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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE CIÊNCIAS SOCIOECONÔMICAS E HUMANAS DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA RILDA BISPO SANTANA TELES UM OLHAR GEOGRÁFICO E CULTURAL SOBRE A FESTA DO DIVINO PAI ETERNO EM TRINDADE-GO Anápolis 2009

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS

UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE CIÊNCIAS SOCIOECONÔMICAS E

HUMANAS

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

RILDA BISPO SANTANA TELES

UM OLHAR GEOGRÁFICO E CULTURAL SOBRE A FESTA DO DIVINO PAI ETERNO EM TRINDADE-GO

Anápolis

2009

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RILDA BISPO SANTANA TELES

UM OLHAR GEOGRÁFICO E CULTURAL SOBRE A FESTA DO DIVINO PAI ETERNO EM TRINDADE-GO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Geografia da Unidade Universitária de Ciências Sócio-Econômicas e Humanas da Universidade Estadual de Goiás, para obtenção do título de Licenciado em Geografia.Orientadora: Profª. M. Sc. Arlete Mendes Silva

Anápolis

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2009

RILDA BISPO SANTANA TELES

UM OLHAR GEOGRÁFICO E CULTURAL SOBRE A FESTA DO DIVINO PAI ETERNO EM TRINDADE-GO

Trabalho de Conclusão de Curso defendido no Departamento de

Geografia da Unidade Universitária de Ciências Sócio-Econômicas e Humanas

da Universidade Estadual de Goiás, para obtenção do grau de Licenciado em

Geografia, aprovado em _____ de _____ de _____ , pela Banca Examinadora

constituída pelos seguintes professores:

_________________________________________________

Profª. M. SC. Arlete Mendes Silva – UEG

Presidente da Banca

___________________________________________________

Prof. Ms. Wilmar Ribeiro - UEG

Examinador Interno

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Dedico este trabalho a Deus, que me guia sempre pelos caminhos da fé, ao meu marido, aos meus queridos pais, aos meus irmãos e a minhas irmãs que me deram o instrumento precioso para redigir este trabalho. Dedico também aos meus amados professores, colegas e amigos de faculdade que se fizeram presentes em

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minha vida. E enfim, ao Divino Pai Eterno, por ter me iluminado sempre, e por ser a quem eu devo o fato de ter chegado aonde cheguei com tamanha felicidade.

AGRADECIMENTOS

A Deus, “da mesma forma que a chuva e a neve que caem do céu e pra lá não

voltam sem antes molhar a terra, tornando-a fecunda e fazendo-a germinar, a

fim de produzir semente para o semeador e alimento para que precisa comer,

assim acontece com a palavra que sai de minha boca; ela não volta para mim

sem efeito, sem ter realizado o que eu quero e sem ter cumprido com sucesso

a minha missão". (Isaias 35, 10 e 11)

Aos meus pais, "Grande foram às lutas, maiores as vitórias. Muitas vezes,

pensei que este momento não chegaria. Queria recuar ou parar. No entanto,

vocês sempre estiveram presentes, mesmo que de longe. A emoção é forte.

Não cheguei ao fim, mais apenas ao início de uma caminhada.

Joana minha mãe (im memorian), "Se hoje não posso lhe dar um forte abraço,

e chorar no seu ombro a alegria da minha conquista, não me desespero, pois

sei que sua felicidade de me ver vencendo mais esta etapa se faz presente,

pois a morte significa apenas um passo para a evolução do ser humano, e os

laços que nos unem não foram rompido pela a mesma, dedico a ti Mãe este

trabalho".

Ao meu marido, filhos e irmãos, foi muito difícil chegar até aqui, juro não foi

nada fácil, mais com a ajuda de todos vocês consegui, por isto eu agradeço. Ao

meu marido Wanderley que em muitos momentos lutou junto comigo para esta

conquista, meus filhos Marcus Vinícius e Adressa Karoliny que deixei um pouco

de lado para me dedicar aos estudos e como eu poderia esquecer-me de vocês

minhas irmãs Rilma e Regiane que dedicaram algum tempo de sua vida para

me ajudar a todos meu muito. Obrigado.

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A minha professora e orientadora Arlete Mendes Silva, que de acordo com sua

especialidade acadêmica contribuiu para a realização deste trabalho; que me

conduzindo sempre com tamanha dedicação me fez acreditar que com

coragem, perseverança e amor eu poderia conseguir. Meu muito obrigado.

Aos meus grandes amigos, em especial Paulo, Regina, Roni Von, Sônia e

Virgilio, aos quais não levarei só lembranças de um curso realizado em

conjunto, mais o companheirismo, a certeza de uma conquista de amizade

para toda a vida; bem como verdadeiros exemplos de pessoas de bem, de luta

e de força que são.

Aos professores do curso de Geografia da Universidade Estadual de Goiás –

Anápolis, pela dedicação acadêmica e as contribuições no decorrer do curso.

Enfim expresso meus agradecimentos a todos que participaram de forma direta

ou indireta desta pesquisa e que tornaram possível a concretização deste

trabalho.

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Música; ROMARIA

Levantei cedo juntei a boiadaa fé no peito e os pés no chãomeu velho carro cantou na estradae o pó vermelho levantou do chãonum passo lento saiu a jornadapra romaria da devoção

Sou Romeiro que caminha,sou devoto do Senhorcaminhando pra Terra Santavelha Trindade da fé e do amor

Pra ir na Terra do Pai EternoMinhas jornadas durou muitos diastrabalhei duro o ano inteirofiz os meus planos pra Romariapedi ao Anjos pra iluminar meus passose o Pai Eterno pra ser o meu guia

E ao ver ao longe seu SantuárioTemplo Sagrado em forma de cruzAonde meu Pai fez a sua moradacom o Santo Espírito e seu filho Jesusdou meus louvores por chegar de novona Terra Santa coberta de Luz.

Walter José/ interpretada por: Ceacute/Lia Valadão

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RESUMO

As festas religiosas são importantes expressões cultural popular de Goiás. Elas nascem e se concretizam sob diversos modos, ritmos, percepções e significados para as pessoas que delas participam. São festas que impressionam pela a beleza e pela fé das pessoas que participam das missas, procissões e das festividades religiosas. Dentre as mais populares está a Festa do Divino Pai Eterno na cidade de Trindade – GO. Tal manifestação cultural goiana representa uma das mais bela e tradicional festa religiosa do interior do Brasil. Entre a grande programação da festa, ressaltam-se a romaria, desfile dos carros de bois, as missas, procissões, uma linda manifestação cultural e religiosa que nos mostra o lado sagrado e profano da festa. A festa é um atrativo do turismo religioso e cultural, estimulando atividades religiosas, sociais e econômicas na Cidade de Trindade. A romaria no contexto de territorialização / territorialidade criada e vivenciada pela e para a festa modificada espacialmente o lugar dando-lhe novos feitios e significados. O sagrado e profano se manifestam nas re-criações socioespaciais, culturais e religiosas à medida que é estabelecida no lugar a peregrinação e projeção de ritos, crenças símbolos e personagens além do uso festivo que se faz do evento. O tipo de pesquisa usado foi à descritiva tendo como método o estudo de caso. As indagações que se estabeleceram junto ao objeto de pesquisa foram: como se dão as modificações e as materializações no espaço durante a festa? Como tais mudanças se montam no espaço vivido pela festa? Quais as percepções e significados da romaria para as diversas categorias de sujeitos que participam da festa? Assim, a principal finalidade foi entender a gama de significados e percepções feitas pelos romeiros que participam da festa e moradores locais, delimitando e analisando esse espaço festivo de territorialidade efêmera.

Palavras Chave: Cultura, Significados; Percepções.

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ABSTRACT

Religious festivals are important cultural expressions of popular Goiás They are born and are

realized in various modes, rhythms, perceptions and meanings for people who took part. There

are parties that impressed by the beauty and faith of the people who participate in the Masses,

processions and religious festivals. Among the most popular is the Feast of the Divine Eternal

Father in the city of Trinidad - GO. This cultural event Goiás represents one of the most

beautiful and traditional religious festival of the interior of Brazil. Among the great lineup of the

party, we emphasize the festival, parade of ox carts, masses, processions, a beautiful culture

and religion that shows us the sacred and the profane side of the party. The festival is an

attractive cultural and religious tourism, encouraging religious activities, social and economic in

the City of Trinidad. The pilgrimage in the context of territorial / territorial created and lived by

and for the party last place spatially giving it new shapes and meanings. The sacred and

profane are manifested in the re-creations-spatial, cultural and religious as it is set in place the

pilgrimage rites and projection of beliefs, symbols and characters beyond the use it makes

festive event. The type of research used was the descriptive method as having the case study.

The questions that were established with the object of research were: how to give the

modifications and embodiments within the party over? As such changes are assembled in

space experienced by the party? What are the perceptions and meanings of pilgrimage for the

various categories of individuals who join the party? Thus, the main purpose was to understand

the range of meanings and perceptions made by pilgrims participating in the festival and local

residents, defining and analyzing this festive space territoriality ephemeral.

Keywords: Culture, Meanings, Perceptions

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 01 Fig.01 - Mapa de localização Trindade - GO......................14

Ilustração 02 Tabela 01 – Distribuição das religiões brasileiras................17

Ilustração 03 Fig.02 – Mapa de Trindade – GO e seus limites................23

Ilustração 04 Foto 01- Medalhão Sagrado...............................................28

Ilustração 05 Foto 02 -Igreja Matriz (Santuário Velho, 1920) .................30

Ilustração 06 Foto 03 - Igreja Matriz (Santuário Velho, 2009)................ 30

Ilustração 07 Foto 04 - Santuário Novo (Basílica Menor) .......................32

Ilustração 08 Foto 05 - Rodovia dos Romeiros........................................33

Ilustração 09 Foto 06 – Praça Constantino Xavier....................................34

Ilustração 10 Foto 07 - Movimento no Centro de Trindade – GO.........35

Ilustração 11 Foto 08 – Carreiródromo, Carros de Boi ...........................37

Ilustração 12 Foto 09 – Carreiródromo, Barraca de Bebidas.................. 37

Ilustração 13 Foto 10 – Catedral..............................................................38

Ilustração 14 Tabela 02 – Principais motivos para moradores e romeiros

participam da Festa do Divino Pai Eterno..........42

Ilustração 15 Gráfico 01 – Principais Motivos para os moradores

participarem da Festa do Divino Pai Eternos.......43

Ilustração 16 Gráfico 02 – Motivos que levam os romeiros a participar

da Festa do Divino Pai Eterno..........................46

Ilustração 17 Foto 10 – Miniaturas de santos feitos em barro vendidos

durante toda a festa......................................... 47

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SUMÁRIO

LISTA DE INLUSTRAÇÕES....................................................................09

RESUMO..................................................................................................07

ABSTRAT.................................................................................................08

INTRODUÇÃO..........................................................................................13

1. GEOGRAFIA CULTURAL E A

“IDENTIDADE ESPACIAL” DE TRINDADE-GO .............................................15

1.1. Geografia Cultural, Identidade e Territorialidade......................................15

1.2. As Territorialidades Advindas do Espaço Sagrado e Profano................. 18

1.3 O Município de Trindade e seu Contexto Histórico...................................20

1.3.1 O Município de Trindade em seu Contexto Geográfico.............................22

2. A ROMARIA DO DIVINO PAI ETERNO EM TRINDADE – GOIÁS..........26

2.1 Origem da Romaria do Divino Pai Eterno..................................................26

2.2 A Festa do Divino Pai Eterno em Dias Atuais .........................................31

2.3 A Espacilidade da Procissão do Divino Pai Eterno .................................33

2.4 Espaço Sagrado e Espaço Profano na Festa Divino Pai Eterno em

Trindade............................................................................................................36

3. FESTA DO DIVINO PAI ETERNO: SIGNIFICADOS E PERCEPÇÕES.......40

3.1 Os integrantes da Festa do Divino Pai Eterno .........................................41

3.2 Significado da Romaria para a Comunidade Local ..................................43

3.3 Significado da Romaria para os “romeiros” ..............................................45

CONSIDERAÇÔES FINAIS ......................................................................50

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS..........................................................52

APÊNDICES...............................................................................................55

ANEXOS.....................................................................................................61

INTRODUÇÃO

O tema fora escolhido devido à tradição familiar e por freqüentar a Festa

do Divino Pai Eterno, e também ter sido moradora da cidade de Trindade – GO

por muitos anos, e mesmo fora da cidade de trindade continua mantendo as

tradições. A pesquisa se vira diante do tema “um olhar geográfico e cultural

sobre a festa do Divino pai Eterno em Trindade - GO”.

A área escolhida para a pesquisa – a cidade de Trindade, um município

do Estado de Goiás, situado a 18 km da capital Goiânia (ver ilustração 1). A

principal via de acesso é a GO – 060.

A pesquisa vai se desenvolver primeiro, a partir de manifestações

espontâneas dos moradores da cidade e romeiros/fies que por diferentes

razões se encaminha para o município de Trindade para consagrar a sua

divindade.

Nesta perspectiva, é que se propõe em desenvolver um trabalho o

qual traga acréscimo o que até hoje já foi produzido, a respeito da Festa do

Divino1 Pai Eterno, no município de trindade e sua influencia religiosa e cultural.

1 Segundo a autora Mônica Martins, Festa do Divino é nome dado ao Espírito do Santo, empregado principalmente, na Festa de Pentecostes (realizada 50 dias após o Domingo de Páscoa) e em outras celebrações populares do Divino Espírito Santo ou Festa do Divino, Festa do Divino Móvel, que tem a duração de dez dias e termina no Domingo de Pentecostes

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Para o desenvolvimento deste trabalho foi traçados três

questionamentos e suas supostas hipóteses como forma de direcioná-lo o

objetivo proposto, estes são:

• Como é a Festa do Divino Pai Eterno para os Romeiros?

• Como é a Festa do Divino Pai Eterno para a Comunidade Local?

Na expectativa de responder estes questionamentos, bem como verificar

se o esperado também estaria de acordo, o trabalho foi desenvolvida em partes

distintas, porém complementares.

Além do embasamento teórico e coleta de dados, fez se muito

importante a observação continua do fenômeno religioso e cultural, assim como

todo o processo que o envolve.

Dentro desta perspectiva, fez se necessário a coleta de depoimentos e

entrevistas, dos seus envolvidos.

A entrevista nesse momento foi importante para permitir a coleta de

informações que possibilitaram, por sua vez, maior profundidade no tema,

esclarecendo ou confirmando dúvidas e sentimentos.

As entrevistas direcionadas aos romeiros/fieis, moradores locais e

comerciantes foram feitas a partir de um questionário aberto (anexo I),

abrangendo um total de 10 testes. Este trabalho de campo foi realizado entre

os dias 28/06/2009 e 08/07/2009. Os romeiros foram escolhidos

aleatoriamente, responderam os questionários dentro e fora do Santuário.

Após estas fases concluídas o trabalho pôde ser estruturado em três

capítulos que se completam. Estes capítulos são:

Capítulo I - Geografia Cultural e a “Identidade Espacial” de Trindade -

GO – trata-se de uma narrativa sobre os aspectos culturais e rito religioso que

envolve o município Trindade de Goiás Juntamente com os aspectos espaciais

deste. Referente à localização e caráter geográfico.

Capítulo II – Trindade, Uma breve retomada Histórica – Será feita uma

breve descrição da suposta origem do fenômeno Divino Pai Eterno e de como

ele foi se desenvolvendo ao longo de mais de 160 anos, mantendo até hoje

viva, esta tradição, bem como está à mesma nos dias atuais.

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Capítulo III – Visa categoricamente apresentar o resultado da pesquisa e

as características simbólicas representada na Festa do Divino Pai Eterno,

destacando seu caráter religioso, inserido na história da fé e devoção de um

povo, desta forma este capítulo está dividido em tópicos para facilitar a

compreensão do contexto da festa e os personagens e suas as

representações.

E para finalizar estes capítulos, a qual a pesquisadora não pretende

concluir uma vez que, para este trabalho pode ser ainda dispensado muitas

observações, visto que o objeto de estudo escolhido se refere a um campo

bastante complexo e rico em informações e dados que pode ainda continuar

sendo estudados em momentos futuros.

Ilustração 01 Fig.01 - Mapa de localização Trindade - GOCAPÍTULO 1

GEOGRAFIA CULTURAL E A “IDENTIDADE ESPACIAL” DE TRINDADE-GO

1.1. Geografia Cultural, Religião e Festas Religiosas

No contexto da festa do Divino Pai Eterno um dos objetivos deste

trabalho, apresenta-se as possibilidades analíticas para uma geografia cultural

e religiosa que possa contribuir para uma discussão sobre o fenômeno

religioso.

Para tanto a leitura deste capítulo possibilitará uma breve

compreensão da perspectiva cultural e religiosa, no contexto da Geografia,

favorecendo o entendimento de conceitos e categorias.

Segundo Souza (2007, p 17),

A geografia cultural teve suas origens no século XIX e XX seu surgimento ocorreu em diferentes países, não possuindo uma forma homogênia nos países que a abrigou e que a mesma foi alvo de debates entre correntes que adotaram como fundamento de suas abordagens, nos diversos momentos históricos.

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Conforme Correia e Rosendahl (2000) a Geografia Cultural nasceu

na Europa, porém com impulso forte na Alemanha e na França; a nova

geografia cultural teve seu auge no final da década de 1980 e ainda está em

curso. Foi introduzida no Brasil pelos estudos do alemão Ratzel no campo de

investigação da Antropologia.

Para Claval (1999, p.8) a preocupação com a geografia cultural vem

desde que à geografia se tornou presente no Brasil como disciplina, e vem

sendo alvo de debates entre as correntes de pensamentos que a adotaram em

abordagens em diversos momentos históricos.

De acordo com Santos,

Só si pode propriamente respeitar a diversidade cultural se entender a inserção das culturas particulares na historia mundial. se insistirmos em relativizar as culturas e só vê-las de dentro para fora, teremos de nos recusar a admitir os aspectos objetivos que o desenvolvimento histórico e da relação entre povos e nações impõem. Não há superioridade ou inferioridade de culturas ou traços culturais de modo absoluto não há nenhuma lei natural que diga que as características de uma cultura a faça superior a outra. (1983, p. 16)

Assim, a cultura não tem início, meio ou fim e varia de lugar para

lugar, desde que considere que a diversidade cultural não pode ser superior a

outra, cada uma tem sua particularidade que foram organizadas ao longo do

tempo. Portanto, a cultura pode ser explicada como algo distinto.

Segundo Corrêa (1999, p. 34), cultura “é um termo incrivelmente

escorregadio. A idéia de cultura foi desenvolvida, primeiramente, de acordo

com Williams2 (1993, p. 87), com o termo que descreve o crescimento natural”.

Assim a cultura pode ser definida como um conceito decorrente do ser

humano, sem definição fundada cientificamente.

Já os temas geografia e religião são dois temas que estão

interligados através da dimensão espacial, sendo que a primeira estuda o

espaço e, a segunda é um fenômeno espacial que se distribui espacialmente.

Conforme Rozendahl (1996, p. 11) admite que,

22 Williams autor citado por Corrêa

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Geografia e religião são (...) duas práticas sociais. O homem sempre fez geografia, mesmo que não o soubesse ou que não o reconhecesse formalmente uma disciplina denominada da geografia. A religião (...) sempre foi parte integrante da vida do homem, como se fosse uma necessidade sua para entender a vida. Ambas, geografia e religião, se encontra através da dimensão espacial, uma porque analisa o espaço, a outra porque, como fenômeno cultural, ocorre espacialmente.

Neste sentido, pode ser analisado em dimensões espaciais como as

cerimoniais religiosas, que se manifesta através de peregrinações, adoração a

imagens e monumentos que compõem as cidades santuários3 (SOUZA, 2007).

Pela supra reflexão desvenda-se que o Brasil é um pais de religião

diversificada . O Brasil é um país religiosamente diverso, com tendência de

tolerância e mobilidade entre as religiões. A população brasileira é

majoritariamente cristã (89%), sendo sua maior parte católica. Isso devido a

colonização portuguesa, que a religião cristã até os dias atuais é a mais

freqüentada, porém vem perdendo os seus devotos com o passar dos anos

conforme (ver ilustraçao 02), mostra bem esta queda da religião Católica e o

aumento das demais.

Ilustração 02 Tabela 1 – Distribuição das religiões brasileiras

33 Também pode ser chamada de cidades-santuário ou hierópolis: refere se a cidades que possuem uma ordem espiritual predominante e marcada pela pratica religiosa da peregrinação ou romaria do lugar sagrado ou centro de convergências de peregrinos que, com suas praticas e crenças, materializa um peculiar organização funcional e social do espaço.

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Nesta perspectiva refere se à Festa do Divino Pai Eterno que é uma

das várias manifestações da religiosidade católica popularizadas em diversas

regiões do Brasil e bem representada em Goiás na cidade de Trindade onde a

cada ano aumenta o número de fiés.

Silva (2001, p.23), admite que:

As festas e tradições populares, de um modo geral tiveram importante papel na mediação entre as diversas culturas que se confrontaram a partir da colonização do Brasil. Coube a igreja a difusão dessas manifestações, embora muitas delas fizessem parte do gosto da populaçao portuguesa, que, mesmo em terras distantes, procuravam praticá-las.

No Brasil, o estudo da religião ainda é recente, por isso tem muito

que ser estudado, visto que a religião faz parte integrante do espaço geográfico

e social. Apesar da religião incorporar-se na geografia e nos estudos em

peregrinações e santuários, Souza descreve que (2007, p. 21) “é um tema que

até os dias atuais tem sido pouco investigado pelos os geógrafos brasileiros e

que ignoram a religião como sendo um objeto de estudo de grande importância

para a compreensão do espaço vivido e geografico”.

Vemos que a religião afeta diretamente a geografia, devido a

determinadas manifestações, como perigrinações, romarias, e curas espirituais,

tendo ela como um clico de manifestação social, cujo o poder faz as pessoas

se voltarem para um determinada religião procurando proteção espiritual.

Segundo Rozendahl (1999, p. 75) “a partir de 1960 os estudos de

geografia da religião passou a ter crescente importância no âmbito da geografia

cultural que foi influenciada por Carl Sauer”. Sauer era famoso professor de

Berkley, em Wisconsin Estados Unidos, defendendo a versão madura do

pensamento cultural e religioso, perpetrando que a valorização dos aspectos

temporais e intervenientes entre o homem e seus sentimentos.

Neste sentido Souza (2007, p. 20) descreve que “a geografia da

religião investiga as relações e interações espaciais entre uma cultura e seu

ambiente terrestre complexo e a situação espacial entre diferentes culturas”.

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Ou seja, há o estudo da ocupação espacial das manifestações religiosas e os

aspectos geográficos locais

Conforme Kante (1999 apud MAIA, p. 8) a geografia da religião é a

religião cerimonial, devendo lidar com as idéias cerimoniais de mais importante

expressão geográficas. Para ele a ciência da religião deve ser mais bem

definida através de reformulação e conceitos novos.

Conforme Rozendahl (2002) as cidades religiosas são chamadas de

cidades de peregrinação, são geralmente de porte médio ou pequena, que

possuem uma população flutuante de devotos em busca de satisfação

espiritual.

1.2. As Territorialidades Efetivadas no Espaço Sagrado e Profano

Para Rozendahl (1996, p. 58) “os espaços apropriados efetiva ou

afetivamente são denominados territórios... territorialidade, por sua vez significa

o conjunto de práticas desenvolvidas por instituições ou grupos, no sentido de

controlar um dado território”.

Já Raffestin que é um dos autores pioneiros na abordagem de

território foi mais além. Nas palavras do autor:

É essencial conhecer bem o espaço anterior ao território. O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um autor sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível ao se apropriar de um espaço concreto ou abstratamente [...] o ator ‘’territorializa’’ o espaço. (RAFFESTIN, 1993, p. 143).

Assim o espaço pode ser definido através de relações de poder e

pode ter diversas funções ou existências de múltiplos territórios que pode ser

temporários ou permanentes. No caso da Festa do Divino Pai Eterno a prática

religiosa, a territorialidade é temporário devido os acontecimentos do momento

(normalmente 10 a 12 dias), pois os romeiros se fixam no território por pouco

tempo, ou seja, só no período da Festa.

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A exemplo de Raffestin a análise de território feita por Andrade

também é relação de poder como se encontra igualmente em Trindade:

O conceito de território não deve ser confundido com o de espaço ou de lugar, estando muito ligado a idéia de domínio ou de gestão de uma determinada área. Deste modo, o território esta associado à idéia de poder, de controle, quer se faça referência a poder público, estatal, quer ao poder das grandes empresas que estendem os seus tentáculos por grandes áreas territoriais, ignorando as fronteiras políticas. (ANDRADE, 1995, p. 19).

Para o autor território também esta ligada ao domínio, política e

econômica, e incorpora dimensão espacial uma dimensão que pode determinar

domínio e controle do território.

De acordo com D” Abadia (2002, p.30,31),

Essa prática religiosa favorece a construção do território através da territorialização dos romeiros no período da festa. O território é o aporte para as modificações do lugar. Por exemplo, as festas religiosas populares como manifestações da cultura de Goiás movimentam um grande número de pessoas durante o ano. Esses movimentos humanos em função da organização dos espaços sagrados e profanos alteram, por ocasião das festas, os lugares nos quais estão materializados. Em várias cidades e povoados, esses eventos religiosos são o sustentáculo de uma territorialidade temporária que se instala em vários pontos (urbanos e rurais) no Estado, durante o ano, modificando-os em função da chegada dos visitantes, comerciantes e outros freqüentadores.

Esta prática religiosa faz com que se cria e recrie territorialidade com

a chegada dos romeiros no período da Festa do Divino Pai Eterno em Trindade

- Go , que apesar de receber romeiros o ano todo se intensifica no mês de julho

onde a cidade recebe cerca de 2 milhões de pessoas. Neste período se dá a

apropriação do território pelo grande número de pessoas, principalmente nas

ruas centrais e locais próximos as Igrejas.

No caso da Festa do Divino Pai Eterno, a territorialidade espacial

pode ser notada em vários pontos da cidade, desde o percurso da procissão

que configura o espaço sagrado até o carreirodromo, “é uma territorialização

efêmera que não deixa de fazer uso do “controle” sobre o espaço e sobre as

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ações que se dão nele como componente de apropriação e poder territorial do

espaço da festa” (SOUZA, 200, p. 44).

Confirmando esta analise D’ Abadia (2002, p. 38) afirma que:

A territorialidade aqui designa o tipo de apropriação temporária do espaço. No caso estudado trata-se oficialmente do território da religião católica, pelos romeiros; o espaço sagrado e o espaço profano são criados à medida que é estabelecido no lugar o “fixo” de adoração e celebração durante os dias festivos da romaria. O lugar é modificado por ocasião da festa através da carga simbólica que representa.

No caso da Basílica do Divino Pai Eterno a oposição entre o sagrado

e o profano pode ser identificada entre o espaço interno e externo desta. O

espaço interno é utilizado exclusivamente para prática religiosa (novenas,

orações, missas e promessas), nesse sentido Rozendahl (1996, p.26) relata

que “o culto possui função primordial de estreitar os laços que unem o fiel ao

seu Deus. o que se opõem ao lado externo, no qual se encontra (barracas de

imagens, velas, terços e estampas de santos), e nos espaços mais distantes se

encontra (comidas, bebidas, brinquedos vestuários entre outros...) e neste

contexto cada espaço é destinado a cada função e não se misturam.

1.3 O Município de Trindade e seu Contexto Histórico

Segundo relatos, existem algumas versões sobre o início, no

município de Trindade. Uma dessas versões está ligada, de certa forma, à

decadência do ouro em Goiás, o que levaria pessoas de regiões mineiras a

procurar áreas agricultáveis para cultura de subsistência e comercial. É neste

contexto histórico de decadência da mineração e desenvolvimento da

agropecuária que se dará a construção dos municípios goianos, dentre eles o

município de Trindade.

A história de Trindade se confunde com a história da romaria, ambas

iniciaram pelo o mesmo motivo, a vocação religiosa. Em Trindade -

denominada na época de Barro Preto - por volta de 1840 foi encontrada uma

pequena imagem de barro, em formato de medalha (ver figura 4 página 27),

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representando a Virgem Maria sendo coroada pela Santíssima Trindade em

uma propriedade na área rural do senhor Constantino Xavier Maria. Essa

medalha foi considerada sagrada e dessa forma deu início a uma romaria até o

local onde foi construída uma igreja para abrigar tal artefato. Ao longo dos anos

diversas pessoas se juntaram próximo a essa igreja formando um vilarejo, onde

a economia dependia dos fieis.

Em 1907 Campinas foi levada a categoria de Município e teve o

arraial de Barro Preto incorporado a ele. Em 1909 foi criado o Distrito de Barro

Preto alterado do nome para Trindade. .

Dom Eduardo Silva, na época Bispo de Goiás, dirigiu-se ao Distrito

de Barro Preto em 1891 e nomeou como administrador do Santuário o Pe.

Francisco Inácio de Sousa, pois desta forma as novenas seriam conduzidas

por sacerdotes e assim acabaria com a exploração indevida dos fiéis até que

pudesse instalar ali uma Congregação religiosa para conduzir a romaria ao

Divino Pai Eterno. As novenas no vilarejo passaram a ser conduzida por

sacerdotes

No ano de 1897 ocorreu um conflito entre fazendeiros e

redentoristas, tal revolta foi encabeçada pelo fazendeiro Cel. Anacleto

Gonçalves, que seguiram nos anos seguintes, quando Dom Eduardo fez uma

portaria estabelecendo regras para a romaria. Os líderes da subversão da

ordem não se conformaram com essas normas. Mas como os moradores viram

as dificuldades da romaria continuar sem os padres e os revoltosos pediram

perdão ao Bispo e a romaria de 1904 já foi feita novamente com a presença

dos redentoristas em Trindade.

Campinas é levada a categoria de Município em 1907 tendo os

arraiais de Barro Preto e São Sebastião do Ribeirão (atual Guapó)

incorporados a ele. Cinco anos mais tarde é a vez de Ribeirão se tornar distrito.

Em 1911 e 1912 foi construído o atual Santuário “velho” (Igreja Matriz).

Trindade foi levada a categoria de Vila Velha em 16 de julho de

1920, cuja instalação se deu em 31 de agosto de 1920, tendo seu território

desmembrado de Campinas e ficando a ele anexado o distrito de Ribeirão.

Sete anos depois sua sede é elevada à categoria de Cidade.

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1.3.1 O Município de Trindade em seu Contexto Geográfico

Trindade está geograficamente localizada na região centro-oeste

brasileira, estado de Goiás, especificamente na mesorregião do centro-oeste

Goiano ou microrregião – de Goiânia-Go conforme denominação do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Atualmente faz parte da região

metropolitana de Goiânia, capital de Goiás, tendo como principal via de acesso

a GO-060. O município é limitado pelas coordenadas geográficas encontra-se

numa latitude de 16° 58’ 68’’ Sul e uma longitude 49° 29’ 20’’ oeste tem como

Municípios limítrofes: Abadia de Goiás, Campestre, Caturaí, Goiânia, Goianira,

Guapó e Santa Bárbara de Goiás. Possui dois Distritos: o de Santa Maria e

Cedro. Observação não foi encontrado o Distrito do Cedro no mapa conforme

se observa na (ilustração 03).

Ilustração 03 Fig.02 – Mapa de Trindade – GO e seus limites

A área total ocupada pelo município de Trindade é de 719. 75 Km²

e uma população estimada em 102. 870 habitantes com taxa de crescimento

de 4,40% ao ano e faz parte do Arranjo Produtivo Local (APL) da região de

Goiânia (IBGE, 2008).

Trindade possui uma malha de drenagem com escoamento geral do

norte para o sul integrando-se à bacia do Rio Paranaíba sendo o principal

curso d’água dessa bacia. Os principais córregos são: Barro Preto, Barro

Branco, arroizal, Fazendinha, Santa Maria e dos Parreiras. O clima da região é

do tipo tropical, caracterizado por duas estações bem definidas – uma chuvosa,

de outubro a março (primavera / verão), e a outra seca, de abril a setembro

(outono / inverno). A temperatura média anual é de 23,2°C. A região possui

topografia classificada como suave ondulado, tendo uma superfície topográfica

pouco movimentada, com predominância de declives de 3,9 %, no sentido S-N

e uma diferença máxima de cotas de 24 m. As elevações mais destacadas são

as serras da Taboca, de Trindade e da Jibóia. Quanto à vegetação o município

esta inserido no bioma Cerrado, com formações vegetativas que vai desde

campo limpo, até o cerrado, propriamente dito.

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Devido à localização geográfica de Trindade algumas empresas se

instalaram ali, como as grandes empresas de refrigerantes. Trindade vem se

destacando também no ramo de confecção e como pólo turístico através do

turismo religioso, com isto o crescimento no comércio é notório, pois estas

atividades contribuem e muito para o crescimento e desenvolvimento do

município, porém ainda necessita de investimentos públicos mais efetivos.

A década de 70 marca a expansão urbana nos bairros que se

localizam entre Goiânia e Trindade. A partir de 1980 o município tornou-se um

pólo de confecção, sendo hoje o terceiro maior pólo confeccionista do estado,

resultado de surgimento de indústrias locais.

Hoje, o município de Trindade busca produtos que a torne mais

competitiva com outros municípios goianos, diferenciada em condições de

competitividade e de concorrências de mercado, haja vista a mesma estar se

consolidando como pólo textil, como centro de produção de bebidas além de

ser um dos maiores centros religiosos do País. Outro aspecto relevante para a

economia local é a facilidade de transporte entre Trindade a Goiânia, e com os

incentivos fiscais se torna mais vantajosos para as indústrias se fixarem no

município.

Em 2005 foi elaborada pelo o SEPIN (Superintendência de Pesquisa

e Informação), como o 11° município competitivo do Estado isso graça a sua

privilegiada situação geográfico, suas potencialidades, atrativos econômicos e

religiosos. (SEPIN, 2005)

No próximo capítulo apresenta se a origem da Festa do Divino Pai

Eterno em Trindade – GO, como também sua espacialização e sobre a romaria

em si.

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CAPÍTULO 2

A ROMARIA DO DIVINO PAI ETERNO EM TRINDADE – GOIÁS

A Romaria do Divino Pai Eterno teve início em uma pequena capela

organizada por pessoas leigas e passou por um processo de modernização no

século XX com a chegada dos padres redentoristas ao povoado do Barro

Preto, sendo até então o nome da atual Trindade, sendo desenvolvida pela

romaria e por fim se desenvolvendo a cidade. Com o tempo, a quantidade de

pessoas que participava da festa aumentou, originando a Romaria do Divino

Pai Eterno em Trindade no Estado de Goiás.

2.1 Origem da Romaria do Divino Pai Eterno

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O termo romaria pode ser definido como peregrinação de caráter

religioso, feita por um grupo de pessoas a uma igreja ou local considerado

santo com o objetivo de pagar promessas, agradecer alguma benção recebida,

pedir graça ou por devoção. É um percurso que pode ser feita a pé ou em

veículos. Ainda, em muitos lugares, utiliza-se o carro de boi para transportar

romeiros como acontece na romaria do Divino Pai Eterno em Trindade. De

acordo com D´Abadia (2005 ) O ato de peregrinar, deslocar-se por terras

distantes, constitui um ritual carregado de significado para quem o pratica.

A Festa do Divino Pai Eterno na cidade de Trindade é uma das

principais festas religiosas do estado de Goiás. Para melhor compreendê-la

torna se necessário um breve histórico da Romaria do Divino Pai Eterno, festa

religiosa que acontece todos os anos no 1° Domingo do mês de Julho.

Na verdade, é impossível indicar com precisão o início da romaria, já

que o acontecimento não foi registrado em forma de documento. O que se

sabe é que existem várias versões do ano do seu início. Diante, as versões

existentes, a mais conhecida que trata desse assunto é a que relata a data por

volta de 1840 a 1843.

Distante de Campininhas das Flores aproximadamente 22 km, um

setor de Goiânia onde havia um córrego de água salobra4 e de cor muito

escura, sem nenhum atrativo, chamado de Córrego do Barro Preto, foi neste

lugar, sem muitos atrativos, que um mineiro chamado Constantino Xavier Maria

e sua mulher Ana Rosa de Oliveira vieram do arraial do Meia Ponte e

resolveram “tentar a vida” no local desenvolvendo atividades ligadas ao campo.

Trabalho árduo que exigia grande esforço físico em tarefas como abrir matas,

enfrentar as pragas existentes e ameaças constantes de doenças que

espalhavam em pouquíssimo tempo pelo o sertão goiano.

A família do Sr. Constantino era muito religiosa, bastante devota e de

muita fé. A esposa Ana era uma mulher forte, corajosa, e que tinha muita

confiança na Providencia Divina. Logo que ali se estabeleceram trataram de

levantar um cruzeiro em frente a sua humilde casa, como era de costume na

época. Com o tempo muitas outras famílias foram para aquele local formando

4 Água salobra é aquela que tem mais sais dissolvidos que a água doce e menos que a água do mar.

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um povoado que mais tarde foi emancipado com o nome de Trindade,

conforme relatado anteriormente.

Segundo conta a tradição, oriunda da literatura informal produzida

sobre a festa, o casal Constantino e Ana Rosa trabalhavam na lavoura quando

encontrou um medalhão de barro de aproximadamente 8 cm, com estampa da

Santíssima Trindade coroando Nossa Senhora como Rainha do Céu e da Terra

(ilustração 04), medalha original encontrada pela família.

Ao encontrar a imagem da santíssima Trindade, Constantino e sua

esposa Ana Rosa, beijaram a imagem e a levou para casa. A notícia foi se

espalhando rapidamente, assim como, os milagres que foram acontecendo

sucessivamente e se propagando nas demais regiões.

Ilustração 04 Foto 01- Medalhão Sagrado.

Fonte: Wikipédia

Conforme relatado no Manual dos Romeiros do Divino Pai Eterno

(2000, p. 12 e 13) é explicado o significado do Medalhão Sagrado, símbolo

máximo de devoção dos Romeiros de Trindade:

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A Santíssima Trindade. Representação artística de três pessoas divinas, Pai, Filho e Espírito Santo se caracterizam pela imagem do Pai, mais velho, lembrando o Eterno; do filho, mais jovem, insinuando sua presença no tempo e o Espírito Santo em forma de pomba, como narra o evangelho na cena do batismo de Jesus. Sua união lembra sua Unidade; as três figuras, a Trindade. Deus Uno e Tino, como professamos nossa fé. É a Santíssima Trindade, Comunidade fonte, a “Melhor Comunidade”, a beleza da Unidade no plural, a certeza da comunhão em Deus, origem criadora da família e comunidade de cristã.

E assim, movidos pela fé, nos finais de semana os vizinhos se

reuniam na casa da Família do Sr. Constantino para rezar o terço diante da

medalha. Acreditavam que o pai misericordioso ouviria as orações fazendo

com que a fama das graças recebidas se espalhassem por toda a redondeza, o

que fez aumentar cada vez mais o número de devotos e fiéis.

Com o grande número de pessoas que passou a freqüentar o

povoado, Constantino construiu uma capela com folhas de Buriti. Isto

aconteceu por volta de 1843, porém devido às peregrinações cada vez maiores

e com o dinheiro arrecadado nas atividades desenvolvidas pela a comunidade,

foi erguida uma nova capela mais resistente e espaçosa. Foi neste período que

o fazendeiro Constantino Xavier efetuou a “doação ao Divino Pai Eterno” de um

terreno nas imediações do córrego Cruz das Almas, descendo pelo córrego

Barro Preto, com uma légua de comprimento. Local onde até hoje está o

Santuário Velho.

Devido à fé dos visitantes, o devoto resolveu ir até a Cidade de

Pirenópolis - GO para encomendar ao escultor José Joaquim da Veiga Vale

uma imagem com a mesma semelhança da peça de barro já desgastada pela

ação do tempo. O escultor produziu a estátua de madeira com 32 cm de altura.

O Dinheiro que Constantino levou não foi suficiente para pagar a estátua, tendo

assim que deixar o seu cavalo como parte do pagamento, tendo que voltar

mais de 200 km a pé até ao povoado de Barro Preto.

Com mais de um mês de viagem o devoto Constantino chegou a

Cruz das Almas, as margens do povoado e chamou os devotos para escoltar a

imagem até a capela (Manual dos Romeiros). Após, a substituição da imagem,

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do medalhão encontrado pelo casal (Constantino e dona Ana) desapareceu em

circunstâncias misteriosas. Em 1993 o medalhão foi entregue aos padres

redentoristas de Trindade. De acordo com a revista Goiás Agora (2001), quem

o recebeu foi o padre Campos, que não soube explicar como isso se deu,

especula-se que a devolução se efetivou em segredo de confissão. Também

não se pode afirmar se o medalhão era realmente o original.

Apesar da substituição do medalhão pela a imagem esculpida por

Veiga Vale o lugar continuou a atrair muitas pessoas. Com a presença da

imagem a romaria continuou a crescer ano após anos. Famílias inteiras vinham

de vários lugares a pé, a cavalo e de carro de boi. Todos com uma “fé”

inabalável no Divino Espírito Santo.

Como foi se propagando rapidamente os milagres atribuídos à

imagem do Divino Pai Eterno, Dom Eduardo Silva, na época (1891) Bispo de

Goiás foi até o Distrito de Barro Preto, nomeando como administrador do

Santuário o Pe. Francisco Inácio de Sousa. Este deveria fazer as novenas e ao

mesmo tempo acabar com a exploração indevida que havia naquele local, e

assim instalar no povoado uma congregação religiosa para dirigir a romaria do

Divino Pai Eterno. A partir desse momento as novenas passaram a ser

conduzidas por sarcedotes.

De acordo com os Missionários Redentoristas, em 1897 houve um

conflito entre os fazendeiros e os redentoristas onde o Cel. Anacleto Gonçalves

foi o principal mentor, eles não conformavam com as regras impostas pela a

igreja para a Romaria. Entretanto, com o passar do tempo, os moradores

perceberam que era muito difícil continuar com a romaria sem os padres

redentoristas e pediram perdão ao Bispo. Em 1904 a Romaria foi realizada

novamente com a presença e ajuda dos redentoristas na cidade de Trindade.

Em 1912, o atual Santuário velho (ver figura 05 e 06), foi levantado

pelos padres redentoristas que chegaram a Trindade em 1894 para

“cristianizar” a Romaria que atualmente se encontra bem estruturada.

Ilustração 05 – Foto 02 = Igreja Matriz (SantuárioVelho,1920)

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Fonte: Livro - A vida de Padre Pelágio (1999)

Ilustração 06 – Foto 03 Igreja Matriz (Santuário Velho, 2009)

Fonte: TELES, R, B, S, 2009

A Cidade de Trindade hoje é considerada a capital católica do estado

de Goiás. As novenas têm início nove dias antes do primeiro domingo do mês

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de julho. Nesta ocasião, ocorre uma romaria com afluência de centenas de

milhares de turistas e devotos do Divino Pai Eterno para este município goiano.

2.2 A Festa do Divino Pai Eterno em dias Atuais

O Santuário Novo que teve sua construção iniciada em 1943 no alto

da Colina da cidade de Trindade está praticamente concluído depois de muitos

anos parado. Devido à falta de condições financeiras, teve início a reforma e

adaptação do prédio em 1994, para que em suma pudesse ser chamado

“Santuário do Divino Pai Eterno”. Após anos de luta e ajuda dos romeiros, o

Santuário está hoje ornamentado por 59 vitrais coloridos. Existem duas

capelas, 20 confessionários, sala de milagres e 90 sanitários para proporcionar

o bem estar aos romeiros. Também foi construída uma rampa para acesso de

pessoas com necessidades especiais na parte externa da Igreja.

Desde 1999, as missas acontecem diariamente no Santuário, que

acolhe semanalmente cerca de 20 mil pessoas, e mais de um milhão de

romeiros devotos durante a tradicional festa local do Divino Pai Eterno no início

do mês de julho. Recentemente o santuário foi reconhecido por Roma como

“um lugar de excelência para o povo de Deus” recebendo o título de honra de

Basílica Menor5 a primeira instituída no centro oeste Goiano.

Segundo a Igreja Católica local, a partir do ano 2000, a Romaria do

Divino Pai Eterno reúne cerca de mais de 2 milhões de fiéis em visita todos os

anos no município de Trindade (GO) vindos de todo o Brasil e até do exterior

para visitar a Basílica do Divino Pai Eterno.

Nos cinco últimos dias da novena as missas são celebradas do lado

externo do Santuário, porque a Igreja não comporta tantos romeiros. Por este

motivo foi criado um altar para celebrar as missas no período da Festa e em

ocasiões especiais, como quando o Padre Marcelo Rossi veio a Trindade ou

em missas que atrai grandes quantidades de romeiros.

5 O título honorífico de Basílica Menor é concedido a numerosas igrejas em diversos países do mundo, que são importantes pela veneração que lhes devotam os cristãos, pela sua relevância histórica e pela beleza artística de sua arquitetura e decoração.

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Ilustração 07 Foto 04 - Santuário Novo (Basílica Menor)

Fonte: TELES, R. B. S., 2009

Atualmente o Santuário do Divino Pai Eterno recebe romeiros todos

os dias do ano, intensificando o fluxo de pessoas no período da festa no

primeiro domingo de julho, antecedido de uma novena preparatória.

Conforme o Manual dos Romeiros do Divino Pai Eterno (2000, p. 10):

É retratado o perfil dos romeiros, mesmo que de forma empírica, enaltecendo o

aspecto da fé e da devoção.

O povo de Deus é sempre atraído aos Santuários. Alguns por curiosidades turísticas, mas a grande maioria pela busca do mistério, do sobrenatural, do alívio para o seu sofrimento, do milagre, e outras vezes simplesmente movido pelo o desejo misterioso de chegar mais perto de Deus. É a busca. Mas o que as pessoas buscam nesses lugares? Fazem uma experiência mística de encontro com Deus.

E é dessa forma que centenas de milhares de pessoas se reúnem

para colocar aos pés do Pai Eterno seus desejos, angustias e necessidades.

Outras vezes, os peregrinos vão somente para agradecer alguma benção

recebida.

As novenas têm início nove dias antes do primeiro domingo do mês

de julho. Hoje para dar maior comodidade aos romeiros, o Santuário-Basílica

disponibiliza um ônibus todos os domingos que faz o transporte dos fiéis do

ponto de ônibus (segunda parada em Trindade), até o Santuário, num corredor

exclusivo para os devotos e sem custo.

2.3 A Espacialidade da Procissão do Divino Pai Eterno

Normalmente a espacialidade de festas religiosas sugere uma

materialização de espaços urbanos que são adquiridas temporariamente, com

isso criam-se espacialidades diferentes e sazonais conforme a Rodovia dos

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Romeiros: 300 mil fiéis fazem o percurso de 18 km a pé no período da Festa do

Divino Pai Eterno.

Ilustração 08 foto 05 - Rodovia dos Romeiros

Fonte: http://www.guiadecidades.net/trindade-go/

O comércio temporário muda toda a rotina da cidade durante a

romaria, desde a saída de Goiânia pela GO-060 conhecida como Rodovia dos

Romeiros até as escadarias, as ruas principais da cidade e os arredores do

Santuário do Divino Pai Eterno, Santuário Velho entre outros.

Ilustração 09 Foto 06 – Praça Constantino Xavier

Fonte: TELES, R. B. S., 2009

Toda cidade de Trindade se prepara com arrumação de algumas

ruas para as barracas e a passagem da procissão que acontece todos os dias

logo ao amanhecer do primeiro dia da festa e vai até o último dia.

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Inúmeras barracas se juntam ao redor das praças ao longo das ruas

com ambulantes, barracas de alimentos e parques de diversões para atender a

população local como também os romeiros nesta época do ano.

Percebe-se que a realização destas festas que envolvem espaços

religiosos construídos ou adaptados nas imediações das igrejas torna-se uma

apropriação temporária do espaço.

De acordo com D´Abadia ( 2002, p. 120):

Nas festas religiosas, o comércio possui características específicas de negócio temporário. Por isso, para praticá-lo, o comerciante desloca-se várias vezes durante o ano para as inúmeras festas tanto no Estado como fora dele. Também é comum nesse comércio, pessoas que desenvolvem outras atividades profissionais encará-lo como um meio capaz de aumentar a renda em curto prazo. Esse tipo de comércio possui uma clientela certa, principalmente no que tange aos objetos do sagrado, lembranças relacionadas ao padroeiro de devoção e outros objetos simbólicos do universo religioso dos participantes.

Em Trindade não é diferente, a organização espacial da Festa do

Divino pai Eterno necessita de transformar as formas e estruturas urbanas

temporariamente, gerando assim ocupação de espaço por manifestações

religiosas e comércio que atraí grande número de visitantes e pessoas que

utilizam a festa como recurso de trabalho e diversão. São mudanças que

ocorrem em um curto período, porém, modificam toda a rotina e espacialidade

da cidade, principalmente, na região central e nas áreas próximas às igrejas,

onde está concentrada grande parte dos romeiros e comerciantes.

Ainda, conforme a mesma autora (2002, p. 87)

Esses espaços são estratégicos para essa atividade, pois são vias de circulação que dão acesso ao mesmo. Nessas ruas não ocorrem somente deslocamentos de pessoas, mas parte dos ritos locais como as procissões de penitência e encerramento que promovem uma grande circulação provocando aglomerado e tumulto incrementando com isso as vendas. Esse adensamento provocado pelo comércio é tanto que nos dois últimos dias da Festa é impossível trafegar com carros por essas ruas próximas ao templo.

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Também na Festa do Divino Pai Eterno transforma o espaço utilizado

pela festa, isto devido ao movimento de pessoas e barracas na cidade. Com

isso toda a paisagem se modifica.

Ilustração 10 foto 07 Movimento no Centro de Trindade - Go

Fonte: TELES, R. B. S., 2009

Este período é diferente dos demais, pois o grande fluxo de pessoas

faz com que mude a rotina da cidade, principalmente, nas proximidades das

igrejas e nas ruas por onde passa as procissões.

Segundo Santos (1997:71) o espaço pode ser considerado como

Um conjunto de objetos e de relações que se realizam sobre esses objetos; não entre estes especificamente, mas para as quais eles servem de intermediários. Os objetos ajudam a concretizar uma série de relações. O espaço é resultado da ação dos homens sobre o próprio espaço, intermediados pelos objetos, naturais e artificiais.

Conforme descreve o autor o espaço é o resultado da ação do

homem e durante a romaria do Divino Pai Eterno pode ser observado que a

ação do homem transforma todo o espaço, com diferentes espacialidades.

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2.4 Espaço Sagrado e Espaço Profano na Festa do Divino Pai Eterno em

Trindade- GO

Sagrado e o Profano são duas categorias muito utilizadas pelos

antropólogos para analisar símbolos sociais. As maiores festas religiosas

costumam confundir práticas sagradas com práticas profanas.

Neste sentido Silva (2004, p. 19 a 20) afirma que:

Compreender estes dois pólos que gravitam na vida religiosa necessitam dessa efervescência para existiram. Como é o caso do sagrado e do profano que necessitam da oposição devido ao fato de ser através dela a permanência de suas existências. O que adiantaria a existência do sagrado se não existisse profano, sendo assim todo sagrado só pode ser reconhecido a partir da existência do profano. Se não existir algo que possa ser considerado impuro. Afinal se tudo for puro tudo será igual. O puro se mostra melhor quando comparado com o impuro. Portanto o sagrado se mostra melhor quando comparado com o profano. Quando comparado com outro sagrado temos coisas iguais, e que chamam menos a atenção, pois não há nada que o diferencie.

Convém enfatizar que o sagrado e o Profano são marcantes e

evidentes em toda a Romaria, e também pode ser observado em outras festas

religiosas.

A caminhada para o santuário muitas vezes é mais profana o que

sagrada, pois nestas caminhadas há bebidas alcoólicas, e ao parar para

descansar, os jovens em roda de amigos se juntam para contar piada, jogar

baralho e rirem à vontade, estes eventos certamente marca o lado mais

profano da Romaria.

Apenas alguns comportamentos marcam o sagrado, que é logo pela

a manhã ao iniciar a caminhada e durante as alimentações que se reúnem para

rezar e agradecer a Deus.

Neste sentido, Givanildo, morador da cidade de Damolândia-Go que

participa todos os anos da Romaria do Divino Pai Eterno, indo de carro de boi

nos fala um pouco sobre o espaço profano durante a caminhada até Trindade.

Durante a caminhada de Damolandia à Trindade, caminhada esta que demora dois dias, pois vamos de carro-de-boi, a cavalo, carroça

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e a pé. Nos romeiros vai fazendo festa a cada parada tem carne assada, muita cerveja e pinga dificilmente há rezas, a não serem aquelas pessoas mais idosas ou quando esta sendo filmado. Eu acho incrível quando passam na televisão (Frutos da Terra), as pessoas em roda comendo farofa e rezando nada disso acontece é só para filmagem.

Na fala deste romeiro esclarece-se que, durante o percurso da

caminhada, existe mais o lado profano de que o sagrado e que a tradição da

Festa do Divino Pai Eterno mudou muito nas últimas décadas. Conforme Silva

(2001), são exemplos que a festa tem sido recriada em várias direções e que o

fluxo de pessoas que fazem turismo, de fato, contribui para uma nova

configuração do espaço.

O lado profano das festas religiosas também pode ser vistas através

do comércio, de bares, de clubes de danças que se instalam perto ou longe

dos templos religiosos, parque de diversões, entre outros atrativos ”profanos”.

Pois tudo que não é visto pelo os fiéis como sagrado acaba sendo visto como

profano. Desta forma o espaço sagrado esta vinculado ao profano, a seguir foto

do espaço profano durante o período da festa.

Ilustração 11 Foto 08 – Carreiródromo, Carros de Boi Ilustração 12 foto 09 – barraca de bebidas

Fonte: TELES, R. B. S., 2009 Fonte: TELES, R. B. S., 2009

Em Trindade, há dois anos, os organizadores (Prefeitura e

representantes da Igreja) estão recriando o local da festa com o objetivo de

separar o espaço sagrado do lugar profano onde foi criado este ambiente,

Carreiródromo, para realizações de festas, desfile dos carreiros, barracas de

bebidas show entre outros.

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O espaço sagrado pode ser compreendido pelo templo sagrado,

pelas procissões, pelas novenas, e como o próprio nome já diz, pelas missas

realizadas ao longo de dez dias, com função especifica de louvar e agradecer a

Deus.

Ilustração 13 Foto 10 – Catedral

Fonte: TELES, R. B. S., 2009

A foto acima mostra centenas de pessoas que vem de longe e

também os devotos da cidade que participa da missa durante os dez dias de

festa, este representa o lado sagrado, pela fé de cada um e pelo que a basílica

representa ao povo 6.

Como afirma Rosendahl (1996) “o espaço sagrado e o profano estão

sempre vinculados a um espaço social... é o sagrado que delimita a

possibilidade do profano”. Como ocorre em Trindade, o espaço sagrado passa

a conviver lado a lado com o profano, onde o lado do culto extrapola uma

atividade social com comércio de alimentos, imagens, santos, relíquias,

doações de esmolas entre outros, além é claro do aumento do poder da

entidade que é a igreja local.

Para Eliade (2001), o espaço não está isolado do tempo e se

configura de dois modos: espaço sagrado e espaço profano. O sagrado é

65 Segundo o dicionário AURÉLIO (2004): ”sagrado [do latim sacrato] – que se sagrou ou que se recebeu a consagração; concernente as coisas divinas, à religião, dos ritos ou ao culto; sacro, santo.” (p.1790) “profano [do latim profanu] – não pertencente à religião; contrario ao respeito a coisas sagradas; não sagrado; secular, leigo.” (p.1636).

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aquele das festas periódicas, enquanto o tempo profano é onde os homens

inscrevem os atos privados. O sagrado vem da necessidade de acreditar em

algo, ter fé, apego em algo que possa apegar nas horas difíceis e mesmo nas

horas alegres da vida.

Em Trindade na festa do Divino Pai Eterno, como em todos “espaços

sagrados” ligados à festa religiosa católica cria-se um enorme “espaço

profano”, ou seja, uma imensa atividade comercial e serviços que movimentam

grande parte da economia da região. São bares, dormitórios, serviços de taxi,

bancas de bijuterias, lojas, hotéis, serviços especiais de ônibus etc. A área de

abrangência espacial depende do espaço sagrado formado pela festividade.

Quanto ao aspecto religioso, a peregrinação tem contribuído para a

exploração do sagrado. O turismo se sobressai e a cada ano o comércio

apresenta melhorias em infra-estrutura para aqueles freqüentadores da

Romaria. E o próprio romeiro participa não só por devoção, mais também em

função de negócios ex.: existem famílias que trabalham o ano inteiro para ter

dinheiro no período da festa, pois além de rezar podem gastar em barracas de

diversos tipos, e em outras.

A religião, nos seus ritos sagrados, permite ao romeiro, não só a

prática da fé, mas o fortalece para enfrentar condições físicas e psicológicas

em situações de sofrimento e ao mesmo tempo propicia motivação e

esperanças.

Por conseguinte o próximo capítulo aborda a percepção e os

significados dos distintos grupos socioculturais que se configuram como atores

na Festa do Divino Pai Eterno.

CAPÍTULO 3

FESTA DO DIVINO PAI ETERNO: SIGNIFICADOS E PERCEPÇÕES

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Este capítulo tem por finalidade demonstrar os integrantes da Festa

do Divino Pai Eterno, que relatam sua percepção e seus significados a respeito

da procissão no aspecto da Procissão à Santíssima Trindade.

A sucessão de percepções, de muitas formas como as pessoas

percebem e analisam a superfície terrestre, montamos uma posição cultural

perante o mundo, ou seja, uma atitude. Tal comportamento é ligado à

atribuição de princípios e estes possuem ligações aos modelos culturais

vigentes numa dada sociedade. (TUAN, 1980)

O ato de analisar é absorvido pelas considerações de acordo com a

experiência obtida pelos sujeitos de uma cultura, fica claro que a Festa do

Divino Pai Eterno pode ser de caráter misto, uma manifestação como

significado religioso, cultural e turística com diversas percepções e significados

socioculturais.

No caso em pauta, significados e percepções sobre a Festa do

Divino Pai Eterno, escolheu pelo foco centralizado nos atores, os que

participam da festa em suas categorias, pedindo à percepção geográfica. Por

intermédio dos atores sociais tem-se uma leitura que nos remete a ilusão

coletiva dos que participam da procissão, seja de modo direta ou indireta. Vale

dizer que a perspectiva é de acordo a todos os sujeitos, diferentemente, em

maior ou menor grau de detalhe.

Todavia, além desta característica, outra que vem se destacando,

que é a circunstância e lugar assumindo vários modos, construídos

normalmente pelos pontos de vista, ou de diversos significados culturais e

religioso dos indivíduos e/ou grupos sociais integrados com a manifestação.

Este significado e a importância imbutida às coisas percebidas, no

caso a Festa do Divino Pai Eterno, varia conforme pessoa e/ou grupo,

conforme a sua experiência com o lugar e/ou manifestação experienciada, todo

processo é dado pela dimensão da percepção, aquilo que chega aos sentidos

dos homens. (Santos, 1988)

A percepção ao se processar, sem permitir a interação do sujeito

com o lugar, deixa que sejam elaboradas respostas apropriadas às

transformações e as incertezas que o espaço oferece respostas estas que se

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evidenciam pela cognição pela inteligência, a experiência e a visão do mundo

deixa o sujeito desenvolver seu exercício perceptivo em relação ao lugar.

Assim, considera-se que cada pessoa perceba aquilo que tem algum valor para

ela. (XAVIER, 2007, p.34)

Ressalva-se que por mais variadas que sejam as nossas

percepções, como membros da mesma espécie, estamos limitados a ver as

coisas de um mesmo modo, os seres humanos por possuírem órgãos

semelhantes compartilham percepções iguais. A procissão é percebida

conforme com a relação da pessoa com espaço pelo repertorio cultural ou

religioso que abrange varias maneiras de sentimentos, de religiosidade, de

devoção, de costumes, de curiosidade, de participação no tempo do momento

cultural que leva as pessoas da cidade e igualmente de fora a participar da

Festa. (TUAN, 1980)

Estes sentimentos são montadas pela construção de uma ligação

afetiva do sujeito com certo espaço, fornecendo cor e sentido pelas emoções.

O estudo desta procura o entendimento da percepção e dos significados

vividos pelos moradores antes e após a festa e os romeiros que igualmente

experiência a procissão de diversas maneiras com diferentes significados.

Assim os moradores e os romeiros, serão as analisados.

3.1 Os integrantes da Festa do Divino Pai Eterno

O universo da pesquisa constitui-se em dois grupos, dos quais

demonstram características diferentes: turistas, romeiros, curiosos, religiosos

da Festa do Divino Pai Eterno que não são da cidade, e os moradores de

Trindade, que se dividem em comerciantes, moradores e comunidade local.

Aqueles que moram na cidade e que estão ligados com a procissão.

Os instrumentos de pesquisas utilizados para a coleta de dados

foram: observação direta e indireta, entrevistas e questionários. Estes foram

aplicados no decorrer da Festa do Divino Pai Eterno, do dia 28 de junho a 08

de julho de 2009. Foram aplicados 80 questionários e 09 entrevistas num total

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89 instrumentos aplicados e catalogados. Nos dias da festa não foi possível

entrevistar os organizadores devido o acúmulo de serviço por eles neste

período.

A aplicação dos questionários foi realizada nos dias 01 a 06 de julho

de 2009 – período de maior fluxo de romeiro na Festa do Divino Pai Eterno.

Este instrumento foi feito tanto para os romeiros quanto para a comunidade

local. Os entrevistados foram selecionados durante todo período que estive em

Trindade e foram realizadas em estacionamento, nas ruas onde se encontra o

maior número de barracas e no pátio da igreja em função do grande fluxo de

pessoas e da disponibilidade de participar da pesquisa. O roteiro da pesquisa

foi elaborado para os romeiros e comunidade local e os mesmos se

diferenciam de acordo com cada grupo da categoria (Entrevista e questionário

na íntegra consultar apêndice).

Tal instrumento foi analisado pelos moradores e romeiros em

decorrência da dificuldade de estabelecer demais variáveis para os grupos,

pois vários vão à cidade para acompanhar a festa. Tais grupos foram

selecionados todo o dia. O roteiro foi preparado para todas as classes, e as

questões conforme cada grupo.

Durante o período da festa e através dos instrumentos de pesquisa

entrevista, questionário e observação permitiram a avaliação da percepção,

significados e os principais motivos que o leva a cada grupo a participar da

Festa do Divino Pai Eterno. Informação apresentada na (ilustração 13):

Ilustração 14 Tabela 02. Principais motivos para moradores e romeiros

participam da Festa do Divino Pai Eterno

Discriminação Quantidade %Rito Religioso 62 77,5%Manifestação Cultural 10 12%Outros Motivos 08 10%Total 80 100%

Fonte: Dados de Trabalho de Campo – TELES, R. B. S. 01 a 08 de julho de 2009

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Pelas entrevistas feitas no decorrer da festa foi possível notar que a

grande parte das pessoas que participam da festa, tantos romeiros como

moradores locais, freqüentam a festa pela religiosidade, ou seja, pela Fé que

tem no Divino Pai Eterno. E todos que foram entrevistados relataram que já

receberam graças do Divino Pai Eterno, e por isso se dirigem a cidade devido a

sua fidelidade, devoção e fé.

3.2 Significado da Romaria para a Comunidade Local

Conforme as entrevistas inseridas nesta categoria de comunidade

local foram possíveis observar que a percepção deles e os significados estão

ligados a religiosidade e a tradição daqueles que vivem na cidade e participa

todos os anos da festa do Divino Pai Eterno.

Na enquête ao perguntar: se o senhor (a) acha que existe algum tipo

de sentimento que leva tantas pessoas da cidade de fora a participarem da

festa, dos 33 entrevistados que responderam o questionário 26 disseram que é

pelo o rito religioso.

Neste caso foi possível perceber que a maioria dos moradores da

cidade participa da Festa do Divino Pai Eterno como rito religioso, pela

devoção que possuem no Divino Pai Eterno, pelos milagres que foram ou

podem ser realizados e pela sua crença, e uma pequena parte por

manifestação cultural, ou seja, o ato psíquico/emocional que leva as pessoas a

agirem de modo especifico com cada ambiente em que se encontram, como

neste caso a fé que os move. (ilustração 15 gráfico 01).

Ilustração 15 Gráfico 01

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Religiosidade

Manifestação Cultural

Outros Motivos

Gráficos 1 - Principais Motivos para os moradores participarem da Festa do Divino Pai Eternos

85%

15%

Fonte: Dados de Trabalho de Campo – TELES, R. B. S. 01 a 08 de julho/2009

Em entrevista feita com a comunidade local foi perguntado: o senhor

(a) participa da Festa de Trindade como? As respostas foram variadas, no

entanto quase todos os moradores são categóricos em responder que é pela a

religiosidade e tradição conforme a resposta abaixo:

“Eu participo da festa de Trindade mais envolvida pela a tradição e religiosidade que existe nas pessoas, é uma fé que aumenta todos os anos.”

Foi possível perceber que a entrevistada ficou emocionada, por que

mora na cidade há 23 anos e sempre participa da festa de Trindade, mesmo

tendo vindo de uma cidade com forte tradição das festas religiosas, Serro-MG,

a festa ocorre no mesmo dia da Festa em Trindade, porém deixa claro que

gosta mesmo é desta cidade. Verifica-se que a comunidade local, sabe a

importância do evento, porém, desconhece por vezes o verdadeiro significado.

Outros entrevistados também mostraram o mesmo sentimento quanto ao

motivo que participa da festa. É o caso do morador Walteir que afirmou:

“Bom! Eu participo da Festa do Divino Pai Eterno pela a religiosidade e ao mesmo tempo pela a fé que tenho nele, pois ao longo dos anos já recebi muitas graças.”

Foi possível perceber que o entrevistado ficou emocionado, então

perguntei se seria possível ele me relatar um milagre ou graça recebida por

interseção do Divino Pai Eterno:

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Tenho vários mais para mim a mais importante e que eu não esqueço mesmo ocorreu a mais ou menos 3 anos, sou caminhoneiro e sai para fazer entrega com o meu sobrinho de treze anos, quando chegamos ao local da entrega o meu sobrinho desceu do caminhão e atravessou a rua sem olhar para os lados, quando eu percebi não dava para fazer mais nada, só gritei, o carro que era um uno jogou ele cerca de quinze metros, no momento fiquei paralisado e pedi ao Divino Pai Eterno que nada de ruim acontecesse a ele, mais quando cheguei perto dele percebi que ele estava praticamente morto, então não tive outra alternativa a não ser rezar e pedir com muita fé foi neste momento que chegou o corpo de bombeiros e fizeram massagem e ele voltou, pois eles disseram que ele teve uma parada respiratória. Bom resumindo ele ficou alguns dias na UTI, passou por uma série de tratamento, mais hoje está bom sem nenhuma seqüela, devo a isso ao Divino Pai Eterno, que ao ver o meu desespero atendeu o meu pedido a quem eu sou eternamente grato por ter me atendido este pedido, que para mim foi um milagre.

São depoimentos que mostram o quanto a fé no Divino Pai Eterno é

grande e nos esclarece os motivos de religiosidade e ao mesmo tempo de

tantas pessoas na cidade para homenagear, agradecer e pedir graças as

Divino Pai Eterno.

No decorrer da entrevista o Sr. Walteir por vários momentos se

mostrou emocionado com a graça recebida.

Já para comerciantes locais, fica explícito que a maioria deles

demonstra saber o que a procissão simboliza e reconhecem que o evento é

uma integração entra caráter religioso e cultural. Caráter religioso porque

suscita a fé de algumas pessoas e o cultural e/ou turístico porque atrai várias

pessoas. Ocorre que a festa do Divino Pai Eterno gera lucro para os

comerciantes, e esta festa é uma fonte de renda, em relação aos comerciantes

permanentes e aos temporários. Os que tendem a privilegiar a instalação de

infra-estrutura para atender, fundamentalmente os turistas com barraquinhas

de bebidas e comidas, lojas e serviços de guia turístico, ambulantes com

coisas que lembram a Festa. Podendo ser explicado pelo fato de que,

praticamente, todos esses comerciantes, fundamentalmente na cidade, como

as pousadas, artesanatos, hotéis, entre outros, estão vinculados

economicamente com a atividade turística da cidade e a festa é um dos

sustentáculos dessa atividade que esta se desenvolvendo cada vez mais com

o passar dos anos.

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3.3 Significado da Romaria para os “romeiros”

A romaria do Divino Pai Eterno atrai pessoas de muitas regiões para

a cidade de Trindade. Conforme a pesquisa, essas pessoas são religiosas

(romeiros), de outras cidades, estados e até de outros países e comerciantes

de fora da cidade, ambulantes e informais.

De acordo com as respostas dos questionários com romeiros,

nenhum deles descreveu ser turistas e sim romeiros, e muitos são os motivos

que os levam a participar da romaria. O principal é o rito religioso,

principalmente a possibilidade de participar de uma festa religiosa que é

conhecida tradicionalmente como a maior manifestação cultural e religiosa do

Estado de Goiás.

Dentre as respostas 92% das responderam que o motivo que os leva

a participar do evento é o rito religioso e 5% outros motivos e apenas 1%

disseram ser por manifestações culturais. Isso demonstra que a romaria

convida principalmente aqueles que vêm atraídos pela religiosidade, ou seja, a

fé e que uma pequena minoria é atraída pela manifestação cultural, beleza da

festa entre outros. Porém o que diferencia mesmo os participantes são os

sentimentos a percepções e os significados que os leva a participar. (Ilustração

15 Gráfico 02)

Ilustração 16 Gráfico 02

Rito Religioso

Outros

Manifestação Cultural

Gráfico 2 - Motivos que levam os romeiros a participar da Festa do Divino Pai Eterno

92%

5% 3%

Fonte: Dados de Trabalho de Campo – TELES, R. B. S. 01 a 08 de julho/2009

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Questionados os entrevistados quais os sentimentos que poderiam

apontar nas pessoas que participam da festa, teve respostas variadas, porém

todos foram unânimes em responder sentimentos de fé. Esse fato pode ser

conferido pelo o seguinte depoimento de romeiros oriundo de Vianopolis.

É um sentimento de fé né, e que temos de tirar mais tempo pra Deus né porque neste tempo a gente tira mais tempo para Deus, porque aqui gente só ta pra dedicar pra igreja né, igual à gente mora assim na roça e não tem tempo às vezes têm uma missa é meio de semana não tem com ir e agora aqui a gente só vem para dedicar a Deus e a fé que temos nele.

A partir desse depoimento e de outros semelhantes, percebe-se que

a fé é elemento primordial que os leva a romaria. Conforme a entrevistada é

este sentimento de fé que leva as pessoas a ficarem mais perto de Deus,

principalmente nesta época, pois a pessoas se dedicam em tempo integral as

orações e romarias o que em muitas das vezes em casa isto não acontece.

Sobre esta questão, Souza (2005, p.57) afirma que:

Assim é constituída, sob diferentes olhares, a procissão passa a integrar dois aspectos opostos, porém necessários, para a sua realização: o aspecto religioso – por que suscita a religiosidade de algumas pessoas e o cultural – porque a procissão é um importante atrativo turístico que atrai muitos visitantes para a festa gerando lucros e divulgando a cidade.

É este aspecto religioso que atrai muitas outras pessoas para a

cidade de Trindade como curiosos, comerciantes etc. Vêm gerar lucros tantos

para os moradores locais que alugam suas casas, quintais, calçadas banheiros

quanto para comerciantes que vem de fora montarem suas barracas e

perambularem nas principais ruas da cidade e próximo as igrejas, pois hoje a

festa deixou de ser centralizada e está tendo uma nova reorganização do

espaço. A Foto a seguir demonstra alguns dos objetos que são

comercializados durante a Festa do Divino Pai Eterno nas proximidades da

Basílica.

Ilustração 17: Foto 11 – Miniaturas de santos feitos em barro vendidos durante toda a festa.

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Fonte: TELES, R. B. S., 2009

Como se pode ver ao redor da basílica é comercializado

principalmente objetos religiosos de todos os tipos e algumas barracas de

alimentação, fazendo com que haja circulação econômica, não só na

comunidade local como nas pessoas vindas de demais lugares. Os turistas, e

pessoas vindas de fora como até mesmo e principalmente os Romeiros ficam

fascinados com a beleza local e da religiosidade da festa, assim com as

diferentes percepções, a festa do Divino Pai Eterno passa a integrar dois

caráter, o primeiro é o aspecto religioso, que é atrativo da religiosidade de

algumas pessoas, e o segundo é o cultural, pois atrai turistas e visitantes para

a festa proporcionando lucros e divulgando a cidade. Para os visitantes e

romeiros os sentimentos identificados nas pessoas da cidade e nos demais são

percebidos de acordo com o significado, o uso, e a vivência que os grupos

mantêm como procissão; seja pela beleza, pela cultura, pela religião, sendo

fonte de renda ou turismo.

A Festa do Divino Pai Eterno todos os anos é divulgada pela

imprensa, mídia escrita e falada. Aludindo a importância que a festa que vem,

alcançando as fronteiras regionais e chegando a divulgação e ao público

nacional e internacional, até sendo implementado uma romaria online, para os

que não podem por alguma circunstância participarem da Festa e do rito

religioso. A respeito de sujeitos a participarem de um ritual religioso ou evento

cultural, Maia (1999, p.210) diz que:

A mídia na qualidade de agente voltado para a divulgação, interfere na produção do espaço das festas à medida que leva ao conhecimento do publico a ocorrência do evento. A divulgação realizada pela mídia pode fazer aparecer o “individuo interessado”, e quiçá, participantes – algumas vezes associados a outros em grandes grupos.

A Festa do Divino Pai Eterno, como demais festas desse caráter

religioso e mesmo alcance, por ter uma boa divulgação na impressa e atrair

muitas pessoas, acaba por ter um aspecto diferenciado, não é uma festa

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simplesmente religiosa e sim umas mistura entre cultura e religião que tem

atrativos turísticos: o religioso e a beleza do local.

O imaginário popular sobre a festa está representado pela

religiosidade, pelo ato festivo e a contemplação artística que leva os

participantes do Divino Pai Eterno há uma contemplação de fé e de

encantamento. A Festa possui elementos culturais e religiosos ligados que

deixam o evento não unicamente num ato de fé, dentro do contexto de uma

festa religiosa, mas sim a dimensão cultural e artística.

Assim, é pela diferenças de olhares, afetivos e emoções que os

indivíduos ou os grupos interagem com a Festa do Divino Pai Eterno, dá a ela

significados e percepções diferentes.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Festa do Divino Pai Eterno é constituída pelo caráter cultural e

religioso, que reflete sentimentos, significados e percepções diferenciadas para

os seus participantes. Dentre a multiplicidade de significados que a festa

oferece ressalta-se: os seus valores culturais, religiosos, artísticos, turísticos,

entre outros atributos que variam de acordo com a percepção que cada

indivíduo, ou grupo tem da manifestação religiosa e cultural.

Todavia, os motivos pelos quais as pessoas participam da Festa do

Divino Pai Eterno em especial a Romaria são diversificadas, assim como são

os sentimentos, os significados e a percepção a ela atribuídos.

A participação na romaria não ocorre somente em função cultural,

mas, fundamentalmente em função da fé, de acordo com os dados

demonstrados. A fusão entre esses dois aspectos – religioso e cultural – no

mesmo espaço, trás dimensões do sagrado e do profano através das formas

de apropriação e vivência nesse espaço, as territorialidades do espaço da

festa.

O evento muda e transforma o espaço social da festa. O grande

número de pessoas que participa da festa acaba por deflagrar uma

territorialização espacial intensa e efêmera carregada de significados. A carga

simbólica representa para os participantes da festa um imaginário com forte

apelo religioso, cultural e artístico.

A territorialização que se demonstra na ocupação do espaço pela

romaria é organizada pelos diferentes grupos de atores sociais que imprimem

no espaço territorialidades não consistentes, mas passageiras, onde ocorrem

as relações religiosas, socioculturais e simbólicas de fé e tradição de um povo.

Ressalta-se que tal estudo não teve como finalidade caracterizar o

significado da festa do Divino Pai Eterno. Mas, sim contribuir, para futuros

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estudos na área da percepção e dos significados religiosos ou culturais, entre

outros. Daí a importância em se estudar a perspectiva cultural no âmbito da

geografia para que se compreendam melhor os arranjos espaciais por ela

organizados.

Assim, este trabalho não é uma proposta pronta e acabada sobre o

tema e sim um ponto de partida para descortinar o universo sociocultural no

tempo e no espaço da Festa do Divino Pai Eterno.

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APÊNDICES

APÊNDICE – A

UEG - Unidade Universitária de Ciências Sócio – Econômicas e Humanas

Curso de Geografia – Pesquisa Acadêmica / TCC – 2009

Acadêmica: Rilda Bispo Santana Teles

Orientadora: Prof. Ms. Arlete Mendes Silva

Data de aplicação: 28 de junho a 08 de julho de 2009

Número de entrevistas aplicadas: Total: 03

Tipo de instrumento: Entrevista

Tema: Um Olhar Geográfico e Cultural na Festa do Divino Pai Eterno

Categoria: Organizadores da Festa do Divino Pai Eterno

Registro de Informações:

Atividade profissional

Sexo: Feminino ( ) Masculino ( )

Faixa Etária: até 25 anos ( ) de 26 a 45 anos ( ) acima de 45 anos ( )

Entrevista A: com organizadora da Festa do Divino

Nome:

1 - Como é organizada a Festa do Divino Pai Eterno aqui em Trindade? E

Como a comunidade da cidade participa da organização da Festa?

2 - Quando e como acontece os primeiros preparativos para a organização da

festa? Como isso é feito?

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3 - Quais os motivos que levam a comunidade a participar da organização da

festa (obrigação, devoção, costume)?

4 - Qual o significado da Festa do Divino Pai Eterno para o senhor (a)?

5 - Qual a função do senhor (a) na organização da Festa?

6 - Quais as instituições que financiam e trabalham na organização da Festa?

7 - É possível identificar um valor ($) aproximado do custo da Festa?

APÊNDICE - B

UEG - Unidade Universitária de Ciências Sócio – Econômicas e Humanas

Curso de Geografia – Pesquisa Acadêmica / TCC – 2009

Acadêmica: Rilda Bispo Santana Teles

Orientadora: Prof. Ms. Arlete Mendes Silva

Data de aplicação: 28 de junho a 08 de julho de 2009

Número de entrevistas aplicadas: Total: 05

Tipo de instrumento: Entrevista

Tema: Um Olhar Geográfico e Cultural na Festa do Divino Pai Eterno

Categoria: Romeiros

Registro de Informações:

Atividade profissional

Sexo: Feminino ( ) Masculino ( )

Faixa Etária: até 25 anos ( ) de 26 a 45 anos ( ) acima de 45 anos ( )

Entrevista B - Romeiros

1 - Cidade ou local onde reside?

2 - Há quanto tempo participa da Festa do Divino Pai Eterno?

3 - O que o (a) levou a participar da Festa do Divino Pai Eterno?

4 – O Senhor (a) participa de outras romarias no Estado de Goiás ou fora

dele?

Se sim, quais e onde?

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5 - Qual o significado da Festa do Divino Pai Eterno para o senhor (a)?

6 – O Senhor (a) já recebeu alguma graça na Festa do Divino?

7 – Sua família o (a) acompanha na Romaria?

APÊNDICE - C

UEG - Unidade Universitária de Ciências Sócio – Econômicas e Humanas

Curso de Geografia – Pesquisa Acadêmica / TCC – 2009

Acadêmica: Rilda Bispo Santana Teles

Orientadora: Prof. Ms. Arlete Mendes Silva

Data de aplicação: 28 de junho a 08 de julho de 2009

Número de entrevistas aplicadas: Total: 05

Tipo de instrumento: Entrevista

Tema: Um Olhar Geográfico e Cultural na Festa do Divino Pai Eterno

Categoria: Comunidade Local

Registro de Informações:

Atividade profissional

Sexo: Feminino ( ) Masculino ( X )

Faixa Etária: até 25 anos ( ) de 26 a 45 anos ( X) acima de 45 anos ( )

Entrevista C – Comunidade Local

1 - Há quantos anos você mora na cidade de Trindade?

2 – O Senhor (a) participa da Festa do Divino na cidade? Como?

3 - Qual a sua opinião sobre a Festa? É uma Festa boa para a Cidade e para

os moradores dela? Por quê?

4 - Para o Senhor (a) a festa traz benefícios para os moradores e para a

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Cidade de Trindade? Quais?

5 - Em sua opinião o que leva as pessoas de outras cidades a participarem da

festa?

6 - Para o Senhor (a), qual o significado da Festa do Divino Pai Eterno?

7 – A Festa do Divino Pai Eterno aqui em Trindade já fez o Senhor (a) pensar

m mudar de cidade?

8 – O Senhor (a) vê algum aspecto negativo na Festa aqui em Trindade?

APÊNDICE - D

UEG - Unidade Universitária de Ciências Sócio – Econômicas e Humanas

Curso de Geografia – Pesquisa Acadêmica / TCC – 2009

Acadêmica: Rilda Bispo Santana Teles

Orientadora: Prof. Ms. Arlete Mendes Silva

Data de aplicação: 28 de junho a 08 de julho de 2009

Número de entrevistas aplicadas: Total: 05

Tipo de instrumento: Entrevista

Tema: Um Olhar Geográfico e Cultural na Festa do Divino Pai Eterno

Categoria: Comerciantes

Registro de Informações:

Atividade profissional

Sexo: Feminino ( ) Masculino ( )

Faixa Etária: até 25 anos ( ) de 26 a 45 anos ( ) acima de 45 anos ( )

Entrevista D - Comerciantes

1 - Há quanto tempo o /senhor (a) participa de festa? E sempre estabelece o

mesmo tipo de comércio?

2 - Na festa do Divino Pai Eterno os lucros de sua atividade comercial são

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satisfatórios?

3 - O senhor (a) acha que existe diferença de comportamento entre os

participantes da Romaria daqueles que só participam da festa?

4 - Qual o significado que a romaria tem para o senhor (a)?

5 – Na sua opinião, quais os motivos que trazem tanta gente à Festa do Divino

Pai Eterno?

6 – Qual tipo de comércio ou serviço que os Romeiros e os visitantes da Festa

mais procuram?

7 – O comércio que é desenvolvido na Festa é feito pelos moradores da cidade

ou por pessoas vindas de fora?

APÊNDICE - E

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Curso de Geografia – Pesquisa Acadêmica / TCC – 2009

Acadêmica: Rilda Bispo Santana Teles

Orientadora: Prof. Ms. Arlete Mendes Silva

Data de aplicação: 28 de junho a 08 de julho de 2009

Número de entrevistas aplicadas: Total: 05

Tipo de instrumento: Observação Direta e Indireta

Tema: Um Olhar Geográfico e Cultural na Festa do Divino Pai Eterno

Categoria: Componentes da Festa do Divino Pai eterno

Público Alvo: Espaço da Festa

Tipo de Instrumento: Observação Direta e Indireta – contato direto com o

objeto de estudo Roteiro elaborado para responder os seguintes objetivos.

• Averiguar como se dá a apropriação do espaço pela territorialidade da

festa durante a procissão;

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Observar o espaço da cidade utilizado, re-organizado em função

da festa no contexto da Festa do Divino Pai Eterno; analisar se o

espaço usado traz problemas no contexto social para comunidade

local ou o sentimento é de “abertura” para a realização da

procissão?

Como é organizada a infra-estrutura do local para receber os

participantes da festa?

Destacar que tipo de territorialidade é construída no local

por ocasião da festa;

Analisar as possibilidades de analise em relação à

territorialidade da Festa

Possíveis territorialidades que poderão ser identificadas

no espaço da festa: a territorialidade percebida pela procissão

dissipa-se com maior rapidez, pois o evento religioso é efêmero e

transitório, perdura-se somente por algumas horas ou, a

territorialidade, permanece sob formas de sensações,

sentimentos, percepções e imagens?

• Caracterizar o espaço sagrado e profano durante a festa e as

modificações que são impressas no lugar.

O espaço sagrado (destinado para manifestação religiosa)

e o espaço profano (espaço da moradia, do comercio e do lazer),

integram o mesmo lugar?

No espaço da festa é possível identificar atividades não

religiosas articuladas com o sagrado como comerciantes e

barraqueiros?

Como o espaço destinado para o percurso a Romaria é

utilizado ou organizado antes e logo após o encerramento da

procissão? É possível identificar no espaço durante a festa e logo

após o seu encerramento um rito de passagem do profano ao

sagrado e vice-versa?

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ANEXOS

CRONOGRAMA DIÁRIO DA FESTA DO DIVINO PAI ETERNO EM 2009

PROGRAMAÇÃO DIÁRIA

5h – Alvorada festiva na Matriz e no Santuário Basílica

5h30 – Procissão da Penitência da Matriz ao Santuário Basílica

MATRIZ

Missas: 7h30 – 11h – 16h – 18h30

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Novenas: 9h – 14h

SANTUÁRIO BASÍLICA

Missas: 6h – 12h – 18h

Novenas: 8h30 – 15h

MISSA E NOVENA SOLENE: 20h

CONFISSÕES

Todos os dias no Santuário Basílica das 6h às 21h

BATIZADOS

Todos os dias na Matriz às 10h

PROGRAMAÇÃO ESPECIAL

DIA 26 DE JUNHO – SEXTA – FEIRA

6h – Saída da Romaria dos Militares – trevo de Goiânia

10h – Missa dos Militares no Santuário Basílica

DIA 27 DE JUNHO – SÁBADO

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15h – Saída da 6ª Romaria Arquidiocesana a Trindade

(Participação dos Vicariatos na Novena Solene) – trevo de Goiânia

DIA 28 DE JUNHO – DOMINGO

7h - Saída da Romaria da Família Franciscana – trevo de Goiânia

12h – Missa da Família Franciscana no Santuário Basílica

DIA 02 DE JULHO – QUINTA-FEIRA

9h – Romaria dos Carros de Boi com bênção às 15h00

17h – Encontro de jovens – Cine Teatro Mara (ao lado da Matriz)

DIA 03 DE JULHO – SEXTA-FEIRA

17h – Encontro dos Carreiros – Cine Teatro Mara (ao lado da Matriz)

Ao todo, serão realizadas 11 procissões, mais

de 100 missas e 46 novenas, além de inúmeras confissões e batizados. No

Tríduo (três dias que antecedem o domingo da Festa do Divino Pai Eterno)

haverá missas na madrugada. Quem estiver em casa, também poderá

acompanhar as celebrações pela televisão.

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