um estudo de caso do vale do lima (portugal)

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O TURISMO COMO AGENTE DE DESENVOLVIMENTO RURAL Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal) FRANCISCO SILVA DE CALHEIROS E MENEZES

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Page 1: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

O TURISMO COMO AGENTE DE DESENVOLVIMENTO RURAL

Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

FRANCISCO SILVA DE CALHEIROS E MENEZES

Page 2: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

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RESUMO Os inúmeros problemas que afectam as zonas rurais, tais como a diminuição

populacional e dos espaços florestais, a agricultura de subsistência, a ausência de infra-

estruturas básicas e o desemprego, conduziram ao desenvolvimento de medidas

específicas e à implementação de programas a nível internacional, nacional e local.

Paralelamente, no que diz respeito ao desenvolvimento do potencial turístico, o aumento

do tempo de lazer criou novas oportunidades e ameaças. O crescimento do turismo de

massas tornou evidente a necessidade de um maior cuidado no planeamento,

implementação, desenvolvimento e acompanhamento de iniciativas e projectos no

âmbito do turismo.

O Turismo Rural, apesar de ser um importante segmento de mercado em muitos países

Europeus, é em Portugal, ainda uma experiência recente, identificada, apoiada e

promovida nas últimas duas ou três décadas. Assim, a necessidade de uma abordagem

integrada e interdependente a nível económico, ambiental e social, no que diz respeito

ao turismo e às zonas rurais, exige uma maior efectividade dos processos de

desenvolvimento e das suas formas de apoio institucional.

O espaço físico a que se reporta o presente estudo é o Vale do Lima, no Norte de

Portugal, considerado como um destino turístico de qualidade e como uma zona rural

frágil. O objectivo deste estudo centrou-se numa avaliação do potencial turístico para

estimular e subsequentemente integrar programas de desenvolvimento rural. A

contribuição significativa do turismo para o desenvolvimento rural nesta área geográfica

específica, e a sua cooperação simbiótica, é aqui apresentada e debatida.

Assim, três estudos de caso foram seleccionados e analisados: o turismo de aldeia, o

projecto de implementação de um campo de golfe e um centro hípico, de forma a

permitir apresentar mais do que uma observação teórica e tornando evidente os

resultados práticos do turismo como um potencial agente de desenvolvimento rural.

Page 3: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

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AGRADECIMENTOS

A publicação deste livro representa o atingir de um objectivo há muito esperado. Várias

pessoas contribuíram para que tal fosse possível, a quem eu gostaria de expressar os

meus agradecimentos e reconhecimento.

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer aos meus supervisores, Dr. Jonathan Edwards

e Dr. Roger D. Vaughan, pela orientação e crítica construtiva da minha tese. E também

ao académico Dr. Artur Cristóvão, da UTAD - Universidade de Trás-os-Montes e Alto

Douro, pelos seus conselhos e apoio.

Entre as minhas dívidas estão também os inúmeros empresários do sector turístico,

organizações e líderes nos processos de decisão que tão amavelmente cooperaram nesta

pesquisa. Em particular, gostaria de expressar os meus agradecimentos à Dra. Maria do

Céu Sá Lima, da TURIHAB - Solares Portugal, ao Eng.º João Abreu Lima e ao Dr. Gil

Dias, da ADRIL - Associação de Desenvolvimento Rural Integrado do Lima, pelo apoio

concedido e pela disponibilização de informação e dados secundários relativos ao

programa do Vale do Lima.

Finalmente, gostaria de agradecer à Dra. Teresa Rosa pela paciência necessária à leitura

e revisão deste manuscrito. E também aos meus amigos e família, especialmente à

minha mãe, e em particular à minha esposa e filhos, Cristina, Francisco e Rosário, a

quem espero que estas linhas sirvam de exemplo prático para as suas vidas.

Page 4: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

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INDICE DE CONTEÚDOS

Título e Subtítulo

Resumo

Agradecimentos

Índice de Conteúdos

ÍNDICE

1.CAPÍTULO UM: INTRODUÇÃO

2. CAPÍTULO DOIS: TURISMO RURAL

Turismo Rural: Recentes tendências

O Desenvolvimento Passado, Presente e Futuro

Mudanças

Perspectivas de Desenvolvimento atuais e Futuras

3. CAPÍTULO TRÊS: O VALE DO LIMA

Identidade

Caracterização da zona

Território e população

Actividades económicas

O Vale do Lima

O Turismo no Vale do Lima

A implementação de Turismo Rural: recursos Secundários

O lugar da qualidade

Competição num mercado global

Page 5: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

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4. CAPÍTULO QUATRO: ALGUMAS ABORDAGENS DO PROCESSO DE

DESENVOLVIMENTO

Desenvolvimento: um processo contínuo / uma abordagem equilibrada / uma

administração adaptada

O Processo de Desenvolvimento Rural

O Papel de Entidades Supranacionais, Nacionais, Regionais e Locais

O Governo Nacional

Acordo e Cooperação

Identificação de interesses comuns

Grupos de Acção Local

Atitudes e Desenvolvimento

Algumas abordagens da actividade turística e do desenvolvimento rural

Políticas de Desenvolvimento Sustentável

Desenvolvimento rural: Um acordo entre objectivos gerais e específicos

PAC na Génese do LEADER

Princípios gerais da iniciativa comunitária LEADER

LEADER um Regulamento Comunitário Orientado / Uma Prescrição de

Desenvolvimento

Uma Entidade Local

Um Plano de Acção Local

Sumário

5. CAPÍTULO CINCO: OS ESTUDOS DE CASO

Estudos de caso: Critérios na selecção de Projectos e justificação da metodologia

escolhida

Definição de critérios

Critérios aplicados à selecção dos estudos de caso

Justificação da metodologia escolhida

Investigação- Acção

Page 6: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

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Recolha de dados secundários

Recolha de dados primários

Justificação dos métodos escolhidos em função dos estudos de caso

Estudos de caso

ADRIL - Associação de Desenvolvimento Rural Integrado do Lima

Turismo Aldeia (Soajo)

Áreas urbanas e áreas rurais

O Campo de golfe

Abordagem integrada

Uma função social produtiva

Considerações ambientais

Selecção dos Projectos apresentados

Resultados económicos

O Centro Equestre - Centro Hípico

Protecção ambiental

Construção e reforço da identidade

6. CAPÍTULO SEIS: CONCLUSÕES

Avaliação correlativa do Desenvolvimento no Vale do Lima

Sumário

7. INDICE BIBLIOGRAFICO

8. SIGLAS

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INDICE DE QUADROS

QUADRO 1: Características da área pág. 38

QUADRO 2: Tipos de Dados e Informação Necessária nas Várias Fases do Processo de

Desenvolvimento Rural p.49

QUADRO 3: Abordagens Hierarquicamente Crescentes e Decrescentes /Benefícios de

uma Abordagem Mista. p.50

QUADRO 4: Principais Funções do Turismo Rural Sustentável..... p.60

QUADRO 5: Aspectos a considerar numa análise da importância crescente do Turismo

como um Agente de Desenvolvimento Equilibrado...... p.61

QUADRO 6: Limitações e Constrangimentos do Sector Público em Portugal.... p.67

QUADRO 7: Princípios fundamentais do Programa LEADER p.72

QUADRO 8: Medidas para fomentar o Desenvolvimento Rural...... p.73

QUADRO 9: Recolha de Dados.... p.83

QUADRO 10: Condições para um Processo Contínuo de Desenvolvimento p.88

QUADRO 11: Golfe - Padrões de Desenvolvimento para uma Aproximação Integrada,

Efectiva e a Longo Prazo p.100

QUADRO 12: Criação de Cavalos: Oportunidades e Ameaças p.110

QUADRO 13: Principais Benefícios da Actividade Turística..... p.126

QUADRO 14: Temas Principais e Subsidiários de Cada Estudo de Caso p.129

Page 8: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

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1. INTRODUÇÃO

Esta obra é acima de tudo sobre a vida e a morte... e a mudança, sobre as alterações que

os seres humanos e o seu meio ambiente podem sofrer ao longo do tempo, resultado de

processos de interacção sociais e naturais – um movimento contínuo, da nomadização à

sedentarização... Dos primeiros viajantes aos primeiros agricultores..... É acima de tudo

sobre desenvolvimento nas áreas rurais, sobre o caso específico do Vale do Lima, que

utilizando o turismo como um meio de reconversão e resolução de problemas de

desertificação, despovoamento e de um sistema de exploração agrícola deficitário,

obteve resultados efectivos e funcionais, mantendo o carácter distintivo desta área, e

unindo o património existente com tendências futuras. É também sobre o renascimento

e a reconstrução dos espaços rurais e sobre as instituições que apoiam estes processos.

1.1.Objectivos

O provável aumento generalizado do tempo de lazer, especialmente nas últimas quatro

décadas, os resultados do desenvolvimento do turismo, as mudanças globais do próprio

conceito de desenvolvimento, requerem uma análise detalhada do planeamento e da

implementação de qualquer projecto turístico. Considerando o turismo como um agente

de mudança e o desenvolvimento como um processo contínuo, a necessidade de uma

observação constante justificam a realização deste estudo. Além disso, o espaço rural

apresenta uma oportunidade para um novo tipo de desenvolvimento turístico. A sua

fragilidade e os seus problemas específicos devem, contudo ser objecto de atenta

consideração.

Assim, o objectivo desta obra , é apresentar um conceito de turismo rural como agente e

motor de desenvolvimento rural e ilustrar de que forma isto pode ser atingido,

descrevendo e analisando este tipo de estratégia e a sua implementação no Vale do Lima

(no norte de Portugal), no âmbito do Programa Comunitário LEADER.

Page 9: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

9

Foram também analisados alguns dos principais conceitos, processos e metodologias de

desenvolvimento rural, de forma a encontrar as respostas adequadas para questões

como: Quais as metas e funções de Desenvolvimento Rural? Quais os processos de

gestão apropriados? Quem leva a cabo o processo de desenvolvimento rural? Que

métodos e meios de gestão e possuem à sua disposição os gestores de Desenvolvimento

Rurais?, E simultaneamente: Como pode o turismo ser considerado um agente de

Desenvolvimento Rural?

Assim, os objectivos principais desta obra são os seguintes:

Uma síntese e análise de prescrições internacionais de Turismo como agente de

desenvolvimento Rural;

Uma descrição da zona de intervenção do LEADER, no Vale de Lima, no norte de

Portugal;

Os principais conceitos e teorias / metodologias de Desenvolvimento Rural;

Uma definição de programas de desenvolvimento rural;

Uma análise de diferentes formas de turismo adoptadas (alojamento, participação activa

e passiva em actividades desportivas / lazer);

Um guia prático para o estabelecimento, implementação, e operacionalização de turismo

rural.

Acima de tudo serão fornecidas informações essenciais sobre desenvolvimento rural

baseado no turismo numa situação particular como um exemplo para implementar

turismo funcional e efectivo através de programas de desenvolvimento rural integrado.

O Turismo Rural como agente de desenvolvimento rural implica um processo de gestão

consciente e contínuo que reconhece a importância da inter-relação entre turismo e

ambiente numa área rural particular. A utilização e exploração de recursos e espaços

Page 10: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

10

naturais e a necessidade de uma administração interdependente e integrada foram

também consideradas.

Esta investigação foi baseado em trabalhos desenvolvidos anteriormente e centra-se

principalmente na implementação do programa comunitário LEADER. (LEADER I e

II). Será contudo oportuno referir que tem em consideração o facto de não existir uma

teoria única para planear desenvolvimento. Porém as directivas da UNCED, FAO, PAC

e vários outros acordos internacionais visando uma administração mais integrada e

sustentável de áreas rurais e de turismo rural integrado em desenvolvimento rural,

constituem os fundamentos das metas estabelecidas nesta área do Vale do Lima.

Assim, serão apresentadas uma síntese e análise de desenvolvimento rural de acordo

com as prescrições internacionais da Cimeira do Rio e da Política Agrícola Comum, no

âmbito do Programa LEADER.

Para limitar a extensão desta apresentação esta investigação é centrada na

implementação e efeitos do turismo e das componentes do programa LEADER no Vale

do Lima na região do Alto Minho, no norte de Portugal.

A participação efectiva do Vale do Lima Vale em iniciativas de turismo rural desde

1982 e o tecido económico, social, geográfico, histórico e cultural da área justificam o

interesse neste processo de desenvolvimento específico e em particular no potencial do

turismo como catalisador de desenvolvimento rural.

A análise de três formas diferentes de turismo rural implementadas no Vale de Lima, no

âmbito da iniciativa Comunitária LEADER, será ilustrada pelos estudos de caso

seleccionados incluídos nesta obra.

Procedeu-se a uma consulta exaustiva de literatura, quer de círculos académicos, quer

de relatórios de organizações nacionais e internacionais. As principais fontes de

informação foram providas pela ADRIL (Associação de Desenvolvimento Rural

Integrado do Lima) e estudos de caso foram baseados em projectos individuais, sendo

alvo de pesquisas e investigações que constituem parte dos dados quantitativos

apresentados.

Page 11: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

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A selecção de estudos foi orientada com base nas seguintes considerações:

• Projectos que apresentam uma componente de turismo inovador;

• Projectos em que é pertinente uma diminuição dos problemas apresentados;

• Projectos que comprovam uma integração clara de turismo e desenvolvimento

rural;

• Projectos que representam uma contribuição significativa para realização das

metas estabelecidas pela ADRIL (Associação de Desenvolvimento Rural

Integrado do Lima).

Como observador participante foi mais fácil adquirir informações sobre os assuntos

estudados.

Este trabalho apresenta-se dividido em seis capítulos principais. Capítulo 1. Introdução

justifica o interesse deste trabalho, enunciando os seus principais objectivos, além de

apresentar um resumo descritivo dos assuntos tratados em cada capítulo.

Capítulo 2. Turismo Rural: apresenta uma definição de conceitos como Turismo, e

Turismo Rural, particularmente no contexto europeu e português e uma síntese das

características do turismo nas áreas rurais.

Capítulo 3: O Vale do Lima: características do vale de Lima são descritas, tais como a

ocupação e os usos tradicionais da terra, a sociedade, e o turismo. Após uma breve

revisão de alguns programas de desenvolvimento, particularmente os designados como

estimulo para o turismo, são analisados também os desafios particulares relativos ao

desenvolvimento do Vale do Lima.

Capítulo 4 Abordagem de algumas teorias de desenvolvimento Análise de algumas

teorias de desenvolvimento i.e. hierarquicamente crescentes e decrescentes, centradas

Page 12: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

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nas necessidades das comunidades locais e também discussão de desenvolvimento

integrado, e do papel das entidades não governamentais (ONG), a nível supra nacional,

nacional, regional, e local. São também apresentadas algumas considerações gerais

sobre atitudes e percepções. São ainda enumeradas algumas características particulares

do desenvolvimento de áreas rurais. Finalmente, políticas da União Europeia relativas

ao desenvolvimento do turismo rural (LEADER e PAC) são apresentadas.

Capítulo 5. O Estudo de Casos : apresenta os fundamentos da estratégia da ADRIL

(criação de um pólo turístico) e tendo listado todas as acções, justifica a selecção de

certos estudos de caso. Relativamente a cada estudo de caso, é apresentada uma análise

detalhada da estratégia global no âmbito do LEADER. São ainda revistos os processos

de candidatura, a selecção de projectos, a sua implementação e a sua situação actual.

A abordagem de cada estudo de caso é também justificada – assim como a metodologia

escolhida e a obtenção de informação. São descritas as vantagens e desvantagens da

investigação-acção e a obtenção de dados secundários. Questionário, Entrevistas,

Participação - observação são referidos como meios de obtenção de dados primários.

Uma justificação para a selecção dos três estudos de caso particulares é apresentada.

Capítulo 6. Avaliação e conclusões: Uma avaliação geral do que foi aprendido com esta

investigação e uma análise dos principais de acordo com os objectivos estabelecidos são

descritas nesta secção. São ainda listados os aspectos positivos desta investigação e é

apresentada uma reflexão sobre como certos aspectos poderiam ser melhorados. São

ainda dadas sugestões para futuras investigações.

Page 13: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

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2. TURISMO RURAL

As áreas rurais e os seus problemas particulares, tais como o despovoamento,

desflorestação, e uma agricultura deficitária conduziram à necessidade do seu

desenvolvimento. Por muito tempo agricultura foi a base de economia, provendo a

nutrição dos indivíduos, uma fonte de rendimento e geralmente satisfazendo as

necessidades básicas de sobrevivência dos seres humanos. Porém, as mudanças na

agricultura, especialmente depois do século dezoito, e recentes políticas visando a

preservação do nosso planeta substituíram a ênfase dada à produção e comercialização

de produtos agrícolas pela importância de uma preservação sustentável e integrada e

pela manutenção de áreas rurais.

Entre os países europeus e após a II Guerra Mundial, as políticas agrícolas

acompanharam a evolução agrícola e a mudança e redefiniram a construção do espaço

agrícola europeu; primeiro dando ênfase à produção e comercialização de produtos

agrícolas e depois procurando combater os problemas apresentados pelas áreas rurais,

especialmente o decréscimo populacional acentuado, a desflorestação e a agricultura

deficitária. A importância das áreas rurais e as suas características de espaço

privilegiado de interacção entre o homem e a natureza, transformaram-nas em

instrumentos fundamentais para diminuir os problemas do planeta, especialmente

depois da conferência do Rio, em 1992.

A agricultura passou assim a basear-se no uso intenso da terra e conduziu à

concentração massiva das populações rurais nas cidades. A optimização de recursos e

produtos agrícolas provocaram um excesso de mão de obra e foram responsáveis por

um êxodo rural que é, ainda actualmente, a causa de um decréscimo populacional

acentuado e de um abandono de muitas áreas rurais.

Porém, a agricultura e a silvicultura já não constituem actualmente a base das

economias rurais da EU. A partir da Segunda metade do século vinte, indústria,

comércio e serviços beneficiaram de um crescimento significativo em prol do cultivo da

Page 14: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

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terra, produção e emprego. Paralelamente, os avanços tecnológicos na agricultura e a

inovação a nível mecânico, biológico e químico, aumentaram consideravelmente a

produtividade, quer da terra quer da mão de obra. Como foi já referido anteriormente, a

modernização das estruturas agrícolas baseava-se inicialmente numa preocupação de

produção e comercialização de produtos agrícolas, englobando uma vasta gama de

condições e modelos, desde o cultivo intenso (tempo, quando, sempre) ao cultivo

extenso (espaço, onde, grandes áreas) da terra.

Os vários estados membros da EU, apresentam diferentes definições de áreas rurais.

Assim, as definições de áreas rurais são baseadas em critérios sócio-económicos (tais

como padrões agrícolas, densidade populacional por quilometro quadrado, ou declínio

populacional): A OCDE identifica áreas rurais como aglomerados populacionais com

uma densidade populacional inferior a 150 habitantes por Km quadrado: As áreas rurais

são ainda descritas como locais onde a população se ocupa maioritariamente no sector

primário. Assim, uma área rural pode ser caracterizada de acordo com seu número de

habitantes (demografia), pela sua paisagem e orografia (descrição de áreas montanhosas

/ relevo), e pelo tipo de ocupação dos seus habitantes. Além disso, áreas rurais e a

agricultura encontram-se estritamente relacionadas e sem agricultura a vida rural

deixaria de existir.

"Durante os próximos anos, a capacidade das áreas rurais para manter ou criar

ocupação terá um impacto fundamental na taxa de desemprego e / ou "fluxos de

migração.””

A diversidade das áreas rurais na UE.

" A Europa rural, como é geralmente compreendida, estende-se por regiões, paisagens

rurais naturais, áreas cultivadas, florestas, aldeias, pequenas cidades , zonas industriais e

centros regionais;. formada por um tecido económico e social diverso e complexo:

quintas e explorações agrícolas, pequenas lojas , comércio e serviços, pequenas e

médias indústrias;. Caracteriza-se por uma grande riqueza de recursos naturais e

tradições culturais, e tem assumido um papel crescente e extremamente importante

como espaço privilegiado de lazer.” (PAC 2000)

Page 15: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

15

Existem não só diferentes definições de áreas rurais entre os países europeus como

também diferentes tipologias. São principalmente caracterizadas de acordo com a sua

densidade populacional e pelos seus problemas tipo (como pressão da vida moderna,

declínio rural e pelo seu caracter de áreas marginais) conduzindo à sua distinção pelo

Conselho da Europa como áreas rurais integradas, áreas rurais intermediárias e áreas

rurais remotas. De acordo com a Política Agrícola Comum , Documento de Trabalho,

de 1997; na totalidade, aproximadamente 10% da população da União Europeia vive e

trabalha em áreas predominantemente rurais que são frequentemente áreas rurais

remotas, cobrindo 47% da União Europeia. Por outro lado, 60% da população

encontra-se concentrada em áreas urbanas que representam menos de 16% da área da

União Europeia.

Na Suécia, Finlândia, e Dinamarca, a percentagem da população que vive em áreas

predominantemente urbanas é a mais baixa, mas apresentam aumentos no que diz

respeito à classificação de áreas intermediárias e regiões predominantemente rurais. Nos

países mais urbanizados - o Países Baixos, Bélgica, o Reino Unido, Alemanha, e Itália –

verifica-se o oposto. A Irlanda, Áustria, Grécia, e Portugal são caracterizadas por uma

estrutura dual, com uma percentagem alta da sua população vivendo nas duas categorias

extremas,: predominantemente rural e predominantemente urbana. Na França e em

Espanha, a maioria das pessoas vive na categoria intermediária, regiões

significativamente rurais

Assim, Portugal aparte de ser caracterizado por uma estrutura dual também pode ser

considerado como um país que apresenta áreas rurais integradas, remotas e

intermediárias. . Conforme referido por Simões Lopes (1980) " Portugal apresenta-se

actualmente como um país altamente desequilibrado onde as diferenças se tornam cada

vez mais pronunciadas como parte de um processo cumulativo."

A região do norte de Portugal, com uma área de 21 290Km2, tem uma população de 3.4

milhões de habitantes ( 29% com idade inferior a 15 anos). Em 1985, 1.45 milhões de

habitantes trabalhavam activamente, apresentando uma taxa de desemprego de 10.5%.

(BABO UM, SÁ F, 1986). Porém, de acordo com Castro, M e González, M. (1999), em

1997,1,59 milhões de habitantes trabalhavam activamente, apresentando uma taxa de

desemprego de 6.8%.

Page 16: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

16

Se consideramos como "urbano", aquele que vive num raio de 5Km de um centro

urbano com mais de 10 000 habitantes, a percentagem de áreas urbanizadas na região

Norte seria de 53.4%. Outros autores realçaram um índice de concentração-dispersão de

população em 1981, que distingue claramente o Litoral Norte do Interior Norte : onde é

superior a percentagem de população que vive em áreas com menos de 2000 habitantes.

Deste modo o Litoral Norte apresenta uma maior dispersão da população, -67% da

população ocupa 12 992 lugares, ao passo que no Interior Norte -86% da população

ocupa 1920 lugares.

A necessidade crescente de um estilo de vida saudável, de uma alimentação de

qualidade e de uma maior qualidade de vida, levam a que a agricultura combine a sua

função como produtor de alimentos com seu papel de administrar a terra de forma

ecológica, contribuindo também socialmente para gerar emprego e lucros. Esta

combinação de funções requer a formação e implementação da futura geração de

agricultores, no âmbito de uma rede suficiente nova e diversa, assegurando a vitalidade

das aldeias, valorizando os produtos locais, e conservando a identidade local ,

Consequentemente isto dará lugar a uma variedade de produtos e actividades,

aumentando as energias e potenciais de cada zona, com possibilidades de acesso a

tecnologia avançada e satisfazendo as expectativas públicas de um aumento de

qualidade.

Desenvolvimento rural não pode ser apenas a simples reestruturação da agricultura,

quando agricultura está constantemente perdendo a sua própria importância. Assim, a

importância do mundo rural deverá ser re avaliada e as áreas rurais deverão ser

encaradas sob uma perspectiva diferente. - Não de acordo com o seu carácter produtivo ,

como uma fonte de produção de alimentos, mas como áreas naturais de alto valor em

risco, frequentemente caracterizadas por uma rica fauna e flora que deverão ser

preservadas a todo custo. Os métodos de desenvolvimento rural resultaram

principalmente da consolidação das actividades secundárias e terciárias. Isto não

significa, no entanto, que eles não podem coexistir ou que a agricultura exclui outro tipo

de actividades.

Crescimento rural requer pois uma redefinição das relações entre áreas urbanas e rurais.

Uma intervenção equilibrada deveria considerar as necessidades de populações rurais e

Page 17: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

17

urbanas e redefinir as respostas para estas necessidades de acordo com a

interdependência dos diferentes elementos, a sua administração integrada e um

desenvolvimento sustentável. O paradigma de uma urbanização que concentra todo o

espaço e grupos rurais está completamente ultrapassado, tal como a distinção entre

modernização do mundo urbano e rural. A recente evolução não é uma intervenção

ininterrupta, nem constitui uma relação unilateral de cidade e campo, mas é uma mistura

do decréscimo e do fluxo que provoca e dá ênfase à renovação das sociedades rurais na

contradição do seu declínio.

Se uma distinção existe não é apenas entre cidade e campo, mas entre, por um lado

aglomerados urbanas com mais de 30 000 habitantes (incluindo os seus respectivos

subúrbios) e por outro lado, outras cidades periféricas com menos de 20 000 habitantes

que desempenham também o seu papel no desenvolvimento rural. Acima de tudo, ao

nível de características regionais, é necessário levar em conta as realidades sociais e

económicas para poder alcançar as metas adequadas.

Cada região deve possuir um suporte urbano e tecnológico apropriado, conforme suas

próprias características, o seu passado histórico e legado. Assim, cidades de tamanho

pequeno e médio contribuirão com os seus negócios, capital e associações para

assegurar a ligação entre os territórios.

Socialização Política

Certos consensos são resultado de valores sociais do nosso ambiente social. Geralmente

é aceite que o comportamento político é profundamente afectado por valores de grupo e

normas, embora estes sejam vistos como estruturas independentes ou como meras

reflexões das visões mantidas por grupos colectivos de indivíduos.

Estes padrões de comportamento reflectem as exigências e condições de vida sob

circunstâncias particulares - nível de conhecimento científico, disponibilidade de

tecnologia médica, graus de segurança física - e mudam com as circunstâncias sociais

que lhes são associadas O processo de aprendizagem por interacção social é chamado

socialização, e o processo de aprendizagem sobre política é chamado socialização

política.

Page 18: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

18

A nossa aprendizagem do mundo político é feita através da família, educação, trabalho,

e actividades de lazer. Princípios político são-nos ensinados na infância de forma

indirecta, mas eficaz e poderosa. Porém, os valores sociais nem sempre reflectem uma

preocupação com liberdade, individualismo, ou democracia. Com efeito, os valores

sociais tradicionalmente aprendido na infância geram valores políticos que são

antiéticos numa democracia liberal. A ênfase colocada na liberdade e individualismo da

criança, criada num contexto europeu contemporâneo é substituída pelos valores de

obediência, ordem, e comunidade. Uma criança de oito anos raramente terá sido

ensinada a menosprezar o individualismo, mas provavelmente terá sido castigada por

ser egoísta. Talvez uma criança de seis anos não entenda os perigos de fragmentação

social, mas aprendeu já a associar o livre pensamento com desobediência, e

manifestantes radicais e ciganos a "homens maus". Este tipo de padrões de socialização

encorajam os indivíduos a perceber o mundo em termos de um conflito entre o bem e o

mal, no qual os valores importantes de tradição, nação, estabilidade, religião e verdade

precisam ser protegidas contra o caos de subversão radical. Estas atitudes sociais

traduzem-se facilmente no apoio a valores políticos autoritários, lei e ordem, e governo

forte onde impera o respeito pela hierarquia.

Até que ponto uma sociedade tolerará que certas categorias de acção política dependa

da natureza das atitudes que as pessoas comuns adquirem através da sua interacção

social? Assim, a legitimidade da pergunta não pode ser determinada com base em

condições éticas absolutas mas deve ser vista como uma função de socialização política.

Um processo que produz valores sociais diferentes dado que o ambiente social muda

com o passar do tempo.

Divisões sociais: divisões políticas, divisões sociais - representam agrupamentos de

valores compartilhados e padrões de socialização comuns.

Divisões sociais fundamentais identificadas por Lipset e Rokkan (1967)

- Centro- Periferia

- Igreja- Estado

- Rural - Urbano

- Linguística

E divisões de classe

Page 19: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

19

Além disso, desde os anos 60 dois fenómenos principais emergiram que tendem a

debilitar a conexão entre divisões sociais e partidos políticos. As primeiras

preocupações, relativas ao alegado desarranjo de divisões sociais tradicionais,

conhecido como desalinhamento. As segundas preocupações, relativas ao aparecimento

de valores sociais novos sem conexão com a divisão social, conhecido como pós-

materialismo. Estas explicações de comportamento político centram-se nos factores que

moldam as decisões de indivíduos relativamente a valores políticos e sociais.

O efeito combinado de desalinhamento e pos-materialismo transformou os partidos

políticos principais em "catch-all", cujas políticas são crescentemente dirigidas pelas

necessidades percebidas e pelos desejos do grande eleitorado. Virtualmente todos os

principais partidos políticos se apoiam em valores pós-materialistas de uma forma ou de

outra e a maioria procura atingir o sucesso eleitoral modelando o seu programa político

por atitudes populares, em vez de as basear numa divisão de classes ou em outro tipo de

lealdade.

Portugal e a sua Identidade Atlântica - O Mundo Rural

Para avaliar a implementação de políticas em Portugal, especificamente as que

interessam ao desenvolvimento rural, é importante a análise da percepção geral do povo

português da sua identidade nacional, considerando os aspectos de um conceito

histórico, cultural, social e geográfico de identidade, baseado em tradições que estão

profundamente arraigadas nesta área.

Portugal tentou ao longo da sua história unir, por toda a parte, culturas diferentes

através do mar, confirmando a afirmação de Fernando Pessoa "... que a Terra fosse toda

uma, que o mar unisse e já não separasse mar": A história portuguesa pode ser

resumida pelos esforços do país em aproveitar as possibilidades Atlânticas do seu

território, expresso nas suas paisagens e situação geográfica, situado entre dois mares,

como um explorador precoce de outras culturas.

Page 20: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

20

Como o Jorge Dias refere, a singularidade de Portugal é principalmente devida ao mar

que conduziu à concentração de uma grande quantidade da sua população em áreas

litorais. De acordo com Hernâni Cidade (1887 / 1953) o mar também foi responsável

pela independência do país que conduziu à mudança da sua capital de Guimarães para

Coimbra e depois para Lisboa, tornando evidente a tendência para cedo transformar a

área litoral num centro activo.

Porém, de acordo com Yoskihiko, M (1999), a perspectiva oposta é verificada, por

exemplo nas pessoas japonesas que se descrevem como elementos de uma sociedade

rural, unidas principalmente pela agricultura e pelo cultivo do arroz. Contudo, na

realidade as suas actividades principais estão ligadas e são dependentes do mar.

Parecem, no entanto, não ter nenhuma ideia do papel e importância do mar na sua

história e nas suas actividades sociais . Podemos questionar-nos porque acreditam eles

que a agricultura era a base da sua sociedade. Podemos também questionar a tensão e a

importância colocada na relação dos Portugueses com o Mar, e a pouca atenção dada a

Portugal como um país rural, com uma sociedade rural evidente e como tendo um papel

importante nas mudanças agrícolas que ocorreram na Europa e no mundo inteiro.

No passado, alguns dos monarcas portugueses como D. Dinis (1261 - 1325) e D. João II

(1455-1495) adoptaram uma estratégia política que buscava harmonizar políticas de

terra e de mar (i.e. Silvicultura / Universidade / Ciência / Construção Naval). Contudo

durante muito tempo e até recentemente as actividades ligadas ao mar limitavam-se à

pesca como actividade económica e ao transporte de bens e mercadorias. Não obstante,

o desenvolvimento de agricultura encontra-se altamente ligado ao mar.

As Viagens Marítimas a partir do século XIV provocaram várias transformações na

agricultura. O estabelecimento de colónias na América e também em África e na Ásia

conduziram ao primeiro sistema inter regional de comércio transoceânico de produtos

agrícolas. Estes entrepostos coloniais especializaram-se em colheitas como o algodão, a

cana-de-açúcar, e o arroz que não podiam ser produzidos na Europa. Com o crescimento

da procura destas colheitas exóticas, o sistema de plantação emergiu marcando o início

da agricultura comercial especializada em larga escala.

Page 21: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

21

A difusão mundial e a troca de variedades agrícolas importantes tiveram lugar com o

regresso a casa dos exploradores e comerciantes, trazendo plantas e animais

provenientes de sistemas agrícolas indígenas, ao mesmo tempo em que os imigrantes e

colonos introduziam no Novo Mundo as suas tradições agrícolas. Por exemplo, as

batatas oriundas dos planaltos andinos floresceram no ambiente fresco e húmido do

norte da Europa e depressa se tornaram numa nova variedade agrícola de cultivo.

De igual forma o milho, cereal de origem americana, foi amplamente divulgado,

tornando-se o terceiro cereal cultivado a nível mundial, depois do arroz e do trigo. Do

Novo Mundo vieram também outras variedades agrícolas como o tabaco, as abóboras,

os girassóis, e variedades de feijões que se incorporaram rapidamente nos sistemas de

cultivo tradicionais do Velho Continente. Ao mesmo tempo, o gado, diversas variedades

agrícolas, e métodos e sistemas de cultivo da Ásia e Europa foram introduzidos no

Novo Mundo. (Grossa e Marsh, 1996).

Mas, a agricultura em Portugal sofreu mais tarde um atraso considerável, uma vez que o

país não acompanhou a mecanização e especialização da agricultura comercial,

mantendo uma agricultura de subsistência, onde nas áreas litorais se combinava

frequentemente a terra e o mar (por exemplo, as algas eram usadas como um fertilizante

e os pescadores eram frequentemente também agricultores).

Turismo Rural: da Identidade à Competição num mercado global

Esta secção procura analisar o objectivo e a natureza do turismo rural, considerando as

tensões entre identidade e competição num mercado global. Além disso, serão também

referidas as vantagens e desvantagens de um mundo em mudança, considerando as

políticas da União Europeia para desenvolver o sector do turismo de uma forma

sustentável.

Neste século, o Turismo transformou-se num instrumento privilegiado para alcançar e

promover a compreensão internacional, promovendo e permitindo o contacto entre

povos das mais distantes partes do globo, de vários idiomas, raças, credos, e convicções

Page 22: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

22

políticas, e económicas... O Turismo reúne-os... Fomentando o contacto pessoal e

gerando o entendimento e a compreensão de atitudes e convicções por si só tão diversas.

(Davidson: 1997).

O Turismo encontra-se intrinsecamente ligado à ideia de viagem. E a ideia de viagem,

definida como a superação de distâncias geográficas, é inseparável da história do género

humano. As Peregrinações, as Caravanas de Mercadores, as Cruzadas, e as Expedições

obedeceram originalmente a um ímpeto religioso, político ou económico. Em tempos

remotos as viagens eram geralmente inevitáveis e quase sempre desconfortáveis, mas

constituíam muitas vezes o único meio de alcançar um determinado objectivo.'

(Steinecke: 1993).

Normalmente os diferentes significados de turismo encontram-se ligados ao seu

desenvolvimento. Turistas são viajantes, movidos pela necessidade, fé, ou prazer e a

história do turismo está intimamente ligada ao desenvolvimento da riqueza, à melhoria

das condições de vida, às manifestações de fé e aos avanços nos transportes. Apesar da

enorme quantidade de definições de turismo, pode considerar-se que o seu

desenvolvimento se moldou dentro de preocupações económicas, sociais e ambientais, e

a atenção dada a este legado de padrões de desenvolvimento prévios é uma parte crucial

para assegurar o seu futuro. Além disso, e tal como refere Laws (1995):

'Virtualmente toda determinação humana tem uma tradição longa de visitas de

comerciantes e missionários, mas um lugar apenas se pode constituir como um destino

turístico moderno como resultado de dois tipos de actividades relacionadas. Estas

compreendem o desenvolvimento local de infra-estruturas que suprem as necessidades

de turistas e a comercialização dos serviços prestados nas áreas das quais os turistas são

oriundos. - Aeroporto internacional, vários hotéis, muitos restaurantes e uma gama

extensa de actividades interessantes para visitas temporárias.”“.

Steinecke (1993) recorre a Roma Antiga e ao exemplo dos Romanos e das suas

segundas casas em estâncias balneares, em localidades como Baie na Baía de Nápoles.

Depois das Peregrinações da Idade Média e das Cruzadas, as Viagens Ultramarinas dos

séculos XV e XVI, podem também ser consideradas como expedições turísticas a partes

remotas do globo. Porém, normalmente é dado grande ênfase às viagens da aristocracia

Page 23: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

23

europeia nos séculos XVII e XVIII, conhecidas como Le Grand Tour (Steinecke: 1993)

como exemplos da origem do conceito de turismo moderno. (através de Estâncias

Termais, Estâncias Balneares, Viagens de Comboio, Alpinismo, visitas ao campo, que

se estendem depois à burguesia e às classes mais baixas).

Mas quais os factores de desenvolvimento turístico e o que atrai os turistas a um

determinado destino? Especialmente depois dos anos 60 e tendo em mente o contexto

europeu, o turismo desenvolveu-se consideravelmente. O aumento do acesso aos meios

de transporte motorizados como o carro e o avião, a redução do horário de trabalho,

aumentaram o tempo livre, conduzido à expansão do sector turístico.

(Por um lado, Steinecke (1993)) considera o desenvolvimento do turismo como

resultado de um :

Aumento do tempo livre,

Aumento do rendimento,

Introdução legal dos dias feriados,

Crescimento populacional,

Progresso Tecnológico em geral, e os veículos motorizados, em particular,

Alterações na estrutura profissional;

Urbanização

Por outro lado, Laws (1995), aponta os seguintes factores, como estimulantes do fluxo

de turistas relativamente a um destino:

Facilidade de acesso,

Ligações étnicas ou históricas,

Actividades interessantes, paisagem, cultura e clima,

Familiaridade ou caracter exótico,

Promoção e Marketing desenvolvido,

A indústria turística é diversa, fragmentada e dinâmica, e pode ser estudada a vários

níveis e sob diversas perspectivas (Jenkins e Hall: 1995). Assim, surgem várias

definições de turismo que abrangem diferentes perspectivas e atitudes, não existindo

ainda nenhuma definição universalmente aceite de turismo.

Page 24: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

24

Macintosh e Goeldener (1990), consideram que:

'Turismo é a soma de fenómenos e relações que resultam da interacção de turistas,

empresários, governos , e comunidades, no processo de atrair e acolher estes turistas e

outras visitas.'

Davidson (1997) considera que 'Turismo se refere aos indivíduos que se encontram fora

de suas casas, em visitas em curto prazo, ou temporárias, com fins “turísticos”.

Medlick e Burkart (1992), apresentam duas definições diferentes:

Conceptualmente - turismo denota o movimento temporário das pessoas e a sua

deslocação a destinos fora dos lugares onde normalmente habitam e trabalham, e as suas

actividades durante a sua permanência nestes destinos

Tecnicamente - turismo representa várias formas de viagens em curto prazo e visitas

com um propósito definido e particular, e é definido de acordo com o propósito da

viagem ou visita, a sua duração e outro critérios.

Owen (1996), refere a relação entre lazer e riqueza. 'Se uma economia e suas unidades

económicas produzem maior riqueza, os indivíduos usufruem de um rendimento mais

alto. Como aumenta o rendimento disponível e as necessidades mais imediatas estão

satisfeitas, outras necessidades, até então ocultas, como as recreativas, as intelectuais ou

espirituais emergem. Como estas actividades requerem tempo livre, é provável que na

procura de mais actividades de lazer se procure também uma redução da quantidade de

horas de trabalho, ou se use o tempo livre mais activamente na persecução da satisfação

destas necessidades. Estas necessidades são satisfeitas em grande parte pelo sector dos

serviços, pela provisão de cafés e restaurantes, actividades desportivas e de lazer, hotéis

e oportunidades de viagem turísticas

Page 25: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

25

Esta definição dá ênfase à natureza económica do turismo. Porém, outros autores, como

por exemplo Davidson (1997), mencionaram os impactos sociais do turismo nas

populações locais que podem conduzir a hostilidade xenophilia/xenophibia, imitação,

remoção de caridade e a outras alterações do tecido social.

A importância dada ao ambiente, pode ser vista na distinção apresentada por Laws

(1995), entre recursos primários ou características primárias de um destino (que incluem

clima, ecologia, tradições culturais, arquitectura tradicional e formas de cultivo); e

recursos secundários , como hotéis, serviços , transportes, e actividades desportivas e

de lazer

Assim, considerando o desenvolvimento da indústria turística e as suas muitas formas,

nenhuma destas definição estaria completa. Então, e considerando o objectivo desta

obra, turistas serão aqui todos aqueles que se considerem como tal. Além disso e

considerando as características particulares das áreas rurais, o conceito de turismo

dentro desta investigação abrange o mercado doméstico e internacional.

O Contexto Europeu

A Europa é o primeiro destino para os turistas europeus e o destino mais importante

para turistas de outros continentes (49% de viajantes). Além disso, o turismo gera nove

milhões de postos de trabalho e é responsável por um terço do comércio internacional e

5.5% do PIB da União Europeia. (Comité Mundial de Turismo, 1999).

De acordo com o Comité Mundial de Turismo (1999) nos próximos dez anos a

indústria turística será responsável pela criação de aproximadamente 130 milhões de

postos de trabalho a nível mundial. Além disso, a importância das áreas rurais como

destino turístico manifesta-se de forma crescente. O crescimento do mercado turístico, a

sua importância e problemas específicos exigem uma política apropriada, de forma a

apoiar padrões de desenvolvimento, melhorar a qualidade e fundamentar futuros

processos de decisão.

Page 26: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

26

Como refere Mann (1998) o turismo tornou-se responsável pelo maior fluxo de

indivíduos, com todos os países de EU originando e recebendo grandes números de

turistas. Na realidade, os turistas europeus constituem cerca de metade dos turistas

mundiais (em 1985, eram 45% com tendência a aumentar). Assim, o turismo, quer

activa quer passivamente tem assumido uma importância crescente no mercado da EU.

Porém só após a terceira Convenção de Lomé se tornaria num sector elegível de

financiamento. A isto seguiu-se a Ano do Turismo em 1990.

Além disso, os avanços tecnológicos e a nova ordem de valores, resultado da

globalização necessitam de ser combinados cuidadosamente com a identidade regional /

local de forma a o carácter único e catalítico de cada área rural. "O Turismo é uma área

experimental ideal por implementar e monitorar os princípios de desenvolvimento

sustentável, mas os esforços da Comunidade Europeia para desenvolver o turismo e as

suas formas "alternativas" não deveriam ser limitados. Sendo pois necessário promover

um compromisso genuíno entre as autoridades públicas e a indústria turística,

procurando políticas viáveis e compatíveis com preocupações ambientais" e sociais.

(Mann: 1998)

O Livro de Verde de Comissão Europeu (EC: 1999) refere os principais assuntos que

devem ser considerados nesta área:

Reforço da coesão socio-economica;

Implementação de uma política de desenvolvimento em longo prazo;

Contribuição para a promoção da Identidade Europeia,

Contribuição para a administração de mudanças estruturais e técnicas e para o

desenvolvimento empreendimentos turísticos de PMEs,

Atribuição um valor extra para a adopção de políticas e instrumentos apropriados;

Além disso , a Política de União Europeia relativa à promoção de qualidade dentro da

Europa, é baseado nos seguintes princípios:

Satisfação dos cidadãos, clientes e consumidores;

A qualificação de pessoal, motivação e reconhecimento;

O respeito pelo ambiente,

Page 27: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

27

O uso dos recursos disponíveis de acordo com uma perspectiva de desenvolvimento em

longo prazo;

O reforço do emprego baseado na competição global, inovação, e criatividade.

Durante os séculos XIX e XX, o Turismo Rural emergiu e desenvolveu-se como um

sector separado, sendo o resultado de uma maior acessibilidade e mobilidade, e de um

aumento do rendimento económico e do tempo livre (Sharpley, R. & J.: 1997). Não

obstante, os impactos da urbanização na sociedade rural e nos seus valores, bem como

os efeitos da competição num mercado global, devem ser cuidadosamente avaliados no

planeamento e gestão do Turismo Rural. Assim, desenvolvimento de turismo rural

sustentável; parcerias nos processos de desenvolvimento de turismo rural e

envolvimento da comunidade local no turismo rural devem ser elementos intrínsecos de

todo o processo.

As áreas rurais Europeias oferecem aos visitantes múltiplas e variadas experiências,

magnificas paisagens naturais, uma intrincada zona cultivada, pequenas aldeias, a

hospitalidade dos habitantes locais, uma gama diversa de tipos de alojamento,

oportunidades recreativas, e uma diversidade rica de tradições culturais e gastronomia -.

Tal como refere Sharpley (o R. e J.: 1997), o turismo doméstico e internacional tem

aumentado consideravelmente nas áreas rurais, mas alterações no que se refere à

duração e objectivos das visitas e um rápido crescimento dos destinos alternativos a

nível mundial, reforça a necessidade de competitividade das áreas rurais Europeias.

(Sharpley, R. e J.: 1997)

Paralelamente, aumentou também a necessidade de uma avaliação dos impactos

positivos e negativos do turismo no ambiente e nas comunidades locais. Isto revela-se

particularmente importante em áreas rurais de pequena dimensão e nas quais os

visitantes estabelecem uma relação estreita com o local e com os seus habitantes.

Uma forma de abordagem e de ultrapassar esta situação é um processo de gestão

baseado na qualidade, assegurando aos visitantes uma experiência especial, satisfazendo

ou excedendo as suas expectativas, maximizando o potencial do destino.

Page 28: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

28

De acordo com Cavaco (1987), e especificamente considerando a situação portuguesa, o

turismo rural atrai apenas uma pequena proporção de turistas portugueses, uma vez que

o mercado é destinado a turistas que possuem um médio ou alto poder de compra, e que

estão dispostos a gastar dinheiro nas suas férias. Além disso, e de acordo com o mesmo

autor, este tipo de turismo não pode ser visto como uma panaceia para resolver

problemas tais como o subdesenvolvimento económico e social, e ainda o abandono e a

desertificação a que estão sujeitas as áreas rurais.

O Turismo Rural não é um fenómeno novo na Europa. Desde o principio do século,

muitos foram os que se deslocaram em férias para o campo, satisfazendo a necessidade

de sossego e entretenimento, inspirados pelas magnificas paisagens das zonas rurais.

Muitas destas visitas estão estreitamente relacionadas com a migração para as cidades e

um posterior regresso às origens; um fenómeno, actualmente, ainda importante em

muitas partes da Europa. Porém, recentemente o mercado tornou-se mais sofisticado e

houve um interesse crescente no turismo rural como um valioso instrumento para a

diversificação da economia rural. (Sharpley, R. e J.: 1997)

Este perfil é actualmente um denominador comum em todo o Espaço Económico

Europeu. A maioria dos estados membros apresenta situações semelhantes

relativamente às oportunidades do turismo rural.

No que diz respeito à procura, as tendências de mercado manifestam o seguinte:

• Uma diminuição do tempo de permanência nas áreas rurais. Isto afectou

especialmente a viabilidade de áreas menos acessíveis. Assim, a procura dá

maior ênfase a um aumento da qualidade, num período de tempo mais curto.

• Um aumento das visitas diárias nas áreas rurais perto de centros urbanos,

sujeitas assim a uma maior pressão e evidenciando uma necessidade de gestão

das visitas.

• Entre as camadas etárias mais velhas continuidade da popularidade das férias

em áreas rurais. Procurando não só tradições rurais e tranquilidade, mas também

manifestando maior consciência de actividades saudáveis.

Page 29: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

29

• Uma alteração no tipo de procura do mercado familiar, mais consciente da não

só da qualidade como também do preço, exigindo um ajuste dos produtos

adequados aos respectivos segmentos de mercado.

• Um aumento do interesse pelas actividades de lazer em áreas rurais

(nomeadamente circuitos pedestres e ciclo turismo), juntamente com um

aumento do interesse manifestado relativamente ao património e à gastronomia

local, estimulando a procura de grupos e programas independentes.

• Um interesse crescente pela natureza e uma maior consciência de aspectos

ambientais ligados ao turismo.

• Uma procura contínua de vários tipos de alojamento, desde Solares até parques

de Campismo, acompanhada por uma consciência crescente dos padrões de cada

sector.

• Uma fraca alteração do padrão de procura sazonal, sendo o período de verão

coincidente com a época alta, causando problemas de viabilidade e desafios na

gestão das visitas e no “marketing” deste tipo de produtos.

No que se refere à oferta, três factores principais foram responsáveis pelas alterações

verificadas:

• Diminuição e declínio dos rendimentos agrícolas e alterações nos sistemas de

incentivos e apoio às actividades agrícolas, exigindo aos agricultores uma

diversificação das suas actividades, conduzindo a um aumento considerável de

agro-turismo e outros empreendimentos relacionados.

• O trabalho levado a cabo por agências de desenvolvimento rural, inclusive

grupos LEADER apoiados por Fundos Estruturais Europeus.

• Uma consciência crescente por parte das organizações envolvidas na gestão

ambiental, incluindo parques nacionais e regionais e entidades ligadas à

preservação do património, das oportunidades de rendimento oferecidas pelo

turismo sustentável.

Tal como referem Snowdon, Farr e Slee (1997) o interesse pelo turismo rural como uma

estratégia de desenvolvimento aumentou consideravelmente nas últimas décadas, em

parte com devido às mudanças na política agrícola e também devido às mudanças

Page 30: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

30

operadas na indústria turística. Assim, a reforma dos Fundos Estruturais Europeus, em

1988, a reforma da Política Agrícola Comum (PAC) em 1992 e o Acordo do Uruguai

relativamente à Agricultura em 1994, evidenciam uma nova ordem das políticas

agrícolas com consequências profundas para economia rural dos Estados membros da

EU.

Além disso, durante os anos oitenta, assistiu-se a um interesse académico crescente pelo

conceito de turismo alternativo (“green/ soft tourism”), evidente principalmente no

trabalho de Krippendorf (1987), sendo implementados vários projectos de piloto. (Lane:

1988). Os elementos principais deste modelo alternativo apresentam-nos o turismo:

i) integrado numa economia local diversa;

ii) fazendo uso de produtos locais (artesanato, gastronomia etc.)

iii) fomentando a criação de emprego para os habitantes locais e contribuindo para o

aumento da sua auto-estima;

iv) respeitando o ambiente; e

v) respeitando tradições e modos de vida locais. (Snowdon, Farr e Slee :1997)

Como resultado, houve, recentemente, um aumento significativo do número de

empreendimentos de turismo rural, visando um mercado em mudança e mais perspicaz.

Destinos de Turismo Rural apresentam um aumento da necessidade de maior

competitividade, de forma a atrair e fixar segmentos de mercado. Em muitos casos isto

traduz-se numa redução dos preços para aumentar a competitividade. Contudo, mais

apropriado é a colocação de uma maior ênfase na qualidade e conhecimento do

mercado, enquanto assegurando que qualquer mudança é benéfica para o ambiente e

satisfaz as necessidades das comunidades rurais e da economia rural. (The Tourism

Company: 1998)

Assim considerando o caracter dinâmico das áreas rurais e as mudanças resultantes da

implementação e desenvolvimento de turismo rural no Vale do Lima, será oportuno

analisar de que forma se processou o desenvolvimento do turismo rural, que formas

assume presentemente e que tendências manifesta.

Page 31: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

31

As áreas rurais europeias sofreram mudanças significativas nas últimas décadas que se

repercutiram também nas suas funções. Agricultura familiar, agricultura comercial, tipo

de propriedade, êxodo rural ou vice-versa, emigração, são alguns dos padrões que

apresentam uma variação de acordo com o contexto de cada unidade geo-política.

As mudanças que afectaram as áreas rurais nas últimas décadas e a implementação de

projectos de turismo rural nestas áreas, juntamente com a difusão de conceitos de

turismo como agente de desenvolvimento local, de preocupação com assuntos

ambientais, sustentabilidade e turismo duradouro conduziu obviamente a uma

perspectiva nova de desenvolvimento do turismo rural.

Para descrever as mudanças em turismo rural, é importante ter em mente o que é

turismo rural, como se desenvolveu em cada situação particular e finalmente quais os

resultados.

Quando se pode então falar de turismo rural ou de turismo em zonas rurais? Sharpley,

R. e J.: 1997, referem que turismo rural não pode apenas ser entendido como 'turismo

que acontece na zona rural' (Lane: 1992), e compreende não só tipos diferentes de

turismo, como agro-turismo, turismo de natureza, mas também uma gama variada de

actividades.

Além disso, turismo não pode ser desassociado da possibilidade de viajar e da

disponibilidade de tempo livre. Aqueles que vivem nas zonas rurais escolhem a cidade e

aqueles que vivem na cidade escolhem as zonas rurais. Isto era e ainda é, também

altamente dependente da classe social e do tipo de rendimento.

De acordo com Hall e Jenkins (1997), enquanto o interesse directo de governo pelo

turismo rural é um fenómeno relativamente recente, muitas áreas de recreação rurais

eram há já muito tempo objecto de políticas e programas para a administração da água

e solo estabelecidos pelos governos, provendo recursos humanos e financeiros para

administrar recursos naturais. De notar particularmente, o estabelecimento de parques

nacionais, a reserva de terras públicas, a protecção de terras litorais e vias fluviais.

Page 32: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

32

Apesar da intervenção do governo no que diz respeito ao turismo rural e às actividades

de lazer em áreas rurais, ter sido por razões diferentes nos diversos países, podem ser

encontrados alguns elementos comuns. (Hall e Jenkins: 1997)

Em alguns países Europeus e após a Segunda Guerra Mundial, a rápida urbanização e o

aumento da mobilidade proporcionado pela propriedade do automóvel, aumentaram a

pressão sobre as áreas rurais, dada a maior possibilidade de acesso das populações

urbanas às actividades de lazer em áreas rurais. (Hall e Jenkins: 1997)

Em Portugal, o turismo rural foi restrito inicialmente a uma classe privilegiada:

dependente da existência de segundas casas. Anteriormente a primeira casa familiar, das

pessoas que passaram da zona rural para a cidade e que voltariam na estação de verão

ou durante a estação das colheitas.

Evidência do primeiro interesse do governo em áreas rurais pode ser encontrada na

criação de Pousadas (hotéis estatais em lugares históricos ou lugares com interesse

paisagístico: António Ferro: 1950: provisão de alojamento). O desenvolvimento privado

de Casas Senhoriais e Solares, como forma de possibilitar o alojamento em áreas rurais,

teve origem numa iniciativa privada em meados dos anos oitenta, especialmente na área

de Ponte de Lima, contando com o apoio do Programa Comunitário LEADER.

O Turismo de Aldeia como um desenvolvimento da comunidade local, só teria lugar

mais tarde. É importante lembrar, que nas décadas de 60 e 70 o país era afectado pela

emigração maciça e por mudanças sociais e políticas.

Apesar da criação do primeiro parque nacional em Portugal em 1970, a propriedade do

automóvel era também restrita, e grande parte da população estava concentrada em

áreas urbanas litorais. Alguns autocarros com turistas estrangeiros eram as visitas

principais de muitas destas áreas rurais e pequenas aldeias, sujeitas a despovoamento,

desemprego, emigração maciça e envelhecimento populacional.

De acordo com WTO (Thybal: 1997), dentro do contexto económico global da

actividade turística, turismo rural pode ser definido como acrescentando valor turístico:

Page 33: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

33

• a zonas rústicas, recursos naturais, património cultural, povoações rurais,

tradições locais e produtos campestres,

• produtos de marca, ilustrativos de identidades regionais, suprindo as

necessidades dos consumidores em termos de alojamento, restauração,

actividades de lazer, recreação e serviços relacionados,

• ao desenvolvimento local sustentável e como uma resposta adequada para as

exigências de lazer da sociedade moderna, constituindo um pacto social novo

entre cidade e campo.

Assim, o turismo rural fomenta uma série de serviços destinados a satisfazer as

necessidades e expectativas de visitantes e turistas relativamente a:

• Alojamento· (em casas privadas, em quintas ou na aldeia - hotéis rurais –

parques de campismo - casas de aldeia...) e serviços de catering (casas, quintas,

- hospedarias rurais - restaurantes),

• Actividades desportivas ao ar livre (caminhadas - ciclismo – hipismo - pesca -

caça - golfe - natação - vela - canoagem - asa delta - esqui...),

• Actividades culturais locais (eco-museus - tradições populares - itinerários

culturais - monumentos - visita a quintas e centros de artesanato), actividades

religiosas ou recreativas (festividades, peregrinações, exibições culturais...),

• A conveniência de ficar na zona rural (lojas e outros serviços perto),

• Informação turística (postos de turismo, associações locais e agências). (Thybal:

1997)

O desenvolvimento do turismo rural é o resultado das mudanças profundas no mundo

rural que requer a procura de novos desenvolvimentos através da diversificação de

actividades e o desenvolvimento e a identificação de um novo comportamento do

turista-consumidor, a procura de um novo estilo de lazer e férias, talvez, na procura de

uma identidade.

De acordo com as conclusões de WTO Joint Seminar (Thybal: 1997):

• O Turismo em áreas rurais é acima de tudo uma questão de oferta

Page 34: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

34

• O Turismo em áreas rurais é uma estratégia para criação de emprego, não um

mero suplemento relativamente ao emprego tradicional.

• O Turismo em áreas rurais é um estímulo ao envolvimento de autoridades locais

e à cooperação intermunicipal.

• O Turismo Rural pode ser inserido nos principais sistemas e redes de reserva de

turismo mundiais.

• O Turismo Rural pode beneficiar com o uso de novas técnicas e de novas

tecnologias.

• O Turismo Rural é um factor de avanço social: melhora padrões de vida,

mantém as habilidades manuais dos artesãos, complementa a produção agrícola,

promove a evolução da vida local e altera mentalidades.

• O Turismo Rural conduz ao desenvolvimento global. O desenvolvimento global

abrange instrumentos e estruturas estabelecidas.

• O Turismo Rural é uma fonte de sinergia associativa. Este associativismo é

expresso de vários modos: público-privado - cooperação sectorial, cooperação

através do suporte financeiro suplementar, cooperação dentro de uma aldeia,

dentro de uma rede, cooperação ao nível da comunidade ou cooperação de micro

para macro ou de macro para micro.

• O Turismo Rural promove o “know-how” de habilidades manuais, do trabalho

de indivíduos que usam materiais e recursos locais.

• O Turismo Rural promove a amizade.

Como previamente mencionado, o Turismo Rural foi usado como uma solução para a

criação de emprego, desenvolvimento local e protecção ambiental (Thybal: 1997).

Novos usos da zona rural conduzem a uma reformulação da paisagem rural. Porém um

das premissas do turismo rural sustentável é a sua necessidade de harmonia com a

multiplicidade de necessidades, usos e procuras que caracterizam as áreas rurais.

(Jenkins, Hall e Butler: 1998)

Além disso, o mundo rural não se limita, presentemente, somente à agricultura e ao

turismo. Isto reflecte-se nas novas perspectivas das áreas rurais, como recentemente

expresso na Declaração de Constança, 2000 "A Nova Aldeia Nova é Constituída pelas

Suas Idéias". Este Congresso, que teve lugar em Constança, de 7 a 9 de Setembro,

Page 35: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

35

reuniu trezentos e vinte delegados das áreas rurais de onze países europeus e o seu

objectivo era ponderar sobre o futuro das áreas rurais e definir o seu papel no século

XXI. As principais considerações salientaram a necessidade de proporcionar uma nova

autoconfiança às áreas rurais com base em cinco novos perfis de Aldeia. (A Aldeia das

Pessoas, A Aldeia dos Media, A Aldeia da Cultura, A Aldeia do Turismo, A Aldeia das

Gerações). Esta abordagem foi debatida e aprovada. Foi acordado que face a um cenário

variável e sujeito a alterações constantes, é imperativo um desenvolvimento contínuo

das políticas das áreas rurais. Da mesma maneira que qualquer outro local, as áreas

rurais têm que afirmar a sua posição como uma "região de aprendizagem". (Declaração

de Constança: 2000).

Além disso, concluiu-se que futuramente os indivíduos ocuparão um lugar primordial

nas considerações dessas aldeias e regiões relativamente ao desenvolvimento, e a sua

cooperação com os indivíduos permitir-lhes-á desenvolver um perfil inconfundível.

Aproximações integradas permitirão fortalecer os seus pontos fortes e debilitar os seus

pontos fracos. A criação de uma base regional permitirá a cooperação e o

estabelecimento de redes. É necessária uma coordenação mais forte de programas e

medidas públicas de forma a promover o desenvolvimento de conceitos integrados e

cooperação regional. O Congresso reconheceu o sucesso do desenvolvimento de perfis

de aldeia combinado com parcerias regionais.

O perfil da Aldeia do Turismo foi enunciado da seguinte forma:

• Aldeias de nas áreas rurais podem adquirir uma imagem forte através do

Turismo. Atracções de alta qualidade, como uma paisagem cultural intacta, um

aspecto atraente da aldeia, e habitantes hospitaleiros são condições prévias

vitais, que criam uma imagem sem igual.

• A Aldeia de Turismo precisa de um modelo de turismo a ser desenvolvido pelos

indivíduos e continuamente é actualizado.

• A Aldeia de Turismo tem que se posicionar claramente no mercado através de

temas, produtos, ou qualidade que orientaram as iniciativas. Isto também poderia

acontecer em cooperação com outras aldeias de Turismo. Os novos meios de

comunicação podem ajudar a melhorar esforços de marketing e a aperfeiçoar os

serviços.

Page 36: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

36

• A integração numa região maior que é claramente perceptível no mercado

permite à Aldeia de Turismo concentrar-se no desígnio de iniciativas e no

desenvolvimento de produtos enquanto o mercado externo é regionalmente

organizado.

• Ao visitante em vez do sentimento de ser apreciado como um "cidadão

temporário", seria oferecido um diálogo contínuo.

De acordo com a finalidade desta investigação, assumiu-se que turismo rural inclui

todas as actividades de lazer que tem lugar em áreas rurais. O Turismo Rural tem o

potencial para orientar o desenvolvimento rural dentro de padrões ecologicamente

sustentáveis. Porém, o turismo é considerado frequentemente como uma ameaça para a

bio diversidade e para o ambiente em geral. Por um lado, o turismo de massa e os

efeitos do processo de globalização podem representar uma ameaça quer para a

singularidade das áreas rurais, quer para a sua atractividade. Por outro lado, a natureza

da actividade turística reside no facto de conseguir manter a atractividade das áreas

rurais e a sua singularidade. Identidade será aqui considerada, porque geralmente os

indivíduos aceitam e favorecem aquilo com que se identificam. Porém, todos os

indivíduos são diferentes. Este paradoxo é mais evidente em paisagens rurais

tradicionais do que em ambientes urbanos, não só relativamente à ocupação humana,

mas também devido ao contexto geográfico da área. Acordo e regras sociais em

comunidades pequenas apresentam também padrões mais uniformes do que aqueles que

se podem encontrar em áreas urbanas – onde existe uma maior diversidade de padrões

sociais.

È frequentemente nas áreas rurais que se podem encontrar as características mais

distintivas de um determinado país, não apenas considerando os seus monumentos

históricos, mas um testemunho vivo das suas tradições e produtos locais, através do

modus vivendi dos seus habitantes e das suas formas de expressão. Padrões sociais

claros elementos representativos da identidade nacional, podem ser, assim, facilmente

encontrados em áreas rurais.

Considerando a natureza do turismo rural e como é referido no Comunicado da

Comissão europeia de 14 de Outubro de 1998 "Os Programas de Apoio devem ser

elaborados tendo em conta a situação particular de cada país e as suas necessidades

Page 37: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

37

específicas num determinado momento." Tendo em mente que o turismo rural pode

oferecer actividades múltiplas, devem ser consideradas não só as características

particulares de uma certa área, como também os seus padrões variáveis e necessidades

específicas.

Tal como acontece com os indivíduos também os lugares sofrem alterações ao longo do

tempo. Porém, algumas características permanecem e estas são as que nos permitem

falar sobre a singularidade da identidade. Então, sempre que consideramos um

determinado contexto geográfico, sempre que o descrevemos e analisamos, devemos

também ter em conta as suas vertentes política, cultural, histórica e socio-económica.

O que é identidade? – A procura de identidade por parte dos seres humanos ao longo

dos séculos manifestou-se de forma contínua, sendo este processo expresso de várias

formas.... (Arte, formas de organização social, política e religiosa, comportamento).

Semelhante à Alice no País das Maravilhas, a identidade implica o processo de ver qual

o outro lado do espelho. Normalmente quando falamos sobre a identidade de alguém ou

quando pretendemos questionar a nossa própria identidade, procuramos encontrar

respostas básicas relativamente ao nome, idade, endereço, ocupação, estado civil, etc. -

que informam o nosso tipo de organização social e as nossas percepções sobre os

indivíduos. Considerando os princípios racionalistas estes conceitos podem ser

analisados e desenvolvidos. Além disso, considerando um determinado lugar ou local, a

mesma estrutura é aplicada e padrões como toponímia, coordenadas geográficas,

vertente histórica e cultural, assim como vertente socio-económica e política são

obviamente mencionados.

Apesar de ser bastante difícil de medir, alguns indicadores podem ser considerados

como moldando a identidade, conforme se seguem:

Situação biológica ou étnica;

Um nome colectivo e próprio;

Um mito de ascendência comum;

A partilha de memórias históricas;

Um ou mais elementos diferenciados da cultura comum;

Uma associação com uma "pátria" específica;

Um sentido de solidariedade em sectores significativos da população.

Page 38: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

38

Acima de tudo, é ainda necessário ter em consideração o facto de a União Europeia ser

uma união de estados-nação, de países que frequentemente se denominam a si próprios

"nações". Contudo a ideia de "nação", como é actualmente compreendido, é bastante

recente e a maioria dos estados-nação que agora incluem a União Europeia não existem

há mais de dois séculos.

"A ideia de ”nação" e "nacionalismo" como conceitos políticos remontam apenas ao

século XVIII. Anthony Smith considera que em países como a França, Espanha e

Inglaterra o "estado" existiu antes da nação, apesar de este ser um processo complexo

(Smith 1991:60-1). Aponta, assim três processos centrais na criação do estado. O

primeiro de ordem económica. O crescimento do capitalismo aumentou as redes

comerciais, primeiro na Europa e mais tarde no "Novo Mundo"; isto conduziu ao

aparecimento de uma economia mais eficientes, ao crescimento do exército e à

necessidade de uma administração mais eficiente. Em segundo lugar, o declínio do

poder da Igreja foi paralelamente acompanhado pelo aparecimento crescente de uma

elite cultural secular. Esta nova elite intelectual seria recrutada para servir o estado. Em

terceiro lugar, estes processos permitiram aos recentes e poderosos estados definir o

carácter e os limites das recém formadas comunidades nacionais." (Spybye, 1997)

Para entender as particularidades do Vale de Lima, aquilo que informa sua unidade e

que geralmente identifica os seus habitantes é, então, importante descrever as suas

características. Além disso, o desenvolvimento da actividade turística desempenha

também um papel importante na identidade comum, quer reforçando certo dos padrões

existentes ou conduzindo ao seu abandono.

Page 39: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

39

3. CONTEXTO: O VALE DO LIMA

O Programa LEADER centra o desenvolvimento num determinado território,

considerando as necessidades, capacidades e perspectivas dos seus habitantes e visando

a maximização dos recursos locais e da sua exploração, quer a nível físico, quer a nível

humano (Ray: 1996), tal como expresso no Objectivo 5b: "aproveitando ao máximo as

vantagens oferecidas por uma determinada área rural: espaço e beleza de paisagem,

qualidade agrícola e produtos silvícolas específicos da área, património artístico, ideias

inovadoras, mão-de-obra disponível, indústrias e serviços existentes, a ser explorado

com capital e recursos humanos regionais e com apoio externo relativamente a capital,

coordenação, consultoria e serviços de planeamento."(Comissão Europeia, 1988,48).

Assim o principal interesse desta secção reporta-se à localização do Vale de Lima,

considerando a caracterização da área, as suas limitações e potenciais, bem como os

seus recursos e factores de desenvolvimento.

“São quase infinitas as coisas que os homens fizeram para tornar as suas terras

produtivas. A matéria-prima com que trabalham é a sua geografia: as características

naturais da área e a distribuição de vida dentro dela. Aquilo que os indivíduos fazem

com a sua geografia constitui uma história interessante – que humaniza solos áridos,

ventos, montanhas, planícies, rios".

E. N. Mittleman, 196..

Assim, esta secção descreve a parceria estabelecida entre a terra e os indivíduos no Vale

do Lima, e algumas das mudanças que esta parceria provocou.

Page 40: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

40

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA

Território e População

Portugal é limitado a Oeste e Sul pelo Oceano Atlântico e a Norte e Leste pela Espanha.

O litoral Atlântico do país tem uma extensão de 837 Quilómetros; e as suas fronteiras

norte e este com Espanha apresentam uma extensão de 336 e 839 Quilómetros de

comprimento, respectivamente. Incluindo os arquipélagos dos Açores e da Madeira, o

país tem uma área total de 92,080 quilómetros quadrados e uma população de cerca de

dez milhões de habitantes. A Região Norte de Portugal, com uma área de superfície de

21194 Km2, apresenta uma população de 3.4 milhões de habitantes (destes 29% abaixo

dos 15 anos de idade).

O Alto Minho situa-se no extremo noroeste de Portugal, limitado a Norte e a Este por

uma fronteira de 135 Km, que inclui as regiões autónomas da Galiza, a sul pelo grupo

de distritos do Cávado e a oeste pelo Oceano Atlântico. Cobrindo uma área total de

2222 Km2, representando 10.4% da Região Norte e 2.5% de Portugal - correspondendo

à NUT II do Minho-Lima que inclui dois distritos:

• O Vale de Minho, incorporando os distritos de Caminha, Vila Nova de Cerveira,

Valença, de Paredes Coura, Monção e Melgaço.

• O Vale de Lima, incorporando os distritos de Viana do Castelo, Ponte de Lima,

Ponte da Barca e de Arcos Valdevez.

Em termos geográficos a área está estruturada ao longo de duas bacias hidrográficas: do

Rio Minho e do Rio Lima; o interior da área é montanhoso, formado em grande parte

pelo Parque Nacional da Peneda Gerês, uma região natural de grande valor paisagístico.

O Vale de Lima forma uma cintura verde, situado entre as zonas industriais e urbanas de

Vigo a Norte e do Porto ao Sul. A estrutura geográfica do Minho-Lima apresenta uma

paisagem diversificada, característica da área

Page 41: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

41

QUADRO 1: Caracterização da Área

Geografia Área

(Km2)

População Residente Densidade

Populacional

Concelho Freguesia

1981

1991

Var.%

1981 1991

Região Norte 21194 3410099

3742715

1.8

161 164 84 2023

Continente 88826 9336760

9371314

0.4

105 106 275 4005

Norte/Cont.% 239 36.5

37.1

-

- - 30.5 50.5

Fonte: CCNR / INE, Porto 08.1994

O Alto Minho apresentou, em 1991 uma população residente de 256 000 habitantes

(248 319 entre 1991, de acordo com dados do INE - Instituto Nacional de Estatísticas)

que representando 7.5% da população da Região Norte e 2.8% de Portugal. A densidade

populacional é de aproximadamente 115.6 habitantes por Km2, apresentando uma

Page 42: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

42

variação entre os 55.4 e 253.7 habitantes por Km2 em Melgaço e Viana do Castelo

respectivamente.

O êxodo populacional que caracterizou a evolução demográfica do Alto Minho nas

últimas décadas 1970 a 1990, manteve-se ainda que de forma menos acentuada. Outro

factor significativo é o rápido envelhecimento populacional, verificado pela

proximidade entre o número de nascimentos e mortes e a estrutura etária com altos

níveis de envelhecimento da população. Em 1981, 27% da população apresentava uma

idade inferior ao 15 anos, e 14% mais de 65, valores que na Região Norte são de 29%, e

10% respectivamente.

Em termos, inter regionais (Minho-Lima), o sistema de ocupação do solo no Vale do

Minho, constituído por uma estreita faixa, parece tornar mais isolado o Vale de Lima,

enquanto adquirindo assim conexões mais fortes com o lado espanhol. Apenas os

centros dos distritos ao longo da fronteira mostraram ser muito atraentes durante os

últimos 20 anos.

No Alto Minho a dispersão é um fato (a maioria da população vive em áreas com menos

de 100 habitantes, excluindo a área de Viana do Castelo.) Se a tendência para

populações reduzidas for evidente, podem ser atribuídas as causas, à primeira vista, a

uma situação socio-económica desfavorável onde a fraqueza da estrutura produtiva

parece ser um dos componentes.

Grupos Populacionais, redes urbanas e acessibilidades

A localização periférica do Alto-Minho, o êxodo populacional progressivo entre os dois

vales, visto como um contributo para a estagnação da economia, não deveria esconder a

diferenciação do peso rural do Alto Minho. Há, assim, um índice de concentração-

dispersão de população em 1981, que distingue o Norte Litoral claramente do Norte

Interior: a percentagem de população que vive em áreas com menos de 2000 habitantes.

Deste modo, o Norte Litoral tem uma dispersão de população maior -67% da população

ocupa 12 992 lugares, considerando que, no Norte Interior -86% da população ocupa

1920 lugares.

Page 43: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

43

O Alto Minho é servido por uma unidade de infra-estruturas, estradas, vias ferroviárias

e transporte marítimo. Em termos quantitativos, a existência de redes de transporte é

justificada pela mobilidade necessária de pessoas e produtos, apresentando porém várias

deficiências em termos qualitativos.

O sistema de transporte rodoviário apresenta diversos problemas, afectando

principalmente o eixo longitudinal (i.e. Porto-Valença, através do Alto Minho), como

eixo estrutural principal, e o condicionando o acesso externo e interno desta área.

Os investimentos da Junta de Autónoma Estradas melhoraram as condições da

circulação rodoviária, garantindo a acessibilidade externa ao Alto Minho. Entre estes

investimentos é importante referir:

- A auto-estrada - Braga / Valença

- A estrada nacional (IC1) - Porto / Viana do Castelo / Valença

- O acesso - Monção / S. Gregório

- O acesso à fronteira da Madalena

- As pontes de Viana do Castelo e Valença

Estes assegurarão a acessibilidade interna e a conclusão de redes regionais supra

municipais de transporte. Ainda ao nível de transporte rodoviário apresenta-se o

problema da insuficiência de serviços de transporte. No Alto Minho, a percentagem da

população que não dispõe de acesso a transporte rodoviário é claramente inferior à

percentagem da população que não dispõe de acesso a uma rede de transportes públicos.

Em termos de ligações ferroviárias, o Alto Minho dispõe directamente, no corredor

lateral, a linha de Minho que une o Porto a Monção com duas linhas subsidiárias:

- Uma em Viana do Castelo, com ligação ao porto comercial e que é praticamente

inoperacional.

- Outra em Valença, com ligação á rede ferroviária.

Page 44: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

44

Perante as deficiências técnicas apresentadas e as várias limitações do equipamento

podemos considerar que a rede de transporte ferroviário tem uma importância reduzida

no interior do Alto Minho.

O porto comercial de Viana faz Castelo, servindo principalmente o transporte marítimo

interno foi o objecto de recente investimento na sua renovação e expansão. Isto deveria

permitir tornar-se um ponto de abertura importante da economia regional face ao

exterior. O principal factor de atraso relativamente ao seu desenvolvimento reside na

ausência de agentes de transporte e portuários, um facto que deriva principalmente da

fraqueza da estrutura de produtividade regional.

O modelo de população no Alto Minho apresenta um elevado grau de dispersão,

constituindo Viana do Castelo o centro de equilíbrio do Supra distrito. Tal realidade

impede um equilíbrio entre a dimensão racional e a acessibilidade aos serviços

colectivos.

Actividades económicas

Agricultura: estrutura agrária e actividades principais

Através de uma análise da população activa da região e da sua dispersão, é aparente

uma situação desequilibrada, com números excessivos de trabalhadores no sector

agrícola(45%) e números relativamente modestos nos sectores secundários e terciários

(28.9% e 24.5% respectivamente).

Apesar da estrutura de 1981, comparada com a 1970, representar uma melhoria

significativa, durante este período o Alto Minho continuou a evidenciar uma forte

estagnação. Na realidade uma certa evolução, no sector do emprego é caracterizada pelo

abandono da agricultura (-27%, entre 1970 e 1981) e pelo crescimento da população

activamente empregue na indústria transformadora (+38.8%), na construção (+72.1%),

no comércio e hotelaria (+45.5%) e serviços comunitários (+63.9%). Durante este

período verifica-se um crescimento quase insignificante (0.1%) de postos de trabalho.

Page 45: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

45

Um fenómeno ainda mais pertinente quando, durante a mesma década se previa um

crescimento de+23% e +25% para o país e para a região norte respectivamente.

Turismo

'Como consequência da candidatura e consequente adesão de Portugal à Comunidade

Europeia foram disponibilizados consideráveis apoios financeiros no âmbito da política

de desenvolvimento regional. Fundos destinados ao desenvolvimento do turismo no

período de 1982-1988, no âmbito do Sistema de Incentivos ao Investimento no Turismo

(SIFIT) atingiram no fim deste período de sete anos, 46.6 bilhões Escudos, envolvendo

157 projectos diferentes, com a maioria do investimento em Lisboa, Porto e Faro. Ao

contrário dos apoios do Fundo de Turismo, os Apoios ao Desenvolvimento Regional

Europeu assumem a forma de empréstimo calculada com base numa percentagem dos

custos de projecto totais e podem exceder 60% do investimento em determinadas áreas.

Foi calculado que as poupanças no pagamento dos juros nestes projectos SIIT-apoiados

no período entre 1982-1988 excedem 5.5 bilhões escudos.' (Edwards e Sampaio, 1993)

Como referido pelos supracitados autores, em 1988, o esquema do SIIT foi substituído

pelo SIFIT (Sistema de Incentivos ao Investimento Financeiro no Turismo). Este

esquema baseado numa filosofia de planeamento turístico procurou encorajar o

desenvolvimento do turismo no interior ao invés dos locais litorais tradicionais. De

forma a alcançar estes objectivos foram designadas Regiões Especialmente Aprovadas

para Turismo (REATs) e Eixos de Desenvolvimento Turístico (EDTs), dentro das quais

os projectos poderiam receber potencialmente até 65% de apoio a fundo perdido, com

base nas suas previsões económicas e potencial para a criação de emprego. A região

Norte (Costa Verde) não foi contemplada sob esta designação de desenvolvimento e

consequentemente não beneficiou do acesso a este tipo de apoios comunitários, sendo

subsequentemente apoiada por uma iniciativa do governo nacional que adopta os

critérios do SIFIT, utilizando o imposto dos cassinos da área.

Nos últimos anos, o Turismo em Espaço Rural ganhou forma na área do Vale de Lima,

especialmente em Ponte de Lima, através da TURIHAB - Associação de Turismo

Habitação, criando um centro de reservas, que abrange a região do norte e centro. O

número total de camas na zona de intervenção é neste momento superior a 400.

Page 46: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

46

Não obstante, o desenvolvimento de actividades turísticas na área é restrito,

primeiramente, devido a problemas sérios de acessibilidade física, nomeadamente o

acesso à Galiza e a não--existência de ligações rápidas ao Porto e à sua área

metropolitana. O desenvolvimento turístico do Alto Minho também foi restringido pela

falta de actividades adicionais, tipicamente a falta de uma estrutura desportiva e de

actividades de lazer e em terceiro lugar, a porção pequena de turismo internacional no

Alto Minho é vista como um recuo, sendo difícil calcular a sua promoção nacional e nos

mercados externos.

Serviços

No sector de serviços há ainda uma necessidade forte para distinguir o papel do

mercado. Este sector tem uma estrutura extremamente pulverizada e, uma vez mais é de

dimensão limitada. O número comum de estabelecimentos comerciais por mil

habitantes é, no Alto Minho, superior à média da Região Norte e de Portugal. Esta

pulverização pode ser associada à redução do tamanho dos estabelecimentos (91% das

unidades dedicados a vender a retalho no sector alimentar não têm mais de 2

empregados activos). Na realidade, no Alto - Minho este indicador representa, em

média, menos de metade dos valores do país e da Região Norte.

Se nos basearmos nos tipos de produtos comercializados, “comidas e bebidas"

apresentam 62 e 68% do número de estabelecimentos comerciais e venda a retalho

respectivamente. A contribuição para emprego não é significativa, como seria esperado;

apesar do crescimento revelado pelos impostos (128.4% e 33.6% respectivamente nas

áreas de comércio e venda por junto entre 1970 e 1981) que explica o baixo volume de

exportações. A maioria de empregados no sector de serviços tem entre 21 e 25 anos de

idade, semelhante ao resto do país, tendo em conta que uma maioria de trabalhadores só

dispõe de instrução primária.

Sumário

Page 47: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

47

A caracterização socio-económica, política, histórica e cultural da área é extremamente

importante para entender o Vale do Lima, para além da sua localização geográfica. Esta

avaliação permite enunciar as possibilidades da área e também as limitações e

constrangimentos que moldarão o seu desenvolvimento.

Além disto é importante ter em conta que o Turismo é uma actividade económica

procurada quase exclusivamente por empresas privadas que operam localmente ou

internacionalmente. Para contribuir substancialmente para o desenvolvimento

económico e social estas empresas têm que desenvolver as suas competências de forma

a oferecer serviços competitivos e seguros.

"Enquanto a procura turística global se basear num aumento do número de destinos e da

sua capacidade, os países em desenvolvimento enfrentam os principais desafios. Para

assegurar a sua quota de mercado, tem necessidade de desenvolver novos destinos,

aumentando a qualidade e diversificando os seus produtos, capitalizando a sua

“singularidade” num mercado competitivo.” (CEC, 1998)

Limitações ao desenvolvimento podem assumir várias formas, entre outras, difíceis

acessos, infra-estruturas inadequadas, transportes deficitários, inadequação de

instalações, ausência de fundos de investimento, tecnologia rudimentar, falta de

experiência de administração e carência de um pessoal qualificado.

No entanto, o turismo pode também ser um meio para alcançar uma unidade na

diversidade, como especialmente no caso de turismo rural, dando ênfase à necessidade

de preservar identidade local e singularidade, enquanto reforçando a necessidade de

coesão interna e permitindo, ao mesmo tempo, um fecho ao exterior.

O Turismo tem assumido um papel crescente na economia da União Europeia. Em

particular, para muitos países em desenvolvimento e comunidades rurais o turismo

emerge frequentemente como uma opção para revitalizar uma economia local. No Vale

do Lima o turismo foi usado para manter e aumentar a qualidade de vida de uma

comunidade rural.

Page 48: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

48

Porém, crescimento sustentável depende do respeito e do desenvolvimento fomentado

pelos agentes turísticos, populações locais, e turistas, relativamente ao património

cultural e natural.

Os princípios de sustentabilidade, competitividade, e mercado livre deveriam moldar o

desenvolvimento do turismo. "A indústria, as autoridades públicas e a sociedade cívica

devem trabalhar de forma concertada, levando em conta as necessidades do mercado, as

necessidades da população local e as características particulares do destino. Esta

cooperação permitirá também atingir o princípio de desenvolvimento sustentável, sem

deixar de ter em conta a competitividade do sector.”

Page 49: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

49

4. ALGUMAS ABORDAGENS DO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO

Estratégias de Desenvolvimento

Desenvolvimento: um Processo Contínuo / uma Aproximação Equilibrada / Uma

Administração Adaptada

Desenvolvimento será aqui considerado, como um processo contínuo e infinito visando

a optimização dos elementos envolvidos, do mais simples para o mais complexo ou

vice-versa. A necessidade de uma aproximação equilibrada na implementação e

monotorização de um processo de desenvolvimento será aqui brevemente analisada.

Assim, são também consideradas as estratégias de desenvolvimento adoptadas,

especialmente dando ênfase à importância da cooperação entre uma abordagem

hierarquicamente crescente e/ ou decrescente.

"O produto mais constante do espírito humano, longe de ser o invento, no sentido

absoluto da palavra, é, ao contrário o aperfeiçoamento do assunto, o desenvolvimento

dos meios de expressão, a transformação, mais ou menos profunda, da ideia ou da

forma inicial...”

Cruz Malpique em Filosofia do Plágio

Desenvolvimento - Um processo contínuo

Desenvolvimento pode ser associado a acção, movimento, processo, à ideia de

crescimento ou de percurso, num espaço de tempo contínuo. Este processo contínuo

deve ser permanentemente administrado, acompanhado, e avaliado. O processo de

desenvolvimento sendo infinito nunca é então completado, necessitando de uma

tradução constante de cada fase particular. "Tradução" significa neste contexto uma

procura para um equivalente, expressar a mesma ideia num idioma diferente, inclusive a

adopção e adaptação de uma determinada situação num idioma ao seu correspondente

Page 50: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

50

noutro idioma. Desenvolvimento implica uma tomada de consciência que é

transformada continuamente enquanto considerando as diferenças e semelhanças

envolvidas.

Nesta situação particular, desenvolvimento será perspectivado considerando os seres

humanos e o mundo envolvente e considerando que o desenvolvimento humano

depende do treino e educação das capacidades dos indivíduos, desde o nascimento até à

morte em todos seus contextos - físico, mental, social, cultural, económico etc., como

também da relação existente entre o homem e natureza. Além disso, desenvolvimento

tem que sempre ser integrado de acordo com o tempo e o espaço.

Uma abordagem equilibrada

Para promover e guiar um processo de desenvolvimento numa determinada área é

necessário considerar os seres humanos como indivíduos e também como uma

comunidade; avaliando não só as suas semelhanças, como também as suas diferenças;

considerando perspectivas interiores e exteriores, e avaliando-os, para além do contexto

histórico, cultural, socio-econômico e político específico de indivíduos e sistemas.

Normalmente, desenvolvimento encontra-se ligado à melhoria das condições de vida.

Porém, são frequentemente esquecidos assuntos relacionados com o desenvolvimento

do homem e com a relação do género humano com natureza. Será importante considerar

todos os processos de desenvolvimento como sendo dependentes da inter relação entre

estes três elementos: Homem, Água e Terra.

Assim, recentes preocupações ambientais abrangem também os seres humanos e não

somente o seu ambiente, e apesar da grande ênfase colocada na natureza, os "seres

humanos estão no centro das preocupações para um desenvolvimento rural sustentável:

Além disso, paz, desenvolvimento, e protecção ambiental são interdependentes e

indivisíveis". (UNCED: 1992) referindo-se à pobreza, aos excedentes de produção e

produtividade, população e problemas de desenvolvimento humanos.

As Zonas rurais são normalmente definidas de acordo com as condições territoriais, de

acordo com a sua área, população, e características geográficas. Porém, se as

Page 51: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

51

considerarmos como organismos vivos, as zonas rurais também podem ser definidas de

acordo com o seu carácter "psicológico". Se considerarmos que numa zona rural é

estabelecido um melhor equilíbrio entre o homem e natureza, poderemos também

considerar que estas comunidades orientaram as suas práticas, de forma a permitirem

mais liberdade aos indivíduos, relativamente aos seus valores individuais e aos que são

dependentes da relação entre a comunidade e natureza. Uma zona rural pode ser

considerada então como um meio de unificar os indivíduos na sua diversidade.

Porém, um dos principais constrangimentos enfrentados pelo desenvolvimento rural e

pelo processo de desenvolvimento em geral, reside no seu processo intrínseco de

diferenciação relativamente às estruturas que desenvolvem e executam funções

particulares. Spencer considera funções reguladoras, operacionais e distributivas no

processo de desenvolvimento e que são susceptíveis de serem aplicadas na

implementação de políticas.

Considerando por exemplo, a existência de grupos de acção local no processo de

desenvolvimento rural, pode assumir-se que um grupo de acção local pode ou não

assumir todas estas funções, uma vez que o desenvolvimento é um processo contínuo.

Não obstante, a importância de um grupo de acção local, reside especialmente na sua

capacidade para unificar os indivíduos na sua diversidade: representantes de todos os

grupos que estão de alguma maneira ligados à área, os associados estão completamente

informados sobre as características da área, os associados têm uma participação activa

levando a cabo e acompanhando o processo de desenvolvimento rural. Mais apoio e

participação ao nível da comunidade podem assim ser alcançados. Além de prover

informação precisa, é também essencial que os elementos da comunidade apoiem o

processo de desenvolvimento na sua área – idealmente o apoio ao nível da comunidade

deveria ser total.

O governo nacional não pode por si só implementar um programa de desenvolvimento

rural. Uma parte da autoridade é exercida ao nível do governo local. Depois de uma

série de reuniões e discussões com os vários níveis de governo sobre o processo de

desenvolvimento e dos benefícios / custos associados, podem ser oferecidos certos

incentivos de forma a encorajar a participação. A meta principal é harmonizar políticas

Page 52: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

52

do governo nacional com as do governo local, considerando o papel de instituições, e

aspectos legais e financeiros.

O Processo de Desenvolvimento Rural

Um dos pontos fortes do processo de Desenvolvimento Rural Sustentável é sua

confiança em informações precisas e dados. Este é frequentemente o único modo de

serem implementadas decisões controversas. Sem uma base técnica adequada aos

processos de decisão, os interesses específicos que estão sempre presentes tenderão a

dominar o processo.

"Melhorias na administração dos recursos normalmente dependem de melhorias na

nossa compreensão dos processos envolvidos. No entanto esta compreensão a nível

científico mostrou ser difícil e lenta. Os gestores e políticos parecem ter dificuldade em

motivar a comunidade científica para levar a cabo o tipo de investigação necessária,

talvez porque é percebida como sendo “muito aplicado”. De igual modo os

investigadores reclamam que não obtêm dos políticos mensagens claras sobre o que é

necessário e, além disso, que quer os gestores quer os políticos não parecem utilizar

muita da informação já produzida pelos cientistas." (Cincin-Sain e Knecth: 1999)

Com efeito, o processo de administração “apreende” à medida que se adapta a

circunstâncias variáveis (Lee 1993; Hennessey 1994). A informação e dados

apresentados dependem da natureza, recursos, e características físicas do Vale de Lima.

Portugal possui ainda um sector agrícola muito grande - e o rendimento nacional per

capita tem que alcançar o dos outros países europeus. Não obstante, os portugueses não

adoptaram incondicionalmente modelos prévios de desenvolvimento, sendo capazes de

“saltar” algumas das fases do processo.

Assim, as conclusões operacionais de outros programas, implementados noutros locais,

deveriam ser examinadas cuidadosamente.

- Uma definição estreita dos objectivos produziu um excesso de actividades de

promoção do turismo nos mercados de origem.

- Aspectos ambientais e sociais importantes que afectam o desenvolvimento sustentável

do destino turístico foram negligenciados.

Page 53: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

53

- A escolha de interlocutores estreitou a extensão e efectividade de programas de apoio

de turismo (tendo em conta a variedade de elementos envolvida no desenvolvimento do

turismo e o papel desempenhado pelas autoridades turísticas nacionais, deveriam ser

estabelecidos novos métodos e parcerias, de forma a prover novos decisores e círculos

de debate exteriores ao governo).

O quadro seguinte lista categorias genéricas de dados e informações necessárias a todos

os países na formulação de um programa de desenvolvimento rural.

QUADRO 2: Tipos de Dados e Informação Necessária nas Várias Fases do

Processo de Desenvolvimento Rural

Fases do Processo de Desenvolvimento Rural

Tipos de Dados e Informação Necessária

1. Inicio do Processo: definição de

objectivos, identificação dos

assuntos, e enumeração das

prioridades.

2. Formulação do Plano de

Desenvolvimento Rural

3. Adopção formal, implementação e

operacionalização do Programa de

Desenvolvimento Rural.

1. Informações e dados relativos à

agricultura e aos problemas das áreas

rurais que justificam a necessidade de um

Programa de Desenvolvimento Rural

(agricultura deficitária, despovoamento,

constrangimentos económicos e sociais,

silvicultura, ambiente, etc).

2. Informações e dados sobre recursos,

usos da terra, problemas e conflitos,

organização social, esforços de

administração existentes, capacidade das

instituições existentes e das autoridades

legais.

3. Informação sobre benefícios e custos da

Administração de Desenvolvimento Rural

e sobre medidas reguladoras e de gestão,

técnicas de resolução de conflito e métodos

analíticos pertinentes.

Fonte: Cicin-Sain e Knecht, 1998 (adaptado)

Page 54: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

54

As estratégias de desenvolvimento são baseadas em conceitos como cultura,

participação, informação, educação, e formação. Porém, as acções também podem ser

impostas directa ou indirectamente. O tipo de autoridade exercida ou em vigor, as

pressões exercidas, o controle de poder, a obediência, o acordo ou discordância, o apoio

existente ou a sua ausência, são alguns dos aspectos a ser considerados no processo de

implementação. De acordo com a divisão política e administrativa podem ser

consideradas as contribuições de abordagens hierarquicamente crescentes ou

decrescentes no que se refere ao processo de implementação ou os benefícios de uma

bordagem mista (hierarquicamente crescente e decrescente), de acordo com o seguinte,:

QUADRO 3

BENEFÍCIOS DE UMA ABORDAGEM HIERARQUICAMENTE CRESCENTE

· Compreensão mais detalhada dos problemas locais e necessidades da zona rural em

questão

· Melhor entendimento dos constrangimentos e limitações que afectarão a escolha de

soluções

· Melhores dados e informações relativamente à zona rural local

· Apoio da comunidade local

BENEFÍCIOS DE UMA ABORDAGEM HIERARQUICAMENTE DECRESCENTE

· Dados especializados e peritos nos vários sectores de desenvolvimento rural

. Capacidade de harmonizar as várias actividades rurais que afectam áreas rurais pelo

estabelecimento de um mecanismo de desenvolvimento

· Ajuda financeira

· Ligações entre programas de desenvolvimento rural global e regional pertinentes

Page 55: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

55

BENEFÍCIOS DE UMA ABORDAGEM MISTA

· Políticas de desenvolvimento rurais nacionais uniformes podem ser aplicadas a todo o

país

· Políticas Nacionais ajustadas às várias condições locais podem ser implementadas

através do governo local

· O governo nacional / as organizações internacionais encontram-se na melhor posição

para harmonizar os vários programas de desenvolvimento que afectam as áreas rurais

(problemas, recursos, constrangimentos, potencial)

· Os governos locais estão normalmente na melhor posição para integrar um sistema

regulador rural num sistema regulador existente

· A vontade de participação expressa pelas comunidades locais fortalece o processo da

implementação de programa e aumenta os resultados.

· As comunidades Locais são directamente envolvidas no processo, aumentando a

construção social da qualidade

Fonte: Adaptado de Cicin-Sain e Knecht, 1998,

O Papel das Entidades Supranacionais, Nacionais, Regionais e Locais

A política é coerção deliberada - declarações que visam um determinado propósito,

implementando os meios, os assuntos e os objectos de coerção... Inevitavelmente existe

sempre um elemento de coerção na vida colectiva. Organizar é uma forma de estabilizar

relações entre elementos de uma colectividade, e apesar de alguns centrarem os custos a

nível colectivo, os benefícios colectivos são compartilhados de uma forma ténue.

Administrar é uma forma rotineira de coerção. Governar é uma forma de a legitimar. O

Poder é simplesmente o papel desempenhado por um indivíduo pessoa ou grupo para

moldar e dirigir os instrumentos de coerção.

(Lowi 1970:314-315)

Conforme mencionado nos quadros anteriores, níveis institucionais diferentes

executarão funções diferentes e procurarão atingir objectivos e metas diferentes. O

reconhecimento do poder institucional, autoridade, influência, coerção ou manipulação

Page 56: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

56

e a sua aceitação é frequentemente crucial para superar conflitos, legitimar a adopção de

certas políticas e abandonar outras. Competição regulamentada e consenso aos níveis

supranacionais, nacionais, regionais e locais asseguram a protecção e execução de

interesses comuns. No caso específico do desenvolvimento turístico, Laws (1995),

refere algumas razões para o desenvolvimento turístico aos níveis nacionais, regionais e

locais, como sentimento de orgulho nacional ou identidade, criação de emprego,

modernização, tradição ou cultura, entre outros.

Governo nacional

Quais as metas e objectivos do governo nacional e como se relacionam com as áreas

rurais e os seus recursos?

· Assegurar a segurança da nação

· Proteger áreas rurais / agricultura / silvicultura

· Assegurar um retorno justo do uso de recursos públicos

· Manter a ordem e solucionar conflitos

A maioria dos governos considera a segurança nacional e a prosperidade económica

nacional como as suas metas principais. Os governos nacionais também estão

interessados em ver cumpridas as obrigações dos tratados internacionais muitas vezes

estabelecidas sem o envolvimento prévio dos interesses locais a que dizem respeito. Os

departamentos executivos e legislativos de um governo nacional raramente se

encontram equipados para lidar adequadamente com as diferenças que normalmente

existem a nível regional. Dadas a especialização técnica que frequentemente existe em

sectores ministeriais ou departamentos a nível nacional, um esforço de desenvolvimento

rural nacional pode assumir uma orientação tecnocrática que pode eventualmente entrar

em conflito com um processo mais orientado face aos interesses das pessoas de acordo

com os desejos locais. Uma aproximação tecnocrática poderia enfatizar tais actividades

como inventários de recurso.

Page 57: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

57

Acordo e Cooperação

È evidente um crescimento da interdependência política, económica e cultural inter- e

transnacional. Não obstante o mundo global está cheio de contradições, uma vez que

podem ser encontrados processos de integração global e interdependência misturados

com processos de fragmentação e regionalização. " Desintegração e fragmentação de

estruturas políticas, económicas e culturais que reflectem conflitos locais e regionais e

deslocações são contrabalançadas através de movimentos para unificação, integração e

cooperação. " (Axtmann, R, 1998) Existe também um grande número de estruturas

regionais e globais, necessárias para apoiar o desenvolvimento.

Identificação de Interesses Comuns

• Identificação e utilização de “know-how”, experiência, talento e dados de ambos

os níveis.

• Assuntos difíceis como divisão administrativa, distribuição de responsabilidades

administrativas e rentabilidade, deveriam ser abordados numa fase posterior.

• Parecer de peritos do exterior relativamente a questões de difícil resolução: os

diversos níveis de governo são envolvidos e acordam os detalhes a serem

pedidos ao grupo externo e o grupo externo é visto como completamente

objectivo, não parcial ou nivelado pelas políticas de governação.

Grupos de Acção Local

A Política Agrícola Comum foi caracterizada pela sua implementação hierarquicamente

decrescente. Considerando o caso das áreas rurais portuguesas, podemos considerar que

não há uma política de desenvolvimento geral para áreas rurais e que existia

frequentemente uma falta de comunicação entre os níveis locais e regionais e os

departamentos nacionais relativamente à implementação de políticas e ao seu

acompanhamento. A constituição de GALs no âmbito do Programa LEADER permitiu

uma melhor comunicação multi-sectorial e beneficiou de forma clara as abordagens

Page 58: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

58

hierarquicamente crescentes e decrescentes na implementação de políticas de

desenvolvimento rural. Além disso, o Programa LEADER permitiu também o

desenvolvimento e a valorização dos recursos endógenos, e uma diversificação de

formas de desenvolvimento rurais. (Henriques, Paiva, 1996)

Assim, os Grupos de Acção Local podem ser considerados como os principais actores

no processo de desenvolvimento rural. Estas unidades de administrativas incluem um

conjunto de funcionários, espaço, equipamentos, capital, e procedimentos. Um das

tarefas dos GALs é a implementação de uma política integrada, fomentando acordo,

associativismo e consistência (Underdahl 1980). Isto conduz a uma integração inter

sectorial, inter governamental, espacial, ciêntífico-administrativa, e internacional que

constitui a base da efectividade das acções levadas a cabo.

A diversidade de atitudes entre culturas requer uma perspectiva científica do ambiente

que se estende ao reino dos valores humanos. O trabalho da ciência é documentar,

analisar, e explicar os processos, mudanças, e efeitos dos vários fenómenos ambientais,

tais como mudanças na composição química do ar ou os impactos de inundações no uso

da terra. A Ciência baseia-se sempre em valores. Contudo a questão reside na aplicação

global ou local destes valores, ou seja, se são aplicáveis a indivíduos ou a uma

comunidade inteira. Se os seres humanos possuíssem um único conjunto de valores, o

problema de fixar padrões ambientais seria bastante difícil. Mas a humanidade é

desenvolveu sistemas de valores diversos, complexos, e frequentemente contraditórios.

(Marsh & Grossa, 1998)

Atravessamos uma época na qual o mundo deveria falar dos problemas do ambiente

como se fosse uma comunidade. Informações fundamentais e perspectivas diversas

contribuirão para a formação de um ponto de vista pessoal, para a re avaliação de

valores pessoais e para questionar as políticas governamentais referentes a assuntos

ambientais."

Page 59: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

59

Atitudes e Desenvolvimento

O Turismo Rural como agente de desenvolvimento rural é o resultado principalmente da

diversificação das actividades rurais, da necessidade de satisfação das alterações

verificadas entre os sectores primários e secundários e o sector terciário, e das alterações

do controle económico a nível global.

Além disso, atitudes de desenvolvimento rural devem ser analisadas de acordo com

percepções hierarquicamente crescentes e decrescentes de uma nova ordem mundial,

estabelecida pela transmissão dinâmica de poder ao nível global e ao nível local. Assim,

para estabelecer uma perspectiva realista de turismo como um agente de

desenvolvimento rural, será necessário analisar um conjunto de conceitos, tais como

percepções / prescrições, atitudes e arquitectura de poder que informam indivíduos e

organizações e a sua relação com o mundo que os rodeia. Desta forma serão analisadas

percepções, prescrições e atitudes, ou conceitos, padrões de desenvolvimento e práticas

que podem ser aplicadas tanto no âmbito das ciências naturais como sociais, aos

indivíduos e organizações, ao nível local ou global, como foco de tensão ou harmonia.

"A Educação é um tesouro de que cada um de nós deve fazer bom uso”.

Panorama

"É que sem dúvida, ideologismo e o seu contrário são atitudes ainda mágicas,

aterrorizadas, cegas e fascinadas pela fractura do mundo social. E, contudo, é isso que

devemos procurar, uma reconciliação do real, e da descrição e explicação que os

Homens fazem dos objectos e do seu saber."

Roland Barthes

O Turismo como agente de desenvolvimento rural é o foco desta análise. Porém, tanto o

conceito de turismo como o de desenvolvimento rural, deram origem a uma gama

extensa de perspectivas e atitudes frequentemente contraditórias, baseadas em

percepções diferentes da realidade. Assim, esta primeira secção analisará brevemente

conceitos como atitudes, percepções e perspectivas. A que se deve a existência de

resultados práticos?

Page 60: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

60

Certas atitudes, percepções e sentimentos podem ser uma questão de etnicidade

situacional que é a base da identidade nacional. Reciprocamente, manter ou alterar estas

características pode ser uma questão de poder que é projectado e exercido de acordo

com as suas forças, fraquezas, oportunidades e ameaças.

No Mundo Ocidental, as percepções são baseadas nos cinco sentidos e enquadradas no

âmbito puramente teórico, apesar de constituírem o suporte das nossas atitudes.

Percepções reflectem principalmente o que sentimos, pensamos, esperamos, prevemos,

adivinhamos, e também o que sabemos ou o que presumimos. Normalmente, o conceito

de percepção está de certa forma ligado a uma dimensão insubstancial, a algo ilusório

ou inacessível - incluindo os nossos desejos, expectativas e não sujeito a uma resposta

imediata. Percepções estão também ligadas a lapsos de tempo: ao passado e ao futuro,

ligadas a necessidades secundárias e não a acções imediatas. Percepções também podem

ser analisadas dentro de um contexto social, cultural, político, histórico e económico,

sendo estritamente dependentes do indivíduo e dos objectivos da comunidade. Por outro

lado, as atitudes estão ligadas à acção, à realidade e dependentes das nossas percepções.

O que provoca a mudança de determinadas atitudes? Quando se verificam estas

alterações? Quais os seus efeitos? Basicamente pode considerar-se que quando as

nossas percepções se alteram, as nossas atitudes mudam Sempre que lhes seja

impossível coexistir, produzem uma reacção que poderá ser positiva ou negativa. As

atitudes são o resultado de um conjunto de percepções frequentemente estáticas, aceites

consciente ou inconscientemente, quer individualmente quer ao nível da comunidade.

As atitudes normalmente são consideradas como um resultado da "racionalidade", no

seguimento do desenvolvimento de conceitos racionais, da forma de pensar dos

indivíduos sobre a natureza da sociedade, onde é evidente o predomínio de uma forma

distintamente europeia de racionalidade, herança do “Iluminismo”. O pensamento

Europeu acabaria por influenciar outras culturas por um período de mais de duzentos

anos, e só há relativamente pouco tempo se questionou a sua primazia.

Desenvolvimento pode ser, assim, entendido como a prática resultante de um conjunto

de percepções, ou teorias. Assim, formas bem sucedidas de desenvolvimento são

equivalentes a prescrições ou medidas que devem ser tomadas como exemplo. Contudo,

Page 61: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

61

quando as nossas percepções se alteram, também provocam uma alteração das nossas

atitudes, conduzindo frequentemente a situações de tensão entre indivíduos e grupos,

entre leis adoptadas e critérios seleccionados. Assim sempre que adoptadas é necessário

proceder à sua adaptação.

As prescrições de desenvolvimento rural devem ser enquadradas dentro das alterações

das percepções a nível global, e o turismo como agente de desenvolvimento rural pode

ser encarado como uma nova atitude para superar os problemas específicos de uma

determinada área.

Conforme mencionado por Spybye (1997), após a II Guerra Mundial os países europeus

abandonaram o colonialismo externo e passaram a cooperar internamente, inicialmente

como uma comunidade económica e actualmente sob a égide da União Europeia. A

consolidação da União Europeia pode ser considerada uma estratégia defensiva num

mundo dominado por 3 centros politíco-económicos: a Ásia Oriental, a Europa e a

América do Norte (a “tríade global”). O Ocidente criou a primeira cultura global, mas

não detém o seu controle face à competição dos países pertencente ao agrupamento do

Pacífico.

Assim, a utilização do turismo como agente de desenvolvimento rural depende

directamente da capacidade de manipular os recursos apropriados num caso específico e

da monotorização do poder face às forças, fraquezas, oportunidades e ameaças de uma

situação determinada.

A execução destas acções e a sua execução contribuirão, não apenas para melhorar o

conhecimento da região – do seu potencial e dos obstáculos ao seu desenvolvimento –

mas fundamentalmente para satisfazer a necessidade de uma intervenção integrada,

capaz de reverter as tendências naturais de estagnação económica. Conforme

mencionado previamente, estas tendências e os esforços levados a cabo, devem ser

analisadas considerando a distribuição de poder a nível global e local, e considerando

também que o seu exercício requer uma utilização apropriada e capaz dos recursos,

variando de um caso para o outro.

Page 62: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

62

A influência das atitudes na percepção e consciência da Realidade

De acordo com vários autores (Kemp: 1985, Hobsbawn,: 1962 e Perkin: 1969), a

industrialização conferiu ao homem num determinado período a percepção de que lhe

era possível controlar o meio ambiente. Contudo, a percepção dos filósofos ecologistas

é de que a tarefa primordial do ser humano é de cuidar do meio ambiente. Assim, as

atitudes sugerem-nos mais uma vez extremamente dependentes das percepções. As

percepções dos ambientalistas são bastante diferentes das dos agentes económicos, daí

resultando a dificuldade de consenso entre ambos.

Percepções e atitudes podem depender de um leque diverso de variáveis, tais como

cultura, política, história, economia, contexto geográfico dos indivíduos ou da

comunidade, educação, crenças religiosas e valores morais, e considerações éticas e

valores estéticos. A organização política e a forma de organização de vários estados

nação é baseada em regras e regulamentação que são consideradas racionais no contexto

do Desenvolvimento Cultural Europeu.

De acordo com Parker, G. (1998) actualmente assiste-se a uma alteração completa da

situação internacional, sendo ainda mais dramáticas as alterações ocorridas na

percepção geral da relação entre os seres humanos e o seu meio ambiente. A ideia do ser

humano como uma entidade capaz de transformar a natureza, foi substituída a partir dos

anos 70 pela ideia da Humanidade como parte da totalidade ambiental, necessitando

assim de tratar a natureza com cuidado e respeito. Como consequência destas novas

percepções, as políticas ambientais de controle, deram origem a políticas mais

preocupadas com o ambiente.

Crescentemente foi percebido que o êxito da humanidade depende da restrição das suas

acções aos constrangimentos do ambiente, tendo em atenção as suas limitações e as suas

potencialidades.

Além disso, também é importante notar que nas últimas três décadas, ocorreram

mudanças estruturais" nas economias Ocidentais que não seria possível inverter através

de uma mudança na economia global. Muitas indústrias na Europa e América do Norte,

apresentavam um enorme declínio, algumas desmoronavam-se ou desapareciam

Page 63: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

63

completamente. Estes fenómenos foram geralmente diagnosticados como sintomas de

uma sociedade pós industrial, esquecendo o facto de que as indústrias que estariam a

desaparecer no Ocidente reapareciam noutras partes do mundo. O papel do Ocidente na

liderança da concentração industrial seria desafiado, especialmente pelo Japão e outros

países da Ásia Oriental. Os economistas passaram então a falar de “novos países

industrializados” (NPIs), ao referirem-se a partes da Ásia Oriental e América Latina

onde o preço da mão de obra é indubitavelmente mais barato.

A indústria têxtil, típica da Revolução Industrial constituiria um destes casos. Em

muitos países vários indivíduos tinham apreendido as habilidades necessárias e o

domínio da tecnologia – que se foi aperfeiçoando até ao final do século XIX – e que era

facilmente transferível. Assim, os países onde os salários eram mais baixos substituíram

facilmente o Ocidente e em períodos de dificuldade económica os sectores industriais

com salários mais elevados teriam tendência a desaparecer. De certa forma o

aparecimento dos sindicatos, o aumento dos salários e a melhoria das condições de vida

tornaram os trabalhadores Ocidentais pouco competitivos, no que foi denominado por

Folker Fröbel e os seus colegas (1980) “ uma nova divisão internacional do trabalho”. A

indústria metalúrgica e a construção naval também desapareceram da Europa e da

América do Norte face à competição do Japão e da Coreia.

Novas atitudes face ao desenvolvimento resultaram principalmente de um conjunto de

perspectivas baseadas em novas orientações económicas e novas preocupações

ambientais, num novo enquadramento geo-politíco. O papel desempenhado por estas

alterações só poderá ser avaliado considerando as forças, fraquezas, potencialidades e

ameaças do poder na sua capacidade de influenciar ou controlar os acontecimentos aos

mais variados níveis.

Algumas abordagens da actividade turística e do desenvolvimento rural

A necessidade de uma nova estratégia integrada para o desenvolvimento das áreas rurais

Page 64: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

64

Políticas de Desenvolvimento Sustentável

"A agricultura já não é lucrativa". As áreas rurais "já não são necessárias". "A

agricultura pode ser substituída facilmente através da silvicultura ou até pode mesmo ser

abandonada". Entre outras, todas estas afirmações podem ser bastante controversas.

Uma das primeiras perguntas poderia ser: Por que e como devem as áreas rurais ser

mantidas? E como pode o turismo promover sustentabilidade?

Assim, esta secção visa analisar as tendências resultantes das alterações verificadas nas

últimas décadas e a sua influência nas principais políticas de desenvolvimento

sustentável, tendo como preocupação central aspectos sociais e ambientais.

Embora os seres humanos não constituam organismo mais abundante do globo terrestre,

podem ser considerados como a espécie dominante do planeta, devido à sua capacidade

de manipular o ambiente, de desenvolver e utilizar uma gama variada de recursos

bióticos e minerais, deslocando ou eliminando outras espécies, e produzindo impactos

ambientais significativos.

É também necessário reconhecer que toda a utilização da terra, quer urbana, rural ou

costeira constitui uma parte funcional do ecossistema e tal como todos os organismos

dentro de um ecossistema, os seres humanos dependem dos recursos ambientais

existentes. Apesar de todos os nossos esforços visarem uma melhoria da condição

humana, frequentemente esquecemos ou neglegenciamos os impactos gerais que

provocamos em sistemas naturais independentes (água, ar, solo, e biótico) que na sua

totalidade constitui o ambiente.

Desenvolvimento sustentável

Da Cimeira do Rio (1992) resultou uma série de princípios visando a protecção

ambiental e dando ênfase à responsabilidade de cada país na diminuição dos problemas

mundiais, tais como a diminuição da camada de ozono, a desflorestação, etc. No

entanto, de acordo com Estes (1999), o advento de um novo século é acompanhado

pela necessidade urgente de uma Agenda Social, confirmado pelos paradoxos dos

actuais sistemas sociais e pela insatisfação individual generalizada, pelo aumento dos

Page 65: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

65

problemas sociais, resultantes da entropia do sistema, pela necessidade de actualizar e

adaptar a nomologia/ nomografia aos direitos humanos, e pelo fraco desempenho das

instituições existentes.

A ênfase colocada no ambiente difundiu uma nova perspectiva a nível mundial,

resultante dos avanços tecnológicos e da capacidade dos seres humanos de controlarem

o ambiente e as suas limitações, dando assim origem a uma nova atitude relativamente

aos elementos naturais, caracterizada por uma maior preocupação. No entanto, devido

fundamentalmente a diferenças culturais, à falta generalizada de participação e

consciencialização, e à persistência em várias áreas do globo terrestre de problemas

graves, tais como guerras, pobreza, fome e epidemias, este conjunto de princípios

aceites a nível mundial, enfrentaria dificuldade na sua aplicação a nível nacional.

O desenvolvimento sustentável baseou-se em conceitos como gestão integrada e

interdependente, secundado pelos princípios de equidade intergeneracional e pelo

princípio precaucionário, tendo em conta o uso racional dos recursos terrestres e

procurando evitar, entre outros, problemas de poluição, exaustão dos recursos e

desflorestação.

No que diz respeito ao sector turístico, o desenvolvimento sustentável assume uma

importância vital e deve ser abordado fora dos ecos e conceitos ditados pelas modas. A

ausência de uma abordagem sustentável de desenvolvimento conduz frequentemente a

impactos ambientais e sociais. Assim, o turismo sustentável necessita de envolver os

processos locais de desenvolvimento turístico. Questões como capacidade turística ou

níveis de saturação, são geralmente conduzidas de forma mais apropriada a nível local.

Uma abordagem hierarquicamente crescente, precisa de ser complementada por uma

implementação de políticas hierarquicamente decrescente, uma vez que a existência de

políticas conflituosas e contraditórias a nível local pode impedir a implementação de um

processo de desenvolvimento sustentável. Assim, uma gestão integrada e

interdependente constitui apenas uma parte do processo de desenvolvimento

sustentável.

Considerando o caso específico do Vale do Lima, os seguintes assuntos podem ser

considerados de importância vital na implementação de programas:

Page 66: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

66

Políticas ambientais

As políticas ambientais resultantes da Cimeira do Rio enfatizaram a importância e a

necessidade urgente da manutenção do ambiente, difundido uma nova perspectiva,

menos centrada no poder do ser humano para controlar os recursos terrestres, e centrado

nos deveres dos seres humanos para com estes mesmos recursos. No entanto, a vida

quotidiana do planeta encontra-se repleta de contradições e paradoxos e apesar da

globalização o etnocentrismo pode impedir a aplicação dos princípios acordados.

As políticas ambientais apresentam frequentemente uma falta de visibilidade no que diz

respeito ao seu processo de implementação hierarquicamente decrescente, uma vez que

resultaram de acordos internacionais governamentais e noutras circunstâncias a

existência de legislação excessiva ou a sua completa inexistência impediram o processo

de aplicação e a participação da generalidade dos cidadãos.

QUADRO 4: Principais Funções do Turismo Rural Sustentável

Planeamento da área

Planeamento da utilização presente e futura das áreas rurais; permite uma visão a longo

prazo.

Promoção de Desenvolvimento Económico

Promoção da utilização apropriada das áreas rurais (diversificação da actividade rural,

ecoturismo);

Manutenção de Recursos

Protecção do enquadramento ecológico das áreas rurais; preservação da diversidade

biológica; assegurar uma utilização sustentável.

Resolução de Conflitos

Harmonizar e equilibrar existentes e potenciais formas de utilização, como por exemplo

conflitos de utilização entre a agricultura e a silvicultura.

Salvaguarda da Segurança Pública

Proteger a segurança pública em áreas rurais e florestais tipicamente sujeitas a

catástrofes naturais ou acidentes provocados pelos seres humanos.

Page 67: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

67

Fonte: Adaptado de Cicin-Sain e Knecht – Integrated Coastal and Ocean Management

(p47)

QUADRO 5: Aspectos a considerar numa análise da importância crescente do

Turismo como Agente de Desenvolvimento Equilibrado

A importância crescente do turismo como um Agente de Desenvolvimento Equilibrado

deve ser analisada considerando os seguintes aspectos:

• Contexto

• Princípios orientadores e principais actores envolvidos

• Objectivos para atingir uma gestão integrada da qualidade

• Plano de actividades

• Qualidade ambiental e aplicação local dos princípios da Agenda 21

• Medidas e instrumentos de controle

• Resultados

Como já foi mencionado anteriormente, o turismo tem assumido um papel crescente

como agente de desenvolvimento económico, e também como um importante segmento

de mercado, resultado do aumento do tempo livre e de lazer. No entanto, os itens

apresentados no quadro anterior devem ser tomados em consideração para que o turismo

assuma a forma de um agente de desenvolvimento equilibrado.

A avaliação do contexto no qual determinado projecto é implementado, os princípios

orientadores, os actores envolvidos, bem como os objectivos com vista a atingir uma

gestão integrada da qualidade, o plano de actividades com vista a atingir a qualidade

ambiental e a aplicação local dos princípios da Agenda 21 são etapas fundamentais para

o desenvolvimento bem sucedido a longo prazo de um projecto turístico. No entanto,

medidas e instrumentos de controle são também elementos importantes num processo

de avaliação contínua dos resultados.

Page 68: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

68

Políticas sociais

A viragem deste século é especialmente marcada por alterações profundas num mundo

em mudança. A globalização da vida social e os novos desafios apresentados por

relações indefinidas entre o indivíduo e a sociedade aumentaram a necessidade de

promover a sensibilidade social, de melhorar compreensão e a consciência das

circunstâncias sociais, para apreciar a variedade cultural e para reformular o

funcionamento das instituições sociais, aumentando a possibilidade de liberdade

humana.

Weber (1842-1920) considera que “as ideias e os valores culturais ajudam a definir a

sociedade e as nossas acções individuais”. No entanto, Marx defende que a mudança

social é provocada principalmente pela influência económica.

O estudo do poder – a forma como os indivíduos e grupos atingem os seus fins reveste-

se de grande importância na sociologia (Giddens: 1997). De acordo com vários autores,

como Marx, (1864) Weber (1842-1920), Foucault (1926-1984), Habermas (1929) et al.,

as sociedades capitalistas tendem a destruir a ordem moral da qual dependem e na

realidade o crescimento económico tende a assumir a responsabilidade de todos os

outros procedimento. Esta situação cria frequentemente uma ausência de sentido na vida

quotidiana.

É também importante referir, que podem ser encontrados padrões de reprodução social,

especialmente a nível institucional, baseados frequentemente numa concepção

materialista da vida. A concepção materialista da vida, centrada no indivíduo, a

dificuldade de considerar diferentes perspectivas culturais e da sua avaliação, o

abandono de antigos valores e a adopção de novos, a velocidade da evolução, podem ser

considerados como assuntos que devem ser abordados cuidadosamente, com base nas

conclusões das alterações provocadas a nível mundial pela revolução industrial e

analisando o período compreendido entre o início deste século e a nossa era.

Controle social / preocupação Social e aceitação de valores diferentes

Page 69: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

69

Além disso, e de acordo com Carreira, H. (1996) as políticas sociais são uma aquisição

recente das sociedades industriais desenvolvidas dos países capitalistas. As políticas

sociais foram introduzidas na Europa no final do século XIX e a sua efectividade ou

existência noutros países é extremamente reduzida. Além disso, as políticas sociais só

podem ser implementadas se forem atingidos níveis mínimos de desenvolvimento. No

entanto, considerando a posição assumida por Estes (1999), “tanto o estado como a

natureza do desenvolvimento social a nível mundial apresenta uma variação

considerável”. Estas diferenças são profundas e tem em todos os casos um impacto

significativo na vida dos indivíduos de cada um dos grupos de desenvolvimento

identificados. Estes padrões também confirmam o elevado grau de interdependência que

existe entre um leque variado de forças sociais, políticas e económicas com impacto nos

perfis de desenvolvimento de determinadas regiões e de todo o mundo. Estes factores

incluem o passado de uma região e a sua história social recente, o tipo de política e o

tipo de economia, o grau de acesso a recursos naturais e outros, o nível e a qualidade de

investimento social na capacidade humana de desenvolvimento, a qualidade das

relações entre governos e os seus assuntos e entre os governos nacionais e os estados

vizinhos, bem como o grau de compromisso nacional e regional com uma agenda de

desenvolvimento social.

Políticas económicas

A política de desenvolvimento rural pretende abarcar todos os aspectos do mundo rural

e não apenas preocupações sectoriais específicas. A estratégia desta bordagem integrada

de desenvolvimento económico tem em conta o papel diversificado das áreas rurais na

sociedade moderna em termos de:

• Produtividade

• Ambiente

• E Funções sociais (Cocossis: 1996)

O desenvolvimento sustentável das áreas rurais implica uma percepção generalizada de

que o ambiente pode ser modificado, manipulado, modificado, ou até mesmo controlado

Page 70: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

70

como se pertencesse exclusivamente aos seres humanos. È assim, necessário o

desenvolvimento de novos valores que considerem a espécie humana como uma parte

integrante da natureza.

Assim, as acções levadas a cabo não devem ser baseadas apenas em lucros económicos

a curto prazo, mas na manutenção a longo prazo dos recursos e da sua qualidade.

Desenvolvimento Rural: um acordo entre objectivos gerais e específicos

Esta secção procura analisar a génese dos Programas de Apoio Comunitário e a forma

como podem ser associados a um processo de desenvolvimento histórico, que tentou

harmonizar as necessidades do mundo Europeu com os interesses sociais de cada uma

das suas comunidades. Além disso, a implementação de Programas de apoio

Comunitário ao Desenvolvimento Rural e a sua integração a nível local, considerando

as características específicas da área são também analisadas, bem como os actores locais

envolvidos. Assim, a participação no processo político será considerada tendo em conta

a socialização estrutural, e a articulação de interesses individuais e de dinâmicas

institucionais. A implementação da Política Agrícola Comum (PAC) em Portugal deve

ser analisada tendo em conta a natureza dos programas de apoio comunitário e o

compromisso entre objectivos locais e gerais. A implementação de políticas e o tipo de

participação política são algumas das chaves possíveis de um processo de

desenvolvimento rural bem sucedido.

Conforme referido por Nisbet, R. (1997), a história apenas revela os seus segredos aos

que a observam a partir do presente. Assim, quando ao examinar-mos o processo de

globalização e os seus conceitos, assim como a ideia de um mundo em mudança

podemos encontrar no passado e ao longo da nossa história ecos de preocupações

semelhantes. Evidência de dúvidas religiosas, associadas ao pessimismo e à dispersão

cultural podem ser encontradas após a morte de Alexandre O Grande (323 d.C.), quando

Atenas perdeu a sua hegemonia e a sua liderança política, bem como noutros períodos

da nossa história passada.

Além disso, os avanços tecnológicos nas últimas décadas alteraram consideravelmente

as nossas vidas e os seus impactos associados à industrialização conduziram a um novo

Page 71: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

71

advento social, caracterizado por expectativas inteiramente novas, mas também por

novos problemas e novas limitações. Entre os piores exemplos, surgem duas guerras

mundiais e os seus resultados, como no caso dos preconceitos culturais criados pelos

alemães e dos quais também acabariam por ser vítimas.

Compreensão, tolerância e cooperação podem constituir os valores primordiais do

processo de globalização. A comunicação com outras culturas significa a integração de

novos valores, a adopção consciente de novos estilos de vida e a avaliação da própria

identidade. A tradição pode apenas ser mantida à luz da modernidade e na sombra de

uma avaliação do passado. As noções sociológicas de comunidade por oposição a

sociedade, autoridade versus poder, status versus classe, alienação versus progresso,

devem ser integradas numa nova ordem mundial.

Além disso, conforme referido por Dogan (1997) as políticas da União Europeia são o

resultado de valores políticos liberal-democratas, segundo os quais é a sociedade que

dirige as acções do estado, sendo os valores sociais e políticos dos cidadãos individuais

adquiridos através do processo de socialização (estruturalismo), ou com base numa

resposta psicológica à sua experiência pessoal de interacção social; e a forma exacta

através da qual são expressados estes processos gerais de participação política nos

estados membros dependerá do tipo de mediação dos grupos maioritários, das leis

eleitorais e estrutura constitucional. Assim, as políticas de desenvolvimento rural devem

ser analisadas considerando estes assuntos.

A Política Agrícola Comum (PAC) na génese do LEADER

Desde o seu início a UE estabeleceu uma Política Agrícola Comum entre os seus

Estados Membros, de forma a controlar a produção, o marketing e os preços dos

produtos agrícolas (Conferência de Stressa, 1958,; Tratado de Roma). Uma parte desta

política passa pela concessão de subsídios a produtores para cultivarem certos produtos

agrícolas, como azeite, cereais, etc., em detrimento de outros, como no caso da remoção

das vinhas (Set Aside Scheme of Agricultural Areas).

Page 72: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

72

A Europa possui um dos sistemas agrícolas (e agro industriais) mais produtivos do

mundo, apresentando também vantagens estruturais que não podem ser negligenciadas

para comercializar produtos agrícolas e produtos transformados. Também é necessário

prover o sector agrícola português com novos mercados. Assim, é também necessário

negociar com sócios mais fortes, como a América do Norte e especialmente os Estados

Unidos. (I.e. o Uruguai Round)

Na Agenda 2000, a Comissão Europeia apresenta uma revisão da Política Agrícola

Comum. Este é apenas o primeiro passo no desenvolvimento da política europeia para o

novo milénio, sendo vários os factores que influenciam o desenvolvimento de políticas

agrícolas tal como o impacto do próximo Acordo da Organização Mundial do

Comércio, a adesão antecipada dos países da Europa Central e Ocidental, tais como a

República Checa e a Polónia e as suas influências na política da EU.

Tal como refere Provan (J., 1999): “O quarto factor de influência na planeamento da

agricultura europeia pode ser designado por “mudança estrutural”. Isto refere-se

essencialmente à estrutura das propriedades agrícolas, ao tamanho das explorações

agrícolas, e à população agrícola, à sua estrutura etária, e ainda a considerações mais

gerais tais como saúde e vitalidade da economia rural, afectando especialmente os

objectivos referentes à diversificação da produção de bens alimentares (humanos e

animais - forragem).”

A principal estratégia da Política de Agricultura Comum (PAC) tem sido simplificar a

complexidade do sistema agrícola nas diversas áreas da Europa: Mais produção, menos

produtores! Os meios preferidos, seriam assim, garantir os preços sem qualquer

limitação das quantidades produzidas e uma abordagem proteccionista das importações

e exportações.

A nova “PAC”, estabelecida em 1992, mantém estes instrumentos, mas incrementa as

ajudas directas aos agricultores, tendo como componente principal o rendimento

económico e de forma mais geral o enquadramento na estrutura da PAC. A agricultura

ecológica e o ambiente são alvo de uma maior atenção, uma vez que os objectivos da

PAC2 são: o controle das quantidades produzidas, o controle do equilíbrio dos

Page 73: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

73

orçamentos agrícolas, não apenas em si próprios, mas tendo em conta a relação das

despesas globais em todos os sectores económicos; melhoria na administração das

explorações agrícolas, maior preocupação com os aspectos ecológicos e ambientais.

As ferramentas sugeridas para alcançar estes objectivos são:

· para obter o controle da produção, a Comissão baixa severamente os preços

comunitários, de forma a nivelá-los pelos preços dos mercados mundiais. Assim,

diminui a relevância das compensações à exportação, mas mantém a agricultura

europeia, especialmente na área continental, dentro do mercado mundial, de forma a

compensar perdas do rendimento económico.

· A Comissão concede ajudas directas aos agricultores, com base no número de hectares

fora de produção, quando alcançam 5% da superfície total cultivada - e à redução do

número de cabeças de gado, de forma a reduzir o impacto da agricultura no ambiente.

· A Comissão atribui recompensas ao cultivo extensivo: pastagens, actividades não

poluentes, aumento da área florestal, prolongamento de alqueives.

As seguintes regulamentações europeias, referentes à agricultura e silvicultura

encontram-se directamente relacionadas com a biodiversidade.

Regulamento CEE 2078/92 ("produção agrícola sustentável"),

Regulamento CEE 2080/92 ("florestação de terras agrícolas"),

Regulamento CEE 2092/91, Regulamento CEE 2328/91, Regulamento CEE 2081/93

"5b", Regulamento CEE 2066 / 92, Regulamento CEE 1467/94 (utilização e

caracterização do PIB agrícola), Regulamento 2082/93 "LÍDER II), Regulamento

3528/86, Regulamento 2158/92.

A necessidade de uma agricultura mais competitiva acabaria por trazer problemas a

algumas áreas rurais. O LEADER – Ligação Entre Acções de Desenvolvimento da

Page 74: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

74

Economia Rural, surgiu como um novo modelo de gestão, baseado numa abordagem

hierarquicamente crescente e visando a valorização dos recursos endógenos e a solução

dos problemas de áreas rurais mais frágeis.

O Papel do Sector público e do Sector Privado

O papel dos sectores públicos e privados serão aqui abordados considerando as teorias

de alguns dos elementos da escola de Frankfurt. Uma primeira análise empírica

revelaria que o sector privado visa acima de tudo a optimização de resultados

económicos, enquanto o sector público se preocupará principalmente com o bem-estar

social, ou benefícios sociais. Porém, o assunto não é tão simples como parece a

princípio, uma vez que o sector público é extremamente dependente das receitas e dos

benefícios económicos do sector privado. Além disso, o poder e a autoridade exercidas

por uma cultura longa de reforço económico (o desejo material como principal motor do

género humano) facilmente regula e controla os que funcionam dentro do sector

público.

QUADRO 6 : Limitações e Constrangimentos do Sector Público em Portugal:

- Dependência de diferentes níveis/ departamentos governamentais;

- Burocracia;

- Baixo poder de decisão;

- Falta de autoconfiança;

- Altamente dependente dos serviços centrais;

- Os indivíduos mostram-se frequentemente habituados às situações e manifestam

pouca ou nenhuma vontade de as alterar.

- Apesar de público significar para todos, isto nem sempre se verifica.

Considerando, por exemplo, a posição de Marcuses (H. ,1964) face aos processos

democráticos, podemos encontrar críticas quer aos países comunistas quer aos países

Page 75: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

75

capitalistas. Nenhum tipo de sociedade cria oportunidades iguais para seus cidadãos. De

acordo com este autor, as pessoas não livres, nem gratuitas pois funcionam dentro de

sistemas como a economia. Se as pessoas fossem realmente livres e gratuitas, seriam

livres e gratuitas dentro destes sistemas. Só quando as pessoas são livres dentro destes

sistemas podem determinar o que realmente precisam ou desejam Estas necessidades

são exemplificadas pela variedade de escolhas que nos são oferecidas pela nossa

economia. Porém qualquer uma destas escolhas, reforça as normas sociais existentes.

Como qualquer uma destas escolhas tem o mesmo resulta (reforço das normas sociais)

não existe qualquer escolha. Marcuses considera que as sociedades realmente

avançadas, são estados de bem-estar / estados de guerra. Estados de bem-estar

restringem a liberdade porque limitam o tempo livre, acesso aos bens e serviços

necessários , e a capacidade de autodeterminação dos cidadãos. O estado de guerra

impede uma verdadeira análise da sociedade, porque mantém os indivíduos focalizados

no combate ao "inimigo", em vez de os manter focalizadas em problemas sociais

internos. De acordo com Habermas (Jürgen, 1929), a sociedade moderna não vai de

encontro às necessidades individuais e as instituições sociais não fazem mais do que

manipular os indivíduos.

Organizações Não Governamentais

Os indivíduos constituem o público e o sector privado e fazem parte quer de um quer de

outro. O sector público parece contudo, ser por vezes caracterizado por uma falsa noção

de segurança eterna e é suportado principalmente pelas receitas do sector privado. Isto

deve-se essencialmente ao facto do sector privado englobar diferentes objectivos.

As organizações não governamentais poderão agir como dirigindo e combinadndo os

interesses do sector público e do sector privado. A cooperação é também

frequentemente estabelecida e forma um suporte ao seu funcionamento, permitindo a

combinação de diferentes políticas e uma gestão integrada dos recursos.

Page 76: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

76

Informação, participação e formação, bem como auscultação são algumas das tarefas

levadas a cabo pelas organizações não governamentais de forma a apoiar, reforçar ou

complementar as organizações governamentais existentes.

Princípios da UNCED

Nesta última década do século XX, a comunidade global desenvolveu objectivos de

gestão e estabeleceu instituições capazes de monitorar, prever e começar a alterar o

curso destrutivo do crescimento e desenvolvimento económico insustentável verificado

a nível mundial durante o último século. Estas acções foram iniciadas como resposta à

crescente constatação científica de que a escala e a intensidade crescente das actividades

humanas provocaram a alteração de alguns processos ambientais básicos e provocarão

provavelmente alterações regionais e globais indesejáveis, reduzindo a capacidade do

planeta quer para os seres humanos quer para as outras formas de vida.

Uma vez que no início deste século a população mundial tinha quadruplicado de 1.5

biliões para aproximadamente 6 biliões, a degradação ambiental aumentou. As

pastagens e o cultivo agrícola intensivo, em terras semiáridas conduziram à

desertificação e à exaustão dos terrenos.

A poluição resultante do crescimento dos centros urbanos e industriais poluiu não só o

ar e a água, mas também o próprio sólo. Chuva ácida, “smog”, resíduos tóxicos, e

diminuição do nível de oxigénio, poluição dos cursos de água, constituíram sub-

produtos inesperados e indesejados dos processos de urbanização e industrialização.

Além disso, muitos destes problemas não nem de origem local nem de origem regional

no que diz respeito ao seu âmbito geográfico, mas cada vez mais intercontinentais e

globais.

Durante os anos 70, os países desenvolvidos estabeleceram políticas de forma a

diminuir estas formas de poluição. Ao mesmo tempo que acordos internacionais e

tratados eram negociados entre os países europeus, para proteger o ar e água, como

recursos comuns.

Page 77: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

77

Ao mesmo tempo que o escudo protector da camada de ozono diminuía a quantidade de

clorofluorcarbono (CFCs) e que o aumento das emissões dos gases susceptíveis de

provocar o efeito de estufa produziam mudanças climáticas regionais e globais. Como

resultado, tratados internacionais foram assinados pela maior parte das nações de forma

a reduzir a emissão de gases responsáveis pelo efeito de estufa. A preocupação

crescente com a perda de espécies de plantas, animais e colheitas agrícolas deu origem à

assinatura de um acordo internacional, pela maior parte das nações, com o intuito de

preservar a biodiversidade.

A tentativa mais vasta de desenvolver estratégias de crescimento e desenvolvimento

económico que não provoquem dano ou destruição na base de recursos renováveis

resultou da Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento. A

Agenda 21, um enorme plano de acção para promover práticas de desenvolvimento

sustentável, resultantes da Cimeira da Terra, em 1992, demoraram mais de dois anos a

desenvolverem-se e envolveram a participação dos representantes da maior parte das

nações; bem como numerosas organizações não governamentais. Este plano de trabalho

especifica as prioridades e objectivos relativamente a inúmeros aspectos ambientais e de

desenvolvimento e também ao seu enquadramento financeiro, legal e institucional.

A agricultura em pequena escala e o turismo rural sustentável podem equilibrar a

situação acima descrita. A agricultura intensiva e o turismo de massas conduzem

rapidamente à exaustão dos recursos ambientais da área. O turismo rural, não pode

contudo ser bem sucedido sem uma abordagem equilibrada de desenvolvimento e de

ambiente.

Sumário

Podemos considerar que a situação internacional sofreu uma alteração completa e que

mais significativas ainda foram as alterações dramáticas da percepção da relação dos

seres humanos com o seu ambiente geográfico. Desde os anos 70 a ideia do ser humano

como um elemento capaz de transformar a natureza, foi substituída pela ideia do ser

humano como fazendo parte da totalidade ambiental, tendo por isso de tratar a natureza

Page 78: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

78

com cuidado e respeito. Como consequência destas novas percepções as políticas

ambientais de controle foram substituídas por políticas de preocupação.

Assim , o sucesso da humanidade dependerá do respeito pelas limitações do ambiente e

pela consciência das suas possibilidades e das suas limitações (Giddens, A, 1997). O

turismo pode assim ser considerado como um processo de desenvolvimento que deve

englobar não apenas estas preocupações, mas também a tendência do aumento do tempo

livre e a procura de uma abordagem multidisciplinar das políticas de turismo.

Um problema fundamental ao nível da perspectiva mundial foi o das escalas

operacionais. No entanto, aquilo que se passaria numa região particular não se

relacionava necessariamente com aquilo que teria lugar numa escala global. Em tempos

mais recentes este problema é abordado como análise de sistemas – os sistemas

mundiais são considerados como oriundos do Ocidente ecuménico. Os defensores desta

bordagem do sistema mundial consideram que a economia mundial que surgiu na região

do Atlântico Norte durante o século XVI, se expandiu numa economia mundial de

dimensões verdadeiramente globais. (Braudel, 1972).Isto resultou na consolidação de

um centro mundial que organizou e dominou o resto do mundo, acabando por reduzir as

outras economias mundiais a um estatuto marginal e produzindo um mundo organizado

pela primeira vez em linhas centro-periféricas (Parker, G., 1998).

Além disso, e conforme apresentado previamente, as políticas de desenvolvimento

devem ser centradas nas necessidades particulares de cada área num determinado

momento, considerando as suas características e as suas necessidades específicas. No

caso da situação específica de Portugal, é necessário considerar o seu caracter Atlântico

e a relação entre a terra e o mar, especialmente ao considerarmos a área do Vale do

Lima e o papel do turismo como motor do desenvolvimento rural.

Princípios gerais da Iniciativa Comunitária LEADER

Esta secção pretende analisar os princípios orientadores da Iniciativa Comunitária

LEADER. O principal propósito e o mais distintivo do programa LEADER é orientar o

desenvolvimento rural de uma forma ecologicamente sustentável a nível local. O

LEADER é guiado pelos princípios da PAC e da Declaração do Rio sobre Ambiente e

Page 79: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

79

Desenvolvimento com especial ênfase nos princípios da equidade intergeneracional, o

princípio precaucionário, o desenvolvimento sustentável e a gestão integrada.

Assim, a natureza do desenvolvimento rural, especialmente no que diz respeitoà ciência

e à política, é considerada como sendo holistica e interdisciplinar. O LEADER reforça e

harmoniza a gestão local integrada das zonas rurais, preservando e protegendo a

produtividade e a diversidade biológica dos ecossistemas rurais.

Dada a complexidade e os problemas das áreas rurais, o desenvolvimento rural pode ser

construído de acordo com o melhor conhecimento científico existente (tanto natural

como social). Técnicas como avaliação dos riscos, valorização económica, avaliação da

vulnerabilidade, contabilidade dos recursos, análise dos custos-benefícios, baseada na

monotorização deve ser considerada no processo de desenvolvimento conforme

apropriado. O uso de apoio financeiro na construção da capacidade é enfatizado, bem

como a educação e a formação no processo de implementação através da recolha de

dados, educação, formação, redes e parcerias de forma a facilitar a troca de informação.

Para complementar os programas de desenvolvimento rural existentes a Comunidade

lançou uma nova iniciativa designada por LEADER para apoiar os grupos locais que

desenvolvem planos de desenvolvimento rural integrado nas suas áreas específicas.

Estes grupos cobrem áreas com uma população entre os 5000 e os 100000 habitantes

nas regiões abrangidas pelos objectivos 1 e 5b.

Os programas de acção a financiar foram talhados de acordo com as necessidades locais

e as suas áreas gerais abrangidas pelo programa incluem:

· Organização do desenvolvimento rural na área em questão;

· Formação em novas actividades;

· Turismo Rural;

. Pequenas empresas de artesanato e serviços locais,

. Encorajamento à produção de produtos agrícolas de alto valor.

Page 80: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

80

QUADRO 7: Princípios fundamentais do Programa LEADER

PRINCÍPIOS ORIENTADORES:

ABORDAGEM INTEGRADA

A política de desenvolvimento rural pretende abarcar todos os aspectos do mundo rural

e não apenas preocupações sectoriais. A estratégia desta abordagem integrada de

desenvolvimento económico considera as diversas funções das áreas rurais na sociedade

moderna em termos da sua:

. produtividade

. ambiente

. e funções sociais

PRINCÍPIO SUBSIDIÁRIO

De forma a aumentar a efectividade da implementação da política a responsabilidade

pela acção é espalhada pela cadeia que termina em Bruxelas, mas que tem os eu início o

mais perto possível dos indivíduos a nível local. O papel de cada instituição na tomada

de decisões e no processo de gestão é respeitado e valorizado, e a efectividade é

maximizada através da responsabilidade partilhada.

PARCERIAS

A comunidade compromete-se a manter um diálogo sustentado e cooperação

pragmática ou parceria com as autoridades nacionais, centrais e regionais de forma a

definir princípios políticos e a assegurar a sua implementação efectiva.

A política de desenvolvimento rural é implementada através de um número

complementar de instrumentos. Após a Reforma dos Fundos Estruturais em 1998

(Fundo Europeu de Desenvolvimento, Fundo Social Europeu e Secção de Orientação da

Agricultura Europeia, e Fundo de Garantia) e um conjunto de Objectivos prioritários foi

estabelecido para estes fundos, e no que diz respeito ao desenvolvimento rural os

objectivos mais relevantes são:

· Objectivo 1 - a promoção de ajustamentos estruturais nas regiões em cujo

desenvolvimento está atrasado. O financiamento abrange determinados Estados

Membros ou regiões identificadas com base em critérios socio-econômicos.

Page 81: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

81

· Objectivo 5b – promoção do desenvolvimento de áreas rurais. Estas áreas tendem a ser

menores em tamanho e foram seleccionadas de acordo com critérios específicos

relativos à quota de emprego no sector agrícola e receitas da produção regional, baixo

nível de rendimento, níveis de densidade populacional, distância de centros urbanos,

pressões ambientais, etc.

· Objectivos 5 a – aceleração do ajustamento das estruturas agrícolas às reformas da

política agrícola comum. As medidas da Secção de Orientação da Orientação Agrícola

Europeia e do Fundo de Garantia são aplicáveis na Comunidade.

As medidas destinadas a fomentar o desenvolvimento rural são as seguintes:

QUADRO 8: Medidas para fomentar o Desenvolvimento Rural

De acordo com os Objectivos1 e Objectivo 5b

1. diversificação da actividade agrícola e a promoção de produtos locais típicos;

2. conservação de recursos naturais e do ambiente (por exemplo através da manutenção

de sistemas de gado tradicionais em áreas de montanha, medidas para combater a erosão

e encorajar usos alternativos da terra, novas propostas para proteger habitat específicos

da fauna e flora e protecção da poluição da água através de nitratos;

3. encorajamento das pequenas e médias empresas que visem desenvolver o turismo

rural;

4. formação no sector agrícola e noutros;

5. melhoria das infra-estruturas básicas nas áreas rurais.

De acordo com o Objectivo 5 a

1. Suporte financeiro ao investimento em pequenas explorações agrícolas (abrangendo

também agricultores em part time que procuram diversificar as suas actividades através

do artesanato e do turismo);

2. prémios de reforma antecipada para agricultores com mais de 55 anos;

3. subsídios para "agricultura ambiental " em áreas ambientalmente sensíveis;

4. concessões para silvicultura em áreas cultivadas;

5. Cultivo extensivo e redução das colheitas;

Page 82: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

82

6. encorajamento às colheitas agrícolas de produtos que não sejam destinados à

alimentação;

7. Ajudas financeiras ao processo de comercialização (agora alargado de forma a incluir

a silvicultura);

8. ajudas financeiras aos agricultores das áreas de montanha ou menos favorecidas;

9. ajudas à instalação de jovens agricultores.

Prémios para Acções Ambientais

• Redução do risco de poluição, desencorajando o uso de fertilizantes e de

produtos destinados a proteger as plantas, tais como praguicidas e insecticidas.

• Apoio às medidas concebidas no intuito de manter a paisagem tradicional; como

por exemplo, muros de pedra, sebes e outros elementos característicos.

Ajudas financeiras a agricultores que mantém o cultivo em áreas de alto risco, sujeitas a

desastres naturais, tais como a erosão e o fogo.

O desenvolvimento rural é essencial para a agricultura; para o ambiente, e para

qualidade de vida, e também para desenvolvimento económico e coesão. Além disso,

estes esforços visam a criação de uma nova dinâmica no mundo rural, através de uma

aproximação integrada e sustentável de desenvolvimento rural. O programa LEADER

surge assim como um regulamento / prescrição de desenvolvimento orientado face à

comunidade.

LEADER: Um Regulamento Comunitário Orientado/ Uma Prescrição de

Desenvolvimento

Conforme apresentado previamente, o turismo de pode ser uma panaceia para uma

economia débil. Como qualquer outra indústria, o turismo pode contribuir para o

desenvolvimento, mas apresenta os seus custos. Porém, o planeamento cuidadoso, o

envolvimento local e a participação podem facilitar a implementação do turismo nas

áreas rurais. (Bourke e Lulloff, 1990). Assim, esta secção procura identificar a

importância da implementação do turismo ao nível local, enquanto considerando a zona

Page 83: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

83

do Vale do Lima Vale, e a importância da avaliação das percepções e atitudes da

comunidade face aos esforços de desenvolvimento de turismo rural – na implementação

do Programa LEADER.

O papel de União europeu como agente de desenvolvimento através dos fundos

estruturais inclui uma distinção entre níveis globais e sectoriais relativamente à

implementação de programas e visando uma gestão integrada, interdependente, e

adaptada. Conforme se verifica através do conceito de programas gerais e específicos.

O Turismo pode ser usado como motor para desenvolvimento rural, apesar de seus

baixos salários sazonais e do custo inicial de desenvolvimento. O Turismo pode ser

economicamente benéfico, quando os projectos são iniciados localmente e quando os

turistas não só são considerados os indivíduos "fora da comunidade", mas também

abrangendo os elementos da população local - os utilizadores e não utilizadores.

Vários autores afirmaram unanimemente que o turismo (1) ameaça o ambiente rural e

local; (2) tem benefícios económicos; (3) cria problemas sociais, e (4) tem mais êxito

quando iniciado localmente (Bourke e Lullof, 1995,; Cohen, 1984). Uma grande ênfase

foi dada à importância de uma implementação local de projectos de forma a optimizar

os seus resultados. (Dahms, 1991,; Flandrino, 1988,; Hester, 1990,; Jensen e Blevins,

1992).

Uma Entidade Local

Medir o sucesso potencial de qualquer projecto turístico implica a necessidade de uma

avaliação das percepções dos residentes locais, dos recursos e serviços turísticos, da

economia local e da história do projecto. Além disso, a participação das comunidades

rurais também varia.

A contribuição local" no planeamento do desenvolvimento turístico pode ajudar a

identificar potenciais problemas, sucessos e fracassos. Então, a avaliação das

percepções locais e expectativas relativamente ao turismo podem facilitar as decisões

relativas ao desenvolvimento e promoção turística." (Bourke e Lullof: 1990)

Page 84: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

84

A maior parte das iniciativas locais começa com um grupo de residentes locais que se

preocupam com a sua comunidade (Lulloff, 1990,; Wilkinson, 1991). Normalmente é

mais fácil este grupo avaliar interesses locais, culturais, e impactos não-económicos do

que qudo o mesmo processo é levado a cabo por elementos do exterior (Wells et al.,

1991). Dahms (1991) acredita que a actividade empresarial local é a chave que as

atracções desenvolvidas não chamem só a atenção de turistas, mas também dos

elementos da comunidade local.

A participação, investimento e contribuição local", aumentam a possibilidade do

sucesso de projectos turísticos, pois reflectem o compromisso da comunidade local com

a indústria" (Bourke e Luloff: 1990).

Um Plano de Acção Local

"Residentes de comunidades rurais diferentes podem variar nas suas respostas referentes

ao desenvolvimento do turismo. Como resultado, só porque uma comunidade favorece o

desenvolvimento turístico não significa que outra comunidade, semelhante em história e

estrutura social, aceite a mesma "proposta de desenvolvimento (Bourke e Luloff: 1990).

O plano de acção local do LEADER do Vale do Lima inclui objectivos globais que

englobam o desenvolvimento agrícola (produção de vinho, horticultura, silvicultura,

etc.) e o desenvolvimento rural (turismo, artesanato), através da informação, formação e

educação dos diferentes elementos envolvidos. Os resultados deste tipo de estratégia são

mais visíveis em termos de consciência pública e atitudes, e menos em termos de dados

quantitativos.

Sumário

O sucesso depende da avaliação da implementação local e também da coordenação de

esforços a diversos níveis diferentes.

As percepções que nós temos sobre nós mesmos como indivíduos, as percepções que os

outros têm sobre nós podem ser semelhantes às que temos sobre uma determinada área,

Page 85: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

85

quer como fazendo parte dela ou como observadores externos. As atitudes, ou acções

levadas a cabo estão estritamente relacionadas com os nossos objectivos e com a nossa

percepção ou não-percepção do mundo circunvizinho. Percepção, pode aqui ser

entendida como o nosso conhecimento da realidade, sempre incompleta e fragmentária e

além disso sujeito a uma mudança contínua. Não obstante, percepções diversas sobre o

mesmo assunto podem informar a boa prática das direcções a seguir.

A abordagem integrada de desenvolvimento baseou-se na suposição de uma necessidade

de liderança. Foram considerados vários níveis:

1) ao nível local: Aldeia – parcerias e Associações Locais de Desenvolvimento

2) regional: Vale do Lima - ADRIL: parcerias regionais

3) nacional: Associação de Aldeias - de Aldeias Portugal (Aldeias de Portugal)

4) europeu - Associação de Grupos de LEADER - Aldeias de Tradição

Page 86: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

86

5. ESTUDOS DE CASO

Estudos de caso: Critérios na Selecção de Projectos e Justificação da Metodologia

adoptada

Esta secção pretende apresentar os critérios que presidiram à selecção dos estudos de

caso e justificar a metodologia escolhida. Assim, a primeira parte procurará apresentar

uma definição de critérios, seguida da sua aplicação aos estudos de caso seleccionados,

procurando responder a preocupações de longa data e a problemas actuais, de acordo

com os princípios expressos na Declaração do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimento.

Assim, o objectivo dos projectos seleccionados é orientar o desenvolvimento turístico

integrado em áreas rurais de uma forma ecológica – tendo os seres Humanos como

centro das preocupações.

Os estudos de caso apresentados representam uma ligação descritiva entre teoria e

prática, entre passados e presente, e futuros padrões de desenvolvimento.

"- Como se atrevem a discutir o meu futuro, sem eu saber?!... disse Alice à Rainha...

De quem são estes critérios? perguntou.

A Rainha não lhe prestou atenção, pois estava ocupada a regar alegremente os seus

condenados, que tinham apanhado todas as suas flores.

- Creio que estás atrasada para a reunião, disse o gato. - Não te preocupes com

critérios, pois ainda não sabes jogar cartas, e como não tens tempo também não te

ensinaremos, a não ser que pares com essas tuas idas à cozinha, acrescentou...

- Sim, mas... quero é jogar xadrez – lamentou-se a Alice bastante frustrada.

- Bem, para já as regras são as mesmas, a menos que eles terminem o chá e nos tragam

qualquer outra coisa... De qualquer maneira qual é a pressa? - Respondeu o gato,

enquanto comia um pepino congelado."

Em Novas Aventuras de Alice no País das Maravilhas (inédito)

Page 87: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

87

Para desenvolver este tópico é importante ter em atenção algumas questões tais como:

· O que são critérios?

· Quais as vantagens e desvantagens de estabelecer critérios?

Critérios devem ser estabelecidos de forma a seleccionar, orientar e regular o processo

de implementação. São normalmente baseados em características comuns de forma a

associar e agrupar elementos diversos. Diversidade e unidade são organizadas de acordo

com critérios estabelecidos. Os critérios presidem à selecção de projectos, de acordo

com as metas estabelecidas. O tipo de orientação ou a forma como se conduz de acordo

com determinado tipo de orientação, conduz inevitavelmente a alterações que podem ser

previsíveis e evitáveis, alterando assim o curso dos acontecimentos e sendo

responsáveis pela mudança.

Avaliar as vantagens e desvantagens conduz ao estabelecimento de critérios. Assim,

estabelecer critérios significa também limitar as possibilidades de desenvolvimento ou

alargá-las. Diferentes perspectivas e diferentes avaliações podem alterar o seu caracter

restritivo.

Considerando os estudos de caso seleccionados a definição dos critérios escolhidos foi

baseado na necessidade de encontrar respostas fundamentais para as actuais limitações,

tais como despovoamento, agricultura frágil, integrando as tendências de

desenvolvimento turístico verificadas nesta área. Visibilidade, qualidade, resultados a

longo prazo, efectividade ambiental, promoção das áreas rurais, desenvolvimento

futuro, e efectividade foram alguns dos critérios considerados, bem como a procura no

enquadramento dos objectivos do programa LEADER.

Uma vez que implicam impactos a curto e longo prazo, os critérios devem ser claros e

dirigidos, evitando ambiguidade, permitindo a avaliação e melhoramentos intermédios.

Devem ser mesuráveis tanto quanto possível. Os critérios estabelecem limites e

fronteiras e funcionam de acordo com as necessidades presentes e futuras, tendo em

conta o património existente e o desejo de participação da comunidade local. Assim,

estabelecer critérios implica a necessidade de articular processos de implementação

hierarquicamente crescentes e decrescentes e o equilíbrio entre os valores individuais e

Page 88: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

88

da comunidade, bem como avaliação externa – quer directa ou indirecta como

participante ou observador.

Definição de critérios

CRITÉRIOS implicam um julgamento, baseado em premissas tais com bom e mau,

objectivo e subjectivo. São baseados em valores que implicam a avaliação de uma

determinada situação e podem ser convertidos em regras. Informam atitudes e possuem

um carácter dinâmico – uma vez que devem ser enquadrados, adaptados e ajustados a

necessidades presentes e futuras, tendo em conta padrões existentes. Podem ainda

funcionar como regras universais – orientando tendências gerais, e permitindo a

existência e a co-existência de situações diferentes. De acordo com o senso comum,

podem ser enquadrados na satisfação de certas necessidades – objectivos a longo prazo

ou a curto prazo conduzem à selecção de diferentes critérios. O conhecimento real ou

virtual de uma determinada situação obviamente estabelece também critérios diferentes.

Assim, uma das vantagens da adopção do papel de observador/ participante em

simultâneo é o de permitir não apenas o estabelecer uma ponte entre duas perspectivas

diversas, mas também uma visão mais geral.

Além disso, critérios são frequentemente estabelecidos de acordo com necessidades

imediatas e objectivos a longo prazo - distinguir padrões comuns entre indivíduos e

agrupá-los de forma a facilitar o processo de decisão e práticas futuras. Uma das

limitações poderá residir na limitação do conhecimento/ informação disponível, e ainda

no processo dinâmico a que todos os organismos e sistemas se encontram sujeitos –

Funcionando como regras, necessitam de uma avaliação e de uma optimização contínua,

alargando o seu número sempre que necessário.

Critérios a longo prazo devem ser baseados na observação: o que é necessário e não

apenas o que pode ser feito na situação actual. Além disso, é necessário estabelecer

relações de causa-efeito de forma a ligar as actividades de gestão com os objectivos do

projecto. A monotorização constante e a avaliação dos projectos e dos seus objectivos

contribuem para a reformulação dos critérios.

Page 89: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

89

Critérios aplicados à selecção dos estudos de caso

Considerando os projectos abrangidos pelos programa LEADER, os critérios aplicados

na selecção dos estudos de caso apresentados basearam-se não apenas nos princípios do

LEADER I, mas também nas características locais da área e na necessidade de uma

abordagem simultaneamente crescente e decrescente na implementação dos projectos.

Os princípios de uma abordagem multidisciplinar foram também considerados, tais

como: solução de problemas em vez de transferência de problemas, prioridade dada à

prevenção, abordagem precaucionária e a resposta a problemas existentes tendo em

conta os desafios e as oportunidades apresentadas.

Tendo em mente os estudos de caso apresentados, o objectivo dos projectos

seleccionados é orientar o desenvolvimento do turismo integrado em áreas rurais de

uma foram ecologicamente sustentável.

Investigação-Acção

O investigador procedeu à recolheu de dados e informação enquanto participante do

processo estudado

De acordo com Veal (1997), quando o investigador procede também à recolha de dados

e ao seu registo, o processo de análise é um processo contínuo. Assim, necessita de

relacionar constantemente o que observe com os objectivos do estudo e retirar

conclusões interinas. O próprio acto de decidir o que observar, o que dizer e o que

registar implica um conjunto de diversas escolhas que serão influenciadas pela

compreensão do investigador sobre o fenómeno estudado.

A aproximação adoptada foi por isso a de participante - observador. Para além de

participante o investigador assumiu também uma posição de liderança nas acções

levadas a cabo. A observação apresenta a vantagem de ser moderada, uma vez que se

procede à recolha de informações obre os indivíduos sem o seu conhecimento.

Enquanto nalguns casos se poderão levantar questões de ética, apresenta vantagens

Page 90: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

90

sobre outras técnicas nas quais os indivíduos tem conhecimento da presença do

investigador, podendo assim modificar o seu comportamento, ou quando se reportam à

descrição feita pelos indivíduos do seu próprio comportamento, podem ser distorcidas

ou imprecisas. (Veal: 1997)

Além disso, a observação possibilita apresentar uma perspectiva da situação que não é

aparente para os indivíduos envolvidos. A observação é assim uma técnica apropriada

quando o conhecimento da presença do investigador pode provocar modificações

inaceitáveis no comportamento dos indivíduos e quando padrões de comportamento

pouco aparentes revelam interesse. (Veal: 1997)

Recolha de Dados Secundários

Ao levar a cabo um processo de investigação será prudente utilizar os dados existentes

tanto quanto possível, em vez de proceder à recolha de nova informação que acarreta

tempo e despesa. Tal como a bibliografia consultada os dados secundários podem

desempenhar vários papeis num processo de investigação, constituindo a base do

investigador e um importante elemento de comparação.

A recolha de dados secundários foi elaborada a partir de livros, publicações e relatórios

pertencentes à biblioteca da Universidade, a Publicações Oficiais, à Imprensa, etc.

Recolha de Dados Primários

De acordo com Veal (1997), dados primários são dados novos recolhidos a partir do

projecto de pesquisa actual - o investigador é o seu primeiro utilizador.

A recolha de dados primários foi baseada em entrevistas, inquéritos e nos registos como

observador/ participante.

Page 91: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

91

Justificação dos métodos escolhidos em função dos estudos de caso

De acordo com Veal (1997) um estudo de caso implica o estudo de um exemplo – um

caso – do fenómeno que se pretende investigar. O objectivo é procurar compreender o

fenómeno através do estudo de exemplos únicos e incluídos nos projectos. O estudo de

caso como método de investigação pode compreender toda e qualquer uma das técnicas

de investigação disponíveis.

Considerando a Aldeia do Soajo, entrevistas, inquéritos e observação/ participação,

forma alguns dos métodos utilizados para a recolha de dados primários. Cem (100)

inquéritos foram administrados duas vezes. Os principais actores foram entrevistados: o

presidente da Junta, o Pároco, O Presidente e os Técnicos da Câmara Municipal de

Arcos de Valdevez.

O estudo de caso do campo de Golfe baseou-se em entrevistas a peritos. (Carmona dos

Santos e Howard Swan).

O estudo de caso do Centro Equestre baseou-se na informação fornecida pela Federação

Portuguesa de Criadores de Cavalos. Um inquérito foi também administrado a 100

indivíduos, distribuídos por 100 famílias. Isto revelou-se bastante difícil uma vez que

estes indivíduos raramente se encontravam em casa, sendo necessário reforçar os

contactos.

Assim, conforme mencionado previamente, para além da recolha de dados secundários

a partir de uma revisão extensiva da bibliografia existente, procedeu-se também à

recolha de dados primários através de inquéritos, entrevistas e como participante/

observador de acordo com o quadro seguinte:

Page 92: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

92

QUADRO 9: Dados Recolhidos

Inquéritos Entrevistas Participante/

Observador

Campo de Golfe X

Soajo X X X

Centro Equestre X X

Considerando o estudo de caso do Soajo, uma vez que os dados existentes eram raros, a

recolha de dados primários revelou-se necessária de forma a identificar e analisar os

resultados. Assim elaborou-se um inquérito como resultado de uma primeira avaliação

da iniciativa LEADER I (CEDRU). Além disso, a necessidade de monotorização

resultante de uma gestão adaptada, justifica a necessidade de um inquérito no caso do

projecto do Soajo.

Foram também efectuadas entrevistas não estruturadas, no caso do Turismo de Aldeia e

do Centro Equestre de forma a obter respostas pertinentes. Estas entrevistas permitiram

obter maior profundidade, espontaneidade, sondar e foram mais apropriadas para revelar

informação sobre sentimentos e emoções relativamente a assuntos diversos (p.ex.

ausência de legislação apropriada no caso do Centro Equestre). Métodos projectivos

foram também utilizados no que se refere ao Turismo de Aldeia, através da promoção e

marketing numa feira de turismo nacional (BTL - de Bolsa de Turismo Lisboa: 1999).

Métodos de “lesson-drawing” foram alcançados assumindo simultaneamente o papel de

participante/ observador e vice-versa - que permitiu aprendizagem interactiva e o

ajustamento de acordo com as situações: à semelhança de pertencer a uma imagem ou

observá-la do exterior - como participante/ observador é possível obter uma visão mais

vasta. – alargando a nossa perspectiva. No entanto, podemos considerar a mesma

imagem como colocada num local diferente e face a essa posição considerar o

conhecimento real ou virtual das situações e contextos.

No trabalho de campo, ou assumindo o papel de observador/ participante o investigador

faz parte do grupo ou comunidade de forma a que a cooperação lhe permita alcançar

melhores resultados.(Giddens: 1997). Assim é possível ao investigador alcançar uma

Page 93: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

93

maior flexibilidade e observar como as coisas funcionam dentro de um determinado

grupo, permitindo-lhe também entender as razões dos diversos elementos. Não obstante,

este método apenas permite o estudo de grupos pequenos ou comunidades e é

extremamente dependente da capacidade do investigador de ganhar a confiança dos

indivíduos envolvidos. Além disso, o investigador também corre o risco de se tornar

mais um elemento do grupo (“an insider”), adoptando e identificando padrões do grupo

e perdendo a perspectiva de um observador externo.

A posição de observador participante normalmente gera informação mais rica e mais

detalhada do que outros métodos e permite flexibilidade ao investigador para alterar

estratégias e seguir novos rumos. Por outro lado e como já foi referido, só pode ser

usado para estudar grupos relativamente pequenos ou comunidades e os resultados só se

aplicam aos grupos ou comunidades estudadas. É, às vezes, também difícil generalizar

com base num único trabalho de campo (Giddens: 1997)

No sentido de fazer previsões específicas e descobrir relações e interacções entre

variáveis (por exemplo, emprego é positivamente associado a turismo), os assuntos de

interesse foram medidos conforme existem naturalmente. Como um dos objectivos foi a

descrição sistemática, factual e precisa, de factos e características da população do vale

do Lima foi adoptada uma forma descritiva. (Pizam: 1996). Foram escolhidos estudos

de caso para apresentar uma investigação detalhada de três projectos diferentes que

representam uma imagem organizada de aspectos sociais, económicos e ambientais de

projectos de turismo particulares. Como os estudos de caso normalmente examinam

pequenas unidades, foram seleccionados projectos pertinentes para evitar uma

generalização limitada e preconceitos subjectivos.

Sumário

Semelhante a uma imagem, as categorias são fixadas de acordo com as nossas

perspectivas e dependem da nossa capacidade de entrar e sair fora da imagem.

Metodologia é então o modo utilizado usa para recolher o máximo possível de

informações e perspectivas de uma determinada situação.

Page 94: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

94

ADRIL – Associação de Desenvolvimento Rural Integrado do Lima

Importância Socio-política dos grupos de acção local e de instituições não-

governamentais no processo de desenvolvimento rural - ADRIL – Associação de

Desenvolvimento Rural Integrado do Lima

'A extremidade é Portugal, um país subestimado por ignorância, uma história que a

amnésia limpou... Os meus gostos mudaram, mas desde então eu quis perversamente

ser português.

Não posso explicar completamente esse encanto. Não é o charme de Portugal que me

atrai; é algo mais profundo e mais obscuro do que isso. Também é mais luminoso do

que podia ter imaginado antes de conhecer as pessoas. De todos os poderes europeus

foram os que tiveram mais cedo o mundo nas mãos e durante mais tempo. Porém, hoje

falam em ser europeus, esquecendo o seu grande poeta modernista Fernando Pessoa

quando falava 'dos Outros, Outros de nascença, europeus que não são verdadeiramente

europeus porque não são portugueses'. Segundo ele, só o seu povo estava destinado a

compreender que 'o futuro é universal'. Talvez seja neste sentido que eu quero ser

português.

Paul Hyland

"Mas só pode viver a sua vida num lugar e num tempo de cada vez. E a sua própria

vida não tem qualquer encanto enquanto está acontecendo, apenas quando se

transforma numa recordação."

Andy Warhol

Page 95: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

95

A área geográfica considerada neste livro, foi já descrita como uma área sujeita à

desertificação, despovoamento, agricultura frágil, taxa elevada de imigração, etc.. Por

que viverá então alguém ainda no Vale do Lima? Por que voltam então os seus

emigrantes? Como poderiam ser superados os problemas apresentados? Como podem

ser enfrentadas mudanças globais e orientado o desenvolvimento futuro? Quais as

potencialidades e limitações desta área? Estas foram algumas das questões a que o

trabalho levado a cabo pela ADRIL, no âmbito do programa LEADER procurou

responder.

O propósito desta secção é apresentar o papel desempenhado pela ADRIL no processo

de desenvolvimento rural levado a cabo no Vale do Lima. A importância dos esforços

conjuntos de instituições públicas e privadas, associações e indivíduos no reforço das

políticas locais, nacionais e internacionais de desenvolvimento integrado foram

agrupadas à volta da ADRIL. Foram tidos em conta diversos conceitos no que diz

respeito aos recursos existentes, tais como: descentralização, diversificação orientação

comunitária, participação. Assim, os projectos seleccionados referentes ao Campo de

Golfe, Turismo de Aldeia e Centro Equestre ilustram a aplicação dos princípios

previamente mencionados e a importância do papel da ADRIL na orientação deste

processo. Será também referida a necessidade de legislação entre os requisitos sociais e

a legislação política. Contudo, e como consequência da tendência verificada no que se

refere ao aumento do tempo de lazer, os projectos seleccionados centram-se no turismo

rural, sendo o turismo como agente de desenvolvimento rural a ideia central desta obra.

A ADRIL (Associação de Desenvolvimento Rural Integrado do Lima) foi constituída

em Ponte de Lima no dia 17 de Julho de 1991. O programa LEADER funcionou como

uma motivação e uma resposta efectiva para suprir as necessidades sentidas nesta área,

onde foi implementado o Grupo de Acção Local (GAL).

O trabalho previamente desenvolvido pela TURIHAB permitiu a identificação das

potencialidades e das limitações desta área. No entanto, os diferentes aspectos

Page 96: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

96

envolvidos não podiam ser abordados exclusivamente pela TURIHAB. A ADRIL

reuniu assim diversas instituições públicas e privadas, associações e indivíduos que

tinham vindo a desenvolver objectivos gerais do programa LEADER (Anexo 3).

O LEADER alargou o âmbito do desenvolvimento rural. No entanto, os projectos

seleccionados e apresentados nas secções seguintes são alguns dos que contribuíram

para aumentar o potencial turístico da área e reduzir a sua sazonabilidade, alargando o

potencial da oferta e da procura quer no que diz respeito ao turismo doméstico, quer no

que se refere ao turismo internacional.

De acordo com o diagrama de objectivos apresentado (Anexo 4), os objectivos gerais da

ADRIL compreendem o desenvolvimento da integração rural do Vale do Lima, a

protecção do ambiente e da qualidade de vida, a valorização dos produtos agrícolas, a

criação de pequenas empresas e o apoio financeiro ao investimento no artesanato.

Na candidatura, aprovação e plano de actividades, bem como nos pedidos de

candidatura, recepção de candidaturas e selecção de projectos, foram consideradas a

densidade populacional da área e as formas de utilização da terra, a representatividade

dos interesses locais, e objectivos locais e gerais relativamente ao desenvolvimento

rural integrado – no que diz respeito ao emprego, ambiente e melhoria económica.

Entre os seus objectivos operacionais, o apoio à diversificação de actividades

económicas inclui o Turismo em Áreas Rurais (Alojamento; Renovação de Aldeias;

Itinerários turísticos, equipamentos turísticos, e promoção); artesanato, modernizaçaõa

de PMEs; e Serviços de Proximidade (gastronomia e restaurantes, pequenas entidades

comerciais). A preservação e valorização do ambiente e qualidade de vida, incluiu a

identificação e preservação do património natural; a valorização do património

(edifícios / artes) e a valorização ambiental de espaços públicos. Além a valorização e

comercialização da produção agrícola, silvicultura e pesca, inclui projectos que vsam a

valorização das espécies locais (Barrosã, Cachena, Garrano, etc.), caça e repovoamento

de zonas de pesca, bem como aqueles relacionados com variedades vegetais nacionais

(apoio às variedades locais: linho, laranjas, plantas medicinais, azeitonas); e à produção

da agroindústria familiar (unidades experimentais - queijos, artesanato, sidra, vinhos

Page 97: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

97

verdes e carnes fumadas), bem como feiras como a EXPOVEZ, leilões de gado autócne,

catálogos, etc.

O apoio técnico ao desenvolvimento rural, cooperação, formação profissional e ajuda à

contratação, bem como o funcionando do grupo de acção local, foram alguns dos

objectivos intermédios da ADRIL, no âmbito do LEADER.

Efectividade administrativa e eficiência, apoio ao desenvolvimento económico de PMEs

e da área em geral foram conseguidas através da aplicação do princípio da

subsidariedade, apesar do apoio financeiro obtido através do LEADER. Adaptatividade,

realização dos objectivos, integração e latência que se relacionam respectivamente com

a economia, política, sociedade e família foram também conceitos presentes na

selecção e implementação de projectos.

Considerando o caso específico do Vale do Lima os seguintes aspectos podem ser

referidos como fundamentais na implementação de programas.

QUADRO 10: Condições para um Processo de Desenvolvimento Sustentável

(Integrando factores positivos e negativos)

☺ Níveis de acessibilidade ao exterior (para fora da região: fronteira extensa com

Espanha)

☺ Existência de recursos naturais importantes na área:

- Floresta

- Pesca e cultura de espécies piscicolas

- Minas, etc.

☺ Potencial turístico

☺ Potencial cénico e património cultural – área protegida do Parque Nacional da

Peneda Gerês, esvaziando a possibilidade do turismo como uma das soluções para o

sucesso e desenvolvimento desta área.

☺ Diversidade da Indústria no Norte de Portugal (construção naval, madeiras, fibras

ópticas, têxteis, etc.)

☺ Interesse no investimento estrangeiro

� Baixa densidade populacional (entre 45 e 132 habitantes por Km2)

Page 98: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

98

� Baixa densidade populacional interdistrital (87 habitantes por Km2)

� Grande dependência da agricultura (54 a 57%)

� Apoios ao sector turístico quase inexistentes

� Baixo desenvolvimento dos sectores secundário e terciário (população activa:

indústria – entre 14 a 26 5; serviços – entre 15 e 20%)

� Ausência das principais infraestruturas de apoio

� Ausência de formação e qualificações profissionais – educação, Instituições de

ensino secundário e superior.

� Falta de coordenação/ Comunicação entre os vários indivíduos envolvidos

(autoridades locais, governo nacional, comunidades locais, associações, empresas, etc.)

O desenvolvimento sustentável é restrito aos recursos existentes e alargado pelo

consenso. Conforme previamente analisado, o desenvolvimento resulta de necessidades

imediatas e as decisões devem ter em conta objectivos a longo prazo. Além disso,

também se deve ter em conta que o desenvolvimento é restrito a uma área – segmentado

entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos e orientado por líderes económicos

individuais ou organizações.

Turismo de Aldeia (Soajo)

Soajo: Uma nova arquitectura das Áreas Rurais

A implementação do turismo de aldeia no Vale do Lima no âmbito do programa

LEADER, considerando o projecto do Soajo, para ultrapassar problemas gerais tais

como despovoamento, desflorestação, desemprego, envelhecimento populacional,

visando manter as características únicas da área, serão sujeitas a análise.

Assim a requalificação de uma determinada área rural será aqui considerada tendo em

conta a industrialização, o rápido crescimento das áreas urbanas e as alterações

verificadas no sector agrícola, bem como a emigração portuguesa e as transições

ocupacionias, e ainda o envelhecimento populacional.

Page 99: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

99

“As novas funções dos espaços sociais rurais apontam para a alteração da sua vocação

tradicional enquanto produtores de bens do sector primário. Na realidade as grandes

tendências do processo de globalização priorizam a vocação terciária, tendo em vista

soluções originais de racionalização e de reprodução, desenvolvidas com base em

inovações tecnológicas, sociais ou comerciais. Deste modo, considera-se que a

diversificação de actividades no meio rural não é senão uma outra forma de integração

das economias rurais na racionalidade moderna.”

Maria do Rosário Serafim, 1999, em Outras mediações Estado / Sociedade

A renovação de onze casas na freguesia do Soajo, no Vale do Lima, foi implementada

com uma orientação múltipla no âmbito do LEADER, baseada na ideia de que o turismo

pode agir como um agente de desenvolvimento rural e visando acima de tudo a

optimização dos recursos da área e a diminuição das suas limitações. Embora não

explicitamente expressos, foram tidos em consideração princípios de

interrelacionamento e integração, princípios de equidade inter e intra geracional,

princípio do direito ao desenvolvimento, salvaguarda ambiental e princípio

precaucionário, tendo ainda em conta os elementos naturais e humanos da área.

Enumeração dos problemas

A história, a ciência e a lógica confirmam a observação de Mark Twain: "A arte da

profecia é muito difícil, especialmente no que se refere ao futuro". Não obstante, esta

secção procura analisar a intervenção da ADRIL na freguesia do Soajo e pretende

avaliar a efectividade do turismo rural nesta área específica, de acordo com os

objectivos estabelecidos, considerando os inputs e outputs em termos de investimento

económico, construção social da qualidade, bem como participação social e

conscencialização, impacto ambiental, inovação e liderança, de forma a informar futuras

práticas e padrões de desenvolvimento.

De forma a atingir um modelo de análise holístico e multivariado, foram adoptados três

estágios de uma abordagem integrada dos fenómenos sociais, sugeridos por Berthelot, J

(1991). Estes três estágios incluem:

Page 100: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

100

• A importância da interacção da estrutura do fenómeno com outros,

• A importância do fenómeno como uma realidade em mudança, como resultado

das decisões/acções dos seres humanos e das contradições dos seus sistemas/

estruturas

• A importância do próprio significado do fenómeno (resultado da experiência ou

investigação prévia)

Assim, uma análise descritiva da área do Soajo em termos geográficos, históricos,

culturais e ambientais é apresentada na primeira parte, bem como uma nálise do modelo

escolhido para ultrapassar os problemas e pontos fracos da área, seguido de uma

justificação do modelo adoptado integrado em causas prévias que levaram à adopção de

certas medidas, bem como ao tipo de intervenção adoptada e ao eu significado.

A freguesia do Soajo (Ver mapa Anexo7) nas montanhas com os mesmo nome,

cobrindo uma vasta área do Val do Vez até ao Rio Lima, separada da Galiza pelo Rio

Laboreiro, está integrada numa zona de alto valor histórico e natural – O Parque

Nacional da Peneda Gerês – criado em 1971 e que inclui as Serras da Peneda, Soajo,

Amarela, e Gerês. O Parque Nacional estende-se até Espanha e ocupa entre outros, uma

parte dos concelhos de Ponte da Barca e Arcos de Valdevez. A freguesia do Soajo pode

também ser identificada, quanto á sua localização geográfica, com duas realidades

fundamentais – o Rio Vez e as serras da Peneda e do Soajo.

Os problemas das áreas urbanas e rurais, resultantes da industrialização e da emigração

massiva são uma referência de base para o tipo de desenvolvimento implementado no

Soajo.

O valor potencial do Soajo: a existência e as características de uma ocupação humana

muito particular: actividades tradicionais e formas tradicionais de organização, foram

ameaçadas pelo abandono massivo da aldeia, especialmente pela geração mais jovem,

entre os anos 60 e 70. Além disso, o tipo de agricultura praticado já não é lucrativo face

aos desafios de uma economia global.

Por um lado, as áreas urbanas apresentam frequentemente um ambiente físico

deteriorado; falta de oportunidades de emprego, crime, real e percebido e baixa

Page 101: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

101

qualidade de alojamento. Por outro lado, re desenhar áreas rurais atingidas por

problemas de despovoamento, desflorestação, agricultura frágil e desemprego e

tentando apresentar assim uma área rural como uma área viva e dinâmica não é tarefa

fácil. Os problemas rurais assumem várias formas, quer a nível físico ou a nível de

atitudes. O Turismo Rural foi a escolha do Vale do Lima, considerando não só o

desenvolvimento prévio deste sector na área, mas também alterações actuais e

tendências futuras.

Evolução das Respostas

A intervenção da ADRIL na aldeia do Soajo, no norte de Portugal fez parte de um

projecto de renovação de um grupo significativo de casas rústicas na pequena aldeia do

Soajo, no Parque Nacional da Peneda Gerês, uma área até então totalmente dependente

dos recursos agrícolas locais e das remessas dos emigrantes. O projecto visava a

recuperação da arquitectura tradicional, a criação de alojamento e a diversificação da

economia rural local, através da promoção de produtos locais para diminuir os

problemas apresentados por esta área rural, como despovoamento, agricultura frágil,

desflorestação, elevadas taxas de emigração e baixo rendimento agrícola.

O Conceito

Os projectos levados a cabo na paróquia de Soajo foram apoiados parcialmente pelo

LEADER, após a reforma dos Fundos Estruturais Comunitários, i.e., o Fundo de

Desenvolvimento Regional Europeu, o Fundo Social Europeu e a Secção de Orientação

Agrícola Europeia e o Fundo de Garantia. Os objectivos mais pertinentes para o

desenvolvimento rural são os Objectivos 1, Objectivo 5b e Objectivo 5 a.

A intervenção da ADRIL - Associação de Desenvolvimento Rural Integrado do Lima,

(o Grupo LEADER de Acção Local) na aldeia do Soajo, no norte de Portugal, era

indubitavelmente uma das maiores experiências do programa LEADER no Vale do

Lima. (o LEADER - Ligações Entre Acções para o Desenvolvimento da Economia

Rural). (ADRIL: 1999)

Page 102: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

102

Os objectivos do projecto

O projecto incluiu três acções:

Acção 1 - Renovação das casas de Turismo Rural

Intervenção na aldeia de Soajo - Iniciativa T.E.R. (Turismo em Espaço Rural) - Criação

de alojamento para de Turismo Aldeia.

Objectivos principais

• Criação de · de um produto turístico diversificado.

• Recuperação do património arquitectónico rústico. Criação de alojamento de

qualidade, de 11 unidades para Turismo Rural, com um total de 29 quartos.

• Introdução de uma modalidade nova de Turismo em Espaço Rural - Turismo de

Aldeia.

Acção 2 - Organização do produto Turístico

Intervenção na aldeia do Soajo - Criação e Dinamização de uma Associação para o

Desenvolvimento Local - ADERE-SOAJO.

• Recuperação de um edifício para a instalação da ADERE-SOAJO.

• Equipamento Informático para a criação de um Centro de Reservas, situado na

aldeia, para gerir a oferta de alojamento criada.

Objectivos principais

• Gestão integrada na dinamização e promoção do Turismo Aldeia.

• Serviço de Reservas, promoção turística e qualidade.

Page 103: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

103

• Valorização dos produtos locais, apoio e promoção dos produtos de excelência -

as raças endógenas e o artesanato.

Acção 3 - Formação Profissional e Ajuda à Contratação

Intervenção na aldeia do Soajo - Realização de um curso de "Serviço e Qualidade" em

Turismo Rural. Programa de Formação Profissional dirigido aos donos das casas

recuperadas e à juventude local.

Objectivos principais

Gestão turística e preparação de profissionais, assegurando uma recepção dos visitantes

mais eficiente.

Aspectos Económicos - Investimento e Financiamento

Os financiamentos do projecto vieram de fontes públicas e privadas, encorajando deste

modo o investimento local no turismo. O projecto foi financiado em 50% pela

Comunidade Europeia ( Programa LEADER) sendo os restantes 50% o valor do

investimento feito pelos donos das casas.

Impactos económicos

• Criação de 50 postos de trabalho durante a execução dos projectos

• Criação de uma oferta global de 11 unidades de alojamento de Turismo Aldeia

• Criação de uma Associação de Desenvolvimento Local

• Volume de Investimento - 169548000 Escudos (55 895.00 Libras inglesas)

• Mobilização de capital privado

• Diversificação da economia local

• Dinamização do Comércio e Serviços para a população

• Valorização de produtos locais

• Desenvolvimento Local Integrado

Page 104: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

104

Alojamento

• Onze casas para alojamento turístico com um total de 29 quartos e 62 camas

• Associação de Desenvolvimento e Recepção - ADERE-SOAJO

• Salas de estar/ salas de jantar com televisão

• instalação de pequenas cozinhas

• Quartos de banho privativos

• Pequeno almoço diário com produtos tradicionais locais

• Mobíliário Tradicional

• Cinco das casas têm jardins com “barbeques”

• Os visitantes podem disfrutar da bela paisagem do Parque nacional da Peneda

Gerês.

• Monumentos locais e características tradicionais do Soajo i.e. Espigueiros

• Restaurantes locais que oferecem uma vasta gama da gastronomia tradicional

• Informação disponível em inglês, francês e português

* Uma piscina está a ser instalada actualmente no jardim de uma das casas

Social e Cultural

Impactos sociais e Culturais

• Melhoria das condições de vida/habitabilidade

• Participação da população local e agentes em inovação múltipla.

• Formação e informação da Comunidade

• Fixação da população e contribuição para o restabelecimento da estrutura

familiar

• Criação da consciência para a valorização e preservação da arquitectura

tradicional e do património cultural

• Renovação Cultural, e fortalecimento da auto-estima

• Demonstração das alternativas ao Desenvolvimento Rural

Page 105: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

105

Património Construído: renovação de edifícios tradicionais

Esta intervenção visou a recuperação de onze casas na aldeia do Soajo com expressão

arquitectónica significativa e em estados diferentes de degradação.

Gestão do número de visitantes: Central de Reservas - ADERE-SOAJO/ADRIL

Comunicação ambiental: Parque Nacional da Peneda Gerês, ambiente cénico,

Inovação: um projecto piloto em Portugal

O Turismo de Aldeia no Soajo foi o primeiro projecto deste tipo em Portugal, criando

uma oferta de alojamento diferente da existente em todo o país. Em Portugal, nunca

anteriormente tinha sido possibilitado a uma aldeia como a do Soajo a recuperação do

seu património arquitectónico, tradição e cultura – da forma como foi implementado

pela ADRIL.

O caracter inovador deste projecto vai de encontro aos objectivos do LEADER que

encoraja acções inovadoras em áreas rurais de forma a desenvolver as economias locais.

A ADRIL idetificou uma oportunidade de desenvolvimento e revitalizou a vida na

Aldeia do Soajo, através do Turismo de Aldeia, um desenvolvimento com vários efeitos

multiplicadores a nível da comunidade, no âmbito social e económico.

Liderança: a totalidade das suas características / projecto seguinte na aldeia do Lindoso

O principal objectivo do Turismo de Aldeia foi o de criar uma nova forma de

alojamento em Portugal, incorporando grupos de aldeias que respondessem aos mesmos

critérios e com uma Central de Reservas em Ponte de Lima (já em funcionamento).

A ADRIL visa criar um exemplo para outras associações de desenvolvimento e aldeias

em Portugal através do exemplo do Soajo. Com o crescimento do turismo rural e o

declínio da agricultura o Turismo de Aldeia é a alternativa das comunidades rurais em

Page 106: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

106

declínio, operando em pequena escala, mantendo a arquitectura, o património, e a

cultural tradicionais.

Turismo sustentável: utilização dos edifícios existentes/ desenvolvimento de estilos

locais ao nível da comunidade

Padrões de desenvolvimento futuro foram também considerados, não apenas no que se

refere à recuperação das casas e à criação de um rendimento extra para os agricultores,

mas também incluindo os migrantes urbanos ou o caso de emigrantes que decidiram

regressar.

Baseado em tendências recentes, o desenvolvimento do turismo de aldeia deve ser

abordado considerando os seguintes princípios:

• Princípio de interrelacionamento e integração

• Princípio da equidade intergeneracional

• Princípio do direito ao desenvolvimento

• princípio de protecção Ambiental

• princípio Precaucionário

• Polluter pays

• Princípio de Transparência e outros princípios orientadores de processos

Estes princípios devem compreender processos dinâmicos susceptíveis de afectar

elementos humanos e naturais.

Avaliação

A avaliação da intervenção da ADRIL no Soajo pode ser considerada de acordo com

várias perspectivas, relativamente aos instrumentos analíticos tradicionais utilizados na

implementação de programas: um inventário de recursos e um perfil ambiental,

facilmente descreveriam as características da área numa fase inicial da implementação

de um projecto de desenvolvimento. Poderia ainda considerar-se um estudo económico

e uma análise de impacto ambiental (identificando as alternativas, localização e

Page 107: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

107

precauções operacionais de forma a evitar impactos negativos), ou a valorização dos

recursos levada a cabo.

Uma análise económica deste projecto, considerando os seus benefícios económicos

directos e indirectos, deve ter em conta a criação e a manutenção de emprego e não

apenas o lucro obtido através do alojamento, considerando ainda o apoio prestado ao

artesanato local e a outras pequenas lojas na aldeia, à protecção dos recursos existentes,

etc. (CEDRU: 1995)

Sumário

• Redução do despovoamento, desertificação e abandono total da aldeia;

• Manutenção do carácter tradicional da aldeia;

• Melhoria do acesso público para fins recreativos;

• Gestão da utilização de um aglomerado rural, inclusive restauração de casas;

• Promoção de uma utilização económica dependente da agricultura (turismo

rural; criação de emprego local);

• Aumento do perfil de turismo da área;

• Protecção e promoção de habitats importantes (dentro do Parque Nacional da

Peneda Gerês);

• Protecção e administração dos recursos naturais da área;

• desenvolvimento potencial para gerações presentes e futuras;

O projecto de recuperação de arquitectura rural para Turismo de Aldeia na aldeia do

Soajo permitiu não só a valorização de recursos primários (paisagem, aldeia tradicional,

etc), mas também a implementação de recursos secundários (qualidade de alojamento

standard, comercialização, etc)

Page 108: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

108

O Campo de golfe

A prática do golfe cresceu nos últimos anos, permitindo um grande aumento tanto da

oferta como da procura: cerca de 45 milhões de jogadores a nível mundial (entre os 10e

os 90 anos de idade). Os Estados Unidos e o Japão registam 85% destes jogadores,

Espanha 50 000 e Portugal 4 000. Na aprovação pela ADRIL de um projecto de um

Campo de golfe no Vale do Lima foram considerados vários aspectos, tais como o

planeamento, a construção e a gestão, procurando promover o golfe como um

catalisador para o desenvolvimento turístico, bem como uma forma de diversificar a

oferta turística, harmonizando medidas de desenvolvimento integrado com as metas do

Programa LEADER. Além disso, na vida quotidiana um campo de golfe pode ser o

estádio ideal para uma forma efectiva de interacção social e ambiental – entre elementos

naturais e humanos.

Abordagem integrada

Acima de tudo é importante examinar alguns dos princípios de planeamento,

construção, gestão, operacionalidade dos equipamentos e papel dos jogadores de golfe

que formaram a base da selecção dos projectos, de acordo com os princípios de

desenvolvimento sustentável e gestão integrada.

De acordo com a informação fornecida pela EUA Golfweb (1999), os seguintes padrões

de desenvolvimento revelam-se extremamente importantes para uma aboradgem

integrada e efectiva a longo prazo:

Page 109: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

109

QUADRO11: Padrões de Desenvolvimento para uma abordagem Integrada,

Efectiva e a Longo Prazo

· PLANEAMENTO E LOCALIZAÇÃO

· DESIGN

. CONSTRUÇÃO

. MANUTENÇÃO

· PROTEÇÃO E NUTRIÇÃO DAS PLANTAS

· UTILIZAÇÃO DE ÁGUA

· GESTÃO DE DETRITOS

· GESTÃO DA VIDA SELVAGEM

· OPERACIONALIDADE DOS EQUIPAMENTOS

· PAPEL DOS PRATICANTES DA MODALIDADE

Uma Função Social Produtiva

"- Veja você! Cá nós, velhos portugueses, não gostamos de sports... Somos pelo toiro..."

Eça Queiroz (1889), Os Maias

Interacção social é o processo através do qual agimos e reagimos aos que nos rodeiam

(Giddens, 1997); interacção ambiental pode ser definida como todas as acções e

actividades que o ser humano desenvolve num determinado ambiente. Além disso, a

interacção social situa-se no tempo e no espaço. Podemos ainda analisar como a vida

quotidiana é determinada pela combinação do tempo e do espaço através da observação

das actividades que decorrem em períodos definidos e que ao mesmo tempo envolvem

um movimento espacial.

A interacção desfocada é a consciência mútua que os indivíduos possuem uns dos

outros em reuniões numerosas, quando não conversam directamente. A interacção

focalizada pode ser dividida em encontros distintos – ou episódios de interacção – e

ocorre quando dois ou mais indivíduos prestam directamente atenção ao que os outros

Page 110: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

110

fazem ou dizem. A interacção social pode ser frequentemente estudada através da

aplicação de um modelo teatral – a interacção social é estudada como se os elementos

envolvidos fossem actores num palco, com um propósito e uma finalidade. Tal como no

teatro, nos diversos contextos da vida social existem distinções especiais claras (a boca

de cena e os bastidores, onde os actores descansam e se preparam para a próxima

actuação).

Existe a crença de que em espaços recreacionais se verifica uma identificação social

significativa e uma solidariedade onde é possível encontrar elementos da vida

comunitária. Segundo Levy (1989), uma forma alternativa de interacção social substitui

a perda de laços comunitários nas sociedades modernas. Num clube de golfe, por

exemplo, é possível encontrar uma organização social que compreende grupos e

subgrupos com padrões de interacção complexos, laços afectivos e de solidariedade. O

golfe promove a interacção social entre indivíduos e permite um contacto único entre o

Ser Humano e a Natureza.

O impacto do golfe nas populações locais e o papel dos praticantes de golfe pode ser

visto como reforçando a ligação entre o Homem e a Natureza.

Como consequência os campos de golfe são actualmente desenvolvidos, planeados e

geridos de forma mais responsável. Também, aos jogadores cabe a responsabilidade de

assegurar a compatibilidade entre o golfe e a natureza e os campos são geridos em

harmonia com o ambiente.

Os praticantes desta modalidade devem:

1. Reconhecer que os campos de golfe são terrenos que devem funcionar como um

complemento do ambiente natural.

2. Respeitar áreas ambientalmente sensíveis dentro do campo.

3. Aceitar as limitações naturais e variedades de relva que crescem de forma a

proteger os recursos naturais (manchas de cor diferente, perda de cor, etc.)

4. Apoiar as decisões de gestão que protegem ou reforçam o ambiente e

desenvolvem planos de conservação do ambiente.

5. Apoiar uma manutenção que protege a vida selvagem e os habitats naturais.

Page 111: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

111

6. Encorajar práticas de manutenção da relva que não sejam nocivas para o

ambiente. Tais práticas incluem arejamento, redução dos fertilizantes, jogo

limitado em áreas sensíveis, etc.

7. Esforços de manutenção a longo prazo (por exemplo, eficiente uso da água,

gestão integrada das plantas, etc)

8. Educar os outros sobre os benefícios de uma gestão de um campo de golfe

ambientalmente responsável

9. Apoiar programas de investigação e de educação que alargam a compreensão da

relação entre o golfe e o ambiente.

10. Manifestar orgulho por campos onde se verifica uma atitude responsável

relativamente ao ambiente.

Assim, o golfe combina o desporto com actividades ao ar livre, oferecendo também a

possibilidade de praticar desporto em contacto com a natureza, educando os indivíduos

no sentido de respeitar a natureza, permitindo o desenvolvimento de uma grande

variedade de fauna e flora que é até certo ponto controlado pelo Homem e desenvolver

formas inovadoras de interacção social e ambiental na vida quotidiana.

Considerações ambientais

Exceptuando a disponibilidade de financiamento para o desenvolvimento, talvez o

aspecto mais crítico na construção de um campo de golfe se prenda com a escolha da

sua localização. Apesar de uma parcela de terreno apresentar a localização ideal em

termos de proximidade de um grande centro urbano, não significa automaticamente que

constitua o local mais apropriado par a sua construção efectiva. O ambiente tem um

papel decisivo na implementação deste tipo de projectos.

No processo de selecção da área, alguns factores importantes devem ser considerados,

tais como:

1. Características ambientais da área e dos terrenos adjacentes

2. Adequação dos terrenos para a construção de “greens”, de equipamentos de

apoio e estacionamento.

3. Impacto no ambiente – considerando a fauna e flora da área em quetão.

4. Acessibilidades e distância.

Page 112: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

112

5. Impactos nos custos da construção (a selecção do local deve sempre considerar

os custos de desenvolvimento do local – características do sólo, existência de

água, etc.)

Apesar do golfe não ser uma actividade agrícola, pode ser integrado nos princípios da

PAC adoptados pelos países da União Europeia.

A exequibilidade do projecto foi também considerada, no que se refere aos inputs e

outputs financeiros, ao mercado em termos de oferta/ procura e custos e projecto de

engenharia (quais as opções de planeamento e os seus custos).

A construção de um campo de golfe deve assim considerar os seguintes aspectos:

1. Utilizar empreiteiros qualificados com experiência nos requisitos da construção

de um campo de golfe.

2. Desenvolver e implementar estratégias para controlar efectivamente os

sedimento, minimizar a erosão, proteger os recursos, como por exemplo, a àgua,

e reduzir os efeitos nocivos susceptíveis de prejudicar a vida selvagem, espécies

de plantas e recursos ambientais da área.

3. Estabelecer um prazo limite para a conclusão dos trabalhos de construção e

aplicação da relva de forma a obter um maior progresso no que diz respeito ao

trabalho e uma maior optimização da conservação ambiental e gestão de

recursos.

4. Contratar um administrador qualificado desde o início do projecto de forma a

integrar práticas de manutenção sustentável no desenvolvimento, manutenção e

operacionalização do campo de golfe.

Selecção dos Projectos Apresentados

Como previamente mencionado, foram apresentados três projectos Golfe da Feitosa,

Golfe da Ribeira e Golfe da Labruja.

De acordo com Carmona dos Santos (1993) um campo de golfe deve ser construído

dentro de uma distância de 15 a 20 Km entre a origem e o destino. O Campo de Golfe

Page 113: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

113

de Ponte de Lima pode ser considerado como um projecto piloto nesta área, uma vez

que a distância de outros Campos, como a Estela e Boega é superior. Assim, os seus

utilizadores podem incluir visitantes estrangeiros, praticantes da modalidade

portugueses, residentes e novos praticantes.

Resultados económicos

Planeamento e sustentabilidade em termos de inputs e outputs económicos.

Owen (1991) considera que as relações entre turismo e sustentabilidade económica local

se deveriam desenvolver ao redor de quatro eixos:

• Reconhecimento do turismo como uma actividade económica importante que

traz benefícios tangíveis à comunidade de local e aos visitantes. No entanto, o

turismo não deve ser visto como uma panaceia e deve fazer parte de uma

economia equilibrada.

• A escala e o ritmo de desenvolvimento devem respeitar as características da

área. A qualidade dos serviços é fundamental.

• Os benefícios para a comunidade local a longo prazo devem incluir uma oferta

de emprego diversificado, atraente e bem remunerado.

• A consciência das necessidades e aspirações da população local; participação da

comunidade local nos processos de tomada de decisão de criação de emprego

para a população local.

Golfe e economia local

Golfe e Emprego

Golfe e Desenvolvimento Turístico

Golfe e Desenvolvimento Rural

Page 114: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

114

Os resultados da implementação de um campo de golfe na economia local são expressos

através da criação directa e da manutenção de emprego para a população local e através

de um estímulo ao desenvolvimento turístico. A construção de um campo de golfe

apresenta um resultado reduzido no que se refere ao número de postos de trabalho

criados – operários especializados e sector imobiliário. No entanto, no que se refere aos

seu funcionamento permite um maior número de postos de trabalho permanente: gestão,

manutenção, ensino, serviços e turismo (alojamento, restauração, comércio, etc.)

Um campo de golfe com 18 buracos é responsável pela criação de 6 a 12 empregos

directos. Os resultados indirectos são, contudo, mais difíceis de medir uma vez que um

campo de golfe enriquece a área e apoia outro tipo de emprego/ rendimento – turismo,

PMEs, agricultura. O golfe pode ser um meio para reduzir a sazonabilidade, oferecendo

novos equipamentos, diversificando a oferta turística e atraindo um maior número de

turistas. O golfe constitui também uma forma de atrair novos residentes a uma

determinada área.

Sumário

Este projecto pode também ser apresentado como um exemplo de “reciclagem de

terrenos”. Um ambiente construído que melhorou o ambiente natural. “Na sua totalidade

um campo de golfe segue de perto o princípio de reter e complementar o ambiente

natural, um princípio que foi observado durante todo o processo de construção. " (Swan:

1989)

Uma análise SWOT do Campo de Golfe de Ponte de Lima pode ser apresentada da

seguinte forma:

Pontos fortes: Local - fácil acessibilidade

Integração apropriada na paisagem circunvizinha;

Qualidade.

Pontos fracos: Custos elevados;

Page 115: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

115

Baixa participação dos residentes locais.

Oportunidades: Divulgação da prática;

Incentivos para a participação de crianças;

Sector imobiliário: Aumento e valorização dos terrenos adjacentes.

Ameaças: Desporto elitista

Com o passar do tempo os pontos fracos e as ameaças serão superados. O sucesso e o

futuro e deste tipo de investimento depende das mudanças na mentalidade de residentes

locais e na consciência que opções de tempo livre podem ser equilibradas com outras

opções da vida quotidiana.

Até à presente data o Campo de Golfe de Ponte de Lima contribuiu para a redução da

sazonabilidade da área e aumentou positivamente a oferta potencial da área em

equipamentos turísticos.

Page 116: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

116

O Centro Equestre - Centro Hípico

Rationale:

Turismo como agente de desenvolvimento rural

Diversificação da oferta e actividades de lazer

Diminuição da sazonabilidade

Aumento da taxa de emprego

Critérios de selecção:

Desenvolvimento rural sustentável e integrado

Impacto Ambiental, Social e Económico.

Melhoria das infra-estruturas existentes

Candidaturas: Foram consideradas três candidaturas: uma em Labruja, outra em Santa

Maria de Rebordões e outra em Calvelo.

Processo de selecção:

PROJ. 920107 - CENTRO HIPICO - CENTRO EQUESTRE DE PONTE DE

LIMA

O Centro Hípico, nos arredores de Ponte de Lima, integrado na Criação de um Pólo

Turístico do Vale do Lima, fez parte da candidatura inicial ao Programa LEADER.

Foram apresentados três projectos, com diferentes objectivos – um na freguesia de

Labruja – numa área de difícil acesso, onde o Centro Hípico constituía um

complemento central da oferta turística o clube, com um restaurante e uma zona de lazer

– outro na freguesia de Rebordões, igualmente no centro, mas de fácil acesso e com as

dimensões exactas, caracterizado quase exclusivamente pela prática de equitação,

especialmente ensino – e outro na freguesia de Calvelo, numa área extensa, junto a um

pântano, de fácil acesso e perto da futura auto-estrada (IP1/IP9) que integrava um

Centro Hípico e uma Pista com 14 500 metros.

Page 117: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

117

Das três propostas, era claramente evidente que Calvelo, pela qualidade do projecto

apresentado, da autoria do Arqº. José Maria Furtado Mendonça, era a mais eficiente –

com estábulos para 48 cavalos, escola de equitação, turnstile, paddock e obstáculos de

campo, e pelas potencialidades do local – numa área dez vezes maior do que as restantes

e com a possibilidade de ser alargada, prevendo a construção de uma pista e de um

Clube.

Desenvolvimento actual:

Tipo de implementação: simultaneamente hierarquicamente crescente e decrescente.

Este projeto, promovido pelo Sr. Dr. Pedro Maria Huet Furtado de Mendonça, já se

encontra concluído e em pleno funcionamento (excepto a segunda fase - ampliação e

Sede do Clube), incluindo uma pista, exibições regulares de raças, competições para o

Grande Prémio Nacional, recebido com entusiasmo pela população local e atingindo os

objectivos expressos no PAL (Plano de Acção Local).

De acordo com o Dr. Pedro Maria Huet Furtado Mendonça, a população local tem

manifestado crescentemente interesse neste projeto. Também a qualidade das raças de

cavalos criados aumentou, e paralelamente o orgulho pelas actividades desenvolvidas

nesta área.

Porém, é importante analisar a implementação do Centro Hípico no âmbito dos

objectivos do Programa LEADER, visando acima de tudo o desenvolvimento rural

integrado do Vale do Lima, a protecção do ambiente e da qualidade de vida, a promoção

de turismo rural de qualidade, a valorização de produtos agrícolas e de raças nacionais e

o apoio ao investimento em novos tipos de produtos.

Além disso, o Centro Equestre pode ser considerado como uma forma de ligação entre

políticas ambientais e sociais, considerando as características da área, e as tradições

históricas e culturais do país (p. Ex. touradas, tradições e festas populares, etc.),

representando assim, um processo informal de aprendizagem relativamente ao cuidado

Page 118: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

118

com o meio ambiente e simultaneamente um meio de construção de identidade e de

preservação do património natural.

Ao longo da história os cavalos conferiram ao Homem status e poder. Na mitologia, os

faunos eram metade homem e metade animal. Também inúmeros artistas representaram

cavalos, procurando a perfeição e a realização de sonhos, especialmente em estátuas

equestres, esculturas e na pintura (i.e. Paolo Ucello, Andréa Mantegna, Emmanuel

Frémiet, Gericault, Delacroix, David, inter alia). Ninguém poderia completamente

imaginar D. Quixote sem o seu fiel Rocinante e Sancho sem o seu doce companheiro de

sofrimento... La Fontaine, e posteriormente Walt Disney trouxeram também estes

animais para as nossas vidas, domesticados de acordo com a nossa imaginação infantil.

Até mesmo a religião nos apresentou estes animais como nossos companheiros de

viagem.

Além disso, a equitação permite viajar lentamente através de velhas estradas rurais,

conversar e sentir o ritmo do mundo rural envolvente. As tendências futuras também

apontam para um aumento do número de participantes neste tipo de actividade

desportiva. Os seres humanos revelam normalmente uma tendência para passar de

expectadores passivos a participantes activos. A Península Ibérica é também

frequentemente associada a cavalos e touradas, apesar do baixo número de adeptos da

modalidade verificado em Portugal, comparativamente a outros países europeus. A

criação de cavalos constitui um património valioso e uma das muitas razões que

justificam a implementação de um Centro Hípico no Vale do Lima, para além da

diversificação da oferta turística, conferindo à área novos equipamentos.

Cada cavalo é também responsável pela criação de dois postos de trabalho e a criação

de cavalos em Portugal aumentou significativamente, atingindo presentemente na região

norte 500 cavalos.

“As corridas de cavalos são um dos principais desportos na União Europeia, atraindo

um grande número de espectadores. No entanto, geralmente pouca atenção é dada à

criação dos cavalos que toam parte nestas corridas.” (EFTBA, 1999) A criação de

cavalos na Europa tem uma importância considerável, enfrentando presentemente várias

oportunidades e ameaças, susceptíveis de serem respectivamente alargadas e reduzidas,

Page 119: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

119

uma vez integradas nas futuras políticas agrícolas europeias, dada a sua importância a

nível ambiental e a sua contribuição para a criação de emprego em áreas rurais. Esta

actividade implica uma baixa utilização de fertilizantes químicos e uma baixa produção

de adubo animal, que a níveis elevados constituem factores de poluição. Além disso, os

resultados financeiros prendem-se mais com a qualidade do que com a quantidade.

Assim, o Vale do Lima, apresentava as condições ideais para a implementação de um

Centro Hípico, não só como uma forma de preservar as espécies locais de cavalos

Garranos, mas também como uma forma de criar uma actividade que permitisse reduzir

a sazonabilidade do turismo rural, possibilitando a criação de emprego directo e

indirecto. Finalmente, este sector enquadra-se na visão estratégica do futuro da

agricultura da EU (EFTBA, 1999) e os seus impactos ambientais permitem um

exploração sustentável dos recursos existentes.

De acordo com Shrpley, R &J, (1997), “O sucesso do turismo rural depende da

manutenção de um ambiente rural atraente e saudável.” A equitação permite manter na

integra as características físicas e sociais das áreas rurais e permite a criação de

atracções, equipamentos e actividades recreativas que não diminuam as características

das áreas rurais. Entre outras empresas rurais, a criação de cavalos satisfaz os objectivos

da Agenda 2000, no que diz respeito ao futuro da agricultura, uma vez que:

• É um sector agrícola competitivo não subsidiado em excesso.

• Utiliza métodos de produção que não são nocivos para o ambiente, e

• Constitui uma forma diversa de agricultura, rica em tradição, não apenas

orientada em termos de resultados e que visa manter o caracter ameno das áreas

rurais, e actividade das comunidades rurais através da criação e da manutenção

de emprego.

“A criação de cavalos é uma actividade que se verifica em muitos países europeus. O

sector contribui significativamente para a economia europeia e para o desenvolvimento

rural. O emprego directo e indirecto ascende a cerca de 149,000 postos de trabalho,

tornando-se num dos maiores sectores geradores de emprego na Europa rural. Cerca de

21.000 indivíduos encontram-se ligados ao sector, metade dos quais sõ pequenos

agricultores/ criadores . A despesa anual por criadores é calculada em 410m Euros,

Page 120: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

120

enquanto as vendas atingiram 510m Euro nos cinco principais países da UE em 1997.

Além disso, a indústria de apostas gerou cerca de 1.8 Euro." (EFTBA, 1999) - Veja

Anexo: Número de Criadores de cavalos nos Países da UE.

"Esta área foi completamente financiada pelo sector e pelos seus próprios recursos.

Porém, apesar de no passado o financiamento ser adequado, o seu baixo nível e natureza

incerta significam um desenvolvimento lento e estático. Assim, este sector encontra-se

subdesenvolvido e não é dinâmico em termos comerciais” (EFTBA, 1999) A integração

rural e o desenvolvimento da criação de cavalos no âmbito da política agrícola comum

irá permitir a diversificação das explorações rurais e necessita de quatro vezes mais de

mão de obra do que outros sectores de criação de gado, permitindo a promoção e a

manutenção do emprego rural. No entanto, de acordo com o relatório da EFTBA áreas

como a saúde equina, a estandardização de laboratórios equinos, a investigação

coordenada, a formação de criadores e pessoal, explorações agrícolas alternativas, agro-

turismo, marketing e informação estatística, necessitam de ser apoiadas por medidas da

EU com vista a um desenvolvimento sustentável do sector a longo prazo. (Ver Quadro

I/ Anexo II).

De acordo com o relatório da EFTBA (Abril, 1999), este sector enfrenta várias

oportunidades e ameaças, de acordo com o seguinte quadro:

QUADRO 12: Criação de Cavalos: Oportunidades e Ameaças

☺ As raças de cavalos Europeias gozam de boa reputação.

☺ A tendência do aumento da procura global fornece oportunidades aos criadores de

cavalos para desenvolverem mercados existentes e novos, se existir um investimento

adicional.

☺ A reforma da PAC cria uma oportunidade ao desenvolvimento de uma alternativa

viável baseada numa exploração agrícola.

☺ O sector da Criação Equina com as suas tradições, base rural, enraizado em pequenas

explorações agrícolas, com credenciais ambientais e com uma posição

internacionalmente competitiva merece ser considerado de forma especial por este tipo

de desenvolvimento.

Page 121: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

121

☺ O sector enquadra-se na visão estratégica da UE no que diz respeito ao futuro da

agricultura europeia, sendo adequado ambientalmente e contribuindo de forma

significativa para a criação de emprego nas áreas rurais.

� Os impostos inibem a competição internacional.

� Os criadores europeus encontram-se ameaçados por concorrentes não europeus.

� O dinheiro dos prémios das Corridas de Cavalos na Europa que é um dos factores de

maior influência na viabilidade financeira da criação de cavalos, é extremamente baixo

quando comparado com os Estados Unidos e a Àsia.

� Há uma falta de incentivo para a criação e a manutenção da qualidade entre os

criadores europeus.

� Os riscos inerentes ao tipo do próprio empreendimento constituem uma ameaça ao

seu desenvolvimento futuro.

A criação de cavalos é uma empresa baseada numa exploração agrícola. Através de uma

análise do perfil dos donos destas empresas, verificamos que se constituíram em

pequena escala, como uma actividade adicional da actividade agrícola. A natureza

volátil da empresa também significa que a criação de cavalos é vista mais como uma

alternativa, do que como uma actividade principal.

Protecção ambiental

Conforme mencionado em secções anteriores, o Vale do Lima no norte de Portugal,

utilizou o turismo como um motor de desenvolvimento rural, considerando as

características da área, as infra estruturas existentes e a motivação da população para

participar. Assim, uma breve análise de turismo e ambiente será aqui apresentada,

enfatizando a protecção socio- ambiental.

De acordo com Inskeep, J. (1999) “... o ambiente inclui a totalidade do meio que

envolve os indivíduos nas suas componentes, construídas e naturais. O ambiente

natural, conforme exista na natureza – clima, terrenos, sólos e topografia, geologia,

características da água, fauna, flora e sistemas ecológicos. O ambiente construído é

constituído por características físicas construídas pelo Homem, principlamente por

Page 122: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

122

diversos edifícios e locais histórico.”. considerando o efeito do turismo no ambiente e a

relação turismo-ambiente, Inskeep refere que:

• Muitas características do ambiente físico são atracções para os turistas.

• Equipamentos turísticos e infra estruturas constituem um aspecto do ambiente

construído

• O desenvolvimento turístico e a utilização de uma determinada área geram

impactos ambientais

“Desde há 10.000 anos que as espécies tem vindo a desaparecer da face da terra como

resultado das actividades humanas. No século XX a velocidade da ameaça de extinção

aumentou enormemente com o cultivo de terras em áreas da floresta tropical,

reservatório de mais de metade das espécies do planeta. Uma das causas desta tendência

é o rápido crescimento da população mundial. Contudo, a principal ameaça à

biodiversidade reside acima de tudo na destruição de habitats e na introdução de novas

espécies (mais do que na exploração económica das espécies seleccionadas). Com a

perda da biodiversidade, a base de recursos terrestres em termos de alimentos, produtos

medicinais e materiais industriais será futuramente enormemente reduzida. Mas a

redução será menos drástica se forem implementadas e promovidas várias medidas de

gestão, incluindo programas nacionais de utilização dos terrenos, programas

internacionais de conservação integrando sistemas de integrados de preservação, e

programas visando reparar paisagens danificadas (...)”

Construção e reforço da identidade

"... Aquela corrida insípida, sem cavalos, sem jóqueis, com meia dúzia de pessoas, a

bocejar em roda, dava-lhe a certeza que eram talvez as últimas, e que o Jockey Clube

rebentava... E ainda bem! Via-se a gente livre de um divertimento que não estava nos

hábitos do país. Corridas era para se apostar. Tinha-se apostado? Não? Então

histórias!...

Page 123: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

123

(...) - Então, estão convencidos? Que lhes tenho eu sempre dito? Isto é um país que só

suporta hortas e arraiais... Corridas, como muitas outras coisas civilizadas lá de fora,

necessitam primeiro de gente educada. No fundo todos nós somos fadistas! Gostamos é

de vinhaça, e viola, e bordoada , e viva lá seu compadre! Aí está o que é! "

Eça Queirós, em OS MAIAS,

Uma das principais criticas à União Europeia prende-se com a perda da identidade

nacional ou regional. A criação de cavalos promove a identidade nacional e estabelece a

ligação entre as muitas tradições existentes e padrões de desenvolvimento possíveis.

Apesar do passo acima citado, se revestir de certa actualidade a evolução do país nas

últimas décadas e os resultados da emigração portuguesa contribuíram para a aceitação

e integração de novos hábitos dentro da sociedade portuguesa.

De acordo com Vallada, P. (1994), a unidade portuguesa é baseada acima de tudo em

laços afectivos. Estes laços são frequentemente a razão da sobrevivência e manutenção

das tradições e um dos traços distintivos do caracter português. Para além da

determinação e da vontade de participação da população na implementação do Centro

Hípico no Vale do Lima, são também evidentes formas de desenvolvimento endógenas

e exógenas, uma vez que a participação foi aliada à informação pública e formação, e a

inovação foi plenamente conseguida, mantendo ao mesmo tempo uma tradição longa na

criação de cavalos, dotando o meio rural de equipamentos de equitação, permitindo a

organização de eventos e possibilitando "O Prazer da Aprendizagem através da prática

de uma Equitação de qualidade ".

Sumário

Assim a criação de cavalos é ambientalmente adequada e representa uma importante

contribuição para a criação de emprego. Além disso, valoriza espécies locais, promove a

exploração sustentável e duradoura dos recursos existentes e constitui uma iniciativa

inovadora, ainda não contemplada pelo EADER, mas que se enquadra na sua filosofia e

princípios, no que diz respeito à promoção de emprego nas áreas rurais, uma vez que a

Page 124: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

124

maior parte dos Criadores de Cavalos Europeus são agricultores e criadores em “part-

time”.

Além disso, o Centro Hípico pode ser considerado um primeiro passo para uma

combinação bem sucedida entre Turismo e uma actividade rural diversificada.

Page 125: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

125

6. AVALIAÇÃO E CONCLUSÕES

Avaliação Correlativa do Desenvolvimento no Vale do Lima

O Turismo como agente de desenvolvimento rural será aqui avaliado considerando a

implementação do Programa LEADER no Vale do Lima.

Esta avaliação é baseada na avaliação do LEADER I feita pelo CEDRU – centro de

Estudos de Desenvolvimento Regional e Urbano (1995), a apresentação dos

melhoramentos e fragilidades da área é expressa de acordo com os resultados de um

inquérito feito à população e de acordo com uma avaliação geral com base nos assuntos

desenvolvidos em secções anteriores. Além disso, é importante considerar que este

processo de re-avaliação é baseado na noção de que qualquer processo de

desenvolvimento segue um ciclo contínuo desde a sua apreciação inicial ao seu

desenvolvimento, nas decisões do que é necessário executar, manter e melhorar,

considerando as opções de gestão e planeamento de actividades, bem como

implementação de políticas para monitorizar o impacto das acções.

Além disso, é importante ter em mente que toda a avaliação está limitada -

especialmente quando baseada numa única perspectiva. Esta avaliação terá em conta os

objectivos atingidos e o que necessita ainda ser desenvolvido que prioridades devem ser

estabelecidas e quais os passos a seguir. O trabalho desenvolvido nas secções anteriores

apresentou a informação existente sobre turismo e desenvolvimento rural e analisou

ideias e modelos de desenvolvimento, implementação local, programas comunitários,

áreas rurais e turismo.

A investigação levada a cabo colocou também grande ênfase na combinação de uma

abordagem qualitativa com uma abordagem quantitativa. De forma a avaliar a

efectividade do turismo como agente de desenvolvimento rural que foi a estratégia

básica do LEADER I, é importante comparar resultados, adoptar e adaptar novas

Page 126: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

126

medidas, de forma a predizer e a orientar resultados futuros. Necessidades imediatas,

objectivos a curto, médio e longo prazo basearam-se nas potencialidades e fragilidades

da área e foram considerados no âmbito do planeamento, execução, análise e avaliação

de novas mudanças.

A avaliação incluirá assim a estratégia, o processo, os impactos e os resultados do

LEADER I no Vale do Lima.

Conforme previamente mencionado e de acordo com o CEDRU (1995), o programa

LEADER é fundamentalmente caracterizado pela sua qualidade territorial, integrando

diversas áreas de desenvolvimento regional. Iniciado em 1997, este programa é

constituído por subvenções globais integradas visando o desenvolvimento das áreas

rurais.

A avaliação do LEADER no Vale do Lima, apresentada nesta secção incluirá a

candidatura ao programa, a sua gestão, a selecção de projectos de forma a determinar a

adequação do programa aos problemas da área e os seus impactos de acordo com os

indicadores de gestão e outra informação estatística regional. Esta avaliação baseia-se

numa avaliação posterior do LEADER I desenvolvida pelo CEDRU – Centro de

Estudos de Desenvolvimento Regional e Urbano (1995).

Foi dada especial relevância à coerência interna do programa e à sua articulação com

outros programas e políticas de desenvolvimento regional implementadas na mesma

área geográfica, bem como à eficácia do sistema desenvolvido para implementar o

programa LEADER.

O estudo conduzido pelo CEDRU (1995) baseou-se em quatro vertentes fundamentais:

a) Avaliação da candidatura do LEADER Lima, de acordo com as orientações e

directivas comunitárias, objectivos gerais e específicos, e a estrutura interna do

programa (coerência externa e interna).

b) Avaliação da mobilização local (ao nível do envolvimento/ participação dos

agentes locais) e processo de selecção e aprovação dos projectos.

Page 127: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

127

c) Avaliação dos resultados físicos e financeiros dos projectos, de acordo com as

medidas do programa, tipos de projecto e promotores, e efeito da intervenção

sobre a área (avaliação do desempenho de acordo com a eficácia e a eficiência).

d) Avaliação dos impactos (sociais, económicos, institucionais e ambientais) e das

principais alterações na área de intervenção.

O processo de candidatura

A candidatura ao programa incluiu vários estudos, para além da apresentação da

estratégia, objectivos e estrutura, por medidas e acções, juntamente com os indicadores

financeiros e de gestão.

O processo de candidatura incluiu ainda uma descrição detalhada do Alto Minho, e das

suas limitações e potencialidades. De acordo com a ADRI, a colaboração com a

Comissão de Coordenação da Região Norte revelou-se extremamente importante.

O programa revelou coerência interna relativamente à identificação de objectivos gerais,

operacionais e intermédios – e também no que diz respeito à identificação de medidas e

acções.

A experiência prévia da área no que se refere o turismo rural contribuiu para uma

apresentação detalhada dos objectivos das acções.

O programa é baseado na necessidade de reforçar e diversificar o potencial das áreas

rurais, integrando indicadores sociais e económicos e evitando restringir essas mesmas

áreas a uma reserva ambiental paisagística.

A estratégia do programa foi orientada com base em três eixos de desenvolvimento:

a) Turismo Rural

b) Apoio a PMEs, artesanato e Serviços de Apoio

c) Valorização e comercialização de produtos locais

Page 128: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

128

O programa foi alargado em todas as suas medidas, excepto na Medida 1 (Pólo

Turístico, Golfe e outros). De acordo com estas medidas, apenas um projecto seria

seleccionado entre as várias candidaturas. Esta Medida incluiu o Campo de Golfe, o

Centro Equestre e a Reserva de Caça. Este projectos constituíram o foco central do

programa, pela sua abrangência financeira. A implementação destas infraestruturas

visou a criação de animação turística (quase exclusivamente limitada à oferta de

Turismo de Habitação), e o aumento generalizado da oferta turística, de forma a atrair a

procura, diversificar a oferta e aumentar o tempo de permanência na área.

Desempenho geral

A ADRIL, como entidade responsável pela gestão do programa, atingiu plenamente os

objectivos estabelecidos no programa de candidatura.

O LEADER do Vale do Lima apresentou soluções inovadoras no que se refere ao

desenvolvimento das áreas rurais e à articulação com outros programas de apoio

comunitário para Portugal.

O enquadramento institucional do programa, o seu caracter, e estratégia local,

contribuíram para a sua execução.

De acordo com os objectivos expressos no Programa LEADER (uma abordagem

endógena e local) a ADRIL foi responsável pela dinamização local, agrupando os

esforços de instituições locais públicas e privadas, associações e indivíduos

(Associações de Promotores Turísticos, Adegas Cooperativas, Associações de

Agricultores, Associações de Artesãos, Associações Comerciais e Caixa de Crédito

Agrícola Mútuo).

Além disso, o LEADER estabeleceu a colaboração com promotores externos de outros

LEADER – tais como o Vale do Minho e o Baixo Límia, na Galiza, em Espanha.

Page 129: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

129

Desenvolvimentos físicos e financeiros

O investimento global do projecto foi de 916.162 contos, com um financiamento

comunitário de 58%, representando 527.058 contos.

A gestão da ADRIl, reduziu em alguns dos projectos o financiamento comunitário a

50%. Além disso, alguns dos projectos foram aprovados em “over-booking” de forma a

evitar o fracasso e o investimento total atingiu os 1.136.594 contos.

Apesar de uma taxa de execução de 100% muitos projectos atingiram uma taxa de

execução de 118,1%, evidenciando a eficiência e o desempenho global do programa

LEADER.

Foram apresentados 109 projectos que correspondem a um investimento de cerca de 2,7

milhões de contos. Se não forem incluídos o Campo de Golfe e o Centro Hípico, o

investimento real corresponde a 1.517.846 contos.

A execução material dos projectos está ligada à sua execução financeira e os projectos

desenvolvidos atingiram os objectivos expressos aquando das suas candidaturas.

A ADRIL apresentou os seguintes resultados:

• Criação de 72 postos de trabalho, um número mais elevado do que inicialmente

previsto no Plano de Acção Local.

• Criação de 112 camas para alojamento turístico.

De acordo com o CEDRU (1995) não é possível apresentar um resultado quantitativo da

totalidade dos projectos, uma vez que muitos não se encontram ainda em

funcionamento. No entanto, é possível encontrar resultados positivos de

desenvolvimento físico, atingidos através de iniciativas materiais, especialmente no que

se refere ao Pólo Turístico, e aos Projectos de Turismo em áreas rurais, apoio a PMEs,

artesanato e serviços de apoio.

Page 130: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

130

Os resultados mais difíceis de avaliar referem-se a projectos não materiais,

nomeadamente formação profissional (excepto no que diz respeito ao artesanato);

projectos de divulgação e apoio à comercialização dos produtos locais, e organização de

conferências e seminários. No entanto, é importante referir que o peso destes projectos

no orçamento global é reduzido.

O projecto de criação de um “Label” regional – inicialmente previsto nos objectivos do

Plano de Acção Local, não foi ainda aprovado. Alguns dos projectos aprovados não

apresentam resultados positivos.

Nesta área a ADRIL poderia ter desenvolvido uma acção interna entre os promotores

dos projectos ligada à promoção dos produtos tradicionais locais e à execução técnica

do projecto de criação de um “label”. No entanto, alguns dos projectos mais bem

sucedidos do LEADER do Vale do Lima são os que se referem a produtos tradicionais

locais, desenvolvidos por promotores privados ou associações, nomeadamente os

projectos da ARVAL – Associação de Artesãos do Vale do Lima, Adega Cooperativa

de Ponte de Lima, Pedras Sequeiros, Lda., Minhofumeiro, e Cerâmica de Lançós (este

último com um valor financeiro reduzido).

Adicionalidade

Aos desenvolvimentos físicos e financeiros deve ser acrescentada uma avaliação da

adicionalidade. Apesar de não se encontrar ainda quantificada, é evidente na maior parte

dos projectos, especialmente nos d maior dimensão financeira – que não teriam ido

implementados sem o programa LEADER.

A adicionalidade é assim analisada considerando a implementação do programa

LEADER nesta região. Os Programas Operacionais Nacionais e o I Programa de Apoio

Comunitário para Portugal foram aplicados visando acima de tudo a criação de

infraestruturas básicas. O Programa LEADER do Vale do Lima apresenta uma execução

adicional na dinâmica da base económica e na revitalização de áreas rurais decadentes.

Page 131: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

131

A dinâmica institucional foi influenciada positivamente pelo LEADER, criando uma

prática associativa diversificada, baseada em grupos sócio-profissionais e ligada de

perto a uma dinâmica regional social e económica.

Localização dos projectos

No final do programa, a ADRIL conseguiu atrair investimentos regionais e locais. De

acordo com esta estimativa, 57% do investimento refere-se a projectos regionais e 43%

a projectos locais.

A análise da localização geográfica dos projectos permitiu concluir que:

• Verificou-se uma distribuição geográfica dos investimentos apoiados pelo

LEADER, de acordo com o tipo de projectos e o seu caracter espontâneo.

• O apoio a PMEs, artesanato e serviços de apoio concentrou-se sobretudo em

Ponte de Lima, uma vez que não existiram candidaturas dos concelhos vizinhos.

Estes projectos incluíram principalmente produtores locais, e artesãos que

reconverteram a sua actividade ou organizaram a sua produção de forma mais

competitiva.

• Os investimentos relativos ao Pólo Turístico também se concentraram em Ponte

de Lima.

• Em Ponte da Barca, a ADRIL tentou implementar um projecto rural na aldeia de

Sobredo que seria mais tarde substituído pela intervenção na aldeia de Soajo,

nos Arcos de Valdevez.

• Ponte de Lima e Arcos de Valdevez apresentaram um maior número de

projectos.

• Instituições sociais, dirigidas a apoiar o desenvolvimento bem como associações

socio-profissionais e culturais espalhadas por toda a área de intervenção

desempenharam um papel importante na concentração do apoio do LEADER,

contribuindo para a dispersão do investimento.

Page 132: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

132

Outros impactos

Não foi ainda possível quantificar os impactos do Programa, considerando a evidência,

sinergia e efeitos multiplicadores. A motivação, por exemplo, é extremamente difícil de

quantificar, bem como a participação e a visibilidade. Impactos a longo prazo,

resultantes das acções de formação em termos de qualidade dos serviços, são também

difíceis de quantificar.

A constituição de empresas foi importante na implementação do Programa,

especialmente no que diz respeito a actividades produtivas, incluindo artesanato e

turismo.

Acompanhamento e gestão do Programa

A maioria dos produtores considerou a gestão do Programa extremamente positiva. Os

produtores contactados salientaram o apoio técnico disponibilizado pela ADRIL, que

auxiliou na elaboração dos processos de candidatura, reduzindo os custos, e evitando o

pagamento de técnicos especializados externos, acelerando o processo de decisão no

que diz respeito à aprovação das candidaturas e ao acompanhamento dos projectos,

reduzindo a burocracia.

Características do Programa – descrição das Medidas e Projectos

O LEADER do Vale do Lima, incluía as medidas previstas na criação do Programa

LEADER (Reg. EC 91/ C73/14 – OJ n0. 73, 19.03.91). Este regulamento incluía três

tipos de medidas:

• Medidas para o desenvolvimento rural

• Medidas para o funcionamento e apoio técnico de grupos de desenvolvimento

rural

• Medidas referentes à implementação de uma rede transnacional de contactos

entre grupos

O LEADER do Vale do Lima foi estruturado à volta de 7 Medidas:

Page 133: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

133

1. Apoio técnico ao Desenvolvimento

Dezoito (18) Projectos foram aprovados relativamente a esta Medida, num total de

24124 contos, com um apoio comunitário no valor de 14107 contos, correspondente a

60%.

Os projectos levados a cabo incluem o Estudo Técnico de projectos de outras medidas e

a organização de um Seminário sobre desenvolvimento rural. Assim, os estudos

técnicos relativos ao Campo de golfe, à Reserva de Caça (que não foi implementado), à

intervenção na aldeia de Sobredo (que não foi implementado), à renovação de casas

para turismo de aldeia na aldeia de Soajo e aos estudos para a criação de um "Label"

regional, são aqui incluídos.

Esta medida correspondeu a 2% do investimento total. As taxas de execução dos

projectos foram de 100%, menos no caso de Soajo onde o investimento alcançado foi

superior ao previsto.

Promotores do exterior levaram a cabo todos os estudos, uma vez que a área de

intervenção não apresentava capacidade técnica para os levar a cabo localmente.

2. Formação Profissional e ajuda à Contratação

Esta medida incluiu 8 projectos. Sete destes projectos corresponderam a um

investimento de 38 293 contos, com um apoio financeiro comunitário no valor de 24890

contos, correspondente a 65% do investimento total. O investimento representou 3% do

orçamento total do Programa.

Os projectos desenvolvidos correspondem a acções de formação profissional

desenvolvidas por várias entidades e por promotores de outros projectos.

A avaliação completa desta medida é bastante difícil, uma vez que se reporta a

desenvolvimentos imateriais. No entanto, a sua articulação com outras medidas revelou-

se extremamente positiva, com grande impacto nas áreas do artesanato e do turismo.

Page 134: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

134

Um dos cursos, promovido pela ARVAL, Curso de Técnicas de Bordadeira Clássica

apresentou uma taxa de execução superior a 100%.

3. Turismo em Áreas Rurais

Vinte - oito (28) projectos foram aprovados, relativamente a esta medida, com

diferentes características e diferentes valores financeiros. O investimento total foi de

799 457 contos, com um financiamento comunitário de 390 726 contos,

aproximadamente 49% (globalmente).

Esta medida representou 70% do Programa. Globalmente, foi alcançada uma taxa de

execução de 103,4%. Na maioria dos projectos o investimento foi superior ao previsto.

Foram incluídos vários projectos materiais significativos nesta medida. Estes projectos

representam desenvolvimentos importantes da estratégia do LEADER do Vale do Lima,

nomeadamente a criação de um Pólo Turístico, o desenvolvimento de turismo em áreas

rurais com características específicas e a promoção e divulgação da área.

Apesar de considerar que o Programa não se reduz meramente ao Turismo, esta área foi

considerada desde o início como sendo extremamente importante e o turismo como

agente de desenvolvimento rural constituiu a filosofia subjacente do Programa.

Na Medida 3, estava incluído a construção do Campo de Golfe de Ponte de Lima, um

dos maiores Projectos abrangidos por esta Medida, com um investimento inicial de 557

750 contos (depois reprogramado para 418 400 contos) e uma participação comunitária

de 209 200 contos (50%), de acordo com o Regulamento CE 4253/88, relativo à

aplicação de fundos estruturais.

O Campo de Golfe representou um investimento financeiro elevado e desde o início a

ADRIL expressou a intenção de implementar um Pólo Turístico. O investimento para as

acções referentes à Medida 3, inclusive infra-estruturas para o Pólo Turístico,

representou na candidatura inicial do LEADER do Vale do Lima e no Plano de Acção

Page 135: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

135

Local aprovado pela Comunidade, 74% do investimento do Programa e 71% do Apoio

Comunitário Global. Estes valores foram reduzidos, respectivamente, para 70% e 65%.

Incluídos nesta medida, 12 projectos que correspondem à intervenção na Aldeia de

Soajo, para a renovação de casas de Turismo de Aldeia, serão analisados de uma forma

integrada.

4. PMEs, Artesanato e Serviços de Apoio

Incluídos na Medida 4, foram aprovados 10 projectos, com um investimento total de

116 084 contos e um apoio comunitário de 75 068 contos (ca. 65%).

Esta medida correspondeu a 12,5% da totalidade do programa e apresentou uma taxa de

execução global superior a 100%.

Os projectos incluídos nesta medida correspondem a apoio informático e à organização

de algumas instituições, bem como à criação de novas empresas ligadas à produção de

produtos tradicionais, artesanato tradicional e produções semi-industriais.

Os projectos da ARVAL, "Pedras Sequeiros, L.da", "Minho-fumeiro" e "Anhel,

Artecerâmica, Lda"., merecem ser mencionados pela sua importância e resultados

evidentes.

O Projecto de "Fabrico de enchidos e fumados à moda de Ponte de Lima" (produção

tradicional), foi o segundo maior projecto no âmbito desta Medida, e incluiu a

construção de uma pequena fábrica, respeitando os Regulamentos Comunitários n e

mantendo os processos tradicionais de produção, nomeadamente o fumeiro através de

um forno de lenha.

5. Valorização e comercialização de Produtos Locais

Esta medida incluiu a aprovação de 18 projectos, com um investimento total de 82 129

contos, com um apoio comunitário de 44 223 contos (54%).

Page 136: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

136

A Medida 5, representou 7,2% do investimento total e sua taxa de execução atingiu

quase 90%.

Os projectos abrangidos por esta Medida, incluíram acima de tudo desenvolvimentos

imateriais, tais como a organização de seminários, conferências, apoio publicitário,

concursos, feiras, etc., desenvolvidos pelas Adegas Locais e pelas Associações e

Entidades Locais.

Foram apoiados nomeadamente, os projectos de valorização dos produtos locais, tais

como a criação de espécies autócnes. Um dos aspectos mais positivos destes projectos,

foi o apoio extra que representaram para as instituições que os promoveram,

nomeadamente a Escola Superior Agrária de Ponte de Lima e a Escola Profissional

Agrícola de Ponte de Lima. Estas instituições foram apoiadas na criação de espaços

físicos e funcionamento, pelos Programas de Apoio Comunitário Nacionais, tais como o

PRODIATEC e o PRODEP.

6. Outras Medidas

Para além dos projectos aprovados, integrados nas medidas estabelecidas, o LEADER

do Vale do Lima, considerou a candidatura de projectos que não poderiam ser

integrados nas Medidas previamente enumeradas.

No entanto, todos os Projectos que foram aprovados foram integrados nas Medidas

referidas.

7. Funcionamento do Grupo de Acção Local

Para o funcionamento do GAL foi considerado um investimento de 82.185 contos, com

um apoio comunitário de 52.506 contos (64%).

Page 137: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

137

O investimento nesta área correspondeu a 7,2% do Programa e a taxa de execução foi de

73%. (CEDRU: 1995)

Os avanços tecnológicos reduziram o número de postos de trabalhos na agricultura.

Além disso, estes trabalhos foram considerados socialmente 'inferiores', e os seus baixos

rendimentos económicos conduziram frequentemente ao abandono das áreas rurais.

Alterações futuras na mobilidade e na diversificação das ocupações provocarão o

aparecimento de uma nova perspectiva e de novas atitudes em relação às áreas rurais. O

potencial turístico incluirá não só a beleza da paisagem, mas também o seu potencial em

termos de resposta a outras necessidades básicas e à qualidade dos serviços prestados.

O LEADER do vale do Lima foi responsável pelas alterações na foram como o turismo

é percebido no Vale do Lima. O turismo funcionou também como um catalizador para

promover a diversificação das actividades nas áreas rurais e para a criação de

infraestruturas de apoio.

A justificação de uma avaliação baseia-se não só na necessidade de apresentar dados

quantitativos e qualitativos, recolhidos durante esta investigação e a foram como foram

tratados, mas também no conceito de evolução do desenvolvimento e na consciência de

que o turismo provoca mudanças que necessitam de uma constante avaliação e

monotorização. Além disso, os estudos de avaliação apresentam uma grande variação

nas suas metodologias e análise de dados (Hall e Jenkins: 1995).

De acordo com Hall (1982); a avaliação é qualquer tipo de processo que pretende

ordenar preferências. Assim, a avaliação não implica apenas a medição de resultados e

impactos, mas também a medição de metas e objectivos. Nesta investigação a avaliação

de turismo rural como agente de desenvolvimento rural baseou-se na recolha, análise e

interpretação de dados relativamente à necessidade de turismo rural e à formulação,

implementação, resultados e objectivos políticos e de gestão, no planeamento e

desenvolvimento de turismo rural.

As dificuldades na implementação de políticas são frequentemente um resultado das

alterações do desenvolvimento do filosofia política. O Turismo é uma “ciência”

Page 138: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

138

recente: os instrumentos utilizados na investigação são frequentemente emprestados de

outras ciências: a sua natureza híbrida e interdisciplinar, bem como o seu caracter

holístico, podem levantar dúvidas quanto à melhor abordagem e métodos de

investigação. O mesmo se aplica no caso do desenvolvimento institucional e na

avaliação de políticas de turismo.

De acordo com Cabral e Abecassis (1995), o turismo não pode apenas ser visto como

um serviço interno gerador de rendimento, mas também e acima de tudo, como um

meio de exportação, no qual o cliente vem ao país exportador comprar o produto.

Assim, e para além de todos os serviços de vendas à disposição dos turistas domésticos

e estrangeiros, todos os outros gastos devem ser tomados em consideração. Um

importante factor a considerar em todos os projectos turísticos é o emprego gerado e o

seu caracter frequentemente sazonal, local e não especializado.

Indicadores gerais: dados qualitativos

Considerando que a humanidade se movimenta ao longo da história com o intuito de

satisfazer necessidades materiais, facilmente podemos encontrar contradições e

dificuldades na Política Agrícola Comum, considerando não apenas a construção de

modelos de desenvolvimento, mas também as dificuldades na implementação de

políticas e na execução dos programas de apoio. Os processos de intensificação-

extensificação agrícola, a posição da UE na economia global bem como o valor dos

arquétipos do pensamento Ocidental, demonstram algumas das respostas e avançam

soluções prováveis. No entanto, e considerando não apenas teorias de reforço social, o

turismo tem vindo a desempenhar um papel cada vez mais importante, não só no sector

económico, mas também de acordo com o seu valor social, cultural e religioso, no que

diz respeito ao desenvolvimento do mundo rural.

Os principais benefícios do turismo são apresentados de forma sumária na seguinte

tabela:

Page 139: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

139

QUADRO 13: Principais Benefícios da Actividade Turística

EXPORTAÇÕES

O Turismo internacional é responsável pelo maior número de

exportações a nível mundial e é um factor importante na balança

de pagamento em muitos países. As receitas internacionais

resultantes do turismo internacional alcançaram US$432 bilhões

em 1996, ultrapassando exportações de outros produtos tais

como o petróleo, automóveis, equipamentos de

telecomunicações, têxteis ou qualquer outro produto ou serviço.

EMPREGO

O turismo é um sector importante no que diz respeito à criação

de emprego, empregando cerca de 100 milhões de indivíduos em

todo o mundo. A maior parte destes empregos ocorre em

pequenas ou médias empresas e em empreendimentos familiares.

A investigação neste sector demonstrou que a criação de

emprego neste sector cresce 1 ½ , mais rapidamente que

qualquer outro sector industrial.

OPORTUNIDADES NO MUNDO RURAL

Normalmente são criados postos de trabalho no sector turístico

nas regiões mais subdesenvolvidas de um país, equilibrando as

oportunidades económicas nacionais e constituindo um incentivo

para a permanência dos habitantes locais em áreas rurais em vez

de se mudarem para cidades superpovoadas.

INVESTIMENTO EM INFRAESTRUTURAS

O turismo estimula enormes investimentos em novas infra-

estruturas que ajuda a melhorar as condições de vida não só dos

turistas, mas também dos habitantes locais. Projectos de

desenvolvimento de turismo incluem frequentemente aeroportos,

estradas, marinas, sistemas de esgoto, estações de tratamento de

água, restauração de monumentos culturais, museus e centros de

interpretação da natureza.

IMPOSTOS

A indústria do turismo contribui com centenas de milhões de

dólares em impostos anualmente, através de impostos sobre o

alojamento, restauração, taxas de aeroporto, impostos sobre as

vendas, pagamento de parques de estacionamento, impostos

sobre os salários e muitas outras medidas fiscais.

PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB)

O turismo Internacional e doméstico gera cerca de 10 por cento

do Produto Interno Bruto (PIB) e até mesmo uma parte

consideravelmente mais alta em muitas nações pequenas e países

em desenvolvimento.

Fonte: WTO, 1999,

No Vale do Lima, o objectivo principal foi equilibrar agricultura e turismo, de uma

forma integrada, interdependente e sustentável, tendo em conta factores ambientais,

sociais e económicos. Esta intervenção permitiu a criação de novos postos de trabalho.

No inicio, a diversificação processou-se de forma lenta, mas com o decorrer dos anos

transformou-se num movimento alargado, planeado de forma deliberada por indivíduos

e comunidades, e ainda pelas suas instituições. De entre os vários projectos, O Turismo

Page 140: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

140

de Aldeia, O Campo de Golfe e o Centro Hípico foram apresentados como estudos de

caso de forma a obter dados relevantes face à hipótese considerada. Estes exemplos são

apenas uma parte reduzida do movimento tripartido que tem vindo a revitalizar o

desenvolvimento rural no Vale do Lima.

Em primeiro lugar os agricultores tem equilibrado a sua agricultura através de novas

colheitas que dão nova vida ao solo, com diversos tipos de plantas e animais,

apropriados às diferentes características da paisagem. Em segundo lugar, verifica-se um

acréscimo da riqueza da região através do cultivo dos recursos existentes, um

sentimento de orgulho pela preservação do património construído e tradições. Em

terceiro lugar, verifica-se um maior equilíbrio económico, através da associação entre

turismo e agricultura (Ver Objectivos da ADRIL).

O turismo rural é pela sua própria natureza ecologicamente sustentável e não é

compatível com o turismo de massas. A necessidade de evitar o esgotamento dos

recursos e promover o planeamento, bem como um desenvolvimento integrado e

interdependente de um destino foi conseguida através de uma gestão adequada –

consciente da necessidade de preservar a cultura e o património local, as características

ambientais e a identidade local, enfrentando os desafios das pressões globais.

Os seguintes factores, referidos por Laws(1995), são também evidentes no

desenvolvimento do turismo rural no Vale do Lima:

• Os destinos turísticos cuidadosamente planeados e orientados são mais bem

sucedidos do que aqueles sem qualquer planeamento.

• O planeamento fornece linhas orientadoras para a comercialização apropriada

dos produtos turísticos

• O planeamento efectivo deve ser baseado em abordagens metodológicas sãs,

com a aplicação de um processo sequencial de planeamento.

• O desenvolvimento de turismo de qualidade implica a protecção ambiental, a

manutenção da identidade cultural e elevados níveis de satisfação turística,

enquanto gerando benefícios económicos.

Page 141: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

141

• Os princípios de planeamento incluem o estabelecimento de “entradas”

turísticas, o estabelecimento de zonas e áreas, agrupando atracções e

organizando o desenvolvimento.

• Marketing e desenvolvimento dos produtos devem ser cuidadosamente

coordenados

• È essencial o envolvimento das comunidades.

• O turismo foi integrado nas economias locais e nacionais

• O planeamento efectivo foi alcançado não só através de procedimentos e

técnicas, mas também através de compromissos políticos e de uma forte

liderança.

• A coordenação entre o sector público e o sector privado é essencial na

implementação de planos bem sucedidos

• Incentivos (ou não) ao investimento podem ser uma forma útil de

implementação de estratégias

• Educação e formação, dos elementos envolvidos, é essencial

• Os turistas devem ser informados sobre as características do seu destino e devm

ser encorajados a respeitá-las

• Os governos locais e nacionais devem tomar frequentemente a iniciativa de fixar

padrões de qualidade para o desenvolvimento turístico

• A monitorização contínua é essencial

Entre as razões para controlar o crescimento do turismo, as características da área,

requerem a necessidade de ajuste dos residentes, o equilíbrio do turismo com

desenvolvimento de infra-estruturas, e a sua integração com o desenvolvimento de

outros sectores económicos. (Laws: 1995). Os estudos de caso seleccionados evidnciam

estas preocupações.

Os estudos de caso têm a vantagem pedagógica de mostrar que os assuntos em

administração de destino, embora eles podem ser isolados para análise, deve ser

considerado na perspectiva mais larga, sistémica de uma economia funcionando,

sociedade e ecologia. O índice indica os temas principais e subsidiários de cada destes

estudos de caso. " (Leis, E., 1995)

Page 142: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

142

QUADRO 14 : Temas principais e subsidiários de cada estudo de caso

Estudo de Caso Soajo Campo de Golfe Centro Hípico

IMPACTOS

Ambientais * * *

Económicos * + *

Culturais * + +

Ecológicos * * *

PROPRIETÁRIOS

Residentes * * +

Investidores + * +

Industria + + +

Empregados * * *

Turistas * * *

FOCALIZAÇÃO

Planeamento + + *

Sinergia e

Marketing

* + *

* Tema principal + Tema Secundário

Além disso, as propostas de desenvolvimento turístico devem ser avaliadas em termos

das alterações susceptíveis dos elementos de uma determinada área (Laws: 1995).

Assim, os estudos de caso forma utilizados para determinar a plausibilidade e

aplicabilidade geral dos desenvolvimentos teóricos e permitir perceber porque foram

tomadas determinadas decisões. Os estudos de caso foram considerados

simultaneamente como fenómenos específicos e gerais.

O tipo de desenvolvimento turístico adoptado no Vale do Lima visou o respeito,

preservação e valorização do caracter único da área, mantendo a sua cultura e ambiente.

Os residentes locais foram consciencializados dos impactos do turismo e encorajados a

partilhar os recursos e equipamentos turísticos. Foi possível aos residentes locais manter

o seu estilo de vida e o desenvolvimento foi mantido dentro dos limites das capacidades

locais de desenvolvimento. A coordenação de esforços públicos e privados permitiu a

Page 143: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

143

manutenção de oportunidades locais de lazer. O respeito pelas tradições e estilos de vida

locais foi conseguido através do envolvimento local. Os problemas locais foram

mitigados antes de ser aumentada a actividade turística.

Considerando a investigação do desenvolvimento turístico de uma qualquer área, a

integração de uma visão dos diferentes parceiros aos níveis macro, meso e micro é

extremamente importante. Conforme referem Hall e Jenkins (1995), considerando as

políticas de turismo: ao nível macro verifica-se uma ignorância generalizada dos

acordos institucionais e particularmente do papel do estado na política pública. A um

nível meso existe pouca compreensão de como e porque certas decisões são tomadas ou

determinadas acções levadas a cabo. A um nível micro verifica-se uma falta de

entendimento das relações entre os indivíduos, os seus valores e os seus interesses e

entre as organizações e o estado.

Avaliação

Esta secção pretende analisar o tipo de aprendizagem decorrente desta investigação,

quais os objectivos que foram atingidos, quais os aspectos positivos da investigação e

que factores poderiam ser melhorados. Além disso, são listadas sugestões para futura

investigação.

A primeira preocupação examina de que forma o estilo de abordagem comunitária do

LEADER foi bem sucedido no que se refere ao desenvolvimento rural integrado. Além

disso, foram mencionados no âmbito do LEADER conceitos tais como, poder,

sociedade, identidade e nacionalismo.

O conceito de globalização colocou ênfase não na competição, mas na cooperação e na

diversificação de actividades tradicionais. Abordagens do estilo do LEADER ao

desenvolvimento rural integrado tentaram superar problemas sociais e ambientais que

afectam áreas rurais, por um lado diminuindo e / ou eliminando as suas fraquezas e

ameaças, e por outro aumentando as suas forças, oportunidades e potencialidades. O

LEADER baseou-se nos conceitos de cooperação e parceria, e estabeleceu os seus

Page 144: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

144

programas dentro do princípio da subsidariedade. O seu sucesso dependeu da sua

capacidade de resolução de muitos dos problemas existentes.

Poder foi previamente definido como o controle das capacidades, habilidades,

conhecimentos e recursos. O poder pertence frequentemente a um grupo de indivíduos e

raramente ou quase nunca a um só indivíduo. Tal como mencionado previamente, o

controle do poder e os conceitos que lhe são associados, sofreu uma alteração com o

processo de globalização, sendo frequentemente a competição substituída por

cooperação. Além disso, a experiência da UE e a filosofia de uma Europa Unida podem

representar um primeiro e importante passo de um desenvolvimento global.

A sociedade, como diferentes grupos organizados de acordo com determinadas regras e

sistemas políticos, bem como identidade e nacionalidade são conceitos que agrupam os

diferentes indivíduos de acordo com valores e padrões comuns ou partilhados. A coesão

social depende da concordância relativamente a valores e regras partilhados, bem como

da tolerância dessa sociedade em aceitar diferentes valores e regras, que não destruam o

funcionamento do grupo, a sua coesão e coerência. Assim, grupos com ligações mais

estritas e mais fortes tem possibilidades mais elevadas de ser bem sucedidos. Além

disso, a divisão social baseia-se no poder de um grupo para atingir determinados

objectivos. Coesão, confiança e concordância são também lementos que permitem o

funcionamento do tecido social, tendo em mente os princípios da cooperação e da

solidariedade.

Uma vez que a aldeia global não é mais do que um “melting pot”, uma mistura de

diferentes indivíduos com alguns valores comuns, a sua dinâmica depende estritamente

dos valores dos principais líderes ou dos valores dos grupos mais importantes.

Considerando o caso dos países, desenvolvidos, subdesenvolvidos ou em vias de

desenvolvimento: Quais os valores subjacentes ao desenvolvimento? A produção em

massa de produtos com origem na revolução industrial ou o conceito de trabalho como

emprego (a garantia de determinados de deveres e tarefas em troca de determinados

direitos). As alterações dos padrões de trabalho e lazer poderão ser objecto de futura

investigação. Desde que os avanços tecnológicos industrializaram a agricultura, as áreas

rurais tradicionais foram deixadas para trás. Essas áreas estariam dependentes de

colheitas sazonais e de uma produção sazonal. Considerando esta área em particular, as

Page 145: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

145

suas condições gerais e o seu clima o mesmo se verifica no caso do turismo. No entanto,

as actividades agrícolas e o turismo podem lucrar com esta parceria simbiótica.

O Turismo como agente de desenvolvimento rural permitiu uma melhoria das infra-

estruturas básicas, a criação de um estilo de vida melhor e uma fonte extra de

rendimento para os agricultores, alterou mentalidades, e possibilitou a formação e a

adaptação ao uso de novas tecnologias. Uma vez que a área não possuía os recursos

financeiros necessários, a ajuda financeira do LEADER revelou-se extremamente

importante, existindo ainda a necessidade de criar emprego para a população mais

jovem para evitar o êxodo rural contínuo e a desertificação de áreas rurais.

As áreas rurais foram seleccionadas de acordo com os seus problemas: desertificação,

despovoamento, agricultura frágil e desemprego. Estas áreas rurais delicadas podem ser

comparadas a regiões onde problemas como a fome e a pobreza devem ser resolvidos.

Fome e pobreza são frequentemente questionados em função da sua origem: ou como

resultado de responsabilidade individual ou como resultado do tipo de sociedade ou

sistema social a que os indivíduos pertencem. Fome e pobreza são consideradas como o

resultado de um problema cultural e de um problema de desenvolvimento (Alfredo

Bruto da Costa: 2000). A fome é um problema político, não um problema de produção

agrícola (Fernando Nobre: 2000).

Os Programas de Apoio Comunitário, que incluem o LEADER representam um acordo

entre objectivos gerais e necessidades locais e enfatizam o conceito de cooperação entre

diferentes parceiros. Os princípios orientadores do LEADER dão ênfase à importância

de uma abordagem bem como às suas funções produtivas, ambientais e sociais;

Subsidariedade e parceria são também princípios que integram estes Programas,

adaptados às necessidades locais e à manutenção da identidade. Investigação futura

precisa ser levada a cabo uma vez que o desenvolvimento é um processo contínuo.

Além disso, as áreas rurais estarão sujeito a mudanças nos conceitos de trabalho, lazer e

mobilidade que darão origem ao aparecimento de novos tópicos de pesquisa. A sua

produtividade e os resultados a longo prazo também necessitarão de avaliação adicional.

Correcções do processo de desenvolvimento também necessitam de ser constantemente

monitorizadas e são assuntos que deveriam ser controlados cuidadosamente.

Page 146: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

146

Coesão e liderança fizeram parte do sucesso da implementação do Programa LEADER

no Vale do Lima.

Conclusões

Avaliação correlativa do desenvolvimento no Vale do Lima

Reconhecimento nos anos 80 da importância dos benefícios do turismo como um agente

de desenvolvimento rural e uma forma de envolvimento de comunidade. O Programa

Comunitário Europeu LEADER permitiu apoiar o desenvolvimento de áreas rurais

frágeis.

Como poderemos comparar o desenvolvimento do Vale do Lima com o

desenvolvimento de outras áreas?

Dois exemplos de Turismo europeu foram desenvolvidos no Vale do Lima durante os

últimos três a quatro anos. Estes são as associações: Europa das Tradições (Europa

Traditionae Consórcio) e Aldeias de Tradição. A primeira destas associações, reúne a

Inglaterra (Wolsey Lodges), França (Château Accueil), Irlanda (Hidden Ireland), os

Países Baixos (Erfgoed Logies) e Portugal (Solares de Portugal), e a segunda reúne os

parceiros de Portugal (Alto Minho); da Itália (Campania); e dos Países Baixos

(Gröningen, Flevoland e Drenthe), e também da Espanha (Galiza); e da Suécia

(Dalarna).

No início dos anos 80, Portugal era um país sujeito a rápidas mudanças, não apenas

preparando-se para entrar na Comunidade Europeia, mas também reconhecendo, talvez,

tardiamente, os recursos inestimáveis que tinha por desenvolver, entre os quais um

alojamento qualidade, um produto localizado principalmente nas áreas rurais mais

atraentes do país.

Uma premissa essencial, baseava-se na existência de muitas casas em cenários

atraentes, onde até então existia pouco ou nenhum alojamento turístico satisfatório.

Page 147: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

147

Talvez mesmo mais importantemente era a convicção de que a hospitalidade natural dos

donos destas casas e de todas as pessoas que viviam nestas comunidades constituíam

um recurso humano que poderia até mesmo exceder o potencial das casas em si.

Por conseguinte com um pouco de ajuda, inicialmente do Governo Português e

subsequentemente da União Europeia, foi introduzido um sistema de apoios que ajudou

os donos das propriedades a renovar as suas casas e jardins de forma satisfatória:

surgindo assim o “Turismo de Habitação", uma forma de turismo familiar disponível

para os visitantes ansiosos por conhecer o calor da hospitalidade e a gastronomia do

verdadeiro Portugal.

Muitas destas pessoas tiveram a sorte de viver em propriedades que pertenceram à

mesma família durante várias gerações, de forma que não só a casa, mas também a

família representam um reflexo genuíno e vibrante do património regional. Um grande

cuidado foi necessário para assegurar que as renovações eram compatíveis com o

património arquitectónico original, e de que o mobiliário e a decoração estavam de

acordo com a história e património destas casas.

Enquanto melhorar o padrão do alojamento era um pré-requisito essencial, a criação de

"associações" para comercializar este produto novo e inovador e, de igual forma criar

uma central de reservas, era igualmente vital.

Juntamente com os donos das casas foi possível criar, na pequena vila de Ponte de Lima

(Vale do Lima) na região do Minho, em Portugal, uma associação: a TURIHAB. Os

membros desta associação trabalharam em conjunto desde 1983 para estabelecer o

Turismo Habitação como um tipo de alojamento identificável em Portugal que oferece

hospitalidade a uma gama extensa de visitantes internacionais e também a muitas

pessoas em Portugal ansiosas por passar algum do seu tempo livre neste ambiente.

Os membros desta associação têm trabalhado individualmente e colectivamente para

melhorar a natureza da oferta do seu alojamento, acrescentando piscinas courts de ténis,

e estábulos às suas propriedades.

Page 148: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

148

Esta experiência nos anos 80 conduziu à visão que para criar impacto adicional no

mercado internacional; era necessário criar uma identidade de "marca" para este tipo de

alojamento.

Pensando nisto os membros da TURIHAB lançaram em 1992 os “Solares de Portugal"

com o intuito de comercializar este estilo distintivo de alojamento em Portugal. O nome

"Solares" é usado em Portugal para descrever casas de família espaçosas que são uma

descrição apropriada de muitas das propriedades. Além disso, expressam também o

calor da hospitalidade de Portugal e dos portugueses.

Durante a última década cresceu a consciência de grupos semelhantes de proprietários

noutros países da União Europeia. Inicialmente foram desenvolvidos trabalhos com

associações de Inglaterra, Irlanda e França e mais recentemente foram dadas as boas-

vindas aos parceiros dos Países Baixos e em 1996 com o apoio da Comissão de

Coordenação da Região, foi possível inaugurar a Europa Traditionae Consórcio - a

Europa de Tradições.

As metas e objectivos do Consórcio são: oferecer um estilo pessoal de hospitalidade em

casas de carácter; preservar e ajudar os seus clientes a desfrutar a herança e cultura do

seu e da sua região, através da arquitectura, gastronomia e entretenimento, e:

• promover um produto sem igual - alojamento de qualidade em casas privadas

• melhorar o tipo de marketing e distribuição de brochuras

• facilitar a troca de ideias e o trabalho em rede

• promover o turismo na Europa, particularmente oriundo do Japão, América e

Austrália,

• criar “lobbies” a favor dos parceiros em relação à legislação da UE

• fomentar e desenvolver a cultura e o património dos países parceiros.

Em todas estas acções, são considerados a riqueza natural da área e os recursos

humanos, sendo alvo de reconhecimento em 1995 quando a TURIHAB foi premiada

com o Prémio Europeu de Turismo e Ambiente e em 1998 o com o prémio de Turismo

e Ambiente da British Airways.

Page 149: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

149

Não só o valor da cultura e da tradição portuguesas, são reconhecidos, mas também são

avaliados e é desenvolvida colaboração e parceria com entidades semelhantes noutros

países. Isto foi reconhecido pelo Parlamento Europeu que considerou apropriado

recomendar a Europa das Tradições como um exemplo da melhor prática de

colaboração internacional para os oficiais da Comissão Europeia.

Como resultado a recomendação do Parlamento Europeu para a Comissão Europeia foi

aprovada da seguinte forma:

"Chamada a Comissão a organizar, com base no respeito pelo princípio da

subsidariedade, uma acção concertada entre Estados Membros para promover a troca

de peritos na reabilitação e restauração do património artístico para fins turísticos,

incluindo a oferta de formação e o encorajamento à criação de Redes Transnacionais

na linha do Europa Traditionae Consórcio".

Uma das iniciativas mais recentes foi agir como um catalisador juntamente com outros

parceiros no âmbito de um programa projectado para ajudar a promover o

desenvolvimento em países membros da UE, Hungria e Eslovênia. Isto permitirá

desenvolver um programa de Ecos-Overture que inclui o desenvolvimento de turismo

rural “soft” nestes países, através da criação de redes regionais / nacionais de castelos,

solares, quintas e casas rurais, oferecendo alojamento privado de qualidade. Isto

contribuirá também para a preservação do património cultural em áreas rurais e para a

criação de um emprego duradouro. As redes assim criadas, integrarão a Europa

Traditionae Consórcio, um agrupamento de entidades dos Países Baixos, França,

Irlanda, Portugal e Reino Unido.

O trabalho desenvolvido no âmbito do turismo rural conduzido ao programa de

desenvolvimento rural da União Europeia e à implementação bem sucedida de dois

programas LEADER, permitindo melhorar o alojamento turístico e introduzir

equipamentos turísticos apropriados, alargando o conceito de alojamento a outras

situações tradicionais e desenvolvendo unidades em aldeias típicas.

Page 150: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

150

O projeto foi baseado no desenvolvimento socio-económico das Aldeias do Soajo e

Lindoso na área do Parque Nacional da Peneda-Gerês no norte de Portugal, (ADRIL), e

nas aldeias da Branda de Aveleira (ADRIMINHO) e Agra e Pequenina / Gondomar

(ATAHCA).

Estas são aldeias rurais pequenas sujeito a despovoamento, desflorestação, agricultura

frágil, elevada emigração e desemprego. As Aldeias foram revitalizadas com a ajuda

financeira do Programa LEADER e o turismo foi considerado como o motor para

desenvolvimento rural. Esta intervenção pretendeu criar uma oferta turística, de

turismo" nomeado de Aldeia" - Turismo de Aldeia, baseado no alojamento turístico em

casas rústicas antigas que foram renovadas para este fim específico.

Foram considerados dois eixos principais: a consolidação da oferta turística já existente

em Áreas Rurais - de Turismo Habitação; promovendo a sua imagem e a inovação da

auto-estima rural e a criação de um novo tipo de oferta em áreas de montanha - de

Turismo Aldeia. Considerando a primeira situação, o sazonalidade foi reduzido através

da implementação de novos equipamentos desportivos (O Centro Equestre e o Campo

de Golfe) e culturais. A segunda situação tentou promover o associativismo para

alcançar uma administração integrada e a qualidade da oferta turística, relativamente ao

Turismo Aldeia.

A oferta turística destes GALs LEADER, relativamente ao Turismo de Aldeia baseou-

se na renovação de casas em várias aldeias. Isto conduziu a iniciativas conjuntas de

promoção e troca de experiências. ATA - Associação de Turismo Aldeia foi o resultado

destas actividades comuns. Da mesma maneira foi criado na Itália uma Associação de

Turismo de Aldeia, nomeada VILLAGI DELLE TRADIZIONI. Da mesma forma nos

Países Baixos também está em curso a constituição de uma Associação de Aldeias de

Tradição.

Como resultado do projeto de cooperação nacional, e a criação dos GALs LEADER do

Minho os primeiros contactos foram estabelecidos com outros grupos LEADER da

Campania (Itália) e Lauwersland (Holanda) - também interessados em desenvolver estes

projectos nas suas regiões. Esta oportunidade, criada por um Seminário do Observatório

Europeu realizado em Bruxelas em Novembro, de 1997, conduziu ao estabelecimento

Page 151: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

151

de um protocolo de cooperação transnacional, nomeado, "Aldeias de Tradição". Este

projeto de cooperação transnacional foi apresentado ao Parlamento Europeu em

Estrasburgo. (1998)

Esta ideia e sua implementação bem sucedida constituiu a base para a associação

Aldeias de Tradição com parceiros italianos, holandeses, e espanhóis e suecos como

observadores.

As Aldeias de Tradição fazem parte de um projecto do Programa de Iniciativa

Comunitária LEADER II que tem como objectivo criar uma rede de itinerários para a

promoção turística e valorização das tradições de áreas rurais típicas.

Em Portugal estas áreas fazem parte da ADRIL - Vale do Lima, ADRIMINHO - Vale

do Minho, e ATAHCA - Vale do Cávado. Em Itália incluem GAL de Partenio - Vale

Caudina, Alto Casertano, Terminio Cervialto, e Costiera Amalfitana. Nos Países Baixos

Lauwersland, Noordwest Friesland, Drenthe e Flevoland; e na Espanha (a Galícia),

ADIM, e na Suécia o GAL de Dalarna.

A qualidade do projecto baseia-se na criação de uma rede de "Aldeias Turísticas",

oferecendo a possibilidade de alojamento em casas de campo, seleccionadas entre as

áreas que ainda preservam um reconhecido perfil rural e um ambiente natural.

De acordo com os promotores do projecto, as "Aldeias de Tradição" terão que

representar a base para excedentes turísticos, também transnacional que deveria ser

comercializada através de um fluxo turístico externo destinado a turistas apaixonados

pela natureza, tradições e boa comida. A rede será comercializada tanto na Europa como

no resto do mundo.

É um "projeto piloto" que pretendeu organizar actividades relacionadas com produções

típicas e turismo num território rural pronto a receber uma estratégia de

desenvolvimento sustentável e integrada. Este tipo de estratégia baseia-se na

valorização desta produção para aumentar a procura global estimulando a curiosidade

do turista sobre os recursos do território.

Page 152: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

152

Os GALs italianos envolvidos no projeto constituíram uma Associação Nacional

chamada " Associação Italiana para o Desenvolvimento de Turismo Rural Integrado -I

Villagi della Tradizioni para promover este tipo de turismo, apoiar o seu

desenvolvimento, identificar e garantir a qualidade dos serviços/produtos.

A Associação terá ao seu cargo a definição de um programa, isto é um conjunto de

regras que visam caracterizar a qualidade dos serviços/produtos e a sua promoção. A

associação também criará uma marca de identificação que divulgará o produto

qualificará a oferta turística, protegendo o turista. Outra tarefa da Associação será o uso

correcto da marca, a promoção dos produtos típicos e a criação de pontos de vendas.

A Associação italiana, juntamente com a holandesa e a portuguesa formou um GEIE

(Grupo Europeu de Interesse Económico) para promover e administrar a rede de oferta

de turismo rural.

São vários os objectivos da cooperação transnacional, tais como:

• A promoção da qualidade oferta turística em aldeias tradicionais em áreas

diferentes

• A avaliação do potencial endógeno das regiões, isto é cultural e natural, que as

disponibiliza para a procura turística

• O apoio financeiro para a publicação de folhetos promovendo e desenvolvendo a

imagem do produto e a marca "Aldeias de Tradição"

• A transferência de experiência, intercâmbio de ideias e experiências para

contribuir para o funcionamento da rede,

• A promoção de produtos locais tradicionais, isto é de produtos alimentares e

artesanato, de acordo com os critérios comuns dos diferentes agentes

económicos,

• A troca desta perspectiva de desenvolvimento social e económico com outros

países da UE, compartilhando objectivos comuns

• A valorização, consolidação e promoção da cultura local e a melhoria da auto-

estima da população, enfrentando mentalidades novas e valores culturais novos

de um modo positivo,

Page 153: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

153

• A constituição de um Grupo Europeu de Interesse Económico

Este Grupo de Interesse Económico europeu foi constituído recentemente, durante o II

Europa Forum, realizado em Ponte de Lima, em Junho de 2000. Este Forum envolveu

não só todos os supracitados parceiros, mas também países de Mercosul (Brasil,

Uruguai, Argentina e Chile) visando desenvolver a cooperação transnacional. Foi

apreendido que a melhor forma de cooperar a nível local é envolver a cooperação

nacional e a melhor forma para desenvolver a cooperação nacional é através da

cooperação transnacional. Seguramente, o melhor modo para desenvolver a cooperação

transnacional é envolver outros continentes.

Assim, conscientes da importância do papel das comunidades e agentes locais no

processo de desenvolvimento do território, e tendo em mente o princípio de

sustentabilidade para protecção do ambiente e o crescimento económico com centrado

na responsabilidade social e na criação de emprego, podemos concluir que:

Há uma necessidade urgente de desenvolvimento económico que permita às

comunidades:

• Crescimento contínuo;

• Maximização de benefícios;

• Expansão de mercados;

• Internacionalização de recursos.

Há uma necessidade urgente de desenvolvimento social relativamente à:

• Satisfação de necessidades básicas;

• Promoção da auto-estima;

• Equidade do ambiente social.

Há uma necessidade urgente de desenvolvimento ambiental, no que se refere à:

• Capacidade dos territórios;

Page 154: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

154

• Manutenção dos recursos naturais e do património cultural;

• Reciclagem de recursos;

• Redução de desperdícios.

Assim, o Turismo em Áreas Rurais como um motor para desenvolvimento deve ser

apoiado e deve ser beneficiado com estratégias e regras que permitam por um lado o

crescimento económico e o desenvolvimento, e por outro lado, a preservação do

ambiente, do património, da natureza, da cultura e tradições, promovendo a capacidade

de organização e a participação, o alargamento da cooperação internacional e o

intercâmbio e a protecção de identidades socioculturais.

Estas entidades pretendem desenvolver uma cooperação institucional, técnica e

económica para implementar estratégias de qualidade inovadoras e elevadas de

desenvolvimento sustentável, visando experimentar novas formas de:

• Valorização do património natural e cultural;

• Reforço do ambiente económico orientado para o auto-apoio territorial e para o

aumento de oportunidades de emprego e melhoria da qualidade de vida;

• Reforço do tecido humano e social com capacidade de organização e

participação na vida da comunidade.

Sumário

A concentração dos indivíduos nas áreas urbanas aumentou a importância e o caracter

atractivo das áreas rurais. Mas turismo rural é mais do que turismo nas áreas rurais, pois

requer a provisão de infra-estruturas e características particulares. Cada área rural

apresenta padrões de desenvolvimento diferentes no que diz respeito ao turismo rural.

No Vale do Lima este desenvolvimento concentrou-se na recriação da vida rural a partir

do século XVII, acompanhado da implementação de infra-estruturas modernas.

O torna únicas as áreas rurais e de que forma promovem a identidade? Teremos que

recuar no tempo e pensar que as áreas rurais foram moldadas pelo ambiente envolvente,

sendo um produto da intervenção humana naquele ambiente de particular. As áreas

Page 155: Um Estudo de Caso do Vale do Lima (Portugal)

155

urbanas modernas apresentam mais semelhanças, uma vez que constituem um produto

global da acção humana. Porém, também podemos considerar que as cidades são mais

ricas em história do que as aldeias, como resultado da ocupação e determinação

humana, propriedade e uso da terra, e organização socio-político.

Claramente, as áreas rurais são muito diferentes do que eram apenas há uma geração

atrás, tal como a compreensão dos indivíduos e das instituições, no que diz respeito às

imagens e expectativas das áreas rurais. Algumas comunidades rurais beneficiam dos

programas de reestruturação, outras estão sujeitas às movimentações dos mercados dos

produtos agrícolas, outras possuem produtos ou serviços que melhoram ou

contrabalançam ciclos económicos. Considerando que o desenvolvimento das áreas

rurais apresenta um certo “flavour” Darwiniano,', deveríamos considerar até que ponto

crescimento económico, coesão social, e no final das contas, a sustentabilidade das

áreas rurais, entre outras coisas, será afectada pelas políticas do governo, uma vez que

só uma pequena parte desta política tem um caracter duradouro, e uma grande parte é

coordenada de forma pouco eficaz. Um cenário possível para o desenvolvimento das

áreas rurais é que tanto o crescimento, como os processos de desenvolvimento serão

dirigidos pela sobrevivência dos mais fortes num mercado desregulado de competição

entre vilas, cidades e regiões. Como as áreas rurais se alteram, a competição entre áreas

diversas necessariamente continuará. Neste mercado global desregulado e altamente

competitivo, onde a intervenção do governo central tem vindo a decrescer, algumas

regiões serão mais apropriadas ao desenvolvimento global e nacional, novas áreas

entrarão em ascensão e outras lutarão ou murcharão e morrerão. Geralmente, as áreas

rurais enfrentam um futuro mais incerto do que pobre. (Throughton, Hall e Jenkins:

1997).

Em conclusão, e considerando o caso específico do Vale do Lima, aquilo que conduziu

ao sucesso desta área particular foi determinação, muito trabalho e um compromisso e

convicção no valor e importância do património e ambiente e um desejo para manter e

compartilhar tudo isto com os outros, através do turismo, e de um modo semelhante

através da cooperação transnacional com outros parceiros que depressa se tornam

amigos.

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156

SIGLAS

AREV - Associação das Regiões Europeias Vitivinícolas

AURN - Associação das Universidades da Região Norte

ADRIL - Associação Desenvolvimento Rural Integrado do Lima

BIC - Business Innovation Center (Centro Internacional de Negócios)

CCRN – Comissão de Coordenação da Região Norte

CIENCIA - National Science, Investigation and Development

CE – Comissão Europeia

ECOS/ Overture

EDT – Eixos de Desenvolvimento Turístico

EU – União Europeia

FAO – Banco Alimentar das Nações Unidas

FEDER – Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional

I&D - Investigação e Desenvolvimento

NUT – Nomenclatura das Unidades Territoriais

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157

GAL – Grupo de Acção Local

LEADER- Ligação Entre Acções para o Desenvolvimento da Economia Rural

PAC- Política Agrícola Comum PAB - Política Agrícola Bruta

PDM - Plano Director Municipal

PEDAP- Programa Especifico de Desenvolvimento da Agricultura Portuguesa

PEDIP - Programa Específico de Desenvolvimento da Indústria Portuguesa

PNICIAP - Programa Nacional de Interesse Comunitário, de Incentivo à Actividade

Produtiva

PRODAC – Programa Operacional para o Desenvolvimento das Acessibilidades

PRODEP – Programa de Desenvolvimento Educativo Para Portugal

PRODIATEC – Programa Operacional de Infraestruturas Turísticas e Equipamentos

Culturais

PROFAP – Programa de Modernização da Administração Públicapara Portugal

PROTEDE – Programa Operacional para o Transporte e Distribuição de Energia

PROTER – Plano Regional de Ordenamento das Telecomunicações no Espaço Rural

REAT - Regiões Específicas de Aproveitamento Turístico

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158

RN- Região Norte

SIFIT – Sistema de Incentivos ao Investimento Financeiro Turístico

SIMC – Sistema de Incentivos à Modernização Comercial.

STAR - Community Programme of Advanced Services of Telecommunications

UNCED - United Nations Conference on Environment and Development (1992)

UNEP – Programa Ambiental das Nações Unidas