um sociólogo na periferia do capitalismo: a sociologia

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1 Um sociólogo na periferia do capitalismo: a sociologia histórico-comparada de Fernando Henrique Cardoso 1 Karim Helayel (PPGSA/UFRJ) I Na presente comunicação discutirei, resumidamente, a hipótese mais geral que norteou a minha tese de doutorado intitulada Um sociólogo na periferia do capitalismo: a sociologia histórico-comparada de Fernando Henrique Cardoso, defendida em dezembro de 2019, no Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGSA/UFRJ). Concederei ênfase ao processo de constituição de uma perspectiva sociológica histórico-comparada por parte de Fernando Henrique Cardoso, de modo a discutir a maneira pela qual o sociólogo egresso da Cadeira de Sociologia I da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (FFCL/USP) aciona a interlocução entre a teoria sociológica e a história ao longo de suas pesquisas. Levando em consideração que o processo de consolidação da sociologia histórica tem lugar nos Estados Unidos, ao longo dos anos 1960, em oposição à “sociologia da modernização” e ao estrutural-funcionalismo parsoniano (cf. Skocpol, 1984b; Reis, 1998), procurarei contribuir para a localização de Cardoso nesse contexto. Assim, a ideia será qualificar o sentido da contribuição do sociólogo brasileiro para o debate da sociologia histórica, recorrentemente ignorada em trabalhos que têm em vista a sistematização das principais contribuições da subárea (cf. Delanty & Isin, 2003; Skocpol, 1984a; Smith, 1991), ou discutida lateralmente, sem a preocupação com uma análise mais detalhada de sua proposta (cf. Adams; Clemens; Orloff, 2005). Cumpre ressaltar que, por outro lado, Sztompka (1998, p.162) enquadra o famoso trabalho de Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto, Dependência e desenvolvimento na América Latina, publicado originalmente em 1969, no rol daqueles pertencentes à chamada sociologia histórica da mudança social. Por seu turno, embora também não desenvolva a discussão, podemos lembrar do trabalho de Connel (2007, p.146), que 1 44º Encontro Anual da ANPOCS - GT32 Pensamento Social no Brasil.

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Page 1: Um sociólogo na periferia do capitalismo: a sociologia

1

Um sociólogo na periferia do capitalismo: a sociologia

histórico-comparada de Fernando Henrique Cardoso1

Karim Helayel (PPGSA/UFRJ)

I

Na presente comunicação discutirei, resumidamente, a hipótese mais geral que

norteou a minha tese de doutorado intitulada Um sociólogo na periferia do capitalismo:

a sociologia histórico-comparada de Fernando Henrique Cardoso, defendida em

dezembro de 2019, no Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da

Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGSA/UFRJ). Concederei ênfase ao processo

de constituição de uma perspectiva sociológica histórico-comparada por parte de

Fernando Henrique Cardoso, de modo a discutir a maneira pela qual o sociólogo

egresso da Cadeira de Sociologia I da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da

Universidade de São Paulo (FFCL/USP) aciona a interlocução entre a teoria sociológica

e a história ao longo de suas pesquisas.

Levando em consideração que o processo de consolidação da sociologia

histórica tem lugar nos Estados Unidos, ao longo dos anos 1960, em oposição à

“sociologia da modernização” e ao estrutural-funcionalismo parsoniano (cf. Skocpol,

1984b; Reis, 1998), procurarei contribuir para a localização de Cardoso nesse contexto.

Assim, a ideia será qualificar o sentido da contribuição do sociólogo brasileiro para o

debate da sociologia histórica, recorrentemente ignorada em trabalhos que têm em vista

a sistematização das principais contribuições da subárea (cf. Delanty & Isin, 2003;

Skocpol, 1984a; Smith, 1991), ou discutida lateralmente, sem a preocupação com uma

análise mais detalhada de sua proposta (cf. Adams; Clemens; Orloff, 2005). Cumpre

ressaltar que, por outro lado, Sztompka (1998, p.162) enquadra o famoso trabalho de

Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto, Dependência e desenvolvimento na

América Latina, publicado originalmente em 1969, no rol daqueles pertencentes à

chamada sociologia histórica da mudança social. Por seu turno, embora também não

desenvolva a discussão, podemos lembrar do trabalho de Connel (2007, p.146), que

1 44º Encontro Anual da ANPOCS - GT32 – Pensamento Social no Brasil.

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entende o trabalho de Cardoso e Faletto como um dos mais marcantes textos de

sociologia histórica de sua geração.

No contexto latino-americano, Giordano (2014) entende Dependência e

desenvolvimento como emblema da sociologia histórico-comparada latino-americana,

mostrando como o próprio processo de institucionalização das ciências sociais na

América Latina teria sido marcado por uma preocupação interdisciplinar. Tal

preocupação teria em vista aliar a sociologia à história, diante da qual o recurso à

comparação desempenharia papel decisivo. Segundo Giordano, o contexto de fundação

do Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO) seria marcado pela

“Conferencia Internacional sobre Investigación Social Comparativa en Países en

Desarrollo: discontinuidades internas en el proceso de desarrollo económico y social de

América Latina”, realizada em setembro de 1964, em Buenos Aires, da qual Cardoso

teria participado. Dependência e desenvolvimento teria sido diretamente atravessado

pelos principais debates da conferência, convertendo-se no trabalho emblemático do que

a autora entende ser a sociologia histórico-comparada latino-americana (cf. Giordano,

2014).

Não obstante concordar em parte com Giordano, - posto que entendo

Dependência e desenvolvimento como o ponto de chegada da sociologia histórico-

comparada de Cardoso – talvez não seja exagero sugerir que o ponto alto do que

podemos chamar de sociologia histórico-comparada latino-americana, pode ter sido o

debate mais amplo da dependência. As divergências em torno da categoria

“dependência” podem ser entendidas como um importante capítulo da história da

construção da sociologia histórica a nível global, não se confinando somente ao seu

contexto cognitivo imediato. As críticas de Cardoso à intelligentsia do Centro de

Estudos Socioeconômicos (CESO) da Universidade do Chile, especialmente aquelas

desferidas contra as proposições de Ruy Mauro Marini, voltam-se decisivamente para a

relação entre teoria e história (cf. Cardoso, 1975, 1980; Serra & Cardoso, 1979). Em

outras palavras, as críticas de Cardoso à intelectualidade do CESO são representativas a

esse respeito, ao incidirem diretamente no que ele entende ser o caráter a-histórico dos

trabalhos produzidos por seus interlocutores diretos2.

2 No terceiro capítulo de minha tese de doutorado, desenvolvo em detalhe a discussão sobre o modo pelo

qual os debates em torno da dependência codificaram a problemática da articulação entre teoria, história e

comparação (cf. Helayel, 2019).

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Conquanto, ainda que os trabalhos de Sztompka (1998), Connel (2007) e

Giordano (2014) cheguem a qualificar Dependência e desenvolvimento na chave de uma

sociologia histórico-comparada, não sistematizam o conjunto da contribuição do

sociólogo brasileiro, conferindo atenção apenas ao seu trabalho de maior repercussão

internacional3. Assim, procurarei indicar, de modo resumido, a contribuição mais ampla

de Cardoso para a sociologia histórica, mostrando a relação entre algumas de suas

pesquisas e os contextos intelectuais aos quais elas se vinculam, onde a articulação entre

teoria e história desempenha papel decisivo. Portanto, a hipótese mais geral que

discutirei é a de que a adoção de uma perspectiva sociológica histórico-comparada, por

parte de Cardoso, parece ter sido decisiva em seus trabalhos, permitindo-lhe uma visão

mais matizada e sofisticada das relações existentes entre teoria e história em sua obra.

Neste sentido, faz-se necessário ressaltar que a fortuna crítica de Cardoso vem se

avolumando consideravelmente nos últimos anos, seja para pensar o sentido assumido

pelo marxismo em sua obra (cf. Lima, 2015), seja para circunscrevê-la em relação ao

debate a respeito da “nacionalização” da abordagem marxista (cf. Santaella Gonçalves,

2018; Brito, 2019). Parte dela vem assinalando ainda a ênfase na política como variável

fundamental de sua reflexão, permitindo-lhe uma incursão mais densa sobre o plano

econômico (cf. Hadler, 2013; Leme, 2015), qualificando-o, em alguns casos, como

“politicista” (cf. Lahuerta, 1999; Cotrim, 2001). Nessa comunicação, ao tomar as

formulações de Cardoso como ponto de vista, tencionarei desestabilizar as versões mais

canônicas sobre o surgimento da sociologia histórica, as quais atribuem, em larga

medida, protagonismo exclusivo às intelectualidades europeia e estadunidense em seu

processo de construção. Apesar da proeminência recorrentemente atribuída aos

intelectuais situados especialmente nos Estados Unidos, argumentarei que a

internalização da equação analítica “teoria, história e comparação”4 não parece ter sido

menos decisiva no hemisfério sul do que na sociologia produzida nos países centrais no

contexto pós-guerra. Ou seja, a despeito da sociologia histórica ainda ser uma subárea

considerada incipiente no Brasil (cf. Monsma; Salla; Teixeira, 2018, p.82), sugiro que,

3 Diversos trabalhos chamam a atenção para a projeção internacional obtida por Fernando Henrique

Cardoso através de Dependência e desenvolvimento na América Latina (cf. Leoni, 1997; Sorj, 2001;

Goertzel, 2002; Garcia Jr., 2004), a qual pode ser constatada inclusive pelo seu amplo número de citações

(cf. Goertzel, 2010). 4 Tomo de empréstimo o termo “equação analítica”, sugerido pelo Prof. Lucas Carvalho que, ao discutir o

meu paper intitulado “Teoria, história e comparação na sociologia de Fernando Henrique Cardoso” -

apresentado no simpósio “Pensamento Social no Brasil: reflexividade e os efeitos políticos das ideias” do

42º Encontro Anual da ANPOCS, em 2018, - sintetizou muito bem, através do termo, a relação entre os

três elementos.

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malgrado Cardoso não ter tido em vista a sua constituição como campo de estudos no

país, suas formulações parecem ter aportado uma contribuição indireta para a sua

consolidação a partir da periferia. Não custa ressaltar que Cardoso desenvolve seus

principais trabalhos sobre a problemática da dependência ao longo da década de 1960,

exatamente no mesmo período em que Reinhard Bendix publica Construção nacional e

cidadania, no ano de 1964, e Barrington Moore Jr., As origens sociais da ditadura e da

democracia, em 1966.

Sendo assim, a análise proposta se concentrará, para fins expositivos, nos

trabalhos de Cardoso produzidos ao longo dos anos 1960, recortando dois momentos

através dos quais podemos flagrar o modo pelo qual o sociólogo procede a

internalização da história e da comparação enquanto recursos teóricos heurísticos. Em

um primeiro momento, no qual a sociologia histórico-comparada de Cardoso se volta

para o contraste entre a experiência social de modernização brasileira com aquela

sucedida nos países de capitalismo originário, remeter-me-ei aos livros Capitalismo e

escravidão no Brasil meridional, publicado originalmente em 1962, formalizando os

resultados de sua tese de doutoramento defendida em 1961 na USP, sob a orientação de

Florestan Fernandes, e Empresário industrial e desenvolvimento econômico no Brasil,

publicado em 1964, no qual apresenta os resultados de sua tese de livre-docência

defendida em 1963. Já em um segundo momento, tendo em vista a radicalização do uso

da história e da comparação nos trabalhos de Cardoso, tratarei do ponto de chegada de

sua sociologia histórico-comparada, Dependência e desenvolvimento na América

Latina, porém concedendo ênfase, para fins expositivos, a Política e desenvolvimento

em sociedades dependentes, trabalho solo do sociólogo brasileiro, publicado em 1971,

fruto de sua tese de cátedra apresentada no concurso da Cadeira de Política da USP,

realizado no ano de 1968.

II

Ao nos voltarmos para seus trabalhos elaborados no âmbito da Cadeira de

Sociologia I da USP, podemos constatar que Cardoso mobiliza a história e a

comparação de modo a demarcar as particularidades histórico-sociais do Brasil em

relação ao modo pelo qual o desenvolvimento capitalista foi encetado nos países do

centro. O retorno ao passado, bem como a mobilização do recurso à perspectiva

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comparada, circunscreve-se à identificação das particularidades da formação social

brasileira e seus efeitos no processo de constituição da sociedade de classes no país,

levando em consideração, basicamente, o contraponto com os países de capitalismo

originário. Em outros termos, ao proceder desse modo, Cardoso procura contribuir para

a desestabilização de modelos lineares de mudança social, que tenderiam a replicar o

processo histórico-social de desenvolvimento dos países centrais para a compreensão e

explicação de contextos periféricos, como o brasileiro.

Ao discutir tanto a questão da relação entre capitalismo e escravidão quanto a

formação e o modo de orientação da conduta do empresariado urbano-industrial

brasileiro, Cardoso logra se contrapor, como diversos trabalhos já chamaram a atenção

(cf. Cotrim, 2001; Romão, 2006; Bianchi, 2010; Lima, 2015; Ribeiro, 2015; Santaella

Gonçalves, 2018; Brito, 2019), às perspectivas adotadas pelas intelligentsias do Instituto

Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) e pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB). Ao

retomar a relação de Cardoso com o debate, não tenciono tão somente reiterar suas

críticas, mas sugerir que é por meio da aposta na força de uma sociologia que se vale

heuristicamente da história e da perspectiva comparada que reside, a meu ver, a

potência de suas formulações. Tais ferramentas tiveram uma atribuição decisiva em sua

sociologia nesse momento, ao reforçarem o seu diagnóstico sobre a particularidade do

processo de desenvolvimento no Brasil e a respeito do papel coadjuvante desempenhado

pelo empresariado urbano-industrial no processo. Cardoso não parece mobilizar, dessa

maneira, a história apenas como um recurso que lhe permite um retorno ao passado, mas

a internaliza em sua tessitura, a fim de compreender e explicar processos sociais em

curso, como o de modernização e industrialização do país. Vale a pena lembrar que nem

mesmo em Capitalismo e escravidão no Brasil meridional há um retorno ao passado

per se, haja vista que as tensões constitutivas do processo de transição da ordem social

estamental para uma sociedade de classes em formação aparecem como o ponto de

chegada de sua formulação (cf. Cardoso, 1997).

Mas, para pensarmos a relação entre a perspectiva sociológica histórico-

comparada de Cardoso e a questão da mudança social, cumpre discutirmos a maneira

pela qual tal problemática vinha sendo tratada no âmbito da Cadeira de Sociologia I da

USP. Como mostra Elide Rugai Bastos (2002), Florestan Fernandes recusa a chave de

leitura dualista da sociedade brasileira, comum a boa parte dos intérpretes do país. De

acordo com tais intérpretes, sustenta a autora, o dualismo emergiria como uma espécie

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de continuum no qual a mudança social desempenharia a função de superação do

retardo denunciado por seus diagnósticos. Ao recusarem essa visão, assinala Bastos,

tanto Florestan Fernandes quanto seus orientandos e assistentes - dentre eles, Cardoso –

encontrar-se-iam inclinados a perscrutar a problemática de um modo particular que lhe

alteraria o sentido até então comumente conferido, uma vez que estariam atentos às

continuidades, persistências e ao caráter não-linear assumido pela mudança em um país

situado na periferia do capitalismo. Ou seja, “em lugar de uma explicação linear, opera

como se as duas pontas do continuum se encontrassem e esse encontro gerasse,

simultaneamente, o objetivo, a unidade de pesquisa, o desafio à compreensão, a busca

de um suporte teórico e o método de investigação” (Bastos, 2002, p.186, grifo da

autora). Concordando com Bastos, desejo dizer que a forma pela qual Cardoso forja sua

perspectiva sociológica histórico-comparada se encontra inserida nesse quadro, que visa

trazer à tona a complexidade das tensões – as quais, aponta a autora, assumem sentido

heurístico nos trabalhos produzidos no âmbito da Cadeira de Sociologia I - e as

contingências históricas inscritas no processo de mudança social atravessado pelo país.

Neste sentido, Bastos (2002, p.187) aponta que o percurso analítico delineado

por Florestan Fernandes possuiria como referências complementares a história e a

totalidade, procurando “dar conta das peculiaridades da formação social brasileira como

uma forma particular de realização do sistema capitalista, ante as experiências clássicas

do capitalismo originário”. A autora argumenta que o objetivo traçado por Fernandes e

seus discípulos, vinculado à percepção da particularidade da formação social brasileira,

impingiria a busca por um novo padrão teórico-metodológico, que ancoraria o objeto de

investigação de seu grupo: “a partir da periferia percebe-se melhor o movimento da

sociedade, possibilitando a verificação dos princípios que a estruturam” (Bastos, 2002,

p.189, grifos da autora). Seguindo o raciocínio da intérprete, podemos dizer que

fundamentar historicamente a análise sociológica, levando em consideração uma

perspectiva totalizante, seria um pressuposto básico da reflexão proposta por Fernandes,

interpelando decisivamente a visão de seu então jovem pupilo.

Entretanto, ao chamar a atenção para a estreita relação entre a perspectiva de

Cardoso e a de seu orientador, não desejo reinventar a roda, uma vez que já existem

trabalhos como os de Milton Lahuerta (1999) e Lidiane Rodrigues (2011), que tendem a

conferir ênfase às continuidades entre os participantes do seminário d’O capital da USP,

do qual Cardoso fez parte, e Florestan Fernandes. Mais recentemente, Brito (2019, p.58)

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procurou destacar, acertadamente, ao recuperar e se posicionar no debate, a tensão entre

as continuidades e rupturas entre Cardoso e seu orientador, na chave de uma “ruptura

modulada pela continuidade”. Sendo assim, ao destacar as linhas de continuidade entre

a perspectiva de Cardoso e a proposta de Fernandes, não ouso dizer que não teriam

havido divergências entre eles, as quais já foram ressaltadas pelo próprio discípulo (cf.

Cardoso, 2006, 2009), bem como não ignoro leituras que chamam a atenção para suas

possíveis descontinuidades no plano cognitivo (cf. Lima, 2015). O que desejo destacar é

que o aprendizado sociológico de Cardoso se sucedeu em um contexto intelectual onde

a articulação entre teoria e história cumpre papel decisivo. Como mostra André Botelho

(2013), a sociologia política desenvolvida por Maria Sylvia de Carvalho Franco, cuja

tese também foi orientada por Fernandes, pode ser entendida como uma espécie de

contraponto crítico às proposições a-históricas das teorias da modernização,

recolocando em pauta a relação entre teoria e história no âmbito da sociologia.

Assim, cabe ressaltar que as divergências entre Cardoso e Franco são

emblemáticas no que diz respeito à preocupação com a articulação entre teoria e história

no âmbito da Cadeira de Sociologia I. Ou seja, além das divergências com seu

orientador, não podemos deixar de lado as críticas de Franco à mobilização da categoria

“patrimonialismo” por parte de Cardoso, como já foi destacado pela fortuna crítica da

socióloga paulista (cf. Hoelz, 2010; Botelho, 2013; Cazes, 2013). Ainda que a reflexão

de Cardoso estivesse orientada, em Capitalismo e escravidão no Brasil meridional, para

a articulação entre teoria e história, sua perspectiva foi veementemente criticada por sua

colega. Tanto em Homens livres na ordem escravocrata, livro publicado em 1969, fruto

da tese de doutoramento de Franco, defendida em 1964, quanto em sua tese de livre-

docência O moderno e suas diferenças, de 1970, a socióloga problematiza o

entendimento de Cardoso em relação à sociedade brasileira. Se, por um lado, Cardoso

(1997) qualifica o tipo de dominação característico da sociedade escravocrata do Rio

Grande do Sul como patrimonial, por outro lado, Franco (1971, 1997) sustenta a

inviabilidade da categoria “patrimonialismo” e da noção de “tradicional” para a análise

da sociedade brasileira, dado que algo próximo a uma dinâmica patrimonial típica no

intercâmbio entre homens livres no Brasil oitocentista teria se confinado ao âmbito da

política.

A despeito da divergência aberta de Franco em relação ao diagnóstico de

Cardoso, cuja crítica incide diretamente nos trabalhos de Fernandes (Botelho, 2013), o

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8

debate em torno da mobilização da categoria “patrimonialismo” permite perceber que

sua ênfase reside na articulação entre categorias analíticas e matéria social. Deste modo,

não seria exagero algum sugerir que o aprendizado sociológico de Cardoso é

perpassado, de forma marcante, pela preocupação com o equacionamento da relação

entre teoria e história. No entanto, apesar da divergência com Franco poder ser flagrada

na correspondência entre Cardoso e Fernandes, uma vez que o regente da Cadeira de

Sociologia I chega a afirmar que “ela [Maria Sylvia de Carvalho Franco] construiu a

originalidade do trabalho que fez montando-o contra o que nós (e principalmente você)

tentamos evidenciar em nossos estudos” (Acervo da Fundação Fernando Henrique

Cardoso, correspondência passiva, Florestan Fernandes, 19-12-1964), o discípulo optou

por não formular uma resposta às críticas de sua colega, discrepando do tom polêmico

de alguns de seus trabalhos.

Além do contexto da Cadeira de Sociologia I, Cardoso se encontrava inscrito

em um contexto mais amplo em que pensar - valendo-me dos termos de André Botelho

(2008) - a “sociedade em movimento” dos anos 1950 constituía quase que uma missão

para a intelectualidade do país. Desta maneira, a sociologia histórico-comparada de

Empresário industrial e desenvolvimento econômico no Brasil foi forjada a contrapelo

dos diagnósticos e prognósticos produzidos pelos intelectuais ligados ao PCB e ao

ISEB. Haja vista que suas interpretações acentuavam, cada qual a seu modo, o suposto

protagonismo da burguesia brasileira no processo de mudança social, que, em aliança

com o proletariado, teria em vista dirimir a dominação articulada entre o imperialismo

estadunidense e os setores agroexportadores (cf. Mantega, 1984; Brandão, 1997;

Toledo, 1997), Cardoso mostra que o empresariado brasileiro teria tido um papel

coadjuvante no processo de industrialização do país. De modo resumido, isto se daria

tanto por um certo modo de orientação da conduta persistente, o qual decorreria da

manutenção da dinâmica patrimonialista na ordem urbano-industrial, inviabilizando a

modernização efetiva de suas empresas, quanto pela articulação com o capital

estrangeiro (cf. Cardoso, 1964a).

Com isso, por outro lado, não tenho a intenção de sugerir que Cardoso forjou

seus trabalhos, deixando de lado o debate teórico com formulações produzidas no

hemisfério norte. Ao lermos Empresário industrial, podemos perceber que Cardoso se

opõe abertamente aos esquemas propostos pela chamada “sociologia da

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modernização”5. Cardoso se contrapõe aos trabalhos de Walt Whitman Rostow e Bert

Hoselitz, seus interlocutores diretos em Empresário industrial, ressaltando que suas

formulações seriam reféns de uma perspectiva a-histórica, que privilegiaria a

combinação entre variáveis simples e nutridas por um universalismo que não daria conta

da dinâmica efetiva dos processos sociais (Cardoso, 1964a). Não à toa, Cardoso (1964a,

p.60-61) ressalta que a “história” e a “reflexão sociológica” não necessariamente

caminhariam pari passu, uma vez que não somente “o mecanismo da mudança assumiu

conotações abstratas [...] como as próprias situações sociais de partida e de chegada se

esvaeceram em conceitos gerais que nada retêm das condições concretas da vida

social”. A burguesia industrial brasileira não poderia ser identificada, sem mediações,

com suas congêneres europeias e estadunidense, ainda que as dimensões da apropriação

privada dos meios de produção e do lucro fossem comuns a elas. O modus operandi da

ação empresarial no Brasil não poderia ser entendido de acordo com os processos

clássicos de transformação capitalista, pois o contexto das “economias

subdesenvolvidas” seria marcado pela “concorrência imperfeita” e, ainda, pela

penetração em larga escala de grupos econômicos internacionais em seus mercados

(Cardoso, 1964a). Em resumo, nesse momento, a preocupação de Cardoso consiste

basicamente em lançar mão da história e da comparação como recursos cruciais para

acessar as particularidades do desenvolvimento brasileiro, restringindo-se ao contraste

com as experiências sociais de modernização centrais.

III

Em seu projeto de estudos “Empresários Industriais e Desenvolvimento

Econômico na América Latina”, publicado na edição do primeiro trimestre de 1964 da

revista América Latina do Centro Latino-Americano de Pesquisas em Ciências Sociais

(CLAPCS), ou seja, antes de seu exílio no Chile6, que se sucedeu entre os anos 1964 e

1968, Cardoso parece propor um uso mais adensado da historicidade e da comparação

pela análise sociológica. Nele, Cardoso esboça um corpo-a-corpo entre as distintas

experiências sociais de modernização na América Latina, posto que não seria mais

5 Para uma densa discussão sobre a “sociologia da modernização”, bem como a respeito da aclimatação

dos pressupostos deste repertório cognitivo aos contextos intelectuais argentino e brasileiro, através,

respectivamente, das sociologias de Gino Germani e Florestan Fernandes, cf. Brasil Jr., 2013. 6 Cardoso chega ao Chile em maio de 1964, após breve passagem pela Argentina (cf. Leoni, 1997).

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suficiente pensar o Brasil somente em relação aos países centrais. Em outras palavras,

seria necessário tensionar ainda mais a análise por meio da comparação dos países

latino-americanos entre si, no intuito de perscrutar o(s) sentido(s) do desenvolvimento

na região. Assim, seu projeto de estudo parece indicar a radicalização de sua perspectiva

sociológica histórico-comparada, que ocorria no mesmo momento em que trabalhos

exemplares da sociologia histórica eram publicados nos Estados Unidos. Bendix

publica, no mesmo ano de 1964, o seu clássico Construção nacional e cidadania (cf.

Bendix, 1996), e em 1966, no período em que Cardoso se encontra exilado no Chile,

preparando o seu Dependência e desenvolvimento, ao lado de Faletto (cf. Cardoso,

2004), Barrington Moore Jr. publica As origens sociais da ditadura e da democracia

(cf. Moore Jr., 1983).

Em seu projeto de estudo publicado na revista América Latina do CLAPCS,

Cardoso sublinha a sua preocupação em mobilizar a comparação como recurso teórico,

de modo a destacar a diversidade e as variações históricas que informariam o processo

de desenvolvimento dos distintos países latino-americanos. Nele, começam a ser

sistematizadas as questões e hipóteses que viriam a orientar a construção da sociologia

histórico-comparada de Dependência e desenvolvimento. Suas formulações ainda

embrionárias já expressam, desse modo, a sua preocupação em diferenciar os processos

sociais em curso na região, especialmente no que se refere aos casos de Argentina,

Brasil e México. Nas palavras de Cardoso (1964b, p.102),

[...] conjunturas político-sociais diversas têm se configurado em vários

países latino-americanos, de forma que as condições institucionais

para o desenvolvimento industrial têm variado de país para país. Em

alguns deles, como no México, chegou a completar-se uma ‘revolução

social’; noutros, como no Brasil, houve uma aliança entre os grupos

agrário-exportadores e as classes urbano-industriais; em outros, ainda,

como na Argentina, os grupos tradicionais de dominação política têm

exercido forte pressão contra as pretensões reformistas dos setores

urbano-industriais

Assim, seu projeto de estudo pode ser entendido como um ponto de interseção

entre o primeiro momento da sociologia histórico-comparada de Cardoso - atento ao

contraste entre o processo de mudança social no Brasil e o sucedido nos países de

capitalismo originário - e o segundo momento, no qual a mobilização articulada da

história e da comparação ganha densidade em seu trabalho com Faletto. Como podemos

constatar, antes de deixar o Brasil, Cardoso já tinha em vista a ampliação do escopo

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comparativo de suas pesquisas, ao propor o contraste entre as distintas experiências

sociais de modernização na América Latina. Em outras palavras, Cardoso já tinha em

vista a radicalização de sua perspectiva sociológica histórico-comparada antes mesmo

de seu exílio, não obstante ser no Chile que o sociólogo brasileiro levaria adiante suas

reflexões.

Em Dependência e desenvolvimento, Cardoso e Faletto não se restringem à

comparação de um único país latino-americano com o processo de mudança social

ocorrido na Europa ou nos Estados Unidos. Ao contrastarem os diferentes países latino-

americanos entre si, Cardoso e Faletto sublinham que o curso do desenvolvimento na

região teria sido marcado por uma diversidade de trajetórias, que somente poderia ser

apreendida através do corpo-a-corpo entre suas distintas formações sociais (cf. Cardoso

& Faletto, 2004). Desta maneira, o raio da perspectiva sociológica histórico-comparada

de Cardoso é expandido, passando a destacar as diferenças existentes entre os países da

região. Os autores qualificam, dessa maneira, as distintas situações de dependência na

América Latina, diferenciando aquelas que teriam como base o “controle nacional do

sistema produtivo” (casos de Argentina, Brasil, Uruguai e Colômbia) ou que se daria

mediante a atuação de enclaves econômicos instalados diretamente nas economias

periféricas (com destaque conferido pelos autores a México, Bolívia, Venezuela, Chile,

Peru e América Central). Não à toa, Cardoso reafirma que boa parte do valor de seu

trabalho com Faletto teria consistido em “mostrar que não há um só tipo de periferia”

(Cardoso, 2009, p.29), constatação essa que ganha desdobramentos em Política e

desenvolvimento em sociedades dependentes.

Além disso, Cardoso e Faletto se valem dos resultados de trabalhos produzidos

na CEPAL, bem como de sua gramática, estabelecendo uma interlocução que podemos

chamar de crítica com suas formulações, especialmente a categoria “deterioração dos

termos de intercâmbio”, elaborada pelo economista argentino Raúl Prebisch, propondo a

categoria “dependência” como alternativa. Não por acaso, Cristóbal Kay (2011, p.134)

assinala que o tipo de análise proposta por Cardoso teria como objetivo compreender e

explicar por que as previsões de intelectuais da CEPAL e dos teóricos da modernização

não se materializariam na América Latina. Contudo, os trabalhos de Prebisch e da

CEPAL tendem a enfatizar o “enfoque histórico-estruturalista”, ao mobilizarem a

história e a comparação na tentativa de darem conta das particularidades latino-

americanas (cf. Bielschowsky, 2000; Gurrieri, 2011). Como já ressaltaram Blomström

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12

& Hettne (1984), a abordagem dependentista tem lugar mediante a relação entre o

marxismo/neomarxismo e o debate em torno da questão substantiva do

subdesenvolvimento iniciada na CEPAL. Em registro similar, ainda que confira maior

ênfase ao estruturalismo cepalino, Love (1998, p.427) chama a atenção para sua relação

com o marxismo, pois, teria sido a partir dessas vertentes teóricas que “viria a surgir, em

fins dos anos 1960, uma nova literatura sobre a dependência”.

Mas, para fins expositivos, concentrar-me-ei em Política e desenvolvimento em

sociedades dependentes, no qual Cardoso contrasta as particularidades dos processos

histórico-sociais de desenvolvimento argentino e brasileiro, bem como as ideologias dos

empresariados de ambos os países, destacando suas especificidades. Cardoso analisa,

portanto, dois casos distintos inscritos na mesma modalidade de dependência, a saber,

aquela em que algum grupo nacional logrou controle do processo produtivo, modalidade

oposta àquela com base na atuação de enclaves econômicos diretamente instalados nos

países periféricos (cf. Cardoso, 1978). Em Política e desenvolvimento, Cardoso toma

como ponto de partida suas formulações construídas ao lado de Faletto, procurando

delimitar de modo mais preciso os casos empíricos analisados. Como o processo de

formação das burguesias latino-americanas responderia a itinerários díspares, o recurso

à comparação passa a ser mobilizado, de modo a circunscrever sua análise a dois casos

de burguesias que teriam se formado em um contexto no qual o controle nacional do

sistema produtivo de seus países foi possível. Ou seja, se em Dependência e

desenvolvimento, o recurso que combina a história e a comparação é operado com base

em um escopo mais amplo de países, em Política e desenvolvimento, Cardoso opta por

se debruçar de modo mais sistemático sobre dois casos empíricos distintos, ainda que

inscritos na mesma modalidade de dependência. Em outros termos, ao mesmo tempo em

que Dependência e desenvolvimento constitui o ponto de chegada da sociologia

histórico-comparada de Cardoso, permite uma abertura para um exame mais matizado

do processo de desenvolvimento na região, fornecendo-lhe os subsídios e a

problemática que nortearia o recorte analítico efetuado em Política e desenvolvimento.

Antes de operar comparativamente com as representações mantidas pelos

empresários argentinos e brasileiros, Cardoso reconstitui o processo de formação das

burguesias nos dois países. O autor passa pelo período de “desenvolvimento para fora”,

no qual se constituem seus Estados nacionais, pelo contexto de implementação das

políticas de industrialização substitutiva de importações, para aterrissar no momento de

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13

“internacionalização do mercado interno”, que já constitui ponto de chegada em

Dependência e desenvolvimento, formalizando o diagnóstico da simultaneidade entre

desenvolvimento e dependência. Em relação ao caso argentino, Cardoso assinala que a

unificação de sua sociedade teria se dado por meio do predomínio da burguesia

mercantil de Buenos Aires sobre os demais grupos econômicos locais que exerciam

algum grau de dominância. Já no Brasil, contrasta, a consolidação do Estado-nação teria

significado a conformação de uma “federação” de interesses localizados a nível

regional, embora circunscrita à política centralizadora do Império.

Neste sentido, na Argentina teria havido, como já ressaltado em seu trabalho

com Faletto, uma “unidade de classe” sob a égide da burguesia portenha, bem como

teria sido constituído um sistema produtivo agroexportador dinâmico o suficiente para

viabilizar a diferenciação interna do processo produtivo. Por outro lado, no caso

brasileiro, assinala Cardoso, não teria se visto, nem no Império e nem na Primeira

República, uma “unidade de classe”. No Brasil, como o sistema exportador se constituiu

com base em múltiplos setores produtores paralelos, o predomínio dos grupos

dominantes teria dependido de pactos consolidados na esfera principal do sistema de

dominação. Sendo assim, a estrutura de poder dos setores agroexportadores tenderia a

uma maior debilidade, uma vez que nenhum deles teria conseguido se impor de forma

hegemônica no cenário nacional. Em contraste com a “dinamização da sociedade” que

teria caracterizado o caso argentino após à crise da economia exportadora, momento em

que o mercado interno se fortaleceria, no Brasil tal debilidade não teria permanecido

restrita aos setores dominantes, atingindo também as “classes médias” e as “massas

urbanas”, o que indicaria que a “diferenciação econômica e a diferenciação social do

‘sistema exportador’ brasileiro foram relativamente menores do que na Argentina”

(Cardoso, 1978, p.99-100). No entanto, a despeito da ausência de uma “unidade de

classe” no Brasil, a oligarquia teria tido maior capacidade para suportar as “pressões de

baixo”, o que se deveria à incipiência organizativa da classe trabalhadora.

Cardoso indica ainda as significativas diferenças no que se refere à forma

assumida pelo processo de desenvolvimento em ambos os países. Na Argentina, o

desenvolvimento encetado após a crise econômica de 1929 teria repousado em larga

medida no dinamismo de grupos empresariais privados, onde boa parte deles estaria

organizada através da União Industrial Argentina (UIA). O Estado não teria cumprido,

nesse sentido, o papel de investidor direto, como teria se dado em outros países da

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América Latina, dentre eles o Brasil, onde constituiria agente econômico fundamental

ao inverter capitais em setores básicos da indústria. Pensando o momento de maior força

do populismo na Argentina, que se consubstanciaria no peronismo, Cardoso ressalta que

o Estado teria surgido “como árbitro, como ponte, mas não diretamente como grande

investidor” (Cardoso, 1978, p.96). Essa ponte vincularia os grupos economicamente

hegemônicos da burguesia industrial e as “massas”, o que exprimiria, nota Cardoso, a

autonomia relativa de que dispunha o Estado naquela conjuntura. Entretanto, essa

relação não exclui o fato de que os setores oligárquicos agroexportadores teriam

continuado a obter benefícios com a então nova conjuntura populista. Como constata o

autor, “mesmo durante a vigência do regime peronista, a transferência de rendas

internas se fez em benefício do setor agroexportador” (Cardoso, 1978, p.97).

Em contraste com o peronismo, no Brasil, a forma assumida pelo populismo

varguista expressaria um “baixo nível de expectativas” ao não mobilizar os

trabalhadores rurais, tornando viável a composição dos “coronéis” ao sistema de poder à

época emergente. Apesar da participação dos setores agroexportadores na conjuntura de

poder sob a égide do peronismo, a pressão das camadas populares se fez sentir com

intensidade. Já no Brasil, diferentemente, a aliança política que se formaria entre as

classes sociais teria sido mais ampla, com pressões populares algo rarefeitas, deixando

ampla margem para a conciliação entre grupos sociais com interesses a princípio

opostos. Comparativamente, Cardoso destaca a importância da pressão operária no caso

argentino, cuja atuação teria sido mais contundente do que no Brasil, não obstante a

agressividade do proletariado argentino não ter impedido que o desenvolvimento

permanecesse a cargo dos setores empresariais privados. Divergindo do caso argentino,

o empresariado industrial brasileiro teria desempenhado papel secundário na equação

nacional do poder, valendo-se de uma política “eminentemente oportunista”.

De acordo com Cardoso, os governos de Juscelino Kubitschek (1956-1961) e

Arturo Frondizi (1958-1962), em grande parte orientados por uma “ideologia nacional-

desenvolvimentista”, teriam tido lugar em um contexto no qual as possibilidades

práticas do “nacional-populismo” se encontravam prestes a se encerrar, bem como as

relações de dependência dos países periféricos com as economias centrais estavam

sendo reorientadas em um novo sentido. Valendo-se do diagnóstico apresentado em

Dependência e desenvolvimento, Cardoso sustenta que esse período teria sido marcado

por uma “internacionalização do mercado interno”, no qual as economias argentina e

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brasileira teriam se beneficiado com altas taxas de investimentos diretos de capitais

externos, permitindo a manutenção de uma política de “incorporação das massas”.

Conquanto, politicamente, surgiria um dilema que incidiria diretamente no curso da

industrialização de ambos os países: “estabelecer o sistema de forças com base em uma

aliança entre o operariado e as ‘classes produtoras’, ou das classes produtoras entre si,

com exclusão das massas” (Cardoso, 1978, p.111).

Cardoso assinala que a primeira alternativa se mostraria inviável em um

contexto no qual o mercado interno passava por um amplo processo de

internacionalização, cujos fundamentos se encontrariam assentados sobre as grandes

empresas estrangeiras, nacionais e públicas. Tal projeto não se coadunaria com uma

orientação nacional-populista, já que as dificuldades para sustentar políticas de

redistribuição de renda e de formação interna de capitais teriam conduzido o

empresariado a um modelo de desenvolvimento econômico no qual a inescapável

associação com os capitais estrangeiros configuraria a tônica, implicando ainda na

adoção de um padrão de “industrialização restritiva”. Padrão esse que teria em vista,

nota Cardoso, um mercado de altas rendas, baseado em grandes unidades produtoras

que comporiam um circuito próprio de produção e de consumo. Em outras palavras, a

ênfase consistiria em um mercado consumidor diminuto, porém de grande capacidade

financeira, mais especificamente, como chama a atenção o autor, as grandes empresas e

o Estado. Estes seriam, portanto, os consumidores preferenciais das indústrias de

máquinas e insumos industriais, o que denotaria, portanto, o tipo de mercado

consumidor almejado por elas.

Como afirma Cardoso, os dados empíricos apresentados em sua pesquisa

mostrariam que o tipo de mercado considerado relevante para o desenvolvimento

operaria como um eixo ordenador da estrutura ideológica do empresariado. Com isso,

podemos dizer que a reconstituição histórica e comparativa procedida por Cardoso

parece servir como uma espécie de moldura que conferirá inteligibilidade sociológica à

análise empírica efetuada em Política e desenvolvimento. Assim, o autor procura

compreender e explicar as orientações ideológicas dos empresários industriais

argentinos e brasileiros, suas opções de alianças e articulações, bem como suas

oposições a determinados grupos sociais.

A contrapelo das interpretações do ISEB e do PCB, os dados indicam que os

empresários, no caso brasileiro, apresentariam uma tendência a não enxergar conflitos

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entre interesses agrários e industriais – dentre eles, empresários orientados por uma

ideologia nacional-populista -, bem como procurariam, quase que exclusivamente,

estabelecer alianças com setores da burguesia em detrimento dos operários (Cardoso,

1978, p.129). Cardoso assinala que, também na Argentina, os empresários tenderiam a

não enfatizar conflitos com o setor agrário e muito menos com o setor externo da

economia. Ainda em relação ao caso brasileiro, os dados mostram que a maioria dos

industriais recusariam a reforma agrária como solução para os problemas referentes ao

tamanho do mercado interno. Os empreendedores tenderiam, dessa maneira, a um certo

“isolacionismo político”, preferindo constituir alianças entre si, preconizando ainda,

ideologicamente, o fortalecimento do chamado “bloco ocidental”, assumindo sua

posição favorável aos interesses dos Estados Unidos em oposição à União Soviética.

Um ponto importante que diferenciaria as orientações ideológicas dos

empresários industriais argentinos e brasileiros seria a questão referente à intervenção

estatal. Os dados corroborariam a história da industrialização na Argentina e no Brasil,

uma vez que os argentinos não teriam uma disposição tão acentuada quanto os

brasileiros para aceitar que o Estado atuasse de modo ativo na condução do processo de

desenvolvimento (cf. Cardoso, 1978, p.152). Este dado é significativo para mostrar que,

de acordo com o argumento de Cardoso, as ideologias que orientam a conduta do

empresariado devem ser circunstanciadas historicamente, uma vez que o seu surgimento

não ocorreu em meio a um vazio de relações sociais.

Neste sentido, Cardoso afirma que as orientações ideológicas do empresariado

precisam ser pensadas em relação ao tipo de vinculação estabelecida com o mercado

externo. Cardoso sustenta que os setores mais dinâmicos e modernos da economia

brasileira se encontrariam mais permeáveis ao controle de grupos econômicos

internacionais ou do próprio Estado. As grandes empresas brasileiras apresentariam,

desse modo, maior inclinação a se vincularem ao sistema internacional de produção,

modernizando-se, o que indicaria uma clara tendência à associação entre o “setor

moderno de produção” e a “dependência estrutural do exterior” (Cardoso, 1978, p.176-

177). No entanto, há um importante matiz que diferenciaria as empresas argentinas e

brasileiras, pois “enquanto aquelas tendem a estabelecer vínculos financeiros sem estar

ligadas por liames tecnológicos, nas brasileiras a vinculação tecnológica se verifica com

maior frequência e independentemente da vinculação financeira” (Cardoso, 1978, p.177,

grifo do autor).

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17

Diante do contexto de “internacionalização do mercado interno”, Cardoso

salienta que tanto a burguesia argentina quanto a brasileira, apesar de suas diferenças,

não poderiam comportar uma “visão hegemônica”, o que não diria respeito a uma

“incapacidade histórica”, mas tão somente o reconhecimento da “impossibilidade

histórica” de colocar em prática uma política de hegemonia. Cardoso sustenta que não

se encontraria em pauta projeto político algum que pudesse vir a enfatizar um papel de

hegemonia a ser necessariamente cumprido pela burguesia industrial nos dois países.

Tanto o setor “nacional-populista” quanto o setor “internacionalizante” não

expressariam ideologias referentes a uma “vocação de domínio”, uma vez que

desenvolveriam, no plano político, ideologias propensas a “reações adaptativas”, que os

inclinariam a assumir compromissos com as forças políticas mais vigorosas do

momento, caracterizando o seu caráter acomodatício (Cardoso, 1978, p.203).

IV

Pudemos acompanhar, ainda que resumidamente, o processo de constituição da

perspectiva sociológica histórico-comparada de Fernando Henrique Cardoso, através da

breve análise de seus principais trabalhos produzidos ao longo da década de 1960. A

ideia foi apresentar a aposta de Cardoso em uma sociologia que se vale heuristicamente

da história e da comparação, ao perscrutar diacronicamente, em um primeiro momento,

o processo de modernização brasileiro em contraste com as experiências centrais. Já em

um segundo momento, em seus trabalhos em que discute a problemática da

dependência, Cardoso propõe um corpo-a-corpo não somente com a modernização

sucedida no centro, mas entre as distintas formações sociais latino-americanas,

complexificando sua análise sobre os processos histórico-sociais de desenvolvimento.

Com isso, a ideia foi buscar um contraponto em relação a trabalhos que tendem a

conferir ênfase às perspectivas de intelectuais situados no centro para a formação da

sociologia histórica (cf. Skocpol, 1984; Smith, 1991; Delanty & Isin, 2003), ou no que

se refere aos que tratam a contribuição de Dependência e desenvolvimento na América

Latina de forma lateral, posto que o livro de Cardoso e Faletto teria tido a capacidade de

interpelar o surgimento de extensões críticas inscritas na “segunda onda” da sociologia

histórica (1970-1980), especialmente o conjunto de trabalhos que propunham a análise

de contextos com formação distinta da Europa e dos Estados Unidos (cf. Adams;

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18

Clemens; Orloff, 2005). Assim, ao não me concentrar exclusivamente sobre seu

trabalho com Faletto, como é feito recorrentemente ao vinculá-lo diretamente à

sociologia histórica (cf. Sztompka, 1998; Connel, 2007; Giordano, 2014), procurei

analisar sua produção intelectual desde os seus trabalhos produzidos no âmbito da

Cadeira de Sociologia I da USP. Deste modo, ao levar em consideração o conjunto de

seus trabalhos, acredito ser possível sugerir, de modo mais fundamentado, que suas

formulações parecem ter aportado uma contribuição indireta, a partir da periferia, para o

campo da sociologia histórica.

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