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UNI CENTRO PROGRAMA DE TURISM DEGRADAÇ PRAIAS DE IVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA O DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATURE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA (M ILANA BARRETO KIYOTANI JOÃO PESSOA – PB MAIO DE 2011 MO DE SEGUNDAS RESIDÊNCIAS ÇÃO AMBIENTAL E PAISAGÍSTIC E JACUMÃ, CARAPIBUS E TABAT CONDE/PB EZA MESTRADO) S: A CA DAS TINGA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBACENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA

PROGRAMA DE PÓS

TURISMO DE SEGUNDAS RESIDÊNCIAS: A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL E PAISAGÍSTICA DAS PRAIAS DE JACUMÃ, CARAPIBUS E TABATINGA

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA (MESTRADO)

ILANA BARRETO KIYOTANI

JOÃO PESSOA – PB MAIO DE 2011

TURISMO DE SEGUNDAS RESIDÊNCIAS: A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL E PAISAGÍSTICA DAS PRAIAS DE JACUMÃ, CARAPIBUS E TABATINGA

CONDE/PB

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA

GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA (MESTRADO)

TURISMO DE SEGUNDAS RESIDÊNCIAS: A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL E PAISAGÍSTICA DAS PRAIAS DE JACUMÃ, CARAPIBUS E TABATINGA –

ILANA BARRETO KIYOTANI

TURISMO DE SEGUNDAS RESIDÊNCIAS: A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL E PAISAGÍSTICA DAS PRAIAS DE JACUMÃ, CARAPIBUS E TABATINGA –

CONDE/PB

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Geografia – PPGG, Universidade Federal da Paraíba, em cumprimento às exigências para obtenção do grau de Mestre em Geografia.

Orientador: Profº Dr. Eduardo Rodrigues Viana de Lima (PPGG-UFPB).

João Pessoa, Maio de 2011.

III

IV

Aos meus pais, Ednalva e Léo Kiyotani, por todo esforço, amor, compreensão e dedicação, razões de ser de minha vida. Imensa é a gratidão e o amor. Aos meus avós Masuji e Tsumoro Kiyotani e Everaldo Barreto (in memorian), por fazerem parte do que hoje sou.

V

Agradecimentos

Sobretudo agradecer a Deus, pelo presente de ter pessoas queridas ao meu redor, pela

saúde, pelas condições e oportunidades de vida que tive e tenho até hoje.

Gostaria de agradecer primeiramente ao orientador Profº Eduardo Rodrigues Viana de

Lima, pela atenção que teve por mim desde 2006, em minha primeira tentativa de entrar no

Programa de Mestrado da Geografia, depois em 2008 quando finalmente consegui ingressar

nesse curso. Obrigada por tudo, pela paciência, pela generosidade de sempre me escutar e

tentar entender como eu queria o trabalho; pela humildade com que nos trata. Nesta reta final,

de produção dos mapas e finalização da dissertação, não sei o que seria de mim sem a

presença do senhor. Grata demais por essa feliz parceria nestes dois anos!!!

A todos os professores do PPGG- UFPB com quem tive o prazer de aprender um

pouco mais: Profº Raimundo Barroso, Profº Max Furrier, Profº Sérgio Alonso. Em especial

gostaria de agradecer a Profª Doralice Sátyro Maia por, sendo minha primeira professora

dentro do PPGG, me dar à certeza de que estava no caminho certo e por ter sido atenciosa e

solícita para comigo em todas as ocasiões, a boa lembrança permanecerá sempre.

Ao Profº Roberto Sassi, tanto por aceitar participar desta banca e assim contribuir para

a melhoria deste trabalho, quanto por toda a atenção e humildade com que sempre nos tratou.

Aos professores visitantes Eliseu Sposito (Unesp – Presidente Prudente/SP) e

Francisco dos Anjos (Univale – Itajaí/SC), pelas aulas de tanto valor à minha formação e que

certamente engrandeceram meu trabalho.

À Profª Fátima Rodrigues que, mesmo não tendo sido minha professora durante o

curso, sempre demonstrou atenção e cuidado para com minha pesquisa e mais que isso,

carinho para comigo. Obrigada! Saiba que me sinto feliz e honrada em ter sua amizade.

À Profª Vanice Selva pela aceitação em participar da formação de banca de

qualificação e defesa. E pelas contribuições de grande valor trazidas ao trabalho.

Aos amigos conquistados neste período, em especial Marquilene Santos, Jean Carlos

Lima, Altemar Bustorff, Saulo Vital, Gilvonete Freitas, Shauane Itainhara e Péricles Batista

(parceiro de artigo). E claro, não podia deixar de reservar um lugar especial para meu

QUERIDOO amigo Henrique Elias Pessoa Gutierres, sem palavras para agradecer todo apoio

e contribuições nesses anos: os textos indicados, os livros emprestados, a companhia em

algumas idas ao campo, as fotografias tiradas e as cedidas, as discussões... E mais que tudo,

obrigada pela grata amizade.

VI

A turma como um todo, sem exceções, meu muito obrigada!!! Nossa turma certamente

foi perfeita para mim, não me imagino dentro do PPGG sem ser parte dessa turma.

A Flávio (ex-presidente da AMATA) e Carlos Santiago (atual presidente da AMATA),

pela atenção e cooperação na obtenção de informações sobre Tabatinga, seja nas conversas

formais ou informais, pela disposição em ajudar e pela receptividade com que sempre me

receberam.

A José Fernades e ao pessoal do INTERPA, pela prestatividade com que me

atenderam na obtenção das fotografias de 1985.

A Leide e Sr Everaldo (CDRM - Campina Grande), também pela grande ajuda na

obtenção das fotografias de 1969.

Aos senhores Saulo Barreto, Eduardo Cassol, Ismael Araujo, pelas entrevistas

concedidas. À Karmen Porto, Juliana Vinagre, Neuma, Niely Monteiro e Kiara pela atenção e

ajuda. Às agentes de saúde do município do Conde, mais especificamente àquelas lotadas nos

Postos de Saúde de Jacumã e Carapibus, que são responsáveis pelo atendimento residencial

das três praias estudadas e me ajudaram no reconhecimento das segundas residências. Em

especial à Lilian Ferreira pela imensurável ajuda cedendo seu material e seu banco de dados

sempre que necessários, sem palavras para agradecer.

Aos meus pais, Ednalva e Léo Kiyotani, pela força e apoio sempre, impossível medir

minha gratidão por tudo que me ofereceram e me oferecem até hoje, seja material, imaterial,

emocionalmente. Impossível também existir amor maior.

Aos meus avós, Masuji e Tsumoro Kiyotani, pelo amor e pelas condições de vida que

também me proporcionaram durante estes anos.

Às minhas irmãs Sara, Lysandra, Yohanna, Carol Costa, pela presença em minha vida,

pela força e apoio sempre, pelo amor dedicado! Amo vocês demais.

A Belchior Celso, amigo de tantos anos, tão importante nestes anos de mestrado e na

minha vida, sempre me apoiando. Amo.

A Félix Brito e Filipe Lucena, pela amizade, amor e apoio em todos os momentos da

minha vida desde 2002. Félix mesmo de longe, bem longe, sempre se fazendo presente e

sendo uma segurança para mim. Amo vocês.

A Giovanni Franca pela revisão gramatical e pela amizade. Obrigada!

Obrigada a todos que contribuíram de alguma forma nesses dois anos e para a

concretização desse trabalho.

VII

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma de nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo

da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado para sempre, à margem de nós mesmos.

Fernando Pessoa

Com exceção das grandes alterações provocadas pelas eras glaciais, as grandes alterações ambientais recentes têm como fator preponderante as intervenções humanas.

Antonio Carlos Diegues

VIII

RESUMO O trabalho aqui exposto parte da categoria geográfica paisagem e do conceito de meio ambiente para traçar uma análise de como esses têm sido constantemente alterados pela atividade turística, mais especificamente pelo turismo de segundas residências. Sabendo que o turismo é hoje uma das maiores fontes de renda no mundo e que promove uma corrida a seu favor por parte dos governos brasileiros das três instancias, procurou-se demonstrar o quanto esta atividade também traz impactos negativos para as áreas onde se desenvolve. Muitas são as pesquisas que norteiam esta percepção, de um turismo que vem ao longo dos anos alterando a paisagem e o meio ambiente. Até que ponto esta atividade é mesmo sustentável como trazem os discursos políticos? Como o poder público tem planejado e se comprometido com a gestão do turismo, bem como com as localidades receptoras? Essas análises foram aqui realizadas a partir de conceitos e teorias como: desenvolvimento sustentável, planejamento espacial e urbano, gestão pública, planejamento da paisagem e do turismo. Empiricamente foi realizada pesquisa em área do litoral sul paraibano, no que constam as praias de Jacumã, Carapibus e Tabatinga. A escolha deu-se por tais praias representarem importante destino turístico e ser alvo de constante especulação imobiliária para segundas residências desde a década de 1980. A pesquisa para reconhecer e comprovar os impactos utilizou-se de entrevistas ao setor público municipal e a proprietários de segundas residências, visitas in loco e análises de fotografia aéreas e imagem de satélite que demonstrassem o crescimento urbano, a ocupação pelas segundas residências e as áreas irregulares loteadas e/ou edificadas. Pôde-se realmente comprovar vários impactos negativos decorrentes das segundas residências e da negligencia do poder público, são áreas de preservação ambiental sendo ocupadas e problemas de ordenamento urbano que acabam por comprometer a paisagem e o próprio meio ambiente. Palavras-chave: paisagem; meio ambiente; planejamento; gestão; turismo de segundas residências.

IX

ABSTRACT Using as starting point the geographical category of landscape and the concept of natural environment, this research sought to analyze changes on landscape and environment triggered by the tourism industry, especially by “second-residence tourism”. Given that tourism is one of the world's strongest industries and that in Brazil it is supported by municipal, state, and national governments, this research aimed addressing the negative impacts this industry may also have in the areas where it is developed. Many studies have approached the idea that tourism changes landscapes and natural environments; they have questioned the sustainability factor frequently proclaimed in political speeches, and how governments have planned and engaged with the management of this industry. Many concepts were observed in this analysis, such as: sustainable development, spatial and urban planning, public management, and landscape and tourism planning. An empirical research was conducted in the southern coastline of the state of Paraiba, more specifically at the beaches of Jacumã, Carapibus and Tabatinga – in the city of Conde. Those areas were sampled as they have been regarded as important touristic areas as well as targets for real estate speculation since the early 1980s. In order to verify and assess the impacts, this research carried out interviews with members of the local public administration as well as owners of second residences (vacation house), in loco visits, and the analysis of aerial photographs and satellite images showing the irregular urban growth throughout the years. The results revealed to the negative impacts stemming from second residences and negligence by public administrators: irregular development in conservation areas and urban planning issues, which have ultimately jeopardized the landscape as well as the natural environment. Key-words: landscape; environment; spatial and tourism planning, public management; second resident tourism.

X

LISTA DE SIGLAS AMATA – Associação de Moradores e Amigos de Tabatinga

APA – Área de Preservação Ambiental

CAGEPA – Companhia de Água e Esgotos da Paraíba

CDRM – Companhia de Desenvolvimento de Recursos Minerais da Paraíba

CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente

EIA – Estudo de Impacto Ambiental

ENERGISA – Empresa de Energia Elétrica da Paraíba

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IDEME - Instituto de Desenvolvimento Municipal e Estadual

INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

INTERPA – Instituto de Terras e Planejamento Agrícola da Paraíba

PNGC – Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro

PNMA – Plano Nacional de Meio Ambiente

RIMA – Relatório de Impacto Ambiental

SEPLAN/Conde – Secretaria de Planejamento do Município do Conde

SETUR – Secretaria de Turismo

SINAMA – Sistema Nacional do Meio Ambiente

SUDEMA – Superintendência de Administração do Meio Ambiente/PB

LISTA DE FIGURAS Figura 1: Zoneamento por uso do solo..................................................................... 53

Figura 2: Zoneamento por densidade....................................................................... 53

Figura 3: Zoneamento de prioridades....................................................................... 53

Figura 4: Mapa de localização da área...................................................................... 64

XI

LISTA DE FOTOGRAFIAS Foto 1: Vista geral do relevo praia de Jacumã.................................................. 66

Foto 2: Vista geral do relevo praia de Carapibus.............................................. 66

Foto 3: Vista geral do relevo praia de Tabatinga............................................. 67

Foto 4: Laguna costeira de Jacumã no período de carnaval.............................. 68

Foto 5: Vista geral da praia de Tabatinga com destaque à: Coqueiral (1), vegetação pioneira indicadora de estabilidade costeira (2)..............................

69

Foto 6: Vegetação arbustiva na área de praia em Tabatinga............................ 69

Foto 7: Vegetação de maior porte com destaque à mangabeira (Harconia

speciosa), na região de Tabatinga.....................................................................

69 Foto 8: Vegetação de manguezal em Tabatinga.................................................. 70

Foto 9: Vegetação de manguezal em Carapibus................................................. 70

Foto 10: Exemplo de mata de restinga na praia de Tabatinga............................. 71

Foto 11: Esgoto a céu aberto em Jacumã............................................................ 83

Foto 12: Água correndo junto ao lixo na PB-008, principal Avenida em Jacumã...............................................................................................................

83

Foto 13: Falta de calçamento de rua – Jacumã................................................... 83

Foto 14: Falta de calçamento nos arredores da quadra esportiva de Jacumã – principal equipamento de lazer público..............................................................

83

Foto 15: Lixo acumulado na Avenida principal de Jacumã................................ 85

Foto 16: Lixo acumulado nas ruas – Jacumã...................................................... 85

Foto 17: Lixo acumulado nos terrenos baldios – Jacumã ................................... 86

Foto 18: Lixo acumulado na laguna costeira – Jacumã ..................................... 86

Foto 19: Irregularidades na laguna costeira, divisa Jacumã-Carapibus............... 86

Foto 20: Acúmulo de lixo na principal entrada para Carapibus.......................... 90

Foto 21: Acúmulo de lixo na rua paralela à praia – Carapibus........................... 90

Foto 22: Acúmulo de lixo nas ruas de Carapibus............................................... 90

Foto 23: Acúmulo de lixo na laguna costeira – Carapibus.................................. 90

Foto 24: Construções sobre a borda da falésia caracterizando irregularidade ambiental – Carapibus........................................................................................

90

Foto 25: Visão geral da voçoroca – Tabatinga ................................................... 93

Foto 26: Adentrando a área da voçoroca – Tabatinga ....................................... 94

Foto 27: Voçoroca vista da praia, percebendo-se que já está próxima de uma das segundas residências – Tabatinga ............................................................

94

XII

Foto 28: Placa educativa I – Tabatinga............................................................... 94

Foto 29: Placa educativa II – Tabatinga............................................................. 94

Foto 30: Voluntários para o plantio de coqueiros................................................ 95

Foto 31: Faixa convidativa aos moradores de Tabatinga para participar do evento..................................................................................................................

95

Foto 32: Coleta de lixo – Tabatinga.................................................................... 96

Foto 33: Tambores de lixo colocados pela AMATA nas ruas de Tabatinga....... 96

Foto 34: Bar construído na praça pública – Tabatinga....................................... 98

Foto 35: Bar que privatiza praça pública em Tabatinga..................................... 98

Foto 36: Construções irregulares: em borda de falésia (1) e em terreno de marinha (2) – Tabatinga .....................................................................................

98

Foto 37: Casas construídas irregularmente em área de preservação permanente (faixa de proteção de manguezal) – Tabatinga ...................................................

99

Foto 38: Bares frente mar – Jacumã .................................................................. 107

Foto 39: Bares antigos ao redor da quadra – Jacumã......................................... 107

XIII

LISTA DE GRÁFICOS, QUADROS E TABELAS Gráfico 1: Infraestrutura deficitária em Jacumã em 2010..................................... 82

Gráfico 2: Infraestrutura deficitária em Carapibus em 2010................................. 88

Quadro 1: Comparativo das infraestruturas reclamadas pelos proprietários de segundas residências nas três praias.......................................................................

99

Quadro 2: Modificações ambientais e paisagísticas percebidas pelos segundos-residentes das três paias – comparativo.............................................................

100

Quadro 3: Cruzamento de dados da área urbana entre os anos de 1985 e 2008...... 114

Tabela 1: Quantificação de lotes edificados dispostos sobre áreas de proteção ambiental..................................................................................................................

120

LISTA DE MAPAS Mapa 1: Sobreposição das Áreas Urbanas 1985 x 2008....................................... 116

Mapa 2: Área Urbana 2008 e Segundas Residências............................................ 118

Mapa 3: Segundas Residências x Área de Preservação Ambiental........................ 123

XIV

SUMÁRIO

Dedicatória. IV

Agradecimentos V

Epígrafe VII

Resumo VIII

Abstract IX

Lista de Siglas X

Lista de Figura X

Lista de Fotografias XI

Lista de Gráficos, Quadros e Tabelas XIII

Lista de Mapas XIII

Sumário XIV

1. INTRODUÇÃO 16

1.1 Objetivo Geral 19

1.2 Objetivos Específicos 19

2 REFERENCIAL TEÓRICO 20

2.1 Paisagem e Meio Ambiente: o que muda com o turismo 20

2.1.1 Normas legais: estabelecendo formas de uso da terra, protegendo a paisagem e o meio ambiente 29

2.1.2 A Transformação do litoral brasileiro: a ocupação pelas segundas residências 37

2.2 Planejamento e Gestão: premissas para alcançar o equilíbrio 43

2.2.1 Planejando a Paisagem 51

2.2.2 Planejando o Turismo 56

3 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 62

3.1 Aspectos históricos e geográficos 62

3.1.1 Aspectos históricos 62

3.1.2 Aspectos geográficos 64

4 MÉTODO E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 73

4.1 Método 73

XV

4.2 Procedimentos Metodológicos 75

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES 80

5.1 Entrevistas 80

5.1.1 Percepções dos proprietários de segundas residências: infraestrutura, impactos paisagísticos e ambientais 80

5.1.2 Dados técnicos e percepções dos gestores públicos quanto ao planejamento e gestão: ordenamento urbano, paisagem e meio ambiente 103

5.2 Mapa de uso e ocupação: expansão urbana linear e impactos ambientais 113

6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 124 6.1 Conclusões 124 6.2 Recomendações 128

7 REFERÊNCIAS 130 8 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 136

APÊNDICE 137

1 Roteiro de entrevistas 138

1.1 Entrevistas aos proprietários de segundas residências 138

1.2 Entrevistas à administração pública 138

1.2.1 Entrevista ao Secretário de Turismo 138

1.2.2 Entrevistas ao responsável pela Unidade Administrativa de Jacumã 139

1.2.3 Entrevista à Secretaria de Planejamento 139

2 Programa LEGAL (Spring): processado para efetuar a Tabulação Cruzada de dados gerando assim o mapa de Sobreposição Urbana entre os anos de 1985 e 2008 140

ANEXO 141

1. Carta à Comunidade e aos Amigos de Tabatinga 142

16

1. INTRODUÇÃO

Visto pelo lado dos países em desenvolvimento, a oportunidade turística é menos freqüentemente ocultada nas estratégias de desenvolvimento, sobretudo porque ela representa, geralmente, uma alternativa decisiva, um último recurso ante as desilusões encontradas pelos outros setores econômicos. (CAZES, 1999, p.80)

Ao longo dos anos o turismo vem conquistando no Brasil um status de atividade

econômica extremamente viável, aquela que além de impulsionar a economia, traz o

desenvolvimento local e é sustentável. Até que ponto estas verdades reinaram nos estudos

brasileiros e ainda estão presentes no discurso político e no senso comum?

No começo a academia pareceu acreditar nesse fenômeno turístico, a maioria dos

estudos viria para agregar valor a esta atividade. Mas é notável que em meados dos anos 90

muitos trabalhos começaram a questionar as benesses do turismo. Contraditoriamente é

também neste período que a atividade turística é mais valorizada pelas políticas de governo,

talvez até por terem como embasamento as pesquisas que só apontavam as conseqüências

positivas do turismo, talvez por preferirem crescer economicamente sem pensar a longo prazo

e sem considerar as conseqüências negativas.

É bem verdade que anterior as políticas nacionais - que viriam para “oficializar” o

turismo como uma das principais atividades econômicas brasileiras - a atividade cresceu sem

nenhum parâmetro legal específico a seguir, nenhuma diretriz havia sido traçada para o

desenvolvimento do turismo. A partir das Políticas Nacionais do Turismo, como o Plano

Nacional do Turismo surgido no governo Fernando Henrique Cardoso (1994-2002),

acompanhado do Programa Nacional de Municipalização do Turismo e, posteriormente, do

Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil no governo Luiz Inácio Lula da

Silva (2002-2010), as diretrizes e metas começaram a serem traçadas nos três níveis da

Federação.

Com o surgimento dessas políticas de turismo a atividade ao menos começou a ser

mais discutida dentro dos órgãos públicos. Abriu-se espaço para, na tentativa de implementá-

la com sucesso, o setor público buscar ajuda de profissionais da área, o que, por fim,

proporcionou questionamentos sobre como planejá-la.

Aos poucos se acorda para a realidade sobre o turismo. Por muitos anos e para muitos,

o turismo seguiu representando a atividade primordial da sustentabilidade: lucrativa, não

17

poluente, que proporciona igualdade social, desenvolvimento local, etc. Mas sustentabilidade

não começa no, ou com o turismo, ela é fruto de um espaço cotidiano equilibrado, no qual a

atividade turística pode até contribuir para o alcance da mesma, mas não é o todo (YÁZIGI,

2003).

Assim, diante desse errôneo pressuposto de atividade ideal, o turismo foi tomando

conta muito mais do território brasileiro do que da economia.

Tendo o espaço como principal objeto de consumo, o turismo é uma prática social fortemente territorializada e igualmente territorializante já que introduz nos lugares sua lógica de organização espacial, não raras vezes solapando lógicas pré-existentes (...). Se por um lado, entretanto, os benefícios econômicos do turismo são uma prioridade para os governos, como, por outro lado, alcançá-los, negligenciando-se o território? (SANSOLO e CRUZ, 2003, p. 5)

Coloca-se na balança degradação versus crescimento econômico: até onde se pode

afirmar que o turismo traz progresso? Se for verificado, por exemplo, o extenso litoral

brasileiro, quantas serão as paisagens que não se degradaram; qual a qualidade ambiental

apresentada nesses atrativos turísticos que se “desenvolveram”?

De um lado os investidores buscam o retorno do capital no menor tempo possível,

usando o maior poder de atração dos espaços naturais, por outro lado, as autoridades locais

temem tomar decisões que limitem as iniciativas turísticas. A conjugação destes dois fatores,

somada ao despreparo das atitudes dos turistas, acabam sendo extremamente prejudiciais ao

meio ambiente (AULICINO, 1997, p.34).

Por que, mesmo sendo um dos principais meios de alavancar a economia do país, os

destinos turísticos foram e ainda são tão negligenciados? A proposta dessa pesquisa é mostrar

como o turismo de segundas residências se desenvolveu e vem se desenvolvendo no litoral

brasileiro, mas especificamente no litoral sul paraibano; como essa atividade foi chegando e

consumindo o espaço sem a menor preocupação, modificando e degradando o meio ambiente

e as paisagens locais.

A área de estudo engloba as praias de Jacumã, Carapibus e Tabatinga, todas

pertencentes ao município do Conde, litoral sul do estado da Paraíba. As três praias são

seqüenciais, sendo Jacumã o portal de entrada para as demais; seguida de Carapibus e

Tabatinga. O acesso às praias dá-se, majoritariamente, pela rodovia litorânea estadual PB-008

e as mesmas distam cerca de 23 quilômetros da capital paraibana.

18

As praias possuem grande beleza cênica, dispondo de falésias, manguezais, águas

claras, tornando-se potencialmente turísticas. A praia de Jacumã tem exploração pelo turismo

já acentuada, visto que a mesma vem sendo alvo dessa atividade desde a década de 1970,

principalmente pelo turismo de segundas residências.

Neste processo de ocupação turística de Jacumã, muito se perdeu de sua paisagem

original. A falta de planejamento territorial, ambiental e turístico, causou a essa localidade

degradação ambiental e paisagística. Assim como Jacumã, as praias de Carapibus e Tabatinga

vêm sofrendo um processo similar, e, provavelmente, conseqüente daquele, de ocupação e

exploração turística mal planejada.

Devido ao desgaste da praia de Jacumã percebeu-se que, tendencialmente, a atividade

turística foi “caminhando” em direção às praias vizinhas ao sul, buscando uma paisagem

ainda preservada. Como conseqüência dessa expansão turística para o sul, verifica-se que a

degradação ambiental e paisagística constatada em Jacumã já começa a ser percebida também

nas outras duas praias, principalmente na de Carapibus.

A praia de Carapibus já possui um grande número de pousadas, segundas residências e

loteamentos que, em sua maioria, não atendem às condições ambientais de esgotamento

sanitário e coleta de lixo, bem como é precária a estrutura urbana de ruas e iluminação. As

possíveis conseqüências ambientais, e até mesmo para o turismo, são preocupantes, visto que

pode-se chegar a um nível insustentável de impacto ambiental, ocorrendo inclusive o desgaste

progressivo da atividade, fato que desestabilizaria drasticamente a economia local.

Dentre as três praias, a que menos sofreu impactos negativos até agora foi Tabatinga.

Mas Tabatinga já apresenta parte de seu território construído e/ou loteado, aguardando as

futuras instalações que, possivelmente, darão continuidade aos problemas de poluição,

segregação social, dependência econômica e falta de infra-estrutura, vistos em Jacumã e

Carapibus.

Tais evidências levam ao seguinte questionamento: até que ponto a atividade turística

na região trouxe e traz benefícios, e quais as perspectivas futuras dessas áreas totalmente

desprovidas de planejamento?

Procurando responder essa pergunta, esse trabalho demonstra como, até o presente

momento, o turismo de segundas residências afetou a área, quais suas implicações positivas e

negativas, e, a partir destas constatações, o que esperar do futuro das praias.

Aqui foram identificados os problemas de degradação ambiental e paisagística das

praias citadas, bem como mapeados os impactos negativos descritos ao longo do estudo. Para

isso a pesquisa utilizou-se de aplicação de entrevistas aos proprietários de segundas

19

residências e a gestores públicos, visitas in loco, análise de fotografias aéreas e imagem de

satélite.

Outra preocupação foi possibilitar um melhor entendimento sobre a atividade turística,

desmistificando sua “perfeição” e propondo seu exercício de uma forma menos degradante e

mais consciente. Espera-se que com esta pesquisa a comunidade local, o poder público e a

iniciativa privada possam repensar suas estratégias em vista de melhorar o ambiente, tanto em

seu contexto natural quanto social. Conseqüentemente espera-se também que as discussões e

análises propostas ao final da pesquisa possam embasar decisões acerca do futuro da atividade

nas praias estudadas.

Justifica-se o interesse pela temática por representar parcela importante na economia

do Estado, bem como por representar significante preocupação ambiental para aqueles que

estudam o meio ambiente e os impactos do turismo. Por sua vez, justifica-se a escolha das

praias por serem o principal fluxo turístico de segundas residências no litoral paraibano, sendo

alvo de especulação imobiliária massiva e conseqüente degradação paisagística e ambiental.

1.1 Objetivo geral

Analisar a evolução ocupacional da área, buscando identificar, no tempo e no espaço,

as principais transformações ambientais e paisagísticas advindas da atividade turística de

segundas residências nas praias de Jacumã, Carapibus e Tabatinga, litoral sul do estado da

Paraíba.

1.2 Objetivos específicos

� Caracterizar a região estudada e apresentar um diagnóstico de sua situação,

enfatizando os efeitos do turismo na mesma;

� Identificar os impactos ambientais e paisagísticos reflexos da atividade turística de

segundas residências;

� Gerar mapas que possibilitem a visualização dos impactos negativos causados pelo

turismo na área.

� Mapear as segundas residências.

20

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Paisagem e meio ambiente: o que muda com o turismo

Em nosso século emergiu uma nova modalidade de deslocamento através do planeta: o turismo. Fruto da sociedade industrial e das conquistas sociais, o período anual de descanso pelos que a ele tem acesso, vem sendo aproveitado, cada vez mais, para realização de viagens, alimentando dessa forma, os fluxos de pessoas que se deslocam a pequenas, médias e longas distâncias. (Conti, 2002, p.21).

Esse deslocamento mencionado por Conti (2002) e, consequentemente, a apropriação

do espaço pelas atividades, é o que faz do turismo uma atividade extremamente vinculada à

geografia. É no espaço geográfico que o turismo vai desenvolver-se e configurar-se; é este

espaço também que será, por sua vez, alterado, consumido e modificado pelo turismo. Conti

(2002, p. 17) explica: a geografia, como ciência do espaço terrestre, é uma reflexão sobre a

natureza ocupada pelo homem, ou seja, o meio transformado para abrigá-lo e permitir-lhe a

sobrevivência em sociedade.

Dentro do espaço geográfico, categoria geográfica bastante abrangente, estuda-se aqui

dois conceitos a ele atrelados, os de paisagem e meio ambiente, que estão extremamente

vinculados a ocupação e modificação do espaço pelo turismo e suas conseqüências. Antes de

adentrar nos conceitos específicos propostos, faz-se uma breve conceituação da categoria

espaço para fazer uma ponte com a categoria paisagem e para distingui-las, pois é importante

aqui não as confundir.

Segundo Milton Santos (2008, p.63), “o espaço é formado por um conjunto

indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações,

não considerados isoladamente, mas como um quadro único no qual a história se dá”. O

sistema de objetos é composto por todas as construções físicas do Homem, por todos os

elementos artificiais, ou seja: prédios, ruas, casas, pontes, automóveis, celulares, mobílias,

hidroelétricas, navios, etc. Os objetos estão presentes e são utilizados na vida cotidiana dos

homens. Já o sistema de ações é o composto das ações que dão vida a sociedade, são as

relações humanas propriamente estabelecidas, sejam essas de trabalho, particulares,

acadêmicas, etc.

21

Pela conceituação posta, é fácil resumir que a leitura de espaço é justamente aquela do

palco onde se dá a vida. É o chão que se pisa, os objetos utilizados e as relações que se

constroem. E qual a diferença entre espaço e paisagem?

Mesmo antes de apresentar o conceito de paisagem, é possível pontuar as principais

diferenças entre os dois conceitos. A primeira e grande diferença está no tempo, tempo

cronológico mesmo. Enquanto o espaço exprime o presente, a paisagem é passado e presente

num só; a paisagem é a expressão do tempo concretizada nos objetos artificiais, é uma

fotografia (SANTOS, 1997). “A paisagem se dá como um conjunto de objetos reais-

concretos. Nesse sentido a paisagem é transtemporal, juntando objetos passados e presentes,

uma construção transversal. O espaço é sempre um presente, uma construção horizontal, uma

situação única” (SANTOS, 2008, p.103). A paisagem “congela” o tempo, faz com que a

história de ontem esteja presente no hoje.

A segunda diferença está na presença de relações sociais. Sendo a paisagem a

distribuição de formas e objetos, ela não incorpora essas relações. Apesar de ser uma

fotografia da sociedade, os homens presentes nessa fotografia também estão “congelados”; a

paisagem não revela a relação, mas apenas o homem como mais um objeto que está presente

naquele dado espaço-tempo. Já o espaço “resulta da intrusão da sociedade [todas as relações e

interações dos homens] nas formas-objetos (...). A paisagem é, pois, um sistema material e,

nessa condição, relativamente imutável: o espaço é um sistema de valores, que se transforma

permanentemente.” (SANTOS, 2008, p.104)

Tendo já a percepção do que seja espaço a partir da ótica geográfica e de sua

diferenciação com a paisagem, a partir deste ponto foca-se no debate e aprofundamento dos

conceitos de paisagem e de meio ambiente, já podendo distingui-los do de espaço.

Paisagem talvez seja a categoria geográfica mais discutida desde o reconhecimento da

geografia como ciência, aquela que muitos autores inclusive pontuam como o ponto inicial da

ciência geográfica1. Entretanto, apesar de tão debatido, este conceito é bastante abstrato, no

sentido de muitas serem suas definições e não existir aquela única e consensual. Bertrand

(2004, p.141) diria que este conceito é “impreciso e, por isso mesmo, cômodo, que cada um

utiliza a seu bel prazer, na maior parte das vezes anexando um qualitativo de restrição que

altera seu sentido”.

No inicio a leitura de paisagem adotada pelos geógrafos era mais voltada para a

descrição da fisionomia do local: morfologia, hidrografia, vegetação, etc., sendo somente

1 Autores como: Salgueiro (2001); Humboldt (apud SALGUEIRO, 2001); Domingues (2003).

22

observados os componentes físicos que a paisagem abrigava. Com o tempo, agregou-se ao

estudo um olhar menos racional, onde a paisagem revela não só formas físicas como também

formas marcadas pela produção sócio-cultural.

Os estudos da paisagem, inicialmente muito focados na descrição das formas físicas da superfície terrestre, foram progressivamente incorporando os dados da transformação humana do ambiente no tempo, com a individualização das paisagens culturais face às paisagens naturais, sem nunca perder de vista as interligações mútuas. (SALGUEIRO, 2001, p. 41).

Atualmente, o conceito de paisagem, já bastante discutido por muitos autores,

congrega os dois aspectos, o antrópico e o físico, e suas constantes interações. Alguns

qualificativos o acompanham, como: físico, biológico e antrópico; dinâmica; interação; etc.

O geógrafo francês Georges Bertrand é um dos autores mais citados quando o assunto

é paisagem; é nele também que se encontrou o conceito mais simples, e ao mesmo tempo

completo, para nortear este trabalho. Em 1968, Bertrand concebeu paisagem como “uma

determinada porção do espaço, o resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de

elementos físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros,

fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em perpétua evolução” 2.

Seguindo a mesma linha de raciocínio, a partir da leitura da obra de Christofoletti,

Guerra e Marçal dizem que “a paisagem constitui-se no campo de investigação da Geografia,

onde se permite que o espaço seja compreendido como um sistema ambiental, físico e

socioeconômico, com estruturação, funcionamento e dinâmica dos elementos físicos,

biogeográficos, sociais e econômicos” (GUERRA & MARÇAL, 2006, p.97).

Agregando o importante fator tempo, Lombardo e Casella (2002, p.92) baseados em

Rodrigues (1993), definem paisagem como “um sistema territorial composto por diferentes

componentes formados a partir da influência dos processos naturais e da atividade

modificadora da sociedade humana, que se encontram em permanente interação e que se

desenvolvem historicamente”. O mesmo fator cronológico aparece nos estudos do autor Bolós

revisados por Guerra e Marçal que afirmam: a paisagem, em sua abordagem sistêmica e

complexa, será sempre dinâmica e compreendida como o somatório das inter-relações entre os

2 BERTRAND, G. Paisagem e Geografia Física Global: esboço metodológico. Tradução: Olga Cruz. Trabalho

publicado, originalmente, na “Revue Geógraphique des Pyrénées et du Sud-Ouest”, Toulouse, v. 39 n. 3, p. 249-272, 1968, sob título: Paysage et geographie physique globale. Esquisse méthodologique. Publicado no Brasil no Caderno de Ciências da Terra. Instituto de Geografia da Universidade de São Paulo, n. 13, 1972. Republicado na Revista RA´E GA – O espaço geográfico em análise. Curitiba, n. 8, p. 141-152, 2004. Editora UFPR

23

elementos físicos e biológicos que formam a natureza e as intervenções da sociedade no

tempo e no espaço, em constante transformação. (GUERRA & MARÇAL, 2006, p.97-98)

Percebe-se que o processo histórico é incorporado aos conceitos de paisagem. Ele

guarda consigo importantes sinais de como aquela paisagem foi se desenvolvendo: as marcas

dos homens, dos processos naturais; as mudanças culturais, tecnológicas, climáticas,

geológicas, oceânicas; etc3. A paisagem é, enfim, o retrato de certa porção do espaço que

abrange todos os elementos contidos neste, direta ou indiretamente, em um dado momento.

Não se trata de algo estático, por isso, cada hora do dia, cada dia, cada estação climática,

proporcionará uma nova paisagem aos observadores.

No estudo da paisagem os observadores são bastante citados, afinal sem esses o

próprio conceito não existiria, pois não haveria quem o descrevesse. Por isso, fala-se de como

a paisagem vai mudar de acordo com a incidência de luz no local, com a posição física do

observador e de acordo com o seu envolvimento emocional com aquela paisagem observada.

A semiótica e a simbologia estão presentes em muitos conceitos de paisagem; a semiótica

como ciência que estuda a ligação entre os signos – os significados que a paisagem remete ao

observador; e a simbologia que busca entender os laços afetivos que unem paisagem e

observador.

Uma vez que a paisagem é entendida com algo que emite significado e gera

sentimento, vários autores descrevem o processo de sua percepção. Collot (1990, p.25) pontua

que “a ação de ver não se limita a registrar o fluxo de dados sensoriais; ela organiza e

interpreta, de maneira a fazer dele uma mensagem”. Nessa organização e interpretação do que

se presencia perante uma paisagem o observador recolhe para si uma mensagem única, repleta

de subjetivismo4, onde a experiência de vida trazida com o observador faz parte da construção

dessa percepção.

A partir desta significância da paisagem para o homem, aborda-se aqui outra

perspectiva para o conceito, a concepção holística da paisagem. Essa visão holística diz

respeito a prezar mais pelo todo para que com isso se possa conhecer realmente as partes.

Significa que o coletivo se sobrepõe ao individual, pois os processos sofridos nas paisagens

hoje pertencem a um mundo globalizado onde tudo está entrelaçado, transcende a um

movimento pontual, local. (NAVEH, 2000)

3 Estas “marcas” que estão contidas nas paisagens foram por Milton Santos nomeadas rugosidades. 4 Marenzi (2003) em seu artigo intitulado “Percepção da Paisagem” faz uma leitura de vários autores que falam sobre percepção da paisagem e subjetivismo.

24

É importante dizer que o todo não é melhor que a parte, que o global não deve ser

mais valorizado que o local, mas que é necessário existir um equilíbrio, pois no mundo

contemporâneo vive-se muito de especificações, delimitando assim o campo perceptivo e

analítico das pessoas. Também é necessário entender que uma ação local pode transformar-se

em uma conseqüência global e que uma ação global certamente trará conseqüências locais.

Entender o todo por sua vez indica entender o processo, por isso a visão holística da

paisagem tem ligação com a Teoria Sistêmica de Bertalanffy. Neste processo de construção e

percepção da paisagem deve ser levado em consideração a cultura e costumes locais e globais,

os processos naturais e sociais locais e globais, as relações financeiras locais e globais, pois

todos esses fatores se influenciam mutuamente, tanto formando a paisagem como interferindo

na percepção de seu observador.

Outro ponto discutido na concepção holística é o vínculo emocional do observador

com a paisagem5, como outrora mencionado, a paisagem sob essa visão passa a ser sentida.

No processo de sentir a paisagem entra em jogo múltiplas variáveis, como a experiência do

observador, seja a acumulada durante toda sua vida, seja a experiência vivida com

determinada paisagem; o estado de espírito em que se encontra o observador naquele

momento do contato com a paisagem; a relação emocional que o observado tem com a

paisagem (positiva ou negativa), etc. (COLLOT, 1990)

No que tange a avaliação da qualidade da paisagem, Macedo (2002) diz que para

atingi-la a paisagem precisa estar em equilíbrio ambiental, funcional e estético. A qualidade

ambiental preocupa-se com as possibilidades e condições de vida e sobrevida de todos os

seres vivos e comunidades que ocupem o ambiente.

A qualidade funcional é medida pelo grau de eficiência do lugar, ou seja, no tocante ao

bom funcionamento da sociedade que dele desfruta – economia, educação, transporte,

comunicação. O que é revelado durante a pesquisa nas três praias é que funcionalmente elas

também não apresentam equilíbrio.

Já a qualidade estética representa e deve estar congruente com os valores sociais de

cada comunidade. É importante perceber o vínculo que existe entre os valores sociais e a

estética do lugar, é díspar a qualidade estética entre Jacumã e Tabatinga, por exemplo, assim

5 Autores como Antônio Carlos Diegues e Y-Fu Tuan também estudam esse vínculo afetivo (emocional, sentimental) entre observador e paisagem. Tuan inclusive desenvolveu um conceito para isso, a Topofilia. Para maiores esclarecimentos buscar: TUAN, Yi-Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio. Rio de Janeiro: BERTRAND BRASIL, 1980.

25

como o é o posicionamento dos seus freqüentadores6. No geral, percebe-se no litoral brasileiro

que essa condição de qualidade paisagística ainda é pouco vislumbrada.

Pires (1993, p.3250) engloba em sua pesquisa sobre qualidade paisagística o conceito

de fragilidade (ou vulnerabilidade) da paisagem, que equivale ao “grau de susceptibilidade à

deterioração mediante a incidência de determinadas atuações”. Quanto mais frágil a paisagem,

mais vulnerável estará à descaracterização por meio de qualquer ação na área.

Retira-se desse conceito também que quanto mais atrativa e visível a paisagem for,

maior será seu grau de fragilidade, afinal estará propensa a atrair mais atividades/visitantes

para si. Por exemplo, as dunas representam uma paisagem bastante bela e frágil, posto que

com a intervenção maciça do homem elas podem migrar para outro local, provocando o

soterramento de casas e ruas e o assoreamento de rios e lagos, como está acontecendo na

Lagoa do Abaeté, cartão postal da cidade de Salvador- BA7.

Tendo o ambiente litorâneo nordestino como área de estudo, é fato que sua paisagem é

bastante atrativa e procurada para o descanso e lazer. O fluxo turístico no nordeste é intenso

nos meses de verão e a busca pelo litoral corresponde à maior parte desses turistas, incluindo

nesse número aqueles que vêm e hospedam-se em segundas residências. É no verão que essas

paisagens litorâneas estarão mais suscetíveis à degradação, justamente pelo alto grau de “uso”

e ocupação de seus ambientes.

Controlar esse uso é o grande desafio, fazer com que as pessoas tenham consciência de

seus atos, em prol de não degradar a paisagem/ambiente, é uma dificuldade enfrentada no

Brasil. Nestes casos de intenso fluxo a paisagens e ambientes frágeis a melhor solução e de

resultados imediatos é um monitoramento por parte de órgãos públicos, onde a utilização dos

recursos possa ser controlada visando preservá-los.

Essas menções qualitativas fornecem instrumentos para se produzir um projeto

intervencionista que proporcione um resultado final de acordo com as características e

necessidades do lugar. O estudo de qualidade e fragilidade é importante para possibilitar a

prescrição de restrições e proteção de uma área e, conseqüentemente, de níveis de uso e

ocupação. Assim as paisagens se formariam dentro do equilíbrio outrora mencionado. O

6 A partir das entrevistas aos proprietários de segundas residências foi possível analisar como é diferente o discurso entre moradores de Jacumã e Tabatinga, ficando claro que a visão do morador de Jacumã quanto à preservação ambiental é praticamente oposta ao de Tabatinga. Já na praia de Carapibus é interessante perceber que o pensamento é justamente um meio termo entre os demais discursos nas outras duas praias. 7A informação presente neste exemplo pode ser conferida no endereço eletrônico: http://jornalnacional.globo.com/Telejornais/JN/0,,MUL1396244-10406,00-DUNAS+AMEACAM+CASAS+E+LAGOA+DO+ABAETE+EM+SALVADOR.html

26

planejamento da paisagem, assim como o territorial, são os meios pelo qual atingir a

qualidade paisagística e de moradia almejadas.

No que diz respeito ao meio ambiente, o segundo conceito proposto como base para

essa pesquisa, o primeiro desafio é conceituá-lo, visto que são inúmeras as definições para o

termo, desde as mais limitantes àquelas bem amplas. Na história do conceito de ambiente é

importante não confundi-lo com o conceito de natureza ou de ecologia, nem tão pouco de

ecossistema.

Leff (2001) explica que, enquanto o conceito de natureza está vinculado às formas de

apropriação da mesma e o conceito de ecologia dirige-se a compreensão de várias ciências

interligadas, o meio ambiente não é somente o conceito que reflete a relação sociedade-

natureza, é sim um conceito que reflete a complexidade de inter-relações entre o ontológico e

o epistemológico. “O conceito de ambiente é uma construção social; é um movimento no

pensamento que encontra suas raízes nos significados do real, nos potenciais da natureza e nos

sentidos da cultura” (LEFF, 2001, p.396).

Apesar de muitos equivalerem-no a meio ambiente, o conceito de ecossistema

relaciona-se com o habitat, da mesma forma que a parte se relaciona com o todo (COIMBRA,

1985). Segundo Barbieri (2007, p.6), “organismos da mesma espécie vivendo em conjunto

formam as populações e as populações de várias espécies vivendo numa mesma área

constituem uma comunidade biológica. Os organismos e os elementos físicos e químicos do

meio em que vivem formam um ecossistema”. Um ecossistema é um conjunto de partes em

interação constante que compreende todos os seres vivos, incluído o Homem, e os elementos

abióticos ou do meio físico, como água, ar, solo, luz, temperatura, etc.

Todos os organismos (e ecossistemas) se influenciam mutuamente, ou seja, quando

alterado o estado de equilíbrio de um, outros organismos também vão cambiar-se. Enquanto

os ecossistemas são partes, o meio ambiente é o “conjunto amplo de realidades físicas em que

os indivíduos e as comunidades estão imersos. O ambiente rodeia de forma permanente e

cambiante os seres vivos” (COIMBRA, 1985, p.21).

Pela etimologia do termo tem-se que a palavra ambiente vem do latim, seu prefixo

ambi significa “ao redor de” e o verbo ambire significa “andar em volta ou entorno de alguma

coisa”. Já a palavra meio também traz em si o sentido de “estar rodeado”, estar no meio

remete estar envolto. Sendo assim o termo meio ambiente é, definitivamente, redundante

(COIMBRA, 1985; BARBIERI, 2007). O meio ambiente é então a grande realidade na qual

todos os seres estão envoltos (COIMBRA, 1985, p.25).

27

Entende-se por meio ambiente o somatório entre o ambiente natural e o artificial, o

primeiro é o ambiente físico e biológico originais, não manipulados pelo homem, e o segundo

é o resultado de alterações humanas (como áreas urbanas, industriais e rurais). Percebe-se que

meio ambiente agrega as condições de existência dos seres, então ele não é apenas o espaço

onde estes seres vivem e sim a própria condição para a existência de vida na Terra.

(BARBIERI, 2007, p. 5)

Meio Ambiente é o conjunto dos elementos físico-químicos, elementos naturais e sociais em que se insere o Homem, individual e socialmente, num processo de interação que atenda ao desenvolvimento das atividades humanas, à preservação dos recursos naturais e das características essenciais do entorno, dentro de padrões de qualidades definidos. (COIMBRA, 1985, p.29)

A definição de Coimbra (1985) juntamente a de Barbiere (2007), acima descritas,

nortearam este trabalho no tangente ao meio ambiente. Toma-se aqui essa condição de

existência dos seres, bem como das possibilidades de relação entre estes e entre estes e seu

meio, para debater até que ponto o homem modifica a sua própria condição de vida.

A compreensão que se tinha da relação homem-natureza até meados do século XX,

apropriadas principalmente do sistema de produção capitalista, considerava homem e natureza

como pólos excludentes, onde a natureza como objeto era fonte ilimitada de recursos à

disposição do homem. Nas décadas de 1960 e 1970 essa percepção começa a mudar, constata-

se que os recursos naturais são esgotáveis e que sua utilização indiscriminada se revelaria

insustentável (BERNARDES e FERREIRA, 2003). A partir da década de 1970 começa a ficar

claro que a falência da natureza culminaria na falência da própria sociedade, seja por

incapacidade de produção econômica ou, mais que isso, por alimentos, água e ar, tornarem-se

insuficientes à sobrevivência humana.

A concepção de um ser humano separado dos outros elementos da natureza talvez tenha sido o fato de maior relevância para o aumento dos problemas ambientais. A crença de que a natureza existe para servir ao ser humano contribuiu para o estado de degradação ambiental que hoje se observa. Mas certamente foi o aumento da escala de produção e consumo que iria provocar os problemas ambientais que hoje conhecemos. (BERBIERI, 2007, p.7)

28

É sob essa preocupação, de uma natureza finita, que inúmeros debates, encontros e

contribuições científicas começam a reproduzir-se pelo mundo. A grande questão era (e

permanece sendo): como conciliar crescimento populacional, produção econômica e recursos

naturais? É nessa fase também que o conceito de meio ambiente passa a reforçar sua

perspectiva social e cultural, dando atenção proporcional à natureza, a sociedade e a cultura.

Em 1972, é realizada a primeira reunião ambiental global, a Conferência das Nações

Unidas para o Meio Ambiente Humano, mais conhecida como Conferência de Estocolmo –

em referência à cidade de sua realização. Tal encontro contou com 113 países debatendo em

conjunto, as relações entre sociedade e meio ambiente.

A partir desta conferência, sucessivos encontros foram acontecendo para debater

questões ambientais: Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o

Desenvolvimento, mais conhecida como ECO-92 (156 países participantes); Cúpula Mundial

sobre Desenvolvimento Sustentável, mais conhecida como Conferência de Johanesburgo ou

Rio+10 (191 países participantes); Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças

Climáticas, mais conhecida como Conferência de Copenhagen, último encontro realizado em

2009 para debates sobre o meio ambiente e as mudanças climáticas no qual 192 países

participaram.

Como visto, duas das conferências têm no nome o termo desenvolvimento, e as três

(além de outras) trouxeram para debate o desenvolvimento sustentável – concepção que será

abordada posteriormente. Hoje os conceitos de meio ambiente e de desenvolvimento

sustentável caminham juntos, pois estão demasiadamente ligados, posto que a

sustentabilidade venha justamente para prezar a integridade mínima do ambiente que a

humanidade dispõe para viver e se relacionar.

A sustentabilidade traz uma concepção de conservar os recursos naturais existentes. A

conservação refere-se a uma utilização regrada dos recursos de que se dispõe hoje, de forma

que lhes permita regenerar-se naturalmente. Orientações de uso visando não degradá-los ou

dizimá-los devem ser seguidas, devem ser traçadas pela gestão pública e passadas à sociedade

de forma esclarecedora e educativa. A população também é responsável pela conservação do

meio ambiente, podendo exercê-la de forma individual (cada um fazendo a sua parte) ou

coletiva, realizando projetos e campanhas com esse fim.

Para fins práticos é cabível uma breve distinção entre conservação e preservação

ambiental. Enquanto conservar é fazer uso de maneira sustentável, sem desperdícios,

preservar é reservar uma determinada área com a qual o homem não deverá interagir,

deixando-a intocável (DIEGUES, 2004). Essa é uma definição teórica, porém no Brasil as

29

Áreas de Preservação Ambiental permitem a entrada de pesquisadores, e em algumas têm até

partes abertas ao público, respeitando, claro, regras de visitação.

Sendo o meio ambiente o espaço de vida da sociedade é fundamental que esse seja

conservado e/ou preservado. Como o turismo vem sendo um dos principais modificadores do

meio ambiente e das paisagens é importante dar visibilidade as tais alterações, para que todos

possam atuar em prol de conservar e preservar o meio e conscientizar-se de sua importância.

Jacumã, Carapibus e Tabatinga são apenas três exemplos da modificação e degradação do

meio ambiente e paisagem pelo turismo, mas é importante chamar atenção de cada localidade

impactada negativamente para que a população e o poder público possam se posicionar

quanto aos efeitos destas modificações, com a busca por soluções que diminuam ou cessem os

impactos.

2.1.1 Normas legais: estabelecendo formas de uso da terra, protegendo a paisagem

e o meio ambiente

A década de 1980 foi muito importante para a proteção do meio ambiente no Brasil, é

nela que, logo no início, foi instituída a Política Nacional do Meio Ambiente que vigora em

todas as esferas governamentais. Condizente com o momento histórico que se vivia em todo o

mundo, essa política veio agregar-se ao posicionamento global que demonstrava iminente

preocupação com questões ambientais.

As potências econômicas mundiais traçavam suas leis de proteção ambiental, os

grandes investidores requeriam projetos ambientalmente responsáveis para poder liberar

verbas, o Brasil crescia economicamente e necessitava de investimentos; enfim, o momento

de crescimento industrial e mudanças sociais (representado por grandes projetos, tais como

hidroelétricas, rodovias, entre outros) do país careciam de apoio financeiro estrangeiro e para

isso precisava haver garantias preservacionistas.

Por ser então matéria de interesse público e político, no ano de 1981 foi promulgado a

Política Nacional do Meio Ambiente8.

8 Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981.

30

Art. 2º. A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana.

A Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA traz propósitos gerais a serem

seguidos pelas leis e normas mais específicas que por sua vez definirão metas, proibições,

legalizações, etc. Ela estabelece seus princípios, seus objetivos, seus instrumentos, a formação

e competências do Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA e do Conselho

Nacional do Meio Ambiente – CONAMA e institui o Cadastro de Defesa Ambiental. Dentro

dos instrumentos da PNMA é importante frisar o Zoneamento Ambiental, a Avaliação de

Impacto Ambiental e o Licenciamento Ambiental que serão melhor discutidos posteriormente.

Em 1988 foi promulgada a vigente Constituição Federal que, pela primeira vez,

dedicou um capítulo inteiro ao meio ambiente, especialmente o Art. 225:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (CF/1988, Título VIII, Capítulo V, p.44)

Além do equilíbrio ecológico e da qualidade de vida, este artigo que é o caput do

capítulo, traz em si o conceito de sustentabilidade, bastante discutido neste trabalho. É

importante ressaltar também alguns pontos do capítulo como:

Inciso IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; Inciso VII, § 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.

Ou seja, a Lei Maior deixa claro que qualquer atividade de significativa degradação

deve passar por estudos prévios de impacto ambiental. Cabe lembrar que tal estudo é

necessário para a liberação de obras impactantes que devem passar pelo processo de

Licenciamento Ambiental - certificado solicitado ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e

31

Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), órgão federal que apreciará e analisará o Estudo de

Impacto Ambiental (EIA) e concluirá sobre a autorização ou a não implantação do projeto.

Como expresso no Inciso VII, a Zona Costeira, área do presente estudo, constitui

patrimônio nacional, o que deveria indicar restrições maiores quanto ao uso e maior rigor na

implantação de empreendimentos, de loteamentos e da própria organização urbana. Para dar

especial atenção aos recursos costeiros, o governo brasileiro implantou em 1988 o Plano

Nacional de Gerenciamento Costeiro – PNGC, que visa conscientizar sobre o planejamento

integrado desses recursos.

O Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro tem por finalidade primordial “o

estabelecimento de normas gerais visando à gestão ambiental da Zona Costeira do País,

lançando as bases para a formulação de políticas, planos e programas estaduais e municipais”

(PNGC- atualizado, 1997, p.4). Os objetivos do PNGC foram traçados em prol dessas

finalidades:

� A promoção do ordenamento do uso dos recursos naturais e da ocupação dos espaços

costeiros, subsidiando e otimizando a aplicação dos instrumentos de controle e de

gestão pró-ativa9 da Zona Costeira;

� O estabelecimento do processo de gestão, de forma integrada, descentralizada e

participativa, das atividades sócio-econômicas na Zona Costeira, de modo a contribuir

para elevar a qualidade de vida de sua população, e a proteção de seu patrimônio

natural, histórico, étnico e cultural;

� O desenvolvimento sistemático do diagnóstico da qualidade ambiental da Zona

Costeira, identificando suas potencialidades, vulnerabilidades e tendências

predominantes, como elemento essencial para o processo de gestão;

� A incorporação da dimensão ambiental nas políticas setoriais voltadas à gestão

integrada dos ambientes costeiros e marinhos, compatibilizando-as com o PNGC;

� O efetivo controle sobre os agentes causadores de poluição ou degradação ambiental

sob todas as formas, que ameacem a qualidade de vida na Zona Costeira;

� A produção e difusão do conhecimento necessário ao desenvolvimento e

aprimoramento das ações de Gerenciamento Costeiro. (PNGC, 1997, p.4)

9 Gestão pró-ativa: atividade que busca interferir antecipadamente nos fatores geradores dos problemas para

minimizar ou eliminar sua ocorrência. (PNGC, 1997)

32

Dentre os seis objetivos elencados pelo PNGC, nenhum é efetivamente praticado nas

praias estudadas: não existe postura pró-ativa, a degradação acontece sem o conhecimento do

poder público, que ao tomar conhecimento nem sempre atua para corrigir ou minimizar os

danos; a população local participa muito pouco das tomadas de decisões municipais; não foi

nem está sendo elaborado diagnóstico de qualidade ambiental; inexiste uma postura inter-

setorial para gestão ambiental.

Além de seus princípios e objetivos o PNGC traz ainda os instrumentos de

gerenciamento ambiental; as ações programadas de orientação sistemática para a continuidade

do gerenciamento costeiro; as fontes de recursos; e as atribuições e competências, onde se

frisa para fim prático:

� Nível Municipal: Os Municípios, observadas as normas e os padrões federais e

estaduais, planejarão e executarão suas atividades de Gerenciamento Costeiro em

articulação intergovernamental e com a sociedade.

São atribuições dos Municípios:

a) elaborar, implementar, executar e acompanhar o Plano Municipal de Gerenciamento

Costeiro, observadas as diretrizes do PNGC e do Plano Estadual de Gerenciamento

Costeiro;

b) estruturar o sistema municipal de informações do Gerenciamento Costeiro;

c) estruturar, implementar e executar os programas de monitoramento;

d) promover o fortalecimento das entidades diretamente envolvidas no gerenciamento

costeiro, mediante apoio técnico, financeiro e metodológico; e

e) promover a estruturação de colegiado municipal. (PNGC, 1997, p. 6)

Mais uma vez, não se veem atendidas às funções relativas ao município acima citadas

quando trazidas para a realidade do município do Conde.

Outras normas legais visam proteger e preservar o meio ambiente, criando para isso

limites de uso e ocupação do território. Com o intuito de apresentar leis que dizem respeito,

mesmo que transversalmente, à Zona Costeira, segue abaixo um resumo das que atendem a

esse fim.

A Lei 9.605 de 1998 dispõe sobre crimes ambientais contra flora, fauna, patrimônio

público natural, cultural e arquitetônico. Afora os crimes administrativos relativos ao meio

ambiente e aqueles sobre invericidade e/ou omissão na produção do EIA, cabe ressaltar dessa

lei crimes que atingem a área de estudo:

33

Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção. Art. 38-A. Destruir ou danificar vegetação primária ou secundária, em estágio avançado ou médio de regeneração, do Bioma Mata Atlântica, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção. (Incluído pela Lei nº 11.428, de 2006). Art. 39. Cortar árvores em floresta considerada de preservação permanente, sem permissão da autoridade competente. Art. 50. Destruir ou danificar florestas nativas ou plantadas ou vegetação fixadora de dunas, protetora de mangues, objeto de especial preservação. Art. 54, inciso IV - dificultar ou impedir o uso público das praias. Art. 64. Promover construção em solo não edificável, ou no seu entorno, assim considerado em razão de seu valor paisagístico, ecológico, artístico, turístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade competente ou em desacordo com a concedida.

Diante dos Artigos citados acima cabe lembrar que toda a Zona Costeira brasileira era

coberta por Mata Atlântica que foi ao longo do processo de colonização e, posteriormente,

ocupação pelos próprios brasileiros sendo dizimada. Hoje restam apenas cerca de 7% da mata

original, concentrados basicamente na Serra do Mar e na Serra da Mantiqueira, região sudeste

do Brasil (SOS Mata Atlântica) 10. Assim como toda costa do Brasil, o litoral da Paraíba

também foi cortando a Mata Atlântica existente, inclusive da área estudada. Além da

derrubada da Mata Atlântica outra vegetação protegida por lei e ainda presente nas três praias

vem sendo degradada e até derrubada para ocupação, os manguezais.

Já no referido no Art. 54 inciso IV, o traçado das ruas nem sempre é respeitado e por

vezes é modificado para beneficio do capital, incluindo ruas totalmente fechadas e tomadas

como propriedade privada.

A Lei 4.771 de 1965 que institui o Código Florestal Brasileiro e suas posteriores

alterações também direciona posturas a serem adotadas em prol da preservação do meio

ambiente11. Este documento inicia dizendo que todas as florestas localizadas em território

nacional e as demais formas de vegetação são bens do povo brasileiro, sendo, portanto do

interesse de todos zelar por sua preservação e seguir as normas de uso dos mesmos. Nesse

Código destacam-se para área analisada os seguintes pontos:

10 Fonte: Fundação SOS Mata Atlântica. Disponível em: www.sosmatatlantica.org.br. Acesso em: 16/05/2011. 11 Cabe atentar para o fato de o Novo Código Florestal Brasileiro estar em processo votação na Câmara e no Senado Federal durante a construção desse trabalho. A sua aprovação poderá modificar em muito as porcentagens e limites referentes às áreas de preservação e conservação brasileiras. Considerando até a possibilidade de, com o Novo código, parte da área analisada nesse trabalho e declarada de degradação ambiental, não mais condizer com essa definição, já que não estariam mais em áreas irregulares para o uso.

34

� Art. 2° Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as

florestas e demais formas de vegetação natural situadas:

a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa

marginal cuja largura mínima será: (Redação dada pela Lei nº 7.803 de 18.7.1989)

1 - de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez) metros de largura;

(Redação dada pela Lei nº 7.803 de 18.7.1989)

2 - de 50 (cinquenta) metros para os cursos d'água que tenham de 10 (dez) a 50

(cinquenta) metros de largura; (Redação dada pela Lei nº 7.803 de 18.7.1989)

3 - de 100 (cem) metros para os cursos d'água que tenham de 50 (cinquenta) a 200

(duzentos) metros de largura; (Redação dada pela Lei nº 7.803 de 18.7.1989)

b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d'água naturais ou artificiais;

e) nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45°, equivalente a 100%

na linha de maior declive;

f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;

g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo, em

faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais; (Redação dada pela

Lei nº 7.803 de 18.7.1989)

Parágrafo único. No caso de áreas urbanas, assim entendidas as compreendidas nos

perímetros urbanos definidos por lei municipal, e nas regiões metropolitanas e

aglomerações urbanas, em todo o território abrangido, observar-se-á o disposto nos

respectivos planos diretores e leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites a

que se refere este artigo. (Incluído pela Lei nº 7.803 de 18.7.1989)

� Art. 3º - Consideram-se, ainda, de preservação permanentes, quando assim declaradas

por ato do Poder Público, as florestas e demais formas de vegetação natural

destinadas:

a) a atenuar a erosão das terras;

b) a fixar as dunas;

c) a formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias;

e) a proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico ou histórico;

f) a asilar exemplares da fauna ou flora ameaçados de extinção;

g) a manter o ambiente necessário à vida das populações silvícolas;

h) a assegurar condições de bem-estar público.

35

� Art. 4º - A supressão de vegetação em área de preservação permanente somente

poderá ser autorizada em caso de utilidade pública ou de interesse social, devidamente

caracterizados e motivados em procedimento administrativo próprio, quando inexistir

alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto. (Redação dada pela

Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)

� Art. 10 - Não é permitida a derrubada de florestas, situadas em áreas de inclinação

entre 25 a 45 graus, só sendo nelas tolerada a extração de toros, quando em regime de

utilização racional, que vise a rendimentos permanentes.

Muitas das construções nas três praias infringem a lei no tangente às margens

protetoras de cursos d’água, lagoas, bordas de tabuleiro, restinga, e às margens de encostas

com declividade superior a 45°.

Para completar o rol de leis que embasam, ou melhor, deveriam embasar a ocupação

territorial, tem-se o Plano Diretor, instrumento legal que organiza o crescimento e o

funcionamento do município, criado pela Lei Federal 10.257 de 2001 e obrigatório para

municípios com mais de 20 mil habitantes. O Plano Diretor deve ser revisto ou refeito após 10

anos de sua elaboração (Cartilha “Plano Diretor”, 200512).

Existe para o município do Conde um Projeto de Lei intitulado Plano Diretor de

Desenvolvimento Sustentável do Município do Conde que tem por princípio base o

desenvolvimento sustentável. Para atingir tal desenvolvimento traça princípios norteadores e

objetivos; ele é ainda o instrumento que define o modelo de desenvolvimento a ser adotado no

município. Em seu artigo primeiro traz a seguinte redação: A promoção da prosperidade do

município do Conde tem como princípio o enfoque da sustentabilidade como pressuposto

básico na produção e gestão do seu desenvolvimento econômico, social e ambiental.

Dentre os incisos do primeiro artigo, consta a utilização racional e responsável dos

recursos naturais, com vistas a permitir sua renovação e conservação.

O Projeto de Lei acima citado elenca seis diretrizes - Diretriz de Produção Econômica,

Diretriz do Desenvolvimento do Turismo, Diretriz da Produção de Infraestrutura, Diretriz da

Estruturação dos Serviços Básicos, Diretriz de Qualificação Ambiental e Diretriz do

Desenvolvimento Institucional. Dentre essas, faz-se necessário verificar os caputs dos

artigos que norteiam suas respectivas diretrizes:

12 Cartilha “Plano Diretor: participar é um direito!” realizada pelo Instituto Pólis, 2005. Disponível em: www.estatutodacidade.org.br ou www.polis.org.br. Acesso: 10/08/2010.

36

� Art. 7º - A Diretriz do Desenvolvimento do Turismo tem como objetivo maior

alicerçar o desenvolvimento turístico sustentável, buscando obter a satisfação dos

turistas e cidadãos locais, bem como o retorno dos investimentos com o mínimo de

impactos ambientais e culturais.

� Art. 15 - A Diretriz da Produção da Infra-Estrutura urbana tem como objetivo orientar

as ações de investimentos em infra-estrutura de suporte às atividades turísticas

existentes e potenciais no município, contribuindo concomitantemente para uma

desejada melhoria na qualidade de vida da população do município13.

� Art. 18 - A Diretriz da Estruturação dos Serviços Básicos tem como objetivo geral a

garantia da oferta dos serviços básicos urbanos relacionados ao atendimento da

população local no legítimo exercício da sua cidadania, principalmente aqueles afetos

à educação, saúde, moradia, equipamentos comunitários, cultura, desporto, lazer e

segurança.

� Art. 21 - A Diretriz da Qualificação Ambiental tem como objetivo geral qualificar o

território municipal através da valorização do patrimônio ambiental, promovendo suas

potencialidades e assegurando sua perpetuação, a superação dos conflitos referentes à

poluição e degradação do meio ambiente, garantindo novas condições de equilíbrio

essenciais à sadia qualidade de vida local.

A redação do Plano Diretor do Conde está, em linhas gerais, coerente e bem

formulada. Cada uma das diretrizes traz projetos e sub-projetos para alcançar seus objetivos.

De acordo com este Projeto de Lei, as áreas de preservação ambiental serão protegidas e,

quando já encontradas em uso, serão recuperadas. As propostas são boas em todas as

Diretrizes, é providencial chamar atenção apenas para a redação do Art.15, acima exposto,

pois conforme foi destacado tem-se a compreensão de que as melhorias na infraestrutura do

município são em primeiro plano para atender às necessidades do mercado turístico e, por

conseguinte, em segundo plano, atendem a população local.

É preciso mencionar que, das Diretrizes acima discorridas, a de menor importância

para o turismo é justamente aquela a este destinada, porque diante da situação encontrada

neste município, o turismo é o último ponto a ser resolvido. Os investimentos na atividade

turística deveriam ser discutidos após serem resolvidos todos os demais, e mais importantes,

13 Grifo nosso.

37

problemas da região. Afinal, como já dito, o turismo é apenas uma conseqüência. Cabe ainda

enfatizar que para um verdadeiro planejamento territorial, urbano e turístico, seguir as normas

neste tópico elencadas é essencial.

2.1.2 Transformação do litoral brasileiro: a ocupação pelas segundas residências

Por toda a estratégia e facilidade de acesso, as áreas litorâneas foram desde o tempo da

colonização sofrendo os primeiros processos de ocupação. Mas é a partir do século XX que

sua estrutura vai conhecer modificações marcantes. Foi na então capital nacional, o Rio de

Janeiro, que se deu o primeiro exemplo do subúrbio de veraneio, modelo de ocupação aqui

trabalhado, que posteriormente foi expandindo-se por todo litoral.

O processo de ocupação do litoral brasileiro remonta ao início da colonização do país, mas se estrutura de forma especial a partir do século XX, quando nos subúrbios das grandes cidades costeiras se configura uma nova estrutura urbana, a qual se pode denominar de bairro ou subúrbio de veraneio. (...) Essas práticas sociais [os banhos de mar] 14 induzem a formalização de dois tipos de ocupação urbana de característica residencial no litoral – o bairro ou subúrbio inserido dentro de um contexto urbano complexo, no caso cidades como Rio de Janeiro, Vitória ou Santos, ou o bairro de segunda residência, destinado basicamente a ser utilizado no período das férias de verão, ou nas épocas de grandes feriados. (MACEDO E PELLEGRINO, 1999, p.157).

Esses bairros de segunda residência do século XX citados por Macedo e Pellegrino

(1999) já iniciavam uma atividade que hoje configurar-se-ia como uma forma de praticar o

turismo, o chamado veraneio ou turismo de segundas residências, que está presente em maior

ou menor grau, em todos os estados litorâneos brasileiros.

Para facilitar o entendimento, cabe aqui apresentar uma definição do termo segunda

residência para a academia. A partir da leitura de Tulik (2001) é possível conceituar as

segundas residências15, também chamadas de residência secundária, como: uma propriedade

14 Grifo nosso. 15 Existem estudos e definições para essas habitações turísticas em outros países. Em outras línguas podem ser encontradas sob o nome de: second home, vacation home (inglês); residences secundaires, Maison de campagne (francês); segunda casa, segundo hogar (espanhol). Em português ainda é conhecida por: casa de veraneio, casa de campo, chalé, etc. (TULIK, 2001, p.6)

38

privada remetida ao lazer, situada em local díspar da moradia habitual, que abriga seus

visitantes por períodos de finais de semana, feriados e férias.

Chama-se atenção para o fator de vínculo territorial e social que se forma entre os

moradores-visitantes com o local da segunda residência. Derivado do uso constante do mesmo

espaço, esse vínculo estabelece uma ligação até mesmo afetiva (e de pertencimento).

Residências secundárias representam uma relação permanente entre a origem e o destino, uma vez que estabelecem regularidade entre saídas, chegadas e retornos. Ambos se complementam, pois se existem no emissor fatores que estimulam a procura por residências secundarias, o receptor detém características capazes de atrair, a ponto de justificar um vínculo territorial. (TULIK, 2001, p. 10)

Em geral, o campo emissor está próximo do receptor. Assim como acontece nas praias

aqui estudadas, é comum que os usuários das segundas residências habitem em um raio de

distância que possibilite rápido deslocamento até sua residência de lazer. Além disso, as

segundas residências têm sua escolha condicionada principalmente pelo bem-estar que

determinado local proporciona aos seus proprietários. Por isso, a maioria dessas está em locais

aprazíveis aos olhos e com meio ambiente preservado (pelo menos no ato da compra), afinal

os visitantes pretendem “fugir” da degradação ambiental e paisagística dos grandes centros.

Em 2002, analisando outro momento das ocupações litorâneas, Silvio Soares Macedo

apresentaria uma importante assertiva para os estudos do turismo de segundas residências,

A urbanização turística de segunda residência é, no inicio do século XXI, o mais importante fator de transformação e criação de paisagens ao longo da costa brasileira, tanto em termos de escala e dimensão como em abrangência, já que corresponde a milhares de quilômetros, lineares ou não, de ocupação das faixas de terra lindeiras ao mar. (MACEDO, 2002, p. 181)

É perceptível que o movimento turístico de segundas residências, muito forte no

Brasil, cresceu rápida e vorazmente, tomou boa parte da linha de costa transformando-a, em

alguns estados, praticamente em uma só cidade. Os impactos que essa ocupação vem

causando são inúmeros: ambientais, culturais, sociais e econômicos. O que se vê é o descaso

com as localidades que vão crescendo sem a menor estrutura e sem o menor planejamento. O

poder público, os turistas e mesmo a sociedade local,partilham a responsabilidade dos danos.

39

Na maioria dos casos, começa-se uma ocupação em meio a uma praia desprovida de

qualquer infra-estrutura, onde existe uma pequena comunidade de pescadores artesanais.

Mesmo sem os lotes as pessoas começam a construir suas casas, algumas compram terrenos

de propriedade de pescadores por valores irrisórios. Aos poucos vão se configurando os

traçados das ruas e das quadras, até que o avanço das construções chama a atenção do poder

público que passa a lotear e taxar propriamente o espaço, tornando-o regularizado. Entra aqui

um dos principais agentes envolvido nesse grande mercado: as imobiliárias16.

A praia que poucos anos atrás era um “paraíso” quase desconhecido projeta-se como

objeto de desejo daqueles que vivem nas tumultuadas cidades e que, em busca de sossego e

bem-estar, correm em direção a esses novos lugares; cresce a especulação imobiliária e em

poucos anos, provavelmente, o “paraíso” estará bem longe dali. Essa é uma história bastante

conhecida no nordeste brasileiro, perdem-se de vista quantas cidades turísticas nasceram

dessa forma: Porto Seguro – BA, Maragogi – AL, Porto de Galinhas – PE, Lucena – PB,

Extremoz – RN, Praia da Pipa – RN, Canoa Quebrada – CE17.

Esses padrões de urbanização [de segundas residências] são apontados como principais fatores de destruição dos recursos paisagísticos e ambientais existentes na linha costeira, pois os diversos ecossistemas costeiros como manguezais, dunas e restinga, por exemplo, são extremamente suscetíveis à urbanização e quando fragmentados e drasticamente subdivididos tendem a desaparecer. Do mesmo modo, os recursos cênicos litorâneos, que são também sempre ambientais, como os morros florestados, barras de rio, etc., ao serem ocupados e transformados, tem muitas vezes totalmente eliminadas as características que geram sua ocupação, com uma grande e definitiva perda de suas qualidades paisagísticas originais. (MACEDO e PELLEGRINO, 1999, p158-159)

Entre tornar-se conhecida e começar a degradar-se não é preciso muito tempo, com o

fluxo maior do que a capacidade natural e de infraestrutura suportam, as localidades começam

a saturar. Muita gente, muito lixo, muito carro; falta água, falta luz, faltam suprimentos. Nos

períodos de férias, verão e feriados, as praias muitas vezes aumentam em cinco vezes o

número de habitantes, as casas de veraneio se enchem. A infraestrutura que já não é suficiente

16 “O setor imobiliário procura vender uma moradia na praia ou nas montanhas, como uma rendosa alternativa de investimento de capital. Cresce, espantosamente, a especulação imobiliária e, conseqüentemente, a degradação ambiental, não somente nos ambientes naturais, mas também nos planos social e cultural.” (RODRIGUES, 1999, p.148) 17 Citando apenas as praias mais conhecidas em cada estado nordestino onde as segundas residências foram as propulsoras da urbanização.

40

para a população local, tende a não suportar o excedente, dessa forma, geralmente, o

abastecimento de água torna-se irregular bem como o de iluminação.

A questão do lixo e do esgotamento sanitário é um problema constante para o meio

ambiente, com tanta produção de resíduos nas casas, o lixo se acumula nas lixeiras, ruas e

terrenos baldios. Como muitas localidades turísticas litorâneas não dispõem de rede de

saneamento, as fossas sépticas são utilizadas, mas também não é difícil ver o esgoto correndo

pelas ruas sem a menor preocupação com a saúde pública. Cabe aqui lembrar que o lixo e o

esgoto comumente são lançados diretamente nos rios que cortam o local ou nos manguezais,

sem contar o lixo deixado ali quando esses recursos recreativos são utilizados pelos turistas.

Porém, dentro do propósito deste trabalho, outro problema precisa ser notado: as

construções irregulares que degradam o meio ambiente e alteram a paisagem local. Verifica-

se que os loteamentos e, conseqüentemente, as construções avançam áreas de limites da

marinha ou de preservação ambiental: dunas, falésias, margens de rios e mangues. Ou seja, o

poder público torna-se conivente com essas ilegalidades, pois cabe a esse ente fiscalizar essas

áreas e, principalmente, não torná-las regulares.

É perceptível a derrubada de matas ciliares, o aterro de manguezais, o assoreamento de

rios, construção sobre dunas - que podem posteriormente buscar outro lugar para o deposito

de areia causando transtornos como a “invasão” da areia em área urbana, o assoreamento de

lagunas e rios ou a mudança no curso destes. Como conseqüência, espécies de flora e fauna

nativas são atingidas e podem chegar à extinção, os ciclos da fauna se alteram e, algumas

vezes, aqueles que da pesca dependem ficam sem sua fonte de renda. As paisagens naturais

que antes eram o atrativo começam a se transformar chegando a certos casos de desgaste total,

quando passa a não mais atrair os turistas.

O que fazer com o aumento das edificações? O que pode ser feito com o lixo – degradável ou não? Como facilitar o acesso destas mercadorias [espaços turísticos] sem destruir a “especificidade da área natural” considerada de qualidade para o turismo? É inevitável que ocupar densamente uma área implica alterar as condições anteriores, significa degradar as condições originais. (...) este “tipo” de consumo deveria não ser “destrutivo”. Deveria “preservar, conservar” a mercadoria que deu origem à atividade. Porém, contraditoriamente, destrói as condições que deram origem a esta mercantilização. (RODRIGUES, 1999, p.60-61)

Assim como Rodrigues (1999), acima citada, pactuam deste pensamento sobre o

turismo autodestrutivo outros estudiosos como Eduardo Yázigi, Silvio Soares Macedo, Rita

41

de Ariza Cruz. Mas não é só no Brasil que é possível ver esse processo autofágico do turismo,

pelo discurso de Llinas (1999) percebe-se que o mesmo se multiplica por outras partes do

globo:

El grave problema es que el turismo viene para observar un espacio (paisajes) y al mismo tiempo lo está ocupando (hoteles y apartamentos, oferta complementaria, residencias secundarias). Esto produce un conflicto de intereses, ya que cuanto más atractivo es el paisaje de un destino, mayor número de turistas acuden y, a mayor afluencia turística, mayor ocupación del territorio; y en consecuencia menor paisaje virgen para ser contemplado o visitado. Esto genera un fenómeno de autodestrucción del interés turístico de un espacio por su propio éxito turístico. Es la exigencia de planificar lo que se ha venido en llamar turismo sostenible. (LLINAS, 1999, p. 191)

Como falar tanto em sustentabilidade quando a própria produção turística leva a

atividade à “falência”. Vem desse questionamento, mais que isso, dessa exclamativa, a

percepção de que o praticado está muito aquém do almejado turismo sustentável, nota-se que

essa realidade é algo que só existe até então no papel. São necessárias políticas públicas de

ordenamento territorial, de educação e de incentivos que beneficiem um turismo planejado e

bem implantado, um turismo que melhore o ambiente de que faz uso e não o degrade, um

turismo que saiba respeitar limites. A proliferação das segundas residências tem se tornado o

indício de que os locais aonde chegam, em algum momento, serão drástica e negativamente

modificados.

No seu artigo sobre a Ilha de Malorca - Espanha, Llinas (1999) conta como o processo

da ocupação pelo turismo ocorreu. Segundo o autor foi com o turismo de sol e mar que

ocorreu o boom da atividade na região, mas também foi com ele que veio a depreciação, o

consumo destrutivo das paisagens naturais, e assim do próprio atrativo turístico com a

saturação da oferta, o decréscimo da demanda e a degradação do meio ambiente.

Mas a política de ocupação, resolvendo dar um basta no crescimento desordenado e na

proliferação de equipamentos turísticos e de segundas residências, implantou uma série de leis

que barraram tal crescimento e ainda criou zonas de proteção. O que aconteceu foi mesmo o

esperado: o turismo voltou a desenvolver-se, sem o aumento de residências ou hotéis, apenas

no número de freqüentadores; estes mesmos se conscientizaram da proposta de preservação

do meio ambiente e passaram a valorizá-lo. A ilha se reestruturou com base em uma política

de desenvolvimento correta onde o meio ambiente e a paisagem são protegidos para

continuarem admiráveis e com qualidade, assim sendo, continuam a atrair visitantes.

42

Esse exemplo deveria sugerir um novo posicionamento da política brasileira, impondo

limites e não dando incentivos para o crescimento desordenado da atividade turística em seu

litoral. Perde-se muito da qualidade ambiental, cultural, da qualidade de vida, e, no fim,

perde-se o que era para ser a fonte de renda. É preciso entender que impor ordem ao turismo

não significa perda de cifras e sim ganho; entender que o propósito não pode ser o consumo

desregrado, onde depois da oferta natural “acabar” (ou melhor, ter sido destruída)

simplesmente parte-se em direção a praia ao lado - ainda com belezas “intocadas”, seguindo

um ciclo vicioso.

Em um de seus vários artigos sobre o tema turismo e paisagem, Yázigi (2002, p.12)

afirma: perde-se de vista que cada segmento da natureza aberto ao turismo dá vazão a uma

urbanização tão desregrada quanto selvagem. E continua seu pensamento,

selvagem no sentido negativo da palavra, em suma: carecemos de uma política urbana consistente e coerente, na qual tanto turismo e cultura como preservação natural sejam indicadores corriqueiros de peso, compatíveis com a idéia de desenvolvimento. Ignorando a inserção desses valores espaciais como variáveis obrigatoriamente conectadas ao resto do planejamento, os planejadores acabam por desqualificar o território.

Uma questão preocupante no Brasil é a dos valores da população, cada vez mais

distantes da natureza, do sentido de uma vida em consonância com o meio ambiente. É

fundamental essa percepção, pois aqui ela torna-se um dos pilares do problema ambiental e

paisagístico que o turismo produz. À medida que aos turistas e a população local pouco

importar os impactos negativos causados ao ambiente, esses danos certamente crescerão até o

colapso do meio e o desinteresse pela localidade.

Conforme a indiferença desses dois atores sociais mencionados, será também aquela

por parte do poder público. Infelizmente é visível o desprendimento dos gestores públicos no

que tange qualidade ambiental e, em contra partida, é notável a eterna preocupação pelo

crescimento econômico, sejam quais forem os custos. Isso é perfeitamente visualizado na

maioria dos estados e municípios brasileiros. Dessa forma o planejamento turístico pouco vai

manifestar-se, pois o planejamento prioritário é econômico.

O planejamento turístico e o planejamento da paisagem são abordados com maior

ênfase em um outro tópico deste trabalho. Deixa-se aqui a idéia de como o turismo pode

afetar o meio ambiente e a paisagem, tanto que mesmo a atividade pode exaurir-se, afinal ela

depende do equilíbrio destes. “A beleza de uma paisagem é um recurso renovável para as

43

atividades de turismo, desde que as suas características não se degradem pelo excesso de

visitantes” (BARBIERI, 2007, p. 12).

2.2 Planejamento e gestão: premissas para alcançar o equilíbrio

Planejar é a base de sucessos futuros, afinal como seria uma vida sem seu constante

planejamento? Não é possível depender de um futuro aleatório, como de forma simples expõe

Matus (1996),

Se planejar é sinônimo de conduzir conscientemente, não existirá então alternativa ao planejamento. Ou planejamos ou somos escravos das circunstâncias. Negar o planejamento é negar a possibilidade de escolher o futuro, é aceitá-lo seja ele qual for. (MATUS, 1996, Tomo I, p.14 apud SOUZA, 2008, p.47)

Assim, o ato de planejar constitui-se, antes de tudo, em manter o controle das várias

situações cotidianas; seja particularmente na vida de cada ser, seja num todo complexo, como

em uma sociedade. Planejar significa tentar construir conscientemente uma vida, uma cidade,

um país, um mundo melhor, onde se tem a previsão dos acontecimentos e suas respectivas

soluções.

Até mesmo intuitivamente, planejar sempre remete ao futuro: planejar significa tentar prever a evolução de um fenômeno ou (...) tentar simular os desdobramentos de um processo, com o objetivo de melhor precaver-se contra prováveis problemas ou, inversamente, com o fito de melhor tirar partido de prováveis benefícios. (SOUZA, 2008, p.46)

O futuro deveria partir de ações pensadas e planejadas no passado, praticadas no

presente, para finalmente serem colhidos os frutos. Mas a palavra finalmente, que

normalmente é interpretada como algo já exaustivamente buscado, remete a uma longa

espera, o que não é desejado pelos políticos e, em geral, culturalmente também não o é pela

sociedade.

44

O planejar a médio e longo prazo é não só um ato desinteressante aos políticos, como

a sociedade também deseja ver resultados imediatos, criticando quando esses não acontecem.

Não se quer aqui justificar o não fazer dos governantes com o planejamento a longo prazo

(que trará resultados, porém mediatos), pelo contrário; é claro que a população quer seus

governantes trabalhando, cobram por atitudes, mas existem situações que podem e devem ser

resolvidas no presente como existem aquelas que devem ser planejadas para que os resultados

sejam obtidos no futuro, independente do gestor que estiver no poder.

A cultura de planejar precisa ser fortalecida no Brasil, não adianta um resultado

imediato que dure um ano e que depois prejudique a sociedade ou um local por vários outros.

Planejar constitui-se em traçar metas a serem atingidas no seu devido tempo e os meios de

como alcançá-las. O planejamento deve ser encarado como um processo no qual as ações

traçadas devem passar por sucessivas (re)avaliações, fase a fase, pois nem sempre o que foi

projetado se mostra a melhor forma de alcançar determinado objetivo, muitas vezes é preciso

mudar o caminho, repensar a estratégia. É neste processo contínuo que está parte da solução

dos problemas das cidades brasileiras.

Segundo Murphy (1985, p.156), “planejar tem a ver com prever e regular a mudança

em um sistema e promover um crescimento ordenado a fim de aumentar os benefícios sociais,

econômicos e ambientais do processo de desenvolvimento”. Nessa mudança, em função de

diversos benefícios é perceptível que o desenvolvimento, e ainda o desenvolvimento

sustentável, sejam outros conceitos intrinsecamente vinculados ao planejamento

socioeconômico e ambiental.

Desenvolver é mudar no sentido de conquistar melhorias. O desenvolvimento diz

respeito ao progresso econômico, social e ambiental, sendo esses indissociáveis e interligados

entre si. Cabe frisar que desenvolvimento não é sinônimo de crescimento econômico como

muitos pensam, e que aquele não virá como conseqüência deste. Crescimento econômico dá-

se pelo aumento do Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, do capital que circula no país e que

se pressupõe proporcionar um aumento nas rendas nacionais, o que é sim um dos fatores

necessários para chegar a um desenvolvimento (MOLINA e RODRIGUEZ, 2001).

O crescimento econômico, embora necessário, tem um valor apenas instrumental; o desenvolvimento não pode ocorrer sem o crescimento, no entanto, o crescimento não garante por si só o desenvolvimento; o crescimento pode, da mesma forma, estimular o mau desenvolvimento, processo no qual o crescimento do PIB é acompanhado de desigualdades sociais, desemprego e pobreza crescentes. (SACHS, 2008, p.71)

45

É importante lembrar que dentro dos três âmbitos citados no parágrafo anterior estão

embutidos: a cultura, a saúde, a educação, a moradia, a segurança, o lazer. Tais aspectos não

podem ser desprezados dentro da perspectiva do desenvolvimento, pois sem a substancial

melhoria nesses não se otimizará a qualidade de vida, pressuposto base do sentido de

desenvolver.

O desenvolvimento sustentável, por sua vez, é um conceito que vem sendo discutido

desde a década de 1970, quando a problemática ambiental (nesse começo mais natural que

social) revelou-se mundialmente, e que ganhou força na década de 1990, mais

especificamente no ano de 1992 quando foi realizada a Conferência das Nações Unidas para o

Meio Ambiente e o Desenvolvimento, mais conhecida como ECO-92. Segundo a Comissão

Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – CMMAD, desenvolvimento sustentável

é:

Um processo de transformação, no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação da evolução tecnológica e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro, a fim de atender as necessidades e aspirações humanas. (CMMAD 1991, apud

RUSCHMANN 1997, p 109)

Desenvolver sustentavelmente é proporcionar às gerações futuras as mesmas (ou

melhores) condições de vida que se dispõem hoje, é permitir que no futuro se tenha um

ecossistema saudável, a biodiversidade preservada, um ambiente social cada vez mais justo, a

diversidade cultural fortalecida e uma economia equilibrada.

Este conceito sugere uma nova ética e um novo ponto de vista. Sobre ética pode-se

dizer que parte-se de uma postura anteriormente antropocêntrica para uma perspectiva mais

global, biocêntrica. Uma nova visão é adotada: o homem passa a se enxergar como parte da

natureza, formando um novo relacionamento entre ele e os elementos naturais. Percebe-se

ainda uma postura mais solidária para com as futuras gerações quando o consumismo

exagerado, pelo menos por parte de alguns, é freado e repensado; afinal o que será dos filhos e

netos da geração atual? (DIEGUES, 2001).

Mudanças ocorreram de 1992 até agora, porém não na grandeza que se esperava

naquele evento que chamou a atenção do mundo sobre o comportamento humano. Mas parte

da população começou a conscientizar-se sobre comportamentos mínimos que ajudam

bastante como: não jogar lixo nas ruas, nos espaços públicos, rios, córregos, no mar; utilizar

46

esgotamento sanitário quando possível; utilizar lâmpadas e eletrônicos mais eficientes (que

gastam menos eletricidade); fazer a separação de lixo reciclável e orgânico; reutilizar, etc. O

grande infortúnio é que não se adotou em larga escala o chamado terceiro “R”18: reduzir. A

redução do consumo é a maior mudança que se espera por parte da população, pois se a

postura consumista continuar nos níveis atuais não há como melhorar de fato o mundo. A

redução é a tarefa mais difícil da sociedade atual, devido à cultura consumista trazida com o

capitalismo, o consumismo está presente cada vez mais cedo na vida das pessoas.

A sustentabilidade impõe limites, sendo impossível atingi-la com a forma de vida

levada hoje e com a economia degradando a natureza das mais diversas formas. Em artigo

produzido para o Terramérica19, Enrique Leff, conceituado ambientalista, coloca que é preciso

mais que impor limites, é preciso desconstruir a economia atual e construir outra, “baseada

em uma racionalidade ambiental” (LEFF, 2008). Para o autor a raiz do problema não será

extinta com as atuais propostas para um suposto desenvolvimento sustentável, é preciso ir

mais fundo e mudar a economia atual e, conseqüentemente, a cultura que esta impôs ao

mundo.

Ao relembrar a proposta de “crescimento zero”, apresentada pelo Clube de Roma20,

Leff (2008) faz entender que se deve deter o crescimento dos países ricos, mas continuar

estimulando o dos países pobres não é uma saída viável, muito menos sustentável.

ressurge, assim, o fato indiscutível de que o processo econômico globalizado é insustentável. A ecoeficiência não resolve o problema de um mundo de recursos finitos em perpétuo crescimento, porque a degradação entrópica é irreversível. A aposta pelo decrescimento não é apenas uma moral crítica e reativa, uma resistência a um poder opressivo, destrutivo, desigual e injusto; não é uma manifestação de crenças, gostos e estilos alternativos de vida; não é um simples decrescimento, mas uma tomada de consciência sobre um processo que se instaurou no coração do mundo moderno, que atenta contra a vida do planeta e a qualidade da vida humana. (LEFF, 2008)

Diegues (2001) propõe pensar o desenvolvimento sustentável a nível local, inserindo-o

dentro de uma definição de sociedades sustentáveis; na medida em que, sob essa esfera,

“possibilita a cada uma delas [as sociedades] definir seus padrões de produção e consumo,

18 Reciclar, reutilizar, reduzir. 19 Projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud). 20 O Clube de Roma foi um grupo formado por intelectuais e empresários internacionais preocupados com o destino do mundo. Buscava neste grupo discutir e encontrar soluções viáveis para atingir a sustentabilidade. (OSEKI e PELLEGRINO, 2004 p.486)

47

bem como o de bem-estar a partir de sua cultura, de seu desenvolvimento histórico e de seu

ambiente natural”. (DIEGUES, 2001, p.52).

Pertinente esse posicionamento, pois a questão cultural é um dos fatores mais

enfatizados no discurso da sustentabilidade, então, nada mais justo, que cada sociedade buscar

a sua sustentabilidade baseada em tradições culturais próprias, em história e ambiente natural

singulares, nos seus padrões de produção e consumo locais.

Dessa forma, o desenvolvimento deixa de seguir receitas-padrão para se adequar a

cada ambiente específico, prezando e respeitando a diversidade das sociedades. A sociedade

sustentável defendida por Diegues (2001) atenta para que as pessoas que formam a sociedade,

sobretudo as mais pobres, passem a ser sujeitos ativos desse desenvolvimento e não

meramente expectadores das decisões de um grupo limitado.

Unindo dois diferentes pesquisadores, a sociedade sustentável de DIEGUES (2001)

vai ao encontro das adaptações singularizantes de SOUZA (2008), que defende a atuação da

população local no planejamento urbano de sua cidade. Uma vez que desenvolver implica

melhoria social, essa tem de contemplar a qualidade espacial (ou do urbano), dando-a devida

importância, posto que seja palco da vida social e externalidade identitária de seu povo.

As adaptações singularizantes são intervenções físicas necessárias particularmente a

cada localidade, ou mesmo a cada bairro, que não poderão ser “produto de gabinete”, visto

que somente os atores sociais que vivenciam o problema podem dimensioná-lo. Por sua vez, o

planejador tem respaldo técnico para sugerir melhores soluções. Por isso, a união destes dois

lados, o do técnico e o da comunidade, é tão importante para o desenvolvimento sócio-

espacial de um local, só essa junção trará melhorias concretas para o espaço e para a

sociedade.

Sendo o planejamento um processo, e as conseqüências de suas ações virão com o

tempo, outro conceito passa a fazer parte deste monitoramento constante do que outrora foi

planejado e posto em prática: a gestão.

Quando se fala em gestão muitos a vinculam ao campo político, no sentido em que o

gestor é aquele que está no comando de um cargo e/ou de uma ação governamental. Cabe

atentar que, vindo do termo latino gestio, gestão “expressa ação de dirigir, de administrar e

gerir a vida, os destino, as capacidades das pessoas e as próprias coisas que lhes pertencem ou

de que fazem uso” (ANDRADE, 2001, p. 16). Ou seja, todos, de alguma forma, praticam a

gestão, seja de sua própria casa, de sua vida, de seu dia-a-dia.

Nesse sentido, Andrade (2001, p. 16-17) coloca que o termo gestão “acentua a

realidade segundo a qual quem gere alguma ação ou instituição deve fazê-lo de tal forma e

48

com tal capacidade, que sua dedicação ou aplicação torne esse fato mais valioso em si mesmo

e mais produtivo em termos sociais, culturais e econômicos”. O ato de gerir tende a ser

individualista no cotidiano atual, porém quando a gestão diz respeito ao bem público é preciso

que haja consciência de que a mesma deve assumir um caráter comunitário, onde as ações

devem estar voltadas para o benefício da maioria, do conjunto e não do particular.

Para Souza (2008, p. 46), abordando já o lado político-administrativo, a gestão

constitui-se de

administrar uma situação dentro dos marcos dos recursos presentemente disponíveis e tendo em vista as necessidades imediatas (...); é a efetivação, ao menos em parte (pois o imprevisível e indeterminado estão sempre presentes, o que torna a capacidade de improvisação e a flexibilidade sempre imprescindíveis), das condições que o planejamento feito no passado ajudou a construir.

No cotidiano é fácil surgirem imprevistos, ou mesmo uma ação planejada não resultar

no esperado. Nesta “negociação” diária entre ações-reações, é preciso estar apto a lidar com a

nova situação e superá-la da melhor forma; a flexibilidade, que congrega em si segurança nas

decisões (decorrente de conhecimento adquirido) e capacidade de iniciativa, é atributo

fundamental a um bom gestor. É importante que um gestor público conheça sua comunidade

(suas deficiências e aspirações), aquela por ele administrada, pois dentre as opções que

surgirem é preciso saber escolher a mais benéfica para o todo.

Schenini et al (2006) explanam sobre uma nova escola administrativa, bastante

congruente ao que se pretende enfatizar no presente trabalho sendo portanto a linha de

raciocínio aqui adotada: a gestão pública sustentável. Segundo os autores, este “tipo” de

gestão deve buscar bons resultados operacionais priorizando a transparência, a honestidade e a

competência. Essa é uma escola administrativa mais ética e responsável para com o meio

ambiente, para com a sociedade e as relações econômicas, “baseia-se fundamentalmente em

adotar e executar ações que podem ser gerenciais ou operacionais, mas todas com uma visão

duradoura e integrada” (Schenini et al, 2006, p. 59).

A gestão pública sustentável tem como pressuposto básico utilização de instrumentos e mecanismos das tecnologias limpas que permitam otimizar suas operações fabris e de serviços, suas atividades gerenciais e também suas funções de monitoramento e fiscalização. É o papel do Estado como gestor do meio ambiente e da sustentabilidade. (SCHENINI e LOCH, 2006, p. 87)

49

Conforme exposto, a gestão pública sustentável se utiliza de tecnologias limpas, essas

são definidas por Schenini (1999) e dizem respeito a qualquer medida técnica realizada para

reduzir ou eliminar já na fonte, a produção de qualquer tipo de incômodo, de poluição ou de

resíduo e que proporcione economia de matérias primas, de recursos naturais e de energia.

Estas medidas técnicas podem ser encontradas na fabricação de produtos ou na prestação de

serviços (ações e procedimentos). Schenini et al (2006, p. 62-63) enumeram algumas das

quais pode fazer uso a gestão pública sustentável:

� Agenda 21 Local;

� Ética e responsabilidade social;

� Informações geo-espaciais;

� Contabilidade e finanças públicas ambientais21;

� Comunicações ecológicas – cartilhas, mapas ecológicos, campanhas;

� SGA – Sistema de Gestão Ambiental;

� Tributação como elemento restritivo à poluição;

� Auditoria ambiental;

� Projetos ecológicos de recuperação ambiental;

� Plano de proteção à flora, fauna e recursos naturais;

� Parcerias e alianças estratégicas para viabilização de projetos ecológicos;

� Plano diretor ecológico – planejamento territorial urbano;

� Zoneamento ecológico do município;

� Educação ambiental; e

� Estatuto da cidade.

Os autores, Schenini et al (2006, p. 69), concluem que os desafios da gestão pública

sustentável “devem ser compreendidos sob a visão sistêmica e numa perspectiva holística,

conduzindo as análises, as ações e as avaliações de modo a englobar todos os agentes

constitutivos do contexto; segmentos, atores e instrumentos que participam do esforço de

desenvolvimento”.

21 Chama-se atenção que esse instrumento também é apresentado por Diegues (2001) quando o autor coloca a análise econômica dos recursos naturais. Nesta analise/avaliação é contabilizado em valores monetários os benefícios advindos do meio natural (e que são obtidos “de graça”) ou os prejuízos, também monetários, derivados da perda do ambiente natural. Por exemplo, quanto se obtém com a caça de caranguejos no mangue e quanto se deixará de obter caso este seja destruído.

50

O educador José Quintas (2009), traz outro conceito baseado na relação da gestão

pública com o meio ambiente, o de gestão ambiental pública. Ele a conceitua como,

o processo de mediação de interesses e conflitos (potenciais ou explícitos) entre atores sociais que agem sobre os meios físico-natural e construído, objetivando garantir o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, conforme determina a Constituição Federal. Este processo de mediação define e redefine, continuamente, o modo como os diferentes atores sociais, através de suas práticas, alteram a qualidade do meio ambiente e também, os custos e benefícios decorrentes da ação destes agentes. (QUINTAS, 2009, p.5)

Segundo o autor, “as relações (dos seres humanos entre si e com o meio físico-natural)

ocorrem nas diferentes esferas da vida societária (econômica, política, religiosa, jurídica,

afetiva, étnica etc.) e assumem características específicas decorrentes dos contextos sociais e

históricos onde acontecem” (QUINTAS, 2009, p.5). Para viver essas diversas relações os

atores fazem uso múltiplo dos recursos ambientais, com diversificadas práticas de

apropriação. É sobre esses usos e práticas que a administração pública deve atuar,

controlando-os e racionalizando, sendo mediadora dos conflitos e impondo o que é mais

benéfico para o coletivo em detrimento do particular.

Assim tem-se que o poder público tem nas mãos o dever e o poder de gerir os

interesses entre o uso social dos ambientes naturais, fazendo com que as ações da sociedade

não prejudiquem o equilíbrio do meio ambiente, em um processo de análise contínuo.

Expostos planejamento e gestão, fica compreendido o quão tais termos se

complementam: um analisa e traça as ações em prol de mudanças positivas, o outro observa o

andamento dessas e preserva sua meta final, mesmo que fazendo as alterações necessárias

para isto. Um par harmônico de ações que devem estar presentes na administração

governamental.

51

2.2.1 Planejando a paisagem

Pensar em paisagem geralmente remete a uma imagem bela. É difícil escutar essa

palavra e primeiramente pensar em algo não agradável aos olhos; vem logo à mente uma cena

de campo, montanha, praia, tudo bastante preservado, com vegetação, sem poluição, lixo ou

qualquer imagem pejorativa. Para que a imagem almejada seja de fato encontrada, seja real e

não apenas imaginária, é preciso um bom planejamento da área, o qual vise preservar e exaltar

os pontos fortes (e belos) e resolver problemas existentes.

O planejamento da paisagem é entendido como um planejamento e ordenamento

territorial e urbano22, que no Brasil até hoje consiste basicamente em organizar o traçado

urbanístico e equilibrar uso do solo à densidade populacional. O instrumento utilizado para

atingir esse ordenamento é basicamente o zoneamento de uso e ocupação do solo, somado a

parâmetros urbanísticos (SOUZA, 2008) como:

� Gabarito: número de pavimentos ou de metros da edificação, altura máxima permitida

para as edificações de acordo com as zonas. O gabarito pode variar de acordo com a

necessidade de circulação do vento, harmonia paisagística, proximidade de aeroportos,

etc.

� Afastamentos: distanciamento entre edificações, entre cada edificação e seu lote, e

entre esta e o logradouro.

� Área construída: área total da edificação, somando-se todos os pavimentos.

� Taxa de ocupação: relação entre área construída e a área total do lote.

� Índice de permeabilidade: relação entre a parte do terreno que permite infiltração da

água e a área total do mesmo. Este é um importante índice ambiental, pois a

demasiada impermeabilização de terrenos de uma cidade contribua para a formação de

ilhas de calor.

� Índice de área verde: relação entre a parcela do terreno coberta por vegetação e a área

total do mesmo. Outro importante índice ambiental visto que quanto mais áreas verdes

dentro de uma cidade, maior será a filtração do ar poluído, a ventilação e maior

conforto térmico.

22 Além das ferramentas para o ordenamento do urbano serem as mais utilizadas no planejamento de qualquer paisagem, seja urbana ou não, cabe aqui esclarecer que as três praias estudadas nesse trabalho são consideradas área urbana perante a administração municipal.

52

O zoneamento de uso e ocupação do solo consiste em mapear zonas de ocupação de

determinada cidade resultando em um plano de ocupação que recomendará e restringirá o uso

do solo em termos de área para uso intensivo, extensivo, de preservação e de uso múltiplo

(DIEGUES, 2001). No caso de localidades costeiras Diegues (2001, p. 123-124) exemplifica

esses usos:

� Áreas de preservação: áreas em que não se permite atividade econômica produtiva,

reservando-as para pesquisa científica, reserva biológica, etc.;

� Áreas de conservação: áreas em que se permitem atividades econômicas produtivas,

mas controlada, de forma a manter a sustentabilidade dos processos ecológicos;

� Uso econômico intensivo: áreas de atividades portuárias, de pesca, industrial;

� Uso econômico extensivo: áreas de lazer;

� Áreas de uso múltiplo: residencial, comercial, industrial, etc., áreas que congregam

várias funções, nas quais devem ser avaliados seus conflitos e possibilidades.

Segundo Souza (2008), para chegar às conclusões o zoneamento necessita de uma

análise criteriosa de potencialidades, de sensibilidade, de estimativa de risco, de impactos e de

conflitos do uso do solo da área em questão. A análise de potencialidades consiste em um

estudo que indique qual o potencial econômico da área (ex: turístico, industrial, agrícola, etc.);

a análise de sensibilidade demonstra as vulnerabilidades do meio ambiente (sócio e natural); a

estimativa de risco levanta as possibilidades de risco (econômico, ambiental, social, etc); a

estimativa de impacto por sua vez, une os três itens anteriores em um mapa demonstrativo de

impactos; e a análise de conflitos de uso do solo estuda as localizações e usos do solo

avaliando suas incompatibilidades (por exemplo, uso residencial e uso industrial).

Todas essas análises resultarão em mapas específicos que nortearão os diversos tipos

zoneamento, de acordo com a necessidade de cada local. Os mapas poderão zonear: uso e

ocupação do solo, vegetação, áreas de interesses prioritários (social), densidade de ocupação.

Pode-se ainda sobrepor estes mapas/zoneamentos para obter um planejamento urbano final

que congregue aspectos sociais, ambientais e econômicos, visando melhor equipar a cidade e

proporcionar melhor qualidade de vida.

53

Figura 1: Zoneameno por uso do solo. Fonte: Souza, 2008.

Figura 2: Zoneamento por densidade. Fonte: Souza, 2008.

Figura 3: Zoneamento de prioridades. Fonte: Souza, 2008.

Para reforçar a importância da prática do zoneamento, é cabível citar que ele é base

para o gerenciamento geoambiental apresentado por Diegues (2001, p. 75):

O gerenciamento geoambiental visa compatibilizar usos múltiplos no sentido de harmonizá-los com as vocações naturais dos ecossistemas. (...) O zoneamento geoambiental, para ser efetivo, deverá integrar-se dentro de um processo mais amplo de zoneamento ecológico-econômico.

Esta leitura do zoneamento, sob um enfoque ambiental, condiz com aquela já descrita,

a partir de um ponto de vista mais urbano, ou seja, a função do zoneamento é promover um

melhor equilíbrio dos ecossistemas e da relação sociedade-natureza.

Apesar de o zoneamento ser o principal passo no planejamento da paisagem, outros

mecanismos merecem ser citados. A revitalização de prédios históricos é um exemplo, evita-

se com ela a perda da própria história local; a valorização da cultura mediante a arquitetura

construída nos prédios e espaços públicos enriquece o local e fortalece a identidade de seu

povo. A criação de áreas de lazer que possibilite as trocas sociais e a melhoria da circulação

do ar nas cidades; e a implantação de áreas verdes, tanto para melhorar a qualidade do ar

como para tornar o local mais apreciável; são mecanismos dentre tantos possíveis.

Dentro do planejamento territorial corre atualmente uma vertente que deriva da

arquitetura da paisagem somada à questão ecológica, o desenho ambiental, que vai ao

encontro dos propósitos do planejamento citado anteriormente e que é importante destacar

aqui. O desenho ambiental é um instrumento de elaboração de cenários partindo de princípios

de conservação ambiental e objetivando a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento

sustentável. (FRANCO, 1997)

54

A autora Mª de Assunção Franco aponta que os cenários projetados devem atender às

seguintes premissas:

� “Conservação ambiental mantendo a integridade dos ecossistemas, o que inclui

evidentemente a manutenção da biodiversidade;

� A melhora da qualidade de vida tendo em vista a valorização do homem e de sua auto-

expressão, num processo contínuo de educação ambiental e de justiça social;

� Equilíbrio e harmonização entre as características dos ecossistemas e as necessidades e

aspirações antrópicas traduzidos por um desenvolvimento auto-sustentado.”

(FRANCO, 1997, p. 133)

Esta mesma autora cita ainda os fatores determinantes na criação de cenários tendo por

base a conservação ambiental, seriam eles: o clima (situação geográfica, latitude, longitude,

altitude); a topografia, os sistemas de bacias; as características geológicas e pedológicas; e

características e organização de flora e fauna, bem como as características e estágio do

processo evolutivo do ecossistema como um todo. No que tange a qualidade de vida, os

fatores determinantes são: a organização sócio-política; a organização econômica; e as

invenções – novas tecnologias (de extração e reciclagem dos recursos naturais, de urbanização

e comunicação).

Além dos determinantes, Franco (1997), tomando por ponto de partida o planejamento

ambiental, enumera alguns critérios para a criação de cenários em desenho ambiental:

� Critério da não-ação: ou seja, manter as práticas de manejo que estão referidas nas leis

federais, estaduais ou municipais como o Código Florestal, Lei de Proteção de

Mananciais, etc. nas áreas públicas e privadas23;

� Critério de proteção: em favor da terra e seus recursos, atua na conservação de áreas

silvestres e preservação de plantas do ecossistema, da vida selvagem, cultura e

recursos paisagísticos e históricos;

� Critério de equilíbrio: considera as demandas de desenvolvimento através do manejo

de recursos sob o principio do uso múltiplo, desenvolvimento sustentável e qualidade

ambiental;

23 Franco (1997) não fala em não-ação na esfera privada, porém a presente autora acredita ser pertinente que exista essa fiscalização que atue em prol de uma comunidade maior sendo para isso, quando preciso, impor a não-ação aos proprietários particulares que possuam terrenos dentro de áreas protegidas por lei.

55

� Critério do uso favorável: visa essencialmente à produção, incluindo o uso

recreacional e a exploração mineral.

Todos esses critérios juntos previnem o desgaste ambiental e fortalecem o uso

sustentável. Seria possível incluir aos critérios de Franco (1997) o “critério da precaução”,

onde as atitudes do homem fossem pensadas e realizadas com prudência e em favor do bem

comum, dando extrema atenção às conseqüências que podem surgir de cada ato.

Priorizando a harmonia entre a cultura, a sociedade, a economia e a natureza do local,

prezando pelo equilíbrio entre o que se extrai da natureza e seu poder de regeneração,

o Desenho Ambiental precisa integrar os recursos naturais, arquitetônicos e culturais da cidade no sentido de: produção de alimento e energia; reciclagem dos materiais e do lixo; moderador climático; conservação dos recursos hídricos; valorização das plantas e dos animais; e condições de amenidade e recreação. (FRANCO, 1997, p. 213)

Todas as ferramentas e posturas discutidas aqui – o zoneamento, a gestão

geoambiental, o desenho ambiental, os critérios e premissas na construção de cenários – são

válidos e valiosos para o planejamento da paisagem. O importante é prezar por um

planejamento e ordenamento prévio, que possibilite a não degradação do ambiente. Caso esse

não ocorra deve-se haver uma reavaliação da situação e um planejamento a partir do que já se

tem, visando então a melhoria na qualidade paisagística e ambiental dentro das possibilidades

existentes.

A respeito do planejamento de ambientes e paisagens litorâneas, foco deste trabalho,

pode-se dizer que até hoje esse é um mecanismo pouco utilizado. As zonas costeiras, apesar

de seu grande potencial físico e econômico, permanecem sem a atenção devida às suas

particularidades ambientais e paisagísticas. Ao longo da história as regiões litorâneas foram

sendo ocupadas e devastadas sem o menor cuidado com seus recursos: matas nativas

derrubadas, construção sobre dunas, mangues aterrados ou transformados em criadouros de

peixe e camarão, etc.

As zonas costeiras, que abrigam cerca de 80% da população mundial, permanecem em

contínua degradação, vendo seus múltiplos ecossistemas (mangues, recifes de coral, matas

ciliares, florestas nativas) serem dizimados para a ocupação e “desenvolvimento” humano.

Contraditoriamente, tal crescimento resulta em perda irreversível de vários habitats e recursos

naturais, assim como no empobrecimento de comunidades extrativistas, sem falar na perda de

56

identidade daqueles que fazem da natureza sua fonte de vida e com ela convivem em perfeita

harmonia (DIEGUES, 2001).

Para permitir sustentabilidade às atividades realizadas nas zonas litorâneas é

necessário que seus ecossistemas sejam preservados com fins de possibilitar a continuidade na

economia da pesca, do turismo, da agricultura. Um planejamento costeiro deve assim como

qualquer outro buscar respostas na sua própria comunidade, envolvendo todos os entes que a

constroem, sejam pescadores, agricultores, extrativistas, comerciantes, empresários,

habitantes, turistas, etc.

Com recursos naturais tão belos e abrigando ecossistemas de imensa importância ao

equilíbrio ambiental do planeta, os litorais precisam ser alvo de uma política de conservação e

preservação mais ativa, mais consciente, que proporcione a segurança desses recursos. Uma

vez que os ambientes costeiros entrem em total degeneração, todo o planeta sofrerá

consequencias ambientais. Ambientais, mais uma vez lembrando, não se referindo apenas à

natureza, mas a uma série de consequencias sociais, econômicas e culturais.

2.2.2 Planejando o turismo

Após a Segunda Guerra Mundial, com o rápido desenvolvimento da atividade turística em áreas como o Mediterrâneo, Caribe, dentre outras, o turismo expandiu-se de forma massificada, sem planejamento, causando um alto custo social e ambiental para as localidades envolvidas. (QUEIROZ, 2005, p. 175)

Segundo Edward Inskeep (1991, p.17), os primeiros planejamentos turísticos foram

feitos para a região da Ásia-Pacífico nas décadas 1960 e 1970, como exemplo a Malásia,

Taiwan e Bali; e um ano antes, em 1959 para o Hawai. Na região do Atlântico, cabe

mencionar os planejamentos para as ilhas do Caribe. Já na Europa destacaram-se nessa época

os projetos para a Iugoslávia e para algumas regiões da França.

Hall (2001) fez um estudo sobre a evolução dos métodos de planejamento turístico que

ao longo dos anos foram sendo modificados para atender as necessidades tangentes. Os

enfoques de planejamento turístico apresentado por Hall (2001) foram fornecidos por Getz

(1987), que identificou quatro procedimentos nessa área: o fomento, uma abordagem

econômica voltada para indústria, uma abordagem físico-espacial e uma abordagem voltada

57

para a comunidade. Para o autor desses procedimentos, eles podem ser executados em

conjunto e não necessariamente separados ou seqüenciais.

Pela abordagem do fomento, usado no desenvolvimento e planejamento turístico desde

o início do turismo de massa24, pouca atenção se dá aos impactos negativos ocasionados pela

atividade. Por esta abordagem o turismo é visto unicamente pelo seu lado positivo, com ele

seu anfitrião conhecerá vantagens automáticas. O fomento interpreta que recursos naturais e

culturais são objetos a serem explorados. De acordo com sua visão os residentes do destino

turístico não devem se envolver na tomada de decisão dentro do processo de planejamento da

atividade.

O fomento também não respeita conceitos de capacidade de carga, implicando em

saturação social e ecológica, apresentando um posicionamento totalmente quantitativo. Ou

seja, o fomento é totalmente contrário aos conceitos citados anteriormente de

desenvolvimento e de turismo sustentáveis. Mesmo não atendendo às necessidades atuais de

conservação e sustentabilidade sócio-ambiental o fomento é, ainda hoje, a forma mais comum

de se promover o turismo em boa parte do Brasil.

Pela tradição econômica, que entende o turismo como indústria, a atividade classifica-

se como indústria de exportação que contribui para o equilíbrio nacional e regional nas

relações de troca, na balança de pagamento e/ou em níveis de câmbio exterior. Sob esta ótica

o governo pode utilizar-se do turismo como mecanismo para a reestruturação e crescimento

econômico, para a geração de empregos e desenvolvimento regional. O marketing é uma das

principais características dessa abordagem, é o meio no qual o governo investe muito para

captar turistas.

A abordagem físico-espacial originou-se no trabalho dos geógrafos, profissionais

planejadores do uso do solo e conservacionistas, pois defendem uma vertente racional para o

planejamento de recursos naturais. O planejamento do uso do solo é considerado uma das

formas mais antigas de proteção ambiental. Para Hall (2001, p.48-49) o planejamento físico se

refere ao “planejamento com um componente espacial ou geográfico no qual o objetivo geral

é preparar uma estrutura espacial de atividades (ou uso do solo) que, de alguma forma, é

melhor que o padrão existente sem planejamento”. Esse tipo de planejamento visa minimizar

os impactos negativos do turismo dando atenção a questões de saturação física, social e

ambiental, e a limites ou índices aceitáveis/desejáveis de mudança.

24 Segundo Queiroz (2005) o turismo de massa é reconhecido por volta do ano de 1950.

58

O planejamento físico-espacial trabalha ainda com a estratégia de limitar o número de

visitantes por área/hora, como exemplos têm-se a Ilha de Fernando de Noronha e vários

destinos do ecoturismo, como os atrativos turísticos de Bonito - Mato Grosso do Sul

(cavernas, trilhas, cachoeiras, rios, etc). Na evolução do planejamento de uso do solo, este

começa a integrar-se a uma abordagem ecológica na busca do desenvolvimento sustentável,

sendo descrito como um planejamento ambiental. Segundo Evans (1997, p. 5) o planejamento

ambiental “é concebido como uma abordagem integrada e holística ao ambiente que

transcende os limites departamentais e profissionais tradicionais, e visa a assegurar a meta de

longo prazo de sustentabilidade ambiental”.

A última abordagem aponta para um planejamento turístico voltado para a

comunidade e implica na inclusão dos residentes locais em todo o processo, desde a tomada

de decisões à avaliação dos retornos provenientes da implantação do turismo. O princípio

base dessa forma de planejar é a melhora do padrão de vida da sociedade receptora. Uma vez

que a comunidade local aceita a inserção do turismo, torna-se bem mais fácil expandir o setor.

Fazendo uma ponte, acha-se outra denominação para esse tipo de planejamento, pois

Molina e Rodríguez (2001) o chamam de participativo; somente uma mudança de termos,

pois a lógica e o enfoque são os mesmo. Tais autores adicionam uma reflexão,

fica evidente que para executar o planejamento participativo é imprescindível que exista vontade política para descentralizar o poder. Portanto, é necessário que sejam formulados mecanismos de consulta permanente, desde que sejam identificados organismos ou organizações representativos que se encarreguem de garantir que as decisões últimas do processo de planejamento participativo sejam postas em prática. (MOLINA E RODRÍGUEZ, 2001, p.124)

Na teoria, dois Programas Federais de desenvolvimento turístico propunham esse

método, o Plano Nacional de Municipalização do Turismo – PNMT (1994) e o Programa de

Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil (2004). Esses programas visavam dar

autonomia aos municípios e regiões, respectivamente, de forma a proporcionar um melhor

desenvolvimento regional, pois cada município/região saberia adotar as ações mais viáveis

para seu progresso. Mas é perceptível que o direcionamento para a

municipalização/regionalização e, mais que isso, para a participação da comunidade

efetivamente nas decisões, tem sido pouco consolidado desde sua proposta em 1994.

59

A partir do conhecimento das abordagens de planejamento, é cabível enfatizar que o

turismo sustentável, na verdade, é a junção das três últimas mencionadas. A atividade turística

na sua complexidade demanda planejamento integrado, ou seja, onde os componentes do setor

estejam devidamente sincronizados a fim de atingir metas e diretrizes a um mesmo tempo, o

que dará ao processo o dinamismo necessário a uma boa produtividade e sua sustentabilidade.

(BENI, 1997)

O processo de planejamento integrado necessita de uma parceria eficiente entre

governo, comunidade e iniciativa privada. A gestão participativa tem por propósito envolver,

integrar, a comunidade e o empresariado nas decisões políticas frente às ações que o

município assumirá para seu desenvolvimento. Agindo assim o governo compartilha a

responsabilidade das escolhas e proporciona melhor aceitação de suas ações perante os outros

atores envolvidos nas atividades. (BENI, 1997)

E como se faz o planejamento turístico? O planejamento da atividade é o traçar das

metas que se deseja alcançar com a implementação do turismo e os meios para concretizá-las,

sempre buscando a sustentabilidade do meio e da atividade.

O planejamento turístico ocorre de várias maneiras (desenvolvimento, infra-estrutura, uso do solo e de recursos, organização, recursos humanos, divulgação e marketing); estruturas (outro governo, organizações quase governamentais e não-governamentais); escalas (internacionais, transnacionais, nacionais, regionais, locais e setoriais) e em diferentes escalas de tempo (para desenvolvimento, implementação, avaliação e realização satisfatória dos objetivos do planejamento). (HALL, 2001, p.30-31)

Pela complexidade intrínseca à atividade é preciso um planejamento criterioso de uma

equipe multidisciplinar. Como o turismo envolve o cotidiano das pessoas, o espaço físico, a

economia e a cultura local, é necessário que vários pesquisadores estejam engajados nesse

projeto: bacharéis em turismo, biólogos, geógrafos, sociólogos, economistas, administradores

e representantes da comunidade local e do poder público. Um estudo geral sobre

comportamento econômico, social e ecológico é necessário a este planejamento.

Cabe fazer certos questionamentos: como cada ecossistema e cada sociedade se

comportará com a presença do turismo, do número de pessoas e de edificações que virão com

esta atividade? Os ecossistemas suportarão? A sociedade se beneficiará? É muito importante

que existam estudos que comprovem que o turismo não trará malefícios ou que seu não-êxito

produzirá efeitos drásticos a economia, a sociedade e o meio natural de onde vier a se instalar.

60

O mais comum no Brasil, principalmente em pequenas cidades litorâneas, é que se

promova o turismo sem o mínimo planejamento, seja espacial ou econômico. Visando o lucro

sem pensar nas conseqüências, ou ao menos, saber se o mesmo virá, os governos insistem em

promover o turismo como alicerce de sua economia. Muitas vezes os prejuízos financeiros e

ambientais tornam-se irrecuperáveis.

As áreas costeiras estão sujeitas às pressões urbano-industriais sem precedentes na historia. Em muitas regiões os mangues foram aterrados para a criação de infraestrutura urbana e turística. Alem disso, elas são administradas por instituições variadas com pouca coordenação e, como resultado, ecossistemas costeiros essenciais estão sendo destruídos, antes que um planejamento adequado seja formulado e implementado. (DIEGUES, 1989, p. 40)

Como já mencionado, as cidades precisam de um planejamento espacial (urbano), o

mesmo é apenas um dos primeiros passos ao implantar o turismo. O planejamento turístico

engloba planejamento espacial, econômico, político e sócio-cultural.

Na parte que cabe ao planejamento físico, além do já exposto quanto ao urbano, é

necessário estudo de capacidade de carga25 que possibilite quantificar o número apropriado de

pessoas que cada ecossistema suporta. Por exemplo, quantos turistas por dia ou hora um recife

de corais ou uma caverna suportam receber; ou quantas pessoas/embarcações podem trafegar

por um mangue sem alterar este meio. É imprescindível que o turismo procure sempre não

promover o esgotamento prematuro de recursos não-renováveis e não explorar

irracionalmente os renováveis.

Quanto à sociedade, tanto é importante saber se ela aceita esse fluxo turístico como

também se o mesmo não vai interferir na cultura local. É perceptível que em muitos casos a

comunidade local altera sua cultura devido a presença de turistas, algumas vezes por sentir

vergonha da sua cultura, outras por achar que a “do outro” é melhor. Assim muitos lugares

tornaram-se aculturados, passaram a exibir uma cultura de massa, totalmente artificial.

Outro problema é a perda da identidade local, uma vez que não se fortalecem os

costumes, as crenças, a cultura local, e o número de outras culturas ali circulantes é crescente,

as pessoas já não sabem a que identidade se apegar, o que é próprio do seu lugar ou o que é

forasteiro.

25 Segundo a Organização Mundial do Turismo – OMT (2001), a capacidade de carga refere-se ao grau máximo de uso que se pode fazer de um atrativo turístico sem causar efeitos negativos sobre seus recursos biológicos, sem reduzir a satisfação dos visitantes ou sem que sejam produzidos efeitos negativos sobre a comunidade receptora, a economia e a cultura local.

61

Ações políticas que promovam o turismo precisam ser conscientes, ou seja, com base

em estudos feitos na localidade e com profissionais qualificados para gerir a atividade.

Presença política para impor restrições quando o turismo ou seus produtores faltem com

respeito às leis ambientais ou quando pratiquem segregação social. E ainda, atuação política

de promoção da localidade, o marketing institucional que atraia turistas para seu

país/estado/município.

Economicamente é preciso ter cuidado para que o turismo não se sobreponha

erroneamente sobre outras fontes da economia local. Por exemplo, pescadores artesanais que

sempre viveram e se sustentaram desse trabalho o abandonem para trabalhar no turismo e

neste sejam explorados, sem direitos trabalhistas, com baixos salários, etc.

Por fim, a estrutura própria do turismo como hotéis, pousadas, bares e restaurantes,

equipamentos de lazer e recreação, precisam por sua vez ser edificados em locais apropriados

(definidos no zoneamento); empregar profissionais capacitados para a recepção dos turistas;

cumprir com sua responsabilidade ambiental e social.

Baseado em ações planejadas e em uma gestão coerente com as necessidades sociais e

a preservação ambiental, o turismo pode ser realmente uma atividade sustentável, que traz

desenvolvimento sem causar danos, perdas. Talvez a sociedade atual, como um todo, ainda

não esteja preparada para viver esse turismo, pois não só o poder público e o empresariado

vinculado ao turismo são responsáveis pelo seu êxito, turistas e a comunidade local têm o

mesmo poder de degradar e sobrecarregar o meio ambiente tornando-o incompatível à

atividade. A sociedade tem também responsabilidades para com o meio, dentro delas

inclusive, o dever de cobrar do setor público e do privado a preservação de um direito: um

ambiente saudável para se viver.

62

3 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA

Conforme já exposto, a área de estudo corresponde a três praias do litoral sul

paraibano: Jacumã, Carapibus e Tabatinga. As praias são destaque nos destinos turísticos do

Estado, principalmente as duas últimas, visto que a primeira já não possui tantos atrativos

devido a seu alto nível de degradação. Localizam-se no Município do Conde, este pertencente

à Região da Grande João Pessoa26.

3.1 Aspectos históricos e geográficos

3.1.1 Aspectos históricos

A ocupação do Conde a princípio deu-se pelos indígenas e depois por seus

descendentes, época onde a terra era utilizada para produção de alimentos em pequenas

unidades produtivas. O território do atual Município do Conde foi ocupado pela Aldeia

Jacoca, de índios Tabajaras, que por volta de 1589 era administrada pelos missionários

franciscanos (Plano Diretor do Conde, 2001).

No período colonial, os franceses ali chegaram para comerciar pau-brasil, fazendo de

Jacumã um dos portos naturais mais movimentados do Brasil durante o século XVI. Nesse

período, o município do Conde tinha sua população formada por índios, povo este que foi, ao

longo dos anos, desaparecendo, devido ao processo de mestiçagem27.

Mais recentemente, com a emancipação do município, desmembrado da capital

paraibana em 18 de novembro de 1963, as atividades e usos da terra mudaram bastante. Na

década de 60 surgiram os primeiros loteamentos residenciais, destinados principalmente à

atividade turística. Nos anos 70, o Programa Nacional do Álcool (Pró-Álcool) fez com que a

monocultura canavieira ocupasse grande parte do território do município, mas não chegou a

estar presente nesta área das praias, concentrando-se mais para o interior do município.

26 Que inclui os Municípios circunvizinhos à capital paraibana, além da mesma: João Pessoa, Bayeux, Santa Rita, Lucena, Cabedelo, Conde. 27 As informações contidas neste histórico podem ser estudadas em CAVALCANTI, Maria Helena et al. Uma História do Conde. João Pessoa: Ed Universitária/ UFPB, 1996.

63

Até 1970 a Praia de Jacumã era ocupada, prioritariamente, por pescadores cuja

atividade de subsistência fazia-se artesanal, como parte da cultura da região, e as demais

praias eram praticamente desocupadas. Mas a partir dessa década pode-se observar um

movimento de especuladores imobiliários no intuito de formar ali uma área de veraneio. Esse

processo de especulação se acelerou na década seguinte, anos de 1980, com o asfaltamento da

Rodovia PB-18 que liga a capital do Estado ao litoral sul e pela política de incentivo ao

desenvolvimento da atividade turística, fomentada pela Prefeitura Municipal do Conde e pelo

Governo do Estado da Paraíba.

A ocupação pela atividade turística de segundas residências começou lenta no início

da década de 1980, mas tornou-se massiva na última década do século XX, quando são

instaladas as inúmeras casas de veraneio na Praia de Jacumã e praias vizinhas. A partir deste

momento Jacumã passou a ter um processo de ocupação muito mais intenso em relação às

demais praias do litoral sul paraibano, inclusive em relação à Carapibus e Tabatinga.

Ocupação essa decorrente de um grande fluxo de veranistas e visitantes advindos

principalmente das cidades de Campina Grande, Recife e João Pessoa.

A ocupação da área, bem como a expansão urbana, foi tomando forma com a presença

dos turistas de segunda residência que estão intrinsecamente vinculados a criação do atual

espaço urbano das praias estudadas. Foram as segundas residências que marcaram o início da

urbanização local (começando por Jacumã), bem como a construção de empreendimentos e

implantação de infra-estrutura, que deram forma urbana à localidade. Como conseqüência

dessa apropriação do espaço da Praia de Jacumã e adjacências pelo turismo surgiram os

impactos que hoje são perceptíveis na área (social, ecológico, econômico, cultural e espacial),

os quais interferem negativamente na paisagem local.

Em 1968, foi criado o primeiro loteamento de Jacumã, o Cidade Balneário Novo

Mundo, representando o início da especulação imobiliária daquela área e a retirada da vila

caiçara situada próximo ao mar. Localizado bem no centro da praia, este loteamento hoje está

totalmente ocupado. Chama atenção o fato desse loteamento já ter no mínimo 50% de

moradores fixos, em vários casos aqueles que optaram por morar em Jacumã e trabalhar em

João Pessoa, ou aposentados que escolheram a praia para residir.

O loteamento vizinho ao sul, o Cidade Balneária Novo Mundo II, criado em 1970,

também já se encontra totalmente ocupado na sua porção localizada em Jacumã e em processo

de ocupação avançada na porção localizada em Carapibus. Na porção pertencente a Praia de

Carapibus, a maioria das casas são de segunda residências, sendo improvável encontrar

residentes fixos. Vale mencionar ainda que a Praia de Carapibus fica bastante “deserta” nos

períodos de baixa temporada, no sentido de que a maior pa

pousadas permanecem fechadas.

O loteamento Cidade Balneário II também compreende dentro de seus limites a praia

de Tabatinga, encontrando-

encontra-se em franca expansão, porém bem mais organizado do que nas praias vizinhas.

Cabe ressaltar que a porção do loteamento próxima a divisa com Carapibus é visivelmente

mais ocupada do que àquela próxima a divisa com Coqueirinho, onde Tabatinga possui

número mínimo de casas.

3.1.2 Aspectos geográficos

Para se ter uma visão geral da área de estudo com relação ao meio natural e social,

traz-se aqui uma breve descrição abordando: localização geográfica, vegetação, relevo,

hidrografia, clima e dados populacionais.

A área das três

7°16’45.12’’ e 7°19’42’’ de latitude Sul e 34°48’27.52’’ e 34°47’51.33’’ de longitude Oeste;

faz fronteira com a Praia de Barra de Gramame ao norte, com a Praia de Coqueirinho ao sul,

com o distrito do Guruji a oeste e com o Oceano Atlântico a leste. A área total de estudo

corresponde aproximadamente

Figura 4: Mapa de localização da área. Fonte: Siqueira, 2005.

períodos de baixa temporada, no sentido de que a maior parte de suas casas e pequenas

pousadas permanecem fechadas.

O loteamento Cidade Balneário II também compreende dentro de seus limites a praia

-se, porém em outro nível de crescimento. Nesta praia o loteamento

xpansão, porém bem mais organizado do que nas praias vizinhas.

Cabe ressaltar que a porção do loteamento próxima a divisa com Carapibus é visivelmente

mais ocupada do que àquela próxima a divisa com Coqueirinho, onde Tabatinga possui

Aspectos geográficos

Para se ter uma visão geral da área de estudo com relação ao meio natural e social,

se aqui uma breve descrição abordando: localização geográfica, vegetação, relevo,

hidrografia, clima e dados populacionais.

A área das três praias que está localizada entre as coordenadas geográficas

7°16’45.12’’ e 7°19’42’’ de latitude Sul e 34°48’27.52’’ e 34°47’51.33’’ de longitude Oeste;

faz fronteira com a Praia de Barra de Gramame ao norte, com a Praia de Coqueirinho ao sul,

to do Guruji a oeste e com o Oceano Atlântico a leste. A área total de estudo

rresponde aproximadamente a 4,5 km².

ocalização da área. Fonte: Siqueira, 2005.

64

rte de suas casas e pequenas

O loteamento Cidade Balneário II também compreende dentro de seus limites a praia

se, porém em outro nível de crescimento. Nesta praia o loteamento

xpansão, porém bem mais organizado do que nas praias vizinhas.

Cabe ressaltar que a porção do loteamento próxima a divisa com Carapibus é visivelmente

mais ocupada do que àquela próxima a divisa com Coqueirinho, onde Tabatinga possui

Para se ter uma visão geral da área de estudo com relação ao meio natural e social,

se aqui uma breve descrição abordando: localização geográfica, vegetação, relevo,

praias que está localizada entre as coordenadas geográficas

7°16’45.12’’ e 7°19’42’’ de latitude Sul e 34°48’27.52’’ e 34°47’51.33’’ de longitude Oeste;

faz fronteira com a Praia de Barra de Gramame ao norte, com a Praia de Coqueirinho ao sul,

to do Guruji a oeste e com o Oceano Atlântico a leste. A área total de estudo

65

O relevo que constitui a região está inserido basicamente em dois domínios

geomorfológicos: Baixos Planaltos Costeiros e Baixada Litorânea, cada um contendo várias

unidades morfológicas. Os Baixos Planaltos Costeiros fazem parte dos Tabuleiros Litorâneos,

que são “unidades geomorfológicas de superfícies aplainadas e suavemente inclinadas para

leste, sendo abruptamente interrompidos pelos entalhes fluviais e pelas falésias marinhas

esculpidas pela abrasão marinha atual e/ou pretérita” (FURRIER, 2007, p. 60-61).

As falésias marinhas são justamente o limite entre os Baixos Planaltos Costeiros e a

planície marinha, possuem alturas variadas28 e estão presentes em praticamente toda área de

estudo, estando ausentes apenas no inicio da Praia de Jacumã e nos arredores das lagunas

costeiras. Em uma pequena porção da Praia de Carapibus essas falésias são ativas - quando a

erosão marinha ainda as atinge, as demais encontram-se em inatividade, uma vez que o

processo erosivo marinho já não as atinge e apresentam vegetação no sopé.

A Baixada Litorânea constitui-se de terrenos relativamente planos de baixas altitudes,

geralmente inferiores a 10 metros, formados por sedimentos depositados no Quaternário.

Segundo Furrier (2007, p. 63), “a baixada litorânea é composta de formas variadas que

resultam da acumulação de sedimentos marinhos, fluviais, e flúvio-marinhos. Suas feições

geomorfológicas são divididas em praias, terraços marinhos, planícies marinhas, planícies

flúvio-marinhas, planícies fluviais e terraços fluviais”.

As praias são zonas perimetrais de um corpo de água composta de material

inconsolidado, em geral arenoso, que se estende desde o nível de baixa-mar até a linha de

vegetação permanente, ou quando há mudanças fisiológicas como zonas de dunas ou falésias

(Suguiu, 1998). Suguiu (1998, p. 749-750) define terraço marinho como: antigo relevo

costeiro, situado acima ou abaixo do nível marinho atual, representado por paleolinhas praiais

(ancient strandlenes). Por vezes pode ocorrer uma seqüência de terraços escalonados que

correspondem a estágios interglaciais e glaciais do hemisfério norte durante o período

Quaternário.

No que tange as planícies marinhas, segundo Guerra e Guerra (1997), elas também

podem ser chamadas de planície costeira, cuja definição de Suguiu (1998, p.607) diz: planície

de baixo gradiente que margeia corpos de água de grandes dimensões, como o mar ou oceano,

representado por faixas de terra recentemente emersas, compostas de sedimentos marinhos e

flúvio-marinhos, em igual idade quaternária.

28 Segundo Silva (2010) estas falésias possuem altura média entre 50 e 60 metros.

66

Planícies flúvio-marinas são áreas inundáveis que se localizam nos baixos cursos dos

rios e que sofrem influência das oscilações das marés; constituem-se de sedimentos areno-

argilosos, ricos em matéria orgânica, que dão suporte aos manguezais. Planícies fluviais são

os terrenos que correm ao lado dos rios, constantemente inundados pela vazão do rio,

possuem grande concentração de matéria orgânica. Já os terraços fluviais são aquelas áreas

onde a vazante e enchente do rio não mais alcançam, ou seja, estão após as planícies fluviais.

Foto 1: Vista geral do relevo Praia de Jacumã. Fonte: Kiyotani, 2010.

Foto 2: Vista geral relevo do Praia de Carapibus. Fonte: Kiyotani, 2010.

67

Foto 3: Vista geral do relevo praia de Tabatinga. Fonte: Kiyotani, 2010.

Vários rios, riachos e córregos abastecem o litoral do Conde, tornando-se fonte de

água e fonte econômica, posto que servem para a agricultura, a pesca e o lazer. Destacam-se

na área o Rio Guruji e os Rios Tabatinga e Bucatu. O Rio Guruji é formado da união dos

riachos Estiva e Pau de Ferro, e sua desembocadura no mar forma o estuário do Guruji. O Rio

Tabatinga forma em sua foz uma laguna costeira de mesmo nome e que, freqüentemente, de

acordo com a maré, é barrada por cordão arenoso impossibilitando o contato do rio com o mar

(divisa da praia de Carapibus com a praia de Tabatinga). O Rio Bucatu também forma laguna

costeira na foz, esta denominada Lagoa Preta.

É preciso citar ainda a Lagoa de Carapibus (popularmente conhecido como Maceió de

Jacumã, foto 4), outra laguna costeira importante na região – divisa entre Jacumã e Carapibus.

Chama-se atenção para estas formações lagunares, pois, junto com o mar, são os principais

focos de atração do turista e principal atrativo dos excursionistas29.

29 Excursionista é um conceito diferente do de turista, pois o primeiro é o indivíduo que visita uma localidade por um dia. Normalmente excursões são feitas em ônibus fretado e, no caso de estudo, procedem em geral de municípios interioranos que distam em média 80 km de Jacumã.

68

Foto 4: Laguna costeira em Jacumã no período de Carnaval. Fonte: Sandra Coutinho, 1999.

Inserida na Zona da Mata paraibana a região possui clima AS’ (quente e úmido),

segundo classificação de Köppen, apresentando verões secos com período de estiagem de 5 a

6 meses e invernos chuvosos. A temperatura média anual varia de 23°C a 26°C, apresentando

mínimas médias mensais de 19°C e máximas médias mensais de 32°C. A umidade relativa do

ar é alta, ficando na casa dos 80% (PDDM, 2001).

A vegetação é bastante variada devido à diversidade morfológica e de solos e às

diversas condições ambientais. É perceptível também que, devido à forte ação antrópica,

todos os tipos vegetais da área encontram-se alterados, alguns de forma irreversível, sendo a

especulação imobiliária e a expansão urbana seus maiores propulsores nas praias em questão

(FURRIER, 2007). De acordo com o Plano Diretor do Conde (2001) encontram-se ali três

tipos de vegetação: vegetação pioneira, vegetação de manguezais e Mata Atlântica (ou mata

úmida).

A vegetação pioneira ocupa estreita faixa ao longo do litoral do Conde, geralmente

está presente próximo às falésias inativas da região, constituindo-se em importante indicador

de estabilidade costeira, já que são sensíveis ao embate das ondas. Está composta por

vegetação herbácea adaptada às condições de elevada salinidade, e as espécies comumente

encontradas são a salsa-de-praia (Ipomoea pescaprae) e o bredo-de-praia (Blutaparon

portulacoides).

69

Foto 5: Vista geral da praia de Tabatinga, com destaque à: Coqueiral (1), vegetação pioneira indicadora de estabilidade costeira (2). Fonte: Kiyotani, 2010.

Na medida em que se adentra ao continente, a vegetação passa a ser mais arbustiva de

densidade variável, devido ao menor teor de salinidade e aos solos mais enriquecidos de

matéria orgânica. As espécies mais presentes são o pinheirinho-da-praia (Mariscus maritimus)

e o capim gengibre (Cymbopogon martinii). Verificam-se também árvores frutíferas como o

cajueiro (Anacardium occidentale) e a mangabeira (Harconia speciosa).

Foto 6: Vegetação arbustiva na área de praia em Tabatinga. Fonte: Kiyotani, 2010.

Foto 7: Vegetação de maior porte com destaque à mangabeira (Harconia speciosa), na região de Tabatinga. Fonte: Kiyotani, 2010.

2

1

70

Os manguezais possuem vegetação perenifólia que se estabelecem em ambiente

fluviomarinho, suas raízes respiratórias (pneumatóforos) é uma característica forte e servem

para compensar a deficiência de aeração do solo. As principais espécies encontradas são o

mangue vermelho (Rhizophora mangle), o mangue de botão (Conocarpus erectus) e o

mangue branco (Laguncularia racemosa). Em Jacumã encontra-se uma laguna costeira

denominada Lagoa de Carapibus, alimentada provavelmente pelo Riacho Estivas – divisa com

Carapibus. Em Carapibus há uma laguna costeira formada pelo Rio Tabatinga, conhecida

como maceió de Carapibus – divisa com a praia de Tabatinga. Em Tabatinga encontra-se o

estuário e a laguna costeira formados pelo Rio Bucatu, essa laguna é mais conhecida como

Lagoa Preta.

Foto 8: Vegetação de manguezal em Tabatinga. Fonte: Gutierres, 2010.

Foto 9: Vegetação de manguezal em Carapibus. Fonte: Kiyotani, 2010.

Já a formação de Mata Atlântica que originalmente cobria todo litoral nordestino com

árvores de grande porte e vegetação densa, hoje se encontra em pequenas porções espalhadas

por este litoral.

71

Foto 10: Exemplo de mata de restinga na praia de Tabatinga. Fonte: Kiyotani, 2010.

Alguns dados populacionais são necessários para o entendimento da questão abordada

neste trabalho. Os dados demográficos e os referentes aos domicílios do Município do Conde

cadastrados pelo IGBE, também traduzem essa expansão urbana. No VIII Recenseamento

Geral de 1970 (IBGE, 1970) a população total do Conde era de 4.915 habitantes, em 1980

esse número passa a 6.365; em 1991, são 10.396 habitantes; e em 2000 o total é de 16.413

habitantes. A população vinha crescendo rapidamente, comprovando à procura pelo

município ou o crescimento das famílias ali domiciliadas.

Um novo dado trazido pelo Censo 2010 (IBGE, 2011) alerta para um processo

inverso, o total da população do município caiu para 14.495. Provavelmente essa queda da

população total deu-se por êxodo de residentes fixos, já que a especulação imobiliária

demonstra crescimento da procura por lotes advindos de moradores externos ao Conde.

É interessante também registrar que no censo de 1980 (IBGE, 1982), pela primeira

vez, foram analisados os domicílios particulares e coletivos que se encontravam fechados,

vagos ou que tinham uso ocasional. Este ponto é bastante importante para o turismo de

segundas residências visto que se têm números que as indicam, enquadrando-as

principalmente na categoria “uso ocasional”. Para a presente pesquisa, no censo de 1980, a

categoria “vagos” tornou-se mais representativa, pois relatam sobre propriedades urbanas que

se encontram vagas, ao contrário da categoria “uso ocupacional” que somente achou

72

referencias na área rural. Do total de domicílios particulares, 189 estão em área urbana, onde

30 estavam vagas. (IBGE, 1982, p. 38)

O censo de 1991 trouxe pela segunda vez a análise de domicílios particulares e

coletivos que se encontravam fechados, vagos ou que tinham uso ocasional. Neste caso, o

total de domicílios particulares já havia alcançado os 3.500 sendo 1.413 em área urbana, tendo

658 ocupados. Dentre os não ocupados, 755 domicílios estão em área urbana, e 666 deste

estão cadastrados como “uso ocasional”, 09 “fechados” e 80 “vagos”.

Pela primeira vez, no X Recenseamento Geral (1991, p. 205) foi analisado o destino

do lixo por domicílio, registrando-se: total coletado: 245 domicílios, sendo 229 diretamente e

16 indiretamente; queimado: 175 domicílios; enterrado: 53 domicílios; jogado em terreno

baldio: 1.631 domicílios; jogado em rio, lago ou mar: 5 domicílios; outros: 6. Por estes

números é possível verificar que o número de domicílios que ainda descartavam seus resíduos

em lugares impróprios é muito maior que aqueles que têm coleta apropriada. Desse dado,

reflete-se que desde o começo da ocupação da área não houve preocupação em conter a

degradação ambiental. O descaso ainda é visto hoje em dia, com pilhas de lixo espalhadas

pelas ruas e terrenos baldios, principalmente de Jacumã.

Os dados demográficos obtidos pelo Censo 2010 ainda estão sendo processados, por

esse fato não foi possível registrá-los detalhadamente no presente trabalho. Segue os dados

tabulados pelo IBGE (IBGE, 2011) até o momento que possuem vínculo com a pesquisa:

• Total de domicílios particulares não-ocupados fechados: 14;

• Total de domicílios particulares não-ocupados de uso ocasional: 3.315;

• Total de domicílios particulares não-ocupados vagos: 1.178.

Esses números não estão divididos em área urbana e rural, tornando-se assim difícil

analisá-los como números referentes às segundas residências na área urbana Jacumã,

Carapibus e Tabatinga. É possível apenas avaliar que boa parte destes domicílios acima

catalogados provavelmente está na área estudada, já que a mesma possui a maior

concentração de moradias secundárias urbanas, com características de “não ocupados

fechados”, “de uso ocasional” e “não ocupados vagos”.

73

4. MÉTODO E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.1 Método

O método estabelece para uma pesquisa científica o norte, no sentido de orientá-la

durante sua composição, sendo fundamental para estruturação de elementos lógicos básicos

para o encaminhamento do raciocínio (SPOSITO, 2004). Segundo Sposito (2004, p.23) o

método tem de ser visto como um “instrumento intelectual e racional que possibilite a

apreensão da realidade objetivada pelo investigador, quando este pretende fazer uma leitura

dessa realidade e estabelecer verdades científicas para sua investigação”.

Diante da escolha do método, a pesquisa aqui exposta baseou-se a princípio no método

hipotético-dedutivo, pois parte-se de uma pergunta-chave (como?) e de uma hipótese (que o

turismo de segundas residências vem degradando o meio e a paisagem local) e ao longo do

trabalho procura-se comprovar que a hipótese é válida e responder à pergunta. Tendo suas

raízes no pensamento de René Descartes esse método faz da razão e do rigor matemático sua

base. Parte-se do pressuposto de que só a razão pode construir ciência, posto que a sensação

(os sentidos) pode enganar o discernimento do pesquisador. A razão nos permite ver com

clareza e encadear as evidências (SPOSITO, 2004).

Esta pesquisa parte da razão, visto que não é possível trabalhar com sensações e com

conceitos preexistentes ao que é nitidamente verificável no campo – área de estudo. Não se

faz possível impor à análise proposta uma visão pessoal (subjetividade) sobre o turismo que

acontece na região, por exemplo. É necessário afastar a visão particular e tornar-se neutro

para poder analisar.

A partir das regras enumeradas por Vergez & Huisman (apud SPOSITO, 2004, p.30),

confirma -se que o trabalho como hipotético-dedutivo:

� Primeira regra: evidência. No presente trabalho pode-se distinguir e comprovar com

propriedade que a paisagem e o meio ambiente foram alterados nas praias de Jacumã,

Carapibus e Tabatinga.

� Segunda regra: análise. Partindo da evidência acima, analisa-se por partes o que foi

alterado: área desmatada, poluição dos rios e mangues, depósito de lixo nas ruas,

esgoto a céu aberto, número de construções irregulares perante legislação, etc.

74

� Terceira regra: síntese. Posto que a análise traga o suporte para concluir a(s)

hipótese(s) previamente colocada, conclui-se por partes como ocorreu o impacto sobre

a paisagem e sobre o meio ambiente, se estes são positivos ou negativos. No caso dos

negativos se são permanentes ou podem ser revertidos.

� Quarta regra: desdobramentos tão completos... Espera-se conseguir responder as

perguntas iniciais com devida clareza ao final da pesquisa, contando com o fato de

desmembrar os problemas de forma que suas análises e conclusões possam ser claras a

qualquer pessoa que leia esta dissertação.

Outro método empregado na pesquisa, principalmente para análise dos dados foi o

funcionalista. No método funcionalista parte-se do pressuposto de estudar o particular sem

perder de vista a generalidade, pois ao mesmo tempo em que cada objeto (paisagem e

ambiente) é único, ele articula-se com outros nas suas igualdades/generalidades. São

analisadas, portanto, as relações e as interações.

O método funcionalista tem relação com a Teoria Organicista das ciências biológicas

e naturais, onde “o todo encontra-se regido pelas diferentes funções das diferentes partes”

(BRAY, 2008, p.4). Ainda sobre isto, para Alves e Ferreira (2009, p.6): a relação entre

organismo das ciências naturais e a organização do espaço da geografia é fundamental para

entender o método funcionalista.

Esse método por sua vez utiliza-se da abordagem sistêmica para sua metodologia de

análise. O pensamento sistêmico adotado proporciona a compreensão da realidade, onde os

elementos do sistema interagem; conseqüentemente, a mudança de estado de um dos

elementos implicará a alteração de todo o conjunto (BRAY, 2008). Segundo Antônio Filho e

Dezan (2009, p. 9), “a abordagem sistêmica entende a realidade como um fenômeno

organizacional. Como um sistema que apresenta partes concatenadas, busca sempre a

harmonia”.

A cooperação entre os elementos de um sistema é analisada por essa abordagem.

Partindo do conceito de sinergia, onde existe um esforço simultâneo das várias partes para a

realização de uma dada função, tem-se como resultado ações conjuntas dirigidas a fins

coletivos (DALLABRIDA, 2006). A atitude cooperativa entre os seres remete mais uma vez à

busca do equilíbrio, este decorrente sempre de reajustamentos constantes que o torne possível.

Um ambiente em equilíbrio depende da harmonia entre as partes.

75

4.2 Procedimentos metodológicos

As técnicas utilizadas para alcançar os resultados foram:

� Pesquisa bibliográfica e iconográfica;

� Trabalho de campo: aplicação de entrevistas e verificação de localização das segundas

residências;

� Produção de mapas.

O trabalho buscou embasamento teórico em pesquisa bibliográfica, utilizando para

isso livros, artigos, teses, dissertações e periódicos que discursem sobre o tema proposto:

paisagem, meio ambiente, degradação ambiental, turismo, Jacumã, Carapibus, Tabatinga,

Município do Conde - PB. Os dados demográficos foram obtidos pelo site do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. A pesquisa bibliográfica foi efetuada nas

bibliotecas da Universidade Federal da Paraíba, em órgãos municipais do Conde, bem como

na Rede Mundial de Computadores.

Fotografias, fotografias aéreas e imagens de satélite foram utilizadas como fontes de

dados espaciais e históricos para verificação do processo de ocupação da área de estudo, bem

como na análise das modificações da paisagem e da deterioração do meio. As fotografias

foram obtidas in loco e mediante outros trabalhos de pesquisa realizados na mesma área. As

fotografias aéreas foram obtidas em dois órgãos governamentais: na Companhia de

Desenvolvimento de Recursos Minerais da Paraíba – CDRM (ano de 1969) e no Instituto de

Terras e Planejamento Agrícola da Paraíba – INTERPA (ano de 1985). A imagem de satélite

utilizada foi captada pelo Satélite Quick Bird em 2008, com resolução de 0,62 metros,

adquirida pela Prefeitura Municipal do Conde.

O trabalho de campo teve propósito na aplicação de entrevistas, na verificação da

localização das segundas residências para posterior mapeamento, como também para

visualizar e registrar a degradação do meio nas praias pesquisadas através de fotografias. As

entrevistas foram aplicadas in loco nas Praias de Jacumã, Carapibus e Tabatinga, em uma

amostragem de 10, 08 e 07 respectivamente. A proporção das entrevistas foi escolhida pelo

montante de casas de cada praia, sendo levado ainda em consideração o número de moradores

fixos presente na área de Jacumã, de casas vazias/fechadas em Carapibus e o pequeno número

de construções em Tabatinga; tais equivalências foram tanto constatadas in loco como através

76

de conversas com as agentes de saúde da região. O critério para escolha dos entrevistados é

que os mesmos sejam proprietários de segundas residências nestas praias.

Outra etapa das entrevistas foi sua aplicação ao setor público municipal,

especificamente ao Secretário de Turismo, ao responsável pelo Núcleo Administrativo de

Jacumã e à Secretaria de Planejamento. Nesta última a entrevista não pode ser realizada com

o Secretário pelo cargo estar transitando para outro responsável, assim o geógrafo da

Secretaria foi a pessoa indicada para conceder a entrevista.

As entrevistas aplicadas foram do tipo semi-aberta na qual, perguntas pré-definidas

são aplicadas de forma não indutiva, deixando o entrevistado livre para apresentar sua

opinião. Esse tipo de entrevista proporciona certa abertura para que o entrevistado exponha

outras colocações sobre o assunto, porém que não estejam necessariamente nas perguntas,

bem como deixa o entrevistador livre para acrescentar questionamentos que surjam durante a

entrevista com propósito de sanar dúvidas ou acrescentar detalhes à pesquisa.

Buscou-se com as entrevistas apreender como se deu o processo de ocupação e qual a

percepção que os entrevistados têm sobre a degradação do ambiente e da paisagem locais.

Também se procurou analisar as preocupações que esses mesmos residentes temporários e

governantes têm perante o meio e, o que ou se, é feito para preservação do mesmo. Com o

conteúdo adquirido através das entrevistas foi possível ratificar a percepção inicial sobre o

processo de ocupação – rápido e desordenado, com deficiências em infraestrutura e

conseqüente degradação ambiental.

Neste trabalho tomou-se por degradação ambiental o impacto30 negativo causado pela

atividade turística, como: desmatamento advindo do turismo para construção das segundas

residências; poluição das praias, lagunas costeiras e mangues com materiais não degradáveis

trazidos pelos turistas/excursionistas; acúmulo de lixo nas ruas e terrenos baldios decorrente

do aumento das segundas residências; falta de saneamento básico, inclusive com esgotos

correndo a céu aberto; construções irregulares que infringem as Leis Ambientais vigentes no

país, Estado ou município.

Já por degradação paisagística, além de todos os fatores citados acima (afinal

degradação ambiental também implica em modificação da paisagem), foi verificado a questão

estética. Por impactos causados a paisagem no local, analisou-se: perda do verde; perda da

30 Segundo o Conselho Nacional do Meio Ambiente, impacto ambiental é “qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas, que direta ou indiretamente afetam: a saúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; a qualidade dos recursos ambientais.” (Resolução 0001/86 - CONAMA)

77

visibilidade/contemplação do mar pelas construções irregulares na borda das falésias; sujeira

nas praias, lagunas costeiras e mangues, prejudicando a apreciação dos mesmos; derrubada de

coqueiros característicos do ambiente daquelas praias; construções em declividades que

margeiam as três praias, que no caso prejudicam a vegetação e/ou a geomorfologia impressa

na paisagem; acúmulo de lixo e esgotos escorrendo nas ruas, que prejudica a própria imagem

que todos levam das praias; as construções particulares irregulares em espaços públicos, que

privatizam e alteram a paisagem pertencente ao coletivo.

Na produção dos mapas tomou-se por base a tecnologia do Geoprocessamento.

Enquanto vários autores fazem uma leitura do geoprocessamento apenas como uma

tecnologia de processamento de dados georeferenciados, Rocha (2000, p. 210) vai além e

define-o como:

uma tecnologia transdisciplinar, que, através da axiomática da localização e do processamento de dados geográficos, integra várias disciplinas, equipamentos, programas, processos, entidades, dados, metodologias e pessoas para coleta, tratamento, análise e apresentação de informações associadas a mapas digitais georeferenciados.

O geoprocessamento tem como principal ferramenta o Sistema de Informação

Geográfica – SIG. O SIG é um sistema que tem capacidade de adquirir, armazenar, tratar,

integrar, processar, recuperar, transformar, manipular, modelar, atualizar, analisar e exibir

informações digitais georeferenciadas, topologicamente estruturadas, que estejam ou não

associadas a um banco de dados alfanumérico (ROCHA, 2000).

Sendo assim, baseado no geoprocessamento e trabalhando com SIG, neste trabalho foi

obtido um banco de dados, anteriormente composto31, no qual foram introduzidos novos e

diferentes dados espaciais para construção do mapa final aqui proposto. O mapa final é uma

análise da ocupação urbana produzida pela atividade turística de segundas residências, exibe

sua extensão espacial e confronta esta área de segundas residências com a legislação

ambiental em vigor, demonstrando o impacto ambiental provocada pela mesma.

Foram produzidos e/ou adaptados mapas que demonstram o processo de ocupação

sofrido pela área de estudo, como também aqueles que apontam a ocupação em áreas

irregulares, ou seja, que por legislação brasileira são preservadas. Para essa produção adotou-

se a técnica de sobreposição de mapas (overlay).

31 O banco de dados foi obtido da pesquisa efetuada pela mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente Lílian Ferreira Cardoso da Silva, titulada pelo PRODEMA/UFPB em 2010.

78

A sobreposição de mapas, ou de cartas temáticas, refere-se a sobrepor duas ou mais

cartas para efetuar uma análise do ambiente. Segundo Moura (1993, p. 4), “os mapas

temáticos, também chamados themes, overlays, coverages, data planes, layers ou levels,

conformam um sistema para responder perguntas, embasar decisões ou auxiliar na resolução

de problemas”. Assim, neste trabalho foi utilizada a carta de localização das segundas

residências sobreposta a de preservação ambiental da área para demonstrar como essas

residências turísticas estão compondo e se relacionando com o ambiente. A carta de

preservação ambiental foi adquirida a partir da dissertação de mestrado de Silva (2010) e

construída com base na legislação ambiental e de uso do solo vigente no país.

A metodologia aplicada tem na Análise Ambiental seu objetivo. Visando reconhecer a

relação entre natureza e sociedade e suas implicações, a análise ambiental é fundamental para

diagnosticar e prognosticar problemas advindos dessa relação. Um importante instrumento na

tentativa de equilibrar as manifestações sociais sobre o meio é o Zoneamento Ecológico

Econômico – ZEE, criado pelo Ministério do Meio Ambiente. Segundo o próprio MMA,

O ZEE é instrumento para planejar e ordenar o território brasileiro, harmonizando as relações econômicas, sociais e ambientais que nele acontecem. Demanda um efetivo esforço de compartilhamento institucional, voltado para a integração das ações e políticas públicas territoriais, bem como articulação com a sociedade civil, congregando seus interesses em torno de um pacto pela gestão do território. (BRASIL, 2010)

Partindo desse pressuposto de gestão ambiental e do uso do solo, o trabalho apresenta

em mapa a situação atual de ocupação por residências secundárias turísticas x impacto

ambiental. Outros dois mapas também foram produzidos para visualizar o crescimento urbano

da área, demonstrando que os loteamentos e construções retiraram bastante da vegetação

nativa, possibilitando ver quanto da mancha urbana é tomada pela atividade turística.

Na construção dos mapas foi utilizado o software Spring. O Spring é um programa

gráfico utilizado nas técnicas do georeferenciamento desenvolvido por pesquisadores do

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE e está disponível para download gratuito na

página do mesmo32. O Sistema de Processamento de Informações Georeferenciadas – Spring

é um SIG com funções de processamento de imagens, análise espacial, modelagem numérica

de terreno e consulta a bancos de dados espaciais.

32 A página do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais está disponível no endereço: http://www.inpe.br/.

79

Além do programa Spring, foram utilizados outros dois programas complementares

(que acompanham o software): o Impima, onde foram abertos alguns formatos de

imagens/dados e convertidos para a extensão sgp, assim podendo ser aberto no Spring; e o

Scarta, programa de geração e edição de cartas para posterior impressão.

Como parte da metodologia foi designado um recorte temporal que pudesse envolver e

demonstrar as transformações ocorridas na área analisada, esse período corresponde as

décadas de 1970-2010. No processo de análise, porém, obteve-se via fotografia aérea a

comprovação de que na década de 1970 a urbanização ainda não chegara às praias estudadas,

por isso optou-se por apenas mencionar esta década como parâmetro que possibilitou

veracidade da não ocupação. Já da década de 1980 até o ano 2008 (imagem de satélite mais

recente), foi feita uma análise da progressão da malha urbana e das construções advindas da

atividade turística de segundas residências nesses últimos 28 anos. A evolução dessa malha

urbana pôde ser comprovada pelas fotografias aéreas e pela imagem de satélite.

80

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

As entrevistas realizadas com os proprietários de segundas residências e com o poder

público tiveram como propósito avaliar as condições ambientais e as transformações

paisagísticas identificadas por esses desde quando começaram a freqüentar a praia e/ou

trabalhar no poder público municipal. Especificamente dos gestores públicos entrevistados,

procurou-se saber quais as medidas tomadas para evitar ou mitigar os impactos ambientais e

paisagísticos identificados na área33.

A análise dos resultados parte do princípio de que a atividade turística foi ocupando a

área sem que o poder público agisse com fins de planejamento urbano, deixando de pôr em

prática os instrumentos legais que condicionam essa ocupação (Plano Diretor, Plano Nacional

de Gerenciamento Costeiro, Projeto Orla, etc.).

5.1 Entrevistas

5.1.1 Percepções dos proprietários de segundas residências: infraestrutura,

impactos paisagísticos e ambientais

As entrevistas aos proprietários de segundas residências demonstraram opiniões e

níveis de conscientização bastante diversos entre os entrevistados, bem como foi possível

verificar, em alguns casos, discursos totalmente contraditórios entre o que se pensa a respeito

da conservação do meio ambiente e o que se quer ter no local escolhido para o lazer. Em

várias colocações pôde ser observado que elas partiram de um processo de perceber o

ambiente e a paisagem. A percepção é construída na vivência com o meio e influenciada por

questões particulares a cada indivíduo (valores, motivações, sentimentos, cultura, etc.).

Começando pela análise das entrevistas realizadas em Jacumã, tem-se que a maioria

dos proprietários reside em João Pessoa, ao mesmo tempo essa é a praia que apresenta maior

diversidade de origem do fluxo de segundos residentes. Foram citadas cidades como Olinda,

Recife, Brasília e o interior da Paraíba como local de residência fixa. Os motivos que

33 O questionário das entrevistas segue em anexo.

81

trouxeram essas pessoas à Jacumã também foram diversos: busca de lazer com a família; lazer

com os amigos; a beleza da praia e a tranqüilidade.

Grande parte dos entrevistados comprou suas segundas residências na década de 1990,

apenas 20% realizaram a compra no início dos anos 2000. Apenas duas pessoas responderam

a pergunta quanto à freqüência de visitação com “apenas veraneio”, outras duas responderam

que em média freqüentavam de dois em dois meses mais o veraneio e as demais disseram que

constantemente, todos os finais de semana ou feriados – além do veraneio, estavam na praia.

Quando a pergunta se referiu à preocupação que tiveram quanto a não degradar o meio

ao comprar a casa ou terreno, duas pessoas responderam que não houve preocupação se

ocorreria degradação. As demais disseram haver se preocupado e relatam a derrubada de

vegetação e a construção de fossas como fator principal: “Aqui era quase despovoado, não

havia casa em volta, mas eu me preocupei sim com o meio ambiente porque era toda cheia de

coqueiros na beira-mar e derrubaram os coqueiros todos” – relato do primeiro entrevistado em

Jacumã.

É preciso dizer que o processo de desmate, do corte da vegetação para implantação das

construções (casa residenciais e comerciais, espaços públicos, etc.), é inerente ao próprio

crescimento urbano, mas ele torna-se preocupante quando efetuado dentro de áreas de

preservação, como mangues, falésias, praias, margens de rios, ambientes esses encontrados na

área pesquisada. Algumas das construções acabaram, por estar em área de preservação,

degradando o ambiente já no momento de sua construção, pois derrubaram ilegalmente a

vegetação preservada por lei.

Ainda sobre a derrubada de árvores, é cabível comentar que, apesar de muitas árvores

terem sido cortadas legalmente, é positivo o entendimento geral dos entrevistados de que o

corte é algo que degrada o meio, pois dessa forma alguns tentam, da maneira possível,

preservar um mínimo de vegetação em seu terreno.

Percebe-se que as pessoas por vezes até podem ter a preocupação em não degradar,

mas não fazem muito para evitar as várias formas de degradações encontradas na área. A

segunda entrevistada disse que o IBAMA visitou a propriedade antes da construção da casa e

deu orientações sobre derrubada e replantio da vegetação e concluiu: quem derrubava um

coqueiro, plantava dois – segunda entrevista.

A quinta e sexta pergunta se referem à infraestrutura. Primeiramente foi questionado

se houve preocupação em ter informações sobre esse quesito no momento da compra, três

pessoas disseram não ter se preocupado em saber e sete disseram saber que não havia na área

infraestrutura básica ou de apoio aos moradores e visitantes. Depois foi perguntado se algum

82

tipo de infraestrutura fazia falta na área e qual (is) seria(m), todos responderam que sim;

quanto aos itens de infraestrutura que mais deixam a desejar, segue o gráfico:

Gráfico 1: Infraestrutura deficitária em Jacumã em 2010

Algumas outras respostas convêm mencionar: “[A gente] Sente aqui é falta de

investimento do governo municipal, aqui é esquecido, já mais pra frente tem outras praias que

tem mais estrutura que aqui. Tem uma rua ali que tem esgoto a céu aberto. Calçamento,

quando dá uma chuva aqui empoça água” – sexto entrevistado. “[Aqui] Encontra dificuldade

de encontrar local para pequenas compras, pão, etc.” – oitavo entrevistado. São inúmeras as

queixas, o que se nota é que falta desde necessidades básicas de habitação à conveniências

necessárias.

O esgoto a céu aberto mencionado pelo sexto entrevistado pode ser visto em várias

ruas de Jacumã (fotos 11 e 12), e realmente não encontrado nas duas outras praias. Já a falta

de calçamento (fotos 13 e 14) está presente tanto nas ruas de Jacumã quanto nas das demais.

Em Jacumã nota-se ainda o descuido com os equipamentos públicos, a exemplo das condições

precárias da área em torno da quadra poliesportiva (foto 14).

21%

42%

16%

21%

Infraestrutura deficitária

Água encanada/fornecimento constante

Coleta de lixo

Calçamento de ruas

Equipamentos públicos e privados de apoio a população

83

Foto 11: Esgoto a céu aberto em Jacumã. Fonte: Kiyotani, 2010.

Foto 12: Água correndo junto ao lixo na PB-008, principal Avenida em Jacumã. Fonte: Kiyotani, 2010.

Foto 13: Falta de calçamento de rua – Jacumã. Fonte: Kiyotani, 2010.

Foto 14: Falta de calçamento nos arredores da quadra esportiva de Jacumã – principal equipamento de lazer público. Fonte: Kiyotani, 2010.

O esgoto a céu aberto, além de prejudicar a paisagem do local e degradar o meio, é

acima de tudo um problema de saúde pública, pois pode vir a ser causador de doenças

decorrente dos agentes contaminantes contidos na água poluída do esgoto. Fora a água

poluída com detritos de origem humana, a mesma também está sujeita a contaminação por

urina e fezes de ratos e outros agentes patogênicos.

Já o não calçamento das ruas traz transtornos à população, como a dificuldade em

trafegar e a poeira levantada do barro no período do verão. É fato que a falta de calçamento

em alguns pontos também é prejudicial ao turismo, como as condições encontradas próximo à

Quadra de Jacumã (foto 14), que poderia ser um ponto turístico a partir do momento em que

fosse bem equipada e esteticamente agradável aos olhos. Hoje a quadra é ponto de encontro

de residentes e palco de várias manifestações populares, e mesmo assim não valorizada,

demonstrando que o bem coletivo e as relações sociais não estão sendo levados em

consideração pelo poder público.

84

A sétima e oitava perguntas são respectivamente: se foi, à época, economicamente

viável comprar/construir uma segunda residência em Jacumã e se permanece sendo

economicamente viável mantê-la. Todas as respostas para ambas as perguntas foram que sim,

apenas um entrevistado fez um pesar: “Apesar de ter essas coisas [mencionadas na resposta

6], tem uma praia aí belíssima. O que faz muita gente vir aqui é o mar, porque a cidade em si

não te oferece muita coisa não, se fosse só pela cidade eu jamais investiria aqui. Não só eu,

mas as pessoas que vem aqui só levam a beleza natural mesmo” – quarto entrevistado.

Com relação à modificação percebida na paisagem e no meio ambiente, foi perguntado

se desde o ano da compra/construção a pessoa teria algo a mencionar e/ou reclamar sobre a

área e o que acha que precisa melhorar. Como as respostas para esta pergunta são as mais

importantes para a presente pesquisa, opta-se por transcrevê-las na íntegra aqui:

1º. Entrevistado: “A infraestrutura de ruas tem que melhorar; a coleta e a varredura de

lixo, a sujeira nas praias. (...) Derrubou-se muito coqueiro”.

2º. Entrevistado: “Por exemplo, lixo na frente, deveria ter uma coleta, eles passam todos

os dias, mas jogam no chão, as moscas vêm para dentro de casa (...) falta de esgoto,

saneamento. Mais funcionários também pra limpar as ruas, está muito feia, a gente vai

pela beira-mar e ver os pedaços de sujeira. Também tem que educar o povo (...) o

homem do picolé vem e joga os saquinhos ali no muro. Modificou muito, a

urbanização chegou! O homem que não cuida”.

3º. Entrevistado: “Continua linda”.

4º. Entrevistado: “Mudou muito, o mar avançou, as construções pro lado de Carapibus e

Tabatinga... e as derrubadas, vão derrubando e construindo. Os maceiós são bastante

poluídos, se você vier no domingo ou na segunda cedinho, o que vai ver de garrafa

pet, sacola plástica, de palito e saquinho de picolé, de garrafa de cachaça, você olha

assim e diz meu Deus, muita sujeira mesmo, bastante!(...) Não há preocupação dos

moradores quanto à preservação”.

5º. Entrevistado: “A invasão de barracas, Jacumã cresceu demais, desordenadamente, eu

acho que não houve uma preocupação com o planejamento pra que a gente também

recebesse os turistas nessa temporada. A derrubada de árvores, a exploração dos

imóveis; as pessoas não respeitam as áreas de preservação”.

6º. Entrevistado: “O avanço do mar já derrubou casas de caiçaras e vai destruir barracas”.

85

7º. Entrevistado: “Em termos de estrutura está melhor do que antes. O que falta aqui é

investimento em calçamento, estrutura de saúde, não tem uma ambulância, não tem

nada. Falta coleta de lixo também”.

8º. Entrevistado: “A questão da prefeitura é horrível né, porque a gente vê sujeira na praia

que devia ser limpa”.

9º. Entrevistado: “A praia está mais agitada, tem bem mais gente e casa, ai a praia fica

mais suja. Era preciso mais serviços públicos para dar conta de toda essa população e

também do lixo que produzem né? As pessoas também jogam muito lixo na praia, no

maceió. Fora um bocado de construção irregular por ai. Muita árvore foi derrubada”.

10º. Entrevistado: “Modificou os mangues que têm muitas construções próximo, bar

praticamente dentro. Tem mais lixo nas ruas e mais esgotos correndo”.

A partir das respostas, é possível considerar a insatisfação com relação aos serviços

prestados pelo governo municipal, a infraestrutura local deixa a desejar e não se percebe o

comprometimento para proporcionar melhorias. Necessidades básicas como água, saneamento

básico e coleta de lixo, estão sendo negligenciadas, podendo causar inclusive doenças

provenientes de más condições de higiene. Por enquanto a infraestrutura inexistente causa

estresse e revolta nos visitantes e moradores da área.

Com relação à modificação da paisagem e à degradação do meio, verifica-se que os

principais problemas são: a derrubada de árvores, as construções irregulares e o acúmulo de

lixo pelas ruas, mangues e praias (fotos 15, 16, 17, 18, 19, 20).

Foto 15: Lixo acumulado na Avenida principal de Jacumã. Fonte: Kiyotani, 2010.

Foto 16: Lixo acumulado nas ruas - Jacumã. Fonte: Kiyotani, 2010.

86

Foto 17: Lixo acumulado nos terrenos baldios - Jacumã. Fonte: Kiyotani, 2010.

Foto 18: Lixo acumulado na laguna costeira - Jacumã. Fonte: Kiyotani, 2010.

Foto 19: Irregularidades na laguna costeira, divisa Jacumã-Carapibus. Fonte: Kiyotani, 2010.

As fotos 15, 16 e 17 mostram o lixo deixado pelos moradores na Avenida principal de

Jacumã, em ruas e em terrenos baldios, respectivamente. O lixo é acumulado nesses locais

para quando o caminhão disponibilizado pela administração municipal passar o recolher, mas

essa coleta, percebe-se, tem sido deficitária, visto que em todas as visitas realizadas foi

encontrada tal situação.

Já as fotos 18 e 19 são da área da laguna costeira de Jacumã. A primeira mostra o lixo

que vai sendo acumulado nas bordas da laguna, em sua maioria plásticos diversos, muito

provavelmente deixados pelos que visitam o ambiente em seus momentos de lazer. A foto 19

Construções irregulares (casas)

Bar à beira do mangue

Manguezal

87

apresenta casas que foram construídas em locais irregulares, não respeitando a legislação

vigente, pois estão dentro das faixas de proteção de mangue, já mencionadas em tópico

anterior.

O que todas essas alterações produzem gera um efeito cascata, pois se o meio

ambiente é degradado, a paisagem perde beleza, e, por fim, o local fica desmerecido pela

população e pelos turistas. Mas é preciso compreender que o mais importante nesta questão

não é a decadência da praia como destino turístico, o que de fato preocupa é a poluição e

degradação ambiental que poderá trazer conseqüências maiores para os seres vivos, como por

exemplo:

� Aumento da temperatura (ou sensação térmica) local;

� Contaminação das águas das lagunas costeiras que poderá acarretar problemas de

saúde para os banhistas e para quem de alguma forma faz uso daquelas águas;

� Contaminação dos peixes e mariscos do mangue;

� Diminuição da renda daqueles que dependem da pesca em rios e no mar, levando os

mesmos a condições econômicas e sociais preocupantes;

� Doenças causadas pelo acúmulo de lixo e pelos bichos atraídos por esse lixo;

� Inapropriação do mar para banho.

Passando para a entrevista aos proprietários de segundas residências de Carapibus,

constatou-se que as repostas são parecidas com aquelas de Jacumã no que tange as

necessidades de infraestrutura e em parte sobre a modificação da paisagem.

Dentre os oito entrevistados, seis são residentes de João Pessoa, um do Recife e um do

Rio de Janeiro. O interesse por Carapibus não foi específico, as respostas giraram em torno da

vontade de ter um local para lazer em alguma praia. Quanto ao ano da compra do terreno ou

casa, cinco são da década de 2000, dois da década de 1990 e o terceiro entrevistado comprou

em 1986. Deu-se ênfase ao terceiro entrevistado, pois o relato dele é importante para

acompanhar a transição da paisagem, já que ele quando ali chegou quase nada se tinha de

construções. A resposta para a freqüência ao local foi majoritariamente “sempre que pode e

no veraneio”.

Quanto à preocupação no momento da compra/construção com o que poderia gerar

degradação do ambiente, o primeiro entrevistado disse não ter tido; o segundo disse ter tido,

mas não especificou. O terceiro disse ter preservado ao máximo as árvores que acharam no

88

local e ter utilizado catavento para captação d’água; o quarto alegou ter tido fiscalização da

SUDEMA para toda a construção da casa e fossa. Já o quinto disse não ter tido preocupação

alguma e acrescentou: “Hoje existe mais do que antes. É tanto que se você vem em Carapibus,

vai a Tabatinga, as construções ai são tudo irregulares” – quinto entrevistado. O sexto

entrevistado citou ter se preocupado com a praia, mas não elencou ações; o sétimo e o oitavo

disseram ter plantado mais árvores em seus terrenos.

Perguntado a preocupação em saber se existia infraestrutura básica e de apoio no ato

da compra, obteve-se: dois nãos; cinco que tinham conhecimento da não existência e um que

não tem interesse em saber disso e até prefere que não haja: “nem tô muito interessado nisso

porque atrai muitas pessoas e acaba estragando o local” - quarto entrevistado.

A resposta dada pelo quarto entrevistado demonstra um percepção que não é só dele,

muitas outras pessoas também fazem logo essa ligação: quanto mais gente visitando e

ocupando um determinado lugar, mais fácil ele ser degradado, perder suas qualidades,

“estragar”. Por que não tentar então excluir as causas que levam a tal pensamento? E como

excluí-las? A partir de uma postura mais ética e cidadã de todos, construídos com base numa

educação consistente, talvez seja possível reverter a situação, mas certamente esse é um

trabalho a longo prazo, o que advém ser iniciado o quanto antes.

A sexta pergunta sobre se e quais infraestruturas precisam ser supridas e/ou

melhoradas, teve este resultado:

Gráfico 2: Infraestrutura deficitária em Carapibus em 2010

A sétima e oitava pergunta são se foi e permanece sendo economicamente viável ter

uma segunda residência em Carapibus e se vale a pena tê-la, respectivamente. Todas as

25%

16%

25%

17%

17%

Infraestrutura deficitária - Carapibus

Água encanada/fornecimento constanteQueda de energia

Saneamento básico

Coleta de lixo

Calçameto de ruas

89

respostas para ambas as perguntas foram que sim. A nona pergunta indaga sobre qual a

modificação percebida na paisagem e no meio ambiente, obteve-se as seguintes respostas:

1º. Entrevistado: “Avanço do mar, a barreira fica sempre caindo ai. O pessoal que mora

ali vizinho deve degradar muito ai acaba com essas quedas de barreira e o mar

avançando. E aumentaram muito as construções, você passa dois meses sem vir já tem

várias novas. (...) Muita sujeira, muita gente vem e suja muito a praia, vem com

embalagem plástica, papelão, até fralda descartável”.

2º. Entrevistado: “A devastação ecológica daqui, por exemplo, essas plantas, a derrubada

das fruteiras para construção”.

3º. Entrevistado: “Era tudo verde e a praia dava pra ver tudo daqui [a casa fica a

aproximadamente 400 metros das falésias], hoje em dia não dá mais porque são várias

casas e hotéis, a diferença é gritante. (...) Hoje em dia tem muito lixo na praia”.

4º. Entrevistado: Não percebeu modificações.

5º. Entrevistado: “Em termos da praia já tem modificado devido ao avanço do mar. Em

termos de construção essa área de Carapibus já era praticamente toda construída aqui

nessa área de falésia desde a década de 90, e veio de Jacumã pra cá né? E depois pra

lá, por exemplo Tabatinga a energia já foi puxada daqui, depois de uns 5 ou 6 anos.

Ele veio seguindo [a linha de construção]”.

6º. Entrevistado: “A queda das falésias e o avanço das construções”

7º. Entrevistado: “A paisagem continua praticamente a mesma, só aumentou o

crescimento urbano mesmo”.

8º. Entrevistado: “Muitas construções e muita derrubada de árvores. A vegetação tem se

degradado muito.”

Excepcional a colocação do quinto entrevistado para a presente pesquisa, é mais uma

verificação da urbanização linear na costa sul do estado da Paraíba. Mais interessante ainda

por vir de uma pessoa leiga perante o assunto, que não tinha conhecimento ainda de que esta

construção linear faz parte de várias pesquisas em todo o país.

Na praia de Carapibus o que mais incomoda os proprietários de segundas residências é

a perda da vegetação e o aumento das construções (várias irregulares como na foto 24), que

alteram a paisagem, inclusive “tampando” a visão de moradores mais antigos que construíram

suas casas em local legal. O lixo acumulado nas ruas (fotos 20, 21 e 22), na areia da praia e na

laguna costeira (foto 23) é outro problema sempre destacado pelos entrevistados. Assim como

90

em Jacumã, estes resíduos jogados na laguna e na praia podem acarretar problemas de

balneabilidade e, conseqüentemente, de saúde aos banhistas.

Foto 20: Acúmulo de lixo na principal entrada para Carapibus. Fonte: Kiyotani, 2010.

Foto 21: Acúmulo de lixo na rua paralela à praia - Carapibus. Fonte: Kiyotani, 2010.

Foto 22: Acúmulo de lixo nas ruas de Carapibus. Fonte: Kiyotani, 2010.

Foto 23: Acúmulo de lixo na laguna costeira - Carapibus. Fonte: Kiyotani, 2010.

Foto 24: Construções sobre a borda da falésia caracterizando irregularidade ambiental - Carapibus. Fonte: Kiyotani, 2010.

91

A última foto acima (foto 24) mostra uma parte das construções que foram erguidas na

borda da falésia, portanto ilegais perante as leis ambientais. Nesse caso, são nove casas e um

hotel, situados sobre a borda da falésia na primeira enseada de Carapibus. Outras casas e

estabelecimento turísticos (pousadas e hotéis) também estão dispostos em área de preservação

de falésia ao longo da praia de Carapibus, representando a negligência do poder público ao

conceder alvará a tais construções.

Por fim analisando as entrevistas feitas na praia de Tabatinga é possível verificar um

maior engajamento dos proprietários de segundas residências em prol do meio ambiente, com

uma força atuante desses perante órgãos públicos e perante novos construtores da área.

Tornou-se surpreendente encontrar na praia, que tinha tudo para reproduzir as degradações

das outras duas, o nível de conscientização e de preservação dos moradores para com o meio e

a paisagem.

As diferenças em relação às demais praias já aparecem na primeira pergunta. Em

Tabatinga a maioria dos proprietários de segundas residências é residente de João Pessoa e

com condições financeiras visivelmente melhores. Entre as respostas ao por que a escolha por

Tabatinga todas enfatizam as qualidades da praia: a tranqüilidade, a paz, água limpa, ar puro e

a acessibilidade. A quinta entrevistada complementa: “Pelo ambiente, eu considero isso um

paraíso. Aqui as pessoas valorizam muito o lugar, tem uma associação que tem o objetivo

principal de preservar o meio ambiente e veio ao encontro dos meus objetivos”.

Continuando as diferenças, bem como a comprovação de uma expansão urbana que

vem “caminhando” praia a praia a partir de Jacumã, os entrevistados compraram seus terrenos

e começaram suas construções no início dos anos 2000 e o último comprou em 2008. Ou seja,

essa é mais uma evidência de que, somente após serem ocupadas as praias de Jacumã

primeiramente e Carapibus posteriormente, Tabatinga começou a ser alvo da especulação.

Tudo parece contribuir para que o início e aumento das vendas de lotes numa determinada

praia só comece quando a praia vizinha alcança certo nível de ocupação urbana.

Com relação à freqüência, cinco pessoas responderam “toda semana”, uma

“quinzenalmente” e outra “mensalmente”, todas somaram a isto feriados e veraneio. A quarta

pergunta, que faz menção a preocupação se iria degradar o meio ambiente no ato da

construção da casa, terá suas respostas aqui reproduzidas por considerar oportuno demonstrar

a consciência que os proprietários da praia têm. Segue:

92

1º. Entrevistado: Não pensou na possibilidade de degradação. “Olha no princípio era

bastante desabitado, quando levantamos essa casa só tinham cinco casas. Era bem

tranqüilo aqui.”

2º. Entrevistado: Sim. Junto com a AMATA34 sempre, desde o início, se reuniu para

discutir questões ambientais da praia. “A gente tem uma associação aqui, a AMATA,

que a gente se reúne de quatro em quatro meses justamente para discutir toda situação:

como está a situação de lixo, água, esgoto, pois tem muita gente já construindo. Então

sempre vem o pessoal da SUDEMA, porque a gente está em área de preservação, pra

ver realmente o que estão fazendo: esgoto, fosso, porque aqui é tudo poço, então não

pode deixar tudo muito a vontade, porque senão daqui a pouco tá todo mundo sem

condições de ter água. Principalmente se as fossas são feitas dentro dos padrões, pra

não haver escoamento. Toda água que temos aqui é do lençol freático, então se não

cuidarmos, né? (...) Tem o IBAMA, tem a preservação do maceió, que é sempre bem

cuidado, o pessoal está em cima direto para não haver degradação pro meio”.

3º. Entrevistado: “A preocupação de manter a área preservada. Nós plantamos várias

espécies aqui nessas voçorocas, replantamos espécies nativas e capim pela borda”.

4º. Entrevistado: “Da minha parte sim, mas nesse período que eu estou aqui já houve

muita depredação, muito lixo, muita garrafa pet, muita coisa que não deveria ter, tem.

Essa idéia agora de uma taxa pro ônibus foi boa porque de certa forma além de

regularizar o turismo, conscientiza também um pouco, não se trata de privatizar, mas

uma forma de manter. Melhorou muito, porque era um caos, deixava lixo”.

5º. Entrevistado: “Os coqueiros que eu tirei, porque estavam com risco de queda, eu

replantei e plantei outras árvores”.

6º. Entrevistado: “Houve! O que foi possível nós preservarmos com relação à vegetação

do terreno, nós fizemos. E também seguimos todos os padrões da SUDEMA35”.

7º. Entrevistado: “Nos preocupamos muito com relação à preservação, principalmente

nessa voçoroca – localizada bem à frente da residência. Nós replantamos árvores

nativas para contenção da voçoroca”.

34 Associação dos Moradores e Amigos de Tabatinga- AMATA. 35 Quando o entrevistado menciona os padrões estipulados pela Superintendência de Administração do Meio Ambiente /PB – SUDEMA, ele refere-se aos padrões impostos à construção de fossas sépticas e de poços artesianos. Pelas entrevistas ficou esclarecido que a SUDEMA fornece as indicações de como devem ser feitas essas construções e faz a vistoria das mesmas.

93

Com exceção do primeiro entrevistado, percebe-se como os proprietários de segundas

residências de Tabatinga se importam e se envolvem com a praia. O cuidado em replantar, em

não poluir, em construir poços artesianos e fossas dentro dos padrões impostos pelos entes

ambientais é bem típico das pessoas que freqüentam esta praia, além de estarem sempre

dispostos a lutar por seus direitos e pelos direitos ambientais perante o poder público. Chama-

se atenção para o relato do terceiro e do sétimo entrevistados que citam a plantação de árvores

nativas para contenção de uma grande voçoroca36 (fotos 25, 26 e 27) que se formou em

Tabatinga, postura esta muito ética e consciente em preservar o bem comum. Essa voçoroca é

novamente abordada, com maiores detalhes, no final desse tópico.

Foto 25: Visão geral da voçoroca – Tabatinga. Fonte: Gutierres, 2010.

36 Voçoroca: “escavação ou rasgão do solo ou de rocha decomposta, ocasionado pela erosão do lençol de escoamento superficial. Nas regiões desmatadas observa-se, por vezes, o aparecimento de grandes esbarracamentos de material decomposto, e de solos que são carregados pelas enxurradas. As voçorocas, quando em grande número e relativamente paralelas, dão aparecimento a verdadeiras áreas de badland (terras impróprias para agricultura, muito erodidas) as voçorocas também podem ser formadas pelo escoamento sub-superficial”. (GUERRA, p.637, 2008) No caso desta voçoroca localizada próximo as casas em Tabatinga, verifica-se inclusive que ela atinge lotes e até ruas da praia e, caso não seja contida, a tendência é que se alastre.

94

Foto 26: Adentrando a área da voçoroca – Tabatinga. Fonte Gutierres, 2010.

Foto 27: Voçoroca vista da praia, percebendo-se que já está próxima de uma das segundas residências – Tabatinga. Fonte: Kiyotani, 2010.

É preciso mencionar ainda que a AMATA realiza constantes campanhas de

preservação e conscientização ambiental na praia de Tabatinga. Para citar algumas, no

mínimo duas vezes por ano são realizadas caminhadas pela praia e na laguna costeira para

recolher o lixo deixado pelos visitantes; disposição de placas educativas (fotos 28 e 29);

disposição de lixeiras (foto 33); foi realizada campanha de conscientização sobre o tráfego de

motos e automóveis (incluindo os quadriciclos) que foi proibido em toda extensão de

Tabatinga; em dias comemorativos de questões ambientais, também são realizadas várias

campanhas.

No último “Dia do Meio Ambiente” em 05 de Junho de 2010 foi realizado um plantio

de coqueiros pela praia juntamente a discursos sobre meio ambiente e com café da manhã

(fotos 30 e 31), onde todos os moradores foram convidados a comparecer.

Foto 28: Placa educativa I – Tabatinga. Fonte: Kiyotani, 2010.

Foto 29: Placa educativa II – Tabatinga. Fonte: Gutierres, 2010.

Voçoroca

95

Foto 30: Voluntários para o plantio de coqueiros. Fonte: Gutierres, 2010.

Foto 31: Faixa convidativa aos moradores de Tabatinga para participar do evento. Fonte: Kiyotani, 2010.

A quinta pergunta questionou se existiu a preocupação em saber se havia infraestrutura

necessária para ocupação quando o terreno foi comprado. Três pessoas disseram já saber que

não existia. Duas pessoas responderam o seguinte:

“Iluminação já tinha, e a água depende da energia porque é poço. Por essa situação, por isso é que a canalização é feita toda pra dentro da fossa, estruturada pelo pessoal da SUDEMA e do IBAMA, que eles já dizem como é que tem que ser feito, e faz a regulamentação, e a gente só fecha depois que eles vêm pra dar a aprovação” – segundo entrevistado.

“Quando a gente chegou do Rio Grande do Sul tinha rede de energia instalada, dai supomos que tinha né, mas não tem, hoje ainda não tem. Então cada um tem a sua fossa séptica, a SUDEMA orienta como fazer, vê se tem absorção, tem o dimensionamento e a distância mínima do poço que são de 15 metros” – terceiro entrevistado.

É importante verificar que existe um acompanhamento constante dos órgãos públicos

ambientais, pois somente com fiscalização massiva pode-se deter, conter e reverter a

degradação imposta pelo homem ao meio. Infelizmente esse é o caminho mais adequado para

proteger a natureza em um país como o Brasil, que proporciona a seu povo uma educação e

conscientização tão deficitária. O que se vê de degradação nas três praias é em geral um

problema de postura da sociedade perante o meio, atos que poderiam ser evitados com um

mínimo de consciência cidadã, social e humana, postura essa bem impressa na maior parte

dos proprietários de segundas residências de Tabatinga.

Mais uma diferença entre os proprietários de segundas residências de Tabatinga vem

com a sexta pergunta, quando questionado: sente a falta de alguma infraestrutura na área?

96

Qual? Três pessoas responderam não sentir falta de infraestrutura alguma em Tabatinga. Duas

pessoas citaram a rede coletora de esgoto e a água tratada, uma delas somou a melhoria na

iluminação pública. Um único entrevistado reclamou do calçamento inexistente das ruas. A

sétima entrevistada diz sentir falta de Posto de Saúde e do sistema educacional. Ou seja, em

geral as pessoas que têm casas nessa praia estão bastante satisfeitas, talvez não por ter toda a

infraestrutura urbana, mas pela que tem ser suficiente e não causar danos a paisagem ou ao

ambiente local.

Como os poços artesianos e as fossas sépticas estão todas convencionadas e dentro de

padrões de qualidade é possível conviver tranquilamente na área. Outro fator importante é a

coleta do lixo residencial que em nenhum momento foi citada como insuficiente ou

inoperante. Seguem as fotos abaixo que demonstram a coleta do lixo pelo setor público e a

iniciativa da Associação AMATA de compra e disposição de tambores de lixo por toda praia.

Foto 32: Coleta de lixo – Tabatinga. Fonte: Kiyotani, 2010.

Foto 33: Tambores de lixo colocados pela AMATA nas ruas de Tabatinga. Fonte: Kiyotani, 2010.

A sétima e oitava perguntas sobre viabilidade econômica no ato da compra/construção

e sobre valer a pena ter uma casa nesta praia foram respondidas positivamente por todos. A

nona pergunta como nas anteriores é sobre a percepção da modificação na paisagem e no

meio ambiente, seguem as respostas na íntegra:

1º. Entrevistado: “O que mudou foi a construção que ficou bastante acelerada nos últimos

anos, também o fator de violência que ultimamente estão arrombando muita casa por

aqui. E também e a alteração no meio ambiente que ultimamente eu tô sentindo falta

de alguns animais que você ta acostumado a conviver, antes você tava na frente de

casa e topava com um camaleão e uma cobra e hoje não mais. E o desmatamento

97

também. E uma alteração no clima também, porque 10 anos atrás era bem fresco aqui,

tinha um ventinho aqui, e hoje não, hoje tá quente demais”.

2º. Entrevistado: “Antes era mata agora ta enchendo de casa, o desmatamento!”

3º. Entrevistado: “A ocupação sempre traz a modificação né? Ali nas barracas do maceió

tem ocupação, mas não chegou a desfigurar totalmente o local, agora é claro que não

está como estava um tempo atrás. Muitos coqueiros aqui da primeira rua caíram com a

erosão marinha, a erosão está se agravando, e uma casa ou outra também tira né

[coqueiros]. Então modificou a paisagem sim”.

4º. Entrevistado: “Com exceção da praça pública que é um bar, e que com certeza esse

bar está dando trabalho em termos de veículos descendo, a vegetação natural já foi

depredada, o mar quando enche já avança porque já encontra nele um declive que os

próprios carros já fazem, essa é uma preocupação da comunidade. Mas fora isso, eu

acho que as pessoas têm respeitado direito. Salvo os que não moram e que vem, por

exemplo, o maceió, é um lugar lindo, mas fica cheio de saco engalhado no mangue,

garrafa pet, a gente vai recolhendo... tem vezes que eu acho que é um sonho o de que

todo mundo tenha consciência”.

5º. Entrevistado: “A própria natureza vai fazendo suas transformações, a própria maré que

vai avançando e derrubando os coqueiros ai. E a própria necessidade que o homem

tem de transformar o meio ambiente pra adaptá-lo pra construir alguma coisa, ai

fazendo o desmatamento. E também pra viabilizar o transporte vêm as mudanças”.

6º. Entrevistado: “Crescimento das construções! Mas está ordenado”.

7º. Entrevistado: “Vejo até que a vegetação aumentou, pelo menos por aqui em volta da

minha casa, a própria população tem plantado. Outra coisa que vejo é o aumento das

construções”.

As opiniões expostas acima dizem por si só sobre o nível de consciência que protege

Tabatinga, aqueles que ali construíram fazem de tudo para manter o bem-estar do ambiente da

praia. A união da população, a vontade de preservar a natureza e a paisagem do local faz com

que novos compradores de terrenos respeitem a forma de habitar aquele lugar, além de

também fazer frente ao poder público conseguindo barrar certas ações que poderiam

prejudicar a praia. Assim, faz-se de exemplo positivo para outras comunidades de segundas

residências país afora, por conseguirem manter seu lugar37 em equilíbrio.

37 O conceito de lugar para geografia também é bastante importante e nele traz o sentimento e sensação de pertencimento ao local, bem como a relação de afetividade que liga aqueles moradores ao local.

98

Para visualizar o que a quarta entrevistada fala sobre a praça pública que “virou” bar,

segue abaixo a foto do bar visto da praia e visto por trás, chamando atenção para o isolamento

da área feito por cordas.

Foto 34: Bar construído na praça pública – Tabatinga. Fonte: Kiyotani, 2010.

Foto 35: Bar que privatiza praça pública em Tabatinga. Fonte: Kiyotani, 2010.

Apresenta-se também uma foto que demonstra o problema das construções em áreas

legalmente protegidas, como os manguezais, a borda de falésias e a área de marinha, como

seguem nas fotos (33 e 34), de acordo com normas já expostas em tópico anterior. A foto 34

mostra duas segundas residências em áreas irregulares, a primeira em declive acentuado e a

segunda em área de marinha, observado ainda que ao lado dessa casa (2) da imagem, existem

outras quatro seguindo a mesma linha de costa. Já na foto 34, o exemplo de irregularidade

está nas sete casas, das que podem ser contadas, em área de preservação de manguezal.

Foto 36: Construções irregulares: em borda de falésia (1) e em terreno de marinha (2) – Tabatinga. Fonte: Kiyotani, 2010.

Bar

1

2

99

Foto 37: Casas construídas irregularmente em área de preservação permanente (faixa de proteção de manguezal) – Tabatinga. Fonte: Kiyotani, 2010.

A décima pergunta proposta no questionário durante o decorrer das entrevistas ficou

muito próxima ao respondido na nona, por isso todos os entrevistados, de todas as praias,

optaram por dizer que seria o já comentado na anterior. Já a décima primeira e décima

segunda, também parecidas entre sim, questionam se, mesmo com todas as dificuldades, ainda

há interesse na praia escolhida para segunda residência e sobre a pretensão de continuar a

freqüentá-la. Todas as respostas foram positivas.

Para facilitar uma análise entre os relatos das entrevistas com os proprietários de

segundas residências nas três praias foi elaborado quadro comparativo. Seguem os quadros

que indicam infraestrutura deficitária (quadro 1) e modificações ambientais e paisagísticas

(quadro 2).

Infraestrutura deficitária em Jacumã

Infraestrutura deficitária em Carapibus

Infraestrutura deficitária em Tabatinga

Água encanada/fornecimento constante

Água encanada/fornecimento constante

------

Coleta de lixo Coleta de lixo ------

Calçamento de ruas Calçamento de ruas Calçamento de ruas

Equipamentos públicos e privados de apoio à população

Queda de energia Posto de Saúde e escola

------ Saneamento básico ------

Quadro 1: Comparativo das infraestruturas reclamadas pelos proprietários de segundas residências nas três praias.

100

Pelo quadro, verifica-se que as necessidades na infraestrutura de Jacumã e Carapibus

são praticamente as mesmas. A diferença está na falta de equipamentos de apoio à população,

reclamados por proprietários de casa em Jacumã, e na queda de energia citada por

proprietários de casas em Carapibus.

É fácil perceber o porquê dessas queixas, a primeira vem do fato de Jacumã já ser um

centro de referência para as demais praias quanto ao suprimento de artigos para casa e para

saques de dinheiro, o que implica em maior fluxo de pessoas e de necessidades/demandas na

área. Já as quedas de energia chamam atenção dos proprietários de Carapibus, pois com ela

falta também água, que é bombeada de poços artesianos, sendo assim falta um bem vital, por

isso a necessidade de energia.

Positivo mesmo somente o mínimo número de queixas por parte dos proprietários de

segundas residências em Tabatinga, demonstrando com isso uma perfeita harmonia com a

praia. Esse fato se deve tanto as reais melhores condições de habitação da praia como pelas

necessidades dessas pessoas serem menos materiais, delas estarem mais em interação com o

meio ambiente. Pelas entrevistas pôde-se perceber como a maioria dos moradores temporários

de Tabatinga não está preocupada com a chegada de uma infraestrutura urbana, como o

calçamento das ruas, por exemplo, reclamado somente por um. O que realmente importa é

estar em consonância com o meio e mantê-lo em perfeito equilíbrio.

Modificações Ambientais e Paisagísticas percebidas pelos segundos-residentes

Jacumã Carapibus Tabatinga

Derrubada de coqueiros e árvores “Devastação ecológica, como exemplo a derrubada de fruteiras”

Derrubada da vegetação

Crescimento do número de casas Crescimento do número de casas Crescimento do número de casas

Avanço do mar Avanço do mar e conseqüente “queda de barreiras” (erosão das falésias)

------

Construções invadindo o mangue e “invasão” das barracas

“A visão que se tinha do mar foi impossibilitada pelas construções na beira das falésias”

Construções perto do mangue

Aumento do lixo nas ruas e praias e poluição do “maceió”

Praia mais suja ------

Esgoto correndo nas ruas ------ ------

101

------ ------ Desaparecimento de alguns animais nativos

------

------

Transformação da praça pública em bar, implicando maior fluxo de carros e mais erosão da faixa de praia

------ ------ Aumento da violência (arrombamento de casa)

Quadro 2: Modificações ambientais e paisagísticas percebidas pelos segundos-residentes das três paias – comparativo.

No segundo quadro comparativo, apesar de manterem algumas diferenças, percebe-se

mais igualdade nas respostas vindas dos entrevistados das três praias. É fato que não agrada

nas três praias a perda da vegetação decorrente da derrubada constante para possibilitar novas

construções, assim como o crescimento dessas construções e suas irregularidades, como o

desrespeito as leis de localização, por exemplo. Isso só enfatiza a necessidade de maior

controle sobre as novas construções e sobre os padrões de urbanização estabelecidos pelo

governo municipal, é preciso mais fiscalização e mais rigor no ordenamento urbano de

Jacumã, Carapibus e Tabatinga.

Os proprietários de segundas residências de Jacumã e Carapibus, mantendo um padrão

de respostas muito parecidas, apontam como outra modificação o avanço do mar nessas duas

praias. Em Carapibus, esse avanço tem ocasionado quedas de barreiras, ou seja, a erosão das

falésias costeira, o que acarreta além da modificação ambiental e paisagística um risco para

aqueles que irregularmente construíram na borda das falésias.

O problema do avanço do mar é, além de responsabilidade da humanidade, visto que

todos juntos causaram o aquecimento global, também um processo natural de transgressão e

regressão marinha, que ocorrem em períodos geológicos desde a formação da Terra. É preciso

ressaltar que, independente do que ou quem causou a erosão nas falésias, a culpa da possível

queda e perda das construções (incluindo o risco de vida durante esse processo) erguidas nas

bordas da falésia é só, e somente só, de quem as construiu e de quem as permitiu, ou seja, dos

seus proprietários e do poder público municipal.

Os recursos naturais não se esgotam porque querem, não derrubam casas, não

destroem construções, não “matam pessoas”, não é da natureza a culpa pelos desastres

ambientais que estão presentes hoje no mundo inteiro, é de completa responsabilidade do ser

humano tudo o que a ele ocorre. Personificar a natureza é uma saída do homem para eximir-se

102

de culpa. A natureza tem seus processos independentes do ser humano, o problema vem

quando este os altera; sendo assim, muitos dos desastres naturais são apenas respostas às

ações humanas, é apenas o meio retomando seu processo.

O aumento do lixo também é uma queixa em comum entre Jacumã e Carapibus, talvez

seja apenas uma questão de maior número de moradores e freqüentadores destas praias ou

talvez seja uma questão de posição preservacionista que não existe na área. Jacumã e

Carapibus têm mais casas e mais bares que Tabatinga, este é um fator a se levar em

consideração.

O fluxo nos bares deixa muita sujeira nas praias, mas o nível de participação da

comunidade em ações de conscientização e suas próprias atitudes perante o meio também

podem influenciar. Se os moradores de Jacumã e Carapibus fossem mais rigorosos com a

fiscalização da poluição nas praias e lagunas costeiras, ajudando o poder público e também

cobrando deste mais ações, possivelmente a questão do lixo melhorasse. Campanhas de

conscientização ambiental com a população, assim como fazem os proprietários de segundas

residências de Tabatinga, podem contribuir com a melhoria da qualidade ambiental.

Por fim, têm-se três reclamações que ocorrem somente em Tabatinga: o

desaparecimento de espécies animais; a transformação de espaços públicos em privados; e o

aumento dos arrombamentos de casas. O primeiro diz muito sobre esse contato com a

natureza que têm os freqüentadores de Tabatinga, pois provavelmente vários animais

deixaram de ocorrer nas outras duas praias, mas as pessoas não sentiram essa falta. Revela

ainda os impactos que o crescimento urbano causa nos animais, quando seu habitat é

modificado e já não lhes restam condições de permanecer ali, assim as espécies migram.

Com relação aos espaços públicos privatizados, é de conhecimento do poder público

que não somente em Tabatinga ocorrem tais “privatizações”, mas não existe posicionamento

algum. Mais uma vez o governo municipal é negligente ao permitir que essas atitudes se

estendam e permaneçam. Nada mais justo do que cumprir com a lei e devolver o que é

público ao povo, além da aplicação penal referente a cada caso, é claro.

Sobre o crescimento da violência em Tabatinga, mais precisamente no crescimento do

número de arrombamentos, não é possível aqui chegar a sua causa, mas podem-se apontar

alguns fatores que influenciam este fato: o próprio crescimento urbano da área das três praias;

o tempo que as casas permanecem fechadas; a visibilidade crescente do litoral sul paraibano,

sendo Tabatinga a praia “mais rica”; a facilidade de acesso e fuga através da rodovia PB-008.

Essas são as igualdades e diferenças entre as três praias que apontam para uma

realidade diferente da imaginada no inicio da pesquisa, quando se pensou no problema

103

existente no litoral sul paraibano. Dentro do que se esperava, Carapibus vem crescendo como

uma extensão de Jacumã, porém Tabatinga, por sua vez, não é uma extensão de Carapibus, ela

quebra com a constância de suas anteriores. Os problemas e configurações que se esperavam

repetir nas três praias, no geral, só estão presentes em Jacumã e Carapibus.

5.1.2 Dados técnicos e percepções dos gestores públicos quanto ao planejamento e

gestão: ordenamento urbano, paisagem e meio ambiente

As entrevistas ao poder público do município do Conde tiveram por propósito analisar

qual o posicionamento de alguns gestores ligados ao turismo e ao planejamento urbano com

relação ao “desenvolvimento” do turismo na área e, advindo dele, como enxergam o

crescimento urbano nas três praias.

O primeiro entrevistado foi o Secretário de Turismo do município. A primeira

pergunta foi qual a visão geral que ele tem sobre o turismo nas três praias. O Secretário

começou a resposta comentando que a Paraíba sempre investiu no turismo de sol e mar, com

isso, se “desenvolveram” os destinos Baía da Traição e Lucena no litoral norte e Jacumã no

litoral sul.

É preciso destacar que o conceito de desenvolvimento utilizado na resposta está longe

daquele empregado nessa pesquisa, durante a entrevista ficou claro que o termo foi utilizado

pensando apenas no crescimento do fluxo turístico e do urbano, sem ser medido o impacto

causado, sendo indiferente se positivo ou negativo.

Segundo o entrevistado, o crescimento do turismo nas praias do litoral norte

estacionou e em Jacumã foi mais célere, principalmente após a implantação da praia de

Tambaba como importante destino naturista brasileiro, nos anos de 1990. Mas o Secretário

entende que o crescimento não se deu da melhor forma possível, “isso com uma urbanização

desordenada, originada de vila de pescadores que depois passou a ser veraneio e uma

urbanização sem ter escrúpulo nenhum no sentido da sustentabilidade das regras urbanísticas

e da preservação do meio ambiente”. E para finalizar esta resposta o Secretário enfatiza que o

governo agora pretende conquistar e consolidar outro tipo de demanda turística,

104

“nós tivemos várias etapas, tivemos o turismo de veraneio, com turistas de Campina e Recife principalmente, o turismo de massa, e partimos agora para o turismo mais seletivo, turismo de família, que se hospeda em hotéis. Antes nós tínhamos aqueles que ficavam nas casas de veraneio ou que passavam somente o dia, e hoje não, nos temos os que movimentam a hotelaria, que é a segunda maior do estado.”

Tornou-se evidente com a resposta dada e durante toda a entrevista que o Secretário, e

provavelmente essa é uma opinião generalizada dentro do poder público municipal, não

“aprova” o turismo de segundas residências que ocupou a região. A busca é por turistas que

movimentem o mercado hoteleiro, que proporcionem mais lucro e que sejam de uma classe

social mais abastada. Mas como partir em busca desse “novo” fluxo turístico sem resolver

problemas pendentes? E como ignorar um turismo de segundas residências que já é fato na

área?

Compreende-se o desejo de expansão da indústria hoteleira por parte do governo, mas

essa busca não exclui o dever de prover a ocupação já existente de melhores condições de

moradia e lazer. As duas formas de turismo devem ser levadas em consideração e

beneficiadas igualmente, pois uma já tem seu espaço e fluxo concretizados, então os cuidados

para com esta não podem cessar, e a outra necessita de atenção em sua implantação.

A segunda pergunta questiona o que teria para se dizer do turismo de veraneio, ou de

segundas residências na área:

“O turismo de veraneio na costa do Conde tende a desaparecer, porque quase não existem mais essas casas de veraneio, porque ou as pessoas moram ou alugam, pois é um turismo muito dispendioso. É muito melhor você que vem uma vez ou outra ficar em hotel. E também com a proximidade de João Pessoa, daqui a uns cinco anos o Conde será uma cidade integrada com João Pessoa. Vai ser mais barato morar no Conde e mais confortável, questão de transito, segurança, e vir trabalhar em João Pessoa. A tendência é que lá seja primeira residência e nosso turismo será exclusivamente um Pólo Turístico Hoteleiro.”

No discurso do Secretário reitera-se o desejo do governo municipal de frear as

segundas residências e promover um turismo que traga um público mais elitizado. Passa a

impressão de um desejo de negar o turismo de segundas residências, pois é evidente que esse

ainda faz-se muito presente na área, a freqüência dos visitantes é praticamente semanal, as

casas ficam fechadas durante os dias úteis da semana.

105

Outro ponto interessante nesse discurso é o fato de o Secretário considerar o litoral do

Conde mais confortável que João Pessoa para moradia, incluindo ai mais segurança. É

importante dizer que no litoral do Conde só há uma delegacia situada em Jacumã e nenhuma

outra base nas demais praias. Além disso, como ser mais confortável se conforme visitações e

relatos analisados no tópico anterior demonstram que não há equipamentos de atendimento à

saúde suficiente nas praias. Não há também equipamentos financeiros como bancos, nem de

apoio como supermercados. Enfim, para tornar-se local de primeira residência é preciso

investir em melhorias urbanas de primeira e segunda necessidade.

Indagado sobre como se deu o crescimento urbano, principalmente pelas segundas

residências, desde 1970 até hoje, o Secretario relata: o nosso crescimento é maior que a nossa

capacidade de manter a infraestrutura, de coleta de lixo, segurança. Está crescendo mais

rápido do que as ações governamentais. Nessa pergunta assim como na primeira, o Secretário

confirma um crescimento urbano que foge do controle do poder público no que tange

organização e fiscalização. Chama-se atenção ainda nesta resposta a falta de capacidade do

município em acompanhar o crescimento com infraestrutura, coleta de lixo e segurança, ou

seja, mais uma vez, como tornar-se local de primeira residência? Esta resposta dada contraria

a anterior. Além de não ser favorável a residência fixa, também não oferece boas condições

para àquela secundária, implicando em degradação ambiental e paisagística.

Com relação à infraestrutura de apoio aos moradores das praias que também é a

utilizada pelos turistas o Secretário analisa o seguinte:

“Um centro turístico, numa cidade turística só pode ser desenvolvido se for bom também para os moradores. Você não pode ter uma implantação de um pólo turístico se a população é contra isso, se ela não usufrui, não participa, se ela fica à parte disso a tendência é o total caos e o não sucesso. (...) A infraestrutura [atualmente] é muito falha, nós temos falha no saneamento, na distribuição de água e esgoto, de coleta de lixo, porque o desenvolvimento esta sendo muito ligeiro e além da nossa capacidade. Nós temos tido ajuda do governo federal e estadual para suprir as necessidades de saneamento, de energia. Existem projetos da expansão da rede de água e esgoto, já estão aprovados, estão em regime de emendas parlamentares e a gente espera liberação. Como também construção do binário, e a urbanização da faixa de Jacumã, e a implantação de vários equipamentos do mobiliário turístico: rede de informação turística, mercado de artesanato.”

As palavras do Secretário são tecnicamente perfeitas, porém, infelizmente não é o que

se encontra nas três praias. Principalmente em Jacumã, a aceitação do turismo pelos

moradores não foi analisada pelo poder público. Por pesquisas efetuadas na praia de Jacumã

106

desde 2005, pode-se apontar que não houve um diálogo com a população residente para

acompanhar o impacto do turismo na sua vida. Até onde faz-se perceptível, com as visitas ao

local, as necessidades da população com relação à saúde, educação, segurança e infraestrutura

básica não estão sendo atendidas. É preciso que o discurso do Secretário seja posto em prática

e a população residente seja favorecida, sejam supridas suas necessidades, para depois

desenvolver o turismo na região.

Seguem, respectivamente, abaixo as respostas quanto à atenção que se dá às segundas

residências - principalmente no que tange as questões urbanísticas e ambientais, e qual a

percepção sobre a modificação da paisagem desde 1970:

“A atenção é muito grande, porque não fazemos nada sem a avaliação dos órgãos ambientais. Porque nos fazemos um selo do seu projeto, encaminha para uma analise prévia e sem essa análise prévia a gente não dá andamento e aprovação a nenhum projeto. É a garantia de que a gente terá um projeto de sucesso, não adianta liberar e ser embargado. A grande preocupação nossa é que tem que crescer, mas com sustentabilidade, não é destruindo, é preservando porque esse é o grande álibi que temos para vender nosso destino.” “O que nós vemos é uma grande expansão imobiliária, mas que graças chegou com as normas de sustentabilidade. Existe um projeto já de urbanização para as barracas velhas [que não seguiram padrões], mas que é muito difícil, por ser um processo social, paisagístico, urbanístico e político, que não é fácil, mas a gente está em um processo e não libera mais barracas à beira-mar.”

Espera-se que esta fiscalização ambiental dita pelo Secretário realmente aconteça, mas

a de se constatar que o boom do crescimento urbano em Jacumã não aconteceu de forma

sustentável, não obedeceu a padrões de qualidade ambiental e algumas casas até hoje

continuam poluindo o meio com seus esgotos correndo a céu aberto, fossas não regularizadas,

etc.

Quanto ao ordenamento das barracas de praias, este projeto vem delongando desde

2005, e é preciso fazer algo para conter a poluição causada pelas mesmas; além de melhorar o

aspecto visual da área que se encontra prejudicado (fotos 35 e 36). As barracas estão dispostas

na frente mar e também ao lado da quadra de Jacumã, muitas delas não têm fossa, sendo

possível ver a encanação que sai de suas cozinhas. As que estão próximas à quadra ainda

apresentaram, durante algumas visitas, acúmulo de lixo próximo; frisando ainda que essas não

possuem suas ruas (frentes) calçadas (foto 36).

107

Foto 38: Bares frente mar – Jacumã. Fonte: Kiyotani, 2010.

Foto 39: Bares antigos ao redor da quadra – Jacumã. Fonte: Kiyotani, 2010.

A segunda entrevista ocorreu com o responsável pela Unidade Administrativa de

Jacumã, escolhido por ter um contato mais direto com a população local e vivenciar as

dificuldades da área diariamente. Analisando o turismo nas três praias, o administrador local

acredita que Jacumã e Tabatinga sejam destinos de moradia muito mais que de segunda

residência, segundo o próprio, 70% dos freqüentadores são na verdade residentes fixos. Para

ele só Carapibus recebe turistas de segunda residência.

Sobre a relação que a administração local tem com os proprietários de segundas

residências, o entrevistado afirma: “é bom, e eles me ajudam, eu tenho um ótimo contato com

todos lá. O problema do lixo é o mais discutido por lá, agora montamos uma cooperativa,

estamos com o projeto pronto para fazermos a reciclagem de lixo”. Falando sobre o que

acarreta para o meio ambiente a urbanização da área, constata: “olha, tira um pouco do que

era há algum tempo, tinha mais vegetação, é até um pouco estranho de se ver, porque o

crescimento foi muito rápido e muito desordenado ao mesmo tempo. É complicado do jeito

que está agora e a tendência é aumentar até mais”.

Perguntado sobre as transformações decorrentes das segundas residências e existência

de algum controle sobre a expansão das mesmas, o administrador diz,

“[Mudou a] vegetação, as construções. Antigamente ia pros maceiós, via caranguejos, hoje você não vê mais. Eu acredito que é decorrente das construções mesmo, aumentou muito, de 15 anos pra cá foi um absurdo. Até 2005 eu não sei se existia esse controle, mas hoje eu sei que existe, pela prefeitura, pelo IBAMA e pela SUDEMA. Qualquer casa que você for fazer em Jacumã, em qualquer lugar, você tem que ter a licença da SUDEMA pra fazer a fossa, não importa se é perto do mangue, perto da praia, você tem que ir à SUDEMA senão a gente não da o alvará de construção da casa. E daí a

108

própria prefeitura fiscaliza. Tem muito terreno também que foi vendido dentro de mangue e as pessoas querem construir. Esse loteamento [dentro de mangue] aconteceu 15 anos atrás, tudo foi vendido, hoje a prefeitura não libera... quer dizer, como eles não conseguem o alvará com a SUDEMA, a prefeitura não da o alvará de construção. Esses terrenos os donos perdem, eles tem que correr atrás de quem vendeu pra ressarcir.”

Diante da resposta dada, questionou-se como podem ser vendidos terrenos dentro dos

mangues, já que perante normas legais dos três níveis da federação essa prática é ilegal: em

algum momento houve legalização dessa área? “é, antigamente foi liberado pela prefeitura.

Ele é legalizado, entre aspas, pela prefeitura. Esse prefeito que esta agora não libera nada sem

o alvará da SUDEMA ou IBAMA”.

As palavras do administrador local indicam negligências acontecidas no processo de

crescimento urbano do litoral do Conde. O que precisa ser feito é uma reversão deste quadro e

o comprometimento em não ser conivente com novas tentativas de construção ilegal.

Na tentativa de comprovar um “limite” espacial de abrangência das segundas

residências, foi questionado se haveria um local onde a ocupação fosse prioritariamente de

segundas residências. A resposta foi positiva, “Carapibus como segunda residência, [a partir]

da PB-008 pra praia, e do asfalto pra cima, não. Mas Jacumã, tanto da 008 pra praia ou pra

dentro é misturado”.

Sobre a infraestrutura de apoio à comunidade e aos turistas o administrador somente

enumerou o que há nas praias: “Saúde a gente tem dois PSF – Posto de Saúde da Família e

um posto; polícia tem um posto. Saneamento é fossa, em Jacumã tem um pouco de

saneamento e água da CAGEPA; Carapibus e Tabatinga é poço e fossa. A gente fechou um

contrato com a ENERGISA, então vai ficar bem melhor a iluminação”.

Com relação à atenção dada aos freqüentadores das segundas residências foi

comentado que é a mesma àquela proporcionada a comunidade local.

Por fim, foi perguntado se o administrador identificava alguma modificação necessária

nessas praias, seja com relação à infra-estrutura, ao turismo, aos veranistas e planejamento em

geral. Segue sua resposta:

“Nas praias falta muita coisa, calçamento seria uma coisa importante, iluminação está em andamento, a prefeitura está fazendo um projeto pra Carapibus de água encanada, mas para Tabatinga não tem. Com relação à paisagem, se fosse mais ordenado seria bom, do jeito que foi feito ficou muito desordenado. Então eu não enxergo com bons olhos essa transformação que foi feita, foi feita muito rápido e muito desordenado. É

109

por isso que hoje a prefeitura aumentou muito o imposto pra dar o alvará de construção porque não quer que qualquer um chegue e construa de qualquer maneira, eu acho isso importante. Outra coisa que eu gostaria de falar é que 89% das casas em Jacumã são irregulares, não existem para a prefeitura, só existem terrenos, você vai lá e tira o IPTU e vai ver como terreno e não como casa, é complicado arrecadar pra fazer qualquer coisa. O pessoal constrói a casa e não tira alvará, mas hoje em dia não acontece isso, porque a gente tem os fiscais que atuam muito lá, isso eu estou falando de antes.”

Assim terminou a entrevista ao administrador local, com poucas novidades sobre a

situação em que se encontra a área no quesito modificação da paisagem e do meio. Mas com

suas palavras ficou exposto um fato que pode realmente ser agravante da falta de

investimentos na área, o não recolhimento do Imposto Predial e Territorial Urbano – IPTU de

algumas casas devido sua não regularização perante a prefeitura. Enfatiza-se aqui que esse

fato não é uma justificativa para a negligência do governo municipal, mas é também um alerta

para que a fiscalização das construções aumente na área.

A entrevista ao administrador também pode confirmar as percepções sobre as

construções de segundas residências prioritariamente na faixa de terra que limita-se entre o

mar e a rodovia estadual PB-008. A escolha por este limite físico deu-se justamente por essa

percepção.

O último gestor público entrevistado foi o geógrafo pertencente à Secretaria de

Planejamento do Conde. Devido à mudança recente de Secretário, o novo responsável pela

Secretaria não estava apto a responder as questões, visto que acabara de tomar posse na

semana de realização das entrevistas e não possuía as informações necessárias. Já o

funcionário entrevistado já pertence ao quadro fixo da Secretaria a alguns anos e pôde

responder com conhecimento de causa.

Primeiramente se quis saber qual a visão que o funcionário tinha sobre o turismo de

segundas residências nas três praias. A resposta foi que esse tipo de turismo não proporciona

às praias um crescimento sustentável, pois os freqüentadores vêm nos finais de semana e

deixam muito lixo ao sair. Outro fato é que, com um grande número de segundas residências,

torna-se desinteressante ao governo investir na área, pois àquelas pessoas não são eleitores do

município e não renderão votos. Ainda foi mencionada a disparidade social entre os

proprietários de segundas residências e entre estes e a comunidade local, que por vezes gera

desconforto nas relações sociais.

Por esta primeira resposta - tendo deixado claro que não é seu posicionamento

particular, porém uma postura do governo municipal em termos gerais - se verifica um

110

posicionamento bem comum ao restante dos governantes no Brasil: promover ações que

gerem votos. É lamentável tal postura, posto que um governante não esteja no cargo para

angariar votos e sim para cumprir um compromisso assumido para com a sociedade. Não

prezar pela segurança ambiental e social vai além da falta de responsabilidade política, é falta

de cidadania e dignidade. Esse comportamento precisa ser mudado, é necessário governar

com honestidade, traçar planos, realizar obras e ações independente de quantos votos serão

ganhos ou perdidos com as escolhas administrativas, contanto que tudo se dirija ao bem

coletivo.

Com relação ao dito sobre o turismo de segundas residências potencializar a sujeira

deixada para trás pelos visitantes, é bom lembrar que toda e qualquer localidade está propensa

a tal comportamento e que este decorre da falta de educação, tanto educação proporcionada

pela Nação como educação do lar. Como esse problema tem uma extensão bem maior que um

município, sugere-se aqui que sejam efetuadas campanhas educativas que minimizem tais

comportamentos, em uma tentativa também de despertar consciência nas pessoas.

Cabe ainda dizer sobre o comentário do entrevistado que o lixo deixado pela maioria

das segundas residências, de acordo com as entrevistas, é aquele na frente de suas casas ou em

locais determinados para que o caminhão de coleta do município passe e o leve. Dessa forma,

as pilhas de lixo amontoadas pelas ruas e nos terrenos baldios, verificadas em várias

visitações à área e registradas por foto, são de responsabilidade do governo municipal, cabe a

ele a coleta suficiente ao não acúmulo.

Sobre o incômodo social trazido com o turismo pela disparidade social, só mesmo com

a valorização das culturas locais, com o fortalecimento da identidade cultural da comunidade

e proporcionando estabilidade financeira a mesma é possível contornar ou acabar com essa

questão.

Quanto ao que o geógrafo acredita acarretar as segundas residências ao meio ambiente

e a paisagem, segue,

“as pessoas com segundas residências chegam com muita demanda e pouca participação. Elas querem demais do poder público, mas geralmente não contribuem com participação, com formas de melhorias paralelas ao poder público. E uma característica dessas segundas residências no Conde é que muita gente é de fora do próprio país, então essas pessoas demoram a pisar no município. Muita gente não está fazendo turismo, mas comprando terreno pra vender, é especulação imobiliária mesmo. Porque quando a pessoa realmente freqüenta, passa final de semana, essa pessoa pode ser que traga algum benefício para o município, mas as pessoas que compram só pra especular não trazem benefício algum, só encarecem o valor da terra. A questão ambiental nós temos dois pontos a considerar, um é que ninguém

111

segue o Código Florestal, então margem ciliar de rio não é respeitada, e o outro é o das encostas com mais de 45° de inclinação que deveriam ser preservadas não são.”

Com relação à especulação imobiliária o gestor está correto, essa prática crescente no

Conde só impossibilita melhorias, posto que não existe diálogo com os donos dos terrenos e

encarece demais a região, incluindo ai o custo de vida da população já residente. As

construções irregulares, desrespeitando leis ambientais, já foram bastante discutidas e

exemplificadas por fotos.

Sobre as transformações ocorridas desde 1980 na área, decorrentes principalmente do

turismo de veraneio, o gestor lamenta:

“um dos grandes problemas no Conde foi justamente essa especulação ter sido tão avassaladora que não deixou nem área verde nem parques, hoje infelizmente a lógica capitalista no município do Conde é de degradação total do meio ambiente em prol de um desenvolvimentismo. Enquanto JK pensava em seu governo que ia desenvolver o Brasil com indústrias, hoje a gente vê o governo do município do Conde achando que vai desenvolver o município só e unicamente com o turismo de sol e mar e com construções imobiliárias, e se acha que desenvolvimento é isso.”

Mais um relato sobre uma postura política errônea, apostando em um turismo

salvacionista, atividade esta inexistente, seja no Conde ou em qualquer ponto do mundo.

Desde o início deste trabalho vem-se tentando esclarecer que o turismo não salva, mas

contribui para o desenvolvimento de uma localidade, a atividade é uma das possibilidades de

melhoria de um local. Lembrando novamente que desenvolvimento implica avanços positivos

na economia, na preservação do meio ambiente, na saúde, na educação, na segurança e na

cultura de um dado local.

Perguntado se a Secretaria tem dados sobre a expansão urbana proporcionada pelo

turismo de segundas residências foi respondido que não, que somente após o término do

Plano Diretor – que está parado, e tendo feito um cadastro imobiliário, é que será possível

visualizar a real situação do Conde. Mas o entrevistado coloca, “agora pra qualquer pessoa é

perceptível a degradação ambiental que está acontecendo no Conde. Existem vários exemplos

de como o crescimento desordenado tem gerado vários problemas, alguns até irreparáveis”. E

quanto ao controle sobre esse crescimento pelo poder público ele continua:

112

“de certa forma boa parte desses loteamentos são um pouco antigos, são da década de 60, os mais recentes são de 1978/80, então o que aconteceu foi o seguinte, houveram sobreposições de plantas, então as pessoas foram vendendo primeiro os lotes, depois foram loteando as áreas verdes, foram loteando ruas, o caos foi lançado. A Secretaria de Planejamento é recente, só tem cerca de 4 anos, só com ela veio o Plano Diretor mas que teve que parar e talvez agora, com o retorno da verba, a gente continue. Mas algumas outras Secretarias também precisam melhorar, como por exemplo a de infraestrutura com seus fiscais de obra que deveriam fiscalizar mais, por exemplo, essas áreas de margem de rodovias, você tem que dar 15m de margem, pra própria segurança, mas você tem ali dirigindo para Tabatinga verdadeiras quinas de muro dando pra pista e as pessoas trafegam ali a 80km/h. Então a fiscalização que deveria ocorrer com uma Secretaria mais atuante que também é a Secretaria de Obras, também não está ocorrendo não. Mas isso tá dentro do desenvolvimento governamental e é complicado porque os técnicos por mais que tenham conhecimento de como fazer, não tem autorização de fazer”.

Fica evidente através desta última resposta que a administração do Conde ainda

enfrenta problemas de integração entre suas Secretarias, o que possibilitaria um melhor

reconhecimento e controle da área. É preciso trabalhar, planejar e atuar em conjunto, para que

o resultado seja mais positivo e mais preciso. Além de o trabalho em conjunto ser mais fácil

para os gestores e suas equipes, a população certamente sente-se mais segura quando visualiza

essa integração e domínio dos problemas e soluções. Convém mencionar que chega a

incomodar essa verdade brasileira, quando se tem técnicos capacitados e conscientes de suas

responsabilidades que não podem fazer seu trabalho corretamente, ficam à mercê de

autorizações e conveniências inviáveis.

Tendo finalizado as entrevistas, pôde-se verificar a situação atual da área de estudo,

bem como comprovar os problemas ambientais e de planejamento urbano verificados in loco.

Tanto os gestores públicos quanto a população tem, cada um do seu jeito, a forma de

expressar a falta de ordem urbana e a degradação que vem acontecendo em Jacumã,

Carapibus e Tabatinga. Para dar uma visibilidade sob outro ângulo dessas questões discutidas

nas entrevistas, no próximo tópico são apresentados os mapas de expansão urbana e de

impactos ambientais.

113

5.2 Mapas de uso e ocupação: expansão urbana linear e impactos ambientais

Foram produzidos três mapas que possibilitam demonstrar as modificações ocorridas

no espaço estudado no período de 1985 a 2008, enfatizando o crescimento urbano e linear das

três praias, a proporção de ocupações advindas do turismo de segundas residências na área e

como este turismo impacta o meio ambiente.

O Mapa 1, Sobreposição das Áreas Urbanas 1985 x 2008” (p.110), foi elaborado a

partir do cruzamento de dados entre as fotografias aéreas de 1985 adquiridas no INTERPA e

da imagem de satélite Quick Bird do ano de 2008 adquirida através da Secretaria de

Planejamento do Conde.

No processo de produção do mapa foram digitalizadas as fotografias de 198538 (escala

1:40.000) e, em cima das mesmas, feitos os polígonos com as seguintes classes temáticas:

área urbana construída, de área loteada e não construída e de vegetação. Depois dos polígonos

de ocupação terminados foi feito um segundo processo de verificação através de pesquisa no

INTERPA com as mesmas fotografias ampliadas para a escala 1:10.000, para confirmar e

aperfeiçoar os dados registrados. Os polígonos de mesmas classes temáticas foram

construídos na imagem de satélite do ano de 2008.

Tendo construídos os dois mapas de ocupação referentes a cada ano, fez-se a

sobreposição destes mapas através do Cruzamento de Plano de Informação do Programa

Spring. Esta ferramenta possibilita entrecruzar os dados dos dois mapas, ou seja, sobrepõe os

seus polígonos de acordo com as necessidades a serem atendidas. Neste caso, foi feita a

seguinte operação/verificação:

• O que em 1985 era área construída e tonou-se área loteada e não construída até 2008;

• O que em 1985 era área construída e tornou-se vegetação até 2008;

• O que em 1985 era área construída e assim permaneceu até 2008;

• O que em 1985 era área loteada e não construída e assim permaneceu até 2008;

• O que em 1985 era área loteada e não construída e tornou-se área construída até 2008;

• O que em 1985 era área loteada e não construída e tornou-se vegetação até 2008;

• O que em 1985 era vegetação e tornou-se área construída até 2008;

38 Dados das fotografias: INTERPA, 1985. TERRAFOTO: escala 1:40.00; 01/03/85; Obra 497 PB 1 Faixas 06, 07 e 08.

114

• O que em 1985 era vegetação e assim permaneceu até 2008;

• O que em 1985 era vegetação e tornou-se área loteada e não construída até 2008.

A partir desse cruzamento obteve-se a tabulação dos dados que seguem:

Plano 1 – nas linhas: área urbana 1985

Plano 2 – nas colunas: área urbana 2008

2008

1985

Área construída Área loteada e

não construída

Bares Vegetação

Área construída 745 m² 206 m² 6 m² 10 m²

Área loteada e

não construída

851 m² 1.943 m² 60 m² 68 m²

Vegetação 39 m² 31 m² 0 m² 409 m²

Quadro 3: Cruzamento de dados da área urbana entre os anos de 1985 e 2008.

Desta informação retira-se que os números obtidos são condizentes com os interesses

do mercado imobiliário, e do próprio governo municipal, que vêm se impondo desde a década

de 1970 no Conde, quando grande extensão de vegetação já havia sido devastada para fazer os

loteamentos.

Com isso, os números não se tornaram tão alarmantes, porém destaca-se que 39m² de

vegetação tornaram-se área construída até 2008 e 31m², também de vegetação, virou

loteamento até 2008. Ou seja, além de tudo que já havia sido retirado para lotear, continuou-

se o processo de ocupação sobre a área vegetal. Tem-se que 68m² de vegetação conseguiram

se regenerar após terem sido cortados e loteados mesmo constando nos documentos públicos

como loteamento (na cor verde claro no mapa), porém tal fato não significa que permanecerão

vegetação.

Essa regeneração é bem compreensível quando se olha o mapa, pois se deu,

majoritariamente, na área que margeia os manguezais e que mantiveram porcentagem de sua

composição original. Ao mesmo tempo, olhando sobre a mesma categoria e para mesma área

(acompanhando rio e manguezal), chama-se atenção que a proporção de vegetação que se

restabeleceu é bem pequena perante aquela que foi cortada e não conseguiu se regenerar –

representada pela cor marrom no mapa.

115

Os demais números não indicam grandes mudanças: 745m² permaneceram de área

construída durante os anos; 851m² passaram de área loteada para área construída - um

processo natural, e 1.943m² permanecem loteados à espera de suas construções.

Pelo mapa é possível ver a linha de costa sendo ocupada progressivamente. Em 1985

as casas se concentravam apenas na praia de Jacumã. As demais praias juntas não continham

mais que 15 casas, podendo ser observada tal informação na legenda referente à área

construída em 1985 que permaneceu construída em 2008 (hachura vermelha). Já quando

analisada a área loteada e não construída de 1985 que se tornou construída em 2008, se

percebe as construções ocupando o restante da linha de costa. Somando o visual ao que foi

obtido nas entrevistas é possível dizer que as três praias vêm sendo ocupada de forma linear

uma após outra, cronologicamente.

116

117

O Mapa 2, Área Urbana 2008 e Segundas Residências (p. 112), permite visualizar o

quanto da área urbana nas três praias é ocupado pelas segundas residências turísticas. O mapa

foi elaborado a partir da imagem de satélite Quick Bird de 2008, sendo construídos os

polígonos de área construída, de área loteada e não construída, de bares e de vegetação, e em

outra etapa feitos os polígonos dos lotes das segundas residências. Tenda as duas etapas

prontas (em Planos de Informação diferentes), foi feita a sobreposição, podendo visualizar os

lotes das segundas residências sobre a mancha urbana.

Para o reconhecimento dos lotes das segundas residências foi realizado trabalho de

campo com as agentes de saúde de cada praia. Por essas agentes possuírem um contato

constante com a população do local, bem como percorrerem as casas fazendo suas visitas

rotineiras e pesquisas, elas possuem a informação das casas ocupadas por moradores fixos ou

temporários, assim como sabem das casas fechadas. Tornaram-se assim chave para fazer o

mapeamento das segundas residências, apontando quais as casas habitadas por residentes

fixos e aquelas dos temporários. Além da constatação pelas agentes de saúde, várias visitas à

área foram realizadas a fim de verificar as casas fechadas, postas à venda ou para alugar,

como também para localizar as construções que são pousadas, hotéis ou restaurantes.

Analisando por praia vê-se que em Jacumã a relação entre a mancha urbana e as

segundas residências é menor. Têm-se mais casas de residentes fixos e pontos comerciais do

que casas de veraneio. Mesmo tendo crescido como área turística, Jacumã hoje é

prioritariamente ocupada por nativos, nascidos e criados ali mesmo ou que já estão no local

por vários anos, tendo constituído na praia residência fixa.

Já a praia de Carapibus, pode-se notar pelo mapa, tem um número maior de segundas

residências em relação à mancha urbana e em relação à Jacumã. O reconhecimento in loco

aponta ainda um maior número de pousadas e hotéis, o que faz da praia prioritariamente área

de exploração turística, sendo equilibrada a proporção entre estabelecimentos turísticos

comerciais e segundas residências.

Tabatinga apresenta o maior número de segundas residências dentre as três praias,

tendo seu espaço quase que 100% ocupado por estas. Pode-se até contar quantos lotes não são

segundas residências e quais são destinados a pousadas e hotéis.

Por fim, foram calculadas as áreas totais da mancha urbana (965m²) e dos lotes de

segundas residências (486m²). Fazendo uma razão de proporcionalidade entre essas, obteve-se

que 50,4% da mancha urbana referem-se às casas de segundas residências.

118

119

O terceiro e último mapa, “Segundas Residências x Área de Preservação Ambiental”

(Mapa 3, p.116), possibilita ver e comprovar quantas segundas residências estão construídas

em áreas irregulares perante as leis ambientais, leis estas que foram anteriormente tratadas

nesse trabalho. O mapa foi elaborado a partir da sobreposição entre o mapa de preservação

ambiental construído por Lilian Ferreira Cardoso da Silva em seu trabalho de conclusão do

curso de mestrado pelo Programa PRODEMA/UFPB39, tendo sido feitas pequenas alterações,

e o mapa com os lotes das segundas residências. Gerou-se com isso o visual de como os lotes

de segundas residências estão dispostos sobre áreas de preservação.

O mapa de preservação traz as seguintes áreas protegidas por lei:

• As faixas de proteção de mangues regulamentadas pela Lei nº 7.803 de

18/07/1989 - e denominadas Buffer Mangue 50-200 no mapa, pois os rios ali

encontrados estão dentro da extensão de 10 a 50 metros e superiores a 50

metros que os fazem ter uma faixa de proteção de 50 a 100 metros;

• As faixas de proteção de falésias regulamentadas pela Lei nº 7.803 de

18/07/1989 - e denominadas Buffer Falésias no mapa, que traçam uma faixa

de 100 metros a partir da falésia em direção ao continente;

• As declividades acima de 45º, aqui representadas por aquelas acima de 30%,

regulamentadas pela Lei nº 4.771 de 1965;

• As áreas de mangues protegidas pela Lei 9.605 de 1998;

• As margens de rodovias regulamentadas pela Lei 4.771 de 1965 - equivalendo,

no caso, à 15 metros para cada lado.

39 A referência consta na bibliografia deste trabalho.

120

Segue abaixo tabela expositiva que quantifica os casos de irregularidade em números

de lotes:

Tabela 1: Quantificação de lotes edificados dispostos sobre áreas de proteção ambiental. Jacumã Carapibus Tabatinga

Buffer Mangue 70 42 62

Buffer Falésia 23 6140 24

Declives 07 35 09

Mangue 0 0541 01

Margem de Rodovia 08 0 02

Total 108 143 98

Como pode ser observado, as três praias apresentam inúmeros casos de irregularidades

(totalizando 349), com lotes já edificados ocupando as áreas que seriam de preservação

ambiental. São lotes que estão dentro das faixas de preservação de falésias, declives e

mangues, ou pior que isso, alguns desses lotes e casas estão exatamente sobre falésias,

manguezais e declives. Os manguezais nas três praias foram aterrados em alguns pontos para

possibilitar a construção de residências, procedimentos como esses nunca poderiam passar

despercebidos pelo poder público, mas por muitos anos isso aconteceu na área de estudo.

Além do aterramento, outro grave problema com relação aos manguezais é que os

detritos domésticos podem estar sendo lançados diretamente nesta área e se não estão, de

qualquer forma, se uma fossa é construída praticamente dentro do mangue/rio certamente ela

causará a poluição do mesmo. Mais uma vez fica aqui a preocupação em uma fiscalização

mais rigorosa por parte do poder público nestes locais.

As faixas de proteção dos manguezais são as áreas de proteção mais adensadas pelas

segundas residências, somando 174 lotes nas três praias. Tal fato prejudica tanto fauna quanto

flora locais: os animais ficam cercados por construções, praticamente sem área de refúgio e

circulação; e são freqüentes os cortes de mata ciliar. Outro problema dessas construções é a

impermeabilização do solo em uma área que, provavelmente, serve também para a vazão do

40 Sendo 46 lotes com sua área total inserida nessa faixa de proteção ambiental e 15 parcialmente. 41 Um dos lotes apresenta mais 50% do seu território total dentro do mangue, comprovando aterramento. Os outros quatro lotes têm proporções menores de áreas dentro do mangue.

121

rio que margeia. Esse fato leva ao possível alagamento dessas casas quando da enchente do

rio.

Além da questão ambiental, perde-se qualidade paisagística, já que em meio à natureza

surge cada vez mais solo edificado, várias casas que acabam “quebrando” a harmonia e o

equilíbrio do meio natural. Onde se espera ver o verde do mangue, encontra-se cada ano mais

concreto, empobrecendo e bloqueando a vista desse ecossistema.

No que tange os proprietários de casas sobre falésias e grandes declividades, 159 no

total, esses não atentam para o próprio risco que correm, visto que a erosão pelas águas

superficiais, dos ventos ou decorrente do avanço do mar pode fazer desabar essas casas.

Pensar em preservação então está muito longe da realidade desses proprietários, se não

prezam pela própria segurança, imagina-se que respeitar a natureza e as leis ambientais não

deve fazer parte de suas intenções.

É preciso citar ainda que algumas ruas transversais à praia em Carapibus, localizadas

nas bordas da falésia, foram literalmente fechadas por construções, ou seja, o que era acesso

público hoje se encontra “privatizado”. As construções sobre as falésias de Carapibus, como

foi mencionado por um dos entrevistados dessa praia, formam ainda um paredão que

“tampou” a vista panorâmica da praia e diminuiu a passagem do vento para áreas posteriores

ao primeiro quarteirão da praia.

Em Tabatinga foi possível ver como o processo de loteamento irregular acabou

prejudicando visivelmente o meio e causando, inclusive, transtornos aos proprietários de lotes

e construções. Por ter sido loteada área dentro da faixa de proteção da falésia e com isso ter

sido desmatada, uma grande voçoroca foi se abrindo e continua em processo de erosão. Não é

possível na verdade dizer se o desmate provocou a voçoroca ou se apenas acelerou seu

processo, é fato que a falta de vegetação nativa, somada ao fluxo de carros nas ruas bem

acima da voçoroca, geram maiores possibilidades de erosão.

A voçoroca hoje atinge e já erodiu ruas e lotes de Tabatinga e está bem próxima de

segundas residências (como se registrou em fotos já apresentadas). Os moradores de

Tabatinga junto a AMATA desejam um projeto de contenção da voçoroca, durante o encontro

no dia 05/06/2010 (dia Mundial do Meio Ambiente), esta vontade foi expressa durante

visitação ao local. Como esses projetos de contenção costumam ser bastante onerosos, é bem

possível que nada seja feito, já que o encargo é pesado para os moradores e o poder público

não parece estar consciente do problema ou interessado em contê-lo.

Todos os problemas citados e confirmados na construção dos mapas tendem a

aumentar com o crescimento do número de construções, é preciso que em um momento breve

122

as autoridades municipais responsáveis atuem em prol de melhorias para a área. Os moradores

e proprietários de segundas residências também devem ajudar o poder público, assim como

tem tentado a Associação de Moradores e Amigos de Tabatinga.

O planejamento urbano da área deve ser participativo na medida do possível, como

também sua concretização. Todos, comunidade e poder público, podem elaborar planos de

manejo ecológico-ambiental para as áreas degradadas e áreas de preservação, contribuindo

para a sustentabilidade local. Sem a contribuição de ambas as partes é possível que um

ambiente até então atrativo passe a não exercer mais essa função perante turistas e residentes,

gerando assim um efeito cascata sobre a economia e a sociedade do município e até mesmo da

capital paraibana.

123

124

6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

6.1 Conclusões

É inegável que a atividade turística traz alterações aos locais onde aporta, sejam elas

benéficas ou não. A partir da análise dos conceitos sobre paisagem e meio ambiente, bem

como da importância que esses têm para a vida em sociedade, pôde-se avaliar o quanto o

turismo vem interagindo com tais conceitos e analisar o impacto que a atividade proporcionou

nas áreas estudadas. Baseado nas pesquisas realizadas, entrevistas e reconhecimento por

imagens e in loco, constata-se que ao longo destes 30 anos a paisagem e o meio ambiente

locais vêm sendo significativamente alterados (e degradados) nas três praias.

Partindo do que foi discutido acerca da qualidade da paisagem, percebe-se referente à

qualidade ambiental, que fauna e flora foram e continuam sendo bastante modificados,

influenciando assim na vida da sociedade: rios e mangues sendo poluídos prejudicando as

espécies vivas dessas áreas; o corte da vegetação tem provocado o desaparecimento de

espécies da fauna na região; as condições de saneamento básico encontradas na praia de

Jacumã são precárias; as construções irregulares alteram o meio em todas as praias. O que foi

e é devastado no ambiente tem implicado de alguma forma nas condições de vida dos

moradores e/ou visitantes, seja no bem-estar ou por prejudicar a economia do local.

Existe um desequilíbrio da funcionalidade urbana entre as três praias, onde Jacumã

concentra todo o potencial do comércio de bens e de serviços (alimentícios, bancários,

educacionais e de segurança pública) e as demais praias não os oferecem, existindo a

necessidade de constante deslocamento dos residentes secundários para suprir suas

necessidades.

A qualidade estética que vislumbra tanto a paisagem vista quanto o envolvimento

afetivo/emocional que a mesma proporciona, apresenta um processo inverso ao anterior:

enquanto Carapibus e Tabatinga permanecem em certo equilíbrio, Jacumã vem perdendo a

qualidade estética ao longo dos anos. Provavelmente essa perda deu-se por Jacumã ter sido a

primeira praia a ser ocupada e com isso a preocupação quanto ao ordenamento urbano ter se

tornado falha, ou mesmo por concentrar ali um número maior de atividades comerciais, tendo

poupado as duas outras de construções do comércio local e fluxo para estes fins.

Os esgotos correndo a céu aberto, as ruas de barro em estado intransitável pelos

buracos, o lixo acumulado em várias ruas e até na avenida principal, os congestionamentos

125

em períodos de alta estação turística, tudo isso vem se somando e fazendo de Jacumã um local

caótico. A estética de Jacumã é prejudicada ainda pelos bares construídos na beira-mar e na

laguna costeira que empobrecem a paisagem, quebrando a beleza natural e impondo

construções desordenadas que trazem consigo bastante sujeira durante os finais de semana,

feriados e verão.

As dificuldades enfrentadas em Jacumã trazem como conseqüência um retorno

negativo da ligação que seus moradores e freqüentadores têm com a praia, são muitas

reclamações, insatisfação e descomprometimento. As pessoas que ali possuem uma

propriedade demonstram não ter tanto vínculo emocional com a praia.

Carapibus apresenta como maior problema estético as várias construções na borda da

falésia – 46 no total, que prejudicam paisagisticamente o visual da praia, e nos bares a beira-

mar, que oferecem estrutura precária. Diferente de Jacumã, seus residentes secundários

pronunciam-se satisfeitos até então e demonstram ter um sentimento bom pela praia que

visitam.

A praia de Tabatinga tem a melhor qualidade estética dentre as três. Tendo preservado

mais a vegetação que as demais, possuindo apenas um bar a beira-mar que também está em

área verde e promovendo várias campanhas de preservação ao meio, a praia conseguiu se

destacar positivamente durante esta pesquisa. O alto grau de envolvimento afetivo que os

proprietários de segundas residências possuem com Tabatinga, a sensação de prazer em ser

parte daquele meio e daquela paisagem é nítida tanto em todos os entrevistados, como

naqueles com os quais foi possível conviver nestes dois anos de pesquisa in loco.

Vinculado à questão ambiental, mas concluindo agora a participação do poder público

na região, pode-se acrescentar a falta de comprometimento em fazer cumprir as leis

ambientais. As normas, leis e planos citados no tópico “Normas legais: estabelecendo formas

de uso da terra, protegendo a paisagem e o meio ambiente”, foram apresentadas para nortear a

percepção aqui conclusiva de que nenhuma daquelas abordadas vem sendo respeitada, através

das entrevistas, das visitas ao campo e pela imagem de satélite este fato veio à tona.

Pôde-se verificar por parte do governo municipal certo atraso ou certa omissão quanto

suas obrigações estabelecidas no PNGC, bem como em pôr em prática o que o próprio projeto

do Plano Diretor Municipal vem traçando como diretrizes. A exemplo das diretrizes do

Desenvolvimento Turístico e Estruturação dos Serviços Básicos têm-se que, diferente do

determinado, a população local não está satisfeita com as ações, ou melhor, não-ações do

governo. A diretriz da Qualificação Ambiental traz: valorização do patrimônio ambiental,

126

promovendo suas potencialidades e assegurando sua perpetuação. Não foi possível visualizar

esta pretensão quanto à perpetuação desse bem.

Dizer que as políticas de desenvolvimento do turismo nas praias de Jacumã, Carapibus

e Tabatinga vêm contribuindo e estão prezando por um meio ambiente equilibrado para todos,

conforme sugere o conceito de desenvolvimento sustentável e estabelece a Constituição

Federal, é mascarar ações que infringem o bem de todos naquela área, afinal o poder público

tem negligenciado o controle da situação ambiental daquela área.

Ficou claro através da pesquisa que os conceitos e atributos do planejamento, do

planejamento físico-territorial e da gestão, não têm feito parte das ações dos poderes públicos

municipal, estadual e federal na medida em que são necessários. Nenhuma das três esferas

está cumprindo verdadeiramente com seu papel de autoridade ordenadora e fiscalizadora das

áreas de proteção ambiental. Tendo envolvidas leis que incluem as três esferas do poder na

responsabilidade de proteger o meio, é preciso um melhor trabalho em conjunto, que

realmente atue na área cumprindo com seu papel de zelar pelo bem de todos, algo que

deveria, mas não foi expresso nem comprovado nas entrevistas.

Além dos problemas vinculados à legislação ambiental, ainda tem-se aqueles

estruturais, de ordem urbana que também demonstraram a falta de planejamento e gestão

pública, nesse caso a nível municipal: a falta de saneamento básico em grande parte de

Jacumã; o saneamento por fossas nas praias de Jacumã e Carapibus, que não se sabe até que

ponto estão de acordo com os padrões ambientais necessários; as ruas de barro em condições

precárias nas três praias, precisando de um nivelamento ou até o calçamento de algumas vias

principais para acesso; o ordenamento e saneamento dos bares em área de praia em Jacumã e

Carapibus, somado ao bar construído em plena praça pública de Tabatinga; a melhor

distribuição dos serviços necessários para o dia-a-dia (sejam públicos ou privados).

Com todos esses fatos tornou-se inegável a falta de efetivo planejamento urbano. Em

momento algum, durante os dois anos de pesquisas in loco e entrevistas, foi apresentado pelo

poder público ou pelos proprietários de segundas residências fatos ou documentos públicos

que comprovassem qualquer tipo de planejamento para a área. A administração municipal

carece ainda de uma gestão atuante, que produza ações de melhoria para a sociedade e o meio,

que busque a participação social em seus projetos e suas decisões. Falta uma gestão pública

que compreenda os problemas que vem ocorrendo na área, que os estude e trace caminhos que

os solucionem.

Sobre as segundas residências, pôde-se concluir, inclusive apresentando visualmente

pelos mapas, como essa forma de fazer turismo está fortemente presente na área,

127

principalmente nas praias de Carapibus e Tabatinga, não querendo com isso diminuir o

impacto dessa atividade sobre a praia de Jacumã. Dessa conclusão fundamenta-se o

argumento de que é preciso sim analisar o turismo da área como propulsor da forma urbana e

da vida urbana que ali existe. Ou seja, o turismo de segundas residências foi e continua sendo

responsável pela configuração espacial das construções, incluindo nisto as modificações

paisagísticas e ambientais da área.

As praias que são prioritariamente ocupadas pela atividade turística, Carapibus e

Tabatinga, tiveram e têm seu espaço alterado com as construções das segundas residências.

Jacumã por sua vez tem tido seu espaço alterado cada vez mais com construções para atender

ao fluxo de moradores temporários das três praias (além dos fixos de Jacumã). Esta afirmação

se dá com base no processo de conversão de casas habitacionais em comerciais que tem sido

visto na praia, toda a avenida principal, por exemplo, já se transformou em comércio, com

exceção apenas dos prédios residenciais.

Essas alterações modificam também o contexto social e econômico da praia de

Jacumã, e da mesma forma faz com que as outras duas praias permaneçam preservadas ou

estagnadas na “evolução urbana”, dependendo do ponto de vista de quem as observa.

Expondo aqui uma opinião particular, acredito mais em uma preservação das demais praias do

que uma estagnação, pois repetir as condições sociais, espaciais e ambientais de Jacumã seria

perder a qualidade paisagística, ambiental e de vida que ainda se tem.

A ocupação pelas segundas residências trouxe, mesmo que não propositalmente, a

degradação paisagística e ambiental, advindas de suas construções em áreas de preservação

ambiental. Alterando ambientes como manguezais, elas trazem prejuízos a esse ecossistema.

Tendo ocupado falésias e declives acentuados essas casas de segundas residências diminuem

a qualidade estética da paisagem.

Enfim, o trabalho mostrou que as três praias sofreram e sofrem degradação ambiental

e paisagística. Essa degradação é fruto, principalmente, de uma ocupação por segundas

residências que vem se dando, desde seu princípio, de forma desordenada: sem um

planejamento coeso e consistente (urbano, paisagístico, ambiental, social ou econômico) e

sem uma gestão pública apropriada.

128

6.2 Recomendações

Conforme analisado e concluído nesse trabalho, tanto planejamento como gestão são

ferramenta e forma de ação, respectivamente, que auxiliam na obtenção de uma melhor

administração pública e que não vêm sendo utilizadas pela administração pública do Conde.

Durante as entrevistas ao setor público entendeu-se que seus objetivos buscam alcance

imediato, sem levar em conta as reais necessidades e prioridades, pelo menos no que tange

existentes na área pesquisada. Esse imediatismo pode levar a ações que invés de desenvolver

a área, traga problemas posteriores. No caso da implantação do turismo, a falta de

planejamento e acompanhamento constante pode levar ao esgotamento prematuro dos

recursos ambientais e cênicos das três praias.

Espera-se que um dia seja possível ter planejamentos a médio e a longo prazo traçados

coerentemente no Conde, assim como uma gestão consciente que permita a participação

popular verdadeiramente e que defenda o planejamento traçado sem perder a flexibilidade

necessária.

Convém enfatizar a necessidade de um plano de desenvolvimento turístico sustentável

para a área, que englobe questões de conservação e preservação dos recursos naturais, melhor

distribuição do sistema de saúde, de segurança e de educação pública, projetos de

ordenamento urbano e de reurbanização de áreas como a quadra de Jacumã e toda a extensão

dessa praia. É preciso ainda investimento em marketing turístico e uma fiscalização mais

rigorosa em todas as construções da região.

Existem metodologias de análise que fornecem dados para a construção de

planejamentos, projetos e planos e que podem ser de grande valor para a gestão pública, uma

vez que se terá em mãos informações relevantes para o desenvolvimento de uma área (local).

A partir da análise do resultado que essas metodologias fornecem é possível traçar o melhor

caminho a ser seguido pelo setor público, ou por particulares que desejem propor projetos de

manejo para área. Algumas dessas técnicas de análise estão aqui dispostas:

• Técnica de Análise Multicriterial

• Processo de Análise Hierárquica (AHP)

• Matriz de Ponderação

• Quantificadores de Percepção

129

Essas são apenas algumas recomendações baseadas em toda problemática que pôde ser

constatada na área em questão. No decorrer desse trabalho foram pontuadas falhas na gestão

pública bem como ações particulares que precisam ser mudadas para que as praias, hoje

atrativos fundamentais para o turismo e conseqüentemente para a economia do Estado da

Paraíba, permaneçam com seu potencial.

130

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA COUTINHO, Sandra Maria do Nascimento. Impactos antópicos nas microbacias do litoral sul do Estado da Paraíba: ênfase nos aspectos sócio-ambientais e características estruturais do mangue na laguna de Cumurupim. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa Regional de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) da Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa, PB, 1999. BERTALANFFY, Ludwig Von. Teoria Geral dos Sistemas. Trad. de Francisco M. Guimarães. 2ª Ed. Petrópolis: Vozes, 1975. GOMES, Márcio Fernando. Metodologia de Análise Hierárquica aplicada para a escolha do sistema de disposição de subprodutos da mineração com ênfase nos rejeitos de minério de ferro. Dissertação de Mestrado apresentada ao Núcleo de Geotécnica da Universidade Federal de Ouro Preto. Ouro Preto, MG, 2009. KIYOTANI, Ilana. Turismo, Urbanização e Paisagem: um estudo de caso da Praia de Jacumã. Monografia de Graduação apresentada ao Curso de Bacharelado em Turismo da Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa, PB, 2006. MARENZI, Rosemeri Carvalho. Percepção da Paisagem. 2003. Disponível em: http://www.cehcom.univali.br/educado/percepcao_paisagem.doc. Acesso em: 16/06/2009. ROCHA, José Carlos. Diálogo entre as Categorias da Geografia: espaço, território e paisagem. Revista Caminhos da Geografia, v. 9, nº 27. Uberlândia, MG: 2008. Disponível

em: http://www.ig.ufu.br/revista/caminhos.html. Acesso em: 09/11/2009. SANTOS, Milton. Espaço e Método. São Paulo: Nobel, 1985. SCHIER, Raul Alfredo. Trajetórias do conceito de paisagem na geografia. In: Revista RA’E GA. Nº7, p. 79-85. Curitiba: UFPR, 2003. SIQUEIRA, Patrícia Ximenes. Problemas ambientais e o crescimento urbano do distrito de Jacumã – Município do Conde – PB. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa Regional de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) da Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa, PB, 2005.

APÊNDICE

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1. Roteiro de entrevistas

1.1 Entrevistas aos proprietários de segundas residências:

1. O que os levou a buscar/construir uma segunda residência em Jacumã? Qual o interesse por esta área? 2. Em que ano comprou/construiu? 3. Com que freqüência veraneia nesse local? 4. Quando comprou ou começou a construir houve alguma preocupação com o meio ambiente (pensou se iria degradá-lo, se sim, que tipo de degradação iria ocorrer)? 5. Houve a preocupação em saber se existia infra-estrutura necessária para a ocupação? 6. Sente a falta de alguma infra-estrutura na área? Qual? 7. Ter um terreno/casa/apartamento aqui é economicamente viável? Foi na época da compra? 8. Vale a pena ter um imóvel nessa área? 9. Desde o ano da compra/construção até hoje, o(a) senhor(a) tem alguma reclamação a fazer sobre essa área? (no sentido de: infra-estrutura, modificação da paisagem, o que mudou nesses anos, qualidade do lazer, etc). O que acha que tem que melhorar? 10. O(a) senhor(a) identifica algum tipo de degradação (alteração) ambiental nessa área? Se sim, qual (is)? 11. Caso haja a identificação na pergunta 10, perguntar se mesmo assim mantém o interesse em continuar freqüentando a área. 12. Pretende deixar de freqüentar essa área? Se sim, por quê?

1.2 Entrevistas à administração pública

1.2.1 Entrevista ao Secretário de Turismo:

1. Qual a visão geral que o senhor tem sobre a atividade turística nas 3 praias? 2. E mais precisamente sobre o turismo de veraneio (segundas residências) na área? 3. A secretaria tem dados sobre o crescimento do turismo da década de 1970 até agora? E sobre as segundas residências? (Qual sua proporção, seu crescimento, etc) 4. Como se deu esta expansão do turismo de veraneio na área? Quais as transformações ocorridas devido ao turismo de segundas residências? 5. Há como identificar uma área que seria prioritariamente destinada/ocupada às segundas residências? 6. Como é a infra-estrutura de atendimento aos moradores dessas praias e, conseqüentemente, aos turistas veranistas? Qual sua avaliação sobre a mesma? 7. Qual é a atenção dada pela administração pública ao turismo de segundas residências, principalmente com relação às questões urbanísticas e ambientais? 8. O senhor identifica alguma modificação necessária nessas praias? Seja com relação à infra-estrutura, ao turismo, aos veranistas e planejamento em geral. 9. Como o senhor analisa a modificação da paisagem de 70 pra cá?

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1.2.2 Entrevista ao responsável pela Unidade Administrativa de Jacumã:

1. Qual a visão geral que o senhor tem sobre o turismo de veraneio nas 3 praias? 2. Como é a relação entre estes moradores de segundas residências e o poder público local? Existe este contato? Se sim, o que é mais discutido entre as partes? 3. O que o senhor acredita que este nicho de mercado acarreta ao meio ambiente e aos aspectos urbanísticos? Quais as transformações ocorridas nesta área devido ao turismo de segundas residências? 4. Existe algum tipo de controle sobre a expansão das segundas residências? Qual? 5. Há como identificar uma área que seria prioritariamente destinada às segundas residências? 6. Como é a infra-estrutura de atendimento aos moradores dessas praias e, conseqüentemente, aos turistas veranistas? 7. Qual é a atenção dada pela administração pública ao turismo de segundas residências, principalmente com relação as questões urbanísticas e ambientais? 8. O senhor identifica alguma modificação necessária nessas praias? Seja com relação a infra-estrutura, ao turismo, aos veranistas e planejamento em geral.

1.2.3 Entrevista à Secretaria de Planejamento:

1. Qual a visão geral que o senhor tem sobre o turismo de veraneio nas 3 praias? 2. O que o senhor acredita que este nicho de mercado acarreta ao meio ambiente e aos aspectos urbanísticos? 3. Quais as transformações ocorridas nesta área devido ao turismo de segundas residências desde a década de 1970? 4. A secretaria tem dados sobre a expansão urbana proporcionada pelo turismo de segundas residências? Existe algum tipo de controle sobre esta expansão? Qual? 5. Há como identificar uma área que seria prioritariamente destinada às segundas residências? 6. Todos os lotes já construídos e todos os loteamentos existentes nesta área (identificar área exata de estudo) tem sua situação regularizada? E aqueles que ocuparam a área antes mesmo de qualquer interferência governamental na divisão do solo? 7. Como é a infra-estrutura de atendimento aos moradores dessas praias e, conseqüentemente, aos turistas veranistas? 8. Qual é a atenção dada pela administração pública ao turismo de segundas residências, principalmente com relação as questões urbanísticas e ambientais? 9. Com relação ao zoneamento urbano, em que estágio se encontra este processo e quais suas metas? 10. Existem projetos urbanos em vista para os próximos anos? (pois em 2005 existia um projeto de reurbanização da orla que nunca foi começado)

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2. Programa LEGAL (Spring): processado para efetuar a Tabulação Cruzada de dados gerando assim o mapa de Sobreposição Urbana entre os anos de 1985 e 2008.

ANEXO

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1. Carta à Comunidade e aos Amigos de Tabatinga