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3 Jornal Santuário de aparecida • 12 de agoSto de 2012 OPINIÃO / DEBATE DESENHO | ENSINAR CRIANÇAS A VALORIZAR A FÉ É ENSINAMENTO DE VIDA, AFIRMA ARTISTA Bate-papo com Mauricio de Sousa Mauricio – Na verdade, quando decidi ir à Folha da Manhã (atual Folha de S.Paulo) queria ser desenhista do jornal. Mas não consegui. Um jornalista sugeriu que eu entrasse em outra área no jornal para que fosse fazendo amizades no meio e aí tentasse mais tarde. Demorou uns cinco anos, mas deu certo. No dia em que conse- gui um espaço para publicar minhas tiras, pedi minha demissão de repórter policial e a contratação como desenhista. Mas o período como repórter foi muito importan- te para o que viria a fazer como roteirista e desenhista. Aprendi a ser mais conciso no texto. E assim consegui encaixar melhor os textos nos balões dos quadrinhos. JS – Quando o senhor criou os personagens Bidu e Franjinha, em 1959, tinha ideia da repercussão que teriam? Mauricio – O sucesso nunca é plane- jado. Mas é uma meta de todos. Naque- le momento, só queria ser desenhista. Depois segui os conselhos de meu pai. Ele me disse para desenhar de manhã e, à tarde, administrar minha carreira. JS – Qual é o espírito central da Turma da Mônica? Mauricio – Os personagens da Turma da Mônica foram criados para divertir e também passar mensagens positivas para a vida. São pessoinhas diferentes que aprenderam a conviver, apesar das desavenças e dos problemas naturais nessa convivência. JS – Quais são os projetos no setor de animações com os perso- nagens da Turma? Mauricio – Neste momento, esta- mos centrados na produção de séries para a televisão. Estamos produzindo novos episódios para nossos programas na TV Globo (sábados, às 9h30min) e CartoonNetwork (todos os dias, às 9h). Temos a série do Penadinho em 3D que está sendo reestruturada na produção; o Ronaldinho Gaúcho produzido para a TV Italiana pela GIG; e acabamos de assinar com a produtora Vetor Zero o longa-metragem do Horácio em 3D. Além disso, estamos com uma nova experiência voltada para o público jovem, que é a Turminha ao estilo Toy. JS – Quais são as principais dife- renças entre o mercado dos quadri- nhos do século 20 e o de hoje? Mauricio – Hoje, temos mais concorrência nas plataformas digitais. Isso muda um pouco, mas nem tanto, o perfil do leitor. Muitos condenaram o gibi impresso achando que as crianças estavam migrando totalmente para os games, TVs, redes sociais etc. A prova é que lançamos a Turma da Mônica Jovem em 2008 e, hoje, é o maior fenômeno de vendas do ocidente nos quadrinhos. Chegamos a 500 mil exemplares de um só número vendido no mês. A conclusão é que o mais importante é o conteúdo. JS – Qual é o papel da Turma da Mônica na área educacional e qual é o motivo para ter dado tão certo? Mauricio – A partir do momento que procuramos mostrar para as crianças e os jovens que precisamos olhar pela natu- reza, pela solidariedade entre os povos, pela nossa família, e que brincar também é aprender, já estamos dando base para a educação que irão receber dos pais e educadores. Mas acredito que o melhor de tudo é ouvir de um pai que ele apren- deu a ler com meus gibis e que agora é seu filho quem está aprendendo. São milhões de crianças que são estimuladas a alfabetizar-se pelos quadrinhos. E por isso tem dado tão certo. Essa primeira experiência fica para o resto da vida. JS – O que é necessário para se fazer uma boa história? Mauricio – Muita criatividade e interatividade constante com o leitor. Isso é essencial para falarmos a lingua- gem do dia e da hora. Nunca se acomo- dar pelo sucesso e valorizar nosso capital humano, nossa equipe, que é responsá- vel pelo conteúdo de nossas histórias. JS – Como é o processo de criação dos desenhos em um livro como o que está sendo elaborado em parce- ria com a Editora Santuário, que tem a fé como foco central? Mauricio – Ensinar crianças a valo- rizar o espírito e a fé é um ensinamento de vida. Aumenta nossa responsabili- dade junto ao leitor futuro, adulto, que passará essa experiência para seus filhos. JS – A Turma da Mônica também já ensinou muitas crianças a rezar o Pai-nosso, por meio de uma publica- ção que faz parte da vida de milha- res de brasileiros. O que significa fé para o senhor? Mauricio – Fico feliz pela possibi- lidade de poder chegar às crianças com propostas de fé em Deus. Acreditar em Deus passa por acreditarmos também em nós mesmos. A fé é o ponto de convergên- cia da essência da vida. Não fosse a fé, eu não teria conseguido seguir meu caminho nesses mais de 50 anos de profissão. Leonardo Meira [email protected] Os personagens que ganharam vida por obra de suas mãos fazem parte do cotidiano dos brasileiros. Afinal de contas, quem já não se divertiu e aprendeu algu- ma lição com as histórias da Turma da Mônica e tantas outras que brotaram da genialidade de Mauricio de Sousa? Com 53 anos de carreira e 76 de vida, esse gênio da ilustração permanece à frente da Mauricio de Sousa Produções (MSP), fundada em 1963. Mas a guinada na história de Mauricio se deu em 1959. Após um período como repórter policial da Folha da Manhã, apostou todas as suas fichas no grande sonho: ser desenhista. A primeira tira que saiu no jornal foi a do cachorrinho Bidu. De lá para cá, já foram criados mais de 200 personagens. Agora, a MSP e a Editora Santuário acabaram de firmar uma parceria para publicar o livro Turma da Mônica visita Aparecida. Neste bate-papo com o JS, o paulista natural de Santa Izabel fala sobre sua vida, carreira e o que significa fé para ele. Jornal Santuário de Aparecida – Mauri- cio, seu pai era barbeiro por profis- são, mas, por amor, era poeta, pintor, desenhista. Sua mãe era poetisa. Eles exerceram um papel decisivo em sua escolha pelo mundo das artes? Mauricio de Sousa – Pais poetas, escritores, compositores, pintores nos cercam de um ambiente todo propício para seguirmos o caminho artístico. Nada como abrir os olhos num ambiente com músi- ca, livros, desenhos, criatividade. Assim, aprendi a folhear livros desde bebê, a ver figuras desde sempre, a ler desde que me caíram nas mãos os primeiros gibis. JS – Nos anos 1950, o senhor foi repórter policial da Folha da Manhã. Como surgiu o interesse pelos quadrinhos em meio a sua atividade de repórter? Divulgação / MSP

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3Jornal Santuário de aparecida • 12 de agoSto de 2012OPINIÃO / DEBATE

DESENHO | ENSINAR CRIANÇAS A VALORIZAR A FÉ É ENSINAMENTO DE VIDA, AFIRMA ARTISTA Bate-papo com Mauricio de Sousa

Mauricio – Na verdade, quando decidi ir à Folha da Manhã (atual Folha de S.Paulo) queria ser desenhista do jornal. Mas não consegui. Um jornalista sugeriu que eu entrasse em outra área no jornal para que fosse fazendo amizades no meio e aí tentasse mais tarde. Demorou uns cinco anos, mas deu certo. No dia em que conse-gui um espaço para publicar minhas tiras, pedi minha demissão de repórter policial e a contratação como desenhista. Mas o período como repórter foi muito importan-te para o que viria a fazer como roteirista e desenhista. Aprendi a ser mais conciso no texto. E assim consegui encaixar melhor os textos nos balões dos quadrinhos.

JS – Quando o senhor criou os personagens Bidu e Franjinha, em 1959, tinha ideia da repercussão que teriam?

Mauricio – O sucesso nunca é plane-jado. Mas é uma meta de todos. Naque-le momento, só queria ser desenhista. Depois segui os conselhos de meu pai. Ele me disse para desenhar de manhã e, à tarde, administrar minha carreira.

JS – Qual é o espírito central da Turma da Mônica?

Mauricio – Os personagens da Turma da Mônica foram criados para divertir e também passar mensagens positivas para a vida. São pessoinhas diferentes que aprenderam a conviver, apesar das desavenças e dos problemas naturais nessa convivência.

JS – Quais são os projetos no setor de animações com os perso-nagens da Turma?

Mauricio – Neste momento, esta-mos centrados na produção de séries para a televisão. Estamos produzindo novos episódios para nossos programas na TV Globo (sábados, às 9h30min) e CartoonNetwork (todos os dias, às 9h). Temos a série do Penadinho em 3D que está sendo reestruturada na produção;

o Ronaldinho Gaúcho produzido para a TV Italiana pela GIG; e acabamos de assinar com a produtora Vetor Zero o longa-metragem do Horácio em 3D. Além disso, estamos com uma nova experiência voltada para o público jovem, que é a Turminha ao estilo Toy.

JS – Quais são as principais dife-renças entre o mercado dos quadri-nhos do século 20 e o de hoje?

Mauricio – Hoje, temos mais concorrência nas plataformas digitais. Isso muda um pouco, mas nem tanto, o perfil do leitor. Muitos condenaram o gibi impresso achando que as crianças estavam migrando totalmente para os games, TVs, redes sociais etc. A prova é que lançamos a Turma da Mônica Jovem em 2008 e, hoje, é o maior fenômeno de vendas do ocidente nos quadrinhos. Chegamos a 500 mil exemplares de um só número vendido no mês. A conclusão é que o mais importante é o conteúdo.

JS – Qual é o papel da Turma da Mônica na área educacional e qual é o motivo para ter dado tão certo?

Mauricio – A partir do momento que procuramos mostrar para as crianças e os jovens que precisamos olhar pela natu-reza, pela solidariedade entre os povos, pela nossa família, e que brincar também é aprender, já estamos dando base para a educação que irão receber dos pais e educadores. Mas acredito que o melhor de tudo é ouvir de um pai que ele apren-deu a ler com meus gibis e que agora é seu filho quem está aprendendo. São milhões de crianças que são estimuladas a alfabetizar-se pelos quadrinhos. E por isso tem dado tão certo. Essa primeira experiência fica para o resto da vida.

JS – O que é necessário para se fazer uma boa história?

Mauricio – Muita criatividade e interatividade constante com o leitor. Isso é essencial para falarmos a lingua-

gem do dia e da hora. Nunca se acomo-dar pelo sucesso e valorizar nosso capital humano, nossa equipe, que é responsá-vel pelo conteúdo de nossas histórias.

JS – Como é o processo de criação dos desenhos em um livro como o que está sendo elaborado em parce-ria com a Editora Santuário, que tem a fé como foco central?

Mauricio – Ensinar crianças a valo-rizar o espírito e a fé é um ensinamento de vida. Aumenta nossa responsabili-dade junto ao leitor futuro, adulto, que passará essa experiência para seus filhos.

JS – A Turma da Mônica também já ensinou muitas crianças a rezar o Pai-nosso, por meio de uma publica-ção que faz parte da vida de milha-res de brasileiros. O que significa fé para o senhor?

Mauricio – Fico feliz pela possibi-lidade de poder chegar às crianças com propostas de fé em Deus. Acreditar em Deus passa por acreditarmos também em nós mesmos. A fé é o ponto de convergên-cia da essência da vida. Não fosse a fé, eu não teria conseguido seguir meu caminho nesses mais de 50 anos de profissão.

Leonardo [email protected]

Os personagens que ganharam vida por obra de suas mãos fazem parte do cotidiano dos brasileiros. Afinal de contas, quem já não se divertiu e aprendeu algu-ma lição com as histórias da Turma da Mônica e tantas outras que brotaram da genialidade de Mauricio de Sousa?

Com 53 anos de carreira e 76 de vida, esse gênio da ilustração permanece à frente da Mauricio de Sousa Produções (MSP), fundada em 1963. Mas a guinada na história de Mauricio se deu em 1959. Após um período como repórter policial da Folha da Manhã, apostou todas as suas fichas no grande sonho: ser desenhista. A primeira tira que saiu no jornal foi a do cachorrinho Bidu. De lá para cá, já foram criados mais de 200 personagens. Agora, a MSP e a Editora Santuário acabaram de firmar uma parceria para publicar o livro Turma da Mônica visita Aparecida.

Neste bate-papo com o JS, o paulista natural de Santa Izabel fala sobre sua vida, carreira e o que significa fé para ele.

Jornal Santuário de Aparecida – Mauri-cio, seu pai era barbeiro por profis-são, mas, por amor, era poeta, pintor, desenhista. Sua mãe era poetisa. Eles exerceram um papel decisivo em sua escolha pelo mundo das artes?

Mauricio de Sousa – Pais poetas, escritores, compositores, pintores nos cercam de um ambiente todo propício para seguirmos o caminho artístico. Nada como abrir os olhos num ambiente com músi-ca, livros, desenhos, criatividade. Assim, aprendi a folhear livros desde bebê, a ver figuras desde sempre, a ler desde que me caíram nas mãos os primeiros gibis.

JS – Nos anos 1950, o senhor foi repórter policial da Folha da Manhã. Como surgiu o interesse pelos quadrinhos em meio a sua atividade de repórter?

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