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TRATAMENTO COMUNITÁRIO, DROGAS E EXCLUSÃO GRAVE Fraternidade O Amor É A Resposta Junho/2015

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TRATAMENTO COMUNITÁRIO, DROGAS E

EXCLUSÃO GRAVE

Fraternidade O Amor É A RespostaJunho/2015

O tratamento comunitário é um método de trabalho com pessoas, grupos, comunidades e redes que vivem em contextos de alta vulnerabili-dade.

Essa proposta é composta de cinco eixos articulados entre si. Sua �nali-dade é de melhorar as condições de vida das pessoas, dos grupos e das comunidades.

Seu foco no tema de drogas (redução da demanda) respeita a história desta proposta que, além de tudo, vai dirigi-do às situações de sofrimento social das pessoas, dos grupos e das comuni-dades em condição de alta vulnerabili-dade nos âmbitos de educação, trabalho, direitos, laços familiares, de grupo; nas comunidades de vida e com as instituições, moradia, alimentação, segurança, legalidade, saúde, etc.

INTRODUÇÃO

Entre os elementos conceptuais do tratamento comunitário encontram-se os seguintes:

- o tema da comunidade (entendida como um sistema aberto de redes que anima, organiza e dá vida e sentido a um território);

- o tema do sofrimento social (produzi-do pelos relacionamentos no interior do sistema de redes);

- o tema da inclusão/inserção/inte-gração social;

- o tema das redes, das representações sociais, da exclusão social, da desigual-dade, dos direitos humanos fundamen-tais, da investigação na ação, da ação social, das minorias ativas, do capital social, do umbral de acesso, da com-plexidade nos serviços, das políticas públicas na área da redução da deman-da de drogas e dos processos de exclusão social;

ELEMENTOS CONCEITUAIS

1

EIXOS, PROCESSOS, ESTRUTURAS DO TRATAMENTO COMUNITÁRIO

2

Estr

utu

ras

TerritóriosComunitários

Recursos Atores Privados Serviços

Naturais

BaixaComplexidade

AltaComplexidade

MédiaComplexidade

Pro

ce

sso

s

Ações de VínculoSET *

* SET - Sistema Estratégico de Tratamento

Eixo

s

Prevenção e Organização

Cura Médica/Psicológica

Assistência Básica/Redução de Danos

Educação/Reabilitação

Ocupação eTrabalho

EIXOS DOTRATAMENTO COMUNITÁRIO

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OBJETIVO

Fortalecer quando existe, criar e organizar (quando não existe) o dispositivo para o trata-mento comunitário (TC).

PREVENÇÃO E ORGANIZAÇÃO

dispositivo de tratamento comunitário.

RESULTADOS ESPERADOS

Que sejam constituídas na comunidade as redes subjetivas comunitárias da equipe, a rede opera-tiva, a rede de recursos comunitários, a rede de lideres de opinião.

DESCRIÇÃONo contexto do tratamento comunitário (TC) asatividades de prevenção incluem a prevenção universal, seletiva e indicada e também descritana bibliogra�a e implementada nas práticas mais reconhecidas. Porém, o objetivo principal da prevenção no marco comunitário é criar os dispositivos (as redes) necessários para poder implementar o tratamento comunitário (TC):

- as redes subjetivas comunitárias (RSC) - pessoas com as quais os membros da equipe tem relações de amizade e relações entre eles; - as redes operativas (RO) - Nós das RSC que participam com a equipe na implementação de ações e processos de TC e as relações entre eles;- as redes de líderes de opinião (RLO) - entidadecomposta pelos líderes de opinião formais e nãoformais de uma comunidade e das relações entre eles, - e as minorias ativas - redes com um alto grau de densidade nas relações entre seus membros, focadas na melhoria das condições de vida da comunidade.

Neste contexto as atividades de prevenção (uni-versal, seletiva e indicada) são consideradas em dois pontos de vista (objetivos). O primeiro é o ponto de vista táctico: atingir os objetivos conhecidos da prevenção. O segundo ponto devista é estratégico: favorecer a construção do

ASSISTÊNCIA BÁSICAREDUÇÃO DE DANOS

OBJETIVO

Reduzir as consequências negativas do consumo de drogas e de outras formas de exclusão (pobreza, falta de serviços básicos, etc.) e melhorar as condições de vida de pessoas, grupos e comunidades.

DESCRIÇÃO

A assistência básica e a redução de dano focam-se nos direitos fundamentais das pessoas, dos grupos e das comunidades em situação de exclusão grave. É verdade que na área de drogas adotam formas (serviços e processos) conheci-das: entrega de material para uso seguro de drogas, para sexo com segurança, tratamentos substitutos quando precisar. É verdade também que sua �nalidade é implementar ações sociais focadas a diminuir o impacto ou as consequên-cias do sofrimento social: ações para reduzir o impacto da pobreza, da falta de educação, da legalidade e justiça, de trabalho, moradia, alimentação, higiene, apoio relacional, apoio na área de saúde.

É característico do tratamento comunitário o fato que estas ações são pensadas, planejadas e implementadas por meio das redes que tem se constituído (o dispositivo) nas quais estão inclu-sos os atores que são “parceiros” (bene�ciários diretos) destas ações.

EIXOS DOTRATAMENTO COMUNITÁRIO

4

EDUCAÇÃO EREABILITAÇÃO

OBJETIVO

Melhorar os conhecimentos e as competências da comunidade e das pessoas vinculadas com formas de sofrimento social nas seguintes dimensões: legalidade, droga, moradia, higiene, segurança pessoal, trabalho, vida sexual, edu-cação, alimentação, família, condição psicológi-ca, consumo de álcool.

DESCRIÇÃO

Este eixo é preciso para que as formas de assistência básica e redução de dano não virem assistencialismo e novas formas de dependência e injustiça (como por exemplo o tratamento obrigatório da dependência de drogas).

RESULTADOS ESPERADOS

Os resultados esperados são de dois tipos: tácti-cos e estratégicos. Resultados tácticos: redução do impacto nocivo nas seguintes dimensões: legalidade, droga, moradia, higiene, segurança pessoal, trabalho, vida sexual, educação, alimen-tação, família, condição psicológica, consumo de álcool.

Resultados estratégicos: melhoria na partici-pação dos atores comunitários (incremento na amplitude, densidade, conectividade, interme-diação, etc.) nas redes (RSC, RO, RLO, RRC, MA). Continuidade (tempo) na relação com as pessoas vinculadas nas redes.

As ações e os processos nesta área incluem: processos educativos não formais (por meio do trabalho de rua a nível individual ou grupal) ou formais (cursos, o�cinas, seminários, etc.). Ambos �nalizados à alfabetização, educação digital, recuperação do ciclo escolar, à melhoria das competências relacionais (competências sociais), das competências no trabalho (com-petências ocupacionais) e nas áreas indicadas no objetivo. Os temas de direitos humanos, de sensibilização de gênero, de relações com os recursos comunitários (formais e não formais, institucionais e do setor privado), de mediação dos con�itos comunitários e de diminuição dos impactos dos processos de exclusão são centrais neste eixo.

As atividades culturais (cinema, teatro, fotogra-�a, literatura, poesia, dança, música, pintura, recreativas, jogos e esportes) são elementos centrais da metodologia de trabalho.

A participação das redes que constituem o dispositivo é uma das características do trata-mento comunitário.

RESULTADOS ESPERADOS

Os resultados táticos são os seguintes: são incre-mentados os conhecimentos e as competências nas áreas indicadas no objetivo: legalidade, droga, moradia, higiene, segurança pessoal, trabalho, vida sexual, educação, alimentação, família, condição psicológica, consumo de álcool.

Resultados estratégicos: melhoria da partici-pação dos atores comunitários (incremento na amplitude, densidade, conectividade, interme-diação, etc.) nas redes (RSC, RO, RLO, RRC, MA). Continuidade (tempo) na relação com as pessoas vinculadas nas redes.

EIXOS DOTRATAMENTO COMUNITÁRIO

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CURA MÉDICAE PSICOLÓGICA

OBJETIVO

Reduzir as consequências nocivas da exclusão grave associada com o consumo de drogas na área da saúde (mental e física).

DESCRIÇÃO

As condições de exclusão grave associadas com o consumo de drogas (e vice-versa) podem produzir consequências nocivas a nível físico (infecções, hepatite, desnutrição grave, etc.). O trabalho com as pessoas que sofrem estas condições se desenvolvem por meio da prática médica e psicoterapêutica conhecida (a nível individual, familiar, de grupo e de redes) em contextos formais (quando possível) e sobretu-do em contextos (dispositivos) não formais (ruas, centros de baixo umbral, famílias, lares, etc.). As atividades neste eixo se interconectam com as atividades de assistência básica e redução de dano e com as atividades de edu-cação e reabilitação. Neste sentido a cura médica e psicológica é uma tarefa de toda a equipe e de toda a rede operacional.

O elemento inovador neste eixo é a implemen-tação de ações psicoterapêuticas em dispositi-vos não formais (ruas, lares, etc.). a participação das redes que constituem o dispositivo do TC é fundamental.

RESULTADOS ESPERADOS

Resultados táticos: redução do número de pessoas que não recebem atenção, melhoria das condições de saúde mental e física.

OCUPAÇÃO ETRABALHO

OBJETIVO

Melhorar o nível de autonomia, as competências e as condições laborais da comunidade e das pessoas, famílias, grupos, redes vinculadas com situações de sofrimento social (legalidade, droga, moradia, higiene, segurança pessoal, trabalho, vida sexual, educação, alimentação, família, condição psicológica, consumo de álcool).

DESCRIÇÃO

A autonomia das pessoas é fortemente enrique-cida pela sua capacidade (individualmente, como famílias, grupos ou redes) em providenciar suas necessidades de maneira lícita. O eixo de ocupação e trabalho se implementa por meio de atividades e processos formais e não formais de capacitação para o trabalho, práticas em lugares de trabalho, bolsas de trabalho, inserção em atividades produtivas, desenvolvimento de microempresas e atividades produtivas a nível individual, de grupo, família e redes. A experiên-cia demonstrou que pessoas em alto estado de vulnerabilidade (como resultado de consumo problemático de drogas e de condições de alta exclusão) necessitam também de um apoio psicológico e relacional durante o processo de inserção e permanência no trabalho. Este apoio é garantido por meio da continuidade do trata-mento comunitário nos outros eixos.

RESULTADOS ESPERADOS

Resultados táticos: a capacidade das pessoas, famílias, grupos, redes em permanecer em ativi-

EIXOS DOTRATAMENTO COMUNITÁRIO

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dades produtivas lícitas ou ocupacionais (escola) é incrementada.

Resultados estratégicos: melhoria da partici-pação dos atores comunitários (incremento na amplitude, densidade, conectividade, interme-diação, etc.) nas redes (RSC, RO, RLO, RRC, MA). Continuidade (tempo) na relação com as pessoas vinculadas nas redes. Melhoria no respeito dos direitos básicos fundamentais, da justiça e da equidade.

PROCESSOS DOTRATAMENTO COMUNITÁRIO

Ações de Vínculo

OBJETIVO

Produzir, fortalecer, manter a participação comunitária por meio de suas redes.

DESCRIÇÃO

Estas atividades podem se incluir nas atividades mencionadas nos cinco eixos. Mencionemos algumas que têm um particular impacto nesta área: festas populares, civis e religiosas, aconteci-mentos culturais abertos, como teatro de rua, música, dança para promover e sensibilizar em temas especí�cos: gênero, direitos humanos, direitos de populações especí�cas.

Entre aquelas que o tratamento comunitário tem desenvolvido: a construção de redes, a tera-pia de rede, a construção de formas organizadas na vida social (organizações, associações, grupos formais, grupos de autoajuda).

RESULTADOS ESPERADOS

Neste caso trata-se unicamente de um resultado de tipo estratégico: melhoria da participação dos atores comunitários (incremento em ampli-tude, densidade, conectividade, intermediação, etc.) nas redes (RSC, RO, RLO, RRC, MA). Continui-dade (tempo) na relação com as pessoas vincula-das nas redes.

SET ** SET - Sistema Estratégico de Tratamento

INTRODUÇÃO

É possível trabalhar com a comunidade enten-dendo-a como um sujeito de tratamento? Con-siderar a comunidade como sujeito de tratamen-to signi�ca ter uma abordagem metodológica dirigida especi�camente à comunidade (da mesma maneira que existem na prática social abordagens dirigidas a indivíduos, familiares e grupos).

7

INTRODUÇÃO

O SET (Sistema Estratégico de Tratamento) tem a �nalidade de construir um marco lógico para o diagnóstico comunitário baseado na mais alta participação possível de atores comunitários. Sucessivamente a prática do tratamento comu-nitário evidenciou como este mesmo processo pode ser muito e�caz especi�camente em alguns momentos:

PROCESSOS DOTRATAMENTO COMUNITÁRIO

DiagnósticoParticipativo

(i) (ii)

Construção de redese do dispositivo

comunitário

(iii)

Terapia deredes

(iv)

Estudo e transformação das

representações sociais

DESCRIÇÃO

O tratamento da comunidade é implementado por meio de um processo que inicia com a construção do dispositivo (prevenção e organi-zação). Com o diagnóstico (comunitário) e com a implementação das atividades nos outros 4 eixos.

Aquele que é especi�camente dirigido à comu-nidade como sujeito de tratamento são os processos de SET. Trata-se de 9 (nove) micro-pro-cessos.

1. Identi�cação da comunidade por parte de seus líderes de opinião

A construção e a elaboração conjunta da representação social da comunidade produzida por seus lideres de opinião é um exercício cognitivo (diagnóstico) e relacio-nal (criação de interconexões). Isto favorece por um lado os conhecimentos da comunidade e seus atores. E permite mod-i�car (neste sentido pode se falar de trata-mento de rede) as relações na rede de lideres dessa comunidade. Simultanea-mente se constrói o dispositivo, se modi�-cam as relações, se produz conhecimento.

2. Estudo dos projetos anterior-mente desenvolvidos ou em fase de implementação

A história dos atores e dos resultados; as lições aprendidas por meio das experiên-cias espontâneas não formais, formais e institucionais (que trataram de melhorar as condições de vida da comunidade) são fundamentais para aprender do passado, fortalecer aqueles que deram resultados, mudar o que for preciso mudar, inovar onde precisa.

3. Análise dos fracassos dos projetos e das boas práticas

Entender as lógicas que fazem fracassar os projetos e as ações, como estas articu-lam-se também com as dinâmicas de poder dentro das comunidades, com as resistências, com a força da persistência e com o desprezo da mudança é fundamen-tal para facilitar a participação ativa de todos na construção e na implementação das ações.

8

PROCESSOS DOTRATAMENTO COMUNITÁRIO

7. Elementos e estratégias de ancoragem e objetivação

Modi�car as representações sociais é o objeto central da prevenção (em seu sentido clássico) da educação/reabilitação e da cura psicológica no marco do tratamento comunitário (eixos 1, 3 e 4). Ancoragem e objetivação são os dois processos que favorecem a construção e por consequência também a mudança das representações sociais. Sua modi�cação é necessária sobretudo porque as representações sociais são causa-consequên-cia-causa de exclusão. Podem ser também de inclusão.

8. Mitos e formas rituais

Os temas geradores fundamentais em uma comu-nidade (nascimento e morte, saúde e doença, força, violência, justiça, con�ito, droga, álcool, pobreza, vitima, rua, gangues, etc.) têm seus mitos (com seus personagens e seus modelos exem-plares) e seus ritos. Estes mitos e ritos conformam grande parte do pensamento e da vida cotidiana das comunidades (se pense no mito da gangue e nos rituais que todos em uma comunidade têm que respeitar). Entender estes mitos e ritos permite criar consciência, modi�car represen-tações sociais, criar novos mitos e formas rituais.

9. Identi�cação dos con�itos de base no interior da comunidade

Um con�ito pode ser entendido como um proces-so no qual dois ou mais atores encontram-se em oposição mútua ou são incompatíveis. Dito de outra maneira, um con�ito é um processo de construção de oposições e incompatibilidades. Entender a lógica dos con�itos, de como estes persistem, mudam, se reproduzem ou encontram respostas é fundamental. Segundo os iniciadores do trabalho de redes os con�itos são a fonte das dinâmicas comunitárias, as que permitem as mudanças... às vezes catastró�cos também, às vezes construtivos.

4. Breve história da comunidade

As comunidades são como as pessoas, têm histórias. Estas histórias contribuem em parte para condicionar e determinar seu presente e seu futuro. Conhecer estas historias é importante para conhecer as raízes dos atores comunitários, as origens dos processos de construção da comuni-dade, da suas representações sociais, de seus mitos e ritos, da sua vida política.

5. Elementos sociológicos (antro-pológicos e etnográ�cos)

Trata-se aqui de todo o acervo de conheci-mento formal da comunidade: território e suas características, serviços existentes e ausentes, características demográ�cas, arquitetura urbana. Paralelamente situam-se resultados de estudos antro-pológicos e etnográ�cos, ou seja, o estudo da cultura comunitária e das formas nas quais essa cultura se manifesta.

6. Identi�cação dos temas geradores

O ponto central relacionado com os temas geradores é responder à pergunta: do que falam as pessoas. Qual é o conteúdo dos diálogos e discursos da vida comunitária: desejos, preocupações, queixas, propos-tas, comentários e ideias. Os temas gera-dores são subdivididos em dois grupos: os espontâneos, propostos diretamente pelos atores comunitários e os induzidos, aqueles que são propostos pela equipe e/ou a rede operativa. No trabalho com temas geradores tem uma �nalidade cognitiva (saber) e uma �nalidade de transformação: modi�car linguagens, modalidades representativas e expressiv-as, etc.

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METODOLOGIA DE TRABALHO

Com quem e como se trabalham os processos do SET? Os atores/participantes são (i) as redes (RSC, RO, RLO, RRC, MA), (ii) toda a população que deseja participar. As modalidades de trabalho são as mais variadas: o�cinas, seminári-os, grupos de discussão, grupos focais, assem-bleias, debates, encontros com especialistas, jogos de papéis, teatro, música, pesquisas comu-nitárias, trabalho de rua, visitas domiciliares, cartogra�a social ou ecológica... e todas aquelas formas que a criatividade dos atores comunitári-os sugere.

PROCESSOS DOTRATAMENTO COMUNITÁRIO

Onde acontece o tratamento comunitário? Quais são os lugares ou as estruturas do trata-mento comunitário? O tratamento comunitário busca atingir o nível de acesso mais alto possível e por consequência busca caracterizar-se pelo umbral de acesso mais baixo possível. O trata-mento comunitário tem seus lugares especí�-cos, isso não signi�ca que não se integre na rede de recursos comunitários não formais e formais: há outros atores trabalhando, outras instituições todos no marco de uma coerente política públi-ca.

As praças, as esquinas das ruas, as ruas, os lugares de esporte são lugares de encontro e participação comunitária, são lugares de todos (neste sentido são públicos). Estes lugares são o primeiro recurso do tratamento comunitário: ali

AS ESTRUTURAS DOTRATAMENTO COMUNITÁRIO

OS TERRITÓRIOS COMUNITÁRIOS

acontecem os primeiros contatos, ali se dão ações de prevenção/organização, de assistência básica e redução de dano, de educação, de cura médica e psicológica e de capacitação para o trabalho. São o lugar principal porque é de todos, porque ali está o “povo” e ali se pode encontrá-lo.

Os bares, os restaurantes, os postos de com-bustível, os comércios estabelecidos formais e não formais são de fato “serviços básicos na e da comunidade”, existem para responder a necessi-dades comunitárias. Cada um desses serviços pode ser um ator na rede de recursos comu-nitários implementado em ações ou processos incluídos no tratamento comunitário: prevenção universal, seletiva e indicada, informação, derivações, inserção no trabalho, etc. cada um

OS SERVIÇOSNATURAIS

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AS ESTRUTURAS DOTRATAMENTO COMUNITÁRIO

destes serviços tem sua estratégia de enraiza-mento no território e da gestão das relações com seus “clientes”.

Casas dos habitantes da comunidade, lugares nos quais as pessoas possam reunir-se, trabalhar, lugares nos quais habitantes que precisem dele possam encontrar serviços de higiene, comida, albergue, etc. as formas de participação da comunidade são in�nitas.

Os centros de escuta comunitários e os drop in centre são duas formas de serviços/lugares de umbral e complexidade muito baixo. São ao mesmo tempo lugares de encontro e de serviços (alimentação, higiene, segurança, vida de grupo, construção de redes, saúde, educação, etc.). entre suas características encontram-se a proxi-midade em relação às pessoas que dele necessi-tam, a baixa estruturação de suas atividades e o acesso livre: sem horários (além de aqueles de abertura e clausura, não é preciso agendar).

Encontram-se neste grupo serviços com um certo nível de complexidade (equipes com �gu-

OS RECURSOS DOSATORES PRIVADOS

uras pro�ssionais diferentes) que permitem por exemplo administração de tratamentos substi-tutos, auxílio médico básico, atenção pro�ssion-al a crises psicológicas ou relacionais, etc. O nível de complexidade pode crescer até não ter con�i-tos com a necessidade do umbral de acesso mais baixo possível.

São lugares/serviços nos quais o nível de organi-zação das atividades é muito estruturado e as pessoas que desejam participar têm que respeitá-lo (a participação porém não é obrigatória). Encontram-se ali equipe com �gu-ras pro�ssionais diferentes, com horários de trabalho, regras de participação e exclusão, etc. (uma comunidade educativa de dia).

CENTROS DE BAIXO UMBRAL E BAIXA COMPLEXIDADE

CENTROS DE BAIXO UMBRAL E MÉDIACOMPLEXIDADE

CENTROS DE BAIXO UMBRAL E ALTACOMPLEXIDADE

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A AVALIAÇÃO DOTRATAMENTO COMUNITÁRIO

A avaliação do tratamento comunitário foca-se nos resultados esperados que possam ser entendidos também como seus produtos. Temos dois tipos de produtos ou resultados esperados: os técnicos e os estratégicos.

Os produtos técnicos consistem na redução do impacto negativo das condições de exclusão social nas áreas indicadas e a melhoria das condições de vida. Estes produtos são visualizados por meio da avaliação de casos realizada por meio da Folha de Primeiro Contato (HPC), do formato de seguimento de Processos Individuais em Comunidades Locais (SPICL) e do questionário de Avaliação do Trata-mento Comunitário (CBT EvQuest).

Os produtos estratégicos consistem nos dispositivos do tratamento comunitário efetivamente imple-mentados. Eles são: a equipe, as redes subjetivas comunitárias, as redes operativas, as redes de recur-sos comunitários, as redes de líderes de opinião e as minorias ativas. Estes produtos são visualizados e avaliados por meio dos instrumentos clássicos do Social Network Analysis.

CONCLUSÃOO tratamento comunitário é uma proposta que tem objetivos técnicos e estratégicos. Do ponto de vista técnico, busca atingir os objetivos de cada um do seus eixos, processos e serviços. Do ponto de vista estratégico se inspira a processos de baixo para cima com o propósito de construir cenários que facilitem o encontro com processos de cima para baixo. Entre seus pontos de força encontram-se o respeito dos direitos humanos fundamentais, a busca de qualidade pro�ssional a produção de evidências cientí�cas junto com a investigação qualitativa, a busca de articulação com as políticas públicas.

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CRÉDITOSTexto

Efrem Milanese

Raquel Barros

Vânia Medeiros

Edição

Fraternidade O Amor É a Resposta

Ilustração/Diagramação

Maysa Mazzon Camargo - Organela Soluções

Apoiadores e Parceiros