza de que as pessoas –

diferentes quanto à educação, temperamentos e opiniões – entenderão as

perguntas e darão respostas completas e adequadas. As pessoas

entrevistadas no pré-teste devem ser semelhantes, quanto às suas

características, às pessoas que serão entrevistadas no estudo final.

Os que fazem as entrevistas do pré-teste (os chamados pré-testadores –

entrevistadores muito experientes e com excelente capacidade de observação

e interpretação e com bom domínio da língua portuguesa) devem compreender

claramente quais os objetivos do estudo. Devem ser informados do objetivo

geral (formulação do problema) e da intenção de cada pergunta, pois precisam

verificar se a pergunta é compreendida e respondida de maneira adequada. Ao

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realizar as entrevistas, devem estar abertas para todas as reações e

comentários das pessoas que respondem, e devem registrá-las literalmente.

Devem ter instrução para as perguntas que não estejam claras... É também

importante fazer com que o entrevistador registre suas observações, críticas e

sugestões pessoais. Quais as dificuldades que encontrou para localizar e

entrevistar as pessoas? Quais os aspectos que pareciam provocar perturbação

ou resistência? Quando teve dificuldade para manter boa relação com o

entrevistado? Será que as pessoas ficaram aborrecidas ou impacientes? Quais

as perguntas em que as pessoas solicitaram outras explicações? Havia espaço

suficiente para o registro de respostas?

Quando há necessidade de mudanças muito grandes – por exemplo,

acrescentar perguntas inteiramente novas – deve-se realizar uma segunda

seção de pré-teste. Na realidade, às vezes é necessário fazer uma série de

quatro (seções) ou mais de pré-testes e revisões.

À guisa de complemento com base em nossa trajetória como

entrevistador, pré-testador e verificador de campo (cerca de quatro anos)

podemos dizer: *

� Escapou aos eméritos dos pesquisadores (Sellz et. al.) que um dos

desafios na construção do questionário é “adaptar as perguntas do

questionário à semântica do grupo para o qual se destina”. Isto é,

durante a realização dos vários pré-testes de que participamos, às

vezes, só de ler o questionário que íamos pré testar já antevíamos que

não estavam adequados à linguagem – por exemplo, das donas-de-casa

– ou que as perguntas estavam fora de ordem, ou que sobravam ou

faltavam perguntas. Enfim, que esse pré-teste ia dar muito trabalho para

torná-lo adequado aos objetivos da pesquisa. Cabe aqui uma indagação:

Como se constata que o resultado do pré-teste corrigiu as anomalias

mencionadas? Quando ele flui rapidamente, ou seja, o entrevistador faz

a pergunta e o respondente contesta imediatamente, sem hesitação. Às

vezes, deparamos com questionários de muitas perguntas que ensejaria

pensarmos que sua aplicação seria longa e demorada. Mas, se o pré-

teste tiver sido bem realizado, as respostas tornam-se adequadas e

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rápidas e o questionário flui de forma muito satisfatória. Costumamos

dizer, no setor de campo, que praticamente nenhum questionário

elaborado no gabinete consegue ser perfeito e que, após a realização do

pré-teste, voltará com modificações e aperfeiçoamentos. Infelizmente,

através dos anos temos notado a falta de pré-testadores eficientes e que

conseguem melhorar a qualidade do questionário. Isso se torna grave já

que podemos dizer “toda vez que o questionário é mal feito e/ou mal pré-

testado, o entrevistador que foi aplicá-lo intervêm, a todo instante, para

explicar ao entrevistado o que aquela (s) pergunta(s) quer(em) dizer. E

isso introduz um “viés” na entrevista. O bom questionário faz a pergunta

e a resposta é dada sem hesitação. Se ele tiver que dar explicações,

sem querer estará embutindo, no seu esclarecimento, sugestões e

opiniões que distorcerão a resposta do respondente. A conclusão a essa

situação é uma só:” o questionário foi mal redigido e não sofreu uma boa

seção de pré-teste.”.

Para reforçar o que dissemos vejamos o que nos diz Boyd&Westfall

(1987, pp. 308-309):

“Antes de um questionário estar pronto para o trabalho de campo, precisa ser testado em condições especiais. Nenhum pesquisador pode preparar um questionário tão bom que não possam ser descobertas melhorias em testes de campo.

Esses pré-testes são feitos de maneira mais satisfatória por entrevistas

pessoais, mesmo se a pesquisa tiver de ser feita por telefone ou pelo correio

tradicional ou via internet.”

f) Revisão do Questionário e Especificação dos Processos para

seu uso.

Voltando aos passos programados por Selltiz et. al.:

“Depois da complementação de todos os passos precedentes, o questionário deve estar pronto para uso. Resta apenas fazer uma revisão final, de forma que o grupo de pesquisa verifique que todos os elementos são examinados: o conteúdo, a forma e sequência de perguntas; o espaçamento, a disposição e a aparência do material; a aplicação minuciosa de processos para o emprego do questionário”.

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O trabalho de revisão procura, fundamentalmente, fazer com que o

questionário se torne tão claro e fácil quanto possível. As instruções para a

impressão ou a mimeografia devem ser apresentadas de maneira exata,

acentuando-se a legibilidade, amplo espaço para as respostas (principalmente

no caso das perguntas abertas de razão), facilidade para que os

entrevistadores e entrevistados acompanhem as perguntas juntos e escrevam

as respostas.

Rossi (2012,pp. 207-230), acrescenta alguns pontos interessantes sobre

a construção do questionário. Vejamos alguns deles:

“O pesquisador deve decidir se a aplicação do questionário se fará por meio de entrevista por telefone por carta, pessoalmente, por e-mail ou pela internet. Em suma, a maneira como o questionário será aplicado tem importância critica direta em sua elaboração.”

a) Na entrevista por telefone, o respondente não vê o

questionário, o que leva à elaboração de perguntas simples,

rápidas e objetivas;

b) A pesquisa por carta (correio/ permite que o respondente leia o

questionário, mas, devido à ausência do pesquisador ou

entrevistador, as perguntas devem conter instruções

detalhadas de preenchimento). Assim, como na entrevista por

telefone, recomenda-se o uso de perguntas simples, pois caso

o entrevistado tenha dúvida, não haverá ninguém que possa

auxiliá-lo19.

c) Quando o questionário é aplicado pessoalmente, o

respondente vê tanto o questionário quanto o entrevistador.

Isso permite maior interação e esclarecimento de dúvidas.

Assim, esse tipo de abordagem é recomendado para

19 Nota do autor: aqui reside uma das desvantagens do emprego da entrevista pelo correio, o respondente pode procurar uma pessoa amiga ou parente, ou ainda consultar uma publicação para se ilustrar sobre o assunto distorcendo o resultado esperado pelo pesquisador. Há casos extremos em que aquele que deveria responder ao questionário não o faz, sendo substituído por outra pessoa com mais conhecimento.

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perguntas complexas e para questionários com maior variação

de perguntas;

d) A abordagem por e-mail apresenta características próximas a

abordagem por carta e também requer perguntas simples e

diretas, com instruções detalhadas;

e) A pesquisa na Internet pode apresentar sofisticação mais alta,

devido aos recursos tecnológicos disponíveis para formatação

do questionário e das perguntas. Recursos como imagens

tabelas, gráficos e outros facilitam a sofisticação de perguntas.

3.2 Método de Observação

“A observação abrange o registro do comportamento do investigado, é o processo de reconhecimento e registro do comportamento das pessoas, objetos e eventos.” (Kinnear e Taylor, 1994, p.301).

Malhotra(2005,pp.147-150) considera que

“os métodos de observação envolvem o registro de padrões de comportamento de pessoas, assim como dados sobre objetos e eventos de forma sistemática para obter informações sobre o fenômeno de interesse. O observador não interroga nem se comunica com as pessoas que estão sendo observadas. As informações podem ser registradas à medida que os eventos ocorrem ou a partir de registros passados.”

Neste ponto devemos fazer uma retificação no que transmite Malhotra:

“O observador não interroga nem se comunica com as pessoas que estão sendo observadas. Isto só ocorre quando a observação é do tipo não participante ou mecânica, ou seja, o observador não se envolve com a pessoa observada. Mas no caso da observação pessoal – participante, há sim uma interação com o observado, por exemplo, compra simulada em que um observador simula estar comprando um produto para observar a conduta do vendedor de uma loja: Neste caso existe conversação entre ambos”.

Já Phillips (1974, pp.201-204) apresenta que

“os métodos observacionais para coleta de dados são técnicas para obter informação sem que o pesquisador precise fazer

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perguntas diretas. Podem utilizar um ou mais sentidos e os métodos desenvolvidos até o momento são centralizados em sua capacidade de ver e ouvir...”

Embora também acrescente que “o pesquisador, naturalmente, não precisa

escolher entre processos observacionais e de entrevistas porque ambos

podem ser facilmente combinados.” Para melhor elucidar o que Phillips

apresenta vejamos o seguinte exemplo. Um observador descreve o ato de um

supermercado: entrada na seção, onde se situou para escolher o produto

desejado, produto e marca escolhida e retirada da gôndola. No entanto faltou

saber a razão da escolha. Para isso, posteriormente para que a pessoa

observada possa justificar sua conduta à saída do supermercado, aplica-se um

questionário estruturado em que solicita que o produto e marca que ela

escolheu naquela seção – e o principal: por quais razões escolheu a marca

comprada. Desta forma, o pesquisador aplicou dois métodos de coleta de

dados – observação e questionário para obter a resposta que necessitava.

3.2.1 Vantagens da Observação

Como afirmou Boyd&Westfall (1987, p.159), “as vantagens deste método

de coletar dados são óbvias. Os acontecimentos são registrados à medida que

ocorrem. É desnecessário confiar na boa vontade e capacidade dos

entrevistados em responder exatidão. Além disto, a influência que o

entrevistador ou a apresentação das questões pode ter sobre os entrevistados

é eliminada ou reduzida. Portanto, aos dados coletados por observação são

mais objetivos e, comumente, mais precisos. A comparação entre os dados

obtidos por observação e por questionário foi feita em um estudo sobre a

importância da marca nas compras do consumidor. Vendedores em diversas e

variadas lojas varejistas declaram qual a porcentagem de consumidores que

especificaram a marca ao comprar, e qual a porcentagem dos que

especificavam a marca e mudavam para outra. Foram depois colocados

observadores para notar esses mesmos fatores. Resultaram dados

completamente diferentes.

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Comparação dos dados obtidos por observação e questionário

Item Observação % Questionário %

• Porcentagem de fregueses especificando a marca especial 67,8 57,5

• Porcentagem de fregueses especificando a marca e depois mudando para outra 6,9 41,6

Fonte: Over the counter on Sales By Brands Liberty Division of Marketing Research Nova Iorque, 1933.

É especialmente importante notar que a diferença nos resultados é muito

maior na segunda pergunta - 6,9% contra 41,6%, onde a capacidade do

entrevistador como vendedor pode ser discutida (Boyd e Westfall, 1987, pp.

159-160).

Outra vantagem do método de observação que, em nossa opinião deve

ser enfatizada, é que o método não necessita confiar na memória dos

entrevistados e, como já vimos em geral a memória é fraca – não é confiável.

3.2.2 Desvantagens da observação

“Dados de observação proporcionam percepção sobre qual

comportamento está ocorrendo, não por quê.” Atitudes, motivações e valores

são todos perdidos com o método por observação. Além disso,

comportamentos altamente pessoais relacionados com higiene pessoal ou

interações íntimas de família não estão disponíveis para observação.

Os indivíduos têm a tendência de apenas observar o que querem, e isso

pode fazer com que um observador deixe passar despercebidos aspectos

importantes do comportamento. “Essa diferença de percepção entre

observadores ameaça a integridade da abordagem.” (Boyd & Westfull, 1987,

pp. 159-160)

Antes que prossigamos, é de todo conveniente classificarmos as formas

de aplicação do método de observação. Segundo Kinnear e Taylor as técnicas

de observação podem ser classificadas de cinco maneiras.

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1. Observação natural 1.1. Observação artificial

2. Observação oculta

2.1. Observação não oculta.

3. Observação estruturada 3.1. Observação não estruturada

4. Observação direta

4.1. Observação indireta.

5. Observação humana 5.1. Observação mecânica.

Os autores ainda acrescentam:

“geralmente, as técnicas de observação apresentam certos graus destas características ao Invés da distinção dicotômica que se apresentou anteriormente”.

À guisa de contribuição temos classificada a observação da seguinte

forma.

1. Observação pessoal

1.1. Participante.

1.2. Não participante.

2. Observação mecânica

Esta classificação, de certa forma envolve aquela propagada por Kinnear

e Taylor (1994, pp. 301-302), pois ao aplicá-la, temos representado as

deferentes 5 (cinco) maneiras daqueles autores.

Vejamos os esclarecimentos apresentados por Kinnear e Taylor a

respeito das 5 (cinco) maneiras que classificaram as técnicas de observação.

1. Observação natural vs. artificial. A observação natural envolve a

observação do comportamento tal como se apresenta normalmente

no meio ambiente, por exemplo, fazer compras em um supermercado

no setor de comestíveis. A observação artificial compreende a

criação de um ambiente artificial e a observação dos padrões de

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comportamento que apresentavam as pessoas situadas neste meio

ambiente, por exemplo, fazer que as pessoas comprem em um

supermercado simulado (criada para tal situação).

A vantagem de um meio ambiente mais natural é que existe uma maior

possibilidade de que o comportamento exibido reflita, com maior precisão, os

padrões reais de comportamento. Em contraste isto deve aumentar valor dos

custos agregados por se ter que esperar que suceda o comportamento

esperado e a dificuldade para medir o comportamento em um ambiente natural.

2. Observação oculta versus observação não oculta. O ocultamento

se refere ao feito de que os respondentes estejam ou não

conscientes de que estão sendo observados. O papel do observador

deve ocultar-se em situações nas quais as pessoas se comportariam

de maneira diferente se sabem que estão sendo observadas. Podem

empregar-se diversos enfoques como espelhos de dupla face,

câmeras escondidas e observadores vestidos como vendedores para

ocultar a observação.

3. Observação estruturada versus observação não estruturada. A

observação estruturada é apropriada quando o problema está

definido claramente e a especificação das necessidades de

informação (objetivos visados pela pesquisa) permite uma

identificação precisa dos padrões de comportamento que devem

observar-se e medir-se. A observação não estruturada é apropriada

em situações nas quais ainda não se tem formulado o problema e se

necessita uma flexibilidade na observação para desenvolver e

levantar hipóteses que sejam úteis para definir o problema e

identificar as oportunidades.

A observação estruturada é mais apropriada para os estudos de

investigação concluinte. Quando se utiliza o enfoque estruturado, o

investigador deve especificar detalhadamente o que se vai observar e a forma

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como devem registrar-se as medições. A estruturação da observação aumenta

a confiabilidade dos dados.

A observação não estruturada é mais apropriada para os estudos de

investigação exploratória. Neste caso, o observador é livre para monitorar

aqueles padrões de comportamento que são pertinentes na situação de

decisão. Devido a que existe uma grande oportunidade de viés por parte do

observador, os achados da investigação devem tratar-se como hipóteses que

se poderão colocar a prova com um projeto de investigação concluinte.

4. Observação direta versus observação indireta. Observação direta

se refere à observação do comportamento tal como ocorre

realmente. A observação indireta se refere à observação de algum

registro do comportamento passado. Neste caso, se observam os

efeitos do comportamento em vez de observar o comportamento em

si. Isto envolve o exame dos “rastros físicos”, um processo que inclui

aspectos tais como contar o número de embalagens de licor vazias

que aparecem nas latas de lixo para estimar o consumo de licor das

famílias. Uma auditoria de dispensa é um exemplo do uso de rastros

físicos. Neste caso, o observador pergunta ao entrevistado se pode

inspecionar sua dispensa em busca de certos tipos de produtos. Já o

emprego exitoso do método de observação indireta se baseia na

habilidade do investigador para identificar criativamente aqueles

“rastros físicos” que pode proporcionar dados úteis para o problema

que se está tratando.

5. Observação humana vs observação mecânica. Em algumas

situações é apropriado complementar ou substituir o observador

humano por algum tipo de observador mecânico. A razão pode ser

incrementar a precisão, diminuir os custos ou requisitos especiais de

medição. Por exemplo, utilizar gravadores, filmadoras, audiômetro

(acoplado aos aparelhos de rádio) ou tevêmetro (acoplado aos

aparelhos de TV), etc.

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3.3 TIPO DE PERGUNTAS

Ainda em relação à construção do questionário, devemos levar em

consideração quais os tipos de perguntas que iremos adotar e, além disso,

ponderar sobre sua aplicação e conteúdo.

Como nos lembra Boyd & Westfall (1087,pp. 281-306):

“Uma vez que se conheça a informação necessária e o método de comunicação a ser usado, o pesquisador está pronto para começar a formular seu questionário. Costuma-se dizer que o conteúdo das perguntas é a parte mais complexa na confecção do questionário”.

Inicialmente, devemos classificar os tipos de perguntas que podem ser

utilizadas no questionário, segundo Mattar (1996, pp.106-127)

Perguntas com respostas:

• Abertas.

• Fechadas:

� Dicotômicas

� Escolha única

� Escolha múltipla

As perguntas abertas podem ser simples – por exemplo:

1.1. Qual a marca de cerveja que o (a) conhece ou em que já ouviu

falar?

1.2. Qual (ais) a (s) marca(s) de cerveja que o(a) Sr. (a) costuma

tomar com mais frequência?

E também podem ser abertas de razão. Continuando com Mattar: “Desvantagem das perguntas abertas”

- Tempo e custo elevado e grandes dificuldades para codificação. Em

pesquisas com amostras muito grandes, o tempo exigido para a leitura de cada

resposta e sua codificação torna praticamente inviável a utilização de

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perguntas com respostas abertas. Além de exigir pessoal altamente

especializado para realizar a codificação e tabulação. Esta é extremamente

demorada e muito pouco precisa, pois depende da interpretação, subjetiva de

cada codificador (são previstas com base na realização de pré-testes. Que

depois são tabuladas, com as perguntas totalmente abertas e de razão e

tabuladas as razões mais mencionadas e fixadas no questionário*), o trabalho

de codificação apresenta inúmeras dificuldades; (nota: o que o autor Mattar

quis dizer é que abaixo da pergunta são fixadas as categorias de respostas

mais mencionadas no pré-teste e o entrevistador, na medida em que o

respondente dá sua resposta, ele procura enquadrá-la naquela(s) categoria(s)

já previstas. Gostaríamos de acrescentar que em nossas pesquisas – mais de

200 com perguntas abertas – preferimos correr o risco que nossos

entrevistadores não anotem ao pé-da-letra o que dizem os entrevistados, do

que transferir para eles a função de analistas e interpretadores do que dizem

os respondentes e procurem enquadrar simultaneamente à fala do

entrevistado, aquilo que já está previsto nas categorias de respostas.

Praticamente, acrescentamos que tais frases são frases de horóscopo, pois

são geralmente amplas o que leva o entrevistador ao erro de enquadramento

na frase correta. Ademais, as frases previstas não são bem aquilo que o

entrevistado quis transmitir – parece que é, mas não é. Há cerca de 20 anos,

realizamos uma experiência com dois entrevistadores com larga experiência e

com excelentes conhecimentos da língua portuguesa, inclusive com a

realização de teste de interpretação de texto. Explicamos detalhadamente a

eles que se tratava de um estudo com a presença de um gravador disfarçado

do entrevistado. Antes, com os mesmos entrevistadores, havíamos realizado

40 entrevistas e seus resultados cuidadosamente tabulados e as razões

subdivididas em categorias de respostas mais frequentemente mencionadas,

haviam sido fixadas logo abaixo das perguntas abertas com espaço em branco

para o caso deles não conseguirem enquadrar as respostas nas categorias

previstas. Apesar disso, ficou mais do que comprovado, que o método não

funcionou e cerca de 75% dos enquadramentos dos experientes

entrevistadores (já sabedores que estavam sendo observados com o gravador)

não foram corretos.

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Voltando a Mattar.

- Quando aplicadas em forma de entrevistas, possuem grande potencial de viés

dos entrevistadores. Raramente um entrevistador consegue registrar tudo o

que é respondido. As respostas são registradas de forma resumida e segundo

a “interpretação” do entrevistador.

- Mattar também mencionou: quando aplicadas em questionários auto

preenchíveis as perguntas abertas as respostas trazem problemas em seu

preenchimento para a grande maioria das pessoas que têm dificuldades de

relação. Além disso, as pessoas tendem a escrever de forma mais reduzida

(lacônicas) do que se estivessem falando a um entrevistador.

- Finalmente, há dificuldade natural de entender uma infinidade de diferentes e,

às vezes, ilegíveis manuscritos.

- Acrescentaríamos20, que quando atuamos no campo, como entrevistadores,

por quase 4 anos, nunca procurávamos enquadrar a resposta dos

entrevistados nas categorias previstas e colocadas abaixo das perguntas

abertas de razão. Preferíamos escrever as respostas nas linhas deixadas em

branco e, só depois, com mais calma, procurávamos enquadrá-las nas

previamente fixadas. O mais importante é que quando tentávamos fazer esta

operação, notávamos que dificilmente lográvamos enquadrar as categorias de

respostas dos entrevistados em alguma das categorias previstas, pois,

semanticamente diferiam no seu conteúdo. Quantos erros se cometiam e se

cometem na pesquisa de marketing e, o que é pior, tais práticas são utilizadas

com sofreguidão, pela maioria dos Institutos de Pesquisas, no afã de acelerar o

prazo de tabulação e diminuir os custos da pesquisa.

Já Selltiz et. al. (1965, pp. 288-289) dizem: “A pergunta aberta” destina-

se a permitir uma resposta livre, e não limitada por alternativas apresentadas. A

característica distintiva das perguntas abertas é o fato de apresentarem uma

questão, mas não apresentam nem sugerem qualquer estrutura para a

resposta: a pessoa tem oportunidade de responder com suas palavras e com

seu quadro de referência. 20 Nota do autor

Page 116: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO SOBRE O ERRO NÃO … Barbosa Zanotta.pdf · também consistem de erros de falta de resposta e de erro de resposta.” (Malhotra, 2001, p.117) Justificativa

116

Eis alguns exemplos de perguntas abertas de entrevistas:

Agora, que você vive em (cidade) há (10) anos, poderia dizer-me o que

acha desta cidade?

a) Do que você gosta mais na cidade?

b) Do que você não gosta na cidade?

c) O que me diz de seu bairro? O que você acha dele?

d) O que você acha da vida num conjunto residencial público?

...quando as perguntas abertas são usadas em entrevistas padronizadas, as

perguntas e sua ordem são pré-estabelecidas, mas o entrevistador tem

liberdade para repetir a pergunta se a resposta não for adequada ao que se

perguntou, bem como usar, segundo o seu critério, interrogações não diretivas

(perguntas neutras diríamos), como por exemplo: “Você teria mais alguma

coisa a dizer? (criticaria esta forma de fazer a pergunta, visto que ela motiva o

respondente a responder: “Não tenho mais nada a dizer”, é como ocorre com

vendedores que começam sua entrevista de vendas com a pergunta):” A

senhora não quer comprar, não?”.

Continuando com Selltiz – o que faz você pensar que...? Por quê? De que

maneira...? Etc. A tarefa do entrevistador é estimular o entrevistado a falar

livremente e a dizer tudo, ao responder às perguntas (abertas) incluídas na

ficha (no questionário) da entrevista, e deve fazer também um registro literal de

suas respostas.... Frequentemente, a análise (tabulação) de perguntas abertas

(de razão) é difícil e dispendiosa. É preciso criar categorias (de respostas) para

a análise treinar codificadores, e as respostas devem ser codificadas em uma

das categorias antes de serem tabuladas e estatisticamente analisadas. “A

análise (tabulação) das perguntas abertas (de razão) é complexa e muitas

vezes difícil”.

Selltiz et. al. sob o subtítulo “O Estabelecimento de Categorias” (1965,

pp. 440-443), acrescentam: “Num levantamento de bairro, a amostra da

população devia responder à seguinte pergunta: “Que tipo de pessoas vivem

neste bairro? ““. Eis algumas das respostas:

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• Quase que só pessoas pobres como eu.

• Pessoas de cor e nós.

• Negros, italianos, judeus e muitos outros.

• Existe muito que dizer sobre as pessoas que moram por aqui. Mas não

quero complicações. A gente precisa viver onde pode.

• Pessoas de cor.

• É um bairro “duro”. Aqui vivem todos os tipos de pessoas.

• Sei que existem alguns irlandeses.

• Muitos judeus.

• Um grande número de negros

• Realmente não sei, sou novo aqui.

Evidentemente, para que várias centenas de respostas como essas possam

ser organizadas de modo a serem usadas para responder às perguntas da

pesquisa, precisam ser agregadas em certo número de categorias. A fim de

decidir quais são as categorias significativas, é preciso escolher algum princípio

de classificação. Suponha-se que esse estudo estivesse voltado para à

consciência da existência do grupo negro; o principio adequado de

classificação seria um princípio baseado em referência explicita aos negros.

Esse princípio de classificação imediatamente sugere duas categorias:

• Menciona negros

• Não menciona negros

Essas duas categorias formam um “conjunto de categorias”.

Nosso comentário

Como se pode observar, muitas vezes uma pergunta deixada totalmente

aberta pode gerar esse excesso de categorias de respostas, que dificulta o seu

estabelecimento, bem como sua tabulação e não atende ao objetivo visado.

Neste caso, bastaria apresentar-se aos entrevistados as duas alternativas (já

mencionadas) e resposta mais restrita e fácil de responder e, mais fácil de

tabular.

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Mais adiante Selltizetalli (p. 446-447) comentam. “Embora as categorias

devam ser sempre definidas dessa maneira, a tarefa é muito mais difícil com

alguns tipos de conteúdo do que com outros (derivados das perguntas

abertas)”.

Por exemplo, Merton e seus colaboradores (estudo inédito) perguntaram

às senhoras brancas: “O que acha que os moradores de cor sentem por

viverem na mesma comunidade com brancos?: “E perguntaram a senhoras

negras: “O que acham que os moradores brancos sentem por viverem na

mesma comunidade com negros?” As respostas iam desde atribuição de

atitudes muito favoráveis até atribuição de atitudes muito desfavoráveis. Eis

alguns exemplos disso:

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• Desejam viver aqui, de forma que possam dizer que são iguais.

• Parecem muito amistosos conosco.

• Gostam da ideia.

• Penso que não se incomodam; nós nos entendemos.

• Alguns gostam disso outros não.

• Pensam que isso os rebaixa.

• Não estou em contato com eles, e por isso não sei.

• Detestam isso.

De acordo com a discussão anterior, não seria difícil criar um conjunto

simples de categorias, baseadas no principio de classificação de atitude

favorável à outra raça. Neste caso, seria necessária uma categoria para atitude

favorável, uma para desfavorável, outra para neutra.

Cabe ainda21 notar, nas perguntas abertas de razão, que o espaço físico

deixado para a resposta influencia o tamanho desta, ou seja, o grau em que o

entrevistador se sente mais ou menos obrigado a explorar mais o que o

respondente tem a dizer sobre o assunto tratado: no caso de o espaço para a

resposta ser maior; e menor no caso de o espaço para a resposta ser menor.

Há um aspecto psicológico por parte do entrevistador que se sentirá obrigado a

preencher o espaço deixado para a resposta, se este for maior e desobrigado

se o espaço for menor.

Durante uma pesquisa que realizamos para a empresa Holambra sobre

flores, junto a uma amostra de donas-de-casa na cidade de São Paulo,

elaboramos um questionário com várias perguntas abertas de razão e com

bom espaço para as respostas. Naquele momento, estávamos desprovidos de

boas entrevistadoras com experiência na aplicação de questionário com

perguntas abertas de razão e, portanto, que soubessem explorar bem as

pessoas respondentes. Entramos em contato com um Instituto de Pesquisa,

nosso amigo, solicitando entrevistadoras com esse perfil. Indicaram-nos duas e

até acrescentaram que elas eram cognominadas como “as rainhas das

perguntas abertas de razão”. Apresentaram-se ao nosso supervisor de campo

21 Nota do autor

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120

para conhecerem o questionário e receberem instruções sobre seu

preenchimento. Nós, ao lado, numa sala contígua estávamos curiosos. E,

surpresos, ouvimos as seguintes expressões logo que começaram a ler o

questionário: “Nossa, que questionário exploratório. Quanta pergunta aberta de

razão”. Nosso supervisor ironizou dizendo: “Se vocês acham que o espaço

deixado para resposta não é suficiente, podem escrever no verso da página

que está vazio e disponível”. “Isso abriu em nós uma desconfiança e ficamos

no aguardo do retorno das entrevistadoras.”.

Lá pelas 16 horas retornaram e cada uma apresentou 3 entrevistas

preenchidas (o que era pouco).

Nosso supervisor procurou ler as entrevistas e teve uma surpresa

dizendo: “Mas o que é isso, como vocês foram capazes de preencher os

questionários desta forma?”.

Não pude suportar a curiosidade e adentrei a sala do supervisor, o que

vi era inacreditável. Vejamos.

Pergunta: Qual a flor que a Sra. mais gosta? Por quais motivos?

Resposta: É a rosa.

Eu gosto mais dela porque é mais bonita. É só isso! Já disse, é mais bonita! É só isso22.

Conclusão: para poderem preencher o espaço grande deixado para a

resposta, aumentaram o tamanho das letras. É lógico que foram dispensadas.

Outro aspecto importante envolvendo as perguntas abertas de razão,

são os chamados vícios de linguagem dos entrevistadores, ou seja, ao

escreverem as respostas dos entrevistados o entrevistador – cada um de per si

- escrevem frases que usam como um recurso, taquigráfico particular e que só

ele conhece. Desta forma, fica notório a influência do entrevistador que coloca

palavras suas como se tivessem sido ditas pelos respondentes.

Perguntas fechadas,

22 Nota do autor: “O tamanho das letras eram bem maiores que os que foram colocados aqui”.

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Adotaremos, como o fizemos anteriormente, a classificação de Mattar.

Segundo Mattar (1996, pp. 106-127) as perguntas fechadas se subdividem em:

• Dicotômicas (ou duplas);

• Escolha Única;

• Escolha Múltipla; e de

• Escala

Vejamos quais os erros não amostrais que podem ocorrer na confecção

de tais tipos de perguntas.

• Perguntas Dicotômicas

Segundo Mattar, as perguntas dicotômicas com respostas fechadas que

apresentam apenas duas opções de respostas, como: sim/não,

concordo/discordo, faço/ não faço, sou/não sou, aprovo/desaprovo, etc.

geralmente além das duas alternativas “não sei” ou “não tenho opinião”.

Desvantagens das perguntas com respostas dicotômicas: (ainda

segundo Mattar)

• Pode apresentar erro de medição, se o tema foi tratado de forma

dicotômica, quando na realidade apresentava diversas nuances

entre, por exemplo, a concordância total e a discordância total;

• Questões com respostas dicotômicas são muito suscetíveis de erros

sistemáticos, dependendo de como a pergunta é elaborada. Um

exemplo deste problema seria a pergunta “Você compraria um

automóvel da marca Santana que fosse vendido pelo mesmo preço

de um Gol”? Sim, não, não sei.

Nosso comentário23: “à pergunta apresentada” no exemplo é indutiva,

pois é evidente a disparidade de preço entre (o) veiculo Santana (bem mais

caro) e o Gol. Nosso exemplo é o seguinte: Nem sempre a pergunta dicotômica

o é. Por quais razões? Eis o exemplo: “O(a) Sr(a) pretende comprar um

automóvel no próximos seis meses? Neste caso, durante o pré-teste do 23 Nota do autor.

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questionário verificaríamos que as respostas não seriam apenas dicotômicas:

sim ou não ou não sei; mas muitas outras:

• Talvez

• Vai depender se eu estiver empregado

• Provavelmente vou comprar

• Não sei ainda, tenho que pensar para depois dar uma resposta

mais correta, etc.

Como vemos, a pergunta é do tipo ESCOLHA MÚLTIPLA – seria mais

acertado colocá-la com outras categorias de respostas, por exemplo:

• Compraria ( )

• Provavelmente compraria ( )

• Provavelmente não compraria ( )

• Não compraria ( )

Já Malhotra (2001, p.283), acrescenta:

“A decisão de utilizar uma questão dicotômica depende de o entrevistado abordar o problema como uma questão tipo sim ou não. Embora as decisões não raro se caracterizem como escolhas binárias ou dicotômicas, o processo subjacente de tomada de decisão pode refletir uma incerteza, que é captada por respostas de múltipla escolha. Por exemplo, dois indivíduos podem ter a mesma chance de adquirir um carro novo, se as condições econômicas permanecerem favoráveis. Entretanto, o individuo que se considera otimista em relação à economia responderá “sim” enquanto que o pessimista, responderá “não”.”.

• A resposta pode ser influenciada pelo fraseado da questão. A

afirmação de que “os indivíduos são mais responsáveis’’ do que

as condições sociais pelo crime e igualdade neste país “resultou

na concordância de 59,6% dos entrevistados, entretanto, em uma

amostra emparelhada (quando os dois conjuntos de observações

estão relacionados aos mesmos respondentes e compara-se a

diferença entre as opiniões dos dois grupos de indivíduos), que

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respondia a afirmação oposta, “as condições sociais são mais

responsáveis do que os indivíduos pelo crime de ilegalidade neste

país, 43,2% (em oposição a 40,4%) concordam. Para contornar

este problema as questões devem ser formuladas de uma

maneira em metade dos questionários, e na forma oposta na

outra metade. Isto é o que se chama de técnica de voto dividido.”

• Pergunta de Escolha Múltipla

Voltando a Mattar (1996, pp.109-111), nesse tipo de pergunta, o

pesquisador deve preocupar-se com dois aspectos: o número de alternativas

oferecidas e os vieses de posição. O número de alternativas oferecidas deve

atender a dois princípios básicos.

� Ser coletivamente exaustivas e mutuamente exclusivas quando

incluírem todas as possíveis respostas alternativas. Dizemos que

as alternativas são mutuamente exclusivas quando os

respondentes conseguem identificar uma alternativa que

claramente representa sua resposta.

� O problema com os vieses de posição ocorrem em função da

tendência, quando se trata de palavras, à escolha das opções de

resposta que aparecem primeiro no leque de opções em

detrimento das que aparecem mais para o final quando se trata

de números – por exemplo, que nota de 1 a 10 o(a) Sr(a) daria

para cada um destes fatores que estão neste cartão? – essa

tendência de escolha de resposta passa a ser o número que

ocupa a posição central.

Mattar continua apresentando outras desvantagens da pergunta de

Escolha Múltipla.

• Exigem muito tempo de preparação para que, possivelmente,

todas as opções de respostas sejam apresentadas;

consequentemente, o custo de preparação é elevado;

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• Se alguma das possíveis opções de respostas não foi

previamente incluída no rol de opções, fortes vieses podem estar

sendo introduzidos, mesmo quando esteja sendo oferecida a

opção “outra. Quais?”;

• Tendem a introduzir vieses nos dados pelo fato de as alternativas

de respostas serem oferecidas aos respondentes. Blunch

argumenta “que não se pode eliminar a resposta pré-

condicionada das questões alternativas. Este ponto de vista

contraria a prática generalizada.”.

Voltando ao que nos dizia Malhotra sobre as perguntas de Escolha

Múltipla, acrescenta: As questões de múltipla escola deixam outras

desvantagens:

• A elaboração de questões eficientes de múltipla escolha exige

esforço considerável (já mencionado por Mattar);

• É difícil obter informações sobre alternativas não listadas. Mesmo

que se inclua uma categoria “Outros (favor especificar), os

entrevistados tendem a escolher entre as alternativas listadas.”.

• “Além disso, o fato de mostrar aos entrevistados a lista de

respostas possíveis produz respostas tendenciosas (Schuman e

Presser, 1996, p. 187).”

• Já Selltiz et. al. (1974, p. 291) acrescentam algo mais sobre

assunto – perguntas de escolha múltipla -:

“Uma das principais deficiências da pergunta fechada é o fato de impor uma apresentação de opinião num problema a respeito do qual a pessoa não tem qualquer opinião”.

Muitos indivíduos não formulam claramente, nem cristalizam opiniões

sobre muitos problemas; essa característica importante tende a não ser

revelada por uma pergunta fechada. A inclusão de falta de opinião cristalizada,

mas a tendência, em muitas entrevistas desse tipo, é exigir uma resposta

definitiva e aceitar o “não sei’ apenas em último caso”. Sob essa pressão, a

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resposta escolhida por uma pessoa pode ser um artifício das palavras ou das

frases específicas da pergunta ou das respostas alternativas apresentadas.

Mesmo quando uma pessoa tem opinião clara, uma pergunta com

alternativas fixas podem não dar uma representação adequada disso porque

nenhuma das escolhas corresponde exatamente à sua opinião, ou porque não

permite restrições.

A omissão de possíveis respostas alternativas pode provocar um viés.

Mesmo quando existe espaço para “outras” respostas, muitas pessoas limitam

sua resposta às alternativas apresentadas.. É mais seguro usar uma pergunta

aberta, que não provoca o viés das respostas através de sugestão de algumas,

mas não de outras.

“O fato de as palavras das perguntas serem as mesmas para diferentes pessoas darem diferentes interpretações, algumas das quais podem ser muito diversas das pretendidas pelo entrevistador (e pelo pesquisador que conduz a pesquisa).”

Como não vimos mencionados na bíblia.

O autor gostaria de acrescentar aos problemas duas outras questões24:

1) Ao usarmos a pergunta de escolha múltipla, devemos ter muita

atenção com a ordem de apresentação das alternativas, sob pena de

já sabermos qual será a ordem de preferência dos entrevistados às 3

ou 4 primeiras alternativas. Por isso, é obrigatório o uso de um cartão

oval ou redondo onde são colocadas as alternativas de respostas.

Isto minimiza o problema de viés de escolha. No entanto, depende da

extensão do conteúdo de cada alternativa disponibilizada para o

respondente escolher. Isto serve tanto para frases como para

marcas. Por exemplo, em uma pesquisa que realizamos para

empresa Mannesman. A pesquisa versava sobre um produto

denominado “talha elétrica de cabo de aço.” Uma das questões dizia

respeito ao grau de conhecimento das marcas existentes no mercado

brasileiro. A marca da Mannesman era DEMAG e assim colocamos

no cartão ao lado de outros como STHIL e BERG. A o apresentarmos

24 Nota do autor

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o questionário aos executivos, eles objetaram afirmando que a marca

deles deveria ser apresentada da seguinte forma: “MANNESMAN,

DEMAG, MOVICARGA”. Fizemos ver que tal colocação introduziria

um viés, pois o espaço ocupado seria desproporcional às demais

marcas concorrentes. Depois de inúmeros pré-testes aplicados,

conseguimos convencer os executivos e ficou deliberado que

usaríamos a marca DEMAG. Desta forma, os futuros respondentes,

ao lerem o cartão redondo ou oval, poderiam ter um vislumbre

simultâneo de todas as marcas.

2) A outra questão que desejamos abordar, diz respeito ao significado

semântico das frases que os respondentes (com escolaridade

diferenciada) dão às mesmas. Na “famosa categoria outras” - em

muitos casos deparamos com citações idênticas àquelas já

apresentadas, ou seja, sinônimas, mas que os respondentes

entenderam como diferentes. Conclusão, a língua portuguesa além

de difícil e complexa pode introduzir distorções, se não tomarmos

cuidado com tais aspectos que envolvem a pergunta de escolha

múltipla.

Tipo de Escala (Pergunta de Escalas)

Segunto Virgillito et. al. (1910, pp. 114-135), existem quatro tipos de

escala: nominais, ordinais, intervalares e de razão.

a) Escalas nominais

Malhotra (1993, p. 277)- citado pelo autor – define que escala nominal “é

uma forma figurativa de identificação em que a numeração associada a cada

objeto observado serve apenas para a identificação deste.”.

Por exemplo, o número (original) associado a cada respondente de uma

pesquisa é uma escala nominal. O fato de o respondente A ter sido

entrevistado em primeiro lugar não significa que sua opinião é mais precisa ou

tem preferência sobre a dos demais entrevistados. Vejamos alguns exemplos:

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Escala nominal em pesquisa de preferência

CLASSIFIQUE AS LOJAS LISTADAS A SEGUIR POR ORDEM DE SUA PREFERENCIA

1. Carrefour 2. Bahia 3. Cem 4. Americanas 5. Jumbo-Eletro 6. Fost Shop

Fonte: Elaborada pelo autor

Observe que a ordem de ingresso das observações nem ao menos

obedece a uma ordem alfabética, e o respondente ainda deverá indicar qual a

de sua preferência.

Outro exemplo pode ser em uma pesquisa de mídia de atenção do

cliente.

Escala nominal em pesquisa de canal de mídia

INDIQUE O TIPO DE MÍDIA QUE O TROUXE ATÉ NOSSA LOJA

1. Internet 2. Rádio 3. Jornal 4. Revista 5. Televisão 6. Outdoor 7. Distribuição de folhetos

Fonte: Elaborada pelo autor

Da mesma forma, a ordem de ingresso das observações é aleatória, e

não obedece necessariamente à ordem de importância do meio de

comunicação.

Dessa forma, poderíamos verificar qual o canal de mídia que atraiu mais

a atenção do consumidor e atribuir a necessária importância para esse canal

de mídia na conquista do público-alvo para o produto ou serviço em questão. A

moda, nesse caso, segue a definição estatística de ser a observação que mais

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se verificou: no exemplo, o rádio foi o tipo de mídia de maior destaque,

aparecendo 59 vezes, equivalente à atração de 32,07% do nosso público-alvo.

Outro tipo de exemplo, mostrando a tabela de pesquisa e a tabulação de

dados com a escala ordinal trata de pesquisa ordenada de preferência entre

quatro automóveis populares (automóveis de ingresso no mercado de novos)

que se segue:

Escala ordinal (em pesquisa de preferência por marcas de automóveis)

Ordem de Preferencia Entre Quatro Automóveis Populares 1.0 Versão Básica, Motor 8 Válvulas

Marca 1ºlugar % 2ºlugar % 3ºlugar % 4ºlugar % Total % FP 19 14,62 30 23,08 39 30,00 42 31 130 100 FS 48 36,92 35 26,92 28 21,54 19 62 130 100 CC 27 20,77 32 24,62 38 22,23 33 38 130 100 RC 36 27,69 33 25,38 25 19,23 36 69 130 100 130 100 130 100 130 100 130

Fonte: Elaborada pelo autor

Vale notar que o veiculo identificado como FS, em relação ao seu motor

1.0 de 8 válvulas, tem a preferência para ser o primeiro ou o segundo mais

procurado pelo publico pesquisado. Já o FP com motor 1.0 classifica-se como

terceiro e quarta escala, e assim por diante.

As estatísticas relacionadas nesse estudo básico são apenas de caráter

descritivo (estatística descritiva), média, mediana, desvio-padrão, mediana e

suas separatrizes (quartiz, decis ou centiz) que conferem possibilidade de

verificar a maior ou menor concentração de respostas em volta de certo valor,

intervalo de tempo ou em outra escala de medida.

b) Escalas Intervalares

Os autores novamente recorrem a Malhotra (1993, p. 280) para a

definição de escalas intervalo:

“numa escala do intervalo as distâncias numéricas na escala representam também a mesma distancia na característica que está sendo mensurada.”

E, ainda,

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“uma escala de intervalos contem todas as informações de uma escala ordinal, mas permite adicionalmente a comparação entre objetos.”.

Em pesquisas mercadológicas, são muito utilizadas para medições de

atitude, opinião e preferência.

Nesse tipo de escala, quando aplicada à medição de preferência entre

dois objetos que receberam notas 2 e 6, respectivamente, o objeto com a nota

6 não é três vezes melhor nem possui três vezes mais preferência do

consumidor do que o objeto cuja nota atribuída tenha sido 2.

Então, em uma pesquisa de preferência por determinadas marcas

(sejam elas de produtos, lojas, serviços, etc), tomando-se por base duas

escalas equivalentes, como antes mencionado, os objetos pesquisados

poderiam obter pontuações completamente diferentes, porém equivalentes,

pelo fato de que as escalas foram previamente construídas para refletirem tal

equivalência.

Pesquisa de Ordem de Preferência Utilizando Escala Intervalar

Ordem de Preferências por desinfetante domésticos em Escalas Intervalos de 1 a 6

DESINFETANTE NOTAS ATRIBUÍDAS

AAA 6 BBB 5 CCC 4 DDD 3 EEE 6 FFF 2

Fonte: Elaborada pelo autor

Outro exemplo que pode ser ilustrado é uma pesquisa de intenção de

compra em uma escala Likert de 0 a 9.

ESCALA INTERVALAR EM UMA PESQUISA DE INTENÇÃO DE COMPRA

Produto e Marca Notas atribuídas AAA 2 BBB 3 CCC 8 DDD 9 EEE 5 FFF 6

Fonte: Elaborada pelo autor

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Nesse exemplo, podemos dizer que os objetos – cujas notas foram 2 e 3

diferem na disposição de aquisição da mesma forma que os elementos

assinalados com notas 8 e9. Considerando-se intervalares as escalas de Likert

Thrustone, Stapel, associativas e o diferencial semântico.

Essas escalas aceitam aplicações de diversas técnicas estatísticas, de

posição, dispersão, agrupamento, escalas multidimensionais, e a maioria das

pesquisas quantitativas se utilizam delas.

Escala Intervalar de Thrustone

Segundo os autores (Salvatore Benito Virgillito – Organizador, 2010, pp.

120-121) – escala intervalar é uma escala de intervalos definida por duas

respostas para cada item, por exemplo, sim ou não, concordo ou discordo,

aceito ou rejeito.

Assim, ao contrário da escala de diferencial semântica, esta escala não

possui valores ou sentimentos intermediários, o que, na verdade, é sua maior

deficiência quando se pretende medir atitudes dos consumidores ou clientes

potenciais. Então, apesar de ser facilmente compreendida pelos respondentes,

não consegue representar sentimento, não consegue representar valores

externos (limitação de aplicação).

Os autores citam Churchill (1998, p.249): “ela pode ser utilizada para

medir sentimentos em relação a qualquer tipo de observação.”

Metodologia da Escala

1) Os pesquisadores preparam uma lista de afirmações a respeito do

objeto analisado.

2) As afirmações são avaliadas e classificadas em 11 grupos.

3) As afirmações selecionadas são apresentadas aos respondentes em

ordem aleatória para que assinalem sua concordância ou não com a

afirmação feita.

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4) O item terá como valor final a maior contagem das classificações

“concorda” ou “discorda”. Vamos ao exemplo oferecido por Churchill:

Escala Intervalar de Thrustone

Assinale nas colunas da direita se você concorda ou discorda com cada uma

das afirmações a seguir em relação ao café A.

AFIRMAÇÃO CONCORDO DISCORDO

1. É café puro 2. É um café muito forte 3. É muito saboroso 4. Seu sabor é diferente e marcante 5. Seu aroma é delicioso 6. É feito com grãos de alta qualidade 7. É um café caro 8. É torrado no ponto certo 9. Sua embalagem protege o sabor 10. Sua embalagem é funcional 11. É um produto saudável

Fonte: Churchill, G.A. Marketing Research: methologiafondatuns. 3. ed. New York: The Dryden Press, 1998. P. 251.

c) Escala de Razão

Os autores voltam a citar Malhotra, (1993, p. 281),

“Esta escala possui propriedades das escalas nominais, ordinais e intervalares, e em complemento tem um ponto de zero absoluto, o que permite comparar as diferenças entre os objetos.”

Para os autores,

“é um tipo de escala muito utilizada em controles de vendas, custos, participação de mercado, número de clientes e todo o tipo de controle sequencial de bases móveis ou fixas.”

Vejamos o exemplo apresentado pelo autor.

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Escala de Razão e Controle Gastos

Indique os valores investidos pela sua empresa em propaganda nos

meses apontados em 2004.

Mês Valor em 1.000 reais

Janeiro/2004 6,0

Fevereiro/2004 4,8

Março/2004 8,1

Abril/2004 3,0

Maio/2004 3,9

Junho/2004 4,5

Julho/2004 2,1 Fonte: Elaborada pelo autor

Acrescentam os autores outro exemplo de aplicação da Escala de

Razão, comentando “aplicando-se a teoria dos números índices, ao se eleger a

base como janeiro daquele ano, obtêm-se variações sazonais, além, é claro,

dos elementos de estatística descritiva (média, moda, mediana, desvio-

padrão)”.

Escala de Razão e Controle Percentual

Indique os valores investidos pela sua empresa em propaganda nos

meses apontados em 2004

Mês Em 1.000 reais % da base Janeiro

Janeiro/2004 6,0 100

Fevereiro/2004 4,8 80

Março/2004 8,1 135

Abril/2004 3,0 50

Maio/2004 3,9 65

Junho/2004 4,5 75

Julho/2004 2,1 35

Agosto/2004 5,1 85

Setembro/2004 6,9 115

Outubro/2004 3,9 65

Novembro/2004 6,0 100

Dezembro/2004 4,8 80 Fonte: Elaborada pelo autor

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133

d) Técnicas Escalares

As técnicas de emprego das escalas são classificadas em comparativas

e não comparativas. Essa nomenclatura, derivada da língua inglesa, pode

confundir, e Aaker et. al. (2004, p. 292) prefere subdividir as comparativas em

escalas de único item e escalas contínuas, e as não comparativas em escalas

de múltiplos itens.

Apesar da inerente dificuldade, adotaremos neste trabalho a primeira

classificação, dissertando-se a seguir para elucidá-la e exemplificando quando

necessário.

As escalas comparativas são empregadas em pesquisas de marketing

quando se pretende comparar objetos, atributos ou sentimentos. De maneira

geral, pode-se pensar em comparações de atributos entre produtos e/ou

serviços.

Por exemplo, um respondente cliente de empresas aéreas nacionais ou

internacionais pode ser convidado a opinar sobre o conforto da cabine de duas

empresas, seus serviços de aceitação de bagagem etc.

Diagrama das Técnicas Escalares

PESQUISA DE PREFERÊNCIA POR VEÍCULO POPULAR

(Instruções: cada veículo pode ter somente uma classificação)

Automóvel Ordem de classificação

Fiat Pálio 1.0 7

Fiesta Street 1.0 3

Celta 1.0 6

Clio 1.0 4

Novo Fiesta 1

Corsa 5

Peugeot 2 Fonte: Elaborada pelo autor

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134

1.1. Escala de Ordenação

Normalmente, esse tipo de escala é utilizado para pesquisas que

envolvem um público-alvo previamente determinado, pois, por se tratar de uma

escala mais técnica, requer experiência do entrevistado.

A escala de ordenação pressupõe que as características pesquisadas

sejam ordenadas de forma que a frequência na ordenação das características

siga uma distribuição normal e, portanto, o número de respostas para cada

nível de preferência é praticamente induzido pelo pesquisador.

Isso não significa que a vontade do pesquisado é solicitado a opinar de

maneira que o número de características ou produtos preferidos tenha

frequência que se assemelhem a uma distribuição normal.

Em geral, essa pesquisa é utilizada quando o número de características

pesquisadas ou de produtos é muito grande. Exemplo: em uma pesquisa sobre

um tipo de alimento, o cliente é chamado a opinar sobre 50 características

dele. Neste caso, é entregue um número de cartões (50, neste exemplo) igual

ao número de atributos pesquisados, os quais estão escritos nos cartões. A

seguir, solicita-se que o respondente distribua os cartões em certo número de

pilhas (sete, por exemplo), de maneira a se ter na primeira e última pilha a

mesma quantidade de cartões. Essa quantidade deverá ser menor que aquela

dos cartões selecionados para a segunda e para a penúltima pilha, que, por

sua vez, deverá ser menor que o número de cartões selecionados para a pilha

central. Por exemplo, o número de cartões poderia ser 4, 6, 9, 12, 6, 4.

O formato dessa distribuição de frequências é semelhante a uma curva

normal.

Assim o respondente deverá empilhar as 4 características do produto

que mais lhe agradou, e, a seguir, 6 características que lhe agradam menos, 12

ainda menos, e, depois, 9, 6 e 4 que mais lhe desagradam no produto ou

serviço pesquisado.

Comentário do autor – “Mesmo que os autores tenham destacado não

haver o propósito de induzir os respondentes, achamos que há – como

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135

podemos obrigar que em cada pilha tenha o número por eles estabelecido,

para que o resultado se torne uma curva normal (ogiva de Gauss) e no gráfico

fique um histograma de atributos do produto distribuídos da forma pré-

estipulada pelo pesquisador? Outro ponto que chama atenção é o fato de como

solicitar a alguém que tenha tempo disponível, a vontade de colaborar com a

leitura e classificação de 50 cartões?”.

“E, finalmente, quando dizem que os entrevistados são escolhidos desde que tenham experiência com o assunto - o que possibilita, de antemão, a introdução de um viés na obtenção dos resultados.”

1.2. Escala de Soma Constante

Este tipo de escala tem certa semelhança com a escala de ordenação Q,

mas, em vez de ordenar os conceitos conforme sua preferência, o respondente

é convidado a atribuir notas como se fossem pesos para esses atributos, e não

há necessidade de que esses pesos obedeçam ao critério das frequências

normais.

Essas escalas são muito úteis quando se quer analisar as características

de um produto em relação a mais de uma característica do público-alvo ou

segmento de mercado.

Por exemplo, uma empresa de alimentação deseja verificar a

classificação de diversos atributos de seu lanche em três tipos de mercado. Os

entrevistados são solicitados a distribuir cem pontos por meio das

características-alvo do estudo.

PESQUISA DE AVALIAÇÃO DE ATRIBUTOS RESPONDENTES

Características Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3

1. Sabor 25 12 11

2. Temperaturas 20 26 23

3. Maciez 9 25 4

4. Vegetais 9 10 6

5. Temperos 6 5 5

6. Tamanho 10 9 31

7. Peso total 12 8 14

8. Pão 9 7 6

Totais 100 100 100

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136

Como se observa, a soma dos atributos é sempre igual ao total dos

pontos colocados à disposição, daí o nome de soma constante.

Apesar da vantagem de se poder comparar os mesmos atributos em

vários grupos de respondentes (público-alvo), existe uma desvantagem

importante, que é a possibilidade de erros por parte dos entrevistados na

atribuição das notas. Também é possível que o entrevistado acelere o

processo de resposta se o número de características for grande. Então, os

erros poderiam incidir nas somas e na atribuição dos pesos. Recomenda-se,

pois, um acompanhante por especialistas nesse tipo de coleta de informações.

2. Escalas Não Comparativas

Essas escalas têm características bem peculiares. A primeira delas é

que os entrevistados respondem ou classificam os objetos de análise sem

comparar com outras da mesma categoria; ao contrário, eles os comparam

apenas com uma escala objetiva de valores que tenta reproduzir o subjetivismo

ou sentimento por aquela asserção, referindo-se ao produto ou serviço.

Assim, a graduação é feita em relação ao conceito de qual seja a

condição ideal para aquele produto ou serviço definida subjetiva ou

objetivamente pelo cliente.

2.1. Escalas de Classificação Constante

Os autores falam a respeito desse tipo de escala: ‘é associado a

formulários de coleta de dados nos quais o respondente, após identificar o

propósito e a característica do objeto em estudo, deve marcar com um X a

posição que sua resposta ocuparia em um intervalo graduado entre duas

asserções, por uma escala Likert.

Aplicação desse tipo de escala: assuntos que envolvem a aferição da

moral de equipes, da satisfação, da fidelidade a marcas e satisfação com

serviços.

Vejamos exemplos típicos:

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137

ESCALAS CONTÍNUAS COM OU SEM GRADUAÇÃO DE INTENCIDADE

Provavelmente o pior .................................................... Provavelmente o melhor

Provavelmente o pior .................................................... Provavelmente o melhor

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Provavelmente o pior .................................................... Provavelmente o melhor

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Observa-se que, no primeiro caso, a classificação do objeto em análise

pela distância entre as duas asserções é puramente subjetiva, e que sua

tabulação também requer cuidados.

Já no segundo e terceiro casos, quando assistidas por uma escala de

intensidade, as respostas obtêm maior exatidão e a sua tabulação também fica

facilitada.

A categorização – ou divisão do espaço entre as afirmações – que o

analista pretende fica mais clara no segundo e no terceiro casos.

2.2. Escalas de Múltiplos itens

Segundo Dillon, Madden e Firtle (1996, p. 302) as Escalas de Múltiplos

itens

“é uma técnica de elaboração de escalas de atitude na qual se pede ao respondente que responda a várias partes/itens que são manifestações ou ideias, sentimentos ou intenções.” E explicam: “Se empregam métodos de formatos de escalas de múltiplos itens para escalas de atitudes, se pede aos entrevistados que responda a número de itens que refletem ideias e/ou sentimentos sobre a atitude investigada. A pontuação que obtenha a pessoa se obter combinado suas respostas a cada um dos ditos itens”.

Voltando a Virgillito et. al. (2010, p. 131-132)

“Uma das pesquisas mais interessantes com as quais estivemos em contato refere-se à determinação da imagem

Muito ruim Nem bom, nem ruim

Muito bom

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que as agências de viagens tinham do acesso às políticas de vendas da empresa aérea.” Excelente resultado foi alcançado combinando-se uma escala de diferencial semântica com uma escala Likert. Vejamos exemplos das duas escalas bem como uma breve explicação sobre cada uma delas.

2.2.1. Escala Likert

Pode ser aplicada à medida de satisfação, atitude e intenção de compra

ou recompra do produto e/ou serviço. Nos formulários de pesquisa,

normalmente é acompanhada de uma ordem crescente e categorizada de

respostas que pretendem refletir o humor, a intenção etc.

Exemplo de Escalas Likert

• Asserção...

Discordo totalmente

-2 1

Discordo

-1 2

Não discordo totalmente

0 3

Concordo

1 4

Concordo totalmente

2 5

OBS. Variações de classificação podem ser de -2 a +2, incluindo o zero,

ou de 1 a 5 (mais utilizada) e 1 a 10 (menos frequente).

Outro Exemplo da Escala Likert

Pesquisa de satisfação das agências de turismo com empresas aéreas.

Indique o grau apropriado, que julga apropriado no seu caso, para a

afirmação a respeito da política de parceria e de vendas com as agências.

Dados sobre a agência-identificação

• Identificação de agências ____________________________________

• Número de funcionários _____________________________________

• Destinos mais vendidos ______________________________________

• Mercados/públicos-alvo de sua agência _________________________

• Parceria com as agências ____________________________________

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139

1. Sou visitado frequentemente pelos promotores ou representantes da

empresa.

Discordo totalmente

Discordo

Não discordo totalmente

Concordo

Concordo totalmente

2. A empresa de aviação é receptiva às necessidades mercadológicas de

minha agência de viagens.

Discordo totalmente

Discordo

Não discordo totalmente

Concordo

Concordo totalmente

3. A empresa de aviação oferece mais vantagens do que minha agência para

os meus clientes finais.

Discordo totalmente

Discordo

Não discordo totalmente

Concordo

Concordo totalmente

Políticasde vendas

4. A empresa de aviação não demonstra interesse nos segmentos de mercado

em que atuo como agência.

Discordo totalmente

Discordo

Não discordo totalmente

Concordo

Concordo totalmente

5. Meu poder de negociação passa pelo volume de vendas.

Discordo totalmente

Discordo

Não discordo totalmente

Concordo

Concordo totalmente

6. A empresa de aviação sempre adapta sua política às necessidades e

tamanho da minha agência.

Discordo totalmente

Discordo

Não discordo totalmente

Concordo

Concordo totalmente

Retornando a Dillon, Madden e Firthe (1996, pp.305-306). “A escala

Likert”. Uma escala de Likert consta de uma série de frases valorativas

referentes a uma determinada atitude ante um objeto. O número de frases

depende do numero de características destacadas associadas com dita atitude,

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pelo que varia de um trajeto para outro. Em geral, as escalas de Likerttêm entre

20 e 30 frases.

O êxito da escala de Likertserá dado em grande medida pela adequação

dos pontos de que conste a mesma. Os pontos ou itens selecionados devem

possuir três qualidades:

1) Devem captar todos os aspectos importantes da atitude frente a um

objeto, 2) não devem ser ambíguos e 3) devem ser suficientemente

sensíveis para poder discriminar entre os entrevistados com respeito

a atividade investigada.

Na prática, se recomenda formar primeiro um grupo relativamente

grande de frases e depois ir eliminando algumas delas sobre e base de que as

selecionadas servem para discriminar entre os entrevistados que apresentem

atitudes favoráveis e desfavoráveis.

Para encerrar o assunto, acrescentamos o que os autores colocaram no

texto:

“Burleigh Gardner, presidente da Social Research, Inc, fez comentários que foram publicados em um número de Marketing News de 05 de maio de 1978, p. 1.”

“Hoje em dia, os cientistas sociais estão enamorados dos números e das cartas .... Somente em raras ocasiões se param para perguntar: “O que há por detrás desses números?”.

Mas habitualmente, todos sabemos que perguntas formulamos e que

respostas obtemos.”

Os autores comentam:

“O citado comentário reflete o fato de que as atitudes não se podem observar diretamente. Tendo isso em cartas, devemos mostrar-nos especialmente sensíveis as propriedades das valorações que empregamos para as mesmas. Os critérios de que nos ocupamos foram dois: fiabilidade e validez. A fiabilidade alude à precisão das pontuações de uma valorização, isto é, a exatidão com que se reproduzem essas populações ao repetir tal valorização. Validez da elaboração é um termo que atende ao ponto até o qual as diferenças observadas nas pontuações das valorizações refletem

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diferenças reais nas características do objeto estudado”. E acrescentam:

Elemento de erro

“Fatores aos quais se deve acreditar que a pontuação observada na escala para uma determinada pessoa difira da pontuação real (correta).

Possíveis Causas de Variação nas Pontuações Valorativas

1. Diferenças reais na característica valorada.

2. Características pessoais que afetam as pontuações, por exemplo,

inteligência, nível se estudos (escolaridade), informações processadas.

3. Fatores pessoais de curta duração: saúde, cansaço, motivação, fatores

emocionais, entre outros.

4. Fatores próprios do caso: relação estabelecida e distrações que surgem.

5. Variações ao aplicar o instrumento de valoração, por exemplo,

entrevistadores.

6. Amostra de pontos incluídos no instrumento.

7. Falha de clareza no instrumento de valoração, por exemplo, ambiguidade,

complexidade, interpretação.

8. Fatores próprios do instrumento de valoração: falta de espaço para registrar

a resposta esperada do citado instrumento.

9. Fatores próprios da análise posterior: pontuação tabulação e compilação

estatística.

2.2.2. Escala de Diferencial Semântico

Segundo Kotler (1996, pp. 51-60) a Escala de Diferencial Semântico foi

desenvolvida por Osgood, Suci e Tannenbaum, que, principalmente, só se

utilizaram de adjetivos bipolares, não de frases. Hoje, na prática também se

utilizam frases nas aplicações de investigações de marketing (DillonMadden e

Firtle, 1996, p. 303).

Zikmund (2006, pp. 289-290) descreve tal escala da seguinte maneira:

“O diferencial semântico é, na verdade, uma série de atitudes. Essa popular

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técnica de medição de atitude envolve a apresentação de um produto ou

serviço seguido por uma série de escalas de pontuação bipolares de 7 pontos.

Adjetivos bipolares – como bom e ruim, moderno e antiquado ou limpo e sujo –

fixam o início e o fim (ou pólos) da escala. O sujeito procede a julgamentos

retidos sobre o conceito que está sendo investigado em cada uma das escalas

e oferece um exemplo:

Escala de diferencial semântico para medição de atitudes em relação a

gravações de jazz com saxofone.

Rápido ___ : ___ : ___ : ___ : ___ : ___ : ___ Lento

Intelectual ___ : ___ : ___ : ___ : ___ : ___ : ___ Emocional

Contemporâneo ___ : ___ : ___ : ___ : ___ : ___ : ___ Tradicional

Movimentado ___ : ___ : ___ : ___ : ___ : ___ : ___ Vagaroso

Novo ___ : ___ : ___ : ___ : ___ : ___ : ___ Velho

Moderno___ : ___ : ___ : ___ : ___ : ___ : ___ Atrasado

Monótono ___ : ___ : ___ : ___ : ___ : ___ : ___ Vibrante

Kotler (1996, pp. 516-517) descreve como se deve montar tal escala:

Pesquisa Sobre Imagem de Hospitais

1. Desenvolver um conjunto de dimensões relevantes. O pesquisador

solicita às pessoas que identifiquem as dimensões que usariam ao

pensar sobre o objeto. Pode-se perguntar a eles: “Quais os fatos

relevantes que você analisa ao escolher um hospital?” Se alguém

sugere “a qualidade dos cuidados médicos”, isso poderia ser convertido

numa escala bipolar: “cuidados médicos inferiores num extremo e

cuidados médicos superiores no outro”. Neste caso, pode-se apresentar

uma escala de cinco ou sete pontos.

2. Reduzir o conjunto de dimensões relevantes. O número de dimensões

deve ser mantido pequeno para evitar o cansaço dos entrevistados que

teriam que avaliar n objetos em m escalas. Essencialmente, há três

tipos de escalas:

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• Escalas de avaliação (qualidade boa-má)

• Escalas de potência (qualidade forte-fraca)

• Escalas de atividade (qualidade ativa-passiva)

Usando essas escalas como guia, o pesquisador pode remover as

escalas redundantes que falham ao acrescentar muitas informações.

3. Administrar o instrumento de pesquisa em uma amostra de entrevistas.

Pede-se aos entrevistadores que avaliem um objeto por vez.

As dimensões da escala bipolar devem ser dispostas aleatoriamente,

para evitar que todas as dimensões desfavoráveis fiquem do mesmo

lado.

4. Calcular as médias dos resultados (a seguir iremos colocar o resultado

fictício da pesquisa sobre hospitais)

5. Checar a variância da imagem. Uma vez que cada perfil de imagem é

representado por uma linha de significados médios, ela não revela

quanto a imagem é realmente variável, ou seja, houve um grau de

dispersão elevado – imagem difusa ou altamente especifica? Vejamos o

exemplo:

Análise do Gráfico

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Podemos observar que o hospital A é visto como grande, moderno,

cordial e com serviços médicos superiores. O hospital B é visto como tendo

serviços médicos superiores (mas menos do que o hospital A), hospital

especializado, é grande e orientado para a comunidade.

Já o hospital C é visto como: serviços médicos inferiores, médio hospital

especializado, pequeno, antiquado, impessoal – atendimento não

personalizado razoavelmente orientado para pesquisa.

Ou seja, quais são os pontos fortes e fracos da imagem de cada

hospital. Cada diretoria deve examinar tais pontos e decidir o que fazer para

permanecer ou mudar esta imagem: devem propor uma imagem desejada,

contraria à imagem atual ou reforçar sua boa imagem (se for o caso).

2.2.3. Escalas de Stapel

Segundo Tagliacarne (2001, p. 258) “Escala de Stapel é utilizada para

medir atitudes que consiste de um único adjetivo em uma série com um

número par de valores. Tal escala, cujo nome homenageia seu criador, Jan

Stapel, é uma escala de classificação unipolar com 10 categorias numeradas

de -5 a +5, sem ponto neutro (zero). Essa escala é apresentada em geral

verticalmente. Os respondentes devem indicar o grau de precisão ou de

imprecisão com que cada termo descreve o objeto, selecionando uma

categoria de resposta numérica à propriedade. Quanto mais alto o número,

maior a precisão com que o termo descreve o objeto (conforme mostrado na

figura que apresentaremos a seguir) vejamos o exemplo.

Projeto de Fidelização de Clientes de uma Loja

Escala de Stapel

Instruções

Queira indicar o grau de precisão com que cada palavra ou frase

descreve cada uma das lojas de departamento. Escolha um número com sinal

mais (+) para as frases que descrevem a loja com precisão. Escolha um

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número com sinal menos (-) para as frases que acha que não descrevem a loja

com precisão – quanto menor o grau de precisão, maior o número com sinal -.

Escolha qualquer número, de +5, para frases muito precisas, a -5, para frases

muito imprecisas.

Formulário:

SEARS

+5 5+

+4 +4

+3 +3

+2 +2+

+1 +1

Alta qualidade Serviço fraco

-1 -1

-2 -2

-3 -3

-4 -4

-5 -5

Se os entrevistados estão interessados na tarefa de escalonamento e

têm conhecimento dos objetos, deve se empregar um número maior de

categorias. Por outro lado, se os respondentes não têm muito conhecimento ou

não estão envolvidos na tarefa, devem ser usadas menos categorias. A

natureza dos objetos não se presta a uma discriminação refinada, quando

então é suficiente um número pequeno de categorias. Outro fator importante é

o modo de coleta de dados. “Trata-se de entrevistas telefônicas, um grande

número de categorias pode confundir os respondentes da mesma forma,

limitações de espaço podem restringir o número de categorias em questionário

pelo correio.”

Já Mattar (1999, pp. 211-212) apresenta comentários algo diferente de

Malhotra sobre a Escala de Stapel: “As escalas de Stapel são uma modificação

das escalas de diferencial semântico”. Suas diferenças em relação a elas são:

• Os pontos da escala são representados por números e a escala

possui 10 pontos.

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• Os resultados da utilização desta escala são semelhantes aos

obtidos pela escala de diferencial semântico.

• A análise dos dados obtidos segue os mesmos padrões da análise

dos obtidos numa escala de diferencial semântico.

Vejamos exemplo da Escala Stapel.

Avalie o café da marca A, segundo sua opinião:

ATRIBUTOS AVALIAÇÃO

Pureza -5-4 -3 -2 -1 +1+2 +3 +4 +5

Sabor -5-4 -3 -2 -1 +1+2 +3 +4 +5

Aroma -5-4 -3 -2 -1 +1+2 +3 +4 +5

Qualidade -5-4 -3 -2 -1 +1+2 +3 +4 +5

Textura -5-4 -3 -2 -1 +1+2 +3 +4 +5

Torrefação -5-4 -3 -2 -1 +1+2 +3 +4 +5

Embalagem -5-4 -3 -2 -1 +1+2 +3 +4 +5

Marca -5-4 -3 -2 -1 +1+2 +3 +4 +5

Como se observa, a escala de Stapel construída por Mattar permite

analisar com mais precisão vários atributos simultaneamente do que aquela

construída por Tagliacarne; além disso, nos dois casos, o pesquisador deve,

antes de começar a aplicá-las, pergunta aos entrevistados se eles conhecem (e

usam ou frequentam a loja/café) suficientemente o objeto que está sendo

analisado para poder responder e pontuar com consciência as assertivas

colocadas para que possam dar, com clareza a imagem do mesmo objeto.

Também, podemos levantar dúvidas sobre a eficácia da aplicação das duas

escalas pelo telefone, visto que além de ter de contar com a boa vontade do

entrevistado, este terá que fazer um esforço concentrado – sem ver o

formulário – para escolher a pontuação que entende ser mais correta para

interpretar sua opinião.

Ademais, salvo melhor juízo, entendemos que a maioria dos casos a

resposta dos respondentes não se torna completa e explicativa, se não

perguntarmos “por que ele deu aquela classificação para cada item – frase

indagada”.

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147

Malhotra apresenta ao final do assunto escalas, conclusões

interessantes sobre a possibilidade de erros (não amostrais) na escolha de

uma técnica de escalonamento. Vejamos quais são essas observações.

Além das considerações teóricas e da avaliação da confiabilidade e da

validade, devem ser levados em consideração alguns fatores práticos quando

da escolha de técnicas de escalonamento para um determinado problema de

pesquisa de marketing (Timothy P. Hinkinh, “A Review of Scale Development

Practices in the Study of Organizations,” Journal of Management

21(5)(1995):967-88). Esses fatores incluem o nível desejado de informação

(nominal, original, intervalar ou de razão), a capacidade dos entrevistados, as

características dos objetos de estimulo, o método de aplicação, o contexto e o

custo.

Como regra geral, o uso de uma técnica de escalonamento que dê o

mais alto nível de informação possível em determinada situação permitirá o

emprego da maior variedade possível de análises estatísticas. Outro sim,

independentemente do tipo de escala utilizada, sempre que possível vários

itens da escala devem medir a característica de interesse. Isto permite uma

medida mais precisa do que uma escala de um único item. Em muitas

situações, é conveniente utilizar mais de uma técnica de escalonamento, ou

buscar medições adicionais utilizando escalas deduzidas matematicamente.

Todas as técnicas de escalonamento discutidas avaliam diretamente várias

características dos objetos de estímulo. Em contraste, as técnicas de

escalonamento matemático permitem que os pesquisadores façam inferências

sobre as avaliações dos objetos de estímulo feitas pelos respondentes. Essas

avaliações são inferidas dos julgamentos gerais dos entrevistados sobre os

objetos. O escalonamento multidimensional e a análise conjunta são duas

técnicas de escalonamento deduzidas matematicamente. Finalmente conclui

Tagliacarne referindo-se a Pesquisa Internacional de Marketing: na elaboração

do formato de escala ou resposta, devemos levar em conta os níveis de

instrução ou de alfabetização dos respondentes. Uma abordagem consiste em

elaborar escalas que sejam panculturais, ou livres de tendenciosidades

culturais. Das técnicas de escalonamento estudados, pode-se dizer que a

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escala diferencial semântica é pancultural. Foi testada em vários países, com

resultados consistentemente semelhantes.

4. O Setor de Campo

Apenas para situar o leitor, vamos aproveitar de nossa dissertação de

mestrado e que se mostram como guias e referências sobre os problemas e

vieses situados no setor campo. Convém salientar que nossa definição de setor

de campo é a seguinte: “é o setor de onde provêm os dados coletados,

tabulados e analisados, e que servirão de insumo às tomadas de decisão dos

executivos que poderão determinar o rumo futuro das organizações.”.

Vejamos alguns dos autores a que nos referimos em nossa dissertação

Outra definição do Setor de Campo que deve ser salientada nos é dada

por Schrader (1974, p. 104): “Setor de Campo é a denominação do local onde

são realizadas as entrevistas pessoais, pelos entrevistadores e de onde

provém os dados a serem coletados pelos entrevistadores. É neste local que

ocorre a interação preponderantemente verbal, entre um entrevistador,

presente durante a interação, e um entrevistado visitado..”.

No que tange a influência do entrevistador, tomamos o que nos diz

Collins (1980, p. 77): “A influência do entrevistador, no trabalho de

levantamento de dados, refere-se àquela distorção da realidade devida à intima

participação no que está observando e registrando, ou seja, a contribuição do

entrevistador, por qualquer que seja a razão, para a imprecisão da estimativa

do resultado da pesquisa.”

Chisnall (1976, p. 203): “É considerável a atividade dos entrevistadores

na área de investigação de mercado, a qual frequentemente implica a

aplicação de questionário a amostras cuidadosamente selecionadas numa

população definida. Constituem eles um elo importante e essencial na cadeia

da investigação; e sua eficiência e confiabilidade influem na estrutura total da

investigação. É evidente, por desgraça, que os entrevistadores constituem uma

das fontes principais de erro na investigação de campo. Ainda que se tenha

conseguido investigar algo a respeito da seleção e método de treinamento dos

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entrevistadores, não é claro que se haja logrado um melhoramento

considerável da situação.”

Dois outros autores – Good&Hatt (1979, p. 238) situam o problema da

seguinte forma: “Pode-se afirmar, naturalmente, que cada uma das fases da

pesquisa é importante. Erros em qualquer estágio poderão reduzir ou destruir a

validade da investigação. No entanto, em certo sentido, a entrevista é a base

sobre a qual repousam os outros elementos, pois é a fase de coleta de dados.

“Sua importância é vista também no reconhecimento gradual, na localização e no controle das distorções do entrevistador, pois é realmente um meio ou um instrumento.”

E concluem:

“....Geralmente existem diferenças importantes entre os entrevistadores, levantando a questão fundamental de fidedignidade do entrevistado: em que medida as respostas aqui obtidas podem ser respostas?”

- em seu estudo sobre os erros de respostas, diz (1951, p. 440):

“Estudos do consumidor proporcionam uma base importante para análise de mercado. Com o uso crescente dos estudos do consumidor, a questão da exatidão dos dados coletados por este método tornou-se um problema prático importante.”

E continua:

“Numerosas fontes de vieses podem ser citadas. Por causa das inúmeras fontes de viés e falta de generalidades na natureza das fontes de viés, não é possível desenvolver uma teoria do viés pela matemática abstrata ou lógica. O problema de viés somente pode ser atacado por estudos empíricos extensivos.”

Collins comenta (1980, p. 81):

“Mesmo que estudos revelem baixos níveis de variação (-1%) entre entrevistadores (em suas respostas obtidas dos respondentes), o efeito do entrevistador poderia reduzir marcadamente a precisão da estimativa de muitas amostras de pesquisa. Isso surge devido ao fato de que considerações práticas e econômicas exigem que o entrevistado seja conduzido por um painel limitado de entrevistadores. Um entrevistador que contribui sistematicamente com viés afetará os resultados obtidos de vários respondentes.”

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Faremos nossos os argumentos apresentados por Boyd &

Westfall(1978, pp. 449):

“Os resultados do assunto pesquisa de mercado dependem dos dados obtidos no trabalho de campo. Mesmo que a amostra tenha sido feita cuidadosamente e que o questionário esteja bem planejado, os dados obtidos não serão precisos se os entrevistadores não executarem o seu trabalho de maneira adequada. O modo como é feito o trabalho de campo é geralmente uma das maiores fontes, senão a maior fonte, de erros no projeto de pesquisa típico, especialmente em casos de estudos com questionário.”

Outro importante pesquisador, Bernard S Phillips (1974, pp. 127-129)

coloca:

“O entrevistador, experimentador ou observador, traz seus próprios

problemas e os aplica aos indivíduos observados”. Sabe-se muito pouco sobre

a natureza desses problemas, pois alguns são extremamente sutis.

....O fato de o comportamento do respondente ser influenciado pelo

observador é em si e por si mesmo um problema de pesquisa. As explicações

desses efeitos não só acrescentam algo ao nosso conhecimento geral do

comportamento humano, como também contribuem para nossa capacidade de

corrigir essa interação nas pesquisas.

É muito fácil, naturalmente, esboçar uma solução geral, a dificuldade

está em determinar as soluções específicas. Qual tipo de teoria, por exemplo, é

suficientemente ampla para abranger o complexo processo da interação entre

o pesquisador e o sujeito? E quais as técnicas específicas que podem ser

usadas para obter informações sobre o processo?”.

Para aumentar a complexidade do problema, Phillips acrescenta:

“.... não somente existe interação entre o entrevistador e o entrevistado.

Como também entre o entrevistador e o supervisor de campo (chefe dos

entrevistadores e verificadores). Devemos igualmente lembrarmos que, apesar

de uma experiência de treinamento comum na preparação do plano, cada

entrevistador é um indivíduo único. Por mais banal que isto pareça implica em

que ele ou ela estará orientado(a) em certas direções e que isto será revelado

ao entrevistado de um modo ou de outro. Acrescente-se a esta situação a

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singularidade de cada entrevistado, com suas próprias ideias preconcebidas

sobre a entrevista, reações à mesma, e teremos uma grande variedade de

situações.

.... “Entretanto, quase nada tem sido feito nesse sentido, por falta de teoria e metodologia que apoiem tal esforço.”

Phillips vai mais além:

“.... Devido à nossa ignorância do efeito do entrevistador, talvez grande parte das conclusões da ciência social seja errônea ...os estudos desse fenômeno fornecem-nos mais exemplos de que uma teoria e metodologia para lidar com ele.”

E conclui:

“.... Os progressos feitos para entender o efeito do pesquisador (entrevistador) deveriam ter importantes implicações para a compreensão geral do comportamento humano.

Esse progresso poderia ser descrito como a aprendizagem das propriedades da lente que usamos para observar o comportamento: como distorcer o que estamos observando, e como podemos corrigir essas distorções?”.

Dois outros autores merecem ser citados quando falamos sobre o viés

do entrevistador. São eles Boyd&Westfall: “Alguns ganhos significativos têm

sido realizados no trato com o viés do entrevistador durante este intervalo de

década – entre os anos de 1955-1965 – mas os mesmos problemas ainda

existem num grau maior e relativamente pouco está sendo feito para resolvê-

los”.

.... Apesar destes desenvolvimentos, alguém é forçado a concluir que os

mesmos problemas existem no levantamento de dados de campo conforme

feito há dez anos e que relativamente pouca melhoria foi feita em manipulá-los.

Muito ainda deve ser feito para aprender como reduzir os ausentes e as

recusas, melhorando a harmonia entre o entrevistador e o entrevistado e na

seleção e treinamento dos investigadores (entrevistador) de campo.

“A maioria dos pesquisadores concorda que a área de trabalho de campo é uma das principais fontes de erro na pesquisa de

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mercado, mas, mesmo assim, ainda continua a receber relativamente pouca atenção.”

Cremos que para demonstrar a complexidade da área que estamos

adentrando, é útil dar um exemplo de um supervisor de campo que, no afã de

verificar como seus entrevistadores se comportavam em campo e constatar o

que ocorria no momento da entrevista agia da seguinte forma. O mesmo mapa

da região em que iam atuar seus entrevistadores ele o possuía, bem como o

roteiro que deviam seguir. Depois de realizada uma entrevista numa residência,

o entrevistador devia deixar um intervalo de três residências e bater na quarta

casa. Sabedor disso, o supervisor se antecipava ao entrevistador e abordava a

dona-de-casa e lhe pedia para ficar atrás de algo (um arbusto, por exemplo)

para poder observar seu subordinado. Em certa ocasião, percebeu que seu

entrevistador estava modificando o conteúdo das perguntas e, em alguns

casos, induzindo a respondente a dar respostas sugerindo ideias. De maneira

inopinada, saiu de trás de seu esconderijo e interpelou seu entrevistador sobre

sua atitude.

“É evidente que esta não é a atitude mais correta e que se fosse feita com todos os entrevistadores, os custos do setor de campo seriam impraticáveis, além do viés introduzido pelo supervisor ao adentrar a residência e a dona-de-casa se sentir pouco à vontade em participar da ‘trama’.”25

Embora já tenhamos avançado no assunto trabalho de campo, achamos

conveniente voltar a ele através da ótica de Tagliacarne (2001, pp. 364-370).

Inicialmente, ele aborda “a natureza do trabalho de campo”:

“Os dados de uma pesquisa de mercado raramente são coletadas pelas pessoas que planejam a pesquisa. Os pesquisadores (da empresa, cliente dos institutos) têm duas opções principais para a coleta de dados: podem desenvolver sua própria organização ou contratar uma agência de pesquisas de marketing – contratando um projeto total ou, apenas seu setor de campo. Em qualquer desses casos, a coleta de dados exige a utilização de algum tipo de força de campo. A força de campo pode atuar diretamente no campo (pessoalmente de casa em casa, contato na sua entrevista por interpretação), entrevista pessoal, entrevista pessoal com o emprego de computador portátil, e observação (acrescentaríamos: observação pessoal participante e não

25 Nota do Autor

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participante) e observação mecânica (com o emprego de aparelhos: gravador, filmadora e tevêmetro acoplado ao aparelho de TV para registrar o que é visto pelos residentes) ou a partir de uma base (pesquisas telefônicas, pelo correio, por e-mail e Internet). Quem coleta os dados em geral tem conhecimento escasso e pouco treinamento em pesquisas.”

Em sequência, Malhotra (2001, pp. 117-119) coloca em relevo os erros

de não amostragem: “erro de falta de resposta” – surge quando algumas

pessoas incluídas na amostra não respondem. Este é um dos problemas mais

significativas em pesquisas Os não respondentes diferem dos respondentes

em termos de variáveis demográficas, psicográficas, de personalidade, de

atitude, motivacionais e comportamentais (M.R. Fisher, “Estimating the Effect of

non response Bias on Angler Surveys,” Transactions of the American

FisheriesSociety 125 (1) (jan/1996) 118-26.) . Se um determinado momento, se

os não respondentes diferem dos respondentes quanto as características de

interesse, as estimativas amostrais serão seriamente tendenciosas. Taxas mais

altas de resposta em geral implicam taxas mais baixas não obstante, a taxa de

resposta pode não ser um indicador adequado da tendenciosidade de não

resposta. Por si mesmos, as taxas de resposta não indicam se os

respondentes são representativos da amostra original. (A.Hill, J. Roberts,

Evings, e D. Gunnell, “Non-response Bias in a Lifestyle Survey,” Journal of

Public/ Fealth Medicine 19 (2) (Jun/1997): 203-7; Stephen W. McDaniel.

Charles S. Madden, e Perry Verille, “Do Topic Differences Affect Survey

Nonresponse? “Journal of the Market Research Society (jan/1987: 55-66,) O

fato de aumentarmos a taxa de resposta pode não reduzir a tendenciosidade

da não resposta se os respondentes adicionais não diferem dos que ainda não

responderam. Como baixas taxas de resposta aumentam a probabilidade de

tendenciosidade de não resposta, deve-se fazer uma tentativa para melhorar a

taxa de resposta.”

Causas das Baixas Taxas de Respostas

“As recusas, que resultam da não disposição ou incapacidade de participação das pessoas incluídas na amostra, acarretam em taxas mais baixas de resposta e potencial aumentado para a tendenciosidade de não resposta. As taxas de recusa – o índice de entrevistados contatados que se reusam a participar – variam de 0 a 50% em pesquisas telefônicas. Os índices de

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recusa para entrevista em centros comerciais e entrevistas pelo correio são progressivamente mais elevados, e são ainda mais altos para pesquisas na Internet. A maioria das recusas ocorre imediatamente após as observações iniciais do entrevistador, ou quando o respondente potencial abre primeiro o pacote do correio. Em uma pesquisa telefônica de âmbito nacional, 40 % dos que foram contatados se recusaram logo no estágio introdutório, mas apenas 6% se recusaram no decorrer da entrevista.”

.... E prossegue Malhotra:

NÃO ESTÁ EM CASA

“Essa é a segunda causa mais importante das baixas taxas de resposta. Em estudo realizado via telefone, a taxa média de não contato foi de 40%. Em cerca de 40% das entrevistas, fez-se apenas uma tentativa. (G.L. Bowen, )“Estimarting the Reduction in Nonresponse Bias from Using a Mail Survey as a Backup for Nonrespondents to a telephone Interview Survey, “Research on Social Work Practice” (1) (jan/1994): 115-28.”.

Outro erro comentado por Malhotra (2001, pp. 117-119) é o Erro de

Resposta que ele define como: “Um tipo de erro de não amostragem que

surge de entrevistados que respondem, mas dão respostas imprecisas ou cujas

respostas são registradas ou analisadas erroneamente. Pode ser definido

como a variação entre o valor médio real da variável na amostra líquida e o

valor médio observado obtido no projeto de pesquisa”. Tais erros podem ser

cometidos pelo entrevistador ou pelo respondente, bem como pelo

pesquisador.

Vejamos os erros cometidos pelos entrevistadores:

a) Erro de Questionamento

“Esse erro denota erros cometidos ao se fazer as perguntas aos entrevistados ou por não se investigar quando são necessárias mais informações. Por exemplo, ao fazer as perguntas o entrevistador não usa o fraseado correto dado no questionário.” Vejamos outros tipos.

b) Erro de Registro

“Surge devido a erros na escuta, na interpretação e registro das respostas dadas pelos entrevistados. Por exemplo, um entrevistado indica uma resposta neutra (indeciso), mas o

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entrevistador a interpreta como uma resposta positiva (compraria a nova marca).”

c) Erro Proposital (também chamado de fraude)

“Surge quando o entrevistador inventa respostas para parte ou toda a entrevista. Por exemplo, ele não faz as perguntas sensíveis relativas ao endividamento do entrevistado, mas depois preenche as respostas baseado em sua avaliação pessoal”.

Apenas à guisa de contribuição, vamos dar um exemplo ocorrido durante

a realização de uma pesquisa da qual participamos na cidade de Curitiba,

quando éramos entrevistadores.

Certo dia, pegamos nossa pasta com questionários e fomos para o

bairro designado pelo supervisor que nos acompanhava. Ao chegar ao bairro

abrimos a pasta e desagradavelmente surpresos deparamos com todos os

questionários preenchidos, somente o cabeçalho (onde deveria constar o nome

do entrevistado e seu endereço) estava em branco. Sabíamos a quem

pertencia o material, pois já constava o nome do entrevistador. Como o bairro

estava distante do hotel onde nos hospedávamos, resolvemos comprar uma

caneta de outra cor e realizamos as entrevistas escrevendo no mesmo espaço

já ocupado pelo outro entrevistador. Mais tarde, voltando ao hotel, passamos a

limpo as entrevistas em questionários que se encontravam vazios e

disponíveis.

Malhotra comenta os erros cometidos pelos entrevistados.

a) Erro de Incapacidade

“Esse tipo de erro existe quando o entrevistado não consegue dar respostas precisas. Ele pode fazer isso por falta de familiaridade, fadiga, tédio, lembrança incorreta, formato de pergunta ou seu conteúdo e outros fatores. Por exemplo, um entrevistado não consegue lembrar a marca de iogurte comprado quatro semanas antes.”

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b) Erro de Má Vontade

“Surge da falta de disposição do entrevistado para fornecer informações precisas. Os entrevistados podem dar respostas erradas intencionalmente.”

Erros do Pesquisador Segundo Malhotra (2001, pp. 117-118)

a) Erro de Substituição de Informações

“Esse tipo de erro pode ser definido como a variação entre as informações necessárias para o problema de pesquisa e as informações buscadas pelo pesquisador. Por exemplo, ao invés de obter informações sobre a escolha de uma nova marca pelo consumidor (necessário para o problema de pesquisa), o pesquisador obtém informações sobre as preferências do consumidor porque o processo de escolha não pode ser observado com facilidade.”

b) Erro de Medição

“Pode ser definido como a variação entre as informações buscadas e aquelas geradas pelo processo de medição empregado pelo pesquisador. Ao pretender medir preferências do consumidor, o pesquisador utiliza uma escala que mede percepções ao invés de preferências.”

c) Erro de Definição da População

“Esse tipo de erro, segundo Malhotra, pode ser definido como a variação entre a população real relevante para o problema em pauta e a população definida pelo pesquisador. Este problema pode estar longe de ser trivial.”

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Dois outros autores – Zikmund e Babin (2011, pp. 176-182) acrescentam

outros tipos de erros, além daqueles colocados por Malhotra. Vejamos:

Viés de Resposta

“Ocorre quando os entrevistados tendem a responder a perguntas com certa inclinação. As pessoas podem de forma consciente ou inconsciente, deturpar a verdade. Se uma distorção de medida ocorre porque as respostas dos entrevistados são falsificadas ou deturpadas, quer deliberada ou inadvertidamente, o viés de amostragem resultante será um viés de resposta. Quando os pesquisadores (e/ou entrevistadores) identificam os vieses de resposta, eles devem incluir uma medida corretiva. Por exemplo, quando é feita a verificação da mesma entrevista em que ocorre o viés.”

Erro Total

Erro aleatório de

amostragem

Erro sistemático

Erro do respondente

Erro administrativo

Erro de não-resposta

Viés de resposta

Falsificação deliberada

Deturpação inconsciente

Viés de aquiescência

Viés de extremidade

Viés do entrevistador

Viés do patrocinador

Viés de aceitação social

Erro de processamento

de dados

Erro de seleção da amostra

Erro do entrevistador

Fraude do entrevistador

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a) Falsificação Deliberada

“Ocasionalmente, as pessoas fornecem respostas falsas deliberadamente. É difícil avaliar o motivo pelo qual as pessoas agem de tal forma. Isso pode ocorrer quando as pessoas deturpam respostas para parecer inteligentes, evitar constrangimentos e assim por diante. Por exemplo, os entrevistados podem conseguir se lembrar da quantidade total de dinheiro gasto na ultima compra realizada no supermercado, mas podem esquecer quanto pagaram por itens de produtos individuais. Ao invés de parecerem ignorantes (na concepção delas) ou não se preocuparem com os preços, tais respondentes podem fornecer suas melhores estimativas e podem não dizer a verdade, ou seja, que elas não se lembram. Outras vezes, os entrevistados ficam entediados com a entrevista e fornecem respostas apenas para se livrar do entrevistador. Há casos, em que os entrevistados tentam parecer bem informados fornecendo as respostas que eles julgam serem as esperadas. Ainda em outras ocasiões, eles dão respostas simplesmente para agradar ao entrevistador.”

Certa vez realizamos uma pesquisa sobre o estado em que se

encontravam as escovas de dente dos membros da família entrevistada. No

começo, a solicitação era feita ao entrevistado (dona-de-casa ou chefe de

família) e trazia escovas praticamente novas que eram trocadas pelos nossos

entrevistadores por uma nova e de livre escolha do entrevistado. Como tal

prática se repetia, mudamos a abordagem e solicitamos que nossas

entrevistadoras fizessem um flagrante, solicitando educadamente que

acompanhassem o(a) respondente até o local onde eram guardadas as

escovas usadas. Havia resistência por parte das pessoas entrevistadas, mas,

em geral, os entrevistadores logravam o seu intento. A mudança foi notória: a

maioria das escovas recolhidas estava em péssimo estado – e isso é o que era

constatado em tal situação26.

b) Deturpação Inconsciente

“Mesmo quando o entrevistado está conscientemente tentando ser honesto e cooperativo, o viés de resposta pode surgir a partir do formato de perguntas, do conteúdo de perguntas ou de algum outro estímulo. Por exemplo, numa pesquisa sobre qual a aeronave preferida pelos passageiros, resultaram na escolha do modelo de aeronave em que estavam voando –

26 Nota do Autor

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74% contra 19% - ainda mais que as entrevistas foram realizadas no aeroporto momento antes de embarcarem na aeronave.

Por outro lado, entrevistados que entendem de forma errada as perguntas podem inconscientemente fornecer respostas deturpadas. Ou podem estar dispostos a responder, mas não, conseguem fazê-lo por terem se esquecido dos detalhes exatos.

Além disso, um viés pode também ocorrer quando um entrevistado não pensou a respeito de uma pergunta inesperada. Muitos entrevistados responderão às perguntas, muito embora tenham pensado pouco a respeito delas. Por exemplo, na maioria das investigações sobre as intenções de compra dos consumidores, a previsibilidade das escalas de intenção depende de quão próxima o sujeito está de fazer uma compra.

Por outro lado, o lapso de tempo decorrido desde a compra do produto, influencia a habilidade das pessoas em se lembrar de precisamente e informar fatores específicos.”

TIPOS DE VIESES DE RESPOSTA

Vejamos as quatro categorias específicas. É conveniente que se

esclareça que essas categorias sobrepõem-se e não são mutuamente

excludentes.

a) Viés de Aquiescência

“Alguns entrevistados são muito dispostos a dizer sim. Eles parecem concordar com praticamente todas as frases que lhe são apresentadas. Esse viés de aquiescência é particularmente proeminente em pesquisa de novos produtos- a maioria dos entrevistados concorda com os benefícios descritos no conteúdo das perguntas sobre o novo produto – principalmente se receberem uma amostra para experimentação prática.”

b) Viés de Extremidade

“Algumas pessoas tendem a usar extremos ao responder às perguntas; outras evitam consistentemente posições extremas e tendem a responder de forma mais neutra. Os estilos de resposta variam de pessoa para pessoa e respostas extremas podem causar um viés de extremidade nos dados”.

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c) Viés do Entrevistador

“Esse tipo de viés pode surgir da interação entre o entrevistador e o entrevistado. Se a presença do entrevistador influenciar os entrevistados a dar respostas falsas ou alteradas, a pesquisa será marcada por vieses do entrevistador. Às vezes, os entrevistados podem dar respostas que acreditam agradar ao entrevistador, em vez de dar as respostas verdadeiras.”

Neste momento os autores Zikmund e Babin (2011, p. 180) introduzem

características importantes nessa interação entre o entrevistador e o

entrevistado. Dizem eles:

“As características do entrevistador, incluindo idade, sexo, estilo de vestir, tom de voz, expressões faciais ou outras características não verbais podem ter alguma influência nas respostas do entrevistado. Em um estudo de pesquisa sobre assédio sexual contra vendedoras, os entrevistadores do sexo masculino receberam pouca colaboração por parte das vendedoras em comparação com entrevistadores do sexo feminino que receberam mais e melhores esclarecimentos sobre o assunto tratado”.

Gostaríamos de acrescentar apenas um exemplo pelo qual passamos e

em que fomos testemunha ocular dos fatos ocorridos.

O supervisor de campo da Marplam Instituto de Pesquisa chamou-nos e

solicitou que realizássemos uma verificação de questionário preenchido por

três entrevistadores e assim o fizemos:

1º. Caso – Entrevistador do sexo masculino e com larga experiência em realizar entrevistas. Ele se notabiliza em “explorar bem as perguntas abertas de razão.”

Fomos até a uma residência e fomos atendidos por uma senhora de classe média. Apresentação, comunicamos que estávamos ali para agradecer sua amabilidade em ter atendido nosso entrevistador e, ao mesmo tempo fazer-lhe umas três a quatro perguntas apenas para constar que nosso entrevistador ali estivera e que ela ficasse despreocupada pois não era nosso intuito aplicar, novamente, todas as perguntas do questionário.

Antes de aplicar as perguntas por nós selecionadas, indagamos: “Nosso

entrevistador foi amável e educado com a senhora?”.

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A entrevistada não reagiu e ficou parada com um olhar perdido e até

certo ponto estranho. Esperamos mais um pouco e realizamos novamente a

pergunta envolvendo o tratamento dado pelo entrevistador.

Novo hiato – silêncio. Diante disso, acrescentamos: sabemos que a

senhora está muito ocupada e não desejamos tomar o seu tempo e nos

despedimos. Neste instante a entrevistada disse:

“Não é por sua causa que estou tendo esse comportamento, mas, sim, por causa do rapaz que me entrevistou. Ele praticamente me encurralou fazendo várias subperguntas – como assim? Que mais a Sra. poderia me dizer a respeito deste refrigerante? E, além disso, me dê mais esclarecimentos sobre esta marca de bebida? Isto ele fez para quase todas as perguntas. Quando ele terminou e foi embora, eu me senti vazia, ele me tirou o que eu sabia e até o que eu nem imaginava saber. Eu me senti tísica. Fiquei traumatizada nunca mais darei outra entrevista na minha vida. Foi um horror! E ele não era simpático – só sabia interrogar e interrogar.”.

Conclusão:

“O entrevistador, no afã de obter boas perguntas abertas de razão, passou do ponto e forçou aquela senhora a responder coisas que nem ela tinha certeza. Como se diz na gíria do campo onde fulano passava, secava a fonte, ninguém conseguia fazer outra entrevista.”.

Esse exemplo denota algumas das características mencionadas por

Zikmund Babin: tom de voz (no caso autoritário), expressões faciais (sério

demais) e muito formal.

Para reforçar essa característica de entrada na entrevista e no seu

transcurso, vejamos o que nos diz Newman (1964, pp. 445 – 446):

“A conveniência de estabelecer um ambiente amistoso é particularmente importante na entrevista qualitativa, de forma que se requer especial cuidado ao selecionar os entrevistadores para que sejam compatíveis com a classe social de pessoas que irão entrevistar.”

Mais adiante Newman acrescenta:

“A possibilidade de desenvolver uma corrente de simpatia (durante a entrevista) reside na personalidade do entrevistador, em sua preparação e experiência. Também depende de outras características como classe social que aparenta, raça e idade

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(...). Essas considerações são importantes para determinar se o ambiente ajudara a livre expressão (do entrevistado).”

Outro autor – Junker (1971, p. 95), menciona:

“Há também o problema da classe social do pesquisador (entrevistador) em relação à da pessoa de quem se obtém a informação. É surpreendente que tal problema ainda não tenha sido reconhecido na literatura da metodologia. Seja qual for seu papel na coleta de dados, sua importância na vida da família deve ser considerável. Certos aspectos disso são evidentes, mesmo que suas manifestações possam ser um pouco sutis. Por exemplo, famílias de classe alta somente darão informações de certo tipo a pesquisadores de classe alta. As famílias de classe média tendem a se fechar se o interrogador for identificado como pertencente a uma classe baixa. Em conjunto, as classes reconhecem as classes e somente falarão de assuntos íntimos a quem lhes for socialmente igual ou superior. Certo sentimento de intensidade no nível da classe estabelece relacionamento entre o interrogador e o respondente; a percepção de diferenças de classe dificulta tal relacionamento.”

Outro autor, Bernard S. Phillips (1974, p. 127) adiciona algo sobre a

influência da classe social no processo de interação entrevistador –

entrevistado:

“Um indivíduo da classe média, entrevistando um respondente da classe operária, pode possuir uma técnica cuidadosamente elaborada para fazer perguntas e reagir a respostas que não denunciam neste último, seus próprios valores e expectativas. Mas o fato de ser um entrevistador de classe média mal pode ser escondido da maioria dos respondentes, os quais estão abertos a certas deixas, tais como maneira de vestir, o modo de falar e o simples fato da entrevista não ser uma ocupação da classe operária.”

Chisnall (1973, pp. 205-210) comenta sobre entrevistadores experientes

e inexperientes:

“A importância da experiência dos entrevistadores foi tema de uma investigação levada a cabo por Durbin e Stuart para avaliar o êxito dos entrevistadores profissionais experientes versus os estudantes sem experiência na obtenção das entrevistas. Houve uma grande diferença nas porcentagens de êxito (questionário preenchido total ou parcial) entre as duas classes de entrevistadores, a favor dos profissionais experientes.”

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163

Chisnall ainda acrescenta:

“Na maioria dos casos, é preferível que mulheres entrevistem mulheres, e que entrevistadores negros realizem as entrevistas quando estas devem fazer-se em casos de informantes negros.”

Gostaríamos de apresentar um exemplo que se coaduna perfeitamente

com o de Chisnall no parágrafo anterior.

“Trabalhávamos na firma Robert Bosch Ltda, ocupando o cargo de chefe do setor de Pesquisa de Marketing para os países da América Latina, América Central, América do Norte (somente o México) e Caribe. Fomos designados a realizar uma pesquisa em vários países do Caribe. Vamos restringir o exemplo apenas ao país Trinidad &Tobago. Já tínhamos o questionário em inglês – testado no Golf Clube 3M, com ingleses. A pesquisa envolvia peças para veículos a Autopeças e Oficinas Mecânicas.”

Ao iniciarmos nossas entrevistas deparamo-nos com um problema:

éramos brancos e os negros da ilha estranharam nossa presença e recusavam

serem entrevistados. Para nossa sorte, nos encontramos com o Sr. Marcos, um

taxista, que contratamos para aplicar os questionários e com total êxito, pois o

Sr. Marcos era muito conhecido na ilha – ele lia as perguntas do questionário e

nós íamos anotando. Desta forma, resolvemos o problema e completamos

nosso trabalho de campo27.

d) Viés de Desejabilidade Social

“Este tipo de erro pode ocorrer consciente ou inconsciente, porque o entrevistado deseja criar uma impressão favorável ou livrar a cara na presença de um entrevistador. Os rendimentos podem aumentar, a educação pode ser exagerada, ou respostas percebidas podem ser fornecidas para se ganhar prestigio. Em contraste, as respostas a perguntas que busquem informações fatuais ou respostas sobre questões de conhecimento público (CEP, número de filhos e assim por diante) geralmente são bastante precisas, a presença de um entrevistador pode aumentar a tendência de um entrevistado em dar respostas imprecisas a questões delicadas, tais como: “Você votou na ultima eleição?”, “Você tem cupins ou baratas em sua casa?”.

27 Nota do Autor

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O viés de desejabilidade social é especialmente significativo no caso da

pesquisa que aborda temas delicados ou pessoais, incluindo o comportamento

sexual dos respondentes.

ERRO ADMINISTRATIVO

Segundo Zikmund e Babin (2012, pp. 81-182) “O erro administrativo é o

erro causado pela administração ou execução impróprias da tarefa da

pesquisa.”.

Segundo os autores, existem quatro tipos de erros administrativos:

a) Erros de Processamento de Dados

O processamento de dados pelo computador, como qualquer processo

de aritmética está sujeito a erro, pois os dados devem ser editados e inseridos

no computador por pessoas. A precisão de dados processados por computador

depende de sua inserção e programação corretas.

b) Erros de Seleção de Amostra

Tais erros são causados pelo projeto inapropriado de amostra ou pela

execução de procedimentos de amostragem. Uma empresa que seleciona uma

amostra a partir de uma lista telefônica terá alguns erros não amostrais

(sistemáticos), porque vários assinantes proíbem a divulgação de seu número

e estes não estão na lista28. Ademais, inúmeros assinantes deixam de

comunicar a mudança de endereço residencial e o pesquisador ao determinar o

âmbito geográfico da pesquisa (que envolve determinados bairros e não

outros) pensa que está entrevistando pessoas de um bairro quando, na

realidade, está entrevistando pessoas de outro bairro.

Além disso, alguns Institutos de Pesquisa de Marketing estão usando a

técnica de seleção de amostra pela intercepção de pedestres – por exemplo,

na cidade de São Paulo: Viaduto do Chá, Largo 13 de maio e outras regiões. 28 Acrescentaríamos: “Muitos entrevistadores costumam fraudar nas perguntas chamadas “filtros” – por exemplo: O(a) Sr.(a) possui automóvel? Nota do Autor.

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“Este tipo de procedimento introduz um viés nos resultados da investigação porque exclui milhares de pessoas de virem a ser entrevistadas por não frequentarem as regiões investigadas.”

c) Erros do Entrevistador

Embora já tenhamos comentado esse tipo de erro e pelos mesmos

autores (Zikmund e Babin) eles voltam ao mesmo dizendo: “As habilidades dos

entrevistadores variam consideravelmente. Os erros do entrevistador registram

as respostas de forma incompleta por falta de rapidez ou acuidade”.

Além disso, a percepção seletiva dos mesmos, pode fazer com que

registrem o que lhes é transmitido pelos respondentes de forma errônea e

parcial.

d) Fraude do Entrevistador

Também já abordamos o assunto e pelos mesmos autores. No entanto,

como voltam ao assunto, vejamos uma síntese do que eles comentam:

“A fraude ocorre quando um entrevistador preenche respostas a perguntas que foram deliberadamente ignoradas. Alguns entrevistadores fraudam para concluir o mais rápido possível ou para evitar perguntas sobre tópicos delicados.”.

SIM( ) – Prossiga

NÃO( ) – Pule para P.5

Ou seja, se o respondente tivesse dito que não possuía automóvel, o

entrevistador pularia varias perguntas que abordariam vários aspectos sobre o

assunto: Qual a marca do seu automóvel? Por quais motivos o(a) Sr.(a) disse

que está ......................... com o seu automóvel?

(resposta dada)

Vejam que o entrevistador ganhou tempo ao fraudar a pergunta filtro –

dicotômica.

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VERIFICAÇÃO

De uma maneira geral, a grande maioria dos autores de pesquisas

pouco aborda o assunto “Verificação das Entrevistas Preenchidas pelos

Entrevistadores” – principalmente na entrevista pessoal.

Qualquer pesquisador de mercado, que tenha boa experiência em

investigação de mercado, sabe que pelo menos, 20% do material coletado

pelos entrevistadores deve ser refeito, com respondentes. Isso é feito para

validar e autenticar a veracidade das informações contidas nos questionário.

Quando atuamos no Instituto Marplan, como verificador, chegamos a

fazer verificação de outros verificadores e, para nossa surpresa, descobrimos

que alguns deles deixavam de revisitar respondentes, mas assinalavam no

questionário que o haviam feito.

Como se observa, a verificação do material produzido no campo é de

crucial importância para a manutenção da qualidade dos dados coletados na

investigação.

O que é bastante curioso e que merece ser comentado é a atitude

paradoxal de muitas empresas clientes de pesquisas de marketing, no que diz

respeito à Verificação. Quando um Instituto de Pesquisa contratado comunica

que descobriu uma fraude de alguns entrevistadores e que o serviço de campo

vai sofrer um pequeno atraso, o cliente não gosta da notícia e o que é pior, não

convoca mais aquele Instituto na próxima licitação de pesquisa que vier a

realizar. Em nossa concepção, o cliente deveria, ao contrario elogiar o zelo

daquele instituto no tratamento da pesquisa.

Se o assunto verificação é tão importante, quem é esse tal de

verificador?

É um antigo entrevistador com pelo menos 2 a 3 anos de campo e com

comportamento exemplar e que nunca tenha fraudado entrevistas.

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Outra característica importante é que seja equilibrado e imparcial

quando vai realizar suas verificações do trabalho dos entrevistadores. É

homem de extrema confiança do Supervisor de Campo.

Já o Supervisor de Campo comanda o setor de campo nos Institutos de

Pesquisas. Vejamos algumas de suas características29.

• Antigo entrevistador e verificador

• Cabe a ele recrutar e selecionar os entrevistadores e verificadores

• Realizar pré-teste do questionário

• Estimar o preço a ser pago aos entrevistadores – seja diário ou por

entrevista

• Estipular a cota de entrevistas a serem produzidas pelos

entrevistadores

• Dar instruções aos entrevistadores sobre o preenchimento do

questionário da pesquisa

• Fazer o controle das entrevistas entregues aos entrevistadores

• Fazer critica do material devolvido pelos entrevistadores

• Realizar verificação das entrevistas

• Ser imparcial na distribuição de questionário aos entrevistadores.

5. Plano de Tabulação

Após termos realizado o preenchimento dos questionários, termos

criticado seus conteúdos e realizado a operação de verificação, o material está

liberado para ser tabulado.

Segundo Martha Savastrano (2012, pp. 234-252):

“Em pesquisa, tabular é agrupar e quantificar os dados, apresentados em tabelas para facilitar a análise e auxiliar na extração das conclusões. A tabulação permite obter informações e, consequentemente, conhecimento acerca do objeto de pesquisa”...

29 Nota do autor sobre o verificador e o supervisor de campo.

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... Mais adiante a autora complementa:

“Tabulação é a contagem de cada categoria isolada de uma variável, considerando-se a frequência com que cada resposta foi citada na mesma. Cada resposta, assim como a própria tabela formada, é um dado.”.

O quadro 5. mostra um exemplo de tabulação de uma questão de

pesquisa aplicada junto a 100 respondentes. A variável é gênero e contém

duas opções de resposta, expressas pelas categorias feminino e masculino.

Quadro 5. Tabulação

Opções de resposta Totalização da Contagem

CATEGORIA FREQUÊNCIA

Feminino 68

Masculino 32

Total 100

Como visto no exemplo, a frequência é calculada contando-se o número

de ocorrências de uma resposta... A frequência de uma resposta representa

quantas vezes ela foi citada pelos entrevistados e deve ser expressa em

números absolutos e em porcentagens.

Savastrano continua a dar um exemplo contendo outras tabelas.

Vejamos: Quadro 6. Contagem das respostas por categoria das variáveis

marca, atributos de produto e renda familiar, com base em 2 mil questionários.

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Quadro 6. Contagem

Questão 1: Qual a marca de chocolate em pó você prefere?

MARCAS FREQUÊNCIA %

DA FAMÍLIA CACAULÊS DE MINAS TOTAL

1.000 800 200

2.000

50 40 10 100

Questão 2: Que atributo considera mais importante no chocolate em pó?

FREQUÊNCIA %

SABOR COLORAÇÃO SOLUBILIDADE INSTANTÂNEA TOTAL

1.000 400 600

2.000

50 20 30 100

Questão 3: Qual é a renda familiar?

Formando Classes FREQUÊNCIA %

Menos de R$ 1.000,00 De R$1.000 - R$3.000,00 De R$4.000 ou mais Total

900 790 310 2000

45,0 39,5 15,5 100,0

Convém ressaltar, que o plano de tabulação é derivado dos objetivos

(problemas e perguntas menores visadas pela pesquisa).

É muito comum ocorrer de o cliente da pesquisa solicitar objetivos – o

que ele deseja saber e depois de pronta a pesquisa fazer solicitações

adicionais que implicam outras tabulações que implicam custos adicionais e

tempo de dedicação do pesquisador e de sua equipe de tabulação. Isso se

deve principalmente à falta de conhecimento, por parte do executivo e até dos

chefes de pesquisas das empresas-clientes, do que seja um projeto de

pesquisa e suas partes e etapas – encarecendo em muitos casos, a

investigação. O pior é que a pesquisa foi toda planejada com a colaboração

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dos executivos da empresa. No entanto, resolveram “acrescentar” outros

objetivos depois da pesquisa pronta.

Feita esta observação voltemos à tabulação, desta feita de perguntas

abertas, que se apresentam bem mais complexas e de difícil

operacionalização.

De inicio, devemos esclarecer que toda a pergunta aberta de razão

apresenta mais motivos na resposta do número de respondentes. Dificilmente

uma dona de casa dará uma só razão ao responder por quais motivos prefere

determinada marca de sabão em pó. Neste caso, o número de razões

oferecidas pelas mesmas é superior ao seu número, porque suas respostas

são múltiplas.

E aqui aparece um erro de interpretação dos pesquisadores, alguns até

com larga experiência.

Antes de prosseguirmos convém situar os números com os quais

trabalhamos em pesquisa de mercado e mais, especificamente, na tabulação.

São eles:

Nº BASE – é o número de pessoas, indústrias, comércio, etc, que

responderam àquela pergunta à qual estamos nos referindo.

N.A. – é o número absoluto que comumente se chama de frequência, a

soma das respostas em cada categoria.

Nº Relativo – é a porcentagem obtida derivada do N.A. sobre o número

BASE.

Se a pergunta enseja respostas múltiplas – mais de um motivo/razão

dada por um mesmo entrevistado a soma de todos os motivos superará o nº

BASE. Neste caso, para que possamos legitimar o resultado da tabela,

devemos colocar no rodapé da mesma uma observação:

R.M. Total Superior a 100% ou Respostas Múltiplas, total Superior a

100%

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Antes de apresentarmos o exemplo queremos relembrar que em

pesquisa de mercado trabalhamos com três números:

O Nº BASE – N.A. Número Absoluto e o Número Relativo (%).

Vejamos o exemplo

Pesquisa sobre Maizena

Questionário

1. A senhora tem criança com menos de 2 anos em casa?

Resposta Nº de Respostas %

Sim 43 19,4

Não 179 80,5

Total 222 100,0

2. A senhora usa mamadeira na alimentação dessa(s) criança(s)?

Resposta Nº de Respostas %

Sim 28 65,1

Não 15 34,9

Total 43 100,0

3. Qual o produto ou produtos usados para engrossar o leite da

mamadeira? (Respostas múltiplas)

Resposta Nº de Respostas %

Maizena 18 55,5 Creme de arroz 5 15,2

Fubá 1 3,0 Aveia 2 6,1 Outros 4 12,1 Nenhum 3 9,1 Total 33 100,0

Antes de prosseguirmos com o exemplo, desejamos alertar para

algumas falhas cometidas na apresentação das tabelas.

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Na tabela nº 1 a mesma deveria ter a seguinte configuração:

N.A %

Sim (43) 19,4

Não (179) 80,5

BASE 222

Na tabela nº2

N.A %

Sim (28) 65,1

Não (15) 34,9

BASE 43

Na tabela nº 3 número de respostas supera o número de respondentes

(BASE) daí a colocação do R.M. no rodapé da tabela.

N.A. %

Maisena (18) 64,29 Creme de arroz (5) 1,79

Fubá (1) 0,36 Aveia (2) 0,57 Outros (4) 1,43 Nenhum (3) 1,07 BASE (28)

R.M. Total Superior a 100%

Façamos aqui uma breve interrupção para chamar atenção sobre alguns

erros de apresentação das tabelas induzindo ao erro quem as lê e interpreta.

A) Em 1º lugar na tabela nº 2 está faltando o N.A. – número absoluto

colocado acima dos números de Sim (28) e do Não (15).

Por outro lado, deve-se colocar o nº BASE, pois é dele que derivamos o

cálculo porcentual representado pelos números absolutos; no caso BASE é 222

e não total.

Ademais, até por uma questão de estética e de apresentação da tabela,

não devemos colocar ao lado de cada número porcentual, o sinal de

porcentagem (%). Basta colocá-lo acima da coluna e qualquer leitor saberá que

o que está abaixo são números porcentuais.

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B) Na tabela nº 2 o erro é mais grosseiro em termos tabulares: o autor da

tabela institui como nº BASE a soma dos números absolutos e, desta

forma escamoteou a verdadeira participação porcentual de cada

produto utilizado pelas donas de casa para engrossar o leite da

mamadeira

Vamos a outra tabela da mesma pesquisa e que enseja demonstrar o

chamado cruzamento de uma pergunta com outra pergunta.

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Demonstração Tal Como se Apresenta na Tabela

4. Por que a senhora prefere esse(s) produto (s) para engrossar o leite?

Motivos da preferência Total

Mencionaram maisena

Não mencionaram maizena

Nº % Nº % Nº %

Indicação médica 11 44 5 27,5 6 85,7

Hábito 7 23 7 38,9 0 0

Bom para os intestinos das crianças

3 12 2 11,1 1 14,3

Sem especificação 4 16 4 22,2 0 0

Total 25 100 13 100,0 7 100

Como se observa, esta tabela é resultante dos cruzamentos das

perguntas:

P3 (usa e não usa maizena) X P.4. (motivos da preferência)

Pelo exposto na tabela, podem-se observar alguns erros de

apresentação da mesma.

a) Do resultado da tabela podemos inferir que os entrevistadores não

souberam explorar a pergunta e obtiveram, na média, apenas um

motivo para justificar a preferência das donas de casa que usavam

algum produto para engrossar o leite da mamadeira de seus filhos.

b) Na 1ª Coluna e nas duas outras, adotam uma nomenclatura

equivocada: Nº ao invés de N.A. (número absoluto) e assim mesmo

sem colocá-los entre parêntesis para evitar erro de interpretação do

leitor.

Finalmente, colocaram no rodapé da tabela a palavra total ao invés de

BASE. Não há necessidade de colocar a soma das porcentagens 100% ao final

de cada coluna, pois só serve para poluir a apresentação da tabela.

Continuemos com o exemplo, mostrando outras tabelas.

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5. A senhora costuma usar Maizena em sua casa (as responderam NÃO às perguntas 1 e 2).

Resposta Nº de Respostas

Sim 195 91,5%

Não 9 8,5%

A tabela demonstra que:

a) Não há necessidade de colocar Resposta acima do Sim e do Não

(embora não seja de todo errado).

b) Deve-se colocar acima dos números absolutos 195 e 9 não a

designação número de respostas, mas N.A. ; e o sinal de porcentagem

ao invés de ser colocado ao lado dos números porcentuais, deve ser

colocado acima dos mesmos, pois fica mais harmônico e não polui com

suas reiteradas repetições.

Finalmente, há um erro crasso na tabela, pois não temos um número

BASE sobre o qual calcularmos as porcentagens. Vejamos como deveria ser

apresentada a tabela 5. A senhora costuma usar maizena em sua casa?

N.A BASE (204 %)

Sim (195) 95,59

Não (9) 4,41

Convém salientar, que o bom entrevistador deverá estar atento, pois ele

já perguntou algo similar às mesmas donas de casa, quando fez a pergunta nº

3 (Qual o produto ou produtos usados para engrossar o leite da mamadeira?).

E aquelas donas de casa (18) que mencionaram maizena não devem

ser reinqueridas – pois já responderam que usam.

Portanto, se a pesquisa começou com 222 amostras de donas de casa e

18 já afirmaram usar maizena, sobram para a pergunta 5. apenas 204 e destas,

9 apenas não compram para nenhum uso.

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5.1. Tabulação de Perguntas Abertas de Razão

Um capítulo da tabulação que deixa preocupado é aquele referente à

tabulação das perguntas abertas de razão. Todos sabemos que a tarefa é

bastante complexa e difícil de ser operacionalizada. Além disso, falta mão de

obra especializada nesse tipo de tabulação. Um entrevistador talhado para

aplicar com êxito uma pergunta aberta, deverá obter uma resposta

substanciosa e plena de motivos e razões; em outras palavras, saberá

“explorar bem” a resposta do (a) entrevistado (a). Até ai nada demais. Mas e

depois, o que fazer com aquela massa de dados obtidos? Temos que tabulá-

los.

O trabalho começa com a crítica do material, ou seja, termos

ininteligíveis (o que é normal, pois o entrevistador no afã de anotar quase que

ao pé da letra o que lhe diz o entrevistado, escreve de qualquer maneira e que

poucos entendem – letra de médico). Terminada esta etapa, começamos a

tabulação propriamente dita. Inicialmente, vamos separar as razões/ motivos –

as chamadas categorias de respostas mutuamente exclusivas, ou seja,

contendo no seu conteúdo semântico diferenças tais que – como diz Selltiz et.

al. (1974, p. 445: “de forma que cada resposta nem sempre é toda uma

resposta, mas sim um motivo, uma razão) possa ser colocada sem

ambiguidade, numa categoria ou outra.”.

Particularmente, procuramos realizar a tabulação de perguntas abertas

da seguinte maneira.

1. Tomamos várias folhas em branco e colocamos o número e o

título da pergunta.

2. Depois, lemos com vagar toda a resposta e simultaneamente

vamos separando os motivos e razões diferentes.

3. Cada categoria de razão/motivo vai sendo colocada na margem,

tomando o cuidado para deixar um espaço em branco entre uma e

outra razão, pois pode aparecer outra sinônima daquela e que, a

nosso ver deve ser adicionada àquela, o que robustece àquela

categoria.

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Convém salientar, que em inúmeros casos, o tabulador é obrigado a ler

todo o questionário para poder entender o que aquele entrevistado quis dizer e

transmitir naquela pergunta que está sendo objeto da separação das categorias

e da interpretação do entrevistado. Em outras palavras. Nem sempre o

respondente sintetiza sua resposta em um só momento, mas, uma mescla de

motivos e assuntos que se entremeiam para explicar o que pretende dizer e,

finalmente, completar sua explicação. Inclusive existe a técnica de entrevista,

na qual são colocadas em algumas partes do questionário perguntas similares

na esperança de se conseguir “arrancar” mais explicações do respondente. Ao

se tabular, se junta o que foi dito numa pergunta com outra que foi perguntada

mais adiante. É evidente que o entrevistador (sempre deve ser experiente)

deve saber contornar o obstáculo caso o entrevistado perceba que está sendo

novamente interrogado sobre o mesmo assunto. Alguns chamam esta

artimanha de “pergunta de reforço.”

4. Voltando ao assunto tabulação, ao prosseguirmos na tabulação,

devemos relevar a classificação que fizemos das categorias para

verificarmos se podemos agrupá-las em menos categorias sem, no

entanto, misturarmos significados heterogêneos e semanticamente

dissociados.

Convém esclarecer que na primeira roda de colocação das categorias de

motivos/razões, não devemos ter a pretensão de lograrmos fazer a separação

definitiva. Pelo contrário, no segundo exame desta imensa lista, ai sim,

podemos ir aproximando as categorias e juntá-las após termos certeza de que

são iguais semanticamente falando – seus significados são os mesmos (por

isso dissemos anteriormente que é de bom alvitre o tabulador ler todo o

questionário para ter ideia daquilo que o respondente transmitiu).

5. Finalmente, chegamos ao objetivo central da tabulação: obter de

todas as respostas – com seus motivos e razões – quais são as

categorias de respostas que nos foram transmitidas pelas pessoas

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entrevistadas e com que intensidade (das mais mencionadas para

as menos mencionadas).

Em 2007, realizamos através de nosso Instituto de Pesquisa – o IMEP –

uma pesquisa na cidade de Bertioga (litoral de São Paulo) uma pesquisa

bastante detalhada e que envolvia, entre outros assuntos, “Quais eram os

Principais Problemas da Cidade” (Resposta Espontânea).

Subdividimos a cidade em 8 (oito) Regiões – e nos principais problemas

apontados pelos eleitores:

Principais Problemas de cada Região

REGIÃO

1 REGIÃO

2 REGIÃO

3 REGIÃO

4 REGIÃO

5 REGIÃO

6 REGIÃO

7 REGIÃO

8 TOTAL

Principais problemas % % % % % % % % %

1. Ruas esburacadas (mal conservadas)

24,0 21,0 22,0 2,5 40 23 20 30 23

2. Não tem rede de esgoto

10, 0

36,0 29,5 15,0 27 22 20 26 23

3. Ruas cheias de matos

8,0 9,5 47,0 22,5 13 13 20 20 21

4. Não tem segurança nas ruas/ falta policiamento nas ruas

25,0 31,0 6,0 7,5 13 16 32 29 19

5. Não tem asfalto 19,0 21,0 14,0 7,5 10 17 24 22 17

6. Esgoto a céu aberto

6,0 28,5 22,0 12,5 7 26 4 5 15

7. Saneamento básico precário

12,5 5,0 10,0 12,5 13 8 4 8 9

8. Ruas sem iluminação

11,0 7,0 1,0 12,5 20 4 12 16 9

9. Buraco nas ruas enchem e fecham a rua, não da para passar

3,0 21,0 10,0 2,5 10 5 4 7 7

10. Falta postos de saúde

4,0 2,0 11,5 7,5 3 2 32 4 7

11. Ruas sujas com lixo

6,0 5,0 6,0 15,0 7 5 8 13 6

12. Falta água 6,0 9,5 1,0 7,5 20 1 - 3 5

Respostas Múltiplas, total Superior a 100%

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5.2. Tabulação e as Respostas Múltiplas

Quando temos perguntas fechadas ou abertas e que ensejam respostas

múltiplas, ou seja, um entrevistado pode dar, simultaneamente, mais de uma

resposta, como devemos agir?

Segundo Savantrana (2012, p. 246) “Uma pergunta gera respostas

múltiplas quando o respondente pode optar por mais de uma alternativa de

respostas.”.

Normalmente, as resposta múltiplas derivam de uma única pergunta,

como demonstrado no exemplo a seguir, mas também podem ser gerados na

construção da tabela, a partir do agrupamento de perguntas com respostas

únicas, que recebem tratamento combinado.

A tabulação de respostas múltiplas a uma única pergunta é geradora de

grande viés em tabulação, devido a considerações errôneas sobre esse tipo de

resposta e também por poderem ser tabuladas de várias formas, dependendo

da informação que se busca.

Considere uma pesquisa com uma amostra de 500 respondentes que

responderam a seguinte questão: quais meios de locomoção você utilizou para

ir até o seu trabalho nos últimos 30 dias?

Vamos ao resultado do exemplo.

Meios de Locomoção Utilizados

Meios de Locomoção Fr Porcentagem de entrevistados

Metrô 165 33,0% Ônibus 164 32,8% Carro próprio 100 20,0% A pé 68 13,6% Bicicleta ou moto 52 10,4% Carona 49 9,8% Outros 2 0,4%

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Segundo a autora (Savantana):

“o erro mais comum está em se considerar o número total de respostas da classe metrô com as de ônibus, e assim sucessivamente com os demais meios de locomoção; como o entrevistado poderá optar por mais de uma categoria (alternativa de resposta) na mesma questão, o número de respostas ultrapassa o número de respondentes.”.

A solução da autora é tabular as respostas múltiplas de acordo com a

PARTICIPAÇÃO DE RESPONDENTE POR CATEGORIA - resultado que

mostramos na tabela anterior.

A outra solução tem a seguinte proposta:

Tipo de meios de locomoção utilizados

Fr. Porcentagem de entrevistados

01 109 21,8% 02 280 56,0% 03 73 14,6% 04 32 6,4%

05 ou mais 6 1,2%

Total 500 100,0%

E a autora erra ao colocar o resultado como segue:

Distribuição das Respostas

Meios de locomoção Quantidades de

respostas Porcentagens do meio no

total das respostas Carro próprio 100 16,7%

Metrô 165 27,5% A pé 68 11,3%

Bicicleta ou moto 52 8,7% Ônibus 164 27,3% Carona 49 8,2% Outros 2 0,3%

Total: meios de locomoção citados 600 100,0%

Nosso Comentário

Cremos, salvo melhor juízo, existir uma norma tabular aceita pela

totalidade dos Institutos de Pesquisas e pelo Departamento de Pesquisas de

Mercado das Empresas usuárias de pesquisas, qual seja: a famosa R. M. Total

Superior a 100% ou Respostas Múltiplas, Total Superior a 100%. Em outras

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palavras, não se deve mascarar o resultado com reducionismo estatístico para

que o resultado dê 100%. Ao contrário, se o número de respondentes for

menor do que o número de razões/motivos, o total será legitimado por esta

norma tabular. Para não repisarmos o exemplo dado pela autora, daremos

outro caso. Vejamos:

QUAL A MARCA DO SEU AUTOMÓVEL?

MARCAS N.A. (700) %

A (300) 42,86

B (250) 35,71

C (200) 28,57

OUTRAS (100) 14,29

Respostas Múltiplas, total superior a 100%

No exemplo temos:

a) A coluna das marcas dos automóveis

b) N.A. – o número/ frequência dos proprietários dos veículos por

marca (em números absolutos).

c) Número Base – O número de proprietários de veículos que foram

entrevistados.

d) Números relativos – porcentuais (%).

E o resultado não poderia ser outro para que possa ser REAL e NÃO

FICTÍCIO:

42,86 – tinham o veículo da marca A

35,71 - tinham o veículo da marca B

28,57 - tinham o veículo da marca C

14,29 - tinham o veículo de outras marcas

É bom que se frize, isso não é matéria de debate ou discussão, pois é

assunto já resolvido30.

30 Nota do Autor

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Do que foi exposto, podemos concluir que dependendo da colocação do

pesquisador, um viés pode ser introduzido levando a erro o cliente da pesquisa.

Portanto, é um erro não amostral que pode ocorrer no transcurso da

investigação.

5.3. Tabulação Quanto aos Objetivos da Pesquisa

Outra observação que devemos fazer é que a tabulação depende dos objetivos

visados pela investigação podendo ser.

a) Tabulação Simples (pergunta por pergunta); e

b) Tabulação Cruzada (pergunta VS. pergunta)

Quando tabulamos uma pergunta de forma isolada, estamos realizando uma

tabulação simples; bastando fazer isso para responder a um objetivo.

Por exemplo:

1. O (a) Sr. (a) possui automóvel?

N.A. (100 %) SIM (700) 70 NÃO (300) 30

Bastou a tabulação de uma pergunta e obtivemos a resposta ao objetivo:

Quantos consumidores possuem automóvel? Resposta: 70%

Se a este objetivo acrescentarmos outro, tal como: Qual a proporção de

homens e de mulheres que possuem automóvel?

Neste caso, teremos que cruzar a posse do automóvel com o sexo do

seu proprietário. Vejamos, num exemplo hipotético. Como ficaria o resultado.

SEXO MASCULINO FEMININO

(400) (300) % %

57,14 42,86

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Desta forma realizamos uma tabulação cruzada – ou seja, tomamos

duas perguntas: Posse de Automóvel – os que disseram SIM e Cruzamos com

o sexo do possuidor (masculino VS. feminino), e obtivemos a resposta.

Vamos dar outro exemplo de tabulação cruzada

Por quais motivos o (a) Sr. (a) disse que vai votar no candidato ..........?

Base (70) (150) (300) (180) Total (700)

Razões Paulo Reginaldo Pedro Geraldo

N.A. % N.A. % N.A. % N.A. % N.A. %

É realizador – faz obras

(20) 20,86 (30) 20 (80) 26,67 (50) 27,78 (180) 25,71

É honesto (10) 14,28 (50)33,33 (50) 16,67 (30) 16,67 (140) 20

Apóia a construção de

escolas (20) 20,86 (30) 20 (60) 20 (40) 22,22 (150) 21,43

Dá importância para a saúde

(15) 21,43 (25)17 (70) 23,33 (45) 25 (155) 29,14

Outras razões (15) 21,43 (25) 17 (60) 20 (35)19,44 (135) 19,28

R.M. Total Superior a 100%.

Para finalizar a tabulação, embora já tenhamos apresentado várias

delas, temos as tabelas analíticas. Estas representam as tabulações simples e

cruzadas que foram confeccionadas de acordo com os objetivos fixados e

visados pelo projeto de pesquisa.

As tabelas com seus números bases, números absolutos e números

relativos, acompanhados dos seus conteúdos descritivos, perfazem aquilo que

nós denominamos de tabelas analíticas ou porcentuais e representam o

resumo das descobertas feitas pela investigação realizada. E que estávamos

perseguindo na pesquisa.

A tabulação e a sua representação gráfica – as tabelas – é o retrato

fidedigno daquilo que desejávamos saber para poder tomar nossas decisões

mercadológicas: lançamos ou não lançamos o produto? Mudamos ou não

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mudamos a embalagem? Mantemos ou aumentamos ou diminuímos o preço

do produto? Quem são os nossos concorrentes? Quais são os nossos pontos

fracos e fortes? Enfim, qual a melhor decisão tomar, com base nos insumos

oriundos da pesquisa de mercado?

6. ANÁLISE

Se bem conduzida a fase anterior – a tabulação – já temos meio

caminho andado para fazer a análise, pois a analise é a interpretação do que

mostram as tabelas analíticas. A tabulação é parte integrante da análise – é a

pré análise. A esta caberá descrever, de forma sintética e aguda, o que

mostram as tabelas.

O analista deve ter atenção para não extrapolar nem se estender

demasiadamente em tecer considerações. Deve procurar se ater àquilo que é

essencial e que responda aos objetivos – perguntas da pesquisa.

Devemos colocar em relevo, que a maioria das análises mercadológicas

são do tipo descritivo. Segundo Zikmund (2006, p. 426).

A “análise descritiva se refere à transformação de dados brutos em uma forma que facilite sua compreensão e interpretação – reorganizando, ordenando e manipulando os dados (coletados) para gerar informações descritivas.”.

A análise é uma investigação inteligente daquilo que a pesquisa

descobriu e revelou e que o executivo está aguardando para que possa tirar

sua dúvida, corroborar sua hipótese e, finalmente, tornar suas decisões de

marketing, geralmente enfocando um ou mais dos quatros P’s – Produto,

Preço, Ponto de Distribuição e Promoção (Propaganda + Venda Pessoal; ou

seja, tomar decisões ligadas às estratégias e táticas de marketing.)

Vejamos um exemplo de análise descritiva proporcionada pelo Instituto

de Pesquisa Yankelovich Monitor nos Estados Unidos. De acordo com seu

estudo conduzido em 1999 – apenas alguns fragmentos – 92% das crianças

eventualmente preparam sua refeição matinal, 31% delas disseram que

preparam também o jantar.

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Ademais, não parece que a maioria das crianças considera o preparo

das refeições uma tarefa cansativa: 92% disseram que gostam e que não se

importam de prepará-las. As razões mencionadas para tornar a tarefa tão

divertida foram às seguintes:

• Poder escolher a comida que gosto – 67%

• É divertido cozinhar – 61%

• Poder comer o que eu quiser – 57%

• Posso comer a quantidade que desejar – 51%

• Posso criar novas e diferentes combinações de alimentos – 47%

Essas descobertas interessantes ilustram os resultados de uma típica

análise descritiva.

Chisnall (1980, pp, 307 – 308) acrescenta:

“A análise de dados pode abranger simples descrições estatísticas como médias, porcentagens, distribuições e medidas de dispersão, que existem na maioria dos levantamentos. Por exemplo, é costumeiro descobrir uma correlação positiva ou negativa entre o uso do produto e o nível de renda ou grupo social: os telefones da cidade de “Abatui” (hipotética) são encontrados predominantementenos lares das classes média e alta. A correlação indica o grau de movimento entre duas variáveis; dá uma medida da associação, mas a existência de correlação não implica que o relacionamento seja causal. Este pode ter ocorrido por casualidade e nada ter a ver com causa e efeito.

Com muitos problemas de marketing, por exemplo, o volume de vendas,

deve-se considerar, diversas variáveis que envolvem o uso de métodos

estatísticos mais sofisticados, como o de regressão múltipla e vários outros.

Moser (1969, pp, 115-6) afirma categoricamente que: “qualquer que seja

a natureza dos dados, a tarefa de interpretação cai pesadamente sobre os

ombros do pesquisador.” No decurso da pesquisa, ele terá adquirido grande

experiência em lidar com os dados brutos e “... conquanto cada leitor tenha o

direito de tirar suas próprias conclusões, quem redigiu o relatório do

levantamento não deve fugir ao dever de dar as suas.” Ademais, o pesquisador

teria falhado em dar sua própria contribuição ao levantamento se não incluísse

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“suas próprias ideias e especulações, ainda que não pudesse apresentar

provas que as substanciassem”.

Aqui devemos tomar cuidado com aquilo que colocamos no Resumo –

Executivo: colocar apenas o que é importante, aquilo que merece ser

destacado e não nos deixarmos levar pela prolixidade.

7. CONCLUSÕES

Esse tópico foi por nós criado há muitos anos atrás. Como o

aprendemos?

Vínhamos de uma viagem ao México (em 1969) onde havíamos

realizado uma pesquisa de 32 (trinta e dois) produtos da marca Bosch.

Basicamente, o objetivo central era o de verificar quais eram nossos

concorrentes e qual sua participação e que deixamos de mencionar para não

nos alongar em demasia. Ao término da pesquisa, fizemos a tabulação dos

dados, a confecção das tabelas e finalizamos com uma análise detalhada das

descobertas da pesquisa.

Passados 3 (três) meses, voltamos ao Brasil e encaminhamos nosso.

Relatório, contendo 150 (cento e cinquenta) páginas diretamente para o

Presidente da empresa Robert Bosch Limitada. Após cerca de 20 (vinte)

minutos, se tanto, a secretária do Presidente devolveu-me o relatório com uma

recomendação: “Egydio resuma o que você escreveu em duas ou no máximo 3

(três) páginas e envie para o Presidente.” Estupefato, peguei meu suado

relatório e refleti: “Depois de três meses de trabalho árduo e pesado, entrego o

resultado esperando que fosse lido e relido. E agora recebo-o para ser

resumido em apenas duas ou três paginas? Não entendo.”

Passados alguns anos e depois de ter realizado dezenas de pesquisas,

aprendi a lição: Nenhum executivo que se preze, poderá dedicar tanto tempo à

leitura de um relatório solicitado, tem mais o que fazer. Ele deseja receber o

suprassumo dos resultados. Tudo isso alinhado em 15-20 pontos principais.

Um resumo revelador das principais descobertas da pesquisa. “Se tiver alguma

dúvida, após sua leitura, chamará o pesquisador para esclarecê-la.”.

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É isso que chamamos de “CONCLUSÕES” - rápidas considerações,

com as principais descobertas da pesquisa em não mais do que duas três

folhas. Estilo executivo – estilo telegrama, apresentar apenas alguns fatos e,

desta forma colocarmos em relevo algo que mereça ser destacado. Calculamos

que se leva uns 5 (cinco) anos para se formar um excelente pesquisador de

mercado, que conheça técnicas e métodos de pesquisas de mercado e,

sobretudo, administração de marketing.

8. RECOMENDAÇÕES DE MARKETING

Chegamos à última etapa do Projeto de Pesquisa de Marketing: “O QUE

FAZER COM TODAS ESTAS INFORMAÇÕES? QUAIS AS DECISÕES DE

MARKETING TOMAR?

Eis, em resumo, o que devemos dizer para os executivos que

encomendaram a pesquisa.

Neste momento, é bom que se faça uma ressalva:

“As recomendações de marketing aqui oferecidas, tomam como ponto de partida o atendimento das necessidades e desejos dos consumidores.” Ou seja, as decisões são tomadas de “fora para dentro.”

As informações coletadas pela pesquisa de mercado, servirão de insumo

às tomadas de decisão pelos executivos.

Em geral, as Recomendações de Marketing se reportam, às variáveis

que compõem o composto de marketing, os chamados 4P’s.

• Produto

• Preço

• Ponto de Distribuição

• Promoção (venda pessoal e propaganda)

É evidente que a consumação de cada recomendação para cada P, irá

depender de se os objetivos previstos na pesquisa abrangem todos os P’s.

Caso contrário, as recomendações de marketing ficarão adstritas àqueles P’s

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cujos insumos permitirem tirar conclusões e, consequentemente, fazer as

recomendações de marketing sobre que decisão os executivos deverão tomar.

Convém alertar, tal como já fizemos no tópico anterior

(conclusões), que aqueles que sugerem cursos de ação, devem se acautelar

contra o envolvimento pessoal, despido de fatos e deixar os aspectos

instintivos de lado. No caso de dúvida, recorra aos resultados contidos no

Relatório da Pesquisa. Elabore primeiro, um rascunho. Depois melhore o que já

escreveu reveja criticamente o que acabou de afirmar, veja os prós e contras e

então decida e chancele.

Resumidamente, vamos apresentar um caso real em que fizemos as

Recomendações de Marketing.

Recomendações de Marketing

As sugestões que passamos a oferecer terão como parâmetro os

resultados da pesquisa e as variáveis que compõem o marketing mix – os

denominados 4P’s.

1. Política de Produto

A política de produto deverá levar em consideração

a) Linha completa de filtros

Os diversos públicos pesquisados sugeriam que o novo fabricante

deveria possuir uma linha completa de filtros, para todas as marcas e tipos de

veículos, inclusive os importados.

De acordo com o catálogo dos filtros WIX, com exceção da linha de

caminhões, a amplitude e profundidade do portfólio de produtos preenche as

necessidades do mercado.

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b) Embalagem

A embalagem deverá ser atrativa e chamativa – é uma recomendação do mercado.

c) Marca

O resultado da pesquisa mostrou que a melhor política de marca será

introduzir a marca WIX ao lado da marca ALBARUS - principalmente pelo

nome e prestígio que goza no mercado de autopeças.

Convém salientar, que mesmo os Postos de Gasolina que não

comercializam os produtos da ALBARUS, 31% deles escolheram a mesma

fórmula WIX-ALBARUS – ainda que 53% deles tenham optado pela marca WIX

isolada.

A penetração e aceitação do novo filtro seriam facilitadas pela junção

das duas marcas.

d) Assistência Técnica

As reclamações foram inúmeras e representam um dos pontos fracos

das marcas concorrentes: nenhuma marca dá assistência técnica –

principalmente cursos e visitas técnicas às oficinas mecânicas e postos de

gasolina. Seria um fator diferencial, capaz de posicionar a nova marca.

Acresce notar que, grande número de instaladores de postos de

gasolina, não tem experiência na instalação de filtros, ocasionando problemas

e reclamações dos proprietários de veículos.

e) Garantia

Bom número de entrevistados reclamou que a maioria dos fabricantes

não efetua a troca dos filtros que apresentam defeitos de fabricação. Uma

política firme de garantia surtiria bom efeito no mercado e serviria para

acentuar uma diferenciação da nova marca de filtros. Além de infundir

confiança no usuário potencial de que a nova marca tem boa durabilidade e

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não vai dar problemas e reclamações dos clientes – dois atributos muito

mencionados pelos públicos pesquisados.

2. Política de Preço e Prazo de Pagamento

O preço foi considerado um fator importante na aceitação de uma nova

marca. Pelos resultados da pesquisa, os preços dever-se-iam situar abaixo do

Fram e próximos daqueles praticados pela Logan e Tecfil – assim como os

prazos de pagamento. A ligação do nome ALBARUS à marca WIX, poderia

proporcionar a fixação de uma política de preço um pouco mais folgada pela

excelente imagem dos produtos fabricados pela ALBARUS.

3. Política de Distribuição

Com relação ao mercado de Revenda de Autopeças a nova marca não

encontrará dificuldades, pois aproveitará a atual rede de distribuidores da

ALBARUS. Já no segmento de Posto de gasolina, existem distribuidores

específicos (boas exceções são os distribuidores Lourival Carletti e Karan –

que atuam nos dois segmentos: Autopeças e Postos de gasolina – dentre os

quais podemos destacar: Boa Nova, Anzoategui, Sortifil e Sarauto, só postos).

Cabe ainda ressaltar, que alguns fabricantes de filtros estão fazendo

acordo com os Distribuidores de Combustível, para fornecimento do produto,

com exclusividade para parte da rede de Postos de gasolina. Por exemplo:

segundo a vendedora do Lourival Carletti – Srta. Rosangela – a Mann está

fechando contrato com a Shell para uma promoção conjunta – de filtro e óleo –

para fornecer seus filtros de forma exclusiva para 200 postos Shell.

Outro caso em andamento é o da divisão Jet-Oil da Ipiranga. Esta é uma

empresa do grupo Ipiranga encarregada de franquear Postos de Troca de Óleo

– possuindo até o momento 10 unidades. Estão buscando um parceiro (já

estão desenvolvendo negociações com a Fram) para fornecimento de filtros de

óleo sob sua marca. Entramos em contato com o Sr. Heitor Roberto

Paschoalini que disse estar interessado em negociar com a ALBARUS.

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4. Política de Divulgação e Promoção

Eis outra variável chave no processo de introdução e penetração de

mercado. O mercado revendedor. Autopeças e Postos de gasolina – deseja

que a marca seja conhecida e que haja procura pela mesma. Desta forma, a

realização de uma campanha de propaganda se fará necessária.

De outra parte, a pesquisa foi pródiga em demonstrar que:

• Não há praticamente nenhuma propaganda nos Postos de Venda – é

muito pobre – tanto em Postos de gasolina, como em autopeças e

Oficinas Mecânicas.

• Praticamente inexistem promoções do tipo prêmios, brindes e

concursos dirigidos aos balconistas das Autopeças e aos frentistas

dos Postos de Gasolina (alguns proprietários de Postos de Gasolina

oferecem, do próprio bolso, comissão para seus frentistas), bem

como junto as Oficinas Mecânicas.

Do exposto, podemos concluir que tais promoções seriam bem

recebidas pelo mercado e surtiriam bom efeito sobre as vendas iniciais da nova

marca de filtros.

Os mecânicos também gostariam de participar de tais promoções:

Visitas técnicas e cursos sobre os novos filtros deveriam fazer parte do

mix de promoções, principalmente junto aos públicos Oficinas Mecânicas e

Postos de Gasolina, vimos muita Xerox de tabelas de aplicação, mas poucos

catálogos ou tabelas originais. Nas Autopeças, a grande maioria possuía

catálogos e/ou tabelas de aplicação.

Em razão disto, sugerimos que catálogos – tabelas de aplicação sejam

distribuídas junto aos três públicos: Oficinas Mecânicas, Autopeças e Postos de

Gasolina.

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5. Posicionamento

A pergunta central é a seguinte: “COMO PODEMOS POSICIONAR OS

FILTROS DE COMBUSTÍVEL WIX DE MOLDE A DAR-LHE UMA

DIFERENCIAÇÃO REAL E PERSONALIDADE PRÓPRIA, CAPAZ DE

DISTINGUI-LOS DAS DEMAIS MARCAS CONCORRENTES?”.

Diante de tantas e variadas marcas concorrentes, como posicionar os

novos filtros WIX?

A resposta se encontra diluída nas diversas tabelas da pesquisa,

principalmente quando abordarmos os pontos fracos dos concorrentes:

• Não dão assistência técnica – suporte técnico para frentistas e

mecânicos – cursos para os instaladores.

• Não dão cursos de treinamento – para o pessoal de vendas

• Não trocam as peças com defeito – de forma desburocratizada

• Fazer propaganda nos postos de gasolina, nas Autopeças e

Oficinas mecânicas.

• Fazer promoções - do tipo prêmios, brindes e concursos para

mecânico, bombistas e balconistas de autopeças.

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CAPÍTULO III

O ESTADO DA ARTE NO ERRO NÃO AMOSTRAL

1. O Estado da Arte no Erro Não Amostral

Estamos agora, naquilo que é o assunto central de nossa tese: “Qual é o

Estado da Arte no que tange ao Erro Não Amostral?”.

De acordo com as etapas que propusemos na primeira parte de nosso

projeto, teremos por norte a sequência de um projeto de pesquisa. Faremos um

balanço da teoria disponível e, quando for pertinente, daremos nossa

contribuição quer acrescentando algo no vácuo deixado pela teoria e/ou

discordando da mesma, quando for o caso.

2. Formulação do Problema

Como já vimos, esta é a primeira e principal etapa do projeto de

pesquisa. Sem problema, claramente localizado e definido, não temos como

realizar uma pesquisa de mercado.

Quais os erros e vieses que ocorrem nesta etapa do projeto? Vários são

eles.

Vejamos os principais e que podem influenciar a qualidade da

investigação.

a) Os executivos das empresas, na sua maior parte, não sabem como

localizá-los e defini-los.

O que diz a teoria sobre o assunto?

Quando abordamos o tópico “Panorama da Pesquisa de Mercado no

Brasil e Tecnologia”, relatamos um encontro entre profissionais e professores

de propaganda e pesquisa de mercado e de marketing. Um dos participantes,

Francisco Toledo, ao comentar sobre a qualidade das pesquisas, disse: “No

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meu entender, piorou também na área do cliente. Não há cultura suficiente.

Tive uma experiência recente, com um cliente grande, cuja responsável por

pesquisa era uma pessoa desprovida de qualquer capacitação para tratar do

assunto. Pois não tive dúvida: disse a esse cliente que não havia possibilidade

de atendê-lo porque sua funcionária não tinha condições para dialogar com

meu pessoal.”.

Outro participante, Celso Forster, deu continuidade a crítica dizendo:

“Você tocou num ponto importante: a qualidade dos briefings de pesquisa. É quase inexistente. Na verdade, o que dizem é: “Meu problema é o seguinte: eu preciso descobrir isso aqui.”

Participei de uma apresentação dos resultados de uma pesquisa e o

entendimento do cliente foi o inverso do que estava sendo demonstrado.

Tivemos que voltar para reorganizar a informação de forma que ele entendesse

o que estávamos apresentando. A discussão é: como é que a gente forma

profissionais, que tenham capacidade? Não de fazer a pesquisa, mas de

preparar um briefing para um Instituto de Pesquisa (que vai contratar).

Segundo Jaime Troiano

“O pesquisador está diante de três grandes desafios, que apontam na direção futura de sua formação plena: uma é entender claramente a frase: O consumidor diz o que pensa, mas faz o que sente.”

Precisamos estar preparados para entender a emoção da relação dele

com o mercado, produtos, marcas, muito mais do que numerologia. A Esomar

(Associação que congrega os maiores Institutos de Pesquisas do mundo) vem

alertando:

“Olha, não pensem em produto. Pensem em benefícios....compreender que estamos comprometidos com entender pessoas”.

Segundo, acho que o pesquisador precisa parar com essa bobagem de

achar que é um cientista, fora do mercado, que não se imiscui nas questões

comerciais, não participa de decisões; para incorporar sua identidade

verdadeira de profissional de marketing, de mercado, de negócios. Dividir a

angústia com o cliente na hora de tomar uma decisão, esquecer as 150

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primeiras páginas de um relatório e entender que importantes são as 10 últimas

e, quando jogar fora as outras 140. E terceiro, acho que é um tema dos mais

atuais, lembrar que nós somos importantes, nossa importância é ajudar a

cultura de marketing e ter medidas sólidas e precisas de eficácia. “O que

interessa é desenvolver a sensibilidade para romper à prisão mental.”

Já Francisco Toledo (que participou da discussão em grupo)

acrescentou ao assunto:

“Acho que o negócio de pesquisa está passando por mudanças. Não pode ser sempre aquela atitude positiva, que pega os dados e mostra para o cliente – com boa interpretação. Os clientes querem uma definição de perfil mais elevada do que no passado. A tendência é a pesquisa servir como uma consultoria e sugerir cursos de ação para o cliente. Dar suporte para ele tomar decisões.”.

b) Gostaríamos de acrescentar que no preparo de um executivo –

pesquisador, um pré-requisito que deve ser exigido, já que vai atuar com a pesquisa de marketing, ”é preciso que conheça o que vem a ser marketing (administração de marketing)”. Como vimos nas explanações da mesa redonda, eles mesmos declaram que as áreas acadêmicas das quais derivam são principalmente sociologia e ciências sociais, tendo sido mencionado também antropologia. Nada contra, até porque na área de marketing também estudamos tais áreas. Mas o que objetamos é que grande número de encarregados da área de pesquisa de marketing poucos sabem de marketing, daí muitos dos erros cometidos na localização e definição de problemas de marketing, que sirvam de guia na montagem do projeto de pesquisa. Causando, destarte, prejuízo para solucionar o problema que deveria ser equacionado e que permitisse que o executivo pudesse tomar a decisão de marketing correta e que solucionasse o problema que está afetando sua empresa.

c) De outra parte, há necessidade que o executivo-pesquisador tenha

conhecimentos teóricos e práticos do que seja um projeto (características e quando aplicá-lo), metodologia científica – de que se compõe e como aplicá-la; noções básicas de campo: componentes, funções desempenhadas, fonte de viés oriundo das atividades desenvolvidas por este setor, noções de tabulação e de construção de tabelas analíticas, estatística e construções de gráficos.

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“Finalmente, experiência de, pelo menos, dois anos de análise e interpretação de resultados e, novamente, repisamos conhecimentos profundos de marketing que permita que ele saiba dar recomendações de marketing ao executivo que lhe encomendou a investigação, ou seja, o que fazer com as informações levantadas pela pesquisa de marketing.”.

31 “É bom que se acrescente que muitos executivos, infelizmente, não

foram treinados em localizar e definir problemas e o erro pode estar com ele

próprio que não se esmerou em apreender quando teve oportunidade e/ou

seus mestres não o treinaram nesse mistér”. Entendemos que isso, em geral, é

decorrência da falta de aplicações, pelo professor do Método do Caso, que

muito contribui para o treinamento do aluno (futuro executivo) em como

localizar e definir o (s) problema (s) mercadológico(s) que afeta(m) as

empresas.

A origem acadêmica do executivo da área de marketing é outro fator desencadeante da sua falta de conhecimento de como localizar e definir problemas de marketing. (Infelizmente, vários executivos provêm de outras áreas, como: engenharia, economia, sociologia e outras que não têm em seu currículo disciplinas de marketing). ”Vejamos, também, o que nos dizem Aaker, Kumar e Day (2009, p .64), sobre os requisitos de um bom chefe de departamento de pesquisa de marketing (com adaptações de empresas que tenha entre suas disciplinas obrigatórias a disciplina Pesquisa de marketing), curso de pós-graduação – de preferência com especialização em marketing – MBA e (ou Mestrado). Experiência: pelo menos três anos em todas as áreas de análise de marketing.”

d) 32 “Cabe também notar que o pesquisador de marketing, seja ele da empresa ou de um Instituto de Pesquisa, sempre deve obter a informação sobre aquela Pesquisa de preferência diretamente do interessado – do executivo que está solicitando a pesquisa (de primeira mão) para evitar distorções no percurso, sobre o pedido. A intermediação pode levar a vieses naquilo que realmente foi solicitado como problema a ser pesquisado.”.

e) 33“Para finalizar esse tópico gostaríamos de comentar algo que embora ocorra com certa freqüência, e seja lamentável, deve ser mencionado neste estudo. Estamos nos referindo a falta de conhecimento de muitos professores tanto de marketing, como de

31 Nota do Autor 32 Nota do Autor 33 Nota do Autor

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pesquisa de marketing. Com a expansão do número de faculdades de administração em empresas, houve necessidade de supri-las de professores de marketing e pesquisa de marketing. Algumas boas faculdades tiveram o cuidado de selecionar professores com cursos de mestrado ou doutorado em administração, (embora isso não signifique que tais indivíduos conheçam de sobejo aquilo que vão transmitir, pois, na maioria dos casos, não possuem vivência prática (pelo menos de três anos) suficiente para que tenham pleno domínio do assunto que vão tratar em sala de aula. Por outro lado, outras faculdades de administração de empresas contratam profissionais que apenas possuem curso de pós-graduação “Lato Sensu”, e, dessa forma, em muitos casos, pouco podem transmitir a seus alunos que lhes permitam dominar o assunto.”

Kinnear e Taylor (1994, pp. 81-82) adicionam ao assunto problema-

executivo, algo de muita importância, a partir de um caso real reportado pela

empresa de consultoria Internacional Report, Michigan Marketing Associates,

Ann Arbor, ML.

A gerente de mercado desejava saber como os gerentes de mercado da

empresa viam a investigação de mercado. Eis suas respostas depois da

investigação feita internamente:

PERGUNTAS Porcentagem que concordam%

• Com frequência os gerentes solicitam a investigação de mercado com o propósito de ter poder e conhecimento sobre outros gerentes

45

• A miúde os gerentes solicitam a investigação de mercado com a finalidade de apoiar uma decisão que já foi tomada

53

• A miúde os gerentes solicitam pesquisas com o fim de acalmar a seus superiores

30

• Com frequência os gerentes solicitam pesquisas porque é uma praxe da política da empresa

37

Como de observa, o que acabamos de relatar, ocorre em inúmeras

empresas. Isso concorre para que, nem sempre o problema que deveria ser

focado é de fato investigado.

Aqui registramos um caso que se tornou emblemático para nós que

passamos a relatar.

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34Em Abril de 1980, recebemos um pedido de proposta para realizarmos

uma pesquisa sobre o mercado de pilhas. O que chamava atenção eram

algumas características da solicitação:

a) A perfeição com que fora elaborado o plano de pesquisa – tanto o

problema como as os objetivos (estes bem detalhados);

b) A empresa era um dos líderes do mercado de linhas de cozer. A

solicitação envolvia a amplitude geográfica da pesquisa solicitada –

todas as capitais do país, além daquelas cidades que tivessem 500.000

e mais habitantes.

Depois de consultarmos nossos dados secundários e vários Institutos de

Pesquisas amigos, ficamos sabendo que tal empresa nunca fizera pesquisa

com eles e que também haviam recebido a mesma solicitação de pesquisa.

Também desconheciam que a empresa fabricava pilhas.

Diante desta situação, entramos em contato com o diretor de marketing

que havia firmado a missiva.

35Inicialmente, perguntamos como havia chegado ao nome de nossa

empresa. A resposta nos surpreendeu: “Solicitei à minha secretária que

consultasse a lista telefônica do Rio de Janeiro e de São Paulo e enviasse a

solicitação de pesquisa a todas as firmas de pesquisa encontradas”. Diante da

resposta solicitei uma visita à empresa.

Lá chegando conversei com o Diretor de Marketing e fiz-lhe as seguintes

perguntas:

1. Os senhores fabricam pilhas no Brasil ou em sua matriz na Inglaterra?

Resposta: “Não fabricamos.”.

2. Por quais motivos os senhores pretendem fabricar pilhas no Brasil?

Resposta: “É porque nosso maior concorrente faz linhas e pilhas e isso

está ocasionando uma queda nas vendas de linhas.”.

34 Nota do Autor 35 Nota do Autor sobre seu Instituto o IMEP

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3. Os senhores têm conhecimento sobre fabricação de pilhas?

Resposta: “Nenhum, vamos ter de comprar toda a tecnologia sobre o

produto. O investimento será muito grande e já foi aprovado pela

matriz.”.

4. Seu produto linhas tem preço competitivo com este fabricante?

Resposta: “Sim, cremos que temos preços similares e, em alguns tipos

de linhas, nosso preço é um pouco inferior.”.

5. Os canais de distribuição e respectivos pontos de venda possuem

seus produtos – seus produtos estão presentes?

Resposta: “Sem dúvida, estamos presentes na quase totalidade dos

pontos de venda.”.

6. Quanto à qualidade, seus produtos se equiparam ou são superiores

aos da concorrência?

Resposta: “Não resta dúvida. Somos até superiores em qualidade.”.

6.1. Com relação a essa opinião sobre a qualidade os senhores já

realizaram alguma pesquisa junto a consumidores que comprovam

que seus produtos têm boa qualidade?

Resposta: “Nunca realizamos pesquisas junto aos consumidores,

mas nossos vendedores têm conversado com vários deles e com

revendedores que atestam nossa qualidade.”.

7. Quanto à divulgação – propaganda, os senhores tem feito divulgação

de seus produtos? E a concorrência, como se comporta neste aspecto

de comunicação?

Resposta: “Não fazemos propaganda e sim promoções de vendas

como reduções de preços, concursos, brindes e algumas promoções

para os balconistas das lojas revendedoras. Nossos concorrentes

seguem a mesma estratégia. Não há diferença significativa.”.

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200

Após essa conversação, tentamos demover o executivo de marketing de

não realizar a pesquisa de pilhas e sim uma específica sobre linhas. Mas foi em

vão.

Cremos que cumprimos com nosso dever ético:

“Ver por detrás do pedido qual é a razão do mesmo e se esse era o

problema a ser investigado (Boyd&Westfall, 1987, p. 194)”, obedecendo a

máxima muito usada entre os pesquisadores:

“O pesquisador não deve tomar como ponto de partida, uma solicitação de investigação, deve procurar saber o que o cliente deseja saber e se tem recursos e tempo para que se possa realizar uma boa pesquisa e que resolva aquilo que necessita.”

Como diz Boyd&Westfall (1987, p. 194):

“Os pedidos de informação, geralmente, são feitos por pessoas que não estão familiarizadas com os métodos, não conhecem a dificuldade ou as despesas que são exigidas para atender seu pedido”.

d) 36Outro aspecto que não vimos abordado na teoria e bibliografia

pesquisada e que comumente ocorre, diz respeito a sonegação de

informações importantes, por parte dos executivos, no momento em que

contrata um Instituto de Pesquisa de Marketing. Por que isso acontece?

Pela nossa experiência oriunda de centenas de estudos chegamos à

conclusão que é para poder comparar os resultados da pesquisa, com

as informações que possuíam (e que deixaram de fornecer): “quero ver

se eles tem competência de descobrir o que já sabemos e se vão

realmente solucionar o problema com o qual nos deparamos.”.

Em vários casos dos quais participamos, chegamos a ouvir: “Mas isso

eu já sabia.” Respondemos: “Não, o senhor não sabia, o senhor tinha como

uma das suas inúmeras hipóteses e não tinha certeza, agora o senhor tem

certeza. Se o senhor já sabia a solução, por que gastar dinheiro com a

realização de uma pesquisa? Seria jogar dinheiro fora e sem necessidade.”.

Concluindo o caso do fabricante de linha de cozer, diríamos:

36 Nota do Autor

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“Por não saber localizar e definir o problema que afetava suas vendas, o executivo ia construir uma fábrica de pilhas -a um custo extraordinário – e que não iria resolver o seu problema central ao contrário, como não conhecia nada sobre o mercado de pilhas, ia criar outros problemas de marketing para sua empresa.”

e) O que faltou ser mencionado e qual é a solução para que se possa

localizar e definir o problema de marketing da empresa?

O problema é tão importante que os teóricos criaram um projeto que tem

como missão exatamente isso: “localizar e definir problemas de marketing.”

Qual é esse tipo de projeto?

É o projeto exploratório. Quando temos um problema amplo e indefinido,

por exemplo, queda nas vendas, devemos usar o projeto do tipo exploratório,

isso porque não temos certeza sobre o que devemos pesquisar. O que temos

são inúmeras prováveis respostas (hipóteses) para o mesmo problema. E não

é economicamente viável e nem de bom senso que viéssemos a querer

comprovar cada uma destas hipóteses.

Esse tipo de projeto ajuda a racionalizar a busca de informação,

servindo de atalho e trazendo economia para a investigação37.

38Adaptação de Boyd&Westfall (1987, pp. 64-68)

“Continuando com as especificidades do projeto exploratório (dentro do assunto formulação do problema) – O projeto exploratório também serve para ajudar o pesquisador a buscar novas idéias, por exemplo, de um fabricante de chaves de fenda, philhips, canhão e Allen que desejava saber qual era sua imagem e participação de mercado junto aos revendedores

37 Nota do Autor 38 Nota do Autor

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de ferramentas. Orientaram a firma de pesquisa a realizar entrevistas em São Paulo, junto a lojas da rua Florêncio de Abreu e Rua Santa Efigênia.”

Como é de nosso hábito, embora o problema e os objetivos já

estivessem claramente definidos, começamos a investigação através do projeto

exploratório entrevistando pessoas com experiência no assunto: carpinteiros,

marcineiros e outros profissionais que usavam tais ferramentas. Para nossa

surpresa, quando perguntados onde costumavam comprar suas chaves, vários

responderam “em casas de parafusos”. Fizemos uma investigação preliminar e

descobrimos que:

• Existiam cerca de 30 lojas desse tipo;

• Elas vendiam grandes quantidades de chaves.

Imediatamente incluímos em nossa amostra tal público.

O resultado mostrou que várias delas vendiam quantidades maiores do

que as ferragens da Rua Florêncio de Abreu, e que se tivéssemos as deixado

de lado, teríamos introduzido um viés no resultado da investigação.

Outra descoberta: a quase totalidade (95%) das lojas da rua Santa

Efigênia vendiam chaves de tamanho minúsculo, mais adequadas ao conserto

de rádios e aparelhos eletrônicos e que nada tinham a ver com a chaves que

estávamos estudando.

Além desse item (entrevistas com pessoas com experiência no assunto)

fazem parte de esquema operacional do projeto exploratório, como

anteriormente já mencionado, temos dois outros itens: coleta de dados

secundários (aqueles já publicados) e análise de casos especiais.

Vejamos o que nos é transmitido pela teoria para resguardar o provável

viés dos dados secundários:

Kinnear e Taylor (1994, pp. 172-180) alertam sobre os dados

secundários: “O grau em que estes dados se ajustam as necessidades de

informação do projeto”.

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O grau de ajuste pode oscilar desde completamente inadequado, até

muito perto do adequado.

Esta adequação está influenciada por alguns fatores:

As unidades de medição – é comum que o pesquisador descubra que

tais dados se expressam em unidades diferentes daquelas requeridas no

projeto. Por exemplo, um projeto pode requerer dados relacionados com a

renda familiar total, mas o que está disponível na fonte é por indivíduo que

trabalha e não inclui rendimentos oriundos de aplicações – por exemplo,

caderneta de poupança, renda de casas alugadas.

39Ou como é o caso brasileiro, os entrevistados, em geral, não declaram

sua renda mensal corretamente. Em nosso Instituto de pesquisa não adotamos

o critério de perguntar a renda, mas adotamos o critério da ABA/ ABIPEME –

Associação Brasileira de Anunciantes/ Associação Brasileira dos Institutos de

Pesquisa de Mercado. Que verifica a classe social das famílias através da

posse de itens e conforto doméstico e lhes atribui pesos para depois ponderar

qual a classe social das famílias

Voltando ao ajuste dos dados secundários, os autores (Kinnear e Taylor)

alertam que devemos ter extremo cuidado ao estimar os dados desejados

quando se utilizam medições em outras unidades – peso: kg. Ton. Litros etc.

a) Segundo eles, outro problema tem a ver com a atualidade dos

dados. A tomada de decisão de mercado geralmente requer

informação atualizada. Muitas fontes de dados secundários

empregam demasiado tempo entre a coleta e a publicação dos

dados. Quando isso ocorre, pode ser que sua importância

diminua ou tenha menos serventia, principalmente em mercados

turbulentos, onde as mudanças são constantes e de curto prazo.

b) Por último, os autores apontam definição de classes sociais –

que em parte já comentamos: discrepância entre o que as

pessoas dizem ganhar – renda familiar mensal e aquilo que

39 Nota do Autor

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realmente auferem. Na atualidade, principalmente os

economistas, criaram uma barafunda sobre o que vem a ser a

classe social das famílias. “Na maioria dos casos, inflam os

números – por exemplo, quem tem ingresso mensal no valor de

1.500,00, pertence à classe média.”

(2) A exatidão dos dados

Kinnear e Taylor, também alertam para este erro não amostral contido

no dado secundário: “O pesquisador deve determinar se os dados secundários

são suficientemente exatos ao propósito do projeto de investigação em

consideração”.Podem-se utilizar os seguintes critérios para avaliação:

(1) A fonte dos dados é muito importante para avaliar sua exatidão. Em

primeiro lugar devem-se utilizar os dados de fontes originais onde são

produzidos, já que esta possui os detalhes e a metodologia empregada no

levantamento.

Em segundo lugar, a fonte original geralmente é mais detalhada e de

maior exatitude que a fonte adquirida.

Também devemos levar em consideração avaliar o propósito da

publicação.

Por exemplo, dados publicados em informes publicitários; outros alteram

os dados reais com a finalidade de ganhar uma crença de que ocupa um lugar

de mais destaque.

“Há, também, casos em que os dados de uma investigação primária não

revelam os detalhes da metodologia adotada, tais como: plano de amostragem;

técnica de elaboração de questionários, qualidade do treinamento de análise

de dados.”

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205

Comentários do Autor

40“Achamos que a teoria disponível, poderia ter ido mais fundo e falado

de certas fontes devem ser examinadas sob a ótica da ideologia que está

subjacente aos resultados apresentados – principalmente no campo político-

partidário. Algumas empresas públicas, que publicam dados, muitas vezes

manipulam dados (secundários) para favorecer o governo que está de plantão:

taxa de desemprego, manipulação de dados contábeis para também favorecer

aqueles que ocupam cargos executivos.Isso também ocorre nas empresas

privadas: manipulação de notícias que desagradem o presidente. Pesquisas

realizadas por vendedores que procuram alterar resultados de vendas, para

não serem criticados. A nosso ver, jamais se deve dar um questionário de

pesquisa para ser preenchido por vendedores.”

Concluindo: “Não devemos aceitar informações secundárias, sem

visitarmos a fonte original para conhecê-la”.

“Finalmente, não devemos esquecer da hoje mais famosa fonte de

informações dados secundários, qual seja: o acesso facilitado, via internet, aos

diferentes WWW- Redes sociais – onde muitas informações distorcidas são

publicadas e o que é mais danoso, são aproveitadas por leitores hávidos por

informações e que induzem ao erro que, dependendo do caso, podem trazer

graves prejuízos financeiros.”

2.1. Fixação dos Objetivos de Pesquisa

Apesar de o problema estar claramente definido e localizado, ainda não

é possível darmos início à investigação. Isso deriva da situação que o problema

está num estágio um pouco amplo e dele, de partíssemos para fazer um

questionário, por exemplo, teríamos inúmeras dúvidas sobre que pergunta

incluir e isso não pode ocorrer em projeto de pesquisa correto.

Daí a razão de termos que subdividir o problema central em

subproblemas ou objetivos que revelam qual o nível de informações que os

40 Nota do Autor

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206

executivos – clientes da pesquisa precisam conhecer para poder tomar suas

decisões de forma mais segura.

São eles (os objetivos) que vão influenciar todas as demais etapas do

projeto de pesquisa.

E aqui residem muitas possibilidades de erros e vieses.

Através da realização de centenas de pesquisas de mercado 41,

aprendemos que os objetivos visados pela pesquisa, devem ser

cuidadosamente estudados para evitar, por exemplo, que ao final da

investigação o cliente reclame que faltou algo que ele desejava saber e que a

pesquisa não respondeu.

A prova legal e ética que o pesquisador e/ou instituto de pesquisa possui

é a correspondência trocada entre ambas as partes. No início a Empresa-

Cliente, geralmente solicita por escrito, uma proposta-orçamento com os

detalhes – objetivos visados. Em contra partida, o instituto responde dando

ênfase ao problema e aos objetivos visados pela investigação.

Ao final, se o cliente reclamar, o pesquisador reapresenta a proposta

com os objetivos. Além disso, o questionário da pesquisa é outra contraprova

de que todos os objetivos foram respondidos (o questionário é o retrato dos

objetivos da pesquisa).

Em nossa concepção, entendemos que mesmo que o pesquisador

interno à empresa ou externo do Instituto de Pesquisa, eticamente e

profissionalmente falando, se não tomou os devidos cuidados na fase

preliminar da investigação, falando com aquele que solicitou a pesquisa – se

isso for possível – além de aplicar o esquema operacional do projeto

exploratório, não poderá rebater as dúvidas do cliente. Daí o excesso de

cuidado ao planejar a investigação para evitar esses dissabores. A não ser em

casos anômalos como aquele que apresentamos do fabricante de linhas que

41 Nota do Autor: nesta tese vamos usar os termos pesquisa de mercado como sinônimo de pesquisa de marketing

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207

desejava realizar uma pesquisa sobre pilhas porque, segundo o executivo,

entendia que seu maior concorrente vendia mais linhas de cozer, porque

também fabricava pilhas.

Para melhor demonstrarmos o que acabamos de afirmar, vamos dar um

exemplo concreto de uma pesquisa que realizamos em Maio de 2007, através

de nossa empresa a IMEP-Brasil.

TEMA: “Pesquisa de Opinião dos Eleitores do Município de Bertioga, sobre Problemas e Oportunidades de Melhoria de sua Cidade.”

PROBLEMA: “Conhecer a Opinião dos Eleitores no que

se refere aos problemas que afetam a cidade de Bertioga.”

Além disso, introduzimos algumas perguntas sobre o processo político-eleitoral do município.

Objetivos da Pesquisa

1. Qual a opinião dos eleitores quanto a sua situação e da cidade

de Bertioga?

2. Principais razões apresentadas para justificar suas opiniões

(sua situação e da cidade de Bertioga)?

3. Quem é o responsável por esta situação de Bertioga?

4. Sugestões que os eleitores poderiam apresentar sobre o que

poderia ser feito para melhorar a situação da cidade de

Bertioga e seus moradores?

5. Qual o conhecimento que os eleitores têm sobre quem é o

atual prefeito da cidade de Bertioga incluindo seu nome?

6. Qual a opinião dos eleitores sobre a administração do atual

prefeito?

6.1. Motivos apresentados pelos eleitores para justificar a opinião

sobre a administração do atual prefeito?

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7. Na opinião dos eleitores de Bertioga, quais são os principais

problemas da região em que habitam?

8. Opinião dos eleitores sobre as áreas que deveriam merecer

mais atenção do prefeito?

9. De 1 a 10, qual a nota que os eleitores dariam para o prefeito

para temos selecionados pelo cliente da pesquisa?

10. Notas de 1 a 10 dadas pelos eleitores na região que habitam

sobre “Limpeza e Roçada de Matos” em ruas, praças e vias

públicas de Bertioga?

10.1. Notas de 1 a 10 dadas pelos eleitores na região que habitam

sobre Recuperação do tipo “tapa buracos” nas ruas do

município?

10.2. Notas de 1 a 10 dadas pelos eleitores na região que habitam

sobre Recuperação do tipo “tapa buracos” nas ruas de terra e

avenidas?

11. Em quem os eleitores votariam para prefeito na próxima eleição?

Cremos que conseguimos demonstrar, com clareza, quais são os

objetivos da investigação e como ficaria fácil elaborar o questionário para a

realização da pesquisa solicitada.

Segundo Aaker, Kumar e Day (2009, pp. 71-72): “O objetivo da pesquisa

é uma declaração, com a terminologia mais precisa possível, de quais

informações são necessárias. Esse objetivo deve ser elaborado de tal forma

que a obtenção das informações assegure a satisfação do propósito da

pesquisa. E acrescentam:

“Os objetivos têm alguns elementos. O primeiro é a questão de pesquisa. Isso especifica as informações de que o tomador de decisões precisa. Em segundo lugar o elemento ajuda a pesquisa – o escopo da pesquisa – a formular a questão da pesquisa da forma mais específica e precisa que for possível.

A questão da pesquisa pergunta qual informação especifica é necessária para atingir seus propósitos. Se a pergunta for respondida pela pesquisa, seus resultados terão validade no auxílio à tomada de decisões.

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Mais adiante esses autores acrescentam: É possível haver varias questões para determinado propósito. Assim, se o propósito é decidir se determinado anúncio deve ser veiculado, as seguintes questões de pesquisa poderiam ser formuladas:

• O anúncio será percebido?

• O anúncio será interpretado corretamente?

• O anúncio influenciará as atitudes?

“Essas perguntas, segundo os autores, correspondem aos critérios utilizados para avaliar as alternativas de publicidade.”

Da mesma forma, se o objetivo é descobrir como melhorar os serviços

de um banco, as perguntas poderiam ser:

• Com quais aspectos do atual atendimento os clientes estão mais

satisfeitos, e com quais estão mais insatisfeitos?

• Que tipos de consumidores usam os diferentes serviços do banco?

• Quais os benefícios que as pessoas procuram em um banco?

Observação do autor

Cremos que tais objetivos deveriam ser mais detalhados, principalmente

os do segundo exemplo, sob pena que, quando da construção do questionário,

surgirem discordâncias entre o cliente de pesquisa e o investigador. Apenas

para exemplificar:

Quando o exemplo apresenta “Que tipos de consumidores usam

diferentes serviços do banco?”.

Aqui temos uma situação algo ambígua, pois poderíamos chamar de

tipos de consumidores as variáveis:

• Sexo?

• Faixa etária?

• Escolaridade?

• Cliente individual ou representante de uma empresa?

• Estado civil?

Ou poderíamos acrescentar outras variáveis:

• Profissão?

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210

• Classe social?

• Bairro em que trabalha?

• Há quanto tempo é cliente do banco? Etc.

Podemos observar, que não há como dirimir dúvidas sobre aquilo que o

cliente da pesquisa deseja, para evitar que haja desentendimento ao final da

investigação e na entrega do relatório final. Por isso, antes de darmos início à

investigação, devemos saber com certeza quais das variáveis do perfil o cliente

deseja investigar.

Os autores ainda mencionam o escopo da pesquisa que diz respeito ao

“grau de precisão desejado para os resultados. Isso vai depender, obviamente, do propósito da pesquisa. Se a construção de uma fábrica de milhões de dólares dependerem dos resultados de uma pesquisa, é claro que o grau de precisão exigido será muito alto, se, ao contrário, a decisão envolve o investimento de uma pequena soma na pesquisa e no desenvolvimento de um novo produto, uma avaliação geral de seu potencial pode ser suficiente”.

Cabe ainda fazer menção da interação entre cliente e pesquisador do

instituto de pesquisa quando da construção do questionário. Geralmente, a

tendência é o representante do cliente desejar incluir maior número de

perguntas no questionário. Neste caso, o pesquisador deverá redarguir que

algumas dessas perguntas não fazem parte dos objetivos já acordados entre

as partes - que nada tem a ver com aquilo que foi solicitado. Portanto, mais

uma vez, afirmamos que: “Objetivos da investigação colocados de forma

específica e detalhada, só pode colaborar para dirimir dúvidas como essa e

para termos certeza que a pesquisa será bem conduzida e responderá, com

exatidão, aquilo que o executivo espera para que possa tomar suas decisões.”.

Como colorário do que foi mencionado, acrescentaríamos o que Aaker,

Kumar e Day disseram sobre os objetivos:

“Os objetivos definem a informação a ser obtida nos termos dos objetivos da investigação a ser respondidos. Esta informação deve relacionar-se explicitamente com o problema da administração”.

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2.2. Análise do Problema

Por excesso de zelo, o pesquisador deve fazer uma análise detida do

problema e dos objetivos visados pela investigação, para ter absoluta certeza

de que é isso que deverá pesquisar.

Em alguns casos, o cliente exige o cumprimento de prazos exíguos para

a realização da pesquisa contratada e como diz o ditado: “A pressa é a inimiga

da perfeição,” pode acontecer de se realizar uma pesquisa visando um

problema e os objetivos que dele derivam, de forma equivocada e provocando

prejuízos e desgastes junto ao executivo-cliente que solicitou a pesquisa.

42Qual é o prazo para a realização de um projeto de pesquisa?

É lógico que isso depende de vários fatores, dentre os quais destacamos alguns:

• Amplitude do problema.

• Número e complexidade dos objetivos.

• Tamanho da amostra e tipo de amostragem – margem de erro

exigida

• Amplitude geográfica – número de estados e cidades –

envolvidos.

• Burocracia da empresa-cliente para efetuar os pagamentos da

pesquisa.

• Burocracia da empresa-cliente na aprovação do questionário

definitivo para dar início ao projeto de pesquisa.

• Existência de muitas perguntas abertas de razão (no

questionário) e que exigirão, num primeiro momento, tabulação

manual que ocupa mais prazo para sua realização.

• Haverá possibilidade de se incluir a realização prévia de um

projeto exploratório?

42 Nota do Autor

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212

2.3. Resumo do Conhecimento Sobre o assunto

Antes de realizarmos um levantamento através do emprego de dados

primários, devemos pesquisar o que já existe publicado sobre o assunto. Tais

informações, como já vimos, os denominados dados secundários tanto internos

como externos à empresa. Em alguns casos muito raros, podemos lograr

encontrar um estudo ou informações que permitam responder o problema da

investigação em grande parte ou totalmente.

43Como exemplo, podemos relatar um caso ocorrido em uma pesquisa

sobre velas de ignição, que estávamos realizando no Chile. Logo que

chegamos ao país, entramos em contato com bibliotecas públicas e de

Universidades e deixamos o endereço de nosso hotel. Também recorremos ao

Banco Central do Chile onde estavam arquivadas a 4ª via de guia de

importação dos últimos 10 anos. Graças ao representante de nossa empresa,

conseguimos liberar para consulta da guias de importação e aí recolhemos

importantes informações já que a época, o produto não era fabricado no país,

mas somente importado. Na antevéspera de retornarmos ao Brasil, recebemos

um recado da bibliotecária da biblioteca da Universidade Católica do Chile.

Entramos em contato e recebemos a grata notícia de que um grupo de alunos

havia confeccionado uma memória (é o que eles chamam o trabalho de TCC

ao encerrar o curso de engenharia). Entramos em contato com os alunos para

solicitar tirar uma cópia do trabalho e o mesmo nos foi concedido. Por incrível

que pareça o trabalho era muito semelhante àquele que deveríamos realizar. É

evidente que alguns dados nós possuíamos mais e melhores informações – por

exemplo – cálculo do potencial de mercado de velas. Mas também possuíam

muitas informações que iam além de nossa missão, mas que suprimiam a ida

de outros funcionários ao Chile para levantá-las: custo da mão-de-obra, custo

das matérias primas envolvidas, layout da fábrica e como distribuir as

máquinas e equipamentos no chão de fábrica, etc.

Pelo exposto devemos observar que uma das qualidades exigidas pelo

pesquisador é ter persistência na busca de informações que se encontram

43 Nota do Autor

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disponíveis em alguma fonte e que vale a pena procurá-las que há grande

probabilidade de encontrá-las parcialmente ou totalmente.

Desta forma, através do conhecimento adquirido talvez tenhamos que

alterar o problema e os objetivos, já que ganhamos experiência com as

informações encontradas. No mínimo teremos melhores condições de efetuar o

planejamento da investigação.

3. Tipo de Projeto

Chegou o momento de escolhermos o tipo de projeto que iremos aplicar,

dependendo das características do problema a ser pesquisado.

Quais os erros não amostrais que podemos nos deparar, quando da

aplicação do Projeto Exploratório?

Vejamos o que nos diz a teoria sobre este tipo de projeto

(Boyd&Westfall), (1989, pp. 66-68)

“Um dos erros não amostrais presentes no projeto exploratório está localizado mais especificamente, nas suas características – uma delas é que o pesquisador e/ou entrevistador experiente tem flexibilidade para modificar ou criar perguntas enquanto está entrevistando uma pessoa com experiência no assunto, como também o projeto exploratório depende, em grande parte, da sua engenhosidade. Isto quer dizer que seus juízos de valor estão presentes durante toda a aplicação deste tipo de projeto. Deve ser solicitado que a escolha das chamadas pessoas com experiência no assunto, é feita de forma geralmente arbitrária (ao bel-prazer do entrevistador). Todavia, aqueles que serão selecionados além de terem experiência no assunto, devem ser capazes de transmitir o que sabem e serem loquazes, caso contrário, não obteremos boas informações. Isso é um risco, já que dois ou mais entrevistadores operacionalizando o mesmo projeto, obterão resultados não coincidentes. O curioso é que estamos usando a palavra projeto que significa algo que tem um plano, um arcabouço previamente delineado. No entanto o que acabamos de dizer fala exatamente o oposto: flexibilidade. Outro erro potencial está no uso de coleta de dados secundários e devemos ter atenção com a credibilidade da fonte consultada, examinando também a metodologia adotada para os dados e informações publicadas. Além disso, se está presente no trabalho da fonte alguma ideologia que pode propender em publicar dados que elogiam determinado setor político de

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governos, ou diretorias/ departamentos de uma empresa (como anteriormente mencionamos).

Os autores também chamam a atenção para o tempo que a fonte levou para publicar os dados e informações. Muitos dados do cendo de habitantes elaborados por instituições públicas de países subdesenvolvidos ou semi-industrializados, levam mais de 3 a 5 anos para publicá-las, e a empresa que deles vai fazer uso não pode levá-las em consideração, pois como o mercado é dinâmico, perdem o valor por estarem desatualizados.

Ademais, devemos examinar a precisão das informações – se são meras estimativas ou um estudo mais profundo com boa metodologia empregada. Já um dos itens do esquema operacional, análise de casos especiais (estudo de casos) deve-se tomar muita atenção com aquele que vai aplicá-lo. Deve ser um pesquisador ou entrevistador com muita experiência em levantamentos, como também excelente capacidade observadora, sob pena de distorcer o resultado do caso que deveria ser uma descrição detalhada daquele negócio, por exemplo, uma loja de eletrodoméstico de sucesso. Como já dissemos anteriormente, o próprio dono da loja, ao ler o relatório sobre seu estabelecimento, ficaria surpreso com alguns detalhes descritos, que ele nem se lembrava.”

O Projeto Descritivo-Estatístico

“Como sabemos, para que possamos usá-lo há necessidade que o problema e os objetivos estejam claramente definidos. É neste detalhe que temos reparado que muitas pesquisas são realizadas de forma açodada e, na pressa montar o questionário, contratar os entrevistadores e começar a realizar as entrevistas. Só mais tarde o cliente e o pesquisador percebem que o que acabaram de fazer é um mero projeto exploratório embora com uma amostra bem maior (400 entrevistas, com margem de erro de + ou – 5%). Tempo e dinheiro perdidos (Boyd&Westfall, 1989, pp. 67-69).”

“Por isso repetimos: a não ser que seja uma pesquisa realizada sempre todos os anos, devemos começar qualquer pesquisa “Ad Hoc” através do emprego de um projeto do tipo exploratório que, no mínimo ajudará no planejamento da pesquisa; quando não na melhoria da formulação do problema e no levantamento de hipóteses. 44

Além disso, como já afirmamos no 2º Capítulo, este projeto não se

presta à comprovação da relação de causa e efeito, como é o caso do projeto

experimental. Em alguns casos tenta-se fazer vários cruzamentos entre as

44 NOTA do Autor: hipótese é a provável explicação do problema; é escrita sob a forma afirmativa. Portanto, se temos uma hipótese, já temos um problema, pois este é o contrário da hipótese.

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perguntas, mas o resultado ainda não pode ser considerado relacionado com

causa e efeito. Mas isso não invalida suas descobertas, haja visto que este é o

tipo de projeto mais utilizado pelas empresas no mundo todo.”

“Outros erros não amostrais que podem ocorrer, não são proprietamente vieses do projeto descritivo estatístico, mas sim de outras etapas da investigação – por exemplo, erros na confecção de questionários, erros oriundo dos entrevistadores, supervisor de campo e verificadores, erros de tabulação e de interpretação e análise dos resultados.”

O Projeto Experimental

Já demonstramos o que é para que serve e como podemos elaborar um

projeto experimental. Vejamos agora e quais os erros não amostrais que

podem ocorrer neste tipo de projeto. (Boyd&Westfall, 1987, pp. 95-119).

1. “Como igualar o Grupo Experimental ao Grupo Controle de

esta é uma dificuldade, e que se deve procurar ver

superada. Os autores indicam várias maneiras, entre as

quais:

“Usar amostras probabilísticas ao procurar pessoas para o grupo experimental e o de controle. Basicamente, é o equivalente ao processo de alistar todos os indivíduos incluídos e designá-los alternadamente para o grupo experimental e o de controle, para que não haja possibilidade de decidir-se subjetivamente em que grupo o indivíduo deve ser colocado. Isto faz com que não haja erro sistemático, consciente ou inconsciente, ao selecionar os indivíduos de cada grupo.”

2. Combinarem-se as Classes

“Cada grupo é selecionado de modo a ter a mesma proporção de homens e mulheres – mesmas faixas etárias – mesmas classes sociais, etc. que o outro. Resultarão grupos com características semelhantes.”

3. Mortalidade dos Componentes

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“Este é um grave erro potencial. Como geralmente o teste experimental é demorado (leva alguns meses), neste período algum dos componentes pode desistir por qualquer motivo (aborrecimento, morte ou fechamento do negócio, mudanças de bairro e/ou cidade, etc). Desta forma o pesquisador deverá encontrar um substituto semelhante àquele que saiu.”

45 “Neste caso, sugerimos que desde o começo do experimento se aumente a amostra em cerca de 10% a 20% e mesmo não valendo para a experimentação, faz-se a coleta de dados como se fosse parte integrante da amostra. Desta forma, embora fique um pouco mais caro, no momento de uma ou mais substituição, já teremos disponível o(s) substituto(s) semelhante(s) àqueles que saíram e sem solução de continuidade do experimento.”

4. Teste de Vendas com a Colocação de Anúncios-Teste

“A solução típica para a dificuldade de se encontrar cidades similares é se encontrar pares selecionados, isto é duas ou três cidade que tenham características semelhantes: população, número de homens e mulheres, número de indústrias, etc. depois, faz-se um rodízio na colocação dos anúncios”. Vejamos um exemplo oferecido por Boyd&Westfall:

ANÚNCIOS

Cidades X Y Z

A 1ª Semana 3ª Semana 2ª Semana

B 2ª Semana 1ª Semana 3ª Semana

C 3ª Semana 2ª Semana 1ª Semana

5. As Relações Sociais São Dinâmicas

“Os mercados individuais variam de uma ocasião para outra, e a mesma é verdade, naturalmente, com as pessoas. O estilo que está na moda este ano pode ser rejeitado completamente no ano seguinte.

Todos sabemos que a experimentação tem uma duração algo longa e há necessidade que durante este período não ocorra mudanças nas relações sociais. Se houver, uma solução apenas razoável seria fazer rodízio de cidades ou bairros

45 Nota do Autor

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daquilo que está sendo testado. Também seria aconselhável verificar se o produto ou serviço que será testado apresenta características intrinsicamente ligadas a mudanças nas relações sociais ou não.”

6. Custo

“A pesquisa experimental é quase sempre cara. Não há o que fazer. Ou seja, ou se faz o experimento com qualidade ou não se deve fazê-lo.”

7. Administração

Poucos conhecem e estão familiarizados com a pesquisa experimental.

Esta e uma das razões para seu uso limitado hoje. Mesmo os que possuem

experiência encontram problemas administrativos e a cooperação dos

elementos participantes precisa ser obtida e mantida. Muitas vezes, uma

experiência irá exigir habilidades administrativas em tempo integral de muitos

membros assessores, às vezes durante meses.

Aqui não há muito que oferecer como solução, a não ser formar e

manter uma equipe preparada para o que der e vier – as soluções serão

tomadas de forma mais rápida:

“Se você tem uma equipe bem preparada e que possua inteligência acima da média, é natural que os problemas administrativos que possam surgir durante a realização do projeto experimental possam ser resolvidos de forma mais rápida, como também no que concerne a rapidez em tirar conclusões. Desta forma pode-se reduzir um pouco os custos da experimentação”. 46

4. Método Básico de Coleta de Dados

47Inicialmente, como já foi apresentado no 2º Capítulo, dois são os

métodos de coleta de dados: Questionário e Observação.

Além disso, como tais métodos podem ser classificados.

46 Nota do Autor 47 Nota do Autor

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Questionário

• Quanto aos objetivos podemos classificar os questionários em

disfarçados e não-disfarçados e quanto a sua estrutura, em

estruturado e não-estruturado.

Combinando-se as duas variáveis, estruturas e objetivos, temos os tipos

de questionários:

4.1. Tipo de Questionário

• Estruturado – Não-Disfarçado;

• Estruturado – Disfarçado;

• Não-Estruturado – Disfarçado; e

• Não-Estruturado – Não-Disfarçado.

Já o método de observação pode ser classificado em:

Quanto ao instrumento que usamos:

- Pessoal-Não-Participante

- Pessoal Participante

- Mecânico (através de instrumentos: p. ex. gravador, filmadoras)

Desta forma, temos a seguinte classificação.

4.2. Classificação do Método de Observação

• Observação – Pessoal, ou seja, um observador faz suas observações e

as registra sem, no entanto interagir com o elemento observado.

• Observação – Pessoal – Participante. Neste caso, o observador interage

com o elemento que está sendo observado, mantendo uma conversação

com o mesmo. Aqui temos duas situações, uma delas muito utilizada em

Antropologia, qual seja o observador se imiscui na comunidade – por

exemplo, tribo indígena, quilombolas – observam as suas atitudes,

opiniões e interações, e depois relata suas descobertas em um relatório.

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48Também em marketing, temos nos utilizado de tal abordagem: por

exemplo, em compras simuladas para saber qual é o comportamento do

consumidor no ponto de venda (só não há a declaração que estamos

observando-o) – também existe o chamado “comprador fantasma”, no qual um

observador entra, por exemplo, em uma lanchonete e procura ao término da

refeição que fez, preencher um formulário (previamente elaborado) anotando:

tempo de atendimento tanto em atender seu pedido de lanche, como para

trazer sua conta e tempo de espera para efetuar o pagamento da despesa;

asseio do ambiente (mesa, toalha, cadeiras, pisos, banheiro), cordialidade dos

garçons, espaço adequado no estacionamento, etc.

Outra aplicação algumas vezes utilizada, é se fazer de vendedor-

balconista e atender clientes que adentram loja, para observar o

comportamento de compra: se solicita ou não o produto pela marca, se

pergunta sobre o preço – se está ou não caro, etc. além de observar o

comportamento da balconista da loja em seus contatos com os clientes, se

indica uma marca que não a nossa ou não; argumentos de venda utilizados,

etc.

E a observação Mecânica-via gravador ou filmadora tem a vantagem de

apurar na integra o que é dito ou o que faz o elemento observado. A

desvantagem ocorre quando a pessoa descobre que está sendo observada.

Neste caso, em geral ela muda de opinião ou de conduta.

Segundo Aaker, Kumar e Day:

“a implementação eficaz do questionário requer uma grande capacidade de escolha do método de comunicação a ser aplicado: entrevista pessoal, pelo correio, e-mail – fax ou pelo telefone”. E prosseguem:

“Também temos na eficácia, a interação social entre o entrevistador e o respondente. É impossível desenvolver e interpretar corretamente uma enquete sem levar em conta os erros que podem ser trazidos aos dados durante tal interação”.

4.3. Fontes de Erros no Questionário Aplicado

48 Nota do Autor

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Através de Entrevista Pessoal

Dos mesmos autores temos:

“O problema em conseguir resultados significativos de processo de entrevistas vem da necessidade de satisfazer razoavelmente às seguintes condições”:

• Definir corretamente a população

• A amostra ser representativa da população

• Os respondentes selecionados para as entrevistas estarem

disponíveis e dispostos a cooperar.

• Os respondentes compreenderem as questões

• Os respondentes estarem dispostos a responder e serem capazes

disso

• O entrevistador compreender e registrar corretamente as

respostas”.

49 Acrescentaríamos:

• “O questionário, antes de ser aplicado no campo, deve ter sido submetido a uma ou mais seções de pré-testes e, desta forma, fluir e não precisar, a todo momento, da interferência do entrevistador para explicar algo que o respondente não entendeu.”

4.3.1. Erros pela falta de resposta ou por recusa do respondente “Altos índices de recusa são um fonte preocupante de erros, pois os (entrevistados) que não participam são, provavelmente, muito diferentes dos que cooperam.As pessoas cooperam pelas mais variadas razões, seja para ser agradável e prestativa, seja para ter contato social quando estão solitárias ou enfadadas, seja para aprender algo novo; muitos participam tendo em vista uma recompensa ou benefício direto.”

4.3.2. Por que muitos se recusam a participar?

49 Nota do Autor

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• O medo é uma das primeiras razões para a recusa (Aaker, Kumar e Day, 1975, pp. 462-467).

Outra razão pode ser a impressão de que a enquete é uma invasão de

privacidade: o tema pode ser delicado (como morte, comportamento sexual

etc.).

Pode haver hostilidade em relação ao patrocinador da pesquisa

(Wiseman, Frederick, Shafer, Luciane, 1977, pp. 8-9). 50 “Em geral, o nome do

patrocinador não é divulgado, se possível nem para os entrevistadores.”

• No momento está muito ocupado 4.4. Teoria para solucionar estes vieses

Aaker, Kumar e Day sugerem:

4.4.1. Erros de Recusa do respondente

“Os erros de recusa podem ser minimizados se suas razões forem relacionadas a uma fonte fenotípica (refere-se às características da coleta de dados: quais questões são perguntadas, como são perguntadas, a duração da entrevista, os respondentes estarem disponíveis e dispostos a cooperar, etc): Esses elementos variam de um estudo para outro e podem ser, até certo ponto, controlados. No entanto, se a fonte for genotípica é difícil controlar o processo (esta fonte refere-se as características inerentes ao respondente, como idade, sexo ou ocupação). Uma forma de reduzir esse tipo de recusa é tentar conduzir as entrevistas de forma menos intrusiva possível. (Ossip, A., 1986, pp. 9-12)

Outros métodos “para minimizar o problema podem ser: com múltiplas

chamadas (quando enviado pelo correio ou telefone), diminuição da duração

das entrevistas podem melhorar os índices de participação (Satzman, 1993, pp.

32-39).”.

50 Nota do Autor

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4.4.2. Falta de Acuracidade na Resposta

“Os respondentes podem não ser capazes de dar qualquer resposta ou não se mostrar dispostos a fornecer uma resposta completa e acurada.”

4.4.2.1. Incapacidade de responder

“Seja por ignorância ou esquecimento, ou por não conseguir articulá-la. Qualquer destes três problemas pode gerar erros, quando os entrevistados inventam uma resposta, por não quererem admitir sua ignorância ou para agradar o entrevistador. Os respondentes muitas vezes não sabem as respostas para determinadas questões. Algumas donas-de-casa, por exemplo, podem não estar informadas sobre a situação financeira da família”.

Por outro lado, há a probabilidade de esquecimento de um episódio,

como uma consulta médica ou uma compra, depende tanto de quando se deu

o evento como de sua importância (Cannel, Oksenberg e Converse, 1977, pp.

306-315).

Solução: o pesquisador deve se ater a fazer perguntas sobre

acontecimentos mais recentes. A lembrança também pode ser melhorada

perguntando-se ao respondente algo sobre o contexto em que se deu o evento

(dia das mães, dia dos pais, etc).

Pergunta Resposta

População Amostra

Erro de amostragem

Sem reposta por recusa em responder ou por não estar em

casa

Respondente

Ambiguidade da questão

Erro do entrevistador

Entrevistado

Falta de acuracidade na resposta

• Incapacidade de formular corretamente a resposta

• Má vontade para responder à questão

Ambiguidade da resposta

Erros nas Informações Obtidas dos Respondentes

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A memória pode também ser refrescada com a utilização de “técnicas

de auxilio de lembrança” – por exemplo, propaganda do produto, listas de

emissoras de rádios AM e FM, etc.

As distorções na memória geram erros do tipo de “aproximação do

tempo”, quando um evento é relembrado como tendo ocorrido a menos tempo

do normal, do padrão. Por exemplo. “o que sua família come no jantar

exceptualmente: a resposta pode ser: era domingo, portanto o jantar deve ter

sido “macarronada com carne assada” – para diminuir os efeitos desta

padronização, o pesquisador pergunta uma série de questões que ajuda o

respondente a reconstruir o evento.

Uma terceira armadilha de memória é a “omissão”, quando o

respondente deixa de lado algum evento ou algum aspecto de uma

experiência. O cansaço do respondente e a falta de “empatia do entrevistador”

são desmotivadores e causam o aumento das omissões.

O entrevistador experiente e bastante observador pode anotar algum

indício de que isto pode estar ocorrendo e procurar motivar o respondente

dizendo, por exemplo, o(a) Sr. (a) disse algo muito interessante que eu não

pude anotar tudo. Também gostaria se possível, que me explicasse como isso

ocorreu – como se deu este acontecimento. Ou, em último caso, declarar:

“Estou percebendo que o (a) Sr. (a) está muito cansado e talvez devêssemos

dar uma parada na entrevista e no horário que for melhor para o (a) Sr. (a) eu

voltarei aqui. O que acha da ideia?51

Finalmente, os respondentes podem não ser capazes de responder por

não conseguir formular uma resposta adequada. Isso acontece especialmente

com as perguntas diretas sobre motivação. Muitas escolhas são feitas sem

uma consideração consciente de suas razões. Quando se pergunta por que

comprou uma TV de determinada marca, as razões apontadas são,

provavelmente, incompletas e superficiais. Uma alternativa é a utilização de

51 Nota do Autor

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“métodos indiretos”, tais como as técnicas de projeção (já descritas

anteriormente).

Segundo Aaker et. al, ‘uma técnica que vem sendo usada para prever a

falta de acuracidade nas respostas é a medição do espaço de tempo entre a

formulação de perguntas e sua resposta. Os estudos mostram que uma

pergunta muito fácil de ser compreendida, a resposta vem muito rápida pode

significar que a questão foi mal compreendida ou respondida sem pensar (o

bom entrevistador percebe isso nitidamente).

4.4.2.2. Falta de disposição para responder com precisão

Durante a entrevista, uma série de fatores pode criar “tendências nas

respostas”, e subverter as modificações positivas que existiam quando o

respondente aceitou participar da pesquisa. Os questionários muito longos ou

enfadonhos são especialmente vulneráveis a esse tipo de problema. Vejamos

outros aspectos ligados a esta falta de disposição em responder:

1. Preocupação com a “invasão de privacidade”.

Embora a maioria dos respondentes não encare as pesquisas, em si,

como uma invasão de privacidade, certas questões pessoais podem estar além

de sua tolerância. Cerca de 20% dos respondentes de uma entrevista pessoal

ou por telefone podem recusar-se a responder questões sobre renda, ou dar a

elas respostas distorcidas. Até certo ponto, as garantias de sigilo e a

explicação detalhada da necessidade destes dados podem reduzir o problema.

52 “Convém salientar, que se houver a presença de um (a) vizinho (a) no

lado do respondente, este(a) poderá influir nas respostas do respondente.

Neste caso, o entrevistador deverá com muita habilidade, solicitar que tal

pessoa não deve permanecer no local”.

52 Nota do Autor

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2. Pressão do tempo e cansaço

“Quando uma entrevista é muito longa, a acuracidade das respostas tende a diminuir em seu decorrer. Os respondentes que estavam relutantes em participar por estarem ocupados ficam ansiosos acerca do tempo necessário para responder às perguntas. Não é surpreendente que acreditem que respostas abruptas e sem maiores explicações sejam a melhor maneira de encerrar a entrevista rapidamente.

Mesmo os que respondem pacientemente e com disposição podem acabar cansados se a entrevista for muito demorada.”

53 Nossa solução derivada de muitas entrevistas, e que adotamos até

hoje com nossos entrevistadores “é dizer no início da entrevista qual é a sua

duração prevista. Se for algo demorado, agendar de comum acordo com o

respondente um horário”.

3. Tendências causadas pela busca de “prestígio e pela aceitabilidade

social” das respostas.

Existem muitas evidências de que os respondentes podem distorcer

suas respostas de forma que (eles acreditam) aumentará seu prestígio aos

olhos do entrevistador e não os colocará como transgressores do que

percebem como as normais prevalecentes na sociedade. Principalmente, as

respostas às questões que tem implicações de status (renda, escolaridade,

hábitos de leitura, etc).

54 “Nossa solução: solicitar ao entrevistador que faça observações sobre esse contexto ao final da entrevista para que o pesquisador tome uma decisão – pode chegar ao caso de anular aquela entrevista.”.

53 Nota do Autor 54 Nota do Autor

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4. Tendências criadas pela “cortesia”

55 Existe uma tendência geral a limitar as respostas a generalidades que

não causem desconforto ou embaraço ao entrevistador, ou que possam indicar

falta de cooperação. Por exemplo, em teste de conceito, quando um

respondente oferece uma “aceitação de cortesia” à descrição de uma nova

idéia, mesmo que esta não lhe desperte nenhum interesse especial (Luso, Bill,

1975, pp. 228-231).

3

5. Erro de “desinformação”

“Perguntar alguma coisa a alguém implica que o entrevistador espera que o entrevistado tenha uma resposta. Essa expectativa pode induzir o respondente a responder a uma questão apesar de desconhecer totalmente o assunto. Quando foi perguntado a uma amostra de público em geral qual a sua opinião sobre uma entidade fictícia, Escritório Nacional de Reclamações de Consumidores, nada menos que 75% dos respondentes disseram alguma coisa sobre a eficácia dessa organização em proteger os consumidores.” (Hawkins, Del, Coney, Kenneth A., 1981, pp. 370-374).

Comentário do Autor

Conclusão: é difícil que se encontre uma solução para essa

circunstância, a não ser que o respondente denote através da resposta certa

hesitação e insegurança. Nesse caso, o entrevistador pode dizer ao

respondente que se ele desconhece o assunto proposto, não existe problema

dele não poder responder.

6. Estilo de resposta

“Questões avaliativas que pedem julgamento tipo bom-ruim, positivo-negativo, são alvo de determinados respondentes que elegem um “estilo ou categoria de resposta”, independentemente do conteúdo da questão. Por exemplo, existe o estilo aquiescente de resposta, que é a tendência a dar

55 Nota do Autor – Gostaríamos de discordar dos autores quando afirmam que o bom entrevistado não dê resposta que possa causar desconforto ou embaraço ao entrevistador. Em segundo lugar, é quase impossível que num teste de conceito possa passar despercebido “aceitação de cortesia” porque na construção do questionário colocamos perguntas que exigem justificativa do respondente e é muito difícil que ele mantenha um contínuo falso para corroborar a cortesia mencionada.

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mais respostas positivas que negativas. Outra categoria é formada pelos “entusiastas”, que mostram uma tendência em dar respostas exageradas. Ou seja, o bom vira ótimo e o ruim vira péssimo.” “Essa categoria, segundo Wells (1963, pp. 8-18), têm uma tendência marcante a dar altas notas para anúncios favoravelmente avaliadas e a exagerar seu próprio hábito de compras de determinados produtos.” 56

Resumo de Erros nas Entrevistas

Ausência de resposta por recusa de participação

a. Medo das consequências da participação

b. Receio de invasão de privacidade

c. Anseio a respeito do assunto

1. Falta de acuracidade nas respostas

a. Incapacidade de dar uma resposta

• Ignorância da resposta

• Problema de memorização

• Problema na formulação da resposta

b. Falta de vontade de responder com precisão

• Preocupação com a invasão de privacidade

• Pressão de tempo e cansaço

• Desejo de prestígio

• Desejo de parecer cooperativo

• Estilo de resposta

• Expectativa do entrevistador de que o respondente tenha a resposta

56 Nota do Autor. Adotamos sempre, ao término das avaliações, solicitar ao respondente que ele se justifique: por quais motivos o Sr. avaliou .....? Desta forma, há casos em que alteramos a avaliação do respondente.

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228

4.5. Fontes de Erros no Questionário Aplicado

Através da Enquete pelo Correio

Todos esses tipos de aplicação dos questionários são denominados

“auto preenchíveis”, portanto, sujeito a uma série de vieses.

Chisnall (1980, pp. 190-195):

“uma desvantagem potencial é o cuidado que devemos ter na elaboração das perguntas, elas não podem causar nenhuma dúvida quando o respondente for respondê-la, pois não há a presença do entrevistador para removê-la”. A redação das perguntas é mais importante do que qualquer outra situação. Deve ser de fácil compreensão; não deve ser possível mais de uma única interpretação. A linguagem deve ser adequada à população sob exame.”

57 Solução: antes de deflagrarmos a pesquisa, devemos realizar pré-

testes do questionário, tantos quanto forem necessários para que tenhamos

certeza de que estão bem redigidos e facilmente entendidos pelo respondente.

Outra desvantagem é que o número de objetivos envolvidos na pesquisa

devem ser restritos, pois como sabemos quanto mais objetivos visarmos com a

investigação, maior será a quantidade de perguntas e, consequentemente

maior será o questionário, levando mais tempo para ser preenchido.

Desta forma, isso afastará um maior numero de respondentes e

diminuirá a taxa de retorno de questionário devidamente preenchido.

Outro ponto que merece atenção, segundo Chisnall é: “As perguntas

abertas (de razão) devem ser estritamente limitadas (ou eliminadas neste tipo

de questionário), porque tendem a fazer com que os respondentes sintam

alguma ansiedade que talvez faça com que o questionário seja totalmente

rejeitado. Em geral, somente as perguntas simples e diretas é que conseguem

ter respostas com relativa facilidade”.

Solução: quando não há como deixar de incluir perguntas abertas de

razão e o pesquisador pode identificar o respondente, ele poderá voltar a entrar

57 Nota do Autor

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em contato pessoal com ele e dirimi a dúvida e ou aprofundar mais o que disse

o respondente. 58

Aaker et. al. reforça este ponto de vista quando dizem:

“Como não existe a figura do entrevistador essa técnica apresenta uma série de desvantagens: não existe ninguém para dar explicações ao respondente e esclarecer as questões, principalmente as perguntas abertas (de razão)”.

59 A solução proposta que pode ser utilizada para minimizar o problema

é acrescentar ao questionário uma observação: “Caso V. senhoria tenha

qualquer dúvida ao preencher o questionário e assim o desejar, ligue para nós

pelo telefone .... e fale com nosso supervisor Sr. Alex Barbosa!

Outra solução apontada por vários autores e que já se tornou lugar

comum por quem usa este tipo de questionário (vamos apenas citar Chisnall) é:

“Os questionários desse tipo, têm de ser auto-suficiente, o que quer dizer que as instruções devem estar impressas a fim de orientar os respondentes. As instruções devem ser realizadas de modo claro e devem estar próximos às perguntas envolvidas. Devem ser usadas orientações simples e objetivas.”

Nosso Comentário

Não há necessidade obrigatória de que as instruções estejam próximas

às perguntas. Podem ser feitas em folha à parte para, se houver necessidade,

o respondente nela faça suas consultas.

Outro ponto mencionado por Chisnall se refere ao layout do questionário

e sua apresentação. Vejamos o que ele nos diz:

“O layout do questionário e sua impressão são particularmente importantes nos questionários. Devem ser bem apresentáveis e atraentes para impressionar os respondentes. Acrescentaríamos ao que disse Chisnall:”

“O layout deve ter o condão de facilitar o preenchimento do questionário pelo respondente.”

58 Nota do Autor 59 Nota do Autor

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230

Além disso, como afirma Chisnall: “A qualidade do papel, do envelope e

da impressão deve ser cuidadosamente considerada.”

E acrescenta:

“Todas às vezes em que seja possível, os questionários enviados devem ser endereçados individualmente com o título correto, iniciais e nomes dos respondentes corretamente escritos.”

Aaker et. al. acrescenta outro erro não amostral potencial:

“Outra desvantagem potencial dos métodos de auto-preenchimento reside no fato de que: nem sempre aquele que responde ao questionário e a pessoa que deveria fazê-lo.” Por exemplo, uma dona-se-casa recebe um questionário e ela, após rápida leitura, procura se socorrer entrando em contato com outras pessoas (vizinhos, parentes) e até consultando enciclopédias e dicionários e outras publicações. Desta forma, o resultado daquela entrevista não tem nenhum valor para a pesquisa.”

Solução: 60

“A fim de minimizar o problema, podemos anexar ao questionário um lembrete comunicando a entrevistada que desejamos saber apenas a opinião dela e que essa pesquisa não tem a intenção de que as pessoas entrevistadas acertem as respostas, mas apenas dêem duas opiniões que, para nós, “é o mais importante”. É aquilo que a senhora sabe hoje e agora. Por sinal, gostaríamos que a senhora não consultasse ninguém e respondesse sozinha.”

Chisnall acrescenta outro problema na aplicação de questionário

enviado para autopreenchimento:

“Em geral, os questionários enviados pelo correio não constituem um método adequado de pesquisa quando as populações são de poucas instruções.”

Para esse caso, não encontramos na teoria, algo que pudesse contornar

esse problema.

60 Nota do Autor

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Stael e Chaoubah acrescentam ao método: “É um método pouco ágil,

pois temos que aguardar o retorno dos questionários.”

“Apresenta baixas taxas de respostas – 20-30%.”

Solução: Para aumentarmos as taxas de retorno temos:

• Enviar mais de uma vez o questionário – pode ser que na

primeira vez, o respondente estivesse ocupado e não

contestou. Nesta segunda ocasião pode ser que o

encontremos com tempo livre e ele responda.

• Prometer um brinde ou participação em um concurso. Em

alguns casos, pagamento de uma quantia em espécie.

No caso específico do emprego da internet, nossa empresa passou por

uma experiência, vejamos: 61

“A pesquisa envolvia entrar em contato com engenheiros de automóveis da Indústria Automobilística. Nosso cliente forneceu os nomes, e-mails e telefones dos mesmos. E permitiu que revelássemos o nome da empresa-cliente.”

“Fizemos o contato com todos os engenheiros de todas as indústrias e comunicamos os objetivos da pesquisa e solicitamos entrevistá-los via internet. Atendida nossa solicitação, enviamos o questionário e aguardamos, como mencionava nos mesmos, que nosso prazo seria de 15 dias. A grande maioria não respondeu. Aguardamos mais alguns dias e voltamos a falar por telefone com os engenheiros, com muita habilidade, que não estávamos certos se muitos deles não haviam recebido o questionário. A estratégia funcionou e conseguimos respostas para a maioria dos questionários.”

Voltando a Chisnall, ele faz um alerta a respeito das pesquisas nas quais

os questionários de auto-preenchimento são respondidos (em indústrias

fabricantes de equipamentos, produtos eletrônicos, etc) por mais de um

funcionário graduado. Neste caso, o comprador, geralmente, é um mero

homologador dos produtos e marcas liberadas pelo setor de engenharia. Em

marketing nós chamamos tais respondentes de pertencentes a U.D.C. –

Unidade Decisória de Compra. 61 Nota do Autor

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“Neste caso, devemos enviar um questionário para cada membro desta U.D.C. e aguardamos suas respostas. O caso se torna mais complexo, mas o pesquisador deve ter paciência e jogo de cintura para atingir seu objetivo.”

62“Ainda acrescentaríamos outro erro-não-amostral, qual seja: “Tanto o questionário enviado via correio ou e-mail e até aplicado pelo telefone, pode introduzir uma distorção amostral. Para melhor esclarecer, usaremos um exemplo de uma investigação que realizamos para uma Editora de Livros Didáticos. O público-alvo era constituído de professores(as) de curso secundário. A editora possuía uma listagem de todos os professores de todos os Estados e Capitais do Brasil. Foram enviados cerca de 15.000 questionários pelo correio. Depois de 30 dias retornaram uns 2.500 questionário. Depois de realizarmos a crítica, edição dos mesmos, sobraram uns 1.800 questionários, pois muitos deles estavam incompletos ou mal preenchidos. É neste momento que entra o assunto “distorção amostral”.

Como sabíamos como era a distribuição dos professores no Brasil os do

Norte e Nordeste haviam enviado mais questionários que as outras regiões.

Desta forma, tivemos que fazer um ajuste na amostra para que cada estado

tivesse uma participação de acordo com a proporção de professores

registrados em suas regiões. Ao final tivemos que eliminar entrevistas de vários

professores porque eles excediam a quota de seus respectivos estados.

No caso de tomarmos os dados brutos de todos os professores que

responderam aos questionários, teríamos introduzido um peso maior nas

respostas dos professores das regiões Norte/ Nordeste. Sobraram, finalmente,

apenas 1.100 professores.

4.6. Fonte de Erros no Questionário Aplicado Através da Entrevista pelo Telefone

Vários são os erros não-amostrais e/ou limitações do emprego do

telefone na aplicação do questionário.

62 Nota do Autor

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233

Mattar (1993, pp. 173-180) menciona alguns dos vieses que ocorrem

com a aplicação de telefone.

• “Versatilidade – entrevista por telefone, a ausência do contato pessoal

entre entrevistado e entrevistador impede que haja grande

versatilidade; dispondo o entrevistador apenas de sua fala como meio

de comunicação, é evidente que muitos esclarecimentos e

orientações poderão ser passados ao entrevistado, mas nunca com

as mesmas possibilidades do contato pessoal. Por isso, instrumentos

pouco estruturados e questões complexas não devem ser aplicados

por telefone”.

Comentário do autor

Em outras palavras, é “um método que não permite o uso de muitos

objetivos que determinaria muitas perguntas e duração longa da entrevista –

aborrecendo o respondente”.

• A lista telefônica são fontes pobres e problemáticas para gerar

amostras representativas da população a ser pesquisadas, pelas seguintes razões:

- Dependendo da região (por exemplo, da cidade de S. Paulo) muitas

famílias ainda não possuem telefone fixo;

- As listas telefônicas envelhecem e muitos usuários trocam de

endereço e não comunicam à concessionária para onde foram com seu

telefone;

- Algumas pessoas, principalmente as de maiores posses, não desejam

que seus telefones sejam divulgados.

Desta forma, diz Mattar:

“Em razão destes problemas, as entrevistas por telefone oferecem um controle amostral apenas médio, excetuando-se os casos em que a listagem tenha sido preparada através de outros meios (por exemplo, listagem de médicos – via planos de saúde, de dentistas, de advogados, de indústrias clientes da

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empresa que solicitou a pesquisa (mesmo assim, é bom checar se tais listas estão atualizadas)).”.

• 63 Muitos respondentes potenciais, pensam que é trote e deixam de

atender ao telefone.

• O índice de recusa é relativamente alto – dependendo da qualidade

e habilidade do (a) entrevistados (a) pode atingir entre 10-20%.

• Depende muito daquele (a) entrevistador (a) que vai realizar as

entrevistas.

64 Infelizmente não temos uma teoria sólida e aprofundada sobre quais

são as características que devemos levar em consideração no momento de

selecionar os entrevistadores, a não ser que entrevistadores do sexo feminino

conseguem um índice maior de produção (e menor de recusa – infunde mais

confiança).

• 65O método da entrevista pelo telefone apresenta limitações: não

há possibilidades de se mostrar um cartão para o respondente.

Num teste de conceito para testar uma nova ideia de produto/

serviço, não se tem acesso ao entrevistado para que ele possa ler

o texto.

Característica Entrevista pessoal

Entrevista por telefone

Questionário autopreenchido

Versatilidade alta média Baixa Custo alto médio Baixo Tempo para aplicação alto baixo Médio Controle amostral alto médio Baixo Quantidade de dados alta média Média Garantia do anonimato baixa baixa Média Habilidade exigida para aplicação alta alta Baixa Uniformidade da mensuração baixa média Alta Índice de resposta alto alto Baixo Nível educacional exigido dos respondentes baixo baixo Alto Possibilidade de verificação da sinceridade das respostas alta baixa Baixa Tamanho da amostra pequena grande Grande Fonte: Fauze Mattar

63 Nota do Autor 64 Nota do Autor 65 Nota do Autor

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Entrevista por Telefone Auxiliada por Computador

Cabe ainda registrar o que nos diz Zikmund (2006, pp. 188-189): “Os

avanços da tecnologia computacional permitem que as entrevistas por telefone

sejam inseridas diretamente no computador em um processo conhecido como

‘entrevista por telefone auxiliada por computador”.

• Os entrevistadores ficam sentados em terminais de computadores.

Os monitores exibem os questionários, uma pergunta por vez, com

possíveis respostas pré-codificadas para cada pergunta. O

entrevistador lê cada pergunta à medida que ela aparece, o

entrevistador procura enquadrar sua resposta nas razões pré-

codificadas e assinala no dígito correspondente e ela é

automaticamente inserida na memória do computador. Em seguida,

o computador exibe a próxima pergunta e assim, sucessivamente.

Desta forma, o pesquisador que faz uso desta tecnologia tem o

controle total do andamento do trabalho dos entrevistadores, tais

como: produtividade, tempo de aplicação das entrevistas, índices

de recusa, etc.

Fontes de viés Nível de ocorrência de viés

Entrevista pessoal

Entrevista por telefone

Questionário autopreenchido

Garantia de anonimato Alto médio baixo Questões de entendimento dificil baixo médio alto Uniformidade das mensurações Alto médio baixo Conhecer todas as questões antes de responder baixo baixo alto Fraude do entrevistador Alto baixo baixo Dificuldade de supervisão e controle Alto médio baixo Controle sobre quem responde baixo alto alto Influencia do entrevistador Alto alto baixo Insinceridade das respostas baixo alto alto Fonte: William Zikmund

Construção de Questionário

Sobre o assunto construção do questionário encontramos uma profusão

de teorias. Nossa maior dificuldade foi a de selecionar aquelas que melhor

abordassem o tema. Vejamos.

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Selltiz et. al. (1965, pp. 613-647) no seu Apêndice C – sob o título

“Construção de Questionário e Processo de entrevista” – nos transmite os

seguintes conhecimentos:

Apêndice C do livro Métodos de Pesquisa

a) Nas Relações Sociais

1. Esquema de processo de construção de questionário

2. Escolha da informação a ser procurada

3. Decisão quanto ao tipo de questionário que deve ser usado

4. Primeiro rascunho do questionário

4.1. Reexame e Revisão das perguntas

5. Pré-Teste do questionário

6. Revisão do questionário e especificação dos processos

7. Guia para a construção de questionário

b) Decisões Quanto ao Conteúdo da Pergunta

8. Há necessidade de várias perguntas sobre o assunto desta pesquisa?

8.1. As pessoas têm a informação necessária para responder à pergunta?

8.2. Deve à pergunta ser mais concreta específica e mais diretamente ligada à experiência pessoal de quem responde?

8.3. O conteúdo da pergunta é suficientemente geral? Está livre de concreticidade e especificidade espúrias?

8.4. As respostas exprimem atitudes gerais e apenas aparentemente são específicas?

8.5. Está viesado o conteúdo da pergunta ou carregado numa direção, sem outras perguntas que equilibrem a acentuação?

8.6. As pessoas darão a informação solicitada?

c) Decisões Quanto à Redução da Pergunta

9. A pergunta pode ser mal compreendida? Contém fraseologia difícil ou

obscura?

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10. A pergunta exprime adequadamente as alternativas?

11. A pergunta é equivoca por causa de suposições não-explicitadas ou de conseqüência não percebida? O quadro de referência é claro e uniforme para todas as pessoas que respondem?

12. A frase é viesada? Esta emocionalmente carregada ou deformada para determinado tipo de resposta?

13. A relação da pergunta tende a despertar objeções, de qualquer tipo, da pessoa que responde?

14. Uma redação mais pessoal ou menos pessoal da pergunta apresentaria melhores resultados?

15. Não será melhor apresentar a pergunta sob uma forma mais direta ou mais indireta?

d) Decisões Quanto à Forma da Resposta à Pergunta

16. Será melhor fazer a pergunta sob uma forma que exija um sinal como

resposta (ou uma resposta curta, como uma palavra ou duas, ou um número), resposta aberta, ou resposta para assinalar uma resposta aberta de acompanhamento?

17. Se emprega uma resposta para assinalar, qual será o melhor tipo para essa pergunta – dicotômica, escolha múltipla, ou de escala?

18. Quando se usa uma lista para assinalar, abrangerá adequadamente todas as alternativas significativas, sem superposições com uma ordem justificável? Tem comprimento razoável? A redação dos itens é imparcial e equilibrada?

19. A forma da resposta é fácil, definida, uniforme e adequada para o objetivo?

e) Decisões Quanto ao lugar da Pergunta na Sequência

20. A resposta tende a ser influenciada pelo conteúdo das perguntas

anteriores?

21. A pergunta é apresentada de maneira natural? Está em ordem psicologicamente correta?

22. A pergunta é apresentada muito cedo ou muito tarde, para despertar interesse e receber atenção suficiente, evitar resistência, etc.?

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f) Guia para a Construção de Questionário

Selltiz et. al. apresentam uma lista de aspectos que devem ser

considerados na formulação das perguntas.

a) Decisões Quanto ao Conteúdo da Pergunta

• É necessária esta pergunta? Qual sua utilidade?

O assunto exige uma pergunta separada, ou pode ser integrada em outras

perguntas?

• A pergunta abrange adequadamente o campo investigado?

b) As perguntas têm a informação necessária para responder à

pergunta?

• É um assunto que pode descrever adequadamente?

• A pergunta exige respostas que a pessoa não pode dar ou não pode dar com precisão?

• Esse aspecto esta dentro da experiência do respondente?

• É uma lembrança distante, apagada ou difícil?

• Esta sujeita a grandes erros de observação ou recordação?

c) Deve à pergunta ser mais correta, específica e mais diretamente ligada à experiência pessoal de quem responde?

d) As respostas exprimem atitudes gerais e apenas aparentes são específicas?

e) As pessoas darão a informação solicitada?

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Outro tipo de abordagem

Zanotta (1986, pp. 1-2) elaborou uma apostila para seus alunos de Pesquisa de Marketing que é composto de 5 (cinco) etapas. Vejamos:

Objetivos Pesquisa

1ª Etapa Fazer Perguntas

2ª Etapa Racionalização

3ª Etapa Ordenação

4ª Etapa Pré-Teste

5ª Etapa Questionário Definitivo

1. P, P, P, P, P P, P 1. 1.1

1. 1.1

1. 1.1

2. P, P, P P, P 2. 3.

2. 3.

2. 3.

3. P, P, P P, P 4. 5.

4. 5.

4. 5.

4. P, P, P 14 P’S

P 7 P’S

6. 7 P’S

6. 7 P’S

6. 7 P’S

Fonte: Zanotta, Egydio Barbosa Zanotta (1986, pp. 1-2)

Explicação do Modelo

Passamos a descrever as 5 (cinco) etapas que constituem o modelo de

construção do questionário.

a) Objetivos Como já descrevemos, anteriormente, o questionário é o retrato dos objetivos. Suponhamos que no modelo tenhamos 5 (cinco) objetivos.

1ª ETAPA – Fazer Pergunta – a partir de cada objetivo previsto na

pesquisa, faremos quantas perguntas desejarmos, algumas delas redundantes,

mas escritas de forma diferente. O que está subjacente a esta abordagem é

que “toda pergunta de forma diferente logrará que possamos encontrar

aquela(s) que melhor se coaduna com o objeto previsto, bem como, será

melhor entendida pelos respondente. Por isso, é que temos um número maior

de perguntas do que seria necessário

2ª ETAPA – Racionalização – nesta segunda etapa, eliminaremos

aquelas perguntas redundantes, escolhendo aquelas que melhor respondam

aos objetivos da investigação. Ao mesmo tempo, examinaremos se as que

permaneceram respondem aos objetivos da pesquisa.

3ª ETAPA – Sequência Lógica – Até o presente não temos uma

sequência lógica, pois as perguntas estão colocadas ao lado dos objetivos e

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estes não indicam, necessariamente, a ordem em que devam ser colocadas as

perguntas. Há que haver uma ligação entre as perguntas. Por exemplo:

1. O (a) Sr. (a) possui automóvel?

SIM ( )

NÃO( ) – Pule para P.

1.1. Se SIM – Qual a marca/ modelo e ano de seu automóvel?

2. O (a) Sr. (a) comprou este automóvel novo ou usado? A vista, o

prazo ou via consórcio?

NOVO ( ) A VISTA ( )

USADO( ) A PRAZO ( ) outra:

CONSÓRCIO( ) qual?

3. Qual a cor do seu automóvel?

COR:

Como se observa (com essas poucas perguntas). “HÁ UM

ENCADEAMENTO ENTRE ELAS, ou seja, HÁ UMA SEQUÊNCIA LÓGICA.”

As perguntas são numeradas.

4ª ETAPA – Pré-Teste – Está é a etapa mais importante na confecção

do questionário. O questionário é testado no campo (na prática) para

verificarmos:

• Se as perguntas são compreendidas pelos respondentes – se está

adaptada à semântica do grupo para o qual se destinam.

• Se as perguntas estão obedecendo a uma sequência lógica-correta.

• Se está faltando alguma pergunta.

• Se está sobrando alguma pergunta.

• Se o questionário flui naturalmente sem a interferência do entrevistador.

MARCA MODELO ANO

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Considerações do Pré-teste

1. Podemos atestar depois de muitas pesquisas realizadas, que em

nenhuma delas conseguimos “bolar” um questionário, de uma pesquisa

“Ad-Hoc” que não tivéssemos que modificar as perguntas do questionário

após a realização de um Pré-teste.

2. Em geral, fazemos de 10 a 20 Pré-testes – dependendo da complexidade

do problema e dos objetivos a serem pesquisados.

3. Hoje há carência de bons pretestadores – que tenham acuidade e

capacidade de interpretar quando uma pergunta não é bem entendida

pelos respondentes e que sejam capazes de modificá-la no momento em

que isso ocorre; ou que percebam que está faltando uma pergunta ou que

ela deve ser desdobrada em outras ou, finalmente, deve ser substituída

por outra ou eliminada.

Quando solicitamos a um entrevistador-pretestador que realiza um pré-

teste e ele volta dizendo que nosso questionário está ótimo e que não houve

necessidade de fazer nenhuma mudança, dizemos você não é um bom

pretestador: “não existe questionário feito pela primeira vez que não tenha que

sofrer modificações”.

5ª ETAPA – Questionário Definitivo – Introduzirmos as modificações

apuradas pelo pré-teste, temos o questionário definitivo pronto para ser

aplicado no campo pelos entrevistadores.

Como chegamos à conclusão que um questionário está bem elaborado?

É aquele que flui rapidamente, que o entrevistador pergunta e o respondente responde de imediato sem hesitação e sem a interferência do entrevistador.

Devemos também apresentar uma outra teoria sobre a construção do

questionário. Foi ela criada por AchimSchrader (1974, pp. 120).

Vejamos os passos propugnados por ele.

1° Passo – “A entrevista se inicia com uma “adaptation”. Com isso quer

se designar a concordância do entrevistado, ou seja, o “aquecimento”. No início

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procurou-se a colocação de perguntas introdutórias simples e gerais e que

qualquer respondente é capaz de responder.”

2° Passo – “Num segundo momento, o “GoalAchivement”, é realizada a

tarefa de mensuração, ou seja, a inclusão de perguntas importantes,

complexas, carregadas emocionalmente, sendo que a tensão não é mantida

sempre no mesmo nível, com a inclusão de perguntas mais simples.”

3° Passo – “Nesta fase, a da “integração”, a tensão é quase que

totalmente reduzida (“esfriamento”), com a formulação de perguntas mais

fáceis (aquelas sobre os dados sociais).”

4° Passo – “A entrevista – a interação é encerrada com a despedida. Foi

enfatizado aos entrevistadores que o entrevistado deve permanecer em um

estado de espírito para qualquer nova entrevista posterior – ser amável ao final

da entrevista agradecendo a ajuda e colaboração do respondente ao responder

o questionário.”

66“Em outras palavras, o que Schrader aconselha é que devemos construir um questionário que se inicie com uma pergunta bem geral, simples e que todos os entrevistados se sintam capazes de respondê-la. Gradativamente, vamos incluindo novas perguntas fáceis de responder.

Após esta fase introdutória, na qual o respondente já se sente mais motivado em continuar com a entrevista e já se incorporou ao clima da mesma, colocamos as perguntas que exigem uma certa introspecção antes de respondê-la. São as perguntas mais importantes e mais profundas.”

66 Nota do Autor

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243

5. Tipo de Perguntas

Vejamos os erros não amostrais demonstrados pela teoria disponível

nos diferentes tipos de peguntas.

5.1. Perguntas Fechadas

a) Perguntas Dicotômicas ou Duplas

Tais perguntas indicam apenas duas alternativas: Sim/ não, forte/ fraco,

faço/ não faço, sou/ não sou, etc – apresentam algumas desvantagens:

• Em alguns casos nem sempre ela é dicotômica – por exemplo, o (a)

Sr. (a) pretende comprar um automóvel nos próximos seis meses?

SIM( )

NÃO( )

No entanto no pré-teste do questionário surgem outras respostas:

“Não sei, depende se eu estiver empregado.”

“Provavelmente acho que sim.”

“Talvez, vai depender de muitos fatores como quanto eu estarei

ganhando de salário.”

“Dependerá do valor de meu carro na hora da revenda”, etc

Como vemos, a pergunta não se apresenta como dicotômica e sim de

escolha múltipla. Mais acertado seria:

Opções

• Sim, vou comprar ( )

• Provavelmente sim ( )

• Provavelmente não ( )

• Não vou comprar ( )

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Segundo Mattar “o erro se dá na medição, se o tema foi tratado de forma

dicotômica, quando na realidade apresentava diversas nuances entre, por

exemplo, a concordância total e a discordância total.”

Já Malhotra (2001, p. 283):

“embora as decisões não raro se caracterizem como escolhas binárias ou dicotômicas, o processo subjacente de tomada de decisão pode refletir uma incerteza, que é cortada por resposta de múltiplas escolhas. E fornece o seguinte exemplo: dois indivíduos podem ter a mesma chance de adquirir um carro novo, “se as condições econômicas permanecerem favoráveis. Entretanto, o indivíduo que se considera otimista em relação à economia responderá “sim”, enquanto que o pessimista, responderá “não”.

Ainda Malhotra acrescenta:

“Outro problemas com a formulação de questões dicotômicas é se devemos incluir uma alternativa neutra de resposta. Se não foi incluída, os entrevistados se vêem forçados a escolher entre “sim” e “não”, mesmo no caso de serem indiferentes. Por outro lado, se se inclui uma alternativa neutra, o respondente pode evitar um ponto de vista sobre o problema, tornando assim tendencioso o resultado:”

Solução do provável erro não amostral de Malhotra: “Oferecemos as

seguintes diretrizes”:

• Se for provável que uma proporção considerável dos entrevistados

seja neutra, inclua-se uma alternativa neutra.

• Se esperar uma proporção pequena de entrevistados neutros, evite-

se a alternativa neutra.

Conforme a suposição, o pesquisador não raro tem algum conhecimento da

proporção de entrevistados neutros.

Comentário do Autor

“Quando atuamos por cerca de quatro anos no campo e aplicamos as perguntas do tipo dicotômicas, verificamos que a grande maioria dos respondentes não hesitavam em responder entre as duas alternativas. Temos também a participação importante do entrevistador que percebe se o entrevistado apresenta dúvida sobre qual resposta escolher. Neste caso, ele poderá apresentar a resposta neutra. Não vemos grande

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245

problema nesta questão da pergunta dicotômica e, ao contrário, sabemos que se a terceira alternativa for apresentada haverá uma tendência dela a ser escolhida em maior número de vezes como “fuga” da resposta pelos entrevistados.”

5.2. Perguntas de Escolha Múltipla

Tomemos, inicialmente, o que nos diz Mattar (1996, pp. 109-111):

“nesse tipo de pergunta, o pesquisador deve preocupar-se com dois aspectos:

a) O número de alternativas oferecidas que devem atender a dois

princípios básicos:

• Ser coletivamente exaustivas e mutuamente exclusivas quando incluírem todas as possíveis respostas alternativas.

• Outro princípio refere-se aos vieses de posição que ocorrem em função da tendência, quando se trata de palavras, à escolha das opções de resposta que aparecem primeiro no leque de opções em detrimento das que aparecem mais para o final quando se trata de números – por exemplo, que nota de 1 a 10 o (a) Sr. (a) daria para cada um destes fatores que estão neste cartão? – essa tendência de escolha de resposta passa a ser o número que ocupa a posição central.

67Sobre esse tópico gostaríamos de acrescentar um comentário:

“O que na realidade devemos ter muita atenção é com o uso do cartão. Antigamente, quando éramos entrevistadores os cartões eram apresentados de forma vertical e as marcas ou atributos que os respondentes deviam escolher como o(s) mais importante também eram apresentados da mesma forma, ou seja, verticalmente. Nós entrevistadores já sabíamos que os respondentes escolhiam os três primeiros e, às vezes, fingiam que liam todas as 10 ou 12 apresentadas.”

Mais tarde, surgiu a ideia de apresentarmos os itens em ordem

diferentes para cada entrevistado, através de um “caderninho com 10 a 12

folhas de acordo com o número de itens oferecidos para escolha, neste caso,

cada um dos 10 ou 12 itens se revezavam nos cartões para terem a mesma

chance de aparecerem em todas as posições. Também não deu certo. Até que,

finalmente, veio a solução “os itens eram distribuídos aleatoriamente em

67 Nota do Autor

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246

cartões redondos ou ovais. Desta forma, o respondente ao receber o cartão

divisava, num só vislumbre, todos os itens de uma só vez.

Entretanto, ainda há possibilidade de uma distorção: alguns itens

ocupavam mais espaço do que outros e tinham maior visibilidade, dos

respondentes. Por exemplo:

MARCAS DE TALHAS ELÉTRICAS DE CABO DE AÇO

BERG

STHIL

MANNESMAN DEMAG MOVICARGA

SEVENP

STEMPH

Como se observa a marca da Mannesman ocupava um espaço

demasiado o que levava a distorcer o resultado da pesquisa. Como a marca do

produto era Demag, fizemos ver ao cliente que era impraticável mante-lá da

maneira que desejavam mantê-la.

Após inúmeras discussões, finalmente prevaleceu o bom senso e

concordaram que a marca a ser afixada no cartão era “Demag”.

Outras desvantagens apresentadas por Mattar:

• Exigem muito tempo de preparação para que, possivelmente, todas

as opções de respostas sejam apresentadas; consequentemente, o

custo de preparação é elevado;

• Se alguma das possíveis opções de respostas não foi previamente

incluída no rol de opções, fortes vieses podem estar sendo

introduzidos, mesmo quando esteja sendo oferecida a opção

“Outra; quais?”

Malhotra também concorda com Mattar quando diz:

• “A elaboração de questões eficientes de escolha múltipla exige

esforço considerável.”

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247

• “É difícil obter informações sobre alternativas não listadas. Mesmo

que se inclua uma categoria “Outras” (favor especificar); os

entrevistados tendem a escolher entre as alternativas listadas.”

68Creio que devemos apresentar uma outra solução para a criação das

alternativas a serem apresentadas.

“Podemos adotar “técnica não-auxiliada” – ou seja, quando temos que

perguntar algo sobre quais atributos o (a) respondente entende que são as

mais importantes – podemos realizar uma pesquisa, com anterioridade fazendo

esta pergunta novamente e sem auxílio: “Quais os aspectos que o (a) Sr.(a)

considera como o mais importante, em 1º lugar, quando vai comprar um

fogão?”

Assim fazendo, obtemos quais são os principais atributos/ itens que

devemos fixar no cartão da pergunta de escolha múltipla.

Ao final a escolha pelo entrevistado podemos perguntar:

O (a) Sr. (a) entende que ficou faltando em nosso cartão, algum aspecto importante no momento em que vai comprar um fogão? Se afirmativo, qual o aspecto/ fator que ficou faltando? Ele chega a ser superior àquele que o(a) Sr. (a) escolheu como mais importante? Se Sim, altera-se a resposta anteriormente registrada.

Já Selltiz et. al. (1974, p. 291) apresenta a seguinte solução teórica:

“É mais seguro usar uma pergunta aberta, que não provoca viés das respostas através de sugestão de algumas, mas não de outras.” E acrescentam: “O fato de as palavras (dos itens oferecidos) das perguntas (de escola múltipla) serem as mesmas para diferentes pessoas darem diferentes interpretações, algumas das quais podem ser muito diversas das pretendidas pelo entrevistador (e pelo pesquisador que conduz a pesquisa)”.

Perguntas de Escalas

Como já demonstramos no capítulo 2, inúmeras são as perguntas de

escala. Basicamente a técnica de escala se subdivide em duas classes.

68 Nota do Autor

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248

a) Comparativas

b) Não-Comparativas

“As Escalas Comparativas segundo Aaker et. al. (2004, p. 292)

apresentam desvantagens que dizem respeito aos níveis de detalhamento a

que o pesquisador necessita e deseja chegar para resolver o problema que

está investigando. Isto é conseguido através das Escalas Não-Comparativas

que conseguem atingir esse nível de detalhamento em que fica claramente

definida qual a pontuação de cada item individualizado dentro de objeto

questionado. Assim, o respondente classifica sua preferência em relação a um

produto e ainda pode especificar atribuindo-lhe pontuação dentro de uma

escala – qual a nota (caso seja aplicada uma escala Likert) ou atribuição

subjetiva de preferência (se for aplicada uma escala de diferencial semântica).

Por falar nestas suas escalas (Likert e de Diferencial Semântica) Virgillito

et. al. (2010, pp. 131-132) relatam: “Uma das pesquisas mais interessantes que

tivemos contato refere-se à determinação da imagem que as agências de

viagens tinham do acesso às políticas de vendas das empresas aéreas.

Excelente resultado foi alcançado combinando-se uma Escala de diferencial

Semântica com uma Escala Likert. Vejamos um exemplo da Escala Likert.

Obs. Variações de classificação podem ser de -2 a +2, incluindo o zero,

ou de 1 a 5 (mais utilizada) e 1 a 10 (menos freqüente).

Segundo Dillon, Madden e Firthe (1996, pp. 305-306), a “Escala Likert”

consta de uma série de frases valorativas referentes ou uma determinada

atitude ante um objeto. O número de frases depende do número de

características descartadas associadas com dita atitude, pelo que varia de um

trabalho para outro. Em geral, as escalas de Likert têm entre 20 e 30 frases.”

Discordo totalmente

Discordo Não discordo, nem concordo

Concordo Concordo totalmente

-2 1

-1 2

0 3

1 4

2 5

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249

E prosseguem:

“O êxito da Escala de Likert será dado em grande medida pela adequação dos pontos de que conste a mesma. Os pontos ou itens selecionados devem possuir três qualidades:

1) Devem captar todos os aspectos importantes da atitude frente a um

objeto;

2) Não devem ser ambíguas; e

3) Devem ser suficientemente sensíveis para poder discriminar entre os

entrevistados com respeito à atividade investigativa.

“Na prática, se recomenda formar primeiro um grupo relativamente grande de frases e depois ir eliminando algumas delas sobre a base de que as selecionadas servem para discriminar entre os entrevistados que apresentem atitudes favoráveis e desfavoráveis.”

Além disso, segundo Dillon et. al. (1996, pp. 305-306) devemos ficar

atentos com as “Possíveis causas de variação nas Pontuações Valorativas”:

1. Diferenças reais na característica valorada.

2. Características pessoais que afetam as pontuações, por exemplo,

inteligência, nível de estudo (escolaridade), informações processadas.

3. Fatores pessoais de curta duração: saúde, cansaço, motivação,

fatores emocionais, entre outros.

4. Fatores próprios do caso: relação estabelecida e distrações que

surgem.

5. Variações ao aplicar o instrumento de valoração, por exemplo,

entrevistadores.

6. Amostra de pontos incluídos no instrumento.

7. Falha de clareza no instrumento de valoração, por exemplo,

ambiguidade, complexidade, interpretação.

8. Fatores próprios do instrumento de valoração: falta de espaço para

registrar a resposta esperada no citado instrumento.

9. Fatores próprios da análise posterior: pontuação, tabulação e

compilação estatística.

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250

Escala de Diferencial Semântica

É o tipo de escala mais popular entre os pesquisadores de marketing,

como também entre os homens de propaganda – ela funciona na prática

quando queremos medir, por exemplo, margem de produtos, marcas,

empresas, etc. É de fácil aplicação e de entendimento por parte dos

entrevistados (e isso é por demais importante, já que o nível escolar dos

respondentes deve ser levado em consideração).

Também devemos ter atenção com a escolha dos fatores a serem

fixados para avaliação dos entrevistados e que sejam relevantes para o cliente

que encomendou a pesquisa.

69“O ideal é que comecemos pela aplicação de um projeto exploratório para que tenhamos certeza de que estamos no caminho correto para a solução do problema que está realmente afetando a empresa. Ademais por que não realizar um pré-teste do “questionário da escala de diferencial semântica para verificar se os itens (geralmente bipolares) foram bem escolhidos e entendidos pelos respondentes.”

Tagliacarne (2001, p. 259) acrescenta:

“Na elaboração do formato de escalas ou respostas, devemos levar em conta os níveis de instrução dos respondentes. Uma abordagem consiste em elaborar escalas que sejam panculturais, ou livres de tendenciosidades culturais. Das técnicas de escalamento estudadas, pode-se dizer que a escala de diferencial semântica é pancultural. Foi testada em vários países, com resultados consistentemente semelhantes.”

6. Método de Observação: Erro

Examinemos o que autores – como Boyd & Westfall – dizem sobre as

principais desvantagens desse método de coleta de dados.

• “Distorções introduzidas pelo observador – os indivíduos têm a

tendência de apenas observar o que querem e isso pode fazer com

que deixe passar despercebidos aspectos importantes do

comportamento dos elementos observados.”

69 Nota do Autor

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251

• Em alguns estudos de observação o entrevistado pode ser avisado

que está sendo observado. Isto resulta em que ele possa mudar de

conduta, agindo de maneira diferente, deixando de ser espontâneo

em suas atitudes comportamentais.

• O custo, na maioria dos casos é mais elevado, pois requer uma

espera do observador, sem fazer nada entre acontecimentos e serem

observados.

• “A principal limitação do método de observação é que com ele não

podemos descobrir os motivos, atitudes ou intenções dos

consumidores observados. Além disso, comportamentos altamente

pessoais, relacionados com higiene pessoal ou interações íntimas de

família não estão disponíveis para observação.”

Já Aaker et. al. (2009, p. 226) – acrescentam:

• Se a subjetividade do observador estiver envolvida no processo, pode

fornecer resultados tendenciosos, principalmente quando a

observação envolve interpretação de pessoas com o cenho franzido

(sinal de que está preocupada – na concepção do observador) – está

presente a subjetividade de interpretação.

• O questionário utilizado no método de observação para registrar o

que está sendo observado, dependendo do detalhamento, é bastante

difícil de ser elaborado, pois o observador só poderá registrar os

acontecimentos registrando-os no dígito correspondente e já previsto,

pois não dá tempo de descrever, por exemplo, atos de compra.

70Outro aspecto que merece ser mencionado é que nem todo bom

entrevistador é necessariamente, um bom observador. Este deve ter algumas

características: não ser distraídos (ao contrário, concentrar-se naquilo que deve

observar); deve apenas anotar aquilo que está observando e não “avançar o

sinal” acrescentando interpretações suas sobre o porquê que o consumidor

agiu daquela forma. Em síntese, há falta de bons observadores. Há que treiná-

los.

70 Nota do Autor

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• Ademais, o pesquisador encarregado da pesquisa, deve saber quanto

tempo o observador deve permanecer no local sem ficar cansado e,

desta forma perder o foco do que deve ser observado. O local onde

devera permanecer deve ser cômodo e confortável para manter o

observador motivado e atento.

• Devemos levar em consideração, também, que podemos empregar a

observação pessoal-participante, na qual há uma interação entre o

observador e a pessoa observada. Neste caso, devemos atentar para

o roteiro a ser seguido (é flexível), o que pode após a observação ser

relatado de forma imprecisa e subjetiva: por exemplo em uma compra

simulada para verificar o comportamento do vendedor no que tange

aos seus argumentos de vendas: marca oferecida – é a nossa ou não

– cordialidade no atendimento, etc, as prováveis respostas devem ser

previstas para que o observador apenas registre-as no dígito

correspondente.

71“O método de observação pessoal participante, principalmente quando

o observador, por exemplo, convive com uma comunidade ou permanece em

uma residência, ou seja, as pessoas sabem que estão sendo observadas, pode

ocasionar vieses nos resultados. O IBGE certa vez conduziu uma pesquisa

junto à grande amostra de domicílios para saber qual eram os hábitos

alimentícios – muitas famílias, no afã de impressionarem aquele elemento

estranho na residência, trataram de melhorar o cardápio.

Portanto, além de termos atenção com esse método, devemos ter um

olhar crítico se o mesmo é possível de ser aplicado ou não. Para isso,

podemos nos valer da realização de um pré-teste de aplicação do método e

com base nos seus resultados, modificarmos a abordagem e seu conteúdo ou

chegarmos à conclusão que o mesmo é inviável de ser aplicado.”

Aaker, Kumar e Day observam: “Quando aplicamos observação pessoal

participante (não declarada àqueles que são observados) – “o método tem

trazido excelentes resultados – por exemplo, ao observarmos conduta e

71 Nota do Autor

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253

eficiência do pessoal de atendimento dos clientes (de bancos, lanchonetes,

lojas em geral). Por outro lado, existe sempre o perigo latente das questões

éticas mal resolvidas.”

72“Poderíamos acrescentar, que os métodos de observação não são

utilizados tanto quanto poderiam, pois as empresas não os conhece

suficientemente. Há que serem mais divulgados tanto pela área acadêmica,

como pelos Institutos de Pesquisas de Marketing.”

Finalmente, devemos acrescentar o que nos dizem Aaker et. al. (2009,

pp. 223-224):

a) Análise de Conteúdo

“É uma técnica de observação usada para analisar unidades de material

escrito por meio de regras cuidadosamente aplicadas (Kolbe e Burnett, 1991,

pp. 243-250). Define-se como a descrição objetiva, sistemática e quantitativa

do conteúdo manifesto de uma unidade de comunicação. Isso inclui tanto a

observação quanto a análise. A unidade de análise pode ser palavras,

caracteres, temas, medida de tempo e espaço, ou tópicos ... Sua aplicação na

pesquisa de marketing envolve observação e análise do conteúdo ou

mensagem de meios publicitários, artigos de jornais ou revistas, ou programas

de rádio e TV.

O único senão é que falta mão-de-obra especializada para efetuar, com

apuro, tal tipo de análise e a introdução provável de subjetividade na análise:

dois analistas de um mesmo assunto e de posse do mesmo material de

pesquisa, apresentarão duas análises diferentes.”

7. O Setor de Campo

Segundo Schrader (1974. P. 104):

“Setor de campo é a denominação do local onde são realizadas as entrevistas pessoais, pelos entrevistadores e de onde provêm os dados a serem coletados pelos entrevistadores. É neste local que ocorre a interação preponderante verbal, entre

72 Nota do Autor

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um entrevistador, presente durante a interação, e um entrevistado.”

Collins (1980, p. 77) argumenta:

“A influência do entrevistador, no trabalho de levantamento de dados, refere-se aquela distorção da realidade devida á íntima participação no que está observando e registrando, ou seja, a contribuição do entrevistador, por qualquer que seja a razão, para a imprecisão da estimativa do resultado da pesquisa”.

Chisnall (1976, p. 203) acrescenta:

“Constituem eles um elo importante e essencial na cadeia da investigação; e sua eficiência e confiabilidade d influem na estrutura total da investigação. É evidente, por desgraça, que os entrevistadores constituem uma das fontes principais de erro na investigação de campo. Ainda que se tenha conseguido investigar algo a respeito da seleção e método de treinamento dos entrevistadores, não é claro que se haja logrado um melhoramento considerável da situação.”

Dois autores – Good e Hatt (1979, pp. 238-242) situam o problema da

seguinte maneira:

“Pode-se afirmar, que cada uma das etapas do projeto de pesquisa é importante. Erros em qualquer estágio poderão reduzir ou destruir a validade da investigação. No entanto, a entrevista é a base sobre a qual repousam os outros elementos, pois é a fase de coleta de dados.

“Sua importância é vista também no reconhecimento gradual, na localização e no controle das distorções do entrevistador, pois é realmente um meio ou um instrumento. Um entrevistador pode não penetrar na máscara de recusa que um informante potencial lhe oferece. Outro receberá uma recepção cordial.”

... “Geralmente existem diferenças importantes entre os entrevistadores, levantando a questão fundamental de “fidedignidade do entrevistador”: “Em que medida as respostas aqui obtidas podem ser remetidas?”

E prosseguem ...”

O processo de interpretação social (entre entrevistador e entrevistado) na entrevista é complicado – o entrevistador deve estar alerta para o que está fazendo à situação de entrevista: sua aparência, sua face e gestos com as mãos, sua estupidez e seus talentos. Como estes afetam o entrevistado? ... O resultado será que cada entrevistador encontrará alguns entrevistados com os quais não conseguirá um “rapport”, e com eles nenhuma situação adequada de entrevista pode existir

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(um rapport existe entre o entrevistador e o respondente, quando o último aceita os objetivos da pesquisa e procura ativamente auxiliar o obter a informação necessária – o calor e a camaradagem é o que geralmente se chama rapport).

Estudos do consumidor proporcionam uma base importante para análise de mercado. “Com o uso crescente dos estudos do consumidor, a questão da exatidão dos dados coletados por estes métodos tornou-se um problema prático importante.”

Collins (1980, p. 81) “menciona o viés oriundo das diferenças

observadas nas entrevistas realizadas por diferentes entrevistadores. Mesmo

que estas sejam de -1% - poderia reduzir marcadamente a precisão do

resultado da investigação.”

Um dos autores que mais criticaram o tema do setor de campo e do

entrevistador foi Phillips (1974, pp. 127-129): “O entrevistador, experimentador

ou observador, traz seus próprios problemas e os aplica aos indivíduos

observados. “Sabe-se muito pouco sobre a natureza desses problemas, pois

alguns são muito sutis ... E muitos fácil, naturalmente, esboçar uma solução

geral; a dificuldade está em determinar as soluções específicas. Qual o tipo de

teoria, por exemplo, ampla para abranger o complexo processo da interação

entre o entrevistador e o sujeito? E quais as técnicas específicas que podem

ser usadas para obter informações sobre o processo?”

Phillips prossegue:

“... não somente existe interação entre o entrevistador e o entrevistado, como também entre o entrevistador e o supervisor de campo (chefe dos entrevistadores). Devemos igualmente lembrar que, apenas de uma experiência de treinamento (para uma determinada pesquisa e sobre o preenchimento do mesmo questionário) comum na preparação da pesquisa, “cada entrevistador é um indivíduo único.” Por mais banal que isto pareça, implica em que ele(a) estará orientado (a) em certas direções e que isto será revelado ao entrevistado de um modo ou de outro. Acrescente-se a esta situação a singularidade de cada entrevistado, com as suas próprias idéias preconcebidas sobre a entrevista e reações a mesma, e teremos uma grande variedade de situações.

... Entretanto, “quase nada tem sido feito nesse sentido, devido à falta de teoria e metodologia que apóiem tal esforço”.

O que é mais grave e contundente é o que afirma...

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“Devido á nossa ignorância do efeito do entrevistador, talvez grande parte das conclusões (da teoria) da ciência social seja errônea... os estudos desse fenômeno fornecem-nos mais exemplos do que uma teoria e metodologia para lidar com eles”.

Como se observa, o assunto abordado é grave e exige que algo seja

feito em prol de sua solução.

Cremos que devemos acrescentar o que dois iminentes teóricos da

pesquisa de marketing disseram – Boyd e Westfall (1965, pp. 58-63):

“Alguns ganhos significativos têm sido realizados no trato com o viés do entrevistador durante este intervalo de década, mas os mesmos problemas ainda existem num grau maior e relativamente pouco está sendo feito para resolvê-los.

... “Apesar destes desenvolvimentos, alguém é forçado a concluir que os mesmos problemas existem no levantamento de dados de campo conforme feito há dez anos atrás e que relativamente pouca melhoria foi feita em manipulá-los.”

Muito ainda há para ser feito em apreender como reduzir os “ausentes” e “recusas”, como também como melhorar a “harmonia entre o entrevistador e o entrevistado” e na “seleção e treinamento dos investigadores de campo”.

E concluem:

“A maioria dos pesquisadores concordam que a área de trabalho de campo é uma das principais fontes de erro na pesquisa de mercado e ainda continua a receber relativamente pouca atenção.”

a) Diferenças nas respostas obtidas pelos entrevistadores, aplicando o

mesmo questionário (Collins, 1980, p. 81).

73Através de nossa experiência, temos adotado a seguinte solução:

• Assim que for possível – 2 ou 3 dias no máximo – mandamos nosso

verificador criticar/ editar as entrevistas e voltar ao local onde foram

realizadas e refazer as mesmas, conversando com as pessoas que

foram entrevistadas. É impressionante como as pessoas se lembram –

principalmente nas perguntas abertas de razão – o que disseram aos

entrevistadores. 73 Nota do Autor

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• Outra providência – “assim que os entrevistadores devolverem os

primeiros questionários preenchidos é feita uma tabulação das

perguntas para averiguarmos se existe algo de peculiar e típico que só

aquele ou aqueles entrevistador(es) registra nas respostas das

perguntas do questionário. São os chamados “vícios de linguagem”, ou

seja, um recurso taquigráfico de que se vale o entrevistador ao registrar

a resposta do entrevistado.”

b) 74 As perguntas abertas de razão, não “exploradas” pelos entrevistadores.

Por sinal não vimos esse assunto abordado pela teoria que consultamos.

A palavra explorar significa que o entrevistador deve, com habilidade e sem

induzir o (a) entrevistado (a), obter mais razões e motivos que possam justificar

a resposta do respondente.

Qual a solução que encontramos e que é do pleno conhecimento dos

supervisores de campo dos Institutos de Pesquisa de Mercado? Ao fazer a

crítica dos questionários, de pronto podemos perceber que o entrevistador não

explorou bem a pergunta – a resposta é curta e concisa, sem adjetivação

suficiente e com um ou dois motivos. Entre os supervisores de campo,

tabuladores e analistas de mercado há uma máxima que diz: “Se o registro do

entrevistador apresentar em média de 1,5 motivos, não houve exploração

suficiente; o material é fraco para se conhecer, por exemplo, razões e motivos

da preferência por determinado produto ou marca; vantagens e desvantagens

de uma marca sobre as marcas concorrentes, etc.”

Nesta situação, cabe ao supervisor chamar a atenção do entrevistador

dizendo que aquele material não poderá ser aceito porque seu conteúdo é

fraco e nada revelador.

c) 75 “O espaço físico deixado para a resposta de uma pergunta aberta de razão é exíguo.”

74 Nota do Autor 75 Nota do Autor

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258

Tal colocação não foi por nós contatada no transcurso de nossa

pesquisa bibliográfica, as consequências são óbvias: o entrevistador ao se

deparar com o espaço diminuto para registrar a resposta dos respondentes se

sentirá encorajado em colocar uma resposta pouco profunda e com poucos

motivos.

A solução para o problema é também: aumentar o espaço físico para

que, ao contrário, o entrevistador se sinta constrangido e extrair mais

informações do respondente.

d) O erro de falta de resposta (Malhotra, 2001, pp. 117-119)

Apenas para relembrar esse tipo de erro – emerge quando algumas

pessoas incluídas na amostra não respondem. Se as substituirmos por outras

pessoas, o resultado será diferente – as pessoas diferem entre si, não pensam

da mesma forma e por isso há uma distorção no resultado da pesquisa.

As principais causas das “baixas taxas de resposta” são:

• Recusas que resultam da não disposição do entrevistado em

não participar da entrevista – seja por estar ocupado naquele

momento (a dona-de-casa pode estar preparando a refeição ou

amamentando seu filho, ou em plena limpeza da sua

residência).

Solução: combinar com o entrevistado para voltar em outra hora, quando

este estiver desocupado. Mas se a causa for por desconfiança ou medo, além

do entrevistador infundir confiança e credibilidade, por exemplo, mostrando sua

identificação, carta do Instituto onde trabalha e serenidade na interlocução com

o entrevistado, inclusive pode usar do recurso do tipo: eu acabei de entrevistar

uma vizinha, a dona Benta. Ela me atendeu e deu a entrevistas. Se não lograr

êxito, nada poderá ser feito para convencer o respondente. Não adianta insistir.

Cabe ainda lembrar que a maioria das recusas ocorre imediatamente

após as observações iniciais do entrevistador, ou quando o respondente

potencial abre o envelope enviado pelo correio (não gostam do que leram

Page 259: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO SOBRE O ERRO NÃO … Barbosa Zanotta.pdf · também consistem de erros de falta de resposta e de erro de resposta.” (Malhotra, 2001, p.117) Justificativa

259

sobre a entrevista). Em uma pesquisa telefônica de âmbito nacional, 40% dos

que foram contatados se recusaram logo no estágio introdutório, mas apenas

6% se recusaram no decorrer da entrevista.

E prossegue Malhotra:

“Não está em casa”

“Essa é a segunda causa mais importante dos baixos índices de resposta.”

“A solução proposta é – se houver alguém em casa – perguntar qual o horário em que o respondente estará no domicílio e depois retornar, pelo menos mais uma vez naquele horário. Deste modo, cai a taxa de não obter resposta na entrevista.”

76Certa vez participamos de uma pesquisa com pessoas do sexo

masculino sobre hábitos no barbear. Nas instruções da investigação constava

uma cláusula do domicílio sorteado na amostra ser entrevistado: só substituí-lo

após as 24 horas.

“Esta também é uma solução um pouco radical, mas que funcionou

naquela ocasião. Embora por precaução já tivéssemos realizado outra

entrevista substituta, em outra residência que já havia sido sorteada como

reserva.”

77 “É evidente que determinados supervisores de campo não se atem a

designar, no treinamento dos seus entrevistadores, quais os melhores horários

para encontrar os respondentes e isso ocasiona o aumento da não-resposta

por ausência do respondente:

Outro erro comentado por Malhotra de não-resposta é o Erro de

Resposta que ele define como: “Um tipo de erro de não amostragem que surge

de entrevistados que respondem, mas dão respostas imprecisas e evasivas ou

cujas respostas são registradas ou analisadas (pelo entrevistador)

erroneamente. Tais erros podem ser cometidos pelo entrevistador ou pelo

respondente, bem como pelo supervisor de campo e/ ou pelo verificador

quando for “checar” o material”.

76 Nota do Autor 77 Nota do Autor

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260

Vejamos os erros cometidos pelo entrevistador:

a) Erro de Questionamento

“Esse erro denota erros cometidos ao se fazer as perguntas aos

entrevistados ou por não se investigar quando são necessárias mais

informações. Por exemplo, ao fazer as perguntas o entrevistador não usa o

fraseado correto dado no questionário. Ou não explorar bem a pergunta se esta

for de razão.”

b) Erro de Registro

Surge devido a erros na escuta, na interpretação e registro das

respostas dadas pelos entrevistados. Por exemplo, um entrevistado indica uma

resposta neutra (indeciso), mas o entrevistador a interpreta como uma resposta

positiva (por exemplo: compraria a nova marca).

Solução: A prática (que já se tornou teoria entre os Institutos e alguns

clientes mais atilados e que acertadamente acompanham os trabalhos de

campo dos Institutos de Pesquisa contratados, é não deixar de:

1º. Realizar 20 a 30% de verificação dos questionários preenchidos

pelos entrevistadores.

2º. Não deixar passar mais do que 2 a 3 dias para dar início aos

trabalhos de verificação.

78 OBS. “É evidente que antes de dar início à verificação, é necessário

ler com muita atenção as entrevistas realizadas pelo entrevistador e constatar,

nesta crítica, se há algum viés de resposta registrada (aquilo a que já nos

referimos: “vícios de linguagem” ou “taquigrafia particular)”.

78 Nota do Autor

Page 261: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO SOBRE O ERRO NÃO … Barbosa Zanotta.pdf · também consistem de erros de falta de resposta e de erro de resposta.” (Malhotra, 2001, p.117) Justificativa

261

c) Erro Proposital (também chamado de fraude)

“Surge quando o entrevistador inventa respostas para parte ou toda a

entrevista. Por exemplo, ele não faz as perguntas sensíveis relativas ao

endividamento do entrevistado, mas depois preenche a resposta baseado em

sua avaliação pessoal. Alguns, não vão até o campo e preenchem as

entrevistas em sua casa inventando nomes e respostas.

Em uma ocasião, um nosso aluno de Pesquisa de Mercado veio no

intervalo das aulas e nos relatou um caso sério de fraude. Solicitamos que ele

relatasse o tal caso para seus colegas na volta do intervalo. Vejamos o relato.

“Participei do Censo de habitantes do IBGE na cidade de São Paulo,

numa região da Casa Verde. Ao voltar com minha tarefa comprida, falei com

meu supervisor. Nossa conversa foi interrompida por um telefonema. A pessoa

relatava se o que havia sido realizado pelo IBGE era um Censo ou uma

pesquisa por amostra, pois no 1° Caso ele nem outra pessoa de seu

apartamento haviam sido entrevistados. Por sinal, dizia ele, nenhum residente

dos demais apartamentos do prédio também não haviam sido visitados. Diante

dos fatos narrados, o supervisor solicitou que eu pegasse as entrevistas

daquele recenseador e voltasse à região em que o fato ocorrera e fizesse uma

verificação. Realizei a investigação e constatei que mais de 200 domicílios

daquela região não haviam sido visitados e que o recenseador inventara

nomes e respostas nas entrevistas.”

Conclusão: “por falta de experiência dos encarregados do Censo de

1970 do IBGE, apenas o acaso, a fraude teria passado despercebida.

Nos perguntamos: isso se deu em S. Paulo – capital, imagine-se o que

terá ocorrido no restante da cidade de São Paulo e em todo o país? E surge a

questão maior: “Será que sabemos qual é a verdadeira população do Brasil?”

Solução: Somente através da realização de uma crítica ou edição do

material coletado pelos entrevistadores e a posterior verificação de, pelo menos

20 à 30% dos questionários preenchidos, poder-se-á autenticar a veracidade

das informações contidas nos mesmos.”

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262

Acrescentamos que no período em que atuamos como verificadores,

registramos a seguinte proporção:

“De cada 10 (dez) novos entrevistadores 1 (um) fraudava no seu primeiro dia de trabalho de campo. Mais tarde, mais 3(três) também fraudavam, pois os dois grupos de entrevistadores – não acreditavam que haviam verificação do seu material.”

79 Solução adicional: Quando fomos contratados pela firma Robert

Bosch de Campinas, e começamos a montar nosso departamento de Pesquisa

de Mercado, introduzimos a figura do “homem de campo” que, entre outras

tarefas devia monitorar os trabalhos de campo dos Institutos de Pesquisa

contratados – isto envolvia acompanhar o pré-teste do questionário, participar

da reunião de instrução oral sobre o preenchimento do questionário, aferir a

qualidade dos entrevistadores que estavam sendo escolhidos a participar da

nossa pesquisa, criticar o material preenchido pelos entrevistados e realizar

verificações dos questionários. Como resultado mantínhamos o controle da

qualidade dos trabalhos desenvolvidos pelos Institutos.”

Malhotra continua a comentar os erros de Resposta: Seu foco se dirige

para o “erro cometido pelos entrevistados”.

a) Erro de Incapacidade

“Existe quando o entrevistado não consegue dar respostas precisas. Ele

pode fazer isso por falta de familiaridade (com o assunto proposto); fadiga,

tédio, lembrança incorreta, formato da pergunta ou seu conteúdo e outros

fatores. Por exemplo, um entrevistado não consegue lembrar a marca de

iogurte comprado quatro semanas antes.”

b) Erro de Má Vontade

“Surge da falta de disposição do entrevistado para fornecer informações

precisas. Os entrevistados podem dar respostas erradas intencionalmente.”

79 Nota do Autor

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263

c) Viés de Resposta

“Ocorre quando os entrevistados tendem a responder a perguntas com

certa inclinação. As pessoas podem de forma consciente ou inconsciente,

deturpar a verdade. Uma distorção de medida ocorre porque as respostas dos

entrevistados são falsificadas, quer deliberada ou inadvertidamente.

Solução para os três casos: a responsabilidade maior recai sobre a

entrevistador que está presente no momento em que tais erros ocorrem. Se for

um bom entrevistador e estiver atento, perceberá o desvio de conduta do

respondente e com habilidade, sem querer desmascarar o entrevistado, poderá

tentar obter um aprofundamento da resposta que permita corrigir o viés

introduzido e recuperar a qualidade das informações. No entanto, se perceber

a má vontade proposital daquele que responde, pode se despedir do mesmo

educadamente e encerrar a entrevista. Finalmente, ao final da entrevista deve

relatar o ocorrido e o porquê do encerramento da entrevista.”

No caso do “Viés de Resposta”, Malhotra recomenda: “quando os

supervisores ou entrevistadores identificam tais distorções de resposta, eles

devem incluir uma medida correta. Por exemplo, tentam obter a correção

quando é feita a verificação da mesma entrevista em que ocorreu o viés”.

Ainda temos outros “Tipos de Vieses de Resposta”, segundo Malhotra.

Vejamos as quatro categorias específicas. É conveniente que se

esclareça que essas categorias sobrepõem-se e não são mutuamente

excludentes.

a) Viés de Aquiescência

“Alguns entrevistados são muito dispostos a dizer sim. Eles parecem

concordar com praticamente todas as frases que lhe são apresentadas (por

exemplo, Escala de Likert). Esse viés é particularmente proeminente em

pesquisas de novos produtos, principalmente se receberem uma amostra para

experimentação prática.”

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Solução: “o entrevistador poderá esclarecer com muita habilidade que se

o respondente criticar o novo produto, não estará ofendendo com sua opinião o

novo produto, desde que ela dê sua resposta de forma espontânea que é o que

mais necessitamos: opinião sincera e natural sobre o produto que

experimentou. É complexo e difícil lidar com a situação, principalmente quando

o entrevistador está entrevistando pessoal com baixo nível de escolaridade e

pessoas com menos posses.”

b) Viés de Extremidade

“Algumas pessoas tendem a usar extremos ao responder às perguntas;

outras evitam consistentemente de forma neutra.”

Solução: “Em parte o que colocamos na pergunta anterior também serve

como uma solução para esse tipo de viés. Podemos acrescentar que talvez,

seria conveniente apresentar antes de tais perguntas uma observação de que o

que esperamos é que os respondentes respondam da forma mais espontânea

e correta, não importando se não aprovam ou aprovam o novo produto (por

exemplo).”

c) Viés do Entrevistador

Neste tipo de viés é que reside a maior fonte de distorção (de erro não

amostral) na pesquisa de mercado e representa o ponto nevrálgico da validade

ou não de um projeto de pesquisa.

Como apresenta Malhotra:

“Esse tipo de viés pode surgir da “interação entre o entrevistador e o entrevistado.” Se a presença do entrevistador (seja qual for o motivo) influenciar os entrevistados a dar respostas falsas ou alteradas (ou até recusar a responder ou participar da entrevista), a pesquisa será marcada por vieses do entrevistador. Às vezes, os entrevistados podem dar respostas que acreditam agradar ao entrevistador, em vez de dar as respostas verdadeiras.”

Quais as razões que levam a pesquisa de mercado a se deparar com

esse problema?

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265

São tantas as variáveis intervenientes que vamos procurar abordar

aquelas mais mencionadas na bibliografia pesquisada.

Zikmund e Babin (2011, p. 180) introduzem características importantes

nessa interação entre o entrevistador e o entrevistado:

“As características do entrevistador (e acrescentaríamos do entrevistado), incluindo idade, sexo, estilo de vestir, tom de voz, expressões faciais, aparência (classe social, raça) e outras características não verbais podem ter alguma influência nas respostas do entrevistado.”

Newman (1964, pp. 445-446):

“A conveniência de estabelecer um ambiente amistoso é particularmente importante na entrevista (principalmente na qualitativa que geralmente é mais demorada e complexa) pessoal, de forma que se requer especial cuidado ao selecionar os entrevistadores para que sejam compatíveis com a classe social de pessoas que irão entrevistar.”

Mais adiante Newman acrescenta:

“A possibilidade de desenvolver uma “corrente de simpatia” (durante a entrevista) reside na “personalidade” do entrevistador, em “sua preparação” e “experiência”. Também depende de outras características como “classe social” que aparenta, “raça” e “idade”. Essas considerações são importantes para determinar se o ambiente ajudará a livre expressão (do entrevistado).”

Outro autor, Junker (1971, p. 95), menciona:

“Há também o problema da “classe social” do entrevistador em relação à da pessoa de quem se obtém a informação. É surpreendente que tal problema ainda não tenha sido reconhecido na literatura da metodologia... Certos aspectos disso são evidentes, mesmo que suas manifestações possam ser um pouco sutis. Por exemplo, famílias de classe alta somente darão informações de certo tipo a pesquisadores de classe alta. As famílias de classe média tendem a se fechar se o interrogador for identificado como pertencente a uma classe baixa. Em conjunto, “as classes reconhecem as classes” e somente falarão de assuntos íntimos a quem lhes for socialmente igual ou superior. Certo sentimento de intensidade no nível da classe estabelece relacionamento entre o entrevistador e o respondente; a percepção de diferenças de classe dificulta tal relacionamento.”

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266

Bernard Phillips (1974, p. 127) adiciona algo sobre a influência da classe

social no processo de interação entrevistador-entrevistado:

“Um indivíduo da classe média, entrevistando um respondente da classe operária, pode possuir uma técnica cuidadosamente elaborada para fazer perguntas e reagir a respostas que não denunciam neste último, seus próprios valores e expectativas. Mas o fato de ser um entrevistador de classe média mal pode ser escondido da maioria dos respondentes, os quais estão abertos a certas deixas, tais como maneira de vestir, o modo de falar e o simples fato da entrevista não ser uma ocupação da classe operária.”

Chisnall (1973, pp. 205-210) comenta sobre entrevistadores experientes

e inexperientes:

“Se importância da experiência dos entrevistadores foi tema de uma investigação levada a cabo por Durbin e Stuart para avaliar o êxito dos entrevistadores profissionais experientes versus os estudantes sem experiência na obtenção das entrevistas. Houve uma grande diferença nas porcentagens de êxito (questionário preenchido total ou parcial) entre as duas classes de entrevistadores, a favor dos profissionais experientes.”

Chisnall também menciona:

“Na maioria dos casos, é preferível que “mulheres entrevistem mulheres”, e que entrevistadores “negros” realizem as entrevistas quando estas devem fazer-se em casos de informantes negros.”

Erros Administrativos

Segundo Zikmund e Babin (2012, pp. 81-82) “O erro administrativo é o

erro causado pela administração ou execução impróprias da tarefa da

pesquisa.”

Eles apresentam os mesmos em quatro tipos de erros:

a) Erros de Processamento de Dados

O processamento de dados pelo computador, como qualquer processo

de aritmética está sujeito a erro, pois os dados devem ser aditados e inseridos

no computador depende de sua inserção e programação corretas.

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b) Erro de Seleção de Amostra

Tais erros são causados uso protesto inapropriado de amostra ou pela

execução de procedimentos de amostragem. Por exemplo, uma empresa que

seleciona uma amostra a partir de uma lista telefônica terá alguns erros não

amostrais (sistemáticos), porque vários assinantes proíbem a divulgação de

seu número e estes não estão na lista. 80 Ademais, inúmeros assinantes

deixam de comunicar a mudança de endereço residencial e o pesquisador ao

determinar o âmbito geográfico da pesquisa (que envolve determinados bairros

e não outros) pensa que está entrevistando pessoas de um bairro quando, na

realidade está entrevistando pessoas de outro bairro.

c) Erros do Entrevistador

Embora já tenhamos comentado esse tipo de erro e pelos mesmos

autores (Zikmund e Babin) eles voltam ao mesmo dizendo: “As habilidades dos

entrevistadores variam consideravelmente. Neste tipo de erro os

entrevistadores registram as respostas de forma incompleta por falta de rapidez

ao escrever, como também por falta de acuidade.”

Além disso, a percepção seletiva dos mesmos pode fazer com que

registrem o que lhes é transmitido pelos respondentes de forma errônea e

parcial.

d) Fraude do Entrevistador

Também já abordamos esse assunto, mas como os mesmos autores

voltaram ao mesmo assunto, vejamos uma síntese do que disseram: “A fraude

ocorre quando o entrevistador preenche respostas a perguntas que foram

deliberadamente ignoradas. Alguns entrevistadores fraudam para concluir o

mais rápido possível ou para evitar perguntas sobre tópicos selecionados:

80 Nota do Autor

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81 “Acrescentamos: “Muitos entrevistadores costumam fraudar nas

perguntas chamadas “filtros” – por exemplo: O (a) Sr. (a) possui automóvel?

SIM ( ) - Prossiga

NÃO ( ) - Pule para P.5

Ou seja, se a resposta fosse sim, teria que fazer várias perguntas

sequenciais. Já podendo pular para a pergunta 5. ganhou tempo ao fraudar a

pergunta filtro-dicotômica.

Qual a solução para esses quatro erros não-amostrais?

A solução é a realização de uma efetiva verificação e contando com

verificadores com experiência de alguns anos – pelo menos dois anos – que

sejam muito observadores e de bom caráter, ou seja, não vão em busca de

descobrir erros e sim que surjam naturalmente. Além disso, se o pagamento

feito entrevistadores não for satisfatório, contribuirá para o aumento da fraude.

“Verificação e Supervisão de Campo.”

Outro tópico que compõe o setor de campo e que já mencionamos em

outros pontos de nossa tese.

Depois do supervisor de campo, é o cargo mais importante na área. 82O

controle de qualidade dos dados coletados dependem, em grande parte, do

desempenho do verificador – ele autentica a veracidade dos dados e

informações coletadas pelos entrevistadores.

Portanto, a verificação de pelo menos 20% do material coletado pelos

entrevistadores, é condição “sine qua non” para que se evite a introdução de

erros não amostrais na pesquisa de mercado.

Durante nossa trajetória profissional um fato muito curioso e estranho

tem nos impressionado: quando um dirigente de um Instituto de Pesquisa

contratado por uma empresa comunica que o trabalho de campo vai sofrer

pequeno atraso, já que foi descoberta, pelo pessoal da verificação, uma fraude

81 Nota do Autor 82 Nota do Autor

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269

de alguns entrevistadores, o cliente não gosta de ouvir a palavra fraude e, ao

invés de elogiar tal conduta do Instituto, age de maneira contrária: “Nas

próximas pesquisas não daremos a eles novos projetos de pesquisa”.

Se o aumento verificação é tão importante, quem é esse tal verificador?

Em primeiro lugar é um antigo entrevistador e que se notabilizou no

Instituto como um bom entrevistador e que nunca cometem fraude. É integro.

Outra característica importante é que seja equilibrado e imparcial

quando vai realizar verificação. É funcionário de extrema confiança do

supervisor de campo.

Já o “Supervisor de campo” é aquele que comanda o setor nos Institutos

de Pesquisa. Vejamos algumas de suas características:83

• Antigo entrevistador e verificador – ter experiência de pelo menos 3

anos nas duas funções.

• Cabe a ele recrutar e selecionar os entrevistadores e verificadores.

• Realizar pré-teste do questionário.

• Estimar o preço a ser pago aos entrevistadores – seja por diária ou

por entrevista realizada.

• Fixar a quota de entrevistas que devem ser realizadas pelos

entrevistadores e de maneira justa e exeqüível. Por sinal estas duas

questões: preço pago aos entrevistadores é um dos motivos mais

importantes que levam muitos entrevistadores a cometer a fraude no

preenchimento dos questionários ou a “correr na entrevista para

poder produzir mais e, consequentemente, ganhar mais.

• Dar instruções sobre o preenchimento do questionário a ser aplicado

na investigação.

• Distribuir os questionários aos entrevistadores pelas diferentes

regiões em que deverão ser aplicados.

• Fazer crítica do material devolvido pelos entrevistadores.

83 Nota do Autor

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270

• Fazer o mapa de controle do material distribuído: nome do

entrevistador, número de questionários que levou, bairro (s) onde foi

designado para a realização das entrevistas e data da saída com o

material e data de devolução (bem como o número de entrevistas

realizadas) e, quantidade de entrevistas verificadas e desempenho

oferecido pelo verificador.

• Fazer verificação (além do verificador) do material dos entrevistadores

e, de vez em quando, fazer verificação do verificador.

Concluindo, podemos afirmar que o supervisor de campo e o verificador

é que depende o bom desempenho do setor de campo.

Costuma-se dizer que muitas vezes, a escolha de Institutos de Pesquisa de Mercado é feita porque o cliente sabe que ele tem um excelente setor de campo.

Muitos vieses que possam ocorrer na investigação são provenientes

desse setor e se o mesmo for competente e bem dirigido, vários erros não

amostrais podem ser evitados.

7. Plano de Tabulação

Segundo Martha Savastrano (2012, pp. 234-252):

“Em pesquisa, tabular é agrupar e quantificar os dados, apresentados em tabelas para facilitar a análise e auxiliar na extração das conclusões. A tabulação permite obter informações e, consequentemente conhecimento, a cerca do objetivo de pesquisa”.

... Mais adiante a autora complementa:

“Tabulação é a contagem de cada categoria isolada de uma variável, considerando-se a freqüência com que cada resposta foi citada na mesma. Cada resposta, assim como a própria tabela formada, é um dado”.

A figura 5. Mostra um exemplo de tabulação de uma questão de

pesquisa aplicada junto a 100 respondentes. A variável estudada é o gênero e

contém duas opções de respostas, expressas pelas categorias femininas e

masculinas.

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Tabela 5. Tabulação

Opções de resposta Totalização da Contagem

Categoria Frequência

• Feminino 68

• Masculino 32

Total 100

Como visto na tabela, a frequência é calculada contando-se o número de

ocorrências de uma resposta...A frequência de uma resposta representa

quantas vezes ela foi citada pelos entrevistados e deve ser expressa em

números absolutos e em porcentagens.

Savastrano continua a dar exemplo contendo outras tabelas. Vejamos:

Contagem das respostas por categoria das variáveis marcas, atributos do

produto e renda familiar, com base em 2 mil questionários.

Questão 1: qual a marca de chocolate em pó você prefere?

MARCAS FREQUÊNCIA % Da família 1.000 50 Caculês 800 40 De minas 200 10 Total 2.000 100

Questão 2: Que atributos considera mais importante no chocolate em pó?

ATRIBUTOS FREQUÊNCIA %

Sabor 1.000 50 Coloração 400 20 Solubilidade instantânea 600 30 Total 2.000 100

Questão 3: Qual é a renda familiar?

Classes de Renda Frequência %

Menos de R$1.000,00 900 45.0 De R$1.00-R$3.000,00 790 39.5

De R$4.000 ou mais 310 15.5

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Convém ressaltar, que o plano de tabulação deriva dos objetivos visados

pela pesquisa.

84Devemos explicar que as tabelas analíticas em pesquisa de mercado

possuem (ao contrário que até aqui foi apresentado) três números, a saber:

• Número BASE – é o número de pessoas, indústrias, lojas, etc. que

respondeu àquela pergunta a qual estamos nos referindo.

• N.A é o número absoluto que comumente chamam de freqüência, ou

seja, a soma das respostas em cada categoria.

• Número Relativo – é a porcentagem obtida, derivada do N.A. sobre o

número BASE.

Vejamos tal colocação nas tabelas 1. e 2. oferecida pela autora Martha

Savastrama.

1. Qual a marca de chocolate em pó que você prefere?

MARCAS N.A. %

Da família (1.000) 50 Caculês (800) 40 De minas (200) 10 BASE 2.000 -

2. Que atributos considera mais importantes no chocolate em pó?

ATRIBUTOS N.A. %

Sabor (1.000) 50 Coloração (400) 20 Solubilidade instantânea (600) 30 BASE 2.000 -

Temos também o caso em que o número de razões e/ ou motivos dados

pelos respondentes, é superior ao número deles (o número base). Neste caso,

devemos colocar no rodapé da tabela uma nota de observação: Respostas

Múltiplas, total superior a 100% ou R.M. Total Superior a 100%. Vejamos um

exemplo desta tabela envolvendo preferência pela marca de veículo:

84 Nota do Autor

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RAZÕES N.A. %

É econômico – consome pouca gasolina (40) 40

É fácil de dirigir (25) 25

Tem boa velocidade/ é veloz (20) 20

É potente – tem potência (20) 20 R.M. Total Superior a 100% ou Respostas Múltiplas, total superior a 100%

No caso das Respostas Múltiplas, alguns pesquisadores entendem que

o número base é igual a soma dos números absolutos e, desta forma, o

verdadeiro resultado é modificado e escamoteado, distorcendo a verdadeira

participação porcentual (no caso apresentado) dos motivos.

Temos agora outro tópico também importante, qual seja:

“Quanto aos objetivos da pesquisa, a tabulação pode ser SIMPLES

(Pergunta por Pergunta) e CRUZADA (Pergunta VS. Pergunta). Em outras

palavras, os objetivos são representados e retratados no questionário através

de perguntas. Quando um objetivo for representado no questionário por apenas

uma pergunta, quando a tabulamos significa que foi uma tabulação simples.

Quando o objetivo é mais complexo ele exige que na tabulação façamos a

interação de uma pergunta com outra, ou seja, há necessidade de cruzarmos

uma ou mais perguntas para poder respondê-lo. Vejamos um exemplo bem

simples:

O (a) Sr. (a) possui automóvel?

N.A. %

SIM (700) 70

NÃO (800) 30

BASE 1.000

SEXO DOS RESPONDENTES

MASCULINO FEMININO

N.A. % N.A. %

(500) 71,43 (200) 28,57

BASE 700

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Como vemos, houve um cruzamento de duas perguntas:

A pergunta 1ª - Posse de Automóvel

VS.

O sexo dos que possuem automóvel

Vejamos outro exemplo um pouco mais complexo. Em uma pesquisa

sobre mamadeira dada a crianças, foi perguntado: Por que a senhora prefere

esse (s) produto (s) para engrossar o leite da mamadeira.

Motivos da preferência Total

Mencionaram maizena

Não mencionaram maizena

N.A. % N.A. % N.A. %

Indicação médica (11) 55 (5) 38,46 6 85,71

Hábito (7) 35 (7) 53,85 - -

Bom para os intestinos das crianças (3) 15 (2) 15,84 1 14,29

Não soube responder (4) 20 (4) 30,77 - -

BASE 20 - 13 - 7 - Respostas Múltiplas, total superior a 100%

Podemos observar numa só tabela quatro características distintas

oriundas da tabulação e do tipo de pergunta aberta de razão.

a) Tabulação cruzada: perguntas sobre uso da Maisena VS. não uso da

Maisena VS. motivo da preferência pelo(s) produto(s) para engrossar o

leite da mamadeira;

b) Tabulação de perguntas abertas de razão;

c) A pergunta aberta de razão não foi bem explorada porque obteve

poucos motivos que justificassem o porquê da preferência;

d) E no rodapé da tabela a observação: Respostas Múltiplas, total

superior a 100%.

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7.1. Tabulação de Perguntas abertas

Basicamente, temos dois tipos de perguntas abertas: (Adaptada de

Selltiz et. al., 1974, p. 445).

• Simples; e

• De razão.

A primeira e muito similar as perguntas fechadas. Apenas não se

menciona e/ou se entrega um cartão para ajudar na resposta. Por exemplo,

“Quais as marcas de cerveja que o (a) Sr. (a) conhece ou que ouviu falar?

É uma pergunta aberta porque a resposta é livre e o respondente dá a

resposta segundo aquilo que se recorda como marcas de cerveja.

Já o segundo caso, da pergunta aberta de razão envolve tarefa bastante

complexa e difícil de ser operacionalizada. Vejamos alguns dos problemas com

que se depara o pesquisador e mais especificamente o tabulador.

• Um respondente pode dar uma resposta que ás vezes pode

demandar de 3 a 15 minutos, dependendo da amplitude que

envolve o assunto abordado pela pergunta.

• Há necessidade que o tabulador conheça bem a língua portuguesa

e ser capaz semanticamente, de separar a resposta dada pelo

entrevistador em categorias mutuamente exclusivas e, depois,

somá-las agrupando as razões e motivos dados pelos

respondentes.

• Hoje em dia, graças em grande parte à deterioração do ensino de

língua portuguesa, há falta de especialistas em tabulação de

perguntas abertas de razão.

• O trabalho que antecede a tabulação é importante, pois começa

com a crítica/ edição do material, ou seja, termos às vezes

ininteligíveis (o que é normal, pois o entrevistador no afã de anotar

quase que ao pé-da-letra o que diz o entrevistado escreve de

qualquer maneira e poucos conseguem entender o que está

escrito. Nesse caso, cabe ao superior e (ou verificador) avivar as

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palavras para que os tabuladores possam realizar sua tabulação

sem interrupções e, consequentemente com mais rapidez.

• O problema da tabulação da pergunta aberta de razão chegou a

tal ponto, que muitos Institutos de Pesquisa estão agindo da

seguinte maneira.

1º. Quando da realização do pré-teste do questionário, deixam

a pergunta aberta de razão totalmente aberta, com espaço

suficiente para que o pretestador possa escrever a resposta

dada pelo respondente. Às vezes fazem de 20 a 30 pré-

testes para que recolham muitos motivos e razões.

2º. Depois, tabulam as respostas obtidas separando-as em

categorias de razões, e aquelas que forem mais

mencionadas são fixadas no questionário definitivo. Quando

da realização das entrevistas, o entrevistador ao invés de

escrever as respostas dadas pelos respondentes, escuta-as

e as interpreta-as registrando-as em uma ou mais das

categorias de razões que estão fixadas no questionário logo

abaixo das questões. Em outras palavras, dá-se uma

atribuição indevida ao entrevistador – a de analista e

interpretador do que diz o respondente – isto, como já

comentamos, em plena crise do ensino e aprendizado da

língua portuguesa.

3º. É evidente, que esses Institutos de Pesquisas estão

procurando se desquitar de problemas com a falta de bons

entrevistadores de perguntas abertas de razão, além de

tabuladores com excelentes conhecimentos da língua

portuguesa e conhecedores de semântica para poderem

separar as categorias de respostas mutuamente exclusivas

e depois agrupá-las (somá-las). Finalmente atingem (os

Institutos) seus objetivos de economia e maior rapidez na

tabulação. É por isso, que muitas agências de propaganda

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refutam os resultados da pesquisa quando procuram usar na

tarefa de criação de campanhas de propaganda.

85Apenas para melhor elucidar o problema, vamos dar um exemplo.

Em certa ocasião realizamos uma pesquisa de opinião junto a uma

amostra de eleitores na cidade de Sumaré (interior de S. Paulo), para verificar

o candidato a prefeito e as razões de gostar ou não gostar dos candidatos. No

dia da entrega dos resultados ao nosso cliente, alertamos que ele deveria

restringir o número de participantes aquela reunião aos seus assessores de

confiança – 4 a 5 no máximo. Não fomos atendidos, embora tivéssemos

alertado que seu resultado não era dos mais satisfatórios.

Ao ler o resultado da participação de 4%, o candidato reagiu de maneira

agressiva e disse: “Professor, por que sua pesquisa custa mais caro que a do

Instituto.... (tratava-se de um famoso Instituto)?” Como já havíamos dado uma

olhada no relatório do outro Instituto que havia realizado a mesma pesquisa

patrocinada pelo Prefeito da cidade, respondemos: “Porque a nossa pesquisa é

feita com mais qualidade e profundidade. Mostre-me onde está na pesquisa

deste outro Instituto que diz que o senhor é:

• Antipático

• Despediu mais de 300 funcionários públicos (e outros adjetivos

desqualificados).

E continuamos a insistir com o candidato: “Mostre-me o que diz a

pesquisa desse Instituto e que revele realmente a opinião do eleitor de

Sumaré?”

O que o senhor tem são frases de horóscopo e perguntas indutivas, por

exemplo:

85 Nota do Autor

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O candidato... tal é honesto ou desonesto? – é trabalhador ou não é

trabalhador, se preocupa com a saúde da população de Sumaré ou não se

preocupa?

Nisso, fomos interrompidos por um cabo eleitoral, um senhor de idade e

que militava na política local há vários anos, que disse: “Devo dizer que ao ler o

relatório do professor, identifiquei aquilo que o eleitor de Sumaré está

realmente falando. Prefiro sua pesquisa que essa do outro Instituto.”

Embora o leitor tenha entendido o que foi colocado, desejamos

apresentar uma conclusão sobre o assunto:

Quando deixamos que as pessoas dêem sua opinião de maneira livre e

espontânea e sem induzi-la com a apresentação de razões e motivos (as

denominadas “frases de horóscopos”), vamos obter aquilo que realmente

representa o que pensa o respondente.

Para encerrar o assunto, diremos e afirmamos com a maior convicção:

“Preferimos que nossos entrevistadores não consigam anotar tudo o que

dizem as pessoas que entrevistam (numa pergunta aberta de razão), do que

apresentar respostas adredemente “preparadas” capazes de induzir os

respondentes a responder o que nem haviam pensado e, desta forma,

introduzir vieses nos resultados da investigação.

Isso tem ocorrido desde que éramos entrevistadores (1962). O que mais

nos aborrece é que os clientes desconheçam estes problemas e permitam que

isso ocorra com freqüência em suas pesquisas contratadas. Que desperdícios

de tempo e dinheiro.

8. Análise

“A análise descritiva, segundo Zikmund (2006, p. 426) se refere à

transformação de dados brutos em uma forma que facilite sua compreensão e

interpretação – reorganizando, ordenando e manipulando os dados coletados

para gerar informações descritivas.” E prosseguem... “A análise é uma

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investigação inteligente daquilo que a pesquisa descobriu e revelou e que o

executivo está aguardando para que possa tirar sua dúvida, corroborar sua

hipótese e, finalmente, tomar suas decisões de marketing, geralmente

enfocando um ou mais dos quatro P’s – Produto, Preço, Ponto de Distribuição

e Promoção (Propaganda + Venda Pessoal; ou seja, tomar decisões ligadas às

estratégias e táticas de marketing.”

Chisnall (1980, pp. 307-308) acrescenta:

“A análise de dados pode abranger simples descrições estatísticas como

médias, porcentagens, distribuições e medidas de dispersão, que existe na

maioria dos levantamentos. Por exemplo, é costumeiro descobrir uma

correlação positiva ou negativa entre o uso do produto e o nível de renda do

grupo social: os telefones da cidade de “Abatui” (hipotética) são encontrados

predominante nos lares das classes média e alta. A correlação parece indica

que o grau de envolvimento seja causal. Este pode ter ocorrido por casualidade

e nada tem a ver com causa e efeito.”

Com muitos problemas de marketing, por exemplo, o volume de vendas,

deve-se considerar diversas variáveis que envolvem o uso de métodos

estatísticos mais sofisticados, como o de regressão múltipla e vários outros.

Outro autor – Moser (1969, pp. 115-6) afirma categoricamente que

“qualquer que seja a natureza dos dados, a tarefa de interpretação cai

pesadamente sobre os ombros do pesquisador. No decurso da pesquisa, ele

terá adquirido grande experiência em lidar com os dados brutos e conquanto

cada leitor tenha o direito de tirar suas próprias conclusões, quem redigiu o

relatório do levantamento não deve fugir ao dever de dar as suas. Ademais, o

pesquisador teria falhado em dar sua própria contribuição ao levantamento se

não incluísse suas próprias idéias e especulações, ainda que não pudesse

apresentar provas que as substanciassem.”

Vale à pena colocar que 86 “Se bem conduzida a fase anterior – a

tabulação – já temos meio caminho andado para fazer a análise, pois a análise

é a interpretação do que mostram as tabelas analíticas. A tabulação é parte

86 Nota do Autor

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integrante da análise – é a pré-análise. A esta caberá descrever, de forma

aguda e objetiva, o que mostram as tabelas.

O analista deve ter atenção para não extrapolar nem se estender

demasiadamente ao tecer considerações. Deve procurar se ater aquilo que é

essencial e que responda aos objetivos da pesquisa. Há casos, inclusive, que

ao invés de escrever o que determinada tabela está mostrando, basta colocar a

tabela, pois ela é, muitas vezes, auto-explicativa.

9. Conclusões

87“Todo relatório de pesquisa deve apresentar um capítulo com as

conclusões a que chegou a investigação.

Devemos ter presente que um executivo que encomendou aquela

pesquisa, não tem tempo para ler todas as etapas da pesquisa – tem assuntos

mais urgentes e importantes que reclamam sua atenção. Por isso, o

pesquisador, ao final da pesquisa, deve apresentar um resumo da análise, com

as “principais descobertas da pesquisa; estilo telegrama – estilo executivo - o

executivo deseja receber o suprassumo dos resultados. Tudo isso alinhado em

15-20 pontos principais (é lógico e que isso dependerá da amplitude dos

tópicos abordados pela investigação). Se o executivo ao ler esse resumo, tiver

alguma dúvida, poderá chamar o pesquisador para esclarecê-la.

Dependendo da intensidade das pesquisas realizadas pelo pesquisador,

o tempo necessário para formar um bom profissional na área, leva uns 5

(cinco) anos pelo menos (conhecendo técnicas e, sobretudo, administração de

marketing).”

10. Recomendações de Marketing

88“Chegamos à última etapa do Projeto de Pesquisa de Marketing: “O

QUE FAZER COM TODAS ESTAS INFORMAÇÕES° QUAIS AS DECISÕES

DE MARKETING A TOMAR”

87 Nota do Autor 88 Nota do Autor

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Em outras palavras, se o pesquisador percorreu e participou ativamente

de todas as etapas da pesquisa, é natural ele esteja a cavalheiro para oferecer

ao executivo sugestões de marketing – que decisões de marketing tomar – com

base nos resultados advindos da pesquisa de mercado.

É de todo conveniente que se faça uma ressalva.

As recomendações de marketing oferecidas pelo pesquisador, tem como

ponto de partida o “atendimento das necessidades dos consumidores”. Ou

seja, as decisões sugeridas (pelo pesquisador) são tomadas de “fora para

dentro”.

Por outro lado, nem sempre o pesquisador possui informações que o

executivo que solicitou a pesquisa detém.

Vejamos um caso que nos ajuda a entender o assunto.

Em 1968, a firma Robert Bosch, nos solicitou uma pesquisa sobre o

aquecedor de água a gás Junkers. Um dos vários objetivos da investigação era

descobrir quais as cores preferidas das donas-de-casa, e das firmas

construtoras de apartamentos e casas; além de verificar quais as cores mais

vendidas pelos revendedores do produto.

Resolvemos contratar três Institutos de Pesquisa e a cada um caberia

realizar a pesquisa com um público.

Ao final da investigação aconteceu um resultado que nos fez acreditar

que quando uma pesquisa é bem realizada e monitorada pelo cliente, ela

chegará a bom termo: “As cores preferidas pelas donas-de-casa, instaladas

pelas firmas de construção e mais vendidas pelos revendedores, eram as

mesmas.

Cores

1º. Branca

2º. Azul Pastel

3º. Verde Esmeralda, etc.

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Enviamos os resultados para os executivos envolvidos na investigação e

recomendamos, entre outras coisas, que fossem mantidas as cores que as três

pesquisas indicaram.

Passados quatro meses, recebemos uma comunicação interna, do

Gerente de Produto (de aquecedor a gás) no qual ele comunicava –

simplesmente – que a cor “azul pastel” seria retirada de linha. Indignados

divulgamos aos nossos amigos que trabalhavam na empresa o erro crasso

cometido pelo gerente de produto. A cada oportunidade que se oferecia lá

vinha a nossa crítica ao executivo.

Certo dia, caminhando pelas dependências da empresa, nos deparamos

com o Gerente de Produto. Convidou-nos que fossemos até seu gabinete e

calmamente nos disse: “Fulano, sei que você anda falando mal de mim por ter

retirado a cor azul pastel de linha, já que ela foi à segunda colocada, na sua

pesquisa. Gostaria de justificar minha tomada de decisão. Talvez você não

saiba, mas a esmaltação dos nossos aquecedores é terceirizada e a cor azul

pastel devido ao tipo de pigmentação utilizado é mais cara que as outras cores.

Então estudamos o caso e havia as seguintes alternativas:

a) Ratear os custos de todos os aquecedores e o preço médio obtido

seria adotado para todas elas. Verificamos que agindo desta forma o

preço médio seria superior.

b) Cobraríamos um preço maior para aquecedor de cor azul pastel e

menor para as demais cores,

c) Ou a que tomamos: retirar a cor azul pastel para não desequilibrar o

preço cobrado para as demais cores.

Depois dessa explicação, pedimos desculpa pelo ocorrido e aprendemos

uma lição: “O pesquisador não possui o poder da decisão, ele apenas informa

e sugere, quem toma a decisão final é o executivo, pois ele possui mais e

melhores decisões.”

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CONCLUSÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES

Como conclusões finais e recomendações, passamos a apresentar um

balanço dos erros amostrais com as quais nos deparamos em cada

expectativas teóricas – o estado da arte – que possam explicá-los e solucioná-

los.

1. Formulação do Problema de Pesquisa e a fixação dos Objetivos.

É bem satisfatório aquilo que encontramos disponível na bibliografia

pesquisada; bem como nas entrevistas realizadas com pessoas com

experiência no assunto.

No entanto, ficou bem caracterizada que muitos executivos e

pesquisadores (de Institutos e de Empresas) e infelizmente são poucos

professores de pesquisa de mercado, não sabem como localizar e definir

problemas de marketing. Por sinal, uma das razões é não conhecerem o que é

administração de marketing. Essa foi uma constatação grave e que afeta

sobremodo os resultados de uma pesquisa.

Em razão disso, pregamos que, em grande parte, o setor acadêmico

(professores de marketing e de pesquisa de marketing) são as responsáveis

por esse estado de coisas.

Daí nossa recomendação de que devemos colaborar e incentivar o

treinamento desses personagens – executivos, pesquisadores e professores –

a aprenderem como se localiza e se define problemas de marketing.

Para disseminarmos o conhecimento, dever-se-ia oferecer cursos de

marketing e pesquisa de marketing, com ênfase em formulação de problemas e

fixação de objetivos (problemas detalhados).

Também recomendamos, porque já obtivemos sucesso com essa

metodologia, a aplicação do “método do caso” – através do seguinte roteiro:

1) Qual (ais) o(s) problema(s) de marketing que o caso apresenta?

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2) Que soluções e cursos de ação (com base na teoria vista em sala de aula e bibliografia disponível sobre o assunto) você recomendaria para o executivo da empresa?

P.S. Aqueles professores e apresentadores de cursos de marketing e pesquisa de marketing deveriam incluir (sempre) um tópico em seus programas: Projeto Exploratório.

2. Tipo de Projeto

Sobre esse assunto, podem afirmar que aquilo que encontramos, é

suficiente para dar o suporte suficiente para solucionar os erros não amostrais

que ocorrem na área dos tipos de projeto.

3. Método de Coleta de Dados e Tipo de Perguntas

Aqui encontramos farta bibliografia sobre o assunto – tanto em

questionário como aos métodos de comunicação:

Questionário pode ser aplicado através de:

a) Entrevista pessoal

b) Enquete pelo correio/ internet – e-mail

c) Enquete pelo Telefone

Observação pode ser aplicado através de:

a) Observação Pessoal Não-Participante

b) Observação Participante

c) Observação Mecânica (gravador, filmadora, etc.)

Também podemos incluir neste tópico, a classificação dos

questionários:

• Estruturado – Disfarçado

• Estruturado – não-Disfarçado

• Não-Estruturado – Não-Disfarçado

• Não-Estruturado – Disfarçado

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Aqui também incluímos os “tipos de perguntas” – elas dicotômicas de

escolha múltipla, de escalas ou perguntas abertas simples e de razão.

Podemos dizer que apesar de haver uma razoável bibliografia em pesquisar as

perguntas de escalas e as perguntas abertas de razão (essas são em muitos

casos indevidamente fechadas para os entrevistadores com a colocação de

“frases de horóscopo” em que os Institutos delegam aos seus entrevistadores a

função de interpretadores do que dizer os respondentes com as tais frases que

estão previstas abaixo da perguntas). Como já afirmamos em outra ocasião:

“Em plena crise do ensino da língua portuguesa em nosso país”. “Este é um

caso muito grave para ser ignorado pelos profissionais da pesquisa, como

pelos professores da área.” Como conseqüência, introduzem viés na

investigação.

4. O Setor de Campo

Segundo a maioria dos teóricos, considera este setor, como a maior

fonte de viés da investigação de mercado. Através só que conseguimos

levantar em nossa pesquisa sobre o assunto, encontramos algum progresso na

área. Entretanto, deve ser ainda mais desenvolvida e pesquisada,

principalmente na interação entre o entrevistador e o respondente.

Também a área de verificação dos questionários preenchidos deve ser

mais estudada. Neste tópico incluímos tanto a verificação feita pelos Institutos

de Pesquisas como pelo cliente que contrata os serviços de pesquisa. Em

1965, criamos o cargo do “homem de campo” no departamento de pesquisa de

marketing na firma Robert Bosch o resultado foi auspicioso – pois através do

monitoramento do setor de campo dos Institutos de Pesquisas, evitamos em

várias ocasiões a validade de erros e até fraudes cometidas pelos

entrevistadores.

Não podemos deixar de recomendar às empresas que se utilizam dos

serviços de Institutos que contratem esse homem de campo. Por sinal, muitos

desses clientes ignoram que os questionários preenchidos pelos

entrevistadores, devem ficar disponíveis pelo prazo de um ano no Instituto

contratado.

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Outro aspecto que merece ser citado é a falta de bons entrevistadores,

principalmente aqueles que sabem explorar bens as perguntas abertas de

razão. A melhoria no recrutamento, treinamento e seleção de entrevistadores,

com o monitoramento atento sobre suas atividades: produtividade na

realização de entrevistas, bom preenchimento de entrevistas, verificação das

entrevistas realizadas, comprimento dos prazos de entrega do material e

aprovação do tratamento proporcionado aos respondentes, são atributos

indispensáveis para sua aprovação.

5. Planos de Tabulação

O que foi encontrado disponível em nossa pesquisa bibliográfica nos

parece suficiente. No entanto, não devemos esquecer que a tabulação é

oriunda dos objetivos visados pela pesquisa (como já foi esclarecido no início

de nossa explanação). Podemos ter alguns problemas que influenciam o plano

de tabulação, quando não são bem definidos.

Recordamos, também, atenção com a observação que devemos tomar

com:

• Os números que devemos usar nas tabelas analíticas: Números

Base, N.A. – Números Absolutos e % - Números Relativos.

• Respostas Múltiplas – R.M. Total Superior a 100% ou Respostas

Múltiplas, Total Superior a 100%

6. Análise e Interpretação dos Resultados

Encontramos, felizmente, bom material em nossas investigações sobre a

teoria disponível. O único problema reside no tempo que se leva para formar

um analista de pesquisas de marketing: dependendo do número de análises

que realiza anualmente, estimamos que a experiência necessária será em

torno de três anos - o problema maior envolve o conhecimento da área de

marketing que abordamos no início do estudo.

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7. Conclusões da Pesquisa

Embora muitos confundam análise com conclusões da investigação –

aquela é bem mais extrema e detalhada, ao passo que esta é um resumo

daquela. Como já mencionamos, é o resumo executivo – estilo telegrama – “é o

suprassumo das principais descobertas – o que é mais importante e que

merece ser exaltado pela investigação.

8. Recomendações de Marketing

Alguns poucos autores falam em profundidade sobre o assunto. Todavia,

já apresenta – no capítulo II, no seu último tópico, explicações cremos que

suficientes sobre o assunto: “o que fazer, em termos de ação, com as

informações coletadas, tabuladas e analisadas pela pesquisa? Ou seja, cabe

ao pesquisador que passou por todas as etapas da investigação e que está,

portanto, ciente das ações de marketing – 4P’s – que devera sugerir e

recomendar ao executivo que lhe solicitou a pesquisa, que decisões pode

tomar. Em muitos casos, o executivo até tomar conhecimento profundo sobre

as descobertas da pesquisa, deverá tempo precioso que desviará sua atenção

de outras atividades. Se o pesquisados oferecer sugestões a ele poderá

colaborar e diminuir a tarefa do executivo e, com ele, discutir cada ação

sugerida e, desta forma colaborando com o executivo.

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