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CENTRO UNIVERSITÁRIO RITTER DOS REIS ÉRICA ARRUÉ DIAS A REINSERÇÃO DA LÃ GAÚCHA NO MERCADO DA MODA: ANÁLISE DO CICLO DE VIDA DE UM PRODUTO SUSTENTÁVEL Porto Alegre 2017

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CENTRO UNIVERSITÁRIO RITTER DOS REIS

ÉRICA ARRUÉ DIAS

A REINSERÇÃO DA LÃ GAÚCHA NO MERCADO DA MODA: ANÁLISE DO CICLO DE VIDA DE UM PRODUTO SUSTENTÁVEL

Porto Alegre

2017

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ÉRICA ARRUÉ DIAS

A REINSERÇÃO DA LÃ GAÚCHA NO MERCADO DA MODA: ANÁLISE DO CICLO DE VIDA DE UM PRODUTO SUSTENTÁVEL

Dissertação apresentada ao programa de Pós Graduação em Design do Centro Universitário Ritter dos Reis, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Design.

Orientadora: Profª. Dra. Anne Anicet

Porto Alegre

2017

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

D543r Dias, Érica Arrué

A reinserção da lã gaúcha no mercado da moda: análise do ciclo de vida de um produto sustentável / Érica Arrué Dias – 2017.

151 f; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Design) – Centro Universitário

Ritter dos Reis, Faculdade de Design, Porto Alegre, 2017.

Orientador: Dra. Anne Anicet

1. Lã. 2. Sustentabilidade. I. Anicet, Anne. II. Título. CDU 687

Ficha catalográfica elaborada no Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Dr. Romeu Ritter dos Reis

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ÉRICA ARRUÉ DIAS

A REINSERÇÃO DA LÃ GAÚCHA NO MERCADO DA MODA: ANÁLISE DO CICLO DE VIDA DE UM PRODUTO SUSTENTÁVEL

Dissertação defendida e aprovada como requisito parcial para a obtenção do título

de Mestre em Design pela banca examinadora constituída por:

_______________________________________

Professora Drª. Anne Anicet

Orientadora – Centro Universitário Ritter dos Reis

_______________________________________

Professora Dr. Carla Pantoja

Banca Examinadora– Centro Universitário Ritter dos Reis

_______________________________________

Professora Dr. Júlio Van der Linden

Banca Examinadora – Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Porto Alegre

2017

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a CAPES – por possibilitar a realização dessa

pesquisa.

Agradeço a todos os professores do curso de pós-graduação em Design, do

Centro Universitário Ritter dos Reis, por todo o conhecimento compartilhado e todo

aprendizado adquirido ao longo desses dois anos de curso, em especial às

Professoras Fabiane e Carla.

A minha orientadora, Professora Anne Anicet, pela parceria nesse projeto,

por acreditar em mim e por fazer parte da minha vida acadêmica e profissional.

Aos professores Júlio Van der Linden e Carla Pantoja por dedicarem seu

tempo no acompanhamento dessa pesquisa, enriquecendo-a com suas

considerações.

As minhas colegas, e hoje amigas, Ivna, Lilian, Juliana e Vanessa por

tornarem essa jornada mais leve, dividindo as angústias e multiplicando as risadas.

Ao Lucas, pelo apoio, incentivo e compreensão ao longo desses dois anos.

Obrigada pelo cuidado, pelo carinho, pelas planilhas, correções e traduções. Fizeste

dos meus trabalhos, teus trabalhos.

E por fim, e mais importante, agradeço aos meus pais e minha irmã por

sempre incentivarem meu crescimento pessoal e profissional, por serem exemplos

de que não existem fronteiras e limites quando se almeja crescer. Agradeço também

por todo carinho e cuidado durante os períodos em que o stress e a ansiedade se

tornaram sintomas físicos. Amo vocês.

Mais uma vez muito obrigada, todos desempenharam papel importante na

realização e finalização dessa pesquisa.

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RESUMO

A presente dissertação tem como foco principal analisar o ciclo de vida de um

produto de moda que utiliza a lã como sua única matéria-prima, realizando um

Estudo de Caso de toda a cadeia envolvida no desenvolvimento de produtos de uma

marca gaúcha de moda sustentável. Logo o objetivo é estudar todos os caminhos

que a peça percorre, desde a extração da matéria-prima e seus processos de

beneficiamento, até sua comercialização e reciclagem, para assim articular a teoria à

prática do desenvolvimento de produtos sustentáveis e seus respectivos ciclos de

vida. Para tanto, será estudada a cadeia produtiva da lã e seu histórico de produção

no Estado Rio Grande do Sul, bem como as teorias sobre sustentabilidade ampla e

ciclo de vida de produtos sustentáveis. A metodologia utilizada nessa pesquisa

consistiu de natureza qualitativa, partindo da revisão bibliográfica, entrevistas semi

estruturadas e observações em campo. Como resultado identifica-se oportunidades

do sistema produtivo da marca estudada que podem ser alteradas a fim de ampliar

aos aspectos da sustentabilidade.

Palavras-chave: Sustentabilidade, Design, Moda, Lã.

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ABSTRACT

This work seeks to establish if the wool produced in the state of Rio Grande do Sul is

able to be reinserted into the fashion market under sustainable approach, both in

terms of raw material, and in terms of process. For this, more than know about the

qualities of fiber, the research aims to investigate all steps involving the production of

matter, from the sheep shearing to the wire itself, through field observations and

semi-structured interviews with producers and suplliers of wool in Rio Grande do Sul.

Before going to the field searching for practice answers, the work presents theoretic

references about the fiber caracteristics, its production history, steps and concepts of

design, sustainable fashion and slow fashion. As a result, it identifies opportunities of

the productive system of the brand studied that can be altered in order to extend to

the aspects of sustainability.

Keywords: Sustainability, Design, Fashion, Wool.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Metodologia ............................................................................................... 20!

Figura 2 – Fases do Ciclo de Vida ............................................................................. 42!

Figura 3 - Princípios norteadores de design para o ciclo de vida .............................. 45!

Figura 4 - Comparação entre ciclo de vida de anel fechado e anel aberto ............... 47!

Figura 5 - Síntese comparativa de moda lenta e rápida ............................................ 51!

Figura 6 - Estrutura da fibra ....................................................................................... 65!

Figura 7 - Raça Merino .............................................................................................. 69!

Figura 8 - Raça Ideal ................................................................................................. 70!

Figura 9 - Raça Corriedale ........................................................................................ 71!

Figura 10 - Processo de esquila ................................................................................ 73!

Figura 11 - Método manual ........................................................................................ 74!

Figura 12 - Método a máquina ................................................................................... 75!

Figura 13 - Método tally hi ......................................................................................... 76!

Figura 14 - Carda manual .......................................................................................... 77!

Figura 15 - Carda elétrica .......................................................................................... 78!

Figura 16 - Carda Industrial ....................................................................................... 79!

Figura 17 - Fiação artesanal ...................................................................................... 79!

Figura 18 - Fiação industrial ...................................................................................... 80!

Figura 19 - Processo de micronagem ........................................................................ 95!

Figura 20 - Scanner OFDA ........................................................................................ 96!

Figura 21 - Scanner fazendo leitura .......................................................................... 97!

Figura 22 - Esquila ................................................................................................... 102!

Figura 23 - Processo de fiação ................................................................................ 104!

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Figura 24 - Processo de secagem ........................................................................... 106!

Figura 25 - Artesã .................................................................................................... 108!

Figura 26 - Artesã trabalhando ................................................................................ 108!

Figura 27 - Sistematização do ciclo de vida dos produtos da marca AMG ............. 112!

Figura 28 - Pré produção ......................................................................................... 114!

Figura 29 - Emissão de Co2 no transporte na etapa de pré produção .................... 117!

Figura 30 - Produção ............................................................................................... 118!

Figura 31 - Tag da empresa AMG ........................................................................... 119!

Figura 32 - Emissão de Co2 no transporte na etapa de produção .......................... 120!

Figura 33 - Descarte ................................................................................................ 122!

Figura 34 - Respostas questionário de impacto ...................................................... 124!

Figura 35 - Ciclo de vida e oportunidades para ampliação da sustentabilidade ..... 125!

Figura 36 - Ciclo de anel fechado e síntese de oportunidades em cada etapa ...... 126!

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Classificação da Lã .................................................................................. 71!

Quadro 2 – Características medidas pelo scanner OFDA 2000. ............................... 97!

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SUMÁRIO!

1.! INTRODUÇÃO .................................................................................................... 13!

1.1! PROBLEMA DE PESQUISA ......................................................................... 15!

1.2! OBJETIVOS DE PESQUISA ......................................................................... 15!

1.2.1! Objetivo Geral ........................................................................................... 15!

1.2.2! Objetivos Específicos .............................................................................. 16!

1.3! JUSTIFICATIVA ............................................................................................. 16!

2.! METODOLOGIA ................................................................................................. 19!

2.1! PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...................................................... 20!

2.1.1.! Pesquisa Bibliográfica ............................................................................ 21!

2.1.2! Pesquisa Documental .............................................................................. 21!

2.1.2.! Estudo de Caso ........................................................................................ 22!

2.2! MÉTODO DE COLETA DE DADOS .............................................................. 23!

2.3! ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS .............................................. 27!

3! DESIGN E SUSTENTABILIDADE ....................................................................... 29!

3.1! AS TRANSFORMAÇÕES DO PAPEL DO DESIGN PERANTE A SUSTENTABILIDADE AMPLA ............................................................................... 31!

3.2! ECO DESIGN E CICLO DE VIDA ................................................................. 39!

4! CICLO DE MODA E SUSTENTABILIDADE ....................................................... 49!

4.1! CONSUMO DE MODA .................................................................................. 54!

4.2! CONCEITO DE INOVAÇÃO EM MODA ........................................................ 58!

5! SOBRE A LÃ ....................................................................................................... 63!

5.1! CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DA LÃ ...................................................... 65!

5.2! A PRODUÇÃO DE LÃ NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL ................ 67!

5.2.1! Histórico .................................................................................................... 67!

5.2.2! Raças Produzidas no Estado .................................................................. 69!

5.3! CADEIA DE PRODUÇÃO .............................................................................. 72!

5.3.1! Esquila ....................................................................................................... 72!

5.3.1.1! Método Manual Ou A Martelo .................................................................. 73!

5.3.1.2! Método mecânico ou a máquina ............................................................. 74!

5.3.1.3! Método Tally Hi Ou Australiano ............................................................... 75!

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5.3.2! Lavagem .................................................................................................... 76!

5.3.3! Cardagem .................................................................................................. 77!

5.3.4! Fiação ........................................................................................................ 79!

6! ESTUDO DE CASO ............................................................................................. 81!

6.1! SOBRE A EMPRESA .................................................................................... 81!

6.2! APRESENTAÇÃO DAS ENTREVISTAS ....................................................... 83!

6.2.1! Entrevista com a designer da AMG ........................................................ 83!

6.2.2! Entrevista com fornecedor de lã ............................................................. 89!

6.2.3! Entrevista com artesãs ............................................................................ 91!

6.3! RELATO DAS OBSERVAÇÕES ................................................................... 93!

6.3.1! Manejo animal ........................................................................................... 94!

6.3.2! Esquila ..................................................................................................... 101!

6.3.3! Lavagem e Cardagem ............................................................................. 103!

6.3.4! Fiação ...................................................................................................... 104!

6.3.5! Processo Criativo ................................................................................... 105!

6.3.6! Tingimento e Pré-Encolhimento ........................................................... 106!

6.3.7! Confecção ............................................................................................... 107!

6.3.8! Comercialização ..................................................................................... 109!

6.3.9! Retorno das peças .................................................................................. 109!

7! ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS ........................................................... 111!

7.1! ANÁLISE DE CONTEÚDO .......................................................................... 111!

7.1.1! Pré-Produção .......................................................................................... 114!

7.1.2! Produção ................................................................................................. 117!

7.1.3! Descarte ................................................................................................... 121!

7.2! ANÁLISE ATRAVÉS DO QIA ...................................................................... 122!

8! CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 128!

8.1! RESULTADOS ALCANÇADOS ................................................................... 128!

8.2! DIFICULDADES E LIMITAÇÕES DA PESQUISA ....................................... 130!

8.3! CONTRIBUIÇÕES DA PESQUISA ............................................................. 131!

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 133!

APÊNDICE 1 – ROTEIRO DE ENTREVISTA FORNECEDOR .............................. 138!

APÊNDICE 2 - ROTEIRO DE ENTREVISTA DESIGNER ...................................... 139!

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APÊNDICE 3 - ROTEIRO DE ENTREVISTA ARTESÃ .......................................... 140!

APÊNDICE 4 – LEI DO RESÍDUO SÓLIDO ........................................................... 141!

ANEXO 1 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ................................ 144!

ANEXO 2 – Termo de Autorização de Participação de Pesquisa ...................... 145!

ANEXO 4 – RELATÓRIO OFDA ............................................................................. 150!

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13 1. INTRODUÇÃO

O conceito de desenvolvimento sustentável data de 1960 e remete a crise

ambiental do mundo e suas graves consequências para a humanidade. As

discussões da época se referiam, principalmente, à insustentabilidade do modelo de

produção de artefatos dominante até então, de desenvolvimento baseado no

consumo imediato e crescimento econômico acelerado (PAPANEK, 1971).

Conforme Papanek (1971) com a crescente crise ambiental e,

consequentemente, com o reconhecimento da finitude dos recuses naturais do

planeta, foram desenvolvidas práticas que, aos poucos, rompem com os processos

produtivos conhecidos e se abrem para que novas políticas sejam adotadas no

processo de desenvolvimento, produção e consumo de produtos.

A aplicabilidade de sustentabilidade na área da moda é uma problemática que

tem recebido bastante atenção de pesquisadores e comitês científicos, pois segundo

Fletcher e Grose (2011), a indústria do vestuário é uma das que mais gera resíduos

químicos oriundos de seus processos de fabricação, além de receber graves

denúncias de exploração de trabalho infantil e mão de obra escrava.

Apesar do sistema dominante da moda ser marcado pela obsolescência

programada de seus produtos, com ciclos de vida cada vez mais curtos,

movimentando o mercado conforme as necessidades e desejos de uma sociedade

imediatista, um novo paradigma começa a emergir no mundo moda e este,

denominado slow fashion, traz consigo a preocupação com as questões ambientais,

com o bem-estar social das comunidades envolvidas, procura produzir peças com

qualidade, durabilidade e sem seguir tendências de temporada finita (BERLIM,

2012).

Conforme Vezzoli (2010), marcas e designers que procurem atender as

inquietações da sustentabilidade, devem projetar visando a integridade do ambiente

em que vivem, através da procura por matérias-primas naturais e renováveis, por

exemplo.

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Devem também visar a inserção da comunidade contextualizada com seu

produto em seu processo de produção, como trabalhar com artesãos e artistas

locais para que assim territorialidade e cultura estejam presentes em seus produtos.

A lã, fibra natural, renovável e biodegradável, exerceu bastante importância

para a economia do estado do Rio Grande do Sul nos anos 1970 e 1980, porém a

industrialização dos processos do vestuário e a entrada dos tecidos sintéticos no

mercado nacional, na década de 1980, foram responsáveis por uma queda abrupta

da comercialização de fibras naturais, como lã, linho e seda. (BERLIM, 2012).

Nesse contexto os produtores de lã do Rio Grande do Sul sentiram

fortemente a queda dos preços da lã, sua desvalorização frente ao mercado

internacional e sua falta de competitividade junto aos fios sintéticos (NOOCHI,

2000).

Hoje, com o aumento dos processos produtivos que seguem os conceitos do

slow fashion os consumidores estão se voltando para marcas que valorizem o

trabalho local e carreguem história em seus produtos.

Com isso a lã está sendo, pouco a pouco, reinserida no mercado da moda por

suas características como matéria-prima natural. Porém, essa fibra passa por

diversas etapas de produção antes de chegar às mãos dos designers e estas são

muito pouco conhecidas.

Gwilt (2014) defende que é papel crucial do designer responsável conhecer

todo o processo produtivo de suas criações, desde a origem da matéria-prima até a

embalagem usada na entrega para o consumidor.

Assim, visando obter conhecimento de todas as etapas envolvidas no

beneficiamento da lã e todos os caminhos que a matéria-prima percorre até o

produto ser comercializado e futuramente reciclado, esta dissertação se propõe a

estudar o ciclo de vida de um produto de lã de uma marca gaúcha de moda

sustentável. Para isso seguiremos o problema de pesquisa e os objetivos descritos a

baixo.

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No capítulo dois, será descrita a metodologia que guiará esse trabalho,

seguida pela pesquisa bibliográfica, descrita nos capítulos três, quatro e cinco, que

embasará o referencial teórico desta pesquisa. No sexto capítulo será abordado o

estudo de caso, seguida pela discussão dos dados (capítulo sete) e considerações

finais (capítulo oito).

1.1 PROBLEMA DE PESQUISA

Algumas pesquisas sugerem que a lã, em seu estado puro, é uma matéria-

prima sustentável por seu caráter de durabilidade e reciclagem. Devido a isso,

algumas marcas de moda baseiam seus produtos e seu conceito sob essa ótica.

Entretanto a produção laneira no Brasil não recebe nenhum selo de certificação

sustentável, assim como não há um órgão que regulamente ou padronize as etapas

de produção.

Nesse contexto, a pesquisa aqui apresentada pretende contribuir para um

melhor entendimento da lã produzida no Rio Grande do Sul, seu caráter para o

design sustentável, e como se comporta o ciclo de vida de um produto que utiliza

essa matéria-prima a partir do questionamento: A lã produzida no Rio Grande do

Sul pode ser utilizada como matéria-prima para o design de moda sustentável?

A partir dessa proposta, a seguir serão apresentados os objetivos que esta

pesquisa pretende alcançar.

1.2 OBJETIVOS DE PESQUISA

Os objetivos que direcionam esse estudo foram definidos com a intenção de

facilitar o alcance dos propósitos traçados ao decorrer desta pesquisa.

1.2.1 Objetivo Geral

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Analisar o ciclo de vida de um produto de moda que utiliza lã como sua única

matéria-prima.

1.2.2 Objetivos Específicos

Ao longo da presente pesquisa pretende-se alcançar os seguintes objetivos

específicos:

a) Pesquisar abordagens teórico-conceituais sobre Ciclos de Vida de

Produtos, bem como técnicas pertinentes para sua avaliação;

b) Realizar um Estudo de Caso de uma empresa de moda sustentável; bem

como contribuir com possíveis melhorias;

c) Estudar a cadeia produtiva da lã produzida pela marca estudada;

d) Compreender os caminhos que o produto percorre, desde a extração da

matéria-prima até seu descarte e/ou reciclagem, sistematizando seu ciclo de vida;

e) Investigar como as dimensões da sustentabilidade (ambiental, social e

econômica) estão inseridas no ciclo de vida desse produto e são abordadas pela

empresa.

1.3 JUSTIFICATIVA

Conforme Bonsiepe (2011), nas décadas de 1960 e 1970 o design estava

voltado para o mercado, o consumismo e a obsolescência programada, de acordo

com o movimento estético modernista que regia a produção da época.

Segundo Burdek (2006), o movimento modernista se estabeleceu com o

objetivo de atingir uma maior parte da população, através do alcance de produtos

mais acessíveis e que iam de encontro às condições sociais da época.

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Para tanto, a racionalidade e a padronização através da produção em série

eram requisitos fundamentais para o designer modernista, visto que este projetava

visando uma democratização dos objetos.

Entretanto, e não por coincidência, neste mesmo período desastres

ambientais ao redor do mundo evidenciavam uma grave crise de desequilíbrio

ecológico, que apenas se agrava com o passar do tempo, forçando a comunidade

científica e alguns governantes cientes a considerarem esse tema um problema de

ordem mundial.

Com o reconhecimento da finitude dos recursos naturais e a certeza das

necessidades das gerações futuras, o design passou a desenvolver práticas que

respeitem o meio ambiente e ainda assim atendam às necessidades do indivíduo e

da comunidade, voltando-se assim para o conceito de desenvolvimento sustentável.

(BERLIM, 2012)

Esse talvez seja o grande desafio para o setor da moda, visto que a produção

de peças do vestuário é uma das áreas que mais agride o meio ambiente devido a

grande utilização de produtos químicos, de água e processamento de materiais.

Além disso, o sistema imperativo de moda rápida, fast-fashion, trabalha para

atender uma sociedade de desejos ilimitados e imediatos, onde a durabilidade dos

produtos é propositalmente curta e não se dá tempo para que se estabeleça uma

relação entre o consumidor e suas roupas além da superficialidade. (BERLIM, 2012)

Contudo, indo ao encontro de uma parcela da sociedade que se mostra

exigente e participativo na busca por soluções sustentáveis, surge um sistema

questionador e de inovação disruptiva denominado slow fashion.

O movimento slow é capaz de enxergar beleza e grandiosidade na moda que

valoriza seu processo produtivo e ainda gera a importante integração desse sistema

com a comunidade (FLETCHER E GROOSE, 2011).

Conforme Flecther e Groose (2011), essa nova forma de pensar a moda

procura envolver todos os atores participantes do ciclo produtivo de uma única peça,

resgatar técnicas tradicionais de confecção, valorizar do uso de matérias-primas

naturais e renováveis, e reduzir o uso e descarte de produtos químicos em seu

processo de beneficiamento.

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Dessa forma, a pesquisa justifica-se primeiramente, pois o designer tem papel

importante na ressignificação do consumo de moda, visando a projetação de

produtos que sejam relevantes para a comunidade local, que carreguem qualidade e

durabilidade como fatores intrínsecos, assim como o respeito pelos recursos

ambientais.

Nesse contexto, convergindo para a segunda justificativa desta pesquisa,

surge no mercado nacional uma marca de moda sustentável que propõe resgatar o

uso da lã natural, produzida no Rio Grande do Sul, como principal matéria-prima no

desenvolvimento de seus produtos.

De acordo com Pezzolo (2009), a lã é a mais antiga fibra usada na história,

onde há indícios de que na Idade da Pedra os homens usavam a pele de carneiro

para proteção e agasalho. Na Turquia, foram encontrados vestígios de lã, tecida,

sete mil anos antes da nossa existência, assim como no Oriente Médio onde se

encontrou fragmentos de lã do Período Neolítico (10.000 A.C a 4.000 a.C).

Para a indústria da moda a fibra aqui estudada sempre foi de muito valor,

visto que apresenta diversas qualidades importantes, como o seu caimento natural,

sua capacidade hidroscópica e sua alta durabilidade. (PEZZOLO, 2009)

A história do Estado do Rio Grande do Sul está intimamente relacionada as

atividades rurais de agricultura e agropecuária, assim como a ovinocultura laneira,

uma das mais antigas atividades praticadas no Estado. (NOOCHI, 2000)

O rebanho ovino do Rio Grande do Sul, na década de 1960, somava cerca de

12 milhões de animais e produzia em torno de 30 mil toneladas de lã por ano.

Entretanto, na medida em que os materiais sintéticos foram suprindo as

necessidades do mercado têxtil internacional e passaram a oferecer matéria-prima

de custo baixo e de fácil adaptação às suas exigências, o Estado observou, pouco a

pouco, o declínio e a irreversível crise que o setor lanifício viria a enfrentar

(CALVETE E VILLWOCK, 2007).

A relevância deste estudo permeia a tentativa de ser uma ferramenta que

possa avaliar o Ciclo de Vida de um produto de lã e auxiliar a recolocação da

matéria-prima gaúcha no mercado têxtil, mapeando os métodos de produção da

mesma e sua aplicação em uma marca de moda sustentável.

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2. METODOLOGIA

A pesquisa, de natureza qualitativa, se desenvolve através de um Estudo de

Caso de uma empresa de moda sustentável. Partindo da revisão bibliográfica, de

pesquisa documental, de entrevistas semiestruturadas e de observações em campo.

Como desdobramentos os dados coletados serão estruturados com o método ELITO

e analisados através de análises de conteúdo e uso do questionário QIA.

Como resultado pretende-se sistematizar propostas de intervenção no modelo

atual de Ciclo de Vida do Produto a fim de ampliar as questões relacionadas à

sustentabilidade ampla.

Para essa pesquisa, a metodologia qualitativa é a que melhor se aplica aos

objetivos, uma vez que permite ao pesquisador a inserção no “cenário natural”, em

que se encontra o seu objeto de estudo.

A pesquisa qualitativa convida o pesquisador a estudar e a imergir no

ambiente do pesquisado, permitindo-lhe desenvolver detalhadamente sobre o objeto

de estudo, além de envolver-se nas experiências reais do pesquisado. (CRESWEL,

2010)

Para o autor,

A pesquisa qualitativa usa métodos múltiplos que são

interativos e humanísticos. Os métodos estão crescendo e

cada vez mais envolve participação ativa dos participantes e

sensibilidade aos participantes do estudo. Os pesquisadores

qualitativos buscam o envolvimento dos participantes na coleta

de dados e tentam estabelecer harmonia e credibilidade com

as pessoas no estudo. Eles não perturbam o local mais do que

o necessário. Além disso, os métodos reais de coleta de dados,

tradicionalmente baseados em observações abertas,

entrevistas e documentos, agora incluem um vasto leque de

materiais, como sons, e- mails, álbum de recortes, e outras

formas emergentes (CRESWELL, 2010, p.186).

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20

Portanto, a pesquisa qualitativa além de permitir uma descrição completa do

cenário e dos participantes do processo de coleta de dados, também possibilita a

análise e a interpretação desses dados, de forma a identificar questões e temas

pertinentes ao estudo.

Para tanto as técnicas qualitativas utilizadas para a realização desse trabalho

serão descritas a seguir.

Figura 1 - Metodologia

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

2.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A seguir serão descritos os procedimentos utilizados na pesquisa para

determinar as características de coleta de dados e da análise para a pesquisa

científica em questão.

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21

2.1.1. Pesquisa Bibliográfica

Uma pesquisa bibliográfica é feita com o propósito de "melhorar o

entendimento dos dados e aprofundar as interpretações" (SAMPIERI; COLLADO;

LUCIO; 2013).

Neste estudo a revisão da literatura é fundamental para construir os conceitos

teóricos e assim direcionar a abordagem científica. Portanto o referencial teórico foi

a primeira etapa dos procedimentos metodológicos e foram analisados os temas de

interesse da pesquisa.

Embora o tema "design sustentável" esteja bastante presente em teorias

analisadas, pode-se identificar dificuldade em encontrar estudos científicos sobre a

lã brasileira e seus métodos de produção.

Além de artigos e livros nacionais sobre as áreas estudadas, também foram

identificadas pesquisas internacionais sobre o assunto, principalmente oriundos da

Austrália um país com avançada pesquisa sobre ovinocultura laneira.

Assim, os conceitos que esta pesquisa apresenta estão sob fundamentação

teórica de diversos autores que dão suporte ao problema de pesquisa e estão

devidamente referenciados ao longo do texto.

2.1.2 Pesquisa Documental

Conforme Gil (2007) ao ser desenvolvido um estudo de caso, admite-se que

não apenas os indivíduos serão parte da pesquisa, mas também os documentos

gerados pelo objeto de estudo.

A pesquisa documental se assemelha a pesquisa bibliográfica, o que as difere

é o objeto pesquisado onde na pesquisa documental são averiguados itens gerados

pelo grupo analisado.

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22

Segundo Marconi e Lakatos (2009):

A característica da pesquisa documental é que a fonte de coleta de dados está restrita a documentos, escritos ou não, constituindo o que se denomina de fontes primárias. Estas podem ser feitas no momento em que o fato ou fenômeno ocorre, ou depois. (MARCONI E LAKATOS, 2009, p 174).

Os autores explicam que a pesquisa documental engloba todos os materiais,

ainda não elaborados que podem servir como fonte de informação para a pesquisa

científica. Como fontes escritas citam documentos de arquivos públicos, arquivos

particulares, fontes estatísticas, entre outros. Já como fontes não escritas podem-se

considerar fotografias, desenhos, gravações, objetos, entre outros.

A presente pesquisa fará uso de fotografias elaboradas no momento em que

o fenômeno ocorre para organizar os dados coletados durante as observações.

Ainda serão feitas pesquisas de fontes estatísticas acerca do objeto de estudo assim

como a análise de um relatório fornecido por um dos especialistas participantes da

pesquisa.

Como abordado acima, sendo a pesquisa em questão de caráter qualitativo

descritivo, optou-se pelo Estudo de Caso como metodologia a ser aplicada. A seguir

serão abordados aspectos relativos a este método.

2.1.2. Estudo de Caso

A presente pesquisa optou por empregar a técnica exploratória de natureza

qualitativa e de caráter descritivo. A coleta de dados desse tipo de abordagem parte

da realidade e do contexto social em que a temática está inserida (CRESWELL,

2010).

Para Yin (2010 pg. 39), o método de estudo de caso seria recomendado

quando o pesquisador desejasse “entender um fenômeno da vida real em

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23 profundidade, mas esse entendimento englobasse importantes condições

contextuais.”

Para afirmar a relevância do estudo de caso como metodologia científica Yin

(2010) defende que este método pode ser encontrado em diversas áreas de

investigação de fenômenos sociais, individuais e organizacionais como a psicologia,

sociologia, ciência política, antropologia, educação, entre outras.

Portanto o estudo de caso foi o método escolhido para ser aplicado na

presente pesquisa, e acredita-se que seus procedimentos e ferramentas orientarão

para uma melhor coleta dos dados considerando o contexto da pesquisa.

2.2 MÉTODO DE COLETA DE DADOS

O levantamento dos dados na referida empresa foi organizado conforme

detalhado na tabela 1.

Tabela 1 - Procedimentos para coleta de dados da pesquisa

Método ou Técnica Tipo e Número de

Participantes

Descrição da

atividade e da forma

de documentação

dos dados

Local e Duração

Entrevista

Semiestruturada

Designer da

Empresa AMG (01)

Entrevista individual com os participantes, no ambiente da empresa, documentada através de anotações, estruturada de acordo com os seguintes temas:

Histórico profissional da empresa, missão e visão, experiências

Ambiente de trabalho da empresa participante; com duração de até 2 horas, no horário de expediente ou outro horário de preferência do participante, de acordo com a conveniência e disponibilidade de cada uma das partes

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24

pessoais e profissionais relevantes, semana típica da empresa, atores envolvidos, perfil das empresas competidoras, perfil dos clientes, portfólio atual dos serviços e produtos, processo de planejamento; influenciada bibliográficas e outras na criação, valor e significado da sustentabilidade, valores e questões ambientais/ sociais/ econômicas/ institucionais, logística, papel do designer na criação dos produtos e serviços, ciclo de Vida dos produtos atuais, desde etapa da Pré-Produção, Produção, Distribuição, Uso do produto, até o descarte.

envolvidas.

Entrevista

Semiestruturada

Fornecedor de

matéria-prima (lã)

Entrevista individual com o participante, em seu ambiente de trabalho documentada através de anotações, estruturada de acordo com os seguintes temas:

Bem estar animal, manejo animal, seu processo produtivo, relação com a empresa, além de

Ambiente de trabalho do participante; com duração de até 1 horas, no horário de expediente ou outro horário de preferência do participante, de acordo com a conveniência e disponibilidade de cada uma das partes envolvidas.

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25

temas emergentes no momento

Entrevista

Semiestruturada

Artesãs envolvidas

no projeto da

empresa (05)

Entrevista individual com os participantes, no ambiente da empresa, documentada através de anotações e fotos, estruturada de acordo com os seguintes temas:

Relação com o artesanato, relação com a empresa, processo de confecção, além de temas emergentes no momento.

Ambiente de trabalho da empresa; com duração de até 1 horas, no horário de expediente ou outro horário de preferência do participante, de acordo com a conveniência e disponibilidade de cada uma das partes envolvidas.

Observações em

campo

Especialista ARCO (01)

Artesãs envolvidas com a empresa

Processo produtivo da lã (lavagem, cardagem, fiação, tingimento, confecção)

Observação das atividades dos participantes, com mínima interferência do pesquisador nas mesmas (apenas para desambiguar ações e, quando necessário, questionar a motivação por detrás das mesmas), em um dia típico de trabalho, no ambiente da empresa, documentado através de fotos/vídeos e anotações

Ambiente de trabalho da empresa participante; durante o período de 01 dia de trabalho pré- estabelecido, no horário de acordo com a conveniência e disponibilidade de todos os participantes.

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26 Fonte: elaborado pela autora (2016)

As entrevistas terão formato semiestruturado, conforme sugere Yin (2010),

onde as perguntas serão aplicadas pela pesquisadora que seguirá um roteiro pré-

formatado, conforme as questões que pretende avaliar, porém com autonomia para

questionar conceitos a fim de obter mais informações sobre o assunto.

Conforme Souza e Neto (2002), as análises que permeiam as cadeias

produtivas agroindustriais (CPA) partem do produto final em direção à matéria-prima

que lhe deu origem, por isso, primeiramente, será entrevistado um designer da

marca de moda sustentável AMG e este por julgamento, juntamente com a

pesquisadora, direcionará os próximos passos da pesquisa, como a entrevista com o

fornecedor de lã e as observações em campo.

Conforme Creswell (2010) uma amostragem por julgamento consiste na

seleção, por conveniência, dos elementos considerados representativos para a

pesquisa científica.

Além das entrevistas, a pesquisadora acompanhou o que consiste no

processo produtivo da matéria-prima e dos produtos da empresa. Para tanto foi

observado um dia de trabalho do especialista da ARCO que fornece consultoria para

a empresa no processo de seleção do fornecedor da matéria-prima, assim como foi

observado um dia de trabalho das artesãs que fiam e confeccionam os produtos da

marca.

O processo de lavagem e cardagem da lã utilizada pela empresa não pôde

ser observado, pois a empresa terceirizada que realiza esse processo optou por não

participar da pesquisa. Portanto essa etapa será apenas relatada conforme

conhecimento prévio repassado pela entrevista com o designer da empresa AMG.

Com a aplicação desses instrumentos de coleta de dados, elementos

significativos para uma análise foram recolhidos e captados. Os roteiros das

entrevistas encontram-se na seção de Apêndices ao final dessa dissertação.

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27

2.3 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

A etapa de análise e interpretação dos dados na pesquisa qualitativa consiste

em interpretar temas significativos e emergentes dos dados.

Após o encerramento da coleta de dados, iniciou-se o processo de

compilação dos dados, onde conforme Gibbs (2009) é permitido ao pesquisador a

seleção dos aspectos que serão que enfatizados ou minimizados a fim de alcançar o

objetivo da pesquisa.

Em um segundo momento iniciou-se a análise de conteúdo, que consiste em

um conjunto de técnicas de análise das comunicações ocorridas durante a pesquisa,

suas mensagens e expressões para que sejam conhecimentos inferidos do

processo. (Bardin, 2009).

Para a organização dos dados das entrevistas e observações a ferramenta

utilizada foi a denominada ELITO. Esse método, conforme Hanington e Martin

(2012) auxiliam no processo de organização dos dados a partir da delimitação de

cinco categorias: (I) observação (o que o pesquisador viu e ouviu), (II) julgamento (a

opinião do pesquisador sobre o que viu e ouviu), (III) fala literal (o que foi dito), (IV)

conceito (palavras que representam o que foi dito) e oportunidade (o que pode ser

feito a partir dessas informações).

Segundo os autores, a organização dos dados conforme essas categorias

facilitam o surgimento de uma linha lógica para análise de dados, podendo assim

partir para a fase de discussões e conclusões.

Além disso essa pesquisa faz uso do questionário Quick Impact Assessmente

(QIA) desenvolvido e disponibilizado pelo Sistema B. O questionário disponível na

internet é uma versão sistematizada da metodologia usada pelo Sistema B para

certificações de empresas sustentáveis. O objetivo desse questionário resumido é

elencar os pontos fortes e fracos da empresa em relação à sustentabilidade e gerar

alternativas sustentáveis para a mesma.

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28

Como a pesquisa científica busca encontrar alternativas e possibilidades de

melhoria no ciclo de vida do produto da empresa AMG, optou por responder o

questionário do Sistema B para complementar a análise de conteúdo.

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29

!

3 DESIGN E SUSTENTABILIDADE

Confome Burdek (2010, pg. 13), foi no ano de 1588 que a expressão “design”

foi mencionada pela primeira vez e descrita como: “um plano desenvolvido pelo

homem ou esquema que possa ser realizado”. Segundo o autor a palavra “design”

pode ser considerada um verbo e um substantivo, visto que pode descrever tanto o

produto final quanto o processo criativo e produtivo do mesmo.

A forma como conhecemos “design” hoje está alicerçada sob uma série de

revoluções tecnológicas originadas pela primeira Revolução Industrial, que teve seu

início no século XVIII. A mais significativa delas foi a evolução do modelo de

produção, o que modificou também os modelos sociais e econômicos desde então.

(BURDEK, 2010)

Ainda conforme Burdek (2010), até meados do século XIX a fabricação de

produtos com função definida era basicamente artesanal e sua reprodução em

massa não era um objetivo dos fabricantes. Porém, o advindo das máquinas e da

agilidade em detrimento do utilitarismo e da industrialização acabou por definir a

qualidade moral da atividade humana por sua utilidade para a sociedade e sua

possível reprodução em série. Nesse mesmo período (1919) era fundada a primeira

escola de design do mundo, denominada Bauhaus, que tinha como objetivo suprir as

demandas práticas das novas formas de produção industrial, assim como a Escola

de Ulm fundada em 1953. Através de seus cursos as escolas promoviam a fusão de

conhecimento de áreas como o artesanato, a arquitetura e artes, por exemplo, assim

criava as adaptações necessárias nos produtos para sua produção industrial e

procurava desenvolver as capacidades manuais e artísticas em seus alunos de

forma igualitária, originando a padronização de estilos (BONSIEPE, 2011).

Seguindo o estilo internacional de ensino e calcada nos preceitos da

produção industrial foi criada, em 1963, a Escola Superior de Desenho Industrial no

Rio de Janeiro. (COUTO, 2008).

Conforme Borges (2011), a absorção do método de ensino baseado no

funcionalismo, fez com que a cultura nacional brasileira fosse deixada de lado, e

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30 rotulada como um retrocesso, em detrimento de um novo estilo internacionalizado.

O autor afirma que a aceitação desse novo método de criação e produção foi

favorecida já que o fazer manual passou a ser visto como um ícone do retrocesso

enquanto as máquinas ganharam espaço através da promessa de levar o país a um

elevado patamar de desenvolvimento. Como consequência da aceleração da

industrialização, na segunda metade da década de 1960, começou a ser estudado o

impacto da produção e do consumo como uma questão ambiental para o equilíbrio

do sistema ecológico.

A percepção desta grave ocorrência e de uma contínua série de desastres e

desequilíbrios do ecossistema forçou a comunidade científica, e alguns governantes

cientes, a considerarem esse tema um problema de ordem mundial (VEZZOLI,

2010).

Para Krippendorff (2006) a atividade do designer passou a encarar novas

possibilidades no decorrer dos anos, passando assim de projetista de produtos –

servindo ao modelo industrial – para estar presente na construção de novos

conceitos, envolvido com a comunidade e com o grupo social ao qual está inserido

podendo então ser agente de transformações sociais.

O documento elaborado pela Comissão Europeia sobre Design e Inovação

(COMMISSION, 2009) afirma que o design deve seguir uma abordagem holística,

que aborda diversas dimensões do processo criativo e produtivo e não apenas os

fatores estéticos e visuais, tais como: funcionalidade, ergonomia, usabilidade,

custos, acessibilidade e sustentabilidade, além de outros fatores intangíveis como

marca e cultura. Ainda no citado documento, afirma-se que o design não deve estar

isoladamente no que diz respeito aos produtos, mas que também desse ver uma

prática presente no que tange as estratégias das organizações, seus sistemas

produtivos, não apenas visando fins lucrativos, mas também interação com o social

e a evolução de sua comunidade.

Del Gaudio et. al. (2014) afirmam que a origem da interação social por parte

do design encontra-se na década de 1970, quando a conscientização acerca dos

graves problemas ambientais e sociais foi disseminada, assim como seu amplo

alcance e agravamento em algumas partes do planeta. Essas informações fizeram

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31 com que os profissionais de design questionassem seu papel e sua

responsabilidade perante a sustentabilidade.

O desenvolvimento de novos cenários sustentáveis visa criar novos hábitos e

atitudes que contribuam para a elevação dos níveis de qualidade de vida.

Atualmente, quando se fala em desenvolvimento sustentável, a preocupação com a

integridade do meio ambiente está intimamente associada com a prosperidade das

condições socioeconômicas da população (QUEIROZ, 2014).

Segundo Queiroz (2014), o conceito de sustentabilidade supõe um movimento

complexo e permanente que engloba três dimensões iniciais: a social, a ambiental e

a econômica, entretanto, conforme a autora, o aspecto cultural também deve ser

considerado uma dimensão importante para o entendimento do desenvolvimento

sustentável.

Desta forma, considerando as dimensões agora citadas, afirma-se que um

projeto ou um produto, para que esteja em concordância com os parâmetros da

sustentabilidade, deve ser socialmente justo, economicamente viável,

ambientalmente correto e, ainda, culturalmente aceito.

3.1 AS TRANSFORMAÇÕES DO PAPEL DO DESIGN PERANTE A

SUSTENTABILIDADE AMPLA

A presente etapa do trabalho dedica-se a apresentar algumas esferas da

sustentabilidade e a mudança ocasionado ao papel do design, ao longo dos anos,

no desenvolvimento de produtos e serviços.

Para isso um conceito se torna crucial para a análise: a sustentabilidade em

seu sentido amplo. Conforme o Programa para o Meio Ambiente planejado pela

Organização das Nações Unidas (United Nations Environment Programme, UNEP)

em 1972 com o objetivo de coordenar ações internacionais de proteção ao meio

ambiente e de promoção do desenvolvimento sustentável, sustentabilidade é o

“atendimento das necessidades atuais, sem comprometer a possibilidade de

satisfação das necessidades futuras” (UNEP, 2006). Essa definição atenta para a

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32 preocupação de se construir uma orientação global para um consumo mais

consciente.

Como já citado, as agressões ao planeta têm sido praticadas desde a

Revolução Industrial, antes desse período o fornecimento dos insumos necessários

para a produção dos artefatos era atribuição de trabalhadores rurais, assim esses

materiais eram encontradas em fazendas locais e em regiões próximas.

O processo de inovação do maquinário rural em algumas partes da Europa,

principalmente na Inglaterra, desestabilizou o sistema natural das áreas rurais e

ocasionou a migração de centenas de pessoas para regiões mais próximas das

indústrias à procura de trabalho e criando assim novos centros urbanos. Esse

movimento não aconteceu apenas na Inglaterra, mas em diversos países

industrializados de forma semelhante. (FUAD-LUKE, 2002)

Conforme Fuad-Luke (2002) as primeiras pessoas que notaram e falaram

sobre a crise ambiental gerada pela indústria, foram os fundadores do movimento

British Arts and Crafts 1(1850-1914) John Ruskin e William Morris. O movimento

estético criado pela dupla na metade do século XIX na Inglaterra, defendia que o

artesanato criativo deveria ser visto como um alternativa à produção mecânica e

massificada imposta pela indústria, além de intervir pelo fim da distinção entre

artesão e artista. British Arts and Crafts é considerado por diversos historiadores

como uma das origens do modernismo no Desenho Gráfico, no Desenho Industrial e

na Arquitetura pois empregava em móveis e objetos o fino traço do artesão-artista,

que mais tarde viria a ser denominado designer.

Segundo Kazazian (2005) a Revolução Industrial também pode ser

considerada como um símbolo que desencadeou as diversas mudanças nos

paradigmas de consumo. Aliada a ela, o autor cita, a explosão demográfica

ocasionada na virada do século XX e XXI, onde a Terra passou de um bilhão de

habitante para seis bilhões.

A combinação de aumento de consumo e de superelevação demográfica

conduziu o planeta a uma crise ambiental, deflagrada após as grandes Guerras

1 Artes e ofício britânicos – tradução literal

2 Moda rápida. (Tradução literal)

3 Moda lenta. (Tradução literal)

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33 Mundiais, assim as preocupações ambientais cresceram e geraram movimentos

mundiais para discutir e rever o desenvolvimento industrial, social e econômico.

(KAZAZIAN, 2005)

Entre eles está o Relatório de Brundtland, documento de natureza

socioeconômica elaborado em 1987 pela Comissão Mundial sobre Desenvolvimento

e Meio Ambiente para a ONU. Foi nesse relatório que o termo “Desenvolvimento

Sustentável” foi empregado pela primeira vez e descrito como: “O desenvolvimento

que satisfaz a necessidade do presente sem comprometer a satisfação das

gerações futuras”.

Em 1992 a ONU realizou no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas

sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), também conhecida como

RIO 92. 179 países participaram da conferência e assinou a Agenda 21 Global,

programa considerado a mais ampla tentativa de promover, em escala mundial, um

novo preceito de desenvolvimento denominado “desenvolvimento sustentável”. O

nome do programa “Agenda 21 Global” faz alusão às intenções e anseios por

mudança desse novo e necessário modelo de desenvolvimento para o século XXI. A

Agenda 21 pode ser considerada um instrumento de planejamento e métodos para

construção de sociedades sustentáveis em relação a proteção ambienta, justiça

social e eficácia econômica, levando em consideração as diferentes bases

geográficas.

De acordo com Mazini e Vezzoli (2008) a sustentabilidade deve ser

compreendida como uma série de premissas segundo as quais as atividade da

espécie humana não deve interferir nos ciclos naturais de auto regulação do

ecossistema, buscando assim preservar os recursos naturais pertencentes ao

planeta. Os autores ainda discorrem sobre todos os serem vivos terem o mesmo

direito à espaço ambiental, e isto representa o mesmo direito à água, à energia, à

território e à matéria-prima necessária à vida e à produção sem exceder os limites

da sustentabilidade. Para os autores os projetos sustentáveis devem encontrar

soluções baseadas em:

• Alternativas que utilizem recursos renováveis;

• Redução/otimização de recursos não renováveis;

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34

• Descarte de resíduos centrado na naturalização dos materiais, ou

decomposição sem agressão à natureza;

• Permanência das comunidades e indivíduos envolvidos nos projetos

em seus espaços e limites ambientais.

Já Wimmer et al. (2010) exemplifica trazendo o caminho reverso. Ao invés de

explicar como projetos sustentáveis deveriam ser e as premissas que deveriam

seguir, os autores exemplificam e argumentam sobre os pontos e características que

não são atribuídos à sustentabilidade, como: O uso e esgotamento de recursos não

renováveis; Quando o consumo excede a necessidade – os autores exemplificam

com o relato sobre o elevado número de embalagens de alimentos causando

excesso de resíduos em países industrializados; Produtos e processos que

desperdiçam energia – como eletrônicos em processo de stand by.

Países industrializados que enviam seus resíduos para uma reciclagem

inapropriada em países em desenvolvimento, causando danos ambientais e

principalmente à saúde dos envolvidos. Empresas que geram danos e riscos

ambientais e sociais, ao explorarem seus funcionários, visando aumentar o lucro de

suas organizações.

Spangenberg (2011) defende que, no que tange a ciência, desenvolvimento

sustentável demanda a sintonia entre o metassistema e seus subsistemas, ou seja,

a natureza, a economia e a sociedade.

Segundo Naime et al. (2012) na segunda metade do século XIX a Europa

sofreu uma explosão de consumo. Até então a comercialização dos produtos era

intermediada pela própria fábrica, visto que ainda não existia o conceito de loja, e

ofereciam uma pequena gama de opções.

A partir de 1860, começaram a surgir as primeiras lojas de departamento e

assim o consumo passou a se tornar uma atividade de lazer e consumir o supérfluo

passou a se tornar objeto de desejo da sociedade. Nesse contexto, além do

consumo ser incentivado pela mídia, o que se intensifica na era pós-moderna, o

Design estimulava o consumo através de suas características puramente estéticas e

visuais.

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35

Para Manzini (2005) a sustentabilidade exige inovações amplas baseadas em

profundas reduções de consumo, assim como mudança do estilo de vida e da

construção de uma nova percepção de bem estar social, onde os valores individuais

respeitem e incentivem as causa sociais, econômicas e ambientais. Para o autor o

papel do designer é fundamental para que os valores e critérios da sustentabilidade

sejam aplicados no desenvolvimento de produtos e serviços, pois é esse profissional

que através de uma análise pode diminuir o uso de energia, de custos e de materiais

ao longo do ciclo de vida do produto. Inclusive, para Manzini (2005) o designer pode

e deve projetar visando os ciclos de vida posteriores para suas criações, ou seja,

para além do descarte, as possibilidades de reciclagem, de reutilização e de

recuperação.

Para que essas definições se concretizem são necessárias estratégias de

inovação que criem novos mercados para novos produtos e serviços sustentáveis.

Assim é lançado em 1997 pela ONU o “Manual do Eco design”, onde o principal

objetivo era fomentar práticas e métodos para concepção de novos produtos de uma

maneira sustentável. O manual aborda conhecimentos sobre desenvolvimento de

produto e oferece uma estrutura modular que permite que a empresa adquira

conhecimento em Eco design e que após execute um passo a passo de

implementação desses conceitos em seu sistema de produção (UNEP, 2006). Os

conceitos e critérios do Eco design serão descritos na próxima etapa desta

pesquisa.

Assim também foram incrementadas pesquisas na área do Design Social, que

inclui discussões sobre o papel e a responsabilidade do design perante a sociedade

e comunidade em que está inserido assim como suas ações para uma evolução da

qualidade de vida social (PEROBA, 2008).

Sobre este aspecto Pazmino (2007) discorre que:

O design social exige do designer novas qualidades e conhecimentos é um campo de grande desafio para os profissionais da área. O trabalho do designer deve valorizar os aspectos sociais, culturais e ambientais da população e desenvolver produtos que satisfaçam as necessidades reais. Respeitar as características das comunidades, das populações marginalizadas, sua cultura, para assim desenvolver produtos que a representem de fato, que sejam adequados a essa realidade, e que satisfaçam as suas necessidades reais (PAZMINO, 2007, p.5).

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36

De acordo com Peroba (2008) o design social é considerado uma atividade

econômica que trabalha para conduzir o local onde o projeto é realizado ao

crescimento e ao desenvolvimento.

Assim como Manzini e Vezzoli (2008) que apontam que as transformações

pelo design não devem ter apenas os aspectos ambientais em vista, mas que

também devem promover a inovação social e o desenvolvimento regional. Conforme

os autores faz parte do papel do designer repensar o desenvolvimento de produtos e

serviços a fim de ocasionar mudanças sociais e transformar a comunidade

envolvida.

Por desenvolvimento regional entende-se o desenvolvimento de determinado

local proporcionado por suas atividades. De acordo com Buarque (2006) trata-se de

um processo endógeno que se utiliza da capacidade, das oportunidades e

potencialidades locais, impulsionando o dinamismo econômico.

Na opinião dos autores Albuquerque e Llorens (2001) o desenvolvimento

regional se dá pela própria sociedade civil e sua atividade econômica, podendo-se

citar, portanto, o design como grande impulsionador desse desenvolvimento.

Acerca das dimensões do desenvolvimento econômico Albuquerque e Llorens

(2001) destacam:

• Dimensão econômica: competição no mercado e capacidade dos empresários

em se organizar no mesmo;

• Formação de recursos humanos: adequar os conhecimentos às necessidades

locais;

• Dimensão sociocultural: relacionada ao autodesenvolvimento das empresas

locais;

• Dimensão político-administrativa: criação de “entornos inovadores”, ou seja, o

apoio público visando parcerias público-privadas com empreendimentos;

• Dimensão ambiental: relacionada à sustentabilidade local.

Como estratégias para desenvolvimento regional, Albuquerque e Llorens

(2001, p. 78) citam:

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37

- articulação produtiva territorial do tecido empresarial e das diferentes atividades rurais, urbanas, agrárias, industriais e de serviços; - compromisso com o emprego produtivo e com o atendimento ao mercado de trabalho local; - conhecimento das tecnologias apropriadas à dotação de recursos e potencialidades territoriais; - atenção à inovação tecnológica e organizacional adequadas aos níveis produtivo e empresarial locais; - envolvimento dos trabalhadores locais na redefinição da organização produtiva;- adaptação do sistema educacional e de capacitação profissional à problemática produtiva e sócio-territorial; - existência de políticas específicas de apoio às MPMEs – micro, pequenas e médias empresas -, cooperativas e setor formal local; e - acesso aos serviços de desenvolvimento empresarial.

Assim, dentre as estratégias citadas, pode-se dizer que o desenvolvimento

regional depende do incentivo às atividades locais, não sendo diferente com o

design, se as inovações e a criatividade de um povo de determinado local e se suas

produções naturais forem incentivadas e apoiadas, provavelmente esse setor trará

grandes contribuições para o desenvolvimento regional.

Portanto, o papel do designer pode ser resumido, de uma maneira geral,

como uma atividade responsável por tornar algo tecnologicamente viável e

ecologicamente correto, além de refletir a origem de propostas e mudanças

socioculturais significativas.(MANZINI E VEZZOLI, 2008)

Os autores Manzini e Vezzoli (2008) indicam quatro níveis fundamentais

de ação do design para a transformação de produtos sustentáveis:

• Redesign ambiental para os sistemas existentes: consiste na revisão

dos materiais utilizados na concepção de produtos existentes e na

análise de possíveis alternativas que vão ao encontro de materiais

de menor impacto ambiental e que necessite de menos energia em

seu beneficiamento. O processo de criação de produtos verdes

começa na escolha da matéria-prima, sua extração, seu impacto no

ecossistema bem como seu impacto no processo de beneficiamento

e encaminhamento para a indústria;

• Desenvolvimento de novos produtos e serviços: consiste em

promover a substituição de produtos existentes, quando esses não

conseguem sofrer as adaptações necessárias para que sigam os

critérios ecologicamente corretos. Portanto novos produtos e

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38

serviços devem ser pensados procurando o menor impacto

ambiental possível.

• Projetar novos sistemas de produção-consumo oferecendo a

satisfação sustentável das reais necessidades e desejos da

sociedade;

• Criação de novos cenários para o estilo de vida sustentável

Sobre este último nível onde o designer deve ser agente de transformação,

Peroba (2008, p. 40) traz uma reflexão de Whiteley (1998) que afirma que existe um

novo modelo de design voltado para a realidade, onde além das responsabilidades

para garantir a sustentabilidade ambiental, existe também a responsabilidade em

romper com o impacto negativo do design como os estímulos aos sistemas de

valores consumistas.

Com as mudanças na mentalidade social acerca do meio ambiente, a

sustentabilidade passa a ter um conceito econômico, que demandará, desde então,

implementar ações de reequilíbrio de força econômica e social do mundo

empresarial, visando garantir o acesso das presentes e futuras gerações aos

recursos ambientais justificadores da vida humana sadia e equilibrada.

Assim, o desenvolvimento sustentável envolve o progresso social, o

crescimento econômico e a preservação ambiental, os quais possuem como ponto

em comum o desenvolvimento socioeconômico, socioambiental e a eco-eficiência,

sempre no intuito de reunir esses aspectos visando a melhoria da qualidade

ambiental e de vida da sociedade.

Nesse contexto precisa-se estudar o citado Eco design que está alicerçado

sob duas perspectivas: como atividade de design inspirada pela motivação ecológica

ou ainda como design que se preocupa em pensar os ciclos de vida de seus

produtos.

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39 3.2 ECO DESIGN E CICLO DE VIDA

Segundo Pazmino (2007) o Eco design surge pelo encontro entre o meio

ambiente e a atividade de projetar, concebendo então um método projetual orientado

por critérios ecológicos.

Os produtos criados a partir dessa atividade devem ser produtos competitivos

no mercado, ou seja, economicamente viáveis e ainda serem ecologicamente

corretos, isto é, um produto com baixo impacto à natureza e que sua qualidade

ambiental possa ser mensurada.

Mazini e Vezzoli (2008) conceituam Eco design como o Design com base em

critérios ecológicos. Para os autores Eco design é um método composto por um

conjunto de atividades que garantem as questões ecológicas como abordagens para

a concepção de seus produtos. Os autores ainda defendem que esta abordagem

não deve ser restrita ao desenvolvimento de produtos (considerando material, forma

e função), mas que também deve ser aplicada ao sistema de produção, isto é, todos

os processos de serviços, bens e comunicação que são utilizados pelas

organizações.

O Eco design exige que o profissional tenha conhecimento e consciência

ecológica e que tome decisões ecologicamente corretas ao longo de todo o ciclo de

vida do produto – pré-produção, produção, uso, descarte, reciclagem, reuso.

(PAZMINO, 2007)

É interessante recapitular as principais etapas de interferência do Eco

design citadas por Manzini e Vezzoli (2008):

• O redesign ambiental do existente: para isso deve-se repensar as escolhas

de materiais promovendo menor impacto e redução do uso de energia;

• O projeto de novos produtos ou serviços que substituam os atuais:

substituição por produtos e serviços ambientalmente responsáveis;

• O projeto de novos produtos ou serviços intrinsecamente sustentáveis:

criando produtos e serviços que levem a sustentabilidade como prioridade;

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40

• A proposta de novos cenários que correspondam ao estilo de vida

sustentável: promovendo um novo conceito social relacionado aos processos de

produção sustentáveis.

Pazmino (2007) sugere que os fatores como função, tecnologia, estética,

ergonomia e cultura são fatores que devem estar presentes em projetos de Eco

design, mas, os fatores econômicos e ambientais são os que devem nortear os

projetos. A autora ainda lista algumas diretrizes e recomendações para que o

objetivo ambiental seja alcançado em projetos de eco design, são elas: Reduzir a

utilização de recursos naturais e energia; Usar materiais não prejudiciais, danosos e

perigosos; Usar materiais reciclados e recicláveis; Otimizar processos de produção;

Otimizar a geração de resíduos; Redução da variabilidade de produtos; Utilizar

tecnologias apropriadas e limpas; Redução de peso e volume dos produtos;

Aumentar a confiabilidade e durabilidade; Otimizar as embalagens ou dar prioridade

para embalagens recicladas e/ou recicláveis; Facilitar a manutenção e reparos dos

produtos; Facilitar a desmaterialização dos produtos.

Conforme Salcedo (2014) cada projeto de produto sustentável deve avaliar as

possibilidades de redução dos impactos ambientais assim como a geração de

resíduos no meio ambiente, para isso deve considerar os materiais utilizados, o ciclo

de vida do produto, embalagem, transporte e reaproveitamento. A autora afirma que

em cada uma das esferas citadas é possível identificar a forma de atuação: ou na

escolha dos materiais, no prolongamento da duração dos produtos, ou ainda na

criação de laços afetivos entre os produtos e o cliente.

Para entender o eco design é fundamental discorrermos sobre o ciclo de vida

dos produtos, visto que os autores da área afirmam que ele é a parte central dessa

atividade.

Existem diversos modelos para Ciclos de Vida de Sistemas Produto-Serviço,

porém, considerando a sustentabilidade nos processos de produção, foram

selecionados dois modelos para a realização da presente pesquisa: o modelo

proposto por Manzini e Vezzoli (2008) e a proposta apresentada por Maxwell e Vorst

(2003).

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O Design do Ciclo de Vida ou Life Cycle Design (LCD) elaborado por Manzini

e Vezzoli (2008) considera todas as etapas do desenvolvimento de um produto e

avalia as trocas que estas fazem com o ambiente, com a sociedade e ainda seus

fatores econômicos.

Para os autores é possível afirma que o Design de Ciclo de Vida tem como

finalidade reduzir a utilização de matéria e de energia, além dos impactos com as

emissões e resíduos oriundos dos processos de cada etapa do Ciclo de Vida do

Produto, como mostra a figura 2.

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42

Figura 2 – Fases do Ciclo de Vida

Fonte: elaborado pela autora com base em Manzini e Vezzoli (2008)

Conforme o autor (VEZZOLI, 2010), os pressupostos ambientais e

econômicos baseados no Eco design devem buscar intervir na origem dos projetos

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43 de Ciclo de Vida, pois além de reduzir as emissões de resíduos perigosos e de

reduzir o consumo de recursos é menos custoso (financeiramente) e mais efetivo

prevenir os impactos ao ambiente do que buscar remediá-los após a implementação

do produto no mercado.

Outro modelo pesquisado foi a proposta de Desenvolvimento Sustentável de

Produtos e Serviços, ou Sustainable Productand Service Development (SPSD),

apresentado por Maxwell e Vorst (2003). A abordagem proposta pela autoras avalia

cada etapa da produção do produto, do serviço, ou ainda do sistema produto-

serviço.

O ciclo SPSD considera todos os resíduos gerados em cada etapa e seu

retorno como matéria-prima dentro desse ciclo. Os autores (MAXWELL E VORST,

2003) sugerem que os projetistas façam uma lista para cada etapa do Ciclo de Vida,

considerando as esferas ambientais, sociais e econômicas e trazem alguns

exemplos referentes a matéria-prima e sua otimização dentro do ciclo: Sobre os

impactos ambientais referentes as matérias-primas os autores afirmam que é

necessário avaliar a origem da matéria, eliminar o uso de materiais não renováveis,

repensar e substituir materiais poluentes e agressivos e ainda facilitar o reuso, a

reciclagem e a recuperação dos mesmos.

Acerca dos impactos ambientais os autores acreditam que é importante

considerar se esse material é extraído de países em desenvolvimento e ainda se

esses recebem valores justos por ele assim como recursos por direitos de uso. Em

relação aos impactos econômicos é preciso analisar os custos efetivos do

desenvolvimento do produto e a sua competitividade no mercado.

Maxwell e Vorts (2003) defendem que esse método pode ser implementado

em sistemas de produção já existentes e em funcionamento e ainda ser adaptado de

acordo com as estratégias das organizações.

Conforme Manzini e Vezzoli (2008) a maioria das ações de sustentabilidade

em organizações estão diretamente relacionadas à economia e a geração de lucro,

como as metas de redução de matéria-prima e a otimização dos processos que

envolvem transportes e locomoção, como mostra a imagem 2.

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44

Para os autores se aliar algumas tecnologias existentes à sustentabilidade é

possível atingir objetivos rapidamente. Como, por exemplo, o uso das logísticas de

transporte pode reduzir a quantidade de combustível utilizada na distribuição dos

produtos, sendo benéfico para a redução da emissão de gases poluentes e ainda

mais econômico financeiramente para o distribuidor. A figura 3 traz uma

sistematização dos princípios norteadores para ampliação da sustentabilidade ao

longo do ciclo de vida.

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45

Figura 3 - Princípios norteadores de design para o ciclo de vida

Fonte: Elaborado pela autora com referência de Manzini e Vezzoli (2008)

Para os autores (MANZINI E VEZZOLI, 2008) é possível desenvolver projetos

que pensem o caminho da sustentabilidade ao longo de todo o ciclo de vida do

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46 produto. O design para o ciclo de vida pode ser implementado bem no início dos

projetos para assim desenvolver produtos que sigam corretamente as premissas da

sustentabilidade.

O Design for Environment (DFE) ou Design para o Ambiente é um método

que prevê o caminho da sustentabilidade, seguindo os seguintes conceitos:

• Design for Assembly (DFA) Design para a Montagem: busca a utilização

de uma montagem mais fácil e com menor custo, reduzindo despesas e melhorando

a qualidade do produto;

• Design for Manufactury (DFM) Design para Manufatura: parte da seleção

de materiais, busca possuir processos e projetos modulados, faz uso de

componentes padronizados, montagem direcionada para minimização;

• Design for Service (DFS) Design para Serviço: planeja uma maior vida útil

ao produto, assim como uma maior confiabilidade para com a empresa. Facilita e

oferece manutenções e reparos durante a vida útil do produto e seu

redirecionamento quando necessário.

• Design for Disassembly (DFS) Design para Desmontagem: projeto que

procura aumentar as possibilidades de reciclagem e reuso dos produtos, e assim

diminuir as chances de poluição e de impactos ocasionados pelo descarte dos

produtos.

Conforme afirma Manzini e Vezzoli (2002) é importante ressaltar a

importância do processo de desmontagem e reciclagem dos produtos independente

do seu destino final. Para que um produto seja reciclado é fundamental a separação

de todos os seus componentes, tornando a desmontagem essencial.

Dessa forma o DFS se mostra uma ferramenta determinante ao final da vida

de cada produto, pois é a separação dos componentes e partes integrantes dos

artefatos que vai possibilitar ou não o processo de reciclagem bem como reparação

e concerto.

Ainda no que se refere a reciclagem, Manzini e Vezzoli (2002) mencionam

que existe duas formas de se realizar, uma em anel aberto e outra em anel fechado.

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47 Na primeira forma os materiais recuperados na desmontagem são novamente

utilizados, sem tratamento, substituindo outras matérias, ou seja, “são utilizados na

fabricação os mesmos produtos e componentes do qual foram derivados” (Manzini e

Vezzoli 2002, p. 97).

Já na segunda opção os materiais são encaminhados para um sistema de

desenvolvimento de produtos diferente do de sua origem, como mostra a figura 4.

Figura 4 - Comparação entre ciclo de vida de anel fechado e anel aberto

FONTE: adaptado pela autora de Maxwell e Vorst, 2003

De acordo com Maxwell e Vorst (2003) para que os ciclos sejam realmente

eficazes devem buscar transformar a matéria-prima continuamente em um novo

recurso durante todas as fases do processo de desenvolvimento e fabricação do

produto, uso e reciclagem, buscando não desperdiçar nenhum tipo de recurso.

Entretanto, conforme os autores, é importante ressaltar que uma vez que toda

ação acaba gerando uma reação contrária (conforme a lei da termodinâmica) é

praticamente impossível que todos os recursos sejam integralmente reaproveitados

e que esse processo não gere nenhum tipo de desperdício ou de resíduo.

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48

O momento da reciclagem em que acontece a transformação e

aproveitamento dos materiais e que esse ciclo pode ser repetido várias vezes é

considerado como um ciclo fechado.

Esse ciclo, em termos de aproveitamento dos materiais e de energia, atende

mais propriamente os requisitos da indústria e atende também, dependendo dos

objetos e dos processos envolvidos, os modelos de produção sustentável.

(MAXWELL E VORST, 2003)

Já no ciclo considerado aberto acontece algum desvio, intencional ou não, em

alguma das fases do ciclo de vida que impede a inteira reciclagem e reutilização dos

materiais.

Segundo os autores (MAXWELL E VORST, 2003) essa forma de ciclo aberto

acontece, geralmente, quando os objetos são descartados de formas inadequadas,

ou ainda, quando não são nem descartadas e nem usados, ficando guardados ou

esquecidos por longos períodos, representando uma ruptura no processo de

aproveitamento e um desperdícios dos recursos.

Conforme Gwilt (2014), o uso e o descarte de produtos de moda são

responsáveis por uma vasta variedade de impactos socioambientais. A sede por

possuir esses bens gerou um enorme crescimento da indústria de produção em

série, cujo mecanismo está em fornecer ao consumidor tendências à um valor

acessível e com um curto espaço de tempo entre as coleções. O sistema produtivo

da moda e o consumo do setor serão apresentados a seguir.

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49

4 CICLO DE MODA E SUSTENTABILIDADE

Segundo Treptow (2003, p.26), “moda é um fenômeno social de caráter

temporário que descreve a aceitação e disseminação de um padrão ou estilo, pelo

mercado consumidor, até à sua massificação e, consequente, obsolescência como

diferenciador social”.

De acordo com Kotler (1999, p.25), os produtos de moda podem ser

classificados em três tipos de produtos de moda de acordo com os seus ciclos de

vida: Produto de Estilo, de Moda e de “Modismo”.

• Produto de Estilo: são os produtos de ciclos longos, permanecem durante

gerações, não interessando se está “na moda” ou não, com vários períodos

sucessivos de interesse.

• Produto de Moda: são produtos com ciclo de vida médio, com um

crescimento gradual de aceitação pelos consumidores durante um determinado

período de tempo e depois diminui lentamente. Também são chamados de produtos

com desempenho de vida progressivo e declínio gradual.

• Produto de “Modismo”: são produtos com ciclo de vida curto que são aceites

rapidamente pelo consumidor, atinge o seu auge em pouco tempo e declina em

seguida.

O sistema de moda atualmente dominante é baseado em calendários que

trabalham com um ano de antecedência, para isso os criadores seguem tendências

ditadas pelo mercado que nascem com data certa para serem extintas. Esse

sistema, conhecido como fast fashion2 opera na lei do baixo custo que fomenta o

sistema de resposta rápida e impulsiva e encoraja o descarte acelerado. (BERLIM,

2012)

O fast fashion é associado a peças de custo e qualidade baixos, o que resulta

em uma custo também menor de produção, podendo trabalhar assim com grandes

2 Moda rápida. (Tradução literal)

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50 volumes de produtos e reposição de peças semanal ou quinzenalmente,

incentivando o consumo impulsivo e desenfreado. (FLETCHER E GROSE, 2011)

Entretanto, segundo Fletcher e Grose (2011) existe um movimento emergente

denominado slow fashion3. Esse movimento consiste em uma abordagem voltada

para o processo criativo e produtivo da moda de maneira desacelerada, pessoal e

personalizada, exclusiva e que minimize o descarte.

Esse novo método de pensar moda surge com o mesmo conceito de antítese

do slow food sobre o fast food, iniciado na Itália em 1986, com objetivo de retomar

os prazeres de consumir algo tradicionalmente local, com insumos da região e

valorização do tempo de apreciação da experiência. “Muda as relações de poder

entre criadores de moda e consumidores e forja novas relações e confiança, só

possíveis em escalas menores” (FLETCHER e GROSE (2011, p.128).

Conforme Berlim (2012) esse movimento também procura reacender o prazer

em criar, em inventar, em inovar e também em consumir. A origem e a procedência

dos objetos a serem adquiridos são questionados pelos consumidores adeptos ao

consumo consciente, que assim buscam fomentar uma cadeia produtiva ética.

Nesse contexto, como mostra a figura 5, a moda adquire uma velocidade

menor de produção, apresentando peças duráveis, que não sejam datadas a

coleções e estações e que criem memórias afetivas com seus consumidores,

evitando o descarte acelerado. (FLETCHER E GROSE, 2011)

3 Moda lenta. (Tradução literal)

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Figura 5 - Síntese comparativa de moda lenta e rápida

FONTE: elaborada pela autora com referencia em Fletcher e Grose (2011)

O slow fashion é considerado uma vertente do conceito de moda sustentável,

e também busca a utilização de matérias-primas naturais e renováveis assim como

condições justas de trabalho e posicionamento no mercado de forma competitiva.

(FLETCHER E GROSE, 2011).

Segundo Fletcher e Grose (2011) dentre as etapas do ciclo de vida da moda

lenta as principais preocupações com a sustentabilidade são:

• Seleção da matéria-prima: o material utilizado para as confecções de

vestuário exerce diversos impactos sobre a sustentabilidade: efeitos

poluentes sobre a água e solo, poluição química; perda da biodiversidade,

uso de recursos não renováveis, efeitos negativos sobre a saúde humana,

efeitos sociais relacionados às comunidades produtoras. Portanto o processo

de moda lenta busca escolher matérias-primas naturais, renováveis, entre

outros.

• Processo de produção de matéria-prima: o processo de beneficiamento têxtil

utiliza diversos produtos químicos, principalmente nas etapas de lavagem e

branqueamento. Esses produtos e processos agridem o ecossistema e

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necessitam de controle ambiental, pois geram resíduos líquidos e sólidos, e o

descarte inadequado pode danificar a água e aumentar a toxicidade dos solos

• Produção dos materiais: o processo de confecção também pode exercer

impactos negativos como o uso de recursos não renováveis (como é o caso

de lavagem de peças), geram resíduos sólidos (provenientes da etapa de

corte e costura) e líquidos (provenientes de lavagens e tingimentos), sem

considerar os processos químicos associados aos aviamentos, que muitas

vezes associados aos metais, é um dos processos mais poluentes da

indústria têxtil. Peças confeccionadas de forma consciente levam o menor

número de aviamentos e acessórios possível, além de minimizar os resíduos

de corte e lavagem;

• A distribuição: a moda lenta procura minimizar as emissões de carbono na

logística de distribuição de matérias-primas e do produto final, pois segundo

as autoras a emissão de carbono (Co2) nos processos de transporte e

desmatamento, por exemplo, aumenta as temperaturas terrestres,

desequilibra o clima e ainda modifica a estrutura química da água do mar.

• Conscientizar o consumidor: informar sobre os cuidados nas etiquetas,

buscando processos de lavagem e secagem mais econômicos;

• Descarte: A moda lenta procura pensar em um produto que, ao final de sua

vida útil, possa ser reaproveitado, reciclado, reutilizado, restaurado ou que se

torne matéria prima para um novo produto, formando um ciclo de vida

fechado.

A temática da moda sustentável começa há pouco a ser trabalhada e chegou

até os designers que procuram uma criação consciente e um processo produtivo

responsável. Algumas práticas estão sendo adotadas no setor, como a preocupação

com toda a cadeia produtiva de cada peça, pensando nos métodos mais eficientes e

responsáveis desde a pré-produção até o processo de descarte do produto. (GWILT,

2014)

Na pré-produção, por exemplo, as autoras Fletcher e Grose (2014) sugerem

que os designers optem por fibras naturais, renováveis e biodegradáveis, pois estas

exercem pouco impacto ambiental. Segundo as autoras (ibid) o processamento têxtil

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53 exerce grande impacto sobre a sustentabilidade, causando efeitos sobre a qualidade

do ar, da água, na toxicidade do solo e na saúde das pessoas e do ecossistema.

As autoras afirma que só poderá haver mudança quando os designers

passarem a envolver-se de forma ativa no processo de beneficiamento têxtil, de

forma a buscar minimizar os impactos ambientais, sociais e econômicos que esta

fase da produção pode causar.

Na fase produtiva, as autoras indicam que a colaboração com artesãos e

trabalhadores locais deva ser valorizada, pois além de gerar renda para o contexto

do trabalhador inserido, este ainda imprime características culturais em cada peça.

A implementação da sustentabilidade na área da moda é considerada um

desafio para novos designers, porém, conforme Gwilt (2014), algumas medidas

como o uso de algodão orgânico, plantado sem pesticidas, tingimentos ecológicos,

sem uso de produtos químicos e com pouco desperdício de água e a valorização do

trabalho local já podem ser encontradas em marcas de moda do mercado atual.

As empresas que realmente representam um reposicionamento

no mercado, em termos de tratamento dos funcionários, de

relação com meio ambiente ou de ações de transformação

social na comunidade não são muitas, e as que existem no

Brasil ainda não desfrutam de tempo o suficiente para serem

percebidas na consistência de suas relações ao longo do

tempo e no reflexo do seu conjunto de crenças e valores

(BERLIM, 2014,p.41).

Conforme Gwilt (2014), o uso e o descarte de produtos de moda também são

responsáveis por uma vasta variedade de impactos socioambientais. A sede por

possuir esses bens gerou um enorme crescimento da indústria de produção em

série, cujo mecanismo está em fornecer ao consumidor tendências à um valor

acessível e com um curto espaço de tempo entre as coleções. O consumo de moda

será abordado a seguir.

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54

4.1 CONSUMO DE MODA

As pessoas, muitas vezes, satisfazem suas necessidades e desejos com

produtos. O produto no mercado de moda tem como função satisfazer o conceito

mais básico e inerente para a funcionalidade e o interesse do consumidor. Quando

se fala em desejo de consumo, deve-se atentar para o fato de que esse desejo é

algo inerente ao ser humano.

Não é somente o desejo que move o mundo, mas ele corresponde a uma

potente mola propulsora capaz de atiçar a vontade de aprender, realizar, crescer,

viver e ser feliz. Explicando-se o desejo com base em Freud (1976): “desejo é o

impulso de recuperar a perda da primeira experiência da satisfação”.

Para Freud (1976) o desejo é o que há de mais perturbador no humano: ele é

inconsciente, infantil, perverso, polimorfo, insatisfeito, divide o aparelho psíquico,

ultrapassa o eu, desconcerta. Assim, associando ao mundo da moda, é possível

dizer que o desejo de consumo está diretamente relacionado com o impulso, com a

motivação.

Em linhas gerais, tem-se o desejo de consumir relacionado ao impulso, ao

estímulo para adquirir determinado produto. Segundo Skinner (1967), várias teorias

motivacionais tem sua base na Psicologia, particularmente quando se trata da

Psicologia e Sociologia voltadas para o comportamento humano, principalmente

quanto ao agente consumidor.

Os estímulos podem ter suas origens internas, onde são fisiológicas ou

psíquicas ou externas, como anúncios publicitários, relações sociais de grupo ou

familiares.

Maslow (2001) coloca que as necessidades humanas explicam o

comportamento motivacional, onde a motivação é o resultado dos estímulos que

agem sobre os indivíduos resultando na ação.

O ciclo motivacional é oriundo da ação e reação dos estímulos que são

implementados através de coisa externa ou mesmo do próprio organismo das

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55 pessoas. Esta é a razão para se sentirem motivadas, o que difere do processo do

estímulo, o qual é passageiro, enquanto que a motivação é muito mais duradoura.

Estar motivado depende do desejo, da carência, do anseio como dados particulares,

inerentes ao homem, não sendo, contudo, descoberto qualquer estado

objetivamente observável, que se inclua diretamente com esses dados individuais,

não tendo uma boa definição comportamental de motivação. (MASLOW, 2001).

Na Teoria Humanista, proposta de Abraham Maslow, os homens e se sentem

como tal, com suas diferenças e particularidades, sendo inerentes a elas as

necessidades fisiológicas, de segurança, de reconhecimento, afeição, autoestima e

auto realização.

Na falta de algumas delas processa-se o desequilíbrio, enfraquecendo suas

energias, porém restauradas com o desejo de continuar lutando a favor da

sobrevivência, cabendo a emoção a causa essencial para a existência da motivação.

Maslow (2001) indicava que as necessidades podem ser imaginadas como

categorizadas em uma hierarquia em que uma necessidade é mais importante do

que as outras até que ela seja satisfeita, predominando assim a necessidade

seguinte, embora a ordem também possa ser invertida.

Gade (1980), afirma que a teoria de Freud é usada no marketing não somente

para firmar motivos intrapsíquicos que levam o ser humano a consumir, mas

também no estudo em termos de propaganda. São três instâncias psíquicas

responsáveis pelo comportamento de acordo com Freud, o id, que se refere aos

impulsos primitivos, o ego, que regula os impulsos selvagens do id com base no

princípio da realidade, e o superego, que é responsável pela representação interna

das proibições da sociedade.

De acordo com Karsaklian (2004), Freud compreendia que o comportamento

humano é determinado através do inconsciente e por impulsos instintivos, assim, o

comportamento tem tendência nem sempre baseada no que é melhor para o

indivíduo.

Frederick Herzberg, de acordo com Gade (1980), é outro influente

pesquisador sobre motivações. Desenvolveu teoria embasada em dois fatores, os

insatisfatórios que causam insatisfação e os satisfatórios que causam satisfação.

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56

Segundo Herzberg, não é apenas a ausência dos fatores de insatisfação que

motivam a compra e sim a presença dos fatores de satisfação, ou seja, de forma

óbvia a teoria de Herzberg apresenta duas sugestões: evitar os fatores de

insatisfação e apresentar os fatores de satisfação.

Os introvertidos tem a concentração voltada para suas próprias ideias com

tendência a introspecção, esses consumidores se apegam no seu mundo interior e

ficam alheios aos estímulos exteriores.

Já os extrovertidos se envolvem com o exterior das pessoas e das coisas, são

mais sociáveis e tem consciência do mundo que os rodeia, além de serem mais

fáceis de serem persuadidos, por conta de serem bem orientados.

Ribeiro (2012) destaca outra teoria motivacional de compra que é a da

realização ou das necessidades adquiridas de McClelland, que foca na forma em

que as necessidades podem ser aprendidas ou adquiridas durante a vida, onde o

indivíduo passa a interagir com o ambiente. São três as necessidades básicas para

o autor, a necessidade de realização, a necessidade de poder e a necessidade de

aflição.

Hirschman e Holbrook (apud LIMA, 2008), colocam o consumo hedônico

como indicador das faces do comportamento do consumidor que são inerentes a

emoção, aos aspectos multissensoriais ou até mesmo o deslumbramento com

determinados produtos.

Os consumidores antecipam o sentimento de prazer com relação aos

produtos e serviços, onde muitas vezes essa sensação é fantasiosa ou passageira,

haja vista, o prazer residir na imaginação do consumidor.

O consumo utilitário conforme Hirschman e Holbrook (apud LIMA, 2008), está

focado na teoria da ação racional de FishBein e Ajzen (1975), que tem como fator

determinante do comportamento de consumo a intenção que o consumidor tem de

praticar determinado comportamento. A escolha através da consciência de suas

consequências que julgam ser mais desejáveis é que é a base da teoria.

Para Berlim (2012) o consumo e principalmente a posse de produtos,

materiais ou imateriais, representam para o indivíduo contemporâneo mais do que

um movimento de aquisição.

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57

De acordo com a autora, “os valores atribuídos aos produtos transcendem

eles próprios e as motivações do consumo de moda vão além da clássica explicação

da busca por status” (2012, p.46). A autora defende que o consumidor também é

influenciado por valores individuais, emocionais e psicológicos.

Ainda de acordo com a autora (ibid), os produtos de moda estão diretamente

conectados as necessidades de “parecer” dos consumidores, e estes aspectos

inconscientes da subjetividade estão intimamente relacionados à identidade de cada

persona.

Assim como os objetos as roupas fazem parte do nosso cotidiano e

testemunham nossa história, carregam mensagens e lembranças, assim como os

cheiros do nosso corpo, nossos movimentos e sensações. Svendsen (2010) afirma

que todos somos tocados pela moda e que embora muitas pessoas tentem

contradizer essa afirmação, essa negativa pode ser facilmente contestada através

de seus próprios hábitos de consumo.

Compreender como e porque as pessoas consomem moda é uma tentativa

de entender as maneiras como as identidades culturais, pessoais e sociais são

construídas e exercidas.

Parte-se do pressuposto de que através do consumo as pessoas constroem

uma imagem de si para si mesmas e para os outros e sinalizam suas preferências e

gostos de modo a aproximarem-se de alguns e afastarem-se de outros sem que seja

preciso pronunciar uma palavra sequer. “Não somos aquilo que compramos, mas,

sem dúvida, compramos o que acreditamos que somos, ou gostaríamos de ser”.

(MASSAROTO, 2008, p. 5).

De acordo com Gwilt (2014), o relatório “Bem vestido? O presente e o futuro

da sustentabilidade do vestuário e dos têxteis no Reino Unido da Universidade de

Cambridge, publicado em 2006, relata que só no Reino Unido há cerca de 2,35

milhões de toneladas de têxteis desperdiçados no período de apenas um ano.

Desses números, 74% são enviados aos aterros sanitários locais, enquanto 26%

são divididos igualmente entre recuperação e incineração.

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58

Portanto é importante ressaltar que, uma vez que a roupa é comprada ela

passa a ser de responsabilidade de seu dono. Seu cuidado e manuseio se encaixam

na chamada “fase de uso” que consiste em várias etapas de conservação como

lavar, secar, guardar e inclusive consertos e reparos. A autora defende que com

esse consumo acelerado é comum que os produtos sejam descartados muito

rapidamente, ainda em bom estado de uso, antes da necessidade de reformas ou

mudanças (GWILT, 2014).

Levando em consideração que apenas os consumidores ingleses descartam

cerca de 30kg de material têxtil per capita, e que estes terão seu fim em aterros

sanitários, deve-se pensar em oportunidades de ressignificação das peças

consumidas para que assim, exista motivação para que determinado produto seja

reformado, concertado e até mesmo reciclado

Para tanto o designer de moda, ao projetar uma roupa, deve, antes de tudo,

buscar conhecer bem o seu público, apreender suas escolhas culturais,

necessidades e desejos, tendo em vista conciliar as características pesquisadas

com o conforto e a praticidade.

De posse desses conhecimentos sobre o grupo social ao qual o sujeito está

integrado e, traçadas as características do perfil do mercado consumidor que se

deseja atingir, é possível manipular a criação de modelos do vestuário que o

individualize e identifique, podendo-se inovar na produção de moda. A inovação no

mercado de moda é abordada no tópico a seguir.

4.2 CONCEITO DE INOVAÇÃO EM MODA

Acredita-se que a queda de barreiras geográficas, produtos customizados,

fábricas chinesas fazendo cada vez mais barato, consumidores híbridos e cada vez

mais exigentes, marcas valendo mais que parques fabris, responsabilidade social

empresarial, perda da capacidade do estado de regulamentação em diversas

questões e um salto na capacidade de organização da sociedade civil, são exemplos

das mudanças no ambiente competitivo, que estão fazendo as organizações se

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59 relacionarem de maneira intensa com as variáveis ambientais, acompanhando de

perto as dinâmicas dos mercados e, principalmente, as mudanças do consumidor.

As atividades de inovação envolvem todos os passos científicos, tecnológicos,

organizacionais, financeiros e comerciais, inclusive o investimento em novos

conhecimentos, que, levem à introdução de produtos ou processos

tecnologicamente novos ou substancialmente melhorados.

Para inovar faz-se fundamental que se conheça o consumidor do seu produto,

reunindo informações suficientes possibilitam lançar produtos no mercado que

atendam às expectativas do consumidor.

Isso fica explícito em Araújo (1995, p. 1):

Na era da competitividade, da exigência dos consumidores e da revolução das comunicações, já não basta produzir em conformidade com as especificações, é fundamental que estas tenham sido concebidas a pensar nos desejos, ansiedades, caprichos e necessidades de grupos diferenciados de consumidores, por vezes heterogêneos e bem sofisticados.

A definição de comportamento de consumo é muito importante para o estudo

do público que se quer atender. Por isso Garcia e Miranda (2007, p. 1) deixam claro

que:

O comportamento de consumo pode ser explicado pela necessidade de expressar significados mediante a posse de produtos que comunicam à sociedade como o indivíduo se percebe enquanto interagente com grupos sociais. A função de possuir é criar e manter o sentido da autodefinição: ter, fazer e ser estão integralmente relacionados. Pessoas expressam o seu eu no consumo e veem as posses, por conseguinte, como parte ou extensão do eu.

Os consumidores dos produtos de moda são pessoas motivadas por

necessidades socioculturais e intrapsicológicas, como personalidade e autoconceito,

motivações estas que merecem análise. Uma vez que atinge suas necessidades e

objetivos, o consumidor, imediatamente desenvolve outros, existindo assim um

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60 psicodinamismo no consumo, no qual a moda é muito representativa.

A moda, atualmente, representa uma das mais importantes atividades

econômicas de qualquer país, pois dita comportamentos, além de servir como meio

de mensagem. A indumentária, assim como as artes plásticas, a literatura, o cinema,

é um elemento de expressão que faz parte da produção cultural de uma sociedade.

Os avanços do setor da moda, impulsionados pela demanda do consumo, por

maiores investimentos e qualificação deste campo, tem ganhado notoriedade no

mundo através de produções inovadoras e criativas.

No setor de moda a inovação se faz fundamental, principalmente

considerando-se a concorrência existente neste mercado. Vale destacar ainda a

concorrência existente no setor de confecções, o qual apresenta um amplo número

de empresas formais.

De acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de

Confecção (ABIT) (2012) o Brasil hoje conta com 30 mil empresas de confecção

formalizadas, sem considerar as revendedoras e lojas informais existentes.

O setor é responsável por um faturamento de US$ 67 bilhões, estimando-se

que o investimento na área é de US$ 2,5 bilhões. A média de produção de

confecções entre vestuário, cama, mesa e banho atinge o significativo número de

9,8 bilhões de peças.

Quanto aos empregos gerados pelo setor tem-se 1,7 milhão de empregados

diretos e 8 milhões se adicionarmos os indiretos e efeito renda, dos quais 75% são

de mão de obra feminina. (ABIT, 2012).

Vale ressaltar, com base nos dados da ABIT (2012), que a moda brasileira

está entre as cinco maiores Semana de Moda do mundo, e que é referência mundial

em design de moda praia, jeanswear e homewear, tendo crescido também os

segmentos de fitness e lingerie.

Dávila et al. (2008) dissertam que no setor da moda tem-se uma inovação

incremental, com melhorias feitas no design, na qualidade do produto, no

aperfeiçoamento de layouts e nos processos, além de melhorias nos arranjos

logísticos e organizacionais. Assim, pode-se dizer que a inovação em moda abrange

todas as vertentes desde seu planejamento até sua distribuição.

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61

Nesse setor, novos produtos são lançados em um curto espaço de tempo, em

geral tem-se duas coleções por ano chamadas de primavera/verão e de

outono/inverno, todavia, as empresas do ramo estão deixando de adotar apenas

essas coleções e lançam novos produtos com um frequência cada vez maior, assim,

além das coleções citadas, lançam novos produtos em um período menor de tempo.

Choi, Chiu e Chester (2010) destacam também a chamada fast fashion4¸ onde novos

produtos são lançados em média a cada 15 dias. Os autores colocam como

benefício desse lançamento de novos produtos em curto espaço de tempo a não

geração de estoque e, assim, não se gera produtos obsoletos.

Vale destacar que na indústria da moda existem modelos diferentes de

inovação, sendo um dos mais conhecidos o modelo de Pesendorf (1995), que se

trata de um modelo microeconômico, onde um só designer faz inovações nos

produtos, havendo um custo fixo para redesenhar novas peças. Esse modelo

considera dois tipos de consumidores: produto de alto tipo e produto de baixo tipo, a

escolha depende do próprio estilo do consumidor.

Pesendorf (1995) não considera um ciclo de moda com dimensão

estabelecida, geralmente, aqueles produtos que possuem um valor alto tem seu

ciclo de inovação longo, enquanto aqueles que possuem um valor mais baixo têm

um ciclo de vida mais curto.

Destaca-se que esse modelo sofre bastante críticas, para Coelho, Klein e

MCclure (2004) a moda trata-se de um fenômeno social por esse motivo não pode

ser explicada por modelos matemáticos, além disso os autores afirmam que não

existe apenas dois tipos de consumidores ou mesmo que escolhem um produto

apenas pelo seu preço.

Cappetta, Cillo e Ponti (2006) descrevem um modelo de inovação em moda

baseado no estilo e na compatibilidade social e estética. Tem-se ainda os modelos

Trickle-down e Bubble-up que são descritos por Jones (2005) e Caldas (2007)

respectivamente, em geral, os autores consideram em seus modelos um ciclo de

vida da moda que vai desde o surgimento de tendência de moda até a sua difusão,

4 (moda rápida) padrão de produção e consumo no qual os produtos são fabricados, consumidos e descartados de forma rápida.

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62 partido dos desfiles de alta costura e das marcas de luxo e por fim chega ao

consumo de massa e aceitação dos consumidores.

Alguns artistas são reconhecidos exclusivamente pelas marcas que usam em

eventos de gala, outros usam joias que são emprestadas por joalherias em

acontecimentos como o Oscar, consolidando dessa forma um status.

Outros utilizam produtos apenas uma única vez e já viram artigo de desejo.

Algumas pessoas anseiam tanto ter um produto de luxo, que os compram

falsificados, já que devido às diferenças e condições existentes se tornam de pouca

acessibilidade a elas.

As fábricas produzem seus representantes do consumo, identificados pela

marca nas lojas, shoppings e estabelecimentos comerciais. Existem comércios que

são representantes do luxo, como os shoppings, mas não são destinados somente a

isso, pois tem uma diversidade de ambientes. (BAUDRILLARD, 1995).

O fato é que a orientação inusitada pela indústria do entretenimento atua pela

sedução. A autoridade das celebridades deriva da autoridade do número onde

aumenta com o número de espectadores, ouvintes, compradores de livros e discos.

O que os espectadores esperam das confissões públicas das pessoas é a

confirmação de que a sua solidão não é apenas favorável pode dar bons frutos.

Bernardi (2010) também diz que as pessoas hoje em dia “precisam de ídolos que

lhes deem um senso de segurança, permanência e estabilidade num mundo cada

vez mais inseguro, dinâmico e mutável”.

Os ídolos, portanto devem ser portadores da mensagem de que a não

permanência está aqui para ficar, mostrando ao mesmo tempo, que a instabilidade

deve ser apreciada e experimentada. Esses ídolos realizam um pequeno milagre:

fazem acontecer o inconcebível, invoca a experiência sem comunidade real, a

alegria de fazer parte sem o desconforto do compromisso. (BERNARDI, 2010).

Quaisquer que sejam os laços estabelecidos na vida da comunidade estética,

elas não vinculam verdadeiramente. O texto menciona também a modernidade como

libertadora de força das mudanças.

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Os operadores políticos e porta-vozes culturais são fiéis ao espírito de

transformação, abandonando o modelo de justiça social como horizonte último de

sequência de tentativa e erros.

Enquanto o modelo Trickle-down se baseia na disseminação por artistas

utilizando as peças, o modelo Bubble-up tem uma moda que emerge das ruas, dos

movimentos de cultura alternativa ou “underground”, sendo este último considerado

a tendência do futuro.

Para Fletcher e Grose (2011), a maioria das inovações de moda em

sustentabilidade podem ser agrupadas de uma forma geral, em quatro áreas

interligadas:

• Interesse crescente em materiais de fontes renováveis, a citar como exemplo,

o uso de fibras têxteis de rápida renovação;

• Materiais com nível mais redução de insumos de produção: água, energia e

produtos químicos, resultando em fibras sintéticas de baixo consumo de

energia ou cultivo de fibras orgânicas;

• Melhores condições de trabalho na produção de fibras para agricultores e

produtores;

• Redução de desperdício na produção de materiais, gerando o interesse em

fibras biodegradáveis e recicláveis provenientes dos fluxos de resíduos da

indústria e do consumidor.

São os conceitos de moda lenta de produção e as inovações baseadas em

sustentabilidade, apresentados nesse capítulo, que guiam o ciclo produtivo da

empresa estudada por essa pesquisa. Portanto, a seguir serão apresentados os

dados obtidos, através da pesquisa de referencial teórico, sobre a principal matéria-

prima que a empresa utiliza, a lã pura.

5 SOBRE A LÃ

A lã é valorizada por suas qualidades e entre todas as fibras é a mais

hidroscópica, com grande capacidade de absorção de umidade da atmosfera,

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64 ajudando a baixar a temperatura do corpo nos dias mais quentes. Isso confere a lã a

propriedade de isolante térmica, tanto do frio quanto do calor.

Essa é a habilidade de absorver e liberar a umidade do ar

circundante, sem comprometer sua eficiência térmica. Quando

as fibras de lã absorvem a umidade, geram pequenas

quantidades de calor. Esta propriedade cria um efeito tampão

natural, estabilizando as alterações de calor que ocorrem com

umidade relativa do ar (BERNHARD, 2013, P. 9).

A lã, além disso, protege a pele contra raios UV, podendo absorver até 35%

do peso em umidade, sem sentir frio. Além disso tem a capacidade de não ser

inflamável, pois quando em contato com o fogo extingue a combustão. É macia ao

toque, possui caimento natural e grande durabilidade (DIAS, et al, 2015).

É uma matéria-prima durável, resistente, forte, flexível, elástica, não amassa

e não perde a forma (BERNHARD, 2013).

A lã possui elevado teor de lanolina, um óleo natural com qualidades benéficas que têm sido reconhecidas há séculos no tratamento de dores musculares e articulares, entorses, contusões, lesões e problemas de sono (BERNHARD, 2013, P. 10).

No Brasil, a lã é usada na moda com viés artesanal pelo clima tropical do

país, sendo um tecido ideal apenas para o inverno (DIAS, et al, 2015).

As lãs finas e superfinas são chamadas de lã fria e são usadas em tecidos

finos para vestuários de alto valor agregado e roupas esportivas. Já a lã grossa,

acima de 30 micras, são menos suaves e usadas mais em tapeçaria para decoração

(BERNHARD, 2013).

A seguir serão apresentados as características técnicas da fibra, o histórico

da produção de lã no Rio Grande do Sul, estado onde esta pesquisa acontece, e

ainda a cadeia produtiva adotada para beneficiamento da fibra.

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65 5.1 CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DA LÃ

Quimicamente a lã é uma proteína denominada queratina, formada por

aminoácidos unidos entre si por longas cadeias. Em sua composição encontra-se

51% de carbono, 22% de oxigênio, 17% de nitrogênio, 7% de hidrogênio e 3% de

enxofre. Essa estrutura solúvel em água lhe confere grande estabilidade,

responsável pela conhecida elasticidade e resistência da matéria-prima. (OSÓRIO et

al 2014)

A estrutura física da lã se apresenta em três camadas: cutícula, cortícula (ou

cortesa) e medula, como mostra a Figura 6. A primeira e externa camada, cutícula, é

a própria lã que composta de queratina apresenta células em forma de escamas de

peixe, sobrepostas umas às outras.

O brilho da lã é originado conforme o tamanho e número de cutículas, as

fibras mais grossas refletem mais facilmente a luz parecendo mais brilhosas e as lãs

mais finas absorvem a luz, ocasionando a falta de brilho.

A cutícula também é responsável por gerar a suavidade ao tato, que ocorre

conforme o maior número de escamas por centímetro, e por gerar resistência e

poder feltrante (HÖCHER, 2000; OSÓRIO et al, 2014).

Figura 6 - Estrutura da fibra

Fonte: Osório et al, 2014 pg 452

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66

A cortícula compõe o corpo da fibra, está protegida pela cutícula e é formada

por células fusiformes e longas, conferindo a lã elasticidade, resistência e

extensibilidade.

A medula, camada mais interna da fibra, é formada por células irregulares e

seu aparecimento desvaloriza o material, visto que esta é uma característica de

presença de ar dentro da fibra e sua quebra ocasiona refração da luz, dificuldades

de tingimento e aspereza à matéria-prima (OSÓRIO et al, 2014).

Devido à essa complexa estrutura viva, foi conferido a lã o título de "rainha

das fibras têxteis" e suas propriedades oferecem características ideais para a

industrialização e fabricação de tecidos para o vestuário.

Uma das citadas capacidades da fibra é a de ser hidroscópica, ou seja, fazer

a troca de umidade do corpo que a veste com o ambiente, o que também lhe torna

termorreguladora, pois mantém a temperatura do corpo em um nível agradável ao

externo. Também se destaca sua função de adaptação e acomodação devido à sua

alta extensibilidade e flexibilidade, assim como sua capacidade não inflamável e de

extinguir combustão (OSÓRIO et al, 2014; PEZZOLO, 2009).

Assim como o pelo humano, a lã se forma sob a pele do animal e esta é

formada de três camadas principais: epiderme, mesoderne e endoderme. A raiz lã

se forma dentro da primeira e mais interna camada, a endoderme, onde também se

encontram diversas estruturas vivas como as glândulas sebáceas (glândulas de

gordura) e as glândulas sudoríparas (glândulas do suor).

A mistura das secreções de suor e gordura nos ovinos gera uma substância

chamada suarda, responsável pela lubrificação da fibra ela impede que a lã se

enrede e condense, protegendo-a de agentes externos, principalmente dos raios

ultravioletas que podem alterar sua composição e estrutura. A falta de suarda resulta

em uma lã quebradiça, seca e condensada. (HÖCHER, 2000).

Além da suarda, a glândula sebácea é responsável pela excreção da lanolina,

substância formada pela mistura de ácidos graxos e esteroides. A lanolina é uma

cera, insolúvel em água, solúvel em solventes orgânicos e que tem objetivo de evitar

o feltramento das fibras, repelir água e proteger o animal dos raios solares.

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67

Por mais que processos tecnológicos sejam usados no processo de lavagem

visando sua inteira retirada, fragmentos de lanolina sempre podem ser encontrados

no interior da fibra (OSÓRIO et al., 2014).

Conforme Bernhard (2013), esse óleo natural apresenta qualidades benéficas

e terapêuticas reconhecidas no tratamento para dores musculares, articulares e de

lesões e quando em contato com o corpo através dos tecidos de lã, pode promover

sensação de relaxamento ao usuário.

5.2 A PRODUÇÃO DE LÃ NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Apresenta-se a seguir a produção de lã no estado, destacando o seu histórico

e raças produzidas na região.

5.2.1 Histórico

A espécie ovina é distinta, pois devido a sua diversidade produtiva e sua alta

capacidade de adaptação a diferentes condições climáticas, está difundida por

quase todas as regiões do mundo. Assim é no Rio Grande do Sul, onde a

ovinocultura é uma das principais atividades desenvolvidas na pecuária local (PIRES

et al, 2014).

Segundo Viana (2008), o estabelecimento da atividade como forma de

exploração econômica se deu no início do séc. XX, onde a crescente valorização da

lã no mercado internacional elevou a exploração da fibra, o principal objetivo da

ovinocultura.

A primeira estatística oficial de ovinos no Rio Grande do Sul foi realiza em

1797 e somava em torno de 17.500 animais (SANTOS; AZAMBUJA; VIDOR, 2009).

Dois séculos depois, no final da década de 1970, a ovinocultura atingiu seu apogeu

e chegou ao número de 13 milhões de animais conforme o Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE, 2009) sendo considerada a segunda mais importante

atividade econômica do Estado.

Como o principal foco da atividade era a exploração da lã, a cadeia produtiva

se desenvolvia com o propósito de maximizar a produção através da criação de

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68 raças específicas para esse propósito, como a Merino Australiano e a Ideal (ÁVILA

et al, 2013)

De acordo com Nocchi (2001), nesse período o valor monetário da lã no

mercado internacional chegou perto dos US$ 4,00/kg e essa valorização motivou os

produtores a aumentarem seus rebanhos, assim como a necessidade de mão de

obra aumentando o número de emprego e renda, e o volume de produção de lã no

Rio Grande do Sul que chegava a 36 milhões de quilogramas por ano.

Porém, no fim da década de 1980 ocorreu a pior crise do setor, que se

estendeu durante toda a década de 1990. Segundo Viana (2008), essa crise se deu

em decorrência do grande estoque de lã da Austrália, onde ainda se encontra a

maior produção mundial, que com o objetivo de proteção comercial criou um

mecanismo baseado em grandes compras e vendas da matéria-prima elevando

assim o preço do produto. Contudo, os preços mais elevados fizeram com que os

consumidores contestassem os valores e deixassem de comprar lã.

A Austrália, na espera da reação do mercado, optou por estocar toda sua

produção, porém os compradores começaram a migrar para as fibras sintéticas que

estavam sendo introduzidas no mercado nesse mesmo período e assim instalou-se

no mundo inteiro a denominada "crise da lã". (NOCCHI, 2001)

O Estado do Rio Grande do Sul, que na época exercia grande importância na

produção e no mercado internacional da lã, sentiu gravemente os efeitos da crise. A

representatividade da negociação com o mercado externo caiu drasticamente, assim

como as cooperativas de recebimento, armazenamento e beneficiamento da

matéria-prima que infelizmente desapareceram da cadeia produtiva o que ocasionou

o cancelamento dos créditos subsidiados à ovinocultura (SANTOS et al., 2009;

NOCCHI, 2001).

A crise causou uma notória diminuição dos rebanhos gaúchos, chegando a

5,6 milhões de animais, além da queda do preço da fibra, que chegou a U$$ 1,52/ kg

(FAOSTAT, 2011 apud ÁVILA et al., 2013).

Enquanto países como Uruguai e Austrália, que hoje são reconhecidos pela

qualidade e finura de sua fibra, procuravam capacitação e formas de produção que

levassem sua lã ao topo das fibras naturais produzidas no mundo, para assim

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69 conseguir enfrentar a crise e retornar ao mercado, os produtores gaúchos migravam

para a agricultura ou, os que não desistiram da atividade, reestruturavam seus

rebanhos para então trabalhar com animais de duplo propósito, lã e carne,

introduzindo assim outras raças à produção gaúcha como a Corriedale, que

atualmente representa em torno de 60% do rebanho do Estado. (NOCCHI, 2001;

VIANA, 2008)

As raças laneiras presentes nos Estados serão apresentadas a seguir.

5.2.2 Raças Produzidas no Estado

Dentre as raças produzidas no Rio Grande do Sul cita-se a Merino

Australiano, Ideal ou Polwarth, Corriedale, estas que serão melhor detalhadas a

seguir. A raça Merino Australiano é originária da Espanha, porém difundida por

vários países e constitui diversas variedades. No Rio Grande do Sul optou-se pela

criação da variedade Australiana, pois esta apresenta melhor lã, de fibras mais

longas e cor clara, apresentado na figura 7.

A espessura da fibra está na medida entre 16 e 26 micras, classificando a lã

entre Merina Fino e Prima B nos padrões brasileiros de classificação de lã suja. O

velo5 pesa em entre 3 a 6 kg nas ovelhas fêmeas e de 6 a 15 kg nos carneiros.

(MACEDO, 2014).

5 O total de lã retirada do animal, descontando as lãs das patas e da barriga. (BERNHARD; DIAS;

GRAZZIOTIN, 2013)

Figura 7 - Raça Merino

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70

Fonte: Magazine (2013)

Já a raça Ideal ou Polwarth é Originária da Austrália é o resultado do

cruzamento genético entre carneiros da raça Lincoln e fêmeas Merino Australiana,

apresentado na imagem 8. Apresenta lã de cor branca, macia e com espessura

entre 23 e 26 micras, sendo classificada como Amerinada, Prima A e Prima B. O

velo das fêmeas da raça Ideal pesa entre 2,5 a 5kg e de 8 a 10kg nos carneiros.

(MACEDO, 2014)

Figura 8 - Raça Ideal

Fonte: D’agua (2013)

Outra raça produzida no Estado é a Corriedade. Originária da Nova Zelândia

é o resultado do cruzamento entre as raças Lincoln e Merino e posteriormente com

as raças Leicester e Border Leicester. É a raça de dupla aptidão mais presente na

América do Sul e é uma raça com perfeito equilíbrio zootécnico, sendo 50% para

produção de lã e 50% para produção de carne, apresentada na imagem 9.

Sua lã é branca e bem lubrificada, com diâmetro entre 26,5 a 30,9 micras,

sendo classificada como Cruza 1 e Cruza 2 (MACEDO, 2014).

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Figura 9 - Raça Corriedale

Fonte: Paiva (2014)

Como já citado anteriormente, as lãs finas são utilizadas para o vestuário por

seu alto teor de conforto. Isso se deve ao fato de que as lãs finas são compostas por

fibras longas, tornando-as fios contínuos e que não formam peeling6. Entretanto, as

lãs mais grossas são compostas for fibras curtas, que apresentam baixo teor de

conforto, maior apresentação de peeling e toque desconfortável.

Como apresenta o quadro 1, a raça Merino Australiano é a que fornece a lã

mais fina e de fibras longas, por isso é a mais utilizada no ramos do vestuário, assim

como a Ideal. Já a raça Corriedale produz uma lã mais grossa de fibras mais curtas

mais utilizada para artesanato e para confecção de peças de lida no campo.

(BERNHARD, DIAS E GRAZZIOTIN, 2013)

Quadro 1- Classificação da Lã

Classificação Brasileira Diâmetro em Micras Raça Produtora

Merina Fina 15-18 Merino

6 Também conhecido como as bolinhas das roupas, que geram sensação de coceira. (PEZZOLO,

2009)

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Merina 19 - 22,0 Merino

Amerinada 22,1 - 23,4 Merino e Ideal

Prima A 23,5 - 24,9 Ideal

Prima B 25,0 - 26,4 Ideal

Cruza 1 26,5 - 27,8 Corriedale

Cruza 2 27,9 - 30,9 Corriedale

Fonte: A autora (2017) adaptado de Bernhard, Dias e Grazziotin (2013)

A seguir será estudado o processo de produção da matéria-prima.

5.3 CADEIA DE PRODUÇÃO

Na presente seção serão apresentados os processos que fazem parte da

cadeia produtiva da lã gaúcha. Conforme Bernhard, Dias e Graziziotin (2013) o

processo inicia-se na Esquila, técnica que será explicada a seguir.

5.3.1 Esquila

O processo de esquila consiste na retirada da lã dos ovinos, ilustrado na

Figura 10, pode ser feito com tesoura manual, chamada de esquila manual ou a

martelo, elétrica, chamada de esquila mecânica ou a máquina ou ainda pode ser

realizado de acordo com o Método Australiano ou Talli Hy. Os métodos serão melhor

descritos a seguir.

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No Rio Grande do Sul, esse processo geralmente começa no mês de

Setembro e se estende até o fim do mês de Dezembro (BERNHARD, DIAS E

GRAZZIOTIN, 2013, p. 90)

Fonte: Dessler, 2013.

Destaca-se que no Rio Grande do Sul, o termo esquilar é o mesmo que

tosquiar, tratando-se do processo de extração da lã do corpo animal. A seguir serão

apresentados os três conhecidos para o processo.

5.3.1.1 Método Manual Ou A Martelo

Segundo Bernhard, Dias e Grazziotin, (2013) esse é o método mais antigo e

ainda o mais utilizado no estado. É indicado para fazendas com peque

nos rebanhos, pois em 8 horas de trabalho, um esquilador experiente, consegue

tosquiar cerca de 30 animais.

Nesse método, como ilustra a Figura 11, é preciso apenas uma tesoura e o

animal ficam preso, ou maneado, como se costuma chamar. É muito utilizado

devido ao baixo custo dos aparelhos e da tradicionalidade do método.

Figura 10 - Processo de esquila

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–Fonte: Cstaffa, 2007.

Na técnica manual pode-se utilizar a tesoura ou o martelo. Produtores

preferem a tesoura, pois é menos agressiva e protege as ovelhas contra as

mudanças climáticas.

5.3.1.2 Método mecânico ou a máquina

Nesse método é utilizada uma tesoura elétrica, como uma máquina de corte

de cabelo, e por isso é muito mais rápido e o corte fica mais igual. É indicado para

grandes rebanhos, pois um esquilador, em um dia de trabalho, consegue esquilar

em torno de 100 a 150 animais. Nesse método, ilustrado na Figura 12, o animal

também fica maneado (BERNHARD; DIAS; GRAZZIOTIN, 2013).

Figura 11 - Método manual

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Figura 12 - Método a máquina

Fonte: Chipude

5.3.1.3 Método Tally Hi Ou Australiano

Esse método ainda é considerado novidade no estado, e embora haja,

segundo R$ 200 mil previstos do Fundo de Desenvolvimento da Ovinocultura

(FUNDOVINOS) para o investimento de 35 máquinas de tosquia, o método, segundo

Bernhard, Dias e Grazziotin (2013) enfrenta dificuldade de chegar ao produtor, que

já está acostumado à sua forma de tosquiar os animais.

Conforme os autores (ibid), esse método traz benefícios, pois o animal é

esquilado solto, preso apenas entre as pernas do esquilador, como mostrado na

Figura 12. Isso evita que o animal sofra e o velo é retirado inteiro. Esse serviço é

feito em menos tempo e com bem mais qualidade, pois a fibra não fica tão suscetível

a impurezas e sujeiras, valorizando o produto.

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Fonte: Bernhard; Dias; Grazziotin, 2013, p. 92

5.3.2 Lavagem

Após a lã ser retirada no processo de esquila, ela precisa passar por um

processo de lavagem que visa retirar o máximo de suarda e lanolina da fibra, assim

como demais materiais orgânicos presentes na lã.

Artesanalmente esse processo é feito em baldes ou tonéis, onde a lã é

mergulhada em água pura à temperatura aproximada de 40º C. Nesse período é

necessário evitar muita fricção entre as fibras evitando que a lã se feltre. Esse

procedimento é repetido diversas vezes até que a lã se encontre limpa, mais clara e

menos gordurosa.

No método artesanal pode ser adicionada uma fração de amaciante durante a

última lavagem, para que a lã perca seu cheiro característico. (PARKES, 2009)

Já industrialmente, o processo de lavagem de lã consiste em um

procedimento técnico. Nesse método a lã é depositada em uma máquina que é

composta de uma esteira, bacias com sistema de decantação, ancinhos suspensos

e um duto de ar para secagem.

Figura 13 - Método tally hi

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As fibras depositadas na esteira são conduzidas até primeira bacia que

contém água em até 35º C e sabão neutro.

Nesse primeiro molho é retirado o maior número de lanolina e suarda

presentes na fibra com o auxílio do ancinho, uma travessa dentada que imitando

uma escova, vai penteando a lã submersa e assim evitando seu feltramento.

Após esse banho a esteira vai conduzindo a lã as demais baciais e até o duto

de secagem que, como um secador de cabelo, sopra ar em temperatura ambiente

até que a lã esteja seca (HALLIDAY, 2000).

Com esse processo feito a lã limpa passa para o processo de cardagem, que

será descrito a seguir.

5.3.3 Cardagem

O processo de cardagem tem a finalidade de abrir as fibras para

desembaraçá-las e remover possíveis resíduos do processo de lavagem. Além

disso, a cardação permite que as fibras, até então curtas, se tornem uma fita

homogênea e contínua, pronta para o processo de fiação (HUNTER, 2000).

Artesanalmente o processo de cardagem pode ser realizado de duas formas,

manual ou mecânica. Para o método manual são usadas duas escovas dentadas

com fios de aço que movimentadas em sentidos opostos, como mostra a figura 14,

penteiam a lã e desfazem seus nós (PARKES, 2009).

Figura 14 - Carda manual

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Fonte: Bernardo (2014)

Para agilizar o processo pode ser usado uma carda elétrica, que consiste em

dois rolos rotativos revestidos com dentes de fios de aço, onde a lã vai passando e

sendo penteada, conforme mostra a figura 15. (PARKES, 2009)

Figura 15 - Carda elétrica

Fonte: Tejo Lo Que Hilo

O processo industrial de cardagem consiste em uma máquina com o mesmo

funcionamento da carda elétrica, porém com muito mais capacidade produtiva.

A carda industrial é formada por diversos rolos dentados, como mostra figura

16, que como uma esteira, vai penteando a lã e deixando-a pronta para o processo

de fiação, que será descrito a seguir (HUNTER, 2000).

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Figura 16 - Carda Industrial

Fonte: TEXMICBOL, 2014

5.3.4 Fiação

O processo de fiação tem como objetivo a transformação da placa de lã

cardada em fios de diversas espessuras. Para isso as fibras cardadas passam pela

roca, instrumento artesanal de madeira, que conforme a pressão exercida pelo fiador

vai condensando as fibras e unindo-as em um único fio, como mostra a figura 17

(PARKES, 2009).

Figura 17 - Fiação artesanal

Fonte: Casa Cláudia, 2011

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O processo de fiação quando artesanal é realizado em quatro rodas próprias

com filamentos unificados consistentemente.

Esse método também pode ser feito de forma industrial, onde a placa de lã

após a cardagem é armazenada em rolos em um cilindro fundo e a máquina, a partir

da extremidade do rolo, vai puxando e exercendo a pressão delimitada para cada

espessura de fio desejado, como mostra a figura 18 (HUNTER, 2000).

Figura 18 - Fiação industrial

Fonte: Textile Industry

No processo de fiação industrial da lã, mede-se a sua espessura em micras

que vai da mais fina que é considerada a melhor para a mais grossa. É a distancia

da ondulação da mecha de lã que determinará a qualidade.

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6 ESTUDO DE CASO

O estudo de caso que norteia a presente pesquisa, diz respeito a uma

empresa de vestuário feminino que utiliza, como matéria-prima para confecção de

seus produtos, lã pura produzia por um produtor rural da região da campanha do Rio

Grande do Sul.

Para preservar o anonimato dos indivíduos envolvidos na pesquisa, suas

identidades serão mantidas em sigilo, utilizando apenas letras para sua

identificação.

A análise desse estudo se dará a partir de dados de documentos coletados

sobre a empresa; do referencial teórico relacionado ao Design e à sustentabilidade;

de entrevistas com fornecedores e da observação em campo das etapas que

constituem o ciclo de vida dos produtos.

6.1 SOBRE A EMPRESA

A empresa objeto desse estudo será identificada como Empresa AMG, a fim

de preservar sua identidade e anonimato como mencionado previamente.

A empresa AMG trata-se de uma microempresa optante pelo Simples

Nacional, composta por duas sócias-proprietárias e uma designer funcionária. A

empresa conta ainda com dois prestadores de serviço em contrato mensal e 15

prestadores de serviço para confecção de seus produtos.

Em seu site na internet a empresa se apresenta como:

Moda sustentável, responsabilidade social e produção artesanal são as premissas que movem a “empresa AMG. Com foco em peças exclusivas de lã pura e materiais sustentáveis, acreditamos no consumo consciente, com maior qualidade e respeito pela natureza e menos quantidade.

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Essa empresa surgiu no ano de 2014, a partir de um momento de tristeza

para uma das sócias. No ano anterior, 2013, a fundadora perdeu sua avó, uma

tricoteira excelente e muito talentosa que não conseguiu terminar seu último

trabalho, deixando-o pela metade. Ela não ensinou a técnica a nenhuma de suas

filhas e netas e, assim, estas precisaram procurar alguém para finalizar o blusão.

Nesse momento a sócia, formada em moda, decidiu que trabalharia com mão

de obra social, procuraria idosas que tricotassem para suas famílias e não

procurassem na técnica fonte de sustento. Pois assim poderia dar-lhes prazer, por

fazerem o que gostam, e ainda um complemento de renda. Portanto encontrou

dificuldades no recrutamento de idosas, e assim optou por trabalhar com mulheres

de diferentes faixas etárias, abaixo da linha da miséria, atendidas pela prefeitura do

município de Dom Pedrito, sua cidade natal.

Quando chegou o momento de escolher a matéria-prima para confecção dos

primeiros protótipos a empresária decidiu que não trabalharia com material sintético,

apenas com fibras naturais. Optando, assim, por trabalhar com lã pura, matéria-

prima rica em qualidade e muito produzida na região da campanha do Estado do Rio

Grande do Sul.

Conforme o site da empresa “o objetivo da marca é propagar um estilo de

vida, baseado em amor, dedicação e consciência, com aproveitamento dos recursos

naturais sem agressão ambiental”.

A seleção da matéria-prima acontece em parceria com a ARCO- Associação

Brasileira de Criadores de Ovinos, que selecionou um criador de ovelhas que preza

pelo bem estar dos seus animais e pela qualidade de sua lã e é acompanhado pela

associação. Esse é o único fornecedor de matéria-prima da empresa e os dados

colhidos em sua entrevista serão apresentados na seção seguinte.

Sobre a mão de obra, o site da empresa informa que:

O trabalho artesanal é realizado por tricoteiras da cidade de Dom Pedrito no interior do RS, que além de fornecerem a mão de obra para as peças em tricô, recebem apoio e assistência social com uma remuneração justa. Através da especialização do trabalho empoderamos redes de mulheres que estão em nossa cadeia produtiva. O reconhecimento do trabalho delas vai além do valor monetário, as tags costuradas aos tricôs, trazem o nome da tricoteira que o produziu, o tipo de lã e a cor.

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As artesãs trabalham em suas casas e se encontram uma vez por semana

para trabalharem juntas. Uma vez por mês a empresa leva uma professora de Porto

Alegre para que ensine novas técnicas e ajude com acabamentos e dúvidas. Além

disso, a empresa procura levar uma psicóloga a alguns encontros para que ela

avalie o andamento do grupo e algumas questões pessoais de cada artesã.

6.2 APRESENTAÇÃO DAS ENTREVISTAS

De acordo com a organização da coleta de dados, a próxima seção

apresentam os dados colhidos nas entrevistas, divididas por categoria de

participante.

Primeiramente será apresentada a entrevista com a designer da empresa,

seguido pela pelas entrevistas com o fornecedor de lã e com as artesãs que

trabalham para a marca.

Vale ressaltar que as falas dos entrevistados foram mantidas integralmente

quando citadas de maneira direta.

6.2.1 Entrevista com a designer da AMG

A entrevista com a designer da empresa AMG aconteceu no mês de

Novembro do ano de 2016, na intenção de colher informações sobre a história da

empresa, sobre seu processo produtivo, seus atores, entre outras.

A entrevistada será identificada nesta pesquisa com o código GH. A entrevista

seguiu roteiro que aborda questões divididas nas seguintes áreas:

- Informações pessoais, que trata dos dados sobre a formação e atuação

profissional;

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- Informações sobre a empresa, história de surgimento, perfil de clientes,

missão, visão e valores, portfólio de produtos, processo de criação e planejamento

de coleção;

- Significado de sustentabilidade, valores e questões ambientais, sociais

e econômicas, conflitos entre as questões da sustentabilidade e o processo

produtivo, processo de inovação perante os temas de sustentabilidade;

- Ciclo de vida do produto, desde a pré-produção ao descarte, atores

envolvidos e logística.

O depoimento aconteceu na sede da empresa, na cidade de Porto Alegre,

considerado o escritório de design da marca.

Em relação às informações pessoais, GH é formada em Design de Moda e

atua como designer na empresa AMG há mais ou menos um ano, quase desde o

início de seu funcionamento. A sua principal função é o planejamento e o

desenvolvimento das coleções e o controle de qualidade das peças.

A cerca do surgimento da empresa, a entrevistada aponta que acompanhou

todo o processo de desenvolvimento da marca, visto que foi colega de faculdade da

proprietária e assim sempre esteve envolvida com a empresa e se sente feliz hoje

em fazer parte da histórica de AMG. O relato sobre a história da empresa foi

utilizado para descrição da marca na seção anterior.

Em uma das paredes do local estão expostos a missão, a visão e os valores

da empresa, reproduzidos a seguir.

Missão: Valorizar a matéria prima natural, diminuir o uso de corantes e

fixadores químicos e promover a mão de obra social, através do desenvolvimento de

moda sustentável.

Visão: Se tornar uma marca de referência nacional em moda sustentável até

2020.

Valores:

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Ética: Compromete-se com desenvolvimento de uma moda diferenciada e

justa.

Coerência: Todos os detalhes seguem a mesma linha de sustentabilidade

como embalagens, catálogos e etiquetas.

Fidelidade: Fidelidade aos princípios estabelecidos na marca, não se

deixando levar pelas facilidades da moda sintética.

Confiabilidade: Confiança do cliente na origem, rastreabilidade e da utilização

da matéria-prima.

A proposta da empresa é tornar-se conhecida pelo que faz, no mercado em

que atua. Pretende-se que a marca ganhe notoriedade pela excelência dos seus

produtos e serviços, servindo futuramente de parâmetro para novas empresas do

mesmo setor ou de outros setores.

Sobre o planejamento das coleções é relatado que envolve a pesquisa de

tendência de comportamento e que a empresa não trabalha com tendências

estéticas, pois apostam e acreditam na atemporalidade de seus produtos e por isso

eles não imprimem “modinhas”, conforme a designer.

Ainda sobre o planejamento GH conta que a empresa trabalha com duas

coleções por ano, ao contrário do calendário da moda tradicional que trabalha com

quatro. A marca acredita que o calendário tradicional é o oposto da atemporalidade

e “[...] humanamente impossível de trabalhar de forma artesanal com intervalos de

três meses por coleção.”

Acerca do processo criativo a entrevistada relata que ele acontece em grupo,

contando com uma das proprietárias da empresa e ainda um consultor em moda que

trabalha com a empresa a distância.

No início nosso processo de criação era como aprendemos na faculdade, fazíamos várias pesquisas, desenvolvíamos paleta de cores, de modelagens, de padrões e ainda painéis de referência e assim criávamos nossos desenhos. Mas com a experiência vimos que não funciona, além de perdermos muito tempo com esse processo todo, precisamos seguir o que as artesãs sabem fazer, porque quase nunca o que criamos sai como esperamos. (Entrevista GH, 2016)

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A frase citada acima se refere ao processo de confecção das peças que é

feito por artesãs da cidade de Dom Pedrito. GH relata que a empresa trabalha

principalmente com peças de “jogar por cima” como casacos, palas, capas e mantas

e que as técnicas mais utilizadas para confecção desses produtos são o tricô, o

crochê e o tear.

“Todo a confecção é feita à mão em Dom Pedrito, a distância nos atrapalha

bastante, mas a ED (designer proprietária da empresa) vai bastante para trabalhar

com elas (as artesãs)”.

A designer GH conta que no início da empresa a dificuldade de confecção foi

grande, que as artesãs não sabiam seguir medidas em centímetros (apenas em

receitas das técnicas), sabiam apenas confeccionar pontos básicos das técnicas e

que o acabamento “era de chorar”.

Mas conta que durante o primeiro ano de vida a marca praticamente só

investiu em capacitação, levou professoras regularmente para ensinar pontos mais

elaborados, acabamentos primorosos, modelagens a partir de centímetros e que no

ano de 2016, então, as coleções começaram a funcionar melhor.

Quando questionada sobre o significado de sustentabilidade para a empresa,

GH diz que ela nunca foi muito preocupada com a sustentabilidade, mas desde que

entrou para a empresa, foi levada a palestras, ganhou livros e passou a se encantar

pelo “[...] desafio que é criar moda de forma sustentável”.

Além disso, conta que a empresa tenta ser responsável em todos os âmbitos

da sustentabilidade (ambiental, social e econômica).

Se tivesse que pontuar acredito que estaríamos bem nos quesitos ambientais e sociais, mas ainda precisamos melhor muito no econômico. Como toda empresa nova ainda não pagamos nossas contas com as vendas, ainda precisamos pedir investimento. Outra coisa que precisamos melhorar no quesito econômico é a logística, usamos muito os correios ou nossos carros no processo de produção da matéria-prima e dos produtos, é tudo muito longe. (ENTREVISTADA GH, 2016)

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Assim entramos no tema do ciclo de vida do produto. GH relata que após o

processo de beneficiamento de lã acontece uma vez por ano e assim a empresa tem

matéria-prima para confeccionar suas duas coleções.

Conta que o processo começa com a micronagem dos animais e assim

seleção do fornecedor, feita pela ARCO. Após a seleção do fornecedor, esse vende

a lã para a empresa quando esquila os animais e a lã é levada para lavagem. Relata

que ela não acompanha esse processo, o acompanhamento é feito pela proprietária

da empresa, mas que a matéria-prima é rastreada pela empresa e pela ARCO.

“Eu acompanho a partir do processo de fiação, que daí vamos para o

tingimento e confecção. Eu acompanho a parte de desenvolvimento de produto

propriamente dito.” (Entrevistada GH, 2016)

O processo de fiação é feito artesanalmente, em Dom Pedrito, por uma artesã

fiandeira, na roca elétrica. GH diz que o fio não fica regular, mas que o fazer

artesanal está intrínseco aos produtos da marca e que isso não é um problema.

O processo de tingimento é feito por GH e pela designer proprietária da

empresa em Porto Alegre.

Usamos apenas extratos vegetais, como canela, carqueja e macela. Além dos extratos in natura, também fazemos uso de pigmentos desenvolvidos através de extratos vegetais, fornecidos pela empresa EB. Esses pigmentos (da empresa EB) facilitam bastante o processo, pois nos poupam tempo e ainda conseguimos cores além do marrom e verde e ainda mantemos a responsabilidade ambiental. (ENTREVISTADA GH, 2016)

Após o tingimento a lã está pronta para ser tecida, para isso é levada de

Porto Alegre novamente para Dom Pedrito. Conta que é preciso ter paciência para

trabalhar com o artesanal, que as peças demoram em torno de 10 dias para ficarem

prontas e que até entrar para a AMG, estava acostumada a trabalhar com facções,

com quantidade, com velocidade.

Ainda conta que hoje a empresa conta com 15 artesãs trabalhando na

confecção das peças, que a marca foi conhecendo as especialidades e facilidades

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88 de cada uma e que “ver o orgulho delas ao finalizar peças diferenciadas e com

conceito de design é muito gratificante.” (Entrevistada GH, 2016)

Ao mesmo tempo os erros acontecem, e segundo GH, hoje a empresa

aprendeu a lidar com eles sem decepção. A empresa proporciona apoio psicológico

ao grupo regularmente e trabalha para que as artesãs não se sintam mal quando

uma peça não fica como o esperado.

GH conta que esse acompanhamento teve início quando uma artesã, que até

então produzia rapidamente e peças muito bem feitas, não estava satisfeita com a

confecção de um produto e ficou tão ressentida que teve uma crise de hipertensão e

teve que ser atendida no pronto atendimento da cidade.

A entrevistada diz que intenção da empresa não é causar mal estar para as

artesãs cobrando prazos e qualidade, mas que isso precisa ser feito pois é uma

atividade profissional.

Sobre a comercialização conta que a marca é bastante presente em feiras de

design que acontecem em Porto Alegre, além de promover eventos próprios.

Também participa de feiras em São Paulo e tem canal de venda online.

Existe a parceria com lojistas, mas GH diz que “é complicado, não sabemos

se o conceito da empresa chega ao consumidor, além da margem ser menor e o

valor da peça ficar mais alto”.

GH finaliza o relato sobre o ciclo de vida contando que a empresa incentiva

seus consumidores a retornarem as peças para reciclagem e desconto na aquisição

de um novo produto, mas que como a marca é jovem no mercado esse processo

ainda não aconteceu.

Por fim, ao ser questionado sobre sua satisfação pessoal ao trabalhar na

empresa, GH avalia que:

[...] cresci muito pessoalmente, é satisfatório saber que tu trabalha por algo do bem, por algo que faz bem para as pessoas envolvidas, por algo com propósito. Além de ter aprendido a praticar a paciência (risos) porque é um processo demorado, longo, complexo e o tempo de todos os envolvidos precisa ser respeitado. (ENTREVISTADA GH, 2016)

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Na seção seguinte estão apresentados os dados captados na entrevista com

o fornecedor de matéria-prima.

6.2.2 Entrevista com fornecedor de lã

A entrevista com o fornecedor de lã da marca AMG aconteceu no mês de

novembro na propriedade rural do criador, onde cria seus animais. Para identificação

o fornecedor será denominado GP.

No dia que GP recebeu a pesquisadora também recebia alunos do curso de

veterinária da universidade da região, que a convite da ARCO foram acompanhar o

processo de micronagem fornecido pela associação. Esse processo será relatado na

apresentação das observações.

O objetivo da entrevista era colher informações sobre o manejo animal,

sobre a preocupação do bem estar dos animais e os processos de criação adotados

por esse fornecedor.

Para tanto a entrevista seguiu roteiro que aborda questões divididas nas

seguintes áreas:

- Manejo animal: a fim de saber sobre a criação dos animais e os

procedimentos adotados para seu desenvolvimento como dosagens, alimentação,

tempo de vida, exposição ao sol.

- Esquila: método adotado para esquilar os animais e o bem estar dos

mesmos nesse processo.

O ambiente movimentado não favoreceu a entrevista, GP se mostrou

agitado, fornecendo as respostas sem detalhamento.

Quando questionado sobre seu rebanho, conta que ele é todo formado pela

raça Merino Australiano e que cria, em duas propriedades, em torno de 1.500

animais, divididos entre P.O denominação para animais puros de origem e S.O,

animais puros por cruza.

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90

Ele conta que faz controle de verminose e frieira regularmente, mas que a

verminose é mais controlada pois prejudica mais a saúde dos animais.

Conta que sua produção é de merinos reprodutores, ou seja, a genética de

seus animais é valorizada, assim como a sua lã, ao contrário da carne. Portanto não

costumam abater os animais, eles vivem em torno de 10 a 12 anos a não ser que o

animal tenha algum aspecto que o desvalorize para venda, como mancha na

pelagem ou problemas de saúde que venham a complicar seu desenvolvimento.

Quando fala sobre a idade dos animais a pesquisadora questiona sobre o

comportamento da lã com o avançar da idade do animal. GP conta que quanto mais

velho o animal mais fina fica a lã e que além da idade a alimentação influência a

qualidade da lã.

Por exemplo daquele carneiro ali (aponta para o animal) que esta com 20 (de micronagem) se tirar a ração baixa pra 19 ou 18. A comida influência muito, quanto mais bem nutrido o animal a tendência é engrossar o fio, já o animal com uma nutrição normal ou baixa a tendência é afinar.” (ENTREVISTADO GP, 2016)

Relata também que tem alguns animais criados em galpão, para participar

de feiras e exposições. Esses animais se alimentam de ração balanceada e de

aveia. Os outros animais são criados a campo e se alimentam de pastagens nativas

da região.

Ainda conta que esses animais de campo engordam com rapidez e que isso

é importante porque a ovelha da raça merino não é boa produtora de leite e o pasto

faz com que o cordeiro pegue peso com facilidade.

Finaliza a entrevista contando que o processo de esquila é feito entre

dezembro e janeiro e que é feito à máquina. Conta que investiu em uma máquina

suíça que não machuca o animal.

Quando questionado sobre o método tally hi conta que não o pratica porque

é mais caro, existem poucos esquiladores treinados para essa técnica e que a mão

de obra acaba sendo mais custosa.

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91

A seção a seguir apresenta os dados coletados nas entrevistas com as

artesãs que prestam serviço a empresa.

6.2.3 Entrevista com artesãs

As entrevistas com as artesãs aconteceram no mês de dezembro durante a

observação de um dia de trabalho em grupo. Como os horários de trabalho são

flexíveis, pois algumas delas ocupam outras funções profissionais, entrevistaram-se

cinco artesãs, que foram denominadas AT1, AT2, AT3, AT4 e AT5.

As entrevistam seguiram o roteiro programado podendo ser dividido nas

seguintes categorias:

- História com o artesanato, como e com quem aprendeu, seu histórico

com o fazer manual;

- Relação com a empresa, mudança na vida gerada pelo projeto,

consequências e expectativas.

A relação dos entrevistados com o artesanato iniciou na infância, onde

aprenderam com suas mães e avós o ofício do tricô. O contato com outras técnicas,

como o crochê, tear e bordado, veio ao decorrer da vida, pois são um pouco mais

complexas de ensinar para crianças.

Antes de a AMG chegar na vida das artesãs entrevistadas AT1, AT2 E AT4

faziam artesanato principalmente para a família e participavam da casa de cursos da

Prefeitura de Dom Pedrito, onde eram atendidas pela secretaria de assistência

social.

Esse movimento ensinava projetos básicos de artesanato e seus produtos

podiam ser vendidos na casa. Elas contam que o retorno financeiro não era muito,

mas que na situação que vivem “tudo o que vier é lucro.” (ENTREVISTADA T2,

2016).

Já a artesã AT3, se especializou no crochê e como professora de magistério,

aceitava algumas encomendas no tempo livre. Nunca viveu do artesanato, exceto

agora que está aposentada e o artesanato é uma boa fonte de renda extra.

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92

A artesã AT5 é mais jovem do que as outras e trabalhou sempre como

cuidadora de idosos. No ano de 2016 enfrentou dificuldades no trabalho, se

desmotivou e entrou em depressão.

Uma amiga artesã da AMG a incentivou a confeccionar uma peça e estudar

a possibilidade de fazer parte do grupo. Depois de resistir bastante aceitou fazer um

bordado, logo após um vestido e hoje é uma das artesãs mais produtivas da

empresa. Ela conta que:

eu estava triste, desanimada, descontente com o trabalho, ia pedir demissão. Mas ai eu comecei a trabalhar para a AMG durante o dia e pegar meu turno (na casa da família que trabalha) durante a noite e comecei a desestressar, melhorei bastante e agora nem penso mais em sair do trabalho. (ENTREVISTADA AT5, 2016)

A artesã AT1 é muito ativa na empresa, produz bastante, com qualidade e

velocidade. Ela cria um neto de um ano que passou por um transplante de rins no

ano de 2015. Ela conta que além de renda extra, que a deixa muito satisfeita, com

as produções da AMG ela se distrai, pensa em outras coisas e quando está com ele

no hospital (ele faz visitas frequentes) fica tecendo as peças e assim não pensa nas

coisas ruins que estão acontecendo.

Embora não tenha sido questionado, AT1 relata que está satisfeita com a

remuneração, que conversou com o filho dela e que este disse que pessoas que

trabalham em fábricas de calçados ganham muito menos para trabalhar muito mais.

A artesã AT2 é uma das mais velhas do grupo, no dia da entrevista estava

completando 50 anos de casamento. Ela conta que sempre fez trabalhos em tricô,

principalmente roupa de bebe e quase sempre para a família.

Nunca conseguiu tirar uma renda suficiente para manter as contas mas que

sempre gostou de tricotar e isso a manteve produzindo. Quando a AMG entrou na

vida dela ela relata que ficou insegura, que não sabia se conseguiria produzir nos

prazos e ainda com qualidade de acabamento. Inicialmente aceitou apenas peças

mais simples e sempre contou com a ajuda da artesã AT1 que é sua vizinha. Hoje

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93 ela ainda produz peças mais simples mas com acabamento impecável e dentro do

prazo.

A artesã AT4 é filha da entrevistada AT2. Conforme o relato de AT4 quando

começou a trabalhar para AMG não ia a nenhuma das reuniões, não gostava de

conversar com desconhecidos e sua mãe que passava os trabalhos a ela.

Com o tempo aceitou ir a uma reunião, porque o repasse de informação

acabava gerando erros de confecção, e assim ao conhecer as meninas da AMG “vi

que poderia participar, que não era tratada diferente, que não precisava ter medo

nenhum.” (ENTREVISTADA T4, 2016) Hoje ela trabalha como cuidadora de crianças

e no tempo livre trabalha para a AMG, porém com menos frequência do que antes.

A artesã AT1 diz que o que a deixa mais feliz é assinar as peças que faz. Diz

que nunca acreditou que teria capacidade para fazer as peças que as meninas

pedem e que fica muito orgulhosa quando o produto final fica bom e carrega o nome

dela em sua etiqueta.

A artesã AT3 diz que fica muito contente em aprender técnicas novas e de

ver que o crochê esta voltando a ser valorizado. Diz que nunca imaginou que

produziria para uma marca de moda e que fazer o que ela aprendeu com a mãe e o

produto ser vendido fora de Dom Pedrito é muito satisfatório.

Todas aparentam satisfação com o que fazem, harmonia com o grupo, e

relatam gostar de trabalhar juntas pois se ajudam e trocam conhecimento, embora

isso não aconteça com frequência, pois não é sempre que todas podem estar

presente no dia marcado.

Ambas confessa que gostariam de produzir ainda mais do que produzem,

pois além de prazeroso a remuneração faz diferença na vida de cada uma.

Finalizam relatando que esperam que a empresa alcance novos mercados e que

elas cresçam junto com a empresa.

A seguir serão relatados os dados coletados nas observações em campo de

cada etapa do ciclo de vida do produto da empresa AMG.

6.3 RELATO DAS OBSERVAÇÕES

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A seguir serão relatados os dados obtidos em observações em campo de

cada etapa constituinte do ciclo de vida dos produtos da empresa AMG. Essas

observações aconteceram ao longo do processo produtivo da empresa e a

pesquisadora acompanhou a rastreabilidade da matéria-prima, o processo de

beneficiamento da mesma, assim como a confecção das peças, podendo então

levantar dados da pré-produção, produção, uso e descarte.

O relato das observações seguirá a ordem do ciclo produtivo.

6.3.1 Manejo animal

A empresa só utiliza lã de Merino Australiano e trabalha com apenas um

fornecedor, o qual é associado a ARCO – Associação Brasileira de Criadores de

Ovinos. Os cuidados de saúde e alimentação que este produtor aplica estão na

entrevista com o mesmo.

A pesquisadora esteve na propriedade do Criador GP, localizada na área

rural do município de Hulha Negra, cidade da região da campanha do Rio Grande do

Sul distante 410 km da capital do Estado, Porto Alegre.

A propriedade conta com uma pequena casa e três galpões, um onde alguns

animais são preservados, outro onde são mantidas as ferramentas e maquinários e

um terceiro junto à um cercado onde acontecem as micronagens, as marcações e a

esquila.

Pôde – se observar em visita à propriedade do Criador GP que este tem

animais com cuidados especiais, mantidos em abrigado galpão, que são expostos e

vendidos em feiras. Ele cria em torno de 1.500 animais o que resulta em

aproximadamente 8 toneladas de lã por ano.

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95

No dia em que acontecera o processo de micronagem da lã fornecida para a

Empresa AMG, o Criador GP e a ARCO estavam recebendo a visita técnica de

estudantes do curso de Zootecnia e Veterinária da Universidade da Região da

Campanha – URCAMP, que foram convidados a observarem o processo.

O processo de micronagem consiste na coleta de uma mecha de lã, da

região da última costela do animal e um palmo abaixo do lombo – por ser onde se

localiza a parte mais fina do velo, como a imagem 19, de um número proporcional de

animais para saber a micronagem média do rebanho. Esse serviço de medição é

feito é proporcionado pela ARCO para todos os criadores associados.

Como o criador GP fornece em torno de 200kg de lã para a Empresa AMG,

foram coletados por um profissional da ARCO (profissional R), na propriedade do

Criador GP mechas de 55 animais, essas mechas foram armazenadas separadas

umas das outras.

Figura 19 - Processo de micronagem

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

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Após acompanhar a coleta das mechas, o profissional R, os estudantes e

equipe da empresa AMG se locomoveram até a sede da ARCO, no município de

Bagé, onde as mechas coletas passam, uma de cada vez, por uma scanner

australiano chamado OFDA 2000, como a imagem 20.

Figura 20 - Scanner OFDA

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

Para posicionar a mecha de lã no scanner, como a figura 21, o profissional R,

com as mãos, retira um pouco da sujeira da ponta da mecha, pois o scanner faz a

análise a partir da ponta da mecha para a base, do primeiro folículo a romper ao

último e gera um gráfico de desenvolvimento da fibra ao longo da mecha.

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Figura 21 - Scanner fazendo leitura

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

Esse scanner mede as características citadas no quadro 2 e as mesmas

serão discutidas a seguir.

Quadro 2 – Características medidas pelo scanner OFDA 2000.

CF%: Percentual de Conforto

Percentual de fibras menores ou iguais a 30

micras.

CRV dg/mm: Curvatura da fibra

Curvatura da fibra, expressada em

graus/mm.

GFW KG: Peso estimado do velo.

Max Mic: Micra Maxima

Estimativa do peso do velo sujo.

Finura máxima medida ao longo da mecha

Mic Ave:

A medida do diâmetro das fibras, expressos

em micras (mm).

Min Mic: Micra Mínima Finura mínima medida ao longo da mecha:

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%<15: Porcentagem de fibras menores a 15

micras.

SD mic: Desvio Padrão

Distribuição estatística expressa em micras

que representa aproximadamente 70% das

fibras de cada lado do diâmetro médio da

amostra.

SDC dg/mm: Desvio Padrão de Curvatura

Desvio padrão da curvatura das amostras

medidas.

SD Along: Desvio Padrão ao longo da

mecha

Desvio padrão da media de finura medida

ao longo da mecha.

Micron Profile: Perfil de Finura

Mostra a variação do diâmetro da fibra ao

longo da mecha durante o período de

crescimento.

FPFT: Ponto mais fino

Mostra a distância em milímetros desde a

ponta da mecha até o ponto mais fino

encontrado na amostra.

MFE mic: Extremidade Média

Oscilação média dos extremos da mecha

(ponta e base) medidas em micas.

SL mm: Comprimento

Comprimento da mecha expressada em

micras.

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SP Mic: Finura por rotação

Valor que considera a finura e o coeficiente

de variação de finura e representa a

qualidade da lã analisada, expressa em

micras.

Mic Rank:

Categorização dos animais por ordem de

finura crescente.

CV Mic %: Coeficiente de variação de Finura

Média de oscilação da finura da mecha, da

base à ponta) expressado em %

Dev. Mic: Desvio Padrão da Média da Fibra

Representa a quantidade, em micras, em

que uma leitura individual variou da média

das amostras.

Fonte: Elaborado pela autora, 2017

Ao final das medições a máquina emite um relatório com os dados de todas

as mechas medidas, medindo as características apresentado no quadro 2. O

relatório das medições da lã fornecida para a empresa AMG está anexado ao final

deste trabalho.

Conforme o profissional R, as características mais importantes são o total da

média da micronagem, o coeficiente de variação, que mostra a oscilação das fibras

ao longo da mecha.

O coeficiente de variação mostra as influências do manejo, da genética, da

nutrição e da sanidade do animal para que se tenha uma fibra de maior ou menor

qualidade.

Quanto menor o coeficiente de variação, ou seja, quanto menos oscilação das

fibras de uma única mecha, maior o percentual de conforto, pois as fibras são

parelhas entre si e tem menos propensão a ruptura, ocasionando um fio mais longo.

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100

O profissional R explica aos alunos que o percentual de conforto não depende

tanto da média em micras, ele dá o exemplo de que a lã dos animais com a

micragem de 17 mm terá o fator de conforto provavelmente de 100%, mas que se

pode conseguir isso com animais de lãs de 20 mm, porém os animais precisam ser

esquilados antes do parto e não sofrer o stress da lactação e parição, além de um

manejo de nutrição com pouca variação durante todo o processo de formação da

fibra para que a lã tenha menor coeficiente de variação e consequentemente maior

percentual de conforto.

Ele ainda explica que isso é muito difícil de acontecer no Brasil e conta que

na Espanha os criadores estão mantendo seus animais confinados para controlar

umidade, temperatura, e alimentação pois a alimentação proteica tende a amarelar o

velo, assim como o milho, já uma pastagem de qualidade ou uma ração de baixa

proteína colaboram para manter o tom mais claro do velo.

O profissional R conta que a formação dos folículos primários da lã começa

aos 60 dias de gestação, e os secundários, que já é a lã propriamente dita, aos 90

dias. Por isso é importante o cuidado na gestação da ovelha e a esquila pré parto,

pois se a ovelha estiver fraca no momento da parição a tendência é que o cordeiro

tenha menos folículos, menos qualidade de lã e menos tamanho.

O profissional explica que o auge da qualidade da produção de lã de um

animal é aos “4 dentes”, ou seja, aos dois anos de vida. E que o máximo de

produção de qualidade que se pode esperar de um animal é até os 8 anos de vida

ou “6 dentes”.

A partir dessa idade a produção começa a decair de qualidade pois o animal

mais velho se contamina mais fácil com verminoses ou fungos e produz menos peso

de velo, assim o coeficiente de variação aumenta e a lã tende a se romper perto da

base, não proporcionando qualidade de fio.

O resultado da análise da lã fornecida pelo Criador GP, foi a média de 19 mm,

com coeficiente de variação de 16.8 mm e um percentual de conforto de 99.4%.

Esses animais analisados especificamente para a Empresa A, recebem uma

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101 marcação diferente do resto do rebanho, para que no momento da esquila a lã

desses animais já seja separada do resto.

6.3.2 Esquila

A esquila realizada pelo Criador GP é o método tradicional à maquina.

Quando questionado de porque não utilizar o método talliy hi ele diz ser mais

custoso e ter poucos profissionais capacitados disponíveis. Mas que o processo é

muito cuidadoso e o esquilador é de sua confiança e conta com o auxílio de mais um

funcionário seu.

Para que seja retirada a lã dos animais, esses são conduzidos do campo ao

galpão que conta uma cerca externa, nesse cercado os animais ficam confinados

até serem levados a parte interna do galpão.

Lá são maneados, ou seja, as quatros patas são unidas em uma amarração,

e ficam deitados no chão até serem esquilados, como mostra a imagem 22:

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Figura 22 - Esquila

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

Conforme o profissional R explicou aos alunos, esse processo gera stress ao

animal, pois este fica deitado e amarrado assistindo o que está acontecendo e ainda

ouvindo o barulho auto da máquina.

Além disso, a lã acaba ficando com mais impurezas, pois além de absorver a

sujeira presente no chão o animal acaba por suar e as fibras ficam mais gordurosas.

Cada ovelha gera em torno de 4.5 kg de lã enquanto os carneiros chegam a

produzir até 7 kg por ano. Uma vez que essa lã é retirada separa-se a lã de velo da

lã machada de vezes e urinas, assim como da lã das patas, da cabeça e da barriga.

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A lã já esquilada é armazenada em sacas plásticas, o que conforme o

profissional R não seria o ideal, pois os resíduos de plástico podem acabar se

misturando a lã que vai para a lavagem.

6.3.3 Lavagem e Cardagem

O processo de lavagem e cardagem acontece na cidade de Bagé, localizada

a cerca de 30 km da propriedade do Criador GP, e é feito pela indústria P.

A empresa P é tradicionalmente conhecida pelo processo de beneficiamento

e de exportação da lã gaúcha, entretanto abre espaço para realização do processo

para terceiros dependendo da quantidade a ser trabalhada. A empresa AMG opta

por realizar o beneficiamento com a indústria, pois garante que a lã cardada não

sofrerá com resíduos de sujeira e odor animal, o que geralmente acontece no

processo de lavagem artesanal.

A empresa P optou por não participar da pesquisa, alegando que é a única do

Brasil a realizar esse processo, por isso seus funcionários não são autorizados a

fornecerem informações sobre o funcionamento da mesma. Os dados abaixo foram

coletados em entrevista com a designer GH que esteve em visita a empresa P uma

vez.

Segundo GH o método de lavagem de lã funciona em tanques onde a lã é

depositada em água fria com detergente químico. Esses tanques recebem uma

estrutura que escova a lã enquanto essa é lavada para retirar as impurezas

externas.

As etapas de lavagem e enxágua acontecem até que as impurezas sejam

retiradas e que a lã esteja em sua coloração ideal, pois com a retirada da gordura

animal e das sujeiras externas as fibras tendem a ficarem mais claras. Uma vez

limpas as fibras passam por um tanque de calor, como uma centrifugação, aonde

seca.

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Após seca a lã é conduzida para a máquina que fará a cardagem. Essa

máquina inicia o processo deixando a lã posicionada em uma esteira, onde passará

por um processo de escovação contínua em rolos dentados para que assim as fibras

se posicionem lado a lado formando uma placa de lã pronta para ser fiada.

6.3.4 Fiação

Depois de cardada a lã vai para a cidade de Dom Pedrito, localizada a 64 km

da cidade de Bagé e 464 km de distância da capital Porto Alegre, também é uma

cidade da região da campanha.

Lá a lã cardada passa pelo processo de fiação artesanal, ou seja, é fiada na

roca manual movida a luz elétrica. Um motor presente no pé dessa roca faz com que

o fio inserido manualmente nela seja torcido e esticado, deixando as fibras alinhadas

e resistentes à tração, como a imagem 23.

Figura 23 - Processo de fiação

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

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Nesse processo podem-se fazer diversas espessuras de fio, dependendo

unicamente da força e resistência das mãos de quem guia a máquina, quanto mais

forte a tração mais fino ficará o fio. Uma vez que o carretel da roca estiver cheio, o

fio produzido é retirado e organizado em meadas, para então passar pelo processo

de tingimento ou de pré-encolhimento.

Foi observado que a artesã fiandeira utiliza uma máscara sobre a boca e o

nariz, esse cuidado é importante, pois a lã cardada é uma placa de fibras

posicionadas lado a lado e o contato com a tração da máquina faz com que alguns

folículos das fibras (chamados de “poeira da lã”) se dispersem e pairem pelo ar

podendo causar problemas respiratórios a quem estiver em contato direto com a

máquina.

6.3.5 Processo Criativo

O processo criativo é trabalho pela equipe de design que está localizada na

cidade de Porto Alegre. A equipe é formada por duas estilistas e por um consultor

em tendências de comportamento que presta serviços em cada coleção. O trio está

sempre em busca de criações inovadoras e novos segmentos nos quais seja

possível a inserção da lã.

É possível observar que a equipe busca criar peças minimalistas, sem

modelagem padrão, ou seja, priorizam as criações em tamanho único, para melhor

caimento em diversos padrões de corpos e para imprimir o conceito de

atemporalidade. Ainda observa-se o uso das cores de origem do animal, que seriam

os tons de cru, marrom e cinza, além dos tingimentos vegetais em tons terrosos e de

verde, buscando por pigmentos que não fiquem em desuso com o passar do tempo

e das tendências.

A Empresa AMG trabalha apenas com tingimentos vegetais feitos de forma

artesanal pela sua equipe de design, além de pigmentos produzidos por uma

empresa terceira, chamada EB, que produz o pigmento através da extração da cor

dos vegetais. Para que isso aconteça a lã fiada é enviada para Porto Alegre.

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106 6.3.6 Tingimento e Pré-Encolhimento

Para o tingimento de 1kg de lã a empresa utiliza em torno de 12 litros de

água, variando de acordo com o pigmento a ser obtido. Uma matéria-prima muito

utilizada pela empresa para coloração é a canela em pau, e o processo de

tingimento com essa matéria-prima foi observado pela pesquisadora.

O procedimento consiste em deixar a canela (na proporção de 500gr para

cada 1 kg de lã) ferver durante uma hora e deixar descansar naquela água de um

dia para o outro. Com a canela já sem pigmento, coa-se os paus e com a água

pigmentada no fogo mergulha-se a lã previamente umedecida em água morna. O

banho de coloração recebe uma proporção de 10gr / kg de ácido cítrico alimentício

que funciona como mordente, ou seja, faz com que a lã absorva todo o pigmento

presente na água.

Uma vez pigmentada, a lã permanece em descanso no banho até que a água

esteja fria e está possa ser manuseada com segurança. Logo a lã passa pelo

processo de enxágue e de centrifugação, para então secar ao sol. O processo de

tingimento com a lã no fogo leva em torno de 2 horas, além do tempo de preparação

do pigmento e de secagem, como a figura 24.

Figura 24 - Processo de secagem

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

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A empresa defende que por usar apenas produtos naturais a água poderia ser

dispensada novamente ao ambiente, portanto ela passa por um processo de

tratamento primário com um neutralizador de químicos, feito a partir da casca da

árvore de Acácia Negra, fornecido por uma empresa paulista que manipula matérias-

primas naturais para processos de tingimento e pigmentação sem impacto negativo

para o ambiente.

Entretanto a marca também utiliza muita matéria-prima em seu estado neutro,

cru, sem coloração. Porém essa matéria também precisa passar por um banho de

água quente, chamado de super wash ou pré-encolhimento. O contato com a água

quente faz com que as fibras se abram e é seguido por um banho de água fria que

faz com que as fibras se fechem e já encolham previamente. Isso evita que o

produto final, uma vez com o cliente, possa vir a encolher. Para esse processo

utiliza-se apenas uma panela com água que recebe a lã para ser fervida. Após a

água ferver a lã permanece em banho por mais 10 minutos e é retirada para passar

por água corrente fria.

E assim a lã está pronta para a confecção dos produtos.

6.3.7 Confecção

O processo de confecção dos produtos da empresa AMG é totalmente feito a

mão. A empresa conta com um grupo de 12 artesãs que fornecem a mão de obra

em técnicas artesanais como tricô, crochê, tear, bordado e feltragem, para a

confecção das peças como mostra a imagem 25 e a imagem 26. Esse processo

acontece em Dom Pedrito, por isso a lã tingida e pré-encolhida precisa ser

transportada novamente para a cidade.

As artesãs não possuem vínculo empregatício com a empresa, mas estão

protegidas por um contrato de prestação de serviços e pela renovação anual de

suas carteiras de artesã, fornecido pelo estado do Rio Grande do Sul.

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Figura 25 - Artesã

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

Figura 26 - Artesã trabalhando

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

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A remuneração é conforme a peça produzida e o valor dos modelos foi

definido em conjunto com o grupo para que fosse o mais junto possível para ambos

os lados (Por exemplo: casaco com mangas R$ 65,00 colete R$ 45,00). É

importante observar que as peças que por algum motivo (como erro da artesã,

medidas enviadas erroneamente, etc) também serão remuneradas.

O prazo estimado é de 10 dias corridos para confecção de peças

posteriormente produzidas, sendo prorrogado para modelos nunca antes feitos.

Algumas artesãs produzem em três dias, outras em sete, depende da

disponibilidade de cada uma. A observação em campo da confecção dos produtos

aconteceu na cidade de Dom Pedrito em um dia de trabalho em grupo.

6.3.8 Comercialização

O processo de comercialização dos produtos da empresa acontece de três

formas: via lojistas, via site da empresa e via participação da empresa em feiras de

moda e design.

Cada peça traz o nome da artesã que a confeccionou em sua tag, e as

embalagens de venda direta ao consumidor são de papel reciclado carimbadas com

o logo da empresa. Além disso, a empresa também trabalha com consignação de

suas peças à lojistas selecionados.

Quando essa intermediação entre o consumidor e a empresa acontece, a

empresa acaba perdendo o controle sobre embalagem, sobre a tag e também sobre

o incentivo ao retorno das peças para reaproveitamento.

6.3.9 Retorno das peças

Quando a empresa vende direto para o consumidor está oferece serviço de

manutenção e reparo vitalício das peças, pois como são técnicas manuais esta sabe

que ao longo da vida do produto ele pode precisar de reparos, e prefere que estes

serviços sejam feitos pelas próprias artesãs que o confeccionaram.

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Além dos reparos a empresa trabalha com política de retorno do produto,

onde oferece e incentiva que o consumidor retorne a peça, quando esta não for mais

desejada, para que o fio seja reaproveitado na confecção de uma nova. Assim o

ciclo de vida do novo produto recomeça no processo de tingimento, se a lã for

natural, ou direto na etapa de confecção se o fio já estiver colorido.

Para que a transformação de uma peça em outra gere o menor resíduo

possível a empresa procura não utilizar aviamentos como zíper, elásticos e botões, e

a costura das peças é feita com o próprio fio de lã.

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111

7 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Conforme explicado no item 2 a análise de dados da presente pesquisa está

fundamentada na análise de conteúdo. Conforme Bardin (2009) esse método

consiste na sistematização de um conteúdo, podendo se referir à produção de um

grupo, assim como a entrevistas de qualquer espécie.

A seguir será apresentado o ciclo de vida atual da produção da empresa AMG

através da análise de conteúdo.

7.1 ANÁLISE DE CONTEÚDO

Os dados provenientes das entrevistas e das observações em campo

possibilitaram o cruzamento das informações obtidas com a teoria do Ciclo de Vida

do Produto – Serviço apresentado por Manzini e Vezzoli (2008) e poderiam ser

agrupados da seguinte maneira:

- Pré-produção:

a. A empresa conhece e rastreia a procedência dos insumos que adquire dos

fornecedores;

b. A empresa potencializa ao máximo o aproveitamento dos insumos;

c. A empresa utiliza como insumo um material renovável.

- Produção:

a. A empresa desenvolveu técnicas não agressivas na confecção dos

produtos;

b. Não há interferência industrial na montagem dos produtos.

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112

- Distribuição;

a. A empresa possui um baixo estoque de produtos;

b. A empresa minimiza a utilização de embalagens

- Uso:

a. Os critérios de sustentabilidade seguidos pela empresa estão no topo da

cadeia organizacional;

b. A empresa incentive os consumidores a criarem vínculos afetivos com os

produtos através de sua tag.

- Descarte:

a. Após a sua utilização, os produtos são incentivados a retornarem a

empresa.

Por conseguinte foi elaborada uma sistematização das informações de modo

que fosse fornecido o cenário atual do ciclo de vida da empresa AMG, como mostra

a imagem 27.

Figura 27 - Sistematização do ciclo de vida dos produtos da marca AMG

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113

Fonte: Elaborado pela autora 2017

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114

Assim sendo, a partir dos dados provenientes das entrevistas, das

observações em campo e da sistematização do atual ciclo de vida de produto da

empresa, as etapas de 1) Pré-produção, 2) Produção e 3) Descarte, que constituem

um ciclo de vida fechado, serão analisadas conforme a teoria proposta por Manzini e

Vezzoli (2005; 2008) por considerá-la a mais apropriada para o objetivo dessa

pesquisa e seguirão de acordo com as etapas adotadas pela empresa.

7.1.1 Pré-Produção

O primeiro processo de pré-produção adotado pela empresa é micronagem,

como mostra a figura 28, e seleção dos animais do criador GP. A empresa AMG não

tem custo com esse processo devido a parceira com a ARCO e ele possibilita que a

marca tenha uma rastreabilidade fidedigna de sua matéria-prima, visto que o

scanner OFDA gera um relatório com dados importantes sobre as fibras analisadas.

Figura 28 - Pré produção

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

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115

Já no passo seguinte, a esquila, emergiram oportunidades na esfera

ambiental em relação ao bem estar animal, visto que o fornecedor GP utiliza o

método tradicional de tosquia, podendo vir a utilizar o método Talli Hi que, segundo

a teoria, causa menos desconforto ao animal.

A adoção desse método também vem ao encontro da esfera econômica, visto

que a o velo de lã não entra em contato com o chão e suas impurezas, ficando

consequentemente com menos resíduos sólidos e odores de urina animal presente

no solo de galpão.

Portanto o uso do método Talli Hi pode vir a aumentar a qualidade da matéria-

prima e ainda diminuir os insumos (água e detergente) necessários atualmente para

o processo de lavagem. Ainda na fase de esquila, conforme o profissional R o ideal

é esquilar as ovelhas no momento de pré-parto. Isso porque a parição dos animais é

um agente estressor que influencia na qualidade de lã e no desenvolvimento do

filhote.

Atualmente a esquila do criador GP não é pré-parto e acontece no verão nos

meses de dezembro e janeiro. Essa época não é considerada ideal pois quando o

inverno chegar as ovelhas ainda não terão formado velo suficiente para se

protegerem do frio e terão grande volume de lã nos meses quentes.

Na fase de beneficiamento da matéria-prima também foram identificadas

oportunidades, principalmente a necessidade de averiguar-se o processo de

lavagem da empresa que fornece esse serviço.

Na esfera ambiental é importante que a empresa tenha conhecimento da

quantidade de água usada para lavar cada quilograma de lã, assim como o produto

químico utilizado para retirada das impurezas e o procedimento de descarte dos

insumos. Além disso, é preciso refletir sobre a utilização de energia elétrica para

alimentar essas máquinas e ainda o ambiente e qualidade de trabalho dos

funcionários da indústria, que lida com água quente, odores fortes, e produtos

químicos, abrangendo as esferas sociais e econômicas. Infelizmente essa pesquisa

não pode levantar os citados dados, mas é importante que a empresa AMG tenha

total conhecimento sobre esse processo, pois ele é fundamental para qualidade da

lã final e para os valores da marca, como ética e confiabilidade na rastreabilidade da

matéria-prima.

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116

A fiação, processo que transforma as placas de lã em fio, acontece de forma

artesanal em roca elétrica. Considerando que a empresa utiliza em torno de 100 kg

de lã fiada, conforme a entrevistada GH, seria necessário medir a utilização de KW

desse equipamento.

Também se identifica a necessidade de capacitar mais pessoas para cumprir

essa função, visto que hoje ela é feita por apenas uma artesã e que essa consegue

produzir em torno de 2 kg de lã por dia, conforme testemunhado em observação de

campo. Portanto essa artesã precisa de mais de dois meses para fiar essa

quantidade de material sozinha o que pode acabar atrasando a confecção das

peças.

Os processos de tingimento e de pré-encolhimento constituem a última etapa

de pré-produção. Segundo Fletcher e Grose (2011) o uso de corantes vegetais é

uma solução encontrada para minimizar os resíduos químicos gerados pelos

processes de tingimento na indústria da moda. A empresa ainda se propõe a fazer a

neutralização desses resíduos, que já são menos negativos, com neutralizadores

naturais a base de casca de acácia negra, estando de acordo com os quesitos da

esfera ambiental.

Uma possibilidade de melhoria encontrada nesse processo de tingimento e

pré-encolhimento seria o uso de água de cisternas, ou seja, de água residual da

chuva, evitando assim a utilização de água potável, o que é feito atualmente.

Um problema identificado não só na etapa de pré-produção, mas durante todo

o ciclo de vida do produto da marca AMG é a logística. Apenas para os processos

de pré-produção a matéria-prima viaja, em torno de, 600 km em veículos

particulares.

Segundo a calculadora verde, disponibilizada na internet, essa média em

quilômetros gera uma emissão de cerca de 1.596,24 gr de CO2 e seria necessário o

plantio de onze árvores para compensação, como mostra a figura 29. Além de ser

um dado alarmante para as premissas ambientais e sociais da sustentabilidade,

também prejudica muito a esfera econômica visto que esse processo de logística

encarece cerca de R$20,00 em cada produto final, segundo a entrevistada GH.

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117

Figura 29 - Emissão de Co2 no transporte na etapa de pré produção

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

Uma alternativa encontrada para a redução do transporte na fase de pré-

produção seria o investimento em capacitação de artesãs para a realização dos

tingimentos e pré encolhimentos da matéria-prima e esses serem realizados ainda

na cidade de Dom Pedrito, evitando uma viagem de quase 500km.

7.1.2 Produção

Nesta fase, sistematizada na figura 30, na esfera econômica, foram

observados fatores de diferenciação. Por exemplo, por a empresa trabalhar apenas

com a matéria-prima em forma de fio faz com que não se gere resíduo, pois todo o

fio pode ser aproveitado na confecção de outro produto. Outro fator de diferenciação

da empresa AMG, ainda na esfera econômica, é o uso de modelagens que

minimizem a utilização de aviamentos, como zíper, forros e botões.

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Figura 30 - Produção

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

Quanto a esfera social a empresa também se destaca por envolver em seu

processe pessoas em situações de vulnerabilidade social. De acordo com Peroba

(2008, p.40), “o Design Social se torna uma atividade econômica que conduz ao

crescimento e desenvolvimento do local onde o projeto é realizado.”

Assim como na fase de pré-produção a empresa encontra a necessidade de

constante capacitação de novas artesãs. Hoje o número de pessoas envolvidas no

processo de confecção não supre a demanda produtiva e ainda está sujeita a

atrasos e erros. Ainda, por utilizar uma matéria-prima tradicional do Estado do Rio

Grande do Sul, a empresa acaba por imprimir identidade cultural em seus produtos

mesmo que, conforme a entrevistada GH, a marca tente fugir dos padrões do

vestuário típico gaúcho e revisitar peças tradicionais agregando conceito de moda.

Também é preciso citar que, na fase de produção, a empresa desenvolve

papel importante na relação dos clientes para com seus produtos através de um

atendimento que conte a história e o propósito da marca e ainda imprime em sua

tag, como a imagem 31, o caminho que a matéria-prima percorreu até ao chegar ao

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119 consumidor e a assinatura da artesã que confeccionou o produto, fidelizando esse

cliente considerando a esfera econômica da sustentabilidade.

Figura 31 - Tag da empresa AMG

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

Além disso, ainda sobre a fidelização do cliente, sempre que uma peça é

adquirida o consumidor recebe as boas-vindas à família AMG, pois a empresa

acredita ser uma família e que o consumidor é o protagonista dela.

Outro movimento importante na esfera econômica, é o desenvolvimento de

peças sob medida e por encomenda. Mesmo que o cliente compre seu produto pelo

site, ele só será confeccionado após a confirmação de compra. Esse processo

minimiza volume de estoque, permite um trabalho personalizado para cada cliente,

contando com sua intervenção em modelagem, cores e acabamentos e reforça

ainda mais a relação emocional do consumidor com sua peça AMG.

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Conforme Flecther e Grose (2011) esses comportamentos fazem parte do

conceito de slowfashion e que o cliente converge a importância do produto

encomendado a viver a experiência de criá-lo e produzi-lo de maneira personalizada

e exclusiva. Porém a logística é novamente um problema na fase de produção. Para

que as peças sejam confeccionadas na cidade de Dom Pedrito e depois

comercializadas na cidade de Porto Alegre a matéria-prima tingida viaja 460 km e o

produto finalizado viaja mais 460 para retornar à Porto Alegre.

O processo de confecção das peças, portanto, emite cerca de 2.447,57

gramas de CO2, como mostra a figura 32, segundo a calculadora verde e

considerando que esse transporte é realizado em veículo particular. Para compensar

essa emissão são necessários o plantio de 16 árvores. Existe ainda um fator que

agrava essa situação, como cada artesã produz em seu ritmo e não existe uma

concentração grande de produção, esses transportes são feitos aos poucos e não

apenas uma única vez.

Figura 32 - Emissão de Co2 no transporte na etapa de produção

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

Como alternativa a empresa poderia organizar para que os produtos finais

fossem enviados em quantidades mínimas e usando transporte público, visto que a

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121 empresa de ônibus que atende a região fornece o serviço de transporte de

encomendas.

Das duas maneiras que a marca AMG comercializa seus produtos

diretamente ao consumidor, feiras e loja online, no que tange a distribuição do

produto, a empresa faz uso de sacolas de papel kraft e folhas de papel de seda para

a embalagem de seus produtos. De forma a ampliar a sustentabilidade, tanto na

esfera ambienta como na econômica, indica-se a escolha de apenas um elemento

para embalagem e que, de preferência, esse seja de origem reciclada. Já sobre o

processo de entrega das vendas online, a empresa oferece aos clientes apenas a

opção via correios. Entretanto, se a venda for na cidade de Porto Alegre, a marca

pode contar com a parceria de empresas de serviço de transporte de pequeno porte

e ainda ambientalmente responsáveis, como a “Pedal Express”, organização de

ciclistas que fornecem serviço de coleta e entrega de encomendas.

7.1.3 Descarte

Por fim, na fase de descarte, foi identificado que a empresa faz uso da

Logística Reversa, como mostra a figura 33. A Lei do Resíduo Sólido, presente no

apêndice 2 desse trabalho, define a logística reversa como:

Instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada. (Capítulo II - Definições, art. 3°, XIII)

Soares e Soares (2009, p 124) afirmam que o design para desmontagem

(DFD- Design for disassembly) permite uma otimização das fontes de reciclagem e

aproveitamento de matéria-prima, minimizando o potencial de poluição dos produtos

e ainda oferece vantagens competitivas a organizações.

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Figura 33 - Descarte

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

Assim, a logística reversa caracteriza-se por um processo que auxilia a

organização na redução dos impactos ambientais do Ciclo de Vida do Produto.

7.2 ANÁLISE ATRAVÉS DO QIA

Além da análise de conteúdo essa pesquisa utiliza uma ferramenta de

medição de impacto socioambiental, Quick Impact Assessment, desenvolvida pelo

Sistema B.

Segundo o site do movimento:

Somos um movimento global de líderes empresariais que procuram redefinir o sucesso dos negócios, para que um dia todas as empresas possam competir não apenas para serem as melhores do mundo, mas para serem as melhores para o

mundo.

As Empresas B são organizações que se comprometem de maneira pessoal,

institucional e legal a tomar decisões pensando em suas consequências, em longo

prazo, para a comunidade e meio ambiente. Conforme o site do Sistema B cerca de

7.800 empresas da América do Sul utilizam a medição de impacto B e mais de 55

mil empresas no mundo. Além disso, empresas que estão dispostas a investir em

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123 uma taxa anual e seguir os métodos de funcionamento propostos pelo movimento

podem ser certificadas como “Empresas B”.

No Brasil, são alguns exemplos de Empresas B: a empresa de cosméticos

Natura; a marca de alimentos orgânicos Mãe Terra; e as marcas de moda Flávia

Aranha e Insecta Shoes, entre outras.

A ferramenta criada e disponibilizada pelo Sistema B é gratuita e de fácil

acesso. Ela consiste em três passos: 1) Avaliar: onde o empresário preenche um

questionário sobre o funcionamento da empresa e seus processos produtivos e de

serviço; 2) Comparar: onde a ferramenta fornece um relatório indicando em que

diretrizes a empresa se destaca e em quais ainda precisa evoluir; e 3) Melhorar:

onde a ferramenta auxilia na criação de um plano de melhoria através de um guia

gratuito de melhores práticas.

Portanto após sintetizar as observações e entrevistas e analisar o ciclo de

vida do produto da empresa AMG a pesquisadora respondeu ao questionário QIA, e

os resultados serão apresentados a seguir. Todas as perguntas e respostas e sua

pontuação equivalente estão nos apêndices dessa pesquisa.

Ao final do preenchimento das questões a ferramenta apresenta a tela

comparativa de respostas (I) acima da média, (II) na média e (III) abaixo da média

da empresa, como mostra a imagem 34.

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124

Figura 34 - Respostas questionário de impacto

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

As respostas consideradas acima da média foram as que dizem respeito as

diretrizes de gestão ambiental como minimização de emissões de resíduos tóxicos e

poluentes, e de comprometimento com impacto social e comunitário positivo.

Já as respostas abaixo da média estão relacionadas com questões

econômicas como doação de porcentagem de vendas, apoio a iniciativas sociais,

além de questões burocráticas como conselho administrativo e informações de

auditoria fiscal, ambiental e social.

O curto tempo de vida da empresa AMG também influenciou nas respostas

consideradas abaixo da média, como por exemplo tempo de vínculo com

fornecedores e monitoramento e planejamento para redução do consumo de

energia.

Com essas informações analisadas desenvolveu-se novamente o esquema

de ciclo de vida do produto da empresa AMG, descrevendo as oportunidades

encontradas a fim de ampliar a sustentabilidade em cada fase do ciclo de vida em

relação as esferas sociais, ambientais e econômicas, como mostra a figura 35.

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125 Figura 35 - Ciclo de vida e oportunidades para ampliação da sustentabilidade

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126

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

As principais oportunidades encontradas no ciclo de vida da empresa AMG se

concentram na etapa de pré-produção pois a empresa não obteve conhecimento do

processo de lavagem e de beneficiamento da matéria-prima assim como a possível

otimização os processos de transporte desse material para conseguinte confecção

dos produtos.

Com as informações do ciclo de vida e as oportunidades encontradas pode-

se também sintetizar o ciclo de anel fechado da empresa bem como as principais

oportunidades encontradas em cada uma de suas fases, como mostra a figura 36.

Figura 36 - Ciclo de anel fechado e síntese de oportunidades em cada etapa

Fonte: Elaborado pela autora, 2017

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Com a síntese dos problemas e oportunidades encontrados ao longo do ciclo

de vida dos produtos da empresa AMG, pode-se então discutir os resultados da

pesquisa.

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128

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na presente seção desta dissertação encontram-se os resultados recolhidos

na totalidade do estudo e registrados na forma de considerações finais. Optou-se

por dividir o conteúdo desta seção em três partes.

A primeira relata os resultados alcançados em relação ao problema de

pesquisa e aos objetivos da mesma. Na segunda são relatadas as dificuldades e

limitações que a pesquisadora encontrou no decorrer do estudo em questão e por

fim, na terceira etapa, são relatadas as contribuições do estudo para a comunidade

acadêmica e para a sociedade, assim como aponta possibilidades de pesquisas

futuras.

8.1 RESULTADOS ALCANÇADOS

Conforme apresentado na seção de metodologia, a presente pesquisa é

qualitativa e de caráter descritivo exploratório. Sendo o objeto de estudo uma

empresa de moda sustentável que utiliza apenas a lã como matéria-prima na

confecção de seus produtos, o objetivo geral da pesquisa tratou de analisar o ciclo

de vida de um produto de moda que utiliza lã como sua matéria-prima.

Pode-se afirmar que os objetivos específicos definidos foram alcançados. Por

meio da revisão da literatura selecionada e pelos temas que emergiam através de

sua análise a possibilidade de estudar a cadeia produtiva da lã bem como

sistematizar o ciclo de vida de um produto que a utiliza como matéria pode ser

verificada. Portanto, o desenvolvimento do estudo de caso permitiu que os dados

coletados em teoria pudessem ser relacionados com os dados obtidos em prática.

No que tange o objetivo geral da pesquisa, a análise de conteúdo ofereceu

evidências suficientes para sistematização do ciclo de vida dos produtos

desenvolvidos pela empresa AMG e ainda os dados necessários para que

possibilidades e oportunidades de melhoria nesse ciclo pudessem ser evidenciadas.

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129

Foi possível, com base no estudo de caso desenvolvido, traçar a abordagem

projetual da empresa estudada em relação as esferas da sustentabilidade e os

resultados deste trabalho são influenciados por estratégias condizentes a ambas

esferas a fim de ampliar as ações de sustentabilidade da empresa.

Os resultados que tangem a primeira fase do ciclo de vida do produto, a pré-

produção, consistem principalmente na otimização e planejamento de logística da

empresa, considerando que essa fase é constituída de seis micro fases

(micronagem, esquila, lavagem, cardagem, fiação e tingimento/pré-encolhimento)

realizadas em três cidades diferentes.

Esse processo além de impactar o meio ambiente com o alta emissão de

carbono também se torna economicamente falho para a empresa, pois o

investimento em locomoção é grande e acaba por encarecer os produtos finais.

Ainda sobre a fase de pré-produção propõem-se que a empresa planeje o

reaproveitamento de água captada da chuva para o processo de tingimento e pré-

encolhimento, minimizando o uso da água potável atualmente utilizado. Também

processo é importante refletir sobre a possibilidade de que este possa ser realizado

na cidade de Dom Pedrito (atualmente feito em Porto Alegre) para que assim a

matéria-prima precise ser transportada apenas após o produto final ser acabado.

Como atualmente o processo de tingimento é feito na casa de uma das

designers da empresa, percebe-se que a realização dessa etapa não exige grande e

diferenciada estrutura, podendo então vir a ser realizada por uma das artesãs da

empresa se esta estiver capacitada. Pois no modelo atual a mesma percepção sobre

o problema de logística da pré-produção pode ser averiguada na segunda fase do

ciclo de vida, a produção dos produtos. Nessa fase a matéria-prima viaja cerca de

500 km para que os produtos sejam confeccionados e ainda, após a confecção, os

produtos viajam novamente esses mesmos 500km para serem comercializados.

Outra oportunidade emergente no processe de produção é o ambiente de

trabalho das artesãs. Hoje cada uma trabalha na sua casa recorrendo a uma “líder”

nos momentos de dúvidas e para entrega das peças finalizadas. Segundo Pazmino

(2007) o trabalho em grupo é importante nos processos de profissionalização, de

absorção de novos conhecimento pelos trabalhadores, resultando em melhoria na

qualidade de vida, renda e reinserção social. Desse modo indica-se que a empresa

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130 AMG repense o local de trabalho e método de produção, estudando a possibilidade

de disponibilizar às artesãs a oportunidade de trabalhar em grupo.

Com relação a fase de descarte das peças, constituindo o último elo do ciclo,

conclui-se que o ciclo de vida aplicado pela empresa é um “anel fechado”, como

mostrou a figura 36, pois a mesma incentiva que os consumidores retornem suas

peças para a marca no momento de seu descarte e assim se dará o devido

aproveitamento de sua matéria-prima. Portanto a empresa aplica a Logística

Reversa e o DFD, design para desmontagem, minimiza os resíduos gerados no

processo de reciclagem.

Como dito anteriormente a empresa adota o processo de slowfashion, que

consiste em dar prioridade a qualidade e resistência dos produtos, além de respeitar

todas as etapas da cadeia produtiva dos mesmos.

Para transmitir esse conceito aos seus consumidores a marca leva em suas

peças o caminho da matéria-prima até chegar ao consumidor, além de levar a

assinatura da artesã que a confeccionou. Essas estratégias têm como objetivo gerar

laços afetivos entre os consumidores e as peças adquiridas, fidelizando sua clientela

e os tornando membros da “família AMG”.

Por fim, avalia-se que apesar dos esforços da empresa em adequar-se as

diretrizes da sustentabilidade sempre existem pontos específicos em que podem

sofrer ampliações e melhorias. Diante desta inquietação a adaptação do ciclo de

vida de Manzini e Vezzoli (2008) foi fundamental para que a sistematização do ciclo

de vida atual da empresa, assim como serviram de base para a projetação de um

ciclo de vida ideal abordando as diretrizes da sustentabilidade ampla.

Ao apresentar os resultados do trabalho, cabe apontar as dificuldades e as

limitações enfrentadas no decorrer desta pesquisa.

8.2 DIFICULDADES E LIMITAÇÕES DA PESQUISA

Conforme apresentado, um dos objetivos específicos do estudo era analisar e

observar todas as etapas envolvidas no ciclo de vida do produto da empresa AMG.

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131 Sendo assim, uma das principais dificuldades encontradas foi a distância física dos

participantes e de cada fase do processo, em relação ao ambiente cotidiano da

pesquisadora, o que impossibilitou o agendamento de mais visitas a fim de

entrevistar um número maior de atores envolvidos.

A título de esclarecimento, ressalta-se que não fez parte do escopo desta

pesquisa analisar em profundidade questões relacionadas ao manejo de ovinos,

visto que foge a área estudada.

Uma das lacunas do estudo e considerado fator limitante na coleta e análise

de dados foi a recusa da empresa de lavagem e cardagem em participar da

pesquisa e fornecer informações acerca desses importantes processos para o ciclo

de vida.

Entretanto, sendo a única empresa a realizar esse serviço para a marca AMG,

optou-se por trabalhar com dados levantados teoricamente e ainda complementados

pelo relato da entrevistada GH.

Ao se falar em referencial teórico, cabe ressaltar que o acesso a pesquisas

atuais sobre a cadeia produtiva de lã e suas etapas foi outra dificuldade encontrada

pela pesquisadora. A produção científica acerca da manufatura de lã no Rio Grande

do Sul e no Brasil não é vasta e alguns dados só puderam ser aprofundados em

entrevistas e observações.

Embora a pesquisa tenha apresentado dificuldades, podem ser evidenciadas

contribuições da mesma, não apenas para a comunidade acadêmica, como

igualmente para a sociedade em geral e principalmente para a empresa estudada.

Conforme apontado a seguir.

8.3 CONTRIBUIÇÕES DA PESQUISA

No desenvolvimento de uma pesquisa existe a exigência de que esta resulte

em contribuições que beneficiem diversas áreas de conhecimento, como acadêmica

e instituições da sociedade e ainda, que sirva para o aprimoramento pessoal e

profissional da pesquisadora.

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132

Por ter sua origem na região da campanha e por ser de família criadora de

ovinos, a pesquisadora sempre sentiu motivação de pesquisar sobre tal matéria-

prima. Além disso, vale comentar, que a pesquisadora também faz parte da equipe

da empresa AMG e que conhecer a fundo o processo de ciclo de vida dos produtos

da marca sempre lhe causou inquietação.

No campo da pesquisa, a relação da matéria-prima estudada com as

diretrizes da sustentabilidade e os conceitos de design aponta parâmetros que

podem constituir análises em estudos futuros, visto que esta pesquisa consiste na

inédita análise da cadeia produtiva da lã para matéria-prima do design de moda.

Vale também refletir a cerca de estudos futuros pertinentes ao tema, aprofundados

no contexto socioeconômico e cultural da matéria-prima.

Além disso, a pesquisa qualitativa possibilitou, por meio da análise de

conteúdo, a coleta de dados importantes para evolução em direção da

sustentabilidade ampla da empresa estudada.

Pode-se afirmar que a principal contribuição da presente pesquisa foi levantar

informações que, após sua disponibilização e análise em conjunto com a empresa

AMG, ficará a critério da organização a implementação das oportunidades

levantadas por esse estudo, e assim a avaliação de sua evolução no mercado, seu

impacto socioeconômico sobre os atores envolvidos e o impacto econômico na

sustentabilidade financeira da empresa.

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133

REFERÊNCIAS

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138 APÊNDICE 1 – ROTEIRO DE ENTREVISTA FORNECEDOR

CRIADOR DE OVELHAS

Prezado participante,

A entrevista proposta (roteiro abaixo) é um dos instrumentos de coleta de dados da pesquisa intitulada: A REINSERÇÃO DA LÃ GAÚCHA NO MERCADO DA MODA: ANÁLISE DO CICLO DE VIDA DE UM PRODUTO SUSTENTÁVEL. A realização da pesquisa é parte do projeto de Mestrado em Design do Centro Universitário Ritter dos Reis (UNIRITTER). Sua contribuição será significativa para o alcance do objetivo desta pesquisa.

Sua participação é voluntária, caso aceita, e mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, seu nome será preservado em sigilo, sendo identificado por um código no trabalho final.

NOME:

IDADE:

DATA DA REALIZAÇÃO:

Qual a Raça dominante do seu rebanho?

Qual o porte, em números de animais, do seu rebanho?

Como funciona o manejo dos animais?

Como a lã se comporta com o passar da idade do animal?

Do que os animais se alimentam?

Existe algum cuidado com a exposição ao sol dos animais?

Qual o método de esquila adotado?

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139 APÊNDICE 2 - ROTEIRO DE ENTREVISTA DESIGNER

DESIGNER DA MARCA AMG

Prezado participante,

A entrevista proposta (roteiro abaixo) é um dos instrumentos de coleta de dados da pesquisa intitulada: A REINSERÇÃO DA LÃ GAÚCHA NO MERCADO DA MODA: ANÁLISE DO CICLO DE VIDA DE UM PRODUTO SUSTENTÁVEL. A realização da pesquisa é parte do projeto de Mestrado em Design do Centro Universitário Ritter dos Reis (UNIRITTER). Sua contribuição será significativa para o alcance do objetivo desta pesquisa.

Sua participação é voluntária, caso aceita, e mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, seu nome será preservado em sigilo, sendo identificado por um código no trabalho final.

NOME:

IDADE:

DATA DA REALIZAÇÃO:

FORMAÇÃO ACADEMICA:

FUNÇÃO DO CARGO QUE OCUPA:

Qual a história da AMG?

Qual a missão, visão e os valores da empresa?

Porque a empresa adotou a lã como matéria-prima?

Qual o processo produtivo das coleções da AMG? E como a sustentabilidade está inserida?

De que forma os produtos são comercializados?

De que forma os produtos comercializados são embalados?

Que método de transporte é o mais adotado pela empresa?

Em que parte do processo a empresa acredita que poderia ampliar a sustentabilidade?

Quais as dificuldades do processo?

Como você se sente, profissionalmente, trabalhando com sustentabilidade?

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140 APÊNDICE 3 - ROTEIRO DE ENTREVISTA ARTESÃ

ARTESÃS DA MARCA AMG

Prezado participante,

A entrevista proposta (roteiro abaixo) é um dos instrumentos de coleta de dados da pesquisa intitulada: A REINSERÇÃO DA LÃ GAÚCHA NO MERCADO DA MODA: ANÁLISE DO CICLO DE VIDA DE UM PRODUTO SUSTENTÁVEL. A realização da pesquisa é parte do projeto de Mestrado em Design do Centro Universitário Ritter dos Reis (UNIRITTER). Sua contribuição será significativa para o alcance do objetivo desta pesquisa.

Sua participação é voluntária, caso aceita, e mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, seu nome será preservado em sigilo, sendo identificado por um código no trabalho final.

NOME:

IDADE:

DATA DA REALIZAÇÃO:

Como você aprendeu a fazer artesanato?

Que tipo de produtos você confecciona?

Qual o papel do artesanato na sua vida?

Como era sua relação com o ofício antes da AMG?

De que forma a AMG entrou na sua vida?

Como é sua relação com a empresa?

De que forma a AMG está atuando em sua vida?

Está satisfeita em confeccionar as peças da AMG?

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141

APÊNDICE 4 – LEI DO RESÍDUO SÓLIDO

LEI No 12.305, DE 2 DE AGOSTO DE 2010.

Art. 1o Esta Lei institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, dispondo sobre seus

princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às

responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis.

§ 1o Estão sujeitas à observância desta Lei as pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, responsáveis, direta ou indiretamente, pela geração de resíduos sólidos

e as que desenvolvam ações relacionadas à gestão integrada ou ao gerenciamento de resíduos sólidos.

§ 2o Esta Lei não se aplica aos rejeitos radioativos, que são regulados por legislação

específica.

Art. 2o Aplicam-se aos resíduos sólidos, além do disposto nesta Lei, nas Leis nos 11.445, de

5 de janeiro de 2007, 9.974, de 6 de junho de 2000, e 9.966, de 28 de abril de 2000, as normas estabelecidas pelos órgãos do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), do

Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa) e do Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e

Qualidade Industrial (Sinmetro).

CAPÍTULO II DEFINIÇÕES Art. 3o Para os efeitos desta Lei, entende-se por:

I - acordo setorial: ato de natureza contratual firmado entre o poder público e fabricantes,

importadores, distribuidores ou comerciantes, tendo em vista a implantação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de Vida do produto;

II - área contaminada: local onde há contaminação causada pela disposição, regular ou irregular, de quaisquer substâncias ou resíduos;

III - área órfã contaminada: área contaminada cujos responsáveis pela disposição não sejam identificáveis ou individualizáveis;

IV - ciclo de Vida do produto: série de etapas que envolvem o desenvolvimento do produto,

a obtenção de matérias-primas e insumos, o processo produtivo, o consumo e a disposição final;

V - coleta seletiva: coleta de resíduos sólidos previamente segregados conforme sua constituição ou composição;

VI - controle social: conjunto de mecanismos e procedimentos que garantam à sociedade informações e participação nos processos de formulação, implementação e avaliação das

políticas públicas relacionadas aos resíduos sólidos;

VII - destinação final ambientalmente adequada: destinação de resíduos que inclui a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético ou

outras destinações admitidas pelos órgãos competentes do Sisnama, do SNVS e do Suasa,

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142 entre elas a disposição final, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais

adversos;

VIII - disposição final ambientalmente adequada: distribuição ordenada de rejeitos em

aterros, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos;

IX - geradores de resíduos sólidos: pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou

privado, que geram resíduos sólidos por meio de suas atividade s, nelas incluído o consumo;

X - gerenciamento de resíduos sólidos: conjunto de ações exercidas, direta ou indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação final

ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, de acordo com plano municipal de gestão integrada de resíduos

sólidos ou com plano de gerenciamento de resíduos sólidos, exigidos na forma desta Lei;

XI - gestão integrada de resíduos sólidos: conjunto de ações voltadas para a busca de

soluções para os resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento

sustentável;

XII - logística reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição

dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada;

XIII - padrões sustentáveis de produção e consumo: produção e consumo de bens e serviços de forma a atender as necessidades das atuais gerações e permitir melhores

condições de Vida, sem comprometer a qualidade ambiental e o atendimento das necessidades das gerações futuras;

XIV - reciclagem: processo de transformação dos resíduos sólidos que envolve a alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, com vistas à transformação em

insumos ou novos produtos, observadas as condições e os padrões estabelecidos pelos órgãos competentes do Sisnama e, se couber, do SNVS e do Suasa;

XV - rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de

tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente

adequada;

XVI - resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de

atividade s humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases

contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou

economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível;

XVII - responsabilidade compartilhada pelo ciclo de Vida dos produtos: conjunto de

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143 atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e

de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade

ambiental decorrentes do ciclo de Vida dos produtos, nos termos desta Lei;

XVIII - reutilização: processo de aproveitamento dos resíduos sólidos sem sua

transformação biológica, física ou físico-química, observadas as condições e os padrões estabelecidos pelos órgãos competentes do Sisnama e, se couber, do SNVS e do Suasa;

XIX - serviço público de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos: conjunto de

atividade s previstas no art. 7o da Lei no 11.445, de 2007.

ou particulares, com vistas à gestão integrada e ao gerenciamento ambientalmente

adequado dos resíduos sólidos.

Art. 5o A Política Nacional de Resíduos Sólidos integra a Política Nacional do Meio

Ambiente e articula-se com a Política Nacional de Educação Ambiental, regulada pela Lei no 9.795, de 27 de abril de 1999, com a Política Federal de Saneamento Básico, regulada pela

Lei no 11.445, de 2007, e com a Lei no 11.107, de 6 de abril de 2005

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ANEXO 1 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

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145 ANEXO 2 – Termo de Autorização de Participação de Pesquisa

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146 ANEXO 3 – RESPOSTAS QIA

RESPOSTAS ABAIXO DA MÉDIA

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148 RESPOSTAS ACIMA DA MÉDIA

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150 ANEXO 4 – RELATÓRIO OFDA

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