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U N I V E R S I D A D E P A R A N A E N S E - U N I P A R C A M P U S U M U A R A M A - S E D E A TUTELA DO CONSUMIDOR CONTRA O VÍCIO DO PRODUTO OU DO SERVIÇO VIVIANA BIANCONI UMUARAMA – PR 2007

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U N I V E R S I D A D E P A R A N A E N S E - U N I P A R

C A M P U S U M U A R A M A - S E D E

A TUTELA DO CONSUMIDOR CONTRA O VÍCIO DO PRODUTO OU DO SERVIÇO

VIVIANA BIANCONI

UMUARAMA – PR 2007

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U N I V E R S I D A D E P A R A N A E N S E - U N I P A R

C A M P U S U M U A R A M A - S E D E

A TUTELA DO CONSUMIDOR CONTRA O VÍCIO DO PRODUTO OU DO SERVIÇO

Dissertação apresentada como requisito à obtenção de grau de Mestre pelo Programa de Mestrado em Direito Processual e Cidadania da Universidade Paranaense – UNIPAR.

Orientador: Professor Doutor Luiz Guilherme Bittencourt Marinoni.

UMUARAMA – PR 2007

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ata

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AGRADECIMENTOS

Ao orientador Prof. Dr. Luiz Guilherme Marinoni, pela orientação prestada, pelos

questionamentos pertinentes com postura ética.

Ao Prof. Dr. Jônatas Luiz Moreira de Paula pelo acompanhamento e preocupação.

Ao Ildo Forcelini, pelo carinho e compreensão nos momentos de estudo. Com amor.

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SUMÁRIO

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS UTILIZADAS..................................................... 7

RESUMO.........................................................................................................................8

ABSTRACT ..................................................................................................................... 9

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 10

1. ESTADO E DIREITOS FUNDAMENTAIS ................................................................. 12

2. O CONSUMIDOR NA CONSTITUIÇÃO E A INTEGRAÇÃO CONSTITUCIONAL......19

2.1 O DIREITO FUNDAMENTAL DO CONSUMIDOR .................................................. 20

2.1.1 Dever de Proteção Normativa ao Consumidor .................................................... 22

2.1.2 Dever de Proteção Fática ao Consumidor............................................................ 27

2.1.3 Dever de Proteção Jurisdicional do Consumidor................................................. 32

3. A LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA COMO NORMA DE ORDEM PÚBLICA E DE

INTERESSE SOCIAL.................................................................................................... 36

4. O DIREITO FUNDAMENTAL À TUTELA JURISDICIONAL EFETIVA (ART. 5º,

XXXV, CF)..................................................................................................................... 38

4.1 A INCIDÊNCIA DO DIREITO FUNDAMENTAL À TUTELA JURISDICIONAL

EFETIVA SOBRE O LEGISLADOR................................................................................41

4.2 A INCIDÊNCIA DO DIREITO FUNDAMENTAL À TUTELA JURISDICIONAL

EFETIVA SOBRE O JUIZ................................................................................................44

5. NECESSIDADE DO PROCESSO .............................................................................48

5.1 TÉCNICA PROCESSUAL.........................................................................................49

5.2 EFETIVIDADE E INSTRUMENTALIDADE DO PROCESSO....................................50

5.3 A TUTELA JURISDICIONAL EFETIVA DO CONSUMIDOR.....................................53

5.3.1 A Atuação do Juiz na Implementação das Normas de Proteção ao Consumidor 56

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5.3.2 Os Atos do Juiz No Processo Civil de Consumo.................................................. 60

6.TUTELA ESPECÍFICA DOS DIREITOS DO CONSUMIDOR..................................... 66

6.1 A TUTELA INIBITÓRIA DO CONSUMIDOR.............................................................67

6.2 A TUTELA DE REMOÇÃO DO ILÍCITO DO CONSUMIDOR....................................68

6.3 TUTELA ESPECÍFICA NAS RELAÇÕES OBRIGACIONAIS....................................69

6.3.1 Tratamento dos Vícios na Relação Civil de Direito Comum – Vícios Redibitórios

Insuficiência na Relação de Consumo .......................................................................... 73

6.3.2 A Responsabilidade Pelos Vícios do Produto e Serviço no Código de Defesa do

Consumidor ................................................................................................................... 75

6.3.3 Tutela Específica da Obrigação Contratual e Tutela Ressarcitória ...................... 90

7. A TUTELA COLETIVA............................................................................................... 93

7.1 A TUTELA COLETIVA DO CONSUMIDOR...............................................................94

7.2 O REGIME PROCESSUAL DAS AÇÕES COLETIVAS............................................96

7.3 A AÇÃO COLETIVA DOS CONSUMIDORES NOS CASOS DE VÍCIOS DO

PRODUTO E DO SERVIÇO.................................... .....................................................101

8. CONCLUSÃO..........................................................................................................104

9. REFERÊNCIAS.......................................................................................................108

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS UTILIZADAS

ADCT – Ato das Disposições Constitucionais Transitórias

art. – Artigo

arts. – Artigos

CC – Código Civil

CDC – Código de Defesa do Consumidor

CF – Constituição Federal

CPC – Código de Processo Civil

PROCON – Órgão de Defesa e Proteção do Consumidor

SNDC – Sistema Nacional de Defesa do Consumidor

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RESUMO

Com base no preceito constitucional constante do art. 5º XXXII da CF, onde a proteção do consumidor foi elevada ao patamar de Direito fundamental, portanto norma de aplicação imediata, este trabalho busca demonstrar que a tutela do consumidor será alcançada se o Estado, seja ele o Estado Legislativo, Administrativo ou Judicial der efetividade a proteção constitucional realizando o que determina a Carta Magna. O Estado Legislativo editando normas, o Estado Administrativo atuando através de seu poder de polícia, e o Estado Juiz atuando através da técnica processual adequada a efetivação do Direito do consumidor. À disposição do Estado Juiz, existem as tutelas específicas dos Direitos do consumidor, como a inibitória, de remoção do ilícito, as constantes do CDC no art. 84, tutela específica da obrigação contratual, bem como, as tutelas coletivas que trazem um tratamento diferenciado para os Direitos do consumidor. Para tanto, utilizamo-nos da tutela do consumidor contra o vício do produto ou do serviço. Palavras-chave: consumidor; produto, vício, tutela, efetividade.

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ABSTRACT

Based on the constant constitutional precept of the article 5th XXXII of the Federal Constitution , on which the protection to the consumer was elevated to the level of basic law, therefore rule of immediate appliance, this work tries to demonstrate that the consumer tutelage will be reached if the State, whether it is legislative, administrative or judiciary, give effectiveness to the constitution protection holding what determines the Great Letter. The Legislative State editing norms, the Administrative State acting through its police power, and the Judge State acting through the suitable procedural technique for the effectuation of the consumer right. available for the Judge State there are specific tutelages of the consumer rights, like the inhibitory, of removal of the illicit, the constants of the CDC in the article. 84, specific tutelage of the contractual obligation, as well as, the collective that bring a different treatment for the consumer rights. For such, we used the consumer tutelage against the product or service rut. Key-works: product, addiction, protects, effectiveness.

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INTRODUÇÃO

O Código de Defesa do Consumidor publicado com o fim de disciplinar as

relações de consumo, é de cunho eminentemente protecionista tendo a defesa do

consumidor sido elevada ao patamar de Direito fundamental pelo que dispõe o art. 5º,

XXXII da Constituição Federal.

A relação de consumo em função de sua extensão, merece a atenção

especial que a ela foi despendida pela Constituição, em seguida pela regulamentação

contida no CDC (Código de Defesa do Consumidor), isto porque, a venda de qualquer

bem de consumo, desde que para destinatário final, culmina em uma relação de

consumo onde uma das partes é hipossuficiente frente a outra. Assim, desde a venda

de um único comprimido para dor de cabeça até a venda de equipamento com alta

tecnologia, estaremos diante de uma relação de consumo se esta se der a destinatário

final.

Esse consumo massificado, por vezes, poderá acarretar a circulação de

produtos e serviços com defeitos ou vícios, ou seja, que não proporcionam ao

consumidor a segurança que dele legitimamente se espera ou não satisfazem para o

consumidor a expectativa que do produto ou do serviço se esperava pela relação de

consumo.

Neste momento, surge para o Estado a obrigação de proteção ao

consumidor, já que se trata de Direito fundamental garantido constitucionalmente, seja

esta pelo Estado Legislativo, Administrativo ou Judiciário.

O Código de Defesa do Consumidor impõe regras que vão desde a

segurança e dever de informação, que tem papel preventivo, pois, buscam evitar

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danos que possam advir da relação de consumo, bem como, dita normas capazes de

atender o consumidor em relação de consumo que não traz para este a segurança

devida, popularmente conhecida como “acidente de consumo” (art. 12 a 14), como

também, normas capazes de garanti-lo frente às relações obrigacionais (art. 18 a 21).

Pretende-se neste trabalho, demonstrar as possibilidades de concessão

pelo Estado Juiz, da tutela do consumidor contra o vício do produto ou do serviço,

frente ao Direito fundamental do consumidor e o papel do Estado para sua efetivação.

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1. ESTADO E DIREITOS FUNDAMENTAIS

Todo ser humano nasce com Direitos inerentes a si, Direitos individuais que

se vinculam a imposição de limites ao poder do governante, bem como de seus

agentes para resguardar Direitos dos seres humanos isoladamente considerados.

Direitos indispensáveis à pessoa humana, reconhecidos e garantidos por uma

determinada ordem jurídica.

Alguns desses Direitos são criados pelos ordenamentos jurídicos, outros

dependem de certa manifestação da vontade, e outros ainda são apenas

reconhecidos nas cartas legislativas. Neste último encontramos os chamados Direitos

Fundamentais ou Direitos Humanos, e mais corretamente Direitos Humanos

Fundamentais que podem ser definidos como: conjunto institucionalizado de Direitos e

garantias do ser humano que tem por finalidade básica o respeito a sua dignidade, por

meio de sua proteção contra o arbítrio do poder estatal e o estabelecimento de

condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade humana. Esses

Direitos surgem dentro de determinado contexto histórico e, posteriormente, quando

colocados na Constituição, não se perdem com o tempo e não podem ser renunciados

de forma alguma.

A Constituição confere dignidade e proteção especial aos Direitos

fundamentais, revelando-se não apenas na hierarquia normativa superior das normas

constitucionais em geral, mas principalmente no fato de que, de acordo com o

disposto no art. 5º, §1º da Carta Magna, “as normas definidoras de Direitos e garantias

fundamentais têm aplicação imediata.” e que se encontram os Direitos fundamentais

protegidos não apenas contra o Legislador ordinário, mas até mesmo contra a ação do

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poder constituinte reformador, pois que integram o rol das “cláusulas pétreas” do art.

60, § 4º, inc. IV, da CF.1

Isto porque, o Direito fundamental não é uma criação legislativa, mas sim,

criação de todo um contexto histórico cultural da sociedade.

Como aponta PEREZ LUÑO apud SARLET (2005), o processo de

elaboração doutrinária dos Direitos Humanos, tais como reconhecidos nas primeiras

declarações do século XVIII, foi acompanhado, na esfera do Direito positivo, de uma

progressiva recepção de Direitos, liberdades e deveres individuais que podem ser

considerados os antecedentes dos Direitos fundamentais.2

A despeito do dissídio doutrinário sobre a paternidade dos Direitos

fundamentais, disputada entre a declaração de Direitos do povo da Virgínia, de 1776,

e a Declaração Francesa, de 1789, é a primeira que marca a transição dos Direitos de

liberdade legais inglesas para os Direitos fundamentais constitucionais. As

declarações americanas incorporaram virtualmente os Direitos e liberdades já

reconhecidos pelas suas antecessoras inglesas do século XVII, Direitos estes que

também tinham sido reconhecidos aos súditos das colônias americanas, com a nota

distintiva de que, a despeito da virtual identidade de conteúdo, guardaram as

características da universalidade e supremacia dos Direitos naturais, sendo-lhes

reconhecida eficácia inclusive em relação à representação popular, vinculando, assim,

todos os poderes públicos. Com a nota distintiva da supremacia normativa e a

posterior garantia de sua justiciabilidade por intermédio da Suprema Corte e do

controle judicial da constitucionalidade, pela primeira vez os Direitos naturais do

homem foram acolhidos e positivados como Direitos fundamentais constitucionais, 1 SARLET, Ingo Wolfgang. Os Direitos Fundamentais Sociais na Constituição de 1988. São Paulo: RT Revista de Direito do Consumidor nº 30 abril-junho. 1999. p.99. 2 PÉREZ LUÑO. Antonio Henrique apud SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. 5.ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 48.

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ainda que este status constitucional da fundamentalidade em sentido formal tenha sido

definitivamente consagrado somente a partir da incorporação de uma declaração de

Direitos à Constituição em 1791, mais exatamente a partir do momento em que foi

afirmada na prática da Suprema Corte a sua supremacia normativa.3

Verifica-se que os Direitos fundamentais e sua proteção nasceram com o

Estado Constitucional. Os Direitos fundamentais foram ao longo do tempo sofrendo

transformações, que as necessidades da coletividade assim exigiram, a cada

momento foram sendo-lhes atribuída maior efetividade e eficiência, uma evolução

complementada coma evolução social.

Todas as Constituições Brasileiras contiveram enunciados de Direitos

individuais, entretanto, somente a partir da Constituição de 1946, destinou-se um

Título à declaração de Direitos fundamentais. Esse enunciado de Direitos

fundamentais permaneceu nas Constituições de 1967 e 1969, apesar de ambas

conterem dispositivos que excluíam da apreciação judicial os atos praticados com

base em atos institucionais.

O marco histórico dos Direitos fundamentais, no Brasil deu-se na

Constituição de 1988, que trouxe grandes inovações ao dispor sobre os Direitos

fundamentais antes de tratar da organização do próprio Estado, bem como, ao dispor

sobre a tutela dos Direitos difusos e coletivos.

Não se pode, no entanto, deixar de lado a problemática das assim

denominadas “gerações” (ou dimensões) dos Direitos fundamentais, visto que

umbilicalmente vinculadas às transformações geradas pelo reconhecimento de novas

necessidades básicas, de modo especial em virtude da evolução do Estado Liberal

(Estado formal de Direito) para o moderno Estado de Direito (Estado Social e 3 SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. 5.ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 50-51.

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Democrático [material] de Direito), bem como pelas mutações decorrentes do

processo de industrialização e seus reflexos, pelo impacto tecnológico e científico,

pelo processo de descolonização e tantos outros fatores direta ou indiretamente

relevantes neste contexto e que poderiam ser considerados. 4

Existe na doutrina certa divergência quanto à nomenclatura exata da

evolução dos Direitos fundamentais, sob o argumento de que a utilização da

expressão gerações, pode dar ensejo à interpretação de que um Direito fundamental

foi sendo substituído por outro, e não complementado a cada momento da evolução

da sociedade, o certo é que desde o seu reconhecimento nas primeiras Constituições,

os Direitos fundamentais passaram por diversas transformações, tanto no que diz com

o seu conteúdo, quanto no que concerne à sua titularidade.5

Todas as gerações ou dimensões de Direitos fundamentais vinculam-se ao

indivíduo e à sociedade, a proteção de todos os interesses indispensáveis à pessoa

humana. Cada geração de Direitos representa a conquista pela humanidade de um

desses grandes postulados.

A primeira geração, é a dos Direitos individuais e políticos, corresponde ao

ideal da liberdade. São limites impostos à atuação do Estado, resguardando Direitos

considerados indispensáveis a cada pessoa humana. Significam uma prestação

negativa, um não fazer do Estado, em prol do indivíduo. O indivíduo passou a

condição de cidadão, detentor de Direitos tutelados pelo Estado, inclusive contra os

próprios agentes deste.

4 SARLET, Ingo Wolfgang. op.cit. p.43. 5 SARLET, Ingo Wolfgang. op.cit. p.53.

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São por este motivo, apresentados como Direitos de cunho “negativo”, são

Direitos de resistência ou de oposição perante o Estado, e fazem também ressaltar na

ordem dos valores políticos a nítida separação entre a sociedade e o Estado.6

A segunda geração corresponde aos Direitos sociais, que visam melhorar

as condições de vida e de trabalho da coletividade. Significa uma prestação positiva,

um fazer do Estado em benefício dos menos favorecidos pela ordem social e

econômica. Esses Direitos nasceram em razão de lutas de uma nova classe social, a

dos trabalhadores, classe proletária decorrente da relação entre capital e trabalho,

advindas do capitalismo.

Não se pode deixar de reconhecer aqui o nascimento de um novo conceito

de Direitos fundamentais, vinculado materialmente a uma liberdade “objetivada”, atada

a vínculos normativos e institucionais, a valores sociais que demandam realização

concreta e cujos pressupostos devem ser “criados” fazendo assim do Estado um

artífice e um agente de suma importância para se concretizarem os Direitos

fundamentais de segunda geração.7

A terceira geração corresponde aos Direitos de fraternidade, aqui ao lado

dos tradicionais interesses individuais e sociais, o Estado passou a proteger outras

modalidades de Direito como, por exemplo, o meio ambiente. São novos Direitos,

decorrentes de uma sociedade surgida em decorrência dos processos de

industrialização e conseqüente urbanização, em que os conflitos sociais não são mais

adequadamente resolvidos dentro da antiga tutela jurídica voltada somente para a

proteção de Direitos individuais.

Nessa geração pode ser acrescida, a proteção à Infância e a Juventude, ao

Idoso, ao Deficiente Físico, à Educação Pública e ao Consumidor. 6 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 13.ed. 2.tir. São Paulo: Malheiros, 2003.p. 564. 7 BONAVIDES, Paulo. op.cit. p. 567.

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Cuida-se, na verdade, do resultado de novas reivindicações fundamentais

do ser humano, geradas, dentre outros fatores, pelo impacto tecnológico, pelo Estado

crônico de beligerância, bem como, pelo processo de descolonização do segundo pós-

guerra e suas contundentes conseqüências, acarretando profundos reflexos na esfera

dos Direitos fundamentais.8

A quarta geração, surgida pelo processo de globalização, ou seja, com a

globalização industrial e econômica, traz que os Direitos fundamentais estão sendo

globalizados, sendo Direitos da quarta geração o Direito à democracia e informação.

BONAVIDES (2003), afirma que a globalização política na esfera da

normatividade jurídica introduz os Direitos da quarta geração, que, aliás,

correspondem à derradeira fase de institucionalização do Estado Social.9

Acrescenta que dos Direitos fundamentais depende a concretização da

sociedade aberta do futuro, em sua dimensão de máxima universalidade, para a qual

parece o mundo inclinar-se no plano de todas as relações de convivência. Daqui se

pode, assim, partir para a asserção de que os Direitos da segunda, da terceira e da

quarta gerações não se interpretam, concretizam-se.10

Pode-se concluir que os Direitos fundamentais, além de provocar evolução

nos bens que tutelam em cada momento, também determinam a evolução dos

obrigados a sua efetiva proteção. Pelo delineamento trazido pela CF/88, já não se fala

mais em proteção apenas pelo Estado Juiz, apenas após a ocorrência do dano ao

Direito tutelado, mas também, proteção pelo Estado Legislativo, promulgando leis e

pelo Estado Administrativo, antes que ocorra dano.

8 SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. 5.ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 57. 9 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 13.ed. 2.tir. São Paulo: Malheiros, 2003. p. 571. 10 BONAVIDES, Paulo. op. cit. p. 571-572.

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Para a efetivação dos Direitos adquiridos em cada geração, tem o Estado

Legislativo o dever de editar leis que sejam capazes de garantir a efetivação dos

Direitos conquistados, o Estado Administrativo tem a obrigação de dar eficácia no

plano material a esses Direitos, protegendo-os. O Estado Juiz, somente participará, ou

seja, será invocado, quando for negado aos titulares o Direito fundamental, a

efetivação das normas de proteção conquistadas.

Os Direitos fundamentais são a “raiz antropológica” essencial da

legitimidade da Constituição e do Poder Político: “esta dimensão de universalidade e

de intersubjectividade reconduz-nos sempre a uma referência – os Direitos do

homem”.11

Aos Direitos Ffundamentais não poderá hoje assinala-ser uma única

dimensão (subjectiva) e apenas uma função (protecção da esfera livre e individual do

cidadão)12, mas sim como aqueles capazes de garantir o pacífico convívio social, que

se realiza mediante o cumprimento pelo Estado de suas obrigações.

11 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Fundamentos da Constituição, 6.ed., Coimbra – Portugal: Livraria Almedina, 1993, p. 412 12 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 4.ed. Coimbra - Portugal: Livraria Almedina, 1999, p. 1350.

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2. O CONSUMIDOR NA CONSTITUIÇÃO E A INTEGRAÇÃO CONSTITUCIONAL

A Constituição Federal de 1988 deu o primeiro passo no sentido de uma

proteção mais concreta do consumidor no Brasil, prevendo, entre os Direitos e

garantias fundamentais, a Defesa do Consumidor (art. 5º, XXXII). Trata-se de cláusula

pétrea que inaugura o sistema protecionista de que este trabalho de pesquisa irá

cuidar. Mais adiante, no artigo 170, V, a Defesa do Consumidor também foi incluída

entre os princípios básicos da ordem econômica.

Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, ficou evidente a

preocupação da ordem jurídica pátria em reconhecer a importância das relações de

consumo para a sociedade moderna, aparecendo a defesa do consumidor como um

dos pilares para a efetiva construção e concretização do Estado Democrático de

Direito.13

O Direito do Consumidor é uma disciplina relativamente nova, que

introduziu no Sistema Jurídico Nacional uma série de princípios e normas até então

desconhecidos.

Quanto mais o homem evolui, mais complexas ficam as suas relações,

aumentando a distância entre a Pessoa que produz um bem ou serviço e a outra que

dele vai usufruir.

Diante de tal evolução o Estado deve, intervir para garantir que se

restabeleça o equilíbrio nas relações interprivadas de consumo, ditando normas

capazes de garantir o mínimo de proteção necessária, garantia constitucional de

proteção deferida aos cidadãos. Caso contrário, comprar poderia revelar-se um jogo:

13 SILVA, Renato Ferreira da. Código de defesa do consumidor – O princípio da vulnerabilidade no contrato, na publicidade e nas demais práticas comerciais – interpretação sistemática do Direito. Porto Alegre: Síntese, 1999. p. 98.

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quem tivesse sorte, ficaria com produtos bons; quem não a tivesse, mesmo pagando

idêntico preço, em iguais condições, ficaria com o prejuízo, o que não é admissível.

2.1 O DIREITO FUNDAMENTAL DO CONSUMIDOR

A Constituição “tanto é Lei Fundamental dos ‘Direitos, Liberdades e

Garantias’, como dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais; tanto é imperativo

jurídico no que respeita ao estatuto dos órgãos de soberania, como quando trata da

organização econômica ou das relações sociais em geral.14

A caracterização da Defesa do Consumidor como Direito fundamental, no

Direito brasileiro, surge da sua localização, na Constituição de 1988, no art. 5º XXXII,

que determina expressamente que: “O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do

consumidor”. Insere-se a determinação constitucional, pois, no Capítulo I, “Dos

Direitos e deveres individuais e coletivos”, do Título II, “Dos Direitos e Garantias

Fundamentais”. Tem-se assentado na doutrina e na jurisprudência brasileira que a

localização do preceito constitucional nesse setor privilegiado da Constituição, a rigor,

o coloca a salvo da possibilidade de reforma pelo Poder Constituinte instituído.15

De acordo com o art. 5°, § 1° da Constituição Federal, “as normas

definidoras dos Direitos e garantias fundamentais possuem aplicabilidade imediata,

excluindo, em princípio, o cunho programático destes preceitos, conquanto não exista

consenso a respeito do alcance deste dispositivo. De qualquer modo, ficou

consagrado o status jurídico diferenciado e reforçado dos Direitos fundamentais na

14 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Fundamentos da Constituição. Coimbra: Coimbra Editora, 1993, p. 43- 44. 15 MIRAGEM, Bruno Nubens Barbosa. O Direito do Consumidor como Direito Fundamental – Conseqüências jurídicas de um conceito. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo; RT, nº43, julho-setembro. 2002.p.116-117.

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Constituição vigente. Esta maior proteção outorgada aos Direitos fundamentais

manifesta-se, ainda, mediante a inclusão destes no rol das “cláusulas pétreas” (ou

“garantias de eternidade”) do art. 60, § 4°, da CF, impedindo a supressão e erosão dos

preceitos relativos aos Direitos fundamentais pela ação do Poder Constituinte

derivado.”16

Quanto ao Direito do consumidor, tomando como base a formulação de

Alexy, podemos identificá-los nos Direitos de proteção. Os Direitos à proteção podem

ser sumariamente conceituados como posições jurídicas fundamentais que outorgam

ao indivíduo o Direito de exigir do Estado que este o proteja contra ingerências de

terceiros em determinados bens pessoais. O reconhecimento de Direitos à proteção

pode ser reconduzido aos desenvolvimentos decorrentes da perspectiva jurídico-

objetiva dos Direitos fundamentais. Neste contexto, impõe-se que relembremos aqui a

aceitação da idéia de que ao Estado, em decorrência do dever geral de efetivação dos

Direitos fundamentais, incumbe zelar – inclusive em caráter preventivo pela proteção

dos Direitos fundamentais dos indivíduos, não só contra ingerências indevidas por

parte dos Poderes Públicos, mas também contra agressões provindas de particulares

e até mesmo de outros Estados, dever este que, por sua vez, desemboca na

obrigação de adotar medidas positivas com vista a garantir e proteger de forma efetiva

a fruição dos Direitos fundamentais.17

Desta feita, o Direito de proteção significa que o Estado tem para com o

cidadão o dever da prestação normativa, ou seja, tem o Estado o dever de criar

normas para o correto convívio social. Tem o Estado o dever de criar normas capazes

de atender às necessidades dos consumidores, de dar-lhes a tutela jurisdicional de

16 SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. 5.ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p.77. 17 SARLET, Ingo Wolfgang. op.cit. p. 211-212.

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que necessitem em cada situação concreta, portanto, o Direito fundamental do

consumidor, contêm um postulado de proteção, onde ao Estado é proibido omitir-se no

que concerne a defesa do consumidor. Devendo este criar normas capazes de

garantir o equilíbrio nas relações de consumo.

Estas normas devem proporcionar um mínimo de eficácia, pois não basta o

Estado criar a norma protetiva e não assegurar meios para que esta seja efetivada,

pelo preceito Constitucional o Estado tem o dever de agir para garantir o Direito

fundamental insculpido na Carta Magna.

MARINONI (2004) manifesta-se afirmando que o Estado não pode se

esquivar do seu dever de proteção. Diante desse dever, há o que Canaris chama de

imperativo de tutela, isto é, a necessidade de tutela ou de proteção do Direito

fundamental. Essa tutela incumbe, em princípio, ao Legislador, que deve editar a

norma de proteção, realizando a denominada proteção ou tutela normativa. Porém,

quando o Legislador descumpre o seu dever de proteção, surge uma situação de

omissão de tutela ou de proteção. Não obstante, essa omissão pode ser questionada

perante o Poder Judiciário, quando o Juiz deverá verificar, em face do Direito

fundamental, se realmente houve omissão de proteção por parte do Legislador. Se a

conclusão for positiva, caberá ao magistrado suprir a omissão na proteção do Direito

fundamental, concedendo a tutela jurisdicional. Isso porque, como já dito, o dever de

proteção é incumbência do Estado, e não apenas do Legislador. 18

2.1.1 Dever de Proteção Normativa ao Consumidor

18 MARINONI, Luiz Guilherme. A tutela específica do consumidor. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo: RT, n° 50, abril-junho. 2004. p. 88.

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O art. 5, XXXII da CF dispõe que “o Estado promoverá na forma da Lei a

Defesa do Consumidor.” Assim preconiza o art. 170, V da Constituição Federal, “A

ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa,

tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,

observado a defesa do consumidor”.

A Constituição de 1988 é incisiva ao conceber a ordem econômica sujeita

aos ditames da justiça social para o fim de assegurar a todos existência digna. Dá a

justiça social um conteúdo preciso. Preordena alguns princípios da ordem econômica

– a defesa do consumidor, a defesa do meio ambiente, a redução das desigualdades

regionais e pessoais e a busca do pleno emprego – que possibilitam a compreensão

de que o capitalismo concebido há de humanizar-se. Tudo depende da aplicação das

normas constitucionais que contêm essas determinantes.19

Desta feita, ao estabelecer a defesa do consumidor como Direito

fundamental e princípio da ordem econômica, o Legislador Constituinte determinou ao

Legislador Ordinário a obrigação de criar, promulgar um conjunto de normas que fosse

capaz de harmonizar a defesa do consumidor e o desenvolvimento econômico

fundado na economia de mercado e na livre concorrência.

A Carta Magna determinou com urgência a elaboração do Código de

Defesa do Consumidor, para que fosse capaz de propiciar a efetiva proteção do

consumidor, tanto que, no do ADCT, art. 48, consta que tal providência deveria ser

tomada em cento e vinte dias da promulgação da Constituição.

A Constituição outorga, não raras vezes, garantias a determinados

institutos, isto é, a um complexo coordenado de normas que dependem para sua

realização da intervenção do Legislador. A atuação do Legislador revela-se 19 SILVA, José Afonso da Silva. Curso de Direito Constitucional Positivo. 17.ed. São Paulo: Malheiros, 2000. p. 764.

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indispensável para a própria concretização do Direito, o autêntico dever constitucional

de legislar, que obriga o Legislador a editar normas concretizadoras de alguns

Direitos.

O Legislador tem como obrigação promulgar leis que sejam capazes de

proporcionar o desenvolvimento da sociedade, não apenas promulgando as leis que

se restringem a outorgar Direitos, mas leis que sejam capazes de propiciar também a

efetivação destes Direitos quando desrespeitados.

Neste contexto pode-se falar da obrigação que coube ao Estado de

promulgar o Código de Defesa do Consumidor, como meio de efetivação do Direito

fundamental do consumidor, o mais novo e amplo grupo de normas cogentes editado

com o fim de disciplinar as relações contratuais entre fornecedor e consumidor.

Como explicitado, o art. 5º, inc. XXXII, apesar de tratar-se de norma

insculpida no título dos Direitos fundamentais, cuida-se, mais propriamente, de norma

definidora de uma finalidade a ser implementada pelo Estado (a proteção do

consumidor), podendo, neste sentido, falar-se também de uma norma-objetivo.20

A norma-objetivo, parte da circunstância de que há na Constituição normas

que definem resultados concretos, isto é, fixam fins a serem alcançados pelos seus

destinatários, é norma definidora de fins e tarefas do Estado.

O art. 4º 21 do CDC demonstra claramente ser este norma-objetivo, vez que

ali se verifica pelo conteúdo da norma que tem o Estado uma obrigação de resultado,

20 SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. 5.ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 256. 21 Art. 4° A Política Nacional de Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito a sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo; II - ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor: a) por iniciativa direta; b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações representativas;

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qual seja, a implementação de políticas públicas capazes de promover o equilíbrio na

relação de consumo, a proteção do consumidor.

O dever genérico de proteção fundado nos Direitos fundamentais em muito

relativiza a separação entre a ordem constitucional e a ordem legal, determinando a

emissão dos efeitos desses Direitos sobre toda a ordem jurídica.

Mesmo que não se identifique, uma pretensão subjetiva contra o Estado

existe inequivocamente, o dever deste de tomar todas as providências necessárias

para a realização ou concretização dos Direitos fundamentais.

O Código de Defesa do Consumidor foi concebido como instrumento

necessário à proteção dos interesses das pessoas enquanto consumidores, estando,

a partir desse momento, a ordem jurídica efetivamente a reconhecê-los e elencá-los

como uma categoria que é sempre sujeito de Direitos e obrigações. 22

As regras de proteção ao consumidor têm como preocupação a segurança

do consumidor, impondo proibições ou condutas positivas, como por exemplo, a

proibição da venda de produtos com alto grau de nocividade ou periculosidade (art. 10

do CDC) ou o dever de informar de forma ostensiva (art. 9º, CDC). Essas regras,

destinadas a proteger o consumidor contra os produtos e os serviços nocivos e

c) pela presença do Estado no mercado de consumo; d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho; III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores; IV - educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus Direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo; V - incentivo à criação, pelos fornecedores, de meios eficientes de controle de qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de consumo; VI - coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuízos aos consumidores; VII - racionalização e melhoria dos serviços públicos; VIII - estudo constante das modificações do mercado de consumo. 22 DONATO, Maria Antonieta Zanardo. Proteção ao consumidor: conceito e extensão. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993, p. 32-33.

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perigosos, têm natureza preventiva, pois proíbem ou impõem condutas para evitar

danos. Outras normas objetivando garantir as relações obrigacionais tratam da

chamada responsabilidade in re ipsa, dando ao consumidor várias opções no caso de

adimplemento imperfeito; fala-se, aqui, em responsabilidade por vício do produto e do

serviço (art. 18 e ss, CDC). Existem, ainda, normas que objetivam dar a devida

proteção ao consumidor em caso de dano, quando importa a chamada

“responsabilidade pelo fato do produto e do serviço” (art. 12 e ss, CDC). É claro que

as normas materiais de proteção do consumidor não se limitam apenas a essas, basta

lembrar dos ditos “Direitos Básicos do Consumidor” (art. 6º, CDC) e, especialmente,

dos capítulos que tratam das práticas comerciais e da proteção contratual (Capítulos V

e VI do Título I).23

O CDC identificou um sujeito de Direitos especiais, o consumidor e

construiu um sistema de normas e princípios orgânicos para protegê-lo e efetivar seus

Direitos. A identificação deste novo sujeito de Direitos, deste grupo de não-iguais, de

vulneráveis pode ter conotações pós-modernas fortes. No caso brasileiro, trata-se da

realização de um Direito Fundamental (positivo) de proteção do Estado para o

consumidor (art. 5º, XXXII, da CF/88). O consumidor foi identificado

constitucionalmente (art. 28 do ADCT) como agente a ser necessariamente protegido

de forma especial.24

Entretanto não basta para o Estado criar a norma protetiva, este deve

propiciar meios para que a norma seja eficazmente utilizada e se atinja o fim pelo qual

esta se propõe, qual seja a proteção ao consumidor.

23 MARINONI, Luiz Guilherme. A tutela específica do consumidor. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo: RT, n° 50, abril-junho. 2004. 24 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de defesa do Consumidor: O novo regime das relações contratuais .4.ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002. p. 304-305.

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2.1.2 Dever de Proteção Fática ao Consumidor

Desde a muito vivemos a evolução nas relações de consumo, estamos

falando de uma sociedade consumerista, sendo de fundamental importância a

atividade administrativa do Estado na efetivação dos Direitos e defesa do consumidor.

A tutela administrativa do consumidor representa a linha de frente da

atuação protetiva, envolvendo a mais extensa e complexa rede de mecanismos e

órgãos. Cuida-se de dotar o consumidor de instrumentos legais e Administrativos que

possam propiciar a sua defesa em qualquer canto.25

Embora não incluídos no rol do art. 5º do CDC, órgãos oficiais de defesa do

consumidor desempenham papel importantíssimo nas relações de consumo,

constituindo-se a linha de frente responsável pelo primeiro atendimento do

Consumidor, é o Estado Administrativo procurando prestar informações, ou seja,

agindo previamente, ou mesmo agindo repressivamente em caso de reclamações.26

Encontra-se a previsão das sanções administrativas, no capítulo VII do

Código de Defesa do Consumidor, meios pelos quais administrativamente deverá o

Estado prestar a defesa do consumidor.

O Código idealizou o arcabouço do que seria o “Sistema Nacional de

Defesa do Consumidor – SNDC”. Preceitua o art. 55 do CDC, que a “União, os

Estados e o Distrito Federal, em caráter concorrente e nas suas respectivas áreas de

atuação administrativa baixarão normas relativas à produção, industrialização,

distribuição e consumo de produtos e serviços”. E no parágrafo primeiro que a “União,

os Estados, o Distrito Federal e os Municípios fiscalizarão e controlarão a produção,

industrialização, distribuição, a publicidade de produtos e serviços e o mercado de

25 ALMEIDA, João Batista. A Proteção Jurídica do Consumidor. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 173-174. 26 ALMEIDA, João Batista. op.cit. p. 55.

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consumo, no interesse da vida, da saúde, da segurança, da informação e do bem-

estar do consumidor, baixando as normas que se fizerem necessárias”.

Pode-se dizer que através do poder de polícia aí delegado aos entes da

Federação, os mesmos deverão por meio deste poder fiscalizar as atividades que

envolvam a relação de consumo.

O dever de proteção, não se limita à edição de normas requerendo também

atividades concretas de fiscalização e controle. Além disso, o Dec. federal n.º 2187/97,

através de seus arts. 4º e 5º, outorga à administração o denominado “poder de

polícia”, que nada mais é do que um poder de fiscalização e de instauração de

procedimento Administrativo para a apuração e eventual repressão de conduta

discrepante dos Direitos dos consumidores.27

Tais ações devem ser tomadas com o fito de evitar que nas relações de

consumo os consumidores de alguma forma sofram danos. O que significa dizer que

os entes da Federação devem agir administrativamente através de seus PROCONS,

não somente para averiguar se os produtos postos ao consumo foram e estão sendo

produzidos dentro dos padrões técnicos de segurança, mas nos dizeres do art. 5828 do

CDC, também quando forem constatados vícios de quantidade ou de qualidade por

inadequação ou segurança do produto ou serviço.

O CDC para a efetiva atividade administrativa do Estado, traz os

procedimentos e sanções que serão impostas para manter as relações de consumo

dentro dos padrões de normalidade e adequação.

27 MARINONI, Luiz Guilherme. A conformação do processo e o controle jurisdicional a partir do dever estatal de proteção do consumidor. Jus Navigandi, Teresina, a. 10, n. 1147, 22 ago. 2006. Disponível em: <http: //jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8835>. Acesso em 14 de fev. 2007. 28 Art. 58. As penas de apreensão, de inutilização de produtos, de proibição de fabricação de produtos, de suspensão do fornecimento de produto ou serviço, de cassação do registro do produto e revogação da concessão ou permissão de uso serão aplicadas pela Administração, mediante procedimento Administrativo, assegurada ampla defesa, quando forem constatados vícios de quantidade ou de qualidade por inadequação ou insegurança do produto ou serviço.

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Assim em seu Capítulo VII, trata das sanções Administrativas, preceitua em

seu art. Art. 56, que as infrações das Normas de Defesa do Consumidor ficam

sujeitas, conforme o caso, às sanções Administrativas, sem prejuízo das de natureza

civil, penal e das definidas em normas específicas e que as sanções previstas neste

artigo serão aplicadas pela autoridade Administrativa, no âmbito de sua atribuição,

podendo ser aplicadas cumulativamente, inclusive por medida cautelar, antecedente

ou incidente de procedimento Administrativo.

E o art. 57 preceitua que a pena de multa, graduada de acordo com a

gravidade da infração, a vantagem auferida e a condição econômica do fornecedor,

será aplicada mediante procedimento Administrativo, o art. 58 complementa “que as

penas de apreensão, de inutilização de produtos, de proibição de fabricação de

produtos, de suspensão do fornecimento de produto ou serviço, de cassação do

registro do produto e revogação da concessão ou permissão de uso serão aplicadas

pela Administração, mediante procedimento Administrativo, assegurada ampla defesa,

quando forem constatados vícios de quantidade ou de qualidade por inadequação ou

insegurança do produto ou serviço.” Seguido pelo art. 59 que preceitua que “As penas

de cassação de alvará de licença, de interdição e de suspensão temporária da

atividade, bem como a de intervenção Administrativa, serão aplicadas mediante

procedimento Administrativo, assegurada ampla defesa, quando o fornecedor reincidir

na prática das infrações de maior gravidade previstas neste Código e na legislação de

consumo.”

Para a efetiva atividade Administrativa do Estado o CDC dipõe as penas

que poderão e serão impostas pela desobediência daquilo que se pode chamar de

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relação de consumo dentro dos padrões de normalidade e adequação. O art. 59.29 do

CDC, por exemplo preceitua que poderá a administração para que sejam respeitadas

as imposições referentes a proteção do consumidor, inclusive cassar o alvará de

licença de regular funcionamento do estabelecimento, ou determinar sua interdição

temporária e suspensão da atividade até que sejam respeitadas as disposições

referentes a relação de consumo, dentro do que determina a legislação. Estas

previsões sancionadoras deixam clara a intenção do Legislador de propiciar ao Estado

Administrativo, meios que adequados aos diversos conflitos surgidos no dia-a-dia,

darão ao consumidor segurança nas relações de consumo, já que estarão sempre

sendo utilizados como forma de fazer com que estas a cada dia sejam realizadas

dentro dos padrões de normalidade e adequação.

Desta feita, mesmo com a edição destas previsões protetivas, no que diz

respeito à Defesa do Consumidor, o Estado Administrativo deve cumprir eficazmente

seu papel no chamado Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, pois o Direito do

Consumidor diretamente vinculado à questão da cidadania, já que, no âmbito

consumerista, trata-se predominantemente do Direito à saúde, à alimentação, etc.

A Tutela Administrativa deve se realizar não mediante a edição de normas,

proteção que vem do Legislativo, mas sim, realizar o desejo da norma de proteção já

editada (o CDC). O Estado deve agir antes através de seu poder pelo controle

Administrativo, como por exemplo, com o indeferimento de Alvará de Licença a um

29 Art. 59. As penas de cassação de alvará de licença, de interdição e de suspensão temporária da atividade, bem como a de intervenção Administrativa serão aplicadas mediante procedimento Administrativo, assegurada ampla defesa, quando o fornecedor reincidir na prática das infrações de maior gravidade previstas neste Código e na legislação de consumo. § 1º. A pena de cassação da concessão será aplicada à concessionária de serviço público, quando violar obrigação legal ou contratual. § 2º. A pena de intervenção Administrativa será aplicada sempre que as circunstâncias de fato desaconselharem a cassação de licença, a interdição ou suspensão da atividade. § 3º. Pendendo ação judicial na qual se discuta a imposição de penalidade Administrativa, não haverá reincidência até o trânsito em julgado da sentença.

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estabelecimento que comercializará produtos nocivos a saúde, ou fechá-lo depois da

prática do ato lesivo ao consumidor, com o fim de evitar o dano na relação de

consumo.

Há um verdadeiro dever de tutela Administrativa, que pode se realizar

mediante a edição de normas, mas se apresenta, na maioria das vezes, como uma

proteção fática, distanciando-se da proteção que vem do Legislativo, que constitui

essencialmente uma tutela normativa. E que essa tutela Administrativa objetiva

realizar o desejo das normas de proteção, atuando antes (mediante controle

Administrativo) ou depois da prática violadora (mediante atos de repressão), mas

sempre anteriormente a ocorrência do dano.30

Desta feita, por representar exegese sistemática, com a sua base

construída sobre Princípios Constitucionais Fundamentais, a omissão do Estado em

relação à criação de um órgão de Defesa do Consumidor, e sua eficaz manutenção é

inconstitucional.

Os Direitos fundamentais, aqui, o dever de proteção ao consumidor, para

ser eficazmente aplicado exige a existência de uma estrutura estatal e de

procedimentos constitucionalmente adequados, pois como já sopesado, apenas a

edição da norma não tem o fito de realizar a proteção fática que cabe ao Estado

Administrativo.

Se os órgãos Administrativos competentes realizarem seu papel, estariam

contribuindo para o cumprimento do Direito fundamental de proteção do consumidor, e

evitando as lides judiciais, para reparar danos advindos da relação consumerista.

30 MARINONI, Luiz Guilherme. A conformação do processo e o controle jurisdicional a partir do dever estatal de proteção do consumidor. Jus Navigandi, Teresina, a. 10, n. 1147, 22 ago. 2006. Disponível em: <http: //jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8835>. Acesso em 14 de fev. 2007.

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2.1.3 Dever de Proteção Jurisdicional do Consumidor

Tendo o Estado assumido a responsabilidade de fazer “justiça”, ou seja,

proibiu a autotutela trazendo para si a responsabilidade pela jurisdição, deve realizar

sua atividade legislativa editando normas, assim como deve tomar providências

concretas para que sejam respeitados e recompostos os Direitos, se violados, esta

atividade estatal primeiramente é a atividade Administrativa que se inócua culminará

na judicial.

Desta feita, da mesma forma que tem o Estado na função de Estado

Administrativo o dever de promover atividades Administrativas capazes de proteger a

relação de Consumo, cabe a ele como Estado Juiz o dever de agir no momento em

que forem desrespeitadas as normas de Proteção do Consumidor.

O CDC, pensado e promulgado com fito na segurança nas relações de

consumo, procurou abarcar diversas situações que podem trazer prejuízos ao

consumidor, situações esta que se respeitadas nos moldes insculpidos no Código,

jamais chegarão ao judiciário, veja-se o exemplo, a propaganda conhecida

popularmente como propaganda enganosa, que encontra sanção no Capítulo VII do

CDC, pretende evitar propagandas que ao contrário de esclarecerem os consumidores

os envolvem em criações publicitárias, muitas delas de ótima qualidade visual, que, no

entanto, ao consumidor nada traz de benéfico.

O art. 30 do CDC estabelece que toda informação ou publicidade,

suficientemente precisa e veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação,

obriga o fornecedor que a fizer veicular, ou seja, faz parte integrante da relação de

consumo que dela sobrevier.

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O art. 31 do CDC determina que a oferta e a apresentação de produtos ou

serviços devem assegurar informações corretas, claras e precisas, inclusive no que

respeita aos riscos que representam à saúde e à segurança dos consumidores.

Já o art. 36, estabelece que a publicidade deva ser sempre veiculada de tal

forma que o consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como tal, devendo o

fornecedor manter em seu poder para informação dos legítimos interessados, os

dados fáticos, técnicos e científicos que dão sustentação à mensagem publicitária por

ele veiculada.

O art. 37, § 1º, conclui que é enganosa qualquer modalidade de publicidade

que induza o consumidor a erro a respeito da natureza, características qualidade,

quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos ou

serviços.

Mas o Código, prevendo a possibilidade de desrespeito da norma previu em

seu art. 81 que “a defesa dos interesses e Direitos dos consumidores e das vítimas

poderá ser exercida em juízo individualmente ou a título coletivo, assim, concluindo o

exemplo anterior, mesmo diante de todas as previsões normativas previstas para a

correta veiculação de informações, e o Estado Administrativo não for capaz de

eliminar a ocorrência fática que está a abalar a relação de consumo, qual seja, a

correta informação acerca do produto, o Estado Juiz deverá intervir para determinar na

forma do art. 60 do CDC que o fornecedor realize a contrapropaganda, onde exporá

os riscos que o consumo de seu produto traz ao provável consumidor, sem para isto

ter que ser comprovado o dano, ou mesmo que tenha o fornecedor agido com culpa.

Se, no entanto, não se tratar apenas de correção de informação quanto ao

consumo do produto, para se trazer o equilíbrio à relação de consumo, mas sim,

responsabilidade por adimplemento imperfeito, deverá o Estado Juiz, diante da

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ocorrência do dano, com base no art. 12 do CDC, compelir o fornecedor a repará-lo.

Pois, no que diz respeito à responsabilidade, o fabricante, o produtor, o construtor

nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência

de culpa pelos danos causados pelo adimplemento imperfeito, sua responsabilidade é

objetiva, não há que se falar em boa-fé para afastar a responsabilidade pelos danos

causados ao consumidor.

Se tratar de vício de qualidade do produto, o Estado Juiz poderá determinar

a substituição do produto ou a substituição do que está causando o defeito no produto

adquirido pelo Consumidor. Quando tratar-se de proteção contra o vício de quantidade

do produto, diante do que dispõe o art. 19 do CDC, o Juiz poderá determinar a escolha

do consumidor o abatimento proporcional do preço, a complementação do peso ou

medida; a substituição do produto ou a restituição da quantia paga, em ambos os

casos a responsabilidade deriva da garantia intrínseca a relação de consumo

efetivada entre fornecedor e consumidor.

Se o consumidor contratar determinado serviço e este nos termos do art. 20

do CDC, se demonstrarem impróprios ao consumo, ou tenham seu valor diminuído, ou

ainda, sejam dispares as indicações constantes de oferta ou mensagem publicitária,

tem o Direito de pedir por meio do Estado Juiz, a reexecução dos serviços, sem

qualquer custo adicional ou alternativamente e à sua escolha a restituição imediata da

quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos,

ou ainda, o abatimento proporcional do preço.

Verifica-se assim, que o Direito material do consumidor está posto ao

Estado Juiz, este ante seu dever de proteção na ocorrência do dano ou para evitar

que ele ocorra, ou ante o adimplemento imperfeito. O Estado Juiz deve utilizar-se de

todos os instrumentos processuais disponíveis, e prestar a tutela jurisdicional ao

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consumidor, que a ele foi assegurada pela Constituição como Direito fundamental de

proteção.

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3. A LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA COMO NORMA DE ORDEM PÚBLICA E DE

INTERESSE SOCIAL

O Código de Defesa do Consumidor foi editado numa época em que a

autonomia da vontade e a liberdade de contratar, não mais serviam à segurança e

igualdade das partes envolvidas numa relação de consumo.

Preceitua o art. 1º do Código de Defesa do Consumidor, que as normas de

proteção e defesa do consumidor, são de ordem pública e interesse social, nos termos

dos arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas

Disposições Transitórias.

O CDC tem como função assegurar a realização do Direito Fundamental de

Proteção do Consumidor, é norma inderrogável, mesmo que por vontade dos

partícipes da relação de consumo, o interesse da sociedade prevalece em relação à

autonomia de vontade do indivíduo.

A Ordem Pública indicada no Código, em primeiro, determina o seu caráter

de lei cogente, o que se pode observar claramente na hipótese da nulidade das

cláusulas abusivas determinada pelo art. 51, ou ainda antes, quando refere às práticas

comerciais abusivas (arts. 39 a 41), o que manifesta a limitação da autonomia das

partes, sua liberdade de contratar, aos estritos limites determinados em lei.31

O Estado, através da norma de ordem pública, garantirá a igualdade de

condições das partes na relação de consumo.

Sendo suas normas de ordem pública, deve o Juiz apreciar de ofício

qualquer questão relativa às relações de consumo, já que não incide nesta matéria o

31 MIRAGEM, Bruno Nunes Barbosa. O Direito do Consumidor como Direito Fundamental. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo: RT, nº 43, julho-setembro. 2002. p.127-128.

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37

princípio dispositivo. Sobre elas não se opera a preclusão e as questões de que dela

surgem podem ser decididas e revistas a qualquer tempo e grau de jurisdição. 32

No que se refere ao interesse social, o Código visa resgatar a imensa

coletividade de consumidores da marginalização não apenas em face do poder

econômico, como também dotá-la de instrumentos adequados para o acesso á justiça

do ponto de vista individual e, sobretudo, coletivo.33

O reflexo dessa condição do CDC, como norma de ordem pública e de

interesse social, é visível no processo civil, vez que, envolvendo este tipo de questão a

ser dirimida, reclama que a exegese e a aplicação do Direito à espécie deverão ser

diferenciados. Até porque se trata de uma legislação concebida com finalidade

específica: amparar, proteger e defender o indivíduo considerado como consumidor

naquela relação jurídica.34

32 NERY JUNIOR, Nelson. NERY, Rosa Maria de Andrade. Código Civil Comentado e Legislação Extravagante. 3.ed. São Paulo: RT, 2005. p. 949. 33 DENARI, Zenari. et al. Código de Defesa do Consumidor Comentado pelos autores do Anteprojeto. 6.ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000.p. 26. 34 PAULA, Adriano Perácio de. Controvérsias do Processo Civil em Matéria de Consumo. Revista de Direito do Consumidor. São Paulo: RT, nº 54, abril-junho. 2005. P. 53.

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38

4. O DIREITO FUNDAMENTAL À TUTELA JURISDICIONAL EFETIVA (ART. 5º,

XXXV, CF)

Os Direitos fundamentais são a sintaxe da liberdade nas Constituições.

Com eles, o constitucionalismo do século XX logrou a sua posição mais consistente,

mais nítida, mais característica. Em razão disso, faz-se mister introduzir talvez, nesse

espaço teórico, o conceito do Juiz social, enquanto consectário derradeiro de uma

teoria material da Constituição, e, sobretudo da legitimidade do Estado social e seus

postulados de justiça, inspirados na universalidade, eficácia e aplicação imediata dos

Direitos fundamentais.35

A efetividade da prestação jurisdicional começará pela compreensão da

jurisdição a partir dos objetivos fundamentais do Estado brasileiro, que nos termos do

Art. 3º da Constituição Federal são: construir uma sociedade livre, justa e solidária;

garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir

as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceito de

origem, raça, sexo, cor, idade, e quaisquer outras formas de discriminação.

A inserção dos objetivos do Estado na forma do referido artigo, é inédita na

história constitucional brasileira. É a primeira vez que uma Constituição assinala

especificamente, objetivo do Estado brasileiro, não todos, que seria despropositado,

mas os fundamentais, e, entre eles, uns que valem como base das prestações

positivas que venham a concretizar a democracia econômica, social e cultural, a fim

de efetivar na prática a dignidade da pessoa humana.36

35 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 13.ed. 2.tir. São Paulo: Malheiros, 2003. p. 587. 36 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 17.ed. São Paulo: Malheiros, 2000. p. 93.

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As normas apenas impõem uma atividade e dirigem materialmente a

concretização da Constituição, tem o Estado o dever de solucionar os conflitos de

interesse de forma real e efetiva segundo os objetivos fundamentais insculpidos na

Constituição Federal.

Se o Estado possui o dever de solucionar os conflitos segundo seus

objetivos fundamentais, em contrapartida a esse dever, existe um Direito material

fundamental de que toda solução de conflitos seja fundada nesses mesmos objetivos

e de forma efetiva.

O art. 5º, XXXV, da CF, afirma que “a lei não excluirá da apreciação do

Poder Judiciário lesão ou ameaça a Direito.” Entende-se que essa norma garante a

todos o Direito a uma prestação jurisdicional efetiva.37

DUARTE (2005), afirma que “A efetividade da prestação jurisdicional é um

Direito fundamental, por ser suporte imprescindível ao exercício da cidadania e a

própria dignidade da pessoa humana, denegá-lo, fere não só o Direito de cidadão,

mas também, a própria dignidade de ser humano.” 38

Também assim se manifesta MARINONI (2004), “afirmando que o Direito à

prestação jurisdicional é fundamental, pois dele depende a efetividade dos demais

Direitos, uma vez que esses últimos, diante de situações de ameaça e agressão,

sempre restam na dependência de sua realização. O Direito à prestação jurisdicional

efetiva constrói o Direito e faz valer os próprios Direitos.” 39

Mas não há como esquecer, quando se pensa no Direito à efetividade em

sentido lato, de que a tutela jurisdicional deve ser tempestiva e, em alguns casos, ter a

37 MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica processual e tutela dos Direitos. São Paulo: RT, 2004, p.179. 38 DUARTE, Francisco Carlos, et.al. Comentários à emenda constitucional 45/2004. Curitiba: Juruá, 2005, p. 23. 39 MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica Processual e Tutela dos Direitos. São Paulo: RT, 2004, p. 184-185

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possibilidade de ser preventiva. 40 O que significa dizer que a locução ameaça a

Direito, preceito constitucional, também é passível de tutela, ou seja, as tutelas

inibitória e antecipatória devem ser utilizadas pelo Estado Juiz, sob pena de ferir-se o

comando constitucional, vez que, a tutela preventiva e tempestiva está ali garantida.

A ação inibitória se funda no próprio Direito material. Se várias situações de

Direito substancial, diante de sua natureza são absolutamente invioláveis, é evidente a

necessidade de se admitir uma ação de conhecimento preventiva. Do contrário, as

normas que proclamam Direitos, ou objetivam proteger bens fundamentais, não teriam

qualquer significação prática, pois poderiam ser violadas a qualquer momento,

restando somente o ressarcimento do dano.41

Negar a tutela inibitória é o mesmo que negar o Direito fundamental

insculpido no art. 5º XXXV da Constituição Federal, qual seja a preservação do Direito

ameaçado.

Já a tutela antecipatória, está ligada diretamente a duração razoável do

processo, seu alvo é a duração do trâmite processual. “A técnica engendrada pelo

novo art. 273 consiste em oferecer rapidamente a quem veio ao processo pedir

determinada solução para a situação que descreve, precisamente aquela solução que

ele veio ao processo pedir. Não se trata de obter medida que impeça o perecimento

do Direito, ou que assegure ao titular a possibilidade de exercê-lo no futuro. A medida

antecipatória conceder-lhe-á o exercício do próprio Direito afirmado pelo autor. Na

prática, a decisão com que o Juiz concede a tutela antecipada terá, no máximo, o

mesmo conteúdo do dispositivo da sentença que concede a definitiva e a sua

40 MARINONI, Luiz Guilherme. op.cit. p. 180. 41 MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela inibitória e tutela de remoção do ilícito. Jus Navigandi, Teresina, a. 8, n. 272, 5 abr. 2004. Disponível em: <http: //jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5041>. Acesso em 16 de fev. 2007.

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concessão equivale, mutatis mutandis, à procedência da demanda inicial – com a

diferença fundamental representada pela provisoriedade.”42

Enfim, o Direito a tutela jurisdicional efetiva, não poderia deixar de ser

pensado como fundamental, se o Estado impediu a autotutela, deve ele

fundamentalmente proporcionar meios para a preservação dos Direitos, os tenha sido

normatizados ou não pelo Legislador, estejam eles lesados ou apenas sendo

ameaçados.

4.1 A INCIDÊNCIA DO DIREITO FUNDAMENTAL À TUTELA JURISDICIONAL

EFETIVA SOBRE O LEGISLADOR

Se, por um lado, apenas o Legislador se encontra autorizado a estabelecer

restrições aos Direitos fundamentais, por outro ele próprio encontra-se vinculado a

eles, podendo mesmo afirmar-se que o art. 5º, § 1º da CF traz em seu bojo uma

inequívoca proibição de leis contrárias aos Direitos fundamentais, gerando a

sindicabilidade não apenas do ato de edição normativa, mas também de seu

resultado.43

O Direito fundamental à tutela jurisdicional efetiva, obriga o Legislador a

instituir procedimentos e técnicas capazes de permitir a realização das tutelas

42 DINAMARCO, Cândido Rangel. A Reforma do Código de Processo Civil, 3. ed., São Paulo, Malheiros Editores, 1996, p. 141-142. 43 SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. 5. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p.363.

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prometidas pelo Direito material e inclusive, pelos Direitos fundamentais materiais,

mas que não foram alcançadas à distância da jurisdição.44

O significado fundamental da positividade jurídica das normas

programáticas é a vinculação do Legislador, de forma permanente, à sua realização

(imposição constitucional); a vinculação positiva de todos os órgãos concretizadores,

devendo estes tomá-las em consideração como diretivas materiais permanentes, em

qualquer dos momentos da atividade concretizadora (Legislação, Execução,

Jurisdição); e a vinculação, na qualidade de limites materiais negativos, dos Poderes

Públicos, justificando a eventual censura, sob a forma de inconstitucionalidade, em

relação aos ‘actos’ que as contrariam.45

Verifica-se que ao Legislador cabe o papel de editar normas capazes de

satisfazer o Direito material outorgado ao cidadão. Não pode haver o distanciamento

de que a jurisdição é a atividade estatal, fornecida pela Estado Juiz com o simples

objetivo de pacificar os conflitos existentes, substituindo a vontade das partes e que

esta se realiza quando este entrega ao cidadão a tutela jurisdicional efetiva.

Entretanto, com a constante evolução social, não basta ao Legislador editar

normas processuais para determinados casos concretos, deve ele editar normas que

sejam capazes de atender as mais diversas situações da vida. Assim, para a entrega

da tutela jurisdicional efetiva, diante das constantes evoluções, verifica-se a

necessidade de edição de normas processuais que permitam ao Juiz adequá-las ao

caso concreto que lhe foi posto pelo jurisdicionado, preservando assim o Direito

material ameaçado.

44 MARINONI, Luiz Guilherme. A legitimidade da atuação do Juiz a partir do Direito fundamental à tutela jurisdicional efetiva. (2006) Disponível em: http: //jbdjur.stj.gov.br./dspace/bitstream/2011/2190/1. Acesso em 18 de fev. 2007. 45 CANOTILHO, Jose Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 3.ed. Coimbra: Almedina, 1999, p. 1103.

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43

O art. 46146 do CPC, por exemplo, é norma processual que permite ao Juiz

nas ações que tenham por objeto o cumprimento de obrigação de fazer e não fazer

para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático permanente,

impor multa diária, sem precisar em quais situações de Direito material, está o Juiz

autorizado a aplicar a norma. Isto tudo, para conceder a tutela jurisdicional efetiva.

Não se pode imaginar que o Legislador normatize todas as tutelas

prometidas pelo Direito material, assim normas abertas têm o condão de atender os

anseios sociais no que diz respeito ao Direito material concedido que somente é

efetivado através da tutela jurisdicional efetiva.

O Legislador está consciente, de que deve dar aos jurisdicionados e ao Juiz

maior poder para a utilização do processo. É por isso que institui normas processuais

abertas (como a do art. 461 do CPC), ou seja, normas que oferecem um leque de

instrumentos processuais, dando ao cidadão o poder de construir o modelo processual

adequado e ao Juiz o poder de utilizar a técnica processual idônea à tutela da situação

concreta.47

46 Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o Juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento. § 1º. A obrigação somente se converterá em perdas e danos se o autor o requerer ou se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático correspondente. § 2º. A indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo da multa (artigo 287). § 3º. Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao Juiz conceder a tutela liminarmente ou mediante justificação prévia, citado o réu. A medida liminar poderá ser revogada ou modificada, a qualquer tempo, em decisão fundamentada. § 4º. O Juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando-lhe prazo razoável para o cumprimento do preceito. § 5º Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático equivalente, poderá o Juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas necessárias, tais como a imposição de multa por tempo de atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de atividade nociva, se necessário com requisição de força policial. § 6º O Juiz poderá, de ofício, modificar o valor ou a periodicidade da multa, caso verifique que se tornou insuficiente ou excessiva. 47 MARINONI, Luiz Guilherme. A legitimidade da atuação do Juiz a partir do Direito fundamental à tutela jurisdicional efetiva. Disponível em: http: //jbdjur.stj.gov.br./dspace/bitstream/2011/2190/1. (2006) Acesso em 18 de fev. 2007.

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Tal evolução da atuação do Legislador vem se dando devido a sua

consciência de que a constante evolução humana impede que se faça previsão de

todos os casos concretos quando da edição da norma, e que por mais diverso que

seja, deve receber a prestação jurisdicional efetiva quando necessite dela.

4.2 A INCIDÊNCIA DO DIREITO FUNDAMENTAL À TUTELA JURISDICIONAL

EFETIVA SOBRE O JUIZ

A ação processual é meio legítimo que permite a realização da tutela

jurisdicional efetiva ao Direito material garantido, o que exige a estruturação de

procedimentos capazes de fornecer a tutela jurisdicional efetiva ao plano do Direito

material, isto é, procedimentos que possibilitem resultado igual ao que seria obtido se

espontaneamente observados os preceitos legais.

O princípio fundamental, insculpido no art. 5º, XXXV, da Constituição

Federal, garante o Direito à adequada tutela jurisdicional. A sua interpretação

teleológica permite a conclusão de que a toda pretensão de Direito material deve

corresponder uma ação processual, obrigando o processualista a deixar de lado a sua

preocupação com o procedimento ordinário e partir para o estudo das chamadas

tutelas jurisdicionais diferenciadas.48

O judiciário tem vinculação direta com os Direitos fundamentais, está

vinculado a aplicação destes, deve sempre manifestar-se em suas decisões de forma

a aplicar e respeitar a Constituição e seus fundamentos.

48 MARINONI, Luiz Guilherme. Efetividade do Processo e Tutela de Urgência. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1994, p. 13.

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Todos têm o Direito de obter do Poder Judiciário a tutela jurisdicional

adequada. Não é suficiente o Direito à tutela jurisdicional. É preciso que essa tutela

seja adequada.49

A obrigação de compreender as normas processuais a partir do Direito

fundamental à tutela jurisdicional e, assim, considerando as várias necessidades de

Direito substancial, dá ao Juiz o poder-dever de encontrar a técnica processual idônea

à proteção (ou à tutela) do Direito material.50

Uma vez delineado o caso concreto, resta ao Juiz regulá-lo através da lei.

Contudo, a concepção de Direito no Estado Constitucional é completamente diferente

da que lhe foi atribuída pelo Estado liberal. Não mais prevalece o princípio da

supremacia da lei, e essa não é mais vista como um produto perfeito e acabado.51

Hoje a lei se submete às normas constitucionais, devendo ser conformada

pelos Princípios Constitucionais de Justiça e pelos Direitos Fundamentais. É correto

dizer, aliás, que uma das mais importantes características do constitucionalismo

contemporâneo está na definição normativo-constitucional de princípios materiais de

justiça, cuja função é iluminar a compreensão do ordenamento jurídico.52

MIRANDA apud SARLET (2005) constitucionalista de Lisboa, aponta a

existência de uma faceta positiva, no sentido de que os juízes e tribunais estão

obrigados, por meio da aplicação, interpretação e integração, a outorgar às normas de

Direitos fundamentais a maior eficácia possível no âmbito do Sistema Jurídico.53

49 NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do Processo Civil na Constituição Federal. 8ª ed. Revista dos Tribunais, São Paulo, 2004. p. 132 . 50 MARINONI, Luiz Guilherme. A Jurisdição no Estado Constitucional. BDJur Superior Tribunal de Justiça, Publicado em 2006. Disponível em: http: //bdjur.stj.gov.br/dspace/handle/2011/2174. Acesso em 15 de fev. 2007. 51 MARINONI, Luiz Guilherme. op. cit. 52 MARINONI, Luiz Guilherme. op. cit. 53 MIRANDA, Jorge apud SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. 5. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p.369.

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O Judiciário, os juízes devem ter em mente que os Direitos fundamentais,

servem como parâmetro para a aplicação e integração do Direito infraconstituticonal,

os mesmos exercem eficácia vinculante nesta seara.

Desta feita, a tutela jurisdicional deve se dar independentemente de haver

ou não sido editada pelo Estado, por meio de sua atividade legislativa, norma capaz

de satisfazer a relação social desrespeitada, isto porque a omissão de lei não justifica

a omissão do Juiz. A ausência de técnica processual para a tutela dos Direitos,

constitui a um só tempo, violação do Direito fundamental de ação e obstáculo à

atuação da jurisdição. Portanto, para que o cidadão possa ver a reparação do seu

Direito lesado, não há como negar ao Juiz a possibilidade de suprir a ausência de lei

que inviabilize a efetiva tutela jurisdicional do Direito.

Da mesma forma, se na aplicação da lei ao caso concreto, for verificado

pelo Juiz que referida lei fere Direitos fundamentais garantidos pelo Direito material,

deve ele, proteger o Direito material constitucionalmente garantido, buscando

encontrar a técnica processual adequada.

Tal concepção determinou o surgimento de normas processuais que

permitem ao Legislador o preenchimento das mesmas com as situações concretas

trazidas pelos jurisdicionados, como a constante do art. 461, já citado anteriormente e

do inciso II do art. 27354 ambos do CPC. E este último artigo, permite ao Juiz a

54 Art. 273. O Juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou Jurisprudência Vinculada II - fique caracterizado o abuso de Direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu. § 1º. Na decisão que antecipar a tutela, o Juiz indicará, de modo claro e preciso, as razões do seu convencimento. § 2º. Não se concederá a antecipação da tutela quando houver perigo de irreversibilidade do provimento antecipado. § 3º A efetivação da tutela antecipada observará, no que couber e conforme sua natureza, as normas previstas nos arts. 588, 461, §§ 4º e 5º, e 461-A. § 4º. A tutela antecipada poderá ser revogada ou modificada a qualquer tempo, em decisão fundamentada. § 5º. Concedida ou não a antecipação da tutela, prosseguirá o processo até final julgamento.

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requerimento da parte antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida

no pedido inicial, desde que exista prova inequívoca, este se convença da

verossimilhança da alegação e fique caracterizado o abuso do Direito de defesa.

Entretanto, tais normas somente serão eficazmente utilizadas para a

concessão da tutela jurisdicional efetiva, se o Juiz conseguir identificar a espécie de

tutela que pretende o jurisdicionado. Não se pense que a norma processual está posta

para garantir apenas o Direito do autor, quando da aplicação desta o Juiz deve

analisar tanto o Direito do réu como do autor.

E ainda, a ampliação dos poderes do Juiz, que ocorreu para dar ao

jurisdicionado a tutela jurisdicional efetiva, não prescinde do controle de sua atividade,

ao contrário determina que este justifique a escolha da técnica processual ao caso

concreto lhe apresentado.

O crescimento do poder de atuação do Juiz e a conseqüente necessidade

de outros critérios de controle da decisão judicial nada mais são do que reflexos das

novas situações de Direito substancial e da tomada de consciência de que o Estado

tem o dever de dar proteção efetiva aos Direitos.55

§ 6º A tutela antecipada também poderá ser concedida quando um ou mais dos pedidos cumulados, ou parcela deles, mostrar-se incontroverso. § 7º Se o autor, a título de antecipação de tutela, requerer providência de natureza cautelar, poderá o Juiz, quando presentes os respectivos pressupostos, deferir a medida cautelar em caráter incidental do processo aJuizado. 55 MARINONI, Luiz Guilherme. A legitimidade da atuação do Juiz a partir do Direito fundamental à tutela jurisdicional efetiva.(2006) Disponível em: http: //jbdjur.stj.gov.br./dspace/bitstream/2011/2190/1. Acesso em 18 de fev. 2007.

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5. NECESSIDADE DO PROCESSO

O Estado, como Legislador, cria preceitos normativos, impondo normas de

conduta a serem observadas na convivência social, e das quais nasce, uma vez

presente o suporte fático da incidência, Direitos e deveres, obrigações e prestações.

Ora, nem sempre os Direitos e prestações são atendidos espontaneamente pelos

destinatários dos preceitos normativos. De nada adiantaria, assim, o exercício pelo

Estado da função legislativa – consagrando o Direito e impondo o dever – se não

fosse acompanhado do exercício da função jurisdicional, da garantia da ação, da

possibilidade, assegurada a quem se julga titular daquele Direito, de obter do mesmo

Estado que criou a norma, as providências no sentido de impor coativamente o

respectivo atendimento. Direito sem ação seria Direito mutilado, sem eficácia no plano

social.

Contudo, quando se trata do Direito das pessoas, há de se ter presente que

a eficácia social das normas regulamentadoras do sistema jurídico, está diretamente

relacionada com a aptidão dos instrumentos processuais para, se necessário,

assegurar o seu adequado funcionamento. Também nesse domínio jurídico há de se

buscar, com pertinácia, a obtenção da tutela específica dos Direitos que estão sendo

violados.

Através do processo há de se garantir, a quem tem Direito, tudo aquilo e

somente aquilo que seja seu de Direito.

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5.1 TÉCNICA PROCESSUAL

O Direito é uma ciência normativa e, portanto social, sendo social tudo

quanto é jurídico, existe um modo de ver os fenômenos do Direito exclusivamente

como tal e pelo significado jurídico que têm, sem atentar à sua inserção na vida da

sociedade. Tal é a visão estritamente jurídica que, enquanto aplicada ao estudo do

processo e dos seus escopos, mostra-se insuficiente e estéril, clamando por

complementações no plano político e no propriamente social.

A perspectiva estritamente jurídica do sistema processual constitui reflexo

do momento histórico da sua ciência, consistente na afirmação da autonomia

conceitual e metodológica e aprimoramento interno do sistema. O outro momento,

visivelmente instrumentalista, é assim justamente por força da percepção das

responsabilidades que perante a nação e sua estrutura política o processo é chamado

a assumir.

Isso não significa, todavia, abominar a visão jurídica de um sistema que em

si mesmo é jurídico. É de suma importância e vital relevância na técnica processual a

definição do modo como o processo e os seus resultados repercutem no sistema

jurídico; além disso, as fórmulas mais conhecidas, através das quais se tentou a

definição teleológica do processo, constituem acima de tudo pronunciamentos acerca

da função que o processo desempenha perante o Direito e na vida dos Direitos.

A postura em torno da reunião artificial de idéias correspondeu à crença de

que ele servisse à tutela dos Direitos subjetivos, sem a percepção da existência dos

dois planos do ordenamento jurídico; o escopo de aplicação de sanções, atribuído ao

sistema processual, constitui evidente reflexo da teoria que visa o próprio Direito como

sistema de sanções; e os pensamentos que ainda hoje existem nos estudos e nas

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posturas dos processualistas (justa composição da lide, atuação da vontade concreta

da lei) estão indissoluvelmente associados.

Discutir o objeto jurídico do sistema processual significa, portanto, pôr em

questão o modo como opera e posto que ocupa no sistema jurídico. Neste momento

da história do Direito, já não teria sequer sentido cogitar da tutela dos Direitos como

objeto do processo, expressão de uma visão superada do próprio ordenamento

jurídico.

5.2 EFETIVIDADE E INSTRUMENTALIDADE DO PROCESSO

O modo institucional de atuar do Estado-Juiz em face dos conflitos de

interesses se dá pelo processo, que é o instrumento da jurisdição, seja, criando para

as partes a oportunidade de se autocomporem, seja ditando ele próprio a solução,

conforme a sua própria vontade, expressa na lei.

O processo é a um só tempo, meio de realização de um dos fins do Estado,

que é a preservação da paz social, e meio pelo qual a parte faz valer sua pretensão

em juízo; de um lado, atende a um interesse público, de atuar a lei, e, de outro,

satisfaz o interesse privado de ver tutelado o seu Direito. Na atual fase da evolução do

processo, o interesse do Estado já se revela também de forma bastante acentuada na

pacificação dos litigantes, para assegurar a paz dentro da sociedade.

A atividade estatal é orientada no sentido de se obter o máximo de

resultado, com o menor custo, que precisa ser equacionada para se preservar a

harmonia do meio social. Daí ser o processo dominado pelo princípio da efetividade,

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que corresponde a praticamente, a quem tem um Direito, tudo aquilo e exatamente

aquilo que ele tem Direito de obter.

Se o rito processual pesa contra a parte carente de tutela jurídica, por uma

pretensão fundada numa alegação verossímil, com iminência de dano irreparável ou

de difícil reparação, ou num relevante fundamento, com receio de ineficácia do

provimento final, nada mais justo que torná-la efetiva, pois, de outra forma, não

conseguiria tudo aquilo que o processo seria capaz de proporcionar. E, estaria

abalando profundamente a efetividade do mesmo.

E segundo ALVIM (1997), “o processo não é fim em si mesmo, mas meio

de se alcançar um fim, resida este na atuação do Direito objetivo, na tutela do Direito

(subjetivo) ou na satisfação de ambos.”56 Dentro do sistema processual, os atos

jurídicos processuais, ao contrário dos atos jurídicos em geral, estão sujeitos, em

princípio, à observância da forma. As formas processuais respondem a uma

necessidade de ordem, de certeza, de eficiência e a sua observância representa uma

garantia de regular e legal desenvolvimento do processo.

Como o processo não se compõe de um único ato, mas de um conjunto de

atos, a instrumentalidade alcança cada ato e o conjunto, preservando o resultado do

processo, que é a sentença, sempre que da eventual inobservância da forma não se

puder demonstrar prejuízo.

Os conflitos sociais envolvem pessoas das mais diversas classes sociais,

muitas das quais sem as mínimas condições de arcar com as despesas do processo,

sendo dever do Estado proporcionar-lhes as condições necessárias à salvaguarda de

seus interesses, não só criando os órgãos encarregados de prestar a jurisdição, mas,

56 ALVIM, José Eduardo Carreira. Tutela específica das obrigações de fazer e não fazer na reforma processual. Belo Horizonte: Del Rey, 1997, p. 19.

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sobretudo, o acesso a esses órgãos, seja pessoalmente, seja através de advogados,

criando inclusive serviços de assistência judiciária para esse fim.

Segundo CAPPELLETTI & GARTH (1988):

a expressão ‘acesso à justiça’ é reconhecidamente de difícil definição, mas serve para determinar duas finalidades básicas do sistema jurídico - sistema pelo qual as pessoas podem reivindicar seus Direitos e/ou resolver seus litígios sob os auspícios do Estado. Primeiro, o sistema deve ser acessível a todos; segundo, ele deve produzir resultados que sejam individual e socialmente justos.57

O acesso à justiça também se destaca pelas tutelas consagradas nos arts.

273, 461, 461-A do CPC, e art. 84 do CDC porquanto, a não concessão de uma tutela

antecipada ou específica em tempo hábil, que se revele indispensável ao Direito da

parte autora é o mesmo que impedir o acesso à justiça, ou não lhe proporcionar o

adequado acesso.

Para ALVIM (1997):

o mínimo que se pode esperar de uma decisão judicial é que tenha na ordem jurídica, no geral, e na esfera dos titulares do Direito e da obrigação, no particular, alguma conseqüência fática, exatamente aquela pretendida por quem invoca a tutela. Seria inútil, por exemplo, uma decisão que, devendo outorgar a tutela especifica — por exemplo, apreendendo uma revista, por ofensa a Direito do autor -, só viesse a outorgá-la por sentença, quando todas já foram vendidas.58

Assim, deve haver uma correlação entre o conteúdo jurídico do provimento

e as suas conseqüências no mundo fático, onde careceria de interesse processual

quem pretendesse um provimento destituído de qualquer conseqüência prática.

Porque a decisão deve ser útil ao interessado, ou seja, propiciar a entrega do bem da

57 CAPPELLETTI, Mauro. GARTH, Briant. Acesso à Justiça. trad. de Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor, 1988, p. 8. 58 ALVIM, José Eduardo Carreira. op. cit. p. 23.

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vida por ele buscado, pois, entregar-lhe menos é favorecer o inadimplente, ou

conceder-lhe o que pretendia sem dar efetividade é para ele uma decisão inútil.

5.3 A TUTELA JURISDICIONAL EFETIVA DO CONSUMIDOR

Não se limitou o Legislador, a adotar o sistema processual de meios para

promover a satisfação específica do titular do Direito. Preocupou-se, também, em

fazer com que tal prestação seja entregue em tempo adequado, mesmo que antes da

sentença, caso isso se mostre necessário a manter a integridade do Direito

reclamado.59 Conforme dispõe o § 3º do art. 84 do CDC, sendo relevante o

fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento

final, é lícito ao Juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citado

o réu.

Existe aqui a possibilidade de antecipação de efeitos da tutela, também

prevista como medida universal do procedimento comum, pelo art. 273 do CPC. A

reiteração justifica-se, no entanto, por uma peculiaridade que deve ser remarcada: a

importante função de salvaguarda da prestação específica.

O sistema anterior não dispunha de mecanismo eficiente a garantir tutela

específica para obrigações negativas sob ameaça de lesão. Consistindo tal espécie

obrigacional em comportamento omissivo do obrigado (não fazer, tolerar um fato,

permitir um ato ou um comportamento de outrem) a sua tutela específica.60 Por mais

ágeis que sejam os procedimentos ordinários destinados à outorga dessa espécie de

59 YARSHELL, Flávio Luiz. Tutela jurisdicional específica nas obrigações de declaração de vontade. São Paulo: Malheiros, 1993, p. 59. 60 YARSHELL, Flávio Luiz. op. cit. p. 62.

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tutela preventiva em caráter definitivo, haverá sempre um razoável intervalo de tempo

entre o pedido e a sentença, de modo que são enormes as possibilidades de ocorrer

lesão do Direito no curso do processo, fato que comprometeria a prestação da tutela

específica, tão valorizada pelo art. 84 do CDC.

Fazia-se indispensável, destarte, a agregação de mais esse mecanismo

previsto no § 3º, que, para afastar riscos de ineficácia (entre eles o do rompimento da

obrigação no curso do processo) permite ao Juiz conceder a tutela em caráter liminar.

61

Assim, portanto, além de prever meios executórios de coerção e de sub-

rogação para atender o Direito de modo específico, e não por sucedâneos, previu o

legislador mecanismo para que a tutela jurisdicional chegue ao seu destinatário em

tempo hábil.

O dispositivo aplica-se não apenas a obrigações negativas, mas também

para as obrigações de fazer, sejam elas fungíveis ou não, instantâneas, de trato

sucessivo ou permanentes. Aplica-se, também, como aliás, todo o art. 84 do CDC, não

apenas às obrigações em sentido estrito, decorrentes de ato de vontade, mas também

às que decorrem de imposição de lei.

Embora uma interpretação puramente literal possa sugerir que o único meio

de coerção para o cumprimento da tutela provisória antecipada seja o previsto no § 4º

do art. 84 (multa diária), não há dúvida de que o Juiz está autorizado a valer-se,

também, dos demais mecanismos, inclusive dos inominados, previstos no § 5º. Não

fosse assim, ter-se-ia presente, outra vez, uma insuficiência de meios coativos para

gama enorme de situações. É que a multa diária é mecanismo de coerção para induzir

o cumprimento de obrigação positiva que esteja sendo violada, de coagir a realização

61 YARSHELL, Flávio Luiz. op. cit. p. 62.

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de uma ação a ser desenvolvida: a multa incide imediatamente, acumula-se dia a dia e

somente cessa com o advento da prestação. No caso de obrigação negativa, porém,

ocorre fenômeno exatamente inverso, pois o que se visa é a não ocorrência da ação,

ou seja, o meio coativo deve induzir a uma omissão.62

Não há sentido lógico em utilizar, para esse fim, o instrumento da multa

diária. A coerção pecuniária mais adequada, nestes casos, será a cominação também

de multa, mas com outra natureza: terá que ser multa de valor fixo, que não incidirá

imediatamente, mas apenas se houver violação da obrigação, ou seja, apenas se

houver ação.63

Em outras palavras: a multa diária é mecanismo que induz prestação de

obrigação já violada; a multa fixa, ao contrário, supõe obrigação apenas ameaçada de

violação. Embora se tratem, ambas, de meio de coerção patrimonial, as duas espécies

de multa são instrumentos executórios substancialmente diferentes, seja quanto ao

seu valor, seja quanto ao modo de atuar.

Daí afirmar-se que, por força do sistema que veio valorizar a prestação da

tutela específica, “antes de se pensar que o processo viabiliza a imposição de um

fazer ou de um não-fazer, é preciso verificar a razão dessa possibilidade de atuação.

Ou melhor, é preciso perceber que para a efetivação das normas de proteção, importa

a inibição da violação e remoção do ato ilícito de eficácia continuada muito mais do

que o ressarcimento do dano, mesmo quando esse é prEstado na forma específica

(i.e., através de um fazer)”. 64

Mais que em outras lides, a função do Juiz é a de comandar o instrumental

do processo, de modo que os Direitos básicos do consumidor sejam realmente 62 YARSHELL, Flávio Luiz. op. cit. p. 111. 63 YARSHELL, Flávio Luiz. op. cit. p. 111. 64 MARINONI, Luiz Guilherme. A tutela específica do consumidor. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo:RT, nº 50, abril-junho. 2004. p. 93

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efetivados. É preciso que se liberte das amarras da dogmática, do formalismo e da

legalidade sem precipitação, de modo a construir soluções que não precisam vir

criadas por uma revolução, mas que se erga a partir da postura altaneira sobre a

realidade das coisas, sempre ciente e cioso de que o único destinatário da sua

atuação é a sociedade. 65

5.3.1 A Atuação do Juiz na Implementação das Normas de Proteção ao

Consumidor

O Estado Juiz, através do processo será chamado a se manifestar na

relação consumerista, à partir do momento que o Estado Administrativo, demonstrar-

se incapaz de propiciar ao consumidor a proteção de que necessita na relação de

consumo.

O consumidor lesado poderá pleitear em juízo ressarcimento por meio de

ação coletiva ou individual do prejuízo sofrido na relação consumerista. (art. 81)

O Juiz por sua vez, ante a ineficiência ou impossibilidade da tutela

Administrativa, para equilibrar a relação de consumo, deve atuar para impedir a

violação da norma consumerista, ou para determinar que seu descumprimento cesse.

O Código de Defesa do Consumidor, em vigor a mais de uma década, deve

ser amplamente aplicado pelo Estado Juiz, dele consta a intervenção deste quando

necessário, não há que se pensar que a legislação consumerista apenas será aplicada

no âmbito Administrativo, a defesa Administrativa em momento algum afastou a

65 PAULA, Adriano Perácio de. Controvérsias do Processo Civil em Matéria de Consumo. revista de Direito do Consumidor, São Paulo: RT, nº 54 abril-junho. 2005. p.38.

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judicial, pelo contrário, surgiu para dar maior efetividade a tutela do Direito do

consumidor.

A defesa do consumidor adentra as relações interprivadas, assim toda vez

que for necessária a intervenção do Estado Juiz esta deve dar-se, mormente porque a

defesa deste, descrita no art. 5°, inc. XXXII da CF, instituída no art. 170, V CF, são

normas constitucionais insertas no patamar de Direito fundamental.

O Estado Juiz, desta feita, ante o Direito fundamental de proteção do

consumidor, não pode ignorá-lo deixando de aplicar-lhe a regra processual cabível.

Isto tudo, deve-se a evolução social vivida há muito tempo pela sociedade

brasileira, onde se exige um Estado que seja capaz de atuar garantindo para toda a

sociedade a tutela jurisdicional efetiva, e para isto deve o Estado Juiz, tutelar mesmo

que não tenha ocorrido dano.

Apesar da doutrina civilista sustentar que o ato ilícito somente será passível

de tutela se causar dano, ou seja, o ilícito somente interessa ao Direito sob a ótica da

reparação66, pela evolução acima identificada, ao contrário, o Estado Juiz deve

sempre analisar o caso concreto sob a ótica do ilícito e do dano, fazendo a distinção

entre eles, pois ambos merecem serem tutelados.

O dano é a conseqüência da prática de um ato contrário ao Direito, já o

ilícito mesmo sendo também a prática de um ato contrário ao Direito, pode não causar

dano algum, entretanto, será um grande erro pensar-se que a violação do Direito

merece apenas reparação mediante o equivalente monetário.

Há hipóteses em que a violação da norma, ainda que não produtora de

dano, deve ser sancionada através da adequada tutela jurisdicional. Assim, por 66 O dano é, sem dúvida, o grande vilão da responsabilidade civil. Não haveria que se falar em indenização, nem em ressarcimento, se não houvesse o dano. Pode haver responsabilidade sem culpa, mas não pode haver responsabilidade sem dano. FILHO, Sergio Cavalhieri. Programa de Responsabilidade Civil. 3.ed. São Paulo: Malheiros, 2002.p. 89.

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exemplo, à venda de produto nocivo à saúde do consumidor. Neste caso, a simples

exposição à venda constitui ato ilícito, suscetível de repressão através da devida tutela

jurisdicional. Quem expõe à venda produto nocivo à saúde do consumidor sujeita-se a

uma ação coletiva de busca e apreensão da mercadoria, a ser proposta por qualquer

um dos legitimados à ação coletiva. Em outras palavras, não há razão para não se

admitir que um ato contrário ao Direito, que não gera um dever de indenizar, deva ser

sancionado.67

A atuação do Estado Juiz, deve se dar mesmo que tenha havido apenas a

violação da norma, sem, portanto a ocorrência de dano, para isto, pode ser utilizada

tutelas como a inibitória e a de remoção do ilícito.

A tutela inibitória, é tutela preventiva de Direito, por isto deve ser

amplamente utilizada pelo Estado Juiz na proteção de Direitos como o do consumidor,

onde a intenção do Legislador é muito mais a de evitar o dano do que esperar que ele

aconteça para que haja a tutela deste Direito.

É conseqüência necessária do novo perfil do Estado e das novas situações

de Direito substancial. Ou seja, a sua estruturação, ainda que dependente de

teorização adequada, tem relação com as novas regras jurídicas, de conteúdo

preventivo, bem como com a necessidade de se conferir verdadeira tutela preventiva

aos Direitos, especialmente aos de conteúdo não-patrimonial.68

Deve também o Estado Juiz na proteção e defesa do consumidor, valer-se

da tutela de remoção do ilícito, vez que, sua concessão também não implica em

provar o dano, mas apenas e tão somente em provar a ocorrência de ato contrário ao

Direito, isto significa que é uma tutela capaz de proteger o Direito material outorgado

67 MARINONI. Luiz Guilherme. Tutela Específica (arts. 461, CPC e 84, CDC). São Paulo: RT, 2000. p.22-23. 68 MARINONI, Luiz Guilherme. A Tutela Específica do Consumidor . Revista de Direito do Consumidor, São Paulo: RT, nº 50, abril-junho. 2004. p. 74.

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na norma, pois que a tutela de Direito onde já tenha ocorrido o dano, não tem o

condão de dar efetividade ao Direito material outorgado, mas apenas e tão somente

tentar ressarcir os prejuízos advindos do descumprimento do Direito material.

Desta feita, concluir-se que não é passível de tutela civil ato contrário ao

Direito que não cause dano, é um grande erro, mormente em relação a proteção e

defesa do dos Direitos do consumidor, como, Direito de informação, segurança e

destinação.

O Estado Juiz que se preocupa apenas com a tutela jurisdicional pelo

equivalente monetário, ou seja, com o dano, fica restrito apenas à tutela ressarcitória,

o que de há muito é insuficiente para tutelar os Direitos constitucionalmente

garantidos, como a defesa do consumidor, é preciso um judiciário que entenda que a

tutela jurisdicional efetiva, se dá com a aplicação da técnica processual de forma que

atenda os anseios surgidos com a evolução da sociedade e as determinações

constitucionais.

O Direito fundamental a tutela jurisdicional efetiva, não atingirá a eficácia

plena se for pensado apenas como incidente sobre a tarefa do Legislador. Este

Direito fundamental incide sobre o Juiz, que deve identificar os anseios dos

demandados em razão da relação de consumo e aplicar a norma com o fito de garantir

a proteção outorgada pela Constituição ao consumidor.

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5.3.2 Os Atos do Juiz No Processo Civil de Consumo

Ante a especialidade do Código de Defesa do Consumidor, as normas

constantes deste sempre prevalecem frente a regras gerais do Código de Processo

Civil.

O Legislador quando no título III do CDC, tratou da defesa do consumidor

em juízo, demonstrou sua preocupação em dar efetividade ao processo civil de

consumo, frente o atual cenário social vivenciado de uma economia de massa.

Ao Juiz, no processo através do tratamento diferenciado outorgado pelo

CDC ao consumidor, como por exemplo, a inversão do ônus da prova insculpida no

inciso VIII do art. 6º69, cabe assegurar às partes igualdade que na relação de consumo

não se verificou, sendo esta uma opção inafatável, da qual não se pode afastar o

magistrado, já que o fator finalístico da legislação é a proteção do consumidor.

Tendo no Estado Democrático os Direitos fundamentais constitucionalmente

assegurados eficácia imediata, cumpre ao Estado garantir a todos os cidadãos, seja

pelo Estado Administrativo ou pelo Estado Juiz, de modo concreto sua efetivação.

69 Art. 6º São Direitos básicos do consumidor: I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações; III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; VII - o acesso aos órgãos judiciários e Administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção jurídica, Administrativa e técnica aos necessitados; VIII - a facilitação da defesa de seus Direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do Juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; IX - (Vetado); X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.

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Desta feita, cabe a ele enquanto Estado Juiz garantir a efetivação deste

Direito, se o Estado Administrativo demonstra-ser ineficiente.

Ante o que dispõe o CDC à partir de seu artigo 81, quanto a promoção e

regulamentação da defesa do consumidor em juízo, nas lides que envolvem a relação

de consumo, cabe ao Juiz tomar todas as decisões que sejam necessárias para

proporcionar ao consumidor litigante condição de igualdade que ele não possuía na

relação de consumo, bem como, as que se fizerem necessárias para garantir acesso a

justiça e uma prestação jurisdicional efetiva.

Não é suficiente ao ideal de justiça garantir a solução judicial para todos os

conflitos; o que é imprescindível é que essa solução seja efetivamente justa, isto é,

apta, útil e eficaz para outorgar à parte a tutela prática a que tem Direito, segundo a

ordem jurídica vigente.70

Necessário se torna, portanto, para que os fins do processo não fiquem

comprometidos ou frustrados, que se impeçam, dentro do possível e razoável, os

efeitos lesivos, de caráter irreparável, que possam advir dos atos tomados para o

deslinde processual.

Lamentavelmente, nas relações consumeristas, apesar da promulgação do

Código de Defesa do Consumidor ter se dado há mais de uma década, encontramos

no Judiciário decisões que ferem o Acesso a Justiça e a conseqüente prestação

jurisdicional efetiva nas lides consumeristas.

Recentemente, no foro judicial da Comarca de Cascavel-PR, nos autos de

nº 2006.0004077-4/0 do 2º Juizado Especial Cível em relação consumerista de pedido

de responsabilização por vício do produto (art. 18 do CDC), vez que o consumidor

adquiriu motocicleta que apresenta vícios que não foram sanados na esfera 70 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 360.

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Administrativa, sendo o consumidor obrigado a recorrer ao Estado Juiz, deparamo-nos

com decisão que feriu o dever de proteção constante do art. 5º, XXXII da CF.

O Estado Juiz, através de seu representante, frente a relação consumerista,

ignorando a intenção do CDC, que considera como consumidor àquele que está

usufruindo do bem, conforme dispõe art. 2º, manifestou-se pelo arquivamento dos

autos junto ao Juizado Especial Cível, sob o argumento de que o bem se encontra

registrado junto ao órgão de registro de veículos automotores em nome de terceiro,

nos seguintes termos, “Tenho por bem, em análise aos documentos juntados com a

inicial, em acolher a preliminar de ilegitimidade ativa, extinguindo o processo sem

julgamento do mérito por ilegitimidade ativa “ad causam” do requerente.”

O conceito de consumidor, constante do caput do art 2º do CDC, advém da

intenção legislativa de facilitar a compreensão do instituto, resultando na aplicabilidade

imediata da norma eficazmente. “Adquirir ou utilizar”, quer dizer que a forma de

aquisição do produto ou serviço fornecido não é requisito para caracterizar o

consumidor, mas sim se está com o produto como destinatário final, não importando a

forma de sua aquisição, quem, por exemplo, utiliza uma amostra grátis, um presente,

recebe a proteção legal do Código de Defesa do Consumidor.

No caso acima citado, o fato do consumidor não ter adquirido em nome

próprio a motocicleta não retira dele a condição de consumidor, não o desnaturaliza.

O Estado Juiz, neste caso concreto não buscou aplicar as determinações

da Constituição, quanto a proteção do consumidor, e ignorou a norma que se

interpretada seria capaz de dar efetividade ao Direito material.

Essa visão deformada da responsabilidade do Estado fere o acesso a

Justiça, de guardião das liberdades individuais e dos Direitos dos cidadãos

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transforma-se em eficiente protelador da efetivação de Direitos constitucionalmente

garantidos, como o Direito do consumidor.

O importante, para a efetivação dos Direitos é o espontâneo e impessoal

reconhecimento e o respeito aos Direitos outorgados aos cidadãos pelo Estado

Democrático de Direito na Constituição Federal.

Nas lides que envolvem o processo civil de consumo, a aplicação do Direito

nos moldes do que determina o CDC deve ser diferenciada, não há que se afastar o

caráter de norma de ordem pública e interesse social do qual é dotado a legislação

consumerista.

Os comandos legais do CDC, conforme se verifica a partir do artigo 81,

demonstram o dever de atendimento, promoção e regulamentação da defesa do

consumidor em juízo.

Veja-se que o art. 84, tem o fito de conferir aos consumidores a tutela

jurídica processual específica e adequada aos Direitos protegidos pelo CDC, deve

então o Juiz frente a relação processual civil de consumo, determinar todas as

providências e medidas legais adequadas a efetividade da tutela jurisdicional

pretendida, inclusive conceder se verificar relevante o fundamento da demanda e

havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, a tutela liminarmente ou

após justificação prévia.

Referido diploma legal, permite ao Juiz conceder a tutela específica da

obrigação ou o resultado equivalente ao do adimplemento. Assim, o Juiz tem a

possibilidade de não atender ao pedido formulado especificamente pelo autor,

contudo, ele pode conceder de forma diversa ao esperado para permitir a tutela efetiva

do Direito.

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O Juiz está autorizado a proferir sentença mandamental no lugar de

sentença executiva e vice-versa, além de deixar de conceder a tutela preventiva

executiva para conceder a tutela inibitória ou o contrário. O Juiz poderá alterar as

tutelas quando concluir que a última, em virtude de determinadas circunstâncias, não

se mostra efetiva para tutelar o Direito do autor.71

A abertura das regras processuais de proteção do consumidor como as dos

arts. 83 e 84, § 5º do CDC, constituem um vivo sinal de que a estruturação do

procedimento foi deixada a cargo do processualista e do Juiz no caso concreto. Nesse

sentido, basta recordar que o art. 83 afirma que “para a defesa dos Direitos e

interesses protegidos por este Código (pelo CDC) são admissíveis todas as espécies

de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela”, e que o § 5º do art. 84

dá ao Juiz o poder de determinar a “medida necessária” para a “tutela específica ou

para a obtenção do resultado prático equivalente”.72

Como a atividade do poder jurisdicional depende da atividade racional e

lógica do magistrado, para atender a efetividade do processo, bem como a

necessidade e pertinência da medida, ele pode determinar qual a tutela que será

eficaz para o caso concreto, atendendo sempre a limitação quanto a medida menos

gravosa para o demandado. Mas é claro, que a situação a ser lançada para o Juiz,

deverá ser instruída com os elementos probatórios pré-constituídos, que farão o seu

convencimento para conceder a tutela mais eficaz, de acordo com os princípios da

efetividade e da necessidade.

71 MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela Específica (arts.461,CPC E 84,CDC). São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000. p.130. 72 MARINONI, Luiz Guilherme. A conformação do processo e o controle jurisdicional a partir do dever estatal de proteção do consumidor. Jus Navigandi, Teresina, a. 10, n. 1147, (2006). Disponível em: <http: //jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8835>. Acesso em 14 de fev. 2007.

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O poder do Juiz, e o poder do Estado de um modo geral, têm sua fonte

única, seu itinerário e seu destino indivisível a partir e para esta mesma sociedade. E

é neste meio que também nasce, vive e haverá de colher suas referências de caráter,

de personalidade, de moral e de formação ética o ser humano que, ocasionalmente,

exerce a função de dizer o Direito enquanto Juiz.73

73 PAULA, Adriano Perácio de. Controvérsias do Processo Civil em Matéria de Consumo. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo: RT, nº 54, abril-junho. 2005. p.38.

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6.TUTELA ESPECÍFICA DOS DIREITOS DO CONSUMIDOR

Quando se fala em tutela de Direitos, não se pode deixar de ter presente a

célebre afirmação de Chiovenda, segundo a qual a função do processo é dar a quem

tem Direito tudo aquilo e somente aquilo a que tem Direito.

Nessa linha de entendimento, a própria atividade do Estado na área

jurisdicional somente poderá ser considerada plenamente exitosa quando for capaz de

gerar, no plano dos fatos, resultados semelhantes aos que decorreriam do

cumprimento natural e espontâneo das normas jurídicas. Daí dizer-se que o sistema

ideal de processo é o que dispõe de mecanismos aptos a produzir ou a induzir a

concretização das normas jurídicas, mediante o cumprimento da obrigação pela

entrega da prestação efetivamente devida, da prestação in natura. E quando isso é

obtido, ou seja, quando se propicia, judicialmente, ao titular do Direito a obtenção de

tudo aquilo e exatamente daquilo em que consiste o objeto de seu Direito, há

prestação de tutela jurisdicional específica.

Desse modo, a tutela do Direito por execução genérica, ou seja, mediante

prestação substitutiva – que, em geral, é representada por equivalente em dinheiro –

deve ficar restrita apenas àquelas situações em que não for realmente possível

alcançar o atendimento da prestação in natura. Devendo ser a exceção, e não a regra.

Em outras palavras, pode-se afirmar que o grau de eficácia de um sistema processual

é inversamente proporcional ao grau de utilização da tutela substitutiva.

Essas premissas conceituais hão de se fazer presentes quando se examina

a tutela específica do consumidor. Ora, pouca efetividade terá no mundo dos fatos, os

novos institutos previstos pelo Legislador se não forem instrumentados com

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mecanismos de natureza processual aptos a garantir ou, se necessário, a impor

coativamente o seu efetivo cumprimento.

6.1 A TUTELA INIBITÓRIA DO CONSUMIDOR

A tutela inibitória é tutela específica utilizada antes da ocorrência de lesão a

Direito, sua função precípua é a de preservar a integridade de determinado Direito.

Verifica-se assim, que esta tem caráter preventivo, pois que, consiste em manter

integro Direito alvo de provável lesão.

O fato de possuir este caráter preventivo faz com que sempre se obtenha

de forma efetiva a tutela requerida, já que impede que o Direito venha a sofrer o ilícito

que o ameaçava, a repetição da prática do ilícito que sofria e ainda a continuação da

prática do ilícito, desta feita, abre-se para o Judiciário, frente a probabilidade da

prática, repetição ou continuação de um ilícito, a possibilidade de concessão da tutela

na forma mais específica possível.

A tutela inibitória é prestada por meio de ação de conhecimento, e assim

não se liga instrumentalmente a nenhuma “ação de conhecimento” de natureza

preventiva, destinada a impedir a prática,a repetição ou a continuação do ilícito.74

A ação inibitória é instrumento adequado a conseqüente evolução dos bens

jurídicos tutelados. O Judiciário hoje, é visto não apenas como meio para recuperar o

dano sofrido, mas também, como aquele que poderá evitar que o dano ocorra,

solucionando o conflito antes mesmo que ele venha trazer maiores prejuízos.

74 MARINONI, Luiz Guilherme. A tutela específica do consumidor. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo: RT, nº 50, abril-junho. 2004. p. 54

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A proteção aos Direitos do consumidor é verdadeiro corolário da tutela

inibitória, vez que, no que pertine a esta proteção, o ideal não é recuperar o que se

perdeu na relação de consumo, mas sim, evitar que dela advenha prejuízos para o

consumidor. A tutela inibitória não tem entre seus pressupostos o dano.

Vejam-se os exemplos, determinada indústria veiculou propaganda sem

informar os riscos que o consumo de seu produto podem causar, por mais que não se

tenha verificado qualquer dano ao consumidor especificamente, pode ser compelida

nos termos do art. 6075 do CDC a contrapropaganda que será divulgada pelo

responsável na mesma forma, freqüência, dimensão e, preferencialmente, no mesmo

veículo, local, espaço e horário, de forma capaz de desfazer o malefício da publicidade

enganosa ou abusiva.

Aqui para evitar danos, utilizou-se de ação coletiva inibitória destinada a

impedir a comercialização de produtos cujos rótulos estão em desacordo com a

legislação, tal medida prescinde totalmente da probabilidade do dano, sendo bastante

o fato de que estará sendo praticado um ato contrário ao Direito.76

6.2 A TUTELA DE REMOÇÃO DO ILÍCITO DO CONSUMIDOR

Como visto anteriormente a tutela inibitória presta-se a impedir a ocorrência,

a repetição, ou ainda a continuação da prática do ilícito, já a de remoção do ilícito, tem

75 Art. 60. A imposição de contrapropaganda será cominada quando o fornecedor incorrer na prática de publicidade enganosa ou abusiva, nos termos do art. 36 e seus parágrafos, sempre às expensas do infrator. § 1º A contrapropaganda será divulgada pelo responsável da mesma forma, freqüência e dimensão e, preferencialmente, no mesmo veículo, local, espaço e horário, de forma capaz de desfazer o malefício da publicidade enganosa ou abusiva. 76 MARINONI. Luiz Guilherme. Tutela Específica (arts. 461, CPC e 84, CDC). São Paulo: RT, 2000. p.26-27.

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como missão remover efetivamente o ilícito já ocorrido, indepedentemente de ter

ocorrido o dano.

A tutela de remoção do ilícito é espécie de tutela específica, pois não se

transforma no equivalente em dinheiro.

Não há cabimento em ter que esperar o dano para poder invocar a tutela

jurisdicional. A prática de ato contrário ao Direito, como é óbvio, já é suficiente para

colocar o processo civil em funcionamento, dando-lhe a possibilidade de remover o

ilícito e, assim, de tutelar adequadamente os Direitos e de realizar o desejo preventivo

do Direito material.77

Nas hipóteses em que já foi industrializado, fabricado, importado ou exposto

à venda produto de alto grau de nocividade ou periculosidade, ou dotado de defeito de

concepção ou de fabricação. Nesses casos, a ação de remoção do ilícito é o único

modelo adequado para permitir à jurisdição remover os efeitos concretos do ilícito,

evitando-se danos ao público consumidor.78

Tanto a tutela inibitória quanto a de remoção do ilícito, são tutelas hábeis

para dar efetividade a tutela dos Direitos de proteção do consumidor, vez que¸ têm a

intenção precípua de evitar o dano.

6.3 TUTELA ESPECÍFICA NAS RELAÇÕES OBRIGACIONAIS

Se no Estado de Direito o processo é o instrumento de realização e tutela

dos Direitos subjetivos violados ou ameaçados de violação, claro é que o processo 77MARINONI, Luiz Guilherme. A conformação do processo e o controle jurisdicional a partir do dever estatal de proteção do consumidor. Jus Navigandi, Teresina, a. 10, n. 1147, (2006). Disponível em: <http: //jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8835>. Acesso em 14 de fev. 2007. 78MARINONI, Luiz Guilherme. op.cit.

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tem de, na medida do possível, proporcionar ao titular do Direito a mesma prestação

que se obteria através do normal adimplemento da obrigação pelo devedor.

Em lugar das conceituações filosóficas e do tecnicismo de institutos super

elaborados, o que hoje mais ocupa a preocupação dos estudiosos e mesmo do

Legislador processual é a aproximação dos mecanismos processuais aos anseios

práticos da sociedade. Busca-se uma dinâmica que torne o sistema processual

permeável às pressões dos valores exteriores.

A relação jurídica em geral compreende o Direito subjetivo atribuído a uma

pessoa e o dever jurídico correspondente que recai sobre a outra, sendo que as

obrigações assumidas devem ser fielmente executadas.

Entretanto até bem pouco tempo, nas relações obrigacionais, pelo seu

cunho eminentemente patrimonialista, defendia-se que seria uma violência à liberdade

individual da pessoa a prestação coercitiva de condutas, ainda que decorrentes de

disposições legais ou contratuais, desta feita, quando descumprida uma obrigação de

fazer ou não fazer esta deveria resolver-se em perdas e danos.

Porém, tal visão, com a evolução social, demonstrou-se inaceitável. O

Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078, de 11/09/1990), provavelmente a lei

mais perfeita do sistema normativo brasileiro foi o primeiro a garantir em diversos

dispositivos, o Direito do consumidor à tutela específica, em razão da natureza

obrigacional inerente às lides individuais consumeristas.

O Legislador da Lei nº 8.078/90 (CDC) produziu alteração significativa no

regime de proteção do adquirente contra o déficit de qualidade do bem adquirido. Se

antes essa proteção praticamente se resumia às disposições acerca dos vícios

redibitórios e da responsabilidade contratual, agora se estende e se multiplica,

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envolvendo até mesmo a natureza do bem adquirido (que passa a englobar os

serviços prestados) e ultrapassa os limites da relação negocial.79

A relação de consumo demonstra a verdadeira superação da análise de ser

a responsabilidade contratual ou extracontratual. A colocação de bens ou serviços no

mercado de consumo a cargo dos fornecedores in genere suscita, em contrapartidade,

a relação de responsabilidade decorrente do inadimplemento de obrigação contratual

(responsabilidade contratual) ou da violação de Direitos tutelados pela ordem jurídica

de consumo (responsabilidade extracontratual).80

Assim se manifesta a doutrina portuguesa através de seu eminente jurista

SILVA (1999), “A unidade de fundamento da responsabilidade do produtor impõe-se,

pois o fenômeno real dos danos dos produtos conexos ao desenvolvimento industrial é

sempre o mesmo, o que torna injustificada a diferenciação ou discriminação normativa

do lesado, credor contratual ou terceiro. Trata-se, portanto, da unificação das

responsabilidades contratual e extracontratual devendo falar-se de responsabilidade

do produtor, tout court – ou pelo menos da unificação de regime das duas, em ordem

a proteger igualmente as vítimas, expostas aos mesmos riscos.” 81

O art. 18 do CDC estabelece que “os fornecedores de produtos de consumo

duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou

quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam

ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com

as indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem

publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o

79 WERNER, José Guilherme Vasi. Vícios e Defeitos no Produto e no Serviço: da garantia e da responsabilidade . Revista de Direito do Consumidor, São Paulo: RT, nº 58, abril-junho. 2006. p. 98 80 DENARI, Zelmo. et al. Código de Defesa do Consumidor Comentado pelos autores do Anteprojeto. 6.ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000. p.151. 81 SILVA, João Calvão. Responsabilidade Civil do Produtor. Coimbra: Almedina. 1999. p. 478.

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consumidor exigir a substituição das partes viciada. Não sendo o vício sanado no

prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente, e à sua

escolha a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas

condições de uso, a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada,

sem prejuízo de eventuais perdas e danos ou o abatimento proporcional do preço.”

Pelo art. 19, “os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de

quantidade do produto sempre que, respeitadas as variações decorrentes de sua

natureza, seu conteúdo líquido for inferior às indicações constantes do recipiente, da

embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir,

alternativamente e à sua escolha o abatimento proporcional do preço, a

complementação do peso ou medida, a substituição do produto por outro da mesma

espécie, marca ou modelo, sem os aludidos vícios, a restituição imediata da quantia

paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos.”

Pelo art. 35, “se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento

à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua

livre escolha, exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta,

apresentação ou publicidade, aceitar outro produto ou prestação de serviço

equivalente, rescindir o contrato, com Direito à restituição da quantia eventualmente

antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos.”

E pelo art. 84, “na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação

de fazer ou não fazer, o Juiz concederá a tutela específica da obrigação ou

determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao

adimplemento.”

Tais artigos com o fito de proteger as relações obrigacionais de consumo,

dão ao consumidor frente ao adimplemento imperfeito o Direito de exigir que a

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obrigação se cumpra, tal como se convencionou ou de forma equivalente, e não a

simples conversão em perdas e danos.

6.3.1 Tratamento dos Vícios na Relação Civil de Direito Comum – Vícios

Redibitórios Insuficiência na Relação de Consumo

Preceitua o art. 441 do CC que “a coisa recebida em virtude de contrato

comutativo pode ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria

ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor.”

O principal aspecto a ser considerado é o fato de o vício ser não aparente,

porque se assim o for não se estará tratando de vício redibitório, presente tal requisito

na forma do art. 44382 do CC poderá o adquirente desfazer o negócio jurídico.

Pelo novo Código o prazo para a interposição da ação redibitória conforme

prevê o art. 445, foi alargada de 15 dias para 30 dias, o que trouxe efetiva proteção e

segurança para as relações contratuais, já que pelo que preceitua também o parágrafo

primeiro do citado artigo, quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido

mais tarde, o prazo contar-se-á do momento em que dele tiver ciência, até o prazo

máximo de cento e oitenta dias, em se tratando de bens móveis; e de um ano, para os

imóveis.83

82 Art. 443. Se o alienante conhecia o vício ou defeito da coisa, restituirá o que recebeu com perdas e danos; se o não conhecia, tão-somente restituirá o valor recebido, mais as despesas do contrato. 83 Art. 445. O adquirente decai do Direito de obter a redibição ou abatimento no preço no prazo de trinta dias se a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava na posse, o prazo conta-se da alienação, reduzido à metade. § 1º Quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, o prazo contar-se-á do momento em que dele tiver ciência, até o prazo máximo de cento e oitenta dias, em se tratando de bens móveis; e de um ano, para os imóveis.

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Prevê ainda o art. 446 do CC, que “não correrão os prazos do artigo

antecedente na constância de cláusula de garantia; mas o adquirente deve denunciar

o defeito ao alienante nos trinta dias seguintes ao seu descobrimento, sob pena de

decadência”.

A solução do Código Civil para o caso dos vícios, no entanto, revelou-se

insuficiente para tutelar os Direitos da parte mais vulnerável (consumidor) diante dos

problemas decorrentes da massificação e despersonalização das relações de

consumo. Dentre as principais deficiências que dificultavam a proteção do consumidor

pode-se citar, os exíguos prazos decadenciais que, segundo interpretação literal,

contavam-se a partir da tradição do bem, as limitadas hipóteses de redibição ou

estimatória que não possibilitavam a reparação do próprio bem e, finalmente,a

exclusão da responsabilidade se os vícios fossem aparentes.84

A proteção dispensada pelo CDC ao consumidor é muito mais ampla do

que aquela prevista no Código Civil. Isso porque a lei consumerista não cuida de

diferenciar os vícios aparentes dos redibitórios, consagrando, todavia, um eficaz

sistema protetivo, que irá tutelar os Direitos da parte hipossuficiente na relação de

consumo independentemente da natureza do defeito em tela.85

A garantia assegurada pelo Código de Defesa do Consumidor é bem mais

ampla que a disciplina dos vícios redibitórios no novo Código Civil (arts. 441-446).

Enquanto os vícios redibitórios pelo Código Civil dizem respeito aos defeitos ocultos

§ 2º Tratando-se de venda de animais, os prazos de garantia por vícios ocultos serão os estabelecidos em lei especial, ou, na falta desta, pelos usos locais, aplicando-se o disposto no parágrafo antecedente se não houver regras disciplinando a matéria. 84 LIMA, Clarissa Costa de. Dos Vícios do produto no novo Código Civil e no Código de Defesa do Consumidor e suas repercussões no âmbito da responsabilidade civil. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo: RT, nº 51, julho-setembro. 2004. p.117. 85 GAGLIANO, Pablo Stolze. FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil - Contratos. Tomo I. Volume IV. 2.ed. São Paulo: Saraiva. 2006. p.194.

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da coisa (art. 441), os vícios de qualidade ou de quantidade de bens e serviços podem

ser ocultos ou aparentes. 86

Além disso, a doutrina civilística argumenta que para configuração do vício

redibitório é necessário: a) que a coisa seja recebida em virtude de uma relação

contratual (v.g., contrato comutativo ou doação com encargo); b) que os defeitos

ocultos sejam graves, por isso que os defeitos de menos importância não afetam o

princípio de garantia, além do que “de minimis non curat praetor”; c) ou ainda, que os

defeitos sejam contemporâneos à celebração do contrato, pois, se forem

supervenientes, não tem cabimento a invocação da garantia.87

Nenhum desses requisitos são aplicáveis as relações de consumo, pois

estas, além de desconsiderarem o princípio “pacta sunt servanda”, não fazem

qualquer distinção quanto ao valor dos produtos e nem levam em consideração o fato

de o defeito ser anterior ou posterior à sua introdução no mercado de consumo.88

6.3.2 A Responsabilidade Pelos Vícios do Produto e Serviço no Código de

Defesa do Consumidor

O Código de Defesa do Consumidor optou por regular separadamente os

institutos dos vícios e defeitos, ao contrário do Código Civil que tratava ambos como

expressões sinônimas, estabelecendo efeitos absolutamente diversos para cada uma

das figuras. Os defeitos do produto e do serviço ensejam a responsabilidade por

acidentes de consumo, prevista pelos art. 12 e 14 do CDC, enquanto os vícios do 86 FILHO, Sergio Cavalhieri. Programa de Responsabilidade Civil. 3.ed. São Paulo: Malheiros, 2002. p.493. 87 DENARI, Zelmo. et al. Código de Defesa do Consumidor Comentado pelos autores do Anteprojeto. 6.ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000. p.177 88 DENARI, Zelmo. op.cit. p.178.

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produto e do serviço relacionam-se à denominada responsabilidade por vícios,

regulada pelos arts. 18 a 20 do CDC.89

Para adentrarmos ao tema proposto no item, necessário se faz tecer alguns

comentários a respeito da responsabilidade pelo fato do produto ou serviço, elencada

nos arts. 12 a 1490 do CDC.

No que se refere ao fato do produto ou do serviço o Legislador estabeleceu

verdadeira responsabilidade dos fornecedores, consistente na vinculação de seu

patrimônio à reparação e/ou compensação dos danos causados em razão da

89 SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira. Responsabilidade civil no Código do Consumidor e a defesa do fornecedor. São Paulo: Saraiva, 2002. p.150. 90 Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. § 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - sua apresentação; II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi colocado em circulação. § 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado. § 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar: I - que não colocou o produto no mercado; II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando: I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados; II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador; III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis. Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o Direito de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do evento danoso. Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. § 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - o modo de seu fornecimento; II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi fornecido. § 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas. § 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. § 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.

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prestação de um serviço (art. 14), ou do contato com um produto (art.12), que se

mostre defeituoso.91

Pelo que dispõe o art. 12 do CDC um produto é defeituoso quando não

oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração

circunstâncias como sua apresentação, o uso e os riscos que razoavelmente dele se

esperam e a época em que foi colocado para circulação.

Entretanto, não pode ser considerado defeituoso um produto, quando outro

de melhor qualidade foi colocado no mercado de consumo.

Quanto ao serviço, pelo que dispõe o art. 14 do CDC, um serviço é

defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar

levando-se em conta circunstâncias como o modo de fornecimento, o resultado e os

riscos que razoavelmente dele se esperam, a época em que foi fornecido.

O serviço que é realizado com técnicas inovadoras, não pode ser

considerado defeituoso.

Verificam-se, em ambos dispositivos legais, que o dever de informar sobre

os riscos que produtos e serviços possam apresentar, é dever intrínseco no que diz

respeito ao bom desempenho do produto e serviço.

Nesta linha, os arts. 8º a 10º do CDC, determinam que “os produtos e

serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou

segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em

decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer

hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito.” (art. 8º)

91 WERNER, José Guilherme Vasi. Vícios e Defeitos no Produto e no Serviço: da garantia e da responsabilidade . Revista de Direito do Consumidor, São Paulo: RT, nº 58, abril-junho. 2006. p. 99

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Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar as

informações a que se refere o art. 8º, através de impressos apropriados que devem

acompanhar o produto. (Parágrafo único, art. 8º)

O fornecedor de produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos à

saúde ou segurança deverá informar, de maneira ostensiva e adequada, a respeito da

sua nocividade ou periculosidade, sem prejuízo da adoção de outras medidas cabíveis

em cada caso concreto. (art. 9º)

O fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produto ou

serviço que sabe ou deveria saber apresenta alto grau de nocividade ou

periculosidade à saúde ou segurança. (art. 10º)

Dos comandos legais, conclui-se que a informação deve ir além de simples

esclarecimentos sobre o produto e serviço, pois no caso de produtos e serviços

potencialmente nocivos e perigosos, deve o fornecedor destacar nas informações que

o mau uso, o uso exagerado, a falta de alguns cuidados poderão trazer danos e

conseqüente prejuízo para o consumidor. Isto tudo em virtude de seu dever de

segurança insculpido no art. 6º92 do CDC.

Esta informação deve ser clara, precisa e capaz de atingir toda a sociedade,

desde o homem comum ao mais desenvolvido intelectualmente.

Verifica-se ainda, que a informação deve se dar de maneira ostensiva e

adequada, ou seja, tem o fornecedor a obrigação de tecer informações não apenas

sobre o uso normal e previsível do produto, mas também sobre os riscos do uso

inadequado deste.

92 Art. 6º São Direitos básicos do consumidor: I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;

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Tudo isto em virtude de seu dever de segurança, já que através da

informação pode garantir o adequado uso do produto ou serviço e até, sua retirada do

mercado de consumo, quando se verificar que apesar da informação, o produto está

sendo utilizado de forma inadequada, bem como, a prestação de serviço com nova

tecnologia que, ante as informações foi aceito ou não pelo consumidor.

A responsabilidade pelo fato do produto ou do serviço, exige para se

caracterizar a existência de defeito (quando não oferece a segurança que dele

legitimamente se espera), dano moral ou patrimonial e nexo de causalidade entre o

defeito do produto e a lesão.

O defeito costuma ser oculto, pois o evento danoso somente se manifesta

na fase intermediária e mais avançada de consumo, vale dizer, durante sua utilização

ou fruição.93

A preocupação está em detectar a existência de um defeito (quando não

oferece a segurança que dele legitimamente se espera), não com relação a

adequação do produto ou serviço aos fins a que se destina, mas o dano moral ou

patrimonial que este causou e o nexo de causalidade entre o defeito do produto e a

lesão.

SILVA (1999) comentando a questão da segurança para que se caracterize

o defeito, afirma que a lei não exige que o produto ofereça uma segurança absoluta,

mas apenas a segurança com que se possa legitimamente contar. 94

Veja-se que a segurança do produto ou do serviço deve atender não as

expectativas pessoais do consumidor, mas de todos àqueles que consomem o produto

ou serviço.

93 DENARI, Zelmo. et al. Código de Defesa do Consumidor Comentado pelos autores do Anteprojeto. 6.ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000. p.154. 94 SILVA, João Calvão. Responsabilidade Civil do Produtor. Coimbra: Almedina. 1999. p. 635.

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A falta de adequação do produto ou serviço aos fins a que se destina, dá

ensejo, não a responsabilização pelo fato do produto ou do serviço que está

relacionada diretamente com a existência de um dano, pela falta de segurança que

legitimamente se espera do produto ou do serviço, mas a responsabilidade por vício

do produto ou serviço, objeto central deste item.

Na responsabilidade por vício do produto ou do serviço, o defeito costuma

se manifestar na fase inaugural de consumo, isto, é, antes da sua utilização ou

fruição.95

Na responsabilidade por vício do produto e do serviço, cuidam-se dos

defeitos inerentes aos produtos ou serviços, os chamados vícios in re ipsa96, e não

dos danos que ele causou que está atrelado a responsabilidade pelo fato do produto

ou serviço, os populares acidentes de consumo.

A responsabilidade por vício do produto e do serviço, divide-se em vícios de

qualidade, por inadequação do bem de consumo à sua destinação (arts. 18, 20 e 21),

e de quantidade (art. 19), que têm a ver com seu peso e medida. É o automóvel que

apresenta problema no motor, a televisão que não tem boa imagem, o ferro elétrico

que não esquenta, a geladeira que não gela, o medicamento com data vencida ou

inadequado para tratamento a que se destina, o produto alimentício com peso inferior

ao indicado na embalagem.97

A responsabilidade de indenizar por vícios do produto ou serviço, surge

sempre que o vício torne a coisa imprópria ou inadequada para o fim a que se destina,

vez que tem como meta a satisfação do consumidor na utilização do produto ou

serviço para o fim a que se destina. 95 DENARI, Zelmo. et al. Código de Defesa do Consumidor Comentado pelos autores do Anteprojeto. 6.ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000. p.153. 96 Vício que dispensa a comprovação da extensão, sendo estes evidenciados pelas circunstâncias do fato. 97 FILHO, Sergio Cavalhieri. Programa de Responsabilidade Civil. 3.ed. São Paulo: Malheiros, 2002. p. 493.

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Num primeiro momento, esta responsabilidade atribuída ao fornecedor, não

passa de uma “garantia” outorgada por ele ao produto ou serviço prestado. O vício

não é propriamente um dano, tanto que o Código de Defesa do Consumidor, através

do que dispõe o art. 1898, dá por primeiro ao consumidor a possibilidade de exigir a

substituição das partes viciadas, com exceção, é claro do que dispõe o § 3º.

Fosse o vício em si, o mesmo que um dano, não se justificaria perante a

principiologia do Código o prazo do art. 18 para o caso dos produtos viciados. Esse

tratamento guarda semelhança ontológica com o dos vícios redibitórios, destinando-se

a assegurar a satisfação da legítima expectativa do consumidor quanto à

funcionalidade e valoração do produto adquirido. O restabelecimento da expectativa

98 Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com as indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas. § 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III - o abatimento proporcional do preço. § 2° Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo previsto no parágrafo anterior, não podendo ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio de manifestação expressa do consumidor. § 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1° deste artigo sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial. § 4° Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do § 1° deste artigo, e não sendo possível a substituição do bem, poderá haver substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos, mediante complementação ou restituição de eventual diferença de preço, sem prejuízo do disposto nos incisos II e III do § 1° deste artigo. § 5° No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o consumidor o fornecedor imediato, exceto quando identificado claramente seu produtor. § 6° São impróprios ao uso e consumo: I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos; II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação; III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam.

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que tenha sido eventualmente frustrada com a presença do vício é a preocupação

maior do Legislador que se concentra na restauração da qualidade do fornecimento.99

É uma garantia que decorre do dever de qualidade, que tem o fornecedor

para com os consumidores de colocar no mercado somente produtos adequados à

expectativa destes, ou seja, que corresponda aos fins que o consumidor buscou.

Isso não significa que o vício do produto não poderá ser associado a uma

responsabilidade, mas esta será admitida a partir do momento que o fornecedor não

cumprir dentro de 30 dias, o que lhe cabe. Ou seja, sanar o vício que foi constatado

pelo consumidor, e este for obrigado a fazer a escolha das alternativas previstas no §

1º do art. 18, se isto ocorrer, aí sim poderá exigir indenização por eventuais perdas e

danos.

Em relação à responsabilidade pelo fato do produto ou do serviço, o CDC

estabelece de forma expressa a responsabilidade objetiva (art. 12 a 14 do CDC).

Porém, no que diz respeito à responsabilidade pelo vício do produto e do serviço, a

doutrina ora pensa em responsabilidade objetiva ora em culpa juris et de jures.100

Isto porque na responsabilidade por vício do produto ou do serviço, o

Legislador ao contrário do que fez na responsabilidade pelo fato do produto ou

serviço, silenciou quanto a dispensa da culpa.

Mas isto por uma questão óbvia, pois não há que se falar em

obrigatoriedade de provar a culpa do fornecedor, frente sua obrigação de entregar ou

prestar aquilo que legitimamente se convencionou, sua responsabilidade deriva desta

feita, do cumprimento perfeito do que se convencionou.

99 WERNER, José Guilherme Vasi. Vícios e Defeitos no Produto e no Serviço: da garantia e da responsabilidade . Revista de Direito do Consumidor, São Paulo: RT, nº 58, abril-junho. 2006. p. 103. 100 MARINONI, Luiz Guilherme. A tutela específica do consumidor. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo: RT, nº 50, abril-junho. 2004. p.98

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A responsabilidade por vícios de qualidade ou quantidade não se identifica,

ontologicamente, com a responsabilidade por danos, nem recorre a fatores

extrínsecos, que envolvem a apuração da culpa do fornecedor. Este modelo de

responsabilidade é consectário do inadimplemento contratual: o fornecedor tem a

obrigação de assegurar a boa execução do contrato, colocando o produto ou serviço

no mercado de consumo em perfeitas condições de uso ou fruição. 101

O CDC em seus artigos 23 a 25, trata da vedação da exoneração de

responsabilidade dispondo que “a ignorância do fornecedor sobre os vícios de

qualidade por inadequação dos produtos e serviços não o exime de sua

responsabilidade.” (art. 23), “A garantia legal de adequação do produto ou serviço

independe de termo expresso, vedada a exoneração contratual do fornecedor”. (art.

24), “é vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou

atenue a obrigação de indenizar prevista nesta e nas seções anteriores”. (art. 25),

“havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos responderão

solidariamente pela reparação prevista”, e “sendo o dano causado por componente ou

peça incorporada ao produto ou serviço, são responsáveis solidários seu fabricante,

construtor ou importador e o que realizou a incorporação” (§ 1º e § 2º do art. 25).

Assim pode-se concluir que o sistema do CDC é um sistema de

compromisso, de responsabilidade objetiva para o fato do produto e de presunção

absoluta de culpa na responsabilidade contratual e extracontratual por vícios. 102

Isto se considerarmos que a exclusão da locução “independentemente da

existência de culpa” feita pelo Legislador foi proposital, pois se considerarmos que a

101 DENARI, Zelmo. et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor comentado pelos autores do Anteprojeto. 6.ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000. p. 178. 102 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: O novo regime das relações contratuais .4.ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002. p. 994.

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ausência da locução não muda em nada a responsabilidade pode-se afirmar que a

responsabilidade por vício do produto ou serviço é objetiva.

6.3.2.1 Diferenças Entre Vícios e Defeitos

No defeito, o que se pretende tutelar é a segurança física e patrimonial do

consumidor, já no vício pretende-se tutelar a adequação do produto ou serviço à

finalidade a que se destina.

Assim se manifesta SILVA (1999), o seu cerne é a segurança do produto e

não a aptidão ou idoneidade deste para a realização do fim a que é destinado. Pense-

se no contraceptivo ou no fármaco, idôneo e eficaz no uso a que se destina, mas

causador de graves efeitos secundários; no rimel que provoca cegueira ao tocar no

globo ocular; no shampoo que elimina a gordura, mas causa graves alergias no couro

cabeludo; no vestuário facilmente inflamável; no brinquedo da criança que, quando

levado à boca intoxica etc., a segurança do produto vai além da aptidão para uso a

que se destina. Por outro lado, o produto pode ser impróprio para o fim a que se

destina e todavia não carecer de segurança, por não causar perigo para a pessoa e

bens do adquirente e de terceiros, como a máquina que não trabalha, o automóvel que

não anda, a televisão que não funciona, etc. Os exemplos dados bastam para ilustrar

que a falta de segurança e a inaptidão ou inidoneidade do produto para o fim a que se

destina não se confundem e para recordar que a moderna responsabilidade do

produtor se caracteriza justamente por ser uma responsabilidade por falta de

segurança dos produtos, enquanto a clássica garantia por vícios se traduz na

responsabilidade do vendedor por falta de conformidade ou qualidade das coisas,

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tendo, por isso, objetivos diferentes: aquela visa proteger a integridade pessoal do

consumidor e dos seus bens; esta o interesse (da equivalência entre a prestação e a

contraprestação) subjacente ao cumprimento perfeito.103

SANSEVERINO (2002) afirma que, nos vícios, a responsabilidade do

fornecedor de produtos e serviços é mais restrita, trazendo a possibilidade de

substituição do produto, reexecução do serviço, rescisão do contrato, abatimento no

preço, perdas e danos. Nos defeitos, a responsabilidade é mais extensa, devendo ser

reparada a totalidade dos danos patrimoniais e extra patrimoniais sofridos pelo

consumidor. 104

6.3.2.2 Alternativas do Consumidor Frente aos Vícios de Qualidade e Quantidade do

Produto

Preceitua o art. 18 que “os fornecedores de produtos de consumo duráveis

ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade

que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes

diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com as

indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem

publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o

consumidor exigir a substituição das partes viciadas. Não sendo o vício sanado no

prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua

escolha: I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas

103 SILVA, João Calvão. Responsabilidade Civil do Produtor. Coimbra: Almedina. 1999. p. 634-635. 104 SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira. Responsabilidade Civil no Código do Consumidor e a defesa do fornecedor. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 155.

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condições de uso; II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente

atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III - o abatimento proporcional

do preço”. (§1º)

Poderão também as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo

de trinta dias, não podendo ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias. Nos

contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por

meio de manifestação expressa do consumidor. (§2º)

Sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição das partes

viciadas puder comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o

valor ou se tratar de produto essencial, o consumidor poderá fazer uso imediato das

alternativas elencadas no § 1° deste artigo. (§ 3º)

Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do § 1°, e não sendo

possível a substituição do bem, poderá haver substituição por outro de espécie, marca

ou modelo diversos, mediante complementação ou restituição de eventual diferença

de preço, sem prejuízo do disposto nos incisos II e III do mesmo parágrafo. (§ 4º)

No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o

consumidor o fornecedor imediato, exceto quando identificado claramente seu

produtor. (§ 5)

São impróprios ao uso e consumo:I - os produtos cujos prazos de validade

estejam vencidos; II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados,

falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda,

aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou

apresentação; III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao

fim a que se destinam. (§ 6°)

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O art. 18, caput, prevê solidariedade entre todos os fornecedores da cadeia

de produção em relação à reparação dos prejuízos causados ao consumidor quando

da inadequação do produto ao fim que se destinava. O que determina que poderá o

consumidor demandar contra qualquer um dos integrantes da cadeia de fornecimento.

Com isso, constata-se que a responsabilidade independe de ser contratual

ou extracontratual, já que não há relação contratual, ao menos direta, com os demais

integrantes da cadeia de fornecedores, pois a relação contratual se estabelece

somente entre o consumidor e o fornecedor direto.

Os efeitos da responsabilidade civil por vícios de inadequação na

quantidade do produto, por sua vez, estão previstos, no art. 19 do Código Brasileiro de

Defesa do Consumidor.

Preceitua o dispositivo que se o consumidor verificar vícios de inadequação

na quantidade do produto, surge o dever de reparar, sendo que este também

responde solidariamente pelos vícios de quantidade do produto sempre que,

respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for

inferior às indicações constantes do recipiente, da embalagem, da rotulagem ou de

mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua

escolha: I - o abatimento proporcional do preço; II - a complementação do peso ou

medida; III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo,

sem os aludidos vícios; IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente

atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos.

Também aqui tendo o consumidor optado pela substituição do produto, e

não sendo possível a substituição, poderá haver substituição por outro de espécie,

marca ou modelo diversos, mediante complementação ou restituição de eventual

diferença de preço.

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Ao fornecedor imediato caberá a responsabilização quando fizer a pesagem

ou a medição e o instrumento utilizado não estiver aferido segundo os padrões oficiais.

(§2º)

As tutelas garantidas ao consumidor frente aos vícios de qualidade e

quantidade do produto, previstas nos artigos 18 do CDC, são tutelas visionadas pelo

legislador para darem a ele aquilo somente aquilo que este pretendia quando se

envolveu na relação de consumo, são tutelas na forma específica.

A intenção do Legislador dando ao consumidor além da possibilidade da

substituição das partes viciadas, as alternativas elencadas nos incisos do § 1º do art.

18 do CDC, é dar a este a garantia de funcionalidade do produto adquirido.

Qualquer indenização somente será devida, poderá ser pleiteada após o

uso das alternativas trazidas pelo artigo 18 do CDC, vez que, o dano a ser indenizado

será justamente por ter tido o consumidor que utilizar-se das alternativas para que o

produto pudesse atingir aos fins a que se destina.

A indenização terá por fim, reparar o equilíbrio patrimonial quebrado pelo

dano decorrente do uso das alternativas, ou seja, pelo dano decorrente do fato de

terem sido necessárias de utilização pelo consumidor; e não por um dano decorrente

da existência do vício.105

Veja-se o exemplo de consumidor que adquire uma motocicleta e se vê

obrigado por diversas vezes a ter que se dirigir até a concessionária que lhe vendeu a

mesma, primeiro trocando as peças viciadas e depois tendo que trocar a mesma, para

que aí sim a motocicleta atingisse os fins aos quais se destina, qual seja, a

locomoção. A indenização a este consumidor, se dará por ter tido que fazer o uso do

105 WERNER, José Guilherme Vasi. Vícios e Defeitos no Produto e no Serviço: da garantia e da responsabilidade . Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, RT, nº 58, abril-junho. 2006. p. 109-110.

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que preconiza o art. 18 do CDC para que o produto atingisse seu fim, e não por um

dano decorrente do vício em si, se assim fosse seria um defeito e não um vício.

Não é possível confundir o valor correspondente ao cumprimento da

prestação com a indenização devida em virtude do dano eventualmente gerado pelo

adimplemento imperfeito. Embora o art. 18 do CDC fale em perdas e danos apenas no

caso em que se pede restituição da quantia paga (art. 18,§ 1º, II, do CDC),é óbvio que

as outras alternativas de tutela, se podem constituir reação aos vícios, não são

capazes de responder aos danos por eles eventualmente provocados.106

6.3.2.3 Alternativas do Consumidor Frente aos Vícios de Qualidade e Quantidade do

Serviço

No caso dos vícios de qualidade e quantidade de serviço, preceitua o artigo

20 do CDC que o fornecedor responderá pelos vícios de qualidade que os tornem

impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles

decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem

publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I - a

reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível; II - a restituição

imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais

perdas e danos; III - o abatimento proporcional do preço.

A reexecução dos serviços poderá ser confiada a terceiros devidamente

capacitados, por conta e risco do fornecedor. (§ 1°)

106 MARINONI, Luiz Guilherme. A Tutela Específica do Consumidor. Revista de Direito do Consumidor,. São Paulo: RT, nº 50, abril-junho. 2004. p. 104.

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Poderá o consumidor ao tempo do pedido de reexecução indicar o terceiro

que poderá executá-la.

Aqui como nas alternativas do consumidor frente aos vícios de qualidade e

quantidade do produto, trata-se de tutela na forma específica, vez que pretendeu o

Legislador dar ao consumidor garantia de qualidade do serviço adquirido.

Também, qualquer indenização somente será devida, após o uso das

alternativas trazidas pelo artigo 19 do CDC, vez que, o dano a ser indenizado será

justamente por ter tido o consumidor que utilizar-se das alternativas para que o serviço

pudesse atingir aos fins a que se destina.

6.3.3 Tutela Específica da Obrigação Contratual e Tutela Ressarcitória

Na tutela específica, o que se pretende é a execução do serviço contratado

ou a entrega do produto do modo como foi adquirido, trata-se aqui de adimplemento

imperfeito, o que o consumidor pretende, portanto é a substituição das partes viciadas,

substituição do produto, a complementação do peso ou da medida ou a reexecução do

serviço.

Não se pretende discutir o dano, o consumidor para realização de seu

pedido não se baseia em dano que por ventura possa ter sofrido, mas sim no

inadimplemento da obrigação ou no seu cumprimento imperfeito.

De acordo como que dispõe o CDC, para que se dê efetividade a tutela na

forma específica, poderá o Juiz utilizando-se do que dispõe o § 4º do art. 84 do CDC,

na sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor,

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fixando prazo razoável para a substituição das partes viciadas, substituição do

produto, a complementação do peso ou da medida ou a reexecução do serviço.

Entretanto, se a tutela puder se dar sem que para isso se tenha que impor

uma penalidade ao fornecedor, agora réu para o cumprimento da obrigação na forma

específica, deve este ser o caminho trilhado, vez que, por vezes pode a multa diária

demonstrar-se inócua para o cumprimento da obrigação, assim poderá o Juiz para a

efetivação da tutela específica ou para a obtenção do resultado prático equivalente,

determinar medidas, tais como busca e apreensão, desfazimento de obra, o que se

demonstrar mais adequado ao caso concreto.

A tutela específica somente será convertida em perdas e danos se assim

requerer o consumidor, conforme dispõe o art. 84, § 1º do CDC.107

Já a tutela ressarcitória, esta sim, para ser requerida importa em provar o

dano, assim deve o consumidor provar que da relação de consumo adveio dano.

Os danos na relação de consumo são comumente reconhecidos nos

“acidentes de consumo”, portanto num primeiro momento, os danos são decorrentes

da responsabilidade pelo fato do produto ou do serviço, elencados nos art. 12 a 14 do

CDC.

Nessas hipóteses, para ficar caracterizado o dever de ressarcir, é preciso

restar demonstrado o defeito do produto ou do serviço, o dano e a relação de

causalidade entre o defeito e o dano. A responsabilidade dispensa a investigação de

culpa, e assim é dita objetiva, embora possa ser excluída nas hipóteses dos §§ 3º dos

107 Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, o Juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento. § 1° A conversão da obrigação em perdas e danos somente será admissível se por elas optar o autor ou se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático correspondente.

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art. 12 e 14. Constatado o dever de ressarcir, o ressarcimento pode se dar na forma

específica ou em dinheiro. 108

O ressarcimento na forma específica, nada mais é que a efetivação do que

consta no art. 6º do CDC, que dispõe que “são Direitos básicos do consumidor a

efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e

difusos e o acesso aos órgãos judiciários e Administrativos com vistas à prevenção ou

reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos,

assegurada a proteção jurídica, Administrativa e técnica aos necessitados.”

Se o lesado tem Direito ao ressarcimento, cabe a ele escolher a forma de

reparação, ou o ressarcimento na forma específica ou o ressarcimento pelo

equivalente. Mas, quando o ressarcimento na forma específica for impossível diante

da situação concreta, ou configurar uma forma excessivamente onerosa, o

ressarcimento deverá ser pelo equivalente monetário.109

Verifica-se que o Direito do consumidor a tutela jurisdicional na forma

específica, pode se dar tanto para os vícios quanto para os defeitos do produto, para

isso basta a utilização adequada das técnicas processuais.

108 MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica Processual e tutela dos Direitos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p.457 109 MARINONI, Luiz Guilherme. A tutela específica do consumidor. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo: RT, nº 50, abril-junho. 2004. p. 108.

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7. A TUTELA COLETIVA

No tocante à tutela coletiva dos Direitos é possível afirmar-se que a

necessidade de sua efetivação encontra sua razão de ser na natureza dos conflitos da

sociedade contemporânea, que, por ser uma sociedade moderna, exige a plena

realização prática do Direito, pelo ordenamento jurídico, ainda mais o do consumidor,

que foi elevado ao grau de garantia fundamental da nossa Constituição Federal de

1988.

Desta feita, com a evolução social começaram a surgir, no seio da

sociedade, inúmeros conflitos de natureza coletiva, devido às lesões causadas contra

interesses transindividuais. Entretanto, a natureza dos interesses envolvidos sempre

dificultou, muito, o acesso dos ofendidos à justiça, seja devido ao custo do processo,

seja em virtude de a repercussão em seu patrimônio jurídico nem sempre se revelar

como muito relevante, ou, ainda, devido à sua posição de inferioridade em relação ao

ofensor.

Aliado a tudo isto, encontra-se o fato de a Teoria Geral do Processo Civil

moderno, elaborada no século XIX, ter-se calcado em elementos de natureza

essencialmente liberal e, como tal, individualista. Deste modo, o processo civil

tradicional não é meio hábil a compor litígios que ultrapassem a esfera meramente

inter-subjetiva, gerando problemas quanto a efetividade das leis e dos instrumentos

para torná-las efetivas.

Diante disto, somente uma mudança estrutural, uma reforma profunda, é

que poderia adaptá-lo às transformações sociais ocorridas no decorrer deste século.

Para tanto, era necessário romper com dogmas, derrubar barreiras, enfim, quebrar

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tradições de há muito consagradas nos diversos ordenamentos jurídicos mundiais.

Assim, institutos tradicionais, como a legitimidade ativa ad causam e a coisa julgada,

dentre outros, necessitavam ser redimensionados a fim de possibilitar a efetiva defesa

dos interesses supra-individuais.

Atento a tudo isto, o Legislador brasileiro, de forma inovadora e

comprometida com a realidade social, fez editar inúmeras normas no sentido de dotar

o ordenamento jurídico de instrumentos capazes de defender a coletividade como um

todo, ou mesmo determinados grupos de indivíduos, das lesões praticadas contra

seus Direitos. É o que se deu, por exemplo, com a edição das Leis n.º 7.347/85 e

8.078/90, sendo que esta última deu uma resposta legislativa adequada ao tema de

acesso do consumidor aos órgãos judiciários.110

Operou-se, assim, no Direito processual civil pátrio, a indispensável

reformulação a que se fez referência, sendo possível afirmar-se a existência, em

nosso ordenamento jurídico atual, de uma verdadeira "tutela coletiva", cujos princípios

e conceitos se encontram inteiramente apartados dos preceitos tradicionais que

informam o processo.

7.1 A TUTELA COLETIVA DO CONSUMIDOR

A produção em massa, o consumo em massa, demonstrou inviável o

contato individualizado entre os agentes da cadeia consumerista, é chegada a hora

então de utilização de norma legal capaz de atender a esfera jurídica dos

consumidores, e dar efetividade ao Direito de proteção do consumidor garantido

110 ALMEIDA, João Batista. A Proteção Jurídica do Consumidor. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 232.

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constitucionalmente, quando então a Lei 8.078/90, passou a tutelar os Direitos

chamados de metaindividuais.

Direitos metaindividuais, são aqueles que ultrapassam a esfera individual,

são Direitos de grupos, classes ou categorias de pessoas, ou até mesmo titulares

indetermináveis, interessam a toda coletividade.

Preceitua o art. 81 do CDC que a defesa dos interesses e Direitos dos

consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente ou a título

coletivo, que a defesa coletiva será exercida quando se tratar de: I - interesses ou

Direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transindividuais, de

natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por

circunstâncias de fato; II - interesses ou Direitos coletivos, assim entendidos, para

efeitos deste Código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular

grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por

uma relação jurídica base; III - interesses ou Direitos individuais homogêneos assim

entendidos os decorrentes de origem comum.

Dessa forma, as tutelas coletivas do consumidor, tratam de uma versão

abrasileirada da conhecida class action americana, conforme expõe ALMEIDA

(2003).111

A tutela coletiva abrange dois tipos de interesses ou Direitos: os coletivos e

os difusos na mesma linha e os individuais homogêneos.

Pelo que prescreve o artigo 81, parágrafo único, inciso I, do CDC, os

Direitos difusos são caracterizados pelo critério da indeterminação absoluta dos

titulares e da inexistência entre eles de relação jurídica-base, no aspecto subjetivo, e

pela indivisibilidade do bem jurídico, no aspecto objetivo. Os Direitos coletivos pelo

111 ALMEIDA, João Batista. op.cit. p. 249.

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que prescreve o artigo 81, parágrafo único, inciso II, do CDC são Direitos

transindividuais com determinação relativa dos titulares e indivisíveis, pois sua lesão

afeta a todos os possíveis titulares. A ligação entre os titulares origina-se de uma

relação jurídica-base (grupo, categoria ou classe de pessoas), também como os

Direitos difusos, são insuscetíveis de apropriação individual, transmissão, transação

ou renúncia.112

Pelo que prescreve o artigo 81, parágrafo único, inciso III, do CDC, nos

Direitos individuais homogêneos ao contrário dos coletivos e difusos é possível que se

determine os titulares dos Direitos envolvidos, já que a lesão ofende a esfera jurídica

de cada um deles, estando ligados em razão da origem comum do fato que provocou

o dano. Ao contrário dos interesses difusos e coletivos em decorrência de sua

natureza, são divisíveis, transmissíveis e suscetíveis de renúncia ou transação.

7.2 O REGIME PROCESSUAL DAS AÇÕES COLETIVAS

O Código do Consumidor imprimiu, nessa tarefa, uma inovadora

informalização, quando definiu os Direitos processuais dos consumidores,

especialmente em questões como: a inversão do ônus da prova (art. 6º); a presunção

de responsabilidade dos produtores, fabricantes, comerciantes, fornecedores,

independente de culpa (arts. 12, 13 e 14); a solidariedade legal entre esses últimos em

face do consumidor (arts. 18 e 19); incluindo os órgãos públicos; a fixação de prazos

variáveis - de trinta a noventa dias - de caducidade (art. 26) e qüinqüenal de

112 WATANABE, Kazuo. et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor comentado pelos autores do Anteprojeto. 6.ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000. p. 720-721.

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prescrição (art. 27); e, por fim, a garantia da desconsideração da pessoa jurídica (art.

28), tanto na aferição da responsabilidade quanto na execução.

O Código regulou, por igual e com minúcia, o tratamento da publicidade,

oferta de bens e das práticas abusivas, definindo-as e reprimindo-as por sanções

Administrativas e penais, garantindo sempre o acesso do consumidor às informações

a seu respeito cadastradas e, especialmente, a interpretação em favor deste, em caso

de dúvida.

Existe, portanto, todo um sistema de presunções e sanções ordenadas que

repercute processualmente, a resultar em defesa indireta do interesse do consumidor

e que constitui um especial regime jurídico de sua proteção. Especial porque, embora

se arme o poder coercitivo de severas imputações, em face da dinâmica do processo

e da intensa e rápida mutação dos interesses em jogo, a ameaça de sanção

organizada atua muito mais como indutor de condutas de uma maneira preventiva e

pedagógica do que como catálogo de atos a reprimir.

Dessa forma, a repercussão da tutela na ação coletiva, se apresenta de

uma forma que irá alcançar a realização prática do Direito, demonstrando a efetividade

que a norma protetora do consumidor deve possuir, em face da defesa do consumidor

ser uma garantia constitucional.

Para alcançar a efetividade da aludida proteção, o consumidor dispõe de

iniciativas processuais, que podem ser utilizadas, individual ou coletivamente,

confundindo-se as primeiras com os instrumentos tradicionais. Interessa,

sobremaneira, a ação coletiva quando se pretender defender interesses difusos, ou

propriamente coletivos, ou, ainda, quando individuais, mas homogêneos.

As ações coletivas por interesses difusos ou coletivos regem-se pela Lei nº

7.347/85, por remissão expressa, mas também se aplica o sistema do Código do

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Consumidor, no que couber, porque a Lei nº 8.078/90 mandou acrescentar, à Lei nº

7.347/85, o art. 21, de modo a compatibilizá-lo com a defesa do consumidor,

incorporando, no processo respectivo da ação civil pública, o Título III do Código do

Consumidor, que regula a ação coletiva por interesses individuais homogêneos de

origem comum. Por conseguinte, o sistema processual de defesa do consumidor é o

da Lei nº 7.347/85, com as inovações do Código.

Quanto à legitimação podem propor ação coletiva com legitimação própria

(art. 82), o Ministério Público, as pessoas jurídicas de Direito público e entidades

públicas, mesmo sem personalidade jurídica, e particulares com finalidades precípuas.

O que importa sublinhar é que se trata de substituição processual, porquanto os

legitimados concorrentes pleiteiam, em nome próprio, Direitos e interesses das vítimas

ou seus sucessores, mediante autorização legal.113

É preciso, aliás, procurar afastar o raciocínio convencional que pensa os

problemas novos a partir das categorias individualistas e privatistas do processo civil

tradicional. Os Direitos de massa, ao contrário, são diversos daqueles individuais e

exigem tratamento próprio, decorrente de sua própria natureza coletiva. Daí segue que

essa legitimação para ações coletivas obedece a princípios e especialmente a valores

diferentes, os quais reclamam reflexão de uma nova forma de proteção para a

coletividade.

Tanto isso é novo que a lei permitiu ao Juiz avaliar a existência e

conveniência da representação processual, para a efetiva canalização do interesse

coletivo ou difuso e até dispensar os requisitos de pré-constituição da associação (art.

82, § 1º). De resto, não há hierarquia ou precedência entre os legitimados e, em

113 ALMEIDA, João Batista. A Proteção Jurídica do Consumidor. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 250.

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princípio, pode haver litisconsórcio, sendo que o Ministério Público, se não for o autor,

será sempre fiscal da lei (art. 92).

No que respeita à competência, regula-a o art. 93 do Código para as ações

individuais homogêneas de origem comum, cabendo à Justiça local, no foro do lugar,

regendo-se, quanto aos mais, pelo Código de Processo Civil; e o art. 2º da Lei nº

7.347/85 para as ações coletivas por interesses coletivos ou difusos, dispondo que

cabe ao juízo do local do fato do dano, ressalvada a competência da Justiça Federal,

conforme art. 109, inciso I, da Constituição Federal.

O problema que se deve suscitar é quanto ao interesse federal. A primeira

proposição necessária é a de que se devem interpretar a Lei nº 7.347/85 e o Código

do Consumidor, de modo uniforme, se aplicam para ações de idêntico propósito, e a

definição da competência deve então resultar límpida e fácil, pois a mais elementar

proteção ao Direito do consumidor começa pela clareza das regras procedimentais.

Ora, se compete a ação coletiva à Justiça local (arts. 2º da Lei nº 7.347/85 e 93 da Lei

nº 8.078/90) como regra, isto é, à Justiça Comum Estadual local, que assim deve ser

entendida, face aos valores da Constituição já referidos e mais a todo o propósito de

proteção do consumidor.

Contudo, quando ocorrer interesse federal, importa em competência federal,

na forma do art. 109, da Constituição Federal de 1988.

Essa inteligência, admissível na interpretação da Lei nº 7.347/85, bem

como, na interpretação do Código do Consumidor, porque tem por si a previsão do §

3º do artigo 109 da Constituição Federal de 1988. E mesmo que haja intervenção de

outros órgãos a nível estadual, prevalecera a competência federal, que é a que prefere

dentre as comuns, por supremacia do interesse federal.

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Na fase da liquidação e ao cumprimento da sentença. Pois sendo individual,

a liquidação deverá ser promovida no foro da ação de conhecimento (natureza

condenatória) ou no domicílio do autor liquidante (art. 97 e 101, inciso I), onde a

liquidação poderá ser requerida na pendência de recurso, processando-se em autos

apartados (§ 2º do art. 475-A do CPC), e seguindo a execução no respectivo foro (art.

98, § 2º, inciso I). E sendo da liquidação e execução a título coletivo somente poderão

ser promovidas pelos legitimados concorrentes, no juízo da ação condenatória,

exclusivamente (art. 98, § 2º, inciso II).

E por fim, quanto a coisa julgada, a maior inovação da legislação de

proteção dos interesses difusos e coletivos está, porém, na extensão da mesma. Pois

a coisa julgada, no caso de procedência do pedido, produz efeitos erga omnes, ou

seja, contra todos, beneficiando todas as vítimas do mesmo evento e seus

sucessores, tenham ou não ingressado como litisconsortes, e incidindo sobre o réu,

não se permitindo a propositura de nova ação sobre o mesmo tema por quem quer

que seja, inclusive legitimados concorrentes e vítimas (art. 103, inciso III).

Contudo, para o caso de improcedência da ação por falta de prova, pode

qualquer legitimado renovar a demanda com outras provas. A sentença em ação para

proteção de interesses e Direitos coletivos, isto é, os transindividuais de grupo, classe,

categoria, que tenham base em vinculação jurídica, produz coisa julgada, mas limitada

ao grupo, salvo também em caso de falta de provas, sendo que os membros do grupo

não ficam com interesses prejudicados, pois podem eles, no insucesso da ação

coletiva, demandar individualmente.

Podem ocorrer situações muito especiais, como se alguém perde ação

individual em matéria que, depois, sentença coletiva dispõe favoravelmente, o que

sucede com a coisa julgada? Haveria, por certo, mera contradição lógica entre os

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julgados, mas não pode haver contradição quanto aos resultados práticos do

processo. Os efeitos da ação coletiva, portanto, terão que se estender também àquele

que demandou sem sucesso individual e essa conclusão obriga a repensar os

institutos tradicionais em face da ação coletiva.114

A inovação introduzida é altamente benéfica ao consumidor, na medida em

que lhe estende os efeitos positivos de uma sentença favorável, mesmo não tendo

sido parte na ação originária, propiciando-lhe partir Direto para a liquidação e a

execução ou mesmo aguardar o resultado da execução coletiva.115

Desse modo, fica dispensado de mover ou participar do processo de

conhecimento, em regra complexo e moroso, sem deixar, no entanto, de participar do

processo executório e partilhar o produto da condenação, ressarcindo-se.116

Os conflitos devem ter fim, todavia, a imutabilidade da decisão não deve

ser, em última análise, causa de desvalor de bens ou interesses cultivados pela

sociedade organizada, pena de se contrariar a rede valores e de princípios elencados

na nossa Constituição Federal de 1988.

7.3 A AÇÃO COLETIVA DOS CONSUMIDORES NOS CASOS DE VÍCIOS DO

PRODUTO E DO SERVIÇO

Conforme já foi demonstrado, diante de vício do produto ou de vício do

serviço, abra-se ao consumidor a oportunidade de tutela específica da obrigação

contratual adimplida de maneira imperfeita.117

114 ALMEIDA, João Batista. op.cit. p. 253. 115 ALMEIDA, João Batista. op.cit. p. 254. 116 ALMEIDA, João Batista. op.cit. p. 254.

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Tratando de adimplemento imperfeito onde atinge vários consumidores, ou

seja, ocorre a violação em massa de Direitos individuais, os quais poderiam, ser

buscados em ações individuais, ocorre neste caso o que o Código chama de Direitos

individuais homogêneos, podendo ser proposta ação coletiva para a tutela dos Direitos

individuais que foram lesados.

Contudo, convém destacar que em caso de vício de qualidade do produto, o

consumidor poderá requerer, de acordo com o art. 18 do CDC, não só a “substituição

das partes viciadas” do bem ou a “substituição do produto por outro da mesma

espécie, em perfeitas condições de uso”, mas também “a restituição imediata da

quantia paga, monetariamente atualizadas, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;

ou “o abatimento proporcional do preço”. Portanto, saber qual o melhor caminho,

dependerá do caso concreto e do desejo de cada um dos consumidores.118

Neste caso, a sentença de procedência da ação coletiva, no caso em que

se alega adimplemento imperfeito que violou Direitos individuais homogêneos, deve

apenas declarar que o réu cumpriu de maneira defeituosa a sua obrigação,

entregando aos consumidores produto com vício de qualidade.119

E posteriormente, os consumidores deverão se habilitar, na forma

individual, devendo demonstrar apenas o vínculo obrigacional que os une ao

demandado, o qual lhes garante o Direito ao adequado e perfeito adimplemento. E

optar pela substituição das partes viciadas do bem, por sua substituição integral, pela

restituição da quantia paga ou pelo abatimento no preço. Sendo que se a opção for

117 MARINONI, Luiz Guilherme. A Tutela Específica do Consumidor . Revista de Direito do Consumidor, São Paulo: RT, nº 50, abril-junho. 2004. p.103. 118 MARINONI, Luiz Guilherme. op.cit. p. 103-104. 119 MARINONI, Luiz Guilherme. op.cit. p. 104.

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pela substituição das partes viciadas ou pela substituição integral do produto, poderá

ser pleiteada multa, nos termos do art. 84 do CDC.120

Assim, segundo MARINONI (2006), não existirá maneira mais adequada de

se obter tutela específica, pois solicitar (no caso de obrigação de fazer) que terceiro

faça o que deveria ser feito pelo demandado, obriga ao pagamento de soma em

dinheiro. Além do mais, o uso da multa, obrigando o réu a fazer ou a entregar coisa,

propiciará tutela mais barata, tempestiva e efetiva aos lesados, e assim não só

responderá aos anseios da ação coletiva como também estará de acordo com os

valores que a inspiram. 121

Para o caso de dano ocasionado em razão de adimplemento defeituoso, a

responsabilidade deverá ser fixada na sentença da ação coletiva, onde o legitimado

coletivo deverá pedir a fixação da responsabilidade pelo adimplemento imperfeito e

pelo dano dele decorrente, cabendo ao consumidor, na forma individual, demonstrar o

dano sofrido, bem como o nexo de causalidade e o seu valor, em fase de liquidação.

Contudo, se esta indenização não tiver sido fixada na sentença da ação coletiva, não

caberá, na fase de liquidação, indenização pelo dano sofrido.122

120 MARINONI, Luiz Guilherme. op.cit. p. 104. 121 MARINONI, Luiz Guilherme. op.cit. p. 104. 122 MARINONI, Luiz Guilherme. op.cit. p. 104.

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8. CONCLUSÃO

Os Direitos Fundamentais surgiram nas Constituições com a evolução da

sociedade, estes têm aplicabilidade imediata, bem como, estão protegidos do

Legislador ordinário e do poder constituinte reformador, vez que integram as cláusulas

pétreas.

No inciso XXXII do art. 5º da Constituição Federal encontra-se o Direito

fundamental do consumidor que dispõe que "o Estado promoverá, na forma da lei, a

defesa do consumidor".

O art. 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias determinou

que o Congresso Nacional criasse o Código de Proteção e Defesa do Consumidor,

nos seguintes termos: "o Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da

promulgação da Constituição, elaborará o Código de Defesa do Consumidor".

Pelo que dispôs o preceito Constitucional, a filosofia do Código do

Consumidor é a da inarredável proteção e defesa do consumidor a ser promovida pelo

Estado.

A identificação dos interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos,

a nova postura em relação à legitimação ativa e o reconhecimento da hipossuficiência

do consumidor pelo Código de Defesa do Consumidor, determinaram o surgimento da

tutela do consumidor.

A legislação consumerista é norma de ordem pública e interesse social, na

aplicação desta, deve buscar-se a prevalência do interesse da sociedade por meio da

tutela jurisdicional efetiva.

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O Direito Fundamental de Proteção do Consumidor deve receber proteção

do Estado Legislativo, Estado Administrativo e Judiciário, o primeiro editando normas,

o segundo atuando através de seu poder de polícia (fiscalizando, por exemplo) e o

terceiro atuando através da utilização da técnica processual adequada a efetivação do

Direito do consumidor.

A tutela Administrativa nas relações de consumo não exige, em princípio, o

controle prévio do Poder Judiciário, dada a auto-executoriedade do ato de polícia

Administrativa, o que se depreende dos arts. 55 a 60 do próprio CDC.

A tutela jurisdicional se dará quando inócua a tutela Administrativa, com a

aplicação pelo Estado Juiz da técnica processual adequada e idônea à proteção (ou à

tutela) do Direito material do consumidor.

O Estado Juiz, por meio da aplicação, interpretação e integração, tem o

dever de outorgar às normas de Direitos fundamentais a maior eficácia possível.

Assim, a tutela jurisdicional deve se dar independentemente de haver ou não sido

editada pelo Estado, por meio de sua atividade legislativa, norma capaz de satisfazer

a relação social desrespeitada, isto porque a omissão de lei não justifica a omissão do

Juiz.

Apesar de, no que se refere à proteção do consumidor, o Legislador não ter

se limitado em dotar o sistema processual de meios para promover a satisfação

efetiva e específica do titular do Direito, como pelo que dispõe o art. 84 do CDC, a

evolução social por vezes poderá exigir tutelas não elencadas na norma protetiva. O

que não culmina com a ineficácia ou obstáculo ao Acesso à Justiça se o Estado Juiz

tiver a consciência de que deverá buscar a técnica processual adequada para a tutela

do Direito.

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À disposição do Estado Juiz, tem-se tutelas como a inibitória e a de

remoção do ilícito que não constam do sistema protetivo do Código de Defesa do

Consumidor, mas são capazes de atender a tutela do consumidor. Veja-se o exemplo

da ação coletiva inibitória destinada a impedir a comercialização de produtos cujos

rótulos estão em desacordo com a legislação quanto à informação de seu adequado

uso, o que se pretende é coibir ato contrário ao Direito, que se mantido pode vir a

causar danos em futura relação de consumo pela compra destes produtos.

A evolução social vivida há muito tempo pela sociedade brasileira,

pressupõe a atuação jurisdicional, mesmo quando não tenha ocorrido o dano, antes

vetor determinante para a atuação jurisdicional.

E ainda, tal evolução no que se refere às relações de consumo, culminou

em normas como as dos artigos 18 a 25 do CDC, onde buscam promover o

cumprimento da relação obrigacional, mesmo que não tenha ocorrido dano. Basta o

inadimplemento da obrigação na forma convencionada, para haver a possibilidade do

pedido de determinação do cumprimento desta na forma específica e não pelo

equivalente monetário.

Pelo que dispõe o comando legal, em um primeiro momento terá que ser

feita a substituição da partes viciadas ou a reexecução do serviço prestado, quando

não atendam aos fins que se esperava, em não sendo substituída a parte viciada ou

reexecutado o serviço, abre-se para alternativas como o abatimento do preço do

produto ou do serviço.

Para efetivação de tutelas como esta, o CDC promoveu a abertura das

regras processuais de proteção do consumidor como as constantes dos arts. 83 e 84,

§ 5º do CDC, onde verifica-se que a estruturação do procedimento foi deixada a cargo

do Juiz no caso concreto.

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Por fim, a tutela no que se refere ao vício do produto ou serviço pode ser

dada inclusive no âmbito da tutela coletiva, tratando de adimplemento imperfeito onde

são atingido vários consumidores (violação em massa de Direitos individuais), cujo

cumprimento poderia ser buscado em ações individuais, ocorre neste caso o que o

Código chama de Direitos individuais homogêneos, podendo ser proposta ação

coletiva para a tutela dos Direitos individuais que foram lesados.

Analisando o Direito fundamental do consumidor verifica-se que a

concessão de tutela contra o vício do produto ou do serviço, nada mais é que a

conformação da lei de acordo com a Constituição.

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