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53 Educação, Batatais, v. 5, n. 2, p. 53-72, 2015 Um olhar para os distúrbios de conduta: definição, caracterização e atendimento educacional Ana Carolina MACALLI 1 Keila Roberta TOREZAN 2 Tatiane Cristina Rodrigues LESSA 3 Maria Amelia ALMEIDA 4 Resumo: Dentro do contexto escolar é vivenciada uma pluralidade de situações envolvendo o cotidiano dos alunos. Dentro deste se pode destacar os problemas de comportamento que vêm sendo tema de diversos estudos, uma vez que contribui para alterações na dinâmica da aula e da escola como um todo. Atualmente, existe uma variedade de termos que vêm sendo utilizados para descrever crianças e adolescentes que apresentam comportamentos antissociais, e, na literatura, são encontrados termos como transtorno da conduta, hiperatividade, problemas de externalização, problemas de comportamento e comportamento antissocial. Neste trabalho, foi adotado o termo “distúrbio de conduta” como referência aos alunos com distúrbios comportamentais e comportamentos antissociais. Assim, o presente trabalho teve como objetivo definir e caracterizar os distúrbios de conduta e relatar, brevemente, possíveis condutas pedagógicas a serem utilizadas na tentativa de minimização dos comportamentos externalizantes dos alunos em questão. Palavras-chave: Educação Especial. Distúrbio de Conduta. Práticas Pedagógicas. 1 Ana Carolina Macalli. Mestranda em Educação do Indivíduo Especial pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Licenciada em Educação Especial pela mesma instituição. E-mail: <[email protected]>. 2 Keila Roberta Torezan. Doutoranda em Educação do Indivíduo Especial pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Mestre em Educação do Indivíduo Especial Licenciada e Graduada em Letras pela mesma instituição. Especialista em Psicopedagogia pela Escola Superior Aberta do Brasil (ESAB). E-mail: <[email protected]>. 3 Tatiane Cristina Rodrigues Lessa. Mestranda em Educação do Indivíduo Especial pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Graduada em Psicologia pela mesma instituição. Especialista em Psicologia pela Universidade de Campinas (UNICAMP). E-mail: <[email protected]>. 4 Maria Amelia Almeida. Pós-Doutorado em Educação pela University of Georgia (UGA), Estados Unidos. Doutora em Programa de PhD em Educação Especial. Vanderbilt University, VANDERBILT, Estados Unidos. Mestre em Educação Especial pela mesma instituição. Professora Associada do Departamento de Psicologia, Licenciatura em Educação Especial da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação Especial da UFSCar. E-mail: <[email protected]>.

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Educação, Batatais, v. 5, n. 2, p. 53-72, 2015

Um olhar para os distúrbios de conduta: definição, caracterização e atendimento educacional

Ana Carolina MACALLI1

Keila Roberta TOREZAN2

Tatiane Cristina Rodrigues LESSA3

Maria Amelia ALMEIDA4

Resumo: Dentro do contexto escolar é vivenciada uma pluralidade de situações envolvendo o cotidiano dos alunos. Dentro deste se pode destacar os problemas de comportamento que vêm sendo tema de diversos estudos, uma vez que contribui para alterações na dinâmica da aula e da escola como um todo. Atualmente, existe uma variedade de termos que vêm sendo utilizados para descrever crianças e adolescentes que apresentam comportamentos antissociais, e, na literatura, são encontrados termos como transtorno da conduta, hiperatividade, problemas de externalização, problemas de comportamento e comportamento antissocial. Neste trabalho, foi adotado o termo “distúrbio de conduta” como referência aos alunos com distúrbios comportamentais e comportamentos antissociais. Assim, o presente trabalho teve como objetivo definir e caracterizar os distúrbios de conduta e relatar, brevemente, possíveis condutas pedagógicas a serem utilizadas na tentativa de minimização dos comportamentos externalizantes dos alunos em questão.

Palavras-chave: Educação Especial. Distúrbio de Conduta. Práticas Pedagógicas.

1 Ana Carolina Macalli. Mestranda em Educação do Indivíduo Especial pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Licenciada em Educação Especial pela mesma instituição. E-mail: <[email protected]>.2 Keila Roberta Torezan. Doutoranda em Educação do Indivíduo Especial pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Mestre em Educação do Indivíduo Especial Licenciada e Graduada em Letras pela mesma instituição. Especialista em Psicopedagogia pela Escola Superior Aberta do Brasil (ESAB). E-mail: <[email protected]>.3 Tatiane Cristina Rodrigues Lessa. Mestranda em Educação do Indivíduo Especial pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Graduada em Psicologia pela mesma instituição. Especialista em Psicologia pela Universidade de Campinas (UNICAMP). E-mail: <[email protected]>.4 Maria Amelia Almeida. Pós-Doutorado em Educação pela University of Georgia (UGA), Estados Unidos. Doutora em Programa de PhD em Educação Especial. Vanderbilt University, VANDERBILT, Estados Unidos. Mestre em Educação Especial pela mesma instituição. Professora Associada do Departamento de Psicologia, Licenciatura em Educação Especial da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação Especial da UFSCar. E-mail: <[email protected]>.

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A view over the conduct disturbs: definition, description and educational service

Ana Carolina MACALLIKeila Roberta TOREZAN

Tatiane Cristina Rodrigues LESSAMaria Amelia ALMEIDA

Abstract: The school context is experienced by the plurality of situations involving the daily lives of students. Within this process we can highlight the behavior problems that have been the subject of several studies, it helps to change the dynamics of the classroom and the school as a whole. Currently, there is a variety of terms have been used to describe children and adolescents exhibited antisocial behavior, and in literature are found terms such as conduct disorder, hyperactivity, externalizing problems, behavioral problems and antisocial behavior. In this paper, we adopted the term “Conduct Disorder” as a reference to students with behavioral disorders and antisocial behavior. The present study aimed to define and characterize the Conduct Disorders and report briefly about possible pedagogical approaches to be used in an attempt to minimize the externalizing behaviors of the pupils concerned.

Keywords: Special Education. Conduct Disorder. Pedagogical Practices.

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1. INTRODUÇÃO

Dentro do contexto escolar é vivenciada uma pluralidade de situações envolvendo o cotidiano dos alunos. Dentro deste, pode-se destacar os problemas de comportamento, que vêm sendo tema de diversos estudos, uma vez que contribuem para alterações na dinâ-mica de aula e na escola como um todo.

Atualmente existe uma variedade de termos que vêm sendo utilizados para descrever crianças e adolescentes que apresentam comportamentos antissociais, de acordo com a revisão bibliográfica realizada por Pacheco et al. (2005). Na literatura da área de psicologia é possível encontrar os termos: transtorno da conduta, hiperatividade, problemas de externalização, problemas de comportamento e comportamento antissocial. No entanto, essas variações de termos para nomear comportamentos semelhantes são conflitantes, e Heward (2013) aponta que essas variações decorrem devido aos problemas de comportamento serem construtos de ordem social (HALLAHAN; KAUFFMAN; PULLEN, 2009; HEWARD, 2013).

O termo comportamento antissocial é aplicado, de forma abrangente, para descrever características comportamentais de diversos tipos de transtornos mentais, como o Transtorno da Conduta, o Transtorno Desafiador Opositivo e o Transtorno de Personalidade Antissocial e, também, para indicar o caráter agressivo e desafiador da conduta de sujeitos que, apesar de não possuírem diagnóstico fechado de um transtorno específico, apresentam comportamentos que prejudicam o seu desempenho social (PATTERSON; REID; DISHION, 1992; PACHECO et al. 2005). Portanto, a utilização do termo comportamento antissocial não vai favorecer o delineamento de um único diagnóstico, pois vários transtornos têm como característica semelhante à indicação de comportamentos antissociais para diagnóstico clínico (APA, 1994).

Para Patterson, Reid e Dishion (1992), as crianças e adoles-centes designados como antissociais demostram comportamentos de desobediência, agressividade, temperamento exaltado, oposicionis-mo, roubos, baixo controle de impulsos, fugas, entre outros. De acordo com Pacheco et al. (2005, p. 56):

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[...] esses comportamentos apresentam características comuns que os distinguem de outros tipos de manifestações comportamentais, e podem ser agrupados de acordo com a definição de problemas de externalização.

Os problemas de externalização estão relacionados ao avanço do transtorno de conduta e ao transtorno desafiador opositivo pela manifestação de comportamentos agressivos, impulsivos e delinquentes. E em relação aos problemas de internalização, estes estão associados aos transtornos do humor e de ansiedade relacionados aos comportamentos de depressão, ansiedade, queixas somáticas e retraimento social (APA, 1994). O conceito de externalização foi desenvolvido para referir-se aos conflitos com o ambiente, enquanto a internalização envolve problemas com o self (WANGBY; BERGMAN; MAGNUSSON, 1999).

Para Turnbull et al. (2016); Hallahan et al. (2009) e Heward (2013), os comportamentos externalizantes são, normalmente, comportamentos disruptivos ou que incomodam. São voltados para outras pessoas e, em sua maioria, são agressivos e normalmente associados a condutas que se relacionam ao distúrbio desafiador-opositor. Um exemplo típico desse comportamento é o bullying, que consiste na agressão verbal e/ou emocional, onde, por exemplo, a pessoa chama o outro por nomes estigmatizados de forma a denegrir a sua imagem. Para os autores, os comportamentos internalizantes incluem depressão, ansiedade e medo. Eles acrescentam, ainda, que esse tipo de comportamento pode, muitas vezes, não ser notado pelos professores, pois não causam os comportamentos disruptivos de externalização.

Já para Smith (2008) a exteriorização e interiorização são tipos de transtornos emocionais ou comportamentais e, além destes, a autora aponta os de baixa incidência. Os problemas de comportamento do tipo exteriorização são os considerados como algo “fora de controle”, atitudes anormais que poderiam ser descritas como agressivas, contestadoras, impulsivas, coercitivas e inflexíveis e, normalmente, direcionadas a outra pessoa. Alguns exemplos típicos desse tipo de comportamento são as pessoas com hiperatividade, agressividade e delinquência.

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Os problemas de comportamento do tipo interiorização estão relacionados a um estilo supercontrolado e inibido que poderia ser descrito como retraído, solitário, depressivo e ansioso, e os problemas de comportamento do tipo baixa incidência são os mais raros, em que temos como exemplos a esquizofrenia5 e a síndrome de Tourette6 (SMITH, 2008).

No Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, DSM-V (APA, 2014, p. 470), o critério para diagnóstico clínico do transtorno de conduta é um padrão de comportamento repetitivo e persistente, no qual são violados os direitos básicos de outras pessoas ou normas ou regras sociais relevantes e apropriadas para a idade, tal como manifestado pela presença de ao menos 3 de 15 critérios, nos últimos 12 meses, de qualquer uma das categorias, com ao menos um critério presente nos últimos seis meses. Tais critérios são: 1) frequentemente persegue, atormenta, ameaça ou intimida os outros; 2) frequentemente inicia lutas corporais; 3) já usou armas que podem causar ferimentos graves (pau, pedra, caco de vidro, faca, revólver); 4) foi cruel com as pessoas, ferindo-as fisicamente; 5) foi cruel com os animais, ferindo-os fisicamente; 6) roubou ou assaltou, confrontando a vítima; 7) submeteu alguém a atividade sexual forçada; 8) iniciou incêndio deliberadamente com a intenção de provocar sérios danos; 9) destruiu propriedade alheia deliberadamente (não pelo fogo); 10) arrombou e invadiu casa, prédio ou carro; 11) mente e engana para obter ganhos materiais ou favores ou para fugir de obrigações; 12) furtou objetos de valor; 13) frequentemente passa a noite fora, apesar da proibição dos pais (início antes dos 13 anos); 14) fugiu de casa pelo menos duas vezes, passando a noite fora, enquanto morava com os pais ou pais substitutos (ou fugiu de casa uma vez, ausentando-se por um longo período) e 15) falta na escola sem motivo, matando aulas frequentemente (início antes dos 15 anos). Esses comportamentos desadaptativos se agregam em quatros eixos: 1) agressão a pessoas

5 A esquizofrenia é definida como um transtorno psiquiátrico universal com alguns sintomas comuns independentes da cultura como falta de “insight”, alucinações auditivas e verbais, sonorização do pensamento, embotamento afetivo e ideias e delírios de referência (HELKIS, 2000).6 A Síndrome de Tourette é um distúrbio caracterizado por tiques múltiplos, incluindo o uso involuntário ou inapropriado de palavras obscenas e a repetição involuntária de um som, palavra ou frase de outrem (TEIXEIRA et al., 2011).

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e animais; 2) destruição de propriedade; 3) falsidade ou furtos; e 4) violações graves de regras.

2. DESENVOLVIMENTO

De acordo com Pacheco et al. (2005), o transtorno de conduta é mais incidente na infância e é um dos maiores motivos de encaminhamento ao psicólogo infantil. Heward (2013) aponta que, além da incidência ser maior na infância, o transtorno ocorre mais em meninos do que em meninas, sendo mais comum o tipo externalizante. Bordin e Offord (2000) ressaltam que o conceito de transtorno de conduta não deve ser confundido como sinônimo do termo “distúrbio de conduta”, frequentemente aplicado no Brasil de maneira ampla e inespecífica para caracterizar problemas de saúde mental que interferem no ambiente familiar ou escolar.

Por exemplo, crianças e adolescentes desobedientes, com dificuldade para aceitar regras e limites e que desafiam a autoridade de pais ou professores costumam ser encaminhados aos serviços de saúde mental devido a “distúrbios da conduta”. No entanto, os jovens que apresentam tais distúrbios nem sempre preenchem critérios para a categoria diagnóstica “transtorno da conduta”. Portanto, o termo “distúrbio da conduta” não é apropriado para representar diagnósticos psiquiátricos (BORDIN; OFFORD, 2000, p. 12).

Para Ornelas e Oliveira (2009), os sinais desse transtorno são compreendidos pelo discurso (psico) pedagógico como resultante da “falta de limites” na educação familiar ou ausência real da figura paterna no convívio familiar. Os problemas, frequentemente, iniciam-se na infância ou puberdade, podendo manter-se até a idade adulta e são mais presentes no sexo masculino.

Os fatores agregados ao comportamento anti-social na infância, na maioria dos casos, são: receber cuidados maternos e paternos inadequados, viver em meio à discórdia conjugal, ser criado por pais agressivos e violentos, ter mãe com problemas de saúde mental, residir em áreas urbanas e ter nível socioeconômico baixo (ORNELAS; OLIVEIRA, 2009, p. 107).

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O transtorno de conduta normalmente é evidenciado no contexto escolar, associando-se ao baixo rendimento escolar e à dificuldade no relacionamento com seus pares, resultando em limitações acadêmicas e sociais. Nesse aspecto, o ambiente escolar poderá ser fundamental para incentivar ou desestimular os comportamentos antissociais dos indivíduos com transtorno de conduta (ORNELAS; OLIVEIRA, 2009; HEWARD, 2013).

Alunos com distúrbios emocionais ou comportamentais apresentam características bastante similares, o que pode auxiliar o professor na identificação do problema, pois quanto mais rápido esses alunos forem identificados, melhor serão as formas de intervenção para que os prejuízos possam ser minimizados (SMITH, 2008; HEWARD, 2013).

Algumas das características que podem auxiliar o professor na identificação do problema são: problemas com autoridade, rejeição de crianças da mesma idade, anorexia ou bulimia, ruptura com a família, solidão, fracasso acadêmico, hiperatividade, impulsividade, distração, ansiedade, isolamento, depressão, agressão, hostilidade, insubordinação, acessos de raiva, tendências suicidas e comportamento coercitivo (SMITH, 2008; HALLAHAN; KAUFFMAN; PULLEN, 2009; HEWARD, 2013).

Quanto ao desempenho escolar, Smith (2008), Hallahan et al. (2009) e Heward (2013) apresentam que independentemente do grau de inteligência do aluno, crianças com distúrbio comportamental e emocional são encaminhadas à educação especial por apresentarem baixo desempenho acadêmico, principalmente em leitura e matemática. Os autores ainda ressaltam que, quanto mais grave o distúrbio, menor será o desempenho escolar, pois as instabilidades afetam a habilidade em realizar tarefas escolares, causando elevado índice de evasão escolar.

Smith (2008) e Hallahan et al. (2009) apontam alguns componentes importantes a serem considerados pela escola, a fim de minimizar as problemáticas apontadas anteriormente, como a consistência de regras, expectativas e resultados durante todo o processo escolar; a criação de um clima escolar positivo; a tentativa de estratégias escolares para resolução de conflitos

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e condutas inadequadas; alto nível de supervisão em todos os contextos escolares; criação de sensibilidade cultural; sentimentos sinceros pelo bem-estar dos alunos, envolvimento e vínculo com a instituição; alto nível de envolvimento dos pais na comunidade; espaço bem utilizado, sem superlotação.

Vale ressaltar que uma vez não diagnosticados e tratados da maneira adequada, os distúrbios podem evoluir para problemas mais sérios, como, por exemplo, dificuldades de ajuste não somente na vida escolar, mas na vida como um todo, como problemas com drogadição, marginalidade (MASTEN; COATSWORH, 1998), doenças sexualmente transmissíveis, gravidez não planejada, atos de violência na comunidade, ferimentos por lutas corporais e suicídio (COLL et al., 2004).

Já na fase adulta, uma das consequências mais verificadas é a perda do emprego, problemas em relações conjugais, criminalidade, morte prematura com violência, maior depressão e ansiedade (HAWKINS; FARRINGTON; CATALANO, 2003).

A fim de evitar prejuízos maiores, como os citados anteriormente, torna-se fundamental estabelecer quais são os fatores de risco e proteção para o combate dos transtornos comportamentais e emocionais (HALLAHAN; KAUFFMAN; PULLEN, 2009). Para tal, intervenções estabelecidas antes que os sintomas sejam efetivos obtêm maior sucesso (NEWCOMBE, 1999). Considerando-se que as causas dos transtornos são múltiplas, faz-se necessária uma intervenção comprometida com a transformação de tais situações e não somente na utilização de fármacos e em uma suposta cura da enfermidade.

Bordin e Offord (2000) e Hallahan (2009) citam que são encontrados na literatura diversos tratamentos para tais distúrbios e que, entre eles, destacam-se a intervenção junto à família e à escola, a psicoterapia familiar e individual, a orientação de pais, as comunidades terapêuticas e o treinamento de pais e professores em técnicas comportamentais. Esses autores também apresentam que quanto mais precocemente iniciados e mais jovem for o paciente, melhores os resultados obtidos.

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De acordo com os autores Bordin e Offord (2000), foram encontrados dados evidenciando que na faixa etária dos três aos oito anos alguns sintomas do transtorno desafiador de oposição (por exemplo, irritar-se com facilidade, recusar-se a cumprir regras e a atender solicitações dos adultos e perturbar as pessoas deliberadamente) ou do transtorno da conduta (por exemplo, ferir animais e furtar) costumam ser identificados e merecem ações preventivas em relação à criança, aos seus pais e aos seus professores. Esses autores apontam que muitas vezes o foco do problema está no conflito entre pais e filhos ou em pais envolvidos com problemas pessoais e que necessitam de apoio. Também foi apontada a necessidade de auxílio por parte de alguns pais para estabelecer limites e escolher métodos mais apropriados para educar os filhos. Outro fator importante encontrado por esses autores foi que o contato com a escola pode ser útil para resolver conflitos entre professores e alunos e que existe a necessidade de ajudar os professores a encontrar maneiras mais adequadas de lidar com as dificuldades da criança.

Tal estudo também apresentou que quanto mais jovem o paciente e menos graves os sintomas, maior a probabilidade de o indivíduo se beneficiar de um processo de psicoterapia e que, quando se tratou de um adolescente que já cometeu delitos, observou-se maior resistência à psicoterapia. Como sugestão, deu-se o possível envolvimento com profissionais especializados por meio de oficinas de artes, música e esportes. Segundo o estudo, nessas oficinas o adolescente tem a oportunidade de estabelecer vínculo afetivo com os profissionais responsáveis pelas atividades, tomando-os como modelo, além de perceber-se capaz de criar, o que pode favorecer o desenvolvimento da sua autoestima. Também foi apontado que a família dos pacientes deve ser incluída no processo terapêutico.

Já o tratamento com psicofármacos, para esses autores, se faz necessário em ocasiões nas quais os sintomas–alvo e outros transtornos psiquiátricos estão presentes, como na presença de quadros com ideias paranoides associadas, quadros convulsivos, TDAH e depressão. A hospitalização será indicada quando forem verificados quadros de risco iminente para o paciente, como tentativas de autoagressão, suicídio e homicídio (BORDIN; OFFORD, 2000). Vale lembrar que

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essas condutas devem ser acompanhadas por um profissional de saúde mental, preferencialmente na díade psicólogo/psiquiatra.

Como conclusão, o estudo de Bordin e Offord (2000) traz que os comportamentos antissociais são frequentemente observados no período da adolescência como sintomas isolados e transitórios. Porém, estes podem surgir precocemente na infância e persistir ao longo da vida, constituindo quadros psiquiátricos de difícil tratamento. Como o comportamento antissocial se torna mais estável e menos modificável ao longo do tempo, as crianças e adolescentes com transtorno da conduta precisam ser identificados o mais cedo possível para que tenham maior oportunidade de beneficiar-se de intervenções terapêuticas e ações preventivas. O tratamento mais efetivo envolverá a combinação de diferentes condutas em conjunto com a criança, o adolescente, a família e a escola.

Outro estudo realizado por Trivellato e Marturano (2002), que relacionou o ambiente familiar e os problemas de comportamento apresentados por crianças com baixo desempenho escolar tiveram como resultados a indicação de que o ambiente familiar que apresenta menos recursos e maior adversidade, incluindo problemas nas relações interpessoais, falhas parentais quanto à supervisão, monitoramento e suporte, indícios de menor investimento dos pais no desenvolvimento da criança, práticas punitivas e modelos adultos agressivos aumentam a vulnerabilidade da criança para inadaptação psicossocial. Assim, os autores sugerem a importância de incluir a família em intervenções preventivas voltadas para essa clientela.

Um estudo de revisão de correlatos neurobiológicos e ambientais realizados por Pinheiro et al. (2004) trouxe o Treinamento de Manejo Parental, além do uso de medicamentos, como uma forma eficaz de lidar com o transtorno desafiador opositor. Tal conduta consiste em uma modalidade de terapia cognitivo-comportamental que objetiva modificar o comportamento da criança por meio de alterações na forma de os pais lidarem com ela.

Os estudos apresentados até o momento caracterizam-se como possíveis formas de tratamento se o distúrbio já estiver presente na criança ou no adolescente. Entretanto, deve-se lembrar que a melhor conduta a ser seguida ainda seria a prevenção desse distúrbio.

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Prevenção e Tratamento

A prevenção e o tratamento dos distúrbios emocionais ou comportamentais podem ser alcançadas de muitas formas, mas a implementação de algumas abordagens distintas como condutas preventivas poderia causar uma redução substancial na sua prevalência, a saber a conduta médica e a intervenção baseada na escola (SMITH, 2008; HALLAHAN et al., 2009).

De acordo com Smith (2008), a conduta médica pode contribuir para a diminuição e controle da frequência do sintoma, ou seja, fazer o uso contínuo e adequado de medicamentos pode reduzir, consideravelmente, os comportamentos agressivos, por exemplo. Entretanto, a introdução de terapia medicamentosa ainda gera polêmica, pois algumas vertentes acreditam que a medicalização na infância e adolescência não seria o mecanismo mais eficaz de intervenção.

Para Smith (2008), Hallahan et al. (2009) e Heward (2013), a intervenção baseada na escola consiste em práticas padronizadas utilizadas pelos professores em sala de aula e nos contextos escolares de forma a tentar reduzir a violência e a necessidade de advertências disciplinares. Nesse sentido, a autora aponta a necessidade de gerar uma cultura escolar em que apoios positivos de comportamentos, instrução para habilidades sociais e consistência sirvam como apoio direto para tais condutas. Os alunos saberão quais são as regras combinadas com os professores e quais serão as condutas caso estas sejam infringidas.

Kauffman (apud SMITH, 2008) e Heward (2013) apontam alguns itens importantes a serem trabalhados dentro da escola de forma preventiva: recompensar os comportamentos desejáveis, punir por meios não violentos os comportamentos indesejáveis, fornecer instrução direta para as habilidades acadêmicas e sociais, corrigir as condições ambientais que favorecem comportamentos inadequados, dar aos alunos expectativas claras, padronizar respostas para as crianças em todo o contexto escolar e monitorar com rigor o comportamento dos alunos.

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Smith (2008) aponta que a intervenção psicoeducacional será dada uma vez que o distúrbio de comportamento estiver instalado e o aluno apresentar condutas inadequadas no ambiente escolar. A primeira conduta que poderá ser seguida consistirá na observação comportamental do aluno em ambiente escolar. Essa autora apresenta que deverá ser escolhida na escola uma pessoa responsável para registrar os comportamentos do aluno. Tal registro deverá ser analisado pela técnica comportamental ABC, em que “A” seriam os estímulos que antecedem o comportamento inadequado, “B” seria o comportamento inadequado e “C”, as consequências do comportamento inadequado. Esse registro será útil para descobrir qual a causa do comportamento inadequado do aluno. Em um estudo com essa sistemática, a autora supracitada aponta que na avaliação de um aluno a escola descobriu que a inadequação comportamental era devida ao fato de ele não compreender o que era solicitado e, assim, ao deparar-se com o nervosismo, não conseguia se controlar, batendo em seus colegas de sala. Dessa forma, a escola elaborou uma sistemática na qual um outro aluno faria par com esse que apresentava os problemas de comportamento, de modo que esse outro aluno pudesse ser um auxílio para a compreensão do que era solicitado, o que possibilitou diminuir consideravelmente os comportamentos inadequados.

A mesma autora apresenta que no modelo ABC são identificados os “gatilhos” que disparam o comportamento inadequado e que com a intervenção é possível inverter esses gatilhos e realizar uma consequência mais adequada, que fortalecerá as chances de um comportamento adequado e diminuirá a força dos comportamentos inadequados. Nesse sentido, Smith (2008) aponta que uma intervenção eficaz deveria conter: 1) a administração de um sistema de premiação para comportamentos apropriados e conclusão de tarefas no qual o bom comportamento é demonstrado gratificantemente, e os alunos, recompensados; 2) planos de intervenção sistemática nos quais se usam a hierarquia de táticas dependendo do comportamento do aluno, comunicação lar-escola, incluindo notas e sistemas de recompensa no lar, envolvimento com os colegas, estrutura da sala de aula com práticas orientadas e transições bem organizadas de uma atividade para outra; e 3)

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supervisão dos períodos livres, padrões consistentes aplicados (por todos os funcionários da escola) aos comportamentos do aluno. Também é importante lembrar que a escola deve servir, na medida do possível, como um ambiente gratificante para o aluno estar, de forma que ele possa se sentir motivado em todas as atividades propostas.

Gonzáles (2007) cita algumas estratégias que poderiam ser utilizadas como facilitadoras para o manejo e prevenção dos distúrbios de conduta. Uma delas seria que os pais e educadores devem servir como bons exemplos de condutas a seus filhos e alunos, uma vez que os alunos examinam atentamente tudo o que os adultos fazem ou deixam de fazer. Outro aspecto importante é refletir que os comportamentos são ensinados, moldados e mantidos pelos pais e professores, por meio da existência de reforço ou castigo. A forma como será encarada alguma conduta positiva ou negativa da criança e do adolescente refletirá diretamente sobre seu ensino – uma criança reforçada adequadamente em suas boas condutas tenderá a apresentar essas condutas novamente e, da mesma forma, uma punição inadequada, como castigos físicos, por exemplo, poderá ocasionar sentimentos negativos e inadequados à criança e adolescente que os recebe. Gonzáles (2007) aponta que as crianças precisam ser ensinadas e até mesmo treinadas e moldadas em seu devido tempo, para conseguirem desenvolver habilidades socialmente desejáveis. Elas devem ser motivadas ou estimuladas convenientemente e suas condutas precisam de reforço ou gratificação quando preciso. Muitas delas recebem apenas reforço negativo, repulsa e castigo de cada um desses agentes de socialização e culturalização: o lar, a escola e o meio ambiente.

Outro item importante apontado por Gonzáles (2007) é a autoridade sem autoritarismo. Para esse autor os pais devem apoiar o princípio de autoridade onde quer que ele se encontre e esta deve ser mantida e apoiada pelos pais, mutuamente. Caso contrário, eles se desautorizam e ensinam a criança a desobedecer. Os pais também podem minar a própria autoridade quando desautorizam as autoridades civis, religiosas, etc., principalmente os professores, ao emitirem comentários pejorativos que os desrespeitem (GONZÁLES, 1995).

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Outro ponto importante é que muitos pais tendem a dar importância e atenção apenas para comportamentos inadequados dos filhos e, assim, acabam reforçando-os. É importante que os comportamentos aceitáveis sejam mais elogiados, o que possibilitará a redução dos comportamentos inadequados. Também é importante lembrar a necessidade de se encontrar tempo para conviver com os filhos, visando aprofundar as relações benéficas entre pais e filhos e, assim, contribuindo para uma boa conduta parental (GONZÁLES, 1995).

Projeto Escola Viva (MEC)

No sentido de auxiliar pais e educadores, o Ministério da Educação (MEC) lançou em 2002 o Projeto Escola Viva, no qual foram distribuídas cartilhas a fim de auxiliar a formação e dar suporte técnico à professores. Essas cartilhas estão disponíveis on-line para consulta no site do MEC7.

Nessa cartilha é apontado que entre as estratégias de intervenção estão os diferentes tipos de terapia psicológica e de tratamentos médicos (tais como terapia fenomenológica, ludoterapia, psicoterapia de grupo, terapia comportamental, terapia familiar e conjugal e terapia medicamentosa), tanto para a criança, como para seus pais, bem como diferentes ações educacionais, implementadas na sala de aula e nas demais instâncias da unidade escolar. Entretanto, o foco da mesma é mais voltado para o pedagógico e pode servir como um material bastante interessante para o professor. Algumas dicas que se referem a adaptações organizativas podem ser úteis ao professor em sala de aula.

A cartilha do MEC (2002) apresenta algumas contribuições para os manejos que o professor pode ter com os alunos, entre elas: 1) a importância de estabelecer claramente, com os alunos, os limites necessários para a convivência num coletivo complexo; 2) a identificação da forma mais adequada de comunicação para cada aluno a fim de permitir que ele trabalhe com compreensão, prazer e 7 As cartilhas podem ser acessadas por meio do link: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12658:projeto-escola-viva&catid=192:seesp-esducacao-especial>.

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maior autonomia possível; 3) a importância de um ensino que seja individualizado, e quando necessário, norteado por um Plano de Ensino que reconheça as necessidades educacionais especiais do aluno e a elas responda pedagogicamente; 4) a importância de que o aluno possa, sempre que possível, relacionar o que está aprendendo na escola com as situações de sua própria vida; e 5) a importância de que as atividades acadêmicas ocorram em um ambiente que por si só tenha significado e estabilidade para o aluno. Também é apresentada na cartilha a importância de refletir que a previsibilidade de ações e de acontecimentos pode diminuir consideravelmente a ansiedade do aluno que apresenta comportamentos não adaptativo; assim, sugere-se que é importante que o professor estruture o uso do tempo, do espaço, dos materiais e a realização das atividades, de forma a diminuir ao máximo o caos que um ambiente complexo pode representar para esse aluno.

A cartilha ainda traz a contribuição de que, além das providências organizativas, o professor que recebe em sua classe um aluno com problemas comportamentais pode ter, quando necessário, que fazer adaptações em três áreas: programas voltados para o comportamento de sala de aula, programas voltados para o ensino de habilidades de convivência social e programas voltados para a educação acadêmica (MEC, 2002).

No intuito de desenvolver comportamentos desejáveis para uma participação construtiva nas atividades da sala de aula, os autores Lewis e Doorlag (1991) e Hallahan et al. (2009) sugerem inúmeros procedimentos voltados para condutas específicas descritos na cartilha do Projeto Escola Viva (2002). São exemplificados alguns casos de condutas a serem oferecidas, a saber: no caso, por exemplo, do aluno que apresenta hiperatividade verbal, falando em voz alta constantemente, fazendo comentários irrelevantes, discutindo provocativamente com o professor e com colegas, numa frequência elevada, é recomendado, dentre várias estratégias, que o professor estabeleça claramente com os alunos da sala as regras de participação verbal na aula. O professor deve ensinar as regras, dando oportunidades para os alunos praticarem o desejável, e apresentar a eles um feedback sobre sua adequação. Sugere-se, também, que o professor deixe o aluno saber claramente

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quando seu comportamento está sendo cooperativo e desejável, oferecendo verbalizações claras e direcionadas aos alunos quando estes demonstrarem o comportamento adequado; em casos de hiperatividade física, sugere-se que se converse claramente sobre o problema e suas consequências para o andamento da aula e que se estabeleçam regras claras sobre a forma desejável de comportamento. Deve-se, também, registrar o tempo máximo que o aluno consegue ficar envolvido com diferentes atividades e seja dele solicitado um aumento gradativo de tempo de permanência na atividade (MEC, 2002).

Já em relação aos padrões de desenvolvimento saudáveis de interação social, os autores sugerem alguns procedimentos, como: o fornecimento de exemplos de comportamentos não agressivos aos alunos; o ensino de respostas aceitáveis e adequadas a ataques físicos e/ou verbais; a necessidade de reconhecer, explicitamente, e elogiar os alunos que substituem respostas agressivas por comportamentos desejáveis, não agressivos; ensinar comportamentos sociais adequados específicos para todas as crianças; discutir a conduta indesejada com os demais alunos, buscando promover, com eles, a compreensão do fenômeno e de como se relacionar construtivamente com ele; estabelecer, juntamente com os alunos, padrões de conduta para a convivência coletiva, bem como a definição de consequências para o cumprimento ou o descumprimento do acordado pelo grupo; procurar desenvolver uma relação positiva com o aluno que apresenta conduta não adaptativa, recebendo-o sempre com simpatia; conversar com ele em momentos apropriados, reconhecendo explicitamente seus ganhos e avanços (por menor que sejam), procurando identificar seus interesses e motivações (MEC, 2002).

Ainda são apontadas algumas condutas, como: estabelecer a cooperação dos demais alunos em atividades de treinamento de habilidades sociais, de monitoramento profissional e de monitoramento acadêmico; recorrer à assistência de membros da equipe técnica e de outros profissionais da comunidade, no caso de situações de crise, buscando o suporte necessário para administrá-las; estabelecer a normatização de procedimentos a serem rapidamente adotados, para lidar eficientemente com

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comportamentos particularmente difíceis; orientar os demais alunos sobre como agir para gerenciar o relacionamento com colegas que apresentam condutas não adaptativas, ensinando-os como responder a situações específicas e estimular o aluno que apresenta essas condutas a se envolver em todas as atividades cívicas, artísticas, esportivas e sociais da escola, juntamente com os demais colegas (MEC, 2002).

No que diz respeito ao manejo de condutas eficientes em sala de aula, a cartilha aponta os autores Lewis e Doorlag (1991), que sugerem vários procedimentos interessantes, como: a utilização de um sinalizador antes da informação verbal importante, como “Escutem! Prontos?” ou “Está na hora de começar!”; a utilização de agrupamentos de alunos em formato de semicírculo para favorecer que todos possam manter contato visual com o professor; a utilização de áreas de trabalho individual em que hajam poucas oportunidades de distração, sejam elas visuais ou auditivas; auxiliar os alunos a organizar seu horário das atividades na sala de aula, do seu material de trabalho, sua carteira etc.; a necessidade de apresentar orientações para as tarefas, tanto verbalmente como por escrito e a orientação de passos a serem seguidos que deverão aumentar gradativamente de acordo com o que foi concluído; apresentar modelos aos alunos sobre como se organizar no trabalho e exercitar o encorajamento dos alunos a pensar antes de falar, dando-lhes um tempo para pensar antes de responder ao que foi solicitado (MEC, 2002).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por fim, conclui-se que toda temática que envolve os distúrbios e transtornos de conduta são complexas e requerem estudo por parte de toda a equipe escolar que trabalhará com o aluno. Sabe-se que tal problema vem acometendo cada dia mais as escolas e, portanto, é um tema que requer um olhar especial por parte de toda a comunidade política, acadêmica e escolar. Como foi estudado ao longo do texto é um assunto bastante complexo, que envolve diversas instâncias e, no geral, necessitará de apoio da escola, da família e da equipe de saúde local; assim, o

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tratamento somente será efetivo se houver a parceria por parte de todos os profissionais envolvidos, lembrando sempre que o único beneficiado deverá ser o aluno.

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