um raio de luz chamado chico xavier

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palmente financeiras e lamentavelmente acabou ficando órfão de mãe, com ape- nas cinco anos de idade. Com o falecimento de sua mãe – uma mulher generosa, dona de casa carinho- sa e mãe devota – seu pai foi obrigado a entregar alguns de seus nove filhos aos cuidados provisórios de amigos e paren- tes. O pequeno Chico ficou sob a guar- da de sua madrinha, uma mulher severa, egoísta e perversa, que o maltratava muito. Porém, mesmo dentro de um ambiente de grandes conflitos e extre- mas dificuldades, cresceu sempre bom, incapaz de uma só palavra obscena ou um gesto de desobediência. Aprendeu a se manter calmo e calado em momentos de sofrimento, principal- mente, devido as constantes agressões que sofria de sua madrinha, momentos estes, em que se dirigia ao quintal de sua casa para fazer orações. Tinha sempre consigo os ensinamentos de sua querida mãe, que sempre lhe falava para ter paciência, pois, precisa- va crescer mais forte para o trabalho e que quem não sofre não aprende a lutar. Assim, o pequeno menino aprendeu a apanhar calado, sem chorar. Diariamente, à tarde, com diversos ver- gões na pele e o sangue a correr-lhe em delgados filetes pelo ventre, decorrentes dos espancamentos, se dirigia ao quin- tal, de olhos enxutos e brilhantes, a fim de realizar suas orações. Algum tempo depois, seu pai se casou novamente com uma mulher boa e cari- dosa, que como primeira medida reco- lheu, carinhosamente, a ele e a todos os irmãos que estavam espalhados, pois, desejava do fundo de seu coração, aquela família unida nova- mente. Ainda passavam por sérias dificuldades financeiras, pois, o salário do chefe da Foi na pequena e modesta cidade de Pedro Leopoldo, em Minas Gerais, mais precisamente, em 2 de abril de 1910, que nasceu Francisco Cândido Xavier. Um ser humano exemplar, que merece ter sua maravilhosa história exaltada, sendo um dos exemplos máximos de bondade, caridade, desapego e amor ao próximo, algo que, sem dúvida alguma, transcende todos os dogmas e as tão atuais e perigosas cruzadas religiosas. Filho de um casal muito simples do interior mineiro – seu pai era um ope- rário semi analfabeto e sua mãe uma humilde lavadeira – desde muito novo passou por diversas dificuldades, princi- BRASIL Um raio de luz chamado Chico Xavier 25 www.perseveranca.org.br O Serviço Social Perseverança é uma entidade filantrópica sem fins lucrativos e que conta com diversas atividades assistenciais, dentre elas, oito creches que atendem mais de 2.000 crianças carentes. Divulgação Divulgação Caridade Chico Xavier com uma de suas maiores paixões: as crianças.

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Matéria da revista “Meu sonho não tem fim” sobre o “grande sonhador” Chico Xavier.

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Page 1: Um raio de luz chamado Chico Xavier

palmente financeiras e lamentavelmente acabou ficando órfão de mãe, com ape-nas cinco anos de idade.

Com o falecimento de sua mãe – uma mulher generosa, dona de casa carinho-sa e mãe devota – seu pai foi obrigado a entregar alguns de seus nove filhos aos cuidados provisórios de amigos e paren-tes. O pequeno Chico ficou sob a guar-da de sua madrinha, uma mulher severa, egoísta e perversa, que o maltratava muito. Porém, mesmo dentro de um ambiente de grandes conflitos e extre-mas dificuldades, cresceu sempre bom, incapaz de uma só palavra obscena ou um gesto de desobediência.

Aprendeu a se manter calmo e calado em momentos de sofrimento, principal-mente, devido as constantes agressões que sofria de sua madrinha, momentos estes, em que se dirigia ao quintal de sua casa para fazer orações.

Tinha sempre consigo os ensinamentos de sua querida mãe, que sempre lhe

falava para ter paciência, pois, precisa-va crescer mais forte para o trabalho e que quem não sofre não aprende a lutar. Assim, o pequeno menino aprendeu a apanhar calado, sem chorar.

Diariamente, à tarde, com diversos ver-gões na pele e o sangue a correr-lhe em delgados filetes pelo ventre, decorrentes dos espancamentos, se dirigia ao quin-tal, de olhos enxutos e brilhantes, a fim de realizar suas orações.

Algum tempo depois, seu pai se casou novamente com uma mulher boa e cari-dosa, que como primeira medida reco-lheu, carinhosamente, a ele e a todos os irmãos que estavam espalhados, pois, desejava do fundo de seu coração, aquela família unida nova-mente.

Ainda passavam por sérias dificuldades financeiras, pois, o salário do chefe da

Foi na pequena e modesta cidade de Pedro Leopoldo, em Minas Gerais, mais precisamente, em 2 de abril de 1910, que nasceu Francisco Cândido Xavier. Um ser humano exemplar, que merece ter sua maravilhosa história exaltada, sendo um dos exemplos máximos de bondade, caridade, desapego e amor ao próximo, algo que, sem dúvida alguma, transcende todos os dogmas e as tão atuais e perigosas cruzadas religiosas.

Filho de um casal muito simples do interior mineiro – seu pai era um ope-rário semi analfabeto e sua mãe uma humilde lavadeira – desde muito novo passou por diversas dificuldades, princi-

BRASIL

Um raio de luz chamado Chico Xavier

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www.perseveranca.org.br

O Serviço Social Perseverança é uma entidade filantrópica sem fins lucrativos e que conta com diversas atividades assistenciais, dentre elas, oito creches que atendem mais de 2.000 crianças carentes.

Divulgação

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Caridade

Chico Xavier com uma de suas maiores paixões: as crianças.

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O náufrago

Após um naufrágio, o único sobrevivente deste desastre agradeceu a Deus por ainda estar vivo e ter conseguido se agarrar a parte dos destroços para poder ficar boiando a deriva.

Este único sobrevivente, foi parar em uma pequena ilha desabitada, fora de qual-quer rota de navegação e agradeceu, novamente, por chegar a terra firme.

Com muita dificuldade e graças, parte de restos dos destroços, ele conseguiu montar um pequeno abrigo para que pudesse se proteger do sol, do vento, da chuva, de animais e também para guardar seus poucos pertences e, como sem-pre, agradeceu a Deus.

Nos dias seguintes, a cada alimento que conseguia caçar ou colher para o seu sustento, ele agradecia novamente.

No entanto, um dia quando voltava da busca por alimentos, encontrou o seu abri-go em chamas, envolto em altas nuvens de fumaça, terrivelmente desesperado, ele se revoltou. Ele gritava chorando:

- O pior aconteceu! Perdi tudo! Deus, por que fizeste isso comigo?

Chorou tanto, que adormeceu, profundamente cansado.

No dia seguinte, logo pela manhã, foi despertado pelo alto som de um grande navio que se aproximava.

- Viemos resgatá-lo, disseram.

- Como souberam que eu estava aqui?, perguntou ele.

- Nós vimos o seu sinal de fumaça!

É muito comum sentirmo-nos desencorajados, desanimados e até mesmo deses-perados, quando as coisas vão mal. Mas, Deus age em nosso benefício, mesmo nos momentos de dor e sofrimento.

“A esperança é uma conseqüência da fé”.

cipais auxiliares, adoeceu gravemente, e para a surpresa de todos, faleceu, dei-xando ao irmão o encargo de lhe ampa-rar a família.

Chico, verificou que José lhe deixara também uma dívida, pois, esquecera de pagar a conta da luz, na importância de onze cruzeiros. Para sua situação finan-ceira na época, isso era muito, pois, no fim de cada mês nada lhe sobrava.

Pensativo e preocupado, sentou-se à soleira da porta e acabou adormecendo.

Sonhou que um querido amigo lhe apa-recia e dizia “não se entregue, confie e espere...”. Horas depois, um senhor da roça bate à porta.

dade na região de Pedro Leopoldo, em 1959, mudou-se para a cidade mineira de Uberaba, dando início à sua famosa peregrinação da “Comunhão Espírita Cristã”, visitando lares carentes e mora-dores de rua, levando-lhes a alegria de sua presença amiga. Sob a luz das estre-las e de um lampião que seguia à frente, iluminando as escuras ruas da periferia, ia contando fatos de grande beleza da natureza humana.

Um desses fatos, que ele sempre conta-va, aconteceu com ele próprio e segun-do suas próprias palavras, foi uma lição que ele jamais se esqueceu:

José, seu irmão, que fora por muito tempo seu orientador e um de seus prin-

família dava escassamente para o neces-sário e os meninos precisavam estudar. Sendo assim, sua madrasta iniciou uma pequena horta em casa e começaram a vender legumes. Com parte deste di-nheiro arrecadado, Chico voltou a fre-qüentar a escola em 1919.

A necessidade de trabalhar desde cedo para auxiliar nas despesas domésticas foi, em sua vida, conforme ele mesmo sempre dizia, uma bênção indefinível.

Quatro anos mais tarde, com treze anos de idade, terminou o curso primário. Nesta época levantava às seis da manhã para começar, às sete as tarefas escola-res e entrava para o serviço na fábrica às três da tarde, saindo às onze da noite. Não existia muito tempo para diversão do pequeno trabalhador.

Assim como o trabalho, a doença tam-bém viera precocemente fazer-lhe com-panhia. Primeiro teve problemas nos pulmões, devido ao seu trabalho na tecelagem, depois foram os olhos e tam-bém a angina.

Em 1927 entrou para o funcionalismo público, como datilógrafo, na Fazenda Modelo do Ministério da Agricultura, um trabalho menos braçal e que o colo-cou em contato direto com a natureza, pela qual, começou a demonstrar gran-de admiração. Distante da cidade, ama-va aquele cenário divino, desde as pe-dras até os montes pensativos.

Em 1931, inicia-se na literatura, como escritor através de psicografias, escre-vendo seu primeiro livro. Seriam mais de 400 obras psicografadas publicadas, várias delas traduzidas para o espanhol, esperanto, francês, inglês, japonês, gre-go, dentre outras línguas.

Após, mais de quarenta anos de incan-sáveis trabalhos assistenciais e de cari-

www.amigosdobem.org.br

A ONG Amigos do Bem combate a fome e a miséria no sertão nordestino, promo-vendo ações contínuas e o desenvolvimento auto-sustentável, a fim de minimizar o sofrimento destas popu-lações tão sofridas.

Page 3: Um raio de luz chamado Chico Xavier

“Lembra-te de que falando ou silenciando, sempre é possível

fazer algum bem”.

Chico Xavier

gens, de qualquer espécie, com seu tra-balho como autor ou com relação ao seu carisma e fama, ao contrário, repassou, em cartório, à editoras de divulgação espírita e inúmeras obras assistenciais, os direitos autorais de suas obras e tam-bém de sua imagem.

Mesmo com a fama e o sucesso de suas mais de 400 obras, jamais constituiu fortuna, continuou tão pobre quanto sempre fora. Aposentou-se e recebeu pelo resto de sua vida somente os pro-ventos de sua modesta aposentadoria.

Sua constrangedora humildade e seu desapego material, eram dificilmente compreendidos até por muitos confra-des e foi, sem dúvida alguma, a mais notável e marcante exteriorização de sua grandiosidade.

O homem que levou uma vida humilde e voltada para a religião, o amor ao pró-ximo e a caridade, tinha um último de-sejo. Chico jamais suportou a tristeza de seu semelhante e, desta forma, desejava que sua partida fosse num dia em que o “povo brasileiro estivesse muito feliz”, pois, mesmo com muita humildade, tinha consciência da grande simpatia e carinho que milhares de pessoas tinham para com a sua pessoa.

Teve este seu último desejo realizado, falecendo no dia 30 de junho de 2002, dia em que o Brasil sagrou-se penta-campeão mundial de futebol.

Deixou-nos além da saudade, tantos ensinamentos e lições de amor e bonda-de, que fica muito difícil nos apegarmos a um em especial. No entanto, jamais devemos nos esquecer de seu exemplo de vida e legado.

Relembrar e homenagear alguém como o “Velho Chico”, é celebrar a caridade e a bondade humana, personificada num homem especial que nos ensinou, den-tre tantas coisas a “fazermos o bem, sem olhar a quem”.

importância combinada.

Chico agradeceu muito pelo pagamento, e ficando só, abriu o envelope. Dentro estavam onze cruzeiros, para pagar a conta de luz.

Sorriu, descansado, livre de um peso e concluiu - “Que bela lição ganhei hoje. Jamais temer o amanhã, pois este, per-tence apenas aos desígnios de Deus”.

A cidade de Uberaba, desde a sua che-gada, transformou-se num pólo de atra-ção de inúmeros visitantes das mais variadas regiões do Brasil e do exterior, que aportavam com o objetivo de co-nhecê-lo. Para todos aqueles que já co-nheciam a sua vida e sua obra, não se mediam distâncias para vê-lo.

Seu trabalho sempre consistiu nas tare-fas assistenciais, aliadas ao serviço do esclarecimento e reconforto pessoais para todos aqueles que o procuravam.

De um extremo grau de moral, humilda-de e simplicidade, jamais auferiu vanta-

- O senhor é o seu Chico Xavier?

- Sim. Às suas ordens, meu irmão.

- Soube que seu irmão José morreu e vim aqui pagar-lhe uma bainha de faca que ele me fez há tempos. Aqui está a

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O sorriso fácil e iluminado do “Velho Chico”.

Uma lição de amor

Nos anos 60, um senhor de nome Benedito, prestava serviços domésticos na residência de Chico Xavier.

Num certo período, Chico passou a sair de casa todos os dias à hora do almoço. Não informava aonde ia, dizia apenas que ia visitar um enfermo necessitado de atenção. Comumente solicitava com carinho:

- Benedito, faça o favor de preparar um franguinho bem macio, que preciso levar à um doente. Lembre-se de que deve ficar bem tenro, pois ele está muito fraco. Precisa fortalecer-se, pouco a pouco, dia a dia!

Quem seria o doente que mereceria tanta dedicação de Chico.

Assim, diariamente saía levando uma vasilha com o alimento.

Benedito, porém, morria de curiosidade em conhecer tão ilustre doente, mas Chico não revelava seu nome.

Um certo dia, Benedito resolveu seguí-lo pelas ruas de Uberaba.

Atravessaram boa parte do bairro, entraram num matagal e mais à frente ele estacou o passo. A cena que se seguiu era por demais comovente e inesperada, ao mesmo tempo.

No fundo da mata Chico atendia o misterioso doente: um cãozinho vira-lata ma-chucado e faminto.

“A compaixão para com os animais é uma das mais nobres virtudes da natureza humana”. - Charles Darwin

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