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«Frases soltas deste tipo que leio agora como se me soassem ao ruído das tesouras no ar dos barbeiros antes da tesourada verdadeira. "Faz um frio esganiçado..." "Os moços trazem sol nas veias. Os velhos, luar!" "Há pessoas cujas caras são chapéus de coco com feições!" "O Destino é um estranho, um intruso." "As mãos, os lenços dos braços..." "Nada se parece tanto com um grito como um grito." "Os olhos dela lembravam [...] noites de sol." "Entrelaçavam os dedos como se quisessem ter a impressão de que os multiplicavam." "Ler um livro é pedir olhos emprestados para ver o mundo." "Pobre rapariga! Pobre vestido com nervos!" "Deus não sabe classificar plantas nem animais. Desconhece o vasconço científico dos botânicos e dos zoólogos. E não sabe ler nem escrever. É um ignorante!" "Um sonhador é um fabricante de fantasmas."» José Gomes Ferreira, Dias Comuns, II, p. 78 [Ilustrar uma destas frases poéticas de José Gomes Ferreira, mas como se fossem interpretadas à letra (por alguém ingénuo que não conseguisse perceber o seu sentido figurado).] "Há pessoas cujas caras são chapéus de coco com feições!" [Tiago F., 7.º 2.ª]

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Page 1: Trabalhos Da Semana Jgf   Todos Os Documentos Juntos

«Frases soltas deste tipo — que leio agora como se me soassem ao ruído das tesouras no ar dos barbeiros antes da tesourada verdadeira.

"Faz um frio esganiçado..." "Os moços trazem sol nas veias. Os velhos, luar!" "Há pessoas cujas caras são chapéus de coco com feições!" "O Destino é um estranho, um intruso." "As mãos, os lenços dos braços..." "Nada se parece tanto com um grito como um grito." "Os olhos dela lembravam [...] noites de sol." "Entrelaçavam os dedos como se quisessem ter a impressão de

que os multiplicavam." "Ler um livro é pedir olhos emprestados para ver o mundo." "Pobre rapariga! Pobre vestido com nervos!" "Deus não sabe classificar plantas nem animais. Desconhece o

vasconço científico dos botânicos e dos zoólogos. E não sabe ler nem escrever. É um ignorante!"

"Um sonhador é um fabricante de fantasmas."»

José Gomes Ferreira, Dias Comuns, II, p. 78

[Ilustrar uma destas frases poéticas de José Gomes Ferreira, mas como se fossem interpretadas à letra (por alguém ingénuo que não conseguisse perceber o seu sentido figurado).]

"Há pessoas cujas caras são chapéus de coco com feições!"

[Tiago F., 7.º 2.ª]

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[Teresa, 7.º 2.ª]

[Carolina, 7.º 3.ª]

Page 3: Trabalhos Da Semana Jgf   Todos Os Documentos Juntos

"Os olhos dela lembravam [...] noites de sol."

[Rita, 7.º 3.ª]

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[Elizângela, 7.º 1.ª]

[José Luís, 7.º 2.ª]

[Soraia, 7.º 5.ª]

Page 5: Trabalhos Da Semana Jgf   Todos Os Documentos Juntos

[Belângela, 7.º 5.ª]

"As mãos, os lenços dos braços..."

[Marta S., 7.º 2.ª] [Ricardo, 7.º 1.ª]

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[Gonçalo, 7.º 5.ª]

"Faz um frio esganiçado..."

[Laura, 7.º 3.ª]

Page 7: Trabalhos Da Semana Jgf   Todos Os Documentos Juntos

[Tiago, 7.º 5.ª]

[Afonso, 7.º 6.ª]

Page 8: Trabalhos Da Semana Jgf   Todos Os Documentos Juntos

"Pobre rapariga! Pobre vestido com nervos!"

[Joana B., 7.º 5.ª]

"Deus não sabe classificar plantas nem animais. Desconhece o vasconço científico dos botânicos e dos zoólogos. E não sabe ler nem escrever. É

um ignorante!"

[Mário, 7.º 6.ª]

Page 9: Trabalhos Da Semana Jgf   Todos Os Documentos Juntos

"Um sonhador é um fabricante de fantasmas."

[Susana, 7.º 3.ª]

Page 10: Trabalhos Da Semana Jgf   Todos Os Documentos Juntos

[Joana D., 7.º 5.ª]

[Simão, 7.º 3.ª]

Page 11: Trabalhos Da Semana Jgf   Todos Os Documentos Juntos

[Sara, 7.º 6.ª]

[Ana G., 7.º 6.ª]

Page 12: Trabalhos Da Semana Jgf   Todos Os Documentos Juntos

[João R., 7.º 3.ª]

[António Pedro, 7.º 3.ª]

Page 13: Trabalhos Da Semana Jgf   Todos Os Documentos Juntos

[Catarina, 7.º 1.ª]

[Joana, 7.º 2.ª]

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[André, 7.º 2.ª]

[Pedro M., 7.º 6.ª]

Page 15: Trabalhos Da Semana Jgf   Todos Os Documentos Juntos

[Madalena, 7.º 3.ª]

[Diogo, 7.º 2.ª]

Page 16: Trabalhos Da Semana Jgf   Todos Os Documentos Juntos

[Frederico M., 7.º 2.ª]

[António S., 7.º 3.ª]

Page 17: Trabalhos Da Semana Jgf   Todos Os Documentos Juntos

[João L., 7.º 6.ª]

"Ler um livro é pedir olhos emprestados para ver o mundo."

[Joana A., 7.º 6.ª]

Page 18: Trabalhos Da Semana Jgf   Todos Os Documentos Juntos

"Os moços trazem sol nas veias. Os velhos, luar!"

[Tiago F., 7.º 2.ª]

[Marta, 7.º 3.ª]

Page 19: Trabalhos Da Semana Jgf   Todos Os Documentos Juntos

[Francisco Gonçalves, 7.º 3.ª]

"Entrelaçavam os dedos como se quisessem ter a impressão de que os multiplicavam."

[João B., 7.º 5.ª]

Page 20: Trabalhos Da Semana Jgf   Todos Os Documentos Juntos

"O Destino é um estranho, um intruso."

[João C., 7.º 2.ª]

[Ana M., 7.º 6.ª]

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«Estive a reler os Calligrammes [de Apollinaire]» José Gomes Ferreira, Dias Comuns, II, p. 152

[Desenhar um caligrama (ou outro tipo de «poema-visual»), a partir de poema de José Gomes Ferreira:]

Que temos nós com a primavera? Não nos sai dos olhos nem da boca, mas da terra que não é nossa. Primavera para quê? Malmequeres para quê? Para a aceitação com perfumes deste silêncio de fossa?

José Gomes Ferreira, Poesia-III, p. 139

[João C., 7.º 2.ª]

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(Madrigal para a Inventada.) Vou inventar uma flor para pôr no teu cabelo. Uma flor com asas de lume donde, em vez de perfume, saiam sons de violoncelo. E eu posso dizer à Terra: «Sim. Bendito seja o teu ventre entre as mulheres. Mas basta de malmequeres!»

José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 263

[Catarina, 7.º 2.ª]

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[Marta, 7.º 5.ª]

E se, de repente, voassem dos teus olhos duas pombas azuis? Então, sim, poeta, cairia pela primeira vez no mundo o espanto da primavera completa.

José Gomes Ferreira, Poeta militante, I, p. 262

[Carolina, 7.º 2.ª]

Não queriam que eu cantasse as flores?

Pois cá estou a cantá-las — pobre dormir de cores em voos cativos

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que os mortos atiram das valas para o remorso dos vivos.

José Gomes Ferreira, Poesia-II, p. 28

[Carlota, 7.º 5.ª]

(Marcha fúnebre para uma borboleta pisada.) Pobre borboleta morta que se desfez num sopro de poeira de asas! Que ficou de ti no mundo? O desenho dum voo com rasto de pólen?

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Um corpo caído de cores mais inúteis? Uma nódoa apenas sem a grandeza da morte — porque a morte é só humana? (Quero lá saber!... O que me dói é tudo ser borboleta morta.)

José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 191

[Mariana, 7.º 5.ª]

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[Micaela, 7.º 6.ª]

Ouve, sol: quando vejo a minha sombra no chão a desnhar a vala da fronteira da solidão — apetece-me dar um salto e estrangulá-la.

José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 231

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[Carolina, 7.º 6.ª]

o sol da fogueira, na estrada a arder... E eu parei estremecido num esperar de mistério. Que vai acontecer? A criação na minha frente dum novo ser soprado de azul?... ...uma árvore diferente

Page 28: Trabalhos Da Semana Jgf   Todos Os Documentos Juntos

José Gomes Ferreira, Poeta militante, p. 138

[Raquel, 7.º 5.ª]

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(Outra canção de amor para a Inventada.)

Onde poisaste os olhos não nasceram flores nem astros de tempestade. Ficou apenas o pudor do pólen a perfumar a lua de complicações de fantasmas... E este silêncio de duas mãos que se procuram no amor entrelaçado das aranhas.

José Gomes Ferreira, Poeta militante, I, p. 279

[Paulo, 7.º 1.ª]

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(Mais uma definição de poeta num carro eléctrico para Almirante Reis.)

Poeta o que é? A

Um homem que leva B o facho da treva B no fundo da mina C — mas apenas vê A o que não ilumina. C

José Gomes Ferreira, Poesia-III, p. 10

[Escrever um poema que comece pela mesma pergunta e que cumpra o mesmo esquema rimático (a-b-b-c-a-c) do poema de José Gomes Ferreira] Poeta o que é? Um homem de lápis na mão e cheio de imaginação, numa cadeira sentado, na esplanada do café: não pára até o poema estar acabado.

[João R., 7.º 3.º]

Poeta o que é? Um grande sonhador, o antigo trovador, que sonha pelo mundo fora, para escrever o que é um poema que adora.

[Simão, 7.º 3.ª]

Poeta o que é? Uma homem que agrava e depois lava a dor com uma rima e para quê? Para que não a exprima.

[André, 7.º 3.ª]

Poeta o que é? Um escritor ou um sonhador? É alguém que vê e sente também.

[Rita, 7.º 3.ª]

Poeta o que é? É aquele que cantava a quem amava, quando fazia sol na terna loja do senhor José, ou que cantava na taberna.

[António A., 7.º 3.ª]

Poeta o que é? É um filósofo revolucionário que vive num armário. Filósofo sensível, é o que é. Mas sem um fusível...

[António S., 7.º 3.ª]

Poeta o que é? Ser ou não ser, eis a questão: para quem fala do coração é uma pessoa que sente, Escreve sobre tudo o que vê e, quando sonha, sonha com a mente.

[Susana, 7.º 3.ª]

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Poeta o que é? Um homem valente, de coração quente, que enfrenta o amor com a sua fé. É um grande autor.

[Miguel M., 7.º 3.ª]

Poeta o que é? Uma pessoa especial, com muito moral. Gosta de inventar — eeeeé! —, para mais tarde editar.

[Laura, 7.º 3.ª]

Poeta o que é? Homem transparente, passa para o papel o que sente. Frases e palavras são o seu destino, nunca sendo o que se lê — é isto que imagino.

[Marta, 7.º 3.ª]

Poeta o que é? Será um trovador ou aquele que desenha o mundo com a cor, aquele que grita, aquele que é, ou, simplesmente, o que imita

[Francisco, 7.º 3.ª]

Poeta o que é? Pessoa que sonhava e imaginava histórias, e que é capaz de pôr em verso as suas memórias.

[Silvana, 7.º 3.ª]

Poeta o que é? É um pensador da vida e da dor, que o amor aumenta. Então, por que é que tanto lamenta?

[Teresa, 7.º 2.ª]

Poeta o que é? É um homem igual, mas com carácter especial: com um leve coração, coração que vê e lê o seu poema em acção.

[Carolina, 7.º 2.ª]

Poeta o que é? É um homem que faz e também traz poesia e alegria, para ti e para mim, como se vê. Tudo é sabedoria.

[Catarina, 7.º 2.ª]

Poeta o que é? Uma criança que esconde a riqueza de um conde, num castelo encantado ou no alto de uma sé: o seu sonho apaixonado.

[José Luís, 7.º 2.ª]

Poeta o que é? Um mágico feiticeiro, um amigo verdadeiro. No papel conta os seus pensamentos e um pouco triste é, quando revela os seus desalentos.

[José Luís, 7.º 2.ª]

Poeta o que é? Tristezas ou alegrias que iluminam nossos dias, como por magia. Arrasta a maré numa corrente de fantasia.

[André, 7.º 2.ª]

Poeta o que é? Um homem que leva aquele treva do meu jardim, mas apenas vê o que não tem fim.

[Frederico M., 7.º 2.ª]

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Poeta o que é? Caneta que retrata, paixão que não mata. Às vezes, cruel... Mas sempre com fé sobre o papel.

[Tiago F., 7.º 2.ª]

Poeta o que é? Ver na treva o que seu amor leva sem grande custo. Ser poeta é com as palavras ser justo.

[Joana, 7.º 2.ª]

Poeta o que é? Um homem que tenta, pensa e inventa, tentando ser original! E o melhor o que é? O resultado final.

[João C., 7.º 2.ª]

Poeta o que é? A branda serenidade, o puro aroma, a claridade, o perfume das rosas, muita, muita fé, a cantilena das prosas.

[Rita, 7.º 2.ª]

Poeta o que é? Um poeta é o sol a brilhar, é uma cabeça a pensar... É ser flor que desabrocha, é escrever aquilo que se vê, ser mar que bate na rocha.

[Carla, 7.º 5.ª]

Poeta o que é? Alguém ao sabor do vento e, por um momento, num mundo imaginário onde poucos chegam até. Haverá tal cenário?

[Mariana, 7.º 5.ª]

Poeta o que é? Um ser que leva as memórias onde neva o desgosto e a felicidade fina, que tão fina é, que a luz nem a ilumina.

[Bruno Rafael, 7.º 5.ª]

Poeta o que é? Um homem que escreve e que leva uma vida leve? Não, é um homem que nos faz ver o que é sentir-se bem a ler.

[João B., 7.º 5.ª]

Poeta o que é? É um louco que, por pouco, não salta da imaginação para a realidade, mas leva paixão no coração.

[Joana D., 7.º 5.ª]

Poeta o que é?

Um fiel sonhador. Viaja na sua cabeça, sem que ninguém lhe agradeça, sabendo o que não vê e cada vez mais sabedor, porque lhe falta um porquê!

[Joana B., 7.º 5.ª]

Procurando por ti Espero que procures por mim, no princípio do fim, no céu ou no mar, algures, pensando sempre em me amar.

[Belângela, 7.º 5.ª]

Poeta o que é? A alma que escreve com sentimento, sem nunca perder o pensamento, querendo explicar o que diz, para que todos tenham fé, tornando tudo feliz.

[Joana A., 7.º 6.ª]

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Poeta o que é? Poeta é uma pessoa que sonha e que voa; no fundo, é alguém que pensa no mundo.

[Pedro M., 7.º 6.ª]

Poeta o que é? Levar a vida a brincar sem nada para reclamar, ouvir a chuva cair aqui mesmo ao pé, sem deixar de sorrir.

[Carolina, 7.º 6.ª]

Poeta o que é? A inspiração que chama e leva até à fama, a paixão desmedida, inspirada uma vez para o resto da vida.

[Cátia, 7.º 6.ª]

Poeta o que é? É ser diferente; ver o mundo de forma insistente, expressá-lo de maneira intensa. Mas o poeta é um ser humano, pois é, em tudo o que sente e no que pensa.

[Micaela, 7.º 6.ª]

Poeta o que é? A pessoa que se inspira para poder ter a sua ira; mas também pode ser alguém que gosta de escrever e apenas vê a vida em que aposta.

[João Paulo, 7.º 6.ª]

Poeta o que é? Um homem inspirado, nunca saturado, que faz arte. E que arte é? Uma arte que não parte.

[João Afonso, 7.º 6.ª]

Poeta o que é? Alguém que imagina, pessoa que atina num mundo melhor, alguém com fé numa paz maior.

[Francisco, 7.º 6.ª]

Poeta o que é? Uma criança consciente, que segue a mente, a fazer palavrões daquilo que não lê, intrigando-se sobre como serão os corações.

[Sara, 7.º 6.ª]

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Enquanto faço a barba Já reparaste que a tua pele enruga o espelho? Estás a

envelhecer. (Só por fora, espero.) Peço-te por todos os deuses que não enchas os

poucos minutos que te restam de vida com paixões medíocres!

José Gomes Ferreira, Imitação dos Dias, p. 102

[Como fez José Gomes Ferreira, escrever poucas linhas inspiradas por te veres atentamente ao espelho (mesmo sem ser para fazer a barba).]

Enquanto me vejo ao espelho, penso como poderia ser se tivesse cabelos ruivos, olhos verdes e lábios carnudos. Poderia ser feliz também? Bem, eu não tenho cabelos ruivos, ollos verdes e lábios carnudos, mas sou feliz, quando me olho no espelho e imagino que tenho cabelos ruivos, olhos verdes e lábios carnudos. Não é preciso ter cabelos ruivos, olhos verdes e lábios carnudos para ser feliz.

Eu sou feliz mesmo sem me olhar ao espelho... [Carlota, 7.º 5.ª]

Enquanto me penteio, reparo que o meu cabelo está a cair e a

perder a cor brilhante e luminosa, a sua força e os caracóis perfeitos. Também reparo que estou a ficar com borbulhas na cara e com rugas.

[Ana Gabriela, 7.º 5.ª]

Enquanto lavo a face A pele nota-se nitidamente e apresenta o acne da puberdade. Um sinal que mostra o futuro não muito longínquo, mas longe

demais para uma vida. [Bruno Rafael, 7.º 5.ª]

Enquanto faço a barba Estou mesmo a ficar velho, já com barba — espero que seja

só quanto ao aspecto físico! O que será que vou fazer amanhã na aula de Português?

Espero que amanhã ele não venha, que assim poderei ficar a jogar futebol. (Por favor, Deus, faz com que o prof amanhã não venha.)

Pronto, agora é só pôr um bocado de after-shave, e já está. [Rui, 7.º 3.ª]

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Que horror! Sou mesmo uma anormal: onde é que já se viu um olho amarelo e outro azul? Detesto ver-me ao espelho. E esta borbulha o que é que faz aqui? Espero que seja da adolescência... Se não, sou capaz de cortar este meu pedaço de pele ou então fazer uma plástica. Bem, pensando melhor, tenho é de me acalmar, afinal isto trata-se. Vou pôr lentes de contacto e um cremezito, e os olhos às cores e as borbulhas desaparecem. Yes!

[Carolina, 7.º 3.ª]

Enquanto me vejo no espelho, penteio-me ou lavo os dentes. Depois do banho, vejo que a minha pele está seca e que estou despenteado. Mas gosto de mim tal como sou.

[Rafael, 7.º 1.ª]

No espelho, observo uma rapariga.Uma rapariga que, tal como todas as outras, tenta descobrir o sentido da vida, luta pelos seus objectivos, tenta resolver os seus problemas...

Afinal, de que outra maneira se consegue aproveitar a vida? [Marta S., 7.º 2.ª]

Enquanto me penteio Já reparaste que o cabelo não me cresce? Parece que quer

ficar assim... Espero que cresça depressa para fazer uma popa. [Diogo, 7.º 2.ª]

Quando olho para o espelho, vejo catorze anos de vida, vivida umas vezes com tristezas, outras com alegrias, mas também antevejo um futuro, promissor e sonhador, de uma vida que, espero, seja boa.

[Tânia, 7.º 6.ª]

Olho para o espelho e penso que sou um miúdo normal, igual aos outros, apesar de um pouco maluco.

Acho que sou um tanto feio; por isso penso que me vou assustar e o espelho partir-se, o que nunca aconteceu. A minha aparência deixa muito a desejar, mas, ao menos, não tenho rugas.

[João Baila, 7.º 6.ª]

Ena pá, porque é que ainda acredito que vou olhar para o espelho e sorrir? A única coisa que vejo é um rapaz insensato, que não sabe o que quer da vida.

Oh! Lindo... A minha respiração embaciou o espelho. Agora, sim, parece aquelas reportagens em que as imagens são demasiado horrorosas para serem vistas por crianças e se embacia a câmara para não se olhar. Bem, pelo menos agora já não precisas de ver a tua feiosa aparência.

[Mário, 7.º 6.ª]

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Esperança obrigatória [...] Quase noite. Olho, com o nariz achatado no vidro, a rua encrespada pelo vento que

entorta e desgrenha as casas, as árvores e os candeeiros. Um automóvel, já de faróis acesos, fura, por entre a chuva, um corredor de

luz enrugada por onde corre uma velhota de farripas soltas, os braços atados no embrulho de uma criança enrolada no xaile. (Ao fundo, o guarda-nocturno, abrigado na porta do costume, sopra o frio dos dedos...)

E eu para aqui fechado nesta náusea de andar de um lado para o outro de cá para lá, de lá para cá... —, sonâmbulo de irritação!

Homens: estou farto de chuva e quero sair!... Evadir-me!... Caminhar pelas ruas em liberdade de sol, de vida, de cheiro a giestas nos cabelos das mulheres e ninhos de ouro nos olhos das crianças!

Mas não. A chuva continua. Continua sempre, sempre, sempre. Que remédio senão esperar que ela acabe, enquanto traço na humidade da

vidraça riscos de esperança. Primeiro uma flor. A seguir um sol... Um pequenino sol de rumor de lágrimas. Assim:

José Gomes Ferreira, Imitação dos Dias, pp. 191-192

[Escrever texto que, como acontece com «Esperança obrigatória», inclua um desenho. Esse texto, tal como o de José Gomes Ferreira, deverá ser de «prosa poética».]

Espreito pela janela do quarto para a noite, que é só iluminada pela luz das estrelas e da lua, que brilham neste momento. Oiço o som do vento e dos carros a passarem, calmante, com o vidro embaciado por causa da humidade. Limpei-o com a manga da camisola, para que pudesse ver o pouco que consigo ver, os ramos das árvores a movimentarem-se ao som do vento.

Já cansado, deixo-me dormir, enquanto olhava para as estelas e a lua, que iluminavam a noite profunda. Assim:

[Rui, 7.º 3.ª]

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Chegou a primavera, doce e serena como uma criança. Os dias são luminosos e belos — até parece que saíram de uma tela. As flores e as árvores parecem exércitos coloridos a combater com grande bravura. O sol, redondo como um balão, galopa com pés de lã, pelas casas, pelas serras, pelos céus, arrebata os nossos corações. Ah, que esplendor!

A primavera é uma mistura de sentimentos, um orgulho, uma vaidade. Do pôr ao nascer do sol tudo é simples e belo como uma flor...

[Rita, 7.º 2.ª]

Numa noite muito escura estava eu na janela da sala a ver os carros que passavam na rua. Estava a jogar um jogo que me tinham ensinado: primeiro, dizíamos um número de um a dez; depois, víamos os carros que passavam até esse mesmo número e era esse o carro. A mim tinha saído uma vez uma carrinha de ciganos, toda estragada e sem pintura. A carrinha era assim:

[Ana Gabriela, 7.º 2.ª]

A luz entra pelas janelas e espalha-se no castelo. Bate numa caixa de grades castanhas, amareladas. Nos lençóis brancos está escondida uma melodia que entra nos dois ouvidos muito pequenos e, lá dentro, sonham fadas, anões, reis e rainhas, mundos a haver. A melodia acabou ali. Os lençóis brancos agitam-se e um sorriso nasce e volta a nascer de novo. A luz entra nos olhos de Maria, cheios de vida, alegres e de cor escura.. Um braço estende-se, o outro também, e duas mãos abrem. Como duas flores que nascem, com cinco pétalas cada uma.

Está a pedir um colo. Um colo mágico, cor-de-rosa, de reis e

rainhas. Nesse colo, Maria canta a sua melodia. [Carla, 7.º 5.ª]

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A lua, a mais bela paisagem da noite. Aquela que aparece ao alto de cèu, a rainha da noite que aparece sempre rodeada dos seus mais belos súbditos, as estrelas que brilham sem parar. É ela que controla o horizonte que jamais alguém avistara.

De tanta beleza junta, conta-se que os mais belos olhos ficaram cegos ao mirar a deusa da noite. Santo ficou o homem que, segundo se conta, foi ter com a nossa rainha. Teve a sorte de poder pisar com os seus pés as fendas e os buracos que nela havia. Pôde ainda visitar o seu reino e apreciar com toda a delicadeza e sensatez as suas súbditas.

De sete em sete dias a podemos observar de variadas maneiras. Para isso, é só observar, primeiro, o seu reino; depois, os súbditos; a seguir, aparece ela com a sua coroa única no universo para dar nas vistas, a ver tudo o que passa com o seu belo rosto!

A deusa da escuridão passa todo o tempo a tomar conta do

seu reino. [Ana S., 7.º 6.ª]

Uma pena voa casa adentro, numa fúria de pureza. Encanta o

olhar de quem a seguir com sentimento de liberdade. Mil e uma ideias apagam a imaginação e um milhão de

sonhos escondidos penetram nas mentes lúcidas que a viram poisar no chão de mármore frio.

Alguém, sensível, levantou-se do seu lugar e dignou-se a tirar a pena do chão frio da casa vazia. Foi pô-la num lugar onde pode voar de novo.

Mas a pena não voa, enquanto não encontrar quem por ela olhe com fervor. Com o fervor de quem tem amor, sentimento para dar...

E um vulto que, passando na noite triste, se ocultou na sombra clara olhou... e conseguiu.

Voou, fazendo a pena voar, e poisou na esperança de, um dia, de novo a encontrar.

O céu tremeu e a terra exaltou o seu berro, como se no meio dos dois algo maior se encontrasse.

Page 39: Trabalhos Da Semana Jgf   Todos Os Documentos Juntos

Na despedida do sol, a lua abraça o escuro em vão, e a pena, dançando no vento, caiu hipnotizada pelo ondular de um mar que, misterioso, muda de personalidade como quem colhe uma flor.

Mas a pena não se perdeu; num barco a passar, um dia alguém a amará e, de novo, uma pena voará.

[Joana L., 7.º 6.ª]

A VELHINHA LAREIRA DA CASA DA MINHA AVÓ A noite aproximava-se e o caminho ainda era longe. Estávamos a três dias do Natal e toda a minha família me

esperava: Como eu desjava lá chegar. Toda esta magia do Natal me encantava. Só de pensar

naqueles doces conventuais que a minha avó faz, até sinto água na boca. Olho pelo vidro e tudo é escuro à minha volta. Abri um pouco a janela e logo senti aquele ar gelado a bater-me constantemente junto da face, e vieram-me à memória os longos serões passados à lareira junto da minha família.

Já passava da meia-noite quando, finalmente, cheguei àquela velhinha aldeia lá para os lados de Montalegre.

Como tudo parece magia, vieram-me à memória os tempos de criança, assim que vi toda aquela minha gente. As lágrimas correram-me face abaixo. Como está velhinha a minha avó!

Mal entrei em casa da minha avó, lá estava aquela lareira acesa velhinha, que tanto me fascina.

[João Tomás, 7.º 6.ª]

Page 40: Trabalhos Da Semana Jgf   Todos Os Documentos Juntos

[Escrever espécie de legenda (entre poema, curta descrição, pequeno comentário) para estes quadros — sobre que o próprio José Gomes Ferreira escreveu também]

AGORA O MEU RETRATO PINTADO PELA OFÉLIA Acordava cedo saía da cama e vestido do segredo do pijama ia acordar a Ofélia para ela o pintar com aquela cor quase amarela bem diferente do pijama com que eu dormira ........................................................................ José Gomes Ferreira, inédito facsimilado em Operário de Palavras, p. 46

Retrato de José Gomes Ferreira, de Ofélia Marques

O seu ar desconfiado dá arrepios

como uma noite de Inverno. O cabelo com risco ao lado parece esvoaçar com a força do ar que sobre ele embate. O cigarro aceso que tem na mão vai-se queimando e o fumo que dele sai vai-se dissipando à medida que se aproxima da cara. A camisa tem uns botões desapertados em cima. Os lábios grossos não esboçam qualquer sorriso, por mais forçado que seja.

[Ana Morais, 7.º 6.ª]

Porque não consigo dormir? Só este cigarro me ajuda a [descontrair. Como a noite vai longa na janela do meu quarto, olhando o luar, a brisa da noite faz esvoaçar o [meu cabelo e me ajuda a pensar.

[João Tomás, 7.º 6.ª]

José Gomes Ferreira um grande poeta é... Com um cigarro na mão. De branco o que é? Um pijama, meio aberto, meio fechado. Um grande poeta é...

[Mafalda, 7.º 3.ª]

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O QUADRO DO RAUL JOSÉ PINTADO PELA OFÉLIA MARQUES Com este quadro do pequeno Raul José (perguntarão: quem é? Respondo: o meu filho que, com tanto brilho, sofre a arquitectura), graças a este quadro a Ofélia encontrou com finura o fluido da linha verdadeira que da linha verdadeira que marca e marcará o padrão das crianças da família Ferreira — que assim serão de geração em geração, até à sombra derradeira.

José Gomes Ferreira, inédito

facsimilado em Operário de Palavras, p. 47

Raul Hestnes Ferreira, por Ofélia Marques

O menino exemplar, com um olhar triste, como se estudasse num seminário.

[Raquel, 7.º 5.ª]

Menino sonhador, de olhar encantador e olhar angelical, representa algo sem igual.

[Marta G., 7.º 2.ª]

O retrato é expressivo, os

seus olhos mostram um olhar ingénuo e meigo, a boca é desenhada e as orelhas grandes. A franja bate-lhe no rosto. Usa uma camisola com gola em bico e segura o que me parece ser um quadro.

[Ana G., 7.º 6.ª]

Com olhar profundo, mente envolvida em pensamentos, parece infeliz com a vida. Seus olhos entristecidos mostram essa infelicidade, seu ar inteligente mostra ser boa gente.

[Tiago P., 7.º 2.ª]

Quem diria que Raul iria tornar-se o arquitecto da nossa escola?

[Catarina, 7.º 1.ª]

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DIANTE DO MEU RETRATO PINTADO PELO FRED KRADOLFER Eu. Jovem. Exactamente aos 30 anos de vida em que choviam, como agora chovem, ilusões de sombras já desiludidas. .............................................................

José Gomes Ferreira, inédito facsimilado em Operário de Palavras, p. 43

Retrato de José Gomes Ferreira, por Fred Kradolfer

Em tempos de paz e alegria houve uma alma de grande dimensão. Era elegante e a sua mente brilhante, mas o que chamava mais a atenção era o seu coração cintilante.

[Bruno Rafael, 7.º 5.ª]

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UM QUADRO DO STUART Uma estrada sem ninguém, Sem uma árvore, um bicho. Escuto uma fonte além mas não vejo o seu esguicho. E aquela sombra? Vai? Vem Ou é somente um capricho. o espectro de não sei quem ao vento que leva o lixo? ..............................................

José Gomes Ferreira, inédito facsimilado em Operário de

Palavras, p. 43

Desenho de Stuat Carvalhais

Uma estrada larga e comprida, em cujas bordas está um homem, talvez a trabalhar. A paisagem tem algum terreno à volta, onde se pode ver o formato de uma cruz em madeira. O resto é preenchido por céu.

[Marta, 7.º 5.ª]

Em vez de campo, parece mar. Agradam-me particularmente as laranjeiras e a colina escarpada até aos camponeses, que trabalham nas hortas.

[Afonso, 7.º 6.ª]

São os caminhos que se percorrem na vida, até se chegar ao fim. Passa-se por obstáculos e curvas enormes, talvez até se caia, mas levantamo-nos sempre, até ao sinal de que acabou a jornada.

Connosco vem sempre céu, que está sempre lá e pode testemunhar tudo. Só ele pode estar sempre connosco. Se nos arriscamos a sair da estrada, aí sim, pode ser o nosso fim.

[Ana S., 7.º 6.ª]

No meio de terras e estrada céu limpo se poderá ver. Que paisagem tão descansada e praticamente desabitada! Num trabalho árduo, um homem trabalha. Será por ter fé em Jesus que perto tem uma cruz.

[Cláudia, 7.º 5.ª]

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«Uma das últimas invenções do meu filho Alexandre é o que

ele chama a «música de rãguarda». Isto é: enrouquece voz,

em coaxar de imitação de rã, e repete tudo o que ouve, desde Mozart a Stravinski, transfigurado por esse filtro caricatural.

É irresistível de graça — e às vezes com mais significado do que ele supõe.

Música de rãguarda...» José Gomes Ferreira, Dias Comuns, I, p. 62

[Criar um neologismo, ao estilo de «ranguarda», escrevendo ainda o seu verbete de dicionário.]

CHORRIR — Verbo. Chorar e rir simultaneamente. «Aquela miúda, há um bocado, chorria: nem percebi se estava alegre ou triste.

[Sara, 7.º 1.ª]

COMIPAPORMIGA — Substantivo, masc. Caixa de metal, de tamanho relativamente grande, em cuja extremidade principal existe um tubo, que é posto dentro de um formigueiro, para sugar as formigas, que se vão depositando no interior da caixa; na outra extremidade há um segundo tubo, por onde as formigas são expulsas, uma vez que as bocas dos papa-formigas são identificadas pelas máquina. «Numa reserva natural da Escócia foi colocado um comipapormiga, porque os papa-formigas tinham dificuldade em chegar às formigas».

[Marta, 7.º 3.ª]

SERPENTOLITAR — Verbo. Arrastar os pés e ser tolo; rastejar e ser tolo. «O Marcelo serpentolita a toda a hora, tanto que até irrita».

[João Marcelo, 7.º 5.ª]

CARPRENDER — Verbo. Aprender o ofício de carpinteiro. «Vou deixar a escola: carprenderei com o meu pai».

[André, 7.º 3.ª]

JOMAR — Verbo. Chamar alguém da janela. «— Joma o João, Isabel. Não vês que vai ali ao fundo da rua?».

[Ricardo, 7.º 1.ª]

AVESTRALGAR — Verbo. Cavalgar numa avestruz. «No sábado fomos à quinta do meu avô e avestralgámos a tarde toda»

[Mariana, 7.º 5.ª]

RELOGIOFOBIA — Substantivo, fem. Medo do tiquetaque dos relógios. «Ontem, no mercado, vi um homem que, ao passar pelo relógio, começou a gritar: ele deve sofrer de relogiofobia».

[Rúben, 7.º 5.ª]

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GIGANORME — Adjectivo. 2 gén. Que é de tamanho muito grande. «Ela tinha um cão giganorme, quase parecia um cavalo».

[Soraia, 7.º 5.ª]

ALIVRAR — Verbo. Pensar em livros inexistentes. «Estás desatento ao que a tua mãe está a dizer, porque alivras demasiado».

[João Tomás, 7.º 6.ª]

PAPICHANAR — Verbo. Falar acerca de papas. «Os jornalistas, depois da morte de João Paulo II, papichanam vinte e quatro horas por dia».

[Pedro Mayo, 7.º 6.ª]

FUGITIR — Verbo. Fugir à verdade, sem mentir ou enganar; mudar de assunto. «Perguntei à minha irmã onde tinha estado e ela fugitiu-me, mudando o tema da conversa sem eu reparar».

[João Baila, 7.º 6.ª]

RADIOFONAR — Verbo. Escutar música da rádio através de fones. «Estou a radiofonar a última música dos Marron 5 na FM».

[Carolina, 7.º 6.ª]

CONFOLHAR — Verbo. Confundir a partir do olhar (ou por hipnose). «Alexandrino confolhou-me».

[Francisco, 7.º 6.ª]

PLEISTACIONAR — Verbo. Jogar Playstation. «Eu pleistaciono muito, quando não tenho que fazer».

[Ana S., 7.º 6.ª]

ANTEMER — Verbo. Recear ligeiramente antes de ter medo; antecipar angústias. «Não antemas: eu estou contigo».

[Enoque, 7.º 6.ª]

VIOMECENTO — Adjectivo. Mandão; que quer ser o centro das atenções. «Pedro Santana Lopes é viomecento».

[Sara, 7.º 6.ª]

TELEVISAR — Verbo. Ver televisão durante um período de tempo relativamente longo. «Ontem televisei com a minha amiga o dia todo».

[Ana Morais, 7.º 6.ª]

LEGUMINAR — Verbo (Culinária), Cortar os legumes em lâminas. «A minha mãe legumina sempre as couves».

[Micaela, 7.º 6.ª]

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[Dada lista de primeiros versos de poemas de José Gomes Ferreira, escrever um poema começado por um desses versos] Vai-te, poesia, tu, que és mera fantasia. Vemo-nos qualquer dia, Numa esquina escura e sombria, com os teus sonhos irreais, dia após dia, a fazer-nos viver, uma vez mais, uma vida que não havia e nunca há-de haver. Só isto te pedia...

[André, 7.º 1.ª]

O Sonho ao poder

Abre a tua imaginação, para poderes sonhar! Sonhar com uma canção, sonhar com a magia a tocar no ar. Já chega de sonhar com tudo o que não existe, no mundo que, com a chave, tu abriste... e assim nunca mais ficarei triste... Pararei de sonhar, porque a vida não é só um sonho! Abre os olhos e verás a realidade... e não ficarás preso à grade dos teus sonhos.

[Bárbara, 7.º 1.ª]

Noite, que faço eu aqui... Dei por mim a observar as lindas estrelas dessa noite: noite linda, de lua cheia! Mas que faço eu aqui... Olhei para o luar, lá estava um lindo anjo. Olhou para mim... De repente, lembrei-me que aquele mundo não me pertencia. Olhei para as estrelas cheio de dúvidas e disse: «noite, que faço eu aqui...»

[Elizângela, 7.º 1.ª]

Noite, que faço eu aqui, no meio destas ruas sombrias? Só casas e noite, e só tenho duas

[lamparinas para iluminar estas escuras esquinas. Mas eu não páro de gritar; será que alguém me pode ajudar, nesta noite, escura e fria, sem algo para me aquecer? Será que é aqui que eu vou morrer? Não vou pensar em morrer, vou procurar algo para me aquecer. Mas eu não vejo nada, a não ser uma vasta escuridão que me turva a

[visão. Mas afinal, noite, que faço eu aqui?

[Nuno, 7.º 1.ª]

Aqui... num sítio de onde não fugi. Aqui, acho que me perdi. Mas aqui amei assim.

[Rafael, 7.º 1.ª]

Hoje o luar está belo. O luar é como uma rosa que não dura para sempre mas que depois se volta a ver. No luar, a alegria é como um mar de alergia.

[Bruno P., 7.º 1.ª]

Talvez pela primeira vez sinto-te presente com tanta sensatez nesse teu olhar imergente. Porque não falas? Reage! Não te escondas nesse teu pequeno traje.

[Paula, 7.º 1.ª]

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Hoje o luar é tão maravilhoso como tu! Quem sabe se um dia este sonho se concretiza!

[Sara, 7.º 1.ª]

O Sonho ao poder não passa de miragem sem grandes vantagens; mas, com força e coragem, hei-de

[fazer de ti o que prometi: uma realidade para se ver.

[Eliana, 7.º 1.ª]

Ouve, silêncio, porque me rodeias todas as noites, ao luar que me passa pela janela? Porque sempre te revelas? Na noite, na escuridão de velas, se a tua vida não é uma novela?

[Paulo, 7.º 1.ª]

Nem todas as mãos são o que são, mas alguns colegas meus também não.

[João M., 7.º 6.ª]

Aquela nuvem parece um cavalo, outra, uma mão que parecia que ia dar um estalo; Vi uma igual a um cão, mas nenhuma mais bela que uma flor que representava o amor.

[Francisco, 7.º 6.ª]

Cala-te, mar, que és tão barulhento: quando chocas com as rochas és como uma corneta a bater na terra. Cala-te, mar, que me dói a cabeça, ao ouvir-te gritar. Quero que te cales, mas não para sempre. Acalma-te, mar, que quero nadar:

contigo tão bravo, vou-me afogar.

[Ana G., 7.º 6.ª]

Hoje o luar está diferente, a lua reflecte um olhar de tristeza. Será da guerra que há no mundo? Não! Talvez seja do tempo; até as estrelas nem estão tão lindas como de costume. A lua está cheia e grande mas só! Será que está triste connosco? A confusão que há na terra é por causa do homem e até a lua se entristece. As estrelas não brilham, são só uns pontos que estão no céu. O que aconteceu? Elas também sentem e vêem e o mundo está todo como elas. É com o luar que falo e vejo o que se passa na terra. Mas hoje está tudo triste. Tão triste, que nem a lua berra.

[Ana S., 7.º 6.ª]

E se houvesse uma deusa escondida naquele canto que tanto odeio, naquele canto tão solitário? Porque será que ninguém lhe liga? Melhor, porque será que está ali? Gostava de um dia descobrir, gostava de um dia saber a sua história. Gostava de um dia sorrir e sentar-me ao pé daquele canto sem o odiar pela sua solidão.

[Ana M., 7.º 6.ª]

Os outros foram para o comício, enquanto fiquei no vício, a estragar os meus pulmões. E eles a divertirem-se, num palácio de grandes salões...

[João L., 7.º 6.ª]

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Eh, amigo lagarto, leva-me lá para os teus lados, deixa-me ficar do teu tamanho, para passar despercebido. Se não me deixares ir contigo, eu fico por cá. Fico só comigo, Fico na solidão. Talvez me dedique a uma profissão, talvez uma coisa normal, talvez fique a cuidar do meu cão, pois não existe outro igual.

[João Afonso, 7.º 6.ª]

O general entrou na cidade, toca a marchar, vamos cumprir as suas ordens, pois, se não, teremos de pagar. O general gosta de ordem, gosta de organização. Enquanto marchamos, é melhor fazer uma canção, para assim esquecer as mágoas do coração.

[João Afonso, 7.º 6.ª]

Cala-te, mar. Quando vou à praia, oiço o mar, penso que estou a delirar. A água está fria: dá para andar a pé. Olhas para as rochas, vês burriés; olhas para trás, pensas que estás a ser seguido, muitas vezes pelo inimigo. Andas e andas com medo, é o mar a falar com um rochedo. Cala-te mar, que nos fazes chorar.

[Tânia, 7.º 6.ª]

A poesia não é um dialecto. É apenas ficção. O poeta escreve o que sente, embora de maneira diferente. O poeta procura,

na sua mente, um sentimento, uma fraqueza ou alegria, que represente o que é ou o que seria. Faz um jogo com o que sente e acaba por expressar o que realmente sente.

[Tiago, 7.º 6.ª]

Tu... Pessoa em que penso, pessoa com que sonho, pessoa em que me vejo. És a pessoa que ninguém pensa que é! Por ti chovem lágrimas minhas. No meu pensamento, estás tu em qualquer momento!

[Pedro Mayo, 7.º 6.ª]

Eh, amigo lagarto, tens uma vida de descanso: dormes ao sol, bebes. Deixas o teu amigo nas portas do perigo e arranjas outro. Comes moscas e mosquitos, deixando-nos em paz.

[Paulo, 7.º 6.ª]

Um grito no meio da solidão para ajudar a passar a escuridão, um grito para me lembrar do medo que passei, de todas as coisas que dei. Nunca esquecer que temos coração, nem que seja para dar um grito, mas pela nossa gratidão.

[Micaela, 7.º 6.ª]

Tu, outra vez, Tristeza, pára de me aborrecer, solta-te do meu corpo, viaja para outro lugar.

[Carolina, 7.º 6.ª]

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Chove... Não sei o que fazer. Vou pagar às nuvens para parar de chover.

[Carolina, 7.º 6.ª]

Ó vento que trazes os gritos do mundo, de pessoas desesperadas, afundadas no imundo, esquecidas nas arcadas, que caem num poço sem fundo.

[Luís, 7.º 6.ª]

Talvez pela primeira vez tenhas tido uma razão para me abandonares de vez. Mas partiste-me o coração.

[Luís, 7.º 6.ª]

Nem todas as mãos servem para trabalhar: umas, esforçam-se bastante; outras, ficam a olhar.

[Luís, 7.º 6.ª]

Aqui... desenhando ondas de um mar sem fim, usando um lápis de pau de pedra que só se cola a mim.

[Sara, 7.º 6.ª]

Tu que me atormentas o coração e me fazes cair num poço sem fundo, numa floresta profunda, de tristeza e ansiedade, que depois se transforma em momentos de alegria... Quando tu chegas, e eu, feita estúpida, acredito em mentiras...

[Silvana, 7.º 3.ª]

Quando te beijo nos olhos de encontros e desencontros, imagina como seria viver dentro deles .................................................

[Cláudia, 7.º 2.ª]

Um anjo cigano, de brinco na orelha e mãos vazias, pele queimada, como a de quem anda ao sol, nestes dias do céu desceu e olhou-me com olhos de profunda sinceridade: deu-me esta estrela que até hoje me tem olhado.

[Matilde, 7.º 2.ª]

A minha solidão é o meu passatempo. A minha alegria é como o vento: vai, vem, depressa ou lento.

[André, 7.º 2.ª]

Chove... Tristemente, olhamos para o céu, a ver a chuva cair. Quando a chuva pára, respira-se um ar de alívio — de quem quer sair.

[Bruno S., 7.º 5.ª]

É tão fácil dizer, É tão fácil falar, Só é difícil dizer O que se está a pensar.

[Rita, 7.º 5.ª]

Quando te beijo nos olhos, Sinto o teu olhar, tão suave e tão doce, a olhar o luar.

[Mónica, 7.º 5.ª]

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Hoje o luar mudou! Nesta noite em que a lua nasceu

[vermelha, o meu coração desabafou, a dor já não me pertence; neste momento, não choro. Agora és tu, só tu, que me procuras, nesta noite de luar.

[Carla, 7.º 5.ª]

A história dos teus olhos Nasceu num rio, Fui eu que a criei E ninguém se riu. A história dos teus olhos É bela como a vida, Toda a gente olha para ela Com uma cara divertida. A história dos teus olhos É emocionante, Cada vez que a oiço É perturbante...

[Luís, 7.º 5.ª]

Talvez pela primeira vez O homem soubera o que é a dor, Sentindo talvez O que é o amor. O amor, O que é isso? Um sentimento de dor? Não, um sentimento que faz um amor.

[João B., 7.º 5.ª]

Aqui... Aqui estou eu, Sentada neste vazio, Sozinha outra vez. E agora todas as cores Que preenchem a minha vida Desapareceram. O tempo vai passando, À medida que me torno Nesta página vazia.

[Mariana, 7.º 5.ª]

Todos os punhais que fulgem nos [gritos da carne tocada pela dor e infelicidade dos perseguidos e oprimidos, inimigos da religião, injustiçados e julgados pelo desejo de liberdade.

[Gonçalo, 7.º 5.ª]

Cala-te, mar! Cala-te, luar! Deixa-me ouvir, o teu pensar.

[João Tomás, 7.º 6.ª]

Noite, que faço eu aqui, nestas trevas tão negras? Pudesse eu escapar, para as estrelas voar.

[Joana, 7.º 2.ª]

Grito na solidão com todo o meu coração, mas foi tudo em vão, porque ninguém tem coração. Grito na felicidade, mas ninguém me acompanha na fidelidade!

[José Luís, 7.º 2.ª]

São onze horas da manhã, não me apetece levantar. Só de pensar que no trabalho vou ter de me cansar... Bem... tem mesmo de ser, vou-me levantar, os dentes lavar, Ah!... Não me posso esquecer da pasta levar.

[Rita, 7.º 2.ª]

Surgiste e a noite ficou diferente, tudo ficou mais belo. Pudesses tu ser uma dama num castelo e eu o príncipe encantado. Sente as palavras da minha boca, chove bastante no teu reino. É pena, o poema acabou.

[Tiago P., 7.º 2.ª]

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Quando te beijo nos olhos, apetece-me beijar-te: no teu nariz avermelhado; nos teus lábios rosados; na tua bela face. Preciso de ti, volta para mim...

[Mafalda, 7.º 3.ª]

Aqui... Aqui há conhecimento. Aqui aprende-se. Aqui há alegria. Aqui brinca-se. Aqui há amigos. Aqui conversa-se. Aqui... onde escrevo.

[António S., 7.º 3.ª]

São onze horas da manhã. Acordar, acordar, com a brisa marítima as ondas rebentando nos meus

[ouvidos, as velas dos barcos suaves, navegando nas calmarias dos meus olhos...

[Diogo, 7.º 3.ª]

Eh, amigo lagarto, ao menos tenho um amigo, que não escolhe os amigos por dinheiro, nem pelo modo como se vestem, mas pelo que são.

[Simão, 7.º 3.ª]

Aquela nuvem parece um cavalo, a outra parece um elefante, a outra, uma girafa e ainda um leão. Não sabia que havia um zoo nas nuvens.

[António A., 7.º 3.ª]

Um anjo cigano, com as asas invisíveis, com roupa rasgada, com pouco dinheiro, mas com grande coração Ilumina o meu dia, faz do teu o meu coração.

[João R., 7.º 3.ª]

Vivam apenas, vivam e deixem viver, alegres e contentes, é assim que a vida deve ser...

[João R., 7.º 3.ª]

Um anjo cigano, a esvoaçar pelos céus, sem fazer ninguém sorrir e sem nada contentar.

[Miguel R., 7.º 3.ª]

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«LISTA DOS DESEJOS IRREALIZÁVEIS QUE LEVAREI

COM DESGOSTO PARA A COVA: 1.° Não ter o meu retrato pintado por Nuno Gonçalves,

que ninguém sabe quem é, e ainda bem, para esse desejo se tornar mais irrealizável.

2.° Ouvir improvisar o Schumann, sentado (eu, claro) num sofá ao lado do hálito de Clara Week.

3.° Encontrar uma carteira a abarrotar de notas e pegar-lhe com as mãos enluvadas para evitar as impressões digitais — não vá algum policia do Julgamento Final descobri-las e identificá-las.

4.° Oferecer a Cleópatra uma caixa de lenços de papiro. 5.° Ter espreitado ao mesmo tempo que Galileu pela

primeira e célebre luneta feita com um tubo de órgão talvez para que um dia se pudesse captar melhor a música das esferas solidificadas.

6.° Ver a minha própria múmia no Museu Britânico.»

José Gomes Ferreira, Calçada do Sol, p. 81

[Ao estilo destes «desejos irrealizáveis», formular desejos impossíveis de concretizar.]

Ouvir o Beethoven ao vivo, em Lisboa, ao lado da Britney. Descobrir que tenho primos em Marte. Transformar-me num telefone para ouvir as conversas das

outras pessoas. [Ana Gabriela, 7.º 5.ª]

Conhecer pessoalmente a Britney Spears e dar-lhe um beijinho no umbigo.

Ir ao Love dance com 13 anos. [Tiago, 7.º 5.ª]

Tirar umas fotos com o Brad Pitt. Dançar com o Pedro Granger. Dar a volta ao mundo acompanaha por Catarina Furtado.

[Rita, 7.º 5.ª]

Viajar no tempo até Roma antiga, conhecer o Astérix e o Obélix, participando na conquista da Gália.

Desempenhar o papel de Hermione no filme Harry Potter e a Câmara dos Segredos e ganhar um óscar pela minha actuação.

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Acompanhar o Júlio Verne na viagem de balão, na sua Volta ao Mundo em 80 dias.

[Mariana, 7.º 5.ª]

Dar um pontapé no rabo do Salazar; Fazer um grande concerto esgotado com os Nirvana; Conhecer Newton e descobrir primeiro do que ele as leis da garvidade.

[Joana D., 7.º 5.ª]

Ter uma entrevista particular com o Salgueiro Maia, com o Otelo Saraiva de Carvalho e com o Salazar, em que faria um confronto entre os três sobre o 25 de Abril.

Ser um desenho animado na televisão, por um dia. Conseguir falar com os animais ou plantas e interagir com as cenas

da televisão, mesmo sendo telenovelas ou desenhos animados. [Paula, 7.º 1.ª]

Passear no Nilo acompanhado de Cleópatra. Decobrir uma ilha cheia de dinossauros que vivessem em liberdade.

[Francisco, 7.º 6.ª]

Que os países ricos não avancem enquanto os países mais pobres não se igualem a estes.

Que as pessoas não tenham medo do comunismo. Que as pessoas não pensem que «ter» é melhor do que «ser».

[Pedro Mayo, 7.º 6.ª]

Ouvir um concerto de Beethoven, sentada, e a meu lado estar o próprio Beethoven.

Fazer uma viagem no tempo, para voltar à época do Galileu e ver as estrelas com ele a meu lado.

Descobrir a vacina contra a sida e ser conhecida no mundo inteiro como a cientista heroína da sida.

[Catarina, 7.º 2.ª]

Ser filha de uma rainha e de um rei. Descobrir o fogo, ao mesmo tempo que os primatas.

[Ana, 7.º 2.ª]

O meu pequeno blusão de ganga, que ainda me serve, nunca mais deixar de me servir e que eu poder usá-lo durante milhões de anos.

[Mafalda, 7.º 3.ª]

Conhecer o elenco todo da trilogia O Senhor dos Anéis. Poder tirar o meu curso de Psicologia sem ter de estudar muito. Pôr na cabeça do Homem os erros que comete e que

prejudicam a terra e todos os outros seres. [Joana L., 7.º 6.ª]

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«O Nikias trazia ontem um embrulho e, interrogado pelo Carlos, explicou que se tratava de "delicadezas" para a ceia dessa noite em

sua casa: finíssimo lombo de porco, caviar russo, queijo dinamarquês, etc.

Fazia anos, em suma. (Parabéns! parabéns!) E o bom do Nikias rejubilava, sem disfarçar a volúpia que lhe

suscitava o calor das coisas boas da vida — vinhinhos especiais, pratos bem apurados, guloseimas raras... Tudo com o indispensável toquezinho snobe, a especiaria mágica que obriga os homens a comerem, com aristocracia, as bodegas de que não gostam...»

José Gomes Ferreira, Dias Comuns, II, p. 17

[Tendo em conta o que o amigo de José Gomes Ferreira, o pintor Nikias Skapinakis, designava como «delicadezas», fazer lista com outras iguarias, segundo o teu gosto.]

Gelado; Pizza; Queijo da Serra; Frutos silvestres; Coca Cola; Ovo estrelado, mexido e escalfado; Hamburger; Batata frita; Cenoura crua; Iogurte; Leite; Gomas.

[João B., 7.º 5.ª]

Queijo amarelo de Serpa; Cocktail de lagosta; Courgettes gratinadas; Velouté de gambas; Fondue de queijo; Bife Tártaro; Sushi; Pato lacado; Souflé de chocolate; Chaud-Froid;

Bolo Floresta Negra; Bombons Praliné.

[Mariana, 7.º 5.ª]

Mortadela; Queijo amanteigado da Serra da Estrela; Queijo fresco; Fiambre; Paio; Chouriço; Orégãos; Caril; Noz Moscada; Chocolates; Queijo suíço.

[Rui, 7.º 5.ª]

Ostras; Lagosta grelhada; Sapateira; Bife de espadarte; Faisão; Arroz de Lampreia.

[Soraia, 7.º 5.ª]

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Gambas; Lagosta; Queijo francês; Champanhe francês; Amêijoas; Carangueijo; Mexilhão; Caviar suìço; Fiambre nobre; Queijo nobre; Berbigão; Lameginhas; Canivetes; Delícias do mar; Sapateira; Santola; Búzios.

[Patrícia, 7.º 1.ª]

Uma fatia de pão de milho da

Serra da Estrela generosamente barrada com Soft cheese rondelé.

Depois, como prato principal, lasanha bem recheada com carne temperada e coberta com um delicioso molho de tomate.

Para sobremesa, uma fatia de pudim do Abade de Priscos.

Acompanhando tudo isto, um sumo natural das deliciosas laranjas do Algarve com uma colher de açúcar amarelo.

[João Afonso, 7.º 6.ª]

Nada melhor do que uma

pizza tropical média, com massa alta e fofa, acompanhada por um sumo de laranja natural e, para rematar, um gelado de nata regado com chocolate. Isto sem falar da comida chinesa: essa sim é que me põe os olhos "em bico". Temos os crepes, a galinha com amêndoa, massa de arroz de galinha e

cogumelos e, para terminar, gelado frito.

[Micaela, 7.º 6.ª]

Brigadeiros; Ostras; Lombo recheado com ameixas; Queijo da Serra.

[Francisco, 7.º 6.ª]

Esmeraldas; Rissóis de camarão com um molhinho de camarão especial; Secretos; Queijo francês; Comida mexicana; Bolinhos de amêndoa; Abacaxi; Picanha; Bifinhos com cogumelos; Champanhe; Banana cortada às rodelas, com açúcar por cima; Marmelada; Manga; Torradas.

[Mafalda, 7.º 3.ª]

Paté de atum; Camarão; Rissóis; Croquetes; Empadas; Paté de sardinha; Manteigas; Presunto; Folhados; Almofadinhas.

[Miguel M., 7.º 3.ª]

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«Por exemplo: teria coragem de publicar esta gazetilha que me saiu agora?

Desculpa a brincadeira, mas vou pôr no plural o teu apelido, Manuel Bandeira —para nele caber a de Portugal e a brasileira. Sim, porque a tua Arte também é nossa, embora não o queiras. E vamos passar a chamar-te Manuel Bandeiras.

Não. Não tenho coragem de publicar esta merda.

Porque em Portugal, meus senhores, até as porcarias têm de ser graves!»

José Gomes Ferreira, Dias Comuns, III, p. 157

[Em aula, lemos dois poemas de Manuel Bandeira e a sua biografia; escrever meia dúzia de linhas sobre a ideia com que se ficou acerca deste poeta brasileiro]

Julgo que Manuel Bandeira é um poeta que expressa nos seus textos muitos sentimentos, mas que, por outro lado, é também realista e brincalhão.

Gosta de contrariar muitas vezes o sentido do que escreve. No início de um dos poemas que lemos na aula, tudo parecia previsível, mas o final foi inesperado.

[Ana G., 7.º 6.ª]

Acho que o Manuel Bandeira escreveu os poemas com o coração e um pouco de fantasia. Tenho pena de não ter conhecido mais poemas seus, porque adorei os que li.

[Elizângela, 7.º 1.ª]

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«A espantosa quantidade de caracóis que este ano surgiu em Albarraque (milhares e milhares e milhares!) inspirou-me no domingo uma narrativa que nunca escreverei. Mas tive o gosto de imaginá-la e isso, no fundo, é o que me apaixona.

Aliás, não seria difícil escrevê-la, pois se resumia à

descrição minuciosa dum cerco insólito de milhões e milhões e milhões de caracóis à minha casa de

Albarraque, onde a Rosalia, eu, o Alexandre e a Maria nos defenderíamos barricados no desespero.

Por fim os caracóis acabavam por vencer e penetrar na fortaleza. Mas assim que nos viam — ó espanto! — refugiavam-se todos nas cascas cheios de medo.

Medo de quê? Não sei. De nada. Medo. De vencer, talvez. Sorri... e quando o meu filho Raul José apareceu,

continuámos a falar de caracóis. — E se os caracóis crescessem até atingirem um metro de

comprimento... — propus-lhe. — Moles, espapaçados, a aprenderem a tornar-se carnívoros...»

José Gomes Ferreira, Dias Comuns, II, p. 213

[Escrever o relato de uma ocupação da terra por caracóis.]

A pouco e pouco, o homem começou a extinguir-se no planeta

terra. Os últimos homens tornaram-se escravos dos caracóis. A terra mergulhava numa lentidão imensa, devida aos seus

habitantes. Os prédios deixaram de existir, porque os caracóis tinham sempre às costas as carapaças de argila. Havia mais empregos nas limpezas da rua, porque o muco que os caracóis deixavam punha as cidades pegajosas.

Fizeram-se grandes plantações de alfaces e couve, mas, a certa altura, os caracóis cansaram-se de trabalhar e, quando os humanos se extinguiram, começaram a domesticar as formigas. Fez-se, em grande escala, fábricas de armaduras para o corpo e a concha. Começaram a adorar um novo deus. As formigas foram transformadas em robôs, mas, por comerem folhas das árvores e outras verduras, os caracóis ficaram sem alimento.

Surgiram epidemias — uma delas tornou-os canibais; outra, muito rápidos. Os caracóis do mar, descontentes pela acção dos seus parceiros, ataram-nos e ambas as partes ficaram com muitas baixas. Os poucos que restaram comeram-se uns aos outros. Os

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caracóis do mar, como estavam fora do seu habitat, morreram: não estavam preparados para viver em terra.

Passaram-se biliões de anos e a terra ficou habitada pelos Macrohumas, uma nova espécie, que vivia em condições bastante adversas.

[Francisco, 7.º 3.ª]

Estamos no futuro. O ano é 2100. Os caracóis evoluíram, não para grandes caracóis mas para

caracóis pequenos, inteligentes, rápidos e carnívoros: são os seres vivos mais rápidos a comer, a fazer a digestão e a... reproduzirem-se.

Todos os dias, cada fêmea tem uma hora dedicada à reprodução. Numa hora, são capazes de se reproduzir duzentas e cinquenta e nove vezes, e não precisam de machos para se reproduzir, já só dão à luz fêmeas. Depois de nascerem, já têm todas as capacidades adultas, tal como a de dar à luz. Têm uma média de vida de quarenta e cinco anos.

Como é que evoluíram tão rápido? No ano 2007, George W. Bush ordenou que se fizesse uma bomba nuclear que matasse apenas árabes. Durante uma experiência para o desenvolvimento dessa bomba, houve um acidente e caracóis foram expostos a radioactividade, e evoluindo depois, secretamente, a uma velocidade incrível.

Sempre que os caracóis vêem um qualquer animal, devoram-no imediatamente.

Pensamos ser a única espécie animal viva e começamos a pensar que eles também comem plantas e a si próprios, e que não se reproduzem tanto para não se extinguirem. Sobrevivemos barricados nos refúgios nucleares. Os mantimentos estão mesmo no fim. Vamos morrer.

[António S., 7.º 3.ª]

O ATAQUE DOS CARACÓIS Tudo começou quando, há cinco anos, numa pobre vila de

Portugal, um miúdo viu um gigantesco caracol. O caracol, com pelo menos um metro, mole e espapaçado, lutava no meio de uma manada de vacas. E, por muito estranho e aterrorizante que seja, o caracol comia uma vaca.

Este episódio foi o primeiro de milhares de relatos de pessoas de todo o mundo, que tinham visto caracóis, ao que parecia, carnívoros.

Desde então, estes monstros nojentos têm destruído cidades e exércitos de todo o mundo. A velocidade desta raça de caracóis

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estava desenvolvida; e os caracóis libertavam das suas antenas um tal poder, que tomavam as pessoas em casa.

A flora mundial estava devastada, a vida animal quase aniquilada e as pessoas acondicionadas em grandes colónias distribuídas por diversas partes do globo. As colónias humanas eram comandadas pela pessoa mais exigente no combate a estes caracóis. A morte e a doença alastraram pelas colónias e a força e o armamento ficavam fracos e gastos, impossibilitando uma boa defesa. As provisões tornaram-se um problema, ameaçavam acabar.

Até que, no dia quatro de Julho, houve um ataque final a todas as colónias. Todas caíram e os sobreviventes foram mortos ou comidos pelos bichos. Até hoje, o império mundial é comandado pelos caracóis.

Quem sabe se, algures no espaço, outros seres de outros planetas esterão a observar os acontecimentos? Talvez resolvam agir. Quem sabe...

[Bruno Rafael, 7.º 5.ª]

«Manhã. Abro a janela. Que sol! E a estas horas — imaginem!

— centenas de infelizes, inclinados sobre as máquinas de escrever das repartições públicas, tocam nas teclas dos seus instrumentos burocráticos a melodia dos ofícios.

Que sol! Hoje devia ser feriado nacional!»

José Gomes Ferreira, Imitação dos Dias, p. 71

[Ilustrando a mesma ideia transmitida na frase de José Gomes Ferreira, anotar outras acções que também pareçam ficar mal num dia de sol.]

Pessoas trancadas em casa a ver a porcaria da televisão. [Catarina, 7.º 1.ª]

Dezenas de coitados que, a estas horas, acabaram de

adormecer, depois de uma noite de «borga»;

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Tantos indivíduos metidos dentro quarto, sem sequer terem aberto a janela para respirar um pouco de ar puro, agarrados ao vício da PS2 e do PC.

[Frederico S., 7.º 2.ª]

Os padres que estejam num confessionário, sem luz; Os homens das obras, que, mesmo ao ar livre, sentem

demasiado o calor do sol. [Pedro V., 7.º 3.ª]

Um grupo de alunos fechado numa sala de aulas; Um grupo de pessoas fechadas num autocarro parado numa

fila de trânsito; Estar dentro do banco, numa fila enorme para ser atendido; Estar na cama, doente, sem poder sair do quarto.

[Raquel, 7.º 5.ª]

Estar fechado em casa, a estudar:

Estar numa cama de hospital:

[João Pedro, 7.º 5.ª]

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«Mas a escada de salvação do meu prédio [...] serve também

de Anfiteatro de Reunião das senhoras vizinhas que ali passam, em má-língua de convívio, as melhores horas do dia.

Horas de trabalho, a descascar ervilhas e a discutir os preços dos géneros com as varinas e as hortaliceiras, e horas de recreio amargo, a trocar queixumes e suspiros a respeito das últimas catástrofes e lástimas públicas. Não param as gargalhadas, os comentários, as cantigas, as ameaçqs, os berros, as

descomposturas: "Ó sr.ª D. Maria empresta-me aquilo?"... "Ó sr.ª Mariana: já veio o correio?"

As criadas levam recados, confidenciam poucas vergonhas, esventram as casas dos patrões. As intrigas escorregam, nervosas, de degrau em degrau. E, volta e meia, vai tudo raso.

"Sim, sua desavergonhada! Bem a vi, há dias, entrar na casa do vizinho, sua esta! À socapa, sua porca! Pela escada de salvação, sua aquela!"»

José Gomes Ferreira, Os Segredos de Lisboa, p. 25

[Escrever outras falas soltas que pudessem ser trocadas por vizinhos numa escada de prédio semelhante.]

— Viu a nossa vizinha? É mesmo antipática, nem nos falou. Só porque foi ao «Preço Certo em Euros» deve pensar que é melhor que nós...

— Já viu o filho daquela? Comprou um carro novo. Quem pode, pode. — Senhora Natália, como é que está o seu pai? Quantos anos

é que ele já tem? — Você viu ontem a Quinta da Celebridades? Aquela Elsa Raposo é

uma falsa: aquilo com o Gonçalo Diniz é só jogo. Cá para mim, quem vai ganhar é o Miguel Melo ou o Gonçalo da Câmara Pereira.

[Tiago, 7.º 5.ª]

— Dona Esmeralda, é verdade que a esposa do vizinho do

quinto andar deixou o marido? — Ah, Dona Henriqueta, a senhora sabe lá...

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— Veja só que foi uma semana para fora com um e disse ao marido que estava a fazer um estágio em Bruxelas.

— E era um gaiato, não era? — Então, ela tem cinquenta e cinco, e ele, vinte e cinco.

[Susana, 7.º 3.ª]

— Aqueles miúdos passam a vida a jogar à bola: qualquer dia

partem o vidro. — O Senhor Doutor está muito bem na vida, não nos liga

nenhuma, não acha? — E aquela do quarto andar fala mal de todos nas costas...

[João Baila, 7.º 6.ª]

— Ai, eu já não posso com o meu marido... A Dona Lurdes

não está a ver como é que ele está. Acorda sempre mal disposto e depois ainda reclama por tudo.

— Já viu que a vizinha do andar de cima, depois de viúva,

compra tudo de marca... — Ó Dona Guilhermina, viu se a minha filha já saiu com o

namorado? [Cláudia, 7.º 2.ª]

— Ó Senhora Ana, o seu filho já veio dos Estados Unidos? — Olá, bom dia, Dona Fátima. O seu pai já está melhorzinho? — Então, Senhora Dona Clotilde? Sabe dizer-me quando é a

reunião? [Ana Gabriela, 7.º 5.ª]

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[Escrever um texto em que não surja nunca a letra A. Terá de surgir em algum momento «Zé Gomes».]

Entro, vou-me, nem sei por onde. Sozinho, escondo-me dos meus medos, dos meus receios que escurecem visivelmente o tempo que vivo, que vivi e o tempo que irei viver. Indo e vindo, simplesmente espero por sugestões diferentes, nem sei porquê. Rumo, espero eu, por um novo destino onde os meus receios, os meus medos, de modo nenhum me encontrem. Espero e desejo que me levem: o tempo dorme. O sorriso só existe no sonho, ninguém consegue pôr-me num sonho. Vivo simplesmente no desejo de poder ter um sonho. Queimo-me e de modo nenhum consigo sentir dor. Estou morto? Penso que sim, isto é muito esquisito. Sou um beco triste que consegue temer o sol. Silencioso e sombrio é como me sinto. Espero que isto dure muito pouco. Se houvesse um futuro melhor... Quero morrer.

Zé Gomes

[Francisco, 7º 3ª]

Junto de um belo rio no Porto, Zé Gomes, sempre bem

disposto, comprou peixe, que levou, temperou, cozeu com legumes e comeu com imenso gosto.

[Nuno, 7.º 5.ª]

[Escrever um período em que cada palavra comece por nova letra do alfabeto. Há ainda outra obrigação: que o período termine com «Zé Gomes».]

A bonita Catarina dormia, enquanto Francelina girava histericamente, imaginando João lavando-se, mesmo nu — o pateta, que raciocinava, sabia tudo: udometria, vasectomia, xilografia, Zé [Gomes].

[Carolina, 7.º 2.ª]

António Belo começou, despreocupado e feliz, gostando,

habilmente interessado, jogando lentamente, minuciosamente; nunca obeso, pouco queixoso, responsavelmente sabedor, tagarela, ubíquo, vendo, xexé, Zé [Gomes].

[Joana, 7.º 2.ª]

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«O nosso professor de francês nasceu no Minho e, até em

francês, trocava os vvvvvvv pelos bbbbbbb.» José Gomes Ferreira, Calçada do Sol, p. 47

[Escrever texto com o máximo de palavras com BB e VV, trocando sempre estas letras.]

VÁRVARO, O VEVÉ VOMVEIRO

Era uma vez um vevé chamado Várvaro, que bibia numa bibenda, em Vraga. Era um rapaz que adoraba tudo o que tibesse a ber com os vomveiros. Os seus vrinquedos eram carros de vomveiros e vonecos com fatos de vomveiros. O seu bestuário era roupa de vomveiros. Ninguém savia a razão pela qual ele era fanático por tudo o que tinha a ber com os vomveiros. Uns pensabam que tinha a ber com a profissão do pai.

Num dia à noite, seu pai saiu para uma emergência. Foi emvora, e Várvaro começou a vrincar aos vomveiros, enquanto a mãe fazia o jantar. Várvaro subiu a um móbel (a imitar um prédio), para salbar uns vonecos que tinha posto em cima do armário. Ao descer, pôs mal o pé e caiu, magoando-se e gritando muito. Sua mãe oubiu-o e foi logo a correr ber o que se passaba, deixando o jantar a fazer. Depois de estar a tratar o Várvaro, lembrou-se que tinha o jantar a fazer. Quando foi à cozinha, habia um incêndio pela casa. Enquanto telefonaba para os vomveiros, o Várvaro foi vuscar a mangueira ao quintal. Depois de ter acavado de apagar as lavaredas, chegaram os vomveiros. Quando o pai chegou a casa, disse-lhe que estaba muito orgulhoso dele e que era igual a si.

[Simão, 7.º 3.ª]

Eu bi uma baca a destruir um baso bermelho que estaba

cheio de rosas vonitas. Quando a Viatriz oubiu aquele varulho todo e foi ber o que se passaba, biu o baso todo destruído no chão. Só lhe apetecia verrar.

[Laura, 7.º 3.ª]

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[Escrever um texto, mesmo em prosa, que comece por uma destas frases (epígrafes de poemas de José Gomes Ferreira).

a) «Passeio por um bairro pobre de Lisboa»; b) «Manhã de domingo. As igrejas enchem-se de esqueletos

vestidos de medo»; c) «Nesse verão estivemos todos juntos na praia».]

(Passeio por um bairro pobre de Lisboa.) Deslumbramento desta manhã mil vezes repetida com o ouro das mãos do sol a apalparem o vento, o vento-fêmea que se desoe num lençol e nos seis da roupa estendida. Peles de cadáveres que uma volúpia branca desespera — enforcados pela cólera da primavera.

José Gomes Ferreira, Poeta Militante, II, p. 63

Passeio por um bairro pobre de Lisboa, numa simples manhã de domingo, e observo casas pequenas em ruas longas e estreitas. Os seus habitantes aparentam ter mais de 60 anos de idade, a maior parte das senhoras por cima da sua roupa tem um avental de xadrez apertado dos lados, com um bolso redondo na frente.

Deixando aquele bairro, dirigi-me para o Rossio para tomar um café e depois fui pelas portas de Santo Antão até ao teatro Politeama. Como não tinha nada para fazer nem ninguém à minha espera, comprei um bilhete para a peça A Rainha do Ferro-Velho, com Maria João Abreu, José Raposo e João Baião, de Filipe La Féria.

Quando saí de lá, desci até à estação do Rossio e apanhei o comboio para Sintra, onde vivo. Chego à conclusão de que, quanto mais vou a Lisboa. mais gosto de lá estar e cada vez aprecio mais o povo lisboeta; mas, depois, acabo por adorar o silêncio e o sossego da minha humilde casa na serra, mesmo ao lado de um café onde, todos os dias de manhã, durante o Outono e o Inverno, tomo o meu chocolate quente com uma sandes de fiambre com pouca manteiga.

Enfim, sou mais uma vítima da rotina que é a vida. [Paula, 7.º 1.ª]

Passeio por um bairro pobre de Lisboa. Não se vê vivalma,

apenas se ouve um ou outro cão a ladrar escondido dos gatos abandonados, que se passeiam por entre os grandes arbustos que cobrem os jardins mal tratados do bairro. Mais parece uma pequena

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cidade-fantasma, como aquelas que se vêem nos filmes de terror. Confesso que é quase aterrador passear sozinha pelas ruas deste bairro. Acelero o passo, mas algo me assusta: um barulho esquisito. Procuro alguma coisa à minha volta que possa ter provocado aquele barulho. Olho para cima e reparo que era apenas uma velhinha a estender roupa. Sinceramente, acho que nunca fiquei tão feliz por ver uma pessoa! Finalmente, reparo que a rua está prestes a acabar, para dar início a outra. Fico contente. Ouço um cão a ladrar, muito perto dali. Pregou-me um susto de morte, de tal modo que tropecei num buraco e quase caía. Já descobri mais uma lágrima de tristeza de Lisboa.

[Ana Morais, 7.º 6.ª]

(Manhã de domingo. As igrejas enchem-se de esqueletos vestidos de medo.)

Doente de febres subtis posso lá reduzir o Sonho do Maior Segredo a esta burocracia de morte mole! Não, não invejo esta gente que ajoelha feliz diante do Medo com feições de sol.

José Gomes Ferreira, Poeta Militante, II, p. 62

Manhã de domingo. As igrejas enchem-se de esqueletos vestidos de medo e o sino da torre começa a tocar, a missa vai começar, os idosos começam a rezar. O padre levanta-se e ouvem-se os sapatos do velho. O pai nosso faz eco nesta igreja friorenta e os corpos, vestidos de medo, começam a chorar, por causa deste velho homem, que era amado por todos. As mulheres pegam nos terços e começam a falar para Deus, com os olhos fechados de medo.

[Afonso, 7.º 6.ª]

(Nesse verão estivemos todos juntos na praia: o Manuel Mendes e a Bá, o Chico e a Maria Keil, o José Bacelar e a Maria Luísa, o José Rocha e a Selma. E eu mergulhava no mar aos Vivas à República!)

Carcavelos. «Aqui nesta praia amarela...»

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tanto esperei em vão pelo princípio do mundo com os pés a doerem-me nas conchas de sangue nu dos tapetes... Depois despia-me e desafiava o mar para sentir na pele aquele frio antigo tão doce de alfinetes.

José Gomes Ferreira, Poeta Militante, II, p. 226

Nesse verão estivemos todos juntos na praia, eu, a

Mafalda, a Marta e o Simão. Fomos para a Costa da Caparica nas

férias e «abancámos» em minha casa; fizemos um acantonamento.

Às vezes, como a casa fica quase em cima do mar, íamos para a

praia durante a noite, por volta das onze horas.

Como é costume, nas férias não há horas para nada (pelo

menos, para nós não havia). Levantávamo-nos quase sempre às

dez horas da manhã. Eu e o Simão preparávamos ovos com bacon,

depois vestíamos os biquinis e os fatos de banho e «ala para a

praia, que se faz tarde», dizíamos nós.

Passadas algumas horas, vínhamos da praia e, enquanto os

outros tomavam banho, a Marta e a Mafalda faziam o almoço. À

tarde, ficávamos em casa, mais propriamente no terraço, a fazer os

trabalhos de casa. Quando os acabávamos, íamos ver televisão ou

comprar um gelado ou uma gofre. Por volta das 21 horas,

começávamos a fazer o jantar ou então íamos a um restaurante de

um amigo do meu pai que nos oferecia o jantar, desde que, a

seguir, lavássemos a louça toda.

Estas férias foram cansativas mas as mais divertidas que

alguma vez tive.

[Carolina, 7.º 3.ª]

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«Nos meus tempos de escola as azedas ocupavam na lista

das paixões juvenis um lugar primacial. // Eram umas ervas ácidas, impossíveis de trincar sem caretas, que vinham logo a

seguir ao futebol e ficavam um pouco antes do Texas Jack e do Júlio Verne.»

José Gomes Ferreira, O Mundo dos Outros, p. 57

Portanto, José Gomes Ferreira organiza uma espécie de top

das suas «paixões juvenis»: 1. Futebol; 2. Azedas; 3. Texas Jack; 4. Júlio Verne.

[Fazer uma lista equivalente de «paixões juvenis».] 1. Doces; 2. Play Station 2; 3. Ver Tv; 4. Ler livros de aventuras; 5. Dormir; 6. Ir ao cinema; 7. Ir à praia; 8. Futebol.

[Nuno, 7.º 1.ª]

1. Jogos de video; 2. Televisão; 3. Ir a casa de amigos; 4. Jogar à apanhada; 5. Sporting; 6. Praia; 7. Cinema; 8. Andar de bicicleta.

[Rafael, 7.º 1.ª]

1. Amigos; 2. Futebol; 3. Desenho; 4. Bob Marley; 5. Computador; 6. Praia; 7. Cinema; 8. Gomas; 9. Ténis; 10. Bonsai.

[André, 7.º 1.ª]

1. Amigos; 2. Dançar; 3. Compras; 4. Centro Comercial; 5. Cão.

[Bárbara, 7.º 1.ª]

1. Bicicleta; 2. Computador; 3. Futebol; 4. Pop/Rock.

[Ricardo, 7.º 1.ª]

1. Natação; 2. Escola; 3. Amigos; 4. Banda Desenhada; 5. Animais (papagaios); 6. Pizzas; 7. Doces.

[Eliana, 7.º 1.ª]

1. Estar com os amigos de manhã; 2. Chegar a casa e brincar com o meu cão; 3. Ver televisão depois do estudo; 4. Jogar playstation; 5. Ver um filme a seguir ao jantar.

[João G., 7.º 3.ª]

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1. Pintar; 2. Revistas; 3. Computador; 4. Filmes; 5. Actores; 6. Música; 7. Telenovelas; 8. Trabalhos Manuais; 9. Cantores.

[Silvana, 7.º 3.ª]

1. Futebol; 2. Quinta-feira; 3. Pizza; 4. Coca-cola; 5. Batatas fritas; 6. Amigos; 7. Descansar; 8. Sexta-feira; 9. Estudo Acompanhado.

[Rui, 7.º 3.ª]

1. Cinema; 2. Música; 3. Televisão; 4. Animais selvagens; 5. Futebol; 6. Natação; 7. Basquetebol; 8. Pizza; 9. Ténis; 10. Andar de bicicleta; 11. Andar de skate 12. Patinagem.

[Laura, 7.º 3.ª]

1. Voleibol; 2. Nicole Kidmen; 3. Bryan Adams; 4. Gomas; 5. Carne; 6. Paintball; 7. Chocolates; 8. Voar; 9. Escrever; 10. PS-2.

[Miguel M., 7.º 3.ª]

1. Mãe; 2. Avó/Avô; 3. Afilhada;

4. Família; 5. Amigos(as); 6. Máquina fotográfica; 7. Televisão; 8. Aulas; 9. Escola; 10. Rádio; 11. Cobertor; 12. Cama; 13. Batatas fritas; 14. Gomas; 15. Gelados; 16. Pastilhas; 17. Almofada; 18. Vivenda no Alentejo; 19. Férias; 20. Piscina.

[Mafalda, 7.º 3.ª]

1. Internet; 2. Amigos; 3. Passear; 4. Ouvir música; 5. Dançar; 6. Conversar; 7. Gelados; 8. Verão; 9. Góis; 10. Piscina.

[Rita, 7.º 2.ª]

1. Compras; 2. Algarve; 3. Mar; 4. Gatos; 5. Surf; 6. David Beckham; 7. Cristiano Ronaldo; 8. Piscinas gigantes; 9. A cor laranja; 10. Esparguete à Bolonhesa.

[Teresa, 7.º 2.ª]

1. Música; 2. Desporto; 3. Escola; 4. Amigos; 5. Diversão; 6. TV; 7. Filmes; 8. Jogos (de todos os tipos);

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9. Estudar (certas coisas); 10. Compor (músicas); 11. Escrever (de tudo); 12. Futebol (Sporting)

[Ana S., 7.º 6.ª]

1. Ficar na escola à tarde; 2. Ir às compras; 3. Estar no msn; 4. Festas de anos; 5. Britney Spears; 6. Agatha Ruiz de la Prada; 7. Ginástica rítmica; 8. Cinema; 9. Dançar; 10. Cantar; 11. Divertir-me.

[Joana B., 7.º 5.ª]

1. Rex, o cão polícia; 2. Ir ao cinema; 3. Ténis; 4. Música; 5. Escrita; 6. Coleccionar; 7. A amizade; 8. O amor.

[Joana D., 7.º 5.ª]

1. Playstation; 2. Férias; 3. Judo; 4. Leitura; 5. Escuteiros; 6. Fins de semana 7. Futebol; 8. Viagens; 9. Empadão de carne; 10. Homem-Aranha.

[Bruno Rafael, 7.º 5.ª]

1. Praia; 2. Mar; 3. Sol; 4. Ouvir música; 5. Passear com os amigos; 6. Voleibol; 7. Futebol; 8. Conchas.

[Raquel, 7.º 5.ª]

1. Estar com os meus amigos; 2. O skate; 3. Messenger; 4. Televisão.

[José Abril, 7.º 5.ª]

1. Futebol; 2. Dança; 3. Novelas; 4. Pintar; 5. Animais; 6. Jogar no computador; 7. Jogar no game box color; 8. Ouvir música; 9. Estar com os amigos e família; 10. Ver filmes.

[Catarina, 7.º 5.ª]

1. Sair com os amigos; 2. Ficar à tarde na escola; 3. Ir às compras; 4. Ir a festas; 5. Estar no msn; 6. Ver televisão; 7. Dançar; 8. Ouvir música; 9. Ir ao futebol; 10. Ir ao cinema; 11. Ir ao parque de diversões; 12. Ir ao teatro; 13. Jogar computador.

[Rita, 7.º 5.ª]

1. Surf; 2. Colegas; 3. Escola; 4. Festas; 5. Música; 6. Patinar; 7. Família; 8. Compras; 9. Estudar; 10 Televisão.

[Tiago, 7.º 5.ª]

1. Minha família; 2. Amigos; 3. Animais; 4. Estrelas; 5. Meias às riscas;

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6. People and Arts; 7. Música; 8. Decoração; 9. Roupas de bonecas; 10. Chinelos de dedo e escola.

[Filipa , 7.º 5.ª]

1. Skate 2. Tarte de fiambre; 3. Intervalos; 4. Consolas; 5. Amigos; 6. Família; 7. Futebol; 8. Tv. 9. MSM; 10. Jogos de computador; 11. Linkin Park.

[Tiago, 7.º 6.ª]

1. Música; 2. Televisão; 3. Computador; 4. Roupa; 5. Canetas; 6. Telemóvel; 7. "Peluches"; 8. Velas; 9. Desporto; 10. Livros.

[Cátia, 7.º 6.ª]

1. Benfica (S.L.B.); 2. Morangos; 3. Pizzas; 4. Chocolate; 5. Patinagem; 6. Ciclismo; 7. Informática; 8. Tuning; 9. Hip-Hop; 10. Praia.

[Micaela, 7.º 6.ª]

1. Morangos com açúcar; 2. Chocolate negro; 3. Patinagem no gelo; 4. Tuning; 5. Piscina; 6. Praia; 7. Campo;

8. Hip-Hop; 9. Pizza; 10. Animais.

[Tânia, 7.º 6.ª]

1. Ir ao messenger; 2. Jogar PS 2; 3. Tirar fotografias; 3. Comer; 4. Jogar voleibol; 5. Ir às compras; 6. Ler revistas de surf; 7. Ver televisão.

[Marta G., 7.º 2.ª]

1. Livros; 2. Filmes; 3. Jogos; 4. Música; 5. Comprar; 6. Londres; 7. Nova Iorque; 8. Natureza; 9. Água; 10. Flores.

[António A., 7.º 3.ª]

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«Atrás de mim, no autocarro para a Baixa, um homem explicava a outro:

— A tipa passava a vida a miroscar tudo.

"Miroscar". Palavra para se procurar em vão nos dicionários.»

José Gomes Ferreira, Dias Comuns, III, p. 48

[Ainda hoje não se vê o verbo «miroscar» nos dicionários; criar um verbete de dicionário dedicado a esta palavra]

MIROSCAR — Verbo. Coscuvilhar; querer saber do que devia ser alheio; tentar obter informação de modo furtivo. «Vou ali miroscar, a ver se sei o que se passa».

[Mário, 7.º 6.ª]

MIROSCAR — Verbo. Observar com muita atenção, por forma a clarificar todos os pormenores. «Aquela rapariga miroscava o João, por o achar bonito».

[Miguel M., 7.º 3.ª]

MIROSCAR — Verbo. Mirar; coscuvilhar. «Aquela rapariga mirosca tudo, é uma intrometida».

[João Afonso, 7.º 6.ª]

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«[Contribuem mais para nos aproximar do segredo eterno da beleza de Lisboa, do que os Jerónimos, por exemplo]: aquela caixeirita que deixa o jeito das mãos a adornar as montras e, todos os dias, rouba o sorriso das bocas de cena dos manequins... E aquele jardineiro que desenha, com a água da agulheta, caprichos de enfeites na alegria lúcida das manhãs... E este varredor fabuloso de montes e montes de ouro em folhas pelas ruas... E os dedos da criada do primeiro andar a fingirem de flores nas plantas dos vasos da varanda... E os cabelos da miúda do terceiro esquerdo, caídos por entre as folhas de metal da nespereira do caixote...».

José Gomes Ferreira, Os Segredos de Lisboa, p. 18

[José Gomes Ferreira está, portanto, a dar exemplos de comportamentos dos habitantes de Lisboa que acabam por ser mais representativos da cidade do que monumentos. Continuar a série com outros exemplos.]

Uma rapariga com o cabelo pintado de azul claro, toda vestida de branco e com um grande sorriso na cara;

uma peixeira a gritar bem alto; três mulheres a olharem atentamente um vestido com vontade

de o experimentarem; três homens a jogar às cartas numa esplanada sem nada

comerem ou beberem. [Carlota, 7.º 5.ª]

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«Hoje, quando estavámos sentados em volta do almoço, aqui

em Albarraque [...], dei de súbito um salto de trinta anos

para o futuro e vi, com nitidez de ver bem claro, outras pessoas (o Raul José com sessenta e tal anos, o Alexandre com quarenta e tal etc.) instalados nesta mesma mesa, a contemplarem a Serra de Sintra e envoltos em malhas aparentemente diversas, embora talvez iguais...»

José Gomes Ferreira, Dias Comuns, III, pp. 35-36

[Aproveitando a ideia de José Gomes Ferreira, descrever o exacto espaço em que se esteja neste momento mas trinta anos mais tarde].

Era uma manhã de segunda, estava com muito sono e sentado numa sala de aula. Dei um bocejo, fechando os olhos, e, quando os abri, toda a turma estava com o aspecto de ter talvez mais trinta anos.

Esperei para ver o que sucedia. Tratava-se de uma reunião de pais. A professora ia chamando os pais para irem à sua secretária.

Primeiro, chamou uma senhora de cabelo preto, não muito alta, mas um pouco stressada.

O diálogo foi o seguinte: Doutora Mafalda Santos! — disse a professora. — Ai, ainda bem que me chamou, tenho de ir para o hospital e

tenho imensa pressa. Não, não pode ser. Aquela era a Mafalda da minha turma,

agora médica! Depois a professora chamou uma senhora alta e bonita.

Chamava-se Marta. Sucedeu-se uma Madalena: era morena e tinha uma roupa muito, muito... moderna, pela qual me apercebi de que era estilista.

Chamou ainda um senhor alto, com os dentes da frente um bocado saídos. Era actor e participava numa novela, pelo que percebi.

De repente, chegou à sala um homem com um fato de râguebi. Desculpou-se por vir atrasado e vestido daquela maneira.

Sucederam-se várias pessoas: uma Carolina, ginasta; um António Almeida, professor; António Soares, um cientista; uns Pedros, donos de um restaurante...

E eu... o que era? A professora chama-me, pergunta-me a profissão, meto a

mão no bolso para tirar o BI e... Estava novamente na sala de aula, com as mesmas pessoas,

mas agora com menos trinta anos. [João R., 7.º 3.ª]

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«Hoje apetece-me definir a vida como uma longa (sim, a vida às

vezes é comprida), como uma longa sequência de perfumes e olores. Não apenas os cheiros vulgares: a flores míticas na

Primavera, a marcela no Verão (fedor agradável-desagradável a sereias podres que morrem de amor nas praias dos sargaços), a frutos assados com açúcar queimado no Outono e a terra embebida no suor da Maria das Pernas Altas (como o povo chama à chuva) em pleno Inverno. [...]

Na infância, por exemplo, [...] eu distingo inúmeros e estranhos cheiros desde o do cão a feder a morte perto do poço das

rãs apodrecidas na Quinta da Telheira do Porto, ao cheiro a piano da minha professora, mistura de música mal solfejada, pano estreito de camurça alongado nas teclas e cera escorregadia no corredor...»

José Gomes Ferreira, Relatório de Sombras ou A Memória das Palavras-II, p. 127.

[Tal como fez José Gomes Ferreira, escrever sobre cheiros que tenham marcado passos da tua vida.]

Sim, a vida; frasquinho de óleos, fragâncias e odores misturados num só. Uma vida e tantas emoções. Sim, do princípio ao fim. Desde que saí do ventre, o odor desagradável de hospital, sangue intenso, vermelho quente, paredes frias e mofo. Água destilada e um pouquinho de cheiro a nada. Ainda no princípio, posso lembrar a sala do 1.º ano; seixos quentes e manteiga, sal e papel desfeito em água.

Os campos de ténis. Ah! Erva, ar puro, o cheiro, o cheiro mais natural, agradável — nem salgado, nem doce, ameno — que alguma vez cheirei.

A natação. Corpos frios, água e cloro, naturalmente. A primeira festa. Delicioso e intenso. Caramelo, calor humano,

rebuçados e um pouco de suor, mas não desagradável, se o traduzirmos pelo calor humano.

Os cheiros mais desagradáveis que conheço são: — a sala de aula, quando cheia de tensão antes de um teste

de Matemártica, suor, mas desse bem desagradável, quente desconfortável, corda em chama, rastilho aceso, borracha queimada... a própria tensão;

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— o de alguém que não gosta de nós: esse ódio ganha forma de odor e entra-nos pelo coração, fazendo às vezes perceber que não há banho que nos livre dele.

E agora os melhores de todos: — a praia: ameno! Sal e água, frio (mas eu também não sou

de calores). Areia e rochas (onde bate o sol); quente! Ameno, como eu disse, perfeito! Depois, ao passear à beira-mar no fim do dia, junta-se o odor de açúcar, porque é uma sensação «doce», agradável!

— passear no Outono num parque deserto. Mas, para fazer estes passeios, «mais vale só, que mal acompanhada!». Pelo menos a mim, estar sozinha faz-nos sentir e cheirar as folhas amarelas a cair: é nestas alturas que cheiramos o vento, o mesmo que cheirar água. Mas podemos pensar melhor sozinhos, com o nosso cheiro só, que com um mais ou tão agradável de alguém de que gostemos (ou com o desagradável cheiro a peixe podre de alguém de que não gostemos).

Agora, um cheiro que para mim é muito especial e íntimo, mas que vou tentar passar para o papel... o cheiro da música.

Há diferentes tipos de música, por isso diferentes tipos de fragâncias, mas normalmente é:

— alegre; morno; estonteante; fresco; como flores e caramelo ou frio; melancóloco; cinzento; papel gasto e água suja.

(...) Ainda faltam os cheiros das palavras, cores, números,... mas isso fica para depois.

Se a vida fosse um perfume, como seria o seu nome? [Marta, 7.º 3.ª]

Ainda me lembro daquele cheiro de perfume que a minha mãe usava, e também daquele cheiro de carinho que me acompanhou toda a vida... Aquele cheiro doce como o mel e suave como o vento num dia de verão. Mas também me lembro do cheiro da tristeza que por vezes me invadia a mente e me deixava um pouco nostálgica. Um cheiro triste, deprimente e forte...

Lembro-me daquelas vezes em que ia de autocarro e saía uma paragem antes para sentir o cheiro do vento, aquele vento, cheiro de calma e suavidade...

... aquele que nos faz sentir descontraídos, aquele cheiro que só eu conseguia sentir.

[Madalena, 7.º 3.ª]

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«A minha primeira história de amor. Tinha então

7 anos... Graças a uma palavra, a um nome horrendo —

Joaquina —, ainda hoje consigo lembrar-me do primeiro ser

feminino que me aturdiu com o seu enleio de adivinhação sexual, não sei em que escola infantil nos escombros do tempo.

E sorrio ao recordar-me da maneira como a sôfrega me afogava o pescoço de ternura cálida, como se colava ao meu corpo de miudinho perplexo e me oferecia, numa dádiva de idílio sujo, dropes, sabonetes, lápis, aparos, borrachas, olhos suados, anelos de impureza límpida.

Recordo-me e sorrio dessa névoa ofegante em forma de esboço de fêmea que me queria por motivos alheios a si própria — com o mesmo ímpeto que leva os insectos a dourarem-se de pólen.

E de tudo isto o que resta? Uma palavra apenas. E ridícula.

Joaquina. — Onde estás, Joaquina?»

José Gomes Ferreira, Imitação dos Dias, p. 18

[Redigir o retrato da/o primeira/o «namorada»/«namorado»]

Tinha olhos castanhos e pestanas compridas, cabelo muito curto, queixo em bico. Quando se ria, fazia uma covinha que se juntava às bochechas. Ao contrário de mim, era um palitinho.

Tudo isto se reduzia a um nome — Gonçalo. [Cláudia, 7.º 5.ª]

A minha primeira namorada foi no infantário, tinha eu três

anos. Era uma menina que estava sempre a sorrir, com os olhos lindos, de um castanho claro, sempre a olhar para mim Era pequenina e atrevida. Mas gostei logo dela, assim que a vi.

Convidei-a para a minha festa, quando fiz quatro anos e ainda hoje recordo o beijinho que ela me deu, cheia de ternura e carinho. Chamava-se Maria. Será que nos vamos voltar a encontrar um dia? Talvez na universidade, quem sabe? Fico à espera.

[Tiago, 7.º 5.ª]

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«Durante algum tempo estudei música a sério e até ousei

escrever um poema sinfónico, intitulado "Idílio Rústico"

[inspirado no conto homónimo de Os Meus Amores, de Trindade Coelho]»

José Gomes Ferreira, Calçada do Sol, p. 41 [Dado o começo e o fim da narrativa de Trindade Coelho, escrever texto que ligue esses dois momentos, durante o tempo em se estiver a ouvir a música que José Gomes Ferreira compôs sobre o conto.

Começo: «Quando atravessou a povoação, rua abaixo, com o rebanho atrás dele, era ainda muito cedo.»

.......................................................................................................................... Fim: «...na calma placidez do azul, bandos de pombas mansas iam

voando... voando...»]

Quando atravessou a povoação, rua abaixo, com o rebanho

atrás dele, era ainda muito cedo. O regimento de cavaleiros tinha já partido, de madrugada, antes

do alvorecer, para a capital, onde o maior exército de todas as guerras conhecidas se reunia havia meses, na preparação da conquista da enorme terra vizinha, situada no sul do mar Báltico.

O seu pai, alfaiate à beira da reforma, fora também recrutado pelo general dos arqueiros, para a função de arqueiro de retaguarda.

Era agora ele que cuidaria dos seus irmãos pequenos, que teria de ganhar dinheiro para conseguir sustentar a família.

Sentia muita falta da sua mãe, assassinada há alguns anos, após a invasão do Reino de Leão. E, ao pensar nisso, olhou para cima e imaginou o rosto da sua mãe a cantar para ele, enquanto na calma placidez do azul, bandos de pombas mansas iam voando... voando...

[Gonçalo, 7.º 5.ª]

Page 80: Trabalhos Da Semana Jgf   Todos Os Documentos Juntos

Quando atravessou a povoação, rua abaixo, com o rebanho atrás dele, era ainda muito cedo.

Era pastor desde os nove anos, e sempre gostara do seu trabalho. As ovelhas já lhe estavam afeiçoadas. Nunca lhe desobedeciam. Artur sabia que iria para a cidade e que, por isso, podia ser a última vez que apascentava o rebanho. Andava perturbado com essa ideia, mas não deixou que isso lhe estragasse o passeio.

Respirou fundo o ar calmo e puro que ali pairava e olhou para o céu: na calma placidez do azul, bandos de pombas iam voando...voando...

[Marta, 7.º 2.ª]

Quando atravessou a povoação, rua abaixo, com o rebanho atrás dele, era ainda muito cedo. Estava calor e o rebanho já não aguentava muito mais, era tempo de seca. Os animais precisavam de água e o rebanho ainda estava um pouco longe do rio. Foi aí que tudo aconteceu.

Vieram os ladrões de gado e o pastor Artur teve de pôr todas as ovelhas ao pé do rio. Artur estava a proteger as ovelhas. Então, apareceu o xerife e os ladrões dispararam sobre ele. Só que falharam todos os tiros. O xerife pediu reforços.

Um dos ladrões de gado morreu e o outro foi apanhado. Porém, um dos ladrões de gado, antes de morrer, matou duas ovelhas. E o senhor Artur voltou para casa, triste, na calma placidez do azul, bandos de pombas iam voando...voando...

[João Miguel S., 7.º 2.ª]

Quando atravessou a povoação, rua abaixo, com o rebanho atrás dele, era ainda muito cedo. Foi passear ao pasto para dar de comer às ovelhas. Virou costas durante segundos para respirar o ar puro (apesar do ligeiro cheiro a estrume) e, quando se voltou, apenas uma ovelha restava. As outras... estavam desaparecidas.

Quando regressou à aldeia, apressadíssimo, já toda agente estava acordada. Todos ficaram pasmados a olhar para o pobre pastor.

Foi para casa. Deitou-se na relva do seu jardim com a ovelha sobre a barriga. Pensou em quem poderia ter feito uma coisa daquelas. Adormeceu.

No dia seguinte quando acordou, as ovelhas estavam lá de novo. Ficou felicíssimo. Na calma placidez do azul, bandos de pombas iam voando... voando...

[João C., 7.º 2.ª]

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[José Gomes Ferreira escreveu vários poemas em que vai revelando impressões, ideias, «enredos» que lhe sugerem peças musicais que ouvira — enquanto se ouve composições de Chopin (valsa e nocturno), Brahams, Mahler, escrever frases soltas ou texto sugeridos por essas músicas.]

(Outra valsa de Chopin [...])

Semeei as tuas mãos nas cinzas do sol desfeito da lua quente... E assim nasceu uma planta com flores a acenarem o destino dos lenços.

José Gomes Ferreira, Poeta Militante, II, p. 196

[ouvindo valsa de Chopin:] Sentado no sofá, olhando para a televisão, sua melhor amiga, vai passando os canais, com desgosto, olhando para a mulher, já irritado de a ver correr pela casa, a trabalhar, trabalhar...

[Marta, 7.º 2.ª]

Por trás das grutas, o suave barulho das ondas, a baterem nas rochas. A calma que ali havia era estupenda.

[Cláudia, 7.º 2.ª]

Uma bailarina a dançar, com os cabelos ao vento.

[Ana, 7.º 2.ª]

Tristeza de ver as coisas passarem mesmo à nossa frente e de não as apanharmos. Como elas gostam de nós, pousam na nossa mão como uma pena, que, com o vento a soprar para sul, volta para nós cuidadosamente.

[Susana, 7.º 3.ª]

As manhãs quentes de verão, as sestas na praia, com silêncio, só a ouvir o mar...

[João R., 7.º 3.ª]

Page 82: Trabalhos Da Semana Jgf   Todos Os Documentos Juntos

A monotonia de uma manhã sem termos nada para fazer. A tristeza de uma pessoa revoltada com alguém. Um velório.

[Francisco, 7.º 3.ª]

Um choro, uma lágrima, sobre o piano acelerado, uma dança apressada, num dia de chuva, uma chuva de dor.

[Madalena, 7.º 3.ª]

Era uma manhã triste de inverno: as flores murchavam, os pássaros desapareciam, o céu ficava da cor do breu e sentia-se o ar húmido e desesperado da solidão.

[Miguel M., 7.º 3.ª]

Vida triste, lágrimas nos olhos, pensamentos antigos da vida alegre e namoricos dos tempos juvenis, sem preocupações. Tudo parecia tão fácil, mas era, ao mesmo tempo, difícil.

[Silvana, 7.º 3.ª]

Algo ou alguém está com medo, está triste e assustado. Não sei o que é, talvez uma formiguinha cheia de medo, porque está um humano a querer pisá-la. Não encontro o formigueiro. Encontrou! Encontrou! Mas continua com medo, medo, muito medo! Foge para dentro do formigueiro, onde encontra a mãe e lhe conta a história. E a mãe contou-lhe que mais outra formiga tinha sido esmagada.

[Mafalda, 7.º 3.ª]

Os pássaros a cantarem nas árvores. Pessoas a passearem pelas avenidas fora, a saltitar de alegria, sorrindo.

[Joana A., 7.º 6.ª]

Voltas e voltas no campo, saltos soltos na relva fresca... crianças correm esbaforidas atrás das borboletas da primavera colorida. Alberta corre sem parar na calma melancolia da relvinha...

[Sara, 7.º 6.ª]

Um menino a ser resgatado e a voltar para a sua mãe ao fim de dois meses.

[João B., 7.º 6.ª]

Acordou, olhou para as horas e teve de se apressar; pegou no carro e pregou a fundo, ultrapassando vermelhos...

[Tiago, 7.º 6.ª]

Page 83: Trabalhos Da Semana Jgf   Todos Os Documentos Juntos

Corre, corre, sem parar, para do mal fugir, sem hesitar e nada advertir.

[Micaela, 7.º 6.ª]

(Um nocturno de Chopin [...])

Na borda do poço a ave fechou as asas, apertou-as mais ao corpo e num suicídio de folha seca deixou-se cair — âncora de outros portos. De manhã na água que o sol acordou mais fria o silêncio sabia a cantos de pássaros mortos.

José Gomes Ferreira, Poeta Militante, II, pp. 193-194

[ouvindo nocturno de Chopin:] Vejo das janelas do orfanato a neve branca a cair e a cobrir o terreno nu de um manto elegante e belo. E tenho uma ideia: fugir. Mas para onde, por quanto tempo e com quem?

[Bruno Rafael, 7.º 5.ª]

Numa praia, anda um caminhante que molha os seus pés na água, e chora, e grita, tirando cá para fora todos os sentimentos. E, quando se sente melhor, decide ir nadar. Desiludido com a vida, deixa-se afogar. O corpo vai caindo lentamente, levando consigo uma vida.

[Belângela, 7.º 5.ª]

No mar está um barco de pesca isolado no fim da tempestade, o seu único tripulante debruçado na amurada, pensativo, a fitar o mar, tentando ver o seu fundo, mas não com os olhos. Emerge terra do mar, terra de se perder a vista no horizonte, com erva rasteira em toda a sua extensão.

[Gonçalo, 7.º 5.ª]

Page 84: Trabalhos Da Semana Jgf   Todos Os Documentos Juntos

Ouve o silêncio, o perigo vem aí, rápido e, ao mesmo tempo, lento. Não fiques só, que aqui não és tu bem vindo!

[Joana D., 7.º 5.ª]

Uma mulher, a seduzir um homem. Está a despir-se; tirou uma faca da saia, aproximou-se e esfaqueou-o.

[José Abril, 7.º 5.ª]

A chuva a bater ao de leve na janela da casa abandonada, e também a veloz trovoada assustadora, abrindo o céu com uma leve luz do sol...

[Catarina, 7.º 2.ª]

O silêncio da noite: tudo muito calmo, só se ouvem os grilos por detrás das ervas. A guerra, as mortes, as famílias tristes, por receberem uma carta a dizerem que os familiares tinham morrido.

[Pedro V., 7.º 3.ª]

Gotas e gotas de chuva adormecida acorda as flores da floresta viçosa e desperta o bailado. Todas as flores bailando num espectáculo de amor, quando, de repente, aparecem morcegos e matam sem piedade. Uma única flor sobrevive e viveu triste para sempre.

[João G., 7.º 3.ª]

Bailes dos séculos XVIII ou XIX.

[Pedro P., 7.º 3.ª]

Está tão triste: já com dezanove anos e sem nunca ter visto o mar. Está sempre em casa, sem poder sair, a mando do padrasto, que faz dela o que quer. Mas pensou e está farta: vai-lhe fazer frente e ir-se embora, para ser feliz!

[Ana S., 7.º 6.ª]

Page 85: Trabalhos Da Semana Jgf   Todos Os Documentos Juntos

(Brahams... [...])

O Punho do tamanho de o-desejarmos-maior furou o tecto, partiu o lustre em mil pequeninos sóis queimados, desfez as tábuas dos peitilhos dos caixões de goma, rompeu os decotes até ao cheiro dos filhos ao colo — e os corações explodiram em milhões de faúlhas da Grande Labareda Sempre Adiada. ....................................................................................................

José Gomes Ferreira, Poeta Militante, II, p. 174

[ouvindo Brahms:]

O miúdo da aldeia passeia pela floresta. Observa as danças das aves, as brincadeiras dos esquilos... Ele e o seu amigo correm pelo meio das árvores e escondem-se um do outro. Mais uma brincadeira inocente.

[Bruno Rafael, 7.º 5.ª]

Um crime clássico. Mulher no duche é esfaqueada pelas costas. Assassino maquiavélico sai porta fora com um riso também maquiavélico: «Ah, Ah, Ah, Ah!».

[João Pedro, 7.º 5.ª]

Uma mulher a ser atacada. Violência, e a mulher à procura de par ou de alguém — e, ao mesmo tempo, a não querer ver ninguém.

[Mónica, 7.º 5.ª]

Andando por montes a dançar, nos Alpes, com as flores e as árvores verdes. Uma menina correndo e com pressa de chegar atrasada ao trabalho. E, para chegar à casa onde trabalha, passa por uma floresta negra, mas sem ligar.

[António A., 7.º 3.ª]

Um fugitivo na noite, no labirinto que é aquela cidade. Em pezinhos-de-lã, vem para cá, vai para lá e, quando avista uma pessoa lá longe, começa a andar muito rápido, mas sem fazer barulho. Ia fugir, quando, à sua frente, apareceu um polícia. Não há nada a fazer. Lá tem ele que voltar para a cadeia... Foi bom, enquanto durou.

Page 86: Trabalhos Da Semana Jgf   Todos Os Documentos Juntos

[Ana M., 7.º 6.ª]

Um velho habitante de uma aldeia, a regressar passados muitos anos.

[João L., 7.º 6.ª]

Andava um homem nos prados verdes do Reino Unido, contente, alegre e sempre com um sorriso no meio dos lábios. Tinha uma vida muito boa e desejava sempre os bons-dias a todas as pessoas da vizinhança.

[Afonso, 7.º 6.ª]

As folhas a abanar, o vento a abrandar, o sol aparece, a chuva pára, vê-se o arco-íris, os pássaros a voar e uma mulher na relva, sozinha e alegre, a dançar.

[Luís, 7.º 6.ª]

Page 87: Trabalhos Da Semana Jgf   Todos Os Documentos Juntos

(Visão de Mahler [...])

Marcha fúnebre com os vivos todos em caixões e o cadáver atrás, a pé, sozinho, ao som da filarmonica que marca o passo a fingir vida na poeira morta do caminho...

Filarmónica transcendente que afinal só toca a valsa banal da morte nua de toda a gente.

José Gomes Ferreira, Poeta Militante, II, p. 178

[ouvindo Mahler:]

Uma pessoa na cama do seu quarto, completamente irritada a pensar no que o namorado lhe fez: trai-a com a melhor amiga. Está sem saber o que fazer nesta situação.

[Joana B., 7.º 5.ª]

Foge, foge, o medo persegue-te. Nunca mais voltes; esconde-te no último canto do mundo. Se caíres, levantas-te, não desistas. Segue o teu caminho. Encontra felicidade no paraíso. Vai-te, alma perdida, vai-te...

[Mariana, 7.º 5.ª]

Segunda Guerra Mundial. Milhares de mortos espalhados por dezenas de quilómetros.

[Luís, 7.º 5.ª]

Felicidade, alegria, amor, tristeza, dor, vergonha, vontade, melancolia, saudades e confusão. Memórias que se foram apagando com o tempo. E que nos vêm à cabeça, quando pensamos no passado. Flores, céu, nuvens, família... é passado.

[Carlota, 7.º 5.ª]

Os amantes fugiam dos soldados. Uma princesa e um plebeu! Que escândalo. Refugiaram-se num beco, a tremer de frio. Conseguiriam escapar às garras do malévolo noivo da princesa? Cobertos pelo manto da noite, correram em direcção ao seu destino.

[Joana S., 7.º 2.ª]

Page 88: Trabalhos Da Semana Jgf   Todos Os Documentos Juntos

Quero sair daqui... Deixa-me ir... Quero, quero fugir... Não quero saber... Vou fugir de ti... Daqui. Agora, silêncio. Não, foi uma emboscada, mas não quero saber. Vou fugir com todas as minhas forças.

[Carolina, 7.º 2.ª]

Uma casa em chamas, num fim de tarde alaranjado... As pessoas corriam para buscar baldes de água... De repente, param e, quase já sem esperança, vêem sair da casa a família que lá estava. Devagar, como um caracol, chegam junto das pessoas e sobrevoam-nas... A casa cai com grande estrondo e vêem-se corvos a voar por todo o lado...

[Matilde, 7.º 2.ª]

Escondam-se todos! O assassino está à solta! Apanhou uma mulher... matou-a. As outras pessoas começam a fugir como baratas tontas. Ouve-se um tiro... A polícia disparou contra o homem e matou-o... Não se podia fazer mais nada. Vão para ao pé do cadáver muito, muito lentamente. Debruçam-se. É uma pena que estas coisas tenham de acontecer...

[Ana M., 7.º 6.ª]

Ataque dos bárbaros a Roma. Os romanos começaram, desesperados, a fazer uma muralha, onde até puseram as suas estátuas e bens. Finalmente, derrotam os bárbaros. De bárbaros só se vê cadáveres no chão. Destruição, mais destruição.

[Pedro Mayo, 7.º 6.ª]

Na escuridão, à procura de uma porta, uma saída, uma luz. Um choro muito grande e uma tristeza.

[Cátia, 7.º 6.ª]

Revolta de um rei, que perdeu uma batalha decisiva. Tristeza em cada um de nós.

[Carolina, 7.º 6.ª]

Page 89: Trabalhos Da Semana Jgf   Todos Os Documentos Juntos

«Há dias, um amigo meu, ao narrar o episódio de um banho gelado numa praia qualquer do Norte do país, explicou:

— De súbito, reparei que batia os dentes. Mas batia mesmo os dentes. E

espantei-me. Afinal, bater os dentes não era uma imagem barata de

folhetim, como eu durante tanto tempo supusera. Não. Correspondia a um facto verdadeiro...

Sim. Os folhetins estão cheios dessas observações verdadeiras: "ficou branco como o linho", "tremeu como varas verdes", "cambaleou

de dor", "viu tudo vermelho em redor", etc. Por isso são tão falsos.» José Gomes Ferreira, Dias Comuns, IV, pp. 18-19

[«Bater os dentes», «tremer como varas verdes» são expressões idiomáticas, que não interpretamos «à letra» — escrever um texto em que apareça uma expressão idiomática, ora no seu sentido figurado, ora tomada à letra (como nos desenhos de Les Idiomatics)]

Hoje em dia, cadeias de lojas como McDonald's, Burger King e KFC, todas de "fast-food", têm todos os anos elevados lucros e, com a progressiva expansão internacional, esses lucros aumentam de ano para ano .É esse o único objectivo dos proprietários.

Agora, com a tecnologia avançada, a possibilidade de modificar geneticamente os animais permite um menor dispêndio de dinheiro . E o resultado são animais que só têm carne, 100%

aproveitáveis, mas sem pés nem cabeça ou órgãos. Uma ideia

sem pés nem cabeça, mas que não deixa de contentar os

clientes que, satisfeitos, limitam-se a comer o que lhes dão. [Gonçalo, 7.º 5.ª]

Chegou a casa e achou que devia ir à cozinha pois estava cheio de fome. Espantou-se quando lá chegou, porque viu que o lanche estava

pronto na mesa: pão, pão; queijo, queijo.

Sentou-se e comeu. Quando acabou, zangou-se com a mulher pois ela tinha a cozinha desarrumada. Depois de muita discussão, a mulher saiu de casa e foi ter com uma amiga.

— 'Tou a ficar farta do meu marido. — Não ligues. Sabes que ele é assim.

Muito pão, pão, queijo, queijo. [Tiago, 7.º 6.ª]

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Eram seis horas e meia da manhã e o galo cantou. Como era dia de Páscoa, toda a aldeia acordou em alvoroço. Todas as famílias arranjaram o seu «banquete», embora com poucas coisas.

Na família Santos, o ambiente não era diferente. Ao contrário das outras famílias, esta criava ovelhas, por isso tinham sempre cordeiro. O responsável pela matança do cordeiro era o senhor Manuel Santos, homem de certa idade mas bem constituído. Como era habito, o senhor

Manuel, antes de matar o pobre do bicho, esticava os seus pernis, pois, dizia ele, assim o animal ficava mais tenro. Esta

técnica era conhecida por toda aldeia. Naquele dia, ao almoço, a família Santos apreciava o cordeiro

tenro com enorme satisfação. Porém, de repente, Manuel ficou hirto na sua cadeira e caiu para trás, de olhos esbugalhados e sem pulsação.

Nunca nínguém compreendeu o que se passara, mas todos

diziam que fora a vez de ele esticar o pernil. [Bruno Rafael, 7.º 5.ª]

Foi numa bela quinta-feira que o senhor

Jacinto foi aos arames. Zangou-se com o

seu filho por ter tido uma negativa a Matemática. À tarde, o senhor Jacinto notou que não tinha a carteira... tinha-a perdido na Quinta dos Arames. Encontra o seu filho.

— Onde vais, Pai?

— Vou aos arames...

— Ok, 'té logo! Lá encontrou a carteira e voltou para casa.

[Madalena, 7.º 3.ª]

Na Quinta das Celebridades, Lili Caneças é uma mulher do jet-set. Só tem conversas banais, mas, mesmo assim, surpreendeu-me o seu sentido de humor. Imagino que ela no dia-a-dia não faça nada, indo apenas a festas chiquíssimas, pelo que

suponho que vive à barba longa. Tem

muitos amigos, todos ricos, mas destaca-se

um, o Barbas, que tem a barba extraordinariamente longa. [André, 7.º 3.ª]

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— A Arlete não sabe fazer a cama

a ninguém, deixa sempre os lençóis de fora do colchão. — disse Mariana, intrigada,

— Quem me anda a fazer a cama

é a minha patroa, só me quer tramar fazendo com que os empregados recebam menos ordenado e acusando-me sem piedade. — disse a mãe.

— Depois falamos, eu encontro-me atrasadíssima para a escola. Dizendo isto, Mariana abandonou a sua casa.

[Sara, 7.º 6.ª]

Sonhei que, num dia soalheiro, ia com a

minha turma e um dos meus colegas fugiu e perdeu-se. Esse menino foi ter a um labirinto onde encontrou um homem e uma vaca. Esse

homem pôs o meu colega nos cornos da

vaca, que se chamava Lua. Ele conseguiu

fugir, contou a história e puseram-no nos cornos da lua como se tivesse sido imensamente corajoso.

[Enoque, 7.º 6.ª]

Um pobre emigrante português vivia

no México. Passados dez anos, tinha uma das melhores empresas deste país. Toda a gente da empresa dizia que o chefe

tinha comido o pão que o diabo amassou. Um dia foi a um café tomar o

pequeno-almoço. Por acaso, o dono do café chamava-se «Diablo» e tinha ele

próprio amassado o pão que vendia. Aí um colega do empresário

português notou a situação e disse: «comeste o pão que o Diablo amassou».

[Paulo, 7.º 6.ª]

O leiteiro deixara a botija à porta da minha casa. Mal ouviu o tilintar da garrafa, o meu irmão foi a correr beber o leite; mal

pôs a boca na botija apareceu a minha

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mãe (sabendo que ele não queria que ela soubesse): apanhou-o mesmo com a boca na botija.

[Rita, 7.º 2.ª]

No sábado, o sr. João queria ir à caça mas também queria passar mais tempo com o seu filho. Por isso, levou-o consigo a

caçar, e assim matou dois coelhos com uma só cajadada.

Quando já estavam à caça, tinha o seu filho a arma e viu dois coelhos muito perto

um do outro: disparou a arma e matou dois coelhos com uma só cajadada.

[Filipe, 7.º 5.ª]

No outro dia, enervei-me num jogo de

futebol, quando soube que a equipa

adversária dera luvas ao árbitro para que os

beneficiasse. Mas o Sporting acabou por ganhar. Por isso, fiquei felicíssimo e fui às

compras: dei umas luvas ao meu pai e à

minha mãe também. [João Marcelo, 7.º 5.ª]

Achei uma ideia parva a Sofia querer comprar um animal de estimação para dizer aos pais que tinha mais responsabilidade.

E, ainda por cima, estes ofereceram-se

precisamente uns macacos, que instala-

ram no sótão da casa.

Eu logo vi que ela iria estar fora deste planeta. Nas aulas estava distraída e sempre

com macaquinhos no sótão. Talvez

estivesse pensando nos seus animais. Ou na lua...

[Joana D., 7.º 5.ª]

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[Colectivamente (em «estafeta»: cada aluno vai propondo uma frase sem alterar o texto anterior), redacção de continuação do começo de Aventuras de João Sem Medo, 10.ª edição]

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ERA UMA VEZ UM RAPAZ CHAMADO JOÃO, QUE VIVIA

EM CHORA-QUE-LOGO-BEBES, EXÍGUA ALDEIA em que não

havia água e onde, por isso, se bebia a chuva retida em depósitos

nos telhados das casas.

Ora, um dia, deixou de chover. Os choraquelogobebenses

partiram então em busca de água. Nessa altura, João,

corajosamente, resolveu dirigir-se às montanhas à procura do deus

da água. Porém, tendo percebido que não havia aí nenhum deus,

decidiu juntar dinheiro para comprar água. É claro que pouco

dinheiro havia numa aldeia tão pobre. Por isso, João achou que

devia emigrar.

Primeiro, achou que devia deslocar-se para um país com

costa. Assim fez. Passado tempo, depois de ter comido o pão que o

diabo amassou, conseguiria ser contratado por um empresa

distribuidora de água. .........................................................................

[7.º 1.ª] ERA UMA VEZ UM RAPAZ CHAMADO JOÃO, QUE VIVIA

EM CHORA-QUE-LOGO-BEBES, EXÍGUA ALDEIA habitada por

gente paupérrima. Apesar de muito humildes, os choraquelogo-

bebenses eram unidos e hospitaleiros. João morava com Alberta

Jacinta, sua avó, amável e carinhosa senhora que o criara desde a

morte dos pais, havia quinze anos.

Era Verão, uma altura festiva na aldeia. Aquelas casas

rústicas, de pedra e colmo, estavam agora enfeitadas e tanta beleza

dava à aldeia um espírito mais jovem. João preparava a roupa, para

levar no dia seguinte, o do baile principal. Para ele era um evento

importantíssimo: nunca fora a um baile.

............................................................................................................. [7.º 6.ª]

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ERA UMA VEZ UM RAPAZ CHAMADO JOÃO, QUE VIVIA

EM CHORA-QUE-LOGO-BEBES, EXÍGUA ALDEIA famosa pela

aguardente produzida a partir do choro dos seus habitantes.

Todos os dias, o João levantava-se às cinco da manhã e ia ao

lago admirar os cisnes vermelhos como o sangue. Com um dos cisnes

o rapaz simpatizava especialmente. Esse cisne chamava-se Bento.

Bento costumava levar João até à escola, situada na outra

margem do lago. À tarde, no fim das aulas, Bento lá estava, sempre

pronto a acompanhar o rapaz. Certo dia, João, surpreendido, notou

a ausência do amigo fidelíssimo. Ficou triste e sem saber como

regressar a casa. ................................................................................

[7.º 2.ª]

ERA UMA VEZ UM RAPAZ CHAMADO JOÃO, QUE VIVIA

EM CHORA-QUE-LOGO-BEBES, EXÍGUA ALDEIA. Vivia com os

pais e tinha uma irmã chamada Constança.

Moravam numa rulote, com vinte e três animais — vinte e dois

ratos e um gato. Havia muitos meses que treinava os seus dotes de

assassino com os animais de estimação. Dizia-se que estava

possuído por um demónio, proveniente de Chora-Que-Logo-Comes,

uma aldeia vizinha que ficava dentro das muralhas do castelo

medieval. Nesse castelo, reinava Lúcifer XVI, rei de todos os

demónios.

A esses boatos não ligava João: preferia passear pela

floresta, encantadora e misteriosa. Numa parte da floresta

habitavam animais que, à noite, guardavam o castelo. Nessa altura,

transformavam-se em tartarugas.

............................................................................................................ [7.º 5.ª]

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ERA UMA VEZ UM RAPAZ CHAMADO JOÃO, QUE VIVIA

EM CHORA-QUE-LOGO-BEBES, EXÍGUA ALDEIA excepcional-

mente florida. A aldeia situava-se no sopé de uma montanha

vulcânica (por vezes, os choraquelogobebenses avistavam ao longe

pequenos rios de lava que do cume desciam pelas vertentes).

Um dia, João revoltou-se contra a vida que levava em tão

retrógada aldeia. Queria conhecer novos costumes, pessoas

diferentes e terras modernas. Quando partiu para essa sua busca,

lembrou-se que tinha uma velha tia, antiga estilista da importante

casa francesa Ne pleure pas. Enquanto isto pensava, surgiu-lhe na

frente a linha do TGV para Paris.

.............................................................................................................

[7.º 3.ª]

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[Criar novo texto pela substituição — por respectivas definições (no dicionário) — de todos os verbos, nomes e adjectivos de poema de José Gomes Ferreira] Vou rir-me — não para esconder as cinzas da fogueira com ninfas de sol de espuma... ...mas para sentir este metal firme da caveira debaixo da bruma.

José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 275

Transporto-me de um sítio para outro exprimindo um

sentimento de alegria súbita por meio de um movimento da boca — não para colocar em lugar onde não se possa ver o pó ou resíduos de qualquer combustão da acumulação de corpos em combustão com divindades subalternas e femininas dos rios, das fontes, dos bosques, das montanhas do astro central luminoso do nosso sistema planetário de saliva escumosa... mas para perceber por um dos sentidos este corpo simples dotado de um brilho especial sólido, fixo, inabalável, do crânio descarnado debaixo da atmosfera escura e chuvosa.

[Raquel, 7.º 5.ª] Já me cansa esta alegria sempre tão fria de ter razão... (...com um subterrâneo de esperança a chorar no coração.)

José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 99

Já me causa cansaço este acontecimento feliz sempre tão

falto de calor de ter a faculdade de raciocinar discursivamente, de combinar conceitos e proposições... (...com uma cavidade geralmente em forma de galeria que se estende por baixo da terra de confiança na aquisição de um bem que se deseja a derramar lágrimas no órgão torácico oco muscular e de forma cónica, no homem e em muitos outros animais.)

[Eliana, 7.º 1.ª]

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O silêncio é a lei que começa no princípio do mar e procura o perfil que reproduz e ata os desvios do sonho em linha recta. Momento movido a luz Que torna a morte inquieta.

José Gomes Ferreira, Poeta Militante, II, p. 208

O estado de uma pessoa que cessou ou se abstém de falar ou de produzir qualquer som é o preceito emanado de autoridade soberana que dá começo no acto de principiar da grande massa e extensão de água salgada que cobre a maior parte (73%) da superfície da terra e faz diligências para encontrar o contorno do rosto de uma pessoa, vista de lado que produz novamente e prende ou aperta com fio, fita ou corda os actos ou efeitos de desviar da actividade mental não dirigida, que se manifesta durante o sono, pelo menos nas suas fases menos profundas, e do qual, ao acordar, se pode conservar certa lembrança em traço contínuo de espessura desprezável ou não tomada em consideração. O mais breve período em que o tempo se pode dividir impelido a fluxo radiante capaz de estimular a retina para produzir a sensação visual que torna o acto ou efeito de morrer que não está quieto.

[Joana, 7.º 1.ª]

O desenho do perfil amolece os ossos — espírito de sangue com dedos de sol. Melodia que dá o suporte à interrupção do grito para limitar a morte.

José Gomes Ferreira, Poeta Militante, II, p. 209

A representação de objectos de figuras, de paisagens, de contorno do

rosto de uma pessoa tornou mole as partes duras e sólidas que formam o arcaboiço do corpo do homem e dos animais vertebrados — substância incorpórea de líquido espesso mais ou menos vermelho, que circula nas artérias e nas veias com cada uma das partes, distintas e articuladas, que terminam as mãos e os pés do homem e de alguns animais de astro central, luminoso, do nosso sistema planetário. Série de sons agradáveis ao ouvido que doa aquilo que sustenta o acto ou feito de interromper a voz aguda e elevada emitida com esforço para determinar os limites do acto de morrer.

[Paulo, 7.º 6.ª]

Page 99: Trabalhos Da Semana Jgf   Todos Os Documentos Juntos

Não posso amar sem imaginar o meu desejo de haver destino na Tempestade... A realidade não é o que vejo mas o que imagino para ser verdade.

José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 224

Não tenho a faculdade ou a possibilidade de sentir amor, ternura, sem representar no espírito o meu acto ou efeito de desejar de acontecer fimpara que tende uma acção ou um estado na violenta perturbação da atmosfera... A qualidade do que é real não é o que consigo perceber por meio de vista mas o que represento no espírito para ser aquilo que é verdadeiro.

[Pedro V. & Rui, 7.º 3.ª]

[Criar novo texto pela substituição — por palavra procurada em dicionário de sinónimos (mas, de preferência, com sentido distante) — de todos os verbos, nomes e adjectivos de poema de José Gomes Ferreira] Só eu não paro... Que lhe importa ao rio mais um pássaro moribundo? Só eu não paro... Só eu não choro... Só eu não rio... (Sim, viva o desdém do sonho sem desvio!) ...a pensar na salvação do mundo.

José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 261

Só eu não acuo... Que lhe interessa à mota mais um volátil decadente? Só eu não redundo... Só eu não lacrimino... Só eu não escarneço... (Sim, coabite o desabrimento do devaneio sem ramal!) ...a ponderar na guarida do cosmos.

[Francisco, 7.º 3.ª]

Só eu não desvio... Que lhe acarreta à corrente mais um astuto agonizante? Só eu não desvio... Só eu não lacrimejo... Só eu não zombeteio... (Sim, aclame o abandono do devaneio sem alcance!) ...a meditar na conservação da abundância.

[Patrícia, 7.ª 1.ª]

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Não. Hoje não me espanto. Quero viver com os outros e sentir no meu canto a alegria dos potros numa planície matinal — em que tudo, tudo, tudo parece natural e explicado. Mas, sobretudo, eternamente parado.

José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 228

Não. Hoje não me amedronto. Almejo alar com os outros e conjecturar no meu poema a alacridade dos ecúleos numa chã matutina — em que tudo, tudo, tudo se apresenta aborígene e dilucidado. Mas, sobretudo, eternamente quedo.

[Mafalda, 7.º 3.ª]

Não. Hoje não me azabumbo. Diligencio coabitar com os outros e conjecturar no meu cotovelo a alacridade dos ecúleos numa planura matutina — em que tudo, tudo, tudo se afigura verosímil e minucioso. Mas, sobretudo, eternamente imóvel.

[Nuno, 7.º 5.ª]

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[Construir poema com versos a serem retirados de diferentes poemas de Poesia-I, de José Gomes Ferreira] Poesia-I, p. Pus-me a escutar no silêncio, (23) na esperança fria, (25) deste remorso sem sentido (33) dos cristais do ruído. (35) E se o tecto abatesse de repente? (36) Foi numa noite de desarrumo do luar, (56) a querer salvar o mundo, (63) que não foi criado com lágrimas, (65) para entorpecer de ilhas a angústia dos homens. (70) Só quero ouvir o ódio (77) de suor de escravos, (76) porque eu sou aquele que nunca sorri para as nuvens deitado na relva, (83) para enfeitarem a sua fome da aristocracia das nuvens. (90) Diante das pedras e das árvores, (130) desfeito e feliz, (129) como um cego a imaginar o sol (167) no desespero do mar vil, (119) mas por outras razões mais desesperadamente vis: (90) para nunca mais sentir na cara o frio de lâmina das tuas lágrimas. (64)

[Matilde, 7.º 2.ª]

O sol é sempre o mesmo e o céu azul. (13) Um pássaro qualquer (17) surge nos meus olhos, (19) a procurar entre as árvores (21) aquela flauta que ninguém toca (23) com boca cerrada, (30) numa nuvem negra de milhões de lágrimas (33)

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quentes do entusiasmo vazio, (35) que paira neste vento de música, (37) e deixa-me sozinho. (43) Numa noite em que o luar erguia as pedras, (51) a querer salvar o mundo (63) com o espírito que paira nas lágrimas dos pobres (65) calcados de urtigas (77) com os olhos pesados na terra (95) pela guerra e pela fome (105) no silêncio das raízes, (107) que me magoam a alma. (111) Oh! esta solidão (117) no desespero do mar vil! (119) Ouço o ranger dum barco, (123) o Anjo da Morte Falsificada, (131) ao som da sineta (157). Deixa-o apodrecer no chão. (107)

[Silvana, 7.º 3.ª]

[Construir poema com versos a serem retirados de diferentes poemas de Poeta Militante, II, de José Gomes Ferreira] Poeta Militante, II, p. Tenho mundo, tenho vida. (9) ...E a ovelha bale, bale. (11) Grito. (11) Onde paira o silêncio antes do Homem? (12) Cala os olhos, vagabundo! (13) Ouve covarde. (13) Olha, ainda há flores! (14) Flores de asas imóveis, (15) flores com cio, (15) às estrelas e ao luar (18) Ó pastor de pascigo, (22) que veio do mar (19) para o abismo de solidão (21)

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de sonhos e lama... (22) Essas lágrimas, (25) este metal de agonia, (27) nas labaredas dos dedos, (31) para acariciar a gente... (31)

[Joana, 7º 2ª]

Ó pinheiro, (27) que não vem do céu, (3) ó pinheiro, (27) sem pássaros nos cornos. (10) Cala os olhos vagabundo (13) ouve, covarde, (13) tanto penso e tanto sinto (18) aqui neste monte, (19) nesta coisa complicada, (21) nem uma lágrima nos olhos (21) de luas e garras. (21) Pobre lesma! (23) Não queiras o céu, (23) com sombra no chão. (26) Ah! Como te invejo, (29) tu que não morreste na cama... (39)

[João Marcelo, 7.º 5.ª]

Passei toda a noite a meditar (21) na majestade sozinha, (23) ao sol de borco imundo. (24) Essas lágrimas (25) dessa sombria cega (26) saltavam-lhes dos olhos (279) sem fim nem começo (10) A sombra enforcou naquele candeeiro (79) olhos e ventos, (87) para salvar o mundo. (117) Matou talvez em sonhos (174) até encher o copo de lágrimas (193) e agora confessa o crime (174) que se confunde com a brisa (175) a assobiar. (192) Este mundo eterno (30) desta gente que até suja as próprias dores (50) trazia talvez nos olhos o reflexo (66) que trago no coração, (67) para baterem um dia ao mesmo tempo (67) nos gritos por dentro da Solidão. (66)

[Ana M., 7.º 6.ª]

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[Construir poema com versos a serem retirados de diferentes poemas de Poeta Militante, I, de José Gomes Ferreira]

Poeta Militante, I, p. Nasceste por engano nestes céus, (105) com o mundo a obedecer aos meus caprichos. (104) Terra seca (?) num céu viril com anjos de aço, (106) aos tombos, aos cachos como morcegos... (107) Ódio às lágrimas mal choradas diante dos parentes, (111) do sonho moribundo, (115) a fingir de rosa numa planta. (121) Árvore sem fruto, (127) com desespero comovido, (131) pois não vê que me sufoca (133) até o frio do espanto. (135)

[Marta L., 7.º 5.ª]

[Construir poema com versos a serem retirados de diferentes poemas de Poesia-II, de José Gomes Ferreira]

Poesia-II, p. Eu, o cavaleiro vermelho, (115) no cavalo amarelo da fome, (126) morro pouco a pouco, (147) com passos de rasgar chão, (174)

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na areia molhada... (30) Ergueu-se de súbito por entre as árvores, (41) ergue-se, um algoz, (56) à procura de treva num dia de sol. (87) Por isso combato, (115) por isso mato, (115) para que o sol continue a brilhar, (117) num arrepio de treva e abismos. (117)

[Gonçalo, 7.º 5.ª]

Morrer devia ser assim... (11) Volta para trás. (19) Ah, eis a grande raiva: (20) é do teu desarrumo (43) Todos te contemplam, (47) todos menos eu. (49) Caminhos em vão, (53) na chama dum facho. (59) Por mais que ele berre (61) incêndios sem chama, (63) em toda essa horda. (69) Mas onde?... Em que longe? (66)

[João Tomás, João Afonso, 7.º 6.ª]

Olho para o céu imenso, (17) árvore sem fruto, (16) meu jardim perdido... (12) o braço de uma ninfa ergueu-se. (41) Entrem árvores, (40) um destino de flores; (41) o sol abriu em asas, (47) a fingirem de pássaros. (41) Volto para trás, (19) com o mar (18) na areia molhada: (30) fiz uma deusa, (18) o único sinal profundo, (19) que criou o mar, (18) como o desenho (72) no sonho constante, (87) na imaginação. (72)

[Rita, 7.º 2.ª]

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Volto para trás, (19) Num gelar de flores. (29) Eu parei, estremecido, (31) E a sombra de um homem (30) A quem deram o céu por só castigo... (36) Trago na alma (163) As asas covardes (168) De me sentir perdido e só no meio da morte. (169) Cai uma pedra no lago... (175) Cá estou outra vez de lágrimas nos olhos. (176) Trago nos olhos uma certeza, (181) Não nasceu das lágrimas do poetas: (191) Quando nasceu já tudo estava mundo (171)

[João C., 7.º 2.ª]

[Construir poema com versos a serem retirados de diferentes poemas de Longe, de José Gomes Ferreira]

Longe, p. Ergo os olhos ao Altar, (13) tocou-me Deus com a mão. (14) Ardem círios, como dedos, (16) ouço o luar... Sinfonia (17) E o luar, nevando penas, (16) ... luar de melancolia... (17) Mas veio o Vento, o Encantado: (18) não vejo nada... pressinto (20) E, ouvindo o Vento, que espalha, (19) o Medo lançou-me as redes (18) Larguei o missal... Desmaia, (21) Vénus verde nas areias! (23) Que é Portugal, ó Poeta, (22) das almas dos marinheiros?! (23) E há mais de quinhentos anos (22) a suavidade da lua... (23) E por entre o nevoeiro (24) vive a Descrença em meu peito. (25)

[Paula, 7.º 1.ª]

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Dum luar de suavidade, (14) ardem círios como dedos (16) e na sombra que estremece (17) o medo lançou-me as redes... (18) Ouvindo o vento que espalha, (19) entrei na cela Aziaga: (20) queimou-se o Sol da verdade, (21) ó Bocage da Desgraça! (35) As ondas são berços, (23) ao luar da lua cheia, (24) e ao Sol, em oiro desfeito (25) sinto-o no meu coração (23) todo manchado de Luz, (27) sem templos nem catedrais, (29) senhor dos braços doridos, (30) das nossas mãos, desfolhadas... (31)

[Madalena, 7.º 2.ª]

[Construir poema com versos a serem retirados de diferentes poemas de Poesia-III, de José Gomes Ferreira]

Poesia-III, p. Se não há outro mundo, (125) insulto-me ao espelho. (126) É apenas este ritmo entre nós e a terra, (127) para aqui aos tombos no ruído do mundo... (128) E ponho-me a pensar: (137) malmequeres para quê? (139) Montes e montes de flores, (144) em multidão... (145) Onde poisaste os olhos? (46) Neste momento, (216) Toquei-te. (217)

[Andreia, 7.º 1.ª]

Amor... (232) Sei lá se sonho ou vivo! (233) E eu falo e sorrio, (163) de manhã até à noite, (169) nesta rua deserta. (181) Todas as traições, todas as ânsias, todos os soluços... (183) Hoje só sinto o sabor (230) e os braços erguidos (224) de escritores sem corpo, (214) flores carnívoras, (224) agora no luar caído. (236) E é esta a minha tragédia! (237)

[Miguel, 7º 3ª]

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[Criar poema apenas com as palavras (todas baralhadas) de «Poeta: continua a arrastar a solidão» e «Liberdade», de José Gomes Ferreira]

Olhos em liberdade a rasgarem a sombra! Momento de solidão afoga o ódio. Vontade de a beijar, mostrar a ternura, arrastar corações! Benditas as raízes: também dão roseiras, flores de ternura. Continua atada, no fundo das nuvens, que nos resiste assim; dos monstros e dos tufões, inútil e parva fuga é — lés a lés — de roedores aos pés. Imagina é pássaros com a tua ternura! Cicatrizes das rosas, asas como bandeiras Da quente boca... Abaixo a ilha, que nos odeia! Mas é a vez que te apaga fontes.

[João R., 7.º 3.ª]

A liberdade resiste! As roseiras dão rosas, cicatrizes, solidão. Afoga monstros, odeia bandeiras, imagina tufões. Apaga o momento, quente como é. Beijar de boca atada,

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mostrar ódio e ternura! Dos olhos raízes benditas rasgam nuvens... Continua, ternura, no fundo dos corações, ternura parva! Pássaros e roedores, flores com asas, vontade inútil...

[Marta S., 7.º 2.ª]

Beijar monstros apaga corações! No fundo momento resiste a solidão: cicatrizes em sombra de rosas, como o ódio de tufões. A vontade da tua liberdade... Benditas roseiras de olhos de flores, também rasgam raízes dos roedores. Ternura quente, ternura parva, continua a arrastar asas: dão fuga que nos odeia. Assim, imagina pássaros a mostrar-nos ternura atada com a boca.

[Ítalo, 7.º 1.ª]

(O momento é de ódio. Odeia! Abaixo a ternura parva!) Poeta: continua a arrastar a solidão da tua ilha de sombra atada aos pés. Mas resiste a mostrar as cicatrizes dos monstros roedores que te rasgam de lés a lés. Afoga nos olhos a ternura das fontes que no fundo das raízes imagina as flores. E apaga na boca a fuga quente dos pássaros com asas nos corações. A ternura é inútil como beijar tufões.

José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 230

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Liberdade é também vontade Benditas roseiras que em vez de rosas dão nuvens e bandeiras

José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 258

[Criar poema apenas com as palavras (todas baralhadas) de «Só por orgulho te aceito» e «Tudo cansa!», de José Gomes Ferreira]

Aceito o orgulho. Na minha esperança há malmequeres delicados, que pesam no corpo. Os dois segredos da balança: o brilho dos teus olhos e essa chama ausente que hoje estende a lança cruel. O deserto desse meu jeito improvisado, mulher que vem de terra, vem com outros olhos. Com a hora perto, sinto a canção mais longe: vem deitar lama na morte.

[Sara, 7.º 1.ª]

A hora alonga no deserto, o orgulho chama mulheres, tudo estende o chão. Há lama com malmequeres, brilho de sol, segredos nus e olhos delicados. A terra lança esperança perto do meu corpo, o sol balança na minha cama e sinto a morte.

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O suor ausente mutila teus olhos. Aceito travos que — mulher cruel! — pesam da canção.

[Cláudia, 7.º 5.ª]

(Canção da mulher ausente, improvisada à hora de me deitar.) Só por orgulho te aceito. Vem com a lama desse jeito que há na terra do corpo das mulheres — e estende no meu leito o chão de malmequeres. Vem com essa chama que mutila o sol de outros segredos — e alonga na minha cama o suor dos trevos. Vem, meu deserto, que só longe (na morte) sinto mais perto.

José Gomes Ferreira, Poeta Militante, II, p. 128

Tudo cansa! Até o brilho cruel do sol de lança dos teus olhos nus. Teus olhos. Hoje dois delicados pratos de balança que só pesam a luz. (E a Esperança.)

José Gomes Ferreira, Poeta Militante, II, p. 98

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[Criar poema apenas com as palavras (todas baralhadas) de «Dor em vão» e «Leva-me os olhos, gaivota», de José Gomes Ferreira]

Naquela mesma escuridão onde se repetem a angústia, ansiedade, dor, onde a sereia canta, a aranha tece a teia, a gaivota leva-me asas de liberdade. Nem os olhos vão cair lá na ilha onde o terror não tem casas e ficou longe... Noite e dia sem algemas, em rota do coração, os jardins de jasmins e cravos deixa-os apenas toda a lua. Dói pôr apenas uma bagatela: esta nunca rói!

[Carolina, 7.º 3.ª]

Na noite nem os cravos vão à lua. Leva-me a angústia aos jardins do meu coração. Teia de aranha, olhos de gaivota, Uma sereia nunca tem dor.

[Diogo, 7.º 2.ª]

(Do terror dum dia de angústia ficou apenas esta bagatela.) Dor em vão que já nem rói o coração — ao menos dói Não sejas apenas esta ansiedade a pôr algemas na liberdade

José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 84

Leva-me os olhos, gaivota, e deixa-os cair lá longe naquela ilha sem rota...

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Lá... onde os cravos e os jasmins nunca se repetem nos jardins... Lá... onde nunca a mesma aranha tece a mesma teia na mesma escuridão das mesmas casas... Lá... onde toda a noite canta uma sereia ...e a lua tem asas Lá...

José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 143

[Criar poema apenas com as palavras (todas baralhadas) de «Pôs-me o destino nas mãos» e «Que temos nós com a primavera?», de José Gomes Ferreira]

Olhos dos malmequeres na primavera confusa nasceram, linhas entrelaçadas de arame e oiro, nas estações de aceitação... Adeus, primavera, meu novelo: não é complicado mas aterra em terra, no caminho da riqueza... Pôs-me pobre, com mãos inúteis mas suadas de prata.

[João Berga, 7.º 1.ª]

Que caminho complicado! Temos umas mãos de oiro entrelaçadas, malmequeres inúteis, numa primavera confusa. Na boca de prata, com olhos no arame, mil estações nasceram — perfumes de riqueza... Pobre primavera! O destino pôs-me de silêncio, aterra na fossa, mãos de adeus para outras com novelo, nas linhas de terra, suadas em redor.

[Frederico S., 7.º 2.ª]

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Pôs-me o destino nas mãos um novelo de mil linhas... Umas de oiro... outras de prata... ...outras de arame mais vil Mas todas entrelaçadas numa riqueza confusa. Pobre novelo complicado nestas mãos inúteis que nasceram para dizer adeus nas estações de caminho de ferro.

José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 190

Que temos nós com a primavera? Não nos sai dos olhos nem da boca, mas da terra que não é nossa. Primavera para quê? Malmequeres para quê? Para a aceitação com perfumes deste silêncio de fossa?

José Gomes Ferreira, Poeta Militante, II, p. 49

[Criar poema apenas com as palavras (todas baralhadas) de «Ó camponês» e «Chove...», de José Gomes Ferreira]

Chove na rua de Palma. Chuva do destino... Num céu espalmado, cai silêncio: enquanto chove, morrem bons-dias! Entretenho-me a ouvir violino, não importa que melodia ouvir! Ninguém mais ouve, antes berra: estou a cheirar urina! Quem se ama?

[Bruno S., 7.º 1.ª] Ó camponês, não me dês os bons-dias. Berra!

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Não queiras o céu antes da terra

José Gomes Ferreira, Poesia-III, p. 98

(Enquanto os aliados a caminho de Berlim morrem, eu entretenho-me a ver chover na Rua da Palma, espalmado num portal a cheirar a urina podre.)

Chove... Mas isso que importa!, se estou aqui abrigado nesta porta a ouvir a chuva que cai do céu uma melodia de silêncio que ninguém mais ouve senão eu? Chove... Mas é do destino de quem ama ouvir um violino até na lama.

José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 219

[Criar poema apenas com as palavras (todas baralhadas) de «Cai dos telhados» e «Que manhã esta!», de José Gomes Ferreira] No Rossio está a igreja que ninguém encontra. Custa-me quando há prostitutas numa montra, no nevoeiro e frio: oxalá alguém as veja! Sinto ternura no coração, um profundo sonho que está em princípio. Esconder a bandeira arrendou raízes nas árvores. Tu escutas o sorrir da floresta de manhã? Quando escutas árvores numa floresta, um entusiasmo profundo e ternura cai no coração. Sinto um frio ardente por sorrir, sonho duma criação.

[Ana S., 7.º 6.ª] Cai dos telhados Um nevoeiro frio que pendura enforcados nas árvores do Rossio...

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Oxalá ninguém me veja (nem tu que meu sonho escutas) por aqui nestas vielas, em redor da igreja, suadas de prostitutas. Custa-me tanto, quando alguém me encontra, sorrir por instinto. Ou esconder no espelho duma montra o meu labirinto. Quero estar só, ouviram?... Só e só!... — É a única maneira de arder o meu pó numa bandeira. Só assim sinto beijar-me o coração esta ternura que me aterra e que no princípio da criação arredondou a Terra.

José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 242

Que manhã esta! ardente como o entusiasmo dos tambores. Onde tudo o que há de profundo nas raízes da floresta se descobre em flores

José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 248

[Criar poema apenas com as palavras (todas baralhadas) de «Nasceste tão grave» e «Os outros decifram palavras cruzadas», de José Gomes Ferreira] Gargalhadas decifram tanto frio, a melodia pesa, e, de súbito, a vida sorri. Trono branco de poder, num vazio de tédio. O arame torna palavras em risco: na grave morte, tudo sofre. Palavras cruzadas a viver a paisagem já de pena... Nasceste leve e a rir, no teu cabelo farpado algemas decifram rendas

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mais cruzadas que a visão. Falo em enigmas e, inclinado, desato outros teoremas dentro da boca.

[Joana D., 7.º 5.ª]

(Inclinado sobre o berço.) Nasceste tão grave — e já no teu trono de rendas a vida pesa tanto. Que pena não saberes sorrir! — visão da morte que torna tudo mais leve. Risco branco de um esqueleto em melodia. na prata da boca leve.

José Gomes Ferreira, Poeta Militante, II, p. 211

(A paisagem da pátria... Tédio e arame farpado.) Os outros decifram palavras cruzadas e eu falo e sorrio... (Mas a sifrer por dentro, a arancar o cabelo, por viver num mundo vazio e só poder enchê-lo de frio.) Os outros decifram palavras cruzadas, enigmas, teoremas... E eu de súbito desato a rir às gargalhadas num tinir de algemas...

José Gomes Ferreira, Poeta Militante, II, p. 62

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[Reescrever poema de José Gomes Ferreira, substituindo as palavras finais dos versos por outras procuradas em dicionário de rimas.] Poeta: continua a arrastar a solidão da tua ilha de sombra atada aos pés. Mas resiste a mostrar as cicatrizes dos monstros roedores que te rasgam de lés a lés. Afoga nos olhos a ternura das fontes que no fundo das raízes imagina as flores. E apaga na boca a fuga quente dos pássaros com asas nos corações. A ternura é inútil como beijar tufões.

José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 230

Poeta continua a arrastar a imaginação da tua ilha de alfombra atada às galés. Mas resiste a mostrar as varizes dos monstros caçadores que te rasgam de través. Afoga nos abrolhos a ternura das pontes que no fundo das cicatrizes imagina as cores. E apaga na toca a fuga quente dos <pássaros> com asas nos canhões. A ternura é fútil como beijar vulcões.

[Francisco, 7.º 6.ª]

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Chove... Mas isso que importa!, se estou aqui abrigado nesta porta a ouvir a chuva que cai do céu uma melodia de silêncio que ninguém mais ouve senão eu? Chove... Mas é do destino de quem ama ouvir um violino até na lama.

José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 219

Noventa e nove... É o número de gente morta nesta aldeia. Mas o que é que isso importa? Só de ver a a cara da Céu, a filha do Florêncio, com aquela pança de Galileu... Nove... São as flores daquele apartamento citadino. Mas que drama: ao ver aquele menino, só me apetece pôr-lhe a casa em chama.

[João G., 7.º 3.ª]

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«Atrás de mim, no autocarro para a Baixa, um homem explicava a outro:

— A tipa passava a vida a miroscar tudo.

"Miroscar". Palavra para se procurar em vão nos dicionários.»

José Gomes Ferreira, Dias Comuns, III, p. 48

[Ainda hoje não se vê o verbo «miroscar» nos dicionários. É fácil, entretanto, estabelecer a sua flexão completa.]

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MIROSCAR

Modos Tempos Simples Presente Imperfeito Perfeito Mais-que-

Perfeito Futuro Condicional

ou Futuro do Pretérito

Indicativo mirosco miroscas mirosca miroscamos miroscais miroscam

miroscava miriscavas miroscava miroscávamos miroscáveis miroscavam

mirosquei miroscaste miroscou miroscámos miroscastes miroscaram

miroscara miroscaras miroscara miroscáramos miroscáreis miroscaram

miroscarei miroscarás miroscará miroscaremos miroscareis miroscarão

miroscaria miroscarias miroscaria miroscaríamos miroscaríeis miroscariam

Conjuntivo mirosque mirosques mirosque mirosquemos mirosqueis mirosquem

miroscasse miroscasses miriscasse miroscássemos miroscásseis miroscassem

miroscar miroscares miroscar miroscarmos miroscardes miroscarem

Imperativo mirosca miroscai

Infinitivo Pessoal Impessoal miroscar miroscares miroscar miroscarmos miroscardes miroscarem

miroscar Gerúndio Particípio passado

miroscando miroscado

Modos Tempos Compostos Presente Perfeito Mais-que-

Perfeito Futuro Condicional

ou Futuro do Pretérito

Indicativo tenho miroscado tens miroscado tem miroscado temos miroscado tendes miroscado têm miroscado

tinha miroscado tinhas miroscado tinha miroscado tínhamos miroscado tínheis miroscado tinham miroscado

terei miroscado terás miroscado terá miroscado teremos miroscado tereis miroscado terão miroscado

teria miroscado terias miroscado teria miroscado teríamos miroscado teríeis miroscado teriam miroscado

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Conjuntivo tenha miroscado tenhas miroscado tenha miroscado tenhamos miroscado tenhais miroscado tenham miroscado

tivesse miroscado tivesses miroscado tivesse miroscado tivéssemos miroscado tivésseis miroscado tivessem miroscado

tiver miroscado tiveres miroscado tiver miroscado tivermos miroscado tiverdes miroscado tiverem miroscado

Infinitivo Pessoal Impessoal

ter miroscado teres miroscado ter miroscado termos miroscado terdes miroscado terem miroscado

ter miroscado

Gerúndio tendo miroscado

[7.º 1.ª, 7.º 2.ª, 7.º 3.ª, 7.º 5, 7.º 6.ª]

(Vem, Musa da Voz Simples dos dias de férias!)

...E a ovelha bale, bale, a olhar para o vale confuso de nevoeiro... A pensar talvez no grande carneiro que criou à sua imagem o tojo da paisagem.

José Gomes Ferreira, Poesia-III, p. 76

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[Fazer a estatística das classes gramaticais representadas neste poema de José Gomes Ferreira (as contracções serão contadas como Preposição e Determinante). «Para que» — locução que funciona como conjunção —, será contada como Preposição e Pronome.]

Nomes: 26,19% Conjunções: 2,38% Preposições: 23,81% Advérbios: 2,38% Determinantes: 21,43% Pronomes: 2,38% Verbos: 14,29% Interjeições: 0% Adjectivos: 7,14%

[7.º 1.ª, 7.º 2.ª, 7.º 3.ª, 7.º 5.ª, 7.º 6.ª]

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Bati com o pé no deserto e não nasceu uma fonte... Toquei numa rocha e não se cobriu de açucenas... Beijei uma árvore e o enforcado não ressuscitou... Amaldiçoei a paisagem e não secaram as raízes... Digam-me lá: para que diabo serve ser poeta? (Os santos são mais felizes.)

José Gomes Ferreira, Poesia-III, p. 135

Verbos: 23,08% Conjunções: 7,69% Nomes: 21,15% Pronomes: 5,77% Determinantes: 17,31% Adjectivos: 1,92% Advérbios: 11,54% Interjeições: 1,92% Preposições: 9,62%

[7.º 1.ª, 7.º 2.ª, 7.º 3.ª, 7.º 5.ª, 7.º 6.ª]