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TÉTANO E VACINAÇÃO ANTITETÂNICA: ESTUDO NA POPULAÇÃO URBANA DE LONDRINA (PR), BRASIL* José Luís da Silveira Baldy** Adelino Landgraf *** Antonio Carlos de Queiroz*** Antonio Verenhitach *** Hugo Verenhitach*** Agenor Mário Cattoni **** Eli Villela de Magalhães ***** * Trabalho realizado pelos Departamentos de Medicina Geral e Saúde Comunitária do Centro de Ciências da Saúde, de Filosofia e Estudos Sociais do Centro de Ciências Huma- nas e de Matemática e Estatística do Centro de Ciências Exatas e Tecnologia da Uni- versidade Estadual de Londrina. ** Do Departamento de Medicina Geral e Saúde Comunitária da Universidade Estadual de Londrina — Rua Pernambuco, esq. Pio XII — Londrina, PR — Brasil. *** Acadêmicos do sexto ano do curso de Medicina do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual de Londrina, PR Brasil. **** Do Departamento de Filosofia e Estudos Sociais do Centro de Ciências Humanas da Uni- versidade Estadual de Londrina, PR — Brasil. ***** Do Departamento de Matemática e Estatística do Centro de Ciências Exatas e Tecnologia da Universidade Estadual de Londrina, PR — Brasil. RSPU-B/309 BALDY, J. L. da S. et al. — Tétano e vacinação antitetânica: estudo na po- pulação urbana de Londrian (PR), Brasil. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 10:151-66, 1976. RESUMO: Inquérito realizado em três grupos da população urbana de Londrina (PR), representados por 602 donas-de-casa, 464 colegiais e 778 uni- versitários, com o objetivo de: determinar o número de vacinados contra o tétano; avaliar índices de conhecimento sobre o tétano, a vacina e o soro antitetânicos; correlacionar esses índices com algumas características de cada grupo da população estudada. Concluiu-se que conceitos incorretos e carência de informação quanto ao tétano e à vacina antitetânica prevalecem na po- pulação da zona urbana de Londrina (PR). Foi discutido o significado e a decorrência desses fatos afirmando-se que a morbidade do tétano, persisten- temente elavada no Brasil, deve representar séria advertência para as auto- ridades de saúde pública em nosso país, com vista à reformulação dos pro- gramas de vacinação antitetânica e à revisão dos métodos de educação sanitá- ria adotados na divulgação dessa doença e dos recursos científicos disponíveis para sua profilaxia. UNITERMOS: Tétano. Vacinação antitetânica. Soro antitetânico. Popu- lação urbana, Londrina, PR (Brasil). INTRODUÇÃO O tétano, uma das doenças infecciosas de maior letalidade. ainda tem elevada prevalência em nosso país 2,4,10,12 . Vá- rios trabalhos 5, 6, 9, 12, 13, 14 dão ênfase às dimensões do problema de saúde pública representado pelo tétano, entre nós.

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Page 1: TÉTANO E VACINAÇÃO ANTITETÂNICA: ESTUDO … sua profilaxia. UNITERMOS: Tétano. Vacinação antitetânica. Soro antitetânico. Popu-lação urbana, Londrina, PR (Brasil). INTRODUÇÃO

TÉTANO E VACINAÇÃO ANTITETÂNICA: ESTUDO NAPOPULAÇÃO URBANA DE LONDRINA (PR), BRASIL*

José Luís da Silveira Baldy**Adelino Landgraf ***Antonio Carlos de Queiroz***Antonio Verenhitach ***Hugo Verenhitach***Agenor Mário Cattoni ****Eli Villela de Magalhães *****

* Trabalho realizado pelos Departamentos de Medicina Geral e Saúde Comunitária doCentro de Ciências da Saúde, de Filosofia e Estudos Sociais do Centro de Ciências Huma-nas e de Matemática e Estatística do Centro de Ciências Exatas e Tecnologia da Uni-versidade Estadual de Londrina.** Do Departamento de Medicina Geral e Saúde Comunitária da Universidade Estadual deLondrina — Rua Pernambuco, esq. Pio XII — Londrina, PR — Brasil.

*** Acadêmicos do sexto ano do curso de Medicina do Centro de Ciências da Saúde daUniversidade Estadual de Londrina, PR — Brasil.

**** Do Departamento de Filosofia e Estudos Sociais do Centro de Ciências Humanas da Uni-versidade Estadual de Londrina, PR — Brasil.

***** Do Departamento de Matemática e Estatística do Centro de Ciências Exatas eTecnologia da Universidade Estadual de Londrina, PR — Brasil.

RSPU-B/309

BALDY, J. L. da S. et al. — Tétano e vacinação ant i te tânica: estudo na po-pulação urbana de Londrian (PR), Brasil. Rev. Saúde públ., S. Paulo,10:151-66, 1976.

RESUMO: Inquérito realizado em três grupos da população urbana deLondrina (PR), representados por 602 donas-de-casa, 464 colegiais e 778 uni-versitários, com o objetivo de: determinar o número de vacinados contra otétano; avaliar índices de conhecimento sobre o tétano, a vacina e o soroantitetânicos; correlacionar esses índices com algumas características de cadagrupo da população estudada. Concluiu-se que conceitos incorretos e carênciade informação quanto ao tétano e à vacina antitetânica prevalecem na po-pulação da zona urbana de Londrina (PR). Foi discutido o significado e adecorrência desses fatos afirmando-se que a morbidade do tétano, persisten-temente elavada no Brasil, deve representar séria advertência para as auto-ridades de saúde pública em nosso país, com vista à reformulação dos pro-gramas de vacinação antitetânica e à revisão dos métodos de educação sanitá-ria adotados na divulgação dessa doença e dos recursos científicos disponíveispara sua profilaxia.

UNITERMOS: Tétano. Vacinação anti tetânica. Soro antitetânico. Popu-lação urbana, Londrina, PR (Brasil).

INTRODUÇÃO

O tétano, uma das doenças infecciosasde maior letalidade. ainda tem elevadaprevalência em nosso pa í s 2 , 4 , 1 0 , 1 2 . Vá-

rios trabalhos 5, 6, 9, 12, 13, 14 dão ênfase àsdimensões do problema de saúde públicarepresentado pelo tétano, entre nós.

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Em vista de sua elevada morbidade,essa doença causa grandes despesas aonosso governo, sendo os gastos com otratamento incomparavelmente maiores doque os invertidos na sua prevenção. Se-gundo Veronesi 14, a importância despen-dida anualmente no tratamento de tetâ-nicos, em nosso país, seria suficiente paraevitar-se, com vacinação adequada, a ocor-rência de 26.000 casos da doença, comaproximadamente 13.000 mortes. A im-portância gasta no Hospital das Clínicasde São Paulo, segundo esse mesmo autor,correspondia em 1971 a uma vez e meiado custo da vacinação antitetânica de to-das as crianças nascidas num ano, noEstado de São Paulo. O custo do trata-mento dos casos graves de tétano — comvantagens óbvias para o prognóstico7 —tem aumentado significativamente, namedida em que nos modernos hospitaisesses doentes são transferidos para uni-dades de terapia intensiva 7 ou de respi-ração assistida 8.

Não encontramos na literatura nenhu-ma referência à incidência, à mortalida-de e ao gasto anual com o tétano noEstado do Paraná; somente obtivemosinformação quanto à sua morbidade emCuritiba ( P R ) , no período entre 1960(3,3/100.000 habitantes) e 1966 (2,6/100.000 habitantes), ano em que a mor-talidade do tétano foi de 2,6/100.000habitantes 5.

Apesar da falta de dados, parece-noslícito admitir que a ocorrência dessadoença seja mais comum no Estado doParaná que no Estado de São Paulo,onde está em vigência lei de vacinaçãocompulsória de todos os escolares11,14,além do mais alto nível das condiçõessócio-econômicas da população.

No período entre 1.° de janeiro de 1972e 30 de junho de 1975, foram internadosno Hospital Universitário da Universida-de Estadual de Londrina (PR) 14.125doentes, dos quais 101 (0,71%) apresen-tavam tétano, sendo 29,7% (30 casos)de tétano umbilical. Cerca de três quar-tos dos enfermos eram moradores da zo-

na rural. A letalidade registrada glo-balmente foi de 31,68% (32 casos), al-cançando 9,85% (7 casos) entre crianças(excluídos os recém-nascidos) e adultos,e 88,33% em relação aos pacientes comtétano neonatal.

Considerando-se, pois, que o tétanoainda constitui relevante problema desaúde pública em nosso país, tivemos co-mo objetivos neste trabalho:

1. determinar o percentual de indiví-duos vacinados, na população estu-dada;

2. avaliar, na população estudada, al-guns índices de conhecimento sobreo tétano, a vacina e o soro antitetâ-nicos;

3. correlacionar esses índices com al-gumas características dos grupos es-tudados.

POPULAÇÃO E METODOLOGIA

O município de Londrina, situado noNorte do Estado do Paraná, apresentavaem 1973, por estimativa, população de306.232 habitantes, residindo 219.587(71,7%) na zona urbana e 86.645(28,3%) na zona rural.

Estudou-se a população da zona urbanadesse município através de uma amostracomposta por três grupos:

Grupo A — 602 donas-de-casa;Grupo B — 464 colegiais;Grupo C — 778 universitários.

O levantamento foi realizado atravésde questionário padrão, elaborado espe-cialmente para as entrevistas.

Foram avaliados os seguintes aspectos:

a) noção prévia da existência e da ocor-rência da doença, forma de trans-missão, existência de vacina, esque-

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ma de vacinação, eficácia, disponi-bilidade e custo da vacina antitetâ-nica;

b) índice de vacinados adequadamente(três doses iniciais e reforços suces-sivos a intervalos regulares), consi-derando-se os motivos que determi-naram a vacinação e a não vacina-ção;

c) importância atribuída ao empregode algumas medidas (aplicação defumo, urina, esterco e teias de ara-nha em ferimentos), quanto à etio-logia da doença.

Grupo A: donas-de-casa

Para a escolha das entrevistadas uti-lizou-se uma planta da zona urbana domunicípio de Londrina, na qual foramlistados os 1.508 quarteirões, sorteando-se então, através de uma tabela de nú-meros ao acaso3, 10% desse total, ouseja, 150 quarteirões.

Estabeleceu-se previamente que a do-na-de-casa a ser entrevistada seria sem-pre a moradora da terceira casa de cadaface da rua, segundo contagem feita emsentido anti-horário. A adoção dessecritério baseou-se no estudo de amostra-gem piloto de 20 quarteirões, tendo-sedeterminado em dez o número médio decasas em cada face da rua. Quando adona-de-casa estava ausente ou, então,negava-se a responder ao questionário,passava-se à casa imediatamente seguinte,sempre respeitando o sentido anti-horá-rio. Quarteirões que não possuíam ca-sas em algumas de suas faces e aquelesque possuíam somente três faces tambémforam incluídos no trabalho. No final,foram sorteados quarteirões suplementa-res para atingir-se o número pré-estabe-lecido de donas-de-casa a serem entre-vistadas.

Grupo B: colegiais

Dos 13 estabelecimentos de ensino denível colegial existentes na zona urbana

de Londrina foram sorteados 50% do to-tal, ou seja, 6 estabelecimentos. Nessesestabelecimentos de ensino colegial foramsorteados 20% das salas de aula, nos di-versos períodos de atividade escolar. En-trevistaram-se todos os alunos das salassorteadas, obtendo-se 464 questionáriosrespondidos. Os questionários foram res-pondidos simultaneamente por todos osalunos, em cada período de atividade,sob a orientação e a supervisão de umdos autores deste trabalho.

Grupo C: universitários

No ano em que foi efetuado o inqué-rito (1974) existiam no município deLondrina três entidades de ensino de ní-vel superior: Universidade Estadual deLondrina (UEL) , Faculdade de Educa-ção Física do Norte do Paraná (FEFI)e Centro de Estudos Superiores de Lon-drina (CESULON).

Devido à grande dispersão dos alunosda UEL por diversos Centros instaladosem vários locais da cidade — já que al-guns Centros da UEL ainda não tinhamsido transferidos para o Campus Univer-sitário — e pelo fato de a FEFI promoverum só tipo de curso, a número reduzidode alunos, optou-se pela realização dapesquisa no CESULON.

O CESULON mantém cursos de Ciên-cias Sociais, Matemática, Pedagogia ePsicologia. Na época tinham sido matri-culados 1.119 alunos, dos quais 778(69,53%) foram entrevistados.

O questionário foi respondido em to-das as salas de aula, nos períodos de fun-cionamento da escola, sempre na presen-ça de pelo menos um dos autores do tra-balho.

RESULTADOS

Os resultados obtidos da análise dos1.844 questionários, respondidos pelostrês grupos de população estudados, en-

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contram-se nas Tabelas de 1 a 17. Nes-sas Tabelas as estimativas de cada parâ-metro estão apresentadas em númerosabsolutos (n) e nas respectivas percen-tagens ( % ) .

C O M E N T Á R I O S

Algumas características da populaçãoinquirida e suas concepções a respeito dotétano, do soro e da vacinação antitetânicaforam colocadas em evidência pelos da-dos obtidos em nosso estudo. Chamaramparticularmente a atenção as observaçõesa que damos ênfase nos comentários quese seguem.

Verificamos (Tabela 1) ser muitogrande, na zona urbana do município deLondrina, a percentagem de donas-de-ca-sa analfabetas (20,76%) ou com instru-ção primária incompleta (37,36%), ten-do apenas 1,51% dos participantes dessegrupo realizado curso superior completo.A importância dessa característica dogrupo em apreço refletiu-se na menorfreqüência com que as donas-de-casa, emrelação aos outros grupos, demonstraramser dotadas de conhecimentos e concep-ções corretas quanto ao tétano e à vacinaantitetânica, como se evidencia na seqüên-cia destes comentários.

Como decorrência dos tipos de cursosoferecidos pelo CESULON, a maior partedos componentes do Grupo C (87,28%)foi representada por pessoas do sexofeminino (Tabela 2) , fato que admiti-mos não ter influído significativamentenos resultados obtidos.

Os grupos estudados não eram seme-lhantes do ponto de vista econômico (Ta-bela 3), verificando-se que possuíam ren-da familiar mensal inferior a 600 cru-zeiros, 21,10% do Grupo A, 20,91% doB e 10,29% do C, enquanto no outroextremo (renda familiar mensal maiorque 1.800 cruzeiros), as percentages

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corresponderam a 25,41% no Grupo A,31,25% no B e 50,90% no C. Sobres-sai desses dados a expressiva parcela dapopulação estudada, nos três grupos, comrenda familiar mensal inferior a 600cruzeiros, sendo também marcante o con-traste dessa percentagem — que diminuide modo acentuado quando se compa-ram os Grupos A e B (21,10% e 20,91%respectivamente) e o Grupo C (10,29%).Chama também a atenção a alta percen-tagem de universitários cuja renda fa-miliar mensal ultrapassava 1.800 cruzei-ros, quando cotejada com a dos GruposA e B.

Observa-se que o tétano é uma infecçãocuja existência é muito divulgada em nos-so meio: quase a totalidade dos entre-vistados, nos três grupos, tinham conhe-cimento prévio da doença (Tabela 4 ) , omesmo ocorrendo quanto à sua forma detransmissão (Tabela 5 ) .

Mais de 69% da população entrevis-tada admitiu que o tétano é doença curá-vel (Tabela 6), enquanto apenas um quar-to das donas-de-casa e quase 50% doscolegiais e universitários admitiram quedetermina morte com pequena freqüência(Tabela 7 ) .

Dos dados acima referidos pode-se de-preender que — apesar de ser doençamuito conhecida — o tétano não é con-siderado, de modo geral, moléstia deprognóstico grave, concepção que se con-trapõe frontalmente ao fato ainda hojeregistrado na prática médica: à seme-lhança do que se verifica em vários cen-tros do nosso país 4, 5, 10, 12, 14, a letalida-de do tétano no Hospital Universitário deLondrina — conforme já referimos — éde 31,68%.

É de causar perplexidade o elevado ín-dice (26.75%) de donas-de-casa da zo-na urbana de Londrina que ignoravama existência de vacina antitetânica (Ta-bela 8 ) . Por sua vez, alta percentagemde indivíduos dos três grupos admitiuerroneamente ser dotada a vacina anti-

tetânica de propriedade curativa quandoempregada no tratamento do tétano (Ta-bela 9) .

Desconheciam a finalidade com que éutilizada a vacina antitetânica, 30,23%das donas-de-casa, 12,07% dos colegiaise 3,47% dos universitários (Tabela 10),percentagens a nosso ver muito elevadas,particularmente para o primeiro e o ter-ceiro grupo; parece-nos preocupante quequase um terço de mães de família resi-dentes na zona urbana de uma cidadecom as características de Londrina des-conheçam para que serve a vacina anti-tetânica. Também nos parece inadmissí-vel que sequer um estudante de nível uni-versitário possa ignorar esse fato.

Considerando-se a simplicidade e ainocuidade da vacinação e a fácil dispo-nibilidade e o baixo custo da vacina an-titetânica em nosso meio, foi muito baixoo índice de indivíduos que se considera-vam vacinados contra o tétano: apenas18,11% no Grupo A, 43,97% no B e33,16% no C (Tabela 11). Essas ci-fras, acrescendo-se ao fato de serem bai-xas de per si, devem ainda ser consi-deradas com reservas, uma vez que —como se pode deduzir das informaçõesabaixo relacionadas — muitos desses in-divíduos não faziam distinção entre soroe vacina antitetânicos e, se foram vaci-nados, muitos deles não devem ter rece-bido o número mínimo de doses imuni-zantes e reforços com intervalos ade-quados.

Entre os indivíduos que se considera-vam vacinados, a ocorrência de ferimen-tos constituiu-se em fator que, com muitafreqüência, condicionou a vacinação, talcomo a entendiam os entrevistados (Ta-bela 12). alcançando 55,96% no GrupoA, 15,38% no B e 18,99% no C.

Aliás, grande parcela dos entrevistadosconsideravam erroneamente que a vacinadeveria ser aplicada apenas na oportuni-dade em que ocorresse um ferimento,correspondendo esse ponto de vista à ele-

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vadíssima percentagem de 73,79% entreos universitários (Tabela 13). Grandeparte, pois, da população estudada nãoconsiderava a vacinação antitetânica re-curso profilático, mas terapêutico, a serutilizado nas emergências.

Verificou-se também a ocorrência defreqüente confusão (desconhecimento ouinexistência de diferença) entre vacina esoro antitetânicos (Tabela 15), em todosos grupos.

Esses fatos devem constituir advertên-cia incisiva quanto à conduta médica aser estabelecida em casos de ferimentosgraves, em relação aos quais a não apli-cação do soro antitetânico ou da imuno-globulina humana antitetânica 1, 12 estáeventualmente condicionada às informa-ções fornecidas pelo doente ou pelo acom-panhante; os dados relativos à imuniza-ção prévia, com observância dos esque-mas padronizados 1, devem ser avaliados,nessas oportunidades, com muita cautelae submetidos a cuidadosa crítica do per-quiridor.

Quanto ao conhecimento dos locais on-de a vacina antitetânica pode ser encon-trada, 32,55% das donas-de-casa, 10,99%dos colegiais e 8,10% dos universitáriosdesconheciam onde obter esse agenteimunizante (Tabela 16). É de causarpreocupação que quase um terço das mãesde família — as responsáveis habituaispela providência de vacinar as crianças

— da área urbana de Londrina desco-nheçam esse fato, sobretudo quando nes-se município o toxóide tetânico se achadisponível gratuitamente no Posto deSaúde do 17.° Distrito Sanitário do Es-tado do Paraná e, a preço relativamentebaixo, em qualquer farmácia.

Para confirmar, à saciedade, a predo-minância de concepções errôneas a res-peito da prevenção do tétano, 31,23% dasdonas-de-casa, 10,56% dos colegiais e5,14% dos universitários entrevistados(Tabela 17) admitiram a absurda possi-

bilidade de que o uso de fumo, urina,esterco e teias de aranha evitam a ins-talação da doença.

C O N C L U S Õ E S

Conclui-se, pois, que conceitos e noçõesincorretos e carência de informação quan-to ao tétano, à vacina antitetânica e aoutras medidas para sua prevenção pre-valecem na população da zona urbana deLondrina, representada por donas-de-ca-sa, colegiais e universitários.

Esse fato torna-se mais grave na me-dida em que as donas-de-casa constituemem nossa organização social o responsá-vel pela providência de medidas profilá-ticas quanto às doenças prevalentes nainfância, entre as quais o tétano se agru-pa. Por outro lado, a falta de informa-ção dos universitários, em relação à doen-ça e à vacina antitetânica, em proporçãosignificativamente alta, constitui evidênciado que se verifica a esse respeito em gru-pos da população considerados "de nívelcultural elevado", em nossa sociedade.

Pode-se, portanto, deduzir que o proble-ma deva agravar-se, em nosso meio, naspopulações da zona rural, de que é muitobaixo o índice de informação sanitáriae pequena a possibilidade de acesso aosrecursos profiláticos, apenas disponíveis naárea urbana dos municípios.

A alta prevalência do tétano no Nortedo Paraná, ilustrada pelo número relati-vamente grande de casos internados noHospital Universitário de Londrina, noperíodo de 1972 a 1975, está em con-cordância com os dados obtidos em nossoestudo, confirmando o desconhecimentopredominante na população desse municí-pio quanto a uma doença grave, de tra-tamento dispendioso, com ainda elevadoíndice de letalidade, para cujo controlese dispõe, gratuitamente ou a baixo custo,de agente imunizante inócuo e soberba-mente eficaz.

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A vacinação antitetânica obrigatória degrupos profissionais mais expostos, dasgestantes e dos escolares 11 permitiria porcerto reduzir acentuadamente a incidên-cia do tétano, doença que, ao lado deoutras facilmente preveníveis — tais co-mo poliomielite, sarampo e difteria —.constitui ainda sério problema de saúdepública no Brasil.

Em nosso país. nas escolas de primeirograu, segundo grau e superiores, as ma-trículas não são permitidas sem apresen-tar-se comprovante de vacinação antiva-riólica. Parece-nos contrasenso que, pa-ra uma virose sob controle, desde 1971,no Brasil 5 essa exigência seja tão rigo-rosa, enquanto em relação à vacina anti-

tetânica — capaz de prevenir com abso-luta segurança uma doença que mata13.000 brasileiros por a n o 2 — seja tãofrouxa e incidental a preocupação dos le-gisladores da Medicina Preventiva emtorná-la obrigatória, pelo menos para al-guns grupos selecionados da população.

Os resultados obtidos em inquéritos se-melhantes ao que realizamos exigem re-flexão e rigorosa auto-crítica das autori-dades responsáveis pelos programas deeducação sanitária em nosso país. Osrecursos públicos destinados à saúde nãodevem ser despendidos em propagandasonerosas, cuja linguagem nada tem a vercom o nível cultural e a capacidade decompreensão do nosso povo.

RSPU-B/309

BALDY, J. L. DA S. et al. — [Tetanus and antitetanic vaccination: a studyin the urban population of Londrina (Paraná, B r a z i l ) ] . Rev. Saúde públ.,S. Paulo, 10:151-66, 1976.

SUMMARY: Employing a standardized quest ionary, an inquiry was madeamong three groups in the urban population of the city of Londrina (Paraná,Brazil), including 602 housewives, 464 high-school and 778 university stu-dents. The aims were: to determine the number of subjects vaccinated,against tetanus; to evaluate the degree of knowledge regarding tetanus, an-titetanic vaccine and antitetanic serum; to establish a relationship betweenthese indices and some characteristics of each group of the population studied.The conclusions pointed to incorrect concepts and lack of information abouttetanus and antitetanic vaccine being prevalent among the population of the urbanzone of Londrina. The signification and the consequences of these factsare discussed, and it is assured that the high morbidity of tetanus, in Brazil,should mean a serious warning to Public Health authorities. These and si-milar results should be regarded when changes in programmes of antitetanicvaccination are considered; these results are applicable to reviews on methodsof health education regarding this subject, as well as s c i e n t i f i c a e resourcesavailable for its prophilaxis.

UNITERMS: Tetanus, Antitetanic vaccine. Antitetanic serum. Urbanpopulation, Londrina (Brazil).

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Recebido para publicação em 05/11/1975Aprovado para publicação em 05/01/1976