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  • 7/23/2019 Trabalho Final UA3_Rafael Reis Da Luz

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    CursoImpactos da Violncia na Sade

    Turma: T4/14-SVGE-17

    Rafael Reis da Luz

    Avaliao FinalUnidade de Aprendizagem 3

    Trabalho apresentado ao Curso de Aperfeioamento

    Impactos da Violncia na Sade da FiocruzEAD

    (Turma Gesto) para avaliao da UA3.

    Tutora: Silvana C. Caetano

    Rio de Janeiro/RJ2015

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    SUMRIO

    INTRODUO ............................................................................................................. 3

    A POLTICA NACIONAL DE REDUO DE MORBIMORTALIDADE POR

    ACIDENTES E VIOLNCIAS .................................................................................... 3

    O MUNICPIO DE GUAPIMIRIM (RJ) .................................................................... 7

    DIAGNSTICO SITUACIONAL PRELIMINAR .................................................... 9

    ETAPA I .......................................................................................................................... 9

    MORTALIDADE ............................................................................................................ 9

    MORBIDADE ............................................................................................................... 11

    ETAPA II ....................................................................................................................... 12

    CONSIDERAES FINAIS ...................................................................................... 16

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ...................................................................... 19

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    Introduo

    O presente trabalho tem como objetivo apresentar um diagnstico situacional

    preliminar sobre os acidentes e violncias no municpio de Guapimirim, Rio de Janeiro,

    com base no banco de dados do DATASUS e nas iniciativas locais de ateno e

    preveno da sade.

    Como objetivos especficos, temos:

    Delinear o perfil epidemiolgico dos acidentes e violncias no municpio de

    Guapimirim, identificando suas formas mais frequentes, sua tendncia em

    perodos mais recentes e a disponibilidade de recursos, considerando-se

    especificidades de regio, raa e sexo (Etapa I);

    Listar as iniciativas, programas, aes e servios disponibilizados no municpio,

    em especial aqueles voltados para ateno e preveno dos acidentes e

    violncias, detalhando o que tem sido feito de acordo com as diretrizes

    estabelecidas pela Poltica Nacional de Reduo de Morbimortalidade por

    Acidentes e Violncias (Etapa II);

    Comparar os resultados encontrados nas Etapas I e II de modo a identificar quais

    os avanos, lacunas e desafios no tocante proteo e preveno dos acidentes e

    violncias;

    Discutir a possibilidade de articulao de redes atravs do levantamento das

    iniciativas, programas, aes e servios do municpio;

    Discutir sugestes para novas aes e para melhor adequao do atendimento s

    pessoas em situao de violncia.

    A Poltica Nacional de Reduo de Morbimortalidade por Acidentes e Violncias

    Os acidentes e violncias so atualmente reconhecidos como um problema de

    sade pblica de grande magnitude e transcendncia, o que demanda no somente

    polticas pblicas especficas, como tambm a qualificao e articulao entre as aes

    e servios de sade existentes.

    Embora diversos organismos nacionais e internacionais j destacassem desde a

    dcada de 1980 a articulao entre violncia e sade, no Brasil, somente a partir da

    dcada de 1990 que o tema ganha relevncia na proposio de polticas pblicas

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    (MINAYO & LIMA, 2013). O Relatrio da Conferncia em Washington, realizada em

    1993 pela Organizao Pan-Americana da Sade, da Organizao Mundial de Sade

    (OPAS/OMS), afirma:

    A violncia, pelo nmero de vtimas e pela magnitude desequelas orgnicas e emocionais que produz, adquiriu umcarter endmico e se converteu num problema de sade

    pblica em muitos pases. O setor sade constitui aencruzilhada para onde convergem todos os corolrios daviolncia, pela presso que exercem suas vtimas sobre osservios de urgncia, ateno especializada, reabilitaofsica, psicolgica e assistncia social (OPAS/MS, 1993:3).

    Partindo do reconhecimento dos acidentes e violncias como problema de sade

    pblica, a Poltica Nacional de Reduo de Morbimortalidade por Acidentes e

    Violncias, instituda pela Portaria n 737 MS/GM, em 16 de maio de 2001, estabelece

    diretrizes e responsabilidades institucionais, nas quais esto contempladas e valorizadas

    medidas inerentes promoo da sade e preveno dos acidentes e violncias,

    mediante o estabelecimento de processos de articulao com diferentes segmentos

    sociais.

    A Poltica considera que os acidentes e violncias, entendidos tambm como

    causas externas de morbidade e mortalidade (SOUZA & LIMA, 2013), so resultantes

    de aes ou omisses humanas e de condicionantes tcnicos e sociais. A violncia

    compreendida como um fenmeno multicausal, representado por aes realizadas por

    indivduos e instituies que ocasionam danos fsicos, emocionais, morais e/ou

    espirituais a si prprio ou a outros. Os acidentes so compreendidos como eventos no

    intencionais e evitveis, causados de leses fsicas e/ou emocionais no mbito

    domstico ou nos demais espaos sociais.Nesse sentido, a Poltica estabelece diretrizes que procuram orientar a definio

    ou redefinio dos instrumentos operacionais que a implementaro, representados por

    planos, programas, projetos e atividades.

    Dentre essas diretrizes e responsabilidades, temos a monitorizao da ocorrncia

    dos acidentes e violncias, que abarca diversas aes relativas ao reconhecimento do

    impacto das causas externas na sade o que inclui a capacitao e mobilizao dos

    profissionais , vigilncia epidemiolgica dessas causas o que requer oacompanhamento das causas externas e sua preveno qualidade da informao em

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    sade informao que necessria para o planejamento, organizao,

    operacionalizao e avaliao das aes e servios de sade, conforme argumenta

    Njaine (2013)e o mapeamento, estmulo e articulao das iniciativas existentes. Nesse

    sentido, para a retroalimentao dos sistemas de monitorizao e para a execuo de

    aes e servios efetivos e eficazes, o diagnstico dos acidentes e violncias, assim

    como dos agravos sade, mostra-se como ao estratgica fundamental.

    Lima, Souza, Minayo e Deslandes (2013: 365) apresentam a seguinte definio:

    Um diagnstico situacional constitui a base essencial paraqualquer avaliao de um determinado quadro ou processosocial ou sanitrio. Conhecer em profundidade umasituao problemtica e os recursos para enfrent-la

    estratgico para o planejamento e para a gesto. Umdiagnstico sobre a situao de violncias e acidentes visadescrever um quadro amplo, da forma mais detalhada

    possvel:1. a situao de morbimortalidade por acidentes e

    violncias numa determinada localidade e seu impactona sade;

    2. as propostas de enfrentamento que esto atuantesnessa mesma localidade, de modo a dar conta dosxitos e das dificuldades do sistema de sade paraatuao diante da questo.

    Em outros termos, o diagnstico situacional tem como objetivo responder como as

    causas externas afetam a sade das pessoas de acordo com especificidades como regio,

    idade, classe social, raa/etnia e gnero, entre outras, e como afetam e demandam

    servios de sade. O diagnstico tambm considera o contexto, as iniciativas, parcerias,

    programas e projetos existentes na localidade, assim como seus avanos, lacunas e

    desafios.

    As duas etapas do diagnstico situacional das causas externas e seus agravos sade a primeira voltada para a elaborao do perfil epidemiolgico sobre os

    acidentes e violncias e a segunda voltada para o levantamento das iniciativas para

    atendimento, acompanhamento e preveno atendem ao que estabelecido pela

    Poltica Nacional de Reduo de Morbimortalidade por Acidentes e Violncias.

    Tradicionalmente, a Etapa I envolve o levantamento em dois grandes bancos de

    dados nacionais que constituem as estatsticas oficiais no Brasil: um sobre mortalidade

    Sistema de Informaes sobre Mortalidade (SIM) , cujo instrumento bsico aDeclarao de bito (DO); e outro sobre morbidade Sistema de Informaes sobre

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    Hospitalizaes (SIH) , que lana mo dos dados das Autorizaes de Internaes

    Hospitalares (AIH). Esses bancos de dados esto disponveis no Departamento de

    Informtica do SUS (DATASUS), setor que integra a Secretaria de Gesto Estratgica e

    Participativa do SUS. No obstante, a pesquisa por essas fontes no exclui a

    possibilidade de pesquisa em outras fontes, que podem complementar ou enriquecer os

    dados oficiais.

    A Etapa II mais ampla e envolve uma pesquisa que deve contemplar as sete

    diretrizes da Poltica Nacional, a saber:

    Promoo da adoo de comportamentos e de ambientes seguros e saudveis;

    Monitorizao da ocorrncia de acidentes e de violncias;

    Sistematizao, ampliao e consolidao do atendimento pr-hospitalar;

    Assistncia interdisciplinar e intersetorial s vitimas de acidentes e de

    violncias;

    Estruturao e consolidao do atendimento voltado recuperao e

    reabilitao;

    Capacitao de recursos humanos;

    Apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas.

    Com o intuito de orientar a execuo da Etapa II e preencher eventuais lacunas

    nas recomendaes da Poltica Nacional, Lima, Souza, Minayo e Deslandes (2013)

    disponibilizam um amplo roteiro de perguntas norteadoras para cada uma das diretrizes.

    Algumas dessas perguntas norteadoras so utilizadas na elaborao do diagnstico

    situacional do presente trabalho.

    O municpio de Guapimirim (RJ)

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    Imagem 1: Mapa representativo de Guapimirim.

    Fonte: Site da Secretaria de Agricultura e Pecuria do Estado do Rio de Janeiro.

    O municpio de Guapimirim, regio metropolitana do Estado do Rio de Janeiro,

    possui uma populao de aproximadamente 55 mil habitantes, segundo estimativa de

    2014 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE)1.

    Anteriormente distrito no municpio de Mag, Guapimirim se emancipou em

    1990. H considerveis dificuldades na prestao dos servios pblicos, em especial de

    sade, uma vez que, pela extenso geogrfica do municpio, parte considervel dos

    servios concentra-se no centro da cidade, enquanto que as localidades da periferia no

    podem acessar os servios de Mag, mesmo que alguns deles estejam instalados emterritrio guapimiriense.

    A cidade de Guapimirim dividida em trs distritos: Guapimirim, Vale das

    Pedrinhas e Citrolndia. Nesses dois ltimos, est concentrada a populao mais pobre,

    mais afetada pela violncia urbana e mais carente de servios pblicos de sade. No

    caso do distrito do Vale das Pedrinhas, a situao mais grave por conta da questo

    geogrfica apresentada no pargrafo anterior. Ademais, no h Estratgia de Sade da

    Famlia (ESF) em parte da regio.

    1

    Disponvel emhttp://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=330185&search=||infogr%E1ficos:-informa%E7%F5es-completas. Acesso em 16/08/2015.

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    Imagem 2: Entrada da cidade de Guapimirim pelo bairro Parada Modelo. Fonte: Site do Stio Berro

    Dgua.

    Segundo informaes do IBGE, Guapimirim dispe de seis servios de sade

    particular e mais de dez servios pblicos, entre estes o Hospital Geral Municipal Jos

    Rabello de Mello, que oferece pronto-atendimento, Centro Municipal de Fisioterapia,

    que possui grande demanda de idosos e jovens vtimas de acidentes, a Policlnica

    (distrito de Guapimirim), Posto de Sade de Vila Olmpia (distrito do Vale das

    Pedrinhas), Centro Peditrico, Ambulatrio de Sade Mental, Centro de Ateno

    Psicossocial (CAPS) e Unidades Bsicas de Sade (UBS) nos bairros Bananal, Parada

    Ideal e Parada Modelo, entre outros.

    Nossa atuao profissional no se deu no campo da sade e sim da assistnciasocial, mais especificamente no Centro de Referncia Especializado de Assistncia

    Social (CREAS). Enquanto equipamento de mdia complexidade, cuja responsabilidade

    consiste em atender, acompanhar e encaminhar os casos envolvendo violncias e

    violaes de direitos, o CREAS a unidade pblica estatal de referncia na oferta e

    encaminhamento de servios especializados de carter continuado aos indivduos e suas

    famlias. A Resoluo n 109/2011 apresenta, na pgina 4, os seguintes servios, que

    podem ser atribuies do CREAS ou de unidades referenciadas a ele: Servio deProteo Especializado a Famlias e Indivduos (PAEFI); Servio Especializado de

    Abordagem Social; Servio de proteo social a adolescentes em cumprimento de MSE

    de Liberdade Assistida (LA) e de Prestao de Servios Comunidade (PSC); Servio

    de Proteo Social Especial para Pessoas com Deficincia, Idosos(as) e suas Famlias;

    Servio Especializado para Pessoas em Situao de Rua. Esses servios, coordenados e

    articulados pelo CREAS, direcionam o foco das aes para a famlia ou comunidade na

    qual o indivduo se insere, com o intuito de potencializar e fortalecer sua funoprotetiva.

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    Pelo exposto, possvel depreender que a articulao entre as aes e servios de

    sade e de assistncia social se faz fundamental para a proteo e preveno das

    violncias e acidentes. Desse modo, ao longo dessa experincia profissional, foram

    diversas e variadas as articulaes entre as duas reas. No obstante, a rede

    consideravelmente precria, envolvendo implicao e comprometimento de poucos

    profissionais, que atuam sob um contexto de quase total ausncia de vontade

    profissional e poltica.

    Diagnstico situacional preliminar

    Etapa I

    Nesta Etapa, apresentamos o perfil epidemiolgico sobre os acidentes e violncias

    no municpio de Guapimirim. O levantamento foi realizado na base DATASUS e teve

    como referncia o ano de 2013, o ltimo disponvel. Nessa fase da pesquisa,

    procuramos identificar as formas mais frequentes de morbimortalidade e suas

    tendncias, considerando-se especificidades de raa e sexo. No foi possvel levantar

    especificidades regionais uma vez que a base DATASUS no apresenta tais dados. No

    obstante, como veremos a seguir, o perfil de morbimortalidade por acidentes e

    violncias no ano de 2013 sugere que as principais vtimas sejam de regies mais

    pobres e desprovidas de aes e servios de sade (como atendimento hospitalar e

    ESF), em especial o distrito Vale das Pedrinhas.

    Mortalidade

    Cor/raa Masculino Feminino TotalBranca 108 76 184

    Preta 33 26 59

    Amarela - 1 1

    Parda 69 37 106

    Ignorado - 1 1

    Total 210 141 351

    Tabela 1: bitos no municpio de Guapimirim por residncia, segundo cor/raa e sexo, no perodo de2013. Fonte: DATASUS.

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    De acordo com o DATASUS, no ano de 2013, 351 pessoas faleceram, o que

    representa 63 bitos para cada 10000 habitantes2. Embora o nmero de bitos de

    pessoas brancas seja relativamente maior, a proporo de bitos de pessoas pardas e

    negras ainda maior uma vez que, segundo dados do IBGE, a populao negra em

    Guapimirim de aproximadamente 12%, enquanto a branca de quase 50%. Convm

    ressaltar que, com base em nossa experincia em visitas institucionais e domiciliares,

    acreditamos que parte considervel da populao negra seja mais pobre e resida nos

    distritos mais vulnerveis.

    Cor/raa Masculino Feminino Total

    Branca 13 6 19

    Preta 5 1 6

    Parda 13 1 14

    Total 31 8 39

    Tabela 2: bitos por causas externas no municpio de Guapimirim, por residncia, segundo cor/raa esexo, no perodo de 2013. Fonte: DATASUS.

    A Tabela 2 informa que, no ano de 2013, dos 351 bitos, 39 ocorreram por causas

    externas. Em relao ao sexo, morreram quase quatro homens para cada mulher. Desses

    homens, os pretos e pardos morreram numa proporo de 51%.

    Em relao s causas externas, temos:

    Acidentes de transporte: dois homens (um branco e um pardo) e duas mulheres

    brancas;

    Quedas: um homem branco e uma mulher parda;

    Leses autoprovocadas voluntariamente: um homem pardo;

    Agresses: treze homens (quatro brancos, quatro pretos e quatro pardos) e uma

    mulher branca;

    Eventos (fatos) cuja inteno indeterminada: um homem pardo e uma mulher

    preta;

    Todas as outras causas externas: treze homens (sete brancos, um preto e cinco

    pardos) e trs mulheres brancas.

    2Considerando-se a populao estimada em 55 mil habitantes pelo IBGE.

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    Os dados indicam que as agresses foram a principal causa de bito no municpio

    em 2013, com coeficiente de mortalidade masculina por causa (CMC) de

    aproximadamente cinco homens para cada 10000 homens3.

    No obstante, deve-se considerar que o alto nmero de bitos por outras causas

    externas deixa dvidas quanto qualidade do registro e notificao das informaes.

    Nesse sentido, acreditamos que o nmero de bitos por agresso possa ser maior.

    Morbidade

    Cor/raa Masculino Feminino TotalBranca 31 12 43

    Preta 5 - 5Parda 30 13 43Sem informao 34 9 43Total 100 34 134

    Tabela 3: Internaes hospitalares por morbidades por causas externas no municpio de Guapimirim, porresidncia, segundo cor/raa e sexo, no perodo de 2013. Fonte: DATASUS.

    De acordo com o DATASUS, no ano de 2013, 100 homens sofreram agravos

    sade por causas externas seguidos de internao hospitalar, o que representa uma

    incidncia de 36 homens para cada 10000 habitantes do sexo masculino. Novamente,

    homens pretos e pardos se destacam como as principais vtimas que acionaram servios

    de sade no perodo informado. Todavia, os dados no so inteiramente confiveis

    devido ao alto nmero de casos notificados sem o registro da cor/raa.

    Em relao s causas externas, as agresses aparecem como uma das menores

    causas de morbidade, com nove casos de homens (um branco, um preto, dois pardos e

    cinco sem registro da cor/raa) e um de uma mulher branca, tendo, portanto, incidncia

    masculina de trs casos para 10000 homens. Todavia, acidentes de transporte e leses

    acidentais figuram entre as causas com maiores incidncias: 12 homens para cada 10000

    habitantes masculinos e 16 homens para cada 10000 habitantes masculinos,

    respectivamente.

    3Considerando-se a populao masculina estimada em 50% pelo IBGE.

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    Cor/raa Masculino Feminino TotalBranca 17 3 20Preta 3 - 3Parda 8 2 10Sem informao 5 2 7Total 33 7 40

    Tabela 4: Internaes hospitalares por acidentes de transporte no municpio de Guapimirim, porresidncia, segundo cor/raa e sexo, no perodo de 2013. Fonte: DATASUS.

    Cor/raa Masculino Feminino TotalBranca 8 5 13Preta 1 - 1Parda 17 9 26Sem informao 19 7 26Total 45 21 66

    Tabela 5: Internaes hospitalares por outras leses acidentais no municpio de Guapimirim, porresidncia, segundo cor/raa e sexo, no perodo de 2013. Fonte: DATASUS.

    Em relao raa, cabe observar que somente os acidentes de transporte se

    apresentam com maior incidncia para homens brancos, o que indica, atravs da tica

    da sade, um problema no tocante desigualdade do poder aquisitivo entre os

    habitantes do municpio. Em outros termos, ao possurem maior poder de compra de

    automveis, os homens brancos se tornam as vtimas mais frequentes nos acidentes de

    transporte.

    Etapa II

    Imagem 3: Hospital Municipal Jos Rabello de Mello, Guapimirim, RJ. Fonte: Blog Guapimirim News.

    Nesta Etapa, apresentamos algumas experincias em aes e servios de proteo

    e preveno dos acidentes e violncias no municpio de Guapimirim, tendo como

    referncias as diretrizes da Poltica Nacional de Reduo de Morbimortalidade por

    Acidentes e Violncias e as perguntas norteadoras de Lima, Souza, Minayo e Deslandes

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    (2013). O levantamento aqui apresentado considerou os diferentes nveis de ateno

    sade e teve como fontes a experincia profissional no municpio, em especial na

    articulao intersetorial, visitas institucionais e residenciais, contato com profissionais

    de outros servios e instituies, acompanhamento e encaminhamento de indivduos e

    famlias aos servios de sade e pesquisa documental.

    De 2008 a 2010, foi realizada no municpio a Agenda 21 Comperj, iniciativa da

    Petrobras em parceria com o Ministrio do Meio Ambiente, a Secretaria de Ambiente

    do Estado do Rio de Janeiro e organizaes da sociedade civil, que tem como objetivo

    colaborar na construo de modelos sustentveis de desenvolvimento. No documento da

    Agenda 21, os participantes dos fruns apontaram como uma de suas maiores

    preocupaes a falta de polticas direcionadas sade. Apesar da ampliao dos

    servios de sade nos ltimos anos, os postos de sade permanecem inadequados e no

    h aes e servios para casos de alta complexidade, o que exige o deslocamento de

    pacientes para serem tratados em municpios vizinhos. Ainda segundo o documento, o

    Programa de Planejamento Familiar ainda pouco divulgado e precisa de adequao

    para atender demanda. Conforme ser mostrado adiante, alguns desses apontamentos

    so confirmados ao longo de nossa experincia profissional no municpio.

    Conforme j apresentado em tpico anterior, Guapimirim dispe de seis servios

    de sade particular e mais de dez servios pblicos, entre estes o Hospital Geral

    Municipal Jos Rabello de Mello, que oferece pronto-atendimento, Centro Municipal de

    Fisioterapia, que possui grande demanda de idosos e jovens vtimas de acidentes, a

    Policlnica (distrito de Guapimirim), Posto de Sade de Vila Olmpia (distrito do Vale

    das Pedrinhas), Centro Peditrico, Ambulatrio de Sade Mental, CAPS e UBS nos

    bairros Bananal, Parada Ideal e Parada Modelo, entre outros.

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    Imagem 4: Estratgia de Sade da Famlia no bairro Parada Modelo, Guapimirim. Fonte: Site Guapi

    Online.

    Recentemente, foi inaugurada uma sede exclusiva para o Servio de Atendimento

    Mvel de Urgncia (SAMU), integrada ao pronto-atendimento do Hospital Municipal

    Jos Rabello de Mello. O SAMU um importante equipamento para preveno da

    mortalidade e dos agravos sade, incluindo aqueles resultantes de causas externas.

    Apesar dos relativos avanos, nossa experincia profissional no municpio

    confirma que ainda h muito que fazer. Em primeiro lugar, o levantamento realizado na

    Etapa I indica que a qualidade da informao em sade, em especial das variveis sexo

    e raa, precria, o que compromete a monitorizao da ocorrncia de acidentes e de

    violncias e o consequente planejamento das estratgias de sade. A ausncia de grupos

    intersetoriais de discusso sobre os impactos dos acidentes e violncias no setor sade

    tambm reflete a precariedade na monitorizao, assim como o no reconhecimento das

    causas externas como problemas de sade pblica.

    Pelos casos de violncias e acidentes que acompanhamos no CREAS mediante

    articulao intersetorial, percebemos que no h, nas polticas pblicas de sade de

    Guapimirim, nenhuma iniciativa voltada para proteo e preveno de causas externas,ocorrendo apenas aes pontuais eventuais ou propostas que acabavam por tratar a

    questo de maneira indireta. No Hospital Municipal, quando acompanhamos uma

    usuria vtima de violncia domstica para avaliao mdica e registro do Boletim de

    Atendimento Mdico (BAM), no havia equipe tcnica multiprofissional e nem

    infraestrutura adequada para atendimento do caso. O dilogo da equipe do CREAS se

    restringiu equipe mdica, que no pareceu capacitada para atender casos envolvendo

    violncia contra mulheres.

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    notria a dificuldade em garantir atendimento e acompanhamento

    psicoteraputico a mulheres e crianas vtimas de violncia domstica e/ou sexual. Os

    servios de Psicologia disponibilizados na Policlnica e no Centro Peditrico no

    conseguem atender toda a demanda do municpio, o que gera uma longa lista de espera.

    Apesar da frequncia de casos de violncia que, aps avaliao pela equipe do CREAS,

    so encaminhados para psicoterapia, no h projetos ou iniciativas na sade voltadas

    para a garantia do acesso ao servio, menos ainda para atendimento diferenciado e

    especializado s vtimas (no h servios especficos para os casos de violncia

    domstica e sexual). Tal realidade termina por gerar o retorno e/ou encaminhamento de

    outras instituies, em especial o Conselho Tutelar, dessas demandas ao CREAS, que,

    conforme estabelece a Resoluo n 109/2009, no oferece servio de psicoterapia uma

    vez que esta atribuio da sade.

    Tambm grave a situao da poltica de sade nas periferias, em especial no

    bairro Vila Olmpia, distrito Vale das Pedrinhas, onde no h ESF. H apenas um Posto

    de Sade, que dispe de uma equipe pequena que tem procurado fortalecer sua

    articulao intersetorial para atender e encaminhar todas as demandas. No h agentes

    comunitrios, o que restringe a relao e o vnculo dos profissionais de sade com a

    comunidade local.

    Em conversas informais com alguns profissionais da sade, grande a

    preocupao com a populao rural, considerada a maior do municpio e que no tem

    acesso s aes e servios de sade, concentrados na regio urbana.

    Tambm notvel, no cotidiano dos servios de sade, a quase total ausncia de

    usurios do sexo masculino, no havendo propostas para inclu-los nas aes e servios

    de sade, menos ainda iniciativas para promoo da adoo de comportamentos e de

    ambientes seguros e saudveis, em especial no tocante ocorrncia de agresses, leses

    acidentais e acidentes de trnsito, apontados na Etapa I como as maiores causas demorbimortalidade entre homens no municpio.

    Estas diferentes experincias indicam a inexistncia de aes de preveno, como

    produo e divulgao de materiais educativos destinados populao e aos

    profissionais de sade, integrao de prticas e discursos sobre preveno nos diferentes

    programas de sade e articulaes entre as diferentes secretarias, como educao e

    segurana, e a sociedade civil. Em relao ao nvel da proteo, o trabalho em rede

    precrio, com escassos mecanismos de referncia e contrarreferncia entre os servios

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    que atendem as vtimas, meios de incluso dos familiares no acompanhamento e

    servios de reabilitao, recuperao e reinsero social, familiar e laboral.

    Convm ressaltar que uma demanda cada vez mais crescente no municpio a de

    tratamento para dependentes qumicos. No h poltica de sade especfica, o que

    favorece a criao e fortalecimento de instituies religiosas e filantrpicas, que no

    oferecem infraestrutura, equipe multiprofissional e servios adequados para tratamento

    dessa populao, tornando-se espaos iatrognicos, de isolamento, violncia e excluso.

    Conforme mostrado, a situao de sade no municpio de Guapimirim, no tocante

    preveno e proteo da sade nos acidentes e violncias, fere frontalmente as

    diretrizes estabelecidas pela Poltica Nacional de Reduo de Morbimortalidade por

    Acidentes e Violncias. No h a adequada monitorizao da ocorrncia de causas

    externas, assim como faltam iniciativas de promoo da adoo de comportamentos e

    de ambientes seguros e saudveis, especialmente para a populao masculina. Os

    diversos servios e equipamentos carecem de assistncia interdisciplinar e intersetorial

    s vitimas e insuficiente o atendimento voltado recuperao e reabilitao. Esses

    problemas tambm apontam para a necessidade de ampliao dos recursos humanos,

    assim como sua capacitao e sensibilizao no tema da violncia e melhoria da

    qualidade dos registros.

    Consideraes finais

    O presente trabalho teve com objetivo apresentar um diagnstico situacional

    preliminar sobre os acidentes e violncias no municpio de Guapimirim, com destaque

    para as variveis sexo e raa, atravs banco de dados do DATASUS e das iniciativas

    locais de ateno e preveno da sade.

    Ao compararmos os resultados encontrados nas Etapas I e II, vemos odescompasso que h entre o perfil epidemiolgico da cidade e as aes e servios de

    sade desenvolvidos para proteo e preveno das causas externas. Tal descompasso

    leva necessidade de incluir as temticas de gnero e raa na pauta da gesto de sade,

    o que requer, mais do que a sensibilizao e capacitao dos profissionais, mudanas na

    gesto e planejamento estratgico de modo a desenvolver e aprimorar aes e servios

    que abarquem as temticas de gnero e raa. A feio negra, pobre e masculina do perfil

    de morbimortalidade por causas externas aponta, alm da desigualdade socioeconmica,

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    para vulnerabilidades e riscos especficos, que precisam ser considerados no

    planejamento das aes e servios do setor sade.

    Em relao questo de gnero, a Etapa I indica que as polticas de sade do

    municpio precisam se atentar para os homens, desenvolvendo iniciativas e programas

    voltados, por exemplo, promoo do dilogo, da cultura de paz e desconstruo dos

    esteretipos e relaes baseadas no gnero. Faz-se necessrio tambm pensar na

    possibilidade de articulao da Secretaria de Sade com a Secretaria de Transporte com

    o objetivo de prevenir os acidentes ou, caso ocorram, garantir o rpido atendimento e

    encaminhamento. Lembramos que as agresses e acidentes de trnsito figuraram entre

    as principais causas de mortalidade e morbidade de homens no ano de 2013,

    respectivamente.

    Ainda em relao problemtica do gnero, a sade deve pensar em meios de

    trazer os homens aos servios e equipamentos, como as UBS e ESF, preferencialmente

    atravs de horrios diferenciados e de atividades grupais. Deve-se tambm questionar o

    reduzido nmero de casos de violncia contra mulheres: tal fato pode indicar, alm da

    invisibilidade cultural do fenmeno, a subnotificao e a precariedade dos servios de

    atendimento e acompanhamento.

    Esta realidade tambm indica que, mais do que articulao intersetorial, faz-se

    necessria a interseccionalidade e a transversalidade das noes de gnero e raa nas

    polticas pblicas de sade. Enquanto a intersetorialidade sugere que a gesto das

    polticas pblicas seja realizada mediante aes integradas, a interseccionalidade abarca

    a complexidade da situao de indivduos e grupos, considerando a coexistncia de

    diferentes eixos de subordinao. Tal perspectiva favorece, em nvel de polticas

    pblicas, o desenvolvimento de aes que considerem as especificidades de

    determinados grupos. A transversalidade, alm de necessariamente intersetorial, uma

    perspectiva que considera as relaes que se estabelecem entre diferentes eixos desubordinao, como o racismo e a desigualdade de gnero. Ademais, transversalizar a

    poltica de sade a partir das dimenses do gnero e da raa, por exemplo, incluir tais

    dimenses na prpria definio de poltica pblica de sade, sua formulao, aplicao

    e avaliao (HEILBORN, ARAJO & BARRETO, 2011). Trata-se, desse modo, de

    pensar no apenas na incluso dos temas gnero e raa na agenda da sade, mas de

    formular a prpria poltica tendo esses temas como parmetros.

    A Etapa II mostra que ainda h muito que fazer para que seja possvel pensar emuma poltica efetiva de reduo da morbimortalidade em Guapimirim. No obstante,

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    esta realidade no justifica o ato de cruzar os braos. Faz-se necessrio valorizar os

    discursos e prticas do cotidiano, a criatividade, as micropolticas ou

    microagenciamentos possveis nos variados servios de sade. Ademais, importante

    pensar na organizao e articulao dos profissionais de sade no sentido de pressionar

    e responsabilizar a gesto pblica no cumprimento de seu papel, atravs dos espaos de

    controle social, como os Conselhos de Sade e as Conferncias Municipais de Sade.

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    Referncias bibliogrficas

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