um campo minado de (des) informaÇÕes: os desafios …

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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2013. ISSN 2179-510X UM CAMPO MINADO DE (DES) INFORMAÇÕES: OS DESAFIOS PARA VISIBILIZAR FEMINICIDIOS NO BRASIL Izabel Solyszko Gomes 1 Resumo: O conceito de feminicidio, para designar homicídios de mulheres cuja causa essencial é sua condição de gênero, o fato de ser uma mulher, constitui um campo de debate ainda em aberto. Apesar de remeter diretamente ao tipo criminal homicídio, não necessariamente trata disso, já que em muitos países da América Latina se fala de feminicidios e ele não se constitui assim juridicamente. A questão central é que identificar a ocorrência de feminicidios dentre os homicídios de mulheres se coloca como tarefa tal qual pisar em um campo minado, principalmente pela ausência de informações que possibilitem a compreensão de cada caso. O objetivo deste texto é, a partir da compreensão de tais dificuldades, confrontando dados do Ministério da Saúde com base nos registros de óbito e das Secretarias de Segurança Pública, com base nos registros de ocorrência de homicídios, tratar da importância, sobretudo teórico-política, de visibilizar os feminicidios dentre as mortes violentas de mulheres, a fim de garantir seu enfrentamento. A violência de gênero tem uma expressão letal, ou seja, ela culmina na morte de mulheres. Reconhecer a existência do fenômeno e superá-lo é tarefa árdua, porém necessária. Palavras-chave: Feminicidios, Violência de Gênero, Campo Minado. Introdução A violência de gênero historicamente vivenciada pelas mulheres tem uma expressão letal, ou seja, a morte violenta tem sido o fim de milhares de mulheres por todo o mundo, como produto de uma estrutura que legitima e produz violência não acidental, não ocasional e, recorrente. Este grave fenômeno social vem sendo chamado de feminicidio para evidenciar o sexismo e o machismo presentes em sua reprodução extensiva. A popularização do referido conceito se deu na década de 90, quando feministas estadunidenses utilizaram femicide - traduzido para o português ora como femicidio, ora como feminicidio para dar visibilidade a estas mortes, em especial, para os casos de homicídios. Ou seja, para explicitar que a maioria dos homicídios de mulheres ocorria pelo fato da vítima ser uma mulher. O termo, utilizado para nomear a realidade, apesar do caráter inicialmente militante, ganhou corpus teórico-político e o debate acadêmico foi adensado passando por influências espanhola e latino-americana. 1 Doutoranda em Serviço Social no PPGSS/UFRJ, orientada pela ProfªDra Lilia G. Pougy. Mestre em Serviço Social. Assistente Social no Centro de Referência de Mulheres da Maré Carminha Rosa. Rio de Janeiro, Brasil. Este trabalho é produto de pesquisa de doutorado cuja bolsa de estudos é financiada pela CAPES assim como o período de doutorado sanduiche no Programa Universitario de Estudios de Género (PUEG) da Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM).

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2013. ISSN 2179-510X

UM CAMPO MINADO DE (DES) INFORMAÇÕES: OS DESAFIOS PARA

VISIBILIZAR FEMINICIDIOS NO BRASIL

Izabel Solyszko Gomes1

Resumo: O conceito de feminicidio, para designar homicídios de mulheres cuja causa essencial é

sua condição de gênero, o fato de ser uma mulher, constitui um campo de debate ainda em aberto.

Apesar de remeter diretamente ao tipo criminal homicídio, não necessariamente trata disso, já que

em muitos países da América Latina se fala de feminicidios e ele não se constitui assim

juridicamente. A questão central é que identificar a ocorrência de feminicidios dentre os homicídios

de mulheres se coloca como tarefa tal qual pisar em um campo minado, principalmente pela

ausência de informações que possibilitem a compreensão de cada caso. O objetivo deste texto é, a

partir da compreensão de tais dificuldades, confrontando dados do Ministério da Saúde com base

nos registros de óbito e das Secretarias de Segurança Pública, com base nos registros de ocorrência

de homicídios, tratar da importância, sobretudo teórico-política, de visibilizar os feminicidios dentre

as mortes violentas de mulheres, a fim de garantir seu enfrentamento. A violência de gênero tem

uma expressão letal, ou seja, ela culmina na morte de mulheres. Reconhecer a existência do

fenômeno e superá-lo é tarefa árdua, porém necessária.

Palavras-chave: Feminicidios, Violência de Gênero, Campo Minado.

Introdução

A violência de gênero historicamente vivenciada pelas mulheres tem uma expressão letal, ou

seja, a morte violenta tem sido o fim de milhares de mulheres por todo o mundo, como produto de

uma estrutura que legitima e produz violência não acidental, não ocasional e, recorrente. Este grave

fenômeno social vem sendo chamado de feminicidio para evidenciar o sexismo e o machismo

presentes em sua reprodução extensiva.

A popularização do referido conceito se deu na década de 90, quando feministas

estadunidenses utilizaram femicide - traduzido para o português ora como femicidio, ora como

feminicidio – para dar visibilidade a estas mortes, em especial, para os casos de homicídios. Ou

seja, para explicitar que a maioria dos homicídios de mulheres ocorria pelo fato da vítima ser uma

mulher. O termo, utilizado para nomear a realidade, apesar do caráter inicialmente militante,

ganhou corpus teórico-político e o debate acadêmico foi adensado passando por influências

espanhola e latino-americana.

1 Doutoranda em Serviço Social no PPGSS/UFRJ, orientada pela ProfªDra Lilia G. Pougy. Mestre em Serviço Social.

Assistente Social no Centro de Referência de Mulheres da Maré Carminha Rosa. Rio de Janeiro, Brasil. Este trabalho é

produto de pesquisa de doutorado cuja bolsa de estudos é financiada pela CAPES assim como o período de doutorado

sanduiche no Programa Universitario de Estudios de Género (PUEG) da Universidad Nacional Autónoma de México

(UNAM).

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2013. ISSN 2179-510X

As autoras pioneiras, mais referenciadas hoje, na América Latina, são Diana Russell, Jill

Radford e Jane Caputi, que desenvolveram pesquisas sobre os homicídios de mulheres nos Estados

Unidos. Alguns de seus textos foram traduzidos para o espanhol nos anos 2000, o que explica, em

parte, sua difusão entre países latino-americanos. Há também autoras do México, Costa Rica e

Argentina, que são referências como Marcela Lagarde, Júlia Monárrez, Ana Carcedo, Montserrat

Sagot e Rita Segato. No Brasil, Suely Almeida foi pioneira ao publicar um livro conceituando os

homicídios conjugais estudados como femicidios. Os estudos produzidos não se reduzem a uma

questão semântica que encontra na nomeação de um problema, sua resolução. Ao contrário, o

debate emerge de contextos de violência praticada contra as mulheres em mais alto grau, cuja

evidência impede qualquer tipo de recusa a reconhecer o problema, aliado às denúncias de

familiares e pessoas próximas das vítimas.

Através de pesquisadoras feministas vinculadas à Academia e de organizações da sociedade

civil (institutos de direitos humanos, associações de mulheres, dentre outros), foram produzidos

documentos com dados de vários países, como Argentina, Chile, Costa Rica, El Salvador,

Honduras, Guatemala, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai e Peru, com objetivo de identificar e

quantificar os feminicidios para apresentar um panorama sobre a incidência e magnitude do

fenômeno. As dificuldades para o levantamento dos dados e para a classificação dos crimes como

feminicidios são inúmeras, no entanto, é possível observar um esforço teórico-político para

evidenciar esta realidade ainda invisibilizada, seja pela alta taxa de mortalidade masculina ou pela

dimensão da intimidade que envolve alguns casos, já que muitos são praticados por homens

conhecidos da vítima.

No Brasil, o conceito não “ganhou força” e, apesar, de se falar dos homicídios de mulheres

decorrentes da violência de gênero, não são nomeados como feminicidios, tampouco assim

tipificados. A violência de gênero, especialmente a que ocorre num contexto doméstico, ganhou

visibilidade e enfrentamento nos últimos anos. No entanto, as mortes de mulheres não aparecem no

foco das políticas públicas e ainda são vistas numa dimensão isolada e desconectada da estrutura

desigual que as produz.

Este trabalho, é produto de parte de minha pesquisa de doutorado e problematiza a

dificuldade em reconhecer os feminicídios, seja pela discussão conceitual “o que é um

feminicídio?”, seja pela ausência de dados sistematizados. Me deterei especialmente nesta segunda

questão que considero tarefa tal qual pisar em um campo minado. Pretendo comentar os dados do

Ministério da Saúde com base nos registros de óbito e das Secretarias de Segurança Pública, com

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base nos registros de ocorrência de homicídios para tratar da importância, sobretudo teórico-

política, de visibilizar os feminicidios dentre as mortes violentas de mulheres, a fim de garantir seu

enfrentamento.

O que entendo por feminicídio

Considerando que quero discutir a problemática do acesso e da compreensão dos dados, não

me deterei aqui em falar do (grande) desafio que é a conceituação e o reconhecimento dos

homicídios de mulheres como feminicídios. Mas preciso minimamente, (re) contar algumas

histórias e trajetórias e (re) compor o cenário do entendimento do conceito na América Latina.

A autora mais conhecida hoje nos países latino-americanos é a sul-africana radicada nos

Estados Unidos, Diana Russell. Seus textos ficaram conhecidos e são bastante referenciados.

Russell (2006) fala da importância em visibilizar a violência de gênero no caso da morte violenta de

mulheres e ora fala apenas dos casos dos homicídios, ora fala das mortes violentas de maneira geral.

O feminicídio é o extremo de um contínuo de terror antifeminino que inclui uma grande

quantidade de formas de abuso verbal e físico: como estupro, tortura, escravidão sexual

(particularmente na prostituição), incesto e abuso sexual infantil, maltrato físico e

emocional, perseguição sexual (por telefone, pelas ruas, no trabalho e em aulas), mutilação

genital (clitoridectomia, incisão), operações ginecológicas desnecessárias (histerectomias

gratuitas), heterossexualidade forçada, esterilização forçada, maternidade forçada (mediante

a criminalização dos anticoncepcionais e o aborto), psicocirurgia, negação de alimentos às

mulheres em algumas culturas, cirurgias cosmética e outras mutilações em nome da beleza.

Sempre que estas formas de terrorismo resultarem em morte são feminicidios (RUSSELL, 2006, p.57) [tradução livre] [grifo nosso].

Ciudad Juárez é uma cidade mexicana que ficou famosa no fim dos anos 90 pela incidência

dos feminicídios2. Muitas mulheres desapareceram ao longo dos anos 90 sem que seus corpos nunca

tenham sido encontrados e, por sua vez, muitos corpos foram encontrados com sinais de estupro e

mutilação inclusive praticada depois da morte da vítima. Estes casos foram os primeiros chamados

de feminicídios e este é um dos primeiros motivos que reconheço como um elemento que dificulta a

aceitação de que no Brasil acontecem feminicídios. Afinal, aqui não há um cenário semelhante ao

de Ciudad Juárez. Ou há?

Não temos até hoje nenhuma cidade brasileira em que se denunciou algo como o que

aconteceu em Ciudad Juárez, mas muitas pesquisas mostram que nos casos de homicídios de

2 Para mais informações sobre Ciudad Juárez ver: BERLANGA, Mariana. Las fronteras del concepto “feminicidio”: una

lectura de los asesinatos de mjeres de américa latina. In: Seminário Internacional Fazendo Gênero 9. Diásporas,

Diversidades e Deslocamentos. Anais Eletrônicos. Florianópolis: 2010. GUTIERREZ, Griselda Castañeda (coord).

Violencia sexista. Algunas claves para la comprensión del feminicidio en Ciudad Juárez. Facultad de Filosofía y Letras.

Programa Universitario de Estudios de Género. Universidad Nacional Autónoma de México. México – DF, 2004.

MONARREZ, Julia. Feminicidio sexual seriaL en Ciudad Juarez: 1993 – 2001. In: Revista Debate Feminista. Ano 13,

vol 25, “Violencias”, Abril 2002.

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mulheres, houve estupro e o corpo é mutilado pelo agressor3. Se bem não identificamos semelhança

plena com Ciudad Juárez, argumento que há recorrências no fenômeno dos homicídios de mulheres

e por isto eles devem ser entendidos como feminicídios.

Estudando este tema identifiquei três perspectivas de compreensão sobre ele: uma que é

mais genérica e se refere às mortes de mulheres de maneira geral, como mortes que decorrem da

prática do aborto inseguro, em contexto de mortalidade materna, em decorrência de mutilações

genitais, etc. Outra mais específica que se preocupa com a classificação dos crimes, em dizer se os

feminicídios são íntimos, são em decorrência da profissão da vítima como no caso da vitimação de

prostitutas ou mesmo tendências de análise que reivindicam que sejam chamados de feminicídios

apenas casos com características semelhantes ao que mencionei referente a Ciudad Juárez, no

México. E há ainda outra perspectiva que denomino judicializadora, pois reivindica que haja um

tipo criminal para o fenômeno ou que pelo menos haja uma qualificadora no tipo homicídio que

indique o problema. Estas três perspectivas são modos de observar, entender e avaliar o problema e

não necessariamente são excludentes, senão que são formas distintas de se debruçar sobre ele4.

A tendência sobre a qual poderíamos situar este artigo é a específica, não porque eu não

tenha críticas sobre ela, senão que neste momento, me parece importante conhecer e identificar os

tipos de feminicídios que ocorrem no Brasil, entendendo como feminicídio todo homicídio de uma

mulher cuja causa essencial foi a violência de gênero, ou seja, onde é evidente por um conjunto de

elementos de certa forma, objetivos, que o fato da vítima ser uma mulher foi determinante para a

sua morte. Suponho que a maioria dos homicídios de mulheres sejam feminicídios porque não é

possível “sair” em algum momento da vida da nossa condição de gênero, mas é preciso conhecer

esta realidade e afastar toda argumentação de que o crime foi produto da violência urbana ou não

intencional, por exemplo – suposições que invisibilizam ainda mais o problema.

3 Para este tema no Brasil, buscar as produções de Maria Dolores Brito Mota. Por exemplo, o texto: Fisiografia dos

assassinatos de mulheres – a imolação do corpo feminino no feminicidio. In: Agência de Notícias da América Latina

ADITAL. 2010. disponível em: <http://www.adital.com.br/site/noticia_imp.asp?lang=PT&img=N&cod=47667>.

Acesso em 13 de janeiro de 2013. (2010). 4 Esta discussão publiquei no seguinte trabalho GOMES, I.S. Femicidio ou feminicidio? Refletindo sobre a expressão

letal da violência de gênero contra mulheres In: XIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social, UFJF:

Juiz de Fora. 2012. Para ver autoras que identifico nas respectivas tendências, ver: LAGARDE, Marcela. Por la vida y

la libertad de las mujeres: Fin al feminicidio Día V- Juárez, 2004. Disponível em:

<www.cimacnoticias.com.mx/especiales/comision/art001.doc>. Acesso em 04 de março de 2012 e LAGARDE,

Marcela Prefacio en:RUSSEL, Diana. RADFORD, Jill. Feminicidio. La política del asesinato de las mujeres. CEIICH,

UNAM, 2006a. MONARREZ, Julia; CERVERA, Luis E Gomes. La relación de pareja y la relación espacial: vínculo

de extermínio en el feminicidio íntimo juarense. In: Feminicidio en América Latina, Coleção Diversidad Feminista,

UNAM: Ciudad de Mèxico, 2011. SEGATO, Rita Laura. ¿Que és un feminicidio? Notas para un debate emergente. En:

Serie Antropologia, UNB: Brasília, 2006. SEGATO, Rita Laura.Femi-geno-cidio en un crimen en un fuero

internacional de los derechos humanos: el derecho a nombrar el sufrimiento en el derecho. En: Feminicidio en América

Latina, Colección Diversidad Feminista, UNAM: Ciudad de Mèxico, 2011.

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Ainda que aos homicídios de mulheres se possa atribuir uma grande variedade de motivos e

de agressores, muitos casos mostram características comuns que indicam que se trata de

violência de gênero: é dizer, o gênero da vítima parece ter sido significativo do crime,

influenciando tanto no motivo e no contexto do crime, como na forma de violência a que

ela foi submetida e as respostas das autoridades a isso (ORMUSA, 2005, p.20) [Tradução

Livre].

Alguns cenários de violência (CARCEDO, SAGOT, 2000) contribuem para compreender

isto. Retomo a metáfora do “campo minado”, utilizado na dissertação de mestrado (GOMES, 2010),

para tratar sobre as inúmeras dificuldades da pesquisa sobre mortalidade de mulheres decorrente de

violência, considerando que o campo de investigação é repleto de armadilhas que podem ser

consideradas “minas” na medida em que uma informação pode me levar a muitas outras, inclusive

que confronta a primeira.

Uma das grandes “minas” deste campo, que pode colocar diversas questões para a pesquisa

proposta é a definição de feminicídio. Como diferenciar um homicídio cuja vítima foi mulher de um

feminicídio? Como saber de fato se a vítima foi morta porque era uma mulher?

É preciso considerar no mínimo três aspectos: 1) o gênero da vítima, considerando que o

patriarcado promove o ódio e vulnerabiliza tudo que se refere à identidade de gênero feminina,

ainda que esta tenha múltiplas performances (isto ajuda a pensar quando o caso é de homicídios de

homossexuais ou travestis, por exemplo). 2) as práticas cometidas com o corpo da vítima – muitas

vezes há dúvida se aquela mulher foi assassinada porque era uma mulher, entretanto, sinais de

mutilação, de estupro, de maus-tratos dirigidos especificamente ao corpo, em geral não vistos

quando a vítima é um homem, revelam uma expressão de ódio direta ao feminino. 3) a injustiça e a

impunidade – apesar destes elementos não se restringirem aos casos de feminicídios e, as mudanças

na judicialização já ter avançado muito no Brasil, ainda não é possível reconhecer que as mulheres

não são responsabilizadas pela sua morte ou afrontadas mesmo depois dela, no contexto do

julgamento, ou mesmo, que casos não deixam de serem tramitados pelo contexto de produção do

crime e pelo gênero da vítima.

Entendo que podem auxiliar na identificação dos casos alguns elementos. Destaco as

indicações incorporadas ao Código Penal mexicano, no artigo 325 acerca do que chamam “motivos

de gênero” e ainda, critérios definidos em uma pesquisa realizada em El Salvador (SOLEDAD et al,

2007). Podemos reconhecer um feminicídio quando: a) existe entre vítima e denunciado relação

afetiva ou de confiança (aqui entram todos os casos de cônjuges, ex-cônjuges, noivos, namorados,

ex-namorados, amantes, entre outras relações desta natureza ou com expectativa do homem de que

houvesse); b) o crime foi produzido no contexto de relações familiares. c) as lesões presentes no

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corpo são mutilações; d) a vítima apresenta vestígios de violência sexual; e) há antecedentes ou

informações de qualquer tipo de ameaças, perseguição ou violência do denunciado contra a vítima;

f) há indícios de ciúmes ou vingança em relação a situações de relações íntimas atuais ou passadas;

g) o corpo da vítima foi exposto em lugar público, ou qualquer outro ato de necrofilia ou pós-

vitimização; h) a vítima era trabalhadora do sexo i) no caso das mulheres integrantes de gangues,

foram acusadas de envolvimento com homens de outras gangues. A noção de “suspeita de

feminicídio” (IIDH, 2006; CARCEDO, 2010) também é eficaz, na medida em que alguns casos

podem deixar dúvidas, este pode ser um descritor para a pesquisa.

Estes quesitos foram construídos com base na realidade de outros países. Apenas analisando

a realidade brasileira será possível construir critérios mais precisos e ainda assim, não esgotarão as

possibilidades, ou darão conta da complexidade das histórias. A ideia é apenas reunir um conjunto

de características que permitem melhor compreender o fenômeno sem qualquer tentativa de

engessá-lo nas classificações. É importante identifica-los na realidade dos homicídios brasileiros.

O campo minado das (des)informações

Apesar dos avanços garantidos, dentre outras, pela Política Nacional de Enfrentamento à

Violência contra as Mulheres (2011), que consolida a preconização de levantamento de dados sobre

o fenômeno, obter determinados tipos de dados ainda é uma tarefa difícil.

Não há um indicador nacional padronizado sobre violência contra as mulheres. O que

existem são publicações isoladas que se apropriam de diversas fontes, tais como dados do

Ministério da Saúde, relatórios das Secretarias Estaduais de Segurança Pública e pesquisas de

opinião. Em levantamento sobre feminicídios no Chile foi apontado o mesmo problema “se

constatou a impossibilidade de construir uma informação que dê conta da magnitude real do

feminicídio” (ONU, 2004, p.50) [t.l.]. Ana Carcedo ao analisar os indicadores na América Latina

destaca que, os principais problemas se referem à definição do conceito de violência contra a

mulher empregada em cada levantamento e no sub-registro dependendo da fonte utilizada

(CARCEDO, 2010).

Os indicadores do Ministério da Saúde produzidos pela notificação compulsória de violência

sexual, por exemplo, são extremamente sub-notificados já que nem todas as vítimas procuram um

hospital e nem sempre a equipe que a atende realiza o registro. Este problema diminui, mas não é

resolvido, se considerarmos os dados na área da segurança pública, pois muitas mulheres também

não procuraram a policia para registrar um crime de estupro, por exemplo. Eva Blay denuncia “o

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silêncio dos dados”, indicando a dificuldade de coleta de material, o que segundo ela aponta uma

realidade: “o mais claro sintoma da posição subalterna da mulher na sociedade brasileira se revela

pela ausência de dados estatísticos sobre ela” (BLAY, 2008, p.25).

Isto foi reconhecido oficialmente em relatório do IPEA, “além da inexistência de estatísticas

nacionais, a falta de uma cultura de coleta e sistematização periódica das informações nos serviços

que compõem a rede de atendimento às mulheres torna difícil construir um quadro que retrate a real

magnitude do fenômeno da violência” (BRASIL, 2008, p.296).

Para pesquisar a existência de feminicídios no Brasil, a realidade é ainda mais desafiadora,

na medida em que o dado precisa ser construído e isto pode gerar equívocos. Estou convencida que

há que se ter clareza deles, identificá-los e seguir com as análises.

As principais bases de dados do Brasil sobre mortalidade são produzidas pelo Ministério da

Saúde e pelo Ministério de Justiça, através das Secretarias Estaduais de Segurança Pública.

O Ministério da Saúde controla todas as ocorrências de morte (através de certidão de óbito

atestada por médico/a) do país e os disponibiliza a partir do Sistema de Informações de Mortalidade

(SIM/MS)5. Dentre as informações apresentadas podemos desagregar sexo, faixa etária da vítima e

local de ocorrência - quando registrado. Waiselfisz (2011b) comenta que estas ainda são

informações bastante esquecidas, o local do crime, não apareceu em 30% dos registros analisados

para o ano de 2010.

A vantagem desta base de dados para pesquisas, além das informações trazidas, é a reduzida

possibilidade de subnotificação já que pela lei 6.216/1975 nenhum sepultamento pode ser feito sem

a certidão do registro de óbito (WAISELFISZ, 2011b). Assim, excluindo os desaparecimentos que

podem culminar em morte sem que o corpo seja encontrado e, a corrupção existente em todos os

espaços sociais, este sistema aparece como o mais completo para dar conta dos indicadores de

mortalidade no país.

O maior problema que identifico é a causa da morte atestada no registro. Apesar da

possibilidade de indicar casos de homicídios no CID-106, historicamente temos visto uma

dificuldade da equipe médica em indicar a presença do crime. É notório que muitas mortes sejam

justificadas por “parada cardíaca” (CID-10.146)7 em detrimento da sua real causa. Além disso, nas

5 Disponível para acesso em <http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=040701>. Acesso em 28 de

fevereiro de 2013. 6 Classificação Internacional de Doenças, cuja versão mais recente foi adotada pelo Ministério da Saúde desde 1996

(WAILSEFISZ, 2012). 7 Disponível em <http://www.medicinanet.com.br/cid10/1756/i46_parada_cardiaca.htm>. Acesso em 01 de março de

2013.

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apresentações de indicadores de mortalidade, a causa de morte “homicídios” é incorporada pela

causa “mortes externas” que também inclui acidentes de trânsito, afogamento e suicídio. Neste

sentido, os dados do sistema de justiça criminal se mostram mais eficazes para revelar o crime, na

medida em que, a polícia registra através de boletins de ocorrência os homicídios ocorridos8.

O problema dos indicadores do sistema de justiça criminal é a ausência de dados nacionais e

a falta de articulação entre as distintas publicações, além do que em muitas delas, o sexo da vítima é

ignorado. A última publicação das ocorrências criminais no país, incluindo os homicídios, da

Secretaria Nacional de Segurança Pública foi em 20069 (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2006). Tal

apresentação sequer trazia os dados para homens e mulheres. As Secretarias Estaduais de Segurança

Pública produzem seus indicadores sem padronização que possibilitem maiores comparações.

Se por um lado, o limite dos indicadores da área da saúde é o registro médico que ateste o

homicídio, este problema não é eliminado no caso da segurança pública, uma vez que também não é

interessante para um Estado ou Município ter altos índices de ocorrências criminais em seu

território. Portanto, seguramente quando apresentamos dados de mortalidade de mulheres,

encontramos limites importantes.

Uma fonte de dados bastante utilizada nas pesquisas é o levantamento através de jornais

impressos de maior expressividade da região. Blay (2008) e Oliveira (1998 utilizaram esta fonte.

Carcedo considera que existe um problema de credibilidade quanto às informações de mídia

impressa e, portanto ela deve ser complementar para fins de triangulação e, não ser a única. “O

Banco Nacional de Dados sobre a Violência, garimpado em jornais, é uma resposta possível às

lacunas sobre o tema” (OLIVEIRA et al, 1998, p.19).

Os maiores problemas, para obter informações precisas, já identificados são: ausência de

uma base de dados nacional homogênea, definições variadas do conceito o que dificulta

comparações com outras pesquisas; subnotificação seja pelos dados da saúde, quanto da segurança

pública; falta de credibilidade quando a fonte são os jornais locais; informações incompletas; falta

8 O Mapa da Violência (WAISELFISZ, 2011b) que utiliza os dados do SIM apresenta números absolutos de homicídios

inferiores ao que encontrei em pesquisa de campo na Delegacia de Homicídios. O Anexo I do Caderno Mulheres do

Mapa da Violência apresenta para Cuiabá em 2008, 24 homicídios de mulheres sendo que em pesquisa direta aos

inquéritos policiais, encontrei 29 homicídios ocorridos nesta capital. Ver Waiselfisz (2011b) e Gomes (2010). 9 MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Mapa do Crime - Análise das Ocorrências Registradas pelas Polícias Civis - Janeiro de

2004 a Dezembro de 2005. Brasília, 2006. Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/main.asp?ViewID=%7BCF2BAE97-

81BC-4482-95B9-983F1CC404DA%7D&params=itemID=%7BD6879A43-EA3B-4F16-91D2-

CAFD1C9DDB19%7D;&UIPartUID=%7B2868BA3C-1C72-4347-BE11-A26F70F4CB26%7D>. Acesso em 01 de

março de 2013.

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de padronização dos conceitos empregados10

e ainda, dados contraditórios em relação aos números

absolutos de casos, ou mesmo nas informações sobre a vítima e o fato ocorrido (IIDH, 2008).

A afirmação do Conselho Centroamericano de Procuradores de Direitos Humanos sobre a

situação dos feminicidios na América Central parece muito pertinente também a nossa realidade.

A falta de informação, o sub-registro e a má qualidade dos dados, assim como a confusão

dos conceitos que abordam os homicídios de mulheres em geral, femicídio como

assassinato de mulheres pelo fato de ser mulher, constituem os principais fatores que

dificultam a tarefa de completar o panorama na região (IIDH, 2006, p.58) [tradução livre].

Ao utilizarmos bases de dados distintas os resultados sempre serão contraditórios. É

importante reconhecer a instabilidade deste campo e seguir com a coleta de dados.

Experiências de outras pesquisas

Há informações acerca dos feminicidios de alguns países11

da América Latina, com

pesquisas elaboradas, majoritariamente por organizações feministas e institutos de direitos

humanos. É difícil ver iniciativas estatais ainda que feminicídio já seja um tipo criminal em alguns

lugares, o que deveria facilitar a coleta de dados.

Verifiquei treze (13) pesquisas12

nacionais de distintos países que se ocuparam de apresentar

o panorama dos feminicídios em seu território, sendo a mais antiga publicada em 2000 e a mais

recente em 2011. Destas, nove (09) se propuseram a identificar casos de feminicídios dentre os

homicídios de mulheres. As principais bases de dados utilizadas foram o acesso aos processos

criminais, inclusive aos laudos do IML e a publicação de notícias em jornais impressos de maior

10

Em Cuiabá, mesmo depois da Lei 11.340/2006 “Maria da Penha”, a causa “passional” era indicada em muitos casos

de feminicídios. Já o Dossiê Mulher produzido pelo Rio de Janeiro passou a indicar todos os crimes registrados pela lei

como causa “violência doméstica”. 11

Com informações disponíveis on line é possível ver estudos da Argentina, Chile, Peru e muitos países da América

Central como Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Panamá, com intensivo acompanhamento dos casos na

Costa Rica. 12

AMÉRICA CENTRAL: Situación y análisis del femicidio en la Región Centroamericana (2006) pelo “Instituto

Interamericano de Derechos Humanos; No olvidamos ni aceptamos – Femicidio en Centroamérica 2000 – 2006 (2010),

por Ana Carcedo e Montsserrat Sagot; ARGENTINA: Femicidios e Impunidad (2005) por Gabriela Barcaglione et al;

Informe de Investigación: Femicidios en Argentina (2010) pela Organização “La Casa del Encuentro”; COSTA RICA:

Femicidio en Costa Rica (1990-1999) (2000), por Ana Carcedo. CHILE: Femicidio en Chile (2004) pela ONU; EL

SALVADOR: Analisis de los femicidios en El Salvador: Cuando la violencia de género contra las mujeres es letal

(2007) por Morena Soledad et al; El pecado de nacer mujer – Informe cuantitativo sobre asesinatos de mujeres

(femicidios) en 2009 (2009) pela Organização CEMUJER; Analisis del feminicidio en El Salvador: Una aproximación

para el debate (2005) pela Organização ORMUSA; GUATEMALA: Feminicidios en Guatemala: crímenes contra la

humanidade (2005) pela Deputada Alba Stela Maldonado; MÉXICO: Diagnóstico de violencia feminicida en 10

entidades de la República Mexicana (1999-2005) (2006) pela Câmara dos Deputados por meio da “Comisión Especial

para conocer y dar seguimiento a las investigaciones relacionadas con los feminicidios en la República Mexicana”;

Feminicidio en México: aproximación, tendencias y cambios, 1985-2009 (2011), pela ONU Mulheres e outras

organizações. PERU: Separata nº2 – Libres de violencia: Informe sobre feminicidios en Peru (2008) por CLADEM e

outras organizações.

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circulação. Todas as pesquisas buscaram reunir o maior número de informações possíveis sobre o

tema. Apenas três (03) tiveram iniciativa ou colaboração estatal, as demais foram produzidas por

grandes associações de mulheres e organismos internacionais.

O México e a Costa Rica são os países com os maiores mapeamentos do fenômeno. Ana

Carcedo produziu um estudo sobre femicídios na Costa Rica investigando casos de 1990 a 1999 e

um estudo sobre a América Central com casos de 2000 a 2006, em ambos identificando os

feminicídios ocorridos na região. O México produziu um estudo pioneiro em 2006, mapeando e

avaliando as políticas públicas de enfrentamento á violência contra as mulheres e identificando a

violência feminicida em 10 Estados. Em 2011, publicou outro mapeamento, com foco mais

estatístico para os homicídios de mulheres ocorridos entre 1989 e 2005, discutindo teoricamente o

feminicídio, apresentando as leis estaduais e federais para o fenômeno e identificando as taxas de

homicídios por Estado13

.

Com as devidas particularidades que devem ser observadas, precisamos começar a contar as

mortes das mulheres brasileiras. Contar significa visibilizar o problema - “não identificar nem

registrar suas características leva a sua diluição, à perda de sua especificidade e aumenta o risco de

que os fatos se repitam” (MÉXICO, 2011, p.17) [t.l.]. Não é possível seguir matando as mulheres

outras vezes, física e simbolicamente.

Conclusão

O objetivo deste trabalho foi discutir, ainda que de maneira sucinta, a importância da

visibilidade dos feminicídios no Brasil.

Os feminicídios foram neste momento, definidos como todo homicídio cuja vítima foi uma

mulher onde sua condição de gênero foi fundamental para a ocorrência da sua morte, ou seja, o fato

dela ser uma mulher contribuiu diretamente para que ela morresse assassinada.

Este fenômeno foi reconhecido na América Latina, em especial no México, no final dos

anos 90, mas aqui no Brasil, ainda há grande dificuldade – por numerosos motivos – em se falar de

feminicídios.

Ressalto que é importante conhecer o conceito, examinar suas dimensões, teórico, político e

jurídicas, mas também conhecê-lo objetivamente, quer dizer, como ele se materializa na realidade.

Quantas mulheres estão sendo assassinadas no país? Quais os principais motivos? Em quais

13

Ver na Bibliografia: Para o México: MÉXICO, 2006 e ONU MUJERES, 2011. COSTA RICA CARCEDO, SAGOT,

2000 e CARCEDO, 2010.

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cenários elas são encontradas? Há recorrências nestes crimes? Há similaridades independentemente

da idade e do contexto de produção? Ou seja, o fato dela ser mulher ainda é um elemento essencial

a ser analisado? Que outros elementos são importantes nesta avaliação? Estas são algumas

perguntas necessárias para enfrentar este campo minado que se coloca frente a identificação dos

feminicídios no Brasil.

Os dados produzidos e publicizados até agora, seja pelo Ministério da Saúde, seja no âmbito

do sistema de justiça criminal, são insuficientes para mensurarmos e descrevermos o problema.

Sequer a relação entre as partes – característica essencial para reconhecer este fenômeno – é

apresentada nos relatórios observados.

No Brasil existem feminicídios. Os poucos e (mal publicizados) dados que temos justificam

esta afirmação. O fato de não termos um tipo penal ou um descritor específico para as pesquisas que

assim o denotem não significa sua ausência. Não falar especificamente de feminicídio não implica

em sua inexistência. É preciso desenraizar este campo minado.

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FLACSO: Rio de Janeiro, 2012.

A minefield of misinformation: Challenges to visualize feminicide in Brazil

Abstract: The concept of femicide, to designate killings of women whose cause is essential to their

gender the fact of being a woman, a field of debate is still open. Refers to homicides but that's not

all in many Latin American countries speak of femicide and not mean it. The key issue is to identify

the occurrence of femicide in homicides of women is a task like walking on a minefield because

you have to "see it" in homicides and also by the absence of information to increase understanding

of each case The aim of this paper is to recognize these difficulties - confronts the Ministry of

Health statistics based on death registrations and the Departments of Public Safety based on records

of occurrence of homicides - talk about the importance of theoretical and political show feminicide

occurring in the midst of the violent deaths of women to ensure its confrontation Gender violence

produces a lethal expression, it ends with the death of women Recognizing this phenomenon is

difficult but very necessary.

Keywords: Femicide, Gender Violence, Minefield.