turismo inclusivo em hoteis: casos praticos internacionais

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Page 1: Turismo Inclusivo em Hoteis: Casos Praticos Internacionais

Eixo 10 – Outros Temas Aprendendo pelos exemplos: casos práticos de Turismo Inclusivo

Bruna de Castro Mendes1

Scott Rains2

Resumo: A discussão e debate acadêmico acerca da inclusão social durante a prática turística perpassa pela quebra do paradigma de assistencialismo que permanece atrelado às pessoas com deficiência. Para tal, torna-se importante a apresentação de dados e exemplos de atividades que enxergam nesse segmento um consumidor potencial e com grande expectativa de crescimento face ao envelhecimento da população. Portanto, definiu-se como objetivo buscar empresas ao redor do mundo que desenvolvem atividades e adaptações para receber esse turista com deficiência. Para tal, o estudo caracterizou-se pelo caráter exploratório, marcado pelo levantamento bibliográfico, experiências empíricas dos pesquisadores, aliado aos contatos internacionais e instituições que estudam e pesquisam o turismo inclusivo. Após a elaboração e contato com pessoas da Índia, Alemanha, Estados Unidos, entre outros, conseguiu-se identificar diversos exemplos de turismo inclusivo, com destaque ao campo hoteleiro e demonstrando o potencial econômico desse turista, mercado que precisa ser melhor estudado e analisado no campo brasileiro.

Palavras-chave: Turismo Acessível. Acessibilidade Turística. Turistas com deficiência.

Introdução

Nas cidades e na vida urbana, as relações deixam de ser naturais para se tornarem

sociais, surgindo o conceito de indivíduo, que passa a viver de forma mais autônoma e livre,

conforme destaca Ross (2006). Contudo, isso apenas ocorre se esse indivíduo pertencer e

cumprir às regras estabelecidas pelo estereótipo de “ser normal”. Porém, pergunta-se: o que

significa e representa essa normalidade, defendida por uma assim conceituada maioria?

Em primeiro lugar, é preciso compreender que a sociedade caracteriza-se por

definições pautadas por conceitos de produtividade, segundo os quais aquele indivíduo que

não cumprir com o esperado (seja em produção, seja em métodos de elaboração) é taxado

por determinados termos que marcam essa diferenciação: ou ele é burro ou é gênio; ou ele

é normal ou é anormal; entre outros.

Em segundo lugar, destaca-se o fato de que o “diferente” assusta e por isso as

pessoas tentam controlar, da melhor maneira possível, as suas rotinas, os seus esquemas

de trabalho e as suas amizades e áreas de convívio social. Dessa maneira, as comunidades

1 Mestre em Hospitalidade e Professor no Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio. E-mail: [email protected] 2 Consultor e militante do Turismo Inclusivo, no Brasil e no mundo. E-mail: [email protected]

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costumam ter regras implícitas que podem segregar ou não indivíduos que não pertençam a

um ideal estabelecido, tornando os que estão fora das normas, muitas vezes, pessoas

estigmatizadas. Ribas (2003) acredita que sejam essas diferenças sociais valorativas que

podem determinar que as pessoas deficientes não sejam capazes de conviver com outros

indivíduos, fabricando mecanismos de exclusão. Contudo, estamos inseridos em relações

sociais e dependemos delas para o desenvolvimento social. Ao isolarmos grupos sociais

que não pertençam ao que a maioria considera o ideal de produtividade e convivência,

negamos essa inter-relação entre o homem e a sociedade.

Nesse sentido, não se pode esquecer que quando se pensa em diversidade, pensa-

se em uma minoria, excluída e isolada de todo e qualquer convívio social, porém Guijarro

(1998) reforça que falar em diversidade é falar do coletivo, que traz em seu interior as

diferenças habituais (grifo nosso). Ao debater a relação dos direitos e deveres de cada

pessoa na sociedade, aborda-se, obrigatoriamente, o conceito de cidadania dos grupos

conhecidos como minorias. Tratando-se especificamente das pessoas com deficiência, o

artigo 3º da Declaração dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência diz que as

pessoas deficientes têm o direito inerente ao respeito por sua dignidade humana; qualquer

que seja a origem, a natureza e gravidade de suas deficiências, têm os mesmos direitos

fundamentais que seus concidadãos da mesma idade, que implicam antes de tudo, no

direito de desfrutar de uma vida decente, tão normal e plena quanto possível.

A Convenção Interamericana para a Eliminação de todas as Formas de

Discriminação contra Pessoas Portadoras de Deficiência, mais conhecida como a

Convenção de Guatemala, ocorrida em 28 de maio de 1999, enfatiza ainda que as pessoas

com deficiência têm o direito de não serem submetidas à discriminação com base na

deficiência, emanando a dignidade e a igualdade que são inerentes a todo ser humano

(BRASIL, 2006).

Todos esses conceitos expostos preconizam o debate da inclusão social, que

representa um dos diversos movimentos sociais que consideram a liberdade pessoal

como um direito universal, independentemente de raça, sexo, aparência física, sendo que,

segundo Castells (1983 apud KAUCHAKJE, 2003, p.68), esses movimentos sociais são

considerados os principais protagonistas na formulação e na demanda por direitos. Portanto,

falar em cidadania das pessoas com deficiência envolve, obrigatoriamente, falar da inclusão

social desse segmento e da qualidade de vida.

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Contudo, possibilitar que pessoas com deficiência convivam com os diversos grupos

sociais e que a discriminação seja atenuada exige um tempo prolongado de espera. Ao

comentar sobre mudanças sociais, Krippendorf (1989, p.152) ressalta que “a mudança só

é efetiva quando se galgam todas as etapas, sendo que ela não pode ser forçada, e sim

no máximo encorajada”. Em busca desse encorajamento é que se discutem conceitos de

inclusão social, buscando-se uma transformação da sociedade. O resultado dessa alteração

não é imediato, mas é preciso permitir que cada deficiente possa controlar a sua vida, e “dar

orientação básica a seus impulsos” (OLIVEIRA, 1993, p.12).

Enfatiza-se ser necessário o conhecimento das diferenças para garantir a

concretização do processo de inclusão, pois, conforme afirma Fávero (2004), apenas o

tratamento diferenciado é que irá promover a igualdade, respeitando as diferenças e as

capacidades de cada pessoa. Apenas a convivência garante a formação completa do ser

humano, pois, segundo Oliveira (1993, p.13), “o homem só se faz no mundo através de sua

ação, sendo que sua dignidade consiste fundamentalmente na liberdade de decisão”.

Conquistar, disseminar o respeito e não erguer barreiras diante das diferenças

implica construir uma atmosfera inclusiva. Acredita-se, diante disso, que é por meio da

disseminação da informação e de exemplos inclusivos que poderemos demonstrar para a

sociedade que a convivência integral de todo e qualquer ser humano pode se tornar uma

realidade e não mais um debate meramente utópico. Nesse sentido é que o presente artigo

expõe exemplos de estabelecimentos e cidades que caminham no processo de inclusão

social. Reforça-se o fato de que todo esse levantamento ocorreu pelas experiências dos

autores, que lutam pela inclusão ao turismo de toda e qualquer pessoa, independente de

suas características particulares. Para tanto, caracteriza-se a pesquisa como exploratória,

utilizando-se do levantamento bibliográfico, experiências empíricas (e por isso a utilização

de escrita mais pessoal) e debates no mundo académico para a elaboração da mesma.

Como complemento, utilizou-se de uma rede de contatos internacionais, recebendo

sugestões de pessoas da Ìndia, Suècia, Estados Unidos e outras localidades, além de

indicações de sites e entidades que estudam e pesquisam o tema da inclusão no turismo.

Parte 1. Turismo para Pessoas com Deficiência

Para diversos autores que trabalham com o tema da deficiência, como Ribas (2003),

Amaral (1995), Werneck (1997) e Silva e Bóia (2006), além das barreiras físicas, a falta de

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informação aliada à “subinformação” (conceitos errôneos disseminados pela sociedade) são

os principais entraves para a inclusão social das pessoas com deficiência, pois a ignorância

sobre o assunto acarreta preconceito – e, a partir deste, se formam os estereótipos que se

tornam presentes na cultura e originam estigmas.

Percebem-se, assim, poucas ações efetivas que auxiliam na quebra de paradigma,

ocorrendo apenas um cumprimento forçado das leis, sem a mudança de comportamento

necessária para a efetivação do processo de inclusão social. Para uma mudança cultural em

relação ao tratamento destinado às pessoas deficientes, que resulte em uma acessibilidade

plena, é preciso mais do que simplesmente garantir a ocupação do espaço físico. É preciso

envolver toda a sociedade nessa complicada conquista.

Aproveitando-se desses conceitos, e delimitando a análise no campo das atividades

turísticas, percebe-se que é durante essa prática que as pessoas interagem com os mais

diversos públicos, inclusive com aqueles que não pertenceriam ao seu ciclo habitual

de uma convivência marcada pela “normalidade”. Ao contemplar essa relação, nota-

se a preocupação com o bem-estar do outro, com a recepção, com o atendimento das

necesidades, em suma, nota-se, poder-se-ia notar um olhar marcado pela hospitalidade,

mas o que se encontra é a inospitalidade.

Para que possamos falar de um turismo hospitaleiro, marcado pelos conceitos da

hospitalidade, é preciso nos preocuparmos não só com a melhoria do serviço prestado,

mas também com o conforto e o bem-estar dos clientes em relação à infra-estrutura e aos

equipamentos (TRINDADE, 2004, p.74). Conhecer o seu público e adequar os serviços para

que todas as necessidades sejam atendidas são iniciativas primordiais para que o turismo

contribua para a inclusão social das pessoas com deficiência.

Segundo o Programa de Ação Mundial das Nações Unidas, “as autoridades de

turismo, agências de viagens, organizações voluntárias e outras envolvidas na organização

de atividades recreativas ou oportunidades de viagem devem oferecer seus serviços a todos

e não discriminar as pessoas com deficiência” (SASSAKI, 2003, p.20).

Pessoas com deficiência almejam um tratamento idêntico ao destinado às demais

pessoas em recintos comuns e em atividades diversas, como a turística. Acresce-se apenas

a necessidade de algumas adaptações, respeitando as capacidades e possibilidades

individuais. Com o objetivo de garantir o acesso ao turismo, algumas atitudes devem ser

tomadas. Segundo Muller (2003, p.68), o “turismo deve, além de se tornar mais eficiente e

melhorar sua qualidade, ser mais autêntico e mais humano”. É apenas considerando o outro

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em sua plenitude que o turismo poderá auxiliar no processo de inclusão.

A contribuição do turismo é possibilitar que as pessoas com deficiência conheçam

suas capacidades e desenvolvam suas habilidades de maneira prazerosa, em contato com

ambientes diversos e pessoas fora do seu círculo habitual; é ajudá-las a compreender

melhor aquilo que desejam e necessitam, com vistas a um aumento na qualidade de vida e

maior participação como cidadãs; em suma, é fazer com que elas migrem do papel de

coadjuvantes para o de protagonistas.

Nesse sentido, define-se turismo inclusivo como "the application of the seven

principles of Universal Design to the products, services, and policies of the tourism

industry at all stages of their lifecycle from conception to retirement and introduction of a

replacement3", complementado pelo conceito de que esse é o turismo “ that is accessible

to all people, with disabilities or not, including those with mobility, hearing, sight, cognitive,

or intellectual and psychosocial disabilities, older persons and those with temporary

disabilities4”.

Os principios do Desenho Universal foram criados durante a era dos direitos civis nos

Estados Unidos e formalizados em 1997, representando as principais demandas para o

proceso de incluso social, seja no ámbito do trabalho, do lazer, do turismo e demais áreas.

De qualquer maneira, nós enfatizamos que o desenho universal é uma aproximação do

ideal, e não uma lista única de soluções, de medidas ou de produtos predefinidos.

Os princípios envolvidos são a Equiparação nas posibilidades de uso, reforçando

a flexibilidade em sua utilização, para atender a uma ampla demanda de indivíduos,

preferencias e habilidades. Debe-se contemplar, também, o uso Simples e Intuitivo,

permitindo que qualquer pessoa, independente da experiênca, nível de formação,

conhecimento, possa usar o produto ou serviço em questão. A captação de informação deve

ser avaliado, comunicando eficazmente ao usuário as informações necessárias, ocorrendo

tolerancia ao erro, sendo esse o quinto conceito, já que o desing minimiza o erro, mas não o

previne totalmente. O mínimo esforço físico debe ser considerado, seguido pela Dimensão e

3 Tradução livre: “A aplicação dos sete principios do Design Universal para productos, serviços e políticas da industria do turismo para todos os estágios do seu ciclo de vida, desde a sua concepção até a reforma, e a introdução de um substituto”. Disponível em: http://www.livestream.com/PoloITHandicap. Acesso em 03 abr.2012. 4 Tradução livre: “atividade acessível a toda e qualquer pessoa, com deficiencias ou não, incluindo aqueles com dificuldades de mobilidade, escuta, visão, cognitivas ou intelectuais, pessoas idosas, ou aqueles com deficiencia temporária”. Disponível em: http://www.accessibletourism.org/resources/takayama_declaration_top-e-fin_171209.pdf.

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espaço para uso e interação, independente do tamanho, postura, ou mobilidade da pessoa5.

Acredita-se que o Design Universal debe ser contemplado em toda e qualquer

decisão. Apenas a partir disso é que poderemos pressupor que a Hospitalidade, turismo e

incluso, conceitos que devem nortear um trabalho, uma mudança de paradigma, afinal, a

hospitalidade pode ser entendida como um meio de criar e consolidar relacionamentos; o

turismo, uma das atividades pelas quais os relacionamentos se fortalecem; e a inclusão,

uma meta direcionadora desse envolvimento. Se bem estruturado e pesquisado, o turismo

poderá se tornar o mecanismo da disseminação da sociabilidade e da inclusão social,

baseado nos preceitos da hospitalidade.

Parte 2. Aprendendo pelos ExemplosQuando inicia-se a discussão ou debate acerca de turismo inclusivo, não é incomum

escutarmos que tudo não passa de conceitos utópicos, sem aplicabilidade e interesse

ao profissional da área, pois não gera lucratividade. Segundo Butler e Jones (2003), a

população com deficiência raramente aparece em estimativas ou previsões como um

grupo específico, apesar de ser um grupo grande e que tende a crescer com o aumento da

expectativa de vida, além de viajarem com mais freqüência. Para Trindade (2004, p.74), a

pessoa com deficiência é vista como doente, sem necessidade de fazer turismo; visão que

inibiu as oportunidades e os direitos desse segmento e afetou a qualidade do turismo, que

passa pela adaptação e acessibilidade dos serviços existentes.

Para Buhalis e Eichhorn (2005), a demanda por acessibilidade no continente europeu

é de mais de 127 milhões de pessoas, sendo que 89 milhões delas representam um

potencial mercado de consumo de produtos turísticos; se multiplicarmos esse número por

0,5, referente a amigos e familiares, chegamos a um total de 134 milhões de pessoas com

potencial de consumo para viagens adaptadas na Europa.

Em estudo realizado na Alemanha, segundo Neumann (2005), as pessoas com

limitações representam um potencial de consumo considerável. A intensidade de viagem

desse segmento é de 54,3%, o que equivale a 3,64 milhões de indivíduos com restrições

de mobilidade. Já nos Estados Unidos, de acordo com Zografopoulos (2005), pessoas

com deficiência gastam U$13,6 bilhões com turismo todo ano, e quase 71% dos adultos

com deficiência viajaram pelo menos uma vez nos últimos dois anos. O estudo americano

revela ainda que, dentro desses 70%, há um subgrupo, que representa 20%, que viaja, pelo

5 Escrito por Scott Rains, sendo o documento completo disponível em: acessobrasil.org.br/index.php?itemid=42

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menos, seis vezes a cada dois anos, sendo que, no geral, pode-se dizer que os adultos com

deficiencia viajam duas vezes a cada dois anos, sendo a maioria motivada pelo prazer, com

uma duração média de cinco días. O gasto médio desse segmento é de US$430,00 durante

a viagem, sendo que, se multiplicarmos esse valor pelos turistas com deficiência o valor

gasto chega a US$27 bilhões nos últimos dois anos.

Durante o planejamento da viagem, o meio mais utilizado para consulta

e organização foi a internet, principalmente em busca de informações acerca da

acessibilidade local. Inclusive, 33% demonstram finalizar a compra por esse meio.

Porém, enfatiza-se a função da propaganda “boca-a-boca” como importante divulgadora

das informações acerca da acessibilidade turística, já que os turistas costumam trocar

informações com outros que ainda estão no proceso inicial de planejamento da viagem

(ZOGRAFOPOULOS, 2005).

Em 2011, a Organização Mundial da Saúde e o Banco Mundial divulgaram o

primeiro resultado de um estudo global acerca da deficiencia, estimando que cerca de um

bilhão de pessoas possuem algum tipo de restrição, sendo que o estudo reforça também

que a maioria das pesquisas para nesse tipo de informação. Buscando ir além e englobar os

conceitos económicos e de consumo dessa parcela da população, em uma pesquisa

realizada por Simon Darcy (Austrália), sugere que se deve considerar que uma pessoa com

deficiencia raramente viaja sozinha, pois, na maioria das vezes, está acompanhada de

famílias, amigos ou colegas de trabalho. Portanto, após suas pesquisas, o estudioso sugere

multiplicar por três os efeitos económicos de uma única pessoa com deficiencia viajando,

tornando ese mercado muito interesante para se investir6. Ainda segundo o estudo

australiano supracitado, os dados mais recentes demonstram que cerca de 88% das

pessoas com deficiencia tiram férias todos os anos; o tamanho médio do grupo desse

segmento é de 2,8 pessoas para uma viagem doméstica de um pernoite e de 3,4 pessoas

para um dia de viagem; cada vez mais se quebra a imagen de que ese segmento não se

expande em decorrência das baixas condições económicas, sendo esse pressupsoto falso

já que há um nicho muito interesante a ser explorado nesse grupo; eles viajam e consomem

das mesmas maneiras que a população geral; o crescimento do turismo desse grupo

equivale a US$8 bilhões por ano ou 11% do turismo mundial (seja inclusivo ou não).

6 Informações retiradas do site http://travability.travel/papers/occasional_4.html#significence. Acesso em 07 de abril de 2012.

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Ressalta-se, porém, que a estimativa acima envolve apenas as pessoas com

deficiencia. Se expandir para as pessoas que não possuem deficiencia, mas viajam com

esse grupo, pode-se dizer que o potencial económico gira em torno de US$24 bilhões ou

30% do turismo geral. Como vantagens, este segmento de clientes revela preferência pela

baixa temporada, boa fidelidade e razoável efeito multiplicador, pois um turista com

deficiência dificilmente viaja sozinho na situação em que o turismo encontra-se atualmente

(TRINDADE, 2004, p.75). Essa dificuldade advém do atual Modelo Social da Deficiência,

definido como quando o problema da acessibilidade é decorrente da "dominating attitude by

professionals and others, inadequate support services when compared with society

generally, as well as attitudinal, architectural, sensory, cognitive, and economic barriers, and

the strong tendency for people to generalize about all persons with disabilities overlooking

the large variations within the disability community7” (KAPLAN, 2012).

Outro estudo realizado pelo Grupo Keroul, de Quebec, denominado Study on the

behaviours and attitudes of people with a physical disability, with respect to tourism, culture

and transportation in Québec8. O estudo procurou descobrir os hábitos desse segment,

referente a restaurants, hotéis, teatros, cinemas, além de examiner a participação em

celebrações e festas. Entre as descobertas destaca-se que, nas suas mais recentes viagens

a Quebec, esse segmento gastou em torno de US$175 milhões, sendo que esse mercado

rendeu, apenas à cidade, mais de US$1 bilhão. Além do mais, destaca-se o constante

crescimento desse segmento, em decorrência do envelhecimento da população, sendo que

65% da amostra tinham mais do que 55 anos. As principais motivações para a viagem

envolvem negócios, visita a famílias e amigos, além de visitar áreas turísticas e atrações

culturais, sendo que 59%, pelo menos, viajaram uma média de seis viagens ao ano,

normalmente acompanhados por familiares e amigos.

Aproveitando-se desse mercado, o grupo Microtel Inns & Suites9 se propõe a seguir

as diretrizes da ADA (Americans with Disabilities Act), assegurando que todos os seus

hotéis tenham quartos acessíveis para todo e qualquer tipo de deficiência. Porém, cientes

de que a barreira atitudinal é uma das mais complexas a serem transpostas, pois estão

7Tradução livre: “atitudes dominadoras de profissionais e outros, serviços de suporte inadequados quando comparado com a sociedade em geral, como também barreiras atitudinais, arquitetônicas, sensoriais, cognitivas e económicas, além da tendencia das pessoas generalizarem sobre todas as pessoas com deficiencia”8 “Estudo sobre os comportamentos e atitudes das pessoas com deficiencia, referente ao turismo, cultura e transporte em Quebec”. Disponível em: http://www.keroul.qc.ca/en/. Acesso em: 07 de abril de 2012. 9 Para maiores detalhes, consultar o site: http://www.microtelinn.com/

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enraizadas em nossa vida, comunidade e família, o grupo oferece um treinamento a todo

funcionário de cada um dos seus hotéis, ensinando como ser amigável e útil às pessoas

com deficiência, como também ensina habilidades de atendimento de ordem prática,

procedimentos operacionais, de emergência e segurança. Acredita-se ser esse um grande

exemplo de turismo inclusivo, já que as barreiras atitudinais estão tão incorporadas no

nosso cotidiano, por meio de leis, senso comum, que apenas quando não houver mais

preconceitos, estigmas, estereótipos e discriminações, como resultado de programas e

práticas de sensibilização e de conscientização das pessoas em geral e da convivência na

diversidade humana que poderemos falar na quebra dessas barreiras.

Outro exemplo a ser citado e seguido é o da cidade de Takayama (Japão),

reconhecida pelas habilidades da população em carpintaria. Em decorrência da sua alta

altitude e consequente separação de outras áreas japonesas, o que a manteve bem

afastada de influências, a cidade desenvolveu a sua própria cultura, fato presente na

Declaração de Takayama para o Desenvolvimento de uma Comunidade para Todos na

Ásia e Pacífico10. Nesse documento, afirma-se o principio “nothing about us without us”, ou

seja, “nada sobre nós sem nós”, ao destacar a importância da participação de pessoas com

deficiência, idosos e famílias no processo de desenvolvimento de políticas, implantação,

monitoramento e avaliação das práticas inclusivas.

Destaca-se também o Scandic Victoria Tower, um hotel de 34 andares em Estocolmo,

que demonstrou que é possível oferecer quartos adaptados em andares mais altos, já que

o tradicional é elaborá-los no térreo, apenas com a ajuda de elevadores que permitam a

cadeirantes uma fácil evacuação em caso de incêndios. Junto com a supervisão de Magnus

Berglund, que desde de 2003, tornou-se o Embaixador da Acessibilidade e que, em 2012,

foi indicado como uma das principais pessoas na luta pela inclusão na Suécia, o hotel

desenvolveu um check-list com mais de cem exigências, implantados em um período de três

meses. Após somente um ano de implantação, eles já perceberam um aumento na taxa de

ocupação apenas pela facilidade, compreensão e acessibilidade dos seus quartos e áreas

sociais.

O grupo Hoteleiro ITC, especializado em Hoteis de Luxo na Índia, estabeleceu

e acredita que as pessoas com deficiencia podem contribuir com o trabalho e com a

receptividade de toda e qualquer pessoa. Ao empregar pessoas que apresentam alguma

10 Disponível em: http://www.accessibletourism.org/resources/takayama_declaration_top-e-fin_171209.pdf. Acesso em 03 de abril de 2012.

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limitação, outros funcionarios começaram a mudar suas atitudes e receptividade para

o “diferente”. Os hóspedes que lá se hospedam, tanto os com alguma deficiencia ou sem

nenhuma limitação, sentem uma maior e melhor receptividade e atenção dos funcionarios.

Para maiores detalhes em relação a esse grupo hoteleiro, contactamos Niranjan Khatri,

responsável pela iniciativa em debater a inclusão dentro do mercado da hospitalidade.

Além do óbvio benefício financeiro dos novos contratados, e do valor publicitário que

acompanha a ação, também confirma aos hóspedes a seriedade com que o tema “inclusão”

é considerado pelo grupo ITC. Segundo relato obtido, as ações internas só foram realizadas

após a contratação de pessoas com deficiencia, sendo que no início eles não sabiam nada

desse segmento. Para iniciar essa ação inclusiva, foi decidido que pequenos pilotos seriam

adotados em diferentes locações do grupo hoteleiro em questão. Simultaneamente, um

treinamento foi realizado com os demais funcionarios com o objetivo de sensibilização para

que eles pudessem se tornar um apoio no processo de integração.

Para tal, a crença disseminada é que a empatía nos negocios é construída

diretamente com os hóspedes, tornando como principal desafio, “to shift this attribute to the

basement of the pyramid as the sector is mired in sympathy leading to no large outcomes &

we decided to discard sympathy and deploy empathy11”. Prosseguindo com as ações,

identificaram-se as principais vagas que poderiam receber pessoas com deficiencia, sendo

que eles precisavam ser seguros, fáceis de se aprenderem e que pudessem ser realizados

internamente, podendo-se citar como exemplos, porteiros, área de reservas, vendas e

marketing, salão de beleza, entre outros. Após finalizarmos as principais questões, pode-

se definir que o destaca ao grupo ITC perpassa pelo fato de que eles, deliberamente,

adotaram um sistema para facilitar a inclusão por intermédio de sua cultura corporativa,

e que assumiram como missão disseminar essa conceito ela borando livros que possam

guiar outras ações de outros empreendimentos (concorrentes ou não)12, e, finalmente, eles

substituíram a pena pela empatía como valor corporativo.

Zografopoulos (2005) ainda destaca a grande presença de pessoas com deficiencia

nos cruzeiros. Segundo seu estudo, nos últimos cinco anos 12% dos adultos desse

11 Tradução Livre: “Para mudar este atributo para a base da pirámide, como o setor esta atrelado à simpatía, nós decidimos descartar a simpatía e implantar a empatía”. 12 Physical Accessibility Manual. Disponível em: http://www.slideshare.net/srains/hotel-accessibility-manual-by-itc-india e Disability Handbook for Industry. Disponível em: http://www.itcportal.com/pdf/Welcomgroup-Disability-Handbook-for-Industry.pdf

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segmento viajaram com navios, o que, de acordo com a Associação Internacional das

Linhas de Cruzeiro (2002), é maior do que a população geral, já que apenas 08% dos

americanos haviam viajado com cruzeiros no mesmo período analisado.

No Brasil, podemos citar como exemplo o Novotel Jaraguá, sob então gerencia do Sr.

Carlos Bernardo, que realizou um treinamento com todos os seus funcionarios sobre como

atender e se preparar para as particularidades de atendimento que envolvem um hóspede

com deficiencia, com o apoio do Instituto Paradigma entre os anos de 2008 e 2009. Já

em relação à cidades, Balneário Camboriú deu os primeiros passos com a construção de

rampas e adequação de calçadas, porém com um longo caminho ainda a ser percorrido.

Não poderíamos deixar de citar Socorro, considerada um dos maiores exemplos de turismo

acessível em territorio nacional, que conseguiu unir o mercado de aventuras com a inclusão

social de todo estilo de turista. Marta Gil, uma socióloga e miliante pela inclusão, ainda

destaca Porto de Galinhas, com jangada acessível, jet ski e demais esportes, além de

profissionais preparados para o atendimento específico, tanto nas pousadas, como também

nos diversos passeios oferecidos. A mesma autora destaca Maceió, com o Projeto Jangada

Acessível, desenvolvida pelo arquiteto Jorge Luiz, permitindo o acesso de pessoas com

deficiencia, de idosos, além de famílias com crianças pequenas, com a utilização de uma

esteira que leva até a faixa de areia mais dura.

Nessa busca de cenários que pudessem se qualificar como exemplos de inclusão

social, consideramos que as ações realizadas pela ADA e pelo ACAA13 nos Estados Unidos

poderão se tornar um dos principais marcos de 2012.. Durante o check in, é oferecida

ajuda com a bagagem, geral e a de mão, como também é oferecido a uma diversidade

de funcionarios um treinamento para que eles estejam aptos a entrevistar passageiros

que apresentem algum tipo de limitação com o objetivo de determinar a gravidade dessa

limitação e a necessidade de alguma assistência específica, se solicitado.

Além disso, durante o vôo, a legislação permite que passageiros carreguem

equipamentos médicos ou cão guía para apoio e conforto da pessoa. Certos lugares ao

longo do corredor possuem braços que podem ser levantadas para facilitar a entrada

de cadeiras de rodas (infelizmente ainda há um ponto a ser modificado, pois apesar das

pessoas com deficiencia terem o direito de serem os primeiros a embarcar, são também

os últimos a desembarcar pela necessidade de apoio durante essa etapa). Posteriormente,

se a pessoa quiser alugar um carro, as operadoras são obrigadas a fornecer opções de

13 ADA: Americans with Disabilities; ACAA: Air Carriers Access Act.

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condução manual, enquanto postos de gasolina com mais de um empregado devem prestar

assistência a esses motoristas.

Após esses breves relatos, podemos afirmar que escolhas arquitetônicas e de design

valorizam o espaço e, ao mesmo tempo, tem a capacidade de ensinar. Uma simples rampa,

construída de maneira adequada, em um hotel, relembra um hóspede e um funcionario

de que a área do turismo valoriza todo e qualquer consumidor, e que por isso, todos

merecem o melhor atendimento possível. Não podemos, ainda, citar e apontar um exemplo

que contemple todos os aspectos da inclusão das pessoas com deficiencia no turismo.

Porém, os casos citados acima são exemplos de que esse segmento não mais precisa ser

visto e interpretado com dó e com asistencialismo, mas sim visto como um mercado a ser

explorado.

Conclusões Apesar de crescente, o acesso das pessoas com deficiência ao turismo ainda é

pequeno. Primeiro, pela dificuldade de a pessoa com deficiência e a sociedade, incluindo

aqui os familiares, lidarem com essas diferenças; e, segundo, pela falta de acessibilidade

das cidades, atrativos turísticos, meios de hospedagem e setores de alimentação e aviação.

Contudo, isso não significa que esse mercado deva ser ignorado. Faz-se necessário

compreender esse mercado e as pessoas com deficiência, já que a demanda por serviços

de turismo adaptados cresce proporcionalmente ao aumento da expectativa de vida e

das ocorrências de trauma, como já se percebe em países desenvolvidos, como Estados

Unidos, Alemanha, Canadá e Japão (estudos europeus já demonstram preocupação com

os baby boomers e o acesso ao lazer). Nesse sentido, recomenda-se que novos estudos

abordem os benefícios obtidos pelos familiares e pessoas mais próximas ao deficiente

quando este se torna mais independente e passa a viajar.

Como acelerar a evolução desse mercado?

É preciso provocar uma mudança na atitude das pessoas, a qual perpassa pela

educação, desde o nível básico até o superior, englobando os profissionais direta e

indiretamente envolvidos no setor de turismo. Esse mercado deve ser pesquisado, analisado

e estudado, obtendo-se, com isso, um perfil do consumidor e o produto turístico que ele

busca. Faz-se necessário, ainda, pressionar os órgãos públicos e o sistema judiciário para

a aplicação das diversas leis já existentes, auxiliando o ingresso no mercado de trabalho de

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pessoas com deficiência, seja ela física, visual, auditiva ou mental.

Prioritariamente, é ideal não confundir a busca de reconhecimento dos direitos dos

deficientes com vistas à melhora de qualidade de vida com mero assistencialismo. Diante

dessa situação, acredita-se ser importante que novos estudos analisem os benefícios

previdenciários disponíveis, além de uma possível obrigatoriedade de participarem das

atividades escolares; como garantir que as empresas não contratem simplesmente a pessoa

com deficiência, mas também a qualifique quanto ao seu potencial de trabalho, permitindo

melhor rendimento, maior satisfação pessoal, a entrada da mesma no mercado consumidor

e reduzindo, naturalmente, as barreiras atitudinais. Já que o tratamento ao deficiente deve ser distante do assistencialismo, deve-se

compreender que o turismo inclusivo é um negócio como qualquer outro. A pessoa com

deficiência é um cliente e, como tal, deve ser bem atendido. Isso deve ser percebido pela

sociedade, pois esse nicho de mercado tem grande potencial de crescimento, devendo

ser mais bem trabalhado. Os lucros virão, mas investimentos têm que ser realizados,

especialmente em adaptação arquitetônica, educação profissional, adequação de

equipamentos e esforços de marketing.

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