trabalho_politicas culturais (diana)

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  • 8/7/2019 trabalho_Politicas Culturais (diana)

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    Docente:

    Maria Joo Moreira

    Discentes:

    Martim Dias

    Rita Silva

    Soraia Carvalho

    Docente :

    Maria Joo Moreira

    Discentes:

    Martim Dias

    Soraia Carvalho

    Rita Silva

    Polticas Culturais

    Polticas Culturais Aplicadas ao Patrimnio Im

    Porto, de 2010 |

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    ndice

    Introduo 4

    Parte I - Abordagem s polticas culturais.6

    Capitulo 1 - Desenvolvimento do conceito de cultura no contexto

    internacional e nacional.

    6

    Captulo 2- Desenvolvimento histrico das politicas culturais em

    Portugal

    8

    Captulo 3 - Democracia cultural e democratizao da cultura. 12

    Capitulo 4 Ministrio Da Cultura 13

    Seco 1 - Misses o objectivos 13

    Seco 2 - Organograma do Ministrio Da Cultura 14

    Captulo 5- Financiamento e distribuio de verbas pelo

    Ministrio da Cultura

    17

    Parte II Patrimnio Imvel 20

    Capitulo 1 Desenvolvimento do conceito de Patrimnio ao

    longo dos tempos.

    20

    Seco 1 - O conceito de Patrimnio Imvel. 21

    Parte III - Politicas aplicadas ao Patrimnio Imvel. 23

    Capitulo 1 Evoluo da legislao aplicada ao Patrimnio

    Imvel aps o 25 de Abril

    23

    Seco 1 - A evoluo do enquadramento administrativo 23

    Captulo 2 A Classificao do Patrimnio Imvel 26

    Seco 1 - Princpios seguidos durante os anos 70 e 80 26

    Seco 2 - Princpios seguidos nos anos 90 27

    Seco 3 - A situao actual da classificao e

    inventariao do patrimnio edificado

    29

    Capitulo 3 Cartas, convenes e organismos internacionais e

    a sua aplicao em Portugal.

    32

    2

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    Seco 1 - Os organismos Internacionais e a sua

    importncia

    32

    Seco 2 - O alargamento do conceito de Patrimnio

    Imvel

    35

    Seco 3 - A Salvaguarda do Patrimnio Cultural como

    uma responsabilidade colectiva.

    36

    Seco 4 - A Salvaguarda do Patrimnio, uma filosofia

    europeia.

    37

    Captulo 4 As competncias da administrao local relativas

    ao patrimnio imvel

    38

    Seco 1 - A definio das responsabilidades 38

    Seco 2 - Mudana de competncia das Autarquias

    Locais no domnio do Patrimnio Cultural

    39

    Seco 3 - Zonas de proteco aos imveis classificados 41

    Seco 4 - A tutela dos imveis classificados 41

    Seco 5 - As garantias de proteces e as sanes aos

    atentados contra o Patrimnio Cultural

    42

    Seco 6 - Despesas dos municpios com o Patrimnio

    Cultural

    43

    Capitulo 5 Mecenato Cultural e a sua importncia na

    salvaguarda do patrimnio.

    46

    Seco 1 - Evoluo histrica do conceito de mecenato 46

    Seco 2 - Mecenato de Empresas 47

    Seco 3 - Evoluo Legislativa 48

    Concluso 51

    Bibliografia 52

    Webgrafia 53

    Anexos

    3

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    Introduo

    Este trabalho, proposto no mbito da disciplina de Politicas Culturais,

    trata a temtica das Politicas Culturais aplicadas ao Patrimnio Imvel.

    O nosso grupo interessou-se com a temtica, no decorrer do trabalho,

    com a certeza que um trabalho relativo a este tema seria muito til, j a grande

    maioria do patrimnio classificado pertence a esta tipologia de patrimnio,

    adquirindo assim informaes muito relevantes acerca da legislao aplicada

    ao patrimnio imvel, do desenvolvimento das polticas culturais relativas ao

    patrimnio imvel e tudo o que directa ou indirectamente est relacionado com

    a temtica do patrimnio imvel.

    Decidimos iniciar com uma parte relativa a conceitos relevantes para o

    entendimento deste trabalho, como o caso do desenvolvimento do conceito

    de cultura no contexto internacional e nacional e a explicao da misso,

    objectivos e formas de financiamento do Ministrio da Cultura.

    Numa segunda parte sero tratados conceito mais tcnicos, como o

    caso de Patrimnio e Patrimnio Imvel e o seu desenvolvimento histrico.

    Por fim trataremos das temticas directamente relacionadas com o

    Patrimnio Imvel, como o caso da evoluo da legislao aplicada ao

    Patrimnio Imvel aps o 25 de Abril, a classificao do Patrimnio Imvel,

    Cartas, convenes e organismos internacionais e a sua aplicao em

    Portugal, as competncias da administrao local relativas ao patrimnio

    imvel e por fim o Mecenato Cultural e a sua importncia na salvaguarda do

    patrimnio. Dentro destas diferentes temticas, outros assuntos sero

    trabalhados e desenvolvidos, como o caso das tutelas do Patrimnio Cultural

    (dando relevncia ao Patrimnio Imvel), os Organismos Internacionais e a sua

    importncia e a definio das responsabilidades no que toca ao Patrimnio

    Cultural.

    Penso que as temticas abordadas so de total importncia para a

    temtica do nosso trabalho, sendo escolhidas segundo a nossa ideia pr-

    definida quando iniciamos a elaborao deste trabalho.

    4

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    Pensando que questes relevantes iro surgir no desenrolar da leitura

    do trabalho pensamos que muitas ramificaes e desenvolvimentos futuros so

    possveis em trabalhos acerca desta temtica.

    5

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    Parte I - Abordagem s polticas culturais.

    Capitulo 1 - Desenvolvimento do conceito de cultura no contexto

    internacional e nacional.

    A origem etimolgica da palavra cultura remonta ao final do sculo XVIII

    e parte do termo germnico Kultur, utilizado para simbolizar todos os aspectos

    espirituais de uma comunidade, enquanto a palavra francesa Civilization

    referia-se principalmente s realizaes materiais de um povo. Ambos os

    termos foram sintetizados por Edward Tylor no termo ingls Culture que levado

    para um sentido etnogrfico o conjunto que inclui todos os conhecimentos, ascrenas, a arte, a moral, as leis, os costumes ou qualquer outra capacidade ou

    hbito adquirido pelo homem como membro de uma sociedade1.

    Podemos falar de Cultura e Identidade Cultural como dois conceitos que

    interagem e se inter-relacionam.

    Em primeiro lugar, a cultura deve ser encarada como sendo um conceito

    bastante abrangente, pois esta pode assumir diversas formas de expresso,

    nomeadamente o Patrimnio que um povo possui.

    A Identidade poder ser entendida como um conjunto de factores, entre

    os quais o prprio espao territorial, bem como a lngua materna. Ou seja todos

    os elementos culturais transversais a uma sociedade, que a identifica e a

    define, formam, no seu conjunto a sua Identidade Cultural.

    Cada cultura representa um conjunto de valores nico e insubstituvel j

    que as tradies e as formas de expresso de cada povo constituem sua

    maneira mais acabada de estar presente no mundo.2

    11 LARAIA, Roque de B. Cultura, um conceito antropolgico. Rio de Janeiro:Jorge Zahar, 2001, pp. 25.

    22 Declarao do Mxico, Mxico, 1982 - Conferncia Mundial sobre as Polticas Culturais,

    ICOMOS - Conselho Internacional de Monumentos e Stios.

    6

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    Ao longo dos tempos, o conceito de Cultura foi evoluindo e alargando-

    se, pois sabe-se que esta, em determinados contextos e perodos da histria,

    compreendia tudo aquilo que estava ligado s artes eruditas ou

    desenvolvimento intelectual. No entanto, esta corrente eliminava uma noo

    ligada etnologia e todas as formas de viver de um povo, como as suas

    tradies, crenas, costumes e relaes.

    Nos dias de hoje a cultura aparece-nos como o conjunto de prticas e

    aces sociais que seguem um determinado padro num determinado espao.

    Ela refere-se s crenas, comportamentos, valores, instituies e regras morais

    que permitem identificar uma sociedade. A cultura assume tambm o aspecto

    da vida social que se relaciona com a produo do saber, da arte, do folclore,

    da mitologia e dos costumes, entre outros, bem como a forma que a sua

    perpetuao se d atravs da transmisso de uma gerao para outra.

    Uma das principais caractersticas da cultura o seu mecanismo

    adaptativo, ou seja, a sua capacidade de responder ao meio num contexto de

    mudana de hbitos. Alm desta caracterstica possui tambm um mecanismo

    cumulativo, ou seja, as modificaes levadas a cabo por uma gerao so

    passadas gerao seguinte. Desta forma com o passar do tempo a cultura

    sofre transformaes uma vez que vai perdendo determinados aspectos e

    incorporando outros mais adequados s vivncias da nova gerao.

    A mudana cultural d-se atravs de dois mecanismos bsicos: a

    inveno ou introduo de novos conceitos e a difuso de conceitos a partir de

    outras culturas.

    Segundo a declarao do Mxico sobre Polticas Culturais (1984), no

    seu sentido mais alargado, a cultura deve ser entendida como o complexo

    global de elementos espirituais, materiais, intelectuais e emocionais distintivosque caracterizam a sociedade ou o grupo social, incluindo no apenas as artes

    e letras, mas igualmente os modos de vida, os direitos humanos fundamentais,

    os sistemas de valores, as tradies, as crenas. a Cultura que permite

    formar seres racionais, realmente humanos, dotados de uma capacidade de

    julgamento e de uma certa conscincia moral. atravs da Cultura que o

    Homem se pode exprimir, tomar conscincia de si prprio, reconhecer a sua

    imperfeio, interrogar-se sobre as suas prprias dvidas, realizar-se, procurar

    7

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    sem cessar novos significados e criar obras que lhe permitam transcender os

    seus prprios limites.

    Sendo a cultura intrnseca ao Homem, esta no pode ser restrita,

    qualquer pessoa tem o direito de lhe aceder livremente. Este direito est

    patente na Declarao Universal dos Direitos do Homem de 1948 no artigo 27

    Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da

    comunidade, de fruir as artes e de participar do progresso cientifico e nos

    benefcios que deste resultam3.

    Desta forma, pode-se afirmar que o Homem o centro de tudo e que a

    Cultura essencial para o seu desenvolvimento e progresso, porque o ajuda a

    reflectir sobre si mesmo. Para alm desta caracterstica, a Cultura tambm

    um meio de reforo de independncia, identidade e soberania nacional com a

    sua compreenso e aceitao pelos povos. Assim, necessrio criar uma srie

    de mecanismo para a defesa da cultura, do patrimnio de cada pas.

    Captulo 2 - Desenvolvimento histrico das politicas culturais em

    Portugal

    Ao longo dos tempos, com a evoluo poltico-social que se fo

    denotando, as politicas culturais foram, tambm elas, sendo alteradas, a nvel

    do prprio conceito e das suas polticas.

    Na sequncia do golpe militar de 28 de Maio de 1926 foi instaurado em

    Portugal o regime Salazarista. Regime que criou desde logo mecanismos

    imprescindveis construo da sua hegemonia ideolgica e cultural, tendo

    como uma das primeiras preocupaes a estruturao da aco cultura

    claramente assumida como propaganda.Foram ento criados rgos e instrumentos destinados aco poltico-

    cultural do regime. A 1933, criado o Secretariado de Propaganda Nacional

    (SPN), rgo destinado a veicular a ideologia do regime e a uniformizar o

    conhecimento da realidade nacional, passando este, posteriormente, a

    designar-se Secretaria Nacional de Informao e Cultura Popular (SNI), devido

    a ter deixado de corresponder ao mbito restrito da sua designao. A censura

    33 Declarao Universal dos Direitos do Homem, 1948.

    8

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    tambm teve um papel fundamental, na medida que correspondia ideia

    preconizada do regime autoritrio que definia que cultura convinha aos

    portugueses e quais os valores que a deviam enformar.

    O regime exercia-se igualmente por via do sistema educativo, em que a

    Junta de Educao Nacional (JEN) desempenhava um papel preponderante.

    Este junta dividia-se em vrias subseces; sendo a primeira, a segunda e a

    quarta, relevantes ao domnio da cultura4.

    Deste modo a cultura era dominada pela dimenso propagandista e as

    reas que hoje se consideram especificamente culturais, reas estas que eram

    da competncia do Ministrio da Educao e no qual encontravam-s

    integradas.

    A 26 de Setembro de 1968, Marcelo Caetano sobe ao poder, sucedendo

    a Salazar e, trazendo uma orientao poltica que tinha por lema a renovao

    na continuidade. Com uma perspectiva menos rgida deu-se um ligeiro

    abrandamento da situao de opresso (censura), mas no decorrer dos tempos

    os esquemas controladores do Regime acabaram por manter-se, passando a

    censura a designar-se de Exame Prvio.

    A 25 de Abril de 1974, d-se o golpe militar de marca o fim do Regime

    Salazarista, instaurando a democracia em Portugal e, trazendo mudanas

    profundas no s no sistema poltico do pas, mas tambm no econmico, no

    social e no cultural.

    Em Maio do mesmo ano publicado o Programa do Movimento das

    Foras Armadas que toma imediatamente medidas como a abolio da

    Censura e do Exame Prvio e a criao de uma comisso adhoc com a misso

    de controlar a imprensa, rdio, televiso, teatro e cinema.

    Com a criao do I Governo Provisrio surge um novo programa queprevia por conseguinte: uma nova lei de imprensa, rdio, televiso, teatro e

    cinema; o estabelecimento de medidas de salvaguarda do patrimnio; a

    erradicao do analfabetismo e o fomento dos meios de comunicao social

    como uma forma de atingir uma democratizao cultural e difundir a lngua

    44 A primeira dizia respeito educao moral e cvica, a segunda estava encarregada das

    relaes culturais, e a quarta estava encarregada da literatura, bibliotecas e arquivos.

    9

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    portuguesa, assim como o desenvolvimento de actividades culturais e artsticas

    (a literatura, o cinema, o teatro, as artes plsticas e a msica).

    Em Agosto os rgos do poder comeam a anunciar uma poltica

    cultural, instituindo-se assim Campanhas de Dinamizao Cultural com o

    objectivo de democratizar a cultura, que no se prolongariam para alm do V

    Governo Provisrio.

    Durante o perodo de transaco a cultura deixa de ser uma prioridade

    dos Governos, a braos com problemas considerados mais urgentes, que no

    corresponderam s aspiraes dos agentes culturais

    Em 1976, o fim do VI Governo provisrio marca o incio de um novo

    perodo poltico no pas, durante o qual exerceram o poder treze Governos

    Constitucionais.

    No I Governo, o seu programa explicita pela primeira vez as tarefas do

    mesmo no sector cultural e, criada a Secretaria de Estado da Cultura (SEC),

    que depende directamente do Concelho de Ministros. Com a autonomizao da

    SEC consideram-se reunidas as condies para que a cultura, em Portugal,

    possa libertar-se de situaes ambguas que at data a comprometiam.

    A SEC tem como grandes objectivos prosseguir as aces com vista

    soluo de problemas herdados das estruturas anteriores ao 25 de Abril que

    no foram revistas pelos governos provisrios e propor legislao com vista a

    regularizar o funcionamento das instituies de natureza cultural e a actividade

    dos trabalhadores intelectuais.

    Para tal a SEC actua em quatro reas: patrimnio cultural, investigao

    e fomento cultural, espectculos e aco cultural.

    No II Governo d-se um regresso a alguns temas culturais do inicio da

    democracia. O seu programa prev iniciativas no mbito da democratizao dacultura, da fruio dos bens culturais e da sua criao por parte da populao.

    No III Governo, o seu programa destaca a democratizao,

    descentralizao e o reforo da identidade nacional, promovendo-se o

    incremento da participao cultural, a salvaguarda do patrimnio e

    valorizao da criao e difuso culturais. com este governo que a cultura

    assume uma nova definio, deixando de ser una e passando a ser tripartida

    em cultura de elite, de massas e popular, sendo funo da poltica diminuir o

    10

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    fosso que as separa e que vai sendo expressa de formas diferentes nos dois

    governos seguintes.

    O IV Governo orienta-se mais para a questo do nacionalismo

    defendendo a lngua e a difuso de valores humansticos por ela veiculados.

    O Programa do V Governo Constitucional acentua as orientaes dos

    governos anteriores. A poltica cultural que o governo se prope a adoptar

    supes e implica uma concepo de cultura pluriforme e globalizante. Este o

    primeiro governo que explicita o seu conceito de cultura e organiza os

    objectivos, as orientaes e a orgnica da poltica cultural em funo do

    mesmo. Neste programa a noo de patrimnio surge pela primeira vez

    associada no s ao patrimnio adquirido, mas tambm s expresses vivas

    da criao cultural actual.

    A partir dos anos 80 a cultura passa a constituir um tema recorrente do

    discurso poltico e lanada a concepo da cultura como consenso, do qual

    faz parte o patrimnio, a identidade nacional e a democratizao da cultura.

    Com a preparao para a futura adeso Comunidade Econmica Europeia,

    passa-se a encontrar nos programas objectivos muito ligados identidade

    nacional, que permita a melhor identificao de uma imagem e de uma

    personalidade cultural portuguesa.

    Em 1983, com o IX Governo que separa as atribuies governamentais

    relativas cincia e tecnologia das relativas cultura, criado o Ministrio da

    Cultura (MC). Neste perodo a preservao do patrimnio cultural surge como

    reforo da identidade cultural e criada da 1 lei do patrimnio.

    O perodo de 1985 a 1995 corresponde a trs Governos (X, XI e XII)

    sociais-democratas dos quais os seus programas enunciam os seguintes

    princpios: universalidade do acesso aos bens culturais; preservao dopatrimnio; apoio criao, que tem subjacente o estmulo dos talentos e

    valores individuais e a liberdade de criao; descentralizao; e afirmao da

    identidade cultural, com a valorizao da lngua portuguesa.

    criada a Lei do Mecenato, que leva a levantar-se crticas por parte da

    oposio, considerando-se que o incentivo do mecenato privado possa vir a

    constituir uma forma do Estado se demitir das suas responsabilidades.

    Por outro lado, referido o objectivo de promoo da cultura portuguesano exterior, a adeso ao acordo que constitui a Fundao Europeia, a

    11

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    intensificao do relacionamento com o Brasil e os Pases Africanos de Lngua

    Portuguesa Oficial (PALOP), a implementao de institutos portugueses no

    Brasil e na Europa, de centros culturais nos PALOP e de organismos que

    promovam a cultura e lngua portuguesas.

    Em Outubro de 1995 d-se o inicio do Governo Socialista cujo programa,

    para alm de dedicar um espao mais alargado ao sector da cultura, apresenta

    tambm medidas mais especficas e concretas, orientadas em funo de cinco

    grandes princpios: a democratizao, a descentralizao; a

    internacionalizao; a profissionalizao e a reestruturao.

    A partir de 1995, a poltica cultural tem sido marcada por laos a uma

    atitude cultural tradicional de uma esquerda moderna que no renega o

    clssico5 e que entende a cultura como uma espcie de viso do mundo alm

    dos direitos a um acto criativo.

    Captulo 3 - Democracia cultural e democratizao da cultura.

    Os conceitos de democracia cultural e democratizao cultural

    aparecem definidos na Declarao do Mxico sobre Politicas Culturais de 1982

    elaborada durante a Conferncia Mundial sobre as Polticas Culturais, realizada

    pelo ICOMOS - Conselho Internacional de Monumentos e Stios. Dessa

    declarao podemos transcrever as seguintes citaes de forma a ilustrar os

    dois conceitos:

    A democracia cultural significa a capacidade de participao do

    indivduo e da sociedade na criao de bens culturais, no processo de deciso

    da vida cultural e na disseminao e fruio da cultura.6

    A democratizao Cultural implica a fruio da excelncia artstica por

    parte de todas as comunidades e da populao no seu todo, a par da

    55 SILVA, Augusto Santos (2004b) Como Classificar as Polticas Culturais? Uma Nota dePesquisa in OBS, n 12, Lisboa: Observatrio das Actividades Culturais, pp. 10-20.

    66 Declarao do Mxico, Mxico, 1982.

    12

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    eliminao das desigualdades que decorrem de factores diversos como a

    lngua, o status social, a educao, a nacionalidade, a idade, o sexo, a religio,

    a sade ou a pertena a determinados grupos minoritrios ou excludos.7

    Nesta declarao encontramos tambm a ideia de que necessrio

    trabalhar para uma descentralizao da vida cultural, tanto a nvel geogrfico,

    como a nvel administrativo. Pois s assim se consegue atingir uma plena

    democratizao cultural, descentralizando dos lugares de fruio cultural, como

    o caso das Belas Artes, tornando possvel o acesso excelncia artstica a

    todas as comunidades e classes da sociedade.

    preciso eliminar as desigualdades provenientes da origem, da posio

    social, da educao, da nacionalidade, da idade, da lngua, do sexo, das

    convices religiosas, da sade ou da pertinncia a grupos tnicos minoritrios

    ou marginais.

    S respeitando todos estes princpios se pode tornar a cultura

    verdadeiramente democrtica como teoricamente deve ser mas na prtica nem

    sempre se verifica.

    Capitulo 4 Ministrio Da Cultura

    Seco 1 - Misses o objectivos

    Discutir Cultura implica obrigatoriamente falar do papel do Governo

    nesta rea. Ao Governo cabe-lhe, sem controlar a vida cultural, garantir a

    estimulao, a promoo e o apoio de aces que possibilitem o favorecimento

    do acesso a todas as pessoas cultura bem como sua produo. Para almdestes deveres, o Governo ainda tem que garantir a defesa e salvaguarda do

    patrimnio cultural, no esquecendo o incentivo a novas modalidades de

    conhecimento e fruio. Para tal, o Governo necessita de um departamento

    governamental que tenha como misso viabilizar o mencionado acima. Assim,

    surge o Ministrio da Cultura. As suas funes traduzem-se por u

    responsabilizao na criao de infra-estruturas que ajudem no

    77 Declarao do Mxico, Mxico, 1982.

    13

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    estabelecimento de uma poltica cultural no apenas coerente, mas tambm

    consistente e eficaz. Tambm tem sob a sua alada estimular formas de

    cooperao no s entre entidades autrquicas e regionais, mas entre os

    agentes privados e os cidados, valorizando assim as iniciativas culturais

    existentes e que possam vir a existir.

    A criao de um Ministrio da Cultura resulta do Decreto-Lei n. 46/96 de

    7 de Maio que estipula um Ministrio cuja funo melhorar as condies de

    acesso cultura e, por outro, defender e salvaguardar o patrimnio cultural,

    incentivando novas modalidades da sua fruio e conhecimento.

    A criao do Ministrio da Cultura, concretizou uma opo estratgica

    que colocava a poltica cultural no centro das polticas de qualificao.

    O Ministrio da Cultura o departamento governamental que tem por

    misso a definio e execuo de uma poltica global e coordenada na rea da

    cultura e domnios com ela relacionados, designadamente na salvaguarda e

    valorizao do patrimnio cultural, no incentivo criao artstica e difuso

    cultural, na qualificao do tecido cultural e na internacionalizao da cultura

    portuguesa.8

    Seco 2 - Organograma do Ministrio Da Cultura

    88 Decreto-Lei n. 215/2006 de 27 de Outubro

    14

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    O Ministrio da Cultura composto por servios integrados n

    administrao directa do Estado, de organismos integrados na administraoindirecta do Estado, de rgos consultivos, de entidades integradas no sector

    empresarial do Estado e de outras estruturas.

    Relativamente aos servios integrados na administrao directa do

    Estado podemos encontrar os seguintes servios centrais:

    O Gabinete de Planeamento, Estratgia, Avaliao e Relaes

    Internacionais; A Inspeco-Geral das Actividades Culturais;

    A Secretaria-Geral;

    A Biblioteca Nacional de Portugal;

    A Direco-Geral das Artes;

    A Direco-Geral do Livro e das Bibliotecas;

    A Direco-Geral de Arquivos.

    15

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    Existem tambm, dentro dos servios integrados da administrao

    directa do Estado, servios perifricos:

    A Direco Regional de Cultura do Norte;

    A Direco Regional de Cultura do Centro;

    A Direco Regional de Cultura de Lisboa e Vale do Tejo;

    A Direco Regional de Cultura do Alentejo;

    A Direco Regional de Cultura do Algarve.

    No que toca administrao indirecta do Estado, esto sob

    superintendncia do Ministrio da Cultura os seguintes organismos:

    A Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema, I. P.;

    O Instituto do Cinema e do Audiovisual, I. P.;

    O Instituto de Gesto do Patrimnio Arquitectnico e

    Arqueolgico, I. P.;

    O Instituto dos Museus e da Conservao, I. P.

    O Conselho Nacional de Cultura o nico rgo consultivo que engloba

    o Ministrio da Cultura, segundo o estatuto de rgo consultivo.

    Dentro do Ministrio da Cultura existem outras estruturas que funcionam

    como parte integrante do prprio ministrio, como o caso de:

    A Academia Internacional de Cultura Portuguesa;

    A Academia Nacional de Belas Artes;

    A Academia Portuguesa de Histria.

    A competncia relativa definio das orientaes das entidades do

    sector empresarial do Estado com atribuies nos domnios da cultura, bem

    como ao acompanhamento da respectiva execuo, exercida pelo membro

    do Governo responsvel pela rea da Cultura, sem prejuzo dos poderes

    conferidos por lei ao Conselho de Ministros e ao membro do Governo

    responsvel pela rea das Finanas.Quanto s fundaes a nova lei do Ministrio da Cultura diz-nos que:

    16

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    O MC pode ser fundador em Fundaes que prossigam fins

    culturais.

    O MC exerce a tutela sobre as Fundaes das quais fundador,

    nos termos definidos nos respectivos estatutos.

    As orientaes gerais definidas relativas, quer reorganizao dos

    servios centrais do Ministrio da Cultura para o exerccio de funes de apoio

    governao, de gesto de recursos, de natureza consultiva e coordenao

    interministerial e de natureza operacional, quer reorganizao dos servios

    desconcentrados de nvel regional, sub-regional e local e descentralizao de

    funes, determinam, desde logo, a introduo de um modelo organizacional

    que tem por base a racionalizao de estruturas, o reforo e

    homogeneizao das funes estratgicas de suporte governao e a

    aproximao da Administrao Central aos cidados.

    Captulo 5 -Financiamento e distribuio de verbas pelo Ministrio da

    Cultura

    17

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    O investimento na rea cultural tem vindo a diminuir percentualmente, a

    partir do ano de 2002 (com a excepo do ano de 2005), quando foi atingido o

    valor mximo de 0,7% das verbas totais do oramento destinadas ao Ministrio

    da Cultura. No ano da sua criao verificamos que valor do oramento para

    este Ministrio, representou 0,5% do total do oramento, uma percentagem

    superior do que no ano de 2009, em que o oramento dado representou

    apenas 0,3, apesar de as verbas serem mais elevadas que em 2005.

    Estes dados podem ser entendidos de duas formas, este

    desinvestimento representa um abandono das polticas de investimento cultural

    ou uma consequncia dos problemas econmicos crnicos de Portugal que

    leva a uma mudana na poltica do investimento global, substituindo o

    investimento no sector cultural por um investimento no sector social

    econmico.

    Ao observar os dados referentes ao oramento do Ministrio da Cultura

    por domnio, verificamos que a maior fatia de verbas destinada

    Patrimnio. No entanto se formos a analisar os dados acerca da execuo do

    oramento, podemos verificar que uma parte considervel dessas verbas no

    chega a ser executado, principalmente no domnio do Patrimnio.

    De 2000 a 2006, verificamos que a execuo fica sempre abaixo do

    oramento, sendo os dois anos seguintes uma excepo pois ultrapassado o

    oramento destinado a este domnio.

    18

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    Podemos verificar tambm que o oramento total nunca executado na

    sua totalidade at ao ano de 2008, ano em que o montante executado

    superior ao oramentado.

    19

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    Ao analisarmos a distribuio do financiamento do Ministrio da Cultura

    por regio ao longo do perodo de tempo entre 2005 e 2008, podemos verificar

    que ela no feita de uma forma equitativa entre as regies e difere tambm

    de ano para ano. Sendo assim, Lisboa aparece-nos como a regio do pas que

    aufere a maior fatia do financiamento do Ministrio da Cultura, aparecendo a

    regio Norte como a segunda maior beneficiria. Podemos ver que a regio de

    Lisboa tem beneficiado de um aumento regular de financiamento enquanto as

    outras regies tm sofrido com grandes variaes dos valores atribudos de

    ano para ano. A Madeira aparece como a regio com menor financiamento,

    auferindo no total de quatro anos uma verba de 30.000 em contraste com a

    regio de Lisboa, que num s ano recebeu de financiamento 55.423.681.

    20

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    Parte II Patrimnio Imvel

    Capitulo 1 Desenvolvimento do conceito de Patrimnio ao longo

    dos tempos.

    O patrimnio cultural de um povo compreende as obras dos seus

    artistas, arquitectos, msicos, escritores e sbios, assim como as criaes

    annimas emergidas da alma popular e o conjunto de valores que do sentido

    vida. Ou seja, as obras materiais e no materiais que expressam a

    criatividade desse povo: a lngua, os ritos, as crenas, os lugares

    monumentos histricos, a cultura, as obras de arte e os arquivos e bibliotecas.9

    O conceito de patrimnio designa um bem destinado ao usufruto de

    uma comunidade, constitudo pela acumulao contnua de uma diversidade de

    objectos que se congregam atravs de um passado comum.

    Numa sociedade evolutiva, constantemente em mudana a noo de

    patrimnio remete-nos para um bem, uma tradio ou um costume, muitas

    vezes pertencente ao passado e j extinto.A institucionalizao do patrimnio nasce no final do sculo XVIII, com a

    viso moderna de histria e de cidade. na poca das Luzes que o patrimnio

    histrico, constitudo pelas antiguidades, tem uma renovao iconogrfica e

    conceitual.

    A ideia de um patrimnio comum a um grupo social, caracterizador da

    sua identidade e enquanto tal, merecedor de proteco perfaz-se atravs de

    prticas que ampliaram o acesso a esse mesmo patrimnio a indivduos quenada mais conheciam do que o patrimnio relacionado com a cultura popular.

    O conceito de patrimnio cultural, tal como definido na lei de bases do

    patrimnio cultural portugus (Lei n. 107/01 de 8 de Setembro), um conceito

    amplo e integrador, que abrange tanto os bens materiais de interesse cultural

    relevante, mveis e imveis, como os bens imateriais, como o caso da lngua

    99 Declarao do Mxico, Mxico, 1982 - Conferncia Mundial sobre as Polticas Culturais,

    ICOMOS - Conselho Internacional de Monumentos e Stios.

    21

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    portuguesa. Dentro do conceito amplo de patrimnio cultural podemos ainda

    isolar noes de mbito mais especfico, como sejam: patrimnio arqueolgico,

    patrimnio arquitectnico, patrimnio construdo, patrimnio etnogrfico, entre

    outras.

    Seco 1 - O conceito de Patrimnio Imvel.

    O conceito de Patrimnio Imvel, em Portugal, definido na lei 107/01

    especificando a sua abrangncia em trs diferentes categorias. Esta

    diferenciao surge na implementao da nova lei redigida em 2001

    inspirando-se nas convenes internacionais elaboradas at ento. At ento o

    conceito de Patrimnio Imvel no era to especfico possibilitando diferentes

    interpretaes do termo.

    Esta nova lei vem tambm definir quais as entidades responsveis pela

    classificao, inventariao e conservao - tema que ser desenvolvido mais

    frente.

    Na Lei 107/01, patrimnio imvel surge subdividido nas categorias de

    monumento, conjunto e stio. Esta definio tem como base a Conveno para

    a proteco mundial, cultural e natural que define monumentos, conjuntos e

    stios da seguinte forma:

    Monumentos: obras de arquitectura, composies importantes ou

    criaes mais modestas, notveis pelo seu interesse histrico, arqueolgico,

    artstico, cientfico, tcnico ou social, incluindo as instalaes ou elementos

    decorativos que fazem parte integrante destas obras, bem como as obras de

    escultura ou de pintura monumental;

    Conjuntos: agrupamentos arquitectnicos urbanos ou rurais de suficiente

    coeso, de modo a poderem ser delimitados geograficamente, e notveis,

    simultaneamente, pela sua unidade ou integrao na paisagem e pelo seu

    interesse histrico, arqueolgico, artstico, cientfico ou social;

    Stios: obras do homem ou obras conjuntas do homem e da natureza,espaos suficientemente caractersticos e homogneos, de maneira a poderem

    22

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    ser delimitados geograficamente, notveis pelo seu interesse histrico,

    arqueolgico, artstico, cientfico ou social.10

    101 Conveno para a proteco mundial, cultural e natural, artigo 1,1972.

    23

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    Parte III - Politicas aplicadas ao Patrimnio Imvel.

    Capitulo 1 Evoluo da legislao aplicada ao Patrimnio Imvel

    aps o 25 de Abril

    Como consequncia da Revoluo de 25 de Abril de 1974 deram-se

    vrias alteraes no sector da Cultura: passa a ter direito a Secretaria de

    Estado, desde os governos provisrios, e posteriormente, a Ministrio. Tal

    como a Cultural, o sector do Patrimnio passou tambm por um processo de

    desenvolvimento, especialmente a partir da dcada de 70, quando se procurou

    actualizar a legislao nacional bem como os procedimentos e as metodologiasa utilizar na conservao e salvaguarda do patrimnio cultural, imagem das

    Cartas e Convenes Internacionais que a partir da Carta de Atenas de 1931,

    em especial no ltimo quartel do sculo, se vo difundindo atravs dos

    organismos internacionais vocacionado para a salvaguarda e a proteco do

    patrimnio cultural UNESCO, Conselho da Europa, ICOMOS, ICCROM.

    Desta forma, paralelamente ao aparecimento de novas instituies

    pblicas directamente vocacionadas para a gesto do patrimnio cultural,

    publicada a primeira Lei de Bases do Patrimnio Cultural, em 198511.

    Esta nova lei acolheu em si as contribuies das Convenes e Cartas

    internacionais acerca do patrimnio, destacando-se a Conveno de Granada,

    desta forma tornou-se um instrumento legal, actualizado e adequado, no

    entanto, o adiamento da sua regulamentao, que nunca chegou a ser feito,

    limitou o seu alcance e a sua eficcia. Em 2001 esta lei foi substituda pela Lei

    de Bases do Patrimnio Cultural.12

    Seco 1 - A evoluo do enquadramento administrativo

    111 Lei n. 13/85 de 6 de Julho.

    121 Lei n. 107/01 de 8 de Setembro.

    24

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    O enquadramento administrativo tambm sofreu uma evoluo

    significativa nas ltimas dcadas, no mbito das estruturas do Estado. Entre a

    Revoluo e a criao do Instituto Portugus do Patrimnio Cultural, em 1980,

    as habilitaes de gesto e salvaguarda do patrimnio edificado e arqueolgico

    que estavam inseridas na Direco Geral dos Assuntos Culturais, vo passar

    para a Direco Geral do Patrimnio Cultural introduzida na Secretaria de

    Estado da Cultura. Por outro lado, no que toca s competncias de carcter

    consultivo atribudas 2 seco da Junta Nacional de Educao, vo ser, a

    partir de 1978, executadas pela Comisso Organizadora do Instituto de

    Salvaguarda do Patrimnio Cultural e Natural13.

    S com a criao do Instituto Portugus do Patrimnio Cultural que se

    vai verificar uma estabilizao da situao de enquadramento institucional da

    gesto do patrimnio que, com algumas alteraes e adaptaes se ir manter

    ate sua transformao para IPPAR.

    A inteno de criao de um Instituto independente com

    responsabilidades na rea do patrimnio cultural vem j desde o I Governo

    Constitucional, altura em que foi criada a Comisso Organizadora do Instituto

    de Salvaguarda do Patrimnio Cultural e Natural. S em 1980 com o IV

    Governo Constitucional no poder, criado o IPPC (Instituto Portugus do

    Patrimnio Cultural), atravs do Decreto-Lei n. 59/80, integrando a Secretaria

    de Estado da Cultura. A Lei Orgnica do IPPC publicada nesse mesmo ano,

    atravs de Decreto Regulamentar n. 34/80, atribuindo a este instituto

    competncias muito alargadas na rea da gesto do patrimnio cultural

    edificado, artstico, arqueolgico, etnogrfico. Com o intuito de formar um

    organismo que se pronunciasse sobre assuntos de politica cultural e de

    aprovao dos planos anuais do IPPC e do conselho consultivo, foi criado oConselho Nacional do Patrimnio Cultural, presidido pelo Secretario de Estado

    da Cultura. O IPPC caracterizado desde o seu inicio por uma forte

    centralizao, concentrando-se em Lisboa praticamente a totalidade dos

    servios e possuindo competncias extremamente alargadas, controlando a

    gesto dos vrios tipos de patrimnio cultural, vai sofrer sucessivas alteraes,

    contidas em novas leis orgnicas, combatendo no sentido da desconcentrao

    131 Decreto-Lei n. 1/78 de 7 de Janeiro.

    25

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    geogrfica dos servios e concentrando apenas competncias na salvaguarda

    do patrimnio edificado.

    Atravs de uma nova Lei Orgnica de 199014 que cria quatro direces

    regionais Porto, Coimbra, vora e Faro atribui tambm ao IPPC as

    competncias na execuo de projectos e obras nos imveis classificados,

    criando para o efeito o departamento de projectos e obras controlado pelo

    IPPC. Esta lei tambm extingue o Concelho Nacional do Patrimnio Cultural,

    cria o Instituto Portugus do Livro e da Leitura15 e o Instituto Portugus de

    Arquivos16, retirando assim as competncias na rea das bibliotecas e dos

    arquivos ao IPPC.

    Em 1991 criado o Instituto Portugus de Museus atravs do Decreto-

    Lei n. 278/91, vendo o IPPC as suas competncias diminudas em 1992 para

    a gesto, salvaguarda e valorizao do patrimnio arquitectnico e

    arqueolgico, sendo ento criado o IPPAR Instituto Portugus do Patrimnio

    Arquitectnico e Arqueolgico17, simplificando a estrutura dos servios centrais

    e criando a Direco Regional com sede em Lisboa.

    O novo Instituto concentrava as suas competncias na gesto,

    salvaguarda, conservao, valorizao e divulgao do patrimnio

    arquitectnico e arqueolgico, incluindo a classificao de monumentos e a

    gesto dos imveis afectos ao Instituto e propriedade do Estado.

    Uma nova alterao legislativa em 1996 divide as competncias

    anteriormente atribudas ao IPPAR, formando dois novos Institutos Instituto

    Portugus do Patrimnio Arquitectnico com competncias na rea do

    141 Decreto-Lei n. 216/90 de 3 de Junho.

    151 Decreto-Lei n. 71/87 de 11 de Fevereiro.

    161 Decreto-Lei n. 152/88 de 29 de Abril.

    171 Decreto-Lei n. 106-F/92 de 1 de Junho Lei orgnica do IPPAR. Pelo Decreto-Lei n. 316/94 de 24 de

    Dezembro foram introduzidas pequenas alteraes na primeira lei orgnica.

    26

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    patrimnio edificado classificado; e o Instituto Portugus de Arqueologia que

    tutela a investigao e o Patrimnio Arqueolgico.

    Em seguimento do Decreto-Lei n. 96/2007 surge o Instituto de Gesto

    do Patrimnio Arquitectnico e Arqueolgico, I. P., que resultou da fuso do

    Instituto Portugus do Patrimnio Arquitectnico e do Instituto Portugus de

    Arqueologia, incorporando ainda parte das atribuies da extinta Direco

    Geral dos Edifcios e Monumentos Nacionais, anteriormente sob a tutela do

    Ministrio do Ambiente, Ordenamento do Territrio e Desenvolvimento

    Regional.

    o IGESPAR, I. P., tem por misso a gesto, a salvaguarda,

    conservao e a valorizao dos bens que, pelo seu interesse histrico,

    artstico, paisagstico, cientfico, social e tcnico, integrem o patrimnio cultural

    arquitectnico e arqueolgico classificado do Pas. Na prossecuo das

    atribuies que lhe esto cometidas o IGESPAR, I. P., dotado de autonomia

    cientfica e tcnica.

    Captulo 2 A Classificao do Patrimnio Imvel

    Seco 1 - Princpios seguidos durante os anos 70 e 80

    Somente na segunda metade da dcada de 70 conseguimos observar

    mudanas substanciais na prtica de classificao desempenhada durante a

    primeira metade do sculo e que se revelam, de uma primeira forma, no

    incremento significativo do nmero de imveis alvo de classificao, de outra

    forma, no aumento exponencial da classificao de imveis particulares,especialmente casas solarengas e capelas, por ltimo na variao dos critrios

    que regulam a classificao. Estas alteraes expressa-se em diversas formas

    e vo dar sequncia a um certo desenvolvimento legislativo anterior e s

    advertncias das convenes internacionais realizadas at ento18 e que se

    mostra nos seguintes pontos:

    181 Carta de Veneza de 1964; Carta Europeia do Patrimnio Arquitectnico de 1975; Carta de Florena de

    1981 acerca dos jardins histricos.

    27

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    Proteco de conjuntos urbanos, designadamente atravs da

    classificao de centro histricos, ruas e reas urbanas possuidoras de valor

    patrimonial, bem como pela definio de Zonas Especiais de Proteco ZEP

    circunscrevendo um conjunto de imveis classificados num determinado

    centro urbano.

    Concepo dos imveis a classificar como um grupo indissocivel

    agregado de zona edificada, jardins, zona agrcola, florestal, cercas, muros,

    caminhos, entre outros possveis, como elementos fulcrais para a

    sobrevivncia e percepo do conjunto classificado como um todo.

    A introduo da noo de stio arqueolgico, em ambiente urbano.

    A prestao de ateno aos estilos arquitectnicos mais recentes,

    como o caso de exemplares da arquitectura do sculo XIX, entre outros.

    Grfico1 - Imveis classificados no Norte de Portugal, entre 1970 e 1990.

    28

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    Assim como existiu uma evoluo no termo patrimnio, o conceito de

    patrimnio imvel evoluiu tambm. A classificao de imveis no norte de

    Portugal mostra-nos essa evoluo pois os bens classificados passaram a

    abranger no s os monumentos de grande dimenso e importncia mas

    tambm os bens patrimoniais com um interesse mais local, como o caso dos

    pelourinhos e cruzeiros.

    Seco 2 - Princpios seguidos nos anos 90

    O enquadramento legislativo de proteco ao patrimnio edificado foi

    alvo de significativas alteraes com a dcada de 80, numa primeira fase com

    a criao do Instituto Portugus do Patrimnio Cultural (IPPC), em 1979 e, em

    1985 numa segunda fase, com a publicao da Lei de Bases do Patrimnio

    Cultural (Lei 13/85), que promoveu uma actualizao legislativa nacional,

    acolhendo no seu articulado, designadamente, as propostas da, altura

    recente, Conveno de Granada.

    A nova lei, embora nunca tenha sido alvo de regulamentao, promoveu

    o crescimento, no domnio do IPPC/IPPAR, de um tecido tcnico especializado

    e actualizado pelas metodologias expressas nas vrias cartas e convenes

    internacionais; e o desenvolvimento de uma opinio pblica mais desperta para

    questes da proteco do Patrimnio, reflectem-se no geral da actuao da

    Administrao Pblica na proteco do patrimnio e, como bvio numa maior

    diversificao das tipologias e caracterizaes dos imveis a proteger, por

    consequncia a classificar:

    A ateno dada paisagem construda que vai passar deelemento de enquadramento a objecto fulcral de proteco.

    A valorizao da noo de autenticidade, que se vai reflectir no

    s na anlise dos imveis a classificar, mas tambm no planeamento das

    intervenes de salvaguarda.

    O surgimento das primeiras classificaes de patrimnio

    vernacular, associada s preocupaes de proteco do patrimnio

    etnogrfico, presentes na lei desde os anos 70.

    29

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    A evoluo urbana, e as reas que estavam destinadas a

    actividades industriais, com o decorrer do tempo, sofreram alteraes que

    colocam o problema da preservao do Patrimnio Industrial, que se encontra

    muitas vezes em mau estado de conservao. Aqui encontramos dois tipos de

    valores patrimoniais: a arquitectura industrial e os edifcios modernistas que

    passam a ganhar mais ateno por parte dos rgo que procedem

    classificao.

    Os estudos cientficos e o reconhecimento pblico das

    arquitecturas do sculo XX levaram a que se procedesse classificao de

    edifcios e conjuntos exemplares de diversos momentos da arquitectura

    contempornea.

    Seco 3 - A situao actual da classificao e inventariao do

    patrimnio edificado

    Historicamente o procedimento de classificao, se o formos a analisar,

    no passa pela seleco do imvel a classificar baseado num inventrio

    generalizado de valores culturais. excepo do decreto de 1910, resultante

    de um levantamento nacional de valores patrimoniais. Desta forma, o impulso

    que conduz classificao de um bem , geralmente de carcter pontual, quer

    seja de origem local, ou do prprio organismo que realiza a classificao. Desta

    forma, verifica-se que as razes que levam ao incio de um procedimento de

    classificao so as seguintes:

    Proposta do proprietrio, que geralmente resulta da vontade deproteger o bem de agresses exteriores, designadamente pela existncia de

    uma rea de proteco. Outra das motivaes, so os benefcios fiscais

    previstos na Lei e o acesso a programas de financiamento, nomeadamente na

    rea turstica, onde apoiam preferencialmente os imveis classificados.

    30

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    Grfico 2 Imveis em vias de classificao no Norte de Portugal.

    Propostas de associaes de defesa do patrimnio, geralmente

    em situaes limite de destruio iminente do bem que se pretende classificar.

    Proposta de autarquias locais, geralmente em seguimento de

    levantamentos do patrimnio concelhio.

    Iniciativa dos servios do Estado responsveis pelo procedimento

    de classificao. Geralmente em situaes pontuais e associadas a momentos

    de crise, do bem ou da sua envolvente. Pode ainda surgir esta iniciativa em

    consequncia de aces de inventrio limitadas, de carcter geralmente

    especfico e nem sempre com carcter formal.

    Na Lei 107/2001 que regula as bases da poltica e do regime de

    proteco e valorizao do patrimnio cultural est expresso no seu artigo 16.

    que alm da proteco do patrimnio atravs da sua classificao, os bens

    culturais podero desfrutar de proteco atravs do registo patrimonial de

    inventrio. O que se verifica concretamente que no existe actualmente

    qualquer inventrio nacional, sistemtico e uniforme dos bens patrimoniais. Oque existe uma multiplicidade de inventrios e levantamentos de patrimnio,

    31

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    realizados por uma panplia de entidades e com objectivos e critrios mltiplos

    Inventrio do patrimnio classificado pelo IPPAS, Inventrio do patrimnio

    arquitectnico da DGMN, Levantamentos de carcter acadmico e cientfico,

    iniciativas de Associaes de Defesa do Patrimnio, etc.

    Esta informao, que se encontra demasiado dispersa e por isso de

    difcil utilizao, poder ser ordenada se se estabelecer o carcter do registo

    patrimonial de inventrio.

    O IPPAR centrou a sua aco, mediante o previsto na Lei,

    valorizao e salvaguarda dos bens culturais j classificados ou em vias de

    classificao, descorando o desenvolvimento de uma interveno sistemtica

    na rea do inventrio. Foram embora, desenvolvidas aces de inventrio

    especficas.

    Devido sua qualidade de entidade responsvel pela salvaguarda e

    valorizao do patrimnio edificado, no que toca ao trabalho de inventrio que

    o IPPAR/IGESPAR vem a desenvolver, ele centra-se em imveis, conjuntos e

    stios de carcter excepcional com uma proteco de carcter nacional, e no

    assenta numa recolha de informao compatvel com um levantamento

    sistemtico, o que o torna superficial em relao a todos os va

    patrimoniais.

    nesse sentido que o IPPAR comeou a desenvolver um sistema

    informtico designado Sistema de Integrao de Gesto do Patrimnio Imvel

    que, com base no inventrio do patrimnio classificado pretende tornar possvel

    a sua gesto integrada, quer nos aspectos de interveno, conservao e

    valorizao dos imveis, quer no que toca a salvaguarda desses imveis e das

    suas reas de proteco, ou ainda na gesto de toda a informao documental

    referente aos imveis classificados.Com este sistema informtico, pretende-se ainda que na sua valncia de

    inventrio, possa servir como modelo de apoio ao desenvolvimento de aces

    de levantamento patrimonial que possam ser desenvolvidas por outras

    entidades, nomeadamente pelas autarquias locais.

    32

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    Grfico 3 Bens imveis culturais por localizao geogrfica e por tipo (fonte INE)

    Em seguimento das competncias atribudas aos municpios, pelas novas Leis

    do Patrimnio Cultural e das Autarquias Locais, dando-lhes a capacidade d

    classificao de Imveis de Interesse Municipal, parece uma boa soluo localizar nos

    Municpios a base do inventrio patrimonial sistemtico. O que evidente que

    caber ao IPPAR, hoje IGESPAR, o desenvolvimento de aces de coordenao, no

    sentido de permitir alguma adequao de critrios.

    Capitulo 3 Cartas, convenes e organismos internacionais e a

    sua aplicao em Portugal.

    Ao longo deste sculo, os conceitos e as doutrinas acerca do patrimnio

    cultural tm atravessado uma fase de grande evoluo mas nunca

    permanecendo imutvel para o futuro. A nossa prpria percepo do

    patrimnio evoluiu devido rapidez das transformaes urbanas, onde se

    desenrola um crescimento a um ritmo sem paralelo na histria e as profundas

    alteraes da paisagem rural so disso consequncia. Isto leva o homem a

    reagir e a travar uma luta vital de procura de um novo equilbrio com o meio

    envolvente, natural e construdo.

    Em Portugal, tambm tem existido uma grande evoluo nesta rea,

    principalmente na ltima dcada, existindo um crescente interesse pela

    33

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    34/56

    identificao, preservao e divulgao do nosso patrimnio arquitectnico.

    Esta preocupao que inicialmente se cingia preservao dos monumentos

    de maior significado histrico, alargou-se aos centros histricos devido sua

    importncia como um conjunto de imveis interdependentes. Hoje existe

    tambm uma preocupao ambiental e ecolgica devido viso globalizante

    dos problemas, pois a m gesto desta problemtica pode levar a alteraes

    urbansticas e paisagsticas das nossas paisagens e cidades.

    Seco 1 - Os organismos Internacionais e a sua importncia

    Em 1945, a ONU (Organizao das Naes Unidas) criou uma

    instituio multidisciplinar com uma vertente cultural e educacional muito

    importante. A essa instituio deu-se o nome de UNESCO (Organizao das

    Naes Unidas para a Educao, Cincias e Cultura).

    A UNESCO tem por misso contribuir para a manuteno da paz e da

    segurana ao estreitar, pela educao, pela cincia e pela cultura, a

    colaborao entre as naes, a fim de assegurar o respeito universal pela

    justia, pela lei, pelos Direitos do Homem e pelas liberdades fundamentais.19

    A UNESCO recebe a contribuio de ONGs sendo a de maior

    importncia na rea do patrimnio imvel o ICOMOS (Internacional Council of

    Monuments and Sites). Esta organizao foi criada em 1965 e agrupa pessoas

    e instituies que trabalham no mbito da conservao de monumentos,

    conjuntos e stios histricos, tendo como principais objectivos promover a

    conservao, a proteco, a utilizao e a valorizao dos monumentos,

    conjuntos e stios. Portugal possui um Comit Nacional do ICOMOS.

    O ICOMOS tem desempenhado um papel importante junto da UNESCO

    tendo dado um importante contributo terico como perceptvel nas Cartas e

    Recomendaes por si redigidas, como o caso de:

    Recomendao sobre o Turismo Cultural, (1976);

    191 LOPES, Flvio Cartas e Convenes Internacionais: Patrimnio Arquitectnico e Arqueolgico.

    Lisboa: IPPAR,1996.

    34

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    Carta sobre a Salvaguarda dos Jardins Histricos, ou Carta de

    Florena, (1981);

    Carta Internacional para a Salvaguarda das Cidades Histricas,

    (1987);

    Carta Internacional para a Gesto do Patrimnio Arqueolgico,

    (1990).

    Voltando UNESCO devemos tambm referir algumas Convenes e

    Recomendaes que tiveram grande importncia no mbito da proteco do

    patrimnio arquitectnico:

    Conveno sobre a Proteco do Bens Culturais em caso de

    Conflito Armado, (adoptada em 1954);

    Conveno para a Proteco do Patrimnio Mundial Cultural e

    Natural, (1972);

    Recomendao Relativa Salvaguarda dos Conjuntos Histricos

    e a sua Funo na Vida Contempornea, (1976).

    Outra organizao com grande importncia no que toca ao Patrimnio

    Imvel o Conselho da Europa, fundada por dez pases europeus, em 1949,

    os seus propsitos so a defesa dos direitos humanos, o desenvolvimento

    democrtico e a estabilidade poltico-social na Europa. Tem personalidade

    jurdica reconhecida pelo direito internacional e serve cerca de 800 milhes de

    pessoas em 47 Estados, incluindo os 27 que formam a Unio Europeia.

    Portugal associa-se como membro desta organizao em 1994, quando o

    Conselho da Europa j contava com 42 pases membros.O Conselho da Europa originou, a partir dos anos setenta, novos

    princpios e filosofias de abordagem do patrimnio, defendendo uma viso mais

    alargada, pois, no se limita aos grandes monumentos histricos, englobando

    todas as componentes do ambiente humanizado e edificado (centro histricos,

    conjuntos rurais, patrimnio de interesse tcnico e industrial e arquitectura dos

    sculos XIX e XX).

    Uma srie de documentos fundamentais foram produzidos por esteconselho, ajudando a definir a actual viso europeia, e por consequncia

    35

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    portuguesa, sobre a salvaguarda do patrimnio arquitectnico e arqueolgico,

    como so exemplo:

    Conveno para a Proteco do Patrimnio Arqueolgico, (1969 e

    1992);

    Carta Europeia do Patrimnio Arquitectnico, (1975);

    Apelo sobre a Arquitectura Rural e o Ordenamento do Territrio,

    (1976);

    Resoluo 813, relativa arquitectura contempornea, (1983);

    Conveno para a Salvaguarda do Patrimnio Arquitectnico da

    Europa, (1985).

    O mais importante de todos os documentos fundamentais criados foi a

    Conveno de Paris, assinada a 19 de Dezembro de 1954, pois est na origem

    de todos os posteriores estudos, reflexes e recomendaes desenvolvidas no

    seio do Conselho da Europa. Em Portugal, a aplicao da Conveno de Paris,

    produziu efeitos a partir de Setembro de 1980, tornando-se visvel na nossa Lei

    n. 13/85.

    Seco 2 - O alargamento do conceito de Patrimnio Imvel

    O conceito de patrimnio arquitectnico era muito reduzido at dcada

    de setenta, pois, at a era entendido como monumento isolado e a sua

    proteco era seguida por princpios que se resumiam a este pensamento.O crescimento acelerado das cidades e o visvel fracasso das grandes

    intervenes urbansticas despontou uma necessidade premente de exigncia

    e uma nova esperana na procura de uma melhor organizao urbanstica,

    procurando agora uma forma para revitalizar os centros urbanos antigos, com a

    reutilizao do patrimnio edificado existente e a manuteno do carcter

    social dos bairros histricos.

    Foram duas as referncias nesta matria, a Recomendao para aSalvaguarda dos Conjuntos Histricos e a sua Funo na Vid

    36

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    Contempornea, aprovada na 19 reunio da UNESCO em 1976, e a Carta

    para a Salvaguarda das Cidades Histricas, aprovada pelo ICOMOs em 1987.

    A Recomendao para a Salvaguarda dos Conjuntos Histricos e a sua

    Funo na Vida Contempornea mostra um especial interesse na clarificao

    de conceitos que at ento no tinham sido estabelecidos.

    Considera-se conjunto histrico ou tradicional, todo o grupo de

    construes e de espaos, incluindo os lugares arqueolgicos e

    paleontolgicos, que constituem uma fixao humana, quer em meio urbano,

    quer em meio rural e cuja coeso e valor so reconhecidos do ponto de vista

    arqueolgico, arquitectnico, pr-histrico, histrico, esttico ou sociocultural.20

    Nestes conjuntos, que so muito variados, podem distinguir-se em

    especial: os stios pr-histricos, as cidade histricas, os antigos bairros

    urbanos, as aldeias e os casarios, assim como os conjuntos monumentais

    homogneos, entendendo-se que estes ltimos deveriam, por regra, ser

    conservados cuidadosamente, sem alteraes.21

    Entende-se por salvaguarda, a identificao, a proteco, a

    conservao, o restauro, a reabilitao, a manuteno e a revitalizao dos

    conjuntos histricos ou tradicionais [] e do seu tecido social, econmico ou

    cultural.22

    A Carta para a Salvaguarda das Cidades Histricas, produzida onze

    anos depois declara que por vezes a situao dramtica, com perdas

    irreversveis nas cidades histricas, alterando o seu carcter cultural, social e

    202 Recomendao Sobre A Salvaguarda dos Conjuntos Histricos e da Sua Funo Na VidaContempornea, UNESCO, Qunia, 26 de Novembro de 1976.

    212 Idem, Ibidem

    222 Idem, Ibidem

    37

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    tambm econmico. Esta carta prope tambm medidas e instrumentos

    concretos de actuao, formando a figura de plano de salvaguarda.

    A salvaguarda dos conjuntos urbanos histricos deve, para ser eficaz,

    integrar-se numa poltica coerente de desenvolvimento econmico e social e

    ser tomada em considerao em todos os nveis do planeamento territorial e do

    urbanismo.23

    A evoluo do pensamento contemporneo e a conscincia que surgiu

    nas comunidades acerca da importncia da salvaguarda do seu patrimnio

    est implcita nestes textos, gerando ainda hoje choques de ideias conflitos de

    interesse e dificuldades contnuas na realizao dos conceitos estabelecidos.

    Seco 3 - A Salvaguarda do Patrimnio Cultural como uma

    responsabilidade colectiva.

    A Conveno para a Proteco do Patrimnio Mundial, Cultural e Natural

    de 1972 tem como objectivo o estabelecimento de um sistema escala

    mundial capaz e eficaz de proteco colectiva do patrimnio cultural e natural

    com valor universal excepcional.

    A criao da Lista do Patrimnio Mundial em Setembro de 1978 com a

    inscrio dos primeiros doze bens veio proporcionar aos pases e governos de

    todo o mundo, que desenvolvem esforos para incluir monumentos e stios

    nesta lista, para alm de benefcios directos (financeiros e tcnicos), prestgio e

    projeco internacional.

    Actualmente a lista possui 890 bens inscritos e encontra-se empermanente actualizao. Tornou-se numa grande estratgia de promoo dos

    stios, paisagens e bens culturais ou naturais e numa forma de salvaguarda

    desse mesmo patrimnio espalhado pelo mundo.

    Seco 4 - A Salvaguarda do Patrimnio, uma filosofia europeia.

    232 Carta Internacional sobre A Salvaguarda das Cidades Histricas, ICOMOS, Washington D.C., Outubro

    de 1987.

    38

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    A Carta Europeia do Patrimnio Arquitectnico de 1975 veio sedimentar

    no plano do consenso terico, a projeco do significado cultural do patrimnio

    monumental e do enquadramento histrico ou tradicional.

    A noo de patrimnio arquitectnico nesta carta confirmada, numa

    noo dinmica e abrangente: O patrimnio arquitectnico europeu

    constitudo, no s pelos nossos monumentos mais importantes, mas tambm

    pelos conjuntos de construes mais modestas das nossas cidades antigas e

    aldeias tradicionais inseridas nas suas envolventes naturais ou construdas

    pelo homem.24

    A Conveno para a Salvaguarda do Patrimnio Arquitectnico da

    Europa de 1985, ratificada por Portugal em 1991 ainda hoje um texto de

    grande relevncia e actualidade uma vez que marca a consagrao filosfica e

    jurdica dos aspectos fulcrais das polticas de salvaguarda e valorizao do

    patrimnio arquitectnico.

    Ao longo de todo o documento, que apesar de integrar preocupaes e

    princpios j expressos noutras convenes e recomendaes anteriores,

    atravessa uma preocupao com o objectivo de uma estreita cooperao entre

    Estados, na busca de uma poltica comum de salvaguarda e valorizao do

    patrimnio arquitectnico.

    Neste mbito, a legislao portuguesa articulou-se com o regime

    comunitrio e da UNESCO, incorporando preceitos contidos nos diferentes

    diplomas, conforme os compromissos politicamente assumidos.

    certo que com a entrada de Portugal para a Comunidade Europeia em

    1986, e com a respectiva participao como membro de pleno direito, nas

    decises da UNESCO, a legislao portuguesa reflectiu a abertura dasfronteiras, tambm a nvel das medidas de salvaguarda do patrimnio.

    Captulo 4 As competncias da administrao local relativas ao

    patrimnio imvel

    242 Carta Europeia do Patrimnio Arquitectnico, Conselho da Europa, Estrasburgo, 1975

    39

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    A classificao do patrimnio cultural deve ser entendida como o ultimo

    nvel de proteco possvel relativo ao patrimnio imvel e mvel. Segundo a

    Lei n. 107/01 a proteco legal dos bens que integram o patrimnio cultural

    assenta na classificao e inventariao (artigos 18. e 19.). A classificao

    incide sobre bens, mveis ou imveis, que possuam incontornvel valor

    cultural, cuja degradao ou subtraco que impossibilite a sua fruio cultural

    em Portugal, devido exportao indevida, apresenta-se como uma grave

    perda no que toca identidade e patrimnio culturais, devendo por isso estar

    sujeitos a medidas que garantam a sua salvaguarda.

    Podendo os bens imveis ser classificados como monumento, conjunto

    ou stio, podem tambm ser classificados relativamente ao seu interesse

    nacional, interesse regional, interesse pblico ou interesse municipal. Enquanto

    um bem classificado como de interesse nacional toma a forma de decreto do

    governo, a classificao com interesse pblico ter a forma de portaria e a

    classificao de interesse municipal tomar a forma constante da legislao

    aplicvel (cf. artigo 28. da Lei n. 107/01)25.

    Seco 1 - A definio das responsabilidades

    Na Lei de Bases, Lei n. 13/85 apontada uma grave insuficincia no

    que diz respeito clarificao das responsabilidades entre a Administrao

    Central e Local, pois era necessrio existir uma articulao entre os diferentes

    nveis de poder. O que se encontra disposto no n. 2 do artigo 7. da Lei 13/85,

    em conjugao com o artigo 26. torna possvel aos Municpios e s Regies

    Autnomas, classificar ou desclassificar patrimnio sobre a sua jurisdio. Com

    isto surgiram dvidas acerca da eficcia desta classificao sem reconhecimento do Ministrio da Cultura, analisar o valor do bem que se

    pretendia classificar ao nvel do poder local, ou seja, os designados valores

    concelhios no podiam ser classificados sem que essa classificao fosse

    assumida pelo ministrio da Cultura mesmo havendo argumentos em contrrio.

    252 MARQUES, Helena da Silva Patrimnio cultural imvel: As novas competncias dos rgos

    municipais. In. Estudos/Patrimnio, n.6, 2004.

    40

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    As responsabilidades financeiras e tcnicas, no que toca salvaguarda

    do dito imvel, no se encontravam igualmente definidas. Quem deveria

    financiar os projectos ou aces relativas salvaguarda dos imveis, foi a

    dvida que se colocou.

    Com isto natural que as cmaras municipais se resguardassem, no

    que toca ao avano de processos de classificao sem interveno do IPPC

    (Instituto Portugus do Patrimnio Cultural, actualmente IGESPAR), uma vez

    que seriam de imediato confrontadas com a necessidade de investimentos

    financeiros e tcnicos na valorizao dos imveis, que eles mesmos tinham

    classificado, ou promovido a sua classificao.

    Desta forma surgiu a necessidade de se proceder redefinio das

    regras no que toca responsabilidade, tanto do poder central como local, no

    que diz respeito classificao de bens que possuam valor concelhio, mas

    tambm sua preservao.

    Seco 2 - Mudana de competncia das Autarquias Locais no

    domnio do Patrimnio Cultural

    No Decreto-Lei n. 77/84 refere no artigo 8., o n. 2 da alnea f), quanto

    s competncias em matria de investimentos pblicos no domnio da cultura,

    referente aos municpios unicamente o patrimnio cultural, paisagstico e

    urbanstico do municpio sobre a responsabilidade dos municpios, deixando

    grandes dvidas relativas a este tema.

    No artigo 20. da Lei n. 159/99 aparece uma nova definio das

    competncias institudas no Decreto-Lei acima referido, remetendo para os

    rgos municipais as seguintes competncias:

    a) Propor a classificao de imveis, conjuntos ou stios nos termos

    legais;

    b) Proceder classificao de imveis conjuntos ou stios considerados

    de interesse municipal e assegurar a sua manuteno e recuperao;

    c) Participar, mediante a celebrao de protocolos com entidades

    pblicas, particulares ou cooperativas, na conservao e recuperao dopatrimnio e das reas classificadas;

    41

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    d) Organizar e manter actualizado um inventrio do patrimnio cultural,

    urbanstico e paisagstico existente na rea do municpio;

    Com esta mudana apenas se explicou as verdadeiras competncias

    dos municpios, podendo estes classificar e inscrever os bens culturais imveis

    nos respectivos instrumentos de gesto urbanstica e patrimonial, obrigando

    somente a uma comunicao dessas decises aos organismos centrais. O

    registo patrimonial de classificao ficar sempre a cargo dos organismos de

    Administrao Central.

    A organizao de atribuies e competncias da administrao do

    Patrimnio Cultural entre o Estado e o Poder Local estruturou-se atravs da

    nova lei de bases, seguindo princpios de cooperao interinstitucional e auxlio

    administrativo, tendo sempre em ateno a descentralizao resultante da Lei

    n. 159/99 no que toca classificao e qualificao do Patrimnio Cultural

    imvel.

    A chamada do estado, das Regies Autnomas e das Autarquias Locais

    a prosseguir na defesa e valorizao do Patrimnio Cultural pode levar a uma

    eventual sobreposio de atribuies.

    Existindo interesses pblicos referentes defesa e valorizao do

    Patrimnio Cultural no se coloca a hiptese da separao de atribuies.

    Aparece entretanto a questo de delimitao de competncias entre as

    diversas entidades pblicas, sendo resolvido este problema atravs da Lei n.

    159/99.

    Seco 3 - Zonas de proteco aos imveis classificados

    Qualquer imvel classificado pelo Ministrio da Cultura deve dispor de

    uma zona de proteco, que constituda por 50 m contados a partir dos

    limites exteriores do imvel, at ser definida uma zona especial de proteco

    (ZEP). A ZEP surge na vigncia da Lei n. 13/85, sendo para isso ouvidapreviamente a autarquia ou autarquias respectivas podendo incluir-se na zona

    42

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    non aedificandi, em todos os casos, salvo aqueles que fiquem perfeitamente

    salvaguardados com a zona de proteco tipo ou padro. Os imveis em vias

    de classificao ou propostos a classificao como interesse municipal,

    beneficiam da zona de proteco padro 50 m, pois o grau de classificao

    final pode ser superior ao proposto, atravs de um parecer do IGESPAR nesse

    sentido.

    Estas zonas de proteco para os imveis classificados ou em vias de

    classificao, s podem ser definidas atravs de parecer favorvel d

    administrao do patrimnio cultural competente, neste caso o IGESPAR,

    deixando de fora os Municpios ou outras entidades, sendo proibido

    licenciamento para obras de construo ou qualquer outro trabalho que altere a

    topografia, ou a distribuio de volumes e coberturas ou o revestimento exterior

    dos edifcios.

    Os imveis classificados como valor concelhio, actualmente interesse

    municipal, aps entrada em vigor da Lei n. 159/99, no dispe da zona de

    proteco pois esta s pode existir para a proteco de imveis classificados

    como monumentos nacionais ou imveis de interesse pblico.

    Seco 4 - A tutela dos imveis classificados

    A tutela dos imveis classificados varia consoante o nvel d

    classificao atribudo ao imvel. Atravs da Lei n. 13/85 conclui-se que a

    Administrao Central, ao recusar a classificao de um imvel com

    Monumento Nacional ou Imvel de Interesse Publico e ao aceitar

    classificao de Interesse Municipal transfere a responsabilidade pela

    preservao do imvel para as Cmaras Municipais. A entrada em vigor da Lein. 159/99 vem definir claramente esta situao ao transferir a competncia de

    classificao dos imveis, conjuntos e stios para os rgos municipais bem

    como a competncia de assegurar a sua manuteno e recuperao. Estes

    pressupostos encontram-se, agora, expressamente assumidos na nova Lei de

    Bases do Patrimnio Cultural.

    Esta responsabilidade adquirida pelos municpios faz com que estes no

    tenham a preocupao em inventariar todo o patrimnio existente na sua

    43

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    regio, pois funcionaria como uma sobrecarga aos seus oramentos j que a

    responsabilidade pela sua preservao e restauro est totalmente a seu cargo.

    Seco 5 - As garantias de proteces e as sanes aos atentados

    contra o Patrimnio Cultural

    tutela penal relativa aos crimes praticados contra os bens culturais

    aplicam-se disposies previstas no Cdigo Penal com especificidades

    constantes nos artigos 101. a 103. da Lei de Bases do Patrimnio, Lei n.

    107/01, no que se refere aos crimes de deslocamento, exportao ilcita e

    destruio de vestgios.

    Esta Lei de Bases do Patrimnio inovadora em Portugal, no que se

    refere tutela contra-ordenacional e possibilidade de aplicao de sanes

    assessorias existentes nos artigos 104. a 109..

    A instruo do procedimento por contra-ordenao est a cargo do

    servio de administrao do Patrimnio Cultural competente para o

    procedimento de classificao, tanto a nvel dos servios do Estado, hoje em

    dia IGESPAR e s Cmaras Municipais quando o imvel possui a classificao

    de Interesse Municipal. A aplicao da coima compete ao rgo dirigente do

    servio competente para a instruo do procedimento, como foi anteriormente

    explicado, sendo 60% do valor da coima para o estado e 40% para a entidade

    respectiva, exceptuando quando cobradas pelos organismos competentes dos

    governos regionais, pois desta forma o valor da coima reverte totalmente para

    a respectiva regio.

    Seco 6 - Despesas dos municpios com o Patrimnio Cultural

    Os municpios apresentam grandes despesas na rea cultural, onde

    esto englobadas as despesas relacionadas com o patrimnio cultural imvel.

    No grfico abaixo disposto, podemos observar um crescimentoconstante na rea cultural, juntamente com o desporto, representando uma

    44

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    despesa total de cerca de 802,9 milhes de Euros no ano de 2006, traduzindo

    um decrscimo de 12% face ao ano anterior.

    O pico de despesa total foi atingido em 2005, observando-se uma

    tendncia de decrscimo nessa despesa, mostrando uma preocupao com a

    diminuio do peso da rea cultural e desportiva nas despesas dos municpios.

    Grfico 4 - Dados do INE: retirado do relatrio Estatsticas da Cultura, Desporto e Recreio 2006

    O domnio dos Jogos e Desportos, continua a representar a maior fatiadas despesas municipais aparecendo as despesas com Recintos Culturais e

    Patrimnio de seguido representando respectivamente, 13% e 11%, formando

    no conjunto uma despesa total de 24%, aproximando-se assim dos 37%

    destinados aos Jogos e Desportos no ano de 2006.

    Os municpios do Alentejo e Algarve foram os que destinaram maior

    proporo do seu oramento s actividades culturais e desporto, 15,6% e

    12,5%, respectivamente. As despesas em cultura e desporto tiveram menor

    45

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    peso nos oramentos do conjunto das autarquias da Regio Autnoma da

    Madeira (6,4%) e da regio de Lisboa (7,5%).

    Grfico 5 - Dados do INE: retirado do relatrio Estatsticas da Cultura, Desporto e Recreio 2006

    Em 2008, as despesas das Cmaras Municipais com actividades

    culturais foram de cerca de 526 milhes de Euros, significando num acrscimo

    de 7,5% face ao ano anterior, mesmo assim, inferior aos anos de 2005 e 2006.

    Relativamente ao financiamento das actividades culturais por regio, os

    maiores aumentos ocorreram nas autarquias localizadas na Regio Autnoma

    da Madeira (80,3%), Alentejo (14,2%) e Lisboa (8,2%). Nas autarquias da

    46

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    Regio Autnoma dos Aores e do Algarve registaram-se, face ao ano anterior,

    decrscimos de 6,7% e 3,3%, respectivamente.

    Grfico 6 - Dados do INE: retirado do relatrio Estatsticas da Cultura 2008

    Do total das despesas em actividades culturais realizadas pelas

    Cmaras Municipais em 2008 destacam-se as afectas ao domnio d

    patrimnio cultural, representando em 2008 18% da despesa total,

    apresentando assim um aumento percentual e real de 7% face a 2006.

    47

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    Os municpios do Alentejo, Algarve, Norte e Regio Autnoma dos

    Aores foram os que destinaram maior proporo do seu oramento s

    actividades culturais 8,6%, 7,2%, 6,7% e 6,4%, respectivamente. As despesas

    em cultura tiveram menor expresso nos oramentos do conjunto da

    autarquias da Regio Autnoma da Madeira (5,7%) e da regio de Lisboa

    (5,9%).

    Capitulo 5 Mecenato Cultural e a sua importncia na salvaguarda

    do patrimnio.

    O papel do Mecenato Cultural na salvaguarda do patrimnio cultural temassumido uma maior notoriedade com o passar dos anos, criando tambm

    discrepncias na verdadeira essncia do conceito mecenato.

    Quanto ao chamado mecenato tive ocasio de na altura chamar a

    ateno que mecenato no era contribuir para aces culturais em troca de

    publicidade ou de reduo de impostos. Isso, quando muito, podia ser

    considerado patrocnio, porque mecenato dar sem recompensas.26

    Estes dois conceitos, mecenato e patrocnio, tm sido muitas vezes

    entendidas como um s at porque hoje, pelo menos em termos prticos e

    legais a distino no ser fcil.

    262 COSTA, Jos Pereira da Documentos para a Histria dos Arquivos Regional da Madeira e Nacional

    da Torre do Tombo. Funchal. 2002.

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    Seco 1 - Evoluo histrica do conceito de mecenato

    O termo mecenato ter origem em Caius Cilnius Mecenas (nascido por

    volta de 70 a.C.), figura de alta ascendncia etrusca, foi um diplomata e

    conselheiro do Imperador Augusto, sendo considerado como o maior patrono

    das letras de toda a antiguidade clssica e por isso, o termo mecenas se

    prolongou at aos nossos dias.

    O conceito de mecenas e mecenato tem-se, ao longo da histria,

    alterado quanto forma e aos seus agentes. Ao mecenato religioso e da

    nobreza, exercido por papas, imperadores ou prncipes, junta-se o mecenato

    de uma nova classe que surge no sculo XIV, a burguesia.

    A obra at ao sculo XVI associada ao seu autor, relegando o

    mecenas para um plano de menor evidncia.

    Em Inglaterra surge, em 1572, um decreto que obrigava os actores a

    possuir a proteco de um varo ou ata personalidade, dedicando a ele a sua

    obra.

    Podemos ver a importncia dos mecenas em diversas obras como o

    caso de Rape of Lucrece que Shakespeare dedica ao seu patrono. Em

    Portugal temos o caso de Lus de Cames, que na segunda impresso das

    Rimas, em 1598, evoca em verso, na Ode 3, o seu protector, D. Manuel de

    Portugal, filho do Conde de Vimioso.

    No sculo XVII surge o mercado de cpias, suportado em parte por

    particulares no abastados, dando um novo impulso s artes e contribuindo

    decisivamente para a sua emancipao.

    Com o aparecimento do liberalismo e dos Estados modernos

    republicanos, o apoio dado s actividades culturais assumido, quastotalmente pelos governos deixando o mecenato para segundo plano.

    Seco 2 - Mecenato de Empresas

    Este tipo de mecenato parece ter surgido nos Estados Unidos da

    Amrica em 1945 chagando Europa nos anos 60, mas s nos anos 70

    comea a ganhar expresso.

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    O mecenato de empresas normalmente associado qualificao

    acadmica dos gestores profissionais e s tcnicas de marketing que surgiam

    nesta altura, pois o bom gosto e a cultura deveriam participar na estratgia

    empresarial de promoo e expanso, sendo posteriormente entendido

    tambm como uma possibilidade de investimento e capitalizao.

    Inicialmente era entendido como uma mais-valia na rea da publicidade,

    acrescentando prestgio e visibilidade s empresas que praticavam mecenato.

    Hoje em dia o mecenato assenta noutros princpios, funcionando tanto

    para empresas como para particulares, como uma ferramenta para atingir

    benefcios fiscais.

    O Estado incentiva o investimento privado em concorrncia com o

    pblico, para assegurar a salvaguarda do patrimnio, nunca deixando de

    assumir o papel de principal responsvel pelo patrimnio cultural do povo que

    representa. O Estado nem sempre recebe mais do que perde, isto , a iseno

    que proporciona, nalguns domnios do mecenato, maior do que aquilo que

    teria de despender directamente.

    No caso portugus parece no se dar razo mxima que diz que a

    gesto privada mais eficiente que a pblica, primeiro, porque h um

    enquadramento do que e como deve ser feito, e segundo, porque a execuo

    da responsabilidade do Estado.

    Seco 3 - Evoluo Legislativa

    Em termos de mecenato, no existem elementos relativos a esta

    temtica anteriores a 1986, ano em que foi publicado o Decreto-Lei n. 258/86,

    de 28 de Agosto, surgindo como consequncia da Lei n. 13/85, onde se defineos princpios relativos ao Patrimnio Cultural Portugus, contemplando os

    benefcios fiscais no artigo 46. deste diploma.

    O Decreto-Lei n. 258/86 tem subjacente a ideia de []no deve

    competir exclusivamente aos poderes pblicos o apoio financeiro criao,

    aco e difuso cultural, j que, neste domnio, especial responsabilidade

    pertence a toda a comunidade por se tratar da defesa e salvaguarda de algo

    que a prpria razo de ser da existncia de Portugal como entidadeautnoma no concerto dos povos.

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    Actualmente existe uma nova lei do mecenato, aprovada pelo Decreto-

    Lei n. 74/99, mantendo no essencial, o actual regime dos donativos ao Estado

    e a outras entidades equiparadas, referidas no Cdigo do Imposto sobre o

    Rendimento das Pessoas Singulares e no Cdigo do Imposto sobre

    Rendimento das Pessoas Colectivas.

    Nos termos deste estatuto, esto abrangidas pelo regime de donativos o

    Estado, as Regies Autnomas, as Autarquias Locais e qualquer dos seus

    servios, estabelecimentos e organismos, ainda que personalizados, assim

    como as Associaes Autrquicas e Fundaes em que a Administrao

    Central, Regional e Local participe no seu capital inicial e, ainda, as Fundaes

    de iniciativa exclusivamente privada que percorram por fins de natureza

    essencialmente social ou cultural. Muitas outras entidades podem beneficiar de

    donativos sendo, as associaes de produo de actividades relativas a

    temticas culturais e de defesa do patrimnio histrico-cultural as mais

    relevantes na rea do patrimnio imvel, pois desempenham um papel

    fundamental na recuperao e salvaguarda do testemunho que esse

    patrimnio representa.

    A atribuio dos benefcios fiscais varia consoante a qualidade do

    mecenas, pessoa colectiva ou singular, e da entidade que recebe o donativo,

    entidade pblica ou privada.

    O mecenas poder retirar benefcios econmicos da sua doao mas

    no menos verdade que todos ns beneficiamos com isso. Existe tambm

    um carcter participativo nesta aco pois, cada um de ns atravs de uma

    grande empresa ou sendo simples particular podemos ajudar instituies ou

    entidades de forma a valorizar o seu trabalho.

    Desde a sua criao o instituto do mecenato cultural permitiu enriquecimento do patrimnio cultural portugus e por conseguinte do

    patrimnio imvel, proporcionando a possibilidade de restauro de monumentos

    classificados atravs do IPPAR hoje em dia IGESPAR.

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    Grfico 7 - Patrocnios de empresas e instituies ao IPPAR destinados conservao e

    restauro, exposies, aquisio de obras, publicaes, comemoraes.27

    A conscincia de quem somos s pode ser atingida atravs d

    patrimnio cultural portugus sendo importante a divulgao, recuperao e

    preservao fsica do mesmo, sendo o mecenato uma ferramenta importante

    que permite atingir alguns deste objectivos. Atravs do mecenato muitas

    empresas assumiram tambm um papel social na rea da cultura, permitindo

    que a cultura se aproxime de novos pblicos que at ento se sentiam

    afastados da sua identidade cultural.

    A associao de uma empresa ou de algum a um projecto artstico oude ordem patrimonial permite-lhe assumir papel activo no desenvolvimento

    cultural do pas. Mas ao mesmo tempo a sua imagem, personalizada atravs

    dessa colaborao (aliada obra de arte, ao monumento recuperado, ao

    espectculo apresentado), que aparece aos olhos do pblico com uma nova e

    diferente expresso.28

    Tabela 1 - O valor do mecenato no total de receitas do IGESPAR. Valor em euros.

    272 SILVA, Lus Melo e; Avelino Rosa - O Mecenato. In. Estudos/Patrimnio, n.6, 2004.

    282 Mecenato Cultural. Lisboa: Secretaria de Estado da Cultura. 1986.

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    Concluso

    No desenrolar deste trabalho foi-nos dada a possibilidade de aprofundar

    os nossos conhecimentos acerca da temtica Politicas Culturais aplicadas aoPatrimnio Imvel, tentamos desenvolver este trabalho de uma forma o mais

    lgica possvel com o objectivo de tornar perceptveis as vrias metamorfoses

    que ao longo do tempo se fizeram sentir, em vrios dos campo subjacentes

    compreenso e apreenso das especificidades do Patrimnio Imvel,

    nomeadamente o desenvolvimento da legislao que o rege, que reflecte as

    diferentes posturas adoptadas na salvaguarda e preservao dos rgos

    governativos, bem como a evoluo da classificao deste tipo de patrimnioque nos parece ainda aqum do desejado num pas to rico, como Portugal,

    em Imveis de consagrado valor para a nossa identidade como povo.

    Ao terminar este trabalho fica-nos a ideia de que ainda muito h a fazer

    no que toca ao Patrimnio Imvel, como disso exemplo, a falta de articulao

    dos diferentes nveis de poder, tornando assim, susceptvel ao

    desaparecimento de diversos bens que teriam toda a relevncia de serem

    preservados.

    Outro ponto que nos parece mal gerido diz respeito ao financiamento

    atribudo pelo Ministrio da Cultura e Poder Local ao domnio do Patrimnio,

    pensando que em muitos casos esta tipologia posta de lado, dando por

    exemplo, os apoios dados aos Jogos e Desporto pelo Poder Local que

    superior em 20% ao financiamento dado ao Patrimnio Cultural.

    Sabendo que muitas outras temticas poderiam ser abordadas,

    pensamos que os pontos tratados por ns so os que apresentam maior

    relevncia no que toca a esta temtica.

    Esperamos ter atingido os objectivos propostos no mbito deste

    trabalho.

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    Bibliografia

    NEVES, Jos Soares - Despesas dos Municpios com a Cultura [1986

    2003], Documento disponvel em www.oac.pt

    MELO, Alexandre Politica Cultural: Aco ou Omisso.Verso

    electrnica do artigo da publicao peridica do Observatrio das Actividades

    Culturais, OBS n2, Outubro de 1997, pp. 8-10.

    COSTA, Antnio Firmino da -Politicas Culturais: conceitos e

    perspectivas. Verso electrnica do artigo da publicao peridica do

    Observatrio das Actividades Culturais, OBS n2, Outubro de 1997,