transtorno de conduta

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TRANSTORNO DE CONDUTA: CONTRIBUIÇÕES DA NEUROPSICOLOGIA PARA O DIAGNÓSTICO Paulla Fernandes Di Moura Pacheco Pontifícia Universidade Católica de Goiás [email protected] Glauce Karine Conti de Freitas, Es. 1. Introdução Ao longo do desenvolvimento normal da criança e do adolescente alguns comportamentos como agressividade, brigas com os irmãos, desobediência e vandalismo podem ser observados pelos pais e professores (KOCH; GROSS, 2005). Outras manifestações comportamentais frequentemente percebidas dizem respeito aos atos de mentir, roubar e matar aula (BORDIN; OFFORD, 2000). Tais condutas são fontes de intensa preocupação e, muitas vezes, sinônimos de patologia. Diante dos comportamentos mencionados, o patológico deve ser diferenciado da normalidade. Para tanto, é necessário verificar se os mesmos acontecem esporadicamente e isoladamente ou fazem parte de transtornos, onde ocorrem desvios das condutas esperadas para determinada faixa-etária, gênero e cultura (BORDIN; OFFORD, 2000). Comportamentos como os ressaltados são intitulados antissociais e definidos como a violação das regras sociais e dos direitos individuais básicos (EDDY, 2009). De acordo com Bordin e Offord (2000), os mesmos podem ser estudados mediante a criminologia e a psiquiatria. Segundo os aspectos legais ou criminológicos, o delinquente é aquele que não segue as regras e normas impostas pela sociedade e transgride as leis. No entanto, o termo delinquência fica restrito apenas aos menores infratores, já que nem todas as crianças e jovens antissociais transgridem (BORDIN; OFFORD, 2000). A psiquiatria, por sua vez, refere-se a tais condutas como comportamentos incoerentes aos esperados pela sociedade, podendo haver ou não transgressões às leis. Além disso, são enquadradas em transtornos psiquiátricos (BORDIN; OFFORD, 2000).

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Transtorno de Conduta

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Page 1: Transtorno de Conduta

TRANSTORNO DE CONDUTA: CONTRIBUIÇÕES DA NEUROPSICOLOGIA

PARA O DIAGNÓSTICO

Paulla Fernandes Di Moura Pacheco

Pontifícia Universidade Católica de Goiás

[email protected]

Glauce Karine Conti de Freitas, Es.

1. Introdução

Ao longo do desenvolvimento normal da criança e do adolescente alguns

comportamentos como agressividade, brigas com os irmãos, desobediência e vandalismo

podem ser observados pelos pais e professores (KOCH; GROSS, 2005). Outras

manifestações comportamentais frequentemente percebidas dizem respeito aos atos de

mentir, roubar e matar aula (BORDIN; OFFORD, 2000). Tais condutas são fontes de

intensa preocupação e, muitas vezes, sinônimos de patologia.

Diante dos comportamentos mencionados, o patológico deve ser diferenciado da

normalidade. Para tanto, é necessário verificar se os mesmos acontecem esporadicamente e

isoladamente ou fazem parte de transtornos, onde ocorrem desvios das condutas esperadas

para determinada faixa-etária, gênero e cultura (BORDIN; OFFORD, 2000).

Comportamentos como os ressaltados são intitulados antissociais e definidos como

a violação das regras sociais e dos direitos individuais básicos (EDDY, 2009). De acordo

com Bordin e Offord (2000), os mesmos podem ser estudados mediante a criminologia e a

psiquiatria.

Segundo os aspectos legais ou criminológicos, o delinquente é aquele que não

segue as regras e normas impostas pela sociedade e transgride as leis. No entanto, o termo

delinquência fica restrito apenas aos menores infratores, já que nem todas as crianças e

jovens antissociais transgridem (BORDIN; OFFORD, 2000).

A psiquiatria, por sua vez, refere-se a tais condutas como comportamentos

incoerentes aos esperados pela sociedade, podendo haver ou não transgressões às leis.

Além disso, são enquadradas em transtornos psiquiátricos (BORDIN; OFFORD, 2000).

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Partindo de uma perspectiva psiquiátrica, segundo o Manual Diagnóstico e

Estatístico dos Transtornos Mentais IV TR – DSM-IV-TR (APA, 2003), o conjunto de

comportamentos antissociais, que tende a ocorrer repetidamente e persistentemente é

diagnosticado como Transtorno de Conduta – TC.

Para Teixeira (2009), a referida patologia pode ser considerada como um quadro

evolutivo do transtorno desafiador opositivo, geralmente observado em crianças pré-

escolares. O mesmo pode ser compreendido como os comportamentos manifestados

constantemente nas interações sociais com figuras de autoridade e que possuem caráter

negativista, hostil, desafiador e desobediente.

O diagnóstico de TC é traçado ainda na infância e adolescência (SFFOGIA;

FURTADO, 2009), sendo que pessoas com idade superior a 18 anos, somente são

diagnosticadas, quando os critérios diagnósticos para Transtorno de Personalidade

Antissocial não são atendidos (APA, 2003).

O TC possui dois subtipos, com base na idade de início dos sintomas: (a) com

início na infância, quando pelo menos um critério diagnóstico é satisfeito antes dos 10

anos e (b) com início na adolescência, quando não ocorrem manifestações

comportamentais indicativas de um transtorno associado à conduta antes dos 10 anos

(APA, 2003, citado por KOCK; GROSS, 2005).

Em relação à sintomatologia, frequentemente as crianças e os adolescentes

expressam a princípio, comportamentos agressivos. Reagem agressivamente às pessoas

que estão próximas, provocando, ameaçando, intimidando e, em alguns momentos,

chegando a lutas corporais, com ou sem a utilização de instrumentos que possam causar

danos físicos (APA, 2003).

Outras características, não menos importantes que as anteriores devem também ser

consideradas, entre as quais é possível mencionar: crueldade física com pessoas ou

animais; mentiras ou rompimento de promessas, com objetivo de obter vantagens; roubos

em confronto com a vítima; furtos; fraude; estupro e, em casos menos comuns, homicídio

(APA, 2003).

Jovens diagnosticados podem demonstrar ainda, um padrão comportamental

iniciado antes dos 13 anos, de permanência fora de casa até altas horas da noite, mesmo

com as restrições dos pais. Escapadas noturnas às escondidas, também ocorrem com certa

constância, entretanto, para que as mesmas sejam consideradas sintoma é necessário que

tenham ocorrido no mínimo duas vezes, ou somente uma vez, contudo, sem o retorno da

pessoa por um tempo suficientemente longo (APA, 2003).

Page 3: Transtorno de Conduta

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Além dos aspectos citados, outro fundamental e bastante característico do

transtorno aqui em questão diz respeito à prática de destruir intencionalmente propriedade

alheia. Tal prática pode ser vista através de incêndios, ocasionados com a finalidade de

gerar sérios prejuízos, tanto quanto, mediante atos de vandalismo na escola e na

comunidade (APA, 2003).

Na escola, o rendimento, na maioria das vezes, está comprometido, o que pode ser

justificado pelas ausências constantes à aula, bem como, à falta de participação e empenho

com os compromissos escolares. Em relação às condutas percebidas neste ambiente, pode-

se enfatizar: agressividade com os colegas, professores e demais funcionários, bullying,

mentiras, destruição de carteiras, roubos e furtos de objetos pessoais de colegas da sala de

aula, uso de álcool e drogas e formação de gangues (TEIXEIRA, 2009).

Com frequência, apresentam limitações nas interações interpessoais, sendo de

poucos amigos. Sintomas como, baixa estima, intolerância, irritabilidade e explosões de

raiva comumente encontram-se presentes. Além disso, não demonstram sentimento de

culpa, arrependimento e remorso perante as atitudes praticadas, manifestando, muitas

vezes, hostilidade, negativismo e oposição. Todos esses fatores acabam contribuindo para

a ocorrência de comportamentos deliquênciais (TEIXEIRA, 2009).

Apesar dos vários sintomas apresentados, não é necessário, para a elaboração do

diagnóstico, que o indivíduo possua todos eles. O DSM-IV-TR (APA, 2003), todavia,

salienta que é preciso que tenham sido manifestados pelo menos três, nos últimos 12

meses, com pelo menos um, presente nos últimos seis meses.

Ainda de acordo com o DSM-IV (1995, citado por SUKIENNIK, 1996), as

alterações comportamentais manifestadas ocasionam déficits clinicamente significativos

no funcionamento global do indivíduo, acarretando prejuízos sociais, acadêmicos e

ocupacionais.

Habitualmente, o modelo comportamental demonstrado encontra-se presente em

mais de um contexto, podendo se apresentar em casa, na escola e na comunidade. Vale

considerar que, indivíduos com o referido transtorno possuem a tendência a minimizar a

problemática vivenciada, ocultando, muitas vezes, os atos praticados (DSM-IV, 1995,

citado por SUKIENNIK, 1996).

Estatisticamente, o TC consiste em uma problemática cuja maior prevalência é no

sexo masculino. Acredita-se, em termos de porcentagem, que 9% dos meninos e 4% das

meninas possuem o referido diagnóstico. Os garotos tendem a manifestar os sintomas mais

Page 4: Transtorno de Conduta

precocemente, entre os 10 e 12 anos, enquanto as garotas tendem a apresentá-los entre os

12 e 16 anos (TEIXEIRA, 2009).

O curso deste transtorno, como na maioria das patologias psiquiátricas, é variável,

podendo regredir ou evoluir para algo mais sério na idade adulta. Quando os sintomas

tendem a persistir, torna-se comum o envolvimento com álcool e drogas, assim como, o

diagnóstico do transtorno de personalidade antissocial. Além disso, aumentam os riscos de

criminalidade, despreparo ocupacional, emprego mal remunerado ou desemprego, nível

rebaixado de escolaridade e prejuízos nos relacionamentos sociais (TEIXEIRA, 2009).

Alguns fatores contribuem para um prognóstico desfavorável, entre os quais é

importante considerar a precocidade dos sintomas, o rebaixamento intelectual e

econômico, a ausência de apoio familiar, condutas delituosas, envolvimento prematuro

com o judiciário, bebidas alcoólicas e uso de entorpecentes e comorbidade com outros

transtornos (TEIXEIRA, 2009).

Em relação às comorbidades, Eddy (2009) sugere a ocorrência de alguns

transtornos associados ao TC. Com base em suas pesquisas, as patologias comórbidas mais

frequentes são: transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), transtornos de

ansiedade, transtorno depressivo maior e abuso/dependência de substâncias.

Bordin e Offord (2000) encontraram dados que indicam que, dentre os transtornos

comórbidos mais comuns, 43% dos casos estão associados ao TDAH, enquanto 33%

ocorrem simultaneamente com transtornos que envolvem as emoções (ansiedade,

depressão, obsessão-compulsão).

Ainda de acordo com os mesmos, a comorbidade com o TDAH é mais encontrada

ao longo da infância, tendo prevalência no sexo masculino. Já as comorbidades com

ansiedade e depressão acontecem principalmente na adolescência, englobando, após a

puberdade, em sua grande maioria, o sexo feminino.

Considerando a estatística mencionada, cabe focar a atenção, sobretudo, no TDAH.

Sffogia e Furtado (2009) conceituam o mesmo como um quadro comportamental

caracterizado basicamente por desatenção, hiperatividade e impulsividade que ocorre com

maior severidade do que aquele observado ao longo do desenvolvimento natural do

indivíduo.

Holmes (1997) afirma que o sintoma de maior relevância é a incapacidade em

manter a atenção concentrada, o que acaba gerando comportamentos disruptivos e

impulsivos. Segundo ele, as crianças diagnosticadas apresentam dificuldade em ouvir

instruções e concluir tarefas, como também, alto grau de distraibilidade.

Page 5: Transtorno de Conduta

6

Outros sintomas, de acordo com o DSM-IV-TR (2000, citado por BARLOW;

DURAND, 2008), bastante percebidos são: hiperatividade, caracterizada por inquietação,

dificuldade em permanecer sentado e tendência a estar sempre em movimento e

impulsividade que envolve dar respostas abruptas sem esperar a pergunta ser concluída e

dificuldade em aguardar sua vez.

Segundo Eddy (2009), a ocorrência conjunta entre o TC e o TDAH é elevada o

suficiente para ser fonte de discussão. Ressalta-se que a ocorrência dos dois transtornos ao

mesmo tempo possui implicações futuras relevantes, visto que, meninos diagnosticados

com ambos os transtornos apresentam maior probabilidade de necessitar de atendimento

especializado a longo prazo.

Considerando o tema central deste trabalho, sintetizado no título, é fundamental

salientar a importância da neuropsicologia, mais especificamente, da avaliação

neuropsicológica para o diagnóstico do TC. Contudo, primeiramente, é importante

conceituar e compreender a ciência em questão.

A neuropsicologia, segundo Joaquim (2010), tem por finalidade estudar as relações

entre a organização cerebral em sua complexidade, com os comportamentos e as

cognições, tanto em aspectos que envolvem a doença como o desenvolvimento normal.

Com base na definição anterior, a avaliação neuropsicológica pode ser descrita

como o processo investigativo das funções cognitivas e do comportamento. Enfatiza-se

que para tanto é necessário a utilização de métodos de entrevistas e exames quantitativos e

qualitativos das funções que envolvem a cognição humana (JOAQUIM, 2010).

Esse tipo de avaliação possui como meta a análise funcional dos processos

cognitivos como linguagem, memória, percepção, visoconstrução e funções executivas, da

mesma forma que o entendimento global e multidimensional dos déficits cognitivos

(LEZAK; HOWIESON; LORING, 2004, citados por BORGES et al., 2008).

A avaliação infantil, assim como a do adulto, é um processo e, portanto, exige o

seguimento de alguns passos primordiais, a fim de auxiliar a compreensão do paciente

como um todo. As etapas da mesma podem ser especificadas da seguinte forma: entrevista

inicial com os pais ou responsáveis, observações lúdicas, planejamento da avaliação,

seleção de instrumentos, análise e integração dos dados (COSTA et al., 2004; GILMOR,

2005; MIRANDA, 2006, citados por MIRANDA, BORGES; ROCCA, 2010).

Kapeczinski, Peuker e Narvaez (2010) afirmam que a neuropsicologia possui

grande relevância para as avaliações psiquiátricas. A ciência em questão pode favorecer a

identificação de lesões cerebrais e também auxiliar na avaliação dos possíveis déficits

Page 6: Transtorno de Conduta

cognitivos. Além disso, possibilita uma percepção mais acurada dos aspectos

comportamentais do indivíduo, percebidos através das habilidades em desempenhar as

tarefas solicitadas.

A utilização de tal método avaliativo tem sido pouco descrito em quadros

psiquiátricos iniciados ao longo da infância e adolescência. Entretanto, estudos

desenvolvidos, apesar de escassos, apontam as suas contribuições para o diagnóstico de

TC (BORGES et al., 2008).

Em pesquisas realizadas, foram encontrados elementos que sugerem prejuízos na

função executiva de indivíduos que demonstram condutas desviantes ao longo da infância,

associadas ao TC e a delinquência juvenil (KELLY et al., 2002; VENEZIANO et al., 2004,

citados por BORGES et al., 2008). Tais achados descrevem ainda, as dificuldades

neuropsicológicas relacionadas à referida função. De acordo com os mesmos, ocorrem

falhas no processo inibitório do controle de impulso, na percepção das consequências

implicadas nas ações e na regulação do afeto (BORGES et al., 2008).

As habilidades sociais também devem ser ressaltadas, uma vez que, prejuízos no

desenvolvimento das mesmas possuem a tendência a ocasionar problemas

comportamentais característicos do TC e comuns a outros diagnósticos psiquiátricos. Os

mesmos podem ser observados através de condutas que incluem: agressividade física e/ou

verbal, impulsividade, agitação psicomotora, explosividade e comportamentos opositores,

desafiantes e antissociais (ACHENBACH; EDELBROCK, 1983, 1984; DEL PRETTE;

DEL PRETTE, 2005, citados por ROCCA et al., 2010).

Os déficits interpessoais gerados por estes problemas estão diretamente

relacionados a um repertório pobre de habilidades sociais no que diz respeito à capacidade

de sentir empatia e expressar sentimentos e crenças (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2005,

citados por ROCCA et al., 2010).

Estudos apontaram também, numa tentativa de favorecer um melhor entendimento

dos aspectos etiológicos do TC, a presença de fatores genéticos, ambientais e de

temperamento (BORGES et al., 2008).

Com o propósito de ampliar a quantidade de estudos, até então limitados, acerca da

temática aqui abordada e partindo do levantamento bibliográfico exposto, o presente artigo

tem por objetivo discutir as contribuições da neuropsicologia para o diagnóstico de TC,

através do estudo de caso de um adolescente encaminhado para avaliação

neuropsicológica, em decorrência de comportamentos antissociais, desatenção e

hiperatividade.

Page 7: Transtorno de Conduta

8

2. Desenvolvimento

2.1. Método

2.1.1. Participante

Participou do estudo o paciente Rafael1, nascido em 09/09/1997. Durante o período

avaliativo tinha 12 anos recém completados e cursava o 6º ano do Ensino Fundamental.

Foi encaminhado para avaliação neuropsicológica por um neurologista, após ato de

vandalismo na escola.

A finalidade da avaliação foi verificar os aspectos neuropsicológicos do

adolescente, uma vez que o mesmo apresentava comportamentos antissociais, assim como,

desatenção e hiperatividade.

2.1.2. Instrumentos

Na avaliação, foram utilizados roteiro de entrevista (semi-estruturado), jogos de

tabuleiro e a aplicação dos seguintes testes psicológicos padronizados: Escala de

Inteligência Wechsler para Crianças 3ª. Edição – WISC III (WECHSLER, 2002), Técnica

Projetiva do Desenho - HTP (BUCK, 2003), Teste de Desempenho Escolar – TDE

(STEIN, 1994), Teste D2 – Atenção Concentrada (BRICKENKAMP, 2000), Escala de

Stress Infantil – ESI (LIPP; LUCARELLI, 2005), Escala de Transtorno de Déficit de

Atenção / Hiperatividade – versão para professores (BENCKZIK, 2000), Matrizes

Progressivas – Escala Geral – Séries A, B, C, D e E (RAVEN, 2008) e Figura Complexa

de Rey (REY, 1998/1999).

Fizeram ainda parte da testagem alguns instrumentos não padronizados, porém, de

grande relevância para melhor percepção das funções neuropsicológicas do paciente, tais

como: Rey Auditory Verbal Learning Test – RAVLT (MALLOY – DINIZ et al., 2010),

Questionário para hiperatividade para pais Conners (GOYETTE; CONNERS; ULRICH,

1977), The Hooper Visual Organization Test (HOOPER, 1958/1983), Controlled Oral

Word Association – F.A.S. (SPREEN; STRAUSS, 1998), Fluência semântica por

categoria – Animais, Trail Making – Formas A e B (REITAN, 1958) e Boston Naming

(KAPLAN; GOODGLASS; WEINTRAUB, 1983).

1 O nome utilizado é fictício de forma a preservar a identidade do adolescente atendido, assim como, a de

seus familiares.

Page 8: Transtorno de Conduta

Os registros das respostas emitidas ao longo das aplicações dos testes, entrevistas e

observações, assim como as atividades de desenho foram realizadas com o auxílio de

folhas de papel A4, caneta, lápis de escrever, borracha e lápis de cor. Para o controle do

tempo, utilizou-se o cronômetro.

Os atendimentos ocorreram no Centro de Estudos, Pesquisa e Prática Psicológica –

CEPSI, da Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC – Goiás. A sala contava com

ventilação e iluminação natural e artificial, mesa com duas cadeiras, mesa infantil com três

cadeiras, tapete com almofadas e armário com brinquedos e jogos.

2.1.3. Procedimento

Inicialmente, foi realizada a entrevista com a mãe com a finalidade de identificar a

queixa principal e levantar dados relativos à história familiar, bem como, o

desenvolvimento e os comportamentos manifestados pelo filho. Na ocasião, a mesma foi

solicitada a encaminhar à escola, a Escala de Transtorno de Déficit de

Atenção/Hiperatividade versão professores.

Os atendimentos ocorreram entre os meses de setembro e novembro de 2009.

Foram realizadas, com o adolescente, 12 sessões, com aproximadamente 50 minutos de

duração. Na 1ª sessão, realizou-se rapport e a hora de jogo. Nas sessões seguintes, foi

realizada a coleta de dados, através da aplicação dos instrumentos.

A ordem de aplicação dos testes foi: HTP, Wisc III, ESI, TDE, D2, Hooper, Trail

Making, F.A.S. Animais, Boston Naming, Raven, Figura Complexa de Rey, RAVLT e

questionário para hiperatividade para pais Conners.

Foi realizada também entrevista com o pai para levantamento de informações

complementares. A última sessão foi feita com os pais para a entrega e a explicação dos

resultados.

2.2. Resultados

Os dados coletados a partir dos relatos dos pais, dos desempenhos nos diferentes

testes e escalas de estresse infantil, déficit de atenção/hiperatividade e hiperatividade para

pais Conners foram analisados individualmente, de acordo com as normas de correção de

cada instrumento. Posteriormente, os mesmos foram avaliados de forma integrada,

favorecendo a análise das funções neuropsicológicas do paciente.

2.2.1. Dados da anamnese

A concepção do paciente ocorreu após breve envolvimento, não tendo sido

planejada pelos pais. Segundo o genitor, a gravidez veio ao seu conhecimento quando

estava morando em Uberlândia, no entanto, conheceu o adolescente somente com quatro

Page 9: Transtorno de Conduta

anos de idade. Vale considerar, que foi o primeiro filho de ambos, de forma que apenas

posteriormente teve um irmão por parte de mãe e uma irmã por parte de pai.

A genitora enfatizou que ao longo de sua gestação enfrentou: tensão, depressão e

não aceitação. Afirmou ter tentado provocar aborto até os três meses, ingerindo algumas

substâncias que lhe provocavam vômitos. Entretanto, após este período a gestação

transcorreu sem nenhuma intervenção, porém, veio a aceitar o filho somente após o seu

nascimento, quando o viu pela 1ª vez.

O trabalho de parto durou mais de 24 horas, sendo que o médico teve que romper a

bolsa, pois, não havia dilatação suficiente. A criança, por sua vez, nasceu saudável, não

necessitando de atenção especializada.

O desenvolvimento, de acordo com os pais, ocorreu normalmente. Enfatiza-se que

o mesmo morou com a mãe até aproximadamente os cinco anos, quando demonstrou o

desejo de ir morar com o genitor, que havia conhecido há pouco tempo. No entanto, aos 11

anos retornou para a casa materna, mas, continuou mantendo contatos frequentes com o

pai.

No que diz respeito a problemas de saúde e hospitalizações, a genitora mencionou

que em determinada ocasião, aos 11 anos, Rafael ingeriu uma cartela de Bromazepã2” e

após perceber que mesmo estava com as pupilas dilatadas, levou-o ao médico. Quando

indagado sobre tal atitude o mesmo justificou tal episódio como uma tentativa de conciliar

o sono, após de ter sido colocado de castigo.

Em relação aos aspectos comportamentais, os pais relataram que o filho demonstra

inquietude desde bebê. Ressaltaram ainda que apresenta desatenção; destrutibilidade (da

casa), uma vez que não deixa nada arrumado e destrói os próprios brinquedos; auto –

destrutibilidade já que possui o hábito de se “pinicar” e de ser descuidado consigo mesmo,

oposição e rebeldia. Além disso, mencionaram a presença de comportamentos antissociais,

tais como: furtos e mentiras, desde pequeno, e vandalismo na escola. Aos 11 anos,

juntamente com um colega de oito anos, tirou todos os objetos do armário, pintou o quadro

negro com tinta guache e derrubou as carteiras. Tal acontecimento não ocorreu no colégio

onde estudava, mas, sim no local de trabalho da avó materna.

2 Medicamento utilizado pela mãe.

Page 10: Transtorno de Conduta

2.2.2. Análise dos testes

2.2.2.1. WISC III

A Escala de Inteligência Weschsler para Crianças – 3ª. Edição tem por objetivo

avaliar a capacidade cognitiva de crianças entre 06 a 16 anos e 11 meses. Trata-se de 13

subtestes, divididos em dois grupos, seis fazem parte da escala verbal e sete da escala de

execução (WECHSLER, 2002).

O gráfico de barras abaixo apresenta os percentis obtidos nas escalas: verbal, de

execução e total; os índices fatoriais referentes à compreensão verbal, organização

perceptual, resistência à distração e velocidade de processamento. Os percentis de ambas

as escalas, bem como, os índices fatoriais, organização perceptual e velocidade de

processamento, apontam para valores entre 81 e 87, indicando que o paciente obteve

desempenho médio inferior. No que diz respeito à Compreensão Verbal e a Resistência à

Distração, nota-se escores dentro da média esperada para a idade.

FIGURA 1 – Gráfico de barras.

Gráfico de barras representa os percentis dos pontos ponderados das escalas verbal,

execução, total e dos índices fatoriais obtidos no WISC III.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Verbal

Execução

Total

Compreensão Verbal

Organização Perceptual

Resistência à Distração

Velocidade de Processamento

2.2.2.2. Escala de TDAH

Este instrumento visa avaliar no contexto escolar, os sintomas comportamentais

característicos do TDAH. São quatro as áreas que devem ser analisadas: (a) Déficit de

Atenção; (b) Hiperatividade / Impulsividade; (c) Problemas de Aprendizagem e (d)

Comportamento Antissocial (BENCZIK, 2000).

O paciente apresenta percentis acima da expectativa em Déficit de Atenção,

Hiperatividade/Impulsividade e Comportamento Antissocial. Em contrapartida, no que se

Page 11: Transtorno de Conduta

refere a Problemas de Aprendizagem demonstra um percentil dentro da expectativa, ou

seja, dentro da média para sua faixa etária.

2.2.2.3. TDE

O Teste de Desempenho Escolar busca avaliar de forma objetiva as capacidades

acadêmicas de crianças e adolescentes, que estejam cursando do 1º ao 6º ano do Ensino

Fundamental. Tal instrumento possui três subtestes: (a) escrita; (b) aritmética e (c) leitura

(STEIN, 1994).

O paciente atingiu, na parte escrita, um escore 25, o que sugere dificuldade

moderada nesta categoria. Na leitura, a pontuação atingida foi 61, o que aponta também

para uma dificuldade moderada. Em aritmética, por sua vez, seu escore foi 26, o que indica

uma capacidade dentro da média para sua idade e série. Somando-se os três valores, o total

encontrado foi 112, de acordo com os dados tabulados referentes ao 6º ano representa

desempenho inferior a média.

2.2.2.4. RAVLT

O Teste de Aprendizagem Auditivo de Rey possui como finalidade medir a

capacidade mnemônica, avaliando separadamente, a memória recente, a aprendizagem, a

suscetibilidade a interferência, a retenção após outras atividades e a memória de

reconhecimento (MALLOY – DINIZ et al., 2010).

O gráfico linear abaixo mostra o número de palavras que o paciente evocou durante

a fase de evocação imediata (A1-A5); após a leitura da lista distratora (B1); na recordação

da lista A, sem que ela seja reapresentada (A6); na recordação, novamente, da lista A,

contudo, depois de um intervalo de 20 a 30 minutos e na lista de reconhecimento. Além

disso, demonstra a quantidade mediana de todas as etapas do teste e o mínimo, isto é, o

ponto de corte para um desempenho adequado.

A linha alaranjada mostra os escores obtidos pelo paciente ao longo da aplicação, a

azul indica a média e a vermelha o mínimo. Nota-se um escore acima da média para as

palavras recordadas após a introdução de um agente distrator. Na evocação tardia, que

ocorreu após 30 minutos, percebe-se também um desempenho superior a média. Em

contrapartida, observa-se que o total de palavras recordadas após a leitura das mesmas e

durante a fase de reconhecimento está abaixo da média.

Page 12: Transtorno de Conduta

15

FIGURA 2 - Gráfico linear

Gráfico linear representa o desempenho no teste de Aprendizagem Auditivo – Verbal

(RAVLT).

RAVLT

0

3

6

9

12

15

A1

A2

A3

A4

A5

B1

A6

A7

Rec

onhec

imen

to

Ace

rto

sMédia

Paciente

Mínimo

2.2.2.4. Demais testes aplicados

Na Tabela 1, são apresentados os resultados quantitativos obtidos nos demais testes

psicométricos utilizados ao longo da avaliação. O paciente demonstra desempenho de

médio a superior nos instrumentos que avaliam a capacidade atencional (D2 e Trail

Making). Por outro lado, naqueles que medem a viso-construção (Figura Complexa de Rey

– cópia e Hooper), memória (Figura Complexa de Rey – memória) e a inteligência

(RAVEN) os escores obtidos foram inferiores a média esperada para sua faixa etária. Nos

testes que verificam a produção da linguagem, a nomeação e a fluência verbal, o escore

também foi inferior, entretanto, naquele que analisa a fluência semântica por categoria –

animais, o desempenho foi mediano.

Escores obtidos e classificações qualitativas nos testes d2, Raven, Figura Complexa de

Rey, F.A.S., Animais, Hooper, Boston Naming e Trail Making.

Teste Escore Avaliação

Qualitativa

d2 40 Média

Raven 05/IV- Inferior

Figura de Rey - Cópia < 25 Inferior

Figura de Rey – Memória < 25 Inferior

F. A. S. 18 Inferior

Animais 15 Média

Hooper 21,5 Inferior

Boston Naming 32 Inferior

Trail Making (Parte A) 19 Média

Trail Making (Parte B) 35 Superior

Page 13: Transtorno de Conduta

2.2.2.4.1. Questionário de hiperatividade para pais Conners

No Questionário de Hiperatividade para pais Conners, entregue para os pais

responderem, o valor requerido para o TDAH é igual ou superior a 1,5. Entretanto, após

correção e análise chegou-se a um índice que foi obtido através dos resultados dos dois

questionários respondidos de 1,3.

2.2.2.4.2. Escala de Estresse Infantil (ESI)

A Escala de Stress Infantil (ESI) mostra que o paciente possui sintomatologia

indicativa de um quadro de stress, podendo ser classificado como fase de alerta. Ressalta-

se que esta fase envolve stress emocional permanente ou grave, no entanto, representa uma

reação do organismo a algo presente no momento e que é visto como um desafio (LIPP;

LUCARELLI, 2005).

2.2.2.4.3. Técnica Projetiva do Desenho – HTP

O adolescente apresenta características indicativas de conflitos emocionais e

comportamentos que sugerem tendência a ser opositor, bem como, a manifestar

impulsividade, agressividade e hostilidade. Demonstra ainda, ansiedade, depressão e

sentimento de inferioridade. Além disso, mostra fragilidade interna, fixação no passado e

necessidade de gratificação imediata, o que aponta para uma baixa tolerância à frustração.

2.2.3. Funções Avaliadas

Após a análise criteriosa dos dados quantitativos obtidos durante a aplicação dos

testes, realizou-se um estudo das funções avaliadas através da integração com os resultados

de cada instrumento e com as observações dos comportamentos do adolescente.

- Eficiência Cognitiva – O teste Raven aponta para inteligência abaixo da média e o Wisc

III indica Quociente Intelectual (QI) médio inferior. Mediante tais resultados, percebe-se

capacidade cognitiva abaixo da média esperada para a idade, o que sugere dificuldade leve

na mesma.

- Atenção – De acordo com os desempenhos nos testes D2 e Trail Making, assim como,

nos subtestes Dígitos e Procurar Símbolos, a habilidade em manter a atenção concentrada

encontra-se preservada. Além disso, o índice de resistência à distração avaliado ao longo

da aplicação do Wisc III está dentro da média esperada.

- Memória e Aprendizagem – O subteste Informação e a Figura Complexa de Rey

(memória) sugerem capacidades inferiores de memorização retrógrada, semântica e visual.

O subteste dígitos, demonstra uma habilidade média superior na utilização da memória

operacional e de curto prazo. O RAVLT, por sua vez, aponta para dificuldade leve na

Page 14: Transtorno de Conduta

aprendizagem, porém, o percentil obtido no que remete à memorização a longo prazo e a

retenção após a realização de outras atividades foi superior a média esperada.

- Raciocínio e Desempenho Escolar – A habilidade acadêmica, segundo o TDE, está muito

abaixo do esperado para a idade e série do paciente. Além disso, conforme, resultados dos

subtestes, Aritmética e Cubos, o mesmo possui capacidade inferior em estabelecer relações

lógicas, raciocinar matematicamente e solucionar problemas complexos. No entanto,

apresenta escores dentro da média nos subtestes Arranjo de Figuras, Compreensão,

Semelhanças e Vocabulário, o que indica aptidão mediana em formar opiniões, estabelecer

categorias e abstrair, de um conceito ou fenômeno observável, a informação relevante para

um propósito particular.

- Funções Executivas – Apresenta boa capacidade de utilização dos processos cognitivos

que são usados para direcionar comportamentos, avaliar eficiência e abandonar estratégias

ineficazes em detrimento de outras. Ressalta-se que as pontuações dos subtestes, Dígitos,

Procurar Símbolos e Arranjo de Figuras, que avaliam tal função, foram dentro da média

esperada.

- Viso – Construção e Organização Viso – Espacial - Os subtestes Completar Figuras e

Cubos, como também, o teste Hooper, demonstram dificuldade leve nos seguintes

aspectos: acuidade visual, habilidade construtiva, organização perceptual e capacidade de

analisar e sintetizar figuras simples. A Figura Complexa de Rey (cópia), porém, aponta

para dificuldade grave na capacidade de copiar figuras geométricas complexas.

- Linguagem – Demonstra compreensão dentro da média esperada, como mostram os

subtestes Compreensão, Informação, Semelhanças e o índice fatorial Compreensão Verbal

do Wisc III. Contudo, de acordo com, o F.A.S e o Boston Naming possui dificuldades na

fluência verbal e fonêmica, como também, na produção da linguagem e nomeação.

- Aspectos Emocionais/Afeto – As observações realizadas ao longo da avaliação e a

aplicação do teste projetivo e das escalas de estresse infantil, TDAH e hiperatividade para

pais Conners permitem perceber a influência do contexto familiar nos comportamentos

relatados pelos pais e na fragilidade emocional notada, como também, no desempenho

escolar e social. O adolescente demonstra baixa estima, inquietude, ansiedade,

descontentamento, agressividade, hostilidade, oposição, intolerância e tentativa de dominar

o ambiente social como forma de compensar algo que não vai bem interiormente.

Page 15: Transtorno de Conduta

2.3. Conclusão

Com base nas queixas apresentadas pela família, nota-se a presença de algumas

manifestações comportamentais que podem estar associadas a um quadro patológico

relacionado a desvios de conduta, mais especificamente, ao TC. Durante a anamnese, os

pais mencionaram a presença de alguns comportamentos antissociais como furtos e

mentiras, desde pequeno, e vandalismo na escola, praticado pouco antes de completar 12

anos.

O DSM-IV-TR (APA, 2003) descreve uma extensa sintomatologia relacionada ao

transtorno em questão, contudo, para a elaboração do diagnóstico é suficiente que o

indivíduo tenha manifestado apenas três sintomas, nos últimos 12 meses, com pelo menos

um presente nos últimos 6 meses.

Dentre os comportamentos citados pelo DSM-IV-TR (APA, 2003) e que são

semelhantes aos apresentados ao longo da entrevista inicial, pode-se fazer referência à

prática de destruir intencionalmente propriedade alheia, através de vandalismo na escola,

furtos e mentiras, totalizando três critérios diagnósticos.

Os pais enfatizaram também que o filho possui tendência a ser opositivo e rebelde.

Cabe salientar que foi relatada uma situação, na qual o adolescente tomou medicação

controlada, ao ser colocado de castigo pela mãe. Tal atitude pode ser interpretada como

uma maneira de punir a referida senhora pela autoridade que esta lhe impôs.

Teixeira (2009) ressalta que sintomas como baixa estima, intolerância,

irritabilidade e explosões de raiva comumente encontram-se presentes. A partir da análise

do teste projetivo, como também, da escala de stress infantil e das observações realizadas

em ambiente clínico, percebe-se a presença da sintomatologia mencionada.

Mediante as observações realizadas e os desempenhos nos testes, observa-se alto

grau de impulsividade. Apesar de ter apresentado muitas respostas que sugerem

dificuldade em manter o controle dos impulsos, o mesmo demonstrou escores dentro da

média esperada nos testes que avaliam a função executiva.

Em contrapartida, pesquisas realizadas sugerem prejuízos na função executiva de

indivíduos que demonstram condutas desviantes ao longo da infância, associadas ao TC e

a delinquência juvenil. De acordo com a pesquisa, o processo inibitório do controle de

impulso, a percepção das consequências implicadas nas ações e a regulação do afeto

encontram-se falhos.

Page 16: Transtorno de Conduta

As habilidades sociais também devem ser ressaltadas, uma vez que, prejuízos no

desenvolvimento das mesmas possuem a tendência a ocasionar problemas

comportamentais característicos do TC. No estudo de caso em questão, o paciente atingiu

escore superior no teste que avalia a capacidade de se adequar positivamente ao ambiente

social, no entanto, mostrou sinais de dissimulação acerca das questões que lhe eram

perguntadas.

Outro aspecto relevante a ser considerado diz respeito ao rendimento escolar, que

na maioria das vezes, encontra-se prejudicado em pessoas diagnosticadas com TC. No

estudo de caso apresentado neste artigo, o paciente, de acordo com o TDE, possui um

desempenho escolar inferior a sua faixa-etária e série. Segundo Teixeira (2009), tal

comprometimento pode ser em decorrência das ausências constantes à aula, tanto quanto,

da falta de participação e empenho com os compromissos escolares.

Além dos instrumentos utilizados e enfatizados anteriormente, outro que favoreceu

uma compreensão mais ampla dos comportamentos apresentados, foi a Escala de

Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade que aponta para um escore acima da

expectativa na área que aborda os comportamentos antissociais, o que sugere que neste

aspecto o paciente possui uma probabilidade elevada em apresentar problemas.

Ainda segundo a escala em questão, em Déficit de Atenção e

Hiperatividade/Impulsividade, foram obtidos escores também acima da expectativa,

indicando a possível ocorrência de TDAH. Contudo, não se deve desconsiderar que na

avaliação neuropsicológica apenas um resultado não é suficiente para concluir um

diagnóstico, de forma que, utiliza-se uma vasta bateria de testes, onde os resultados se

complementam.

A avaliação neuropsicológica buscou verificar também a possível ocorrência de

TDAH, mas, os resultados obtidos a partir dos testes aplicados, juntamente com as

observações clínicas realizadas não apontaram para o diagnóstico do transtorno em

questão.

Assim sendo, tomando como referência o embasamento teórico, os dados coletados

e a análise dos mesmos, pode-se concluir que o paciente avaliado possui sintomatologia

indicativa do TC sem comorbidade com o TDAH. Além disso, nota-se a grande relevância

da avaliação neuropsicológica para o diagnóstico, uma vez que, trata-se de um método

investigativo que visa verificar as funções cognitivas do paciente, juntamente com os

aspectos emocionais e familiares, fazendo-se para tanto, do uso de uma extensa quantidade

de testes, a fim de favorecer uma compreensão global do indivíduo.

Page 17: Transtorno de Conduta

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