ulysses rodrigues vianna josé romário de...
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Ulysses Rodrigues ViannaJosé Romário de Carvalho
Organizadores
ULYSSES RODRIGUES VIANNA
JOSÉ ROMÁRIO DE CARVALHO
(ORGANIZADORES)
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA 1ª EDIÇÃO
CAUFES
2017
CCAE-UFES
Centro de Ciências Agrárias e Engenharias, Universidade Federal do Espírito Santo
Alto Universitário, s/n, Guararema, Alegre-ES
Telefone: (28) 3552-8955 – Fax (28) 3552-8903
www.alegre.ufes.br/ccae
ISBN: 978-85-61890-94-0
Editor: CAUFES
Julho 2017
Diagramação e capa
José Romário de Carvalho
Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP) (Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil)
M533 Memórias em gestão pública [recurso eletrônico] / Ulysses Rodrigues
Vianna, José Romario de Carvalho, organizadores. - Dados eletrônicos. – Alegre, ES : CAUFES, 2017.
128 p. : il. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-61890-94-0 Modo de acesso: <http://www.alegre.ufes.br> 1. Administração pública. 2. Governança. 3. Universidades e
faculdades - Administração. 4. Cultura organizacional. I. Vianna, Ulysses Rodrigues, 1977-. II. Carvalho, José Romario, 1983-.
CDU: 35
Os textos apresentados nessa edição são de inteira responsabilidade dos autores. Os
organizadores não se responsabilizam pela revisão ortográfica e gramatical dos trabalhos
apresentados.
REITOR – UFES
REINALDO CENTODUCATTE
DIRETOR DO CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E ENGENHARIAS – UFES
DIRCEU PRATISSOLI
ORGANIZADORES DESTA OBRA
ULYSSES RODRIGUES VIANNA
JOSÉ ROMÁRIO DE CARVALHO
APRESENTAÇÃO
A obra de coletâneas “MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA” surgiu de uma ideia
encampada entre alunos e professores do Programa de Pós-Graduação em Gestão Pública do
Campus Sul Capixaba da Universidade Federal do Espírito Santo.
Este se trata do primeiro volume de uma obra que engloba trabalhos com diferentes
temas dentro da Administração Pública com seus temas ligados aos trabalhos de Dissertação
dos alunos da Pós-Graduação em Gestão Pública da UFES.
A obra é independente e consta de oito capítulos com assuntos que servirão de base
como texto fundamental para o estudo nas diversas áreas da Administração Pública. Assim,
seu público alvo são alunos e professores dos cursos de Graduação e Pós-Graduação das áreas
ligadas à Administração Pública.
Assim, apresentamos o livro “MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA”, sendo
permitido seu pleno uso de textos e figuras, desde que respeitados os direitos dos autores a
terem os devidos créditos. Ainda, os textos apresentados nessa edição são de inteira
responsabilidade dos autores. Os organizadores não se responsabilizam pela revisão
ortográfica e gramatical dos trabalhos apresentados.
LISTA DE ORGANIZADORES
Ulysses Rodrigues Vianna. Professor Adjunto do Departamento de Agronomia,
Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias e Engenharias, Alegre,
ES, e-mail: [email protected].
José Romário de Carvalho. Doutorando em Produção Vegetal, Universidade Federal do
Espírito Santo, Alegre, ES, e-mail: [email protected].
LISTA DE AUTORES
Aline Carvalho Machado Nunes. Mestranda em Gestão Pública, Universidade Federal do
Espírito Santo, Alegre, ES, e-mail: [email protected].
Fabio Antonio Soares Lopes. Mestrando em Gestão Pública, Universidade Federal do
Espírito Santo, Alegre, ES, e-mail: [email protected].
Fabricia Benda de Oliveira. Professora Adjunta do Departamento de Geologia,
Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Exatas, Naturais e da Saúde,
Alegre, ES, e-mail: [email protected].
Giselly Ribeiro Passos Vianna. Mestranda em Gestão Pública, Universidade Federal do
Espírito Santo, Alegre, ES, e-mail: [email protected].
Josiléia Curty de Oliveira. Mestranda em Gestão Pública, Universidade Federal do Espírito
Santo, Alegre, ES, e-mail: [email protected].
Kézya Lourenço Barbosa. Mestranda em Gestão Pública, Universidade Federal do Espírito
Santo, Alegre, ES, e-mail: [email protected].
Larice Nogueira de Andrade. Professora Adjunta do Departamento de Computação,
Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Exatas, Naturais e da Saúde,
Alegre, ES, e-mail: [email protected].
Pedro Henrique Freire Corrêa. Mestrando em Gestão Pública, Universidade Federal do
Espírito Santo, Alegre, ES, e-mail: [email protected].
Robson Santos da Costa. Mestranda em Gestão Pública, Universidade Federal do Espírito
Santo, Alegre, ES, e-mail: [email protected].
Simone Paiva de Araujo. Mestranda em Gestão Pública, Universidade Federal do Espírito
Santo, Alegre, ES, e-mail: [email protected].
Ulysses Rodrigues Vianna. Professor Adjunto do Departamento de Agronomia,
Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias e Engenharias, Alegre,
ES.
Wendel Sandro de Paula Andrade. Professor Adjunto do Departamento de Ciências
Florestais e da Madeira, Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias
e Engenharias, Alegre, ES, e-mail: [email protected].
SUMÁRIO Capítulo 1 - O desenvolvimento sustentável e as Instituições de Ensino Superior .......... 11
Kézya Lourenço Barbosa, Larice Nogueira de Andrade e Ulysses Rodrigues Vianna
Capítulo 2 - Mobilidade sustentável em um Campus Universitário .................................. 35
Pedro Henrique Freire Corrêa e Ulysses Rodrigues Vianna
Capítulo 3 - Eficiência no Serviço Público ........................................................................... 43
Aline Carvalho Machado Nunes, Ulysses Rodrigues Vianna e Wendel Sandro de Paula Andrade
Capítulo 4 - Avaliação de desempenho dos servidores administrativos ............................ 53
Robson Santos da Costa, Wendel Sandro de Paula Andrade e Ulysses Rodrigues Vianna
Capítulo 5 - Suporte social: conceitos, categorizações e realidade no ambiente de trabalho 61
Giselly Ribeiro Passos Vianna e Ulysses Rodrigues Vianna
Capítulo 6 - Sistema de Informações Geográficas (SIG): uma ferramenta para gestão pública ...................................................................................................................................... 73
Fabio Antonio Soares Lopes, Ulysses Rodrigues Vianna e Fabricia Benda de Oliveira
Capítulo 7 - Assistência Estudantil: igualdade de oportunidade a todos .............................. 91
Simone Paiva de Araujo e Ulysses Rodrigues Vianna
Capítulo 8 - A estrutura funcional das Universidades Públicas Federais: da origem à atualidade ............................................................................................................................... 101
Josiléia Curty de Oliveira, Larice Nogueira de Andrade e Ulysses Rodrigues Vianna
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
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Capítulo 1
O desenvolvimento sustentável e as Instituições de Ensino Superior
Kézya Lourenço Barbosa1
Larice Nogueira de Andrade2
Ulysses Rodrigues Vianna3
1 INTRODUÇÃO
Desde os primórdios, o homem tem se relacionado com a natureza, e dela usufruía o
necessário à sua sobrevivência. Nesse sentido, o homem retirava os elementos essenciais ao
seu sustento e proteção, sendo, portanto, uma fonte de recursos para todos os seres vivos.
Com isso, a relação homem-natureza iniciava-se numa perspectiva utilitarista, sem atentar
para a preservação ou conservação, uma vez que os recursos naturais eram abundantes à
época (MORIMOTO; SALVI, 2009). Além disso, como uma estratégia para a sobrevivência,
os homens se agrupavam, surgindo assim, a formação de comunidades que demandavam cada
vez mais, à medida que cresciam, por materiais e insumos advindos da natureza.
A partir disso, ao longo de sua história, o ser humano passa a dominar gradativamente
os meios de produção, ou seja, a forma de se retirar os recursos naturais de modo a atender
suas crescentes necessidades. Esse cenário se agrava durante a revolução industrial, quando o
trabalho artesanal é substituído por processos mecanizados, elevando a produtividade, o que
acarreta no aumento da poluição, potencializando os problemas ambientais (WIENHAGE et
al., 2009). No decorrer da história, o desenvolvimento tecnológico incrementou de maneira
substancial a capacidade de o ser humano interferir na dinâmica natural, concomitantemente,
a partir de respostas negativas da natureza, foram criadas formas de mitigação de seus efeitos, 1 Mestranda em Gestão Pública - Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: [email protected]; 2 Professora Adjunta do Departamento de Computação - Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Exatas, Naturais e da Saúde, e-mail: [email protected]; 3 Professor Adjunto do Departamento de Agronomia - Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias e Engenharias, e-mail: [email protected].
O desenvolvimento sustentável e as Instituições de Ensino Superior
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uma espécie de “maquiagem”, protelando e acumulando problemas que seriam irreversíveis à
sobrevivência humana em longo prazo, retardando-se assim, a preocupação ou a adoção de
procedimentos sustentáveis (ROMEIRO, 2003).
Em meio a tudo isso, diante da ainda crescente população mundial, os recursos
naturais já modestamente disponíveis passavam a se tornar mais escassos e difíceis de serem
explorados, tornando-se um gargalo ao desenvolvimento de alguns países e até continentes,
dando espaço a uma inicial preocupação daqueles que, de alguma forma, foram ou seriam
afetados, por sua redução ou falta (MORIMOTO; SALVI, 2009).
Além disso, após a manifestação de subsequentes desastres ambientais oriundos da
degradação, que até então passavam despercebidos dadas as proporções, fizeram com que
diversos países do mundo atentassem para além da questão do esgotamento dos recursos
naturais, mas também, ao efeito cumulativo danoso causado pelas intervenções antrópicas à
natureza, o que fez com que o ser humano reavaliasse seus critérios de desenvolvimento
(LUIZ et al., 2013). Com isso, houve uma mobilização a nível internacional, especialmente
movida pelos países desenvolvidos, na busca de soluções conjuntas para o problema, com o
intuito de tornar o desenvolvimento viável sem degradar o meio ambiente.
Dessa forma, considerando à relevância do tema, diante ao cenário mundial e não
necessariamente visando repensar as questões ambientais, o Brasil incorpora-se a blocos de
grande importância econômica, absorvendo para si, como cláusula dos tratados de
cooperação, compromissos estruturais nesse sentido. Com isso, esta revisão tem como
objetivo identificar os principais marcos internacionais nas discussões sobre o meio ambiente
e o desenvolvimento sustentável, bem como, levantar as principais legislações vigentes no
Brasil e como isso pode influenciar a administração pública brasileira, especialmente, as
Instituições de Ensino Superior (IES).
1.1 MARCOS NAS DISCUSSÕES SOBRE O MEIO AMBIENTE E O
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Embora não seja possível estabelecer um evento e/ou um momento específico que deu
início a preocupação com a proteção do meio ambiente, sabe-se que a partir do século XIX,
alguns países da Europa, América do Norte e Oceania atentaram-se para a possibilidade de
problemas decorrentes da escassez de recursos naturais, ocasionados por exemplo, pela caça e
pelo consumo desmedido, foram então implementadas leis com o objetivo de proteger as
espécies de plantas e animais típicos de cada região. No entanto, foi no século XX, no período
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
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entre guerras, que houve maior união em direção à preservação, com o estabelecimento de
tratados bilaterais entre países, visando evitar a poluição dos rios que os cortavam (GURSKI;
GONZAGA; TENDOLINI, 2012).
Ao final da Segunda Guerra Mundial, os ataques nucleares às cidades de Hiroshima e
Nagasaki, fizeram com que as pessoas pensassem a respeito da possibilidade de destruição do
planeta, com isso, a população começa a entender a fragilidade humana em relação ao mundo,
dando início, ainda que discretamente, a consciência ambiental (SORNBERGER et al., 2014).
Desse modo, o tema natureza toma conta da opinião pública, devido as repercussões
midiáticas a respeito de desastres ambientais (GURSKI; GONZAGA; TENDOLINI, 2012).
Um outro marco importante foi a publicação do livro Primavera Silenciosa, em 1962,
pela norte-americana Rachel Louise Carson, que aguçou a consciência ambiental, isso porque
a escritora mostra um pensamento novo sobre a relação da espécie humana com o meio onde
vive e enfatiza a atuação do homem como destruidor de biomas (SORNBERGER et al.,
2014).
Ainda na década de 60, especificamente no ano de 1968, ocorre em Paris a
Conferência sobre a Biosfera, promovida pela Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), com o apoio da Organização das Nações Unidas
(ONU), evento de elevada importância, pois, foi a conferência onde se discutiu, pela primeira
vez, os crescentes problemas ambientais que estavam ocorrendo à época, incluindo-se
também, recomendações sobre a importância do meio ambiente (WEBBER, 2011). Nesse
mesmo evento, enfatizou-se a necessidade de reflexão sobre os danos causados ao meio
ambiente, com o intuito de ampliar as discussões sobre essa temática para outras áreas, tais
como econômica e política. Então, a partir disso, o termo “meio ambiente” começou a ser
utilizado no lugar de “natureza”, isso porque englobaram-se assuntos como o ar, os mares e
oceanos, o espaço, a poluição pelo petróleo e dejetos, e não apenas fauna e flora (GURSKI;
GONZAGA; TENDOLINI, 2012).
Ainda de acordo com os mesmos autores, nesse período também houve um grupo de
estudiosos de diferentes áreas do conhecimento, que se tornaram conhecidos como Clube de
Roma, pois, se uniram com a finalidade de pesquisar as intenções mundiais que envolviam
política, economia, meio ambiente e o desenvolvimento. Utilizando-se de conceitos
matemáticos e princípios malthusianos, o clube apresentou relatório em 1972, “Os Limites do
Crescimento”, afirmando que o Planeta Terra era incapaz de conservar seu equilíbrio devido
às consequências do efeito populacional e da poluição, o que gerou grande repercussão em
nível internacional, pois enfatizara o tema de maneira catastrófica.
O desenvolvimento sustentável e as Instituições de Ensino Superior
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O clube acreditava que com o crescimento populacional e industrial e a consequente
diminuição dos recursos naturais, considerados finitos, os limites do planeta seriam
alcançados em um determinado tempo. Considerando isso, como solução, propuseram uma
condição de estabilidade econômica e ecológica o congelamento do crescimento da população
e do capital industrial denominado “Tese do Crescimento Zero” (FERREIRA, 2013).
Tal proposição foi altamente contestada, pois, existiam controvérsias no livro que
fizeram surgir o debate com a presença de duas linhas. Uma defendia que os recursos da Terra
eram limitados e que em algum momento ela não mais sustentaria a demanda, já a outra,
defendia que não haveria problemas com a disponibilidade de recursos, uma vez que, devido à
grande capacidade de adaptação do homem, ele contornaria a situação (PACHECO, 2016).
Com o aumento das discussões e da preocupação sobre o assunto, a ONU começou a
discutir o tema em seus eventos, acarretando, em 1972, na primeira reunião de caráter oficial,
em que entidades governamentais de todo o mundo se encontraram com o objetivo de discutir
o tema meio ambiente, acontecendo assim, em Estocolmo, a Conferência Mundial das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente (LUIZ et al., 2013). Nessa conferência, discutiu-se também
sobre a necessidade da erradicação das causas da pobreza, do analfabetismo e da poluição
(FERREIRA, 2013), a participação contou com 113 países, garantindo bases para muitas
políticas ambientais (SORNBERGER et al., 2014).
Independentemente do sucesso obtido ou não na Conferência de Estocolmo, o simples
fato dos países terem se reunido para discutir questões ambientais, a tornou de grande
relevância internacional, pois, permitiu a entrada definitiva do tema ambiental na agenda
política dos países, por meio de um compromisso firmado, para discussão e resolução dos
problemas ambientais, além de serem estabelecidas prioridades para as futuras negociações
sobre o assunto (LAGO, 2006). Outras conquistas destacadas pelo autor foram a criação do
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), e o incentivo à criação de
órgãos ambientais nos países que ainda não os possuíam, bem como, o fortalecimento das
organizações não governamentais com maior participação da sociedade civil.
A Conferência de Estocolmo impulsionou ainda, o aumento do número de tratados,
convenções multilaterais e legislações, principalmente na Europa e no Brasil, tornando-a uma
das maiores referências em educação ambiental (WEBBER, 2011). Além disso, o evento é
considerado como o marco inicial da educação ambiental contemporânea, pois, foi a partir
dele que emerge a designação “Educação Ambiental” (SORNBERGER et al., 2014).
Após tal evento, ambientalistas começam a pensar sobre o crescimento econômico a
partir da sustentabilidade ambiental. Em 1973, Maurice Strong, estabelece o conceito de “eco
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
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desenvolvimento” caracterizando assim, a concepção alternativa de política do
desenvolvimento, ou seja, uma crítica à sociedade industrial quanto ao seu método de
desenvolvimento (BRÜSEKE, 1994). Os princípios básicos para o conceito de “eco
desenvolvimento” denominados por Ignacy Sachs consideram alguns aspectos como a
satisfação das necessidades básicas das pessoas, o compromisso com as futuras gerações, a
atuação por parte da população, a preservação dos recursos naturais e do meio ambiente, a
elaboração de um sistema social e programas de educação (AMANDIO, 2010).
Em 1974, uma reunião da Conferências das Nações Unidas sobre Comércio e
Desenvolvimento (UNCTDA) e do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (UNEP)
resultou na Declaração de Cocoyok, afirmando que o desequilíbrio demográfico era
consequência da pobreza e que o consumo excessivo dos países industrializados o responsável
pela perda dos recursos naturais. Subsequentemente, em 1975, indo mais a fundo que as
conclusões apresentadas na Declaração de Cocoyok, o Relatório Dag-Hammarskjöld,
acrescentou que as grandes potências coloniais concentraram as melhores terras nas mãos de
uma minoria, forçando o restante da população a usar outros solos, menos apropriados, o que
acarretou na degradação ambiental em alguns lugares, decorrentes de uma exploração
exacerbada de recursos naturais, o que vem a devastar paisagens inteiras (GURSKI;
GONZAGA; TENDOLINI, 2012).
Na década seguinte, a sociedade, ainda na busca de uma solução para a crescente na
degradação ambiental, em 1983, por meio das Nações Unidas, estabeleceu a Comissão
Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida posteriormente como
Comissão de Brundtland. Essa Comissão desenvolveu e publicou o “Relatório Brundtland”,
no ano de 1987, intitulado “Nosso Futuro Comum”, o qual trouxe o conceito de equidade
entre ricos e pobres, países ricos e em desenvolvimento, e adicionalmente, despontou uma
relação mais próxima entre economia e ecologia (FERREIRA, 2013).
O documento em questão tinha como objetivo sugerir estratégias ambientais para
longo prazo e aconselhar atitudes, para que além da preocupação com o meio ambiente,
houvesse também cooperação entre os países, independentemente do seu estágio de
desenvolvimento econômico e social, com a definição de objetivos comuns e conectados,
considerando as relações interpessoais, recursos, meio ambiente e desenvolvimento
(LAYRARGUES, 1997). Com isso, o relatório apresenta a sustentabilidade como estratégia
para o desenvolvimento e resultou o conceito conhecido como “Desenvolvimento
Sustentável” àquele que satisfaz as necessidades do presente sem as futuras gerações
(BRÜSEKE, 1994).
O desenvolvimento sustentável e as Instituições de Ensino Superior
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Outro marco importante aconteceu em 1992, quando a Assembleia Geral das Nações
Unidas (AGNU), convocou as nações do planeta para a Conferência Mundial das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, ou 1ª Conferência da Cúpula da Terra
(Earth Summit), ou Eco-92 ou Rio-92, realizada no Rio de Janeiro, cujo objetivo era
demonstrar que a questão ambiental estava além das ações isoladas e localizadas de uma
região ou outra, mas que, tratava-se de uma preocupação de toda a humanidade (FERREIRA,
2013).
Os principais resultados da Eco-92, foram a inserção de novas abordagens e
compreensões do conceito de “Desenvolvimento Sustentável”, através de um equilíbrio entre
as dimensões econômica, social e ambiental, e ainda, a consolidação do conceito de
desenvolvimento sustentável e a conscientização sobre a responsabilidade dos países
desenvolvidos aos danos ambientais ser maior em relação aos países em desenvolvimento.
Ocorreu também, o despertar para a necessidade de que os países em desenvolvimento tinham
de receber apoio financeiro e tecnológico para avançarem rumo ao desenvolvimento
sustentável e o entendimento da Declaração de Estocolmo, afirmando que as preocupações
com o desenvolvimento sustentável giram em torno da humanidade, em que as pessoas têm o
direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a natureza (LAGO, 2006).
Para Sornberger et al. (2014), dentre os aspectos positivos da Rio-92 estão a maior
conscientização sobre os perigos que o modelo de desenvolvimento econômico significa; a
conciliação de métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica; e a
elaboração da Agenda 21. A Agenda 21 consiste em um instrumento de planejamento para
sociedades sustentáveis, que reúne propostas de ação e estratégias para a melhoria da
qualidade de vida e desenvolvimento sustentado com perspectivas para o século XXI, um
conjunto de 27 princípios para conduzir a interação dos seres humanos com o planeta.
Além da Agenda 21, houve também a confecção da Carta da Terra (Declaração do Rio
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento); a Convenção das Nações Unidas de Combate à
Desertificação; a Convenção sobre Diversidade Biológica; a Convenção sobre Mudança
Climática; e a Declaração sobre Uso de Florestas (MOTA et al., 2008). Ainda segundo os
mesmos autores, dentre os documentos produzidos, a Agenda 21 e a Declaração do Rio foram
os que influenciaram na definição e no desenvolvimento de políticas públicas, com vistas a
fixar um modelo de desenvolvimento sustentável. No Brasil, a Agenda 21 além de
impulsionar a criação de políticas públicas, serviu de modelo para ideias de programas
governamentais, como a Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P), criada pelo
Ministério do Meio Ambiente (PACHECO, 2016).
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
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Dez anos após a Rio-92, em 2002, ocorreu em Joanesburgo na África do Sul, a
formação da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, chamada de Rio+10 ou
simplesmente Conferência de Joanesburgo, visando a idealização de estratégias mais eficazes
para acelerar a implementação da Agenda 21 (MOTA et al., 2008). Segundo Lago (2006), os
principais resultados da Rio+10, incluem o estabelecimento ou reestabelecimento de metas
para erradicação da pobreza, questões envolvendo água e saneamento básico, saúde, produtos
químicos perigosos, pesca e biodiversidade; a inclusão do tema energias renováveis e
responsabilidade corporativa na agenda política; e a tomada de decisão para a criação de um
fundo mundial de solidariedade.
Na tentativa de uma retomada ao compromisso político com o desenvolvimento
sustentável, em 2012, novamente na cidade do Rio de Janeiro, ocorreu a Rio+20, com
objetivo central de renovar os compromissos firmados nas principais conferências sobre o
tema, bem como, de avaliar o andamento e identificar problemas com a implementação das
decisões tomadas anteriormente, além de estabelecer novas metas (FERREIRA, 2013).
O evento iniciou-se com um elevado descrédito da sociedade civil, dos meios de
comunicação e da comunidade científica, isso devido ao momento de recessão econômica
mundial e ao pouco avanço no que se refere ao desenvolvimento sustentável das últimas
décadas (GUIMARÃES; FONTOURA, 2012).
No entanto, Sornberger et al. (2014) apresentam alguns dos principais compromissos
firmados na Rio+20 como, o compromisso das principais prefeituras do mundo para diminuir
as emissões de gases do efeito estufa em 12% até 2016, e, a criação do Banco de
Investimentos Verdes, que visava o financiamento de empreendimentos com baixa emissão de
carbono. Contudo, os mesmos autores afirmam que após o evento, a publicação do relatório
com o título “O Futuro que queremos”, fez surgir várias críticas, isso devido o documento
reafirmar os compromissos já firmados anteriormente e ainda não concretizados. Dessa forma,
o grande desafio para o desenvolvimento sustentável, atualmente, é a dificuldade de os
responsáveis executarem ações já estabelecidas, de maneira eficiente (FERREIRA, 2013).
Por sua vez, o Brasil em busca a um alinhamento com os países desenvolvidos,
objetivando o crescimento econômico, fez-se presente nos eventos internacionais e marcos do
desenvolvimento sustentável, onde, firmou compromissos com vistas ao desenvolvimento
sustentado.
O desenvolvimento sustentável e as Instituições de Ensino Superior
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1.2 PRINCIPAIS LEGISLAÇÕES AMBIENTAIS VIGENTES NO BRASIL
Como mencionado na seção anterior, no Brasil, a política ambiental se desenvolveu
em decorrência às exigências impulsionadas pelos movimentos internacionais ambientalista,
iniciado na década de 60 e que teve destaque em 1972, com a Conferência de Estocolmo.
Entretanto, nesse momento, o posicionamento do país não foi a priorização do meio ambiente,
visto que, isto implicaria diretamente no seu principal objetivo de crescimento econômico
(PECCATIELLO, 2011).
Contudo, tentando cumprir seu papel, o governo brasileiro gradativamente aperfeiçoa
as legislações existentes e institui novas. Dentre todas as medidas adotadas, o marco para a
legislação ambiental brasileira foi a positivação da Constituição Federal (1988, Art. 225), que
prevê: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum
do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
Conforme destaca Peccatiello (2011), a realização da Rio-92, teve uma implicação
direta e positiva, pois o evento possibilitou o enfrentamento da crise ambiental
concomitantemente à retomada do desenvolvimento econômico do país. Nesse momento, foi
criada a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República, que mais tarde se
transformou no Ministério do Meio Ambiente, este, tem entre suas diretrizes, a orientação
quanto às políticas públicas brasileiras, tendo por base, o desenvolvimento sustentável.
Ainda dentro do contexto do direito ambiental, Resende et al. (2011) ressaltam que a
legislação brasileira é uma das mais completas do mundo, mesmo não sendo cumprida
adequadamente e caso haja um controle eficaz, certamente a preservação do extenso
patrimônio ambiental existente em território brasileiro será alcançada.
Ao discorrer sobre os instrumentos legais, a fim de demonstrar à diversidade formal,
são descritas no Quadro 1 apenas algumas das principais legislações vigentes no Brasil acerca
do assunto, as quais foram selecionadas pela importância e aplicabilidade na administração
pública.
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
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Quadro 1 – Principais Legislações ambientais vigentes no Brasil Leis Descrição
6938/1981 Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente.
8666/1993 Institui normas para licitações e contratos da Administração Pública.
9433/1997 Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos.
9605/1998 Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e
atividades lesivas ao meio ambiente.
9795/1999 Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação
Ambiental.
10257/2001 Estabelece diretrizes gerais da política urbana.
11445/2007 Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico.
12305/2010 Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
12651/2012 Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa. Revogou a Lei 4.771/1965 -
Código Florestal, entre outras. Fonte: CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA (2017).
Nota: Adaptado pelo autor.
As legislações descritas apontam momentos importantes para a questão ambiental,
dentre eles, quando houve em 1965, a instituição do código florestal definindo as florestas
brasileiras como bens de interesse comum a todos os habitantes do país, Lei 4.771 (BRASIL,
1965), um dos primeiros passos em termos de legislação ambiental no Brasil. Em 2012, a Lei
12.651, revogou a legislação anterior e trouxe a disposição sobre a proteção da vegetação
nativa, de áreas de preservação permanente e das áreas de reserva legal, tendo como objetivo
principal o desenvolvimento sustentável (BRASIL, 2012b).
Destaca-se como ponto inicial para incorporação do tema nas atividades de diversos
setores da sociedade, a Lei 6.938 que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente
(PNMA) em seu artigo 5º diz: “As diretrizes da Política Nacional do Meio Ambiente serão
formuladas em normas e planos, destinados a orientar a ação dos Governos [...] no que se
relaciona com a preservação da qualidade ambiental e manutenção do equilíbrio ecológico
[...]” (BRASIL, 1981). Desse modo, segundo Costa (2010) as atividades organizacionais,
públicas ou privadas, deverão ser desempenhadas de acordo com essas diretrizes.
Ressalta-se que a PNMA instituiu a responsabilidade ao poluidor, devendo este,
reparar os danos causados ao meio ambiente (BRASIL, 1981). E ainda, prevê que os órgãos e
entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como as
fundações instituídas pelo poder público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade
O desenvolvimento sustentável e as Instituições de Ensino Superior
20
ambiental, constituirão o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), tendo o
Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), como órgão consultivo e deliberativo
(BRASIL, 1981), o que possibilitou um melhor gerenciamento das questões ambientais no
país.
Dentre os instrumentos da PNMA destacamos o estabelecimento de padrões de
qualidade ambiental, a avaliação de impactos, o licenciamento e revisão de atividades efetiva
ou potencialmente poluidoras, as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não
cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental.
(BRASIL, 1981). Foi posteriormente instituída, a Lei de Ação Civil Pública nº. 7.347, com o
objetivo de disciplinar a ação civil de responsabilidade por danos ao meio ambiente
(BRASIL, 1985).
Vale destacar também, a Lei 8.666 que instituiu normas para licitação e contratos,
dentre as quais, está a exigência de previsão do impacto ambiental, como requisito, nos
projetos básicos e projetos executivos de obras e serviços (BRASIL, 1993). Seguindo essa
linha, cabe à administração pública o dever de garantir a sustentabilidade nas obras e serviços
de engenharia, determinando aos licitantes que evitem ou reduzam os impactos ambientais
durante a execução dos serviços, estabelecendo na abertura do certame licitatório, que o
projeto básico a ser elaborado na fase interna do processo de contratação atenda ao adequado
tratamento do impacto ambiental do empreendimento, conforme previsto na mesma lei e em
observância as leis n° 9.605/98, n° 6.938/81 (NASCIMENTO; OLIVEIRA, 2015).
Vale citar a Instrução Normativa nº 01/2010, que dispõe sobre os critérios de
sustentabilidade ambiental na aquisição de bens, contratação de serviços ou obras pela
Administração Pública Federal. Tal instrumento reforça a orientação sobre os requisitos de
sustentabilidade que podem constar nos editais de licitações, como por exemplo, a utilização
de tecnologias e materiais que diminuam o impacto ambiental, a preferência na aquisição por
produtos certificados pelo INMETRO, entre outros (MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO,
ORÇAMENTO E GESTÃO - MPOG, 2010).
Não menos importante, a Lei 9.433 estabeleceu a Política Nacional de Recursos
Hídricos, que criou o Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos
(SINGREH), o qual apresenta, dentre outras, a definição de que a água é um bem de domínio
público e um recurso natural limitado, devendo assim, ser utilizada racionalmente priorizando
sempre o atendimento do coletivo (BRASIL, 1997). Dessa forma, a política visa à utilização
sustentável da água, e busca garantir às atuais e futuras gerações, a disponibilidade hídrica
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
21
com qualidade adequada para o consumo (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE - MMA,
2009).
A Lei 9.605 estabeleceu as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e
atividades lesivas ao meio ambiente, atribuiu à responsabilidade não apenas ao indivíduo que
praticou crime ambiental, mas na medida da culpabilidade, comina também a pessoa física ou
jurídica (diretor, administrador, auditor, gerente, preposto ou mandatário de pessoa jurídica)
que, tendo conhecimento da conduta criminosa, não impediu a sua prática quando podia agir
para evitá-la, e ainda, responsabilizou administrativa, civil e penalmente a pessoa jurídica que
cometer crimes ambientais quando no interesse ou benefício da entidade (BRASIL, 1998).
Com vistas à conscientização da população sobre a importância da conservação do
meio ambiente, foi instituída a Lei 9.795 que dispõe sobre a educação ambiental e a Política
Nacional de Educação Ambiental, firmando como parte do processo educativo o direito à
educação ambiental, incumbindo, dentre outros, às instituições educativas a responsabilidade
de promover a educação ambiental de maneira integrada aos programas educacionais, e, às
empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas, a responsabilidade de
promoverem programas destinados à capacitação dos trabalhadores (BRASIL, 1999). Prevê
ainda que: “A educação ambiental será desenvolvida como uma prática educativa integrada,
contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal” (BRASIL, 1999,
Art. 10).
Em consonância à necessidade de integrar os assuntos pertinentes ao meio ambiente e
desenvolvimento sustentável, em 2001, fora positivada a Lei nº 10.257, conhecida como
Estatuto das Cidades, que regulamenta o capítulo de política urbana da Constituição Federal
(Art. 182 e 183) e estabelece diretrizes gerais para a política urbana, dispondo que a
propriedade pública das cidades deve ser usada visando o bem coletivo, a segurança e o bem-
estar da população e o equilíbrio com o meio ambiente (BRASIL, 2001). Dessa forma, a
política urbana deve garantir o desenvolvimento das atividades sociais, contudo, deve evitar a
poluição e a degradação ambiental (MMA, 2009).
Destaca-se ainda, a Lei nº 11.445, que estabeleceu as diretrizes nacionais para o
saneamento básico e a política federal de saneamento básico, que versa sobre a elaboração do
Plano Nacional de Saneamento Básico (PNSB), onde há a inclusão de planejamento das ações
voltadas para o abastecimento de água potável, esgoto sanitário, limpeza urbana, manejo de
resíduos sólidos, e, drenagem e manejo de águas pluviais urbanas (BRASIL, 2007).
Outra importante determinação está na Lei 12.305, que instituiu a Política Nacional de
Resíduos Sólidos (PNRS), tal regulamentação é aplicável a todas as formas de organizações,
O desenvolvimento sustentável e as Instituições de Ensino Superior
22
inclusive para os cidadãos comuns e apresenta como princípio a atribuição da
responsabilidade compartilhada (entes federados, setor privado e cidadãos), onde cada um
passou a ser responsável pela gestão ambientalmente correta dos resíduos sólidos
provenientes de suas atividades (BRASIL, 2010). Portanto, as instituições públicas devem
cumprir a PNRS na elaboração e implementação de um plano de gerenciamento de resíduos
sólidos (FERRARI et al., 2015).
Além de leis, existem outros mecanismos como decretos emitidos pela presidência da
república brasileira que dispõem sobre ações que visam o desenvolvimento sustentável. O
Quadro 2 mostra aqueles que merecem destaque, pois versam sobre a organização da
administração pública.
O Decreto 99.658, regulamenta as formas de desfazimento de material pela
Administração Pública Federal, dispondo sobre o seu reaproveitamento, movimentação,
alienação, entre outras formas, bem como sobre a cessão dos materiais ociosos e passíveis de
recuperação para outro órgão que precise (BRASIL, 1990). Tal legislação contribui para a
questão ambiental, prevendo que, quando um material se tornar inutilizável, devem ser
retiradas as partes economicamente aproveitáveis, caso existam, que serão incorporados ao
patrimônio, contudo, ainda se percebe a dificuldade de aplicação da logística reversa, ou seja,
o retorno dos materiais reaproveitáveis ao ciclo de produção (RIBEIRO; REIS; RIBEIRO,
2016).
Quadro 2 – Principais Decretos brasileiros que estabelecem medidas sustentáveis
Decretos Descrição
99658/1990 Regulamenta, no âmbito da Administração Pública Federal, o
reaproveitamento, a movimentação, a alienação e outras formas de
desfazimento de material.
5450/2005 Regulamenta o pregão, na forma eletrônica, para aquisição de bens e serviços
comuns.
5940/2006 Institui a separação dos resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e
entidades da administração pública federal direta e indireta.
7746/2012 Regulamenta o art. 3º da Lei no 8.666/1993, estabelece critérios, práticas e
diretrizes para a promoção do desenvolvimento nacional sustentável nas
contratações realizadas pela administração pública federal. Fonte: Brasil (2017).
Nota: Adaptado pelo autor.
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
23
O Decreto 5.450 regulamenta o pregão, na forma eletrônica, para aquisição de bens e
serviços comuns aos órgãos subordinados à União (BRASIL, 2005). Tal medida proporcionou
aos processos de aquisição e contratação de serviços pela administração pública, mais
agilidade e eficiência, garantindo maior economia, ampla concorrência atendendo ao princípio
da publicidade dentro do direito administrativo, além de reduzir o tempo e despesas com
deslocamento evocando o princípio da eficiência (PEDROSO, 2016).
Já o Decreto 5.940 reitera a importância da inserção do gerenciamento de resíduos na
administração pública, instituindo a separação dos resíduos recicláveis descartados pelos
órgãos e entidades da administração pública federal direta e indireta, na fonte geradora, e a
sua destinação às associações e cooperativas de catadores de materiais recicláveis, bem como,
determina a constituição de uma comissão responsável pela Coleta Seletiva Solidária em cada
órgão (BRASIL, 2006).
Enquanto o Decreto 7.746, regulamenta aquilo previsto no Art. 3 da Lei 8.666, ao
estabelecer critérios, práticas e diretrizes para a promoção do desenvolvimento nacional
sustentável nas contratações realizadas pela administração pública federal, institui a Comissão
Interministerial de Sustentabilidade na Administração Pública (CISAP), com o objetivo de
propor ações à logística sustentável (BRASIL, 2012a).
O referido decreto estabeleceu também o dever da administração pública federal de
elaborar e implementar Planos de Gestão de Logística Sustentável (PLS), que precisa conter o
levantamento de bens e materiais do órgão apontando itens similares de menor impacto
ambiental para substituição, informar as práticas de sustentabilidade e de racionalização do
uso de materiais e serviços, definir a responsabilidade e metodologia de implementação e de
avaliação do plano, e definir ações para divulgação, conscientização e capacitação (BRASIL,
2012a). O PLS é uma ferramenta que permite ao órgão ou entidade estabelecer práticas de
sustentabilidade e racionalização de gastos e processos na administração pública,
regulamentado pela Instrução Normativa nº 10 que estabelece regras para sua elaboração
(MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO - MPOG, 2012).
Por sua vez, o CONAMA, órgão responsável por deliberações relativas à proteção
ambiental e ao uso sustentável dos recursos ambientais, institui medidas, por meio de
Resoluções, normativas sobre o assunto, o Quadro 3 traz uma breve apresentação de algumas
das principais que são aplicáveis também às instituições de ensino.
O desenvolvimento sustentável e as Instituições de Ensino Superior
24
Quadro 3 – Principais Resoluções do CONAMA que estabelecem medidas sustentáveis Resoluções Descrição
275/2001 Estabelece código de cores para diferentes tipos de resíduos na coleta seletiva.
307/2002 Estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da
construção civil.
358/2005 Dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos resíduos dos serviços de
saúde.
401/2008 Estabelecem os limites máximos de chumbo, cádmio e mercúrio para pilhas e
baterias.
416/2009 Dispõe sobre a prevenção à degradação ambiental causada por pneus
inservíveis.
422/2010 Estabelece diretrizes para as campanhas, ações e projetos de Educação
Ambiental. Fonte: CONAMA (2017). Nota: Adaptado pelo autor.
A Resolução 275 estabeleceu o código de cores para diferentes tipos de resíduos na
coleta seletiva, sendo sua adoção determinada para os órgãos públicos e recomendada para os
setores privados, definindo as cores da seguinte forma: azul para papel e papelão, vermelho
para plástico, verde para vidro, amarelo para metal, preto para madeira, laranja para resíduos
perigosos, branco para os resíduos ambulatoriais e de serviços de saúde, roxo para os resíduos
radioativos, marrom para resíduos orgânicos e, a cor cinza para resíduo geral não reciclável
ou misturado, ou contaminado não passível de separação (CONSELHO NACIONAL DO
MEIO AMBIENTE - CONAMA, 2001).
Já a Resolução 307, posteriormente alterada pela Resolução 469/2015, estabeleceu
diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil e divide-os
em quatro classes e orienta sobre o seu armazenamento, na classe A estão os resíduos
reutilizáveis ou recicláveis como agregados (tijolos, telhas, etc.), na classe B estão os resíduos
recicláveis para outras destinações (plásticos, papel, etc.), na classe C estão os resíduos para
os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que
permitam a sua reciclagem/recuperação (produtos oriundos do gesso) e, na classe D estão os
resíduos perigosos oriundos do processo de construção (tintas, solventes, etc.) (CONSELHO
NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA, 2002).
Quanto ao gerenciamento dos resíduos provenientes dos serviços de saúde obedece à
Resolução 358, que dispõe sobre o tratamento e a destinação final desses, aplicando-se a
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
25
todos os serviços relacionados ao atendimento à saúde humana ou animal, público ou privado
(CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA, 2005). E ainda, estão
sujeitos às medidas gerenciáveis o que inclui, o descarte de chumbo, cádmio e mercúrio para
pilhas e baterias comercializadas em território nacional, e que devem obedecer ao previsto na
Resolução 401, que estabelece os limites máximos de cada substancia em pilhas e baterias,
bem como, os critérios e padrões para o seu gerenciamento ambientalmente adequado
(CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA, 2008).
E, considerando a utilização de veículos pela maioria das instituições de ensino,
destaca-se, a Resolução 416, que versa sobre a prevenção à degradação ambiental causada por
pneus inservíveis quanto a sua destinação ambientalmente adequada, estabelecendo que os
distribuidores, os revendedores, os destinadores, os consumidores finais de pneus e o Poder
Público deverão, em articulação com os fabricantes e importadores, implementar os
procedimentos para a coleta dos pneus inutilizáveis existentes no país (CONSELHO
NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA, 2009).
Não obstante, a Resolução 422 estabeleceu diretrizes para conteúdos e procedimentos
em ações, projetos, campanhas e programas de informação, comunicação e educação
ambiental no âmbito da educação formal e não formal realizada por instituições públicas,
privadas e da sociedade civil (CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE -
CONAMA, 2010).
O CONAMA ainda, por meio da Recomendação 12, indica aos órgãos que compõem o
SISNAMA, a adoção de normas e padrões de sustentabilidade norteando assim, a aquisição,
utilização, consumo e gestão de recursos e bens públicos, devendo observar o uso racional dos
recursos naturais e bens públicos, a gestão adequada dos resíduos gerados, a qualidade de vida
no ambiente de trabalho, a sensibilização e capacitação dos servidores, e as licitações e as
construções sustentáveis. Recomenda também, a constituição de uma comissão interna para
implementação das medidas acima mencionadas, cujos objetivos serão sensibilizar e
promover a capacitação dos servidores, realizar diagnósticos, elaborar e implementar projetos
e atividades, desenvolver processos de avaliação e monitoramento, e divulgar e tornar
públicos os resultados (CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA,
2011).
Dessa forma, é notório que o poder público é o principal gestor do processo de
desenvolvimento de práticas sustentáveis e caso haja um comprometimento para se fazer
cumprir as legislações vigentes no país e para, promover a sensibilização e o envolvimento
dos cidadãos, tendo como importante ponte as instituições de ensino, as ações sustentáveis
O desenvolvimento sustentável e as Instituições de Ensino Superior
26
poderão ocorrer naturalmente. Assim, a seção seguinte abordará a sustentabilidade e as
instituições de ensino superior.
1.3 SUSTENTABILIDADE E AS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR
Desde o início das preocupações internacionais com o meio ambiente, as Instituições
de Ensino Superior (IES) são lembradas, sendo de fato referenciada à sustentabilidade no
ensino superior, no Relatório da Conferência sobre Meio Ambiente Humano das Nações
Unidas, em Estocolmo (PACHECO, 2016). O princípio 19 do referido documento,
estabeleceu que a educação ambiental devesse ser inserida, desde as séries iniciais
acompanhando o indivíduo até a fase adulta, ensino superior, visando à construção de um
comportamento voltado à proteção do meio ambiente nas pessoas, nas organizações e em seus
dirigentes (VIEGAS; CABRAL, 2015).
A partir de então, vários documentos abordam a educação como peça chave para o
desenvolvimento sustentável e adoção de práticas sustentáveis. No Brasil, o Artigo 10 da Lei
9.795/1999, dispõem sobre a educação ambiental, inserindo-a como uma prática educativa
integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal. E ainda,
a Resolução 422 do CONAMA regulamentou a abordagem do tema em todas as instituições
de ensino, públicas e privadas, formais e não formais (CONAMA, 2010).
Dessa maneira, a sustentabilidade é abordada em educação ambiental visando
construir valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências com foco na
proteção ambiental, buscando desenvolver um entendimento integrado do meio ambiente,
adotando uma visão holística, que analisa a interação existente entre o meio natural,
socioeconômico e cultural (MMA, 2009).
Observa-se que a preocupação com a questão ambiental aumentou tanto em nível
global quanto nacional, é, portanto, coerente que as IES sofram uma crescente pressão para
que ocorram mudanças que visem a adoção de práticas sustentáveis, despertando-as para a
gestão ambiental (FEIL; STRASBURG; NAIME, 2015). Isso porque, as IES são centros de
difusão do conhecimento e formam os tomadores de decisão através da educação. Além disso,
por meio de suas práticas diárias, transmitem ações e exemplos de sustentabilidade à
sociedade (KRUGER et al., 2011).
Segundo os mesmos autores, a Constituição Federal faz referência, no artigo 207, às
universidades como àquelas que “gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de
gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino,
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
27
pesquisa e extensão”. Assim, as IES devem atuar de modo a estender o ensino da educação
ambiental às suas atividades de pesquisa e extensão.
Com isso, assumem um papel de destaque no processo de desenvolvimento
tecnológico, na formação dos cidadãos e futuros profissionais, bem como, na disseminação de
informações e conhecimentos, o que é fundamental e deve ser utilizado para construir o
desenvolvimento de uma sociedade sustentável e justa. Para isso, é essencial que sejam
adotados princípios e práticas de sustentabilidade que promovam a conscientização de todos
os seus integrantes, o que inclui os docentes, técnicos e discentes, e ainda, insiram tais
práticas na tomada de decisão e no planejamento de suas ações e atividades (TAUCHEN;
BRANDLI, 2006).
Destaca-se ainda a importância do incentivo às pesquisas que abordem o tema, como
também a sensibilização da comunidade local por meio da extensão universitária, cumprindo
assim, o princípio da indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão, agregando a estes o
papel da gestão.
Destarte, a inclusão dos objetivos de sustentabilidade nos programas de educação,
pesquisa e difusão de conhecimentos é fundamental, e deve abranger também a formação das
políticas internas da instituição (BRANDLI et al., 2008), de modo que os elementos de
sustentabilidade se comuniquem e interajam entre si.
Assim, o papel das IES quanto às práticas de sustentabilidade e o desenvolvimento
sustentável, envolvem questões de educação que se inter-relacionam com os elementos
presentes nas áreas de ensino, pesquisa, extensão e gestão. Conforme apontam Tauchen e
Brandli (2006) existem duas correntes de pensamento referente ao papel das IES com o
desenvolvimento sustentável. A primeira destaca a educação como sendo fundamental para a
contribuição da instituição na formação e qualificação de seus alunos, para que ao exercerem
suas profissões incluam em suas práticas a preocupação com o meio ambiente, enquanto a
segunda fala sobre a adoção, pelas IES, de Sistemas de Gestão Ambiental (SGA), partindo da
implementação de políticas institucionais voltadas a desenvolver ações sustentáveis, o que
deve-se inserir a avaliação e o monitoramento constante do uso dos recursos e seus
respectivos impactos, observadas as realidades de cada instituição.
Da mesma forma, as universidades possuem um papel relevante no processo de
transformação social, sendo essencial às mudanças quanto aos meios produtivos e de
consumo, o que tem se mostrado como uma constante e torna a sustentabilidade uma
tendência mundial (BRANDLI et al., 2008).
O desenvolvimento sustentável e as Instituições de Ensino Superior
28
Ao considerar que muitas das IES estão inseridas na administração pública brasileira,
elas herdam, por consequência, suas responsabilidades, tais como o cumprimento de metas e
determinações como a estabelecida pelo Decreto nº 7.746 que impõe o dever de elaborar e
implementar o Plano de Gestão de Logística Sustentável (BRASIL, 2012a) podendo para isso
observar outras iniciativas (MPOG, 2012) e/ou programas, dentre os quais, destaca-se a
Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P), projeto do Ministério do Meio
Ambiente, lançado em 1999, de adesão voluntária, que busca mudanças nos padrões de
produção e consumo, o que implica na adaptação da cultura institucional e de seus servidores,
de modo que, estes entendam e incluam princípios de gestão socioambiental em suas rotinas
diárias (MMA, 2009).
Desta forma, com intuito de orientar as instituições que não possuem uma gestão
integrada ao modelo de desenvolvimento sustentável, a A3P foi estruturada em cinco eixos
temáticos prioritários: uso racional dos recursos naturais e bens públicos, gestão adequada dos
resíduos gerados, qualidade de vida no ambiente de trabalho, sensibilização e capacitação dos
servidores e licitações sustentáveis. Com isso, àquelas que aderirem ao programa, ficam
incumbidas de promover a responsabilidade socioambiental como política governamental
integrando o desenvolvimento econômico ao desenvolvimento sustentável (MMA, 2009).
Em síntese, o papel das IES quanto às práticas sustentáveis inclui seus seguimentos
indissociáveis (ensino, pesquisa e extensão) e, adicionalmente, o papel da gestão como
percussor e mediador de tais iniciativas. Por isso, é indispensável a escolha de um modelo de
referência para as instituições de ensino, a fim de que sejam aplicadas práticas eco eficientes e
medidas ecologicamente corretas. Para isso, a A3P pode ser adaptada e inserida nesse
contexto, fundamentando ações para o cumprimento às determinações legais e estabelecendo
estratégias inovadoras associadas à adoção de critérios, princípios e diretrizes sociais e
ambientais.
REFERÊNCIAS AMANDIO, J. B. Desenvolvimento e meio ambiente: utopias, ideologias e possibilidades. Revista Formadores, v. 3, n. 1, p. 11-19, 2010. BRANDLI, L. L. et al. A sustentabilidade ambiental na infra-estrutura de um campus universitário: ações. Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído. (in Portuguese), 2008.
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
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MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
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MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
35
Capítulo 2
Mobilidade sustentável em um Campus Universitário
Pedro Henrique Freire Corrêa4
Ulysses Rodrigues Vianna5
1 INTRODUÇÃO
A dependência cada vez maior de veículos automotores traz inúmeras consequências à
qualidade de vida das pessoas, dentre as quais podemos destacar a poluição, mortes em
acidente de trânsito e perda de tempo em engarrafamentos. Para que se melhore a condição de
vidas nos centros urbanos, é preciso reduzir os impactos negativos decorrentes do uso de
automóveis nas cidades. Nesse sentido, faz-se necessário o desenvolvimento de projetos que
incentivem o uso de modais de transporte não motorizados e coletivos.
As universidades, enquanto centros de formação de cidadãos e prestadora de serviços
à sociedade, têm papel fundamental nesse cenário. Um de seus desafios é promover ações que
atendam ao ''tripé da sustentabilidade'', um conceito surgido de um estudo realizado por
Elkington (1994), o qual diz que ações sustentáveis precisam estar apoiadas em três
fundamentos básicos, ambiental, econômico e social.
Devem ser abordadas questões relativas à mobilidade de alunos e funcionários, não
deixando de lado a acessibilidade e a equidade, essenciais ao conceito de sustentabilidade. A
alta complexidade dos serviços contemplados numa universidade exige uma atenção especial
no que tange ao planejamento e as operações de transporte.
O papel de destaque assumido pelas Universidades no processo de desenvolvimento
tecnológico, na preparação de estudantes e no fornecimento de informações e conhecimento,
pode e deve ser utilizado também para construir o desenvolvimento de uma sociedade
sustentável. Nesse contexto, para que isso aconteça, torna-se indispensável que estas 4 Mestrando em Gestão Pública - Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: [email protected]; 5 Professor Adjunto do Departamento de Produção Vegetal - Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias e Engenharias, e-mail: [email protected].
Mobilidade sustentável em um Campus Universitário
36
organizações incorporem os princípios e as práticas da sustentabilidade, seja para iniciar um
processo de conscientização em todos os seus níveis, atingindo servidores e alunos, seja para
tomar decisões fundamentais sobre planejamento, treinamento, operações ou atividades
comuns em suas áreas físicas. Nesse aspecto, um destaque especial deve ser dado às
atividades de transporte, que geram uma série de efeitos diretos e indiretos na estrutura do
campus e também nas questões econômicas (STEIN, 2013).
No afã de resolver as questões da crescente demanda por transportes e proporcionar
melhoria na qualidade de vida urbana, se começa a trabalhar com o conceito de
Gerenciamento da Mobilidade. O conceito busca alternativas de transporte que reduzam os
efeitos negativos que este traz à população, estimulando a utilização de formas mais
sustentáveis de locomoção como o transporte público, o uso de bicicletas, viagens a pé e a
integração entre os diferentes sistemas, utilizando-se menores volumes de recursos
financeiros (PEREIRA; ARAÚJO; BALASSIANO, 2002).
O princípio básico do Gerenciamento da Mobilidade é criar estratégias para o
deslocamento de pessoas e de mercadorias de forma mais equilibrada em termos sociais,
econômicos e ambientais, empregando não só técnicas de engenharia, mas também,
ferramentas de apoio no campo organizacional da informação e da telemática (PORTO
JUNIOR, 2002).
1.1 MOBILIDADE SUSTENTÁVEL
Apesar das definições já aceitas e difundidas internacionalmente, o conceito de
mobilidade sustentável permanece extremamente dependente ao contexto a que se aplica. Em
função disso, cada país deverá trabalhá-lo em diferentes níveis, de modo a refletir suas
prioridades e as prioridades de suas diferentes regiões. Além disso, os sistemas de transportes
são complexos, e tal complexidade deriva das diferenças estruturais existentes, como também
das diferentes organizações envolvidas em seu planejamento e gestão. Esta complexidade é
agravada pela existência de diferentes modos e do papel que estes representam sistemas
regulatórios e de financiamento, tecnologias e modelos de uso do solo (RICHARDSON,
2005).
Atualmente, a dificuldade de mobilidade nos centros urbanos é uma questão das mais
relevantes na sociedade, devido aos inúmeros prejuízos financeiros, sociais e até mesmo de
saúde humana. Grande parte desse problema se dá pela falta de planejamento urbano em
longo prazo e pelo exacerbado uso de veículos individuais, em detrimento do transporte
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
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coletivo. É imprescindível, portanto, que se adotem medidas que garantam o acesso das
pessoas à suas atividades corriqueiras, como trabalho, educação e lazer, garantindo, além
disso, que haja menos poluição ambiental decorrente do uso excessivo de veículos
automotores.
1.2 GERENCIAMENTO DE MOBILIDADE
O processo de industrialização do século XX trouxe um acentuado aumento de
deslocamentos dentro das cidades. Cada cidade tem uma história distinta ligada às
características específicas de uma determinada sociedade, em um determinado tempo, bem
como às características geográficas. Diferentes alternativas foram encontradas por cada uma
das cidades existentes no mundo para melhorar o sistema de transporte e, dessa maneira,
reduzir os efeitos negativos que este traz à população (RIBEIRO et al., 2001).
Assim, nos anos 70 nasce nos Estados Unidos o conceito de Gerenciamento da
Demanda por Transporte (Transportation Demand Management - TDM), em que o enfoque
foi estimular as viagens coletivas para o trabalho, com um caráter obrigatório no começo.
Depois, nos anos 90, na Comunidade Europeia surge o Gerenciamento da Mobilidade
(Mobility Management - MM) com uma abordagem um pouco mais abrangente, em que a
estratégia era incentivar as mudanças comportamentais para os deslocamentos usando modos
mais sustentáveis de transporte (CÂMARA, 1998).
O TDM e o MM diferem ligeiramente em alguns pontos, mas seu objetivo básico os
une: atuar no Gerenciamento da Demanda por viagens, principalmente aquelas representadas
por veículos de passeio, os quais são os principais usuários dos espaços viários. Essa atuação
busca manter um ambiente mais limpo e melhorar a qualidade de vida entre outros avanços.
Poderia se dizer que uns dos focos principais de atenção do Gerenciamento têm sido as
viagens de ida e volta ao lugar de trabalho, as quais concentram um grande volume de
veículos (MIRANDA, 2002).
Assim sendo, o Gerenciamento da Mobilidade busca criar estratégias embasadas em
conhecimento técnico, experiência e informação. As medidas a serem adotadas deverão ser
estabelecidas de acordo com a particularidade de cada caso, levando-se em consideração
fatores como estrutura viária, relevo, cultura e vocação comercial, dentre outros.
Mobilidade sustentável em um Campus Universitário
38
1.3 MOBILIDADE EM CAMPI UNIVERSITÁRIO
Nunes e Jacques (2005) definem as Instituições de Ensino Superior (IES) como “pólos
geradores de viagens que causam forte impacto sobre a circulação de veículos e pedestres nas
vias próximas ao empreendimento. A compreensão do padrão das viagens realizadas pelos
frequentadores regulares das IES é um elemento fundamental para a análise efetiva desse
impacto”.
Segundo Silva (2009), as atuais necessidades de se limitar as emissões ambientais
derivadas do trânsito automóvel para garantir a qualidade do ar, combinada com a escassez do
solo em espaço urbano e à contenção de gastos no sistema rodoviário, sobretudo em parques
de estacionamento, refletem-se cada vez mais em políticas sobre a circulação e o
estacionamento de automóveis.
Uma vez que um campus universitário é um local onde são feitas pesquisas e são
desenvolvidas políticas sociais diversas, é imperioso que este sirva de exemplo para o
funcionamento das cidades de forma mais eficiente e sustentável. Como possuem
características variadas de circulação, chegadas e partidas muitas vezes semelhantes às
cidades, é possível que se apliquem medidas de Gestão de Mobilidade nesses ambientes,
desde que passem por ajustes criteriosos.
1.4 POLOS GERADORES DE VIAGENS
De acordo com a Companhia de Engenharia de Tráfego (1983), um Polo Gerador de
Viagem - PGV - pode ser classificado quanto à natureza e quanto ao impacto que causa no
sistema viário em função das atividades neles desenvolvidas. Quanto ao impacto os PGV’s
podem ser divididos em macropolos e micropolos. Macropolo é um empreendimento cujo
impacto causado é de uma magnitude tal que apenas a presença de um único polo deste tipo é
suficiente para causar impactos significativos no tráfego das vias em seu entorno, tais como
centros universitários, repartições públicas e shoppings centers. Os micropolos por sua vez,
são caracterizados como empreendimentos que não causam esse tipo de impacto
individualmente, entretanto, o agrupamento de micropolos pode causar bastantes transtornos.
Entre os micropolos estão bares, clínicas e pequenos estabelecimentos comerciais.
O Departamento Nacional de Trânsito (2001) define um PGV como empreendimento
de grande porte, que atraem ou produzem grande número de viagens, causando reflexos
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
39
negativos na circulação viária em seu entorno imediato e, em alguns casos, prejudicando a
acessibilidade da região, além de agravar as condições de segurança de veículos e pedestres.
Portugal e Goldner (2003), por sua vez, definem como locais ou instalações de distintas
naturezas que desenvolvem atividades de porte e escala capazes de produzir um contingente
significativo de viagens.
Recentemente, no Planejamento Urbano, um dos pontos mais importantes a ser tratado
é o aumento das taxas de viagens, o qual depende das atividades desenvolvidas pela
sociedade. Na medida em que estas atividades estão concentradas no espaço, como os
denominados Polos Geradores de Viagens (PGV’s), há uma tendência de mais viagens serem
produzidas. Essa característica se apresenta favorável à aplicação e ao desenvolvimento das
medidas do Gerenciamento da Mobilidade nestes lugares (PGV’s), embora, falte uma melhor
conscientização sobre a importância de seu tratamento.
1.5 DIAGNÓSTICO DO PROBLEMA
O Campus de Alegre da Universidade Federal do Espírito Santo é um grande polo
gerador de viagens. Estão lotados nessa instituição 231 professores; 133 servidores técnico-
administrativos em educação; 2.135 estudantes matriculados nos cursos de graduação; e 246
estudantes matriculados nos cursos de pós-graduação; os dados são de fevereiro de 2017.
Por esse motivo são observados congestionamentos nas vias de acesso, principalmente
nos períodos da troca de turno entre a manhã e a tarde, além do início da noite e a demanda
sempre crescente por vagas para estacionamento de automóveis e motocicletas.
O Centro surgiu da incorporação da antiga Escola Superior de Agronomia do Espírito
Santo (ESAES), uma autarquia subordinada à Secretaria de Estado da Educação, criada em 06
de agosto de 1969, pelo então Governador Christiano Dias Lopes Filho, passando a funcionar
em 18 de março de 1971. A primeira turma, constituída de 23 (vinte e três) engenheiros
agrônomos, colou grau em dezembro de 1974. Logo após, em janeiro de 1975, o curso de
Agronomia foi reconhecido pelo MEC.
A partir de 1976, a ESAES passou a denominar-se Centro Agropecuário da
Universidade Federal do Espírito Santo (CAUFES) e, a partir do ano de 2001, com a criação
de três novos cursos de graduação (Engenharia Florestal, Medicina Veterinária e Zootecnia),
o Centro Agropecuário passou a denominar-se Centro de Ciências Agrárias da UFES
(CCAUFES), recebendo uma nova estruturação jurídico-institucional. Em 2005, com o
Projeto de Expansão das Instituições Federais de Ensino, foram criados os cursos de Ciências
Mobilidade sustentável em um Campus Universitário
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Biológicas; Engenharia Industrial Madeireira; Engenharia de Alimentos; Geologia e Nutrição,
todos Bacharelados. Já em 2009, foram criados, com o Projeto REUNI – Reestruturação das
Universidades Brasileiras, os cursos de: Química; Física; Biologia; Matemática (Licenciatura)
e Ciência da Computação; Sistemas de Informação; Engenharia Química e Farmácia
(Bacharelado).
O Campus de Alegre é por diversas vezes palco de conflito entre pedestres e
motoristas, além do fato de ocorrerem muitas avarias nos veículos dos frequentadores da
universidade decorrentes de problemas de vagas subdimensionadas e escassas. A falta de
sinalização de trânsito, tanto horizontal como vertical contribui muito para o aumento desses
problemas. Ademais a rede viária e o espaço destinado a pedestres são por diversas vezes
confundidos, trazendo assim muitas dificuldades para o cotidiano na universidade.
O Campus em estudo apresenta ainda uma característica particular de ter sido
construído em um topo de morro, num terreno acidentado, em uma época em que a
mobilidade sustentável ainda não era discutida. Dessa forma, o acesso a essa região se tornou
ainda mais difícil com o passar do tempo, especialmente após o Programa de Expansão das
Universidades, iniciado em 2007, o qual acarretou em um aumento significativo do número
de alunos e servidores lotados na instituição.
É imprescindível que se crie uma cultura de mobilidade sustentável, portanto, nada
melhor que uma universidade para dar o primeiro passo rumo à quebra dos paradigmas
existentes quanto ao transporte de cargas e pessoas. Essa questão torna a pesquisa relevante
quanto aos interesses acadêmicos.
Não há dados sobre o total de vagas no campus, entretanto, informações da Prefeitura
Universitária dão conta que o número de veículos dentro da instituição já chegou a 230 em
uma terça-feira. Informações preliminares obtidas na própria prefeitura dão conta que, se
houvesse uma demarcação por meio de sinalização horizontal, o número de vagas regulares
seria de cerca de 130, comprovando um alto déficit.
2 BIBLIOGRAFIA SILVA, S. C. A. da Mobilidade Urbana Sustentável: O Campus da UTAD. 2009. Dissertação de Mestrado. BRASIL, Constituição. Departamento Nacional de Trânsito. Manual de Procedimentos para Tratamento de Pólos Geradores de Tráfego, 2001. COMPANHIA DE ENGENHARIA DE TRÁFEGO - CET. Polos geradores de tráfego. Boletim Técnico, v. 32, 1983.
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42
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
43
Capítulo 3
Eficiência no Serviço Público
Aline Carvalho Machado Nunes6
Ulysses Rodrigues Vianna7
Wendel Sandro de Paula Andrade8
1 INTRODUÇÃO
As organizações são ocupadas por diversos atores que precisam ter conhecimentos de
suas atividades, bem como capacidade de encaminhar soluções e propor mudanças, quando
necessário, a fim de intervir de forma criativa e eficiente. E muitas vezes, a ideia de mudança
causa resistência, seja por interesses pessoais, seja por barreiras administrativas na própria
instituição. O fato é que as organizações precisam modernizar e tornar os processos mais
ágeis, visto que são influenciadas por fatores internos e externos que as obrigam melhorar a
eficiência (fazer o certo mais rapidamente), serem mais eficazes (atingir o objetivo) e produzir
efetividade (proporcionar benefícios aos cidadãos).
Quando os atores envolvidos não estão comprometidos com os conceitos de eficiência
e eficácia há um impacto negativo na vida organizacional, o que, no âmbito do setor público,
culmina na má prestação de serviço. Visando mitigar esta questão, Pascarelli Filho (2013)
afirma que o Estado deve estimular inovações na administração pública, a fim de atender as
demandas da sociedade com serviços públicos de qualidade, atuando com transparência,
criatividade, eficiência, eficácia e efetividade.
A sociedade, por sua vez, muitas vezes se refere ao servidor público de modo a
desqualificá-lo, apresentando-o com estereótipos negativos. Consideram-no como sendo a
6 Mestranda em Gestão Pública - Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: [email protected]; 7 Professor Adjunto do Departamento de Produção Vegetal - Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias e Engenharias, e-mail: [email protected]; 8 Professor Adjunto do Departamento de Ciências Florestais e da Madeira - Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias e Engenharias, e-mail: [email protected].
Eficiência no Serviço Público
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pessoa privilegiada que ganha muito e trabalha pouco, caracterizando como público tudo que
é ineficiente, corrupto, sem controle e levado ao desperdício.
É verídico que alguns servidores públicos fazem jus a esse conceito, agindo de forma
desonesta e desinteressada com o que é público. Mas esse estereótipo dirigido ao servidor
público não pode ser generalizado, pois há muitos servidores públicos comprometidos em
atender a sociedade de forma eficiente, educada e objetiva. Contudo, também é verdadeiro,
que muitos dos servidores estão inseridos em um contexto de limitações, como restrições
orçamentárias, pouco recurso material e humano e falta de condições de trabalho adequadas, o
que contribui para a redução da eficiência no exercício de suas atividades.
1.2 A NOVA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
A administração pública gerencial surgiu na segunda metade do século XX, em
substituição à administração burocrática, como estratégia para reduzir custos e tornar mais
eficiente à administração do Estado. Essa mudança na administração teve como objetivo fazer
a transição entre um modelo rígido, ineficiente e que não enfatizava as demandas do cidadão,
para uma administração pública flexível e eficiente, voltada, principalmente, para o
atendimento ao cidadão e obtenção de resultados (PEREIRA, 2008). A nova administração,
também denominada “Nova Gestão Pública” (New Public Management), tem como
características a descentralização política e administrativa, possuindo poucos níveis
hierárquicos, boa flexibilidade organizacional, controle dos resultados e uma administração
voltada a excelência no atendimento ao cidadão.
O movimento em favor da reforma do setor público, na década de 80, ocorreu em todo
o mundo, com o empenho por parte dos governos em modernizar e tornar mais ágil a
administração pública, conceder aos serviços públicos maior eficiência, maior eficácia e
redução de custos, além de reduzir o tamanho do Estado no que diz respeito à administração
pública, independentemente de seu tamanho relativo (KETTL, 2006).
Há dois dilemas na reforma, o primeiro se refere à organização de governos que
funcionem melhor e custem menos, porém é mais difícil conseguir bons resultados em longo
prazo usando apenas táticas de cortar gastos em curto prazo; o segundo dilema refere-se à
decisão sobre o que o governo deve fazer com o que sobra após os cortes, já que muitas
reformas dedicam-se em identificar as partes do Estado que podem ser reduzidas, porém é
preciso conhecer a fundo os problemas (e não em partes) a fim de identificar o Estado que se
quer ter e o que fazer para que ele funcione; pois segundo KETTL (2006, p. 77) “Para se ter
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
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uma reforma efetiva e duradoura é preciso encontrar mecanismos que conciliem interesses
políticos imperativos de curto prazo e metas de longo prazo”.
O modelo de administração gerencial teve início no Reino Unido, e a partir de 1990
iniciou-se sua adoção no Brasil, assim como nos Estados Unidos, Espanha e Chile. Como
esses países têm cultura, administração pública e organizações muito diferentes, é importante
ressaltar a preocupação com a forte tradição patrimonialista presente no Brasil, podendo haver
a possibilidade de retrocesso do exercício patrimonial pré-burocrático (como nepotismo,
empreguismo e corrupção), já que a flexibilização na administração pública – uma das
características da nova administração – pode reduzir o controle organizacional
(ALCÂNTARA, 2009).
Quatro modelos da nova administração pública foram descritos por Ferlie (1999), após
estudos sobre a mudança no setor público da Grã-Bretanha, numa tentativa, inicialmente, de
se construir um modelo ideal da nova administração pública, todos com características
distintas entre si, porém distantes dos modelos clássicos, a saber:
a) Modelo 1: O impulso para a eficiência;
b) Modelo 2: Downsizing e descentralização;
c) Modelo 3: Em busca da Excelência;
d) Modelo 4: Orientação para o serviço público.
O primeiro modelo, O impulso para a eficiência, objetivou tornar o setor público mais
parecido com a iniciativa privada, porém os críticos o consideraram inadequado visto que não
considera as características distintas das organizações do setor público. Esse modelo se
caracterizou pela forte preocupação com a maximização do valor do dinheiro e com ganhos
em eficiência; administração hierarquizada; estilo de trabalho do tipo “comando e controle”;
claro estabelecimento de objetivos e monitoramento de desempenho; mentalidade mais
voltada para o mercado e orientação para o cliente; transferência do poder dos profissionais
para os administradores; entre outras características.
O modelo 2, Downsizing e descentralização, foi caracterizado pela busca por maior
flexibilidade organizacional; o abandono do alto grau de padronização; o aumento da
terceirização; mudança para estruturas organizacionais mais horizontalizadas; troca da forma
de gestão do tipo “comando e controle” do Modelo 1 para novos estilos gerenciais, como o
gerenciamento por influência; entre outros.
O modelo 3, Em busca da excelência, rejeita a racionalidade do modelo 1 e se
preocupa com o modo como as organizações administram a mudança e a inovação,
enfatizando a importância da cultura organizacional. Esse modelo pode ser subdividido em
Eficiência no Serviço Público
46
duas abordagens: de baixo para cima e de cima para baixo, sendo a primeira focada no
desenvolvimento organizacional e na aprendizagem, e a segunda com ênfase no papel da
liderança na condução dos processos de mudança.
O modelo 4, Orientação para o serviço público, é caracterizado pela preocupação com
a qualidade do serviço, em que se incorporam ideias de gestão dos setores público e privado,
ou seja, usa-se ideias do setor privado e aplica-as a um contexto específico do setor público.
A reforma da administração pública ocorreu em substituição à administração
burocrática baseada no princípio do mérito profissional, que por sua vez substituiu a
administração patrimonialista, em que patrimônio público e privado eram confundidos. No
Brasil, a proposta de administração pública gerencial surgiu devido a dois fenômenos
considerados causadores da redefinição das funções do Estado em todo o mundo: a
globalização da economia e a grande crise dos anos 80 (PEREIRA, 2006).
Houve uma necessidade, no Brasil, de reforma administrativa para melhoria no
funcionamento da administração, tornando-a mais eficiente e ágil, uma administração que
atendesse às necessidades da população de forma adequada. E a nova administração pública
foi então concretizada através da aprovação da Emenda Constitucional 19/1998 (BRASIL,
1998).
A busca pela eficiência no setor público e a revisão das atribuições do Estado
marcaram a administração pública gerencial, embora alguns princípios do modelo burocrático
(como impessoalidade, meritocracia e fidelidade às prescrições de cargos e regulamentos)
tenham sido preservados. Desta forma, houve melhorias estruturais, gerenciais e
orçamentárias, porém, foi observada certa desproporção entre o discurso e a prática
(OLIVEIRA, 2013). Ou seja, apesar de o modelo gerencial refletir a crise de governança do
Estado, não o tornou mais acessível aos cidadãos. E isso é hoje um desafio para autores que
estudam um novo modelo, o modelo societal de administração pública, que busca romper com
o exercício historicamente autoritário do poder público no Brasil, pois as relações entre sociedade e Estado são o foco da administração pública societal e de sua abordagem (estilo) de gestão: a gestão social. Nesse sentido, ela deve favorecer a inclusão de segmentos populares em rotinas públicas e, ainda, servir de referencial para os arranjos institucionais contemporâneos, concebidos para viabilizar o diálogo entre cidadãos, servidores públicos e governantes (OLIVEIRA, 2013, p. 29).
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
47
1.3 A EFICIÊNCIA COMO PRINCÍPIO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
A Administração Pública é regida pelos princípios da legalidade, da impessoalidade,
da moralidade e da publicidade, princípios esses constantes do artigo 37 da Constituição
Federal de 1988, que por sua vez têm como objetivo direcionar a administração pública
(BRASIL, 1988).
A Emenda Constitucional nº 19, de 04 de junho de 1998 (BRASIL, 1998), introduz o
princípio de eficiência junto aos princípios da Administração Pública, estabelecendo que os
objetivos devam ser atingidos de forma mais rápida e eficaz, aumentando a qualidade dos
serviços e reduzindo os custos, surgindo à necessidade de uma postura diferente por parte dos
servidores públicos, tornando-os comprometidos com os interesses da sociedade. Esta
eficiência se contrapõe à lentidão, à omissão e ao descaso, que são até então características
habituais em grande parte da Administração Pública no Brasil, e fazem com que a figura do
servidor público fique condicionada a esses conceitos.
O princípio da eficiência impõe à Administração pública atividade de cunho imparcial,
neutro, transparente, eficaz e sem burocracia, primando por critérios legais e morais para
melhor utilização dos recursos públicos, evitando-se assim o desperdício e garantindo-se
maior rentabilidade social (MORAES, 2003), a fim de alcançar os melhores resultados na
prestação de serviço público, seja pelo aspecto referente ao modo de atuação do agente
público (do qual se espera o melhor desempenho possível), seja pelo aspecto referente ao
modo de organizar, estruturar e disciplinar a Administração Pública (CAMARGO;
GUIMARÃES, 2013).
1.4 EFICIÊNCIA, EFICÁCIA E EFETIVIDADE
A importância de discutir sobre eficiência no setor público ganhou ênfase durante o
movimento Nova Administração Pública (New Public Management), quando a busca por
melhores resultados, a responsabilidade e a prestação de contas aos cidadãos assumiram
papéis de destaque. Dessa forma, eficiência foi considerada como a obtenção de melhor
desempenho em determinada atividade a partir de uma quantidade de recursos que se
escasseiam (SANTOS; CARVALHO; BARBOSA, 2016), dessa forma relaciona-se com os
meios e não com os fins (PENA, 2008).
Eficiência no Serviço Público
48
É importante não confundir o conceito de eficiência com o de eficácia nem de
efetividade. A eficácia implica em escolher os objetivos certos, a escolha de um objetivo
inadequado ou o não alcance dos objetivos adequados torna a decisão ineficaz, mesmo que
tenha havido a melhor relação custo benefício; quando as organizações são eficientes e
eficazes prevalece à efetividade (PENA, 2008).
De acordo com Gomes (2009), entende-se eficiência como a relação entre os objetivos
atendidos e os recursos utilizados; e eficácia como a prova de que os objetivos foram
alcançados com a qualidade esperada; e efetividade avalia se os resultados pretendidos foram
atingidos sem levar em conta os recursos despendidos. Ainda segundo Gomes (2009, p. 21),
“embora seja possível ser eficaz ou efetivo e não ser eficiente, não é possível ser eficiente e
não ser eficaz ou efetivo”.
Segundo Chiavenato (2003), eficiência refere-se aos meios durante o processo que
antecede o resultado, que é a eficácia; porém nem sempre eficiência e eficácia andam juntas,
embora fosse melhor que andassem, mas segundo o autor, uma organização pode ser
ineficiente em suas atividades e mesmo assim, ser eficaz, ou vice-versa; sendo igualmente
eficiente e eficaz dá-se o nome de excelência.
Avaliar a efetividade sugere analisar a relação entre a implementação de determinado
programa ou ação e seus impactos, por exemplo, um programa de vacinação poder ser eficaz e
atingir satisfatoriamente a meta de vacinação, mas pode não ter seus resultados esperados
bem-sucedidos, ou seja, da possibilidade de efetivamente reduzir a incidência de determinada
doença a que se propunha erradicar (ARRETCHE, 1998).
1.5 EFICIÊNCIA NAS INSTITUIÇÕES UNIVERSITÁRIAS
Assim como as demais organizações, as instituições universitárias estão submetidas às
mesmas exigências de eficiência e eficácia e buscam prestar serviços com competência e
qualidade. A gestão dos cursos universitários necessita de pessoas com competência para
administrar suas funções; e uma dessas funções é a coordenação de curso.
As instituições de ensino superior devem valorizar e promover suporte aos
coordenadores de curso, pois estes são os responsáveis em administrar, dirigir e coordenar os
cursos de graduação. Dessa forma, é uma função muito importante para a efetivação de um
ensino de qualidade; concilia a gestão administrativa, pedagógica, acadêmica e científica
(PALMEIRAS; SZILAGYI, 2011).
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
49
“O coordenador é um ator educativo fundamental para o sucesso da IES, já que, mediante seu engajamento, sua participação e seu compromisso, ele busca coordenar e centralizar as configurações da instituição e do grupo, assegurando os ideais e os princípios educativos” (MARQUESI; PENTEADO; BAPTISTA, 2015, p. 9).
Não há um modelo de coordenação, cada coordenador traz consigo conceitos, valores
e sentimentos próprios que determinam a forma de relacionar-se com as outras pessoas e com
as situações, devido a vivências anteriores ou qualquer outro fator. O fato é que durante o
tempo em que assume a função de coordenador de curso, ele passa por experiências que o
tornará mais seguro para executar suas tarefas, ou seja, aprende na prática, ou então aprende
através da experiência de coordenadores de outros cursos ou do coordenador que o antecedeu,
já que é carente de preparação adequada para assumir a função de dirigente de um curso.
A nomeação de um professor para exercer o cargo de coordenador de curso o concede
muitas atribuições e responsabilidades, mas não o capacita. O professor nomeado para
desempenhar a função de coordenador de curso pode desenvolver muito bem seu papel, desde
que tenha suporte e apoio, tanto administrativo quanto pedagógico, afinal, se ele foi eleito ou
indicado por seus pares é porque demonstra capacidade e dinamismo para tal função. Por
mais capacitado e seguro que o professor na função de coordenador esteja, seu mandato é por
tempo determinado e após seu término, outro professor passará pelos mesmos desafios,
portanto o apoio administrativo-pedagógico por parte de servidores técnico-administrativos é
muito importante, pois estes não têm tempo de mandato e podem dar continuidade ao trabalho
do coordenador de curso quando da troca de mandato.
Entende-se que o coordenador de curso precisa contar com um serviço de apoio
administrativo com pessoas capacitadas para que ele possa utilizar seu tempo nas atividades
que são realmente específicas de seu cargo, afinal a coordenação de curso é, efetivamente, o
setor responsável pela gestão e pela qualidade do curso. Não se pode minimizar as funções do
coordenador de curso e seus encargos por não lhe conferirem as adequadas condições de
trabalho.
Barreiros e Godoy (2011) relacionam a pressão exercida sob o coordenador à pressão
exercida aos profissionais que atuam nas grandes empresas, onde há cobranças de prazos e
metas que devem ser cumpridos eficientemente. Segundo os autores, competências
acadêmicas apenas não são mais suficientes, é preciso que o coordenador tenha visão futurista
para controlar e evitar a evasão, já que é considerado o profissional determinante para o
sucesso ou o fracasso do curso.
Eficiência no Serviço Público
50
Além do domínio teórico e prático, a área do coordenador necessita de competências
pessoais como: responsabilidade, ética, comprometimento, profissionalismo, pontualidade,
assiduidade, assimilação das rotinas de trabalho, disponibilidade para acatar ordens, bom
relacionamento e interação, capacidade argumentativa e desempenho na relação interpessoal
(MARQUESI; PENTEADO; BAPTISTA, 2015).
3 REFERÊNCIAS ALCÂNTARA, C. M. Fundamentos da Administração Pública e Novos Modelos de Gestão em Saúde. In: MOYSÉS, S. J.(Org); GOES, P. S. A de. (Org.). Planejamento, Gestão e Avaliação em Saúde Bucal. São Paulo: Artes Médicas, 2009. p. 83-92. ARRETCHE, M. T. S. Tendências no estudo sobre avaliação. In: RICO, E. M. (org.). Avaliação de Políticas Sociais: uma questão em debate. São Paulo: Cortez, 1998, p. 29-49. BARREIROS, M. G., GODOY, V. A. A Gestão de um curso superior: desafios ou frustrações? Intraciência, v. 3, n. 3, p. 61-85, 2011. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 292 p. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc19.htm>. Acesso em: 21 abr. 2017. BRASIL. Emenda Constitucional nº 19, de 04 de junho de 1998. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasilia, 5 jun. 1998. Seção 1, p. 1. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc19.htm> Acesso em: 20 abr. 2017. CAMARGO, F. de O.; GUIMARÃES, K. M. S. O Princípio Da Eficiência Na Gestão Pública. Revista CEPPG-CESUC-Centro de Ensino Superior de Catalão, v. 16, n. 28, p. 133-145, 2013. CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração.7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. FERLIE, E. A Nova Administração Pública em Ação. Brasília: Universidade de Brasília, ENAP, 1999. 468p. GOMES, E. G. M.. Gestão por Resultados e eficiência na Administração Pública: uma análise à luz da experiência de Minas Gerais. São Paulo: EAESP/FGV, 2009, 187 p. Tese (Doutorado em Administração Pública e Governo) EAESP/FGV, Área de Concentração: Transformações do Estado e Políticas Públicas. 2009. KETTL, D. F. A Revolução Global: Reforma da Administração do Setor Público. In: PEREIRA, L. C. B. (Org); SPINK, P. (Org). Reforma do Estado e administração pública gerencial. 7. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2006. p. 75-121.
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
51
MARQUESI, D. F. B.; PENTEADO, A. F.; BAPTISTA, D. C. O coordenador de curso da Instituição de Ensino Superior: atribuições e expectativas. Revista de Educação, v. 11, n. 12, 2015. MORAES, A. de. Direito constitucional. 13. São Paulo: Atlas, 2003. OLIVEIRA, V. C. S. Modelos de Administração Pública. In: SANABIO, M. T.(Org.); SANTOS, G. J. dos (Org.); DAVID, M. V. (Org.). Administração Pública Contemporânea: política, democracia e gestão. Ed. UFJF, 2013. p. 09-34. PALMEIRAS, J. B.; SZILAGYI, R. S. Perfil e competências necessários para um coordenador de curso na percepção dos gestores e funcionários de uma IES. 2011. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/26146> Acesso em 13 jun. 2017. PASCARELLI FILHO, M. A nova administração pública: profissionalização, eficiência e governança. DVS, 2013. Disponível em: <https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=lang_pt&id=xGqwDQAAQBAJ&oi=fnd&pg=PA11&dq=Pascarelli+2011&ots=dPHnyg3gug&sig=3VXlt-YeDd8LJltOjTGNmiGv7ak#v=onepage&q=Pascarelli%202011&f=false>. Acesso em: 26 abr. 2017. PENA, C. R. Um modelo de avaliação da eficiência da administração pública através do método análise envoltória de dados (DEA). Revista Administração Contemporânea, v. 12, n. 1, p. 83-106, 2008. PEREIRA, L. C. B.. Da administração pública burocrática à gerencial. In: PEREIRA, L. C. B. (Org); SPINK, P. (Org). Reforma do Estado e administração pública gerencial. 7. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2006. p. 237-270. SANTOS, Y. D. dos; CARVALHO, J. R. M. de; BARBOSA, M. de F. N. Análise da eficiência dos gastos com educação no ensino fundamental nos municípios do seridó potiguar. Revista Ambiente Contabil, v. 8, n. 2, p. 287, 2016.
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
53
Capítulo 4
Avaliação de desempenho dos servidores administrativos
Robson Santos da Costa9
Wendel Sandro de Paula Andrade10
Ulysses Rodrigues Vianna11
1 INTRODUÇÃO
A Avaliação de Desempenho (AD) é um instrumento gerencial que permite ao
administrador mensurar os resultados obtidos por um empregado ou por um grupo em período
e área específicos: conhecimentos, metas, habilidades (MARRAS, 2009). Seja qual for a
situação, as pessoas sempre fazem avaliações, pois, avaliar ajuda a tomar decisões certas.
Até a década de 1980, o governo federal utilizou um modelo de avaliação de
desempenho a partir do modelo burocrático weberiano, mas, devido à sua rigidez
administrativa, a inadequação das normas e a grande quantidade de regulamentos, os
resultados das avaliações são contrários aos esperados: a lentidão dos processos, por exemplo,
torna este modelo um alvo de críticas. De acordo com o Decreto Federal nº 94.664, de 23 de
julho de 1987 (BRASIL, 1987), que aprovou o Plano Único de Classificação e Retribuição de
Cargos e Empregos de que trata a Lei nº 7.596, de 10 de abril de 1987 (BRASIL, 1987), a
progressão funcional ocorria de forma independente e cumulativa dentro do mesmo cargo ou
emprego.
Vários fatores contribuíram para o governo se afastar do modelo weberiano, tais
como: a implantação da Qualidade Total no setor privado, a globalização, as inovações
tecnológicas e as inúmeras crises nos Estados Unidos e na Europa. Com isso, o modelo
weberiano se tornou ineficiente, porque a sociedade globalizada necessita de ferramentas de 9 Mestrando em Gestão Pública - Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: [email protected]; 10 Professor Adjunto do Departamento de Ciências Florestais e da Madeira - Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias e Engenharias, e-mail: [email protected]; 11 Professor Adjunto do Departamento de Agronomia - Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias e Engenharias, e-mail: [email protected].
Avaliação de desempenho dos servidores administrativos
54
controle e de desempenho mais adequadas a este novo estilo de vida no qual as pessoas
adquirem conhecimentos diversos de forma cada vez mais ágil e dinâmica.
A partir da Constituição Federal de 1988 e da Reforma Administrativa de 1995,
introduziu-se no governo federal uma gestão que visava não mais um Estado intervencionista
e sim um Estado gestor. Para isso, incluíram também o Princípio da Eficiência (BRASIL,
1988; CARDOSO, 1995).
A Avaliação do Desempenho nos órgãos públicos também é utilizada para auxiliar a
aprovação do Estágio Probatório e da Progressão Funcional dos servidores. No Instituto
Federal do Espírito Santo (IFES), a Coordenação-Geral de Gestão de Pessoas (CGGP) é
responsável por acompanhar todas essas etapas do Ciclo da Avaliação de Desempenho:
analisa e julga, em última instância, os eventuais recursos interpostos aos resultados
das avaliações individuais; promove o desenvolvimento institucional ao determinar os
projetos e atividades prioritárias, além das condições especiais de trabalho; subsidia a
definição de diretrizes para a Política de Gestão de Pessoas; e trabalha em prol da melhoria da
qualidade dos serviços prestados à comunidade.
O Programa de Avaliação de Desempenho dos Servidores Técnicos Administrativos em
Educação (TAE), de acordo com o inciso III do § 3º do Art. 24, da Lei nº 11.091/2005 e o
Decreto nº 5.825/2006, rege que o servidor deve responder a um formulário padronizado para
avaliação do seu desempenho monitorado pela CGGP de cada campus do IFES, que
acompanha e aconselha o servidor para redirecionar o cumprimento das metas a nível setorial
segundo a dinâmica de funcionamento da Instituição. Fundamentado nesses estudos
preliminares, este capítulo realizou uma análise da Avaliação de Desempenho, no que tange a
inserção do privado no público (BRASIL, 2005; 2006).
Para cumprir uma exigência legal, o Programa de Avaliação de Desempenho do Ifes se
acopla ao Programa de Capacitação da instituição para, junto à avaliação, contribuir de forma
mais eficaz na motivação dos servidores.
1.1 O PROBLEMA E SUA RELEVÂNCIA
A Emenda Constitucional 19/1998 incluiu no artigo 37 da Constituição Federal de
1988 o Princípio da Eficiência na Administração Pública (BRASIL, 1988). Segundo Moraes
(1999), o Princípio da Eficiência é o que impõe a seus agentes o bem comum na
administração pública por meio do exercício de suas competências de forma imparcial, neutra,
transparente, participativa, eficaz, e sem burocracia. Permite assim a busca da qualidade,
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
55
associada à adoção de critérios legais e morais necessários à melhor utilização dos recursos
públicos, de modo a evitar desperdícios e garantir uma maior rentabilidade social. Sua efetiva
implementação, provavelmente, demorará a se realizar em consonância com o que ocorre em
outros países que também aderiram às reformas de sua base burocrática para suprir a
crescente necessidade de adequação aos novos parâmetros de organização e prestação de
serviços sociais.
No setor público, a avaliação da eficiência é de difícil operacionalização, pois grande
parte das atividades públicas não permite uma avaliação direta e objetiva dos resultados por
atuar em sistema abertos e complexos. Para os estudiosos da área de gestão de pessoas, sejam
organizações privadas ou públicas, a avaliação de desempenho pode esconder conflitos e
contradições, conforme afirmam Leal e Schmitt (2002) sobre as ações que envolvem a gestão
de pessoas, sendo assim têm-se a necessidade de aprofundar os estudos sobre a avaliação de
desempenho sob uma ótica menos gerencial.
Com o advento da Gestão da Qualidade no serviço privado em meados dos anos 90, o
cidadão comum comparou os serviços prestados nas instituições públicas com os serviços do
setor privado e, assim, ocorreu uma expressiva mudança de paradigma na qual a eficiência na
prestação dos serviços foi elemento norteador dos avanços na administração pública.
Entende-se, contudo, que os objetivos do processo de avaliação de desempenho não
são plenamente atingidos. Essa inferência advém da percepção de que, em razão do sistema
aberto ao qual o setor público está inserido, da exposição dos avaliadores, da não
informatização, das dificuldades de encaminhamento do servidor para cursos e treinamentos.
São características estas que limitam o atendimento das metas do modelo avaliativo.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
A Avaliação de Desempenho é discutida à luz da essência do ser humano, no que diz
respeito ao ato de avaliar e ser avaliado. São também apresentados os principais tipos e
métodos de Avaliação de Desempenho, principalmente em organizações públicas.
Primeiramente inicia-se com o conceito constitucional de servidor público, ou seja, o
que estabelece a Constituição Federal (1988). A seguir a Teoria das Relações Humanas entre
indivíduos, seus conceitos, com suas características distintas, relacionar-se em um grupo com
outro, mas principalmente, nas relações que um grupo mantém entre si, ou seja, tratar
aspectos próprios do ser humano, que são responsáveis por diferenciar-se uma pessoa da
outra, por exemplo, fatores relacionados à motivação pessoal.
Avaliação de desempenho dos servidores administrativos
56
Além disso, faz um resgate da Teoria Comportamental da Organização em o que ser
humano está inserido em uma empresa que tem a sua própria cultura e estrutura
organizacional, que é baseada em atitudes, crenças, valores e objetivos. Algumas são
influenciadas por sua ousadia e inovação, criando novas tendências de modelo de gestão, com
intuito de atingir metas e resultados. Outras já afetam diretamente o bem-estar e a vida de
seus funcionários e das pessoas que têm alguma relação com essas instituições, profissionais
terceirizados e até mesmo os familiares dos funcionários dessas empresas. Portanto, toda essa
influência é diretamente impactada por meio dos comportamentos do ser humano, que
inserido numa sociedade, também é um influenciador dos comportamentos desta.
Em seguida procura-se tratar o conceito de Avaliação de Desempenho, abordando-se
os principais objetivos e aplicação do mesmo nas organizações. Também tratar os aspectos
próprios do ser humano, que são responsáveis por distinguir as pessoas, e que possuem uma
relação profunda com o processo de Avaliação de Desempenho, tendo-se como exemplo, os
fatores relacionados à motivação pessoal.
Por fim, discutir a importância da Avaliação de Desempenho, acerca da prioridade de
se ter um Sistema de Avaliação de Desempenho simples como ferramenta de gestão, que
prioriza o desenvolvimento pessoal e profissional de cada pessoa dentro da organização.
2.1 O SERVIDOR PÚBLICO
Segundo preceitos constitucionais, os servidores públicos são aqueles que mantêm
vínculo de trabalho profissional com órgãos e entidades governamentais, integrados em
cargos ou emprego, seja: União, Estados, Distrito Federal, Municípios e respectivas
autarquias, fundações, empresas públicas e de sociedades de economias mistas.
De acordo com o art. 3°, da Lei 8.112/90 o “Cargo público é o conjunto de atribuições
e responsabilidades previstas na estrutura organizacional que devem ser cometidas a um
servidor” (BRASIL, 1990).
Dessa forma, o servidor público civil é, unicamente, o servidor da administração
direta, de autarquia ou de fundação pública ocupante de cargo público.
2.2 TEORIA DAS RELAÇÕES HUMANAS
A Teoria das Relações Humanas surgiu nos Estados Unidos como consequência das
conclusões da experiência em Hawthorne, desenvolvida por Elton Mayo e seus colaboradores.
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
57
Foi um movimento de reação e de oposição à Teoria Clássica da Administração.
(CHIAVENATO, 2000).
Este estudo proporcionou uma mudança de paradigma, passando do foco nas tarefas e
estrutura, para o foco nas pessoas. A natureza do ser humano como homo social substituiu a
concepção de homo economicus, ou seja, quando as pessoas são motivadas e incentivadas
apenas por estímulos financeiros.
Não é o dinheiro a principal motivação para o desempenho do indivíduo. As pessoas
são motivadas a trabalhar para se sentirem reconhecidas pelo seu desempenho, para terem
aprovação social e participarem nas atividades dos grupos sociais onde se inserem. A partir
deste resultado, o indivíduo torna-se capaz de estabelecer seu nível de competência.
2.3 TEORIA COMPORTAMENTAL DA ORGANIZAÇÃO
Os críticos no campo dos estudos organizacionais surgiram na Europa após cortes
públicos do governo Margareth Thatcher, na década de 1980. Nesse período muitos
pesquisadores dessa área fugiram para os estudos em administração o que resultou no
questionamento dos modelos de gestão cujas vertentes epistemológicas estavam voltadas para
o positivismo e o funcionalismo (FOURNIER; GREY, 2007).
Segundo Chiavenato (2000), a Teoria Comportamental concebe a organização como
um sistema de decisões onde cada pessoa, de todas as áreas da organização participa
conscientemente, escolhendo e tomando decisões individuais a respeito de alternativas mais
ou menos racionais de comportamento.
As organizações com o passar do tempo sentem-se pressionadas para alcançar seus
objetivos, com isso acabam privando os indivíduos da satisfação de seus objetivos pessoais, e
vice-versa. A interdependência entre as necessidades do indivíduo e a organização é muito
grande, pois a vida e objetivos de ambos são inseparáveis, ou seja, estão entrelaçados. As
organizações vêm buscando de fato, explicar e descrever características do comportamento,
seja do indivíduo ou da organização, com intuito de construir modelo e princípios de
aplicação prática.
2.4 AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO
Existem informações que no período de 221-265 d.C. foi criada uma dinastia WEI,
instituindo assim a figura do “julgador imperial”, cuja tarefa era avaliar a família imperial,
Avaliação de desempenho dos servidores administrativos
58
fazendo que esta avaliação fosse levada ao imperador. Este, por sua vez, o utilizava para
tomar decisões relativas à família e ao império (BERGAMINI; BERALDO, 1988). Alguns
anos depois, Santo Inácio de Loyola realizou o mesmo papel, definindo alguns procedimentos
que permitiam avaliar pessoas integrantes da Companhia de Jesus (BERGAMINI;
BERALDO, 1988).
Existem vários conceitos de Avaliação de desempenho. No entanto, diferenciam-se
quanto à forma ou tipo, mas assemelham-se quanto ao conteúdo. No entendimento de
Brandão e Guimarães (2001), a Avaliação de desempenho é utilizada em uma organização
desde o nível corporativo até o nível individual. Em outros termos Bergamini e Beraldo
(1988, p. 13), caracterizam a Avaliação de desempenho como “o processo que provê
oportunidades mais definidas de entendimento entre as pessoas, propondo a revisão e a
atualização mais permanente do seu próprio comportamento”. Acresce que, para Bergamini e
Beraldo (1988), avaliar o desempenho das pessoas no trabalho implica, consequentemente,
conhecer a dinâmica comportamental própria de cada um, o trabalho a ser realizado e o
ambiente organizacional em que essas ações se passam. Portanto, a Avaliação de
Desempenho não deve ser uma ação ou ato isolado que acontece em determinados períodos,
de forma separada das demais dinâmicas da organização.
Uma Avaliação de Desempenho deve ser bem estruturada, ser reconhecida como uma
ferramenta que busca constantemente, estabelecer uma relação com os servidores referente
aos resultados desejados pela organização. Sendo assim, a Avaliação de Desempenho deve ser
utilizada como um sistema, proporcionando alcançar objetivos estratégicos da organização e,
principalmente, no que se refere à Gestão de Pessoas, que é gerenciar pessoas capazes de se
desenvolver e, consequentemente, desenvolver a organização.
2.5 A IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO
Como qualquer ferramenta de gestão, a Avaliação de Desempenho será o que se fizer
dela. As Avaliações de Desempenho fazem parte de instrumentos de mudança e tomada de
decisão para a gestão de qualquer organização. Segundo Souza, Mattos, Sardinha e Alves
(2005, p. 30), a gestão de desempenho é um processo construído para integrar o universo
corporativo, interligando as unidades de negócio, as equipes, os indivíduos e a liderança, por
meio de planos elaborados sob um enfoque sistêmico, interessado na sustentação da empresa
no mercado. Tratando-se da Administração Pública, essa realidade não é diferente, como nos
afirma Guimarães, Nader e Ramagem (1998, p. 44):
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
59
Trabalho avaliado é trabalho realizado. Essa frase resume a necessidade de que toda organização seja sistematicamente avaliada, provocando, dessa forma, um processo de retroalimentação que permite à organização rever estratégicas e métodos de trabalho e, portanto, minimizar os efeitos da tendência à entropia e ao insulamento burocrático, tão comum em organizações públicas. É por intermédio da avaliação do que produz que a organização consegue reciclar-se, oxigenar-se e sobreviver em ambientes turbulentos e mutáveis. A avaliação do produto final de uma organização, ou do trabalho necessário a produzi-lo é uma estratégia nas organizações modernas. Assim, toda organização necessita dispor e fazer uso de mecanismos de avaliação de desempenho em seus diversos níveis – estratégico, tático, operacional e individual.
3 REFERÊNCIAS
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MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
61
Capítulo 5
Suporte social: conceitos, categorizações e realidade no ambiente de trabalho
Giselly Ribeiro Passos Vianna12
Ulysses Rodrigues Vianna13
1 INTRODUÇÃO
O suporte social parece ter uma ampla influência em diversos aspectos da vida das
pessoas. De modo especial, a avaliação do indivíduo sobre o apoio recebido tem sido
relacionada a impactos positivos na saúde física e mental, afetando positivamente a forma de
perceber e lidar com situações estressantes, promovendo bem-estar emocional e psicológico e
até a longevidade dos indivíduos. Outros termos, como rede de apoio e apoio social, podem
ser encontrados na literatura como sinônimos para suporte social (GONÇALVES et al.,
2011).
O conceito de suporte social possui diversas definições que destacam os aspectos das
relações interpessoais. De modo geral, define-se como envolvendo qualquer informação,
falada ou não, e/ou auxílio material e proteção oferecidos por outras pessoas e/ou grupos com
os quais se têm contato regular, resultando em efeitos emocionais ou comportamentos
positivos (VALLA, 1999).
A diversidade de conceitos e inúmeras tipologias, relacionadas com o suporte social,
cria dificuldades na aceitação generalizada de uma definição (ORNELAS, 1994). Ainda
assim, há uma linha convergente na literatura indicando que o suporte social deve ser
compreendido como experiência pessoal, um intercâmbio entre provedores e destinatários,
onde o indivíduo deve sentir-se respeitado e envolvido em seu meio social, refletindo a
importância de sua rede de relacionamentos (HOGAN; LINDEN; NAJARIAN, 2002).
12 Mestranda em Gestão Pública (Mestrado Profissional) - Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: [email protected]; 13 Professor Adjunto do Departamento de Produção Vegetal - Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias e Engenharias, e-mail: [email protected].
Suporte social: conceitos, categorizações e realidade no ambiente de trabalho
62
Um levantamento sobre apoio social no ambiente laboral e a saúde do trabalhador
indicou que ainda há pouca preocupação sobre a temática no país, com poucos estudos
divulgados. Além disso, ficou evidenciado que o apoio social exerce uma influência
significativa sobre a saúde do trabalhador e que as relações interpessoais, por mais complexas
que sejam, são fundamentais para o ser humano dentro das organizações, afetando
diretamente sua saúde (FONSECA; MOURA, 2008).
Rodriguez e Cohen (1998) corroboram esta informação ao afirmarem que o suporte
social é considerado capaz de gerar efeitos positivos para a saúde física e mental, guardando
uma estreita relação com bem-estar. Essas consequências podem ser vistas tanto no ambiente
das empresas privadas quanto das públicas.
Este artigo propõe-se a fazer um levantamento de conceitos e categorizações de
suporte social, mostrando historicamente o desenvolvimento do tema e a crescente
importância do mesmo na percepção de bem-estar do indivíduo em suas diferentes relações
sociais. No contexto de relações sociais, o artigo faz também um apanhado geral de artigos
que abordam a importância do suporte/apoio social no ambiente de trabalho.
2 SUPORTE SOCIAL: HISTÓRICO, CONCEITOS E CLASSIFICAÇÕES
Segundo Ornelas (1994), o suporte social teve sua conceptualização embasada pelos
estudos de Caplan (1974), Cassel (1976) e Cobb (1976). Inicialmente tiveram como objetivo
verificar a influência dessa variável em doenças físicas e psicológicas. Sob essa perspectiva,
as investigações que se sucederam sobre o assunto documentam a conexão entre a extensão e
qualidade das relações sociais e uma melhor saúde física e mental (ANDRADE;
ESTIVALETE; GOMES, 2013).
Caplan (1974), apesar de não ter utilizado o termo suporte social em seus estudos,
introduz o conceito de “Sistema de Suporte”, que consiste no apoio prestado ao indivíduo em
diferentes áreas, de modo a permitir a gestão de seus problemas emocionais, a partilha de
atividades e prestação de auxílio material, financeiro, por meio do ensino de competências,
ou, ainda, de orientação em situações específicas. Esse sistema abrange, além de familiares e
amigos, grupos formais (profissionais) e informais (família, vizinhança, comunidade
religiosa) de apoio e destaca o papel executado por profissionais em colaboração com líderes
comunitários para compreensão das relações humanas e suas necessidades sociais.
Cassel (1976), por sua vez, abordou em seus estudos a importância que o suporte
social pode desempenhar em desequilíbrios relacionados ao estresse, por meio de uma
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
63
perspectiva ecológica. Para o autor, as condições sociais nas áreas urbanas (degradação
habitacional, superpopulação, rupturas com a vizinhança) estão associadas a elevados
percentuais de distúrbios físicos e psicológicos. Em um levantamento com objetivo de avaliar
a relação do nível de estresse psicológico com o suporte social recebido, percebeu-se que, ao
avaliar diferentes estudos com indicadores diretos ou indiretos em saúde, em cada caso foi
descoberto um resultado positivo na direção prevista.
Apesar de não ter operacionalizado o conceito de suporte social, o autor teve mérito ao
evidenciar seu impacto no meio social, no desenvolvimento de enfermidades físicas e
psicológicas e no papel das forças sociais na defesa e proteção dos indivíduos (ORNELAS,
1994).
Segundo Cobb (1976, p. 300, tradução nossa), apoio social é definido como a “[...]
informação que conduz o sujeito a acreditar que ele é bem cuidado e amado, estimado, e um
membro de uma rede de obrigações mútuas”. Este estudo trouxe a primeira definição de
suporte social aplicável ao contexto da saúde, apresentando evidências empíricas que
indicavam o caráter protetor do apoio social em relação à hospitalização, recuperação de
doenças, aposentadoria, estresse e depressão (RODRIGUES; SEIDL, 2008).
A diversidade nos conceitos e significados de suporte social é evidente até mesmo
para os leitores casuais sobre suporte social (BARRERA, 1986), dificultando a aceitação
generalizada de uma definição para o tema (ORNELAS, 1994).
Tal definição pode ser feita em termo da existência ou quantidade de relações sociais
de modo geral ou em particular (relações de amizade, conjugais, organizacionais). Porém, na
maior parte das situações, o suporte social define-se em termos do conteúdo funcional das
relações, abrangendo o grau de envolvimento afetivo-emocional, instrumental ou
informacional (ORNELAS, 1994).
Seria pretensioso retratar neste levantamento todos os conceitos relacionados ao tema,
uma vez que, como abordado acima, trata-se de uma conceituação dinâmica, sem
generalização ou consenso. O Quadro 1 traz alguns conceitos de suporte social baseados nos
estudos de Ornelas (1994) e Siqueira (1998), organizados em ordem cronológica.
Suporte social: conceitos, categorizações e realidade no ambiente de trabalho
64
Quadro 1 – Conceitos de Suporte Social, segundo diferentes autores
Conceito Informação de que o indivíduo é amado, estimado e parte integrante de uma rede social (COBB, 1976). Grau em que as necessidades sociais de uma pessoa são satisfeitas através de sua interação com outros (KAPLAN; CASSEL; GORE, 1977). Laços sociais que os indivíduos criam com outros indivíduos, grupos ou comunidades (LIN et al., 1979). Conjunto de transações interpessoais que envolvem: preocupações emocionais, ajuda instrumental, informação e reconhecimento (HOUSE, 1981). Grau de satisfação das necessidades sociais básicas, obtido por meio da interação com outros (afeto, estima, pertença, identidade e segurança) – ajuda emocional e instrumental (THOITS, 1982). Grau em que o indivíduo se sente desejado, respeitado e envolvido; compreendido mais como experiência pessoal do que como conjunto objetivo de interações ou trocas (TURNER et al., 1983). Troca de recursos entre, no mínimo, duas pessoas, como contribuição intencional para seu bem-estar (SHUMAKER; BROWNWELL, 1984). Ações instrumentais ou emocionais percepcionadas ou objetivas proporcionadas pelas redes sociais, comunidade ou pessoas próximas (LIN, 1986). Processo interativo, onde suporte emocional, instrumental ou financeiro são percebidos em redes de sociais, havendo sentimento de pertença, ligação e compromisso (BOWLING, 1997). Constructo multidimensional que se refere aos recursos psicológicos e materiais disponíveis ao indivíduo através de suas relações interpessoais (RODRIGUEZ; COHEN, 1998).
Fonte: Adaptado de Ornelas (1994) e Siqueira (2008).
Weiss citado por Ornelas (1994) classificou as relações socais de suporte em seis
dimensões, sendo: intimidade, integração social, suporte afetivo, estima, laços de confiança,
orientação e oportunidade de expressar sentimentos positivos. Dunst e Trivette (apud
RIBEIRO, 1999), por sua vez, ampliaram a categorização, apresentando onze dimensões de
suporte social, importantes para o bem-estar, indicadas na Figura 1.
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
65
Figura 1 – Dimensões de Suporte Social segundo Dunst e Trivette apud Ribeiro (1999).
Fonte: Adaptado de Dunst e Trivette citado por Ribeiro (1999).
Com relação às dimensões apresentadas na Figura 1, tem-se:
a) Tamanho da rede social: abrangendo o maior número de pessoas da rede de
suporte social;
b) Existência de relações sociais: abrangendo de relações particulares a relações
gerais (de pertença a grupos sociais);
c) Frequência de contatos: indicar quantas vezes o indivíduo se relaciona com os
membros da rede social, em grupo ou face a face;
d) Necessidade de suporte: indicar a necessidade de suporte expressa pelo indivíduo;
e) Tipo e quantidade de suporte: indicar o tipo e quantidade de suporte
disponibilizado pelas pessoas que fazem parte das redes sociais;
f) Congruência: indicar a extensão em que o suporte social disponível se equipara ao
que o indivíduo necessita;
g) Utilização: indicar extensão que o indivíduo recorre às redes sociais quando
necessita;
h) Dependência: indicar a extensão em que o indivíduo pode confiar nas redes de
suporte quando necessário;
i) Reciprocidade: indicar o equilíbrio entre o suporte social fornecido e recebido;
Tamanho da rede social (rede de
suporte)
Existência de relações sociais
(particulares ou em grupos)
Frequência de contatos (grupo ou
face a face)
Necessidade de suporte
Tipo e quantidade de suporte
Congruência (suporte disponível
versus necessidade)
Utilização das redes de suporte
Dependência das redes de suporte
Reciprocidade (suporte fornecido versus recebido)
Proximidade com os membros que fornecem suporte
Satisfação (utilidade e níveis
de ajuda percebidos)
Suporte social: conceitos, categorizações e realidade no ambiente de trabalho
66
j) Proximidade: indicar a extensão da proximidade sentida para com os membros que
disponibilizam suporte social;
k) Satisfação: indicar a utilidade e nível de ajuda sentidos pelo indivíduo diante do
suporte social.
O conceito e a operacionalização de apoio social podem ser divididos em três
categorias: (1) o modelo que enfoca a rede social, “[...] que se refere às conexões
significativas que os indivíduos têm com outros em seu ambiente social”; (2) o modelo do
apoio recebido que avalia que suporte o indivíduo realmente recebe e o que relata ter
recebido; e (3) o modelo do apoio percebido que avalia o apoio que o indivíduo acredita estar
disponível se precisar, ou seja, a confiança do indivíduo em ter um apoio disponível quando
necessário (BARRERA, 1986, p. 415, tradução nossa).
Segundo Rodriguez e Cohen (1998, p. 535, tradução nossa), o suporte social é pensado
para ter efeitos benéficos sobre a saúde mental e física, sendo “um constructo
multidimensional que se refere aos recursos psicológicos e materiais disponíveis ao indivíduo
através de suas relações interpessoais”. Posteriormente, Cohen (2004) definiu suporte social
como uma rede social de prestação de recursos psicológicos e materiais com objetivo de
beneficiar as habilidades do indivíduo para lidar com situações de estresse.
Apesar da variedade de formas de apresentação e classificação para o suporte social, a
forma de classificação mais estudada é a proposta por Rodriguez e Cohen (TOGNI, 2015).
Para esses autores, existem diferentes tipos de apoio que alguém pode receber da rede social,
sendo três de maior destaque: suporte emocional, suporte instrumental e suporte
informacional (RODRIGUEZ; COHEN, 1998).
Suporte emocional refere-se ao que as pessoas fazem ou dizem a alguém (dar
conselhos, ouvir seus problemas, mostrar-se empático e confiável) e é percebido como
expressão de carinho, cuidados e preocupação do outro. Suporte instrumental compreende as
ajudas tangíveis ou práticas que outros (pessoas ou instituições) podem prover a alguém
(cuidados com crianças, provisões de transporte, empréstimos de dinheiro ou ajudas com
tarefas diárias). Suporte informacional inclui receber de outras pessoas noções indispensáveis
para que o indivíduo possa guiar e orientar suas ações ao dar solução a um problema ou no
momento de tomar uma decisão (RODRIGUEZ; COHEN, 1998).
Ainda que diante de uma multiplicidade de conceitos, há uma linha convergente na
literatura indicando que o suporte social deve ser compreendido como experiência pessoal,
um intercâmbio entre provedores e destinatários, onde o indivíduo deve sentir-se respeitado e
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
67
envolvido em seu meio social, refletindo a importância de sua rede de relacionamentos
(HOGAN; LINDEN; NAJARIAN, 2002).
Além dos tipos de apoio social recebidos de familiares e amigos, o apoio oriundo das
relações de trabalho também possui forte influência na vida do indivíduo. Estudos evidenciam
a influência significativa desse apoio sobre a saúde do trabalhador, mostrando que as relações
interpessoais, por mais complexas que sejam, são fundamentais para o ser humano dentro de
seu ambiente laboral, afetando diretamente sua saúde (FONSECA; MOURA, 2008).
3 SUPORTE SOCIAL NO AMBIENTE DE TRABALHO
A percepção de suporte organizacional depende da frequência, da intensidade e da
sinceridade dos elogios, da aprovação e das recompensas que a organização dirige aos seus
membros. Os colaboradores desenvolvem suas crenças globais sobre o quanto a organização
cuida de seu bem-estar e valoriza seus esforços (PASCHOAL; TORRES; PORTO, 2010).
De acordo com Gomide Jr., Guimarães e Damásio (2004), o suporte social no
ambiente de trabalho refere-se à crença global do colaborador de que a organização
empregadora e as redes sociais existentes no ambiente de trabalho são capazes de oferecer os
três tipos de suporte (emocional, instrumental e informacional) necessários para a execução de
suas atividades profissionais. Estes autores construíram e validaram a Escala de Percepção de
Suporte Social no Trabalho (EPSST) composta por 18 itens, agrupados em três dimensões:
percepção de Suporte Social Emocional, Suporte Social Instrumental e Suporte Social
Informacional no trabalho. A EPSST possui uma escala tipo Likert, variando de 1 (discordo
totalmente) a 5 (concordo totalmente) (ANDRADE; ESTIVALETE, 2013).
Em um estudo com aplicação da EPSST em instituições bancárias públicas e privadas,
notou-se que o suporte social no trabalho é percebido pelos colaboradores de forma
moderada, havendo menor incidência de suporte social emocional, sugerindo a existência de
vazios associados às interações sociais, confiança, cooperação e apoio entre os colaboradores
(ANDRADE; ESTIVALETE, 2013).
Um estudo realizado com servidores técnicos administrativos e docentes na
Universidade Federal do Espírito Santo, por meio da aplicação da EPSST, indicou que, apesar
das médias das fórmulas aplicadas indicarem que sim, os servidores não possuem certeza se
recebem ou não suporte social no ambiente de trabalho. O suporte instrumental foi o mais
fortemente percebido, ou seja, a crença de que a instituição provê os insumos materiais,
financeiros, técnicos e gerenciais. O suporte emocional também foi evidenciado, sobretudo no
Suporte social: conceitos, categorizações e realidade no ambiente de trabalho
68
setor administrativo, indicando a confiança de que existem pessoas com as quais se pode
contar, mostrando a presença de laços de afetividade relacional. Apesar desses resultados,
notou-se a necessidade da organização investir e/ou organizar seus recursos para ampliar a
percepção de seus membros acerca do suporte fornecido (TOGNI, 2015).
Oliveira-Castro, Pilati e Borges-Andrade (1999) sugerem que, dentre as variáveis que
podem embasar o comprometimento organizacional estão à natureza das tarefas e as
características pessoais. Em seu trabalho de construção e validação de um instrumento de
percepção de suporte organizacional, os resultados indicaram que os colaboradores tendem a
formular opiniões globais sobre os cuidados da organização, tendo suas crenças formuladas
no comportamento da organização como um todo e não somente sobre o comportamento
específico de agentes organizacionais, como chefes e líderes.
Dentro desse contexto, Eisenberger et al. (1986) apontam que as crenças globais dos
colaboradores sobre o suporte organizacional percebido implicam em maior dedicação desses
profissionais com a instituição, reduzindo, por exemplo, os níveis de absenteísmo.
Oliveira e Limongi-França (2005) reafirmam essa tendência, indicando que os
colaboradores parecem ter um comprometimento maior quando percebem que há uma
preocupação por parte da organização nos cuidados para com eles. Desse modo, segundo os
autores, a complexidade estrutural das empresas não influencia mais na competitividade das
organizações, apontando que hoje o bem mais precioso é o empregado e seu conhecimento,
uma vez que é ele quem propicia o diferencial no mercado.
A personificação da organização, por sua vez, pode levar os colaboradores a
frustrações que podem refletir em sua saúde psíquica, e, como consequência, desencadear
processos somáticos (FONSECA; MOURA, 2008). Hogan, Linden e Najarian (2002)
sugerem que ao não perceberem apoio social no trabalho, os colaboradores podem apresentar
sérios problemas de saúde física e mental. Estudos sobre aspectos favoráveis e agravos
relacionados à saúde, indicam evidências da importância do apoio social no ambiente de
trabalho e seus efeitos em aspectos fisiológicos e psicológicos (GIOVANETTI, 2006).
Um dos estudos pioneiros dessa relação foi realizado com funcionários suecos, sendo
verificado que aqueles com baixo apoio social no ambiente de trabalho tiveram efeito
negativo sobre a saúde cardiovascular (JOHNSON; HALL, 1988). Em uma pesquisa realizada
com gestantes submetidas a elevadas jornadas e trabalho e baixo apoio social no trabalho,
verificou-se um risco elevado de aborto espontâneo (FENSTER et al., 1995).
Com relação aos aspectos psicológicos, Langford et al. (1997) apontam em uma meta-
análise que o suporte social no ambiente de trabalho é favorável à saúde, por promover
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
69
competência pessoal, comportamentos saudáveis e de enfrentamentos efetivos, controle
percebido, senso de estabilidade, reconhecimento de valor próprio, afetividade positiva, bem-
estar psicológico e redução de ansiedade e depressão.
Em um estudo com funcionários administrativos de uma indústria petrolífera,
percebeu-se que o maior nível de satisfação entre os funcionários estava entre aqueles que
recebiam maior suporte social, sobretudo o suporte fornecido pela chefia. Porém, é importante
ressaltar que o elevado nível de satisfação encontrado pode estar diretamente relacionado às
características do grupo estudado, com nível de escolaridade e salários acima da média
nacional. A faixa etária predominante, de 31 a 50 anos, também pode influenciar no nível de
satisfação, uma vez que são pessoas com maturidade maior para lidar com dificuldades
diárias. Outra característica do grupo, a estabilidade familiar, também se relaciona a um nível
mais elevado de satisfação no trabalho (FONSECA et al., 2013).
Os estudos demonstram a influência do meio sobre os colaboradores, afirmando a
importância que as relações interpessoais possuem no ambiente ocupacional e sobre a
satisfação dos colaboradores no desempenho de suas tarefas (FONSECA et al., 2013). Dessa
forma, Hogan, Linden e Najarian (2002) apontam que as intervenções voltadas para a
formação de habilidades sociais ou a melhoria do ambiente social natural são baseados na
crença de que as pessoas podem criar e manter sistemas de apoio (ou sua percepção do apoio
recebido desses sistemas) se adquirirem as habilidades necessárias. As melhorias resultantes
no apoio são assumidas para melhorar a saúde e o bem-estar, minimizando possíveis danos à
saúde e provocando melhoria no desempenho profissional.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo indicou que os aspectos conceituais de suporte social necessitam ser melhor
aprimorados, haja vista a quantidade de definições e classificações para um mesmo conceito,
dificultando a compreensão em determinados aspectos e, até mesmo, a criação de
instrumentos de avaliação abrangentes. Outra forma possível de tratar a complexidade e
dinâmica das relações sociais é a criação de ferramentas capazes de avaliar a percepção de
suporte social de acordo com os objetivos propostos, utilizando classificações específicas,
como é o exemplo da EPSST.
Os resultados do levantamento indicam, ainda, que a crescente abordagem do suporte
social no ambiente laboral é recente, sendo os estudos pioneiros realizados no final do século
XX. O impacto positivo do suporte social para a qualidade de vida no trabalho fica evidente
Suporte social: conceitos, categorizações e realidade no ambiente de trabalho
70
através dos estudos elucidados neste artigo. Apesar disso, mostra-se fundamental conhecer a
realidade social na qual se inserem os trabalhadores estudados para uma análise
multidimensional e eficaz dos resultados.
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MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
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MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
73
Capítulo 6
Sistema de Informações Geográficas (SIG): uma ferramenta para a gestão pública
Fabio Antonio Soares Lopes14
Ulysses Rodrigues Vianna15
Fabricia Benda de Oliveira16
1 INTRODUÇÃO
Para atingir resultados, uma instituição precisa realizar uma série de procedimentos
com vias a se chegar aos mesmos. O processo começa com o planejamento das ações a serem
desempenhadas, passa pela execução e chega ao produto esperado. Quando uma dessas
abordagens falha, a empresa tem um abalo em sua estrutura econômica e financeira,
amargando prejuízos e correndo o risco de fechar as portas.
Sendo assim, antes de se tomar uma decisão é necessário realizar uma análise
detalhada de todas as informações disponíveis, a fim de se chegar a um resultado satisfatório.
Para isso, as empresas fazem uso de recursos que auxiliam nesse processo. Uma destas
ferramentas são os Sistemas de Informações Geográficas (SIG).
Esses sistemas são capazes de apresentar aos seus usuários informações precisas sobre
localização, atrelando a esta uma série de informações que ajudam na tomada de decisões.
Utilizados nas mais diversas áreas, conhecer esse sistema e como se dá o seu funcionamento é
o foco principal deste artigo de revisão bibliográfica.
1.1 GEOPROCESSAMENTO
14 Mestrando em Gestão Pública - Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: [email protected]; 15 Professor Adjunto do Departamento de Agronomiada Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias e Engenharias, e-mail: [email protected]; 16 Professora Adjunto do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Exatas, Naturais e da Saúde, e-mail: [email protected].
74
Desde a pré-história o homem tem a necessidade de se localizar. A capacidade de
encontrar ambientes seguros, livres de predadores e com fartura de alimentos foi o ponto de
partida no qual garantiu a evolução e perpetuação da espécie humana. Inicialmente nômades,
os homens pré-históricos vagavam em busca de alimentos até que em determinado momento
resolveram se fixar em um ponto considerado adequado. Nesse instante, houveram os
primeiros sinais de desenvolvimento com o surgimento do fogo, o início da agricultura e da
domesticação de animais. Uma característica interessante do homem pré-histórico era a
capacidade de registrar tudo o que ocorria ao seu redor. Como não dominava a escrita, a
representação era feita por meio de desenhos que tinham como finalidade uma tentativa de
controlar as forças da natureza, dando um tom místico as gravuras que eram pintadas com
uma mistura de pó de carvão associada a outros minerais (STRICKLAND; BOSWELL,
2002). Percebe-se, que apesar de não ser o objetivo principal para eles, as pinturas rupestres
nada mais eram que uma mostra gráfica de quais eram as atividades desempenhadas pelos
homens pré-históricos e os tipos de animais que o cercavam, ou seja, uma tentativa bem
arcaica de esboçar por meio de dados, informações.
Esse tipo de informação transcrita por meio de identidade visual e que mostra
informações geográficas (como os animais de uma determinada área ou atividades
desempenhadas em certa localidade) foram se modificando e modernizando ao longo dos anos
até chegar ao conjunto de tecnologias que temos hoje e chamamos de geotecnologias. Fitz
(2008) diz que geotecnologias podem ser descritas como as novas tecnologias ligadas às
geociências e áreas correlatas, as quais trazem avanços significativos no desenvolvimento de
pesquisas, em ações de planejamento, em processos de gestão, manejo e em tantos outros
aspectos relacionados à estrutura do espaço geográfico. Melo e Oliveira (2009) descreveram
que na comunidade científica em geral, a utilização das geotecnologias é feita para atingir
resultados diversos, sendo que para isso ao longo do tempo veio se construindo complexos
softwares voltados para análise de informações geográficas, possibilitando ao poder público,
comunidade acadêmica e sociedade em geral a possibilidade de obter informações sobre
determinados espaços da superfície terrestre, podendo, dessa maneira, obter um maior
conhecimento, controle ou gestão do território.
É comum encontrarmos na literatura a definição de geotecnologia como sendo a
mesma de geoprocessamento, isso porque o termo é utilizado para definir o processamento
informatizado de dados georreferenciados (VAZ, 1997). Rosa (2006 apud MELO;
OLIVEIRA, 2009) afirma que o termo geotecnologia pode ser considerado sinônimo do
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
75
termo geoprocessamento, pois não existe uma distinção de significado entre eles, sendo que
ambos representam o conjunto de tecnologias para coleta, análise e disponibilização de
informações com referências geográficas. Mas Silva (2009) contesta a afirmação anterior
descrevendo que não se pode considerar o geoprocessamento como o conjunto completo de
geotecnologias, pois o geoprocessamento é apenas o conjunto de técnicas computacionais
com intuito de transformar informações georrefenciadas em algo relevante.
Mediante aos contrapontos, podemos concluir que o termo geoprocessamento pode ser
aplicado a profissionais que trabalham com cartografia digital, processamento digital de
imagens e sistemas de informações geográficas. Embora essas atividades sejam diferentes,
elas estão intimamente interligadas, usando muitas vezes as mesmas características de
hardware, porém com softwares distintos (ROSA, 2013).
Rosa (2006 apud MELO; OLIVEIRA, 2009) diz que, dentre as geotecnologias, as
mais conhecidas são a Cartografia Digital, o Sensoriamento Remoto, o Sistema de
Posicionamento Global e os Sistema de Informações Geográficas (SIG).
Dentre elas, a Cartografia é a mais antiga. O primeiro mapa de que se tem
conhecimento surgiu em torno do ano 2500 a.C na mesopotâmia antiga. Desde essa época a
Cartografia teve um importante papel no desenvolvimento da sociedade. Na idade média, por
exemplo, foi graças às cartas náuticas, que são documentos que contém o levantamento das
diversas áreas oceânicas, além dos registros de mares, rios, canais, dentre outros e são
utilizados para a navegação de navios, barcos e outros transportes do tipo aquático
(MARINHA DO BRASIL, 2017), que foi possível o descobrimento de novas rotas mercantes
e outras terras. Durante as Guerras Mundiais (1914 a 1918 – 1939 a 1945), a utilização da
Cartografia foi fundamental para a tomada de decisões com relação às estratégias que os
generais iriam tomar.
Hoje, a aplicação da Cartografia é mais abrangente e vai muito além do simples fato
de traçar rotas no globo ou de desenhar estratégias de batalha. Com o auxílio de imagens
geradas por satélite, juntamente com a fotogrametria, é possível realizar o mapeamento de
áreas maiores e com perfeita exatidão. Como o acesso a Cartografia, ao longo dos anos,
passou do meio impresso para o digital, com a utilização de softwares para a confecção,
manuseio e atualização dos mapas e cartas, a sua denominação mudou para Cartografia
Digital.
O Sensoriamento Remoto consiste na obtenção de imagens sem que exista um contato
físico com o mesmo, sendo que muitas vezes isso é feito a longas distâncias (SHIRATSUCHI
et al., 2014). Meneses e Almeida (2012) deram uma definição mais científica para o termo,
76
descrevendo que Sensoriamento Remoto é uma ciência que visa o desenvolvimento da
obtenção de imagens da superfície terrestre por meio da detecção e medição quantitativas das
respostas das interações da radiação eletromagnética com os materiais terrestres.
As primeiras tentativas de medições por Sensoriamento Remoto foram feitas
acoplando câmeras em aeronaves, balões, pipas, foguetes e até mesmo em aves. Atualmente
as imagens são feitas utilizando plataformas como, satélites, veículos aéreos não tripulados
(VANT), dentre outras (SHIRATSUCHI et al., 2014).
O Sistema de Posicionamento Global começou a se desenhar após a Segunda Guerra
Mundial, em que os Estados Unidos da América (EUA) se empenhou em encontrar uma
solução para o problema do posicionamento preciso e absoluto. Várias tentativas foram feitas
até chegarem à ideia do Global Positioning System (GPS). O sistema consiste em rádio-
navegação baseado em satélites, desenvolvido e construído pelo departamento de defesa dos
EUA e que permite ao usuário saber sua localização, velocidade e tempo a qualquer momento
(ROSA, 2005).
Apesar de ser o mais conhecido entre os sistemas de posicionamento, existem diversos
outros similares ao GPS dentre eles o GLONASS (Global NavigationSatellite System)
pertencente à Rússia e ao GALILEO, que é um sistema de posicionamento por satélite
europeu.
Vale considerar que atualmente o conceito de geotecnologias tornou-se público, uma
vez que sua aplicação não se restringe mais apenas a quem trabalha na área, mas sim a todos
os seres humanos que fazem uso dessas ferramentas com o propósito de facilitar o cotidiano e
melhorar a tomada de decisões. A ferramenta SIG, citada anteriormente como uma das
geotecnologias mais importantes, é considerada uma das mais complexas, pois é capaz de
trabalhar de forma conjunta com todas as demais geotecnologias, tornando-se, dessa maneira,
muito relevante e passível de estudos para conhecer seu contexto, funcionamento e retorno
para o usuário. Elencar os seus benefícios e apresentá-los às pessoas é interessante, pois
aumenta significativamente o número de usuários.
1.2 SISTEMAS DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS (SIG)
A coleta de informações sobre distribuição geográfica é uma prática antiga da
sociedade. Buscar dados e a localização de animais, minerais, plantas, rios, pessoas, além de
informações climáticas e demais fenômenos meteorológicos é algo completamente natural
dentro de uma sociedade que mantém algum tipo de organização. É graças a esse tipo de
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
77
informação que é possível prever catástrofes e escassez de recursos naturais, problemas
relacionados a rotas e transportes, dentre outros. Um fato conhecido é que, inicialmente, todas
essas informações eram guardadas em documentos e mapas de papéis e as informações
levantadas nem sempre atendiam a real necessidade da sociedade. Foi apenas com o advento
da informática, já a partir da segunda metade do século XX, que foi possível desenvolver um
mecanismo considerado excelente para guardar esse tipo de informação (CÂMARA; DAVIS;
MONTEIRO, 2001).
Câmara, Davis e Monteiro (2001) definem a área de conhecimento capaz de unir
dados geográficos com informação como geoprocessamento, já conceituado anteriormente
neste trabalho, e consiste na disciplina do conhecimento que utiliza diversas técnicas da
matemática e da informática para tratar informações geográficas, influenciando dessa maneira
nas áreas da Cartografia, Análise de Recursos Naturais, Transportes, Comunicações, Energia,
Planejamento Urbano e Regional, dentre outras.
Silva (2009) descreve que apenas gerar dados não remete ao ato de criar informação.
No caso do geoprocessamento, que trata de grandes volumes de dados, exige-se um recurso
computacional que disponibilize ao usuário ferramentas geotropológicas que sejam capazes
de realizar análises e sínteses de utilização imediata na gestão territorial.
O recurso que atende as condições descritas por Silva (2009) são os SIG, que dispõe
de uma série de ferramentas capazes de manipular dados geográficos. Longley et al. (2013)
dizem que os SIG são uma classe especial de sistemas de informação que são capazes de
controlar não apenas os eventos, atividades e coisas, mas também o “onde” estas coisas
ocorrem, resolvendo dessa forma a questão da localização, que é uma das incógnitas que a
sociedade precisa encontrar.
Câmara et al. (1996) definem SIG como sendo um sistema de informação construído
especificamente para armazenar, analisar e manipular dados geográficos. Já Fitz (2008) diz
que SIG é um sistema constituído por um conjunto de softwares, que integra dados,
equipamentos e pessoas com o objetivo de coletar, armazenar, recuperar, manipular,
visualizar e analisar dados referenciados a um sistema de coordenadas conhecido. Longley et
al. (2013) da uma descrição mais sucinta sobre o termo dizendo apenas que SIG são sistemas
computacionais feitos para armazenar e processar informações geográficas. Fitz (2008) narra
que é difícil encontrar uma definição única para SIG, pois devido as suas características
estruturais e sua diversidade de aplicações ela fica muito inerente e Câmara et al. (1996)
complementam a fala dizendo que a multiplicidade de usos e visões desta tecnologia apontam
para uma perspectiva interdisciplinar de sua utilização, dificultando uma definição precisa e
78
única. No quadro 1, é apresentada uma série de conceitos dados a SIG e para qual grupo ela é
mais apropriada, mostrando assim a amplitude que a definição desse tipo de sistema pode ter.
Câmara et al. (1996) dizem que cada tipo de definição prioriza um aspecto distinto,
assim, quando o enfoque é no banco de dados, por exemplo, o SIG é definido como um
Sistema Gerenciador de Banco de Dados (SGBD) não convencional, geográfico, que garante
o gerenciamento de dados geográficos. Já quando o enfoque é orientado a processos, a
definição passará a ser de que SIG são coleções de subsistemas integrados, onde dados
espaciais passam por uma sequência de processos de coleta, armazenamento e manipulação.
Assim, a prioridade para uma definição de SIG passa a ser com relação a sua utilização.
Quadro 1 – Diferentes conceitos de SIG e os grupos para os quais cada uma é mais apropriada
Um repositório de mapas em meio digital O público em geral
Uma ferramenta computadorizada para
resolver problemas geográficos
Tomadores de decisão, grupos sociais,
planejadores
Um sistema de apoio à decisão espacial Administradores, pesquisadores em gestão
operacional
Um inventário mecanizado da distribuição
geográfica de feições e infraestrutura
Gestores de serviços públicos, técnicos de
transportes, gestores de recursos
Uma ferramenta para mostrar o que, de outra
forma, é invisível na informação geográfica Cientistas, pesquisadores
Uma ferramenta para realizar operações
sobre dados geográficos muito trabalhosas,
caras ou sujeitas a erros se feitas
manualmente
Gestores de recursos, planejadores
Fonte: LONGLEY et al. (2013)
Os SIG são ferramentas que melhoram a eficiência e efetividade do tratamento da
informação de aspectos e eventos geográficos. São muito utilizados no cotidiano para o
cumprimento de tarefas úteis, como por exemplo, na armazenagem de uma grande quantidade
de informações geográficas em banco de dados (LONGLEY et al., 2013).
Assim, de forma genérica, podemos considerar que “Se “onde” é importante para um
negócio, então o geoprocessamento é sua ferramenta de trabalho”, ou seja, se o onde aparece
dentre as questões e problemas que precisam ser resolvidos por um sistema informatizado,
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
79
haverá uma oportunidade para considerar a adesão a um SIG. Isso porque em um país tão
extenso como o Brasil, carente de informações adequadas para a tomada de decisões sobre os
mais variados problemas, o geoprocessamento atrelado com o SIG apresenta um enorme
potencial e pode ajudar no crescimento e desenvolvimento. (CÂMARA; DAVIS;
MONTEIRO, 2001)
1.2.1 Estruturas de um SIG
Gorni et al. (2007) dizem que um SIG é composto por todos os componentes básicos
de um sistema de informação convencional, sendo eles os dados de entrada e saída, o banco
de dados e uma linguagem de programação. O que difere o SIG dos demais sistemas é o
banco de dados que, no caso do SIG, além das informações tradicionais armazenam também
dados espaciais como: proximidade, distância, área, etc.
Fitz (2008) desmembra um SIG de uma forma um pouco diferente, destacando não
apenas o conteúdo do software, mas também a parte física envolvida no processo e ainda
citando os usuários como parte fundamental do processo. Para ele, o SIG possui a seguinte
estrutura:
-hardware: consiste na plataforma computacional utilizada;
-software: consiste no programa, módulos e sistemas vinculados;
-dados: consiste nos registros de informações resultantes de uma investigação; e
-peopleware: consiste nos profissionais e/ou usuários envolvidos.
Muitas pessoas se referem ao SIG como sendo especificamente um software e não à
tecnologia em si. O que se percebe é uma frequente dificuldade de comunicação entre
profissionais que utilizam a mesma nomenclatura para se referir a conceitos diferentes.
Assim, torna-se necessário explicar os principais componentes de um SIG, no qual o software
é apenas um dos componentes, sendo os outros o hardware, dados, usuários e metodologias.
(ROSA, 2005)
De uma maneira geral, podemos entender que um SIG contempla uma reunião de
sistemas associados, os quais são constituídos por programas com módulos diversos (outros
sistemas) que por sua vez, podem constituir-se em outros sistemas independentes. Como
funções destes sistemas, podemos destacar: aquisição e edição de dados; gerenciamento de
banco de dados; análise geográfica de dados; e a representação de dados (FITZ, 2008).
De forma mais abrangente, a figura 1 apresenta os componentes de um SIG.
80
Na figura 2, é apresentada a função específica de cada uma das partes desse sistema e
também como se dá o relacionamento entre elas.
Os componentes desse sistema se relacionam entre si de uma forma hierarquizada, em
que no nível exterior, que se encontra a interface controlada pelo usuário, é definido como o
sistema será operado e controlado. No nível intermediário, o SIG apresenta os mecanismos de
processamento de dados espaciais, ou seja, a entrada, edição, análise, visualização e saída de
informações. Já no nível mais interno, temos um sistema de gerência de banco de dados
geográficos que controla o armazenamento e a recuperação de dados espaciais e seus atributos
(CÂMARA; MEDEIROS, 1998).
Figura 1 – Componentes dos SIG
Fonte: CAMARA et al. (1996)
As funções de processamento dependem diretamente dos tipos de dados que estão
envolvidos na operação. Assim, uma análise geográfica engloba funções como superposição,
ponderação, medidas, mapas de distância, tabulação cruzada, dentre outras. Já o
processamento digital da imagem envolve funções como retificação, contraste, filmagem,
realce e classificação. Com relação a modelos numéricos do terreno, conseguimos obter a
geração de mapas com declividade e aspecto além de volumes, análise de perfis e a própria
geração do modelo a partir de pontos esparsos ou linhas, entre funções. Operações sobre
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
81
redes, temos a inclusão de caminhos ótimos e críticos e ligação topológica. Em termos de
visualização, esses sistemas têm por consequência o paradigma adotado para a interface
(CÂMARA; DAVIS; MONTEIRO, 2001).
Figura 2 – Arquitetura de Sistemas de Informações Geográficas
Fonte: CAMARA et al. (1996)
1.2.2 Estruturas de dados no SIG
Para fazer uso de um SIG, precisamos ter um banco dados georreferenciados, ou seja,
necessitamos de informações que possuam registros referenciados a um sistema de
coordenadas conhecidas. A manipulação desses elementos dá-se por meio de um sistema
gerenciador de banco de dados (SGBD). Quando desenhamos um SGBD, devemos ter plena
consciência de que os dados que o compõe devem estar de uma forma onde os mesmos são
capazes de relacionar-se entre si, para isso devemos utilizar dados como códigos
identificadores que vinculam os registros dentro do sistema. No SGBD de um SIG, é preciso
que os dados ditos tradicionais (alfanuméricos) possam ser vinculados a outros do tipo
espaciais, ou seja, a arquivos digitais gráficos (FITZ, 1998).
Existem várias formas de representar dados espaciais, sendo que quase todas são
variações produzidas sobre dois tipos básicos de representação: as estruturas raster e vetorial.
A principal diferença entre elas está no modelo de espaço que cada uma pressupõe. Enquanto
as estruturas do tipo vetorial se baseiam em um espaço contínuo que se comporta segundo
82
postulados da geometria euclidiana, as do tipo raster dividem o espaço geográfico em
elementos discretos, requerendo a adoção de uma geometria própria que poderia ser denomina
de geometria digital (ROSA, 2013).
Fitz (2008) complementa o descrito por Rosa (2013) dizendo que quando temos uma
estrutura do tipo vetorial, a composição é feita a partir de três primitivas gráficas (pontos,
linhas e polígonos) e se utiliza de um sistema de coordenadas para a sua representação. Já na
estrutura do tipo raster, que também pode ser chamada de matricial (em grade), os dados são
representados por uma matriz de n linhas e m colunas (M(n,m)), na qual cada célula,
denominada pixel (Picture element), apresenta um valor z que pode indicar, por exemplo, uma
cor ou tom de cinza a ele atribuído.
No quadro 2, Fitz (2008) descreve de forma comparativa a estrutura dos dados do tipo
raster e vetorial que são utilizados como base do SGBD dos SIG.
Os dados alfanuméricos são constituídos por caracteres, ou seja, letras, números e
sinais gráficos, e são armazenados em tabelas, as quais formam um banco de dados. Em um
SIG, os dados que forem dispostos nessas tabelas devem possuir atributos que possam
vinculá-los a estrutura espacial do sistema, identificado por suas coordenadas, atributos
específicos, descrição qualitativa ou quantitativa (FITZ, 1998).
Quadro 2– Diferenças entre estrutura de dados Raster e Vetorial
Raster Vetorial
Traduzem imagens digitais matriciais
geradas por sensoriamento remoto e
processos de escanerização.
Traduzem imagens vetorizadas, compostas
de pontos, linhas e polígonos.
Execução de operações entre camadas ou
layers de mesma área e atributos distintos; é
extremamente fácil e rápida.
Execução de operações entre camadas ou
layers de mesma área e atributos distintos; é
bastante complexa e demorada.
Vínculo com atributos alfanuméricos é
dificultado (pixel a pixel).
Vínculo com atributos alfanuméricos torna-
se facilitado, já que se dá através do ponto,
linha ou polígono registrado.
(Continua...)
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
83
Quadro 2– Diferenças entre estrutura de dados Raster e Vetorial
(Continuação...) Raster Vetorial
Resolução digital está vinculada
diretamente à quantidade de pixels da
imagem, podendo requerer processadores de
grande capacidade e velocidade.
Resolução digital do mapa é limitada pela
quantidade de vetores dispostos e de sua
impressão, proporcionando grande
detalhamento.
Fronteiras das imagens são descontínuas
(efeito serrilhado).
Fronteiras das imagens são contínuas (feições
regulares).
Cálculos de distâncias, áreas e etc.
vinculam-se ao desempenho do hardware.
Cálculo de distâncias, áreas e etc. são, em
geral, simplificados, tornando o processamento
mais rápido.
(Conclusão)
FONTE: FITZ (1998)
1.2.3 Introdução de dados em um SIG
Quando nos referimos à obtenção de dados em aplicações de geoprocessamento,
estamos diante de um processo complexo se comparado aos demais tipos de sistema de
informação. Isso é derivado do fato de que a entrada de dados não pode ser limitada ao
simples ato de inserção. As dificuldades surgem por duas razões: primeiro, por se tratar do
armazenamento de informações gráficas, o que já é algo muito mais complexo de se
armazenar; segundo, e principal, é devido à natureza das fontes de dados dessas aplicações.
Os dados manipulados dentro de um SIG, dizem respeito a fenômenos geográficos que estão
espalhados pelo globo terrestre, podendo ser sistemas naturais ou simplesmente construções
humanas, tais como: solos, vegetação, cidades, estradas e outros. Para captar essas
informações e lançá-las dentro de um SIG, é preciso ter uma fonte externa que colha os
registros desejados e posteriormente o levantamento realizado será descarregado no sistema
(LISBOA FILHO, 2001).
Os dados utilizados em um SIG podem ser originários de diversos tipos de fonte e são
classificados de maneira genérica em primários, quando o levantamento vem direto do campo
ou através de produtos obtidos de sensores remotos, e em secundários, por meio de mapas e
levantamentos estatísticos, que são derivados das fontes primárias. No Brasil, as principais
fontes de dados espaciais são as folhas topográficas em diferentes escalas editadas pelo
84
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pela Diretoria do Serviço Geográfico
do Exército (DSG). Outras boas fontes de dados são derivadas dos sensores remotos,
principalmente imagens, obtidas pelos satélites LANDSAT, SPOT, ERS, CBERS, entre
outros. Existem ainda as fotografias aéreas pancromáticas e coloridas que são feitas por várias
empresas de aerolevantamento existente no país. (ROSA, 2013).
O GPS pode ser apontado como um recurso capaz de calcular com precisão de
centímetros, dependendo do equipamento até milímetros, a posição de um ponto qualquer na
superfície terrestre, por isso vem sendo amplamente utilizado para a captação de dados
digitais (CÂMARA; DAVIS; MONTEIRO, 2001). Uma vez realizada a coleta dos dados, os
mesmos devem ser registrados em uma base cartográfica comum em um SIG. O processo de
levantamento de dados costuma ser caro e trabalhoso, assim, antes de se cogitar a realização
de uma coleta, é preciso fazer pesquisas para verificar se não existem dados disponíveis que
possam ser trabalhados e que vão sanar a necessidade de realizar um novo levantamento
(ROSA, 2013).
Os dados espaciais são a essência de qualquer SIG e possuem características próprias
(FITZ 2008). Para Rosa (2013), grande parte do valor investido no funcionamento desses
sistemas são para a aquisição, entrada, atualização e manipulação dos dados, assim torna-se
imprescindível que o usuário do SIG tenha um bom entendimento de todos os aspectos
relacionados com a aquisição e manipulação dos dados antes de aprender a operar o sistema.
Segundo o autor os erros que são associados à informação espacial são classificados em três
grupos, sendo eles:
- erros comuns: aqueles que estão diretamente associados ao controle do usuário e são
mais fáceis de serem checados, como exemplo, tem a idade dos dados, cobertura real, escala
do mapa/carta, dentre outros;
- erros resultantes de variações naturais ou de medidas originais: têm relação com
a variabilidade da informação espacial e a correspondente acurácia com que foi adquirido,
geralmente esse tipo de erro é detectado quando se está trabalhando intimamente com os
dados, como exemplos a acurácia posicional, acurácia de conteúdo e fontes de variações de
dados;
- erros de processamento: são aqueles inerentes às técnicas usadas para a entrada,
acesso e manipulação de informação espacial, são erros extremamente difíceis de serem
detectados, como exemplos, os erros numéricos no computador, falhas associadas com
análises topológicas e problemas de classificação e generalização.
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
85
1.2.4 Aplicações de SIG
Longley et al. (2013) relatam que quase tudo que ocorre no planeta, acontece em
algum lugar. Isso torna a questão da localização algo de suma importância para a resolução de
problemas na sociedade, alguns desses rotineiros e que por diversas vezes passam
despercebidos, como a questão diária do caminho a tomar para ir e voltar do trabalho, por
exemplo, outros que são mais complexos e exigem respostas rápidas, organizadas e
coordenadas de um amplo conjunto de indivíduos e órgãos, tal como a passagem do furacão
Katrina em New Orleans, que exigiu dos EUA uma resposta imediata de quais atitudes
deveriam ser tomadas, a fim de contornar os estragos causados pelo fenômeno meteorológico.
Os autores destacam ainda que problemas que estão relacionados à localização, seja na
informação usada para resolvê-lo ou na solução propriamente dita, são denominados
problemas geográficos. Conhecer e eliminar as barreiras impostas por esses empecilhos são
desafios dos gestores que para sanar o problema buscam auxílio em ferramentas que sejam
capazes de mostrar onde está explícito o transtorno e ajudem na tomada de decisões, sendo o
SIG um desses recursos.
A decisão de implantar um SIG surge a partir do momento em que determinada
instituição enxerga um problema geográfico que precisa contornar. No caso dos órgãos
públicos, um dos que mais fazem uso deste tipo de sistema, por exemplo, a necessidade de se
ter um sistema geográfico fica mais evidente, pois com ele é possível controlar a expansão
desordenada das áreas urbanas e ainda atender a necessidade crescente de demandas da
sociedade que vem exigindo respostas cada vez mais dinâmicas das administrações públicas
(BARROS, O.; BARROS, M.; CAVIGLIONE, 2001).
Stassun e Prado Filho (2012) vão além e descrevem que a utilização do SIG em uma
gestão municipal pode trazer melhorias do ponto de vista financeiro, com a atualização da
base cadastral, aumentando consequentemente a arrecadação do município. Melhorias no
fluxo viário, que afeta grande parte dos municípios brasileiros, permitindo um controle maior
das vias de trânsito. Impacto no controle de problemas relacionado a catástrofes naturais,
como enchentes, problemas sociais e crescimento urbano. Melhorias na área da saúde pública,
com a melhor distribuição dos profissionais da saúde, e na segurança pública, combatendo à
criminalidade nos locais onde os índices são mais elevados. E ainda apresentam soluções
voltadas para a Agricultura e o Turismo, mostrando áreas adequadas para a prática de ambos.
Dessa forma, percebemos que os SIG são destinados a vários tipos de aplicações, que
com o passar dos anos só vai se expandindo, acompanhando a evolução dos dispositivos de
86
coleta e as facilidades computacionais em geral (CÂMARA et al.,1996). Percebe-se, porém
que a maioria das aplicações de SIG estão voltadas à gestão municipal, ao meio ambiente, ao
planejamento estratégico de negócios, ao agronegócio e às concessionárias e redes (ROSA,
2013).
Câmara et al. (1996) classificam as áreas de aplicação de um SIG em três grupos
distintos, sendo elas:
- sócio-econômicas: cujo objetivo é o planejamento (análise preliminar) e a avaliação
de mudanças de uma região em resposta a uma determinada política (análise posterior). São
aplicados os sistemas de informação sobre o uso da terra e sistemas para mapeamento
automático/gerência de facilidade;
- ambientais: variam enormemente de área, enquadrando-se em aplicações de meio
ambiente de modelagem climática e ambiental, previsão numérica do tempo, monitoramento
do desflorestamento e da emissão e ação de poluentes;
- gerenciamento: voltado para gestão e tomada de decisões. Administrações públicas
vêm a cada dia utilizando esse tipo de sistema para melhorar a tomada de decisões em áreas
como tráfego urbano, planejamento e controle de obras públicas, planejamento da defesa civil,
dentre outros.
Dessa forma, percebemos que o uso do SIG reforça a ideia de que a ciência e a solução
de problemas práticos não se distinguem unicamente pelo método, confirmando o fato de que
os SIG podem ser amplamente utilizados em todos os tipos de organizações, indo desde os
órgãos governamentais até as corporações (LONGLEY et al., 2013).
Para Câmara et al. (1996), ao decidir-se pela implantação de um SIG, a instituição
deve seguir a três etapas básicas, sendo elas:
- a primeira fase, correspondente a modelagem do mundo real, engloba o desenho dos
processos e dos dados, consistindo na seleção de fenômenos e entidades de interesse,
abstraindo-os e generalizando-os. Nessa etapa, poderá ser escolhido diferentes conjuntos de
fenômenos para descrever uma mesma região ou distintas visões do mundo. Esse processo
refere-se a uma modelagem matemática que descreve operações envolvendo a representação e
manipulação de dados;
- para criar o banco de dados, segunda etapa do processo, é preciso seguir uma ordem,
sendo ela: coletar os dados relativos aos fenômenos de interesse identificados na etapa
anterior; corrigir os dados coletados (alguns podem apresentar falhas durante a coleta); e
finalmente georreferenciar os dados (associando cada dado a sua localização geográfica). Esta
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
87
costuma ser a etapa de maior custo do desenvolvimento de um SIG e pode ter seus custos
minimizados caso seja feita uma modelagem adequada;
- a fase final, operação do sistema, consiste na utilização do mesmo pelos usuários. Ela
se refere ao desenvolvimento das aplicações específicas por parte do operador do sistema, a
partir dos dados que foram armazenados, redesenhando a realidade.
1.2.5 Histórico de Criação dos SIG
Segundo Longley et al. (2013), existem algumas controvérsias com relação a história
dos SIG, pois houve um desenvolvimento simultâneo na América do Norte, na Europa e na
Austrália (no mínimo). Porém, muito da história publicada tem o foco nas contribuições dos
EUA, por isso não se encontra uma história arredondada do assunto.
As técnicas de geoprocessamento começaram a ser desenvolvida nos anos 50 nos
Estados Unidos e tinham como objetivo principal reduzir custos na produção e manutenção de
mapas. Porém, devido a toda precariedade da informática da época, não podemos classificar
esses sistemas como sendo um “sistema de informação” (CÂMARA; DAVIS; MONTEIRO,
2001). Os primeiros SIG de fato, surgiram alguns anos depois dessa tentativa inicial, já na
década de 60, no Canadá (Canada Geographic Information System – CGIS), sendo parte de
um programa governamental para criar um inventário de recursos naturais. Os resultados mais
úteis do inventário realizado foram as medidas de áreas. Esse sistema foi planejado e
desenvolvido como uma ferramenta de mensuração, um produtor de informação tabular, não
como uma ferramenta de fazer mapas (LONGLEY et al., 2013).
Uma segunda inovação de software veio no final dos anos 60 nos EUA derivado do
órgão de recenseamento, que desenhou um sistema para realizar o Censo Demográfico de
1970 do país. O programa denominado DIME – Dual Independent Map Coding criou
registros digitais de todas as ruas dos EUA para dar suporte de referência e agregação
automática aos registros do censo. A similaridade com o CGIS foi rapidamente identificada e
levou um importante laboratório de computação gráfica e de análise espacial da Universidade
de Harvard a desenvolver um SIG multifuncional que pudesse atender às necessidades de
ambas as aplicações. Daí derivou-se o software SIG ODYSSEY no final dos anos 70
(LONGLEY et al., 2013).
Ao longo dos anos 70, com os novos recursos de hardware que foram desenvolvidos, a
produção de SIG comerciais se tornou viáveis e foi ainda nesse período que surgiu os
primeiros sistemas CAD (Computer Aided Design – Projeto Assistido por Computador), que
88
revolucionaram a produção de desenhos e plantas para engenharia e serviram de base para a
cartografia automatizada (CÂMARA; DAVIS; MONTEIRO, 2001).
Os SIG começaram a apresentar um crescimento interessante a partir dos anos 80,
quando os preços dos computadores caíram. Entre os primeiros clientes estavam as
companhias florestais e agências de recursos naturais, levadas pela necessidade de controlar
um vasto recurso florestal e de regular uso efetivo. O preço do sistema girava em torno de U$
100.000,00, mas mesmo sendo essa pequena fortuna as empresas faziam o investimento, pois
os benefícios eram consideráveis, principalmente com relação a tomada de decisão
(LONGLEY et al., 2013).
Câmara, Davis e Monteiro (2001) discursaram ainda que no caso do Brasil o SIG
chegou a partir dos anos 80 quando o professor Dr. Roger Tomlison, que criou o primeiro
SIG, incentivou o aparecimento de vários grupos interessados em desenvolver esse tipo de
tecnologia.
A evolução dos SIG transcorreu basicamente em três etapas. Câmara e Medeiros
(1998) descrevem que na primeira, esses sistemas tinham como características básicas a
tradição na Cartografia, com um suporte limitadíssimo de banco de dados. Domingues e
Simões (2007) complementam a informação dizendo que essa geração de SIG foram as
desenvolvidas a partir do início da década de 1980 e os dados geográficos eram armazenados
de forma separada, com os atributos descritivos guardados em tabelas, e as geometrias, em
formatos proprietários.
A segunda geração, vinda já na década de 90, caracterizou-se por ser desenvolvida
para ambientes cliente-servidor, acoplados a gerenciadores de banco de dados relacionais e
com pacotes adicionais para processamento de imagens (CÂMARA; MEDEIROS, 1998).
Possui, até nos dias de hoje, gerenciadores de dados geográficos que armazenam tanto a
geometria quanto os atributos dos objetos num SGBD (DOMINGUES; SIMÕES, 2007).
Já a terceira e mais recente atualização surgida a partir do fim dos anos 90 é
caracterizada pelo gerenciamento de grandes bases de dados geográficos, com acesso por
intermédio de redes locais e remotas, com interface via web (CÂMARA; MEDEIROS, 1998).
Consiste no compartilhamento de diferentes bases de dados geográficos por um conjunto de
organizações públicas e privadas de um mesmo país ou entre países. O requisito básico é a
interoperabilidade entre as instituições, a partir de protocolos de intercâmbio de dados e
estabelecimento de padrões e procedimentos comuns, que recebe o nome de Infraestrutura de
Dados Espaciais – IDE (DOMINGUES; SIMÕES, 2007).
No quadro 3, é apresentada a cronologia de evolução da tecnologia do SIG.
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
89
Quadro 3 – Evolução da tecnologia de SIG
1ª Geração
(1983-1990)
2ª Geração
(1990 – 1997)
3ª Geração
(1997 - ?)
Tecnologia CAD, Cartografia BDados, imagens Sist. distribuídos
Uso Principal Desenho de mapas Análise Espacial Centro de Dados
Ambiente Projetos Isolados Cliente-Servidor Multisservid., web
Sistemas Pacotes Separados Software Integrado Interoperabilidade
FONTE: (CÂMARA; MEDEIROS, 1998)
2 REFERÊNCIAS BARROS, O. N. F.; BARROS, M. V. F.; CAVIGLIONE, J. H. Uma proposta para implantação do SIG na cidade de Londrina. GEOGRAFIA (Londrina), v. 10, n. 2, p. 211-224, 2001. CÂMARA, G. et al. Anatomia de Sistemas de Informação Geográfica. INPE, 1996. Disponível em: <http://www.dpi.inpe.br/geopro/livros/anatomia.pdf>. Acesso em: 15 abr. 2017. CÂMARA, G.; MEDEIROS, J. S. Sistemas de Informações Geográficas – Aplicações na Agricultura. In: ASSAD, E. D.; SANO, E. E. Embrapa, edição 2,1998a, cap. 01, p. 3-11. CÂMARA, G.; DAVIS, C.; MONTEIRO, A. M. V. Introdução à ciência da geoinformação. INPE, 2001. DOMINGUES, C. V.; SIMÕES, L. L. O SIG na gestão pública: Análise crítica de um caso bem-sucedido-desafios e perspectivas. Exacta, v. 5, n. 2, 2007. FITZ, P. R.. Geoprocessamento sem Complicação. São Paulo. Editora Oficina dos Textos, 2008. GORNI, D. et al. Open source Web GIS–Sistema de Informação Geográfica de Expedições. Anais XIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, INPE, p. 3953-3960, 2007. LISBOA FILHO, J. Projeto de banco de dados para sistemas de informação geográfica. Revista Eletrônica de Iniciação Científica, Porto Alegre, v. 1, n. 2, 2001. LONGLEY, P. A. et al. Sistemas e ciência da informação geográfica. Bookman Editora, 2013. MARINHA DO BRASIL. Disponível em: <http://www.mar.mil.br/dhn/chm/box-cartas-nauticas/cartas.html>. Acesso em: 11 abr. 2017. MELO, J. A. B de; OLIVEIRA, M. M. de. Educação Geográfica e Geotecnologias: Da Reprodução à Reconstrução do Conhecimento na Sala de Aula. 10º Encontro Nacional de
90
Prática de Ensino em Geografia (ENPEG), Porto Alegre, RS, 2009. Disponível em: <http://www.agb.org.br/XENPEG/artigos/GT/GT4/tc4%20(51).pdf>. Acesso em: 10 mai 2017. MENESES, P. R.; ALMEIDA, T. Introdução ao Processamento de Imagens de Sensoriamento Remoto. UNB/CNPQ, Brasília, DF, 2012. Disponível em: <http://www.cnpq.br/documents/10157/56b578c4-0fd5-4b9f-b82a-e9693e4f69d8>. Acesso em: 10 mai 17. ROSA, R. Geotecnologias na geografia aplicada. Revista do Departamento de Geografia, v. 16, p. 81-90, 2005. ROSA, R. Introdução ao geoprocessamento. Uberlândia: Universidades Federais de Uberlândia, 2013. SHIRATSUCHI, L. S. et al. Sensoriamento Remoto: conceitos básicos e aplicações na Agricultura de Precisão. In: BERNARDI, A. C. C.; NAIME, J. M.; RESENDE, A. V.; BASSOI, L. H. Agricultura de precisão: resultados de um novo olhar, p. 58-73, 2014. SILVA, J. X. O que é Geoprocessamento? Revista Crea-RJ. Ed out/nov/dez 2009, Rio de Janeiro, RJ. Disponível em: <http://www.ufrrj.br/lga/tiagomarino/artigos/oqueegeoprocessamento.pdf>. Acesso em: 10 abr. 17 STASSUN, C. C.; PRADO FILHO, K. Geoprocessamento como prática biopolítica no governo municipal. Revista de Administração Pública, v. 46, n. 6, p. 1649-1669, 2012. STRICKLAND, C.; BOSWELL, J. Arte comentada: da pré-história ao pós-modernismo. Rio de Janeiro. Editora Ediouro, edição 8, 2012. VAZ, J. C. Geoprocessamento: dicas idéias para ação municipal. São Paulo, PÓLIS, n.94, 1997. Disponível em:<http://www.bibliotecadigital.abong.org.br/bitstream/handle/11465/1429/445.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 10 abr. 17.
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
91
Capítulo 7
Assistência Estudantil: igualdade de oportunidade a todos
Simone Paiva de Araujo17
Ulysses Rodrigues Vianna18
1 INTRODUÇÃO
Na formação da sociedade brasileira a educação tem sido reconhecida como um direito
fundamental. Desde o início da implementação da nossa constituição, em 1934, a educação
foi colocada como um direito de todos, e que nela haveria a necessidade de se ter uma
assistência aos estudantes (BRASIL, 1934).
Com as reformulações de nossa constituição, a educação tornou-se mais evidente,
principalmente com a implantação das Leis de Diretrizes e Bases da Educação, nas quais a
assistência estudantil deveria se tornar uma oportunidade a todos (BRASIL, 1996).
Outro fator que propiciou o fortalecimento da implementação da assistência estudantil
foi o grupo de profissionais que participaram do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos
Comunitários e Estudantis – FONAPRACE, que em suas pesquisas demonstraram a
importância de se ter uma política de assistência estudantil para que os estudantes pudessem
permanecer nas IFES (Instituições Federais de Ensino Superior), bem como concluírem seus
cursos (FONAPRACE, 2012). Depois desse fato, elaborou-se um plano nacional de
assistência estudantil, no ano de 2007, o qual teve como objetivo apresentar diretrizes
norteadoras para a definição de programas e projetos de assistência estudantil. Nesse mesmo
ano, o Ministério da Educação regulamentou a Portaria Normativa nº 39, a qual instituía o
Programa Nacional de Assistência Estudantil – PNAES, para as universidades federais. Este
17 Mestranda em Gestão Pública - Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: [email protected]; 18 Professor Adjunto do Departamento de Produção Vegetal - Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias e Engenharias, e-mail: [email protected].
Assistência Estudantil: igualdade de oportunidade a todos
92
programa foi revalidado por meio do Decreto nº 7234, de 10 de julho de 2010 (BRASIL,
2010).
A necessidade dessa política de assistência estudantil se justifica no momento em que
a educação superior inicia um processo de ampliação das medidas de acesso e de inclusão,
bem como da criação de novas universidades e de novas vagas nas universidades existentes.
Esses fatos auxiliaram a fomentação de políticas de ações afirmativas, que a assistência
estudantil era indispensável para a garantia de condições de permanência dos novos
acadêmicos nesse grau de ensino.
De nada adianta apenas a inclusão de alunos de baixa renda, se não houver a paralela
garantia de que eles possam participar ativamente da vida universitária e concluir com sucesso
os cursos de graduação.
Tendo como meta conhecer e propiciar uma análise das atuais ações de assistência
estudantil nas IFES, por meio do princípio da oferta de igualdade de oportunidades, alguns
questionamentos nortearam pesquisas para elucidar algumas indagações, tais como:
- Como estão sendo efetivadas, nas universidades brasileiras, as políticas de assistência
estudantil?
- As universidades possuem um Plano de Assistência Estudantil para nortear as ações?
- Em caso afirmativo, este Plano está em consonância com o Programa Nacional de
Assistência Estudantil aprovado em 2007?
- A política de Assistência Estudantil está garantindo o acesso e a permanência dos estudantes
nas universidades?
2 AS POLÍTICAS DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL IMPLEMENTADAS EM
ALGUMAS UNIVERSIDADES DO BRASIL
2.1 HISTÓRICO E LEGISLAÇÕES
Desde a constituição de 1934, cabia privativamente à União traçar as diretrizes da
educação nacional e defendia que a educação é direito de todos e deve ser ministrada pela
família e pelos Poderes Públicos. As Unidades da Federação, no artigo 157, dessa mesma
constituição, já deveriam reservar uma parte dos seus patrimônios territoriais para a formação
de fundos de educação, aplicando parte desses em auxílios a alunos necessitados, fornecendo
gratuitamente material escolar, bolsas de estudo, assistência alimentar, dentária e médica
(BRASIL, 1934).
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
93
Já na Constituição de 1946, além das competências de legislar sobre as diretrizes e
bases da educação nacional, conforme artigo 5°, inciso XV, alínea B, no artigo 172, obrigava
a cada sistema de ensino ter serviços de assistência educacional que assegurassem aos alunos
necessitados condições de eficiência escolar (BRASIL, 1946).
No artigo 168 da Constituição de 1967, a educação permanece sendo ministrada nos
lares e nas escolas, porém passava a assegurar a igualdade de oportunidade e no parágrafo
segundo do artigo 169, continua garantindo os serviços de assistência educacional aos alunos
necessitados para que assegure aos mesmas condições de eficiência escolar (BRASIL, 1967).
Direitos sociais, conforme o artigo 6° da Constituição Federal de 1988 são a educação,
a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados e a educação;
como é direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a
colaboração da sociedade e terá igualdade de condições para o acesso e permanência na
escola. Ainda na CF de 1988, no artigo 214, fica estabelecido a criação de um Plano Nacional
de Educação (PNE), de duração decenal, e que teria como meta articular o sistema nacional de
educação em regime de colaboração para definir diretrizes, metas e estratégias de
implementação, para assegurar a manutenção e elaborado pela União com a colaboração dos
Estados, Distrito Federal e Municípios (BRASIL, 1988). O PNE foi regulamentado por meio
da Lei 10.172/2001 com os objetivos, dentre outros, de melhorar a qualidade do ensino,
reduzir a desigualdade social no processo de acesso e permanência na escola, definir as
diretrizes da educação (BRASIL, 2001).
A Lei n° 9.394/1996, a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), conforme Costa (2009),
busca estruturar e orientar o funcionamento da educação no Brasil, também reforça o
princípio da igualdade na educação, ao mesmo tempo, é possível verificar que há um
encaminhamento para se pensar a educação voltada pra as necessidades de determinados
grupos e situações específicas.
Em 2007, o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais – REUNI, foi instituído através do Decreto 6.096, com o objetivo de
criar condições para a ampliação do acesso e permanência na educação, como meta global a
elevação gradual da taxa de conclusão média dos cursos de graduação e as diretrizes, entre
elas a redução das taxas de evasão, ocupação de vagas ociosas e aumento de vagas de
ingresso, especialmente no período noturno e a ampliação de políticas de inclusão e
assistência estudantil (BRASIL, 2007a).
Assistência Estudantil: igualdade de oportunidade a todos
94
Logo após a instituição do REUNI, o Decreto 6.135, que dispõe sobre Cadastro Único
para programas sociais do governo Federal, determina as definições para o referido cadastro
conforme artigo 4°: Art. 4o Para fins deste Decreto, adotam-se as seguintes definições: I - família: a unidade nuclear composta por um ou mais indivíduos, eventualmente ampliada por outros indivíduos que contribuam para o rendimento ou tenham suas despesas atendidas por aquela unidade familiar, todos moradores em um mesmo domicílio. II - família de baixa renda: sem prejuízo do disposto no inciso I:
a) aquela com renda familiar mensal de até meio salário mínimo; ou b) a que possua renda familiar mensal de até três salários mínimos;
III - domicílio: o local que serve de moradia à família; IV - renda familiar mensal: a soma dos rendimentos brutos auferidos por todos os membros da família, não sendo incluídos no cálculo aqueles percebidos dos seguintes programas:
a) Programa de Erradicação do Trabalho Infantil; b) Programa Agente Jovem de Desenvolvimento Social e Humano; c) Programa Bolsa Família e os programas remanescentes nele unificados; d) Programa Nacional de Inclusão do Jovem - Pró-Jovem; e) Auxílio Emergencial Financeiro e outros programas de transferência de
renda destinados à população atingida por desastres, residente em Municípios em estado de calamidade pública ou situação de emergência; e
f) demais programas de transferência condicionada de renda implementados por Estados, Distrito Federal ou Municípios; V - renda familiar: razão entre a renda familiar mensal e o total de indivíduos na família (BRASIL, 2007b).
O Programa Nacional de Assistência Estudantil – PNAES foi instituído pelo Decreto
7.234/2010 e tem por objetivos (i) democratizar as condições de permanência dos jovens na
educação superior pública federal; (ii) minimizar os efeitos das desigualdades sociais e
regionais na permanência e conclusão da educação superior; (iii) reduzir as taxas de retenção
e evasão; e (iv) contribuir para a promoção da inclusão social pela educação (BRASIL, 2010).
A implementação do PNAES deu-se de forma articulada com as atividades de ensino,
pesquisa e extensão e ações que deverão ser desenvolvidas nas áreas: (I) moradia estudantil;
(II) alimentação; (III) transporte; (IV) atenção à saúde; (V) inclusão digital; (VI) cultura; (VII)
esporte; (VIII) creche; (IX) apoio pedagógico; (X) acesso, participação e aprendizagem de
estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades e
superdotação.
Por meio de Resoluções implementadas, as instituições deverão definir os critérios e a
metodologia de seleção dos alunos de graduação a serem beneficiados, considerando a
necessidade de igualdade de oportunidade, melhora do desempenho acadêmico, agindo de
forma preventiva nas situações de retenção e evasão decorrentes da insuficiência financeira.
Os alunos da rede básica ou com renda familiar per capita de até um salário mínimo e
meio, serão atendidos prioritariamente pelo programa.
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
95
No artigo 5°, parágrafo único, inciso II, do Decreto 7.234/2010, as IFES deverão fixar
mecanismos de acompanhamento e avaliação do PNAES e, para tal avaliação, o
FONAPRACE (2012) diz que as instituições de ensino deverão: • Estabelecer indicadores para pontuar a oferta dos serviços em relação ao atendimento à demanda; • Avaliar a melhoria do desempenho acadêmico do estudante usuário da assistência, estabelecendo uma rede de informações entre Pró-Reitorias, departamentos de administração acadêmica e colegiados de cursos; • Identificar a dinâmica do uso de serviços de complementação da vida acadêmica pelos estudantes usuários dos programas e projetos (bibliotecas, videotecas, eventos culturais e apresentação de projetos de pesquisa e extensão).
Nos anos 2000, com a expansão da educação superior federal, foi necessário
desenvolver ações que auxiliassem na permanência e inclusão dos novos alunos, que com o
aumento no número de vagas causado pela expansão, houve alteração no perfil dos
graduandos das IFES, pois os estudantes de níveis socioeconômicos mais baixos tiveram
maior acesso ao ensino superior igualitário. Essas ações visavam à permanência e conclusão
do curso de graduação, mostrando que são aliadas para reduzir as desigualdades e auxiliar na
diminuição da repetência e evasão (PINTO; DAVID; MACHADO, 2015).
2.2 OS AUXÍLIOS NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
A Universidade Federal do Espírito Santo – UFES, por meio da Resolução 03/2009 do
Conselho Universitário teve aprovado o seu Plano de Assistência Estudantil, no qual, em seu
anexo I, por meio de algumas pesquisas realizadas por diversas universidades, diz “que os
estudantes com baixa renda familiar, mas que fazem parte de algum programa de apoio nessas
instituições teve rendimento acadêmico superior aos demais estudantes”. Alguns alunos
concluem seus cursos mais rapidamente, com melhor desempenho, apresentam menor
percentual de abandono, de reopção e de trancamento de matrícula (UFES, 2009).
De acordo com o secretário de políticas do ensino superior da Sesu (Secretaria de
Ensino Superior) do MEC, Luiz Roberto Liza Curi, "a evasão reduz a eficiência do sistema,
além de torná-lo excessivamente caro" (FOLHA DE SÃO PAULO, 1998), corroborando com
a ideia acima, Merion Campos Bordas afirma que "a evasão decorre de fatores externos e
internos ao sistema. Mas cabe à Universidade criar os meios para estimular o aluno" (FOLHA
DE SÃO PAULO, 1998).
Por meio a Portaria 2.731/2015 – R, que cessa os efeitos da Portaria nº 2.101/2014-R,
e regulamenta o Programa de Assistência Estudantil da Universidade Federal do Espírito
Santo (PROAES-UFES), no artigo 3°, define seus objetivos, sendo (I) contribuir para o acesso
Assistência Estudantil: igualdade de oportunidade a todos
96
aos direitos essenciais de alimentação, moradia e transporte; (II) promover ações de caráter
psicossocial; (III) proporcionar condições de acesso e permanência na perspectiva da inclusão
social e democratização do ensino; (IV) analisar, planejar e promover ações que visem à
redução dos índices de evasão e retenção universitária, quando motivadas por fatores
socioeconômicos. Compreende os seguintes auxílios: I. auxílio alimentação; II. auxílio
material de consumo; III. auxílio moradia; IV. auxílio transporte; V. acesso ao estudo de
língua estrangeira; e VI. empréstimo estendido de livros (UFES, 2015).
2.2.1 Os auxílios
O auxílio alimentação é para desconto de 50% (cinquenta por cento), para aqueles
alunos com, após 2015, renda per capita de até 1,5 (um vírgula cinco) salários mínimos, e o
desconto de 100% (cem por cento), para aqueles com renda per capita de 1 (um) salário
mínimo. Caso tenham filhos de até 6 (seis) anos e 11 (onze) meses, também receberão o
mesmo desconto. O auxílio material de consumo é um auxílio financeiro no valor de R$ 50,00
(cinquenta reais) que servirá para custear parte das despesas com material de uso didático
exigido no curso. O auxílio moradia é para atender alunos que residirão fora da cidade de
origem, também financeiro, no valor de R$ 200,00 (duzentos reais) para custear parte dessa
despesa. O auxílio transporte é destinado a custear parte das despesas de locomoção até a
Universidade, no valor de R$ 68,50 (sessenta e oito reais e cinquenta centavos), diferentes
para cada campi, pois em cada um há uma necessidade diferente. O acesso ao estudo de
língua estrangeira consiste na oferta de bolsas de estudos para os estudantes cadastrados no
PROAS-UFES, sendo de acordo com a disponibilidade orçamentária e em condições pré-
estabelecida em edital próprio. O empréstimo estendido de livro consiste na dilatação do
prazo de permanência com o livro nas bibliotecas da Universidade.
Os auxílios em pecúnia são depositados em conta bancária informada no ato do
cadastramento e de total responsabilidade do aluno. Os auxílios se agrupam de quatro
maneiras e de acordo com a renda familiar; ambos recebem auxílio alimentação:
Auxílio A – Material de Consumo, Moradia e Transporte;
Auxílio B - Material de Consumo e Moradia;
Auxílio C - Material de Consumo e Transporte;
Auxílio D - Material de Consumo.
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
97
2.2.2 Outros serviços e projetos:
A Portaria 2.731/2015- R, além dos auxílios mencionados acima, apresenta outros
serviços e projetos que tendem a melhorar a convivência do aluno distante do grupo familiar,
melhorar o desempenho acadêmico e até mesmo, cuidar da saúde do aluno, como por
exemplo: I. atenção psicossocial; II. assistência à saúde por meio de projetos desenvolvidos
em parceria com o Departamento de Atenção à Saúde da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas
(DAS/PROGEP) desta Universidade; e III. assistência em enfermagem desenvolvido nos
campi de Alegre e São Mateus (UFES, 2015).
Dentre os projetos e serviços acima citados, outros poderão ser desenvolvidos pelos
setores responsáveis mediante disponibilidade orçamentária e efetivação de parcerias. O aluno
para ter acesso ao Programa precisa estar regularmente matriculado, entregar a documentação
exigida corretamente, ter a renda per capita familiar dentro da média exigida e, para que
continue no programa, deverá atender a requisitos básicos como os previstos no artigo 12: I.
estar matriculado em disciplinas cuja carga horária total alcance, no mínimo, 240 horas
semestrais; II. ter aprovação em, no mínimo, 50% das disciplinas cursadas no semestre; e III.
manter atualizada as informações referentes à condição socioeconômica da família.
O cadastro e o recebimento de auxílios serão cancelados a pedido do estudante,
quando o mesmo concluir seu curso, por abandono ou trancamento de curso, quando deixar de
comparecer às convocações dos setores responsáveis sem justificar a ausência, entre outros.
Esses auxílios e ações serão financiados por recursos do PNAES e repassados à UFES
pelo Ministério da Educação e serão concedidos aos alunos até o limite orçamentário do
PNAES disponibilizados pela Reitoria à PROAECI.
2.2.3 Procedimento para seleção de candidatos à bolsa auxílio do PNAES
Conforme Aguiar, Silva e Schramm (2014), após diversos estudos, verificou-se que as
instituições se preocupam com as bases do PNAES, porém, não há uma padronização que
estruture o processo e que garanta a consideração de todas as exigências do PNAES e que é
um grande desafio, pois há uma elaboração de procedimentos para definir o perfil de
vulnerabilidade do aluno com critérios diferentes e chega ao critério renda per capita, por ser
critério prioritário para a concessão da bolsa.
Constatou-se, durante o estudo, que é comum as IFES criarem critérios diferenciados
para complementar as exigências do programa, como por exemplo, uso de entrevistas como
Assistência Estudantil: igualdade de oportunidade a todos
98
mecanismo de avaliação, porém, dentre as IFES pesquisadas, apenas a UFES, não utiliza tal
critério.
A entrevista utilizada avalia aspectos como:
- Problemas de saúde tanto do aluno como de seu grupo familiar;
- Investimentos que são considerados como básicos para a estrutura familiar;
- Situação de moradia, se própria quitada ou financiada ou se mora de aluguel;
- Programas de transferência de renda;
- Tempo de curso integralizado, referindo-se a porcentagem de carga horária obrigatória
concluída no curso;
- Proximidade entre moradia e universidade, verifica a distância, uma vez que longas
distâncias aumentam os custos e implicam em disponibilidade em frequentar o curso;
- Condições de emprego visa avaliar se os membros do grupo familiar em condições de
trabalho estão de fato trabalhando e grau de estabilidade ou possibilidade de ter ascensão
profissional ao deixar de ser desempregado;
- Fragilização de vínculos afetivos relacionais e de pertencimento social;
- Composição familiar visa averiguar como o aluno chegou até a universidade, se teve apoio
familiar, se morava sozinho, se sustentava e se teve algum tipo de suporte;
- Moradia em condições de risco, analisa onde é a moradia do aluno, que condições o aluno
vive.
Observou-se que alguns critérios são redundantes, pois avaliam o mesmo critério,
porém, esse modelo pode sofrer reestruturação para que se torne mais “robusto, ágil,
imparcial e que garanta a observação de todos os aspectos apreciados”, conforme Aguiar,
Silva e Schramm (2014).
2.3 A PERMANÊNCIA DOS ASSISTIDOS NA EDUCAÇÃO SUPERIOR
Costa (2009) menciona em seu artigo outras ações, como o Programa Universidade
para Todos (PROUNI); Fundo de Financiamento ao Estudante de Ensino Superior (FIES);
Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais
(REUNI); além do PNAES, que objetivam o acesso e a permanência dos estudantes nas
universidades, cada um com seus critérios específicos e diz ser frágil essa fase das políticas de
assistência estudantil, pois não se pode afirmar que há a equidade na educação superior, pois
ainda faltam elementos concretos para se afirmar tal equidade. Diz ainda, que todas as
medidas tomadas referente às políticas de assistência, são relevantes, mas não são suficientes
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
99
a ponto de garantir a equidade na universidade, sugerindo a necessidade de um investimento
em recurso ainda maior e que os indivíduos sejam capacitados para gerir as ações do
Programa.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Cada IFES implementa as ações e programas de acordo com suas necessidades e
dentro de suas destinações financeiras e estrutura funcional, elabora os critérios de adesão ao
programa, sempre observando os critérios pré-estabelecidos na legislação.
As ações implementadas pelas IFES devem objetivar a equidade, para que os alunos
de menor renda possam se manter na universidade e ter a garantia de que poderá concluir seus
estudos com o apoio da instituição.
Ressalta-se a importância de monitoramento e avaliação do Programa, para certificar
que os objetivos do PNAES sejam alcançados, contribuindo assim para uma igualdade social.
4 REFERÊNCIAS
AGUIAR, E. S.; SILVA, V. B. S.; SCHRAMM, F. Proposta de um Procedimento para a seleção de Candidatos à bolsa Auxílio do PNAES. 2014. BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 16 de julho de1934. 1934. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao34.htm>. Acesso em: 20 ago. 2016. ______. Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 18 de setembro de 1946. 1946. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao46.htm>. Acesso em: 20 ago. 2016. ______. Constituição da República Federativa do Brasil, de 24 de janeiro de 1967. 1967. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ Constitui%C3%A7ao67.htm>. Acesso em: 05 set. 2014. ______. Constituição 1988. Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF: Imprensa Nacional, n. 191-A, 5 out. 1988. ______. Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da educação nacional. Legislação, Brasília, DF, dez. 1996. Disponível em: <http:// www.mec.gov.br/sef/fundef/Ftp/leg/lein9394.doc>. Acesso em: 20 ago. 2016.
Assistência Estudantil: igualdade de oportunidade a todos
100
______. Presidência da República. Lei nº. 10.172, de 09 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 10 jan. 2001. ______. Decreto nº 6.096 de 26 de junho de 2007. Institui o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais - REUNI. 2007a. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6096.htm>. Acesso em: 20 ago. 2016. ______. Decreto nº 6.135 de 26 de junho de 2007. Dispõe sobre o Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal e dá outras providências. 2007b. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6135.htm>. Acesso em: 20 ago. 2016. ______. Decreto nº 7234, de 19 de julho de 2010. Dispõe sobre o Programa Nacional de Assistência Estudantil - PNAES. 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007- 2010/2010/Decreto/D7234.htm>. Acesso em: 20 ago. 2016. COSTA, S. G. A Permanência na Educação Superior no Brasil: uma análise das políticas de Assistência Estudantil. 2009. FOLHA DE SÃO PAULO, Evasão em universidade pública chega a 40%. Matéria publicada no dia 13 de maio de 1998. 1998. FONAPRACE. Revista Comemorativa 25 Anos: histórias, memórias e múltiplos olhares. Org: ANDIFES. UFU, PROEX: 2012. PINTO, C. C.; DAVID, M. V.; MACHADO, C. S. A Política de Assistência Estudantil no Brasil: o caso da Universidade Federal de Juiz de Fora. 2015 UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO. Resolução nº 03/2009 do Conselho Universitário. Aprova o Plano de Assistência Estudantil desta Universidade. 2009. Disponível em: <http://www.daocs.ufes.br/sites/daocs.ufes.br/files/field/anexo/resolucao_03.2009.pdf>. Acesso em: 21 abr. 2017. ______. Portaria nº 2731 de 17 de dezembro de 2015. Cessa os efeitos da Portaria nº 2.101/2014-R e regulamenta o Programa de Assistência Estudantil da Universidade Federal do Espírito Santo (PROAES-UFES). 2015. Disponível em: < http://proaeci.ufes.br/sites/proaeci.ufes.br/files/field/anexo/portaria_2731-2015-r-regulamentar_o_programa_de_assistencia_estudantil.pdf>. Acesso em: 21 abr. 2017.
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
101
Capítulo 8
A estrutura funcional das Universidades Públicas Federais: da
origem à atualidade
Josiléia Curty de Oliveira19
Larice Nogueira de Andrade20
Ulysses Rodrigues Vianna21
1 INTRODUÇÃO
Historicamente, as universidades, por meio do ensino, da pesquisa e da extensão, além
de promover na sociedade avanços nos conhecimentos, também propiciam o fortalecimento
da economia e o desenvolvimento do país. Entretanto, nos últimos anos, surgiram várias
discussões sobre a função da universidade e a sua contribuição na construção da sociedade
contemporânea.
Constantemente as mudanças políticas e administrativas do Estado e as demandas da
sociedade moderna afetam diretamente as atividades acadêmicas e as ações das universidades,
principalmente as questões relacionadas à gestão universitária. Com todas essas
modificações, as universidades brasileiras convivem com o dilema de gestão administrativa
na qual seja formulado um modelo que atenda às suas especificidades. A obtenção desse
modelo de gestão não é tão simples, pois as universidades conservam o pluralismo político,
relacionados aos desejos da comunidade universitária composta pelos docentes, discentes e
técnico-administrativos (LOPES; BERNARDES, 2005).
Compreender e avaliar o que acontece nas universidades públicas federais à luz das
mudanças históricas, das exigências externas e das políticas do ensino superior brasileiro
19 Mestranda em Gestão Pública - Universidade Federal do Espírito Santo, Alegre, ES, e-mail: [email protected]; 20 Professora Adjunta do Departamento de Computação - Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Exatas, Naturais e da Saúde, Alegre, ES, e-mail: [email protected];
21 Professor Adjunto do Departamento de Agronomia - Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias e Engenharias, Alegre, ES, e-mail: [email protected].
A estrutura funcional das Universidades Públicas Federais: da origem à atualidade
102
torna-se importante para avançar as discussões acerca de qual modelo de gestão se adequa
melhor aos desafios contemporâneos.
Com este capítulo, busca-se estudar os modelos de organização estrutural existentes
nas universidades brasileiras, frente às mudanças de gestão acadêmica e administrativa, a fim
de avaliar os modelos organizacionais com o sistema departamental, de origem norte-
americana, implementado com a Reforma de 1968 (Lei 5540/1968) e os modelos de
universidades sem departamentos surgidos após a publicação da LDB 9394/96.
2 A ORIGEM DAS UNIVERSIDADES E A CONCEPÇÃO DOS MODELOS DE
GESTÃO
Uma das primeiras preocupações dos países era criar a sua universidade. No ocidente,
a universidade era considerada um patrimônio da civilização e se expandiu rapidamente pelos
países como uma instituição ecumênica (SUCUPIRA, 1972). Na Idade Média, o conceito de
universidade era prestigiado pela sociedade, uma vez que eram adotadas duas formas básicas
de ensino: a lectio (a leitura) e a quaestio (o questionamento). Ao serem criadas, algumas
universidades não possuíam prédios próprios e as aulas eram ministradas em salas dos
mosteiros, nas casas dos professores e, até mesmo, nas ruas (SIMÕES, 2013).
As primeiras universidades iniciaram no Ocidente, por volta do século V, entre elas:
Bolonha (1.088); Paris (1150); Oxford/Cambrigde (séc.XII); Pádua (1222); Nápoles (1224);
Toulouse (1229); Orleans/Praga (séc. XIII); Pisas (1343); Cracóvia (1364); Viena (1365);
Heidelberg (1385); Efurt (1397) e Colônia (1388) (JANOTTI, 1992; SIMÕES, 2013).
Quando surgiram, as universidades adotavam o regime catedrático, o qual era
organizado por uma corporação de mestres e discípulos, que formavam as cátedras, em que os
catedráticos detinham amplos poderes. Entretanto, observa-se que as universidades foram
constituídas por meio de vários modelos organizacionais, levando em consideração o contexto
histórico, social e econômico do país. Nesse contexto, destacam-se os Modelos Clássicos
Modernos e os Modelos Contemporâneos de Universidade (FIGURA 1).
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
103
Figura 1. Modelos de Universidade.
Fonte: Janne, 1981; Castanho, 2000
Nota: Elaborada pelos autores
2.1 MODELOS CLÁSSICOS MODERNOS
Os Modelos Clássicos Modernos são aqueles em que as universidades promovem a
gestão universitária em decorrência do momento histórico e econômico da sociedade. Nesse
sentido, a partir do século XIX, a universidade medieval, nos diferentes países, passou por
novas concepções pelas quais destacamos os modelos francês, alemão, inglês, americano e
soviético.
O modelo francês tem como característica o ensino profissional voltado para a
estabilidade política do Estado. O modelo alemão baseia-se na unidade de pesquisa e ensino e
tem por finalidade a aspiração da humanidade à verdade. O modelo inglês tem por base a
educação geral e liberal, cuja finalidade da universidade é a aspiração do indivíduo ao saber
universal. O modelo americano associa a pesquisa e o ensino a serviço da imaginação, tendo
como finalidade a aspiração da sociedade ao progresso. E por fim, o modelo soviético,
considerado um instrumento funcional de formação profissional e política, tem a finalidade de
edificação da sociedade comunista (JANNE, 1981).
Castanho (2000) apresenta os Modelos Clássicos Modernos em apenas quatro, sendo o
imperial napoleônico; o idealista alemão; o elitista inglês e o utilitarista norte-americano. O
Clássicos Modernos
Francês
Alemão
Inglês
Americano
Soviético
Contemporâneos
Democrático-nacional-
participativo
Neoliberal globalista-plurimodal
Referencial crítico-cultural-
popular
A estrutura funcional das Universidades Públicas Federais: da origem à atualidade
104
autor prefere não considerar o modelo soviético como um modelo de universidade em si e
também escolhe não unir os modelos clássicos inglês e norte-americano. Segundo o autor,
apesar de terem algo em comum, os dois modelos se distanciam em várias questões,
sobretudo pelo fato do modelo inglês ser elitizante e o norte-americano, democratizante. Os
modelos francês, alemão e norte-americano foram fundamentais para a consolidação da
instituição de ensino superior no Brasil.
O modelo francês se diferenciava dos demais pelo absoluto controle do Estado sobre a
instituição. O conteúdo dos cursos e todo financiamento do ensino e das pesquisas estavam
diretamente ligados aos interesses do Estado. A influência desse modelo manteve-se no
ensino superior brasileiro desde a criação das universidades até a Reforma de 68
(KNYCHALA; COSTA, 2010).
O modelo alemão foi inserido ao Brasil, em âmbito nacional, por meio da Lei
5.540/68. O processo ensino e aprendizagem orientavam-se na pesquisa da pós-graduação,
deixando a cargo da graduação a formação profissionalizante. Ressalta-se que as diretrizes
dessa lei, referentes ao ensino superior vigoraram até 1996, quando então foi criada a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394/96, a qual se baseou no modelo norte-
americano (MARCHESONI; MARQUES, 2011).
Diferentemente das propostas alemã e francesa, o modelo norte-americano não teve a
preocupação direta com a formação de uma identidade nacional no país, mas se associou às
necessidades da sociedade de consumo em massa e à reprodução do capital sobre as mais
diversas regiões. Ou seja, o modelo americano tem por objetivo atender a demanda de setores
produtivos do Estado e da sociedade. O modelo adotado no Brasil buscou ajustar o exercício
do ensino e da pesquisa às necessidades de uma sociedade capitalista. Logo, todo o
conhecimento produzido por esse modelo universitário era voltado apenas para as questões
técnicas e práticas, ignorando a formação intelectual e humanista, essencial ao
desenvolvimento científico e filosófico dos indivíduos (KNYCHALA; COSTA, 2010).
Cabe ressaltar que, a universidade no Brasil é determinada pela associação entre
ensino, pesquisa e extensão. O ensino é o processo de construção do saber; a pesquisa são os
processos de objetivação ou materialização desses conhecimentos, ambos provenientes do
modelo alemão. Já a extensão, que é considerada a intervenção sobre a realidade, é procedente
do modelo de universidade norte-americana (MARCHESONI; MARQUES, 2011).
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
105
2.2 MODELOS CONTEMPORÂNEOS
Os modelos contemporâneos têm por conceito principal a formação do indivíduo em
relação a um ideal ligado às questões históricas da sociedade. Nesse contexto, destacam-se os
modelos democrático-nacional-participativo; o neoliberal globalista-plurimodal e o referencial
crítico-cultural-popular (CASTANHO, 2000).
O modelo democrático-nacional-participativo surgiu com a crise do capitalismo na
primeira metade do século XX, período no qual culminou com a quebra da Bolsa de Nova
Iorque, em 1929, à terrível recessão dos anos 30 e a 2ª Grande Guerra Mundial (1940-1945).
Nesse período, a universidade se remodelou, passando a definir-se como instituição
democrática que proporcionava um espaço da livre manifestação da cultura nacional, uma vez
que seria na vida universitária que se formariam gerações capazes de compreender, assumir e
empreender as mudanças necessárias para o desenvolvimento (CASTANHO, 2013).
No final do século XX, a educação superior nos Estados Unidos passou por profundas
modificações, as quais propiciaram o surgimento do modelo neoliberal-globalista-plurimodal.
Esse modelo também está em sintonia com as alterações no processo produtivo e na forma de
acumulação do capitalismo. Embora tenha se constituído nos Estados Unidos, em outros
países, ele ainda está disputando o espaço público com o modelo democrático-nacional-
participativo (CASTANHO, 2000).
O modelo referencial crítico-cultural-popular afirma que a universidade precisa de ser
crítica, cultural e popular para atender à sociedade contemporânea. Esse modelo aponta para
uma universidade pública, acessível ao trabalhador, que aprimore a ciência, a pesquisa e o
compromisso com o futuro e não ceda às facilidades imediatistas do mercado (CASTANHO,
2013).
No Brasil, o modelo democrático-nacional-participativo foi vivido intensamente na
universidade, apesar de ter sido adotado apenas parcialmente pela Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB) de 1961 (BRASIL, 1961). O modelo representou o próprio espírito
da vida universitária desse período. É relevante destacar que esse modelo é o que
predominava nas universidades ocidentais, inclusive no Brasil, na segunda metade do século
XX. Entretanto, a partir da aprovação da nova LDB, a lei 9.394 de dezembro de 1996, a
educação superior no Brasil conheceu o modelo neoliberal-globalista-plurimodal, o que
proporcionou o desgaste do modelo democrático-nacional-participativo (CASTANHO, 2000).
A estrutura funcional das Universidades Públicas Federais: da origem à atualidade
106
3 HISTÓRICO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL NO CONTEXTO DA
UNIVERSIDADE PÚBLICA
O Ensino Superior no Brasil surgiu com a vinda da família real em 1808. Com a
política colonial portuguesa no país, estabeleceu-se exclusivamente o conceito de faculdade
isolada, em detrimento da ideia de universidade. Em 1920, a universidade surgiu no cenário
do ensino superior brasileiro, porém ainda como uma instituição isolada, contrariando os
princípios da integração de um conjunto maior de diversidades (ALBUQUERQUE, 1974).
Assim como em outros países, no Brasil, as universidades surgiram seguindo o modelo
de cátedras de origem francesa, em que os professores detinham amplos poderes. Considera-
se que o regime de cátedras foi a célula mãe das universidades brasileiras de ensino durante
dois séculos e meio. Atualmente, a cátedra é um conceito não existente em nossa memória. A
sua expressão aportuguesada denominada cadeira não passa de sinônimo de disciplina
(CUNHA, 1994).
Em sua formação, a universidade era apenas o somatório de escolas profissionais e
faculdades, que não se preocupavam com o ensino e a pesquisa nas diversas áreas do
conhecimento. Como exemplo destaca-se a então Universidade do Brasil e a Universidade de
Minas Gerais (atualmente Universidade Federal do Rio de Janeiro e Universidade Federal de
Minas Gerais, respectivamente). Na década de 1920, essas instituições eram bastante
semelhantes entre si, as quais se constituíam de um agregado de faculdades. Com o tempo,
essas instituições cresceram sem receber críticas em relação ao seu desenvolvimento e foram
estruturadas seguindo o modelo napoleônico, o qual foi implantado na sociedade brasileira
sem uma análise consciente de sua atuação (SUCUPIRA, 1972).
O primeiro ato inovador do ensino superior brasileiro foi em 1931, com a Reforma
Francisco Campos, por meio dos Decretos n.º 19.851 e 19.852. A partir dessa reforma, foi
iniciada a concepção de universidade no Brasil, trazendo a autonomia administrativa e
didática. Embora ainda relativa, estabeleceu-se que a universidade tivesse como objetivos
elevar o nível de cultura geral e estimular a pesquisa científica nas áreas do conhecimento
humano (ALBUQUERQUE, 1974).
Em 1961, a Lei de Diretrizes e Bases nº. 4.024/61 trouxe aspectos inovadores para o
ensino superior, um deles foi a criação do modelo de uma universidade tradicional, sob a
forma de fundação. Como exemplo tem-se a Universidade de Brasília (UnB), criada em 1962,
a qual aparece como o marco da luta entre a inovação e o tradicionalismo na definição das
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
107
universidades brasileiras (SUCUPIRA, 1972). Entretanto, não houve nenhuma modificação
substancial à estrutura tradicional da universidade brasileira.
Um dos aspectos inovadores da UnB foi abolir a faculdade como elemento isolado de
ensino e aprendizado e bem como permitir, por meio da criação de institutos, uma maior
flexibilidade do ponto de vista estrutural-acadêmico. Dessa forma, o conceito de faculdade
como ponto principal na estrutura da universidade foi afastado, tornando possível o emprego
de modelos institucionais diferentes dos até então existentes. Esse novo modelo de
universidade contribuiu para renovar a estrutura do ensino superior brasileiro, evitando a
duplicação de recursos humanos e materiais. Houve a inserção dos departamentos de ensino
com a consequente extinção das congregações, promovendo assim estudos direcionados e
uma estrutura universitária flexível (ALBUQUERQUE, 1974).
Na história das políticas públicas do ensino superior brasileiro, observa-se que as
reformas são muito influenciadas por políticas externas. Como podemos notar, as
universidades seguiam o padrão europeu, mas a partir da reforma de
1968, passaram a se organizar segundo o modelo americano, apresentado algumas inovações.
Dentre essas inovações, destaca-se a abolição da cátedra, a instituição dos departamentos
como unidades mínimas de ensino e pesquisa, a implantação do sistema de institutos básicos,
a organização do currículo nas etapas de formação profissionalizante e básica, a flexibilidade
curricular com o sistema de créditos, a semestralidade e o estabelecimento do duplo sistema
de organização, um vertical, passando por departamentos, unidades e reitoria, outro
horizontal, com a criação de colegiados de curso, que deveriam reunir os docentes dos
diferentes departamentos e unidades responsáveis por um currículo (PESSOA, 2000).
A Reforma Universitária de 1968 mudou o cenário do ensino superior do Brasil. A
extinção das cátedras e a progressão da carreira docente por titulação foram duas importantes
modificações. Em decorrência dessas mudanças, foi elaborado o I Plano Nacional de Pós-
Graduação – PNG com objetivos de intensificar as atividades de pesquisa e, em consequência,
propiciar o desenvolvimento científico e tecnológico do país e capacitar o corpo docente. A
formação docente que antes se dava no interior das cátedras, passou a ocorrer nos programas
de pós-graduação, com a integração no currículo da disciplina Metodologia ou Didática do
Ensino Superior (SOUZA, 2008). O fato é que em meio a tantas contradições, somente nos
anos 70 ocorreu a consolidação do ensino superior com o fortalecimento da pesquisa. Esse
ambiente criado pela reforma universitária somado à vontade política de um Estado Militar,
seguramente institucionalizou a educação superior que antes estava nas mãos de poucos
professores catedráticos (NACIF, 2011).
A estrutura funcional das Universidades Públicas Federais: da origem à atualidade
108
Nos últimos cinquenta anos, a universidade vem se recriando. Nas décadas de 60 e 70,
houve um rápido aumento no número de matrículas no ensino superior, depois de um período
de estagnação (NEZ; SILVA, 2012). Desde a década de 80, os movimentos sociais passaram
a lutar pela democratização e melhoria na oferta da Educação Superior. No início da década
de 90, após uma profunda crise econômica e política, o Brasil passou por um processo de
reformulação no sistema educacional, em que a educação assumiu novos papéis com
objetivos voltados para a mudança social (BRANDIM, 2017).
A partir desse cenário de reformas do Estado e da educação é que são inseridas novas
mudanças do ensino superior. Uma dessas ações foi o Programa Expansão das Universidades
Brasileiras e o de Reestruturação e Expansão das Universidades (REUNI) que contribuiu para
a consolidação da expansão da rede pública brasileira (BRASIL, 2007), potencializando o
aumento de vagas no ensino superior.
O programa REUNI foi instituído promovendo a ampliação da oferta de vagas na
educação superior pública, a reestruturação acadêmico-curricular, a renovação pedagógica, a
mobilidade intra e interinstitucional, o compromisso social da instituição e suporte da pós-
graduação ao desenvolvimento e aperfeiçoamento qualitativo dos cursos de graduação
(SILVA; MARTIS, 2014).
O objetivo do REUNI era a expansão do acesso e a ampliação das matrículas nas
instituições públicas, a fim de aproveitar a estrutura física e de recursos humanos existentes
nas universidades. O programa também teve como meta a elevação gradual da taxa de
conclusão média dos cursos de graduação presencias para 90% e da relação de 18 alunos de
graduação em cursos de graduação por professor ao final de cinco anos (2008-2012)
(ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS DIRIGENTES DAS INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE
ENSINO SUPERIOR - ANDIFES, 2017). Entretanto, os resultados gerais do programa são
amplamente criticados, principalmente em termos de expansão de matrículas e ganhos de
eficiência, uma vez que o programa fez surgir problemas relacionados à falta de planejamento
e bem como não promoveu uma proposta de avaliação na qualidade de ensino ofertado
(AFONSO et al., 2016).
Atualmente, a rede federal de ensino superior conta com 63 universidades federais,
sendo que 31 estão localizadas em capitais e 32 no interior (INSTITUTO NACIONAL DE
ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA - INEP, 2015). O REUNI
reorganizou a oferta, contribuindo para a interiorização e o surgimento de um novo modelo de
universidade, expandindo-se para várias regiões brasileiras com uma estrutura diferenciada
para atender a ampliação do sistema, que são hoje as universidades multicampi (NEZ, 2016).
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
109
As universidades se autodenominaram multicampi a partir do momento em que
vivenciaram o processo de expansão e interiorização do ensino superior. A criação das novas
universidades e de novas estruturas desconcentradas geograficamente constituíram os campi,
que se apresentam mais complexo e diferenciado, tanto em universidades criadas nas décadas
de 60, 70, 80, que se consolidam com a oferta de ensino em novos municípios, quanto nas
universidades criadas nas últimas décadas, que já surgiram num formato de composição em
diversos campi (SOUZA, 2015).
O modelo multicampi ainda é pouco estudado no Brasil, entretanto, é importante
buscar soluções aos problemas enfrentados na gestão multicampi, em particular, nos
processos de reestruturação organizacional administrativa das universidades federais que
possuem campi, a partir da implementação dos programas de expansão e interiorização da
oferta de ensino superior.
4 O SISTEMA DE CÁTEDRAS E AS REFORMAS DO ENSINO SUPERIOR NO
BRASIL
Para ressaltar esse recorte histórico-institucional das universidades, primeiramente
será abordada a questão do regime de cátedras, sua definição e sua presença no ensino
superior brasileiro, a seguir serão abordadas as características da Reforma Universitária de
1968 e a trajetória do ensino superior no Brasil.
4.1 O REGIME DE CÁTEDRAS NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR
O Regime de Cátedra é de origem francesa e surgiu com os primeiros
estabelecimentos de ensino superior. O sistema é considerado sinônimo de arcaísmo,
autoritarismo e discriminação, e gerou muita rejeição por parte dos professores jovens, dos
estudantes e dos intelectuais não universitários, nos anos 60 (CUNHA, 1994).
É importante destacar que a cátedra era uma repartição administrativa do ensino
superior e de outros níveis considerados secundários. Os representantes dessa unidade escolar
eram os professores catedráticos. Nesse sentido, a cátedra era compreendida como um
agrupamento de professores de uma determinada área do conhecimento sob a tutela de um
único chefe, o catedrático, que mantinha o poder decisório em suas mãos (GRACIANI, 1982).
No Brasil, a presença de professores catedráticos na educação superior tem sua origem
no período imperial (FÁVERO, 2000). Nesse regime, os professores mais importantes tinham
A estrutura funcional das Universidades Públicas Federais: da origem à atualidade
110
uma Cadeira, denominados Professores Catedráticos, e eram auxiliados pelos professores
Assistentes e pelos Instrutores de Ensino. Na hierarquia do sistema, apenas um catedrático
comandava a Cadeira, muitas vezes, até a sua aposentadoria. Nesse período, o professor era
chamado de lente catedrático e lecionava a disciplina da sua cadeira durante uma vida útil de
25 anos de serviço ativo (CUNHA, 2007).
A autonomia dos professores catedráticos influenciava também na seleção dos
professores assistentes ou auxiliares. Estes eram escolhidos pelos catedráticos e deveriam ser
de sua total confiança, pois eram os que ministravam aulas da sua disciplina. Essa seleção era
resultado quase que exclusivo do arbítrio do catedrático. Após dois anos no cargo, os docentes
auxiliares ou assistentes deveriam candidatar-se ao concurso de livre-docência, caso contrário,
perderiam sua posição (GRACIANI, 1982).
Com o tempo, ocorreu a criação de muitas Cadeiras e passou a se formar Grupos de
Disciplinas, comandadas por um único professor catedrático, denominado Regente do Grupo.
Na época, em decorrência de intensas discussões judiciais defendeu-se que a gerência das
Cátedras não deveria ficar somente com um único professor catedrático. Nesse sentido, o
Supremo Tribunal Federal decidiu que o rodízio era uma medida de equidade e de
moralidade, porém, uma vez designado um docente com aprovação de uma Congregação, o
Conselho Universitário não pode substituí-lo por outro em meio ao exercício (UNESP, 2017).
Cabe ressaltar que, mesmo com todo o poder atribuído à figura do professor
catedrático, é necessário reconhecer que estes foram os protagonistas da educação superior no
Brasil e que por meio do ensino por eles ministrado foi possível organizar as instituições que
seguiram diferentes expectativas dentro de suas organizações (NEZ, 2016).
4.2 A REFORMA UNIVERSITÁRIA DE 1968
A Reforma do Ensino Superior do Brasil foi instituída em 1968, por meio da Lei
Federal 5.540/1968 (BRASIL, 1968), a qual determinava a extinção do regime de cátedra e
sua substituição pelo sistema de departamentos. Outras mudanças importantes foram
implementadas com a nova lei, como o vestibular, que passou a ser classificatório; o
agrupamento de faculdades em universidade; a criação do sistema de créditos, permitindo
assim a matrícula por disciplina; a nomeação dos reitores e diretores de unidade os quais eram
escolhidos não necessariamente entre os componentes do corpo docente da universidade
(FÁVERO, 2006).
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
111
A reforma de 68 não só apresentou as diretrizes da expansão do ensino superior, mas
também apontou modificações na formação e na carreira do professor. Com isso, houve a
necessidade de se implementar mudanças na organização do sistema, devendo as
universidades públicas se estabelecerem como um espaço de produção científica e
tecnológica. Além disso, a Reforma consolidou a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e
extensão e estabeleceu uma carreira docente, com progressão por titulação (SOUZA, 2008).
Porém, mesmo após a Reforma Universitária de 1968, Graciani (1982) conclui que as
reivindicações contidas na Lei 5.540/68 não se concretizaram totalmente. Ou seja, a
universidade ainda mantinha na estrutura o modelo burocrático, autoritário, imutável,
materializado por estruturas institucionalizadas de centralização de poder, em que a tomada de
decisão tinha a participação principal do corpo docente na maioria das determinações. Esses
critérios de distribuição de poder hierárquico estavam presentes nos estatutos e regimentos.
Apesar de a reforma ter sido autoritária, antidemocrática e centralizadora, a mesma
implementou inovações importantes, com significativos investimentos oficiais (MACEDO et
al., 2005). Entretanto, Teixeira e Tambara (2013) afirmam que mesmo sendo complexo o
sistema de cátedra no ensino superior brasileiro, compreende-se que esse regime foi
fundamental para a construção das primeiras instituições educativas dessa categoria no país e
manteve-se presente mesmo após a Reforma Universitária de 1968.
4.3 A ORGANIZAÇÃO DEPARTAMENTAL NAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS
Até 1968, cada curso possuía a sua autonomia e organização própria, obedecendo às
normas federais. Após a reforma de 68, os cursos foram agregados formando as
universidades, sendo que as novas unidades elementares dessa estrutura passaram a ser os
departamentos acadêmicos (BANDEIRA, 2000).
O sistema departamental, de inspiração norte-americana, foi implantado nas
universidades a partir da lei 5.540/1968. Entretanto, segundo Fávero (2000), o Decreto-lei nº
252/67 (BRASIL, 1967) já havia instituído o departamento como a menor fração da estrutura
universitária para efeitos de organização administrativa, didático-científica e de distribuição
de pessoal, devendo congregar disciplinas afins e professores para as atividades de ensino e
pesquisa. Esse aspecto deixa claro que a ideia da implantação de uma estrutura departamental
já vinha sendo discutida na academia brasileira.
Ao fazer uma análise da legislação da reforma universitária, Sucupira (1972) extraiu
características importantes sobre o sistema departamental que seria o agrupamento de
A estrutura funcional das Universidades Públicas Federais: da origem à atualidade
112
disciplinas afins; a alocação de professores com objetivos comuns de ensino e pesquisa, e a
criação de uma unidade administrativa dotada de meios que possibilitem o desempenho
integral de todas as suas funções.
Esses aspectos estão em conformidade com o objetivo básico da reforma, que é o
agrupamento de disciplinas afins para o aproveitamento de recursos humanos e materiais
existentes. Nesse sentido, a ideia de decisões isoladas é eliminada, tendo em vista que as
decisões devem ser tomadas coletivamente, pela câmara departamental, muito diferente do
sistema de cátedras, em que a tomada de decisão era privilégio apenas do professor
catedrático. Assim, o departamento como unidade administrativa permite o desenvolvimento
de suas atividades, uma vez que poderá programar todas as suas atividades com os planos de
ensino, pesquisa e extensão em seu campo de conhecimento. A partir desse momento, pode-se
dizer que o departamento se torna um órgão essencial na universidade (FÁVERO, 2000).
Diante desses aspectos, a departamentalização foi considerada o instrumento
sintetizador da reforma de 68. As funções da universidade foram ampliadas para o tripé
ensino, pesquisa e extensão, mesmo que o MEC, em 1975, reconhecesse que a
departamentalização serviu fundamentalmente aos cursos de graduação, uma vez que os
programas de pós-graduação funcionam quase como um departamento a parte (MEC, 1975).
Entretanto, o que mais se questionou para a institucionalidade dos departamentos era
definir quais os critérios para organizá-lo, por afinidade de disciplinas ou por área. Na época,
a grande preocupação apresentada nos debates era como o departamento em termos de sua
constituição e organização funcional, voltaria para o ensino e a pesquisa, sem deixar de
considerar as funções da universidade (FÁVERO, 2000).
A discussão sobre o departamento como unidade de base da universidade adquiriu
maior intensidade, a partir dos anos 80. A estrutura departamental trouxe avanços
significativos à organização da universidade, conquistando supremacia tão relevante que a
ideia que se tinha era de que a universidade já tinha atingido os seus aspectos mais
importantes de organização. Entretanto, nas últimas duas décadas, esse sistema começa a ser
conceitualmente superado, tendo em vista a necessidade de flexibilidade da estrutura
acadêmico-curricular e de inovação da instituição (NACIF, 2010).
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
113
4.4 A CRIAÇÃO DOS COLEGIADOS DE CURSOS E DO CONSELHO DE ENSINO E
PESQUISA
A criação dos departamentos teve como consequência a separação entre o sistema
administrativo e o acadêmico, com diferentes instâncias decisórias. Esse aspecto resultou na
necessidade de criação de uma coordenação didática para cada curso, representada pelo
colegiado de curso. Também foi criado o Conselho Coordenador do Ensino e da Pesquisa,
atualmente descrito com Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE).
A coordenação didática dos cursos era constituída por representantes dos
departamentos conforme definido inicialmente no artigo 8º do Decreto-Lei 252/67. Com a
reforma de 68, foi permitida maior flexibilidade na composição dos colegiados de cursos, pois
possibilitou a essas unidades a participação e a coordenação das atividades acadêmicas e
administrativas do curso (SUCUPIRA, 1972).
Entretanto, é importante destacar as dificuldades enfrentadas pelos colegiados de
cursos para exercer com eficiência atividades que lhes eram atribuídas por lei, considerando a
própria natureza do órgão. Os conflitos existentes entre o colegiado de curso, o departamento
e a direção da unidade dificultavam a conciliação da coordenação didática do curso com a
administração a cargo da direção de um centro de ensino (ALBUQUERQUE, 1974).
Com a consolidação como unidade administrativa, houve uma separação entre o
departamento e os colegiados de cursos referentes às atividades administrativas e acadêmicas
relacionadas ao curso (BANDEIRA, 2000). Esse quadro, que ainda permanece na estrutura
departamental, dificulta a implementação de mudanças e práticas interdisciplinares e
interdepartamentais. Nesse aspecto, já é percebida a necessidade de fortalecimento da
coordenação dos colegiados de cursos para que os problemas relacionados aos conflitos de
interesse internos ao meio universitário não interfiram na dinâmica e na integração
curriculares dos cursos de graduação.
5 AS FUNÇÕES DAS UNIVERSIDADES E SUA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL
Nos últimos anos, tem-se percebido uma crescente evolução no ensino superior no
Brasil. O aumento de vagas, a criação de novos cursos de formação e a expansão das
universidades para novas regiões (AFONSO et al., 2016) são os reflexos dessa evolução.
Analisando todas as transformações vividas no decorrer da história, é necessário compreender
os objetivos de uma universidade, a fim de determinar a sua função e estrutura funcional.
A estrutura funcional das Universidades Públicas Federais: da origem à atualidade
114
5.1 AS UNIVERSIDADES PÚBLICAS E SUAS FUNÇÕES
Desde o século XX, tem-se discutido a concepção de universidade, as
funções que cabem às universidades brasileiras, a autonomia universitária e o modelo de
universidade a ser adotado no Brasil (FÁVERO, 2006). Por isso, percebe-se a necessidade de
mostrar que a universidade, por suas próprias funções, deverá se constituir em espaço de
investigação científica, produção e divulgação de conhecimentos, criação de cultura e
desenvolvimento de tecnologias (FÁVERO, 2004).
Entretanto, Sucupira (1972) esclarece que, a cada nova função, é estabelecido um
estreito relacionamento da instituição com sua comunidade. Porém, a compatibilidade dessa
nova função com as atividades tradicionais e essenciais da universidade cria certos impasses
relacionados à harmonização e desempenho de sua missão intelectual.
Nesse contexto, é importante refletir sobre as funções básicas que pré-estabelecem os
problemas de estrutura organizacional e de funcionamento de uma instituição de ensino
superior. Alguns questionamentos sobre qual a missão, a posição e inserção na sociedade
moderna e o relacionamento com o Estado ainda persistem no contexto da gestão
universitária.
As funções básicas da universidade normalmente não são atingidas por mudanças no
quadro político-administrativo do país, pois as mesmas são concretizadas pelas atividades de
ensino, pesquisa e extensão. Essas atividades permitem a criação e a elaboração da ciência, o
desenvolvimento da tecnologia e a formação de cientistas e técnicos de que a comunidade
necessita para enfrentar as mudanças contextuais em que se encontra (SOUZA, 2009).
5.2 AS MUDANÇAS NAS ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS DAS UNIVERSIDADES
As universidades federais são órgãos vinculados ao Ministério da Educação, sujeitas a
normas da política oficial de educação superior, pois além da dependência orçamentária, tanto
para pessoal como custeio e capital, funcionam como órgãos públicos, ficando sujeitas a
burocracias e legislações normativas externas e internas.
As estruturas organizacionais das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES)
ainda carregam características do passado, pois são formas instituídas pelos modelos
patrimonialistas e burocratas. Entretanto, essas estruturas consideradas piramidais de origem
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
115
dos sistemas burocráticos da era industrial já se encontram esgotadas como modelos de
organização (VIEIRA; VIEIRA, 2003).
Para um melhor entendimento das atuais estruturas organizacionais das universidades
federais brasileiras, torna-se necessário uma breve contextualização histórica das
transformações administrativas ocorridas desde a década de 1960.
A Reforma Universitária de 1968 propiciou a surgimento de cinco possíveis modelos
de estrutura organizacional das universidades (FIGURA 2).
Figura 2 – Modelos de estrutura organizacional das universidades conforme a Lei 5.540/68.
Modelo I
Modelo II
Modelo III
Modelo IV
Modelo V
Fonte: Sucupira (1972)
Nota: Adaptado pelos autores
Sistema profissional Sistema básico
A estrutura funcional das Universidades Públicas Federais: da origem à atualidade
116
Sucupira (1972), em seu estudo, conspira um novo modelo de estrutura, o qual
considera como o mais adequado para institucionalizar a reforma de 68, com a integração dos
departamentos por grandes unidades que seriam os centros de ensino.
Lopes e Bernardes (2005) apresentaram mais quatro novos modelos de estrutura
organizacional (FIGURA 3).
Nota-se que os quatro novos modelos derivam dos apresentados por Sucupira (1972),
entretanto, possuem menor número de unidades administrativas. Nos modelos apresentados
na Figura 3, não aparecem mais a estrutura de departamentos para as atividades de ensino.
Essa estrutura dá lugar aos cursos no que se refere às atividades-fim, por isso, em alguns
modelos, os cursos são ligados a centros de ensino ou áreas do conhecimento, ou em um
número maior de faculdades, ou vinculados à administração de um campus ou diretamente à
administração superior.
Figura 3 – Novos modelos de estrutura organizacional das universidades. Modelo VI
Modelo VII
Modelo VIII
Modelo IX
Fonte: Lopes e Bernardes (2005)
Nota: Adaptado pelos autores
O estudo feito por Lopes e Bernardes (2005) assinala também o forte
conservadorismo das instituições públicas. Das universidades pesquisadas pelos autores, 82%
continuaram adotando as estruturas administrativas conforme os modelos apresentados na
Figura 1. As universidades federais, em geral, excluindo as recém-constituídas, mantiveram
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
117
os modelos propostos na Reforma de 1968. Segundo os autores, o modelo II, considerado
como o mais predisposto a disfunções, foi mantido pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro e pela Universidade Federal Fluminense.
Constatam-se, na cultura das organizações públicas brasileiras, múltiplos níveis de
hierarquia e complexos sistemas de organização. O burocratismo, a interferência política
advinda de fora da organização, o autoritarismo centralizado, o paternalismo, a aversão ao
espírito empreendedor e a descontinuidade da gestão são características específicas intrínsecas
às IES brasileiras. Esse sistema organizacional submetido a normativas é gerado pelos órgãos
públicos externos à universidade e também por normas internas, regimentais e estatutárias
(PIRES; MACEDO, 2006).
O processo de burocratização dos serviços acabou por condicionar uma gestão de
baixa energia para o sistema. Porém, o crescimento desproporcional das atividades-meio das
instituições de ensino superior foi uma consequência natural da complexidade estrutural.
Logo, os custos operacionais com a manutenção das atividades-meio cresceram
irracionalmente, prejudicando a destinação dos recursos para os objetivos finais da atividade
acadêmica, ou seja, a pesquisa e a formação nos níveis de graduação e pós-graduação
(VIEIRA; VIEIRA, 2003).
5.3 A EXTINÇÃO DOS DEPARTAMENTOS
A partir dos modelos apresentados nas Figuras 2 e 3, é possível compreender a atual
estrutura das universidades federais e os seus modelos de organização acadêmico-
administrativa.
No Brasil, a mudança curricular e a reestruturação dos cursos na universidade,
propostas pelo REUNI, pouco foi implementada. Das 53 universidades que aderiram ao
programa, apenas 26 fizeram ou sugeriram alterações acadêmicas. As demais buscaram,
sobretudo, investir os recursos financeiros disponíveis em infraestrutura, deixando de lado as
demandas pedagógicas (COSTA, 2014).
Uma mudança considerada significativa no contexto administrativo das universidades
é a extinção dos departamentos, uma vez que esta unidade é alvo de críticas, pois se entende
que o departamento promove pouca interação com as demais unidades acadêmicas.
Apesar de a estrutura departamental ter proporcionado transformações à estrutura das
universidades, essa unidade possui elevada resistência a mudanças decorrentes das
necessidades institucionais. Verifica-se que a maioria das universidades federais (40
A estrutura funcional das Universidades Públicas Federais: da origem à atualidade
118
universidades de um total de 63), ainda possui o sistema departamental em suas estruturas
organizacionais.
Entretanto, a proposta de extinção da estrutura departamental como unidade
administrativa nas universidades vai ganhando proporção nos meios acadêmicos. Discussões
voltadas à sua funcionalidade foram tratadas em universidades federais como a Universidade
Federal de Alagoas (UFAL), a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e recente a
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
A Universidade Federal de Alagoas, nos anos de 2000, começou a sua discussão sobre
a substituição do departamento de ensino, propondo mudar sua estrutura administrativa de 40
anos. Em 2006, a proposta de organização estrutural da UFAL foi aprovada, com a alteração
da gestão administrativa da universidade e dos Centros (Unidade Acadêmica), extinguindo-se
os departamentos de ensino e criando os setores de estudos. Foram criadas 21 — vinte e uma
— Unidades Acadêmicas (UAs) (OLIVEIRA, 2011). Essa nova estrutura organizacional,
centrada em UAs (Figura 4), tem certa similaridade com as antigas faculdades. Porém, as
faculdades eram unidades isoladas que não exerciam a interdisciplinaridade. A estrutura atual
permite aglutinar conhecimentos afins em torno de um eixo, possibilitando o desenvolvimento
de atividades integradas de ensino, de pesquisa e de extensão.
A UFAL se destacou no cenário das reformas inovadoras no início do século XXI. No
entanto, segundo parecer da própria gestão da UFAL, houve resistência por parte de alguns
diretores em atender aos requisitos e critérios de classificação para se transformar em
Unidades Acadêmicas. Houve também dissensões quanto aos critérios estabelecidos no novo
Estatuto, com descentralização do poder instituído, da aplicação dos recursos alocados e
maior autonomia para as Unidades (OLIVEIRA, 2011).
A Universidade Federal Rural da Amazônia originou-se da faculdade de Ciências
Agrárias do Pará e sua estrutura era baseada numa multiplicidade de órgãos, tanto na área
administrativa quanto acadêmica. Por isso, a UFRA decidiu adotar uma estrutura
organizacional que atendesse à flexibilidade funcional com a horizontalidade dos fluxos
decisórios, a fim de proporcionar a descentralização, contribuir para o desempenho da
qualidade acadêmica, impulsionar a autonomia e a eficiência. Para cumprir essas metas, a
estrutura acadêmico-administrativa proposta e implementada na Universidade Federal Rural
da Amazônia é formada por Institutos temáticos e coordenações das comissões de curso. As
disciplinas e os docentes são alocadas nos Institutos, sendo que cada Instituto possui um
Diretor-Geral, um colegiado deliberativo e uma secretaria executiva (VIEIRA; VIEIRA,
2004).
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
119
Figura 4 - Estrutura Organizacional da UFAL, adotada desde 2006.
Fonte: Freitas Junior et al. (2015)
Nota: Adaptado pelos autores
Nessa nova estrutura da UFRA, os departamentos foram eliminados e as
Coordenações das Comissões de Curso são responsáveis pelo funcionamento dos cursos
ministrados e se organizam, para as decisões sobre demandas acadêmicas, em colegiados e
câmaras setoriais especializadas. Cada instituto poderá ter um Centro de Pesquisas onde se
localizam todos os projetos de pesquisa da área correspondente e os núcleos de
desenvolvimento da investigação científica. Já os programas de extensão fazem parte das
atividades dos Institutos e têm origem nos cursos ministrados ou propostos pela Pró-Reitoria
de Extensão (VIEIRA; VIEIRA, 2004).
A Universidade Federal do Espírito Santo adota o modelo III - Administração
Superior, Centro e Departamento (FIGURA 2) desde a sua criação. Porém, recentemente,
iniciou trabalhos por meio de uma Comissão Especial nomeada pelos Conselhos Superiores
para apresentar uma proposta de reestruturação do Estatuto e Regimento Geral da
universidade. Em 2016, a Comissão apresentou a proposta do novo Estatuto da Universidade
ao Conselho Universitário com uma estrutura sistêmica, sem a presença de divisões por
departamentos. A proposta da comissão especial apresenta a estrutura geral da UFES da
seguinte forma: I. Conselho Universitário; II. Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão; III.
Conselho Fiscal; IV. Reitoria; V. Centros de Ensino, Pesquisa e Extensão; VI. Conselho de
Centro; VII. Diretoria de Centro; VIII. Órgãos Suplementares; IX. Órgãos Complementares
(UFES, 2016).
A estrutura funcional das Universidades Públicas Federais: da origem à atualidade
120
A discussão das funcionalidades dos departamentos não é recente. Coelho (1992)
promoveram duras críticas à estrutura departamental. Segundo os autores, os departamentos
ainda hoje não têm expressão nítida, são conceitualmente mal definidos e passaram a ser um
dos focos de corporativismo dentro das universidades.
As discussões, que giram em torno da inflexibilidade e retardamento na gestão
universitária, vêm acompanhadas da transformação dos departamentos em estruturas mais
adequadas à universidade, entretanto isso vem ocorrendo num processo assistemático. Tanto a
comunidade acadêmica (docentes, técnicos e discentes) quanto as instâncias governamentais,
associação de dirigentes e sindicatos não se interessaram ainda em produzir discussões sobre
o assunto. Como consequência dessa ausência da reflexão sistemática sobre o assunto, é
comum a arriscada alternativa de criação de estruturas paralelas, semelhantes às funções
departamentais.
Entretanto, Nacif (2010) já ressaltava que a extinção/mudança dos departamentos
necessita ser acompanhada de uma ampla reflexão que delineie estruturas sucessoras efetivas,
tendo em vista que as dimensões acadêmica e administrativa e de espaços de interação e
especificidades dessas dimensões na universidade ainda carecem de respostas mais refinadas,
pois, mesmo com certo consenso de que as estruturas departamentais estão retardadas, elas
ainda persistem, inclusive porque representam a forma de resistência à superação das antigas
linhas de demarcação, que significam não apenas interesses menores, como muitos destacam,
mas também, porque representam a base administrativa e acadêmica num período de tantas
indefinições paradigmáticas nas organizações.
Ristoff (1998) afirma que é preciso remover barreiras que impeçam a educação
interdisciplinar e aumentar o comprometimento dos docentes com o ensino e a pesquisa.
Segundo o autor, as universidades norte-americanas já possuem modelos interdepartamentais
como forma de melhorar o ensino de graduação com propostas interdisciplinares.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB nº. 9394/96 modificou parcialmente
esse cenário ao criar universidades por campo do saber, além de ter dado abertura para as
universidades terem mais flexibilidade na organização estrutural. Nessa mesma direção,
algumas universidades retomaram a discussão, propondo novas formas de organização para
modelos acadêmico-administrativos (FÁVERO, 2000).
Por isso, é possível identificar cinco características na estrutura acadêmico-curricular
das novas universidades nas propostas de inovação apresentadas pela LDB nº. 9394/96: a)
formação em ciclos (geral, intermediário, profissional ou de pós-graduação); b) formação
básica comum para todos os cursos de graduação (geral ou por grandes áreas); c) formação
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
121
básica em uma ou mais das grandes áreas (Saúde, Humanidades, Engenharias, Licenciaturas);
d) bacharelado interdisciplinares em uma ou mais das grandes áreas (Ciências, Ciências
Exatas, Ciência e Tecnologia, Artes, Humanidades, Saúde); e) bacharelados com dois
itinerários formativos (MARTINS; NASCIMENTO, 2009).
A Universidade Federal do ABC (UFABC), criada a partir de uma proposta inovadora,
tem como uma das principais características acadêmicas a produção do conhecimento
interdisciplinar. A UFABC, fundada pela Lei nº 11.145, de 26 de julho de 2005, é considerada
a iniciativa mais inovadora do REUNI, sendo precursora na criação dos bacharelados
interdisciplinares no ensino público federal brasileiro (ALMEIDA; ERNICA, 2015;
PENTEADO; SILVA; FONSECA, 2015).
A UFABC possui uma atuação interdisciplinar proposta pelo seu Plano de
Desenvolvimento Institucional. Os cursos de Bacharelados Interdisciplinares (BIs) são
considerados fundamentais para o desempenho interdisciplinar da UFABC e estão se
tornando um novo modelo para a educação superior brasileira. Além dos bacharelados
interdisciplinares, a interdisciplinaridade também é incentivada no campo da pesquisa e da
extensão (MENA-CHALCO; DALPIAN, CAPELLE, 2014). Os autores destacam que a
atuação interdisciplinar não significa a negação das disciplinas atuais, tendo em vista que para
o sucesso da atuação interdisciplinar é necessário fundamentar-se nas bases disciplinares da
ciência.
A estrutura acadêmico-administrativa da UFABC foi definida em centros
interdisciplinares: Centro de Ciências Naturais e Humanas (CCHN), Centro de Engenharia,
Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas (CECS), e Centro de Matemática, Computação e
Cognição (CMCC), sendo que os docentes foram integrados a essas três grandes áreas do
conhecimento, todos atuantes nos bacharelados interdisciplinares em Ciência & Tecnologia e
em Ciências & Humanidades (MENA-CHALCO; DALPIAN, CAPELLE, 2014).
Estudos como o de Mena-Chalco, Dalpian e Capelle (2014); Veras, Lemos e Macedo
(2015); e, Penteado, Silva e Fonseca (2015) apresentam experiências do processo de
implantação de campos de saberes e práticas interdisciplinares nas universidades que aderiram
à missão político-pedagógica de conciliar interdisciplinaridade acadêmica, excelência
científica e inclusão social o ensino, a pesquisa e a extensão. Essa interação entre áreas e
integração de conhecimentos se destaca no meio acadêmico do ensino superior brasileiro
como proposta de inovação, identificada como o caminho para a intercomunicação de
profissionais de diferentes formações e visões, com o propósito de solucionar complexas
questões científicas e sociais do século XXI (UFABC, 2013).
A estrutura funcional das Universidades Públicas Federais: da origem à atualidade
122
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As mudanças ocorridas no sistema de ensino superior vêm provocando instabilidade
na gestão acadêmico-administrativa das universidades, exigindo posturas estratégicas mais
conectadas com a sociedade, levando-nos a discutir seus fatos históricos e organizações
estruturais ao longo dos anos, na busca por modelos administrativos que visem eficiência e
aumento da produtividade, associados à melhores indicadores de avaliação acadêmica.
A instituição deve ser capaz de reformar-se e se adaptar às exigências do momento,
mantendo-se fiel à sua missão e valores. Porém, o grande desafio da universidade é situar-se
no contexto da sociedade brasileira, colaborando para a construção de uma nação que
conquiste sua soberania de forma eficiente, contribuindo para a integração e a igualdade as
pessoas.
Assim, as universidades do presente e do futuro tendem a se transformar
expressivamente, a fim de viabilizar as funções de ensino, pesquisa e extensão. Também é
importante ressaltar que a universidade como instituição pública de ensino superior depende
do orçamento do MEC para a plena execução dos objetivos e metas definidos no âmbito do
Plano de Desenvolvimento Estratégico Institucional e, assim, contribuir para alcançar os
desafios da educação superior traçados nas diretrizes e metas do Plano Nacional da Educação
(PNE).
O sistema da educação superior no Brasil tem sido influenciado, ao longo dos anos,
por modelos de universidades estrangeiras que, por sua vez, assumem diferentes
características ao longo da história de acordo com a época e as circunstâncias. A distinção e as
particularidades dos modelos francês, alemão e americano evidenciam as características
influenciaram no tripé: ensino, pesquisa e extensão, que direcionam a Universidade Brasileira,
em que o ensino é o processo de construção do saber; a pesquisa são os processos de
objetivação ou materialização desses conhecimentos, ambos provenientes do modelo alemão,
já a extensão é considerada a intervenção sobre a realidade, é procedente do modelo de
universidade norte-americana.
Entretanto, a universidade brasileira ainda busca um modelo de estrutura
administrativa que lhe proporcione eficiência e eficácia na condução de suas atividades. A
busca de modelos de organização ainda é calcada na função ensino e no desenvolvimento de
modelos baseados em cursos, em detrimento das atividades de pesquisa e extensão.
Como organizações especificamente complexas, as universidades, além da
organização de suas atividades-fim de ensino, pesquisa e extensão, apresentam,
MEMÓRIAS EM GESTÃO PÚBLICA
123
paralelamente, estruturas colegiadas e de atividades-meio (departamentos). Por isso, é
importante o aprofundamento da compreensão das estruturas dessa organização em estudos
posteriores. Nas últimas décadas, os debates giraram em torno de cátedra, departamento e
reconfiguração de departamentos em unidades acadêmicas. Percebe-se, entretanto, a
necessidade de prosseguir as discussões sobre a estrutura e funcionamento das universidades.
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