trabalho sobre os maias - episódios da vida romântica

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os Maias de Eça de Queiróz

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Page 1: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

os Maias

de Eça de Queiróz

Page 2: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Índice

Introdução;

Geração de 70 e a Questão Coimbrã;

Realismo e Naturalismo;

Vida e Obra de Eça de Queiróz;

“Os Maias”: título e subtítulo;

Ação: intriga principal e secundária;

Personagens mais importantes: caracterização;

O Espaço - físico, social e psicológico;

Tempo: arquitetura do romance;

O Narrador;

A Educação;

Simbolismo;

Estilo e Linguagem;

A minha visão;

Bibliografia;

Page 3: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Introdução

“Os Maias” é, sem dúvida, uma das obras mais importantes da

literatura portuguesa. Considerada por muitos a melhor obra de Eça de

Queiróz, esta obra publicada pela primeira vez em 1888 centra-se na

história da família Maia ao longo de três gerações dando destaque

especial à última, a de Carlos da Maia. O amor incestuoso de Carlos e

Maria Eduarda corresponde, assim, ao tema principal d’“Os Maias”. À

medida que a história se desenrola nesta vertente, desenvolve-se uma

segunda linha de ação correspondente à crítica da sociedade

oitocentista Lisboeta. Quer a nível político ou cultural, a burguesia é

espicaçada das mais variadas formas na tentativa de despoletar a

reflexão e mudança de hábitos. Este trabalho visa a análise e

desenvolvimento de alguns aspetos da obra inseridos no programa da

disciplina de Português de 11º ano, sem esquecer a caracterização do

autor mencionando alguns aspectos e acontecimentos históricos da

época em que viveu.

´

Page 4: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

A Geração de 70 e a Questão

Coimbrã

Em 1865, António de Castilho,

mentor de um grupo de

ultrarromânticos teceu comentários

depreciativos em relação à poesia de

Teófilo Braga e Antero Quental.

Tanto Eça como Antero, realistas,

respondem a Castilho de forma

destruidora, desencadeando

polémicas no meio literário. Muitos

escritores envolveram-se na questão (a Questão Coimbrã) criando-se dois

grupos: os que concordavam com Castillho e os

que concordavam com os autores conimbrences.

A Geração de 70 ou Geração de Coimbra

corresponde à geração oposta ao

ultrarromantismo de Castilho ligada ao período

de Regeneração que revolucionou a cultura

portuguesa (literatura e política) com a

introdução do realismo.

António de Castilho

Antero de Quental

Page 5: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Este grupo de jovens intelectuais

da Universidade de Coimbra

defendia a intrusão da literatura

na vida social que era marcada

pela ignorância e corrupção. Este

grupo é composto por onze

portugueses que tiveram

destaque na vida social e política do século XIX como por exemplo Antero

de Quental, Teófilo Braga, Ramalho Ortigão, Oliveira Martins, Guerra

Junqueiro e Eça de Queirós. Estes reuniam-se com regularidade entre

1888 e 1894 para convivência intelectual, troca de ideias, livros e formas

de renovar a política e cultura portuguesas. Atentos às ideias e tendências

europeias, defendiam uma poesia atual e objetiva baseados nos

contributos científicos e filosóficos.

Mais tarde, já em Lisboa,

o grupo reúne-se no Casino

Lisbonense onde se realizam

as Conferências do Casino.

Nestas reuniões, Eça critica o

romantismo decadente e apoia

o realismo de Émile Zola (por exemplo) e Antero de Quental expõe os

seus ideais socialistas. Por outro lado, esta geração critica a monarquia

decadente preparando a revolução republicana de 1910.

Page 6: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Desta forma, tanto a Questão Coimbrã como as Conferências do

Casino inserem-se num processo que tem como objetivo a dissolução do

ultrarromantismo sentimental e subjetivo.

Através da eliminação da ala esquerda liberal e da criação de um

governo constituído por poucos elementos, esta geração consegui a

estabilização (apenas aparente) da vida política e social.

Apesar de tudo, a Geração de 70,

no final, desiste de uma intervenção

histórica concreta e imediata,

transformando-se no Grupo dos

Vencidos da Vida.

Em 1891, Antero suicida-se marcando esta Geração de forma trágica.

N’ “Os Maias”, Carlos e Ega são da mesma geração que a geração de 70 e

tal como esta não realizam nenhum dos projetos que propõe realizar,

sendo igualmente uns vencidos da vida.

Os Vencidos da Vida

Page 7: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Realismo e Naturalismo

O Realismo e o Naturalismo foram

as duas escolas literárias dominantes

desde o fim do século XIX até ao iníncio

do século XX. Frequentemente estas duas

concenções são confundidas devido à sua

relativa proximidade. No entanto, há

diferenças que as permitem distinguir.

Surgindo como reação contra o romantismo, o Realismo é a doutrina

filosófica e corrente estética e literária que procura retratar a realidade

com exatidão. Esta escola mostra preocupação com a estética e com

factos concretos. Intimamente ligada a momentos cronológicos tais como

descobertas científicas e revelações tecnológicas, o realista não apresenta

tanta profundidade analítica como um naturalista e, por isso, não tem

preocupação pela patologia pessoal. Este movimento artístico preocupa-

se então com a objetividade da realidade (ao invés do subjetivismo

emocional naturalista) que é analisada sem a interferência de reflexões

intelectuais.

Page 8: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Um romance realista procura pintar o retrato de uma época, descrevendo

espaços sociais minuciosa e pormenorizadamente. Isto é observável n’”Os

Maias” em que o comportamento das personagens (principalmente as

personagens tipo) é descrito para criticar a sociedade que é corrupta,

supérflua, ignorante e retrógrada.

Cronologicamente posterior ao Realismo, o Naturalismo é a conceção

filosófica caracterizada pelo determinismo e pela ideologia que o destino

das personagens é de certa forma decidido pela Natureza. Segundo Eça, o

naturalismo consiste em descrever a realidade tal como ela é, ignorando

conceitos transcendentes às ciências naturais por nós produzidos. A obra

naturalista tenta justificar os níveis emocionais da personagem com o seu

passado, educação, hereditariedade e posição socioeconómica.

Um romance naturalista é, por excelência experimental (tal como uma

ciência) e orienta a sua tese com análise social coletiva onde o humano é

guiado por forças instintivas naturais. Um naturalista identifica a

verdadeira tese com intenção científica como uma obra de arte e analisa

o que há de errado numa sociedade com rigor técnico.

Concluindo, os realistas e naturalistas têm preconceitos científicos

semelhantes, sendo a forma como interpretam os dados analisados para

fazer uma obra de arte, indubitavelmente distintas.

Page 9: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Vida e Obra de Eça de Queiróz

1845 – José Maria Eça de Queirós nasce na Póvoa do Varzim a 25 de Novembro, fruto de uma relação ilegítima entre D. Carolina Augusta Pereira de Eça e José Maria d`Almeida de Teixeira de Queiróz. D. Carolina Augusta fugiu de casa para que a sua criança nascesse afastada do escândalo da ilegitimidade. O pequeno Eça foi levado para casa de sua madrinha, em Vila do Conde, onde permaneceu até aos quatro anos.

1849 – Os seus pais casam-se, tornando o casamento legítimo o que fez com que Eça fosse levado para Aveiro, para a casa dos seus avós onde ficou a viver dez anos.

1859 – Junta-se aos seus pais no Porto onde faz os seus estudos secundários.

1861 – Já na Universidade de Coimbra, onde estuda Direito, junta-se ao famoso grupo académico da Escola de Coimbra e, juntamente com Antero Quental, torna-se um dos elementos mais proeminentes da Questão Coimbrã e da Geração de 70.

1865 – O grupo revolta-se contra o grupo de escritores de Lisboa o que viria a ser considerada como a semente do realismo em Portugal.

Póvoa do Varzim, 1845

Pais de Eça

Grupo Académico dos Vencidos da Vida

Page 10: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

1866 – Acaba o curso e fixa-se em Lisboa, em casa dos pais, no Rossio, 26, 4º andar, onde trabalha como jornalista e advogado no Supremo Tribunal da Justiça

1869 - Assiste à inauguração do Canal do Suez o que o faz viajar pela Palestina que serviu de fonte de informação para escrever “O Egito” e “A Relíquia”.

1870 – Participou ativamente nas “Conferências do Casino” onde apresentou o Realismo como nova expressão de Arte e iniciou, em conjunto com Ramalho Ortigão, escreveu o romance policial “O Mistério da Estrada de Sintra”

1871 – Ainda com Ramalho Ortigão, publica “As Farpas”, sátiras à vida social publicadas em folhetins. Entra para o Serviço Diplomático e foi Administrador do Concelho em Leiria.

1872 - É nomeado Cônsul em Cuba.

1873 – Viaja pelo Canadá, Estados Unidos e América Central.

1875 – É transferido para Inglaterra, onde começou a escrever “Os Maias”, “O Mandarim” e “A Relíquia”. Neste ano “O Crime do Padre Amaro” é publicado, marcando o início do Realismo em Portugal.

Rossio, nº26, em 2014

Canal do Suez, na altura da sua inauguração

Eça em Montreal, Canadá.

Eça em Newcastle, Inglaterra.

Page 11: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

1878 – Abandona Inglaterra e publica “O Primo Basílio”.

1886 – Casa com D. Maria Emília de Castro, apesar da diferença de idades de 11 anos que os separava. Acabam por ter dois filhos.

1888 – É nomeado cônsul de Portugal em Paris. Neste ano também publica “Os Maias” e “A Ilustre Casa de Ramires”. Dirige a "Revista de Portugal”.

1900 – Morre em Paris, a 16 de Agosto. Em Setembro, o corpo é transferido para Portugal.

Emília de Castro

Eça e o filho

Eça e a filha.

Eça em Paris.

Casa de Neuilly, Paris em 1897 Cortejo fúnebre ao autor em Lisboa.

Page 12: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

“Os Maias”: título e subtítulo

A obra “Os Maias” recebe este título porque acompanha três

gerações da família Maia correspondentes a momentos histórico-políticos

e culturais diferentes:

1º Geração, a de Afonso da Maia, marcada pela reação contra o

absolutismo e a defesa dos valores antigos.

2º Geração, a de Pedro da Maia, marcada pela instauração do Liberalismo

e pelo ultrarromantismo.

3º Geração, a de Carlos da Maia, marcada pela queda dos ideais liberais.

1º Geração

2º Geração

3º Geração

Page 13: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

O título refere-se às intriga principal e secundária e acompanha a

história de vida e peripécias dos três elementos masculinos da família

Maia antes referidos.

O subtítulo “Episódios da Vida Romântica” indica a intenção de

descrever o estilo de vida romântico através de episódios que se

relacionam de alguma maneira com as personagens principais. O

subtítulo é justificado pois o narrador oferece-nos vários casos, cenas ou

atitudes, consideradas típicas dos Romantismos de 1875/1876 e de

Portugal caracterizado pelo desânimo da geração de setenta.

Page 14: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Ação: intriga principal e

secundária

A ação n’”Os Maias” desenvolve-se em dois níveis distintos: o da

intriga (correspondente ao título), história vivida pelas personagens e o

da crónica de costumes (que justifica a existência do subtítulo), a crítica

da vida social.

A intriga, identificada como uma ação fechada (pressupõe

desenlace), pode ser divida em intriga principal e intriga secundária.

A intriga principal é organizada em torno do amor incestuoso do

protagonista Carlos e Maria Eduarda que acaba com a separação da

família e morte de Afonso, o desfecho trágico. Resume-se da seguinte

forma:

1. Carlos vê Maria Eduarda

2. Carlos visita Rosa

3. Carlos conhece Maria Eduarda

4. Carlos e Maria Eduarda envolvem-se e consuma-se o incesto

(embora inconsciente)

5. Guimarães conta revelações a Ega

6. Ega conta as revelações a Carlos que por sua vez conta a Afonso

7. Consuma-se o incesto conscientemente

Page 15: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

8. Carlos encontra-se com Afonso

9. Afonso morre

10. Carlos conta revelações a Maria Eduarda

11. Maria Eduarda parte

Na intriga secundária, predecessora da principal, é narrada a história de

Afonso da Maia, a história de Pedro da Maia e Maria Monforte e a

infância e juventude de Carlos. Esta pode ser resumida da seguinte forma:

1. Pedro vê Maria Monforte

2. Pedro namora Maria Monforte

3. Pedro casa com Maria Monforte

4. Maria Monforte abandona Pedro e leva a filha

5. Pedro suicida-se

Como sugerido pelo subtítulo, em alternância com esta história

desenrola-se um conjunto de episódios chamado “Crónica de Costumes”.

A crónica de costumes são episódios de representação social em que nos

é dada uma visão dos costumes quotidianos da sociedade lisboeta no

final do século XIX. É numa Lisboa monótona, amolecida e de clima rico,

que Eça vai fazer a crítica social, em que domina a ironia, corporizada em

representantes de ideias, mentalidades, costumes, políticas, conceções

do mundo, etc.

Page 16: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Estes episódios servem de pano de fundo para a intriga principal por

isso a relação com esta é evidente e são muitos os momentos que o

comprovam:

Os Maias Episódios da

Vida Romântica

O Jantar do Hotel Central

Carlos vê Maria Eduarda pela 1º vez

As Corridas no Hipódromo

Carlos procura Maria Eduarda

O Jantar dos Gouvarinhos

Carlos declara-se a Maria Eduarda

Episódios da "Corneta do Diabo"

e "A Tarde"

Ega é cúmplice da relação amorosa

Sarau Literário da Trindade

Revelação do relacionamento

incestuoso

Page 17: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Concluindo: a intriga principal articula-se com a intriga secundária

para construir uma linha de narração. Enquanto que isto acontece, os

vários episódios da vida romântica vão ocorrendo, por vezes entrando em

contacto com a intriga. A continuidade da intriga é inviabilizada pelo

desenlace e o romance acaba.

Page 18: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

As Personagens Mais Importantes

e sua Caracterização

N’ “Os Maias” são mencionadas mais de uma centena de personagens

que podem ser organizadas de acordo com o seu relevo e participação na

narrativa. Assim deparamo-nos com personagens que contribuem para a

intriga principal e secundária (a história em si) e com personagens que

fazem parte da crónica dos costumes (dos episódios da vida romântica).

As personagens de maior importância da intriga são:

Afonso da Maia - Personagem secundária e modelada

Filho de Caetano da Maia e avô de Carlos, Afonso fisicamente era “maciço”, baixo com cabelo branco curto, cara larga, ombros fortes e barba comprida. Símbolo do liberalismo, abandona Portugal para ir para Inglaterra regressando apenas para casar com Maria Runa. Afonso é a única personagem a quem não são apontados quaisquer defeitos pois este representa o português ideal: sério mas simpático, firme, austero embora generoso e sensível, determinado, culto, com bom gosto e de bons valores (família, justiça e sociedade). Com uma paciência interminável é quem vai educar Carlos após Pedro se suicidar. Passa os seus dias com os seus amigos no Ramalhete mas mantém sempre a sua ligação com Santa Olávia onde fica em contacto com a natureza. Na sequência do incesto dos seus netos morre de apoplexia (e de desgosto), no jardim do Ramalhete.

Page 19: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Maria Eduarda Runa – Personagem secundária

Filha do conde de Runa, Maria Runa, é a linda e mimosa mulher de Afonso e avó de Carlos. Quando Afonso é forçado a exilar-se, Maria Eduarda Runa acompanha-o mas não reage bem a Inglaterra, mostrando-se sempre infeliz e nostálgica. Por causa da sua devoção extrema, faz com que Pedro seja educado de forma tradicional, contrariando a heresia daquela terra. A sua tristeza e melancolia acabam por levar a melhor desta lisboeta ferrenha que morre na agonia.

Pedro da Maia - Personagem secundária e modelada

Pedro da Maia, filho de Afonso e pai de Carlos, é caracterizado como sendo pequeno, com face oval e belos olhos. Considerado o protótipo do herói romântico, Pedro, vítima da educação que recebe, torna-se fraco, nervoso e emocionalmente instável. Aquando da fuga de Maria Monforte, por quem tem uma repentina e arrebatadora paixão, mostra-se um cobarde ao suicidar-se por não conseguir lidar com o problema e aceitar a realidade.

Maria Monforte – Personagem secundária

Mãe de Carlos e de Maria Eduarda, Maria Monforte é uma mulher extremamente bela, loira, exuberante, com lindos olhos azuis e figura clássica e estatual. Descontente com o seu casamento com Pedro da Maia, foge com Tancredo levando consigo a filha e abandona Carlos e Pedro, que se suicida. Mesmo depois de Tancredo morrer, Maria Monforte não tenta pedir por perdão e continua a aventurar-se em futilidades, morrendo pouco tempo depois. É descrita como uma mulher leviana, imoral, fria, cruel e caprichosa e uma das personagens mais importantes ao ser a responsável por desencadear a intriga principal e, consequentemente, por todas as desgraças da família Maia.

Page 20: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Carlos da Maia – Personagem principal modelada

Carlos da Maia, o protagonista d’”Os Maias”, fisicamente era alto, bem constituído, bonito com ombros largos, pele branca, cabelos e olhos negros (dos Maias) e um bonito bigode à semelhança de um cavaleiro. Filho de Maria Monforte e Pedro da Maia, Carlos, quando o pai se suicida, vai viver em Santa Olávia com o avô que lhe proporciona uma educação britânica. Seguidamente vai para Coimbra onde estuda Medicina e conhece quem viria a ser o seu

inseparável amigo, João da Ega. Depois de fazer uma viagem pela Europa, Carlos regressa a Lisboa e instala-se no Ramalhete com o avô. Em Lisboa causa uma boa impressão entre o meio aristocrata por ser culto, com bom gosto e elegante e por parecer tão promissor apesar de cair rapidamente no diletantismo, ao ter os mais variadíssimos projetos que nunca chega a concretizar. A certo ponto tem um caso com a condessa Gouvarinho mas Carlos só depois é que chega a conhecer o seu verdadeiro amor, Maria Eduarda, com quem teria uma relação aparentemente adúltera. Depois de descobrir que Maria Eduarda era sua irmã, refugia-se em Paris assumindo que falhara na vida. Representa, assim, a falta de capacidade de regeneração do país.

Maria Eduarda - Personagem principal modelada

Maria Eduarda, irmã de Carlos, viúva de Mac Gren e mãe de Rosa, era uma mulher de uma beleza divinal, loira, delicada, bem feita e sensual. O seu encanto é intensificado pelo facto de o seu passado ser misterioso durante grande parte da obra com o objetivo de preparar o final dramático.

Page 21: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Esta personagem mantêm-se sempre à margem das outras personagens e nunca é criticada sendo a sua caracterização feita com o contraste entre si e as outras personagens femininas. Sempre sensata, equilibrada e digna, Maria Eduarda, por ter sido educada num convento, apresenta tanto uma vertente moral e cultural como uma vertente de grande vulgaridade. Simboliza, à semelhança do resto das mulheres da família, a fatalidade e a desgraça.

João da Ega - Personagem principal modelada

Considerado o alter-ego de Eça de Queiróz, Ega, fisicamente, era esguio, com membros longos, nariz curvo e usava sempre monóculo. Filho de uma rica fidalga, Ega licenciou-se em Direito em Coimbra juntamente com Carlos de quem ficou melhor amigo. Destaca-se por ser sentimentalista, sarcástico, naturalista, provocador, excêntrico e um

ateu de primeira. Em resumo: o diabo em pessoa. Gosta de ser o centro das atenções, de ser lisonjeado e só para provocar o escândalo é capaz de discordar de com quem fala sobre os assuntos mais elementares. Sempre envolto em planos (peças, livros, revistas) que nunca a chega a executar, Ega apaixona-se por Raquel Cohen mas o caso não acaba bem. Ega é, indubitavelmente, o fiel confidente de Carlos ao longo de toda a obra e nos últimos capítulos ocupa um papel de grande relevo na intriga principal. É ele que fica a saber dos documentos que identificavam Maria Eduarda como irmã de Carlos e é ele a quem tais documentos são entregues; é ele que conta a Vilaça a revelação trágica e é na sua companhia que Carlos a conta a Afonso.

Page 22: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Guimarães - Figurante, personagem plana

Com grandes barbas e chapéu de abas, Guimarães, tio do Dâmaso, era um antigo trabalhador do jornal “Rappel” que veio de Paris. Guimarães acaba por ser a personificação do destino ao trazer um cofre a ele confiado por Maria Monforte, que continha declarações da verdadeira identidade da filha. Vai assim desencadear a catástrofe e trazer a verdade destruidora da felicidade de Carlos e Maria Eduarda.

Usadas como meio para criticar a sociedade, as personagens mais importantes da crónica dos costumes são:

Dâmaso Salcede - Figurante, personagem plana tipo

Gordo e baixo, Dâmaso era o sobrinho de Guimarães e filho de um agiota. Dâmaso era pretensioso, convencido, excêntrico e um cobarde sem dignidade. Antes um grande amigo e confidente de Carlos por partilharem ideiais culturais semelhantes, Dâmaso acaba por ser um poço de defeitos. Pela grande admiração (e inveja) que tem por Carlos, a personificação do bom gosto, tenta imitá-lo em tudo o que faz de forma a tornar-se “chic a valer”. É, também, o protagonista de situações

importantes e/ou cómicas na obra como quando assina uma carta alegando que é um bêbedo para evitar o duelo com Carlos, quando escreve a carta anónima a Castro Gomes revelando o envolvimento de Maria Eduarda com Carlos e quando é responsável pela notícia sobre n’ “A Corneta do Diabo”. Para além disso, Dâmaso é ateu, desenvolve projetos que nunca cumpre e está sempre a criticar os vício, pelo que é considerado a representação dos vícios e podridão da sociedade.

Page 23: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Euzebiozinho (Silveira) - Figurante, personagem plana tipo

Eusebiozinho (ou Silveirinha) é o primogénito de uma das senhoras ricas da Quinta da Lagoaça, as Silveiras, e irmão da Teresinha. Cresceu em Santa Olávia ao lado de Carlos com quem brincava mas devido à educação retrógrada que recebeu, cresceu tornando-se triste, molengão e sem motivações nem objetivos na vida. Acabou por casar-se quase por obrigação mas cedo ficou viúvo. Com uma vida medíocre, Eusebiozinho é a representação da forma ridícula de educação tradicional portuguesa e um instrumento para o autor a criticar.

(Tomás de) Alencar - Figurante, personagem plana

Alencar fisicamente era muito alto, careca, com voluptuosos bigodes, nariz curvo e olhos encovados. Companheiro de Pedro da Maia, é utilizado pelo autor para começar discussões entre as escolas naturalista e romântica (sendo ele um ávido defensor da última). Tais discussões são representações satíricas da Questão Coimbrã.

Cruges - Figurante, personagem plana tipo

Amigo de Carlos e íntimo do Ramalhete, Cruges é maestro e pianista e representante da cultura artística. Tinha um nariz espetado, olhos pequenos e um cabelo longo e ondulado. Com a sociedade lisboeta a revelar falta de cultura e interesse, a sua música acabava por ser menosprezada pelo que fica desmotivado e frustrado. É o músico idealista que pelo verdadeiro amor à arte que revela distingue-se da mediocridade artística nacional.

Page 24: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Craft - Figurante, personagem plana tipo

Pouco importante no desenrolar da ação, este frequentador do Ramalhete defende a arte como uma expressão do melhor da Natureza pelo que gasta o seu tempo e dinheiro a viajar e colecionar obras de arte. Representa a formação britânica e é o protótipo do que um homem deve ser: forte, culto, de hábitos rígidos, educado e de grande retidão.

Conde de Gouvarinho - Figurante, personagem plana tipo

O conde de Gouvarinho era ministro do Reino e era casado com a condessa de Gouvarinho que tratava com brutalidade. Velho e conservador, revela falta de cultura e de capacidade de análise nos jantares descritos. É uma representação do político incompetente que, apesar de ocupar altos cargos,

manifesta grandes lapsos de conhecimento sobre os assuntos mais básicos.

Condessa de Gouvarinho - Figurante, personagem plana tipo

Filha de um rico comerciante inglês, a condessa de Gouvarinho é a mulher do conde de Gouvarinho. Com cabelo ruivo, olhos escuros e uma linda pele, a condessa é sensual e provocadora. Apaixona-se por Carlos com quem tem uma relação (ou obsessão) amorosa sem ter qualquer tipo de remorsos. Despreza totalmente o marido por questões monetárias e mostra-se disposta a abandoná-lo, o que revela a sua falta de escrúpulos e valores morais. Representa a aristocracia de Lisboa e todas as mulheres que mantêm amores fora do casamento.

Page 25: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Sousa Neto - Figurante, personagem plana tipo

Sousa Neto é o oficial superior da administração do Ministério da Instrução Pública que é tudo menos culto. Vaidoso e não muito inteligente, representa a ineficácia e falta de cultura da Administração Pública.

(Jacob) Cohen - Figurante, personagem plana tipo

Cohen é o diretor do Banco Nacional e marido de Raquel. É vaidoso, idiota, desonesto, incompetente e revela falta de perspicácia ao não descobrir o caso amoroso de sua mulher. Aproveita-se da situação económica do país para explorar as pessoas para proveito próprio. Representa o estado financeiro nacional

conduzido por pessoas da burguesia que, apesar de pouco inteligentes, ocupam lugares de grande poder.

Raquel Cohen - Figurante, personagem plana

Raquel Cohen é a vaidosa e lindíssima mulher de Jacob Cohen. Provocadora e leviana, envolve-se numa relação (obviamente adúltera) com Ega mas, quando este é expulso de sua casa, percebe que a relação era puramente para sua diversão e que Raquel não tinha qualquer intenção de ficar com ele.

Palma Cavalão - Figurante, personagem plana tipo

Palma Cavalão é o redator e proprietário do jornal “A Corneta do Diabo”. Facilmente corrompido e cego pelo dinheiro, publica ou retira artigos caluniosos do seu jornal em função dos subornos que recebe. Sem escrúpulos ou moral, encara o jornalismo como apenas uma forma de fazer dinheiro. Alencar define-o como sendo um “canalha” gordo.

Page 26: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Neves - Figurante, personagem plana tipo

Neves é o diretor do jornal “A Tarde” e representa o jornalista que influencia politicamente os seus leitores ignorantes. Em conjunto com Palma Cavalão, representa a decadência do jornalismo português.

Page 27: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

O Espaço

N' “Os Maias” podemos encontrar três tipos de espaço: físico ou

geográfico, psicológico e social. O espaço físico subdivide-se por sua vez

em: espaços interiores e exteriores.

Espaço Físico

São muitos os espaços físicos n’“Os Maias” passando-se maior parte da narrativa em Portugal, mais especificamente em Lisboa e arredores. Os espaços geográficos de maior importância são: Lisboa

É aqui que se sucedem os acontecimentos essenciais da vida de Pedro da Maia e para onde Carlos vai viver depois de se formar desenvolvendo depois um amor por Maria Eduarda. Lisboa também vai ser o palco para o fracasso de Carlos e para a caracterização de personagens da sociedade de costumes, através de micro-espaços criados pelo autor.

Espaço

Físico

Interiores

Exteriores

Psicológico

Social

Page 28: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Santa Olávia Situada na margem do rio Douro, é onde Carlos passa a sua infância e para onde foge quando sabe a verdade sobre Maria Eduarda.

Coimbra É aqui que Carlos faz a sua formação académica e tem os seus primeiros casos amorosos.

Sintra Lugar de encontro de personagens da crónica de costumes e do par romântico protagonista.

Olivais Aqui se situa a Toca, onde Carlos e Maria Eduarda se encontram em segredo.

O estrangeiro O estrangeiro, apesar de não ser descrito na obra, é utilizado como uma maneira para resolver problemas. As três gerações da família Maia chegam a ir para o estrangeiro a certo ponto das suas vidas com Afonso a exilar-se em Inglaterra para fugir aos miguelistas, com Pedro e Maria Monforte a fugirem para Paris e Itália para que Afonso aceitasse o seu amor e com Carlos a ir numa viagem para se refugiar do seu fracasso incessante, já no final. Também Dâmaso decide fugir para Paris depois da publicação da sua carta.

Para além de espaços exteriores, n’“Os Maias” são referidos vários espaços interiores:

O Ramalhete – Situada na Rua S. Francisco de Paula em Lisboa, o Ramalhete era a residência da família Maia. Lá podemos encontrar os jardins, o salão de convívio, o quarto de Carlos, o severo escritório de Afonso e o informal e diletante consultório de Carlos.

Sintra

Page 29: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

A Vila Balzac – Este retiro amoroso de João da Ega é uma projeção da sua personalidade ambígua por revelar-se dividido entre duas formas de expressão. A Toca – Esta propriedade de Craft é arrendada por Carlos para consumar de forma privada o seu amor com Maria Eduarda. Esta exótica casa surge como um presságio do incesto e uma representação do que é moralmente proibido.

A casa de Maria Eduarda – Situada na Rua S. Francisco, esta casa alugada à família Castro Gomes por Cruges é onde Carlos e Maria Eduarda falam pela primeira vez.

Outros espaços de menor importância que servem de palco (alguns

literalmente) para as personagens da crónica de costumes são: o Grémio

Literário, o Teatro de S. Carlos, o Teatro da Trindade, o Hotel Central, o

Hotel de Bragança, a casa dos Gouvarinhos e o Hipódromo.

Rua S. Francisco

Grémio Literário Grémio Literário, 2014

Teatro de S. Carlos, 1884 Teatro de S. Carlos, 2014

Page 30: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Teatro da Trindade Teatro da Trindade, 2014

Hotel Central e Largo Camões Hotel Central e Largo Camões, 2014

Hotel Bragança, 1881 Hipódromo de Lisboa

A menção destes espaços é de extrema importância para Eça que,

como realista, acreditava que o ambiente que rodeia uma

personagem vai interagir mutuamente com ela.

Page 31: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Espaço Social

Mais importante que o físico, o espaço social abarca momentos

como as soirés, os bailes, os espetáculos e os jantares onde atuam as

personagens da alta aristocracia e burguesia. Estas personagens são

usadas por serem uma representação fiel da sociedade criticada pelo

autor que tenta recriar através delas o panorama social organizando os

acontecimentos em episódios inseridos na crónica de costumes. Podemos

ver essa crítica principalmente nos seguintes episódios: O Sarau no Teatro

da Trindade, as corridas de cavalos no Hipódromo e os jantares (no Hotel

Central, em Santa Olávia, na Toca e em casa dos Gouvarinho). Nestes

episódios, personagens como o novo-rico (Dâmaso), o literato

ultrarromântico (Alencar), o diplomata (Steinbroken), o banqueiro

(Cohen), o artista incompreendido (Cruges) e o diletante (Craft) reúnem-

se manifestando as características das classes sociais a que pertencem.

Por exemplo, no episódio das corridas de cavalo, o autor satiriza e critica

a ambição da sociedade de ser como sociedades estrangeiras e ironiza a

forma como a assistência feminina se comportava e se vestia fazendo-nos

perceber que a ignorante e supérflua sociedade burguesa vivia de

aparências. Podemos concluir que o espaço social cumpre ao longo da

obra um papel marcadamente crítico.

Page 32: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Espaço Psicológico

O espaço psicológico é constituído pela consciência, os estados de

alma, as emoções e o íntimo das personagens e é manifestado

principalmente em momentos de grande carga emocional através de

monólogos interiores. As personagens (sobretudo as principais) mostram-

nos as suas reflexões, sonhos e imaginação dando-nos a sua visão

subjetiva do mundo e das pessoas que as rodeiam. À medida que nos

aproximamos do desenlace, a importância dada ao espaço psicológico vai

aumentando, principalmente com Carlos da Maia. Destaca-se como

espaço psicológico os seguintes momentos, quando Carlos:

sonha com Maria Eduarda (duas vezes);

reflete sobre o grau de parentesco que o liga a Maria Eduarda;

encontra o avô morto, no jardim;

vê o Ramalhete e o avô, após o incesto;

vê a casa de Maria Eduarda de forma diferente após saber que ela

era sua irmã;

O espaço psicológico também está presente com Ega depois de descobrir

a verdadeira identidade de Maria Eduarda e de ter de tomar uma decisão

de como contar a Carlos.

É o espaço psicológico que, ao nos revelar as profundezas da consciência

das personagens, permite caracterizar Carlos e Ega como personagens

modeladas.

Page 33: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Tempo: arquitectura do romance

Tal como o espaço, o tempo n’ “Os Maias” pode ser de três tipos: o tempo histórico, o tempo do discurso e o tempo psicológico.

Tempo Histórico

O tempo histórico é aquele que subdivide-se em anos, meses e dias e que organiza os acontecimentos vividos pelas personagens de forma cronológica. A ação passa-se no século XIX, entre 1820 e 1887 abrangendo, portanto, quase setenta anos. No entanto a forma como o tempo é distribuído pelos anos não é consistente: Carlos acaba por se destacar relativamente aos outros membros das três gerações da família Maia.

Page 34: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Tempo do Discurso

O tempo de discurso é, por definição, aquele aquele que se deteta no

próprio texto organizado pelo narrador, ordenado ou alterado logicamente,

alargado ou resumido.

O discurso começa em 1875, no Outono. Carlos acabara de voltar da sua

viagem pós-formatura para viver em Lisboa com o avô. O narrador vai então,

através de uma analepse, relatar os acontecimentos passados: a juventude

de Afonso; a educação de Pedro e seu envolvimento com Maria Monforte e

a educação e formação de Carlos (Capítulos I a IV). Apesar de corresponder a

cerca de sessenta anos, esta analepse ocupa relativamente pouco tempo

(poucas páginas) na obra. Isto deve-se ao facto de o autor, com recurso a

resumos e elipses, reduzir o tempo do discurso ficando este muito mais

curto que o tempo histórico (anisocronia).

No entanto, do Outono de 1875 a Janeiro de 1877, o narrador, ao utilizar

diálogos, tenta que haja isocronia, ou seja, tenta que o tempo do discurso

coincida com o tempo da história de forma a reproduzir fielmente o ritmo

do dia-a-dia. Desta forma o narrador vai alternar lentamente as cenas do

quotidiano lisboeta com a intriga principal.

Page 35: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Tempo Psicológico

O tempo psicológico é o tempo conforme é

vivido pelas personagens. Este é subjetivo porque

depende de cada personagem e alarga-se ou encurta-

se dependendo do estado de espírito em que esta se

encontra permitindo-nos compreender a perspetiva

da personagem e os seus sentimentos.

No romance, é possível encontrar-se momentos de tempo psicológico

quando:

Pedro da Maia comunica a seu pai o desaparecimento de Maria

Monforte;

Carlos recorda o beijo que a Condessa de Gouvarinho lhe dera;

Carlos passava longas e monótonas horas no seu consultório;

Ega espera que lhe entreguem o cofre com informações sobre Maria

Eduarda;

Carlos e Ega, acabados de chegar de Paris, contemplam o Ramalhete e,

com nostalgia e emoção, recordam os tempos vividos naquela casa.

Carlos, amargurado e ressentido, acaba por proferir uma exclamação

que resume a definição de tempo psicológico: “É curioso! Só vivi 2

anos nesta casa e é nela que me parece estar metade da minha vida

inteira!”

Page 36: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

O Narrador

Quanto à presença, o narrador é heterodiegético, ou seja, não é

uma personagem da narrativa. Algumas marcas linguísticas que permitem

fazer esta classificação são a utilização de pronomes, verbos e

determinantes na terceira pessoa e o discurso indireto livre. Através do

distanciamento característico deste tipo de narrador, um exame social de

maior eficácia e objetivide é nos revelado.

Quanto à ciência, o narrador é omnisciente pois mostra-se conhecedor

dos sentimentos, emoções e desejos das personagens. O narrador sabe o

passado e futuro de cada personagem, revela possuir total conhecimento

da história e usa técnicas narrativas para arquitectar o romance ao

caracterizar de forma exaustiva os espaços e personagens.

Por vezes, o narrador abdica da sua omnisciência para adotar a

focalização interna em que certas personagens tomam o papel crítico

e/ou descritivo do narrador. Por exemplo, quando Maria Eduarda é

caracterizada nota-se que o narrador encarrega Carlos de o fazer, dá mais

valor ao ponto de vista subjetivo da personagem, montando a sua

perspetiva com e como ele.

Page 37: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Para além da focalização interna, o narrador opta, por vezes, pela

focalização externa quando, por exemplo, descreve fisicamente as

personagens e os espaços geográficos onde se encontram, numa

tentativa de objetividade. Porém, através de diminutivos, advérbios e

adjetivos com valor subjetivo, esta ojetividade revela-se apenas

aparentente.

Page 38: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

A Educação

A educação é, sem dúvida, um tema de grande centralidade n’“Os

Maias”, revelando o comportamento e mentalidade de um Portugal

marcadamente romântico em oposição a um Portugal novo e voltado

para o futuro. Este facto deve-se à importância dada a esta problemática

na caracterização das personagens segundo uma perspetiva naturalista.

Ao elaborar um fiel retrato da sociedade, o narrador atribui, em parte, a

culpa da crise social e cultural ao tipo de educação que um indivíduo

recebe. A educação vai, assim, condicionar os princípios e valores de

cada um que são, eventualmente, a base de qualquer sociedade. Através

das personagens, o autor vai nos dar a conhecer diferentes conceções

educativas, revelando a cultura adjacente a cada uma.

São-nos então apresentados dois sistemas educativos antagónicos:

A educação tradicional e conservadora (à portuguesa) protagonizada

por Pedro da Maia e Eusebiozinho em que:

Recorria-se à memorização e ao catecismo para criar uma ideologia

religiosa que cultivava a devoção, os valores morais e a punição do

pecado -“...a decorar versos, páginas inteiras do «Catecismo de

Perseverança»...” e “...Que memória! Que memória... É um

prodígio!...”;

Page 39: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Dava-se atenção ao Latim que, pela

sua grande coneção à igreja, deveria

ser aprendido - “...a instrução para

uma criança não é recitar Tityre, tu

patulae recubans...”

O contacto com a Natureza era

proibido tendo uma criança de ficar

dentro de casa, quase enclausurado

e sempre em contacto com os velhos livros - : " ... tinha medo do

vento e das árvores... “ e “... Admirar as pinturas de um enorme e

rico volume, «Os costumes de todos os povos do Universo»...”;

O juízo crítico e a criatividade eram desvalorizadas e inibidas de

forma a que a vontade pessoal fosse alterada e de forma a levar o

indivíduo a um estado de declínio das faculdades físicas e mentais.

Foi este tipo de educação que levou Pedro da Maia a ser débil, a não ter

a capacidade de resolver os seus problemas e a desenvolver uma relação

pouco saudável com a mãe. Pedro, um ultrarromântico por excelência, é

abandonado por Maria Monforte e não consegue lidar com o fracasso

amoroso, acabando por se suicidar. Eusebiozinho tendo recebido o

mesmo tipo de educação torna-se uma pessoa triste, intolerante,

amarga, monótona e fisicamente débil ao invés do “prodígio” que todos

pensavam que ele se iria tornar. Isto leva-o a ser forçado a um

casamento miserável e a levar uma vida de corrupção. Esta educação, ao

Page 40: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

longo da obra, é defendida por Vilaça, pelo Abade Custódio, pela maior

parte das pessoas da casa dos Maias e pelas pessoas de Resende.

A educação moderna e atradicional (“à inglesa”) protagonizada por

Carlos da Maia, ao contrário da educação “à portuguesa”, valoriza:

O exercício físico, a ginástica e o

contacto direto com a Natureza - “...

Correr, cair, trepar às árvores, molhar-

se, apanhar soalheiras, como um filho

de caseiro...” ;

O desenvolvimento intelectual

por via da informação empírica - “... É

saber factos, noções, coisas úteis,

coisas práticas...”;

As línguas vivas como Inglês (Carlos tinha um tutor inglês), em

detrimento do Latim - “... Mostrou-lhe o neto que palrava inglês

com o Brown...”;

O espírito crítico e a imaginação;

A tolerância e convivência social ao instruir valores de honra,

cavalheirismo e virtude.

Page 41: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Carlos da Maia foi educado segundo esta educação de forma a

compensar a educação do seu pai que ia contra os ideias de Afonso.

Graças a ela, adquiriu valores do trabalho e conhecimento experimental

que fizeram com que seguisse medicina e estivesse constantemente

envolto em projetos de investigação que acabam por fracassar por culpa

da sociedade em que estava inserido. Pedro da Maia, aquando da fuga

de Maria Monforte, não consegue lidar com o seu fiasco amoroso ao

passo que Carlos, depois do seu fracasso ocupacional, decide procurar

um novo caminho. Desta vez fá-lo com a mentalidade de não recear o

que possa perder ou não conseguir alcançar, o que faz com que planeie

grandes projectos com o seu grande amigo Ega, que nunca chega a

realizar.

No entanto, por ser tão rígida e metódica, esta educação quando

cumprida excessivamente à risca, acaba por formar indivíduos que não

se adaptam no meio social português de modo que os seus efeitos

nocivos só são revelados com o passar do tempo (em oposição a

educação tradicional cujos aspetos negativos eram mais realçados na

infância através do contraste entre Eusebiozinho e Carlos). Carlos, após

o seu amor incestuoso, acaba por falhar na vida apesar da sua educação,

enquanto que Pedro falha na vida por causa da sua educação. Foi a

sociedade que o conduziu ao fracasso, pela falta de motivação e paixão

romântica que o seduzira. Contudo, jamais Afonso, que tenta evitar que

a desgraça do filho se repita com o neto, é posto em causa no que toca à

Page 42: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

educação que dá a Carlos cuja desgraça é de tal maneira incompatível

com os valores morais que se sobrepõe ao seu módulo educacional.

Para além de Afonso, este modo educativo é defendido por Brown

(professor particular de Carlos quando este era pequeno) e pelo próprio

narrador.

Page 43: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Simbolismo

“Os Maias” é uma obra que, depois de uma certa análise, revela-se

carregado de simbolismo. Tanto as personagens como os espaços

denunciam uma componente metafórica que nos é introduzida, por

exemplo, por certas cores e objetos sujeitos a diferentes interpretações.

A simbologia n”Os Maias” tem uma função pressagiosa da tragédia.

Quanto aos espaços, é importante referir:

A Vila Balzac

Muito presente no quarto da casa de Ega, o vermelho transpira paixão e

simboliza a dimensão fugaz e carnal do seu amor por Raquel Cohen. Os

tons de amarelo e dourado também usados na casa exprimem tanto a

natureza divina como o Outono associado à morte.

O Ramalhete

Esta casa acompanha e é a personificação do estado espírito da família

Maia. Estabelece uma coneção com a dormência de Portugal até ao

momento em que é habitada por Carlos e Afonso que lhe restauram a

vida e esperança através da introdução de uma decoração luxuosa e

cosmopolita.

Page 44: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

O jardim do Ramalhete, rico em simbologias, também é alvo de uma

evolução. Neste destaca-se:

A cascata, um símbolo de

purificação e regeneração, conota-se

com o choro. No primeiro capítulo,

está seca pois ainda nada aconteceu

enquanto que no último esta, cheia

de água, chora a tragédia que se abatera sobre os Maias bem

como a morte da Afonso. É um prenúncio de tristeza e marca de

forma inexorável, a passagem do tempo e os sentimentos que

este faz aparecer e desaparecer.

Os girassóis que ornamentam a casa remetem-nos para o

passado dos Maias e para as próprias personagens. Tal como a

relação girassóis-Sol, Carlos e Pedro vêm-se envoltos em amores

dos quais não consegue sair,

girando cegamente ao favor das

suas amadas a quem prometem

fidelidade eterna;

Page 45: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

O cedro e o cipreste no jardim são árvores que simbolizam,

respetivamente, o envelhecimento e a morte. Unidos por um laço

quase mítico e inseparável, estas árvores testemunham a história da

família. Também simbolizam os inseparáveis Carlos e Ega que no final

da obra ficam tão sozinhos como as árvores.

A estátua feita de mármore fúnebre de Vénus

Citereira, deusa do amor, cuja presença obscura

marca o início e o fim da ação principal: quando

Maria Monforte foge, esta fica mais negra

refletindo o ambiente; após a remodelação

aparece esplendorosa simbolizando a

ressurreição da esperança e no fim mostra-se

enferrujada e monstruosa, à semelhança de Maria Eduarda. Esta

estátua incorpora as mulheres fatais do romance.

A Toca

A Toca é, por definição, o nome dado à habitação de alguns animais pelo

que a este refúgio amoroso de Carlos e de Maria Eduarda seja atribuído

um carácter animalesco. Neste lugar, a atracção carnal e a busca pelo

prazer acabam por substituir e ignorar os valores morais.

O quarto de Maria Eduarda tem uma grande simbologia trágica e está

carregada de presságios:

Page 46: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

O quadro com a cabeça degolada de S. João

Baptista (que tinha revelado a relação

incestuosa de Herodes) parece pressagiar a

desgraça que viria a acontecer;

As tapeçarias que descreviam o amor

“desmaiado” de Vénus e Marte (que também

era proibido) parecem prever o desvanecimento da relação dos

protagonistas;

A coruja a olhar fixamente para o leito representa o mistério, o

mau agouro e o fim sinistro da relação.

Ainda na Toca, o ídolo japonês remete-nos para uma cultura estranha e

figura a sensualidade e exotismo do relacionamento incestuoso. Neste

armário, encontramos igualmente dois faunos que encarnam os dois

amantes cheios de hedonismo e com total desprezo de quem os rodeia,

evangelistas que representam a religião e os guerreiro representantes do

espírito heroico.

É importante referir que, na primeira noite em que os dois amantes vão

para a Toca, a trovoada no exterior reflete os tempos turbulentos que se

avizinhavam.

Page 47: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

O consultório de Carlos

O consultório de Carlos tem, como cor predominante, um

vermelho escuro que revela força, sensualidade e

mistério. Por vezes a roçar o fúnebre, esta cor é também

considerada como a mais associada ao princípio da vida

pelo seu poder, brilho e presença ardente.

A estátua de Camões que, no final,

representa o passado nostálgico.

Quanto às personagens as que, neste assunto, revelam-se importantes

são:

Maria Eduarda e Maria Monforte

Maria Eduarda crê em presságios e pequenas coisas que a levam a

adivinhar um futuro não muito risonho. As semelhanças entre Carlos e

sua mãe, as semelhanças de caráter entre ela (Maria Eduarda) e Afonso e

a similitude do nome de Carlos com o dela, por exemplo, são

considerados presságios de uma tragédia.

Page 48: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Maria Eduarda é a terceira Maria de três gerações da família Maia e à

semelhança do que acontece com Maria Monforte e Maria Runa, Maria

Eduarda morre (embora de forma psicológica). Maria é, assim, a

revelação simbólica da família. Tanto Maria Eduarda como Maria

Monforte usavam o vermelho (feminino, apaixonante e destruidor) em

conjunto com o dourado, designando tanto a vida como a morte, tanto o

divino como o mero mortal.

Afonso

Afonso da Maia é, sem dúvida, uma figura simbólica. Afonso vê

semelhanças entre Pedro e um elemento da família Runa que se suicidou.

Este facto aparece-nos como um claro presságio, pois Pedro também se

suicida. Também é com Afonso a ser testemunha de um passeio de Pedro

e Maria Monforte que nos apercebemos de certos presságios: Maria

Monforte usa um vestido rosa que simboliza a vida romântica que vivia;

os olhos de Maria eram de um azul sombrio e a ramagem à beira de onde

caminhavam eram de um verde obscuro. Então, cores normalmente

associados a bons sentimentos são

pervertidos ao prever tristezas e

complicações: o guarda-sol vermelho

lembra a Afonso uma mancha de sangue

parecida àquela que seria vista à beira de

Pedro, morto.

Page 49: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Estilo e Linguagem

N’ “Os Maias”, a prosa de Eça de Queiróz exprime fluidamente a sua opinião e forma de pensar. Com uma mestria e destreza com as

palavras, o autor preocupa-se que tanto com intriga principal como com a crítica social usando vocábulos simples aos quais atribui sentidos

conotativos e mostra que o brilhantismo desta obra não reside unicamente no tema.

De todas as características da prosa queiroziana presentes nesta obra,

há que frisar a utilização de/da:

adjetivos – aparecendo em séries binárias e ternárias, os

adjectivos contribuem para musicalidade e ritmo da frase. Os adjetivos

evocam a realidade sem comprometer o espaço para a imaginação e

musicalidade frásica Assim, consegue demonstrar a sua visão crítica sobre a sociedade do século XIX de uma forma subtil mas que terá um

grande ênfase, fazendo com que a sua sátira nos pareça objetiva – Ex: “Dâmaso era interminável, torrencial, inundante, a falar das suas

conquistas”;

verbos – tal como os adjetivos e advérbios, o autor utiliza os verbos de forma impressionista. Para evitar a monotonia da utilização

constante de verbos similares, o autor substitui verbos vulgares por verbos menos comuns. O tempo mais utilizado é o pretérito imperfeito

que faz com que o leitor se depare com a situação a ocorrer no momento narrado. Com o mesmo efeito, o gerúndio é igualmente

utilizado para que o leitor “deslize” na narrativa – Ex: “decente, estudando, pensando, fazendo civilização como outrora”;

Page 50: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

advérbios – Eça estende os adjetivos aos advérbios (advérbios com

função de adjectivo), dispondo de uma vasta panóplia de advérbios

expressivos com grande poder sugestivo À semelhança dos adjetivos os advérbios obrigam a que a criatividade e imaginação do leitor surja de

forma espontânea. Por vezes estes estão associados em gradação

“Fechou sobre mim a portinhola gravemente, supremamente” ;

vocabulário rico e variado – com o uso de neologismos, palavras

inventadas pelo autor (ex: gouvarinhar) e com o uso de anglicismos e galicismos (ex: dog-cart, chic);

diminutivos – Maioritariamente usados para caracterizar

ironicamente as personagens mas também para revelar ternura – Ex: “as perninhas flácidas” e “tinha uma cadelinha escocesa”;

todos os níveis de linguagem – a autor apresenta um estilo muito

particular ao utilizar tanto linguagem familiar como infantil, passando por outras. O autor adapta o tipo de linguagem à personagem e sua

classe social;

uso de frases curtas e diretas para que haja variedade nos

discursos revelando preocupação com o ritmo e musicalidade da frase. Empregou frases curtas para que os factos e as emoções apresentadas

fossem transmitidas objetivamente e, através de rimas internas, paralelismos, antíteses, frases em parelha e repetições, evita frases

demasiado expositivas, fastidiosas e pouco esclarecedoras (muito característica do romantismo);

discurso indireto livre – Com o objetivo de aproximar a prosa à

fala e de evitar a repetição desnecessária e aborrecida de verbos

conectores do discurso, o discurso indirecto livre é muitas vezes

utilizado durante a obra;

Page 51: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

recursos expressivos – Os inúmeros recursos estilísticos utilizados

enriquecem a prosa de Eça de Queiróz. Os mais utilizados e

característicos são:

† a hipálage – figura de estilo que consiste em atribuir uma

qualidade de um nome a outro que lhe está relacionado, revelando assim a impressão do escritor face ao que

descreve. Ex: “As titis faziam meias sonolentas” (sonolentas é transposto das personagens para o objeto);

† a sinestesia – recurso estilístico que ao descrever os

ambientes através do realismo, apela aos sentidos do leitor

de forma a aumentar a nossa imersão na narrativa – Ex: “e,

muito alto no ar, passava o claro repique de um sino”;

† a ironia – recurso estilístico quase sempre presente na

prosa queiroziano que, por expressar o contrário da

realidade, serve para satirizar e expor contrastes e

paradoxos – Ex: “É possível – respondeu o inteligente

Silveira”;

† a aliteração – Com a mesmo função da sinestesia, a

aliteração é um recurso expressivo que utiliza a repetição de

sons para exprimir sensações ou sons do meio envolvente – Ex: “um moço loiro, lento, lânguido, que se curvara em

silêncio diante dela”;

† a gradação;

† a enumeração;

† a comparação;

† a personificação.

Page 52: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

A minha visão

“Os Maias” foi a primeira obra de Eça de Queiróz que li e devo dizer

que achei a sua leitura mais do que agradável. Com uma história

cativante, personagens ricas e brilhante conceção, esta obra mudou

radicalmente a opinião que tinha de Eça de Queiróz. Muito influenciado

pela perspectiva de quem já tinha lido, pensei que se tratava de uma obra

aborrecida e entediante mas sei agora que “Os Maias” é tudo menos isso.

A obra é interessante, o tema é muito chamativo e as personagens vão do

cómico ao dramático, passando pelo misterioso e caricato. O aspeto que

mais me agrada na obra é o facto de esta estar repleta de deliciosas e

longas descrições que me transportaram para a calçada lisboeta, para o

núcleo do quotidiano destas pessoas, numa experiência verdadeiramente

imersiva. Aprecio particularmente a capacidade e a aparente facilidade

que o autor tem de mudar a carga emocional da narrativa, havendo cenas

extremamente cómicas em oposição a cenas que me deixaram nervoso, a

querer saber o que vai acontecer. “Os Maias” , na minha opinião, merece

indubitavelmente o título de “clássico da literatura” tanto portuguesa

como mundial e de todas as obras inseridas no programa da disciplina de

Português foi a que mais gostei de ler. A única coisa que consigo apontar

de não tão bom na obra é a certa propensão para os devaneios do autor,

que por vezes se aventura pelas suas reflexões e debates interiores sobre

as diferentes escolas artísticas, assunto que não me suscita grande

Page 53: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

curiosidade. Apesar disso, considero “Os Maias” um longo page-turner

(na sua própria maneira) que se lê de um folgo e, certamente, um livro

que irei reler no futuro porque afinal não se trata da história em si mas da

maneira como é contada e nisso a obra é praticamente irrepreensível. O

assunto (ou assuntos) da obra é o que faz dela uma obra intemporal,

aplicável aos dias de hoje e que perdurará e resistirá aos castigos do

tempo. Em resumo, uma sucessão de brilhantismo crítico, social e

introspetivo e um livro essencial que sempre recordarei como principal

incentivador da minha futura leitura de outras obras do autor.

Page 54: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Bibliografia

CARNEIRO, Roberto, 2004, nova activa multimédia –

Enciclopédia de Consulta – Literatura Portuguesa,

Lexicultural

FERREIRA, José Tomás, 1994, Apontamentos Europa-

América Explicam Eça de Queirós - Os Maias Nº 17, Europa-

América

SILVA, Pedro, 2012, Expressões – Português 11º ano,

Porto, Porto Editora

2013, Os Maias - Ensino Secundário, Ideias de Ler

Page 55: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Webgrafia

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http://www.e-biografias.net/eca_queiroz/

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http://www.feq.pt

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http://modulo8linguaportuguesa.blogspot.pt

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http://portefolioportugues.blogs.sapo.pt

http://portuguesnanet.com.sapo.pt

Page 56: Trabalho sobre Os Maias - Episódios da Vida Romântica

Trabalho

realizado por Luís

Oliveira, nº 14

11ºG

Escola Secundária da Maia

Disciplina de

Português.

O Fim