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Transtornos por uso de substâncias
Profa. Edilaine C. Silva Gherardi-Donato
Profa. Sandra de Souza Pereira
Substância psicoativa
“Uma substância que quando ingerida afeta os processos mentais. Esta expressão e seu equivalente, droga psicoativa, são os termos mais descritivos e neutros para todas as classes de substâncias, lícitas e ilícitas”.
(GLOSSÁRIO DE ÁLCOOL E DROGAS, 2010)
• Drogas Depressoras do SNC
• Drogas Estimulantes do SNC
• Drogas Perturbadoras do SNC
Drogas Depressoras do SNC
• Qualquer agente que suprime, inibe ou diminui alguns aspectos da atividade do SNC.
• As principais classes de depressores do SNC são os sedativos/hipnóticos, os opioides e os neurolépticos.
• O álcool, os barbitúricos, os anestésicos, as benzodiazepinas, os opiáceos e seus análogos sintéticos.
• Reduzem a atividade motora, a ansiedade, a atenção, a concentração, a capacidade de memorização e a capacidade intelectual
Álcool52% dos brasileiros acima de 18 anos faz uso de bebida alcoólica pelomenos uma vez ao ano. Do conjunto de homens adultos, 11% bebemtodos os dias e 28% de 1 a 4 vezes por semana.
Drogas Estimulantes do SNC
• Qualquer agente que ative, acentue ou aumente a atividade neural
• Também chamado de psicoestimulante
• Compreende as anfetaminas, a cocaína, o tabaco, a cafeína e outras xantinas, a nicotina, e os supressores do apetite sintéticos tais como a fenmetrazina e o metilfenidato
• Provocam um estado de alerta exagerado, insôniae aceleração dos processos psíquicos
Tabaco10,1% dos brasileiros são dependentes do tabaco e44% já usou tabaco alguma vez na vida, sendo39,2% do sexo feminino.
Drogas Perturbadoras do SNC
• Uma substância que induz alterações da sensopercepção, do pensamento e dos sentidos parecidos aos das psicoses funcionais, sem, no entanto, produzir as importantes alterações da memória e da orientação características das síndromes orgânicas
• Compreende a maconha, alucinógenos, LSD, ecstasy e anticolinérgicos*
* Datura, Lírio, Trombeta, Trombeteira, Cartucho, Saia Branca, Zabumba.Medicamentos: Artane, Akineton, Bentyl
MaconhaA faixa etária com o maior consumo de maconha algumavez na vida é de 18 a 24 anos, sendo 21,8% do sexofeminino.
PRINCIPAIS DROGAS DE USO ABUSIVO
ESTIMULANTES PERTURBADORESDEPRESSORES ALUCINÓGENOS
COCAÍNACRACK
METANFETAMINA (CRISTAL)
MACONHA
ÁLCOOLOPIÁCEOS
BZDINALANTES
LSDDAIME (Cipó
jagube + chacrona)
COGUMELO
Importante ressaltar...- Predominante na sociedade
- Algumas alteram o humor e são aceitáveis (álcool, cafeína e nicotina)
- Relativa indiferença apesar do uso abusivo – impacto negativo sobre a saúde
- Fins medicinais: grande produção, estimulantes e depressores do SNC (anfetaminas/sedativos/tranquilizantes)
- Preparações isentas de prescrição para alívio de toda dor humana, real ou imaginária
- Algumas substâncias ilegais alcançaram aceitação de determinados grupos (maconha e haxixe) – não são inofensivas – efeitos a longo prazo estão sendo estudados
- Efeitos perigosos de outras substâncias ilegais são documentados (LSD, fenciclina, cocaína e heroína)
- Amplas variações culturais – consumo e padrão de uso
- Prevalência entre 18 a 24 anos
- Diagnóstico de transtorno mais comum no homem
- Relação de sexo varia de acordo com a classe da substância
Quais os motivos para o primeiro uso?
Curiosidade
Alívio de tensão
psicológica
Tratamento de
problemas de saúde
Influência dos pares
e/ou familiares
Busca por prazer
USO DE DROGAS
Fatores individuais
• De proteção
- Habilidades sociais
- Cooperação
- Habilidades para resolver problemas
- Vínculos positivos com pessoas, instituições e valores
- Autonomia
- Autoestima desenvolvida
• De risco
- Insegurança
- Insatisfação com a vida
- Sintomas depressivos
- Curiosidade
- Busca de prazer
Tipos de uso
• Uso experimental
Os primeiros poucos episódios de uso de uma droga específica – algumas vezes incluindo tabaco ou álcool – extremamente infrequentes ou não persistentes
• Uso Recreativo
Uso de uma droga, em geral ilícita, em circunstâncias sociais ou relaxantes, sem implicações com dependência e outros problemas relacionados. Linhas discordantes com base nas implicações legais relacionadas.
• Uso Controlado
Refere-se à manutenção de um uso regular, não compulsivo e que não interfere com o funcionamento habitual do indivíduo.
• Uso Social
Pode ser entendido, de forma literal, como uso em companhia de outras pessoas e de maneira socialmente aceitável, mas também é usado de forma imprecisa querendo indicar os padrões acima definidos.
• Uso nocivo/abuso e Dependência
Uso frequente de uma ou mais substância, com prejuízos de sua saúde física e mental. Neste caso o consumo passa a assumir posição significativa e de destaque na vida do usuário.
Abuso/Uso nocivo de drogas
• Dependência química
1. Forte desejo ou compulsão
2. Dificuldade em controlar a ingestão de drogas (início, término, quantidade)
3. Abstinência e/ou uso de SPA para atenuar sintomas
4. Tolerância
5. Consumo constante e persistente
6. Abandono progressivo de outros prazeres e interesses pela droga
7. Persistência no uso de drogas, apesar de clara manifestações danosas
• Segundo a CID-11, os transtornos devido a substancia são ordenados em categoria única, para cada tipo de substância (álcool, cocaína, maconha, etc). Nessa categoria (ex. transtorno devido ao álcool), para cada tipo de problema deve-se acrescentar os especificadores ou subtipos: intoxicação, dependência, abstinência e quadros psicopatológicos induzidos
• Já o DSM-5, os transtornos relacionados a substancias são classificados em dois grandes grupos: 1. transtornos por uso de substancias e 2. transtornos induzidos por substancias
Transtornos por uso de substância (DSM-5)
• Uso contínuo e recorrente da SPA, mantido apesar de problemas significativos que dele decorrem
1. Dificuldade importante ou baixo controle
2. Prejuízos psicossociais e sociais evidentes
3. Riscos físicos e psicológicos
4. Tolerância e abstinência
“Transtorno por uso de substância” veio substituir a noção mais restrita de dependência química (fenômeno farmacológico, podendo ou não estar presente
nesses transtornos)
Baixo controle
• Elemento básico desses transtornos
• Fracasso em relação a tentativas de reduzir ou regular o consumo
• Fissura (forte desejo ou necessidade intensa de usar a droga)
Prejuízo psicossocial ou social
• Dificuldade em cumprir as obrigações (abandono de importantes atividades)
• Uso apesar dos problemas interpessoais e sociais
• Uso envolve riscos a integridade física e/ou psicológica
• Não consegue manter-se abstinente
Fenômenos farmacológicos
- Necessidade de doses acentualmente maiores para obter o
efeito desejado ou o efeito da substância nas mesmas doses é acentualmente reduzido com o
passar do tempo
- Álcool, opioides e bzd
- Concentração da substância diminui no organismo e o indivíduo passa a
apresentar sintomas (tremores, ansiedade, sudorese, insônia ou
sonolência)
- Álcool, opioides, cafeína, tabaco, estimulantes e sedativos
Transtornos induzidos por substâncias (DSM-5)
• Intoxicação, síndrome de abstinência da substância, quadros psicopatológicos (psicoses, mania, depressão), quadros ansiosos, delirium
• Ocorrem devido aos efeitos fisiológicos da substância no cérebro
• Há uma relação específica entre o uso e a síndrome induzida (quadros reversíveis –duram horas ou dias)
Episódios de consumo intenso, rápido e compulsivo (intoxicação)
Intoxicação: síndrome reversível específica, com alterações comportamentais ou mentais (prejuízo do nível de consciência – embriaguez, sedação, torpor, perturbação da percepção, da
atenção, do pensamento, do julgamento e do comportamento psicomotor, agressividade, beligerância ou humor instável
Quadros induzidos por substância X episódios independentes
• Sintomas regridem até 30 dias de cessação
• Quadro regride após alguns dias sem o consumo (ou passagem da abstinência)
• 1 ou 2 semanas todos os sintomas desaparecem
• Dependem diretamente da ação da SPA
• Mais frequentes quadros psicóticos: alucinógenos (LSD, cocaína, maconha, anfetaminas)
• Comum que o episódio já tenha surgido outra vez
• A duração é superior a 30 dias (surto de esquizofrenia ou episódio de mania)
• Alguns podem ser desencadeados pelo uso intenso da SPA ou piorados em sua intensidade
Álcool: transtornos por uso e transtornos induzidos (DSM-5 e CID-11)
• Dependência de álcool é a incapacidade de poder regular ou controlar o uso de bebidas alcoólicas que pode surgir a partir de uso repetido ou contínuo importante
• Forte necessidade ou compulsão de usar o álcool é o elemento central, associada à incapacidade de controlar o consumo, com aumento da prioridade em relação a outras atividades e persistência de tal prioridade apesar de suas consequências danosas
• Tolerância e abstinência
• Transtornos por uso revelem um estado psíquico e físico resultante da ingestão repetitiva de álcool durante um período de pelo menos 12 meses.
• Comportamento de beber logo pela manhã (alívio abstinência)
• Relevância da bebida cresce
• Comum negar ou minimizar que o álcool seja um problema
Síndromes associadas aos transtornos devidos ao álcool
• Delirium tremens
- forma grave de síndrome de abstinência de álcool
- Sintomas clássicos do delirium (rebaixamento do nível de consciência, alteração da atenção, confusão mental, desorientação temporoespacial, flutuação dos sintomas ao longo do dia)
- Intensas manifestações autonômicas (tremores, febre, sudorese profusa)
- ilusões e alucinações visuais e táteis marcantes (insetos – zoopsias)
Síndromes associadas aos transtornos devidos ao álcool
• Alucinose alcoólica
- Durante a síndrome de abstinência ou em períodos independentes
- Alucinações audioverbais de vozes
- Horas ou dias (persistir por meses; após ter parado de beber)
Síndromes associadas aos transtornos devidos ao álcool
• Delírio por ciúmes
- Passa a acreditar plenamente no fato de estar sendo traído
- Não é raro terminar em homicídio e/ou suicídio
Maconha: transtornos por uso e transtornos induzidos (DSM-5 e CID-11)• Droga ilícita mais utilizada no mundo
• Em geral é fumada e seu uso produz efeitos muito variáveis: relaxamento, sensação de prazer, risos espontâneos sem motivo e fome; pode haver distorções da percepção do tempo e espaço, dificuldade de atenção e concentração, sensação de sentidos mais aguçados, hiperemia da mucosa conjuntival e boca seca
• O transtorno por uso faz com que a pessoa use a substância o dia inteiro, ao longo de um período de meses ou anos, onde surgem problemas recorrentes
• Uso persistente pode causar tolerância farmacológica e comportamental
• Interrupção abrupta do uso diário resulta na síndrome de abstinência (ansiedade, inquietação, irritabilidade, raiva ou agressividade, humor deprimido, insônia, redução do apetite)
• A progressão do uso esporádico para o transtorno por uso é mais rápida em adolescentes
• Início precoce é forte preditor (situação familiar instável ou violenta, fracasso escolar, tabagismo e uso de maconha por familiares´próximos)
Cocaína/Crack: transtornos por uso e transtornos induzidos (DSM-5 e CID-11)• Inalada, injetada ou fumada• Cocaína-pó aspirada: 1 a 2 minutos para iniciar a ação (30 a 45 minutos)• Cocaína-crack fumada: ação após inalação da fumaça (10 minutos)• Fissura por voltar a usar o crack é muito intensa e a dependência é uma
das mais graves• Efeitos: sensação subjetiva de bem-estar ou euforia, de estar mais ativo,
mais alerta, autoconfiante ou forte, com mais energia e pensamento acelerado
• Taquicardia, aumento FR, sudorese, dilatação das pupilas, tremores leves de mãos e pés, tiques e contrações musculares de língua e mandíbula
• Cocaína pode produzir um transtorno psicótico induzido (surto esquizofrênico ou mania psicótica)
• Risco importante a saúde física (jovens)
• Risco aumentado de infarto do miocárdio, arritmias, dor torácica, acidentes vasculares cerebrais e morte súbita
• Pulmão de crack (insuficiência respiratória associada a opacidade pulmonar)
• Síndrome de abstinência da cocaína (apatia, tristeza e sonolência nos dias após a interrupção)
• Dependência de crack é das mais intensas
Tratamentos
• Psicoterapia
• Farmacoterapia
• Grupos
• Internação
https://vimeo.com/117835493
Tratamento
• Objetivos: redução de danos, abstinência, prevenção de recaídas e o retorno a funcionalidade prévia em todos os âmbitos – social, profissional e familiar
Não existe tratamento universal Longa duração – uma vez que se trata de uma doença crônica Deve ser voluntário Tratamentos compulsórios são exceção Envolvimento familiar Basicamente três fases: abstinência, tratamento das complicações e prevenção de
recaídas Equipe multidisciplinar, serviços especializados e suporte da rede de serviços de
saúde
Intervenções Gerais
• Início:
1. Avaliação para determinar dependência e características da droga em uso. Identificar estágios motivacionais para mudança.
2. Identificar a droga utilizada e dosagem
• Na fase aguda: na intoxicação e desintoxicação os cuidados enfocam a manutenção das funções vitais, garantir a segurança e aliviar o desconforto
• Na reabilitação: os cuidados ajudam o paciente a reconhecer os problemas causados pelo uso da droga e ajudar a pessoa a encontrar maneiras de lidar com o estresse e disparadores de recaída.
Episódio agudo - Intoxicação
• Monitorar SSVV e débito urinário continuamente
- Atentar para complicações por dose excessiva e sintomas da abstinência: parada cardiopulmonar, convulsões e aspiração
• Manter o ambiente tranquilo e seguro
- Remover objetos que possam causar danos, implementar medidas que impeçam tentativas de suicídio e agressões
- Recorrer à contenção química e física quando houver risco para auto e heteroagressão
• Abordar o paciente de maneira não-ameaçadora
• Instituir precauções quanto às convulsões
Abstinência - Hospitalização
• Administrar e monitorar medicações
• Reduzir/Orientar/Apoiar os sintomas da abstinência
• Manter ambiente tranquilo e seguro. Barulho excessivo pode agitar o paciente
• Monitorar e prover nutrição adequada
• Verificar se paciente realmente ingeriu a medicação
• Atentar pela interferência de visitantes
• Encaminhar para programas de reabilitação. Recursos disponíveis
• Envolver a família no tratamento
Na abstinência
• Desenvolva autoconsciência e uma atitude compreensiva e positiva em relação ao paciente
• O profissional deve controlar suas reações frente ao comportamento indesejável do paciente
- Dependência psicológica
- Manipulação
- Raiva
- Frustração
- Alienação
• Estabelecer limites para as manifestações desses comportamentos
Diagnósticos de enfermagem
Negação ineficaz
- Faz declarações de negação
- Demora a procurar assistência
- Não percebe os problemas relacionados com o uso
- Desvaloriza as consequências negativas
- Incapaz de admitir o impacto da doença sobre o padrão de vida
Enfrentamento Ineficaz
- Uso abusivo de SPA
- Comportamento destrutivo em relação aos outros e a si mesmo
- Incapacidade de satisfazer as necessidades básicas
- Incapacidade de atender às expectativas de papel
- Envolvimento com riscos
Nutrição alterada
Menos do que as necessidades corporais/déficit do volume líquido
- Perda de peso
- Conjuntiva e mucosas pálidas
- Diminuição do turgor da pele
- Desequilíbrio eletrolítico
- Anemia
- Bebe álcool em vez de alimentar-se
Risco de infecção
Fatores de risco
- Desnutrição
- Estado imunológico alterado
- Falha em evitar exposição a patógenos
Baixa autoestima crônica
- Criticismo em relação a si e aos outros
- Comportamento autodestrutivo
- Histórico familiar disfuncional
Déficit de conhecimento
- Não considera que a substância seja prejudicial
- Não relaciona o uso às consequências e prejuízos
Risco de lesão
Para o cliente que está em abstinência de depressores do SNC. Fatores de risco:
- Agitação SNC: tremores, convulsões, PA elevada e taquicardia, náuseas e vômitos, alucinações e ilusões, ansiedade
Risco de suicídioPara o cliente que está em abstinência de estimulantes do SNC
Fatores de risco- Sentimentos intensos de cansaço- Sintomas depressivos- Ideação suicida- Náuseas e vômitos- Alucinações e ilusões- Ansiedade
Papel do enfermeiro
• Reconhecer e compreender a problemática que envolve o transtorno por uso de substância
• Atuar ajudando os indivíduos com transtornos por uso de substâncias e suas famílias a superarem o problema e criarem novas possibilidades em suas vidas
• Superar preconceitos, ampliar o olhar, refletir, trabalhar contra todas as formas de exclusão, marginalização e estigmatização
Não julgar!
Sugestões de filmes
• Requiem para um sonho
• Bicho de 7 cabeças
Referências
• DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
• Organização Mundial de Saúde, Glossário de álcool e drogas / Tradução e notas: J. M. Bertolote. Brasília: Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, 2010.
• PRATTA, E. M. M.; SANTOS, M. A. Levantamento dos motivos e dos responsáveis pelo SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.), Ribeirão Preto , v. 2, n. 2, ago. 2006
• STEFANELLI, M. C.; FUKUDA, I. M. K.; ARANTES, E. C. Enfermagem Psiquiátrica em suas dimensões assistenciais. Barueri, SP: Manole, 2008.
• TOWSEND, M. C. Enfermagem psiquiátrica: conceitos de cuidados na prática baseada em evidencias. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.
• VASTERS, G. P., PILLON, S. C. O uso de drogas por adolescentes e suas percepções sobre Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 19, n. 2, mar. 2011