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“O princípio da sabedoria é umdesejo sincero de instrução.

Mas o cuidado da instrução é o amor”(Livro da Sabedoria 6, 18-19)

INTRODUÇÃO

Este trabalho apresenta algumas reflexões sobre a relaçãoentre informação e poder, ou, mais precisamente, sobrecomo a informação e as novas tecnologias informacionaisredesenham as relações de poder entre nações, organizaçõese indivíduos, bem como influenciam na construção dacidadania.

Inicialmente são abordados aspectos relativos ao conceitode poder e suas várias formas de manifestação, comdestaque para seu exercício pelo Estado. Procura-se traçarum quadro sobre a anatomia do poder e destacar aimportância da compreensão sobre os fenômenos que ocercam.

A partir da revisão sobre o poder e o Estado, o trabalhoinsere a informação como peça de sustentação e, ao mesmotempo, alavanca de mudança dos processos sociais. Sãoainda registradas algumas observações sobre o “apartheiddigital”, de que trata o documento de lançamento doPrograma “Sociedade da Informação”, do governo federal(1999).

Finalmente, o trabalho apresenta algumas ponderaçõessobre a responsabilidade do Estado como agente capaz deevitar que a nova era agrave os desequilíbrios sociais eregionais hoje existentes, assim como de assegurar o efetivoexercício da cidadania, garantindo a todos tratamentoigual em termos de oportunidades básicas de acesso aosrecursos informacionais, resultando a diferenciação a partirda capacidade, do talento e dos esforços individuais.

O PODER E SUAS MANIFESTAÇÕES

A idéia mais difundida de poder está relacionada aoconceito weberiano que o traduz como sendo “apossibilidade de alguém impor a sua vontade sobre ocomportamento de outras pessoas” (Weber, apudGalbraith, 1986). Essa idéia de poder correlaciona adimensão do poder com a capacidade de certos grupos ouindivíduos imporem suas vontades a outros para oatingimento de determinados objetivos. Tais objetivos

Um estudo do poder na sociedade da informação

Resumo

Inicialmente são abordados alguns aspectos relativos aoconceito de poder e suas várias formas de manifestação, comdestaque para seu exercício pelo Estado. A seguir, éconstruído um quadro sobre a anatomia do poder e destacadaa importância da compreensão sobre os fenômenos que ocercam. Nesse contexto, a informação é apresentada comopeça de apoio e, ao mesmo tempo, alavanca dos processossociais, sendo registradas algumas observações sobre o“apartheid digital”. Por fim, são apresentadas ponderaçõessobre a responsabilidade do Estado como agente capaz deevitar o agravamento dos desequilíbrios sociais e regionais, ede assegurar o pleno exercício da cidadania na sociedade dainformação.

Palavras-chave

Poder; Informação; Estado; Controle social; Cidadania;Sociedade da informação.

A study of the power in the information society

Abstract

Initially some relative aspects are approached to the concept ofPower and your several manifestation forms, with prominencefor your exercise for the State. To follow a picture it is built onthe anatomy of the Power and outstanding the importance of theunderstanding on the phenomena that surround it. In thatcontext, the Information is presented as support piece and, atthe same time, lever of the social processes, being registeredsome observations on the “ digital “ apartheid. finally,considerations are presented about the responsibility of theState as agent capable to avoid the worsening of the social andregional unbalances, and of assuring the full exercise of thecitizenship in the Information Society.

Keywords

Power; Information; State; Social control; Citizenship;Information society.

Henrique Flávio Rodrigues da SilveiraMestrando em ciência da informação (UnB). Analista do BancoCentral do Brasil, com atuação na área de Planejamento. Formadoem processamento de dados pela Universidade Federal do Ceará(1986), com cursos de especialização (lato sensu) em informática(1989) e marketing (1994)[email protected]

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costumam ser ligados à aquisição de riqueza, ocorrendotambém as motivações de ordem religiosa e doutrinária.Há casos, porém, em que a finalidade desejada com o poderé o próprio exercício do poder: os rituais que envolvem ospoderosos fascinam os homens há milhares de anos, bemcomo a peregrinação dos submissos em busca de soluçõese promessas. Para Bertrand Russell (apud ESG, 1996), opoder está para as ciências sociais assim como a energiaestá para a física, ou seja, não se pode estudar as relaçõesentre os homens sem compreender o fenômeno do poder,como não se pode estudar física sem conhecer sobre energia.

Um outro conceito de poder, de cunho mais sociológico, éapresentado por Diogo Moreira (apud ESG, 1996): “Opoder é um fenômeno social no qual uma vontade,individual ou coletiva, se manifesta com capacidade deestabelecer uma relação da qual resulta a produção deefeitos desejados, que de outra maneira não ocorreriamespontaneamente”. Para a configuração do poder, então,exige-se a existência de uma “vontade”, de uma“capacidade” para fazer valer a vontade, ou seja, a produçãodos “efeitos desejados”, e, finalmente, da certeza de que épreciso agir, pois os efeitos não aconteceriam“espontaneamente”. Para conhecer, conceber ou divulgaruma “vontade” e também para avaliar a “capacidade”operacional, o poder demanda informação. Por issotambém se afirma que informação é poder, ou mais queisso, é fator multiplicador e também medida de avaliaçãodo poder (Dizard, 1982).

A investigação sobre quais os verdadeiros objetivos queorientam o exercício do poder representa um desafio,dadas as possibilidades de dissimulação e engodo quepermeiam as relações de poder. Na sociedade moderna,em que há um condicionamento social para a crença nosvalores democráticos e da livre iniciativa, sobram casosde manipulação do “mercado” e de influências políticaspor parte de grandes empresas. Apesar dessas restrições,admite-se que a prática do poder proporciona uma certa“organicidade” à vida social, sendo encontrada em todosos tipos de sociedade. A simbiose entre o Estado e o poder,então, não é apenas inevitável, como também socialmentenecessária, desde que o governo seja “legítimo edemocrático”, mesmo com a prevalência das desigualdadesno exercício do poder.

Bobbio (apud ESG, 1996) classifica o poder conforme omeio empregado para sua manifestação. Assim, existe opoder “econômico”, cujo meio é a riqueza; o poder“ideológico”, cuja moeda é o saber; e o poder “político”,que se vale da força como último recurso para suamanifestação. Em outro momento, Bobbio (1986) afirma

que ter poder significa ter a “capacidade” de premiar oude punir, a fim de obter o comportamento desejado.Referido comportamento também pode ser conseguido àcusta de promessas de recompensas ou punições, desdeque seja reconhecida a capacidade de levá-las a efeito.

Galbraith (1986) registra que o estudo do poder deveconsiderar a análise dos instrumentos pelos quais ele éexercido e as “fontes de direito” para esse exercício, sendoque ambos os parâmetros alteram-se com a evolução dassociedades. Para Galbraith, há três instrumentos para oexercício do poder: a coação – que gera o poder “condigno”,no qual a submissão se dá pela imposição de alternativa“suficientemente desagradável ou dolorosa” à não-capitulação; a recompensa – gerando o poder“compensatório”, em que a oferta de uma compensação(pecuniária ou social) leva à aceitação da submissão; apersuasão – que gera um poder “condicionado”, no qual asubmissão é conseguida pelo convencimento do que éapropriado.

A distinção entre os que detêm o poder e os que a ele sesubmetem se dá por meio das três fontes de poder: apersonalidade – que se pode entender como característicaspessoais que dêem acesso a um ou mais instrumentos depoder (coação, compensação ou persuasão); a propriedade– entendida aqui como riqueza e renda e normalmenteassociada à compensação, embora a posição na estruturasocial também possa induzir à submissão por coação oupersuasão; a organização – que se manifesta comumentena forma de poder “condicionado”, pela capacidade deestruturar modelos sociais e obter daí a submissãonecessária, embora também ofereça acesso ao poder“condigno” (normalmente por meio do Estado), bem comoao poder “compensatório”, em grau compatível com suariqueza.

Para Toffler (1990), o poder tem como fontes básicas o“músculo” (força), o “dinheiro” (riqueza) e a“inteligência” (conhecimento) com esta última apontadacomo a fonte de maior qualidade, pela possibilidade deincrementar a aplicação das outras fontes. Russell (1979)afirma que o poder pode se manifestar mediante o uso daforça, de recompensas e castigos e influência sobre aopinião, que inclui a oportunidade de criar hábitosdesejados nos outros. Qualquer dessas formas não deveriaser estudada isoladamente, sendo mais apropriadoentender que o poder transita de uma forma para outra.Assim, a riqueza pode decorrer do poder militar ou dainfluência sobre a opinião, bem como essas formas depoder podem resultar da riqueza.

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Galbraith, Bobbio, Toffler e Russell têm tipologiasaparentadas, e é com essa estrutura comum – riqueza /recompensa / dinheiro, saber / persuasão / inteligência eforça / coação – que este trabalho explora o fenômeno dopoder e as relações com a sociedade da informação. Deforma a padronizar as referências à estrutura aqui estudada,será utilizada a nomenclatura de Galbraith.

O poder “condicionado” mostra-se fundamental nasmodernas sociedades, onde valores como liberdade edemocracia são apreciados, conquanto não se perceba quea ausência (ou pouca presença) de instrumentos coercitivosou “compensatórios” explícitos significa apenas que opoder é exercido de outra forma – por meio do pensamentodominante, de um conjunto de valores e princípios aceitoscomo “naturais”. Quanto ao poder “compensatório”, odesenvolvimento socioeconômico fez com ele fosse,freqüentemente, preferido em relação ao exercício dopoder “condigno”.

Afinal, Rousseau (1999) afirmava que ceder pela força éapenas um ato de necessidade, e não um ato de vontade;seria, quando muito, um “ato de prudência”. Ou seja,“mesmo o mais forte nunca é suficientemente forte paraser sempre o amo, a não ser que transforme a força emdireito, e a obediência em dever”. Assim, somente o poderpode criar direito, e somente o direito pode limitar o poder(Bobbio, 1986). Em determinado momento histórico, porexemplo, tornou-se mais vantajoso, economicamente,lidar com recompensas (trabalho assalariado) do que compunições (trabalho escravo). Mudaram, então, osinstrumentos para o exercício do poder, o qual,naturalmente, continuou a beneficiar, em essência, aosmesmos que já o exerciam (com alguma variância entregrupos, mas sempre em um mesmo estamento social).

Os instrumentos e fontes enumerados podem sercombinados em diversos graus, caso se deseje um máximode eficiência no exercício do poder. Assim, não bastaacenar com recompensas (poder “compensatório”) oupunições (poder “condigno”), mas é preciso conscientizaras pessoas de que determinada forma de comportamentoé socialmente adequada, e por isso deve ser praticada – é autilização da persuasão (poder “condicionado”). Cria-se,então, um entendimento de que a maior motivação daspessoas para o trabalho, por exemplo, não está narecompensa (salários, vantagens) e nem na punição(privações, discriminação social), e sim noreconhecimento da importância de cada contribuiçãopessoal para a vida em sociedade – vale dizer, namanutenção do status quo.

São as organizações, entretanto, que movem o mundo:exércitos, empresas, governos e outras formas deassociação. Com a organização, os instrumentos do poder– coação, recompensa e persuasão – ganham forma eestrutura, sendo que a efetividade da ação organizacionalestá relacionada ao seu grau de submissão interna, de ondeadvém sua capacidade para imposição dos seus objetivos aoutros fora do seu contexto. É por isso que a disciplina nasorganizações é alvo de tantas atenções: a coesão interna éfator decisivo para que a organização possa implementarseus planos, e, para isso, são utilizados, tambéminternamente, os mesmo instrumentos de poder, sendodesejável que a persuasão (“vestir a camisa da empresa”,patriotismo, fidelidade partidária etc.) preceda arecompensa, ficando a punição como último recursocontra os recalcitrantes.

Outro fator que determina as chances de sucesso de umaorganização é a diversidade de objetivos que persegue:quanto mais diversos os objetivos, menor a probabilidadede se alcançar alto grau de coesão (nesse caso, submissão)interna; quanto mais bem definido e identificado (aquestão do “foco”, da crença) for o objetivo, maior a uniãopossível em torno dele (daí o sucesso das organizaçõesnão-governamentais com propósitos específicos). Assimo poder externo deriva do poder interno.

Em uma sociedade, entretanto, espera-se que existammovimentos de oposição ao exercício do poder. Essaresistência pode se dar pela via da argumentação de que opoder contestado é “impróprio, ilegítimo ouinconstitucional”, ou por meio da criação de um pólocontrário de poder, que se utilizará dos mesmosinstrumentos e fontes, talvez em proporções diferentes -devido ao acesso a recursos e, principalmente, da sualigação com o Estado, o qual pode decidir muitas dasdisputas sociais, pelo exercício dos seus poderes deregulação e de polícia.

Galbraith (1986) afirma ainda que há uma simetria (comexceções) entre pólos de poder, quanto às fontes e aosinstrumentos (por exemplo: a um poder baseado napersonalidade, ser-lhe-á oposto um poder também baseadona personalidade; poderes baseados em propriedades sãocontestados pela propriedade; organizações enfrentamorganizações. Essa simetria é verificada ao longo dahistória, ainda que encontremos fartos exemplos depersonalidades que se opuseram a propriedades eorganizações (Gandhi, por exemplo), bem como exemplosde organizações que enfrentaram (e ainda enfrentam,como as ONGs) a propriedade, registrando que o lado

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mais “forte” muitas vezes recorreu ao Estado para legitimarações repressivas.

Para o exercício continuado do poder, faz-se fundamentaldispor de meios de comunicação de massa comprometidoscom a manutenção do “sistema” e de um sistemaeducacional que perpetue o pensamento dominante, deforma que o condicionamento seja cada vez mais implícitoque explícito – mais aceito como natural que aceito porconvencimento. O poder da imprensa, do rádio e datelevisão deriva, como o da religião, da organização; seuprincipal instrumento de imposição, como o da religião, éa crença – o condicionamento social.

Bobbio (2000) registra que os conservadores sempre vêem“o passado com benevolência e o futuro com espanto”.Esse futuro, que já se faz presente no que chamamossociedade da informação, tem como ícone a Internet, quese caracteriza por uma aparente falta de controle. Nesseaparente caos, o poder busca a reprodução da estruturainformacional vigente, o que pode ser observado pela ondade fusões e associações que estão gerando “gigantes” decomunicação para atuar na Internet, com grande parte jáatuando nas mídias convencionais – algo como a repetição,no espaço informacional proporcionado pela redemundial, das tradicionais “agências de notícias”, que pormuito tempo orientaram a opinião pública mundial,sempre de acordo com os interesses dos países dominantes(sendo, inclusive, usadas nas disputas pelo poder entre asnações).

O novo ambiente, porém, mostra-se mais “anárquico”, etentar controlá-lo é igualmente tentar “controlar oclima”, usando a expressão aplicada por Thiam (1980)aos meios de comunicação de forma geral. E, se já seriaimpensável uma cooptação absoluta da mídia pelo poder –a não ser em regimes totalitários, há de ser preferívelindubitavelmente a liberdade de expressão à ignorância,pois a liberdade de expressão é fundamental para o acessoà informação, sendo o inverso também verdadeiro, ou seja:para ter opinião é preciso conhecer (Almino, 1986). ParaServan-Schreiber (1974), a justificativa para a liberdadeintegral de informação é a exigência constante dequalidade da informação e também dos princípios de açãodos que a produzem e disseminam.

Vencer a inércia conservadora do poder é, entretanto,tarefa de grande vulto, pela prevalência do domínio dasestruturas econômicas sobre os meios de comunicação.Castells (1999) considera que a luta dos Estados-Naçãopara controlar as informações que circulam nas redes detelecomunicações interconectadas de forma global é uma

batalha perdida, e com a derrota ruirá um dos principaissustentáculos do poder do Estado. O autor ainda afirmaque os governos nacionais na era da informação são “muitopequenos” para lidar com as forças globais, no entantomostram-se ainda muito grandes para administrar a vidadas pessoas.

A utilização dos meios de comunicação para ocondicionamento social (exercício do poder“condicionado”), em vez da ação compensatória direta(corrupção de agentes do Estado) tem se mostradoinstrumento eficaz de acesso e manutenção do poder.Quando bem administrado, as pessoas sequer percebemque estão sendo controladas e se submetem aos propósitosdos outros não apenas voluntariamente, mas com umsentido de virtude – aqueles que não se submetem sãodissidentes.

Por isso, mais eficiente que impedir a educação formal dopovo, privando-o inclusive do acesso mais elementar – aalfabetização –, é implantar um sistema de ensino e dedominação da mídia que seja capaz de reproduzir asestruturas sociais desejadas. As exceções ao sucesso dautilização do condicionamento como fonte de podertambém existem: o governo dos Estados Unidos, porexemplo, manipulou, como pôde, a veiculação de matériassobre a Guerra do Vietnã, tentando encontrar apoio nasociedade americana, mas a oposição interna (e simétrica)venceu, e o próprio poder militar sucumbiu, em boa partedevido à derrota interna.

Em uma rápida retrospectiva histórica, pode-se entendero desenvolvimento das sociedades ocidentais como umprocesso em que os instrumentos e fontes do poder aquidestacados foram utilizados por diferentes agenteseconômicos e políticos. A delegação das atividades deEstado a um pequeno grupo, que exerce o poder em nome(de novo em tese) de toda a sociedade vem da percepçãode que “não se pode imaginar que o povo permaneçaconstantemente reunido para ocupar-se dos negóciospúblicos” (Rousseau, 1999). Rousseau também cita acontribuição de uma vertente ideológica de concentraçãode poder, que determina ser “contra a ordem natural que ogrande número governe e a minoria seja governada”.

Foi assim na consolidação dos estados nacionais e nosurgimento do capitalismo mercantil, quando cresceu aimportância do poder “compensatório” e da organização(os mercadores eram uma classe, e poucos guardaram onome na história, embora a tenham mudado). Novasorganizações surgiram, como companhias de comércio enavegação, ordens religiosas, e o conflito com a antiga

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ordem (Igreja e aristocracia rural) foi inevitável.A revolução industrial trouxe a mutação no caráter dapropriedade, que passa a ser referente a máquinas etecnologia, e não apenas à terra, e a mutação do capitalmercantil para o capital industrial. Em ambos osmomentos, as mudanças contaram com o apoio do Estadopara abrir mercados (e proteger o próprio mercado!) egarantir fontes de matéria-prima. Esse apoio era efetivadotambém por meio do exercício do poder “condigno”,com esquadras atuando como “abre-alas” do livrecomércio (os exemplos mais recentes da China e do Japão,no século XIX, e dos países das américas Central e do Sul,nos séculos XIX e XX).

A nova ordem – livre comércio – foi estabelecida com oexercício tenaz do poder “condicionado”, através dadifusão do pensamento econômico liberal, como AdamSmith, em A Riqueza das Nações (1776), e as justificativaspara a desigualdade na distribuição de rendas (DavidRicardo, Thomas Malthus, Vilfredo Pareto). A oposição(simétrica), estruturada como teoria, e também em buscado exercício do poder “condicionado”, apenas conseguiuespaço com Karl Marx e Engels (O Capital, 1867). Nofinal do século XIX, porém, a arraigada associação dasclasses dominantes com o Estado levou ao acirramentoda corrida imperialista, processo no qual a busca decolônias e mercados levou a duas guerras mundiais, nasmais brutais demonstrações do poder “condigno”. Russell(1979) afirma que a “voracidade organizada”, com poucoou nenhum disfarce, tem desempenhado um papelmarcante nas guerras do mundo.

Durante todo o período colonial, entretanto, o poder“condicionado” (persuasão) não aconteceu apenas peladifusão do pensamento liberal. Talvez mais perversa que aimposição de práticas comerciais lesivas foi a disseminaçãoda “ideologia do colonialismo”, que serviu de base para asjustificativas de conquista e domínio (Silveira, 1996). Emespecial quando da conquista de colônias e mercados porparte das grandes potências européias, disseminou-se aidéia de que nos trópicos, em especial, não haveriapossibilidade de estabelecimento de uma civilizaçãoavançada, pela absoluta incapacidade dos povos que alihabitavam.

Sendo de “raça inferior”, os “amarelos, negros e mestiços”seriam incapazes de se autogerir, necessitando serem“conduzidos” pelos europeus, no correr de seu processohistórico. Mais que a difusão dessas idéias, colaboroudecisivamente para o surgimento de séculos dedependência, a cooptação das elites locais, em um exercícioclaro do poder “compensatório”, ansiosas por renegarem

suas origens e ingressarem em um novo mundo que lhespropunha uma aliança espúria contra seus próprios povos.Mas o mundo mudou e, com isso, as relações entre asnações e, principalmente, as formas de domínio, passandode um colonialismo antiquado para uma nova era deglobalização. Permaneceram, entretanto, as disfunções deum liberalismo que, sem regulamentação e controleadequados, geram monopólios, cartéis e oligopólios. É doEstado a responsabilidade de determinar correções embenefício da sociedade. O poder das corporações, quandoem associação com o Estado, não resiste à tentação demaximizar o retorno econômico, mesmo que às custas dasubordinação e da imposição de condições precárias devida a sociedades inteiras – basta perpassar a história daAmérica Central por meio da atuação das grandesempresas norte-americanas.

Segundo Colombo de Sousa (apud Silveira, 1996), somenteuma “intervenção ética” pode minorar e corrigir asdistorções geradas pelas forças naturais do mercado, poisas relações de mercado não se orientam pela ética, e, “sealgo de ética tiverem, não medram por si, mas porimposição da cidadania” (Demo, 1995). Aristóteles, citadopor Bobbio (2000), considera que a ética corresponde à“vida feliz que se desenvolve de acordo com a virtude esem impedimentos, e, se a virtude está no meio-termo, avida mediana é necessariamente a melhor, desde que setrate dessa mediania que é acessível a todos”. Sobre isso,Rousseau (1999) também afirmava que a finalidade daassociação política entre os homens é a “conservação e aprosperidade” dos membros de uma sociedade.

A revisão do papel do Estado, imposta pelo pensamentodominante pós-guerra fria, que inclui a relativizaçãodo conceito de soberania, o “fim” das ideologias e acompetição global, não altera, entretanto, aresponsabilidade do Estado para com seus cidadãos.Rousseau (1999) alertou para a grande diferença existenteentre “submeter uma multidão” e “reger uma sociedade”.Os detentores do poder, mais uma vez, tentarão adaptaros instrumentos e as fontes de que se valem para perpetuar-se no comando dos destinos das sociedades, por meio dasubmissão e em detrimento de uma efetiva participaçãopopular. A difusão do conhecimento, porém, em inéditaescala, há de requerer das elites esforços adaptativos emuma escala tal que talvez haja mais espaço para osmovimentos sociais que, ao largo do aparelho estatal ecompromissados apenas com a cidadania, marquemposição que implique uma distribuição mais justa da riquezae assegure a preservação do habitat humano.

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“Não existe história da humanidade, existe apenas umnúmero indefinido de histórias dos vários aspectos da vidahumana. E uma dessas é a história do poder político. Estaé elevada à condição de história do mundo. Mas, isto euasseguro, é uma ofensa contra toda concepção decente dehumanidade. É pouco mais do que considerar a históriada usurpação, do roubo ou do envenenamento como ahistória da humanidade, pois a história do poder políticonão é senão a história do crime internacional e doassassinato em massa.” (Karl Popper, The open society andits enemies)

O PODER E A CIDADANIA NA SOCIEDADE DAINFORMAÇÃO

O Programa Sociedade da Informação, lançado em 1999pelo governo federal, pretende estabelecer as bases parauma inserção competitiva do Brasil na sociedade globalda informação e tem por finalidade integrar e coordenar odesenvolvimento e a atualização de serviços avançadosde computação, comunicação e informação e suasaplicações. O programa também pretende estimular apesquisa e a educação, assegurando que o Brasil tenhacondições de competir no mercado mundial. De acordocom a estrutura do poder aqui estudada, o governopretende atuar nos instrumentos “recompensa” e“persuasão”, respectivamente por meio do aumento dariqueza pela maior competitividade e por meio da difusãode uma “cultura informacional”.

Segundo o documento de lançamento do programa, énecessário que o Brasil adote uma política interna eexterna “pragmática e ágil”, se pretende lograr êxito emempreitada de tamanha complexidade. O documentotambém reconhece que, no Brasil e em todo o mundo,parte das desigualdades entre pessoas e instituições éresultado da “assimetria no acesso e entendimento dainformação” disponível, o que define a capacidade de agire reagir de forma a usufruir seus benefícios. Ou seja, aestrutura vigente de poder gera assimetrias que precisamser consideradas para que as novas tecnologiasinformacionais não venham agravar o apartheid social, esim reduzir as desigualdades pelo aumento deoportunidades. Daí a decisão do governo de intervir noprocesso. Na chamada “primeira fase” da Internet, ogoverno federal teve participação decisiva, por meio daRede Nacional de Pesquisa (RNP). Foi a RNP que, a partirde 1989, com o propósito de conectar os pesquisadoresbrasileiros aos seus pares no exterior, viabilizou a entradado Brasil no novo ambiente de comunicação e informação.

Com a liberação do uso da Internet para fins comerciais(que no Brasil ocorreu em 1995), tornou-se claro que aWeb não seria apenas mais um lugar para se “fazer asmesmas velhas coisas de modo um pouquinho diferente”(Nóbrega, 1999), e, desde então, a Internet vemimpactando, ano após ano, as estratégias de empresas,organizações não-governamentais e governos, comreflexos na formação do poder e em seu exercício. Em1994, o número de usuários da Internet no Brasil situava-se em torno de 36 mil pessoas, todas no meio acadêmico.No final de 1999 o número já chegava a 3,6 milhões (100vezes mais) (Gurovitz, 1999). Embora esse númerorepresente apenas 2,5% da população brasileira e persistamgraves desigualdades de renda, desníveis sociais e regionais,o Brasil apresenta efetivas condições de desenvolvimentoe utilização dos recursos da Internet e busca um espaçopara competir na denominada Nova Economia.

O desenvolvimento da Web (1990) possibilitou que aInternet alcançasse, em um período de cinco anos, a marcade 50 milhões de usuários em todo o mundo, marcaatingida pelo rádio em 38 anos, pela televisão “aberta”,em 16 anos, e pela televisão por assinatura em 10 anos(revista Diga lá, 1999). Mais importante, porém, pode sera intensidade com que a tecnologia dos computadoresexigiu a adaptação das pessoas e das organizações (Dizard,1982), em comparação com a forma gradativa de outrasrevoluções tecnológicas. Castells (1999) registra que aInternet foi “apropriada” por pessoas e organizações comos mais diferentes objetivos.

Pode-se afirmar que o poder “compensatório” foi afetadopelo surgimento do comércio eletrônico, enquanto o poder“condicionado” precisa ser repensado, pela dificuldade decontrolar a nova mídia – aberta, interativa e “livre” (talvezaí esteja a motivação para as grandes associações entregrupos tradicionais de comunicação de massa e empresasde tecnologia). Mesmo o poder “condigno” está sob “fogocerrado”, devido à multiplicação de crimes sem a devidacobertura legal e a dificuldade de identificação e puniçãodos cibercriminosos.

A questão é complexa, pois a organização, enquanto fontede poder, precisa lidar com esse novo ambiente, e osmétodos de intercomunicação praticados devemacompanhar o ritmo de produção e consumo deinformação (Maloff, 1996). Deve ser percebido o valor daInternet como parte estratégica no processo deposicionamento competitivo, e não apenas como maisuma “modernidade” ou uma nova interface para os antigossistemas de recuperação de informação.

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A cidadania tem o seu espaço no Programa Sociedade daInformação, do governo brasileiro, e se insere também noâmbito da Reforma do Estado, que tem, entre seuspressupostos, a existência de mecanismos de controle dosorganismos estatais por parte da sociedade. ConformePereira (1997), o princípio geral “é o de que será preferívelo mecanismo de controle que for mais geral , mais difuso,mais automático”, o que é perfeitamente compatível comos fundamentos da Internet.

Beniger (1986) também afirma que o controle de qualquer“sistema” está relacionado ao processamento distribuídoe ao acesso generalizado. Malan (1980) registra anecessidade de ampliar os mecanismos de “controle dasociedade sobre o aparelho burocrático do Estado”.Castells (1998) afirma que a eficiência do Estadodependerá de sua capacidade de processar informação e deassegurar um processo decisório compartilhado: um“estado em rede”.

Transferir (ou compartilhar?) parte do poder de controledo Estado para a sociedade é exercer o poder“condicionado” em benefício da cidadania, criando umasaudável consciência coletiva de vigilância eacompanhamento das ações de governo. Essa “cidadaniaconsciente e organizada” (Demo, 1995) é o distintivo dosestados democráticos. Considerando que a democracia nãodeve ser organizada por oligarquias e nem o Estado podeser o “comitê executivo das classes governantes”, comodizia Marx, torna-se imprescindível o reconhecimentoda cidadania como essencial ao processo democrático.

Demo define cidadania como sendo “a raiz dos direitoshumanos”, sendo a falta de cidadania suprida pela tutela eassistência exercida pelo Estado sobre os cidadãos. Cabeao Estado prover ou viabilizar que outros o façam, o acessoà informação, e não apenas mediar as relações entre oshomens, privilegiando a estrutura de poder, pois ainformação é mais que a mercadoria por excelência dasociedade pós-industrial: é a sua própria razão de ser(Almino, 1986). Thiam (1980) considera que a informaçãocondiciona a existência da sociedade e sua coerência.Miranda (1977) chama a atenção para que a informaçãonão seja considerada apenas como mais um recurso oumatéria-prima, e sim como um “produto social”. Matta(1980) também afirma que a informação não é uma“simples mercadoria” e a função de informar não é um“negócio qualquer”, sendo muito mais um “bem social”.

Nesse sentido, o referido programa apresenta, como umdos objetivos setoriais, o desenvolvimento de sistemaspara integrar e ampliar ações de governo em benefício dacidadania, no novo “paradigma da sociedade dainformação”. Os conteúdos disponibilizados pelosgovernos (federal, estadual e municipal) devem,progressivamente, facilitar o exercício da cidadania. Esseprocesso não pode acontecer sem modernas tecnologiasde criar, gravar, armazenar e processar informações(Beniger, 1986).

A busca por oferecer maior possibilidade de controle etransparência não se constitui, entretanto, na únicamotivação do governo para oferecer serviços einformações via Internet. Em tempos de recursos públicosescassos e uma demanda crescente da sociedade, apossibilidade de aumentar o atendimento à sociedadesem o correspondente incremento nos recursoshistoricamente alocados para esse fim – pessoal,instalações e equipamentos, impulsiona e alimenta oesforço do governo.

Propiciar informação e educação a todos os cidadãos,entretanto, não significa tornar o Estado onipresente edeterminador do destino das pessoas. O Estado, em suaatuação e a influência, não pode seguir os passos dodespótico Leviathan, de Hobbes, e, para isso, a legislaçãoexistente e ainda por construir deve assegurar o efetivoexercício da cidadania, que pode nos levar a viver em umestado verdadeiramente democrático, como preconizadopor Locke.

A posse de informações sempre foi elemento determinantedo poder, a ser usada em suas várias manifestações,mas cresce a ojeriza a sistemas centrais de controle.A possibilidade de construção de um grande banco dedados com informações dos vários órgãos governamentais(receita federal, previdência social, fundos sociais e outras)pode representar ganhos de produtividade nas ações degoverno, maximizando a alocação dos recursos. Por outrolado, evoca imagens como a do Big Brother, de Orwell, coma idéia de um controle quase total sobre os cidadãos. Essapreocupação é registrada por Somavía (1980), para quema informação não pode se transformar em um“instrumento de dominação do governo sobre o resto dasociedade”. Afinal, a finalidade do Estado é promover obem comum, e não controlar, com o exercício do poder“condigno”, o “desencadeamento de paixões” que possamcomprometer a estrutura de dominação vigente (Bobbio,2000). Em outro momento, Bobbio (1986) afirma que háo risco de que as novas tecnologias informacionaispermitam não “o máximo controle do poder por parte dos

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cidadãos, mas o máximo controle dos cidadãos por partedo poder”.

Esse receio está levando alguns países a renunciar,explicitamente, à construção de banco do dados do tipo,como é o caso do Canadá, que, ato contínuo à renúncia aoprojeto, anunciou medidas para proteção da privacidadedos dados sob controle governamental (Wired News,2000). Beniger (1986) também registra o receio de“despersonalização” dos indivíduos, que, no caso doEstados Unidos, vem recebendo críticas desde a GrandeDepressão (década de 30), quando o governo americanochegou a empregar 26 milhões de pessoas e construiugrandes bancos de dados, com a tecnologia entãodisponível, passando a ter um controle dos cidadãos emnível individual nunca visto.

A participação do cidadão acontece na proporção em queele acredita em sua própria voz e tem canais adequadospara manifestação (“o meio é a mensagem”, McLuhan,apud Galbraith, 1986). Demo (1995) registra que aorganização e a consciência da sociedade podem levar aum capitalismo “mais civilizado”, e que nada preserva maisuma estrutura de poder iníqua do que a ignorância e adesinformação. Dizard (1982) registra que, para os EstadosUnidos, o fator mais relevante para o desenvolvimentofoi a decisão de favorecer o ensino público gratuito nofinal do século XIX.

Para Servan-Schreiber (1974), a informaçãocompartilhada encontra-se na base de toda a “boainteligência”, e, segundo Rousseau (1999), se um povoque está suficientemente informado delibera, mesmo aocorrência de pequenas diferenças não tira do resultado ocaráter de “vontade geral”, e, por conseguinte, benéficopara o conjunto da sociedade. Thomas Jefferson (apudDizard, 1982) também afirmava que a liberdade deexpressão e de opinião é a base de todo governo e que amelhor maneira de aperfeiçoar as imperfeições dademocracia é aumentando a quantidade e a qualidade dasinformações à disposição do povo.

Cabe, nesse momento, uma reflexão sobre a possibilidadede utilização da infra-estrutura proporcionada pelas redesinformacionais com vistas à implantação da denominada“democracia direta”, que, em tese, permitiria a participaçãoativa dos cidadãos nas decisões políticas (ou seja, nopoder), de uma forma ainda não experimentada. SegundoMcLuhan (apud Servan-Schreiber, 1974), a televisãotransformou o mundo em uma “aldeia global”, e Servan-Schreiber questiona se seria exigido que um regime defato democrático retomasse a democracia dos cantões

suíços, nos quais as decisões são tomadas em reuniões naspraças, tal como ocorria na Grécia antiga. O que dizerentão das transformações advindas com a Internet, ondea comunicação é em tempo real, e as distâncias não existem?Entender como o poder está lidando com esse novoambiente informacional é perceber o que comanda a ondade fusões e reorganizações de grupos econômicos,regulamentações e desregulamentações de mercados, e avalorização sem precedentes do ativo “conhecimento”.

Ainda sobre o novo ambiente informacional e o controlepolítico, Almino (1986) registra a possibilidade deutilização dos novos recursos tecnológicos comoinstrumentos democráticos para que todos participem da“arte de governar” e possam exercer o controle sobre osgovernantes. As novas tecnologias, porém, podem serigualmente instrumento para estabelecer um controlepolítico sobre a sociedade. Para Servan-Schreiber (1974),o contraponto da democracia direta é a demagogia, quepode levar a uma distorção entre a vontade social, anecessidade social e as possibilidades da sociedade,preocupação igualmente manifestada por Dizard (1982),que alerta para a manipulação do poder no sentido dasatisfação de necessidades imediatas em detrimento deum processo sustentável a prazo mais longo.

Para Bobbio (1986), a democracia direta deveria seraplicada apenas nos casos de princípios gerais, pelo seucaráter plebiscitário, ficando a resolução de conflitos deinteresse para serem resolvidos pela democraciarepresentativa. Segundo o autor, a “computadorcracia”,que em tese permitiria o exercício da democracia direta,seria uma hipótese “pueril”, pelo risco de o excesso departicipação gerar a saciedade de política e o aumento daapatia eleitoral.

Já Castells (1999) afirma que as novas possibilidades deexercício da democracia, proporcionadas pelas condiçõesinstitucionais, culturais e tecnológicas, tornam“obsoletas” estruturas de poder baseadas na forma dedisputa política e no sistema partidário convencional, mastambém admite como concreto o risco de que a demagogiaou a tirania ocupem o espaço antes ocupado pelo processotradicional. O autor ainda registra que a “recriação doEstado local”, o aumento da comunicação “horizontal” eda participação política podem contribuir decisivamentepara o aperfeiçoamento da democracia.

A idéia de comunidades com cooperação ativa eautocontrole também está presente no pensamento deMasuda (1982). A democracia participativa seria possívelcom o acesso assegurado à informação e a participação de

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todos no processo decisório. A reformulação dos sistemassocioeconômicos e a inovação sistêmica exigem que asestratégias de poder sejam redesenhadas e passem acontemplar, entre outras alterações, as transformações emcurso no sistema educacional, base do poder condicionado.

Quanto à capacitação que leva à percepção e ao entendimento,é dever do Estado assegurar a oferta de oportunidadeseducacionais para todos, certamente com a participaçãode organizações não estatais, como entidades de classe,sindicatos e centrais sindicais, e a clara percepção de queos processos produtivos requerem trabalhadores educadospor conta da “competitividade baseada no conhecimento”(Demo, 1995). Anísio Teixeira (apud Rocha, 2000) diziaque “a educação faz-nos livres pelo conhecimento” e quedemocracia é, literalmente, educação. Dizia ainda que oprocesso educativo não é apenas “treino e domesticação”,mas é, fundamentalmente, a formação do cidadão livre econsciente, base e condição para a democracia. Russell(1979) afirmava que a educação deve ter como tarefa acapacitação dos homens pela combinação de cidadaniacom liberdade na criatividade individual. Miranda (1977)afirma que a capacidade dos cidadãos de julgar e participardo governo também está relacionada à quantidade e àqualidade da informação à qual eles têm acesso. Mas ainformação não precisa apenas ser acessada ou ter suacirculação facilitada, é preciso que ela seja percebida eentendida, e essa capacidade somente pode serdesenvolvida com processos educacionais adequados.

A capacitação para o exercício da cidadania, porém, éprovidência que encontra sinalizações contraditórias nodiscurso e na prática das relações vigentes de poder, que, àconta da prevalência do mercado, fragiliza as relações detrabalho, aprofunda as desigualdades e esgarça ainda mais otecido social. Tecido social que é “tecido com o que há demais delicado na natureza humana. Juntando-se oscontrários. Harmonizando-se os extremos. Lançando-sepontes sobre abismos” (Gilberto Freire, apud Silveira, 1996).

Mas o próprio processo de disseminação ativa doconhecimento pode ser parte de uma estratégia demanutenção do poder. Segundo Demo (1995), há grandediferença entre a ignorância que é mantida pela falta deconhecimento e a ignorância construída com base em um“conhecimento truncado”. Na primeira, o conhecimentoé negado, na segunda o conhecimento é destorcido oucomprometido apenas com a inovação tecnológica, parafins de aumento da competitividade, e não para o exercícioda cidadania. Matta (1980) afirma que a expansãoquantitativa da informação pode levar à desinformação,distorção e supervalorização de fatos não relevantes e ao

silêncio sobre situações comprometedoras para osinteresses do sistema.

Sobre o assunto, Almino (1986) registra também apossibilidade de que a sociedade seja submetida a umambiente de “hiperinformação”, com a intenção de ocultaro que de fato interessa. Ainda segundo Almino, a“superoferta” de informação também pode aumentar, emtermos relativos, a ignorância da maioria, reforçando aestrutura de dominação existente. Já Dizard (1982) citacomo possíveis conseqüências maior alienação social e aerosão dos valores tradicionais. Servan-Schreiber (1974)também afirma que a manipulação de informações é umadas práticas mais correntes no exercício do poder, e aindaquestiona se há, de fato, utilidade social no “excesso deinformações”. Esse aspecto pode ser mais bemcompreendido quando se leva em conta que a informaçãoé essencialmente relacional, não podendo ser avaliada –ou sequer percebida, fora de um contexto social. Popper(1980) afirma que a compreensão do sentido ousignificação de um evento social requer a análise de suagênese, de seus efeitos, do seu valor situacional e o examedas tendências históricas relacionadas e a contribuiçãodo evento para o processo histórico.

A era da informação alterou também as relações entre asnações. Seja por meio do pagamento de licenças de uso,royalties, leasing ou o simples acesso, a aquisição edistribuição da informação têm implicações do ponto devista do poder. Miranda, já em 1977, alertava que os “custosmarginais e as conseqüências políticas e/ou a dependênciatecnológica” poderiam ter intensas repercussões noconcerto das relações internacionais. Segundo Matta(1980), a informação está estreitamente vinculada à idéiade independência, quer seja econômica ou política. O quepresenciamos, de fato, é um agravamento dos desníveisentre os países, não mais apenas a partir do poderio militarou econômico, mas, principalmente, a partir da detençãode direitos intelectuais sobre tecnologias e da apropriaçãodo conhecimento, por meio do controle do acesso àinformação.

Uma espécie de “colonialismo informacional” (Thiam,1980) ou de “imperialismo informacional” (Miranda,1977) parece estar vicejando. Em países do TerceiroMundo, o controle da infra-estrutura e dos capitaisnecessários à modernização e à expansão da rede detelecomunicações por grupos econômicos transnacionaistende a consolidar uma posição de dependênciatecnológica que dificulta a implementação de projetosnacionais. Daí a importância de iniciativas como oPrograma Sociedade da Informação, do governo brasileiro,

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que pretende diminuir o gap tecnológico, por meio doapoio à pesquisa e capacitação. O desafio é enorme, mashá espaço para a inventividade do cientista brasileiro,desde que o governo e o setor privado nacional de fatoconfirmem o interesse em proporcionar ao país aoportunidade do desenvolvimento.

CONCLUSÃO

Arnold Toynbee (apud Serven-Schreiber, 1974) consideraque as grandes crises contemporâneas resultam do fossoque se cavou entre o fabuloso desenvolvimento dasciências (e do poder que assim é colocado nas mãos doshomens) e a estagnação dos conceitos éticos e políticos(que regem o modo de utilização desse poder). É o “gapmoral”, para o qual as novas tecnologias informacionaispodem contribuir – seja para sua redução, seja para suaampliação – a partir da formulação e implementação depolíticas públicas de acesso à informação que permitam oefetivo exercício da cidadania.

A ciência da informação, ciência de caráterinterdisciplinar, que tem por objeto o estudo daspropriedades gerais da informação (natureza, gênese eefeitos) (Le Coadic, 1996), pode atuar na construção dacidadania, por meio dos estudos das necessidadesinformacionais, dos processos de interação e dos sistemasde informação. Vickery (1989) afirma que a ciência dainformação está identificada com o estudo da comunicaçãoda informação na sociedade, o que pode significar efetivacontribuição para a facilitação dos processos detransferência de informações.

A divulgação e o uso de novos conhecimentos etecnologias podem fortalecer o processo democrático epossibilitar à sociedade encontrar novas formas deconvivência e de superação dos desníveis existentes, pormeio da construção da chamada “inteligência coletiva”(Lévy, 2000). A criação de conhecimento é uma dasconquistas da sociedade também prevista por Masuda(1982). Nesse contexto, a participação do profissional deciência da informação no processo de oferta de produtos eserviços mostra-se com crescente importância (Rosenfeld,1998). Os cyberians (termo usado por Rosenfeld para anova geração de librarians) entendem que o novo terrenoda Internet é uma nova fronteira, depois de muito tempoprovendo acesso à informação impressa armazenada embibliotecas tradicionais. Esse conhecimento acumulado,devidamente atualizado em termos tecnológicos, podeser usado para resolver problemas de informação eminúmeros contextos (Barbosa, 1998).

Os profissionais da informação lidam, basicamente, coma organização e o acesso à informação por meio de sistemas,e são habilitados para explorar tecnologias, o que vem aoencontro da afirmação de Dillon (2000), de que o gerentedo projeto de desenvolvimento da oferta de produtos eserviços informacionais deve ter o conhecimento e aexperiência em estruturas que contemplem os múltiplosníveis e camadas de interação entre pessoas, máquinas etecnologias. O papel do profissional da informação écontribuir para a ampliação da participação nos processosdecisórios do governo, para a compreensão dos processoseconômicos, sociais e políticos, assim como seus conflitosinerentes nos níveis nacional e internacional.

No século XXI, o desenvolvimento das nações tem comofator-chave o acesso universal à informação e aos produtose serviços públicos. Nesse sentido, o Estado deve assegurarprioridade para os processos educativos e de difusão doconhecimento, valorizados pelo uso intensivo na geraçãode riqueza e capazes de fazer a “oportunidade dedesenvolvimento ou o desenvolvimento comooportunidade”, na superação da “pobreza material”, semdescuidar da utilização da educação e do conhecimentocomo instrumento da cidadania para a superação dapobreza política (Demo, 1995). Somente a prática política(participação social no processo político – cidadania)poderá fazer com que o direito à informação sejainstrumento de transformação da realidade, pois tal direitoé a base para qualquer reivindicação consciente demudança.

O ambiente informacional atual já contempla asexpectativas traçadas em 1974 por Servan-Schreiber,quanto ao acesso à informação:

• qualquer que seja o lugar em que a informação éproduzida;

• no próprio momento em que a informação é produzida(e, conseqüentemente, influenciando os própriosacontecimentos);

• onde quer que se encontre o consumidor da informação;

• qualquer que seja o momento em que se precisar dainformação;

• qualquer que seja o tema desejado.

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Esse ambiente está reformulando as estratégias demanutenção das estruturas de poder. As bases tradicionaispersistem – o uso exclusivo da força, base do poder“condigno”; a liberdade de expressão, deturpada para oexercício do poder “condicionado”; o direito depropriedade, base do poder “compensatório” –, mas agoraa sociedade tem a possibilidade de exercer, com maiorefetividade, o controle democrático sobre o exercício dopoder político.

Esse controle democrático deve se refletir no sucesso daadministração da transição para uma nova realidade, naqual o poder seja de fato exercido e controlado por umacidadania ativa, o que vai depender do grau de conciliaçãoalcançado entre as novas tecnologias informacionais e osvalores humanos sobre os quais está alicerçada nossasociedade. São necessárias novas formas de manifestaçãoda cidadania, com democracia participativa e estratégiasadequadas para relacionar necessidades públicas einteresses privados, em uma divisão de responsabilidadesque tenha como focos o cidadão e o bem-estar social.

Montesquieu afirmava que “o mundo não é governadopor “cega fatalidade”, e, no mesmo sentido, Popper (1980)ensina que “o curso da história humana é fortementeinfluenciado pelo crescer do conhecimento humano” eque uma “sociedade aberta” é aquela em que os homenssão agentes críticos de seus destinos, em uma espécie deneodarwinismo. O futuro, então, é construído, e não dado.

Em 1977, Miranda afirmava que os países emdesenvolvimento precisavam “acelerar a disseminação dainformação em todos os níveis de sua estrutura social”.Essa é a questão central: assegurar o acesso à informação,para a construção de uma cidadania plena, a activae civitatis(cidadania ativa), de que nos fala Bobbio (1986). É esse odesafio dos brasileiros a vencer no século XXI, para odesenvolvimento de uma sociedade que reflita overdadeiro sentimento de brasilidade, que passa pelo amorà pátria, cultiva a fraternidade e condena a injustiça. Umasociedade do tamanho do Brasil. “Ser informado é serlivre”. (Norbert Wiener)

“Podemos interpretar a história do poder político do pontode vista de nossa luta pela sociedade aberta, pelo governoda razão, pela justiça, pela liberdade, pela igualdade e pelocontrole do crime internacional. Apesar de a história nãoter fins, podemos impor-lhe nossos fins; e, apesar de ahistória não ter sentido, podemos dar-lhe um sentido”.(Karl Popper, The open society and its enemies)

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