tradiÇÃo e memÓrias amazÔnicas: o cotidiano … · para o estudo da história ... o preparo do...

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1 TRADIÇÃO E MEMÓRIAS AMAZÔNICAS: O COTIDIANO DAS MULHERES TACAZEIRAS DE PARINTINS AM Romilda Belchior da Costa * Júlio Claudio da Silva ** O presente artigo analisa as vivências das mulheres tacacazeira de Parintins, a partir do uso da História Oral, “uma metodologia de pesquisa e de constituição de fontes para o estudo da história contemporânea surgida em meados do século XX, após a invenção do gravador”. Faz parte da aplicação desta metodologia de pesquisa a gravação de entrevistas com indivíduos participantes ou testemunhas de “acontecimentos e conjunturas do passado e do presente” (ALBERTI, 2005, p. 155). O uso da História Oral requer tempo e disposição para a realização de pesquisa, segundo Meiry & Holanda na História Oral a entrevista “é a manifestação do que se convencionou chamar de documentação oral”. Desta forma através das entrevistas podemos registrar e analisar as histórias, memórias e o cotidiano das mulheres tacacazeiras (MEIRY & HOLANDA, 2011, p. 14). Adotamos como fio condutor para a tessitura dessas narrativas a história de vida de Dona Maria do Carmo da Silva, uma profissional com significativo tempo no oficio de tacacazeira e grande disposição para construir uma narrativa de si. A migração para Parintins No ano de 1949 nasceu na comunidade do Paraná do Espirito Santo, distrito da Cidade de Parintins, estado do Amazonas, dona Maria do Carmo da Silva ou Dona Chiquinha. A filha do senhor Murilo Soares da Silva e da dona Antônia Vieira da Silva, residiu com os seus pais na comunidade, localizada na margem esquerda do Rio Amazonas, até migrar para a cede da cidade, ainda na sua infância. O motivo da * Licenciada em História pela UEA ** Doutor em História pelo PPGH/UFF

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TRADIÇÃO E MEMÓRIAS AMAZÔNICAS: O COTIDIANO DAS MULHERES

TACAZEIRAS DE PARINTINS –AM

Romilda Belchior da Costa*

Júlio Claudio da Silva**

O presente artigo analisa as vivências das mulheres tacacazeira de Parintins, a

partir do uso da História Oral, “uma metodologia de pesquisa e de constituição de fontes

para o estudo da história contemporânea surgida em meados do século XX, após a

invenção do gravador”. Faz parte da aplicação desta metodologia de pesquisa a

gravação de entrevistas com indivíduos participantes ou testemunhas de

“acontecimentos e conjunturas do passado e do presente” (ALBERTI, 2005, p. 155). O

uso da História Oral requer tempo e disposição para a realização de pesquisa, segundo

Meiry & Holanda na História Oral a entrevista “é a manifestação do que se

convencionou chamar de documentação oral”. Desta forma através das entrevistas

podemos registrar e analisar as histórias, memórias e o cotidiano das mulheres

tacacazeiras (MEIRY & HOLANDA, 2011, p. 14). Adotamos como fio condutor para a

tessitura dessas narrativas a história de vida de Dona Maria do Carmo da Silva, uma

profissional com significativo tempo no oficio de tacacazeira e grande disposição para

construir uma narrativa de si.

A migração para Parintins

No ano de 1949 nasceu na comunidade do Paraná do Espirito Santo, distrito da

Cidade de Parintins, estado do Amazonas, dona Maria do Carmo da Silva ou Dona

Chiquinha. A filha do senhor Murilo Soares da Silva e da dona Antônia Vieira da Silva,

residiu com os seus pais na comunidade, localizada na margem esquerda do Rio

Amazonas, até migrar para a cede da cidade, ainda na sua infância. O motivo da

* Licenciada em História pela UEA ** Doutor em História pelo PPGH/UFF

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migração do interior para a cidade foi o acesso à educação. A pequena Chiquinha,

estudou, em um período não mencionado, no Colégio Araújo Filho. Na escola situada à

frente da cidade cursou até a terceira série do antigo curso primário. Em Parintins

residiu uma parte da sua infância e da adolescência. Ao completar 16 anos casou-se com

o senhor José Gomes da Silva Filho, da comunidade do Rio Uaicurapá, pertencente ao

município de Parintins. Após essa união mudou-se para a comunidade onde nasceu o

seu esposo. De lá retorna para a cede da Cidade de Parintins, alguns anos depois,

quando contava aproximadamente vinte e dois anos de idade.

A quando eu vim ainda de lá, eu vim ainda criança de lá, aí eu me criei o

resto aqui. Ai quando eu completei 16 anos, eu casei com o meu marido lá do

Rio Uaicurapá aí nós fomos pra lá, quando eu cheguei mais ou menos uns

vinte e pouco anos, a minha filha mais velha já tinha seis anos, aí nós viemos

compramos esse terreno e viemos para cá para eles estudarem aí eu fiquei pra

cá e ele pra lá pro interior.1

Em uma experiência similar a vivida em sua infância, dona Chiquinha migrou

pela segunda vez, da área rural para a urbana, para que os seus filhos pudessem estudar.

Provavelmente esta experiências se deu nos primeiros anos da década de 1970, talvez

em 1971 ou 1972. Naqueles dias os trabalhadores enfrentavam dificuldades para a

obtenção de emprego, na cidade de Parintins, por isso seu esposo permaneceu no

interior, trabalhando na agricultura.

Para ajudá-la no sustento dos filhos Maria do Carmo da Silva precisava

desenvolver alguma atividade laboral em Parintins e optou pela venda do tacacá. A

trajetória de dona Chiquinha é um caso emblemático das mulheres que utilizam dos

saberes e práticas aprendidas na zona rural, como estratégia laboral, durante a sua

migração para as cidades. “Muitas mulheres adaptaram ao contexto urbano as

estratégias rurais como forma de ajudar na renda familiar” (SOIHET, 1997, p. 285).

Neste caso os saberes relativos à feitura do tacacá.

O oficio de Tacacazeira

3

Dona Chiquinha trabalha com a venda de tacaca há mais de quarenta anos. O

preparo do tacacá aprendido com a sogra, quando ainda morava no interior foi de suma

importância na sua segunda migração para a cede da cidade. Nesta ocasião encontrava-

se casada, com filhos e desempregada. E com a venda do tacacá obtinha recursos para

contribuir com o sustento dos seus filhos.2

Olha mana é pra, era pra ajudar a criar meus filhos, porque na época né eles,

era só o meu marido que trabalhava eu não trabalhava ai, ai, eu, eu não tinha

por outra coisa optar eu digo eu vou fazer tacaca que eu sei né, que naquela

época era, era pouco mais a gente ganhava dinheiro dava pra, pra comprar

uma comida, um pão né. 3

Dona Chiquinha encontrou no tacacá – e nas técnicas de seu preparo aprendida

no interior com a sua sogra – um meio para poder ajudar a criar seus seis filhos. Acionar

esse legado foi de suma importância para a sobrevivência da sua família na cidade.

Bitter e Bittar identificam um caráter hereditário nos saberes que envolvem o “preparo

do tacacá” os quais “vem sendo transmitido entre gerações e atualizados segundo

particularidades regionais. As tacacazeiras de hoje, na maioria, aprenderam o ofício com

suas mães e avós ou com outras mulheres (2012, p. 224)”.

Esse processo de aprendizado dos saberes relacionados ao preparo do tacacá,

legado das mulheres mais idosas, também estão presentes nas narrativas de outras

mulheres tacacazeiras. Dona Liley de Almeida Garcia relata ter sido compartilhado

entre a sua avó e sua mãe os conhecimentos sobre a feitura do tacaca. “Foi uma coisa

que eu aprendi com a minha mãe, aprendi com a minha vó”.4 Dona Maria Idaízes

também teria aprendido com sua mãe durante a sua infância o preparo do tacaca. “Eu

mesmo, minha mãe fazia quando eu era pequena, eu aprendi”.5 No caso da dona Maria

1 Entrevista realizada no dia 23 de março de 2014, na residência de dona Maria do Carmo da Silva, por

Romilda Belchior da Costa. 2 Entrevista realizada no dia 23 de março de 2014, na residência de dona Maria do Carmo da Silva, por Romilda Belchior da Costa. 3 Idem. 4 Entrevista realizada no dia 26 de março de 2014, na residência de dona Liley de Almeida Garcia, por

Romilda Belchior da Costa. 5 Entrevista realizada no dia 30 de março de 2014, na residência de dona Maria Idaízes Jacaúna Carneiro,

por Romilda Belchior da Costa.

4

Marta Oliva Garcia, o lugar de iniciação na elaboração do tacaca, foi ocupado por sua

sogra. “Eu aprendi com a minha sogra, ela na época vendia na casa dela”.6

A busca por trabalho e renda parece ter unificar as experiências dessas mulheres

tacacazeiras. Dona Liley nos relata que foi por motivo financeiro sua opção por este

ofício, pois somente uma pessoa de sua família encontrava-se empregado.

Eu acho que a questão financeira, na época a gente só era meu pai que

trabalhava e minha mãe era desempregada, como eu falei como a minha vó

viu que a gente não tinha outra fonte de renda a minha vó decidiu dá o ponto

pra ela, ai agora como ela tem o trabalho dela eu que assumi lá (...). (Liley de

Almeida Garcia, 26/03/2014)7

Dona Idaízes também estava desempregada quando tomou a iniciativa de pôr a

sua banca para a comercialização do tacacá. “Foi eu mesmo, eu, que eu não tinha

trabalho mais aí eu me aventurei a colocar a banca, essa banquinha, até hoje eu to, há 37

anos.”8

Dona Marta também informa ter pesado a sua condição financeira quando de seu

ingresso no oficio de tacacazeria, pois ela e seu esposo encontravam-se desempregados

e necessitavam encontrar um meio para sustentar-se.

Foi financeiro, né pai que a gente tava desempregado, a gente tinha acabado

de chegar em Parintins e a gente tava com bebê pequeno, desempregado, aí

nós começamos a ajudar um meio pra ganhar, esposo de dona Marta,

sobrevivência né.” (Maria Marta Oliva Garcia,30/03/2014)9

Dona Chiquinha recorda-se de quando começou a colocar a sua banca de tacacá

na Rua João Meireles, no Bairro da Francesa. Segundo a nossa colaboradora, haviam

poucas famílias morando naquele local. Era possível até contar quantas casas haviam

ali. Não existia a escola Adersom de Menezes e nem o supermercado “Comercial

6 Entrevista realizada no dia 30 de março de 2014, na residência de dona Maria Marta Oliva Garcia, por

Romilda Belchior da Costa. 7 Entrevista realizada no dia 26 de março de 2014, na residência de dona Liley de Almeida Garcia, por Romilda Belchior da Costa. 8 Entrevista realizada no dia 30 de março de 2014, na residência de dona Maria Idaízes Jacaúna carneiro, por Romilda Belchior da Costa. 9 Entrevista realizada no dia 30 de março de 2014, na residência de dona Maria Marta Oliva Garcia, por Romilda Belchior da Costa.

5

Farias”. Ao longo desses trinta e um anos ela monta a sua banca em frente ao prédio

onde hoje funciona a “Brito Ferragem”. Os demais imóveis não existiam, somente

terrenos e ruas sem calçamentos: “[...] todo tempo, quando eu comecei a vender aí era

contada as casinhas que tinha, não tinha esse supermercado, nem essa escola não existia

ainda ai, ai eu colocava ai no canto né (...), era de terra tudo ai[...]”10. Contudo o relato

de dona Chiquinha deixa escapar a existência de redes de solidariedade tecidas por

nossa colaboradora. No inicio de seu oficio de Tacacazeira o proprietário que havia

comprado o terreno para construir o supermercado “Comercial Farias”, havia permitido

que dona Chiquinha continuasse pondo a sua banca ali naquele mesmo local o : “dono

daí desse supermercado, ele comprou esse terreno que era do finado Sebastião Araújo,

aí ele fez supermercado e ai ele me deixou e até hoje eu too ai.11

Dona Chiquinha tem uma jornada de trabalho curta, na banca onde vende o

tacaca, mas que se estende por quase todos os dias da semana. “Olha mana eu venho as

quatro e meia da tarde, e, e, é seis, seis vezes na semana, de segunda a sábado, nos

domingos eu não vendo nunca vendi.”12

Ao domingos dona Chiquinha dedica-se a família e ao descanso. Uma jornada

similar também é praticada por dona Liley: “a gente [trabalha] das quatro horas em

diante [...] até as seis e meia sete horas da noite no máximo, todos os dias de segunda a

segunda”.13 Dona Idaízes também vai para o seu local de trabalho neste mesmo horário

“quatro horas, quatro e meia, até sete e meia, oito horas, oito e meia, assim conforme a

venda”.14 Dona Marta descreve que também vai neste horário, mas isso depende da sua

clientela “eu vou quatro horas, eu vou todos os dias, eu fico até as oito horas, (...), se

chegar um cliente, que eu vou até oito e meia.”15

10 Entrevista realizada no dia 23 de março de 2014, na residência de dona Maria do Carmo da Silva, por Romilda Belchior da Costa. 11 Idem 12 Idem. 13 Entrevista realizada no dia 26 março de 2014, na residência de dona Liley de Almeida Garcia, por

Romilda Belchior da Costa. 14 Entrevista realizada no dia 30 de março de 2014, na residência de dona Maria Idaizes Jacaúna Carneiro,

por Romilda Belchior da Costa.

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As compras

Dona Chiquinha faz as compras dos ingredientes que serão necessário para a

preparação do tacaca, o camarão, a cebola, o alho, o cheiro verde, na feira ou no

supermercado.

Olha o tucupi é comprado lá na feira, agora o, o resto, o resto do tacaca é

comprado no supermercado que é camarão, cebola, alho, o cheiro verde

também é no mercado né, quando não tem no supermercado compra no

mercado, (...).16

Percebe-se nesse relato que o comércio do tacacá se insere na dinâmica

econômica do município, na qual os comerciantes e os agricultores da área rural

deslocam se para a cede da cidade com o intuito de vender ou trocar seus produtos que

são plantados por eles nos seus roçados. Com essas vendas esses produtores podem

comprar os gêneros básicos para suprir as suas necessidades no interior. Dona Marta

tem os seus fornecedores certos que fazem o abastecimento de tudo o que vai ser

necessário para o seu trabalho na semana:

Eu compro dia de quarta e dia de sábado material, tucupi e tapioca na feira, aí

também tem uma senhora que manda cheiro verde pra mim dia de quarta e

dia de sábado. Eu não compro assim todo dia (...), o jambu também tem um

pessoal que tragam pra mim só uma vez por semana. O camarão eu pego

assim, ai acaba eu vou pego dez quilos lá no Charme ai já fica pra semana

toda, não é obrigado eu ta todo dia, todo dia. 17

Na ocasião da entrevista, o esposo de Dona Marta, Marcos Aurélio de Souza

Garcia, revelou como é a estratégia para a aquisição dos ingredientes para a elaboração

do tacacá.

o fornecedor da gente, o pessoal do interior eles, eles, principalmente o, o

jambu e o cheiro verde, eles trazem de grande quantidade pra gente, a gente

15 Entrevista realizada no dia 30 de março de 2014, na residência de dona Maria Marta Oliva Garcia, por

Romilda Belchior da Costa. 16 Entrevista realizada no dia 23 de março de 2014, na residência de dona Maria do Carmo da Silva, por

Romilda Belchior da Costa. 17 Entrevista realizada no dia 30 de março de 2014, na residência de dona Maria Marta Oliva Garcia, por

Romilda Belchior da Costa.

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não compra de pouco, como vende muito, o jambu a gente faz estoque, pra

semana, principalmente o jambu que tem um método que ela faz ai que de

limpar o jambu, (...), faz o cozimento a gente faz umas bolas e bota pra

congelar e à medida que a gente (...) vai usando no dia-a-dia a gente vai

tirando até vim o dia que eles trazem, é sábado ou é quarta. ”18

As narrativas do casal revelam não só o processo de elaboração do prato, mas

também como se articulam o mercado produtor dos ingredientes do tacacá. Nesse

sentido as narrativas se aproximam das definições de Bitter e Bittar.

Em torno do tacaca se articulam diversas atividades como a agricultura

familiar dos produtos utilizados em seu preparo, o comercio desses produtos

em feiras e mercados populares e finalmente a sua venda pelas tacacazeiras.

Nesse sistema a população, a cidade, os marcos edificados, os mercados

populares, a natureza o tempo, o espaço os ingredientes, os saberes

ancestrais, etc., não podem mais ser percebidos isoladamente. (BITTER &

BITTAR, 2012, p.226).

Segundo Bitter & Bittar o tacaca está entre os diversos pratos amazônicos que

exigem em sua elaboração “uma sequência extremamente complexa e demorada de

etapas”. Um dos seus principais ingredientes é o tucupi, também chamado de

manipuera, um subproduto da mandioca brava, em forma de caldo de cor amarelada.

Por possuir uma alta concentração de ácido cianídrico, seu preparo requer um longo

processo de cozimento para se tornar comestível. “O preparo do tacaca passa por uma

série de etapas que incluem descascar e ralar a mandioca, extrair o tucupi e separar a

goma, lavar o jambu, entre outros. (BITTER & BITTAR, 2012, p.224 a 225).

O preparo do tacaca.

Dona Chiquinha descreve como é que se prepara o tacaca, onde esse processo

passa por inúmeras etapas:

a gente coloca a panela no fogo quando está fervendo a água a gente tempera

a gosto o sal né, ai eu pego a tapioca eu aguo um pouco, boto um pouco de

água só na tapioca passo no crivo aí a água já está fervendo lá no fogo com

sal ai eu pego a concha e boto dentro e mexo mesmo, bato (...) até ele ficar

18 Entrevista realizada no dia 30 de março de 2014, na residência de dona Maria Marta Oliva Garcia, por

Romilda Belchior da Coata.

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liso assim, (...), o tucupi demora mais, porque o tucupi tem que ferver bem,

tem que botar todos os ingredientes para ele ficar gostoso ai ele ferve mais,

um, duas horas mais ou menos pra poder num, num ficar ruim (...). Agora o

jambu(...), o jambu eu escolho todo ele (...) lavo bem, boto no fogo ai ferve

um pouco, tira aquela primeira água, (...) torno a botar água, firo de novo e

fervendo, ai eu torno atirar a segunda água, na terceira água (...) eu boto um

pouco de sal ai ele ferve, aí quando este já está molhezinho ai eu tiro boto

dentro do crivo eu lavo bem o jambu ai eu escorro(...).19

Podemos observar no relato de Dona Chiquinha que a preparação dos

ingredientes que compõe o tacaca é bastante lenta e requer tempo para seu cozimento e

consumo seguro. Para tornar-se comestível o tucupi e o jambu precisam de horas e

horas de cozimento adequado. O não cumprimento do período adequado do cozimento

pode fazer com que o tacaca permaneça com a sua propriedade tóxica. E o jambu

permaneça com a forte propriedade de provocar dormência bucal, dificultando assim a

percepção correta do paladar. Sendo assim todo esse processo requer longas jornadas

de labor na feitura do prato. Bem mais longa que o período das quatro horas de

comercialização dos produtos.

Ainda sobre o processo de compra nossa colaboradora Liley relata que esta

etapa de compra tem todo um processo que requer total atenção nas escolhas dos

ingredientes, pincipalmente do tucupi

É todo um processo do tacaca, quando vai fazer as compras, principalmente

do tucupi, que é a alma do, do tacaca, quando for para comprar o tucupi a

gente sempre prova se ele é azedo, porque se ele for azedo ele não pega

tempero de jeito nenhum, (...), a gente prova, se ele for um pouco adocicado

ta ótimo aí a gente traz pra casa a gente ferve a lenha porque a quantidade é

muito grande o gás não dá porque demora, a gente tempera tudo direitinho,

deixa ferver bem até pegar gosto de todos os temperos aí pronto, aí se

precisar de sal, as vezes a gente coloca um pouco de açúcar só pra dar um

sabor (...), o preparo do tucupi, (...), o ingrediente necessário é a cabeça do

camarão bem lavada, desse camarão que a gente a usa que é camarão salgado

é esse que dá o gosto. A goma é normal, a gente deixa ferver a água, bota um

pouco de sal dissolve a tapioca deixa ela um pouco grossa para a goma não

ficar rala, pronto, ta pronto, o jambu a gente cata bem catadinho, tem que

tirar toda aquela flor, talo com raiz tem que lavar bem, ferver bem pra ele não

ficar com aquela, aquela dormência. O camarão a mesma coisa, tem que catar

todo ele principalmente se for de manhã a gente cata ele só tira a tarde, pra

poder tirar todo aquele sal, corta a cebola, cebola a gente não reaproveita pro

19 Entrevista realizada no dia 30 de março de 2014, na residência de dona Maria Marta Oliva Garcia, por

Romilda Belchior da Costa.

9

outro dia, se sobrar joga fora, então se usa na comida, mais pro tacaca não

serve mais, porque ela azeda”.20

Dona Idaízes, também com relação a temporalidade destaca a fase de cozimento

do jambu, como sendo um dos procedimentos que requer horas de cozimento para poder

chegar ao ponto adequado a ser comestível.

O jambu é assim eu ponho no, na, no fogo de lenha, eu cato, cato todinho

eles, cato aquelas flores, aquele cabo que já está maduro, aí eu lavo bem

ponho na panela, quando eu ferver ele eu ponho pra escorrer aquele caldo,

lavo, lavo ainda ponho de molho para sair aquele ácido, aí que eu ponho na

panela, outro eu deixo separado quando terminar eu coloco.21

Para dona Marta, o processo de cozedura dos componentes que compõem a

montagem do tacaca, como o jambu e o tucupi, é a parte que requer mais tempo para a

sua preparação, onde dona Marta encontrou um meio para adiantar a realização dessa

tarefa fazendo a reserva através do congelamento do jambu, como estratégia de

armazenamento.

O jambu é todo um processo, eu escolho tudinho, aí eu lavo bem e depois

coloco pra ferver e depois que eu tiro do fogo, torno lavar aí eu faço umas

bolas, (...), pra congelar, mas tem que espremer e sair toda água se não ele

estraga. O tucupi ta ali no fogo, tempero, coloco alho, bem coentro, pimenta

cheirosa e a cabeça do camarão, eu deixo ferver mais ou menos uma hora,

porque falam que ele é, é veneno né, (...). A goma eu boto na hora, cebola

também tudo, o que mais me dá trabalho pra mim é o jambu, eu passo as

vezes eu começo seis, as vezes eu termino onze, meio dia, só fazendo aquele

processo, também por isso que eu escolho só uma vez na semana, (...)”.22

Segundo dona Chiquinha o dinheiro que era obtido com a venda do tacaca não

era suficiente para a compra de muita coisa ou item de elevado valor. Ela só pode

comprar o material necessário e construir a sua casa quando a mesma começou a

trabalhar na escola Adersom de Meneses, exercendo a função de merendeira. Contudo o

dinheiro obtido com o tacaca lhe permitia comprar o “rancho”, os gêneros alimentícios

básicos para sustentar toda a sua família.

20 Entrevista realizada no dia 26 de março de 2014, na residência de dona Liley de Almeida Garcia, por

Romilda Belchior da Costa. 21 Entrevista realizada no dia 30 de março de 2014, na residência de dona Maria Idaízes Jacauna Carneiro,

por Romilda Belchior da Costa. 22 Entrevista realizada no dia 30 de março de 2014, na residência de dona Maria Marta Oliva Garcia, por

Romilda Belchior da Costa.

10

Olha mana eu, eu, como eu too te dizendo, eu não comprava assim muitas

coisas não, eu, eu vim comprar alguma coisa pra mim foi com o meu dinheiro

da, que eu trabalhava pelo Estado né, e eu era merendeira, agora como o

tacaca me ajudou muito por causa que eu, eu comprava rancho pra cá pra

casa né, comprava assim alguma coisa todo tempo com o meu dinheiro

sempre do tacaca e as coisas quando eu ganhava do Estado que eu era

merendeira e o meu marido trazia a gente ia comprando alguma coisa,

fizemos a nossa casinha, ajudei criar meus filhos, eles estudaram todos eles

tenham faculdade, (...).23

Podemos constatar na fala de dona Chiquinha o quanto trabalhar como

tacacazeira contribuiu para a criação e alimentação de seus filho juntamente com o

trabalho por ela exercido como merendeira e também para a construção e formação de

seus filhos, vale ressaltar que ao realizar a entrevista a mesma falou sobre os filhos com

muito orgulho relatando que todos tem formação superior. A experiência vivenciada por

dona Chiquinha, sua contribuição para o orçamento em função do oficio de Tacacazeira,

nos remete a observação de Priore em relção ao papel das mulheres em uma conjuntura

de crise econômica. “O desenvolvimento da crise econômica e o das famílias (...), nas

quais as mulheres desempenham o papel de chefes, assumindo ao mesmo tempo a

educação das crianças e sua subsistência.” (PRIORE, 2003, p. 222).24

A percepção em relação ao peso da venda do tacaca no orçamento doméstico,

não é a mesma entre todas as mulheres tacacazeiras. Segundo Liley de Almeida Garcia,

considera ter conseguido “bastante coisa dali, eu principalmente, as coisas que eu tenho

de valor”. Naquele momento a entrevistada fazia planos para a compra de uma

motocicleta “com o dinheiro do tacaca, não tem nada do trabalho do meu marido, não

tem nada do trabalho da mamãe é tudo realmente com a renda do tacaca.25

Para Maria Carneiro com a venda do tacaca foi possível adquirir alguns bens de

consumo como rádio. Embora considere que a venda tenha caído muito, ao ponto de

23 Entrevista realizada no dia 23 de março de 2014, na residência de dona Maria do Carmo da Silva, por

Romilda Belchior da Costa. 24 Ver DELL PRIORE, Mary. História das mulheres: as vozes do silencio. In FREITAS, Marcos (org).

Historiografia brasileira em perspectiva. São Paulo: Contexto, 20013. 25 Entrevista realizada no dia 26 de março de 2014, na residência de dona Liley de Almeida Garcia, por

Romilda Belchior da Costa.

11

não lhe permitir a compra de vestuário. Apesar de ser suficiente para a alimentação: “dá

pra mim comer, dá pra mim beber”.26

Já para Maria Marta a venda do tacaca é de suma importância para o orçamento

da sua família, com essa renda extra, ela pode juntamente com o pagamento de

professor de seu esposo Marcos, o casal pode comprar os materiais necessários para a

construir de sua residência.

(...). Com a venda do tacaca, a gente já por exemplo, eu ajudei o Marcos a

construir a nossa casa. Muitas coisas foi, da venda que eu ajudei ele né, que

só o que ele ganha não dá, porque se desse eu arranjava um outro ramo pra

mim, que é, é uma fonte que a gente ganha, mais é muito cansativo, é muito

trabalho, muito desgaste. (Maria Marta Oliva Garcia, 30/03/2014).27

Maria do Carmo destaca também que trabalhar como tacacazeira é muito

gratificante e é uma coisa que a mesma gosta muito de fazer. “A mana pra mim é muito

gratificante, olha eu gosto muito do meu trabalho, e eu espero em DEUS que eu, que eu

não deixe tão cedo porque eu gosto muito dele, desse trabalho.”28

Percebe-se na fala de dona Chiquinha que a mesma tem maior satisfação em

trabalhar como tacacazeira, pretendendo dessa forma trabalhar por muito tempo

exercendo esta função em quanto Deus lhe der saúde e força para continuar esse ofício.

Para Liley, por ser um aprendizado passado entre a geração de mulheres

tacacazeiras da sua família, sente-se honrada em ser tacacazeira, mesmo assim ela já foi

descriminada por pessoas leigas com relação a esse meio de trabalho.

Eu pra mim é uma coisa que eu não vou deixar tão cedo, (...), foi uma coisa

que eu aprendi com a minha mãe, aprendi com a minha vó, então é um

trabalho que eu não tenho vergonha de fazer eu tenho orgulho, eu posso dizer

que eu tenho orgulho de ser tacacazeira a quem chegar lá no tacaca comigo.

(...) eu já sofri muita humilhação por ser tacacazeira de pessoa daqui e de fora

também que acham que a gente ta ali, acha que é por necessidade, é, mais eu

não vejo um trabalho sujo, eu não vejo um, um trabalho que se dei vergonha

mais já passamos muito por isso, mais até explicar as pessoas que a gente

26 Entrevista realizada no dia 30 de março de 2014, na residência de dona Maria Idaízes Jacaúna Carneiro,

por Romilda Belchior da Costa. 27 Entrevista realizada no dia 30 de março de 2014, na residência de dona Maria Marta Oliva Garcia, por

Romilda Belchior da Costa. 28 Entrevista realizada no dia 23 de março de 2014, na residência de dona Maria do Carmo da Silva, por

Romilda Belchior da Costa.

12

gosta de fazer isso, a pessoa, até a pessoa entender é complicado até a pessoa

ouvir, mais pra mim é um trabalho que graças a DEUS eu tenho orgulho de

dizer, eu gosto de fazer isso. 29

Como também dona Maria Idaízes que mesmo com uma idade avançada não

pretende deixar de trabalhar com a venda do tacaca, destacando que pretende exercer

essa função por muitos anos.

Olha esse meu trabalho pra mim agora, na hora, na idade que eu to de 80

anos é, é o coisa pra mim é, pra mim como é que a gente diz, é que eu, que eu

gosto né, eu não tenho outro mais o que fazer outro trabalho na minha idade

já não coisa de outro trabalho né, eu vou botar a minha banquinha até quando

eu não puder.30

Para Maria Marta trabalhar com a venda dessa guloseima não é apenas um

meio de sobrevivência, mais também um meio que lhe possibilitou conhecer outras

pessoas, criando assim um laço de amizade com a vizinhança.

Pior que eu gosto de ta lá, as vezes já quando dá aquele horário eu não gosto

de tá aqui em casa, eu gosto de ta lá, quer dizer, além das, das as meninas vão

pra lá a gente conversa, eu vejo gente, eu ganho o meu dinheiro, mesmo que

se eu ficar aqui em casa parece que a hora não passa, ai eu gosto do que eu

faço, não faço só pro, pra ganhar dinheiro não, eu faço porque eu gosto. 31

Com relação ao seu local de trabalho dona Chiquinha nos diz que não pode

fazer nada para melhorar porque o local não é de sua propriedade e sim uma

propriedade particular.

Olha mana eu não posso dizer para melhorar porque eu não tenho como fazer

né uma, uma coisa ai porque não é meu, (...) eu fico ali naquelas lado né só

aquelas horas ai tem aquela pestana assim, que o Alfredo fez na frente do

supermercado né mais graças a Deus eu não me molho lá, porque quando

chove a, a, aquela área fica tudo coberta ai eu não me molho eu puxo a minha

banca bem pro lado mesmo da parede ai pronto eu nunca me molhei.32

29 Entrevista realizada no dia 26 de março de 2014, na residência de dona Liley de Almeida Garcia, por

Romilda Belchior da Costa. 30 Entrevista realizada no dia 30 de março de 2014, na residência de dona Maria Idaízes Jacaúna Garcia,

por Romilda Belchior da Costa. 31 Entrevista realizada no dia 30 de março de 2014, na residência de dona Maria Marta Oliva Garcia, por

Romilda Belchior da Costa. 32 Entrevista realizada no dia 23 de março de 2014, na residência de dona Maria do Carmo da Silva, por

Romilda belchior da costa.

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Dona Chica refere-se somente a partir da construção do supermercado quando o

dono ao construir fez uma pequena cobertura para que ela não se molhasse deixando de

narrar como era aquela rua antigamente, não existia prédios naquele local, esquecendo

de falar como ela fazia para se proteger da chuva.

Contudo Liley nos mostra que a estrutura desses locais necessitam de

melhoramentos, pois ela por várias vezes tentou colocar uma barraca, mais pela falta de

segurança, a barraca todas as vezes foram furtadas do local.

Eu acho que é mais a estrutura, a estrutura da gente que tem que melhorar um

pouco, (...), uma barraca a gente já tentou colocar uma barraca só que levam,

se a gente deixar lá levam, roubam umas três vezes a gente fizemos isso

então não tem como a gente deixar lá, e pra gente deixar lá, e pra gente ir

levar e trazer é muito longe, é muito complicado pra gente, mais a gente já tá

pensando já nessa parte de fazer para o festival, (...).33

Assim também Maria Marta destaca que tem um projeto para o seu local de

trabalho que é a construção de uma tacacaria toda ornamentada com produtos regionais,

pois a mesma tem interesse em deixar de trabalhar na rua e ir para um local mais

reservado, visto que o processo de locomoção de sua casa para esses local é complexo.

Eu tinha um projeto (...) se eu tivesse um ponto, que fica a parte de dentro e o

lado de fora né aquelas cadeiras, o Marcos até pensou em fazer aqui no lado,

só que eu disse que ficava muito escondido num, os meus clientes não vão

vim, ele queria fazer tudo, como que eu posso dizer, é tudo, é, é, da cultura

daqui, tudo indígena assim, a, a decoração, como as cuias, aqueles negócios,

tudo assim ai ele disse que assim ia ficar mais bonito, ia chamar mais gente,

mais eu disse pra ele, porque eu queria sair da rua, porque esse negócio de

levar e trazer, levar todo dia e trazer é meio cansativo.34

Com relação a sua clientela a mesma destaca que tem uma clientela fixa que

todos os dias vão a sua banca para beber o tacaca, isso é uma clientela cativa. Ela ainda

destaca que as tacazeiras não tem uma associação voltada para ampara-las e que nunca

33 Entrevista realizada no dia 26 de março de 2014, na residência de dona Liley de almeida Garcia, por

Romilda Belchior da Costa. 34 Entrevista realizada no dia 30 de março de 2014, na residência de dona Mari Marta Oliva Garcia, por

Romilda Belchior da Costa.

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foi procurada por ninguém com relação a isso. E que ela nunca teve interesse ou

procurou saber sobre a existência ou criação de uma associação. Cada uma das

tacacazeiras coloca a sua banca no local que escolher. “Cada qual coloca tudo quase,

quase não tem seu lugar certo, é, é na rua [...]”. E segue identificando o local de

montagem das bancas de tacaca no centro da cidade, sem contudo, citar o nome das

profissionais. “[...] olha estas tacacazeiras daí da rua Amazonas [dona Maria], tudo é na

rua. Essa da outra da Rio Branco [dona Maria Marta] é na rua. As que eu conheço tudo

é na rua, não tem esse negócio não”35.

Ao ser questionada em relação ao seu conhecimento sobre a existência ou não de

uma associação das tacacazeiras dona Maria Idaízes Jacaúna informar desconhece-la:

“Não eu até aqui ainda não soube né, nossa que poderia ter né, mais eu acho que não

tem né, que eu ainda não ouvir falar.”36 Dona Liley de Almeida Garcia, além de relatar

o desconhecimento, transparece um certo ceticismo quanto a possibilidade de criação

deste tipo de trabalho. “Não eu acredito que não, eu não pensei nesse lado, ta, ta ai uma

coisa que não, não passou pela minha cabeça assim de, também se pensam em criar

ainda não procuraram a gente né (...), não sei se quiserem só nos procurar, que a gente

vai fundo”.37 Como enfatiza Bitter e Bittar.

O tacaca se tornou uma comida de rua, fortemente associada a identidade e

pertencimentos sociais, e essas representações parecem ter sido construídas

com base em sua relevância cultural e social. Mais também em sua suposta

antiguidade e origem indígena. (BITTER & BITTAR, p.223/224).38

Referindo-se ao patrimônio cultural dona Maria do Carmo destaca que não tem

conhecimento sobre o assunto:

35 Entrevista realizada no dia 23 de março de 2014, na residência de dona Maria do Carmo da Silva, por

Romilda Belchior da Costa. 36 Entrevista realizada no dia 30 de março de 2014, na residência de dona Maria Idaízes Jacaúna Carneiro,

por Romilda Belchior da Costa. 37 Entrevista realizada no dia 26 de março de 2014, na residência de dona Liley de Almeida Garcia, por

Romilda Belchior da Costa. 38 Ver em BITTER, Daniel & BITTAR, Nina Pinheiro. “Comida, trabalho e patrimônio. Notas sobre o

ofício das baianas de acarajé”. In: Horizontes antropológicos. Porto Alegre, ano 18, n. 38, p. 213 a 236,

jul./dez. 2012.

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Eu não sei não, eu não sei porque não, essa coisa pelo menos eu mana, eu já

estou nessa idade, eu só too vendendo porque sou teimosa mesmo, meus

próprios filhos não querem, mais ai mais eu gosto da minha profissão (...).

Olha eu fico aqui em casa de manhã eu faço minhas coisinhas, lavo a minha

roupa, faço a minha comida, (...), depois do almoço eu descanso aí eu, eu vou

fazer o tacaca. (...). (Maria Do Carmo da Silva, 23/03/2014).39

A mesma descreve que não tem interesse em torna-se patrimônio cultura de

Parintins, pois diz que já está com uma certa idade, com relação a isso pode-se perceber

que dona Chiquinha não tem conhecimento sobre o assunto talvez esse seja o motivo da

falta de interesse por parte dela. E destaca também que além de trabalhar vendendo o

tacaca tem que realizar os afazeres domésticos como lavar, cozinhar, destaca também

que tem um tempo para descansar a tarde antes de começar a arrumar as coisas que

compõe a sua banca de tacaca. Como também Liley

Acho que é mais questão de ajuda, se, se, como é que eu posso falar, se

outras pessoas viessem, vissem o nosso lado né, de como a gente dá duro e

ajudasse pelo menos na estrutura para nós, já seria meio caminho andado,

porque não é fácil, as vezes as pessoas chega lá no tacaca, pensa que ali tudo

é preparado rápido, não é, a gente começa cedo, cedo da manhã é

praticamente a manhã toda fazendo tacaca, a gente não tem tempo pra outra

coisa, entendeu, é dia todinho se as pessoas entendessem isso, quem sabe até

a gente não receberia uma ajuda, (...).(Liley de Almeida Garcia,

26/03/2014).40

Assim também Liley, não é conhecedora do que diz respeito ao patrimônio, mais

dá ênfase com relação a ajuda que elas gostariam de receber dos órgãos competente.

Principalmente com relação ao reconhecimento do seu trabalho e a estrutura do local.

COMCLUSÃO:

A cada entardecer ao se caminhar pelas ruas de Parintins, pode-se deparar com

vendedoras de tacacá nos vários bairros da cidade. Por outro lado pode-se observar que

as mesmas não tem acesso as políticas públicas para valorizá-las ou para fazer valer os

seus direitos como trabalhadoras. Pois muitas vendedoras não tem conhecimento de tais

39 Entrevista realizada no dia 23 de março de 2014, na residência de dona Maria do Carmo da Silva, por

Romilda Belchior da Costa. 40 Entrevista realizada no dia 26 de março de 2014, na residência de dona Liley de Almeida Garcia, por R

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possibilidades ou direitos. Em outros estados como no Pará, em cidades como Belém, as

tacacazeiras que lá residem, ganharam o reconhecimento como patrimônio cultura da

cidade, sendo reconhecidas pelo seu trabalho. Por outro lado, em Parintins elas são

leigas sobre o assunto. Mais são conscientes de que precisam melhorar o seu local de

trabalho e querem que o poder público veja esse lado e possa ajuda-las com relação a

isso. Pois muitas delas têm apenas a venda do tacacá como um meio de ajudar

financeiramente a sua família. Nesse sentido analise histórica da experiência que

relacionam migração, tradição amazônica e trabalho feminino podem ser importantes

para que a comunidade acadêmica tenha uma referência mínima para outras pesquisas

em relação à temática aqui proposta. A execução da pesquisa que originou o presente

artigo pode servir para iluminar o protagonismo e as estratégias de pessoas muitas vezes

ignoradas, tanto pelo poder público, quanto pela sociedade em geral.

Fontes:

Entrevista realizada no dia 23 de março de 2014, na residência de dona Maria do Carmo

da Silva, por Romilda Belchior da Costa.

Entrevista realizada no dia 26 de março de 2014, na residência de dona Liley de

Almeida Garcia, por Romilda Belchior da Costaa.

Entrevista realizada no dia 30 de março de 2014, na residência de dona Maria Idaízes

Jacaúna Carneiro, por Romilda Belchior da Coata.

Entrevista realizada no dia 30 de março de 2014, na residência de dona Maria Marta

Oliva Garcia, por Romilda Belchior da Costa.

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BITTER, Daniel & BITTAR, Nina Pinheiro. “Comida, trabalho e patrimônio. Notas

sobre o ofício das baianas de acarajé e as tacacazeiras” In. Horizontes Antropológicos,

Porto Alegre, ano 18, n. 38, p. 213-236, jul./dez. 2012.

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