tribunal obriga fundo de garantia salarial a pagar dívidas de empresa em recuperação - pÚblico

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PCP Pedro Mota Soares Código do Trabalho Desemprego Sindicatos Empresas Segurança Social recusa pagamento a Tribunal obriga Fundo de Garantia Salarial a pagar dívidas de empresa em recuperação RAQUEL MARTINS 19/07/2014 - 07:45 Interpretação das regras do Fundo de Garantia Salarial está a ser dirimida nos tribunais. Administradores de insolvência receiam que recusas levem trabalhadores a rejeitar recuperação de empresas. O Tribunal Administrativo e Fiscal (TAF) de Almada deu razão a um trabalhador da Novopca, empresa declarada insolvente e que iniciou um plano de recuperação, obrigando o Fundo de Garantia Salarial (FGS) a pagar-lhe os créditos laborais em falta. Na sentença, a primeira dos vários casos que chegaram à justiça, o tribunal entende que o importante é a “insolvência ser reconhecida pelos tribunais, quer implique liquidação ou recuperação”. A sentença surge numa altura em que os sindicatos têm vindo a denunciar que a gestão do FGS se recusa a pagar salários e outros créditos a trabalhadores de empresas que têm planos de recuperação a correr nos tribunais – seja ao abrigo dos processos de insolvência ou do Processo Especial de Revitalização (PER), criado em O gabinete de Mota Soares entende que, quando há planos de insolvência, o fundo não deve dar prioridade aos pedidos. ENRIC VIVES-RUBIO TÓPICOS MAIS Tribunal obriga Fundo de Garantia Salarial a pagar dívidas de empresa... http://www.publico.pt/economia/noticia/tribunal-obriga-fundo-de-garan... 1 de 6 20-07-2014 10:58

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Page 1: Tribunal Obriga Fundo de Garantia Salarial a Pagar Dívidas de Empresa Em Recuperação - PÚBLICO

PCP

Pedro Mota Soares

Código do Trabalho

Desemprego

Sindicatos

Empresas

Segurança

Social recusa

pagamento a

Tribunal obriga Fundo de GarantiaSalarial a pagar dívidas de empresaem recuperaçãoRAQUEL MARTINS 19/07/2014 - 07:45

Interpretação das regras do Fundo de Garantia Salarial está a ser dirimida

nos tribunais. Administradores de insolvência receiam que recusas levem

trabalhadores a rejeitar recuperação de empresas.

O Tribunal Administrativo e Fiscal (TAF) de Almada deu

razão a um trabalhador da Novopca, empresa declarada

insolvente e que iniciou um plano de recuperação,

obrigando o Fundo de Garantia Salarial (FGS) a

pagar-lhe os créditos laborais em falta. Na sentença, a

primeira dos vários casos que chegaram à justiça, o

tribunal entende que o importante é a “insolvência ser

reconhecida pelos tribunais, quer implique liquidação ou

recuperação”.

A sentença surge numa altura em que os sindicatos têm

vindo a denunciar que a gestão do FGS se recusa a pagar

salários e outros créditos a trabalhadores de empresas

que têm planos de recuperação a correr nos tribunais –

seja ao abrigo dos processos de insolvência ou do

Processo Especial de Revitalização (PER), criado em

O gabinete de Mota Soares entende que, quando há planos de insolvência, o fundo não devedar prioridade aos pedidos. ENRIC VIVES-RUBIO

TÓPICOS

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trabalhadores de

empresas em

dificuldades

Perguntas e

respostas sobre o

Fundo de Garantia

Salarial

Os artigos da

discórdia

2012 como alternativa às falências judiciais. Os

administradores de insolvências, que acompanham estes

processos, temem que estes indeferimentos levem os

trabalhadores a votar contra a recuperação das empresas

e aumentem as falências.

Na sentença a que o PÚBLICO teve acesso, o tribunal vai

mais longe e alertar que a interpretação dos serviços

torna “potencialmente inútil” o objectivo do fundo,

criado para pagar as dívidas aos funcionários quando as

empresas estão em dificuldades financeiras ou encerram

portas. Os argumentos do TAF de Almada não foram

contestados pelo Instituto de Gestão Financeira da

Segurança Social, responsável pela gestão do fundo, que

optou por não recorrer da decisão.

Em causa, está um trabalhador da construtora Novopca,

declarada insolvente em Maio de 2011 e que

posteriormente foi alvo de um plano de recuperação

homologado em Janeiro de 2012. O trabalhador

apresentou, em Julho de 2011, um requerimento ao FGS

para receber salários em atraso e a indemnização por

despedimento. A resposta chegou em Dezembro desse

ano: o pedido era indeferido porque “os créditos

requeridos ao FGS serão extintos por força da

homologação do plano de recuperação da empresa”.

O TAF de Almada lembra que a protecção dos créditos

dos trabalhadores em caso de insolvência é uma

obrigação do Estado por via de uma directiva europeia

de 2008. E alerta que o recurso ao FGS “não poderá ficar

refém das decisões dos credores das sociedades

insolventes”.

E alerta que, no caso em análise, a empresa ainda não

pagou aos trabalhadores e que, mesmo que isso tivesse

acontecido, o FGS ter-se-ia limitado a adiantar parte dos

créditos, tornando-se credor da empresa. Se o

entendimento do gestor do fundo, o Instituto de Gestão

Financeira da Segurança Social, fosse adoptado,

acrescenta “os trabalhadores poderiam ficar

irremediavelmente penalizados e desprotegidos”, pois se

o FGS “se afastasse perante a mera promessa de

pagamento, consubstanciado num qualquer plano de

insolvência, tal tornaria inútil o regime instituído”.

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A situação financeira da Novopca veio a confirmar, aliás,

que o facto de haver um plano de pagamentos aprovado

não significa que a situação dos trabalhadores fique

salvaguardada. O plano não foi cumprido e os credores

requereram um PER para a empresa, que o tribunal

decidiu recentemente não homologar.

O TAF entende que depois de declarada judicialmente a

insolvência de uma empresa, o FGS “deverá decidir em

30 dias após o requerimento do trabalhador,

independentemente de em momento ulterior vir a ser

aprovado qualquer plano de insolvência”. Esta decisão

dá algum alento aos restantes dez trabalhadores da

empresa que também entraram com acções contra o

fundo e poderá vir a ajudar a esclarecer o entendimento

que os serviços e o próprio Ministério do Emprego têm

destas situações.

Jorge Estima, advogado que tem alguns desses processos

em mãos, lembra que o FGS” nunca distinguiu entre os

processos com plano de insolvência e os que declararam

falência”, acrescentando que, nos processos mediados

pelo Iapmei, o FGS também paga os créditos aos

trabalhadores. Trata-se de um paradoxo, visto que nestes

últimos processos também é acordado um plano de

pagamentos com os credores, embora por via

extrajudicial.

A cerâmica Valadares, declarada insolvente em 2012, é

outro caso que está a dividir os trabalhadores e o FGS. O

atraso nas respostas do fundo aos 318 requerimentos foi

o tema de uma pergunta formal enviada pelo PCP ao

Ministério do Emprego em Abril de 2014. A resposta

chegou no início de Julho. O chefe de gabinete do

ministro Pedro Mota Soares comprometia-se a exigir

mais celeridade aos serviços. Contudo, justificava os

atrasos com um argumento muito semelhante aos que o

fundo usou para a Novopca. Como no âmbito do plano

de insolvência homologado “se perspectiva” o

pagamento de todos os créditos, tal “determinaria a

improcedência dos pedidos”. Por isso, lê-se no ofício,

“entendeu-se não priorizar a análise dos requerimentos”.

Por outras palavras, como a empresa tem um plano de

recuperação, o FGS não pagaria os créditos e por isso os

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serviços não deram prioridade à análise dos

requerimentos destes trabalhadores. O gabinete de Mota

Soares não toma uma decisão taxativa, mas entende que

quando há planos de insolvência, o FGS não deve dar

prioridade aos pedidos. Contactado pelo PÚBLICO, o

administrador de insolvência da Valadares desconhece

estes problemas.

Vazio legal incentiva falências

Os casos não ficam por aqui. O FGS tem também

recusado pedidos de trabalhadores de empresa em

dificuldades, que ainda não declaram insolvência e

recorreram ao PER. No processo de um ex-trabalhador

de uma construtura de Braga, a J. Gomes SA, a que o

PÚBLICO teve acesso, os serviços decidiram que não

poderia accionar o fundo.

No despacho com data de 27 de Junho, a recusa tem

como fundamento não ter sido declarada a insolvência

da empresa, despacho de acção de recuperação ou

declaração de falência. E acrescenta-se que “o actual

regime jurídico do FGS não abrange situações em que as

empresas se encontram em PER”, pelo que os créditos

não podem ser assegurados “por falta de enquadramento

legal”.

Emanuel Carvalho, advogado que está a acompanhar

alguns destes trabalhadores, entende que, embora o

regulamento do FGS nada diga sobre os PER, há formas

de contornar o “vazio legal”. O Código do Trabalho,

alerta, “diz que o fundo destina-se a empresas em

insolvência ou situação económica difícil. Uma empresa

em PER está em situação económica difícil”, resume.

A mesma situação aconteceu na Cinclus, uma empresa

de engenharia de Vila Nova de Gaia, que requereu um

PER no ano passado. Luís Gomes, administrador de

insolvência que acompanhou este processo, referiu ao

PÚBLICO que alguns trabalhadores também viram o

pedido de acesso ao FGS indeferido quando o plano de

recuperação foi aprovado pelos credores.

O presidente da Associação Portuguesa dos

Administradores Judiciais (APAJ), Inácio Peres, receia

que este vazio e a interpretação da legislação tenham um

“efeito perverso” e incentive a falência das empresas. “Os

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trabalhadores podem sentir-se pressionados a votar

contra a recuperação”, alerta, garantindo que estão

disponíveis para sugerir eventuais alterações legislativas.

Na semana passada, o secretário de Estado da Segurança

Social, Agostinho Branquinho, disponibilizou-se, junto

dos parceiros sociais, a analisar o assunto. Com Raquel

Almeida Correia

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