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UM MODELO PARA A ANÁLISE DA VIABILIDADE DE PROJETOS DE TERCEIRIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO NO SETOR PÚBLICO Rodrigo Roratto (UFSM) [email protected] Evandro Dotto Dias (UFSM) [email protected] Denis Rasquin Rabenschlag (UFSM) [email protected] Atualmente, a gestão patrimonial tem sido uma grande preocupação das ciências empresariais. Contudo, são poucos os estudos voltados à avaliação de ativos do ramo de tecnologia da informação (TI) em órgãos públicos, principalmente em relaçãoo ao seu processo de substituição por terceirização. Assim, este trabalho tem como objetivo geral desenvolver um modelo para a análise da viabilidade econômico- financeira de projetos de terceirização de TI em uma organização pública específica, com foco no serviço de impressão. Através de um estudo de caso e com o emprego do método do Custo Anual Uniforme Equivalente (CAUE) foi possível aplicar o modelo, constituído por três etapas seqüenciais, junto a um equipamento de impressão pertencente à instituição, escolhido por ser de alto desempenho e produtividade, com média de impressão acima de 15.000 páginas/mês, o qual apresentou após os cálculos realizados durante a primeira etapa uma vida econômica de 3 anos, a qual já se encontra esgotada, sendo que a partir disso foi proposta a sua substituição através de duas possibilidades: terceirização ou compra de um novo equipamento. Na segunda etapa, foi realizado um estudo de mercado junto a empresas de TI, que permitiu o cálculo do CAUE das opções pesquisadas durante a terceira etapa - opções A (compra de novo equipamento), B, C e D (alternativas de terceirização). Como resultado obteve-se a escolha da terceirização através da opção B como a mais viável economicamente para substituição do atual equipamento, de modo a possibilitar, assim, a validação do modelo proposto. Palavras-chaves: Viabilidade econômica, Projetos de terceirização, Setor público XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

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UM MODELO PARA A ANÁLISE DA

VIABILIDADE DE PROJETOS DE

TERCEIRIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS

DA INFORMAÇÃO NO SETOR PÚBLICO

Rodrigo Roratto (UFSM)

[email protected]

Evandro Dotto Dias (UFSM)

[email protected]

Denis Rasquin Rabenschlag (UFSM)

[email protected]

Atualmente, a gestão patrimonial tem sido uma grande preocupação

das ciências empresariais. Contudo, são poucos os estudos voltados à

avaliação de ativos do ramo de tecnologia da informação (TI) em

órgãos públicos, principalmente em relaçãoo ao seu processo de

substituição por terceirização. Assim, este trabalho tem como objetivo

geral desenvolver um modelo para a análise da viabilidade econômico-

financeira de projetos de terceirização de TI em uma organização

pública específica, com foco no serviço de impressão. Através de um

estudo de caso e com o emprego do método do Custo Anual Uniforme

Equivalente (CAUE) foi possível aplicar o modelo, constituído por três

etapas seqüenciais, junto a um equipamento de impressão pertencente

à instituição, escolhido por ser de alto desempenho e produtividade,

com média de impressão acima de 15.000 páginas/mês, o qual

apresentou após os cálculos realizados durante a primeira etapa uma

vida econômica de 3 anos, a qual já se encontra esgotada, sendo que a

partir disso foi proposta a sua substituição através de duas

possibilidades: terceirização ou compra de um novo equipamento. Na

segunda etapa, foi realizado um estudo de mercado junto a empresas

de TI, que permitiu o cálculo do CAUE das opções pesquisadas

durante a terceira etapa - opções A (compra de novo equipamento), B,

C e D (alternativas de terceirização). Como resultado obteve-se a

escolha da terceirização através da opção B como a mais viável

economicamente para substituição do atual equipamento, de modo a

possibilitar, assim, a validação do modelo proposto.

Palavras-chaves: Viabilidade econômica, Projetos de terceirização,

Setor público

XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção

Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

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1. Introdução

Atualmente, a terceirização de serviços de tecnologia da informação, também

denominada de outsourcing de TI, vem se fazendo cada vez mais presente nas organizações

que desejam aprimorar o seu negócio e reduzir despesas sem abrir mão da segurança e da

qualidade, tanto no setor privado quanto estatal.

Cabe ressaltar que a tercerização pode proporcionar à esfera estatal avanços

significativos em qualidade e eficiência de serviços. Para isso, é fundamental que os gestores

públicos analisem com imparcialidade os prós e contras de cada proposta de terceirização, de

modo a seguir com êxito a legislação e priorizar a busca de valor para o cidadão, com a

utilização de ferramentas de gestão que permitam uma escolha embasada e mais coerente com

a realidade da organização que pretende tercerizar seu(s) serviço(s). No setor público, porém,

existe uma dificuldade em se analisar a relação custo-benefício de uma terceirização de

serviços, tendo em vista que a maioria das entidades desse setor não possui finalidade

lucrativa, sendo em grande parte autarquias, órgãos executivos ou de decisão, fundações

públicas, etc..

Nesse contexto, este trabalho tem como objetivo geral desenvolver um modelo para a

análise da viabilidade econômico-financeira de projetos de terceirização de tecnologias da

informação em uma organização pública, voltados para o serviço de impressão, bem como os

seguintes objetivos específicos: (a) identificar a Taxa Mínima de Atratividade (TMA) da

organização, bem como os custos operacionais envolvidos em cada proposta de terceirização

e de compra de novo um equipamento de dados; (b) verificar a vida útil econômica de ativos

de TI pertencentes ao patrimônio da instituição; e (c) analisar a melhor alternativa de

investimento para a organização. A realização deste trabalho justifica-se pelo fato de alguns

gestores da organização analisada demonstrarem interesse em terceirizar parte do parque de

TI, e assim buscarem um maior embasamento para a escolha da proposta mais viável, de

modo que isso estimulou a construção de um modelo de apoio à decisão nesse sentido.

Ademais, o artigo apresenta-se estruturado da seguinte forma: inicia por esta

Introdução e segue com a Análise da Viabilidade de Terceirização de Tecnologias da

Informação na Administração Pública, Metodologia, Apresentação do Modelo, Aplicação

Prática do Modelo Proposto, Conclusão e Referências.

2. Análise da viabilidade de terceirização de TI na Administração Pública

A terceirização ou outsourcing é, segundo Giosa (1997), um processo de gestão pelo

qual se repassam algumas atividades para terceiros, com os quais se estabelece uma relação de

parceria, ficando a empresa concentrada apenas em tarefas essencialmente ligadas ao seu

negócio de atuação.

Segundo o artigo 37, inciso XXI da Constituição da República (1988), a terceirização

de serviços pela Administração Pública ocorre por meio de um contrato administrativo,

precedido, como regra, de licitação, sendo que o objeto do contrato se caracteriza pela

prestação de serviços ligados apenas à atividade meio do órgão público e não pela contratação

de mão-de-obra ou compra de equipamento. Diante disso, a organização ficaria caracterizada

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como locatária, seja do serviço prestado ou do produto contratado (CAVALCANTI,

CAVALCANTI FILHO & LIMA, 2007).

Assim, um dos problemas principais na escolha de terceirizar ou não está na

identificação da relação custo-benefício desse processo, pois, dependendo da organização, o

outsourcing será adotado com o foco de se aumentar os lucros ou se reduzir os custos. Com o

objetivo de minimizar custos, que é o caso da maioria das organizações públicas que avaliam

a possibilidade de terceirização de serviços, um dos métodos mais adequados para um estudo

dessa natureza seria pelo cálculo do Custo Anual Uniforme Equivalente (CAUE), que leva em

conta as projeções de saída financeira no fluxo de caixa e, além de indicar a alternativa que

apresenta o menor desembolso, é usualmente empregado na análise da substituição de

máquinas ou equipamentos, através da identificação da vida econômica (VEY & ROSA,

2004).

Nessa perspectiva, Casarotto Filho & Kopittke (2010) preconizam que a determinação

da vida econômica útil consiste em achar os Custos Anuais Uniformes Equivalentes

(CAUE’s) do ativo para todas as vidas úteis possíveis, com base numa análise de fluxos de

caixa em termos reais. Com isso, o ano no qual o CAUE seria mínimo corresponderia à

máxima vida útil econômica do ativo. Ainda segundo os autores, o método CAUE também

consiste em encontrar a proposta que apresenta o(s) menor(es) custo(s) à organização.

Cabe ressaltar que no cálculo do CAUE, tanto para o encontro da vida econômica de

um ativo quanto na análise de viabilidade de um investimento (em termos de vantagem de

custo), além do custo operacional anual, seria necessária a identificação de uma Taxa Mínima

de Atratividade (TMA) e de um valor de revenda ou valor residual anual, que pode

corresponder ao valor ajustado da depreciação (BRUNI, 2010).

A TMA representa a atratividade mínima de um investimento considerando o fato de

se estar perdendo a oportunidade de se obter retorno com a aplicação do mesmo capital em

outros projetos (CASAROTTO FILHO & KOPITTKE, 2010).

Já a depreciação refere-se ao processo de alocação do valor de entrada de um ativo,

geralmente o custo original ou corrigido, aos diversos períodos durante os quais se espera

auferir os benefícios de sua aquisição e utilidade (HENDRIKSEN & VAN BREDA, 1999).

Nesse âmbito, a Instrução Normativa n. 162/1998, emitida pela Secretaria de Receita Federal

(SRF), preconiza que o período de depreciação de um equipamento da área de TI possui um

tempo de contagem não superior a cinco anos, com base numa avaliação linear ao longo desse

tempo.

A partir desse contexto, o CAUE pode ser calculado com base na seguinte fórmula,

apresentada quadro 1:

Fonte: Borgert, Huntemann & Schultz (2006), adaptado.

Quadro 1 – Representação da fórmula empregada no cálculo do CAUE.

Para fins de definição, considera-se que x é o período de referência (ano); VC o valor

de compra do equipamento (investimento inicial); CT é o custo total do período (custo

operacional); i é a TMA; A/P é o índice utilizado para calcular o valor presente (localizado na

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tabela financeira); VR é o valor residual do período e A/F é o índice de valor futuro

(localizado em tabela financeira). Essa fórmula será aplicada posteriormente no cálculo dos

CAUE’s do equipamento avaliado.

3. Metodologia

Este trabalho apresenta natureza descritiva, sob a forma de estudo de caso, pelo fato de

ter sido realizado o delineamento de um modelo baseado no método CAUE, com vistas à

verificação da viabilidade da compra de um novo ativo de TI ou de terceirização desse tipo de

equipamento junto a uma organização pública específica, constituída sob a forma de

autarquia. Além disso, possui caráter quantitativo, pois visa mensurar as variáveis de pesquisa

necessárias à modelagem do problema, que são: o investimento inicial, o custo de capital, os

custos operacionais, a depreciação e os valores residuais anuais do referido ativo de

informática tomado como exemplo, pertencente ao patrimônio da instituição, além dos custos

operacionais dos projetos de terceirização e de compra de um novo equipamento.

O universo de pesquisa é composto pelos sete equipamentos de TI da organização

terceirizáveis, caracterizados como impressoras. No entanto, em função da maioria desses

equipamentos ser de pequeno porte, com pouco uso, foi selecionada uma amostra intencional

não-probabilística para a realização deste estudo, composta por somente um aparelho,

denominado de Impressora X (para não identificar a marca), o qual foi escolhido pelo fato de

ser o único na instituição que apresenta alto desempenho e produtividade, com média de

impressão mensal acima de 15.000 páginas/mês, destacando-se pelos seus elevados custos

anuais, de insumos, operação e manutenção.

A partir da identificação da vida econômica da impressora, foi analisada a necessidade

de substituição e a viabilidade das opções de substituição disponíveis parrea a organização,

que poderiam se efetivar pela compra de um novo equipamento (baseada num preço médio de

mercado), representado pela Opção A, ou pela escolha de uma das três propostas de

terceirização avaliadas, representadas pelas Opções, B, C e D.

A TMA adotada foi de 6% a.a., correspondente ao valor médio da correção monetária

anual somada a uma variação média anual da TR, utilizada pelo Ministério da Fazenda. Já na

análise da depreciação, foi empregada a depreciação exponencial, com a finalidade de melhor

avaliar a gestão financeira, no valor de 20% a.a., dentro de um horizonte de vida útil de 5 anos

para cada bem. A escolha da depreciação exponencial, embora não seja permitida pela

legislação brasileira, justificou-se em função de sua adoção refletir melhor o desgaste

financeiro de ativos influenciados pelo progresso tecnológico, como é o caso dos aparelhos de

impressão, com o intuito de melhor embasar as decisões gerenciais.

4. Apresentação do Modelo

Para uma melhor compreensão sobre a modelagem proposta neste trabalho, os passos

do estudo apresentam-se divididos em três etapas seqüenciais.

4.1 Etapa 1 – Pesquisa na organização e análise da vida econômica de equipamento(s)

Primeiramente, fez-se um levantamento junto à organização a fim de se verificar a

existência de equipamento(s) de impressão em atividade que apresente(m) elevados custos de

insumos e manutenção (arbitrados pela organização). Após identificados, verificou-se onde

está(ão) esse(s) bem(ns) e realizou-se entrevistas com gestores para a coleta dos seguintes

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dados: o(s) investimento(s) inicial(ais), custos operacionais, taxa mínima de atratividade e

depreciação do(s) ativo(s).

Diante disso, calculou-se a vida útil econômica do(s) equipamento(s) levantado(s), ou

seja, identificou-se o período ideal de troca. Se há bem(ns) que já tenha passado ou esteja por

passar logo do momento mais apropriado para sua substituição, deve ser proposta a baixa

desses equipamentos do patrimônio institucional e passou-se para a próxima etapa.

4.2 Etapa 2 – Pesquisa de mercado e seleção de propostas

Nesse ponto, realizou-se uma pesquisa prévia de mercado (obtenção de preços), na

busca de aparelhos novos idênticos aos da organização e de empresas de terceirização de TI,

que apresentassem condições de atender às necessidades da organização, com o intuito de

identificar os seus respectivos valores de investimento inicial e custos de operação. Para isso,

foi necessário que se determinasse primeiramente alguns critérios técnicos para verificar no

mercado quais produtos e empresas de outsourcing atenderiam aos requisitos estipulados pela

organização.

A partir disso, foram selecionados produtos e empresas no mercado que melhor se

enquadrassem dentro desses critérios.

4.3 Etapa 3 – Cálculo do CAUE e escolha da alternativa mais vantajosa

Com os dados obtidos na pesquisa de mercado, realizou-se o cálculo do CAUE, tanto

para a(s) proposta(s) de compra quanto de terceirização, para se analisar a viabilidade de cada

uma. Se a opção de compra fosse mais vantajosa à organização, recomendar-se-ia o processo

de aquisição para a substituição do(s) atual(is) ativo(s), por meio de certame licitatório, e o

trâmite ocorreria de acordo com as normas desse processo.

Já se a opção por terceirização fosse mais vantajosa, também se recomendaria o

processo de contratação desse serviço (por licitação), onde, depois de receber e avaliar as

propostas, calcular-se-ia novamente o(s) CAUE(s) com o intuito de identificar o melhor

projeto de terceirização para a entidade, isto é, o projeto com o(s) menor(es) CAUE(s).

Na figura 1 é feita a representação gráfica de todas as etapas e seus respectivos passos

do modelo sugerido:

1

2 3

4 5

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5. Aplicação prática do modelo proposto

Este capítulo apresenta os resultados do estudo realizado junto a uma instituição

pública e seu respectivo equipamento de impressão, levando em conta os dados previamente

obtidos nas Etapas 1 e 2 e o respectivo cálculo do CAUE na Etapa 3, estando dividido em

duas seções: Identificação da Vida Econômica da Impressora X e Determinação dos CAUE’s

das Propostas de Substituição e Escolha do Projeto mais Viável.

5.1 Identificação da vida econômica da impressora X

Esta seção inicia com a identificação da vida econômica da Impressora X, com a

seqüência das cinco primeiras ações da Etapa 1; sendo que tal equipamento, considerado de

alto desempenho, possui consumo de energia de 800 watts/mês e capacidade mensal de

25.000 páginas.

Figura 2 – Representação gráfica da Etapa 1, aplicada na subseção 5.1

Início da

Etapa 3

Início

(Etapa

1)

Início da

Etapa 2

Figura 1 – Representação gráfica do modelo proposto.

6

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11a

11A

11b 11c

11d 11B

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Num primeiro momento, durante a Etapa 1, foram identificados os custos operacionais

anuais, com base nas estimativas de utilidade do equipamento em torno de 15.000

páginas/mês, as quais se apresentam dispostas conforme a Tabela 1:

Tabela 1 – Custos operacionais anuais (em R$) relativos à Impressora X.

Além disso, foi preciso que se determinasse os valores residuais anuais da impressora,

de maneira que se recorreu ao cálculo da depreciação exponencial como forma de se obter o

desgaste financeiro do equipamento durante os anos, considerando-se que o bem possuía no

máximo cinco anos de vida útil, com depreciação de 20% a.a., conforme as tabelas 2 e 3:

Tabela 2 – Depreciação e valor residual anuais (em R$) da Impressora X, com base no valor de aquisição de R$

10.000,00.

Tabela 3 – Fluxo de caixa orçado da Impressora X (em RS), para um investimento inicial de R$ 10.000,00.

A partir desses dados, sabendo-se que o investimento inicial (valor de aquisição) foi de

R$ 10.000,00 e a Taxa Mínima de Atratividade de 6% a.a., calculou-se os CAUE’s, com a

finalidade de se obter a vida útil econômica, considerando as designações nas tabelas

financeiras de Fator de Valor Presente de Pagamento Único (P/F), Fator de Acumulação de

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Capital (F/P) e Fator de Recuperação de Capital de uma Série Uniforme (A/P). A partir da

aplicação da fórmula do CAUE, apresentada pelo quadro 1, obteve-se os seguintes resultados

dispostos na tabela 4:

Tabela 4 - Total dos CAUE’s da Impressora X, calculados para os cinco primeiros anos.

Por meio da tabela 4, embora haja pouca diferença nos valores, nota-se que no

período em que o CAUE apresentou seu menor valor corresponde à máxima vida econômica

da Impressora X, ou seja, o momento ideal de troca desse equipamento por outro seria o

terceiro ano após a aquisição. Como este equipamento foi adquirido no final do ano de 2007

(considerando o ano de 2008 como o primeiro), o recomendado é que a troca ocorra no ano de

2012.

5.2 Determinação do CAUE das propostas de substituição da impressora X e escolha do

projeto mais viável

Como o momento de troca da Impressora X expira neste ano de 2012, foi

realizada uma pesquisa de mercado aonde foi possível o encontro do valor médio de aquisição

e a projeção dos custos operacionais para a impressora representada pela Opção A (proposta

de compra), que é uma das alternativas de permuta à Impressora X. Na Figura 3 é possível

verificar os passos da Etapa 2, aplicada no início desta seção:

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Figura 3 – Representação gráfica da etapa 2, aplicada na seção 5.2

Assim sendo, verificou-se que a impressora da Opção A, identificada no mercado,

atende aos critérios técnicos estipulados pela instituição, que são: capacidade de impressão de

pelo menos 30.000 páginas por mês, consumo de energia e impressão mensais em média

semelhante à Impressora 1 (15.000 páginas/mês e 700 watts). Através dos dados obtidos, os

custos operacionais anuais estimados para a impressora da Opção A foram fixados numa

quantia média semelhante à da Impressora X, estimado em R$ 4.935,00, com um

investimento inicial aproximado de R$ 12.500,00 e uma vida econômica de três anos,

desconsiderando o valor residual (valor de revenda), ao final do terceiro ano, haja vista o fato

do equipamento não ser revendido ao final do período.

Através dos dados coletados na Etapa 2, calculou-se os CAUE’s das propostas de

substituição (por compra/terceirização), conforme preconiza a Etapa 3, ilustrada na Figura 4:

Figura 4 – Representação gráfica da Etapa 3, aplicada na seção 5.2.

A partir da aplicação prática da Etapa 3, projetou-se o fluxo de caixa para a

impressora da opção A:

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10 11a

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11c 11d

11A 11B

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Figura 5 – Fluxo de caixa projetado da impressora da Opção A, com base na pesquisa de mercado.

A partir disso, efetuou-se o cálculo do CAUE, em cinco anos, do referido ativo:

CAUEa = 12.500,00 (A/P; 6%; 5) + 4.935

CAUEa = 7901,25

Após o encontro do CAUE da alternativa de compra, são feitas avaliações das

propostas de terceirização para se verificar também a viabilidade destes projetos em relação à

opção de compra. Cabe salientar que nas alternativas de outsourcing também se considerou os

mesmos critérios técnicos utilizados na Impressora Xa e foram analisados apenas os custos

operacionais, haja vista que não há valor de compra e nem custo de depreciação para a

entidade, pois ela não se caracterizaria como proprietária de um novo equipamento, apenas

locatária. Assim sendo, é necessário considerar alguns aspectos importantes, como a descrição

das características contratuais das alternativas, para posteriormente verificar a estimativa de

custos operacionais anuais, que servirá como base para o valor dos CAUE’s. O quadro 3

demonstra os resultados da pesquisa realizada junto à empresas de terceirização e descreve as

características de cada projeto:

Quadro 3 – Especificações dos projeto de terceirização

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Diante disso, foram estimados os custos operacionais anuais de cada alternativa,

considerando a utilização de cada equipamento oferecido pelas empresas em condições

idênticas ao praticado na Impressora X e previsto na impressora da Opção A, nos cinco anos

avaliados.

Portanto, com base na mesma faixa de impressão ao mês da Impressora X, num custo

fixo médio mensal no valor de R$ 293,50, consumo de energia de 500 watts (a 0,40/watt),

solicitação de um toner adicional por ano e não ultrapassando a franquia mensal ao longo de

cada período, estipulou-se uma média para os custos operacionais anuais da Alternativa B, no

valor de R$ 6.177,00, distribuídos ao longo do fluxo de caixa apresentado pela Figura 6:

Figura 6 – Fluxo de caixa estimado da Opção B, para a substituição da Impressora X

A partir de uma análise da figura anterior, onde o valor de aquisição é nulo e os custos

anuais estimados durante os cinco anos são de R$ 6.177,00, depreende-se que o CAUE do

referido projeto equivale ao valor de seus custos operacionais. Conclui-se, pois, que:

CAUEB = 6.177,00.

Já em outro momento, com base numa média mensal de 15.000 páginas, solicitação de

um toner e uma manutenção adicionais ao ano e considerando a ultrapassagem de 1.000

páginas, uma vez ao ano, da franquia mensal, estipulou-se uma média para os custos

operacionais anuais da Opção C, no valor de R$ 6.218,00, distribuídos ao longo do fluxo de

caixa descrito na Figura 7:

Figura 7 – Fluxo de caixa estimado da Opção C, para substituição da Impressora X.

A partir disso, aplica-se o mesmo raciocínio realizado para a Opção B, onde conclui-se

que o CAUE da Opção C equivale ao valor de seus custos operacionais. Logo:

CAUEc = 6.218,00.

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Por fim, o mesmo foi feito para o Projeto D, em relação à projeção do fluxo de caixa e

ao cálculo do CAUE, nos cinco primeiros anos, considerando a mesma média mensal de

impressão adotada na opção anterior, com a solicitação de um toner e uma manutenção

adicionais por ano, sem ultrapassar em nenhum momento a franquia mensal ao longo do

período:

Figura 8 – Fluxo de caixa estimado da Opção D, para substituição da Impressora X

Levando em conta um custo operacional anual estimado no valor de R$ 8.363,00,

também depreende-se que o CAUE seja equivalente, nesse caso:

CAUED = 8.363,00

Após o cálculo dos CAUE’s de cada proposta, é realizada a comparação entre as

alternativas de investimento, de substituição à Impressora X, a fim de se verificar a mais

vantajosa para a instituição, em termos de custos. A tabela 5 facilita tal comparação:

Tabela 5 – Custos Anuais Uniformes Equivalentes das opções de substituição à Impressora X

Como se observa, finalmente, todas as propostas de terceirização apresentam-se com

menores custos em relação à opção de compra. Contudo, a opção B que apresenta um custo

fixo mensal previamente estipulado é a mais vantajosa à instituição, por apresentar o menor

CAUE, em torno de R$ 6.177,00. Como a vida econômica da Impressora X esgota-se neste

ano de 2012, recomendar-se-ia a sua substituição até o final deste período através de

terceirização, que nesse caso aponta para a Alternativa B. Verifica-se nessa situação, que a

vida econômica do referido equipamento de impressão coincide com a sua vida útil, que é de

aproximadamente cinco anos, de modo a sinalizar para uma otimização do uso do

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equipamento, não significando que isso ocorra necessariamente em outros ativos dessa

natureza. Um ponto a destacar está no fato de que o consumo de energia foi um dos fatores de

influência na viabilidade dos projetos, haja vista que tanto o consumo do atual equipamento

pertencente à instituição quanto o da opção de compra apresentou-se superior aos dos

equipamentos das opções de outsourcing.

É importante ressaltar também que comparativamente à proposta de maior CAUE – a

opção A – a diferença de custo verificada com a terceirização pela opção B indica uma

economia de aproximadamente R$ 463,00 ao ano, levando em conta que o tempo de vida

econômica da impressora que representa a opção A corresponde a apenas cinco anos enquanto

nas impressoras locadas não haveria essa preocupação.

6. CONCLUSÃO

A partir dos resultados obtidos conclui-se que o trabalho alcançou seu objetivo

principal, que é de desenvolver um modelo válido para a análise da viabilidade de projetos de

terceirização de TI no setor público, aplicáveis ao serviço de impressão. Dessa forma, o

modelo proposto constituído por 3 etapas seqüenciais: etapa 1 – Pesquisa na Organização e

Análise da Vida Econômica de Equipamento(s); etapa 2 – Pesquisa de Mercado e Seleção de

Propostas; e etapa 3 – Cálculo do CAUE e Escolha da Alternativa mais Vantajosa – foi

validado por meio de sua aplicação junto ao objeto de estudo, constituído por uma

organização governamental sob a forma de autarquia.

Através da identificação dos custos operacionais anuais e da TMA, fixada no valor de

6% a.a., definiu-se a vida econômica da Impressora X, pertencente à referida autarquia,

conforme estipula a primeira etapa do modelo, onde se verificou que o período ideal de troca

do equipamento equivale ao quinto ano após a sua aquisição, correspondendo a este ano de

2012. Então pelo fato de não ser recomendado manter o ativo após este tempo, partiu-se para

a etapa 2, em que foi realizada uma pesquisa de mercado que permitisse calcular o CAUE

(etapa 3) e assim pudesse analisar as opções de compra de um novo ativo de impressão ou de

terceirização desse serviço. Com isso, concluiu-se que a terceirização é a mais viável à

instituição, principalmente pela escolha da Opção B, a qual apresenta o menor desembolso

anual à organização durante os cinco primeiros anos, em torno de R$ 6.177,00; valor inferior

à alternativa de maior custo, a Opção A (compra de um novo ativo), que além de possuir uma

vida econômica estimada de aproximadamente cinco anos, proporciona um CAUE de R$

7.901,25 nesse período, totalizando uma diferença de R$ 463,00 ao ano, a favor da Opção B.

Destaca-se, nesse sentido, que o modelo sugerido foi aplicado em aproximadamente

toda sua totalidade, isto é, completou suas etapas e quase todas as atividades propostas, com

exceção de parte da etapa 3, onde era recomendado o cálculo do CAUE após o processo de

licitação, com o intuito de se escolher a proposta de outsourcing mais vantajosa. Entretanto,

essa limitação dos cálculos até o procedimento licitatório não impede a validação do modelo,

que indicou a proposta mais vantajosa, pois após a licitação basta repetir os cálculos com os

valores apresentados pelas empresas concorrentes, para escolher a de menor CAUE.

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