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10 JORNAL SANTUÁRIO DE APARECIDA • 8 DE ABRIL DE 2012 SE LIGA AÍ Arquivo Pessoal Uma pesquisa feita em Flandres, na Bélgica, com 1.656 estudantes, de 13 a 17 anos, revelou que o uso do celular à noite é prática recorrente entre os adolescentes, e isso está diretamen- te relacionado ao aumento do nível de cansaço desses jovens após algum tempo. Isso porque muitos passam a noite toda conversando via mensagens de texto ou conectados à internet. Há também quem não consiga se separar do celular nem por um segun- do. Viagens para locais em que não há cobertura de sinal, então, tornam-se uma verdadeira tortura. “Quando isso acontece, essa abstinência, os sinais são perceptíveis: impaciência, desespero, ansiedade, falta de atenção no presente. Ou seja, o jovem conecta-se com a falta, e não com a presença”, avalia o psicólogo clínico Odair Comin. “A privação do sono é o que pode causar mais estragos”, alerta o médi- co hebiatra Maurício de Souza Lima. Ele relata que, além de distração nas aulas e mau desempenho nas provas, as noites mal dormidas comprometem a produção do hormônio do crescimento (GH), responsável pelo estirão puberal, a esticada típica da adolescência. No entanto, é preciso também olhar para a faceta positiva da questão. Se tanto se fala sobre uso excessivo dessa tecnologia, é preciso analisar o problema sob o ponto de vista do conteúdo que é consumido, e não tanto do tempo gasto, conforme orienta o consultor João Francisco. “Em dez minutos, um jovem pode acessar um conteúdo que o influencie negativamente. Mas, por outro lado, pode passar duas horas lendo artigos de jornais em seu tablet. Não é só o tempo, mas a qualidade desse tempo que importa.” O desafio talvez seja entender que essas tecnologias derrubam as frontei- ras entre o off e o on-line, de tal forma que a dimensão digital deve ser obser- vada como algo que pode e deve, sim, estar integrada às outras situações da vida. “O uso da tecnologia não deve ser ignorado, mas sim equilibrado com as circunstâncias e demandas de cada jovem”, acredita João. É claro que a importância de praticar esportes, se exercitar, conhecer a natureza e o mundo fora da tela devem ser incen- tivados, mas isso não significa que a tecnologia deva ser eliminada. “Não é mais possível estar desconec- tado, tampouco ter uma visão tradicio- nal e reproduzir medos do passado. O celular com internet abre mais portas ainda. A questão-chave é não enca- rar essas portas como negativas, mas incentivar seus usos positivos e parti- cipar do mundo do jovem”, acrescenta o consultor. Apesar de ser outra plataforma, também aqui são os pais e outros agen- tes responsáveis pelo jovem que devem ajudá-lo a entender os limites, e não apenas proibir o uso. A estrada é irre- versível, e é bom que seja assim. O uso positivo ou negativo do celular não procede da tecnologia, mas de toda a escala de valores e relações tecidas na família, na escola e nos outros grupos frequentados pelo jovem. Confira as entrevistas na íntegra. Acesse http://bit.ly/celularejuventude COMUNICAÇÃO | TELEFONE MÓVEL FAZ PARTE DO COTIDIANO. RECEITA IDEAL É USAR COM EQUILÍBRIO Celular e juventude: saiba mais sobre essa relação integram-se à vida cotidiana. É uma realidade social ampla. Nenhum jovem nasce sabendo utilizar essas tecno- logias, mas são apresentados a elas desde muito cedo e, assim, tornam-se protagonistas desse cenário”, ressalta o mestre em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), analista de mídias sociais e consultor, João Francisco de Lemos. E o celular serve para muito mais coisas do que fazer ligações: acesso à web, redes sociais, games e aplicativos são algumas das opções. O carro-chefe da grande maioria das interações feitas pelos jovens por meio do aparelho é a comunicação com os amigos e o grupo de afinidades. Como a interação via celular é normal para essa faixa etária, a questão da identidade digital levanta opiniões favoráveis e contrárias ao uso do apare- lho pelos jovens. A questão central é se os jovens se dão conta da extensão de sua exposição na vida digital, onde os celulares ocupam um papel central. Opiniões diversas A lista dos “riscos e perigos” da imersão dos jovens no universo digital é ampla, assim como o elenco dos benefí- cios de estar plenamente integrado com as novas formas de se comunicar. Leonardo Meira [email protected] O telefone celular não é acessó- rio, tampouco um item raro no bolso dos brasileiros. Segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o país teve mais de 240 milhões de acessos na telefonia móvel em 2011. Os dados mais recentes indi- cam que há cerca de 250 milhões de telefones celulares ativos, ou seja, mais aparelhos do que habitantes. Uma boa fatia desses números deve-se à comunicação entre os jovens. Apesar de o aparelho ter sido inventado para atender à demanda dos executivos nos anos 1980, caiu nas graças da gera- ção digital dos anos 2000 e se tornou uma verdadeira coqueluche. Tudo isso fez com que surgissem novos hábitos culturais, potencializa- dos nos últimos anos com a rapidíssima evolução das plataformas móveis, como os smartphones e tablets. Esses avanços foram possíveis graças a uma geração que foi socializada com a presença cons- tante de computadores, games e inter- net, além dos próprios celulares. O fato é que estamos encravados no limiar entre a sociedade analógica e a digital. “As mídias móveis e as tecnologias digitais popularizam-se, João Francisco acredita que as tecnologias devem estar integradas às outras situações da vida, e não serem eliminadas goodenoughmother.com

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10 JORNAL SANTUÁRIO DE APARECIDA • 8 DE ABRIL DE 2012 SE LIGA AÍ

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Uma pesquisa feita em Flandres, na Bélgica, com 1.656 estudantes, de 13 a 17 anos, revelou que o uso do celular à noite é prática recorrente entre os adolescentes, e isso está diretamen-te relacionado ao aumento do nível de cansaço desses jovens após algum tempo. Isso porque muitos passam a noite toda conversando via mensagens de texto ou conectados à internet.

Há também quem não consiga se separar do celular nem por um segun-do. Viagens para locais em que não há cobertura de sinal, então, tornam-se uma verdadeira tortura. “Quando isso acontece, essa abstinência, os sinais são perceptíveis: impaciência, desespero, ansiedade, falta de atenção no presente. Ou seja, o jovem conecta-se com a falta, e não com a presença”, avalia o psicólogo clínico Odair Comin.

“A privação do sono é o que pode causar mais estragos”, alerta o médi-co hebiatra Maurício de Souza Lima. Ele relata que, além de distração nas aulas e mau desempenho nas provas, as noites mal dormidas comprometem a produção do hormônio do crescimento (GH), responsável pelo estirão puberal, a esticada típica da adolescência.

No entanto, é preciso também olhar para a faceta positiva da questão. Se tanto se fala sobre uso excessivo dessa tecnologia, é preciso analisar o problema sob o ponto de vista do conteúdo que é consumido, e não tanto do tempo gasto, conforme orienta o consultor João Francisco. “Em dez minutos, um jovem pode acessar um conteúdo que o influencie negativamente. Mas, por outro lado, pode passar duas horas lendo artigos de jornais em seu tablet. Não é só o tempo, mas a qualidade desse tempo que importa.”

O desafio talvez seja entender que essas tecnologias derrubam as frontei-ras entre o off e o on-line, de tal forma que a dimensão digital deve ser obser-vada como algo que pode e deve, sim, estar integrada às outras situações da

vida. “O uso da tecnologia não deve ser ignorado, mas sim equilibrado com as circunstâncias e demandas de cada jovem”, acredita João. É claro que a importância de praticar esportes, se exercitar, conhecer a natureza e o mundo fora da tela devem ser incen-tivados, mas isso não significa que a tecnologia deva ser eliminada.

“Não é mais possível estar desconec-tado, tampouco ter uma visão tradicio-nal e reproduzir medos do passado. O celular com internet abre mais portas ainda. A questão-chave é não enca-rar essas portas como negativas, mas incentivar seus usos positivos e parti-cipar do mundo do jovem”, acrescenta o consultor.

Apesar de ser outra plataforma, também aqui são os pais e outros agen-tes responsáveis pelo jovem que devem ajudá-lo a entender os limites, e não apenas proibir o uso. A estrada é irre-versível, e é bom que seja assim. O uso positivo ou negativo do celular não procede da tecnologia, mas de toda a escala de valores e relações tecidas na família, na escola e nos outros grupos frequentados pelo jovem.

Confira as entrevistas na íntegra.Acesse http://bit.ly/celularejuventude

COMUNICAÇÃO | TELEFONE MÓVEL FAZ PARTE DO COTIDIANO. RECEITA IDEAL É USAR COM EQUILÍBRIO

Celular e juventude: saiba mais sobre essa relação

integram-se à vida cotidiana. É uma realidade social ampla. Nenhum jovem nasce sabendo utilizar essas tecno-logias, mas são apresentados a elas desde muito cedo e, assim, tornam-se protagonistas desse cenário”, ressalta o mestre em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), analista de mídias sociais e consultor, João Francisco de Lemos.

E o celular serve para muito mais coisas do que fazer ligações: acesso à web, redes sociais, games e aplicativos são algumas das opções. O carro-chefe da grande maioria das interações feitas pelos jovens por meio do aparelho é a comunicação com os amigos e o grupo de afinidades.

Como a interação via celular é normal para essa faixa etária, a questão da identidade digital levanta opiniões favoráveis e contrárias ao uso do apare-lho pelos jovens. A questão central é se os jovens se dão conta da extensão de sua exposição na vida digital, onde os celulares ocupam um papel central.

Opiniões diversasA lista dos “riscos e perigos” da

imersão dos jovens no universo digital é ampla, assim como o elenco dos benefí-cios de estar plenamente integrado com as novas formas de se comunicar.

Leonardo [email protected]

O telefone celular não é acessó-rio, tampouco um item raro no bolso dos brasileiros. Segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o país teve mais de 240 milhões de acessos na telefonia móvel em 2011. Os dados mais recentes indi-cam que há cerca de 250 milhões de telefones celulares ativos, ou seja, mais aparelhos do que habitantes.

Uma boa fatia desses números deve-se à comunicação entre os jovens. Apesar de o aparelho ter sido inventado para atender à demanda dos executivos nos anos 1980, caiu nas graças da gera-ção digital dos anos 2000 e se tornou uma verdadeira coqueluche.

Tudo isso fez com que surgissem novos hábitos culturais, potencializa-dos nos últimos anos com a rapidíssima evolução das plataformas móveis, como os smartphones e tablets. Esses avanços foram possíveis graças a uma geração que foi socializada com a presença cons-tante de computadores, games e inter-net, além dos próprios celulares.

O fato é que estamos encravados no limiar entre a sociedade analógica e a digital. “As mídias móveis e as tecnologias digitais popularizam-se,

João Francisco acredita que as tecnologias devem estar integradas às outras situações da vida, e não serem eliminadas

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