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3.6. O bairro da Ribeira na tica de seus usurios: um Estudo Imagtico

Para identificao das relaes manifestas entre os usurios do bairro da Ribeira e os elementos definidores da sua paisagem urbana, sendo esses componentes do patrimnio histrico ou no, tomou-se como instrumento de anlise os r

esultados de trabalhos desenvolvidos no campo da percepo ambiental para o bairro da Ribeira e para o rio Potengi especificamente. Estes trabalhos expressam uma apreenso do ambiente urbano a partir de uma leitura orientada metodologicamente pelos percursos tericos da Percepo Ambiental, que encontra referncia nos contornos metodolgicos propostos por LYNCH (1997), na abordagem perceptiva dos estudos de TUAN (1980) e nos trabalhos reunidos por DEL RIO (1996). Assim, o bairro da Ribeira e suas caractersticas e elementos mais significativos da sua paisagem, foram identificados a partir da expresso da imagem mental dos indivduos sobre o ambiente urbano investigado. O Rio Potengi, por sua vez, tambm foi identificado a partir da expresso da imagem pblica que, atravs de um certo contedo de induo nos procedimentos metodolgicos adotados, revelou a relao entre o rio e o modo de transporte hidrovirio com os usurios do lugar. Nesse sentido, embora se saiba que essas relaes inferem individualidades e variaes de percepo de indivduo para indivduo, os resultados expressam a imagem pblica e a memria coletiva do lugar, cujo valor qualitativo denota o carter da leitura realizada.

No mbito dos procedimentos que envolvem a metodologia adotada, foram realizadas, num carter exploratrio, entrevistas abertas com diferentes grupos de usurios, buscando identificar a imagem urbana coletiva e verificar os valores atribudos ao objeto investigado, articulando essa imagem com as atitudes de apropriao do lugar ali expressas.

No que se refere a percepo do bairro da Ribeira recorre-se a um trabalho elaborado no 9 perodo denominado A Ribeira Imagtica: um estudo sobre a imagem mental dos usurios do centro histrico que procurou explorar o lugar que os elementos componentes de um dos mais importantes cenrios da histria arquitetnica e urbanstica de Natal ocupam na imagem de um certo grupo de usurios do bairro. A pesquisa foi orientada por questionrios com perguntas subjetivas, elaboradas a partir de categorias de anlise.

Foram elaboradas as seguintes questes:

(1)Do que voc lembra quando pensa no bairro da Ribeira? Cite 03 caractersticas.

Categorias de anlise: Identidade e Significado.

(2) Quais edificaes voc considera mais importantes no bairro?

Categorias de anlise: Fisionomia e Elementos Marcantes.

(3) Acha importante conservar reas antigas da cidade? Por que?

Categorias de anlise: Preservao.

(4) Conhece alguma ao no sentido de preservar o bairro da Ribeira? O que acha?

Categorias de anlise: Responsabilidade

(5) Cite os bairros que limitam a Ribeira.

Categorias de anlise: Delimitao Espacial

(6) Por qual motivo frequenta o bairro?

Categorias de anlise: Utilidade

(7) Voc conhece os eventos Casa da Ribeira, Mundo mix, Largo da Rua Chile? O que acha?

Categoria de anlise: Conservao

(8) O que sugere para que o bairro seja utilizado nos horrios/dias que no tem expediente de trabalho?

Categoria de anlise: Proteo.

(9) O que diferencia a Ribeira dos demais bairros de Natal?

Categorias de anlise: valor afetivo, econmico, histrico, turstico e lazer.Foram aplicadas entrevistas em trs grupos de usurios do bairro: os que apenas trabalham na Ribeira (os trabalhadores, 43%), os moradores (26%) e os transeuntes (31%), que frequentam o bairro por algum motivo que no esteja relacionado ao seu local de trabalho ou moradia.

Com relao aos resultados da pesquisa, destacam-se as consideraes seguintes.

Entre as respostas mais freqentes, 31% apontam o significado histrico como uma das principais caractersticas do bairro. Outras destacam a predominncia da atividade comercial e o abandono provocado pelo esvaziamento populacional.

Entre os elementos e edificaes mais significativas da paisagem expressos na imagem dos entrevistados esto: o antigo Palcio do Governo, o Teatro Alberto Maranho e seu entorno, o antigo Grande Hotel, o casario da rua Chile, a edificao do Teatro Casa da Ribeira, as edificaes da Rua Frei Miguelinho (FOTO 27), a antiga Estao Ferroviria, o prdio da Secretaria da Fazenda, o prdio do INSS ( FOTO 28) e o prdio da Rodoviria Velha (FOTO 11).

Outras edificaes importantes tambm foram citadas, embora por um nmero menor dos entrevistados. Algumas no esto localizadas no bairro, mas aparecem na imagem das pessoas pela sua proximidade com o bairro e pelas suas caractersticas histricas, como o caso da Capitania das Artes (FOTO 29), citada por trs pessoas, e o Solar Bela Vista. Ambas situam-se na Av. Junqueira Aires, no chamado corredor cultural do bairro da Cidade Alta.

Entre todas as citaes, os elementos que mais se destacam e aqui classificados como marcos principais do bairro da Ribeira so: o Teatro Alberto Maranho (14% das respostas), o antigo Grande Hotel (12%), o casario da Rua Chile (10%) e o antigo Palcio do Governo (9% das respostas).

As atividades dominantes no dia-a-dia do bairro esto ligadas ao trabalho (49% das respostas) e aos eventos culturais e shows na Rua Chile (29%).

Quanto s vias mais utilizadas para a realizao das atividades citadas, destacam-se nas respostas a Avenida Duque de Caxias, a Tavares de Lira, a Rua Chile e a rua Frei Miguelinho, consideradas, portanto, as ruas mais visveis na memria dos usurios abordados. Destacam-se ainda, a Avenida Rio Branco e a Avenida Junqueira Aires (Corredor Cultural), como principais eixos de ligao com o bairro da Cidade Alta, e ainda, a Rua Cordeiro de Farias, que liga a Ribeira ao bairro de Petrpolis. Vale destacar que essas vias estabelecem a conexo entre a rea de estudo, onde esto os terminais de transporte coletivo, e outras partes do bairro e da cidade. Alm dos elementos at aqui abordados, algumas reas do bairro que foram destacadas podem ser identificadas como ns ou zonas (setores), definindo lugares particularmente significativos para os entrevistados. Destacam-se, ento, o Largo da Rua Chile; a praa da feira das Rocas (limite com o bairro das Rocas); o Cais da Tavares de Lira; a Praa da Igreja Bom Jesus; alm da Rodoviria Velha e seu entorno, que se integra com a praa Augusto Severo e Teatro Alberto Maranho.

No que se refere aos limites fsicos do bairro criados na imagem dos usurios abordados, esses nem sempre coincidem com o estabelecido pela diviso administrativa do municpio. Apesar das variaes, a maioria dos respondentes identificou com clareza os limites com os bairros vizinhos, quais sejam: Rocas e Santos Reis (Leste), Cidade Alta (oeste), Petrpolis (Sul) e Rio Potengi (Norte).

A identificao da imagem coletiva sobre o bairro da Ribeira refora o papel que o mesmo desempenha como lugar de lazer e trabalho, tendo sido essas caractersticas fortemente ressaltadas pelos usurios abordados e, portanto, definidas como a imagem mais visvel do lugar. Destacam-se o largo que envolve o Teatro Alberto Maranho e seu entorno, o casario e o largo da rua Chile, o largo da Igreja Bom Jesus e o Cais da Tavares de Lira. Destacam-se ainda as vias mais citadas, cuja representao na memria coletiva indica seu significado e importncia na configurao do espao urbano investigado e no seu papel como eixos de ligao entre a Ribeira e os bairros vizinhos.

No que se refere compreenso da paisagem a partir da percepo dos usurios sobre o rio Potengi, e da relao deste com o transporte hidrovirio, foi realizada uma pesquisa com um grupo diversificado de pessoas, priorizando grupos de indivduos mais envolvidos com o objeto do estudo. Assim, foram definidos, numa amostragem piloto aleatria, quatro grupos de indivduos, envolvendo um total de 54 pessoas: (01) um grupo definido por profissionais que trabalham com a problemtica ambiental ou projetos envolvendo o rio Potengi, (02) um grupo definido por usurios (pescadores, moradores das redondezas ou visitantes) diretos do Canto do Mangue, no bairro das Rocas; (03)um terceiro grupo formado por freqentadores do Cais da Tavares de Lira, no bairro da Ribeira e (04) um quarto grupo definido pelos usurios (trabalhadores e freqentadores) do Mercado Central do Bairro da Redinha. Os resultados desse estudo compreendem uma das fases da pesquisa Paisagem, Percepo e Preservao: uma leitura do Patrimnio Paisagstico do Municpio de Natal RN, vinculada Base de Pesquisa Estudos do Habitat, do Departamento de Arquitetura da UFRN e coordenada pela professora Ruth Atade.

De acordo com o estudo apresentado, o perfil dos entrevistados caracteriza-se por pessoas de diversas faixas etrias e classes sociais e predominantemente do sexo masculino (66,7%). So, em sua maioria, pessoas da fase adulta e atuantes no mercado de trabalho, dos quais 22,2% so pescadores, tendo o rio como fonte de subsistncia; 13% so professores; 9,3% funcionrios pblicos; 7,4% estudantes e, no maior percentual (44,7%) esto os profissionais liberais, comerciantes, ou donas de casa.

O procedimento metodolgico adotado diferencia-se do apresentado anteriormente para o bairro da Ribeira, pelo carter indutivo das perguntas como instrumentos de anlise. Assim, as entrevistas foram orientadas por questes que provocavam o entrevistado sobre o rio Potengi, procurando identificar os vnculos daquele com o rio. Para isso, as questes levavam os entrevistados a refletirem sobre o lugar que o Potengi ocupa na paisagem. Questes objetivando identificar como se manifestavam as relaes e expectativas dos usurios em relao ao modo de transporte hidrovirio existente ou em projeto para a cidade compuseram um segundo momento nas entrevistas realizadas.

Dos resultados, so cabveis de significado e apresentao para o objeto de estudo em desenvolvimento as seguintes consideraes:

A maioria dos entrevistados, num percentual de 50%, usa o rio Potengi em atividades relacionadas ao trabalho. No segundo patamar, (24,1%) esto aqueles que o utilizam apenas para passagem, seja em atividades ligadas ao lazer, pesquisa cientfica ou, simplesmente, travessia do rio.

No que se refere freqncia com que o rio utilizado nas atividades acima descritas, percebe-se uma notvel variao, predominando, contudo a assiduidade dos frequentadores: 35,2% dos usurios esto ali diariamente; 18,5% semanalmente, e, no mesmo percentual (18,5%) os que freqentam apenas anualmente.

J dos resultados mais especficos quanto percepo das pessoas em relao aos servios de transporte hidrovirio existente, vale destacar:

a- a balsa de automveis, ou ferry boats, foi indicada como a modalidade de transporte hidrovirio mais utilizada pelos entrevistados (42,7%). 27,8% destes apontaram a embarcao prpria como a modalidade mais utilizada e 16,7% disseram fazer uso de outro tipo de transporte que no o hidrovirio.

b- Quanto qualidade dos servios oferecidos, 51,9% dos entrevistados a caracterizou como ruim; 29,6% bom; 5,6% razovel e 13% no souberam ou no quiseram responder.

interessante ressaltar que das pessoas que utilizam o rio diariamente, das quais espera-se que a qualidade do servio possa ser avaliada com mais freqncia e preciso, 63,2% acham ruim o transporte hidrovirio e 31,6% acham bom. (MEDEIROS, et al, 2001)

c- Com relao s sugestes apontadas para a melhoria do sistema, predominam aquelas ligadas estrutura das embarcaes (conforto, segurana, conservao, modernizao). O transporte hidrovirio de passageiros (atualmente suspenso) deve reativar oficialmente suas atividades para 18,5% dos entrevistados. Outras sugestes foram feitas, envolvendo questionamentos sobre as tarifas, a qualificao dos funcionrios, ou os horrios das balsas.

d- Os valores paisagsticos inerentes ao Rio Potengi tambm foram evidenciados na percepo ambiental dos usurios abordados. 90,7% dos entrevistados indicaram o potencial da qualidade paisagstica e ambiental do rio como um atributo que deve ser explorado tanto no vis do mercado turstico como pela e para prpria populao. No entanto, dada sua aparncia e condio atual, 22% dos entrevistados relacionam o rio a valores negativos, expressos na lembrana ligada poluio, sujeira, favelizao. 37%, porm, mostraram guardar tambm, uma imagem positiva do mesmo, seja pela sua beleza natural imersa num singular conjunto edificado, ou pelas particularidades nas atividades que caracterizam o movimento de pessoas em seu entorno.

A contribuio dos resultados apresentados como parte do desenvolvimento do objeto de estudo encontra fundamento medida que, conforme apresenta FERRARA (1988), a percepo e leitura do ambiente urbano, como instrumento de sua interpretao, so capazes de trazer para a ao sobre a cidade parmetros reais do significado do espao para o usurio.

Assim, a leitura do ambiente investigado (o bairro da Ribeira e o Rio Potengi) atravs dos contornos metodolgicos da Percepo Ambiental deve sinalizar algumas medidas de interveno, fsica ou mesmo a nvel de diretrizes para o uso e ocupao, que colocam os pensamentos, desejos, escolhas e anseios dos usurios como uma das vertentes de concepo do projeto.

O carter de lazer cultural, trabalho e valor histrico como imagem mais visvel do lugar refora a particularidade funcional do bairro da Ribeira , orientando para o desenvolvimento de projetos capazes de qualificar essas atividades no contexto urbano local. O Teatro Alberto Maranho e seu entorno, a Rua Chile, o Largo da Capela da Igreja Bom Jesus e o Cais da Tavares de Lira identificados como lugares mais ressaltados pelos usurios podem ser compreendidos como as reas centrais do bairro e que mantm forte articulao com os bairros vizinhos e outras reas da cidade atravs das atividades que desempenham e acolhem. So essas as reas foco dos projetos de interveno.

J em relao ao Rio Potengi, a imagem mais visvel caracteriza-se nos seguintes aspectos: na beleza paisagstica e valor ambiental inegveis, no particular carter funcional ligado s atividades porturias e de pesca, e no potencial sub-utilizado para o modo do transporte hidrovirio de passageiros. A manifestao dessa imagem, expressa em dados quantitativos e num enfoque de anlise qualitativa, sinaliza a necessidade de projetos que descortinem o rio Potengi, garantindo sua importncia paisagstica no conjunto urbano e inserindo-o mais efetivamente na dinmica urbana do lugar.

Vale ressaltar que os estudos perceptivos devem ser correlacionados a outras metodologias de apreenso do espao urbano, aqui caracterizadas na anlise morfolgica do ambiente investigado.

FOTO 27 Casario da Rua Frei Miguelinho e o Teatro Casa da Ribeira.

FONTE: Miz Dias, 2001.

FOTO 28 Prdio INSS/ Ribeira.

FONTE: Miz Dias, 2001.

FOTO 29 Capitania das Artes Avenida Junqueira Aires.

FONTE: Miz Dias, 2001.

UM ESPAO MULTIMODAL

NO BAIRRO DA RIBEIRAMIZ CILAYNE FERNANDES DIAS ............................................................ TRABALHO FINAL DE GRADUAO