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U�IVERSIDADE C�DIDO ME�DES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SE�SU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A ARTE TERAPIA �A APRE�DIZAGEM DOS ALU�OS COM
DEFICI�CIA ME�TAL
Por: Shirley Costa Pereira
ORIE�TADOR:
Profª. Ms. Mary Sue Carvalho Pereira
Rio de Janeiro
2010
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U�IVERSIDADE C�DIDO ME�DES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SE�SU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A ARTE TERAPIA �A APRE�DIZAGEM DOS ALU�OS COM
DEFICI�CIA ME�TAL
Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes
como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em
Arte Terapia em Educação e Saúde.
Por: Shirley Costa Pereira
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AGRADECIMENTOS
A DEUS, aos meus alunos da Escola E. Educação
Especial Albert Sabin, familiares e aos amigos.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................................................ 05
CAPÍTULO I - Educação Especial na modalidade da Deficiência Mental: Concepções
Educacionais.............................................................................................................................
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1.1.Abordagem da Acessibilidade “ Educação para todos ”................................... 14
1.2.Conceito e classificação de Deficiência Mental................................................
17
CAPÍTULO II - Arte na Educação Especial como processo de ensino para a Deficiência
Mental.......................................................................................................................................
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CAPÍTULO III - A Arte Terapia na aprendizagem dos alunos com deficiência
mental........................................................................................................................................
24
3.1.O uso da Arte como terapia....................................................................................
28
CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................................
33
BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................................
38
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I�TRODUÇÃO
Este trabalho partiu do interesse em aprofundar meus estudos no sentido de aprimorar
minha prática docente, refletindo sobre a importância da Arte e Arte Terapia, na aprendizagem
dos alunos com Deficiência Mental.
A escolha desse assunto partiu da reflexão sobre a realidade profissional da qual faço
parte. Como educadora a doze anos atuando diretamente com alunos com várias deficiências,
numa escola de Educação Especial no meu município de Belford Roxo, no Estado do Rio de
Janeiro. Frente a complexa realidade, percebe-se o quanto é importante um ambiente de ensino
que viabilize um atendimento capacitado e que dê suporte para todos os níveis de ensino, com
objetivos e práticas que estabeleçam a estes alunos, a inclusão nas escolas comuns. Atualmente
as entidades educacionais encontram dificuldades em atender e proporcionar metodologias
diferenciadas, que oportunizem o desenvolvimento integral dos educandos com algum tipo de
deficiência. Sendo assim, devido às dificuldades que estes apresentam, entende-se que todo
aluno com deficiência requeira por direito, além de profissionais especializados e capacitados
para atendê-lo, novas estratégias pedagógicas que contemplem as suas necessidades, realidades
e interesses. Fica ainda mais evidente a importância em oportunizar aos alunos na escola, o
desenvolvimento do verdadeiro gosto em aprender. Aprender espontaneamente e com prazer!
O trabalho com a Arte pode incentivar as potencialidades latentes de cada indivíduo,
pois possibilita o desenvolvimento de sua imaginação, criatividade e auto-estima. Através do
ensino da Arte Terapia o aluno com deficiência pode expressar-se, socializando seu interior e
demonstrando seus sentimentos, sua identidade e autonomia, contribuindo assim, para a
inserção social.
Com base nesses pressupostos e em face ao contexto do qual faço parte, senti a
necessidade de aprimorar a minha prática pedagógica, ampliando os meus estudos com vistas a
novos objetivos e estratégias pedagógicas que oportunizem o interesse e as habilidades artísticas
dos alunos com deficiência, dentre as quais destaco como ponto de enfoque, a Deficiência
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Mental. Busquei uma qualificação profissional que viesse ao encontro de meus anseios,
inquietações e necessidades, em relação a uma nova concepção de educação. Entre tantos temas,
decidi pelo presente objeto de estudo para a minha monografia: Arte como terapia no processo
de aprendizagem do aluno com deficiência mental.
Ao longo dos tempos, as pessoas com deficiências foram discriminadas de várias
maneiras, ou seja, conforme as concepções de homem e de sociedade, valores socais, morais,
religiosos e éticos de cada momento histórico. A nossa própria história assinala políticas
extremas de exclusão em relação às pessoas com deficiências na sociedade. Ao refletirmos
sobre o histórico da inclusão social no mundo, percebemos que a integração social surgiu da
necessidade de inserir na sociedade o indivíduo com deficiência, sem que a sociedade se
modificasse para recebê-lo. Pelo contrário, recorria-se a métodos clínicos, para poder ensinar a
esta pessoa com deficiência a socializar-se de maneira “normal”, ou seja, a forma como a
sociedade estava organizada, padronizada.
Visando romper com a política segregacionista do passado, a Educação Especial busca
atualmente promover o desenvolvimento das potencialidades de pessoas com deficiências,
autismo, síndromes ou altas habilidades, desde a educação infantil até a educação superior.
Esta nova concepção não nega que os alunos tenham problemas vinculados ao seu
desenvolvimento, mas tem como finalidade primordial analisar as potencialidades de
aprendizagem do sujeito, integrado no sistema regular de ensino, avaliando quais recursos esse
aluno necessita para uma evolução satisfatória. Conforme Cardoso (2003), o conceito de
necessidades educacionais especiais, remete as dificuldades de aprendizagem e também aos
recursos educacionais necessários para atender essas necessidades.
Felizmente, a educação de alunos com necessidades especiais, que tradicionalmente
era feita de forma segregada, aos poucos tem se voltado, para a chamada educação inclusiva. A
“Escola para Todos” é um movimento mundial baseado nos princípios dos direitos humanos e
da cidadania, tendo por objetivo principal eliminar a discriminação e a exclusão dos indivíduos,
garantindo o direito à igualdade de oportunidades e à diversidade e, transformando os sistemas
de ensino, de modo a propiciar a participação de todos os alunos.
Partindo do princípio que a Escola para Todos exige uma mudança de postura dos
diversos profissionais envolvidos e que essas mudanças só poderão ser concretizadas: por meio
7
da convicção de que a escola precisa mudar da vontade política de promover mudanças e da
construção de novas formas de socializações, sempre levando em conta o potencial,
necessidades e anseios de cada um dos alunos. Muito mais do que isso implica em
transformações no contexto educacional, como também em mudanças na prática social, política
e cultural.
Portanto, cabem a nós, educadores o papel de articuladores nesse processo, ampliando
as discussões e reflexões sobre a pluralidade humana, o preconceito e a cidadania. Além dos
trabalhos junto a pessoas com deficiência e a "formação" da sociedade para a questão da
diversidade, devem ser criados espaços de contato entre pessoas deficientes e não-deficientes.
Torna-se necessário oferecer condições para que a sociedade obtenha maiores
informações acerca da deficiência em seus diferentes aspectos, tais como causas, habilidades e
limitações de seus portadores e formas de tratamento, com um grande objetivo: - a construção
de uma sociedade na qual, todos tenham acesso às mesmas oportunidades, nos mais diferentes
âmbitos da vida: na educação, mercado de trabalho, esportes, política, artes, lazer, etc.
Uma importante ferramenta que as entidades educacionais possuem para a inclusão
dos deficientes pode ser através da arte, pois ao adentrar-se na complexidade do universo da
arte, o indivíduo com necessidades educacionais especiais poderá trabalhar os seus sentimentos
em relação à sociedade, a sua subjetividade, que, na maioria das vezes, o discrimina ou o
segrega, devido aos preconceitos e estigmas de uma sociedade excludente. Entende-se que o
trabalho com arte é capaz de transformar o indivíduo em um ser humano socialmente
participativo, com uma auto-estima positiva e uma função social ativa e dinâmica (Costa, 2000,
p. 16).
Portanto, esse trabalho monográfico trata-se de uma pesquisa bibliográfica a respeito
da real relevância do ensino das artes para o desenvolvimento integral do aluno com deficiência
mental, como veículo de inclusão na sociedade.
Não haverá pesquisa de campo, mas a sala de aula será um constante laboratório de
pesquisa, onde como professora, sobretudo, como uma discreta observadora das práticas de
meus alunos. Através desse estudo e na busca da aprendizagem para o desenvolvimento, fez-se
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necessário esclarecer como principal objetivo: entender a importância em se desenvolver novas
estratégias pedagógicas, através do uso da Arte e Arte Terapia na aprendizagem dos alunos com
deficiência mental, investigando os resultados no processo ensino-aprendizagem e promovendo
meios de acesso para que o educando não encontre barreiras físicas, cognitivas e de
comunicação, entre outras, no seu processo de aprendizagem.
Além desse, outros objetivos também foram almejados, tais como:
• Trazer ao contexto escolar a discussão, reflexão e efetivação de novos referenciais e
estratégias pedagógicas para a inclusão de alunos com deficiências;
• Articular parcerias com profissionais e técnicos de várias áreas, para auxiliar no
desenvolvimento integral do aluno com deficiência.
• Estabelecer um ambiente adequado para aplicabilidade das técnicas de Arte terapia no
processo de ensino dos deficientes mentais.
Para o desenvolvimento dos objetivos e melhor organização dos temas escolhidos, o
trabalho segue dividido em três capítulos.
O primeiro capítulo aborda a Educação Especial na modalidade da Deficiência Mental e
as Concepções Educacionais, com um breve relato da história da deficiência mental e os
aspectos educacionais no qual foi inserido durante longo tempo.
Já o segundo capítulo, tratará Arte na Educação Especial como processo de ensino e
aprendizagem do aluno com Deficiência Mental. A Arte como manifestação criativa da
linguagem é incentivador da aprendizagem humana; como a arte é atualmente contextualizada e
qual a sua importância na sala de aula, frente à complexidade das realidades envolvidas no
processo educacional; qual a finalidade do uso da arte como terapia.
O terceiro capítulo vem trabalhar com a relação da arte terapia na aprendizagem de
alunos com deficiência mental: em quais situações e como ela deve ser utilizada, sua principal
atribuição.
Por último, seguirão as considerações finais sobre o presente estudo.
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CAPÍTULO I
Educação Especial na modalidade da Deficiência Mental:
concepções Educacionais, um breve histórico da Educação Especial
Ao longo dos tempos, as pessoas com deficiências foram discriminadas de várias
maneiras, ou seja, conforme as concepções de homem e de sociedade, valores socais, morais,
religiosos e éticos de cada momento histórico. A nossa história assinala políticas de extrema de
exclusão em relação à pessoa com deficiência na sociedade. Durante a Idade Antiga, conforme
nos relata Correia (1997), em Esparta, na Antiga Grécia, as crianças com deficiências eram
abandonadas nas montanhas, em Roma eram atiradas nos rios. Estes casos eram vistos como um
perigo para a continuação da espécie.
Já na Idade Média, na Europa, às pessoas com deficiências eram associadas à imagem
do diabo e a atos de feitiçaria, sendo então perseguidos e afastados do convívio social, ou até
mesmo sacrificados. Segundo Misés (1977), neste período a deficiência era vista como a marca
da punição divina, ou como expressão de poder sobrenatural.
O atendimento de pessoas com deficiências, incluído a deficiência mental no mundo
ocidental, segundo nos aponta Ferreira (1994), tem início a partir do século XVI, quando a
questão da deficiência vai passar da órbita da igreja para se tornar objeto de estudo da medicina.
Conforme Fonseca (1995), Jean Itard (1775-1838), na França investiu grande parte de
sua vida na recuperação de Vítor (um menino com deficiência mental profunda), por seu esforço
e estudo sistemático de reabilitação de uma criança diferente, foi considerado o pai da
Educação Especial.
Ao final do Século XVIII e início do Século XIX, inicia-se nos países escandinavos o
período da Institucionalização Especializada das pessoas com deficiências, surgindo a partir daí,
a Educação Especial. Segundo Gimenez, o atendimento era mais assistencial que educativo
oferecido em centros, protegendo assim a sociedade do contato dos “anormais”. Deste modo,
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inicia-se um período de segregação, no qual, secundo Correa (1997), foram criadas as escolas
especiais, que tinham como política – separar e isolar – as crianças com deficiência do grupo
principal e majoritário da sociedade.
Segundo Cardoso, a educação escolar e a desinstitucionalização dos deficientes
mentais, leves e moderados, no mundo ocidental ocorrem no século XX, com a criação de
programas escolares e pela relativa abertura das instituições. Assim, os alunos com necessidades
especiais, na época chamados de excepcionais, aparecem na escola.
No Brasil, conforme Bueno (1993), até a metade do século XX, não se falava em
Educação Especial, e sim na educação de deficientes. Na década de 70, a Educação Especial foi
ampliada com a explosão das instituições públicas e privada de atendimento ao deficiente. Neste
período criam-se as classes especiais e a classificação dos deficientes mentais, através dos testes
de quociente intelectual (QI). Nesta visão de atendimento, a deficiência era vista como um
problema do indivíduo deficiente e, portanto ele deveria ser adaptado à sociedade.
Ao final da década de 60, iniciou-se o movimento pela integração social, que planejava
“inserir as pessoas com deficiência nos sistemas sociais gerais: educação, trabalho, família e
lazer” (Sassaki, 1999, p.31). Porém, este processo foi mais vivenciado na década de 80.
A integração social surgiu da necessidade de inserir na sociedade o indivíduo com
deficiência, sem que a sociedade se modificasse. Na realidade, quem deveria, então, estar
preparado e capacitado para ser inserido na sociedade era a pessoa com deficiência. Para isto,
recorria-se a métodos clínicos, para poder ensinar a esta pessoa a socializar-se de maneira
“normal”, na forma em que a sociedade estava organizada.
O processo de integração escolar foi um movimento forte e decisivo nas novas
conquistas da educação inclusiva, todavia, não satisfazia os direitos das pessoas com
deficiências, já que a sociedade não se modificava, nem suas estruturas, seus métodos e,
principalmente, seu preconceito, pois ainda acreditava-se na permanência do método clínico de
atendimento.
A história segregativa no mundo e no Brasil, atua ainda hoje como influenciadora das
práticas preconceituosas da nossa sociedade, em relação às pessoas com deficiências. Segundo
Stainback (1999; p.43): “a idéia de que poderiam ser ajudados em ambiente segregados,
alijados do resto da sociedade, fortaleceu os estigmas sociais e a rejeição”.
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Ao longo do tempo, segundo Carvalho (1997, p.75), usaram-se algumas nomenclaturas
para referir-se a pessoas com deficiências. O termo excepcional, muito empregado em décadas
passadas, foi substituído por pessoa portadora de deficiência, popularizado na década de 80 e
atualmente, pessoas com necessidades especiais ou pessoas com necessidades educacionais
especiais.
Junto à mudança das nomenclaturas, também vem ocorrendo, segundo a UNESCO,
mudanças importantes na conceitualização da Educação Especial, as quais estão gerando novos
enfoques educativos em muitas partes do mundo:
“Falar de necessidades educacionais especiais, implica em enfatizar o que a escola pode fazer para compensar as dificuldades do (a) aluno (a), já que neste enfoque, entende-se que as dificuldades para aprender tem um caráter interativo e dependem não apenas das limitações dos (as) alunos (as), mas também da condição educacional que lhe é oferecida” (U*ESCO, 1994, p.40).
Sendo assim, esta nova concepção não nega que os alunos tenham problemas
vinculados ao seu desenvolvimento, mas tem como finalidade primordial analisar as
potencialidades de aprendizagem do sujeito, integrado no sistema regular de ensino, avaliando
quais recursos esse aluno necessita para uma evolução satisfatória. Conforme Cardoso, o
conceito de necessidades educacionais especiais, remete as dificuldades de aprendizagem e
também aos recursos educacionais necessários para atender essas necessidades e evitar essas
dificuldades.
E assim, com este novo paradigma, chegasse à década de 90, com a Conferência de
Jomteien, em 1990, na Tailândia, da qual originou-se a Declaração Mundial de Educação para
Todos. Seguida pela Declaração de Salamanca, oriunda da Conferência Mundial Sobre
Necessidades Educativas Especiais. Acesso e qualidade realizada pela UNESCO em Salamanca
(Espanha, 1994). A Declaração de Salamanca vem fundamentar a inclusão escolar dos alunos
com necessidades educacionais especiais na rede regular, bem como na inclusão desses sujeitos,
na sociedade em geral. Também foi de extrema importância a Convenção realizada em
Guatemala, em 1999, cujo foco principal foi a eliminação da discriminação contra as pessoas
com deficiências. A partir desses movimentos e dessas declarações, surgiram leis e decretos que
vieram a garantir a inclusão escolar de pessoas com deficiência.
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A nossa Constituição (1988), que elegeu e sancionou como fundamentos legais à
cidadania e dignidade da pessoa humana (art.1º, incisos II e III), como um dos objetivos
fundamentais a promoção do bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação (art. 3º, inciso IV), após garantir direito à igualdade
(art. 5º), trata no art. 205, do direito de todos à educação, que deve visar o pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para a cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Segundo Eugênia Augusta Gonzaga Fávero, Procuradora da República e mãe de um
menino com Síndrome de Down, quando a nossa Constituição Federal garante a educação para
todos, é educação para todos mesmo, em um mesmo ambiente, que deve ser o mais
diversificado possível, para garantir o pleno desenvolvimento humano. Quanto ao
“preferencialmente” constante na Constituição Federal, Eugênia adverte que este termo refere-
se ao atendimento educacional especializado e não à “educação” claramente definida no art.
205. Ou seja, refere-se a instrumentos necessários à eliminação de barreiras que as pessoas com
deficiências naturalmente têm para relacionar-se com o ambiente externo. Exemplo: libras,
braile, recursos de informática, salas de recursos, etc.
Porém, estes instrumentos não podem substituir a educação, a qual deve ser oferecida
em escolas regulares, com o auxílio dos recursos citados a cima. Ainda, sobre a participação no
Atendimento Educacional Especializado (AEE), esta deve ser opção da pessoa com experiência
ou de seus responsáveis, jamais determinada pela escola regular, sob pena de incorrer em
discriminação.
Também o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), lei número 8069/90, no que
se refere à educação, estabelece que “toda a criança e adolescente tenham o direto à educação,
visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício de cidadania e
qualificação para o trabalho” (art.53). Além disso, assegura: igualdade de condições para o
acesso e permanência na escola; direito de ser respeitado por seus educadores e acesso às
escolas públicas e gratuitas, próximas de sua residência.
Por sua vez, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96), reserva
um capítulo exclusivo para a Educação Especial (cap.V), e isto parece relevante para uma área
tão pouco contemplada, historicamente, nas políticas públicas brasileira. O destaque reafirma o
direito à educação, pública e gratuita, das pessoas com deficiências, condutas típicas e altas
habilidades.
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Um fato relevante é que, a partir dessa lei, os municípios brasileiros receberam a
responsabilidade da universalização do ensino, referente à Educação Infantil e Ensino
Fundamental. Assim o município também passou a responsabilizar-se pelas decisões e ações
políticas para a implementação da educação inclusiva no âmbito da Educação Infantil e Ensino
Fundamental.
O inciso 3º do art. 58, da LDB 9394/96, determina que a oferta de Educação Especial,
dever constitucional do estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a Educação
Infantil. E isto é muito importante, pois segundo Cardoso, com a utilização da educação precoce
pode-se intervir o mais cedo possível nas ordens neuro-motoras, cognitivas e afetivas dos bebês
com deficiências, modificando o prognóstico de aprendizagem dos mesmos.
Já o art.59 destaca que os sistemas de ensino devem assegurar aos educandos com
necessidades especiais, currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organizações
específicas; terminalidade específica para a conclusão do Ensino Fundamental; professores com
especialização em nível médio ou superior para a AEE, bem como professores do ensino regular
capacitados para inclusão desses educandos nas classes comuns; educação especial para o
trabalho e acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares, disponíveis
para respectivo nível do ensino regular.
Muitas outras leis poderiam aqui, serem abordadas, mas entendemos que estas sejam
mais do que suficientes, para garantir que toda a criança ou adolescente tenha direito a
frequentar qualquer escola e nela participar de um processo educativo de qualidade.
De posse nesse embasamento legal, reportamo-nos então, à questão da deficiência, o
que é, o seu percurso histórico, novas concepções sobre deficiências, bem como um breve relato
sobre algumas delas, pois entendemos que a necessidade de conhecer este assunto é
imprescindível quando falamos e buscamos uma inclusão escolar dos sujeitos com deficiência
para que de fato ocorra.
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1.1 - Conceito e classificação de Deficiência Mental
A Deficiência Mental, segundo a Associação Americana de Deficiência Mental é
definida como um funcionamento intelectual significativo inferior à média, acompanhado de
limitações significativas no funcionamento adaptativo em pelo menos duas das seguintes áreas
de habilidades: comunicação, autocuidados, vida doméstica, habilidades sociais, relacionamento
inter-pessoal, uso de recursos comunitários, auto-suficiência, habilidades acadêmicas, trabalho,
lazer, saúde e segurança.
Por outro lado, a classificação da OMS 10 (Organização Mundial da Saúde) é baseada
ainda no critério quantitativo. Para essa classificação, a gravidade da deficiência está
relacionada às nomenclaturas: profunda, severa, moderada e leve.
Essa classificação por graus de deficiência deixava claro que as pessoas não são
afetadas da mesma forma, contudo, atualmente, tende-se a não enquadrar previamente a pessoa
com Deficiência Mental em uma categoria baseada em generalizações de comportamentos
esperados para a faixa etária, considerar as relações estabelecidas socialmente, como por
exemplo, seu convívio familiar, os estímulos recebidos, enfim todos aqueles aspectos que possa,
agravar a deficiência orgânica já existente.
Segundo critérios das classificações internacionais, o início da Deficiência Mental
deve ocorrer antes dos 18 anos, caracterizando assim um transtorno do desenvolvimento e não
uma alteração cognitiva como é a Demência. Embora o assunto comporte uma discussão mais
ampla, de modo acadêmico o funcionamento intelectual geral é definido pelo Quociente de
Inteligência (QI ou equivalente).
A Deficiência Mental é um estado onde existe uma limitação funcional em qualquer
área do funcionamento humano, considerada abaixo da media geral das pessoas pelo sistema
social onde se insere a pessoa. Isso significa que uma pessoa pode ser considerada deficiente em
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uma determinada cultura e não deficiente em outra, de acordo com a capacidade dessa pessoa
satisfazer as necessidades dessa cultura. Isso torna o diagnóstico relativo.
Além disso, a Deficiência Mental pode estar associada mais de um tipo de deficiência,
compreendendo-se como Deficiência Múltipla, que é entendida como a associação, no mesmo
indivíduo, de duas ou mais deficiência primárias, com comprometimento que acarretam atrasos
no desenvolvimento global e na capacidade adaptativa. No entanto, não é apenas o
aparecimento de duas deficiências associadas que caracterizam uma criança com deficiência
múltipla, mas sim o nível de desenvolvimento, possibilidade funcionais de comunicação
interação social, bem como seu potencial em aprender.
Assim, o desenvolvimento e as características do desenvolvimento de cada criança
com deficiência múltipla são diferentes e variáveis. Alguns podem apresentar dificuldades
básicas que, com pouca adaptação escolar, conseguirão acompanhar os colegas. Outros, em
função de suas deficiências, precisarão de apoio maior, constante e intenso e, de um currículo
alternativo que corresponda às suas necessidades educativas especiais na classe comum.
Atualmente, o diagnóstico de Deficiência Mental, não se entende apenas por um fator
orgânico, nem tampouco pelo nível de Q.I. (indicativo numérico que mede a inteligência), e vai
além de sintetizar características físicas e intelectuais por categorias ou tipologias.
Várias teorias e concepções desenvolvimentistas, bem como as de caráter social e
antropológico, assumem diversas posições frente à situação mental das pessoas. Assim, novas
concepções educacionais percebem o indivíduo com deficiência como um ser humano que se
desenvolve e, nesse processo, estão inseridos diversos aspectos, que lhes dão características
únicas e individuais.
A idéia de que todas as crianças em uma determinada idade deveriam estar com um
determinado nível de desenvolvimento passou então a ficar ultrapassada, pois através destas
concepções constrói-se a noção de desenvolvimento individual, de acordo com o meio, com o
estímulo recebido e com seu organismo.
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A criança com deficiência torna-se um indivíduo que tem uma maneira especial de se
desenvolver, uma maneira diferente, e não mais uma variante numérica do desenvolvimento
normal. Segundo Lewis (1987): “uma criança cujo desenvolvimento está complicado por um
“defeito”, não é simplesmente menos desenvolvida que as outras crianças de sua idade, mas é
uma criança que se desenvolve de outro modo”.
Conforme vimos anteriormente quanto à definição do conceito de deficiência,
Vygotsky (1995) nos sensibiliza na questão da importância das interações sociais que os
indivíduos estabelece com o seu meio. Ele classifica em dois tipos a deficiência: em deficiência
primária (biológica) e deficiência secundária. (social). Com base em seus estudos, ele nos
conscientiza quanto a necessidade de se buscar a qualidade nas interações, com base no que o
indivíduo tem apreendido e o que pode aprender.
Em nossa sociedade, assim como ela está organizada, o indivíduo considerado
deficiente, encontra inúmeras dificuldades para desenvolver-se, pois ele faz parte de uma
organização excludente e que não se enquadra naquele padrão de normalidade e excelência
socialmente adquirido através de nossa cultura. A deficiência passa a ser determinada pela
posição que o sujeito ocupa nas suas relações sociais. Ele não percebe primeiramente a
deficiência em si, e sim as necessidades que ela ocasiona, e estas necessidades são formadas
socialmente, no convívio com o outro.
Então, o sujeito que possui uma diminuição de sua posição social, em função de sua
deficiência, fica prejudicado em relação ao seu desenvolvimento ou, ao contrário, que a
qualidade de suas interações sociais possam fazer com que esse indivíduo com deficiência
supere suas necessidades, criando aquilo que Vygotsky (1995) chama de Compensação Social.
É nesse contexto que a educação deveria basear suas premissas a fim de promover o
desenvolvimento de pessoas com Deficiência Mental ou qualquer que seja o tipo de deficiência.
A escola deve oportunizar ao indivíduo deficiente condições coerentes para as compensações de
suas necessidades, numa perspectiva de aceitação e igualdade, através da participação efetiva
em sua própria vida social.
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As situações de aprendizagem na escola devem ser favorecidas para a construção de
conhecimento, da identidade pessoal e da convivência com os outros, bem favorecer o contato
com a diversidade da qual os indivíduos façam parte. Segundo Stainback & Stainback (1999; p.
22):
“*as salas de aula integradas, todas as crianças enriquecem-se por terem a oportunidade de aprender umas com as outras. Desenvolvem-se para cuidar umas das outras e conquistam as atitudes, as habilidades e os valores necessários de inclusão de todos os cidadãos”.
Portanto, podemos observar que todas a relação que o indivíduo tenha é crucial para o
seu próprio desenvolvimento, e isto engloba também a expectativa do outro, o respeito, a
amizade, a percepção que o outro tem em relação à deficiência.
O princípio da inclusão se pauta numa concepção que reconhece e aceita a diversidade
na vida em sociedade, aceitando-se os indivíduos com suas peculiaridades e diferenças. Isso
significa garantia de acesso de todos a todas as oportunidades, independentemente das
realidades de que cada indivíduo faça parte.
1.2 – Abordagem da Acessibilidade “Educação para todos”
A educação de alunos com deficiências, distúrbios graves de aprendizagem,
comportamento, e outras condições que afetam o desenvolvimento, tradicionalmente tem se
pautado em um modelo de atendimento, denominado, de forma genérica, como Educação
Especial.
Tem se observado que a educação de alunos com necessidades especiais, que
tradicionalmente era feita de forma segregada, aos poucos tem se voltado, para a chamada
educação inclusiva. A escola inclusiva se traduz numa Escola para Todos. Isto significa que
todos, sem exceção, sejam atendidos no ensino comum, recebendo ao mesmo tempo
oportunidades educativas adequadas. Porém, torna-se necessário que toda a entidade de ensino
receba o auxílio que necessitar durante o processo educativo.
Partindo do princípio que a Escola para Todos exige uma mudança de postura dos
diversos profissionais envolvidos e que essas mudanças só poderão ser concretizadas: por meio
18
da convicção de que a escola precisa mudar, da vontade política de promover mudanças e da
construção de novas formas de socializações, sempre levando em conta o potencial,
necessidades e anseios de cada um dos alunos. Muito mais do que isso implica em
transformações no contexto educacional, como também em mudanças na prática social, política
e cultural.
Embora a legislação brasileira – na Educação, como em outras áreas – possa ser
considerada bastante avançada para padrões internacionais, a promulgação de leis e diretrizes
políticas ou pedagógicas não garante, necessariamente, as condições para o seu devido
cumprimento. Existem inúmeras barreiras que impedem que a Educação Inclusiva se torne
realidade no cotidiano das nossas escolas. Algumas são bastante significativas e têm sido
exaustivamente apontadas na literatura, como, por exemplo, o despreparo dos professores, o
número excessivo de alunos nas salas de aula, a precária ou inexistente acessibilidade física das
escolas, e a rigidez curricular e das práticas avaliativas.
Segundo a professora Maria Tereza E. Mantoan, coordenadora do Laboratório de
Estudos e Pesquisas em Ensino e Diversidade da Universidade Estadual de Campinas, para que
a inclusão aconteça, é preciso um olhar a educação de outro modo. Mantoan afirma que “a
inclusão pegou a escola de calças curtas”. A professora adverte que a escola organizada como
está, produz a exclusão. Para entender a razão de tanta dificuldade é preciso analisar o contexto
escolar. Segunda ela:
“Os alunos estão enturmados por séries, o currículo é organizado por disciplinas e o conteúdo é selecionado pelas coordenações pedagógicas, pelos livros didáticos, enfim, por uma “inteligência” que define os saberes úteis e a seqüência em que devem ser ensinados” (MA*TOA*, 2007, p.22).
Com esse perfil organizacional, dá para imaginar o impacto da inclusão na maioria das
escolas. Esta é uma prática que precisa ser reformulada, aconselha Mantoan. Todas as
estratégias e argumentos que a escola tradicional usa para resistir à inclusão demonstram a sua
incapacidade de lidar com a complexidade e a diversidade dos grupos humanos.
“Estes não são virtuais, categorizáveis, mas existem de fato, são pessoas que provêm de contextos culturais mais variados; representam diferentes segmentos sociais, que produzem e ampliam conhecimentos
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e, que têm desejos, aspirações, valores, sentimentos e costumes com os quais se identificam” (MA*TOA*, 2007, p.23)
Para a implantação de uma escola para todos, é necessário principalmente que a escola
tenha:
• Frequência de todos os alunos em sala de aula, no ensino regular, pois deve estar
asseguradas a todos os alunos a oportunidade de aprenderem socializados, reduzindo
assim os estigmas e preconceitos historicamente construídos pela sociedade ao longo do
tempo;
• Frequência do aluno com deficiência em uma escola de sua comunidade: com estratégias
que assegurem maior participação na vida social da comunidade, além dos muros da
escola;
• Professores que estejam qualificados e preparados para trabalhar com os alunos,
independente de suas peculiaridades;
• Adaptação curricular e tecnologias assistidas;
• Avaliação qualitativa e participativa;
• Metodologias diferenciadas;
• Participação e a colaboração de diversos profissionais que busquem o desenvolvimento
do aluno e suas habilidades, num processo dialógico e de troca mútua;
• Inclusão do aluno na vida social da escola e da comunidade.
Como principais características da escola para todos, salientam-se ainda: colaboração e
integração de todos no processo de ensino-aprendizagem, padrão de excelência, liderança,
novos papéis e responsabilidades, parceria com a família, acessibilidade e ambientes flexíveis
de aprendizagem, novas estratégias, baseadas em observações e pesquisas, novos procedimentos
de avaliação e desenvolvimento profissional continuado.
20
CAPÍTULO 2
Arte na Educação Especial como processo de ensino para a
Deficiência Mental.
“A primeira tarefa da educação é ensinar a ver... É através dos olhos que as crianças tomam o contato com a beleza e o fascínio do mundo. [...] As palavras só tem sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor. Aprendemos palavras para melhorar os olhos” (RUBEM ALVES).
Atualmente percebemos que o ensino de Artes nas escolas está correndo perigo,
devido à: - desvalorização no currículo, falta de profissionais habilitados, períodos de aulas
insuficientes e dificuldade em oferecer aos alunos aulas que explorem as três linguagens
prevista pela Secretaria da educação (produção artística: oral, escrita e plástica). Relegado a um
segundo plano e sobrevivendo a uma dedicação isolada e nem sempre estimulada de muitos
profissionais, esse aspecto fundamental da educação ocupa um espaço restrito no ensino
público, oferecido na maioria das escolas como atividades não disciplinares e, infelizmente,
resumindo-se muitas vezes, em cópias mecânicas de modelos e aprendizado de músicas para
apresentações em eventos comemorativos. Esta situação reflete o descompromisso da sociedade
para com a arte que, como muitos acreditam “não serve para ganhar dinheiro e, portanto, não
tem importância”.
A escola brasileira ainda precisa sensibilizar que no mundo de hoje, há urgência de
novas formas de interações e de linguagens de ensino, que não prestigiem somente a lógica e
21
saberes concretos, para reduzir um modelo educacional segmentado e estanque, que priorize
essencialmente notas e resultados em vestibulares.
Segundo Maria Lúcia Santaella, “o ensino de arte é antagônico a essa educação
segmentada, é que pode ligar todo o conhecimento”. Entende-se o ser humano como um todo,
por isso ele não se identifica com coisas fragmentadas como, por exemplo, ocorre na estrutura
das aulas nas escolas: — agora é o horário de Matemática, depois Geografia, História, etc.
Outra preocupação é a que se refere à formação dos professores como arte-educadores.
Em geral, os cursos de Artes têm a duração mínima de quatro anos, com mais um ano de
especialização. O objetivo, segundo os arte-educadores, é que a arte seja incluída como função
básica na preparação dos estudantes de Magistério e enfatizam a necessidade da presença do
professor especialista nas primeiras séries do Ensino Fundamental, já que hoje é raríssimo
encontrar professor com formação em Artes, para atuar de 1ª a 4º séries do Ensino Fundamental.
O que acontece na realidade é que ocorra, no máximo, o trabalho de professores polivalentes,
que procurem, com muita boa vontade, atuar junto a seus alunos através de músicas (ou
“cantinhos”), desenhos e dramatizações, sem na maioria das vezes, ter o mínimo de
conhecimento necessário sobre o assunto.
“O criar livremente não significa fazer qualquer coisa, de qualquer forma, em qualquer momento. *inguém cria no vazio e sim a partir das experiências vividas, dos conhecimentos e dos valores apropriados”. (OSTROWER, 1986, P.156).
Sem currículo mínimo e sem programa comum, o ensino de Artes acaba sendo
ministrado de acordo com a realidade de cada escola. Se houver professores especializados, a
escola aproveita. Caso contrário, cabe a cada escola encontrar um educador com “alguma
habilidade e gosto pela disciplina...”
O ensino de artes na educação contempla diversos tipos de expressão criados pelo
homem, no decorrer da história, como possibilidades diferenciadas de dialogar com o mundo.
Esses diferentes domínios de significados constituem espaços de criação, criticidade,
autoconhecimento, reforçando a auto-estima e a participação dos sujeitos nele envolvidos. As
22
artes fornecem aos alunos, autores e/ou contempladores, novas formas de inteligibilidade,
comunicação e relação com a vida, reproduzindo-a e tornando-a objeto constante de reflexão.
“Quanto mais os hieróglifos dos artistas se ajustam às impressões que
os sentidos têm da natureza — e toda arte não passa de hieróglifos —,
tanto maior será o esforço imaginativo requerido para inventá-los”.
(Max Liebermann, Die Plantasie in der Malerei, in FO*TES, 2002p.
255).
A importância da arte na formação do ser humano é a pauta diária em que batem as
entidades da área para resgatar a obrigatoriedade da disciplina. Considerando os objetivos de
alargar e aprofundar o conhecimento do ser humano, possibilitando-lhe maior compreensão da
realidade e maior participação social, não podemos nos prescindir de trabalhar com a arte.
Através da sensibilidade e de modos diferentes de ler o mundo, se ampliam pelo
conhecimento das obras e das vidas das pessoas que as elaboram – redimensionando a condição
humana e as diferentes possibilidades de viver e agir. Por isso, a educação tem sentido, pois nos
possibilitam estabelecer novos entendimentos, novas ordens, nas mais variadas dimensões
humanas.
A arte é, por conseguinte uma maneira de despertar o indivíduo para que este dê maior
atenção ao seu processo de sentir. Encontrando novas formas artísticas de simbolizações, os
indivíduos ampliam o conhecimento de si mesmos através da descoberta de diferentes padrões e
da natureza de seu sentir. Conhecer as próprias emoções e ver nelas os fundamentos de seu
próprio “eu” é a tarefa básica que toda a escola deveria propor, se elas não estivessem voltadas
somente para a preparação de mão-de-obra para a sociedade industrial.
Aprender a ler imagens, sons, objetos amplia nossas possibilidades de sentir e refletir
sobre novas ações que criem outras formas de vida no sentido de uma sociedade justa e feliz,
assim como oportuniza aos alunos, a também se tornarem autores de suas produções e de suas
vidas ao mesmo tempo em que se responsabilizam pela herança cultural, por se conscientizarem
de seu real valor junto à sociedade. Segundo Vygotsky (1987) o homem é um ser histórico e se
torna humano porque aprende com os outros seres humanos.
23
Conforme salienta Calvino (1991):
“Cada um de nós é uma enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma amostragem de objetos, de estilos, em que tudo pode ser continuamente remexido e reordenado de todas as maneiras possíveis. Cada um de nós é uma combinatória de experiências, de informações, de leituras, de imaginações”.
Por isso, a importância da arte como um instrumento que possibilitará uma
identificação maior com a escola e seus objetivos pedagógicos, aliados aos interesses e
realidades dos educandos. Toda a produção artística: oral, escrita e plástica que historicamente
os indivíduos vem produzindo, faz parte do acervo cultural da humanidade e representa a nós os
seres humanos, de modo completo e legítimo.
24
CAPÍTULO III
A arte Terapia na aprendizagem dos com deficiência mental
“A arte e seus conceitos pedagógicos”
“Todas as pessoas com deficiência têm o direito, enquanto indivíduos, de conviver com seus pares não-deficientes, sendo essa uma questão de ética e justiça. A convivência ampla com a diversidade, desde o início de nossa vida, é a base da formação humana e social de um cidadão” (WERNECK, 1997).
Vários trabalhos vêm sendo desenvolvidos, em diferentes áreas, no intuito de
promover as reflexões e a transformação de concepções e condutas com relação à deficiência.
São trabalhos voltados para a educação inclusiva, que buscam através do conhecimento
compartilhado, construir uma sociedade mais participativa e democrática, na qual todos sejam
responsável pela qualidade de vida de seu semelhante, independente de suas diferenças.
(Werneck, 1997).
Portanto, os trabalhos de educação inclusiva primam por oferecer oportunidades e a
consolidação dos direitos dos deficientes, através da compensação de suas necessidades, via
recursos que viabilizem a integração deste indivíduo ao ambiente que o cerca.Também se
devem ampliar as discussões e reflexões sobre a pluralidade humana, o preconceito e a exclusão
social.
25
Na Deficiência Mental a capacidade de adaptação do sujeito ao objeto, ou da pessoa ao
mundo, é o elemento mais fortemente ligado à noção de normal. Costumam-se ter como
referência para avaliar o grau de deficiência, os prejuízos no funcionamento adaptativo.
Por funcionamento adaptativo entende-se o modo como a pessoa enfrenta efetivamente
as exigências comuns da vida e o grau em que experimenta uma certa independência pessoal
compatível com sua faixa etária, bem como o grau de bagagem sócio - cultural do contexto
comunitário no qual se insere. O funcionamento adaptativo da pessoa pode ser influenciado por
vários fatores, incluindo educação, treinamento, motivação, características de personalidade,
oportunidades sociais e vocacionais, necessidades práticas e condições médicas gerais.
Em termos de cuidados e condutas, os problemas na adaptação habitualmente
melhoram com esforços terapêuticos do que o QI cognitivo. Este tende a permanecer mais
estável, independente das atitudes terapêuticas, até o momento.
Estes critérios qualitativos (adaptativos) constituem descrições muito mais funcionais e
mais relevantes que o sistema quantitativo (de QI) em uso até agora. Esse novo enfoque
centraliza-se mais no indivíduo deficiente, independentemente de seu escore de QI, sob o ponto
de vista das oportunidades e autonomias. Trata-se de uma avaliação qualitativa da pessoa.
O sistema qualitativo de classificação da Deficiência Mental reflete o fato de que
muitos deficientes não apresentam limitações em todas as áreas das habilidades adaptativas,
portanto, nem todos precisam de apoio nas áreas que não estão afetadas. Não devemos supor, de
antemão, que as pessoas mentalmente deficientes não possam aprender a ocupar-se de si
mesmos. Felizmente a maioria das crianças deficientes mentais pode aprender muitas coisas,
chegando à vida adulta de uma maneira parcialmente e relativamente independente e, mais
importante, desfrutando da vida como todo mundo.
Os fatores mais importantes que devem ser considerados por um arte-educador na
aprendizagem dos deficientes mentais são:
• Dificuldades na comunicação;
• Dificuldades no campo da cognição;
26
• Dificuldades na interação social e no comportamento;
• Obsessões ou problemas com rotinas ou rituais não funcionais;
• Agressividade;
• Falta de noção em situações de perigo ou periculosas;
• Dificuldade em sustentar uma conversação;
• Linguagem estereotipada ou repetitiva;
• Pensamento visual diferente do nosso que associamos a palavra à imagem.
Ao iniciar-se o trabalho com arte terapia, deve-se ser realizada uma avaliação do
aluno: sua condição e potências físicas, de cognição e comunicação. Sua motivação e tempo de
concentração. Num trabalho de arte terapia com deficientes mentais, visa-se:
• Desenvolver os canais de comunicação e expressão;
• Desenvolver a concentração, motivação e percepção;
• Liberar emoções e imagens perturbadoras;
• Canalizar a agressividade;
• Promover o aprendizado do processo criativo;
• Desenvolver habilidades específicas para futura profissionalização;
• Incentivar a autonomia, a socialização, e o prazer de produzir.
• Flexibilizar o comportamento, às vezes muito rígido, trabalhando situações novas;
As aulas (ou atendimentos) devem ser feitos preferencialmente em grupos, de acordo
com seus interesses, dificuldades e necessidades, a fim de manter o resultado muito mais
satisfatório. Devem ter claramente um início meio e fim e serem feitas num ambiente
estruturado, num determinado dia e hora. As explicações verbais devem ser curtas, diretas e
simples. É importante manter uma rotina de trabalho, para que com o tempo possa ser
flexibilizada.
Técnicas e materiais a serem usados vão variar das necessidades de cada aluno, bem
como interesses e aptidões. Trabalhos com argila, música, expressão corporal também são muito
usados com pacientes muito regredidos, que tem pouca motivação por atividades como desenho,
pintura. Para os outros, usamos quase todas as técnicas de arte: desenho, pintura, escultura
27
(sucata, biscuit, papel machês), dança, culinária, teatro (dramatizações). Sempre dependendo da
motivação e do que se deseja atingir com cada paciente.
Para Martinez (2001) a dança, o teatro, a música, as artes visuais e artes plásticas em
geral representam formas de expressão criadas pelo homem como possibilidades diferenciadas
de refletir, dialogar e interagir com o mundo. Esses diferentes domínios de significados
constituem espaços de criação, transgressão, formação de sentidos e significados que fornecem
aos sujeitos, autores ou contempladores novos olhares, novas posturas, novos saberes.
Através de técnicas de artes teatrais, por exemplo, o indivíduo com deficiência mental
tem a possibilidade de exercer outros papéis sociais, com figuras comportamentais diferentes,
fazendo com que o “ator”, demonstre suas próprias possibilidades como também desenvolva
outras.
Nas oficinas ou laboratórios de artes cênicas, trabalham-se habilidades sociais, como
comunicação, expressão de idéias, sentimentos e comportamentos, que são concretizadas no
contato com a sociedade e no próprio grupo, onde o respeito e a criticidade deve ser
constantemente cobrada por todos.
Também utilizam as apresentações para expressar fragmentos de seu próprio cotidiano,
muitas vezes repleto de lições de vida. Este é sem dúvida um espaço importante para pessoas
com deficiência mental, pois geralmente a sociedade, a família e a própria escola, procuram
“poupar” o deficiente, não permitindo que ele vivencie os diversos sentimentos e situações que
fazem parte do mundo antagônico e contraditório dos seres humanos.
Segundo Costa:
“O deficiente mental, ao adentrar-se no mundo da arte, pode trabalhar os seus sentimentos em relação à sociedade, que, na maioria das vezes, o discrimina ou o segrega, devido aos preconceitos e ao estigma. O trabalho com a arte é capaz de transformá-lo em um sujeito mais ativo, com uma auto-estima positiva e uma função social muito mais atuante” (2000, p.165).
28
É imprescindível no decorrer das atividades das aulas valorizar as conquistas. O
material criado ou feito mesmo que com ajuda, é uma produção do aluno, por isso é muito
importante que ele seja motivado, elogiado: — se ele expressa seus sentimentos e realiza algo
concreto, ele passa a resgatar a sua autonomia e auto-estima. Também é muito importante
desenvolver habilidades naturais em prol de uma futura profissionalização.
3.1 - O uso da Arte como terapia
“O trabalho do artista é curar a alma” (KATHLEEN RAINE in BROWN, 2000, p.13).
As artes têm o poder de alcançar emoções profundas. Elas podem mudar a maneira
como o indivíduo enxerga o mundo, e como este se percebe dentro dele, interagindo sobre ele,
alterando-o. É por isso que a arte pode facilitar uma mudança rápida, compreensões profundas e
uma abordagem criativa da vida. A cura está relacionada com o levar o corpo a um estado de
equilíbrio natural. Este equilíbrio é obtido através da constante reflexão entre: o concreto e o
irreal, manifestações externas e a subjetividade, aptidões e necessidades, desejos e medos.
Com um trabalho sistemático, concentrando-se nos diferentes elementos de expressão artística, o ser humano pode melhor trabalhar suas emoções, encontrar novas maneiras de olhar para experiências difíceis, rever o passado e projetar um futuro melhor. (BROWN, 2000, p. 18).
A Arte Terapia surgiu com Carl Jung (1920) que entendia o fazer artístico como sendo
uma atividade criativa e integrante da personalidade. Ele acreditava que a energia psíquica
aliada a finalidade criativa, transformavam-se em imagens e, através dos símbolos, colocar seus
29
conteúdos mais internos e mais profundos. Por isso, a importância em se observar os sonhos,
como fonte de significação terapêutica.
Partindo do princípio de que muitas vezes não se consegue falar a respeito de conflitos
pessoais, a arte terapia propõe recursos artísticos para que sejam projetados e analisados todos
esses processos, obtendo-se uma melhor compreensão de si mesmo, e podendo ser trabalhados
no intuito de uma libertação emocional.
Variados autores buscam uma definição para a Arte terapia, todos sendo semelhantes
no que diz respeito à auto-expressão e a linguagem. É a arte livre, unida ao processo terapêutico,
que transforma a arte em uma técnica especial.
Ela se distingue como método de tratamento psicológico, integrando no contexto
psicoterapêutico, mediadores artísticos. Tal relação origina uma relação terapêutica particular,
assente na interação entre o sujeito (criador), o objeto de arte (criação) e o arte-terapeuta. O
recurso à imaginação, ao simbolismo e a metáforas enriquecem e incrementam o processo.
A arte terapia baseia-se na crença de que, o processo criativo envolvido na atividade
artística, é terapêutico e enriquecedor da qualidade de vida das pessoas. Através do ato de criar,
da reflexão deste processo e dos trabalhos artísticos resultantes, os indivíduos tem a capacidade
de auto-conhecimento e de compreensão do mundo a sua volta, além de aumentarem a auto-
estima, lidarem melhor com sintomas, stress e experiências traumáticas, desenvolvendo recursos
físicos, cognitivos, emocionais e desfrutar do prazer vitalizador do fazer artístico.
Um dos principais objetivos da arte terapia é atuar como um catalisador, favorecendo o
processo terapêutico, de forma que o indivíduo entre em contato com conteúdos internos e
muitas vezes inconscientes, normalmente barrados por algum motivo, assim expressando
sentimentos e atitudes até então desconhecidos. Desta forma, ela propõe-se então, a estruturação
da ordenação lógica e temporal da linguagem verbal, de indivíduos que preferem ou que só
conseguem expressões simbólicas.
A busca da terapia da arte é uma maneira simples e criativa para resolução de conflitos
internos; é a possibilidade da catarse emocional de forma direta e não intencional. Por isso,
30
muitas podem ser as linguagens usadas (plásticas, poéticas e musicais, dentre outras), sempre
com o objetivo de adequar à expressão e elaboração do que é apenas vislumbrado como ocorre
na intimidade psíquica; um mundo de constantes percepções e sensações, pensamentos,
fantasias, sonhos e visões, sem a ordenação moral da comunicação verbal do cotidiano.
Existem várias estratégias, a serem usadas na arte terapia. O arte-terapeuta pode
trabalhar o sujeito individualmente ou com grupos, desenvolvendo práticas, dinâmicas,
vivências que valorizem a Arte em todas as suas manifestações: pintura, escultura, música,
desenho, dramatizações, teatro, poesia... Pode-se funcionar em três níveis distintos:
1- Lúdico: que visa fazer renascer e descobrir dentro de si a capacidade inerente de
criatividade. Ter contato com os próprios dons e brincar como crianças, permite-nos estar no
“aqui e agora”. O lema poderia ser: “Criar brincando e brincar criando”;
2- Terapêutico: onde os atos simbólicos e criativos provocam uma verdadeira
libertação emocional que age nos níveis físico, psicológico e energético. O atelier recria um
espaço de segurança, onde a pessoa se dá o direito de através do ato criativo agir em sintonia na
totalidade do seu ser. Sua ação é múltipla, permitindo entre outras coisas, uma melhor expressão
das suas emoções e sentimentos, o estímulo da imaginação e da criatividade, o aumento da auto-
estima e da confiança e também a capacidade de expressão, que proporciona um melhor
conhecimento de nós mesmos.
3- Transformador: aquela em que a arte terapêutica associa o processo de evolução
psicológica com a criação artística
Segundo Andrade (2000) ao realizarmos uma atividade artística, não só interferimos
na realidade, como também desenvolvemos competências pessoais que aprimoram a
performance, o desempenho da pessoa, o que estabelecerá formas de comunicação entre o real e
o imaginário, entre o pragmático e o sensível, transformando o ato criativo em expressão
produtiva. Dessa forma, as pessoas aprendem a construir espaços de autoria; reconhecem-se
como autores e desfrutam o prazer de criar, valorizando a invenção de coisas originais e não a
mera repetição estereotipada; acrescentando detalhes específicos, comprovadores de que o criar
nos faz humanos e nos leva a sair da lógica dual: melhor ou pior. O sujeito artista/artesão
31
aprende a revitalizar; a perceber sua obra com diferentes matizes e cada uma com sua beleza
única.
De acordo com Jung (1920), a perspectiva do autor no momento da criação, uma obra
de arte consegue, transmitir sentimentos como alegria, desespero, angústia e felicidade, de
maneira única e pessoal. Por isso, é necessário a utilização de recursos artísticos, tais como:
pincéis, cores, papéis, argila, cola, figuras, desenhos, recortes, etc. Deve-se haver sempre a
preocupação com a mais pura expressão de sua subjetividade deixando de lado regras de
estética, e considerando fundamental o conteúdo pessoal implícito em cada criação e explícito
como resultado final.
As atividades desenvolvidas no processo de arte terapia permitem trabalhar, entre
outras coisas, a auto-imagem, a percepção da transformação, a superação de obstáculos, a
estimulação da desibinição, que conduzem a uma sensação de integração com o mundo,
instigando à resolução de conflitos pessoais.
Um exemplo de forma criativa em se trabalhar com a arte é através do artesanato, onde
a manipulação de materiais leva à necessidade de representação, à necessidade de produzir uma
obra pessoal, característica. A criatividade está ligada à atividade artística e o artesão pode
escolher e experimentar os materiais e as técnicas que melhor atendam às suas propostas de
produção. O artesão vai vivenciar o processo criativo com todas as belezas e angústias que o
envolvem, dando lugar à criatividade através de diversos materiais, técnicas e procedimentos. O
artesão vai criar, aproximando idéias, materializando-as. Vai dar forma, vai dar vida à sua idéia
e, com isto, está exercitando a mente, prevenindo problemas com a memória, principalmente no
caso de indivíduos da melhor idade, além de relacionar-se com pessoas com as quais tem
afinidade, tem interesses comuns, o que melhora, inclusive, o humor, afastando o isolamento.
Pode-se, ainda, transformar esse hobby em atividade que lhe traga remuneração, pois os
produtos artesanais têm excelente aceitação no mercado. Basta nos lembrarmos dos artesanatos
regionais, por exemplo, o das rendeiras do Nordeste, que mantêm a casa e a família com seus
produtos artesanais, que têm sido exportados com excelentes resultados.
São muitos os benefícios de trabalhar com artesanatos uma vez que o trabalho manual
gera introspecção, concentração e reflexão. Enquanto desenvolvem um trabalho manual, as
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pessoas ficam calmas, atentas, com os olhos focados em sua produção, acompanhando
criteriosamente o resultado de cada passo realizado. Durante esse processo sentem-se
importantes, capazes e amadurecem, convivendo melhor consigo mesmas e com o grupo.
É importante ressaltar que em toda a ação terapêutica é primordial levar em
consideração o ser humano e a realidade na qual ele esta inserido, para que seja possível
estabelecer uma estratégia de terapia adequada e para que o paciente sinta-se em segurança e
compreendido em todas as dimensões do seu ser.
A arte terapia oferece um grande campo de ação terapêutica, para o tratamento de
diversas perturbações, entre elas:
Depressão ou esgotamento físico ou metal;
Estresse, ansiedade e fobias;
Estresse pós-traumático (após um acidente, doença grave, aborto, parto, etc.);
Perturbações da personalidade, problemáticas afetivas e crises existenciais resultantes de
separação, divórcio, luto, mudança profissional, de país ou de região;
• Deficiências físicas ou mentais;
• Dependências químicas, com álcool e/ou drogas;
• Distúrbios alimentares como a anorexia e a bulimia;
• Busca voluntária de conhecimento de si mesmo ou de desenvolvimento pessoal.
A empatia entre terapeuta e paciente é fundamental para o sucesso do tratamento. O
terapeuta deve ser capaz de criar uma relação de confiança com a seu paciente, de modo a que
este se sinta livre para expressar o que sente e pensa sem ser julgado, mas apenas compreendido
através dos seus sofrimentos e preocupações. O terapeuta deve inspirar confiança ao paciente,
buscando além dos sintomas, as suas qualidades, aptidões, necessidades, auto-estima e
autonomia sobre os seus sentimentos e ações.
33
CO�SIDERAÇÕES FI�AIS
No Brasil, em âmbito federal, diversas leis e diretrizes institucionais passaram a
estabelecer o direito social de pessoas com necessidades especiais serem incluídas na rede
regular de ensino, com a consciência de que a inclusão das pessoas com deficiência é
imprescindível na sociedade, pelas transformações de concepções e condutas das pessoas não-
deficientes, deve-se desmistificar a noção da deficiência normalmente existente na sociedade e,
transmitida culturalmente através do volver da história.
Foi a partir do século XX que se começou a estabelecer uma definição para o
Deficiente Mental e essa definição diz respeito ao funcionamento intelectual, que seria inferior à
média estatística das pessoas e, principalmente, em relação à dificuldade de adaptação.
Na Deficiência Mental, a capacidade de adaptação do sujeito ao objeto, ou da pessoa
ao mundo, é o elemento mais fortemente relacionado à noção de normal. Entretanto, na grande
maioria das vezes a Deficiência Mental é uma condição mental relativa. A deficiência será
sempre relativa em relação aos demais indivíduos de uma mesma cultura, pois, a existência de
alguma limitação funcional, principalmente nos graus mais leves, não seria suficiente para
caracterizar um diagnóstico de Deficiência Mental, se não existir um mecanismo social que
atribui valores é sempre comparativo, portanto, relativo.
Para alcançarmos um verdadeiro diagnóstico sobre pessoas com deficiência, nesta
visão, além de saber qual alteração biológica o sujeito apresenta, deveríamos buscar
compreender que interações sociais ele tem, qual a qualidade destas interações e, quais as
situações de aprendizagem ele já conheceu.
Baseado nos critérios adaptativos, mais que nos índices numéricos de QI, a
classificação atual da Deficiência Mental não aconselha mais que se considere o retardo leve,
moderado, severo ou profundo, mas sim, que seja especificado o grau de comprometimento
funcional adaptativo. Importa mais saber se a pessoa com Deficiência Mental necessita de apoio
em habilidades de comunicação, em habilidades sociais, etc, mais que em outras áreas.
34
Um eficiente plano educacional para pessoas com deficiências (e entre elas nos
detemos ao Deficiente Mental por ser o sujeito desse estudo), deve-se dar conta de trabalhar seu
desenvolvimento da maneira mais global possível: cognitivo, emocional, motricidade,
comunicação e expressão, autonomia, socialização e integração junto à sociedade.
O desafio da educação inclusiva deve ser então, a construção de uma sociedade na qual
todos tenham acesso às mesmas oportunidades, em diferentes âmbitos: na educação, mercado de
trabalho, esporte, política, artes e relacionamentos interpessoais.
Sendo assim, um importante veículo para a construção da sociedade inclusiva, pose ser
feita através do trabalho com a arte nas escolas, já que a arte exerce sua função principal, a cerca
das limitações e habilidades dos deficientes e mostra-se como uma importante ferramenta
educacional, partindo-se sempre de oportunidades reais na construção de novos valores e
conhecimentos.
A Arte Terapia vem sendo usada nessa área com muito, pois permite a expressão e
elaboração de sentimentos profundos, inconscientes, que possivelmente não seriam expressos
em outro tipo de terapia por especiais. Permitem também a autonomia, o prazer em criar,
fazendo com que se sinta parte de todo.
O trabalho de Arte terapia pode ser desenvolvido individualmente ou em grupos de
interesses comuns, de acordo com o nível cognitivo e motor que participem. Há diferença na
condução de trabalhos com psicóticos, deficientes mentais e autistas.
O trabalho com a arte, e principalmente, com a Arte Terapia, oportuniza o incentivo às
suas potencialidades latentes subjetivamente em seu inconsciente, pois possibilita o
desenvolvimento de sua imaginação, criatividade e habilidades. Através da arte, o indivíduo
com deficiência mental pode-se expressar, socializando seu interior e demonstrando sua
singularidade, trabalhar suas emoções e habilidades, o que contribui, assim, para a sua inserção
social.
35
Segundo Martinez (2001):
“A arte permite mostrar a todos os indivíduos, independentes de suas habilidades ou necessidades, limitações ou aptidões, desejos ou medos, que o homem pode sim, compreender e participar de sua realidade, transformando-a num parâmetro mais justo e coerente”.
Estudos sobre a arte constatam que uma das principais atribuições da aprendizagem
com os alunos com deficiência mental é a expressão artisticamente de seu pensamento crítico,
promovendo aspectos saudáveis, já que ajuda a diminuir a vulnerabilidade aos agentes
estressares que esses indivíduos têm que enfrentar, devido aos estereótipos e preconceitos
presentes no cotidiano através da nossa cultura.
Portanto, este trabalho foi produto de muito estudo e envolvimento, no qual busquei
entender a relevância do ensino com criatividade e dinamismo, através da arte como terapia.
Essa pretensão partiu da própria experiência vivida por mim, educadora e pesquisadora, à
medida das necessidades e realidades remetidas pelos meus alunos, com deficiência mental,
através do cotidiano escolar. Por isso, há que se ressaltar que não se trata de um trabalho
conclusivo, mas sim o despertar de interesses e necessidades maiores ainda, no sentido de
continuar pesquisando sobre essa temática.
Nesse sentido, é importante ressaltar que a verdadeira educação é aquela que
humaniza, que propicia o desenvolvimento em sua totalidade. Preciso esclarecer que
durante todo o percurso do curso de Pós-Graduação, a consciência de que todos nós,
educadores, devemos buscar o acesso ao aprimoramento e a qualificação profissional, a um
"estudo realmente significativo, com aplicabilidade" nas escolas.
Tenho a certeza que avancei um pouco mais como ser humano: crítico, consciente e
atuante no meio ao qual faço parte. O percorrer nessa caminhada em busca do conhecimento,
com o objetivo de aprender e ensinar, num processo dialógico constante, de troca de vivências e
saberes entre toda a comunidade escolar, foi o primeiro grande resultado dessa pesquisa. E o
segundo, a convicção de a escola é o cenário mais apropriado para uma educação que permita,
segundo sensibiliza Paulo Freire vivendo e aprendendo, saber por que se vive e por que se
aprende.
36
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