o lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE URBANO DALVA DE CÁSSIA SAMPAIO DOS SANTOS O LAZER NO PLANO DIRETOR DAS METRÓPOLES AMAZÔNICAS: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE BELÉM E MANAUS BELÉM - PARÁ 2010

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Page 1: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE URBANO

DALVA DE CÁSSIA SAMPAIO DOS SANTOS

O LAZER NO PLANO DIRETOR DAS METRÓPOLES

AMAZÔNICAS: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE BELÉM E MANAUS

BELÉM - PARÁ

2010

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DALVA DE CÁSSIA SAMPAIO DOS SANTOS

O LAZER NO PLANO DIRETOR DAS METRÓPOLES

AMAZÔNICAS: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE BELÉM E MANAUS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade da Amazônia como requisito para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano. Orientadora: Profª. Drª. Nírvia Ravena de Sousa.

BELÉM - PARÁ 2010

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DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) MARINEIDE VASCONCELLOS CRB 2/1.028

711.558 S237l Santos, Dalva de Cássia Sampaio dos. O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

comparativo entre Belém e Manaus / Dalva de Cássia Sampaio dos Santos. -- 2010.

198 f. : il.; 21 x 30 cm. Dissertação (Mestrado) -- Universidade da Amazônia, Núcleo de

Estudos e Pesquisas em Qualidade de Vida e Meio Ambiente, Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano, 2010.

Orientador: Profª. Drª. Nírvia Ravena de Sousa.

1. LAZER. 2. PLANO DIRETOR. 3. POLÍTICA URBANA-MANAUS. 4. POLÍTICA URBANA-BELÉM. 5. PLANEJAMENTO TERRITORIAL URBANO. 6. INFRAESTRUTURA URBANA. I. SOUSA, NÍRVIA RAVENA DE. II. TÍTULO.

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DALVA DE CÁSSIA SAMPAIO DOS SANTOS

O LAZER NO PLANO DIRETOR DAS METRÓPOLES AMAZÔNICAS:

UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE BELÉM E MANAUS.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade da Amazônia como requisito para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano. Orientadora: Profª. Drª Nírvia Ravena de Sousa.

BANCA EXAMINADORA _______________________________________ Profª. Drª. Nírvia Ravena de Sousa Orientadora - UNAMA _______________________________________ Prof. Dr. Reinaldo Nobre Pontes - UNAMA _______________________________________ Profª.Drª. Voyner Cañete - UFPA Aprovada:________

Belém,16 de Dezembro de 2010

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Aos meus pais, Altineia e Raimundo, que morreram quando ainda estava com 13 anos de idade, mas que conseguiram com uma educação familiar firme e amorosa me fazer acreditar que todas e todos - negros, brancos, amarelos etc, merecem ter direito de sonhar e viver dignamente e que o primeiro passo é não desistir nunca do sonho, o segundo passo é a educação. Dedico também a todos os trabalhadores e trabalhadoras, negros e negras, caboclos, ribeirinhos, quilombolas, indígenas, Amazônidas e a todos, que de maneira geral, lutam e acreditam que uma outra Amazônia é possível.

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AGRADECIMENTOS

Às energias-força dos meus antepassados, da mata, do mar, do ar, dos que desencarnaram, das pessoas que me amam e que me iluminam, me orientam, me equilibram meus caminhos, para enfrentar todos os desafios.

Aos meus filhos Danilo Luan e Rodrigo Mateus por intervirem providencialmente com muitos beijos e bagunças nas horas de stress acadêmico.

Ao meu marido, amado, companheiro, amigo, Marco Apolo, que com muito amor e dedicação esteve em todos os momentos me apoiando incondicionalmente.

Aos meus amados irmãos e irmãs: Ana Maria, que ajudou a financiar minha vida escolar; Maria de Lourdes, Maria Eliana, Maria Aureliana, maravilhosas, que também me educaram. Aos meus irmãos Carlos Alberto, Raimundo (Dico), Daniel e Luis Carlos; cunhadas Elza, Leia, Leide e cunhados Cléo e Marcos, que sempre me dedicaram muito carinho e sempre desculparam minhas ausências dos momentos em família por causa do mestrado; Maria dos Anjos, minha irmã-mãe, que assumiu todos os riscos de cuidar da minha vida, sempre me deixando livre pra escolher meu caminho.

À minha sogra (mãe-adotada), Maria José, que me dedicou amor compensador e pelas cuias de açaí que tomamos juntas para nos retroalimentar dos momentos de desgaste do curso. Aos meus cunhados Mauro, Cristina, Elizabeth, Sílvia (in memorian) e cunhados Claudio, Frank e Lene que me acolheram como irmã e me deram força para fazer esse mestrado.

Meus sobrinhos amados: Carla, Carina, Aquiles, Luana, Ruana, Guilherme, Daniela, Hugo, Camila, Isaac, Circe, Cintia, Gabriel, Jamile, André, Ruizinho, Drieli, Driene, Carol, Jade, Biatriz, Douglas, Letícia e Talles.

À minhas apoiadoras amadas, fundamentais, que cuidaram e cuidam de mim, e de meus filhos em todas as minhas ausências Edna e Rosa.

À minha sobrinha linda, Driele Sampaio, que transformei em auxiliar direta na produção da dissertação com algumas das tabelas, gráficos e coleta de documentos para essa pesquisa.

Às minhas amigas maravilhosas que sempre responderam presente em todos os momentos que precisei trocar ideias e angústias nesse processo de formação: Joselene, Zaira e Norma.

Às minhas amigas de trabalho: a) Escola Aparecida: Margareth, Rosa Fares, Rutileia, Elzira, Beth, Joana D’arc, Adelaide, Nazaré, Carmen, Helena, Heloisa; b) Escola Justo Chermont: Adamor (Diretor); c) Escola Rui Brito: Rosiane, Capela, Onélia; d) Sossego da Mamãe: Ester, Aldenora, do Ministério do Esporte, que me ajudaram a percorrer os caminhos na construção de uma política pública democrática e popular.

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Aos meus amigos da turma do Mestrado em especial à Norma, Clara, Helena, Ana Lígia e Shadji pelos longos momentos de trocas e descobertas fundamentais durante o curso. Aos professores Voyner Ravena Cañete, Reinaldo Pontes, Luciana Costa da Fonseca, Carlos Paixão, Anna Maria Vasconcellos, Samuel Sá pelas contribuições na ampliação do cenhecimento do estudo acadêmico no campo do Planejamento Regional.

Ao Coordenador do Curso professor Marco Aurélio Arbage Lobo pela atenção e dedicação e permanente incentivo na realização do curso.

À minha professora e orientadora, Profª Nírvia Ravena, pela grande contribuição que deu o rumo para a construção e concretização desse trabalho.

À Secretaria Municipal de Educação-SEMEC que me deu o apoio necessário para aprimorar minha formação profissional, me liberando para cursar o mestrado.

À Secretaria Estadual de Educação SEDUC que garantiu o apoio incondicional para a realização dessa etapa de minha formação, com a concessão da bolsa-mestrado e liberação para o curso.

Ao Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano da Universidade da Amazônia – UNAMA por ter me proporcionado vivenciar essa experiência e me garantido o apoio necessário.

Aos colegas e amigos de Manaus: Nívea e Ademar que me abrigaram no momento da coleta de dados; Ester Leão, minha estagiária em Manaus responsável pelo registro das imagens por mim solicitadas.

Aos colegas de Manaus que me ajudaram a encontrar os dados necessários à minha pesquisa. Câmara Municipal: Ilka Izel Benjamim e toda a equipe do vereador Marcelo Ramos, aos quais devo muito o apoio e auxilio para a coleta dos dados. Ricardo Braga, Técnico do Instituto de Planejamento Urbano; Cáritas de Manaus, ao Adnamar Mota do Movimento popular de Manaus, Prof. Dr. Vanderlan Mota da (UEA/UNIP).

A todos e todas que ficaram na torcida e que não mediram esforços para contribuir com a força necessária para que eu vencesse esse desafio.

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Acorda! Já é dia e o teu destino é fazer teu destino caminhando!

Tu és, ao mesmo tempo, oleiro e barro; Tu és, num só momento, o boi e o carro!

Acorda! O tempo urge... Tu não sabes que deténs as rédeas da ação?

Tu és a solução dos teus problemas e a chave que abre tuas algemas

repousa, eternamente, em tua mão! Levanta! O sol se põe... Bate a poeira

acumulada por tantos verões!... Tu és a vela-mestra da História, o caminho que conduz à glória,

a semente das revoluções!

(Oleiro e Barro - Juraci Siqueira)

Page 9: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

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SUMÁRIO

RESUMO ........................................................................................................................... 11

ABSTRACT ...................................................................................................................... 12

LISTA DE MAPAS .......................................................................................................... 13

LISTA DE TABELAS ...................................................................................................... 14

LISTA DE GRÁFICOS ................................................................................................... 16

LISTA DE FOTOGRAFIAS ........................................................................................... 17

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ..................................................................... 18

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 20

1.1 Dinâmica metodológica da pesquisa ............................................................................ 24

2 O LAZER E AS POLÍTICAS SETORIAIS: A CONSTRUÇÃO DE UM

BENEFÍCIO PÚBLICO ..................................................................................................

29

2.1 Algumas considerações sobre instituições e o debate sobre benefício público e recursos

comuns .................................................................................................................

29

2.1.1 A teoria das instituições e o neoinstitucionalismo .............................. 30

2.1.2 Sobre o institucionalismo histórico ........................................................................... 31

2.1.3 O Estado como instituição ......................................................................................... 32

2.1.4 O conceito de benefício público e recursos comuns ................................................. 34

2.2 O que aponta a produção científica sobre o lazer ......................................................... 38

2.3 Lazer nas políticas públicas: aproximações históricas do surgimento do lazer como

direito ..................................................................................................................................

44

2.3.1 Marco histórico, interesses, atores e agentes que operam na arena do lazer

.........................................................................................................

44

2.4 O lazer como beneficio público e o debate sobre os recursos comuns ........................ 49

2.5 Relações federativas na configuração das políticas de lazer presentes nos planos

diretores ..............................................................................................................................

52

2.5.1 Algumas reflexões sobre a reforma do Estado a partir da Constituição de 1988....... 53

2.5.2 As políticas públicas de lazer no Brasil: os resultados das mudanças do Estado

......................................................................................................

56

2.5.2.1 Política de lazer com apelo de atrelamento ideológico .......................................... 57

2.5.2.2 Apoio ao setor privado ........................................................................................... 58

2.5.2.3 O controle social .................................................................................................... 59

2.6 O lazer como demanda qualificada nos planos diretores ............................................. 62

Page 10: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

10

3 O LAZER E O PLANEJAMENTO URBANO NA AMAZÔNIA ................................. 68

3.1 O processo de crescimento e desenvolvimento urbano na Amazônia........................... 69

3.2 Belém e Manaus, metrópoles da Amazônia: aproximações e contrastes .................... 81

3.2.1 Sobre Belém .............................................................................................................. 82

3.2.2 Sobre Manaus ............................................................................................................ 90

3.2.3 Rivalidades entre as duas cidades ...................................................... 98

3.2 O lazer no planejamento urbano na Amazônia ............................................................. 99

3.4 O lazer no Plano Diretor das metrópoles amazônicas, questões para análise .............. 112

4 COMPARANDO O LAZER NO PLANO DIRETOR DE BELÉM E MANAUS ........ 116

4.1 O lazer no Plano Diretor de Belém .............................................................................. 117

4.1.1 Considerações gerais sobre o Plano.................................................... 117

4.1.2 Gestão democrática ................................................................................................... 118

4.1.3 A análise do lazer no Plano Diretor de Belém .......................................................... 120

4.1.3.1 A concepção de lazer presente no plano ................................................................. 120

4.1.3.2 Os espaços destinados às práticas de lazer ............................................................. 124

4.1.3.3 Animação cultural .................................................................................................. 132

4.1.3.4 O lazer nos orçamentos municipais ........................................................................ 135

4.2 O lazer no Plano Diretor de Manaus ............................................................................ 137

4.2.1 Considerações gerais sobre o Plano Diretor .............................................................. 137

4.2.2 Gestão democrática ................................................................................................... 139

4.2.3 Análise do lazer no Plano Diretor de Manaus ........................................................ 140

4.2.3.1 Concepção de lazer presente no Plano ................................................................... 140

4.2.3.2 Os Espaços de lazer no PDUAM ............................................................................ 143

4.2.3.3 Animação cultural .................................................................................................. 156

4.2.3.4 Investimentos financeiros no município de Manaus .............................................. 159

4.2.3.4 Considerações finais da análise do plano de Manaus ............................................. 165

4.3 Comparando os dados ................................................................................................... 166

4.3.1 Quanto aos limites dos planos ................................................................................... 168

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 175

REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 180

ANEXO .............................................................................................................................. 189

ANEXO A - Diário Oficial do município de Manaus ........................................................ 190

ANEXO B - Acordo Celebrado entre União, Estado do Amazonas e Prefeitura de Manaus

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para viabilizar a COPA 2014 ................................................................................ 194

ANEXO C – Construção do Monotrilo Norte/Centro ........................................................ 197

ANEXO D – Reconstrução do Estádio Vivaldão ............................................................... 197

ANEXO E – Aviso de Licitação ........................................................................................ 198

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RESUMO

SANTOS, Dalva de Cássia Sampaio dos. O Lazer no Plano Diretor das Metrópoles Amazônicas: um estudo comparativo entre Belém e Manaus. 198f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano) - Universidade da Amazônia – UNAMA, Belém, 2010.

A Amazônia tem sofrido historicamente com as políticas de planejamento impostas ao seu território com fins no “desenvolvimento da região”. Da ocupação do território à Belle Époque e aos grandes projetos do século XX, foram políticas insustentáveis que determinaram nos dias atuais a região permanecer em alto índice de degradação ambiental e a maioria de seus municípios com os menores índices em educação, saúde, saneamento, acesso a cultura, esporte e lazer. A Constituição de 88 e o próprio Estatuto da Cidade garantiu ao município maior autonomia na definição de seu planejamento, através do Plano Diretor e assegurou a ampliação de canais de participação da sociedade civil na dinâmica do planejamento municipal. O lazer, tema deste estudo, deixou de ser uma mera demanda dos trabalhadores para tornar-se legal como um dos direitos sociais. No entanto, ele não ficou refratário às dinâmicas institucionais de utilização desse direito como moeda de troca política ou implementado numa concepção de lazer reduzida à prática de eventos e escolhidas de futebol com acesso à poucos. A análise do lazer no Plano Diretor das Metrópoles da Amazônia é o objeto desta pesquisa que investiga através de estudo comparativo, em que medida as metrópoles amazônicas têm conseguido atuar na efetivação do lazer em seus planos diretores. Confirmou-se a hipótese de não existir um padrão amazônico de atuação da gestão municipal nas metrópoles amazônicas. As gestões municipais ainda reproduzem as experiências específicas de outras regiões do país com nuances, que assumem características próprias em cada cidade. A pesquisa demonstrou que o lazer na política urbana de Belém e Manaus apresenta formas diferenciadas: Belém avançou na elaboração do Plano Diretor definindo-o como política social e estruturando um campo de planejamento, dando maior ênfase a ideia do lazer como benefício público. Manaus já o tratou de maneira fragmentada e dispersa, dando maior destaque ao lazer como negócio, na política de desenvolvimento econômico, tratando o lazer como mercadoria (mercolazer). Em contrapartida, na execução das políticas nota-se que Manaus avançou mais em dotar a cidade de infraestrutura física e animação cultural em um número maior de bairros, comparado a Belém. Assim constata-se uma distância entre a regulação e a implementação das políticas nas duas metrópoles.

Palavras-Chave: Lazer. Plano Diretor. Amazônia. Metrópoles.

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ABSTRACT SANTOS, Dalva de Cássia Sampaio dos. O Lazer no Plano Diretor das Metrópoles Amazônicas: um estudo comparativo entre Belém e Manaus. 150f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano) - Universidade da Amazônia – UNAMA, Belém, 2010. Amazon has suffered historically with planning policies imposed on their territories to aim in "development of the region". The occupation of territory to the Belle Époque to large projects of the 20th century, were unsustainable policies underlying today the region remains at a high index of environmental degradation and the majority of their municipalities with the smaller indexes on education, health, sanitation, access to culture, sport and leisure. The Constitution of 88 and the Statute of the City gave major guarantee to the municipality to have greater autonomy in defining their planning through Master Plan (Plano Diretor) and ensured the expansion of channels of participation of civil society in municipal Planning dynamics. Leisure, the subject of this study is no longer a mere demand of workers to become legal as a social right. However it has not been refractory to institutional dynamic of use of this right as a bargaining chip or implemented reduced the policy or practice of events and/or the chosen football with access to the few. Leisure in the strategic plan of the metropolises of the Amazon is the object of this research work that investigates through comparative study to know what extent the Amazonian metropolises have achieved leisure in their Master Plans? If confirmed the hypothesis that there is no standard practice of municipal management in Amazonian metropolises? The municipal managements still reproduces the specific experiences of other regions of the country with nuances, which assume specific characteristics in each city. The survey showed that the leisure in urban policy of Belem and Manaus are present in differentiated forms: where Belém progressed in drawing up the Master Plan setting it to social policy and structuring a planning field, giving greater emphasis to the idea of leisure as public benefit. In Manaus it already was fragmented and dispersed way, giving greater important to leisure as business, in economic development policy, treating the leisure as merchandise (mercolazer). By contrast, in implementing policies noted that Manaus more advanced to endow the city of physical infrastructure and cultural animation in a larger number of neighborhoods, compared to Belem. So there is a distance between regulation and implementation of policies in the two metropolises.

Keywords: Leisure. Master Plan. Amazon. Metropolises.

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LISTA DE MAPAS

Mapa 01 - Amazônia Legal ................................................................................................ 68

Mapa 02 - Região metropolitana de Belém Google Earth ............................................................ 83

Mapa 03 - Mapa da região metropolitana de Belém SEGEP ...................................................... 83

Mapa 04 - Mapa da região metropolitana de Manaus ........................................................ 95

Mapa 05 - Mapa dos fluxos do lazer no Brasil, IBGE, 2007 ............................................. 108

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01 - Crescimento urbano no Brasil e na Amazônia Legal (1960/1991) ............... 72

Tabela 02 - Dados da população na Amazônia Legal ...................................................... 74

Tabela 03 - População do Brasil, Região Norte e Estados do Amazonas e Pará .............. 75

Tabela 04 - Relação entre Doutores e matrículas de estudantes no Brasil, estados da

Amazônia Legal e Região Sudeste ...................................................................................

78

Tabela 05 - Causas de óbitos em menores de 1 Ano no Brasil e Região Norte

(1996/2005) .......................................................................................................................

79

Tabela 06 - Alguns dados sobre Belém, a partir do Relatório do IMAZON (2007) ........ 87

Tabela 07 - Distribuição dos equipamentos de lazer em Belém do Pará .......................... 89

Tabela 08 - Dinâmica populacional de Belém e Manaus de 1872 a 2000 ........................ 95

Tabela 09 - Metrópoles Amazônicas: localização, características geográficas e

indicadores ........................................................................................................................

97

Tabela 10 - Região metropolitana de Belém e Manaus: dados de área população, PIB e

IDH (2000) ........................................................................................................................

97

Tabela 11 - Existência de entidades públicas, privadas e mistas na composição dos

Conselhos ..........................................................................................................................

110

Tabela 12 - Existência de Lei Orgânica que trate do esporte e de outras leis municipais

que regulamentem o esporte .............................................................................................

110

Tabela 13 - Número e distribuição percentual dos equipamentos esportivos existentes

em 31.12, por tipo de equipamento esportivo, segundo classes de tamanho da

população dos municípios e grandes regiões – 2003 ........................................................

111

Tabela 14 - Número de equipamentos esportivos existentes ............................................ 111

Tabela 15 - Macrozoneamento de Belém de acordo com usos e atividades de lazer,

zonas de ambiente urbano – ZAU .....................................................................................

127

Page 16: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

16

Tabela 16 - Orçamento para o lazer (2008 – 2010) .......................................................... 135

Tabela 17 - Unidades de conservação e corredor ecológico que potencializam o lazer

em Manaus ........................................................................................................................

150

Tabela 18 - Quadro de uso e atividades das macrounidades de estruturação urbana ....... 151

Tabela 19 - Quadro dos usos e atividades por unidade espacial de transições - UET, lei

n° 672/2002 .......................................................................................................................

154

Tabela 20 - Programas e projetos de esporte e lazer em Manaus ..................................... 157

Tabela 21 - Investimentos na política de lazer e cultura 2008-2010 ................................ 160

Tabela 22 - Síntese comparativa sobre o lazer em Belém e Manaus ................................ 167

Page 17: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Densidade demográfica do Brasil e região norte .............................................. 73

Gráfico 2 - Participação (%) dos Estados da Amazônia Legal ........................................... 77

Page 18: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

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LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 01 - Balneário Parque 10 ................................................................................... 93

Fotografia 02 - Aldeia Ipatse - Parque do Xingu ................................................................ 100

Fotografia 03 - Cine Guarany – Manaus ............................................................................. 104

Fotografia 04 - Cine Olympia – Belém ............................................................................... 104

Fotografia 05 - Imagem de Belém: demonstrativo de obras de recuperação de área

degradada para fins de lazer ................................................................................................

134

Fotografia 06 - Espaço Saúde e Lazer na Praça Brasil ....................................................... 134

Fotografia 07 - Parque Dez de Novembro, Manaus ............................................................ 145

Fotografia 08 - Gestão: Serafim Correa 2005-2009 ............................................................ 146

Fotografia 09 - Prefeito Amazonino Mendes: Atual ........................................................... 147

Fotografia 10 - Capoeira no centro municipal de esporte e lazer Zezão, Manaus.......... 159

Fotografia 11 - Vista Aérea - trecho do Igarapé de Manaus antes do PROSAMIM.......... 163

Fotografia 12 - Palafitas sobre o Igarapé Manaus ............................................................... 163

Fotografia 13 - Trecho do Igarapé de Manaus revitalizado pelo PROSAMIM ................. 164

Fotografia 14 - Quadra poliesportiva no prolongamento da área ...................................... 164

Fotografia 15 - Foto de satélite de parte do centro da cidade de Manaus ........................ 165

Page 19: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ADA Agencia de Desenvolvimento da Amazônia

AEIS Áreas Especiais de Interesse Social

ALBRAS Alumínio Brasileiro S.A

ALUMAR Consórcio de Alumínio do Maranhão

ALUNORTE Alumina do Norte do Brasil S.A

APAs Áreas de Proteção Ambiental

BASA Banco da Amazônia

CEAL Coordenadoria de Esporte Arte e Lazer

CMM Câmara Municipal de Manaus

CDU Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano

CONDUMA Conselho de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente

CONSEMMA Conselho Municipal de Meio Ambiente - Manaus

CREA Conselho regional de engenharia e arquitetura

DIP Departamento de Imprensa e Propaganda

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço

FHC Fernando Henrique Cardoso

FMDU Fundo Municipal de Desenvolvimento Urbano

FNO Fundo Constitucional de Financiamento do Norte

IBAM Instituto Brasileiro de Administração Municipal

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IMAZON Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia

IMPLURB Instituto Municipal de Planejamento Urbano - Manaus

INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

INPA Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia

INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

Page 20: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

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IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

LDO Lei de Diretrizes Orçamentárias

LOA Lei Orçamentária Anual

LOM Lei Orgânica do Município

MMA Ministério do Meio Ambiente

MANAUSCULT Fundação Municipal de Cultura e Turismo

MANAUSTUR Fundação Municipal de Eventos e Turismo

MZAN Macrozonas Ambiente Natural

MZAU Macrozonas do Ambiente Urbano

ONG’S Organizações Não Governamentais

PD Plano Diretor

PDB Plano Diretor de Belém

PDUAM Plano Diretor Urbano e Ambiental de Manaus

PEVs Postos de Entrega Voluntária

PGM Procuradoria Geral do Município

PIB Produto Interno Bruto

PMM Prefeitura Municipicipal de Manaus

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PROSAMIM Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus

SEMMA Secretaria Municipal de Meio Ambiente

SEMOSBH Secretaria Municipal de Obras, Saneamento Básico e Habitação

SENAC Serviço Nacional do Comércio

SENAI Serviço Nacional da Indústria

SESC Serviço Social do Comércio

SESI Serviço Social da Indústria

SPVEA Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia

SUDAM Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia

SUS Sistema Único de Saúde

ZEIA Zonas Especiais Interesse Ambiental

ZEIP Zonas Especiais de Interesse do Patrimônio Histórico e Cultural

ZEIS Zonas Especiais e Interesses Sociais

Page 21: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

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1. INTRODUÇÃO

Os estudos sobre a temática do lazer cresceram no Brasil, principalmente a partir

das três últimas décadas. Porém, na Amazônia brasileira ainda são poucas as investigações

que estabelecem relação do lazer com o processo de planejamento das cidades. Esta pesquisa

intitulada “O Lazer no Plano Diretor das Metrópoles Amazônicas: um estudo

comparativo entre Belém e Manaus” é fruto de muitas inquietações nascidas em várias

frentes de atuação: na ação coletiva de luta pela reforma urbana em Belém - nos anos de 1980

e 1990; na experiência profissional com a docência em Educação Física; na gestão de

políticas públicas de lazer, esporte, educação e cultura; na atuação como

formadora/colaboradora do Ministério do Esporte, realizando formações de agentes sociais de

esporte e lazer. Tais experiências somadas à vida acadêmica no Programa de Mestrado em

Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano da UNAMA foram determinantes para o

amadurecimento da necessidade de investigar o grau de importância dado ao lazer no

planejamento urbano na sociedade atual. O lazer consta no Estatuto da Cidade, instrumento

este que obriga a criação de Plano Diretor (PD) para as cidades a partir de 20 mil habitantes.

Porém, a simples obrigatoriedade não garante que esse direito esteja de fato, sendo

implementado, pois existe uma dificuldade no Brasil na efetivação do cumprimento das leis.

É fato que o lazer é um direito social conquistado pelos trabalhadores nas tensões

entre o capital e o trabalho (MASCARENHAS, 2004; 2005). Assegurado na Constituição de

1988 está presente em vários documentos legais no Brasil: Constituição Estadual, Estatuto da

Cidade, o Plano Diretor (PD) etc. O lazer consta no Estatuto da Cidade, instrumento este que

obriga a criação de Plano Diretor (PD para as cidades a partir de 20 mil habitantes. Porém, a

regulação em vigor, que é fruto de um processo histórico de lutas dos movimentos sociais e

setores da sociedade brasileira, por si só, não tem assegurado ações institucionais eficientes.

Nota-se, principalmente a partir das experiências acumuladas tanto na gestão de políticas de

educação, cultura, esporte e lazer em Belém de 1997 a 2004, quanto nas formações de agentes

sociais de esporte e lazer em várias cidades do Brasil1, que o lazer ainda é um direito

secundarizado nos planejamentos municipais. O setor do lazer ainda padece com a grande

distância entre o que se registra nos documentos legais e o que se efetiva nas cidades em

1 Trata-se das Ações de Formação dos agentes sociais de esporte e lazer do Programa Esporte e Lazer da Cidade – PELC. Programa do Ministério do Esporte realizado em Convênio com os Estados municípios e ONGs.

Page 22: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

22

relação à implementação de políticas públicas voltadas para o acesso ao lazer como benefício

público.

Tais políticas deveriam ser capazes de garantir: a ampliação; conservação;

manutenção; gestão democrática e a animação cultural2 de espaços físicos específicos para as

práticas de lazer, distribuídos de maneira equânime por toda a cidade. Neste sentido, o Plano

Diretor – PD “pode ser definido como um conjunto de princípios e regras orientadoras da

ação dos agentes que constroem e utilizam o espaço urbano” (BRASIL, 2002). Sendo um dos

instrumentos fundamentais do planejamento municipal, na atual configuração do pacto

federativo, deveria corresponder aos anseios de uma sociedade, que é dialética, heterogênea

em que diferentes forças estão em permanente disputa.

A simples existência do Plano em uma cidade, considerando seu conteúdo e o

processo metodológico de elaboração3, revelam o grau de conflitos, articulações,

condensações e consensos das demandas da sociedade, ou seja, o Plano enquanto regulação

deveria, em condições ideais refletir o resultado da ação coletiva dos atores sociais e

contemplar as necessidades humanas passíveis de planejamento pelo município para tornar a

cidade ambientalmente habitável e sustentável aos trabalhadores.

Vale ressaltar que as regras capitalistas têm definido os padrões institucionais,

porém há que se considerar que os lugares abrigam singularidades que variam desde a

tradição da cultura política local à competência técnico-política institucional, presente em

cada município, fazendo com que as políticas públicas e o processo de regulação municipal

assumam um caráter próprio. Para Villaça (1999) e Braga (1995) o Plano Diretor como

instrumento de planejamento do município não funcionou nas cidades brasileiras, por uma

série de fatores que, dentre outros, a exigibilidade e a produção por encomenda,

características marcantes desse processo.

Neste sentido, o Plano Diretor, por ser o objeto primário deste trabalho, foi

estudado a partir da contribuição dos autores já citados. Além de Goldim (1995) que faz toda

uma problematização do Plano Diretor como pacto social urbano; Sant’ana (2006) que

apresenta o Plano como um instrumento técnico jurídico e suas regras básicas para

implementação; e Cardoso e Carvalho (2007) que organizaram alguns estudos sobre as

experiências de implantação de planos diretores na Amazônia, o que foi primordial para

ampliar a compreensão desse instrumento no planejamento urbano. 2 Animação cultural entendida aqui como programas, ações, projetos e formação de pessoal que estimulem a vivência das mais variadas formas de lazer pela cidade. 3 De acordo com o Estatuto da Cidade, que orienta a implantação dos Planos diretores, a cidade deve ser planejada mediante a participação popular e prevê uma série de etapas que devem ser cumpridas para a implantação. Ver mais em “ESTATUTO DA CIDADE: guia para implementação pelos municípios e cidadãos”.

Page 23: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

23

A outra problemática percebida nas experiências militantes, profissionais e

acadêmicas foi a percepção da lacuna de estudos que dessem conta em problematizar e\ou

apontar caminhos para a consolidação do lazer como direito social nos Planos Diretores

municipais, sobretudo na realidade amazônica. Os poucos estudos sobre a temática do lazer

existentes incidem principalmente sobre políticas públicas (PAIVA, 2009), participação nas

políticas de lazer (MOREIRA, 2008), espaços de lazer (BAHIA, 2008; MOTA, 2008) a região

são tratados pelo campo do turismo regional, o ecoturismo (FIGUEREDO, 2008; BAHIA Et

al., 2008; SAMPAIO, 2005). Desse modo, considerou-se necessário tecer algumas

considerações acerca do processo de desenvolvimento da região amazônica por abrigar as

cidades de Manaus e Belém, lócus da pesquisa, na perspectiva de buscar entender os

condicionantes do Planejamento voltado para o desenvolvimento da região e os nexos

existentes com as políticas de lazer implementadas.

A Amazônia historicamente tem sofrido com as políticas de planejamento

impostas ao seu território com fins no desenvolvimento da região. Do início da ocupação do

território, passando pela Belle Époque aos grandes projetos do século XX, baseados na

máxima do período da Ditadura militar “integrar para não entregar”, a Amazônia padeceu

com políticas ineficazes (SILVA, 2004; CASTRO, 2008; BECHIMMOL, 2009; TRINDADE

JUNIOR, 1998; DAVID CARVALHO, 2006; WALLACE MEIRELES, 2008; RODRIGUES,

1994, 1996 etc.), as quais determinaram a urbanização desordenada e a degradação ambiental

com sérias consequências para a população local.

Na atualidade, ela permanece como “espaço estratégico de acumulação

capitalista” (RODRIGUES, 1996, p. 22) que impõe a esta região um papel de periferia do

sistema econômico em voga, onde ainda se experimenta o paradigma da economia de

fronteira4 (CASTRO, 2006, 2008; TRINDADE JR., s.d), em que o processo de ocupação se

deu a partir das demandas externas e seu desenvolvimento foi marcado por momentos longos

de paralisia e decadência econômica. Por consequência, a maioria dos municípios apresenta

nos rankings nacionais os menores índices em educação, saúde, saneamento, acesso à cultura,

ao esporte, ao lazer etc.

As capitais dos Estados do Pará e do Amazonas, Belém e Manaus, chegam ao

terceiro milênio se afirmando como as metrópoles da Amazônia. Contudo, estas cidades não

ficaram refratárias a esse processo perverso de desenvolvimento regional. Embora,

encravadas na mesma região e terem experimentado historicamente as políticas

4 O paradigma da economia de fronteira é definido por Kenneth Boulding e significa a forma de conceber os recursos naturais como infinitos.

Page 24: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

24

desenvolvimentistas, estas cidades acumularam experiências diferenciadas e determinadas,

em parte, pelo espaço geopolítico que ocupam no território Amazônico: Manaus na Amazônia

Ocidental e Belém na Oriental.

Belém, por ter sido a sede da Província e sua posição geográfica privilegiada para

exportação, tornou-se o centro de maior escoamento da produção da Borracha nas Eras

Gomíferas, momento de maior florescimento destas cidades, sobretudo em infraestrutura

urbana (CASTRO, 2008). Belém acumulou por mais de três séculos o melhor desempenho

nos indicadores econômicos e sociais da região norte. Enquanto Manaus por ter uma vasta

área de difícil acesso permaneceu com um baixo nível de ocupação em seu território.

Essas fases aliadas à abertura da Belém-Brasília, à formação de cidades médias

vinculadas a novos empreendimentos desenvolvimentistas na região, sem a criação de postos

de trabalho permanente, postos de saúde, escolas e infraestrutura (água tratada, rede de

esgotos, energia, transporte coletivo insuficiente ou inexistente etc.) provocaram um inchaço

demográfico nestas cidades, gerando o fenômeno da metropolização da Amazônia que

significa a crescente urbanização da região (TRINDADE JR., 1998) provocando um novo

modelo de povoamento da mesma.

Sendo Belém a maior capitalizadora de fluxos migratórios campo-cidade, tem

agonizado as péssimas condições de vida para a maioria da população. Porém, com a

instalação da Zona Franca, no final dos anos 1990, Manaus passa a superar Belém em termos

econômicos e populacionais: PIB (4º do Brasil). Já Belém apresenta uma relativa mudança

em seus índices de Desenvolvimento Humano – IDH, que em 1991 era de 0, 767 passando

para o nível elevado de 0, 806 (PNUD, 2000) 5. No entanto, estes índices não significaram

grandes avanços nas condições de vida da população destas cidades, que acumularam

desigualdades sociais geradas pela crescente urbanização.

Toda análise construída acerca do processo de planejamento para o

desenvolvimento destas cidades foram importantes no sentido de situar historicamente como

as instituições tiveram um papel determinante na definição dos rumos do desenvolvimento

destas cidades para se pensar como o Lazer está sendo tratado em seu Plano Diretor, uma vez

que ele é parte integrante das funções sociais da cidade, portanto deve ser garantido enquanto

política pública.

Sabendo-se o atual estágio do capitalismo, em que tudo vira mercadoria, o lazer

não passaria imune a este tratamento (PADILHA; MASCARENHAS, 2004). A questão é que

o poder público, enquanto instituição, deve implementar políticas de acesso a todos. Tal como 5 Disponível em: http://www.pnud.org.br/atlas/ranking/IDH.htm.

Page 25: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

25

a educação e a saúde, o lazer é um benefício público que deve ser garantido a todos

independente se contribuintes ou não do erário público (OLSON, 1999).

Assim, o estudo aqui apresentado partiu da seguinte pergunta científica: De que

forma os Planos Diretores das metrópoles amazônicas avançam ou retrocedem no

sentido da efetivação do lazer como política pública?

A relevância dessa questão se assenta na possibilidade da análise do processo de

desenvolvimento da região a partir de uma política setorial como o lazer. Do ponto de vista

metodológico, as comparações entre as políticas de lazer desenvolvidas nas metrópoles,

Manaus e Belém permitem que essa análise contemple uma escala regional da política. O

estudo demonstra a forma como o lazer tem sido efetivado nas cidades Amazônicas, na atual

conjuntura brasileira, e revela a forma como o poder público nas três esferas federativas

utiliza o Plano Diretor na implementação dessa política setorial.

1.1 Dinâmica Metodológica da Pesquisa

A pesquisa “O lazer no Plano Diretor das Metrópoles Amazônicas: um estudo

comparativo entre Belém e Manaus” definiu como objetivo mais amplo localizar no Plano

Diretor das metrópoles Amazônicas a forma como o direito ao lazer tem sido assegurado à

população. Traçou-se ainda alguns objetivos específicos como: identificar semelhanças e

diferenças na forma de inscrever demandas de lazer nos Planos Diretores de Belém e Manaus;

e identificar em sua estrutura as estratégias de implantação das políticas públicas de lazer, de

forma que assegure o direito ao lazer à todos os cidadãos.

A hipótese que se levantou nesta pesquisa partiu da afirmação que não existe um

padrão amazônico de atuação da gestão municipal nas metrópoles amazônicas. As gestões

municipais ainda reproduzem as experiências específicas de outras regiões do país e as

políticas públicas de lazer estão localizadas no centro das cidades.

Teve como marco teórico no campo das ciências Sociais: o institucionalismo

histórico, a partir da sistematização de Hall e Taylor (2003). Tal vertente do neo-

institucionalismo tem como premissa os estudos das instituições no sentido de destacar que

papel elas tem desempenhado no processo de definição de resultados, saldos políticos e

sociais. A escolha desse marco referencial deve-se ao fato do Institucionalismo Histórico

trazer elementos do campo da ciência política, que nos ajudam a analisar a política pública – o

Lazer, a partir da constituição de uma regra institucional – o Plano Diretor, que em tese foi

Page 26: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

26

pactuado no exercício dos conflitos prementes da sociedade. Portanto, é resultado da ação

coletiva dos diferentes atores que atuam na arena do Lazer.

Para além da análise do Plano Diretor como instrumento de regulação identificou-

se, a partir de outros documentos municipais e estatísticos, quais são os saldos concretos da

implementação da política de lazer em Belém e Manaus. Para aprofundar a reflexão sobre o

Institucionalismo histórico foi construída uma sessão no primeiro capítulo deste estudo.

Esta pesquisa é de natureza bibliográfica e documental. Bibliográfica pelo fato de

parte dela ter sido desenvolvida a partir de uma revisão de literatura no sentido de definir com

maior amplitude o referencial teórico da pesquisa. A base da coleta de dados se deu nas

Bibliotecas da UFPA: NAEA, IFCH e Biblioteca Central, Bibliotecas da UNAMA: Central e

de Pós Graduação; sites on line: Google Acadêmico, Scribd, Scielo, Domínio Público, Banco

de Teses da Capes, UNICAMP, IBGE, PNUD, IPEA, INPE, Ministério do Esporte, Cultura,

Meio ambiente, Ciência e Tecnologia, livros e pesquisas acadêmicas (teses, dissertações e

monografias), artigos científicos, periódicos, estudos oficiais estatísticos e de avaliação de

políticas.

Este processo teve como objetivo reunir os estudos históricos e atuais, para assim

construir o estado da arte acerca das categorias de análise deste trabalho, tais como:

a) o Lazer, tendo como referência os conceitos de lazer; o lazer como política pública

no planejamento municipal e nos instrumentos legais; b) Plano Diretor e planejamento

municipal; c) Amazônia e Planejamento; d) Instituições e Institucionalismo Histórico; e)

benefícios públicos e recursos comuns; f) Metrópoles e metropolização; g) Belém e Manaus:

histórias de origens, ciclos econômicos, urbanização e política de lazer local.

Este estudo também se caracterizou como pesquisa documental, por ter sido

parcialmente desenvolvido a partir de documentos avaliados como importantes para desvelar

uma dada realidade e que ainda não tinham sido analisados (GIL, 2002), como: leis

municipais de Belém e Manaus, que trazem definições sobre a política de planejamento

municipal de maneira geral – o Plano Diretor, a LOM6, a LOA7 e o PPA8; os documentos

legais, que apresentam políticas para o esporte, lazer, cultura e turismo; fotos, programas e

espaços de lazer; Mapas; mensagens do Prefeito, Relatório de vereadores, atas de audiências

públicas de revisão do Plano Diretor; e documentos municipais orientadores para a revisão do

Plano Diretor. Todos esses documentos tiveram como finalidade identificar qual o tratamento

está sendo dado ao lazer, enquanto política pública nas cidades de Belém e Manaus. 6 Lei Orgânica Municipal 7 Lei Orçamentária Anual 8 Plano Plurianual

Page 27: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

27

O procedimento metodológico utilizado para a análise dos dados foi o estudo

comparativo que Schneider e Schmitt (1998, p. 01) resumem da seguinte forma:

É lançando mão de um tipo de raciocínio comparativo que podemos descobrir regularidades, perceber deslocamentos e transformações, construir modelos e tipologias, identificando continuidades e descontinuidades, semelhanças e diferenças e explicitando as determinações mais gerais que regem os fenômenos sociais.

A utilização do estudo comparativo tornou-se fundamental nesta pesquisa, pois

teve como campo de desenvolvimento duas cidades. Apresentando resultados significativos

na explicação de situações análogas e/ou contrastantes e uma certa sincronia, por estarem

localizadas na mesma região, portanto, disporem de “um ou mais pontos de origem comum”

(ibdem, p. 33).

A análise sobre a temática enfocou o lazer como política pública. Para tanto,

buscou-se documentos que indicassem os padrões que deveriam nortear as políticas públicas

no campo do lazer, identificando as ações do Estado, especificamente do poder público

municipal, e investigando em que medida estas reforçam o lazer como benefício público para

a população ou incentivam o “mercolazer”.

O período de abrangência da pesquisa compreendeu o exame dos planos diretores

elaborados após a aprovação do Estatuto das Cidades, pois este é um marco histórico fruto da

ação coletiva dos atores sociais brasileiros. Este Estatuto, em tese, recepcionou várias

demandas da sociedade e, portanto, é o instrumento base da ação institucional para o

planejamento da cidade.

Para a coleta e análise dos dados realizou-se a “identificação, levantamento,

exploração de documentos fontes do objeto pesquisado e registro das informações retiradas

nessas fontes” (SEVERINO, 2007, p.124). Os documentos selecionados tiveram uma ordem

de análise de acordo com sua importância na metodologia utilizada. Como fontes primárias

foram considerados: a Constituição de 1988, o Estatuto da Cidade, os Planos Diretores de

Belém (2008) e Manaus (2002); a Lei Orgânica do Município (LOM), a Lei Orçamentária

Anual (LOA), o Plano Plurianual 2009/2013 do Município de Belém e Manaus. Tais

documentos foram listados e analisados, com a finalidade de localizar, o que de fato, estas

cidades conseguiram cumprir e o que consta em seus planos, com relação ao lazer, como

benefício público e as determinações da legislação brasileira.

Outra parte da análise documental concentrou-se em documentos que sintetizam

em que consiste o lazer na visão da gestão pública: relatórios técnicos ligados ao processo de

elaboração e monitoramento dos planos diretores das duas cidades; documentos que

Page 28: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

28

representam o pensamento e deliberação da sociedade civil organizada; plataformas de luta de

ONGs e movimentos sociais ligados à luta pela reforma urbana na Amazônia; Atas de

assembleias e ou reuniões com a população sobre o Plano Diretor de Belém e Manaus;

registro das questões e proposições apresentadas por membros da sociedade civil durante os

Seminários Pró-elaboração do Plano Diretor; registros na imprensa escrita e digital do

processo de Elaboração do Plano Diretor; Projeto de Lei do Plano Diretor do Município de

Belém e de Manaus.

A sistematização dos dados encontrados para o procedimento da análise

comparativa deu-se por meio de indicadores que estudiosos do campo do lazer vêm apontando

como possibilidade da ação estatal no sentido de estruturar uma efetiva política pública de

lazer nas cidades. São eles:

a) concepção de Plano Diretor que tem predominado nas cidades brasileiras.

b) gestão democrática: em que seja percebida a ação coletiva na gestão da cidade;

c) concepção de lazer presente no Plano: como benefício público ou mercolazer;

d) a garantia de espaços físicos específicos para o lazer: públicos e ambientalmente

equilibrados para as práticas de lazer, política redistributiva onde se note a “justa distribuição

dos benefícios e ônus decorrentes do processo de urbanização”. (INSTITUTO POLIS, 2001,

p. 34);

e) política de conservação e manutenção dos espaços de lazer;

f) a animação cultural para fomento e difusão do lazer. Animação cultural entendida

como programas, ações, projetos, recursos humanos e programa de formação de pessoas para

atuação na área do lazer (MARCELLINO, 2007; CASTELLANI, 2007; MELO, 2003, 2006;

EWERTOM, 2010);

g) os investimentos financeiros para a política de lazer nas cidades;

Neste sentido, os resultados da investigação cientifica foram organizados em três

capítulos distintos e complementares. O primeiro momento desta pesquisa introduz a temática

do lazer e suas implicações na realidade amazônica. Em um subitem intitulado Dinâmica

metodológica da Pesquisa é apresentado o marco teórico e os caminhos metodológicos

utilizados nesta investigação.

O segundo momento intitulado “O lazer e as políticas setoriais: a construção de

um benefício público” foi dividido em quatro seções. Na primeira seção, discorreu- se sobre o

marco teórico deste estudo, traçando algumas considerações sobre as instituições e o debate

sobre o benefício público e os recursos comuns, trabalhando-se assim alguns conceitos

necessários a análise da pesquisa como o papel das instituições e o institucionalismo histórico

Page 29: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

29

como matriz analítica para se refletir as políticas públicas de lazer. No segundo item, fez- se

um levantamento da produção científica sobre o lazer, buscando problematizar alguns

conceitos. No terceiro item, “Lazer nas políticas públicas: aproximações históricas do

surgimento do lazer como direito”, foram destacadas passagens históricas do surgimento do

lazer e sua afirmação na sociedade como um direito social. No quarto item “O lazer como

beneficio público e o debate sobre os recursos comuns” argumenta-se a adoção desse enfoque

de lazer como benefício público e como recurso comum ancorado no pensamento de Olson

(1999) e Elinor Ostrom no sentido de aproximar e valorizar a defesa do lazer como condição

necessária à vida e passível de tratamento como política pública em uma análise teórica do

lazer em que os interesses dos atores e agentes que operam na arena do lazer. O quarto item

abordou a história do lazer como demanda qualificada nos planos diretores e no quinto as

relações federativas na configuração das políticas de lazer presentes nos planos diretores.

O terceiro momento do texto traçou um panorama sobre o lazer e o planejamento

urbano na Amazônia. Tecendo inicialmente uma análise do processo de crescimento e

desenvolvimento urbano na mata; o lazer no planejamento urbano na Amazônia; Belém e

Manaus, metrópoles da mata: aproximações e contrastes; o lazer e o plano diretor das

metrópoles amazônicas: questões para análise.

No quarto momento são apresentados os dados encontrados acerca da pesquisa

documental e o procedimento metodológico do estudo comparativo sobre o lazer como

benefício público, portanto, como política pública a partir da análise do plano diretor e dos

outros documentos como: Plano Diretor antigo e o atualizado, LDO e relatórios de audiências

públicas, seminários e/ou conferências de revisão do Plano Diretor e Mensagens do Prefeito

das duas cidades investigadas.

Nas considerações finais demonstrou-se que a temática do lazer é tratada nos

instrumentos legais do Brasil apresentando-se como positivas no sentido de afirmar o lazer

enquanto benefício público. No entanto, o Plano Diretor das cidades Amazônicas apresenta

baixa capacidade de aplicabilidade tornando-se, por isso, um novo desafio para os atores

sociais, que atuam na arena do lazer, intervir para reivindicar a exigibilidade do direito ao

lazer nas políticas públicas, como benefício público às três esferas de poder.

2. O LAZER E AS POLÍTICAS SETORIAIS: A CONSTRUÇÃO DE UM BENEFÍCIO

PÚBLICO

Page 30: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

30

A pesquisa sobre o lazer no Plano Diretor das Metrópoles Amazônicas tem como

caminho orientador as teorias da ciência política, pois busca identificar nas políticas públicas

o lazer como benefício público, como demanda qualificada nos Planos Diretores de Belém e

Manaus. Para tanto, o caminho trilhado para esta reflexão parte da compreensão de que é

necessário refletir inicialmente sobre a sociedade atual e o papel que as instituições têm

exercido na definição das políticas públicas e na afirmação do lazer como benefício público.

Neste cenário, identificam-se o Estado, a sociedade civil e as leis como forças legítimas do

atual sistema em desenvolvimento, sendo estes os atores políticos e sociais que atuam na

arena do lazer no contexto atual.

Neste sentido, este capítulo discute as bases teóricas em que esta investigação se

apóia. Apresenta inicialmente o debate sobre instituições, o conceito de benefício público e

recursos comuns, em seguida aborda os diversos estudos científicos sobre o conceito de lazer

e a concepção do lazer como resultado da ação coletiva no qual buscou o pensamento de

Mancur Olson (1999) para pensar essa dimensão. Em seguida, trata sobre o processo

histórico de construção desse direito procurando pensar o lazer no campo das políticas

setoriais aproximando as relações federativas na configuração das políticas de lazer no Brasil.

2.1 Algumas considerações sobre instituições e o debate sobre benefício público e

recursos comuns

Este item enfoca as bases teóricas em que se situa a pesquisa. Como o tema trata

de políticas públicas optou-se pelo neoinstitucionalismo, como caminho para o estudo sobre

as instituições e sua importância na compreensão da sociedade atual (HALL; TAYLOR,

2003; LEVI, 1991). O estudo centra-se em uma das facetas do neoinstitucionalismo - o

institucionalismo histórico, como a matriz teórica para se compreender a dinâmica de reflexão

acerca do lazer na realidade atual a partir das contribuições de (HALL; TAYLOR, 2003;

NORTH, 2009). Em seguida aborda-se o conceito de Estado em um diálogo com a visão de

North (2009). Faz-se ainda uma reflexão sobre a ideia de lazer enquanto benefício Público

dialogando com Mancur Olson (1999) sobre benefício Público e recursos comuns baseados no

pensamento de Elinor Ostron e uma síntese político-pedagógica dos conceitos a partir da

contribuição de Ravena (in CASTRO, 2006).

Page 31: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

31

2.1.1 A teoria das instituições e o neoinstitucionalismo

As instituições são invenções dos homens. Uma vez criadas, elas acabam por

limitar as preferências de quem as criou ou das próximas gerações. Dessa forma, ocorre o que

Margaret Levi (1991) chama de “dependência de trajetória”. Com isso, deve-se considerar

que sempre haverá instituições, pois existe uma permanente necessidade de ser garantido aos

homens o direito de viver em sociedade e, para tanto, há a necessidade de um ordenamento

nas relações de uso dos recursos e do poder. Há, também, de se considerar que os interesses

são diferenciados tanto para quem define as regras quanto para aqueles que são atingidos por

elas. Sendo assim, o que tem de fato ocorrido é uma apropriação dos recursos e do poder de

maneira desigual e é neste sentido que surgem as instituições, como saída estruturante de

formas de controle das relações humanas.

Pode-se relacionar instituições a regras capazes de determinar os mecanismos de

acesso e restrição aos recursos e ao poder. Qualquer mudança nas estruturais institucionais

deve passar pela superação do problema da “redistribuição dos recursos de poder coercitivo e

de barganha dentro de uma instituição” (LEVI, 1999, p. 80).

Douglas North (apud LEVI, 1991) define instituição como sendo a competência

em definir posições e de obter estruturas sistemáticas de executar decisões. As instituições

caracterizam-se por “reduzirem os custos de transição” para manter contratos. Possuem

habilidade em definir posições assim como por contrair novos custos. Outras características

inerentes às instituições são as regras que regulam os comportamentos recorrentes e a sua

duração relativa. Daí reside o fato das instituições serem tão difíceis de mudanças e,

consequentemente, que tais modificações sejam assimiladas pela sociedade. As regras são

uma marca das instituições, por isso, elas tornam-se um motivo relevante na investigação das

instituições (LEVI, 1999).

O neoinstitucionalismo, por dedicar-se a estudar os diversos interesses sociais, é

um modelo de análise adequado para se investigar as instituições e as políticas públicas.

Segundo Hall e Taylor (2003), o neoinstitucionalismo possui três diferentes abordagens que

surgiram como “reação contra as perspectivas behavioristas, que foram influentes nos anos 60

e 70. Todas elas buscam elucidar o papel desempenhado pelas instituições na determinação de

resultados sociais e políticos” (ibdem, p. 193-194). Portanto, não se configura como uma

corrente unificada. O enfoque marxista9 também se tornou uma base de crítica e que sustentou

9 De maneira também resumida e arbitrária, pode-se dizer que a análise marxista parte das relações entre economia, classes sociais e Estado. As relações de classe são essencialmente relações de poder, constituindo o

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32

o aparecimento do neoinstitucionalismo. Cada um desses enfoques, portanto, identifica o

Estado de maneira diferente, sendo que na visão pluralista e na marxista o olhar é o mesmo:

se atribui a sociedade os incentivos seletivos capazes de provocar as respostas e/ou mudanças

na ação do Estado.

Hall e Taylor (2003) discutem a existência de três facetas neoinstitucionalistas: a

da escolha racional10, o sociológico11 e o institucionalismo histórico. Esta última vertente é a

que fundamenta este estudo científico e passará a ser detalhada com vistas a estabelecer as

relações necessárias com a questão da pesquisa.

Alguns estudiosos (HALL; TAYLOR, 2003; NORTH, In. FENDT, 2009),

afirmam que o Institucionalismo Histórico é um caminho teórico que favorece os estudos para

a compreensão das instituições, no sentido de destacar que ação elas têm desempenhado no

processo de definição e até mesmo na deliberação, nos resultados e saldos no campo político e

social.

A visão de disputa dos recursos escassos pelos diversos grupos na sociedade é

vista como uma questão basilar da vida política, porém, para o institucionalismo histórico,

cada vez mais foi se impondo a necessidade de maiores e melhores respostas a gama de fatos

políticos, que têm como foco a divisão desequilibrada do poder e dos recursos. Neste sentido,

ganha importância o estudo das instituições, principalmente no que se refere ao debate sobre a

forma como “a organização institucional política e estruturas econômicas entram em

conflito”. (HALL; TAYLOR, 2003, p. 194). Os institucionalistas históricos se preocupam

tanto com as políticas oficiais quanto com as instituições mais amplas.

Nessa abordagem teórica o Estado não é neutro. Ele é concebido com o conjunto

complexo de instituições, com o poder de construir a origem, o planejamento e os resultados

oriundos da disputas entre os grupos. É um elemento ativo, com um grau significativo de

importância nos rumos da sociedade.

instrumento analítico para a interpretação das transformações sociais e políticas. As políticas estatais aparecem como reflexo dos interesses do capital, seja como fruto do Estado visto como mero “comitê” destinado a gerir os negócios comuns a toda a burguesia, seja como resultado da ação de um Estado dotado de uma “autonomia relativa”, mas que em “última instância” vela pelos interesses do capital (ROCHA, p.13). 10 O neoinstitucionalismo da escolha racional segundo Hall e Taylor (2003) parte da compreensão dos direitos de propriedade, as rendas, os custos de transação são fundamentais para o desenvolvimento e o funcionamento das instituições. [...] a partir dos anos 1990 os teóricos da escola da escolha racional interessaram-se também pela explicação de um certo número de outros fenômenos políticos, entre os quais o comportamento das coalizões segundo os países, o desenvolvimento histórico das instituições políticas e a intensidade dos conflitos étnicos (HALL; TAYLOR, 2003, p. 204). 11 Os sociólogos institucionalistas em geral escolhem uma problemática que envolve a explicação de por que as organizações adotam um específico conjunto de formas, procedimentos ou símbolos institucionais, com particular atenção à difusão dessas práticas. Os teóricos dessa escola tendem a definir as instituições de maneira muito mais global do que os pesquisadores.

Page 33: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

33

Quanto à visão sobre instituições elas são concebidas como “[...] os

procedimentos, protocolos, normas e convenções oficiais e oficiosas inerentes à estrutura

organizacional da comunidade política ou da economia política.” (HALL; TAYLOR, 2003,

196). O institucionalismo histórico, vertente que fundamenta este estudo científico, identifica

as instituições como mais um elemento capaz de influenciar o cotidiano da vida política. Elas

são parte de um complexo de motivos como a propagação de pensamentos e o próprio

processo de desempenho socioeconômico.

Neste conceito cabe pensar-se que as leis de um país são instituições e dessa

forma o Plano Diretor das cidades se enquadram como instituição normativa que pode

influenciar no processo de desenvolvimento da vida política e socioeconômica de uma cidade.

2.1.2 O Estado como instituição

A história da humanidade é a busca incessante para transformar a natureza em seu

favor e, ao longo da história, nota-se que essa busca se deu de maneiras diferentes nos

diversos territórios do globo, pela própria forma de como cada povo foi se relacionando com

o meio ambiente, isso gerou conhecimentos políticos, econômicos, sociais, culturais e

ambientais; diferenciados, e gerou necessidades diferenciadas.

De acordo com Douglass North (In. FENDT, 2009) a história da humanidade é a

historia da inquietação do ser humano em melhorar o meio em que vive. Por isso todas as

estratégias criadas nessa direção levam o sujeito a conviver cotidianamente com o risco e a

incerteza. Ele explica que o risco é uma terminologia utilizada para identificar episódios, em

que os produtos são atribuídos a uma possibilidade. Já a incerteza está reservada “para os

eventos a que não se pode atribuir uma distribuição de probabilidade de sucesso” (NORTH.In.

FENDT, p. 05).

O citado autor diz que nessa tentativa de buscar formas de viver bem em seu

ambiente, de diminuir as incertezas, o homem cria instituições. Em suas palavras ele diz que

“[...] procuramos transformar incerteza em risco. É com esse objetivo que criamos instituições

que conformam um conjunto de regras e que, juntamente com nossas crenças, são as

ferramentas que produzimos para lidar com a incerteza” (ibdem, p. 05).

Douglass North destaca ainda que os seres humanos também convivem no dia a

dia com a competição dos recursos disponíveis na natureza, os quais são cada vez mais

escassos. A partir desse cenário as instituições são criadas para regrar esse jogo competitivo

Page 34: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

34

que se estabelece para a aquisição e boa utilização desses recursos escassos. Porém, é preciso

compreender que tais regras criadas, se forem boas, serão capazes de levar ao sucesso e a

eficiência no uso dos recursos. Ao contrário, se ineficientes, elas podem levar uma sociedade

a estagnação econômica (ibdem). Assim, o Estado surge na sociedade enquanto instituição,

para regular as relações sociais, políticas e econômicas. É importante considerar que existem,

no pensamento acadêmico, várias visões sobre o Estado moderno, surgido a partir do modo de

produção capitalista. Interessa, portanto, neste estudo a reflexão acerca do Estado regulador,

caracterizado pelo Estado neoliberal e transnacional (VERONEZ, 2005) que trouxe novas

formas de lidar com o poder e a sociedade.

O modo de produção capitalista, apoiado no estado liberal que provocou a corrida

dos trabalhadores para os aglomerados urbanos, acabou por ter que administrar as

necessidades de vida digna deste seguimento social com exigências cada vez mais complexas,

à medida que a urbanização vai se intensificando. Assim o modelo de estado liberal vai

cedendo lugar ao modelo em que o Estado passa a criar condições básicas de proteção social,

como seguros, pensões, etc. O Estado de “bem estar”12 foi uma estratégia para conter os

conflitos capital-trabalho e frear a onda socialista que já se espalhava pela Europa, no final do

século XIX. A perspectiva era aumentar a dependência do trabalhador ao Estado. Segundo

Antunes (2004, 09),

[...] sob o capitalismo o trabalhador frequentemente não se satisfaz no trabalho, mas se degrada: não se reconhece, mas muitas vezes recusa e se desumaniza no trabalho. [...] o trabalho é uma atividade central na história humana, em seu processo de sociabilidade e mesmo para sua emancipação. Por outro lado, com o advento do capitalismo, houve uma transformação essencial, que alterou completamente o trabalho humano.

Acredita-se que nunca a sociedade humana experimentou nos seus mais

diferentes períodos históricos, um estado como o pautado no liberalismo13, tendo em vista o

bem comum, o que se experimenta na realidade, sobretudo a brasileira, é a distância entre as

normas constituídas, as políticas públicas implementadas e as reais necessidades dos

trabalhadores, que padecem com as constantes mudanças nas regras institucionais. Com o

advento neoliberal e a própria reforma do Estado com a Constituição de 1988. 12 Veronez chama atenção para o que muitos especialistas avaliam como “estado de mal estar social” por não ter atingido e não responder aos interesses dos trabalhadores, sem melhorias nas condições de vida e que foi ampliado nas desigualdades sociais (VERONEZ, 2005). 13 Visão romântica da realidade onde o Estado é visto como uma instituição que está acima da sociedade e por isso age livremente a partir de suas leis. Na atualidade o termo é utilizado em diferentes sentidos em alguns países, por exemplo, nos Estados Unidos a expressão representa um pensamento da esquerda, já na Europa como Inglaterra e Alemanha, representa um pensamento conservador. Ver mais em Bobbio (1998, p. 686-705).

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35

Cabe ratificar, portanto, que o Estado não é neutro e é capaz de mediar os

interesses conflitantes em disputa, ele se configura como “um complexo de instituições capaz

de estruturar a natureza e os resultados dos conflitos entre os grupos” (HALL; TAYLOR,

2003, p. 195).

2.1.3 O conceito de benefício público e recursos comuns

A visão de equidade, de possibilidade que todos na sociedade tenham o direito de

acessar determinados bens básicos a sua condição de humanidade. O campo da economia que

se debruçou sobre esta questão buscou com maior rigor estudos sobre as formas e estratégias

para o uso adequado dos bens comuns. Ver-se-á na reflexão de Mancur Olson a ideia de

benefício público, que por sua vez, se aproxima do debate acadêmico sobre os recursos

comuns no campo das ciências sociais e da economia ambiental, principalmente os estudos

desenvolvidos por Elinor Ostrom sobre recursos comuns. Este item traz essas reflexões que

são as bases da discussão sobre o lazer como benefício público.

O Estado e a sociedade civil são instituições ativas no encadeamento da sociedade

nesta nova configuração do capitalismo. O Estado tem como uma de suas tarefas garantir à

sua população o uso de seu território e o usufruto dos benefícios públicos. Mancur Olson

(1999), em seus estudos sobre ação coletiva apresenta uma visão de Estado como um

benefício para a população quando diz: “todo governo é economicamente benéfico para seus

cidadãos, no sentido que a lei e a ordem que ele proporciona são um pré-requisito essencial

para toda e qualquer atividade econômica civilizada” (ibdem, p. 25).

O conceito de benefício público foi apropriado pelo pensamento acadêmico da

economia e segundo Olson é um dos mais importantes conceitos no campo das finanças

estatais. O autor chama atenção para o fato do Estado não conseguir sobreviver sem uma

contribuição obrigatória, pois as contribuições voluntárias ou a venda dos serviços não seriam

capazes de garantir um bom funcionamento da máquina estatal. Dessa forma, ele reforça a

ideia dos impostos como a forma adequada do Estado viabilizar os benefícios públicos. Em

seu estudo ele tipifica os benefícios públicos como os serviços das forças militares, da polícia,

o aparato da lei e do ordenamento da sociedade, como exemplos de benefícios, que atingem

toda coletividade de maneira geral.

Page 36: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

36

Olson trata benefícios públicos como sinônimos de benefícios comuns ou

coletivos e postula que tais benefícios são concedidos pelo poder público à população em

geral indistintamente. Define-os como:

[...] qualquer benefício que, se for consumido por qualquer pessoa Xi, em um grupo X1, ..., Xj, ..., X11, não pode viavelmente ser negado aos outros membros desse grupo. Em outras palavras, aqueles que não pagam por nenhum dos benefícios públicos ou coletivos que desfrutam não podem ser excluídos ou impedidos de participar do consumo desses benefícios [...] (OLSON, 1999, p. 26-27).

Assim Olson postula que tais benefícios são de natureza organizacional e

garantidos a toda coletividade, independente de quem pode ou não pagar pelo serviço. Nessa

direção, Ostrom, que discute economia ambiental, trava uma reflexão sobre recursos comuns,

que mesmo sendo diferente do conceito de benefício público (RAVENA, 2006), se aproxima

de sua reflexão, pois a ideia de equidade está presente.

Segundo Ravena (ibdem) o debate acadêmico acerca dos recursos comuns tem

sido construído sobre as bases da Teoria da Ação Coletiva, voltada para a investigação da

ação de possibilitar os bens públicos. Geralmente, nestes estudos são utilizadas categorias

como: “bem coletivo, tamanho dos grupos, incentivos seletivos e noticiability para interpretar

a apropriação desses recursos, como também predizer modelos de gestão, baseados em novos

formatos institucionais, para estes recursos” (ibdem, p. 95).

Cabe, portanto, identificar brevemente esse debate sobre recursos comuns, a partir

do que Ostrom conceitua. Ela diz que eles são: “[...] sistemas de recursos naturales usados por

varios individuos pueden ser clasificados como recursos de acervo común” (OSTROM, 2002,

p.50). Para Ostrom, os exemplos de recursos de acervo e/ou bens comuns incluem tanto

“sistemas naturales como sistemas hechos por el hombre, los cuales abarcan”, ou seja, se

caracterizam tanto pelos sistemas naturais como pelos artificiais e são de difícil exclusão para

os usuários na hierarquia dos bens necessários à vida humana, assim como apresentam um

baixo grau de rivalidade pelo seu uso, por isso, são categorizados como públicos. Aqueles

recursos ou bens que apresentam um alto nível de exclusão do acesso e um alto grau de

rivalidade no seu uso são considerados um bem privado.

O pensamento de Ostrom exemplifica como recursos/bens comuns naturais

ascuencas de aguas subterráneas, sistemas de riego, bosques, pastizales, computadoras bacias

subterrâneas, sistemas de irrigação, florestas, pastagens; e como artificiais, computadores,

servidores, fondos gubernamentales y corporativos y la Internet, funcionários, governo e

Page 37: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

37

fundos da empresa e da Internet. Desse modo, a reflexão dos recursos comuns postula a ideia

que tais bens podem ser renováveis e não renováveis.

A autora cita o petróleo como um recurso comum não renovável diferentemente

dos peixes. No caso do petróleo, o que se observa é quanto mais se retira da natureza esse

recurso a tendência é o seu esgotamento, em oposição aos peixes que por serem seres vivos

têm a capacidade de manejo para reprodução e, dessa forma, renovar-se no espaço-ambiente

(ibdem). Nota-se que em relação aos bens construídos pode acontecer o mesmo fato, como a

utilização das redes de internet que apresentam ainda alto grau de exclusão e dificuldade no

acesso, mas é uma fonte renovável.

Há que se considerar que tanto os recursos comuns como os bens públicos e

privados têm como característica a impossibilidade de atuar com a exclusão e a subtração,

respectivamente. Os recursos comuns (Commom Pool Resources) estão relacionados aos

recursos naturais ou construídos, que mesmo sendo muito grandes e caros “quando é objeto

de apropriação e/ou provimento, mas que ao mesmo tempo permite a exclusão de potenciais

beneficiários de seu uso” (RAVENA, 2006, p. 96).

Neste trecho do pensamento de Ravena é apresentada a diferença entre recursos

comuns e benefícios públicos, quando trata da característica de cada um, respectivamente,

apontada por Elinor Ostrom.

Basicamente há o sistema de recurso e as unidades de recursos. Esta diferença é muito importante em função da característica do recurso. O sistema de recurso compreende o estoque de variáveis que permitem, em condições favoráveis, a produção de um máximo de unidades de recurso sem danificar o estoque original. Essa dessemelhança é fundamental para o estudo de recursos renováveis como a água subterrâneas, etc. É esta distinção que permite a avaliação do grau de reposição do recurso em quantidade, para manter o sistema de recursos sustentável no tempo. [...] Se tanto Benefícios Públicos, como CPRs, tem problemas quanto à ocorrência de comportamentos do tipo “carona”, as unidades de CPRs, uma vez consumidas, reduzem o estoque do recurso. Um Benefício Público como segurança, por exemplo, se consumido por um número maior de indivíduos do que os que foram responsáveis pela provisão desse bem. O consumo maior não diminuirá o nível total do benefício (ibdem, p. 06).

Portanto, a diferença sutil e significativa entre benefício público e recursos

comuns reside no fato de aquele que colabora para o fornecimento de um benefício público

não está preocupado se tal benefício será utilizado por outrem, tão pouco importa a este, a

forma de como foi utilizado e que tipo de colaboração foi imputada para que seja eficaz o

provimento do benefício público. Já nos Recursos Comuns, as informações acima que são

desprezadas, ganham aqui uma grande importância, pois faz-se necessário obter informações

de “ quantos são os que vão acessar o recurso, quando, onde e se todos contribuíram para a

provisão do CPR” (ibdem, p. 97).

Page 38: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

38

Segundo Ravena, nos dois casos, tanto na questão dos recursos comuns como nos

benefícios públicos, cabe estar atento a duas problemáticas: a da exclusão e a da sobre-

exploração do recurso, a qual pode levar a extinção do mesmo. Assim, surgem os estudos dos

teóricos na economia ambiental motivados pela preocupação com o uso, manejo e gestão dos

recursos comuns. São nessas problemáticas que se debruçam tais teóricos, e um deles Elinor

Ostrom apresentou resultados consistentes no sentido de apontar formas de gestão que

valorizam a ação coletiva baseada na organização de pequenos grupos.

O ponto de arremate das reflexões traçadas neste item aponta para a compreensão

da reflexão sobre o papel relevante que o Estado tem, enquanto instrumento político-jurídico,

de assegurar à sociedade a possibilidade de atingir maiores níveis de equidade social e, por

sua vez, assegurar a prerrogativa da provisão de benefícios públicos, da gestão dos recursos

comuns, no sentido de garantir para a sociedade, principalmente, o bom uso desses bens.

Neste sentido, pode-se dizer que o lazer deve ser um exemplo de benefício

público, uma vez que é um direito da sociedade brasileira e, portanto, não pode ser negado a

nenhum dos habitantes, independente de quem paga impostos, visto que, é dever do poder

público ofertar esse serviço a toda população. Nesta direção os equipamentos de lazer naturais

(praias, rios, florestas, cachoeiras, etc.) e construídos (praças, parques, museus, bibliotecas,

quadras esportivas, etc.). sobremaneira as características e os dilemas de exploração e uso

como commons. Por outro lado, no processo de desenvolvimento capitalista identifica-se uma

série de práticas de lazer que estão nos marcos do lazer privado e, desta forma, apresentam

um alto nível de exclusão e alta rivalidade no seu acesso, que já se enquadram nos padrões do

“Mercolazer”: “forma contemporânea e tendencial de manifestação do lazer como

mercadoria” (MASCARENHAS, 2004, p. 80).

Sendo assim, tal direito se apresenta como uma faceta híbrida na atual realidade

sendo praticamente uma disputa na sociedade a manutenção do mesmo como um benefício

público e, portanto, um dever do Estado. Afinal, ele está assegurado como direito social nos

marcos legais brasileiros, é uma conquista coletiva e um dever do poder público assegurá-lo a

toda população, independente de quem paga ou não os impostos municipais.

No entanto, é necessário identificar o que vem a ser lazer. O que aponta a

produção científica sobre o tema, o que marca o surgimento do lazer na sociedade moderna e

qual a sua trajetória de desenvolvimento nas políticas públicas no Brasil. Tais questões serão

refletidas na próxima sessão.

Page 39: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

39

2.2 O que aponta a produção científica sobre o lazer

Alguns estudos sobre o tema foram identificados desde o século XVIII, mas o

lazer tomou grandes proporções na sociedade planetária no século XX. A catalogação de

trabalhos sobre a temática do lazer no Brasil realizada por Elza Peixoto até maio do ano de

2006 registrou 2.624 estudos registrados desde 1891 a 2006, que vão de livros a artigos em

periódicos, em eventos etc. (PEIXOTO, 2007). O universo acadêmico, principalmente, a

partir das três últimas décadas do século passado, absorveu de maneira tal a temática como

campo teórico, que diversos estudos científicos, sob diferentes olhares, foram produzidos,

gerando um crescimento significativo de mestres, doutores e outros intelectuais dedicados aos

estudos, pesquisas e publicações sobre o tema. E, por conseguinte, tais reflexões teóricas,

sobretudo no Brasil, alimentaram ações e políticas públicas para o setor.

No Brasil, pode-se dizer que o debate acerca do lazer é recente e intrigante, pois

estamos a aproximadamente quarenta anos acumulando teoricamente este tema. Por isso,

existem diversos conceitos sobre o termo, baseados em vários campos de pensamento

filosófico, e que têm provocado inúmeros debates acalorados em eventos e produções

científicas na área com maior ou menor grau de consensos e conflitos. Consequentemente,

existem diferentes abordagens sobre o conceito de lazer e seu significado na sociedade atual.

Sem ambicionar esgotar o debate e nem pretender incluir toda a produção

existente no campo, este item objetiva levantar reflexões de alguns conceitos de estudiosos

que têm alimentado as pesquisas sobre a temática e apontar a compreensão que se defende

sobre lazer.

Deve-se considerar que grande parte das disputas de ideias na academia tem se

dado, a partir de um mote fundante que é a compreensão da realidade, em uma perspectiva de

reprodução do status quo ou de transformação. Sabe-se que ao longo da trajetória histórica da

humanidade, muito se escreveu para afirmar uma ideologia dominante. As pesquisas

produzidas na Alemanha no período do Nazismo para afirmar a raça ariana como superior é a

prova mais evidente dessa forma de manipulação do mundo acadêmico. Por outro lado, sabe-

se que as ideias de Karl Marx provocaram mudanças de paradigmas sobre a realidade que

motivaram transformações não só na produção científica como influenciaram a queda de

regimes totalitários no mundo. Por conseguinte, está claro que a ciência não é neutra e como

tal tem servido para negar, manter ou apontar a mudança de uma dada realidade.

Do mesmo modo, considera-se que os estudos no campo do lazer não fugiram a

essa regra básica. O debate acerca do tema sempre esteve envolto em algumas questões que

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40

são: ele tem servido a reprodução ou transformação social? Desde quando o lazer passa a ser

investigado sob que interesses? O lazer já aparecia na literatura na Europa desde o século XIX

e estava concebido somente como tempo disponível após as ocupações. Em obras dos anos

1930 já aparece como distração, uma ocupação vivida a partir de uma livre escolha no período

de não trabalho (DUMAZEDIER14, 1973).

É consenso entre os pesquisadores que Dumazedier tornou-se um dos pensadores

na área do lazer que influenciou sobremaneira a formação de um campo teórico sobre o lazer,

nomeadamente no Brasil. Entre outros elementos, ele apresenta a reflexão que o lazer possui

funções ‘mágicas’ dos três Ds: divertir, descansar e desenvolver o indivíduo. Nos quais, o

divertimento pode ser considerado sinônimo de entretenimento, distração, passatempo

agradável; o descansar estaria associado ao efeito de recarregar as energias perdidas com todo

o processo de envolvimento com o trabalho; já o desenvolver seria um tempo possível para a

vivência, as experiências no plano social. Dumazedier, assim, vai definir o lazer como: conjunto das ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou ainda para desenvolver sua formação desinteressada, sua participação social voluntária, ou a livre capacidade criadora, após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais (ibdem, 34).

Nesse olhar o autor aponta o lazer como um agrupamento de ocupações que o

indivíduo pode dispor no tempo do não-trabalho e a partir de um interesse subjetivo, capaz de

provocar as funções citadas. A ideia de lazer subjetiva com uma certa dose de desarticulação

histórica está presente na produção deste autor e nos remete a pensar o lazer como livre

arbítrio do indivíduo vivê-lo ou não. Tal produção também se manteve omissa, no sentido de

apontar um caráter histórico do lazer como uma conquista dos trabalhadores na sociedade

urbano-industrial, portanto, fruto de uma ação coletiva.

O pensamento de Dumazedier, sobretudo no Brasil, influenciou uma série de

estudos sobre a temática, principalmente nos anos 1960, 1970 e 1980, tanto no sentido de ir

ao encontro desse pensamento quanto para a construção de críticas. Talvez o momento

histórico em que este pensamento foi produzido e reproduzido, nos anos 60/70 e parte dos

anos 80, período este em que se verificou o avanço do capitalismo, a guerra fria, o duro

processo de repressão dos trabalhadores e a implantação de governos ditadores no mundo,

principalmente nos países da América latina, o conceito de Dumazedier representou também 14 Jofre Dumazedier foi estudioso do lazer, com formação em sociologia, sua obra influenciou a produção científica no Brasil neste campo teórico, principalmente nos anos 1970 e 1980. Veio ao Brasil por várias vezes para realizar formações sobre o tema para o SESC de São Paulo. Orientou trabalhos de pesquisa sobre o tema de estudiosos como Luis Otávio Camargo, Renato Requixa e Nelson Carvalho Marcellino.

Page 41: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

41

uma mensagem na qual o lazer deveria ser uma fórmula genérica a ser consumida para a

satisfação individual, como remédio para os males.

Vários autores seguiram a linha de raciocínio de Dumazedier. Camargo (1986) vai

fazer um recorte histórico importante quando reconhece o lazer como uma prática vivenciada,

num tempo livre, conquistado na relação capital/trabalho. Em suas palavras, ele concebe o

lazer como um: [...] conjunto de atividades gratuitas, prazerosas, voluntárias e liberatórias, centradas em interesses culturais, físicos, manuais, intelectuais, artísticos e associativos, realizadas num tempo livre, roubado ou conquistado historicamente sobre a jornada de trabalho profissional e doméstico e que interferem no desenvolvimento pessoal e social dos indivíduos (ibdem, p. 97).

Para Requixa (1980), outro estudioso do tema que também se alimentou das idéias

de Dumazedier, o qual inclusive mantém em seu conceito a ideia de lazer como uma opção

individual. Ele define lazer como uma ocupação livremente escolhida pelo indivíduo capaz de

provocar efeitos recuperadores psicossomáticos que, por sua vez, vão gerar desenvolvimento

social e pessoal. O citado autor nos remete a pensar o lazer praticamente como uma ação

terapêutica para cada indivíduo. Por outro lado, ele também diz que o lazer é resultado do

processo de industrialização da sociedade. Essa assertiva foi tomada por uma parcela

significativa de estudiosos do campo no sentido de se pensar o lazer na relação da expansão

do capitalismo. Sua produção também apresenta uma contribuição para se pensar as políticas

públicas de lazer.

Os muitos estudos e debates acerca da temática do lazer no Brasil foram

proporcionados pelo SESC São Paulo, sobretudo nos anos 1970. Muitas críticas contrárias ao

pensamento do sociólogo Francês e seus seguidores foram levantadas. Tais críticas refletiam,

como diz Camargo (2003), três ideias básicas: uma delas apontava o lazer como uma temática

“desviacionista”, pois reforçava um certo distanciamento dos problemas políticos,

econômicos e sociais daquele contexto histórico; outra reflexão negativa acerca do lazer

considerava-o como algo supérfluo no conjunto das necessidades humanas; e outra crítica

incidia sobre a “cultura da pobreza”15, sendo um impeditivo básico para os indivíduos não

priorizarem e não vivenciarem o lazer.

A visão sobre o lazer como algo não importante em nossa sociedade já era

percebida também por outros estudiosos como Stanley Parker, que em seu livro “Sociologia

15 De acordo com os estudos de Camargo (2003), a cultura da pobreza está relacionada aos estudos do Norte Americano Oscar Lewis que investigou uma família de moradores de favelas no México. Lá, o autor identificou que a pobreza nesses grupos provocava um olhar negativo sobre a realidade, com baixa-estima e sem motivações para qualquer ação, inclusive o lazer. Ver mais em Camargo (2003).

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do Lazer” (1978) já identificava as críticas ao estudo do lazer. Em sua obra defendia, no início

dos anos 1970, que o lazer precisava deixar de ser “um apêndice externo às preocupações

sociológicas” (p.10), apontando assim a necessidade de que este campo ganhasse autonomia

por ser um dos aspectos da vida nas sociedades. Desta feita, Parker (1978) concebe o lazer

como: [...] tempo livre de trabalho e de outras obrigações, e também engloba atividades que se caracterizam por um sentimento de (relativa) liberdade. Como sucede com outros aspectos da vida e da estrutura social, o lazer é uma experiência do individuo, um atributo do grupo ou de outra atividade social, e possui organizações e instituições relevantes que procuram atender às necessidades de lazer, reconciliar interesses conflitantes e implementar as políticas sociais (ibdem, p. 10).

Sua visão de lazer contribui para a consideração da relação lazer/trabalho tão

debatidas, nos estudos sobre lazer. O autor destaca o lazer não só como algo individual, mas

como resultado de ações coletivas, de relações culturais. Por exemplo: se no bairro e/ou

comunidade em que resido é tradicional a dança do carimbó nas festas ou praticar futebol na

praça, a tendência é a maioria das pessoas que residem nesta comunidade ou bairro adotarem

essas práticas corporais como lazer, logicamente essas práticas passam a ser objeto de

reivindicação de ação coletiva desses atores locais. Cabe dizer ainda, que Parker identifica o

lazer no campo das políticas públicas como dependente de ações efetivas do Estado para seu

usufruto qualificado nas cidades.

Para Nelson Carvalho Marcelino16, o lazer seria uma prática humana, vivenciada

no tempo disponível das pessoas, fora do tempo das obrigações profissionais, religiosas,

fisiológicas, domésticas e sociais (MARCELLINO, 1998, 1999, 2005). No lazer, prevalece o

caráter desinteressado, em que a opção por uma prática, ocorre de maneira espontânea, a

partir dos interesses de cada pessoa. Por exemplo: praticar natação pode ser lazer para um

indivíduo e para outro não; a leitura de um romance é considerada lazer para um grupo de

jovens urbanos; para outro, a prática do skate é a forma que os mesmos encontraram para

vivenciar o tempo de lazer que dispõem.

Assim a prática do lazer advém de um interesse individual podendo ser

vivenciado ou não com outras pessoas, o que vai ser definidor será a escolha da atividade a

ser praticada. De acordo com Marcellino (2005) lazer é concebido aqui:

16 Sociólogo brasileiro que trouxe uma significativa contribuição no campo do lazer com dezenas de publicações. Ele se ocupou em dar um tratamento pedagógico aos estudos do lazer, reforçando referências de Dumazedier sobre a classificação dos interesses culturais do Lazer e vários outros elementos tecendo crítica à abordagem funcionalista presente no campo. Dos anos 1980 até a atualidade, Marcellino tornou-se a maior referência sobre a temática do lazer no Brasil.

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43

[...] como cultura – compreendida no seu sentido mais amplo – vivenciada (praticada ou fruída), no “tempo disponível”. É fundamental como traço definidor o caráter “desinteressado” dessa vivência. Não se busca pelo menos basicamente, outra recompensa além da satisfação provocada pela situação. A “disponibilidade de tempo” significa possibilidade de opção pela atividade prática ou contemplativa (ibdem, p.28)

Vale ressaltar que a visão que se tem de lazer dialoga com o pensamento de

Santos (2000), Magnani (1998) e com Marcellino (2000). Portanto, reflete a importância do

lazer como cultura, nascido da vida cotidiana e baseado no tripé: território, cotidiano e

cultura. Desta maneira, capaz de aproximar pessoas, criar cultura, novas formas de vida

cultural e política.

Neste sentido, cabe registrar a contribuição de Christianne Werneck (2000) sobre

o tema do lazer ao traçar toda a trajetória da presença do lazer na história da humanidade,

identificando-o nos diferentes momentos históricos. Em sua reflexão, ela demonstra como

foram incorporados elementos de outros momentos históricos, anteriores à industrialização,

aos elementos constituintes do lazer que se tem na atualidade. Desta forma, Werneck concebe

o lazer moderno como cultura e o reconhece como uma conquista dos trabalhadores.

Christianne L. Gomes (2003) reforça a concepção de lazer como dimensão da

cultura. Por meio da vivência lúdica de manifestações culturais, que acontecem dentro de um

tempo e de um espaço conquistado pelo ser humano ou por um grupo de pessoas, em que se

estabelecem relações dialéticas entre as necessidades e as obrigações com o mundo do

trabalho. Na visão de Christianne Gomes, assim como Marcellino (2000), o lazer é um

momento na vida do sujeito dedicado à criação da cultura vivenciada dentro de um tempo e

atitude próprios para a vivência das manifestações culturais de sua livre escolha.

Para Leila Pinto (2003), o lazer é o espaço dedicado à vivência de formas de

cultura lúdica como: o jogo, a brincadeira e a festa, em que se destaca o prazer como

experiência da liberdade. Vitor Melo e Edmundo Alves (2003) reforçam também a concepção

do lazer enquanto um direito conquistado e o defendem como um espaço privilegiado para a

prática dos mais variados interesses culturais do lazer, que de maneira crítica e criativa

caracterizam-se como formas de cultura propositivas de transformações sociais. Estes autores

têm acumulado estudos e pesquisas que apontam uma compreensão segundo uma dimensão

cultural, histórica e pedagógica.

É importante dizer que ao longo do século XX também se desenvolveu, tanto no

campo do pensamento acadêmico da educação, da educação física, do esporte e do lazer como

no campo do ideário da luta dos movimentos sociais (pela reforma urbana, pelo direito ao

esporte e ao lazer), uma concepção de lazer inspirada numa perspectiva de transformação da

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44

realidade. A qual reconhece o processo histórico de surgimento do lazer como um avanço da

sociedade humana, no sentido de poder ter direito a sonhar, ter livre arbítrio, de crescer

intelectualmente, de poder ter tempo para si e para o grupo a que pertence, fugindo à lógica do

pensamento capitalista do homem pronto para produzir e consumir, isto é, trabalhar e adquirir

bens materiais.

Nesta direção, defende-se uma visão de lazer em concordância com a concepção

de Mascarenhas (2000, 2003, 2004) que inspirado no pensamento marxista e respeitando o

conhecimento acumulado sobre o lazer afirma: o lazer se constitui como um fenômeno tipicamente moderno, resultante das tensões entre capital e trabalho, que se materializa como um tempo e espaço de vivências lúdicas, lugar de organização da cultura, perpassando por relações de hegemonia. Dessa forma, dentro de uma perspectiva crítica e de emancipação dos grupos populares, o lazer pode ser entendido também como tempo e espaço para o exercício da cidadania e prática da liberdade. Acreditamos ser possível considerá-lo como força de reorganização da vida social, colaborando para a construção de novas normas, valores de convívio e para o questionamento da ordem vigente (MASCARENHAS, 2000, p. 17).

Mascarenhas nesse pensamento consegue aglutinar elementos já trabalhados por

outros autores, mas fundamentalmente demarca um campo de visão em que o lazer é uma

conquista histórica, forjado na luta entre patrões e empregados no processo de

industrialização. Essa dimensão se torna importante, pois demonstra que esse lazer

conquistado por uma maioria da sociedade, não foi, portanto, uma dádiva dos detentores do

poder. Por isso, precisa ser valorizado como espaço e tempo necessário para a produção de

novas formas de convivência social. Em outras palavras, essa visão apresenta o lazer como

um instrumento fundamental no processo de transformação social.

Existe uma série de outros autores que se dedicam no Brasil aos estudos do lazer.

Neste trabalho, buscou-se trazer alguns que procuraram defini-lo, em um esforço de produzir

um conceito. Sendo assim, almejou-se demonstrar o que cada produção acrescentou ao debate

do tema ao longo desses 40 anos de discussão no Brasil. Outra reflexão necessária a este

estudo é a compreensão do processo histórico em que o lazer se desenvolveu na sociedade

moderna e, sob o ponto de vista de sua autora, como ele passa a ser direito social e, portanto,

devendo ser reconhecido e tratado com qualidade nas políticas públicas como um benefício

público. Sendo esta a reflexão da próxima seção.

Page 45: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

45

2.3 Lazer nas políticas públicas: aproximações históricas do surgimento do lazer como

direito

Este item procura refletir sobre o tratamento do lazer nas políticas públicas no

Brasil. Para tanto, primeiramente refletir-se-á sobre o processo histórico do surgimento do

lazer como direito social, fruto da luta dos trabalhadores, no início do desenvolvimento do

capitalismo, identificando assim os interesses, atores e agentes que operam na arena do lazer.

Tal momento histórico é um marco importante para nos tempos atuais se pensar esse direito

como um benefício público. Em seguida, é apresentada uma reflexão de Marta Arretche

(1999) acerca das políticas sociais no Brasil e a instalação de um estado federativo na

perspectiva de se compreender o lazer como uma política pública setorial e as ligações que

estabelece nas relações federativas.

2.3.1 Marco histórico, interesses, atores e agentes que operam na arena do

lazer

O termo lazer surge no século XIX, na Europa, juntamente com o advento da

sociedade urbano-industrial, como demanda no conjunto das reivindicações da classe operária

por melhores condições de vida, principalmente, no processo da histórica luta pela redução da

jornada de trabalho. Sendo assim, o lazer é fruto da ação coletiva dos atores sociais

organizados e propositivos na busca da conquista de cidadania.

O trabalho como uma atividade humana é necessário à realização da vida. “Essa

atividade não pode deixar de existir na vida das pessoas, porque o humano do homem se

realiza apenas quando ele é criativo e produtivo de coisas e idéias úteis socialmente”

(PADILHA in MARCELLINO, 2008, p. 28). As transformações do mundo do trabalho no

capitalismo vieram a exigir a máxima exploração do trabalho humano mudando

profundamente o seu tempo e a própria vida fora do mundo do trabalho, isto é, interferiu tanto

nas outras obrigações sociais (família, escola, religião etc.) como no tempo livre para o

lazer.17

17 Na atualidade, é quase consenso que as pesquisas acerca do lazer considerem a relação capitalista, em que tudo vira mercadoria. Isso tem influenciado nas relações de trabalho (ANTUNES; ALVES, 2004), no tempo do lazer dos trabalhadores, assim como na forma de vivência desse direito, que cada vez mais tem se investido em estratégias de oferta do lazer como consumo. (REQUIXA, 1980; PADILHA, 2006; PADILHA in MARCELLINO, 2008; MARCELLINO, 2000; MASCARENHAS, 2001, 2004, 2005; AMARAL, 2003 etc.).

Page 46: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

46

Paul Lafargue18 (1999), em seu clássico texto revolucionário “O Direito à

Preguiça”, escrito em 1880, demonstra claramente seu objetivo de estimular os trabalhadores

na defesa da redução das horas de trabalho, para que os mesmos pudessem ter uma vida mais

humana com a garantia do direito a ter tempo para si e criar a cultura da organização coletiva,

ou seja, ter assegurado o direito ao lazer. Neste trecho de seu manifesto, ele revela a situação

em que se encontrava o proletariado europeu, humilhado pelo regime de trabalho imposto a

suas famílias, dentro da indústria recém surgida na Europa durante o processo de avanço do

capitalismo. O trabalho que, em junho de 1848, os operários exigiam, de armas nas mãos, foi por eles imposto à suas próprias famílias; entregaram, aos barões da indústria, suas mulheres e seus filhos. [...] Envergonhem-se os proletários! Onde estão essas comadres de que falavam nossos velhos contos e lendas, atrevidas, francas no linguajar, amantes da garrafa? Hoje temos as mulheres e as jovens das fábricas, débeis flores de pálidas cores, de sangue sem brilho, estômago devastado, membros enfraquecidos! [...] E as crianças? Doze horas de trabalho para as crianças. Que miséria! [...] Nossa época é como dizem, o século do trabalho; na verdade é o século da dor, da miséria e da corrupção (ibdem, p.72-73).

O clássico filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin, ilustra bem essa

maximização da superexploração da força de trabalho no início do processo de

industrialização.

Outras produções históricas reforçam esse ideário do lazer como demanda no

conjunto das reivindicações dos trabalhadores na luta por melhores condições de vida.

Bertrand Russell (2001), em seu texto Elogio do Lazer, produzido em 1932, também reforça a

necessidade dos trabalhadores em poderem desfrutar momentos de lazer e consequentemente

chamar a atenção para a possibilidade da redução da jornada de trabalho para quatro horas

diárias, destacando que, se isso pudesse acontecer, o índice de desempregados diminuiria e

provocaria uma melhor organização social. Ele ressalta ainda que “essa idéia choca os

endinheirados porque eles estão certos que o pobre não saberia como empregar tanto ‘lazer’”

(ibdem, p. 42).

Nota-se que a expansão do processo de industrialização, para grande parte do

mundo, gerou uma crescente urbanização das cidades, que, por sua vez, levou à necessidade

18 Paul Lafargue (1842-1911) participou do movimento socialista francês e da I Internacional. Ideólogo marxista ajudou a fundar o Partido Operário francês; Genro de Marx escreveu o manifesto “O Direito a Preguiça”, que foi publicado em 1880 no jornal socialista L’egalité. Marilena Chauí (1999) aponta que o autor inicialmente iria denominar esse manifesto de O Direito ao Lazer e, depois optou por, Direito ao Ócio, definindo finalmente por O direito à Preguiça como protesto em duplo sentido: um, é contestar os dogmas da religião que atribui à preguiça um dos pecados capitais e afirmar que os homens têm direito a usufruir desse pecado, e, em segundo, contestar o que ele chamou de religião do trabalho, pregada pela burguesia, para dominação da classe trabalhadora.

Page 47: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

47

de vivência do lazer pelos trabalhadores, quando da realização de experiências culturais de

um grupo, de uma comunidade, momento em que as exigências do mundo do trabalho não

permitiam tais práticas. Sendo assim, as políticas públicas de lazer passam a ser executadas

pelo poder público, pois a vivência do lazer no tempo livre dos trabalhadores, aos poucos

passou a ser objeto de preocupação para os governos totalitários que se instalaram nas

primeiras décadas do século XX, pois era necessário dominar “corações e mentes”, na

perspectiva de uma homogeneização da sociedade, para melhor controle social.

Amaral (2003) em seus estudos sobre políticas públicas de lazer vai dizer que tais

políticas surgem [...] pela necessidade que o poder público teve em ocupar o espaço livre de trabalho com atividades de caráter saudável, as quais nos idos de 1930 a 1940 pautaram-se nas idéias de higienização social e de modelos advindos da Escola Nova. O ideário de pensadores, como Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo entre outros, explicitava que estas atividades, levadas à população nas horas de lazer, pelo poder público, deveriam promover experiências que a humanidade acumulou em literatura, música, artes, jogos e danças, mas na realidade o que se desenvolveu foi a prática de exercícios corporais e a orientação para a aquisição de hábitos saudáveis e higiênicos em relação ao corpo [...] (ibdem, p.36)

Nesta direção, o lazer com fins higienistas e compensatórios passou a ser

permitido. As formas e o tempo de lazer do trabalhador passaram a ser controlados e

direcionados para somente algumas modalidades, em que o centro da ocupação do tempo livre

para essas práticas culturais tem como objetivo inculcar nas grandes massas, valores e

comportamentos padronizados diante da realidade, com caráter subserviente e conivente com

o status quo.

Portanto, o mundo capitalista gerou a equação: “industrialização + urbanização =

lazer como demanda social”. O crescimento acelerado das cidades na Europa, no final do

século XIX, e no Brasil, mais intensamente, a partir do Estado Novo, se confunde com o

desenvolvimento do lazer. O governo Vargas cria por decreto, em 1942, o Serviço Nacional

da Indústria - SENAI. Quatro anos depois, Gaspar Dutra autoriza a Confederação Nacional da

Indústria a criar o Serviço Social da Indústria - SESI, assim como autoriza a Confederação

Nacional do Comércio a criar em decretos distintos o SENAC - Serviço Nacional do

Comércio e o SESC - Serviço Social do Comércio.

Dessa forma, percebe-se que para um país iniciando o seu processo de

industrialização aliado a um contexto de clamor por mais para dar formação profissional aos

trabalhadores atuarem na indústria. Ao lado dessa nova ordem, começam a aparecer

organismos de caráter privado e estatal no sentido de estimular o lazer como consumo para as

grandes massas.

Page 48: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

48

As práticas de lazer ganham apoio do poder público e passam também a ser um

negócio para o setor privado. O Serviço Social do Comércio – SESC, que foi criado pelo

decreto presidencial n° 9.853 de Garpar Dutra, onde a Confederação Nacional do Comércio

recebe autorização para fundá-lo. Tal instituição também passa a contrair incentivos

financeiros em troca da oferta de atividades de lazer à população. Assim o governo repassa a

sua responsabilidade em 1946 para a iniciativa privada planejar e executar entretenimento

para a população. Neste período o que se observa é que a população de maior poder

aquisitivo, pode desfrutar de formas de lazer mais sofisticadas como o teatro e o cinema que

são linguagens artísticas que neste período recebem maiores investimentos. Já para a maior

parte da população, isto é, para a classe trabalhadora, o futebol e o carnaval. O rádio cresce no

cenário cultural, ocupando parte do tempo de lazer da população, se tornando o principal

instrumento de lazer direcionado para propagar o ideário estadonovista (ALMEIDA;

GUTIERREZ, 2006).

Almeida e Gutierrez (2006), em seus estudos sobre a era Vargas e do

desenvolvimento do lazer, afirma que o Estado Novo foi o período de nascedouro da

utilização política e ideológica do lazer como instrumento de controle e de propaganda do

governo. Foi da mesma forma, um momento histórico em que se pode perceber claramente a

relação entre o desenvolvimento urbano e o surgimento de algumas formas de lazer, presentes

até nossos dias: o cinema é uma delas.

O Departamento de imprensa e propaganda da era Vargas teve um papel

fundamental no cumprimento rigoroso da política nacional proposta pelo governo. Ele tinha o

poder sobre todas as atividades culturais e esportivas vivenciadas no cenário brasileiro,

centralizando, coordenando e supervisionando no Brasil e no exterior a propaganda federal

Assim como exercia o papel de censura do teatro, do cinema e de toda e qualquer prática

esportiva e lúdica. O Estado tinha o controle da produção cinematográfica nacional, onde os

filmes aprovados teriam que ter fins nacionalistas e educativos como reforço ao governo.

No pensamento de Santos (2004 apud ALMEIDA; GUTIERREZ, 2006), pode-se

notar a força do controle do lazer pelo poder público, a partir do trabalho realizado pelo DIP,

destacando a forte influência na cultura esportiva e recreativa, nas diversões da população. Ele

destaca a forte fiscalização das atividades das organizações culturais, esportivas e circenses.

Assim, como toda a política cultural na área do cinema, da literatura, do teatro, da música,

onde o poder público, através do Ministério da Educação, juntamente com o DIP, atuavam

como os maiores produtores culturais do país na década de 1940.

Page 49: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

49

Um marco legal importante para a incorporação do lazer como direito social foi

no pós-guerra a Declaração Universal dos Direitos Humanos, tê-la incorporado como direito

Humano. Esse fato favoreceu a consolidação do lazer nos instrumentos legais em muitos

países do globo. No Brasil, ele toma contornos da nova sociedade juntamente com o

crescimento acelerado das cidades, tanto em dimensões demográficas, quanto em seus

espaços urbanos. Com uma nova cultura de ocupação do tempo de lazer proposta às diferentes

classes sociais em formação.

Com um caráter compensatório, utilitário, funcionalista e embalador da indústria

cultural e sendo transformada em mercadoria, a cultura do lazer foi um dos fenômenos que

mais cresceu no século XX (MARCELLINO, 2000; MASCARENHAS, 2005) e continua a

apresentar este direcionamento na atualidade, com maiores requintes tecnológicos para atingir

os mais diferentes grupos humanos. Um dos objetivos é a sustentabilidade dessa própria

indústria do lazer, muitas vezes estimulando práticas de entretenimento e diversão que

reforçam o esvaziamento de valores éticos e estimulam o consumismo, o individualismo e a

fuga da realidade.

Melo (2003a) argumenta que o atual momento da modernidade, com a dissolução

das fronteiras claras entre o público e o privado, traz novos desafios para pensar o campo, já

que modificam-se claramente os sentidos e os significados desse processo de controle social,

onde ganha força a privatização crescente e a não ocupação dos espaços públicos como locus

de vida social (o que repercute também nas vivências de lazer), conduzidas de forma

articulada pela indústria cultural e relacionadas com o processo de midialização da cultura

(MELO; WERNECK, s.d.).

Tempo de lazer dos trabalhadores na atualidade, mesmo que permaneça sendo

percebido mais ligado a faixas etárias mais jovens da população e a eventos ou dimensão

restrita ao esporte: o futebol, praticado principalmente pelos homens (MAGNANI;

MARCELLINO, 2000). Ganha espaço o desejo da vida de lazer em grandes equipamentos de

consumo como os Shoppings Centers.

Portanto, o lazer que surge como uma demanda dos trabalhadores no processo de

expansão da sociedade capitalista ele ganha dimensão de oposição ao trabalho. Antunes

(2004) nos chama atenção para as diferentes formas de trabalho na atualidade que logram o

tempo livre do trabalhador na busca de uma maior qualificação para o mundo do trabalho.

Ele diz ainda que, Múltiplas formas de fetichizações e reificações poluem e permeiam o mundo do trabalho, com repercussões enormes na vida fora do trabalho, na esfera da reprodução societal, na qual o consumo de mercadorias, materiais ou imateriais,

Page 50: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

50

também está em enorme medida estruturado pelo capital. Dos serviços públicos cada vez mais privatizados, até o turismo, no qual o “tempo livre” é instigado a ser gasto no consumo dos shoppings, são enormes as evidências do domínio do capital na vida fora do trabalho [...](ibdem, p. 349).

O que Antunes mostra é que a lógica capitalista tem determinado todas as esferas

da vida na sociedade atual, tanto do trabalho quanto do lazer, porém considera que existam

saídas: “além e apesar de o trabalho “subordinar-se” ao capital, ele é um elemento vivo, em

permanente medição de forças, gerando conflitos e oposições ao outro pólo formador da

unidade que é a relação e o processo social capitalista” (ibdem).

Neste sentido, cabe pensar em possibilidades de questionar os padrões já

estabelecidos e ligados às formas de trabalho e tempo livre existentes hoje. Em uma

perspectiva que contemple as subjetividades sem transformá-las em um produto no mercado

(ibdem), e que o Estado possa atuar na perspectiva de assegurar a fruição de interesses de

lazer como um bem coletivo, um beneficio público.

2.4 O lazer como benefício público e o debate sobre os recursos comuns

A sociedade brasileira reconheceu o lazer como um benefício público quando

aprovou esse direito como fundamental à vida humana na Constituição de 1988, em que ele

passou a compor o quadro dos direitos básicos, ao lado da educação, saúde, trabalho, moradia,

assistência social etc. Neste sentido, a sua oferta a todos e todas é uma condição imperativa,

uma vez que tal direito a exemplos dos outros, tem a prerrogativa de ser garantido à sociedade

brasileira indistintamente do poder aquisitivo, da localização regional, e/ou quaisquer outros

aspectos culturais que diferenciam as pessoas.

O lazer se configura como um benefício público, na medida em que aqueles que

não pagam e/ou não podem pagar por este benefício usufruem do acesso ao mesmo,

igualmente àquele que contribui com seus impostos de maneira regular (OLSON, 1999). Mas

é preciso ter claro que não existe uma única forma de lazer na sociedade, ao contrário, a

expressão pode representar, como bem já se pôde explicitar no item acima que o consenso no

conceito de lazer está na sua própria natureza que a possibilidades de vivências realizadas no

tempo do não-trabalho motivado por escolhas individuais ou coletivas como ler um livro,

correr caminhar, praticar esportes, assistir a um filme etc.

Portanto, a grande variedade de forma de lazer nos faz pensá-lo como o poder

público deve tratá-lo para que seu acesso aconteça de maneira equânime na sociedade vale

Page 51: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

51

considerar que o mesmo precisa considerar que na realidade atual onde tudo tem um custo de

produção e manutenção é preciso que as cidades pensem o lazer como possibilidade de

sustentabilidade e cabe planejar o seu manejo e uso para seus habitantes, para que tal

benefício, pois como bem fala RAVENA (2006), os benefícios públicos e os Recursos

Comuns (CPR) sofrem do problema da sobre-exploração que seria uma retirada excessiva de

unidades de recursos podendo levando-o a sua própria extinção.

Como exemplos de benefício público identificam-se as praças nas cidades, que

são espaços considerados como específicos para o lazer (MARCELLINO, 2000; FERRARI,

2004) e que estão à disposição de todos e todas, mas padece de uma série de problemas no

contexto atual, originados principalmente da localização onde estes recursos se. Ou seja, se

estão mais nos bairros nobres são pouco utilizadas, nas áreas de comércio passam a ser mais

um espaço para negócios ambulantes sobre-explorada, quando localizadas nos bairros pobres

sofrem também o fenômeno da sobre-utilização e acelerada degradação. Portanto a praça

como um espaço de lazer é um benefício público e precisa ser também compreendido

compondo um sistema de propriedade comum (CPR), pois quanto mais se ocorrer a sobre-

exploração19 sistema de recurso para que não sofra o uso abusivo destes recursos, o que

poderá degradá-las, e provocar sua inadequação para uso, ou seja, para o seu gerenciamento

(RAVENA, 2006).

No entanto, o lazer no atual contexto da sociedade moderna adquiriu valores de

mercado e em muito tem sido utilizado como mercadoria e potencializado a indústria do

entretenimento, sendo um dos fenômenos no século XX que mais cresceu e se atualizou nas

diversas possibilidades de vivências, para uma parcela de maior poder aquisitivo, se

configurando em muitos aspectos como um bem privado, pelo alto grau de exclusão e alta

rivalidade no seu uso, como bem de preocupou Hardin sobre a sobre exploração de Recursos

Comuns.

Porém a problematização de Elinor Ostrom sobre a questão aponta para um

caminho possível para a ação coletiva no sentido de melhor manejo e uso dos Recursos

Comuns uma vez que lazer enquanto política pública é um recurso comum, um benefício

coletivo e pode e dever ser planejado na gestão da cidade e o Plano diretor enquanto

instrumento de desse planejamento dever ser o lócus privilegiado de garantia desse benefício.

Diante do exposto pode-se dizer que o lazer na atual sociedade se apresenta como

uma faceta híbrida na atual realidade com caráter público e privado, pois a ação coletiva dos

19 Já foi anteriormente citada essa definição. Significa que está havendo um uso excessivo de um sistema de recurso. Ver em RAVENA (2006, p. 97).

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52

atores que operam na arena do lazer nas cidades, leia-se: empresas, entidades culturais,

esportivas, populares, organizações partidárias etc, vão em defesa cada vez mais desse

benefício a partir de seus interesses de grupo, muitas vezes provocando o estado a promover

incentivos seletivos que atendam aos interesses de determinados grupos, em detrimento de

outros.

Contudo, a ideia-força deste estudo postula que a atuação do Estado deve gestar

essas facetas de maneira tal que a sua oferta não esteja restrita apenas àqueles que podem

pagar pelo acesso e, por conseguinte, negada à maioria dos cidadãos. Acredita-se que o lazer

na atuação estatal deva ser concebido como um benefício público e ser gestado como um

recurso de acervo comum, a partir do que postula Ostrom quando diz que as regras para o

manejo de recursos comuns são fundamentais para evitar a tragédia dos comuns20 onde a ação

coletiva possa ser regulada. O Estado nesse formato pode ser um coadjuvante no

gerenciamento lazer público, sendo a sociedade civil organizada a responsável por este

benefício público. Por exemplo: equipamentos de lazer nos bairros, como a praça esportivo-

cultural “Dom Mário Vilas Boas” no Bairro de Val-de-Cans, em Belém do Pará e o

“Complexo esportivo Miguel de Souza Reis”, no Bairro Cidade de Deus em Manaus, foram

construídos pelo poder público local para ser usado por toda a população dessas cidades, por

se localizarem em espaços de bairros mais distantes do centro, a tendência é ser utilizado por

um público residente em seu entorno e bairros próximos.

A questão é que mesmo tendo uma utilização restrita a certos grupos e

hipoteticamente serem administrados por organizações comunitárias esses espaços não

perdem sua essência de bem público21, por pertencerem ao patrimônio público, e o seu

manejo deverá ser determinado por regras claras de acesso e manutenção.

Essa forma de gestão e manejo não retira a responsabilidade no que tange a

dotação orçamentária para manutenção, conservação, implantação de programas de lazer para

utilização qualificada dos espaços disponíveis nos equipamentos. Sabe-se que praticamente é

uma disputa na sociedade a manutenção do mesmo como um benefício público e, portanto,

um dever do Estado. Afinal, ele está assegurado como direito social nos marcos legais

20 A tragédia dos comuns compõe o conjunto dos paradigmas básicos e integrante da ciência econômica ambiental neoclássica defendida por Garrett Hardim, nos anos 1960. Neste trecho do pensamento de Lauriola (2009), ele exemplifica de maneira mais detalhada o pensamento de Hardin sobre a teoria da tragédia dos comuns: “Hardin demonstra como, frente a uma “pastagem aberta a todos”, cada pastor segue racionalmente uma lógica do benefício individual de externalização dos custos e internalização dos benefícios que, agregada coletivamente, conduz tragicamente ao esgotamento do recurso comum.” (LAURIOLA, 2009, p. 5) 21 Bem público está compreendido aqui como um objeto físico que pertence à coletividade.

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53

brasileiros, é uma conquista coletiva e um deve do poder público assegurá-lo a toda

população, independente de quem paga ou não os impostos municipais.

2.5 Relações federativas na configuração das políticas de lazer presentes nos planos

diretores

O lazer é um beneficio público, mas o que tem sido feito neste país para a plena

garantia desse bem? Que estratégias estão sendo tomadas, principalmente após a Constituição

de 1988 para que se consolide de fato no Brasil uma política pública de lazer? Este item busca

refletir o desenvolvimento das políticas públicas de lazer no Brasil, principalmente a partir da

Constituição de 1988, período em que o país sofre mudanças significativas em sua estrutura

política, administrativa e social complementar.

Verifica-se neste estudo que as políticas públicas no Brasil voltadas para o lazer é

tema ainda de poucas investigações científicas e de pouca atenção, por parte dos governos ao

longo da história do Brasil. Nota-se que do conjunto dos direitos sociais, assegurados na

Constituição de 1988 e alterados pela EC 026/2000 que são: Educação, Saúde, Trabalho,

Moradia, Lazer, Segurança, Previdência Social, Proteção à Maternidade e à Infância e

Assistência aos Desamparados, o lazer é um dos direitos sociais que ainda não dispõe de um

aparato jurídico-administrativo estruturado no país de forma tal que possa ser efetivado o seu

pleno desenvolvimento, na maioria dos estados e municípios brasileiros.

A marca histórica de tratamento do lazer no Brasil, jamais passou de dinâmicas

atreladas às práticas fisiologistas, clientelistas, com ações políticas pontuais. Apesar da nova

Carta Magna ter criado uma expectativa positiva na sociedade brasileira, que estariam se

produzindo as mudanças necessárias para se ter, de fato, políticas sociais universalistas, na

área do lazer, o que se viu na prática nas últimas décadas do século XX e nesses primeiros

anos do terceiro milênio são políticas pontuais, que em sua grande maioria estão relacionadas

ao espetáculo artístico e esportivo, como um prêmio, como mérito de alguns agentes, grupos

empresariais e/ou governos municipais e/ou estaduais principalmente do sul e sudeste

brasileiro. Por outro lado, ele passou a ser um campo de atuação das instituições públicas e

privadas, sobretudo nas áreas de cultura, esporte, meio ambiente, turismo, educação e saúde.

O Brasil participa da nova ordem mundial de acumulação do capital, referendando

a descentralização das políticas públicas e dando maior autonomia aos municípios e estados.

E nessa lógica pouco se criou estratégias de monitoramento na execução dessas políticas,

Page 54: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

54

onde se identifica que dentre os direitos sociais o lazer é um dos que vai padecer com essa

carência de uma gestão estruturada e articulada.

Nos argumentos de caráter mais amplo sobre o significado das reformas no Brasil

dialoga-se com o pensamento de Marta Arretche (1996), que aprofunda as políticas sociais na

descentralização; Celina Souza (1998) vai refletir distribuição do orçamento público no

contexto da reforma; e Farias Filho (2006). Todos, portanto, discutem a questão da

descentralização traçando olhares por aspectos distintos, mas a partir de um enfoque

aproximado o que nos ajuda a pensar sobre os desdobramentos das reformas sobre as políticas

de lazer no Brasil.

Para refletir como a questão da reforma tem incidido no campo do Lazer, alguns

estudiosos da área são apresentados aqui como Marcellino (1996) ao analisar as políticas de

lazer desenvolvidas nos anos 1990, Lino Castellani (1996), ao estudar sobre o lazer e a

qualidade de vida e Mascarenhas nas reflexões que traz sobre o lazer como mercadoria nesse

contexto da globalização. Por último, refletiu-se sobre as possibilidades que estão sendo

apresentadas pelo Ministério dos Esportes na perspectiva de se efetivar uma política uma

política pública de lazer no Brasil na atualidade sobre o discurso de um governo democrático

popular. Buscando compreender em que medida tal proposta ao cumprir o plano das reformas

iniciadas nos anos 1990, está conseguindo efetivar uma política pública de lazer no Brasil.

2.5.1 Algumas reflexões sobre a reforma do Estado a Partir da Constituição

de 1988

O Brasil experimentou, principalmente, a partir da nova Carta Magna, um amplo

processo de reformas neoliberais que atuaram em várias direções, baseada muna concepção de

estado mínimo, com o discurso de otimização da máquina estatal, para garantir os avanços

democráticos. O perfil dessas reformas, pautado na descentralização da administração pública

influenciaram no desenvolvimento das políticas públicas de lazer, onde algumas práticas

corporativas e clientelistas continuaram a impregnadas na gestão dessas políticas.

Para Farias Filho (2006), o Plano Diretor de Reforma do Estado representou o

empenho do governo brasileiro em implementar as mudanças basilares, na perspectiva de

fixar uma nova lógica na administração pública. Sobre os estudos nessas áreas ele destaca

que: Quando se pensa em mudanças nos estados nacionais logo vem à tona o tema da reforma do Estado e muito do que se construiu do ponto de vista da análise sobre o tema esteve restrito a modificações nas funções do Estado, enquanto prestador de

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55

serviços ou, ainda, de sua maior ou menor presença na condução da economia. Pouco se avançou na direção de uma reforma do Estado que conseguisse avaliar a função organizativa e institucional, do ponto de vista das normas e regras formais, modelos mentais, atitudinais e valorativos de seus agentes e de toda a sociedade (ibdem, p.04).

Na verdade, a lógica dessas mudanças significou um reflexo da política

internacional imposta pelos países desenvolvidos representados pela ONU e Banco Mundial

aos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. O quadro das mudanças apontou para: a

política da desburocratização para um melhor desempenho da máquina pública, a

descentralização, juntamente com a política de redução da intervenção do Estado, em campos

como a economia e em outras esferas da sociedade, limitando o poder de atuação do Estado à

prestação de alguns serviços públicos. A desburocratização ganhou marca de status dentro

dessa lógica das reformas (ibdem, 2006; SOUZA, 1998).

Para Farias Filho (2006), o discurso do Banco Mundial nos anos 90 sobre as

reformas necessárias a um Estado moderno, dizia que o que deveria preponderar eram:

“democracia, os direitos humanos a transparência nas ações das instituições estatais, um

economia aberta para o mundo, um padrão de consumo global, indicadores sociais favoráveis

ao bem – estar, etc.” (ibdem, p. 07). Neste sentido, percebe-se que o modelo de estado

proposto pelo referido banco, tinha como imperativo a obrigação de se ter um Estado

modernizado com a capacidade de suprir as necessidades do novo e livre mercado em

expansão, assim como às demandas sociais do mesmo. Dessa forma, a partir da Reforma do

Estado, intensificada nos anos de 1990, estados e municípios são reconhecidos como estes

federativos e passam a gozar de ampla autonomia política, administrativa e social. Tornam-se

então os centros para onde devem migrar os recursos e as orientações nacionais para a

implementação das políticas públicas.

Assim a descentralização passou a ser prescrita como a ação planejada assume um

caráter estratégico para o novo padrão de Estado, na perspectiva de melhor servir a

globalização. Tais mudanças foram experimentadas em vários países da America Latina nos

anos 80, como Peru, Argentina, Colômbia e Venezuela. O Brasil também buscou cumprir

esses compromissos, cumprindo com esforços diversos a agenda da globalização em curso.

Nessa perspectiva, a estratégia de descentralização do poder administrativo passa a ser um

grande desafio a ser atingido pelo governo federal, pois o Brasil com dimensões continentais

acumulou, ao longo de seu processo histórico, uma série de diferenças políticas, sociais,

culturais e econômicas que passam a ser um obstáculo ao êxito de uma política

descentralizada com sucesso.

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56

Tais diferenças regionais e políticas são destacadas nos estudos de Souza (1998)

sobre os resultados da descentralização da máquina pública em um estado federado, assim

como analisa esses efeitos sobre a efetivação das políticas, analisando como se dão as relações

entre a esfera federal e os estados brasileiros. Ela chama atenção para a questão das

desigualdades regionais, sociais e políticas que vão dar um caráter complexo, heterogêneo a

esse processo. Identifica ainda o fenômeno da inversão de poder onde os estados e algumas

capitais passam a ter maior poder de barganha junto ao governo federal, de acordo com seu

poder econômico regional. Essa pressão incide sobre a estratégia de “negociar políticas

públicas nacionais com as esferas subnacionais” (ibdem).

Marta Arretche também faz referência à questão da descentralização localizando

de forma geral as características da descentralização no Brasil. Ela afirma que o país é: caracterizado por expressivas desigualdades estruturais de natureza econômica, social, política e de capacidade administrativa de seus governos —, atributos estruturais das unidades locais de governo, tais como a capacidade fiscal e administrativa e a cultura cívica local, têm um peso determinante para a descentralização. Mas, tais fatores não são determinantes em si. Seu peso e importância variam de acordo com requisitos institucionais postos pelas políticas a serem assumidas pelos governos locais, tais como o legado das políticas prévias, as regras constitucionais e a própria engenharia operacional de cada política social (ARRETCHE, 1999, p.112).

O que se deve considerar na relação que se estabelece entre união e governos

locais e estaduais é que estados e municípios passam a gozar de autonomia absoluta sobre a

gestão de suas políticas sociais. Esse poder garante aos mesmos o direito de aderir ou não a

gestão de determinadas políticas sociais, salvo algumas que possuem prerrogativas

constitucionais, como é o caso da política de saúde, de educação e da previdência social.

A pesquisadora citada ainda demonstra um quadro sintomático do

desenvolvimento de políticas sociais nos estados de São Paulo, Bahia, Pernambuco e Ceará,

nas áreas de saúde, saneamento básico, habitação, educação, e assistência social mapeadas

pela autora demonstram como estava esse atendimento pelos estados, nos anos 1990.

[...] a oferta de merenda escolar era inteiramente gerida por estados e municípios; 58% dos municípios brasileiros estavam enquadrados em alguma das condições de gestão previstas pelo SUS [...] a municipalização dos serviços de saneamento básico não passou de uma expectativa frustrada; até 1995, a emergência de sistemas estaduais de habitação ocorreu apenas nos estados de São Paulo e do Ceará; a municipalização da rede de ensino fundamental ocorreu somente no Estado do Paraná; e, finalmente, em 1997, apenas 33% dos municípios brasileiros estavam habilitados a gerir os recursos federais destinados à oferta de serviços assistenciais (ibdem, p.116).

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57

É possível notar então que a descentralização das políticas sociais no Brasil foi

aceita pelos estados e municípios de formas diferenciadas. A adesão ou não da política, pelos

governos estaduais e municipais estava sempre associada a uma avaliação sobre os ganhos e

custos políticos e financeiros na implantação dessas políticas. O caso da merenda escolar é um

exemplo de viabilidade pelo seu baixo custo e facilidade na engenharia operacional. Já o

programa do FGTS, foi um fracasso no período em que esteve atrelada a política clientelista

do Governo Fernando Collor de Melo. A partir da gestão de FHC essa política é

implementada seguindo um padrão em que são considerados “... os elevados custos

financeiros a serem assumidos para o exercício destas políticas e o legado das políticas

implementadas previamente, implicava elevados benefícios e custos reduzidos aos governos

estaduais” (ibdem, p. 118-119), o que possibilitou uma grande aceitação por parte dos entes

federados.

Portanto, verifica-se que a Reforma do Estado no Brasil foi marcada por um

processo distributivo impulsionado e mantenedor das desigualdades regionais e ao mesmo

tempo essas diferenças são abrandadas através dos investimentos financeiros federais aditivos

(SOUZA, 2002). É compreendendo o sentido dessas mudanças no aparelho estatal pós-88 que

são apontadas algumas percepções do efeito das mesmas na área das políticas públicas

voltadas para o lazer no Brasil.

2.5.2 As políticas públicas de lazer no Brasil: os resultados das mudanças do

Estado

Para se abordar sobre as políticas de lazer no Brasil no contexto das mudanças do

Estado, faz-se necessário inicialmente identificar alguns pontos sobre a forma como este

direito foi tratado no século XX pelo poder público, já que algumas dessas práticas se

verificam até os nossos dias, com maior ou menor ênfase e se modificando os formatos, em

alguns momentos da história nacional.

2.5.2.1 Política de lazer com apelo de atrelamento ideológico

Na era Vargas, a política adotada estava voltada para o apoio às organizações de

lazer esportivas e culturais. Essa prática impulsionava o atrelamento político de entidades ao

Page 58: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

58

governo no poder. Ou seja, a política clientelista, centralizadora e desenvolvimentista, com

caráter populista eram as bases da política nacional.

Outra característica herdada de trato do direito ao lazer pelo poder público, em

estimular a prática, seguindo padrões internacionais de culto ao corpo. Grandes campanhas

nacionais foram realizadas para as práticas do lazer, que vão se estruturando de forma mais

efetiva nos estados e municípios. Essa política tomou fôlego principalmente na época da

ditadura militar com os Programas “Esporte para Todos”, “Mexa-se, mexa-se é gostoso pra

chuchu22” a política dos Centros sociais urbanos.

Nessas políticas se identificava o caráter amenizador dos problemas sociais

vigentes. Elas traziam como objetivo, a prática de lazer, como forma de desviar a atenção do

cidadão para os conflitos políticos da época. Essas campanhas de divulgação do lazer com

sentido funcionalista, com abordagem compensatória, utilitarista perpassando por uma visão

moralista e romântica do lazer, em nível internacional foram amplamente divulgadas no Brasil

e independente de suas concepções foram instrumentos de propaganda do lazer como um

produto a ser consumido, Isto é um serviço a ser ofertado pelo mercado privado em expansão.

Os poucos os recursos existentes destinados ao lazer no Brasil, eram e transferidos

para a iniciativa privada, desde o pós-guerra até nossos dias, como é o caso do SESC e do

SESI passaram a desenvolver ações de esporte e lazer para os trabalhadores particulares

(MASCARENHAS, 2004). Tal saída encontrada pelo governo brasileiro para atendimento ao

lazer do trabalhador apostou num forte sentido funcionalista, compensatório do lazer, após a

jornada de trabalho.

Assim o poder público ainda em práticas centralizadoras de gestão passa a dar

mais ênfase às demandas do lazer voltadas para o esporte com privilégios especiais ao futebol.

Como exemplo desse processo é a proliferação de campos de futebol que surgiram em todos

os estados ao longo do século XX e que teve nos anos da ditadura militar um grande

investimento sendo este o período que mais de construiu e reformou estádios e campos de

futebol pelo país. O formato dessa política corporativista no sentido depreciativo que

identifica Reis (1995).

A Constituição de 1988 foi idealizada na perspectiva de assegurar a possibilidade

de um melhor gerenciamento das políticas públicas no Brasil, a partir de um padrão

internacional do modelo capitalista, onde a lógica do estado mínimo, com a redução dos 22 Trecho de Música do Juca Chaves que serviu de slogan para a Política do Governo intitulada “Esporte para Todos” que centrada na popularização do futebol e com pacotes de lazer para incentivo de ruas de lazer nas cidades

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59

gastos na execução dos serviços públicos e transferência para os estados, municípios e

iniciativa privada foram as marcas das claras orientações do estado nacional. Dessa forma

educação, saúde e previdência tiveram sistemas bem mais claros de gerenciamento das

políticas. O que não ocorreu com o direito ao lazer. Como política pública teve poucos

investimentos com a descentralização do estado federativo.

2.5.2.2 Apoio ao setor privado

As políticas de incentivo ao setor privado permanecem, as práticas corporativas e

clientelistas na gestão dessas políticas, onde o poder de barganha dos governadores e

deputados continua determinando o direcionamento dos recursos públicos que já ganham

forma pelo contexto de grande abertura econômica facilitando a indústria do entretenimento.

Dessa forma, o lazer como mercadoria: o mercolazer (MASCARENHAS, 2004), que passa a

ser incentivado e atinge os anos 1990 em alta. Castellani (1996) já destacava que neste

período a indústria do lazer só estava perdendo para a indústria de alimentos no Brasil, ano passado foram vendidas 6 milhões de bicicletas no país, o dobro de 3 anos antes. A venda de CDs – 50 milhões em 1995 – Fez o Brasil pular da 13ª para a 6ª posição entre os maiores consumidores mundiais de disquinhos à frente de Canadá, Itália e Espanha (ibdem, p. 13).

Vale ressaltar que o consumo desse lazer industrializado, que tem um alto valor

mercadológico é praticado pela menor parte da população, com poder aquisitivo elevado.

Assim, fica de fora do direito ao lazer à maioria dos brasileiros.

A descentralização no Brasil não conseguiu principalmente na área do lazer

atingir de maneira equânime todo o Brasil, para atender as diversas cidades e às necessidades

regionais. Uma pesquisa do IBGE sobre a situação do Brasil na última década do século XX

revela que o País possui uma forte carência cultural:

[...] 82% dos municípios brasileiros não possuíam museus, 84,5% não tinham teatro, 92% não tinham sequer uma sala de cinema e cerca de 20% não tinham bibliotecas públicas. Mesmo aqueles municípios que têm bibliotecas, 69% deles possuíam apenas uma e, nos municípios com até 20.000 habitantes, 935 não tinham nenhuma. Nos municípios com até 5.000 habitantes, a presença de livrarias e lojas que vendem discos, fitas e CDs é muito rara, com percentuais de 13,6% e 5,6%, respectivamente. E quando se fala em todo território brasileiro, dos 5.507 municípios pesquisados, 65% não possuíam esse comércio. Nos municípios com mais de 50.000 habitantes, 90% tinham esse tipo de loja com destaque para a região Sul, onde 60% dos

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60

municípios têm livrarias e 40% têm lojas de discos, fitas e CDs (CIDADES, 2001)23.

É fato que ainda nos dias atuais esta realidade precária de acesso aos bens

culturais permanece em grande parte dos municípios brasileiros.

2.5.2.3 O controle social

Outra característica da Reforma do Estado como norma regulatória a

descentralização das políticas foi o controle social, que passou a ser uma das orientações

gerais para estados e municípios. Assim surgem os conselhos de participação da sociedade

civil e dos órgãos gestores para acompanhamento das políticas públicas24, principalmente na

área de saúde e educação. Em que pese os processos muitas vezes equivocados na eleição de

representantes legítimos para compor essas instâncias de participação popular e também as

dificuldades no próprio poder de definição das políticas públicas no Brasil, os conselhos

passaram a ser uma força a mais para a sociedade civil na defesa das históricas demandas.

Diferente do campo da saúde e da educação, a realidade da implementação de

políticas públicas de lazer no Brasil, ainda padecem da falta de um sistema de gestão

adequado. O estado brasileiro através de suas políticas públicas ainda não foi capaz de frear o

não acesso da maioria da população ao direito ao lazer. As políticas na área estão sendo

praticadas à luz da descentralização das políticas, de maneira pontual. Algumas cidades

elegem o lazer como projetos específicos para um determinado grupo humano e definem o

órgão deve assumir a pasta. Exemplo: é muito comum encontrarmos projetos de lazer para os

idosos sob a responsabilidade da secretaria e/ou fundação que cuida da assistência social,

assim como encontramos alguns projetos e ações de esporte e lazer para criança e adolescente

sendo desenvolvido pela secretaria de educação.

Essas práticas não fortalecem os princípios constitucionais de garantia de direito à

todos e todas, muito menos contribui para uma nova transformação social. O que ocorre é o

reforço às políticas específicas para as chamadas pessoas de risco pessoal e social,

23 Ver em Cidades do Brasil, mai. 2001. 24 No caso da saúde, a criação do SUS é o divisor de águas na política de assistência à saúde pública no Brasil. Na educação, o direito à educação ganhou maior impulso com a reorientação da LDB, mesmo com diferentes disputas de propostas do movimento de educadores para a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Os conselhos de educação ajudaram mais a acompanhar a execução dessa política pública. Esses sistemas foram e ainda são referências para a organização das políticas desses setores, pois os mesmos prevêem todas as ações, seja do financiamento da política até a forma de execução e distribuição do serviço pelo município.

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61

praticamente estratégia de contenção da violência urbana ou mesmo de amenizar os enormes

problemas do viver nas cidades (caso dos idosos, principalmente) assim o lazer acaba

funcionando como ação compensatória e funcionalista contribuindo dessa forma para a

manutenção do status quo.

O governo Federal no contexto atual está desenvolvendo uma política de lazer

para o Brasil segundo os seus documentos orientadores25, inspirada nos princípios da

participação democrática de estimulador de novas formas de convivência social nas cidades.

A questão complicadora é que os recursos alocados para tal política que se materializa por

meio de Programas voltados para o espore e o lazer deve contar com a aceitação por parte dos

municípios, estados e setores privados para a adesão aos Programas. Por conseguinte essas

políticas não possuem recursos suficientes para serem realizadas em todos estados e

municípios. Outra questão a ser considerada é que muitos municípios não dispõem de

capacidade técnica e estrutural para assumir o processo burocrático e pedagógico de execução

de tais Programas. Aqui se enquadra o pensamento de Arretche (1998) quando diz que a [...] maioria dos municípios brasileiros caracteriza-se por baixa capacidade econômica, expressiva dependência das transferências fiscais e fraca tradição administrativa. Nestas condições, programas de descentralização desenhados de forma a minimizar os custos financeiros e administrativos de gestão passam a ter um peso decisivo na decisão das administrações locais. (ibdem, p.136)

Como agravante nota-se que o governo federal não consegue executar um

monitoramento efetivo dos Programas realizados pelos governos estaduais municipais e do

terceiro setor. Contudo é importante pensar que o lazer também sofre preconceitos quando se

pensa em políticas publicas no Brasil a idéia de distribuição de recursos para esta área, sempre

está relacionada a um menor valor, comparando a outras áreas de conhecimento. A simples

transferência de recursos para entidades, estados e municípios não garante que esses

programas serão bem executados.

O que se verifica então na atualidade é a continuidade da não existência de um

sistema claro entre as três esferas de poder que se possa acompanhar a execução das políticas

de lazer no Brasil. Historicamente as leis brasileiras discutiram de forma fragmentada esse

direito, como: as leis específicas voltadas para o setor esportivo - leia-se “futebol”; e para

cultura - leia-se: “belas artes”. Tais leis pouco valorizaram outras práticas esportivas, como:

vôlei, basquete, tênis de mesa e práticas culturais, como: capoeira, atividades circenses etc. O

discurso da atual gestão do Ministério do Esporte defende que seja criado um Sistema

25 Ver mais em PINTO, L. Brincar, Jogar e Viver: Lazer na Intersetorialidade do PELC. v. 1, n. 1, Goiás: América, 2008.

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62

Nacional de esporte e lazer com vistas a efetivar uma política pública na área. Assim o

sistema deve: ser orientado pela Política Nacional do Esporte, aprovada pelo Conselho Nacional. Rever a legislação brasileira, ajustar o texto constitucional e a lei ordinária, definindo melhor as manifestações esportivas. Avançar na intersetorialidade do sistema esportivo, sobretudo com educação, cultura, saúde, trabalho e planejamento urbano, de modo que as políticas públicas tenham maior eficácia no que diz respeito ao desenvolvimento humano. Atuar para ampliar e diversificar as fontes de financiamento e rever o uso dos recursos disponíveis de modo a potencializar sua aplicação. Considerar o pacto federativo e definir competências para cada entidade nas ações públicas principais que devem ser objeto de acordos entre as partes. Concentrar a participação do setor público nos investimentos necessários para dotar o país de infra-estrutura e equipamentos adequados. Constituir uma Política de Formação de Recursos Humanos qualificada que permita o desenvolvimento do esporte em todas as suas dimensões. Atribuir ao Estado a responsabilidade pela regulação do esporte de rendimento através de normas gerais e mecanismos de fiscalização de modo a estimular os investimentos e a administração privada. Constituir o Conselho Nacional do Esporte como instância responsável pela elaboração e acompanhamento de Planos Plurianuais para o desenvolvimento do esporte brasileiro e fazer do Conselho uma projeção, em plano nacional, de mecanismo de controle social que se pretende estender a todo país como estrutura para o novo Sistema. Institucionalizar o esporte e o lazer nos estados e municípios com a criação e o fortalecimento de órgãos públicos próprios para a gestão desse setor26 (SILVA, 2009, não paginado).

As ideias aqui registradas sobre o sistema já são fruto de um amplo processo de

discussão da sociedade brasileira na Conferência Nacional de Esporte e Lazer. Sendo assim,

caso este sistema se consolide como política pública, será um marco na história da gestão

pública na área ter implementado um sistema de gerenciamento das políticas de esporte e

lazer fruto da contribuição democrática e participativa, pois o lazer precisa de um sistema

consolidado que perpasse pela elaboração de leis, elaboração de programas permanentes,

ações eventuais, implementação das políticas, acompanhamento, avaliação, controle social.

Os poderes públicos nas três esferas precisam viabilizar o sistema nacional de esporte e lazer

articulado aos movimentos sociais para as condições ideais para sua consolidação enquanto

política pública.

Outra reflexão necessária na compreensão do lazer na atualidade é sua relação

com o planejamento das cidades tendo com marco a Constituição de 1988 e a criação do

Estatuto das Cidades que definiu a criação de Planos Diretores para municípios a partir de 20

mil habitantes. Esta será a abordagem da próxima seção.

26 Trecho do artigo do Ministro Orlando Silva intitulado “A construção de um Sistema Nacional de Esporte e Lazer: o esporte precisa avançar como política de Estado Nacional para ser um direito de todos”. Disponível em: <http://vermelho.org.br/museu/principios/anteriores.asp?edicao=85&cod_not=1128>. Acesso em: 17 out. de 2009.

Page 63: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

63

2.6 O lazer como demanda qualificada nos planos diretores

O município sofreu as mudanças significativas ao longo da história - desde

pequenos agrupamentos, para a formação de tribos, aldeias até chegar a configuração de

cidades e a formação do município como é conhecido hoje. Ackel Filho (apud SANT’ANA,

2006) diz que o século XX foi o marco para o município, onde ele recebeu uma atenção

especial e principalmente com a Constituição de 1988 em que sofreu na integra como ente

federado, podendo receber lei própria aprovada pela Câmara de Vereadores. Dentre esses

instrumentos municipais localiza-se o Plano Diretor que surge como matriz diretora do

Planejamento de cidades sustentáveis em que Lazer está assegurado.

O desenvolvimento do lazer ao longo da história moderna teve um marco

significativo, que foi a Criação Declaração Universal dos Direitos Humanos, logo após a

segunda Guerra Mundial e assinada pela maioria dos países do globo. A Declaração valorizou

lazer como parte fundamental do conjunto das necessidades humanas. No Brasil, a

Constituição de 1988, Estatuto da Cidade e o Plano Diretor Municipal ao incorporarem o lazer

como direito abriram novas esperanças de se concretizar um melhor planejamento do lazer

nas cidades. Neste item mapeiam-se alguns instrumentos legais que asseguram e/ou abrem

espaço para incorporação do lazer no planejamento da cidade. Traça ainda alguma análises

acerca do Plano Diretor na sociedade e da importância do lazer neste documento institucional.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi um marco histórico para a

assimilação do lazer enquanto um direito humano. Ela traz no artigo XXV a citação que

“Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de

trabalho e férias periódicas remuneradas”. Também o artigo XXVII afirma que “Toda pessoa

tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de

participar do processo científico e de seus benefícios.” 27 A própria existência desses dois

artigos na Declaração Universal demonstram o quanto era necessário o reconhecimento desses

valores, de modo a tornar a vida dos sujeitos mais digna, tanto no mundo do trabalho, quanto

na vida pessoal e comunitária. Para os países que assinaram a Declaração Universal, se tornou

um desafio, o compromisso em cumprir esse artigo, pois a atenção ao tempo livre também

necessita de atenção no sentido de possibilitar em cada país as possibilidades de vivência

desse direito.

27Ver mais em http://www.onu-brasil.org.br/documentos_direitoshumanos.php.

Page 64: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

64

No Brasil, a Constituição Federal em vigor firmou o direito ao lazer como um

direito social, e especialmente com a emenda constitucional de 15 de outubro de 2000 que

inclui a moradia como um direito social, ficando então dessa forma: “Artigo 6º: São direitos

sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a

proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta

Constituição".

Com esta inclusão o lazer fica duplamente valorizado, pois o direito a moradia foi

incluso, como resultado das reivindicações do movimento nacional de luta pela reforma

urbana nos anos 1980, dentro de um conceito de moradia que não se resume à habitação, a ter

um domicílio, mas sim, que envolve todas as necessidades básicas do viver em um meio

ambiente saudável, com conforto ambiental, saneamento, o usufruto da energia elétrica, água

encanada, rede de trânsito e transporte, vizinhança, espaços de lazer e acesso a bens e

equipamentos culturais.

A Constituição referencia no artigo 7º que trata do direito dos trabalhadores, o

direito ao repouso semanal remunerado, com a indicação do domingo para este fim e o inciso

trará do “gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o

salário normal” e o exercício do trabalho pela carga horária máxima de quarenta e quatro

horas semanais28, são textos que corroboram para a vivência pelos sujeitos do direito ao lazer,

pois o tempo em que o trabalhador não estará utilizando para o trabalho, pode ser possível

planejar um momento para exercer o direito ao lazer.

Vale ressaltar que no título que trata da Ordem Social, o capítulo III da educação,

da cultura e do desporto. A ênfase dada ao lazer diz em seu parágrafo terceiro que “O Poder

Público incentivará o lazer, como forma de promoção social.” 29 Percebe-se que mesmo se

considerando um avanço o lazer estar escrito com direito na Constituição, ele ainda é tratado

com orientações genéricas, sem detalhamentos, ao contrário de outros direitos como educação

ou até da previdência social em que o nível de detalhamento dá um suporte necessário para a

implementação das políticas nessas áreas. No caso do Lazer, caberia mais incisos no sentido

de orientar os governos, nas três esferas de poder, em como atuar no sentido de assegurar que

esse direito possa ser executado de acordo com cada ente público e a sociedade em geral.

No Direito Ambiental Brasileiro, quanto ao princípio do direito à Sadia qualidade

de vida, Machado (2003) reflete que fruto de uma série de acordos internacionais esse

28 Esse trecho refere-se aos incisos XIII, XV e XVII do artigo 7º da Constituição Federal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. 29 Consta na Constituição Federal, Título VIII da Ordem Social, no Capítulo III, da Educação, da Cultura, e do Desporto.

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65

princípio se materializou como fundamental na compreensão de saúde não apenas como

ausência de doenças, mas que é necessário considerar o meio ambiente sadio e a sua

disposição, os serviços públicos básicos para que ela possa ter efetivamente uma vida digna.

Portanto, nesse conceito cabe perfeitamente o lazer entendido aqui como um benefício

público ofertado à população, em forma de espaços e programas de atividades que precisam

estar disponíveis para a população usufruir desse bem.

O Estatuto da Cidade, lei orientadora da política urbana, define em seu artigo 2º

define que a Política Urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções

sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais: “Garantia

do direito a cidades sustentáveis, entendido como direito à terra urbana, à moradia, ao

saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana ao transporte e aos serviços públicos, ao

trabalho e ao lazer para as presentes e futuras gerações;". Portanto, a exemplo da

Constituição, o Estatuto da Cidade reafirma o lazer como um dos elementos fundamentais que

compõem o direito à cidade sustentável.

O Estatuto da Cidade define o Plano Diretor como: um conjunto de princípios e regras orientadoras da ação dos agentes que constroem e utilizam o espaço urbano. O Plano diretor parte de uma leitura da cidade real, envolvendo temas e questões relativos aos aspectos urbanos, sociais econômicos e ambientais, que embasa a formulação de hipóteses realistas sobre opções de desenvolvimento e modelos de territorialização. O objetivo do Plano Diretor não é resolver todos os problemas da cidade, mas sim ser um instrumento para a definição de uma estratégia para intervenção imediata, estabelecendo poucos e claros princípios de ação para o conjunto dos agentes envolvidos na construção da cidade, servindo também de base para a gestão pactuada da cidade (BRASIL, 2002, p.40).

Portanto, o Plano Diretor vem com a tarefa para as cidades de “por ordem a casa”,

mas segundo Villaça (2008), tal instrumento de planejamento municipal mereceu tanta

atenção nas últimas décadas que nos cabe pensar a que se deve todo o movimento para se

fazer cumprir a obrigatoriedade da lei a que interesses ele tem servido.

Ele define Plano Diretor como: [...] um plano que, a partir de um diagnóstico científico da realidade física, social, econômica, política e administrativa da cidade, do município e de sua região, apresentariam um conjunto de propostas para o futuro desenvolvimento socioeconômico e futura organização espacial dos usos do solo urbano, das redes de infra-estrutura e de elementos fundamentais da estrutura urbana, para a cidade e para o município, propostas estas definidas para curto, médio e longo prazos, e aprovadas por lei municipal (VILLAÇA, 1999, p.238).

Villaça (1999) aponta o Plano Diretor como instrumento estratégico, orientador

para o planejamento urbano. O Plano é uma tentativa de corrigir e ou ampliar a possibilidade

que se ter cidades melhor planejadas. Dessa forma o que se espera do Plano Diretor em

qualquer cidade é que o mesmo possa cumprir o verdadeiro urbanismo de acordo com a

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66

doutrina pregada pela Carta de Atenas citada por Sant’ana (2006) em que aponta as quatro

funções centrais do urbanismo são: primeiramente, assegurar aos homens moradias saudáveis; em segundo lugar, organizar os locais de trabalho, de tal modo que este, ao invés de ser uma sujeição penosa, retome seu caráter de atividade humana natural; em terceiro lugar, prever as instalações necessárias à boa utilização das horas livres, tornando-as benéficas e fecundas; em quarto lugar, estabelecer o contato entre essas diversas organizações mediante uma rede circulatória que assegure as trocas, respeitando as prerrogativas de cada uma. Essas quatro funções, que são as quatro chaves do urbanismo, cobrem um domínio imenso, sendo o urbanismo a conseqüência de uma maneira de pensar levada à vida pública por uma técnica de ação. (LE CORBUSIER apud SANT’ ANA, 2006, p. 36)

Depois da Constituição de 1988 várias cidades cumpriram seu compromisso com

o princípio constitucional de criação do Plano Diretor Municipal como uma lei orientadora do

planejamento municipal. Porém, tal documento aprovado recentemente como um instrumento

de organização do município tem grande dificuldade de se efetivar com sucesso, pois o que se

constata na vida urbanística do Brasil é o processo histórico de crescimento desordenado na

maioria das cidades brasileiras.

O fenômeno da urbanização que é típico da sociedade urbano-industrial

corroborou para que o país tivesse experimentado o chamado boom populacional, sem um

plano de desenvolvimento urbano nas cidades brasileiras, ocorrido após a segunda metade do

século XX, o Brasil experimentou o que se convencionou chamar de crise urbana, sobretudo

nas capitais. (MARICATO, 2008; SANTOS, 1993; SANT’ANA, 2006). Como consequência

uma série de transformações negativas geravam graves problemas sociais, como o surgimento

das favelas e áreas de ocupação, com habitações, infraestrutura viária e sanitárias precárias

etc. Mesmo depois de ter amenizado no Brasil o processo de crescimento das grandes cidades

para um ligeiro deslocamento do centro urbano para as cidades de porte médio e para áreas

periféricas geralmente localizadas nas regiões metropolitanas, se constata as péssimas

condições do viver nessas cidades tornou-se premente (BASSUL, 2002).

Neste sentido a ideia da criação de um plano estratégico para as cidades, com um

certo nível de complexidade estrutural (cidades até 20 mil habitantes), se caracterizou como

uma grande mentira, pois na opinião deste autor “os problemas da maioria da população,

aquela enorme parcela que é forçada a viver à margem da lei urbanística (e de muitas outras

leis) são ignorados pelos Planos Diretores e seus princípios gerais.”(ibdem, p.242) O que

realmente tem sido aprovado nesse instrumento ainda representa os interesses do

empresariado.

Na década de 1990 para se adequar à nova Constituição várias cidades brasileiras

criaram ou revisaram seus Planos Diretores como: Porto Alegre, 1996; Belém, 1993; Belo

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67

Horizonte, 1996 etc. O Rio de Janeiro não regulamentou o Plano Diretor pela força política do

empresariado local com suas pressões junto ao legislativo municipal. Eles discordavam dos

projetos de lei referentes ao Solo Criado e o Fundo Municipal de Desenvolvimento Urbano. O

que foi possível aprovar após grandes negociações políticas nessas cidades foi um Plano

Diretor que afirma apenas diretrizes genéricas que refletem os interesses dos empresários. O

autor destaca que os mesmos documentos fizeram São Paulo incorrer na mesma situação e

não aprovar seu Plano Diretor neste período (VILLAÇA, 1999, p.243).

O lazer foi incorporado neste documento de acordo com a recomendação do

Estatuto da Cidade, como já se falou anteriormente, ocupando, em tese, um lugar de destaque,

no mesmo grau de importância da educação, da saúde, transporte, etc. Pode se considerar uma

vitória histórica para aqueles que lutam e acreditam na importância do lazer na vida das

cidades, como elemento constituinte de um padrão cidades sustentáveis. Mas, como bem já se

fez referência nos itens anteriores sobre a trajetória do lazer nas políticas públicas, percebe-se

que pouco se deu a devida atenção ao tema mesmo depois do Estatuto da Cidade e

logicamente da determinação de criação do Plano Diretor.

Villaça defende a tese que os Planos Diretores ainda não deram certo, por uma

série de fatores. Um deles está relacionado ao fato de ainda não existir no texto do Plano uma

maior objetividade, no sentido de detalhar melhor como a política deve ser efetivada. A

definição de um texto mais genérico, em parte tirou deste instrumento o papel de orientador

efetivo do planejamento da cidade mesmo considerando que ele aponta a criação de outros

instrumentos que devam ser regulamentados para melhor detalhamento do planejamento e que

vão efetivar tais diretrizes.

A compreensão que se tem desse instrumento, portanto, vai ao encontro do

pensamento de Villaça e se defende que um instrumento de Planejamento deve ser propositivo

com riqueza de detalhamento atingindo o nível de definições prioritárias, a curto, médio e

longo prazos, de formas que a sociedade e as instituições que operam na arena do

planejamento da cidade possam ter de fato um instrumento-guia para acompanhar, fiscalizar,

executar as políticas nas cidades. Neste sentido, o Plano diretor como regra institui

formalmente o Planejamento da Cidade, em que o lazer deve constar como parte das políticas

que compõem as funções sociais da cidade, no entanto, ele só se efetiva como Planejamento

municipal se estiver articulado ao planejamento estratégico municipal a participação popular e

todo o aparato técnico jurídico relacionados à política urbana30 ao alcance de todos e,

30 Chama-se atenção para o Planejamento estratégico municipal em que as políticas públicas precisam ser melhor detalhadas do ponto de vista de sua opção prática. Neste ponto, também se está falando da devida participação da

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68

sobretudo, se as definições que nele constar possam de fato atender aos interesses das

camadas menos assistidas da sociedade, caso contrário ele será apenas um documento

autorizador das contradições histórica da sociedade atual.

sociedade civil e dos instrumentos como parcelamento e uso do solo, outorga onerosa do direito de construir, plano plurianual etc. os quais conduzem esse processo de definição.

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69

3 O LAZER E O PLANEJAMENTO URBANO NA AMAZÔNIA

Era uma vez na Amazônia a mais bonita floresta mata verde, céu azul, a mais imensa floresta

no fundo d'água as Iaras, caboclo lendas e mágoas e os rios puxando as águas

Papagaios, periquitos, cuidavam de suas cores os peixes singrando os rios, curumins cheios de amores

sorria o jurupari, uirapuru, seu porvir era: fauna, flora, frutos e flores

Toda mata tem caipora para a mata vigiar veio caipora de fora para a mata definhar

e trouxe dragão-de-ferro, pra comer muita madeira e trouxe em estilo gigante, prá acabar com a capoeira

Fizeram logo o projeto sem ninguém testemunhar prá o dragão cortar madeira e toda mata derrubar:

se a floresta meu amigo, tivesse pé prá andar eu garanto, meu amigo, com o perigo não tinha ficado lá

O que se corta em segundos gasta tempo prá vingar e o fruto que dá no cacho prá gente se alimentar?

depois tem o passarinho, tem o ninho, tem o ar igarapé, rio abaixo, tem riacho e esse rio que é um mar

Mas o dragão continua a floresta devorar e quem habita essa mata, prá onde vai se mudar???

corre índio, seringueiro, preguiça, tamanduá tartaruga: pé ligeiro, corre-corre tribo dos Kamaiura

No lugar que havia mata, hoje há perseguição grileiro mata posseiro só prá lhe roubar seu chão

castanheiro, seringueiro já viraram até peão afora os que já morreram como ave-de-arribação

Zé de Nata tá de prova, naquele lugar tem cova gente enterrada no chão:

Pois mataram índio que matou grileiro que matou posseiro disse um castanheiro para um seringueiro que um estrangeiro

roubou seu lugar[...] Aqui termina essa história para gente de valor

pra gente que tem memória, muita crença, muito amor pra defender o que ainda resta, sem rodeio, sem aresta

era uma vez uma floresta na Linha do Equador...31

Mapa 01- Amazônia Legal Fonte: abdecpara.blogspot.com

31 Trecho da Música Saga da Amazônia de Vital Farias.

Page 70: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

70

A reflexão pretendida por este capítulo está na identificação do lazer no

Planejamento na Amazônia. De certo, que faz-se necessário tecer algumas considerações

acerca do esta região significa na história não só do Brasil mas sobretudo como os usos deste

território tem acumulado sentidos e significados que vão desde a imagem mítica de suas

culturas, ao apelo político-econômico. Tais olhares e intervenções definiram o processo de

crescimento e desenvolvimento urbano na mata, à custa de muitas tensões e conflitos, com

sua própria população nativa e aqueles que vieram aqui buscar uma vida digna para os seus e

as gerações futuras.

Assim o primeiro item intitulado “O processo de crescimento e desenvolvimento

urbano na mata” vai a partir de alguns autores como Marilene Corrêa Silva (2006), Edna

Castro (2008), Edmilson Rodrigues (1996), Trindade Júnior (1998), David F. Carvalho

(2006), Wallace Meireles (2008), demonstrar alguns aspectos que caracterizam a história

dessa região, tendo em vista que é quase impossível desvelarmos a Amazônia em sua

totalidade pela diversidade de produções sobre a região em diferentes enfoques e

fundamentalmente porque a realidade é dialética e não caberia neste trabalho uma abordagem

extensiva sobre a temática. Neste sentido, buscou-se trazer alguns elementos sobre a história

de sua formação, os processos de urbanização no século XX e alguns dados que demonstram

o tipo de crescimento e desenvolvimento da Amazônia na atualidade, para pensarmos como

estas questões tem influenciado nas políticas de lazer adotadas da região.

O segundo item reflete sobre “O Lazer no Planejamento Urbano da Amazônia”

onde se busca pensar como o lazer tem sido concebido no Planejamento urbano do ambiente

urbano Amazônico. No terceiro item, “Belém e Manaus, Metrópoles da Mata: aproximações e

contrastes” se identifica a história e as principais características dessas cidades estabelecendo

semelhanças e diferenças entre as duas cidades Amazônicas e no item “O lazer e o plano

diretor das metrópoles amazônicas: questões para análise” destaca-se os elementos

metodológicos que nortearam a análise dos dados sobre o Plano diretor das duas cidades.

3.1 O processo de crescimento e desenvolvimento urbano na Amazônia.

A Amazônia não nasce direta e limpidamente brasileira. Começa por ser principalmente indígena, nativa. Aos poucos, revela-se portuguesa, colonial. Em seguida, afirma-se cabana, revolucionária. Depois, é definida como brasileira, nacional. Situa-se no mapa do Brasil com imensa geografia e surpreendente história. Mas continuará sendo simultaneamente indígena, portuguesa, cabana e brasileira; assim como um momento da sociedade mundial (IANNI, 2004, p. 07).

Page 71: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

71

Otávio Ianni ao apresentar o livro de Marilene Corrêa Silva consegue sintetizar

muito bem a beleza de abordagem da autora sobre o processo de surgimento da Amazônia no

cenário brasileiro e mundial. Trata-se de obra que ao recuperar o nascedouro deste território

reapresenta as diversas identidades, em diferentes momentos de político-econômicos, que

muitos autores já trabalharam sobre a região, mas que nesta abordagem nos convém trazer

alguns elementos que marcam o processo de desenvolvimento da Amazônia, sobretudo a

partir da expansão capitalista.

Marilene Silva (2004) ao tratar sobre a Amazônia e identificar os seus diversos

ciclos como bem nos mostrou Ianni recuperou com isso pelo menos os três primeiros séculos

de ocupação europeia na América Latina. O que se constata inclusive em vários estudos sobre

o processo de formação da Amazônia que sua história é marcada pela dominação européia

que se caracterizou pela tentativa de padronização aos moldes europeus da região (SILVA,

2004; CASTRO, 2008; BENCHIMMOL, 2009; TRINDADE JR., 1998; CARVALHO, 2006;

MEIRELES, 2008 etc.). Essa dominação teve como primeiras estratégias legais a demarcação

e denominação do território, com a finalidade “de homogeneização das diversidades”

(SILVA, 2004, p. 22). Outra estratégia foi a ocupação de espaços territoriais com maior poder

de geração de lucro imediato para o colonizador.

Nos estudos de Silva (2004) nota-se a relação que se estabelece entre o Estado

nacional e a região no Pós-Cabanagem, no século XIX. Se estabelecer relação com a realidade

amazônica atual, tal trecho poderia muito bem ser um texto escrito por algum jornalista e/ou

pesquisador fazendo, por exemplo, uma análise de balanço da Amazônia no século XXI. A imposição do Estado nacional sobre a Amazônia concebida pelo poder tem todos os temas justificadores da ação interventiva. A construção da Amazônia brasileira, após a Revolução Cabana, resgata do espírito colonial a feição de região bárbara e inóspita, a condição de fronteira da Nação soberana, a situação de atraso econômico e cultural, fundamentando, neste parâmetro, as diretrizes para a ocupação, para a civilização, para a conformação da região à unidade dita nacional. A existência sitiada da região Norte, no período subseqüente à Cabanagem, passou pelo “tratamento de choque” das populações regionais como massas compulsoriamente integradas nas frentes de expansão da sociedade nacional, que incluía a liberação das terras tribais para empreendimentos recolonizadores, patrocinados pelo Estado. A manutenção da ordem nacional justificou a exclusão dos direitos de autodeterminação dos povos amazônicos, cerceou o associativismo tradicional das sociedades caboclas, e permitiu que as ambições dos interesses administrassem, a seu modo, a vida e a sociedade regional. Os interesses dominantes, fantasiados de interesses regionais, inventaram na “vocação extrativista” a justificativa da ação predatória sobre as terras e as populações amazônicas (SILVA, 2004, p. 275).

A Amazônia por centenas de anos foi um espaço “esquecido” do território

nacional. Esta expressão nas aspas refere-se a uma visão de censo comum que em outras

palavras passa pelo sentimento popular sobre o desenvolvimento tardio da região, se

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72

comparado ao conjunto do território brasileiro e mundial. A visão empírica aponta que

Amazônia e logicamente seu território e sua gente não é reconhecida e respeitada em sua

singularidade, especificidade, diversidade populacional, biodiversidade e potencialidade

econômica. O que tem prevalecido fundamentalmente é o tipo de desenvolvimento imposto

pelo estado a esta região motivado pela importância que este território tem nos interesses dos

mercados capitalista nacional e internacional. A orientação observada na política nacional é a de traçar medidas que reforcem a integração de mercados com os países que se alinham nas amplas fronteiras da região amazônica, sob a liderança pretendida do Brasil. [...] a ação do Estado se efetiva por meio de processos econômicos, reais ou virtuais, como estratégia fundamental de presença ativa em mercados além-fronteira. E a Amazônia, pela singularidade de ter oito países como vizinhos, representa um trunfo a ser mais bem apropriado no novo rearranjo geopolítico (CASTRO, 2002, p.05).

Os estudos científicos revelam que ao longo da história da Amazônia os usos

deste território têm acumulando sentidos e significados de valor vital aos interesses do grande

capital. Muitas pesquisas no campo das ciências sociais têm identificado a Amazônia, o Brasil

e os países da América Latina como periferias do sistema capitalista. No caso da Amazônia,

ainda se experimenta no território o paradigma da economia de fronteira32 onde o processo de

ocupação se deu a partir das demandas externas e seu desenvolvimento que por sua vez, foi

marcado por momentos longos de paralisia e decadência econômica (TRINDADE JR., 1998,

2006). Carvalho (2006) ao estudar a “Globalização financeira e Amazônia nos anos 90”

afirma que a região encontra-se ainda hoje numa situação que reflete “o monopólio comercial,

por parte dos países centrais” sendo este traço característico como herança dos ciclos da

borracha. Ele afirma que: a Amazônia se atrasou quanto ao seu desenvolvimento econômico capitalista devido, dentre outras razões históricas – inclusive o monopólio do comércio exterior dos seus produtos – não ter se constituído um mercado regional de trabalho em bases capitalistas e o volume da circulação de dinheiro não ter sido suficiente para dissolver as velhas relações pré-capitalistas ao nível da produção e da circulação das mercadorias do comercio intra e interregional (CARVALHO, 2006, p. 316).

Que crescimento e desenvolvimento se espera de uma região que historicamente

“foi concebida, pelas elites nacionais, como uma fronteira de recursos, na qual o capital

poderia refazer seu ciclo de acumulação com base nos novos estoques disponíveis.”

(CASTRO, 2005, p.10). Rodrigues (1996) argumenta que logo no Pós-Guerra, a Amazônia

foi se efetivando como um “espaço estratégico de acumulação capitalista, regida agora pela

32 O paradigma da economia de fronteira é definido por Kenneth Boulding e significa a forma de conceber os recursos naturais como infinitos.

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73

lógica dos oligopólios e monopólios econômicos que gradativa e crescentemente passaram a

determinar a dinâmica nacional” (ibidem, p.22).

A partir da década de 1960 nota-se que a estratégia do estado brasileiro de

ocupação da Amazônia passou pela política de tornar a Amazônia um espaço atrativo com

estrutura urbana e o estímulo a urbanização da região foram as saídas para potencializar a

economia neste período. Segundo Trindade Jr. (1998), é possível identificar o que significou o

crescimento populacional neste período em relação ao Brasil. Os dados do IPEA relevam que

“Na Amazônia Legal, cerca de 73% dos seus 22,5 milhões de habitantes residiam em cidades

em 2004 (NETUNO, 2008, p. 15).

Os efeitos dessa urbanização podem ter como uma de suas características o

desencadeamento do processo de Metropolização da Amazônia (TRINDADE JR., 1998) que

seria o processo instalado nas cidades, sobretudo nas capitais dos estados amazônicos que

acumularam uma urbanização concentrada mediante o estímulo estatal, com o aparecimento

de novas instituições e de atividades econômicas33. Assim na tabela 01 demonstra-se o que

significou o crescimento populacional tanto do Brasil quanto da Amazônia legal demonstrada

em duas colunas onde a primeira apresenta os dados relativos ao crescimento populacional

total e a segunda representa o crescimento ocorrido apenas nas sedes dos municípios, dentro

do período de 1960/ 1991 na Amazônia Legal, em relação ao Brasil.

Tabela 01 - Crescimento urbano no Brasil e na Amazônia Legal (1960/1991) Crescimento populacional

Total (1960 /1991) Crescimento populacional na Sede do munic. ( 1960 /1991)

UNIVERSO

Abs. % Abs. % BRASIL 78.884.888 246,59% 69.979,075 245,20%

AMAZÔNIA LEGAL34 7.525.373 485,08% 7.059.209 509,15% Fonte: Dados do IBGE (RIBEIRO apud TRINDADE JR., 1998, p. 51).

33 Segundo Corrêa esse processo de Metropolização seria uma urbanização concentrada que por sua vez: “ reflete, de um lado o Papel do Estado através da criação nas capitais de um número crescente de instituições vinculadas às novas atividades implantadas e em implantação na região. Trata-se de numerosos órgãos da administração direta, fundações e empresas estatais ligadas à gestão daquelas atividades. Focos da vida econômica, política e administrativa, as capitais constituem pontos de atração de empresas privadas não apenas diretamente vinculadas às atividades regionais, mas também aos serviços e comércio para a população urbana. Todas estas atividades implicam um ponderável mercado de trabalho que justifica, em parte, o crescimento demográfico concentrado...” (CORRÊA apud TRINDADE JR., 1998, p. 54). 34 A Amazônia legal foi garantida a partir de um decreto lei em 1953 na época era composta pelos Estados do Amazonas e Pará e parte dos Estados Mato Grosso, Goiás e Maranhão, além dos territórios federais do Acre, Amapá, Guaporé e Rio Branco. Em 1966, com a Lei 5.173/66, o Acre passa a ser estado. São acrescentados os territórios federais de Roraima e Rondônia. A nova Lei que altera a Amazônia Legal de 1977 incorpora todo o Estado do Mato Grosso. Em 1988, com a nova Constituição Federal extingue os territórios federais elevando a condição de estado Roraima e Rondônia e cria o estado do Tocantins. Portanto, a atual configuração da Amazônia legal é constituída de 09 estados, sendo que o estado do maranhão é considerado apenas uma parte deste estado ao nível do meridiano 44º. Existe outra classificação legal para a Amazônia que é a divisão oriental e ocidental. Assim faz parte da Amazônia ocidental os estados do Acre, Rondônia e Roraima. Já a Amazônia Oriental é composta pelos estados do Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará e Tocantins.

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74

Desde o final do século XIX, com os ciclos econômicos da Borracha, a Amazônia

teve uma grande projeção no seu processo de urbanização. Para se ter como parâmetro nota-se

na tabela 01 o processo evolutivo da densidade demográfica do Brasil, desde 1872 até o ano

de 2000 para se ter uma noção do que representou a urbanização brasileira e seus efeitos na

Região Norte, que representa mais de 80% da região Amazônica brasileira. Nessa tabela, se

constata que a Amazônia cresceu em densidade demográfica em uma escala de zero à 25,

apenas 3,35 pontos, enquanto o Brasil avançou na mesma tabela 19,92.

Gráfico 01 - Densidade Demográfica do Brasil e Região Norte

Fonte: Dados do Censo Demográfico de 1872 a 2000 (IBGE, 2010).

Constata-se no gráfico 01, sobre a densidade demográfica, que tanto no Brasil

quanto na região norte é a partir dos anos 50 que urbanização brasileira ganha força. Mas é

nas décadas de 70 a 90 que esta densidade ganha valores maiores comparada às demais

décadas do século XX. Castro (2008) demonstra que a taxa de urbanização da Amazônia nos

anos 40 era de 27% e a do Brasil 31% e se manteve com pouca variação até os anos 70

quando passa a crescer de maneira acelerada atingindo a marca nos anos 2000 de 81% de

pessoas vivendo nas cidades no Brasil. Na Região Norte, esses dados sobem para 69,87%. Em

que pese o posicionamento crítico de Veiga (2003) acerca da metodologia do IBGE para

definir as cidades urbanas e rurais no censo 2000 em que diz que o Brasil atingiu uma taxa de

urbanização de 81%.35 O Brasil se tornou mais urbano. A Região tem se caracterizado por um

35 José Eli da Veiga apresenta com riqueza de argumentos que a dinâmica do Censo utilizado em 2000 é datada do Estado Novo - Era Vargas, que nos dias atuais ainda está servindo de parâmetro para contagem da população. Ele afirma que sem dúvida alguma os dados apresentados não são fidedignos à realidade do Brasil. Ver mais em:

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75

formato em que a concentração urbana ocorre em espaço limitado com 66 % dos habitantes

ocupando 0,01 % do território amazônico (LE THORNEAU, 2005). O país torna-se urbano e

com ele a Amazônia que representa 61% do território nacional.

De acordo com o último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

estatística – IBGE, em 2010 nota-se foi possível identificar muito bem como chega na

primeira década do século XXI a distribuição da população da Amazônia Legal pelos estados

da região. Mesmo considerando que apenas parte do Maranhão, ao nível do meridiano 44º, é

legalmente reconhecido como integrante da Amazônia, é possível ter uma noção das áreas

mais populosas da região amazônica. Identifica-se que não foi alterada a posição dos estados

em relação a quantidade de população. O Pará é o primeiro do ranking com 7.443.904 hab.,

corresponde a 4% da população brasileira. O estado do Maranhão com 6.424.340 hab.,

representa 3,45% da população nacional. Já o estado do Amazonas é o 3º com 3.350.773. O

Amazonas é o estado que mais representa a reflexão sobre o forma de ocupação da Amazônia

em menor espaço como afirmou Le Thorneau (2003), apresenta um percentual de 1,80%. Em

seguida vem o estado do Matogrosso com 2.954.625 na 4ª posição, com 1,59% de

participação na população. Em ordem decrescente vem os Estados de Rondônia com

1.535.625 (0,82), Tocantins, 1.373.551, (073%), Acre, 707.125 (0,38%); Amapá

648.5530,34% e Roraima 425.398 (0,22%). Nesta relação, o crescimento populacional na

Amazônia se deu de maneira lenta, comparada a década anterior.

Tabela 02 - Dados da População na Amazônia Legal

TOTAIS População em 2010

% População em 2000

%

Brasil 185.712.713 100 % 169.799.170 100 %

Região Norte 15.484.929 8,33% 12.900.704 7,59%

Acre 707.125 0,38% 557.526 0,32%

Amapá 648.553 0,34% 477.032 0,28%

Amazonas 3.350.773 1,80% 2.812.557 1,65%

Maranhão 6.424.340 3,45% 5.651.475 3,32%

Mato Grosso 2.954.625 1,59% 2.504.353 1,47%

Pará 7.443.904 4% 6.192.307 3,64%

Rondônia 1.535.625 0,82% 1.379.787 0,81%

Roraima 425.398 0,22% 324.397 0,19%

Tocantins 1.373.551 0,73% 1.157.098 0,68%

Fonte: Dados do Censo Demográfico (IBGE, 2010).

VEIGA, José Eli da. Cidades Imaginárias: o Brasil é menos urbano do que se calcula. Campinas: Autores Associados, 2003.

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76

Para este estudo, que traça uma análise do lazer nas metrópoles Amazônicas:

Belém e Manaus, é considerado relevante identificar a população dos estados onde esses

municípios estão inseridos. Na representação da tabela 02 nota-se uma diferença substancial

dos índices de população, num período de 128 anos, que compreende o final do século XIX

até o início do terceiro milênio. Assim, a tabela apresenta os valores absolutos de população

do Brasil, da região Norte e dos estados do Amazonas e Pará, de acordo com os dados do

último Censo Demográfico Brasileiro do IBGE. Verifica-se que os valores absolutos

populacionais nos estados do Pará e Amazonas, sempre crescentes no período, a exemplo do

que já se constatou na tabela anterior.

Tabela 03 - População do Brasil, Região Norte e Estados do Amazonas e Pará

ANOS BRASIL NORTE AMAZONAS PARÁ

1940 41.236.315 1.462.420 438.008 944.644

1950 51.944.397 1.844.655 514.099 1.123.273

1960 70.070.457 2.561.782 708.459 1.529.293

1970 93.139.037 3.603.860 955.235 2.167.018

1980 119.061.470 5.890.633 1.430.314 3.411.235

1991 110.990.990 5.922.574 1.502.754 2.596.388

2000 137.775.550 9.002.962 2.812557 6.192307

201036 185.712.713 15.484.929 3.350.773 7.443.904

Fonte: Censos Demográficos de 1940 a 2000 (IBGE, 2010).37

Segundo Castro (2008), o estado desenvolvimentista é o principal ator do avanço

da fronteira na Amazônia. Em suas palavras, a autora nos diz que: o estado desenvolvimentista, na concepção Keynesiana, foi capaz de formular um projeto de intervenção do qual resultaria a abertura da fronteira no norte do Mato grosso, de Rondônia e no Sudeste do Pará, nos anos 70 e 80, seguia-se nas terras interiores de Goiás e do Maranhão, sobretudo com a passagem da rodovia Belém-Brasília, que abriu o mercado de terras e de recursos e incentivou a ida de fluxos crescentes de migrantes para regiões mais centrais dos estados de Goiás, Maranhão e Pará. [...] Assim além da ação determinante do estado, consideram-se relevantes os seguintes fatores: a materialização da fronteira com novas oportunidades de mercado e de trabalho; a transformação de espaço urbano com o crescimento das cidades existentes e o aparecimento de novas; o estímulo à migração de outras regiões com tensões sociais no campo; transferência para a fronteira amazônica dos problemas resultantes das contradições da relação capital trabalho vividas localmente, como desigualdades social, pobreza e exclusão da terra (ibdem, p. 21).

A metropolização da Amazônia que entre outras coisas foi provocada por uma

maior abertura das fronteiras ao capital internacional, gerou o aparecimento de um novo

modelo de povoamento. Assim, tal urbanização concentrada deve-se a progressiva 36 Disponível em: http://www.censo2010.ibge.gov.br/. Acesso em: 04 nov. 2010. 37 Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/series_estatisticas/exibedados.php>. Acesso em: 01 abr. 2010.

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industrialização, que constitui um novo processo de acumulação do capital na economia e na

sociedade brasileira e urbanização na região. Segundo Castro (2008), o estado

desenvolvimentista é o principal ator do avanço da fronteira na Amazônia.

Dessa forma, a Amazônia chega ao final século XX com um grau de importância

vital para o planeta, pois a exuberância ecológico-ambiental agrega interesses difusos na

globalização atual, ligados ao secular processo de exploração extrativista de suas riquezas

naturais e outras formas mais recentes de investigação-exploração, patrocinada pelo complexo

aparato técnico-científico que tem caracterizado essa fase da globalização.

Há que se considerar que este espaço amazônico é heterogêneo e diverso do ponto

de vista dos seus lugares, seus atores sociais, fauna, flora, culturas e agentes econômicos. Há

muito, tem se constituído de maneira historicamente determinada, como palco de um processo

invasivo de ocupação, se configurando como um espaço de saque do grande capital. Mas

também por interesses contraditórios que oscilam entre o uso indiscriminado da natureza e a

defesa socioambiental, gerando problemas sócio-espaciais danosos, como o crescimento

populacional desordenado, a aceleração do desmatamento, conflitos violentos pela terra e pelo

seu controle. Como exemplo o processo conflituoso de implantação Hidrelétrica de Belo

Monte, no Pará, tem trazido a cena política as determinações institucionais, desqualificam

pesquisas e pesquisadores e movimentos sociais contrários ao projeto38. A dinâmica

econômica da globalização tem se imposto o Projeto e a revelia das diversas etnias

indígenas39 e nos usos do território amazônico. Tal exemplo, assim como os ciclos de

exploração da borracha, do minério, os processos migratórios, a federalização de territórios, a

Belém Brasília, os Grandes projetos na Amazônia (Albras Alunorte/PA, Alumar/MA,

Complexo Trombetas/PA, Projeto Jari/PA-AP, Hidrelétrica de Tucuruí/PA, Zona Franca de

Manaus/AM etc), o controle militar e policial da Amazônia etc. Todas essas ações foram fruto

do Planejamento estratégico do Estado em diferentes momentos históricos. Portanto, o Estado

como instituição, é o principal ator no processo de desenvolvimento da Amazônia.

O resultado desses processos de intervenção estatal contribuiu sobremaneira para

o agravamento do desmatamento da floresta amazônica e para o desequilíbrio ambiental,

assim como contribuiu para o surgimento de cidades e povoados, ao passo que

38 O pesquisador do INPA, assim como vários outros atores sociais, têm denunciado esse processo. Ver Anais do III Encontro Latino Americano em Ciências Sociais e barragens, Belém-Brasil, 2010. 39 Serão atingidas as populações indígenas: Juruna, Xipaya, Kuruaya, Arara do Baixo, Xicrin, Kayapó (Kararaô), Assurini, Araweté, Parakanã e Arara. Além de povos ribeirinhos e populações urbanas ao longo do Rio Xingu. Ver mais em: VILLAS-BOAS, Paulo Celso. O que há por trás de Belo Monte? Disponível em: <http://expedicaovillasboas.com.br/>. Acesso em: 20 abr. 2010.

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contraditoriamente ajudou no desmantelamento de outras localidades, populações e culturas

na região.

Os dados encontrados nos estudos do INPE sobre o processo de desmatamento da

Amazônia revelaram que houve um crescimento de 15%, pois de 1998 e 1999 a taxa de

desmatamento apontava para 17, 3 mil km2, já os dados de 1999 a 2000 saltam para 19,8 mil

km2. (INPE, 2000). Os dados do IBAMA apontam para 19.250km (Castro, 2008).

Recentemente, o INPE registrou os dados de 2009 apontando que foram desmatados 7,4 mil

km2. O IMAZON, através do SAD (Sistema de Alerta de Desmatamento), que diferencia

desmatamento de degradação florestal40, apresenta dados diferenciados que totalizam 76 km2

de desmatamento na Amazônia Legal em 2010.

Gráfico 02 - Participação (%) dos Estados da Amazônia Legal Fonte: IMAZON/SAD (2010).

As diferentes formas de avaliar o grau de desmatamento pelas diferentes

instituições públicas e privadas apresentam um consenso que é o alto grau de desmatamento

na Amazônia e que tem como alvos principais os Estados do Pará e do Mato Grosso. Por

outro lado, os estados do Amapá, Amazonas, Acre e Tocantins apresentam os menores

índices. Dessa forma, se confirma os dados de Alves (2001) quando diz que o eixo do

desmatamento acontece nos estados posicionados mais nos eixos de articulação de sistemas

produtivos articulados ao Centro Oeste, Sul e Nordeste da Amazônia Legal e que se

interligam ao longo da Belém Brasília.

Outro aspecto relevante ao pensar a Amazônia e compreender que

desenvolvimento se tem na região se olharmos para atendimento aos direitos sociais básicos

da população. No campo da educação, o censo de 2000 registrou que na região Norte 15,6%

das crianças de 7 a 9 anos estavam fora da escola e na faixa etária de 10 a 14 anos a taxa é de

14%. Em 2007, a taxa de analfabetismo registrada pelo IBGE/ PNAD marcou um queda 11,1% 40 Para o IMAZON, a degradação florestal acontece toda vez que florestas sofrem um processo de destruição por fogo e ou a retirada intensa de sua madeira.

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do índice de analfabetismo das crianças na faixa etária de 7 a 9 anos na Região Norte41. Sendo

o Pará na Amazônia legal o que lidera o índice se analfabetismo, de acordo com o IBGE.42

Não se pode perder de vista que se tem ainda pouco acesso nestas partes do Brasil.

Uma delas é a pouca produção científica na região. Segundo os dados do INEP de 2005, sobre

o número de docentes no ensino superior na Região Norte os dados apresentados são os

menos na tabela por região dos 230, 784 docentes neste nível de ensino apenas 12.089, estão

na Região Norte, o que equivale ao percentual de 5,2% do total de docentes no país.

Na tabela 04 sobre a relação doutor/matrícula e taxa de escolarização bruta, por

estado – Brasil /20042005 abaixo, produzida pelo INEP, manteve-se apenas os estados do

sudeste que têm apresentado os melhores índices de desenvolvimento e de acesso ao ensino

superior, para perceber-se o contraste em relação aos estados que compõem a Amazônia

Legal.

Tabela 02 - Relação entre Doutores e matrículas de estudantes no Brasil, estados da Amazônia Legal e Região Sudeste

Doutores, matrículas de 2004, relação doutor/matrícula e taxa de escolarização bruta, por

estado - Brasil /20042005 Estados da Amazônia Legal: Estados do Sudeste:

Estado Doutores, PDr, LD Matrículas Relação

doutor/matrícula Taxa de escolarização Bruta

Brasil 52.376 4.164.202 1/80 17,8 AC 66 13.888 1/210 23,4 AM 384 72.918 1/190 21,1 AP 24 17.187 1/716 21,9 ES 678 80.231 1/118 17,7 MA 354 60.825 1/172 7,1 MG 5.373 420.925 1/78 17,0 MT 412 64.562 1/156 17,6 PA 740 75.667 1/102 10,5 RJ 7.077 444.700 1/63 24,4 RO 129 31.387 1/243 24,5 SP 16.073 1.109.700 1/69 21,4 TO 117 33.820 1/289 19,8

Fonte: Dados do Censo/2004. (INEP/MEC/Cadastro Nacional de Docentes 2005.1: INEP, 2010).

41 Ver em: <http://www.dieese.org.br/anu/anuario2007.pdf>. Acesso em: 06 jan. 2010. 42 Ver em Matéria online da Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal. Disponível em: <http://www.direitoshumanos.etc.br/>. Acesso em: 02 set. 2009.

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Os dados de saúde demonstram que na Região Norte o número de mulheres que

fazem pré-natal atinge apenas 29,1%, ou seja, realizam 7 ou mais consultas de pré-natal

(IBGE, 2009). O número de mortes de crianças até 1 ano de idade se apresentou da seguinte

forma em 2005:

Tabela 03 - Causas de óbitos em menores de 1 ano no Brasil e Região Norte (1996/2005)

Fonte: Ministério da Saúde/ Sistema de Informações sobre Mortalidade 1996-2005 (IBGE, 2009).

Na área da saúde, a pesquisa do IBGE (2009) revela que o percentual de mortes

por causas mal definidas, demonstram que houve diminuição nesse campo, nos dados

encontrados sobre a Região Norte. Passou de 33% em 1996, para 23% em 2005. As análises

dos dados demonstram que houve uma qualidade inclusive na informação das doenças, o que

reflete a melhoria das condições de saúde no Brasil (pesquisas, equipamentos de diagnósticos,

da formação dos profissionais na área de saúde) fruto também dos avanços tecnológicos da

atualidade. Por outro lado, tal ganho não influenciou na diminuição de óbitos neste período. A

esperança de vida ao nascer cresceu em todo o Brasil. No Norte do país, essa esperança saiu

de 40,7 em 1930 para 71,0 em 2005 sendo 68,2%, para homens e 74,0% para mulheres.

Quanto ao crescimento econômico os dados oficiais (IBGE, 2005) informaram

que a região tem avançado nos valores do seu Produto Interno Bruto - PIB, mas ainda

apresenta baixos índices na média nacional, onde o agronegócio e a pecuária, principalmente

no Pará e Mato Grosso, estados campeões do desmatamento, contribuem sobremaneira com

esses índices.

Com participação destacada do agronegócio, a atividade econômica na Amazônia Legal cresce em ritmo duas vezes mais acelerado do que a média nacional. Nos primeiros três anos do governo Lula, a região cresceu 22,4%, enquanto o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro acumulava crescimento de 10%, segundo cálculo feito pela Folha. Os dados oficiais mais recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para Estados e municípios são de 2005. Apesar do crescimento acelerado, a riqueza gerada na região contribuiu com menos de 8% no PIB nacional

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81

Embora a administração pública tenha participação importante na economia da região, as atividades agropecuárias pesaram, especialmente no crescimento de Mato Grosso e do Pará, os dois Estados que se mantêm no topo do ranking do desmatamento desde o início da década... De acordo com dados do PAS, a pecuária bovina já ocupa 70 milhões de hectares ou 13,5% da Amazônia [...] atividades agrícolas: 13 milhões de hectares, responsáveis por 22% da produção nacional de grãos. É importante lembrar que 33,5% do território da Amazônia Legal é de áreas protegidas, como terras indígenas e unidades de conservação, ou com destinação exclusiva para atividades militares. (SALOMON, 2008.)

É importante frisar que a Amazônia é território diverso e complexo que sofreu ao

longo de sua história, principalmente com o advento da industrialização, diferentes

intervenções, e que esses processos tiveram como principal ator o Estado enquanto

instituição. Tais processos, dentre outras conseqüências remeteu este território a um novo

modelo de ocupação da fronteira margeada por processos mais complexos: a metropolização.

Desse modo, os dados demonstrados neste item revelaram que o crescimento e

desenvolvimento da mata tiveram processos diferenciados. Neste sentido e importante

considerar o que nos diz Lefebvre (2008), acerca da ideologia recorrente sobre o crescimento

e o desenvolvimento na realidade francesa e que também pode-se pensar na mesma direção a

realidade amazônica. O crescimento econômico e o desenvolvimento não podem mais se confundir. Durante muito tempo identificou-se o crescimento em todas as direções – demográfico, econômico, tecnológico – com desenvolvimento social qualitativo. Ambos foram confundidos, considerando que o crescimento levaria ao desenvolvimento, que cedo ou tarde o quantitativo levaria ao qualitativo. Ora o qualitativo só conduz ao qualitativo depois de ser colocado em questão e em disponibilidade, após crise, quer dizer, ponto e limiar críticos! (ibdem, p. 151)

Os dados apresentados são demonstrativos parciais do tipo de desenvolvimento

imposto à Amazônia. Como espaço de acumulação do capital, foi alvo de ações institucionais

incentivadoras da implantação de grandes projetos de exploração dos recursos naturais, que

provocaram, dentre outros elementos, processos migratórios, desmatamento, urbanização

desordenada e o aparecimento rápido e numeroso de cidades e povoados na região. A ação

institucional, portanto tem se revelado ineficaz, no sentido de assegurar o desenvolvimento

regional. As estratégias governamentais para a Amazônia ainda não deram conta de

universalizar uma política para a fronteira que equilibre o crescimento racional e o

desenvolvimento social da região, isto é o uso do território amazônico que possibilite o freio

do “saque” histórico da Amazônia e transforme esse território produtor efetivo de benefícios

públicos capazes de transformar o espaço em uma “sociedade sustentável” (LEROY, 2010).

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82

3.2 Belém e Manaus, metrópoles da Amazônia: aproximações e contrastes Belém e Manaus, grandes metrópoles, receberam ao longo desses anos, pessoas de tantos lugares do Brasil, vindo de cidades ou de vilas, ou ainda do campo – mas num movimento contínuo de busca de outros lugares e de sentidos (CASTRO, 2008, p.25).

A professora Edna Castro nos fala cientificamente de maneira poética sobre uma

das facetas que margeiam a trajetória histórica das duas maiores cidades da Região Amazônia:

Belém e Manaus. Cidades que cresceram de maneira acelerada e foram se expandindo em

canais de relacionamentos, comerciais, culturais, sociais e políticos, consolidando uma série

de redes como outros subnúcleos urbanos, brasileiros por isso se constituíram como

Metrópoles43 na Amazônia. Suas histórias se confundem e se afastam em muitos momentos

históricos, porém compõem o mesmo território amazônico. Este item pretende refletir

algumas dessas semelhanças e diferenças que estão imbricadas em Belém no Pará e Manaus

no Amazonas e que de maneira geral acabam por influenciar nas relações que potencializam

e/ou dificultam o próprio desenvolvimento das políticas públicas na Região. Portanto se

abordará o processo de surgimento da cidade algumas das características que marcam Daca

cidade e por fim se refletira no pós-Constituição de 1988 e as potencialidades de

desenvolvimento urbano principalmente a partir do Estatuto da cidade e do Plano Diretor.

As primeiras ocupações europeias do território amazônico no século XVII

acontecem pelas margens do grande Rio Amazonas na segunda década do século, pela

facilidade do acesso a área. No processo de exploração do território se dá a ocupação das

margens do Alto Rio Negro na segunda metade do século assim surgem dois povoados na

região que vão se desenvolver de formas diferentes e com relações político-administrativas.

Ao longo do processo histórico do desenvolvimento brasileiro e, sobretudo no

processo de dominação capitalista na região amazônica. Cabanagem, a Belle Époque, são

alguns episódios históricos que demarcam campos de aproximações e rivalidades entre Belém

e Manaus (SILVA, 2004; WEINSTEIN, 1993; DAOU, 2004). De forma que, faz-se

necessário situar brevemente a história de cada uma dessas cidades. 43 Metrópole, segundo o IBGE (2007), se caracteriza pelo tamanho físico territorial e as consistentes redes de relacionamento entre outras cidades e a si próprias. Também se inclui nessa caracterização da metrópole a dimensão de extensão direta dessa rede. Neste sentido, tem-se três tipos que o IBGE define como subníveis de Metrópole: primeiro, a Grande Metrópole Nacional, que no Brasil é representado por São Paulo. O segundo nível é a Metrópole nacional, representada pelas cidades de Rio de Janeiro e Brasília. Essas cidades juntamente com São Paulo estão no 1º nível da gestão territorial, pois atraem os fluxos de todos os outros centros brasileiros. O terceiro nível é a Metrópole: composta pelas cidades de Manaus, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Curitiba, Goiânia e Porto Alegre. [...] com população variando de 1,7 (Manaus) a 5,1 milhões (Belo Horizonte), constituem o segundo nível da gestão territorial. Note-se que Manaus e Goiânia, embora estejam no terceiro nível da gestão territorial, têm porte e projeção nacional que lhes garantem a inclusão neste conjunto (IBGE, 2008).Ver mais em: IBGE. Regiões de Influência das Cidades, 2007. Rio de Janeiro: IBGE, 2008.

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3.2.1 Sobre Belém

Canoas, tripuladas por negros e índios, cruzavam as águas. Urubus voavam lá no alto, ou, então, indolentemente, caminhavam na praia. [...] A cidade do Pará conta cerca de 15.000 habitantes, e sua área, relativamente, não é muito grande. Contudo, é a maior cidade do maior rio do globo, o Amazonas, sendo a capital de uma província, cuja superfície iguala à de toda a Europa ocidental. É a residência de um presidente nomeado pelo imperador do Brasil, e também sede de um bispado, cuja diocese se estende duas mil milhas para o interior de um território, povoado por inúmeras tribos selvagens, ainda não convertidas ao cristianismo. A província do Pará está situada no extremo Norte do Brasil, e, conquanto já, pelas suas condições naturais, a parte mais rica do vasto império é, entretanto, a menos conhecida, e, presentemente, tem pouca importância comercial. As ruas e praças públicas são pitorescas, quer por causa das bonitas casas e igrejas que as contornam, quer por causa das elegantes palmeiras, que, juntamente com as bananeiras, se encontram por toda parte. Assim, elas mais parecem casas de campo do que mesmo vivendas de uma grande cidade (WALLACE, 2004, p.40).

Os escritos do naturalista, biólogo, o britânico Alfred Russel Wallace, inglês que

veio pesquisar a biodiversidade na região amazônica no período de 1849 a 1851, registram a

imagem de uma cidade, aos olhos do pesquisador, na primeira metade do século XIX. A

presença de índios e negros na formação da população, a cultura do transporte fluvial, os

urubus, a característica das edificações, a importância da cidade para a região, são algumas

das características singulares desses traços físicos, culturais, econômicos e humanos descritos

por ele até os dias atuais permanecem na cidade.

Ela surgiu no cenário brasileiro no século XVII e carrega em sua história e

paisagem, a marca do seu processo de colonização pelos portugueses. O naturalista descreveu

muito bem essas influências europeias na cidade. Quando descreve a estrutura das casas diz

que “as cores amarela e azul são geralmente empregadas na decoração das pilastras, portas e

janelas das casas e das igrejas, sendo estas construídas obedecendo a um adulterado e

pitoresco estilo italiano” (WALLACE, 2004, p.41). Nos estudos de Derenji (1998; 2001), ela

enfatiza a presença marcante da arquitetura italiana na construção tanto de Belém como de

Manaus no primeiro ciclo da borracha na Amazônia.

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Mapa 02- Região metropolitana de Belém

Fonte: Google Earth (2010)

Mapa 2 - Mapa da região metropolitana de Belém

Fonte: SEGEP. Baseado na Cartografia digital de 1998 da COSANPA44 – CODEM45 (Escala 1.250.000).

De acordo com os mapas da cidade, Belém compreende uma parte continental e

outra insular, com várias ilhas, sendo as mais conhecidas as ilhas de Mosqueiro, Caratateua

(contem a área do outeiro), Cotijuba e ilha do Cumbú. A cidade está localizada na Região

Norte do Brasil é tem como fronteiras o município de Ananindeua Benevides e Santa Barbara,

no lado leste. Ao norte a Baia do Marajo pela ilha de Mosqueiro. A Oeste, pela Baía de Santo

Antonio e Baía do Guajará, ao sul, ela é banhada pelo Rio Guamá. E possui uma região

metropolitana composta pelos municípios de Belém, Ananindeua, Marituba, Benevides, Santa

Bárbara e Santa Isabel. 44 Companhia de Saneamento do Estado do Pará 45 Companhia de Desenvolvimento da Área Metropolitana de Belém.

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O primeiro bairro da cidade, a Cidade Velha, assim como Nazaré, Campina, e

alguns outros recantos da cidade guardam ainda nas fachadas das casas, nas lojas comerciais,

prédios públicos, igrejas e praças a memória de uma Belém pensada a partir dos padrões

europeus de cidade, em diferentes tempos históricos de seu desenvolvimento. Belém do Pará é

uma das poucas cidades brasileiras que possui prédios em funcionamento que são patrimônios

históricos de vários momentos da história da arquitetura, como as igrejas do Carmo, de 1627,

a Mercês, datada de 1640, e o Teatro da Paz, de 1896, que desde sua inauguração no século

XIX trouxe grandes espetáculos internacionais (SALLES, 1994; DAOU, 2004), Quiosque do

Bar do Parque (Praça da república). Todos esses espaços continuam ativos até nossos dias e

refletem as diferentes tendências na arquitetura, está assinado pelos jesuítas, por Landi,

Francisco Bolonha e outros.

Outro olhar sobre a cidade de Belém nos séculos XVIII e XIX nos é revelado

pelos estudos de Marin e Castro (2004) sobre comunidades tradicionais no Pará, em que se

destacam as formas de organização do trabalho na cidade, que tinha como centro da economia

a agricultura. Tais formas se caracterizavam por: Plantações pequenas ou relativamente grandes de cana-de-açúcar, próximas das terras baixas, culturas de arroz em terra firme, roças de mandioca, algodão, feijão, milho, café e tabaco, além da extração de madeira e das denominadas drogas do sertão, dominaram a produção e as formas de trabalho no primeiro ciclo de agricultura organizado nas redondezas de Belém nos séculos XVIII e XIX. (MARIN; CASTRO, 1999, p. 29)

Belém abriga um conhecimento rico sobre a região amazônica. Essa riqueza deve-

se ao grande acervo material existente em espaços culturais, como o museu Emílio Goeldi, de

domínio federal e os museus: estadual e municipal. É possuidora de um gigantesco acervo

imaterial. A riqueza da cultura amazônica está refletida na cidade de Belém, nos hábitos e

costumes da população. Benchimol (2009) fala que a ocupação humana da Amazônia é fruto

de um complexo processo cultural que tem como características a

[...] multidiversidade de povos e nações e por uma etinodiversidade histórica e cultural que se manifestava, não tanto pelos seus caracteres raciais, mas por aspectos antropológicos e culturais ricos, típicos e diferenciados na linguagem, ritos, magias, usos costumes produtos ergológicos [..] (ibdem, p. 19).

Traços regionais que se revelam nas formas do tomar tacacá46 e açaí, na prática da

dança ao som do carimbó, que atravessa os modismos dos ritmos musicais, assim como a

cultura de ir ao Ver- o – Peso, a tradição de acompanhar a maior romaria do mundo: o Círio 46 Bebida típica da Região Amazônica. É feita de ingredientes retirados da mandioca: tucupi e goma de tapioca, folhas de jambú e camarão.

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de Nazaré ou mesmo de ir às praças, que para além da concepção de origem de um espaço de

contemplação elas comportam na atualidade variadas formas de lazer em Belém.

O lazer teve um grande estímulo em Belém do Pará na gestão do Intendente

Municipal Antonio Lemos. Sobre o ciclo econômico da borracha, Belém foi a pioneira no

Brasil a ter um projeto efetivo de desenvolvimento urbano, inspirado no planejamento urbano

de Paris do século XIX. Tal projeto foi praticado com a clara retirada da população

empobrecida, para as áreas mais distantes da cidade e uma forte repressão a muitas formas de

lazer dos trabalhadores de menor ou nenhum poder aquisitivo (SARGES, 2002; DAOU,

2007).

Tal plano fez surgir uma cidade adornada e com uma estrutura física quase

inalterada nos dias atuais. O plano de intervenção urbanística de Antonio Lemos foi capaz de

prever a expansão da cidade com a criação oficial dos bairros do Marco e da Pedreira, assim

como o surgimento de uma série de serviços públicos, como: água canalizada, energia

elétrica, alargamento das ruas e avenidas facilitando assim sua limpeza e circulação,

necrotério, forno crematório de lixo etc., que ajudaram na melhoria da qualidade de vida em

Belém.

Weisnten (1993) que estuda o primeiro ciclo da borracha estabelece relações

importantes entre Belém e Manaus. Ela diz que Belém possuía uma certa vantagem sobre

Manaus pelo fato de ser uma cidade bem mais antiga, que durante o período de expansão do

comércio da borracha já estava próxima de completar 300 anos de existência.

No auge da expansão, Belém era uma das mais notáveis cidades da America Latina. Depois do Rio de janeiro e de Santos, era o porto mais movimentado do Brasil, com uma população urbana que se aproximava rapidamente do quarto de milhão, em 1910. Possuía um sistema moderno de bondes elétricos, amplo serviço telefônico, água encanada e iluminação pública elétrica. As principais vias públicas eram bulevares uniformemente pavimentados, margeados de mangueiras, cujas frondes densas e graciosas protegiam os transeuntes do tórrido sol tropical. Diversas Praças públicas, grande e vistosamente ajardinadas, exibiam fontes, coretos e estátuas imponentes, e a Praça da Republica, localizada no centro da cidade, apresentava pomposos edifícios, tais como o Palácio do Governo e o Teatro da Paz. (ibdem, p. 219-220)

A cidade, no período da Borracha, foi sendo modificada. Onde o que se

privilegiou foram as ideias de higienização e liberdade de circulação de cidade agradável com

facilidade de circulação, conforto ambiental e com vocação para o lazer. A arborização com

mangueiras, por toda a cidade, sobretudo nas ruas praças e ambientes de imóveis públicos

trouxe as famílias para os passeios públicos. Com visão estética de alto padrão artístico,

arquitetônico, muitos prédios foram erguidos e ou melhorados como o Palácio Lauro Sodré e

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outros governamentais, residenciais do centro da cidade. È importante destacar que tal qual

Paris o Projeto de embelezamento da cidade projeto

Nesse período, a cidade também foi contemplada com espaços de lazer como

cinema, bosque, praças, teatro, o bonde elétrico, mercados foram erguidos. Esses

investimentos possibilitaram uma vida cultural mais intensa na cidade, com a presença de

grandes companhias de teatro, da música e da dança internacionais na agenda do Teatro da

Paz, assim como o incentivo pelo poder público municipal de manifestações culturais como

os cortejos carnavalescos na Praça da Republica onde quem desfilava era a classe de maior

poder aquisitivo.

Assim, surge uma cidade estruturada para as elites locais, nacionais e

internacionais que habitavam e/ou circulavam na cidade no período. Belém passou a ocupar

um lugar de destaque no cenário brasileiro tendo sido a pioneira em muitas iniciativas como a

energia elétrica, o bonde elétrico e o cinema, o processo de intervenção urbanística iniciado

por Antônio Lemos.

O processo histórico de surgimento da cidade em determinado tempo histórico tão

bem planejado, não se seguiu com expansão urbana que se deu de maneira acelerada fruto de

ocupação estimulado pelo estado na região Amazônica, gerando um grande desequilíbrio do

viver na cidade. Ao longo do século XX, Belém sofreu um processo intenso de urbanização

sem ter sido acompanhado de um planejamento adequado do espaço urbano, a exemplo de

várias cidades brasileiras e de países da America Latina (MARICATO, 2008) teve um

crescimento caracterizado pela expansão principalmente das periferias do que dos núcleos

centrais, portanto, as áreas periféricas cresceram em percentuais altíssimos, segundo dados do

IPEA de 1999, a metrópole de Belém foi a que mais teve um maior crescimento das áreas

periféricas, com 157,9%, comparando a belo Horizonte (20,9%), Salvador (18,1%) e São

Paulo (16,3%).

Em relação aos bairros centrais, Belém também se destaca com o “crescimento

negativo em contraposição ao gigantesco crescimento dos municípios periféricos”

(MARICATO, 2008, p.26). Seu crescimento não foi acompanhado de um plano urbanístico

capaz de equilibrar o ordenamento de vias públicas, domicílios e equipamentos públicos,

inclusive de lazer para a população.

Os estudos de Rodrigues (1996) demonstram que a cidade era ocupada por 96.560

habitantes, vinte anos depois esse índice passou para 236.402 habitantes. Esses valores foram

crescendo, sendo modificados de forma acelerada, e como conseqüência desse descontrole

populacional Belém atingiu na última década do século, a marca de 1.244.688 habitantes.

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Neste processo, o que se verifica é a degradação de áreas nas periferias da cidade, com grande

quantidade de assentamentos espontâneos, o fenômeno da verticalização tomando os bairros

centrais e subnúcleos, a insuficiência de serviços públicos como: transportes, coleta de lixo,

postos de saúde, áreas públicas de lazer etc.

As informações mais recentes sobre a cidade relevam o efeito danoso de uma

urbanização sem planejamento. Atualmente, os dados censitários do IBGE (2007)

demonstram que Belém já atingiu a marca de 1.408.847 habitantes. É possível identificar a

partir de outros indicadores os efeitos danosos desse crescimento populacional sem

planejamento ocasionando uma perda na qualidade de vida na cidade, de acordo com os dados

levantados pelo IMAZON (2007).

Tabela 04 - Alguns dados sobre Belém a partir do relatório do IMAZON (2007)

INDICADORES RESULTADOS RESULTADOS RESULTADOS RESULTADOS FONTES Diminuição da área de floresta (Km2)

1986 165,3

1994 140,3

2001 125,3

2006 128,8

(p.28)

Taxa anual de desmatamento (%)

Pequena diminuição

1986/1994 0,56

1995/2001 0,43

2002/2006 0,18

(p.31)

Diminuiu a área de floresta por pessoa (m2)

----------------- ------------------ 2001 96,5

2006 84,6

(p.31)

Aumentou o desmatamento nas UPAs

Parque Ambiental de Belém 34%

Cumbú 3%

Parque Ecológico do Mosqueiro 21%

Parque Ecológico de Belém 45%

(p. 32)

Ocupação Irregular das Praças

total de praças 207

não ocupada 163

ocupada 34

muito ocupada 10

(p. 42)

Nível de equipamentos e edificações nas praças

total de praças 207

Conservadas 108

depredadas 80

Não possui 19

(p. 43)

Presença de lixo nas praças

Total de praças 207

pouco 146

Muito 55

Excessivo 6

(p. 42)

Fonte: Da Autora a partir de dados do IMAZON (2007).

A tabela acima registra que houve uma considerável perda da área de floresta

urbana47 em Belém. Segundo os estudos feitos num período de vinte anos, a cidade de Belém

teve uma lesão de 36,5 Km2 de sua área de floresta. Embora tenha diminuído a taxa de

desmatamento na cidade, a perda de vegetação urbana continuou, e de acordo com o

47 Grey e Deneke (1992 apud IMAZON, 2007) conceituam como floresta urbana a vegetação presente nas vias públicas, casas, bosques, praças e áreas protegidas, com valor estático e de serviços ambientais relacionados.

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IMAZON (2007), a diminuição da área de floresta no período citado teve como pano de fundo

os desmatamentos ocorridos, principalmente nas regiões das ilhas e lugares na cidade

reservados para loteamentos urbanos. Esse quadro gerou uma queda na área de floresta por

cada habitante de 96,5m2 em 2001 para 84,6m2 em 2006. Embora tenha aumentado o número

de Áreas de Proteção Ambiental (APAs), o desmatamento também atingiu essas áreas de

proteção Ambiental.

O levantamento sobre as praças demonstram que a quantidade de praças existentes

não corresponde à necessidade ideal para qualidade de vida da população. As praças são

efetivamente equipamento específico de lazer48. Existem 207 praças em Belém e esse número

corresponde a 0,4m2 por habitante, relevando que além do número de praças ser insuficiente

em Belém. Dos 71 bairros, apenas 41 possuem praças; e os vinte sete que não possuem ficam

nas áreas periféricas da cidade. Vale ressaltar que outras possibilidades de equipamentos

específicos de lazer nem existem na maioria dos bairros periféricos, como: salas de cinema,

teatros, quadras poliesportivas, museus etc.

A cidade ainda sofre com desorganização, depredação e a cultura do lixo lançados

dos espaços públicos. As ocupações irregulares das praças é um exemplo da desorganização,

nas praças da periferia da cidade e no centro comercial é onde a situação é mais alarmante. A

depredação de praças e a ausência de equipamentos totalizam 99 espaços que estavam

abandonados pelo poder público.

Existem dados contrastantes em relação ao lixo. Embora tenha crescido o serviço

de coleta nos domicílios (de 94% em 2001 para 98% em 2006), houve uma queda brusca da

coleta seletiva de lixo em Belém. “(...) Em 2002 havia apenas 80 PEVs (Postos de Entrega

Voluntária) na cidade de Belém. Em 2006, esse número caiu para apenas 35” (IMAZON,

2007, p. 56). Deve-se considerar ainda que não basta coletar o lixo das ruas e domicílios a

cidade sofre também da ausência de uma política de educação ambiental que estimule a

população a preservar o bem público.

Identifica-se então uma apropriação desigual da cidade pelos habitantes. Essa

desigualdade está presente na imagem física da cidade onde os bairros centrais estão com uma

infra-estrutura urbana mais estruturada e os bairros da periferia da cidade necessitam de

muitos serviços públicos como: tratamento do esgoto e do lixo, água potável, escolas, postos

de saúde, transporte coletivo suficiente, espaços de lazer, ações culturais, postos de trabalho,

etc. Assim, o grau de atuação por parte do poder público acontece, com maior ênfase nas 48 MARCELLINO (2000, p. 32-33) conceitua equipamento específico de lazer os ambientes construídos especialmente para proporcionar lazer para a população como: a praça, um cinema, teatro, uma quadra esportiva etc e aponta a casa, a rua, o bar como equipamentos não específicos de lazer.

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90

áreas onde a população de alta renda reside e/ou trabalha. Belém tem imagens que refletem as

condições e contradições ambientais, econômicas políticas e sociais desiguais.

Nos estudos de Bahia et al. (2008) sobre os espaços e equipamentos de lazer em

Belém foram considerados como espaços e equipamentos de lazer: praças, museus, teatros,

cinema, parques, Mercados, fortes, igrejas, Bibliotecas, Memorial/Complexo Cultural

esportivo, Shopping de Belém. Foi demonstrado que o bairro da Marambaia apresenta um

maior número de praças (36) e no da Atalaia não apresenta praças. A tabela 07 reproduzida do

estudo sintetiza os dados encontrados.

Tabela 07 - Distribuição dos equipamentos de lazer em Belém do Pará

Fonte: BAHIA et al. (2008, p.71).

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Esses estudos demonstram que existe a concentração de equipamentos nos bairros

mais antigos e centrais em detrimento dos bairros mais novos e mais periféricos da cidade.

Essas conclusões sobre os espaços públicos de Lazer em Belém se aproximam dos resultados

dos estudos de França (2009, p. 125-126), quando afirma que a forma de como eles estão

distribuídos, utilizados e mantidos pelo poder público que tem como característica a

segregação simbólica, isto é, não são atrativas das populações mais carentes pelo fato de não

ofertarem programações que incentivem o interesse das mesmas; a falta de divulgação das

formas de acesso, ou mesmo o preço dos ingressos e serviços de alimentação e outras formas

de comércio são elevados para o padrão econômico das camadas mais populares.

Belém se caracteriza dentro de uma conexão global que se caracteriza pela

política de tornar atrativa a cidade pelo embelezamento de seus lugares, que acabam por

imprimir um custo empresarial para essa atratividade e embelezamento isso corrobora para

uma rede de relacionamento público-privada de gestão dos espaços de lazer na cidade. Assim

em Belém se confirma o conceito de mercolazer de que fala Mascarenhas (2005).

3.2.2 Sobre Manaus

O que dizer de uma cidade como Manaus, em que o processo de produção do espaço urbano é o ponto de vista socioambiental tão contrário a qualquer tipo de razão, gerando uma especialização que se concretizou no período da borracha e se repete com a implantação e a ampliação da zona Franca de Manaus? O espaço urbano aparece, em um período e em outro, como resultado de processos geradores de formas e funções modificadoras da cidade encravada no meio da selva, porém jamais significou o espaço transformado para todos (OLIVEIRA; SHOR in CASTRO, 2008, p.92).

A cidade de Manaus em 2010 completará 341 anos de fundação. No século XVI

esse território, já havia sido invadido pelos espanhóis, no final da primeira metade do século

em questão, mas ele sofreu seu processo de ocupação definitiva dos portugueses. Recebeu

inicialmente uma denominação ligada ao forte criado para defender o lugar intitulado “Forte

de São José da Barra do Rio Negro”. Também foi chamado de “Vila de Manaus”, “cidade de

Nossa Senhora da Conceição da Barra do Rio Negro”. Só a partir 1856 que passa a ser

“Cidade de Manaus”, a partir de 1856 em homenagem aos indígenas Manáos, que resistiram à

escravidão e ao mesmo tempo ajudaram a construir a cidade (MONTEIRO, 1971;

BENCHIMOL, 2009). Segundo Mesquita (2006) o nome do forte era “Fortaleza da Barra de

São José do Rio Negro e que a partir da fortaleza foi surgindo o povoado com a reunião de

Page 92: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

92

alguns indígenas como os “Barés, Banibás, Passés, Manáos, Aroaquis, Júris e de outras

tribos” (ibidem, p. 23).

A imagem física da cidade registrada em 1836 registrada pelo viajante Alcides

Orbigny demonstra que a cidade “Possuía casas de “aspecto europeu”, várias delas com dois

pavimentos e a igreja era uma “construção bem bonita”, com uma praça em frente e o forte ao

lado” (MESQUITA, 2006, p. 28). Manaus viveu, assim como Belém, a revolta indígena e

popular da Amazônia intitulada Cabanagem sendo um marco importante para articulação dos

diversos povoados em nome da cabanagem, em nome de um movimento de trabalhadores e

nativos que passaram a buscar estratégias de emancipação dessa região, em relação ao Grão-

Pará (SILVA, 2004; MESQUITA, 2006).

A um registro histórico do diário de bordo do pesquisador europeu Alfred Russel

Wallace, de 1849, quando esteve no Brasil pesquisando sobre as espécies de animais da

região amazônica, releva algumas características do espaço-ambiente de Manaus, na época,

Cidade da Barra-do-Rio-Negro (WALLACE, 2004). Mesmo considerando que é um olhar

sobre a região amazônica, sobre suas características físicas e sobre seu povo, a partir do ponto

de vista do colonizador, do europeu, que em muito já se foi estudado era uma visão de

superioridade em relação a outras culturas consideradas primitivas, mas neste trecho além de

revelar esse aspecto também descreve alguns traços marcantes da vida social, cultural e

econômica da cidade que posteriormente passou a denominar-se Manaus.

[...] A cidade da Barra-do-rio-Negro está situada na margem leste daquele rio, cerca de doze milhas acima de sua junção com o Amazonas. E está localizada em um terreno desigual repleto de ondulações, cerca de 30 pés acima do nível das mais altas cheias, e é cortada por dois córregos, cujas águas, na estação chuvosa, atingem a considerável altura, havendo, porém, sobre eles duas pontes de madeira. As suas ruas são regularmente traçadas; não têm, no entanto, nenhum calçamento, sendo muito onduladas e cheias de buracos, o que torna as caminhada sobre os seus leitos muito desagradável, principalmente à noite. As casas geralmente só têm um pavimento; são cobertas de telha vermelha e assoalhadas com tijolos, têm as paredes pintadas de branco ou de amarelo; e as portas e janelas pintadas de verde. Quando o sol bate sobre elas, o efeito é muito bonito. [...] A população da cidade é de 5.000 a 6.000 habitantes, dos quais a maior parte é constituída de índios e mestiços. Na verdade, provavelmente, não há ali uma única pessoa, nascida no lugar, da qual se diga de puro sangue europeu, tanto e tão completamente se têm os portugueses amalgamado com os índios. O comércio local consiste em principalmente na exportação de castanhas, salsaparrilha e peixe, e as importações são tecidos europeus, de inferior qualidade, cutelaria ordinária, colares espelhos e outras bugigangas mais, para o comercio com as tribos indígenas, das quais a cidade é o quartel-mestre. [...] Os habitantes mais civilizados de Barra dedicam-se todos ao comercio, não havendo ali qualquer outra diversão, se assim podemos considerar, que não seja a de beber e jogar em pequena escala [..] ( ibidem, p.214-215).

Page 93: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

93

No processo de crescimento e desenvolvimento da cidade de Manaus, foram

divididas com Belém as “dores e delícias” da Belle Époque. A era gomífera trouxe no final do

século XIX e na primeira década do século XX um espantoso progresso à cidade de Manaus

(MESQUITA, 2006; NASCIMENTO; TORRES, 2009), pois a população internacional passa

a circular mais por essa região do que na capital do Brasil. No início do século XX a

população de Manaus estava em torno de 20 mil habitantes.

A exemplo de Belém, Manaus recebeu uma nova configuração espacial, dentro da

política de embelezamento urbano (DAOU, 2007; WEINSTEIN, 1993; COUTO, 2008) já

obras de infraestrutura urbana, e equipamentos públicos, e serviços públicos importantes

como: porto com capacidade para grandes navios de carga, sistema viário de bondes elétricos,

água encanada, serviços de energia elétrica e de telefonia. A cidade de Manaus foi a primeira

cidade brasileira a possuir uma universidade federal que, em 2009, completou 100 anos de

existência, sendo este mais um investimento da era gomífera. Weinstein (1993) chama

atenção que Manaus se tornou conhecida no cenário nacional como a cidade da borracha, pelo

fato da mesma ter sido erguida com arquiteturas de traçado europeu exatamente com os

recursos provenientes do Ciclo da Borracha. Diferentemente de Belém que já existia há

aproximadamente 300 anos.

Outros investimentos significativos são as formas de lazer potencializadas neste

período como construção de praças, bibliotecas e o centenário Teatro Amazonas. Vale

ressaltar que uma rede se serviços privados são incentivados pelo poder público e como

cassinos, bancos, hotéis etc. impulsionando o fluxo do sistema econômico que surge no em

volta da economia da borracha que esteve dois momentos de florescimento na passagem do

século XIX para o século XX e na época de 2ª guerra. Mesquita ao destacar as praças na

administração da cidade destaca que o Plano de embelezamento de Manaus do Intendente

Eduardo Ribeiro no final do século XIX e incluía a preocupação com as praças, inclusive

estava previsto a criação de novas praças, mas a pesquisadora registra que os melhoramentos

nos espaços como calçamentos, arborização, jardins, serviços exigidos pelas leis de higiene e

aúde pública foram conclusão depois de 1900 a grande maioria dos espaços, amenizando o

forte calor da região,

[...] ao mesmo tempo em que criava uma opção de lazer, uma vez que as praças se tornavam espaços mais humanos, e amistosas às relações sociais; as famílias podiam passear, as crianças brincar, enquanto os jovens “flertavam, ainda que ás escondidas. O passeio à praça era um passeio concorrido, principalmente nos dias em que as bandas de música apresentavam-se nos coretos. (MESQUITA, 2006, p.274) .

Page 94: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

94

A cidade foi sofrendo uma série de modificações que aos poucos também foram

alterando os espaços de lazer que a cidade possuía. Desapareceram os balneários e práticas de

lazer como os Balneário Parque 10 (foto abaixo), Tarumã, Ponta da Bolívia, o Velódromo de

Deodoro D’Alcântara Freire (privado), as competições de regatas no igarapé dos educandos,

Campos de futebol de várzea etc (MOTA, 2008, p. 71-73).

Fotografia 01 - Balneário Parque 10 Fonte: Moacir Andrade (apud MOTA, 2008, p. 69).

As políticas que se sucederam de crescimento da área urbana de Manaus passou

principalmente pelos aterramentos de rios, igarapés e a extinção de espaços de lazer em favor

de espaços de comércio e moradia. As praças passam a ter seus espaços físicos reduzidos com

o crescimento urbano, pautado por planejamentos urbanos inadequados, a maioria da

população, principalmente nos anos 1970. Segundo Mesquita (2008),

executaram mudanças radicais na fisionomia urbanística da cidade e as reformas urbanas promovidas pelo prefeito Jorge Teixeira arrasaram alguns espaços, reduzindo sensivelmente as áreas das praças da cidade, descaracterizando algumas e reduzindo ou eliminando outras, sem deixar nenhum vestígio; algumas, talvez, tivessem de ser redimensionadas em função das novas necessidades de circulação, mas questiona-se a validade destas medidas, que algumas vezes transformaram praças em estacionamento, feira e outros usos, sacrificando a animação urbana em função de uma programação mecanicista de uso de espaços tradicionais, ignorando sua história social (ibidem, p. 275).

A questão econômica na cidade de Manaus teve seu momento de florescimento

que se viu grande crescimento econômico, durante os ciclos da borracha. O primeiro

compreendeu as duas últimas décadas do século XIX até meados de 1912 e o segundo ciclo

envolveu o período da segunda guerra mundial. Com o final desses momentos, Manaus assim

como Belém amargou décadas de decadência econômica.

A criação efetiva da Zona Franca de Manaus em 1964, que foi a primeira

experiência brasileira nesse campo mercadológico global de Maneira intensa no século XX,

Page 95: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

95

começa efetivamente um novo processo de facilitação pelo governo brasileiro para a

instalação de empresas na região Amazônica. Esse processo trouxe uma acelerada

urbanização para a cidade, trazendo consigo uma expansão urbana e um fluxo migratório sem

planejamento, trazendo para a cidade os mesmos problemas urbanos de outras capitais

brasileiras, onde o aparecimento de assentamentos espontâneos cresceu, vertiginosamente e a

ausência de políticas públicas de saneamento, educação, saúde, emprego e renda, transporte e

lazer, foram o padrão dessa urbanização.

Por outro lado, o surgimento do Pólo Industrial trouxe um crescimento econômico

para a região Amazônica capaz de elevar o PIB da cidade para as primeiras posições no

ranking nacional nos últimos anos. Alguns estudos demonstram o quanto a industrialização de

Manaus revela o processo de reestruturação produtiva, onde a alta tecnologia exigiu mão de

obra qualificada e ao mesmo tempo reduziu a oferta de postos de trabalho em Manaus, e, a

uma maior exigência técnica dos trabalhadores que conseguiram se manter no mercado de

trabalho, revelando assim uma face perversa da rápida industrialização da cidade

(OLIVEIRA, 2007).

Atualmente, as políticas de desenvolvimento da cidade apontam para um retorno a

preocupação com o embelezamento, mas com o diferencial da questão ambiental fruto de todo

um processo global sobre a região Amazônica. Dentro deste contexto as novas determinações

neste milênio definiram a criação de regiões metropolitanas nos estados Brasileiros, Manaus

criou a sua região pela sua localização no centro da Amazônia legal, na foz de um dos

afluentes do rio Amazonas: o Rio Negro, a cidade é circundada ao norte pelo município de

Presidente Figueiredo. Já ao Sul ela faz fronteira com os municípios de Iranduba e Careiro da

Várzea, na área leste do estado ela se encontra com o os municípios de Rio Preto da Eva e

Itacoatiara. Para o lado Oeste ela tem como limite o município de Novo Airão. Todas essas

cidades passaram a integrar a região Metropolitana de Manaus a partir de 2007.49

49 Criada pela Lei Complementar n° 52, de 30 de maio de 2007.

Page 96: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

96

Mapa 03 - Mapa da região metropolitana de Manaus

Fonte: srmm.googlecode.com

A trajetória histórica da produção capitalista na Amazônia, a partir das últimas

décadas do século XIX até 2000 trouxeram, entre outras coisas, para Belém e Manaus uma

dinâmica populacional surpreendente. A tabela 08 demonstra os dados do IBGE sobre o

processo de crescimento populacional no Brasil desde o ano de 1872 até o ano 2000. Os

índices revelam bem o que significou os diferentes momentos históricos a dinâmica

populacional em Belém e Manaus.

Tabela 08 - Dinâmica populacional de Belém e Manaus de 1872 a 2000

ANOS BELÉM MANAUS 1872 61.997 29.334 1890 50.064 38.720 1920 96.560 50.300 1930 236.402 75.704 1940 206.331 106.399 1950 254.949 139.620 1960 399.222 173.703 1970 633.374 311.622 1980 934.330 634.759 1991 1.244.689 1.011.501 2000 1.280.614 1.405.835 2008 1.424.124 1.709.01 2009 1.437.600* 1.738.641* 2010 1.392.031 1.802.525

Fonte: Censos Demográficos de 1792 a 2009 (IBGE, 2010). * Estimativa para 2009.

Nos dados apresentados é curioso notar que os números de população vão se

modificando em grande medida nos períodos relacionados aos ciclos econômicos da Borracha

Page 97: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

97

e corresponde ao período áureo da borracha e momento de grandes mudanças na paisagem

urbana dessas cidades. Nota-se o crescimento populacional nesse período tanto em Belém,

quanto em Manaus, mesmo considerando as diferenças significativas em números de

população entre as duas cidades, onde Belém absorveu mais habitante que Manaus. Fato este

que vai se estender até a última década do século XX. A partir do censo de 2000, Manaus vai

ultrapassar em disparada Belém, em quantitativo populacional.

A cidade de Manaus, de fato, vem há já algum tempo mostrando tendências de concentrar a população do Estado: sua participação relativa sobre o total da população amazonense passou de 32,7%, em 1970, para 44,3%, em 1980, e atingiu a já quase a metade (48,0%), em 1991. O oposto observa-se com relação ao município de Belém, cuja população urbana, no cômputo da população total do Pará, declinou de 29,2%, em 1970, para 26,9%, em 1980, e para 24,0%, em 1991(MOURA,1996, p.11).

Os estudos de Brito (2006) sobre população nas capitais onde Belém também foi

analisada, o período de 70 a 2000 vão ao encontro do que foi demonstrado por Moura (1996),

pois houve de fato um declínio de população na maioria das capitais brasileiras e o

crescimento das periferias metropolitanas. Os dados registram que na década de 1990, foram

responsáveis por somente 38% do crescimento populacional total dos aglomerados

metropolitanos, ao contrário de duas décadas anteriores, quando sua participação alcançou

quase 60% (Brito, 2006). Manaus não aparece neste estudo, pois ainda neste momento Belém

possui maior expressão populacional, na região. Trindade Jr. (2009) também destaca que na

Amazônia houve um crescimento significativo das cidades médias pela importância que essas

assumem na rede urbana: “pelo mercado regional, que oferece uma menor distância para o

consumidor; e outro, pelas redes de relações com espaços urbanos de maior ou igual

relevância” (ibdem, p. 337).

O que se observa que a Zona Franca de Manaus movimentou de maneira tal a

economia da cidade, que atraiu grandes fluxos migratórios e potencializou de forma acelerada

o crescimento e desenvolvimento da Cidade de Manaus, inclusive com uma maior

concentração de população do que nas outras cidades da região metropolitana. Já em Belém a

industrialização não se caracterizou, como a maioria das capitais brasileiras, na mola

propulsora da metropolização, tendo como característica principal o setor terciário que

absorve baixos índices de trabalhadores.

As duas cidades possuem muitas características iguais e diferentes em diversos

aspectos, como podemos comparar no quadro abaixo, em que sintetiza a realidade em que a

cidade se encontra, do ponto de vista de sua localização, características geográficas,

Page 98: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

98

indicadores econômicos e de qualidade de vida. As tabelas 09 e 10 demonstram o quanto

essas duas cidades e regiões metropolitanas, respectivamente possuem diferenças acumuladas.

Tabela 09 - Metrópoles Amazônicas: localização, características geográficas e indicadores Nº CARACTERÍSTICAS BELÉM MANAUS 01 Fundação 16 de janeiro de 1616 24 de outubro de 1669 02 Localização na Amazônia Oriental Ocidental 03 Localização no Brasil/ Região Norte Região Norte 04 Localização/ Estado Pará – Capital Amazonas – Capital 05 Densidade 142,44 hab/km² 149,9 hab./km² 06 Área 1.065 km² 11.401,058 km² 07 População 1.392.031 ( IBGE 2010) 1.802.525 (IBGE, 2010) 08 PIB R$11.277.415mil

(IBGE, 2005) R$27.214.213 mil (IBGE, 2005)

09 PIB per capta R$8.022,00 (IBGE, 2005) R$ 16.547,00 IBGE/2005 10 IDH 0,806 elevado

(PNUD, 2000) 0.774 médio (PNUD, 2000)

11 Componente de Região Metropolitana

05 – Belém Ananindeua, Marituba, Benevides, Santa Barbara

08 – Manaus, Presidente Figueiredo, Careiro, Iranduba, Rio Preto da Eva, Itacoatiara, Novo Airão e Manacapuru

Fonte: Elaborado pela autora a partir de fontes do IBGE; PNDU. Tabela 5 - Região metropolitana de Belém e Manaus: dados de área população, PIB e IDH (2000) RM MANAUS RM BELÉM

Municípios Área Pop. PIB IDM Municípios Área Pop. PIB IDM

Manaus 11.401 1.738.641

34.403.671

0,778 médio

Ananindeua 185,057 505.512 2.813.055.000

0,782 médio

Presidente Figueiredo

24.781 26.282 317.023 0,741 médio

Belém 1.065 1.437.600

13.797.141.000

0,806 elevado

Careiro da Varzea

2.631 24.704

104.726 0,658 médio

Benevides 187,86 46.611 487.256.000

0,711 médio

Iranduba 2.215 33.884 152.476 0,694 médio

Santa Bárbara

278.15 14.439 53.590 0,686 médio

Rio Preto da Eva

5.813 26.847 134.561 0,677 médio

Santa Isabel 717,615 55.570 173.200 0,721 médio

Itacoatiara 8.600 90.440 610.608 0,711 médio

TOTAL 2.536,888

2.161.191

17.728.429.000

0,741

Novo Airão 7.329 15.915 56.665 0,656 médio

Manacapuru 88.472 378.165 0,663 médio

TOTAL 101.474 2.042.185

36.157.895

0,623

Fonte: PNUD; SEPLAM-AM; IBGE, 2000

Page 99: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

99

Belém e Manaus chegam ao terceiro milênio apresentando um relativo

desenvolvimento. De acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano50 do ano de 1991

essas metrópoles amazônicas estavam classificadas como cidades de IDH médio, com Belém

apresentando uma visível elevação em relação a Manaus. Suas taxas eram de 0,767 e 0,745

respectivamente. Nos dados apresentados pelo PNDU em 2000, Manaus está no ranking geral

das cidades brasileiras na posição 1212, apresentando um IDH médio, com taxa de 0,774

médio, já Belém atingiu a marca de IDH elevado, com a taxa de 0,806 ocupando a posição

452. Nota-se que esses dados não revelam no cotidiano dessas cidades, não deixam claras as

desigualdades sociais, que as marcam negativamente no cenário Brasileiro.

3.2.3 Rivalidades entre as duas cidades

Até o final do século 18, o lugar da Barra não passava de um obscuro povoado da Capitania de são José do rio Negro, cuja capital funcionava, desde 1758, na vila de Barcelos, contudo, em 1791, o governador Manoel lobo D’Almada, sem autorização do governador do Grão Pará, ao qual estava subordinado, transferiu a sede do governo para o Lugar da Barra, o que gerou um repentino progresso na região. D’Almada construiu prédios para os serviços públicos e fez funcionar vários “estabelecimentos industriais – de pano de algodão, de fécula de anil, de cordoalha” Estas melhorias teriam provocado o despeito do governador do Grão Pará. D. Francisco Coutinho, o qual temeroso de perder o cargo para D’Almada, criou-lhe uma série de embaraços que culminaram com a ordem feita através da carta régia de 1798, determinando “transladar” a capital para Barcelos (REIS apud MESQUITA, 2006, p. 25)

Belém e Manaus acumulam trajetórias de rivalidades também fruto de uma

histórica relação de dependência pelo fato de Belém ter sido a primeira cidade a surgir na

Amazônia, tendo mais de meio século de vida que Manaus e pela sua localização facilitada

possibilitando melhor acesso às outras regiões do país, assim como ao exterior. Desde sua

fundação em 1669, Manaus só se tornou oficialmente independente de Belém com a criação

da Província do Amazonas em 1856, mas as relações econômicas continuavam em dimensões

dependentes das estruturas existentes na capital paraense. Assim, o Ciclo da Borracha assinou

a vontade de independência econômica dos amazonenses em relação ao Pará, mas por toda era

gomífera, com todas as iniciativas do governo do Amazonas em estabelecer rotas comerciais

econômicas independentes dos portos e de toda a infraestrutura de Belém o Pará continuou a

50 O Índice de Desenvolvimento Humano foi idealizado por Mahbub ul Haqe e contou com a participação de seu Amartya Sen, Prêmio Nobel de Economia/1998. Segundo o site oficial do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD, o IDH foi criado como um contraponto às analises sobre o desenvolvimento que tinham como matriz básica o PIB.

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100

ser o principal pólo exportador da borracha e com isso arrecadando mais recursos que Manaus

que era o principal explorador de matéria prima.

Em busca de um permanente crescimento e desenvolvimento Manaus surgiu se

construiu com o Ciclo da Borracha de acordo com Enquanto que Belém já tinha seus grandes

monumentos e já possuía prédios monumentais com mais de 250 anos de existência

(WEINSTEIN, 1993). As duas cidades jamais conseguiram implementar um plano de

desenvolvimento conjunto para enfrentar a adversidades principalmente nas relações Norte –

Sul apesar de sofrerem as mesmas dificuldades político,culturais e econômicas.

Nota-se que na atualidade as rivalidades permanecem e são estimuladas pelo

Brasil. Apesar de precisar de estudos mais aprofundados mais foi notório o clima de

rivalidade estabelecido pela própria mídia brasileira no episódio de definição das cidades

sedes para a copa 2014. O esporte então vem potencializar o acirramento da rivalidade na

região, o qual ainda assistiremos seus desdobramentos. O que se poder ter clareza é que o

montante de recursos que o município de Manaus está recebendo da união e do Estado assim

como pelos patrocinadores do evento, já coloca Manaus em local de destaque como a sede

oficial do Lazer na Amazônia e pela quantidade de estruturas que serão construídas como

estádio de futebol, hotéis, redes de restaurantes e toda a infraestrutura qualificada de aeroporto

e vias públicas dará outro patamar de desenvolvimento à cidade que ao longo deste milênio só

tem crescido economicamente em um estado ainda tão pobre como também é o caso de

Belém.

3.2 O lazer no planejamento urbano na Amazônia

Os trabalhos acadêmicos sobre o lazer na Amazônia são muito raros e muito

recentes. As poucas pesquisas que refletem a região são na verdade voltadas para algum

município especificamente, mas em toda a literatura pesquisada sobre o tema não se localizou

trabalhos que buscassem refletir sobre o Lazer no Planejamento da Amazônia. Localiza-se

muito mais estudos sobre as regiões sul e sudeste neste campo de atuação. Na pouca produção

sobre o tema localizamos trabalhos sobre lazer turístico em Belém: Políticas Públicas de

Lazer em Belém (CORRÊA FILHO; SUGAI, 2005; FIGUEREDO, 2008; PAIVA, 2009),

Espaços públicos de lazer em Manaus (MOTA, 2008) que tratam do esporte e meio Ambiente

em estudos que têm incidido muito mais com foco em algum município dos estados que

compõem a Região Amazônica.

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101

Como o lazer tem sido tratado no planejamento urbano da Amazônia? Este item

tem como finalidade refletir sobre a ideia de lazer no planejamento das cidades da Amazônia.

Traça um panorama, a partir de dados oficiais, da oferta de serviços públicos de lazer tem sido

experimentado no território Amazônico centrando nos estados do Amazonas e Pará, as

cidades de Belém e Manaus para se pensar como ao longo do século XX o aparato estatal e a

própria sociedade amazônica se relacionou com este benefício público.

Na Amazônia a ideia de lazer como componente do planejamento, do espaço do

viver sempre esteve presente, mesmo quando estas terras não eram habitadas por europeus.

Basta se observar como muitas populações indígenas na região que ainda mantém suas

práticas culturais tradicionais, conservam um desenho territorial determinado pela forma

como posicionam as casas (ocas). Tal desenho revela a forma de organização das sociedades

indígenas que têm como características a convivência equilibrada nas relações entre o

trabalho e o lazer. Assim o espaço aberto entre as moradias é espaço privilegiado do encontro

das relações de educação, trabalho e lazer.

O processo de dominação europeia da Amazônia trouxe a marca de uma ocupação

a partir de um planejamento urbano inspirado em cidades da Europa e logicamente não

considerou as formas tradicionais da população nativa, acompanhando a tendência do que já

vinha acontecendo nas primeiras cidades do Brasil como Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro,

Recife etc. Caldeira (2007) em seu estudo sobre a formação das cidades defende que as

cidades jesuíticas desestruturam as formações espaciais indígenas quando colocavam no

centro da praça os símbolos da religião católica como o cruzeiro e a própria igreja, no entanto,

eles mantinham a centralidade que característica das ocupações indígenas. Basta se verificar

as primeiras edificações nessas cidades mais antigas do Brasil, vai se localizar num espaço

urbano, diversas edificações que de maneira geral compõem um padrão urbanístico

recorrente: em geral todas as edificações vão se localizar em espaços muito próximos pela

própria realidade do número de habitantes nesses momentos históricos.

As praças são elementos urbanísticos fundamentais nas cidades para a vivência do

lazer. Segundo Caldeira (2007), em seu estudo para compreender as praças a partir da

formação das cidades, na antiguidade grecoromana, a praça era o espaço urbano mais importante, o que também vai acontecer nas praças das primeiras cidades coloniais brasileiras. Nela se encontram todos os edifícios administrativos e cívicos: a casa da redenção, câmara, cadeia, praça do pelourinho. É ela o centro irradiador da cidade”. Os estudos se remetem à organização espacial indígena que serve de contraponto para mostrar a ruptura com a estrutura que existia no Brasil com a chegada dos portugueses. As cidades jesuítas também desmontam a organização espacial indígena, colocando no centro da praça o cruzeiro e a igreja. (ibidem)

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102

Nota-se que as praças no Brasil obedeceram a lógica de formação das cidades da

Europa. Onde a praça era o centro desencadeador da vida econômica política e cultural das

cidades (CALDEIRA, 2007). Essas cidades arrumadas, com prédios monumentais não foram

construídas para povos colonizados, pois esses não foram concebidos como parte da cidade e

por isso são expulsos e vão ocupar espaços do território onde possam viver livres das

obrigações de impostos e taxas, cedendo lugar para as edificações da nova civilização. Esse

formato de ocupação e formação das cidades no território brasileiro se deu, a partir dos

interesses de poucos, sem considerar a maioria da população. Se configurando como

planejamento autoritário elaborado por um poder central.

Foi assim o processo de ocupação da Amazônia, quando surgem aqui as primeiras

edificações, ainda no século XVII. Especialmente em Belém que é o melhor exemplo de

formação de cidade na Amazônia com características descritas. Pois, era o centro

Administrativo da Amazônia, no período Colonial e parte do imperial, tendo, portanto,

contraído mais recursos e investimentos, o que já caracterizava seu núcleo urbano bem mais

desenvolvido que a cidade de Manaus no Amazonas, que ainda era estruturada com casas de

simples arquitetura e pouco tinha modificado sua paisagem (SILVA, 2008; WEINSTEIN,

1993; OLIVEIRA, 2003, 2006; OLIVEIRA; SHOR, 2008; CASTRO, 2008). A era da

Borracha é que faz essas cidades tornarem-se mais adornadas à custa da expulsão dos

trabalhadores para as áreas mais periféricas da cidade.

Na construção do projeto urbanístico, apareceu o papel do Estado como o de produtor do espaço urbano, não na perspectiva da mediação, mas na defesa dos interesses que se interpunham claramente contrários aos das populações locais. No urbanismo que se produziu no período da borracha, o Estado fixou sua racionalidade, explodiu as dimensões pretéritas, quer fossem naturais ou sociais (OLIVEIRA, 2003, p. 48).

Desta maneira, se confirma no planejamento urbano o que os institucionalistas

históricos postulam nos estudos sobre instituições, quando dizem que “as “políticas herdadas”

existentes estruturam as decisões ulteriores”51 (PETER; HAL, 2003, p. 201). Assim, o espaço

urbano da Amazônia, onde os espaços para o lazer foram uma marca que nos tempos atuais

ainda estão conservadas. Os exemplos mais representativos do período são os Teatros da Paz,

em Belém e o Amazonas, em Manaus. O plano de desenvolvimento urbano possibilitou novas

formas de relações culturais nas cidades amazônicas, pois tal plano projetou ainda a abertura

das ruas de 40 e 30 metros de largura e ganharam calçamento em piso de granito e

possibilitando a circulação; nas ruas receberam a instalação de bondes elétricos, telefone, luz

51 Trecho de matéria do Jornal O Pará de 01 de agosto de 1900.

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103

elétrica e automóveis, assim como hotéis, parques ecológicos, forma esses equipamentos e

aparelhos que possibilitaram novas formas de convivência social na sociedade amazônica.

Dessa forma, nota-se que com advento da industrialização ainda no século XIX

que e sob a dinâmica da exploração da borracha a Amazônia teve um plano de

desenvolvimento na região que possibilitou entre outras coisas o embelezamento nos padrões

europeus das maiores cidades da Amazônia, como uma marca de transformar essa região em

verdadeira cópia dos grandes centros urbanos europeus, portanto seria uma espaço para as

elites dominantes. A frase celebre do Intendente Municipal Eduardo Ribeiro de Manaus na

Belle Époque marca bem esse olhar de um estadista convicto do acerto com o que foi possível

produzir um novo espaço verdadeiramente urbano, em detrimento da expulsão da maioria da

população para áreas mais periféricas da cidades. Ele diz que havia encontrado uma aldeia e a

transformou em uma cidade moderna (BATISTA, 2009).

O que ocorre na Amazônia é a tentativa de criar neste espaço uma “civilização”

urbana, semelhante ao ocorrido em Paris e em outras capitais do Brasil, com o advento da

industrialização. Sendo assim, confirma-se o que revela a leitura de Lefebvre (2008) sobre o

urbano quando o diferencia da cidade:

o urbano de distingue da cidade precisamente porque ele aparece e se manifesta no curso da explosão da cidade, mas ele permite reconsiderar e mesmo compreender certos aspectos dela que passaram despercebidos durante muito tempo: a centralidade, o espaço como lugar de encontro, a monumentalidade etc. O urbano, isto é, a sociedade urbana, ainda não existe e, contudo, existe virtualmente; através das contradições entre o habitat, as segregações e a centralidade urbana que é essencial à prática social, manifesta-se uma contradição plena de sentido. (ibdem, p.84)

Essa racionalidade a que se refere Lefebvre está presente na produção e

reprodução do espaço amazônico e do Lazer enquanto elemento partícipe do Planejamento

das cidades de Belém e Manaus. Ao longo do século XX, a região vai absorvendo uma série

de equipamentos de lazer, porém para tal majestoso desafio de tornar a “selva habitável”,

transformá-la na “Paris da América” era necessário abandonar os velhos hábitos amazônicos e

impor através do “Código de Posturas Municipais” um disciplinamento que entre outras

regras proibitivas como: o trabalho ambulante, as formas de se vestir, de falar de circular na

cidade, proibia as formas espontâneas e as práticas de lazer da população mais carente. É

assim que a impressa escrita em Belém, do início do século, fazia questão de enfatizar as

diversas formas de repressão às pessoas que estivessem infringindo as regras previstas no

Código de Posturas municipais, que entre outras coisas proibia as práticas culturais

tradicionais da população mais pobre, em outras palavras eram proibidas as suas formas de

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104

lazer. Este trecho de matéria do Jornal “O Pará” é um exemplo claro: “Januária “marchou”

para a delegacia por estar “dançando o maxixe” em pleno meio dia”52

Em Manaus, nota-se a mesma tendência quando em nome de um planejamento

urbano “moderno” para a cidade espaços naturais de práticas de lazer da população, como os

rios que cortavam a cidade de Manaus são aterrados na era gomífera. O pensamento de Dias

interpretado por Oliveira demonstra bem essa questão:

A Capital da borracha adquiriu nova fisionomia, corrigiram-se acidentes de terrenos e fez-se o nivelamento da cidade a fim de estabelecer normas aos novos projetos de construção, aterraram-se igarapés, estes muitas vezes usados como via de comunicação, fonte de abastecimento d’água e local de lazer (OLIVEIRA, 2003, p.48).

Assim as cidades se desenvolvem com um propósito claro de atender aos

interesses das elites locais e internacionais. Pois os lugares públicos destinados ao lazer na

verdade exigiam um “grau de civilidade”53 que não cabia para a formação social e econômica

da maioria da população na Amazônia. Poucos podiam pagar pelo ingresso para os grandes

espetáculos de música, opera, dança, ocorridos nessas cidades, além de exigir uma

indumentária da plateia com alta sofisticação. Assim, mantinham afastadas a classe de menor

poder aquisitivo.

Fotografia 03 - Cine Guarany – Manaus54 Fonte: http://manaus-sua-historia.blogspot.com

52 Matéria de Jornal de O Pará. 53 A compreensão que se tem de civilidade é a partir da tentativa de entendimento do pensamento expresso nos Códigos de Posturas da época e dos discursos das autoridades policiais e políticas, assim como da própria imprensa, registrava na época quando defendiam de maneira intransigente o governo no cumprimento do código e tornavam públicas as repressões àqueles que descumprissem. Exemplo de Belém: era proibido falar alto, demonstrar embriagues em espaços púbicos, trajar roupas simples em espaços públicos municipais. Dançar na rua etc. Ver mais em: BELÉM. Lei n. 276, 03 de julho de 1900 que institui o Código de Posturas Municipais. 54 Este cinema foi demolido nos anos 1970. Atualmente existe uma agência do Banco Itaú no espaço.

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105

Fotografia 04 - Cine Olympia - Belém55 Fonte: http://www.cinemaolympia.com.br/

Ao longo do século XX pouco se modificou a ideia de acesso aos espaços de lazer

na Amazônia. Os cinemas que existiam no centro da cidade como Cinema Olímpia, Palácio,

Ópera, Nazaré, Paraíso, Vitória em Belém e Cine Guarany e Odeon em Manaus eram ligados

a iniciativa privada e, portanto, o preço do ingresso limitava o acesso da população. Os

parques e praças públicos pela lei do código de posturas também restringia ou no mínimo ao

exigir determinado padrão de comportamento disciplinar nesses espaços era inibidor da

participação dos segmentos mais carentes da cidade os trabalhadores.

Tais referências de relação entre a população e os espaços da cidade para o lazer

também teve resistências, pois as formas tradicionais e outras formas de lazer da população

ligados aos mitos e, lendas, brincadeiras e jogos, Dança do Boi, o carimbó, o maxixe, ritmos

musicais e formas de danças tradicionais das culturas indígenas e africanas e outras práticas

culturais amazônicos, não perderam suas formas de manifestação, mesmo sendo reprimidas

com rigor pelas autoridades policiais.

Aos poucos essas manifestações foram se efetivando como demonstração legítima

da cultura da região e no processo mais acelerado na globalização como bem já evidenciou-se

no capítulo anterior passam a ser incorporados como produtos no mercado local e global, mas

simultaneamente e contraditoriamente mantém os traços de prática das classes menos

abastadas. Para Lefebvre (2008), essa simultaneidade é uma característica essencial do urbano

assim como a centralidade. Ele diz que:

a centralidade tem seu movimento dialético específico. Ela se impõe. Não existe realidade urbana sem centro, quer se trate do centro comercial (que reúne produtos e coisas), do centro simbólico (que reúne significações e as torna simultâneas), do centro de informação e de decisão etc. Mas todo centro se destrói a si próprio. Ele

55 O cinema Guarani, antes chamava-se Cine Veneza, localizado na Sete de Setembro com Getulio Vargas. Foi demolido nos anos 1970. Atualmente, é uma loja do Banco Itaú. Foto disponível em: http://manaus-sua-historia.blogspot.com/. Acesso em: 10 abr. 2010.

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destrói por saturação; ele se destrói porque remete a uma outra centralidade; ele se destrói na medida em que suscita a ação daqueles que ele exclui e expulsa para as periferias (ibdem, p. 85)

Um breve levantamento de dados sobre as possibilidades de lazer na Amazônia ao

longo do século XX contata-se que mesmo nos áureos tempos da borracha nos diversos

planos de desenvolvimento para a região, o lazer é um tema que pouco foi percebido pelo

poder público nos diferentes momentos históricos. Alguns dados quantitativos das pesquisas

oficiais no Brasil apontam para esta reflexão.

No campo da pesquisa acadêmica na área do lazer, a Região Norte apresenta os

dados mais baixos em relação às outras regiões brasileiras. Até o momento, 51 grupos de pesquisa estão cadastrados no CNPq, envolvendo 305 pesquisadores dos mais diferentes níveis (desde acadêmicos até doutores), sendo que 37 estão organizados em instituições públicas e os 14 restantes em instituições privadas. Se analisarmos sua distribuição pelas regiões brasileiras, veremos que a concentração é maior nas regiões Sudeste e Sul: 78% do total (54% na primeira e 24% na segunda). Os outros grupos estão distribuídos na ordem de 18% no Nordeste, 2% na região Centro-Oeste e 2% na Norte. (WERNECK E MELO, 2003. p.32)

Em números reais o cadastro atual é de apenas 2 (dois) grupos de pesquisa

registrados no CNPQ que aprofundam a temática do Lazer em toda região. Portanto, o lazer

na Amazônia ainda é um tema pouco investigado e que precisa de maior investimento por

parte do poder público.

Outra questão importante é perceber o nível de investimento da região na

formação e no conhecimento acerca das possibilidades de lazer que podem ser praticadas e

experimentadas pela população, já que o lazer ainda sofre muitos preconceitos para sua

vivência (MARCELLINO; MELO). Tal fato pode ser retificado quando se pensa os espaços

das bibliotecas como espaço de lazer. Mas, as estruturas na região ainda são ínfimas para essa

vivência.

No início do século XX, o censo de 1907 a 1912 (IBGE, demonstra que o Brasil

possuía 465 bibliotecas dessas apenas 06 existiam no Pará e 03 no Amazonas. Atualmente, o

Censo das Bibliotecas municipais56 neste milênio revelou que o número de bibliotecas

públicas em funcionamento na Região Norte, por 100 mil habitantes atinge o número de 310

unidades, sendo que este valor representa o último lugar em relação às outras regiões do país.

A Região Sul apresentou um valor de 1127 unidades. O Pará é o estado da região norte que

apresenta um melhor índice de municípios que possuem Bibliotecas municipais representando

77% do total da Região, Já o Estado do Amazonas apresentou o índice mais baixo com 37%.

56 O Ministério da Cultura realizou o Censo das bibliotecas municipais. Disponível em: http://www.cultura.gov.br/site/2010/04/30/primeiro-censo-nacional-das-bibliotecas-publicas-municipais/. Acesso em: 28 abr. 2010.

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107

O estado do Tocantins ficou em primeiro lugar tanto regional, quanto nacional na taxa média

de bibliotecas do por 100 mil habitantes com 7,73%, Rondônia com 2,59, o estado do Amapá

1,75%, já ficou na quarta posição Roraima, com 1,66%, seguido pelo Pará com a taxa media

de 1,60%. O Acre e o Amazonas ficaram com as duas últimas posições apresentando uma

taxa média de 1,44% e 0,70%, respectivamente.

O curioso da pesquisa é a revelação que apenas 8% das pessoas que freqüentam as

bibliotecas pelo Brasil, o fazem para o lazer e 65% dos freqüentadores utilizam o espaço para

pesquisas escolares. As regiões Norte e Nordeste são regiões que mais utilizam com

finalidade de pesquisa escolar, com 75%. Por outro lado, apresentam os piores índices em

acesso para o lazer, apenas 1%. Neste quesito o sudeste é a região que mais utiliza as

bibliotecas como espaços de lazer 14%, sendo o estado de São Paulo o primeiro do ranking

nacional. Na pesquisa são 125 municípios da região Amazônica que não possuem bibliotecas

públicas. Abaixo da média nacional que é de 9%, apenas 3% das bibliotecas abertas da região

atendem as necessidades de pessoas com deficiência visual, pois possuem acervo como

audiolivros e livros em Braille.

O censo demonstrou ainda não existe no Brasil funcionamento das bibliotecas no

domingo. Na Região Norte, apesar de ser uma das regiões com maior número de bibliotecas

que abrem no horário noturno, tem um menor número de unidades abertas no sábado. O fato

do espaço do livro não estar aberto de maneira intensa no final de semana demonstra um tipo

de concepção das autoridades brasileiras, sobre a biblioteca que consiste em não perceber esse

espaço como um lócus privilegiado de lazer, como uma opção de lazer para a população. Tal

concepção da biblioteca, como espaço de lazer, também não tem sido objeto de ação coletiva.

Esses indicadores revelam de maneira geral que a visão da população sobre as

bibliotecas ainda está centrada numa concepção de espaço auxiliar ao processo de educação

formal. A biblioteca ainda é pouco percebida como um espaço para o lazer, onde o livro, a

leitura, que potencializa o conhecimento, a imaginação, as trocas, o prazer, ainda está distante

da percepção da população principalmente na região norte.

O IBGE (2007) realizou um estudo sobre as regiões de influência das cidades

foram analisados vários aspectos que demonstram a dinâmica das redes de influencia das

cidades57. Na pesquisa, o lazer foi um quesito investigado, cujos dados evidenciaram quais as

redes que influenciam este quesito, isto é, em que centro urbano os habitantes vão buscar

57 Neste estudo, o IBGE teve como objetivo “definir a hierarquia dos centros urbanos e delimitar as regiões de influência a eles associadas a partir dos aspectos de gestão federal e empresarial e da dotação de equipamentos e serviços, de modo a identificar os pontos do território a partir dos quais são emitidas decisões e é exercido o comando em uma rede de cidades” (IBGE).

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108

lazer. Neste sentido, as questões sondavam a frequência e para onde os moradores se

deslocavam para assistir cinema, shows, peças de teatro, espetáculos de esportes e arte. Foram

definidos parâmetros como a distância entre as cidades na analise da rede de influencia: redes

de curta, média e longa distância. Os fluxos entre municípios mais próximos ficou na primeira

grande opção de lazer da população, na segunda característica de opção aparecem os

municípios que garantem um fluxo de média extensão entre regiões de influência das cidades

e através de uma Mapa rico em detalhes demonstrou de que forma a população brasileira tem

se deslocado para o lazer. O mapa abaixo identifica tais redes.

Belém Manaus

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Mapa 05 - Mapa dos fluxos do lazer no Brasil58 Fonte: IBGE (2007).

As redes formadas no mapa 05 mostram a prevalência de fluxos de curta distância

no sudeste e sul e em áreas do nordeste. As distâncias médias se caracterizam nas áreas de

Minas Gerais para o interior do Brasil e a terceira característica são os deslocamentos de

longas distâncias, que tem como centralidade algumas capitais do país inclui-se Manaus e

Belém. O relatório destaca o que marca esses deslocamentos é “a grande carência, em vasta

porção do território, de estabelecimentos que ofereçam eventos voltados ao lazer da

população.

De acordo com o documento dentre os vários estados que apresentam

centralidade, mencionado como opção de lazer ganha destaque as cidades de Macapá e Boa

Vista na Amazônia pelo fato dessas terem sido citadas por todos os municípios pertencentes

aos seus estados como única opção de lazer no estado. Tal quadro revela que existe uma

grande desigualdade no acesso ao lazer no Brasil e na região Norte e Centro Oeste que se

caracteriza por uma média distância de deslocamentos indicam objetivamente que a carência

de opções e de investimento no lazer na maioria dos municípios brasileiros. Esses fluxos

médios de 108 km, no Norte e 107 km, no Centro Oeste, superam todas as regiões, significa

dizer que as distâncias são mais um elemento impeditivo dos fluxos e, portanto, do acesso ao

lazer nessas regiões.

Outro indicador importante nesta análise do lazer na Amazônia passa pelos dados

encontrados no suplemento do IBGE (2005) sobre esporte e lazer nos municípios brasileiros.

Os dados a cerca da formação dos gestores, a gestão democrática, as leis que

instrumentalizam a política municipal, e o número de equipamentos esportivos presentes nos

municípios foram considerados nesta reflexão.

A formação qualificada dos gestores na área do lazer é um elemento fundamental

para o desenvolvimento das políticas na área, no entanto os dados demonstram que dos

profissionais que assumem cargos de gestão do esporte e lazer nos 24 municípios da

Amazônia Legal, em 2005, possuíam escolaridade ao nível do ensino fundamental completo.

Já titulares com pós-graduação, ocupavam cargos de gestores em apenas 31 municípios.

A gestão democrática no esporte também foi avaliada. A partir da existência ou

não de Conselhos de esporte e lazer e ou similares e do total de 805 municípios, 432 não

possuíam nenhuma tipo de conselho, isto é mais da metade dos municípios da Região que

registrava a existência de 373 conselhos. Desses, apenas 45 municípios possuíam Conselho de 58 Este mapa encontra-se em: IBGE. Regiões de Influências das Cidades 2007. Rio de Janeiro, IBGE, 2007.

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110

Esporte, mas apenas 22 municípios possuem funcionamento regular com agenda de reuniões.

Os outros são conselhos de educação, assistência, social, do idoso da criança e adolescente

etc. Nos estados do Pará existem apenas em 7 municípios e no estado do Amazonas apenas 3.

Esses dados demonstram o quanto as instituição estatal nesses estados e a própria sociedade

civil, pouco tem dado atenção a estruturar o lazer enquanto política pública de estado e aos

instrumentos regulatórios que orientam as políticas.

Os dados sobre a estruturação dos conselhos são um elemento preocupante e

revelador do desconhecimento e da falta de iniciativa dos gestores locais em compreender as

próprias leis brasileiras como a Constituição o Estatuto da Cidade, o Plano diretor etc., em

que já definem a necessidade da constituição de formas institucionalizadas de participação

democrática e representativa da sociedade na proposição, elaboração, acompanhamento e

avaliação das políticas públicas.

Tabela 11 - Existência de entidades públicas, privadas e mistas na composição dos Conselhos Entidades Públicas Nº de

Municípios Entidades Privadas

Nº de Municípios

Entidade de composição mista

Nº de Municípios

Secretaria ou outra estrutura gestora do esporte

32 Entidades do Sistema S

04 Conselho Municipal da Criança e do Adolescente

15

Outras secretarias municipais

24 Entidades Empresariais

11

Câmara Municipal 11 Entidades de pessoas portadores de deficiência

09

Outras entidades Públicas

20 Ligas Esportivas 25

Clubes e associações Esportivas

29

Associações e entidades de classe, sindicatos e igrejas

20

Outras entidades privadas

06

Fonte: Perfil dos Municípios Brasileiros: Esporte (IBGE, 2003).

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111

Quanto às leis que normatizam o esporte, nota-se que a tabela 12 demonstra que

ainda está muito frágil a organização dos municípios do Estado do Amazonas e Pará. Chama

atenção que em apenas 03 municípios exista a constituição de Conselhos de esporte nos dois

estados mesmo depois o Estatuto da Cidade.

Tabela 12 - Existência de Lei Orgânica que trate do esporte e de outras leis municipais que

regulamentem o esporte País/ Região/ Estados

Lei Orgâ- nica

Outras Leis

Sistema Munici- pal de Esporte

Conselho Munici-pal de Esporte

Concessão de incen-tivos e isenções Fiscais para o esporte

Fundo de apoio ao esporte

Bolsa atleta

Sub-venções conce-didas ao esporte

Proje- tos espor- tivos

Ou- tros

Brasil (5.557)

4.720 977 180 309 105 184 46 315 431 152

Amazônia Legal

556

54 11 09 11 23 02 14 39 08

Pará 124 13 01 03 04 05 - 04 07 01 Amazo-nas

54 13 04 03 01 02 01 02 07 -

Fonte: Perfil dos Municípios Brasileiros: Esporte (IBGE, 2003).

Na Região Norte, o percentual de recursos aplicados na função desporto e lazer é

o menor índice brasileiro. O total de despesas correspondeu a 0,66% em 2002 e no ano

seguinte diminuiu para 0,46.59 (IBGE 2004).

Em Relação aos equipamentos existentes nos municípios localiza-se novamente a

Região Norte com percentuais mais baixos em relação às outras regiões brasileiras, chegando

inclusive, a não possuir, juntamente com a região Centro Oeste complexo aquático de acordo

com a tabela 13. Os tipos de equipamentos existentes estão demonstrados na tabela 14 e

foram destacados dentre os diversos tipos, apenas os Ginásios e os estádios de futebol pelo

fato de serem os equipamentos que mais aparecem nas pesquisas pelos municípios. Além dos

números absolutos serem baixos para atendimento da população na Amazônia como um todo

e os estados do Pará e Amazonas, eles indicam ainda que dentre os equipamentos de lazer

existentes, poucos possuem infraestrutura adequada par atender a pessoas com deficiência.

Tabela 13 - Número e distribuição percentual dos equipamentos esportivos existentes em 31.12, por tipo de equipamento esportivo, segundo classes de tamanho da população dos

municípios e grandes regiões – 2003 Regiões Ginásio Estádio de Complexo Complexo

59 Fonte: Perfil dos Municípios Brasileiros Esporte, IBGE, 2003 (IBGE/ Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais/ Pesquisa de Informações Básicas Municipais 2004; Ministério da Fazenda/ Secretaria do Tesouro Nacional).

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112

Futebol Aquático esportivo

Norte 135 3,2 110 6,7 - - 20 2,9

Nordeste 716 17,1 396 24,2 1 0.7 31 4,4

Sudeste 1.502 35,2 661 40,3 130 93,5 470 67,0

Sul 1.356 32,4 303 18,5 8 5,8 147 21,0

Centro-Oeste 447 11,4 169 10,3 - - 33 4,7

Fonte: Perfil dos Municípios Brasileiros: Esporte (IBGE, 2003).

Tabela 14 - Número de equipamentos esportivos existentes

LOCALIZAÇÃO Ginásio Estádio de Futebol

Total Aces.

p/PPD

Urbana Rural Total Aces.

p/PPD

Urbana Rural

Brasil 4186 1316 3923 263 1639 421 1630 9

Amazônia Legal 342 98 200 12 199 45 199 -

Pará 40 14 39 1 42 7 42 -

Amazonas 25 8 24 1 32 2 32 -

Fonte: Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais: Pesquisa de Informações Básicas Municipais 2004 (IBGE, 2006).

Na pesquisa sobre esporte do IBGE o futebol se confirma como o esporte mais

praticado e incentivado pelo poder público no país através de eventos esportivos. Na

Amazônia são 530 municípios que investiram em eventos esportivos na área do futebol. No

estado do Pará e no Amazonas o vôlei apareceu como modalidade que os municípios mais

realizam eventos, depois do futebol.

Outro indicador necessário para uma análise do lazer na Amazônia é a Cultura. O

censo de cultura do IBGE no ano de 2006 demonstrou revelou que dos 449 municípios da

Região Norte 409 atuaram com recursos próprios nas ações de cultura (IBGE, 2006),

revelando assim que o mecanismos de financiamento e articulação entre os recursos locais,

estaduais e federal, ainda estão distantes de uma plano articulado que potencialize o

município. Os dados corroboraram que os planejamentos direcionados para a Amazônia, em

que pese os todas as mudanças ocorridas na Região, desde os ciclos da borracha aos grandes

projetos as criações de instituições como: BASA, SPVEA-SUDAM-ADA-SUDAM, FNO,

INPA, INCRA, IBAMA EMBRAPA, universidades federais e estaduais etc. As mudanças na

Constituição Brasileira alterando as relações federativas, com a maior autonomia do

município, assim como a criação de leis instrumentais para a política municipal, como a Lei

Orgânica os Conselhos e o Plano Diretor. Todos esses “avanços” da sociedade brasileira ainda

não foram capazes de efetivar rumos que retirem a Amazônia de um patamar de grandes

desigualdades sociais, inclusive no acesso ao direito ao lazer.

Page 113: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

113

3.4 O lazer no Plano Diretor das metrópoles amazônicas, questões para análise

O Plano Diretor de Belém e Manaus será o foco das análises neste item,

compreendendo que esse instrumento do planejamento municipal apesar de receber inúmeras

críticas quanto ao cumprimento efetivo, deve-se considerar que ele é fruto da luta do

movimento nacional pela reforma urbana apresentada ao Congresso Constituinte como

emendar Popular da Reforma Urbana e que após muitos embates políticos e negociações e

recuos nas propostas do movimento social Fo aprovado um capitulo na Constituição de 1988

que passou a discutir a Política Urbana e nela a determinação da criação dos Planos diretores

para os Municípios a partir de 20 mil habitantes.

Vale ressaltar que Belém foi uma das cidades atuantes no movimento de reforma

urbana no período enquanto que Manaus ainda não possuía organização popular. Dessa

forma, a luta pela criação do Plano Diretor de Belém passou a ser uma bandeira o movimento

social em Belém e tal processo resultou na criação da Lei do Plano Diretor em 1993, com uma

grande pressão e participação das organizações populares em Belém. Neste sentido este plano

foi considerado um dos mais avançados do Brasil, pois quebrou o paradigma de elaboração de

plano tecnocrático produzido por meia dúzia de técnicos das secretarias de planejamento

urbano das cidades e criou uma nova forma de relação estado e sociedade onde a tônica do

diálogo imprimiu um ritmo educador de cidadãos. Neste sentido, cabe pensarmos que a

democracia no planejamento da cidade é um grande exercício para a cidadania.

O compromisso maior com a maior democratização possível do Planejamento e da gestão urbanos significa desmistificá-los, tirando-os de seu pedestal e entendendo-os como temas em que um tipo de saber técnico-científico deve desempenhar um papel, sim, mas cuja natureza, em última análise, é política, por dizer respeito a intervenções que mexem significativamente com a vida das pessoas. Desse modo, de um lado, é preciso formar técnicos e pesquisadores envolvidos com planejamento dentro da mentalidade antitecnocrática, assim como é necessário aplicar métodos para envolver a sociedade civil e até mesmo qualificá-la para melhor poder participar (SOUZA apud FARIAS, 2004, p. 37).

O planejamento municipal tema função de promover os ajustes administrativos

necessários para promover e qualificar a gestão municipal. Deve ter a capacidade de retirar os

problemas que afetam a população, “remover empecilhos institucionais e assegurar a

viabilização de propostas estratégicas, objetivos a serem atingidos e ações a serem trabalhadas

(REZENDE; ULTRAMARI, 2007, p. 258). E assim como nas outras cidades que

implementaram como Belo horizonte, Rio de Janeiro Diadema natal etc. o plano de Belém

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114

também procurou qualificar a responsabilidade do município como gestor da política urbana

assim alguns mecanismos para regularizar a questão fundiária foram a tônica desses planos

assim como a garantia de assentamentos para a população de menor poder aquisitivo “a

separação entre o direito de propriedade e o direito de construir, propostas de zoneamento

inclusivo com as Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS)” ( CYMBALISTA; SANTORO,

2009, p. 06) entre outros.

Um ganho desse processo foi a possibilidade de poder realmente a população

participar da reflexão e elaboração de políticas para uma cidade melhor. Embora esse

processo, segundo Azevedo (apud SOUZA; SILVA, 2010), apesar da participação positiva,

singular na Amazônia neste período, se registra poucos avanços à finalização do Plano, pois a

questão da função social da propriedade acabou por se perder o principal sentido que foi

pensado e o texto final agradou mais ao setor empresarial imobiliário. Porém, foi possível

conquistar outros pontos que superaram as expectativas do movimento naquele momento

como: a instituição da usucapião especial do imóvel urbano e o estabelecimento das Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) e do fundo de desenvolvimento urbano mostraram avanços em relação ao movimento nacional da época. Esses itens podem viabilizar uma política urbana de produção e controle da habitação, atuando como um instrumento privilegiado, pois permite o que SOUZA (2002) chama de “zoneamento de prioridades” (SOUZA; SILVA, 2010, p. 103)

Outra característica do Plano Diretor de 1993, foi a definição da criação dos

distritos administrativos, e o próprio Conselho de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente

(CONDUMA) criando assim a possibilidade de descentralização da gestão municipal e de

maior participação da sociedade civil na gestão da cidade. E abriu caminho para outras formas

mais recentes de gestão democrática da cidade como o Orçamento Participativo e o Congresso

da Cidade, experimentados pelos governos democrático-populares que se implantaram nos

anos 1990, em várias capitais brasileiras como Porto alegre, Santos, Belém.

A conclusão da dissertação de Mestrado de Farias (2004) sobre planejamento e

gestão participativa da cidade de Belém concluiu que o Congresso da Cidade60, no qual a

população passou a participar das discussões políticas que afetam o seu cotidiano, representa

uma ruptura com a cultura tradicional-tecnocrática do planejamento no Brasil. Contudo, é um

60 O Congresso da Cidade foi a forma de gestão democrática definida como matriz orientadora da política de gestão e planejamento municipal do Governo municipal em Belém na gestão do prefeito Edmilson Rodrigues no período de 1997 a 2004. Ela consistia na participação de amplas representações da sociedade. Ver mais em: FARIAS, Rosa Suliane Silva. Planejamento e gestão participativos em Belém- Pa: o Congresso da Cidade (2001-2004). Dissertação - UFRJ, Rio de Janeiro, 2004; RODRIGUES, Edmilson. Os desafios da Metrópole: reflexões sobre desenvolvimento para Belém: NAEA/UFPA, 2000, 154p.

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115

processo que demanda tempo, que é construído por etapas de aproximações sucessivas no

qual erros e acertos contribuem para o seu aprimoramento.

Por outro lado esse processo de participação ativa da população na elaboração do

Plano diretor e na gestão da cidade não fez parte da história da cidade de Manaus não sendo

marcada pela definição das autoridades no poder a tarefa básica da definição das leis e da

gestão. O Plano Diretor Urbano e Ambiental de Manaus foi elaborado a partir da contratação

pela Prefeitura de Manaus dos serviços técnicos da empresa Instituto Brasileiro de

Administração Municipal – IBAM com a finalidade da mesma assumir o papel de assessora

técnica para elaborar o Plano Diretor de Manaus e realizar a adequação dos instrumentos

urbanos que estavam em vigor e já se encontravam defasados (LA ROVERE; CRESPO,

2002, p.40). Assim esse instrumento de planejamento da cidade de Manaus teve como

nascedouro uma concepção essencialmente técnica, institucional. A marca do poder na gestão

é o revezamento de famílias com influência direta na administração pública na região e

especialmente nas duas cidades.

O grau de autonomia de participação popular na gestão é um dos indicadores de

análise e comparação entre as duas cidades neste estudo por compreender que uma vez que a

população pode influenciar a tendência e que a cidade pode ser pensada sob novos pontos de

vista diferente dos legisladores e dos gestores municipais, assim a principal tarefa será

identificar de onde partem as demandas sobre o lazer a quem tem interessado as questões do

lazer nas metrópoles amazônicas e, sobretudo, como aparecem no Plano Diretor municipal

das mesmas. Outro indicador de reflexão será a presença de orientação de políticas para o

lazer presentes nos planos diretores das duas cidades. E a estrutura pensada para dar conta do

atendimento ao lazer como equipamentos e recursos alocados. Por fim, poder identificar o

quanto este benefício público está no plano diretor dessas cidades como elemento

efetivamente integrante da função social da cidade.

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116

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117

4 COMPARANDO O LAZER NO PLANO DIRETOR DE BELÉM E MANAUS

Artigo I Fica decretado que agora vale a verdade.

Agora vale a vida, e de mãos dadas, marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as terças-feiras mais cinzentas,

têm direito a converter-se em manhãs de domingo. Artigo III Fica decretado que, a partir deste instante,

haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra;

e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem.

Que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo único: O homem, confiará no homem como um menino confia em outro menino.

Artigo V Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira. Nunca mais será preciso usar

a couraça do silêncio nem a armadura de palavras. O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo

porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa. Artigo VI Fica estabelecida, durante dez séculos,

a prática sonhada pelo profeta Isaías, e o lobo e o cordeiro pastarão juntos e a comida

de ambos terá o mesmo gosto de aurora. Artigo VII Por decreto irrevogável fica estabelecido o reinado

permanente da justiça e da claridade, e a alegria será uma bandeira generosa para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não poder dar-se amor a quem se ama

e saber que é a água que dá à planta o milagre da flor. Artigo IX Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem

o sinal de seu suor. Mas que sobretudo tenha sempre o quente sabor da ternura.

Artigo X Fica permitido a qualquer pessoa, qualquer hora da vida, uso do traje branco.

Artigo XI Fica decretado, por definição, que o homem é um animal que ama

e que por isso é belo, muito mais belo que a estrela da manhã. Artigo XII Decreta-se que nada será obrigado nem proibido,

tudo será permitido, inclusive brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único: Só uma coisa fica proibida: amar sem amor. Artigo XIII Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais

comprar o sol das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal

para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou. Artigo Final Fica proibido o uso da palavra liberdade,

a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como

um fogo ou um rio, e a sua morada será sempre o coração do homem.61

61 Poesia Os estatutos do Homem de Thiago Melo. Poeta amazonense, nascido em 1926, em Barreirinhas, AM.

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118

O presente capítulo tem como objetivo expor a análise dos Planos das Metrópoles

Amazônicas. São apresentados os dados encontrados, como resultado à questão norteadora da

pesquisa: Em que medida os Planos Diretores de Belém e Manaus avançam ou retrocedem no

sentido da efetivação do lazer como política pública? Nesta direção, no primeiro item se

examina o Plano Diretor de Belém. No segundo, faz-se a análise do Plano Diretor de Manaus.

No terceiro item são estabelecidas comparações entre o lazer nos Planos Diretores de Belém e

Manaus e, posteriormente, são mapeadas as correlações existentes entre as duas cidades.

4.1 O lazer no Plano Diretor de Belém

4.1.1 Considerações gerais sobre o Plano

Após a Constituição de 1988, o Plano Diretor de Belém foi instituído através da

Lei nº 7.603, de 13 de janeiro de 1993. A gestão municipal do período de 2000 a 2004 iniciou

alguns estudos técnicos e fóruns de debates com a sociedade civil para a revisão deste Plano

Diretor. Na prática, o processo de revisão do Plano culminou com a atual Lei nº 8.655 de 30

de Julho de 2008, depois de 15 (quinze) anos de criação da primeira Lei de Plano Diretor.

Em suas disposições preliminares, o Plano dá ênfase às questões previstas na

Constituição Federal e Estadual, no Estatuto da Cidade e na Lei Orgânica do Município de

Belém. Define objetivos e diretrizes orientadoras da política urbana, dando um caráter

genérico ao texto, por não apresentar programas e/ou ações estruturantes. Tal formato do

Plano, priorizando apenas objetivos e diretrizes sem detalhar programas e ações, dificulta a

apropriação por parte da população da Lei do Plano Diretor, assim como inibe a chance do

Plano ser exequível.

Um aspecto importante no Plano é o tratamento dado às políticas sociais, a qual

mereceu um capítulo específico. As políticas sociais delineiam objetivos e diretrizes para a

educação, saúde, assistência social, desporto e lazer, patrimônio cultural e meio ambiente.

Neste último, a questão ambiental aparece como uma questão transversal, isto é, a política de

atenção ao meio ambiente está destacada, tanto como subseção do capítulo das políticas

sociais como em todo o Plano. Identifica-se a questão ambiental como prerrogativa no

planejamento da cidade, cumprindo o que orienta o Estatuto da Cidade, quando apresenta

como diretriz “a garantia de cidades sustentáveis” (INSTITUTO PÓLIS, 2001, p. 32).

Page 119: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

119

4.1.2 Gestão democrática

O novo pacto federativo, a partir de 1988, trouxe como diretriz a possibilidade de

superar nas ações institucionais as velhas práticas autoritárias, ligadas à política

patrimonialista e clientelista, que abalizaram as políticas públicas no Brasil nos três campos

de atuação: União, Estados e Municípios. No caso do município, a política de gestão

democrática deve partir do pressuposto básico de que a cidade deve ser concebida como um

patrimônio de todos e todas, podendo ser gestada pelo conjunto dos atores que nela habita.

No Plano Diretor de Belém, esta visão conforma-se nos princípios fundamentais

da política de gestão urbana, no Art. 3º, inciso IV que dispõe: “gestão democrática, garantindo

a participação da população em todas as decisões de interesse público, por meio dos

instrumentos de gestão democrática previstos na Lei Federal nº 10.257, de 10 de julho de

2001” (BELÉM, 2008, p.02). Esta concepção pressupõe uma intensa participação da

população em todos os processos de planejamento da cidade.

Neste sentido, o Poder Público Municipal se coloca como indutor, catalisador,

mobilizador e incentivador de ações cooperativas entre os diversos atores econômicos e

sociais da cidade, além de processos de organização da sociedade com vistas à ampliação das

formas participativas62. Em 23 (vinte e três) capítulos, distribuídos em objetivos, sistema e

instrumentos, o planejamento da gestão urbana aponta para uma perspectiva de avanço no que

se refere à participação democrática. Desta maneira, efetiva um Sistema de Planejamento e

Gestão (SIPLAG), constituído pelos órgãos de planejamento, de gestão e conselhos que se

estruturam da seguinte forma: Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano (CDU);

Conselho Municipal de Meio Ambiente (CONSEMMA); Fundo Municipal de

Desenvolvimento Urbano (FMDU); Sistema de Informações Municipal de Belém (SIB).

Sendo assim, os instrumentos definidos para a democratização da política urbana são: Fórum

de Conselhos Municipais de Políticas Públicas; a Conferência Municipal da Cidade de Belém;

as Audiências, Debates e Consultas Públicas e a Iniciativa Popular de Projeto de Lei.

Desta feita, o Plano cumpre as exigências do Estatuto da Cidade no momento em

que apresenta proposições voltadas a algumas políticas sociais como educação e meio

ambiente. Sejam, nos espaços de avaliação, debate e proposição de políticas com a instalação

de instâncias decisórias como os conselhos, fóruns, conferências e outros; ou, na gestão

62 Esse direcionamento é apontado no título IV – gestão democrática da política urbana. São dedicados três capítulos que definem: no primeiro, os objetivos da gestão democrática; no segundo, detalha o Sistema de Planejamento e gestão; e no terceiro, são tratados os instrumentos de democratização. Tem-se destaque dos artigos 187 a 210. Ver mais em: BELÉM. Plano Diretor de Belém: Lei nº 8.655/08. Belém: Câmara Municipal de Belém, 2008, p. 104-112.

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120

urbana de benefícios públicos e recursos comuns com a possibilidade de co-gestão desses

bens.63

Parágrafo único. A gestão urbana deve ser desenvolvida em consonância com as prerrogativas da democracia representativa e participativa, envolvendo os Poderes Executivo e Legislativo, bem como as organizações da sociedade, buscando construir, por meio de um processo de negociação e co-responsabilidade, um pacto para a política urbana do Município de Belém (ibdem, p.104).

Verifica-se que, com relação a algumas políticas, a perspectiva de gestão

democrática no Plano está estruturada de forma a ser possível acreditar na ação coletiva dos

atores com intervenção qualificada para a efetivação de benefícios públicos. Nesta direção, o

Plano segue os preceitos da participação popular definida na Constituição Federal,

obedecendo às determinações do Estatuto da Cidade, com a adoção da democracia

representativa e participativa como pressuposto da vontade política dos atores sociais de

intervir em sua realidade em uma ação coletiva.

Entretanto, no que se refere à política de lazer, a gestão democrática prevista no

Plano é inexistente. Do ponto de vista da participação popular, o Plano restringe a

contribuição da população apenas em atividades desenvolvidas pelo Poder Público, não

garantindo a sua participação na proposição e definição destas políticas. Isto pode ser

verificado no Art. 24, inciso VII e no inciso II das Diretrizes da Política de Esporte e Lazer. [...] VII- incentivar a participação e a cooperação das associações de bairros integrando-as às atividades de esporte e lazer promovidas pelo Poder Público. [...] II- a implantação de um sistema regionalizado de administração dos equipamentos das atividades de esporte e lazer (ibdem).

Nota-se que a política de lazer apresenta-se centralizada nas mãos do Poder

Executivo, que de acordo com a Lei, definirá todas as estratégias de manutenção,

planejamento e execução da política de esporte e lazer no município. Esta constatação é a

negação clara dos espaços democráticos de controle social das políticas, em que a participação

popular avançaria na qualidade da intervenção nas políticas sociais, pois teria a possibilidade

de propor, analisar e definir propostas que fossem do interesse da sociedade. No entanto, o

atual Plano Diretor, não faz qualquer referência a instrumento de controle social na área das

políticas de esporte e lazer. Logo, o Conselho Municipal de Esporte e Lazer não é citado, isto

é, não está reconhecido como uma instância legal de participação social, mesmo já existindo

enquanto lei e ter funcionado na gestão anterior, estando atualmente desativado.

63 Essa perspectiva de democratização e/ou co-gestão das políticas sociais estão destacadas no Art. 8º, inciso XX do capítulo I Da Política de Desenvolvimento Econômico; nas Diretrizes da Política de Educação, inciso V; Art.17, inciso IV Da Política de Saúde; Art. 19, inciso II e V Da Política de Assistência Social; Art. 21, inciso IX e Art. 22 Da Política de Patrimônio Cultural; Art. 24, inciso VII; Art. 27, inciso VIII e Art.29, inciso II, Da Política de Habitação.

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121

Contraditoriamente, este Conselho consta como ação prioritária no Plano Plurianual 2006-

200964 como um instrumento de controle social da política de esporte e Lazer.

4.1.3 A análise do lazer no Plano Diretor de Belém

Foram destacados quatro pontos para esta análise: a concepção de lazer; os

espaços físicos destinados ao lazer; a conservação e manutenção desses espaços; a animação

cultural; os investimentos financeiros para a política de lazer.

4.1.3.1 A concepção de lazer presente no Plano

No Plano Diretor de 1993, o termo lazer era referendado dentro dos Princípios

Fundamentais em que se destacavam as funções sociais da cidade de acordo com as

Constituições Federal e Estadual e o próprio Estatuto da Cidade. Nele, o lazer era concebido

como elemento integrante das funções da cidade ao lado de: educação, saúde, cultura,

informação, energia elétrica, iluminação pública, trabalho, moradia, transporte coletivo,

segurança, patrimônio ambiental e cultural.

Na nova lei, no inciso relacionado à função social da cidade65, os termos

educação, saúde e lazer desaparecem do texto, ficando no lugar termos como “serviços

públicos” e “espaços públicos”. Então, pode-se pensar que o lazer, para o Plano Diretor atual,

passou a ser concebido como elemento incorporado ao conjunto dos espaços públicos e dos

serviços públicos, os quais precisam ser garantidos à população como necessidades

fundamentais do viver na cidade. Uma outra compreensão complementar é que o lazer

também estará sendo assegurado quando se afirma a garantia do Patrimônio ambiental e

cultural do município.66 Nota-se, contudo, que a expressão lazer aparece em vários momentos

da formulação do Plano e em cada área assume dimensões diferenciadas como: benefício

público e mercolazer.

64 O Plano Plurianual da Prefeitura de Belém do Período 2006-2009 está disponível em: http://servicos.belem.pa.gov.br/pdf/segep/PPA_2006_2009/Metas_e_Prioridades/PPA%20anexo%20IV%20Metas%20e%20Prioridades.pdf. 65 Consta no Título II - Dos Princípios Fundamentais, das Diretrizes e dos Objetivos Gerais da Política de Gestão Urbana, Capítulo I - Dos Princípios Fundamentais, Art. 3º, inciso I, Plano Diretor de Belém, Lei 2.655/08. 66 O patrimônio cultural está relacionado ao significado coletivo que um bem cultural tem para uma sociedade. Na modernidade, está para além da visão de patrimônio histórico, incorporando todos os bens tangíveis e intangíveis como os patrimônios edificados: as casas, os lugares e a própria cidade em que se vive. Ver mais em BESSA (2004).

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122

O Plano dá ênfase à concepção de lazer como “um direito social básico à garantia

da cidadania e de inclusão social” (Art. 23). Seu texto apresenta, em vários momentos, uma

visão de lazer como benefício público, uma vez que incorpora a dimensão do lazer a uma

política estruturada de esporte e lazer ao destacar entre os objetivos da política: “atender as

crescentes necessidades e demandas da população por esporte e lazer; consolidar e

implementar o esporte e o lazer como direitos sociais e dever do Estado, promovendo o bem

estar e melhoria das condições de vida”67 (ibdem).

Na política de patrimônio cultural, o lazer também é visto como benefício público,

ao passo que esta área é composta pelos conteúdos culturais do lazer. Desta maneira, o lazer

recebe destaque nos objetivos de tal política, a qual determina o dever de “assegurar a livre

expressão das diversidades culturais, garantindo aos cidadãos igualdade básica dos direitos

sociais e culturais, inclusive o direito à criação e fruição das obras do pensamento e das artes68

e nas diretrizes universalizar as informações culturais e descentralizar as atividades

culturais”69 (ibdem).

A concepção de cidade facilitadora da circulação fácil de seus habitantes

possibilita a vivência das práticas de lazer na cidade. Vale ressaltar que no antigo Plano o

Sistema Municipal de Transporte Urbano compreendia a função deste serviço incorporando

inclusive a possibilidade do deslocamento da população para fins de lazer. Art. 68 O sistema Municipal de Transportes Urbanos - SMTU de Belém, é o conjunto de infraestruturas, veículos e equipamentos utilizados para o deslocamento de pessoas e bens no âmbito do município, que possibilita o acesso dos indivíduos ao processo produtivo, aos serviços aos bens e ao lazer (ibdem).

No atual Plano, a ideia apresentada nesse artigo desaparece. Mas, é possível

perceber a intenção de atendimento universal nesta política de lazer ao se interpretar o sistema

municipal de mobilidade urbana, no momento em que incorpora as ciclovias, ciclofaixas,

passarelas, calçadas e faixas de pedestres70 como estruturantes do sistema, possibilitando

assim a livre circulação da população e garantindo o próprio direito ao lazer nas vias da

cidade com as práticas de caminhadas, corridas, ciclismo, skate, patins etc.

A ideia de lazer como benefício público no Plano também apresenta algumas

nuances que refletem “políticas herdadas”. Na política de Educação do município o lazer está

concebido como um instrumento para alcançar a educação de qualidade. O inciso VII do Art.

67 Art. 23, incisos I e II da Política de Esporte e Lazer. 68 Consta no Plano Diretor de Belém, Lei 8.655, de 30 de julho de 2008. Art. 21 que trata dos objetivos da Política Municipal de Patrimônio Cultural. Incisos II e III. 69 Consta no Plano Diretor de Belém Lei 8.655, de 30 de julho de 2008. Art. 22 das diretrizes. 70 Art. 46 relativo à constituição do sistema viário.

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123

12 confirma esta tese ao registrar que um dos objetivos da política de educação é “ampliar o

tempo de permanência do educando na escola, por meio de atividades educativas

complementares, entre outras, de esporte, arte e lazer e de desenvolvimento profissional.”

Concebe-se aqui o lazer como veículo de educação (MARCELINO, 2006). Logo, seria uma

atividade planejada como etapa de um processo amplo de educação.

O lazer aparece vinculado ao esporte, na seção V, do capítulo II “Das Políticas

Sociais” intitulado “Da Política do Esporte e do Lazer”. Esta Lei apresenta um olhar sobre a

concepção de esporte e lazer como estratégia para o resgate da cidadania de crianças e

adolescentes em situação de risco pessoal, como descrito nas diretrizes da política de esporte e

lazer:

V - promover atividades de lazer que proporcionem oportunidades de integração e equilíbrio à criança, aos jovens e aos adultos; VI - proporcionar atividades de esporte e lazer àqueles que se encontram em situação de risco social, prioritariamente os envolvidos com a criminalidade71 (BELÉM).

Esta visão reforça uma das concepções presentes nas políticas de esporte e lazer

como sendo apenas um meio para tirar 72 as crianças, adolescentes e jovens de situações de

violência. O que acaba intensificando a ação coletiva ao manter a ideia de lazer funcionalista

na gestão institucional, historicamente, utilizado pelas instituições públicas e privadas (já

comentado no capítulo 1).

O lazer, tanto na política de educação como em sua diretriz, é intencionado para

crianças em situação de criminalidade, em que se verifica a instrumentalização do lazer como

um meio para se atingir algo, ou seja, o lazer é visto como um caminho para se atingir um

“objetivo maior” que é a educação, para assim coibir ou eliminar distorções na formação do

indivíduo. Esta prática de utilização do lazer como ação meio e/ou secundária é clássica à

medida que é assim que as instituições historicamente têm tratado o lazer no Brasil73. Isto se

confirma como uma premissa básica do institucionalismo histórico ao postular que “a

capacidade do estado e as políticas herdadas existentes, estruturam as decisões ulteriores”

(HALL; TAYLOR, 2003, p. 201).

A compreensão que se tem do Plano Diretor e sua proposição para a área de

esporte e lazer envolve o fenômeno ligado especificamente ao esporte, o qual não é concebido

71 Ver no Plano Diretor de Belém (Art. 24). 72 Nosso grifo tem a intenção de destacar a ação proposta como uma saída imediata do problema, como se o lazer fosse a solução para as mazelas existentes na sociedade. 73 No capítulo I desta pesquisa essa questão já foi abordada. Nos itens 1.2 Lazer nas políticas públicas: aproximações históricas do surgimento do lazer como direito e 1.3 Relações federativas na configuração das políticas de lazer presentes nos Planos Diretores.

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como cultura vivenciada no tempo disponível das pessoas (MARCELLINO, 2000; SILVA;

SILVA, 2007) e neste sentido pode estar sendo experimentado sob as mais diversificadas

possibilidades. Apesar de propor ações integradas com outras políticas sociais, o Plano não

detalha possibilidades dessa diretriz.

Uma cidade que pensa o lazer como cultura é capaz de sonhar com a implantação

de espaços voltados para práticas de lazer que identifiquem não só os equipamentos de

esporte para serem construídos, com acessibilidades para as pessoas com dificuldade de

locomoção, mas também os cinemas, eventos populares, religiosos, os teatros, prédios

tombados, as salas de danças, casas de artes visuais etc. Em resumo, todo e qualquer ambiente

que atue na perspectiva de facilitação de fruição das práticas de lazer efetivamente.

Outra concepção de lazer no Plano está marcada pela ideia de lazer como produto

mercadológico através do turismo que, por sua vez, também é um dos conteúdos culturais do

lazer. No Plano Diretor de Belém, o turismo foi concebido como estratégico e potencializador

do desenvolvimento econômico da cidade. Sendo assim, o turismo assume a forma de

mercolazer, pois as diretrizes propostas apresentam o turismo como um produto a ser

explorado economicamente. XXII - promover e incentivar o turismo como atividade estratégica de desenvolvimento econômico, cultural e social do Município de Belém, por meio do fomento, capacitação e adequação de recursos; XXIII - promover os produtos turísticos dos diversos segmentos específicos e prioritários, como história e cultura, esporte e aventura, negócios e eventos profissionais, turismo de natureza, de entretenimento e lazer urbano, contemplando as diversidades culturais e naturais da cidade; XXIV - criar e fortalecer imagem que corresponda aos produtos turísticos dos segmentos específicos e prioritários, para divulgá-la e promovê-la nos diversos mercados potenciais, nacional e internacional; XXV - fomentar políticas para dinamização e reabilitação socioeconômica, cultural e turística no Centro Histórico de Belém, e nas áreas com potencial acervo cultural74 (BELÉM, 2008)

Uma vez tratado como mercadoria no PDU, o turismo ganha destaque em todo o

Plano. Esta concepção, que margeia o lazer turístico no Plano, orienta as grandes políticas

com destaque para o Centro Histórico de Belém e as ilhas. O incentivo às práticas de lazer e

turismo está presente na definição das políticas de utilização das Macrozonas do Ambiente

Natural (MZAN). Já, a Macrozona do Ambiente Urbano (MZAU) registra o lazer e a

contemplação como formas de utilização destas áreas.75

74 Consta no Plano Diretor de Belém, Lei 8.655, de 30 de julho de 2008. Art. 8º da Política Municipal de Desenvolvimento Econômico, incisos de XXII a XXV. 75 Art. 83 São diretrizes das Macrozonas do Ambiente Natural (MZAN), VII - incentivar o turismo nas ilhas, por meio de programas que evidenciem o meio ambiente, a diversidade cultural, a paisagem e as características locais típicas das ilhas fluviais do Município de Belém. [...] Art. 85 Na Macrozona do Ambiente Natural

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125

Reconhecer, no Plano, o turismo de natureza e o esporte de aventura como

produtos turísticos é considerar os recursos comuns, valorizando-os e favorecendo sua

exploração econômica. Ao concebê-los como mercadoria, se confirmam as regras

institucionais locais de concepção do mercolazer (MASCARENHAS, 2004) aos usos dos

bens culturais. Tornam-se, portanto, um não-direito, pois são de difícil acesso, exclusão e de

baixa rivalidade (OSTRON, 2002).

A sobre-exploração econômica imputada às várias formas de lazer pressupõe

compreender que os arranjos institucionais, que regulam a gestão desse recurso, atribuem o

direito ao acesso apenas aos que podem pagar pelo uso, os quais estarão aptos a se

beneficiarem do lazer turístico. Consequentemente, tem-se no Plano Diretor de Belém uma

assimilação do incentivo institucional do lazer privado, segregado.

4.1.3.2 Os espaços destinados às práticas de lazer

O PDU aponta compromissos fundamentais para com a sociedade no

planejamento da cidade, os quais podem ser as bases para se pensar o desenvolvimento do

lazer na cidade. No Capítulo I - Dos Princípios Fundamentais para a Política Urbana destaca a

função social da cidade, que entre outros atributos, compreende “o direito aos espaços

públicos e ao patrimônio ambiental e cultural do Município. No inciso II, elenca a função

social da propriedade urbana ao abranger a: “utilização adequada dos recursos naturais

disponíveis e preservação do meio ambiente; d) preservação do patrimônio histórico, cultural

e ambiental do Município” (BELÉM, 2008, p. 02).

Compromete-se ainda a “consolidar e implementar o esporte e o lazer como

direitos sociais e dever do Estado, promovendo o bem-estar e melhoria das condições de

vida”76 (ibdem). Em seguida, remete a responsabilidade ao Poder Público Municipal, pela

gestão político-administrativa de toda a política de lazer existente na cidade, por meio de

promoção, planejamento, controle e avaliação das atividades esportivas e de lazer, com o

compromisso de manter o funcionamento das áreas livres do município específicas para as

atividades de lazer e esporte.

A preocupação com a qualidade da estrutura dos espaços de lazer deve abranger

não só os que já existem, mas também aqueles que precisam ser construídos onde há ausência

(MZAN) somente poderão ser desenvolvidas atividades ligadas a: III - pesca e criação de espécies aquáticas, respeitadas todas as premissas legais; IV - turismo ecológico, cultural e de aventura; V - esportes náuticos, desde que não coloquem em risco os ecossistemas aquáticos; VI - lazer e contemplação (BELÉM, 2008, p.48). 76 Objetivos da Política de Esporte e Lazer. Art. 23, inciso II.

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126

de opções de lazer. Esta qualidade está relacionada à potencialização do uso destes espaços,

os quais devem garantir a acessibilidade para pessoas com dificuldades de locomoção e/ou

portadores de deficiência. Neste último caso, a lei prevê nas diretrizes da política de esporte e

lazer, no inciso III “garantir acesso das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade

reduzida a todos os equipamentos esportivos municipais como diretriz universal” (ibdem).

O terceiro e último artigo da política de lazer enfatiza a elaboração do Plano

Municipal de Esporte e Lazer e trata especificamente de espaços destinados ao lazer,

definindo o prazo de 12 meses para o poder público submeter à Câmara Municipal o

documento de sua criação. O plano prevê:

I - a implantação e recuperação de equipamentos de esportes, adequados à realização de eventos e espetáculos esportivos; II - a implantação de um sistema regionalizado de administração dos equipamentos das atividades de esporte e lazer; III - a realização de levantamentos e a manutenção atualizada do registro das áreas com potencialidades para a prática de lazer; IV - o acompanhamento e a orientação quanto à utilização de espaços públicos e particulares, que possibilitem a realização de programações de caráter cívico, social e esportivo, planejadas pela comunidade. V - assegurar a implantação de equipamentos de esportes, adequados às pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida77 (ibdem).

A política de esporte e lazer não informa claramente a construção e criação de

novos espaços públicos de lazer, ambientalmente equilibrados, de maneira descentralizada na

cidade, para que assim seja possível ampliar os serviços e Programas pela cidade. Apenas

referenda ao Poder público municipal que faça levantamento de dados sobre espaços de

práticas de lazer, ou seja, identifique onde existem atividades de lazer na cidade para fins de

cadastro desses espaços.

Em outros pontos do Plano, os espaços de lazer têm destacada importância na

política de planejamento sustentável da cidade, a exemplo das Políticas do Patrimônio

Cultural e do Ordenamento Territorial do Município. Quanto às diretrizes da Política de

Patrimônio Cultural, estas orientam a criação de novos espaços de lazer na cidade prevendo:

“garantir a criação e a ampliação da oferta de equipamentos e espaços culturais no território

municipal”78 (ibdem); identificar e delimitar novas áreas de interesse à preservação; e

“fomentar o desenvolvimento de atividades culturais a partir de organizações populares”79

(ibdem).

77 Incisos do Art. 25, da seção V que trata da Política de Esporte e Lazer. 78 Diretrizes da Política de Patrimônio Cultural, Art. 21, inciso XXII. 79 Diretrizes da Política de Patrimônio Cultural, Art. 21, inciso V.

Page 127: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

127

Na Política de Drenagem Urbana, está indicada como uma das ações para o

manejo das águas pluviais “definir mecanismos de fomento para usos do solo compatíveis

com áreas de interesse para drenagem, como parques, áreas de lazer, hortas comunitárias e

manutenção de vegetação nativa” 80 (ibdem). Tal perspectiva pode ser um estímulo aos

agentes públicos e privados na hora de investir na criação de espaços urbanos destinados ao

lazer.

Na Política Municipal de Meio Ambiente, tem-se definida a criação do Sistema

Municipal de Áreas Verdes e de Lazer, que neste Plano Diretor possui como elementos

constituintes: I - áreas verdes públicas ou privadas significativas, parques e unidades de conservação; II - Áreas de Preservação Permanente (APP), assim definidas no artigo 2º da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, que institui o Código Florestal Brasileiro e suas alterações, e que integram as bacias hidrográficas do Município de Belém; III - áreas públicas ou privadas, em situação de degradação ambiental; IV - áreas naturais preservadas em função da existência de populações tradicionais81 (ibdem).

A criação do Sistema Municipal de Áreas Verdes e de Lazer possibilita a

articulação de mecanismos necessários à ampliação do lazer como benefício público em

Belém. Os quais já foram previstos com os objetivos de: “ampliar os espaços de lazer ativo e

contemplativo, criando parques lineares ao longo dos cursos d’água não urbanizados” 82;

“ampliar e articular os espaços de uso público, em particular os arborizados e destinados à

circulação e bem estar dos pedestres ”83.

O Sistema também orienta para o uso racional deste recurso comum a todos,

quando define no Art. 58, inciso II: “adotar critérios justos e equitativos de provisão e

distribuição das áreas verdes e de lazer no âmbito municipal”; e, nas diretrizes “o

disciplinamento do uso, nas praças, nos parques e demais áreas verdes, das atividades

culturais e esportivas, bem como dos usos de interesse turístico.”84

A política de rede hídrica e de corredores de integração ecológica mapeia os

Parques lineares integrados ao Sistema Municipal de Áreas Verdes e de Lazer como

necessários para melhorar a qualidade ambiental do Município. Outro objetivo desta política

80 Capítulo III da Política de Infraestrutura e Meio Ambiente, Seção Do saneamento Ambiental Integrado, Subseção III - Da Drenagem Urbana, Art. 37, inciso V, alínea a. 81 Capítulo III da Política de Infraestrutura e Meio Ambiente, Seção IV Do Meio Ambiente, Subseção I - Do Sistema Municipal de Áreas Verdes e de Lazer Art. 57, da composição do Sistema. 82 Ibdem, Art. 58, dos objetivos, inciso V. 83 Ibdem, inciso VII. 84 Ibdem, Art. 59, inciso III.

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128

recomenda a ampliação de espaços de lazer ativo e contemplativo, de forma que

progressivamente possam ser criados parques lineares (BELÉM, 2008, p. 38).

O Macrozoneamento de Belém85 dividiu o território em dois ambientes:

Macrozona do Ambiente Urbano (MZAU) e Macrozona do Ambiente Natural (MZAN). Na

primeira, existe uma subdivisão em sete zonas que correspondem à parte urbanizada do

território. Ela abrange a parte continental e a parte das ilhas de Caratateua, Mosqueiro e

Cotijuba. Já a segunda está representada pelas áreas de paisagem natural “não urbanizadas das

ilhas de Caratateua, Mosqueiro e Cotijuba e as demais ilhas do Município em sua totalidade e

a Área de Proteção Ambiental dos Mananciais de Abastecimento de Água de Belém (APA-

Belém).” 86

A MZAU está dividida em sete zonas que correspondem a determinadas áreas da

cidade, de acordo com seu desenho urbanístico e/ou paisagístico. A tabela abaixo sintetiza os

dados relacionados à previsão do lazer nessas áreas de acordo com o Plano Diretor Atual.

Tabela 65 - Macrozoneamento de Belém de acordo com usos e atividades de lazer em Zonas de Ambiente Urbano - ZAU

ZAU CARACTERÍSTICAS OBJETIVOS DIRETRIZES 1 (Art.88) Parte de Mosqueiro (ao Norte) e

Cotijuba apresenta ocupação rarefeita, inexistência de infra-estrutura e presença de vegetação significativa (Art.88).

V - dinamizar atividades de turismo, cultura e lazer (§1º).

II - promover atividades de cultura, esporte e lazer, nas áreas de uso coletivo (§2°).

2 (Art. 89) Parte de Mosqueiro (ao sul) e parte de Outeiro (Orla e área urbana) [...] caracteriza-se por apresentar ocupação primordialmente habitacional, infraestrutura consolidada em parte da zona e inexistente em outra, núcleo habitacional com utilização sazonal, ocupado predominantemente nos finais de semana e férias (Art. 89).

V - fortalecer as atividades de cultura, esporte, lazer, comércio, serviços e negócios, visando o incremento do turismo. atividade turística ( §1º).

§2°. São diretrizes da ZAU 2: I - consolidar e ampliar a infra-estrutura, para potencializar II - promover atividades de esporte, cultura e lazer nas áreas de uso coletivo (§2°).

(continua) 85 Art. 87 A Macrozona do Ambiente Urbano (MZAU); Art. 85 Na Macrozona do Ambiente Natural (MZAN). No plano, os artigos 79 a 99 expressam o macrozoneamento do território de Belém. 86 Os Artigos 82 a 85 e os artigos 95 a 99 refletem a Macrozona de Ambiente Natural e suas subdivisões em Zonas de Ambiente Natural (ZAN).

Page 129: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

129

3 (Art. 90) Setor I

Distrito de Icoaraci: caracteriza-se pelo traçado regular, com vias largas, grandes lotes, pouca verticalização, eixo comercial e de serviços desenvolvidos ao longo da via principal, potencial turístico e cultural, orla parcialmente urbanizada com atividades portuárias, de lazer e turismo, ocupações irregulares, habitações precárias, tendência para o fracionamento do lote, presença de patrimônio imaterial e material marcante (§1º).

III - incentivar a diversidade de usos em harmonia com as características históricas e culturais da área; V - fortalecer as atividades de cultura, esporte e lazer, comércio e serviço, visando o incremento do turismo; VI - implantar equipamentos públicos, espaços verdes e de lazer (§ 2º).

II - incentivar a recuperação e conservação dos imóveis de valor histórico e cultural; III - incentivar atividades de turismo, cultura, esporte e lazer; VI - reconhecer, valorizar e divulgar o patrimônio cultural imaterial (§3º).

3 setor 2 (Art.90)

Presença significativa de conjuntos habitacionais populares, eixos de comércio e serviços e infraestrutura precária (Art.90).

V - fortalecer as atividades de cultura, esporte e lazer, comércio e serviços. (§ 5º).

II - promover atividades de esporte, cultura e lazer nas áreas de uso público (§ 6º).

4 (Art. 91) [...] uso predominantemente residencial, atividades econômicas dispersas, presença de núcleos industriais, carência de equipamentos públicos, infraestrutura não consolidada, terrenos subutilizados ou não utilizados, com ociosidade de grandes áreas, incidência de loteamentos destinados à classe média alta e ocupações precárias (Art. 91).

IV - ampliar a disponibilidade de equipamentos públicos, espaços verdes e de lazer (§1º).

VII - Investir na manutenção e dotação de espaços públicos de uso coletivo, especialmente o Parque Guajará, a área da Marinha e a Orla do rio Maguari e da Baía do Guajará (§2º).

5 (Art. 92) Pedreira, Barreiro, Telégrafo, Sacramenta, Fátima, Guamá, Jurunas, Terra Firme, parte do Marco, Curió Utinga - caracteriza-se pelo uso predominantemente residencial, com alta densidade populacional, ocupação de comércio e serviço nos principais eixos viários, edificações térreas ou de dois pavimentos, carência de infraestrutura e equipamentos públicos, alta incidência de ocupação precária, núcleos habitacionais de baixa renda e risco de alagamento (Art. 92).

I - complementar e ampliar a infraestrutura básica; II - ordenar o adensamento construtivo; III - implantar equipamentos públicos, espaços verdes e de lazer (§1°).

VII - dotar de infraestrutura os espaços públicos de uso coletivo (§2°). Não apresenta diretriz específica.

6 setor I Caracteriza-se por possuir infraestrutura consolidada e estar em processo de renovação urbana, com inexistência de uso predominante, grande incidência de atividades econômicas, grande número de terrenos ocupados com verticalização, remembramento de lotes e congestionamento do sistema viário. V - dinamizar atividades de cultura, lazer, comércio serviço, visando o incremento do turismo (§2º).

VI - promover atividades de cultura e lazer nas áreas de uso coletivo (§3º).

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130

(continuação) 6 setor II Uso predominantemente

residencial, presença de edificações de interesse histórico e ambiental, atividades econômicas concentradas nos principais eixos de circulação, infraestrutura consolidada e lotes desocupados ou subutilizados.

Otimizar a infraestrutura instalada.

VI - promover atividades de cultura e lazer nas áreas de uso coletivo (§5º).

6 setor III (§7º)

Caracteriza-se pela não predominância de uso, presença de núcleos comerciais diversificados, com alta atratividade e forte tendência ao adensamento, com infra-estrutura e equipamentos públicos insuficientes (§7º).

III - incentivar a ocupação com atividades econômicas, vinculadas ao comércio varejista e serviços de lazer e entretenimento; IV - o incentivo à ocupação habitacional verticalizada (§8º).

I - melhorar a mobilidade e acessibilidade; II - requalificar o sistema de circulação; III - recuperar e manter os espaços públicos de uso coletivo; IV - dotar os espaços públicos de equipamentos para a prática de esportes, o lazer e cultura (§9º).

7 Setor I Art. 94 (§1º)

Setor I caracteriza-se por seus atributos históricos, paisagísticos e culturais, por desempenhar tradicionalmente as funções de centro comercial, administrativo, de serviços e portuário, com atendimento em todo o Município (§1º).

I - requalificar, preservar e conservar o núcleo histórico; V - potencializar as atividades de turismo e negócios afins. IV - reabilitar os espaços públicos destinados às atividades de cultura, lazer e de turismo (§2º).

IV - reabilitar os espaços públicos destinados às atividades de cultura, lazer e de turismo (§3º).

7 Setor III (§7°)

Zona de Orla Fluvial. Caracteriza-se pela presença de ocupação desordenada, habitações e infraestrutura precárias, presença de atividades portuárias privadas tradicionais, degradação ambiental, risco social e presença de edificações históricas (§7°).

I - requalificar, preservar e conservar os imóveis de valor histórico; III - incentivar as atividades turísticas e culturais (§8°).

São diretrizes da ZAU 7 – Setor III: I - recuperar áreas degradadas, livres ou ocupadas, potencializando as suas Qualidades paisagísticas; II - requalificar e ampliar a infraestrutura urbana, especialmente para o desenvolvimento de atividades turísticas, culturais, de esporte e lazer (§9°).

FONTE: Elaborada pela autora a partir dos dados do PDB. Artigos 87 a 94.

Percebe-se que existe um plano estratégico, mesmo que genérico, do lazer em

todas as zonas do território urbano, com exceção de parte da ZAU6, nos setores IV e V e setor

II da ZAU7, que compreende parte do Centro histórico. O grau de repartição do território com

as zonas redesenha um nível mais significativo de detalhamento de planejamento da cidade,

que em tese potencializa a área do lazer nestas zonas.

Neste Plano, notou-se a ênfase dada a alguns verbos como: dinamizar, ampliar,

promover, fortalecer, implantar, incentivar, requalificar, potencializar, otimizar, recuperar,

Page 131: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

131

melhorar. Verbos estes que impõem ações concretas para as atividades, equipamentos

públicos, áreas públicas e imóveis de valor histórico cultural. Esta foi a perspectiva apontada

para a política de lazer nessas áreas, entretanto, o Plano não detalha as políticas em Programas

e ações, dificultando, desta forma, sua própria exequibilidade. Além disso, neste zoneamento

não se percebeu política de formação de pessoal para atuar com o lazer (CASTELLANI,

2007; MARCELLINO, 2007).

A Macrozona do Ambiente Natural (MZAN) tem como uma de suas diretrizes:

“VII - incentivar o turismo nas ilhas, por meio de programas que evidenciem o meio

ambiente, a diversidade cultural, a paisagem e as características locais típicas das ilhas

fluviais do Município de Belém” (Art.85). As MZANs são potencialmente recursos comuns,

pois são bens naturais necessários à vida, de difícil exclusão e com um baixo grau de

rivalidade no uso de seu recurso (OSTROM, 2002).

Estas zonas devem ser efetivamente espaços privilegiados de atenção por parte

dos gestores públicos e da sociedade como um todo, para que seu manejo e exploração

possam ser compatíveis com as possibilidades do seu não esgotamento. O que se percebe no

Plano é que essas áreas divididas em três zonas prevêem o uso limitado para certas práticas

que favoreçam a vivência do Lazer na natureza como: a pesca; a criação de espécies

aquáticas, respeitadas todas as premissas legais; o turismo ecológico, cultural e de aventura;

esportes náuticos, desde que não coloquem em risco os ecossistemas aquáticos; o lazer e a

contemplação87.

Outro zoneamento importante no Plano são as ZEIS - Zonas Especiais e Interesse

Social, que tem como característica marcante a ocupação por pessoas de baixo poder

aquisitivo e serviços públicos precários, bem como a inexistência de equipamentos públicos

na área. Em geral, os domicílios/loteamentos são irregulares e a situação diagnóstica na

leitura dessas áreas comprova a “V - inexistência ou déficit de equipamentos comunitários de

saúde, educação, esporte e lazer.” 88 O plano identifica ainda a falta de equipamentos de lazer

nas ZEIS, mas não se mostra propositivo na formulação de objetivos e diretrizes que remetam

à discussão de um plano de habitação ou ainda de diretrizes para o lazer nessas áreas.

As Zonas Especiais de Interesse Ambiental (ZEIA) representam:

87 Art. 85, incisos de III a VI. 88 Art. 97, inciso V.

Page 132: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

132

I - áreas verdes públicas ou privadas, praças, parques e unidades de conservação, situadas na Macrozona do Ambiente Urbano ou na Macrozona do Ambiente Natural, cujas funções são proteger as características ambientais existentes e oferecer espaços adequados e qualificados ao lazer da população; IV - áreas públicas ou privadas, em situação de degradação ambiental, que devem ser recuperadas e destinadas, preferencialmente, ao lazer da população, de forma a contribuir com o equilíbrio ambiental (Art.104); Art. 110 São diretrizes das Zonas Especiais de Interesse Ambiental (ZEIA): I - recuperar áreas degradadas, livres ou ocupadas, potencializando as suas qualidades materiais e imateriais para que possam ser incorporadas a Unidades de Paisagem; II - preservar os maciços vegetais remanescentes no interior da malha urbana; III - preservar os espaços livres de uso coletivo como praças e imóveis, ou conjunto de imóveis, que possuam áreas verdes; IV - criar e implementar novas áreas para parques, praças e unidades de conservação; Art. 111 Constituem-se Zonas Especiais de Interesse Ambiental (ZEIA), da Macrozona do Ambiente Urbano (ANEXO VI): I - Parque Ecológico do Município de Belém; II - Parque Guajará; III - Parque Ariri; IV - área da Marinha; V - orla do rio Maguari; VI - orla continental do rio Guamá e baía do Guajará; VII - orla das ilhas de Mosqueiro, Caratateua e Cotijuba; VIII - Jardim Zoobotânico Emílio Goeldi (Resolução CONAMA nº 339, de 25 de setembro de 2003); IX - Jardim Botânico Bosque Rodrigues Alves (Resolução CONAMA Nº 339, de 25 de setembro de 2003); X - Escola Bosque Prof. Eidorfe Moreira; XI - bacia do rio Tamanduaquara; XII - bacia do rio Murubira; XIII - bacia do rio Cajueiro; XIV - bacia do rio Carananduba; XV - bacia do rio Sucurijuquara; XVI - bacia do rio Jacarequara.

Destacam-se ainda as Zonas Especiais de Interesse do Patrimônio Histórico e

Cultural. De acordo com o Art. 113 as Zonas Especiais de Interesse do Patrimônio Histórico e

Cultural (ZEIP) são áreas formadas por sítios e conjuntos arquitetônicos de valor e

significância cultural, de relevante expressão artística, histórica, arqueológica e paisagística,

Art. 114 Constituem-se ZEIP da Macrozona do Ambiente Urbano: I - Centro Histórico (definido pela Lei Municipal nº 7.709, de 18 de maio de 1994); II - Praça Batista Campos, Cemitério da Soledade e Horto Municipal e seus entornos; III - Complexo de São Brás; IV - área do Forte da Barra; V - área do Sítio Penacova; VI - Vila do Distrito de Mosqueiro e seu entorno; VII - Educandário Nogueira de Farias e seu entorno (ilha de Cotijuba); VIII - orla das ilhas de Mosqueiro e Cotijuba. Art. 115 Constituem-se ZEIP da Macrozona do Ambiente Natural: I - área tombada da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e entorno; II - ruínas do Engenho Murutucu; III - ilhas de São Pedro e Tatuoca (ibdem).

Segundo Sant’Ana (2006, p.120), “o planejamento é na concepção atual, um

processo de leitura e identificação de problemas que se deseja solucionar.” Neste sentido, o

macrozoneamento constroi uma leitura da cidade e apresenta as possibilidades para se

estabelecer definições para os variados usos e ocupações nos diferentes ambientes do

território municipal. No caso de Belém, as ZEIAS e as ZEIP potencializam as possibilidades

de lazer na cidade, pois a leitura da cidade não só traz a identificação dos problemas como

revela as belezas de valor cultural desses ambientes.

Page 133: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

133

4.1.3.3 Animação cultural

Uma política de lazer não pode negar a animação sociocultural nas políticas

públicas de lazer, que entre outras características é a ação político-pedagógica para a difusão

do lazer. Em relação ao interesse da população na área de lazer, uma política pública deve

estar atenta a não só apresentar uma lista de objetivos e diretrizes para orientar a elaboração

de políticas de lazer como também deve propor programas e ações que incluam o

planejamento da ação dos profissionais que atuarão nestes programas (STIGGER apud

MARCELLINO, 2007). Deste modo, enfatiza-se a importância de uma política de lazer que

desenvolva estratégias de formação permanentes do profissional da animação cultural

ampliando seu olhar e consciência sobre sua atuação segundo uma dimensão mais ampla de

compromisso com a sociedade. Desenvolver uma política de lazer e esportes nessa perspectiva significa, mais do que oferecer serviços a população, criar condições para a promoção do debate e da reflexão sobre essas mesmas políticas, no sentido de construção de um projeto coletivo [...] (ibdem, p. 28).

O Plano prevê que as demandas crescentes da população devem ser atendidas. E

assim, destaca-se o apoio e o fomento às iniciativas populares como necessárias para a

consolidação dessa política.

No artigo que trata das diretrizes da Política Municipal de Esporte e Lazer, se

considera de importância fundamental a proposição de atuação de maneira integrada às outras

políticas setoriais como as de saúde, de educação, de cultura e de comunicação (Art. 24).

Tendo em vista, que a ação coletiva intersetorial potencializa as ações do Estado na oferta dos

benefícios públicos à população, além de fortalecer as políticas enquanto possibilidade de se

consolidarem como política de Estado e não apenas como uma política da gestão municipal.

É um avanço no Plano a garantia do desenvolvimento da memória do esporte e do

lazer “para as presentes e futuras gerações”. Podendo, este fato também ser um impulsionador

da pesquisa científica com banco de dados sobre o tema. Vale ressaltar, que esta proposição

contribui para a criação de espaços físicos destinados a este fim a exemplo do surgimento de

bibliotecas, videotecas e museus públicos, voltados todos para a memória do esporte e do

lazer em Belém.

O Plano Diretor é omisso em relação à formação de pessoal para animação

cultural (MELO, 2003) ou de agentes sociais de esporte e lazer (MARCELLINO, 2007;

CASTELLANI, 2007; EWERTON, 2010), pois é importante pensar em uma política voltada

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134

para o lazer em um esforço para a compreensão e educação desta dimensão do lazer público,

como um recurso ao acesso de todos. Neste sentido, o Plano não apresenta proposições acerca

da valorização destes atores que atuam nos programas, projetos e ações municipais.

Há que se considerar que algumas obras poderão ampliar os espaços de lazer na

cidade como o projeto Portal da Amazônia89 que contempla, em parte, uma antiga necessidade

dos habitantes de Belém. Esta consiste na ampliação do acesso gratuito às margens dos rios

que banham Belém, cuja restrição é um dos problemas adquiridos com o crescimento

desordenado da cidade. Neste sentido, a expectativa criada diante de obras desta natureza é de

que ocorra a ampliação de espaços para o lazer gratuito como benefício público e não mais

como espaço privatizado.

89[..] é um programa que envolve as obras de macrodrenagem da Bacia da Estrada Nova, abrangendo uma área de 958 hectares, que corresponde a 16% do total da área urbana de Belém. Envolve também a urbanização da orla da Avenida Bernardo Sayão, em um trecho de 6,25 quilômetros de extensão, que começa a partir do Mangal das Garças e se estende até a Universidade Federal do Pará-UFPA (Jornal O LIBERAL, 2007) [...] O projeto envolve investimentos de R$ 125 milhões na construção da orla da cidade e mais R$ 275 milhões na macrodrenagem da Estrada Nova. As obras beneficiarão 250 mil habitantes dos bairros do Jurunas, Guamá, Cidade Velha, Cremação e parte de Batista Campos. A apresentação (...) foi feita pelo secretário municipal de Urbanismo, Luiz Otávio Pereira, na sede da escola de samba 'Bole-Bole' (Jornal O LIBERAL, 2006).

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135

Fotografia 05 - Imagem de Belém: demonstrativo de obras de recuperação de área degradada para fins de lazer Fonte: Google Earth (2010).

Fotografia 06 - Espaço Saúde e Lazer na Praça Brasil Fonte: Site oficial da PMB (2010).

Page 136: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

136

4.1.3.4 O Lazer nos Orçamentos Municipais

Tabela 16 - Orçamento para o lazer (2008 – 2010)

BELÉM. Orçamento.

LOA/2008 (em R$)

% LOA/2009(em R$)

% LOA/2010(em R$)

%

Geral 1.196.218.332,00 100 1.575.541.883,00

100 1.612.262.041,00 100

Esporte e lazer no orçamento da SEMEC

5.000,00 0,0004 Sem previsão --- Sem previsão ---

Conselho Municipal de esporte e lazer

5.000,00 0,0004 8.000,00 0,0005 10.000,00 0,0006

SEJEL

Sem previsão --- 3.711.145,00 0,23 17.873.135,00 1,10

Construção de novos espaços

Sem previsão --- 700.000,00 --- 700.000,00 ---

Manutenção e gestão

dos espaços

Sem previsão --- 25.000,00 --- 25.000,00 ---

Subitens do

orçamento da SEJEL

Animação Cultural

Sem previsão --- 786.595,00 --- 14.269.320 ---

FUMBEL (cultura) 11.466.271,00 0,95 11.575.969,00 0,73 11.819.870,00 0,73 Total Geral (de Esporte e Cultura)

11.476.271,00 0,95 15.287.114,00 0,96 29.693.005,00 1,83

FONTE: Elaborada pela autora a partir dos dados das LOAs 2008, 2009 e 2010 (Site oficial da PMB).

Até o ano de 2007, não existia uma secretaria específica de esporte e lazer90, daí

não existir previsão orçamentária similar (com o mesmo nível de recursos) a de outras

secretarias do Município em 2008. Assim, os recursos previstos para estas políticas eram

dispersos entre a FUMBEL e a SEMEC91. Neste ano, foram destinados no orçamento92 da

SEMEC somente R$ 5.000,00 para desporto e lazer; e para o Conselho Municipal de Esporte

R$ 5.000,00. Não sendo possível nesta pesquisa documental elencar todos os recursos

previstos para esta área nas várias secretarias.

Já no orçamento de Belém para o ano de 200993, existia uma previsão de R$

3.711.145,00 para lazer e desporto, a serem aplicados pela recém criada Secretaria de Esporte

de Lazer da Cidade, ou seja, 0,23 % do orçamento de Belém. O investimento no Conselho

Municipal de Esporte manteve baixo nível de recursos, não ultrapassando R$ 8.000,00 para o

ano. O orçamento para construção de novos espaços foi de R$ 700.000,00 e a previsão de

gastos com manutenção e gestão de espaços de esporte e lazer neste mesmo período foi de R$ 90 A criação da SEJEL se deu através da aprovação da Lei nº 8.629, de 21 de janeiro de 2008 de Belém. 91A politica de Esporte e Lazer estava na FUMBEL até 1996. Na gestão 1997ª 2004. O Departamento de Desporto foi extinto apenas na funcionalidade. Suas ações foram incorporadas pela SEMEC com a criação da Coordenadoria de Esporte, Arte e lazer – CEAL. Na gestão de 2005 o atual prefeito retomou este departamento, até a sua extinção definitiva com a criação da SEJEL em 2008. 92 Lei nº 8.622, de 28 de dezembro de 2007 - Município de Belém. Disponível em http://www.belem.pa.gov.br/new/pdf_segep. 93 Lei nº 8.659, de 6 de janeiro de 2009 - Município de Belém. Disponível em: http://www.belem.pa.gov.br/new/pdf_segep.

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137

25.000,00. A animação cultural, com ações de incentivo ao desporto e lazer contou com uma

alocação de recursos de 786.595,00. Tal distribuição é característica de uma “política

herdada” (HALL e TAYLOR, 2003) na área do esporte e lazer, em que há uma distribuição

desigual entre as ações de lazer e as ações específicas voltadas para o esporte de alto

rendimento.

Percebe-se um aumento considerável de previsão de recursos para o ano de

201094, com a alocação, em tese, de R$ 17.873.135,00 ou o equivalente a 1,1 % do orçamento

da cidade para o ano. Em que pese neste novo aporte na previsão de recursos, permaneceram

estacionadas as verbas destinadas para a conservação de espaços de lazer, limitando-se a R$

25.000,00; as destinadas à construção de novos espaços ficou em 700.000,00; e as dirigidas

para a manutenção do Conselho Municipal de Esporte e Lazer foram de apenas R$ 10.000,00.

mas com desequilíbrio na execução orçamentária desta política pública. Uma vez que para

atividades de animação cultural foram previstos o montante de R$ 14.269.320,00, em

detrimento de recursos insignificantes destinados à ações de controle social desta política.

O PDU de Belém, nesta nova versão, apresenta uma política de gestão urbana

com uma perspectiva favorável ao estabelecimento de uma política de lazer como benefício

público. A possibilidade de ampliação dos benefícios públicos de lazer pode ser percebida

inclusive pelos objetivos e diretrizes definidos nos planos da maioria das políticas setoriais:

Educação, patrimônio, desporto e lazer, meio ambiente, no ordenamento do território,

mobilidade urbana. Sobretudo, na política de meio ambiente, o lazer ganha espaço enquanto

recurso comum. Porém, se coloca no mesmo padrão de valoração do mercolazer, com

destaque para a política setorial do desenvolvimento econômico que atribui ao turismo,

principalmente, ao ecoturismo, o tratamento de produto potencializador da economia.

Deste modo, o Plano Diretor aponta essas duas perspectivas para a vivência do

lazer, cabendo, portanto, a ação coletiva dos atores para a utilização de mecanismos de

controle social. Embora, no caso do esporte e lazer, o Plano não trace qualquer referência ao

mecanismo de gestão do lazer, este existe e tem previsão de despesa orçamentária para seu

funcionamento95. Assim, devem-se buscar outros aportes institucionais previstos para o

controle social, com vistas na efetivação do lazer como um recurso comum, disponível a

todos e com manejo de uso equilibrado para as futuras gerações.

4.2 O lazer no Plano Diretor de Manaus

94 Lei nº 8.730, de 21 de janeiro de 2010 - Município de Belém. Disponível em: http://www.belem.pa.gov.br/new/pdf_segep. 95 A questão do orçamento municipal será tratada no próximo item.

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138

4.2.1 Considerações gerais sobre o Plano Diretor

O primeiro Plano Diretor de Manaus96 pós-Constituição de 1988 e do Estatuto da

Cidade Lei de 2001, foi criado através da Lei 671, de 04 de novembro de 2002, que

regulamenta o Plano Diretor Urbano e Ambiental de Manaus - PDUAM. Apesar de a Lei de

Criação do Estatuto da Cidade ter sido aprovada mais de um ano depois da aprovação do

Plano, é uma ferramenta básica para a elaboração dos planos diretores das cidades a partir de

20 mil habitantes, mesmo que a nova regulação para o planejamento da cidade de Manaus não

faça qualquer referência ao Estatuto97.

Este não apresenta glossário necessário para a identificação de conceitos e termos

técnicos que aparecem na Lei do Plano Diretor. Sendo uma vez utilizados são elementos

constituintes do Plano e, por isso, recomendados pelos documentos orientadores para a

elaboração de planos diretores, dificultando o seu acesso e domínio amplo pela população.

O Plano incorpora duas questões de maneira equilibrada que se tornaram urgentes

na atualidade: a ideia da gestão racional do meio urbano e a necessidade em responder à

problemática ambiental. Assim, o nome do Plano98, à primeira vista, parece ter ficado

redundante, pois não é possível pensar na questão urbana como algo diferente do ambiental.

Desta forma, é preciso ter claro que a questão urbana está contida na questão ambiental e por

isso a necessidade de afirmação da questão ambiental no título da Lei justifica-se pelo

contexto em que este documento foi elaborado: pressões crescentes, por toda parte do globo,

na responsabilidade com a qualidade de vida do Planeta e o papel fundamental do Brasil em

preservar a Amazônia (IMAZON, 2007).

Por outro lado, percebe-se que a preocupação com o “embelezamento” da cidade é

a grande marca do mesmo. Valoriza a cidade, essencialmente, em seus aspectos físicos, uma

vez que não dedica nenhum capítulo específico para as políticas sociais, como a política de

saúde, educação e assistência social. As políticas de lazer e de habitação aparecem dispersas

em todo o texto do PDUAM, inclusas em outras políticas. No caso do lazer contido nas

políticas: de Patrimônio Cultural, Promoção da Economia, na Mobilidade Urbana; na área da

habitação: política de construção da cidade e áreas especiais de interesse social (AEIS).

96 Antes do Plano Diretor aprovado em 2002, existia a Lei 1.033/68, que definia alguns elementos para o planejamento da cidade como: regras para as edificações, zoneamento, loteamento e a infraestrutura viária do município. Com a Lei nº 1.214/75 foi aprovado o Plano de Desenvolvimento Integrado- PDLI. 97 A Prefeitura de Manaus contratou a empresa Instituto Brasileiro de Administração Municipal – IBAM como assessora técnica para elaborar o Plano Diretor de Manaus e a adequação dos instrumentos urbanos que estavam em vigor e já se encontravam defasados (LA ROVERE; CRESPO, 2002, p.40). 98 Plano Diretor Urbano e Ambiental de Manaus – PDUAM.

Page 139: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

139

Embora sendo citadas como possibilidades de lazer e de habitação, esses registros aparecem

como objetivos e diretrizes, exceto na política de economia, que atinge até o nível da

formulação de programas em que o lazer está previsto.

As políticas sociais que estão diretamente relacionadas ao cumprimento das

funções sociais da cidade e da propriedade urbana, previstas no Estatuto da Cidade, estão

tratadas da seguinte maneira no Plano: educação, saúde, assistência social e o lazer

encontram-se secundarizados ou citados como uma estratégia e/ou objetivo em outras

políticas. A orientação para o processo de responsabilidade do município na condução dessas

políticas sociais na cidade não mereceu um capítulo específico; Habitação social está como

objetivo da política de construção da cidade; a educação aparece no campo da produção de

conhecimento em centros avançados de biotecnologia e biodiversidade; no caso específico do

lazer, percebe-se na política de desenvolvimento econômico, na qualidade ambiental e

cultural de Manaus. Olhando a cidade de Manaus, a partir do Plano Diretor, a impressão que

se tem é que a cidade só tem espaços naturais e equipamentos públicos, sendo desprovida de

pessoas, as quais impõem diferentes dinâmicas à cidade.

Embora o termo lazer não conste nos artigos dos princípios fundamentais, muito

menos apareça nas estratégias de desenvolvimento, o Plano apresenta pontos possíveis para

seu desenvolvimento ao longo da lei. Nos princípios do desenvolvimento do município

aparece como inciso “a valorização cultural de Manaus e de seus costumes e tradições” 99.

Nas estratégias previstas de desenvolvimento do município, nas quais merece

atenção a primeira, definida como: “Valorização de Manaus como Metrópole Regional” 100,

pode-se observar as diversas ações que foram desenvolvidas pelas instituições municipais e

estaduais no município de Manaus. Inclusive a concretização de ações práticas, como a

criação do “Programa Manaus - Metrópole da Amazônia”, que por sua vez definiu novas

estratégias de efetivação, em que está prevista a implantação de “espaços públicos

polivalentes de elevado interesse comunitário, em módulos progressivos, cuja essência é a

conquista da cidadania e a defesa da democracia” 101. Entre estes pontos, e as diversas

possibilidades de ação pública que eles podem orientar, estão aqui as possibilidades de

criação, preservação, manutenção e animação dos espaços públicos para o lazer, uma vez que

99 Inciso II do Art. 1º do PDU. 100 Consta no Título II Das Estratégias de Desenvolvimento, Art.2º As Estratégias propostas pelo Plano Diretor Urbano e Ambiental de Manaus para o desenvolvimento do Município são: I – Valorização de Manaus como Metrópole regional; II – Qualificação ambiental do território; III – Promoção da economia; IV – Mobilidade em Manaus; V – Uso e ocupação do solo urbano; VI – Construção da cidade; VII - Gestão democrática (MANAUS, 2002, p. 04) 101 Art. 6º, inciso VI (ibdem, p.5).

Page 140: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

140

a norma de planejamento da cidade não cita o termo lazer como estruturante do

desenvolvimento do Plano Diretor.

Nas estratégias de desenvolvimento apresenta-se a criação de uma agência de

promoção de desenvolvimento regional sustentável102 que até os dias atuais não foi

implantada. As orientações para a revisão do novo Plano Diretor de Manaus apontam para a

retirada deste artigo, o que ratifica a perda de sentido da criação de um órgão específico

voltado para o desenvolvimento da análise da gestão pública.

O Plano de Manaus tem como característica bem marcante a preocupação com o

desenvolvimento econômico do município. Essa matriz econômica é uma das estratégias de

desenvolvimento da cidade, que se destaca de maneira transversal no Plano, e justifica o seu

objetivo de “potencializar Manaus como centro articulador da dinâmica econômica da

Amazônia Ocidental e produtor de conhecimento sobre a região”.103 Esta estratégia é a base

conceitual deste Plano que vai influenciar todas as outras estratégias de desenvolvimento do

município.

4.2.2 Gestão democrática

O município de Manaus tem previsto em seu Plano Diretor um sistema de

Planejamento e gestão da política urbana que se compromete em ser processual e

democrático. Assume em seus objetivos o compromisso com uma gestão em que a sociedade

seja “corresponsável” pela gestão da cidade, podendo a mesma atuar de várias formas.

Apontam como uma das diretrizes a “implantação do orçamento participativo”.

O Conselho de Desenvolvimento Urbano, de acordo com o Art. 134 do Plano

Diretor “é o órgão técnico disciplinar e deliberativo sobre as questões relativas aos sistemas,

serviços e ordenação do espaço urbano do município de Manaus [...]”. Assume na prática um

caráter essencialmente técnico na definição da política urbana. Não incorpora, por exemplo, a

proposição de coordenar o orçamento participativo, que é uma das estratégias apresentadas

nas diretrizes de política de gestão democrática. Nota-se que a natureza técnica do Plano, é

fruto da própria estratégia de criação do mesmo por uma equipe especializada, que sem

participação popular, demonstra um perfil autoritário de concepção de planejamento da

cidade.

102 Consta no Art.6º, inciso VI, Capítulo I, do Titulo II do Plano Diretor. 103 Capítulo III da Produção da Economia, Art. 16.

Page 141: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

141

É importante considerar, que no ano de 2001, já existia a Lei do Estatuto da

Cidade que garantia a participação popular na elaboração e execução do Plano Diretor. No

entanto, o autoritarismo pode ser percebido na própria composição do Conselho de

Desenvolvimento Urbano, que apesar de atualmente fazer uma composição paritária entre as

instituições, atende mais a interesses, principalmente, econômicos, de determinados setores da

sociedade manauara, à medida que prioriza em sua representação, instituições classistas e o

empresariado local da área de construção civil104. Sendo assim, demarca uma lógica

conceitual de Planejamento da cidade, já dita em capítulos anteriores, de concepção de Plano

Diretor como uma tarefa essencialmente de especialistas, técnicos e outros profissionais

experientes em obras urbanísticas, como se a cidade fosse concebida apenas como um

desenho técnico a ser preenchido e/ou melhorado.

A ideia de Orçamento Participativo registrada no PDU 2002 não teve nenhuma

concretização. A própria LDO 2008 é genérica na proposição apenas de incentivo à

participação popular no processo de elaboração do projeto de lei de diretrizes orçamentárias e

apresenta as audiências públicas como forma mais concreta de relação entre o poder público e

a sociedade.

4.2.3 Análise do lazer no Plano Diretor de Manaus

Foram adotados os mesmos indicadores usados para Análise do PDU de Belém: a

concepção de lazer presente no Plano; os espaços físicos destinados ao lazer; a conservação e

manutenção desses espaços; a animação cultural; os investimentos financeiros para a política

de lazer.

4.2.3.1 Concepção de lazer presente no Plano

104 O Conselho atual está composto pela Procuradoria Geral do Município (PGM), o Instituto Municipal de Planejamento Urbano (IMPLURB), a Secretaria Municipal de Obras, Saneamento Básico e Habitação (SEMOSBH) e Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMMA). Instituições que têm acento no Conselho e que representam a sociedade: Câmara Municipal de Manaus (CMM), o Sindicato das Indústrias da Construção Civil (SINDUSCON), Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil (SINTRACOMEC) e CREA (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura).

Page 142: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

142

Duas perspectivas estão presentes no Plano Diretor Urbano e Ambiental de

Manaus (PDUAM): uma é a perspectiva de lazer enquanto benefício público e a outra

enquanto mercolazer, sendo está segunda a que tem maior ênfase no Plano. A primeira

perspectiva se identifica na Política de Qualificação Ambiental e Cultural do Território105, que

aponta para a defesa, a manutenção e gerenciamento ambiental dos recursos naturais urbanos

e não urbanos; para a proteção dos recursos hídricos e áreas verdes, assim como para a

“proteção, conservação e potencialização do uso dos bens de interesse de preservação que

integram o Patrimônio Cultural de Manaus” 106. Porém, tal perspectiva deixa claro uma

preocupação com o disciplinamento dos usos e de um maior controle pelo poder público sobre

os espaços e equipamento das cidades, o que pode ser um alerta para a ação popular no

sentido de assegurar o uso efetivamente público dos espaços da cidade destinados para este

fim.

A política de Mobilidade em Manaus107 orienta para a necessidade de qualificar a

circulação e a acessibilidade na cidade. Estas são características no Plano estimuladoras da

revitalização de experiências de lazer na cidade. Dentre as estratégias tradicionais neste setor,

como a qualidade ambiental e a infraestrutura das vias urbanas, o PDUAM reconhece a

importância do transporte fluvial na área urbana, inclusive como estimulador do lazer turístico

mo. Quando destaca: III - criar alternativas de deslocamentos fluviais na área urbana fomentando o transporte fluvial, de cargas e passageiros, cotidiano e turístico com o objetivo de potencializa a utilização de um recurso natural próprio de Manaus, desde que sejam implementados, conjuntamente, providências e procedimentos que assegurem a proteção ambiental dos cursos d’água e de suas áreas marginais, mantendo-se, preferencialmente, serviços tradicionais de transporte fluvial, como catraia, adequadamente estruturados;108 [...] implantação de ciclovias arborizadas; priorização dos pedestres nas vias, organizando estacionamentos e paradas de ônibus, ordenando e padronizando os elementos do mobiliário urbano e a comunicação visual, implantando e ampliando a arborização, recuperando as calçadas ocupadas com usos impróprios e alargando as calçadas e os canteiros; ampliação da acessibilidade de pessoas portadoras de deficiências, com a implantação de rampas nas travessias de pedestres e comunicação visual e sonora, reportando-se às exigências das normas técnicas brasileiras específicas109 (PDUAM, 2006, p. 14-15).

O PDUAM prevê metas para a recuperação de espaços públicos. Estabelece o

prazo de 5 (cinco) anos para que a estratégia seja cumprida. O prazo está direcionado para a

revitalização de calçadas e praças que foram ocupadas de maneira indevida por equipamentos

105 Titulo II Das Estratégias de Desenvolvimento. Capítulo II do PDUAM, Art. 7º. 106 Art. 7°, Parágrafo único, incisos de I a V. 107É parte das estratégias de desenvolvimento, no Capítulo IV do PDUAM, definida nos artigos 19 - 23. 108 Art. 20 que trata das diretrizes da Estratégia de Mobilidade em Manaus, inciso III (PDUAM, 2006, p. 14-15). 109 Art. 22 discute os programas da Estratégia de Mobilidade em Manaus, inciso II. Alíneas a, b,c, e (PDUAM, 2006, p. 15).

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143

de empresas de energia elétrica, água e telefonia e outros serviços. Vale ressaltar que esta é

uma das poucas metas definidas no Plano e que na prática se observa que ela ficou apenas no

papel, quando MOTA (2008, p.140-141) reflete sobre a situação das calçadas em Manaus: Normalmente, as pessoas vêem as calçadas apenas como uma passagem entre o mundo hostil das ruas, e o portão da sua casa, infelizmente nossas calçadas estão a cada dia depredadas [...] havendo, dessa forma vários obstáculos que direta ou indiretamente obstruem a passagem dos pedestres, como por exemplo, camelôs, placas de propagandas governamentais e particulares, etc.[...] calçadões propícios para caminhadas, corridas e práticas de atividades físicas estão localizadas na região central da cidade, como é o caso da calçada que percorres toda a Avenida Getúlio Vargas, como também o Boulevard Amazonas, amplamente arborizada, que significa ser acolhedora sob o sol de uma cidade dos trópicos úmidos com bastante espaço, ela prioriza a convivência entre as pessoas, que nada mais é que dar o primeiro passo para o surgimento de uma identidade e do sentimento de companheirismo. Por outro lado, temos bairros como Japim, São Raimundo, Efigênio Sales (V-8), Cidade Nova, por exemplo, que possuem calçadas minúsculas ou dificultam a circulação e a prática de atividades físicas, podendo ser chamada de um caminho dentro da cidade. A má qualidade das calçadas também são constantes, algumas não têm pisos adequados e, na maioria das vezes, são irregulares e concorrem praticamente com os veículos automotores (ibdem).

Nota-se que os lugares em Manaus apresentam desigualdades no desenho

urbanístico, representando o processo histórico de ocupação desordenada na cidade, já

referendada nos capítulos anteriores. Neste sentido, o Plano aprovado em 2002 não cumpre a

meta, mas apresenta orientações de estruturação de intenção para a execução de uma política

que possa dar conta de ofertar o acesso universal à cidade, na perspectiva tanto da calçada

como do transporte fluvial e da qualidade do transporte coletivo e intermodal apontado no

Plano. Representa essa perspectiva de apropriação da cidade como um grande equipamento de

lazer e, portanto, como um benefício público à sua população.

O PDUAM também reconhece outra vertente do lazer: o mercolazer como

potencializador da política de promoção da economia110. Nota-se que a palavra “lazer”

começa a aparecer no Plano Diretor de Manaus a partir deste capítulo. No conjunto das

estratégias econômicas, é dado destaque à promoção de atividades turísticas, que por sua vez,

tem como um de seus objetivos “promover o lazer urbano” e “a implantação de estrutura

ambientalmente adequada ao usufruto, para turismo e lazer, de áreas que constituem o

Patrimônio Natural de Manaus” 111.

Acompanhando uma tendência nacional de utilização do turismo como irradiador

da economia, o perigo desta estratégia governamental padrão é a tendência ao estímulo às

110 A política de promoção da economia encontra-se no PDUAM no Título II que trata das Estratégias de Desenvolvimento da Cidade, no Capítulo III, nos artigos 16 e 17. 111 Art. 17, inciso VII, alínea e e g.

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144

barreiras para o Lazer112, sobretudo, a barreira econômica, já que as relações de sobre-

exploração dos recursos ambientais e culturais, ou seja, de espaços possíveis para variadas

formas de lazer como benefício público, podem levar a um acesso restrito àqueles que podem

pagar pelos ingressos do espetáculo, artístico ou esportivo, pela mesa com cadeiras e guarda

sol nas orlas. Do outro lado, está a maioria da população sem possibilidade de usufruir desse

benefício. “Quem não pode pagar pelo estádio, pela piscina, pela montanha e o ar puro, pela

água fica excluído do gozo desses bens que deveriam ser públicos porque são essenciais”

(SANTOS, 1987, p. 48).

Na Política de Promoção da Economia se encontra uma proposta de Programa de

Lazer Urbano vinculando claramente ao lazer como um negócio.

I - Programa de Promoção do Lazer Urbano, visando estimular o lazer local como forma de incrementar o turismo urbano, com propostas de: a) articulação com o setor privado para implantação de serviços de apoio; b) implantação de equipamentos, nos bairros da cidade, com infra-estrutura de apoio ao lazer, incluindo espaços para o desenvolvimento de atividades culturais e econômicas. II - Programa para Abastecimento de Manaus, visando à formação de cooperativas de produtores voltadas à comercialização dos alimentos dirigidos ao abastecimento de Manaus e à melhoria da qualidade destes produtos. Parágrafo único - O Município estimulará a formação de cooperativas associadas a programas sociais e urbanísticos, sobretudo quando vinculadas aos programas de habitação social e de qualificação ambiental.

Tal programa demonstra a vocação do lazer como mercadoria, mesmo nas áreas

carentes que, em geral, são mais afastadas e desprovidas de espaços públicos de lazer. Uma

vez articulada com o setor privado, as iniciativas de lazer nestas áreas, que muitas são terras

públicas disponibilizadas ao empresariado local, passam a ser exploradas economicamente e a

grande maioria da população fica de fora desse serviço.

Por outro lado, cabe contatar o efeito dessas diretrizes na prática ao visualizar na

cidade seus espaços disponíveis para o lazer.

4.2.3.2 Os Espaços de lazer no PDUAM

A vivência do Lazer em Manaus, se considerado o Plano Diretor de 2002, foi

idealizada segundo o conjunto de condições ideais para a qualidade de vida na cidade. Não

recebeu um tratamento adequado ao apresentar um esquema fechado como plano estratégico

112 A barreira econômica é um impeditivo para os trabalhadores acessarem o direito ao lazer, pelo fato dos serviços nas cidades muitas vezes superexplorarem o lazer como mercadoria. Essa barreira provoca a exclusão do acesso a este direito, com o conjunto dos caros serviços ofertados na cidade que dificultam para aqueles de menor poder aquisitivo, como o preço do ingresso, a valor do transporte para o espaço e lazer, o preço da alimentação a ser consumida no local etc. O conjunto dessas necessidades transforma-se um uma das barreiras para o lazer. Ver mais em Estudos do Lazer, de Nelson Cavalho Marcellino (2008).

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145

para uma política de lazer no município. Tratado de forma secundária, o lazer aparece

disperso nas estratégias de desenvolvimento, como já destacado na Política de Mobilidade em

Manaus. Pois ao prever as ciclofaixas, o alargamento das calçadas e arborização,

asfaltamento, sinalização de trânsito e iluminação pública, ações estas de infraestrutura básica

de qualquer cidade, as mesmas contribuem, consequentemente, para o conforto ambiental e

potencializam as chances da população praticar atividades de lazer em ambientes ao ar livre

como: caminhadas, corridas, skates, patins, ciclismo.

A Política de Uso e Ocupação do Solo Urbano113, que tem como meta principal a

reconfiguração da paisagem da cidade e a valorização da paisagem não urbana, apresenta três

Programas em que o Lazer está previsto na dimensão do Patrimônio histórico, com fins de

turismo: Programa de Revitalização da Área Central, que trata da recuperação de espaços

públicos, ocupação residencial, animação cultural e serviços ligados ao turismo; Programa de

dinamização de Centros de bairros que prevê a aproximação da gestão municipal com as

comunidades, a partir da animação cultural, voltada para a realização de eventos culturais e

comerciais nos bairros como uma de suas estratégias; e Programa de Criação e Consolidação

de centros de turismo e lazer nas orlas dos rios Negro e Amazonas.

Os parques públicos para o lazer são uma característica de Manaus, fortemente

implementada na primeira metade do século XX. A questão de hoje é que esses espaços do

passado tinham como característica principal o lazer do banho nos rios, que àquela altura

eram limpos e sem ocupações habitacionais e/ou estruturas urbanas em seu entorno: como o

Parque 10, Ponte da Bolívia e Tarumã. Mota (2008), ao estudar os espaços para o lazer em

Manaus identifica duas tendências que se complementam e baseiam a criação de espaços

livres públicos urbanos: uma visão sociocultural e ambiental, centrada na valorização de

atividades de lazer, recreação e práticas esportivas ao ar livre, justificando assim a criação dos

boulevares, as praças e os parques públicos.

A outra tendência partiria de uma concepção ecossistêmica. Nesta visão, as

intervenções se caracterizam por priorizar “a manutenção, regeneração e recuperação dos

aspectos biofísicos”. De acordo com Mota, essa visão embasa a criação dos diferentes espaços

públicos de lazer em Manaus como o: “Parque Lagoa do Japim, Parque Aquático da Zona

leste, Parque municipal do Mindu, Parque Ponte dos Bilhares e Parque Sauim-Castanheira,

dentre outros” (ibdem, p.149).

113 Cap. V no título das estratégias de Desenvolvimento. O art. 25 detalha os Programas da Estratégia de estruturação do uso e ocupação do Solo urbano em três incisos. (PDUAM, p. 17).

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146

Fotografia 07 - Parque Dez de Novembro, Manaus

Fonte: Biblioteca Digital (IGBE, 2010) 114

Ao longo do século XX, esses parques foram sendo extintos por descaso dos

governantes, para não reforçar a política do Prefeito que o criou. E foram criando outros, com

a marca de suas gestões. Os espaços livres para o lazer recebem tratamentos diferenciados de

acordo com o local onde estão instalados e/ou de quem realizou a obra.

Só para ilustrar essa reflexão, a obra do Parque dos Bilhares em Manaus foi alvo

de debate na Câmara Municipal de Manaus, discutindo-se opiniões contrárias e favoráveis ao

Espaço de lazer quando de sua inauguração, em 2006.

Enquanto vereadores da base aliada do prefeito Serafim Corrêa e de partidos como o PT e PC do B, destacaram a obra como de grande impacto social e importante para a melhoria da qualidade de vida da população, vereadores da oposição lamentaram que os recursos não fossem empregados na melhoria da educação e outros setores prioritários. O vereador Elias Emanuel (PSB), um dos líderes do prefeito na CMM, destacou que obras como a do Parque dos Bilhares fazem parte de um projeto maior da prefeitura para dotar a cidade de espaços de cultura, esporte e lazer. [...] O vereador Paulo de Carli (PDT) usou como parâmetro números da educação [...] "Como podemos priorizar obras e investimentos em passeios públicos em detrimento de escolas?", indagou o vereador. "Precisamos inverter essas prioridades. Fabrício Lima (PSDB) também criticou a obra. "Parece que nada mais aconteceu na cidade. Os vereadores Lúcia Antony (PC do B) e Waldemir José (PT) elogiaram a obra e sua importância para o bem estar da população. "É um espaço importante para garantir a qualidade de vida e poucos são aqueles que não conseguem enxergar a sua importância", disse Lúcia Antony. "A cidade é muito carente desses espaços. O povo precisa de lugares para se encontrar, conversar, conviver115 (OLIVEIRA, 2009).

O episódio acima, especificamente a visão dos vereadores contrários à obra do

Parque dos Bilhares, reflete uma concepção presente na sociedade acerca do lazer como algo

de pouca importância nas políticas sociais, em que na escala de hierarquização das

necessidades humanas: educação, saúde, moradia, por exemplo, estariam na frente do lazer.

(MAGNANI, 1988; MELO, 2003). Tal concepção reflete na forma como as gestões atuam no

114 Disponível em http://biblioteca.ibge.gov.br/colecao_digital_fotografias.php?this_pag=50&palavra_chave=. Acesso em: 03 jun. 2010. 115 OLIVEIRA, Jacira. Parque dos Bilhares repercute na CMM. Disponível em: http://www.cmm.am.gov.br/noticia_simples_2006.asp?ID=2829. Acesso em: 15 jun. 2010.

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147

campo do lazer. Na execução das políticas em Manaus, a exemplo do Parque Dez de

Novembro, nota-se que o Parque na gestão municipal de 2005 a 2009 abrigava a orquestra

sinfônica de Manaus, já na gestão atual este projeto não existe e o prédio está depredado.

Fotografia 08 - Gestão: Serafim Correa 2005-2009 Fonte: http://www.blogdosarafa.com.br/?p=5217

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148

Fotografia 09 – Gestão atual: Prefeito Amazonino Mendes116 Fonte: http://www.blogdosarafa.com.br/?p=5217

No entanto, outros espaços de lazer na cidade estão sendo revitalizados pela atual

gestão como: a Orla da Ponta Negra, Corredor Ecológico do Mindu etc. Portanto, a ação

institucional tem sido determinante na mudança da paisagem urbana, pois com um certo grau de obediência às leis do Plano, mas também com malícia política, defini-se à revelia da

população o que deve ser ou não cuidado na cidade, a depender da vontade política do gestor

Público no poder.

O Patrimônio Natural no PDUAM tem como perspectiva um Programa de

Proteção do Patrimônio Natural117 que define como prioritárias as áreas de turismo e de

moradias carentes para recebem o incremento de arborização. Já para o Programa de Proteção

e Valorização dos Ambientes Naturais e dos cursos d’água, o Plano apresenta como um de

seus objetivos o uso de maneira “ecologicamente adequada” dos trechos navegáveis, tomando

como um dos exemplos de uso adequado a pesca e o turismo. Apontando como estratégia de

conscientização da população o uso racional dos recursos naturais, através da massificação

das informações “por meio das organizações da sociedade civil”.118 Desta forma, o Estado

116 A situação de abandono desse espaço foi denunciada pelo Vereador Marcelo Ramos no Ministério Público do Amazonas. Disponível em: http://www.blogdosarafa.com.br/?p=5217. 117 Art. 10. 118 Artigo 10, Inciso II, do Programa de Proteção e valorização dos ambientes naturais e dos Cursos D’água. Alínea g.

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149

acaba por se desobrigar de atuar com a educação ambiental e outros mecanismos para esse

processo de conscientização.119

Na estratégia de Construção da Cidade, referendada a parte da habitação social e o

acesso à terra urbanizada (Art. 30), o lazer está previsto nas diretrizes da promoção de

reassentamento da população de baixo poder aquisitivo e com tendência de exposição à

riscos.

VI - Promover o reassentamento da população de baixa renda sujeita a situações de risco mantendo as populações reassentadas, preferencialmente, no mesmo local ou nas proximidades, garantindo maior segurança e melhor condição de acesso ao trabalho, ao lazer, à saúde e à educação; [...] Art. 31- Constitui-se programas da Política de interesse social: I - Programa para Melhoria das Condições de habitalibidades em Áreas Consolidadas, compreendendo: [...] d) a implantação de equipamentos sociais e urbanos que permitam criar espaços e lazer e socialização;

A Política de Patrimônio Cultural, apesar de ter sido lembrada e registrada no

Plano, tem um caráter amplo e genérico. Concentrou maior atenção ao patrimônio

arquitetônico. Quanto aos bens imateriais, não foram definidas estratégias de Programa e/ou

ações de difusão e fomento do Patrimônio Cultural. Nota-se essa tendência nas Políticas de

Patrimônio Cultural, em que por muito tempo o que prevaleceu nas políticas para este setor

enfocava apenas o patrimônio histórico arquitetônico, isto porque a cidade legal e formal

sempre foi concebida sobre as referências de pessoas ligadas às classes mais abastadas.

As manifestações culturais tradicionais da região e que representam os momentos

de puro lazer nas comunidades dos municípios amazônicos, e tão utilizadas como instrumento

político em períodos eleitorais, ainda permanecem com atenção desigual no Plano Diretor. As

discussões que estão sendo travadas para um novo Plano Diretor em Manaus acrescentam

mais um item nas diretrizes dessa política que poderá ser “a elaboração do Plano de

Preservação do Centro Histórico.120

A gestão intersetorial se apresenta como perspectiva positiva para a gestão da

cidade, pois converge para o favorecimento das formas de ampliação do lazer como benefício

público na política de gerenciamento integrado ambiental e cultural, em que está previsto um

Programa de Gestão Ambiental que entre outras ações assegura “integrar a atuação dos

setores de meio ambiente, proteção do Patrimônio Cultural, turismo, transportes e educação.

”121

119 Ver em art.10, inciso II que trata do Programa de proteção do patrimônio natural. 120 Essa proposta consta no documento encaminhado pelo prefeito de Manaus à Câmara Municipal que seria a nova Lei do Plano Diretor de Manaus, mas que foi embargada pelo Ministério Público com a alegação de ter faltado participação popular no processo de elaboração do plano. E de acordo com as informações não oficiais, mas de funcionários da Câmara Municipal, as discussões serão retomadas em 2011. 121 Consta no Capítulo II da Qualificação Ambiental e Cultural do Território, na Seção III, Art. 15.

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150

Os espaços para mercolazer previstos no planejamento da economia de Manaus

apresentam o turismo receptivo, a realização de eventos esportivos, a partir da criação de

estrutura física e festas populares com um calendário estável de eventos, isto é, equipamentos

esportivos para a prática esportiva, tendo em vista atrair grandes públicos para a cidade.122 É

interessante perceber que a política de promoção do mercolazer consegue prever inclusive a

formação profissional para o campo de atuação nesta área, o que não existe nas proposições

acerca do lazer como benefício público no Plano.

Já a Política de Uso e Ocupação do Solo Urbano123 apresenta em seus objetivos

controlar a expansão urbana, assim como revitalizar os centros urbanos estabelecendo como

Programa a Revitalização da Área Central da Cidade através de ação intersetorial com órgãos

públicos, e em articulação com o setor privado e sociedade para “o uso e ocupação residencial

e à implantação de atividades culturais, comerciais e de serviços voltadas para o turismo e à

valorização de interesse histórico-cultural.” 124

O Programa de Dinamização de Centros de Bairros propõe a aproximação da

gestão municipal com as organizações comunitárias, além do estímulo a eventos culturais e

comerciais nos bairros. O outro programa está voltado para a Criação e Consolidação de

Centros de Turismo e Lazer nas Orlas dos Rios Negro e Amazonas. Tendo em vista, a

instalação de áreas verdes e parques, na perspectiva da implantação de um sistema de centros

de referência regional em áreas verdes, com aproveitamento dos recursos naturais e

crescimento do número de espaços coletivos referenciais, de abrangência local, urbana ou

regional, caracterizados pelo aproveitamento racional de recursos naturais, ampliação de

espaços de uso coletivo em Manaus. Essa política de uso e ocupação do solo urbano é

marcada pela perspectiva do embelezamento da cidade com fins econômicos, pontuando da

mesma maneira toda a política de lazer no Plano Diretor de Manaus.

O plano favorece ainda possibilidades da utilização dos espaços naturais da cidade

para o lazer quando prevê na Política de Estruturação do Espaço Urbano da cidade, a proteção

das unidades de conservação urbana e áreas de proteção permanente. Na tabela a seguir estão

identificadas as áreas de conservação e corredores que integram o território de Manaus e que

potencialmente são benefícios públicos que permitem a vivência do lazer na cidade.

Tabela 17 - Unidades de conservação e corredor ecológico que potencializam o lazer em Manaus

MARCOÁREAS INTEGRAM O TERRITÓRIO MUNICIPAL DE MANAUS

122 Artigos 16 e 17 123 Prevista no Título II, Capítulo V, Art. 25. 124 Inciso I do Art. 25.

Page 151: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

151

Tutela Federal

a) Estação Ecológica de Anavilhas; b) Reserva Florestal Adolpho Ducke, Integralmente incluída na zona de Transição;

Estadual a) APA Estadual da Margem Esquerda do Rio Negro; b) Parque Estadual do Rio Negro Setor Sul;

Municipal

a) APA do Puraquequara, em parte incluída na Área de Transição; b) APA do Tarumã/ Ponta Negra, em parte incluída na Área de Transição; c) REDES125 do Tupé; d) REDES de Jatuarana.

§ 2° - Serão reenquadradas em novas categorias e implementadas as seguintes unidades de conservação urbana:

I - Área de Proteção Ambiental (APA) do Tarumã/Ponta Negra, originada das Unidades Ambiental (UNA) do Tarumã e da Ponta Negra; II - Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) do Campus Universitário, originada da Unidade Ambiental (UNA) do Campus Universitário; III - Refúgio da Vida Silvestre Sauim- Castanheira.126

§ 3° - Serão criadas e implementadas as seguintes unidades urbanas municipais de conservação.

I - Parque Sumaúma; II - Parque Mundo Novo; III - Parque do Encontro das Águas; IV- Área de Relevante Interesse Ecológico ARIE do Parque Residencial Acariquara127.

Unidades de

Conservação

Unidades de Conservação Urbana128, Art. 55.

Sob tutela federal a) o Jardim Zoológico do Centro de Instrução de Guerra na Selva -CIGS; b) o Bosque da Ciência. Sob tutela Municipal a) o Jardim Botânico; b) o Parque Municipal do Mindu; c) o Horto Municipal.

Corredor Ecológico Urbano129 unindo as unidades de conservação urbana ao Corredor Ecológico da Amazônia Central.

Fonte: Quadro elaborado pela autora a partir dos dados dos artigos 37 e 55 (PDUAM, 2006).

Portanto, localizam-se, na Política de Macroestruturação do município, as

macrounidades que apresentam potencialidades para a implantação de equipamentos e

animação cultural para a potencialização do lazer na cidade. A tabela 18 baseada na Lei

672/2002 demonstra os usos e atividades propostas, por unidade de estruturação urbana-

125 § 1° - A delimitação das REDES de Jatuarana e do Tupé deverá ser estabelecida no Zoneamento Ambiental Municipal. 126 No PDUAM, essa unidade é “originada da Reserva Ecológica Sauim- Castanheira (Alterado pelo Art. 2º da Lei 752 de 07/01/04 D.O.M. Nº 956” (PDUAM, 2006, p. 30) 127 De acordo com o PDUAM, esta definição foi alterada pelo Art. 2º da Lei 752 de 07/01/04 D.O.M. Nº 956. Ver p. 31. 128 Estão definidas no título IV Da Estruturação do Espaço Urbano, Art. 55. 129 O Corredor Ecológico Urbano está previsto no Art. 56 do PDUAM. Criado para proteger as unidades de conservação e áreas de preservação permanente.

Page 152: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

152

UES130 somente daquelas que prevêem o lazer como uso e atividade. Notou-se que nas

macrozonas, apenas a Macrounidade Leste não apresentou, no Plano, perspectivas para uso e

implantação de atividades voltadas para o lazer. Nos espaços identificados, ganha destaque o

lazer turístico, ao mesmo tempo, que se registra o lazer como elemento integrante da política,

mas percebido como algo diferente do turismo.

Tabela 18 - Quadro de uso e atividades das macrounidades de estruturação urbana

USO E ATIVIDADES MACROUNIDADES E UNIDADES DE

ESTRUTURAÇÃO URBANA

DIRETRIZES USOS PERMITIDOS

ATIVIDADES PERMITIDAS

OBS

UES PONTA NEGRA

Reforço ao turismo e lazer; usos e atividades

condicionados à preservação do

patrimônio ambiental e paisagismo

Residencial unifamiliar;

comercial; de serviços; industrial

Atividades tipo 1, tipo 2** e

tipo 3**

SETOR ORLA

PONTA NEGRA

Predominância do uso de comércio e de

serviços, com apoio às atividades de turismo e

lazer

Residencial unifamiliar;

comercial; de serviços; industrial

Atividades tipo 1 e tipo 2**

SETOR ORLA

COMPENSA

Integração das atividades de comércio

e de serviços ao uso residencial, com apoio

ao turismo e lazer

Residencial unifamiliar e multifamiliar; comercial; de

serviços; industrial

Atividades tipo 1 e tipo 2**

ORLA DO RIO

NEGRO OESTE

SETOR ORLA SÃO

RAIMUNDO

Manutenção das atividades existentes; inclusive as portuárias

e as vinculadas à navegação fluvial;

integração de atividades comerciais, de serviço e industriais

ao uso residencial.

Residencial unifamiliar e multifamiliar; comercial; de

serviços; industrial.

Atividades tipo 1, tipo 2, tipo 3

e tipo 4**

(Continua) ORLA DO

RIO NEGRO

SETOR PONTA

BRANCA/A

Integração de atividades comerciais,

de serviço e industriais,

Residencial unifamiliar e multifamiliar;

Atividades tipo 1, tipo 2** e

tipo 3**

130 Quadro reelaborado pela autora a partir do ‘Quadro de Usos e Atividades por Unidade de Estruturação Urbana UES, que consta na lei nº 672/2202. Anexo VI, documento alterado pelo Art. 13º da Lei 752 de 07/01/04 D.O.M. nº 956 de 11/03/04 - republicação) republicado por haver saído com omissão (D.O.M. nº 965 de 24/03/04). Ver em PDUAM (2006, p. 170-173).

Page 153: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

153

MARELINHO ao uso residencial; apoio ao turismo e

lazer

comercial; de serviços; industrial.

LESTE

SETOR BR-319

Manutenção das atividades existentes; inclusive as portuárias

e as institucionais; integração de

atividades comerciais, de serviço e industriais

ao uso residenciais, sobretudo voltadas ao

turismo e lazer

Residencial unifamiliar e multifamiliar; comercial; de

serviços; industrial.

Atividades tipo 1, tipo 2, tipo 3, tipo 4 e tipo 5

UES CENTRO ANTIGO

Usos e atividades compatíveis com a

diversidade comercial e a concentração de bens de interesse cultural,

com incentivo às atividades de comércio e serviços e exigências para adequação do uso

residencial.

Residencial unifamiliar e multifamiliar; comercial; de

serviços; industrial.

Atividades tipo 1, tipo 2, tipo

3** e tipo 4***

CENTRO

SETOR SÍTIO HISTÓRICO

Usos e atividades condicionados à

presença dos bens tombados; integração

de atividades comerciais, de serviços e industriais com o uso

residencial

Residencial unifamiliar e multifamiliar; comercial; de

serviços; industrial.

Atividades tipo 1, tipo 2, tipo

3** e tipo 4***

UES COROADO

Atividades compatíveis com o uso residencial e com a proximidade de

área de preservação ambiental.

Residencial unifamiliar e multifamiliar; comercial; de

serviços; industrial.

Atividades tipo 1 e tipo 2

SETOR MEMORIAL

DA AMAZÔNIA

Estimulo à concentração de

atividades de comércio e serviços, sobretudo voltadas ao turismo e

lazer.

Residencial unifamiliar e multifamiliar; comercial; de

serviços; industrial.

Atividades tipo 1,tipo 2, tipo 3, tipo 4 e tipo 5

Somente tipo 4 e 5 voltadas para o

turismo e lazer.

INTEGRAÇÃO

EIXOS DE ATIVIDADE

S*

Estimulo à concentração de

atividades de comércio e serviços, sobretudo voltadas ao turismo e

lazer

Residencial unifamiliar e multifamiliar; comercial; de

serviços; industrial.

Atividades do tipo 1, tipo 2 e tipo 3 e tipo 4

Somente tipo 3 e 4 voltadas para o

turismo e lazer.

(Continuação)

TARUMÃ-AÇU

UES ITAPORANG

A

Usos e atividades condicionados à

proteção aos recursos naturais

Residencial unifamiliar e multifamiliar; comercial; de

serviços; industrial.

Atividades tipo 1 e tipo 2***

Page 154: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

154

EIXO DE ATIVIDADE

S*

Predominância do uso de comércio e de

serviços, com apoio às atividades de turismo e

lazer.

Residencial unifamiliar e multifamiliar; comercial; de

serviços; industrial.

Atividades tipo 1, tipo 2, tipo 3** e tipo 4**

UES PRAIA DOURADA

Usos e atividades condicionados à

proteção aos recursos naturais

Residencial unifamiliar e multifamiliar; comercial; de

serviços; industrial.

Atividades tipo 1e tipo 2

Somente tipo 2

voltadas para o

turismo e lazer.

UES CACHOEIRA

ALTA

Usos e atividades condicionados à

proteção aos recursos naturais

Residencial unifamiliar e multifamiliar; comercial; de

serviços; industrial.

Atividades tipo 1e tipo 2

Somente tipo 2

voltadas para o

turismo e lazer.

UES TARUMÃ

Usos e atividades condicionados à

proteção aos recursos naturais.

Residencial unifamiliar e multifamiliar; comercial; de

serviços; industrial.

Atividades tipo 1 e tipo 2

Somente tipo 2

voltada para o

turismo e lazer.

UES NOVO ISRAEL

Atividades compatíveis com o uso residencial e

com a proteção dos recursos naturais.

Residencial unifamiliar e multifamiliar; comercial; de

serviços; industrial.

Atividade tipo 1

Eixos de atividades*

Estimulo às atividades comerciais e de

serviços, compatibilizadas ao uso residencial, com cuidados ambientais

Residencial unifamiliar e multifamiliar; comercial; de

serviços; industrial.

Atividades tipo 1 e tipo 2, tipo 3** e tipo 4**

DUCKE

UES BOLÍVIA

Atividades compatíveis com o uso residencial e

com a proteção dos recursos naturais.

Residencial unifamiliar e multifamiliar; comercial; de

serviços; industrial.

Atividade tipo 1

Fonte: PDUAM (2006, p. 170-173).

As Unidades Espaciais de Transição apresentam na tabela abaixo perspectiva para

a implantação de áreas de lazer disponíveis à população. Vale ressaltar que no contexto atual,

a discussão sobre o Plano Diretor de Manaus aponta como proposta a modificação da

terminologia para ‘Zonas de Expansão Urbana - ZEU’s. O quadro abaixo demonstra como a

lLei 672/2002 prevê o uso e atividades possíveis de serem implantadas para estas áreas. Deste

Page 155: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

155

modo, pode-se perceber que apenas a UET Mariano não apresenta previsão de uso e

atividades para o lazer, concentrando em ocupação residencial e agrícola. Já as outras UET’s

vinculam os usos e atividades ao lazer e ao turismo.

Tabela 19 - Quadro dos usos e atividades por unidade espacial de transições – UET’s. Lei n° 672/2002

USOS E ATIVIDADES UET/SETORES URBANOS DIRETRIZES ATIVIDADES PERMITIDAS

UET PURAQUEQUARA Compatibilização das residências permanentes e de

receio com atividades vinculadas ao turismo ecológico e com o

uso agrícola e com as atividades de apoio à produção agrícola.

Habitação e atividades de apoio ao uso residencial (comércio varejista e serviços de âmbito

local e equipamentos comunitários);

Atividades relacionadas ao lazer e ao turismo;

Atividades educacionais e científicas relacionadas à

proteção da fauna, da flora e da paisagem;

Atividades extrativistas, produtivas e complementares à

produção agrícola; Setor Urbano Usos e atividades condicionadas

à proteção dos recursos naturais. Habitação e atividades tipo1 de

uso comercial, de serviços e industrial, com área computável

inferior a 200m². UET DUCKE Compatibilização das

residências permanentes e de recreio com o uso agrícola e com

as atividades de apoio à produção agrícola.

Habitação e atividades de apoio ao uso residencial (comércio varejista e serviços de âmbito

local e equipamentos comunitários);

Atividades relacionadas ao lazer e ao turismo;

Atividades educacionais e científicas relacionadas à

proteção da fauna, da flora e da paisagem;

Atividades extrativistas, produtivas e vinculadas à

produção agrícola.

(Continua)

UET MARIANO Integração dos usos residencial, industrial e agrícola que não ofereçam impacto ambiental significativo e apresentam grande escala de operação.

Habitação e atividades de apoio ao uso residencial (comércio varejista e serviços de âmbito

local e equipamentos comunitários);

Indústria vinculada à produção rural, exclusivo de produtos agrotóxicos e fertilizantes;

Page 156: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

156

Atividade de apoio à produção agroindustrial;

Atividades educacionais e científicas relacionadas à

proteção da fauna, da flora e da paisagem;

Atividades vinculadas à produção agrícola e extrativista

UET PRAIA DA LUA Compatibilização das residências permanentes e de

recreio com atividades vinculadas ao turismo ecológico e com o uso agrícola e com as atividades de apoio à produção

agrícola.

Habitação e atividades de apoio ao uso residencial (comércio varejista e serviços de âmbito

local e equipamentos comunitários);

Atividades relacionadas ao lazer e ao turismo;

Atividades educacionais e científicas relacionadas à

proteção da fauna, da flora e da paisagem;

Atividades extrativistas, produtivas complementares à

produção agrícola.

Fonte: Adaptação do PDUAM (2002, p.176)

Logo, o Plano estabelece ainda o Macroplano das Orlas dos Rios com a finalidade

de qualificar e valorizar o ambiente da orla na área urbana e na área de transição da cidade de

Manaus, com vista a permitir o usufruto público, assim como garantir a preservação ambiental

das margens dos Rios Negro e Amazonas. Nesta direção, as diretrizes apontam para

mecanismos de controle e regulação da ocupação das margens do rio. E também garante “a

implantação de equipamentos destinados às atividades de turismo e lazer.131

Os Espaços de Lazer em Manaus estão no atual momento sendo modificados com

certa pressa pelo poder público municipal e estadual na perspectiva de dotar a cidade de

atrativos para a realização da Copa de 2014 na Amazônia. Para tanto, os recursos

provenientes das três esferas de poder atuam em consonância com esta responsabilidade que é

prioritariamente uma responsabilidade do Estado do Amazonas e deve contar com a anuência

da Prefeitura Municipal de Manaus - PMM para a realização de obras e serviços de

infraestrutura urbana. Enquanto isso, o governo Estadual tem contraído amplos recursos

públicos e privados, como o BID, para as obras do estádio Olímpico, a revitalização dos

espaços degradados da cidade e a devida adequação de moradia dos habitantes dessas áreas.

Sendo assim, a cidade está transformada em um verdadeiro canteiro de obras dirigidas tanto

pelo estado como pelo Projeto PROSAMIM- Programa Social e Ambiental dos igarapés de

Manaus.

131 Art. 114, Parágrafo único, inciso I do PDUAM.

Page 157: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

157

4.2.3.3 Animação Cultural

A Animação Cultural no PDUAM não está prevista. O plano é omisso em

propor ações concretas para potencializar o lazer na cidade. Compreende-se por animação

cultural ações realizadas para a população com a presença de profissionais que orientem,

coordenem e estimulem a população à vivência de formas de lazer. Para tanto, é necessário

que exista um plano de Programas, projetos e atividades para a difusão do lazer com a

realização de eventos esportivos, projetos, cursos, oficinas, estudos etc., tanto para os

profissionais que atuam com o lazer quanto para a população em geral, focando a reflexão

sobre o lazer e a prática de esportes, artes, formas de cultura, turismo e outras formas de lazer

na cidade.

MELO (2006) se aproxima dessa ideia quando propõe o incentivo às

manifestações culturais das entidades da sociedade civil, isto é, quando deixa claro que a

forma com que esse lazer pode ser animado na cidade é resultado das iniciativas da própria

população. Também, propõe que se crie calendário fixo de eventos para a cidade, mas não

detalha datas nem temas fundamentais para tal. Por outro lado, algumas leis municipais

regulam e demonstram o que já entra neste calendário como o Dia do Rio Negro e Solimões:

Art. 1º Fica incluído no calendário oficial de eventos da cidade de Manaus o Dia dos rios Negro e Solimões, instituído pela Lei Municipal n.º 984, de 07 de junho de 2006, para incentivar o desenvolvimento sustentável do complexo ecoturístico Encontro das Águas e promover a cultura bioecológica132 (DIÁRIO, 2010, p. 02).

Vale considerar ainda que neste ano de 2010, a Prefeitura Municipal de Manaus

realizou uma reestruturação organofuncional na área de cultura, turismo e eventos dada a Lei

nº 1.435/10133 que cria a Fundação Municipal de Eventos e Turismo – MANAUSTUR. Tal

lei, além de criar uma nova fundação a partir da modificação de uma outra Fundação, a

MANAUSCULT – Fundação Municipal de Cultura e Turismo, estabelece que os cargos de

presidente e outras funções gratificadas, passam para a nova fundação, vinculando-na

diretamente ao gabinete do prefeito. Esta mudança separa a política de cultura da política de

eventos e turismo. Esclarecendo que o esporte e o meio ambiente no Município já possuem

suas secretarias específicas. Sendo assim, a gestão do Lazer em Manaus dispõe de quatro

instituições com possibilidades para ações, programas e projetos capazes de potencializar o

132 A Lei consta no Diário Oficial do Município de Manaus de 19 de abril de 2010. 133 Lei de 26 de março de 2010 (D.O.M. 29.03.2010 – N° 2.414, Ano XI).

Page 158: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

158

lazer na cidade. Cabe compreender, em que medida estas instituições dialogam e planejam

este setor na cidade dentro de uma perspectiva que atenda aos interesses da maioria da

população manaoara, diferente de seu Plano Diretor que direciona o setor para fins

econômicos. Mas, esta já seria uma nova pesquisa.

A Animação Cultural apresentada em forma de programas e projetos no site da

Prefeitura tece destaque a algumas atividades desenvolvidas pela Secretaria de Esporte e

Lazer e Juventude de Manaus. Na tabela a seguir, estão demonstradas as atividades, suas

principais características, o público atendido e os locais onde elas acontecem.

Tabela 20 - Programas e projetos de esporte e lazer em Manaus

PROGRAMAS E PROJETOS

CARACTERISTICAS/ OBJETIVO

PÚBLICO ALVO

LOCAIS

Caminhada Orientada

Profissionais de Educação Física orientam os praticantes desta atividade sobre a correção dos movimentos e dos exercícios ideais, respeitando os limites

do corpo.

População em geral

- Centro de Esporte e Lazer (CEL) Parque 10

- CEL Coroado - Parque Lagoa do

Japiim Programa Segundo

Tempo134

Democratizar o acesso ao esporte educacional de qualidade, como forma de inclusão social, ocupando o tempo ocioso de crianças e adolescentes em

situação de risco social.

24 mil Crianças,

adolescentes e jovens

expostos aos riscos

sociais.

120 núcleos nas escolas municipais atendendo as crianças no contraturno escolar

Natação para bebês Sociabilizar a criança e fortalecer o tônus muscular, melhora a coordenação motora, a respiração, a alimentação e o

sono.

Bebês a partir de seis

meses de idade.

CEL Santo Antônio

Escola de Artistas Implantar na periferia da cidade um grupo de balé que andasse com suas

próprias pernas.

120 crianças CEL Zezão, na av. Grande

Circular, São José. Programa para Portadores de Necessidades

Especiais (PNE)

O desporto é uma necessidade de ocupação do tempo livre e aumenta a

integração social e cultural. Modalidades: futsal, natação e goalball.

300 pessoas 20 Centros de Esporte e Lazer da

capital

(Continua)

Programa “Bem Viver na Terceira

Idade”

1. Atividades recreativas: 2. Gerontonatação e hidroginástica;

3. Gerontovoleibol 4. Ginástica diferencial

5. Caminhada 6. Gerontoatletismo;

7. Atividades culturais: teatro, festival folclórico; concursos de poesias, viagens,

16 grupos. A partir dos 45

anos

* Não está especificado.

134Programa estratégico do Governo Federal realizado em convênio com os municípios, em que cabe ao município definir os locais onde serão implantados e receber os recursos para o pronto pagamento da equipe de trabalho. Em Manaus, essa equipe corresponde a 361 agentes honoríficos, sendo 120 coordenadores e 240 monitores e um coordenador geral. Ver mais em http://www.manaus.am.gov.br/secretarias/semesp.

Page 159: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

159

passeios. 8. Atividades sociais: datas

comemorativas, eventos sociais Fonte: Prefeitura de Manaus (2010).135

A cidade conta ainda com os CEL’s espalhados pela cidade que oferecem

gratuitamente atividades esportivas e de lazer para a população. A política dos espaços

esportivos de lazer não foi prevista no Plano de Manaus, mas conta com um aparato de leis

que passa pela criação da Secretaria Municipal de Esporte Lazer e Juventude.

Os 20 (vinte) Centros Municipais de Esporte e Lazer (CEL’s), espalhados nas seis

zonas da capital amazonense, foram criados para desenvolver a prática esportiva, social e de

lazer dos cidadãos. Funcionando de segunda a sábado, os complexos são locais apropriados

para iniciação esportiva de crianças e jovens em espaços administrados pela Prefeitura de

Manaus por meio da Secretaria Municipal de Desporto, Lazer e Juventude (Semdej). São 23

(vinte três) modalidades (ver relação) orientadas por profissionais de Educação Física que se

empenham em proporcionar o bem-estar físico, mental e social dos frequentadores dos

centros, garantindo a melhoria da qualidade de vida do cidadão.136

135 Disponível em: http://www.manaus.am.gov.br/secretarias/semesp. Acesso em: 04 set. 2010. 136 Os Centros Esportivos de Lazer são 20 espaços em vários bairros onde são ofertadas gratuitamente à comunidade atividades como: balé, basquetebol, boxe, capoeira, dança, dança de rua, futebol, futsal, ginástica, ginástica localizada, ginástica olímpica e artística, ginástica rítmica, handebol, hidroginástica, judô, karatê, kung fu, natação e voleibol.

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160

Fotografia 10 - Capoeira no centro municipal de esporte e lazer Zezão, Manaus. Fonte: afinsophia.wordpress.com

4.2.3.4 Investimentos financeiros no município de Manaus

A cidade de Manaus conta com uma Secretaria Municipal de Esporte e Lazer e

Conselho municipal de Desporto, que concentra as atividades nestas áreas. No Plano Diretor,

o Conselho não existe e no orçamento municipal não existe previsão de recursos financeiros

descriminados para o Conselho Municipal de Desporto.

Na tabela 21, demonstra-se como foram os investimentos na política de esporte e

lazer e de cultura e turismo em Manaus a partir do mapeamento do orçamento previsto nas

LDO’s dos anos de 2008, 2009 e 2010. Vale lembrar, que houve neste último ano uma

modificação da MANAUSCULT, em que a política de turismo foi desmembrada e foi criada a

Fundação Municipal de Eventos e Turismo e a antiga Fundação de Cultura e Turismo, passou

a ser Fundação Municipal de Cultura e Artes.

Tabela 21 - Investimentos na política de lazer e cultura 2008-2010

Page 161: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

161

MANAUS LOA/2008 % LOA/2009 % LOA/2010 % ORÇAMENTO TOTAL 1.598.156.000,0

0 100 2.115.650.000,00 100 2.248.297.000,00 100

ORÇAMENTO DA SECRETARIA DE ESPORTE137

13.904.000,00 0,87 25.565.000,00 1,2 9.404.000,00 0,42

Construção de espaços

4.560.000,00 ----- 5.796.000,00 -------

4.000.000,00 ------

Manutenção dos espaços

1.055.000,00 ----- 4.836.000,00 ------

219.000,00 -------

Sub-item do orçamento de esporte

Animação Cultural

1.160.000,00 ----- 6.688.000,00 -------

2.583.000,00 ------

SECRETARIA DE CULTURA138

TOTAL 5.061.000,00.

0,31 6.337.000,00. 0,29 16.548.000,00 0,73

TOTAL GERAL (de Esporte e Cultura)

18.965.000,00 1,18 31.902.000,00 1,49 25.952.000,00 1,15

Fonte: Elaborada pela autora a partir de informações das LOAs 2008, 2009 e 2010.

No ano de 2008, Manaus teve como orçamento geral na Lei do Orçamento anual o

valor de 1.598.156.000,00 e uma previsão de aplicar na área de esporte e lazer R$

13.904.000,00139, ou seja, 0,87 % de seu orçamento total, repartido da seguinte forma:

construção de novos espaços – R$ 4.560.000,00; Reforma de antigos espaços – R$

1.055.000,0; e animação cultural – R$ 1.160.000,00. A área de cultura do Município que

conta com um fundo e uma secretaria específica contou com um orçamento de R$

5.061.000,00, perfazendo um percentual de 0,31 do orçamento total. No geral, em 2008 a

cidade investiu 18.965.000,00 representando em termos percentuais 1,18% de investimento

para o setor de lazer no referido ano.

No ano de 2009, o Município previu R$ 25.565.000,00 o correspondente a 1,2%

de seu orçamento140 para as ações da Secretaria de Esporte e Lazer. Deste recurso, a

construção de novos espaços de esporte e lazer contou com a destinação de R$ 5.796.000,00;

a manutenção de espaços141 teve como previsão R$ 4.836.000,00; e para a animação cultural o

total alocado foi de R$ 6.688.000,00. Na área da Secretaria de Cultura, houve a previsão de

aplicação de R$ 6.337.000,00, que equivale ao percentual de 0,29% do recurso total do

município.

137 Esta secretaria passou a se denominar de Secretaria de Esporte Lazer e Juventude, a partir de 2010. 138 Esta Secretaria tornou-se a fundação Manauscult em 2009. 139 Lei nº 1.181 de 10 de dezembro de 2007 – Município de Manaus. Disponível em: http://www2.manaus.am.gov.br/portal/transparencia/legislacaoOrcamentaria/leis/Orcamentaria/. 140 Lei nº 1.303, de 23 de dezembro de 2008 - Município de Manaus. Disponível em: http://www2.manaus.am.gov.br/portal/transparencia/legislacaoOrcamentaria/leis/Orcamentaria/. 141 Na lei de orçamento anual, a expressão usada é reforma de espaços. Portanto, se está considerando neste estudo os termos manutenção e reforma como sinônimos.

Page 162: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

162

Para o ano de 2010142, existe uma mudança significativa na estrutura da

Secretaria que passa a ser denominada Secretaria de Esporte Lazer e Juventude, direcionando

a maior parte de suas atribuições para atividades com jovens. O Orçamento é reduzido em

mais de 50%, passando a contar com R$ 9.404.000,00, ou 0,42% do orçamento da cidade,

distribuídos da seguinte forma: Construção de novos espaços - R$ 4.000,00; reforma de

espaços já existentes – R$ 219.000,00; e animação cultural – R$ 2.583.000,00. A Secretaria

de Cultura funde-se com a de Turismo, passando a configurar a Fundação de Cultura e

Turismo com um orçamento de R$ 16.548.000,00 que corresponde a 0,73 %. Neste sentido, o

investimento total em lazer pela gestão municipal em 2010 prevê o montante de

25.952.000,00, o que representa 0,73 do orçamento geral do Município. Constata-se, então,

que se mantém um padrão de investimentos na área de cultura e lazer, o qual não atinge o

percentual de 2,0% do orçamento municipal, uma antiga reivindicação do setor das

organizações sociais na área de cultura. Resultando em um percentual não alcançado nem

mesmo somando os valores de esporte, lazer e cultura.

Portanto, o Plano Diretor Urbano e Ambiental de Manaus, enquanto lei voltada

para o Planejamento da cidade de Manaus, apresenta lacunas no sentido de orientar de

maneira mais detalhada a política de lazer para esta metrópole. Assim, verificou-se: a

ausência de dedicação de um capítulo às políticas sociais de educação, saúde e assistência; o

lazer também apresentou a ausência de objetivos, diretrizes, programas e metas, enquanto as

possibilidades de planejamento da área encontram-se fragmentadas e dispersas no Plano; o

mesmo não prevê a gestão democrática desta política como o Conselho Municipal de Esporte;

e a concepção de mercolazer está fortemente associada à política de desenvolvimento

econômico compondo as linhas estratégicas da Valorização de Manaus como Metrópole

Regional.

No entanto, este Plano quase foi modificado em 2010 encontrando-se paralisada a

sua alteração. Cabe, portanto, a ação coletiva dos atores sociais para a utilização de

mecanismos de controle social, embora no caso do esporte e lazer, o plano não trace qualquer

referência, este mecanismo de gestão do lazer existe e tem previsão de despesa orçamentária

para seu funcionamento143.

A Análise de outras leis mais recentes demonstram que o campo do lazer,

independente do Plano, está tomando novas configurações institucionais, tendo em vista que

foram alterados os órgãos públicos responsáveis pelas políticas na área. A cultura a partir de 142 Lei nº 1.398, de 28 de dezembro de 2009 – Município de Manaus. Disponível em: http://www2.manaus.am.gov.br/portal/transparencia/legislacaoOrcamentaria/leis/Orcamentaria/. 143 A questão do orçamento municipal será tratado no próximo item.

Page 163: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

163

2010 está em uma Fundação que tem vínculo direto com o gabinete do prefeito. O turismo,

antes atrelado à cultura, agora está vinculado especificamente à política de eventos ganhando

uma nova instituição, a Fundação Municipal de Eventos e Turismo – MANAUSTUR,

também vinculada ao gabinete do prefeito. Já o Esporte e lazer incorporam as políticas para a

juventude, tornando-se Secretaria Municipal de Esporte, Lazer e Juventude. Estas mudanças

institucionais provocam reflexões acerca dos motivos que a geraram, podendo ser tema de

próximo estudo.

Contudo, Manaus está rapidamente sofrendo uma série de intervenções

urbanísticas, pelo fato de ser uma das cidades a sediar a Copa de 2014 após uma disputa com

Belém e nota-se a aceleração de ações institucionais das três esferas de poder, para dotar a

cidade de condições básicas para esse mega evento. Nesta corrida, a cidade sede da Copa na

Região Norte tem conquistado maiores e melhores espaços disponíveis para o lazer, por meio

de recursos da união e do governo estadual, assim como de outros setores das gestões públicas

como: Secretaria de Meio Ambiente e Planejamento Urbano. Entre as Políticas institucionais

tem-se a recuperação de áreas degradadas, com a construção de equipamentos de lazer,

construção do estádio Olímpico Vivaldão etc. Tais políticas apresentam-se combinadas com

os princípios previstos no Plano Diretor que é a preocupação com a questão ambiental. Na

citação abaixo identifica-se o Programa PROSAMIM, executado pelo governo do estado na

Cidade de Manaus.

O programa prevê a recuperação de onze igarapés. Dois já tiveram as obras concluídas: o Igarapé do Passarinho, na Zona Norte e da Loris Cordovil, na Zona Centro-Oeste. Segundo a gerência do Prosamim, 150 mil metros quadrados de parques vão ser construídos em 33 mil m² de áreas de intervenção que possibilitarão a criação de 16 km de novas vias. No Igarapé do Franco a previsão é construir centros comerciais e comunitários, parques infantis, lanchonetes e quadras de areia e poliesportiva, além de um sistema viário de 1.688 metros que inclui uma nova via e uma ponte ao lado esquerdo da Av. Brasil. No Igarapé da Treze de Maio, as margens estão sendo revitalizadas, e no local, vão ser construídos um sistema viário e um complexo que envolve um centro comercial com 40 boxes, quiosques, abrigo com mesas para jogos, quadra de voleibol e um amplo parque infantil. No Igarapé do Bombeamento, Zona Centro-Oeste de Manaus serão 840 metros de intervenção. As obras incluem uma ampla área de convivência com quiosques, parques infantis, anfiteatro, abrigo com mesa para jogos, pista de cooper e arborização. A primeira fase do Igarapé do Quarenta já está pronta com parque infantil, quadra de esportes, Pronto Atendimento ao Cidadão, urbanização completa como ruas, sistema de drenagem e canalização do igarapé(SUHAB, 2010).

Nas fotografias 10 e 11 abaixo, registram a área do Igarapé de Manaus antes do

programa, com habitações no leito do rio sem condições de habitabilidade. Já as fotos 03 e 04

registram parte desta área depois da obras do PROSAMIM, com o rio desobstruído e com as

Page 164: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

164

novas moradias para os remanejados, e quadras poliesportivas como exemplo de espaços de

lazer que estão sendo implantados ao longo do trecho urbanizado.

Fotografia 11 - Vista aérea - Trecho do igarapé de Manaus antes do PROSAMIM

Fonte: Chico Batata (2010).144

Fotografia 12 - Palafitas sobre o Igarapé Manaus Fonte: Chico Batata (2010).

144 Fotografias 01 e 02 retiradas do Blog do fotógrafo Amazonense Chico Batata. Disponível em: http://chicobatata.blogspot.com/2010/03/antes-do-prosamim-o-igarape-de-manaus.html.

Page 165: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

165

Fotografia 13 - Trecho do Igarapé de Manaus revitalizado pelo PROSAMIM Fonte: Alfredo Fernandes (2010).145

Fotografia 14 - Quadra poliesportiva no prolongamento da área Fonte: Alfredo Fernandes (2010).

145 Imagens 03 e 04 presentes no Blog do fotógrafo Alfredo Fernandes. Disponível em: http://fernandesalfredo.blogspot.com/2010/05/prosamim-modificou-manaus.html.

Page 166: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

166

Fotografia 15 - Foto de satélite de parte do centro da cidade de Manaus

Fonte: Google Earth (2010).

4.2.3.5 Considerações finais da análise do plano de Manaus

Com característica predominantemente físico-territorial, o PDUAM, enquanto

lei, não conseguiu, como bem já se refletiu anteriormente, ser um plano com amplitude

necessária para orientar o conjunto das políticas necessárias para organizar nos aspectos

político, cultural, social, econômico e fisicamente a cidade. Como ação coletiva, o Plano

concentra-se nos aspectos físicos da cidade e em sua macroestruturação. Desta maneira, a lei é

omissa no que se refere à questão do lazer e outras políticas sociais, além do estabelecimento

de metas concretas e de prazos a serem cumpridos nas ações. Essa redução da abrangência do

plano pode estar diretamente associada aos interesses de determinados atores na sociedade,

por exemplo, “[...] os interesses imobiliários não querem nada além de princípios, diretrizes

ou políticas gerais. Nada que seja auto-aplicável” (VILLAÇA, 1999, p. 241).

Por outro lado, os atores que atuam na arena do lazer pouco têm interferido no

processo de definição dos Planos diretores. No caso de Manaus, foi o Ministério Público que

freou o processo analisado como antidemocrático, por não ter incorporado a participação

popular nas discussões sobre a revisão do Plano Diretor de Manaus. Ao se avaliar as

plataformas de reivindicação de um movimento de Manaus e das próprias audiências, não se

consegue identificar as necessidades desses atores para este setor.

Mas, há um consenso da importância e da urgência em ter políticas para o lazer na

cidade. Cabe, portanto, enfrentar novos processos de revisão para se pensar de maneira

Page 167: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

167

sistemática a política de lazer na cidade, tendo em vista que Manaus cada vez mais absorve

novos habitantes atingindo a marca em 2010 de 1.718.584146.

Por conseguinte, se ampliam as demandas por qualidade de vida na cidade, além

do fenômeno da Copa de 2014 que como um mega evento a exige de uma cidade atrativos

turísticos e suporte de infraestrutura urbana de qualidade. No entanto, tal preparação da

cidade, que compreende a perspectiva do mercolazer, intenciona afirmar Manaus como um

grande pólo de desenvolvimento econômico-turístico-regional. Mas, também há espaço para

perspectivas positivas para o lazer como benefício público: como o Programa de

reassentamento da população removida de áreas de risco e Programa de Construção de

Habitação de Interesse Social; a nova configuração da orla de Manaus; os diversos Parques

ambientais naturais e urbanos recentemente criados; assim como os CEL’s e a animação

cultural existentes nos bairros.

Estes atrativos de lazer ainda são insuficientes para o atendimento da maioria da

população, pois são apenas 20 na cidade enquanto existem 62 bairros. A ação institucional

local recentemente reestruturou o setor de lazer com característica centralizada no gabinete do

Prefeito para o setor de Lazer (cultura, arte, eventos e turismo) nas áreas em que aumentam as

possibilidades de se contrair recursos do setor privado.

Portanto, a realidade atual de Manaus é promissora para o lazer, porém precisa da

ação coletiva dos atores para que seja garantido esse direito enquanto benefício público, caso

contrário, os parques inaugurados no calor dos processos eleitorais serão espaços onde a

população tenha que pagar para jogar e/ou, seja impedida de entrar com trajes simples. É

importante definir claramente uma política de uso desses recursos comuns, de forma que os

mesmos não se tornem aos poucos ambientes privados para determinados setores mais

abastados da sociedade.

4.3 Comparando os dados

A comparação muitas vezes pode nos pregar algumas peças quando se trata de

estabelecer comparações entre lugares aparentemente parecidos, mas que na verdade guardam

diferenças sutis. Pertencentes a uma mesma região, mas tão distantes geograficamente dentro

de um determinado território. Suas realidades culturais muito próximas e suas políticas de

planejamento urbano se aproximam e se diferenciam assim como o grau de participação na

146 Resultado do censo 2010. Disponível no site do IGBE (2010).

Page 168: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

168

gestão pública, principalmente no que se refere à política de lazer nessas metrópoles. O

quadro abaixo faz uma síntese dos elementos analisados neste estudo.

Tabela 22 - Síntese comparativa sobre o lazer em Belém e Manaus

01 PONTOS DE ANÁLISE BELÉM MANAUS Concepção de

Plano Abrangente

Segue Estatuto da Cidade Tradicional, centrado no aspecto

Físico-Territorial. Enfoque ambiental

Objetivos X X Diretrizes X X Políticas sociais: -Lazer*

-Educação** - Saúde**

-Assistência Social***

X *Fragmentado e disperso políticas no PDUAM

**Aparecem de maneira genérica. (Pólos de urbanidade.

Art.40. §2º) *** Não aparece no Plano

Programas -------------- X Metas -------------- ---------------

02 Considerações

Gerais de Plano Diretor

Prazos X - Não cumpridos X - Não cumpridos 05 Gestão democrática da

cidade Sistema de planejamento

municipal Sistema Municipal de

planejamento e Gestão urbana. - Não prevê- Conselho

municipal de Desporto nem o CE cultura

06 Concepções de Lazer no Plano Diretor

Beneficio público (predominante)

Mercolazer

Benefício público Mercolazer

(predominante) Macrozoneamento

Unidades de conservação ZAU ZAN

---------------------------

ZEIS Não propõe Lazer

Macrozoneamento Unidades de conservação Política dos instrumentos

complementares (AEIRU147) AEIA

-------------------------------- AEIS Não propõe Lazer

Política de mobilidade urbana

Política de mobilidade em Manaus

Política de patrimônio cultural

Política de patrimônio cultural

Política de Esporte e lazer ----------------------- Política de educação ----------------------

Previsto no Plano

Política econômica (ênfase no turismo)

Política econômica (ênfase no turismo)

Parques Públicos (Menor número)

Parques Públicos (Maior número)

Ginásios e Quadras poliesportivas

(menor número)

Ginásios e Quadras poliesportivas (Maior

quantidade)

08 Espaços Físicos de

Lazer

Na paisagem da cidade.

Cinemas (em três Shoppings e teatros

Cinemas (40 salas) e teatros

(Continua)

147 Áreas de especial interesse para reestruturação urbana. No inciso III são previstas áreas em lei do município, voltadas entre outras características, para a “implantação de Parques públicos de acordo com a demanda existente na área objeto de intervenção” (PDUAM, 2006, p.56).

Page 169: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

169

09 Manutenção de Espaços de Lazer

Previsto em orçamento Previsto em orçamento

4 Centros de Esporte e Lazer com atendimento a

população gratuitamente.

20 centros de Esporte e Lazer com atendimento a população

gratuitamente.

Projetos e Programas de esporte, arte

Cultura.

Políticas Gov. Estadual (maior impacto)

Políticas Gov. Federal (2º tempo)

Política do Gov. Estado (maior impacto.)

Políticas Gov. Federal (2º tempo e PELC)

10 Animação

Cultural

Política de Formação de

Pessoal

Só prevê para o turismo Só prevê para o turismo

11 Investimentos Financeiros na Política de Lazer

Menor investimento 2010. Menor investimento 2010 Maior investimento Gov.

Estadual e Federal. Fonte: Elaborada pela autora a partir da síntese da dissertação.

Em uma análise de caráter mais geral sobre os Planos Diretores examinados,

notou-se no documento de Belém uma concepção de Plano Diretor mais abrangente, pois

alcança com maior amplitude as políticas necessárias para que a cidade cumpra suas funções

sociais, como bem destaca o Estatuto da Cidade. Já o Plano Diretor de Manaus com enfoque

ambiental assume uma característica tradicional de Plano Diretor, centrado no aspecto físico-

territorial (VILLAÇA, 1999).

Os planos diretores analisados possuem dispositivos orientadores que de maneira

geral correspondem ao propósito de assegurar a capacidade do poder público municipal em

dirigir o processo gestão da cidade na perspectiva de ordenar o espaço urbano e enfrentar os

históricos problemas relativos à desigualdades sociais no acesso pela maioria da população de

seu direito à cidade, e sobretudo, o acesso ao lazer como beneficio público. Os planos

analisados e a própria realidade constatada na cidade apresentam limites e avanços para a

garantia desse direito que merece reflexão.

4.3.1 Quanto aos limites dos Planos

A tabela 22 é uma síntese que demonstra que a estrutura geral do Plano de

Belém e Manaus mantém o caráter genérico de Plano Diretor. Uma das críticas aos Planos

Diretores no Brasil está relacionada à sua inezequibilidade, ou seja, a concepção de um Plano

Diretor mais como um conjunto de princípios e diretrizes do que como um documento que

Page 170: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

170

deve realmente ser o planejamento para dez anos de uma cidade148. Planos estes que em

muitos casos não definem Programas, metas e prazos possíveis para serem cumpridos

(VILLAÇA, 1999).

Belém tem comprometida a eficácia de seu Plano quando não apresenta

Programas com metas e prazos de realização, fixando apenas objetivos e diretrizes, e

recomendando a criação de Planos específicos para as políticas setoriais com prazos fechados

para a criação de seus planos. Na prática todos os prazos propostos não foram cumpridos. Por

exemplo: a) a criação do Plano Municipal do Desporto e Lazer149, em que está estabelecido o

prazo de doze meses para ser encaminhado à Câmara Municipal o anteprojeto a ser aprovado;

b) o Plano Municipal de Patrimônio Cultural150 cujo prazo é de dezoito meses. Nos dois

exemplos, até a data de conclusão deste estudo não foi identificado o cumprimento do prazo.

Manaus também dá um caráter genérico ao Plano quando, apesar de definir

objetivos, diretrizes e Programas em algumas políticas, seus programas apresentam um rol de

ações sem definir metas, prioridades e prazos para a plena efetivação das propostas.

O Plano de Manaus é omisso nas políticas sociais como saúde, educação,

assistência social, ou seja, para as políticas sociais como um todo. Já, o Plano de Belém

dedica um título para os objetivos e diretrizes setoriais da Política de gestão da cidade.151 Em

seu capítulo II refere-se a estas políticas e detalha cada uma delas em subsessões,

caracterizando-se como um Plano mais avançado, pois vai além do que o Guia de orientação

para implantação dos Planos Diretores prega.

Neste documento oficial do Governo brasileiro orienta-se a implantação de Planos

Diretores Participativos152. Sendo um documento com 158 páginas, dedica apenas cinco

linhas para orientação das políticas setoriais. Trata de forma genérica, sem citar nenhuma das

políticas especificamente. Portanto, a omissão de diretrizes orientadoras para as políticas de

saúde, educação, assistência social e o lazer excluiu a chance destas políticas serem tratadas

no Plano Diretor, isto é, de serem valorizadas como elementos estruturantes de uma política

efetivamente pública e de planejamento da cidade como um todo.

Nota-se, desta maneira, que o Plano Diretor de Manaus segue uma tendência de

concepção de Plano presente no Brasil, a qual está relacionada apenas aos aspectos físico-

territoriais (VILLAÇA, 1999). Tal característica, é na prática a obediência às orientações do

148 Já foi detalhada essa ideia de Plano diretor no capítulo II. 149 Art. 25 do PDU de Belém, 2008. 150 Art. 22 do PDU de Belém, 2008. 151 Titulo III. Dos objetivos e das Diretrizes Setoriais da Política de Gestão Urbana, Capítulo I, II. 152 ROLNIK Raquel; PINHEIRO Otilie Macedo Plano diretor Participativo: Guia para elaboração pelos municípios.

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171

guia de implementação dos Planos Diretores, que dão prioridade aos aspectos físico-

territoriais. No trecho abaixo, percebe-se que a orientação relativa às políticas setoriais se

resumem a uma política habitacional.

Na parte de políticas setoriais, o Plano deve estabelecer os objetivos, princípios e diretrizes da política habitacional; as ações estratégias para a implantação da política. Deve estabelecer a elaboração de planos, sejam essas planos de habitação municipal, de regularização urbanística e fundiária, como devem ser os planos das ZEIS (BRASIL, 2004, p.78).

Essa tendência de não tratar das políticas sociais no ano Diretor, evidencia que a

interpretação do Estatuto da Cidade é limitada, pois em seus primeiros capítulos as políticas

sociais são enquadradas como parte das funções da cidade. Ao analisar o seu conteúdo

identifica-se que elas inexistem, mas deveriam ser consideradas, já que o próprio guia de

implementação dos Planos Diretores apresenta que o município deve ter a liberdade de

construir seu Plano Diretor de acordo com sua realidade. Assim sendo, não existe um modelo

padrão a ser executado, cabe ao município a autonomia de incluir novas possibilidades de

previsão de políticas. O que não é possível, é deixar de tratar as políticas básicas da

propriedade urbana já prevista no Estatuto.

Contudo, é importante perceber que nos últimos dez anos o IDH de Belém

modificou para melhor, atingindo o padrão “elevado”; e Manaus permaneceu com índice

“médio”, mesmo depois de ter crescido seu PIB para o quarto mais alto do Brasil,

apresentando ainda os mais baixos índices em educação e saúde, os quais já foram trabalhados

no capítulo II. Tais indicadores podem demonstrar que o campo das políticas sociais merece

maior atenção e melhor planejamento na cidade, podendo ser um elemento a mais na nova

proposição do Plano Diretor da cidade.

Outra reflexão necessária, é o processo de elaboração do Plano do qual já se fez

referência. Belém foi marcada por amplos debates e audiências públicas promovidos pela

Prefeitura e Câmara Municipal, sendo o processo acompanhado pelo Ministério Público, na

perspectiva de cumprir as determinações do Estatuto da Cidade em relação à participação

popular153. Em Belém, com a participação da população nas definições do Plano Diretor,

demonstrou-se um certo grau de valorização do povo na gestão da cidade.

Já em Manaus, o Plano, que oficialmente teve início o seu processo de definição

em 2008, chegou em 2010 embargado pelo Ministério Público Estadual, por não responder ao 153 O processo de revisão do plano Diretor de Belém foi dirigido pela bancada de vereadores de oposição ao prefeito, o que pareceu positivo, pois ampliou as formas democráticas na metodologia de discussão e definição do plano com exaustivas e acaloradas audiências públicas em que os diversos atores sociais, como trabalhadores e setores empresariais estiveram presentes.

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172

requisito básico da participação popular no processo de elaboração do mesmo. Nota-se, então,

que as cidades no que diz respeito à gestão democrática caminham em passos diferenciados.

Manaus parece ainda viver a ideia de participação delegada aos que foram eleitos para

executar a política ou para os mandatos parlamentares, aproximando-se, desta forma, da teoria

de Burke que discorre sobre “a autonomia dos representantes no exercício do seu mandato,

posição que prevalece na modernidade política” (AVRITZER, 2007, p. 450), deslocando o

eixo das decisões do Plano apenas aos poderes constituídos Prefeitura e Câmara Municipal.

Vale ressaltar, que Manaus teve seu primeiro Plano Diretor em 2002, realizado

por uma empresa especializada, sem a participação significativa da população. Belém, desde o

Primeiro Plano, demarcou uma forma de participação como diria Avritzer (2007), na forma

mais contemporânea, mesclando as diversas formas de representação: advocacia, eleitoral e

sociedade civil154, em um exercício mais democrático de participação, ampliando as chances

de maior controle social sobre o processo de implementação do Plano. Sendo assim,

diversificam-se as formas de pensar a cidade por outros e/ou novos pontos de vista, diferente

dos legisladores e dos gestores municipais, que historicamente recebem esta função.

Sobre espaços de participação popular de 1989 a 2004, segundo Brian

Wampler155, apenas 177 cidades brasileiras realizaram orçamento participativo e dessas

somente 4 pertencem ao estado do Pará, onde Belém compõe esse quadro. Os dados relativos

à capital apresentam erro nos exercícios de gestão sinalizados, pois identificam Belém

realizando orçamento participativo nos exercícios de 1993 a 1996 e de 1997 a 2000, quando

na verdade foram os períodos de 1997 a 2000 e de 2001 a 2004. Em todo caso, nota-se que

nesses períodos Manaus não aparece na listagem, portanto, Manaus até os dias atuais não

viveu experiências de participação popular neste nível de intervenção na gestão municipal.

Outra constatação da pesquisa foi a orientação de políticas para o lazer presentes

nos Planos Diretores das duas cidades. Belém levou vantagem no Planejamento sobre o lazer,

visto ter buscado detalhar sua política de lazer, demarcando assim a preocupação em tratar da

temática como política social em uma concepção de lazer como benefício público, do ponto

154 Avritzer discute as Formas de Representação na Política Contemporânea apresentando essas três formas de Participação/representação que simultaneamente se apresentam, em que o eleitoral, o representante recebe autorização para representar através do voto; a forma de Legitimidade dessa representação se daria pelo processo do mandato e teria como sentido de representação a própria representação de pessoas. A vertente advocacia a relação com o representado, acontecendo a identificação com a condição; forma de legitimidade da Representação é pela finalidade e o sentido da representação e o da representação de discursos e ideias. Por fim, a representação da sociedade civil, onde a relação com o Representado é por autorização dos atores com experiência no tema; a forma de legitimidade da representação se dá pela finalidade e pelo processo e o sentido da Representação e o da Representação de temas e experiências (AVRITZER, 2007, p. 258) 155 Estudo sobre os municípios que realizaram orçamento participativo de 1989 a 2004.

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173

de vista do seu acesso. Embora em alguns pontos dessa política se destacassem ideias de lazer

salvacionista para jovens e adolescentes ou mesmo como “passatempo educativo” na escola, a

ideia de lazer como benefício público fica evidenciada no Plano.

Já Manaus apresenta o lazer disperso e fragmentado por todo o texto do Plano

Diretor, porém a política de habitação de mobilidade e o macrozoneamento demonstram a

visão de lazer como benefício público. Ratifica-se esta visão, ao identificar as ações na

execução de políticas nas áreas como os CEL’s em que se tem a garantia do acesso gratuito

aos espaços de lazer. Porém, há uma predominância no Plano na concepção do mercolazer,

claramente proposto na Política econômica, dando destaque ao lazer turístico. Neste sentido,

as duas cidades se aproximam nesta caracterização do lazer, acompanhando uma tendência

mundial do reforço ao lazer como negócio, sendo o turismo ecológico, de aventura um

“produto” que tem merecido atenção nos Planos Diretores das cidades.

Quanto a estrutura pensada para dar conta do atendimento ao lazer como

equipamentos e recursos alocados, percebe-se que Belém tem garantido em menor proporção

a oferta da vivência do lazer aos seus habitantes, com o agravante de ter diminuído o seu

número de espaços como praças e canteiros centrais com equipamentos de lazer, em função

da mobilidade urbana,156 eliminado alguns ambientes alternativos para o lazer.

Pode-se dizer que entre o que está no Plano e o que se identificou nas políticas

existentes de lazer na cidade, inclusive a gestão democrática com os Conselhos de esporte e

lazer, a política de lazer está em colapso com a diminuição da oferta de espaços e animação

cultural na cidade, o que tem reflexo no próprio orçamento executado nos últimos anos.

Assim, fica evidenciado que a questão da participação não tem gerado os arranjos

institucionais que tratem estes espaços e equipamentos de lazer na lógica de commons

(OSTRM, 2002).

Manaus tem ampliado os espaços específicos para o lazer e conta com as ações do

governo do estado na recuperação de áreas degradadas e criação de parques públicos, por

conta do advento da Copa do Mundo. Isto é, dentro dos princípios do lazer especialmente do

megaevento como negócio, a cidade está transformada em um grande canteiro de obras que

potencializam a ampliação de espaços como: quadras de esporte, ciclovias, salas de cinema

etc. O que se conclui é que a política de lazer em Manaus está com indícios de ampliar a

quantidade da oferta de espaços de lazer, a partir de uma concepção de mercolazer

156 Desapareceram a praça da Bíblia, no bairro do entroncamento, e os ambientes de lazer nos canteiros centrais das Avenidas Duque de Caxias e Marques de Herval. Já refletida no capítulo II.

Page 174: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

174

(MASCARENHAS, 2005), portanto, contrário á lógica de commons, ao mesmo tempo que

diminui os recursos alocados para esta política.

Os dois Planos Diretores não estabelecem nenhum critério relacionado a fases da

vida, raça/etnia e gênero (HAGINO, 2010). Ou seja, nota-se que tais Planos não estabelecem

diálogo com outros instrumentos orientadores para a elaboração de políticas públicas como

Estatuto do Idoso, ECA, estudos estatístico do IBGE, IPEA etc. A política urbana proposta

nesses Planos tratam a sua população de maneira genérica, sem considerar a ação coletiva dos

segmentos sociais, sem perceber a necessidade de identificar a diversidade dos atores sociais

que operam na arena do lazer, como reflexo de um plano genérico nascido por encomenda.

(LA ROVERE; CRESPO, 2002). Nota-se, à primeira vista uma debilidade no processo de

diagnóstico da cidade em sua primeira etapa:

“Ler a cidade” é a primeira etapa de elaboração de um Plano Diretor. [...]a leitura técnica deve revelar a diversidade, as desigualdades entre a zona urbana e rural, ou entre bairros de uma cidade; deve reunir análises de problemas e tendências de desenvolvimento local e, sempre que possível, deve considerar o contexto regional de cada município;[...] as leituras técnicas produzidas pelos profissionais da Prefeitura ou por consultores devem ser enriquecidas com as leituras comunitárias, feitas pela população, sob os pontos de vista dos diferentes segmentos socioeconômicos: empresários, profissionais, trabalhadores, movimentos populares, entre outros. (ROLINK; PINHEIRO, 2004, p. 20-22)

Por outro lado, é curioso notar o quanto o lazer não tem sido apresentado como

uma demanda dos trabalhadores. Ao analisar as plataformas de lutas dos segmentos de

mulheres e das Centrais sindicais, o lazer não aparece como demanda.157A face perversa do

mundo do trabalho na lógica capitalista é que as dificuldades de trabalho e moradia digna

afetam, inclusive, os desejos dos trabalhadores de ter direito ao lazer. Mascarenhas (2004) faz

uma análise sobre os efeitos da globalização articulada às políticas de concepção neoliberal,

que resultam em diversos desdobramentos os quais corroboram para o desmantelamento dos

direitos básicos. “Junto com conquistas como educação, saúde, proteção ao trabalho,

seguridade social etc., o direito ao lazer, igualmente entendido como um pressuposto de

cidadania encontra-se sob ameaça.” (ibidem, p. 74)

Em contrapartida, os setores ligados à cultura, à arte, ao esporte e ao lazer têm

sido estimulados via governo federal na proposição de políticas nestas áreas. Isto tem

estimulado em todo Brasil a definição de linhas orientadoras para as políticas neste setor, o

que se tornou um grande incentivo seletivo aos grupos de interesse na área do lazer como

esportistas, profissionais do esporte e das áreas: Educação Física, Arte, Turismo e Meio

Ambiente, tendo acontecido as etapas municipais, estaduais e a nacional. 157 A plataforma recente da CUT para as eleições 2010. Plataforma da CGT e da Marcha Mundial de Mulheres.

Page 175: O lazer no plano diretor das metrópoles amazônicas: um estudo

175

A expectativa é que o governo federal agora apresente os planos de trabalho para

a execução dessas políticas, que significativamente alcançou os mais diferentes segmentos

sociais (em que pese as disputas de interesses privados). Tais Plataformas orientarão os

próximos 10 anos de gestão da união e em todos os documentos aprovados, principalmente, o

aprovado na Conferência Nacional de Esporte, todos os municípios Brasileiros, com pelo

menos 20 mil habitantes deverão receber maiores investimentos no setor.

No geral, a Plataforma de Esporte e Lazer158 tem nas sedes das regiões

metropolitanas a maior referência da implantação dessas políticas. Cabe, portanto, às cidades

de Belém e Manaus, através dos poderes municipais e suas respectivas instituições, intervirem

em um processo dialógico para ver os resultados acontecerem nos seus territórios. Já que essa

pode ser a aliança necessária para que, apesar da fragilidade de aplicabilidade do Plano

Diretor e dos baixos orçamentos para o setor alocados nessas metrópoles, a população em

suas diferentes áreas possa ter acesso às políticas públicas de lazer.

158 Ver em resultados da III Conferência Nacional de Esporte e Lazer. Disponível no site do Ministério dos Esportes: http://www.esporte.gov.br/conferencianacional/resolucoesIIICNE.jsp. Acesso em: 27 ago. 2010.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa intitulada “O Lazer no Plano Diretor das Metrópoles Amazônicas: um

estudo comparativo entre Belém e Manaus”, foi uma busca estimulante pela resposta à

pergunta que provocou a investigação: de que forma os Planos Diretores das metrópoles

amazônicas avançam ou retrocedem no sentido da efetivação do lazer como política pública?

Nos caminhos tortuosos da pesquisa acadêmica, sobretudo, no âmbito da temática

do lazer foi possível identificar o quanto os estudos na área do lazer têm crescido a partir do

surgimento de uma série de instituições acadêmicas de nível superior no Brasil, nos últimos

vinte anos, tais instituições ampliaram a oferta do Curso de graduação e pós-graduação em

Educação Física, Turismo e, mais recentemente, em lazer. Favorecendo, sobremaneira, este

campo de conhecimento.

Por outro lado, ainda são poucas as pesquisas ligadas à temática do lazer

relacionadas ao Planejamento Urbano. Torna-se mais raro ainda localizar pesquisas sobre o

lazer, quando a especificidade está relacionada a um instrumento da política urbana, como o

Plano Diretor, tendo como referência as Metrópoles que se ergueram na Amazônia: as

dificuldades se avolumam.

A pesquisa demonstrou que o lazer embora esteja assegurado nas diversas Leis

Brasileiras: Constituição Federal e Estadual, Estatuto da Cidade, Lei Orgânica do Município,

Plano Diretor, etc., ainda encontra muitas barreiras para sua implementação, enquanto política

pública, o que confirma a ideia de que ainda está presente na instituição estatal uma lógica de

hierarquia das necessidades humanas no que se refere ao planejamento das políticas públicas

em que o lazer ainda é concebido como de menor importância na escala de prioridades no

Planejamento das cidades (MAGNANI, 1988; MELO, 2004).

Esta realidade se confirma também no documento diagnóstico municipal no qual

se constata que: As principais demandas sociais, que têm sido encaminhadas aos gestores municipais, são as seguintes: purificação e tratamento da água distribuída na rede pública; ampliação da cobertura da coleta de esgoto residencial; sistema eficiente de tratamento do esgoto; regularidade dos serviços de limpeza urbana; organização de coleta seletiva de lixo; fiscalização das atividades agropecuárias e extrativas; proteção das matas ciliares; e combate à ocupação irregular de áreas ambientalmente frágeis. [...] a segurança pública. E o desemprego, estão entre as áreas de maior preocupação da população brasileira, segundo várias pesquisas de opinião. (SANTOS; ARAÚJO, 2008, p.13)

Em contrapartida, nota-se que as práticas de lazer nas cidades, sobretudo, em

Belém e Manaus apontam para uma diversidade de formas de lazer que podem ser

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vivenciadas pela população como o uso da orlas, das praças, dos parques públicos, das

calçadas, ciclovias e ciclofaixas, das salas de cinema, teatros, dos espaços esportivos e

culturais, dos eventos esportivos, ou seja, os dados da realidade demonstram ainda uma

distância entre o que planeja e o que se efetiva na prática com o conjunto das políticas

públicas na cidade. O que se constata é que a política urbana ainda está refém dos processos

sucessórios dos gestores executivos e legislativos, nos quais a força da vontade política ainda

é o que tem prevalecido sobre as regras resultantes da ação coletiva.

Ao se buscar localizar de que forma as metrópoles amazônicas incorporaram o

lazer como política pública, este estudo traçou uma análise das instituições estatais e seus

desenhos como descentralização (ARRETCHE, 1999), participação (AVRITZER, 2007;

BRASIL, 2007) e regulação (VILLAÇA, 1999; BRAGA, 2009). Estes sofreram mudanças

significativas na institucionalidade brasileira depois da Constituição de 1988 e com a

implementação do Estatuto da Cidade em 2001. Os efeitos das mudanças na Amazônia,

especialmente nos municípios de Belém e Manaus, influenciaram sobremaneira a gestão do

Território. Uma delas foi a obrigatoriedade da criação do Plano Diretor para as cidades a

partir de 20 mil habitantes.

O exercício do cumprimento da exigibilidade do município ter um instrumento

regulador para o planejamento da cidade, isto é, uma instituição normativa com capacidade de

influenciar no desenvolvimento da vida política e socioeconômica de uma cidade, se mostrou

neste estudo eivado de limites, de pelo menos três dimensões significativas.

A primeira, ligada à própria dimensão de obrigatoriedade, já que podem recair

sobre a cidade que não tenha o Plano, penalidades e sansões ao município, inclusive a

impossibilidade deste contrair recursos da União, tornando-os inviáveis administrativamente.

Com isso, os municípios se vêem obrigados prioritariamente em cumprir o protocolo e

acabam por incorrer em erros como a encomenda de planos à empresas “tecnicamente

corretas”, mas com pouca ou mesmo nenhuma participação popular na construção do PD –

como é o caso de Manaus.

Outra dimensão está relacionada ao fato de o Plano Diretor estar assimilado como

um instrumento fruto da ação coletiva dos atores sociais, que devem ser efetivamente a regra

básica orientadora do Planejamento municipal, a partir do qual todas as políticas municipais

deveriam ser desenhadas, independentemente da necessidade de se ter outros instrumentos

que complementem tal normatização da política urbana.

A terceira é a polêmica participação da sociedade no processo de elaboração do

Plano. Em geral, essa participação quando é bem explorada reflete muitas vezes os atores que

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representam na prática uma extensão do poder público ou representam setores privados

empresariais na sociedade, como os conselhos municipais, conselhos regionais de categorias

profissionais, sindicatos patronais etc. A população em geral ainda entende pouco o

significado do Plano Diretor, pois o próprio poder público investe pouco em informações

adequadas para ampliar a conscientização sobre a importância da participação na definição do

Planejamento das cidades.

O estudo fez algumas análises acerca do Planejamento urbano na Amazônia como

a ausência de um planejamento que considerasse efetivamente os interesses da maioria da

população local. O que se verificou ao longo do processo histórico da região, desde a Belle

Époque aos dias atuais, é que as instituições locais, com o discurso de desenvolvimento da

região, importou planos de outros lugares ou mesmo cedeu o espaço amazônico a grandes

projetos internacionais de superexploração econômica dos recursos naturais. Causando sérios

danos ao meio ambiente amazônico e ganhando baixos índices ou nenhum beneficio às

populações atingidas. Uma das consequências do Planejamento inadequado foi o fenômeno da

metropolização da Amazônia (TRINDADE, 2009, 1998) em que Belém e Manaus sofreram

com o inchaço demográfico, principalmente, na segunda metade do século XX, o que

acelerou a urbanização desordenada e as desigualdades sociais nestas cidades.

A hipótese erguida nesta investigação postulava que não existe um padrão

amazônico de atuação da gestão municipal nas metrópoles amazônicas, o que se confirmou,

uma vez que foram identificados alguns aspectos nas políticas de lazer, que são próprios de

cada cidade. Alguns desses aspectos estão relacionados a uma lógica tradicional nas políticas

implementadas, que reproduzem as experiências específicas de outras regiões do país tanto na

dimensão do mercolazer como numa ideia de benefício público. Ou seja, a ação institucional

reflete a lógica de políticas herdadas (HALL e TAYLOR, 1999).

A dimensão do mercolazer, determinada pelo advento da globalização, impõe um

padrão e imprime ao setor do lazer, a imagem de mercadoria, sobretudo, quando os Planos

Diretores, reforçam a exploração econômica dos recursos naturais e dos equipamentos

públicos de lazer (praias, museus, teatros, etc.). Já a dimensão de lazer como benefício

público, também, pode ser pensada como padrão pelo fato do lazer estar no Estatuto da

Cidade (regra institucional determinada como resultado de ação coletiva) e ser uma das

funções sociais da cidade, impondo “em tese” ao Plano Diretor que o lazer seja tratado como

benefício público, necessário na política de Planejamento municipal da mesma forma como

estão previstos a política econômica, o macrozoneamento do município e a política de

mobilidade urbana, dentre outras (BRASIL, 2002).

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No entanto, a interpretação da forma como o lazer pode estar efetivado no

Planejamento Municipal é diferenciada em cada cidade. O protagonismo do estado e a ínfima

participação de atores sociais na definição do planejamento municipal e especificamente no

setor do lazer. Essa assimetria de poder cumpre uma trajetória histórica no planejamento

municipal (HALL e TAYLOR, 1999). Sendo esta característica mais acentuada em Manaus

do que em Belém.

Outro aspecto relevante que diferencia a política de lazer nas metrópoles

amazônicas está relacionado ao desenho de execução das políticas. Mesmo sendo insuficiente

o atendimento à população, Manaus apresenta maior infraestrutura de espaços específicos e

animação cultural para o Lazer comparada à Belém, que concentra em poucos espaços e em

bairros mais tradicionais da cidade seus programas e projetos.

A pesquisa realizada demonstrou que o lazer na política urbana de Belém e

Manaus apresenta formas diferenciadas de tratamento na política pública: visto que, Belém

avançou na elaboração do Plano Diretor definindo-o como política social e estruturando um

campo de planejamento que dá ênfase a ideia do Lazer como benefício público. E Manaus já o

tratou de maneira fragmentada e dispersa, dando maior destaque ao lazer como negócio, nas

estratégias da política de desenvolvimento econômico, demonstrando uma concepção de lazer

reforçadora do ideal de lazer como mercadoria (mercolazer). Em contrapartida, na execução

das políticas, nota-se que Manaus avançou mais no sentido de dotar a cidade de estrutura

física e animação cultural em um número maior de bairros, se comparada a Belém. Assim,

constata-se, uma distância entre a regulação e a implementação das políticas nas duas cidades.

O que se percebe é que o lazer, enquanto fenômeno de grande apelo na sociedade

atual, sofreu com as investidas do modelo capitalista e enfrentou uma superexploração como

recurso, nas três últimas décadas, para o deleite dos que podem pagar. Uma prática recorrente

nas metrópoles amazônicas, a exemplo do que vem acontecendo em todo o Brasil, tem sido

ceder e/ou negociar espaços para utilização do lazer como negócio, como em clubes: Pesque

Pague, Arenas Esportivas, Parques Aquáticos e grandes empreendimentos comerciais que se

apresentam como espaços híbridos de negócios em geral e possibilitam a oferta de lazer e

entretenimento como é o caso dos Shoppins Centers (PADILHA, 2006).

Este estudo, contudo, demonstrou que a regulação proposta pela Constituição

Federal, o Estatuto da Cidade, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o Estatuto do

Idoso, as Constituições Estaduais, Lei Orgânica dos Municípios e, principalmente, os Planos

Diretores das cidades devem ser as ferramentas balizadoras que os atores sociais têm nas

mãos para reivindicar pela exigibilidade do direito ao lazer nas políticas públicas, como

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benefício público às três esferas de poder. Pois, no cotidiano da cidade que sofre a ação das

instituições decisórias da política, este direito torna-se um objetivo a ser constantemente

perseguido, pelo fato de se constatar a ineficiência da ação institucional na distribuição

equânime da política de lazer nas duas cidades.

Esta pesquisa, que investigou o lazer no Planejamento municipal, especialmente a

partir do Plano Diretor das metrópoles da Amazônia: Belém e Manaus, conclui que o Plano

Diretor se configura como um arcabouço institucional, que a depender da vontade política de

seus atores, pode ser marcado por uma outra racionalidade, diferente da que avança na direção

do mercolazer. Racionalidade esta, que afirme o lazer como um benefício público cujo uso e

exploração dos recursos, sejam pautados na lógica de commons, pois assim o lazer

efetivamente pode ser considerado um direito.

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ANEXOS

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ANEXO A – Diário Oficial do município de Manaus

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ANEXO B

Acordo Celebrado entre União, Estado do Amazonas e Prefeitura de Manaus para

viabilizar a COPA 2014.159

159 Consta no site oficial da Copa 2014: http://www.manauscopa2014.com/site/noticias.php, acessado em 12 de

agosto de 2010.

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ANEXO C

ANEXO D

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ANEXO E