transformador para robot de inspecção de linhas aéreas

103
Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas Diogo David Nunes de Mesquita Furtado Lopes Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Electrotécnica e de Computadores Júri Presidente: Prof. Doutor Paulo José da Costa Branco Orientador: Prof. Doutor Fernando Alves da Silva Co-orientador: Prof. Doutor João Fernando Cardoso Silva Sequeira Vogal: Prof. Doutor Gil Domingos Marques Outubro 2011

Upload: vodan

Post on 10-Jan-2017

223 views

Category:

Documents


7 download

TRANSCRIPT

Page 1: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

i

Transformador para Robot de

Inspecção de Linhas Aéreas

Diogo David Nunes de Mesquita Furtado Lopes

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Electrotécnica e de Computadores

Júri

Presidente: Prof. Doutor Paulo José da Costa Branco

Orientador: Prof. Doutor Fernando Alves da Silva

Co-orientador: Prof. Doutor João Fernando Cardoso Silva Sequeira

Vogal: Prof. Doutor Gil Domingos Marques

Outubro 2011

Page 2: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

ii

Page 3: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

iii

Agradecimentos

Equation Chapter 1 Section 1

A toda a minha família, em especial à minha mãe e avó pela sua presença constante, apoio

incondicional em todos os momentos e pelo exemplo que transmitiram para a minha vida.

À Becas pela sua paciência, amor e alegria que foram ajuda e fonte de energia ao longo deste

percurso.

Ao professor Fernando Alves da Silva, pela sua constante disponibilidade, paciência e pela sua

sábia orientação ao longo de todo este trabalho.

Ao professor João Sequeira pela criação, estimulo e participação na elaboração de todo o

projecto.

À Área Cientifica de Energia do Instituto Superior Técnico, pela disponibilidade dos meios e

transmissão de conhecimentos por parte de todos os docentes ao longo destes últimos anos, os quais

tentei aplicar da forma mais correcta nesta tese de mestrado.

Por fim um agradecimento especial a todos os meus amigos, que foram a companhia e apoio

nos bons e nos maus momentos, trazendo grandes alegrias e felicidade a todo este percurso académico.

A todos, um sincero muito obrigado.

Page 4: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

iv

Resumo

A necessidade de fazer com que, a energia eléctrica chegue a toda a população, nas melhores

condições possíveis, tornou imperativo, nos tempos actuais, que as falhas ao longo do seu trânsito

sejam mínimas e tendencialmente nulas.

A premissa deste trabalho encontra-se associada ao desenvolvimento de um método

alternativo de inspecção de alta tensão usando um robot autónomo.

O objectivo do projecto em que esta tese está inserida, centra-se então na criação de um robot

que será alimentado directamente a partir da linha de alta tensão (AT). O sistema terá então de

proporcionar ao robot uma tensão DC de modo a obter uma potência necessária para que este consiga

executar todas as suas funções.

O foco desta tese é o desenvolvimento de um transformador, cujo primário de uma espira seja

percorrido pela corrente da linha de alta tensão e cujo enrolamento secundário permitirá fornecer a

potência necessária à operação do robot, que é da ordem dos 300W.

Será necessário, para complementar o transformador, um conversor AC/DC conjugado com um

sistema de controlo de tensão e corrente, para que a potência entregue à carga mantenha um valor

constante.

Nesta tese dimensiona-se a arquitectura do transformador de núcleo ferromagnético e avalia-

se o resultado com simulações e ensaios laboratoriais. Os cálculos e ensaios, quer computacionais quer

laboratoriais, são efectuados para correntes menores do que as que efectivamente podem existir numa

linha de AT, devendo com os devidos cuidados ser extrapolados os resultados para o caso real.

O rendimento do transformador será então dependente do valor de amplitude considerado

para a corrente na linha de alta tensão, sendo numa grande parte bastante satisfatório, como se

procura comprovar pelos resultados.

Page 5: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

v

Abstract

Today it is imperative to ensure the supply of electrical energy to industrial, business and

domestic customers, ensuring power quality standards and regulations.

This work aims at developing of a new method, that can do the inspection for a specific type of

lines, transmission lines.

This thesis takes part on a project on the creation of a robot with a new concept, this one will

be feed directly from the transmission line. Then the power electronics system will have to supply this

robot with nearly 300 W, so it can perform all its tasks.

This MSc thesis is focused on the development of a transformer which, through magnetic

induction of its iron core, by the power line, will make possible to reach the power required.

From the transmission line we will get sinusoidal waveforms, those must be converted with the

help of an AC/DC rectifier.

Both calculations and tests are made with currents smaller than those, which would actually

exist in a transmission line, so, with due care, real results should be extrapolated.

Transformer’s yield will be dependent on peak current values which circulates in the

transmission line, being a large part of the yield very satisfactory, as intended to prove with the shown

test results.

Page 6: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

vi

Índice

1- INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 1

1.1 – Motivação ......................................................................................................................... 1

1.2 - Objectivo e estrutura do trabalho..................................................................................... 4

2- DIMENSIONAMENTO PRELIMINAR DE UM TRANSFORMADOR DE POTÊNCIA

ALIMENTADO EM CORRENTE ........................................................................................................ 6

2.1 – Lei geral da indução electromagnética ............................................................................ 7

2.3 – Enrolamento secundário ................................................................................................ 10

2.4 - Relacionamento entre potência e grandezas físicas do transformador ......................... 14

2.5 – Dimensionamento do núcleo para o transformador ..................................................... 15

2.6 – Modelo equivalente do transformador .......................................................................... 19

3- ANÁLISE DO TRANSFORMADOR USANDO ELEMENTOS FINITOS (software FEMM)

................................................................................................................................................................ 27

3.1 – Modelo do transformador UI 600VA no FEMM ............................................................ 27

3.2 – Simulação em vazio do transformador .......................................................................... 29

3.3 – Simulação do funcionamento em curto-circuito ............................................................ 34

3.4 – Funcionamento do transformador em carga ................................................................ 36

3.5 – Cálculo dos parâmetros do transformador através do software FEMM ....................... 40

3.6 – Perdas no núcleo ............................................................................................................ 42

3.7 – Perdas resistivas e perdas totais .................................................................................... 42

4- SIMULAÇÃO DO DESEMPENHO DO TRANSFORMADOR .................................................... 44

4.1 – Obtenção da corrente no primário do transformador UI .............................................. 44

4.2 – Ensaio em curto-circuito do transformador UI .............................................................. 45

4.3 – Ensaio em circuito aberto do transformador UI ............................................................ 46

4.4 – Ensaio com carga no enrolamento secundário do transformador UI ............................ 48

4.5 – Simulação com ponte de rectificação (ponte de Graetz) e condensador de alisamento

................................................................................................................................................. 49

4.6 – Estimativa das perdas com base nas simulações ........................................................... 53

4.7 – Discussão dos resultados apresentados pelas simulações ............................................ 53

5- ENSAIOS LABORATORIAIS DO TRANSFORMADOR ............................................................ 55

5.1 – Ensaio em curto-circuito do transformador UI .............................................................. 56

5.2 – Ensaio em circuito aberto do transformador UI ............................................................ 58

5.3 – Estimativa dos parâmetros do transformador a partir da medição de indutâncias. ..... 60

5.4 – Ensaio em carga do transformador UI ........................................................................... 62

Page 7: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

vii

5.5 – Ensaio com carga e ponte rectificadora do transformador UI ....................................... 64

5.6 – Discussão dos resultados obtidos nos ensaios laboratoriais do transformador. ........... 66

6- CONCLUSÕES ................................................................................................................................... 67

BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................................................... 69

ANEXO A – TRANSFORMADOR CC ..................................................................................................... 71

A.1 – Modelo do transformador ‘CC’ no FEMM ..................................................................... 73

A.2 – Simulação em vazio do transformador com núcleo ‘CC’. .............................................. 73

A.3 – Simulação de um curto-circuito no enrolamento secundário do transformador com

núcleo ‘CC’. .............................................................................................................................. 75

A.4 – Dimensionamento das perdas no transformador ‘CC’ através do software femm. ...... 76

ANEXO B – TRANSFORMADOR UU .................................................................................................... 78

ANEXO C - MONTAGEM LABORATORIAL PARA OBTENÇÂO DA CORRENTE PRIMÁRIA .......... 83

ANEXO D – GUIA DE DIMENSIONAMENTO ....................................................................................... 86

Page 8: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

viii

Lista de Figuras

Figura 1.1 - Modelo computacional do robot RIOL [2]. ................................................................................ 3

Figura 2.1 - Transformador com núcleo 'CC'. ............................................................................................... 7

Figura 2.2 - Diagrama de leis num circuito electromagnético [3]. ............................................................... 7

Figura 2.3 - Modelo equivalente com ramo de magnetização. .................................................................. 11

Figura 2.4 - Diagrama vectorial da corrente de excitação. ......................................................................... 11

Figura 2.5 - Esquema simplificado do transformador. ............................................................................... 12

Figura 2.6 - Curva B-H do núcleo de ferro silício. ....................................................................................... 16

Figura 2.7 - Secção ‘Ac’ do núcleo (área a cinzento escuro). ...................................................................... 16

Figura 2.8 - Perspectiva frontal do núcleo 'UI' ........................................................................................... 17

Figura 2.9 - Perspectiva lateral do núcleo 'UI' . .......................................................................................... 18

Figura 2.10 - Representação do transformador com núcleo na forma 'UI'. ............................................... 20

Figura 2. 11 - Modelo do transformador com núcleo de ferro. ................................................................. 21

Figura 2.12 - Quedas de tensão referentes ao primário do transformador. .............................................. 23

Figura 2.13 - Circuito equivalente com a inclusão de um transformador ideal. ........................................ 24

Figura 2.14 - Equivalente em T do transformador. .................................................................................... 25

Figura 3.1 - Modelo do transformador ‘UI’. Corte transversal ................................................................... 28

Figura 3.2 - Campo magnético no transformador, ensaio em vazio. ......................................................... 30

Figura 3.3 - Zonas de análise do campo magnético no ensaio em curto-circuito. ..................................... 30

Figura 3.4 - Densidade do campo magnético em função da distância. Corte na parte inferior do U. Secundário em vazio................................................................................................................................... 31

Figura 3.5 - Densidade do campo magnético em função da distância. Corte a meio da parte U do núcleo. Secundário em vazio................................................................................................................................... 32

Figura 3.6 - Densidade do campo magnético em função da distância. Corte na parte I. Secundário em vazio. .......................................................................................................................................................... 33

Figura 3.7 - Ensaio em vazio do transformador com corrente primária superior a 1000A. ....................... 34

Figura 3.8 - Comportamento do campo magnético do transformador. Secundário em curto-circuito. .... 35

Figura 3.9 - Intensidade do campo magnético em função da distância. Corte a meio da parte U do núcleo. Secundário em curto-circuito. ....................................................................................................... 36

Figura 3.10 - Comportamento do campo magnético do transformador. Funcionamento com carga nominal. ...................................................................................................................................................... 37

Page 9: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

ix

Figura 3.11 - Representação dos cortes efectuados, para estudo da densidade de campo magnético, no ensaio em carga. ......................................................................................................................................... 37

Figura 3.12 - Densidade do campo magnético em função da distância. Ensaio com carga nominal. Corte A. ................................................................................................................................................................ 38

Figura 3.13 - Densidade do campo magnético em função da distância. Ensaio com carga nominal. Corte B. ................................................................................................................................................................. 38

Figura 3.14 - Densidade do campo magnético em função da distância. Ensaio com carga nominal. Corte C. ................................................................................................................................................................. 39

Figura 3.15 - Densidade do campo magnético em função da distância. Ensaio com carga nominal. Corte D. ................................................................................................................................................................ 39

Figura 4.1 - Corrente de entrada no primário do transformador. .............................................................. 45

Figura 4.2 - Representação do ensaio em curto-circuito do transformador dimensionado. ..................... 46

Figura 4.3 - Corrente de curto-circuito no secundário do transformador dimensionado. ......................... 46

Figura 4.4 - Representação do ensaio em circuito aberto no secundário do transformador dimensionado.

.................................................................................................................................................................... 47

Figura 4.5 - Tensão no enrolamento primário do transformador dimensionado. ..................................... 47

Figura 4.6 - Tensão no enrolamento secundário com este em aberto. ..................................................... 48

Figura 4.7- Tensão numa carga resistiva de 10 ohm colocada no secundário do transformador

dimensionado. ............................................................................................................................................ 48

Figura 4.8 - Corrente numa carga resistiva de 10 ohm colocada no secundário do transformador

dimensionado. ............................................................................................................................................ 49

Figura 4.9 - Esquema de ligações em Simulink para realização de um ensaio em carga puramente

resistiva do transformador dimensionado. ................................................................................................ 49

Figura 4.10 - Comutação positiva da ponte de rectificação. ...................................................................... 50

Figura 4.11 - Comutação negativa da ponte de rectificação ...................................................................... 50

Figura 4.12 - Montagem MATLAB/Simulink para ensaio com ponte rectificadora. ................................... 51

Figura 4.13 - Tensão aos terminais do enrolamento primário. Ensaio com ponte rectificadora. .............. 52

Figura 4.14 - Corrente no enrolamento primário. Ensaio com ponte rectificadora. .................................. 52

Figura 4.15 - Tensão continua Vdc. .............................................................................................................. 52

Figura 4.16 - Corrente continua Idc. ............................................................................................................ 53

Figura 4.17 - Esquema Simulink para determinação do rendimento. ........................................................ 53

Figura 5.1 - Protótipo do transformador ‘UI’ dimensionado. ..................................................................... 56

Page 10: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

x

Figura 5.2 - Ensaio em curto-circuito do transformador projectado.......................................................... 57

Figura 5.3 - Esquema equivalente do ensaio em curto-circuito. ................................................................ 57

Figura 5.4 - Ensaio em circuito aberto do transformador dimensionado. ................................................. 59

Figura 5.5 - Esquema equivalente do ensaio em vazio............................................................................... 59

Figura 5.6 - em vazio do transformador ‘UI’. Tensão secundária pré saturação. ....................................... 60

Figura 5.7 - Ensaio do transformador ‘UI’ com carga resistiva. Carga de 8,75Ω. ....................................... 62

Figura 5.8 - Ensaio do transformador ‘UI’ com carga resistiva. Carga de 7,05Ω. ....................................... 63

Figura 5.9 - Esquema equivalente do ensaio em carga do transformador dimensionado. ........................ 64

Figura 5.10 - Esquema representativo do ensaio com ponte rectificadora. .............................................. 64

Figura 5.11 - Ensaio do transformador ‘UI’ com ponte rectificadora e condensador. ............................... 65

Page 11: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

xi

Lista de tabelas

Tabela 2.1 - Parâmetros para cálculo da janela do transformador. ........................................................... 18

Tabela 2.2 - Parâmetros do transformador 'UI' dimensionado. ................................................................. 25

Tabela 2.3 - Grandezas eléctricas do circuito equivalente em T. ............................................................... 26

Tabela 3.1 - Constituição do enrolamento primário. ................................................................................. 28

Tabela 5.1 - Equações características para medição de indutâncias. ......................................................... 61

Tabela 5.2 - Resultados da medição de indutâncias no transformador. .................................................... 61

Page 12: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

xii

Acrónimos e Siglas

IST Instituto Superior Técnico

RIOL Robot Inspection Over Power Lines

DC Corrente continua

AC Corrente alternada

MOSFET Metal Oxide Semicinductor Field Effect Transistor

LiPo Lithium ion polymer

RMS Root mean square

fmm Força magneto motriz

fem Força electromotriz

FEMM Finite Element Method Magnetics

TI Transformador de intensidade

AT Alta Tensão

Page 13: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

xiii

Simbologia

a Área

A Potencial vector

Ac Secção

B Densidade de fluxo magnético

Bmax Densidade de fluxo magnético máxima

d Espessura

D Densidade de fluxo eléctrico

Di Densidade especifica de um material

E Intensidade de campo eléctrico

E1 Força electromotriz no enrolamento primário

E2 Força electromotriz no enrolamento secundário

Ep Queda de tensão primária

Es Queda de tensão secundária

f frequência

F Força

H Densidade de campo magnético

I Corrente genérica

I1 Corrente no enrolamento primário

I2 Corrente no enrolamento secundário

Ip Corrente de pico

Im Corrente no ramo de magnetização

Iϕ Corrente de excitação

Icc Corrente de curto-circuito

J Densidade de corrente eléctrica

k Factor de ligação magnética

kf Factor de forma

l Caminho magnético médio

L11 Indutância própria do ramo primário

L22 Indutância própria do ramo secundário

Lm Indutância mútua do circuito equivalente do transformador

l11 Indutância ideal do ramo primário

l22 Indutância ideal do ramo secundário

lμ Coeficiente de indução do fluxo de magnetização

N Número de espiras genérico

N1 Número de espiras no lado primário do transformador

Page 14: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

xiv

N2 Número de espiras no lado secundário do transformador

P Potência complexa

PEddy Perdas por efeito de correntes de Eddy

Pmédia Potência em valor médio

Pn Potência nominal

Ppico Potência de pico

R Resistência eléctrica genérica

R1 Resistência eléctrica do ramo primário

R2 Resistência eléctrica do ramo secundário

Rc Resistência eléctrica de magnetização

Rm Relutância magnética

S Secção de cabo

T Binário

V Queda de tensão genérica

Vp Queda de tensão no enrolamento primário

Vs Queda de tensão no enrolamento secundário

Vsoc Queda de tensão em circuito aberto no lado secundário

Vsef Queda de tensão no enrolamento secundário em valor eficaz

Xm Reactância de magnetização

X1 Reactância equivalente do enrolamento primário

X2 Reactância equivalente do enrolamento secundário

W Energia

Z Impedância genérica

Zcc Impedância de curto-circuito

Ρ Densidade relativa

Φ Fluxo magnético

Ψ1R Fluxo ligado com o enrolamento primário

Ψ2R Fluxo ligado com o enrolamento secundário

Ψ1λ Fluxo de dispersão com origem no enrolamento primário

Ψ2λ Fluxo de dispersão com origem no enrolamento secundário

μ Permeabilidade magnética genérica

μr Permeabilidade magnética relativa

μo Permeabilidade magnética no vácuo

λ11 Coeficiente de indução de dispersão do primário

λ22 Coeficiente de indução de dispersão do secundário

Page 15: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

1

Capítulo 1

INTRODUÇÃO

O acesso à energia eléctrica é hoje em dia uma necessidade básica da população a nível

mundial, devido ao constante desenvolvimento da sociedade. Para este acesso ser totalmente garantido

cabe às companhias produtoras de energia eléctrica, e identidades responsáveis pelo transporte dessa

mesma energia, que o seu produto chegue ao cliente final com a melhor qualidade possível e sem

interrupções. O presente projecto vem então ao encontro do constante objectivo de melhorar a

prestação deste serviço.

Quer pelo facto de o transporte de energia eléctrica se querer com o menor valor possível de

perdas, isto é, maior eficiência quer pela necessidade de saber, em condições de segurança, se uma

linha está em perfeitas condições, torna-se imperativo um sistema de inspecções constante para as

linhas de transmissão de energia eléctrica a alta tensão.

1.1 – Motivação

Sabe-se que a grande maioria das linhas de alta tensão transportam corrente alternada,

operando uma pequena quantidade com corrente continua, nomeadamente linhas de longa distância

em que transitam grandes potências ou entre duas redes alternadas que não estejam em sincronismo.

Assim, desta forma, o presente trabalho foca-se na maioria das linhas, aumentando a abrangência da

sua aplicação.

As linhas, devido à sua exposição contínua a condições climáticas adversas características da

região onde se encontram instaladas, sofrem danos e desgaste nomeadamente efeitos de corrosão,

pequenas fissuras e mesmo grandes danos fruto de intempéries ou colisões, sendo consequentemente

as suas propriedades eléctricas e magnéticas, enquanto condutor, alteradas.

Page 16: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

2

Actualmente, a grande maioria das linhas de transmissão a nível mundial que dispõem de

inspecção, têm essa verificação efectuada por termografia, utilizando para este processo câmaras de

alta precisão instaladas em veículos automóveis ou, na maioria dos casos, em helicópteros. Não é difícil

calcular o elevado custo que esta solução impõe, tanto a nível de equipamento como de recursos

humanos. Existe também o risco, quando a inspecção é efectuado por helicópteros, da ocorrência de

colisões, o que associado ao facto de as linhas se encontrarem em tensão, resulta em acidentes

bastante graves. Existem numerosos casos em que este tipo de incidente resultou em danos avultados

quer a nível material, quer a nível humano. Também a nível ambiental podemos notar o elevado

impacto que estes meios de transporte irão ter na natureza. Nomeadamente devido a consumirem

grandes quantidades de combustíveis que são nocivos ao meio ambiente.

Existe actualmente, em alternativa aos veículos terrestres ou aéreos, a hipótese de colocação

de funcionários a caminhar pela linha, efectuando visualmente a inspecção desta. Esta solução requer

trabalhos realizados em tensão, sendo estes onerosos. Outra hipótese passa pela desactivação da linha,

deslocando o transito de corrente por outras linhas, podendo originar accionamentos de protecções,

levando em ultimo caso, ao disparo de centrais de geração para garantir a segurança dos equipamentos.

Esta solução acarreta também riscos de segurança aos funcionários, pois para além da altura a que se

encontram, têm que lidar com as correntes parasitas que circulam na linha, e com a diferença de

potencial que existe entre a linha e o local de acesso do trabalhador à linha.

Este projecto visa apresentar uma solução que, a médio/longo prazo, reduzirá os custos das

inspecções de linhas, bem como o risco destas operações, pois não necessitará de meios humanos

presentes para a execução das tarefas. A componente ecológica também é uma vantagem que não se

pode negligenciar.

Uma solução alternativa utiliza um robot, que realiza a inspecção detalhada de uma linha de

alta tensão em que transita corrente alternada. Este robot irá percorrer a linha de alta tensão para a

inspecção e, simultaneamente será alimentado tirando partido da corrente que circula no cabo. O robot

contém uma bateria que será utilizada para alimentação quando este se encontra a atravessar

obstáculos presentes na linha, podendo estes ser postes eléctricos, isoladores, balões de identificação

aérea ou qualquer outro mecanismo presente na linha. Esta tese pretende dar um contributo para a

construção de uma fonte de alimentação de cerca de 600 VA para alimentação autónoma do robot.

O protótipo RIOL [1], apresentado na Figura 1.1, está pensado para efectuar dois tipos de

movimentações. Em primeiro lugar, um funcionamento semelhante a alguns veiculo alimentados a

partir de um mono carril, contendo este, uma determinada corrente e queda de tensão. O robot poderá

movimentar-se em ambas as direcções da linha. O segundo tipo de movimento é realizado para

ultrapassar os obstáculos presentes na linha. As manobras do robot são efectuadas com recurso a 5

graus de liberdade presentes nos braços deste. Estes graus permitem desacoplar cada um dos braços

Page 17: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

3

sequencialmente, permitindo ultrapassar o obstáculo e retornar à posição de funcionamento, em que a

alimentação é feita novamente pela linha. Como é possível verificar na Figura 1.1 existem três braços

que estão ligados à linha de alta tensão. Os dois braços presentes nas extremidades têm as funções de

suporte/equilíbrio do robot e a função motora. É aqui que será realizada toda a dinâmica para o robot

se conseguir movimentar ao longo da linha. O braço central é o responsável pela colocação de um

transformador de energia eléctrica, principal foco deste trabalho. Quando este braço é desacoplado da

linha a alimentação passa então a ser feita pela bateria presente no robot.

Ao circular pela linha o robot irá efectuar a verificação do seu estado por termografia, através

de sensores colocados no seu corpo, enviando os resultados, por telecomunicações, para centros de

operação que após análise podem tomar as acções necessárias.

A constituição do robot é feita em materiais leves, procurando desta forma, que as forças

exercidas pelos motores, colocados no robot RIOL, sejam tão baixas quanto possível, minimizando assim

os gastos energéticos.

A bateria de iões de lítio (LiPo) presente no modelo deve ser carregada sempre que não esteja

na sua capacidade máxima e o robot tenha o braço transformador acoplado na linha. Quando esta está

na sua capacidade máxima, e não havendo nenhum obstáculo na linha, a alimentação será, tanto

quanto possível, feita de forma directa por parte da linha.

Figura 1.1 - Modelo computacional do robot RIOL [2].

Page 18: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

4

1.2 - Objectivo e estrutura do trabalho

O presente projecto visa o dimensionamento, construção e teste de um transformador de

corrente para cerca de 600 VA, a utilizar na futura construção de um protótipo da fonte de alimentação

a colocar no robot.

O transformador será testado e os seus resultados comparados com os teoricamente

expectáveis. Serão também, utilizados meios computacionais para uma melhor percepção de todo o

desenvolvimento do projecto.

A fonte de alimentação resultante deve ser capaz de fazer uma conversão efectiva dos valores

de corrente que, transitam numa linha de alta tensão, para os necessários pelo motor do robot e pela

sua bateria para que funcionem correctamente.

Para uma compreensão detalhada do projecto apresenta-se um conjunto de capítulos

representativos das diferentes etapas de evolução.

Desta forma no capítulo 2 é apresentada a teoria inerente ao dimensionamento dos

transformadores, e principais fenómenos físicos associados a estes. Posteriormente encontra-se

efectuado todo o dimensionamento dos componentes do transformador. Pode ver-se com detalhe

todos os cálculos para a determinação das tensões, correntes e dimensões dos mais diversos

componentes. Pode ainda verificar-se todos os raciocínios físicos utilizados bem como as condições de

aplicabilidade destes.

O capítulo 3 contém a simulação do transformador através do software FEMM. Este permite

verificar o comportamento das linhas de campo magnético no interior do núcleo, bem como a existência

ou não, de saturação neste. Com este software são ainda confirmados alguns resultados do modelo

equivalente utilizado para o transformador.

O capítulo 4 apresenta as simulações computacionais da fonte de alimentação do robot. Serão

observadas as formas de onda em diversos pontos da fonte de alimentação, retiradas posteriormente

algumas conclusões sobre os valores dimensionados nos capítulos anteriores. As simulações presentes

neste capítulo são efectuadas com recurso ao software MATLAB/Simulink. Para finalizar este capítulo, e

aproveitando as capacidades deste programa, determina-se o rendimento espectável para o

transformador.

No capítulo 5 encontra-se documentado todo o trabalho prático, desde a montagem do

transformador à recolha dos resultados numéricos reais. Neste capítulo são ainda analisadas as

relações entre os resultados teóricos e práticos.

Page 19: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

5

O capítulo 6 apresenta a conclusão do trabalho e alguns melhoramentos que podem ser

efectuados no transformador para obtenção de resultado ainda mais positivos. Serão também

apresentadas algumas sugestões para futuros trabalhos em que o transformador criado se poderá

inserir.

Page 20: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

6

Capítulo 2Equation Chapter (Next) Section 1

DIMENSIONAMENTO PRELIMINAR DE UM

TRANSFORMADOR DE POTÊNCIA

ALIMENTADO EM CORRENTE

No presente capítulo procura-se recorrer a diversas formulações físicas para efectuar o

dimensionamento teórico do transformador. Ao longo da realização deste o leitor irá deparar-se com

alguns valores impostos que serão explicados no decorrer da leitura.

A Figura 2.1 representa o formato pretendido para o transformador. Um transformador com o

núcleo toroidal (ou em forma de ‘CC’), que permitiria abraçar o cabo de alta tensão colocando-se de

forma a que o cabo seja a única espira do enrolamento primário. A forma projectada tentará evitar a

saturação para o funcionamento nos regimes pretendidos. Todo o processo de alteração no

dimensionamento, e de teste deste transformador, encontra-se realizado e apresentado no anexo A.

É ainda, como complemento ao estudo elaborado, apresentada uma alternativa para a

construção da fonte de alimentação. Esta passa por dividir o transformador projectado em diversos

segmentos, contidos nos braços do robot. Para o teste desta solução utilizou-se um núcleo em ferro

silício com a forma ‘UU’ enrolado com o número de espiras calculado no presente capítulo. Os

resultados desta solução encontram-se apresentados no anexo B.

Page 21: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

7

Figura 2.1 - Transformador com núcleo 'CC'.

2.1 – Lei geral da indução electromagnética

Para o dimensionamento do transformador começa-se por recorrer aos conhecimentos das leis

de Faraday e Ampère. A lei de Faraday relaciona a tensão imposta aos terminais (V), de um circuito com

a indução magnética (B) e o fluxo (φ). Por sua vez a lei de Ampère relaciona a corrente de entrada do

circuito (i) com o campo magnético (H) e a força magneto motriz (fmm). Uma representação

esquematizada das relações indicadas encontra-se presente na Figura 2.2.

v (t)

i (t)

B (t) , φ (t)

H (t) , fmm (t)

Lei de Faraday

Lei de Ampere

Características do núcleo

Condições impostas aos

terminais

Figura 2.2 - Diagrama de leis num circuito electromagnético [3].

Partindo da relação entre a força magnetomotriz, entre dois pontos x1 e x2, e o campo

magnético, apresentada na equação 2.1, obtém-se, para um campo magnético uniforme a relação

expressa na equação 2.2, onde l representa o comprimento entre x1 e x2.

2

1

.

x

x

fmm H dl (2.1)

fmm Hl (2.2)

Ip

Page 22: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

8

De forma análoga para o campo eléctrico teremos a equação 2.3, que relaciona a força

electromotriz (fem) com a densidade de campo eléctrico (E), e comprimento do troço considerado (l).

fem El (2.3)

Seguidamente é de interesse definir o fluxo magnético que percorre uma determinada

superfície, este encontra-se relacionado com a densidade de fluxo magnético (B). Tendo em conta que

em cada troço do núcleo se supõe uniformidade de indução magnética, define-se então o fluxo

magnético conforme apresentado em (2.4), onde Ac é a secção do núcleo que se considera uniforme ao

longo deste.

c

A

B nds BA (2.4)

De seguida recorre-se à lei de Faraday para relacionar a tensão aos terminais de um

enrolamento com o fluxo produzido. Desta forma admitindo uma tensão sinusoidal dada por (2.5), ou

de forma equivalente (2.6), onde o fluxo e a corrente também serão ondas idealmente sinusoidais, o

termo N representa o número de enrolamentos do circuito.

max( ) cos( )v t V t (2.5)

11

( )( ) ( )

d tv t Ri t N

dt

(2.6)

Admitindo as simplificações indicadas em (2.7) e (2.8).

1( ) 0Ri t (2.7)

1(0) 0 (2.8)

Obteremos como resultado a equação 2.9.

1( )( )

d tv t N

dt

(2.9)

Resolvendo a expressão em ordem ao fluxo magnético induzido, introduzindo a equação 2.5,

obtém-se a relação (2.10).

max1 1

0

sin( )( )( ) ( )

tV tv t

t dt tN N

(2.10)

Page 23: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

9

Considerando (2.4), para um valor de fluxo máximo que poderá circular no núcleo, obtém-se a

expressão (2.11).

1max max cB A (2.11)

Relacionando as equações 2.10 e 2.11, resultará na equação fundamental para o

dimensionamento do transformador (2.12). Desta será possível retirar o valor da secção do núcleo

magnético a partir de um determinado valor de tensão presente aos terminais do transformador,

conhecidos a frequência, o número de espiras N e a densidade de campo magnético máxima Bmax [5].

maxmax c

VNB A

(2.12)

2.2 – Enrolamento primário

O enrolamento primário do transformador é constituído por um cabo de alta tensão que

passará no interior daquele sendo a única espira. Esta opção irá permitir utilizar a energia magnética

que envolve a linha sem ser necessário um contacto físico, conciliando a lei de Ampère e a lei de Faraday

apresentadas no inicio do presente capítulo.

O cabo terá a dimensão de 500mm2 (dimensão convencional dos cabos de alta tensão), a sua

constituição será em alumínio na bainha e aço no seu núcleo. Desta forma tendo em conta que o cabo é

o único enrolamento do primário considera-se N1 igual a 1.

Considere-se que os cabos das linhas de alta tensão são percorridas por correntes de valor

geralmente entre os 100 amperes e os 1000 amperes.

Para uma análise inicial ao transformador, recorre-se à relação entre a densidade de campo

magnético B e o campo magnético H, considerando a curva característica do ferro, como sendo linear.

Considera-se também que o transformador será dimensionado de tal forma para que não sature

aquando do seu normal funcionamento.

É de interesse introduzir, neste momento, uma nova grandeza, equivalente à resistência dos

circuitos eléctricos, a relutância magnética Rm (2.13) do núcleo. Esta resulta do desenvolvimento da

equação 2.2 conforme apresentado em (2.14). Relaciona o caminho magnético médio lk com a

permeabilidade magnética μk e com a secção da superfície percorrida pelo fluxo magnético Ac.

km

k c

lR

A (2.13)

k kk

k c

lHl

A

(2.14)

Page 24: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

10

Relacionando agora as equações (2.13) e (2.14) e considerando toda a generalidade temos a

equação característica do circuito magnético (2.15).

1 1

n nk

k k mk

k c

lfmm R

A

(2.15)

Nota-se que a solução apresentada (2.15) é valida apenas para aproximações por troços

uniformes, onde n representa o número de ramos presentes no circuito. Faz-se ainda notar, que a

secção Ac é considerada uniforme em todo o núcleo.

As tensões nos enrolamentos são calculadas a partir da aplicação da equação 2.9 para o lado

primário e secundário do transformador, respectivamente equações 2.16 e 2.17.

1 1

dv N

dt

(2.16)

2 2

dv N

dt

(2.17)

A partir da corrente primária, por indução magnética, o núcleo de ferro será percorrido por um

fluxo de indução que irá induzir nos enrolamentos primários e secundários tensões, dependendo estas

do numero de espiras que existirem, bem como da frequência e da magnitude deste fluxo. Obtém-se

assim a equação 2.18 que representa a relação de transformação num transformador monofásico ideal.

22 2 1

1

Ndv N v

dt N

(2.18)

2.3 – Enrolamento secundário

O enrolamento secundário deste transformador é constituído por enrolamentos em cobre, de

forma a existir uma tensão secundária próxima de 77,56V, calculado segundo a equação (2.19),

necessária para se ter uma potência de 600VA na carga de 10 ohm.

arg arg 77,56s c a c aU P R V (2.19)

O valor da corrente secundária será então a potência do transformador sobre a tensão

secundária (2.20).

Page 25: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

11

arg

7,74c a

s

s

PI A

U (2.20)

Apresenta-se de seguida, na Figura 2.3 uma representação equivalente do circuito primário do

transformador. A corrente primária irá decompor-se em duas parcelas, uma componente de excitação Iϕ

e uma componente de carga I’2.

R1 X1

+

V1

-

I1

+

E1

-XmRm

Ic Im

I’2Iϕ

Figura 2.3 - Modelo equivalente com ramo de magnetização.

A corrente de excitação Iϕ idealmente será sinusoidal, se o núcleo for construído com materiais

que funcionem na zona linear. Representando graficamente a corrente de excitação (Figura 2.4)

observa-se, uma componente em fase com a força electromotriz, e uma outra desfasada de 90°. A

componente Ic representa a corrente que origina as perdas de potência activa no núcleo devido às

correntes de Eddy e aos fenómenos de histerese magnética. A componente Im representa a corrente de

magnetização [4].

Ic

Im

E1

Figura 2.4 - Diagrama vectorial da corrente de excitação.

A corrente I’2 será então a componente da corrente primária que irá contrariar a força

magnetomotriz da corrente secundária I2.

Page 26: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

12

Matematicamente pode resumir-se a relação das correntes num transformador monofásico por

(2.21), aplicando posteriormente a regra dos nós ao circuito da Figura 2.3, obtém-se assim a relação

entre I2 e I’2 demonstrada nas relações (2.22) e (2.23).

1 1 1 2 2N I N I N I (2.21)

'

1 1 2 1 1 2 2( )N I I N I N I (2.22)

' 22 2

1

Ni i

N (2.23)

A expressão (2.23) demonstra que a componente de carga do lado primário é igual à corrente

do secundário diferenciadas apenas do factor de transformação, sendo este a relação entre o número

de espiras primárias e secundárias.

De seguida apresenta-se um modelo simplificado do transformador, Figura 2.5. Através da sua

análise, será possível a determinação de alguns factores úteis ao dimensionamento do mesmo.

+

Up

-

ip i1N1 N2

i2

+

Us

-

RcargaXmag

imag

Transformador

Ideal

Figura 2.5 - Esquema simplificado do transformador.

Para ser possível a obtenção do número de espiras secundárias, teremos de relacionar as

correntes primária e de magnetização do circuito equivalente com a corrente secundária através da

expressão (2.24).

2

2 2 2 2 21 2

1

p mag mag

Ni i i i i

N

(2.24)

Segue-se a substituição dos parâmetros referentes ao enrolamento secundário na expressão

2.24, de onde, após reorganização surge a expressão 2.25.

2

2 2 2 2

1 2

p

p mag p

mag

Ui i i i

L (2.25)

Page 27: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

13

Utilizando a expressão (2.26), (onde μr representa a permeabilidade magnética relativa do

material utilizado, μ0 a permeabilidade magnética do vácuo e lf o caminho magnético médio do ferro)

para definição da indutância de magnetização do transformador [3], e a expressão (2.27), que resulta de

um rearranjo da equação (2.12) para a definição da secção de núcleo magnético do transformador onde

kf representa o factor de forma característico de uma onda sinusoidal, apresentado na expressão (2.28).

Desprezando a dispersão, o entreferro e considerando linearidade do núcleo, resulta a expressão 2.29,

que após manipulação resulta em (2.30).

2

0 1c

mag r

f

AL n

l (2.26)

f max 2k

sc

UA

B n f (2.27)

2

4,442

fk

(2.28)

2

12

22 2

1 22

2 0 1 2

m x 2

p

r

f f á

nU

ni i

n U

l k B n f

(2.29)

2

2

1

0 12

f f máx

p

r

k l Bi i

n

(2.30)

O valor do caminho magnético médio no núcleo de ferro silício lf será retirado directamente da

interpretação da Figura 2.8, resultando no valor apresentado em (2.31).

18fl cm (2.31)

Resolvendo (2.30) de modo a calcularmos o número de espiras secundárias, obtém-se (2.32)

válida no regime de saturação do transformador.

2

21 12 1

2 2 12

f f máx

p

o r

k l Bi nn n i

i i n

(2.32)

Considera-se uma corrente primária de 300A um caminho magnético médio de 18 centímetros

um valor de densidade magnética máxima de 1,5 Tesla, para além de uma permeabilidade magnética

Page 28: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

14

relativa de 2000. Serão, desta forma calculadas 30 espiras no enrolamento secundário, daqui será

possível obter uma queda de tensão primária de Up igual a 2,59 Volt.

Importa referir que a relação de transformação foi calculada com base no máximo valor de

corrente que se conseguirá obter na espira primária do transformador, aquando da realização dos

ensaios laboratoriais.

2.4 - Relacionamento entre potência e grandezas físicas do transformador

Na presente secção apresenta-se uma nova perspectiva da potência para a qual o

transformador é dimensionado. Procura-se elucidar o leitor para a forma ideal de projectar um

transformador que procura uma maximização da potência aos seus terminais secundários. Através das

formulações apresentada é possível observar que, à primeira vista, aumentar o valor de uma grandeza,

como por exemplo a secção do núcleo, pode parecer uma boa solução para reduzir a saturação. No

entanto, caso esta alteração seja feita, aumenta-se o caminho magnético médio, reduzindo dessa forma

a potência do transformador.

Assim, através da definição de corrente de magnetização (2.33), juntamente com os conceitos

apresentados na secção 2.2, considerando linearidade do ferro e desprezando o entreferro e a

dispersão, obtém-se (2.34) ou de forma equivalente (2.35).

0 12

f f máx

mag

r

k l Bi

n (2.33)

0 02 2

22 2 1 1

2

1

0 12

c

f máx f máxf f máx

f máx p

r

P PV iA

k B n i f k B n i f k l Bk B n f i

n

(2.34)

2

2

0 1

0 12

f f máx

f c máx p

r

k l BP k A B n f i

n

(2.35)

Da expressão (2.35) é possível concluir quais as grandezas que podem aumentar a potência de

saída do transformador. Para conseguir um aumento de potência mantendo uma única espira primária,

pode, em primeiro lugar, aumentar-se a área Ac do núcleo. Outra hipótese recai na escolha de um

material que atinja a saturação para uma densidade de campo magnético, Bmáx mais elevada,

aumentando dessa forma a potência de saída. Deverá minimizar-se o caminho magnético médio lf e

maximizar-se a permeabilidade magnética relativa do núcleo μr, escolhendo um material com grande

permeabilidade o que aumentaria o custo do projecto.

Page 29: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

15

Para fazer a referida redução do caminho magnético médio, ou seja aproximar o núcleo

magnético do cabo que constitui o enrolamento primário, convém não esquecer a área ocupada pelas

espiras secundárias, e a necessária folga para isolamento e compatibilidade mecânica do transformador

com o cabo.

O aumento da secção do núcleo pode ser efectuado de duas formas. A primeira consiste em

aumentar a espessura dos lados do núcleo, o que levará a um aumento do caminho magnético médio,

sendo esta uma situação desfavorável. Outra forma será aumentar o comprimento do transformador,

usando mais material ferromagnético, situação que levará a um incremento de potência.

Note-se que para além de uma espira no enrolamento primário, condição do projecto, também

a frequência de 50 Hz, a permeabilidade magnética do vácuo e o valor de kf são consideradas constantes

para toda a análise efectuada.

2.5 – Dimensionamento do núcleo para o transformador

O núcleo magnético será composto por ferro silício e terá a forma de ‘UI’, este modelo foi

escolhido após ponderação de preços e disponibilidades dos diversos tipos de núcleos. Apesar da

solução não ser a ideal, é uma boa aproximação e possibilitará testes e simulações que validem as

equações de projecto, podendo estas depois ser utilizadas noutros materiais e formas.

Relembra-se que idealmente o núcleo teria uma forma toroidal (CC) sem entreferro. Devido aos

núcleos toroidais, ou em CC, serem de difícil aquisição, optou-se por um núcleo ‘UI’ em ferro silício

laminado, empilhado alternadamente as laminações U e I disponíveis, de modo a reduzir a dispersão de

fluxo magnético no entreferro. Será então sobre a forma ‘UI’ que irão ser efectuados os

dimensionamentos e testes apresentados de seguida.

A adição de silício ao ferro tem a vantagem de aumentar a resistividade eléctrica, e desta forma

reduzir as correntes de Eddy. Esta adição também ajudará à estabilização e conservação do núcleo com

o decorrer do tempo.

O interior do núcleo, excluindo cabos e isolamentos, será constituído por ar, assim como todo o

espaço em redor do transformador.

Utiliza-se a equação (2.27) rearranjada na forma (2.36) de maneira a obtermos as dimensões

em centímetros quadrados, onde o termo kf para uma onda sinusoidal perfeita toma o valor dado por

(2.28).

Page 30: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

16

4

max 2

10

4,44

sc

UA

B n f (2.36)

A equação 2.36 permite encontrar a secção do núcleo que será utilizada, representada na

Figura 2.7. O valor de Bmax foi calculado a partir da análise da curva característica do ferro M-36

apresentada na Figura 2.6, sendo este também este o material utilizado nas simulações.

Analisando o gráfico da Figura 2.6 é considerado um valor de Bmax igual a 1,5 Tesla.

Figura 2.6 - Curva B-H do núcleo de ferro silício.

Figura 2.7 - Secção Ac do núcleo (área a cinzento escuro).

Page 31: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

17

Para as condições necessárias (Us igual a 7,56 V, densidade de campo magnético máxima de 1,5

T, frequência de 50Hz) teremos assim uma secção Ac de 77,635cm2. Para existir alguma margem em

termos de saturação magnética do núcleo, opta-se por aumentar um pouco a secção do núcleo de ferro,

considerando assim 80cm2.

O caminho magnético médio lf poderia ser calculado recorrendo à equação (2.15), aplicada ao

nosso circuito. Obter-se-ia, desta forma, a equação (2.37) onde Ac é a secção do núcleo e μr a

permeabilidade magnética relativa do ferro silício, igual a aproximadamente 2000.

0r cf

fmm Al

(2.37)

De seguida, em conformidade com as chapas disponíveis, são imposta as condições explicitadas

na Figura 2.8, em que a janela e as pernas das chapas do núcleo do transformador têm as medidas

apresentadas.

O processo de escolha das dimensões para as chapas do núcleo tem de ser efectuado a partir

do espaço necessário para a janela do transformador, em consonância com a secção pretendida. A

janela tem não só de conter o cabo de alta tensão, como também os enrolamentos secundários com

diâmetros típicos de 2mm. Os dados considerados são apresentados na Tabela 2.1.

Figura 2.8 - Perspectiva frontal do núcleo 'UI' .

Page 32: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

18

Tabela 2.1 - Parâmetros para cálculo da janela do transformador.

Cabo de alta tensão:

Secção [mm2]: 500

Diâmetro [cm]: 2,5231325

Janela do transformador:

Diâmetro dos enrolamentos do secundário[cm]: 0,2

Margem de segurança [cm]: 1,7

Lado da janela do transformador (L) [cm]: 1

Lado externo do transformador [cm]: 6

Apesar do valor de 4 centímetros para o comprimento da janela interior ser ligeiramente

excessivo, com a esta escolha obtemos alguma liberdade para a fase de testes do transformador.

Permitindo assim, a colocação de mais do que um cabo, com dimensões menores, no interior do núcleo,

alterando desta forma a relação de transformação e adicionando um possível aumento de corrente.

Evitando assim a utilização de um cabo tradicional de alta tensão com 500mm2, mas estando porém a

inclusão deste salvaguardada.

O cálculo do comprimento para o transformador é então efectuado de forma simples em

(2.38), onde L representa o comprimento do braço lateral existente no núcleo de ferro silício.

80cAcomprimento cm

L (2.38)

A Figura 2.9 mostra uma perspectiva lateral do núcleo ‘UI’ com as suas medidas.

Figura 2.9 - Perspectiva lateral do núcleo 'UI' .

Page 33: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

19

Nota-se que o empilhamento do transformador é efectuado de forma a fornecer sempre uma

alternativa de caminho ao fluxo magnético, que não seja atravessar o ar. Caso exista entreferro, teria de

ser considerada a relutância magnética no intervalo de ar, onde seriam criados novos caminhos para o

fluxo. Desta forma as fugas seriam aumentadas, originando piores resultados nos ensaios como foi

possível verificar em testes feitos com empilhamentos não alternados.

Para qualquer situação distinta do caso mais desfavorável, tido em conta no raciocínio que

culmina na expressão (2.36), o funcionamento do circuito encontra-se salvaguardado. Isto é,

considerando a existência de corrente no secundário, irá surgir um fluxo que se opõe ao criado pelo

primário, esta situação leva a que a força magneto motriz seja menor e concordantemente com as

formulações apresentadas anteriormente, será necessário um núcleo de menores dimensões para

garantir a não saturação à passagem do referido fluxo.

É também importante termos em consideração a massa do núcleo, esta é uma das principais

limitações do projecto. Assim, considerando uma densidade relativa do ferro silício (ρ) de 6910 kg/m3

[6], teremos (2.39) onde o volume do núcleo é interpretado directamente da análise das Figuras 2.8 e

2.9.

Massa Volume (2.39)

A massa do núcleo excluindo o peso do enrolamento secundário será de 9,95kg o que está

dentro dos limites esperados para o transformador da fonte de alimentação do robot.

A limitação de peso deve-se à força mecânica que será necessária ao robot exercer de forma a

conseguir deslocar-se desde a flecha da linha até ao ponto mais alto desta, o poste de alimentação, bem

como à recolocação do transformador para ultrapassar um obstáculo. Para esta operação ser efectuada,

o protótipo do transformador final deverá ter uma forma toroidal e conter um mecanismo de abertura

do núcleo.

2.6 – Modelo equivalente do transformador

No modelo equivalente do transformador, procura-se ter em conta as perdas que existem nos

diversos componentes deste.

Page 34: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

20

Sendo o transformador, para a frequência de funcionamento estipulada (50Hz), um elemento

com perdas, estas serão divididas em dois termos.

Consideram-se assim, as perdas no cobre do enrolamento secundário e no cabo de alta tensão

constituinte do enrolamento primário, e ainda as perdas das linhas de campo magnético originárias no

núcleo do transformador também conhecidas como perdas no ferro.

Para o caso do transformador representado na Figura 2.10 a título de exemplo, onde as espiras

que constituem o enrolamento secundário estão representadas. Utilizando a expressão 2.15 e

escolhendo o sentido das correntes de tal forma a que os fluxos sejam concordantes, obtém-se a

expressão 2.40, ou de forma equivalente a expressão 2.41 [7].

Figura 2.10 - Representação do transformador com núcleo na forma 'UI'.

1 1 2 2Fmm N i N i (2.40)

1 1 2 2

0

f

r c

N i N i

l

A

(2.41)

Na expressão 2.41 Φ representa o fluxo resultante produzido pela força magneto motriz dos

dois enrolamentos.

É de interesse introduzir, neste momento, os fenómenos característicos das não idealidades de

um transformador com núcleo de ferro [16]. Assim existirão dois tipos de contribuição de linhas de

campo, as que se fecham pelo núcleo de ferro e que são abraçadas por todas as espiras de ambos os

enrolamentos, e as linhas que se fecham pelo ar, sendo estas abraçadas pelas espiras de um único

enrolamento, conforme representado na Figura 2.11.

Page 35: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

21

Figura 2. 11 - Modelo do transformador com núcleo de ferro.

Em conformidade com o esquema escrevem-se as expressões indicadas em(2.42).

1 1 1

2 2 2

R

R

(2.42)

As primeiras parcelas das equações (2.42) serão designadas por fluxos resultantes no núcleo,

respectivamente ligados com o primário e com o secundário, as segundas por fluxos de dispersão dos

enrolamentos primário e secundário.

As linhas de fluxo de dispersão fecham-se predominantemente pelo ar, não estando desta

forma sujeitos à saturação magnética. Estas podem ser expressas linearmente em termos das correntes

que lhes dão origem, introduzindo assim o conceito de coeficientes de indução de dispersão,

respectivamente λ11 e λ22 do primário e secundário, obtendo-se as expressões presentes em (2.43).

1 11 1

2 22 2

i

i

(2.43)

De seguida deduz-se o fluxo ligado com os enrolamentos primário e secundário Ψ1R e Ψ2R

apresentados em (2.44). O fluxo ligado com o primário Ψ1R é dado por (2.45), e o fluxo ligado com o

secundário Ψ2R dado por (2.46).

1 1

2 2

R

R

N

N

(2.44)

Page 36: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

22

2

1 1 1 2 21

0 0

Rf f

r rc c

N i N N i

l l

A A

(2.45)

2

2 2 1 2 12

0 0

Rf f

r rc c

N i N N i

l l

A A

(2.46)

Facilmente de (2.52) e (2.46) podemos obter as indutâncias próprias e mútua do circuito

equivalente na ausência de dispersão. Em (2.47) encontra-se representada a indutância própria do

primário, em (2.48) a indutância mútua, e em (2.49) a indutância própria inerente ao enrolamento

secundário do transformador.

2

111

0

f

r c

Nl

l

A

(2.47)

1 212

0

Mf

r c

N NL l

l

A

(2.48)

2

222

0

f

r c

Nl

l

A

(2.49)

Podemos então definir as reactâncias próprias do circuito em (2.50), (2.51) e (2.52),

respectivamente primária, mutua e secundária.

1 11 112X l fl (2.50)

2M M MX L fL (2.51)

2 22 222X l fl (2.52)

No caso real iremos incluir a dispersão recorrendo a expressão 2.42, obtendo os valores para os

fluxos totais apresentados em (2.53).

1 11 11 1 2

2 22 22 2 1

( )

( )

M

M

l i L i

l i L i

(2.53)

Definem-se os coeficientes de indução gerais, para o caso do transformador com núcleo de

ferro real, em (2.54).

Page 37: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

23

11 11 11

12

22 22 22

M

L l

L l

L l

(2.54)

Considerando a dispersão de fluxo existente no núcleo, teremos um factor de ligação

magnética k, com valor dado por 2.55.

12

11 22 11 11 22 22

1( )( )

ML lk

L L l l

(2.55)

A corrente que percorre a linha de alta tensão, cria também, devido à resistividade do material

que a constitui, uma queda de tensão no circuito do primário. Inclui-se então uma resistência R1 cujo

valor será obtido através de (2.56) onde ρf representa a resistividade fictícia do conjunto ferro alumínio,

df o comprimento do enrolamento primário e Sf a secção do cabo, que neste caso será cabo de alta

tensão com 500mm2.

1

f

f

f

dR

S (2.56)

Define-se então a tensão primária como a soma de três componentes distintas. A queda de

tensão na resistência R1, a queda devida às fugas de dispersão em X1 e ainda a queda inerente à força

electromotriz induzida no primário pelo fluxo mútuo E1. A Figura 2.12 mostra uma representação das

quedas de tensão primárias.

R1 X1

+

V1

-

I1

+

E1

-jωLmRm

Figura 2.12 - Quedas de tensão referentes ao primário do transformador.

A corrente primária I1 tem duas funções distintas no circuito magnético. Deve produzir uma

força magneto motriz necessária para criar fluxo mútuo, e deve anular o efeito desmagnetizado do

núcleo proveniente do enrolamento secundário.

Page 38: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

24

As componentes Rm e Lm representam a resistência e a indutância de magnetização do núcleo,

respectivamente.

Como próximo passo da elaboração do circuito equivalente, vai ser adicionada uma

representação do enrolamento secundário. Começa-se por reconhecer um fluxo de indução mútua que,

induz uma força electromotriz E2 no secundário, sendo este o mesmo fluxo que liga os dois

enrolamentos. A relação entre a força electromotriz induzida e a força electromotriz indutora é a

relação de transformação (2.57) [8].

1 1

2 2

E N

E N (2.57)

À semelhança do primário, também no enrolamento secundário a fem E2 não é a tensão aos

terminais deste circuito tendo ainda, para se obter V2, de ser adicionada uma resistência e uma

reactância em série.

Obtém-se depois de incluir todos os parâmetros anteriormente referidos o circuito da Figura

2.13, este circuito não é mais que um transformador ideal com um conjunto de impedâncias externas.

R1 X1

+

V1

-

I1

+

E1

-XmRm

Ic Im

I’2

N1 N2

Transformador ideal

+

E2

-

R2

I2

X2

+

V2

-

Figura 2.13 - Circuito equivalente com a inclusão de um transformador ideal.

Ao reduzirmos todos as impedâncias ao primário obtemos o circuito equivalente em T do

transformador, apresentado na Figura 2.14, onde os valores de X’2 e R’2 são calculados segundo as

expressões (2.58) e (2.59). A tensão V’2 encontra-se representada na fórmula (2.60) .

2

' 12 2

2

NX X

N

(2.58)

2

' 12 2

2

NR R

N

(2.59)

Page 39: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

25

' 12 2

2

NV V

N (2.60)

R1 X1

+

V1

-

I1

XmRm

I’2

Iϕ R’2 X’2

+

V’2

-

Figura 2.14 - Equivalente em T do transformador.

De seguida faz-se o dimensionamento dos componentes de forma a complementar o esquema

apresentado na Figura 2.14.

De acordo com as expressões (2.47) e (2.48), e utilizando os valores apresentados na Tabela 2,

obtêm-se os resultados expressos em (2.61) e (2.62).

Tabela 2.2 - Parâmetros do transformador 'UI' dimensionado.

N1 1

N2 30

μr 2000

μ0 74 10

lf 0,18 m

Ac 80 cm2

Bmax 1,5 T

11 112l H (2.61)

3,352mL mH (2.62)

Aplicando a relação de transformação (2.58) obtém-se a reactância equivalente do

enrolamento secundário reduzida ao enrolamento primário (2.63).

'

2 35,074X m (2.63)

Page 40: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

26

Para o cálculo da resistência primária, aplicando a expressão (2.56), teremos o resultado

expresso em (2.64). Exercendo um raciocínio análogo para a resistência do enrolamento secundário

obteremos o resultado apresentado em (2.65). Nesta expressão existe para alem do valor da

resistividade do enrolamento de cobre 1,72x10-8

, o número de espiras 30, o comprimento de cada

espira, relembrando que estas se encontram enroladas em redor do núcleo, e ainda a secção do cabo de

cobre dada por 20,001 .

1 45R (2.64)

2 272,652R m (2.65)

Reduzindo o valor de R2 ao primário através da fórmula indicada em (2.59) temos (2.66).

'

2 303,00R (2.66)

De forma sucinta apresenta-se a Tabela 3, com os valores das grandezas eléctricas do circuito

equivalente em T do transformador.

Tabela 2.3 - Grandezas eléctricas do circuito equivalente em T.

X1 35,168mΩ

R1 45μΩ

X’2 35,074mΩ

R’2 303,00μΩ

Xm 1,053Ω

O valor da resistência colocada no ramo de magnetização não é calculado, pois a determinação

teórica deste parâmetro está relacionada com o rendimento pretendido para o transformador, o qual

não se quer imposto, mas sim verificado.

Page 41: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

27

Capítulo 3Equation Chapter (Next) Section 1

ANÁLISE DO TRANSFORMADOR USANDO

ELEMENTOS FINITOS (software FEMM)

No capítulo anterior foi efectuado um estudo teórico do transformador. Foram, por facilidade

de cálculo e melhor compreensão dos raciocínios, consideradas algumas idealidades e desprezados

parâmetros reais.

No presente capítulo recorre-se a software específico, para simular o comportamento do

transformador quando colocado em funcionamento.

Serão apresentadas análises criticas aos resultados obtidos no capítulo 2, por comparação com

os valores retirados dos ensaios recorrendo ao software FEMM “Finite Element Method Magnetics”.

3.1 – Modelo do transformador UI 600VA no FEMM

Na Figura 3.1 apresenta-se o modelo, para simulação do transformador, criado no software

FEMM. As dimensões utilizadas neste modelo, serão as calculadas no capítulo anterior. Estas foram

introduzidas no programa de modo aos resultados simulados corresponderem, o mais fielmente

possivel, ao comportamento real do transformador.

Page 42: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

28

Figura 3.1 - Modelo do transformador ‘UI’. Corte transversal

Os materiais escolhidos vão de encontro aos normalmente utilizados neste tipo de simulações.

Para o núcleo do transformador é utilizado ferro sílicio M-36 com a curva magnética caracteristica

apresentada na Figura 2.6. Recorda-se que o entreferro embora representado, é desprezado. No

capítulo 4, referente aos ensaios laboratoriais, descreve-se um empilhamento alternado das chapas ‘U’

e ‘I’, tentando desta forma anular na totalidade o efeito das fugas de fluxo magnético pelo entreferro.

O enrolamento primário é constituido por alumínio 1100, as percentagens das substâncias

presentes neste metal [10] estão apresentadas na Tabela 3.1.

Tabela 3.1 - Constituição do enrolamento primário.

Material Percentagem (%)

Alumínio 99.6 min Cobre 0.05 max Ferro 0.35 max

Magnésio 0.03 max Manganésio 0.03 max

Silício 0.28 max Titânio 0.03 max

Vanádio 0.05 max Zinco 0.05 max

Page 43: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

29

O enrolamento secundário é constituido por enrolamentos em cobre (com as medidas

apresentadas no capítulo 2), e 30 espiras distribuidas num dos braços da parte ‘U’ do núcleo magnético.

Toda a área envolvente do núcleo, bem como a parte interior, excluindo o cabo de alta tensão,

é constituída por ar. Comparando a permeabilidade magnética do ar com a do ferro silício, prevê-se que

praticamente todas as linhas de campo se fechem pelo núcleo do transformador, não havendo em caso

de funcionamento normal, fugas de fluxo para o exterior. Prevê-se que estas só aconteçam em maior

escala quando exista saturação magnética do núcleo.

3.2 – Simulação em vazio do transformador

Para a simulação em vazio é colocada uma corrente nula no enrolamento secundário sendo o

primário percorrido por 300 A. Esta situação representa o pior caso de funcionamento do transformador

projectado.

A Figura 3.2 demonstra o comportamento das linhas de fluxo magnético que percorrem o

núcleo de ferro. Observa-se que as linhas de fluxo se encontram confinadas ao núcleo, não havendo

fugas para o exterior. Apresenta-se também em legenda, os valores obtidos para o campo magnético

no interior do núcleo. Estes ultrapassam, quase na totalidade da área do transformador, os 1,5T

definido como densidade magnética máxima. Conclui-se então que o núcleo de ferro silício laminado vai

saturar quando tiver do operar com o seu enrolamento secundário aberto.

O transformador dimensionado tem um funcionamento semelhante a um TI. Este tipo de

transformadores procura reproduzir no seu enrolamento secundário, uma imagem da corrente que

circula no seu enrolamento primário, numa proporção definida e adequada. A corrente secundária deve

estar devidamente isolada (da que circula no enrolamento primário) e reduzida de forma a que seja

possível o seu uso por equipamentos de protecção, controlo e medição.

Page 44: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

30

Figura 3.2 - Campo magnético no transformador, ensaio em vazio.

As análises que se seguem são efectuadas com recurso a três cortes em regiões distintas do

núcleo. Desta forma irá representar-se a diversidade de situações inerentes à passagem de fluxo

magnético por um núcleo de ferro com a forma ‘UI’ onde o entreferro é desprezado. Para o gráfico

apresentado na Figura 3.4 a distancia entre o inicio do eixo e 1 centímetro, bem como a distância entre

os 5 e os 6 centímetros representam os dois braços da parte ‘U’ do núcleo, entre os 2 e os 5

centímetros está situada a janela interior.

Na Figura 3.3 observam-se as regiões onde são efectuados os cortes para análise da densidade

de campo magnético.

corte B

corte A

corte C

Figura 3.3 - Zonas de análise do campo magnético no ensaio em curto-circuito.

Page 45: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

31

Analisado graficamente (Figura 3.4) a distribuição de campo magnético num ponto longe do

intervalo entre as peças (região representada na Figura 3.3 pelo corte A), conclui-se que a densidade de

campo está distribuída de uma forma satisfatória mas os valores registados estão em grande parte desta

região, acima do limite de saturação do núcleo. A excepção encontra-se nos cantos exteriores, pois

nestes locais, o fluxo encontra-se concentrado nos cantos interiores, aliviando assim a sua carga nos

extremos mais afastados.

Figura 3.4 - Densidade do campo magnético em função da distância. Corte na parte inferior do U. Secundário em vazio.

Na Figura 3.5 observa-se uma análise à secção referente a uma região aproximadamente a

meio do núcleo (linha encarnada a meio da Figura 3.3 representada pelo corte B). Neste ensaio observa-

se a uniformidade do valor de densidade magnética presente. Confirma-se mais uma vez que os valores

desta grandeza estão acima do máximo do material (1,5T).

Page 46: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

32

Figura 3.5 - Densidade do campo magnético em função da distância. Corte a meio da parte U do núcleo. Secundário em vazio.

Na Figura 3.6 observa-se, através de uma secção diferente (corte C), a influência dos cantos

presentes no modelo projectado. No canto interior existe uma grande concentração de fluxo e a

densidade magnética terá cerca deste ponto o seu valor máximo. Já na região próxima do canto exterior

o ferro não satura, apresentado valores de B inferiores a 1,5T. O problema da excessiva concentração de

fluxo nos cantos interiores do núcleo, e consequentemente do desaproveitamento dos seus cantos

exteriores será facilmente resolvido, como demonstrado em anexo, através da utilização de um núcleo

‘CC’ ao invés de ‘UI’.

Conclui-se pelas análises efectuadas, mesmo para um ensaio em que o transformador estaria

saturado, que existe ferro a mais nos cantos exteriores e carência deste nos cantos interiores. É assim

reforçada a tese enunciada no início e demonstrada pelo anexo A que elucida o leitor para a forma ideal

do núcleo. Apesar de esta forma também saturar para o ensaio em vazio, os resultados, como é possível

constatar, apresentam uma distribuição mais uniforme de densidade de campo magnético.

Relembra-se que para uma execução funcional e optimizada de uma fonte de alimentação

semelhante à pretendida para este projecto, a forma do núcleo a trabalhar deverá ter como base um

toroide, esta não foi seguida nesta tese devido a dificuldades de obtenção deste tipo de núcleos.

Page 47: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

33

Figura 3.6 - Densidade do campo magnético em função da distância. Corte na parte I. Secundário em vazio.

Analisando ainda a Figura 3.2 nota-se que, apesar de o valor da densidade de campo magnético

ultrapassar o máximo teórico do material (1,5Tesla) as linhas de fluxo ainda se fecham na sua totalidade

pelo núcleo. A situação irá alterar-se com o aumento da intensidade de corrente no enrolamento

primário.

Na Figura 3.7 é demonstrado o mesmo ensaio para uma corrente primária um pouco superior a

1000 amperes. Pode observar-se que, as linhas de campo já se irão fechar pelo exterior do ferro silício.

Esta situação demonstra mais uma vez a saturação do núcleo magnético, sendo este percorrido pelo

fluxo máximo suportável, obrigando o excedente a fechar-se pelo exterior do núcleo, isto é, pelo ar.

Para precaver tal situação teria de se dimensionar o núcleo com uma maior secção ou

introduzir um entreferro entre a parte ‘U’ e a parte ‘I’. Esta última solução iria degradar a potência

obtida no secundário do transformador dimensionado, sendo por este motivo descartada.

Page 48: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

34

Figura 3.7 - Ensaio em vazio do transformador com corrente primária superior a 1000A.

3.3 – Simulação do funcionamento em curto-circuito

Estuda-se, na presente secção, o curto-circuito no secundário do transformador com recurso ao

software FEMM. A tensão no secundário, inerente à situação de curto-circuito, será nula.

O resultado da simulação pode observar-se na Figura 3.8. A diminuição de densidade magnética

ao longo do núcleo é evidente. Esta comparativamente com o ensaio realizado com o enrolamento

secundário em vazio, é praticamente zero.

Efectuando o presente ensaio com um transformador ideal obteríamos resultados um pouco

diferentes. O fluxo provocado pela corrente que percorreria o enrolamento primário seria anulado pelo

fluxo originado por parte da corrente no enrolamento secundário, devido ao sentido contrário das

correntes. Este resultado não é observado na figura pois a disposição dos condutores não é perfeita e

inviabiliza a referida anulação.

Page 49: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

35

Figura 3.8 - Comportamento do campo magnético do transformador. Secundário em curto-circuito.

Após análise da Figura 3.8, é de interesse observar a distribuição de campo electromagnético

ao longo de uma secção equivalente à representada pela Figura 3.4. Os resultados visionados na Figura

3.9 apresentam valores praticamente nulos, típicos de uma situação de curto-circuito quase ideal.

Os valores mais elevados nesta análise registam-se novamente nas partes laterais do núcleo

(parte ‘U’). Porém, desta vez, o braço que contém em seu redor o enrolamento secundário terá valores

ligeiramente inferiores ao braço que não contém qualquer enrolamento. Este facto deve-se a uma

influência directa dos enrolamentos secundários, e da produção de fluxo em sentido contrário ao

produzido pelo enrolamento primário. Nota-se ainda que o ponto alguma dispersão com linhas de

campo a fecharem-se pelo ar. O valor de densidade magnética para esta simulação se encontra

repartido de uma forma aproximadamente uniforme por todo o caminho magnético.

Page 50: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

36

Figura 3.9 -Intensidade do campo magnético em função da distância. Corte a meio da parte U do núcleo. Secundário em curto-circuito.

3.4 – Funcionamento do transformador em carga

Procura-se nesta etapa, prever a densidade de campo magnético, bem como o comportamento

das linhas de fluxo quando o transformador funciona com uma carga colocada no enrolamento

secundário.

Recorrendo à expressão 2.30 calcula-se um valor de corrente primária de 298,050 amperes.

Utilizando as relações de transformação ideais características de um transformador de intensidade

determina-se que para se obter a corrente primária calculada será necessária uma corrente secundária

de 9,935 amperes.

O resultado da simulação encontra-se apresentado na Figura 3.10. Nesta, de um modo geral,

observa-se que o transformador, para o funcionamento em carga, tem uma distribuição de densidade

de campo magnético bastante regular, garantindo um funcionamento satisfatório para o

dimensionamento efectuado.

Page 51: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

37

Figura 3.10 - Comportamento do campo magnético do transformador. Funcionamento com carga nominal.

Nota-se, no entanto, nos cantos interiores do transformador alguma saturação, tendo em conta

que o valor de densidade magnética máxima se situa no 1,5 Tesla. Irá de seguida proceder-se à

apresentação de uma análise aos pontos críticos do ensaio efectuado. As regiões tratadas encontram-se

representadas na Figura 3.11.

Figura 3.11 - Representação dos cortes efectuados, para estudo da densidade de campo magnético, no ensaio em carga.

Nas simulações gráficas apresentadas de seguida (Figuras 3.12 a 3.15), a origem está sempre

situada na parte exterior do núcleo de ferro silício. Estando, desta forma, o canto interior situado no

ponto mais distante da origem dos eixos representados no gráfico.

Corte A Corte B

Corte C Corte D

Page 52: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

38

Figura 3.12 - Densidade do campo magnético em função da distância. Ensaio com carga nominal. Corte A.

Figura 3.13 - Densidade do campo magnético em função da distância. Ensaio com carga nominal. Corte B.

Page 53: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

39

Figura 3.14 - Densidade do campo magnético em função da distância. Ensaio com carga nominal. Corte C.

Figura 3.15 - Densidade do campo magnético em função da distância. Ensaio com carga nominal. Corte D.

Dos gráficos apresentados podem-se retirar algumas conclusões quanto ao funcionamento do

transformador. Em primeiro lugar, torna-se por demais evidente que a fraca utilização dos cantos

exteriores e a sobre utilização dos cantos interiores, reflectem a forma menos correcta da geometria.

Observa-se ainda que o núcleo de ferro silício apenas satura (ultrapassa os 1,5T) nas regiões C e D. Este

facto deve-se à existência de um entreferro mínimo que ajudará à não saturação nas regiões A e B. O

entreferro apresar de experimentalmente ser nulo, a nível do ensaio efectuado com o software em

causa, exerce alguma influência nos resultados. No entanto a forma de montagem do transformador

utilizando colocações alternadas das peças U e I, irá permitir corrigir parcialmente esta situação. Nota-se

Page 54: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

40

ainda algumas diferenças entre as regiões devido ao enrolamento secundário estar apenas

implementado em redor de um dos lados do núcleo.

Idealmente todas as regiões analisadas seriam iguais, pressupondo a não existência de

entreferro, uma forma ideal para o núcleo, e uma distribuição uniforme das espiras secundárias em

redor de todo o esse mesmo núcleo.

3.5 – Cálculo dos parâmetros do transformador através do software FEMM

O cálculo dos parâmetros do circuito equivalente do transformador através do software FEMM

é realizado de forma diferente ao apresentado no capítulo 2, sendo utilizados conceitos físicos distintos.

Devido a este facto o leitor irá encontrar algumas diferenças nos resultados, as quais serão justificadas

no decorrer do capítulo.

Para a determinação da indutância equivalente tanto do enrolamento primário como do

secundário utiliza-se a expressão (3.1) que, particularizando para cada um dos casos referidos, resulta

em (3.2) e (3.3) respectivamente. Nestas fórmulas a variável A representa o potencial vector, i

representa a corrente que percorre o circuito, do qual se pretende retirar a indutância própria. Por fim a

variável J descreve a densidade de corrente nesse mesmo circuito [9].

2

.própria

A JdVL

i

(3.1)

1 2

1

.103,8

A JdVL H

i

(3.2)

2 2

2

.45,13

A JdVL mH

i

(3.3)

A etapa seguinte passa pelo cálculo da indutância mútua entre os circuitos. A abordagem será

um pouco diferente da utilizada anteriormente. Para este caso a formula teórica utilizada pelo software

é apresentada na equação (3.4), onde A1 é a componente de A produzida pelo enrolamento primário, J2

a densidade de corrente no segundo enrolamento. No divisor da expressão encontra-se o produto das

correntes que percorrem tanto o enrolamento primário como o enrolamento secundário. A expressão

dV2 indica que o integral é realizado em relação ao volume do enrolamento secundário.

Page 55: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

41

1 2 2

1 2

.m

A J dVL

i i (3.4)

A expressão (3.4) pode ser rearranjada recorrendo à relação apresentada em (3.5). Esta indica

que o produto entre a corrente i2 e o número de espiras presente no enrolamento secundário n2 será

igual à densidade de corrente nesse mesmo enrolamento J2 multiplicada pela sua área a2.

Substituindo J2 na equação (3.4) obtém-se a expressão (3.6).

2 2 2 2n i J a (3.5)

2 2

21 2 1 2

1 2

m

J J

nL AdV AdV

i a

(3.6)

A expressão (3.6) encontra-se dividida em dois termos, cada um representando a contribuição

dos enrolamentos secundários apontados nas direcções definidas. Para avaliar a indutância mutua com

o software FEMM realiza-se a simulação em duas partes distintas. Em primeiro lugar é efectuada uma

integração onde as espiras do enrolamento secundário estão apontadas na direcção “fora da página”. O

segundo integral onde as espiras do mesmo enrolamento estão apontadas “na direcção da pagina”.

Somam-se os dois resultados como demonstrado em (3.6) e multiplica-se pelo produto indicado na

mesma equação. O resultado para a simulação efectuada encontra-se apresentado em (3.7).

4,036mL mH (3.7)

A partir da indutância mútua calcula-se, segundo (3.8), o coeficiente de indução do fluxo de

magnetização (lμ).

1

2

134,53m

Nl L H

N (3.8)

Page 56: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

42

3.6 – Perdas no núcleo

A determinação das perdas no núcleo engloba tanto as perdas por histerese, como perdas

devido a correntes de Eddy que circulem no ferro, e ainda efeito de proximidade [11][12].

Para a determinação das perdas por histerese considera-se o produto das incógnitas Aklk como

o volume do núcleo de ferro silício, e considera-se o integral referido em (3.9) como sendo a área do

ciclo de histerese.

Pode observar-se que cada vez que o material magnético completa um ciclo, existirá uma

energia imposta ao material.

( )c hh c h h c c

H lW i d A NdB A l H dB

N

(3.9)

A energia necessária para mover os dipolos no material será dissipada na forma de calor. Assim

para um dado nível de fluxo, corresponde um valor de perdas, definidas como perdas por histerese.

Estas para além de serem proporcionais à área do ciclo de histerese, também o são ao volume do

material. Devido a existirem perdas de energia por ciclo a potência dissipada será também proporcional

à frequência de excitação, que no projecto em análise é a frequência da rede, 50 Hertz [13].

12,341núcleoPerdas W (3.10)

O valor obtido em (3.10) é equivalente a uma densidade de perdas de 8570.43W/m3.

3.7 – Perdas resistivas e perdas totais

Para a determinação das perdas resistivas o software FEMM admite que a corrente flui na

direcção “z” e teremos o resultado dado pelo somatório das potências dissipadas para cada circuito,

dada pela forma ‘Ri2’. Para este caso R será a resistividade característica do material multiplicado pelo

comprimento deste. No caso do transformador considerado, o comprimento será de 80 centímetros

para o enrolamento primário e 2460 centímetros para o enrolamento secundário.

O cálculo das perdas resistivas encontra-se apresentado em (3.11) para o transformador

projectado. Os circuitos 1 e 2 são referentes ao primário e secundário respectivamente.

Page 57: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

43

2

2

1

9,074resistivas i i

i

Perdas R i W

(3.11)

Para obtenção das perdas totais basta somar os valores obtidos em (3.10) e (3.11). O resultado

é apresentador em (3.12).

21,415totaisPerdas W (3.12)

Page 58: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

44

Capítulo 4Equation Chapter (Next) Section 1

SIMULAÇÃO DO DESEMPENHO DO

TRANSFORMADOR

No presente capítulo descreve-se toda a envolvente de teste criada para a realização dos

ensaios do transformador dimensionado no capítulo 2. Ao executar-se esta análise procura obter-se

uma previsão das formas de onda, bem como dos valores de pico das grandezas envolvidas. Espera-se

que os resultados coincidam com os obtido teoricamente, e deter uma boa previsão do que se irá

verificar após a construção do transformador.

As simulações presentes neste capítulo são realizadas com recurso ao software

MATLAB/Simulink.

4.1 – Obtenção da corrente no primário do transformador UI

Apesar de não ser parte integrante do processo de simulação computacional, é de interesse

para compreensão das condições impostas nas simulações, que o leitor fique elucidado para a forma

como foi determinada a corrente a colocar no primário do transformador.

Para obtenção da corrente máxima de entrada no transformador dimensionado é utilizado um

transformador trifásico de 10kV/400V onde o primário será ligada à rede de baixa tensão. Do

secundário do transformador referido. Retira-se uma das três fases (R S ou T) fazendo passar esta pelo

interior do transformador dimensionado num sentido determinado.

O valor máximo da corrente no primário do transformador dimensionado, quando este contém

carga de 10 ohm será cerca de 100 amperes. Este valor querer-se-ia mais elevado, mas devido a

Page 59: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

45

limitações do material utilizado para efectuar o ensaio no laboratório, corrente máxima obtida num

único cabo, não é possível realizar os testes práticos com valores superiores.

Serão então, aquando da colocação do cabo representativo do primário, feitas 3 passagens com

este pelo interior do núcleo. Desta forma obteremos uma corrente com uma amplitude de pico próxima

dos 300 amperes, representada computacionalmente pela Figura 4.1.

Assim, para uma comparação efectiva das simulações com os ensaios práticos executados no

capítulo seguinte, optou-se utilizar os mesmos valores nas simulações computacionais e nos ensaios

laboratoriais para as correntes de entrada.

Figura 4.1 - Corrente de entrada no primário do transformador.

Relembra-se que o valor eficaz da corrente numa linha de alta tensão, base deste trabalho varia

entre 100A e 1000A , sendo assim os ensaios realizados neste capítulo e no que lhe sucede, são apenas

representativos de um valor baixo de corrente que circulará no ramo primário do transformador a

utilizar no projecto. Daí estes testes serviram para verificar a viabilidade do transformador e se será

possivel com o material adequado e a corrente real no enrolamento primário, obter valores de potência

na saída do enrolamento secundário do transformador que possibilitem a operação de um robot.

De seguida apresentam-se os ensaios caracteristicos do transformador realizados

computacionalmente, necessários para uma correcta descrição deste.

4.2 – Ensaio em curto-circuito do transformador UI

Neste ensaio, é curto-circuitado directamente o enrolamento secundário do transformador,

estando apenas em análise a corrente neste mesmo lado (Iscc). Obtém-se, como é característico deste

ensaio, uma tensão secundária nula.

Page 60: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

46

Ao realizar-se o ensaio prático da situação de curto-circuito no secundário será estabelecida a

corrente nominal no primário do transformador. Quando esta situação ocorrer, considerando uma

corrente de magnetização baixa, saberemos que a corrente no secundário será também próxima do seu

valor nominal. Nota-se ainda que neste caso a tensão aplicada ao enrolamento primário será muito

inferior à tensão nominal, sendo o fluxo magnético minimizado pois este é directamente proporcional à

tensão primária.

O ensaio em curto-circuito permite obter os valores das perdas no cobre. O circuito realizado

em Simulink para este ensaio encontra-se apresentado na Figura 4.2.

Figura 4.2 - Representação do ensaio em curto-circuito para o transformador dimensionado.

A corrente de curto circuito encontra-se representada na Figura 4.3. Sendo a corrente de

entrada cerca de 300 amperes, a corrente no secundário, com este em curto-circuito será próxima dos

12 amperes.

Figura 4.3 - Corrente de curto-circuito no secundário do transformador dimensionado.

4.3 – Ensaio em circuito aberto do transformador UI

Page 61: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

47

O presente ensaio realiza-se deixando o secundário do transformador em aberto. O circuito em

MATLAB/Simulink encontra-se apresentado na Figura 4.4.

Este ensaio é efectuado colocando uma tensão no enrolamento primário, tentando evitar a

saturação do núcleo. Devido a não existir carga no enrolamento secundário a corrente neste será nula e

a corrente primária é mínima. Apenas será visível a corrente de magnetização. Assim este ensaio

permite calcular os parâmetros do núcleo, nomeadamente as perdas no ferro.

Figura 4.4 - Representação do ensaio em circuito aberto no secundário do transformador dimensionado.

Neste ensaio é de interesse a apresentação das tensões no primário e no secundário do

transformador. Assim a tensão primária definida na Figura 4.4 como Vp encontra-se apresentada na

Figura 4.5. A tensão de circuito aberto (Vsoc) está representada na Figura 4.6. Da análise destas figuras

identifica-se facilmente a relação de transformação de 1 para 30.

A análise dos gráficos permite claramente identificar uma saturação do núcleo que constitui o

transformador. A situação alerta para o facto do transformador dimensionado, com características

semelhantes a um transformador de intensidade convencional, não dever funcionar com o seu

enrolamento secundário em vazio.

Figura 4.5 - Tensão no enrolamento primário do transformador dimensionado.

Page 62: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

48

Figura 4.6 - Tensão no enrolamento secundário com este em aberto.

4.4 – Ensaio com carga no enrolamento secundário do transformador UI

O ensaio em carga do transformador dimensionado permite, através da colocação de uma

carga resistiva pura aos terminais do enrolamento secundário, determinar a potência fornecida. É

possível através deste determinar o rendimento do transformador para uma determinada situação

desejada.

O ensaio será então realizado com uma carga de 10 ohm. A corrente no enrolamento primário

tem o valor igual ao máximo estipulado para o ensaio laboratorial realizado no capitulo seguinte.

As Figuras 4.7 e 4.8 demonstram respectivamente a tensão e a corrente na carga retiradas nos

pontos Vs e Is do esquema em Simulink, apresentado na Figura 4.9.

Figura 4.7- Tensão numa carga resistiva de 10 ohm colocada no secundário do transformador dimensionado.

Page 63: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

49

Figura 4.8 - Corrente numa carga resistiva de 10 ohm colocada no secundário do transformador dimensionado.

Após observação dos resultados gráficos observa-se que a potência espectável entregue à carga

resistiva será cerca de 630 volt amperes de valor de pico. Consta-se assim, com um valor de 315 Volt

amperes de valor médio de potência, que no ensaio em causa será dissipada na resistência na forma de

calor.

Figura 4.9 - Esquema de ligações em Simulink para realização de um ensaio em carga puramente resistiva do transformador dimensionado.

4.5 – Simulação com ponte de rectificação (ponte de Graetz) e condensador de

alisamento

Para uma estimativa das grandezas continuas que se conseguirião obter após a utilização do

transformador dimensionado, introduziu-se uma ponte de recticação a jusante do transformador.

A ponte em causa, conhecida como ponte de Graetz é um circuito conversor de onda completa,

constituida por quatro diodos. Converte corrente alternada monofásica em corrente rectificada, ou seja,

corrente só com um tipo de alternância, positiva ou negativa.

O funcionamento desta ponte é descrito da seguinte forma, no instante em que se inicia o ciclo

positivo da tensão alternada na entrada no ponto A (Figura 4.10), o diodo D1 encontra-se polarizado

Page 64: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

50

directamente. O ciclo positivo é então transferido à carga, e o circuito fecha-se mediante o diodo D2

dado que possui o ânodo mais positivo do que o cátodo. Os diodos D3 e D4 não intervêm dado que

estão polarizados inversamente (cátodo mais positivo que o ânodo)[17].

Figura 4.10 - Comutação positiva da ponte de rectificação.

No momento em que se inicia o ciclo negativo de tensão no ponto A, no ponto B ainda

estamos no ciclo positivo portanto, o diodo D4 será polarizado directamente (Figura 4.11). O ciclo

positivo presente no ponto B é transferido à carga e o circuito fecha-se através do diodo D3, dado que

possui o seu ânodo mais positivo que o cátodo. Os diodos D1 e D2 não intervêm pois estão polarizados

inversamente.

Figura 4.11 - Comutação negativa da ponte de rectificação.

Calculando teoricamente alguns parâmetros deste circuito, a tensão aos terminais é dada pela

equação 4.1, onde Vs é a tensão aos terminais do enrolamento secundário.

0,9dc sV V (4.1)

Quando os diodos não conduzem devem suportar a tensão de pico à entrada. A tensão inversa

máxima (Vinv) de cada diodo é então dada por 4.2.

1,41inv seffV V (4.2)

Page 65: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

51

Relembra-se ainda que durante o funcionamento, os diodos provocam uma queda de tensão de

valor típico igual a 1,41V.

As formas de conversão AC-DC obtidas com a exclusiva utilização de uma ponte de rectificação

em onda completa, como a apresentada anteriormente, não são apropriadas a uma definição de

continuas. Estas, serão assim definidas como pulsantes e unidireccionais. Para uma aproximação

efectiva do termo contínuo utiliza-se um circuito de filtragem criado por um condensador em paralelo

com a carga, este terá a função de “nivelar” a tensão rectificada. Para o nivelamento ser correctamente

efectuado, é necessário que o condensador descarregue pouco durante o intervalo de tempo

compreendido entre duas meias sinusoides. Por outras palavras, deve conter uma constante de

descarga (τ) muito longa. Utilizou-se para este cálculo a expressão 4.3, onde T representa o periodo da

rede que, para 50 Hz, será de 20ms.

5 10T (4.3)

Para dimensionamento do condensador foi utilizada a equação 4.4, onde a corrente máxima

considerada (Imax) é de 9,3 amperes, e a tensão (V) 60 volt. Obteve-se um resultado de 3,1mF.

mI axCVf

(4.4)

De seguida, na Figura 4.12, é apresentado o esquema em MATLAB/Simulink que permite

executar a simulação do circuito projectado.

Figura 4.12 - Montagem MATLAB/Simulink para ensaio com ponte rectificadora.

As curvas apresentadas nas figuras 4.13 e 4.14, retiradas nos pontos Vp e Ip,representam os

valores de tensão e corrente medidos aos terminais do enrolamento primário.

Page 66: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

52

Figura 4.13 - Tensão aos terminais do enrolamento primário. Ensaio com ponte rectificadora.

Figura 4.14 - Corrente no enrolamento primário. Ensaio com ponte rectificadora.

É possivel verificar na Figura 4.13 uma clara influencia na forma de onda reflectida, através da

ponte de rectificação na tensão primária.

De seguida, apresentam-se nas figuras 4.15 e 4.16 os valores continuos para a tensão e a

corrente aos terminais da carga, retirados nos pontos Vdc e Idc da Figura 4.12.

Figura 4.15 - Tensão continua Vdc.

Page 67: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

53

Figura 4.16 - Corrente continua Idc.

4.6 – Estimativa das perdas com base nas simulações

A estimativa de perdas com base nas simulações é efectuada com recurso ao rendimento.

Relacionando a potência de saída com a de entrada, consegue observar-se o valor da potência que será

dissipada no circuito.

Serão analisadas perdas de potência para o ensaio com carga resistiva pura do lado secundário,

apresentado na secção 4.4. Determinou-se, com recurso a simulação (Figura 4.17), um rendimento de

97,28%, o que considerando a potência de entrada no transformador, resulta numa perda de 27,13 W,

quer em perdas no ferro, quer em perdas no cobre.

Figura 4.17 - Esquema Simulink para determinação do rendimento.

4.7 – Discussão dos resultados apresentados pelas simulações

Nas simulações efectuadas procurou-se utilizar os parâmetros teóricos calculados nos capítulos

anteriores, de forma a prever o resultado que iremos obter após a montagem do transformador.

Page 68: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

54

As condições de partida para as simulações tentaram aproximar-se o mais possível das reais,

tendo em conta os materiais utilizados para a construção do transformador. Utilizam-se os valores de

indutâncias e reactâncias estimados no capítulo 2 desta tese, para os diversos componentes.

Analisando o ensaio em carga, observa-se um elevado rendimento para o transformador , o que

em primeira análise admite uma boa estimação dos parâmetros deste. A potência dissipada na

resistência de carga também permite boas previsões para os ensaios práticos. Caso os resultados

computacionais sejam verificado, existirá uma possibilidade efectiva que um transformador com estas

condições sirva como base ao projecto da fonte de alimentação.

Page 69: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

55

Capítulo 5Equation Chapter (Next) Section 1

ENSAIOS LABORATORIAIS DO

TRANSFORMADOR

No capítulo 5 demonstram-se os resultados obtidos a partir dos os ensaios laboratoriais ao

transformador com núcleo ‘UI’, cuja elaboração e simulação computacional foi efectuada conforme

indicado nos capítulos anteriores.

Os ensaios demonstram o comportamento do transformador tendo em conta uma

determinada corrente primária, sendo esta posteriormente comparada com os valores obtidos no

secundário do mesmo. O foco principal é maximizar a potência aos terminais do transformador, para

posterior inclusão no projecto do robot “RIOL”.

No seguimento deste capítulo serão apresentados quatro ensaios distintos. Ensaio em curto-

circuito, vazio, com carga nominal, e, para finalizar, um ensaio com carga nominal e ponte rectificadora

a diodos. No final, apresentam-se algumas sugestões e melhorias que podem ser aplicadas ao

transformador, e uma crítica aos resultados obtidos.

Nota-se ainda que, por motivos técnicos, não é possível executar os ensaios com uma corrente

em amplitude igual à que percorre uma linha de alta tensão, sendo extrapolados destes ensaios, as

conclusões para correntes mais elevadas. Recorda-se, mais uma vez, que a corrente máxima colocada

no transformador dimensionado ronda os 300 amperes.

A montagem do ensaio laboratorial encontra-se descrita em anexo (C). Neste, é demonstrada

toda a combinação de transformações necessária para, de uma alimentação trifásica de 400V, (tensão

na rede nacional), se obter uma corrente de 300 amperes.

Page 70: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

56

De seguida, é apresentada, na Figura 5.1, uma imagem do transformador ensaiado. Este

contém 30 espiras no enrolamento secundário e 80 centímetros de comprimento. Fez-se passar, pelo

interior do transformador, três voltas do cabo que representa o primário. Estas 3 espiras pretendem ser

o equivalente a um cabo de alta tensão com a referida corrente (300A). A opção tomada surge como

alternativa à inclusão de uma única espira com 100 amperes, valor este que representa o máximo de

corrente conseguido no local dos ensaios, para um único cabo condutor.

Figura 5.1 - Protótipo do transformador ‘UI’ dimensionado.

5.1 – Ensaio em curto-circuito do transformador UI

Para realização do ensaio em curto-circuito, serão ligados os terminais à saída do enrolamento

secundário, através de um cabo com o menor comprimento possível.

Os resultados do ensaio encontram-se representados na Figura 5.2.

Com recurso a uma pinça amperimétrica observou-se uma corrente de entrada primária com

um valor eficaz de 291 amperes.

Nas figuras que se seguem, indica-se a amarelo a tensão aos terminais do enrolamento

primário do transformador, (cabo que passa no interior do núcleo). Este valor, deve ser multiplicado por

20, devido à utilização de um transformador redutor de tensão, de modo que seja possível a observação

das ondas desta grandeza no osciloscópio. Esta é, efectivamente, a tensão no primário do

transformador dimensionado.

A curva azul representa a corrente no primário do transformador ‘UI’, com uma escala de 200

amperes por divisão, o que resulta num valor de 412 amperes.

Page 71: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

57

A curva a verde representa a corrente no secundário do transformador dimensionado. Esta será

a corrente de curto-circuito medida numa escala de 5 amperes por divisão, com um resultado de 13,5

amperes.

A linha a roxo mostra que o ensaio é feito com um curto circuito, representa a queda de tensão

no enrolamento secundário.

Figura 5.2 - Ensaio em curto-circuito do transformador projectado.

Do ensaio em curto-circuito retira-se o valor impedância equivalente de curto-circuito. Esta

será a soma das impedâncias equivalentes dos circuitos primário e secundário, conforme apresentado

na Figura 5.3. Ao impor-se um curto-circuito no enrolamento secundário a corrente irá encontrar uma

indutância muito baixa neste ramo, quando comparada com a indutância de magnetização.

Zcc

Icc+

Vp

-

Figura 5.3 - Esquema equivalente do ensaio em curto-circuito.

A partir da análise do esquema equivalente retira-se o valor de Zcc de acordo com (5.1).

Page 72: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

58

p

cc

cc

VZ

I (5.1)

Obtém-se então uma impedância de curto circuito igual a 6,25mΩ.

5.2 – Ensaio em circuito aberto do transformador UI

Para a execução do ensaio em vazio foi deixado o lado secundário do transformador em aberto,

sendo o enrolamento primário percorrido por uma corrente imposta. Dado que o secundário está em

vazio, nenhuma corrente flui nele e, consequentemente, nenhuma energia é transmitida para aquele

ramo do circuito. As perdas por efeito de Joule no enrolamento secundário serão nulas. Estes

resultados encontram-se apresentados na Figura 5.4.

A curva a amarelo representa a queda de tensão no primário do transformador projectado.

A curva a azul representa a corrente primária no do transformador ‘UI’ a 50A/divisão. Esta, em

valor eficaz, atinge cerca de 42 amperes.

A tensão secundária (tensão de circuito aberto V0) é representada pela curva a roxo, onde se

obtém um valor de cerca de 50V/divisão, aproximadamente 110V.

Neste ensaio, embora o valor de corrente primária não atinja uma amplitude perto da registada

nos restantes ensaios, é notória a rápida saturação do núcleo. Este fenómeno não é mais do que uma

característica dos transformadores de corrente, os quais não são projectados para um funcionamento

em circuito aberto. Neste tipo de transformadores, a sua construção é apenas focada em criar uma

imagem da corrente no secundário. Também no presente projecto, como é necessário assegurar uma

potência secundária, teremos de garantir valores de corrente elevados.

Page 73: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

59

Figura 5.4 - Ensaio em circuito aberto do transformador dimensionado.

Da análise do gráfico, não é possível retirar o valor das perdas no ramo de magnetização,

devido ao já referido fenómeno de saturação. Mostra-se na Figura 5.5 o esquema equivalente do ensaio

em vazio. Para aplicação deste circuito, efectua-se um novo ensaio, onde se procura elevar a corrente

primária ao máximo valor possível, desde que não seja permitida a saturação do núcleo magnético.

Zp

I0+

Vp

-

+

V0

-

Zm

Figura 5.5 - Esquema equivalente do ensaio em vazio.

Assim, apresenta-se na Figura 5.6, o ensaio feito ao transformador com uma corrente primária

de 7,13 amperes pico, medida com uma pinça amperimétrica.

Page 74: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

60

Figura 5.6 - em vazio do transformador ‘UI’. Tensão secundária pré saturação.

Mostra-se na Figura 5.6 a tensão no enrolamento secundário. Esta queda ocorre, tendo em

conta o circuito modelo apresentado pela Figura 2.2, na impedância equivalente do ramo de

magnetização. Assim para cálculo desta impedância, aplica-se (5.2).

74,801om

p

VZ j m

I (5.2)

De (5.2) e aplicando (5.3), desprezando a resistência de magnetização, retira-se o resultado da

indutância equivalente do ramo de magnetização.

238,217mXl H

j

(5.3)

5.3 – Estimativa dos parâmetros do transformador a partir da medição de

indutâncias.

Como auxiliar para a determinação dos parâmetros reais do transformador criado, recorreu-se

a um medidor de indutâncias. Este aparelho permite após imposição de um tipo de ensaio no

transformador, retirar o valor da impedância total nesse mesmo ensaio. Utilizando este método para as

diferentes situações ensaiadas, criando um sistema de equações a três incógnitas, poderemos obter o

valor de cada parâmetro.

As equações características de cada ensaio são apresentadas na Tabela 5.1. Faz-se notar que as

componentes linha não são mais do que a transposição da indutância própria do ramo contrário ao

Page 75: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

61

onde é efectuada a medição, para o lado onde esta é efectuada. Raciocínio equivalente é feito na secção

2.5 quando é abordada a reactância secundária do esquema em T do transformador.

Tabela 5.1 - Equações características para medição de indutâncias.

Medições no lado primário Medições no lado secundário

Secundário em curto-circuito '

1 2 / / ML L L Primário em curto-circuito '

2 1 / / ML L L

Secundário em vazio 1 ML L Primário em vazio 2 ML L

Os resultados obtidos para os ensaios estão representados, para cada um dos casos, na Tabela

5.2.

Tabela 5.2 - Resultados da medição de indutâncias no transformador.

Medidas captadas no lado primário Medidas captadas no lado secundário

Secundário em curto-circuito 15,3 μH Primário em curto-circuito 2,068 mH

Secundário em vazio 205,8 μH Primário em vazio 36,52 mH

Das quatro equações apresentadas na Tabela 5.1, apenas serão necessárias três, para

estimação dos parâmetros. Nesta caso, a título de exemplo, escolheram-se as duas equações

correspondentes às situações de vazio e ainda a equação com o secundário em curto-circuito. O sistema

de equações é apresentado em 5.4.

1

'

1 2

2

205,8

/ / 15,3

36,52

M

M

M

L L H

L L L H

L L mH

(5.4)

Relembra-se aqui que L’2 no caso específico deste ensaio é a indutância secundária reduzida ao

primário pelo que será afectada pelo quadrado da relação de transformação.

Os resultados obtidos após a resolução do sistema encontram-se apresentados em 5.5.

1

'

2

73,8

132

40

M

L H

L H

L H

(5.5)

Page 76: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

62

5.4 – Ensaio em carga do transformador UI

O ensaio em carga do transformador é executado colocando uma carga puramente resistiva aos

terminais do secundário deste. A potência que será produzida no secundário estará dependente do

valor desta carga, existindo um ponto máximo para ela. Este fenómeno deve-se à não linearidade da

variação de corrente e da tensão, no secundário, com a carga. Estas, não são directamente

proporcionais devido à existência de uma indutância de magnetização no circuito.

Assim serão apresentados dois ensaios, no primeiro (Figura 5.7) a carga equivalente colocada

no secundário tem o valor de 8,75Ω, já no segundo (Figura 5.8) esta carga terá um valor de 7,05 Ω.

Para ambos os ensaios a curva a amarelo representa a tensão do lado primário do

transformador, numa escala de 2Volt por divisão. A curva azul representa a corrente primária que

percorrerá o cabo interior do transformador dimensionado, a escala é de 100 amperes por divisão.

A roxo observa-se a tensão no enrolamento secundário, com uma escala de 20 Volt por divisão

para a Figura 5.7 e 50 Volt por divisão para a Figura 5.8.

Para finalizar a curva a verde representa a corrente no enrolamento secundário, numa escala

de 5 amperes por divisão para ambos os ensaios.

Figura 5.7 - Ensaio do transformador ‘UI’ com carga resistiva. Carga de 8,75Ω.

Aplicando (5.6) e (5.7) ao ensaio da Figura 5.7 calcula-se uma potência entregue à carga de

560VA de valor de pico, o que representa 280VA de valor médio.

Page 77: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

63

pico pico picoP V I (5.6)

2

pico

média

PP (5.7)

Para o ensaio seguinte, apresentado na Figura 5.8, repara-se que a tensão secundária diminui e

a corrente neste mesmo enrolamento aumenta, consequência de uma redução da resistência aos

terminais.

Figura 5.8 - Ensaio do transformador ‘UI’ com carga resistiva. Carga de 7,05Ω.

Após análise das curvas características presentes Figura 5.8, a potência de pico calculada

segundo (5.4) será de 510 VA, o que leva a uma potência média oferecida à carga, segundo (5.5), de

255VA.

Repare-se ainda que a corrente primária em ambos os ensaios apresenta um valor de pico

diferente, apesar da tensão de entrada do transformador de 10kV/400V ser igual. No ensaio

representado na Figura 5.7 a corrente de pico primária tem um valor de 280 amperes, já no ensaio

representado na Figura 5.8 esta tem um valor de 310 amperes. Em termos de valores eficazes as

respectivas grandezas apresentam as seguintes medições, 197,99 amperes para o primeiro caso e

219,20 amperes para o segundo. Esta diferença encontra-se justificada pela influência que o

enrolamento secundário terá no ramo primário. Através da relação de transformação (5.8), facilmente

se verifica que um aumento de corrente no secundário leva a uma redução de corrente no primário.

Page 78: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

64

11 2

2

NI I

N (5.8)

O esquema equivalente deste ensaio encontra-se apresentado na Figura 5.9.

+

Vp

-

Transformador

3:30

+

Vs

-

Rcarga

Figura 5.9 - Esquema equivalente do ensaio em carga do transformador dimensionado.

5.5 – Ensaio com carga e ponte rectificadora do transformador UI

No ensaio com ponte rectificadora, apresentado nesta secção, tenta obter-se uma boa

estimativa dos valores contínuos para as grandezas que aparecem no enrolamento secundário do

transformador ‘UI’. A conversão será realizada por uma ponte rectificadora a diodos em paralelo com

um condensador de filtragem. Este ensaio é em tudo semelhante à simulação criada em

Matlab/Simulink apresentada na secção 4.5.

Apresenta-se na Figura 5.10 o esquema equivalente da montagem efectuada.

+ -

~

~

RcargaC

Transformador

3:30

Vp Vs

Vdc

Figura 5.10 - Esquema representativo do ensaio com ponte rectificadora.

Page 79: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

65

Observa-se na Figura 5.11 o resultado do ensaio laboratorial, as curvas a amarelo e a azul

representam a tensão e a corrente no enrolamento primário. (Tensão com uma escala de 4 Volt por

divisão, corrente a 100 amperes por divisão).

A roxo e verde os valores de tensão e corrente contínuos, a tensão medida aos terminais do

condensador e a corrente na ligação entre condensador e carga como indicado na Figura 5.10.

Analisando os resultados podemos concluir que para uma corrente de 320 amperes no

enrolamento primário, obteremos uma potência com um valor cerca dos 220W, um valor

manifestamente insuficiente para o esperado e necessário.

Este facto deve-se à ponte de rectificação utilizada não ser a inicialmente pensada (rectificador

de factor de potência quase unitário) [14]. Esta ponte iria permitir rendimentos bastante superiores na

conversão, o que traria grandes incrementos no valor de potência obtida [15].

Figura 5.11 - Ensaio do transformador ‘UI’ com ponte rectificadora e condensador.

É de interesse analisar a forma de onda da tensão no enrolamento primário, curva a amarelo

no gráfico da Figura 5.11, esta denota claramente a influência da ponte de Graetz mais filtragem na

queda de tensão primária. Apresentando esta onda, a sobreposição de uma tensão quase rectangular

com quedas de tensão devidas a correntes quase sinusoidais.

.

Page 80: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

66

5.6 – Discussão dos resultados obtidos nos ensaios laboratoriais do transformador.

Os resultados obtidos após os ensaios laboratoriais provam que o dimensionamento do

transformador foi efectuado correctamente. Comprovou-se que o transformador ‘UI’ de 80 centímetros

com relação de transformação de 1 para 30 poderá ser utilizado como parte integrante da fonte

necessária para operar o robot RIOL.

As limitações de corrente e consequentemente queda de tensão no enrolamento primário

deixam algum grau de liberdade para obtenção de resultados ainda melhores, assim que estas sejam

ultrapassadas.

Quando comparados os resultados experimentais com os simulados pelos softwares

MATLAB/Simulink e FEMM, notam-se algumas diferenças a nível dos picos de grandezas.

Consequentemente, estas diferenças repercutem-se nos valores dos parâmetros calculados para o

esquema equivalente do transformador. As não concordâncias encontradas devem-se essencialmente a

algumas imprecisões de construção, quer no empilhamento das placas de ferro silício, na bobinagem do

enrolamento secundário, como também na falta de precisão sobre as características do material

ferromagnético.

Relembra-se que o empilhamento alternado de núcleos ‘U’ e ‘I’ destina-se a criar caminhos

para o fluxo magnético, permitindo que este encontre sempre uma alternativa à passagem pelo ar.

Comprova-se também com estes ensaios práticos, que o transformador criado tem um

comportamento semelhante a um TI, não podendo este operar com o enrolamento secundário em

vazio.

Os resultados apresentados aquando da inclusão de uma ponte rectificadora também estão

dentro dos valores esperados. Nota-se um aumento das perdas em todo o circuito, estando este

incremento relacionado com a inclusão de novos componentes que, para além das suas dissipações

próprias também têm influência nas perdas características do transformador.

Page 81: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

67

Capítulo 6 Equation Chapter 7 Section 1

CONCLUSÕES

O presente trabalho, demonstrou efectivamente a possibilidade de construir um transformador

para uma fonte de alimentação para o robot RIOL. Esta permitirá, que o robot seja autónomo em

termos energéticos desde que permaneça ligado à rede, existindo tensão e corrente nesta. A

alimentação do robot tem como base a elevada densidade de campo magnético existente em redor das

linhas de alta tensão. Verificou-se que o transformador deve ser o mais comprido possível, ter

densidade magnética relativa máxima elevada e caminho magnético médio minimizado.

Os resultados obtidos ao nível teórico, computacional e experimental deixam boas indicações

para a incorporação de uma fonte de alimentação deste tipo num veículo de inspecção de linhas AT.

Após dimensionamento teórico do transformador, os resultados foram verificados, em primeiro

lugar no software FEMM, onde foi possível comprovar com sucesso o comportamento das linhas de

campo magnético e a intensidade deste. Posteriormente foram efectuadas simulações no software

MATLAB/Simulink que demonstraram as formas de onda, bem como os valores de tensão e corrente em

cada situação de funcionamento.

Para finalizar foram comparados todos os valores dimensionados e simulados com os valores

reais, através da criação de um protótipo para o transformador. O núcleo deste é constituído por peças

em forma de ‘U’ e ‘I’ empilhadas alternadamente, de modo a garantir um caminho de elevada

permeabilidade magnética para as linhas de fluxo. Os valores observados a partir deste protótipo

podem ainda ser melhorados, bastando para isso alterar a forma do núcleo. A solução óptima passa por

uma forma toroidal através do empilhamento de dois semi-núcleos em forma de ‘C’.

Numa fase inicial do projecto, foram tidas em conta as medidas de comprimento e de massa

para o transformador. Um peso elevado iria necessitar de uma força por parte do motor existente no

robot também bastante elevada. Já grandes medidas em termos de área iriam acarretar problemas

Page 82: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

68

devido ao efeito dos ventos a embater no transformador, causando desequilíbrios o que

previsivelmente levaria a danos estruturais no robot e no cabo de alta tensão.

Neste trabalho não são confrontados alguns aspectos que devem ser discutidos em futuros

estudos, para um eficaz desenvolvimento do robot RIOL. Devem ser analisados o dimensionamento,

utilização e carregamento da bateria. Esta é utilizada para alimentação do robot quando à necessidade

de ultrapassar obstáculos na linha de transmissão, nomeadamente balões de identificação aérea e

cadeias de isolamento dos postes de alta tensão. A passagem de alimentação alternada, a partir do

primário de um transformador de corrente, para uma alimentação continua, por parte de uma bateria,

deve ser precisa, eficiente e sem efeitos inesperados, pois pode comprometer todo o funcionamento do

robot.

A extracção de potência a partir de uma linha de transmissão, em quantidade necessária para

alimentar um robot de inspecção, deve então ser alcançado a partir do transformador dimensionado.

As próximas etapas no desenvolvimento da fonte de alimentação inserida neste projecto

passam por criar um protótipo, que contenha o transformador desenvolvido no decorrer da presente

tese de mestrado. Desta forma poder-se-á verificar o funcionamento real de todo o modelo

dimensionado teoricamente.

Page 83: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

69

Equation Chapter 8 Section 1

BIBLIOGRAFIA

[1] Sequeira, J., & Tavares, L. (2007). RIOL - robotic inspection over power lines. 6th IFAC Symposium on

Intelligent Autonomous Vehicles.

[2] Tavares, L. (2007). Avaliação dinâmica do robot RIOL: Aspectos de um protótipo experimental.

Universidade Técnica de Lisboa: IST press.

[3] Erickson, R. W., & Maksimovic, D. (2007). Fundamentals of Power Electronics. University of Colorado.

Colorado.

[4] Ram, B. S. (1998). Loss and current distribution in foil windings of transformers (Vol. 3). IEEE Trans.

Power Delivery.

[5] O.Thurston, M. (2004). Transforme and Inductor Design Handbook. Columbus, Ohio: Marcel Dekker

Inc.

[6] Proto Laminations Incorporated. (s.d.). Obtido em 07 de 04 de 2011, de

http://www.protolam.com/page7.html

[7] Erickson, R. W., & Maksimovic, D. (2007). Fundamentals of Power Electronics. University of Colorado.

Colorado.

[8] Esser, A., & Skudelny, H. C. (1991). A new approach to power supplies for robots. Industry

Applications, IEEE Transactions.

[9] Meeker, D., (2010). Finite Element Method Magnetics User’s Manual. Version 4.2.

[10]Metal Suppliers Online. (s.d.). Obtido em 12 de 05 de 2011, de

www.suppliersonline.com/propertypages/1100.asp#Spec

[11] Haimbaugh, R. F. (2006). Induction Heat Treating. ASM International.

[12] Heathcote, M. (1998). J & P Transformer Book, Twelfth edition. Newnes.

Page 84: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

70

[13] Kassakian, J., Schlecht, M., & Verghese, G. (1974). Principles of Power Electronics - The analysis of

eddy currents. Oxford: Oxford University Press.

[14] Caxias, J., Alves da Silva, J. F., & Sequeira, J. (2010). Transmission Line Inspection Robots: Design of

the Power Supply System. Lisboa.

[15] Alves da Silva, J. F. (2010). Electrónica de Regulação e Comando - Texto de Apoio. Lisboa.

[16] Borges da Silva, J. G. (1994). Electrotecnia Teórica – 2ª Parte. Departamento de Engenharia

Electrotécnica e de Computadores do Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa.

Lisboa

[17]Scribd, Leitura e Publicação. (s.d.). Obtido em 3 de 09 de 2011, de

pt.scribd.com/doc/59854670/32/Ponte-de-Graetz

Page 85: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

71

ANEXO A

TRANSFORMADOR CC

Apresenta-se em anexo o dimensionamento daquele que, é considerado o formato ideal para a

elaboração deste projecto.

Devido à impossibilidade de efectuar os ensaios laboratoriais do transformador dimensionado,

a análise do transformador com núcleo toroidal constituído por dois ‘C’, vai ser restringida às simulações

computacionais em FEMM.

Procura-se identificar as diferenças deste tipo de núcleo, para o núcleo ‘UI’ utilizado no ensaio

laboratorial, assim sendo apresenta-se, na Tabela A.1, as características do transformador, encontrando-

se estas calculadas no Capítulo 2 da presente tese de mestrado. Como complemento observa-se a Figura

A.1, onde facilmente são identificados os comprimentos de cada troço do núcleo.

Tabela A.1 – Dados do transformador.

N1 1

N2 30

μr 2000

μ0 74 10

lf 0,18 m

Ac 80 cm2

Page 86: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

72

Figura A.1 - Dimensões do núcleo magnético 'CC'.

A forma de núcleo pretendida para melhorar os resultados encontra-se representada,

computacionalmente, na Figura A.2. Uma característica importante deste formato é que o entreferro

tem de poder ser considerado, idealmente nulo, de modo a que o fluxo magnético percorra sempre um

caminho pelo ferro silício que é constituinte do núcleo. Nota-se ainda no modelo um ponto de rotação o

qual será a base do efeito de pinça que o transformador terá, sendo deste modo possível acoplar-se e

desacoplar-se do cabo de alta tensão para efectuar as manobras necessárias.

Figura A.2 - Protótipo computacional de um núcleo ‘CC’.

De seguida apresenta-se os ensaios efectuados através do software FEMM, para o núcleo

representado na Figura A.2.

Page 87: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

73

A.1 – Modelo do transformador ‘CC’ no FEMM

Na Figura A.3 apresenta-se o modelo criado no programa FEMM para simular o núcleo do

transformador.

Os materiais escolhidos são, para uma comparação eficiente os mesmo utilizados no capítulo 2

da presente leitura, ferro silício M-36 para o núcleo laminado. O enrolamento primário é constituido por

aluminio 1100, sendo este o material disponível que apresenta maiores semelhanças com o que,

efectivamente, constitui os cabos de alta tensão.O enrolamento secundário será em cobre (16 AWG) e

encontra-se uniformemente distribuido em redor de todo o núcleo.

Figura A.3 - Modelo do transformador ‘CC’.

A.2 – Simulação em vazio do transformador com núcleo ‘CC’.

Para a simulação em vazio o enrolamento secundário é colocado com uma corrente nula sendo

o primário percorrido por 300 A.

A Figura A.4 demonstra o comportamento das linhas de fluxo magnético que percorrem o

núcleo de ferro. Pode facilmente concluir-se que não existe dispersão destas para o exterior, todas as

Page 88: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

74

linhas estão confinadas ao núcleo magnético. Observa-se também através da legenda os valores obtidos

para o campo magnético. Estes, serão em todo o núcleo superiores à densidade de campo magnético

máxima (Bmax = 1,5 tesla).

Figura A.4- Densidade de campo magnético no transformador, núcleo ‘CC’, ensaio em vazio.

Demonstra-se, comparativamente com o núcleo ‘UI’ que neste caso, o fluxo encontra-se

uniformemente distribuído por todo o núcleo. A não existência de cantos, quer interiores, quer

exteriores, aliada a uma distribuição mais uniforme do número de espiras, proporciona que a saturação

seja uniforme em todo o núcleo, apresentando esta, globalmente, valores mais baixos para a densidade

de campo magnético dentro do núcleo quando comparadas com a forma ‘UI’.

Na figura A.5 observa-se os a análise gráfica a um corte, efectuado na região de separação

entre as duas partes ‘C’ do núcleo magnético.

Page 89: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

75

Figura A.5 - Densidade do campo magnético em função da distância na região de separação entre as duas partes ‘C’. Secundário em vazio.

Analisado graficamente (Figura A.5), conclui-se que, a densidade de campo está distribuída de

uma forma quase uniforme, os valores registados estão em toda esta região, perto dos 2 tesla, nota-se

um ligeiro incremento à medida que se aproxima do enrolamento primário. Este facto é compreensível

visto a intensidade de campo magnético ser mais forte nas imediações do condutor em carga,

degradando-se com a distância a este.

A.3 – Simulação de um curto-circuito no enrolamento secundário do transformador

com núcleo ‘CC’.

Estuda-se na presente secção o curto-circuito no secundário do transformador. Para esta

análise coloca-se novamente uma corrente resultante a circular no enrolamento secundário, este valor,

devido à relação de transformação de 1 para 30, é proporcional aos 300 amperes colocados no

enrolamento primário.

O resultado da simulação pode ser observado na Figura A.6. A diminuição de densidade de

campo magnético é aqui evidente. Nota-se o surgimento de pólos nas zonas onde estão situadas as

espiras condutoras do enrolamento secundário, tendo a densidade de campo, no entanto, um valor

praticamente nulo.

Mais uma vez para o caso do transformador ideal o fluxo provocado pelo enrolamento primário

seria anulado pelo fluxo originado no enrolamento secundário, devido ao sentido contrário das

correntes.

Page 90: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

76

Figura A.6 - Comportamento do campo magnético do transformador. Secundário em curto-circuito.

A.4 – Dimensionamento das perdas no transformador ‘CC’ através do software

femm.

Serão neste ponto dimensionadas as perdas quer no ferro, quer no cobre do transformador

projectado.

Para a determinação das perdas no núcleo considera-se Ahlh como o volume do núcleo de ferro

silício, e considera-se o integral referido em (A.1) como sendo a área do ciclo de histerese.

( )c hnúcleo h c h h c c

H lPerdas i d A NdB A l H dB

N

(A.1)

As perdas calculadas englobam perdas por histerese, perdas devido a correntes de Eddy que

circulem no ferro, e ainda o efeito de proximidade. Este é efectuado na expressão (A.2).

A energia necessária para mover os dipolos no material será dissipada como calor, logo para

um dado nível de fluxo, corresponde um valor de perdas, definidas como perdas por histerese. Estas

serão proporcionais à área do ciclo de histerese bem como ao volume do material. Devido a existirem

perdas de energia por ciclo, a potência dissipada será também proporcional à frequência de excitação,

no nosso caso 50 Hz.

10.915 WnúcleoPerdas (A.2)

O valor das perdas para uma geometria do tipo ‘CC’, quando comparado com o mesmo para a

geometria ‘UI’ utilizada, prova ser ligeiramente inferior. Isto devido ao melhor aproveitamento do fluxo

Page 91: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

77

magnético, inerente ao uso de uma geometria do tipo toroidal a envolver um cabo também ele

idealmente toroidal.

De seguida é estimado um valor para as perdas no cobre (A.3), isto é, perdas nos circuitos

primário e secundário do transformador. Estas perdas estão associadas às resistividades características

de cada tipo de material, constituindo dos circuitos, relacionando esta grandeza com a corrente que

existirá em cada fio.

2

2

1

13.439 Wresistivas i i

i

Perdas R i

(A.3)

As perdas resistivas aumentam, pois sendo a corrente primária a mesma, a corrente secundária

vai aumentar devido à melhor indução existente no enrolamento secundário por parte do fluxo

magnético.

As perdas totais serão calculadas segundo a equação (A.4), através da soma das perdas no

núcleo magnético (A.2), com as perdas resistivas (A.3).

24,354totaisPerdas W (A.4)

As perdas para o núcleo ‘CC’ demonstram, em comparação com o núcleo ‘UI’, um valor

superior. Tendo a mesma corrente no enrolamento primário e a mesma carga simulada aos terminais do

enrolamento secundário, conclui-se que as perdas resistivas têm, neste circuito, uma maior

preponderância do que as perdas devidas a fenómenos de histerese, corrente de Eddy e efeito de

proximidade.

Page 92: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

78

ANEXO B

TRANSFORMADOR ‘UU’

A solução apresentada em anexo vai de encontro à tentativa de redução de comprimento do

transformador que constitui a fonte de alimentação.

Para este efeito foi dimensionado um núcleo que tivesse um comprimento inferior a 80

centímetros, correspondente ao transformador ‘UI’ apresentado nesta tese, associado a uma forma

mais favorável do núcleo, tentando que este não contenha cantos internos nem externos. Na

impossibilidade de encontrar núcleos CC utilizaram-se formas ’UU’.

No presente anexo apresentam-se os ensaios laboratoriais para um transformador com trinta

espiras no lado secundário, três espiras no lado primário (apenas colocadas para maximização da

corrente, representativas de um cabo de alta tensão). As especificações do transformador encontram-

se apresentadas na Tabela B.1. Destaca-se que as espiras secundárias encontram-se enroladas em redor

de todo o núcleo do transformador. Uma imagem do dispositivo criado é apresentada nas Figuras B.1 e

B.2.

Tabela B. 1 - Dados do transformador ‘UU’.

N1 3

N2 30

μr 2500

μ0 74 10

lf 20 cm

Ac 28 cm2

Comp. 20,4 cm

As condições de ensaio procuraram ser semelhantes às criadas para os testes com o

transformador utilizado na elaboração desta tese, permitindo assim retirar algumas conclusões através

da comparação de resultados. Recorda-se que nas análises foi considerado um factor de potência

unitário.

Page 93: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

79

Figura B. 1 - Transformador 'UU', perspectiva superior. Figura B.2 - Transformador ‘UU’ perspectiva frontal.

Chama-se a atenção que o volume de ferro silício presente neste núcleo é bastante inferior ao

utilizado no transformador ‘UI’. As dimensões do núcleo ‘UU’ encontram-se apresentadas na Figura B.3.

Figura B.3 - Dimensões do núcleo ‘UU’.

Recorrendo às expressões B.1 e B.2 retiradas desta tese, obtém-se B.3. Desta conclui-se que

apesar do valor de corrente primária ser elevado, o máximo valor de potência obtida, tendo em conta as

dimensões do transformador, será mais reduzido pois o seu volume de ferro será inferior.

0

max 1 1

c

f

PA

k B n i f (B.1)

Page 94: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

80

0 12

f f máx

mag

r

k l Bi

n (B.2)

2 2

1

0

02

f máx

FE

mag

fk B iP Volume

i (B.3)

De seguida são mostrados os ensaios laboratoriais efectuados com o transformador

apresentado. Nestes foi utilizada uma carga resistiva regulável até 6 ohm, com o objectivo de apresentar

os valores de potência e as formas de onda nos quais o desempenho do transformador é ideal. As

escalas encontram-se a funcionar da seguinte forma:

Canal 1: Tensão no enrolamento primário. Valores devem ser multiplicados por 20.

Canal 2: Corrente que percorre o transformador (soma de correntes das 3 espiras

primárias) a 500 amperes por divisão gráfica.

Canal 3: Tensão no enrolamento secundário. Medição directa

Canal 4: Corrente que percorre o enrolamento secundário. 10mV igual a 1 amperes.

No ensaio apresentado na Figura B.4 foi utilizada a resistência com valor igual a um ohm,

observa-se no canal uma queda de tensão no enrolamento primário igual a 3 Volts para uma corrente

que passa dentro do núcleo (soma das três espiras) de 650 amperes de pico.

Quanto ao enrolamento secundário apresenta valores de 20 Volt de tensão e 22 amperes, o

que perfaz uma potência média com um valor aproximado de 220 watt.

Figura B. 4 - Ensaio no transformador ‘UU’ com carga de 1 ohm no enrolamento secundário.

Page 95: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

81

Para o ensaio seguinte, a resistência foi elevada para um valor de 1,5 ohm, os resultados são

apresentados na Figura B.5. Como seria de esperar a queda de tensão secundária aumenta e a corrente

secundária diminui. Quanto aos valores de potência, multiplicando mais uma vez os canais 3 e 4 e

posteriormente dividindo por dois, obtemos um valor de 300 W.

Neste ensaio foi obtido o valor máximo de potência dissipada na carga utilizando o

transformador ‘UU’ criado. A corrente de pico dentro do transformador tem um valor cerca de 700

amperes ou equivalentemente 233,33 amperes por espira do enrolamento primário.

Figura B. 5 - no transformador UU com carga de 1,5 ohm no enrolamento secundário.

De seguida foi aumentada a carga para o valor de 2 ohm, neste ensaio, apresentado na Figura

B.6 importa realçar que o núcleo magnético começa a saturar, como é facilmente perceptível pelas

formas de onda. Nota-se também a repercussão da saturação do núcleo nos valores da queda de tensão

no lado primário (canal 1).

Figura B.6 - no transformador UU com carga de 2 ohm no enrolamento secundário.

Page 96: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

82

Para finalizar apresenta-se na Figura B.7 um ensaio com a carga secundária com um valor de 4

ohm. Neste, as formas de onda apresentam uma deformação total pois o transformador contém pouco

ferro para suportar uma tensão tão elevada no enrolamento secundário.

Figura B.7 - no transformador UU com carga de 4 ohm no enrolamento secundário.

Analisando todos os resultados obtidos, pode concluir-se que o processo de substituição de um

transformador longo, por diversos transformadores mais reduzidos pode ser efectuado com sucesso,

bastando para isso assegurar uma condição de carga reduzida no lado secundário. Esta solução traria

grandes vantagens em termos construtivos do robot devendo ser investigada em futuros trabalhos.

Page 97: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

83

ANEXO C

MONTAGEM LABORATORIAL PARA OBTENÇÃO

DA CORRENTE PRIMÁRIA

De modo a conseguir-se obter uma corrente, em valor de pico superior a 300 amperes, a partir

dos valores fornecidos pela rede de alta tensão, existiu a necessidade de recorrer a diversos

equipamentos existentes em laboratório. Um conjunto de três transformadores em série, conforme

representado pela Figura C.1, antecede a linha que contem a corrente necessária para a realização dos

ensaios.

3

Auto-transformador

0-450V

Rede

400V AC

Transformador UI

1:30

Transformador

10kV/400V

Rcarga

Neutro

300 Ampère

3 3

Transformador

380V/133V

P3

P2

P1

S3

S2

S1

Figura C.1 - Representação de montagem laboratorial para obtenção de corrente.

Da rede primária de baixa tensão foram retiradas as três fases e ligadas a um auto

transformador (1), regulável entre 0 Volt e 450Volt. Este permitirá executar pequenos acréscimos de

tensão de forma a poder ser observado todo o comportamento do sistema com valores intermédios. A

1 2

.

3

.

4

Page 98: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

84

existência deste auto transformador é também, em termos de segurança uma mais valia. A sua utilidade

é facilmente verificada pelos ensaio em vazio do transformador dimensionado, presentes no capítulo 5,

onde a curva característica foi retirada antes do núcleo de ferro saturar.

Procedeu-se de seguida à colocação de um transformador trifásico de 380V para 133V (2), este

transformador, cujas ligações se encontram representadas na Figura C.2, efectua um primeiro

abaixamento de tensão (incremento de corrente).

P3 P2 P1

380V

380V

380V

A1

B1

C1

C3

B3

A3

a1

a4

b1

b4

c1

c4

S3 S2 S1

Figura C.2 - Circuito de ligações efectuadas no transformador 380/113V.

O terceiro transformador apresentado é um transformador 10KV para 400V (3), que terá, com

o auto transformador a operar no ponto máximo, uma tensão de 150V ligada ao lado primário,

produzindo assim, após relação de conversão, uma corrente superior a 100 amperes, por fase, no seu

secundário.

De seguida retirou-se apenas uma fase do transformador, estando este a operar com valores de

tensão muito inferiores aos que foi dimensionado para trabalhar, não existe o risco de danificar os seus

componentes. Caso os valores de tensão fossem bem superiores aos utilizados não seria aconselhável

utilizar apenas uma fase, correndo-se o risco de ‘torcer’ o transformador danificando as suas espiras

devido às forças magnéticas no seu interior estarem desequilibradas.

Page 99: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

85

Apresenta-se na Tabela C.1 a listagem dos transformadores utilizados, bem como o tipo de

ligações que cada um contém.

Tabela C.1 - Quadro de transformadores utilizados.

Transformador Fabricante Tipo de ligação 1 Auto-transformador 0V - 450V OFICEL ―

2 380V / 133V ASEA Δ / SP

3 10kV / 400V EFACEC Y / Z

Legenda:

Δ – Triângulo

Y – Estrela

Z – Zig-Zag

SP – Secundário Primário

Para uma mais fácil identificação dos equipamentos, mostra-se na Figura C.3 uma fotografia do

equipamento utilizado. Na figura, para além dos três transformadores necessários para a obtenção de

uma corrente elevada, encontra-se ainda apresentado o transformador construído com o número 4.

Figura C.3 - Equipamento utilizado para a montagem laboratorial do ensaio.

1 2

3

4

Page 100: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

86

ANEXO D

GUIA DE DIMENSIONAMENTO PARA

TRANSFORMADORES DE POTÊNCIA

ALIMENTADO EM CORRENTE

A criação deste anexo tem como objectivo a simplificação do raciocineo teórico apresentado

com o decorrer do capítulo 2 da presente tese. A sua elaboração contém apenas as formulas essenciais

para o dimensionamento de transformadores de potência alimentados a partir de uma corrente. As

formas de onda tidas em conta são idealmente sinusoidais.

A finalidade deste método é a obtenção de uma determinada potência numa carga resistiva

pura, colocada no segundário do transformador. A alimentação é feita a partir de uma corrente primária

que circulará num cabo, que apenas passará uma única vez no interior do transformador.

Essencialmente, para uma aplicação desta metodologia, o utilizador necessita de ter

conhecimento prévio de alguns parâmetros aqui apresentados:

Valor da carga colocada no secundário do transformador(Rcarga);

Potência desejada na carga colocada aos terminais secundários (P0);

Corrente no enrolamento primário (ip);

Permeabilidade magnética relativa do material constituinte do núcleo (μr);

Densidade magnética máxima que o material permite (Bmax).

Em primeiro lugar, deve-se definir a tensão e corrente presentes na carga colocada aos

terminais secundários do transformador, através de D.1 e D.2

2 0 argc aU P R (D.1)

arg

2

2

c aPi

U (D.2)

Page 101: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

87

O passo seguinte, recai no cálculo do caminho magnético médio para o ferro. Este deve ser o

mais curto possível, uma vez que o núcleo deve estar o mais próximo do cabo que passará no interior do

transformador. Desta forma consegue-se obter uma melhor indução magnética no núcleo. Calcula-se a

espessura dos enrolamentos secundários a partir do conhecimento da corrente i2 aplicando a razão D.3.

Acrescenta-se, à posteriori, uma pequena margem de segurança e escolhe-se o lf tendo em conta as

formas de núcleo disponíveis. Preferencialmente esta forma deverá ser toroidal.

2mI2 /ax A mm

Secção (D.3)

Aplica-se de seguida a expressão D.4 para o cálculo do numero de espiras secundárias.

Relembra-se que a corrente ip representa a soma da corrente que irá para o ramo de magnetização com

a corrente de carga que será transformada, defina nesta tese como i’2.

2

2

2

2

1

2

f f máx

p

o r

k l Bn i

i

(D.4)

A última fase para o dimensionamento do transformador será o cálculo da secção do núcleo,

executado para obtenção de um resultado em centímetros quadrados segundo D.5.

4

2

max 2

10c

f

VA

k B n f (D.5)

A partir do resultado de D.5 aplica-se D.6 para calcular o comprimento do transformador. Nesta

expressão L representa o comprimento lateral do núcleo escolhido. Este, idealmente, deve ter o menor

valor possível, pois um comprimento maior no transformador permitirá uma maior queda de tensão no

seu enrolamento primário.

cAcomprimento

L (D.6)

Apresenta-se de seguida o código em MATLAB para execução de todo este conjunto de

cálculos, assim como para estimativas de parâmetros equivalentes do transformador dimensionador.

clf; clear all close all disp(' ') disp(' ') disp(' CALCULO TI POWER')

fn = 50; %Hz

Page 102: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

88

disp('Load characteristics') PL=500 Vdc_ref = 55 Io_max = PL/Vdc_ref %A dV = Vdc_ref * 0.01

disp('Cálculo do transformador') miu0=pi*4e-7 miur=2000 Bmax=1.5 Ipnom=300 Pnom=PL/0.95 %95% rendimento

V2 =pi*Vdc_ref/(2*sqrt(2)) %Vrms Ro2=V2^2/PL I2=PL/V2 Nt1=1

Nt2=ceil(Ipnom*Nt1/I2)

Ac_cm2=1e4*V2/(4.44*Bmax*fn*Nt2) %4.44 para sinusóides

largura_ferro_cm=1 altura_ferro_cm=3.5 Comprimento_do_transf_cm=Ac_cm2/largura_ferro_cm diametro_cabo_primario_cm=2*sqrt(500/pi)/10

diametro_cabo_secundario_cm=2*sqrt((I2/2)/pi/100) sec_cabo_secund_mm2=pi*(diametro_cabo_secundario_cm*10/2)^2 folga_isolamento_cm=0.5

folga_isolamento_cm=(4-diametro_cabo_primario_cm-

2*diametro_cabo_secundario_cm)/2.0001 janela_transf_cm=ceil(diametro_cabo_primario_cm+2*diametro_cabo_secund

ario_cm+2*folga_isolamento_cm) largura_ext_cm=(2*largura_ferro_cm+janela_transf_cm)+2*diametro_cabo_s

ecundario_cm MagPath_Length_m=((janela_transf_cm+largura_ferro_cm)*2+2*altura_ferro

_cm+largura_ferro_cm)/100

Lmag=miu0*miur*Nt1^2*Ac_cm2*1e-4/(MagPath_Length_m) L_toroid_primario=miu0*miur*Nt1^2*(Comprimento_do_transf_cm/100)*log((

0.5*janela_transf_cm+largura_ferro_cm)/(0.5*janela_transf_cm))/(2*pi) Rt1 = (2.9e-6*Comprimento_do_transf_cm)/5 largura_meia_espira_cm=pi*largura_ferro_cm/2 Rt2=(2.9e-

6*Nt2*(Comprimento_do_transf_cm+largura_meia_espira_cm))/(Ipnom/Nt2/30

0) Pcobre=Rt1*Ipnom^2+Rt2*I2^2 Rmagp=V2^2/Pcobre

RMFe=MagPath_Length_m/(miu0*miur*Ac_cm2*1e-4) lgap_mm=1e3*Nt1*100*miu0/Bmax RMgap=lgap_mm*1e-3/( miu0*Ac_cm2*1e-4) LmagRM=1/(RMFe+RMgap) Lmag_verifica=1/(RMFe) miurEq=LmagRM/(miu0*Nt1^2*Ac_cm2*1e-4/(MagPath_Length_m)) peso_transf_kg=7.8e-3*(Comprimento_do_transf_cm*(largura_ext_cm^2-

janela_transf_cm^2)) Kweight=66.6

Page 103: Transformador para Robot de Inspecção de Linhas Aéreas

89

WA_cm2=janela_transf_cm^2 Ap=Ac_cm2*WA_cm2 peso_transf_transf_design_kg=Kweight*Ap^(3/4)/1e3

disp('Estima parâmetros') Lmage=Bmax*Nt1*Ac_cm2*1e-4/Ipnom Imag=V2/Nt2/(2*pi*fn*Lmage) %Primary characteristics Rt1e = (0.005*Pnom)/(Ipnom)^2 Znpe=(V2/Nt2)^2/Pnom Lt1e=0.05*Znpe/(2*pi*fn) %Secondary characteristics Znse=V2^2/(Pnom) Rt2e=(0.01*Pnom)/(Ipnom/Nt2)^2 Lt2e=0.01*Znse/(2*pi*fn) %Magnetization resistance and reactance Rtme=(V2/Nt2)^2/(0.001*Pnom) Ltme=8*Znpe/(2*pi*fn)

%Rsonant capacitor&Saturation characteristics C_res=(1/((Lmag)*4*pi^2*fn^2))/Nt2^2 Fibase=(Vdc_ref/Nt2)*(2/fn) Ibase=2*Ipnom