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DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS O TRÁFICO DE PESSOAS E A FRONTEIRA • Migração • Direitos Humanos • Exploração Sexual • Trabalho Escravo • Trabalho Decente • Ministério Público do Trabalho

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Direitos Humanos FunDamentais

o tráfico de pessoas e a fronteira

• Migração • Direitos Humanos• Exploração Sexual • Trabalho Escravo• Trabalho Decente • Ministério Público do Trabalho

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CíCero rufino Pereira

1. Procurador do Trabalho no Estado de Mato Grosso do Sul (MS); coordenador do Fórum de Trabalho Decente e Estudos sobre Tráfico de Pessoas (FTD-ETP); Mestre em Estudos Fronteiriços pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) – Campus Pantanal em Corumbá, com o tema Tráfico de Pessoas e Fronteira.

2. Natural de São Paulo-SP, onde se formou em Direito pela Faculdade de Direito da Universi-dade de São Paulo/USP; naquela cidade trabalhou na Secretaria Estadual de Segurança Pública, no então Segundo Tribunal de Alçada Civil (hoje incorporado ao Tribunal de Justiça), trabalhou como servidor da Justiça do Trabalho, como Fiscal do Trabalho e como Procurador Autárquico do INSS.

3. Exerceu a profissão de professor de graduação e pós-graduação (a qual ajudou a implantar) na UCDB – Universidade Católica Dom Bosco (em Campo Grande/MS). É Organizador de eventos jurídicos, palestrante no Brasil, ministrando palestra, também, na Universidade de Salamanca, na Espanha.

4. Autor do livro Efetividade dos Direitos Humanos Trabalhistas: O Ministério Público do Trabalho e o Tráfico de Pessoas (São Paulo: LTr, 2007) e um dos organizadores do livro Enfrentamento à Exploração Sexual Comercial Infantojuvenil (São Paulo: LTr, 2012).

5. Durante o segundo semestre de 2012, foi representante do Conselho Nacional do Ministério Público, junto ao Ministério da Justiça sobre o tema Tráfico de Pessoas. Desde 2013, é membro da Comissão de Direitos Fundamentais (CDDF), do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) atuando no GT 5, o qual trata de pessoas em situação de rua, catadores de material reciclado, pessoas desaparecidas e submetidos ao tráfico (de pessoas); bem como é integrante da comissão encarregada do monitoramento do II Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.

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CÍCERO RUFINO PEREIRA

Direitos Humanos FunDamentais

o tráfico de pessoas e a fronteira

• Migração • Direitos Humanos• Exploração Sexual • Trabalho Escravo• Trabalho Decente • Ministério Público do Trabalho

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Índice para catálogo sistemático:1. Brasil : Direitos humanos fundamentais trabalhistas 342.7:331(81)

Pereira, Cícero RufinoDireitos humanos fundamentais : o tráfico de pessoas e a fronteira / Cícero

Rufino Pereira. -- São Paulo : LTr, 2015.

Bibliografia.

1. Direito do trabalho - Brasil 2. Direitos humanos - Brasil 3. Efetividade 4. Fronteiras 5. Tráfico de seres humanos I. Título.

14-04877 CDD-342.7:331(81)

EDITORA LTDA.© Todos os direitos reservados

Rua Jaguaribe, 571CEP 01224-001São Paulo, SP – BrasilFone (11) 2167-1101www.ltr.com.brJunho, 2015

Versão impressa: LTr 4977.9 — ISBN: 978-85-361-8349-7

Versão digital: LTr 8646.2 — ISBN: 978-85-361-8340-4

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Ao meu pai, José Rufino Pereira (in memorian), pelo esforço, orgulho e apoio incondicional aos meus estudos, a vida toda.

À Laura Regina Echeverria da Silva, companheira e cúmplice de todas as horas e de todos os momentos.

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AgrAdecimentos

A DEUS, responsável maior pela vida e pelos atos e fatos do ser humano.

Ao meu orientador, Sérgio Ricardo Oliveira Martins, parceiro na construção desta obra, pela sua constante disponibilidade, vontade de aprimorar os temas discutidos e paciência, em virtude de minha falta de tempo em atendê-lo, por estar debruçado, constantemente, em minhas atividades de Procurador do Ministério Público do Trabalho.

Aos professores e às professoras do Mestrado em Estudos Frontei-riços (MEF), da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), ora representados pelo coordenador do curso, Professor Doutor Marco Aurélio Machado de Oliveira.

Aos professores Antônio Firmino de Oliveira Neto e Ana Paula Martins Amaral, pelas sugestões e críticas construtivas.

Aos colegas, alunos e alunas da 3ª turma do Mestrado em Estudos Fronteiriços (MEF) (turma iniciada em março de 2010), pela troca de ideias, discussões acadêmicas, parceria e solidariedade respeitosa no trato das questões afetas ao nosso curso.

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À especial amiga Nathalia Eberhardt Ziolkowski, feminista e defensora dos direitos da mulher, principalmente o enfrentamento à violência, que me influenciou na luta e no estudo desta nova temática.

Aos colegas do Ministério Público do Trabalho, no Estado de Mato Grosso do Sul (Procuradoria Regional do Trabalho da 24ª Região/MS), pelo apoio e companheirismo em minhas atividades e ao Mi-nistério Público do Trabalho Brasileiro (ao qual tenho a honra de pertencer), na figura de seu Procurador-Geral, Doutor Luís Antônio Camargo de Melo.

Às amigas Lilian Rodrigues da Silva e Marina Belini, pela dedica-ção e pelo carinho especial, no momento em que mais precisei.

Aos servidores da UFMS, representados pela funcionária Ramona, pela ajuda que me hipotecaram.

À amiga Evelin Franco Pereira, pelo apoio, icentivo e fé a mim dedicados.

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Quando vim de minha terra Despedi da parentaia

Eu entrei no Mato Grosso Dei em terras paraguaias...

(Cuitelinho) Milton Nascimento e Paulo Vanzolini

Toda viagem se destina a ultrapassar fronteiras, tanto dissolvendo-as como recriando-as.

Ao mesmo tempo que demarca diferenças, singularidades ou alteridades,

demarca semelhanças, continuidades, ressonâncias. Tanto singulariza como universaliza.

Octávio Ianni

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sumário

AbreviAturAs e siglAs ........................................................................ 15

ApresentAção ........................................................................................ 19

prefácio ................................................................................................... 21

introdução ............................................................................................ 23

1. efeito-fronteirA: legAlidAde e ilegAlidAde ........................ 27

1.1. O Fenômeno Fronteira: Atividades Lícitas e Ilícitas .......................... 27

1.2. O Efeito-fronteira ............................................................................... 35

2. tráfico internAcionAl de pessoAs e direitos HumAnos . 41

2.1. Tráfico Internacional de Pessoas (ou de Seres Humanos) e Trabalho Escravo ............................................................................................... 41

2.2. Direitos Humanos .............................................................................. 50

3. A fronteirA belA vistA/brAsil e bellA vistA norte/pA-rAguAi ..................................................................................................... 59

3.1. Características das Cidades-Gêmeas Bela Vista/BR e Bella Vista Nor-te/PY ................................................................................................... 59

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3.2. Efeito-Fronteira na Legislação, na Região de Bela Vista/BR – Bella Vista Norte/PY e o Tráfico Internacional de Pessoas .......................... 62

4. dinâmicA dA fronteirA e trAbAlHo escrAvo: Análise de um processo JudiciAl ....................................................................... 71

4.1. Interpretação Textual .......................................................................... 71

4.2. Análise de Conteúdo: Processo Judicial Trabalhista (Tráfico Interna-cional de Pessoas-Trabalho Escravo) e Categorização dos Dados ...... 73

4.3. Depoimentos e Sentença: Transcrição Parcial e Análise de Con-teúdo .................................................................................................. 75

4.4. Conclusão da Análise Feita ................................................................ 86

4.5. À Guisa de Primeiros Encaminhamentos ........................................... 87

5. demAis formAs de tráfico de pessoAs: explorAção se-xuAl e remoção de Órgãos HumAnos ....................................... 91

5.1. Tráfico de Pessoas para Fins de Exploração Sexual............................ 93

5.1.1. A Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes e o Trabalho Ilícito: Vínculo Trabalhista ou de Emprego ........... 97

5.2. Tráfico de Pessoas para Fim de Remoção de Órgãos Humanos ......... 104

6. migrAção, fronteirA e direitos HumAnos fundAmen-tAis ........................................................................................................... 107

6.1. A Questão da Migração ...................................................................... 107

6.2. A Fronteira ......................................................................................... 110

6.3. Direitos Humanos Fundamentais ....................................................... 112

6.3.1. Dimensões, eficácia (vertical e horizontal) dos direitos hu-manos fundamentais e inserção dos tratados no ordenamen-to jurídico brasileiro: princípio da vedação ao retrocesso e respeito ao mínimo existencial ................................................ 115

7. trAbAlHo decente e AtuAção do ministério público do trAbAlHo: A dignidAde e A sustentAbilidAde HumAnA ..... 119

7.1. Trabalho Decente ................................................................................ 119

7.1.1. O Fórum de Trabalho Decente e Estudos sobre Tráfico de Pes-soas (FTD-ETP) ....................................................................... 122

7.1.2. Os Planos Nacionais de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (PNETPs) ................................................................................ 125

7.2. Atuação do Ministério Público do Trabalho (MPT) ........................... 129

7.3. A Dignidade da Pessoa Humana ......................................................... 134

7.4. A Sustentabilidade Humana ............................................................... 137

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8. “novAs” discussões sobre o “velHo” tráfico de pessoAs nA modAlidAde trAbAlHo escrAvo: A emendA constitu-cionAl n. 81/2014, o protocolo e A recomendAção de 2014 à convenção n. 29 dA oit ...................................................... 141

8.1. O Trabalho Escravo e a Regulamentação do Art. 243 da Constitui-ção Federal, com a Redação que lhe deu a Emenda Constitucional n. 81/2014 .......................................................................................... 141

8.2. Os Princípios de Direitos Humanos e a Exclusão das Modalidades Condições Degradantes e Jornada Exaustiva de Trabalho do Crime de Trabalho Escravo (Aplicação da Recomendação de 2014 à Con-venção n. 29 da OIT) ......................................................................... 145

9. à guisA de considerAções finAis: educAção em direitos HumAnos ................................................................................................ 151

9.1. Nova abordagem sobre Direitos Humanos Fundamentais e Trabalho Decente ............................................................................................... 151

9.2. Educação em Direitos Humanos ........................................................ 155

9.3. Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos .......................... 156

9.4. O Protocolo, a Recomendação de 2014 à Convenção n. 29 da OIT e a Educação em Direitos Humanos ...................................................... 158

referênciAs ............................................................................................ 161

Anexos ...................................................................................................... 169

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AbreviAturAs e siglAs

ACP – Ação Civil Pública

Art. – Artigo

BR – Brasil

CA – Conselho de Administração

CDC – Código de Defesa do Consumidor

Cetrap/MS – Comitê Estadual de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas de Mato Grosso do Sul

CF/88 – Constituição Federal de 1988

CIT – Conferência Internacional do Trabalho

CLT – Consolidação das Leis do Trabalho

CMC – Conselho do Mercado Comum

CNI – Conselho Nacional de Imigração

CNPJ – Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica

Codemat – Cordenadoria Nacional de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho

Conaete – Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo

Conafre – Coordenadoria Nacional de Combate às Fraudes nas Relações de Emprego

Conafret – Coordenadoria Nacional de Combate às Fraudes nas Relações de Trabalho

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Conalis – Coordenadoria Nacional de Promoção da Liberdade Sindical

Conap – Coordenadoria Nacional de Combate às Irregularidades Traba-lhistas na Administração Pública

Conatpa – Coordenadoria Nacional de Combate à Exploração no Trabalho Portuário e Aquaviário

Coordigualdade – Coordenadoria Nacional de Promoção da Igualdade de Oportu-nidades

Coordinfância – Coordenadoria Nacional de Combate à Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente

CP – Código Penal

CP/MS – Comissão Permanente de Mato Grosso do Sul

CPIFCT/MS – Comissão Permanente de Investigação e Fiscalização das Condi-ções de Trabalho no Estado de Mato Grosso do Sul

Creia – Centro de Referência de Estudos da Infância e da Adolescência

CTPS – Carteira de Trabalho e Previdência Social

Dec. – Decreto

DIDH – Direito Internacional dos Direitos Humanos

DL – Decreto-Lei

ESCCA – Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes

Enafron – Estratégia Nacional de Segurança Pública nas Fronteiras

FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador

FTD-ETP – Fórum de Trabalho Decente e Estudos sobre Tráfico de Pessoas

Fundacentro-ER/MS – Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho – Escritório Regional em Mato Grosso do Sul

GECTIPAS – Grupos de Erradicação e Combate ao Trabalho Infantil e de Pro-teção ao Trabalhador Adolescente GMC (Grupo de Mercado Comum)

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IBISS-CO – Instituto Brasileiro de Inovações pró-Sociedade Saudável Centro Oeste

IC – Inquérito Civil

ICP – Inquérito Civil Público

LACP – Lei da Ação Civil Pública

Lompu – Lei Orgânica do Ministério Público da União

Mercosul – Mercado Comum do Sul

MP – Ministério Público

MPDFT – Ministério Público do Distrito Federal e Territórios

MPE – Ministério Público Estadual

MPF – Ministério Público Federal

MPM – Ministério Público Militar

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direitos Humanos fundamentais: o tráfico de pessoas e a fronteira 17

MPT – Ministério Público do Trabalho

MPU – Ministério Público da União

MS – Mato Grosso do Sul

MTE – Ministério do Trabalho e Emprego

NF – Notícia de Fato

OAB – Ordem dos Advogados do Brasil

OEA – Organização dos Estados Americanos

OIT – Organização Internacional do Trabalho

ONG – Organização não-governamental

ONU – Organização das Nações Unidas

PCD – Pessoa com deficiência

PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil

Pidesc – Pacto dos Direitos Internacional Econômicos, Sociais e Culturais

I PNETP – Primeiro Plano Nacional de Enfrentamento ao tráfico de Pessoas

II PNETP – Segundo Plano Nacional de Enfrentamento ao tráfico de Pessoas

PRT – Procuradoria Regional do Trabalho

PY – Paraguai

RIT – Repartição Internacional do Trabalho

SGT – Subgrupo de Trabalho

SNJ – Secretaria Nacional de Justiça

STF – Supremo Tribunal Federal

STJ – Superior Tribunal de Justiça

SUS – Sistema Único de Saúde

TAC – Termo de Ajuste (ou ajustamento) de Conduta

TP – Tráfico de Pessoas

TRT – Tribunal Regional do Trabalho

TSH – Tráfico de Seres Humanos

TST – Tribunal Superior do Trabalho

RR – Recurso de Revista

Undoc – Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crimes

UNODC – Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crimes (Unit Nations Office on Drugs and Crime)

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ApresentAção

Foi com grande alegria e imensa satisfação que recebi o convite para fazer a apresentação deste livro de autoria de Cícero Rufino Pereira, Direitos Humanos Fundamentais: o tráfico de pessoas e a fronteira.

Cícero Rufino Pereira é membro do Ministério Público do Trabalho (Procu-rador do Trabalho), há 15 anos (o recebi na PRT 24ª Região/MS, quando iniciou seu mister profissional, como membro do Ministério Público do Trabalho) e neste período atuou com brilhantismo, em Mato Grosso do Sul, inclusive respondendo por coordenadorias temáticas do MPT, tais como a que enfrenta ao trabalho escravo, enfrenta ao trabalho infantil, combate à discriminação no trabalho e emprego, que defende o meio ambiente do trabalho (saúde, segurança e higiene no trabalho), du-rante a qual foi coordenador do Fórum de Saúde, Segurança e Higiene no Trabalho.

Atualmente, Cícero Rufino coordena o Fórum de Trabalho Decente e Estudos sobre Tráfico de Pessoas (FTD-ETP). É representante do Conselho Nacional do Minis-tério Público (CNMP), perante o Ministério da Justiça, para o tema tráfico de pessoas. Também é integrante do GT5 (pessoas em situação de rua, catadores de materiais reci-cláveis, pessoas desaparecidas e submetidas ao tráfico de pessoas) da Comissão de Di-reitos Fundamentais (CDDF) do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP); atuando ainda na Comissão encarregada de monitoramento do II Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas. Estudioso e profissional atuante, Cícero Rufino Pereira recebeu diversos prêmios da sociedade civil e de entidades públicas.

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Diante de toda sua experiência de Procurador do Trabalho, pesquisador e pro-fessor, o autor brinda-nos com a presente publicação, a qual trata de temas atuais e relevantes, os quais estão mais próximos de nosso dia a dia do que podemos imaginar ou perceber.

Este livro é o resultado da dissertação de mestrado de seu autor, e, ao texto original da dissertação (referente aos quatro primeiros capítulos), agregou-se, após profunda reflexão, outros temas de importância capital; tais como outras formas de tráfico de pessoas que não o trabalho escravo (o qual já estava contemplado no capítulo 2, juntamente com direitos humanos), migração, trabalho decente, sus-tentabilidade humana e educação em direitos humanos. Os temas são profícuos e o autor do livro demonstra, magistralmente, a correlação e a interdisciplinaridade entre eles, abrangendo um grande leque do conhecimento das ciências humanas.

O título do livro, Direitos Humanos Fundamentais: o tráfico de pessoas e a fronteira, remete-nos à questão dos direitos humanos, inclusive na seara traba-lhista, tema já tratado pelo autor no seu livro Efetividade dos Direitos Humanos Trabalhistas: O Ministério Público e o Tráfico de Pessoas, da LTr Editora (esgo-tado) e que agora é aprofundado, principalmente ao tratar do tráfico de pessoas, na modalidade trabalho escravo. Por sua vez, a questão do tráfico de pessoas na modalidade exploração sexual e remoção de órgãos humanos é novidade, assim como a migração e a questão fronteiriça.

Enfim, Cícero Rufino Pereira apresenta-nos um trabalho técnico e com a profun-didade necessária para que possamos refletir e discutir os temas por ele propostos, principalmente acerca dos direitos humanos e fundamentais, o tráfico de pessoas, o trabalho escravo, a migração e a fronteira; sem se descuidar do trabalho decente, da sustentabilidade humana e a educação para os direitos humanos.

Luís Antônio CAmArgo de meLo

Procurador-Geral do Trabalho. Professor Universitário no IESB (Instituto de Educação Superior de Brasília).

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prefácio

Prefaciar um livro demanda um conhecimento da obra e principalmente ter acompanhado a sua construção. Por isso, agradeço ao Procurador do Trabalho Cícero Rufino Pereira a gentileza em me convidar para fazer este prefácio.

Juntamente com seu orientador, Professor Doutor Sérgio Ricardo Oliveira Martins, pude acompanhar a evolução constante do então mestrando Cícero Rufino Pereira, no Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu Mestrado em Estudos Fronteiriços, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campus do Pantanal, em Corumbá (MS) e posso atestar a qualidade de seu livro Direitos Humanos Fundamentais: o tráfico de pessoas e a fronteira, o qual é, em boa medida, resultado de sua dissertação de mestrado.

A fronteira tanto pode significar limite territorial de um Estado, como zona de interação e integração, comportando diversas classificações. A zona de fronteira é diferenciada, quanto ao modo de ser e de viver de sua população e de suas institui-ções, possuindo identidade própria, a exigir tratamento diferenciado, em relação às suas questões sociais, econômicas, culturais e jurídicas.

Diferenciada é também a questão do trabalho na fronteira, geradora de fluxos entre os dois lados nacionais. A fronteira, por suas assimetrias, pode ser um fator desencadeante de trabalho escravo. O objetivo geral deste livro (ao lado de ques-tões de migração, trabalho decente, sustentabilidade humana e educação em direitos

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humanos) é analisar o efeito fronteira – repercussão da existência da fronteira, em seu aspecto sociolaboral e seus possíveis reflexos no enfrentamento ao tráfico internacional de pessoas (com ênfase, mais não apenas, na modalidade trabalho escravo), principalmente através da zona fronteiriça Bela Vista (BR) e Bella Vista Norte (PY); sem se descurar de aspectos interdisciplinares que fazem com que o estudo alcance outras regiões fronteiriças e até mesmo áreas internas também de outros países.

Os objetivos específicos da publicação são contextualizar o efeito fronteira na legislação, inclusive na legislação sobre Direitos Humanos e observar, através de análise de um processo judicial, se a legislação atende à realidade fronteiriça da região estudada. Há, ainda a propositura de soluções às questões analisadas.

Por seu turno, os temas Direitos Humanos Fundamentais, Migração, Trabalho Decente, Sustentabilidade Humana e Educação em Direitos Humanos também são abordados no presente trabalho, com o intuito de complementar as questões afetas ao Tráfico de Pessoas (inclusive na modalidade exploração sexual e remoção ilegal de órgãos), bem assim a fronteira, como elemento ligado às migrações. O intuito final desse estudo é avaliar, se e em que medida, instrumentos de direitos humanos internacionais como o trabalho decente e tratados internacionais, a exemplo do acordo de residência do Mercosul, podem encaminhar soluções para o problema do tráfico de pessoas, inclusive na modalidade trabalho escravo e observar se a tutela da dignidade da pessoa humana pode ser difundida através da educação em direitos humanos.

Está de parabéns Cícero Rufino Pereira, por seu estudo profundo e esclare-cedor (buscando uma linguagem acessível) sobre estes diversos temas e ao não se furtar a uma sugestão de solução para as questões que se propôs a estudar.

mArCo AuréLio mAChAdo de oLiveirA

Coordenador da Pós-graduação Strictu Sensu do Programa de Mestrado em Estudos Fronteiriços da UFMS.

Professor-Doutor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

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direitos Humanos fundamentais: o tráfico de pessoas e a fronteira 23

introdução

O estudo das fronteiras internacionais tem, cada vez mais, despertado o in-teresse, não somente da comunidade científica, mas também da sociedade como um todo. Realmente, seja qual for o país, sua economia ou seu território, as suas fronteiras e os fenômenos que as cercam, como o chamado efeito-fronteira (refle-xos da existência da fronteira e de suas características próprias), tais elementos são cada vez mais importantes no mundo de hoje, tanto no sentido de limite, quanto no sentido de interação e integração das zonas fronteiriças.

As organizações econômicas existentes na fronteira, como forma de superar os limites estatais e políticos, criam modelos próprios de intercâmbio porosos, na circulação de bens e pessoas, para abrir flancos que assegurem a intensidade das trocas, levando a população a vivenciar relações múltiplas e horizontais. A atuação dos organismos econômicos consagra o modo de ser e de viver da comunidade fronteiriça, com maior concisão e sucesso que a atuação dos organismos políticos e estatais. Tal constatação se dá a partir de técnicas de observação direta espontânea e também por ser voz corrente nas regiões fronteiriças. Por exemplo, a circulação de bens e pessoas nem sempre obedece ao que determinam os organismos polí-ticos e estatais (legislação e governos), mas sim, muitas vezes, o que prevalece é a atuação dos organismos econômicos (empresas que vendem e transportam as mercadorias, bem como os agentes autonômos e pessoas físicas em geral), os quais circulam sem qualquer documentação ou pagamento de tributos.

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Ora, nas regiões fronteiriças (respeitando-se a questão de cada local), assim como nas demais regiões internas de cada país, é possível acontecer todo tipo de atividade, inclusive econômicas lícitas e ilícitas (nos casos da região de fronteira, distante dos grandes centros e formada, em geral, por pequenas cidades, observa--se o “fervilhar/descompasso” da fronteira real, dentro do contexto jurídico que o Estado-Nação, por meio de seus organismos políticos e jurídicos, busca impor). Caso de atividade econômica ilícita é o, assim chamado, tráfico internacional de pessoas (ou de seres humanos), na modalidade trabalho escravo, que se iniciou, no presente estudo, no local onde ocorreu arregimentação de trabalhadores, na região da fronteira de Bela Vista, Estado de Mato Grosso do Sul, Brasil, de um lado, e Bella Vista Norte, distrito do Departamento de Amambay, Paraguai, do outro.

Tais trabalhadores terminaram por laborar em propriedade localizada na ci-dade de Campo Grande/MS, local onde foram resgatados por uma equipe formada pelo Ministério do Trabalho e Emprego, pela Polícia Federal e pelo Ministério Público do Trabalho, originando um processo judicial trabalhista (Ação Civil Pú-blica), no qual se buscou a responsabilização trabalhista pelo tráfico internacional de pessoas, na modalidade trabalho escravo, proposta pelo Ministério Público do Trabalho, participando o presente autor, profissionalmente, na qualidade de mem-bro do Ministério Público do Trabalho, em algumas fases do processo.

Numa reflexão superficial, pode-se entender que a solução para casos como este, ora trazido à baila, é a aplicação, na zona de fronteira internacional estudada (se cabível, ante as especificidades da região fronteiriça), das regras de Direitos Humanos, em geral, ou, mais especificamente, dos Direitos Humanos Trabalhistas e do Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH) (por exemplo, Protocolo ou Convenção de Palermo: tratado sobre o crime organizado internacional), no particular, passando pela observância das Convenções da Organização Interna-cional do Trabalho (OIT). Mas será que o efeito-fronteira não terá influência no episódio relatado no processo judicial objeto de estudo?

O objetivo geral deste trabalho é estudar o efeito-fronteira, seus aspectos so-ciolaborais e seus possíveis reflexos no enfrentamento ao tráfico internacional de pessoas (trabalho escravo) e na aplicação dos direitos humanos fundamentais, a partir da análise de fatos explicitados em um processo judicial trabalhista, envol-vendo trabalhadores da fronteira entre as cidades de Bela Vista, em Mato Grosso do Sul, Brasil, e Bella Vista Norte, Departamento de Amambay, Paraguai. Os obje-tivos específicos são: a) contextualizar o efeito-fronteira na legislação nacional e na internacional (inclusive de Direitos Humanos); b) observar, a partir da análise das leis aplicáveis à espécie e do processo judicial, se a legislação estudada atende à realidade fronteiriça de Bela Vista (BR) e Bella Vista Norte (PY); c) verificar a incidência do tráfico de pessoas e da migração na região de fronteira e d) determi-nar se o trabalho decente, a sustentabilidade humana e a educação para os direitos humanos podem encaminhar possíveis soluções para as questões postas. Tudo complementado, como indicado alhures, pelo necessário estudo sobre demais

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modalidades de tráfico de pessoas, migração, trabalho decente, sustentabilidade humana e educação para os direitos humanos.

Metodologicamente, foram utilizados os seguintes procedimentos: pesquisa e revisão bibliográfica em torno das categorias conceituais fronteira, efeito-fronteira, tráfico internacional de pessoas, trabalho escravo, legislação pertinente, direitos humanos fundamentais, migração, trabalho decente, sustentabilidade humana e educação em direitos humanos, exploração sexual, tráfico de órgãos, dignidade da pessoa humana, atuação do MPT e Protocolo e Recomendação de 2014 à Conven-ção n. 29 da OIT (trabalho escravo e tráfico de pessoas). Também estuda-se de-poimentos e sentença em processo judicial trabalhista (Ação Civil Pública – ACP), proposto pelo Ministério Público do Trabalho (MPT).

No Capítulo 1 deste estudo, serão tratados temas afetos à Fronteira e ao Efei-to-Fronteira, com especial atenção para esse último, o qual é a característica pró-pria da região fronteiriça, em decorrência da existência da própria fronteira e de suas especificidades, encontradas, apenas e tão somente, na própria zona fronteiri-ça (podendo ter reflexos para além desta). Deve ser referido que o estudo em tela tem como um dos pontos de destaque o fato de se utilizar de pesquisa documental monográfica (processo judicial), em que se analisa caso judicial concreto acerca de tráfico internacional de pessoas, na modalidade trabalho escravo, através da fronteira Bela Vista/Brasil e Bella Vista Norte/Paraguai.

Estudar-se-ão, também, os temas legalidade (obediência à legislação nacional e à internacional acerca das questões fronteiriças) e ilegalidade (crimes e contra-venções de diversas ordens que podem ocorrer na e através da fronteira estudada, inclusive o trabalho escravo) na região fronteiriça, além dos reflexos do efeito--fronteira na legislação nacional e na internacional sobre o tema ora tratado. É cer-to que os citados reflexos também afetam outros tipos de crimes e contravenções, tais como contrabando e descaminho, sonegação de tributos e tráfico de drogas e armas, fazendo incidir o código penal e a legislação proibitiva desses crimes, inclu-sive tratados internacionais.

O método do pensamento complexo, estudado por Edgar Morin, será de gran-de valia para se tentar compreender os aspectos sociais, econômicos (lícitos e ilíci-tos), culturais e jurídicos que o presente trabalho, em alguns momentos, apresenta. Tais aspectos podem surgir, pois na zona de fronteira existem interações, assim como na complexidade do pensamento observada por Edgar Morin, ao tratar da sociedade geradora de interações entre os indivíduos.

Os Direitos Humanos Trabalhistas e a fronteira são destaques no Capítulo 2 (Tráfico Internacional de Pessoas e Direitos Humanos), pois há uma lógica ao se entender que, por suas características universais, os Direitos Humanos propaga-dos pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e por outros organismos internacionais podem servir de arrimo para os trabalhadores vítimas de trabalho escravo, mesmo estando estes numa região de fronteira.

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Já no Capítulo 3, a região de fronteira de Bela Vista/BR e Bella Vista Norte/PY é esmiuçada, utilizando-se, inclusive, a técnica de observação direta espontânea, principalmente em suas características de cidades-gêmeas, e a influência do efeito--fronteira na referida região, passando pelo tráfico internacional de pessoas.

Por sua feita, no Capítulo 4, ocorre a interpretação e a análise, com técnicas interpretativas baseadas, principalmente, na análise de conteúdo dos depoimentos, colhidos na Polícia Federal, dos trabalhadores paraguaios, bem como dos depoi-mentos das testemunhas da parte autora da ação (MPT), colhidos no processo judicial de responsabilização “trabalhista” (apenas esta) do trabalho escravo, além da sentença. Os referidos trabalhadores chegaram ao local de trabalho, transpor-tados através da região de fronteira estudada (após terem sido arregimentados na fronteira indigitada), o que demonstra a dinâmica da citada fronteira em expandir seus efeitos para além de seu território.

Após todas as discussões e análises até então feitas acerca do objeto do estudo em tela, no item 4.5 deste trabalho (primeiros encaminhamentos), buscou-se de-monstrar o resultado parcial da pesquisa e, principalmente, sugerir, atentando-se à realidade da zona fronteiriça Bela Vista/Brasil e Bella Vista Norte/Paraguai (mas que servem para diversas outras áreas de fronteira), instrumentos para prevenção do tráfico internacional de pessoa, inclusive na modalidade trabalho escravo, e enfrentamento a ele.

No Capítulo 5, o tema Demais formas de Tráfico de Pessoas é tratado com ênfase no estudo da exploração sexual e na remoção dos órgãos humanos. No Capítulo 6, a Migração, a Fronteira e os Direitos Humanos Fundamentais são de-talhados, indicando-se as convergências entre os três temas. O Capítulo 7 trata do Trabalho Decente e da Sustentabilidade Humana, como temas que dialogam e estão relacionados entre si, passando pela dignidade da pessoa humana e atuação do MPT. O Capítulo 8 é de grande valia para os estudiosos e aplicadores dos temas tratados neste trabalho, pois disseca as “novidades” trazidas pelo Protocolo e Reco-mendação de 2014 à Convenção n. 29 da OIT e enfrenta a questão da pretensão de se excluir do crime de redução à condição análoga à de escravo (art. 149 do CP) as “condições degradantes de trabalho e a jornada exaustiva”. Tratando ainda da EC n. 81/2014, a qual regulamentou o art. 243, da Constituição, determinando a ex-propriação de propriedades urbanas e rurais onde ocorra a exploração do trabalho escravo. Finalmente, no Capítulo 9, são traçadas as considerações finais e é indica-da a educação em direitos humanos como possível solução para a problemática do trabalho escravo (ou de outras formas de tráfico de pessoas), na região fronteiriça (ou em outras regiões), decorrente da migração; destacando-se o Protocolo e a Recomendação de 2014 à Convenção n. 29 da OIT.

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efeito-fronteirA: legAlidAde e ilegAlidAde

1.1. o fenômeno fronteirA: AtividAdes lícitAs e ilícitAs

A expressão fenômeno merece ser explicada, porque, para uns, ela significa apenas o “fato”, enquanto, para outros, a observação que se tem do fato é que deve ser chamada de fenômeno (RAMPAZZO, 2002). Neste trabalho, a palavra fenôme-no será utilizada na segunda acepção: fato observado.

A globalização ou mundialização, termo preferido pelos autores franceses, é considerada uma maneira, por meio de elementos econômicos e políticos (dentre outros), de “destruir as fronteiras” do Estado-Nação. Todavia, a globalização, ape-sar de seu conteúdo doutrinário, não tem conseguido o seu intento na práxis, ou seja, na efetividade do dia a dia.

A base física e a geográfica do Estado-Nação é o território, mas este resulta também de relações humanas (sociais, culturais, políticas e jurídicas) sobre um receptáculo físico e modificável pela sociedade que o habita (COSTA, 2009, p. 62 apud SILVA e AMÂNCIO, 2009, p. 287). Por sua feita, territorialidade é o uso que as pessoas fazem do território, utilizando a terra, organizando-se em sociedade, sendo (a territorialidade) a “expressão geográfica do poder social” (idem, p. 65).

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Nos dias que correm, o território deve ser protagonista, pois a territorialidade cria a identidade (inclusive cultural) para tal.(1)

Atualmente, há uma reconfiguração espacial da fronteira, com modificação das relações espaço/tempo e um novo processo de funcionalização do território, revisando o ritmo das fronteiras; ocorrendo um aumento da população fronteiriça em todos os países das Américas. No caso da América do Sul, a complexidade des-ses lugares faz surgir uma incompletude aguda (OLIVEIRA, 2005).

De fato, existem inúmeros locus de resistência ao pensamento de que estamos em plena era do fim das fronteiras, sendo um dos mais evidentes territórios estu-dados sobre tal assunto o exemplo das fronteiras internacionais.

Santos (1999), analisando os efeitos da globalização, indica, claramente, que “se o capitalismo tem hoje dimensões internacional, multinacional, mundial, ele tam-bém não perdeu sua dimensão nacional”. Baseando-se em Peter Dicken, o mesmo Santos (1999) informa, com relação aos estados, que estes “não apenas [...] ainda são atores importantes, como têm a capacidade de encorajar ou inibir a integração global ou nacionalmente responsável, frente aos desígnios das empresas transnacionais”.

Rafestin (1993) fez críticas aos estudos clássicos acerca da natureza e da fun-ção das fronteiras internacionais. Para ele, algumas abordagens teriam negligen-ciado a importância das concepções de fronteira e de suas funções e efeitos sobre a organização espacial. O mesmo autor afirma que a fronteira constituiu não somen-te um meio de diferenciação do território, mas também um meio de diferenciação temporal (é a visão Marxista de que o tempo histórico é o tempo das relações so-ciais). O referido autor entende ainda que novas abordagens sobre o tema fronteira estão criando um mito (uma nova ortodoxia) acerca do “fim das fronteiras” (das fronteiras-limite).

Na História da Humanidade, o tempo e o espaço são realidades capazes de ser conversíveis mutuamente. Por seu turno, as técnicas, conforme afirma Milton Santos: “de um lado, dão-nos a possibilidade de empiricização do tempo e, de outro, a possibilidade de uma qualificação precisa de materialidade sobre a qual as sociedades humanas trabalham.”(2)

O espaço e o tempo são unidos por meio da técnica que o homem utiliza no trabalho. Essa mesma técnica fundamenta tanto uma teoria do tempo, quanto uma teoria do espaço. Por outro lado, o território constitui a primeira noção espacial da relação entre o ser humano e a natureza, durante o processo histórico (mantido até hoje) da produção dos bens (OLIVEIRA NETO, 2009, p. 46).

(1) Abordagem referente à aula teórica da disciplina Território, Fronteira e Desenvolvimento, ministrada pelo Professor Doutor Tito Carlos Machado de Oliveira, de 1º a 03.03.2011, no Mestrado em Estudos Fronteiriços (MEF) no campus Pantanal da UFMS, em Corumbá.

(2) SANTOS, Milton. A natureza do espaço – técnica e tempo – razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1999, p. 44.

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A extensão espacial delimitada, onde um Estado exerce sua soberania (poder de fazer e exercer direitos coercitivamente), caracteriza um território, que é “deli-mitado” (para a doutrina tradicional) por fronteiras.

O limite internacional, segundo Machado (2010, p. 60-61):

Foi estabelecido como conceito jurídico associado ao Estado territorial no sentido de delimitar espaços mutuamente excludentes e definir o perímetro máximo de controle soberano exercido por um Estado central. Apesar de não ter vida própria nem existência material (por definição, a linha abstrata e não pertence a nenhum lado), o limite internacional não é uma ficção e sim uma realidade geográfica que gera outras realidades. Pode inclusive ser materializa-do, como é o caso recente do muro erguido entre Estados Unidos e México, embora seja por ora uma exceção à regra. [...] Numa espécie de “causação cir-cular cumulativa”, as realidades geradas pelo limite reforçam o próprio limite ao promover a organização e regulação daquilo que delimita, ou seja, o território e seu conteúdo. [grifo nosso]

A referência de Lia Osório sobre a “causação circular cumulativa” encontra paridade na expressão “circularidade retroativa/autoprodutiva”, de Edgar Morin, a qual será mais bem analisada quando for discutido, mais profundamente, o efeito--fronteira.

As características comerciais, sociais e humanas existentes em regiões de fron-teira são próprias e particulares daqueles locais, gerando efeitos que se estendem pelo território das nações envolvidas. É o efeito-fronteira, o qual, inclusive, tam-bém está referido, ainda que indiretamente, nas palavras de Rebeca Steiman:

É consensual na literatura especializada que a presença de um limite interna-cional provoca uma série de efeitos sobre a sua área imediata, cuja extensão é difícil determinar. Cientes desses efeitos, alguns Estados criaram territórios fronteiriços sobre os quais incidem regras diversas de uso do solo, circulação de pessoas e mercadorias e composição do capital de indústrias e empresas ligadas ao setor primário. Esses territórios, chamados doravante de faixas de fronteira, usufruem muitas vezes de privilégios fiscais e, no caso brasileiro, foram alvo de diversos projetos de colonização e povoamento que visavam a assegurar o seu controle.(3) [grifo nosso]

Com relação aos “circuitos da ilegalidade” que permeiam a questão fronteiri-ça, Machado (2000), após observar o crescimento de atividades ilegais, em países pobres e também nos ricos, propõe linha de argumentação no sentido de que o

(3) STEIMAN, Rebeca. Brasil e América do Sul: questões institucionais de fronteira. Disponível em:<http://acd.ufrj.br/fronteiras/pdf/REBECAlegislatlas.pdf>. Acesso em: 26 maio 2011.

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aumento da sensibilidade de estados nacionais e organismos internacionais em re-lação às atividades ilegais deriva da situação duvidosa das leis e normas que regem as atividades legais. E arremata a festejada autora: “a antiga demarcação entre legal (bem) e ilegal (mal) transformou-se numa ‘zona cinzenta’ caracterizada por deci-sões conflitantes sobre o uso do estatuto de legalidade/ilegalidade tanto no espaço global como nos espaços nacionais.” A conclusão a que se chega é que surgem grandes espaços com fronteiras flutuantes, das quais emergem fenômenos sociais, em função das propriedades estruturais das redes que se formam e para as quais o estatuto da legalidade/ilegalidade erigido a partir de cada estado não tem validade, exceto por pressão ou negociação (MACHADO, 2000).

Está em curso uma reconfiguração espacial da fronteira, modificando-se as relações espaço-tempo, ocorrendo a funcionalização do território, concedendo-se novas características ao espaço fronteiriço.

Oliveira (2009) constata:

Ser a fronteira o ambiente natural das articulações de integração entre Estados--Nações, principalmente através das cidades-gêmeas, nas quais a intensa co-municação, integração, interação e variadas dinâmicas de articulações a afastar qualquer insinuação do fim das fronteiras, ou de que as mesmas estão estáticas.

Na mesma obra, o referido autor (2009) afirma, textualmente:

Cada fronteira é uma fronteira, pesa sobre este espaço toda uma composição étnica nada uniforme e um tipo de colonização raramente isócrona. E, sobre tudo, sobrepõem preconceitos, ambiguidades, rivalidades, ilicitudes, concor-rências desleais; ao mesmo tempo em que também deflagram feitios agradá-veis de convivência e harmonia entre culturas diferentes.

A ligação entre território e fronteira é feita por Cataia (2007), ao perceber que, em face da globalização, a compartimentação do espaço mundial revela duas face-tas contraditórias e solidárias: as fronteiras devem delimitar o território nacional (princípio da soberania internacional), mas a economia transnacionalizada opera fluxos financeiros e normativos que atravessam as fronteiras.

Território pode ser definido como um espaço geográfico específico e delimi-tado sobre o qual o ser humano e a natureza (inter)agem. Souza (2000, apud Britts e Costa, 2009, p. 162), entende que território é:

[...] um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder [...] um campo de forças, uma teia ou rede de relações sociais que, a par de sua comple-xidade interna, define ao mesmo tempo um limite, uma alteridade, a diferença entre nós (o grupo, os membros da coletividade ou comunidade, os insiders) e os “outros” (os de fora, os estranhos, os outsiders) (SOUZA, 2000, p. 78).