transparÊncia na gestÃo da anvisa: uma anÁlise dos … · 2. participação comunitária. 3....

134
FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES Mestrado Profissional em Saúde Pública ALBANITA MARIA BEZERRA MIRANDA TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS ESPAÇOS DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL RECIFE 2010

Upload: others

Post on 21-May-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ

CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES

Mestrado Profissional em Saúde Pública

ALBANITA MARIA BEZERRA MIRANDA

TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA

ANVISA: UMA ANÁLISE DOS ESPAÇOS

DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL

RECIFE

2010

Page 2: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

ALBANITA MARIA BEZERRA MIRANDA

TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA:

UMA ANÁLISE DOS ESPAÇOS DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Saúde Pública do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz. como requisito à obtenção do grau de Mestre em Ciências. Área Temática: Gestão de Sistemas de Vigilância em Saúde.

Orientador:

Prof. Dr. Carlos Alberto de Matos

Co-orientador:

Prof. Dr. Garibaldi Dantas Gurgel Jr.

RECIFE

2010

Page 3: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

Catalogação na fonte: Biblioteca do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães M672t

Miranda, Albanita Maria Bezerra.

Transparência na gestão da Anvisa: uma análise dos espaços de participação social / Albanita Maria Bezerra Miranda. — Recife: A. M. B. Miranda, 2010.

133 p.: il. Dissertação (Mestrado Profissional em Saúde Pública) - Centro de

Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, 2010. Orientador: Carlos Alberto de Matos, co-orientador: Garibaldi

Dantas Gurgel Jr. 1. Vigilância Sanitária. 2. Participação Comunitária. 3. Regulação

e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de. II. Gurgel Jr., Garibaldi Dantas.

Page 4: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

ALBANITA MARIA BEZERRA MIRANDA

TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA:

UMA ANÁLISE DOS ESPAÇOS DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Saúde Pública do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz. como requisito à obtenção do grau de Mestre em Ciências. Área Temática: Gestão de Sistemas de Vigilância em Saúde.

Aprovada em: ___/____/______

BANCA EXAMINADORA

________________________________________ Prof. Dr. Carlos Alberto de Matos

Fiocruz/Brasília (orientador)

________________________________________ Prof. Dr. Neilton Araújo de Oliveira

Universidade Federal do Tocantins/UFT

________________________________________ Prof. Dr. Antonio José Costa Cardoso

Universidade de Brasília/UnB

Page 5: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

Dedico este trabalho aos meus pais Alfredo e Dilza,

aos meus filhos Alexandre e Rebeka e ao meu marido Antonio.

Page 6: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

AGRADECIMENTOS

Ao meu Deus, que fez e continua a fazer o impossível por mim, Aos meus pais, que souberam ensinar-me o caminho da honestidade, Ao meu irmão, a quem desejo grandes realizações, Aos meus filhos e meu marido, companheiros de todos os momentos, Ao meu orientador, Carlos Matos, pela paciência, conhecimento e competência profissional, Ao meu co-orientador, Garibaldi Gurgel, pelo apoio nas horas certas e cobrança nas horas necessárias, Aos meus superiores hierárquicos, pelo apoio necessário à minha participação no programa do mestrado, Aos membros das bancas de qualificação e examinadora pelo tempo e conhecimento doados, Aos meus amigos e amigas, Adriana, Ângela, Aloísio, Átila, Eliene, Heloísa, Heriberto, Ivete, Iolanda, Lânia, Laís, Marlene, Magda, Nadir e Roberta, que com um gesto, uma palavra, uma ação ou com o carinho de todos os dias fazem uma grande diferença, À Clara pelo empréstimo dos livros e doação de saberes, À querida Lene, que sequer sabe o quanto me ajudou, Aos colegas da Unidade Técnica - Untec e Ouvidoria da Anvisa pela ampla contribuição dada a este trabalho, Aos colegas da GGPAF e de outras áreas da Anvisa, pela colaboração nas diversas fases deste trabalho, À Salymar e aos que fazem a Secretaria Acadêmica da Fiocruz pelo carinho e dedicação que sempre nos dispensaram, Aos colegas da turma do mestrado por esses dois anos de uma agradável convivência.

Page 7: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.

Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;

Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;

Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;

Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;

Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;

Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;

Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz”.

Eclesiastes 3:1-8

Page 8: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

_________________________________________________________________________________MIRANDA, Albanita Maria Bezerra. Transparência na gestão da Anvisa: uma análise dos espaços de participação social. 2010. Dissertação (Mestrado Profissional em Saúde Pública) - Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, Recife, 2010. ___________________________________________________________________

RESUMO

As instituições públicas brasileiras tem despertado para uma preocupação com o princípio da participação da sociedade na Gestão Pública, assim como a sua importância e legitimidade. Nesse sentido, o presente trabalho teve como principal objetivo estudar os espaços de participação da Sociedade na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), tendo por foco da análise a participação da Sociedade civil e a importância desses espaços nas discussões dos temas que se encontram sob competência da agência. Constituiu-se também em proposta, com base nos resultados obtidos, fazer uma inter-relação entre a participação da sociedade e a transparência no processo de gestão da agência. Compreendendo, no entanto, que não existe relação de dependência. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, a partir de um estudo de caso, para a qual foi realizado diálogo com a literatura, análise documental, dados e informações colhidas na internet, entrevistas com atores chave e observação. Os resultados indicam maior preocupação da instituição com o fortalecimento da participação da sociedade e transparência, mas também revelam sérios problemas e grandes oportunidades de melhorias. Como exemplo dos avanços percebidos, cita-se a maior aproximação com entidades de defesa do consumidor. Reduzir assimetrias de informação, representação e participação constitui exemplo de desafio a ser enfrentado para fortalecer a participação da Sociedade e a transparência da instituição.

Palavras-chave: Vigilância Sanitária, Agências Reguladoras, Participação Social, Transparência, Vigilância Sanitária, Espaços de Participação, Democracia.

Page 9: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

__________________________________________________________________________ MIRANDA, Albanita Maria Bezerra. Transparency in the management of Anvisa: an analysis of opportunities for social participation. 2010. Dissertação (Mestrado Profissional em Saúde Pública) - Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, Recife, 2010. ___________________________________________________________________________

ABSTRACT

Brazilian public institutions had awakened to a concern with the principle of participation of society in public management, as well as its importance and legitimacy. Accordingly, this paper had the purpose of studying the spaces for society’s participation at Brazilian Health Surveillance Agency – Anvisa, focusing on analyzing the participation of civil society and the importance of these spaces in the discussions of the issues that are under jurisdiction of the agency. It is also a proposal, based on results found, of interrelating the society’s participation and transparency in the management of the agency, understanding, however, that there is not a relation of dependency. This is a qualitative research, from a case study, for which were performed document analysis, participating observation and interviews of important actors to discuss this issue. The results point out a greater concern of the institution with the strengthening of society participation and transparency, but also reveal serious problems and great opportunities of improvement. As an example of perceived progress, we mention the nearest approach with consumer protection agencies. Reducing asymmetric information, representation and participation constitutes examples of challenges to be faced in order to strengthen the society’s participation and transparency of the institution.

Key words: sanitary surveillance, regulatory agencies, society participation, transparency, spaces of participation, democracy.

Page 10: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Sistema Regulatório Brasileiro.............................................................................45

Quadro 2 – Comparação entre FDA e Anvisa.........................................................................68

Quadro 3 – Estatística de acesso às páginas do portal do governo federal 2008....................70

Quadro 4 - Estatística de acesso às páginas do portal do governo federal 2008.....................71

Quadro 5 – Consultas públicas por área da Anvisa.................................................................73

Quadro 6 – Temas que foram objeto de consulta pública em 2008........................................77

Quadro 7 – Composição do Conselho Consultivo da Anvisa.................................................87

Quadro 8 – Transparência na Anvisa: avanços e desafios.....................................................112

Page 11: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Monitoramento da 1ª Agenda Regulatória da Anvisa..........................................85

Gráfico 2 – Quantitativo de entidades que compõem as câmaras setoriais.............................93

Gráfico 3 – Representação em cada câmara setorial da Anvisa em 2008...............................94

Gráfico 4 – Solicitação de ingresso de entidades em cada câmara setorial no ano de 2008...95

Gráfico 5 – Principais demandantes da Anvisa com uso de canais da Ouvidoria em 2008..101

Gráfico 6 – Separação de demandas por Estado no ano de 2008...........................................102

Page 12: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Organograma da Anvisa.........................................................................................51

Figura 2 – Periódico Facto/Abifina..........................................................................................53

Figura 3 – Politização das Agências........................................................................................54

Figura 4 – Espaços de Participação da Sociedade na Anvisa..................................................58

Figura 5 – Portal FDA.............................................................................................................65

Figura 6 – Portal EMEA..........................................................................................................66

Figura 7 – Portal Anvisa..........................................................................................................67

Figura 8 – Mapa da regulamentação na Anvisa.......................................................................79

Page 13: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Comparativo entre reuniões realizadas nos três primeiros anos de funcionamento

das câmaras setoriais da Anvisa e o ano de 2008....................................................................96

Tabela 2 – Reuniões das Câmaras Setoriais realizadas em 2008............................................97

Tabela 3 – Espaços de participação mais citados pelos entrevistados..................................110

Tabela 4 – Áreas da Anvisa mais referidas pelos entrevistados, com base nos termos

constantes em suas respostas..................................................................................................111

Page 14: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABIFINA – Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

AGU – Advocacia Geral da União

AIR – Análise de impacto Regulatório

ANA - Agência Nacional de Águas

ANAC - Agência Nacional de Aviação Civil

Anatel - Agência Nacional de Telecomunicações

Ancine – Agência Nacional de Cinema

ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica

ANP - Agência Nacional de Petróleo

ANS - Agência Nacional de Saúde Suplementar

ANTAQ - Agência Nacional de Transportes Aquaviários

ANTT - Agência Nacional de Transportes Terrestres

Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária

Aplan – Assessoria de Planejamento

Ascom – Assessoria de Comunicação

Asegi – Assessoria de Segurança Institucional

AR – Agenda Regulatória

AUDIT – Auditoria

BH – Belo Horizonte

BPR – Boas Práticas Regulatórias

CADE – Núcleo Administrativo de Defesa Econômica

CCA – Conselho Consultivo da Anvisa

CEP – Comitê de Ética em Pesquisa

CGU – Controladoria Geral da União

Page 15: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

CIT – Comissão Intergestora Tripartite

CMS – Conselhos Municipais de Saúde

CNS – Conselho Nacional de Saúde

CNS – Confederação Nacional de Saúde

Conass – Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde

Conasems – Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde

CNC – Confederação Nacional do Comércio

CNA – Confederação Nacional da Agricultura

CNI – Confederação Nacional da Indústria

CORGE – Corregedoria

CQUALI – Centro Integrado de Monitoramento da Qualidade do Leite

CVM – Comissão de Valores Mobiliários

DICOL – Diretoria Colegiada

DOU – Diário Oficial da União

DPDC – Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor

EA – Eventos Adversos

EEC – Council Regulation

EMEA – European Medicine Agency

FASE – Faculdade Santa Emília

FDA – Food and Drug Administration

Fiocruz – Fundação Oswaldo Cruz

GGALI - Gerência Geral de Alimentos

GGCOS – Gerência Geral de Cosméticos

GGGAF – Gerência Geral Administrativa e Financeira

GGIMP – Gerência Geral de Inspeção

GGLAS – Gerência Geral de Laboratórios

GGMED – Gerência Geral de Medicamentos

Page 16: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

GGPAF – Gerência Geral de Portos, Aeroportos, Fronteiras e Recintos Alfandegados

GGRHU – Gerência Geral de Recursos Humanos

GGSAN – Gerência Geral de Saneantes

GGTES – Gerência Geral de Tecnologia em Serviços de Saúde

GGTIN – Gerência Geral de Tecnologia e Informática

GGTPS – Gerência Geral de Tecnologia em Produtos para a Saúde

GGPRO – Gerência Geral de Propagandas

GGSTO – Gerência Geral de Sangue, Tecidos e Órgãos

GGTOX – Gerência Geral de Toxicologia

GTVS – Grupo Técnico de Vigilância em Saúde

INCQS – Instituto Nacional de Controle de Qualidade

Ipardes – instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social

Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

Lacen – Laboratorio Central

LDO – Lei de diretrizes Orçamentárias

LOA – Lei Orçamentária Anual

LRF – Lei de Responsabilidade Fiscal

MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia

MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio

MOP – Movimento Popular em Saúde

Nadav – Núcleo de Apoio de Descentralização de Ações de Vigilância Sanitária

Naint – Núcleo de Assessoramento em Assuntos Internacionais

Nepec - Núcleo de Educação, Pesquisa e Conhecimento

Nuvig – Núcleo de Vigilância em Eventos Adversos e Queixas Técnicas

OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico

ONG – Organização Não Governamental

Page 17: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

PDRAE – Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado

PDVISA – Plano Diretor de Vigilância Sanitária

PGF – Procuradoria Geral Federal

PIB – Produto Interno Bruto

PPA – Plano Plurianual

Procon - SP – Fundação de Proteção e Defesa ao Consumidor do Estado de São Paulo

PROCR – Procuradoria

PUC – Pontífice Universidade Católica

QT – Queixas Técnicas

RDC – Resolução da Diretoria Colegiada

Ride – Rede Integrada de Desenvolvimento

SNVS – Sistema Nacional de Vigilância Sanitária

SUS – Sistema único de Saúde

UE – União Européia

UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul

UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro

UnB – Universidade de Brasília

Untec – Unidade Técnica de Regulação da Anvisa

USP – Universidade de São Paulo

VISA – Vigilância Sanitária

Page 18: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................19

2 OBJETIVOS ..................................................................................................................24

2.1 Objetivo Geral ..............................................................................................................24

2.2 Objetivos Específicos.....................................................................................................24

3 PERSPECTIVAS METODOLÓGICAS E MÉTODOS............................................25

3.1 Tipo do Estudo .............................................................................................................25

3.2 Objeto de estudo ...........................................................................................................25

3.3 Técnicas e instrumentos de coleta de dados ..................................................................26

3.3.1 Análise de documentos...............................................................................................27

3.3.2 Entrevistas ..................................................................................................................28

3.3.3 Observação Participante..............................................................................................30

3.4 Considerações Éticas......................................................................................................31

3.5 Limitações metodológicas..............................................................................................32

4 MARCO TEÓRICO E CONTEXTO DA PESQUISA ..............................................33

4.1Transparência na Gestão Pública ...................................................................................33

4.2 Espaços para participação da sociedade .......................................................................36

4.3 O Estado Regulador e o surgimento das Agências Reguladoras...................................43

4.4 A Agência Nacional de Vigilância Sanitária.................................................................48

4.5 Espaços para a Participação da Sociedade no âmbito da Anvisa ..................................57

4.6 Participação da sociedade e transparência em um contexto internacional.....................64

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................................69

5.1 Consultas Públicas.........................................................................................................74

5.2 Audiências Públicas ......................................................................................................76

5.3 Agenda Regulatória .......................................................................................................78

5.4 Conselho Consultivo .....................................................................................................86

Page 19: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

5.5 Câmaras Setoriais ..........................................................................................................92

5.6 Ouvidoria ......................................................................................................................99

5.7 Análise das entrevistas.................................................................................................104

6 CONCLUSÕES............................................................................................................114

7 RECOMENDAÇÕES .................................................................................................119

REFERÊNCIAS...............................................................................................................121

APÊNDICE.......................................................................................................................130

A – Roteiro de Entrevista ...............................................................................................130

B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido........................................................131

ANEXO A - Parecer do Comitê de Ética (CEP) do CPqAM ......................................133

Page 20: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

19

1 INTRODUÇÃO

O interesse de pesquisadores em estudar o modelo das agências reguladoras e

os mecanismos de manifestação da população nas discussões de temas referentes às

competências dessas agências tem crescido o que pode ser observado nos estudos de grande

relevância e textos que fazem parte das referências bibliográficas utilizadas para compor o

presente trabalho. Muitos desses estudos e textos se referem à participação da sociedade nas

agências reguladoras, inclusive na Anvisa, e têm sido realizados com grande profundidade. O

tema, no entanto, requer uma abordagem mais ampla dessa participação, aliada ao estudo da

importância das demandas oriundas da sociedade para os processos de tomada de decisão por

parte dos gestores da instituição. Para isso, precisam ser analisados diferentes espaços de

participação da sociedade na agência.

Nesse sentido, a pesquisa realizada se propôs a estudar os espaços de

participação da Sociedade Civil na Anvisa, a importância que esses espaços estão

desempenhando para o aprimoramento da participação da Sociedade e sua relação com a

transparência da instituição.

Ao escolher trabalhar com dados de espaços de participação oficiais e usuais

da Anvisa, tem-se uma clara limitação de formas institucionalizadas de participação, mas

compreende-se que tal recorte, além de não excluir caminhos outros e legítimos para

manifestação da sociedade, poderá favorecer a compreensão quanto à organização das formas

de participação no âmbito da instituição.

A democratização dos espaços de decisão e o controle social, segundo

Kopittke, Dos Anjos e Oliveira (2009), já foram incorporados formalmente a diversos setores

das políticas públicas nacionais. No entanto, apenas recentemente passaram a ser percebidos

como objeto de interesse de órgãos públicos, a exemplo da Anvisa. Esse interesse pelo maior

envolvimento da sociedade na discussão de temas relacionados à agência, embora presente no

discurso da alta direção da Anvisa ou noticiado nos veículos de informação institucional, não

assegura a robustez desses espaços para o cumprimento da tarefa de participação da sociedade

nas questões de gestão, passíveis de ampla discussão. Um ponto crítico a ser considerado, diz

respeito à própria capacidade da população em se fazer pautar nas discussões que ocorrem

nesses espaços.

Assim, buscou-se com esse trabalho, melhor conhecer os espaços de

participação da sociedade na Anvisa, seus pontos fortes e limitações para tentar contribuir

Page 21: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

20

com propostas de aprimoramento desses espaços, entendendo como possível conseqüência

desse esforço, o fortalecimento do processo de gestão da instituição.

A Agência tem descrito em seu portal, na internet, oito espaços consultivos

para participação da sociedade no processo de gestão da instituição: Agenda Regulatória,

Audiências Públicas, Câmaras Setoriais, Câmaras Técnicas, Conselho Consultivo, Consultas

Públicas, Ouvidoria e Visa Mobiliza.

Para conhecer como se dá, até em um contexto histórico recente, a ocupação

dos espaços de participação social na Anvisa , a presente pesquisa percorreu o caminho do

levantamento de bibliografia que tratasse do tema, identificação de documentos úteis ao

desenho de pesquisa proposto, entrevista com atores-chave e observação do ambiente

institucional, com especial atenção às questões que tivessem maior ligação com as relações

entre sociedade, transparência e participação social.

Por conceito de Sociedade Civil, Marx (2006, p.1), refere às compreensões de

Karl Marx de que seria algo oposto ao Estado e de Hegel ao conceituar a sociedade civil como

sinônimo de sociedade pré-política. Para o presente trabalho, entretanto, será usada a

conceituação de Bobbio.

Sociedade civil é representada como o terreno dos conflitos econômicos, ideológicos, sociais e religiosos que o Estado tem a seu cargo resolver, intervindo como mediador ou suprimindo-os; como a base da qual partem as solicitações às quais o sistema político está chamado a responder; como o campo das várias formas de mobilização, de associação e de organização das forças sociais que impelem à conquista do poder político (BOBBIO, 1992, p.1210).

No que se refere à transparência, Amora (2008, p.733), entende que é o ato de

tornar algo claro e evidente. Em complemento, Culau e Fortis (2006, p.2), afirmam que

conferir transparência, além de se constituir em um dos requisitos fundamentais da boa

governança, cumpre a função de aproximar o Estado da sociedade, ampliando o nível de

acesso do cidadão às informações sobre a gestão pública.

Os conceitos apresentados não demonstram haver a existência de relação de

dependência entre participação da sociedade na gestão e transparência na gestão. Depreende-

se disso, que se pode ter uma participação ampla da sociedade, sem que a gestão seja, de fato,

transparente. O mesmo vale para uma gestão transparente que pode não ser participativa.

Seguindo essa linha de pensamento, propõe-se uma discussão sobre as

mudanças trazidas com a reforma do Estado e criação das agências reguladoras e pretende-se

compreender um pouco melhor, como tem se dado a relação entre uma dessas agências

Page 22: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

21

reguladoras, a Anvisa, e a Sociedade. Para tanto, foram utilizados como foco do estudo os

espaços de participação da sociedade nessa agência.

O Estado Regulador é definido por Coimbra, como “um modelo de Estado que

se situa entre intervencionista e liberal” (COIMBRA, 2000, p.1). Esse modelo, reconhecido

por apresentar instituições características, expressas por agências independentes

especializadas, criadas em substituição à propriedade privada, teve origem nos Estados

Unidos (CRUZ, 2009, p.55).

No Brasil, as agências reguladoras constituíram uma parte significativa da

reforma de Estado que ocorreu no governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso.

Conforme Ramalho (2009, p. 125): “A regulação da economia no Brasil remonta às origens

do Estado brasileiro. A partir do processo de state building da Era Vargas, houve no país

vários processos de reforma do Estado”. Segundo o mesmo autor, estas reformas tiveram o

objetivo de melhoria da eficiência do Estado e do próprio setor regulado.

Na proposição de um conceito conclusivo sobre o termo regulação, Aragão

afirma que:

A regulação estatal da economia é o conjunto de medidas legislativas, administrativas e convencionais, abstratas ou concretas, pelas quais o Estado, de maneira restritiva da liberdade privada ou meramente indutiva, determina, controla ou influencia o comportamento dos agentes econômicos, evitando que lesem os interesses sociais definidos no marco da Constituição e orientando-os em direções socialmente desejáveis (ARAGÃO, 2003, p. 37).

As Agências Reguladoras, seguindo o novo desenho do Estado, teriam a

função de corrigir falhas do mercado produtivo e transações econômicas, além de contribuir

para aumentar a competitividade econômica do país, por meio de um processo de regulação

forte, transparente e aberto à participação social (BRASIL, 2003).

Os defeitos do mercado que demandam uma intervenção do Estado estão

relacionados com diversos fatores, conforme pontua Ramos (2003, p.1):

a) existem problemas que poderão surgir dentro da concorrência de mercados, como a

concentração do poder econômico por parte de alguns agentes econômicos, mediante a

formação de monopólios, cartéis, trustes, etc.;

b) existem externalidades negativas, as quais correspondem a bens que são produzidos ou

consumidos em maior quantidade do que é eficiente do ponto de vista social. Tem-se como

exemplo a necessidade da proteção do meio ambiente, combatendo a poluição e promovendo

o uso racional dos recursos naturais;

Page 23: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

22

c) existem bens coletivos, sendo estes bens que são consumidos por todos os membros da

coletividade, como a saúde, limpeza pública, educação, defesa nacional, parques não cabendo

a apropriação individual ou privativa por parte de certos sujeitos mediante o funcionamento

espontâneo do mercado, posto que haveria uma exclusão de parcelas significativas da

população na utilização desses bens;

d) existem problemas de informação, no qual o grau de informação entre os agentes

envolvidos é desigual, ocorrendo uma "informação assimétrica" entre as partes da relação,

não dispondo os indivíduos de conhecimento equivalente, passando as suas decisões a serem

imperfeitas ou inadequadas;

e) existem problemas relacionados ao desequilíbrio inerente ao funcionamento do mercado,

como a existência de mercados incompletos (não há uma oferta suficiente de bens

compatíveis com a procura e com o que os consumidores estão dispostos a pagar) e outras

conjunturas, como épocas de crise e riscos de inflação.

As salvaguardas ao mercado, produto de uma regulação forte, tem se mostrado

visíveis em várias situações que serão detalhadas no decorrer do trabalho, no entanto, a

transparência e abertura à ampla participação ainda não são facilmente percebidas. No tocante

à participação popular nas agências reguladoras, esta problemática ganha um relevo ainda

maior, uma vez que esta participação direta dos administrados na atuação das agências

confere legitimidade à sua atuação (GUIMARÃES;LEMOS, 2009).

A crítica aos espaços de participação da sociedade já foi causa de manifestos,

inclusive, por meio do relatório da 13ª Conferência Nacional de Saúde, onde se documenta

apoio às ações desenvolvidas pela Anvisa, mas se questiona a insuficiente transparência no

processo de gestão da instituição (BRASIL, 2008).

A importância de estudar os espaços de participação da sociedade na Anvisa,

deve-se ao fato de que essa agência reguladora tem por atribuição o controle sanitário de bens

e serviços que impactam fortemente na saúde da população e economia do país e em 2001 já

compreendiam 25% do Produto Interno Bruto do país (DE SETA;SILVA, 2001).

Encontra-se sob a competência da Anvisa, a fiscalização de todas as

mercadorias sujeitas a controle sanitário que entram no Brasil.

Cabe também à Anvisa, o controle sanitário de produtos para a saúde ou de

interesse à saúde, fabricados ou comercializados no país, bem como o controle dos serviços

de saúde e de interesse à saúde prestados ao conjunto da população, de viajantes, mercadorias

e meios de transportes que circulam em áreas de portos, aeroportos e fronteiras.

Page 24: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

23

Assim, a justificativa para o presente trabalho está na importância política,

econômica e social da Anvisa, o que demanda que sejam disponibilizados espaços de

qualidade, com acesso adequado para que a população possa participar dos processos

decisórios pertinentes à Agência, uma vez que esses processos podem contribuir para a

ampliação do acesso da população a produtos e serviços de boa qualidade ou para preservar

uma visão prioritariamente econômica. Para melhor compreensão dos processos decisórios

nos quais a participação da sociedade tem uma importância mais significativa, citam-se a

participação nas consultas e audiências públicas.

A pergunta que conduziu esta pesquisa foi voltada para saber se os espaços de

participação da Sociedade Civil, oficializados pela Anvisa e em uso no ano de 2008,

estimularam a ampla participação da sociedade nas discussões de temas sob competência da

agência e contribuíram para ampliar a transparência da instituição.

O ano de 2008 foi escolhido pela agregação de um novo espaço de

participação da sociedade aos já oficializados pela Anvisa, a Agenda Regulatória.

Page 25: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

24

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Analisar os espaços de participação da Sociedade na Agência Nacional de

Vigilância Sanitária – Anvisa e a contribuição desses espaços de participação para a

transparência da instituição.

2.2 Objetivos Específicos

a) Caracterizar a Anvisa e seus espaços de participação da sociedade;

b) Estudar a transparência nos processos de gestão;

c) Descrever as formas de acesso da população aos espaços de participação da

sociedade na Anvisa;

d) Analisar a importância desses espaços de participação para as discussões

que conduzem a tomada de decisão pelos gestores da instituição;

e) Analisar se as representações da sociedade são significativas do conjunto

da população;

f) Identificar os temas de maior interesse;

g) Conhecer diferentes experiências na utilização dos espaços de participação

social na Anvisa.

Page 26: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

25

3 PERSPECTIVA METODOLÓGICA E MÉTODOS

3.1 Tipo de Estudo

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, a partir de um estudo de caso. Baseou-se

em diálogo com a literatura, análise documental, dados e informações colhidas na internet,

entrevistas com atores chave e observação participante. Para melhor compreensão do tema

foram utilizadas e citadas no estudo referências de diferentes anos. Para a coleta dos dados, no

entanto, foi definido o ano de 2008 por ter constituído o início do processo de discussão da

primeira agenda regulatória da Anvisa, além de encontrarem-se em funcionamento os demais

espaços de participação estudados. Excluiu-se de um maior detalhamento as Câmaras

Técnicas por sua especificidade de atuação e composição, prioritariamente formadas pela

comunidade acadêmica e o Visa Mobiliza por sua descontinuidade.

Destaca-se uma afirmação interessante de Yin, que reflete bem a opção pela

metodologia. O autor entende que “uma investigação caracterizada como um estudo de caso

se surge do desejo de compreender fenômenos sociais complexos e retém as características

significativas e holísticas de eventos da vida real” (YIN, 1984, p.14).

3.2 Objeto de Estudo

O objeto de estudo foi a Anvisa, seus espaços de participação da sociedade e a

contribuição destes espaços para a transparência na gestão da instituição. Para melhor

compreensão dos dados obtidos por meio do portal eletrônico da Agência, dos documentos

estudados e da observação participante, durante a realização da pesquisa foram entrevistados

atores importantes por sua inserção em diferentes grupos que compõem a sociedade, sem a

pretensão, no entanto, de apresentá-los como amostra numericamente significativa da

população.

Page 27: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

26

3.3 Técnicas e Instrumentos de Coletas de Dados

Com vistas a dar consistência ao estudo, os resultados foram obtidos a partir de

diferentes fontes e perspectivas.

Tendo por base a técnica de análise documental, foram examinados os

documentos públicos fornecidos pelas áreas da Anvisa e aqueles já disponibilizados no portal

da instituição, na internet, a partir de uma seleção na qual foram considerados os conteúdos e

cronologia dos mesmos.

O passo seguinte foi analisar os dados colhidos nas entrevistas por meio de

análise de conteúdo, que, segundo Bardin (2007), é um conjunto de instrumentos

metodológicos, em constante aperfeiçoamento, que se aplicam aos discursos diversificados.

Ainda na visão do autor, como esforço de interpretação, a análise de conteúdo oscila entre os

dois pólos do rigor da objetividade e da fecundidade da subjetividade. Para este autor, o

processo de uso da técnica de análise de conteúdo pode ser dividido em três etapas:

A primeira etapa é a pré-análise, que é simplesmente a organização do

material. Sendo assim, com as respostas dos atores às entrevistas e estudo de documentos,

buscou-se com o estabelecimento de um marco referencial, subsidiar a discussão sobre o

desempenho dos espaços de participação da sociedade na Anvisa e sua importância para a

promoção da transparência na gestão.

As entrevistas foram previamente agendadas e tiveram duração média de trinta

minutos. Os entrevistados foram convidados a assinar um termo de consentimento livre e

esclarecido, onde foram informados do objetivo e encaminhamentos.

Sobre o objetivo da pesquisa e da inexistência de risco em participar da

mesma, foi-lhes assegurado o caráter confidencial da informação prestada, considerando os

aspectos éticos e as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Mediante

permissão dos informantes, as entrevistas foram gravadas e transcritas posteriormente,

facilitando assim a exploração do seu conteúdo.

A segunda etapa é a exploração dos dados, que consiste no estudo aprofundado

do material documental, orientado pelos referenciais teóricos. Nesta etapa, as informações

obtidas foram sistematizadas em categorias, visando responder aos objetivos propostos.

A partir da transcrição do material gravado foram feitas repetidas leituras do

seu conteúdo, identificação e catalogação das categorias consideradas relevantes. As

categorias coincidem com os temas de relevância utilizados nos roteiros das entrevistas, que

Page 28: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

27

são: o conceito de participação da sociedade; a obrigação da transparência na gestão pública;

a participação da sociedade na Anvisa; a utilização dos espaços de participação na Anvisa

pela sociedade; o acesso aos espaços de participação da sociedade na Anvisa; os principais

temas de interesse da sociedade; representatividade do conjunto da população; interferência

das demandas da sociedade nos processos de tomada de decisão na Anvisa; a visão da

sociedade sobre a transparência na Anvisa. Em seguida foi estabelecido, para cada

entrevistado, um código de identificação e agrupados os fragmentos do conteúdo de cada

entrevista que apresentavam alguma similaridade. Posteriormente foi realizada uma nova

classificação do conteúdo das entrevistas, desta vez por categoria de informante,

estabelecendo as principais semelhanças e diferenças entre elas.

A terceira e última etapa da análise de conteúdo é o tratamento dos resultados

obtidos e interpretação. Nesta fase foram discutidos os resultados do estudo, extraindo-se as

conclusões e recomendações do mesmo.

Foram utilizados dados obtidos do portal da agência na internet, de

documentos disponibilizados por áreas técnicas e administrativas, opiniões dos informantes e

a partir da observação direta feita pela pesquisadora. Esse processo permitiu que fossem

analisados os espaços de participação da sociedade e sua contribuição para a transparência da

instituição.

3.3.1 Análise de Documentos

Segundo Quirino (1999), a análise documental consiste em uma série de

operações que visam estudar e analisar um ou vários documentos, para descobrir as

circunstâncias sociais, econômicas e ecológicas com as quais podem estar relacionadas.

Acrescenta o autor que a análise documental poderá apresentar-se a partir da análise de

arquivos históricos, diários, atas, biografias, jornais, revistas, entre outros disponíveis na

organização.

Para o presente estudo foram trabalhados dados secundários disponíveis no site

da Anvisa (Portarias de Composição, Atas, Pautas, Relatórios da Ouvidoria e demais

informações em interface com o tema, referentes ao ano de 2008).

Page 29: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

28

Nas Portarias de composição foram observadas as composições (integrantes)

dos espaços formais de participação social o que permitiu uma análise comparativa do

quantitativo de representantes de cada setor.

As Atas trazem registradas as manifestações de cada integrante durante os

eventos que os congregou.

As pautas referem os temas que se constituíram em objeto de discussão e uma

avaliação mais profunda dessas pautas indicou quais os temas de maior interesse e permitiu

identificar qual o segmento que tem maior interesse nessa discussão.

Os relatórios, por sua vez, apresentam dados quanto ao que foi demandado à

instituição, por quem (qual segmento) e de que forma foi encaminhada a demanda.

3.3.2 Entrevistas

A entrevista é uma forma de interação social que valoriza o uso da palavra,

símbolo e signo privilegiados das relações humanas, por meio da qual os atores sociais

constroem e procuram dar sentido à realidade que os cerca (FLICK; JOVECHLOVITCH;

BAUER, 2002).

Com o objetivo de utilizar mais essa forma de obtenção de dados foram

realizadas entrevistas semi-estruturada, nas quais se pode aceitar um maior grau de liberdade

da parte do entrevistado. As entrevistas buscaram levantar dados sobre a visão de

participantes do setor regulado, funcionários de órgãos de governo e de alguns atores

importantes da população sobre a relevância da participação popular nos espaços de

participação da Anvisa.

Para Triviños (1987), a entrevista semi-estruturada, ao mesmo tempo em que

valoriza a presença do investigador, oferece todas as perspectivas possíveis para que o

informante alcance a liberdade e a espontaneidade necessárias, enriquecendo a investigação.

Segundo Fraser e Gondim (2004) a entrevista na pesquisa qualitativa, ao

privilegiar a fala dos atores sociais, permite atingir um nível de compreensão da realidade

humana que se torna acessível por meio de discursos, sendo apropriada para investigações

cujo objetivo é conhecer como as pessoas percebem o mundo. Em outras palavras, a forma

específica de conversação que se estabelece em uma entrevista para fins de pesquisa favorece

Page 30: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

29

o acesso direto ou indireto às opiniões, às crenças, aos valores e aos significados que as

pessoas atribuem a si, aos outros e ao mundo circundante.

Para a eleição dos entrevistados, procurou-se representações dos setores

presentes em espaços formais de participação e da população em geral que pudessem oferecer

as diversidades e as similaridades existentes entre indivíduos com interesses diversos e

diferentes formas de acesso aos espaços de participação da sociedade na Anvisa. Considerou-

se, ainda, a disponibilidade e aceitação em participar da pesquisa. Foi entrevistado um total de

10 (dez) pessoas entre os meses de julho e agosto de 2010 e todos assinaram o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido.

O perfil final dos participantes do estudo foi composto por membros do

Governo, Setor Regulado e Sociedade, cujo processo de escolha será detalhado

posteriormente, e ficou assim definido:

a) Setor de Governo: Foram entrevistados quatro profissionais. Três deles da

própria Anvisa e um de outros elos do Sistema Nacional de Vigilância

Sanitária (SNVS). Da Anvisa foram escolhidas áreas importantes na discussão

do tema deste trabalho, como a Ouvidoria e a Unidade Técnica de Regulação -

Untec, além de escolhido um técnico da instituição. Do SNVS foi escolhido

um profissional de vigilância sanitária municipal que também atuou no nível

estadual.

b) Setor Regulado: Foi entrevistado um proprietário de farmácia e um responsável

técnico por drogaria.

c) Sociedade: Foram entrevistadas quatro pessoas. Um professor de universidade

privada, um estudante e duas donas de casa.

A escolha desses entrevistados levou em consideração, no caso do Governo, a

constituição da própria Ouvidoria como espaço de participação social e seu compromisso

legal de isenção. A participação da Untec se justifica pela sua presença na condução de

discussões sobre participação da sociedade e transparência na instituição. No caso do técnico

entrevistado, considerou-se relevante a sua lotação na área que compreende o maior número

de servidores na Anvisa e executa atividades de vigilância sanitária em conjunto com estados

e municípios. O técnico escolhido demonstra uma posição crítica interessante quanto ao tema

e desenvolve atividades que tem interface com a sua área de atuação e outras gerências da

Anvisa. O profissional da vigilância sanitária entrevistado é de um município do nordeste que

tem se destacado na representação da região, inclusive na composição de Grupos de Trabalho

e Comitês do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems).

Page 31: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

30

Quanto ao Setor Regulado, a escolha dos entrevistados teve como foco a área

de medicamentos, tendo em vista ser objeto das maiores demandas para a Anvisa e apresentar

interface com a grande maioria das áreas que compõem a agência.

O professor tem formação na área de enfermagem e o estudante, na área de

secretariado executivo. No caso das donas de casa, a escolha foi feita por constituírem um

importante canal de aquisição de bens e serviços sob vigilância sanitária.

3.3.3 Observação Participante

No caso da observação participante, procurou-se desenvolver sua técnica de

forma sistematizada, planejada e objetiva. É importante destacar que a pesquisadora que

realiza o presente estudo faz parte do corpo de funcionários da instituição estudada e, embora

observar seja um processo natural para quem vivencia a rotina do local sobre a qual estuda, o

cuidado no emprego da técnica teve o intuito de minimizar a visão subjetiva que pode

permear o processo.

Observar, naturalmente, não é simplesmente olhar. Observar é destacar de um conjunto (objetos, pessoas, animais, etc.) algo especificamente, prestando, por exemplo, atenção em suas características (cor, tamanho etc.). Observar um fenômeno social significa, em primeiro lugar que determinado evento social, simples ou complexo tenha sido abstratamente separado de seu contexto para que, em sua dimensão singular, seja estudado em seus atos, atividades, significados, relações etc. (TRIVINOS, 1994, p.153).

Uma afirmação de Minayo (1994, p. 59) sobre a observação participante,

destaca que esta "se realiza através do contato direto do pesquisador com o fenômeno

observado para obter informações sobre a realidade dos atores sociais em seus próprios

contextos". A mesma autora afirma que:

A importância dessa técnica reside no fato de podermos captar uma variedade de situações ou fenômenos que não são obtidos por meio de perguntas, uma vez que, observados diretamente na própria realidade, transmitem o que há de mais imponderável e evasivo na vida real (MINAYO, 1998, p. 59).

A pesquisadora, autora do presente trabalho, tem uma inserção significativa na

instituição no que se refere à discussão da participação da sociedade e dos espaços de

Page 32: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

31

participação. Faz parte do Comitê Gestor do Projeto de Fortalecimento da Participação Social,

coordenado pelo Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), que tem a Anvisa e a Anatel na

condição de pilotos para avaliação da participação da sociedade nos processos decisórios das

agências reguladoras. É membro do Grupo de Acompanhamento da Agenda Regulatória da

Anvisa – GARE, participa da Comissão de Acompanhamento ao Contrato de Gestão entre

Anvisa e Ministério da Saúde e responde pela Secretaria Executiva de uma das câmaras

setoriais da Anvisa. Esse envolvimento nos fóruns de discussão da participação da sociedade

na agência trouxe vantagens e preocupações. Como vantagem destaca-se uma maior

facilidade de acesso à discussões importantes sobre o tema. Entre as desvantagens pode ser

citada a dificuldade para obter distanciamento do objeto do estudo.

Tendo por foco momentâneo de discussão a proximidade entre o pesquisador e

o objeto do estudo, cita-se Gajardo (1986, s.p) apud Richardson (2004, s.p):

Ao invés de se manter distância entre o pesquisador e o grupo que vai ser examinado, tal como se exige nas ciências sociais tradicionais, propõe-se a interação. Isso significa para o pesquisador trabalhar, talvez viver no grupo escolhido, a fim de elaborar perspectivas e experimentar ações que perdurem, inclusive depois de terminado o projeto.

O emprego da observação participante possibilitou a ‘validação’ dos dados

obtidos e o fortalecimento de uma visão pessoal, construída pela convivência diária com o

tema do presente trabalho. Opiniões e críticas da parte da autora, presentes neste trabalho,

foram motivadas, muitas vezes, pelas informações geradas por meio da utilização da

observação participante.

3.4 Considerações Éticas

Em seguimento aos critérios definidos para preservação da ética na ciência, o

desenho do estudo foi pensado para atingir o objetivo definido com o emprego do método

mais indicado para coletar e analisar os dados. Foi solicitado o consentimento, por escrito, de

todos os envolvidos no processo de pesquisa, deixando claro que o objetivo do estudo não é

expor negativamente instituições ou participantes, mas contribuir para uma melhoria da

situação estudada, naquilo em que se identificou tal necessidade.

Page 33: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

32

Assim, foram tomados os cuidados com a metodologia empregada para que se

preserve a cientificidade do trabalho e se possa usar seu produto como indicador de mudanças

necessárias ou na validação do caminho seguido pela instituição.

3.5 Limitações Metodológicas

Pode ser considerada como a principal dificuldade para a realização do

presente estudo, a mudança ocorrida no portal da Anvisa, observada no período de realização

do trabalho e que ocasionou a não disponibilidade de dados importantes. Essa não

disponibilidade de dados que são públicos e deveriam estar atualizados no portal da

instituição, na internet, também foi um fator complicador que demandou que a coleta se desse,

quando necessário e possível, junto aos responsáveis por cada atividade e não por meio da

internet. Esses complicadores, no entanto, também constituíram instrumentos de análise da

transparência da instituição.

Seguindo a mesma linha de dificuldades na obtenção de dados, a falta de

respostas de áreas da Anvisa que coordenam espaços de participação à solicitações feitas

durante o desenvolvimento da pesquisa foi identificado como um fator limitador.

Outra questão a ser considerada, diz respeito à impossibilidade do afastamento

da pesquisadora do serviço, o que exigiu um esforço concentrado para a conclusão do trabalho

acadêmico e dos compromissos profissionais.

Page 34: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

33

4 MARCO TEÓRICO E CONTEXTO DA PESQUISA

Atribuir maior transparência à gestão pública e promover uma maior

participação da sociedade nas atividades administrativas do Governo são pontos que

extrapolam a linha de simples discussão e alcançam o que se encontra previsto, inclusive, na

Carta Magna brasileira. Para Perez (2004, p. 213) “a Constituição Federal brasileira avançou a

mera enunciação dos princípios da Democracia e do Estado de Direito, estabelecendo uma

série significativa de normas voltadas a respaldar a adoção de institutos participativos na

Administração Pública”.

O presente trabalho buscou estudar a participação da sociedade e a

transparência na Anvisa e para que se compreenda melhor as discussões baseadas nos dados

obtidos, se torna importante contextualizar o modelo de Estado regulador, conhecer a Anvisa

e seus espaços de participação e os caminhos que tem percorrido a transparência na Gestão

Pública.

4.1 Transparência na Gestão Pública

O Estado contemporâneo para Gozzi (1995) tem experimentado uma grande

diversidade de mudanças sem alcançar um modelo ideal. Bobbio (1992), ao propor uma

definição para esse Estado contemporâneo, referiu como principal dificuldade as múltiplas

relações que se criaram entre o Estado e o complexo social e a necessidade de captar, depois,

os seus efeitos sobre a racionalidade interna do sistema político. Buscar a eficiência no setor

público tem constituído um tema dominante e norteador de todo esse processo de ajustes.

No bojo dessa discussão, Gomes Filho (2005, p.1), faz a importante relação

entre os ajustes necessários e a qualidade da gestão: “A busca de um Estado melhor tem sido a

busca de um Estado mais eficiente e um Estado eficiente precisa ser necessariamente bem

gerido. Logo, o problema da crise do Estado pode ser enfocado pelo ângulo da qualidade da

Gestão Pública”. Coelho (2000, p. 259), também comenta o tema em destaque:

A administração gerencial caracteriza-se pela existência de formas modernas de gestão pública, modificando os critérios de aplicação do controle dos serviços públicos, as relações estabelecidas entre o Poder Público e seus servidores e

Page 35: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

34

alterando, também, a própria atuação da administração, que passa a enfatizar a eficiência, a qualidade e a efetiva concretização do regime democrático, mediante a participação mais intensa dos cidadãos.

Na busca de respostas quanto aos caminhos a serem percorridos para que se

alcance a eficiência pretendida na Gestão Pública, observa-se que a transparência é um

importante aspecto a ser estudado. Gomes Filho (2005, p. 4) diz que a transparência foi uma

criação dos contemporâneos e que sem a real transparência e participação da sociedade na

definição de processos e tomadas de decisões, não existem formas de chegar ao desejado

aperfeiçoamento pretendido pelo Estado.

A transparência está diretamente ligada à capacidade de estímulo à ampla

participação da sociedade na Gestão Pública. Gomes Filho (2005, p. 4) utiliza a definição de

que transparência é uma qualidade, daquilo que se deixa atravessar pela luz e,

conseqüentemente, se deixa conhecer. Ainda para o autor, esse conhecimento expõe o que há

de bom e também de ruim na Gestão Pública em curso, condição essa que permite à sociedade

tomar posição e cobrar os ajustes necessários e já referidos ao Estado contemporâneo.

Na era da globalização e informatização, informação é um importante

instrumento de poder. Ainda em seguimento ao que escreveu Gomes Filho (2005, p. 5), pode-

se dizer que a informatização montou um cenário favorável à promoção da transparência e

criou um circulo virtuoso com novas possibilidades de participação da sociedade.

No Brasil, a tentativa de cumprir a demanda popular de transparência na

Gestão Pública tem esbarrado em uma questão extremamente importante: A população não é

homogênea em seus problemas, em seus anseios e, principalmente, na sua forma de acesso a

informações e capacidade de reflexão sobre essas informações. Referindo-se a diferença de

acesso, Genro (1997, p. 17) destaca que:

[...] para conferir identidade pública à sociedade, tem ela que estar estruturada e organizada, para dialogar com o Estado e referir-se a ele enquanto sociedade civil e criar uma esfera pública não-estatal, onde Estado e sociedade estabeleçam seus conflitos, seus conceitos, seus consensos e gerem, a partir daí, decisões que combinem a legitimidade da representação política tradicional com a participação direta e voluntária da cidadania.

Do texto apreende-se que o autor refere-se à organização em entidades civis

como a forma mais viável de participação da sociedade no processo de Gestão Pública.

Page 36: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

35

O estímulo à organização em entidades da sociedade civil organizada é salutar,

mas um processo de gestão transparente envolve o rompimento de barreiras que reforçam a

participação seletiva da população.

Um ponto importante a destacar, também ligado às questões de acesso a

informações, diz respeito à publicidade dos atos públicos. Dar publicidade aos atos por meio

de instrumentos oficiais como os Diários Oficiais é cumprimento de uma determinação legal,

mas não cumpre o papel de transparência demandado pela população. Para Gomes Filho

(2005, p. 5), transparência envolve desnudar-se de mecanismos de defesa, submeter-se a

críticas e controle social e obter como fim a visibilidade tão necessária às ações desenvolvidas

pelo Estado. Essa visibilidade pode, inclusive, ser um dos instrumentos de validação que o

Gestor Público precisa para a continuidade dos processos de adequação que possa estar

desencadeando.

Embora não seja objetivo do presente trabalho discutir em detalhes a

transparência na gestão fiscal, é importante destacar que o artigo 48 da Lei Complementar

101/2000, a Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF, trouxe uma contribuição muito importante

para a transparência da gestão fiscal, ao definir que os relatórios fiscais devam ter ampla

divulgação, assegurando inclusive a participação da sociedade na discussão dos Planos

Plurianual - PPA, Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO e Lei Orçamentária Anual - LOA.

A Lei de Responsabilidade Fiscal estabelece os prazos e as formas por meio

das quais o Poder Executivo deverá demonstrar e avaliar o cumprimento das metas fiscais

possibilitando a efetiva transparência da execução das metas estabelecidas.

Nessa ampla discussão em torno da transparência na gestão pública, é

importante que se discorra brevemente sobre um termo internacional para o qual não se tem

definição exata no português, segundo Campos (1990), mas que tem uma grande importância

para esse debate: accountability.

No entendimento de Cobari (2004), a recente prática da accountability no

Brasil seria a causa de uma maior dificuldade em encontrar uma tradução. Para o autor,

accountability se aproxima do conceito de prestação de contas dos resultados obtidos. Behn

(1998, p.39), mostra o sentido em que ocorreu a evolução: “Os sistemas tradicionais de

accountability foram desenhados para estabelecer e reforçar a confiança pública na probidade

de seu governo. Agora precisamos de um novo sistema de accountability que estabeleça e

reforce a confiança pública no desempenho governamental”.

Essa confiança pública na probidade do Governo passa pela busca de um

melhor desempenho, na visão de Newcomer (1999, p. 7):

Page 37: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

36

A doutrina governamental ao longo das duas últimas décadas tem sido a de tornar o governo accountable pelo desempenho. Este conceito significa que o desempenho de programas e de políticas públicas será medido e que os funcionários, considerados responsáveis pelos resultados mensurados das ações governamentais, serão julgados segundo este critério.

A nova gestão pública, centrada em resultados e com foco na eficiência,

buscará, conforme Souza (2001), a responsabilidade do seu corpo funcional por meio de

incentivos positivos ou de sanções negativas, sem negligenciar, no entanto, a prestação de

contas à sociedade como instrumento de transparência e fortalecimento do processo de gestão.

Campos (1990, p. 33) identifica na accountability a visão da obrigatoriedade, onde, segundo

ele: “Se ela não é sentida subjetivamente (da pessoa perante si mesma) pelo detentor da

função pública, deverá ser exigida de fora para dentro”.

Nesse contexto no qual a accountability se encontra centrada, é importante não

perder o foco ou mesmo esquecer que a visão da obrigatoriedade não dispensa a contínua

mobilização da sociedade em busca da transparência na gestão pública.

4.2 Espaços para a participação da sociedade na gestão pública

Atualmente, a participação da sociedade na gestão pública tem sido objeto de

estudos aprofundados e manifestações inflamadas de autores, em especial, do campo das

ciências sociais e da saúde. Na visão de Modesto (1999), em sentido amplo, participar

significa intervir num processo decisório qualquer. No entanto, o mesmo autor, em outra

ocasião, escreve que não tem sido fácil encontrar uma definição de consenso para esse tipo

específico de participação (MODESTO, 2002). Ainda segundo o autor, mesmo em termos

operacionais é difícil a concepção de um conceito útil.

Mesmo diante das dificuldades conceituais referentes ao tema, para o presente

trabalho adotou-se a definição de participação da sociedade na esfera pública, como sendo a

“interferência no processo de realização da função administrativa do Estado, implementada

em favor de interesses da coletividade, por cidadão nacional ou representante de grupos

sociais nacionais, estes últimos se e enquanto legitimados a agir em nome coletivo”

(MODESTO, 1999, s.p.).

Page 38: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

37

Para uma tentativa de melhor compreender o contexto que envolve a

participação da sociedade nas questões do Estado, buscou-se estudar o desenvolvimento

histórico da participação da sociedade nas questões públicas.

Em uma referência histórica sobre a participação social na Europa, Marshall

(1967) divide a cidadania, na Inglaterra, em três partes: civil, política e social. Ao situar cada

um dos períodos por século, destacou os direitos civis no século XVIII, os políticos no XIX e

os sociais no século XX. A luta pelos direitos sociais se deu muito vinculada às mobilizações

das comunidades locais e associações funcionais. Dessas mobilizações se originaram

aparentes vitórias, a exemplo da ‘Poor Law’ ou Lei dos Pobres. Essa Lei não trazia a

proposição de mudar a ordem social existente, mas de levar a mudanças básicas e essenciais.

Instituía uma taxa e um sistema de subsídios em dinheiro. No entanto, acabou por constituir

mais uma tentativa de eliminação dos pobres do que de eliminação da pobreza. Toda

comunidade que tinha de prover o sustento dos seus pobres procurou, na realidade, expulsá-

los e deixar entrar o menor número possível (GOZZI, 1995).

Os benefícios alcançados no fortalecimento da participação da sociedade na

Gestão Pública têm sido referidos por autores citados, no presente trabalho, como frutos de

mobilizações sociais. Ainda assim, nos países em desenvolvimento e na América Latina, em

particular, são referidas as dificuldades de criar canais participatórios (CÔRTES, 2002, p.

167).

Historicamente, em nosso país, mesmo que em condições adversas e em

diferentes momentos, grupos da população se organizaram para mudar as relações sociais que

consideravam injustas. A maioria desses grupos, quase sempre foi reprimida e desbaratada

pelo Estado. Isso foi particularmente marcante no período colonial, onde movimentos como

as revoltas escravas, Inconfidência Mineira e a Revolta dos Alfaiates, por exemplo, foram

esmagados pelo governo da época (ÉRNICA; ISAAC; MACHADO, 2003).

A luta por maior participação popular na esfera pública, embora seja muito

anterior à década de 70, teve um momento de extrema significância quando da resistência

contra a ditadura militar, o que ocorreu a partir dos anos 70 e ao longo dos anos 80. Nesse

período, os movimentos populares se organizaram, principalmente, em torno das

reivindicações urbanas, como educação, saúde, habitação, água, luz e transporte. Além disso,

a criação de espaços de participação, para que a sociedade civil organizada pudesse canalizar

suas demandas e influir nos processos decisórios de políticas públicas também passou a

compor reivindicações importantes da sociedade (BRASIL, 2005, p. 9).

Page 39: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

38

Pela força dessas lutas sociais, em 1988, em um período de redemocratização e

abertura política, nasceu a "Constituição Cidadã". Dentre outros avanços, analfabetos e jovens

de 16 e 17 anos ganharam o direito ao voto, a terra passou a ter uma função social, o combate

ao racismo passou a ser objeto da legislação, buscou-se garantir aos índios o direito à posse

das terras tradicionalmente ocupadas por eles, e ampliaram-se os direitos trabalhistas. A

Constituição trata a República Federativa do Brasil como Estado Democrático de Direito e

define os direitos e garantias fundamentais, os direitos individuais, coletivos, sociais e

políticos dos cidadãos, ao mesmo tempo em que estabelece os limites ao exercício do poder

por parte dos governantes (BRASIL, 2005, p. 9).

O estudo do atual estágio em que se encontra a participação social no Brasil

passa pela compreensão do processo histórico que conduziu à promulgação da Constituição

Federal de 1988. Pela primeira vez na história do país, os direitos à cidadania passaram a

compor o rol dos direitos legalmente respaldados (BRASIL, 2005, p. 9).

O estímulo à participação social na elaboração da Lei Magna do país, o resgate

de direitos individuais e coletivos e a observância de princípios democráticos fizeram da

Constituição de 1988 um marco para a participação da sociedade na definição de caminhos a

serem trilhados pelo Brasil. Dessa forma, ela se consolidou como ponte para a redução das

disparidades sociais e regionais, entre o campo e a cidade, de gênero, de origem étnica, de

renda, de acesso à propriedade, de acesso à informação e de participação social, dentre outros.

Os espaços atuais de participação da sociedade na gestão pública são, em sua

grande maioria, frutos de ampla mobilização social. Gohn (1997) conceitua os movimentos

sociais como ações sociopolíticas construídas por atores coletivos de diferentes classes

sociais, numa conjuntura específica de relações de força na sociedade civil. Segundo a autora,

as ações desenvolvem um processo de criação de identidades em espaços coletivos não

institucionalizados, gerando transformações na sociedade, seja de caráter conservador ou

progressista. Como está implícito na definição acima, também se faz necessário considerar

alguns fatores externos para a análise dos movimentos sociais, como: contexto do cenário

sociopolítico e cultural, opositores, redes externas construídas por lideranças; relação do

movimento com um todo dos movimentos sociais; o Estado e demais agências da sociedade e

relações com a mídia (GOHN,1997, p. 255).

Na perspectiva de também contribuir para uma definição de movimentos

sociais, Melucci (1999), considera-os não como fenômenos empíricos, mas como categorias

analíticas. Para ele, na medida em que os conflitos sociais saem do sistema tradicional

econômico-industrial - como eram entendidos pela perspectiva marxista da luta de classes - e

Page 40: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

39

se transferem para as áreas culturais, os atores coletivos assumem a função de revelar os

problemas para a sociedade.

Importante para essa nova compreensão é a reflexão emergente sobre redes e

mais especificamente sobre as redes de movimentos sociais. Ainda observando os escritos de

Melucci (1999), as redes são formadas por pequenos grupos imersos na vida cotidiana com

fins específicos e caracterizam-se pela associação múltipla, pela militância parcial e efêmera,

e pelo desenvolvimento pessoal e solidariedade afetiva como condições para participação. As

redes apresentam dois aspectos importantes: a latência, que permite experiências com novos

modelos culturais, criando novos códigos; e a visibilidade, estratégia de enfrentamento de

uma autoridade específica contra uma lógica de tomada de decisão. A latência alimenta a

visibilidade e esta reforça as redes submersas, fornecendo-lhes energia para renovar a

solidariedade e atrair novos militantes.

Com base nessas características, uma rede de movimentos sociais representa o

processo de associação e a mobilização de movimentos sociais organizados em torno de

diferentes temas e questões para a realização de objetivos comuns. Dentre esses objetivos, no

contexto da luta contra a ditadura militar e em favor da redemocratização da sociedade

brasileira, o direito à participação social na gestão e no controle da coisa pública ganhou lugar

de destaque e foi inscrito na Constituição Federal de 1988.

Esse processo de desenvolvimento dos movimentos sociais contribuiu à

construção dos meios de participação necessários à influência popular na gestão e no controle

das políticas públicas. Processo ao qual vieram agregar-se um número crescente de

Organizações Não Governamentais, dedicadas à mobilização social e ao trabalho com

questões específicas como o combate ao trabalho escravo, o combate e a prevenção à

violência contra as mulheres, o combate a fome, a segurança alimentar, o direito à

informação, a transparência na gestão pública etc.

Como resultado, segundo Bandeira (1999) tem-se tornado cada vez mais

aceita, no Brasil, a idéia de que é necessário criar mecanismos que possibilitem participação

mais direta da comunidade na formulação, no detalhamento e na implementação das políticas

públicas.

Na área da saúde, a participação popular assumiu um papel importante nas

formulações da 8ª Conferência Nacional de Saúde, redigida em 1986, no sentido de

construção e fortalecimento das propostas progressivas de reorientação da política do setor.

As discussões acumuladas neste processo resultaram na consagração institucional da saúde

como "direito de todos e dever do Estado", e, mais tarde, deram origem às Leis Orgânicas da

Page 41: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

40

Saúde, Nº 8.080, de 19 de setembro de 1990 e 8142, de 28 de dezembro de 1990. Essas Leis

constituem importantes instrumentos na configuração jurídico-política de um novo modelo

assistencial, capaz de ter impacto sobre a saúde da população (VALLA et al., 1993).

Jacobi (2002) escreve que a consolidação de propostas participativas

representa a potencialização e a ampliação de práticas comunitárias, por meio do

estabelecimento e ativação de um conjunto de mecanismos institucionais que reconheçam

direitos efetivamente exercitáveis e estimulem estratégias de envolvimento e co-

responsabilização.

Nesse sentido, um dos maiores desafios de uma proposta participativa

ampliada é o de garantir a definição de critérios de representação, de forma a impedir tanto a

sua manipulação por grupos guiados por interesses particularizados, como a possibilidade da

sua instrumentalização pela administração pública.

[...] entre um projeto participatório, construído, a partir dos anos 80, ao redor da extensão da cidadania e do aprofundamento da democracia, e o projeto de um Estado mínimo que se isenta progressivamente do papel de garantidor dos direitos. A perversidade está colocada no fato de que, apontando para direções opostas e até antagônicas, ambos os projetos requerem uma sociedade civil ativa e propositiva. Essa confluência perversa faz com que a participação da sociedade civil se dê hoje em terreno minado, onde o que está em jogo é o avanço ou o recuo de cada um destes projetos. Esse é um dilema que está presente na grande maioria dos estudos de caso e centraliza o debate que tenta avaliar as experiências de atuação conjunta com o Estado [...] (DAGNINO, 2002, p. 289).

Outro fator a ser considerado, e que deve ocupar posição de destaque em

qualquer discussão que trate da participação da sociedade, diz respeito ao estudo de acesso

dos diferentes interessados aos espaços de participação existentes. Ricci (2004, p. 5-6), traz

uma pesquisa datada de 2004, coordenada pela PUC-Minas, Ipardes, UFRGS, PUC-SP,

FASE, UFRJ e que envolveu 1.540 conselheiros de Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte,

Recife, Belém, São Paulo e Rio de Janeiro, denominada “Projeto Metrópoles: Desigualdades

Socioespaciais e Governança Urbana” revelando que as diferenças de grau e forma de

incorporação dos atores sociais em arenas de gestão participativa está diretamente relacionada

às diferenças na proporção de pessoas habilitadas a participar do controle das políticas sociais,

bem como pelas diferenças entre as culturas cívicas e a instituição e mobilização das esferas

públicas.

Assim, a grande maioria da população brasileira parece ainda distante dessas

práticas. Com efeito, o perfil dos representantes da sociedade civil que participam dos

Page 42: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

41

conselhos municipais pesquisados sugere a predominância de cidadãos com maior grau de

instrução e renda:

a) 51% possuem educação universitária e 33% ensino médio (Belo Horizonte

apresenta indicadores próximos dos do nordeste: 43% com ensino universitário,

contra 60% no RJ e SP);

b) 65% recebem rendimentos superiores a cinco salários mínimos e 38% acima de

10 salários mínimos (em BH, 58% recebem mais de cinco salários mínimos, contra

86% em SP e 66% no RJ);

c) 56% possuem alto engajamento sociopolítico (associado ou filiado a

associação ou organização social), sendo que BH está abaixo da média (47%),

somente acima da situação de Recife (42%);

d) 60% participam de reuniões partidárias (BH está acima do índice do sudeste,

com 52%, sendo o segundo maior índice entre as capitais).

Os estudos mais recentes a respeito do impacto das ações participativas sobre a

cultura política nacional, segundo Ricci (2004), denotam um projeto circunscrito a localidades

muito específicas ou mesmo ao projeto de agrupamentos políticos ainda mais restritos.

Nessa linha de discussão, Pereira (2010) desenvolveu um estudo interessante

do qual participaram 52 (cinqüenta e dois) conselheiros de 20 municípios da Rede Integrada

de Desenvolvimento (Ride) do Distrito Federal. Essa pesquisa identificou que os Conselhos

Municipais de Saúde (CMS), criados para fazer o controle social do Sistema Único de Saúde

(SUS), são ineficientes, formados por pessoas despreparadas e com participação popular

pouco diversificada. Faltam programas de formação para os conselheiros e há pouca

representatividade de mulheres, negros e índios nas reuniões.

Os dados das duas pesquisas trazem preocupação quando se percebe a

distância entre a prática e conceitos como o adotado por Simionatto (2001, p. 9): "o controle

social, também denominado de democracia direta, refere-se às formas organizativas formais e

informais da sociedade necessárias à fiscalização das organizações públicas e privadas". As

dificuldades e fatores que podem estar associados aos problemas referidos podem ser

visualizados nas manifestações de Pessoa e Campello:

A falta de preparo educacional da população em geral; a inexistência de mecanismos que favoreçam a transparência da execução dos atos administrativos; a falta de acesso a dados e informações na esfera pública, particularmente quanto aos dados orçamentários e financeiros; a legislação complexa, dúbia e no mais das vezes hermética em termos de linguagem; baixa participação dos cidadãos em instituições de classes como sindicatos, cooperativas, associações, clubes, partidos e outras

Page 43: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

42

organizações civis; dificuldade de acesso do cidadão ao poder público, tanto o Executivo quanto o Legislativo e o Judiciário; baixo nível de proteção dado ao cidadão que denuncia irregularidades; baixa confiabilidade do cidadão nos agentes do estado e nos agentes políticos; alto grau de impunidade; existência de mecanismos de controle pouco eficazes e pouco efetivos (PESSOA, 1999, apud. CAMPELLO 2003, p. 2).

Mesmo diante de quadros tão negativos, segundo Serafim (2007), o debate em

torno do papel da participação e do controle social no processo de democratização e reforma

do Estado vem ganhando centralidade em estudos acadêmicos das ciências sociais e na prática

de movimentos e organizações da sociedade civil latino-americana nas últimas décadas.

Nesse processo, diversas formas de participação cidadã para intervenção em

políticas públicas, especialmente em políticas sociais, foram criadas e estudadas. Estes

espaços de participação e controle social são reconhecidos pela literatura como instrumentos

de inclusão de novos atores na arena política e de transformação das relações entre Estado e

sociedade.

Parente (2006, p. 9) escreve que a organização da sociedade moderna no Brasil

baseia-se especialmente no princípio constitucional da liberdade dos cidadãos. Destaca

também outros paradigmas que se encontram enunciados no Preâmbulo da Constituição

brasileira que institui “um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos

sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e

a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos,

fundada na harmonia social e comprometida com a ordem interna e internacional”.

O desejo do Estado em buscar a eficiência e a possível relação desta com a

transparência estimula a reflexão sobre os espaços de participação da sociedade na gestão

pública e o estudo do real alcance desses espaços como canais de promoção da igualdade,

justiça e harmonia social referidas por Parente (2006, p. 9).

No entanto, independentemente dessa relação de causa e efeito entre

transparência e eficiência, a preocupação e aposta na transparência pública se justifica em si

mesma pela dimensão ética que ela incorpora ao setor público.

Os tempos contemporâneos demandam cada vez mais avidamente um Estado

ético, além de um Estado eficiente (GOMES FILHO, 2005, P. 8). Essa preocupação com a

ética e com a eficiência já é capaz de justificar os esforços que se fizerem necessários para o

aprimoramento dos espaços de participação da sociedade na gestão pública.

Page 44: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

43

4.3 O Estado regulador e o surgimento das agências reguladoras

Uma reflexão histórica sobre as reformas ocorridas nos modelos de Estado,

com base no que escreveu Maurano (2004, s.p.) conduz a identificação de três períodos bem

delineados. O primeiro momento caracterizado pelo Estado liberal do século XVIII, que pela

sua inspiração na Revolução Francesa, tinha por foco a liberdade, foi um Estado marcado pelo

não-intervencionismo.

O não-intervencionismo do Estado, por sua vez, trouxe conseqüências

desastrosas como a criação de monopólios que inviabilizaram o funcionamento de pequenas

empresas. Como forma de contraposição a esse liberalismo, surge nos séculos XIX e XX o

Estado social, que constitui, ainda na visão de Maurano (2004, s.p.), um segundo período. O

modelo de Estado social atribui maior importância à igualdade do que a liberdade individual e

econômica. Para que fosse alcançada a igualdade pretendida, seria função do Estado a

condução do processo de desenvolvimento econômico e social.

O exigido crescimento do Estado para abarcar as atividades relacionadas aos

setores da vida social gerou uma administração ineficiente e burocrática, incapaz de cumprir o

que o modelo trazia de proposição (MAURANO, 2004).

O terceiro período que conclui o delineamento feito por Maurano (2004), diz

respeito ao Estado regulador. Esse novo modelo de Estado seria essencialmente regulador e

não executor. Embora o Estado se mantenha como responsável pela definição das políticas

públicas passa a não ser mais o único provedor de serviços, pois com a quebra do monopólio

estatal, estes passaram a também ser assumidos pela iniciativa privada.

No Brasil, a reconfiguração do modelo estatal, ocorrida entre 1995 e 2002, deu

origem a mudanças significativas e, dentre essas mudanças, o governo adotou no país o

modelo das agências reguladoras.

As mudanças ocorridas no Brasil, no entanto, guardam relação com o período

compreendido entre 1930 a meados da década de 1950, no qual, segundo Santos (2006),

houve significativo desenvolvimento da atividade regulatória.

Tal reforma atuou no sentido da transferência ao mercado, por meio do

processo de privatização, de um conjunto de serviços que, o governo julgava, o mercado

proveria com maior eficiência. Conforme Bresser Pereira (1996), o Estado brasileiro

encontrava-se inserido em um ambiente de crise revelada em quatro dimensões: crise fiscal,

crise do modo de intervenção, crise política e, finalmente, crise administrativa referente ao

Page 45: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

44

modelo burocrático de gestão. Observa-se que a atuação do governo se deu, também, no

sentido da descentralização da gestão pública em direção a um maior comprometimento dos

entes subnacionais e da sociedade civil no provimento de políticas públicas. Por fim, se torna

perceptível a tentativa do governo em atuar na reorientação do papel do estado em direção ao

desempenho de sua função reguladora dos serviços de interesse público providos pelo

mercado.

Cumpre ressaltar, segundo Cruz (2009, p. 56), que “[...] o Estado Regulador,

com suas instituições características expressas por agências independentes especializadas,

criadas em substituição à propriedade privada, teve origem nos Estados Unidos. [...]”. Para a

autora, a adoção desse modelo pelo Estado pode ser resumida em três grandes momentos ou

ondas de inovação institucional na América: a era Progressiva, o New Deal e a era da nova

regulação social dos anos 1960. Uma preocupação referida pela autora quanto ao Brasil, diz

respeito à euforia de representantes do alto escalão do governo com a proposta da reforma e

conseqüente adoção de modelos:

Creio ser quase que desnecessário explicar a razão do meu interesse no “novo” e porque sustento que algo novo está surgindo, embora a gestão pública e o Estado sejam instituições antigas. Em um mundo em que a tecnologia muda tão rapidamente, onde o ritmo do desenvolvimento econômico tende a acelerar-se secularmente e onde as relações econômicas e sociais tornam-se cada vez mais complexas, espera-se também que as instituições políticas mudem. As três instâncias políticas que agem nas sociedades capitalistas modernas – a sociedade civil, o Estado (organização e instituições) e o governo – deverão assumir novas formas, novos papéis, novos modos de relacionarem-se umas com as outras e, assim, produzir uma nova governança democrática (BRESSER PEREIRA, 2001, p.1).

Além desse entusiasmo pelo “novo”, segundo Cruz (2009), o apoio de

organismos internacionais como o Banco Mundial − BID, o Fundo Monetário Internacional −

FMI e a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico − OCDE foi decisivo

para que se acreditasse que as privatizações associadas a outros fatores levariam ao

desenvolvimento. Nesse caso, a estrutura regulatória de cada país determinaria o sucesso ou

fracasso desses esforços.

São as agências reguladoras, segundo Maurano (2004), os grandes ícones deste

novo modelo de Estado pelo seu objetivo de normatizar os setores dos serviços públicos

delegados e manter uma relação harmônica e de equilíbrio entre o Estado, usuários e

delegatários. Ainda segundo a mesma autora, são também objeto dos maiores debates e

reflexões, devido ao grande impacto por elas causado, principalmente, no que se refere ao

processo de regulamentação.

Page 46: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

45

AGÊNCIA REGULADORA MINISTÉRIO SUPERVISOR

LEGISLAÇÃO BÁSICA

ANEEL: Agência Nacional de Energia Elétrica

Ministério de Minas e

Energia Lei 9.427, 26/12/96

ANP: Agência Nacional de Petróleo Ministério de Minas e Energia Lei 9.478, 6/8/97

ANATEL: Agência Nacional de Telecomunicações

Ministério das Comunicações Lei 9.472, 16/7/97

ANVISA: Agência Nacional de Vigilância Sanitária

Ministério da Saúde Lei 9.782, 26/1/99

ANS: Agência Nacional de Saúde Suplementar

Ministério da Saúde Lei 9.961, 28/1/00

ANA: Agência Nacional de Águas Ministério do Meio Ambiente Lei 9.984, 17/7/00

ANTAQ: Agência Nacional de Transportes Marítimos

Ministério dos Transportes Lei 10.233, 5/6/01

ANTT: Agência Nacional de

Transportes Terrestres Ministério dos Transportes Lei 10.233, 5/6/01

ANCINE: Agência Nacional de Cinema Casa Civil da Presidência da República

MP 2.228, 6/9/01

ANAC: Agência Nacional de Aviação Civil

Ministério da Defesa Lei 11.182, 27/9/05

Quadro 1 - Sistema Regulatório Brasileiro Fonte: Adaptado de Ramalho (2009)

Do ponto de vista jurídico-institucional, para Mattos (2006), o Estado

regulador brasileiro revelou na sua formação características do movimento de fortalecimento

próprias ao modelo de desenvolvimento econômico keynesiano. A criação de uma burocracia

estatal destinada ao planejamento racional de várias esferas permitiu a clara descentralização

do poder do presidente da República e de seus ministros, mas foi justificada a partir do

próprio Estado e não a partir da sociedade civil.

Um questionamento feito por Di Pietro (2004, p. 37) traz a discussão quanto à

constitucionalidade das ações realizadas pelas agências reguladoras. Para o autor, o

surgimento dessas entidades na Administração Pública copiou o modelo norteamericano

apenas no que se refere à delegação de parcela de poder, não no “procedimento de criação do

direito”.

Levy e Spiller (1996), já consideram que a maior ameaça ao bom desempenho

do mercado está originada na ação discricionária do poder público. Para Cruz (2009), no

entanto, os autores se limitaram a analisar o problema da regulação dos serviços públicos por

meio das lentes da economia neoinstitucional:

Page 47: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

46

Levy e Spiller parecem ignorar, no entanto, que, em busca da credibilidade para atrair investimentos, muitas escolhas e decisões de elevado custo social são assumidas pelos governos. [...] a lógica de mercado não absorve aspectos relativos à promoção da equidade, distribuição de renda, ampliação da cidadania ou outros aspectos relativos à democratização das políticas nos setores em que os serviços são ofertados pelo mercado e que a necessidade de oferecer salvaguardas ao mercado a todo tempo reduz o papel das instituições políticas a meras retificadoras de acordos comerciais e sobrepuja inteiramente a política à economia. (CRUZ, 2009, p. 65).

Ainda segundo Cruz (2009), os autores, possivelmente, pelo viés economicista

da análise e preocupação centrada na eficiência econômica, não vinculam em nenhum

momento as instituições regulatórias com as instituições democráticas.

Por sua vez, Giambiagi (2000), afirma que a criação das agências reguladoras,

no Brasil, inicia uma nova fase de sua economia e destaca a necessidade de um sistema

regulador eficiente, à medida que o processo de privatização chegou à prestação dos

chamados serviços de utilidade pública. Neste sentido, a arquitetura institucional expressa na

legislação de criação das agências reguladoras resultou dos objetivos constantes do Plano

Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE), que orientou o processo de reforma do

Estado brasileiro.

Essa nova configuração de Estado regulador, segundo Perez (2004) fez-se

acompanhar de um novo padrão de ação estatal que considera o cidadão como o foco da ação

pública. O processo institucional de diferenciação e de complementaridade de funções entre

Estado, mercado e sociedade civil organizada, em que se baseia o novo formato de ação do

poder público, é um processo essencialmente político, que tem reflexo nas competências

constitucionais, nos grandes objetivos de governos legitimados pelas urnas e nas demandas

identificadas pelo sistema político e pela burocracia governamental.

Um destaque feito por Lehfeld e Lépore (2007) refere a importância de ampla

participação nas discussões dessa nova configuração do Estado. Para os autores, o bom

exercício funcional das agências reguladoras relaciona-se diretamente com o fortalecimento e

ampliação dos instrumentos democráticos de participação da sociedade na esfera pública.

Com foco na discussão do acesso ao poder, Filho, Jorge e Coelho (2004)

chegaram à conclusão de que a convivência de formas tradicionais de clientelismo político

com os novos formatos assumidos a partir de processos participativos sugere a competição

entre fórmulas clientelistas distintas. Segundo os autores, esta forma de competição oferece

maior possibilidade de escolha, em um contexto de baixa institucionalização dos canais de

acesso aos centros de decisão e alocação de recursos públicos, o que já significa um benefício

considerável.

Page 48: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

47

Ao elaborar roteiro de avaliação das agências reguladoras, Gilardi (2003),

enumera alguns argumentos que, na visão do autor, podem explicar as razões para criação das

agências reguladoras. Entre os pontos elencados, inclui a expertise, flexibilidade,

compromisso com credibilidade, estabilidade, eficácia e eficiência, redução de custos na

tomada de decisão, menor susceptibilidade a incertezas políticas, transferência de

responsabilidade, participação pública e transparência.

A mudança para o Estado Regulador acabou por trazer à discussão a

necessidade de desenvolvimento de instrumentos de accountability e de transparência nas

decisões públicas. Segundo Cruz (2009), a prática do accountability está relacionada a

conceitos de cidadania, sociedade organizada, engajamento cívico, interesses, representação,

prestação de contas, controle, punição, boa governança e poder.

Assimetria de informação, decisões políticas e administrativas vinculadas a

interesses particulares e captura do regulador são apontadas, por Ramos (2003), como graves

falhas de regulação. Em concordância com a autora, Seroa da Motta (2007), refere à

autonomia de decisão por parte das agências reguladoras como a condição necessária para que

se evite a “captura” dos órgãos reguladores pelos interesses daqueles agentes que deveriam

regular ou mesmo pelo próprio governo com ações oportunistas e imediatistas. O mesmo

autor defende a realização de estudos técnicos que contemplem os impactos regulatórios das

decisões e ampla discussão em consultas públicas como mecanismos de estimulo à

transparência.

As diferentes opiniões apresentadas pelos diversos estudiosos do tema,

referidos neste trabalho, deixou claro o grau de complexidade da reforma de Estado. Às

agências reguladoras foram confiadas atribuições importantíssimas de estruturar mercados

onde antes só havia a atuação estatal, e de garantir que esses mercados se pautem por regras

predefinidas (SALGADO, 2003). O incentivo aos investimentos para o desenvolvimento

econômico, a promoção do bem-estar dos consumidores e usuários e o estímulo à eficiência

econômica seriam as funções da regulação exercidas pelas agências.

No caso da Anvisa, não se trata de estruturar um mercado, mas de aperfeiçoar

um processo que vinha sendo realizado pela área de vigilância sanitária do Ministério da

Saúde.

O Estado regulador e as agências reguladoras trazidas para o Brasil com esse

novo modelo, são propostas recentes e em fase de amadurecimento e consolidação. Nesse

sentido, Ramalho (2009) destaca a perspectiva que se afigura para as agências reguladoras de

ajuste estrutural de seu desenho institucional, com expectativa de impacto positivo sobre seu

Page 49: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

48

funcionamento, em especial a sua relação com a sociedade. O mesmo autor refere, ainda com

o mesmo enfoque, a proposta legislativa do Poder Executivo, ora em debate no Congresso

Nacional.

4.4 A Agência Nacional de Vigilância Sanitária

A criação das agências reguladoras, no Brasil, foi fruto da reconfiguração

estatal desencadeada no período entre 1995 e 2002. Deu-se no bojo do processo de

privatização das empresas estatais e da concessão dos serviços públicos no Brasil. Nesse

período foram criadas as dez agências reguladoras, já referidas no corpo deste trabalho:

A reforma do Estado e particularmente, a reforma gerencial é antes uma reforma institucional do que uma reforma de gestão. Está baseada na criação de instituições normativas e de instituições organizacionais que viabilizem a gestão (BRESSER PEREIRA, 1998, p.23).

Os anos 90 se caracterizam, também, pela criação do Sistema Único de Saúde

(SUS). Entre os diversos motivos que reforçam a importância do SUS, destacam-se o teor

inovador dos seus princípios e a possibilidade de que fossem desencadeadas medidas de

descentralização das ações de vigilância sanitária, por parte do Ministério da Saúde. No

âmbito do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), a maioria das mudanças

ocorridas nesse período só foi percebida após a criação da Agência Nacional de Vigilância

Sanitária - Anvisa, que recebeu a incumbência de coordenar esse Sistema.

A Lei Orgânica do SUS, 8080/90, foi responsável por estabelecer o SNVS e

definir as competências dos seus entes. O Sistema engloba unidades nos três níveis de

governo – federal, estadual e municipal – com responsabilidades compartilhadas. No nível

federal, estão a Anvisa e o Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde

(INCQS/Fiocruz). No nível estadual, estão o órgão de vigilância sanitária e o Laboratório

Central (Lacen) de cada uma das 27 Unidades da Federação. No nível municipal, muitos dos

serviços de VISA ainda se encontram em fase de organização. Interagem e cooperam com o

Sistema, órgãos e instituições, governamentais ou não, de diversas áreas. Entre esses, podem

ser citados o Ministérios da Agricultura e Pecuária, Receita Federal, Procon, Ministério

Público e os Conselhos Profissionais.

Page 50: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

49

A Anvisa foi criada pela Lei 9782/99, como autarquia sob regime especial,

vinculada ao Ministério da Saúde, com sede e foro no Distrito Federal, prazo de duração

indeterminado e atuação em todo território nacional. A natureza de autarquia especial

conferida a ela é caracterizada pela independência administrativa, pela estabilidade de seus

dirigentes e pela autonomia financeira. Esse conceito engloba, ainda, a competência

regulatória para intervir nas questões econômicas.

Além de implementar e executar as atividades de vigilância sanitária

contempladas na sua Lei de criação, a agência, tem ainda por atribuições a coordenação do

Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, já referida, fomento e realização de estudos e

pesquisas, regulamentação, administração e arrecadação de Taxa de Fiscalização Sanitária,

autorização do funcionamento de empresas sob regime de vigilância sanitária, atuação como

anuente em processos de importação e exportação de produtos sob controle sanitário,

concessão de registros de produtos de interesse sanitário, concessão e cancelamento de

Certificado de Cumprimento de Boas Práticas de Fabricação, autuação e aplicação das

penalidades previstas em Lei, coordenação das ações de vigilância sanitária realizadas pelos

Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade em Saúde, monitoramento e auditagem dos

órgãos e entidades estaduais, distritais e municipais que integram o Sistema Nacional de

Vigilância Sanitária, monitoramento dos preços de medicamentos e produtos de interesse à

saúde, controle sanitário de pessoas, bens e serviços que circulam em áreas de portos,

aeroportos, fronteiras e recintos alfandegados, entre outras.

Embora a Anvisa englobe no seu campo de atuação todo esse conjunto de

atividades, a Lei de criação da agência, conforme Costa (1999, p. 376 apud LUCCHESE

2001, p. 82), não mostrou-se clara na sua configuração, princípios e diretrizes:

[...] a Lei n° 9.782/99 pretendeu dispor a respeito do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, mas mostrou um vazio frustrante quanto a sua configuração, princípios e diretrizes. Limitou-se a remeter aos dispositivos da Lei n° 8.080/90, que abordam as distribuições de competências entre os três níveis de governo. A Lei Orgânica da Saúde tem caráter de generalidade, e a interpretação que é utilizada para pensar os serviços de assistência à saúde nem sempre se encaixa quando o objeto é a vigilância sanitária, a qual, insisto, tem natureza e singularidades que a diferenciam da área da assistência, demandando debate próprio voltado a sua inserção no SUS, em especial, acerca da descentralização.

Um ponto de grande debate quanto às agências reguladoras está centrado na

sua autonomia financeira e independência administrativa. Nesse sentido, escreve Sundfeld

(2000, p. 256), que “[...] a opção por um sistema de entes com independência em relação ao

Page 51: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

50

Executivo para desempenhar as diversas missões regulatórias é uma espécie de medida

cautelar contra a concentração de poderes nas mãos do Estado”.

Nove anos depois, Pinto (2009), afirma que a autonomia das agências foi posta

em xeque e cita o editorial do jornal O Estadão, na internet, datado de 03 de julho de 2009 e

que traz por título: “Governo tira poder das agências reguladoras”. O editorial refere à portaria

164, de 20 de fevereiro de 2009, publicada com a finalidade de regulamentar uma Lei de

2002, que criou a Procuradoria Geral Federal (PGF). A partir dessa publicação, a defesa das

decisões das agências nos tribunais superiores passou a ser responsabilidade de um

departamento da PGF, vinculado diretamente ao ministro-chefe da AGU. Com isso, o

Executivo passou a ter o poder de moldar a defesa dos interesses das agências aos interesses

do governo. Sobre o tema, é importante citar uma afirmação feita em 2005, pelo Ministro

Sepúlveda Pertence, quando proferiu voto na Ação Direta de Inconstitucionalidade - Adin nº

1.949/RS:

Por mais, no entanto, que a lei lhes haja traçado âmbito cargo de autonomia, não as poderá subtrair das diretrizes gerais da administração do ente de estatal de que é instrumento, cuja fixação é de responsabilidade política do Chefe do Poder Executivo. Assim é que nos parece perfeitamente viável a afirmativa de que a autonomia das Agências Reguladoras é relativa, compatível assim com o ordenamento constitucional, e, por conseguinte, aplicável a elas, a disposição do art. 173 do Decreto-Lei nº 200/67, que autoriza ao Chefe do Poder Executivo, por motivo relevante de interesse público, avocar e decidir qualquer assunto na esfera da Administração Federal (BRASIL, 2005).

Ainda sobre o mesmo tema, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

(IPEA), em 29 de julho de 2009, promoveu no Rio de Janeiro, um debate envolvendo diversas

autoridades. O presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Arthur

Badin, elogiou a reestruturação da AGU na portaria 164/2009, mas defendeu que esse

processo não deve se estender às agencias reguladoras, à Comissão de Valores Mobiliários -

CVM e ao Cade. Segundo ele, “esse modelo institucional visa assegurar as condições

necessárias para que tais entes possam implementar políticas de Estado, de longo prazo, e que

muitas vezes contrariam interesses imediatistas do governo [...]” (IPEA, 2009, s.p.).

No que se refere à estrutura organizacional da Anvisa, é formada por uma

Diretoria Colegiada, composta por cinco Diretores indicados e nomeados pelo Presidente da

República, após sabatina pelo Senado. O mandato de cada Diretor é de três anos, sendo

admitida uma recondução. A Agência apresenta-se organizada por meio de Diretorias,

Gerências Gerais, Assessorias, Núcleos e Unidades. Além dessas áreas técnicas ou

administrativas, a Anvisa dispõe de Ouvidoria, Procuradoria, Corregedoria e Auditoria,

Page 52: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

51

conforme Figura 1. Em 11 de agosto de 2006, a Anvisa publicou a Portaria nº 354, que

instituiu seu novo Regimento Interno.

Figura 1 - Organograma da Anvisa. Fonte: Anvisa (2010).

ONSULTIVO A Agência encontra-se em fase de mudança no seu desenho institucional e

ampla discussão do seu processo de planejamento estratégico. Segundo divulgação feita pela

área de planejamento da agência, as discussões em torno do planejamento estratégico da

instituição deram origem a novas definições da Visão, Missão, Valores e Mapa Estratégico da

instituição. No entanto, no período em que foram coletados os dados, meses de julho a agosto

de 2010, a Anvisa apresentava por missão institucional: “Proteger e promover a saúde da

população garantindo a segurança sanitária de produtos e serviços e participando da

Page 53: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

52

construção de seu acesso.” Os valores definidos são os conhecimentos como fonte de ação, a

transparência, a cooperação e a responsabilização. A visão da instituição é “Ser agente da

transformação do sistema descentralizado de vigilância sanitária em uma rede, ocupando um

espaço diferenciado e legitimado pela população, como reguladora e promotora do bem-estar

social” (Anvisa, 2010).

O processo de criação da Anvisa seguiu o que foi preconizado pela Reforma

do Estado. Segundo Lucchese (2001), estendeu-se de 1995 até 1999 e esteve diretamente

relacionado com o ambiente de crise na questão do controle sanitário. Para o autor, os

escândalos ocorridos nos anos de 1996, 1997 e 1998, especialmente nas áreas de serviços e de

medicamentos, fizeram com que a sociedade tomasse conhecimento da fragilidade e da

precariedade, à época, do modelo de regulação e controle sanitário no Brasil.

A Anvisa foi concebida para desenvolver atividades de regulação de produtos

e serviços e, a exemplo das demais agências reguladoras, contribuir no seu campo de atuação

para o aumento da competitividade e confiabilidade do país.

A função desenhada para a Anvisa ganha forma dentre as atribuições que

desenvolve, no entanto, o que a sociedade e o setor regulado esperam da instituição, por

vezes, parece seguir caminhos contrários.

Enquanto a população, com base nos dados coletados e que se encontram

discutidos no presente trabalho, espera que a agência trabalhe para a melhoria da qualidade de

produtos e serviços, além da ampliação do acesso a estes, o setor regulado soma outros

objetivos.

No sentido de compreender alguns dos objetivos pensados para a agência por

importantes representantes desse setor, cita-se uma parte da entrevista de um empresário ao

periódico Facto, veiculado na internet pela Associação Brasileira de Química Fina,

Biotecnologia e suas Especialidades (Abifina):

A Anvisa nos ajuda muito, mas não 'atrapalha' suficientemente o produto que vem de fora. Não sabemos se os produtos importados seguem os mesmos procedimentos. Mesmo sendo necessários, esses procedimentos levam a custos que tiram um pouco da nossa competitividade (FACTO, 2006,s.p.).

Page 54: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

53

Figura 2 – Matéria do Periódico Facto Abifina. Fonte: Abifina (2010).

As áreas que formam a Anvisa encontram-se divididas em Proteção à Saúde e

vigilância Pós - Comercialização / Pós – Uso. Entre as áreas que formam o campo da proteção

à saúde, encontram-se Agrotóxicos e Toxicologia, Alimentos, Cosméticos, Derivados do

Tabaco, Laboratórios, Medicamentos, Portos, Aeroportos e Fronteiras, Produtos para a Saúde,

Saneantes, Sangue, Tecidos e Órgãos e Serviços de Saúde. Na área de Pós-Comercialização /

Pós–Uso, estão inseridas a Vigipós (vigilância de eventos adversos (EA) e de queixas técnicas

(QT) de produtos sob vigilância sanitária), Farmacovigilância, Regulação Econômica,

Hemovigilância, Fiscalização, Tecnovigilância e Propaganda.

Além dessas áreas denominadas “fins”, existem as áreas “meio” responsáveis

pelas atividades administrativas, de logística e suporte a todas as demais atividades exercidas

pela agência.

A Anvisa tem uma ampla atuação e, nesse contexto, suas ações alcançam a

quase totalidade da população brasileira. Embora não se negue, com base nos dados obtidos,

que houve uma melhoria na situação da vigilância sanitária no Brasil com sua criação, a

agência ainda há de envidar grandes esforços no caminho da ampliação da participação da

sociedade na gestão.

Além disso, conforme já referido em parágrafos anteriores e citações de

autores diversos, a independência da agência é relativa. É supervisionada pelo Ministério da

Page 55: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

54

Saúde e órgãos de controle, sua autonomia financeira também não é total, pois depende da

definição do seu orçamento e nem mesmo os recursos que gera podem ser utilizados em sua

totalidade pela instituição.

Notícia veiculada no portal da revista Veja, na internet, destaca as crescentes

perdas de recursos pelas agências reguladoras:

Entre 1998 e 2009, cerca de 37 bilhões de reais deixaram de entrar no caixa das agências para reforçar o superávit primário (economia para o pagamento dos juros da dívida pública) do governo federal. Só em 2009 foram 8 (oito) bilhões de reais, referentes a receitas diversas, como royalties, taxas de fiscalização cobradas das concessionárias e bônus. Normalmente, esses recursos não podem ser usados para outras finalidades, por isso entram no superávit (VEJA, 2010).

A estabilidade dos dirigentes existe, mas a definição por quem ocupa os mais

altos cargos tem se tornado cada vez mais política e distanciada do contexto técnico que

circunda a instituição. Uma matéria do portal da revista Exame, na internet, disponível desde

novembro de 2005 e assinada por Gesner Oliveira e Thomas Fujiwara já trazia por título a

politização das agências, conforme figura 3.

Figura 3 – Politização das Agências Reguladoras.

Fonte: Exame (2010).

Page 56: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

55

Os autores manifestaram preocupação com o quadro de incerteza regulatória

gerado pela politização das agências e escreveram sobre pontos importantes para minimizar

tal problema: “Além de tirar as agências do foco das pressões políticas, é fundamental blindá-

las em relação às empresas que estão sob sua alçada”.

As agências reguladoras, a exemplo dos seus ministérios supervisores, são

palcos de disputas políticas e disso não podem se furtar, mas o preocupante desses dados

encontra-se na possibilidade de ‘loteamento’ de cargos decisórios e, com isso,

comprometimento das funções básicas que devem ser desenvolvidas pelas agências.

No caso específico da Anvisa, a visão de que entre as suas atribuições estejam

“atrapalhar” a entrada de produtos importados e favorecer as empresas nacionais, ataca os

princípios do SUS e reduz à subserviência econômica a atuação de um órgão regulador que

responde, perante à população brasileira, pela prevenção, proteção e promoção da saúde.

Todo esse cenário que rodeia as agências reguladoras, referenda a importância

de pesquisas nessa área e acontecimentos já referidos e de grande relevância, brindam a

escolha do ano de 2008 para a discussão da participação da sociedade nas ações de vigilância

sanitária. O IV Simpósio Brasileiro de Vigilância Sanitária – Simbravisa, realizado no período

de 23 a 26 de novembro de 2008, também constituiu um importante momento de reflexão.

Com o tema “Vigilância Sanitária e os 20 anos da Constituição Cidadã”, o simpósio destacou

questões relevantes para o SNVS e mais especificamente, para a Anvisa, coordenadora desse

Sistema. Foram apresentados 1.209 trabalhos, o que mostrou uma produção muito

significativa em quantidade e diversidade de conhecimento.

Ainda que o ano de 2008 tenha ocupado posição de destaque no

desenvolvimento do presente trabalho, não se poderia concluir o processo de discussão em

tela, e que trata da participação da sociedade na gestão da Anvisa, sem fazer menção a I

Conferência Nacional de Vigilância Sanitária, realizada em Brasília, no ano de 2001.

Constituiu-se como importante marco na discussão de temas de grande

relevância para a saúde pública, entre os quais, a participação da sociedade e transparência

nas ações de vigilância Sanitária. A própria demanda pela Conferência já é um fato relevante

para discussão, conforme descrito no Relatório Final (CONFERÊNCIA NACIONAL DE

VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2001, p.15):

O pressuposto básico que orientou o processo de construção da Conferência Nacional de Vigilância Sanitária foi a demanda política por realizá-la. Ao longo da última década, os trabalhadores de vigilância sanitária e setores organizados da sociedade, em especial aqueles preocupados com a qualidade e segurança de produtos e serviços de saúde, foram os principais porta-vozes dessa demanda. A

Page 57: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

56

convocação da Conferência foi requerida pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) ao Ministério da Saúde e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), em abril de 2001, conforme deliberação da plenária da 11ª Conferência Nacional de Saúde. Em junho de 2001, a proposta de realização da Conferência foi apresentada ao Conselho Consultivo da ANVISA, aos Conselhos Nacionais dos Secretários Estaduais de Saúde e Nacional dos Secretários Municipais de Saúde, e ao próprio Conselho Nacional de Saúde, em reunião ordinária. A dinâmica da organização se desenvolveu a partir do acolhimento favorável por essas instâncias, com a proposta de realizar as fases estadual e nacional ainda em 2001.

Pontos referidos no mesmo relatório, páginas 27 a 28, também merecem

ocupar posição de destaque na discussão a que o presente trabalho se propôs:

Os participantes da I Conferência Nacional de Vigilância Sanitária consideraram que a sua realização representou avanços importantes no processo de construção do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), e que este componente do Sistema Único de Saúde (SUS), para se tornar efetivo, deve obedecer, nas três esferas de governo, aos mesmos princípios e diretrizes do SUS - universalidade, integralidade, eqüidade, descentralização, participação e controle social (...) (CONFERÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2001, P. 27).

Ao destacar do texto o que se encontra escrito sobre participação popular e

controle social, observa-se que os participantes manifestaram preocupação com a falta de

controle social sobre a vigilância sanitária e também com o tratamento dado pelos gestores

das três esferas de governo, que, por sua vez, tem dissociado a vigilância sanitária do SUS.

Participação popular e controle social – são princípios fundamentais de exercício dos valores democráticos que devem ser implementados no SUS como um todo, e na Vigilância Sanitária em particular. O limitado exercício do controle social sobre a Vigilância Sanitária é relacionado ao fato de que os Conselhos de Saúde dão pouca prioridade às questões dessa área, e os serviços de Vigilância Sanitária raramente divulgam informações aos Conselhos e à população em geral. Salvo raras exceções, falta a necessária parceria com diversos atores, entre os quais representações de usuários, setor regulado e conselhos profissionais. Os participantes salientaram que esses princípios ainda não são cumpridos, em sua plenitude, em nenhuma área do SUS, mas, na Vigilância Sanitária, essa situação é mais acentuada. Reconhecem, todavia, que apesar dos esforços no sentido da efetivação do SUS, a Vigilância Sanitária – não obstante constituir um dos pilares da transformação do sistema de atenção à saúde, em face de sua natureza preventiva, – vem recebendo um tratamento por parte dos gestores das três esferas de governo que a dissocia desse sistema (RELATÓRIO FINAL DA CONFERÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2001, P. 28).

Em síntese, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária tem grandes objetivos,

compromissos, atribuições e preserva uma especificidade, se comparada às demais agências:

coordena um sistema nacional. Esse sistema é por um lado autônomo, mas por outro, carente

de suporte técnico, jurídico, financeiro, político e operacional. Criar novos e consistentes

espaços de participação da sociedade ou aprimorar os que se encontram em uso com ampla

Page 58: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

57

participação dos demais entes do SNVS não pode ser visto como uma concessão, mas talvez

seja a parceria da sociedade nos processos de gestão das agências reguladoras, a forma de

possibilitar à instituição o cumprimento do lhe é atribuído por Lei e pela expectativa da

sociedade.

4.5 Espaços de Participação da Sociedade nos Processos de Gestão da Anvisa

A avaliação dos processos e os significados dos espaços de participação da

sociedade na gestão pública, na visão de Rizek (2002), são ainda discutidos a partir dos

próprios conflitos entre a sociedade e o Estado. A autora destaca que essa condição pode se

explicar pelo fato de que a participação efetiva da sociedade nos espaços públicos e de

exercício do controle social conduz a uma possibilidade de partilha no poder. Essa

possibilidade acaba por trazer resistências à criação de espaços consistentes para influenciar

nos processos de decisão por parte de gestores públicos. Esse processo de insularização dos

espaços de participação da sociedade acaba por conduzir essa participação a uma função

consultiva ou apenas legitimadora das decisões já tomadas pelos gestores das instituições

públicas.

[...] deslocamento da noção de representatividade não é obviamente inocente nem em suas intenções nem em suas conseqüências políticas. Seu exemplo mais extremo é o Conselho da Comunidade Solidária, vinculado ao governo federal, onde a representação da sociedade civil se dá através de convites a indivíduos com alta "visibilidade" na sociedade [...]. Esse entendimento particular da noção de representatividade a reduz à visibilidade social, entendida, por sua vez, como o espaço ocupado nos vários tipos de mídia (DAGNINO, 2002, p. 291).

Assim, o Estado pode limitar a participação da sociedade de várias formas,

inclusive por meio da burocratização, utilização de meios e linguagens técnicas não acessíveis

a grande parcela da sociedade, exigência de qualificação técnica e política para representação

entre outros pontos igualmente relevantes. As disputas de interesses, concepções e projetos

políticos também se constituem em fragilização da representação da sociedade.

Diante de tais possibilidades e do conhecimento de que as agências

reguladoras são estruturas relativamente novas no país, mas concentradoras do controle de

campos importantes para a qualidade de vida da população, a preocupação em que haja uma

participação efetiva da sociedade se faz relevante.

Page 59: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

58

A capacidade transformadora da qualidade de produtos, dos processos e das

relações sociais faz com que a vigilância sanitária, segundo Lucchese (2001, p. 2), também

possa ser concebida como um espaço de exercício de cidadania e de controle social. O mesmo

autor destaca, no entanto, que há um grande espaço, precariamente explorado, para a ação

educativa no âmbito da vigilância sanitária. Ainda segundo o autor, isso ocorre tanto no que

se refere ao entendimento do risco à saúde, quanto com os direitos da cidadania.

Muitos são os espaços legítimos de participação da sociedade. No caso da

Anvisa, os fóruns de vigilância sanitária, grupos de trabalho, atendimento presencial, entre

outros são comumente usados, mas como forma de obtenção de dados para a pesquisa, optou-

se por destacar os espaços de participação da sociedade, usuais na instituição, previstos em

regulamento e que se encontram publicados em seu portal na internet. Estão divididas em oito

espaços de participação, chamados de Consultas Públicas, Audiências Públicas, Agenda

Regulatória, Conselho Consultivo, Câmaras Setoriais, Câmaras Técnicas, Ouvidoria e Visa

Mobiliza.

Figura 4 – Espaços de participação da sociedade na Anvisa.

Fonte: Anvisa (2010).

Page 60: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

59

Consultas Públicas

São mecanismos utilizados por algumas instituições para buscar dos diversos

setores, com afinidade aos temas discutidos, sugestões, propostas e por que não dizer,

validação do que a instituição está se propondo a trabalhar. No caso da Anvisa, as Consultas

Públicas foram instituídas pelo Regimento Interno, Portaria 354/2006.

No Regimento da Anvisa consta a definição de consultas públicas como a

expressão da decisão que submete documento ou assunto a comentários e sugestões do

público em geral.

Antes da publicação de uma nova norma, resolução ou regulamento, a Anvisa

tem por procedimento consultar a população para saber sua opinião sobre a questão. Para cada

assunto, é criado um fórum virtual de discussão e ao terminar o prazo da consulta, as

contribuições enviadas devem ser analisadas.

Audiências Públicas

Constitui um espaço de participação no qual são debatidos temas importantes

para setores da sociedade ou para a sociedade como um todo. As audiências públicas

encontram-se previstas na Portaria 354/2006. Consta no Art. 51 da referida Portaria, que as

iniciativas de Projetos de Lei ou de alteração de normas administrativas que impliquem

afetação de direitos sociais do setor de saúde ou dos consumidores propostas pela Anvisa,

poderão ser precedidas de audiência pública, abertas a toda a população. Segundo

informações no portal da instituição, na internet, as datas, locais e horários das audiências são

previamente divulgados.

Agenda Regulatória

É o conjunto de temas estratégicos e prioritários que serão objetos da atuação

Page 61: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

60

regulatória, incluindo tanto a previsão dos novos regulamentos quanto aqueles que demandam

revisão ou atualização.

A Agenda Regulatória, conforme descrito na Portaria 354/2006 (inclusão dada

pela Portaria nº 447, de abril de 2009 – publicada no Diário Oficial da União – DOU de

08/04/09), expressa a deliberação da Diretoria Colegiada sobre os temas prioritários para a

regulamentação pela Anvisa, em determinado período. Caracteriza-se como espaço de

participação social pela possibilidade de ampla discussão com a sociedade, dos temas

prioritários a serem normatizados pela instituição. A análise prévia do possível impacto

regulatório, que deve ser feita de forma ampla e com a participação de todos os setores

envolvidos é mais um dos pontos que referenda a inclusão da Agenda Regulatória como

espaço de participação social.

Conselho Consultivo

É um colegiado da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa,

responsável pelo acompanhamento das atividades e apreciação dos requerimentos da Agência.

Encontra-se em funcionamento desde junho de 2000 e tem por base legal de sua constituição,

a Lei n° 9.782, de 26 de janeiro de 1999, o Decreto nº 3.029, de 16 de abril de 1999, o

Decreto nº 3.571, de 21 de agosto de 2000 e a Portaria Nº. 354, de 11 de agosto de 2006, que

no seu Art. 7º traz a composição do Conselho Consultivo e no Art. 8º suas competências:

Art. 7º. O CONSELHO CONSULTIVO será composto por:

I. Ministro de Estado da Saúde ou seu representante legal, que o presidirá;

II. Ministro de Estado da Agricultura ou seu representante legal;

III. Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia ou seu representante legal;

IV. Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Saúde - um representante;

V. Conselho Nacional dos Secretários Municipais de Saúde - um representante;

VI. Confederação Nacional das Indústrias - um representante;

VII. Confederação Nacional do Comércio - um representante;

VIII. Comunidade Científica - dois representantes convidados pelo Ministro de Estado da

Saúde;

IX. Defesa do Consumidor - dois representantes de órgãos legalmente constituídos;

X. Conselho Nacional de Saúde - um representante.

Page 62: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

61

Parágrafo único. O Diretor-Presidente da Agência participará das reuniões do Conselho

Consultivo com direito a voz, mas não a voto.

Art. 8º. Ao CONSELHO CONSULTIVO compete:

I. requerer informações e propor à Diretoria Colegiada as diretrizes e recomendações

técnicas de assuntos de competência da ANVISA;

II. opinar sobre as propostas de políticas governamentais na área de atuação da ANVISA;

III. apreciar e emitir parecer sobre os relatórios anuais da Diretoria Colegiada;

IV. requerer informações e fazer proposições a respeito das ações decorrentes da

implementação e da execução do disposto nos incisos II a VII do art. 2º da Lei nº

9.782, de 26 de janeiro de 1999.

Parágrafo único. O funcionamento do Conselho Consultivo será disposto em regimento

interno próprio, aprovado pela maioria dos Conselheiros e publicado pelo seu Presidente.

Câmaras Setoriais

A Anvisa implantou em 2005, por meio da Portaria 404/2005, Câmaras

Setoriais que também tem caráter consultivo. Reúnem órgãos públicos, sociedade civil e o

setor produtivo para debater assuntos estratégicos para a instituição e subsidiar as decisões de

sua Diretoria Colegiada. Em 2005, iniciaram suas atividades as Câmaras de Cosméticos,

Medicamentos, Produtos para Saúde, Propaganda e Publicidade de Produtos Sujeitos à

Vigilância Sanitária, Serviços de Saúde e Toxicologia. Posteriormente, iniciaram suas

atividades, as Câmaras de Portos, Aeroportos, Fronteiras e Recintos Alfandegados, Alimentos

e Saneantes.

Conforme consta no Regimento Interno da Anvisa, Portaria 354 de 11 de

agosto de 2006, as Câmaras Setoriais são uma forma organizada de atuação temática, de

caráter consultivo e de assessoramento, no sentido de subsidiar a Agência nos assuntos de sua

área de competência.

Seu funcionamento se dá por meio de reuniões pré-agendadas, ordinárias ou

extraordinárias, que devem se realizar pelo menos uma vez ao ano. Tem por competências a

identificação dos temas prioritários para discussão, além da proposição de diretrizes

estratégicas para a atuação da ANVISA.

Page 63: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

62

A composição padrão das câmaras se faz com a representação da Sociedade

Civil, Setor Regulado e Governo. Compõem a estrutura das câmaras: Presidente, Coordenador

Técnico e Secretaria Executiva. O Presidente é o próprio Diretor da área, enquanto a área que

é tema da câmara, responde pela Coordenação Técnica e Secretaria Executiva. A Ouvidoria é

convidada permanente em todas as reuniões e, além das reuniões formais, as câmaras podem

dispor de sub-câmaras e grupos de trabalho.

A instituição apresenta dez câmaras em funcionamento, com mais de trezentas

entidades sendo representadas.

Câmaras Técnicas

Além da representação no Conselho Consultivo e nas Câmaras Setoriais, a

comunidade científica se faz representar, também, nas Câmaras Técnicas. Esses especialistas

dão assessoramento às decisões técnicas tomadas pela Agência.

Estão em funcionamento as Câmaras de Alimentos, Cosméticos,

Medicamentos, Medicamentos Fitoterápicos, Produtos para a Saúde e Saneantes.

Pela seletividade de participantes, conforme descrito na referência à

metodologia utilizada para a pesquisa optou-se por apenas citar esse espaço, sem entrar em

maiores detalhes.

É essa característica técnica e científica que diferencia as câmaras técnicas das

câmaras setorias.

Ouvidoria

A Ouvidoria da Anvisa, criada pela Lei 9782/99, é um canal de comunicação

por meio do qual a população se manifesta e a Instituição deve responder e informar. O

sistema AnvisAtende, da Ouvidoria, se constitui em um dos principais canais de acesso da

população às ações da Anvisa.

O Ouvidor é indicado pelo Ministro da Saúde e nomeado pelo Presidente da

República para mandato de dois anos, admitida uma única recondução, sendo vedado a ele ter

Page 64: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

63

interesse, direto ou indireto, em quaisquer empresas ou pessoas sujeitas à área de atuação da

Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

São competências da Ouvidoria:

� Receber denúncias e queixas dos cidadãos e instituições e definir junto aos responsáveis

pelos encaminhamentos a resposta que será dada ao denunciante ou queixoso,

mencionando, se for o caso, as providências a serem tomadas;

� Cobrar a solução das demandas dentro dos prazos pactuados e, em caso de atraso,

solicitar providências;

� Produzir relatórios mensais à Diretoria Colegiada informando sobre providências e

encaminhamentos produzidos dentro da organização, bem como eventuais pendências.

Dos relatórios produzidos pela Ouvidoria foram retirados diversos dados

apresentados no presente trabalho, sendo citados a seu tempo.

VISA Mobiliza

Também foi criado um espaço para que a sociedade pudesse articular uma rede

de atores sociais da sociedade civil organizada e das três esferas de governo, para mobilização

em torno de questões de vigilância sanitária. Esse espaço foi muito bem aceito, mas acabou

não sendo fortalecido e não houve continuidade.

O Visa Mobiliza teve suas atividades reiniciadas em 2010, mas com outro

formato.

Podem-se citar outros espaços de participação da sociedade na gestão da

Anvisa e que contribuem para a transparência das ações da instituição. Exemplos desses

espaços são a central de atendimento por meio de um telefone 0800 e as audiências

presenciais. Dessas audiências, previamente agendadas, participam profissionais da Anvisa e

representantes de empresas ou diversas organizações. Sem dúvida são espaços importantes,

citados em alguns momentos, mas não muito detalhados no presente estudo, pela fase ainda

inicial da central de atendimento e maior utilização das audiências presenciais pelo Setor

Regulado.

Mesmo diante da disponibilidade de espaços de participação da sociedade que

podem ter interferência no processo de gestão das agências reguladoras, para Faleiros (2004),

em geral a presença do consumidor nas agências é limitada. Ainda segundo o autor, o cidadão

Page 65: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

64

é visto como um consumidor e embora tenha o direito assegurado pelas agências de registrar

uma reclamação, é esquecido ou pouco representado no momento de tomada de decisão.

Um trabalho desenvolvido pela UnB, em 2006, relata que mesmo diante de um

quadro longe do desejável, a Anvisa é uma das agências mais ativas por não abandonar o

objeto de consulta do cidadão até que este tenha uma resposta.

4.6 Participação da sociedade e transparência em um contexto internacional

Ao tratar dos espaços de participação da sociedade na Anvisa e segundo o que

escreveu Cruz (2009), sobre as agências reguladoras terem sido adaptadas do modelo

americano, propõe-se, nesse momento, e dentro da contextualização de participação e

transparência, uma breve reflexão acerca de algumas das formas definidas pelas agências de

saúde americana, européia e brasileira para lidar com a participação da sociedade e

transparência da instituição.

Não é proposta entrar em um maior nível de detalhamento, apenas serão

referidos alguns acontecimentos que chamam atenção pelo tratamento que receberam e,

algumas vezes, repercussão internacional que tiveram.

Para tal, foram utilizados os portais, na internet, da Food and Drug

Administration – FDA, nos Estados Unidos da América; e da Anvisa.

De início, faz-se menção a uma informação retirada do portal do FDA em 10

de julho de 2010, que cita um memorando do Presidente Obama, datado de 21 de janeiro de

2009. Esse documento foi referido como mais um dos mecanismos de direcionamento do

governo americano para a ampliação da transparência e abertura governamental. Conforme o

citado memorando, a Administração se comprometeu a tomar as medidas adequadas para

divulgar informação ao público de forma rápida, simples e de fácil aceso.

No sentido de cumprimento da determinação do Presidente, o FDA, órgão

governamental que faz o controle dos alimentos (tanto de uso humano como animal),

suplementos alimentares, medicamentos (humano e animal), cosméticos, equipamentos

médicos, materiais biológicos e produtos derivados do sangue humano, anunciou a formação

de um grupo de trabalho sobre transparência. Esse grupo tem a finalidade de fazer

recomendações sobre a forma de melhorar a abertura e a transparência das informações da

agência, contribuindo para que a população tenha um melhor acesso a informações úteis

Page 66: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

65

quanto às atividades dessa agência reguladora americana e tomadas de decisões de seus

gestores.

Figura 5 – Página do FDA direcionada aos consumidores. Fonte: Portal do FDA na internet (2010).

A EMEA passou a ter existência formal a partir da aprovação pelo Conselho

da União Européia - UE do Regulamento (EEC) 2309/93, de 22.07.1993. Tem a

responsabilidade de coordenar os recursos científicos disponíveis para a avaliação e

supervisão de medicamentos, seja de uso humano, seja de uso veterinário.

Em 5 de julho de 2009 a EMEA, na divulgação de sua política de

transparência, lançou um projeto de consulta com a finalidade de aprimorar os mecanismos

que a agência utilizaria para facilitar a abertura em todas as suas áreas de operação. A

consulta sobre a política de transparência da EMEA foi aberta em 25 de setembro de 2009.

Page 67: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

66

Figura 6 – Página da EMEA direcionada aos pacientes.

Fonte: Portal da EMEA na internet (2010).

O Estudo dos espaços de participação social na Anvisa parece conduzir a uma

observação de que o ano de 2008 pode ter representado um marco na discussão da

transparência na instituição. Embora já existissem espaços para a participação social

oficializados, a possibilidade de previsibilidade, padronização dos procedimentos e análise de

impacto regulatório fizeram da Agenda Regulatória uma grande promessa de ampliação da

transparência.

Page 68: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

67

Figura 7 -– Página do cidadão.

Fonte: Portal da Anvisa na internet (2010).

Conforme proposto, uma breve análise das três páginas das instituições na

internet e dos diferentes encaminhamentos para ampliar a participação da sociedade e

melhorar a transparência, já permite algumas observações interessantes.

Em primeiro lugar, observa-se que mudanças importantes se iniciaram com o

cumprimento de uma determinação do Presidente americano, por meio de um memorando.

Não se sugere aqui que tudo seja rápido e de fácil operacionalização. Tais colocações, tão

somente, são utilizadas como pontos de reflexão. Em segundo lugar, é importante que se

observe a data do memorando, 21 de janeiro de 2009, a data de divulgação dos grupos de

trabalho no portal do FDA, 02 de junho de 2009 e que se compare com a data de publicação

da política de transparência da EMEA, 05 de julho de 2009, conforme dados retirados do

portal da EMEA em 14 de agosto de 2010. Essas observações sugerem grande ligação entre as

Page 69: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

68

duas agências e que o FDA tem ocupado uma posição de destaque na definição de formas de

atuação, inclusive, no que se refere à relação com o consumidor.

As terminologias de referência para o público, ao qual se dirigem as notícias,

preservam uma diferença interessante entre os três órgãos. O FDA denomina esse público por

consumidores, a EMEA chama de pacientes e a Anvisa de cidadãos.

Ao sair do campo das terminologias e enfocar um contexto operacional, o

quadro 1 traz uma demonstração clara das diferenças entre as agência brasileira e americana,

no que se refere a tempo de funcionamento, quantitativo de pessoal, orçamento e áreas de

atuação:

A regulação no Brasil e nos Estados Unidos

Veja as principais características da Anvisa e da FDA, a agência americana

Agência Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(Anvisa) Food and Drug Administration (FDA)

Data de origem 1999 1906

Número de

funcionários 2 930 11 000

Orçamento 341 milhões de reais 4,6 bilhões de reais

Áreas de

atuação

Regulamenta os mercados de alimentos,

remédios e cosméticos

Monitora preços e propagandas

Fiscaliza restaurantes

• Interfere na concessão de patentes para

medicamentos

Regulamenta os mercados de alimentos,

remédios, cosméticos e produtos veterinários.

Quadro 2 - Comparação entre a FDA e a Anvisa

Fonte: Adaptado do Portal Exame (2010)

Os dados do Quadro 1 são referentes a 2005, ano de ingresso dos primeiros

concursados na Anvisa, e nesses cinco anos muito desse quadro já foi modificado. No entanto,

a juventude da Anvisa, sua maior área de atuação, menor número de funcionários, funções na

coordenação do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária – SNVS e compromissos como

parte do Sistema Único de Saúde – SUS, constituem grande desafio, inclusive para o

aprimoramento da participação da sociedade e transparência da instituição.

Page 70: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

69

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Analisar os espaços de participação da sociedade e a transparência na gestão

pública tem sido o foco de vários estudos e objeto de pronunciamentos diversos. A Anvisa

também tem manifestado preocupação em discutir o tema, o que se observa por meio de

simples visita ao seu portal, na internet. Tais referências, no entanto, podem não significar que

a participação e a transparência, descritas no portal, tenham sido alcançadas na prática ou que

sejam frutos da participação da sociedade.

No sentido de conhecer a realidade dos espaços de participação da sociedade

na Anvisa e sua contribuição para a transparência da instituição, apresenta-se, neste capítulo,

os resultados obtidos por meio do estudo dos dados levantados e a discussão desses

resultados.

Antes de entrar na apresentação dos dados referentes aos espaços de

participação da sociedade na Anvisa, entendeu-se que seria interessante apresentar alguns

dados de um canal utilizado pela Presidência da República, o Portal da Transparência, para

conhecer melhor o interesse da sociedade pela transparência na Gestão Pública. É importante

que seja lembrado que esse interesse do Governo não partiu, apenas, do interesse do próprio

Governo em prestar contas do que faz, mas se iniciou em cumprimento à Lei Complementar

nº. 101, promulgada em quatro de maio de 2000, que estabelece normas de finanças públicas

voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. Outro momento importante a ser destacado,

com foco na transparência, diz respeito à Portaria Interministerial Nº. 140, publicada em 16 de

maio de 2006. Essa Portaria disciplinava a divulgação de dados e informações pelos órgãos e

entidades da Administração Pública Federal, por meio da rede mundial de computadores –

internet.

A busca no portal da transparência do Governo Federal permitiu uma análise

estatística de acesso às páginas de transparência. Os dados trabalhados, dizem respeito ao ano

de 2008, conforme quadro 2. No entanto, na tentativa de analisar o crescimento ou o

decréscimo do interesse da sociedade pelo tema, o quadro 3, referente ao ano de 2009,

permite uma comparação com o quadro anterior.

Page 71: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

70

Total Médias

Mês Visitas Páginas vistas Visitas por dia Páginas por visita

Janeiro

93.284 615.861 3.009 6,60

Fevereiro

113.262 813.665 3.906 7,18

Março

144.436 945.535 4.659 6,55

Abril

168.394 1.048.698 5.613 6,23

Maio

167.141 1.176.112 5.392 7,04

Junho

119.943 1.117.082 3.998 9,31

Julho

93.644 1.282.569 3.021 13,70

Agosto

81.482 1.271.779 2.628 15,61

Setembro

82.588 1.556.787 2.753 18,85

Outubro

84.655 1.502.881 2.731 17,75

Novembro

83.497 1.614.976 2.783 19,34

Dezembro 72.060 1.359.863 2.325 18,87

Média Mensal de 2008

108.699 1.192.151 3.771 10,88

Total de 2008 1.304.386 14.305.808 - -

Quadro 3 – Estatísticas de acesso às páginas de transparência do portal do governo federal no ano de 2008

Fonte: Portal da Transparência da Presidência da República – Controladoria Geral da União (2010)

Page 72: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

71

Quadro 4 – Estatísticas de acesso às páginas de transparência do portal do governo federal.

Fonte: Portal da Transparência da Presidência da República – Controladoria Geral da União (2010)

Essa análise, ainda que superficial, permite observar a queda no acesso ao

Portal da Presidência da República. Ainda que acesso à internet não signifique transparência,

a diminuição da importância dada pela Sociedade às informações disponíveis torna ainda mais

Total Médias

Mês Visitas Páginas vistas Visitas por dia Páginas por visita

Janeiro

65.791 1.128.921 2.122 17,16

Fevereiro

57.015 354.970 2.036 6,23

Março

59.346 217.506 1.914 3,67

Abril

53.573 142.861 1.786 2,67

Maio

Junho

Julho

Agosto

Setembro

Outubro

Novembro

Dezembro

Média Mensal de 2009 58.931 461.065 1.965 7,43

Total de 2009 235.725 1.844.258

Page 73: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

72

complexa à compreensão da demanda crescente da população quanto à transparência na

gestão pública.

Com a finalidade de obtenção de dados relevantes e poder comparar melhorias

ou retrocessos relacionados ao ano de 2008, apresenta-se, a partir deste trecho, dados do

relatório da Câmara de Comércio Americana – Amcham, ano de 2009.

O relatório da Amcham teve por base respostas formuladas por,

aproximadamente, 200 (duzentos) representantes do ente regulado. O relatório traz em sua

introdução o reconhecimento de progressos importantes alcançados pela Anvisa no diálogo

com o setor regulado, transparência e eficiência da regulação (Amcham, 2009). O mesmo

relatório, por sua vez, apresenta informações que podem levantar algumas dúvidas ao citar

que 33,33% dos informantes indicam as formas presenciais de comunicação com a Anvisa

como as mais eficientes e logo depois traz o dado que de 2008 para 2009 aumentou de

47,06% para 65,5% o percentual dos informantes com avaliação de que, frequentemente, as

formas não presenciais de comunicação com a ANVISA são meios eficazes para solucionar

problemas ou esclarecer dúvidas.

Outro ponto significativo, constante do relatório da Amcham, diz respeito às

consultas públicas. Segundo os autores, quando foi feita a avaliação quanto à frequência com

que a ANVISA leva em consideração as sugestões enviadas em consultas públicas, tendo por

critérios nunca, sempre, frequentemente e raramente, o percentual daqueles que responderam

frequentemente caiu de 43,3% em 2008 para 39,1% em 2009. Ainda segundo o relatório e na

comparação entre os dois anos, quando perguntados quanto à frequência em que as resoluções

da Anvisa são claras, caiu de 58,8% em 2008 para 43,5% em 2009 o percentual daqueles que

avaliaram como frequentemente. Vale lembrar que no ano de 2008 iniciou-se o processo de

discussão da Agenda Regulatória 2009 e que pela primeira vez foi mais claramente notado um

princípio de chamamento da sociedade para participar da definição do que seria prioritário no

campo da regulamentação sanitária.

Não é possível saber se esse aumento na falta de clareza nas resoluções da

Anvisa deveu-se a maior discussão e, com isso, a tentativa de conciliar interesses diversos ou

se a percepção da falta de clareza foi possível pelo maior envolvimento e participação da

sociedade no processo de discussão estimulado por meio da Agenda Regulatória.

Embora o ano de 2008 tenha sido escolhido como base para o presente

trabalho, por motivos já detalhados na metodologia, com o objetivo de trazer informações

mais consistentes, foi feito contato com diversas áreas da Anvisa, responsáveis pela Secretaria

Executiva de alguns dos espaços de participação. Nesse contato, solicitaram-se das áreas

Page 74: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

73

técnicas que fossem disponibilizados os dados públicos, que não se encontravam atualizados

no portal da instituição, na internet. Apenas duas áreas retornaram o contato.

ÁREA CONSULTAS PRINCIPAIS TEMAS ABORDADOS

Toxicologia 40 Monografias dos ingredientes ativos dos agrotóxicos. um insubsistente, conforme RDC nº 97, de 23 de dezembro de 2008.

Medicamentos 10

Eleição de medicamentos de referência, atualização da Farmacopéia Brasileira, vacinas e soros, bula de medicamentos, insumos farmacêuticos, equivalência e bioequivalência, rastreabilidade e autenticidade de medicamentos.

Alimentos 7

Limites máximos de aditivos, alimentos para atletas, corantes, rotulagem de ovos, utilização de enzimas na produção de alimentos e cera de carnaúba em produtos, na panificação.

Saneantes 4

Funcionamento de empresas controladoras de pragas, alvejantes a base de hipoclorito, proibição do uso, de forma isolada, de produtos que contenham paraformaldeído ou formaldeído, para desinfecção e esterilização, envase de produtos na forma de aerossóis.

Produtos para a Saúde

4 Implantes ortopédicos, Denominação Comum Brasileira de Produtos para Saúde.

Portos, Aeroportos e Fronteiras

2

Vigilância sanitária de meios de transporte terrestres de carga ou coletivo de passageiros, pontos de apoio, terminais rodoviários, terminais ferroviários em passagens de fronteiras, vigilância de portos de controle sanitários.

Vigilância Pós-Comercialização

2

Análise e investigações dos eventos adversos e queixas técnicas de produtos, farmacovigilância para os detentores de registro de medicamentos e representantes legais de empresas farmacêuticas.

Serviços de Saúde 2 Surto por Micobactérias de Crescimento Rápido, infecções Relacionadas à Assistência à Saúde em Neonatatologia.

Sangue, Tecidos e Órgãos

1 Funcionamento de bancos de tecidos oculares.

Cosméticos 1 Produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes, quando fabricados no Brasil e destinados exclusivamente à exportação.

Outros 2 Cadastro Nacional em VISA, utilização do protocolo da Anvisa.

Quadro 5 – Consultas Públicas por área da Anvisa

Fonte: Elaborado pela autora (2010)

Page 75: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

74

Um motivo citado para a dificuldade na obtenção dos dados necessários ao

bom andamento da pesquisa foi à mudança no portal da instituição na internet, o que ocorreu

nos últimos meses do ano de 2009, mas sua adaptação tem se conformado em um processo

lento e falho.

Entende-se que mudanças de grande monta comprometem provisoriamente um

processo de trabalho que se tenha definido, no entanto, o impacto talvez tivesse sido menos

percebido se a preocupação com a transparência nos atos públicos já fosse, de fato, uma

prática extensiva a todas as áreas que formam a Anvisa.

5.1 Consultas Públicas

Para o levantamento dos dados que analisaram a importância das consultas

públicas como espaço de participação da sociedade na Anvisa, utilizou-se informações

presentes no portal da instituição, na internet, e no caso de esclarecimento de dúvidas, foram

consultadas as áreas específicas da Anvisa, as quais estavam relacionadas as informações.

No ano de 2008 a Anvisa realizou 75 (setenta e cinco) consultas públicas. A

área de Toxicologia respondeu por 40 (quarenta) consultas, o que equivale a 53%. As áreas de

Medicamentos e Alimentos colocaram em consulta pública 10 (dez) ou 13, 3% e 7 (sete) ou

9,3% do total de normas, respectivamente. As consultas públicas realizadas em 2008

corresponderam a uma média de 6 (seis) a cada mês, ou seja, mais de uma consulta pública

por semana.

As áreas de Serviços de Saúde; Portos, Aeroportos, Fronteiras e Recintos

Alfandegados; Cosméticos; Produtos para a Saúde; Saneantes; Sangue, Órgãos e Tecidos; e

Vigilância Pós-Comercialização também submeteram propostas de normas à consulta pública

no ano de 2008

Com base nos resultados obtidos, observa-se que no ano de 2008, das 75

(setenta e cinco) consultas pública realizadas, 40 (quarenta) delas, ou seja, 53% couberam a

área de toxicologia. Segundo a área de toxicologia, tal fato se deve a necessidade de

atualização das monografias de princípios ativos de agrotóxicos, que em alguns casos,

datavam de período anterior a criação da Anvisa. Outra justificativa para o grande número é a

necessidade de modificação a cada nova destinação de um ingrediente ativo ou alteração de

uso proposta pelo fabricante.

Page 76: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

75

A área de Medicamentos, com quase 14% do total de normas submetidas à

consulta pública no ano de 2009, tem consolidada sua complexidade, diversidade de assuntos

e necessidade de atualização. O impacto dos temas discutidos justifica a importância de

consultas públicas participativas que venham a contribuir para a elaboração de normas

maduras e com significativos benefícios para a sociedade.

A terceira área em volume de normas com revisão proposta foi Alimentos.

Essa área conforma ações de grande importância para Estados e ainda mais para municípios,

principais executores das ações de vigilância sanitária. Tal abrangência, mais do que justifica,

exige um processo de elaboração de normas em que se avalie bem o impacto regulatório,

inclusive para os demais entes que formam o SNVS.

As demais áreas que apresentaram, na discussão iniciada em 2008, proposta de

reformulação de normas para o ano de 2009, também demandam acompanhamento, pois o

impacto que pode ser causado aos setores sob acompanhamento será mais bem mensurado se

a proposta de norma for amplamente discutida. Algumas áreas têm uma inserção muito

significativa, inclusive no comércio exterior. Este é mais um importante motivo para que se

busque o fortalecimento dos espaços disponíveis para contribuições e aprimoramento do

arcabouço legal que permite à instituição a execução de suas atividades.

Segundo Alves (2008, p. 218), “o procedimento de consultas públicas na

Anvisa é complexo e repleto de obstáculos à participação”. A confirmar o que disse a autora,

não foram encontrados no portal da Anvisa, registros quanto ao número de contribuições em

cada consulta pública, impacto dessas contribuições, o que foi modificado após manifestação

da população, qual o setor que mais contribuiu, respostas que foram dadas aos que

contribuíram nas consultas, ou de quais dessas consultas públicas foram geradas RDC e seus

respectivos números.

Não se tem conhecimento de onde provem as demandas por tais normas e não

foi possível mensurar o grau de importância da participação da sociedade nesse processo.

Os processos de Boas Práticas Regulatórias – BPR trouxe a proposição de um

novo cenário, inclusive para as consultas públicas. As mudanças propostas no manual de BPR

e outras menos detalhadas apontam para um aprimoramento desse espaço de participação da

sociedade, no entanto, a utilização de uma linguagem técnica, a falta de uma estrutura

consolidada que contemple o estímulo à participação ampla da sociedade, ausência de um

adequado acompanhamento, somado a falta de esclarecimentos e retorno à população quanto

as suas contribuições, tem comprometido a transparência no processo de gestão na instituição

e a aceitação das consultas públicas como espaço de participação social de qualidade.

Page 77: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

76

Sendo o objetivo do trabalho, a análise dos espaços de participação da

sociedade na Anvisa, as falhas apresentadas na realização das consultas públicas pela agência

demandam uma completa revisão da maneira como a instituição tem tratado seus espaços de

participação e uma reorganização do processo de consultas públicas. A prioridade é que sejam

disponibilizadas as informações cabíveis, características a cada etapa do processo.

5.2 Audiências Públicas

As audiências públicas são mais um dos espaços de participação da sociedade

na Anvisa. Para o presente trabalho foram obtidos dados disponibilizados no portal da

instituição, na internet. As audiências públicas mostraram-se o espaço de participação que

dispunha do menor número de informações.

A instituição mantém em seu portal, registro referente a 4 (quatro) diferente

temas que foram o foco principal de Audiências Públicas no ano de 2008, no entanto,

entende-se que esses dados podem não corresponder à realidade, uma vez que, mesmo

havendo uma definição formal, por meio da Portaria 354/2006, não existe um padrão, que na

prática, defina o que realmente é compreendido pela instituição como Audiência Pública.

Falhas nos mecanismos de registro também indicam que não há como precisar o número real

dessas audiências, pois o mesmo tema, em alguns casos, teve mais de uma Audiência Pública.

Cita-se como exemplo, o tema da propaganda de medicamentos. Outro ponto que pode ser

questionado, diz respeito aos locais onde as audiências foram realizadas. Parece que a

instituição ao invés de avaliar os temas e normas polêmicos e propor a audiência pública, na

maior parte das vezes é reativa e atende a demandas externas.

03/2008 – Congresso Nacional discute os limites da propaganda.

A audiência pública ocorreu em reunião conjunta da Comissão de Ciência,

Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática e da Comissão de Assuntos Econômicos.

O encontro discutiu os limites legais para a regulamentação da propaganda de medicamentos,

alimentos e bebidas alcoólicas.

04/2008 – Fracionamento de medicamentos.

A Anvisa defendeu na Câmara dos Deputados, a aprovação do projeto de lei do

Executivo que tornaria obrigatório o fracionamento de medicamentos.

Page 78: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

77

06/2008 – Audiência Pública no Senado sobre a rastreabilidade e autenticidade

de medicamentos.

O Projeto de Lei 521/07, do Senado Federal, que determina a obrigatoriedade

da identificação de medicamentos por meio de sistema eletrônico e a Consulta Pública 08/08,

da Anvisa, que estabelece os requisitos mínimos para o desenvolvimento de mecanismos de

rastreabilidade e autenticidade de medicamentos foram os temas centrais da Audiência

Pública.

19/06/2008 – Custos de doenças relacionadas ao tabaco.

Os males do fumo e o modelo regulatório brasileiro foram os temas da

audiência pública na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados.

Também foi discutida a criação do Fundo de Reparação Civil, destinado a ressarcir os gastos

do SUS com a prevenção, o tratamento e a reabilitação das vítimas.

30/ 06/ 2008 – Propaganda de medicamentos.

Cerca de 200 representantes dos setores farmacêutico, publicitário, de órgãos

de saúde pública e de defesa do consumidor participaram da audiência pública que discutiu a

propaganda de medicamentos no país.

ANO TEMA

2008

Propaganda de medicamentos

Fracionamento de medicamentos

Rastreabilidade e Autenticidade de medicamentos

Custos de doenças relacionadas ao tabaco

Quando 6 - Temas que foram objeto de Audiências Públicas no ano de 2008

Fonte: Elaborado pela autora

Uma análise das Audiências Públicas realizadas indica a área de medicamentos

se constitui em principal demanda.

Pelo que se pode observar, as Comissões do Senado tem sido o principal

demandante de Audiências Públicas sobre temas de acompanhamento pela Anvisa.

Embora os temas discutidos tenham relevância, as Audiências Públicas não

tem se constituído em um espaço que permita uma grande participação da sociedade. A

divulgação das audiências não demonstrou amplo alcance, a centralização do local de

realização dessas audiências, compromete a participação, a assimetria de informação entre o

Page 79: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

78

Governo, o Setor Regulado e a Sociedade chega a ser gritante em algumas áreas e embora a

parceria da instituição com órgãos e entidades de defesa do consumidor seja um caminho

importante, a aparente falta de uma padronização do que a agência considera Audiência

Pública, das situações em que ela deve ser realizada e etapas para que ela ocorra acaba por

comprometer todo o processo reduzir sua contribuição para a transparência necessária a uma

instituição pública.

5.3 Agenda Regulatória

A obtenção de dados para analisar a Agenda Regulatória como espaço de

participação da sociedade civil, se deu por meio do portal da Anvisa, na internet, e da

obtenção de documentos junto a Unidade Técnica de Regulação – Untec. Essa área é

responsável pela consolidação das informações referentes ao monitoramento da Agenda

Regulatória.

Conforme já descrito, Agenda Regulatória é o conjunto de temas estratégicos e

prioritários que serão objeto da atuação regulatória, incluindo tanto a previsão dos novos

regulamentos quanto aqueles que demandam revisão ou atualização. Para a definição dos

temas, a agência toma por base a indicação da área técnica que deseja normatizá-lo, discussão

com o Grupo de Acompanhamento da Agenda Regulatória – GARE e decisão por parte da

Diretoria Colegiada. Embora tenham sido recebidas propostas de normatização de alguns

temas por meio da Ouvidoria, a exemplo de palitos de dente, palitos para churrasco e papel

higiênico, não foram considerados como temas prioritários para regulamentação.

Embora exista a proposta de estimular a participação da Sociedade na

discussão e sugestão de temas, a área técnica ou administrativa responsável pela aplicação da

norma é quem tem levantado às proposições e, a partir daí, se apresenta a Sociedade.

Com o objetivo de tentar conferir o necessário estímulo à transparência e

aperfeiçoamento dos mecanismos de participação da sociedade no processo regulatório, a

Anvisa instituiu em abril de 2008, pela Portaria nº 422, o Programa de Melhoria do Processo

de Regulamentação (PMR). O alinhamento estratégico do PMR se dá com o Programa Mais

Saúde (ação de ampliação da previsibilidade da regulação sanitária no âmbito do SUS) e com

a Política Regulatória (PRO-REG: Programa de Fortalecimento da Capacidade Institucional

Page 80: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

79

para a Gestão em Regulação, coordenado pela Casa Civil), sendo a Agenda Regulatória uma

parte de todo esse processo e um compromisso assumido pela instituição.

Encontram-se inseridas no escopo do Programa atividades que vão do

mapeamento e a simplificação do macroprocesso de regulamentação, até as ações relativas à

compilação, consolidação e revisão de atos normativos. Com a finalidade de orientar o

processo, a Anvisa elaborou e publicou o Guia de Boas Práticas Regulatórias que apresenta os

principais aspectos do Programa.

Figura 8 – Mapa da Regulamentação na Anvisa

Fonte: Portal da Anvisa na internet (2010)

Sobre o ano de 2008, ações como a definição por se trabalhar com a

previsibilidade de uma Agenda Regulatória na Anvisa, fortaleceu a discussão quanto a formas

de estímulo à participação da sociedade. O processo conduz ao pensamento de que a criação

desse novo espaço possibilitou a mais uma parcela da sociedade se manifestar em questões

sob responsabilidade da agência. Esse esforço teve como objetivo a apreciação e sugestões,

por parte da sociedade, quanto aos temas que a Anvisa estava propondo regulamentar no ano

de 2009. Dessa mobilização originou-se a 1ª Agenda Regulatória de uma agência reguladora

no país.

Page 81: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

80

A Agência levou a proposta da Agenda Regulatória para 2009 a ser discutida

em diferentes fóruns, como as Câmaras Setoriais da Anvisa, reunião com representantes do

Sistema Nacional de Vigilância Sanitária – SNVS e IV Simpósio Brasileiro de Vigilância

Sanitária – Simbravisa.

A Agenda Regulatória da Anvisa faz parte do Programa Mais Saúde do

Ministério da Saúde, com a ação intitulada “Instituir Agenda Regulatória anual para ampliar a

previsibilidade da regulação sanitária no âmbito do SUS, com a realização de análise do

impacto dos instrumentos normativos propostos”.

Para o ano de 2009, a Agenda foi elaborada e discutida entre o 2º semestre de

2008 e o início de 2009 e divulgada no Diário Oficial da União em 5 de maio de 2009. Os

temas que passaram a compor a 1ª Agenda Regulatória da Anvisa foram assim definidos:

Alimentos:

1. Aditivos Utilizados em Alimentos Segundo as Boas Práticas de Fabricação (Revisão)

2. Instruções para Rotulagem de Ovos

3. Limite Máximo de Contaminantes em Alimentos

4. Padrão de Identidade e Qualidade de Alimentos para Atletas (Revisão)

5. Padrão de Identidade e Qualidade de Fórmulas Infantis (Revisão)

6. Publicidade de Alimentos com Quantidades Elevadas de Gordura Trans, Saturada,

Sódio, Açúcar e Bebidas de Baixo Teor Nutricional

7. Registro e Dispensa da Obrigatoriedade de Registro de Alimentos Nacionais e

Importados (Revisão)

Cosméticos:

8. Lista de Corantes Permitidos em Produtos de Higiene Pessoal, Cosméticos e Perfumes

(Revisão)

Laboratórios analíticos:

9. Critérios para o Funcionamento de Provedores de Ensaios de Proficiência para

Laboratórios de Análises Clínicas

Page 82: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

81

10. Repasse da Atividade de Habilitação dos Laboratórios Analíticos da Rede Brasileira de

Laboratórios Analíticos em Saúde (Reblas) para o Instituto Nacional de Metrologia,

Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro)

11. Requisitos Técnicos para Laboratórios Analíticos que Realizam Ensaios em Produtos e

Serviços Sujeitos à Vigilância Sanitária.

Medicamentos:

12. Controle e Fiscalização da Talidomida (Revisão)

13. Controle e Fiscalização de Substâncias Sujeitas a Controle Especial Utilizadas para a

Realização de Estudos de Biodisponibilidade/Bioequivalência e Ensaios de Equivalência

Farmacêutica

14. Controle e Fiscalização de Substâncias Sujeitas a Controle Especial e Plantas que as

Podem Originar (Revisão)

15. Critérios para a Definição de Medicamentos de Referência

16. Critérios para o Registro de Apresentações de Medicamentos com Base nos Esquemas

Posológicos e na Indicação

17. Enquadramento na Categoria de Venda Isenta de Prescrição (Revisão)

18. Estudos de Bioequivalência Farmacêutica para Medicamentos Formulados como Sprays

Nasais

19. Guia de Estudos Pré-Clínicos

20. Guia de Inspeção em Boas Práticas Clínicas

21. Importação e Exportação de Substâncias Sujeitas a Controle Especial (Revisão)

22. Listas de Substâncias Sujeitas a Controle Especial (Revisão)

23. Notificação de Plantas Medicinais

24. Procedimentos Pós-Registro de Medicamentos (Revisão)

25. Rastreabilidade de Medicamentos

26. Registro de Insumos Farmacêuticos Ativos

27. Registro de Medicamentos Específicos (Revisão)

28. Registro de Medicamentos Fitoterapicos (Revisão)

29. Registro e Boas Práticas de Fabricação de Radiofármacos

30. Regras das Bulas de Medicamentos para Pacientes e para Profissionais de Saúde

(Revisão)

31. Rotulagem de Medicamentos (Revisão)

Page 83: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

82

Portos, aeroportos, fronteiras e recintos alfandegados:

32. Autorização de Funcionamento de Empresa Prestadora de Serviço de Comércio Exterior

por Conta e Ordem de Terceiro Detentor de Registro na Anvisa (Revisão)

33. Controle e Fiscalização Sanitária do Translado de Restos Mortais Humanos (Revisão)

34. Vigilância Sanitária dos Meios de Transporte Terrestres de Carga ou Coletivo de

Passageiros em Passagens de Fronteiras

35. Vigilância Sanitária em Portos e Embarcações (Revisão)

Saneantes:

36. Funcionamento das Empresas Controladoras de Vetores e Pragas (Revisão)

Manual de Testes de Eficácia para Desinfestantes (Revisão)

37. Manual de Testes de Eficácia para Desinfestantes (Revisão)

38. Registro de Produtos Saneantes de Risco 2 (dois) das Categorias de Alvejantes e Água

Sanitária (Revisão)

39. Registro de Produtos Saneantes Desinfestantes (Revisão)

40. Registro e Notificação de Produtos Saneantes (Revisão)

41. Simplificação de Procedimentos Relativos à Notificação de Produtos Saneantes de

Risco 1 (um)

Sangue, tecidos e órgãos:

42. Transporte de Órgãos Humanos para Fins de Transplantes

Serviços de saúde:

43. Boas Práticas Farmacêuticas em Farmácias e Drogarias

44. Funcionamento de Serviços que Realizam o Processamento de Produtos para a Saúde

45. Funcionamento de Serviços que Realizam Procedimentos Endoscópicos do Aparelho

Digestivo

46. Funcionamento de Unidades de Terapia Intensiva

47. Funcionamento dos Serviços de Saúde

48. Gerenciamento de Tecnologias Utilizadas na Prestação de Serviços de Saúde

49. Medidas para Redução da Ocorrência de Infecções por Micobactérias de Crescimento

Rápido (MCR) em Serviços de Saúde

Page 84: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

83

50. Sistema de Notificação e Investigação em Vigilância Sanitária no Sistema Único de

Saúde (SUS)

Toxicologia:

51. Critérios e Exigências para a Classificação Toxicológica (Revisão)

Produtos para a saúde:

52. Agrupamento de Materiais de Uso em Saúde para Fins de Registro e Cadastro (Revisão)

53. Agrupamento em Famílias e Sistemas de Implantes Ortopédicos para Fins de Registro

54. Classificação de Produtos para a Saúde que Devem ser Cadastrados

55. Denominação Comum Brasileira de Produtos para a Saúde (DCB-PS)

56. Notificação Compulsória de Ações Corretivas e de Recolhimento

57. Notificação Compulsória de Eventos Adversos e Queixas Técnicas

58. Registro e Boas Práticas de Fabricação de Dispositivo Intra-Uterino (DIU), contendo

Cobre (Revisão)

Tabaco:

59. Advertências nas Embalagens sobre os Malefícios do Tabaco

60. Salas Exclusivas para Fumar

A vivência e observação participante, aliada à análise reflexiva elaborada com

o presente estudo, indicam que trabalhar com uma Agenda Regulatória, a exemplo do que

ocorre com agências reguladoras de países europeus e da América do Norte, certamente

contribui para conferir visibilidade, transparência, previsibilidade e credibilidade à instituição.

A sinalização que é fornecida à população quanto aos próximos passos a serem dados pela

instituição permite uma maior organização, em especial dos principais envolvidos,

contribuição mais consistente e uma Análise de Impacto Regulatório - AIR.

Sabendo-se, por definição da própria Anvisa, que a Agenda Regulatória

destaca os temas que a instituição definiu como prioritários para regulamentação, é importante

que seja elaborada de forma transparente e participativa, não exaustiva, bem divulgada e

discutida, além de estar integrada aos demais processos de fortalecimento da participação

social que a instituição possa estar desenvolvendo. O foco se volta para a qualidade e a

efetividade das ações desenvolvidas.

Page 85: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

84

Um ponto importante já citado e que agora é destacado, diz respeito à Análise

de Impacto Regulatório (AIR), que segundo documento da OCDE (1997, p. 62) é uma

ferramenta regulatória que examina e avalia os prováveis benefícios, custos e efeitos das

regulações novas ou alteradas. Ela oferece aos tomadores de decisão dados empíricos valiosos

e uma estrutura abrangente na qual eles podem avaliar suas opções e as conseqüências que

suas decisões podem ter. A AIR é utilizada para definir problemas e garantir que a ação

governamental seja justificada e apropriada. No seu desenvolvimento todos os possíveis

envolvidos participam. Inclusive, a equipe que coordena o processo, em conjunto com os

demais envolvidos, avalia se a regulamentação é a melhor opção.

Os procedimentos de AIR parecem se constituir em um caminho significativo

na ampliação da informação à sociedade, efetividade dos regulamentos, redução de encargos

regulatórios, integração institucional, como subsídio à tomada de decisão pelos gestores, além

de poder atuar como facilitador do acompanhamento e avaliação da qualidade regulatória.

Na Anvisa, a AIR encontra-se incorporada ao Programa de Melhoria

Regulatória e se constitui em etapa do processo de regulamentação. Encontra-se em etapa

inicial e já parte de uma opção encaminhada, geralmente a opção pela regulamentação do

tema em questão.

A Agenda Regulatória da Anvisa constitui uma ampliação dos espaços de

participação da sociedade que, talvez por se tratar de uma experiência recente, ainda não

agregou os meios necessários para se consolidar como espaço de participação ampla. Como

consta no item que trata dos resultados, reuniões em 2008 com representantes do Sistema

Nacional de Vigilância Sanitária, Câmaras Setoriais e discussão no IV Simbravisa foram

meios utilizados para validar a 1ª Agenda Regulatória que foi publicada em 2009. Essa

Agenda, no entanto, parece não ter sido elaborada com base em demandas da sociedade e sim

em definições técnicas de profissionais da própria agência.

Não fica aqui nenhuma crítica às definições técnicas, pois são necessárias, em

especial quando são envolvidos temas complexos sob responsabilidade de uma instituição do

porte da Anvisa, mas uma discussão ampla com a sociedade poderá vir a reduzir

consideravelmente as demandas judiciais contra a agência, que, em muitos casos, se originam

da não compreensão da relevância de uma ou outra tomada de decisão por parte de gestores

da instituição.

Uma qualidade referida para a Agenda é a de não ser exaustiva. Os 60

(sessenta) temas trabalhados em 2008 e publicados como a Agenda 2009 parecem dizer o

Page 86: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

85

contrário. É difícil imaginar a capacidade de organização da sociedade para mobilização e

participação na discussão de tantos temas.

Essa realidade do elevado número de temas se mostra uma dificuldade,

também para a agência. Dos 60 (sessenta) temas escolhidos em 2008, para a 1ª Agenda

Regulatória, apenas 45% chegou a ser concluído, conforme demonstrado no gráfico.

Gráfico 1 – Monitoramento da 1ª Agenda Regulatória da Anvisa

Fonte: Adaptado do portal da Anvisa na internet (2010)

A Anvisa tem 10 (dez) anos de existência e ainda vive um momento de

organização das condições que permitam o exercício de suas funções. Organização, inclusive

do marco regulatório. Em contraponto, o grande número de normas e os espaços ainda

seletivos utilizados para discuti-las comprometem a consolidação da Agenda Regulatória

como espaço de importância para o fortalecimento da transparência na instituição.

O atraso na publicação das Agendas Regulatórias também é um sério

problema. A Agenda de 2009, discutida em 2008, só foi publicada em maio de 2009, o que já

compromete em um primeiro olhar, a previsibilidade tão destacada entre as justificativas de

definição de uma Agenda Regulatória.

Page 87: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

86

Formar e qualificar seu corpo profissional para assimilar todo esse novo

contexto é um desafio para a instituição. Outro desafio que vai além do conhecimento de

técnicas legislativas, diz respeito a trabalhar as análises de impacto regulatório. Embora já

esteja previsto no PMR da instituição e algumas etapas estejam envolvidas no processo atual

de elaboração e atualização de normas, ainda se trata de uma fase inicial no longo caminho

que conduz à transparência.

5.4 Conselho Consultivo

Os dados discutidos no presente trabalho foram obtidos após análise dos

Resumos Executivos elaborados pela Secretaria Executiva do próprio Conselho Consultivo,

quando da realização de reuniões. Esses resumos já trazem de forma condensada, mas ampla,

a pauta da reunião, participantes e ausentes que justificaram a não participação, falas,

destaques e encaminhamentos.

Com base nos dados constantes nos Resumos Executivos, foi feita uma análise

com foco na transparência nos processos de gestão da Anvisa, relevância e real influência das

discussões que se desenvolvem nos espaços de participação da sociedade e sua importância

para a tomada de decisões por parte dos gestores da instituição.

As reuniões do Conselho Consultivo da Anvisa ocorrem com periodicidade

trimestral. No ano de 2008 foram realizadas quatro Reuniões Ordinárias e se constituíram na

28ª, 29ª, 30ª e 31ª reunião.

O Conselho Consultivo da Anvisa apresenta-se composto por 12

representações formais de entidades. Nessas representações formais estão contemplados o

Setor Regulado, a Sociedade Civil, o Governo e a Comunidade Científica.

Embora a lista de participação nas reuniões apresente diferenças com a

composição formal, o Quadro 6 mostra a composição que é informada no portal da agência,

na internet.

Page 88: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

87

Conselheiros Instituições

Titular : Gerson Oliveira Penna Suplente: -

Ministério da Saúde

Titular : Odilson Luiz Ribeiro e Silva Suplente: Jorge Caetano Júnior

Ministério da Agricultura e Abastecimento

Titular : Luiz Antônio Barreto de Castro Suplente: -

Ministério da Ciência e Tecnologia

Titular : Gilberto Berguio Martin Suplente: Viviane Rocha de Luiz

Conselho Nacional de Secretários de Saúde - CONASS

Titular : - Suplente: Marcos da Silveira Franco

Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde - CONASEMS

Titular : Edmundo Klotz Suplente: Ciro Mortella

Confederação Nacional das Indústrias - CNI

Titular : Rogério Tokarski Suplente: Alexandre Frederico de Marca

Confederação Nacional do Comércio - CNC

Titular : Lúcio Mendes Cabral Suplente: Roberto de Andrade Medronho

Comunidade Científica UFRJ

Titular : Maria Vitória Lopes Badra Bentley Suplente: Sílvia Storpirtis

Comunidade Científica USP

Titular : Marilena Igreja Lazzarini Suplente: Sílvia Regina do Amaral Vignola

Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor - IDEC

Titular : Roberto Augusto Castellanos Pfeiffer Suplente: -

Fundação Procon/SP

Titular : Tércio Egon Paulo Kásten Suplente: Olympio Távora D. Correia

Confederação Nacional de Saúde

Quadro 7 – Composição do Conselho Consultivo da Anvisa

Fonte: Adaptado do portal da Anvisa na internet (2010)

Um olhar à composição do Conselho Consultivo já sugere que este se constitui

em um espaço de participação no qual a sociedade civil não é prioridade. Embora na

legislação que estabelece o Conselho Consultivo da Anvisa, o Conselho Nacional de Saúde -

CNS seja participante, não se observou nome de seus representantes na composição

apresentada no Quadro 6.

A 28ª Reunião Ordinária do Conselho Consultivo da Anvisa realizou-se aos 12

dias do mês de abril de 2008. Estiveram presentes 22 participantes, dentre estes, os cinco

Diretores da Anvisa e a Ouvidora.

Dentre os órgãos e entidades representados nessa reunião constam o Ministério

da Saúde, responsável pela presidência do Conselho, a Confederação Nacional da Indústria –

CNI, a Confederação Nacional do Comércio – CNC, o Procon/ SP, a Confederação Nacional

Page 89: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

88

de Saúde – CNS, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, o

Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT e várias áreas da Anvisa. Justificaram as

ausências, os representantes do Instituto de Defesa do Consumidor – Idec, da Universidade de

São Paulo – USP e do Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Saúde – Conass.

Os principais pontos da pauta referiram o debate sobre o Programa Federal

Mais Saúde, a apresentação do Relatório de Gestão da Anvisa – 2007, apresentação do projeto

do Centro Integrado de Monitoramento da Qualidade do Leite (CQUALI).

As discussões durante a reunião deliberaram por encaminhamentos: a adoção

das providências para revisão dos atos normativos para inclusão do representante da

Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva - Abrasco no Conselho

Consultivo da Anvisa, levantamento e identificação de toda a legislação sobre regulação de

alimentos pela Anvisa com a finalidade de contemplar lacunas e duplicidades existentes na

legislação atual com encaminhamento aos conselheiros 30 dias antes da próxima reunião, com

o objetivo de que os mesmos pudessem ratificar ou retificar a proposta apresentada pela

Anvisa para a área de alimentos e orientar as providências necessárias que o Poder Executivo

deveria adotar e/ou propor para implementar eventuais ações corretivas. Por fim, foi aprovada

a metodologia de preparação e apresentação do Relatório de Gestão, com recomendação de

que os próximos relatórios sejam de atividade periódica ou de período de gestão, observem o

Contrato de Gestão vigente e apresentem indicadores de resultado.

A 29ª Reunião Ordinária do Conselho Consultivo da Anvisa ocorreu no dia

20/06/08, com a presença de 35 participantes. Entre eles, estiveram presentes dois Diretores

da Anvisa, três Adjuntos de Diretores e a Ouvidora. O Ministério da Saúde, a Confederação

Nacional da Indústria, o ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,o Ministério da

Ciência e Tecnologia, o Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde, a

Universidade de São Paulo – USP, a Confederação Nacional de Saúde, o PROCON/ SP, a

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, a Confederação Nacional do Comércio, o

Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, o Conselho Nacional de Secretários Estaduais

de Saúde e várias áreas da Anvisa também estiveram representados.

A pauta da 29ª reunião apresentou uma grande semelhança com a da reunião

anterior e se observa que muito da discussão teve por referência os encaminhamentos da 28ª

reunião. Estiveram mais uma vez presentes o debate sobre o Programa Federal Mais Saúde,

que teve sua discussão suspensa na reunião anterior e foi retomada na 29ª reunião, com

apresentação feita pelo Presidente do Conselho Consultivo, representante titular do Ministério

da Saúde. O Relatório de Gestão da Anvisa – 2007 também compôs a pauta, além da

Page 90: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

89

apresentação dos resultados do trabalho de revisão do Contrato de Gestão da Anvisa. Por fim,

foi feita a apresentação do levantamento e identificação de toda legislação sobre Regulação de

Alimentos no Brasil, conforme encaminhamento da reunião anterior.

Tendo por base as discussões que se originaram da pauta, solicitações e

informes, a reunião teve por encaminhamentos a solicitação do comunicado da Anvisa com

relação a situação dos medicamentos Contracept e Prexige, solicitado pela representante do

Idec, divulgação da RDC nº 01, de 22 de janeiro de 2008 que simplifica os procedimentos de

pesquisa com informações sobre sua implementação, na página do Ministério da Saúde,

recebimento de novas indicações para o Conselho Consultivo da Anvisa até o dia 30 de junho

daquele ano, sugerida a colocação na pauta no GTVS (Grupo de Trabalho da Comissão

Intergestora Tripartite - CIT) a discussão de fomento a pesquisas de interesse à Vigilância

Sanitária, apresentação no CCA da contratualização da Anvisa no Programa Mais Saúde, a

apresentação da relação dos últimos 20 anos da evolução das patentes dos setores público e

privado tanto de medicamentos quanto de produtos para a saúde, sugerido que no próximo

relatório de atividades seja realizada análise qualitativa do desempenho da Anvisa e que sua

estrutura reflita o contrato de gestão, com a inclusão de parâmetros de indicadores

econômicos para avaliação da arrecadação, a participação de conselheiros do CCA e

representantes do Conass, Conasems e Idec no Grupo de Trabalho da Revisão do Contrato de

Gestão da Anvisa, apresentação do MAPA sobre a Regulação de Alimentos no Brasil e

apresentação conjunta entre a Anvisa e o Mapa que aponte resultados para o problema

relacionado à regulamentação de alimentos.

A 3ª reunião do ano, que correspondeu a 30ª Reunião Ordinária do Conselho

Consultivo da Anvisa ocorreu em 13/08/2008 e contou com a presença de vinte participantes.

Participaram um Diretor da Anvisa e dois Adjuntos de Diretores, além de Técnicos e Gerentes

de várias áreas da instituição. Esteve representado o Ministério da Saúde, a Confederação

Nacional da Indústria, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o Ministério da

Ciência e Tecnologia, a Universidade de São Paulo – USP, a Universidade Federal do Rio de

Janeiro, a Confederação Nacional do Comércio e o Instituto Brasileiro de Defesa do

Consumidor.

A pauta da reunião contemplou o tema dos 20 anos da evolução das patentes

no Brasil, competências do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento na regulação

de alimentos e o Contrato de Gestão entre o Ministério da Saúde e a Anvisa.

Page 91: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

90

Destacam-se dessa reunião a apresentação, feita pela Secretaria Executiva, das

sugestões para os novos integrantes do Conselho Consultivo e os informes dados pelo

Presidente do Conselho Consultivo.

Quanto à proposta de nova composição do Conselho, o quadro teria a

representação do Fórum Nacional de Defesa do Consumidor, entidade de representantes de

Portadores de Patologias, Pastoral da Criança, profissionais de saúde, Movimento Popular em

Saúde – MOP, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio - MDIC, Associação

Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva - Abrasco e Confederação nacional da

Agricultura - CNA. O presidente do Conselho Consultivo sugeriu excluir Fórum, Pastoral,

MOP, representantes de portadores de patologia e de profissionais de saúde, por entender que

estes estão representados no Conselho Nacional de Saúde. Neste sentido, o presidente afirmou

que o Conselho Nacional de Saúde, bem como o CONASS e o CONASEMS seriam

oficiados, reafirmando a necessidade e a importância da participação de seus representantes

nos trabalhos do Conselho. Houve defesa da representação do Idec quanto à participação de

representantes de entidades de defesa do consumidor e esse ponto ficou para ser debatido na

reunião seguinte. Foi debatida, também, a participação da Confederação Nacional da

Agricultura – CNA e da Abrasco e ficou decidido que a Confederação Nacional da

Agricultura, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e a Abrasco

participariam como convidados das próximas reuniões do Conselho, nos moldes do

Regimento Interno do mesmo. O colegiado propôs revisão Decreto nº 3029, de 16 de abril de

1999, que aprovou o Regulamento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, de modo a

torná-lo mais eficiente e conferir mais poder a sociedade civil.

Os informes gerais que foram dados pelo presidente do Conselho Consultivo,

deliberaram oficiar ao Conselho Nacional de Saúde – CNS, Conass e Conasems, reafirmando

a importância da participação dos seus representantes nas reuniões do Conselho Consultivo da

Anvisa.

Os conselheiros também discutiram os fatos envolvendo a Micobactéria, a

situação dos hospitais e o uso de saneantes, além da consulta pública sobre publicidade de

medicamentos, no que compete à discussão quanto à anuência prévia da propaganda para a

finalidade de divulgação de medicamentos. Os Conselheiros manifestaram preocupação pelas

questões que, no momento, indicavam greve do corpo funcional da Anvisa, o que

comprometeria o atendimento a pacientes pela não liberação dos produtos que são

importados.

Page 92: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

91

A última Reunião Ordinária do Conselho Consultivo da Anvisa em 2008,

realizou-se em 12 de novembro e teve a participação de dezenove participantes, entre os

quais, dois Diretores da Anvisa, Um Adjunto de Diretor e vários técnicos e Gerentes de

diferentes áreas da instituição. Foram representados o Ministério da Saúde, a Confederação

Nacional da Indústria, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o Ministério da

Ciência e Tecnologia, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, a Confederação

Nacional do Comércio, o Conselho Nacional dos Secretários Municipais de Saúde –

Conasems, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio – MDIC, Fundação

Oswaldo Cruz – Fiocruz e Instituto Nacional da Propriedade Industrial, alguns na condição de

convidados permanentes, outros como convidados para essa reunião.

Os pontos de pauta da reunião destacaram “A Evolução das Patentes no

Brasil”, O quadro de Metas e Indicadores para o Contrato de Gestão entre o Ministério da

Saúde e Anvisa para o ano de 2009.

Destaca-se dos encaminhamentos finais a fala do Presidente do Conselho

Consultivo sobre a possibilidade do agendamento de uma reunião extraordinária cujo ponto

de pauta seria o debate sobre o Programa de Melhoria da Regulamentação da Anvisa,

especificamente sobre a publicação de uma Agenda Regulatória, com os temas prioritários, os

quais a agência estava se propondo a regulamentar em 2009. Isso foi importante por destacar

a importância do amplo debate das ações regulatórias da Agência, compreendendo nesse

processo, o impacto das ações para o campo econômico e para a população em geral.

No presente trabalho optou-se por destacar os espaços de participação

consultivos e não deliberativos. Embora o Conselho Consultivo, como o próprio nome já

define, se constitui em uma instância de consulta. O acompanhamento do seu funcionamento

demonstra ser um espaço de discussão de grande relevância e considerável poder de

intervenção nos processos de tomada de decisão pela instituição.

As reuniões do Conselho Consultivo mostraram uma característica diferente

das Câmaras Setoriais. Apresentam uma periodicidade definida, o cronograma tende a ser

obedecido, a participação dos representantes é significativa e continuada, existe o

procedimento de justificativa pela ausência, com registro em ata, os temas das pautas são

relevantes, estratégicos e os encaminhamentos são respeitados na reunião seguinte.

Outro ponto que é importante destacar, diz respeito à participação dos gestores

da Anvisa nas reuniões do Conselho Consultivo. Quando foram citadas as reuniões do ano de

2008, observou-se que em todas elas, pelo menos um dos Diretores esteve presente,

acompanhado de outros Adjuntos de Diretores, Gerentes Gerais, Gerentes e Assessores.

Page 93: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

92

Houve caso em que os cinco Diretores estiveram presentes, o que inclui o Presidente da

instituição. Tal situação só se repetiu, tratando-se de espaços de participação da sociedade, na

1ª Audiência Pública para discussão da Agenda Regulatória, já referida acima.

O Conselho Consultivo é presidido pelo Ministério da Saúde, supervisor da

Anvisa e o Presidente, que substitui o Ministro da Saúde nesse espaço, esteve presente em

todas as reuniões realizadas no período estudado.

A composição do Conselho, temas debatidos nas reuniões, presença da alta

gestão da Anvisa e resposta ao que é demandado parece indicar que, mesmo sendo um espaço

de consulta, as considerações e recomendações feitas por seus membros são bem apreciadas e

que se trata de um espaço bem valorizado. Por outro lado, sua logística, composição seletiva e

repetidas ausências de representantes do controle social, a exemplo das ausências do Conselho

Nacional de Saúde, compromete sua visibilidade como espaço de participação ampla da

Sociedade.

5.5 Câmaras Setoriais

Para analisar as câmaras setoriais da Anvisa foram levantados dados oriundos do

portal da instituição, na internet, documentos de áreas técnica que coordenam câmaras e

levantamento feito pela Untec em 2008.

A Anvisa implantou em 2005, câmaras setoriais que também têm caráter consultivo.

Reúnem órgãos públicos, sociedade civil e o setor produtivo para debater assuntos

estratégicos e subsidiar as decisões de sua Diretoria Colegiada. Em 2005, iniciaram suas

atividades as câmaras de cosméticos, medicamentos, produtos para a saúde, propaganda e

publicidade de produtos sujeitos à vigilância sanitária, serviços de saúde e toxicologia.

Posteriormente, iniciaram suas atividades, as Câmaras de Portos, Aeroportos, Fronteiras e

Recintos Alfandegados, Alimentos e Saneantes.

A composição de cada câmara depende do conjunto de atividades que as áreas

desempenham.

Page 94: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

93

Gráfico 2 – Quantitativo das entidades que compõem as câmaras setoriais

Fonte: Untec/Anvisa (2008)

A instituição apresenta dez câmaras em funcionamento, com mais de trezentas

entidades sendo representadas. Segundo levantamento feito pela Untec, em 2008, da média de

30 (trinta) membros, por câmara, o Setor Regulado apresenta 10,4 membros, o que equivale a

34%, a Sociedade Civil 9,3 membros, 31 % e os órgãos do Governo 10,3 membros, o que

corresponde a 34,7% do total.

O levantamento feito pela Unidade Técnica de Regulação da Anvisa – Untec,

indicou que as câmaras das áreas de propagandas, portos, aeroportos, fronteiras e recintos

alfandegados (pafs) e medicamentos, são as maiores em número de representantes. Para esse

levantamento foi considerada a composição formal e participação nas reuniões.

Page 95: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

94

Gráfico 3 – Representação em cada câmara setorial da Anvisa no ano de 2008

Fonte: Untec/Anvisa (2008)

O processo de definição da composição das câmaras setoriais se dá por

nomeação dos representantes, com observância dos critérios que se focam no perfil da

entidade que pleiteia a vaga, parecer da área técnica, atual composição, última portaria de

nomeação dos membros, segmentos de maior destaque na câmara, comparativo entre os

tamanhos das câmaras setoriais da Anvisa. Na avaliação do perfil da entidade, a Anvisa

analisa a possibilidade de contribuição para os objetivos da câmara.

As etapas para que esse processo ocorra envolvem consulta às entidades com

afinidade aos temas discutidos em cada câmara, recebimento oficial de nomes, publicação de

Portaria de composição, atualização de membros após cumprimento do mandato de dois anos

e revisão da composição da Câmara. Conforme Portaria n. 612, de 27 de agosto de 2007, em

seu artigo 7 “ A critério da Diretoria Colegiada da ANVISA, e a cada mandato, poderá haver

Alimen

tos PAF

Medica

mentos

Propag

anda

Produ

tos

Serviç

os

Cosméti

cos

Toxic

ologia

Sanea

ntes

Sangu

e

Regulado Sociedade Governo

Page 96: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

95

rodízio entre as entidades de cada segmento, na composição da Câmara” e em seu artigo 11,

“No caso de desligamento e destituição de entidade de qualquer segmento, será nomeada uma

nova entidade para a efetivação da recomposição da Câmara Setorial”.

A organização das reuniões das câmaras setoriais é feita por meio de um

calendário anual das reuniões ordinárias e previsão orçamentária para possíveis reuniões

extraordinárias, realização de processo licitatório para os custos referentes ao evento,

definição da pauta, convite aos membros, comunicação e divulgação, elaboração de Ata e

Resumo Executivo, divulgação do material no site da Anvisa.

Os dados utilizados na descrição dos procedimentos referentes às câmaras foram obtidos

junto a Untec/Anvisa.

Gráfico 4 - Solicitações de ingresso de entidades em cada câmara setorial no ano de 2008

Fonte: Untec/Anvisa (2008)

1

2 2 2

1

3

0

1

4

1

Propa

gand

aPAF

Medica

mentos

Alimen

tos

Produ

tos

Cosméti

cos

Toxico

logia

Servi

ços

Sangu

e

Sanea

ntes

Page 97: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

96

O portal da Anvisa não apresenta as informações de quantas e quais das

instituições que pleitearam vagas nas câmaras setoriais tiveram sua petição atendida e ainda,

quais foram os critérios adotados para aceitação e recusa.

Tabela 1 – Comparativo entre as reuniões realizadas nos três primeiros anos de funcionamento das câmaras

setoriais e o ano de 2008.

Câmara Setorial 2005 2006 2007 2008

Alimentos

- 1 2 1

Portos, Aeroportos, Fronteiras e Recintos

Alfandegados

- 1 3 1

Saneantes

- 1 1 1

Sangue, Outros Tecidos, Células e Órgãos

- 1 1 1

Medicamentos

1 3 2 2

Toxicologia

1 2 1 1

Propaganda e Publicidade

1 2 2 1

Produtos para a Saúde

1 2 1 1

Serviços de Saúde

1 2 1 2

Cosméticos

1 2 1 1

Total 6 17 15 12 Fonte: Untec/Anvisa (2008)

A tabela 2 mostra o aumento do número de reuniões das câmaras setoriais no

segundo ano de funcionamento e início da redução dessas reuniões a partir do terceiro ano.

Esse aspecto é de fácil observação ao verificar que apenas duas câmaras se reuniram para

tratar de temas diversos no ano de 2008. As demais câmaras setoriais se reuniram apenas uma

vez no ano de 2008, com a finalidade de discutir os critérios que iriam possibilitar a definição

da Agenda Regulatória 2009.

Page 98: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

97

Tabela 2 - Reuniões das Câmaras Setoriais realizadas no ano de 2008

Fonte: Elaborado pela autora

Uma comparação entre as reuniões realizadas pelas câmaras setoriais da

Anvisa nos três primeiros anos de funcionamento, tabela 2 e no ano de 2008, tabela 3 mostra

uma redução no número de reuniões realizadas. Ainda assim, o ano de 2008 trouxe uma

mudança significativa quanto a forma que a instituição vinha adotando para se relacionar com

a sociedade e na própria maneira de tratar seus espaços de participação social. Embora o ano

de 2009 e o primeiro semestre de 2010 não tenham trazido grandes mudanças no que se refere

às formas de atuação das câmaras setoriais, em 2008 todas tiveram reuniões e foram espaço

de discussão da 1ª Agenda Regulatória da Anvisa.

A apreciação de atas das reuniões ordinárias e extraordinárias das câmaras

setoriais indicou que as participações dos componentes das diversas câmaras foram

significativas em número e envolvimento nos processos de discussão. Tal observação indica

que as representações nas câmaras setoriais estão dispostas a participar das discussões de

temas de interesse coletivo, mas precisam ter conhecimento do que está acontecendo e se

sentir parte desse processo de decisão.

Além das reuniões que foram realizadas no mês de novembro de 2008 para

discussão da Agenda Regulatória, algumas áreas reuniram os membros que compõem suas

câmaras setoriais para outras reuniões ordinárias ou extraordinárias. Dessas reuniões, estão

apresentados abaixo, pontos principais constantes nas pautas, principais setores representados

e outros dados julgados de interesse ao presente trabalho.

CÂMARA SETORIAL REUNIÕES COM INFORMAÇÕES NO SÍTIO DA ANVISA, NA INTERNET

Alimentos Novembro

PAF Novembro

Saneantes Novembro

Sangue, Células, Outros Tecidos e Órgãos Novembro

Produtos para a Saúde Novembro

Serviços de Saúde Abril e Novembro

Propaganda e Publicidade de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária

Novembro

Toxicologia Novembro

Medicamentos Maio e Novembro

Cosméticos Novembro

Page 99: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

98

Conforme referido na tabela 3, foram obtidos dados no portal da Anvisa, na

internet, referentes a duas áreas que realizaram outras reuniões em 2008. A área de Serviços

de Saúde realizou reunião em abril, tendo como alguns dos pontos discutidos a segurança do

paciente, o Sistema Nacional de Informação para Controle de Infecção em Serviços de Saúde

(SINAIS), criação da câmara técnica de serviços de saúde e o Programa Nacional de

Avaliação de Serviços de Saúde (PNASS). A parcela mais significativa, numericamente, foi a

representação de conselhos profissionais e associações que representam serviços assistenciais

de saúde. Estiveram presentes o Diretor responsável e o Gerente Geral da área, além de

técnicos da gerência de serviços de saúde e de outros setores da Anvisa.

A área de Medicamentos realizou reunião no mês de maio, o que correspondeu

a 5ª reunião ordinária da câmara setorial de medicamentos. Os principais pontos discutidos

disseram respeito a Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC),

impostos, taxas e contribuições sobre a renda, patrimônio e consumo, insumos farmacêuticos,

uso racional de medicamentos e o Programa da Política Nacional de Plantas Medicinais e

Fitoterápicos. A grande representação e destaque nos pronunciamentos couberam às

associações e federações representantes de empresas do ramo farmacêutico. O Gerente Geral

coordenou a reunião e estiveram presentes técnicos da área de medicamentos e de outra

gerências da Anvisa.

A análise dos dados obtidos mostra que as três maiores câmaras setoriais da

Anvisa são a da área de propagandas, a de portos, aeroportos, fronteiras e recintos

alfandegados e a de medicamentos. A maior representação proporcional da sociedade civil

está na câmara de cosméticos e a menor está em portos, aeroportos, fronteiras e recintos

alfandegados. As áreas de sangue e cosméticos receberam o maior número de pedido de

ingresso nas câmaras no ano de 2008. As câmaras de alimentos, portos, aeroportos, fronteiras

e recintos alfandegados, sangue e saneantes foram criadas em 2006 e as demais em 2005.

O que já foi descrito sobre as câmaras setoriais indica que ainda não se

constituem em um importante espaço para participação da sociedade no processo de gestão da

Anvisa. Dispõe de uma proposta de trabalho definida, reúne setores significativos da

sociedade, mas a análise feita acima, tendo por base reuniões com pautas diferenciadas de

apenas duas das dez câmaras, já sinalizou para um quadro complexo de maior

representatividade por parte do setor regulado, também referido como setor produtivo.

As pautas das reuniões trazem questões que exigem elevado conhecimento

técnico e em muitos casos, bem específico. São exemplos desses temas: Sistemas de

informação, infecções por Micobactérias, tributação de medicamentos e comércio exterior.

Page 100: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

99

A análise de atas das 10 (dez) câmaras setoriais, resultantes de 12 reuniões no

ano de 2008, permitiu verificar que, além da significância numérica, ao setor regulado

também coube o maior número de intervenções.

De maneira geral, os dados levantados indicam que os principais problemas

enfrentados pelas câmaras setoriais, dizem respeito às remarcações de datas de reuniões por

parte da área ou do diretor dessa área da Anvisa, falta de quorum, pautas que não contemplam

sugestões dos membros, atrasos no envio da pauta por parte da área técnica, a área não

acompanha as tarefas sugeridas e acatadas nas reuniões, assimetria de informação,

representação e participação entre os setores e mesmo entre os componentes. Essa carência

demonstrada por algumas representações, em especial pela representação da Sociedade Civil

tem criado uma repetição de mesmas pessoas e mesmas idéias em espaços diferentes.

Os gargalos a serem tratados para que as câmaras setoriais sejam identificadas

como arena importante e consistente para a ampla participação da sociedade não desabilita

esse canal, mas não permite, tendo por base os dados levantados, que seja referido como um

espaço no qual o conjunto da sociedade está adequadamente representado ou onde as

prioridades definidas pela população possam ser discutidas. Mostra-se seletivo e de difícil

acesso, além de exigir um conhecimento mais apurado para habilitar o participante a se inserir

nas discussões.

5.6 Ouvidoria

O estudo da Ouvidoria da Anvisa como espaço de transparência da instituição

e participação da sociedade foi feito com levantamento e avaliação de dados dos próprios

boletins e relatórios mensais, semestrais e anual da Ouvidoria, publicados no site da Anvisa.

Conforme referências já feitas a Ouvidoria no presente trabalho, trata-se de um

espaço no qual entre suas atribuições encontra-se o recebimento de denúncias e queixas dos

cidadãos, encaminhamento dessas demandas e cobrança de respostas, disponibilizando

relatórios periódicos de suas atividades.

Em 2008 a Ouvidoria registrou 26.490 demandas, o que representa um

aumento de 22,5% em relação ao ano de 2007, no qual foram recebidas 20.507 manifestações.

Considerando que no ano de 2008 registraram-se 2.816 demandas em janeiro e apenas 1.503

em dezembro, tem-se indicação de uma tendência a diminuição das manifestações recebidas,

Page 101: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

100

ocorrendo ligeiro aumento apenas nos meses de junho, julho e setembro. Em dezembro a

queda pode ter sido mais acentuada devido aos recessos de fim de ano, os quais impactam

principalmente no número de demandas enviadas pelo setor regulado.

A equipe da Ouvidoria observou ainda, uma elevação da média mensal de

demandas, passando de 1.700 ao mês em 2007 para 2.207 demandas mensais em 2008, o que

corresponde a 74 ao dia.

Em 2008 as demandas finalizadas e finalizadas com desdobramento somaram

25.991, (98,12%), o que representa um elevado percentual de respostas aos demandantes.

Segundo a classificação da Ouvidoria, finalizadas com desdobramento significa que as

demandas tiveram uma primeira resposta, mas necessitaram de um tempo maior para análise e

investigação, havendo, posteriormente, uma resposta complementar ao demandante.

A Ouvidoria classifica as denúncias também pela natureza. Nesse campo, das

demandas recebidas em 2008, 4.319 (16,30%) foram denúncias e 4.153 (15,68%) foram

reclamações. Os pedidos de informação representaram as manifestações mais freqüentes e

corresponderam a 55,9% (14.807) das mensagens recebidas pela Ouvidoria. 85 demandas

foram relativas a elogios e agradecimentos à Anvisa e seus servidores. As demais demandas

corresponderam a sugestões e repetições das solicitações.

Quanto aos canais usados para envio das demandas, a Ouvidoria dispõe de

diferentes formas de comunicação: Formulário Eletrônico; sistema da Ouvidoria Geral do

SUS (OuvidorSUS), Email, Carta, Ministério da Saúde, fax, folheto, ofício, PROCON/DPDC

e Fax. O principal canal das demandas tem se dado por meio do formulário eletrônico do sítio

da Anvisa, representando 65,62% (29.801) do total nos dois últimos anos, seguida pelas

manifestações recebidas por e-mail, que somaram 31,33% (14.249).

No que se refere aos demandantes, o relatório da Ouvidoria traz a observação

de que 57,91% (15.340) das manifestações são de pessoa física, enquanto 39,87% (10.561)

são demandas de empresas. Os dados que foram obtidos pela Ouvidoria por meio do sistema

Anvis@atende 2008, em 22/01/2009, trazem ainda a informação de que: 0,45% (120) das

demandas foram de Associações/ONG; 0,85% (224) vieram de municípios; 0,20 % (53) são

provenientes de Estados; 0,09% (25) de outros órgãos federais e 0,63% (167) foram demandas

repetidas. Essas demandas, muitas vezes se repetem no próprio sistema da Ouvidoria e em

outras situações, interessados em receber uma resposta com maior brevidade, os demandantes

da Anvisa utilizam diversos canais para um mesmo questionamento.

Page 102: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

101

Pessoa Física

Empresa

Associação/ONG

Municípios

Estados

Outros ÓrgãosFederais

DemandasRepetidas

Gráfico 5 – Principais demandantes da Anvisa, com uso de canais da Ouvidoria em 2008

Fonte: Adaptado pela Autora com dados do sistema AnvisaAtende 2008, contidos no Relatório anual da

Ouvidoria, ano de 2008.

No que se refere às demandas por Estados, São Paulo respondeu por 34%, Rio

de Janeiro por 14%, Minas Gerais 12%, Rio Grande do Sul 8%, Paraná 6%, Distrito Federal

5%, Santa Catarina e Goiás 4%, Bahia 3%, Espírito Santo e Pernambuco 2%, Ceará, Mato

Grosso e Rio Grande do Norte 1% e os demais Estados somaram 4% do total. Esses dados

encontram-se demonstrados no Gráfico 6.

Os Estados da região sudeste responderam por 62% das demandas para a

Anvisa, por meio da Ouvidoria, no ano de 2008. A região sul contribuiu com 18% e as regiões

nordeste, norte e centro-oeste, somadas as demandas, responderam por 20% do total.

Embora os dados do Censo Demográfico de 2010, realizado pelo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), deixem claro que a população brasileira está

irregularmente distribuída no território e que a região sudeste é a mais populosa, esses dados

não são suficientes para explicar o percentual de 62% das demandas. Para isso deve-se fazer

uma relação com o número de empresas que se encontram em funcionamento nos Estados que

compõem a região. Essas empresas e as demandas de pessoas físicas sobre questões que

também lhes dizem respeito, por outro lado, podem indicar um caminho de entendimento

desse percentual, oriundo de apenas 4 (quatro) Estados do país.

Page 103: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

102

0

5

10

15

20

25

30

35

40

São Paulo

Rio de Janeiro

Minas Gerais

Rio Grande do Sul

Paraná

Distrito Federal

Santa Catarina

Goiás

Bahia

Espírito Santo

Pernambuco

Ceará

Mato Grosso

Rio Grande do Norte

Outros Estados

Gráfico 6 – Separação de demandas por Estado no ano de 2008

Fonte: Elaborado pela Autora com dados do sistema AnvisaAtende, contidos no relatório anual da Ouvidoria da

Anvisa do ano de 2008

Em 2008, 84% das demandas recebidas tiveram a Anvisa como responsável

pelas respostas. 13% eram da competência de estados e municípios e 3% de outros órgãos.

Quanto ao destino das demandas que são de competência da Anvisa (84% ou

22.217), a maior freqüência foi para área de Inspeção, Certificação e Fiscalização de produtos

sujeitos à Vigilância Sanitária (GGIMP), que recebeu 35,8% do total. Em seguida, destaca-se

a Gerência de Gestão da Arrecadação e Taxas (GEGAR), que recebeu 2.431 (11%) demandas

no ano de 2008.

No que se refere aos assuntos das demandas, destaca-se que a maior incidência

no ano foi “Autorização/Certificação de Empresas” com 12,10% (3.204), em seguida

“Situação de Processos/Documentos” com 11,5% (3.046) e “Fiscalização” com 11,18%

(2.961). A Ouvidoria também destacou as demandas relativas às questões administrativas da

Anvisa, como “Situação de Processos e Documentos”, e “Autorização/Certificação de

Empresas”.

Page 104: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

103

A Ouvidoria apresenta como meta estabelecida no Contrato de Gestão entre a

Anvisa e o Ministério da Saúde, o compromisso de que 80% das mensagens recebidas pela

Ouvidoria devem ser respondidas pelas áreas técnicas em até 15 dias úteis. A meta foi

alcançada, uma vez que a Anvisa atingiu a marca de 84,51% das demandas respondidas em

tempo hábil.

Segundo o relatório da Ouvidoria, os demandantes têm a oportunidade de

avaliar a qualidade da resposta recebida da Anvisa por meio da Ouvidoria. No ano estudado,

25,73% (6.690) das respostas finalizadas foram classificadas como: excelente, boa, razoável

ou ruim. As categorias “excelente” e “boa” ficaram com 26%, a categoria “ruim” ficou com

28% e a “razoável” ficou com 20%.

Compreende-se que obter dados por meio da Ouvidoria de forma simples e

acessível deve ser um procedimento de rotina e que o fato de isso ocorrer não deve ser algo

digno de admiração, mas a constatação de uma prática obrigatória.

Assim, mesmo cientes dos compromissos e atribuições da Ouvidoria, é

importante que se destaque que diante de dificuldades aqui apontadas para a obtenção de

dados necessários ao bom desenvolvimento do presente trabalho, foi no espaço da Ouvidoria

da Anvisa que se conseguiu coletar o maior número de dados e com maior facilidade. Grande

parte dos dados que foram citados no item destinado à Ouvidoria foram retirados dos

relatórios da própria Ouvidoria e de outros documentos, disponibilizados no portal da Anvisa

ou em reuniões e eventos realizados pela instituição.

Foi citado acima que a Ouvidoria dispõe de diferentes formas de comunicação

e o formulário eletrônico disponibilizado no Portal da Anvisa, representou 65,62% do total no

ano de 2008. Essa informação traz uma séria preocupação quando o tema é transparência e

participação social em um país que ainda vive o grave problema da exclusão digital. Matéria

publicada no jornal eletrônico, A Tarde on line, em 05 de janeiro de 2010, trouxe dados do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados em dezembro de 2010,

sobre o alto número de brasileiros que não tem acesso à internet. Segundo o estudo, 65% da

população brasileira com mais de 10 anos não tiveram acesso à internet, O acesso a internet

por estudantes chega a ser 60%, menor do que alguns países vizinhos como Argentina, Chile,

Colômbia e Uruguai.

No que se refere aos assuntos das demandas, percebeu-se uma forte procura

por respostas administrativas, como andamento de processos e situação de documentos. A

relevância presente no número de questionamentos sobre esse tema sugere que a instituição

Page 105: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

104

não dispõe de um sistema de informação adequado, que permita um bom acompanhamento

dos documentos e processos por parte dos interessados.

Um dos pontos positivos diz respeito às manifestações da população. 57,91%

(15.340) das manifestações em 2008 são de pessoa física e 39,87% (10.561) são demandas de

empresas.

Outro ponto importante, diz respeito à avaliação dos reclamantes quanto aos

serviços prestados. Em 2008, a categoria que classificou as respostas como ruim,

correspondeu a 28% do total. É possível identificar nesse campo, uma grande oportunidade de

melhoria.

5.7 Análise das entrevistas

A partir da utilização da técnica de entrevistas, procurou-se compreender o

processo de participação da sociedade nas discussões que podem conduzir a tomadas de

decisão na Anvisa. Por meio dos relatos de diferentes atores foi possível analisar os espaços e

a opinião dos setores que, de maneira geral, tem uma atuação mais rotineira nesses espaços de

participação. Para tanto, foram considerados como temas relevantes: o conceito de

participação da sociedade; a obrigação da transparência na gestão pública; conhecimento e

utilização dos espaços de participação da sociedade na Anvisa; o acesso aos espaços de

participação da sociedade na Anvisa; os principais temas de interesse; representatividade do

conjunto da população nos espaços de participação na Anvisa; interferência das demandas da

sociedade nos processos de tomada de decisão na Anvisa; a visão dos entrevistados sobre a

transparência na Anvisa.

O conceito de participação da sociedade

Ao ser consultado quanto a sua compreensão sobre participação da sociedade,

todos os entrevistados se manifestaram e mesmo diante de diferenças sociais, econômicas e

culturais, observa-se que o conceito utilizado para participação da sociedade encontra eco nas

opiniões dos entrevistados. Equilíbrio, construção coletiva, organização, participação nas

Page 106: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

105

decisões, participação no trabalho, cidadania, acesso, interação e presença foram termos

utilizados pelos entrevistados para responder a pergunta relacionada com esse tema.

A participação da sociedade é uma oportunidade de construir junto. De acompanhamento, avaliação e crítica [...] (informação verbal)1. Exercício pleno de cidadania [...] (informação verbal)2. A população participar das decisões dos poderes públicos [...] (informação verbal)3. [...] forma democrática de organização da sociedade, onde podem ser ampliadas as possibilidades de acesso das classes mais populares aos atos da gestão [..](informação verbal)4.

A obrigação da transparência na gestão pública

Ao serem indagados sobre a transparência na gestão pública, os entrevistados

manifestaram suas opiniões destacando que transparência não pode ser vista apenas como um

desejo do gestor, mas traduz uma determinação legal. Foi destacado pela maioria que a

prestação de contas é falha e foi consenso de que há muito a ser melhorado. Os termos que

apresentaram maior destaque nas falas dos entrevistados foram: visibilidade, legalidade,

publicidade, obrigatoriedade, determinação da Lei, relatório de gastos, responsabilidade fiscal

e prestação de contas.

Transparência é visibilidade a todas as ações na administração pública. Dar conhecimento de que os atos estão sendo feitos de tal forma. (informação verbal)5. [..] determinação legal de obediência aos princípios de legalidade e publicidade [..] (informação verbal)6. É o que está faltando no Brasil. Seria os órgãos prestarem contas do que compram. Aparelhos caros e remédios são comprados e não são usados. Remédios vencem sem serem usados. (informação verbal)7.

1 Fala do entrevistado B

2 Fala do entrevistado C

3 Fala do entrevistado D

4 Fala do entrevistado H

5 Fala do entrevistado A

6 Fala do entrevistado C

7 Fala do entrevistado D

Page 107: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

106

Conhecimento e utilização dos espaços de participação da sociedade na Anvisa

Esse tema surgiu das discussões sobre os espaços de participação da sociedade

na Anvisa, que eram mais conhecidos e utilizados. Foram citados as consultas públicas,

audiências públicas, câmaras setoriais, agenda regulatória, conselho consultivo, ouvidoria,

central telefônica, área de comunicação da Anvisa, e-mail institucional, link de cursos na

página da Anvisa, área de auditoria, disk intoxicação, portal da Anvisa na internet, Notivisa

(sistema de notificação de eventos adversos). O que os entrevistados mais destacaram foi a

necessidade de melhor capacitação e divulgação dos espaços de participação da sociedade

entre os próprios servidores da instituição, parcerias com órgãos de defesa dos consumidores,

divulgação para a sociedade e necessidade de melhorias.

Mesmo trabalhando na Anvisa talvez não conheça todos[..](informação verbal)8. Já liguei prá denunciar supermercado que coloca um preço e no caixa é outro. Isso continua acontecendo no supermercado perto da minha casa. Precisa a Anvisa passar lá. Liguei também prá denunciar a empresa[..]estava vendendo remédio e não tinha condição de funcionar (informação verbal)9. Conheço o 0800, mas nem todo mundo tem acesso, pois não é divulgado. Eu nem sei de cabeça. Quase ninguém sabe onde é a Anvisa. Muita coisa tem que mudar[..](informação verbal)10.

A discussão desse tema indica espaços que não são comumente referidos pela

instituição, mas são validados pela população. Outra questão importante diz respeito à falta de

uma maior divulgação dos espaços de participação da sociedade, que foi um ponto crítico

apontado pelos entrevistados. Observa-se também, o desconhecimento da área de atuação da

Anvisa, uma vez que a instituição foi procurada para resolver problemas de preço em

supermercado.

8 Fala do entrevistado B

9 Fala do entrevistado D

10 Fala do entrevistado E

Page 108: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

107

O acesso aos espaços de participação da sociedade na Anvisa

Procurou-se conhecer as opiniões dos entrevistados sobre o acesso aos espaços

de participação da sociedade na Anvisa. Foi informado que tomaram conhecimento desses

espaços de participação por meio do portal da instituição na internet, informativos, estudando

para concursos, através de servidores da Anvisa, consultas contínuas necessárias a atividade

profissional que desenvolve, pessoas conhecidas que já usaram a central de atendimento e

consultando sites de outras vigilâncias sanitárias e Ministério da Saúde.

Os entrevistados destacaram a dificuldade da sociedade em se manifestar

frente a temas tão complexos e específicos com os quais a Anvisa trabalha. Alguns

manifestaram sua opinião com base em experiência de participação em algum dos espaços de

participação da agência, outros, apenas referiram conhecer essa dificuldade. A falta de

divulgação de respostas a contribuições que são feitas, principalmente em consultas públicas,

a qualidade das respostas dadas por meio da central telefônica, fragilidade da instituição e da

sociedade para a discussão de alguns temas, a impossibilidade de participação da sociedade

por ainda não conhecer bem a Anvisa e a divulgação privilegiando um público específico,

também foram referidos como problemas que comprometem a transparência na instituição.

O acesso é frágil por diversos motivos, alguns relacionados à instituição e outros à sociedade [..](informação verbal)11. Acredito que a busca pelos espaços apresentados pela Anvisa somente são buscados por aqueles que hoje corresponde ao setor regulado e ainda assim com grande dificuldade. O cidadão comum e o profissional de saúde desconhecem, na sua maioria, que podem utilizar estes espaços de participação social. (informação verbal)12. [..]ainda é mínimo por não terem conhecimento. Nos hospitais, médicos faltam e o paciente não é atendido. O paciente é mal-tratado e não sabe dos seus direitos. Isso acontece em todo lugar. Falsificação de remédios. A própria justiça tem falhas e o cidadão tem que provar que não é bandido. (informação verbal)13.

11 Fala do entrevistado C

12 Fala do entrevistado H

13 Fala do entrevistado D

Page 109: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

108

Os principais temas de interesse da sociedade

Os temas destacados pelos entrevistados como os que mais buscam junto à

Anvisa estão ligados à área de medicamentos, alimentos, serviços de saúde, autorização de

funcionamento de empresas, importação de produtos, legislação, orientação à viajantes (foi

feito referência as vacinas) e processos administrativos por Autos de Infração.

São os de conhecimento de vigilância sanitária, principalmente serviços de saúde e legislação. (informação verbal)14. Autorizações de empresas de medicamentos, registros de PC e Notivisa. informação verbal)15.

Representatividade do conjunto da população

Apenas um dos entrevistados entendeu que o conjunto da população encontra-

se representado. Os entrevistados destacaram os esforços que tem sido feitos pela instituição

no sentido de tornar os espaços de participação mais representativos, inclusive diversas

parcerias com instituições de defesa do consumidor, mas reconhecem que ainda há um longo

caminho pela frente. Houve uma forte referência dos entrevistados aos privilégios do setor

regulado no tocante ao conhecimento e acesso a informações.

Câmaras e Conselhos repetem as representações e não abrangem o conjunto da sociedade. Central e Ouvidoria são canais mais conhecidos e de participação individual melhor representada. (informação verbal)16. Toda a população não. O pessoal da Anvisa até que trabalha bem, mas os que mandam não tem empenho[..](informação verbal)17.

14 Fala do entrevistado G

15 Fala do entrevistado H

16 Fala do entrevistado C

17 Fala do entrevistado D

Page 110: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

109

Interferência das demandas da sociedade nos processos de tomada de decisão na Anvisa

Metade dos entrevistados avaliou como positiva a sua intervenção ao constatar

mudanças nas práticas sobre as quais discordaram. A outra metade achou que suas

considerações não chegaram a mobilizar os gestores da instituição. Houve concordância, no

entanto, quanto a importância desses espaços de participação da sociedade.

Das duas denúncias que fiz os problemas foram resolvidos, mas tá voltando de novo[..]a Anvisa já me respondeu que não pode, mas o pessoal tá vendendo tudo. (informação verbal)18. Não, acredito que nunca houve este tipo de interferência. (informação verbal)19. [..] Embora não tenha tido respostas diretas, percebi mudanças naquilo que critiquei [..](informação verbal)20 .

A visão dos entrevistados sobre a transparência na Anvisa

Os esforços que a Anvisa tem noticiado em seu portal, em especial na

capacitação do seu pessoal, sensibilização quanto à importância da participação da sociedade

e parcerias com outras agências reguladoras e entidades representativas da sociedade civil

organizada tem influído na visibilidade da instituição. A avaliação dos entrevistados quanto a

transparência na Anvisa mostrou-se positiva. Foram referidos diversos problemas, inclusive já

citados quando da análise dos demais temas de relevância, mas todos reconheceram que a

instituição conseguiu grandes avanços. Os termos mais utilizados pelos entrevistados na

discussão desse tema foram aprimoramento, análise de impacto regulatório, padronização,

simplificação, avanços, necessidade de melhorias, valorização dos funcionários, salto de

qualidade. Nesse campo foi feita, também, uma crítica a morosidade em algumas respostas

por parte da instituição e falta de maior clareza quanto a que canal usar e para onde

encaminhar uma demanda.

18 Fala do entrevistado D

19 Fala do entrevistado H

20 Fala do entrevistado B

Page 111: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

110

[..]percebe-se claramente o grande salto de qualidade que essa Instituição alcançou ao longo do tempo. A melhoria dos atendimentos pela Central de atendimento telefônico e os efetuados pela Ouvidoria foram sensivelmente percebidos [..](informação verbal)21. Alguns aspectos são bastante satisfatórios e tendem a melhorar. Relatórios de gestão, Ouvidoria, carta de serviços, mas a instituição ainda tem que avançar muito. (informação verbal)22.

Tabela 3 - Espaços de participação mais citados pelos entrevistados

Entrevistados Espaços de participação da sociedade A B C D E F G H I J

Ouvidoria x x x x x

Central telefônica x x x x x x x

Consultas públicas x x

Audiências Públicas x

Câmaras Setoriais x x

Agenda Regulatória x

Conselho Consultivo x x

Outros (Atendimento presencial, Notivisa, Portal, Disk intoxicação)

x x x x x

Fonte: Elaborado pela autora.

Todos os espaços de participação da sociedade na Anvisa foram citados pelos

entrevistados. O atendimento prestado pela central telefônica foi o mais citado e a Ouvidoria

ocupou a segunda posição. A Agenda Regulatória e as Audiências Públicas se mostraram

menos conhecidos. Alguns instrumentos referidos não constam entre os espaços de

participação descritos no portal da Anvisa, mas foram acrescentados por terem sido citados

pelos entrevistados. Entre esses espaços de participação citados e não descritos pela Anvisa

no campo de participação da sociedade, no portal, encontram-se o sistema de notificação de

agravos e queixas técnicas (Notivisa), o Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos

Controlados (SNGPC), os atendimentos presenciais e o Disk intoxicação.

21 Fala do entrevistado H

22 Fala do entrevistado C

Page 112: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

111

Tabela 4 - Áreas da Anvisa mais referidas pelos entrevistados, com base nos termos constantes em suas respostas.

Termos Utilizados Áreas Relacionadas Sigla Atual Antibióticos

Remédios Medicamentos GGMED

Agrotóxicos GGTOX Contaminantes

Alimentos GGALI

Descentralização SNVS

(Interface com todas as áreas da Anvisa) NADAV

Mídia

Comunicação na Anvisa Comunicação UNCOM

Importação de produtos Portos, Aeroportos e Fronteiras GGPAF

Propagandas GGPRO Propaganda de Medicamentos

Medicamentos GGMED

Medicamentos GGMED Vacinas

Portos, Aeroportos e Fronteiras GGPAF

Relatórios de gastos

Passagens aéreas Financeiro GGGAF

Equipamentos médicos Produtos para a saúde GGTPS

Notificação de eventos, Notivisa Pós-comercialização NUVIG

Cosméticos Cosméticos GGCOS

Recursos Humanos GGRHU Capacitação

Gestão do Conhecimento NEPEC

Autos de Infração Procuradoria

Multas (em alguns casos com a área técnica específica)

Procuradoria

Fonte: Elaborado pela autora

Algumas áreas referidas já figuram entre os espaços de participação da

sociedade, como a Ouvidoria e a Central telefônica e não foram incluídas no quadro. Foi

relatada pelos entrevistados a dificuldade em saber para onde encaminhar sua demanda e que

não sabiam o que cada sigla significava. A Anvisa tem passado por uma reformulação no

campo de planejamento estratégico, espera-se que as dificuldades referidas pelo cidadão seja

contemplada no novo modelo que será adotado pela instituição. Conforme notícias

disponibilizadas no Portal, as mudanças serão graduais, mas gerais e significativas.

A obtenção de dados por meio das entrevistas mostrou-se uma experiência

interessante, na qual os próprios resultados permitem uma aproximação dos pensamentos dos

entrevistados quanto aos espaços de participação da sociedade na Anvisa e a transparência da

instituição. Todos destacaram os avanços, mas indicaram várias oportunidades de melhorias.

Page 113: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

112

O quadro abaixo demonstra, com base nos principais termos utilizados, o que

os entrevistados consideram importante para a instituição e para a sociedade, avanços e

oportunidades de melhorias no que se refere à transparência. Alguns termos, destacados em

diferentes perguntas podem ser destinados à instituição ou à sociedade. Assim criou-se uma

coluna específica para destacá-los.

Instituição Sociedade Comum Avanços Oportunidades de Melhoria

Visibilidade Organização Construção coletiva

Agenda Regulatória

Fragilidade da instituição e da sociedade

Legalidade Participação no trabalho

Interação Análise de impacto

Publico Específico

Publicidade Cidadania Acesso Central telefônica

Linguagem técnica e temas complexos

Obrigatoriedade Participação nas decisões

Salto de qualidade

População não conhece a Anvisa

Relatório de gastos Presença Padronização Responsabilidade fiscal

Equilíbrio Valorização dos funcionários

Divulgação Parcerias Melhorias

Quadro 8 - Transparência da Anvisa, avanços e desafios

Fonte: Elaborado pela autora

Com base nas entrevistas e conforme o quadro acima, os entrevistados

entendem que para ser transparente a Anvisa deve dar maior visibilidade a suas ações, agir

sempre em respeito aos princípios da legalidade e publicidade, prestar contas dos seus gastos

e buscar sempre melhorias.

No que se refere à sociedade, os entrevistados, cada um com sua linguagem,

entenderam que a sociedade anseia por estar presente na rotina da instituição e nos seus

processos de trabalho, mas entende que carece de organização e de instrumentos que

permitam equilíbrio entre as forças que ocupam os espaços coletivos de participação da

sociedade na Anvisa.

Construir a instituição que a sociedade deseja foi referido pelos entrevistados

como um esforço conjunto e nessa mesma linha, a melhoria do acesso da sociedade aos

espaços de participação da Anvisa.

Page 114: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

113

A transparência da Anvisa foi referida pelos entrevistados como um salto de

qualidade, com destaque para a previsibilidade e visibilidade possibilitadas pela Agenda

Regulatória e ampliação de acesso pela implementação da central telefônica com ligação

gratuita.

No quadro de oportunidades de melhoria, os entrevistados referiram a

necessidade de buscar instrumentos que minimizem as fragilidades da instituição e da

sociedade no processo de participação, buscar parcerias que possam contribuir com a

ampliação do acesso de parcelas menos favorecidas da sociedade e reduzir a assimetria de

informações, padronizar os procedimentos da instituição, evitar tratamento diferenciado e

concessão de privilégios de participação ao setor regulado, valorizar os servidores e envolvê-

los nas discussões e ações sobre transparência da instituição, ter uma maior aproximação com

a população e se fazer conhecer por ela.

Page 115: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

114

6 CONCLUSÕES

A participação da sociedade civil na gestão pública brasileira foi valorizada

com a adoção do paradigma constitucional do Estado Democrático de Direito. O

reconhecimento das diferenças na composição da sociedade e a criatividade na construção de

espaços de participação também têm se mostrado uma preocupação da moderna gestão

pública.

Nesse processo de fortalecimento do controle social, a transparência ocupa

espaço de destaque, pois abrir a possibilidade efetiva de participação da sociedade nas ações

governamentais, além de evidenciar o sentido desejado de conferir ampla publicidade das

informações, conforma o somatório de esforços e compartilhamento de responsabilidades

entre o poder público e a sociedade civil.

As agências reguladoras tem mostrado interesse no aprimoramento dos seus

espaços de participação e, nesse sentido, trazer ao amplo conhecimento o que a maior dessas

agências, a Anvisa, tem feito para o fortalecimento da participação da sociedade e a

transparência, indica que esses esforços têm sido percebidos. Ainda assim, as informações

constantes no corpo deste trabalho e sobre as quais serão tecidos alguns comentários, indicam

que a instituição tem um longo caminho a percorrer antes de poder se identificar como aberta

à participação da sociedade e transparente.

No período em que foi realizado este estudo ocorreram mudanças

significativas na visão da instituição quanto à participação da sociedade e transparência. Se

nem todos os espaços de participação ganharam em qualidade, a percepção por parte da

instituição de que existe essa necessidade, já é um avanço.

Dentre as iniciativas referidas no presente trabalho e que merecem destaque

por envolverem ampliação da participação da sociedade civil na Anvisa, citam-se as parcerias

com órgãos de defesa do consumidor, como é o caso do Projeto de Fortalecimento da

Participação Social na Regulação, coordenado pelo Idec. Essas parcerias aprofundaram as

discussões do tema e os novos olhares sobre a instituição acabaram por expor fragilidades nos

processos de participação da sociedade e sugerir novos caminhos. O aprimoramento dos

procedimentos de Consulta e Audiência Pública, conforme previsto no Guia de Boas Práticas

Regulatórias, elaborado pela instituição, não apenas foi muito importante como tem

constituído um instrumento de base para trabalhar as normas previstas na Agenda Regulatória.

A publicação da Carta de Serviços e melhoria da política de atendimento ao público, onde se

Page 116: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

115

inclui a criação da central de atendimento telefônico, também são pontos relevantes.

Concluindo os pontos destacados, observou-se que foram principiadas discussões quanto a

formas de fortalecimento dos demais espaços de participação.

Essas discussões são especialmente importantes, por ter sido observado que os

espaços de participação estudados, embora diversificados, não se mostraram capazes de

alcançar as diferentes realidades que conformam a sociedade. Ficou claro que nem sempre a

participação resultou em acatamento das proposições e, mesmo não havendo nenhuma

sugestão de que sejam acatadas contribuições inconsistentes, não se visualizou a necessária

transparência no trato dessas proposições.

Com base nos dados levantados, constata-se que as consultas públicas

continuam conformando um grave entrave à participação da sociedade na Anvisa. O espaço,

em si, não deixa dúvida de sua importância, mas a forma como tem sido aproveitado depõe

contra o que a instituição tem divulgado quanto à participação da sociedade e transparência.

O número de consultas públicas é elevado, o que dificulta a formação de base

de conhecimento para a ampla participação por parte da sociedade, a linguagem utilizada é

geralmente técnica e os registros presentes no portal não favorecem que seja feita a relação

entre a consulta pública e a norma resultante. Os participantes não têm respostas quanto às

suas contribuições ou qual o setor que mais contribuiu, embora pela facilidade de acesso, o

setor regulado esteja mais presente. Não há clareza quanto à procedência da demanda por

determinada norma e não se tem descrito quais os possíveis impactos que irá causar aos

setores envolvidos. Todo esse quadro inviabiliza avaliações mais consistentes quanto à

importância da participação da sociedade nesse processo.

A exemplo das consultas públicas, as audiências públicas são outro grande

problema. Além das limitações próprias desse espaço de participação, não foi percebido por

parte da instituição, dados no portal que o indicassem como espaço de participação de

qualidade. Aqui, a referência a espaço de qualidade indica espaço de ampla participação e

onde as opiniões dos participantes sejam respeitadas. Embora haja uma definição do que são

as audiências públicas para a instituição, o seguimento dos critérios elencados não foi

observado na prática. Também não há clareza se as audiências públicas estão relacionadas à

proposição de normas ou a discussão de temas. Não há previsão de audiências que serão

realizadas, o que definiu a realização de uma audiência, quais as etapas ou número de

audiências por tema.

O portal da instituição não apresenta dados consistentes quanto às audiências

públicas e, embora tenha condição de constituir um espaço de qualidade, a forma como a

Page 117: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

116

Anvisa o tem conduzido acaba por torná-lo em mais um espaço de exclusão à ampla

participação da sociedade.

O terceiro espaço de participação estudado foi a Agenda Regulatória. Trata-se

de uma experiência ainda recente na instituição, onde no ano de 2008 iniciaram-se as

discussões e em 2009 foi publicada a primeira agenda. É um espaço de participação rico,

principalmente pela previsibilidade, critério esse, ausente em outros espaços de participação.

Ainda assim, a Agenda Regulatória tem suas oportunidades de melhoria já percebidas. O

atraso na publicação da agenda, o grande número de temas, a falta de clareza quanto ao que

significa cada um desses temas e de que forma poderão impactar na vida do cidadão, além de

uma participação ainda restrita, são alguns dos problemas observados.

Mesmo a Anvisa tendo definido sua Agenda Regulatória, no processo de

acompanhamento das normas publicadas verificou-se que algumas Resoluções foram

publicadas sem que estivessem compondo a agenda. Esse caso pode indicar que a agenda não

foi bem pensada ou buscaram-se mecanismos de fuga dos trâmites formais que compõem o

Guia de Boas Práticas Regulatórias. Pode-se ainda considerar que, na visão institucional, as

normas publicadas fora da agenda não demandavam maior visibilidade e conseqüente

ampliação de participação da sociedade. Disso advém o questionamento quanto aos critérios

utilizados e a quem coube decidir o que era importante para a sociedade.

Outro espaço de participação estudado foram as Câmaras Setoriais. Dessas

câmaras participam representações do Setor Regulado, Governo e Sociedade Civil. Em

cumprimento ao que prevê seu regulamento, deve ter pelo menos uma reunião ordinária ao

ano. Essa determinação de uma reunião anual já desenha um modelo que prima pela

descontinuidade. As reuniões são encaradas muito mais como um compromisso formal do que

o reconhecimento de um espaço de participação importante. No ano de 2008 só se reuniram

todas as câmaras da Anvisa pela definição de utilizá-las como espaço de discussão de critérios

para a agenda regulatória 2009. Caso contrário, não teria se cumprido a reunião anual de

algumas das câmaras, conforme já discutido no espaço de comentário das câmaras setoriais.

Problemas como remarcações de datas de reuniões, pautas que não contemplam sugestões dos

membros, assimetria de informação, representação e participação são críticos.

Há de se pensar com a brevidade necessária, uma nova formulação para as

câmaras setoriais da Anvisa, pois se constituem em um espaço privilegiado, que conforme os

dados apresentados, é muito mal aproveitado pela instituição.

Fugindo do que foi observado como padrão à maioria dos espaços de

participação estudados, o Conselho Consultivo destacou-se como um espaço diferenciado. Os

Page 118: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

117

dados coletados indicam que esse espaço é o mais prestigiado pela alta direção da agência e a

presença dos Diretores, Gerentes Gerais e Assessores nas reuniões confirma essa percepção.

O Conselho Consultivo se mostrou um espaço de participação com relevância política e

hierárquica, talvez atribuída à coordenação pelo ministério supervisor da agência. As questões

pautadas são de grande relevância, se percebe uma sequência das discussões nas reuniões

seguintes, o que se define como encaminhamento tende a ser cumprido e há um cronograma

de reuniões pré-definido. O principal ponto negativo do Conselho Consultivo está em sua não

abertura à ampla participação. É um espaço seletivo e que reúne seus participantes em locais

que não são amplamente divulgados, com a antecedência devida.

Dos espaços de participação estudados, a Ouvidoria foi o que apresentou maior

riqueza de dados disponibilizados no portal da instituição. Mostrou-se também, o mais

acessível a um maior número da população, se comparado aos demais espaços de

participação. No entanto, a Ouvidoria tem sua maior demanda recebida por meio da internet e,

sendo o Brasil um país no qual se tem uma grande parcela da população na condição de

excluídos das opções tecnológicas, fica claro que muitos não tem acesso a nenhum dos

espaços de participação da sociedade na Anvisa. Mais recentemente, a agência iniciou o

atendimento telefônico com uso de ligação gratuita. Esse espaço já foi o mais referido pelos

entrevistados, mas a divulgação dessa central é falha, geralmente acontece por meio do portal

da Anvisa e daí se tem de volta o círculo excludente da falta de acesso.

Ao analisar a opinião dos entrevistados, observou-se que referiram o salto de

qualidade que a instituição tem dado no quesito transparência, mas destacaram que para

continuar avançando, precisa haver melhoria nos espaços de participação da sociedade.

A falta de informação e divulgação dos atos da agência, aparente privilégio ao

setor regulado no que se refere a acesso aos espaços de participação e informações,

representações repetitivas e não abrangentes, também foram apontados pelos entrevistados

como problemas que atravancam a participação da sociedade e comprometem a transparência

da instituição.

O contexto analisado indicou que avanços foram percebidos e o próprio

interesse pela discussão do tema, que acabou por originar o presente trabalho, demonstra isso.

Porém, o desenvolvimento da pesquisa trouxe conhecimentos novos e a compreensão que a

cultura da participação da sociedade deve ser semeada, inclusive, dentro da Anvisa. Quando

servidores que trabalham na instituição não conhecem os espaços de participação da

sociedade ou os vêem apenas como meios de cumprimento de exigências legais, se tem um

grave problema. É importante que o corpo funcional e os gestores percebam a Sociedade

Page 119: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

118

como mais do que um expectador ou validador do que a instituição define. Que a vejam como

parte do processo e capaz de fortalecer a atuação da agência. Entende-se que existem

processos de gestão que não demandam consultas à Sociedade, mas aqui se trata do

chamamento à participação do que lhe cabe e lhe é direito ter conhecimento e opinar.

São positivas as iniciativas e salutar a discussão dos espaços de participação da

sociedade e transparência da instituição, mas é necessário melhorar a sua forma e seus

instrumentos, bem como é preciso melhorar as respostas e as formas de tratamento das

sugestões e proposições vindas desses espaços.

Assim, o aprimoramento dos espaços de participação disponíveis, com criação

de mecanismos que possam reduzir as assimetrias de informação, participação e representação

se constitui na forma, repetidamente proposta, de fortalecer a participação da Sociedade e

ampliar a transparência da instituição.

Naturalmente, os aspectos que foram tratados neste trabalho não têm a

pretensão de esgotar o assunto. No entanto, ao se apontar algumas conclusões e propor

recomendações, espera-se poder contribuir para o fortalecimento dos espaços de participação

da sociedade e transparência na Anvisa.

Page 120: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

119

7 RECOMENDAÇÕES

Após esta reflexão sobre a participação da sociedade nos processos de gestão

da Anvisa e identificação de esforços da instituição no sentido de melhorar a transparência,

ficam aqui registradas algumas recomendações que foram formuladas no sentido de aproveitar

as potencialidades da instituição e aprimorar os espaços de participação da sociedade civil nas

discussões de temas de sua área de atuação:

� Avaliar periodicamente a composição e o funcionamento dos espaços de participação

da Sociedade, além de propor e realizar as mudanças que se fizerem necessárias, como

forma de melhoria constante das discussões e aprimoramento dos processos de tomada

de decisão;

� Fortalecer a capacidade de análise crítica dos representantes da Sociedade nos diversos

espaços;

� Aproximar as discussões aos instrumentos de gestão utilizados pela Anvisa (PPA,

Contrato de Gestão, PDVISA e etc.);

� Aplicar as técnicas de Análise de Impacto Regulatório para estudo da viabilidade de

normas;

� Desenvolver atividades com o corpo funcional da agência para discutir os canais de

participação da sociedade em uso, importância dessa participação e transparência na

gestão;

� Ampliar a divulgação e as formas de divulgação da Central de Atendimento

Telefônico da Anvisa, uma vez que esse foi o espaço destacado como mais acessível

pelos entrevistados;

� Além da disponibilização da proposta de norma em consulta pública, sugere-se o

envio aos diversos setores e representações que tenham interface com o tema como

forma de estímulo ao recebimento de contribuições;

� Dar retorno aos participantes de cada consulta pública sobre suas contribuições;

� Definir mecanismo que relacione as consultas públicas às RDC que foram geradas

dessas consultas;

� Definir as aplicações das Audiências Públicas, suas etapas, possível cronograma e

formas de ampliar a divulgação;

Page 121: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

120

� Analisar, no caso das Audiências Públicas, o melhor local para realização, de acordo

com o público mais diretamente relacionado, bem como manter as informações

relacionadas à sua ocorrência, atualizadas no portal da instituição;

� Estimular a participação da Sociedade na discussão, proposição e acompanhamento da

Agenda Regulatória;

� Simplificar, dar celeridade e melhorar a qualidade do processo seguido por uma

proposta de norma até sua aprovação;

� Utilizar linguagem clara e compreensível a todos os públicos interessados em

participar das discussões referente a processos sobre os quais a Anvisa interfere;

� Buscar, por meio da capacitação e fortalecimento dos espaços de participação da

sociedade diminuir as assimetrias de informação, representação e participação. Aqui,

entenda-se como assimetria de informação, as diferenças de acesso a informações

importantes para a discussão. Como assimetria de representação, a carência de

representantes adequadamente preparados e em condição de representar bem a

Sociedade. Por fim, por assimetria de participação destacam-se as dificuldades, até de

recursos, para que a sociedade possa se fazer presente onde as discussões acontecem;

� Melhor aproveitar a estrutura física e de pessoal da área de portos, aeroportos,

fronteiras e recintos alfandegados da Anvisa, para a aproximação com a sociedade e

estímulo à participação.

Page 122: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

121

REFERÊNCIAS

ALVES, S. M. C. Processo de participação da sociedade civil nas consultas públicas realizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa (2000 -2006). 2008. Dissertação (Mestrado em Política Social) - Universidade de Brasília, Brasília, 2008. AMORA, A. S. Minidicionário Soares Amora da Língua Portuguesa. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 733. CÂMARA AMERICANA DE COMÉRCIO. Relatório da Câmara de Comércio Americano sobre a Agencia Nacional de Vigilância Sanitária Anvisa. São Paulo: Amcham Brasil, 2009. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (Brasil). Página do cidadão. Disponível em: < http://websphere.anvisa.gov.br/wps/portal/anvisa/cidadao...>. Acesso em: 10 out. 2010. ARAGÃO, A. S. Agências Reguladoras e a Evolução do Direito Administrativo Econômico. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003. BANDEIRA, Pedro. Participação, Articulação de Atores Sociais e Desenvolvimento Regional. Projeto “Novas Formas de Atuação no Desenvolvimento Regional”. Brasília, DF: o IPEA:ANPEC, 1999. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2007. BEHN, R. D. O Novo Paradigma da Gestão Pública e a Busca da Accountability Democrática. Revista do Serviço Público, Brasília, ano 49, n. 4, p. 39, 1998. BOBBIO, Norberto; MATTEUCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco, Dicionário de Política; tradução Carmen C. Varriale...[et al.]; coordenação da tradução João Ferreira; revisão geral João Ferreira e Luis Guerreiro Pinto Cascais – 4ª ed./ Brasília, DF: Editora Universidade de Brasília, 1992, Volume dois. ______. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 1992. BRASIL. Constituição (1988). Da educação. In: Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. 32. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2003.

Page 123: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

122

______. Lei n.º 9.782, de 26 de janeiro de 1999. Define o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, cria a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, e dá outras providências. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, DF, 27 jan. 1999. ______. Lei nº 8.080 de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, da organização e funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20 de set. 1990. ______. Lei no 8.142, de 28 de dezembro de 1990. Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 31 de dez. 1990. ______. Lei Complementar 101/2000, de 04 de Maio de 2000. Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 05 de maio de 2000. ______. Decreto nº. 6062, de 16 de março de 2007. Institui o Programa de Melhoria da Regulação - PRO-REG. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 19 de março de 2007. ______. Portaria 354, de 11 de agosto de 2006. Regimento Interno da Anvisa. Republicada no Diário Oficial da União de 21 de março de 2006 e retificada no Diário Oficial da União de 29 de agosto de 2006, Brasília, DF . ______. Portaria 447. de 7 de abril de 2009. Altera o Regimento Interno da Anvisa. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 8 de abril de 2009. ______. Portaria 422, de 16 de abril de 2008. Institui o Programa de Melhoria do Processo de Regulamentação no âmbito da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 de abril de 2008. ______. Portaria Interministerial Nº. 140, de 16 de março de 2006. Disciplina a divulgação de dados e informações pelos órgãos e entidades da Administração Pública Federal, por meio da rede mundial de computadores – internet. Republicada no Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20 de março de 2006. ______. Análise e Avaliação do Papel das Agências Reguladoras no Atual Arranjo Institucional Brasileiro. Relatório do Grupo de Trabalho Interministerial. Brasília, 2003.

Page 124: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

123

______. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Relatório Final da 13ª Conferência Nacional de Saúde: Saúde e Qualidade de vida: políticas de estado e desenvolvimento. Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2008. ______. Supremo Tribunal Federal, voto proferido na Ação Direta de Inconstitucionalidade Medida Cautelar n° 1.949/RS, publicada no Diário da Justiça de 25.11.2005. ______. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de Gestão. Comissão Européia. Textos de referência em participação da sociedade nos processos de tomada de decisão governamental: (participação social nos planos e orçamentos do governo) / Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de Gestão. – Brasília: MPOG/SEGES, 2005. p. 62 BRESSER PEREIRA, Luiz Carlos. Uma Nova Gestão para um Novo Estado: Liberal, Social e Republicano. Revista do Serviço Público, 52 (1), janeiro 2001: 5-24. The 2001 John L. Manion Lecture, Ottawa, Canadá. ______. Reforma do Estado Para a Cidadania: A Reforma Gerencial Brasileira na Perspectiva Internacional. Brasília: ENAP, 1998. ______. A Reforma do Estado dos Anos 90: Lógica e Mecanismos de Controle: in Lua Nova Revista de Cultura e Política, no. 45, 1998. ______. Da administração pública burocrática à gerencial. Revista do Serviço Público, v. 47, n. 1, p. 7-29, 1996. CAMPOS, A. M., Accountability: Quando poderemos traduzi-la para o português? Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, Ano 24, Nº 2, 1990. CAMPELLO, C. A. G. B. O controle social dos processos orçamentário e financeiro dos municípios. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DEL CLAD SOBRE LA REFORMA DEL ESTADO Y DE LA ADMINISTRACIÓN PÚBLICA, Cidade do Panamá, p. 28-31, 2003. COELHO, Daniela Mello. Elementos essenciais ao conceito de administração gerencial. Revista de Informação Legislativa, Brasília, ano 37, n.147, p. 259, 2000. COBARI, E. C., Accountability e Controle Social: Desafio à Construção da Cidadania. Caderno da Escola de Negócios da UniBrasil, Curitiba, n. 2, Jan-Jun 2004. Disponível em http://www.unibrasil.com.br/publicações/negócios/2/f.pdf. Acesso em:01 ago. 2010.

Page 125: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

124

COIMBRA, Márcio Chalegre. O Estado regulador. Jus Navigandi, Teresina, ano 4, n. 46, out. 2000. CORREIO BRAZILIENSE. Conselhos de Saúde são ineficientes e não representam a população. Entrevista feita pelo jornal Correio Braziliense, com o pesquisador Márcio Pereira. Disponível em http://www.correiobraziliense.com.br. Acesso em 10 de agosto de 2010. CÔRTES, Soraya M. V. Participação de usuários nos Conselhos Municipais de Saúde e de Assistência Social de Porto Alegre. In: PERISSINOTTO, R. & FUKS (orgs), M. Democracia: Teoria e Prática. Rio de Janeiro: Relume Dumará; Curitiba, PR: Fundação Araucária, 2002. COSTA, E. A., 1999. Vigilância Sanitária – proteção e defesa da saúde. São Paulo: Hucitec/Sobravime. CRUZ, Verônica. Estado e regulação: fundamentos teóricos. In: Regulação e Agências Reguladoras. Governança e Análise de Impacto Regulatório . Brasília – Anvisa, 2009. CULAU, A. A.; FORTIS, M. F. A.. Transparência e controle social na administração pública brasileira: avaliação das principais inovações introduzidas pela Lei de Responsabilidade Fiscal. In: Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, 11, Ciudad de Guatemala, 2006. Anais.Ciudad de Guatemala: CLAD, 2006. DAGNINO, Evelina (org.). Sociedade civil e espaços públicos no Brasil. São Paulo, Paz e Terra/Unicamp, 2002. 364 páginas. DE SETA, Marismary Horsth ; SILVA, José Agenor Álvares da . Gestão da Vigilância Sanitária. In: I Conferência Nacional de Vigilância Sanitária, 2001, Brasília. Caderno de Textos da I Conferência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Anvisa, 2001. DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Limites da função reguladora das agências diante do princípio da legalidade. In: DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella (Org.). Direito Regulatório: temas polêmicos. 2. ed. rev. ampl. Belo Horizonte: Fórum, 2004, 659 p. ÉRNICA, Maurício., ISAAC, A., MACHADO, R. R. Cidadania: direito e participação social no Brasil. São Paulo: Cenpec, 2003 (material paradidático on-line). ESTADAO. Governo tira poder das agências Reguladoras. Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/economia,governo-tira-poder-das-agencias-reguladoras, 397269,0.htm. Acesso em: 05 de out. de 2010.

Page 126: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

125

EYSENBACH G, TILL J.E. Ethical issues in qualitative research on internet communities. BMJ 2001; 323: 1103-5. Ferguson, 2001. FACTO. Intermediários: elo indispensável da cadeia. Periódico eletrônico da Associação Brasileira de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades – Abifina, Nº. 4, Nov/Dez 2006. http://www.abifina.org.br/factoNoticia.asp?cod=157. Acesso em 05 de out. de 2010. FALEIROS, Vicente. A Reforma do Estado no período FHC e As Propostas do Governo Lula. In: “A era FHC e o Governo Lula: transição?” . Brasília: Instituto de Estudos Socioeconômicos, 2004. UNB. “Regulação a favor das empresas”. 2006. Disponível em: < http://www.unb.br/acs/bcopauta/politica4.htm. FILHO, Paulo M. d’Avila, JORGE, Vladimyr, Coelho, Ana Fernanda. Acesso ao poder. Clientelismo e democracia participativa desconstruindo uma dicotomia. Civitas - Revista de Ciências Sociais, Vol. 4, Nº 2. Rio de Janeiro, 2004. FRASER, Márcia Tourinho Dantas; GONDIM, S. M. G. Da fala do outro ao texto negociado: Discussões sobre a entrevista na pesquisa qualitativa. Cadernos de Psicologia e Educação - Paidéia, USP - Ribeirão Preto São Paulo, v. 14, n. 28, p. 139-152, 2004. GAJARDO, Marcela. Pesquisa Participante na America Latina, São Paulo, Brasiliense, 1986. GENRO, Tarso. Porto da cidadania: a esquerda no governo de Porto Alegre. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1997. 267. GIAMBIAGI, Fábio & ALÉM, Ana Cláudia de. Finanças Públicas: teoria e prática no Brasil. 7 ed. Rio: Campos, 2000.p.401-421. GILARDI, Fabrizio. Institutional change in regulatory policies: regulating through independent agencies and the three new institutionalisms. In: JORDANA, Jacint; LEVIFAUR, David. The politics of regulation: institutions and regulatory reforms for the age of governance. Northampton, MA: Edward Elgar, 2004. GOHN, Maria da Glória. Teorias dos movimentos sociais. Paradigmas clássicos e contemporâneos. São Paulo: Loyola, 1997. GOMES FILHO, Adhemar Bento. O desafio de implementar uma gestão pública transparente. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DEL CLAD SOBRE LA REFORMA DEL ESTADO Y DE LA ADMINISTRACIÓN PÚBLICA, 10., Santiago. Santiago: [s.n.], 2005.9 p.

Page 127: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

126

GOZZI, Gustavo. Estado Contemporâneo. In__ BOBBIO, Norberto, MATTEUCI, Nicola, PASQUINO, Gianfrancesco. Dicionário de Política. Tradução de Carmem C. Varriale et. al.; coordenação da tradução João Ferreira, revisão geral João ferreira e Luis Guereiro Pinto Cascais. 8. ed. rev. Brasília, DF :UNB, 1995. 2 V. v 1. p. 401-04 GUERRIERO, I.C.Z. Aspectos éticos das pesquisas qualitativas em saúde [tese]. São Paulo (SP): Faculdade de Saúde Pública/Universidade do Estado de São Paulo; 2006. GUIMARÃES, Patrícia Borba Vilar; LEMOS, Rafael Diogo Diógenes. Participação popular e eficiência nas agências reguladoras: fundamentos, limites e conflitos. Trabalho publicado nos Anais do XVIII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em São Paulo – SP nos dias 04, 05, 06 e 07 de novembro de 2009. INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. “Idec avalia agências reguladoras: Banco Central e ANS recebem piores notas”. 2006. Disponível em: < http://www.idec.org.br/emacao.asp?id=1098. Acesso em 05 de out. de 2010. INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Regulação em xeque. Revista mensal do IPEA, julho, 2009. Disponível em http://desafios2.ipea.gov.br/003/00301009.jsp?ttCD_CHAVE=11586. Acesso em 08 de outubro de 2010. JACOBI, P. Políticas sociais locais e os desafios da participação citadina. Ciência & saúde coletiva, vol.7, nº. 3, São Paulo, 2002, P. 443-54. JOVCHELOVITCH, S.; BAUER, M.W. Entrevista narrativa. Em M.W. Bauer & G. Gaskell (orgs.), Pesquisa qualitativa com texto, imagem, e som. Um manual prático (pp.90-113). Petrópolis: Vozes, 2002. KOPITTKE, Alberto Liebling; DOS ANJOS, Fernanda Alves; OLIVEIRA Mariana Siqueira de Carvalho. Breves notas sobre democracia e participação social. Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2009. Disponível em http://www2.forumseguranca.org.br/node/22650. Acesso em 15 de outubro de 2010. LÉPORE, P.; LEHFELD, L. S.. A Participação Cidadã e os Instrumentos Processuais de Controle das Agências Reguladoras no Brasil. Revista Jurídica FAFIBE, v. 1, 2007. LEVY, B. e SPILLER, P. T. Regulations, instutions and commitment: comparative studies of telecommunications. Cambridge: Univ. of Cambridge Press, 1996.

Page 128: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

127

LUCCHESE, G.. Globalização e Regulação Sanitária – rumos da vigilância sanitária no Brasil. Tese de conclusão do Curso de Doutorado em Saúde Pública; ENSP/FIOCRUZ (no prelo), 2001. MARX, Ivan Claudio. Sociedade civil e sociedade civil organizada: o ser e o agir. Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 1019, 16 abr. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8257>. Acesso em: 26 set. 2010. MARSHALL. T.H. Cidadania, Classe Social e Status. Rio de Janeiro, Zahar editores. 1967. MATTOS, Paulo Todescan Lessa. A Formação Do Estado Regulador. Novos Estudos. - CEBRAP n.76. São Paulo Nov. 2006. MAURANO, Adriana. A redefinição do papel do Estado e a introdução de novas figuras jurídicas no Direito brasileiro. Jus Navigandi, São Paulo, nº 46, dez. 2004. MELUCCI, Alberto. Acción colectiva, vida cotidiana y democracia. El Colégio de México, 1999. MINAYO, M.C. de S. O desafio do conhecimento: Pesquisa Qualitativa em Saúde. São Paulo: HUCITEC; Rio de Janeiro: ABRASCO, 1998. MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 1994. MODESTO, Paulo. Participação popular na administração pública — mecanismos de operacionalização. 1999. Disponível em <www.apoema.adv.br/participacao-popular-na-administ>. Acesso em: 02 de out. 2010. _________. Participação popular na administração pública. Mecanismos de operacionalização. Jus Navigandi, Teresina, a. 6, n. 54, fev. 2002. NEWCOMER, K. E., A Preparação dos Gerentes Públicos para o Século XXI. Revista do Serviço Público, Brasília, Ano 50, n. 2, abril-junho 1999. ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO. Relatório sobre a Reforma Regulatória. Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, Paris, 1997.

Page 129: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

128

PARENTE, Lygia Bandeira de Mello. Participação social como instrumento para a construção da democracia: a intervenção social na administração pública brasileira. Brasília, UNB, 2006. PEREIRA, M.F. O controle social e a participação democrática nos conselhos municipais de saúde da RIDE. Tese de Doutorado. Brasília, UNB, 2010. PEREZ, Marcos Augusto. A administração pública democrática: institutos de participação popular na administração pública. Belo Horizonte: Fórum, 2004. PESSOA, Mário Falcão. Fundamentos para uma Política de Promoção da Ética na Administração Pública. 1999, Palestra. Mimeografado. PINTO, Carlos A. Agências Reguladoras: Autonomia em xeque!. Recanto das Letras. São Paulo, de 16 de Out. de 2009. Disponível em: <http://recantodasletras.uol.com.br/textosjuridicos/1869721>. Acesso em: 05 de out. de 2010. A POLITIZAÇÃO DAS AGÊNCIAS REGULADORAS. Exame, São Paulo, 16 nov. 2005. Disponível em: <http://portalexame.abril.com.br/revista/exame/edicoes/0856/ economia/m0080231.html>. Acesso em: 05 out. 2010. AGÊNCIAS REGULADORAS PERDERAM R$ 37 BI DE 1998 A 2009. Veja, São Paulo, Notícia datada de 13 de Ago. de 2010. Disponível em: http://veja.abril.com.br/noticia/economia/agencias-reguladoras-perderam-r-37-bi-de-1998-a-2009. Acesso em: 10 de Out. de 2010. RAMALHO, Pedro Ivo Sebba. Regulação e agências reguladoras: reforma regulatória da década de 1990 e desenho institucional das agências no Brasil . In: Regulação e Agências Reguladoras. Governança e Análise de Impacto Regulatório. Brasília – Anvisa, 2009. RAMOS, Flávia de Araújo. Considerações sobre a concepção de um "Estado Regulador". Jus Navigandi, Curitiba, mai.2003. RIZEK, Cibele Saliba. Sociedade civil e espaços públicos no Brasil: um balanço necessário. In: Evelina DAGNINO (org.). Sociedade civil e espaços públicos no Brasil. São Paulo, Paz e Terra/Unicamp, 2002. RICCI, Rudá. Contradições na Implementação das Ações de Participação. Versão da apresentação realizada no seminário: Aprofundando os Aspectos da Participação. Belo Horizonte, UFMG, 2004.

Page 130: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

129

RICHARDSON, R. J. . Pesquisa Participante e Pesquisa-Ação. In: Roberto Jarry Richardson. (Org.).: Pesquisa-Ação. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2004, p. 175-192. SALGADO, L. H. Agências regulatórias na experiência brasileira: um panorama do atual desenho institucional. Brasília/DF: IPEA. 2003. Texto para discussão nº 941. SERAFIM, L. “Agências reguladoras brasileiras entre projetos políticos e modelo institucional: o caso da ANEEL nos governos FHC e Lula (1995 - 2005)”. Dissertação de Mestrado. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). Unicamp, Campinas, 2007. SEROA DA MOTA, R. As opções de marco regulatório de saneamento no Brasil. Revista Plenarium, n. 3, set., Rio de Janeiro, 2006, p. 100-116. SIMIONATTO, Ivete. Crise, reforma do Estado e políticas públicas: implicações para a sociedade civil e a profissão, 2001. Disponível em www.artnet.com.br/gramsci/texto1.html> Acesso em 12 Agosto de 2010. SOUZA, Celina. A nova Gestão Pública. In: A gestão pública: desafios e perspectivas. Salvador: FLEM, 2001. 112p. SUNDFELD, Carlos Ari. Reforma do Estado e Agências Reguladoras: estabelecendo os parâmetros de discussão. Direito Administrativo Econômico. São Paulo: Malheiros, 2000. TRIVINOS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em Ciências Sociais. São Paulo: Atlas, 1994. _________. Introdução em ciências sociais: a pesquisa qualitativa. São Paulo, Ed. Atlas, 1987. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA. Regulação a favor das empresas. 2006. Disponível em: < http://www.unb.br/acs/bcopauta/politica4.htm>. Acesso em: 05 de out. de 2010. VALLA, V. V. Participação popular e saúde: A questão da capacitação técnica no Brasil. In: Participação Popular, Educação e Saúde, Teoria e Prática (V. V. Valla & E. N. Stotz, org.), pp. 55-86, Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1993. YIN, R. K. Case study research: design and methods. London: Sage, 1984.

Page 131: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

130

APÊNDICE

A – Roteiro de Entrevista

PESQUISA: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS

ESPAÇOS DE PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE

ROTEIRO DE ENTREVISTA

Número da Entrevista: Data: Nome do Entrevistado: Entrevistadora: Albanita Maria Bezerra Miranda

1. O que é participação social para você?

2. O que você entende por transparência na gestão pública?

3. Quais os espaços de participação da sociedade, disponibilizados pela Anvisa, que você

conhece? Quais deles você já utilizou, participa ou participou?

4. De que forma você teve conhecimento desse (s) espaço (s) de participação da

sociedade?

5. Como avalia o acesso da população a esse(s) espaço (s) de participação?

6. Quais os assuntos que mais busca nesses espaços disponibilizados pela Anvisa?

7. Você acha que esses espaços de participação possibilitam que o conjunto da população

seja representado?

8. Você teve conhecimento se suas demandas interfiram no processo de tomada de

decisão pelos gestores da instituição?

9. Deixe sua opinião sobre a transparência nos processos de gestão da Anvisa.

Page 132: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

131

B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO I

IVRE E ESCLARECIDO

LEMBRA

MOSAOOR ADEQUAR O PRESENTE TERMO À SUA PEUISA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Você está sendo convidado (a) como voluntário (a) a participar da pesquisa: co l TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS ESPAÇOS DE PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE

JUSTIFICATIVA, OS OBJETIVOS E OS PROCEDIMENTOS : O motivo que nos leva a estudar o tema é a extrema importância da participação da sociedade na discussão de assuntos sob responsabilidade da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa, que impactam frontalmente na saúde da população e economia do país. O objetivo desse projeto é analisar a capacidade dos canais de ausculta da sociedade, definidos pela Anvisa em favorecer o acesso quantitativo e qualitativo da população às discussões de temas sob a responsabilidade da instituição. O procedimento de coleta dos dados será da seguinte forma: levantamento de dados por meio de atas, pautas, relatórios e outros documentos disponíveis no site da Anvisa e entrevistas com representantes do Setor Regulado pela Anvisa, Governo e Sociedade. DESCONFORTOS, RISCOS E BENEFÍCIOS: O desconforto que se pode atribuir a sua participação na pesquisa está relacionado ao tempo destinado à resposta das perguntas e o próprio ato de manifestar suas opiniões. Não foram identificados riscos à sua participação e os benefícios que justificam essa participação estão centrados na relevância do tema e necessidade de avaliação da real participação nas discussões de questões de tão grande impacto para a vida das pessoas. Através de suas respostas poderão ser identificados pontos fortes da instituição estudada ou oportunidades de melhoria. GARANTIA DE ESCLARECIMENTO, LIBERDADE DE RECUSA E G ARANTIA DE SIGILO : Você será esclarecido(a) sobre a pesquisa em qualquer aspecto que desejar. Você é livre para recusar-se a participar, retirar seu consentimento ou interromper a participação a qualquer momento. A sua participação é voluntária e a recusa em participar não irá acarretar qualquer penalidade. O pesquisador irá tratar a sua identidade com padrões profissionais de sigilo. Seu nome ou o material que indique a sua participação não será liberado sem a sua permissão. Uma cópia deste consentimento informado será pelo coordenador da pesquisa e outra será fornecida a você.

Page 133: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

132

CUSTOS DA PARTICIPAÇÃO, RESSARCIMENTO E INDENIZAÇÃO POR EVENTUAIS DANOS : A participação no estudo não acarretará custos para você e não será disponibilizada nenhuma compensação financeira adicional. DECLARAÇÃO DO PARTICIPANTE : Eu,____________________________________________,RG nº________________, domiciliado à Rua __________________________________ , nº______, Bairro____________________,Município/UF, ________________________, CEP:_______________, tendo recebido as informações e ciente dos meus direitos acima relacionados, concordo em participar do estudo. Também sei que, caso existam gastos adicionais, estes serão absorvidos pelo orçamento da pesquisa. Em caso de dúvidas poderei chamar a pesquisadora responsável, Albanita Maria Bezerra Miranda, no telefone (61) 3462 5531. Recebi uma cópia deste termo de consentimento livre e esclarecido e me foi dada a oportunidade de ler e esclarecer as minhas dúvidas. Nome Assinatura do Participante_____________________ Data:__________ Nome Assinatura do Pesquisador_____________________ Data:__________ Nome Assinatura da Testemunha_____________________ Data:__________

Page 134: TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO DA ANVISA: UMA ANÁLISE DOS … · 2. Participação Comunitária. 3. Regulação e Fiscalização em Saúde. 4. Democracia. I. Matos, Carlos Alberto de

133

ANEXO

A - Parecer do Comitê de Ética (CEP) do CPqAM