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Museu de Topografia prof. Laureano Ibrahim Chaffe Departamento de Geodésia - UFRGS CAVALARIA MEDIEVAL Texto original: Wikipédia, la enciclopédia libre. Dezembro/2014 Ampliação e ilustrações: Iran Carlos Stalliviere Corrêa-IG/UFRGS São Jorge, escultura do Quatrocentos italiano (Donatello, 1416).

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Museu de Topografia prof. Laureano Ibrahim Chaffe Departamento de Geodésia - UFRGS

CAVALARIA MEDIEVAL

Texto original: Wikipédia, la enciclopédia libre. Dezembro/2014

Ampliação e ilustrações: Iran Carlos Stalliviere Corrêa-IG/UFRGS

São Jorge, escultura do Quatrocentos italiano (Donatello, 1416).

A arma de cavalaria se deu em todas as civilizações desde a Idade

Antiga, na Antiga Roma existia a classe social dos équites

("cavaleiros"), e entre os povos germânicos se dava denominações

genéricas equivalentes as de armar cavaleiro e guardar armas para

referir-se à cerimônia de investir em armas os jovens guerreiros.

Porém, ao contrário desses precedentes, o conceito medieval de

cavaleiro é de origem eclesiástica, tem como função ideológica elevar a

nobreza à altura do ideal cristão (miles Christi ou "cavaleiro cristão"), e

não aparece antes do século XI.

Cerimônia de Investidura – Armar Cavaleiro

O cavaleiro (designado na época com a palavra francesa

chevalier ou do latina milites) era um guerreiro a cavalo da cristandade

latina (a Europa ocidental medieval, que se havia definido em torno do

Império Carolíngio) que servia ao rei ou a outro senhor feudal como

contrapartida pela posse de um domínio territorial ou por dinheiro

(como tropa mercenária, aos quais, nas cidades italianas se

denominavam condottiero). A participação dos cavaleiros nas

Cruzadas originou a criação, na Terra Santa, das denominadas ordens

militares; e posteriormente, na Europa, das denominadas ordens de

cavalaria.

Cavalaria Medieval

A trajetória vital de um cavaleiro era, em geral, a de um homem

de cunho nobre que, havendo servido em sua juventude como pajé e

escudeiro, era logo, cerimonialmente ascendido pelos seus superiores

ao cargo de cavaleiro. Durante a cerimônia o aspirante prestava

juramento de ser valente leal e cortês, assim como proteger os

indefensos; o que se denominava de o código da cavalaria.

Código da Cavalaria Medieval

I – Crerás em tudo quanto ensina a Igreja e observarás todos os seus mandamentos

II – Defenderás a Igreja

III – Protegerás as viúvas, os órfãos e os fracos

IV – Amarás o país em que nasceste

V – Não recuarás diante do inimigo

VI – Farás ao infiel guerra sem trégua e sem mercê

VII – Cumprirás exatamente teus deveres feudais se não forem contrários à lei de Deus

VIII – Não mentirás e serás fiel à palavra dada

IX – Será generoso e farás liberalidade a todos

X – Serás o defensor do direito e do bem, contra a injustiça e

contra o mal.

Cavaleiros

Convertido em ideal cavalheiresco (ou de "cavaleiro andante"), foi

um importante componente da ideologia justificativa da função da

nobreza na sociedade estamental, e se expressou na denominada

literatura cavalheiresca (cantos de gesta, poesias trovadorescas,

romanceiro, livros de cavalarias, novela cavalheiresca) e em todos os

tipos de obras de arte.

Início

A instituição da cavalaria medieval está ligada à história dos

guerreiros a cavalo no reino da França que surge do desmembramento

do Império Carolíngio (França ocidental). Ao final do século X os

cavaleiros se haviam convertido no corpo militar mais importante,

frente à infantaria comum, acumulando um crescente poder político. O

exercício do poder pelos cavaleiros foi possível porque somente eles

possuíam o treinamento militar necessário e a riqueza suficiente para

manter as armas e os cavalos necessários para poder desenvolver sua

forma típica de combate. A diferenciação social baseada inicialmente na

habilidade e destreza dos próprios cavaleiros desenvolveu um sentido

de classe cavalheiresca, orgulhosa de sua conduta e valores marciais e

desdenhosa a outros segmentos não armados da sociedade: os clérigos

e os camponeses.

Os cavaleiros nasceram da necessidade de defender os domínios

feudais (nobiliários ou eclesiásticos, ambos vinculados nas mesmas

famílias) contra toda classe de inimigos, incluindo os ladrões e

salteadores de estradas. Desta forma, a cavalaria foi um exército

coercivo. Os cavaleiros defendiam os interesses daqueles dos quais

dependiam, isto é, dos senhores que os mantinham; o que entre outras

coisas garantia a cobrança das cargas tributárias impostas aos

camponeses.

Cavaleiros defendendo seu Senhor

Assim como na origem dos cavaleiros predominava o espirito

guerreiro, nos primeiros relatos artúricos se dava maior ênfases ao

valor militar, aos feitos de guerra e as descrições das batalhas. A igreja

procurou moderar os excessos bélicos com instituições como a trégua

de Deus e ocasionou o apetite de combate dos milites no sentido mais

consistente com os objetivos cristãos: a luta contra as injustiças e a

luta contra os infiéis. A incorporação das tradições violentas da

cavalaria no seio da própria igreja permitiu que clérigos fossem

célebres narradores artúricos, como é o caso de Robert de Boron, ao

final do século XII.

Dentro desta estrutura feudal os cavaleiros mantinham o feudo

que um senhor lhes havia concedido, em troca de render-lhe

homenagem e prestar-lhe serviço com as armas. Por sua vez este

senhor podia ser vassalo de outro senhor mais poderoso, ou o

cavaleiro ser servido por outros cavaleiros de inferior categoria. Com o

passar do tempo eram muitos os milites, às vezes de baixa classe

social, que queriam converter-se em cavaleiros, pelo que se impôs uma

prova seletiva, que acabou por tomar a forma de um rito de iniciação,

aprovado pela Igreja, chamado louvor ou palmada. Como seu nome

indica, o rito consistia no golpe solene dado ao principiante pelo seu

padrinho ou cavaleiro que lhe havia instruído e o introduzia na

Cavalaria. O prestigio que adquiriu a citada cerimônia e o carácter

sagrado que lhe conferi-o a Igreja, ocasionou que muitos nobres de

nascimento se fizeram cavaleiros. Com o tempo, no século XIII,

nobreza e cavalaria acabaram confundindo-se, embora em geral os

nobres fossem os responsáveis de manter a paz devido a sua

ascendência de autoridade real, e às vezes por um especial carisma

embasado em sua descendência de heróis ou santos, enquanto que os

cavaleiros eram seus auxiliares, sem uma distinguida linhagem e com

pouca ou nenhuma terra. Contudo, se deve ressaltar que o título de

cavaleiro não é parte da escalada feudal em si, se não que pode

atribuir-se a senhores de muita distinta categoria. Exemplos deles são:

Ricardo III da Inglaterra, que antes de ser rei foi duque de

Gloucester e foi armado cavaleiro, ou Eduardo o príncipe Negro, que

era príncipe de Gales e duque e foi armado cavaleiro após a batalha de

Creçy.

Ricardo III da Inglaterra Eduardo o príncipe Negro

Auge

O auge da cavalaria teve lugar na França, entorno dos séculos

XII ou XIII, na mesma época que os relatos artúricos, porém se

desenvolveu e tomou forma no contexto europeu. Nos primeiros relatos

(Cantar de Roldán) a cavalaria se identifica com a ação valorosa no

campo de batalha. Embora, a partir do século XII esta é entendida

como um código social, moral e religioso de conduta cavalheiresca,

enfatizando as virtudes da coragem, honra e serviço.

Ideias cavalheirescas

Valor

Os cavaleiros devem suportar sacrifícios pessoais para servir os

ideais e as pessoas necessitadas. Isto implica em dizer e manter a

verdade a todo o custo. O valor não significa arrogância, se não de ter

a vontade de fazer o correto. Estas personagens tinham um grande

valor, capazes de lutar com grande coragem contra seres superiores

que mantinham as pessoas dos povoados aterrorizadas. Os cavaleiros

eram capazes de enfrentarem pessoas com maior habilidade para lutar,

sem medir consequências. Por exemplo: Na tomada de Valência, Pedro

Bermúdez, Álvarez Fañez e Muñoz Guztos lutaram heroicamente

contra um exército muito maior que o deles.

Defesa

Os cavaleiros juravam, quando eram iniciados, defender a seus

senhores e senhoras, a suas famílias, a sua nação, as viúvas e aos

órfãos, e a Igreja.

Os cavaleiros que tivessem uma grande fé em Deus lhes

permitiam levar a cabo toda uma vida de sacrifícios e tentações, dando-

lhes força e esperança contra os males do mundo. Por exemplo: El Cid

sempre antes de uma batalha, a encomendava a Deus e sabia que dele

dependia seu êxito.

A Fé dos Cavaleiros Medievais

Humildade

Os cavaleiros humildes eram os primeiros em dizer as outras

pessoas quando levavam a cabo feitos de grande heroísmo, dando-lhes

a honra que mereciam de seus grandes feitos. E deixavam que outros

os felicitassem por seus próprios feitos e estes os oferecia a Deus. Esta

é uma das características mais marcante de um cavaleiro. Por

exemplo: El Cid sempre atribuía o êxito das batalhas à coragem de

seus soldados e repartia proporcionalmente as riquezas obtidas.

El Cid

Justiça

Para os cavaleiros era muito importante buscar a verdade sobre

tudo, os cavaleiros não buscavam seu beneficio pessoal. A justiça sem

misericórdia pode trazer penalidade, entretanto, a justiça procurada

pelos cavaleiros sem se curvar à tentação, foi usado por eles. Por

exemplo: El Cid poderia, muito bem, ter matado os herdeiros de

Carrion, mas preferiu que uma decisão justa fosse tomada e uma

punição justa fosse aplicada.

Os herdeiros de Carrion

Generosidade

A generosidade era uma característica de um cavaleiro. Para

combater a fraqueza da cobiça, os cavaleiros eram tão abundantes

quanto os seus recursos permitissem. Um cavaleiro generoso pode

percorrer melhor a linha entre a misericórdia e a justiça. Por exemplo:

El Cid repartia os bens obtidos nas batalhas e era generoso com os

inimigos derrotados como o conde Berenguer.

Temperança

O cavaleiro devia estar acostumado a comer e beber com

moderação. Além disso, o cavaleiro devia ser moderado com suas

riquezas, isto não significava abster-se delas se não, não utiliza-las em

vão. Sem temperança não se podia manter a honra de uma cavalaria.

O cavaleiro devia conter-se de seus apetites sexuais.

Lealdade

Os bons cavaleiros juravam defender fervorosamente seus

ideais, a Igreja e a seus senhores, eles dariam sua vida em defendê-

los. Por exemplo: El Cid bem poderia ter lutado contra o rei Alfonso e

tê-lo derrotado, porém ele lhe era fiel e cumpriu suas ordem em ser

exilado.

Rei Alfonso

Nobreza

A nobreza é o principio da cortesia. Os cavaleiros deviam assim

serem corteses, honrados, estimáveis, generosos e ilustres equitativos

a todos enquanto desenvolviam e mantinham um carácter nobre com

os ideais da cavalaria. Um cavaleiro devia ser um exemplo a seguir.

Armas dos cavaleiros

Galeria de armas e armaduras do Metropolitan Museum of Art.

Armas e armaduras de cavaleiro e cavalo em uma gravura do século

XVIII.

As armas dos cavaleiros medievais correspondiam à cavalaria

pesada própria de uma época anterior às armas de fogo.

O equipamento de proteção, que inicialmente se limitava a um

capacete ou elmo, um escudo, e no caso uma cota de malha (o uso

das proteções para as pernas, próprio da época greco-romana, fora

abolido), foi complicando-se com o passar do tempo, adicionando-se

uma couraça as quais se articulavam peças cada vez mais numerosas,

até comporem armaduras que podiam facilmente pesar mais de 25 kg,

o que exigia uma grande resistência tanto dos cavaleiros como de seus

cavalos (que também podiam ser encouraçados). A solidez das

armaduras ocasionava dificuldades ao cavaleiro de mover-se enquanto

estava montados, sendo a tática habitual proceder primeiro ao jogo

para atacar algum ponto frágil quando estavam no solo.

Capacetes (Elmos)

Escudos

A espada era a arma pessoal e "de mão" mais comum para o

combate singular, em que um cavaleiro se enfrentava a outro. Benta

por um sacerdote, a espada era geralmente a arma preferida de um

cavaleiro, que procurava personaliza-la (algumas inclusive recebiam

nomes), e era considerada tanto arma como símbolo (a lâmina e o cabo

tinha a forma de uma cruz). A espada mais comum era a denominada

espada bastarda ou "de meia mão", de lâmina temperada de aço de

duplo fio, reta e longa (entre 100 e 120 cm), porém pesava somente 3

a 4 libras (entre 1200 e 2000 gramos), o que permitia um manejo ágil

no campo de batalha. Espadas maiores eram as denominadas espada

longas (longsword), montante, mão dupla ou espadão, que podiam

chegar a medir dois metros ou mais e pesar até quatro quilos;

desenhadas para serem utilizadas com as duas mãos, a contundência

de seus golpes provocavam terríveis danos, ainda que fossem mais

dificultoso seu uso e transporte. A sofisticação e agilidade de outras

modalidades de armas brancas não foi própria dos combates e torneios

da cavalaria medieval, se não da esgrima da Idade Moderna (florete,

sabre); porém sim se usavam todo o tipo de armas curtas (facas,

punhais, adagas), sozinhas ou em combinação com as espadas.

Espadas e espadões

A maça medieval e o machado completavam o conjunto de

armas pessoais "de mão", úteis para atacar as armaduras. A maça era

uma bola pesada cravejada de pontas associada diretamente a um

cabo, contava com duas versões: a do lacaio (de cabo comprido) e a do

ginete (de cabo curto).

Maça medieval Machado medieval

A lança era a segunda arma preferida de um cavaleiro. A retitude

de sua hasta simbolizava a verdade, e sua cabeça de ferro, a força.

Utilizava-se geralmente para empurrar o inimigo até fazê-lo cair de seu

cavalo. Tinha até 3 m de comprimento e era rematada com uma ponta

de lança de forma triangular.

Lanças medievais

O conjunto de armas e armaduras se denominou, a partir do

Renascimento, com a terminologia clássica de panóplia.

Armas contra os cavaleiros

O conceito da luta a distância era particularmente contraria aos

valores cavalheirescos. A sangrenta derrota da nobreza francesa a

cavalo assaltada pelos arqueiros ingleses plebeus na batalha de

Agincourt (1415) simbolizou o fim da época dourada da cavalaria.

O arco comum tinha limitações de alcance e precisão, e seu uso

pelos cavaleiros era mais frequente para a caça que para a guerra. O

arco longo inglês, de até dois metros de comprimento, era difícil de

dominar, porém tinha um alcance efetivo de mais de cem metros.

Arco longo inglês

A besta era um dispositivo mecânico curto, cujo arco de aço

lançava flechas pequenas (até dezenas) com grande potência. Carrega-

la tomava um tempo que limitava sua eficácia. Proibida pela igreja, a

maioria dos cavaleiros a consideravam uma arma que desonrava,

porém alguns a utilizaram de todo modo.

Besta medieval

A pica era um arma de origem suíça que servia para oporem-se

as cargas de cavalaria, cavando-as no solo ou sustentando um extremo

com o pé, e colocando seu extremo armado aos cavalos, que se feriam

com ela. Eram muito mais largas que as lanças: até 5 metros de

comprimento, e seu uso era especialmente eficaz quando equipava as

compactas unidades de infantaria.

Picas medievais

Referências

1. Hernández L.; Fermín, J. 1983. Órdenes militares, divisas y linajes

de La Rioja. Historia de La Rioja. Edad Moderna - Edad

Contemporánea. Caja de Ahorros de La Rioja. p. 52. ISBN 84-

7231-903-2.

2. La expresión "otoño de la Edad Media" es de Johan Huizinga. Los

"mandamientos" se atribuyen a L. Gaultier, La Chevalerie, 1884.

Ambos citados en Jean Flori, ¿Ocaso de la caballería o reaparición

de un mito?, en Caballeros y caballería en la Edad Media, Paidós,

2001, ISBN 8449310393, pg. 265.

Caballería medieval