títulos de crédito e o crédito civil...títulos€de€crédito€e€outras,€destacadas...

23
32 - Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil” Títulos de Crédito e o Crédito Civil

Upload: others

Post on 08-Aug-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Títulos de Crédito e o Crédito Civil...Títulos€de€Crédito€e€outras,€destacadas do€diploma€civil. No€Brasil€publicaram-se€os€Projetos de€Código€Civil,€de€€Felício€dos€Santos,€Co-elho€Rodrigues,€Carlos€de€Carvalho€e,€re-centemente,€Orlando€Gomes

32 - Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil”

Títulos de Crédito e o Crédito Civil

J. A. PENALVA SANTOSDesembargador aposentado do TJ/RJ. Professor da EMERJ.

O novo Código Civil editado pela Leinº  10.406 de  10  de  janeiro  de  2002  re-presenta  verdadeiro  Código  de  DireitoPrivado  por  abranger  o Direito Civil  e  oDireito  Comercial,  na  linha  do  pensa-mento  de  Teixeira  de  Freitas  no  seuCódigo Civil-Esboço.

O objetivo do projeto de Freitas  vi-sou a unificação do Direito Privado, umdos  dois  fundamentos  da  futura  lei:  aclassificação  dos  dispositivos  e  a  unifi-cação   do Direito Privado.

Na  exposição  elaborada  por  LeviCarneiro  em  edição  da  Imprensa Nacio-nal de setembro de 1952, na  introduçãoao  texto  do  �Esboço�    de  Teixeira  deFreitas,  o  autor  analisou  o  caráterunificador  do Direito  Privado.

No mesmo sentido o  estudo de JoãoMangabeira    publicado  na Revista  Fo-rense de 1939, p. 29 sobre o assunto.

A  primeira manifestação  a  respei-to da unificação dos Códigos Civil  e Co-mercial foi de Cimbali sob o título �NovaFase  no Direito Civil,  Unificação  do Di-reito Privado". Em 1903 em Conferênciapronunciada  em Milão,  Cesare  Vivanteadvogou a elaboração de um código uni-ficado  abrangendo    o  Direito  Civil  e  oDireito  Comercial.

Posteriormente arrependido, no seuTratato di Diritto Commerciale, 5° edi-ção p. 1, mostrou a inviabilidade do sis-tema  unificado,  ao  defender  a  elabora-ção de  códigos  separados.

Na Itália  duas Comissões apresen-taram  Projetos  de Código  de Comércio:a Comisão presidida por Cesare Vivanteem  1919  e  a  segunda,  por Mariano D!Amélio de 1923. Nesse meio tempo a Su-íça editou o Código de Obrigações e o Códi-go Civil.

A  favor  da  unificação manifesta-ram-se  Vivante  (que  depois  se    retra-

tou), Percerou, Thaller, Wahl, Endemanne  outros.   Na  Itália,  no  regime    fascistade 1942, editou-se   o Códice Civile   noqual foram abrangidos o Direito Civil e oDireito Comercial,  com exceção das ma-térias  de Direito Marítimo,  Falimentar,Títulos  de Crédito  e  outras,  destacadasdo diploma civil.

No Brasil  publicaram-se os Projetosde Código Civil, de  Felício dos Santos, Co-elho Rodrigues, Carlos de Carvalho e,  re-centemente, Orlando Gomes.

Vieram à  luz os projetos de Códigode Obrigações  de  1941  elaborados  porOrosimbo  Nonato,  Hanemann  Guima-rães  e  Philadelpho  de  Azevedo  e,  em1964,  por  uma  comissão  presidida  porCaio Mario  da Silva  Pereira.

Inglês de Souza apresentou o Projetode Código Comercial,  engavetado no Con-gresso Nacional. Florêncio de  Abreu elabo-rou o Projeto  de Código Comercial  de 1949,que também não se converteu em lei.

O novo Código Civil de 2002 seguiu aidéia  de  Teixeira  de  Freitas  e  adotou  aorientação do Código Civil Italiano, de uni-ficação  do Direito  Privado,  com  exceçãodo Direito Comercial,  das  falências,  dassociedades por ações  e outros  institutos.

Conseqüências da edição do novo Có-digo Civil no que concerne ao DireitoComercial

A  revogação  da  Primeira  Parte  doCódigo de Comércio, composta de regrassobre  sociedades,  contratos  e  títulos  decrédito.  A  Segunda  Parte,  referente  aoDireito Marítimo,  não  foi  revogada,  porisso,  quanto  ao  conhecimento  de  trans-porte  ou    carga    a  legislação  pertinentecontinua  em  vigor.

Títulos de CréditoQuanto  aos  títulos  de  crédito,  o

Código  Civil  editou  as    normas    referi-Palestra proferida no Seminário realizado em 12/07/2002.

Page 2: Títulos de Crédito e o Crédito Civil...Títulos€de€Crédito€e€outras,€destacadas do€diploma€civil. No€Brasil€publicaram-se€os€Projetos de€Código€Civil,€de€€Felício€dos€Santos,€Co-elho€Rodrigues,€Carlos€de€Carvalho€e,€re-centemente,€Orlando€Gomes

Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil” - 33

das nos arts. 887 a 926 abrangentes dasdisposições  gerais  dos  títulos  ao  porta-dor, títulos à ordem e títulos nominativos.Cuida-se  de  normas  que  irão  regular  amatéria  a  eles  afeta.

Art. 887O  art.  887  adotou  a  definição  de

Cesare Vivante  para  os  títulos  de  crédi-to, com o acréscimo da parte final: �quan-do preencha os  requisitos da  lei�.

Essa  definição  já  foi  superada  noque  concerne  aos  títulos  escriturais,como  veremos  posteriormente.

Art. 888No art. 888 destacou-se o  título de

crédito da  sua causa debendi, ou  seja,do  negócio  jurídico  que  lhe  deu  causa,chamado  por  Ascarelli  de  relação  fun-damental.

Art. 889Esse  artigo  indica  os  três  princi-

pais  requisitos  dos  títulos  de  crédito:  adata da emissão, a indicação precisa dosdireitos  que  confere  e  a  assinatura  doemitente,  relação  incompleta na  falta deoutros requisitos arrolados no art. 1º daConvenção  de Genebra.

Parágrafo primeiro do art. 889Esse  parágrafo  primeiro  trata  dos

títulos  à  vista,  os  quais  não  contêm  in-dicação  da  data  do  vencimento  e  sãoaqueles que se vencem com a   apresen-tação  ao  devedor  (art.  2º,  alínea  2ª  daLei  Uniforme  de Genebra).

Esses títulos também chamados tí-tulos  à  apresentação  encontram-se  noart. 17 da Lei Cambiária de 1908.

Carvalho de Mendonça, no seu Tra-tado de Direito Comercial,  vol.  5°,  parte2°, nº 789, ed., Freitas Bastos, admite umasegunda apresentação do  título  ao deve-dor,  a  fim de  lhe dar uma oportunidadepara efetuar o  seu pagamento.

Acresce  o  ilustre  comercialista  quea  remessa de aviso ao devedor para pa-gamento não  tem o mesmo  efeito  que  asua  apresentação.

Parágrafo segundo do art. 889O  parágrafo  segundo  do  art.  889

considera o lugar da emissão e do paga-mento quando não  indicado no    título odomicílio  do  emitente.  Por  força  do  dis-posto no art. 2º, alínea 3ª da Lei Unifor-me  de  Genebra  na  falta  de  indicaçãoespecial,  consigna  o  lugar  designado  aolado  do  nome  do  sacado  sendo  o  lugardo  lançamento  e ao mesmo  tempo o  lu-gar do domicílio.

Na  alínea  4ª,  o  lugar  onde  foi  pas-sada  considera-se  como  tendo  sido  nolugar  designado  ao  lado  do  nome  dosacador.

TÍTULO  ESCRITURAL

Parágrafo terceiro do art. 889Título  escritural  é  aquele  emitido

a partir dos caracteres criados  em com-putador ou por meio técnico equivalentee que conste da escrituração do emiten-te, observados os requisitos do art. 889.O  referido  parágrafo  cuida  do  títuloescritural.

O  que  são,  na  verdade,  os  títulosescriturais?

São  títulos  que  não  têm  cártula;nascem  e    atuam  por  via  de  computa-dor, por e-mail, por internet.

Esses  títulos  não  contêm  assina-tura  usual, mas,  segundo Dr.  GustavoTavares Borba, Revista  de Direito Re-novar nº 14, maio/agosto 1999, p. 85 ess,  na  assinatura  digital  há uma  trans-formação  criptográfica  da  comunicaçãocriada    e,  com  isso  surge  a  cártula  ele-trônica,  o  conjunto  de  dados  do  títuloconsubstanciado  na memória  do  siste-ma  eletrônico.  As  figuras  virtuaisaparecidas  na  tela  do  computador,  sãopreservadas  na memória do sistema ele-trônico.

Por  outro  lado,  é  possível  a  trans-posição para o papel de um texto prove-niente do computador, v.g., o extrato deconta  retirado  do  sistema  eletrônico  deuma  instituição  financeira  administra-dora de  ações  escriturais  de uma  socie-dade  anônima,  na  custódia  de  ações(arts. 34  e 41  da Lei nº 6.404/76).

Page 3: Títulos de Crédito e o Crédito Civil...Títulos€de€Crédito€e€outras,€destacadas do€diploma€civil. No€Brasil€publicaram-se€os€Projetos de€Código€Civil,€de€€Felício€dos€Santos,€Co-elho€Rodrigues,€Carlos€de€Carvalho€e,€re-centemente,€Orlando€Gomes

34 - Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil”

Quanto  aos  contratos  eletrônicos,as mensagens  eletrônicas    por meio  deproposta  e  aceitação,  pela  troca  de  da-dos  eletrônicos  se  realizam  através  docomputador,  porém a  tradição  de  bens,por  exemplo,  na  compra  e  venda,  comobrigação  de  dar  verifica-se mediante  aentrega  física  da  coisa.

De fato, na tradição de um  veículocomprado através da internet, o compra-dor é obrigado a buscá-lo na agência.

Já as obrigações de fazer podem re-alizar-se por  forma virtual, a exemplo dacompra de um programa pay per view.

ASSINATURA AUTOGRÁFICA

A  assinatura manuscrita,  como  seviu,  corresponde  a  um  sinal  da  autoriade uma pessoa aposto em um documen-to,  cujas  funções    são  a)  autenticidadedaquele que a apôs revelando a sua iden-tidade, a  validade e a  veracidade do do-cumento  no  qual  a  assinatura  foiinserida,  com  efeito  de  autenticação,concordância  com  o  seu  teor  e  a  segu-rança  da  forma  que  envolve  esse  docu-mento, nos termos do disposto nos arts.131  e  135  do  Código  Civil  de  1916.Carnelutti  atribui  três  funções  à  assi-natura:  indicativa,  declaratória  eprobatória.

ASSINATURA ELETRÔNICA

Na  obra Direito  e  Internet,    RT,coordenada  por Marco Aurélio Grecco  eIves Gandra  da  Silva Martins,  2001,  p.28,  a  assinatura  eletrônica  �consiste  nouso  de  um  procedimento  confiável  deidentificação  da  parte  e  de  suavinculação ao ato praticado�.

A  assinatura  eletrônica    asseguraa  identidade  do  signatário  e  a  integri-dade e conservação do ato por ele prati-cado, na  segurança  e  confiabilidade dastransações  eletrônicas  realizadas,  pro-teção  do  segredo  das  comunicações  re-alizadas  com  fundamento nessa  assina-tura   e,  finalmente no cumprimento doscontratos  realizados  por  essa  pessoa.

Se  a  assinatura  digital  constituiuma  forma  de  assinatura manuscrita  éproblema que, em nossos dias, constitui

objeto de polêmica,  sendo que para unsnenhuma  semelhança  com  ela  apresen-ta,  enquanto  para  outros,  representauma  forma  de  assinatura  autográfica.

O certo é que o vocábulo �assinatu-ra�  no âmbito digital, tem uma acepçãodiferente  da  assinatura  autográfica.

Ao  definirmos  a  assinatura  digital,mostraremos as suas características, noque,  em muito  se  diferencia  da  assina-tura manuscrita.

A assinatura digital é uma seqüên-cia  de dígitos, computada com base emdados    a proteger,  o  algoritmo   da assi-natura   a  ser usado, que é a  chave pri-vada utilizada    na  produção  da  assina-tura  digital.

A chave pública é usada para veri-ficar  se  a  assinatura    foi  efetivamenteproduzida    por utilização  de uma  chaveprivada  correspondente.

O importante é que o receptor tenhasegurança quanto à origem da mensagem.

A  segurança    do  sistema  de  assi-natura digital  decorre do  seu método    eda  verificação  de  que  a  assinatura  foiproduzida  pela  pessoa    representada.

Para maior  segurança  é  utilizadoum  protocolo  de  autenticação  baseadoem  sistemas  de  cifragem  com  chavespúblicas,  sendo  os  sistemas  de  navega-ção:  o Navigator,  o Netscape,  o  InternetExplorer.

A  aplicação  do  algoritmo  decifragem permite  a  confidencialidade.  Aautenticação  de  identidade  é  essencialpara  a  segurança  das  transações  ele-trônicas na medida  em que uma auten-ticação  confiável  é  necessária  para  quese  possam manter  controles  de  acesso,determinar quem está autorizado a acei-tar  ou modificar  informações,  imputarresponsabilidade    e  assegurar  o  �nãorepúdio�.

Métodos  de  autenticação  peloalgoritmo  da  cifragem  permitem  aconfidencialidade  e  o  segredo    das  co-municações  eletrônicas,  e  segundo  osautores  referidos  (loc. cit)  um  algoritmode  cifragem  transforma  um  texto  claroem um  texto  cifrado  ilegível  (cifragem)  evice-versa  (decifragem).

Page 4: Títulos de Crédito e o Crédito Civil...Títulos€de€Crédito€e€outras,€destacadas do€diploma€civil. No€Brasil€publicaram-se€os€Projetos de€Código€Civil,€de€€Felício€dos€Santos,€Co-elho€Rodrigues,€Carlos€de€Carvalho€e,€re-centemente,€Orlando€Gomes

Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil” - 35

Logo, a assinatura digital represen-ta,  para  alguns,  um método de  autenti-cação  de  identidade  eletrônico  e,  paraoutros,  designa  especificamente  a  assi-natura  gerada  mediante  o  uso  decriptografia    de  chave  assimétrica.

A  assinatura  digital  tem  três  fun-ções,  segundo  os  citados  autores:  a  au-tenticação  da  identidade  da  pessoa  queassinou a  informação; a proteção da  in-tegridade  da  informação,  para  evitar  amodificação  da mensagem    e,  finalmen-te  o  não  repúdio,  a  fim  de  evitar  que  oque  enviou  a mensagem ou  que  a  rece-beu neguem  tal  fato.

Em  interessante  estudo denomina-do  �Assinaturas  Eletrônicas  eCertificação�  da  autoria  da  ilustre  ju-rista Ana Carolina Horta Barretto, no  li-vro  O Direito e a Internet, coordenadopor  Valdir  de Oliveira  Rocha  Filho,  ed.Forense Universitária,  ano  2002,  a  au-tora  elabora um  estudo  sobre  a  assina-tura  eletrônica,  não  ser  ela  imediata-mente  legível,  pois  o  veículo  e    o  objetoassinado não  são  fisicamente  relaciona-dos da mesma forma física e durável quea  assinatura  tradicional.

Tanto  pelo  aspecto  visual,  quantopelo  formato  eletrônico  e  vinculação  àassinatura,  tornam-no  diferente  da  as-sinatura  física  tradicional.

Quanto aos métodos de assinar do-cumento  eletronicamente,  as  assinatu-ras  variam,  desde  métodos  simples,como inserir uma imagem escaneada  deuma  assinatura manuscrita  em um ar-quivo  do  texto  a métodos mais  avança-dos: como a criptografia simétrica à maisevoluída  criptografia  assimátrica  daschaves  pública  e  privada mais  segura,ao  conferir maior  segurança  dos  dados,adotada na maioria  dos  Países.

Uma das primeiras  leis sobre a as-sinatura  digital  foi  a  Lei  do  Estado  deUtah,  nos Estados Unidos,  seguida  poroutros Estados da União, na qual a assi-natura  digital  é  uma  transformação  deuma mensagem utilizando  um  sistemade  criptografia    assimétrica    que  permi-ta    a uma pessoa  que  detiver  a mensa-gem  inicial   e a chave pública do signa-

tário  determinar  com precisão:  a)  se    atransformação  foi  criada  utilizando    achave privada   que corresponde à chavepública    do  signatário;  b)  se  a mensa-gem  foi  alterada  desde  que  a  transfor-mação  efetuou-se.

A  citada  lei  estabeleceu a   presun-ção  de  veracidade  das  assinaturas  digi-tais,  salvo em caso de suspeita de  frau-de  e,  finalmente,  cuidou  das  assinatu-ras  com  suspeita  de  fraude.

As Leis Uncitral da ONU  e da UniãoEuropéia  nº  36  de  13.12.1999  (Diretivanº 1999/93/ EC do Parlamento Europeue Conselho  da União Européia,  art.  2°)seguiram a esteira  da Lei de Utah, comode  resto  a  legislação  brasileira.

Observe-se  por  oportuno  que  o  ór-gão  fiscalizador é  representado pelas au-toridades  certificadoras  que  emitem  cer-tificados.

A  Lei  federal  americana  de01.10.2000  trouxe numerosos  subsídiossobre  o E-Sign Eletronic  Signatures  inGlobal and National Commerce Act.

Por outro lado, não se pode esquecerde que,  entre  os processos mais  simplesna  elaboração  da  assinatura  eletrônicapodemos encontrar,  além das  senhas,  astécnicas  biométricas    como  oescaneamento das  impressões digitais, daretina, da palma da mão, o reconhecimentoda escrita ou da voz;  e a assinatura ma-nuscrita, vinculada a um veículo, uma fo-lha de papel que fornece os contornos e aestrutura  à  informação  de  um  formatoimediatamente  legível.  Esse  veículoindissociável para a  informação, proporci-onado pelo  veículo    e pela assinatura  re-presentando os padrões únicos da escritado  emitente, permite  ao  leitor  crer  que oobjeto  provém do indivíduo tido como seuautor, e o atributo da identidade é  intrín-seco, e não dado ao signatário.

ASSINATURA ELETRÔNICA X TRADICIONAL

A  assinatura  eletrônica  não  éimediatamente  legível  e  a  assinatura,o  veículo  e  o  objeto  assinado  não  sãofisicamente  relacionados  da  mesmaforma física   e durável que a assinatu-ra  tradicional.

Page 5: Títulos de Crédito e o Crédito Civil...Títulos€de€Crédito€e€outras,€destacadas do€diploma€civil. No€Brasil€publicaram-se€os€Projetos de€Código€Civil,€de€€Felício€dos€Santos,€Co-elho€Rodrigues,€Carlos€de€Carvalho€e,€re-centemente,€Orlando€Gomes

36 - Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil”

A manipulação dos dados não deixarastros como a manipulação do ambientetradicional  e  partes  de um objeto  de  in-formação  assinado    podem  ser  armaze-nadas  em  diferentes    locais  como,  porexemplo,   um disco rígido ou disquete.

O aspecto visual de uma assinatu-ra  tradicional  é  substituído  pela  verifi-cação  técnica  de um objeto  de  informa-ção  assinado,  armazenado  em  um  for-mato  legível  eletronicamente  e  vincula-do  logicamente  à  assinatura.

Como  o  caráter  que  torna  a  assi-natura  eletrônica  única  para  o  indiví-duo  é  outorgado,  e  não uma  caracterís-tica    inerente  ao  signatário,  o  processode  assinatura    pode  ser  realizado  porqualquer  pessoa    que  tenha  acesso  aosegredo  e  aos  procedimentos.

A  assinatura   manuscrita    forneceà    informação um sinal  fisicamente úni-co  de  autenticidade  �  é  um  exemplaroriginal.  Os  objetos  assinados    podemestar  em poder de uma pessoa e  conse-qüentemente  constituírem  um  instru-mento  de  autenticidade  (como  seria  ocaso de uma procuração)  ou determina-do  direito  (letras  de  câmbio    e  outrosinstrumentos  negociáveis).

O aspecto único de um  instrumentoassinado  eletronicamente  precisa  estarassociado a um patrão de dados, que podeser  copiado,  tendo  a  réplica  exatamenteas mesmas  qualidades que o �paradigma�.

Assim  sendo, uma vez que  a exis-tência  única  de  material  eletrônico  éconstruída mediante  a  transmissão  e  oarmazenamento  de  conteúdos  originais,certas  aplicações  eletrônicas  (como  oenvio  de  documentos,  por  exemplo)  exi-gem  alguma  espécie  de  registro  (loc.cit).

CONCEITO DE ASSINATURA DIGITAL

Existem diversos métodos para  as-sinar  documentos  eletronicamente.  Es-sas  assinaturas  eletrônicas  variam    demétodos muito  simples,  como  inseriruma  imagem  escaneada    de  uma  assi-natura manuscrita  em  um  arquivo  detexto, a métodos muito avançados, comoo uso  da  criptografia  assimétrica  ou  dechave  pública    é  importante  instrumen-

to  para  o  comércio  eletrônico  seguro.Aplicações  da  criptografia  em  um

ambiente  eletrônico,  das  quais  ressaltaduas:  encriptação  e  assinatura  digital.

Encriptação  e  a  assinatura  digitalsão  seguras,  a  primeira  a  confidenciali-dade,  de  segurança  sem  que  tenhamosconfiado  a  tal  pessoa  a  chave  que  per-mite  decodificar  a mensagem,  enquan-to  a  assinatura  digital  proporciona  au-tenticação, ou seja a possibilidade de secomprovar   que determinada pessoa en-viou  a mensagem.  A  criptografia    podetambém assegurar   a  integridade de da-dos,  isto é, a certeza   de que a  informa-ção não sofreu alteração não autorizadaem  sua  forma  original  e  conteúdo,  per-mitindo  que  o    destinatário  de  um  amensagem  enviada  por  meio  de  redeaberta  assegure-se  de  que  a mensagemnão  foi  alterada  em  trânsito.

Entre  alguns  exemplos  de  títulosescriturais  podemos  citar,  além  dasações escriturais, a duplicata virtual, naqual  o  vendedor  saca  a  duplicata    e  aenvia ao banco por meio magnético, rea-liza  a  operação  de  desconto,  ao  creditaro valor  correspondente ao sacado,  expe-dindo  em  seguida  guia  de  compensaçãobancária que, pelo  correio,  é  enviada aodevedor da duplicata  virtual para que osacado,  de  posse  do  boleto,  proceda  aopagamento  em qualquer  agência  bancá-ria  (cf. ROSA  JR.,  Luiz  Emygdio  F.  daTítulos de Crédito. Rio de Janeiro: Re-novar, 2000. p. 725-728).

No mesmo  sentido,  leia-se  em Fá-bio Ulhoa Coelho  (Curso de Direito Co-mercial, I, p. 458).

A duplicata virtual pode ser protes-tada  de  forma  virtual,  no  vencimento.Ao  receber,  por meio magnético,  os  da-dos  pertinentes  à  duplicata  virtual,  oCartório  efetuará  o  respectivo  protesto.O protesto  é  regulado  pela  Lei  nº  9.492de  1997,  art.  8°,  parágrafo único. Nadaimpede promova o credor a execução portítulo  extrajudicial  da  duplicata  virtual.

Lei nº 9.800 de 1999Através da Lei nº 9.800/99, em pro-

cesso  judicial,  podem  a  parte,  o  repre-

Page 6: Títulos de Crédito e o Crédito Civil...Títulos€de€Crédito€e€outras,€destacadas do€diploma€civil. No€Brasil€publicaram-se€os€Projetos de€Código€Civil,€de€€Felício€dos€Santos,€Co-elho€Rodrigues,€Carlos€de€Carvalho€e,€re-centemente,€Orlando€Gomes

Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil” - 37

sentante  do Ministério  Público,  o  assis-tente,  o  litisconsorte  apresentar  ao  juizsuas  petições  e  documentos  pela  via  defac-símile  (fax).

Entendemos  ser  viável  a  extensãoao  e-mail,  ao  correio  eletrônico  ou  àinternet,  na  aplicação  da  Lei  nº  9.800/99,  desde  que  o  juiz  possua  os meiosnecessários  à  transmissão,  devidamen-te  autorizada.

Qualquer  documento  pode  sertransmitido,  exceto  os  atos  judiciais  re-lativos  à  oralidade,  pela  necessidade  dapresença  do  juiz.

Art. 890O dispositivo  repetiu  a  capitulação

do art. 44 do Decreto nº 2.044/08. A ex-clusão da cláusula proibitiva da apresen-tação da  letra  ao aceite do  sacado  cons-tante  do  item  III  do  art.  44  da  LeiCambiária,  foi alterada pelo art. 22,  item2° da Convenção de Genebra para Letrasde Câmbio  e Notas Promissórias,  ao  ad-mitir    a  Lei Uniforme a  letra  sem aceite,salvo  se  se  tratar  de  uma  letra  pagávelem  localidade  diferente  da  do  domicíliodo sacado, ou de uma letra sacada a ter-mo certo da vista, além da cláusula �semdespesas  e  sem protesto�.

O  art.  44 menciona  a  expressão�para  os  efeitos  cambiais,  retirada  dotexto  do  art.  890  do  novo Código Civil,sem motivo�.

Art.891Título incompleto-seu preenchimento

O  título  incompleto  pode  ser    pre-enchido pelo portador, para tanto presu-me-se  a  existência  de mandato    a  esteconcedido.

A  Lei Cambiária no  seu  art.  4°  es-tipula  que  se presume mandato  ao por-tador  para  inserir    a  data  e  o  lugar  dosaque na  letra que os não  contiver.

Quanto  ao  valor  lançado  por  alga-rismos  e  o  que  se  achar  por  extenso,capitula o art. 5° da Lei Cambial preva-lecerá  o  segundo  e  a  diferença não pre-judicará a  letra, porem diversificando asindicações da  soma de dinheiro no  con-texto o  título não será  letra de  câmbio.

Essa  redação  difere  da  contida  naalínea  1  do  art.  6°  da  Lei  Uniforme  deGenebra, na qual,  a  alínea 2 do mesmoartigo  estatui  que:  �Se  na  letra  a  indi-cação  a  satisfazer  se  achar  feita maisde uma  vez,  quer  por  extenso,  quer  poralgarismos,  e  houver  divergências    en-tre  as  diversas  indicações,  prevaleceráa  que    se  achar  feita  pela  quantia  infe-rior�.  Na  letra  sem  data  do  pagamentoentende-se pagável à  vista.  (art. 2° al. 2da  Lei  Uniforme).

O  art.  10  da  Lei  Uniforme  de Ge-nebra estatui que a letra incompleta nãopode ser completada se for contrária aosacordos realizados pelo, que não pode serconsiderado motivo  de  oposição  ao  por-tador,  salvo  se  este  tiver adquirido a  le-tra de má-fé, ou, adquirindo-a tenha co-metido  falta  grave.

Nas Comptes Rendus, p.131 cons-ta que, se a letra, depois de ter sido com-pletada,  foi adquirida sem má-fé ou cul-pa  grave,  as  exceções  baseadas  na  in-serção  da  cláusula,  não  conforme  aosacordos,  não  são  oponíveis  ao  portadorde boa fé do título. É uma conseqüênciada  idéia mais  geral  com  respeito  devidoà  crença  do  portador  com base na  boa-fé.  Se  o  adquirente  do  título  preenches-se  a  parte  em branco, mesmo  abusiva-mente,  e,  em  seguida  fosse    transmiti-da  a  letra  de  câmbio  a    terceiro  de  boafé,  as  exceções  provenientes  da  inser-ção das clausulas   abusivas não poderi-am ser  opostas a  este último.

O  certo  é  que,  por  força  do  art.3°das Reservas  (Anexo  II)  a  redação    cor-reta será a do art. 4° do Decreto nº 2.044de 1908, ainda em vigor.

Parágrafo Único do art. 891O dispositivo em exame consta   do

art.10  da  Lei Uniforme,  com a  exclusãoda  parte  final  �ou  adquirindo-a  tenhacometido uma  falta  grave�.

Orientação  idêntica  adotou  aSúmula nº 387 do Egrégio Supremo Tri-bunal  Federal  com  a  seguinte  redação:�A  cambial  emitida  ou aceita  com omis-sões  em  branco,  pode  ser  completadapelo credor de boa  fé antes da cobrançaou do protesto�.

Page 7: Títulos de Crédito e o Crédito Civil...Títulos€de€Crédito€e€outras,€destacadas do€diploma€civil. No€Brasil€publicaram-se€os€Projetos de€Código€Civil,€de€€Felício€dos€Santos,€Co-elho€Rodrigues,€Carlos€de€Carvalho€e,€re-centemente,€Orlando€Gomes

38 - Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil”

Pelo que se vê, portanto, a redaçãodo novo  texto do Código Civil   contém aexpressão  �...os  ajustes  previstos  nesteartigo pelos que deles participaram� nãose  encontra,  nem  no  art.  4°  da  LeiCambiária,  e, muito menos,  na Súmulanº 387 do S.T.F.

ABUSO NO PREENCHIMENTO DE TÍTULO EM BRANCO

As principais regras sobre abuso nopreenchimento de títulos em branco sãoas  seguintes:

1°) só o legítimo portador pode pre-encher  a  letra  de  câmbio;

2°)  na  pressuposição    de  que  fê-lodentro do estipulado nos limites das obri-gações cambiárias, sendo o ônus da pro-va do obrigado cambiário, na ação cam-bial  de  preenchimento  indevido;

3°)  pelo  convencionado  em  pactoabjeto  com defesa  a  cargo  do  obrigado,em ação específica da causa ou excepci-onalmente    na  ação  cambiária.

4°)  aos  endossatários  e  portadorescom o título já preenchido não podem seropostas as exceções de  abuso no preen-chimento do  título, exceto, aos de má-fé.

INTENÇÃO DO SUBSCRITOR

Segundo  José Maria Whitaker  (op.cit. p. 102/103),  indagar da intenção dosubscritor é introduzir um elemento sub-jetivo numa questão de forma a permitirno  processo  cambiário  uma  discussãoque não  interesse  ao  terceiro  de  boa  fé.

Na opinião de Pedro Barbosa Perei-ra (loc.cit ), a letra em branco é um valorpatrimonial,  expressão  incompleta  davontade,  a  se  transformar  em  título  po-tencial  de  uma  obrigação,  que  para  setornar  perfeita  depende  apenas  de umacooperação material  do  portador,  semnecessidade  de  oposição  do  respectivosubscritor.

Para  o  direito  cambial  a  letra  decâmbio  é um  valor  para  efeito  de  circu-lação,  posto  que  não  seja  um  valor  deexecução.  A  letra    em  branco  pode  sertransferida  e  alienada;  é  endossável.

Os  endossatários  que  recebem  otítulo na sua fase incompleta não gozamdas mesmas  vantagens  que  os  que  re-

ceberam  com a sua forma definitiva, peloque  não  têm,  como  estes,  uma  posiçãoautônoma,  por  exercerem,  um  direitoderivado,  sujeito a  todas as execuções edefesas  oponíveis    a  qualquer  de  seuspredecessores.

 Art. 892A capitulação deste   artigo  respon-

sabiliza  o mandatário  pelos  atos por  elepraticados  sem poderes  outorgados pelomandante  ou  com  excesso  desses  pode-res,  tornando-se o mandatário verdadei-ro  obrigado  cambiário,  pelo princípio daforma nos títulos de crédito. (Súmula doSTJ nº 60)

Essa norma  tem a mesma  redaçãoque a do art. 8° da Lei Uniforme de  Ge-nebra.

Art. 893Reza o art. 11, al. 1ª da Convenção

de Genebra  que, mesmo que não  envol-va  expressamente  a  cláusula  à  ordem,a  cambial  se  transmite  por  via  de  en-dosso.

Por  essa  forma de  transferência dotítulo  infere-se que se transmitem os di-reitos  correspondentes  às  obrigaçõescambiárias, ou seja, apenas, ao valor dotítulo, exceto no caso do aceitante ou doavalista,  cuja  obrigação  pode  sofrer  li-mitação.

O  dispositivo  inspirou-se  no  art.1995  do  Código  Italiano,  e  também  doart.  14  da  Lei Uniforme de Genebra.

Art. 894Os  títulos  representativos  de mer-

cadoria  são  aqueles  que  envolvem  atransferência  da  posse  e  a  propriedadede mercadoria.

Vejamos um exemplo: a posse do co-nhecimento de depósito é aquela que per-mite ao  seu  titular  considerar-se proprie-tário de mercadoria depositada em arma-zém geral;  logo a sua  transferência  impli-ca  a  transferência dessa mercadoria.

A  exceção  pode  ser  encontrada  nocaso da  emissão do warrant, em que  atransferência  da  propriedade  da merca-doria  referida  no  conhecimento  de  de-

Page 8: Títulos de Crédito e o Crédito Civil...Títulos€de€Crédito€e€outras,€destacadas do€diploma€civil. No€Brasil€publicaram-se€os€Projetos de€Código€Civil,€de€€Felício€dos€Santos,€Co-elho€Rodrigues,€Carlos€de€Carvalho€e,€re-centemente,€Orlando€Gomes

Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil” - 39

pósito  está  subordinada,  no  vencimen-to,  ao  pagamento  do  valor  do warrant,logo,  em havendo  emissão  deste  título,para  que  o  titular  do  conhecimento  dedepósito  possa  receber  a mercadoria  énecessário  o  pagamento  prévio  do  valorreferido  no warrant.

Logo,  quem  transfere  o  conheci-mento  de  depósito transfere  ipso fac-to o  domínio  da mercadoria.  O mesmofenômeno ocorre com a cédula de   pro-duto  rural.

Por  outro  lado,  é  preciso  que  seentenda  que  a  entrega  da mercadoriaestá  condicionada  à  quitação  dowarrant,  caso  seja  este  emitido.

Art. 895O  título  de  crédito  em  circulação

pode ser dado em garantia, ou seja, podeser apenhado  (caucionado), ou ser   obje-to  de medida  constritiva  judicial, mas  odireito ou a mercadoria que representa otítulo não podem sofrer tais restrições ouônus,  independentemente  do título.  (art.1458 e ss do novo Código Civil)

O dispositivo deve ser aplicado aostítulos  de  garantia  real.

No  caso do  conhecimento de depó-sito não  se pode  constituir  ônus ou  im-por medida  constritiva  judicial  sobre  amercadoria  depositada  em armazém  ge-ral,  se  sobre  ela  emitiu-se  o  conheci-mento  de  depósito.  O mesmo  acontececom  o  conhecimento  de  transporte.

Art. 896Da mesma  forma,  o  título de  crédi-

to  não  pode  ser  objeto  de  reivindicaçãopor  terceiro,  contra o seu  legítimo porta-dor, desde que o título tenha sido adqui-rido  de  boa  fé,  também  respeitadas  asnormas que disciplinam a sua circulação(art. 1.994 do Código Civil  Italiano e art.16, 2ª  alínea da Convenção de Genebra).

Art. 897A disposição que admite a garantia

do  aval  refere-se  aos  títulos  de  créditode pagamento de soma em dinheiro, fatoque  exclui  os  títulos  representativos  demercadoria.

Parágrafo  ÚnicoA  disposição  proíbe  o  aval  parcial

nesses títulos. Ora, o art. 30 da Lei Uni-forme  de Genebra  permite  o  aval  parci-al,  o  aval  dado por  terceiro,  na  letra  ouem  folha  anexa  (alonge).  Por  essa  ra-zão, na linha de princípio estatuído peloart. 903 do Código Civil, deve aplicar-seà  hipótese  a  Convenção  de  Genebra  enão  o  parágrafo  único    do  art.  897  nosentido de  se  admitir  o  aval  parcial,  emque  o  avalista  pode  reduzir  o  valor  dasua  obrigação.

Art. 898O aval pode ser aposto no verso   do

título,  posicionado  o  avalista  na mesmaposição do  endossador,  a  ele  equiparadopara efeito de  responsabilidade cambiária.

Parágrafo  PrimeiroNo aval aposto no anverso do título,

o  avalista  coloca-se  na mesma  posiçãodo  devedor  principal:  o  aceitante,  osacador  da  letra  de  câmbio,  o  sacadordesta  na  letra  não  aceitável  ou  do  emi-tente  da  nota  promissória,  dispensadaqualquer menção  ao  avalizado.

Parágrafo  2°Considera-se não escrito o aval can-

celado.A Súmula nº 26 do STJ dispõe que

o  avalista  de  título  de  crédito  vinculadoa  contrato  de mútuo  também  respondepelas  obrigações  pactuadas,  quando  nocontrato  figurar  como devedor  solidário.

Art. 899A redação  do referido artigo é seme-

lhante à do art. 32   da Convenção de Ge-nebra e, na falta de indicação do nome doavalizado presume-se tenha sido aposto peloemitente ou pelo devedor  final, no caso, oúltimo endossatário, quando há endosso.

Convém  lembrar  que,  na  parte  fi-nal do caput do art. 32 deve substituir-se o vocábulo �afiançado por avalizado�.

Parágrafo  1°O  referido parágrafo  dá  ao  avalista

que  pagou  o  título  o  direito  de  regresso

Page 9: Títulos de Crédito e o Crédito Civil...Títulos€de€Crédito€e€outras,€destacadas do€diploma€civil. No€Brasil€publicaram-se€os€Projetos de€Código€Civil,€de€€Felício€dos€Santos,€Co-elho€Rodrigues,€Carlos€de€Carvalho€e,€re-centemente,€Orlando€Gomes

40 - Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil”

contra o avalizado e demais coobrigadosanteriores  (os  endossadores  e  endossa-tários  anteriores  e  seus  avalistas).  Oavalista  de  coobrigado  (endossador  ouendossatário)  que  paga  o  título  tambémtem direito  de  regresso  contra  o  obriga-do principal.

Parágrafo  2ºNo  caso  de  nulidade  da  obrigação

avalizada, subsiste a responsabilidade doavalista,  salvo  no  caso  de  nulidade  quedecorra  de  vício  de  forma.

Vício  de  forma  é  aquele  que  atingeo  próprio  título  e  gera  a  sua  nulidadeque,  por  sua  vez,  alcança  as  obrigaçõescambiárias.

Essa disposição encontra-se no art. 32,2°alínea da Convenção de Genebra.

Art. 900O aval  posterior  ao  vencimento  do

título não o  invalida, sendo consideradosos  mesmos  efeitos  do  anteriormentedado. A disposição em exame assemelha-se  à do  art.  20 da Convenção  genebrinacom  respeito  ao  endosso.

Quanto  ao  endosso,  a    capitulaçãodo  art.  20  da  Convenção,  na  primeiraparte,  tem  a mesma  redação,  porém  oendosso,  a  nosso  ver,  aposto  depois  doprotesto,  tem  o  efeito  de  cessão  ordiná-ria  de  crédito,  consoante  disposição  doart. 1.065 do Código Civil de 1916.

Art. 901O devedor que paga ao legítimo por-

tador do  título, no  vencimento,  conside-ra-se  quitado,  ou  seja,  desonerado,  sal-vo se agiu de má-fé.

Parágrafo   únicoPago   o título, assiste ao devedor o

direito  de  exigir  do  credor,  além da  en-trega  do  título,  a  quitação  regular.

Art. 902Este  artigo  informa  que  o  credor

não  tem  obrigação  de  receber  a  dívidaantes de  seu  vencimento,  sendo o deve-dor responsável pela validade da obriga-ção, no caso de pagamento.

Parágrafo  1°No  vencimento  não  pode  o  credor

recusar  o  pagamento.Observe-se  que,  ao  devedor,  assis-

te  o  direito  de  oferecer  pagamento  departe da dívida, cabendo ao credor  fazermenção a esse  fato, no  título ou em do-cumento    em  separado.

Tal  pagamento não  invalida  o  títu-lo, não se operando a sua tradição,  maso valor da dívida é reduzido ao saldo res-tante.

Por  essa  razão,  no  caso  de  paga-mento parcial,  o  credor  conserva  o  títu-lo em sua posse, sendo, porém, obrigadoa  dar  quitação  na  cártula,  pelo  valorpago,  consignando a parcela devida.

Também deverá o credor, em docu-mento  em  separado,  a  ser  entregue  aodevedor, consignar a mesma declaração.

Tratamento  diferente  dá  o  art.  314do Código Civil, pelo qual não está o cre-dor obrigado a receber parte da dívida.

Art. 903A  capitulação  em  análise  tem  a

maior  importância  no  que  concerne  aostítulos de crédito, pois o Código Civil deuprecedência à  legislação  regulada em  leiespecial sobre o texto do novo Código Ci-vil. Então,  no  conflito  entre  uma  lei  ex-travagante  e  o  Código,  prevalece  a  pri-meira.

Assim, no  conflito  entre  o  art.  897parágrafo único  do Código Civil e o art.30  da  Lei Uniforme  de Genebra  aplica-se  o  segundo  dispositivo  de  preferênciaao  primeiro.

A dúvida é se saber da razão do le-gislador do Código em inserir dispositivoinútil,  a menos  que  se  possam  admitirtítulos nos quais o  endosso seja sempretotal.

Outro problema envolve o aval múl-tiplo omitido (co-aval) no Código e na LeiUniforme,  cuja  solução  é  no  sentido  dese  considerar  solidários  os  co-avalistas(solidariedade  regida  pela  lei  civil).

A  Súmula  nº  189  do  S.T.F  dispõeque os avais em branco superpostos con-sideram-se  simultâneos  e  não  sucessi-vos.  A  regra  geral  é  que  está  em  vigor

Page 10: Títulos de Crédito e o Crédito Civil...Títulos€de€Crédito€e€outras,€destacadas do€diploma€civil. No€Brasil€publicaram-se€os€Projetos de€Código€Civil,€de€€Felício€dos€Santos,€Co-elho€Rodrigues,€Carlos€de€Carvalho€e,€re-centemente,€Orlando€Gomes

Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil” - 41

toda  a  legislação  extravagante  no  quetoca  aos  títulos  de  crédito,  sobrepondo-se esta às normas do Código Civil.

TÍTULOS AO PORTADOR

Art. 904Os títulos   ao portador são aqueles

que se    transmitem por  tradição, desco-nhecendo-se-lhes  o  portador,  até  o mo-mento  da  transmissão.

Art. 905O  requisito  essencial  é  a  apresen-

tação do  título.

Parágrafo  ÚnicoEste  dispositivo  decorre  da  aplica-

ção  da  teoria  da  declaração,  pela  qual,no momento em que o emitente apõe   asua assinatura no  título, este  já   existe.

Caso  o  título  seja  furtado,  se,porventura, o  ladrão colocá-lo em circu-lação,  endossando-o,  inclusive,  caso  oendossatário  esteja  de  boa-fé,  poderácobrá-lo do endossador ou endossadoresanteriores  daquele    que  o  transferiu,estará imune  às investidas do subscritorou  emissor  do  título,  salvo  diante  dasdefesas  com  base  em  nulidade  internaou  externa do  título,  ou  em direito  pes-soal  do  emissor.

Pela  teoria  da  criação não  importaque o seu criador tenha sido injustamen-te desapossado, passando a circular o tí-tulo  contra  a  sua  vontade;  logo,  a partirdo momento em que a pessoa apôs a suaassinatura no  título  formalmente  perfei-to,  mesmo  que  dele  tenha  sidodesapossado  contra  a  sua  vontade,  essetítulo  pode  circular  regularmente,  a me-nos que o endossatário esteja de  má-fé.

Esta disposição já se encontrava noart. 1.506 do Código Civil de 1916, cujafonte  foi  o  §  794  do BGB  (Código  Civilalemão), com base na teoria de  Kuntze,Siegel  e  Bonelli.

O referido § do Código Civil alemãotem  a  seguinte  redação:

�O emissor de um título ao portador seacha obrigado ainda que se lhe foi rou-bado, se lhe foi extraviado, ou, de quequalquer modo foi posto em circulaçãocontra a sua vontade�.

O  criador  fica  ligado  ao  título  coma sua assinatura e obrigado para com ocredor  eventual  e  indeterminado,  emconsiderando  tratar-se  de  declaraçãounilateral de vontade ao se obrigar o cri-ador do  título. A obrigação nasce com oaparecimento  desse  futuro  detentor.

Para Kuntze, com a concepção do es-crito, nasce  o  título  e  com a  entrada  emcirculação do  título nasce a obrigação.

Segundo  Pontes  de Miranda  (Tra-tado  de Direito Cambiário,  v.  1°),  loc.cit.,  por  essa  teoria adotada pelo CódigoCivil  alemão,  em mãos  do  subscritor  otítulo  já é um valor patrimonial, prestesa  se  tornar  fonte  de  direito  de  crédito.

A vontade  do devedor já não impor-ta  para  o  efeito  obrigacional,  completaPontes,  pois  o  título  é  o  que  o  produz  eque  cria  a  dívida. A única  condição  quese  impõe  é  a  posse  pelo  primeiro  porta-dor,  qualquer  que  seja  ele.

Essa    teoria  foi  aceita  pelo  art.1.506 do Código Civil de 1916 e pelo novoCódigo, no art. 905, parágrafo único.

Art. 906As exceções suscetíveis de ser opos-

tas pelo devedor ao portador são as fun-dadas  em direito  pessoal  ou  em nulida-de do  título.

Art. 907Diz o texto do art. 907 que, ao me-

nos  que  tenha  sido  autorizado  por  leiespecial,  é  nulo  o  título  de  crédito  aoportador. A redação encontra a sua ma-triz no art. 1.511 do Código Civil de 1916.Convém chamar a atenção para o dispo-sitivo do art. 1° da Lei nº 8.021 de 12 deabril de 1990, pelo qual é  �vedado o pa-gamento  ou  resgate  de  qualquer  títuloou aplicação, bem como dos seus rendi-mentos  ou  ganhos,  a  beneficiário  nãoidentificado�.

Ora, a referida lei proibiu por com-pleto  a  emissão  de  qualquer  título  aoportador,  daí  a  necessidade  de  se  sabera  respeito  da  revogação  da  referida  lei,atento  ao  fato  de  se  tratar  de norma  li-gada  à  política  do  Governo,  visando  aimpedir  a  expansão do  crédito.

Page 11: Títulos de Crédito e o Crédito Civil...Títulos€de€Crédito€e€outras,€destacadas do€diploma€civil. No€Brasil€publicaram-se€os€Projetos de€Código€Civil,€de€€Felício€dos€Santos,€Co-elho€Rodrigues,€Carlos€de€Carvalho€e,€re-centemente,€Orlando€Gomes

42 - Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil”

No  início da República,  já havia  leiproibitiva  de  emissões  de  títulos  dessanatureza  e,  há  alguns  anos  editaram-seleis  com  exigência  de  registro  de  letrasde  câmbio  e  notas  promissórias,  poste-riormente  revogadas.

A  conclusão,  na  interpretação  doart. 907 é que:

a) só poderão ser criados títulos decrédito mediante  lei    especial;

b)  a  vedação  de  criação  de  títulosao portador por força do disposto no art.1° da Lei nº 8.021/ 90, a nosso ver, con-tinua em vigor,  em razão de política go-vernamental.

Art. 908A disposição é polêmica, por se tra-

tar de questão dependente de prova, tantoassim  que  o  título  dilacerado  pode,  pormuitos,  ser  considerado  inutilizado,  tan-to assim que os bancos normalmente nãoaceitam cheques  com  rasuras  ou peque-nas  irregularidades  no  seu  texto,  comoerros de data e outras quebras do aspec-to  formal  do  cheque. Muito  pior  será  aexistência  de    dilaceração de um  título.

De  qualquer  forma  o  dispositivomerece melhor  exame na  sua aplicação.No artigo seguinte será examinado o casodo  art. 912 do Código de Processo Civil,em menção de destruição parcial de do-cumento.

Art. 907 � Código de Processo CivilO art. 907 trata de  assunto ligado

à  ação  de  anulação,  de  recuperação  detítulo ao portador, quando o proprietárioperder  ou  extraviar  título,  ou  for  injus-tamente  desapossado  dele.

A  origem  da  ação  referida  encon-tra-se  no  art.  36  do Decreto  nº  2.044/1908, de redação mais ampla e adequa-da à hipótese,  que a adotada no CódigoCivil de 2002.

Porém a  lei em vigor é o Código deProcesso Civil nos seus artigos 907 a 913,sobre  os  quais  nos  pronunciaremos  deforma  sucinta.

O  art.  907  da  lei  processual  cuidade  casos  de  perda  ou  de  injustodesapossamento  do  título.

Os pedidos são:a)  a  reivindicação  (petitória,  ação

real  do  título  contra  quem o  detiver);b) a  anulação  e a substituição por

outro  título.Se  se  tratar  de  destruição  total

pode o autor da ação de rito comum, or-dinário  ou  sumário,  fazer  citar  o  deve-dor para reconfeccionar novo título. Casoo  título  esteja  em mãos  de  terceiro  oautor  pedirá  o  seu  desapossamento    econseqüente devolução ao autor da ação.

Segundo  lição  de Nelson Nery  Ju-nior  e  Rosa Maria  de  Andrade  Junior,Código  de  Processo Civil  Comentado,5°  ed.  R.T.  p.  1282,  entende-se  por  in-justo  desapossamento  aquele  �que  de-corre de abuso de confiança ou de apro-priação  indébita.  O  injusto  desapossa-mento não precisa  ser  comprovado  se  aalegação do autor é de extravio ou perdado  título.  As  cédulas  de  papel moedaequiparam-se a títulos da dívida pública(RF 253/325).

Na  hipótese  de  reivindicação  denota  promissória,  aduzem  os  ilustresautores (loc.cit.), exigem  prova  segura,pelo  devedor,  de  ter  sido  entregue  emconfiança,  e  não  se  tratasse  de  entregaem quitação, como seria de se presumir(JTA Civ. SP  49/52 e RJCPC, I, 75). Osmesmos  autores  ainda  lembram  que  oautor  não  pode  se  servir  da  ação  paradesconstituir  relação  jurídica  de  direitomaterial, pelo CPC, 907, II, em que o réué o detentor do  título.

No  caso  do  art.  907,  II  do C.P.C.,segundo o disposto no art. 908 do mes-mo diploma legal, apresentada a petiçãoinicial  com os  requisitos  do  seu caput  ecitados  o  detentor    e  por  edital  os    ter-ceiros  interessados  para  contestarem  opedido,  os  obrigados  cambiais  devemtambém  ser  cientificados  do  pedido.  Opedido inicial deve requerer a  intimaçãodo devedor para depositar em juízo o ca-pital,  juros  ou  dividendos  vencidos  ouvincendos;  intimada,  outrossim, a Bolsade  Valores  para  conhecimento  de  seusmembros -   as sociedades corretoras - afim de não negociarem os valores  mobi-liários.

Page 12: Títulos de Crédito e o Crédito Civil...Títulos€de€Crédito€e€outras,€destacadas do€diploma€civil. No€Brasil€publicaram-se€os€Projetos de€Código€Civil,€de€€Felício€dos€Santos,€Co-elho€Rodrigues,€Carlos€de€Carvalho€e,€re-centemente,€Orlando€Gomes

Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil” - 43

Pede-se,  também, na  inicial  que  seintime o devedor a não pagar ao detentoraté que  se  resolva    a  ação de  reivindica-ção ou de anulação,  em  trâmite.

Depois da intimação, completam osautores  referidos  (local  citado),  reputa-se de má-fé o pagamento feito e inválidaa quitação (art. 935 C.C.1916), ainda queo  título  tenha  sido  entregue  ao  devedor(art.  945).

Ainda  segundo  os  referidos  auto-res  (p.  1283),  cabe  ao  autor,  a  fim  deevitar  insegurança no mercado  de  valo-res mobiliários  ou no mercado  financei-ro,  comprovar,  de  início,  pré-constituira  prova  de  perda,  extravio  oudesapossamento do  título. Não  justifica-dos a perda, o extravio ou o furto do títu-lo,  o  juiz  julgará  o  autor    carecedor  deação  (TR 649/83).

Conseqüência  do  julgamento  final:o  juiz  declarará  caduco  o  título  recla-mado  e  ordenará  ao  devedor  que  lavreoutro  em  substituição  dentro  do  prazoque  a  sentença  lhe  assinar  (art.  911C.P.C.).

Esse  artigo  911  é  incompleto,  poisnão abrange a ação de reivindicação pre-vista  no  art.  907,  I,  quando  determinarque  a  propriedade  do  título  sejatransferida de volta ao autor    retirando-a do réu.

É possível que o réu se negue a con-feccionar novo  título,  e,  nesse  caso,  ad-mitimos  a  possibilidade  de  o  juiz  profe-rir  sentença  com  força  executiva,substitutiva do  título,  valendo a decisãocomo  se  fora  o  próprio  título,  à  seme-lhança  do  procedimento  dos  art.  639/641 do Código de Processo Civil.

CASO DE DESTRUIÇÃO PARCIAL

O  art.  912  do Código  de  ProcessoCivil determina que o portador, exibindoo  que  restar  do  título,  pedirá    a  citaçãodo devedor  para  em dez dias,  substituí-lo ou contestar a ação.

O  parágrafo  único  estatui  que,  emnão havendo contestação,  o  juiz proferi-rá  desde  logo  a  sentença  ou mandaráseguir o rito ordinário. Observam os au-tores citados que  �se estes vestígios não

existirem,  o  credor  não  tem  como  aten-der  a  exigência  da  lei,  de  exigir  os  res-tos reconhecíveis  do  título,  na  linha  dopensamento  do  ilustre  Professor  Adro-aldo Fabrício, Coment. nº 239, p. 274  ede Mercato, Proced. Esp. nº 93.

No art. 909, aplica-se aqui a teoriada  emissão  do  título  prevista  no  art.1.509 do Código Civil de 1916 que tratade  injusto desapossamento do  título,  desua perda ou extravio.

Art. 909 - Parágrafo ÚnicoEste   artigo admite a   possibilidade

de o pagamento efetuado pelo devedor aopossuidor  do  título  antes  da  ciência  daação por aquele exonerá-lo, exceto se eleteve  ciência do  fato, naquela  ocasião.

TÍTULO À ORDEM

O  título  à  ordem  é  aquele  que  setransfere mediante endosso,  previsto noart.  11  da  Lei Uniforme de Genebra.

Art. 910O endosso deve ser lançado no ver-

so do título, em branco ou em preto. Noprimeiro  caso,  o  título  transfere-se  portradição; no segundo, consta o nome doendossatário,  o  verdadeiro  beneficiáriodo título à ordem.

ENDOSSO A MAIS DE UMA PESSOA

No  entendimento  de  Whitaker,quanto ao endosso a duas pessoas con-junta  ou  alternadamente,  aquele  quelegitimamente  possuir  a  letra  de  câm-bio é o credor da obrigação, autorizado acobrar  o  título.  Segundo  anota WaldírioBulgarelli  (Títulos  de  Crédito,  18ª  ed.Atlas 2001),  o mestre Carvalho de Men-donça  negava  a  possibilidade  de  o  en-dosso  ser  aposto  no  anverso  do  título,tese  superada  segundo  o magistério  dePontes  de  Miranda  e  João  EunápioBorges    op.  cit.  nº  80,  p.75  desde  quefigure  expressamente  tratar-se  de  en-dosso, na  face do título; nesse caso, ad-mite  a maioria  dos  autores  a  existênciade endosso aposto na  face da cambial.

A nosso ver, na dúvida, prevalece atese  de  que  o  endosso  deve  ser  aposto

Page 13: Títulos de Crédito e o Crédito Civil...Títulos€de€Crédito€e€outras,€destacadas do€diploma€civil. No€Brasil€publicaram-se€os€Projetos de€Código€Civil,€de€€Felício€dos€Santos,€Co-elho€Rodrigues,€Carlos€de€Carvalho€e,€re-centemente,€Orlando€Gomes

44 - Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil”

no  verso.  A  dúvida  reside  em  se  saberqual a posição do endosso em branco in-serido no anverso, por se  ignorar a datade  sua  aposição  e  da  possibilidade  deser  confundido  com o  aval  pelo  devedorprincipal.

Quanto  ao  endosso  aposto  fora  dotítulo, em nosso entender, pode sê-lo noalongamento ou anexo, representado poruma folha colada no título, porém temosdúvida sobre a validade do endosso dadoem escritura pública,  como aceita  o no-bre  Professor Bulgarelli  (op.  cit.  p.  173,nº 3.4.2).

O Código Civil, no art. 910, admitiuo endosso  lançado no anverso, mas nãoexplicou  em que  condições  pode  ser  in-serido.

Em nossa interpretação, poderá sê-lo  nas  condições  acima  referidas.

Parágrafo Primeiro do art. 910Esse parágrafo cuida do endosso em

preto,  tanto no verso quanto no anversodo  título  transmitido  à  ordem.

O endosso em branco, quando nãose menciona  o  nome  do  endossatário,como  se  viu,  o  título  é  transmitido  aoportador.

Há  certa  confusão  na  menção  àparte  final  desse  parágrafo,  quando  olegislador  refere-se  a  �e  para  a  validadedo endosso dado no verso do título é su-ficiente    a  simples  assinatura    doendossante�,  podendo  parecer  que  so-mente  o  endosso  em  branco  aposto  noverso  do  título  tem  validade.

Essa confusão advém da permissãodo endosso na  face do título.

Parágrafo Segundo do art. 910A  transmissão  do  título  faz-se me-

diante  dois  atos:  o  endosso,  representa-do  pelo  aspecto  obrigacional  sucedidopela  transferência  da  sua  posse  �  as-pecto  real,  representado  pela  transmis-são  física da cártula;  logo, o endosso dotítulo  sem  a  transferência  da  posse  dacambial  não  produz  eficácia  real  em  re-lação  a  terceiros,  simplesmente  porqueesse  título  é  insuscetível  de  ser  objetode  cobrança  ou de  execução  sem a  res-

pectiva  cártula,  exceto  nos  títulosescriturais, nos quais não existe um do-cumento  no  sentido  usado  no  direitocambiário  tradicional, na  forma da Con-venção de Genebra, em que a  transmis-são  verifica-se  por  meio  de    registro,como no caso das ações nominativas dasociedade  anônima.

Anota  José Maria Whitaker  que  oendossatário  sucede  ao  endossante    napropriedade do  título, mas não na relaçãojurídica pela qual o endossatário o adqui-riu; adquire um valor  e não somente umdireito a um valor. Em conseqüência, a in-capacidade do endossante não  terá o efei-to de  interromper a cadeia de endossos.

Parágrafo  TerceiroO  endosso  cancelado  considera-se

não  escrito,  norma  inscrita  no  art.  16da  Lei Uniforme  de Genebra;  a  redaçãodo texto deste parágrafo na parte em quediz  que  se  considera  não  escrito  o  en-dosso  cancelado  �total  ou  parcialmente�pode  suscitar  dúvidas,  uma  vez  que  setorna  difícil  aproveitar-se  um  endossoparcialmente  riscado.

PACTO DE NON PETENDO

Segundo  o magistério  de Whitaker(op.  cit.  p.  273),  o  credor  que  concedeuprazo  a um dos  coobrigados,  ou mesmose lhe prometeu nunca o acionar (pactumde non petendo),  não  terá  prejudicado,com isso, o direito contra os coobrigadosposteriores, nem o destes  contra  o deve-dor, quando exerçam o direito de regres-so. Qualquer uma destas convenções temcaráter pessoal e não  real atingindo comisso,  apenas,  aqueles  que  diretamenteas  estabeleçam.  Se  o  credor  recusar  opagamento  que  lhe  for  oferecido por umdos coobrigados não poderá mais exigi-lode um dos  coobrigados posteriores,  por-que tê-lo-ia privado injustificadamente deuma oportunidade de se  liberar   definiti-vamente da própria obrigação (cf. Bonelli,op. cit. nº 288).

Art. 911A série ininterrupta de endossos do

título  assegura  ao  último  endossatário

Page 14: Títulos de Crédito e o Crédito Civil...Títulos€de€Crédito€e€outras,€destacadas do€diploma€civil. No€Brasil€publicaram-se€os€Projetos de€Código€Civil,€de€€Felício€dos€Santos,€Co-elho€Rodrigues,€Carlos€de€Carvalho€e,€re-centemente,€Orlando€Gomes

Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil” - 45

o  direito  de  considerá-lo  o  seu  legítimocredor.

Pelo  magistério  de  Bulgarelli  (p.175,  nota  51),  do  endosso  não  resultasomente  a  transferência  da  proprieda-de  do  título, mas,  também,  a  garantiada  realização  pontual  da  prestaçãocambiária  e,  por  força  da  garantia  oendossador  assume    em  face  dosendossatários  ulteriores  a  responsabili-dade  solidária  pelo  aceite  (na  letra  decâmbio) e pelo pagamento da cambial.

Quanto à solidariedade, não se tra-ta da inserida no Código Civil, pois, nes-ta,  a prestação pode ser exigida por quo-tas,  os  credores  não  têm  entre  si  rela-ções  de  débito  e  crédito,  a  nulidade  de-cretada  em  favor  de  um  dos  devedoresaproveita  aos  outros,  ainda  que  não  ativessem  alegado.

No  endosso da  cambial,  ao  contrá-rio,  a prestação é  indivisível,  os  credoressão devedores uns dos outros, na ordemda  sucessão dos  endossos,  e  a  anulaçãode  qualquer  das  declarações  cambiais,de nenhum modo afeta a validade ou efi-cácia  de  qualquer  das  outras. Mostra  oilustre  autor  que,  na  cambial  há  tantasobrigações  de  garantia  quantos  com  oúnico  traço  comum de  se  referirem  to-das ao mesmo objeto. Daí a obrigação deo endossador garantir �a realidade-veritas-  do  título  como  a  realização  do  valor.Bonitas - que  ele  representa.  (Whitaker,nº 75,  p.  121-122). Se  o último  endossofor em branco, a regra aplicável é a mes-ma,  com a diferença de  se  tratar de umtítulo  transferível  por  tradição,  cujobeneficiário  é  desconhecido.

Parágrafo único do art. 911A  regra  tem  o  significado  de  exigir

que  o  beneficiário  do  título,  ou  seja,  oúltimo  endossatário,  deva  verificar  aregularidade  da  série  de  endossos,  nosentido  de  se  identificar  sobretudo  onome  dos  endossatários  em preto, masnão  a  autenticidade  das  assinaturas.

Admitamos  que  Francisco  endosseo título a Carlos, e que, em seguida apa-reça  a  assinatura  de Mario,  nesse  casoquebrou-se  a  série  ininterrupta  de  en-

dossos,  pois  o  endossatário  deveria    serCarlos  e não Mario.

No    caso dos  endossos  em branco,a    sua  circulação  se  fará  por  tradição,ignorando-se por quais pessoas circulouesse  título.

Após o endosso em branco, pode otítulo  voltar  a  circular  por meio  de  en-dosso  em  preto, mediante  identificaçãodo  endossatário  (art.  913).

Não  cabe  ao  endossatário  saber  sealguma das assinaturas do endossadorese  endossatários  e  seus  avalistas  é  falsa.

Art. 912O  endosso  não  está  sujeito  à  con-

dição,  conforme dispõe  a  segunda partedo art. 12 da Convenção de Genebra, porser  o  endosso  a  transferênciaincondicionada  da  cambial.

Parágrafo único do art. 912O endosso parcial é nulo, consoan-

te consta do item segundo do art. 12 daLei  Uniforme  de  Genebra.  No  que  dizrespeito ao art. 10 do Decreto Lei nº 413de  1969  sobre  a Cédula  de Crédito  In-dustrial,  admite  o  endosso  parcial  (art.10 paragrafo 2° c/c  art.13) quando hou-ver  amortização  da  dívida.

O Professor Bulgarelli,  em nota  50da p. 174 da obra referida, assinala que,apesar de nulo o endosso parcial, em re-lação  às  partes  imediatas,  prevalece  arestrição,  �em  relação  aos  endossadoresposteriores  � não prejudicada a  regulari-dade da  série  de  endossos  -  aquela  res-trição,  vedada  pela  lei, mas,  não  o  ne-cessariamente  anulatória  do  endosso,será  considerada não  escrita,  podendo  opossuidor exigir a soma cambial de todosos  coobrigados,  inclusive  do  signatáriodaquele  endosso  parcial".

A  norma  a  aplicar  será  a  do  art.44,  IV,  que  considera  não  escrita  paraos  efeitos  cambiais,  a  cláusulaexcludente  ou  restritiva  da  responsabi-lidade  e  qualquer  outra,  beneficiando  odevedor  ou  o  credor,  além  dos  limitesfixados  por  esta    lei.  Assim,  não  serianulo  o  endosso  parcial,  apenas  ineficaz�  considerada  cambialmente  não  escri-

Page 15: Títulos de Crédito e o Crédito Civil...Títulos€de€Crédito€e€outras,€destacadas do€diploma€civil. No€Brasil€publicaram-se€os€Projetos de€Código€Civil,€de€€Felício€dos€Santos,€Co-elho€Rodrigues,€Carlos€de€Carvalho€e,€re-centemente,€Orlando€Gomes

46 - Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil”

ta � a limitação ou parcelamento da somaconstante  do  referido  endosso.  JoãoEunápio Borges, op. cit. nº. 87, p. 77-78.(cf. Vivante, Trat. Dir Com.,  III, p.281).

Art. 913O  endosso  em  preto  -  aquele  em

que  o  endossador  insere  o  nome  doendossatário  -  pode  converter-se  emendosso em branco, no qual o endossadorapenas  apõe  o  seu  nome  sem mencio-nar  o  nome  do  endossatário,  em  que  acirculação  do  título  se  dá  por  tradição,no  caso  em que  o nome dos    seus  pos-suidores  são  desconhecidos.

Se  o  portador  do  título  endossadoem  branco,  fizer  inserir  o  nome  doendossatário,  o  título  passa  a  ser  en-dossado em preto,  e assim por diante.

Art. 914Capitula o art. 15 da Convenção de

Genebra  que  o  endossatário,  sem  cláu-sula  em  contrário,  é  garante,  tanto  daaceitação  da  letra,  quanto  de  seu paga-mento. Mesma redação tem o art. 21 daLei nº 7.357 de 1985.

Ao contrário, o art. 914 do novo CódigoCivil dispõe que    �ressalvada cláusula ex-pressa em contrário constante do endossonão responde o endossante pelo cumprimen-to da prestação constante do  título�. Deve,a nosso ver, prevalecer a  redação da Con-venção de Genebra dos arts. 14 e 15, naforma dos comentários anteriores.

Parágrafo  PrimeiroA capitulação deste parágrafo  impõe

a  necessidade  da  assunção  peloendossatário da  responsabilidade pelo pa-gamento,  tornando-se devedor solidário.

A  solidariedade  decorre  da  simplesaposição  da  assinatura  do  endossatáriono  título.

Parágrafo Segundo do art. 914O dispositivo  enunciado permite  ao

endossatário que pagou o título o exercí-cio  do  direito  de  regresso  contra  osendossadores  e    endossatários  anterio-res e seus avalistas e, em ação direta contra

o devedor principal.

O dispositivo referido no Código Ci-vil omitiu a ação direta contra o devedorprincipal,  ou  seja,  o    aceitante  da  letra,o  sacador  da  letra  não  aceitável  seja    oemitente  da  nota  promissória,  e  seuavalista,  a  ele  equiparado.

Art. 915O dispositivo trata das exceções pes-

soais, no sentido de que  o devedor, alémdas exceções  fundadas nas  relações pes-soais contra o portador, só poderá opor aeste  as  exceções  relativas  à  forma do  tí-tulo  e  ao  seu  conteúdo  literal,  a  falsida-de  da  própria  assinatura,  a  defeito  decapacidade  ou de  representação no mo-mento da  subscrição  e à  falta   de  requi-sito necessário  ao  exercício  da  ação.

Vejamos cada uma dessas exceções.As  relações  pessoais  diretas  entre

autor  e  réu  são  aquelas  que  dizem  res-peito  aos  efeitos  das  obrigações  como  opagamento,  a  subrogação,  a  imputaçãodo  pagamento,  a  dação  em pagamento,a novação, a compensação, a transação,o compromisso, a confusão e a remissãode dívida (arts. 930 e seguintes do Códi-go Civil de 1916, arts. 334 e ss do novodiploma  civil  decorrente  do  princípio  dainoponibilidade  das  exceções  pessoais.

Incluem-se  nessas  defesas  erro,dolo,  fraude,  violência,  causa  ilícita  nostítulos  causais  e  simulação.

A  forma do título e o seu conteúdoliteral  referem-se  à  literalidade  da  cam-bial,  princípio  essencial  aos  títulos  decrédito.  (cf.  José Maria Whitaker, Letrade Câmbio, nº 199, p. 242).

Com respeito à falsidade da própriaassinatura  compreende  a  falsidade  do-cumental    ou  ideológica.

O  Professor Bulgarelli  analisa  commuito discernimento o problema da com-patibilidade  das  exceções  cambiárias  eextracambiárias (op. cit. p. 242), em queo réu pode, desde logo opor "em exceçãoaquilo que iria fundamentar aquela ação.Isto  é,  ao solve et repete o  réu  retrucavitoriosamente  com  o  dolo petis quodmox restiturus es, isto é, pedes com doloaquilo  que  logo  terás  de  restituir"(Eunápio Borges op, cit. nº 165, p. 129).

Page 16: Títulos de Crédito e o Crédito Civil...Títulos€de€Crédito€e€outras,€destacadas do€diploma€civil. No€Brasil€publicaram-se€os€Projetos de€Código€Civil,€de€€Felício€dos€Santos,€Co-elho€Rodrigues,€Carlos€de€Carvalho€e,€re-centemente,€Orlando€Gomes

Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil” - 47

No que concerne à falta de requisi-to  necessário  ao  direito  de  ação  ressal-ta  Bulgarelli  (loc.cit.)  referir-se  àlegitimação do autor como credor, à  fal-ta de posse da  cambial,  à  falta  ou nuli-dade, à prescrição e a outros. Além des-ses há,  ainda,  as  defesas  específicas  doprocesso  (coisa  julgada,  litispendência,falta  de  capacidade  processual  e  outrasdessa  natureza.

Art. 916As  exceções  são  pessoais  entre  o

credor  e  o  obrigado  cambiário  contraquem  é  proposta  a  ação;  aquelas    pro-postas  contra  outros  endossadores  ouendossatários  ou  avalistas  precedentessomente  poderão  ser  opostas  ao  porta-dor  do  título,  quando  este  tenha  agidode má-fé.

A má-fé,  na  redação  do  art.17  daConvenção  de  Genebra,  significa  a  ci-ência  da  ação  em  detrimento  do  deve-dor  (�agi sciemment au dètriment du

rebiteur�),  considerado  o momento  daaquisição do  título  (art. 17).

Túlio  Ascarelli  (Teoria  Geral  dosTítulos de Crédito. 2ª ed. 1969, p. 293/294)  alinha    várias defesas do  réu.

Comptes Rendus, 1.133. A conclu-são  final da Convenção  foi no sentido deque o portador deve, não só  ter conheci-mento das exceções como ter agido coin-cidentemente  em detrimento do devedor,suscetível  de  incidir  na  aplicação da  re-gra �exceptio doli generalis a ser apre-ciada por cada Tribunal.

Art. 917O endosso-mandato  ou procuração

é  aquele  em  que  o  endossador  outorgapoderes ao mandatário para praticar atosrelativos  ao  direito  cambiário,  inerentesao  título.

Por  força do parágrafo 1° do mesmoartigo,  ao mandatário  só  é  permitido  osubstabelecimento ou o reendosso do títulodentro dos  limites previstos no mandato.

Parágrafo 2° do art. 917Pelo  parágrafo  2°  a morte  ou  a  in-

capacidade  superveniente  do mandante

não  invalida  o mandato,  nem  lhe  retiraa  eficácia.

Parágrafo 3° do art. 917As  exceções  opostas  pelo  devedor

ao mandatário  ficam restritas às que  ti-ver  contra  o  endossador,  dentro,  natu-ralmente,  dos  poderes  outorgados  pelomandante.

Art. 918 e parágrafo 1ºNo  caso do  endosso-penhor  ou  en-

dosso  pignoratício,  o  credor  somentepode  endossar  o  título  na  qualidade  deprocurador,  pelo  simples  fato  de não  setratar  de  endosso pleno, mas de  consti-tuição de uma garantia real, como ocor-re  com  o  penhor.  (art.19  da  Lei Unifor-me  de Genebra).

Parágrafo 2° do art. 918Como o endosso pignoratício, o títu-

lo é  dado em caução, dele não há trans-ferência  da  propriedade,  sendo    vedadoao devedor  opor  ao  credor,  exceções quetinha contra o  endossador, dele devedor,exceto  se  tiver  este  agido de má-fé  .

Na capitulação do art. 798 do Códi-go Civil  de  1916,  inseriu-se  o  vocábulo�caução�  explicado  por Clóvis Beviláquapor  ser  o mais  adequado  do  que  o  pe-nhor,  por  expressar melhor  a  idéia  deque não há  transferência  de  posse,  vis-to tratar-se de crédito de bem incorpóreo.

Aduz Maria  Helena Diniz  (CódigoCivil  Anotado,  4.  ed.  aum.,  Saraiva,1998, p. 610):

�O objeto da caução de título de crédi-

to é o próprio título em que se docu-menta o direito.O direito de crédito materializa-se ao

incorporar-se no documento, sendo,portanto, seu objeto o documento re-

presentativo do crédito (coisa corpórea)e não os respectivos direitos (coisaincorpórea).�

No novo Código Civil, a  redação doart.  1.458  prevê  o  penhor  de  título  decrédito, mediante  instrumento  públicoou  particular  ou  endosso  pignoratício,com a tradição do título ao credor.

No que tange à letra de câmbio e à

Page 17: Títulos de Crédito e o Crédito Civil...Títulos€de€Crédito€e€outras,€destacadas do€diploma€civil. No€Brasil€publicaram-se€os€Projetos de€Código€Civil,€de€€Felício€dos€Santos,€Co-elho€Rodrigues,€Carlos€de€Carvalho€e,€re-centemente,€Orlando€Gomes

48 - Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil”

nota promissória, o meio próprio é o en-dosso penhor, previsto no art. 918 do novodiploma  legal.

No  cheque  as  coisas  se  passam demaneira  diferente,  por  não  preverem  oDecreto nº 2.591 de 1912,  a Convençãode Genebra para cheques e a própria Leinº 7.357 de 1985 o endosso pignoratíciodo  cheque.

Na  doutrina,  Lorenzo Mossa,  cita-do em nossa obra Obrigações e Contra-tos na Falência  (Renovar, 1997, p. 92),já  excluía  o  endosso penhor no  cheque.

No Código de Comércio de 1850, noart.  277,  admite-se  o  penhor  de  títulosde  crédito.

A  Lei  Uniforme  de  Genebra  paraCheques  não  previu  o  endosso  penhor,situação explicada nas Comptes Rendus(p.  98),  transcrita  no mesmo  trecho  denossa obra.

Por essa razão, tanto o texto da LeiUniforme quanto a Lei nº 7.357 de 1985não  admitem  essa  forma de  endosso.

Quanto  ao  instituto  do  penhor  decambial,  a  nosso  ver,  é  perfeitamenteadmissível no texto do novo Código Civil,no  art.  1.458,  além do  endosso  penhorinserido no art.  918.

Assim  entendido,  na  linha  do nos-so  pensamento  a  respeito  dessa  garan-tia, admitimos a possibilidade de a  letrade  câmbio  e  a  nota  promissória  seremendossadas por meio de endosso penhor.

Ao mesmo tempo, de acordo com ocapitulado no art. 1.458 do novo CódigoCivil, não temos dúvida em aceitar o pe-nhor  de  cambial,  de  forma  diversa  doendosso  penhor, mediante  instrumentoextracartular  válido,  na  forma  previstano nosso parecer acima referido, ao passoque, no cheque, é  inadmissível o endos-so penhor, como se viu acima.

Art. 919A disposição do art. 919 não aten-

tou para os arts. 11,   al. 2ª e 15, al. 2°da Convenção de Genebra, nos quais seestabeleceu,  respectivamente,  aclausula  �não  à  ordem�  e  a  cláusula"proibitiva  de  endosso".  Na  primeira,aposta  pelo  sacador  da  letra  de  câmbio

ou  pelo  emitente  da  nota  promissória,tem  a  eficácia  de  cessão  ordinária  decréditos  e  a  segunda,  aposta  no  cursoda  cambial,  pelo  endossador,  proibitivade novo  endosso,  também com efeito decessão  de  crédito,  cuja  conseqüência  éo  fato  de  não  garantir  o  pagamento  àspessoas a quem a letra for posteriormen-te  endossada.  Em  outras  palavras,ambas  as  cláusulas  dão  ao  endosso  aconotação  de  cessão  de  crédito  regidapelo  art.  1.065  e  seguintes  do  CódigoCivil  de  1916  e  pelo  art.  286  a  298  donovo diploma civil.

No  caso  de  nota  promissória  prosolvendo, ou  seja,  impropriamente  cha-mada de vinculada a um contrato ou sir-va  de  garantia    a  uma  obrigação,  duasconseqüências  podem  resultar:

1°)  na  cobrança da nota  promissó-ria  tem  o  devedor  a  faculdade  de  invo-car  as  exceções  da  causa  contra  o  cre-dor, tomando-se como exemplo, na com-pra  de  um  imóvel,  a  emissão  de  certonúmero  de  promissórias  vinculadas    aonegócio  jurídico.

Entre  essas  exceções  na  cobrançadas cambiais pelo credor, existe a apos-ta  pelo  devedor  -  comprador-emitentedas cambiais: a exceptio non adimpleticontractus,  ligada  ao  descumprimentodas obrigações na construção do prédio.

Essa exceção tem cabimento e podeimpedir a execução dos títulos pelo cons-trutor, ao cobrar os títulos pro solvendoao devedor, caso fique provado que o cons-trutor  deixou  a  obra  inacabada.  Nessecaso,  se  o  credor-construtor  da  obra  ti-ver endossado a promissória pro solven-do  a  terceiro, v.g.,  a  um  banco,  e  estepromover  a  execução  do  título  contra  odevedor do  título,  este não poderá  exer-citar  a  exceção  da  causa  que  dispunhacontra  o  construtor,  por  serem  elas  denatureza  pessoal,  pelo  princípio  dainoponibilidade  das  exceções  pessoais.

Em  duas  hipóteses  é  possível  aapresentação  dessa  exceção  que  o  de-vedor  tinha  contra  a  construtora:

1°)  quando  a  promissória pro sol-vendo contenha a cláusula não à ordemdo  art.  11,  alínea  2ª  da  Convenção  de

Page 18: Títulos de Crédito e o Crédito Civil...Títulos€de€Crédito€e€outras,€destacadas do€diploma€civil. No€Brasil€publicaram-se€os€Projetos de€Código€Civil,€de€€Felício€dos€Santos,€Co-elho€Rodrigues,€Carlos€de€Carvalho€e,€re-centemente,€Orlando€Gomes

Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil” - 49

Genebra,  aposta  pelo  emitente  da  pro-missória, pela qual o título já nasce nãoendossável  e  a  sua  transferência  tem  aeficácia  de  cessão  de  crédito;

2°)  quando  a nota  promissória prosolvendo contenha cláusula proibitiva deendosso, aposta no curso da promissória,pelo  endossador,  proibitiva  de  endosso,também com efeito de  cessão de  crédito,cuja conseqüência é o fato de  não garan-tir o pagamento às pessoas a quem a pro-missória  for posteriormente    endossada.

Em  outras  palavras,  ambas    asclausulas dão ao endosso a conotação decessão de  crédito,  regida pelo  art.  1.065e  seguintes  do Código Civil  de  1916    earts. 286 a 298 do novo diploma civil.

O  resultado  final  é  que,  por  ser  apromissória pro solvendo    vinculada  aum contrato, no caso, o contrato de cons-trução do prédio de apartamentos, o com-prador-devedor  do  título  pode  alegar  asexceções  da  causa  contra  o  banco-endossatário  exeqüente  do  título  comefeito de cessão de crédito, por se comu-nicarem a  este  as  exceções  que  o  deve-dor tinha contra o construtor-credor, porforça  das  cláusulas  referidas  nos  arts.11,  al.  2ª  e  15,  al.    2°  da  Lei Uniforme,pelas  quais  se  comunicam  as  exceçõeslevantadas  contra  o  construtor  e  contrao banco endossatário, em decorrência dacessão  de  crédito,  em  que  o  direito  étransmitido    a  título derivado,  e não  emcaráter  autônomo.

FORMAS DE TÍTULOS TRANSMISSÍVEIS COM EFICÁ-CIA DE CESSÃO DE CRÉDITO

Sobre  as  formas  de  títulostransmissíveis  com eficácia de  cessão decrédito,  admitidas por Carvalho de Men-donça  (Trat. Dir. Com.  v. V. parte  II, nº291),  podemos arrolar  as  seguintes:

1°)  a  dação  em pagamento  - datioin solutum  (art. 997 do Código Civil de1916)  em que a  transferência  importaráem  cessão  de  crédito,  devendo  ser  noti-ficada    ao  cedido,  responsabilizando-seo  solvens, pela  existência  do  créditotransmitido  ao  tempo  da  cessão  (MariaHelena Diniz, Código Civil Anotado, ed.Saraiva, 1998. p. 735).

Dá-se um  título  em  lugar  da  pres-tação devida,  coisa  diversa  da  avençada(Diniz,  op,  cit.  p.  734);  no  caso  a  daçãoem  pagamento  tem  fim  confirmatório  enão novatório.

Não há novação na dação em solutopor  não  haver    substituição  de  dívida,pois  o  que  se  substitui  é  a  prestação("aliud pro alio-nomen iuris pro pecunia").

Casos de datio in solutum:a) nota promissória pro solvendo (im-

propriamente chamada vinculada a con-trato);

b) substituição de duplicata por pro-missória  dada  em pagamento;

c)  reforma  e  amortização  de  título.Conseqüências: o transmitente res-

ponde  pelo  valor  do  título  e  pelasolvabilidade  do  antecessor  (ouantecessores)  no  título,  no  endosso.

Caso da datio in solutum de nota pro-missória em substituição  de duplicata

Em conhecido Acórdão relatado peloMinistro Nelson Hungria no Recurso Ex-traordinário nº 14.065-RJ do STF,  julga-do em 09/07/1951, publicado em 13/09/1951,  o  douto Relator  esclareceu  que  ocaso  envolve,  segundo Bonelli,  dação decambial  em  substituição  de  duplicata,com  função de  pagamento  condicionadoque, no  entender  de Staub,  a  antiga  re-lação  jurídica  não  se  extingue  e  a  açãocorrespondente permanece em suspenso,para voltar a ser proponível, se a cambialnão  é  resgatada,  passando  a  ação  a  seralternativa  da  relação  causal.

Para  Cunha Gonçalves  �está  hojecabalmente  demonstrada  a  possibilida-de  da  coexistência  de  duas  causaedebendi, quando o segundo contrato, ouseja, no presente caso de pacto de cam-biando.

Há  a  entrega  da  coisa  �paraadimplir�.

CESSÃO A TÍTULO ONEROSO

Ainda segundo a posição de Pontesde Miranda (loc. cit), o cedente garante aexistência  e  a  titularidade do  crédito nomomento  em  que  efetiva    a  transferên-

Page 19: Títulos de Crédito e o Crédito Civil...Títulos€de€Crédito€e€outras,€destacadas do€diploma€civil. No€Brasil€publicaram-se€os€Projetos de€Código€Civil,€de€€Felício€dos€Santos,€Co-elho€Rodrigues,€Carlos€de€Carvalho€e,€re-centemente,€Orlando€Gomes

50 - Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil”

cia, isto é, o cedente  é obrigado a resti-tuir  o  que  recebeu  se  o  crédito  não  lhepertence  quando o cedeu (veritas nominis)(cf. Orlando Gomes, loc. cit).

Essa  garantia  pode,  de  comumacordo,  ser dispensada. Ainda nessa hi-pótese  há  de  responder,  segundo  Pon-tes, pelo fato próprio, enquanto nas ces-sões a título gratuito, diz a  lei, só é res-ponsável  se  tiver  agido  de má-fé  (art.1.073, in fine, do Código Civil de 1916).

A  segunda    garantia  é  a  solvênciado devedor, pois, para assumir essa res-ponsabilidade  é  necessário  que  se  te-nha  obrigado  expressamente    para  ga-rantir  a bonitas nominis.

Em  princípio,  não  responde  ocedente  pela  solvência  do  devedor  (art.1.074  do  Código  Civil  de  1916);  ocessionário  assume  esse  risco.

Modalidades de cessão de créditoDuas  são  as modalidades  de  ces-

são  de  crédito:A  primeira  é  a cessio pro soluto

em  que  o  cedente  garante  apenas  averitas nominis isto  é  a  existência  docrédito  sem responder,  entretanto,   pelasolvência do devedor  (bonitas nominis).

Há  cessão  de  direito,  aplicando-seo disposto no art. 997 do Código Civil de1916.

Conseqüências:a)  o  crédito  extingue-se  imediata-

mente,  pois  o  credor  concordou  em  re-ceber  o  crédito  em  lugar do pagamento;

b)  o  cedente  não  responde  pelasolvabilidade  do  que  lhe  transmitiu    otítulo  (bonitas nominis) , isto  é,  ocedente  responde  perante  o  credorcessionário  pela  existência  do  créditoainda  que    expressamente  não  o  hajadeclarado  (art.  1.073, 1ª parte do diplo-ma  de  1916), mas  não  pela  insolvênciaou falência  do devedor cedido, salvo es-tipulação  em  contrário;

c) podem ser opostas  ao cessionárioas  exceções  pessoais  contra  o  cedente.

Casos:1)   endosso  tardio;2)    venda de  título de crédito;

3)  quando  em  pacto  adjeto  assimse  estipula;

4)  quando  o  endosatário  de  títuloendossado por  endosso-penhor  for  à  fa-lência, o endossador pode pagar o título àmassa, mediante a  sua devolução.

Não  o  fazendo,  o  síndico  o  aciona-rá,  podendo  vender  o  título  em  leilão.

Nota:  a massa  falida não  respondepela  solvência dos  coobrigados no  título.Os  devedores  devem  ter  ciência  davenda(art.  279 do Código Comercial.

5) letra não a ordem (art. 11, al. 2°e proibição de novo endosso  (art. 15, al.2°  da  Lei Uniforme de Genebra.

A segunda é a cessio pro solvendoem que  o  cedente  garante a bonitasnominis, ou  seja,  obriga-se  a  pagar,  seo debitor cessis for  insolvente;  tambémé possível uma cessão em que o cedentese  responsabilize    pelo  pagamento,  casoo devedor não  o  efetue.

Segundo essa  figura o  cedente nãoresponde  por mais  do  que  recebeu  docessionário,  com  os  juros  respectivos.

Deve  responder,  outrossim,  ao  re-embolso  ao  cessionário  pelas  despesascom a cessão e à cobrança da dívida.

Essa garantia contra o risco  de in-solvência  do  devedor  cessa  se  a  realiza-ção  do  crédito  não  se  der,  em  conseqü-ência  da negligência  do  devedor  em  ini-ciar  ou prosseguir  na  execução  e  a  res-ponsabilidade  do  cedente  não  pode  seragravada ainda que se dê a sua aquies-cência,  pois  do  contrário    perderia  sen-tido de garantia (cf. Orlando Gomes  op.cit  ps.  242/243).  Na  transferência  docrédito por  força de  lei o credor originá-rio não  responde pela  realidade da dívi-da, nem pela solvência do devedor  ( Art.1.076 do diploma civil de 1916).

Diz  Pontes  que  a mesma  regra  doart.  1.073  aplica-se  à  dação  de  chequecom endosso ou pela tradição, se ao por-tador.

Observe-se  que,  no  que  concerneao  cheque de  valor  acima de R$ 100,00é vedada a emissão ao portador.

No  caso,  extingue-se  o  título  se  ocredor  aceitou  recebê-lo  em  lugar    dopagamento,  ficando  bem  claro  que  a

Page 20: Títulos de Crédito e o Crédito Civil...Títulos€de€Crédito€e€outras,€destacadas do€diploma€civil. No€Brasil€publicaram-se€os€Projetos de€Código€Civil,€de€€Felício€dos€Santos,€Co-elho€Rodrigues,€Carlos€de€Carvalho€e,€re-centemente,€Orlando€Gomes

Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil” - 51

dação de cheque tem o caráter de daçãoem  soluto  e  não  cessão  em  soluto,  emuito menos a cessio solvendi causa.

Esta  ocorre  no  caso  de  cláusulaexpressa  de assunção de dívida solvendicausa.

Se houve cessão, o devedor cedenteé  responsável  ao  credor  pela  existênciado crédito ao tempo da cessão, ainda quenão haja  responsabilidade  por  isso  (art.1.073, 1ª parte), porém não pela solvên-cia  do devedor  cedido,  salvo  estipulaçãoem  contrário  (1.074).

Quando o cheque é dado com firmaalheia, é caso   de dação em soluto.

Cessio solvendi causaÉ  a  transferência  do  título  de  co-

brança  (para  cobrar);  quando  alguémcede o  crédito  ao  credor para que  cobree  fique,  a  título  de  pagamento,  com  oque  foi  cobrado.  (Trat.  Dir.  Cambiário,IV, 1955, p. 205)

A extinção da dívida  só se dá quan-do se recebe a quantia  e na medida emque foi recebido, assumido pelo credor odever de diligência no  cobrar. A  entregade  cambial  pelo  devedor  é  assunção  dedívida (art. 299 do novo Código Civil), emlugar do pagamento  e não da dação  empagamento,  salvo  cláusula  expressa.

É uma  forma de cessão de direitoscom a peculiaridade de a dívida  somen-te  se  extinguir  quando  se  recebe  o  seuvalor na medida em que  for  recebido.

Cede-se o crédito para que seja co-brado e fique a título de pagamento como que for cobrado. Conseqüências: a) hámandato  ínsito  na  transferência  do  tí-tulo;  b)  ocorre  quando  a  cessão  envolvepagamento de parte do  título.

Art. 920O endosso posterior ao  vencimento

produz  os mesmos  efeitos  do  anterior.Para o Decreto nº 2.044, art. 8° pa-

rágrafo 2°,  o  endosso posterior  ao  venci-mento  tem os mesmos  efeitos  da  cessãode crédito, redação idêntica à da Lei Uni-forme de Genebra,  na primeira  parte.

Nos termos do disposto no mesmo art.20 da Lei Uniforme de Genebra, o endos-

so posterior ao protesto por falta de paga-mento, ou    tirado após o prazo   para    seefetuar o protesto, produz os mesmos efei-tos da cessão de crédito.

LETRA REFORMADA OU AMORTIZADA

Letra    reformada  é  aquela  quesubstitui outra de  igual montante ou devalor  inferior,  com  idênticas  assinatu-ras,  sem  que  tenha  sido  pagamento  to-tal  do  numerário.

Tudo se passa como se efetivamen-te  o  devedor  pagasse  a  primeira  letra,obrigando-se  em  seguida  ao  pagamentode prestação cambiária  idêntica. Não hánovação.

São  os  seguintes  os  casos  de  letrareformada:

a)  reconstituição  de  título  perdidoou  destruído;

b)  para  diferir  pagamento  da  obri-gação  constante  da  letra  renovada  coma  letra nova    amortizou-se a antiga.

c)  A  relação  subjacente  é  a mes-ma, a qual não se extinguiu.

d)  Se  ainda  circula  a  letra  antiga,quando renovada, se o portador da letraantiga  perdeu  o  direito  de  regresso  queesta  lhe  conferia,  não  pode  invocar  asubsistência  da  obrigação  cambiária  daletra  nova,  se  estranho  à  operação  dareforma.  Há  continuação  da  dívidaantiga.(Pontes  de Miranda,  op.  cit.  ed.Bookselleer,  ed.  2000,  p.157).

TÍTULOS DE FAVOR

As  letras de câmbio  têm como cau-sa econômica o crédito, logo, a causa serásempre  o  crédito  aberto  ou  concedido.

Para Carvalho de Mendonça, as  le-tras  de  favor não  têm  classificação  jurí-dica,  pois  o  favor  consiste  no  negóciocambial. Na verdade, o favor consiste nainexistência  da causa debendi.

Ora,  todos os  títulos de crédito de-vem  ter  causa,  com a  diferença  de  que,nos  títulos  abstratos,  a  causa não  é  le-vada em consideração, ao passo que nostítulos causais   elas podem e devem serconsideradas.

Os  títulos  de  favor, muitas  vezes,envolvem  casos  de  fraude,  quando  um

Page 21: Títulos de Crédito e o Crédito Civil...Títulos€de€Crédito€e€outras,€destacadas do€diploma€civil. No€Brasil€publicaram-se€os€Projetos de€Código€Civil,€de€€Felício€dos€Santos,€Co-elho€Rodrigues,€Carlos€de€Carvalho€e,€re-centemente,€Orlando€Gomes

52 - Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil”

comerciante,  interessado  em  conseguircrédito,  pede  que  outro  lhe dê   uma ga-rantia,  ao  emitir  nota  promissória  ouavalizando  títulos  de  crédito.  No  direitofalimentar,  o  abuso  de  responsabilidadede mero  favor  constitui  crime  falimentar(art. 186, IV do Decreto Lei nº 7.661/45);a nosso ver, o delito pode ocorrer na emis-são  de  um  título  fraudulento,  tanto  nocaso  do  saque de  duplicata  fria,  quantona  emissão  reiterada  desses  títulos.

TÍTULO  NOMINATIVO

Art.921O título nominativo é o emitido em

nome  de  determinada  pessoa  e,  que,  apar  disso,  a  transferência  se  opera  pormeio do registro no livro próprio  da en-tidade  emissora  e  só  se  completa  apósesse  registro.

A  circulação  do  título  nominativonão se faz pelo endosso como nos títulosà  ordem, nem pela  tradição,  nos  títulosao portador.

Segundo a mais moderna doutrina,consideram-se    nominativos  os  títulosescriturais,  cuja  transferência  verifica-semediante    registro na  entidade  emissora.

No  que  concerne  às  açõesnominativas,  elas  são  valores mobiliári-os, segundo dispõe o art. 2° da Lei 6.385de  1976,  e  a  sua  transferência  ocorreno registro do livro de ações nominativasda  sociedade  anônima.

As  ações  escriturais  criadas  peloart. 34 da Lei nº 6.404/76, também con-sideradas  valores mobiliários,  despidasde  certificado  (cártula),  têm  a  sua  pro-priedade  comprovada    através do  lança-mento  efetuado  pela  instituição  deposi-tária  em  seus  livros,  a  débito  da  contade ações do alienante e a crédito da con-ta  de  ações  do  adquirente,  à  vista  daordem  escrita  do  alienante,  ou  de  auto-rização  ou  de  ordem  judicial,  em docu-mento hábil que ficará em poder da ins-tituição    ou  pela  exibição  do  extrato  deconta  do  depósito  das  ações  escriturais(parágrafo 2° do   mesmo artigo).

Os  títulos  nominativos  são  verda-deiros  títulos  de  crédito,  em  virtude  daorientação  imprimida  por  Vivante  (Riv.

di Diritto Commerciale, v. XI, 1913, p.437)  e  aceita  com  argumentos  definiti-vos por Tulio Ascarelli.

Art. 922O  art.922,  exige    que,  no  registro

do emitente  do título nominativo,    sejaeste  assinado  pelo  proprietário    e  peloadquirente  do  título.

Art. 923O dispositivo introduziu o título no-

minativo endossável, inovação contida noelenco dos  títulos de crédito, com altera-ção  da  sistemática    reinante  na  legisla-ção  sobre  esses  títulos,  designadamentena  Lei Uniforme de Genebra.

Restringiu  o  artigo  à  hipótese  deendosso em preto, no qual figura o nomedo  endossatário.

Parágrafo  PrimeiroNos termos do capitulado no art. 13

da Lei Uniforme de Genebra, no  título àordem,  a  validade  do  endosso  em bran-co  exige  apenas  a  assinatura  doendossador, ao passo que no endosso empreto  é  necessária  a menção  do  nomedo  endossatário.

No  título nominativo,  o  endosso  sóproduz eficácia perante o emitente depoisde  feita a averbação no registro próprio.

Admite, ainda, o § 1° do art. 923, apossibilidade    de  o  emitente    exigir  doendossatário  a  comprovação da  autenti-cidade    da  assinatura  do  endossante.

Parágrafo  SegundoO § 2° do mesmo artigo  impõe uma

série de exigências   que dificultam sobre-modo  a  circulação  do  título,  em  que  oendossatário, para  lograr a averbação noregistro do emitente deve obter: a) a provada autenticidade das assinaturas   de  to-dos os endossantes; b) que o endossatárioesteja legitimado por uma série  regular  eininterrupta de endossos.

Parágrafo  TerceiroO § 3° do mesmo artigo permite  ao

adquirente  do  título  cujo  original  conte-nha  o nome do  primitivo  proprietário,  o

Page 22: Títulos de Crédito e o Crédito Civil...Títulos€de€Crédito€e€outras,€destacadas do€diploma€civil. No€Brasil€publicaram-se€os€Projetos de€Código€Civil,€de€€Felício€dos€Santos,€Co-elho€Rodrigues,€Carlos€de€Carvalho€e,€re-centemente,€Orlando€Gomes

Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil” - 53

direito de obter novo título em seu nome,com a  exigência  de  que  conste  novo  re-gistro do emitente nome do primitivo pro-prietário.

O  problema  ligado  aos  títulosnominativos  endossáveis  apresenta  si-milaridade  com  as  ações  nominativasendossáveis,  cuja  história,  segundo  omagistério  do  Professor  ModestoCarvalhosa, nos Comentários à Lei dasSociedades Anônimas, ed. 1997, Sarai-va,  p.  168,  adveio  em  nossa  legislaçãodo Decreto nº 434 de 1891.

O  Decreto  Lei  nº  2.627  de  1940aboliu    esse  tipo  de    ações,  porque,  se-gundo  Trajano Miranda  Valverde  �elasnunca  tiveram aceitação  entre nós�  (So-ciedade por Ações, v.1, p.173)

A Lei nº 6.404 de 1976 manteve asações endossáveis, depois abolidas   pelaLei  nº  8.021  de  1990,  a  qual  alterou  oart. 20 da   primeira.

Por  esta  Lei  a  titularidade  dasações endossáveis exigia: a) o endosso ea posse da ação; b) a averbação do nomedo  acionista  no  Livro  de  Registro  deAções Endossáveis  e no próprio título.

Daí ter Carvalhosa, na p. 169 assi-nalado que a simples posse da ação en-dossada não bastava para legitimá-la emnome  do  endossatário,  pela  necessida-de  atribuir  legitimidade  ao  titular  docertificado,  a  fim  de  exercer  os  respec-tivos  direitos  perante  a  sociedade,  ouseja: "esta só reconhece como titular dosdireitos  legais  e  estatutários  do  sócioaquele cujo nome  estivesse  inscrito  nolivro próprio�.

Ocorre,  dessa  forma, uma  inversãode  ordem: não  era    somente  a  posse  dotítulo mediante endosso regular que con-feria  legitimação  ao possuidor.

A legitimidade dependia também dainscrição  nos  livros  da  sociedade,  so-mente  daí  decorrendo  a  qualidade  doacionista.

A  inscrição  vale  como  declaraçãoconstitutiva dos direitos de  sócio. O  en-dosso  somente  produzia  efeito  entre  aspartes  (alienante  e  adquirente)  e  não,perante  a  companhia.

Os  direitos  reais  ou  quaisquer  ou-

tros  ônus  que  gravassem  as  ações,  de-veriam  ser  averbados,  não  só nos  livrospróprios da companhia, mas também  noscertificados  (art.  39  e  40).

Daí  se  conclui,  pela  lição  do  ilus-tre  comercialista    que  a  introdução  dasações  endossáveis  não  encontrou  res-sonância  nos meios  jurídicos,  em  facedo  entrave  causado  pela  exigência  doregistro no  livro próprio.

O mesmo  entrave  aconteceu na  leiitaliana,  cujo  art.  2.023  do Código Civilexigiu para a transferência da ação, nãosó o endosso, como o citado registro. Talfaculdade,  aduz Carvalhosa,  �no  entan-to,  não  logra  tornar  a  ação  nominativaum  título  à  ordem:  continua  sendonominativo,  porque  a  eficácia  da  cessãoperante a companhia e terceiros  não sóse  produz    com a  tradição  do  título  en-dossado, mas com o registro no livro pró-prio  �(Brunetti,  ci.  v.  2,  p.  137    eMessineo, I Titolo di Credito, cit. nº 395)(p. 170  da obra de Carvalhosa).

Com  os  títulos  nominativosendossáveis previstos no novo Código Ci-vil, mutatis mutandis  passa-se  o mes-mo,  ou  seja,  em  virtude  das  dificulda-des  criadas    com a  sua  circulação,  difí-cil  será  a  aceitação  deles  nos  meiosempresariais.

Finalmente,  consoante  lição  contidana obra Novo Código Civil Comentado,coordenação de Ricardo Fiúza,  ed. Sarai-va, 2002, p. 815, a emissão e a negociaçãodos  títulos nominativos  estarão  restritasaos  empresários  e  às  sociedades  empre-sariais no regime do novo Código Civil.

No que se refere ao § 3º deste arti-go, não vê o Dr. Antonio Mercado Juniormotivo para a emissão de novo título emnome do  adquirente,  pois  o  título  origi-nal  terá  sempre  o  nome do  proprietário(Of. Cit. p.132).

Art. 924Os títulos nominativos e endossáveis

não  são  aceitos na  legislação  sobre  títu-los de crédito  em geral  e, muito menos asua  transformação  em  títulos  à  ordem eao portador,  com as  características  pre-vistas no novo diploma legal.

Page 23: Títulos de Crédito e o Crédito Civil...Títulos€de€Crédito€e€outras,€destacadas do€diploma€civil. No€Brasil€publicaram-se€os€Projetos de€Código€Civil,€de€€Felício€dos€Santos,€Co-elho€Rodrigues,€Carlos€de€Carvalho€e,€re-centemente,€Orlando€Gomes

54 - Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil”

Art. 925De  uma  leitura  do  dispositivo  po-

der-se-ia  chegar  à  conclusão  de  que  oendosso  dos  títulos  nominativosendossáveis  não  tornaria  o  endossador(em  preto)  solidariamente  responsávelpela dívida constante do título, por forçade  sua  desoneração,  consoante  sedepreende  da  leitura  do  art.  925.

O problema envolve o fato de se sa-ber se o endosso em  tais  títulos vinculaou não o endossante, ao contrário do queconsta  da  regra  contida  no  art.15,  alí-nea primeira da Convenção de Genebra.

Art. 926Este dispositivo está de acordo com

os  artigos  921  e  922,  pela  exigência  deregistro  da  transferência  do  títulonominativo  no  registro  próprio,  comoacontece  com as  ações nominativas,  emque  a  validade  e  eficácia  da  transferên-cia de uma ação depende do registro nolivro  de  ações  nominativas  (art.  31  daLei nº 6.404/76).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O  capítulo  referente  aos  títulos  decrédito no texto do novo Código Civil con-tém  várias  imperfeições,  já  analisadaspelos Drs. Professores Rubens Requião eFábio  Konder  Comparato,  infelizmentenão acolhidas pela Comissão do Congres-so Nacional  que  examinou a matéria.

Em nosso  entender,  achamos me-lhor que o Congresso Nacional aguardas-

se, pelo menos, um ano para melhor ree-xaminar a redação do novo diploma civil,a  fim  de  suprir  as  notórias  deficiênciasnele  encontradas,  designadamente  naparte  referente  ao Direito Comercial.

De  qualquer  forma,  cumpre-nos  fi-xar  algumas  regras  na  interpretação  dotexto  em  exame:

1o)  No  conflito  entre  uma  normacontida em lei extravagante e o novo Có-digo Civil, nos termos do disposto no art.903 deste  deve  prevalecer  a  primeira;

2o) Continuam em vigor os disposi-tivos  referentes  aos  títulos  de  crédito,tratados  neste  capítulo.  Assim,  a  LeiUniforme  de Genebra,  a  Lei  Cambiáriade  1908,  a  legislação  sobre  títuloscambiariformes, sobre as cédulas de cré-dito,  de  conhecimento  de  depósito  ewarrant,  sobre  letra de  câmbio  imobili-ária  e  cédula  de  crédito  imobiliário  e,em  resumo,  toda  a  legislação  referenteaos  títulos  de  crédito.

3o) Nos  casos de  conflito  de  leis notempo e no espaço, tendo em vista o fatode a nova legislação não dispor de Lei deIntrodução,  teremos  de  enfrentar  sériosproblemas  em Direito Comercial;  contu-do, no que concerne aos títulos de crédi-to,  cabe  aplicar-se  a  Lei  Uniforme  deGenebra,  referente  ao Direito  Internaci-onal  Privado,  nas Convenções  sobre  Le-tra  de Câmbio  e Nota  Promissória  e  so-bre  os  cheques,  convenção,  a nosso  ver,não foi revogada, por força do disposto no

art. 63 da Lei nº 7.357 de 1985..