um curso de c´alculo - parte 2 (at´e a p´ag....
TRANSCRIPT
Um Curso de Calculo - Parte 2
(ate a pag. 42)
por Luıs Gustavo Doninelli Mendes12
1Professor Adjunto do Departamento de Matematica da UFRGS2A Parte 2 cobre a Segunda Area de MAT 01109. Esta Versao ainda vai receber
adicoes, da pag. 42 em diante, por isso sugiro nao imprimı-la ainda.
Indice da Parte 2
Capıtulo 1. Derivadas de seno e cosseno e as leis de Hooke 51. O cosseno como derivada do seno 52. Leis de Hooke com e sem atrito 7
Capıtulo 2. Inducao Matematica e a derivada de xn, ∀n ∈ N. 111. Princıpio de inducao matematica 112. Derivada do Produto 133. Derivadas de x−n, ∀n ∈ N 14
Capıtulo 3. Derivada da composicao de funcoes 151. Regra da composta ou da cadeia 152. A Derivada do quociente 19
Capıtulo 4. Funcoes inversas e suas derivadas 211. Derivada de y =
√x 22
2. Derivada da “funcao”x1
n , de xmn e de x
−mn 23
3. Derivada do arcoseno 244. Derivada do arcotangente 265. Existe uma funcao f 6≡ 0 que seja imune a derivacao ? 28
Capıtulo 5. Integracao, Primeiro Teorema Fundamental,logaritmo e e exponencial 31
1. Primeira Versao do Primeiro Teorema fundamental doCalculo 35
2. Integral e o Primeiro Teorema fundamental 373. Logaritmo natural e sua inversa, a exponencial 394. ln(x
mn ) = m
n· ln(x) 39
Capıtulo 6. Calculo de areas via o Segundo Teorema Fundamental 411. Segundo Teorema Fundamental do Calculo 412. Regioes ilimitadas com area finita 423. Series harmonica, k-harmonicas e geometrica 424. Integracao por partes 42
Capıtulo 7. A exponencial, sua equacao diferencial e aplicacoes 431. Propriedades da exponencial 432. Sequencias que tendem a e 433. Juros compostos discreta e continuamente 43
3
4 INDICE DA PARTE 2
4. A equacao diferencial do decaimento radioativo - idade defosseis, rochas, esqueletos 43
Capıtulo 8. Aplicacao a biologia: O expoente 3/4 rege a vida 45
CAPıTULO 1
Derivadas de seno e cosseno e as leis de Hooke
1. O cosseno como derivada do seno
Como em toda boa novela, no final descobrimos que fulano e filho debeltrano (quase sempre seu inimigo ...). Nesta Secao vamos descobrirque o cosseno e derivada do seno !
A derivada do seno em θ = 0 foi vista: sin′(0) = 1 (Secao 5 doCapıtulo 5 da Parte 1).
Ou seja, sin′(0) = cos(0). Sera que isso e uma coincidencia apenas?Ou sera que sin′(θ) = cos(θ), ∀θ ∈ R ?
Vamos por um grafico abaixo do outro e ver se sao os graficos saocoerentes com o que aprendemos no Capıtulo 7 da Parte 1, sobre comoa derivada determina o comportamento de uma funcao.
1
0
0,5
-0,5
-1
x
653 420 1
Figura: O grafico de y = sin(θ) (vermelho) e y = cos(θ) (verde) para θ ∈ [0, 2π].
Observe que:
• em θ = π2≈ 1.6 o seno tem seu maximo e nesse ponto θ = π
2o
cosseno se anula, passando de positivo para negativo.• em θ = π ≈ 3.1 o cosseno tem seu mınimo −1 e nesse ponto
θ = π a inclinacao do grafico do seno parece ser −1. Ademais,as inclinacoes do grafico do seno vinham ficando mais negativasdesde π
2e a partir de θ = π vao ficando menos negativas.
• em θ = 3π2
≈ 4.7 o cosseno se anula, passando de negativo apositivo e em θ = 3π
2o seno tem seu mınimo.
• por ultimo, onde o cosseno e positivo (negativo) o seno e cres-cente (decrescente).
5
1. O COSSENO COMO DERIVADA DO SENO 6
Todas essas observacoes sao coerentes com o que aprendemos nofinal da Parte 1 e de fato:
Afirmacao 1.1.
sin′(θ) = cos(θ), ∀θ ∈ R.
Demonstracao.
Comeco com a definicao de derivada em algum θ0 fixado e uso depoisa formula de seno de uma soma:
sin′(θ0) = limθ→0
sin(θ0 + θ) − sin(θ0)
θ=
= limθ→0
sin(θ0) cos(θ) + cos(θ0) sin(θ) − sin(θ0)
θ.
Para poder continuar, agora vou usar o limite
limθ→0
sin(θ)
θ= 1
provado na Secao 5 do Capıtulo 5 da Parte 1 e um limite tao funda-mental quanto este:
limθ→0
cos(θ) − 1
θ= 0,
cuja prova omito por brevidade.Entao as propriedades de limites de somas e produtos (Secao 4 do
Capıtulo 3 da Parte 1) permitem que re-escreva o de acima como:
sin′(θ0) = limθ→0
[sin(θ0) ·(cos(θ) − 1)
θ+ cos(θ0) ·
sin(θ)
θ] =
= sin(θ0) · limθ→0
(cos(θ) − 1)
θ+ cos(θ0) · lim
θ→0
sin(θ)
θ=
= sin(θ0) · 0 + cos(θ0) · 1 = cos(θ0),
como querıamos. �
Um complemento:A Figura a seguir exibe os graficos de
f1(θ) =sin(θ)
θ, para θ 6= 0 e f1(0) := 1
e de
f2(θ) =cos(θ) − 1
θ, para θ 6= 0 e f2(0) := 0
CAPITULO 1. DERIVADAS DE SENO E COSSENO E AS LEIS
DE HOOKE 7(note que defino separadamente os valores para θ = 0, para que asfuncoes resultantes sejam contınuas).
0,8
0
0,4
2-0,4
x
31-1 0-2-3
Figura: O graficos de y = f1(θ) (vermelho) e y = f2(θ) (verde) para θ ∈ [−π, π].
Afirmacao 1.2.
cos′(θ) = − sin(θ), ∀θ ∈ R.
Demonstracao. Seguindo as mesmas etapas da prova anterior,obtemos:
cos′(θ0) = limθ→0
cos(θ0 + θ) − cos(θ0)
θ=
= limθ→0
cos(θ0) cos(θ) − sin(θ0) sin(θ) − cos(θ0)
θ=
= cos(θ0) · limθ→0
(cos(θ) − 1)
θ− sin(θ0) · lim
θ→0
sin(θ)
θ=
= cos(θ0) · 0 − sin(θ0) · 1 = − sin(θ0).
como querıamos. �
2. Leis de Hooke com e sem atrito
A lei de Hooke diz que a forca que um objeto sofre quando se esticauma mola presa a ele e do tipo
F = −kf(x)
onde k > 0 e uma constante e f(x) e a posicao do objeto (veja a Figuraa seguir). O sinal negativo significa que a forca e no sentido oposto dodeslocamento. Se ignora o atrito entre o objeto e a superfıcie nessaformulacao da lei.
2. LEIS DE HOOKE COM E SEM ATRITO 8
F
Se tomamos a forca F como sendo o produto de massa m pelaaceleracao f ′′(x) entao a lei de Hooke e da forma
mf ′′(x) = −kf(x).
Para simplificar facamos m = k = 1. Entao
Afirmacao 1.3. As funcoes f(x) = a · cos(x) + b sin(x) satifazema lei f ′′(x) = −f(x), ∀x ∈ R. Ademais sao periodicas de perıodo 2π etem f(0) = a e f ′(0) = b.
Demonstracao. Como o seno e o cosseno tem perıodo 2π essasfuncoes tambem tem esse perıodo. Pela derivada da soma e de seno ecosseno, obtemos
f ′′(x) = (f ′(x))′ = (a(− sin(x)) + b cos(x))′ =
= −a cos(x) − b sin(x) = −f(x).
Ademais, f(0) = acos(0) = a e f ′(0) = b cos(0) = b.�
Se pode provar que essas sao as unicas funcoes satisfazendo f ′′(x) =−f(x) ∀x e f(0) = a e f ′(0) = b. Portanto, na ausencia de atrito, aposicao f(0) e a velocidade inicial f ′(0) determinam que o objeto oscilepara para sempre.
Na figura a seguir note que nao so a posicao f(0) e relevante, masque tambem a inclinacao f ′(0) determina o tipo de oscilacao que havera.
-2
2
1
-1
0
x
6210 4 53
Figura: Graficos de y = a sin(θ) + b cos(θ) para alguns a, b e θ ∈ [0, 2π].
CAPITULO 1. DERIVADAS DE SENO E COSSENO E AS LEIS
DE HOOKE 9
Claro que na realidade fısica sempre ha algum atrito entre o objetoe a superfıcie e sabemos que com o tempo o objeto para. Uma lei deHooke mais realista levaria em conta o atrito que surge com o desloca-mento do objeto, ou seja, dependente da velocidade f ′(x) do objeto eseria do tipo
f ′′(x) = −f(x) − kf ′(x).
Na Figura a seguir ponho uma funcao satisfazendo f ′′(x) = −f(x) aolado de uma funcao satisfazendo f ′′(x) = −f(x) − 0.1 · f ′(x). Umafuncao deste ultimo tipo envolve senos e cossenos e a funcao exponen-cial, que veremos mais adiante.
0,5
1
0
-1
-0,5
x
353025150 10 205
Figura: Funcoes satisfazendo a lei de Hooke sem atrito (vermelho) e com atrito (verde).
E se o atrito for maior, por exemplo, em f ′′(x) = −f(x)−0.3 ·f ′(x),entao nesse caso o objeto vai parar bem mais rapido, como na Figuraa seguir:
1
0
0,5
-0,5
-1
x
0 355 3010 15 2520
Figura: Funcoes satisfazendo a lei de Hooke sem atrito (vermelho) e com muito atrito (verde).
CAPıTULO 2
Inducao Matematica e a derivada de xn, ∀n ∈ N.
Ja vimos na Primeira parte do Curso que a derivada de f(x) = 1 =x0 e f ′(x) = 0, que a de f(x) = x = x1 e f ′(x) = 1 = 1x0, que a def(x) = x2 e f ′(x) = 2x1 e ate mesmo que a de f(x) = x4 e f ′(x) = 4x3.
Ou seja, nos sentimos motivados a conjecturar que ∀n ∈ N, f(x) =xn tem f ′(x) = nxn−1.
Como podemos provar isso, se nao podemos percorrer todos os Nat-urais ? Isso se faz atraves do princıpio de inducao matematica.
1. Princıpio de inducao matematica
Em geral a palavra inducao e usada nas ciencias experimentaispara referir ao processo pelo qual alguem tenta concluir apos um certonumero de evidencias que certo fenomeno valera sempre (ou qual aprobabilidade disso ocorrer).
Ja em matematica o significado e o seguinte: quando queremosprovar uma certa propriedade para todo n ∈ N, o que fazemos e:
• prova-la para n = 1,• supo-la valida ate n − 1 e• prova-la para o proximo natural, ou seja, para n.
(A etapa em que supomos a propriedade valida ate n − 1 e chamadade hipotese de inducao).
Se conseguimos fazer essa ultıma etapa, a propriedade vale paratodo n ∈ N. A validade deste princıpio esta ligada a propria natureza(axiomas) dos numeros Naturais.
Vejamos tres exemplos bonitos, que serao uteis mais adiante naSecao sobre Areas sob graficos:
Afirmacao 2.1. ∀n ∈ N:i) 1 + 2 + . . . + (n − 1) + n = (n+1)·n
2.
ii) (1 + 2 + . . . + (n − 1) + n)2 = 13 + 23 + . . . + (n − 1)3 + n3.
iii) 12 + 22 + . . . + n2 = n(n+1)(2n+1)6
Demonstracao.
Prova de i): Para n = 1 a formula diz simplesmente 1 = 2·12
o quee obvio.
A hipotese de inducao e
1 + 2 + . . . + (n − 1) =((n − 1) + 1) · (n − 1)
2=
n(n − 1)
2.
11
1. PRINCIPIO DE INDUCAO MATEMATICA 12
De agora em diante temos que fazer algo para mostrar quanto vale1 + 2 + . . . + (n − 1) + n. Ora
1 + 2 + . . . + (n − 1) + n = (1 + 2 + . . . + (n − 1)) + n =
=n(n − 1)
2+ n =
n(n − 1) + 2n
2=
=(n + 1) · n
2,
como querıamos.Prova de ii): Para n = 1 a formula diz simplesmente que 12 = 13 o
que e obvio. Faco a hipotese de inducao:
(1 + 2 + . . . + (n− 2) + (n− 1))2 = 13 + 23 + . . . + (n− 2)3 + (n− 1)3,
e quero saber se vale tambem:
(1 + 2 + . . . + (n − 1) + n)2 = 13 + 23 + . . . + (n − 1)3 + n3.
Agora vamos ter que fazer algo, trabalhar um pouco. Escrevo pelobinomio:
(1+2+. . .+(n−1)+n)2 = (1+2+. . .+(n−1))2+2·(1+2+. . .+(n−1))·n+n2
e para continuar uso a hipotese de inducao:
(1+2+. . .+(n−1)+n)2 = 13+23+. . .+(n−1)3+2·(1+2+. . .+(n−1))·n+n2.
Para terminar onde gostaria, preciso ver que
2 · (1 + 2 + . . . + (n − 1)) · n + n2 = n3.
Mas posso usar a parte i) ja provada para qualquer n, mesmo que daforma n − 1, obtendo:
(1 + 2 + . . . + (n − 1)) =n · (n − 1)
2,
e portanto:
2 · (1 + 2 + . . . + (n − 1)) · n + n2 = (n · (n − 1)) · n + n2 =
= n3,
como precisavamos.
Prova de iii): para n = 1 a formula esta correta 1 = 1(1+1)(2+1)6
.suponha valida ate n − 1 e faco:
12 + 22 + . . . (n − 1)2 + n2 =(n − 1)(n − 1 + 1)(2n − 2 + 1)
6+ n2 =
=2n3 − 3n2 + n
6+ n2 =
=2n3 − 3n2 + n + 6n2
6=
2n3 + 3n2 + n
6=
n(n + 1)(2n + 1)
6,
como querıamos.
CAPITULO 2. INDUCAO MATEMATICA E A DERIVADA DE
XN , ∀N ∈ N. 13
�
2. Derivada do Produto
Voltemos ao problema original: como derivar f(x) = xn ? Paran = 1 ja sabemos que a formula x′ = 1x0 esta ok.
Gostariamos de supor a formula ate n− 1 e prova-la entao para n,de acordo com o princıpio de inducao.
Mas quando escrevo xn e tento relaciona-lo com xn−1 so consigoimaginar a seguinte relacao:
xn = x · xn−1.
Quando for derivar o lado esquerdo dessa expressao terei que derivar,no lado direito, um produto de funcoes.
Como faze-lo ? Certamente a derivada do produto nao e o produtodas derivadas, pois (x2)′ 6= x′ · x′ = 1 · 1.
Por isso precisamos de:
Teorema 2.1. Sejam f(x) e g(x) duas funcoes derivaveis commesmo domınio de definicao. Entao a funcao produto (f · g)(x) :=f(x) · g(x) tambem e derivavel e
(f · g)′(x) := f ′(x) · g(x) + f(x) · g′(x).
Demonstracao.
Seja x e considere a definicao de derivada:
(f · g)′(x) = limh→0
f(x + h)g(x + h) − f(x)g(x)
h.
Agora vou fazer um truque, para fazer aparecer f ′(x) e g′(x) nessaestoria. Escrevo
f(x + h)g(x + h) − f(x)g(x) =
= f(x + h)g(x + h)−f(x)g(x + h) + f(x)g(x + h)︸ ︷︷ ︸
0
−f(x)g(x) =
= (f(x + h) − f(x)) · g(x + h) + f(x) · (g(x + h) − g(x)).
Portanto atraves deste truque obtemos que
(f ·g)′(x) = limh→0
[(f(x + h) − f(x))
h·g(x+h)+f(x)
(g(x + h) − g(x))
h].
Mas limh→0 g(x + h) = g(x) pela continuidade de g e
limh→0
f(x + h) − f(x)
h= f ′(x) e lim
h→0
g(x + h) − g(x)
h= g′(x),
portanto juntando isso (e lembrando que o produto de limites e o limitedo produto):
(f · g)′(x) = f ′(x)g(x) + f(x)g′(x)
3. DERIVADAS DE X−N , ∀N ∈ N 14
�
Agora estamos em condicoes de terminar a prova de que
(xn)′ = nxn−1.
Pra n = 1 vale, suponho valida ate n − 1.Escrevo xn = x · xn−1 e aplico o teorema da derivada do produto:
(x · xn−1)′ = 1 · xn−1 + x · (xn−1)′=
= xn−1 + x · (n − 1) · xn−1−1 =
= xn−1 + (n − 1) · xn−1 =
= n · xn−1.
3. Derivadas de x−n, ∀n ∈ N
Se define x−n := 1xn , ∀n ∈ N, onde claramente x 6= 0.
Com essa definicao se obtem:
x−n · xn =1
n· n = 1
e portanto x−n · xn = xn−n.Queremos derivar essas funcoes x−n, e novamente o faremos via a
inducao matematica.Vimos a derivada de f(x) = x−1 = 1
x, x 6= 0 diretamente pela
definicao, na Parte 1 deste Curso. Como um Exercıcio, vejamos agoracomo re-obter a derivada de x−1 = 1
xusando a regra da derivada do
produto.Escrevo a identidade para x 6= 0:
1 = x−1 · xe derivo. A esquerda na identidade obtenho 0 e a direita a regra doproduto da:
0 = (x−1)′ · x + x−1 · 1,ou seja (x−1)′ = − 1
x2 = −x−2.Ou seja, que vale (x−1)′ = −1 · x−1−1.Suponha provada a formula ate n − 1 > 1: ou seja, que a derivada
de x−(n−1) e
−(n − 1) · x−(n−1)−1 = −(n − 1) · x−n.
Entao escrevo x−n = x−(n−1) · x−1 e pela derivada do produto:
(x−n)′ = (x−(n−1))′ · x−1 + x−(n−1) · (−x−2) =
= −(n − 1) · x−n · x−1 − x−(n−1)−2 =
= −(n − 1) · x−n−1 − x−n−1 = −n · x−n−1,
como querıamos.
CAPıTULO 3
Derivada da composicao de funcoes
A composicao de funcoes simples produzindo funcoes complicadase o analogo matematico da composicao de processos simples que pro-duzem efeitos complicados na natureza, nas reacoes quımicas, nos pro-cessos biologicos, etc.
Daı a importancia de sabermos derivar composicoes.
1. Regra da composta ou da cadeia
A palavra que costuma se usar regra cadeia poderia ser substituıdapelo sinonimo regra da corrente, pois uma corrente e algo feito de elossimples.
A regra de derivacao da funcao composta combina as derivadas decada constituinte da corrente de um modo bem determinado, comoveremos.
Antes de enuncia-la em geral, considero algumas composicoes es-pecıficas, que nos ajudarao a entender a regra geral.
Considere as funcoes fn(x) := n·x, com n ∈ N fixado, g(x) = sin(x)e as compostas (g◦fn)(x) = sin( n·x ). Suponha que fazemos a restricaog : [0, 2π] → R. Entao quando x percorre [0, 2π] o parametro z := n · xpercorre n vezes esse intervalo. Ou seja que o grafico da a funcaosin( n · x ) e formado por n copias do grafico do seno, claro que maiscomprimidas. Abaixo pot o seno e sin(3x):
1
0
x
0,5
621 53
-1
-0,540
Figura: Grafico de y = sin(x) (vermelho) e de y = sin(3x) (verde) para x ∈ [0, 2pi].Como vimos na Parte 1 deste Curso o cosseno e a derivada do seno:
onde o cosseno e positivo (negativo) o seno e crescente (decrescente),onde o cosseno se anula o seno tem seus maximos ou mınimos, etc. Ora,
15
1. REGRA DA COMPOSTA OU DA CADEIA 16
a funcao cos(nx) satisfaz qualitativamente todas essas exigencias, ouseja, se comporta qualitativamente como se fosse a derivada de sin(nx).Ou seja, como fizemos na Parte 1 deste curso, onde os graficos de f ′ ef eram corretos apenas qualitativamente.
Veja isso na proxima Figura, com n = 3:
1
0
0,5
-0,5
x
21,50,5 10
-1
Figura: Grafico de y = sin(3x) (vermelho) e de y = cos(3x) (verde) para x ∈ [0, 2π].
Mas o que esta Figura nao tem de quantitativamente correto e ofato de que para que sin(3x) faca 3 vezes o que o seno usual faz quandox percorre [0, 2π], sin(3x) tem que ser mais rapido que o seno usual.Ou seja, em cada ponto as inclinacoes das tangentes de sin(3x) saomaiores que as do seno usual. Quanto maiores? Exatamente 3 vezesmaiores.
Por isso a derivada de sin(3x) quantitativamente correta nao ecos(3x) mas sim:
sin(3x)′ = 3 cos(3x)
e mais em geral:
sin(nx)′ = n cos(nx)
Mostro isso na Figura a seguir:
3
1
-3
2
0
-2
-1x
1,510,50 2
Figura: Grafico de y = sin(3x) (vermelho) e de sua derivada (verde) para x ∈ [0, 2pi].Agora consider uma outra composicao: f(x) = x2 e g(x) = sin(x),
ou seja (g ◦ f)(x) = sin(x2). A diferenca para o exemplo anterior,sin(3x) e que a medida que x se aproxima de 2π x2 cresce cada vezmais rapido e a funcao sin(x2) faz aquilo que o seno faz em cada vezmenores intervalos, como mostra a figura a seguir:
CAPITULO 3. DERIVADA DA COMPOSICAO DE FUNCOES 17
1
0
0,5
6-0,5 x
53 4
-1
0 1 2
Figura: Grafico de y = sin(x) (vermelho) e de y = sin(x2) (verde) para x ∈ [0, 2pi].Qualitativamente falando, cos(x2) se comporta como esperamos da
derivada de sin(x2):
1
0
0,5
6-0,5 x
53
-1
0 1 2 4
Figura: Grafico de y = sin(x2) (vermelho) e de y = cos(x2) (verde) para x ∈ [0, 2π].
De novo, o que esta quantitativamente errado: as inclinacoes dografico de y = sin(x2) estao ficando cada vez maiores quando x seaproxima de 2π. De quanto precisamos multiplicar a funcao qualitati-vamente correta da derivada para termos uma funcao quntitativamenteexata da derivada ? A resposta como vermos e: precisamos multiplicarpela funcao 2x ! Ou seja, para cada x > 0 a correcao muda nesteexemplo:
A Figura a seguir superpoe os graficos y = sin(x2) e de sua derivada,que veremos e cos(x2) · 2x, e, ademais da os graficos de y = 2x ey = −2x. Essas retas passam pelos pontos de maximo e mınimo locaisda derivada.
1. REGRA DA COMPOSTA OU DA CADEIA 18
10
0
5
-5
-10
x
630 21 54
Figura: y = sin(x2) (vermelho), sua derivada (verde), y = 2x e y = −2x, para x ∈ [0, 2pi].O Teorema a seguir generaliza essas observacoes:
Teorema 3.1. Sejam f : I → J e g : K → L funcoes definidas emintervalos, com a imagem J de f contida no domınio K de g, J ⊂ K.Se f e g sao serivaveis entao a funcao composta (g ◦ f) : I → L,definida por (g ◦ f)(x) := g(f(x)) tambem e derivavel e ademais:
(g ◦ f)′(x) = g′(f(x)) · f ′(x).
A prova e tecnica, prefiro tirar consequencias.A primeira consequencia e que se pode derivar um numero qualquer
de composicoes. Por exemplo, para tres funcoes podemos afirmar:
Afirmacao 3.1. Sejam f : I → J , g : K → L e h : M → N , comJ ⊂ K e L ⊂ M . Se f, g, h sao derivaveis, entao a funcao composta(h ◦ g ◦ f) : I → L, definida por (h ◦ g ◦ f)(x) := h(g(f(x))) e derivavele ademais:
(h ◦ g ◦ f)′(x) = h′(g(f(x))) · g′(f(x)) · f ′(x).
Demonstracao. De fato, associo h ◦ g ◦ f = h ◦ (g ◦ f) e uso oTeorema 3.1 duas vezes:
(h ◦ (g ◦ f))′(x) = h′(g(f(x))) · (g ◦ f)′(x) =
= h′(g(f(x))) · g′(f(x)) · f ′(x).
�
No Capıtulo 4 sobre funcoes inversas vamos dar aplicacoes impor-tantes da derivada da composta.
Vejamos agora alguns exemplos simples:
• f = sin(x), g = x2, entao (g ◦ f)′ = 2 · (sin(x)) · cos(x)• f = cos(x), g = x2, (g ◦ f)′ = 2 · (cos(x)) · (− sin(x)) =−2 · cos(x) · sin(x).
CAPITULO 3. DERIVADA DA COMPOSICAO DE FUNCOES 19
• como consequencia desse dois itens e da derivada da soma:
(sin(x)2 + cos(x)2)′ = 2 · sin(x) · cos(x) − 2 · cos(x) · sin(x) ≡ 0,
o que e natural ja que sin(x)2 + cos(x)2 ≡ 1.• f(x) = x2 e g(x) = sin(x), entao (g ◦ f)′(x) = cos(x2) · 2 · x.
2. A Derivada do quociente
Agora uma aplicacao da regra da composta aos quocientes de funcoes:
Afirmacao 3.2. Sejam f e g funcoes derivaveis com g nunca nula.Entao
(f(x)
g(x))′(x) =
f ′(x) · g(x) − f(x) · g′(x)
g2(x).
Em particular:
(1
g)′(x) = − g′(x)
g2(x).
Demonstracao.
Vou escrever primeiro
f(x)
g(x)= f(x) · 1
g(x)
e derivar esse produto:
(f(x)
g(x))′(x) = f ′(x) · 1
g(x)+ f(x) · ( 1
g(x))′(x),
Agora olho 1g(x)
como a composicao de duas funcoes f1(x) = g(x) e
f2(x) = 1x
= x−1:1
g(x)= (f2 ◦ f1)(x).
Ja sabemos derivar f2(x) = 1x
= x−1, de fato: f ′2(x) = − 1
x2 = −x−2.Entao a regra da composta da:
(1
g(x))′(x) = (f2 ◦ f1)
′(x) =
= f ′2(f1(x)) · f ′
1(x) =
= − 1
g2(x)· g′(x).
Junto tudo:
(f(x)
g(x))′(x) = f ′(x) · 1
g(x)+ f(x) · ( 1
g(x))′(x) =
= f ′(x) · 1
g(x)+ f(x) · (− 1
g2(x)· g′(x)) =
=f ′(x) · g(x) − f(x) · g′(x)
g2(x),
2. A DERIVADA DO QUOCIENTE 20
como querıamos. �
Exemplos:
• Funcoes racionais sao quocientes de polinomios f
g. Onde g nao
se anula, a formula da Afirmacao 3.2 nos diz como deriva-las.• A tangente e um quociente de funcoes derivaveis tan(x) =
sin(x)cos(x)
. Onde o cosseno nao se anula podemos deriva-la obtendo:
tan(x) =cos(x) · cos(x) − sin(x) · (− sin(x))
cos2(x)=
=1
cos2(x).
Entao claramente tan′(0) = 1cos2(0)
= 1 e
limxրπ
2
tan′(x) = limxւ−π
2
tan′(x) = +∞.
A seguir plotei os graficos da tangente e de sua derivadarestritas ao intervalo (−1, 1). Nao pude usar um intervalo maisparecido com o domınio (−π
2, π
2) porque os valores da tangente
ficam muito grande em modulo.
-1
3
1
2
0
-1
x
10,50-0,5
Figura: A funcao tangente (vermelho) e sua derivada (verde) restritas a (−1, 1).
CAPıTULO 4
Funcoes inversas e suas derivadas
Vimos na Secao 1.2 do Capıtulo 5 da Parte 1, que quando referidosao mesmo sistema cartesiano os graficos de y = f(x) e de sua inversay = f−1(x) , entao elas se relacionam por uma reflexao na diagonaly = x.
Logo uma reta tangente ao grafico y = f(x) de coeficiente angulara = B/A 6= 0 se transforma numa reta tangente ao grafico refletido,mas agora de coeficiente angular 1
a= A/B (ja que os acrescimos na
coordenada x e y que definem A e B ficam invertidos quando refletimosna diagonal). Ilustro isso nas Figura a seguir:
1
0,6
-0,2
0,8
0,4
-0,4
x
0,80,60,400
0,2
0,2
Figura: Reflexao na diagonal de um grafico e de sua reta tangente
Quero motivar com isso o seguinte fato:
Teorema 4.1. Seja y = f(x) derivavel com f ′(x) 6= 0 e com umafuncao inversa f−1(x) tambem derivavel. Entao:
f−1′(x) =1
f ′(f−1(x)).
Demonstracao. Considero a composicao entre f e g = f−1, queresulta em uma anular o efeito da outra:
(f ◦ f−1)(x) ≡ x.
Entao o Teorema 3.1 da:
(f ◦ f−1)′(x) = f ′(f−1(x)) · (f−1)′(x).
21
1. DERIVADA DE Y =√
X 22
Mas por outro lado:1 ≡ (f ◦ f−1)′(x)
pois (f ◦ f−1)(x) ≡ x. Asim que:
1 ≡ f ′(f−1(x)) · (f−1)′(x),
de onde
(f 1)′(x) =
1
f ′(f−1(x)).
�
1. Derivada de y =√
x
Vejamos o que e a derivada de y =√
x de dois modos distintos,um pela definicao e outro lembrando que
√:R>0 → R>0 e a inversa de
y = x2 : R>0 → R>0.Pela definicao temos:
√x′(x) := lim
h→0
√x + h −√
x
he para x > 0 e h com |h| suficientemente pequeno para que x + h > 0,escrevo:
limh→0
√x + h −√
x
h= lim
h→0
√x + h −√
x
h·√
x + h +√
x√x + h +
√x.
Agora uso que (� + △) · (� −△) = �2 −△2, para obter que:
√x′(x) = lim
h→0
x + h − x
h · (√
x + h +√
x)=
= limh→0
1√x + h +
√x.
E agora uso a continuidade de y =√
x (por ser inversa de funcaocontınua definida num intervalo) para fazer:
√x′(x) = lim
h→0
1√x + h +
√x
=1
2 · √x.
Observe que
limxց0
1
2 · √x= +∞
o que diz que o grafico de y =√
x fica vertical na origem.Agora quero comparar esse resultado com o que obtemos pelo Teo-
rema 4.1 sobre a derivada da inversa.Seja f : R>0 → R>0 dada por f(x) = x2 e sua inversa f−1(x) =
√x.
Como f ′(x) = 2x, entao
f ′(√
x) = 2 · √x
CAPITULO 4. FUNCOES INVERSAS E SUAS DERIVADAS 23
e portanto pelo Teo 4.1:
√x ′(x) =
1
2 · √x,
como querıamos.
2. Derivada da “funcao”x1
n , de xmn e de x
−mn
Seja a funcao f(x) = xn. Se n e par, precisamos restringir f a umsemi-eixo para termos uma funcao inversa f−1 (uma raız n-esima).
Com essa ressalva, considere g = f−1 a inversa de f(x) = xn. Ouseja g(f(x)) = x.
A notacao usual para g(x) e g(x) = x1
n , feita d eproposito a quevalha
g(f(x)) = (xn)1
n = x = xnn .
Afirmacao 4.1. Considere a funcao x1
n , para n ∈ N, (com aressalva acima). Entao para x 6= 0 vale que
(x1
n )′(x) =
1
nx
1
n−1.
Demonstracao.
O Teorema 4.1 diz que para x 6= 0, combinado com a derivada dexn, da:
(x1
n )′=
1
n · (x 1
n )n−1 .
De aı em diante basta fazer algumas manipulacoes (usando (x1
n )k =
xkn ):
x1
n
′=
1
n· 1
xn−1
n
=1
n· x−n−1
n = .
=1
n· x 1−n
n =1
n· x 1
n−1.
�
Podemos agora derivar funcoes do tipo xmn com m,n ∈ N usando
as regras da composta e da inversa, pois
xmn = (x
1
n )m.
Entao pelo Teorema 3.1 (a regra da composta) e o que ja sabemos
para x1
n :
(x1
n )m′
= m · (x 1
n )m−1 · ( 1
n· x 1
n−1) =
=m
n· xm−1
n · x 1
n−1 =
m
n· xm
n−1
3. DERIVADA DO ARCOSENO 24
Para podermos derivar funcoes do tipo x−mn com m,n ∈ N podemos
escrever x−mn = 1
xmn
e usar o que sabemos de quocientes e de xmn :
(1
xmn
)′=
−mnx
mn−1
x2mn
= −m
n· xm
n−1− 2m
n =
−m
n· x−m
n−1.
Qual o sentido de dizermos que em geral se f(x) = xα entao f ′(x) =αxα−1 ?
E se α 6∈ Q? Por exemplo α =√
2 ou α = π? Apos darmos umsentido a essa expressao (e precisaremos da funcao exponencial paraisso), sera que essa funcao e derivavel ? Sera que sua derivada tambeme α · xα−1 ? Voltaremos...
3. Derivada do arcoseno
E claro que o seno visto como funcao periodica sin : R → R oumesmo visto em sin : [0, 2π] → R nao tem uma funcao inversa.
Mas sua restricao sin : (−π2, π
2) → (−1, 1) mostrada na Figura a
seguir sim tem funcao inversa ! De fato, nessa regiao (−π2, π
2) o seno
e uma funcao injetora, pois sua derivada sin′(x) = cos(x) e semprepositiva em (−π
2, π
2), logo sin(x) e estritamente crescente e portanto
uma funcao injetora.
0,5
1
-0,5
0
-1
x
1,510,50-0,5-1,5 -1
Figura: Restricao do seno ao intervalo ((−π2, π
2).
A inversa de sin : (−π2, π
2) → R e chamada de arco seno no sentido
de que para um valor dado sin(θ) em (−1, 1) ela diz de que arco θ
ele proveio. E denotada arcsin. Guardaremos o sımbolo sin(x)−1 paradenotar 1
sin(x).
CAPITULO 4. FUNCOES INVERSAS E SUAS DERIVADAS 25
1
1,5
0
0,5
-0,5
-1
-1,5
x
10,50-0,5-1
Figura: Grafico de arcoseno, domınio (−1, 1) e imagem (−π2, π
2).
Como explicado na parte 1 do Curso, o arcoseno e contınuo. Masvamos assumir ate que seja derivavel, para calcularmos sua derivada.
Por analogia com o que acontecia com o seno, sera que a derivadado arcosseno e o arcocosseno ? Veremos que nao, nada disso !
Quando referimos uma funcao y = f(x) e sua inversa ao mesmo sis-tema cartesiano, estamos fazendo os graficos de y = f(x) e y = f−1(x),como fizemos nas figuras acima. Mas e claro que sempre podemospensar em em x, que e o input de f−1(x), como sendo um ouput da f .
Afirmacao 4.2. A derivada de arcsin : (−1, 1) → (−π2, π
2) e
arcsin′(x) = 1√1−x2
.
Demonstracao. Pelo Teorema 4.1
arcsin′(x) =1
sin′(arcsin(x)).
Mas ja sabemos que a derivada do seno e o cosseno, logo:
arcsin′(x) =1
cos(arcsin(x)).
Agora uso a relacao trigonometrica
cos2(arcsin(x)) + sin2(arcsin(x)) ≡ 1
e
sin2(arcsin(x)) = ( sin(arcsin(x) )2 = x2
para obter:
cos2(arcsin(x)) = 1 − x2,
e como cos(arcsin(x)) > 0 quando arcsin(x) ∈ (−π2, π
2) entao obtenho:
cos(arcsin(x)) = +√
1 − x2
e portanto
arcsin′(x) =1√
1 − x2,
como querıamos. �
4. DERIVADA DO ARCOTANGENTE 26
Note que a funcao 1√1−x2
para x ∈ (−1, 1) e sempre positiva, vale 1
na origem e tem
limxր1
1√1 − x2
= +∞, e limxց1
1√1 − x2
= +∞.
Tudo isso se ve na figura abaixo, onde plotei o arcoseno e suaderivada, para x ∈ [−0.95, 0.95] (nao posso me aproximar demais de−1 ou de 1 se nao o grafico fica muito alto !)
3
1
2
0
-1
x
0,4 0,80-0,8-0,4
Figura: Grafico de y = arcsin(x) (vermelho) e de sua derivada y = 1√1−x2
(verde).
Essa figura e tao parecida (qualitativamente) com a que ja vimosno Capıtulo anterior da funcao y = tan(x) e sua derivada que resolviplota-las juntas, para que o leitor possa fazer comparacoes:
2
0
1
-1
0,8
x
-0,8-0,4 0,40
Figura: y = tan(x) (vermelho), sua derivada (verde), y = arcsin(x) (amarelo) esua derivada (azul) restritas a (−0.9, 0.9).
4. Derivada do arcotangente
Como tan′(x) = 1cos2(x)
> 0 se x ∈ (−π2, π
2) entao a funcao tangente e
estritamente crfecente, logo injetora, logo tem inversa denotada arctan :R → (−π
2, π
2).
Afirmacao 4.3.
arctan′(x) =1
1 + x2, ∀x ∈ R.
CAPITULO 4. FUNCOES INVERSAS E SUAS DERIVADAS 27
Demonstracao.
Pelo Teorema 4.1 e pela derivada da funcao tan(x):
arctan′(x) =1
tan′(arctan(x))=
=11
cos2(arctan(x))
=
= cos2(arctan(x)).
Agora arctan(x) e um arco/angulo e portanto vale:
sin2(arctan(x)) + cos2(arctan(x)) = 1
e daı dividindo por cos2(arctan(x)) temos:
sin2(arctan(x))
cos2(arctan(x))+ 1 =
1
cos2(arctan(x))
ou seja
tan2(arctan(x)) + 1 =1
cos2(arctan(x)),
e como
tan2(arctan(x)) = (tan(arctan(x)))2 = x2,
x2 + 1 =1
cos2(arctan(x))
quer dizer:
cos2(arctan(x)) =1
1 + x2
Logo
arctan′(x) =1
1 + x2.
�
1
0
0,5
-0,5
-1x
2-2 31-3 -1 0
Figura: A funcao arcotangente (vermelho) e sua derivada (verde) restritas a (−4, 4)
5. EXISTE UMA FUNCAO F 6≡ 0 QUE SEJA IMUNE A
DERIVACAO ? 28
5. Existe uma funcao f 6≡ 0 que seja imune a derivacao ?
Exceto pela funcao f ≡ 0, todas as funcoes que vimos ate agoramudam ao serem derivadas (os polinomios perdem grau, etc). Comopoderıamos criar uma funcao f(x) imune a derivada ? Ou seja, com
f ′(x) = f(x) ?
Imagine que tivessemos uma funcao f : R> 0 → R com
f ′(x) =1
x.
Entao f ′(x) > 0 ∀x ∈ R> 0 e daı f(x) e estritamente crescente. Logof−1 : R → R>0 existiria e se fosse derivavel, pelo Teorema 4.1 daderivada da inversa, terıamos:
(f−1)′(x) =
1
f ′(f−1(x))=
=1
( 1f−1(x)
)=
= f−1(x).
Ou seja (f−1)′= f−1: voila a funcao imunizada.
Ou seja a sonhada funcao imune sera a inversa daquela f(x) quetem f ′(x) = 1
x.
Mas sera que ja nao temos uma funcao com f ′(x) = 1x
em nossalista de funcoes ja conhecidas ?
Se quisessemos ao inves de f ′(x) = x−1 algo do tipo f ′(x) = x−k,k 6= 1, bastaria tomar
f(x) =1
−k + 1· x−k+1
e pelo que ja aprendemos f ′(x) = x−k. Mas, justamente, nao podemosescrever 1
−k+1se k = 1.
Para criarmos essa desejada funcao com f ′(x) = 1x
precisaremos seuma fabrica de funcoes, chamada de Integral Indefinida, que veremosno proximo Capıtulo.
Assim como vimos que ha leis fısicas importantes modeladas a partirda propriedade f ′′(x) = −f(x) do seno e do cosseno, ha processos muitoimportantes modelados matematicamente pela relacao:
f ′(x) = f(x).
Essa relacao entre a derivada e a funcao diz por exemplo que quantomais f(x) fica positivo mais aumenta sua velocidade. E a modelagemde algum processo que tem um crescimento extraordinario.
Por exemplo, f(x) pode ser uma populacao em um certo tempo, eque quanto mais elementos tem mais cruzamentos efetua, aumentandoa populacao, e assim por diante. Ou por exemplo uma dıvida, sobre
CAPITULO 4. FUNCOES INVERSAS E SUAS DERIVADAS 29
a qual incidem juros que aumentam a dıvida e sobre ela mais jurosincidem, assim por diante.
5.1. Quantas funcoes sao imunes a derivacao ?Acima propusemos um metodo para criar uma funcao imune a
derivacao (como inversa de uma outa funcao tambem misteriosa) Chamemosnossa funcao imune f1(x) (com f ′
1(x) = f1(x) ∀x portanto).Ssuponhamos por um momento que f1(x) nunca se anula (sera ver-
dade!).Sera que ha alguma outra funcao f2(x) com f ′
2(x) = f2(x) ∀x,bem diferente da nossa f1(x) e que quem sabe sera criada por umoutro metodo completamente diferente desse nosso? A resposta e queessencialmente nao !
E o argumento e o seguinte. Suponha outra f2(x) com f ′2(x) = f2(x)
∀x e defina:f2(x)
f1(x).
Entao a derivada do quociente da:
(f2(x)
f1(x))′(x) =
f ′2(x) · f1(x) − f2(x) · f ′
1(x)
f 21 (x)
=
f2(x) · f1(x) − f2(x) · f1(x)
f 21 (x)
=
=0
f 21 (x)
≡ 0.
Mas entao pela Parte 1 do Curso concluımos que
f2(x)
f1(x)≡ C
onde C e uma constante. Dito de outro modo f2(x) = C · f1(x) ou sejaque f2 e apenas f1 multiplicada por uma constante.
Note que se C = 0 entao f2(x) ≡ 0 e imune a derivacao.
CAPıTULO 5
Integracao, Primeiro Teorema Fundamental,logaritmo e e exponencial
0.2. Area sob um grafico.Dado um grafico de uma funcao contınua y = f(x) ≥ 0 quero
entender qual a Area compreendida sob esse grafico e acima do eixo x,da vertical x = a ate a vertical x = b.
Se y = f(x) = ax+b e uma reta tudo ok, ja sabemos o que sao areasde trinangulos, retangulo, trapezios, etc. Mas e se y = f(x) nao foruma reta ? Se f(x) nao e a equacao de uma reta, vemos que realmenteprecisamos definir de maneira matematicamente correta a intuicao quetemos de que ha uma figura sob esse grafico e que ela tem uma certaarea.
A ideia de Bernard Riemann (que remonta a Arquimedes) e de irsubdividindo o domınio da f e colocando lado a lado retangulos sob ografico (vou chama-los de retangulos justapostos sob o grafico). A somadas areas desses retangulos e menor que a area buscada, mas a medidaque se refina a subdivisao do domınio a soma de areas dos retangulosjustapostos sob o grafico se aproxima de um certo valor.
Figura: Cinco retangulos sob o grafico, de mesma largura (1/5 do intervalo).
31
32
Figura: 12 retangulos sob o grafico, de mesma largura ( 112
do intervalo).
Figura: 24 retangulos sob o grafico, de mesma largura ( 124
do intervalo).Nem precisam ter os retangulos a mesma largura, como nas Figuras;
basta que o maximo das larguras dos retangulos tenda a zero a medidaque refinamos as escolhas dos retangulos.
Isso parece ainda um pouco vago, mas na Secao seguinte faremosalguns Exemplos explıcitos, onde fazemos a particao da base ficar cadavez mais fina e obtemos via um limite um valor bem determinando,que sera a area. E possıvel provar um teorema geral do seguinte tipo:
Afirmacao 5.1. (B. Riemann)1 Seja f : [a, b] → R, f(x) ≥0 contınua.2 Entao a soma das areas de retangulos justapostos sobo grafico tende a um certo numero bem definido, quando a larguramaxima dos retangulos tende a zero.
Esse numero e por definicao a Area sob o grafico de f , de a ate b,denotada por Af,a(b).
0.3. Qual funcao descreve as Areas sob graficos? Dado umafuncao y = f(x) nao-negativa, fixado um ponto inicial a de seu domıniodefinimos acima a area sob seu grafico ate b.
Vamos agora fixar a e mudar o nome de b, passando a chamar-seagora x para significar que vamos variar o b.
Entao a area sob o grafico vira uma nova funcao Af,a(x), que para
cada valor de x da um resultado de Area.Qual e essa funcao A(x)? E que propriedades ela tem?Certamente e uma funcao crescente, sera que Af,a(x) e contınua?
Sera que ela e derivavel ?Com o que sabemos do colegio, so consigo ver dois tipos de exemplos
simples de f , onde responderıamos facilmente sobre Af,a(x):
• Exemplo 1 : Se y = C ≥ 0 e constante e a = 0, entao AC,0(x)e a area de um retangulo de largura x e altura C; portantoessa area e dada pela funcao AC,0(x) = C · x.
1Observo desde ja que se pode dar versoes bem mais fortes desse teorema deRiemann.
2Note que se f nao fosse contınua, quem sabe f nao tivesse maximo global em[a, b] e a figura sob seu grafico fosse infinitamente alta. Nesse caso a area poderia serinfinita, nao ser um numero determinando. Mas sendo f contınua e [a, b] intervalofechado limitado entao ela tem um maximo global
CAPITULO 5. INTEGRACAO, PRIMEIRO TEOREMA
FUNDAMENTAL, LOGARITMO E E EXPONENCIAL 33
• Exemplo 2 : Se y = Cx e a = 0 entao ACx,a(x) e a area de umtriangulo de largura x e altura Cx, portanto essa area e dadapela funcao ACx,a(x) = x·C·x
2= Cx2
2.
Com o que sabemos do colegio nao conseguimos prever que acontececom a area de 0 ate x sob o grafico, se o grafico fosse o de y = C · x2.Mas com o que ja aprendemos neste Curso sim podemos !
• Exemplo 3: Seja y = C · x2, C ≥ 0, a = 0 eescolha um x,0 < x.
Considere a soma de areas dos seguinte retangulos sob ografico de y = C · x2: particione o intervalo [0, x] em n inter-valos de mesmo tamanho:
[0, x] = [0,x
n] ∪ [
x
n,2x
n] ∪ . . . ∪ [
(n − 1)x
n,nx
n].
Tome como primeiro retangulo sob o grafico o retangulo debase [x
n, 2x
n] e altura C(x
n)2, o segundo retangulo de base [2x
n, 3x
n]
e altura C(2x
n)2 e assim ate o (n−1)-esimo retangulo, cuja base
e [ (n−1)xn
, nx
n] e altura C((n − 1)x
n)2.
Como esses retangulos estao sob o grafico, a soma de suasareas e menor que a area real sob o grafico.
Mas se fazemos n cada vez maior, a soma de area deretangulos vai tender a area real, que queremos conhecer.
De fato, dado n ∈ N, a soma das areas dauqeles (n − 1)retangulos e:
x
n· C · x2
n2+
x
n· C · 22x2
n2+ . . . +
x
n· C · (n − 1)2x2
n2=
= C · x
n· x2
n2· [12 + 22 + . . . (n − 1)2].
No item iii) da Afirmacao 2.1 vimos a formula:
12 + 22 + . . . + n2 =n(n + 1)(2n + 1)
6, ∀n ∈ N,
que da quando aplicada ao nosso n − 1:
12 + 22 + . . . + (n − 1)2 =(n − 1)(n − 1 + 1)(2(n − 1) + 1)
6=
=(n − 1)n(2n − 1)
6=
=2n3 − 3n2 + n
6, ∀n ∈ N.
Ora, entao a soma de areas dos (n − 1) retangulos e de fato:
C · x
n· x2
n2· 2n3 − 3n2 + n
6= Cx3 2n3 − 3n2 + n
6n3.
34
Mas pelo que ja vimos na Parte 1 (ja que C e x nao mudamcom n):
limn→+∞
Cx3 2n3 − 3n2 + n
6n3= Cx3 1
3=
Cx3
3.
Entao e ACx2,0(x) = Cx3
3.
• Exemplo 4: Seja y = C ·x3, C ≥ 0. Considere a soma de areasdos seguinte retangulos sob o grafico de y = C · x3: particioneo intervalo [0, x] em n intervalos de mesmo tamanho:
[0, x] = [0,x
n] ∪ [
x
n,2x
n] ∪ . . . ∪ [
(n − 1)x
n,nx
n].
Tome como primeiro retangulo sob o grafico o retangulo debase [x
n, 2x
n] e altura C(x
n)3, o segundo retangulo de base [2x
n, 3x
n]
e altura C(2x
n)3 e assim ate o (n−1)-esimo retangulo, cuja base
e [ (n−1)xn
, nx
n] e altura C((n − 1)x
n)3.
Dado n ∈ N, a soma das areas desses (n− 1) retangulos e:
x
n· C · x3
n3+
x
n· C · 23x3
n3+ . . . +
x
n· C · (n − 1)3x3
n3=
= C · x
n· x3
n3· [13 + 23 + . . . (n − 1)3].
Os itens i) e ii) da Afirmacao 2.1 dao juntos a formula:
13 + 23 + . . . + n3 = (n(n + 1)
2)2, ) ∀n ∈ N,
que da quando aplicada ao nosso n − 1:
13 + 23 + . . . + (n − 1)3 =(n − 1)2(n)2
4=
n4 − 2n3 + n2
4, ∀n ∈ N.
Ora, entao a soma de areas dos (n − 1) retangulos e de fato:
C · x
n· x3
n3· n4 − 2n3 + n2
4= Cx3 · n4 − 2n3 + n2
4n4.
Mas pelo que ja vimos na Parte 1 (ja que C e x nao mudamcom n):
limn→+∞
Cx3 · n4 − 2n3 + n2
4n4=
Cx4
4.
Entao ACx3,0(x) = Cx4
4.
• Exemplo 5) Tambem podemos combinar dois Exemplos desses,por exemplo perguntar pela area sob o grafico de y = C1x
2 +C2x
3, C1, C2 ≥ 0 de 0 ate x.A soma de area de retangulos sera:
x
n· (C1
x2
n2+ C2
x3
n3) + . . . +
x
n· (C1
(n − 1)2x2
n2+ C2
(n − 1)3x3
n3) =
CAPITULO 5. INTEGRACAO, PRIMEIRO TEOREMA
FUNDAMENTAL, LOGARITMO E E EXPONENCIAL 35
= C1x3
n3· (12 + 22 + . . . + (n − 1)2) + C2
x4
n4· (13 + 23 + . . . + (n − 1)3),
e pelo que vimos nos dois exemplos anteriores 3),4) (e pelolimite de somas):
limn→+∞
C1x3
n3·(12 +22 + . . .+(n−1)2)+C2
x4
n4·(13 +23 + . . .+(n−1)3) =
= C1x3
3+ C2
x4
4.
Nos 5 Exemplos acima ha, digamos assim, uma coincidencia notavel:
A Area como funcao de x e uma funcao derivavel e ademais aderivada da Area e a funcao de partida
A(x) = Cx ⇒ A′(x) = C, A(x) =Cx2
2⇒ A′(x) = Cx,
A(x) =Cx3
3⇒ A′(x) = Cx2, A(x) =
Cx4
4⇒ A′(x) = Cx3.
A(x) =C1x
3
3+
C2x4
4⇒ A′(x) = C1x
2 + C2x3.
Como veremos isso nao e uma coincidencia ! O fato geral por trasdisso, de que derivando a funcao Area sob o grafico voltamos na funcaoque da o grafico, sera o Primeiro Teorema Fundamental do Calculo.
E de fato e a chave para se calcular areas sob graficos incrivelmentecomplicados (no Segundo Teorema fundamental do Calculo).
1. Primeira Versao do Primeiro Teorema fundamental doCalculo
A princıpio nao sabemos muito sobre o grafico de Af,a(x), porem oproximo teorema vai nos dizer muito.
Para demonstrarmos o Teorema, comeco com uma Afirmacao, ilustradana figura que segue:
Afirmacao 5.2. Suponha f : [a, b] → R e contınua e f(x) ≥ 0.Tome x ∈ [a, b) e h > 0 suficientemente pequeno para que x + h ∈
[a, b]. Entao:
Af,x(x + h) = f(ξ) · h,
para algum ponto ξ ∈ [x, x + h].
1. PRIMEIRA VERSAO DO PRIMEIRO TEOREMA
FUNDAMENTAL DO CALCULO 36
m_f
M_f
f ( )ξ
Figura: A area sob o grafico e igual a do retangulo de altura f(ξ), mf < f(ξ) < Mf
Demonstracao.
Comeco observando que, dado o h > 0, o valor Af,x(h) tem queestar entre:
mf · h ≤ Af,x(x + h) ≤ Mf · honde mf · h e a Area de uma retangulo com base h e altura mf (o
mınimo de f em [x, x + h]) e Mf · h e a Area de uma retangulo combase h e altura Mf (o maximo de f em [x, x + h]).
Divido por h > 0:
mf ≤ Af,x(x + h)
h≤ Mf ,
e portantoAf,x(x+h)
he um valor intermediario da f : [a, b] → R, um
valor entre seu mınimo e seu maximo.Logo pelo T.V.I. existe ξ ∈ [x, x + h] tal que
Af,x(x + h)
h= f(ξ),
logo Af,x(x + h) = f(ξ) · h.�
O Teorema a seguir diz que sempre a derivada da funcao que medeareas sob um grafico e a funcao original que da o grafico.
Tambem pode ser lido assim: a operacao de derivar cancela o efeitoda operacao de tomar area sob o grafico:
Teorema 5.1. (Primeira versao)Seja f : [a, b] → R contınua, f ≥ 0 e x ∈ [a, b). Entao
A′f,a(x) = f(x).
Demonstracao. Uso primeiro a definicao de derivada em x ∈[a, b]:
A′f,a(x) = lim
h→0
Af,a(x + h) − Af,a(x)
h.
CAPITULO 5. INTEGRACAO, PRIMEIRO TEOREMA
FUNDAMENTAL, LOGARITMO E E EXPONENCIAL 37
Em seguida, a aditividade da Area:
Af,a(x + h) = Af,a(x) + Af,x(x + h)
portanto
A′f,a(x) = lim
h→0
Af,a(x) + Af,x(x + h) − Af,a(x)
h=
= limh→0
Af,x(x + h)
h.
Agora uso a Afirmacao 5.2 acima, de que
Af,x(x + h) = f(ξ) · h,
onde ξ ∈ [x, h]. Entao juntando tudo:
A′f,a(x) = lim
h→0
Af,x(h)
x + h=
limh→0
f(ξ) · hh
=
= limh→0
f(ξ).
Para terminar basta ver que
limh→0
f(ξ) = f(x).
Mas quando h tende a zero, ξ ∈ [x, x + h] tende a x.Logo f(ξ) tende a f(x), porque f e contınua.
�
2. Integral e o Primeiro Teorema fundamental
Ate aqui so falamos de funcoes contınuas que sao f ≥ 0, pois que-riamos falar de areas sob seu grafico e acima do eixo dos x.
Mas e claro que se f < 0 na regiao [a, b] faz sentido definir a area daregiao compreendida entre o eixo dos x e seu grafico, que denotaremosainda por Af,a(b).
Sem entrar em detalhes que tornariam pesado o texto do Curso,vou introduzir agora uma operacao chamada integral definida de f dea ate b, de uma funcao f contınua definida em [a, b] denotada:
∫ b
a
f(x)dx
que tem as seguintes propriedades3:
• se f ≥ 0 entao∫ b
af(x)dx = Af,a(b).
3que devem ser aceitas aqui como verdades/axiomas, mas que se pode justificarnos cursos mais avancados
2. INTEGRAL E O PRIMEIRO TEOREMA FUNDAMENTAL 38
• se f < 0 entao∫ b
af(x)dx = −Af,a(b), onde esta area Af,a(b)
e compreendida entre o eixo dos x e o grafico.•
∫ c
cf(x)dx = 0 para qualquer c ∈ [a, b].
• se escolhemos c com a < c < b entao vale∫ c
a
f(x)dx +
∫ b
c
f(x)dx =
∫ b
a
f(x)dx.
•∫ a
bf(x)dx = −
∫ b
af(x)dx.
Exemplo: Chamo a atencao que quando tivermos∫ b
af(x)dx = 0
isto nao dira em geral que f ≡ 0. Por exemplo se tomo [a, b] = [0, 2π]e f(x) = sin(x), entao o fato que veremos a seguir:
∫ 2π
0
sin(x)dx = 0
significa que a area sob o grafico do seno, de [0, π], e a mesma area daregiao sobre o grafico, de [π, 2π].
Por ultimo, se f e g sao contınuas e definidas em [a, b] vamos ter aseguinte propriedade:
• se c1, c2 ∈ R,∫ b
a(c1f(x)+c2g(x))dx =
∫ b
ac1f(x)dx+
∫ b
ac2g(x)dx.
(esse item e facil de comprovar se c1, c2 ≥ 0 e f ≥ 0, g ≥ 0, para afuncao que da as areas Ac1f+c2g,a(b), como vimos num exemplo acima.)
Mas chamos a atencao que em geral :∫ b
a
f(x) · g(x)dx 6=∫ b
a
f(x)dx ·∫ b
a
g(x)dx,
o que se ve comparando areas Ax2,0(x) = x3
3com o produto de areas
Ax,0(x) · Ax,0(x) = x2
2· x2
2.
Veremos mais tarde uma tecnica para fazer as∫ b
a
f(x) · g(x)dx
chamada it integracao por partes.O Teorema 5.1 que vimos acima, tem uma versao mais geral que
usa, ao inves de Af,a(x), a nocao de∫ x
af(t)dt4 (chamada de integral
indefinida, por depender x).
Teorema 5.2. (Primeiro Teorema fundamental do Calculo)Seja f : [a, b] → R contınua e x ∈ [a, b]. Entao
(
∫ x
a
f(t)dt )′(x) = f(x).
4Note que usei t em f(t)dt para deixar x indicando o ponto escolhido
CAPITULO 5. INTEGRACAO, PRIMEIRO TEOREMA
FUNDAMENTAL, LOGARITMO E E EXPONENCIAL 39
3. Logaritmo natural e sua inversa, a exponencial
Definicao 5.1. Considere a funcao
f : R>0 → R>0, f(x) =1
x.
A funcao de R>0 → R dada por
ln(x) :=
∫ x
1
1
xdx
e o logaritmo natural de x.
Observe que:
• ln(1) = 0• se 1 < x entao ln(x) = A 1
x,1(x) > 0.
• se x < 1 entao∫ x
1
1
xdx = −
∫ 1
x
1
xdx
e∫ 1
x1xdx = A 1
x,x(1) > 0 e uma area. Logo ln(x) < 0 se
0 < x < 1.• como ln′(x) = 1
x> 0, trata-se de uma funcao estritamente
crescente.
Entao∫ x
11xdx tem a propriedade de que (
∫ x
11xdx)′(x) = 1
xpelo
Primeiro Teorema fundamental. A importancia dessa funcao ja foidiscutida, pois sua inversa e entao imune as derivacoes. Denoto suainversa de R → R>0 por exp(y):
exp(ln(x))) = x, ∀x ∈ R>0.
Em particular o numero exp(1) sera denotado por e, ou seja ln(e) =ln(exp(1)) = 1.
4. ln(xmn ) = m
n· ln(x)
A propriedade a seguir faz o logaritmo muito util para lidar comquantidades que crescem muito, por exemplo a massa de um animal,que cresce na ordem de 107 de um rato ate uma baleia.
Vamos provar que
Afirmacao 5.3. ∀m,n ∈ N e ∀x ∈ R>0 ,
ln(xmn ) =
m
n· ln(x).
Demonstracao. Considero a funcao diferenca:
φ(x) = ln(xmn ) − m
n· ln(x).
Gostarıamos de provar que φ(x) ≡ 0.Sejamos modestos, provando primeiro que φ(x) ≡ C.Para isso derivamos φ(x), para ver se φ′(x) ≡ 0.
4. LN(XMN ) = M
N· LN(X) 40
Pelas regras de derivacao do logarimo, da composta e da diferencade funcoes:
φ′(x) =1
xmn
· (mn
· xmn−1) − m
n· 1
x=
≡ 0.
Ou seja, que φ(x) ≡ C. Qual o valor de C ? Se avalio φ(x) no unicoponto facil de avaliar x = 1 obtenho:
φ(1) = ln(1mn ) − m
nln(1) = 0,
logo φ ≡ 0 o que querıamos. �
4.1. ln(|x|) e sua derivada. Note que ln(|x|) faz sentido paratodo x 6= 0. Esta funcao sera muito util na resolucao de equacoesdiferenciais, devido a:
Afirmacao 5.4.
( ln(|x|) )′ =1
x, ∀x 6= 0.
Demonstracao.
De fato, se x > 0 ja sabemos que ln′(x) = 1x
pelo Primeiro TeoremaFundametal do Calculo.
Se x < 0, entao |x| := −x e temos pela regra da composta
(ln(−x))′ =1
(−x)· (−1) =
1
x, onde − 1 = (−x)′,
como querıamos.�
CAPıTULO 6
Calculo de areas via o Segundo TeoremaFundamental
1. Segundo Teorema Fundamental do Calculo
Teorema 6.1. Seja f : [a, b] → R contınua. Entao∫ b
a
f(x)dx = F (b) − F (a),
onde F (x) e qualquer funcao com
F ′(x) = f(x), ∀x ∈ [a, b].
Ou seja,dito de outro modo∫ b
a
F ′(x)dx = F (b) − F (a).
Essa funcao F com F ′(x) = f(x) ∀x e chamada de primitiva da f .
Demonstracao.
Tome uma F (x) com F ′(x) = f(x) ∀x ∈ [a, b] (nao importa comose achou).
Agora lembre que o Primeiro Teorema Fundamental 5.2 diz que afuncao G(x) :=
∫ x
af(x)dx tem
G′(x) = f(x), ∀x ∈ [a, b].
EntaoF ′(x) = G′(x), ∀x ∈ [a, b],
o que diz queF (x) = G(x) + C, ∀x ∈ [a, b],
pelo Teorema Fundamental das Equacoes diferenciais (ver Capıtulo 7da Parte 1 deste Curso). em particular:
F (b) = G(b) + C.
Mas que constante C e essa ? Temos que G(a) =∫ a
af(x)dx = 0, logo
F (a) = 0 + C,
ou seja C = −F (a) e
F (b) = G(b) − F (a)
41
4. INTEGRACAO POR PARTES 42
e portanto:
G(b) :=
∫ b
a
f(x)dx = F (b) − F (a),
como querıamos.�
Exemplo: Agora podemos justificar que∫ 2π
0
sin(x)dx = 0,
pois pelo Teroema 6.1:∫ 2π
0
sin(x)dx = − cos(2π) − (− cos(0)) = −1 + 1 = 0.
2. Regioes ilimitadas com area finita
3. Series harmonica, k-harmonicas e geometrica
4. Integracao por partes
CAPıTULO 7
A exponencial, sua equacao diferencial e aplicacoes
1. Propriedades da exponencial
2. Sequencias que tendem a e
3. Juros compostos discreta e continuamente
4. A equacao diferencial do decaimento radioativo - idade defosseis, rochas, esqueletos
43