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INTERAGIR: PENSANDO A EXTENSÃO, RIO DE JANEIRO, N. 26, P. 11-33, JUL/DEZ. 2018 11 O Santuário Nacional da Umbanda, lo- calizado na Região Metropolitana de São Paulo, é um espaço de Mata Atlântica reivindicado e recuperado pelos seus frequentadores. É reservado às práticas rituais dos adeptos das religiões afro-bra- sileiras, sobretudo da umbanda, onde as entidades estão diretamente associadas aos elementos naturais. Com base em um trabalho etnográfico (observação de campo e entrevistas) realizado com fre- quentadores do Santuário, analisamos as características do conhecimento religio- so associado aos significados das plan- tas cultuadas, bem como o acesso a esse material e a importância da existência do Santuário. Foram mencionados 64 tipos de plantas cultuadas, sendo grande parte delas componente da cultura popular bra- sileira, e que possuem um sistema de clas- sificação baseado em pares de oposição que corresponde à lógica do pensamento The “Santuário Nacional da Umbanda” (National Sanctuary of Umbanda), lo- cated in the Metropolitan Region of São Paulo state, is an area of Atlantic Forest recovered and demarked for ritual practi- ces of Afro-Brazilian religions, especially “umbanda”, whose entities are directly associated with natural elements. Based on an ethnographic work (field obser- vation and interviews) carried out with the Sanctuary visitors, we analyzed the characteristics of the religious knowle- dge associated with the meaning of the worshiped plants and importance of the Sanctuary. A total of 64 different types of plants were mentioned, most of them from the Brazilian popular culture. They have a classification system based on opposition pairs that corresponds to the logic of the Umbandist thinking. Inter- views show how the conceptions of natu- re, energy, entities and conservation are Resumo Abstract UM BOSQUE DE FOLHAS SAGRADAS: O SANTUÁRIO NACIONAL DA UMBANDA E O CULTO DA NATUREZA A GROVE OF SACRED LEAVES: THE NATIONAL SANCTUARY OF UMBANDA AND THE WORSHIP OF NATURE Autores Matheus Colli Silva. Mestrando. Universidade de São Paulo, Instituto de Biociências, Departamento de Botânica. E-mail: [email protected] Vagner Gonçalves da Silva Professor. Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Departamento de Antropologia. E-mail: [email protected] Recebido em: 21/01/2019 Aprovado em: 31/01/2019 DOI: 10.12957/interag.2018.39594 Artigo

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INTERAGIR: PENSANDO A EXTENSÃO, RIO DE JANEIRO, N. 26, P. 11-33, JUL/DEZ. 2018

UM BOSQUE DE FOLHAS SAGRADAS: O SANTUÁRIO NACIONAL DA UMBANDA E O CULTO DA NATUREZA

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O Santuário Nacional da Umbanda, lo-calizado na Região Metropolitana de São Paulo, é um espaço de Mata Atlântica reivindicado e recuperado pelos seus frequentadores. É reservado às práticas rituais dos adeptos das religiões afro-bra-sileiras, sobretudo da umbanda, onde as entidades estão diretamente associadas aos elementos naturais. Com base em um trabalho etnográfico (observação de campo e entrevistas) realizado com fre-quentadores do Santuário, analisamos as características do conhecimento religio-so associado aos significados das plan-tas cultuadas, bem como o acesso a esse material e a importância da existência do Santuário. Foram mencionados 64 tipos de plantas cultuadas, sendo grande parte delas componente da cultura popular bra-sileira, e que possuem um sistema de clas-sificação baseado em pares de oposição que corresponde à lógica do pensamento

The “Santuário Nacional da Umbanda” (National Sanctuary of Umbanda), lo-cated in the Metropolitan Region of São Paulo state, is an area of Atlantic Forest recovered and demarked for ritual practi-ces of Afro-Brazilian religions, especially “umbanda”, whose entities are directly associated with natural elements. Based on an ethnographic work (field obser-vation and interviews) carried out with the Sanctuary visitors, we analyzed the characteristics of the religious knowle-dge associated with the meaning of the worshiped plants and importance of the Sanctuary. A total of 64 different types of plants were mentioned, most of them from the Brazilian popular culture. They have a classification system based on opposition pairs that corresponds to the logic of the Umbandist thinking. Inter-views show how the conceptions of natu-re, energy, entities and conservation are

Resumo Abstract

UM BOSQUE DE FOLHAS SAGRADAS: O SANTUÁRIO NACIONAL DA UMBANDA E O CULTO DA NATUREZAA GROVE OF SACRED LEAVES: THE NATIONAL SANCTUARY OF UMBANDA AND THE

WORSHIP OF NATURE

Autores

Matheus Colli Silva. Mestrando. Universidade de São Paulo, Instituto de Biociências, Departamento de Botânica.

E-mail: [email protected]

Vagner Gonçalves da Silva Professor. Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,

Departamento de Antropologia.

E-mail: [email protected]

Recebido em: 21/01/2019 Aprovado em: 31/01/2019

DOI: 10.12957/interag.2018.39594

Artigo

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Palavras- chave: Religiões afro-brasileiras; Rituais religiosos; Conservação da natureza; Natureza/cultura. Área Temática: Meio ambienteLinha Temática: Questões ambientais; Cultura.

Keywords: Afro-Brazilian religions; Religious rituals; Conservation of nature; Nature/culture.

umbandista. Os relatos mostram como as concepções de natureza, energia, entida-des e conservação estão interligadas. Para os frequentadores, o Santuário também é visto como um lugar para o culto sagrado da umbanda, diante dos problemas con-temporâneos como violência e intolerân-cia religiosa. O processo de urbanização dificultou a relação dos umbandistas com a natureza e o acesso às ervas; daí o an-seio da comunidade pela existência de um espaço natural íntegro, sagrado e acolhe-dor, ainda que uma natureza “construída” para o culto.

interconnected. For the visitors, the Sanc-tuary is also seen as a place for the sacred cult of umbanda, in face of contemporary issues such as violence and religious into-lerance. The urbanization process made it difficult for Umbandists to relate to nature and access many worshiped herbs. The-refore, religious community longs for the maintenance of this a healthy, sacred and welcoming natural space, albeit a nature “built” for worship.

IntroduçãoAs religiões afro-brasileiras, apesar de toda a sua diversidade, podem ser generica-

mente descritas como resultantes do encontro de povos europeus, africanos e indíge-nas. A umbanda, em particular, como religião tipicamente urbana que nasceu no final do século XIX, combina elementos de religiões espíritas europeias, como o kardecismo (religião espírita criada na França e trazida ao Brasil por Allan Kardec), com elementos do candomblé e do catolicismo1,2. Consequentemente, a umbanda herda também valo-res associados a essas religiões, como a caridade, o respeito à natureza, a eternidade de espírito, a empatia e a liberdade3. Ou seja, ela pode ser entendida como uma forma religiosa que “preservou a concepção kardecista do carma, da evolução espiritual e da comunicação com os espíritos”, mas que, por outro lado “mostrou-se aberta às formas populares do culto africano”3 (p. 112). Daí, além das entidades africanas (i.e., os orixás), consagra-se também espíritos que enaltecem os povos “fundadores” do Brasil; de ma-neira que a figura do negro passa a ser representada pelos espíritos dos pretos-velhos e a do índio pelos espíritos dos caboclos, por exemplo.

Nessas religiões, é comum associar diferentes ervas ou folhas a diferentes entidades ou espíritos. Muitos são os orixás, e cada um possui o seu domínio; aqueles mais asso-ciados ao domínio da mata são Oxóssi, Ossaim ou Ogum, onde o sincretismo com os elementos vegetais é óbvio3,4. Mas mesmo outros orixás que ocupam domínios como o da água (Iemanjá, Oxum) ou do fogo (Exu, Iansã) possuem sempre pelo menos uma erva

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associada3,4. Ou seja, o papel dos elementos vegetais é nuclear na consolidação e manu-tenção dessas religiões, bem como de seus valores. E isso foi algo particularmente poten-cializado no Brasil, que é o país mais rico em número de espécies de plantas do mundo5.

No candomblé, vários estudos mostram o emprego litúrgico ou medicinal de muitas plantas, onde há um sistema de classificação complexo, além de uma intrincada relação entre as entidades, a energia espiritual (denominada “axé”) e os diferentes elementos vegetais3,4,6. No entanto, essa relação na umbanda ainda não está muito bem esclarecida e deve ser melhor explorada7. De qualquer forma, certamente o culto das entidades, tan-to na umbanda como no candomblé, torna-se bastante dificultado num contexto de ci-dade, onde há restrição de espaços naturais em detrimento do crescimento desordenado dos espaços urbanos8. Consequentemente, as religiões afro-brasileiras desenvolvem-se num contexto tipicamente urbano, elaborando estratégias para a carência de folhas sa-gradas e de espaços naturais, que se encontram cada vez mais restritos às unidades de conservação, mananciais ou áreas marginais cujo desmatamento é legalmente proibido. Por fim, há ainda aqueles pontos remanescentes que não foram alcançados pelas trans-formações decorrentes do processo de urbanização.

No entanto, a religião pode ainda “criar” ou sacralizar espaços onde a natureza pre-valeça, ainda que uma natureza “construída” para o culto, como é o caso do “Vale dos Orixás”, em Juquitiba, e do “Santuário Nacional da Umbanda” (SANU), em Santo André. Ambos são espaços no estado de São Paulo que recriam, na cidade, o “bosque sagra-do” presente nas regiões africanas de onde vieram as fontes constitutivas das religiões afro-brasileiras. O SANU em particular é um espaço reivindicado e mantido pela comu-nidade umbandista do ABC Paulista, ou seja, da região que compreende os municípios de São Caetano do Sul, Santo André, São Bernardo, Mauá, Ribeirão Pires, Diadema e Rio Grande da Serra. O Santuário ocupa uma área de cerca de 645 mil metros quadrados de uma antiga pedreira que já era utilizada pelos umbandistas desde os anos de 1970 e que posteriormente foi cedida em regime de comodato pela prefeitura do município de Santo André. O SANU localiza-se dentro de uma unidade de conservação que compreende uma extensa área de Mata Atlântica restaurada principalmente pela ação dos próprios frequentadores, que percebem a vegetação como sagrada, e tomam medidas de conser-vação, criando hábitos que ajudam a preservar esse espaço.

Ou seja, o estudo em prol do (re)conhecimento de espaços reivindicados por ação popular e sacralizados, bem como da importância dos elementos naturais que os per-meiam vem sendo cada vez mais urgente num planeta onde o espaço geográfico ten-de a ser rapidamente modificado. Além disso, o estudo das religiões afro-brasileiras é importante no sentido de valorizar uma cultura que historicamente vêm sofrendo uma série de ataques e que socialmente é marginalizada9. Tendo isso em mente, o objetivo deste trabalho é fazer uma análise dos fatores associados à natureza, espiritualidade e ervas utilizadas no contexto da umbanda, utilizando como modelo de estudo o espaço do SANU. Propõe-se apresentar um histórico do Santuário, a importância desse espaço para a prática umbandista em São Paulo e a necessidade de se manter uma vegetação íntegra para o culto. Isso servirá de subsídio para uma discussão sobre os usos religiosos das plantas na umbanda, além de trazer aspectos sobre o padrão de uso e consumo dos elementos vegetais nas religiões afro-brasileiras em São Paulo.

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MetodologiaA metodologia do trabalho consistiu em duas abordagens complementares: (1) re-

visão bibliográfica sobre os trabalhos que abordam o tema do uso dos vegetais na um-banda e no candomblé, bem como do histórico do SANU; e (2) trabalho de campo, com realização de entrevistas e observação participante.

O levantamento bibliográfico consistiu no acesso à literatura de etnobotânica e so-bre as religiões afro-brasileiras (ver referências). Além disso, também foi realizada uma síntese das informações com relação ao histórico e funcionamento do SANU, acessan-do tanto documentos oficiais (planos de manejo, laudos técnicos) como reportagens e publicações referentes ao Santuário, sobretudo aqueles disponibilizados pela equipe administradora do SANU.

Com relação ao trabalho de campo, foram entrevistadas treze lideranças de terreiros oriundas de oito templos umbandistas das regiões mais díspares da Região Metropo-litana de São Paulo e que frequentam o espaço do Santuário (Figura 1). As entrevistas ocorreram entre o período de julho e outubro de 2017. Como quatro das oito entrevistas foram realizadas com mais de uma pessoa ao mesmo tempo, formaram-se oito grupos de entrevistados (Tabela 1). Sete dos oito grupos tinham também seus terreiros próprios, e um era formado por duas pessoas que já possuíram um terreiro, mas que hoje não mais o possuem. Optou-se por priorizar entrevistar pessoas que tinham um longo histórico de frequência no Santuário e que fossem as principais representantes dos terreiros (i.e., mães ou pais-de-santo, mães-pequenas). Essas pessoas foram indicadas pela equipe da administração do Santuário, que detém os contatos dos frequentadores e que gentil-mente os ofereceu após entrar em contato com cada um dos entrevistados, informando--lhes do propósito da pesquisa e convidando-os a participarem da mesma.

As entrevistas foram de caráter semiestruturado, e seguiram um roteiro que se en-contra em material suplementar (Tabela S1). O roteiro versa basicamente sobre ques-tões relacionadas ao simbolismo religioso associado à vegetação do Santuário como um todo, bem como sobre informações mais específicas a respeito das plantas usadas no cotidiano umbandista e sobre a importância da prática dos rituais num espaço natural íntegro e zelado. A maioria das entrevistas foi realizada nos terreiros-sede e/ou nas resi-dências das lideranças (caso as mesmas não tivessem uma sede fixa). Duas entrevistas foram realizadas no próprio espaço do Santuário, onde lá também foi realizada obser-vação participante de algumas atividades, como seções de trabalho de ervas, de aten-dimento ou “passe”, seções de incorporação ou trabalhos de homenagem a entidades. Fotografias foram retiradas e áudios das entrevistas foram gravados e depois transcritos, para então serem analisados comparativamente.

A partir das transcrições, as falas dos entrevistados foram sistematizadas em uma tabela (Tabela S2, em material suplementar), procurando classificar as falas com rela-ção à concepção de natureza, das entidades e de energia, bem como a relação entre o indivíduo, a entidade, o Santuário e a natureza. Do produto desta análise comparativa, algumas falas que representam a opinião geral uma determinada questão foram selecio-nadas para aqui serem citadas.

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UM BOSQUE DE FOLHAS SAGRADAS: O SANTUÁRIO NACIONAL DA UMBANDA E O CULTO DA NATUREZA

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Figura 1

Tabela 1. Síntese das lideranças religiosas e localizações das entrevistas realizadas noperíodo entre julho e outubro de 2017. FMD: Fabiana D. e Márcia D.; RCA: Pai Rafael;MAN: Mãe Rosângela e Márcia; JUP: Mãe Jupira; ANT: Mãe Antônia; SHY: Mãe Shirley;RRA: Roberta, Antônia e Pai Ricardo; DAS: Mãe Sandra e Diego C. Grupo de entrevista Identificação Localização do terreiro Local da entrevista Data

FMD Fabiana D. Não possui sede própria. Reside em Vila Helena, Santo André, SP. Vila Helena, Santo André, SP 7/26/2017Márcia D. Não possui sede própria. Reside em Vila Helena, Santo André, SP. Vila Helena, Santo André, SP

RCA Pai Rafael Vila Marari, São Paulo, SP Vila Marari, São Paulo, SP 8/11/2017

MAN Mãe Rosângela Butantã, São Paulo, SP Butantã, São Paulo, SP 9/5/2017Márcia Butantã, São Paulo, SP Butantã, São Paulo, SP

JUP Mãe Jupira São Mateus, São Paulo, SP São Mateus, São Paulo, SP 9/8/2017ANT Mãe Antônia São Mateus, São Paulo, SP São Mateus, São Paulo, SP 9/29/2017SHY Mãe Shirley Parque Gerassi, Santo André, SP Parque Gerassi, Santo André, SP 10/9/2017

DAS Diego C. Não possui sede própria. Reside em Guaianases, São Paulo, SP. SANU 10/12/2017Mãe Sandra Não possui sede própria. Reside em Guaianases, São Paulo, SP. SANU

RRAPai Ricardo Tucuruvi, São Paulo, SP SANU

10/12/2017Antônia Tucuruvi, São Paulo, SP SANURoberta Tucuruvi, São Paulo, SP SANU

Tabela 1

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Material Suplementar Um bosque de folhas sagradas: o Santuário Nacional da Umbanda como refúgio ao culto sagrado da natureza Tabela S1. Roteiro de entrevista semi-estruturada conduzida com lideranças religiosas.

Título: Roteiro para entrevista semiestruturada

Local de ação: Santuário Nacional do Umbanda, Santo André, SP

Objetivos gerais: através de observação participante, contatos informais e entrevistas

semiestruturadas, coletar informações sobre espécies de plantas conhecidas no cotidiano da

umbanda, bem como sobre seus usos e significados. Também fazer questões relacionadas ao

simbolismo religioso associado à vegetação como um todo, sua importância para a prática dos

rituais da umbanda e importância para sua conservação e zelo.

Identificação da pessoa:

Nome

Cargo religioso

Filho/a de qual orixá ou quais as entidades/linhas que recebe

Identificação da tenda/terreiro/templo

Nome

Endereço: (rua, bairro, cidade)

Identidade religiosa (como classifica o terreiro: umbanda, candomblé, espiritismo etc.)

Quais a linhas/entidades que o terreiro cultua

Significados religiosos das plantas:

1) Qual a importância das plantas na prática da sua religião?

2) Quais as entidades que estão mais associadas à mata?

3) Qual a importância de se realizar rituais na mata?

4) Qual a importância do SANU para a prática da sua religião?

5) O que você acha da vegetação e das plantas existentes no SANU para a sua prática

religiosa?

6) Você ou sua entidade utiliza plantas em banhos, chás, remédios etc? Pode dar o nome

de algumas?

7) Das plantas que você citou, quais partes são utilizadas, de que forma são preparadas e

para qual indicação? São acrescentadas outras plantas? Quais?

8) As plantas estão associadas as entidades ou linhas (Preto velho, caboclos, exus etc.)?

Por quê? Dar exemplos.

9) Como você costuma obter esses materiais vegetais? Se coleta, tem algum período

específico de coleta ou idade da planta? Usado fresco ou seco, em floração ou não?

Tabela S1

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da

nat

urez

a.

E é

ass

im m

esm

o, a

rela

ção

com

os

gui

as é

de

amiz

ade

e co

nfia

nça.

Ele

s no

s dã

o m

uita

fe

rram

enta

, mas

a g

ente

tem

que

se

r bon

s fil

hos,

bon

s in

stru

men

tos

pra

eles

tra

balh

arem

. Ent

ão o

co

nhec

imen

to v

em a

í. M

as

cabo

clo,

pre

to-v

elho

; aqu

i, ne

ssa

casa

, cab

oclo

, pre

to-v

elho

. E n

a m

inha

est

rutu

ra, n

a m

inha

col

una,

qu

ase

todo

s te

m li

gaçã

o co

m a

m

ata.

Trab

alha

mos

mui

to c

om O

xóss

i, tra

balh

amos

com

a li

nha

dos

cabo

clos

, pre

tos-

velh

os, e

com

a

linha

de

seu

Zé ta

mbé

m, q

ue é

tu

do a

bas

e da

mag

ia, d

o en

cant

o, d

a su

sten

taçã

o, e

tudo

de

le v

em d

as m

atas

.

Tudo

o q

ue é

nat

ural

, tud

o o

que

é da

nat

urez

a pr

a ge

nte

é de

ex

trem

a im

portâ

ncia

. Que

as

ener

gias

as

quai

s tra

balh

amos

, as

qua

is o

s no

ssos

orix

ás u

sam

co

mo

elem

ento

de

traba

lho,

toda

s el

as v

êm d

a na

ture

za. E

em

gr

ande

par

te d

o re

ino

vege

tal.

Con

cepç

ão d

e en

ergi

a

-O

s or

ixás

são

forç

a da

nat

urez

a,

são

a en

ergi

a.A

gen

te s

ente

a e

nerg

ia d

o or

ixá,

a

gent

e se

nte

a en

ergi

a de

Deu

s,

mui

to m

ais

pura

.

Os

pens

amen

tos

nega

tivos

, ele

s co

nden

sam

, tod

a a

ener

gia

ela

vai f

ican

do fí

sica

. Tud

o o

que

você

col

oca

ener

gia,

se

você

fica

r ob

ceca

do p

ensa

ndo

num

a m

esm

a co

isa,

voc

ê m

esm

o co

loca

ene

rgia

naq

uela

coi

sa e

is

so te

par

alis

a. E

é is

so q

ue o

s gu

ias

vêm

e te

orie

ntam

, tra

balh

am c

om v

ocê,

é n

isso

que

pa

rte d

as e

rvas

trab

alha

m...

P

orqu

e na

real

idad

e eu

não

sou

Ju

pira

, eu

esto

u em

Jup

ira n

essa

ex

istê

ncia

. Pra

gen

te, n

ós s

omos

pa

rte d

a ce

ntel

ha d

ivin

a, to

dos

nós

som

os p

arte

da

mes

ma

cent

elha

div

ina.

Que

é D

eus,

né.

O

cris

tão.

A c

onex

ão c

om a

nat

urez

a, c

om

o no

sso

sagr

ado.

É s

im, f

orça

s na

tura

is, f

orça

s di

vina

s na

tura

is,

e qu

e es

tá p

rese

nte

em tu

do.

Ele

s tra

zem

um

a re

cone

xão,

a

reco

nexã

o, a

reca

rga,

reca

rreg

a m

uito

a e

nerg

ia, é

um

pon

to

natu

ral d

e en

ergi

a.

Nós

trab

alha

mos

esp

iritu

alm

ente

pr

a de

scar

rega

r, en

ergi

zar.

Nós

pr

ecis

amos

de

árvo

re. S

e vo

cê v

ir pa

rada

um

a pe

ssoa

num

a ár

vore

, nã

o é

porq

ue é

louc

ura.

É p

orqu

e al

i ren

ova

a en

ergi

a. V

ocê

põe

a m

ão n

a ár

vore

, voc

ê se

nte,

o

puls

ar, o

retir

ar d

aqui

lo q

ue v

ocê

traba

lhou

com

o p

acie

nte

e re

cebe

nov

amen

te d

o so

lo, q

ue é

a

terr

a, a

sus

tent

ação

no

vam

ente

, pra

dar

con

tinui

dade

no

trab

alho

.

Tudo

o q

ue é

nat

ural

, tud

o o

que

é da

nat

urez

a pr

a ge

nte

é de

ex

trem

a im

portâ

ncia

. Que

as

ener

gias

as

quai

s tra

balh

amos

, as

qua

is o

s no

ssos

orix

ás u

sam

co

mo

elem

ento

de

traba

lho,

toda

s el

as v

êm d

a na

ture

za. E

em

gr

ande

par

te d

o re

ino

vege

tal.

Rel

ação

indi

vídu

o/re

ligiã

o

Freq

uent

ava

um c

entro

, um

te

rrei

ro q

ue fr

eque

ntav

a.M

édiu

m e

um

dos

prin

cipa

is

orga

niza

dore

s do

terr

eiro

que

fre

quen

ta e

coo

rden

a, lo

caliz

ado

na Z

ona

Sul

de

São

Pau

lo. E

le

resi

de e

m It

apev

i. S

eu te

rrei

ro

frequ

enta

o e

spaç

o do

San

tuár

io

por p

elo

men

os u

ma

vez

por a

no,

para

cel

ebra

ções

de

fim d

e an

o.

Raf

ael t

ambé

m é

resp

onsá

vel p

or

min

istra

r cur

sos

de u

mba

nda

para

a c

omun

idad

e ex

tern

a e

sobr

e us

o de

pla

ntas

no

cont

exto

re

ligio

so o

u te

rapê

utic

o.

Eu

sou

umba

ndis

ta v

ai fa

zer 1

8 an

os. E

u tra

balh

ava

num

tem

plo

aqui

em

baix

o na

rua

Bot

uroc

a,

que

fech

ou. F

ique

i lá

por v

olta

de

7, 8

ano

s. E

nes

se m

eio

tem

po lá

fe

chou

e a

í a g

ente

que

ria u

m

luga

r pra

ir tr

abal

har,

ou to

mar

um

pas

se, s

eja

lá o

que

for.

E a

ge

nte

já c

onhe

cia

o S

antu

ário

po

rque

nós

íam

os c

om o

out

ro

tem

po p

ra lá

um

a ve

z po

r mês

pr

a fa

zer o

fere

nda,

trab

alho

na

natu

reza

. E a

í fic

amos

2 a

nos

lá,

as p

esso

as fo

ram

che

gand

o, e

de

repe

nte

a ge

nte

tava

num

gru

po

gran

de. E

aí a

brim

os a

qui,

e va

i fa

zer a

gora

dia

11

de o

utub

ro v

ai

faze

r 9 a

nos

que

esta

mos

com

es

se te

mpl

o ab

erto

. Há

uns

15

anos

vou

no

San

tuár

io m

ais

ou

men

os.

Eu

sou

umba

ndis

ta d

esde

que

na

sci.

Meu

pai

era

pai

-de-

sant

o,

min

ha v

ó er

a m

ãe-d

e-sa

nto.

M

inha

bis

avó

era

negr

a de

se

nzal

a. E

o m

eu b

isav

ô el

e er

a ín

dio,

de

tribo

mes

mo.

E a

í foi

pa

ssan

do d

e pa

i pra

filh

o, q

uand

o eu

era

ado

lesc

ente

meu

pai

fe

chou

, não

ass

umiu

o te

rrei

ro

que

era

pra

assu

mir.

E e

le, c

omo

a ge

nte

fala

, fez

leva

nte.

Nós

som

os u

m te

rrei

ro d

e um

band

a, e

sse

terr

eiro

exi

ste

10 a

nos

ofic

ialm

ente

. Ele

exi

ste

há u

m p

ouco

mai

s. E

u so

u um

band

ista

33 a

nos,

des

de

que

nasc

i. V

im d

e ou

tro te

rrei

ro, o

E

verto

n qu

e é

o sa

cerd

ote

cent

ral,

eu s

ou a

sac

erdo

tisa,

a

gent

e ch

ama

de m

ãe-p

eque

na. E

o

terr

eiro

exi

ste

há 1

0 an

os. A

s en

tidad

es a

qui a

s bá

sica

s a

gent

e te

m c

omo

base

a u

mba

nda

de

raiz

, um

band

a tra

dici

onal

. C

aboc

lo, p

reto

-vel

ho, q

ue s

ão a

s no

ssas

bas

es. M

as tr

abal

ham

os

com

bai

ano,

boi

adei

ro, c

om

mar

inhe

iro, c

igan

o, e

xu, e

xu é

m

uito

pre

sent

e aq

ui ta

mbé

m.

Est

ou n

a um

band

a de

sde

os 1

3 an

os, e

stou

com

55.

Tra

balh

o es

pirit

ualm

ente

nós

tem

os n

osso

es

paço

, aqu

i [na

resi

dênc

ia] e

u fa

ço c

onsu

lta e

spiri

tual

. Lá

no

terr

eiro

[no

San

tuár

io] a

gen

te fa

z os

trab

alho

s. J

á há

mai

s de

35

anos

. Ten

ho a

um

band

a co

mo

relig

ião.

Sou

a b

abá

do te

rrei

ro.

Um

a ve

z po

r ano

. Vie

mos

hoj

e po

rque

tính

amos

que

faze

r al

gum

as o

brig

açõe

s e

batiz

ar o

s no

vos

filho

s no

vos

da c

asa.

Nós

te

mos

um

terr

eiro

na

zona

nor

te

tam

bém

, ond

e fre

quen

tam

os.

Cul

tua

as s

ete

linha

s. O

s or

ixás

s cu

ltuam

os O

xalá

, Oxu

m,

Ians

ã, X

angô

, Ogu

m, N

anã,

O

balu

aiê,

Oxó

ssi,

Iem

anjá

... A

s se

te li

nhas

.

Não

, a g

ente

não

tem

terr

eiro

. A

gent

e pr

ocur

a tra

balh

ar a

mai

oria

da

s ve

zes

aqui

mes

mo.

Eu

já ti

ve

três

terr

eiro

s, m

as c

om o

utra

s pe

ssoa

s, e

não

deu

cer

to,

ente

ndeu

? A

gora

qua

ndo

tem

tra

balh

o gr

ande

a g

ente

faz

aqui

.

Rel

ação

ent

idad

e/na

ture

za

A m

ata

é ob

rigat

oria

men

te d

e O

xóss

i. O

u de

Oss

ain

se v

ocê

for

fala

r no

cand

ombl

é. A

mat

a to

da

Oxó

ssi,

as e

rvas

, Oss

ain.

que

Oss

ain

a ge

nte

sabe

que

ele

lá. N

ão d

á pr

a fa

lar o

nom

e de

to

dos

os o

rixás

, e n

em s

empr

e tra

balh

ar d

entro

de

todo

s os

or

ixás

, mas

ele

tá lá

.

A g

ente

nas

ce d

e um

cab

oclo

. A

prim

eira

ent

idad

e qu

e ap

arec

e em

Ter

ra e

fala

: “va

mos

fund

ar a

re

ligiã

o de

um

band

a” é

um

ca

bocl

o. N

a ve

rdad

e, q

uem

teve

um

a vi

dênc

ia n

a ho

ra v

iu q

ue e

le

tinha

sid

o um

pad

re n

a ou

tra v

ida,

m

as e

le s

e m

ostra

pra

gen

te

com

o um

cab

oclo

, o c

aboc

lo d

as

sete

enc

ruzi

lhad

as –

voc

ê já

dev

e te

r est

udad

o m

inim

amen

te s

obre

is

so –

com

o é

um c

aboc

lo, e

le

traz

essa

forç

a da

s m

atas

. Os

cabo

clos

. Boi

adei

ro...

Boi

adei

ro

gera

lmen

te é

no

Cer

rado

, né.

M

as q

uem

usa

m e

rvas

no

seu

traba

lho,

todo

s. A

té E

xu tr

abal

ha

com

erv

as. T

odos

, tod

o pa

nteã

o de

esp

írito

s se

usa

da

ener

gia

do

min

eral

, da

erva

, do

que

a ge

nte

tem

na

natu

reza

em

ben

efíc

io

hum

ano.

Cab

oclo

, sem

dúv

ida.

Sou

su

spei

ta e

m fa

lar,

porq

ue g

raça

s a

Deu

s po

rque

min

has

entid

ades

, pr

atic

amen

te to

das

traba

lham

co

m e

las.

Tod

as tr

abal

ham

na

mat

a. P

osso

diz

er to

das,

tira

ndo

mar

inhe

iro, q

ue n

ão te

m li

gaçã

o co

m a

s er

vas,

com

a m

ata,

o

rest

ante

todo

s.

Pra

não

dei

xar a

des

ejar

. Que

ta

lvez

nós

não

tenh

amos

co

nhec

imen

to, m

as n

a lin

ha

espi

ritua

l tem

fund

amen

to.

Ela

repr

esen

ta a

té O

xóss

i nas

m

atas

. Os

orix

ás d

as m

atas

. E

ntão

, ass

im, a

mat

a é

a co

isa

mai

s lin

da d

o m

undo

que

Deu

s po

de p

or. E

as

mat

as e

las

serv

em ta

nto

pra

gent

e to

mar

ba

nho

quan

to p

ra c

urar

.

Rel

ação

indi

vídu

o/Sa

ntuá

rio

Freq

uênc

ia h

á m

ais

de 2

0 an

os.

Vai

lá in

divi

dual

men

te, n

ão

poss

uem

um

terr

eiro

. A

ntig

amen

te, o

ace

sso

era

difíc

il,

pois

a m

ata

era

fech

ada,

um

a pe

drei

ra. Í

amos

na

conf

ianç

a do

s or

ixás

. Hoj

e há

est

rutu

ra,

segu

ranç

a, e

spaç

o. V

amos

às

veze

s.

A g

ente

[ter

reiro

] vai

lá u

ma

vez

por a

no. T

raba

lham

os o

ano

todo

aq

ui n

o te

rrei

ro, e

lá a

gen

te fa

z um

gra

nde

agra

deci

men

to p

ra

toda

s as

ent

idad

es e

orix

ás q

ue a

ge

nte

traba

lha

o an

o to

do. V

amos

no

últi

mo

final

de

sem

ana

de

nove

mbr

o. V

amos

uns

10

anos

, sem

pre

na m

esm

a te

nda.

Tem

a p

edre

ira, a

mat

a, a

ca

choe

ira.

Lá p

ra c

ima

onde

tem

a

cach

oeira

, tem

um

out

ro

espa

ço, n

ão s

ei s

e tá

abe

rto

agor

a, m

as a

ntig

amen

te é

abe

rto.

Ent

ão, n

ossa

, a m

udan

ça é

fa

ntás

tica.

Ele

tem

um

m

inho

cário

, ele

reap

rove

ita fr

utos

e

tudo

que

a g

ente

usa

pro

pr

óprio

esp

aço.

É fa

ntás

tico

o qu

e el

e fe

z al

i. E

fora

que

o

San

tuár

io é

o lu

gar a

dequ

ado

para

que

a g

ente

faça

ess

e tip

o de

coi

sa. E

ntão

ain

da b

em q

ue a

ge

nte

o es

paço

com

o o

San

tuár

io

do P

ai R

onal

do p

ra p

oder

aco

lher

ta

nta

gent

e. E

ele

reap

rove

ita

mui

ta c

oisa

, né.

Vou

de

três

a qu

atro

vez

es p

or

ano.

No

ano

pass

ado

ia q

uase

to

do m

ês, p

orqu

e eu

est

ava

no

barc

o do

Pai

Ron

aldo

, no

curs

o de

form

ação

sac

erdo

tal.

Ent

ão e

u ia

sem

pre,

todo

com

eço

de a

no

todo

s os

filh

os q

ue e

ntra

m n

a ca

sa tê

m q

ue p

assa

r por

um

a cr

uza.

Na

cach

oeira

, na

casa

de

Oxu

m. Q

ue O

xum

é d

ono

das

cach

oeira

s. E

ntão

a c

aboc

la

cruz

a to

do fi

lho-

de-s

anto

na

cach

oeira

ant

es d

e co

meç

ar o

an

o. A

ntes

de

com

eçar

os

traba

lhos

. Ent

ão to

do c

omeç

o de

an

o eu

vou

pro

San

tuár

io.

Abr

iam

a c

lare

ira e

a g

ente

tra

balh

ava

a no

ite, o

u du

rant

e o

dia

mes

mo.

A g

ente

sem

pre

ia,

uma

vez

por a

no n

o m

ínim

o a

gent

e ia

pro

San

tuár

io. E

ntão

lá é

um

a se

gura

nça

pra

gent

e, d

e nã

o tra

balh

ar n

a ru

a, d

e nã

o tra

zer a

s no

ssas

ofe

rend

as p

ra ru

a, e

lá é

se

guro

, tem

um

pes

soal

que

lim

pa, e

ntão

a g

ente

vai

pel

o m

enos

a c

ada

três

mes

es,

quan

do a

gen

te p

reci

sa

desc

arre

gar e

reca

rreg

ar a

s en

ergi

as ta

mbé

m.

Ó, a

cas

a te

m u

ns 2

0 an

os. A

ge

nte

deve

vir

pra

cá h

á un

s 15

an

os. O

sim

ples

fato

de

que

as

ofer

enda

s sã

o fe

itas,

são

co

loca

das

e o

pess

oal l

impa

de

pois

, rec

olhe

. A n

atur

eza

não

fica

suja

, não

fica

suj

eira

. Ele

s lim

pam

. É u

m e

spaç

o on

de s

e co

ncen

tra tu

do e

é fe

ito u

ma

limpe

za.

Tem

mui

tos

anos

, mai

s de

30

anos

, ach

o. A

qui n

ão ti

nha

tant

a te

nda,

tava

inau

gura

ndo,

as

imag

ens,

ain

da. E

u co

nheç

o o

Pai

Ron

aldo

mui

tos

anos

, qu

ando

ele

fazi

a bi

ngo,

bai

le, p

ra

bota

r aqu

ele

terr

eiro

que

ele

tem

o

pai b

ened

ito. D

e qu

inze

em

qu

inze

dia

s. U

ma

vez

por m

ês.

Dep

ende

, qua

ndo

tem

fest

a de

or

ixá

a ge

nte

vem

. Mas

é p

orqu

e é

difíc

il, n

em to

do m

undo

co

nseg

ue, n

em s

empr

e te

m

cond

içõe

s.

Rel

ação

in

diví

duo/

relig

ião/

soci

edad

e

Fico

rece

osa

de a

cend

er v

ela

em

cem

itério

. E ta

mbé

m é

pro

ibid

o,

ning

uém

pre

cisa

fica

r co

mpa

rtilh

ando

, é c

ompl

icad

o.

Voc

ê pa

ssa

dois

qua

rteirõ

es

daqu

i tem

ent

rega

. E a

li fic

a, te

m

anim

al, t

em c

omid

a qu

e de

terio

ra,

as p

esso

as p

assa

m e

fica

m

vend

o. É

um

resp

eito

por

que

foi

feita

um

a en

trega

ali

pra

um

orix

á. M

as te

m q

ue s

er n

um lu

gar

espe

cífic

o.

O c

ando

mbl

é ai

nda

tem

mui

to

diss

o, a

s ro

ças.

Mas

até

por

ser

es

cond

ido

ning

uém

sab

ia d

isso

50,

60

anos

atrá

s. T

ambé

m é

co

mpl

icad

a po

r con

ta d

a in

tole

rânc

ia re

ligio

sa d

e ho

je e

m

dia,

né.

Mui

to p

or c

ausa

dos

m

aus

umba

ndis

tas;

eu

não

poss

o di

zer q

ue e

sses

des

pach

os n

o m

eio

da ru

a, e

sses

trab

alho

s no

m

eio

da ru

a de

nigr

em d

emai

s, e

su

jam

até

os

noss

os p

onto

s de

fo

rça

que

seria

m u

ma

praç

a, m

as

não

tem

esp

aço

assi

m fá

cil p

ra

você

faze

r um

trab

alho

.

Ant

igam

ente

, se

fazi

a m

uito

of

eren

das

nas

ruas

e ta

l. M

as

com

o te

mpo

a g

ente

vem

to

man

do c

onsc

iênc

ia e

coló

gica

, né

, e a

í pel

os te

mpo

s qu

e a

gent

e vi

ve d

e in

segu

ranç

a ta

mbé

m.

Naq

uele

tem

po, l

á em

190

8, n

ão

se ti

nha

med

icaç

ão, n

ão s

e tin

ha

assi

stên

cia

méd

ica

com

o se

tem

ho

je. A

tecn

olog

ia n

ão ti

nha

com

o ho

je. E

ntão

, era

mui

to m

ais

fáci

l vo

cê p

egar

, abr

ir um

a ba

bosa

, pe

gar a

quel

a ba

ba, m

istu

rar u

m

pouc

o co

m u

ma

outra

erv

a e

pass

ar n

um p

é di

abét

ico,

né?

E

nten

de?

Hoj

e, a

gen

te n

ão u

sa

mai

s ta

nto

com

o m

edic

ina

com

o er

a us

ado

ante

s. A

ntes

era

mui

to

mai

s us

ado

com

o m

edic

ina.

Hoj

e a

gent

e us

a m

uito

mai

s no

pad

rão

ener

gétic

o. Is

so fa

z un

s 14

ano

s.

Sem

inco

mod

ar n

ingu

ém,

ning

uém

é o

brig

ado,

por

que

eu

sou

umba

ndis

ta, a

ouv

ir o

som

do

atab

aque

. Car

ro p

ra p

arar

; é u

m

sufo

co, a

gen

te q

ue m

ora

na

cida

de. N

ós tr

abal

ham

os n

uma

relig

ião

que

não

é in

com

odar

, e

sim

aco

mod

ar to

dos.

Aco

lher

. E

ntão

lá n

o S

antu

ário

tem

os e

sse

espa

ço q

ue te

m e

stac

iona

men

to,

tem

um

a co

mod

idad

e ta

mbé

m, e

a

segu

ranç

a. P

ra q

ue p

ossa

mos

fa

zer o

s no

ssos

trab

alho

s ga

rant

indo

tam

bém

a s

egur

ança

de

todo

s.

E a

qui n

o S

antu

ário

é o

luga

r pra

vo

cê re

alm

ente

pra

faze

r as

ofer

enda

s, n

ão fa

zer e

m q

ualq

uer

luga

r, em

qua

lque

r esq

uina

, qu

alqu

er ru

a, p

ra s

ujar

o

ambi

ente

. A g

ente

faz

aqui

m

esm

o qu

e aq

ui já

ele

s pe

gam

, jo

gam

fora

, e s

abem

a fi

nalid

ade

das

cois

as.

Rel

ação

indi

vídu

o/na

ture

za

Aqu

i a q

uest

ão d

a pr

eser

vaçã

o é

uma

gran

de b

riga.

Ant

es e

ra

norm

al, p

or e

xem

plo,

um

a en

tidad

e pe

dir p

ra fa

zer u

m

desp

acho

des

se o

u um

a of

eren

da

em c

ampo

san

to, n

um c

emité

rio,

ou n

uma

via.

.. H

oje

em d

ia a

inda

te

m –

eu

não

poss

o fa

lar q

ue n

ão

tem

– m

as a

gen

te p

ede.

.. M

as a

ge

nte

tent

a o

máx

imo

faze

r es

sa...

Ess

a lim

peza

, né.

Não

su

jar p

ra n

ão te

r que

lim

par;

mai

s ou

men

os is

so. E

ntão

a g

ente

te

nta,

den

tro d

e um

a ev

oluç

ão –

qu

e eu

ach

o qu

e a

gent

e tá

ev

olui

ndo

dent

ro d

isso

, não

é fá

cil

– vo

cê fa

lar p

ra u

m c

aboc

lo q

ue

tem

o a

rqué

tipo

do Ín

dio

que

traba

lhav

a na

mat

a, q

ue v

ocê

não

pode

usa

r a m

ata

pra

faze

r o q

ue

ele

fazi

a, é

...

A g

ente

par

te d

o pr

incí

pio

que

a na

ture

za é

um

pon

to d

e fo

rça

dos

orix

ás q

ue s

ão e

nerg

ias

de D

eus,

o fa

z se

ntid

o a

gent

e de

pred

ar

tudo

e s

ujar

tudo

, e c

orre

risc

o de

bo

tar f

ogo

na m

ata.

Ent

ão é

mui

to

bom

que

a g

ente

tenh

a um

luga

r es

pecí

fico

pra

faze

r os

noss

os

traba

lhos

relig

ioso

s. E

voc

ê fa

z co

m tr

anqu

ilida

de. T

ranq

uilid

ade

no s

entid

o de

seg

uran

ça e

ta

mbé

m v

ocê

sabe

que

ajud

ando

a p

rese

rvar

. Ent

ão tu

do

que

a ge

nte

faz,

pel

o m

enos

nós

: a

gent

e al

uga

um e

spaç

o lá

no

San

tuár

io. A

mes

ma

cois

a qu

ando

a g

ente

vai

pra

pra

ia.

Qua

ndo

a ge

nte

vai f

azer

trab

alho

de

fina

l de

ano,

a g

ente

dei

xa a

pr

aia

do je

ito q

ue a

gen

te a

chou

. M

uita

s ve

zes

a ge

nte

reco

lhe

quan

do c

hega

. A g

ente

lim

pa o

es

paço

pra

gen

te fi

car.

Suj

eira

qu

e ou

tras

pess

oas

deix

aram

.

E a

Ter

ra tá

em

col

apso

. Se

a ge

nte

cuid

ar d

ela,

a g

ente

vai

se

lasc

ar. A

gen

te ia

pra

mat

a, n

é. Ia

pr

o m

eio

da m

ata

faze

r tud

o,

reco

lhia

tudo

e d

epoi

s ia

em

bora

. P

ra n

ão d

eixa

r suj

eira

no

cam

po

sant

o. P

orqu

e vo

u te

fala

r um

a co

isa.

Que

m te

fala

r que

é

umba

ndis

ta, m

as fo

r no

mei

o da

m

ata

larg

ar [i

naud

ível

] aqu

ela

suje

ira lá

, ela

não

é.

Que

nem

árv

ores

, a g

ente

m

esm

o qu

ando

vai

trab

alha

r nas

m

atas

lá p

erto

de

casa

, eu

falo

“g

ente

, não

dei

xa v

ela

aces

a”.

Por

que

pode

peg

ar fo

go n

a m

ata.

A

inda

mai

s ag

ora

que

é te

mpo

se

co. P

orqu

e aq

ui a

gen

te te

m

que

pres

erva

r a n

atur

eza.

Aqu

ilo

lá fa

z pa

rte n

ão s

ó da

gen

te, m

as

das

outra

s cr

ianç

as q

ue tã

o vi

ndo.

Tem

, tem

as

mat

as lá

.

Rel

ação

re

ligiã

o/ci

dade

/nat

urez

a

O e

spaç

o da

cid

ade

é di

fícil

de

atin

gir.

Não

tem

aqu

ela

mes

ma

ener

gia

que

um e

spaç

o na

tura

l.

O a

umen

to d

a se

lva

de p

edra

é

mui

to c

ompl

icad

o. P

or e

xem

plo,

an

tigam

ente

um

terr

eiro

era

feito

nu

m g

rand

e qu

inta

l. H

oje

em d

ia

não

tem

. Nós

tem

os a

qui n

o fu

ndo

algu

mas

erv

as, m

as é

m

uito

com

plic

ado.

Ent

ão, n

ão te

m m

ais

terr

eiro

de

chão

bat

ido,

ent

ão a

gen

te te

m

que

se a

dapt

ar c

om is

so, q

ue

acon

tece

u co

m a

s er

vas

tam

bém

. E

ra a

ssim

. Era

mai

s fá

cil,

a ge

nte

acha

va e

rva

em to

do lu

gar.

Todo

lu

gar t

inha

terr

eno

bald

io, m

as

era

mui

to d

ifíci

l o S

antu

ário

em

si

o tra

jeto

pra

lá. P

ra c

hega

r lá

era

mui

to d

ifíci

l. E

hoj

e a

gent

e te

m

estra

da, t

em á

gua

enca

nada

. Eu

acho

que

ess

a re

laçã

o co

m o

ur

bano

, ess

a ad

apta

ção

pro

urba

no e

do

natu

ral,

que

é im

porta

nte.

Sem

dúv

ida

faci

litou

em

alg

umas

coi

sas,

difi

culto

u em

ou

tras.

É d

ifere

nte

de v

ocê

sair

na m

ata

do la

do d

e lá

, col

ocar

sua

of

eren

da e

vai

fica

r aqu

ilo lá

. M

uito

s m

ater

iais

não

são

mui

tas

veze

s de

grad

ávei

s, e

vai

pol

uir a

na

ture

za. N

ão é

a in

tenç

ão.

Mas

é c

ompl

icad

o, p

orqu

e a

mai

oria

das

mat

as, v

ocê

sabe

qu

e ho

je e

m d

ia é

per

igos

o, n

é.

Ent

ão o

u a

gent

e va

i de

man

hã,

até

o ho

rário

do

alm

oço

a ge

nte

traba

lha

e vo

lta, q

ue n

a pa

rte d

a ta

rde

é m

eio

perig

oso.

Por

que

a ge

nte

corr

e ris

co ta

mbé

m. A

qui

não.

Voc

ê po

de tr

abal

har

tranq

uilo

que

voc

ê nã

o co

rre

risco

de

alg

um b

andi

do s

air c

orre

ndo

no m

eio

do m

ato

um a

trás

do

outro

lá, o

u qu

alqu

er o

utra

coi

sa.

Ent

ão a

gen

te ja

mai

s va

i pôr

a

vida

dos

dem

ais

em ri

sco.

E

nten

deu?

O q

ue a

gen

te n

ão

quer

pra

gen

te a

gen

te n

ão q

uer

pros

dem

ais.

Rel

ação

re

ligiã

o/te

rrei

ro/n

atur

eza

Qua

ndo

os o

rixás

vão

peg

ar

erva

s, e

les

pede

m li

cenç

a. É

m

uito

bon

ito. T

udo

eles

ped

em

licen

ça p

ra ti

rar,

nunc

a pr

o de

sper

díci

o.

Por

exe

mpl

o, n

ós a

qui s

omos

um

pr

édio

, ond

e a

gent

e te

nta

min

ima,

diri

a at

é po

rcam

ente

, ter

al

gum

a co

isa

[nat

ural

] aqu

i per

to.

A á

rvor

e qu

e te

m n

a fre

nte

da

noss

a ca

sa fo

mos

nós

que

pl

anta

mos

a p

edid

o de

um

a en

tidad

e.

A g

ente

resp

eita

a n

atur

eza

porq

ue n

ós e

nten

dem

os o

s or

ixás

co

mo

man

ifest

ação

da

natu

reza

.

Ach

o qu

e pr

a el

a pe

rpet

uar,

ela

prec

isa

dess

a ev

oluç

ão. M

esm

o qu

e a

gent

e nã

o en

cont

re ta

ntos

po

ntos

. Mas

pre

serv

ando

ess

es

pont

os q

ue e

xist

em, p

rese

rvan

do

o qu

e a

gent

e te

m, o

que

a g

ente

en

cont

ra. P

or is

so q

ue a

um

band

a é

tão

ligad

a à

cons

erva

ção

da n

atur

eza.

Eu

sou

chat

a pr

a ca

ram

ba c

om re

laçã

o a

isso

... E

u ac

ho q

ue s

im, a

gen

te

tem

que

pre

serv

ar, n

ão jo

gar l

ixo

no c

hão,

sab

e? E

sse

tipo

de

cois

a, d

e pe

quen

os h

ábito

s...

“Ah,

m

as v

ocê

é um

a em

um

milh

ão”.

OK

, mas

se

eu fi

zer,

eu c

omo

umba

ndis

ta fi

zer,

eu v

ou s

er

form

ador

a de

opi

nião

, ent

ão

acab

a fo

rman

do o

utra

s op

iniõ

es e

is

so fu

ncio

na d

e ve

rdad

e.

Pra

con

serv

ação

. Na

linha

m

édic

a, tr

abal

ham

os c

om e

rvas

. E

ntão

as

erva

s é

mui

to

nece

ssár

io, c

omo

os c

rista

is. P

ra

nós,

term

os u

m e

spaç

o de

ntro

da

mat

a, n

ós p

rese

rva

tudo

.

Rel

ação

indi

vídu

o/er

vas

Eu

conh

eço

as p

lant

as. P

lant

as

med

icin

ais,

por

que

venh

o de

um

a he

ranç

a qu

e se

usa

va m

uito

pl

anta

s, tr

abal

hava

com

pla

ntas

, m

inha

traba

lhav

a m

uito

com

pl

anta

s.

Se

você

for s

enta

r com

igo,

eu

vou

ter b

anho

pre

para

do já

, co

nser

vado

em

álc

ool,

pra

faci

litar

, sab

e? P

ó qu

e dá

pra

ut

iliza

r qua

ndo

você

tá a

li na

ra

pide

z...

Tudo

pra

faci

litar

. E o

S

antu

ário

vem

isso

tam

bém

.

Rel

ação

ent

idad

es/e

rvas

Os

cabo

clos

, os

orix

ás te

m m

ais

sabe

doria

, ele

s pe

gam

um

mat

o qu

e eu

nun

ca v

i. E

u nã

o co

nheç

o.

Mas

o o

rixá

conh

ece.

Ele

tem

a

sabe

doria

ade

quad

a pr

a pe

gar

qual

quer

pla

ntin

ha ra

stei

ra q

ue

ele

tem

um

sig

nific

ado.

De

cura

ca

rnal

, esp

iritu

al, a

stra

l.

E m

uito

pre

sent

e co

m a

s er

vas

tam

bém

. Tra

balh

a m

uito

com

as

erva

s. T

odos

ele

s tra

balh

am. P

ra

gent

e é

fund

amen

tal,

pra

nós

com

o m

édiu

ns, c

omo

traba

lhad

ores

de

umba

nda

é fu

ndam

enta

l o u

so d

as e

rvas

, e

pra

eles

com

o fe

rram

enta

de

traba

lho.

Rel

ação

indi

vídu

o e

dico

tom

ia

cida

de/n

atur

eza

Não

con

heço

out

ros

espa

ços

de

mat

a, m

as ta

mbé

m p

orqu

e nó

s nu

nca

proc

uram

os.

Hoj

e em

dia

, por

ser

difí

cil d

e ac

har n

a na

ture

za, a

gen

te u

sa

mui

ta e

rva

seca

. Prim

eiro

, sai

ba a

pr

oced

ênci

a. É

igua

l qua

lque

r co

isa

que

eu v

ou c

oloc

ar c

omo

um c

rem

e.

Hoj

e em

dia

exi

stem

vár

ios.

...

Vár

ios.

Eu

conh

eço

de fr

eque

ntar

o

San

tuár

io. T

em u

m o

utro

luga

r qu

e é

de C

acho

eira

que

eu

não

sei s

e fu

ncio

na. Q

ue a

gen

te ia

fa

zer t

raba

lho

lá, m

as n

ão te

m o

m

esm

o pr

incí

pio

do P

ai R

onal

do.

Tem

um

luga

r em

Naz

aré

Pau

lista

. Ent

ão h

oje

em d

ia já

te

m a

lgun

s S

antu

ário

s. A

pesa

r de

a ge

nte

não

conh

ecer

os

outro

s to

dos,

mas

pel

o qu

e a

gent

e ou

viu

fala

r é d

o m

esm

o je

ito.

Alg

umas

são

pro

prie

dade

s pa

rticu

lare

s e

eles

usa

m is

so p

ra

reve

rter,

pra

cons

erva

r os

espa

ços.

Ant

igam

ente

era

mai

s fá

cil d

e co

nseg

uir e

rvas

.Mui

tas

casa

s co

m q

uint

al. H

oje

em d

ia já

o te

m m

ais.

Voc

ê te

m q

ue ir

em

mer

cado

, tem

que

com

prar

na

band

ejin

ha o

u em

maç

o fe

chad

o.

Ent

ão q

uand

o a

gent

e pe

ga n

o m

erca

do, a

gen

te s

abe

que

é um

a co

isa

pelo

men

os c

ertin

ha,

regu

lariz

ada.

Não

é u

ma

cois

a qu

e tá

em

bei

ra d

e es

trada

.

Nós

faze

mos

mag

ia c

om

umba

nda,

nós

tem

os a

relig

ião

umba

nda

é um

a re

ligiã

o m

uito

rit

ualís

tica,

mag

ístic

a, e

que

é

uma

relig

ião

que

se to

rnou

hoj

e ur

bana

.

Não

, exi

stem

out

ros

luga

res,

m

as, a

ssim

, com

a e

stru

tura

or

gani

zada

é e

sse

aqui

. Lá

na

noss

a re

gião

tem

cac

hoei

ra

tam

bém

, mas

é m

enos

or

gani

zado

, bem

men

os.

Org

aniz

ação

, seg

uran

ça.

Ace

sso

às e

rvas

Con

segu

imos

no

boca

-a-b

oca.

Q

uand

o é

uma

plan

ta m

ais

difíc

il,

pega

na

mat

a qu

e fic

a no

ca

min

ho d

e vo

lta d

o S

antu

ário

. S

e nã

o, a

gen

te p

ede

pro

pess

oal

que

a ge

nte

conh

ece.

Em

feira

s é

mai

s di

fícil.

Hoj

e em

dia

tem

m

uito

cas

a de

erv

as. M

as

pess

oalm

ente

não

con

fio m

uito

. P

orqu

evoc

ê po

r exe

mpl

o co

mpr

a lá

um

saq

uinh

o de

set

e er

vas.

Q

uem

gar

ante

que

aqu

ilo a

li va

i te

r as

erva

s lá

? E

ntão

a g

ente

pr

efer

e, m

esm

o qu

e se

ja u

m

pouc

o di

fícil,

a p

lant

a m

esm

o. S

e m

inha

mãe

não

sab

e,

perg

unta

mos

pro

meu

tio,

se

ele

não

sabe

per

gunt

amos

pra

out

ra

tia. P

rocu

ram

os fa

zer u

m b

em-

bola

do p

ra c

onse

guir

a pl

anta

m

esm

o. N

o fim

tudo

cer

to.

Eu

parti

cula

rmen

te te

nho

uma

senh

ora

que

traba

lha

com

erv

as.

Ent

ão e

la tr

az p

ra m

im. A

qui p

or

exem

plo

no te

rrei

ro a

gen

te

cham

a el

a de

“tra

fican

te”

[Ris

adas

]. P

orqu

e eu

peç

o as

er

vas,

ela

que

arr

uma

pra

todo

m

undo

. A p

rópr

ia c

asa

de

tem

pero

tem

bas

tant

e co

isa.

Mas

o no

rmal

men

te e

ssas

cas

as d

e pr

odut

os n

atur

ais

que

tem

tudo

qu

e pr

ocur

a. E

o q

ue n

ão te

m

você

vai

na

feira

... C

EA

SA

. Ou

um c

onta

to q

ue v

ocê

vai a

char

. E

você

vai

pla

ntan

do n

a su

a ca

sa.

Eu

tenh

o um

a ho

rta p

ra is

so. A

s er

vas

que

eu m

ais

uso

eu q

ue

cuid

o, e

u qu

e fa

ço, e

u qu

e pl

anto

. P

ra q

ue e

u te

nha

isso

mai

s fá

cil

pra

man

usea

r ela

s. M

as n

em

todo

mun

do te

m e

sse

terr

eno

em

casa

que

con

segu

e pr

a fa

zer

isso

.

Ain

da b

em, h

oje

em d

ia, é

mui

to

fáci

l voc

ê ac

har a

s er

vas.

Tod

a ca

sa d

e m

acum

beiro

sem

pre

tem

um

a er

vinh

a pl

anta

da, n

é. A

qui a

ge

nte

tem

um

as e

rvas

pla

ntad

as.

A g

ente

tom

a m

uito

cui

dado

ond

e a

gent

e va

i com

prar

as

erva

s,

erva

fres

ca, p

rinci

palm

ente

erv

a se

ca. V

ocê

vê, v

ocê

pass

a em

P

inhe

iros

você

um m

onte

de

luga

r ven

dend

o aq

uela

s ár

vore

s to

rran

do n

o so

l, aí

peg

a ch

uva.

.. Is

so n

ão é

lega

l. E

ntão

as

fresc

as, t

em d

uas

méd

iuns

aqu

i qu

e vã

o na

feira

. Um

a m

ulhe

r que

pl

anta

e c

olhe

, tra

z su

per

fresq

uinh

a...

Tem

os o

mer

cado

da

Lap

a ta

mbé

m, q

ue te

m d

uas

banc

as q

ue fo

rnec

em...

A g

ente

te

m a

lgun

s tra

balh

ador

es q

ue

tem

erv

a em

bas

tant

e qu

antid

ade

em c

asa,

que

traz

. Mas

no

rmal

men

te q

uand

o a

gent

e va

i co

mpr

ar s

eco,

a g

ente

pro

cura

co

mpr

ar, p

or e

xem

plo,

alg

umas

eu

com

pro

no M

undo

Ver

de. A

ge

nte

tem

um

dis

tribu

idor

que

fica

no

Bel

enzi

nho

que

a ge

nte

com

pra.

..

Cad

a um

tem

um

pou

co d

e er

va

em c

asa.

Que

nem

ess

a do

na

Fátim

a, e

la te

m u

m b

orbo

, m

enin

o, q

ue é

mai

or q

ue e

u. É

um

a ár

vore

. Ela

tem

mui

ta p

lant

a.

Eu

não

tenh

o pl

anta

. Por

que

aqui

a

gent

e nã

o te

m q

uint

al. S

eria

um

so

nho

de c

onsu

mo

a ge

nte

esta

r nu

ma

casa

que

tive

sse

quin

tal e

a

gent

e co

nseg

uiss

e te

r as

noss

as

erva

s aq

ui. M

as é

impo

ssív

el.

Ent

ão, a

lgum

as e

u co

nsig

o na

m

ata

mes

mo.

Eu

sou

priv

ilegi

ada

porq

ue e

u na

sci e

me

crie

i aqu

i nu

m b

airr

o pr

óxim

o, q

ue a

inda

te

m m

uito

veg

etal

, que

é u

m

peda

ço d

e M

ata

Atlâ

ntic

a. E

ntão

eu

enc

ontro

mui

ta c

oisa

na

mat

a.

Eu

cres

ci lá

, ent

ão p

ra m

im é

m

uito

fam

iliar

. Eu

cons

igo

mui

ta

cois

a pr

a tra

balh

ar n

a es

teira

. M

as p

ra c

ultiv

o, te

nho

que

com

prar

. Ent

ão e

u co

mpr

o m

uda,

te

m u

m a

quár

io a

qui p

erto

de

Itaqu

era.

Exi

ste

tam

bém

um

a re

laçã

o de

am

izad

e e

conf

ianç

a ne

las.

Ent

ão e

u co

mpr

o m

uito

, ex

iste

m o

s m

atei

ros

que

traze

m.

Na

25 d

e M

arço

tem

um

in

terp

osto

, per

to d

o M

erca

dão,

el

es tr

azem

mui

ta c

oisa

. Ent

ão lá

é

um b

om lu

gar p

ra s

e co

mpr

ar

erva

s em

qua

ntid

ade.

E a

qui e

m

São

Pau

lo, S

anto

And

ré e

São

B

erna

rdo,

ele

s tê

m, s

abe

aque

las

área

s de

ant

ena

de tr

ansm

issã

o,

aque

las

torr

es?

Ele

s cu

ltiva

m

mui

to a

li, e

les

culti

vam

hor

taliç

as,

e ou

tras

erva

s. Q

ue é

ond

e ta

mbé

m e

u co

mpr

o pr

as e

stei

ras.

A

li o

pess

oal a

caba

m p

lant

ando

e

vend

endo

, doa

ndo,

ent

ão é

en

graç

ado,

mas

o p

esso

al a

qui

de b

aixo

con

segu

e fá

cil.

Tam

bém

tem

mui

to a

qui n

as

casa

s de

erv

as, e

tam

bém

um

a m

ata

aqui

per

to. E

a g

ente

se

mpr

e se

com

unic

ando

. Por

que,

a

ama

da c

asa,

trab

alha

com

a

linha

de e

rvas

. Ess

a qu

e dá

o

curs

o lá

em

São

Ber

nard

o. É

, in

do p

ro S

antu

ário

, ali

tem

mui

to,

mui

to m

esm

o. H

oje

tem

, com

o an

tigam

ente

nós

atra

vess

ávam

os

pelo

tele

féric

o. A

gora

a g

ente

a vo

lta. M

as a

li te

m ta

ntas

erv

as,

que

o po

vo n

em c

onhe

ce.

É fá

cil.

Um

a ou

out

ra q

ue te

m u

m

pouc

o m

ais

de d

ificu

ldad

e. A

porq

ue, a

ssim

, as

veze

s te

m

mui

tas

que

dão

no m

eio

da m

ata

mes

mo.

E a

gen

te s

abe

que

hoje

se

alg

uém

peg

ar v

ocê

tiran

do

uma

plan

ta d

o m

eio

da m

ata,

um

a pl

anta

nat

iva,

é c

rime

ambi

enta

l. E

ntão

a g

ente

vai

at

rás

de lu

gare

s qu

e co

mer

cial

izam

isso

, aca

ba s

endo

m

ais

difíc

il, e

voc

ê ac

aba

enco

ntra

ndo

seca

. Mas

fres

ca

real

men

te a

lgum

as s

ão m

ais

difíc

eis.

Eu

plan

to. L

á on

de m

eu p

ai m

ora,

eu

mor

o em

apa

rtam

ento

. Mas

on

de m

inha

irm

ã m

ora,

que

meu

pa

i tem

um

terr

eno

vazi

o, a

gen

te

toda

vez

que

pre

cisa

a g

ente

pl

anta

. Mas

qua

ndo

não

tem

, que

ne

m, e

ssa

cida

de...

Pra

pla

ntar

, pe

de p

ro v

izin

ho. S

empr

e te

m

algu

ém q

ue te

m. O

u se

não

tem

va

i a s

eca

mes

mo.

Não

, sem

pre

foi f

ácil

[par

a en

cont

rar e

rvas

]. S

empr

e te

ve.

Page 8: UM BOSQUE DE FOLHAS SAGRADAS: O SANTUÁRIO NACIONAL …

INTERAGIR: PENSANDO A EXTENSÃO, RIO DE JANEIRO, N. 26, P. 11-33, JUL/DEZ. 2018

UM BOSQUE DE FOLHAS SAGRADAS: O SANTUÁRIO NACIONAL DA UMBANDA E O CULTO DA NATUREZA

18

Mat

eria

l Sup

lem

enta

r'U

m b

osqu

e de

folh

as s

agra

das:

o S

antu

ário

Nac

iona

l da

Um

band

a co

mo

refú

gio

ao c

ulto

sag

rado

da

natu

reza

'Ta

bela

S2.

Tab

ela

com

para

tiva

rela

cion

ando

fala

s do

s en

trev

ista

dos

à co

ncep

ção

de n

atur

eza,

ent

idad

es e

de

ener

gia,

bem

com

o re

laçã

o en

tre

o in

diví

duo,

a e

ntid

ade,

o S

antu

ário

e a

nat

urez

a. F

MD

: Fab

iana

D. e

méd

ium

Már

cia

D.;

RC

A: P

ai R

afae

l; M

AN

: Mãe

Ros

ânge

la e

Már

cia;

JU

P: M

ãe

Jupi

ra; A

NT:

Mãe

Ant

ônia

; SH

Y: M

ãe S

hirle

y; R

RA

: Rob

erta

, Ant

ônia

e P

ai R

icar

do; D

AS:

Mãe

San

dra

e D

iego

C.

Variá

veis

FMD

RC

AM

AN

JUP

AN

TSH

YR

RA

DA

S

Con

cepç

ão d

e na

ture

za

O q

ue v

ocê

faz

na n

atur

eza

você

de

ixa

a en

ergi

a al

i. O

s el

emen

tos

natu

rais

te d

ão fo

rça.

A n

atur

eza

é o

luga

r ade

quad

o, p

ossu

i erv

as

e en

ergi

a.

A n

atur

eza

é um

pon

to d

e fo

rça.

É

terr

a de

Oxó

ssi,

de O

ssai

n.

Voc

ê es

tar p

erto

da

natu

reza

, on

de, a

lém

de

ser n

atur

eza,

ess

e es

paço

tá c

onsa

grad

o de

ntro

da

noss

a re

ligiã

o pr

o cu

lto, t

em u

ma

ener

gia

mui

to g

rand

e, m

uito

...

Não

diri

a qu

e m

aior

, mas

ond

e vo

cê te

m o

con

tato

dire

to c

om

essa

forç

a ve

geta

l.

O p

onto

de

forç

a do

s or

ixás

é n

a na

ture

za. E

qua

ndo

a ge

nte

sai

do te

mpl

o e

vai f

azer

um

trab

alho

de

sse

dent

ro d

e um

esp

aço

com

o o

San

tuár

io, d

e ve

geta

ção,

tem

rios

pont

os d

e fo

rça

né. T

em a

pe

drei

ra, a

mat

a, a

cac

hoei

ra.

Ent

ão a

gen

te e

nerg

etic

amen

te

pra

gent

e é

mui

to m

elho

r. N

ão

faz

sent

ido

você

fica

r suj

ando

um

po

nto

de fo

rça

que

é pu

ra e

nerg

ia

cósm

ica.

Por

que

a ge

nte

apre

nde

com

os

guia

s. P

rimei

ra c

oisa

: res

peita

r o

ambi

ente

que

nos

sus

tent

a. A

lo

uvaç

ão q

ue fa

lam

os

orix

ás é

a

oraç

ão d

a na

ture

za. T

odo

esse

cu

idad

o pr

a cu

idar

da

natu

reza

. P

orqu

e el

a cu

ida

da g

ente

.

Pai

Ron

aldo

fala

um

a co

isa

mui

to

impo

rtant

e e

eu s

igo

mui

to q

ue

umba

ndis

ta n

ão p

reci

sa d

e um

te

mpl

o, o

tem

plo

é a

natu

reza

, nó

s so

mos

um

tem

plo

vivo

, e e

u já

vi,

reca

rreg

uei,

me

reco

nect

ei

deba

ixo

de u

ma

árvo

re. A

cho

que

o co

ntat

o m

esm

o co

m o

nat

ural

, os

pon

tos

de fo

rças

que

são

a

mat

a, o

mar

, a c

acho

eira

. Ele

s tra

zem

um

a re

cone

xão,

a

reco

nexã

o, a

reca

rga,

reca

rreg

a m

uito

a e

nerg

ia, é

um

pon

to

natu

ral d

e en

ergi

a.

E tu

do v

amos

trab

alha

r com

er

vas,

den

tro d

aque

le e

lem

ento

, te

rra,

mas

as

erva

s é

que

sim

boliz

am tu

do o

que

tra

balh

amos

. Ent

ão a

erv

a pr

a nó

s, e

a m

ata,

o s

olo,

é s

agra

do.

Tudo

o q

ue é

nat

ural

, tud

o o

que

é da

nat

urez

a pr

a ge

nte

é de

ex

trem

a im

portâ

ncia

. Que

as

ener

gias

as

quai

s tra

balh

amos

, as

qua

is o

s no

ssos

orix

ás u

sam

co

mo

elem

ento

de

traba

lho,

toda

s el

as v

êm d

a na

ture

za. E

em

gr

ande

par

te d

o re

ino

vege

tal.

E e

u ac

ho q

ue a

impo

rtânc

ia d

as

mat

as é

tam

bém

a e

nerg

ia q

ue

as m

atas

tem

, é u

ma

ener

gia

fora

do

com

um p

ra g

ente

né,

pra

usa

r, é

uma

outra

ene

rgia

, tra

z co

isas

bo

as p

ra g

ente

.

Con

cepç

ão d

e en

tidad

es

Os

orix

ás tê

m a

forç

a do

s el

emen

tos

que

eles

nee

ssita

m, e

na

nat

urez

a, c

omo

o m

édiu

m e

os

orix

ás a

bsor

vem

a fo

rça

dos

elem

ento

s, o

orix

á te

m o

pod

er

dele

de

elim

inar

naq

uele

s el

emen

tos.

Os

orix

ás s

ão fo

rça

da n

atur

eza

e po

ntos

de

forç

a. O

pon

to d

e fo

rça

tem

que

aco

ntec

er.

E é

lega

l por

que

a ge

nte

vai

cola

bora

ndo

tam

bém

com

ess

a co

isa

de re

faze

r, de

man

ter o

s es

paço

s qu

e sã

o po

ntos

de

forç

a da

nat

urez

a pr

a ge

nte.

Ent

ão D

eus

se fe

z pr

esen

te n

a Te

rra

atra

vés

de s

eus

orix

ás.

Orix

á na

da m

ais

é do

que

ene

rgia

da

nat

urez

a.

E é

ass

im m

esm

o, a

rela

ção

com

os

gui

as é

de

amiz

ade

e co

nfia

nça.

Ele

s no

s dã

o m

uita

fe

rram

enta

, mas

a g

ente

tem

que

se

r bon

s fil

hos,

bon

s in

stru

men

tos

pra

eles

tra

balh

arem

. Ent

ão o

co

nhec

imen

to v

em a

í. M

as

cabo

clo,

pre

to-v

elho

; aqu

i, ne

ssa

casa

, cab

oclo

, pre

to-v

elho

. E n

a m

inha

est

rutu

ra, n

a m

inha

col

una,

qu

ase

todo

s te

m li

gaçã

o co

m a

m

ata.

Trab

alha

mos

mui

to c

om O

xóss

i, tra

balh

amos

com

a li

nha

dos

cabo

clos

, pre

tos-

velh

os, e

com

a

linha

de

seu

Zé ta

mbé

m, q

ue é

tu

do a

bas

e da

mag

ia, d

o en

cant

o, d

a su

sten

taçã

o, e

tudo

de

le v

em d

as m

atas

.

Tudo

o q

ue é

nat

ural

, tud

o o

que

é da

nat

urez

a pr

a ge

nte

é de

ex

trem

a im

portâ

ncia

. Que

as

ener

gias

as

quai

s tra

balh

amos

, as

qua

is o

s no

ssos

orix

ás u

sam

co

mo

elem

ento

de

traba

lho,

toda

s el

as v

êm d

a na

ture

za. E

em

gr

ande

par

te d

o re

ino

vege

tal.

Con

cepç

ão d

e en

ergi

a

-O

s or

ixás

são

forç

a da

nat

urez

a,

são

a en

ergi

a.A

gen

te s

ente

a e

nerg

ia d

o or

ixá,

a

gent

e se

nte

a en

ergi

a de

Deu

s,

mui

to m

ais

pura

.

Os

pens

amen

tos

nega

tivos

, ele

s co

nden

sam

, tod

a a

ener

gia

ela

vai f

ican

do fí

sica

. Tud

o o

que

você

col

oca

ener

gia,

se

você

fica

r ob

ceca

do p

ensa

ndo

num

a m

esm

a co

isa,

voc

ê m

esm

o co

loca

ene

rgia

naq

uela

coi

sa e

is

so te

par

alis

a. E

é is

so q

ue o

s gu

ias

vêm

e te

orie

ntam

, tra

balh

am c

om v

ocê,

é n

isso

que

pa

rte d

as e

rvas

trab

alha

m...

P

orqu

e na

real

idad

e eu

não

sou

Ju

pira

, eu

esto

u em

Jup

ira n

essa

ex

istê

ncia

. Pra

gen

te, n

ós s

omos

pa

rte d

a ce

ntel

ha d

ivin

a, to

dos

nós

som

os p

arte

da

mes

ma

cent

elha

div

ina.

Que

é D

eus,

né.

O

cris

tão.

A c

onex

ão c

om a

nat

urez

a, c

om

o no

sso

sagr

ado.

É s

im, f

orça

s na

tura

is, f

orça

s di

vina

s na

tura

is,

e qu

e es

tá p

rese

nte

em tu

do.

Ele

s tra

zem

um

a re

cone

xão,

a

reco

nexã

o, a

reca

rga,

reca

rreg

a m

uito

a e

nerg

ia, é

um

pon

to

natu

ral d

e en

ergi

a.

Nós

trab

alha

mos

esp

iritu

alm

ente

pr

a de

scar

rega

r, en

ergi

zar.

Nós

pr

ecis

amos

de

árvo

re. S

e vo

cê v

ir pa

rada

um

a pe

ssoa

num

a ár

vore

, nã

o é

porq

ue é

louc

ura.

É p

orqu

e al

i ren

ova

a en

ergi

a. V

ocê

põe

a m

ão n

a ár

vore

, voc

ê se

nte,

o

puls

ar, o

retir

ar d

aqui

lo q

ue v

ocê

traba

lhou

com

o p

acie

nte

e re

cebe

nov

amen

te d

o so

lo, q

ue é

a

terr

a, a

sus

tent

ação

no

vam

ente

, pra

dar

con

tinui

dade

no

trab

alho

.

Tudo

o q

ue é

nat

ural

, tud

o o

que

é da

nat

urez

a pr

a ge

nte

é de

ex

trem

a im

portâ

ncia

. Que

as

ener

gias

as

quai

s tra

balh

amos

, as

qua

is o

s no

ssos

orix

ás u

sam

co

mo

elem

ento

de

traba

lho,

toda

s el

as v

êm d

a na

ture

za. E

em

gr

ande

par

te d

o re

ino

vege

tal.

Rel

ação

indi

vídu

o/re

ligiã

o

Freq

uent

ava

um c

entro

, um

te

rrei

ro q

ue fr

eque

ntav

a.M

édiu

m e

um

dos

prin

cipa

is

orga

niza

dore

s do

terr

eiro

que

fre

quen

ta e

coo

rden

a, lo

caliz

ado

na Z

ona

Sul

de

São

Pau

lo. E

le

resi

de e

m It

apev

i. S

eu te

rrei

ro

frequ

enta

o e

spaç

o do

San

tuár

io

por p

elo

men

os u

ma

vez

por a

no,

para

cel

ebra

ções

de

fim d

e an

o.

Raf

ael t

ambé

m é

resp

onsá

vel p

or

min

istra

r cur

sos

de u

mba

nda

para

a c

omun

idad

e ex

tern

a e

sobr

e us

o de

pla

ntas

no

cont

exto

re

ligio

so o

u te

rapê

utic

o.

Eu

sou

umba

ndis

ta v

ai fa

zer 1

8 an

os. E

u tra

balh

ava

num

tem

plo

aqui

em

baix

o na

rua

Bot

uroc

a,

que

fech

ou. F

ique

i lá

por v

olta

de

7, 8

ano

s. E

nes

se m

eio

tem

po lá

fe

chou

e a

í a g

ente

que

ria u

m

luga

r pra

ir tr

abal

har,

ou to

mar

um

pas

se, s

eja

lá o

que

for.

E a

ge

nte

já c

onhe

cia

o S

antu

ário

po

rque

nós

íam

os c

om o

out

ro

tem

po p

ra lá

um

a ve

z po

r mês

pr

a fa

zer o

fere

nda,

trab

alho

na

natu

reza

. E a

í fic

amos

2 a

nos

lá,

as p

esso

as fo

ram

che

gand

o, e

de

repe

nte

a ge

nte

tava

num

gru

po

gran

de. E

aí a

brim

os a

qui,

e va

i fa

zer a

gora

dia

11

de o

utub

ro v

ai

faze

r 9 a

nos

que

esta

mos

com

es

se te

mpl

o ab

erto

. Há

uns

15

anos

vou

no

San

tuár

io m

ais

ou

men

os.

Eu

sou

umba

ndis

ta d

esde

que

na

sci.

Meu

pai

era

pai

-de-

sant

o,

min

ha v

ó er

a m

ãe-d

e-sa

nto.

M

inha

bis

avó

era

negr

a de

se

nzal

a. E

o m

eu b

isav

ô el

e er

a ín

dio,

de

tribo

mes

mo.

E a

í foi

pa

ssan

do d

e pa

i pra

filh

o, q

uand

o eu

era

ado

lesc

ente

meu

pai

fe

chou

, não

ass

umiu

o te

rrei

ro

que

era

pra

assu

mir.

E e

le, c

omo

a ge

nte

fala

, fez

leva

nte.

Nós

som

os u

m te

rrei

ro d

e um

band

a, e

sse

terr

eiro

exi

ste

10 a

nos

ofic

ialm

ente

. Ele

exi

ste

há u

m p

ouco

mai

s. E

u so

u um

band

ista

33 a

nos,

des

de

que

nasc

i. V

im d

e ou

tro te

rrei

ro, o

E

verto

n qu

e é

o sa

cerd

ote

cent

ral,

eu s

ou a

sac

erdo

tisa,

a

gent

e ch

ama

de m

ãe-p

eque

na. E

o

terr

eiro

exi

ste

há 1

0 an

os. A

s en

tidad

es a

qui a

s bá

sica

s a

gent

e te

m c

omo

base

a u

mba

nda

de

raiz

, um

band

a tra

dici

onal

. C

aboc

lo, p

reto

-vel

ho, q

ue s

ão a

s no

ssas

bas

es. M

as tr

abal

ham

os

com

bai

ano,

boi

adei

ro, c

om

mar

inhe

iro, c

igan

o, e

xu, e

xu é

m

uito

pre

sent

e aq

ui ta

mbé

m.

Est

ou n

a um

band

a de

sde

os 1

3 an

os, e

stou

com

55.

Tra

balh

o es

pirit

ualm

ente

nós

tem

os n

osso

es

paço

, aqu

i [na

resi

dênc

ia] e

u fa

ço c

onsu

lta e

spiri

tual

. Lá

no

terr

eiro

[no

San

tuár

io] a

gen

te fa

z os

trab

alho

s. J

á há

mai

s de

35

anos

. Ten

ho a

um

band

a co

mo

relig

ião.

Sou

a b

abá

do te

rrei

ro.

Um

a ve

z po

r ano

. Vie

mos

hoj

e po

rque

tính

amos

que

faze

r al

gum

as o

brig

açõe

s e

batiz

ar o

s no

vos

filho

s no

vos

da c

asa.

Nós

te

mos

um

terr

eiro

na

zona

nor

te

tam

bém

, ond

e fre

quen

tam

os.

Cul

tua

as s

ete

linha

s. O

s or

ixás

s cu

ltuam

os O

xalá

, Oxu

m,

Ians

ã, X

angô

, Ogu

m, N

anã,

O

balu

aiê,

Oxó

ssi,

Iem

anjá

... A

s se

te li

nhas

.

Não

, a g

ente

não

tem

terr

eiro

. A

gent

e pr

ocur

a tra

balh

ar a

mai

oria

da

s ve

zes

aqui

mes

mo.

Eu

já ti

ve

três

terr

eiro

s, m

as c

om o

utra

s pe

ssoa

s, e

não

deu

cer

to,

ente

ndeu

? A

gora

qua

ndo

tem

tra

balh

o gr

ande

a g

ente

faz

aqui

.

Rel

ação

ent

idad

e/na

ture

za

A m

ata

é ob

rigat

oria

men

te d

e O

xóss

i. O

u de

Oss

ain

se v

ocê

for

fala

r no

cand

ombl

é. A

mat

a to

da

Oxó

ssi,

as e

rvas

, Oss

ain.

que

Oss

ain

a ge

nte

sabe

que

ele

lá. N

ão d

á pr

a fa

lar o

nom

e de

to

dos

os o

rixás

, e n

em s

empr

e tra

balh

ar d

entro

de

todo

s os

or

ixás

, mas

ele

tá lá

.

A g

ente

nas

ce d

e um

cab

oclo

. A

prim

eira

ent

idad

e qu

e ap

arec

e em

Ter

ra e

fala

: “va

mos

fund

ar a

re

ligiã

o de

um

band

a” é

um

ca

bocl

o. N

a ve

rdad

e, q

uem

teve

um

a vi

dênc

ia n

a ho

ra v

iu q

ue e

le

tinha

sid

o um

pad

re n

a ou

tra v

ida,

m

as e

le s

e m

ostra

pra

gen

te

com

o um

cab

oclo

, o c

aboc

lo d

as

sete

enc

ruzi

lhad

as –

voc

ê já

dev

e te

r est

udad

o m

inim

amen

te s

obre

is

so –

com

o é

um c

aboc

lo, e

le

traz

essa

forç

a da

s m

atas

. Os

cabo

clos

. Boi

adei

ro...

Boi

adei

ro

gera

lmen

te é

no

Cer

rado

, né.

M

as q

uem

usa

m e

rvas

no

seu

traba

lho,

todo

s. A

té E

xu tr

abal

ha

com

erv

as. T

odos

, tod

o pa

nteã

o de

esp

írito

s se

usa

da

ener

gia

do

min

eral

, da

erva

, do

que

a ge

nte

tem

na

natu

reza

em

ben

efíc

io

hum

ano.

Cab

oclo

, sem

dúv

ida.

Sou

su

spei

ta e

m fa

lar,

porq

ue g

raça

s a

Deu

s po

rque

min

has

entid

ades

, pr

atic

amen

te to

das

traba

lham

co

m e

las.

Tod

as tr

abal

ham

na

mat

a. P

osso

diz

er to

das,

tira

ndo

mar

inhe

iro, q

ue n

ão te

m li

gaçã

o co

m a

s er

vas,

com

a m

ata,

o

rest

ante

todo

s.

Pra

não

dei

xar a

des

ejar

. Que

ta

lvez

nós

não

tenh

amos

co

nhec

imen

to, m

as n

a lin

ha

espi

ritua

l tem

fund

amen

to.

Ela

repr

esen

ta a

té O

xóss

i nas

m

atas

. Os

orix

ás d

as m

atas

. E

ntão

, ass

im, a

mat

a é

a co

isa

mai

s lin

da d

o m

undo

que

Deu

s po

de p

or. E

as

mat

as e

las

serv

em ta

nto

pra

gent

e to

mar

ba

nho

quan

to p

ra c

urar

.

Rel

ação

indi

vídu

o/Sa

ntuá

rio

Freq

uênc

ia h

á m

ais

de 2

0 an

os.

Vai

lá in

divi

dual

men

te, n

ão

poss

uem

um

terr

eiro

. A

ntig

amen

te, o

ace

sso

era

difíc

il,

pois

a m

ata

era

fech

ada,

um

a pe

drei

ra. Í

amos

na

conf

ianç

a do

s or

ixás

. Hoj

e há

est

rutu

ra,

segu

ranç

a, e

spaç

o. V

amos

às

veze

s.

A g

ente

[ter

reiro

] vai

lá u

ma

vez

por a

no. T

raba

lham

os o

ano

todo

aq

ui n

o te

rrei

ro, e

lá a

gen

te fa

z um

gra

nde

agra

deci

men

to p

ra

toda

s as

ent

idad

es e

orix

ás q

ue a

ge

nte

traba

lha

o an

o to

do. V

amos

no

últi

mo

final

de

sem

ana

de

nove

mbr

o. V

amos

uns

10

anos

, sem

pre

na m

esm

a te

nda.

Tem

a p

edre

ira, a

mat

a, a

ca

choe

ira.

Lá p

ra c

ima

onde

tem

a

cach

oeira

, tem

um

out

ro

espa

ço, n

ão s

ei s

e tá

abe

rto

agor

a, m

as a

ntig

amen

te é

abe

rto.

Ent

ão, n

ossa

, a m

udan

ça é

fa

ntás

tica.

Ele

tem

um

m

inho

cário

, ele

reap

rove

ita fr

utos

e

tudo

que

a g

ente

usa

pro

pr

óprio

esp

aço.

É fa

ntás

tico

o qu

e el

e fe

z al

i. E

fora

que

o

San

tuár

io é

o lu

gar a

dequ

ado

para

que

a g

ente

faça

ess

e tip

o de

coi

sa. E

ntão

ain

da b

em q

ue a

ge

nte

o es

paço

com

o o

San

tuár

io

do P

ai R

onal

do p

ra p

oder

aco

lher

ta

nta

gent

e. E

ele

reap

rove

ita

mui

ta c

oisa

, né.

Vou

de

três

a qu

atro

vez

es p

or

ano.

No

ano

pass

ado

ia q

uase

to

do m

ês, p

orqu

e eu

est

ava

no

barc

o do

Pai

Ron

aldo

, no

curs

o de

form

ação

sac

erdo

tal.

Ent

ão e

u ia

sem

pre,

todo

com

eço

de a

no

todo

s os

filh

os q

ue e

ntra

m n

a ca

sa tê

m q

ue p

assa

r por

um

a cr

uza.

Na

cach

oeira

, na

casa

de

Oxu

m. Q

ue O

xum

é d

ono

das

cach

oeira

s. E

ntão

a c

aboc

la

cruz

a to

do fi

lho-

de-s

anto

na

cach

oeira

ant

es d

e co

meç

ar o

an

o. A

ntes

de

com

eçar

os

traba

lhos

. Ent

ão to

do c

omeç

o de

an

o eu

vou

pro

San

tuár

io.

Abr

iam

a c

lare

ira e

a g

ente

tra

balh

ava

a no

ite, o

u du

rant

e o

dia

mes

mo.

A g

ente

sem

pre

ia,

uma

vez

por a

no n

o m

ínim

o a

gent

e ia

pro

San

tuár

io. E

ntão

lá é

um

a se

gura

nça

pra

gent

e, d

e nã

o tra

balh

ar n

a ru

a, d

e nã

o tra

zer a

s no

ssas

ofe

rend

as p

ra ru

a, e

lá é

se

guro

, tem

um

pes

soal

que

lim

pa, e

ntão

a g

ente

vai

pel

o m

enos

a c

ada

três

mes

es,

quan

do a

gen

te p

reci

sa

desc

arre

gar e

reca

rreg

ar a

s en

ergi

as ta

mbé

m.

Ó, a

cas

a te

m u

ns 2

0 an

os. A

ge

nte

deve

vir

pra

cá h

á un

s 15

an

os. O

sim

ples

fato

de

que

as

ofer

enda

s sã

o fe

itas,

são

co

loca

das

e o

pess

oal l

impa

de

pois

, rec

olhe

. A n

atur

eza

não

fica

suja

, não

fica

suj

eira

. Ele

s lim

pam

. É u

m e

spaç

o on

de s

e co

ncen

tra tu

do e

é fe

ito u

ma

limpe

za.

Tem

mui

tos

anos

, mai

s de

30

anos

, ach

o. A

qui n

ão ti

nha

tant

a te

nda,

tava

inau

gura

ndo,

as

imag

ens,

ain

da. E

u co

nheç

o o

Pai

Ron

aldo

mui

tos

anos

, qu

ando

ele

fazi

a bi

ngo,

bai

le, p

ra

bota

r aqu

ele

terr

eiro

que

ele

tem

o

pai b

ened

ito. D

e qu

inze

em

qu

inze

dia

s. U

ma

vez

por m

ês.

Dep

ende

, qua

ndo

tem

fest

a de

or

ixá

a ge

nte

vem

. Mas

é p

orqu

e é

difíc

il, n

em to

do m

undo

co

nseg

ue, n

em s

empr

e te

m

cond

içõe

s.

Rel

ação

in

diví

duo/

relig

ião/

soci

edad

e

Fico

rece

osa

de a

cend

er v

ela

em

cem

itério

. E ta

mbé

m é

pro

ibid

o,

ning

uém

pre

cisa

fica

r co

mpa

rtilh

ando

, é c

ompl

icad

o.

Voc

ê pa

ssa

dois

qua

rteirõ

es

daqu

i tem

ent

rega

. E a

li fic

a, te

m

anim

al, t

em c

omid

a qu

e de

terio

ra,

as p

esso

as p

assa

m e

fica

m

vend

o. É

um

resp

eito

por

que

foi

feita

um

a en

trega

ali

pra

um

orix

á. M

as te

m q

ue s

er n

um lu

gar

espe

cífic

o.

O c

ando

mbl

é ai

nda

tem

mui

to

diss

o, a

s ro

ças.

Mas

até

por

ser

es

cond

ido

ning

uém

sab

ia d

isso

50,

60

anos

atrá

s. T

ambé

m é

co

mpl

icad

a po

r con

ta d

a in

tole

rânc

ia re

ligio

sa d

e ho

je e

m

dia,

né.

Mui

to p

or c

ausa

dos

m

aus

umba

ndis

tas;

eu

não

poss

o di

zer q

ue e

sses

des

pach

os n

o m

eio

da ru

a, e

sses

trab

alho

s no

m

eio

da ru

a de

nigr

em d

emai

s, e

su

jam

até

os

noss

os p

onto

s de

fo

rça

que

seria

m u

ma

praç

a, m

as

não

tem

esp

aço

assi

m fá

cil p

ra

você

faze

r um

trab

alho

.

Ant

igam

ente

, se

fazi

a m

uito

of

eren

das

nas

ruas

e ta

l. M

as

com

o te

mpo

a g

ente

vem

to

man

do c

onsc

iênc

ia e

coló

gica

, né

, e a

í pel

os te

mpo

s qu

e a

gent

e vi

ve d

e in

segu

ranç

a ta

mbé

m.

Naq

uele

tem

po, l

á em

190

8, n

ão

se ti

nha

med

icaç

ão, n

ão s

e tin

ha

assi

stên

cia

méd

ica

com

o se

tem

ho

je. A

tecn

olog

ia n

ão ti

nha

com

o ho

je. E

ntão

, era

mui

to m

ais

fáci

l vo

cê p

egar

, abr

ir um

a ba

bosa

, pe

gar a

quel

a ba

ba, m

istu

rar u

m

pouc

o co

m u

ma

outra

erv

a e

pass

ar n

um p

é di

abét

ico,

né?

E

nten

de?

Hoj

e, a

gen

te n

ão u

sa

mai

s ta

nto

com

o m

edic

ina

com

o er

a us

ado

ante

s. A

ntes

era

mui

to

mai

s us

ado

com

o m

edic

ina.

Hoj

e a

gent

e us

a m

uito

mai

s no

pad

rão

ener

gétic

o. Is

so fa

z un

s 14

ano

s.

Sem

inco

mod

ar n

ingu

ém,

ning

uém

é o

brig

ado,

por

que

eu

sou

umba

ndis

ta, a

ouv

ir o

som

do

atab

aque

. Car

ro p

ra p

arar

; é u

m

sufo

co, a

gen

te q

ue m

ora

na

cida

de. N

ós tr

abal

ham

os n

uma

relig

ião

que

não

é in

com

odar

, e

sim

aco

mod

ar to

dos.

Aco

lher

. E

ntão

lá n

o S

antu

ário

tem

os e

sse

espa

ço q

ue te

m e

stac

iona

men

to,

tem

um

a co

mod

idad

e ta

mbé

m, e

a

segu

ranç

a. P

ra q

ue p

ossa

mos

fa

zer o

s no

ssos

trab

alho

s ga

rant

indo

tam

bém

a s

egur

ança

de

todo

s.

E a

qui n

o S

antu

ário

é o

luga

r pra

vo

cê re

alm

ente

pra

faze

r as

ofer

enda

s, n

ão fa

zer e

m q

ualq

uer

luga

r, em

qua

lque

r esq

uina

, qu

alqu

er ru

a, p

ra s

ujar

o

ambi

ente

. A g

ente

faz

aqui

m

esm

o qu

e aq

ui já

ele

s pe

gam

, jo

gam

fora

, e s

abem

a fi

nalid

ade

das

cois

as.

Rel

ação

indi

vídu

o/na

ture

za

Aqu

i a q

uest

ão d

a pr

eser

vaçã

o é

uma

gran

de b

riga.

Ant

es e

ra

norm

al, p

or e

xem

plo,

um

a en

tidad

e pe

dir p

ra fa

zer u

m

desp

acho

des

se o

u um

a of

eren

da

em c

ampo

san

to, n

um c

emité

rio,

ou n

uma

via.

.. H

oje

em d

ia a

inda

te

m –

eu

não

poss

o fa

lar q

ue n

ão

tem

– m

as a

gen

te p

ede.

.. M

as a

ge

nte

tent

a o

máx

imo

faze

r es

sa...

Ess

a lim

peza

, né.

Não

su

jar p

ra n

ão te

r que

lim

par;

mai

s ou

men

os is

so. E

ntão

a g

ente

te

nta,

den

tro d

e um

a ev

oluç

ão –

qu

e eu

ach

o qu

e a

gent

e tá

ev

olui

ndo

dent

ro d

isso

, não

é fá

cil

– vo

cê fa

lar p

ra u

m c

aboc

lo q

ue

tem

o a

rqué

tipo

do Ín

dio

que

traba

lhav

a na

mat

a, q

ue v

ocê

não

pode

usa

r a m

ata

pra

faze

r o q

ue

ele

fazi

a, é

...

A g

ente

par

te d

o pr

incí

pio

que

a na

ture

za é

um

pon

to d

e fo

rça

dos

orix

ás q

ue s

ão e

nerg

ias

de D

eus,

o fa

z se

ntid

o a

gent

e de

pred

ar

tudo

e s

ujar

tudo

, e c

orre

risc

o de

bo

tar f

ogo

na m

ata.

Ent

ão é

mui

to

bom

que

a g

ente

tenh

a um

luga

r es

pecí

fico

pra

faze

r os

noss

os

traba

lhos

relig

ioso

s. E

voc

ê fa

z co

m tr

anqu

ilida

de. T

ranq

uilid

ade

no s

entid

o de

seg

uran

ça e

ta

mbé

m v

ocê

sabe

que

ajud

ando

a p

rese

rvar

. Ent

ão tu

do

que

a ge

nte

faz,

pel

o m

enos

nós

: a

gent

e al

uga

um e

spaç

o lá

no

San

tuár

io. A

mes

ma

cois

a qu

ando

a g

ente

vai

pra

pra

ia.

Qua

ndo

a ge

nte

vai f

azer

trab

alho

de

fina

l de

ano,

a g

ente

dei

xa a

pr

aia

do je

ito q

ue a

gen

te a

chou

. M

uita

s ve

zes

a ge

nte

reco

lhe

quan

do c

hega

. A g

ente

lim

pa o

es

paço

pra

gen

te fi

car.

Suj

eira

qu

e ou

tras

pess

oas

deix

aram

.

E a

Ter

ra tá

em

col

apso

. Se

a ge

nte

cuid

ar d

ela,

a g

ente

vai

se

lasc

ar. A

gen

te ia

pra

mat

a, n

é. Ia

pr

o m

eio

da m

ata

faze

r tud

o,

reco

lhia

tudo

e d

epoi

s ia

em

bora

. P

ra n

ão d

eixa

r suj

eira

no

cam

po

sant

o. P

orqu

e vo

u te

fala

r um

a co

isa.

Que

m te

fala

r que

é

umba

ndis

ta, m

as fo

r no

mei

o da

m

ata

larg

ar [i

naud

ível

] aqu

ela

suje

ira lá

, ela

não

é.

Que

nem

árv

ores

, a g

ente

m

esm

o qu

ando

vai

trab

alha

r nas

m

atas

lá p

erto

de

casa

, eu

falo

“g

ente

, não

dei

xa v

ela

aces

a”.

Por

que

pode

peg

ar fo

go n

a m

ata.

A

inda

mai

s ag

ora

que

é te

mpo

se

co. P

orqu

e aq

ui a

gen

te te

m

que

pres

erva

r a n

atur

eza.

Aqu

ilo

lá fa

z pa

rte n

ão s

ó da

gen

te, m

as

das

outra

s cr

ianç

as q

ue tã

o vi

ndo.

Tem

, tem

as

mat

as lá

.

Rel

ação

re

ligiã

o/ci

dade

/nat

urez

a

O e

spaç

o da

cid

ade

é di

fícil

de

atin

gir.

Não

tem

aqu

ela

mes

ma

ener

gia

que

um e

spaç

o na

tura

l.

O a

umen

to d

a se

lva

de p

edra

é

mui

to c

ompl

icad

o. P

or e

xem

plo,

an

tigam

ente

um

terr

eiro

era

feito

nu

m g

rand

e qu

inta

l. H

oje

em d

ia

não

tem

. Nós

tem

os a

qui n

o fu

ndo

algu

mas

erv

as, m

as é

m

uito

com

plic

ado.

Ent

ão, n

ão te

m m

ais

terr

eiro

de

chão

bat

ido,

ent

ão a

gen

te te

m

que

se a

dapt

ar c

om is

so, q

ue

acon

tece

u co

m a

s er

vas

tam

bém

. E

ra a

ssim

. Era

mai

s fá

cil,

a ge

nte

acha

va e

rva

em to

do lu

gar.

Todo

lu

gar t

inha

terr

eno

bald

io, m

as

era

mui

to d

ifíci

l o S

antu

ário

em

si

o tra

jeto

pra

lá. P

ra c

hega

r lá

era

mui

to d

ifíci

l. E

hoj

e a

gent

e te

m

estra

da, t

em á

gua

enca

nada

. Eu

acho

que

ess

a re

laçã

o co

m o

ur

bano

, ess

a ad

apta

ção

pro

urba

no e

do

natu

ral,

que

é im

porta

nte.

Sem

dúv

ida

faci

litou

em

alg

umas

coi

sas,

difi

culto

u em

ou

tras.

É d

ifere

nte

de v

ocê

sair

na m

ata

do la

do d

e lá

, col

ocar

sua

of

eren

da e

vai

fica

r aqu

ilo lá

. M

uito

s m

ater

iais

não

são

mui

tas

veze

s de

grad

ávei

s, e

vai

pol

uir a

na

ture

za. N

ão é

a in

tenç

ão.

Mas

é c

ompl

icad

o, p

orqu

e a

mai

oria

das

mat

as, v

ocê

sabe

qu

e ho

je e

m d

ia é

per

igos

o, n

é.

Ent

ão o

u a

gent

e va

i de

man

hã,

até

o ho

rário

do

alm

oço

a ge

nte

traba

lha

e vo

lta, q

ue n

a pa

rte d

a ta

rde

é m

eio

perig

oso.

Por

que

a ge

nte

corr

e ris

co ta

mbé

m. A

qui

não.

Voc

ê po

de tr

abal

har

tranq

uilo

que

voc

ê nã

o co

rre

risco

de

alg

um b

andi

do s

air c

orre

ndo

no m

eio

do m

ato

um a

trás

do

outro

lá, o

u qu

alqu

er o

utra

coi

sa.

Ent

ão a

gen

te ja

mai

s va

i pôr

a

vida

dos

dem

ais

em ri

sco.

E

nten

deu?

O q

ue a

gen

te n

ão

quer

pra

gen

te a

gen

te n

ão q

uer

pros

dem

ais.

Rel

ação

re

ligiã

o/te

rrei

ro/n

atur

eza

Qua

ndo

os o

rixás

vão

peg

ar

erva

s, e

les

pede

m li

cenç

a. É

m

uito

bon

ito. T

udo

eles

ped

em

licen

ça p

ra ti

rar,

nunc

a pr

o de

sper

díci

o.

Por

exe

mpl

o, n

ós a

qui s

omos

um

pr

édio

, ond

e a

gent

e te

nta

min

ima,

diri

a at

é po

rcam

ente

, ter

al

gum

a co

isa

[nat

ural

] aqu

i per

to.

A á

rvor

e qu

e te

m n

a fre

nte

da

noss

a ca

sa fo

mos

nós

que

pl

anta

mos

a p

edid

o de

um

a en

tidad

e.

A g

ente

resp

eita

a n

atur

eza

porq

ue n

ós e

nten

dem

os o

s or

ixás

co

mo

man

ifest

ação

da

natu

reza

.

Ach

o qu

e pr

a el

a pe

rpet

uar,

ela

prec

isa

dess

a ev

oluç

ão. M

esm

o qu

e a

gent

e nã

o en

cont

re ta

ntos

po

ntos

. Mas

pre

serv

ando

ess

es

pont

os q

ue e

xist

em, p

rese

rvan

do

o qu

e a

gent

e te

m, o

que

a g

ente

en

cont

ra. P

or is

so q

ue a

um

band

a é

tão

ligad

a à

cons

erva

ção

da n

atur

eza.

Eu

sou

chat

a pr

a ca

ram

ba c

om re

laçã

o a

isso

... E

u ac

ho q

ue s

im, a

gen

te

tem

que

pre

serv

ar, n

ão jo

gar l

ixo

no c

hão,

sab

e? E

sse

tipo

de

cois

a, d

e pe

quen

os h

ábito

s...

“Ah,

m

as v

ocê

é um

a em

um

milh

ão”.

OK

, mas

se

eu fi

zer,

eu c

omo

umba

ndis

ta fi

zer,

eu v

ou s

er

form

ador

a de

opi

nião

, ent

ão

acab

a fo

rman

do o

utra

s op

iniõ

es e

is

so fu

ncio

na d

e ve

rdad

e.

Pra

con

serv

ação

. Na

linha

m

édic

a, tr

abal

ham

os c

om e

rvas

. E

ntão

as

erva

s é

mui

to

nece

ssár

io, c

omo

os c

rista

is. P

ra

nós,

term

os u

m e

spaç

o de

ntro

da

mat

a, n

ós p

rese

rva

tudo

.

Rel

ação

indi

vídu

o/er

vas

Eu

conh

eço

as p

lant

as. P

lant

as

med

icin

ais,

por

que

venh

o de

um

a he

ranç

a qu

e se

usa

va m

uito

pl

anta

s, tr

abal

hava

com

pla

ntas

, m

inha

traba

lhav

a m

uito

com

pl

anta

s.

Se

você

for s

enta

r com

igo,

eu

vou

ter b

anho

pre

para

do já

, co

nser

vado

em

álc

ool,

pra

faci

litar

, sab

e? P

ó qu

e dá

pra

ut

iliza

r qua

ndo

você

tá a

li na

ra

pide

z...

Tudo

pra

faci

litar

. E o

S

antu

ário

vem

isso

tam

bém

.

Rel

ação

ent

idad

es/e

rvas

Os

cabo

clos

, os

orix

ás te

m m

ais

sabe

doria

, ele

s pe

gam

um

mat

o qu

e eu

nun

ca v

i. E

u nã

o co

nheç

o.

Mas

o o

rixá

conh

ece.

Ele

tem

a

sabe

doria

ade

quad

a pr

a pe

gar

qual

quer

pla

ntin

ha ra

stei

ra q

ue

ele

tem

um

sig

nific

ado.

De

cura

ca

rnal

, esp

iritu

al, a

stra

l.

E m

uito

pre

sent

e co

m a

s er

vas

tam

bém

. Tra

balh

a m

uito

com

as

erva

s. T

odos

ele

s tra

balh

am. P

ra

gent

e é

fund

amen

tal,

pra

nós

com

o m

édiu

ns, c

omo

traba

lhad

ores

de

umba

nda

é fu

ndam

enta

l o u

so d

as e

rvas

, e

pra

eles

com

o fe

rram

enta

de

traba

lho.

Rel

ação

indi

vídu

o e

dico

tom

ia

cida

de/n

atur

eza

Não

con

heço

out

ros

espa

ços

de

mat

a, m

as ta

mbé

m p

orqu

e nó

s nu

nca

proc

uram

os.

Hoj

e em

dia

, por

ser

difí

cil d

e ac

har n

a na

ture

za, a

gen

te u

sa

mui

ta e

rva

seca

. Prim

eiro

, sai

ba a

pr

oced

ênci

a. É

igua

l qua

lque

r co

isa

que

eu v

ou c

oloc

ar c

omo

um c

rem

e.

Hoj

e em

dia

exi

stem

vár

ios.

...

Vár

ios.

Eu

conh

eço

de fr

eque

ntar

o

San

tuár

io. T

em u

m o

utro

luga

r qu

e é

de C

acho

eira

que

eu

não

sei s

e fu

ncio

na. Q

ue a

gen

te ia

fa

zer t

raba

lho

lá, m

as n

ão te

m o

m

esm

o pr

incí

pio

do P

ai R

onal

do.

Tem

um

luga

r em

Naz

aré

Pau

lista

. Ent

ão h

oje

em d

ia já

te

m a

lgun

s S

antu

ário

s. A

pesa

r de

a ge

nte

não

conh

ecer

os

outro

s to

dos,

mas

pel

o qu

e a

gent

e ou

viu

fala

r é d

o m

esm

o je

ito.

Alg

umas

são

pro

prie

dade

s pa

rticu

lare

s e

eles

usa

m is

so p

ra

reve

rter,

pra

cons

erva

r os

espa

ços.

Ant

igam

ente

era

mai

s fá

cil d

e co

nseg

uir e

rvas

.Mui

tas

casa

s co

m q

uint

al. H

oje

em d

ia já

o te

m m

ais.

Voc

ê te

m q

ue ir

em

mer

cado

, tem

que

com

prar

na

band

ejin

ha o

u em

maç

o fe

chad

o.

Ent

ão q

uand

o a

gent

e pe

ga n

o m

erca

do, a

gen

te s

abe

que

é um

a co

isa

pelo

men

os c

ertin

ha,

regu

lariz

ada.

Não

é u

ma

cois

a qu

e tá

em

bei

ra d

e es

trada

.

Nós

faze

mos

mag

ia c

om

umba

nda,

nós

tem

os a

relig

ião

umba

nda

é um

a re

ligiã

o m

uito

rit

ualís

tica,

mag

ístic

a, e

que

é

uma

relig

ião

que

se to

rnou

hoj

e ur

bana

.

Não

, exi

stem

out

ros

luga

res,

m

as, a

ssim

, com

a e

stru

tura

or

gani

zada

é e

sse

aqui

. Lá

na

noss

a re

gião

tem

cac

hoei

ra

tam

bém

, mas

é m

enos

or

gani

zado

, bem

men

os.

Org

aniz

ação

, seg

uran

ça.

Ace

sso

às e

rvas

Con

segu

imos

no

boca

-a-b

oca.

Q

uand

o é

uma

plan

ta m

ais

difíc

il,

pega

na

mat

a qu

e fic

a no

ca

min

ho d

e vo

lta d

o S

antu

ário

. S

e nã

o, a

gen

te p

ede

pro

pess

oal

que

a ge

nte

conh

ece.

Em

feira

s é

mai

s di

fícil.

Hoj

e em

dia

tem

m

uito

cas

a de

erv

as. M

as

pess

oalm

ente

não

con

fio m

uito

. P

orqu

evoc

ê po

r exe

mpl

o co

mpr

a lá

um

saq

uinh

o de

set

e er

vas.

Q

uem

gar

ante

que

aqu

ilo a

li va

i te

r as

erva

s lá

? E

ntão

a g

ente

pr

efer

e, m

esm

o qu

e se

ja u

m

pouc

o di

fícil,

a p

lant

a m

esm

o. S

e m

inha

mãe

não

sab

e,

perg

unta

mos

pro

meu

tio,

se

ele

não

sabe

per

gunt

amos

pra

out

ra

tia. P

rocu

ram

os fa

zer u

m b

em-

bola

do p

ra c

onse

guir

a pl

anta

m

esm

o. N

o fim

tudo

cer

to.

Eu

parti

cula

rmen

te te

nho

uma

senh

ora

que

traba

lha

com

erv

as.

Ent

ão e

la tr

az p

ra m

im. A

qui p

or

exem

plo

no te

rrei

ro a

gen

te

cham

a el

a de

“tra

fican

te”

[Ris

adas

]. P

orqu

e eu

peç

o as

er

vas,

ela

que

arr

uma

pra

todo

m

undo

. A p

rópr

ia c

asa

de

tem

pero

tem

bas

tant

e co

isa.

Mas

o no

rmal

men

te e

ssas

cas

as d

e pr

odut

os n

atur

ais

que

tem

tudo

qu

e pr

ocur

a. E

o q

ue n

ão te

m

você

vai

na

feira

... C

EA

SA

. Ou

um c

onta

to q

ue v

ocê

vai a

char

. E

você

vai

pla

ntan

do n

a su

a ca

sa.

Eu

tenh

o um

a ho

rta p

ra is

so. A

s er

vas

que

eu m

ais

uso

eu q

ue

cuid

o, e

u qu

e fa

ço, e

u qu

e pl

anto

. P

ra q

ue e

u te

nha

isso

mai

s fá

cil

pra

man

usea

r ela

s. M

as n

em

todo

mun

do te

m e

sse

terr

eno

em

casa

que

con

segu

e pr

a fa

zer

isso

.

Ain

da b

em, h

oje

em d

ia, é

mui

to

fáci

l voc

ê ac

har a

s er

vas.

Tod

a ca

sa d

e m

acum

beiro

sem

pre

tem

um

a er

vinh

a pl

anta

da, n

é. A

qui a

ge

nte

tem

um

as e

rvas

pla

ntad

as.

A g

ente

tom

a m

uito

cui

dado

ond

e a

gent

e va

i com

prar

as

erva

s,

erva

fres

ca, p

rinci

palm

ente

erv

a se

ca. V

ocê

vê, v

ocê

pass

a em

P

inhe

iros

você

um m

onte

de

luga

r ven

dend

o aq

uela

s ár

vore

s to

rran

do n

o so

l, aí

peg

a ch

uva.

.. Is

so n

ão é

lega

l. E

ntão

as

fresc

as, t

em d

uas

méd

iuns

aqu

i qu

e vã

o na

feira

. Um

a m

ulhe

r que

pl

anta

e c

olhe

, tra

z su

per

fresq

uinh

a...

Tem

os o

mer

cado

da

Lap

a ta

mbé

m, q

ue te

m d

uas

banc

as q

ue fo

rnec

em...

A g

ente

te

m a

lgun

s tra

balh

ador

es q

ue

tem

erv

a em

bas

tant

e qu

antid

ade

em c

asa,

que

traz

. Mas

no

rmal

men

te q

uand

o a

gent

e va

i co

mpr

ar s

eco,

a g

ente

pro

cura

co

mpr

ar, p

or e

xem

plo,

alg

umas

eu

com

pro

no M

undo

Ver

de. A

ge

nte

tem

um

dis

tribu

idor

que

fica

no

Bel

enzi

nho

que

a ge

nte

com

pra.

..

Cad

a um

tem

um

pou

co d

e er

va

em c

asa.

Que

nem

ess

a do

na

Fátim

a, e

la te

m u

m b

orbo

, m

enin

o, q

ue é

mai

or q

ue e

u. É

um

a ár

vore

. Ela

tem

mui

ta p

lant

a.

Eu

não

tenh

o pl

anta

. Por

que

aqui

a

gent

e nã

o te

m q

uint

al. S

eria

um

so

nho

de c

onsu

mo

a ge

nte

esta

r nu

ma

casa

que

tive

sse

quin

tal e

a

gent

e co

nseg

uiss

e te

r as

noss

as

erva

s aq

ui. M

as é

impo

ssív

el.

Ent

ão, a

lgum

as e

u co

nsig

o na

m

ata

mes

mo.

Eu

sou

priv

ilegi

ada

porq

ue e

u na

sci e

me

crie

i aqu

i nu

m b

airr

o pr

óxim

o, q

ue a

inda

te

m m

uito

veg

etal

, que

é u

m

peda

ço d

e M

ata

Atlâ

ntic

a. E

ntão

eu

enc

ontro

mui

ta c

oisa

na

mat

a.

Eu

cres

ci lá

, ent

ão p

ra m

im é

m

uito

fam

iliar

. Eu

cons

igo

mui

ta

cois

a pr

a tra

balh

ar n

a es

teira

. M

as p

ra c

ultiv

o, te

nho

que

com

prar

. Ent

ão e

u co

mpr

o m

uda,

te

m u

m a

quár

io a

qui p

erto

de

Itaqu

era.

Exi

ste

tam

bém

um

a re

laçã

o de

am

izad

e e

conf

ianç

a ne

las.

Ent

ão e

u co

mpr

o m

uito

, ex

iste

m o

s m

atei

ros

que

traze

m.

Na

25 d

e M

arço

tem

um

in

terp

osto

, per

to d

o M

erca

dão,

el

es tr

azem

mui

ta c

oisa

. Ent

ão lá

é

um b

om lu

gar p

ra s

e co

mpr

ar

erva

s em

qua

ntid

ade.

E a

qui e

m

São

Pau

lo, S

anto

And

ré e

São

B

erna

rdo,

ele

s tê

m, s

abe

aque

las

área

s de

ant

ena

de tr

ansm

issã

o,

aque

las

torr

es?

Ele

s cu

ltiva

m

mui

to a

li, e

les

culti

vam

hor

taliç

as,

e ou

tras

erva

s. Q

ue é

ond

e ta

mbé

m e

u co

mpr

o pr

as e

stei

ras.

A

li o

pess

oal a

caba

m p

lant

ando

e

vend

endo

, doa

ndo,

ent

ão é

en

graç

ado,

mas

o p

esso

al a

qui

de b

aixo

con

segu

e fá

cil.

Tam

bém

tem

mui

to a

qui n

as

casa

s de

erv

as, e

tam

bém

um

a m

ata

aqui

per

to. E

a g

ente

se

mpr

e se

com

unic

ando

. Por

que,

a

ama

da c

asa,

trab

alha

com

a

linha

de e

rvas

. Ess

a qu

e dá

o

curs

o lá

em

São

Ber

nard

o. É

, in

do p

ro S

antu

ário

, ali

tem

mui

to,

mui

to m

esm

o. H

oje

tem

, com

o an

tigam

ente

nós

atra

vess

ávam

os

pelo

tele

féric

o. A

gora

a g

ente

a vo

lta. M

as a

li te

m ta

ntas

erv

as,

que

o po

vo n

em c

onhe

ce.

É fá

cil.

Um

a ou

out

ra q

ue te

m u

m

pouc

o m

ais

de d

ificu

ldad

e. A

porq

ue, a

ssim

, as

veze

s te

m

mui

tas

que

dão

no m

eio

da m

ata

mes

mo.

E a

gen

te s

abe

que

hoje

se

alg

uém

peg

ar v

ocê

tiran

do

uma

plan

ta d

o m

eio

da m

ata,

um

a pl

anta

nat

iva,

é c

rime

ambi

enta

l. E

ntão

a g

ente

vai

at

rás

de lu

gare

s qu

e co

mer

cial

izam

isso

, aca

ba s

endo

m

ais

difíc

il, e

voc

ê ac

aba

enco

ntra

ndo

seca

. Mas

fres

ca

real

men

te a

lgum

as s

ão m

ais

difíc

eis.

Eu

plan

to. L

á on

de m

eu p

ai m

ora,

eu

mor

o em

apa

rtam

ento

. Mas

on

de m

inha

irm

ã m

ora,

que

meu

pa

i tem

um

terr

eno

vazi

o, a

gen

te

toda

vez

que

pre

cisa

a g

ente

pl

anta

. Mas

qua

ndo

não

tem

, que

ne

m, e

ssa

cida

de...

Pra

pla

ntar

, pe

de p

ro v

izin

ho. S

empr

e te

m

algu

ém q

ue te

m. O

u se

não

tem

va

i a s

eca

mes

mo.

Não

, sem

pre

foi f

ácil

[par

a en

cont

rar e

rvas

]. S

empr

e te

ve.

Page 9: UM BOSQUE DE FOLHAS SAGRADAS: O SANTUÁRIO NACIONAL …

INTERAGIR: PENSANDO A EXTENSÃO, RIO DE JANEIRO, N. 26, P. 11-33, JUL/DEZ. 2018

UM BOSQUE DE FOLHAS SAGRADAS: O SANTUÁRIO NACIONAL DA UMBANDA E O CULTO DA NATUREZA

19

Mat

eria

l Sup

lem

enta

r'U

m b

osqu

e de

folh

as s

agra

das:

o S

antu

ário

Nac

iona

l da

Um

band

a co

mo

refú

gio

ao c

ulto

sag

rado

da

natu

reza

'Ta

bela

S2.

Tab

ela

com

para

tiva

rela

cion

ando

fala

s do

s en

trev

ista

dos

à co

ncep

ção

de n

atur

eza,

ent

idad

es e

de

ener

gia,

bem

com

o re

laçã

o en

tre

o in

diví

duo,

a e

ntid

ade,

o S

antu

ário

e a

nat

urez

a. F

MD

: Fab

iana

D. e

méd

ium

Már

cia

D.;

RC

A: P

ai R

afae

l; M

AN

: Mãe

Ros

ânge

la e

Már

cia;

JU

P: M

ãe

Jupi

ra; A

NT:

Mãe

Ant

ônia

; SH

Y: M

ãe S

hirle

y; R

RA

: Rob

erta

, Ant

ônia

e P

ai R

icar

do; D

AS:

Mãe

San

dra

e D

iego

C.

Variá

veis

FMD

RC

AM

AN

JUP

AN

TSH

YR

RA

DA

S

Con

cepç

ão d

e na

ture

za

O q

ue v

ocê

faz

na n

atur

eza

você

de

ixa

a en

ergi

a al

i. O

s el

emen

tos

natu

rais

te d

ão fo

rça.

A n

atur

eza

é o

luga

r ade

quad

o, p

ossu

i erv

as

e en

ergi

a.

A n

atur

eza

é um

pon

to d

e fo

rça.

É

terr

a de

Oxó

ssi,

de O

ssai

n.

Voc

ê es

tar p

erto

da

natu

reza

, on

de, a

lém

de

ser n

atur

eza,

ess

e es

paço

tá c

onsa

grad

o de

ntro

da

noss

a re

ligiã

o pr

o cu

lto, t

em u

ma

ener

gia

mui

to g

rand

e, m

uito

...

Não

diri

a qu

e m

aior

, mas

ond

e vo

cê te

m o

con

tato

dire

to c

om

essa

forç

a ve

geta

l.

O p

onto

de

forç

a do

s or

ixás

é n

a na

ture

za. E

qua

ndo

a ge

nte

sai

do te

mpl

o e

vai f

azer

um

trab

alho

de

sse

dent

ro d

e um

esp

aço

com

o o

San

tuár

io, d

e ve

geta

ção,

tem

rios

pont

os d

e fo

rça

né. T

em a

pe

drei

ra, a

mat

a, a

cac

hoei

ra.

Ent

ão a

gen

te e

nerg

etic

amen

te

pra

gent

e é

mui

to m

elho

r. N

ão

faz

sent

ido

você

fica

r suj

ando

um

po

nto

de fo

rça

que

é pu

ra e

nerg

ia

cósm

ica.

Por

que

a ge

nte

apre

nde

com

os

guia

s. P

rimei

ra c

oisa

: res

peita

r o

ambi

ente

que

nos

sus

tent

a. A

lo

uvaç

ão q

ue fa

lam

os

orix

ás é

a

oraç

ão d

a na

ture

za. T

odo

esse

cu

idad

o pr

a cu

idar

da

natu

reza

. P

orqu

e el

a cu

ida

da g

ente

.

Pai

Ron

aldo

fala

um

a co

isa

mui

to

impo

rtant

e e

eu s

igo

mui

to q

ue

umba

ndis

ta n

ão p

reci

sa d

e um

te

mpl

o, o

tem

plo

é a

natu

reza

, nó

s so

mos

um

tem

plo

vivo

, e e

u já

vi,

reca

rreg

uei,

me

reco

nect

ei

deba

ixo

de u

ma

árvo

re. A

cho

que

o co

ntat

o m

esm

o co

m o

nat

ural

, os

pon

tos

de fo

rças

que

são

a

mat

a, o

mar

, a c

acho

eira

. Ele

s tra

zem

um

a re

cone

xão,

a

reco

nexã

o, a

reca

rga,

reca

rreg

a m

uito

a e

nerg

ia, é

um

pon

to

natu

ral d

e en

ergi

a.

E tu

do v

amos

trab

alha

r com

er

vas,

den

tro d

aque

le e

lem

ento

, te

rra,

mas

as

erva

s é

que

sim

boliz

am tu

do o

que

tra

balh

amos

. Ent

ão a

erv

a pr

a nó

s, e

a m

ata,

o s

olo,

é s

agra

do.

Tudo

o q

ue é

nat

ural

, tud

o o

que

é da

nat

urez

a pr

a ge

nte

é de

ex

trem

a im

portâ

ncia

. Que

as

ener

gias

as

quai

s tra

balh

amos

, as

qua

is o

s no

ssos

orix

ás u

sam

co

mo

elem

ento

de

traba

lho,

toda

s el

as v

êm d

a na

ture

za. E

em

gr

ande

par

te d

o re

ino

vege

tal.

E e

u ac

ho q

ue a

impo

rtânc

ia d

as

mat

as é

tam

bém

a e

nerg

ia q

ue

as m

atas

tem

, é u

ma

ener

gia

fora

do

com

um p

ra g

ente

né,

pra

usa

r, é

uma

outra

ene

rgia

, tra

z co

isas

bo

as p

ra g

ente

.

Con

cepç

ão d

e en

tidad

es

Os

orix

ás tê

m a

forç

a do

s el

emen

tos

que

eles

nee

ssita

m, e

na

nat

urez

a, c

omo

o m

édiu

m e

os

orix

ás a

bsor

vem

a fo

rça

dos

elem

ento

s, o

orix

á te

m o

pod

er

dele

de

elim

inar

naq

uele

s el

emen

tos.

Os

orix

ás s

ão fo

rça

da n

atur

eza

e po

ntos

de

forç

a. O

pon

to d

e fo

rça

tem

que

aco

ntec

er.

E é

lega

l por

que

a ge

nte

vai

cola

bora

ndo

tam

bém

com

ess

a co

isa

de re

faze

r, de

man

ter o

s es

paço

s qu

e sã

o po

ntos

de

forç

a da

nat

urez

a pr

a ge

nte.

Ent

ão D

eus

se fe

z pr

esen

te n

a Te

rra

atra

vés

de s

eus

orix

ás.

Orix

á na

da m

ais

é do

que

ene

rgia

da

nat

urez

a.

E é

ass

im m

esm

o, a

rela

ção

com

os

gui

as é

de

amiz

ade

e co

nfia

nça.

Ele

s no

s dã

o m

uita

fe

rram

enta

, mas

a g

ente

tem

que

se

r bon

s fil

hos,

bon

s in

stru

men

tos

pra

eles

tra

balh

arem

. Ent

ão o

co

nhec

imen

to v

em a

í. M

as

cabo

clo,

pre

to-v

elho

; aqu

i, ne

ssa

casa

, cab

oclo

, pre

to-v

elho

. E n

a m

inha

est

rutu

ra, n

a m

inha

col

una,

qu

ase

todo

s te

m li

gaçã

o co

m a

m

ata.

Trab

alha

mos

mui

to c

om O

xóss

i, tra

balh

amos

com

a li

nha

dos

cabo

clos

, pre

tos-

velh

os, e

com

a

linha

de

seu

Zé ta

mbé

m, q

ue é

tu

do a

bas

e da

mag

ia, d

o en

cant

o, d

a su

sten

taçã

o, e

tudo

de

le v

em d

as m

atas

.

Tudo

o q

ue é

nat

ural

, tud

o o

que

é da

nat

urez

a pr

a ge

nte

é de

ex

trem

a im

portâ

ncia

. Que

as

ener

gias

as

quai

s tra

balh

amos

, as

qua

is o

s no

ssos

orix

ás u

sam

co

mo

elem

ento

de

traba

lho,

toda

s el

as v

êm d

a na

ture

za. E

em

gr

ande

par

te d

o re

ino

vege

tal.

Con

cepç

ão d

e en

ergi

a

-O

s or

ixás

são

forç

a da

nat

urez

a,

são

a en

ergi

a.A

gen

te s

ente

a e

nerg

ia d

o or

ixá,

a

gent

e se

nte

a en

ergi

a de

Deu

s,

mui

to m

ais

pura

.

Os

pens

amen

tos

nega

tivos

, ele

s co

nden

sam

, tod

a a

ener

gia

ela

vai f

ican

do fí

sica

. Tud

o o

que

você

col

oca

ener

gia,

se

você

fica

r ob

ceca

do p

ensa

ndo

num

a m

esm

a co

isa,

voc

ê m

esm

o co

loca

ene

rgia

naq

uela

coi

sa e

is

so te

par

alis

a. E

é is

so q

ue o

s gu

ias

vêm

e te

orie

ntam

, tra

balh

am c

om v

ocê,

é n

isso

que

pa

rte d

as e

rvas

trab

alha

m...

P

orqu

e na

real

idad

e eu

não

sou

Ju

pira

, eu

esto

u em

Jup

ira n

essa

ex

istê

ncia

. Pra

gen

te, n

ós s

omos

pa

rte d

a ce

ntel

ha d

ivin

a, to

dos

nós

som

os p

arte

da

mes

ma

cent

elha

div

ina.

Que

é D

eus,

né.

O

cris

tão.

A c

onex

ão c

om a

nat

urez

a, c

om

o no

sso

sagr

ado.

É s

im, f

orça

s na

tura

is, f

orça

s di

vina

s na

tura

is,

e qu

e es

tá p

rese

nte

em tu

do.

Ele

s tra

zem

um

a re

cone

xão,

a

reco

nexã

o, a

reca

rga,

reca

rreg

a m

uito

a e

nerg

ia, é

um

pon

to

natu

ral d

e en

ergi

a.

Nós

trab

alha

mos

esp

iritu

alm

ente

pr

a de

scar

rega

r, en

ergi

zar.

Nós

pr

ecis

amos

de

árvo

re. S

e vo

cê v

ir pa

rada

um

a pe

ssoa

num

a ár

vore

, nã

o é

porq

ue é

louc

ura.

É p

orqu

e al

i ren

ova

a en

ergi

a. V

ocê

põe

a m

ão n

a ár

vore

, voc

ê se

nte,

o

puls

ar, o

retir

ar d

aqui

lo q

ue v

ocê

traba

lhou

com

o p

acie

nte

e re

cebe

nov

amen

te d

o so

lo, q

ue é

a

terr

a, a

sus

tent

ação

no

vam

ente

, pra

dar

con

tinui

dade

no

trab

alho

.

Tudo

o q

ue é

nat

ural

, tud

o o

que

é da

nat

urez

a pr

a ge

nte

é de

ex

trem

a im

portâ

ncia

. Que

as

ener

gias

as

quai

s tra

balh

amos

, as

qua

is o

s no

ssos

orix

ás u

sam

co

mo

elem

ento

de

traba

lho,

toda

s el

as v

êm d

a na

ture

za. E

em

gr

ande

par

te d

o re

ino

vege

tal.

Rel

ação

indi

vídu

o/re

ligiã

o

Freq

uent

ava

um c

entro

, um

te

rrei

ro q

ue fr

eque

ntav

a.M

édiu

m e

um

dos

prin

cipa

is

orga

niza

dore

s do

terr

eiro

que

fre

quen

ta e

coo

rden

a, lo

caliz

ado

na Z

ona

Sul

de

São

Pau

lo. E

le

resi

de e

m It

apev

i. S

eu te

rrei

ro

frequ

enta

o e

spaç

o do

San

tuár

io

por p

elo

men

os u

ma

vez

por a

no,

para

cel

ebra

ções

de

fim d

e an

o.

Raf

ael t

ambé

m é

resp

onsá

vel p

or

min

istra

r cur

sos

de u

mba

nda

para

a c

omun

idad

e ex

tern

a e

sobr

e us

o de

pla

ntas

no

cont

exto

re

ligio

so o

u te

rapê

utic

o.

Eu

sou

umba

ndis

ta v

ai fa

zer 1

8 an

os. E

u tra

balh

ava

num

tem

plo

aqui

em

baix

o na

rua

Bot

uroc

a,

que

fech

ou. F

ique

i lá

por v

olta

de

7, 8

ano

s. E

nes

se m

eio

tem

po lá

fe

chou

e a

í a g

ente

que

ria u

m

luga

r pra

ir tr

abal

har,

ou to

mar

um

pas

se, s

eja

lá o

que

for.

E a

ge

nte

já c

onhe

cia

o S

antu

ário

po

rque

nós

íam

os c

om o

out

ro

tem

po p

ra lá

um

a ve

z po

r mês

pr

a fa

zer o

fere

nda,

trab

alho

na

natu

reza

. E a

í fic

amos

2 a

nos

lá,

as p

esso

as fo

ram

che

gand

o, e

de

repe

nte

a ge

nte

tava

num

gru

po

gran

de. E

aí a

brim

os a

qui,

e va

i fa

zer a

gora

dia

11

de o

utub

ro v

ai

faze

r 9 a

nos

que

esta

mos

com

es

se te

mpl

o ab

erto

. Há

uns

15

anos

vou

no

San

tuár

io m

ais

ou

men

os.

Eu

sou

umba

ndis

ta d

esde

que

na

sci.

Meu

pai

era

pai

-de-

sant

o,

min

ha v

ó er

a m

ãe-d

e-sa

nto.

M

inha

bis

avó

era

negr

a de

se

nzal

a. E

o m

eu b

isav

ô el

e er

a ín

dio,

de

tribo

mes

mo.

E a

í foi

pa

ssan

do d

e pa

i pra

filh

o, q

uand

o eu

era

ado

lesc

ente

meu

pai

fe

chou

, não

ass

umiu

o te

rrei

ro

que

era

pra

assu

mir.

E e

le, c

omo

a ge

nte

fala

, fez

leva

nte.

Nós

som

os u

m te

rrei

ro d

e um

band

a, e

sse

terr

eiro

exi

ste

10 a

nos

ofic

ialm

ente

. Ele

exi

ste

há u

m p

ouco

mai

s. E

u so

u um

band

ista

33 a

nos,

des

de

que

nasc

i. V

im d

e ou

tro te

rrei

ro, o

E

verto

n qu

e é

o sa

cerd

ote

cent

ral,

eu s

ou a

sac

erdo

tisa,

a

gent

e ch

ama

de m

ãe-p

eque

na. E

o

terr

eiro

exi

ste

há 1

0 an

os. A

s en

tidad

es a

qui a

s bá

sica

s a

gent

e te

m c

omo

base

a u

mba

nda

de

raiz

, um

band

a tra

dici

onal

. C

aboc

lo, p

reto

-vel

ho, q

ue s

ão a

s no

ssas

bas

es. M

as tr

abal

ham

os

com

bai

ano,

boi

adei

ro, c

om

mar

inhe

iro, c

igan

o, e

xu, e

xu é

m

uito

pre

sent

e aq

ui ta

mbé

m.

Est

ou n

a um

band

a de

sde

os 1

3 an

os, e

stou

com

55.

Tra

balh

o es

pirit

ualm

ente

nós

tem

os n

osso

es

paço

, aqu

i [na

resi

dênc

ia] e

u fa

ço c

onsu

lta e

spiri

tual

. Lá

no

terr

eiro

[no

San

tuár

io] a

gen

te fa

z os

trab

alho

s. J

á há

mai

s de

35

anos

. Ten

ho a

um

band

a co

mo

relig

ião.

Sou

a b

abá

do te

rrei

ro.

Um

a ve

z po

r ano

. Vie

mos

hoj

e po

rque

tính

amos

que

faze

r al

gum

as o

brig

açõe

s e

batiz

ar o

s no

vos

filho

s no

vos

da c

asa.

Nós

te

mos

um

terr

eiro

na

zona

nor

te

tam

bém

, ond

e fre

quen

tam

os.

Cul

tua

as s

ete

linha

s. O

s or

ixás

s cu

ltuam

os O

xalá

, Oxu

m,

Ians

ã, X

angô

, Ogu

m, N

anã,

O

balu

aiê,

Oxó

ssi,

Iem

anjá

... A

s se

te li

nhas

.

Não

, a g

ente

não

tem

terr

eiro

. A

gent

e pr

ocur

a tra

balh

ar a

mai

oria

da

s ve

zes

aqui

mes

mo.

Eu

já ti

ve

três

terr

eiro

s, m

as c

om o

utra

s pe

ssoa

s, e

não

deu

cer

to,

ente

ndeu

? A

gora

qua

ndo

tem

tra

balh

o gr

ande

a g

ente

faz

aqui

.

Rel

ação

ent

idad

e/na

ture

za

A m

ata

é ob

rigat

oria

men

te d

e O

xóss

i. O

u de

Oss

ain

se v

ocê

for

fala

r no

cand

ombl

é. A

mat

a to

da

Oxó

ssi,

as e

rvas

, Oss

ain.

que

Oss

ain

a ge

nte

sabe

que

ele

lá. N

ão d

á pr

a fa

lar o

nom

e de

to

dos

os o

rixás

, e n

em s

empr

e tra

balh

ar d

entro

de

todo

s os

or

ixás

, mas

ele

tá lá

.

A g

ente

nas

ce d

e um

cab

oclo

. A

prim

eira

ent

idad

e qu

e ap

arec

e em

Ter

ra e

fala

: “va

mos

fund

ar a

re

ligiã

o de

um

band

a” é

um

ca

bocl

o. N

a ve

rdad

e, q

uem

teve

um

a vi

dênc

ia n

a ho

ra v

iu q

ue e

le

tinha

sid

o um

pad

re n

a ou

tra v

ida,

m

as e

le s

e m

ostra

pra

gen

te

com

o um

cab

oclo

, o c

aboc

lo d

as

sete

enc

ruzi

lhad

as –

voc

ê já

dev

e te

r est

udad

o m

inim

amen

te s

obre

is

so –

com

o é

um c

aboc

lo, e

le

traz

essa

forç

a da

s m

atas

. Os

cabo

clos

. Boi

adei

ro...

Boi

adei

ro

gera

lmen

te é

no

Cer

rado

, né.

M

as q

uem

usa

m e

rvas

no

seu

traba

lho,

todo

s. A

té E

xu tr

abal

ha

com

erv

as. T

odos

, tod

o pa

nteã

o de

esp

írito

s se

usa

da

ener

gia

do

min

eral

, da

erva

, do

que

a ge

nte

tem

na

natu

reza

em

ben

efíc

io

hum

ano.

Cab

oclo

, sem

dúv

ida.

Sou

su

spei

ta e

m fa

lar,

porq

ue g

raça

s a

Deu

s po

rque

min

has

entid

ades

, pr

atic

amen

te to

das

traba

lham

co

m e

las.

Tod

as tr

abal

ham

na

mat

a. P

osso

diz

er to

das,

tira

ndo

mar

inhe

iro, q

ue n

ão te

m li

gaçã

o co

m a

s er

vas,

com

a m

ata,

o

rest

ante

todo

s.

Pra

não

dei

xar a

des

ejar

. Que

ta

lvez

nós

não

tenh

amos

co

nhec

imen

to, m

as n

a lin

ha

espi

ritua

l tem

fund

amen

to.

Ela

repr

esen

ta a

té O

xóss

i nas

m

atas

. Os

orix

ás d

as m

atas

. E

ntão

, ass

im, a

mat

a é

a co

isa

mai

s lin

da d

o m

undo

que

Deu

s po

de p

or. E

as

mat

as e

las

serv

em ta

nto

pra

gent

e to

mar

ba

nho

quan

to p

ra c

urar

.

Rel

ação

indi

vídu

o/Sa

ntuá

rio

Freq

uênc

ia h

á m

ais

de 2

0 an

os.

Vai

lá in

divi

dual

men

te, n

ão

poss

uem

um

terr

eiro

. A

ntig

amen

te, o

ace

sso

era

difíc

il,

pois

a m

ata

era

fech

ada,

um

a pe

drei

ra. Í

amos

na

conf

ianç

a do

s or

ixás

. Hoj

e há

est

rutu

ra,

segu

ranç

a, e

spaç

o. V

amos

às

veze

s.

A g

ente

[ter

reiro

] vai

lá u

ma

vez

por a

no. T

raba

lham

os o

ano

todo

aq

ui n

o te

rrei

ro, e

lá a

gen

te fa

z um

gra

nde

agra

deci

men

to p

ra

toda

s as

ent

idad

es e

orix

ás q

ue a

ge

nte

traba

lha

o an

o to

do. V

amos

no

últi

mo

final

de

sem

ana

de

nove

mbr

o. V

amos

uns

10

anos

, sem

pre

na m

esm

a te

nda.

Tem

a p

edre

ira, a

mat

a, a

ca

choe

ira.

Lá p

ra c

ima

onde

tem

a

cach

oeira

, tem

um

out

ro

espa

ço, n

ão s

ei s

e tá

abe

rto

agor

a, m

as a

ntig

amen

te é

abe

rto.

Ent

ão, n

ossa

, a m

udan

ça é

fa

ntás

tica.

Ele

tem

um

m

inho

cário

, ele

reap

rove

ita fr

utos

e

tudo

que

a g

ente

usa

pro

pr

óprio

esp

aço.

É fa

ntás

tico

o qu

e el

e fe

z al

i. E

fora

que

o

San

tuár

io é

o lu

gar a

dequ

ado

para

que

a g

ente

faça

ess

e tip

o de

coi

sa. E

ntão

ain

da b

em q

ue a

ge

nte

o es

paço

com

o o

San

tuár

io

do P

ai R

onal

do p

ra p

oder

aco

lher

ta

nta

gent

e. E

ele

reap

rove

ita

mui

ta c

oisa

, né.

Vou

de

três

a qu

atro

vez

es p

or

ano.

No

ano

pass

ado

ia q

uase

to

do m

ês, p

orqu

e eu

est

ava

no

barc

o do

Pai

Ron

aldo

, no

curs

o de

form

ação

sac

erdo

tal.

Ent

ão e

u ia

sem

pre,

todo

com

eço

de a

no

todo

s os

filh

os q

ue e

ntra

m n

a ca

sa tê

m q

ue p

assa

r por

um

a cr

uza.

Na

cach

oeira

, na

casa

de

Oxu

m. Q

ue O

xum

é d

ono

das

cach

oeira

s. E

ntão

a c

aboc

la

cruz

a to

do fi

lho-

de-s

anto

na

cach

oeira

ant

es d

e co

meç

ar o

an

o. A

ntes

de

com

eçar

os

traba

lhos

. Ent

ão to

do c

omeç

o de

an

o eu

vou

pro

San

tuár

io.

Abr

iam

a c

lare

ira e

a g

ente

tra

balh

ava

a no

ite, o

u du

rant

e o

dia

mes

mo.

A g

ente

sem

pre

ia,

uma

vez

por a

no n

o m

ínim

o a

gent

e ia

pro

San

tuár

io. E

ntão

lá é

um

a se

gura

nça

pra

gent

e, d

e nã

o tra

balh

ar n

a ru

a, d

e nã

o tra

zer a

s no

ssas

ofe

rend

as p

ra ru

a, e

lá é

se

guro

, tem

um

pes

soal

que

lim

pa, e

ntão

a g

ente

vai

pel

o m

enos

a c

ada

três

mes

es,

quan

do a

gen

te p

reci

sa

desc

arre

gar e

reca

rreg

ar a

s en

ergi

as ta

mbé

m.

Ó, a

cas

a te

m u

ns 2

0 an

os. A

ge

nte

deve

vir

pra

cá h

á un

s 15

an

os. O

sim

ples

fato

de

que

as

ofer

enda

s sã

o fe

itas,

são

co

loca

das

e o

pess

oal l

impa

de

pois

, rec

olhe

. A n

atur

eza

não

fica

suja

, não

fica

suj

eira

. Ele

s lim

pam

. É u

m e

spaç

o on

de s

e co

ncen

tra tu

do e

é fe

ito u

ma

limpe

za.

Tem

mui

tos

anos

, mai

s de

30

anos

, ach

o. A

qui n

ão ti

nha

tant

a te

nda,

tava

inau

gura

ndo,

as

imag

ens,

ain

da. E

u co

nheç

o o

Pai

Ron

aldo

mui

tos

anos

, qu

ando

ele

fazi

a bi

ngo,

bai

le, p

ra

bota

r aqu

ele

terr

eiro

que

ele

tem

o

pai b

ened

ito. D

e qu

inze

em

qu

inze

dia

s. U

ma

vez

por m

ês.

Dep

ende

, qua

ndo

tem

fest

a de

or

ixá

a ge

nte

vem

. Mas

é p

orqu

e é

difíc

il, n

em to

do m

undo

co

nseg

ue, n

em s

empr

e te

m

cond

içõe

s.

Rel

ação

in

diví

duo/

relig

ião/

soci

edad

e

Fico

rece

osa

de a

cend

er v

ela

em

cem

itério

. E ta

mbé

m é

pro

ibid

o,

ning

uém

pre

cisa

fica

r co

mpa

rtilh

ando

, é c

ompl

icad

o.

Voc

ê pa

ssa

dois

qua

rteirõ

es

daqu

i tem

ent

rega

. E a

li fic

a, te

m

anim

al, t

em c

omid

a qu

e de

terio

ra,

as p

esso

as p

assa

m e

fica

m

vend

o. É

um

resp

eito

por

que

foi

feita

um

a en

trega

ali

pra

um

orix

á. M

as te

m q

ue s

er n

um lu

gar

espe

cífic

o.

O c

ando

mbl

é ai

nda

tem

mui

to

diss

o, a

s ro

ças.

Mas

até

por

ser

es

cond

ido

ning

uém

sab

ia d

isso

50,

60

anos

atrá

s. T

ambé

m é

co

mpl

icad

a po

r con

ta d

a in

tole

rânc

ia re

ligio

sa d

e ho

je e

m

dia,

né.

Mui

to p

or c

ausa

dos

m

aus

umba

ndis

tas;

eu

não

poss

o di

zer q

ue e

sses

des

pach

os n

o m

eio

da ru

a, e

sses

trab

alho

s no

m

eio

da ru

a de

nigr

em d

emai

s, e

su

jam

até

os

noss

os p

onto

s de

fo

rça

que

seria

m u

ma

praç

a, m

as

não

tem

esp

aço

assi

m fá

cil p

ra

você

faze

r um

trab

alho

.

Ant

igam

ente

, se

fazi

a m

uito

of

eren

das

nas

ruas

e ta

l. M

as

com

o te

mpo

a g

ente

vem

to

man

do c

onsc

iênc

ia e

coló

gica

, né

, e a

í pel

os te

mpo

s qu

e a

gent

e vi

ve d

e in

segu

ranç

a ta

mbé

m.

Naq

uele

tem

po, l

á em

190

8, n

ão

se ti

nha

med

icaç

ão, n

ão s

e tin

ha

assi

stên

cia

méd

ica

com

o se

tem

ho

je. A

tecn

olog

ia n

ão ti

nha

com

o ho

je. E

ntão

, era

mui

to m

ais

fáci

l vo

cê p

egar

, abr

ir um

a ba

bosa

, pe

gar a

quel

a ba

ba, m

istu

rar u

m

pouc

o co

m u

ma

outra

erv

a e

pass

ar n

um p

é di

abét

ico,

né?

E

nten

de?

Hoj

e, a

gen

te n

ão u

sa

mai

s ta

nto

com

o m

edic

ina

com

o er

a us

ado

ante

s. A

ntes

era

mui

to

mai

s us

ado

com

o m

edic

ina.

Hoj

e a

gent

e us

a m

uito

mai

s no

pad

rão

ener

gétic

o. Is

so fa

z un

s 14

ano

s.

Sem

inco

mod

ar n

ingu

ém,

ning

uém

é o

brig

ado,

por

que

eu

sou

umba

ndis

ta, a

ouv

ir o

som

do

atab

aque

. Car

ro p

ra p

arar

; é u

m

sufo

co, a

gen

te q

ue m

ora

na

cida

de. N

ós tr

abal

ham

os n

uma

relig

ião

que

não

é in

com

odar

, e

sim

aco

mod

ar to

dos.

Aco

lher

. E

ntão

lá n

o S

antu

ário

tem

os e

sse

espa

ço q

ue te

m e

stac

iona

men

to,

tem

um

a co

mod

idad

e ta

mbé

m, e

a

segu

ranç

a. P

ra q

ue p

ossa

mos

fa

zer o

s no

ssos

trab

alho

s ga

rant

indo

tam

bém

a s

egur

ança

de

todo

s.

E a

qui n

o S

antu

ário

é o

luga

r pra

vo

cê re

alm

ente

pra

faze

r as

ofer

enda

s, n

ão fa

zer e

m q

ualq

uer

luga

r, em

qua

lque

r esq

uina

, qu

alqu

er ru

a, p

ra s

ujar

o

ambi

ente

. A g

ente

faz

aqui

m

esm

o qu

e aq

ui já

ele

s pe

gam

, jo

gam

fora

, e s

abem

a fi

nalid

ade

das

cois

as.

Rel

ação

indi

vídu

o/na

ture

za

Aqu

i a q

uest

ão d

a pr

eser

vaçã

o é

uma

gran

de b

riga.

Ant

es e

ra

norm

al, p

or e

xem

plo,

um

a en

tidad

e pe

dir p

ra fa

zer u

m

desp

acho

des

se o

u um

a of

eren

da

em c

ampo

san

to, n

um c

emité

rio,

ou n

uma

via.

.. H

oje

em d

ia a

inda

te

m –

eu

não

poss

o fa

lar q

ue n

ão

tem

– m

as a

gen

te p

ede.

.. M

as a

ge

nte

tent

a o

máx

imo

faze

r es

sa...

Ess

a lim

peza

, né.

Não

su

jar p

ra n

ão te

r que

lim

par;

mai

s ou

men

os is

so. E

ntão

a g

ente

te

nta,

den

tro d

e um

a ev

oluç

ão –

qu

e eu

ach

o qu

e a

gent

e tá

ev

olui

ndo

dent

ro d

isso

, não

é fá

cil

– vo

cê fa

lar p

ra u

m c

aboc

lo q

ue

tem

o a

rqué

tipo

do Ín

dio

que

traba

lhav

a na

mat

a, q

ue v

ocê

não

pode

usa

r a m

ata

pra

faze

r o q

ue

ele

fazi

a, é

...

A g

ente

par

te d

o pr

incí

pio

que

a na

ture

za é

um

pon

to d

e fo

rça

dos

orix

ás q

ue s

ão e

nerg

ias

de D

eus,

o fa

z se

ntid

o a

gent

e de

pred

ar

tudo

e s

ujar

tudo

, e c

orre

risc

o de

bo

tar f

ogo

na m

ata.

Ent

ão é

mui

to

bom

que

a g

ente

tenh

a um

luga

r es

pecí

fico

pra

faze

r os

noss

os

traba

lhos

relig

ioso

s. E

voc

ê fa

z co

m tr

anqu

ilida

de. T

ranq

uilid

ade

no s

entid

o de

seg

uran

ça e

ta

mbé

m v

ocê

sabe

que

ajud

ando

a p

rese

rvar

. Ent

ão tu

do

que

a ge

nte

faz,

pel

o m

enos

nós

: a

gent

e al

uga

um e

spaç

o lá

no

San

tuár

io. A

mes

ma

cois

a qu

ando

a g

ente

vai

pra

pra

ia.

Qua

ndo

a ge

nte

vai f

azer

trab

alho

de

fina

l de

ano,

a g

ente

dei

xa a

pr

aia

do je

ito q

ue a

gen

te a

chou

. M

uita

s ve

zes

a ge

nte

reco

lhe

quan

do c

hega

. A g

ente

lim

pa o

es

paço

pra

gen

te fi

car.

Suj

eira

qu

e ou

tras

pess

oas

deix

aram

.

E a

Ter

ra tá

em

col

apso

. Se

a ge

nte

cuid

ar d

ela,

a g

ente

vai

se

lasc

ar. A

gen

te ia

pra

mat

a, n

é. Ia

pr

o m

eio

da m

ata

faze

r tud

o,

reco

lhia

tudo

e d

epoi

s ia

em

bora

. P

ra n

ão d

eixa

r suj

eira

no

cam

po

sant

o. P

orqu

e vo

u te

fala

r um

a co

isa.

Que

m te

fala

r que

é

umba

ndis

ta, m

as fo

r no

mei

o da

m

ata

larg

ar [i

naud

ível

] aqu

ela

suje

ira lá

, ela

não

é.

Que

nem

árv

ores

, a g

ente

m

esm

o qu

ando

vai

trab

alha

r nas

m

atas

lá p

erto

de

casa

, eu

falo

“g

ente

, não

dei

xa v

ela

aces

a”.

Por

que

pode

peg

ar fo

go n

a m

ata.

A

inda

mai

s ag

ora

que

é te

mpo

se

co. P

orqu

e aq

ui a

gen

te te

m

que

pres

erva

r a n

atur

eza.

Aqu

ilo

lá fa

z pa

rte n

ão s

ó da

gen

te, m

as

das

outra

s cr

ianç

as q

ue tã

o vi

ndo.

Tem

, tem

as

mat

as lá

.

Rel

ação

re

ligiã

o/ci

dade

/nat

urez

a

O e

spaç

o da

cid

ade

é di

fícil

de

atin

gir.

Não

tem

aqu

ela

mes

ma

ener

gia

que

um e

spaç

o na

tura

l.

O a

umen

to d

a se

lva

de p

edra

é

mui

to c

ompl

icad

o. P

or e

xem

plo,

an

tigam

ente

um

terr

eiro

era

feito

nu

m g

rand

e qu

inta

l. H

oje

em d

ia

não

tem

. Nós

tem

os a

qui n

o fu

ndo

algu

mas

erv

as, m

as é

m

uito

com

plic

ado.

Ent

ão, n

ão te

m m

ais

terr

eiro

de

chão

bat

ido,

ent

ão a

gen

te te

m

que

se a

dapt

ar c

om is

so, q

ue

acon

tece

u co

m a

s er

vas

tam

bém

. E

ra a

ssim

. Era

mai

s fá

cil,

a ge

nte

acha

va e

rva

em to

do lu

gar.

Todo

lu

gar t

inha

terr

eno

bald

io, m

as

era

mui

to d

ifíci

l o S

antu

ário

em

si

o tra

jeto

pra

lá. P

ra c

hega

r lá

era

mui

to d

ifíci

l. E

hoj

e a

gent

e te

m

estra

da, t

em á

gua

enca

nada

. Eu

acho

que

ess

a re

laçã

o co

m o

ur

bano

, ess

a ad

apta

ção

pro

urba

no e

do

natu

ral,

que

é im

porta

nte.

Sem

dúv

ida

faci

litou

em

alg

umas

coi

sas,

difi

culto

u em

ou

tras.

É d

ifere

nte

de v

ocê

sair

na m

ata

do la

do d

e lá

, col

ocar

sua

of

eren

da e

vai

fica

r aqu

ilo lá

. M

uito

s m

ater

iais

não

são

mui

tas

veze

s de

grad

ávei

s, e

vai

pol

uir a

na

ture

za. N

ão é

a in

tenç

ão.

Mas

é c

ompl

icad

o, p

orqu

e a

mai

oria

das

mat

as, v

ocê

sabe

qu

e ho

je e

m d

ia é

per

igos

o, n

é.

Ent

ão o

u a

gent

e va

i de

man

hã,

até

o ho

rário

do

alm

oço

a ge

nte

traba

lha

e vo

lta, q

ue n

a pa

rte d

a ta

rde

é m

eio

perig

oso.

Por

que

a ge

nte

corr

e ris

co ta

mbé

m. A

qui

não.

Voc

ê po

de tr

abal

har

tranq

uilo

que

voc

ê nã

o co

rre

risco

de

alg

um b

andi

do s

air c

orre

ndo

no m

eio

do m

ato

um a

trás

do

outro

lá, o

u qu

alqu

er o

utra

coi

sa.

Ent

ão a

gen

te ja

mai

s va

i pôr

a

vida

dos

dem

ais

em ri

sco.

E

nten

deu?

O q

ue a

gen

te n

ão

quer

pra

gen

te a

gen

te n

ão q

uer

pros

dem

ais.

Rel

ação

re

ligiã

o/te

rrei

ro/n

atur

eza

Qua

ndo

os o

rixás

vão

peg

ar

erva

s, e

les

pede

m li

cenç

a. É

m

uito

bon

ito. T

udo

eles

ped

em

licen

ça p

ra ti

rar,

nunc

a pr

o de

sper

díci

o.

Por

exe

mpl

o, n

ós a

qui s

omos

um

pr

édio

, ond

e a

gent

e te

nta

min

ima,

diri

a at

é po

rcam

ente

, ter

al

gum

a co

isa

[nat

ural

] aqu

i per

to.

A á

rvor

e qu

e te

m n

a fre

nte

da

noss

a ca

sa fo

mos

nós

que

pl

anta

mos

a p

edid

o de

um

a en

tidad

e.

A g

ente

resp

eita

a n

atur

eza

porq

ue n

ós e

nten

dem

os o

s or

ixás

co

mo

man

ifest

ação

da

natu

reza

.

Ach

o qu

e pr

a el

a pe

rpet

uar,

ela

prec

isa

dess

a ev

oluç

ão. M

esm

o qu

e a

gent

e nã

o en

cont

re ta

ntos

po

ntos

. Mas

pre

serv

ando

ess

es

pont

os q

ue e

xist

em, p

rese

rvan

do

o qu

e a

gent

e te

m, o

que

a g

ente

en

cont

ra. P

or is

so q

ue a

um

band

a é

tão

ligad

a à

cons

erva

ção

da n

atur

eza.

Eu

sou

chat

a pr

a ca

ram

ba c

om re

laçã

o a

isso

... E

u ac

ho q

ue s

im, a

gen

te

tem

que

pre

serv

ar, n

ão jo

gar l

ixo

no c

hão,

sab

e? E

sse

tipo

de

cois

a, d

e pe

quen

os h

ábito

s...

“Ah,

m

as v

ocê

é um

a em

um

milh

ão”.

OK

, mas

se

eu fi

zer,

eu c

omo

umba

ndis

ta fi

zer,

eu v

ou s

er

form

ador

a de

opi

nião

, ent

ão

acab

a fo

rman

do o

utra

s op

iniõ

es e

is

so fu

ncio

na d

e ve

rdad

e.

Pra

con

serv

ação

. Na

linha

m

édic

a, tr

abal

ham

os c

om e

rvas

. E

ntão

as

erva

s é

mui

to

nece

ssár

io, c

omo

os c

rista

is. P

ra

nós,

term

os u

m e

spaç

o de

ntro

da

mat

a, n

ós p

rese

rva

tudo

.

Rel

ação

indi

vídu

o/er

vas

Eu

conh

eço

as p

lant

as. P

lant

as

med

icin

ais,

por

que

venh

o de

um

a he

ranç

a qu

e se

usa

va m

uito

pl

anta

s, tr

abal

hava

com

pla

ntas

, m

inha

traba

lhav

a m

uito

com

pl

anta

s.

Se

você

for s

enta

r com

igo,

eu

vou

ter b

anho

pre

para

do já

, co

nser

vado

em

álc

ool,

pra

faci

litar

, sab

e? P

ó qu

e dá

pra

ut

iliza

r qua

ndo

você

tá a

li na

ra

pide

z...

Tudo

pra

faci

litar

. E o

S

antu

ário

vem

isso

tam

bém

.

Rel

ação

ent

idad

es/e

rvas

Os

cabo

clos

, os

orix

ás te

m m

ais

sabe

doria

, ele

s pe

gam

um

mat

o qu

e eu

nun

ca v

i. E

u nã

o co

nheç

o.

Mas

o o

rixá

conh

ece.

Ele

tem

a

sabe

doria

ade

quad

a pr

a pe

gar

qual

quer

pla

ntin

ha ra

stei

ra q

ue

ele

tem

um

sig

nific

ado.

De

cura

ca

rnal

, esp

iritu

al, a

stra

l.

E m

uito

pre

sent

e co

m a

s er

vas

tam

bém

. Tra

balh

a m

uito

com

as

erva

s. T

odos

ele

s tra

balh

am. P

ra

gent

e é

fund

amen

tal,

pra

nós

com

o m

édiu

ns, c

omo

traba

lhad

ores

de

umba

nda

é fu

ndam

enta

l o u

so d

as e

rvas

, e

pra

eles

com

o fe

rram

enta

de

traba

lho.

Rel

ação

indi

vídu

o e

dico

tom

ia

cida

de/n

atur

eza

Não

con

heço

out

ros

espa

ços

de

mat

a, m

as ta

mbé

m p

orqu

e nó

s nu

nca

proc

uram

os.

Hoj

e em

dia

, por

ser

difí

cil d

e ac

har n

a na

ture

za, a

gen

te u

sa

mui

ta e

rva

seca

. Prim

eiro

, sai

ba a

pr

oced

ênci

a. É

igua

l qua

lque

r co

isa

que

eu v

ou c

oloc

ar c

omo

um c

rem

e.

Hoj

e em

dia

exi

stem

vár

ios.

...

Vár

ios.

Eu

conh

eço

de fr

eque

ntar

o

San

tuár

io. T

em u

m o

utro

luga

r qu

e é

de C

acho

eira

que

eu

não

sei s

e fu

ncio

na. Q

ue a

gen

te ia

fa

zer t

raba

lho

lá, m

as n

ão te

m o

m

esm

o pr

incí

pio

do P

ai R

onal

do.

Tem

um

luga

r em

Naz

aré

Pau

lista

. Ent

ão h

oje

em d

ia já

te

m a

lgun

s S

antu

ário

s. A

pesa

r de

a ge

nte

não

conh

ecer

os

outro

s to

dos,

mas

pel

o qu

e a

gent

e ou

viu

fala

r é d

o m

esm

o je

ito.

Alg

umas

são

pro

prie

dade

s pa

rticu

lare

s e

eles

usa

m is

so p

ra

reve

rter,

pra

cons

erva

r os

espa

ços.

Ant

igam

ente

era

mai

s fá

cil d

e co

nseg

uir e

rvas

.Mui

tas

casa

s co

m q

uint

al. H

oje

em d

ia já

o te

m m

ais.

Voc

ê te

m q

ue ir

em

mer

cado

, tem

que

com

prar

na

band

ejin

ha o

u em

maç

o fe

chad

o.

Ent

ão q

uand

o a

gent

e pe

ga n

o m

erca

do, a

gen

te s

abe

que

é um

a co

isa

pelo

men

os c

ertin

ha,

regu

lariz

ada.

Não

é u

ma

cois

a qu

e tá

em

bei

ra d

e es

trada

.

Nós

faze

mos

mag

ia c

om

umba

nda,

nós

tem

os a

relig

ião

umba

nda

é um

a re

ligiã

o m

uito

rit

ualís

tica,

mag

ístic

a, e

que

é

uma

relig

ião

que

se to

rnou

hoj

e ur

bana

.

Não

, exi

stem

out

ros

luga

res,

m

as, a

ssim

, com

a e

stru

tura

or

gani

zada

é e

sse

aqui

. Lá

na

noss

a re

gião

tem

cac

hoei

ra

tam

bém

, mas

é m

enos

or

gani

zado

, bem

men

os.

Org

aniz

ação

, seg

uran

ça.

Ace

sso

às e

rvas

Con

segu

imos

no

boca

-a-b

oca.

Q

uand

o é

uma

plan

ta m

ais

difíc

il,

pega

na

mat

a qu

e fic

a no

ca

min

ho d

e vo

lta d

o S

antu

ário

. S

e nã

o, a

gen

te p

ede

pro

pess

oal

que

a ge

nte

conh

ece.

Em

feira

s é

mai

s di

fícil.

Hoj

e em

dia

tem

m

uito

cas

a de

erv

as. M

as

pess

oalm

ente

não

con

fio m

uito

. P

orqu

evoc

ê po

r exe

mpl

o co

mpr

a lá

um

saq

uinh

o de

set

e er

vas.

Q

uem

gar

ante

que

aqu

ilo a

li va

i te

r as

erva

s lá

? E

ntão

a g

ente

pr

efer

e, m

esm

o qu

e se

ja u

m

pouc

o di

fícil,

a p

lant

a m

esm

o. S

e m

inha

mãe

não

sab

e,

perg

unta

mos

pro

meu

tio,

se

ele

não

sabe

per

gunt

amos

pra

out

ra

tia. P

rocu

ram

os fa

zer u

m b

em-

bola

do p

ra c

onse

guir

a pl

anta

m

esm

o. N

o fim

tudo

cer

to.

Eu

parti

cula

rmen

te te

nho

uma

senh

ora

que

traba

lha

com

erv

as.

Ent

ão e

la tr

az p

ra m

im. A

qui p

or

exem

plo

no te

rrei

ro a

gen

te

cham

a el

a de

“tra

fican

te”

[Ris

adas

]. P

orqu

e eu

peç

o as

er

vas,

ela

que

arr

uma

pra

todo

m

undo

. A p

rópr

ia c

asa

de

tem

pero

tem

bas

tant

e co

isa.

Mas

o no

rmal

men

te e

ssas

cas

as d

e pr

odut

os n

atur

ais

que

tem

tudo

qu

e pr

ocur

a. E

o q

ue n

ão te

m

você

vai

na

feira

... C

EA

SA

. Ou

um c

onta

to q

ue v

ocê

vai a

char

. E

você

vai

pla

ntan

do n

a su

a ca

sa.

Eu

tenh

o um

a ho

rta p

ra is

so. A

s er

vas

que

eu m

ais

uso

eu q

ue

cuid

o, e

u qu

e fa

ço, e

u qu

e pl

anto

. P

ra q

ue e

u te

nha

isso

mai

s fá

cil

pra

man

usea

r ela

s. M

as n

em

todo

mun

do te

m e

sse

terr

eno

em

casa

que

con

segu

e pr

a fa

zer

isso

.

Ain

da b

em, h

oje

em d

ia, é

mui

to

fáci

l voc

ê ac

har a

s er

vas.

Tod

a ca

sa d

e m

acum

beiro

sem

pre

tem

um

a er

vinh

a pl

anta

da, n

é. A

qui a

ge

nte

tem

um

as e

rvas

pla

ntad

as.

A g

ente

tom

a m

uito

cui

dado

ond

e a

gent

e va

i com

prar

as

erva

s,

erva

fres

ca, p

rinci

palm

ente

erv

a se

ca. V

ocê

vê, v

ocê

pass

a em

P

inhe

iros

você

um m

onte

de

luga

r ven

dend

o aq

uela

s ár

vore

s to

rran

do n

o so

l, aí

peg

a ch

uva.

.. Is

so n

ão é

lega

l. E

ntão

as

fresc

as, t

em d

uas

méd

iuns

aqu

i qu

e vã

o na

feira

. Um

a m

ulhe

r que

pl

anta

e c

olhe

, tra

z su

per

fresq

uinh

a...

Tem

os o

mer

cado

da

Lap

a ta

mbé

m, q

ue te

m d

uas

banc

as q

ue fo

rnec

em...

A g

ente

te

m a

lgun

s tra

balh

ador

es q

ue

tem

erv

a em

bas

tant

e qu

antid

ade

em c

asa,

que

traz

. Mas

no

rmal

men

te q

uand

o a

gent

e va

i co

mpr

ar s

eco,

a g

ente

pro

cura

co

mpr

ar, p

or e

xem

plo,

alg

umas

eu

com

pro

no M

undo

Ver

de. A

ge

nte

tem

um

dis

tribu

idor

que

fica

no

Bel

enzi

nho

que

a ge

nte

com

pra.

..

Cad

a um

tem

um

pou

co d

e er

va

em c

asa.

Que

nem

ess

a do

na

Fátim

a, e

la te

m u

m b

orbo

, m

enin

o, q

ue é

mai

or q

ue e

u. É

um

a ár

vore

. Ela

tem

mui

ta p

lant

a.

Eu

não

tenh

o pl

anta

. Por

que

aqui

a

gent

e nã

o te

m q

uint

al. S

eria

um

so

nho

de c

onsu

mo

a ge

nte

esta

r nu

ma

casa

que

tive

sse

quin

tal e

a

gent

e co

nseg

uiss

e te

r as

noss

as

erva

s aq

ui. M

as é

impo

ssív

el.

Ent

ão, a

lgum

as e

u co

nsig

o na

m

ata

mes

mo.

Eu

sou

priv

ilegi

ada

porq

ue e

u na

sci e

me

crie

i aqu

i nu

m b

airr

o pr

óxim

o, q

ue a

inda

te

m m

uito

veg

etal

, que

é u

m

peda

ço d

e M

ata

Atlâ

ntic

a. E

ntão

eu

enc

ontro

mui

ta c

oisa

na

mat

a.

Eu

cres

ci lá

, ent

ão p

ra m

im é

m

uito

fam

iliar

. Eu

cons

igo

mui

ta

cois

a pr

a tra

balh

ar n

a es

teira

. M

as p

ra c

ultiv

o, te

nho

que

com

prar

. Ent

ão e

u co

mpr

o m

uda,

te

m u

m a

quár

io a

qui p

erto

de

Itaqu

era.

Exi

ste

tam

bém

um

a re

laçã

o de

am

izad

e e

conf

ianç

a ne

las.

Ent

ão e

u co

mpr

o m

uito

, ex

iste

m o

s m

atei

ros

que

traze

m.

Na

25 d

e M

arço

tem

um

in

terp

osto

, per

to d

o M

erca

dão,

el

es tr

azem

mui

ta c

oisa

. Ent

ão lá

é

um b

om lu

gar p

ra s

e co

mpr

ar

erva

s em

qua

ntid

ade.

E a

qui e

m

São

Pau

lo, S

anto

And

ré e

São

B

erna

rdo,

ele

s tê

m, s

abe

aque

las

área

s de

ant

ena

de tr

ansm

issã

o,

aque

las

torr

es?

Ele

s cu

ltiva

m

mui

to a

li, e

les

culti

vam

hor

taliç

as,

e ou

tras

erva

s. Q

ue é

ond

e ta

mbé

m e

u co

mpr

o pr

as e

stei

ras.

A

li o

pess

oal a

caba

m p

lant

ando

e

vend

endo

, doa

ndo,

ent

ão é

en

graç

ado,

mas

o p

esso

al a

qui

de b

aixo

con

segu

e fá

cil.

Tam

bém

tem

mui

to a

qui n

as

casa

s de

erv

as, e

tam

bém

um

a m

ata

aqui

per

to. E

a g

ente

se

mpr

e se

com

unic

ando

. Por

que,

a

ama

da c

asa,

trab

alha

com

a

linha

de e

rvas

. Ess

a qu

e dá

o

curs

o lá

em

São

Ber

nard

o. É

, in

do p

ro S

antu

ário

, ali

tem

mui

to,

mui

to m

esm

o. H

oje

tem

, com

o an

tigam

ente

nós

atra

vess

ávam

os

pelo

tele

féric

o. A

gora

a g

ente

a vo

lta. M

as a

li te

m ta

ntas

erv

as,

que

o po

vo n

em c

onhe

ce.

É fá

cil.

Um

a ou

out

ra q

ue te

m u

m

pouc

o m

ais

de d

ificu

ldad

e. A

porq

ue, a

ssim

, as

veze

s te

m

mui

tas

que

dão

no m

eio

da m

ata

mes

mo.

E a

gen

te s

abe

que

hoje

se

alg

uém

peg

ar v

ocê

tiran

do

uma

plan

ta d

o m

eio

da m

ata,

um

a pl

anta

nat

iva,

é c

rime

ambi

enta

l. E

ntão

a g

ente

vai

at

rás

de lu

gare

s qu

e co

mer

cial

izam

isso

, aca

ba s

endo

m

ais

difíc

il, e

voc

ê ac

aba

enco

ntra

ndo

seca

. Mas

fres

ca

real

men

te a

lgum

as s

ão m

ais

difíc

eis.

Eu

plan

to. L

á on

de m

eu p

ai m

ora,

eu

mor

o em

apa

rtam

ento

. Mas

on

de m

inha

irm

ã m

ora,

que

meu

pa

i tem

um

terr

eno

vazi

o, a

gen

te

toda

vez

que

pre

cisa

a g

ente

pl

anta

. Mas

qua

ndo

não

tem

, que

ne

m, e

ssa

cida

de...

Pra

pla

ntar

, pe

de p

ro v

izin

ho. S

empr

e te

m

algu

ém q

ue te

m. O

u se

não

tem

va

i a s

eca

mes

mo.

Não

, sem

pre

foi f

ácil

[par

a en

cont

rar e

rvas

]. S

empr

e te

ve.

Page 10: UM BOSQUE DE FOLHAS SAGRADAS: O SANTUÁRIO NACIONAL …

INTERAGIR: PENSANDO A EXTENSÃO, RIO DE JANEIRO, N. 26, P. 11-33, JUL/DEZ. 2018

UM BOSQUE DE FOLHAS SAGRADAS: O SANTUÁRIO NACIONAL DA UMBANDA E O CULTO DA NATUREZA

20

Mat

eria

l Sup

lem

enta

r'U

m b

osqu

e de

folh

as s

agra

das:

o S

antu

ário

Nac

iona

l da

Um

band

a co

mo

refú

gio

ao c

ulto

sag

rado

da

natu

reza

'Ta

bela

S2.

Tab

ela

com

para

tiva

rela

cion

ando

fala

s do

s en

trev

ista

dos

à co

ncep

ção

de n

atur

eza,

ent

idad

es e

de

ener

gia,

bem

com

o re

laçã

o en

tre

o in

diví

duo,

a e

ntid

ade,

o S

antu

ário

e a

nat

urez

a. F

MD

: Fab

iana

D. e

méd

ium

Már

cia

D.;

RC

A: P

ai R

afae

l; M

AN

: Mãe

Ros

ânge

la e

Már

cia;

JU

P: M

ãe

Jupi

ra; A

NT:

Mãe

Ant

ônia

; SH

Y: M

ãe S

hirle

y; R

RA

: Rob

erta

, Ant

ônia

e P

ai R

icar

do; D

AS:

Mãe

San

dra

e D

iego

C.

Variá

veis

FMD

RC

AM

AN

JUP

AN

TSH

YR

RA

DA

S

Con

cepç

ão d

e na

ture

za

O q

ue v

ocê

faz

na n

atur

eza

você

de

ixa

a en

ergi

a al

i. O

s el

emen

tos

natu

rais

te d

ão fo

rça.

A n

atur

eza

é o

luga

r ade

quad

o, p

ossu

i erv

as

e en

ergi

a.

A n

atur

eza

é um

pon

to d

e fo

rça.

É

terr

a de

Oxó

ssi,

de O

ssai

n.

Voc

ê es

tar p

erto

da

natu

reza

, on

de, a

lém

de

ser n

atur

eza,

ess

e es

paço

tá c

onsa

grad

o de

ntro

da

noss

a re

ligiã

o pr

o cu

lto, t

em u

ma

ener

gia

mui

to g

rand

e, m

uito

...

Não

diri

a qu

e m

aior

, mas

ond

e vo

cê te

m o

con

tato

dire

to c

om

essa

forç

a ve

geta

l.

O p

onto

de

forç

a do

s or

ixás

é n

a na

ture

za. E

qua

ndo

a ge

nte

sai

do te

mpl

o e

vai f

azer

um

trab

alho

de

sse

dent

ro d

e um

esp

aço

com

o o

San

tuár

io, d

e ve

geta

ção,

tem

rios

pont

os d

e fo

rça

né. T

em a

pe

drei

ra, a

mat

a, a

cac

hoei

ra.

Ent

ão a

gen

te e

nerg

etic

amen

te

pra

gent

e é

mui

to m

elho

r. N

ão

faz

sent

ido

você

fica

r suj

ando

um

po

nto

de fo

rça

que

é pu

ra e

nerg

ia

cósm

ica.

Por

que

a ge

nte

apre

nde

com

os

guia

s. P

rimei

ra c

oisa

: res

peita

r o

ambi

ente

que

nos

sus

tent

a. A

lo

uvaç

ão q

ue fa

lam

os

orix

ás é

a

oraç

ão d

a na

ture

za. T

odo

esse

cu

idad

o pr

a cu

idar

da

natu

reza

. P

orqu

e el

a cu

ida

da g

ente

.

Pai

Ron

aldo

fala

um

a co

isa

mui

to

impo

rtant

e e

eu s

igo

mui

to q

ue

umba

ndis

ta n

ão p

reci

sa d

e um

te

mpl

o, o

tem

plo

é a

natu

reza

, nó

s so

mos

um

tem

plo

vivo

, e e

u já

vi,

reca

rreg

uei,

me

reco

nect

ei

deba

ixo

de u

ma

árvo

re. A

cho

que

o co

ntat

o m

esm

o co

m o

nat

ural

, os

pon

tos

de fo

rças

que

são

a

mat

a, o

mar

, a c

acho

eira

. Ele

s tra

zem

um

a re

cone

xão,

a

reco

nexã

o, a

reca

rga,

reca

rreg

a m

uito

a e

nerg

ia, é

um

pon

to

natu

ral d

e en

ergi

a.

E tu

do v

amos

trab

alha

r com

er

vas,

den

tro d

aque

le e

lem

ento

, te

rra,

mas

as

erva

s é

que

sim

boliz

am tu

do o

que

tra

balh

amos

. Ent

ão a

erv

a pr

a nó

s, e

a m

ata,

o s

olo,

é s

agra

do.

Tudo

o q

ue é

nat

ural

, tud

o o

que

é da

nat

urez

a pr

a ge

nte

é de

ex

trem

a im

portâ

ncia

. Que

as

ener

gias

as

quai

s tra

balh

amos

, as

qua

is o

s no

ssos

orix

ás u

sam

co

mo

elem

ento

de

traba

lho,

toda

s el

as v

êm d

a na

ture

za. E

em

gr

ande

par

te d

o re

ino

vege

tal.

E e

u ac

ho q

ue a

impo

rtânc

ia d

as

mat

as é

tam

bém

a e

nerg

ia q

ue

as m

atas

tem

, é u

ma

ener

gia

fora

do

com

um p

ra g

ente

né,

pra

usa

r, é

uma

outra

ene

rgia

, tra

z co

isas

bo

as p

ra g

ente

.

Con

cepç

ão d

e en

tidad

es

Os

orix

ás tê

m a

forç

a do

s el

emen

tos

que

eles

nee

ssita

m, e

na

nat

urez

a, c

omo

o m

édiu

m e

os

orix

ás a

bsor

vem

a fo

rça

dos

elem

ento

s, o

orix

á te

m o

pod

er

dele

de

elim

inar

naq

uele

s el

emen

tos.

Os

orix

ás s

ão fo

rça

da n

atur

eza

e po

ntos

de

forç

a. O

pon

to d

e fo

rça

tem

que

aco

ntec

er.

E é

lega

l por

que

a ge

nte

vai

cola

bora

ndo

tam

bém

com

ess

a co

isa

de re

faze

r, de

man

ter o

s es

paço

s qu

e sã

o po

ntos

de

forç

a da

nat

urez

a pr

a ge

nte.

Ent

ão D

eus

se fe

z pr

esen

te n

a Te

rra

atra

vés

de s

eus

orix

ás.

Orix

á na

da m

ais

é do

que

ene

rgia

da

nat

urez

a.

E é

ass

im m

esm

o, a

rela

ção

com

os

gui

as é

de

amiz

ade

e co

nfia

nça.

Ele

s no

s dã

o m

uita

fe

rram

enta

, mas

a g

ente

tem

que

se

r bon

s fil

hos,

bon

s in

stru

men

tos

pra

eles

tra

balh

arem

. Ent

ão o

co

nhec

imen

to v

em a

í. M

as

cabo

clo,

pre

to-v

elho

; aqu

i, ne

ssa

casa

, cab

oclo

, pre

to-v

elho

. E n

a m

inha

est

rutu

ra, n

a m

inha

col

una,

qu

ase

todo

s te

m li

gaçã

o co

m a

m

ata.

Trab

alha

mos

mui

to c

om O

xóss

i, tra

balh

amos

com

a li

nha

dos

cabo

clos

, pre

tos-

velh

os, e

com

a

linha

de

seu

Zé ta

mbé

m, q

ue é

tu

do a

bas

e da

mag

ia, d

o en

cant

o, d

a su

sten

taçã

o, e

tudo

de

le v

em d

as m

atas

.

Tudo

o q

ue é

nat

ural

, tud

o o

que

é da

nat

urez

a pr

a ge

nte

é de

ex

trem

a im

portâ

ncia

. Que

as

ener

gias

as

quai

s tra

balh

amos

, as

qua

is o

s no

ssos

orix

ás u

sam

co

mo

elem

ento

de

traba

lho,

toda

s el

as v

êm d

a na

ture

za. E

em

gr

ande

par

te d

o re

ino

vege

tal.

Con

cepç

ão d

e en

ergi

a

-O

s or

ixás

são

forç

a da

nat

urez

a,

são

a en

ergi

a.A

gen

te s

ente

a e

nerg

ia d

o or

ixá,

a

gent

e se

nte

a en

ergi

a de

Deu

s,

mui

to m

ais

pura

.

Os

pens

amen

tos

nega

tivos

, ele

s co

nden

sam

, tod

a a

ener

gia

ela

vai f

ican

do fí

sica

. Tud

o o

que

você

col

oca

ener

gia,

se

você

fica

r ob

ceca

do p

ensa

ndo

num

a m

esm

a co

isa,

voc

ê m

esm

o co

loca

ene

rgia

naq

uela

coi

sa e

is

so te

par

alis

a. E

é is

so q

ue o

s gu

ias

vêm

e te

orie

ntam

, tra

balh

am c

om v

ocê,

é n

isso

que

pa

rte d

as e

rvas

trab

alha

m...

P

orqu

e na

real

idad

e eu

não

sou

Ju

pira

, eu

esto

u em

Jup

ira n

essa

ex

istê

ncia

. Pra

gen

te, n

ós s

omos

pa

rte d

a ce

ntel

ha d

ivin

a, to

dos

nós

som

os p

arte

da

mes

ma

cent

elha

div

ina.

Que

é D

eus,

né.

O

cris

tão.

A c

onex

ão c

om a

nat

urez

a, c

om

o no

sso

sagr

ado.

É s

im, f

orça

s na

tura

is, f

orça

s di

vina

s na

tura

is,

e qu

e es

tá p

rese

nte

em tu

do.

Ele

s tra

zem

um

a re

cone

xão,

a

reco

nexã

o, a

reca

rga,

reca

rreg

a m

uito

a e

nerg

ia, é

um

pon

to

natu

ral d

e en

ergi

a.

Nós

trab

alha

mos

esp

iritu

alm

ente

pr

a de

scar

rega

r, en

ergi

zar.

Nós

pr

ecis

amos

de

árvo

re. S

e vo

cê v

ir pa

rada

um

a pe

ssoa

num

a ár

vore

, nã

o é

porq

ue é

louc

ura.

É p

orqu

e al

i ren

ova

a en

ergi

a. V

ocê

põe

a m

ão n

a ár

vore

, voc

ê se

nte,

o

puls

ar, o

retir

ar d

aqui

lo q

ue v

ocê

traba

lhou

com

o p

acie

nte

e re

cebe

nov

amen

te d

o so

lo, q

ue é

a

terr

a, a

sus

tent

ação

no

vam

ente

, pra

dar

con

tinui

dade

no

trab

alho

.

Tudo

o q

ue é

nat

ural

, tud

o o

que

é da

nat

urez

a pr

a ge

nte

é de

ex

trem

a im

portâ

ncia

. Que

as

ener

gias

as

quai

s tra

balh

amos

, as

qua

is o

s no

ssos

orix

ás u

sam

co

mo

elem

ento

de

traba

lho,

toda

s el

as v

êm d

a na

ture

za. E

em

gr

ande

par

te d

o re

ino

vege

tal.

Rel

ação

indi

vídu

o/re

ligiã

o

Freq

uent

ava

um c

entro

, um

te

rrei

ro q

ue fr

eque

ntav

a.M

édiu

m e

um

dos

prin

cipa

is

orga

niza

dore

s do

terr

eiro

que

fre

quen

ta e

coo

rden

a, lo

caliz

ado

na Z

ona

Sul

de

São

Pau

lo. E

le

resi

de e

m It

apev

i. S

eu te

rrei

ro

frequ

enta

o e

spaç

o do

San

tuár

io

por p

elo

men

os u

ma

vez

por a

no,

para

cel

ebra

ções

de

fim d

e an

o.

Raf

ael t

ambé

m é

resp

onsá

vel p

or

min

istra

r cur

sos

de u

mba

nda

para

a c

omun

idad

e ex

tern

a e

sobr

e us

o de

pla

ntas

no

cont

exto

re

ligio

so o

u te

rapê

utic

o.

Eu

sou

umba

ndis

ta v

ai fa

zer 1

8 an

os. E

u tra

balh

ava

num

tem

plo

aqui

em

baix

o na

rua

Bot

uroc

a,

que

fech

ou. F

ique

i lá

por v

olta

de

7, 8

ano

s. E

nes

se m

eio

tem

po lá

fe

chou

e a

í a g

ente

que

ria u

m

luga

r pra

ir tr

abal

har,

ou to

mar

um

pas

se, s

eja

lá o

que

for.

E a

ge

nte

já c

onhe

cia

o S

antu

ário

po

rque

nós

íam

os c

om o

out

ro

tem

po p

ra lá

um

a ve

z po

r mês

pr

a fa

zer o

fere

nda,

trab

alho

na

natu

reza

. E a

í fic

amos

2 a

nos

lá,

as p

esso

as fo

ram

che

gand

o, e

de

repe

nte

a ge

nte

tava

num

gru

po

gran

de. E

aí a

brim

os a

qui,

e va

i fa

zer a

gora

dia

11

de o

utub

ro v

ai

faze

r 9 a

nos

que

esta

mos

com

es

se te

mpl

o ab

erto

. Há

uns

15

anos

vou

no

San

tuár

io m

ais

ou

men

os.

Eu

sou

umba

ndis

ta d

esde

que

na

sci.

Meu

pai

era

pai

-de-

sant

o,

min

ha v

ó er

a m

ãe-d

e-sa

nto.

M

inha

bis

avó

era

negr

a de

se

nzal

a. E

o m

eu b

isav

ô el

e er

a ín

dio,

de

tribo

mes

mo.

E a

í foi

pa

ssan

do d

e pa

i pra

filh

o, q

uand

o eu

era

ado

lesc

ente

meu

pai

fe

chou

, não

ass

umiu

o te

rrei

ro

que

era

pra

assu

mir.

E e

le, c

omo

a ge

nte

fala

, fez

leva

nte.

Nós

som

os u

m te

rrei

ro d

e um

band

a, e

sse

terr

eiro

exi

ste

10 a

nos

ofic

ialm

ente

. Ele

exi

ste

há u

m p

ouco

mai

s. E

u so

u um

band

ista

33 a

nos,

des

de

que

nasc

i. V

im d

e ou

tro te

rrei

ro, o

E

verto

n qu

e é

o sa

cerd

ote

cent

ral,

eu s

ou a

sac

erdo

tisa,

a

gent

e ch

ama

de m

ãe-p

eque

na. E

o

terr

eiro

exi

ste

há 1

0 an

os. A

s en

tidad

es a

qui a

s bá

sica

s a

gent

e te

m c

omo

base

a u

mba

nda

de

raiz

, um

band

a tra

dici

onal

. C

aboc

lo, p

reto

-vel

ho, q

ue s

ão a

s no

ssas

bas

es. M

as tr

abal

ham

os

com

bai

ano,

boi

adei

ro, c

om

mar

inhe

iro, c

igan

o, e

xu, e

xu é

m

uito

pre

sent

e aq

ui ta

mbé

m.

Est

ou n

a um

band

a de

sde

os 1

3 an

os, e

stou

com

55.

Tra

balh

o es

pirit

ualm

ente

nós

tem

os n

osso

es

paço

, aqu

i [na

resi

dênc

ia] e

u fa

ço c

onsu

lta e

spiri

tual

. Lá

no

terr

eiro

[no

San

tuár

io] a

gen

te fa

z os

trab

alho

s. J

á há

mai

s de

35

anos

. Ten

ho a

um

band

a co

mo

relig

ião.

Sou

a b

abá

do te

rrei

ro.

Um

a ve

z po

r ano

. Vie

mos

hoj

e po

rque

tính

amos

que

faze

r al

gum

as o

brig

açõe

s e

batiz

ar o

s no

vos

filho

s no

vos

da c

asa.

Nós

te

mos

um

terr

eiro

na

zona

nor

te

tam

bém

, ond

e fre

quen

tam

os.

Cul

tua

as s

ete

linha

s. O

s or

ixás

s cu

ltuam

os O

xalá

, Oxu

m,

Ians

ã, X

angô

, Ogu

m, N

anã,

O

balu

aiê,

Oxó

ssi,

Iem

anjá

... A

s se

te li

nhas

.

Não

, a g

ente

não

tem

terr

eiro

. A

gent

e pr

ocur

a tra

balh

ar a

mai

oria

da

s ve

zes

aqui

mes

mo.

Eu

já ti

ve

três

terr

eiro

s, m

as c

om o

utra

s pe

ssoa

s, e

não

deu

cer

to,

ente

ndeu

? A

gora

qua

ndo

tem

tra

balh

o gr

ande

a g

ente

faz

aqui

.

Rel

ação

ent

idad

e/na

ture

za

A m

ata

é ob

rigat

oria

men

te d

e O

xóss

i. O

u de

Oss

ain

se v

ocê

for

fala

r no

cand

ombl

é. A

mat

a to

da

Oxó

ssi,

as e

rvas

, Oss

ain.

que

Oss

ain

a ge

nte

sabe

que

ele

lá. N

ão d

á pr

a fa

lar o

nom

e de

to

dos

os o

rixás

, e n

em s

empr

e tra

balh

ar d

entro

de

todo

s os

or

ixás

, mas

ele

tá lá

.

A g

ente

nas

ce d

e um

cab

oclo

. A

prim

eira

ent

idad

e qu

e ap

arec

e em

Ter

ra e

fala

: “va

mos

fund

ar a

re

ligiã

o de

um

band

a” é

um

ca

bocl

o. N

a ve

rdad

e, q

uem

teve

um

a vi

dênc

ia n

a ho

ra v

iu q

ue e

le

tinha

sid

o um

pad

re n

a ou

tra v

ida,

m

as e

le s

e m

ostra

pra

gen

te

com

o um

cab

oclo

, o c

aboc

lo d

as

sete

enc

ruzi

lhad

as –

voc

ê já

dev

e te

r est

udad

o m

inim

amen

te s

obre

is

so –

com

o é

um c

aboc

lo, e

le

traz

essa

forç

a da

s m

atas

. Os

cabo

clos

. Boi

adei

ro...

Boi

adei

ro

gera

lmen

te é

no

Cer

rado

, né.

M

as q

uem

usa

m e

rvas

no

seu

traba

lho,

todo

s. A

té E

xu tr

abal

ha

com

erv

as. T

odos

, tod

o pa

nteã

o de

esp

írito

s se

usa

da

ener

gia

do

min

eral

, da

erva

, do

que

a ge

nte

tem

na

natu

reza

em

ben

efíc

io

hum

ano.

Cab

oclo

, sem

dúv

ida.

Sou

su

spei

ta e

m fa

lar,

porq

ue g

raça

s a

Deu

s po

rque

min

has

entid

ades

, pr

atic

amen

te to

das

traba

lham

co

m e

las.

Tod

as tr

abal

ham

na

mat

a. P

osso

diz

er to

das,

tira

ndo

mar

inhe

iro, q

ue n

ão te

m li

gaçã

o co

m a

s er

vas,

com

a m

ata,

o

rest

ante

todo

s.

Pra

não

dei

xar a

des

ejar

. Que

ta

lvez

nós

não

tenh

amos

co

nhec

imen

to, m

as n

a lin

ha

espi

ritua

l tem

fund

amen

to.

Ela

repr

esen

ta a

té O

xóss

i nas

m

atas

. Os

orix

ás d

as m

atas

. E

ntão

, ass

im, a

mat

a é

a co

isa

mai

s lin

da d

o m

undo

que

Deu

s po

de p

or. E

as

mat

as e

las

serv

em ta

nto

pra

gent

e to

mar

ba

nho

quan

to p

ra c

urar

.

Rel

ação

indi

vídu

o/Sa

ntuá

rio

Freq

uênc

ia h

á m

ais

de 2

0 an

os.

Vai

lá in

divi

dual

men

te, n

ão

poss

uem

um

terr

eiro

. A

ntig

amen

te, o

ace

sso

era

difíc

il,

pois

a m

ata

era

fech

ada,

um

a pe

drei

ra. Í

amos

na

conf

ianç

a do

s or

ixás

. Hoj

e há

est

rutu

ra,

segu

ranç

a, e

spaç

o. V

amos

às

veze

s.

A g

ente

[ter

reiro

] vai

lá u

ma

vez

por a

no. T

raba

lham

os o

ano

todo

aq

ui n

o te

rrei

ro, e

lá a

gen

te fa

z um

gra

nde

agra

deci

men

to p

ra

toda

s as

ent

idad

es e

orix

ás q

ue a

ge

nte

traba

lha

o an

o to

do. V

amos

no

últi

mo

final

de

sem

ana

de

nove

mbr

o. V

amos

uns

10

anos

, sem

pre

na m

esm

a te

nda.

Tem

a p

edre

ira, a

mat

a, a

ca

choe

ira.

Lá p

ra c

ima

onde

tem

a

cach

oeira

, tem

um

out

ro

espa

ço, n

ão s

ei s

e tá

abe

rto

agor

a, m

as a

ntig

amen

te é

abe

rto.

Ent

ão, n

ossa

, a m

udan

ça é

fa

ntás

tica.

Ele

tem

um

m

inho

cário

, ele

reap

rove

ita fr

utos

e

tudo

que

a g

ente

usa

pro

pr

óprio

esp

aço.

É fa

ntás

tico

o qu

e el

e fe

z al

i. E

fora

que

o

San

tuár

io é

o lu

gar a

dequ

ado

para

que

a g

ente

faça

ess

e tip

o de

coi

sa. E

ntão

ain

da b

em q

ue a

ge

nte

o es

paço

com

o o

San

tuár

io

do P

ai R

onal

do p

ra p

oder

aco

lher

ta

nta

gent

e. E

ele

reap

rove

ita

mui

ta c

oisa

, né.

Vou

de

três

a qu

atro

vez

es p

or

ano.

No

ano

pass

ado

ia q

uase

to

do m

ês, p

orqu

e eu

est

ava

no

barc

o do

Pai

Ron

aldo

, no

curs

o de

form

ação

sac

erdo

tal.

Ent

ão e

u ia

sem

pre,

todo

com

eço

de a

no

todo

s os

filh

os q

ue e

ntra

m n

a ca

sa tê

m q

ue p

assa

r por

um

a cr

uza.

Na

cach

oeira

, na

casa

de

Oxu

m. Q

ue O

xum

é d

ono

das

cach

oeira

s. E

ntão

a c

aboc

la

cruz

a to

do fi

lho-

de-s

anto

na

cach

oeira

ant

es d

e co

meç

ar o

an

o. A

ntes

de

com

eçar

os

traba

lhos

. Ent

ão to

do c

omeç

o de

an

o eu

vou

pro

San

tuár

io.

Abr

iam

a c

lare

ira e

a g

ente

tra

balh

ava

a no

ite, o

u du

rant

e o

dia

mes

mo.

A g

ente

sem

pre

ia,

uma

vez

por a

no n

o m

ínim

o a

gent

e ia

pro

San

tuár

io. E

ntão

lá é

um

a se

gura

nça

pra

gent

e, d

e nã

o tra

balh

ar n

a ru

a, d

e nã

o tra

zer a

s no

ssas

ofe

rend

as p

ra ru

a, e

lá é

se

guro

, tem

um

pes

soal

que

lim

pa, e

ntão

a g

ente

vai

pel

o m

enos

a c

ada

três

mes

es,

quan

do a

gen

te p

reci

sa

desc

arre

gar e

reca

rreg

ar a

s en

ergi

as ta

mbé

m.

Ó, a

cas

a te

m u

ns 2

0 an

os. A

ge

nte

deve

vir

pra

cá h

á un

s 15

an

os. O

sim

ples

fato

de

que

as

ofer

enda

s sã

o fe

itas,

são

co

loca

das

e o

pess

oal l

impa

de

pois

, rec

olhe

. A n

atur

eza

não

fica

suja

, não

fica

suj

eira

. Ele

s lim

pam

. É u

m e

spaç

o on

de s

e co

ncen

tra tu

do e

é fe

ito u

ma

limpe

za.

Tem

mui

tos

anos

, mai

s de

30

anos

, ach

o. A

qui n

ão ti

nha

tant

a te

nda,

tava

inau

gura

ndo,

as

imag

ens,

ain

da. E

u co

nheç

o o

Pai

Ron

aldo

mui

tos

anos

, qu

ando

ele

fazi

a bi

ngo,

bai

le, p

ra

bota

r aqu

ele

terr

eiro

que

ele

tem

o

pai b

ened

ito. D

e qu

inze

em

qu

inze

dia

s. U

ma

vez

por m

ês.

Dep

ende

, qua

ndo

tem

fest

a de

or

ixá

a ge

nte

vem

. Mas

é p

orqu

e é

difíc

il, n

em to

do m

undo

co

nseg

ue, n

em s

empr

e te

m

cond

içõe

s.

Rel

ação

in

diví

duo/

relig

ião/

soci

edad

e

Fico

rece

osa

de a

cend

er v

ela

em

cem

itério

. E ta

mbé

m é

pro

ibid

o,

ning

uém

pre

cisa

fica

r co

mpa

rtilh

ando

, é c

ompl

icad

o.

Voc

ê pa

ssa

dois

qua

rteirõ

es

daqu

i tem

ent

rega

. E a

li fic

a, te

m

anim

al, t

em c

omid

a qu

e de

terio

ra,

as p

esso

as p

assa

m e

fica

m

vend

o. É

um

resp

eito

por

que

foi

feita

um

a en

trega

ali

pra

um

orix

á. M

as te

m q

ue s

er n

um lu

gar

espe

cífic

o.

O c

ando

mbl

é ai

nda

tem

mui

to

diss

o, a

s ro

ças.

Mas

até

por

ser

es

cond

ido

ning

uém

sab

ia d

isso

50,

60

anos

atrá

s. T

ambé

m é

co

mpl

icad

a po

r con

ta d

a in

tole

rânc

ia re

ligio

sa d

e ho

je e

m

dia,

né.

Mui

to p

or c

ausa

dos

m

aus

umba

ndis

tas;

eu

não

poss

o di

zer q

ue e

sses

des

pach

os n

o m

eio

da ru

a, e

sses

trab

alho

s no

m

eio

da ru

a de

nigr

em d

emai

s, e

su

jam

até

os

noss

os p

onto

s de

fo

rça

que

seria

m u

ma

praç

a, m

as

não

tem

esp

aço

assi

m fá

cil p

ra

você

faze

r um

trab

alho

.

Ant

igam

ente

, se

fazi

a m

uito

of

eren

das

nas

ruas

e ta

l. M

as

com

o te

mpo

a g

ente

vem

to

man

do c

onsc

iênc

ia e

coló

gica

, né

, e a

í pel

os te

mpo

s qu

e a

gent

e vi

ve d

e in

segu

ranç

a ta

mbé

m.

Naq

uele

tem

po, l

á em

190

8, n

ão

se ti

nha

med

icaç

ão, n

ão s

e tin

ha

assi

stên

cia

méd

ica

com

o se

tem

ho

je. A

tecn

olog

ia n

ão ti

nha

com

o ho

je. E

ntão

, era

mui

to m

ais

fáci

l vo

cê p

egar

, abr

ir um

a ba

bosa

, pe

gar a

quel

a ba

ba, m

istu

rar u

m

pouc

o co

m u

ma

outra

erv

a e

pass

ar n

um p

é di

abét

ico,

né?

E

nten

de?

Hoj

e, a

gen

te n

ão u

sa

mai

s ta

nto

com

o m

edic

ina

com

o er

a us

ado

ante

s. A

ntes

era

mui

to

mai

s us

ado

com

o m

edic

ina.

Hoj

e a

gent

e us

a m

uito

mai

s no

pad

rão

ener

gétic

o. Is

so fa

z un

s 14

ano

s.

Sem

inco

mod

ar n

ingu

ém,

ning

uém

é o

brig

ado,

por

que

eu

sou

umba

ndis

ta, a

ouv

ir o

som

do

atab

aque

. Car

ro p

ra p

arar

; é u

m

sufo

co, a

gen

te q

ue m

ora

na

cida

de. N

ós tr

abal

ham

os n

uma

relig

ião

que

não

é in

com

odar

, e

sim

aco

mod

ar to

dos.

Aco

lher

. E

ntão

lá n

o S

antu

ário

tem

os e

sse

espa

ço q

ue te

m e

stac

iona

men

to,

tem

um

a co

mod

idad

e ta

mbé

m, e

a

segu

ranç

a. P

ra q

ue p

ossa

mos

fa

zer o

s no

ssos

trab

alho

s ga

rant

indo

tam

bém

a s

egur

ança

de

todo

s.

E a

qui n

o S

antu

ário

é o

luga

r pra

vo

cê re

alm

ente

pra

faze

r as

ofer

enda

s, n

ão fa

zer e

m q

ualq

uer

luga

r, em

qua

lque

r esq

uina

, qu

alqu

er ru

a, p

ra s

ujar

o

ambi

ente

. A g

ente

faz

aqui

m

esm

o qu

e aq

ui já

ele

s pe

gam

, jo

gam

fora

, e s

abem

a fi

nalid

ade

das

cois

as.

Rel

ação

indi

vídu

o/na

ture

za

Aqu

i a q

uest

ão d

a pr

eser

vaçã

o é

uma

gran

de b

riga.

Ant

es e

ra

norm

al, p

or e

xem

plo,

um

a en

tidad

e pe

dir p

ra fa

zer u

m

desp

acho

des

se o

u um

a of

eren

da

em c

ampo

san

to, n

um c

emité

rio,

ou n

uma

via.

.. H

oje

em d

ia a

inda

te

m –

eu

não

poss

o fa

lar q

ue n

ão

tem

– m

as a

gen

te p

ede.

.. M

as a

ge

nte

tent

a o

máx

imo

faze

r es

sa...

Ess

a lim

peza

, né.

Não

su

jar p

ra n

ão te

r que

lim

par;

mai

s ou

men

os is

so. E

ntão

a g

ente

te

nta,

den

tro d

e um

a ev

oluç

ão –

qu

e eu

ach

o qu

e a

gent

e tá

ev

olui

ndo

dent

ro d

isso

, não

é fá

cil

– vo

cê fa

lar p

ra u

m c

aboc

lo q

ue

tem

o a

rqué

tipo

do Ín

dio

que

traba

lhav

a na

mat

a, q

ue v

ocê

não

pode

usa

r a m

ata

pra

faze

r o q

ue

ele

fazi

a, é

...

A g

ente

par

te d

o pr

incí

pio

que

a na

ture

za é

um

pon

to d

e fo

rça

dos

orix

ás q

ue s

ão e

nerg

ias

de D

eus,

o fa

z se

ntid

o a

gent

e de

pred

ar

tudo

e s

ujar

tudo

, e c

orre

risc

o de

bo

tar f

ogo

na m

ata.

Ent

ão é

mui

to

bom

que

a g

ente

tenh

a um

luga

r es

pecí

fico

pra

faze

r os

noss

os

traba

lhos

relig

ioso

s. E

voc

ê fa

z co

m tr

anqu

ilida

de. T

ranq

uilid

ade

no s

entid

o de

seg

uran

ça e

ta

mbé

m v

ocê

sabe

que

ajud

ando

a p

rese

rvar

. Ent

ão tu

do

que

a ge

nte

faz,

pel

o m

enos

nós

: a

gent

e al

uga

um e

spaç

o lá

no

San

tuár

io. A

mes

ma

cois

a qu

ando

a g

ente

vai

pra

pra

ia.

Qua

ndo

a ge

nte

vai f

azer

trab

alho

de

fina

l de

ano,

a g

ente

dei

xa a

pr

aia

do je

ito q

ue a

gen

te a

chou

. M

uita

s ve

zes

a ge

nte

reco

lhe

quan

do c

hega

. A g

ente

lim

pa o

es

paço

pra

gen

te fi

car.

Suj

eira

qu

e ou

tras

pess

oas

deix

aram

.

E a

Ter

ra tá

em

col

apso

. Se

a ge

nte

cuid

ar d

ela,

a g

ente

vai

se

lasc

ar. A

gen

te ia

pra

mat

a, n

é. Ia

pr

o m

eio

da m

ata

faze

r tud

o,

reco

lhia

tudo

e d

epoi

s ia

em

bora

. P

ra n

ão d

eixa

r suj

eira

no

cam

po

sant

o. P

orqu

e vo

u te

fala

r um

a co

isa.

Que

m te

fala

r que

é

umba

ndis

ta, m

as fo

r no

mei

o da

m

ata

larg

ar [i

naud

ível

] aqu

ela

suje

ira lá

, ela

não

é.

Que

nem

árv

ores

, a g

ente

m

esm

o qu

ando

vai

trab

alha

r nas

m

atas

lá p

erto

de

casa

, eu

falo

“g

ente

, não

dei

xa v

ela

aces

a”.

Por

que

pode

peg

ar fo

go n

a m

ata.

A

inda

mai

s ag

ora

que

é te

mpo

se

co. P

orqu

e aq

ui a

gen

te te

m

que

pres

erva

r a n

atur

eza.

Aqu

ilo

lá fa

z pa

rte n

ão s

ó da

gen

te, m

as

das

outra

s cr

ianç

as q

ue tã

o vi

ndo.

Tem

, tem

as

mat

as lá

.

Rel

ação

re

ligiã

o/ci

dade

/nat

urez

a

O e

spaç

o da

cid

ade

é di

fícil

de

atin

gir.

Não

tem

aqu

ela

mes

ma

ener

gia

que

um e

spaç

o na

tura

l.

O a

umen

to d

a se

lva

de p

edra

é

mui

to c

ompl

icad

o. P

or e

xem

plo,

an

tigam

ente

um

terr

eiro

era

feito

nu

m g

rand

e qu

inta

l. H

oje

em d

ia

não

tem

. Nós

tem

os a

qui n

o fu

ndo

algu

mas

erv

as, m

as é

m

uito

com

plic

ado.

Ent

ão, n

ão te

m m

ais

terr

eiro

de

chão

bat

ido,

ent

ão a

gen

te te

m

que

se a

dapt

ar c

om is

so, q

ue

acon

tece

u co

m a

s er

vas

tam

bém

. E

ra a

ssim

. Era

mai

s fá

cil,

a ge

nte

acha

va e

rva

em to

do lu

gar.

Todo

lu

gar t

inha

terr

eno

bald

io, m

as

era

mui

to d

ifíci

l o S

antu

ário

em

si

o tra

jeto

pra

lá. P

ra c

hega

r lá

era

mui

to d

ifíci

l. E

hoj

e a

gent

e te

m

estra

da, t

em á

gua

enca

nada

. Eu

acho

que

ess

a re

laçã

o co

m o

ur

bano

, ess

a ad

apta

ção

pro

urba

no e

do

natu

ral,

que

é im

porta

nte.

Sem

dúv

ida

faci

litou

em

alg

umas

coi

sas,

difi

culto

u em

ou

tras.

É d

ifere

nte

de v

ocê

sair

na m

ata

do la

do d

e lá

, col

ocar

sua

of

eren

da e

vai

fica

r aqu

ilo lá

. M

uito

s m

ater

iais

não

são

mui

tas

veze

s de

grad

ávei

s, e

vai

pol

uir a

na

ture

za. N

ão é

a in

tenç

ão.

Mas

é c

ompl

icad

o, p

orqu

e a

mai

oria

das

mat

as, v

ocê

sabe

qu

e ho

je e

m d

ia é

per

igos

o, n

é.

Ent

ão o

u a

gent

e va

i de

man

hã,

até

o ho

rário

do

alm

oço

a ge

nte

traba

lha

e vo

lta, q

ue n

a pa

rte d

a ta

rde

é m

eio

perig

oso.

Por

que

a ge

nte

corr

e ris

co ta

mbé

m. A

qui

não.

Voc

ê po

de tr

abal

har

tranq

uilo

que

voc

ê nã

o co

rre

risco

de

alg

um b

andi

do s

air c

orre

ndo

no m

eio

do m

ato

um a

trás

do

outro

lá, o

u qu

alqu

er o

utra

coi

sa.

Ent

ão a

gen

te ja

mai

s va

i pôr

a

vida

dos

dem

ais

em ri

sco.

E

nten

deu?

O q

ue a

gen

te n

ão

quer

pra

gen

te a

gen

te n

ão q

uer

pros

dem

ais.

Rel

ação

re

ligiã

o/te

rrei

ro/n

atur

eza

Qua

ndo

os o

rixás

vão

peg

ar

erva

s, e

les

pede

m li

cenç

a. É

m

uito

bon

ito. T

udo

eles

ped

em

licen

ça p

ra ti

rar,

nunc

a pr

o de

sper

díci

o.

Por

exe

mpl

o, n

ós a

qui s

omos

um

pr

édio

, ond

e a

gent

e te

nta

min

ima,

diri

a at

é po

rcam

ente

, ter

al

gum

a co

isa

[nat

ural

] aqu

i per

to.

A á

rvor

e qu

e te

m n

a fre

nte

da

noss

a ca

sa fo

mos

nós

que

pl

anta

mos

a p

edid

o de

um

a en

tidad

e.

A g

ente

resp

eita

a n

atur

eza

porq

ue n

ós e

nten

dem

os o

s or

ixás

co

mo

man

ifest

ação

da

natu

reza

.

Ach

o qu

e pr

a el

a pe

rpet

uar,

ela

prec

isa

dess

a ev

oluç

ão. M

esm

o qu

e a

gent

e nã

o en

cont

re ta

ntos

po

ntos

. Mas

pre

serv

ando

ess

es

pont

os q

ue e

xist

em, p

rese

rvan

do

o qu

e a

gent

e te

m, o

que

a g

ente

en

cont

ra. P

or is

so q

ue a

um

band

a é

tão

ligad

a à

cons

erva

ção

da n

atur

eza.

Eu

sou

chat

a pr

a ca

ram

ba c

om re

laçã

o a

isso

... E

u ac

ho q

ue s

im, a

gen

te

tem

que

pre

serv

ar, n

ão jo

gar l

ixo

no c

hão,

sab

e? E

sse

tipo

de

cois

a, d

e pe

quen

os h

ábito

s...

“Ah,

m

as v

ocê

é um

a em

um

milh

ão”.

OK

, mas

se

eu fi

zer,

eu c

omo

umba

ndis

ta fi

zer,

eu v

ou s

er

form

ador

a de

opi

nião

, ent

ão

acab

a fo

rman

do o

utra

s op

iniõ

es e

is

so fu

ncio

na d

e ve

rdad

e.

Pra

con

serv

ação

. Na

linha

m

édic

a, tr

abal

ham

os c

om e

rvas

. E

ntão

as

erva

s é

mui

to

nece

ssár

io, c

omo

os c

rista

is. P

ra

nós,

term

os u

m e

spaç

o de

ntro

da

mat

a, n

ós p

rese

rva

tudo

.

Rel

ação

indi

vídu

o/er

vas

Eu

conh

eço

as p

lant

as. P

lant

as

med

icin

ais,

por

que

venh

o de

um

a he

ranç

a qu

e se

usa

va m

uito

pl

anta

s, tr

abal

hava

com

pla

ntas

, m

inha

traba

lhav

a m

uito

com

pl

anta

s.

Se

você

for s

enta

r com

igo,

eu

vou

ter b

anho

pre

para

do já

, co

nser

vado

em

álc

ool,

pra

faci

litar

, sab

e? P

ó qu

e dá

pra

ut

iliza

r qua

ndo

você

tá a

li na

ra

pide

z...

Tudo

pra

faci

litar

. E o

S

antu

ário

vem

isso

tam

bém

.

Rel

ação

ent

idad

es/e

rvas

Os

cabo

clos

, os

orix

ás te

m m

ais

sabe

doria

, ele

s pe

gam

um

mat

o qu

e eu

nun

ca v

i. E

u nã

o co

nheç

o.

Mas

o o

rixá

conh

ece.

Ele

tem

a

sabe

doria

ade

quad

a pr

a pe

gar

qual

quer

pla

ntin

ha ra

stei

ra q

ue

ele

tem

um

sig

nific

ado.

De

cura

ca

rnal

, esp

iritu

al, a

stra

l.

E m

uito

pre

sent

e co

m a

s er

vas

tam

bém

. Tra

balh

a m

uito

com

as

erva

s. T

odos

ele

s tra

balh

am. P

ra

gent

e é

fund

amen

tal,

pra

nós

com

o m

édiu

ns, c

omo

traba

lhad

ores

de

umba

nda

é fu

ndam

enta

l o u

so d

as e

rvas

, e

pra

eles

com

o fe

rram

enta

de

traba

lho.

Rel

ação

indi

vídu

o e

dico

tom

ia

cida

de/n

atur

eza

Não

con

heço

out

ros

espa

ços

de

mat

a, m

as ta

mbé

m p

orqu

e nó

s nu

nca

proc

uram

os.

Hoj

e em

dia

, por

ser

difí

cil d

e ac

har n

a na

ture

za, a

gen

te u

sa

mui

ta e

rva

seca

. Prim

eiro

, sai

ba a

pr

oced

ênci

a. É

igua

l qua

lque

r co

isa

que

eu v

ou c

oloc

ar c

omo

um c

rem

e.

Hoj

e em

dia

exi

stem

vár

ios.

...

Vár

ios.

Eu

conh

eço

de fr

eque

ntar

o

San

tuár

io. T

em u

m o

utro

luga

r qu

e é

de C

acho

eira

que

eu

não

sei s

e fu

ncio

na. Q

ue a

gen

te ia

fa

zer t

raba

lho

lá, m

as n

ão te

m o

m

esm

o pr

incí

pio

do P

ai R

onal

do.

Tem

um

luga

r em

Naz

aré

Pau

lista

. Ent

ão h

oje

em d

ia já

te

m a

lgun

s S

antu

ário

s. A

pesa

r de

a ge

nte

não

conh

ecer

os

outro

s to

dos,

mas

pel

o qu

e a

gent

e ou

viu

fala

r é d

o m

esm

o je

ito.

Alg

umas

são

pro

prie

dade

s pa

rticu

lare

s e

eles

usa

m is

so p

ra

reve

rter,

pra

cons

erva

r os

espa

ços.

Ant

igam

ente

era

mai

s fá

cil d

e co

nseg

uir e

rvas

.Mui

tas

casa

s co

m q

uint

al. H

oje

em d

ia já

o te

m m

ais.

Voc

ê te

m q

ue ir

em

mer

cado

, tem

que

com

prar

na

band

ejin

ha o

u em

maç

o fe

chad

o.

Ent

ão q

uand

o a

gent

e pe

ga n

o m

erca

do, a

gen

te s

abe

que

é um

a co

isa

pelo

men

os c

ertin

ha,

regu

lariz

ada.

Não

é u

ma

cois

a qu

e tá

em

bei

ra d

e es

trada

.

Nós

faze

mos

mag

ia c

om

umba

nda,

nós

tem

os a

relig

ião

umba

nda

é um

a re

ligiã

o m

uito

rit

ualís

tica,

mag

ístic

a, e

que

é

uma

relig

ião

que

se to

rnou

hoj

e ur

bana

.

Não

, exi

stem

out

ros

luga

res,

m

as, a

ssim

, com

a e

stru

tura

or

gani

zada

é e

sse

aqui

. Lá

na

noss

a re

gião

tem

cac

hoei

ra

tam

bém

, mas

é m

enos

or

gani

zado

, bem

men

os.

Org

aniz

ação

, seg

uran

ça.

Ace

sso

às e

rvas

Con

segu

imos

no

boca

-a-b

oca.

Q

uand

o é

uma

plan

ta m

ais

difíc

il,

pega

na

mat

a qu

e fic

a no

ca

min

ho d

e vo

lta d

o S

antu

ário

. S

e nã

o, a

gen

te p

ede

pro

pess

oal

que

a ge

nte

conh

ece.

Em

feira

s é

mai

s di

fícil.

Hoj

e em

dia

tem

m

uito

cas

a de

erv

as. M

as

pess

oalm

ente

não

con

fio m

uito

. P

orqu

evoc

ê po

r exe

mpl

o co

mpr

a lá

um

saq

uinh

o de

set

e er

vas.

Q

uem

gar

ante

que

aqu

ilo a

li va

i te

r as

erva

s lá

? E

ntão

a g

ente

pr

efer

e, m

esm

o qu

e se

ja u

m

pouc

o di

fícil,

a p

lant

a m

esm

o. S

e m

inha

mãe

não

sab

e,

perg

unta

mos

pro

meu

tio,

se

ele

não

sabe

per

gunt

amos

pra

out

ra

tia. P

rocu

ram

os fa

zer u

m b

em-

bola

do p

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onse

guir

a pl

anta

m

esm

o. N

o fim

tudo

cer

to.

Eu

parti

cula

rmen

te te

nho

uma

senh

ora

que

traba

lha

com

erv

as.

Ent

ão e

la tr

az p

ra m

im. A

qui p

or

exem

plo

no te

rrei

ro a

gen

te

cham

a el

a de

“tra

fican

te”

[Ris

adas

]. P

orqu

e eu

peç

o as

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vas,

ela

que

arr

uma

pra

todo

m

undo

. A p

rópr

ia c

asa

de

tem

pero

tem

bas

tant

e co

isa.

Mas

o no

rmal

men

te e

ssas

cas

as d

e pr

odut

os n

atur

ais

que

tem

tudo

qu

e pr

ocur

a. E

o q

ue n

ão te

m

você

vai

na

feira

... C

EA

SA

. Ou

um c

onta

to q

ue v

ocê

vai a

char

. E

você

vai

pla

ntan

do n

a su

a ca

sa.

Eu

tenh

o um

a ho

rta p

ra is

so. A

s er

vas

que

eu m

ais

uso

eu q

ue

cuid

o, e

u qu

e fa

ço, e

u qu

e pl

anto

. P

ra q

ue e

u te

nha

isso

mai

s fá

cil

pra

man

usea

r ela

s. M

as n

em

todo

mun

do te

m e

sse

terr

eno

em

casa

que

con

segu

e pr

a fa

zer

isso

.

Ain

da b

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oje

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ia, é

mui

to

fáci

l voc

ê ac

har a

s er

vas.

Tod

a ca

sa d

e m

acum

beiro

sem

pre

tem

um

a er

vinh

a pl

anta

da, n

é. A

qui a

ge

nte

tem

um

as e

rvas

pla

ntad

as.

A g

ente

tom

a m

uito

cui

dado

ond

e a

gent

e va

i com

prar

as

erva

s,

erva

fres

ca, p

rinci

palm

ente

erv

a se

ca. V

ocê

vê, v

ocê

pass

a em

P

inhe

iros

você

um m

onte

de

luga

r ven

dend

o aq

uela

s ár

vore

s to

rran

do n

o so

l, aí

peg

a ch

uva.

.. Is

so n

ão é

lega

l. E

ntão

as

fresc

as, t

em d

uas

méd

iuns

aqu

i qu

e vã

o na

feira

. Um

a m

ulhe

r que

pl

anta

e c

olhe

, tra

z su

per

fresq

uinh

a...

Tem

os o

mer

cado

da

Lap

a ta

mbé

m, q

ue te

m d

uas

banc

as q

ue fo

rnec

em...

A g

ente

te

m a

lgun

s tra

balh

ador

es q

ue

tem

erv

a em

bas

tant

e qu

antid

ade

em c

asa,

que

traz

. Mas

no

rmal

men

te q

uand

o a

gent

e va

i co

mpr

ar s

eco,

a g

ente

pro

cura

co

mpr

ar, p

or e

xem

plo,

alg

umas

eu

com

pro

no M

undo

Ver

de. A

ge

nte

tem

um

dis

tribu

idor

que

fica

no

Bel

enzi

nho

que

a ge

nte

com

pra.

..

Cad

a um

tem

um

pou

co d

e er

va

em c

asa.

Que

nem

ess

a do

na

Fátim

a, e

la te

m u

m b

orbo

, m

enin

o, q

ue é

mai

or q

ue e

u. É

um

a ár

vore

. Ela

tem

mui

ta p

lant

a.

Eu

não

tenh

o pl

anta

. Por

que

aqui

a

gent

e nã

o te

m q

uint

al. S

eria

um

so

nho

de c

onsu

mo

a ge

nte

esta

r nu

ma

casa

que

tive

sse

quin

tal e

a

gent

e co

nseg

uiss

e te

r as

noss

as

erva

s aq

ui. M

as é

impo

ssív

el.

Ent

ão, a

lgum

as e

u co

nsig

o na

m

ata

mes

mo.

Eu

sou

priv

ilegi

ada

porq

ue e

u na

sci e

me

crie

i aqu

i nu

m b

airr

o pr

óxim

o, q

ue a

inda

te

m m

uito

veg

etal

, que

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m

peda

ço d

e M

ata

Atlâ

ntic

a. E

ntão

eu

enc

ontro

mui

ta c

oisa

na

mat

a.

Eu

cres

ci lá

, ent

ão p

ra m

im é

m

uito

fam

iliar

. Eu

cons

igo

mui

ta

cois

a pr

a tra

balh

ar n

a es

teira

. M

as p

ra c

ultiv

o, te

nho

que

com

prar

. Ent

ão e

u co

mpr

o m

uda,

te

m u

m a

quár

io a

qui p

erto

de

Itaqu

era.

Exi

ste

tam

bém

um

a re

laçã

o de

am

izad

e e

conf

ianç

a ne

las.

Ent

ão e

u co

mpr

o m

uito

, ex

iste

m o

s m

atei

ros

que

traze

m.

Na

25 d

e M

arço

tem

um

in

terp

osto

, per

to d

o M

erca

dão,

el

es tr

azem

mui

ta c

oisa

. Ent

ão lá

é

um b

om lu

gar p

ra s

e co

mpr

ar

erva

s em

qua

ntid

ade.

E a

qui e

m

São

Pau

lo, S

anto

And

ré e

São

B

erna

rdo,

ele

s tê

m, s

abe

aque

las

área

s de

ant

ena

de tr

ansm

issã

o,

aque

las

torr

es?

Ele

s cu

ltiva

m

mui

to a

li, e

les

culti

vam

hor

taliç

as,

e ou

tras

erva

s. Q

ue é

ond

e ta

mbé

m e

u co

mpr

o pr

as e

stei

ras.

A

li o

pess

oal a

caba

m p

lant

ando

e

vend

endo

, doa

ndo,

ent

ão é

en

graç

ado,

mas

o p

esso

al a

qui

de b

aixo

con

segu

e fá

cil.

Tam

bém

tem

mui

to a

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as

casa

s de

erv

as, e

tam

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um

a m

ata

aqui

per

to. E

a g

ente

se

mpr

e se

com

unic

ando

. Por

que,

a

ama

da c

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trab

alha

com

a

linha

de e

rvas

. Ess

a qu

e dá

o

curs

o lá

em

São

Ber

nard

o. É

, in

do p

ro S

antu

ário

, ali

tem

mui

to,

mui

to m

esm

o. H

oje

tem

, com

o an

tigam

ente

nós

atra

vess

ávam

os

pelo

tele

féric

o. A

gora

a g

ente

a vo

lta. M

as a

li te

m ta

ntas

erv

as,

que

o po

vo n

em c

onhe

ce.

É fá

cil.

Um

a ou

out

ra q

ue te

m u

m

pouc

o m

ais

de d

ificu

ldad

e. A

porq

ue, a

ssim

, as

veze

s te

m

mui

tas

que

dão

no m

eio

da m

ata

mes

mo.

E a

gen

te s

abe

que

hoje

se

alg

uém

peg

ar v

ocê

tiran

do

uma

plan

ta d

o m

eio

da m

ata,

um

a pl

anta

nat

iva,

é c

rime

ambi

enta

l. E

ntão

a g

ente

vai

at

rás

de lu

gare

s qu

e co

mer

cial

izam

isso

, aca

ba s

endo

m

ais

difíc

il, e

voc

ê ac

aba

enco

ntra

ndo

seca

. Mas

fres

ca

real

men

te a

lgum

as s

ão m

ais

difíc

eis.

Eu

plan

to. L

á on

de m

eu p

ai m

ora,

eu

mor

o em

apa

rtam

ento

. Mas

on

de m

inha

irm

ã m

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que

meu

pa

i tem

um

terr

eno

vazi

o, a

gen

te

toda

vez

que

pre

cisa

a g

ente

pl

anta

. Mas

qua

ndo

não

tem

, que

ne

m, e

ssa

cida

de...

Pra

pla

ntar

, pe

de p

ro v

izin

ho. S

empr

e te

m

algu

ém q

ue te

m. O

u se

não

tem

va

i a s

eca

mes

mo.

Não

, sem

pre

foi f

ácil

[par

a en

cont

rar e

rvas

]. S

empr

e te

ve.

Tabela S2

Page 11: UM BOSQUE DE FOLHAS SAGRADAS: O SANTUÁRIO NACIONAL …

INTERAGIR: PENSANDO A EXTENSÃO, RIO DE JANEIRO, N. 26, P. 11-33, JUL/DEZ. 2018

UM BOSQUE DE FOLHAS SAGRADAS: O SANTUÁRIO NACIONAL DA UMBANDA E O CULTO DA NATUREZA

21

Constituindo um “bosque sagrado”No SANU, os terreiros podem solicitar à Federação Umbandista do Grande ABC, en-

tidade que administra o local, um espaço demarcado no Santuário onde os rituais são realizados. Muitos espaços são cobertos e possuem altares com imagens de santos ca-tólicos e entidades afro-brasileiras (Figura 2). Terreiros sem sede podem também se beneficiar desta área.

A existência institucionalizada de um “bosque sagrado” para a religião também apre-senta vantagens em termos de conforto, tranquilidade e segurança, pois, como dizem os religiosos, está cada vez mais difícil de ir a lugares ermos para a realização de rituais sem correr o risco de assaltos e outras formas de violência. Aqui há uma fala de Mãe Shirley, que desenvolve trabalhos espirituais em sua residência há pelo menos 35 anos, onde faz consultas espirituais. Mãe Shirley “trabalha” (ou seja, realiza rituais) com as linhas sagradas da umbanda. Ela frequenta o Santuário desde a sua fundação, e diz:

“Sem incomodar ninguém; ninguém é obrigado, porque eu sou umbandista, a ouvir o som do ata-

baque. (...) Nós trabalhamos numa religião que não é incomodar, e sim

acomodar todos. Acolher. Então lá no Santuário temos esse espaço que

tem estacionamento, tem uma comodidade também, e a segurança. Pra

que possamos fazer os nossos trabalhos garantindo também a segurança

de todos.”

No caso das plantas, a possibilidade de coletar folhas e plantar aquelas necessárias ao culto também se verifica. Especialmente no SANU isto se deu, pois, a região ocupada havia sido utilizada para exploração de britas para a construção da Rodovia Anchieta nos anos de 1940. O espaço que estava degradado foi reconstituído pelos religiosos que reflorestaram as encostas dos morros, transformando drasticamente a paisagem do lo-cal (Figura 2). A região foi ocupada desde o final do século XIX, sobretudo por colonos italianos que exploraram as reservas naturais, em especial madeira, para ser utilizada na produção de carvão e na indústria moveleira. Após uma intensa atividade de desmata-mento na região, percebeu-se o potencial de exploração para produção de pedras para a construção civil e pavimento de estradas, o que deu origem à chamada “Pedreira Monta-nhão”. Dessa forma, após décadas de exploração, o ambiente natural de Mata Atlântica foi pouco a pouco sendo degradado (Figura 2).

A entrevista feita com Pai Ronaldo Linhares, um dos fundadores do Santuário, evi-dencia a importância sagrada que a mata e os elementos vegetais têm para a umbanda: sempre visto como um espaço puro, intocado e virgem. Pai Ronaldo foi uma figura chave para a consolidação do SANU como “bosque sagrado”. Desde o começo da história do Santuário, percebemos a intrincada relação entre a prática religiosa, educação ambiental e restauração e conservação da vegetação ali presente. Diz ele:

“[Antes,] éramos grandes destruidores, havia espaços enormes no alto da serra derrubados pela ação

dos irmãos de fé. Quando tomei conhecimento disso, pensei em inverter o

processo: todo mundo queria uma clareira exclusiva, um espaço exclusivo

da mata para sua tenda, que era inerente a quase todos os espaços de um-

banda. A lógica era a seguinte: quer uma clareira? Tudo bem; este será seu

espaço. Se há mato, não retire; se não há, é obrigado a plantar.”

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INTERAGIR: PENSANDO A EXTENSÃO, RIO DE JANEIRO, N. 26, P. 11-33, JUL/DEZ. 2018

UM BOSQUE DE FOLHAS SAGRADAS: O SANTUÁRIO NACIONAL DA UMBANDA E O CULTO DA NATUREZA

22

Penoso, intenso e difícil tal como foi o processo de degradação, a restauração ecológica do SANU para aquilo que se observa hoje também demandou muita força de vontade e mão-de-obra. A lógica da restauração, segundo Pai Ronaldo, foi muito baseada nos conhe-cimentos prévios dos próprios frequentadores:

“Como não tinha vegetação nem recursos para a providência de mudas, um dos simpatizantes tinha

um caminhão, e um grupo muito grande voluntariamente ajudava nos fi-

nais de semana para reflorestar a região degradada do hoje Santuário. Tra-

ziam neste caminhão 200 a 250 sacos vazios, iam ao alto da serra de Pa-

ranapiacaba, pegavam material decomposto, folhas mortas, sementes e as

colocavam dentro deste saco, levando de volta ao espaço do hoje SANU.

Quem os orientou nisso foi a bióloga Egly Joyce, simpatizante do movi-

mento e umbandista. Este material morto era colocado em cima dos espa-

ços que se desejava recuperar, formando um imenso colchão biológico. Há

um tempo, aquilo cedia e nasciam diferentes mudas de Mata Atlântica.”

As mudas eram conseguidas dos locais mais díspares possíveis, de diferentes espaços da Região Metropolitana de São Paulo. Mesmo tendo realizado o processo de restauração da floresta com relativo sucesso, o espaço do SANU é caracterizado hoje tecnicamente por ser de um bioma florestal secundário dentro do domínio fitogeográfico da Mata Atlântica10, com o predomínio de algumas espécies exóticas como eucaliptos, reconhecidas inclusive por Pai Ronaldo como espécies agressivas e não nativas dali.

Figura 2

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INTERAGIR: PENSANDO A EXTENSÃO, RIO DE JANEIRO, N. 26, P. 11-33, JUL/DEZ. 2018

UM BOSQUE DE FOLHAS SAGRADAS: O SANTUÁRIO NACIONAL DA UMBANDA E O CULTO DA NATUREZA

23

A partir da década de 60, o espaço passou então a ser ocupado por esses umbandistas, incluindo Pai Ronaldo, que utilizavam o espaço da pedreira e de matas remanescentes para os seus cultos sagrados, para cultuar sobretudo aquelas entidades associadas à mata ou à pedreira, como Oxóssi e Xangô. A partir dessa relação, começa a nascer a necessidade de se criar um espaço onde se pudesse cultuar as entidades sem incomodar ninguém, mas também sem ser incomodado por ninguém. Em 1979, finalmente houve a oficialização do uso religioso do espaço, que está ativo até hoje.

Apresenta-se aqui uma fala de uma liderança religiosa entrevista que exemplifica a questão da consciência ambiental. Pai Rafael é médium e um dos principais organizadores do terreiro que frequenta na Zona Sul de São Paulo. A comunidade de seu terreiro visita o Santuário ao menos uma vez por ano, para celebrações de fim de ano. Também é responsá-vel por ministrar cursos de umbanda para a comunidade externa sobre o uso de plantas no contexto religioso ou terapêutico. Ele diz:

“Aqui a questão da preservação é uma grande briga. Antes era normal, por exemplo, uma entidade

pedir pra fazer um despacho desse ou uma oferenda em campo santo, num

cemitério, ou numa via... Hoje em dia ainda tem – eu não posso falar que

não tem – mas a gente pede... A gente tenta o máximo fazer essa... Essa

limpeza, né. Não sujar pra não ter que limpar; mais ou menos isso. Então a

gente tenta, dentro de uma evolução – que eu acho que a gente tá evoluindo

dentro disso, não é fácil – você falar pra um caboclo que tem o arquétipo

do Índio que trabalhava na mata, que você não pode usar a mata pra fazer

o que ele fazia...”

Ou seja, é notável na comunidade umbandista atual uma consciência ambiental que se transpõe para o espectro do sagrado, tal como observa-se tanto na fala de Pai Rafael como na de Pai Ronaldo. O processo oscilante que acompanhou a história do Santuário e o estabelecimento de uma cultura sustentável evidencia isso: muitos esforços se mantêm para não se prejudicar o que se conquistou, de maneira que se observa no Santuário muitas intervenções como avisos indicadores de descarte de resíduos (lixo, cigarros), além de avi-sos indicando a necessidade de preservação do Santuário, em especial do espaço natural ali presente (Figura 3).

Figura 3

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UM BOSQUE DE FOLHAS SAGRADAS: O SANTUÁRIO NACIONAL DA UMBANDA E O CULTO DA NATUREZA

24

Na verdade, é muito comum que os umbandistas se refiram à natureza como “um ponto de força dos orixás”7. Isso porque natureza, energia (ou “axé”), e as entidades são praticamente encarados como sinônimos. Os espaços naturais reconectam e recarre-gam a energia, pois são elementos das entidades cultuadas. Portanto, tudo que é natural é, para a umbanda, de extrema importância, pois as energias com as quais as entidades trabalham ou usam como ferramenta são oriundas da natureza, e grande parte delas é do reino vegetal. Na umbanda, geralmente Oxóssi e os caboclos são as entidades mais associadas às matas, muito embora a natureza seja um ponto de força de todas as en-tidades, uma vez que todos, sem exceção, trabalham, de alguma forma, com ervas3,4,11.

Através dessa manifestação, uma entidade se incorpora numa pessoa que se identifi-ca como médium, e o trabalho mediúnico com as ervas é realizado, seja para descarrego de energias negativas, ou para energização, i.e., atração de energias positivas. Dentro dessa perspectiva, o Santuário vem a ser um espaço que, além de ser sacralizado, é tam-bém acolhedor, no sentido de receber e dar suporte para a realização de rituais seguros, sob uma infraestrutura adequada e condições de zelo e conservando a natureza. Essa concepção de natureza, inclusive, recai sobre a fronteira entre a dicotomia que existe na umbanda, uma religião que, apesar de depender diretamente da natureza, é tipicamente uma religião que nasceu e se desenvolveu no ambiente urbano8, além de contar com um histórico de intolerância religiosa que limita alguns rituais, como despachos em campos santos (cemitérios, encruzilhadas) ou o sacrifício de animais.

Para exemplificar o acima dito, apresenta-se a fala de mãe Rosângela, que é umban-dista há 18 anos e mãe de um terreiro há nove. Ela frequenta o Santuário há pelo menos 15 anos, onde faz visitas anuais, mas que por um tempo, quando ainda não tinha uma sede própria, frequentava o espaço mensalmente:“A gente parte do princípio que a natureza é um ponto de força dos orixás que são energias de Deus,

não faz sentido a gente depredar tudo e sujar tudo, corre o risco de até e

botar fogo na mata. Então é muito bom que a gente tenha um lugar especí-

fico pra fazer os nossos trabalhos religiosos. E você os faz com tranquilida-

de. Tranquilidade no sentido de segurança e também que você sabe que tá

ajudando a preservar. Então (...), pelo menos nós: a gente aluga um espaço

lá no Santuário. A mesma coisa quando a gente vai pra praia. Quando a

gente vai fazer trabalho de final de ano, a gente deixa a praia do jeito que a

gente achou. Muitas vezes a gente recolhe quando chega. A gente limpa o

espaço pra gente ficar, até sujeira que outras pessoas deixaram.”

Mais uma vez, nota-se nesta fala a centralidade que a natureza tem como elemento essencial para o culto sagrado da umbanda para os frequentadores do SANU. Apesar dos eventuais conflitos aqui apresentados, tanto por Mãe Rosângela como para Pai Ra-fael acima, a natureza é, acima de tudo, parte ou o todo da representação de pontos de energia, que são, por sua vez, pontos de força das entidades. Preservar as ervas, a natureza e os espaços naturais é, portanto, preservar a imagem das próprias entidades sagradas. Por isso, é muito comum que haja uma posição em prol da natureza quando se considera a relação da religião com a cidade.

A erva de todo orixáO uso de plantas nas religiões afro-brasileiras geralmente é categorizado em três

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grandes sentidos, que não são excludentes, segundo Serra e colaboradores12: (1) uso ri-tual ou simpático, para atrair alguma necessidade ou desejo; (2) uso alimentar, na forma de oferendas, sobretudo frutas ou outras partes de plantas que representem o orixá ou a divindade que se queira cultuar; e (3) uso terapêutico, para cura ou revitalização, priori-zando as folhas em detrimento das ervas. No caso da umbanda em particular, Carlessi7 separa quatro tipos diferentes grupos de uso: (1) banhos de ervas, (2) chás e defumações, (3) preparo de fundamentos e (4) trabalhos e oferendas. Para Camargo6,13 a influência das tradições europeias e indígenas no uso de plantas foi importante para o candomblé, pois as populações africanas e seus descendentes não encontraram no Brasil a mesma flora de suas terras de origem, culminando numa inevitável relação de aproximação com as plantas aqui existentes.

As plantas utilizadas nas oferendas ou como ervas medicinais são sempre em refe-rência alguma entidade ou orixá, de maneira que elas têm a função de renovar a força mágica atribuída aos deuses cultuados, bem como para fortalecê-los simbolicamente1,3,11. Cada entidade possui uma oferenda ou erva específica, de acordo com a sua especifi-cidade e função espiritual (Figura 4). A umbanda e o candomblé são uma das religiões que mais possuem rituais com a participação ativa de elementos vegetais; oferecimento de oferendas às entidades implica na assumpção de que as mesmas estão “comendo” as oferendas, garantindo a presença das entidades na vida dos praticantes2. Grande parte dessas oferendas são conseguidas através da compra, mas alguns estudos mostram for-te presença de atividades de extrativismo ou cultivo em áreas ruderais, antropizadas, até mesmo em alguns espaços realmente naturais, intocados, pois pensa-se que os vegetais empregados nessas religiões devem provir do seu local de origem4,12. Além disso, não são quaisquer alimentos que podem ser oferecidos, de maneira que cada orixá possui prescrições e restrições de alimentos de acordo com a história mítica a ele associada12.

Figura 4

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Especificamente para a umbanda, Carlessi7 realizou um trabalho muito interessan-te, onde demonstrou que grande parte das plantas utilizadas na umbanda são espécies de distribuição ampla no território brasileiro, abundantes, fáceis de serem obtidas, seja porque são comuns na vegetação, seja porque já eram recorrentes na cultura brasileira de uso antes do estabelecimento dessas religiões no país. Nota-se a presença, portanto, de muitas espécies exóticas (isto é, espécies não nativas do Brasil, aqui introduzidas via ação antrópica) ou naturalizadas (e.g. alecrim, Rosmarinus officinalis L. (Lamiaceae); abacateiro, Persea americana Mill (Lauraceae)), nativas de outras regiões da América Latina7,11,14, além de espécies ruderais – i.e., espécie cuja distribuição acompanha a do ser humano – e.g. maria-sem-vergonha, espécies do gênero Impatiens L. (Apocynaceae)) ou mesmo invasoras – i.e., espécie exótica e naturalizada que apresenta altas taxas de reprodução e dispersão, colonizando o ecossistema natural e danificando – (e.g. lírio-do--brejo ou jasmim-do-brejo, Hedychium coronarium J. Koenig (Zingiberaceae)). Plantas que, além de serem utilizadas em rituais, são muitas vezes consideradas como medici-nais, mesmo fora do contexto religioso afro-brasileiro4,6,11,14.

Geralmente, Márcia e mãe Shirley citaram plantas mais específicas, utilizadas tam-bém em outros contextos, que são incorporadas de outros sistemas culturais, como “algas marinhas”, “fiapos do milho”, “mirra”, “taioba” (Tabela 1). Elas, ao contrário dos demais, fazem parte de uma umbanda mais esotérica, que incorpora muitos elementos da cultura popular e do misticismo popular, inclusive produzindo e comercializando ex-tratos para fins medicinais ou homeopáticos, que, inclusive, é técnico e dependente de uma série de tratamentos e pesagens. Veja o que Márcia diz:“Então, aí vem aquela velha história. Eles [os orixás] sempre falam pra gente. Como eles fazem, eles

ensinam [o intermediário ou ajudante] pra eles ensinarem o médium. En-

tão vou fazer um chá dessa planta. Então eu vou pegar essa planta inteira?

Não. Porque na homeopatia e na botânica, tudo é pesado.”

Agora, sob um ponto de vista de uma análise qualitativa, há algum indício de haver dependência entre o preparo de chás para plantas exclusivamente medicinais e o prepa-ro de banhos para plantas exclusivamente rituais, embora exista um universo híbrido de plantas que são rituais e medicinais dependendo do contexto (Figura 5). Grande parte das plantas citadas são usadas para banho (49% de 64 citações), mas há também usos em chás ou como firmezas espirituais (Figura 5). Para algumas plantas, também foram citadas aplicações na forma de emplastos, ou através da defumação de algumas partes vegetais, sobretudo folhas.

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No trabalho das entrevistas, a tendência também é a de preponderar menções de espécies vegetais que muito provavelmente não são nativas do Brasil, mas que, na sua grande maioria, fazem parte da cultura popular do brasileiro porque foram ora trazidas para cá. Há a menção de plantas que são utilizadas amplamente em outros contextos populares (Tabela 1), como plantas alimentícias (abacate, milho, batata-doce), tempe-ros (alecrim, manjericão, canela, cravo, anis-estrelado) ou onde delas se faz chás ou bebidas comuns no dia-a-dia do brasileiro (café, camomila, cana-de-açúcar, boldo). Não são plantas que ocorrem em regiões onde nasceram originalmente essas religiões, i.e., no continente africano11; de fato, nota-se, no Brasil, grande adaptação ou “abrasileira-mento”, usando-se de um neologismo, da flora utilizada nos rituais afro-brasileiros. Essa adaptação da flora é amplamente observada e discutida no candomblé7,11,14,15, e se mostra presente na umbanda para o contexto deste estudo.

Vê-se aqui, portanto, o paralelismo entre o uso de plantas comestíveis convencionais e a prática de rituais, de maneira que muitas plantas tidas como oferendas são derivados de alimentos comuns no Brasil, muitas introduzidas no continente sul-americano e que são recorrentes hoje na cultura brasileira, bem como na cultura urbana do país. Do ponto de vista de distribuição geográfica, a grande maioria dessas plantas são espécies exóti-cas, cultivadas, que também vão ao encontro da gastronomia e hábitos alimentares do Nordeste do Brasil, sobretudo da Bahia, que tem, assim como todo o país, grande parte das plantas comestíveis oriundas de espécies exóticas, sobretudo devido ao processo de colonização. Como diz Barros16: “Ao mesmo tempo em que eram desenvolvidos esses dois movimentos [de transação de espécies

vegetais] – Brasil-África/África-Brasil, foi sendo efetivado o processo de

emprego de plantas comuns aos dois continentes (...). Outras espécies,

entretanto, tiveram que ser substituídas, porém as substituições obedece-

ram ao padrão africano de classificação.” (Barros, 1993, pp. 36-37).

Muitas vezes uma mesma erva se circunscreve no domínio de mais de um orixá. De qualquer maneira, a entidade mais citada para as ervas aqui mencionadas foi Preto-Ve-lho, além de Oxóssi, Ogum/São Jorge e os caboclos (Figura 5). Mãe Jupira, uma de nos-

Figura 5

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sas lideranças entrevistadas, é uma mãe-de-santo que coordena um terreno na Zona Leste de São Paulo. Ela e seu terreiro visitam o Santuário de três a quatro vezes por ano, pois todo começo de ano todos os seus filhos-de-santo que se iniciam na religião têm de passar por uma cerimônia de iniciação, a qual ela se refere como “cruza”, que é um banho na cachoeira de Oxum, elemento natural presente no espaço do Santuário. Veja o que ela diz sobre a questão do domínio espiritual das ervas:“A gente nasce de um caboclo. A primeira entidade que aparece em Terra e fala: “vamos fundar a re-

ligião de umbanda” é um caboclo. Na verdade, quem teve uma vidência na

hora viu que ele tinha sido um padre na outra vida, mas ele se mostra pra

gente como um caboclo, o caboclo das sete encruzilhadas (...). Como é um

caboclo, ele traz essa força das matas.”

Isso reflete a já citada lógica da umbanda de enaltecimento dos segmentos forma-dores da sociedade brasileira (negros, índios e brancos). A figura dos caboclos (“indí-genas”), em especial, é bastante recorrente, pois eles representam um ponto crucial de força e de conexão com a vegetação. Além dessas duas figuras – a dos caboclos e a dos pretos-velhos –, há também várias menções às demais entidades do panteão tradicional das religiões afro-brasileiras, em especial no candomblé, com destaque para Oxóssi, ori-xá associado às matas e à vegetação, e às figuras que, na umbanda, são frequentemente sincretizadas à santos católicos, i.e., Ogum (São Jorge) e Iansã (Santa Bárbara), que pos-suem no seu domínio o uso de ervas, muito citadas nas entrevistas, que são as espadas ou lanças de São Jorge/Santa Bárbara (Tabela 1; Figura 5).

Ou seja, diz-se que não existe orixá sem que existam as folhas. De fato, as folhas são elementos imprescindíveis na composição simbólica da maioria das cerimônias religiosas. As folhas são postas sob as esteiras dos iniciados durante seu período de recolhimento para lhes prover energia, ou espalhadas pelo chão do barracão em dias de festa para que sua força se misture aos pés dos que dançam sobre elas (Figura 4). Outra possibilidade é tritura-las para compor banhos rituais (os chamados “amacis”) ou produzir extratos com caráter curativo, lavando ou sacralizando um alguém ou algum assentamento.

Muitas vezes, essas ervas estão associadas às entidades através do estabelecimento das chamadas “firmezas espirituais”. Essas firmezas podem ser construídas de diversas ou com as ervas frescas dispostas no chão, ou com determinados elementos vegetais secos guardados nas chamadas “quartinhas”, que são potes de louça construídos para essa finalidade. Já a defumação é uma categoria de uso onde a fumaça gerada pela quei-ma de determinada parte da erva – geralmente as folhas secas – transmitem a energia associada ao vegetal. Neste caso, a fumaça é o meio de transmissão da energia, que é absorvida pelo indivíduo pelo olfato, não através da ingestão.

A grande maioria das ervas rituais também possuem um sistema de classificação energético associado. Na umbanda, esse sistema é ou representado pelas ervas quen-tes/mornas/frias, ou pelas ervas fortes/fracas. Aqui exemplificamos com a explicação de mãe Antônia. Ela é mãe-pequena de um terreiro existente há dez anos oficialmente na Zona Leste de São Paulo. Ela frequenta o SANU desde criança e atualmente leva seu terreiro ao Santuário no mínimo uma vez por ano. A divisão é descrita por ela da seguinte forma:“As [ervas] quentes são chamadas de agressivas, porque fazem a limpeza pesada. Elas são a “soda

cáustica” para limpar o chão do organismo. As mornas são as equilibrado-

ras, são aquelas que são o “paninho com álcool”, que fazem a manutenção,

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o equilíbrio específico. E as específicas, que são as frias, são, como o nome

diz, específicas; então eu quero uma erva pro feminino. Então tem uma erva

específica pro feminino.”

Ou seja, com as folhas classificam-se os deuses (e suas “qualidades”) e, sabedor de suas propriedades mágicas, o sacerdote “tempera” os despachos e oferendas visando muitas vezes potencializar ou enfraquecer determinados atributos dos deuses ou carac-terísticas de seus filhos. Muitas entidades chegam mesmo a afirmar que com a folha “certa” podem matar ou curar (ou mesmo alterar as preferências sexuais de uma pes-soa), pois existem tais ervas “quentes”, que “agitam” (pertencentes aos orixás do fogo e da terra, como Ogum e Exu), e as “frias” que “acalmam” (pertencentes aos orixás da água ou do ar, como Oxum e Oxalá), como as citadas por mãe Antônia.

O sistema e classificação quente/morno/frio pode ser associado ao sistema forte/fraco. As ervas quentes são aquelas também chamadas de fortes, e as fracas são as frias ou mor-nas. Essa classificação, para algumas plantas, variou ligeiramente de entrevistado para en-trevistado, mas ela parece ser, de alguma forma, comum entre a comunidade umbandista. Este sistema é coerente com aquele observado em outros contextos, como no candomblé, e é um sistema fundamentado em pares de oposição; o que inexoravelmente lembra àquilo apresentado por autores consagrados, como Lévi-Strauss17, onde esse nível de classifica-ção, mesmo que desigual e arbitrário, consegue preservar a riqueza e a diversidade do in-ventário de plantas conhecidas. A diferença é que no candomblé, observam-se uma outra relação, compartimentando as ervas nos domínios de água/terra/fogo/ar16, enquanto que nesse estudo a divisão ficou entre a relação quente/morno/frio e forte/fraco.

O Santuário ponto de permutaComo o SANU se insere numa unidade de conservação de proteção integral10, os fre-

quentadores precisam trazer os elementos vegetais de fora, pois lá não é permitido a coleta de plantas para qualquer finalidade. Ou seja, muitos dos vegetais citados pelos en-trevistados não consistem de ramos férteis para serem depositados em herbários, sendo muitas vezes elementos vegetais isolados (e.g., folhas, flores) ou mesmo uma mistura de elementos secos que são levados pelos religiosos para uso imediato no Santuário, onde eles realizam suas atividades.

No contexto urbano, essas plantas são geralmente coletadas ou adquiridas em locais onde há a presença destes elementos naturais: quintais, matas remanescentes em terre-nos baldios ou nos fundos das casas, feiras livres, barracas de condimentos18,19, enfim, espaços onde se vendem frutas e verduras comuns no Brasil, conforme também consta-tado por Carlessi7. São, na sua maioria, espécies exóticas, produto da relação histórico--cultural brasileira com o conhecimento europeu, africano e indígena20.

Algo importante associado ao acesso às ervas é o fato de que muitas delas são con-seguidas através de contato pessoal, ou via “boca-a-boca”19. A oralidade, muito presente na umbanda e nas religiões afro-brasileiras como um todo, marca muito a construção do simbolismo associado a essas religiões. Praticamente todos os entrevistados cita-ram, a necessidade de se ter contatos com praticantes, além da procura de ervas seja em espaços específicos, como nas casas de ervas, seja em espaços mais gerais, como as feiras, mercados ou centrais de abastecimento de alimentos. Hoje, as feiras livres, mercados e lojas de ervas são exemplos de espaços na cidade onde se conseguem ele-

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mentos vegetais para o culto das religiões afro-brasileiras, tanto na umbanda7, como no candomblé19,20. No caso do candomblé, Falcão20 diz que espaços como estes descritos “medeiam um processo de socialização das diversas categorias iniciadas no candomblé, funcionando como uma caixa de ressonância dos terreiros”. Aqui, pode-se dizer que o SANU cumpre exatamente esta função.

Por outro lado, os espaços de sociabilização e de transmissão de conhecimento asso-ciado às ervas tornou-se bastante restritivo e formalizado, principalmente para as gera-ções mais novas de umbandistas. Veja o que Mãe Rosângela diz:

“Ainda bem, hoje em dia, é muito fácil você achar as ervas. Toda casa de macumbeiro sempre tem uma

ervinha plantada, né. Aqui a gente tem umas ervas plantadas. A gente toma

muito cuidado onde a gente vai comprar as ervas, erva fresca, principal-

mente erva seca. Você vê, você passa em Pinheiros você vê um monte de

lugar vendendo aquelas árvores torrando no sol, aí pega chuva... Isso não é

legal. Então as frescas, tem duas médiuns aqui que vão na feira. Uma mu-

lher que planta e colhe, traz super fresquinha... Temos o mercado da Lapa

também, que tem duas bancas que fornecem... A gente tem alguns tra-

balhadores que tem erva em bastante quantidade em casa, que traz. Mas

normalmente quando a gente vai comprar seco, a gente procura comprar,

por exemplo, algumas eu compro no Mundo Verde.”

Apesar de, nos últimos anos, ter havido um aumento significativo de estabelecimen-tos específicos para a venda de ervas e produtos vegetais próprios para o culto sagrado20, a confiança na qualidade e composição do material ainda é um questionamento para a comunidade umbandista. Por isso, muitas plantas também são cultivadas em vasos ou quintais (Figura 6), muito embora a falta de acesso a esses espaços, especialmente quintais ou jardins, é um empecilho relatado pelos entrevistados. Além disso, muitos dos entrevistados acabam passando por uma série de cursos de formação específicos para a manipulação de ervas, como aquele ministrado pelo Pai Ronaldo no SANU. Esses espaços, portanto, são importantes pois eles cumprem a função que o mencionado “bo-ca-a-boca” tinha nas gerações mais velhas de umbandistas. Eles são basicamente espa-ços organizados pela comunidade umbandista para ensinar formalmente a comunidade sobre as ervas, seus significados e suas propriedades e aplicações.

Agora, independente disso, o Santuário possui essa função de ponto de permuta, e mes-mo no caminho, ao longo da Estrada do Montanhão, existem muitas espécies vegetais que podem ser coletadas para logo depois serem utilizadas nos rituais, tal como diz Mãe Shirley:“Também tem muito aqui nas casas de ervas, e também uma mata aqui perto. E a gente sempre se

comunicando. Porque, a ama da casa, trabalha com a linha só de ervas. Essa

que dá o curso [de formação] lá em São Bernardo. É, indo pro Santuário, ali

tem muito, muito mesmo. Hoje tem, como antigamente nós atravessáva-

mos pelo teleférico. Agora a gente dá a volta. Mas ali tem tantas ervas, que

o povo nem conhece.”

Algumas plantas, mais difíceis de encontrar, acabam sendo, portanto, extraídas da mata, geralmente das regiões de borda de mata de áreas naturais de fácil acesso. Es-sas áreas de borda são justamente aquelas que estão degradadas pela ação antrópica, e contam com uma série de espécies ruderais, de crescimento rápido, justamente aquelas mais usadas na religião. Às vezes, a própria mata próxima ao Santuário é utilizada para

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essa finalidade, geralmente nas bordas da estrada que levam à entrada do Santuário (Figura 6). Os entrevistados, no entanto, não possuem o hábito de utilizar ervas da mata dentro do espaço do Santuário ou de plantas presentes no interior dessas matas. Como o Santuário está compreendido numa unidade de conservação, os órgãos públicos pro-íbem o desmatamento, extrativismo de ervas na mata e a realização de sacrifícios de animais. Por isso, os frequentadores trazem suas plantas de fora para o Santuário.

Ou seja, o acesso às ervas tornou-se restrito com a urbanização. Plantas que antes eram conseguidas em espaços quase naturais, ou limítrofes ao ambiente de mata, como em matas remanescentes, bordas de estrada ou terrenos baldios ou remanescentes re-florestais, agora estão cada vez mais escassos. Isso fez com que a procura pelas ervas passasse a ser mais direcionada em espaços especializados, que foram criados justa-mente para o fim de vender essas mercadorias: “Erva fresca ainda tem sua essência mantida. Ela tem sua força natural ainda mantida. A seca já não,

ela já passou por todo um processo de manipulação, secagem. Ela perde

um pouco daquilo que a gente chama de axé, a força natural. (...) E a gente

sabe que hoje se alguém pegar você tirando uma planta do meio da mata,

uma planta nativa, é crime ambiental. Então a gente vai atrás de lugares

que comercializam isso, acaba sendo mais difícil, e você acaba encontran-

do seca. Mas fresca realmente algumas são mais difíceis.” (Pai Rafael em

entrevista)

Portanto, as ervas secas acabam perdendo um pouco da sua energia vital, o axé, mas que, por falta de escolha, acabam por ser utilizadas, pois é a única forma de conseguir esse tipo específico de vegetal. Surgem daí as casas de ervas ou barracas especializadas em feiras livres para a venda desse tipo de material, que agora muitas vezes é seco ou desidratado, e não mais coletado fresco.

Figura 6

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Considerações finaisTal como no candomblé, os elementos vegetais, ou as “ervas”, são nucleares no de-

senvolvimento e nas práticas da Umbanda. Apesar dos eventuais conflitos aqui apre-sentados, a natureza é, acima de tudo, parte ou o todo da representação de pontos de energia, que são, por sua vez, pontos de força das entidades. Preservar as ervas, a natureza e os espaços naturais é, portanto, preservar a imagem das próprias entidades sagradas. Por isso, é muito comum que haja uma posição em prol da natureza quando se considera a relação da religião com a cidade. O culto ou apreço aos espaços naturais na umbanda, considerados como virgens ou intocados, é essencial e muito valorizado pelos seus praticantes. As plantas ali presentes, mesmo se não extraídas diretamente de uma mata para uso, são valorizadas no sentido de comporem uma vegetação íntegra, que por si só é encarada como sagrada, por ser local de moradia de entidades associadas à mata.

No entanto, este trabalho mostrou que a relação dos umbandistas com a vegetação e as ervas, mudou com o fenômeno da urbanização. O acesso ao conhecimento sagrado e prático associado às ervas ficou cada vez mais dependente de uma lógica formal, com, por exemplo, a realização de muitos cursos de formação sobre ervas. Portanto, enquanto as gerações mais antigas de umbandistas transmitiam o conhecimento associado às ervas através da oralida-de, e de algo feito pela comunidade, as gerações mais novas aprendem esse conhecimento através da formalidade e via cursos, numa lógica de letramento ou de formação.

Independentemente dessa mudança, o SANU é um espaço visto como sagrado e pri-mordial na prática da umbanda pela comunidade religiosa da Região Metropolitana de São Paulo. Ele é visto como um refúgio contra problemas de violência, segurança e até de intolerância religiosa. E não só isso: a maneira como a Umbanda trata a questão das ervas, da vegetação e da conservação da natureza faz com que o espaço do Santuário seja algo preservado, como observado no processo de recuperação da antiga área da pedreira. É, portanto, um espaço que, por ser valorizado não só por ser sagrado, mas por também ser um espaço natural, tende a se manter íntegro e por muito tempo, res-guardando também o patrimônio religioso material e imaterial que faz parte da cultura e história do Brasil e do povo brasileiro.

AgradecimentosAgradecemos a todos os membros da equipe do Santuário Nacional da Umbanda

pela gentileza, apoio e carinho, em especial Pai Ronaldo e Maria Aparecida, bem como a todos os entrevistados por terem aceitado colaborar gentilmente com esta pesquisa. Por fim, agradecemos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo ter financiado o primeiro autor (Processo 2016/22822-0).

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